Era Uma Vez Meu K-Idol - Kat Cho

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Era Uma Vez Meu K-Idol
Copyright © 2024 ALTA NOVEL
ALTA NOVEL é um selo da EDITORA ALTA BOOKS do Grupo Editorial Alta Books (Starlin Alta
e Consultoria Ltda.)
Copyright © 2022 DISNEY ENTERPRISES, INC.
ISBN: 978-85-508-2277-8

Translated from original Once Upon a K-Prom. Copyright © 2022 by Disney Enterprises,
Inc. ISBN 9781368066983. Originally published in the United States and Canada by
Disney • Hyperion, an imprint of Buena Vista Books, lnc. as ONCE UPON A KPROM. This
translated edition published by arrangement with Buena Vista Books, lnc. All rights
reserved. PORTUGUESE language edition published by Starlin Alta Editora e Consultoria
Ltda., Copyright © 2024 by Starlin Alta Editora e Consultoria Ltda.

1ª Edição, 2024 — Edição revisada conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa


de 2009.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com


ISBD

C545e Cho, Kat


Era Uma Vez Meu K-Idol / Kat Cho ; traduzido por
Nathalia Marques. - Rio de Janeiro : Alta Novel, 2024.
ePub3.
Tradução de: Once Upon a Kprom
ISBN: 978-85-508-2277-8
1. Literatura norte-americana. 2. Romance adolescente.
3. Cultura coreana. I. Marques, Nathalia. II. Título.

2023-2594 CDD 810


CDU 821.111(73)

Elaborado por Vagner Rodolfo da Silva - CRB-8/9410


Índice para catálogo sistemático:
1. Literatura norte-americana 810
2. Literatura norte-americana 821.111(73)

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Gerência Comercial: Claudio Lima
Gerência Marketing: Andréa Guatiello

Coordenadora Editorial: Illysabelle Trajano


Produtora Editorial: Beatriz de Assis
Assistente Editorial: Luana Maura
Tradução: Nathalia Marques
Copidesque: Giovanna Chinellato
Revisão: Ellen Andrade & Isabella Veras
Diagramação: Rita Motta
Livro Digital: XR Libris

Rua Viúva Cláudio, 291 — Bairro Industrial do Jacaré


CEP: 20.970-031 — Rio de Janeiro (RJ)
Tels.: (21) 3278-8069 / 3278-8419
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Ouvidoria: [email protected]
Editora afiliada à:
Para Axie, que alimentou meu amor pelo K-pop e me deu coragem
para escrever e publicar minhas histórias.
Sumário

Um
Dois
Três
Quatro
Cinco
Seis
Sete
Oito
Nove
Dez
Onze
Doze
Treze
Quatorze
Quinze
Dezesseis
Dezessete
Dezoito
Dezenove
Vinte
Vinte e um
Vinte e dois
Vinte e três
Vinte e quatro
Vinte e cinco
Vinte e seis
Vinte e sete
Vinte e oito
Vinte e nove
Trinta
Trinta e um
Trinta e dois
Trinta e três
Trinta e quatro
Trinta e cinco
Trinta e seis
Trinta e sete
Trinta e oito
Trinta e nove
Quarenta
Quarenta e um
Quarenta e dois
Quarenta e três
Quarenta e quatro
Quarenta e cinco
Quarenta e seis
Quarenta e sete
Quarenta e oito
Quarenta e nove

Epílogo
Agradecimentos
Um

Quando a maioria das pessoas pensa em baile de formatura,


provavelmente imagina vestidos, limusines e danças que duram a
noite inteira com o par dos seus sonhos. Quando eu penso em baile
de formatura, imagino pés doloridos, decorações superfaturadas e
expectativas irrealistas.
Obviamente, eu fazia parte da minoria. Como foi provado pela
longa fila de veteranos dispostos a passar todo o horário de almoço
enfileirados para comprar ingressos para o baile.
Era o terceiro dia de venda de ingressos, o que significava que
também era o terceiro dia da chamada “iniciativa alternativa ao
baile” do Clube da Conscientização.
Não estava… sendo um grande sucesso.
Tudo bem, tudo bem, estava sendo um fracasso total.
Montamos uma barraca onde os alunos poderiam doar seu troco
para o Centro Comunitário de West Pinebrook depois de comprar os
ingressos.
— Mais alguma doação? — perguntei, inclinando-me sobre a
mesa.
Max Cohen balançou a cabeça.
— Sinto muito, Elena.
Olhei para o frasco. Estava quase vazio. A nota de um dólar que
eu tinha colocado lá ainda era a única contribuição. Pensei que
talvez já ter algum dinheiro ali nos fizesse parecer menos patéticos,
mas, de alguma forma, aquilo parecia ainda mais triste.
Olhei para minha planilha cuidadosamente escrita. Eu a fizera
para prever potenciais doações. Estávamos muito atrás do que havia
projetado. Mas acho que falhei ao não levar em conta a apatia
adolescente.
— Alguém pegou um panfleto? — Olhei para a pilha
suspeitamente cheia.
— Para isso, teriam que parar de evitar nossa mesa como se
tivéssemos algum tipo de doença contagiosa. — Minha melhor
amiga, Josie Flores, revirou os olhos.
Passei dias escrevendo aqueles panfletos, inclusive adicionando
fotos das crianças do centro comunitário na festa de fim de ano
anterior e o link do site de arrecadação de fundos para doações
online. Os panfletos explicavam que não estávamos dizendo às
pessoas para não irem ao baile, mas para repensarem como estavam
gastando seu dinheiro no evento.
Foi por isso que Josie cunhou o termo “iniciativa alternativa ao
baile”. Não ajudou muito, no entanto. Todos pensavam que
estávamos protestando abertamente contra o baile de formatura.
— Vamos lá, El, se eles não pegam os panfletos, vamos
simplesmente distribuí-los — disse Josie, saindo de trás da mesa.
Ela era magra como um palito, com pele morena e macia, um
rosto bem estreito e cabelos escuros que emolduravam sua face com
cachos. Era tudo o que eu desejava ser quando pequena, em vez de
ter o meu rosto coreano redondo, pernas curtas e cabelos pretos liso-
escorridos.
— Eu ajudo! — Max deu um pulo.
— Não, você guarda a mesa e o… dólar — disse Josie, olhando
para o frasco desolador.
Dei de ombros, compadecida por ele ficar preso com o dever de
cuidar da mesa novamente. Mas Max se sentou de volta
obedientemente. Ele faria qualquer coisa por Josie.
Desde o segundo ano, estava sempre admirando-a por trás de
seus óculos de aro de metal. Estranhamente, esse tipo de armação
caía bem nele, conferindo-lhe um ar elegante de “garoto nerd
branco”. Seu cabelo cacheado costumava ser curto no ensino
fundamental, mas ele o deixou crescer, e agora os fios caíam nos
olhos. Era fofo de um jeito bem Shawn Mendes.
Josie começou a percorrer a fila, distribuindo panfletos,
certificando-se, antes de seguir em frente, de que cada pessoa pelo
menos os abrisse. Ela não parecia se importar com os olhares
irritados ou com os comentários rudes que recebia. Eu gostaria de
conseguir ser confiante assim, de não me importar com o que todos
pensam de mim.
— Eles estão a um passo de perder o financiamento — falei com
um grupo de alunos do primeiro ano a quem eu tinha acabado de
entregar panfletos. Nenhum deles os havia aberto. Então, peguei
um, que abri eu mesma na parte com uma lista de maneiras de
economizar no baile de formatura. — Em vez de gastar centenas de
dólares em limusines, vestidos e ternos, vocês podem simplesmente
usar um terno velho ou um vestido alugado e dirigir por conta. E
então doar o que economizaram para o centro.
— Ei, você é a irmã de Ethan Soo, não é? — Um deles semicerrou
os olhos para mim como se estivesse tentando enxergar a
semelhança familiar.
Suspirei. Era comum que as pessoas se lembrassem do meu
irmão antes de se recordarem de algo tão detestável quanto meu
nome de verdade. Afinal, ele era o gêmeo popular. E nunca fez nada
tão irritante quanto pedir às pessoas que doassem o dinheiro do
baile.
— Sou Elena — murmurei. — Então, de volta ao centro
comunitário, se vocês não tiverem dinheiro extra agora, tem um site
para doações que também podem acessar.
Todos eles apenas me olharam antes de voltar à sua conversa
sobre algum novo filme que havia acabado de ser lançado. Essas
pessoas não tinham coração? Não viram as adoráveis crianças lhes
sorrindo no panfleto?
— Perdão. — Tentei chamar a atenção deles novamente, mas fui
ignorada.
— El, você precisa parar de se desculpar o tempo todo — disse
Josie, aproximando-se. Ela estava em seus últimos panfletos, e me
senti culpada por ainda ter uma pilha cheia nas mãos.
— Não consigo evitar. — Fiz uma careta, porque ela estava certa.
Pedir desculpas constantemente, sempre que eu sentia algum indício
de que alguém estava desconfortável perto de mim, era uma reação
instintiva da minha parte.
— Não acho que isso tá dando certo — disse Josie, franzindo o
cenho para a fila de alunos que faziam o possível para nos ignorar.
— Acho que vamos ter que usar métodos mais radicais.
— Bem, a menos que você queira dar uma de Robin Hood, acho
que panfletos e protestos são tudo o que temos agora. — Suspirei.
— Tenho uma coisa para ajudar nossa causa — disse Josie,
dirigindo-se à saída.
— Desde que não faça bagunça! — gritei atrás dela, mas não
tinha certeza se ela havia me ouvido ao sair do refeitório.
Enquanto eu esperava que Josie voltasse, a fila andou, e uma
garota esbarrou em mim com a mochila ao se virar para falar com
uma amiga.
— Por que você não encontra outro lugar para ficar? —
perguntou ela, bufando de aborrecimento.
— Sinto muito — murmurei antes de conseguir me conter.
— Você viu os panfletos esquisitos dela? — disse a amiga da
garota, sem se importar que eu ainda estivesse bem ali. — Imagine
passar o tempo inteiro tentando arruinar o baile de formatura.
Suspirei e dei um passo para trás, afastando-me da fila e dos
olhares irritados. Eu não estava tentando arruinar o baile. Só sabia
que ele não era tão especial quanto todos acreditavam. Vi cada uma
das minhas três irmãs mais velhas se empolgarem para o evento,
apenas para voltarem para casa, no final da noite, decepcionadas de
alguma forma. Esse tipo de experiência muda seu jeito de encarar as
coisas, mesmo que eu só tivesse 10 anos.
Fiquei encostada em uma mesa de almoço enquanto esperava
Josie voltar. Estava cheia de alunas do primeiro ano suspirando por
causa de um MV que assistiam em um dos celulares. Eu mal
conseguia ouvir a música por causa do alto volume de vozes que
tomava conta do refeitório, mas reconheci o grupo: WDB.
O WDB conseguira algo que nenhum outro grupo de K-pop, em
mais de uma década, havia conseguido: conquistou os corações de
adolescentes de todo o mundo e, de alguma forma, tornou-se o
primeiro grupo coreano a ganhar um MTV Video Music Award e
um American Music Award, sendo impulsionado para outras
premiações e até se apresentando no programa SNL. Foi tudo tão
impressionante, mas houve uma camada extra de surrealismo para
mim quando o rosto do main rapper, Robbie Choi, enfeitou a tela. Era
um rosto que eu conhecia bem, embora tivesse perdido toda a
gordura infantil que preenchia suas bochechas quando tínhamos 10
anos. Fomos melhores amigos. Eu sabia coisas sobre ele que não
estavam escritas em seu perfil oficial.
Eu sabia como ele tinha conseguido aquela pequena cicatriz na
sobrancelha. (Ele caiu de um guarda-roupa e bateu na quina de uma
mesa de centro durante um jogo épico de esconde-esconde.)
Eu sabia que, embora fosse famoso agora por causa de seus
cachos exuberantes, que já foram tingidos de todas as cores do arco-
íris durante sua carreira, uma vez, ele me deixou raspar uma mecha,
porque queríamos ver se era possível escrever o nome dele no seu
cabelo. (Spoiler: não era. E sim, entramos em uma encrenca épica
com nossos pais depois dessa proeza.)
Agora, havia garotas se jogando nele e dando risadinhas sempre
que seu rosto aparecia na tela.
Mas Robbie era outra razão para eu saber que o baile seria uma
decepção para mim. Eu, assim como todo mundo, já ansiei por uma
noite de formatura mágica, repleta de danças lentas e fotografias
com poses perfeitas. Mas sempre imaginei isso com uma pessoa
específica. E, como ela não estava mais neste país, muito menos
nesta cidade… por que me dar ao trabalho? Quando se sabe que algo
não vai dar certo, é melhor simplesmente seguir em frente.
— Robbie é o meu bias! — declarou uma das garotas, e eu quase
tive vontade de contar a ela sobre aquela vez em que Robbie caiu na
lama durante nossa viagem da terceira série. Precisei andar atrás
dele o resto do dia para que ninguém pensasse que ele tinha feito
cocô nas calças.
Ou talvez eu explicasse a ela que Robbie se esqueceu de todos os
velhos amigos quando ficou famoso…
— JD é o meu bias. Ele é tão… misterioso.
Observei o outro membro do WDB dar uma piscadela maliciosa.
Eu nunca conheci JD, embora ele fosse o primo mais velho de
Robbie. Tive que admitir que era uma música bem chiclete. E talvez
eu tenha me pegado baixando alguns singles do WDB. Mas ainda era
tão estranho pensar no meu melhor amigo de infância como um galã
arrasa-corações.
Comecei a me lembrar da última vez em que vi Robbie. Tínhamos
10 anos e estávamos parados na frente da casa vazia dele. Todas as
suas coisas já haviam sido enviadas para Seul antes de sua família ir.
Eu já tive amigos que se mudaram antes. Becca Kuss foi para Ohio
na primeira série. Emily B. se mudou para a cidade vizinha ano
passado. Mas Robbie era meu melhor amigo, e ele não estava se
mudando para uma cidade a alguns quilômetros de distância.
Estava se mudando para o outro lado do mundo. Nós nos
abraçamos, com lágrimas escorrendo pelo rosto. O nariz de Robbie
estava vermelho como um tomate. Eu lhe disse isso, e ele respondeu
que o meu me fazia parecer com Rudolph, a Rena do Nariz
Vermelho. E então nos abraçamos novamente.
— Vou te enviar e-mail todos os dias — prometi.
— Vou te mandar mensagem todos os dias — disse Robbie. —
Você baixou o KakaoTalk, né?
Assenti. Eu nunca tinha usado o aplicativo de mensagens coreano
antes, mas Robbie disse que funcionava em todo o mundo, então não
importava aonde fôssemos, ainda poderíamos conversar.
— E eu vou voltar quando a gente estiver no ensino médio pra
irmos ao baile juntos — disse ele com um sorriso largo. — E vamos
tirar fotos que nem as de Sarah com aquelas pulseiras de flores
idiotas.
— Chama corsage — falei. — E só meninas usam.
— Quem disse? — Robbie fez beicinho.
Eu ri:
— Não sei. Tudo bem, vamos usar corsages combinando.
— Mas eu quero que a minha seja feita de Lego — disse Robbie.
— Então eu quero que a minha seja feita de borboletas.
— Ai, credo! De insetos mortos!?
— O quê? — gritei, horrorizada. — Não! De borboletas falsas!
— Nem. Você quer usar insetos mortos. Você é uma usuária de
insetos mortos! — zombou Robbie e, apesar de nossas lágrimas e de
nossa separação iminente, ele me fez rir. Eu saí correndo atrás dele,
perseguindo-o pelo quintal até que sua mãe o chamou para entrar no
carro.
— Eu te vejo no baile — disse antes de fechar a porta.
Fiquei olhando Robbie ir embora até não conseguir mais vê-lo.
E, nos sete anos desde então, ele se tornou parte do maior grupo
masculino de K-pop de todos os tempos, e eu não iria nem morta ao
baile.
— Aqui está! — cantarolou Josie quando retornou, trazendo-me
de volta à realidade. Ela ergueu um megafone.
— O que eu deveria fazer com isso? — perguntei. — E por que
você tinha um megafone no armário?
— Foi do nosso comício para salvar as baleias — disse ela. E
então tive flashbacks horríveis de Josie vestida de baleia, marchando
pelo pátio com seu megafone. — Usa para instigar a multidão. — Ela
me estendeu o objeto. — Faz um discurso. Empolgue as pessoas.
— Não sou muito boa em falar em público. — Cruzei as mãos
atrás das costas. Na verdade, precisei sair do clube de debate,
porque não conseguia ficar na frente dos doze outros estudantes e
defender meu ponto de vista sem ficar vermelha.
— El, eu vivo te dizendo que você não pode ser uma boa ativista
a menos que supere seu medo de falar em público — disse Josie. Eu
não tinha coragem de lhe dizer que não achava que o ativismo
realmente faria parte do meu futuro. A essa altura, eu só continuava
no clube por ela. “Vamos lá — Josie me arrastou de volta à mesa de
ingressos do baile.”
Caroline Anderson e Felicity Fitzgerald estavam sentadas lá,
recebendo o dinheiro pelos elegantes ingressos em alto-relevo. As
duas eram lindas líderes de torcida brancas, com o tipo de aparência
perfeita que só se via em programas de televisão e em filmes
adolescentes. Naquele momento, ambas usavam seus uniformes de
líderes de torcida, embora não fosse dia de jogo. Acho que elas
pensaram que o espírito escolar fluiria deles para os compradores
que estavam gastando incríveis sessenta dólares por ingresso.
— Elena, fala a verdade — disse Caroline, apoiando o queixo nas
mãos. — Você odeia o baile porque sabe que ninguém te convidaria.
Congelei, minha boca se abrindo.
— O quê? Não, eu não me importo com essas coisas.
— Ah, qual é, Elena. Você ficou com inveja quando arrumei meu
primeiro namorado na sétima série — intrometeu-se Felicity.
— É mesmo? — perguntou Caroline, seus olhos aguçados
brilhando de alegria.
— Sim, ela ficou de cara feia a semana inteira e, em protesto, não
foi nem à minha festa de aniversário. — Felicity deu uma risada.
Eu estava doente naquele fim de semana, e minha mãe não me
deixou ir à festa. Mas eu sabia que, se dissesse isso agora, soaria
como uma desculpa vazia e apenas jogaria mais lenha na fogueira de
Felicity e Caroline.
Felicity e eu já tínhamos sido próximas. Depois que Robbie foi
embora, eu não tinha ninguém com quem andar na escola e, no
ensino médio, orbitei em torno de Felicity e de sua pequena gangue
de garotas até que a minha decisão de não me tornar líder de torcida
na nona série me tornou digna de ser excluída. Ainda me lembro do
dia seguinte ao teste para líderes de torcida, quando, no refeitório,
Felicity deu uma de Gretchen Wieners, de Meninas Malvadas,
gritando:
— Você não pode sentar com a gente! — Só que com menos rosa.
Josie cutucou meu ombro.
— Vamos, El. Não deixa que elas te afetem.
Josie puxou uma cadeira e subiu nela, gritando no megafone:
— Atenção! Temos um anúncio a fazer.
Ela desceu e empurrou o megafone para mim.
— Não consigo subir — sussurrei, tentando afastá-lo.
— Basta pensar no centro comunitário. Fala com o seu coração.
— É o anúncio de que você finalmente percebeu o quão patético é
o seu protesto idiota? — gritou Caroline, e Felicity riu.
Isso me lembrou daquele almoço em que Felicity terminou a
amizade comigo na frente de todo o refeitório. O que me irritou o
suficiente para me fazer subir na cadeira e pegar o megafone.
Mas quando olhei para todos aqueles rostos me encarando,
minha boca ficou tão seca que não consegui produzir nenhum som.
Senti como se estivesse suando, mas, quando passei a mão na minha
testa, ela saiu seca. Olhei para Josie, que fez um sinal de positivo
com a mão, então apertei o botão. Limpei a garganta, e um som
agudo de retorno me fez estremecer. Mas pelo menos chamou a
atenção do refeitório. Todos os olhos estavam em mim agora. Ótimo.
Respirei fundo e lembrei-me do conselho de Josie: fala com o seu
coração.
— Hum, olá — murmurei, e o megafone guinchou novamente. —
Sinto muito.
Josie beliscou minha perna e murmurou: não se desculpa.
Balancei a cabeça e limpei minha garganta mais uma vez.
Lembre-se do centro comunitário.
— Hum, então, estou aqui para falar sobre um lugar que significa
muito para mim. — Olhei com nervosismo para Josie, e ela
murmurou de novo: com o seu coração. — E… e que também significa
muito para toda esta comunidade. — Alguns dos alunos do primeiro
ano das mesas mais próximas a mim estavam assistindo sem rir ou
zombar, então, pelo menos, eu tinha a atenção deles. Com o coração
acelerado, continuei. — Não sei se alguém aqui lembra como era o
West Side quando éramos crianças. Mas, há menos de dez anos, não
tinha muita coisa lá. Apenas a velha fábrica fechada e nem mesmo
parques.
Alguns garotos assentiram. A Escola Secundária Pinebrook
atendia toda essa área, o que incluía estudantes do ensino médio
vindos do West Side. Ver que minhas palavras tinham sido
reconhecidas me deu uma energia extra para continuar, então as
próximas saíram mais suaves.
— O Centro Comunitário de West Pinebrook reaproveitou a
fábrica para criar um espaço seguro que os estudantes das escolas
primárias e secundárias do West Side pudessem frequentar depois
da aula. Dona Cora, sua administradora, diz que um prédio pode se
tornar mais do que tijolos e janelas se estiver cheio de paixão e amor.
Não vale a pena lutar por um lugar como esse? Vocês não tão
cansados de os adultos dizerem que estamos definhando porque
ficamos com o nariz enfiado no celular?
Eu vi Josie balançar a cabeça e notei que alguns dos alunos
franziram a testa e se viraram. Porcaria, estavam se dispersando. As
meninas que estavam assistindo ao vídeo do WDB pareciam
extremamente irritadas. Comecei a atropelar as palavras enquanto
tentava finalizar para poder me esconder.
— E-então, se vocês quiserem mostrar como nossa geração pode
ser apaixonada, basta doar, para manter uma importante instituição
de bairro funcionando, o que gastariam em vestidos ou limusines! —
Fiz o possível para encarnar o espírito de Josie e levantei a outra mão
no ar. — Juntos, podemos fazer a diferença!
Um silêncio denso se instaurou, até que Max tentou iniciar um
aplauso lento, que soou triste e patético quando ninguém se juntou a
ele. Josie soltou um grito entusiasmado, que ecoou por todo o
refeitório. Mas, infelizmente, a maioria dos alunos retornou ao
próprio almoço.
Caroline irrompeu raivosa de trás da mesa de ingressos, seu rabo
de cavalo loiro balançando furiosamente.
— Isso só pode ser ilegal — reclamou ela. — Você não pode
simplesmente ficar aqui gritando em nossos ouvidos durante todo o
almoço.
Josie deu um passo à frente e cruzou os braços. As duas eram da
mesma altura, então, caso houvesse uma luta, seria bem equilibrada.
Exceto que, se eu fosse uma garota que costuma apostar, apostaria
meu dinheiro em Josie.
— Sinto muito em te dizer isso, mas o regulamento da escola diz
que os alunos podem fazer comícios, desde que não interrompam os
períodos de aula ou usem linguagem vulgar — disse Josie, sem se
abalar.
Felicity se juntou à sua amiga e revirou seus olhos castanhos para
mim.
— Elena, se eu conseguir que meu pai doe mil dólares para o seu
estúpido centro comunitário, isso vai calar sua boca?
Desci da cadeira.
— Claro — falei, e Felicity cruzou os braços, um sorriso de
triunfo se espalhando por seu rosto, que era bonito demais para seu
próprio bem. — Pelo menos por enquanto. Qualquer quantia ajuda,
Felicity. Mas isso não vai ser suficiente. Se você doar o que gastaria
com unhas, cabelo, vestido, limusine, ingressos e jantar. Se fizer com
que todos os seus amigos façam isso também. Pense em como isso
iria longe. Você não gostaria de fazer algo de bom com a sua
popularidade?
Felicity olhou para mim de nariz empinado e, por um segundo
fugaz, pensei que ela pudesse estar pensando nisso. Então, um
sorriso de escárnio se formou em seus lábios.
— Você tá delirando, Soo. Como você espera mudar a opinião de
alguém sobre o baile de formatura quando nem seu irmão gêmeo tá
te dando ouvidos? — Ela acenou com a cabeça por cima do meu
ombro.
Eu me virei e vi Ethan na fila.
— Ethan — reclamei. Isso não era nada bom. Traída pelo próprio
sangue.
Ethan e eu éramos a prova de que quaisquer teorias sobre a
existência de uma conexão inata em gêmeos eram bobagens. Nós
dois éramos extremos opostos. Ethan era carismático e fofo, o que
era irritante, porque meus colegas de classe sempre tentavam obter
de mim informações sobre ele. Enquanto eu era desajeitada e
completamente esquecível, Ethan estava no time de lacrosse do
colégio desde o primeiro ano e se sentava com o “pessoal popular”
no pátio para almoçar. Normalmente eu almoçava com Josie na sala
de jornalismo. E agora, pelo que parecia, Ethan e eu estávamos em
lados opostos desse debate sobre o baile.
Ethan me dirigiu um sorriso amarelo:
— Foi mal, Gêmea, é só que, você sabe, os ingressos para o baile
têm desconto na primeira semana de venda.
Normalmente, ouvi-lo me chamar de “gêmea” me fazia sorrir
mesmo quando eu queria revirar os olhos. Mas, desta vez, senti
apenas irritação.
— Você sabe o quanto o centro comunitário é importante para
mim, Ethan.
— Eu sei, é só que… quero conseguir ingressos com desconto
para o baile.
Ethan não entendia. Ele nunca se importava com nada que eu
fazia. Enquanto eu me virava de volta, Caroline puxou o megafone
da minha mão.
— Ei! — Tentei agarrá-lo, mas ela escapou com uma dancinha.
Caroline o levantou.
— Anúncio! Decidi dar uma festa pré-baile na minha casa. Por
que limitar a diversão a apenas uma noite? Mas, para ser convidado,
você precisa ter um ingresso para o baile!
Houve uma comemoração geral, e os garotos da fila se
empurraram para frente, como se, de repente, os ingressos fossem
uma mercadoria limitada.
Era como aquela cena de O Rei Leão, quando Simba está olhando
com os olhos arregalados para os gnus em debandada. Exceto que
não havia nenhum Mufasa para me salvar enquanto eu tentava sair
do caminho da multidão crescente.
Claro, com minha sorte terrível, esqueci da cadeira atrás de mim.
E, em vez de correr para um lugar seguro, senti meus pés se
emaranharem nas pernas de metal. Ouvi Josie gritar meu nome
enquanto eu tentava manter o equilíbrio, mas a cadeira venceu a
batalha, e caí de costas, meus braços girando como em um desenho
animado ao mesmo tempo em que eu tentava me equilibrar. Acabei
esparramada no chão pegajoso.
Minhas mãos, que eu havia jogado para trás para tentar me
segurar, ficaram cobertas por algum tipo de substância pegajosa, e
meu quadril latejava por ter batido na beirada de uma mesa
enquanto caía. Observei os estudantes pisotearem meus panfletos,
amassando-os e se aglomerando em torno de uma triunfante
Caroline.
Dois

Nas quartas-feiras, eu ia ao centro comunitário depois da


escola. Normalmente, ficava animada para ver as crianças. Mas, hoje,
o fracasso pesava sobre meus ombros.
Enquanto caminhava para o estacionamento, vi Ethan e seus
amigos perambulando pelo pátio antes do treino de lacrosse. Eles
estavam rindo, rasgando pedaços de papel e jogando-os no ar como
confete. Se Josie estivesse aqui, daria um sermão neles sobre jogar
lixo no chão. Da última vez que ela tentou falar com o grupo sobre o
programa de reciclagem, eles a encararam como se ela estivesse
falando francês, e então Tim Breslow jogou propositalmente sua
garrafa de Coca-Cola em uma lata de lixo próxima.
A questão era que, embora eu definitivamente acreditasse na luta
do Clube da Conscientização (que envolvia praticamente qualquer
causa ambiental ou de justiça social), ele era muito mais a praia de
Josie. Eu não era corajosa ou ousada o suficiente para convencer
alguém a lutar pela mudança sem minha melhor amiga. Eu
simplesmente não tinha o necessário para confrontar ninguém
sozinha, mesmo sobre algo tão pequeno quanto jogar lixo no chão.
Então, comecei a dar uma grande volta, com a intenção de passar
longe do grupo.
Uma brisa levantou alguns pedaços de papel, que vieram girando
em minha direção. Pude praticamente ouvir a voz de Josie me
repreendendo. Então, abaixei-me para pegá-los. E congelei quando
vi um sorriso familiar, os contornos de seu rosto rasgados em linhas
irregulares. Era uma das crianças do centro comunitário. A que eu
tinha imprimido nos meus panfletos.
Eles estavam rasgando-os! Eu não poderia simplesmente deixar
isso para lá, certo? Precisava dizer algo, meu orgulho exigia isso.
Mas quando comecei a andar em direção a eles, ouvi a risada de
Ethan. Estava rindo dos meus panfletos? Não estava nem mesmo
mandando seus amigos pararem de desfigurá-los. Estava apenas
sentado lá se divertindo enquanto eles faziam isso.
Furiosa, passei direto. As risadas diminuíram quando eles me
avistaram. Nem olhei para trás. Não queria ver o olhar presunçoso
no rosto de Ethan enquanto ele zombava de algo que eu amava.
Nem deveria estar surpresa. Ethan nunca me escolheu em vez
dos amigos. Eu tinha parado de esperar que ele o fizesse.
Quando cheguei ao lado oeste da cidade, minha raiva havia se
transformado em uma leve dor de cabeça. Era inútil me estressar
com Ethan. Não era como se ele fosse mudar, e meus pais nunca
ficariam do meu lado se eu reclamasse. Então, apenas respirei fundo
dez vezes, como sempre fazia, e me convenci de que era mais fácil
deixar para lá.
A entrada lateral do centro comunitário levava a salas onde, às
vezes, havia aulas. Mas agora estavam cheias de crianças que
brincavam enquanto fingiam fazer o dever de casa. Cada sala tinha
um tema, como a Ladybug, que atualmente estava ocupada com
cinco garotos da quinta série que discutiam sobre quem seria o DM
em sua partida de D&D. Reconheci o fichário gigante que escrevi
pessoalmente para o jogo.
Um dos meninos olhou para cima e me viu:
— Ei! A Elena tá aqui. Ela pode ser o DM.
Não vou mentir, a recepção calorosa aqueceu meu coração. Todas
as crianças do centro me conheciam pelo nome. Aqui, eu não era “a
irmã de Ethan” ou “Filha Número Cinco dos Soo”.
— Claro — falei, mas lembrei que tinha uma tarefa para realizar
primeiro. — Vão escolhendo seus personagens que eu já volto.
Preciso falar com Dona Cora.
Todos assentiram, acomodando-se juntos alegremente. Eu tinha
muito orgulho do clube de D&D que criei no centro comunitário. A
princípio, fiquei preocupada que as crianças o considerassem uma
coisa de nerds perdedores. Mas um grupo realmente se formou e o
jogo engrenou. Isso me lembrava de quando Robbie e eu
encenávamos nossos próprios jogos de aventura durante a infância.
Lembrei-me de quando cheguei ao centro comunitário no
primeiro ano, focada apenas em cumprir minhas horas de
voluntariado e depois ir para casa. Mas, toda vez que eu vinha,
acabava ficando cada vez mais tempo, pensando em novos
programas que gostaria de ter tido quando era mais jovem. E,
quando criei coragem para sugerir um projeto, lembro-me da
enorme onda de orgulho que senti quando Cora disse que a ideia era
genial. Fiquei encantada pelas crianças e admirava Cora Nelson, a
mulher que administrava sozinha o centro comunitário.
Fui para a ampla sala de jogos que utilizamos para cuidar das
crianças mais novas. A TV estava ligada em um canto, mas ninguém
estava realmente assistindo. Localizei duas das minhas pessoas
favoritas do centro comunitário, Tia e Jackson, no canto mais
distante, perto de uma pequena estante.
— Elena! — chamou Jackson quando me viu. O menino de 4 anos
acenou tanto com o braço que tive medo que ele caísse do colo de
Tia. Seu cabelo castanho caía sobre os brilhantes olhos azuis, que
tinha herdado da mãe. — Elena, Elena, Elena, Elena, Elena, adivinha
só!
O cabelo loiro de Tia estava preso em um rabo de cavalo frouxo,
com alguns fios se soltando, e ela estendeu a mão distraidamente
para colocá-los atrás da orelha enquanto sorria para mim. Ela era
alta e magra (o tipo de magreza com que minha mãe lidaria com um
estalar de língua e um prato de comida) e parecia jovem o suficiente
para estar em um campus universitário.
— Graças a Deus que você veio, tô precisando fazer xixi desde
que chegamos — disse Tia, transferindo Jackson para o meu colo
assim que me sentei.
— E aí, Jack-Jack? — perguntei.
— Eu sei ler! — exclamou ele.
— Ah, é mesmo? — falei, meu olhar encontrando o de Tia
enquanto ela se levantava.
Tia apenas riu e chacoalhou os ombros:
— O que posso dizer? Tô criando um gênio.
— Olha só! — disse Jackson, abrindo um livro.
Eu me inclinei um pouco, e ele começou a contar a história e virar
as páginas. E foi uma recitação palavra por palavra. Eu teria caído
no truque, só que ele acidentalmente começou a “ler” na folha de
rosto e sempre estava uma página atrasado. Ainda assim, o garoto
era esperto por ter memorizado o livro inteiro, e, quando terminou,
bati palmas, dando o devido crédito.
Jackson riu e olhou para cima; então seus olhos se arregalaram, e
ele deu um pulo.
— Mamãe? — chamou. — Mamãe! — gritou, girando pela sala.
— Ei, Jack-Jack, tá tudo bem. Ela só foi ao banheiro — falei,
tentando pegar sua mão. Mas ele se desvencilhou, lágrimas se
acumulando em seus olhos.
Tia voltou correndo, pegando Jackson nos braços.
— Oi, amor, tá tudo bem. Mamãe tá aqui.
Jackson deu pequenos soluços tristes enquanto Tia suspirava.
— Ele tá com ansiedade de separação desde que assumi o turno
da noite no mês passado. Seus professores da pré-escola disseram
que isso pode acontecer quando os horários mudam.
Assenti com a cabeça, sentindo uma dor no coração ao ver o rosto
de Jackson molhado de lágrimas.
— Ei — falei, fazendo uma voz animada para distraí-lo. — Ouvi
dizer que o aniversário de alguém tá chegando.
Um sorriso iluminou o rosto dele:
— Sim!
— De quem será que é? — perguntei, acariciando meu queixo e
fingindo pensar.
— Meu — gritou Jackson, levantando a mão. — É o meu.
— Ah, é mesmo? — Sorri com seu entusiasmo contagiante. — O
que você quer de aniversário? Cosquinha?
Cutuquei suas costelas, e ele caiu na gargalhada, contorcendo-se
até cair no chão.
— Não é isso? — perguntei, fingindo pensar mais um pouco.
Então, tive uma ideia. — Sabe, quando eu era pequena, meu melhor
amigo e eu costumávamos conceder desejos um ao outro no
aniversário. Você ia gostar?
Os olhos de Jackson se arregalaram.
— Sim — disse, apressado. — O que posso pedir?
― Qualquer coisa. ― Dei de ombros. ― É só pensar no que você
quer.
― Tá bom. ― Ele sorriu. ― Eu quero um livro!
― Sério? ― Senti um grande orgulho, esse garoto estava
conquistando meu coração de nerd.
― Sim! Um livro bem grande. ― Ele esticou os braços ao máximo
para ilustrar o tamanho.
― Feito. Por que agora você não procura outro livro para ler para
mim, amigão? ― perguntei.
Jackson se levantou e foi até a prateleira, examinando muito
seriamente suas escolhas.
― Você se dá tão bem com ele. ― Tia sorriu. ― Tenho sorte de ter
você cuidando dele. Esses turnos noturnos seriam um inferno se eu
não tivesse um lugar seguro para deixar o Jackson.
Qualquer felicidade que esse elogio teria me proporcionado
desapareceu quando imaginei o que aconteceria se o centro
comunitário fechasse. Os serviços de babá à tarde e à noite não eram
só para as crianças. Eram para pais como Tia, que, quando
precisavam trabalhar até tarde, não podiam pagar uma babá. Tantas
famílias por aqui não funcionavam em horário comercial,
considerado a norma por tantas outras.
― Já sabe quando vai conseguir um turno diurno de novo? ―
perguntei.
Tia balançou a cabeça.
― Eu me inscrevi para um posto de gerente de piso e consegui
uma entrevista, mas vamos ter que esperar para ver.
― Vou cruzar os dedos. ― E fiz isso na mesma hora, segurando-os
próximo ao coração.
Tia sorriu:
― Falando em dedos cruzados, como vai a sua cruzada?
― Bem, se minhas projeções estiverem corretas, vamos ter feito o
suficiente para ajudar o centro daqui a cerca de 26 anos ― falei com
um suspiro pesado, e Tia me deu um sorriso solidário. ― Acho que
essa coisa de ativismo não é muito a minha praia.
― Bem, pode levar um tempo ― disse Tia. ― E o Clube da
Conscientização é o primeiro que você não abandonou depois de um
semestre.
― Isso porque Josie viria atrás de mim, não importa onde eu me
escondesse. ― Ri. Mas Tia tinha razão. Eu simplesmente nunca
combinei com nenhuma outra atividade extracurricular que tentei. E
tentei muitas.
Tia sorriu e perguntou:
― Já tentou entrar para a equipe feminina de levantamento de
peso este semestre?
Estremeci. Achei que seria bom ter um esporte para colocar na
minha candidatura para a faculdade, e a equipe de levantamento de
peso aceitava qualquer uma que tentasse, só que…
— Eu deixei a barra cair durante o teste e quase quebrei o dedo
do pé da técnica. Vou entrar para a história da Escola Pinebrook
como a única pessoa que não conseguiu entrar para a equipe.
Tia riu e disse:
— Sem querer destruir seus sonhos, nunca achei que fosse sua
praia mesmo.
Dei de ombros:
— Precisei aprender do jeito mais difícil. Por enquanto, vou
continuar condenada ao ostracismo por “arruinar o baile”.
— Eu não fui ao meu baile de formatura, sabe — disse Tia.
— Sério? Por que não? — perguntei, curiosa de verdade. Parecia
que todos ao meu redor achavam que eu era ridícula por não querer
ir ao baile.
— Estava nas últimas semanas da gravidez — contou. — Não
tinha vontade de dançar de salto alto estando grande como uma
casa.
Mordi o lábio e assenti. Sempre esquecia que Tia era mais nova
que minhas irmãs. Mas eu sabia que ela ainda estava no ensino
médio quando engravidou, e seus pais a deserdaram por isso.
— Ei, o que foi isso? — perguntou Tia, pegando meu braço e
apontando para um curativo em meu pulso. Eu tinha trombado em
alguma coisa que me arranhou durante a debandada no refeitório.
No entanto, meu orgulho estava bem mais ferido. — Foi aquela
garota Felicity de quem você me falou?
— Por quê? Você vai chamar a atenção dela? — perguntei,
segurando um sorriso.
Tia suspirou e soltou minha mão.
— Como se fosse fazer alguma diferença. Jovens que rebaixam os
outros são sociopatas desprezíveis ou apenas inseguros. E não vale a
pena perder tempo tentando descobrir qual é o caso dela.
Balancei a cabeça. O conselho de Tia sempre foi ser melhor do
que os outros. Ela dizia que, desse jeito, quando você terminasse o
ensino médio, ainda teria seu orgulho. A estratégia de Josie é
revidar, o que, eu acho, funciona para ela. Prefiro evitar encrenca a
qualquer custo. E sou muito boa em ser invisível, pelo menos isso
serve para alguma coisa.
— Onde está Cora? — perguntei, olhando ao redor da área
comum.
— Da última vez que a vi, ela ainda estava fazendo ligações no
escritório, tentando atrair mais pessoas para o nosso lado antes da
reunião de orçamento municipal em junho.
— Algum resultado? — perguntei, temendo a resposta.
Tia balançou a cabeça:
— Tiveram que dispensar a Sra. Lewis esta semana.
— O quê? A Sra. Lewis trabalha aqui desde que o centro abriu! —
exclamei. Ela era uma professora semiaposentada que ministrava
todas as aulas de alimentação saudável e culinária. — Não podemos
deixar que isso continue acontecendo.
A TV do outro lado da sala começou a fazer barulho com os
comerciais. Eu não assistia mais à TV a cabo, mas parecia que os
comerciais sempre eram bem mais altos do que os programas. Tinha
certeza de que isso era algum tipo de truque consumista perverso. E
esse comercial era ainda mais alto, porque estava anunciando o
convidado musical do programa noturno de hoje: WDB.
— Ei, você já não comentou que conhecia um desses garotos? —
perguntou Tia.
— Sim, há uma vida — respondi assim que a foto de Robbie
apareceu, antes de mostrarem o grupo inteiro.
Ligue sua TV às 23 horas e se sinta completamente inadequada quando
comparada ao seu melhor amigo de infância famoso!
Tudo bem, tudo bem, a televisão não disse isso, mas poderia
muito bem ter dito.
— A gente nem se fala mais — apontei. Não nos falávamos desde
os 13 anos, e, logo em seguida, ele ficou famoso demais para se
lembrar do meu número. Peguei minha mochila. — Vou lá dentro
falar com Cora.
— Mas e o livro! — protestou Jackson ao voltar correndo com
nada menos que cinco livros precariamente equilibrados em seus
bracinhos de criança de 4 anos.
— Prometo que volto rapidinho e leio tudo isso com você.
— Promete! — O garoto estendeu o mindinho, e ri. Eu o ensinei a
fazer a promessa de mindinho mês passado, e agora ele só quer
saber disso.
— Prometo. — Enrolei meu dedo no dele.
— Agora sela — falei, e, com os mindinhos ainda enrolados, nós
juntamos nossos polegares. — E carimba. — Soltamos os dedos e
pressionamos o polegar na testa. — E envia! — Juntamos nossas
palmas.
— De novo! — disse Jackson, risonho.
Queria tanto ficar e jogar milhares de jogos com ele. A risada do
garoto era contagiante. Mas eu precisava falar com Cora.
Para chegar ao escritório dela, era preciso atravessar a grande
área de recreação. Era o coração do centro comunitário. Onde a
maioria das crianças gostava de brincar, usando a quadra de
basquete ou jogando handebol no canto. Havia até uma pequena
pista coberta. Na construção da área, um espaço plano, que
costumava ser um chão de fábrica, foi aproveitado. Era isso que
tornava o centro tão útil. Isso, e o fato de ele ficar do outro lado da
rua da escola primária e a uma curta distância da escola secundária.
Quando bati na porta, ela se abriu um pouco. O espaço não era
maior do que um armário de zelador (e eu desconfiava secretamente
que, antes, ele costumava cumprir essa função), mas Cora insistiu
em usar este espaço em vez de uma das salas maiores. Disse que elas
deveriam ser utilizadas para atividades ou estudo.
Cora estava sentada atrás de sua mesa, exatamente como eu
havia imaginado. Era uma mulher negra alta e magra que trabalhou
na cidade por mais de uma década como assistente social antes de
assumir o cargo de diretora do Centro Comunitário de West
Pinebrook. Percebi que o que de início parecia ser a pior playlist de
música de todos os tempos era, na verdade, uma música de espera
horrível tocando no alto-falante de seu telefone.
— Ah, eu não queria interromper… — comecei, mas ela acenou
para que eu entrasse, digitando furiosamente em seu computador.
— Não tá interrompendo. Na verdade, você tá me salvando de
jogar este telefone na parede. Tô ouvindo essa música há 20 minutos.
Vou ter pesadelos com ela.
— As ligações também não tão indo muito bem hoje? —
perguntei, sentando-me na única outra cadeira da sala, que ficava
espremida entre a escrivaninha e as gavetas de arquivos
transbordantes.
— Nem um pouco — disse Cora e, na mesma hora, alguém
atendeu do outro lado da linha. Ela pegou o telefone do gancho. —
Alô? Vereador? — Suspirou. — Não, eles me disseram que eu ligaria
diretamente para o vereador. Bem, disseram que seria quando ele
tivesse um momento para conversar… Eu já liguei de volta. Estou
ligando de volta agora. — Cora apertou a ponte do nariz. — Sim,
posso ligar de volta de novo. Quando ele terá um espaço na agenda?
— Ela digitou rapidamente no computador, adicionando o horário
ao seu calendário. — Certo, diga ao vereador que estou ansiosa para
discutir essa questão com ele na sexta-feira às 16 horas.
Ela desligou e deixou a cabeça cair sobre a mesa com um baque.
Parte de mim se perguntou se eu não deveria simplesmente ir
embora, mas Cora soltou um suspiro pesado. Tão pesado que eu não
poderia deixá-la sozinha.
— Sinto muito, Cora — falei.
— Está tudo bem. Significa apenas que terei outro encontro com
meu telefone na sexta-feira. — Ela começou a digitar no computador
e então estremeceu. — Ah, esqueci.
— O que foi? — perguntei, inclinando-me para frente para olhar
a tela.
— Eu ia ficar no turno de babá da sexta à noite. Talvez eu possa
chamar a Dee.
— Posso assumir o turno. — Eu me voluntariei.
— É mesmo? Tem certeza? Estudantes do ensino médio não
gostam de sair na sexta à noite?
— Você tá dizendo que sou sem graça porque não quero sair na
sexta à noite?
— Não, estou dizendo que é uma santa e nunca vou falar mal de
você ou te desvalorizar.
Eu ri, mas, por dentro, estava me achando. Sempre me sentia tão
radiante quando Cora me elogiava.
— Falando nisso — falei, abrindo a página de arrecadação de
fundos para o centro comunitário que comecei com Cora dois meses
atrás. — Não arrecadamos muito esta semana. Apenas 150 dólares.
Tenho certeza de que vamos receber mais doações em breve.
Mostrei a ela o novo total: 371 dólares.
Parecia tão patético dizer isso. Como uma criança oferecendo seu
cofrinho para ajudar a pagar a hipoteca. Mas era tudo o que eu tinha.
— Elena, que incrível! Obrigada por todo o seu trabalho duro —
disse Cora. E o fato é que ela realmente falou sério. Nunca dizia as
coisas apenas para agradar as pessoas: por isso, sempre confiei na
opinião dela.
— Qualquer quantia ajuda. E só precisamos arrecadar dinheiro
suficiente para manter o centro comunitário funcionando até você
conseguir mais fundos da cidade ou de novos patrocinadores, não é?
— Claro — concordou Cora. — E, se tivermos que fechar as
portas por alguns meses, ainda lutaremos para reabrir.
— Fechar? — perguntei sem pensar. — Não, isso não pode
acontecer. Para onde as crianças iriam?
— Não sei, mas mesmo que votem para recebermos mais
financiamento em junho, não conseguiremos nos manter até lá.
Ficaremos sem fundos no mês que vem.
— Não, tem que ter mais coisas que a gente possa fazer — insisti.
O baile seria em maio. Se conseguíssemos que os estudantes
colaborassem e doassem parte de seu dinheiro para o centro
comunitário, seria possível. Alguns gastam quase mil dólares com
todos os adereços. Tenho certeza de que Felicity é um deles.
Precisamos apenas criar outra estratégia para fazer os alunos nos
ouvirem!
— Não perca as esperanças. Eu não vou perder — falei. — Posso
dar um jeito nisso, prometo. — Peguei meu celular, digitando
furiosamente em meu aplicativo de notas algumas ideias aleatórias
que eu queria discutir com Josie na próxima reunião do Clube da
Conscientização.
Cora lentamente abriu um sorriso.
— Você tem razão. Só acaba quando termina. Devemos isso a
nossas crianças.
Era isso que eu amava em Cora. Ela não pensava neste lugar
apenas como um emprego. Pensava nele como uma família.
Para mim, o centro comunitário era mais do que apenas um
lugar.
Vi Jackson e as outras crianças crescerem. Ajudei Deena Romero
a trançar o cabelo para seu primeiro recital. No centro comunitário,
eu era uma parte importante da administração do local. Três das
minhas ideias de projeto foram implementadas e se transformaram
em eventos para as crianças, sendo a noite de D&D a mais bem-
sucedida.
De jeito nenhum que eu deixaria esse lugar fechar as portas, nem
por dois meses, nem nunca. Parecia que estava na hora de mudar
nossa estratégia. Eu superaria minhas fobias sociais e entregaria
panfletos para todos os alunos no corredor, se necessário. As pessoas
entenderiam por que o centro comunitário era tão importante. Eu as
faria entender.
Três

Estacionei na garagem ao lado do Infiniti brilhante de Ethan.


Ele ganhou um carro novo no aniversário de 16 anos. Eu ganhei um
celular. Como isso poderia ser justo? Mas ele é o único filho da
família. Sou apenas o peso extra que veio junto.
Meus pais me deixavam dirigir o velho Nissan Sentra 2008 da
minha irmã. Ele já era usado quando originalmente o compraram
para Esther. Agora tinha quase 250 mil quilômetros rodados e estava
sempre quebrando.
Cheguei em casa um pouco mais tarde do que o normal, e já
estava quase na hora do jantar. O que significava que minha mãe
provavelmente comentaria sobre o meu atraso. Na casa dos Soo, a
hora do jantar era a hora da família. Mesmo que agora fôssemos
apenas quatro em vez do antigo total de sete.
Decidi entrar pela porta da frente para despistar minha mãe. Eu a
abri o mais silenciosamente possível, tirando meus sapatos de
imediato. Fui recebida pelo baú coreano de madeira brilhante que
exibia retratos da família. Havia pelo menos meia dúzia de fotos de
Ethan envolvido nas mais diversas atividades: lacrosse, basquete, e
um retrato aleatório dele no aquário. E as fotos da formatura da
faculdade das minhas irmãs. Mas, de mim, só tinha uma fotografia
de turma da terceira série. Também era a minha pior foto. Robbie
tinha me feito derramar suco na minha roupa impecável, e precisei
usar um de seus moletons velhos. Era grande demais para mim, e eu
estava muito irritada, o que se refletia em meu sorriso forçado.
Nunca entendi por que minha mãe escolheu exibir aquela foto
dentre todas as outras. Mas parecia estranhamente adequado. Por
que se esforçar para exibir seu filho extra?
Alcancei a escada e estava quase livre. Mas juro, minha mãe tem
aqueles ouvidos supersensíveis que as mães provavelmente recebem
no hospital com o seu primeiro filho. Porque, assim que eu estava
pisando no primeiro degrau, ela gritou:
— Allie, é você? Vem aqui um minutinho.
Suspirei, não adiantava corrigir quando ela me chamava pelo
nome de uma das minhas irmãs. Então, fui me arrastando até a
cozinha, onde minha mãe cortava uma abobrinha em fatias finas. Ela
já estava fritando tofu marinado no fogão, e o cômodo estava
tomado por um cheiro glutinoso que só poderia significar que tinha
arroz feito na hora.
— Por que você atrasou? — perguntou sem se virar.
Sabia.
— Vou ao centro comunitário toda quarta-feira, lembra? — falei,
mesmo sabendo que ela não lembrava.
— Ah, claro. E como foi o resto do seu dia? — Havia um tom em
sua voz que fez a frase soar menos como uma pergunta e mais como
um teste. Seu cabelo preto, meticulosamente tingido e alisado a cada
dois meses, agora estava preso longe do rosto com um elástico todo
puído de tão velho. Parte dos fios estava se soltando, e eu podia ver
o cinza nas raízes, o que significava que ela visitaria o salão coreano
novamente em breve.
— Foi bom — falei, dando de ombros sem necessidade, já que ela
não estava me vendo.
— Um passarinho me contou que o almoço foi bastante agitado.
— O nome desse passarinho rima com É Melhor Bethan Cuidar
da Própria Vida? — murmurei, olhando para as escadas. Meu gêmeo
ia se ver comigo…
— Não é culpa dele. Eu o fiz falar.
— Claro que não. — Nada nunca era culpa de Ethan. O príncipe
da família Soo.
— Não entendo porque você odeia o baile. Adora dançar. Era tão
boa nas aulas de jazz.
— Essa era a Esther — lembrei à minha mãe.
Ela sempre fazia isso, sempre me confundia com minhas irmãs.
Uma parte de mim não podia realmente culpá-la. Ethan e eu não
havíamos sido planejados, e ela precisou arrumar um emprego para
pagar as contas quando eu era criança. Fui criada mais pelas minhas
irmãs do que pelos meus pais nos meus primeiros sete anos de vida.
— Mas, ainda assim, você não deveria odiar o baile — disse ela,
finalmente se virando para mim. Ergueu a faca, o que eu teria
encarado como uma ameaça, só que ela estava tentando me dar um
de seus sorrisos de mãe bajuladora.
Dei de ombros:
— O baile é apenas 1 de 365 noites. Não preciso de uma noite
como essa quando sei que meu dinheiro pode ajudar a manter o
centro comunitário aberto.
— Fico feliz que você tenha algo pelo qual é tão apaixonada. —
Porém, ela disse isso como se estivesse frustrada por eu ainda não
ter deixado aquilo de lado. — Mas o centro comunitário não é só
mais um de suas dezenas de outros hobbies? Quando você se cansar
disso, não vai se arrepender de ter aberto mão do baile?
Eu podia sentir a frustração crescendo dentro de mim, como um
balão se enchendo de ar. Minha mãe sempre fez isso de descartar
qualquer um dos meus interesses como um hobby. Ela nunca o faria
com Ethan. Mas eu sabia que seria inútil reclamar.
E sabia que não podia simplesmente dizer que pensar no baile me
lembrava muito do meu antigo melhor amigo. Aquele que insistiu
que sempre seríamos amigos antes de me abandonar para perseguir
a fama. Robbie havia prometido que nunca me esqueceria e que
voltaria um dia para irmos juntos ao baile. Mas ele já havia quebrado
uma dessas promessas, e eu não era tola o suficiente para esperar
que cumprisse a outra. A ideia do baile apenas me lembrava de que
eu não era importante o suficiente para alguém se lembrar de mim.
Se contasse tudo isso à minha mãe, ela simplesmente presumiria
que eu estava amargurada por causa de um garoto e entenderia tudo
errado. Era melhor guardar esse motivo para mim.
— A questão não é o baile de formatura — insisti. — É salvar o
centro comunitário.
— Mas por que você simplesmente não pega um dos vestidos
usados das suas irmãs e vai?
— Por que todo mundo insiste que o baile é uma espécie de noite
mágica? Você não se lembra da Sarah voltando para casa com
ponche derramado nas costas do vestido? Ou de como você ficou
brava com a Esther porque ela chegou depois do seu toque de
recolher? E como a Allie voltou para casa chateada porque o salto
dela quebrou, ela torceu o tornozelo e passou o resto da noite vendo
seu par dançar com outra pessoa?
— Ah, querida, a própria Allie disse que foi um acidente estranho
e que, mesmo assim, ela se divertiu com os amigos.
Sim, Allie disse isso à nossa mãe, mas eu a ouvi chorando e se
lamentando para Sarah no quarto mais tarde.
— Eu só ficaria com Josie e Max no baile de qualquer forma. Por
que não fazer isso de graça no conforto da nossa casa?
Minha mãe suspirou, e percebi que ela não estava convencida:
— É porque ninguém convidou você?
Eu odiei que ela disse isso, como um espelho das palavras de
Caroline. O engraçado é que fui convidada para o baile de
formatura. Há sete anos. Não que isso importasse agora.
— Não, mãe, ter ou não um encontro não é tudo!
— Se você não tiver um encontro, de que outra forma vai
encontrar o amor?
— Mãe, eu só tenho 17 anos.
— Eu tinha 17 quando conheci seu pai — lembrou-me.
Sim, há mil anos.
Mas eu não tive a oportunidade de responder, porque a
campainha tocou.
— Pode atender? — pediu ela, mergulhando a abobrinha na
farinha e no ovo para fritar.
— Claro — murmurei praticamente para mim mesma. Não é
como se minha mãe esperasse que eu fizesse outra coisa além de
obedecer.
Presumi que fosse o entregador. Ele era o único que tocava a
campainha. Josie e os amigos de Ethan simplesmente mandavam
mensagem quando chegavam aqui.
Curiosa para saber qual era a entrega, destranquei a porta e,
quando estava prestes a abri-la, tive uma sensação estranha que fez
os pelos da minha nuca se arrepiarem. Algo me disse que não era o
entregador. Minha halmoni materna costumava ter sonhos proféticos
e sempre nos disse que isso era de família. Esther me disse que ela
estava falando besteira, mas, às vezes, tenho essas sensações que me
lembram das suas palavras. E este era um desses momentos.
Quando abri a porta, aquela sensação estranha floresceu como
um calor em meu peito. E meu queixo caiu ao ver Robbie Choi
parado na minha porta.
Era como abrir a porta para o passado, só que esse Robbie Choi
não era mais o garoto rechonchudo que tinha a mesma altura que eu.
Não que eu fosse baixinha; acho que estava na média, com meu 1,65,
mas esse Robbie era muito mais alto que eu, com quase 1,80. Por
alguma razão, prestei atenção primeiro em suas roupas. Eram bem
mais legais do que as camisetas desbotadas e as calças mal ajustadas
que ele usava na escola primária. A calça jeans era um pouco mais
apertada do que eu teria escolhido para ele, mas ainda lhe caía bem.
E o cabelo… O mesmo cabelo que eu havia raspado quando
tínhamos 9 anos, agora encostava na gola de sua camisa, e era rosa
pastel. Em vez de fazê-lo parecer ridículo, fazia-o parecer glamoroso.
— Robbie? — falei. — O que você tá fazendo aqui?
Ele deu um sorriso maroto que exibiu covinhas profundas e,
contra minha vontade, meu pulso acelerou. Era o mesmo sorriso que
fazia milhares de garotas se apaixonarem em um instante. Ele
estendeu a mão, e nela havia uma única rosa.
— Tô aqui para te levar ao baile.
Quatro

Não poderia ser verdade. Robbie Choi não poderia estar parado
na minha porta, muito menos me convidando para o baile.
Era coincidência demais. Eu estava pensando em Robbie e no
baile hoje, e agora ele estava na minha porta. Talvez minha halmoni
materna estivesse certa, e fôssemos mais do que apenas videntes.
Talvez fôssemos bruxas.
O mais provável era que eu estivesse alucinando por causa de
todo o estresse com o centro comunitário. Mas, mesmo quando
fechei os olhos com tanta força que pude ver aquelas estrelinhas
brilhantes atrás de minhas pálpebras e os abri novamente, Robbie
ainda estava parado na minha frente.
— Lani? — disse ele, e o som daquele apelido, que apenas Robbie
conhecia, trouxe-me de volta à realidade.
— Robbie? — O nome dele saiu quase como um grito estridente.
— Não vai me responder? — questionou com um sorriso que
iluminou seu rosto já lindo demais.
Mas, quando mesmo assim não respondi, ele vacilou um pouco, a
incerteza tomando conta de sua expressão. Ai, não, por que eu não
conseguia dizer nada?
— Ou… posso pelo menos entrar? — perguntou.
Instintivamente, comecei a abrir mais a porta, mas, quando ele se
mexeu, notei alguém atrás dele. Um homem com roupas escuras. Eu
teria pensado que era um guarda-costas, mas ele estava segurando
uma câmera.
Por que filmariam isso? De repente, eu só conseguia pensar no
meu cabelo bagunçado e quase levantei as mãos para arrumá-lo, mas
achei que seria óbvio demais. Então, eu as mantive imóveis ao meu
lado, segurando a barra da minha camisa.
Isso era algum tipo de pegadinha com câmeras escondidas?
Como aqueles reality shows que causam vergonha alheia que Ethan
assistia? Mas, se fosse, as câmeras não deveriam estar, bem,
escondidas?
— O que tá acontecendo aqui? — falei por fim, puxando a porta
para bloquear o saguão. Eu não queria minha foto embaraçosa da
terceira série na câmera.
— Ah. — Robbie deu outro sorriso de milhares de watts para
mim.
Ele passou a mão no cabelo, o que, de alguma forma, fez com que
parecesse elegantemente bagunçado. Era perfeito demais. Não era
nada parecido com o Robbie de quem eu me lembrava, que tinha
manchas de sujeira nas calças e um péssimo corte de cabelo feito no
banheiro pela mãe.
Percebi que eu não conseguia reconhecer nada naquele Robbie
parado na minha frente. Nem suas roupas, nem seu cabelo, nem seu
sorriso perfeitamente torto (tipo, tão perfeito que só poderia ter sido
ensaiado).
— Não se preocupa com a câmera — disse Robbie. — É só uma
coisa nossa. A WDB TV, para nossos fãs. Achei que seria divertido
para eles conhecer o antigo bairro onde eu morava.
— Mas por que ela precisa estar aqui? — perguntei, mudando de
posição desconfortavelmente. No geral, eu odiava ser filmada. Mas
saber que isso poderia estar em um canal tão famoso estava me
deixando ainda mais nervosa.
— Tá tudo bem. Você vai se acostumar.
Vou me acostumar? Quanto tempo ele esperava ficar aqui? O
antigo Robbie nunca teria me pedido para fazer algo que me
deixasse desconfortável. Ele sabia que eu odiava tirar fotos, quem
dirá fazer parte de algum programa de internet a que provavelmente
milhares de pessoas assistiriam.
— Certo, mas por que você tá aqui? — perguntei, sem conseguir
evitar que meus olhos se voltassem para a câmera a cada cinco
segundos. — A gente não se fala há, tipo, quatro anos.
Robbie riu, uma risada suave e gentil. Nada parecida com aquela
risada escandalosa de que eu me lembrava. Sinceramente, ele
parecia um asno rindo daquele jeito. E eu adorava. Não sabia o que
fazer com essa versão calma e gentil que saiu dele agora.
— Sei que ando muito ocupado ultimamente. Não parei nem um
minuto fazendo todas as turnês e tentando encontrar o máximo
possível de fãs. — Ele abaixou a cabeça ligeiramente, como se
estivesse envergonhado de quantos fãs incríveis tinha. Mas sorriu no
ângulo perfeito para ser capturado pela câmera. Tudo parecia tão
ensaiado. Lutei contra a vontade de revirar os olhos. — E eu já disse,
estou te convidando para o baile — continuou Robbie. — Você se
lembra da nossa promessa? Sempre cumpro minhas promessas. —
Ele me deu mais um daqueles sorrisos deslumbrantes e acrescentou
uma piscadela.
Não cumpre, não, tive vontade de dizer. E a promessa de sermos
melhores amigos para sempre? De você manter contato e sempre responder
às minhas mensagens? E essa promessa?
— Vamos lá, Elena. Você lembra, não é? —perguntou, e havia
algo na suavidade da sua voz que me irritou profundamente. Como
se fosse um cara charmoso em um filme cafona dando em cima de
uma garota. Ou como se fosse uma celebridade acostumada a ter
garotas se jogando a seus pés.
— Lembro — falei lentamente.
— Ótimo! — Empurrou a rosa para a minha mão. — A gente se
encontra na sua escola para comprar os ingressos?
— O quê? Não, não vou comprar ingresso nenhum.
— Como assim? — Robbie franziu a testa, e até isso parecia
perfeito.
— Você não precisa me levar ao baile — tentei explicar —, essa
promessa foi feita há anos, você não precisa cumprir.
Agora foi a vez dele de piscar confuso. Bufou um pouco, como se
quisesse rir, mas tivesse pensado melhor. Ele se inclinou e
sussurrou, tão baixo que a câmera provavelmente não conseguiria
captar sua pergunta.
— É porque você está nervosa de ir com alguém como eu?
Uau, Robbie realmente pensou que eu estava impressionada com
ele.
— Para ser sincera, eu meio que não acompanho sua música —
falei, franzindo meus lábios do jeito que eu costumava ver Allie
fazer quando alguém a irritava. — Mas ouvi dizer que você está indo
bem, então parabéns, eu acho.
— O quê? — Robbie franziu a testa e finalmente se esqueceu de
parecer bonito enquanto fazia isso.
— E para sua informação, eu não vou ao baile. De jeito nenhum.
Com ninguém.
Ele ergueu uma única sobrancelha em surpresa. Eu odiava
quando as pessoas faziam isso, principalmente porque eu não
conseguia.
— Mas não é o seu último ano? Por que você não iria ao baile?
Seu tom crítico foi a gota d’água. Levantei meu queixo e arrumei
minha postura:
— Porque eu não quero. Então, tenha uma ótima estadia nos
Estados Unidos.
E fechei a porta depressa. Eu precisava me afastar do olhar
desapontado nos olhos de Robbie e da luz vermelha brilhante da
câmera atrás dele.
Cinco

Robbie não sabia o que fazer. Apenas encarou a porta fechada


por uns três minutos até finalmente conseguir processar o que tinha
acontecido. Pensou em tocar a campainha de novo, mas estava
plenamente ciente da câmera que o filmava. Era mortificante, mas
todo o seu treinamento de mídia tomou conta do seu cérebro. Não
seja agressivo demais. Como maknae, deveria passar uma imagem
quieta e elegante, não agressiva ou exigente.
Então, apenas se voltou para seu empresário, Hanbin, que ainda
segurava a câmera.
— Pode desligar isso, Hyung?
Hanbin assentiu e abaixou a câmera.
— Não se preocupe, Robbie.
Robbie apenas deu de ombros, puxando o capuz do moletom e
caminhando de volta para a van que o esperava junto ao meio-fio.
Era um daqueles veículos pretos e lustrosos que os coreanos
chamavam carinhosamente de “vans de idols”.
Ao se aproximar do carro, Hanbin correu para lhe abrir a porta.
Ele era um cara gordinho e de aparência alegre, cujo cabelo já estava
ralo aos 28 anos. Robbie às vezes tinha receio de que isso fosse culpa
do estresse do trabalho. Ser um dos empresários de um grupo de K-
pop realmente não era um serviço glamouroso, mas Hanbin os
acompanhava desde o início.
Robbie entrou na van e imediatamente pegou seus fones de
ouvido, esperando que isso desencorajasse qualquer conversa. Não
estava disposto a lidar com a enxurrada de perguntas que ele sabia
que o aguardava.
Antes que ele pudesse colocar alguma música, Hanbin subiu no
banco do motorista e disse:
— Você pode tentar de novo, Robbie.
— Claro — respondeu Robbie de forma automática, mesmo que
ainda estivesse mortificado com a rejeição.
Elena parecia tão feliz de início quando abriu a porta, mas logo
em seguida seu rosto assumiu uma expressão horrorizada, como se
Robbie estivesse segurando uma faca em vez de uma rosa. Ele
realmente esperava receber o maior abraço quando ela o
reconhecesse. O abraço apertado que o deixava sem ar e que apenas
Elena já havia dado. Mas, em vez disso, ela parecia preferir morrer a
tocá-lo.
Talvez tenha sido por isso que ele se escondeu atrás de sua
armadura de idol. Porque, de repente, seus nervos assumiram o
controle. E o único momento em que ele conseguia conter o
nervosismo era quando estava no palco, mostrando o seu lado que
amava tanto performar que se esquecia de ficar nervoso. E, mesmo
enquanto fez uso desse feitiço, ele conseguiu ver que a estava
perdendo.
Elena estava bonita, apesar de ter ficado apenas o encarando o
tempo inteiro. Ela realmente tinha crescido nos últimos sete anos.
Seu rosto fofo se tornou belo, bem ao estilo “garota bonita que mora
ao lado”. Quando ela abriu a porta, o coração dele acelerou só de vê-
la de novo.
Jongdae se inclinou em seu assento e arrancou um dos lados do
fone de ouvido de Robbie.
— Museun iriya?
— Em inglês! — interrompeu Hanbin. — Estamos em turnê nos
Estados Unidos. Fale inglês enquanto estiver aqui. Especialmente
com o Robbie, assim, você pode praticar.
Jongdae suspirou, mas não discutiu. Robbie teve vontade de lhe
dizer que poderiam praticar mais tarde, a sós, mas temia que seu
hyung não gostasse da insinuação que ele precisava de tratamento
especial.
— Qual é o problema? — perguntou Jongdae novamente, desta
vez em inglês.
— Nada — disse Robbie. Mais uma resposta automática. Então,
virou para trás em seu assento para olhar o primo mais velho. —
Você já congelou na frente de uma garota? Sem conseguir pensar na
coisa certa pra dizer?
A voz de Jongdae assumiu um tom de surpresa:
— Ela disse “não”?
Robbie sacudiu a cabeça.
— Ela não disse exatamente a palavra “não”. Apenas falou que
não estava planejando ir ao baile.
Jongdae riu e deu um tapinha consolador no ombro de Robbie.
Era cinco anos mais velho, mas também era a pessoa que melhor o
conhecia. Ser um idol tinha um jeito de quebrar a hierarquia de idade
na Coreia. Em qualquer outra profissão, Jongdae não seria tão amigo
assim do primo mais novo. Mas eles eram idols. Surgiram juntos,
estrearam juntos, alcançaram a fama juntos. Era um vínculo que não
podia se quebrar facilmente.
— Parece que você foi rejeitado. Acho que nosso maknae não é tão
charmoso quanto os fãs pensam — disse Jongdae em tom de
brincadeira, bagunçando o cabelo de Robbie.
— Sai fora — protestou o outro, afastando a mão do primo. Ele
deveria saber que seu hyung não entenderia. Como o visual do
grupo, as garotas praticamente se jogavam aos pés de Jongdae.
— Tá tudo bem — disse ele, ainda em tom provocador. — Você é
jovem. Não é de se surpreender que ainda não sabe como falar com
as garotas.
— Eu sei como falar com as garotas. Falo com elas o tempo todo
nos nossos encontros de fãs.
Jongdae riu:
— Isso é completamente diferente. Aí você tá falando de fãs. Não
pode falar com uma garota de quem você gosta do mesmo jeito que
fala com as fãs.
Robbie franziu a testa. Não foi isso o que ele aprendeu quando
era trainee. Disseram para tratar toda garota que aparecesse como se
já fosse sua namorada. Para ser gentil e amoroso, mas não amoroso
demais, senão seria assustador. Ele achou que estava fazendo um
bom trabalho. Afinal, toda fã que conhecia sempre parecia muito
feliz em vê-lo. Mas talvez Jongdae tivesse razão. Robbie nunca havia
encontrado uma garota que não ficasse feliz em vê-lo. E como estava
treinando para ser um K-idol desde seus 11 anos, realmente não teve
muito tempo para sair com garotas da sua idade fora dos treinos e
das aulas. Ainda assim, ele não esperava que fosse ser difícil falar
com Elena. Ela fazia parte de sua vida anterior, quando era apenas
Robbie, e não “Robbie do WDB”. Ela não deveria conhecer seu
verdadeiro “eu”? Ou essa pessoa nem existia mais, depois de todos
esses anos?
— Não sei, não, Hyung ― disse. ― Eu fiz tudo certo. Sorri. Levei
uma flor para ela. E, ainda assim, ela não aceitou. E o Hanbin filmou
tudo.
― Não se preocupe. A gente conserta isso ― disse Jongdae. ―
Vamos ficar em Chicago por algumas semanas antes do KFest. Você
pode tentar de novo.
― De quantas maneiras você pode convidar uma garota para o
baile?
― O que você falou? ― perguntou Jongdae.
― Eu só falei que estava aqui para levá-la ao baile.
― E o que ela disse?
― Ela disse que não vai ao baile. E que não nos falamos há quatro
anos.
― Aí está o problema! ― falou Hanbin do banco do motorista. ―
Eu sabia que ela tava chateada porque você a ignorou.
― Ignorei?
É verdade que ele não falava com Elena há algum tempo. Ela
realmente ficaria tão chateada assim com isso?
― Você precisa compensá-la ― disse Hanbin, acenando com a
cabeça como quem sabe das coisas.
― Como? ― A mente de Robbie percorreu as possibilidades. Mais
flores? Presentes? Ele estava começando a perceber que não fazia
ideia do que uma garota da sua idade realmente queria. ― Será que
eu devo tentar explicar as coisas para ela?
― É tarde demais. Você tem que fazer um grande gesto! Provar
que realmente se importa com ela ― disse Hanbin.
― Não sei, não. Elena nunca gostou dessas coisas grandes e
chamativas.
― Ah, Robbie, Robbie, Robbie. ― Hanbin sacudiu a cabeça
tristemente, como se ele fosse uma causa perdida. ― Você não
entende. Mas tá tudo bem, porque você é muito jovem e não conhece
mais os costumes dos adolescentes americanos.
Robbie fez uma careta. Apesar de Hanbin estar na casa dos 20
anos, ele estava parecendo um velho ahjussi.
― E como você ia saber o que uma adolescente americana quer? ―
perguntou Jongdae com uma risada. Robbie sorriu. Jongdae era bom
em provocar Hanbin. Provavelmente porque ele tinha precisado
dividir um quarto com seu empresário quando todos viviam em seu
primeiro dormitório apertado, durante o debut do grupo.
― Eu vejo vídeos na internet. Leio artigos. Tenho que me manter
atualizado sobre seu fandom.
Robbie segurou uma risada. Hanbin parecia ainda mais velho
agora, como seu haraboji.
― Tudo bem, então o que você acha que devo fazer?
― Você tem que transformar a coisa em um grande evento! Como
fazemos na Coreia quando queremos declarar nosso amor ao
mundo. Mas, como é um baile, esse tipo de pedido se chama
promposal. — Hanbin disse a última palavra como se fosse uma
mágica.
— Promposal? Isso parece… ridículo — disse Robbie. Eles não
tinham bailes de formatura na Coreia, e, aos 10 anos de idade, ele
não era bem versado nesse tipo de cultura, então tudo isso era
novidade para Robbie.
Hanbin suspirou:
— Tudo bem, se você não quer minha ajuda, é só não aceitar.
Robbie hesitou. Até a palavra “promposal” parecia embaraçosa.
Mas já tinha sido obrigado a fazer muitas coisas embaraçosas
quando debutou. Como quando seu grupo inteiro teve que encenar
cenas populares de doramas para os programas de fim de ano. Ou
quando Robbie precisou se vestir com roupas de ahjumma, como
uma velhinha, e perambular por um arrozal para um show de
variedades. Ele faria essa coisa de promposal se isso fosse fazer com
que Elena dissesse “sim”. Robbie não queria desistir dessa chance de
passar um tempo com sua antiga melhor amiga, não tendo passado
por tantos obstáculos apenas para vê-la novamente.
— Tá bom, me conta mais sobre esse negócio de promposal —
pediu.
Seis

— Quem era na porta? — perguntou minha mãe enquanto eu


voltava para a cozinha.
— Ninguém — respondi depressa. Eu não queria ter que lidar
com as perguntas que viriam se lhe contasse o que havia acontecido.
Na verdade, eu mesma não tinha certeza do que havia acontecido.
Tentei pegar uma fatia de abobrinha frita de um prato forrado com
papel toalha e levei um tapa na mão.
Ethan desceu as escadas correndo, pisando forte como uma
manada de elefantes.
— Quando sai o jantar? Tô morrendo de fome! — disse, pegando
o pedaço de abobrinha que eu tinha tentado pegar e colocando na
boca.
— Já, já! — disse minha mãe. — Sar… Elena, você termina de pôr
a mesa?
Ela nunca pedia a Ethan para fazer as tarefas domésticas. Nem
mesmo esvaziar o próprio lixo ou trocar os próprios lençóis.
— Quem te deu isso? — Ethan quis saber, de repente.
— O quê? — perguntei, confusa. Ele estava olhando para minha
mão, e percebi que eu ainda segurava a rosa. — Ah, ninguém —
falei, escondendo-a nas minhas costas como uma criança que foi
pega roubando doces.
— Elena! — disse Ethan, com um tom de surpresa exagerado. —
Você tem um namorado secreto?
Percebi que estava zombando de mim, como se eu fosse tão
grotesca que ninguém jamais cogitaria a possibilidade de namorar
comigo. Eu estava prestes a atingi-lo com a resposta perfeita quando
minha mãe se virou.
— Um namorado? — guinchou ela, como se eu finalmente tivesse
feito algo bom. Tipo, ah, que alegria, sua filha agora tem valor
porque uma coisa grande e forte em forma de garoto lhe deu algum
tipo de atenção. — Elena, você não me disse que estava saindo com
alguém. É por isso que não quer ir ao baile? Porque ele ainda não te
convidou?
— O quê? Não! — falei. — Eu não estou namorando ninguém. E
alguém me convidou, sim, e eu disse “não”.
— Quem te convidou? Como é que não fiquei sabendo disso? —
perguntou Ethan. Calma aí, ele realmente se importava em saber o
que estava acontecendo na minha vida? — Foi alguém do seu Clube
da Conscientização Nerd?
E aí estava a piadinha. Eu deveria ter pensado melhor antes de
achar que Ethan levaria qualquer coisa que faço a sério.
— É só “Clube da Conscientização”, Ethan. O que você
definitivamente sabe.
— Sim, mas acho que a conscientização nerd também é
importante. Nerds merecem representação. — Ele sorriu como se
tivesse contado a piada mais engraçada do mundo.
— Claro — falei, cerrando os dentes.
— Não, sério, quem foi? — perguntou Ethan.
— Ninguém — insisti, olhando para minha mãe, quase
esperando que me importunasse com mais uma tarefa doméstica
para que eu pudesse escapar dessa tortura. Mas ela apenas me
observou com expectativa.
Parecia que não tinha jeito de fugir disso. Considerei mentir, mas
sabia que minha mãe perceberia. Eu era uma péssima mentirosa.
— Robbie — murmurei.
— Quem? — perguntou Ethan, inclinando-se.
— Robbie — repeti. Joguei a rosa no balcão, não querendo mais
nem olhar para ela.
— Robbie Choi? — A voz da minha mãe se elevou.
— Impossível — disse Ethan com uma risada. — Por que Robbie
Choi estaria aqui?
— Ele está aqui para aquele tal de KFest — respondeu minha
mãe, e Ethan e eu olhamos para ela, surpresos.
— Como você sabe disso quando nem a gente sabe? — perguntou
Ethan.
— Todas as mulheres do salão coreano estavam falando sobre
isso há algumas semanas. É o primeiro KFest em Chicago, e o WDB é
uma das atrações principais. Os ingressos já esgotam. Estamos todos
muito orgulhosos de Robbie. É um garoto local que já conquistou
tantas coisas mesmo sendo tão jovem. A mãe dele deve estar muito
orgulhosa. — Frase de pais coreanos para dizer por que meus filhos
não fizeram nada que valesse a pena para eu poder me gabar?
Há uma frase em coreano: eom-chin-ah. Significa “o filho da amiga
da sua mãe”, mas o que quer dizer mesmo é “filho perfeito”. Aquele
que faz todo mundo parecer ruim. E nosso eom-chin-ah pegou e se
tornou uma mega estrela mundial. Como superar isso?
— Bem, não me interessa por que ele está na cidade — falei,
abrindo a gaveta de utensílios para pegar colheres e jeotgarak. — Ele
nem me ligou ou mandou mensagem por quatro anos e, de repente,
aparece e espera que eu cumpra uma promessa de sete anos atrás.
Ah, com certeza.
Bati a gaveta com um estrondo, e minha mãe fez um tsc de
reprovação. Ela odiava quando eu batia as coisas.
— Tenho certeza de que ele anda muito ocupado. Com todas as
turnês e coisas de música — disse.
Eu quase ri porque, às vezes, parecia que minha mãe fazia de
tudo para nunca ficar do meu lado.
— Como ele teria tempo de ir ao baile? — questionei, puxando os
pratos e os colocando ao lado da panela de arroz, de forma que
minha mãe pudesse servir as porções de cada um.
— Por que ele ia querer ir a um baile de formatura? — perguntou
Ethan.
— Exatamente! — falei, apontando meu punhado de talheres
para ele. Finalmente, alguém estava do meu lado.
— E, mais importante, por que ele ia querer ir com a Elena?
Certo, não estava tanto do meu lado… mas eu ainda aceitaria, se
isso ajudasse a tirar minha mãe do meu pé.
Antes que pudéssemos continuar, a porta da frente se abriu, e a
voz do meu pai tomou conta do ambiente:
— Yeobo, quando sai o jantar? Estou morrendo de fome!
— Está pronto agora — gritou minha mãe de volta.
Meu pai entrou na cozinha e colocou sua bolsa de trabalho na
pequena mesa embutida na parede. Nela, havia um calendário de
mesa cheio de post-its, no qual minha mãe ainda anotava nossos
compromissos, embora já tivéssemos lhe mostrado como usar o
aplicativo de calendário em seu celular. Meu pai tirou o paletó,
colocou-o sobre a cadeira e beijou a bochecha da minha mãe. Ele se
parecia com qualquer homem asiático de meia-idade, com cabelos
grisalhos e óculos de aro de metal. Nós só o víamos na hora do
jantar, a ponto de eu imediatamente sentir mais fome sempre que o
via. Como uma resposta pavloviana.
Peguei os pratos para levar até a mesa, cheios de montinhos de
arroz fumegante. Quando voltei para pegar os copos, olhei para a
rosa. Peguei-a, abrindo a lata de lixo para jogá-la fora. Então parei.
Ninguém nunca tinha me dado uma flor antes. Ninguém exceto
Robbie, pensei, enquanto me lembrava de quando tínhamos 8 anos,
e ele tinha me colhido uma margarida meio morta. Era estranho
lembrar disso agora, quando eu ainda sentia a estranheza residual
de seu convite para o baile. Ainda assim, coloquei a rosa de volta no
balcão. Não é como se a flor tivesse feito algo de errado.
— Então, o que fizeram hoje? — perguntou meu pai quando
todos nos sentamos à mesa.
— Eu tirei 10 na minha prova de álgebra — anunciou Ethan.
— Bom trabalho — exclamou minha mãe como se ele tivesse
acabado de anunciar ter descoberto o segredo da fusão a frio.
— Continue assim — disse meu pai —, e você seguirá suas noonas
para Northwestern.
Ah, sim. O lembrete inevitável e muito constante de que nossas
irmãs mais velhas foram para uma faculdade aprovada pelos pais
coreanos. Seria uma pena se eu e Ethan os decepcionássemos.
— Estive pesquisando sobre a Duke — começou Ethan.
— Duke? — disse minha mãe. — É tão longe.
Eu segurei a vontade de suspirar. Minhas irmãs foram todas
pressionadas a estudar na Northwestern, porque era uma ótima
faculdade bem perto de casa. Mas, assim que elas se formaram,
foram embora. Acho que eu não poderia culpá-las totalmente, exceto
que, ao fugir do aperto sufocante da minha mãe, elas também me
deixaram para trás.
— Segundo o treinador, há uma chance de eu entrar na Duke
através do lacrosse — contou Ethan, olhando para nosso pai com
esperança. Como se estivesse esperando um elogio. Não sei por que
ele continuou fazendo isso. Nossa mãe era a mais emotiva dos dois,
apesar de a maioria das emoções que ela dirigia a mim ser permeada
de desapontamento.
— Isso seria bom — disse meu pai, como se Ethan tivesse
acabado de lhe dizer que amanhã seria um dia ensolarado. Na
verdade, isso era muito vindo dele. — Mas seria melhor se você
também pudesse entrar academicamente.
E aí estava o resto do raciocínio, bem na hora.
— Ah, sim — disse Ethan. — Eu só quero cuidar de todos os
pormenores. Essa seria a maneira mais inteligente, certo?
Quase me senti mal por ele. Pedir a aprovação de nosso pai era
como pedir que seu trabalho fosse dissecado e analisado
minuciosamente.
Mas meu pai lhe deu apenas um aceno distraído e pediu para
minha mãe passar o molho gochujang.
— Elena, você também teve prova de matemática? — perguntou
minha mãe.
— Pré-cálculo não segue o mesmo cronograma de provas dele —
falei. E então me senti uma babaca quando vi Ethan franzir a testa.
Eu não disse isso para fazê-lo se sentir mal. Mas não era minha culpa
ele estar na turma de matemática padrão, e eu, na avançada. Por que
nossos pais achavam que estávamos sempre fazendo as mesmas
coisas na escola?
— Ah, tudo bem. Estude bastante — disse minha mãe.
— Certo — falei, e coloquei um punhado de muguk na boca. O
caldo estava quente demais e me queimou quando engoli.
— Yeobo, Elena foi convidada para o baile hoje — disse minha
mãe como se fosse um anúncio.
Eu me afundei no assento.
— É mesmo? — perguntou meu pai.
— Por Robbie Choi! — disse minha mãe cantarolando.
— Robbie? — Ele franziu a testa ao ouvir o nome. — Você está
falando daquele menino que morava aqui na rua? Aquele que está
em uma banda de rock?
— É um grupo de K-pop — falei.
— Sim, e ele tem um cabelo de cor estranha agora, não é? —
perguntou meu pai.
Eu quase ri. Claro que é isso que meu pai notaria.
— De qualquer forma — continuou minha mãe —, ele voltou à
cidade para um grande show e convidou nossa Elena para o baile de
formatura.
Afundei-me ainda mais no assento. Eu só era “nossa Elena”
quando fazia algo bom. E eu realmente não considerava ser
convidada para o baile como uma conquista.
— Bem, se você quiser comprar um vestido, pode comprar o que
quiser, desde que não ultrapasse duzentos dólares — disse meu pai.
Meus olhos quase saltaram das órbitas. Duzentos dólares! Era
uma quantia ridícula a se pagar por um vestido.
— Bem, na verdade — falei, me endireitando no assento. Percebi
Ethan se endireitar também, balançando a cabeça para mim em
advertência, mas continuei. —, acho que as pessoas gastam muito
dinheiro no baile, e seria melhor usá-lo para alguma caridade. Então,
se eu pudesse, pelo menos, usar o dinheiro que você daria para o
baile de formatura no centro comunitário…
— Você ainda é voluntária lá? Achei que suas horas lá haviam
terminado. — Meu pai estendeu a mão para um prato fumegante de
dwejigogi apimentado.
— Sim, minhas horas terminaram. Mas ainda trabalho lá no meu
tempo livre, lembra? — Eu já havia dito isso ao meu pai pelo menos
uma dúzia de vezes, mas ele sempre parecia esquecer.
— Querida, seu pai vive ocupado com o escritório. Ele nem
sempre tem tempo para se lembrar das coisas que você diz. —
Minha mãe me lembrou. Como se fosse minha culpa ele ser tão
ocupado.
— Eu sei — falei. — É só que, por favor, poderíamos doar algo
para ajudar o centro comunitário? Eles estão precisando de verdade.
— Ele não deveria ser financiado pela cidade? — perguntou ele.
— Por que precisam do nosso dinheiro?
Pensei em explicar, mas Ethan chamou minha atenção
novamente, suas sobrancelhas arqueadas em uma expressão de
“você sabe que ele não está realmente ouvindo”. Então, suspirei e
disse:
— Deixa para lá.
— Querida — disse minha mãe. — Seu pai trabalha muito para
sustentar a todos nós. Não deveríamos ficar dando o dinheiro dele.
E comprar um vestido de baile por duzentos dólares não é o mesmo que
jogar nosso dinheiro fora em uma loja de departamento? Pensei, mas
mantive minha boca fechada.
— Mãe, pai, vocês virão ao meu jogo esta semana, certo? Vou ser
titular de novo — quis saber Ethan. Relaxei novamente no meu
assento, grata, pela primeira vez, por ele ter chamado a atenção
deles.
— Claro — respondeu minha mãe.
— Vou tentar — disse meu pai. — Deu um problema com um de
nossos projetos, então talvez precisemos ficar até mais tarde esta
semana e conversar por telefone com a China. — Ele falou com
aquela voz evasiva que nos dizia que “vou tentar” significava “não
vou”.
Olhei para Ethan, que apenas acenou silenciosamente com a
cabeça. Todos sabíamos que tínhamos sorte de nosso pai ter um
emprego tão bom.
— Tudo bem se você não conseguir ir — respondeu Ethan. — É
só um jogo de temporada regular. Com certeza vou ser titular de
novo em outro.
— Bem, Elena e eu estaremos lá — disse minha mãe em um tom
tranquilizador. Deve ter notado como Ethan estava desapontado
porque ela nunca me fazia ir aos seus jogos.
— Na verdade — falei lentamente, já antecipando sua
desaprovação —, tenho planos na sexta. Prometi a Cora que iria ao
centro comunitário e ajudaria a tomar conta das crianças.
— Ah, Elena, por que você promete isso quando sabe que o Ethan
tem jogos na sexta? — questionou minha mãe, o aborrecimento tão
nítido em sua voz que tive vontade de derreter no meu assento.
Porque eu nunca vou aos jogos do Ethan, tive vontade de dizer. Mas
não disse. Em vez disso, tentei explicar:
— É quando eles mais precisam de mim. Muitos pais dependem
desses serviços de babá para poderem trabalhar em turno noturnos.
Minha mãe suspirou, obviamente não muito comovida com a
explicação:
— Você sabe que os jogos do seu irmão são importantes para ele.
Você podia se esforçar mais.
E quanto ao que é importante para mim? Eu me perguntei. Eles
estavam agindo como se o centro comunitário não significasse nada.
— Tá tudo bem — disse Ethan. — Elena pode ir ao centro
comunitário dela.
— Viu? — falei, ainda chateada com a reação da minha mãe. — O
Ethan não se importa.
Ela suspirou:
— Muito bem, vá ao centro comunitário.
E, apesar de, tecnicamente, eu ter vencido essa discussão, senti
como se tivesse perdido completamente. Esse era o poder da
decepção da minha mãe.
Sete

Eu tenho a tendência de ser deixada para trás. Não estou


dizendo isso para conseguir a simpatia de ninguém; é apenas um
fato. Não de forma trágica — nem como se eu fosse colocar isso na
redação para entrar na faculdade ou algo assim. Mas de uma
maneira quase entediante e normal. Todas as minhas irmãs já
superaram este lugar e se mudaram depois da faculdade. Esther foi
para a Costa Leste estudar medicina, Allie viaja pelo mundo em seu
sofisticado trabalho de consultora internacional, e Sarah se mudou
para a Califórnia para trabalhar no ramo da tecnologia. Robbie foi
embora por causa do trabalho de seu pai. Até mesmo a perda da
minha amizade com Felicity fazia parte das dores de crescimento
normais da adolescência. Mas machucava o fato de, pelo jeito que
acontecia, parecer que eu era sempre a pessoa que ficava, e nunca a
que ia embora.
Depois do jantar, fiquei encarando meu notebook com o olhar
vago. Deveria começar a fazer um trabalho de história, mas não
conseguia me concentrar. Abrindo a gaveta da escrivaninha, folheei
as partituras de quando entrei para a banda da escola no
fundamental e tentei aprender a tocar clarinete, flauta, trompete e
mesmo bateria, até minha mãe dizer que o barulho da minha prática
estava lhe causando enxaqueca crônica. Roteiros antigos de quando
entrei no departamento de teatro no primeiro ano. Uma medalha de
quinto lugar de quando participei da corrida de atletismo e torci
meu tornozelo naquele primeiro (e único) encontro a que compareci.
Meu mecanismo de enfrentamento da solidão depois que minhas
irmãs partiram foi me reinventar constantemente. Tentei coral,
futebol, competições de matemática. Praticamente peguei aquela
música Stick to the Status Quo, de High School Musical, e tentei me
encaixar em todos os grupos que foram descritos.
Acho que pensava que o problema era que eu não tinha uma
“coisa” que me tornasse interessante o suficiente para manter as
pessoas por perto. Todos ao meu redor pareciam ter alguma. Ethan
tinha o lacrosse. Josie tinha seu ativismo. Max adorava fotografia; ele
tirava todas as fotos para os pôsteres de comício de Josie. Mas Elena
Soo era uma pessoa que se interessava por muitas coisas, só que não
era apaixonada por nada em particular. Quase como se o universo
tivesse esquecido de me dar um propósito quando me criou. Como
se eu fosse esquecível antes mesmo de nascer.
Até Robbie tinha transformado o seu interesse de infância pela
música em alguma coisa. E que baita coisa.
Finalmente encontrei o que estava procurando. Uma velha caixa
de sapatos onde guardava todas as minhas recordações de Robbie.
Ingressos para o primeiro filme que nossos pais nos deixaram ir ver
sozinhos. Uma concha que ele me trouxe depois das férias de verão
em Outer Banks. E as regras para um dos nossos intermináveis jogos
de RPG de aventuras. Tudo isso parecia coisa de mil anos atrás.
E agora ele estava de volta. Só que o Robbie que preencheu esta
caixa de recordações comigo não tinha nada a ver com o idol elegante
e charmoso que bateu à minha porta. Enfiei a caixa de volta na
gaveta e a fechei com um estalo definitivo. Eu não deveria insistir
nisso. Tinha que terminar o trabalho de história ou ficaria atrasada
nas minhas tarefas escolares.
No entanto, acabei clicando nas minhas playlists, rolando para
baixo até chegar a uma pequena seção de músicas de K-pop. E lá,
entre Twice, Blackpink e NCT, estava WDB.
Houve um tempo em que eu era realmente apaixonada por K-
pop, no ensino fundamental. Poderia ter continuado com essa
paixão, só que, no meu segundo semestre da oitava série, uma
agência de entretenimento totalmente nova chamada Bright Star
lançou as biografias de seu grupo principal. E o terceiro garoto a ser
revelado foi Robbie. No começo, tornei-me muito popular entre as
garotas que viviam e respiravam K-pop. Elas queriam saber tudo
sobre Robbie. Mas então percebi que aquilo era como quando as
pessoas só falavam comigo por ser irmã de Ethan. Não era mais
Elena Soo; era a garota que já havia sido amiga de Robbie Choi.
E tudo veio à tona quando elas exigiram que eu ligasse para ele.
Àquela altura, já não trocávamos uma única mensagem há meses. Eu
nem tinha certeza se ele atenderia. Mas tentei mesmo assim. E
imediatamente fui informada de que o número não existia mais. As
meninas riram de mim, dizendo que sabiam que eu estava
inventando, que não era mais amiga de Robbie.
E isso não teria doído, só que eu suspeitava que elas tinham
razão. Ele trocou de número e não me contou. Estava ocupado
demais perseguindo seus sonhos e me deixando para trás.
Então, parei de sair com aquelas garotas e parei de amar K-pop.
Abri minhas playlists do YouTube. Passei o cursor do mouse
sobre uma. Eu tinha colocado o título “…”, porque era covarde
demais para chamá-la de alguma coisa.
Dezenas de vídeos não assistidos sobre WDB apareceram. Eu
havia salvado todos nessa playlist porque não tinha tido coragem de
assisti-los, mas também não queria perdê-los, só por precaução.
Fazia tanto tempo que alguns dos vídeos salvos mostravam um
estático cinza de erro, provavelmente tirados do ar por causa de
direitos autorais. Mas ainda havia dezenas em que Robbie aparecia
sorrindo na thumbnail.
Cliquei no primeiro. Era de quando Robbie debutou. Ele tinha
acabado de completar 14 anos. Parecia tão jovem, mas, ao mesmo
tempo, tão velho para mim. Afinal, meus olhos estavam tão
acostumados a ver seu rosto de 10 anos de idade.
Ele respondeu em coreano quando o entrevistador lhe fez
perguntas. Reconheci todas as palavras. Meu coreano era bom o
suficiente apenas para entender os padrões de fala lentos e
calculados de meus avós. Mas a maioria desses vídeos vinha
legendado. E, de acordo com as legendas, ele estava falando sobre
como WDB vinha de “원더별”, que quer dizer “Wonder Star”, mas
se pronuncia “Wondeo Byul”. Robbie disse que o próprio CEO da
Bright Star tinha formado e nomeado o grupo. Ele queria que o
nome deles fosse uma mistura de inglês e coreano para soar como
“wonderful”, ou seja, “admirável”. E esperava que eles enchessem
seus fãs de admiração.
Mas geralmente a banda era chamada apenas de WDB. Como se
o significado das iniciais não fosse importante. Apenas os próprios
integrantes. E era verdade. O mundo os amava. Eles quebraram
barreiras, quebraram recordes.
Muitos dos comentários nos vídeos eram sobre como os oppas
eram os garotos dos sonhos. O que também era estranho para mim.
Tecnicamente, Ethan era meu oppa. Ele tinha nascido quinze minutos
antes de mim.
Mas oppa também era usado como um termo afetuoso para um
garoto mais velho com quem você tem proximidade.
Assisti a um vídeo em que os garotos anunciavam que o nome do
fandom era oficialmente “Constellation”. Isso me lembrou de uma
garota que me abordou nos corredores da escola. Ela queria saber se
eu realmente conhecia Robbie Choi quando éramos crianças.
— Sim — admiti, dando de ombros. A essa altura, eu estava
realmente irritada por sempre me perguntarem sobre isso.
— Então, você é uma Constellation? — perguntou.
— O quê? — Franzi a testa. Eu não fazia ideia do que ela estava
falando.
— Uma fã de WDB? — questionou, como tivesse algo de errado
comigo por não saber.
— Não, eu meio que não escuto a música deles.
— Ah — disse com um tom de desapontamento na voz e voltou
para seus amigos. — Acho que ela não era tão próxima assim de
Robbie. Às vezes, ela está mentindo sobre conhecê-lo. — Eu a ouvi
dizer.
— Que esquisita — comentou a amiga dela.
Mas agora Robbie estava aqui. Não só estava aqui, como me
convidou para o baile. Na frente das câmeras. Aquela menina
malvada da escola iria ver aquele vídeo? Ai, não, as pessoas iriam
voltar a me perguntar sobre Robbie? Suspirei e fechei meu notebook,
deixando minha cabeça cair sobre a mesa. Talvez eu devesse apenas
ficar aqui o resto do ensino médio. Parecia uma solução preferível.

WDB (원더별): PERFIL DOS MEMBROS


NOME ARTÍSTICO: Robbie
NOME: Choi Jiseok (최지석)
POSIÇÃO NO GRUPO: main rapper, subvocal, maknae
ANIVERSÁRIO: 9 de setembro
SIGNO: Virgem
ALTURA: 178cm
PESO: 66kg
TIPO SANGUÍNEO: O
LOCAL DE NASCIMENTO: Incheon, Coreia do Sul
FAMÍLIA: mãe
HOBBIES: jogos eletrônicos
APELIDOS: Roro, Ro-Star, Robiya, Kangajiseok
EDUCAÇÃO: Escola de Artes Cênicas de Seul
COR DO LIGHTSTICK: roxo

FATOS SOBRE ROBBIE:


Nasceu em Incheon, Coreia do Sul.
Mudou-se para um subúrbio de Chicago, Illinois,
quando tinha 6 anos.
Voltou para Seul, na Coreia do Sul, aos 10 anos.
Seu pai faleceu quando ele tinha 11 anos.
Ingressou na nova empresa de entretenimento de seu
tio, a Bright Star, aos 11 anos.
Participou de um MV de G-Dragon quando tinha 13
anos (14 na idade coreana).
Seu número favorito é o 8.
Ficou conhecido pela primeira vez quando seus samples
de rap das próprias músicas vazaram quando ele tinha
13 anos (14 na idade coreana).
Foi anunciado como o terceiro integrante do WDB (원더
별).
Debutou quando tinha 14 anos (15 na idade coreana).
Seu melhor amigo é seu colega de grupo Jaehyung.
O líder do WDB, Jongdae, é seu primo.
É fluente em inglês, coreano e fala um pouco de francês,
que aprendeu com Moonster, membro do WDB.
Seus role models são G-Dragon, do Big Bang; Tablo, do
Epik High; Bobby, do iKON; e Bruno Mars.
Suas cores favoritas são azul, rosa e preto.
Ele já disse que não tem um tipo ideal.
Oito

― Flores? Confere. Guitarra? Confere. Cabelo? Confere. ―


Hanbin corria sua caneta pela lista de seu caderno enquanto eles
estavam na van.
Robbie esperava pacientemente. Esse era o hábito excessivamente
obsessivo de Hanbin. Ele sempre conferia suas listas três vezes. Os
meninos brincavam que isso o tornava mais minucioso do que o
Haraboji Noel.
― Tem certeza de que isso não é demais? ― perguntou Robbie, já
impaciente por causa do que estava prestes a fazer. ― Não quero
envergonhá-la.
A Elena que ele conhecia realmente não gostava de ser o centro
das atenções. Mas, mesmo tendo dito isso a Jongdae e Hanbin
incontáveis vezes, eles simplesmente o ignoraram. Disseram que isso
era diferente. Todo mundo gostaria de um promposal como esse. E
então Hanbin fez Robbie assistir a uma dúzia de vídeos online para
provar seu argumento. Disse que as garotas adoravam, mas Robbie
achou que elas pareciam chocadas e envergonhadas na maioria das
vezes.
― Você simplesmente não entende as garotas. Elas adoram ser
cortejadas ― afirmou Hanbin.
― Hyung, acho que ninguém mais fala assim ― disse Robbie. ― E,
se você sabe do que as elas gostam, então por que ainda está
solteiro?
― Ei! ― Jongdae deu um tapa na nuca de Robbie.
Hanbin pareceu satisfeito por Jongdae o defender.
― Foco ― disse Jongdae. ― A falta de experiência de Hanbin não é
o ponto.
― Ei! ― protestou Hanbin.
― Apenas siga o plano ― disse Jongdae, entregando a guitarra. ―
Finja que é só mais um show. Você é ótimo no palco. E as garotas
adoram quando um cara se apresenta só para elas.
Robbie assentiu. Jongdae estava certo. E ele definitivamente sabia
como conquistar garotas melhor do que Robbie. Mesmo na época em
que eram trainees, Jongdae tinha uma longa fila de admiradoras. E
pensar nisso como uma performance realmente ajudava. Se tinha
uma coisa que Robbie sabia era como se desligar do mundo e se
encontrar apenas na música. Quando estava cantando, não era mais
Robbie Choi, era Robbie do WDB, astro internacional do K-Pop.
Respirou fundo três vezes, seu ritual antes de todo show.
― Tenho certeza de que você vai se sair bem, Robbie. Não
esquece por que está fazendo isso ― disse Jongdae com um sorriso
encorajador.
Robbie finalmente assentiu.
― Você tem razão. Eu consigo.
― Vai lá conquistar a garota ― disse Hanbin, apertando o botão
para abrir a porta automática da van.
Nove

Claro que, na manhã seguinte, meu carro não deu partida.


Então, tive que ligar para Josie para ela me dar uma carona, já que
Ethan já havia saído para seu treino matinal de lacrosse. Assim que
contei a ela sobre o acontecido, fui bombardeada com um milhão de
perguntas.
― Isso é igualzinho a um dorama, não é? Tem certeza de que não
adormeceu assistindo a um desses e teve, tipo, um sonho lúcido? ―
perguntou Josie enquanto estacionava seu Jetta usado no
estacionamento.
― Não foi um sonho ― respondi, saindo do carro.
― Então, como ele é? ― perguntou Josie, apoiando-se no capô do
veículo para me olhar.
― Bonito. Convencido. ― Diferente. Dei de ombros. ― Não sei. Eu
não conversei com ele de verdade.
Peguei minha mochila e fui em direção ao campus, esperando
que as perguntas dela tivessem terminado agora que estávamos na
escola.
Josie correu atrás de mim e destruiu minhas esperanças, dizendo:
― Minha prima é a presidente das Constellations da Cidade do
México. Posso contar para ela sobre isso? Ela ia ter um troço.
― Tudo bem ― concordei enquanto entrávamos no pátio. Não é
como se isso importasse. Eu nunca mais veria Robbie.
Eu normalmente adorava a escola no início da manhã, era o tipo
de tranquilidade que lembrava a calmaria antes de uma tempestade.
Uma chance de me preparar para o dia. Toda manhã, os alunos do
último ano se reuniam em pequenos grupos ao redor dos bancos de
pedra que ficavam encostados nas paredes ao redor do pátio.
Matando tempo e fofocando até o primeiro sinal tocar. Mas hoje,
estavam todos amontoados em um canto.
― O que tá acontecendo ali? — perguntou Josie, lendo meus
pensamentos.
— Não sei. — Eles haviam tirado do refeitório a mesa de
ingressos do baile?
— Ai, meu Deus, é um promposal! — Josie apontou para um
aglomerado de balões de látex visíveis acima das cabeças da
multidão. Na verdade, eles estavam formando um arco gigantesco.
Era tão grande que deveria ser composto por dezenas de balões em
tons de vermelho e rosa.
— Para quem é isso? — Josie esticou o pescoço.
Nós nos juntamos à parte de trás da multidão. Eu podia não ter
interesse em ir ao baile, mas ainda era humana e estava curiosa para
saber quem tinha se esforçado tanto para esse espetáculo. Esperava
que o pobre coitado não fosse rejeitado na frente de metade da
escola.
— Ei — disse Josie para o garoto parado na nossa frente, um
veterano que mal reconheci. — Quem tá fazendo isso?
— Não sei, mas um monte de garotas estava surtando mais cedo
— respondeu, indiferente.
— Talvez seja um dos caras do time de futebol. Eles nunca se
esforçam muito para convidar as namoradas para os bailes — falei.
No máximo, trazem uma única rosa para a escola.
Noah Jordan fez isso no baile de boas-vindas deste ano, e sua
namorada ficou carregando a flor como um troféu o dia todo. Se era
um deles que estava fazendo um promposal completo, então eu
entendia o motivo de os alunos estarem totalmente surpresos.
— Ei. — Josie passou para seu próximo informante em potencial.
— Você sabe o que tá acontecendo?
Reconheci a garota da nossa turma, Diana Walker. Ela se virou
para Josie, começou a falar, então, ao me ver, agiu como um falcão
mirando em sua presa.
— Ei! Ela tá aqui! — gritou, estendendo a mão e me empurrando
para a frente. Todos se viraram com o anúncio de Diana, abrindo um
pequeno caminho para que eu pudesse cambalear adiante.
Mais pessoas começaram a me empurrar. E mais pessoas
começaram a sair do meu caminho. Era como ser arrastada pela
correnteza do mar. Você não pensa que seria tão forte, mas, uma vez
que é pega por ela, não há escapatória.
Perdi Josie no meio da multidão e só consegui ouvir sua voz
irritada:
— Que diabos, Diana? Por que você fez isso?
Algumas pessoas estavam esticando o pescoço para me ver, e eu
podia sentir minhas bochechas queimando com a atenção. Ainda
estava tentando entender o que estava acontecendo quando vi Ethan
perto da frente da multidão. Ele estava com os olhos arregalados,
com uma expressão de quem sabe que algo está prestes a dar errado.
O que é isso? Murmurei para ele.
Mas Ethan apenas fez uma careta e me deu um triste e fraco sinal
de “joia” com o polegar.
Eu não fazia ideia do que isso deveria significar. Não tinha nem a
mais remota ideia. Sério, nós somos os piores gêmeos de todos os
tempos.
Finalmente, a multidão se abriu o suficiente para que eu pudesse
ver o promposal em toda a sua glória. O arco de balões foi apenas o
começo. No chão, havia, literalmente, um jardim de flores.
Principalmente rosas, mas também alguns lírios. Foram organizadas
no formato de um coração gigante dentro de um círculo feito
daquelas velas falsas de LED.
E, ai, meu Deus, havia um banner. E ele tinha todas as letras que
deveriam formar meu nome, mas não tinha como. Isso era
impossível. Exceto pelo fato de que, no meio do coração, estava
Robbie Choi.
Ele estava usando uma camisa preta de botão que devia ter
algum tipo de fio metálico, porque brilhava quando ele se mexia.
Senti alguém empurrar minhas costas, incitando-me a seguir em
frente. Parei na saída da multidão, e as pessoas estavam reunidas ao
meu redor em um semicírculo, mantendo distância, mas também se
esforçando para ver o que aconteceria em seguida.
Robbie se inclinou para a frente, e eu finalmente percebi o
microfone. Por que havia um microfone? Estávamos na escola, não no
Madison Square Garden.
Na minha visão periférica, pude ver uma dúzia de celulares. A
maioria deles apontava para Robbie, mas alguns, percebi com
horror, apontavam diretamente para mim. Ai, meu Deus, eu estava
usando o mesmo jeans amassado de ontem. E meu suéter estivera
jogado em uma cadeira do meu quarto. Eu nem sabia se estava
limpo! No entanto, era azul-marinho, e imaginei que, se estivesse
sujo, ninguém jamais saberia. Mas e se essas fotos vazassem, e as
pessoas pudessem, de alguma forma, perceber que eu estava usando
jeans e suéter sujos e velhos?
— Elena — disse Robbie, chamando minha atenção. — Tenho
uma pergunta para você.
E então ele começou a tocar guitarra. Tinha ficado muito melhor
do que eu lembrava nisso. Estava tocando uma doce melodia que me
era vagamente familiar. Vasculhei meu cérebro em busca das notas,
até que finalmente a reconheci.
A música se chamava “Gobaek Hamnida”. “Gobaek” pode ser
traduzido literalmente como “confissão”, mas, na verdade,
significava “confissão de amor”. Como quando você diz a uma
garota que gosta dela. Eu me lembro de ficar divagando com essa
música e, uma vez, até admiti para Robbie que achava que era a
canção mais romântica que um cara poderia cantar para uma garota.
Seria bonitinho pensar que ele ainda se lembrava daquele momento,
se eu não estivesse absolutamente mortificada com todos os olhares
e câmeras focados em mim. O que ninguém te diz quando você é
uma garota boba de 10 anos que fica sonhando acordada com seu
primeiro grande momento romântico digno de um filme é que o
romance dos filmes não se encaixa no mundo real. Só parece muito
exagerado e brega.
Eu tinha certeza de que meu rosto estava vermelho vivo. Ótimo,
agora uma dúzia de câmeras estavam me filmando enquanto eu me
transformava em um tomate.
Então Robbie começou a cantar. Ele sempre teve a voz mais doce
do mundo. Mais grave do que você esperaria, levando em
consideração seu rosto tão fofo. E, quando cantava, suas covinhas
apareciam. Mesmo em meio à minha ansiedade, não pude deixar de
me perguntar como esse garoto estranhamente bonito costumava ser
o meu atrapalhado e desajeitado melhor amigo.
E, então, a música acabou, e as pessoas ao meu redor começaram
a aplaudir.
— Senti sua falta nos últimos sete anos — disse Robbie. Ele pegou
um buquê de flores da borda do coração de rosas e caminhou até
mim. — Gostaria de ir ao baile comigo?
Ele estendeu o buquê, e eu não tive escolha a não ser aceitá-lo. As
flores eram tão grandes que eu não conseguia pegá-las com apenas
uma mão, então tive que segurar o buquê na dobra do meu braço.
Eu podia ver uma câmera de telefone diretamente na minha linha
de visão. Diana Walker a estava segurando, seus olhos arregalados
de expectativa. O que ela faria com esse vídeo? Por que todo mundo
estava apenas nos olhando? Por que eu não conseguia dizer nada?
Ouvi meu sangue correr pelos meus tímpanos, tão alto quanto uma
correnteza.
— Lani? — disse Robbie.
Eu olhei para ele e vi que seu sorriso havia desaparecido.
Porcaria, ele podia sentir como eu estava agindo estranho. A
situação estava desandando depressa.
Diga alguma coisa! Meu cérebro gritou para mim. Pelo amor de tudo
que é sagrado, diga alguma coisa ou terá que ficar aqui para sempre e
morrerá aqui segurando um buquê de flores mortas!
— O que tá acontecendo? — perguntou alguém do outro lado da
multidão. E foi como se a pergunta tivesse descongelado todos, que
começaram a murmurar.
Ouvi distintamente alguém perguntar:
— Qual o problema dela?
De repente, fui capaz de mover meus membros novamente e me
virei. Havia rostos demais olhando para mim. Câmeras demais
apontadas para mim. Corri para a beirada da multidão no momento
em que Felicity se aproximava esticando o pescoço para ver melhor.
Um segundo tarde demais, percebi que não conseguiria parar a
tempo. Tentei balbuciar o nome dela em um último esforço de
advertência, mas saiu apenas um “Fiiii!” agudo antes do meu
impulso para a frente me fazer colidir diretamente com ela. As flores
em meus braços praticamente explodiram, pétalas voando por toda
parte. Por algum milagre, consegui me equilibrar antes de cair na
multidão. Deixei as hastes das flores mutiladas caírem de meus
braços.
Ouvi pessoas chamando o nome de Felicity e usei o caos
resultante como uma deixa para fugir.
E corri. E corri.
Dez

Não parei de correr até ficar sem fôlego e atravessar metade


do campus, chegando a um corredor ao lado dos vestiários.
Eu já tinha visto o suficiente de dramas adolescentes para saber
que vestiários são um ótimo lugar para se esconder quando nos
sentimos muito humilhadas. Então, entrei e fui procurar uma boa
cabine de banheiro para morrer. Tinha acabado de me tornar um
fantasma de banheiro coreano. (Ah, sim, isso existe…)
Só estava escondida há uns cinco minutos, quando ouvi passos.
Levantei meus pés e fiquei agachada na tampa do vaso sanitário
como Gollum quando Josie disse:
— El, eu sei que você tá aqui. Há pétalas de flores por todo o
chão.
Droga! Não percebi que ainda havia resquícios de flores em mim,
prova da vergonha que passei.
Com um suspiro, destranquei a porta da cabine e saí.
— Quão ruim é a situação? — perguntei.
— Bem, o Robbie foi embora.
Não sabia se isso fazia eu me sentir melhor ou pior.
— Você tava planejando ficar escondida aqui o dia todo? — Josie
torceu o nariz para o vestiário. Não era o lugar mais legal da escola.
E era usado principalmente para os times esportivos se trocarem
para a prática depois da aula.
— Parecia uma escolha melhor do que ficar lá fora com as
pessoas.
— Não é tão ruim assim — disse Josie, mas ela esticou demais as
sílabas, do jeito que fazia quando estava mentindo e se esforçando
muito para esconder isso.
— Não acredito no que acabou de acontecer — falei.
— O que realmente aconteceu? — perguntou Josie. — Por que
você não disse nada?
— Eu meio que congelei. — Era difícil explicar a mistura de
ansiedade e autoconsciência.
— Foi porque parte de você queria dizer “sim”?
— O quê? Não! — falei com tanta veemência que o som da minha
voz ecoou no vestiário. — Eu nunca desistira da iniciativa
alternativa ao baile desse jeito. — Josie estava mesmo duvidando do
meu compromisso com a causa?
— O objetivo da iniciativa não é boicotar o baile. É acabar com o
consumismo desnecessário e usar o excesso de fundos para ajudar o
centro comunitário — lembrou Josie, de forma prática, como se
estivesse claro que poderíamos ir ao baile, se quiséssemos.
— Não quero ir ao baile, e definitivamente não com Robbie Choi
— falei, tentando fazer minha voz soar dura e definitiva. Queria que
as pessoas parassem de pensar que eu mudaria totalmente de
opinião de repente só porque Robbie Choi decidiu voltar para a
cidade.
— Já tá na internet? — Finalmente fiz a pergunta que estava me
atormentando.
— Bem… — A voz de Josie desapareceu, obviamente ciente de
que eu nunca acreditaria nela caso dissesse que “não”.
— Só me responde. — Eu podia sentir meu estômago se
revirando com náuseas de ansiedade ao pensar em todas as pessoas
que poderiam assistir à minha humilhação.
— Está sendo compartilhado por todo mundo. Mas a maioria
foca apenas no Robbie. — Josie deu um pulinho, como se essa fosse
uma ótima notícia. — Mas, tem um que… é meio que épico.
— Épico? — perguntei, não tendo certeza do que ela queria dizer
com isso.
— Aqui. É melhor você assistir. — Josie deu alguns cliques no seu
celular e o entregou para mim. Tomada de pavor, assisti ao vídeo
começar.
— Lani? — disse o Robbie do vídeo depois de terminar de tocar
sua música.
— O que tá acontecendo? — soou a voz da Felicity do vídeo. E
então assisti, com horror, enquanto a Elena do vídeo girava
descontroladamente, como uma galinha assustada. E colidia
diretamente com Felicity.
As rosas pareciam explodir entre nós. Pétalas estourando com
nossa colisão e caindo do alto em seguida. Enquanto eu corria para
longe, o vídeo ficou em câmera lenta, uma horrível adição de pós-
produção, enfatizando o choque de Felicity, que aparecia com olhos
arregalados. Seus braços giravam enquanto tentava recuperar o
equilíbrio. Ela caiu de costas na multidão atrás dela. Alguns alunos
tentaram segurá-la, mas seu impulso foi muito forte, e, em vez disso,
Felicity derrubou três pessoas como dominós humanos. Ela soltou
um lamento que soou grosso e grave com o efeito da câmera lenta.
Sua boca se abriu novamente em aflição, e então o vídeo se tornou
uma tela preta.
— Ai. Meu. Deus — falei devagar enquanto o vídeo recomeçava
automaticamente. — Ai, meu Deus. Aimeudeus. — Aquilo tudo era
demais para mim. Era horrível. Pela primeira vez em anos, senti
pena de verdade de Felicity Fitzgerald.
— Épico, não é? — disse Josie com um sorriso largo no rosto. —
Já salvei no meu celular para poder ver Felicity cair de bunda várias
e várias vezes.
— Não posso ir lá fora — Agarrei o braço de Josie. — Felicity vai
me matar.
— Ah, não. Ela já foi para casa. Disse que se machucou e
precisava tirar um dia de folga.
— Eu machuquei alguém? — gritei.
Josie deu uma risada.
— Não tá machucada. Eu a vi caminhando para o carro. Ela está
bem. Apenas envergonhada e usou isso como desculpa para ir
embora.
— Ela é esperta — falei baixinho. — Gostaria de poder ir embora.
— Quer ir? — perguntou Josie. — Podemos ir, se você quiser.
Suspirei. Josie era uma grande amiga. Quer dizer, por ela, com
certeza, não fazia mal tirar um dia de folga. Ela chamava isso de dias
da saúde mental. E, honestamente, eu não conhecia ninguém tão
tranquilo quanto Josie, então parecia que ela estava no caminho
certo. Mas eu não conseguiria. Eu me sentiria culpada por faltar à
escola. E, se minha mãe descobrisse, ela nunca mais me deixaria em
paz.
— Não, é melhor eu ficar. Vamos. Vamos enfrentar logo este dia
— falei enquanto o sinal tocava. Juntei minhas coisas e segui Josie
em direção à minha ruína.
Onze

Não foi tão ruim quanto pensei que seria.


Foi pior.
Mesmo depois do sinal, os alunos ainda perambulavam pelos
corredores. Então tive que aguentar dezenas de olhos me encarando.
Grupinhos começaram a me olhar e a sussurrar assim que me
reconheciam. Eu nunca havia recebido tanta atenção na minha vida.
Tentei (e não consegui) me esconder dentro do meu suéter, como
uma tartaruga que entra em seu casco.
Nossa sala de aula ficou completamente silenciosa quando Josie e
eu entramos.
Então, Jacob Schmidt começou a bater palmas lentamente, e os
outros alunos se juntaram a ele. Logo, um estrondo de aplausos
tomou conta da sala enquanto todos eles batiam palmas. Mas era um
aplauso de zombaria. Eu podia ver olhos afiados e sorrisos largos.
Não estavam me aplaudindo. Estavam aplaudindo a piada que eu
era.
Hoje seria um longo dia.

Eu não sabia que tantas pessoas poderiam ter opiniões sobre a


minha vida, mas muitas delas ficaram mais do que felizes em
compartilhá-las comigo.
— Ei, irmã do Ethan — chamou Tim Breslow quando passei por
ele no corredor a caminho da aula de pré-cálculo. — Não sabia que
você era tão exigente. O que um cara precisa fazer para você dizer
“sim”? Ser dono de um país?
Baixei a cabeça e me apressei pelo corredor, mas as risadas me
perseguiam.
Então, na hora do almoço, enquanto eu estava arrumando nossa
mesa da iniciativa alternativa ao baile, os estudantes continuaram
vindo para me mostrar uma dúzia de versões diferentes do promposal
que haviam sido postadas online. A cena foi capturada de todos os
ângulos possíveis. Alguns dos vídeos foram editados com música ou
efeitos especiais. Era humilhante. Mas o pior foi quando Diana
Walker alegremente se aproximou da mesa. Tentei entregar-lhe um
panfleto, mas ela recusou.
— Acho que toda essa coisa anti-baile é só para aparecer, hein? —
disse, olhando para mim.
— O quê? — Franzi a testa, cansada de todos os rumores que eu
já tinha ouvido por aí. O pior dizia que eu tinha pagado Robbie para
fazer o promposal como uma forma de chamar atenção.
— Sim, quer dizer, por que faria o Robbie dar um show tão
grande, se você tá protestando contra o baile?
— Não é isso que a gente tá fazendo — murmurei.
— Mas não se preocupa — Diana ignorou minha resposta. —
Parece que o Robbie já superou isso. — Ela levantou o celular e me
mostrou um story do Instagram na conta de JD. Os meninos estavam
obviamente se preparando para algum tipo de sessão de fotos ou
evento. JD estava falando besteiras, contando o que tinham
almoçado e coisas do tipo. Mas então virou a câmera para Robbie,
que estava sentado carrancudo no canto. A risada de JD ecoou.
— Ah, nosso maknae tá triste depois da rejeição épica?
Robbie deu de ombros em um movimento brusco:
— Tanto faz, não é grande coisa.
Não é grande coisa? Ele realmente pensa isso do momento mais
mortificante da minha vida?
Um dos integrantes apareceu na câmera e passou um braço
amigável em volta de Robbie:
— Veja pelo lado bom. Agora você pode ser um artista torturado.
Robbie riu e deu um pequeno empurrão no colega:
— Claro, vou escrever uma música épica sobre isso.
— Esse é o espírito, Robiya — disse JD, esticando a mão para dar
um soquinho no ombro dele.
Robbie deu um sorriso maroto para a câmera e disse:
— Algumas você ganha e outras você perde, não é?
— Pelo menos ele não tá chateado com isso, não é, Elena? — A
voz de Diana era maliciosa, como se estivesse esperando que eu
perdesse o controle para que ela pudesse relatar a fofoca às amigas.
Então, coloquei meu melhor sorriso falso no rosto e disse:
— Sim! É um grande alívio. Obrigada por me mostrar.
Diana fez um beicinho de desapontamento. Parecia que ela ia
dizer mais alguma coisa, mas me voltei para a mesa, concentrando
toda a minha atenção em organizar os panfletos até que ela
finalmente foi embora. Então, deixei meus ombros caírem. Algumas
você ganha e outras você perde?
Eu não era um troféu, pensei furiosa.
A aula de química era a última do dia, e eu mal podia esperar
para ela acabar. Fiquei olhando para o relógio enquanto realizava as
tarefas no laboratório.
Fiz dupla com Karla Hernandez, e o celular dela vibrava
incessantemente o tempo todo. Ela ficava dando uma olhada na tela
e, depois, olhando furtivamente para mim. Isso aconteceu umas
cinco vezes antes de eu finalmente dizer:
— Posso ajudar?
— Ah, não. Desculpa — murmurou ela. Quando seu celular
vibrou de novo, Karla o virou, mas não antes que eu pudesse ver o
que ela estava olhando. Um grupo de conversa sobre WDB.
Irritada, falei:
— Se você tem algo para me perguntar, diga logo.
Ela se encolheu, e eu imediatamente me senti mal. Sabia que não
deveria descontar nela minha frustração com o dia.
— Ah, eu não… quer dizer, por que você não disse “sim”?
— O quê? — Fiquei surpresa. Foi a primeira vez que alguém me
perguntou isso. Até agora, todo mundo só estava interessado em
apontar para mim e rir às minhas custas. Ninguém queria ao menos
saber como eu estava me sentindo.
— É que eu não consigo acreditar que você não disse “sim”. Eu ia
morrer se alguém do WDB me convidasse para sair.
— Não é bem assim — murmurei.
Karla se inclinou, seus olhos arregalados e curiosos.
— Então como é?
— Robbie não estava me convidando para ir em um encontro. Foi
só uma promessa boba que a gente fez quando era criança.
— Isso é tão legal. — Karla suspirou. — Então, você vai com ele?
— Não — falei.
Karla parecia genuinamente confusa:
— Por que não?
— Porque estou defendendo uma causa com a iniciativa
alternativa ao baile — comecei a dizer.
— Ah, sim. Tinha esquecido — Karla franziu o cenho. O tipo de
olhar que eu sempre recebia quando começava a falar sobre o centro
comunitário. O celular dela vibrou novamente, mas desta vez o Sr.
Taylor estava passando por perto.
— Você conhece as regras de classe — disse ele, confiscando o
telefone. — Pode pegá-lo de volta depois da aula.
Karla suspirou e afundou na cadeira.
— O que estão dizendo? — perguntei, incapaz de me controlar.
— Você não vai querer saber — disse ela com uma voz distraída
enquanto observava o Sr. Taylor colocar o celular dela na gaveta da
mesa.
Quando as aulas finalmente terminaram, praticamente corri pelo
estacionamento até o carro de Josie. Ela ainda não estava lá, então
me encostei no veículo para esperar.
Alguns estudantes passaram, sussurrando e rindo quando me
viram.
Eu não estava com humor para ouvir mais piadas ou provocações
às minhas custas, então fingi que havia deixado cair algo como uma
desculpa para me esconder ao lado da porta do carona de Josie.
Peguei meu celular para enviar uma mensagem para ela, e então
abri o navegador.
Não faça isso, Elena, alertei a mim mesma. Nada de bom pode vir de
sair lendo qualquer tipo de comentário. Você é esperta demais para fazer
isso.
Mas o comentário de Karla na aula de química ficou na minha
cabeça. Ela obviamente quis dizer que os fãs do WDB sabiam sobre o
promposal. Como não saberiam? Robbie e o WDB foram marcados na
metade das postagens. Eles estavam com raiva de mim por eu ter
rejeitado Robbie? Talvez entendessem que tinha sido absolutamente
vergonhoso. Eu realmente não deveria olhar. Mas não consegui me
controlar e pesquisei: “Robbie Choi + promposal.”
Uma dúzia de postagens surgiram. E eu rolei a tela. Porcaria.
Havia uma hashtag.
E memes. Um print em que eu colidia com Felicity, e as flores
explodiam ao nosso redor. Em seguida, um segundo print com ela
no chão, as pétalas caindo ao redor, e legendas como “Dando um
novo significado ao ‘poder das flores’” ou “Aquele sentimento que
dá quando seu futuro se aproxima de você com força total.”
E Karla tinha razão. Haviam muitos comentários de
Constellations. Estavam escritos em tantas línguas que eu não
conseguia entender metade deles, mas, dos que estavam em inglês,
pude ver que a maioria não gostava de mim:

Quem diabos é essa garota?


Ai meu Deus, ela rejeitou Robbie-oppa!
Onde essa fulaninha mora?!
Não! O Robbie é meu!
Fechei a aba. Gostaria que esse gesto pudesse deletar os
comentários também. Tem sinal de internet nas cavernas? Porque é
para lá que eu teria que me mudar para fugir de tudo isso. Seria uma
vida simples, mas eu aprenderia a procurar minha própria comida e
pescar.
— Elena?
Praticamente dei um pulo, mas, como estava agachada, perdi o
equilíbrio e me segurei no carro de Josie.
— O que você tá fazendo? — perguntou Ethan, aproximando-se.
Ele era tão alto que alguém com certeza o veria conversando com
um carro vazio.
— Shhh! — falei, puxando sua calça jeans para forçá-lo a se
agachar também. — O que parece que tô fazendo?
— Você derrubou alguma coisa? — Ele olhou ao redor.
— Não, tô me escondendo — respondi. — Porque a vergonha
que eu passei já tá espalhada por toda a internet para o mundo
inteiro ver.
Ethan riu, e o som me deu nos nervos.
— Não é tão ruim assim. É só um promposal. As pessoas vão
esquecer assim que o próximo acontecer.
— Sim, se o próximo for feito pelo Tom Holland.
— Para ser sincero, fiquei impressionado — disse Ethan. —
Robbie deu tudo de si. Ele merece um crédito por isso, não é?
Eu dei a Ethan o meu olhar mais duro e sério, e o sorriso dele
sumiu do rosto.
— Qual é. Se anima. Promposals deveriam ser divertidos.
— Sim, é divertido quando você quer um.
— Por que você simplesmente não disse “sim” para o cara e, mais
tarde, falou para ele que não queria ir? — perguntou Ethan.
— Porque eu sou a líder da iniciativa alternativa ao baile! Pense
em como isso ia afetar a nossa credibilidade!
— Eu realmente não entendo por que você é anti-baile.
Eu não sou anti-baile. Tive vontade de arrancar meus cabelos de
frustração.
— Você não entenderia — falei, finalmente me levantando.
Minhas pernas começaram a formigar por ter ficado tanto tempo
agachada, e bati os punhos contra as coxas para me livrar das
picadas de agulha que as percorriam.
— Acho que não — disse Ethan. — Mas tenho certeza de que vai
ficar tudo bem. Amanhã é sexta-feira, e depois é fim de semana.
Tudo vai ser esquecido.
Pude perceber que Ethan estava tentando me confortar, o que eu
normalmente adoraria. Mas ele estava fazendo um péssimo trabalho,
e eu sabia que qualquer coisa que dissesse só faria com que ele se
sentisse mal. E, se minha mãe descobrisse que eu tinha chateado
Ethan, seria um inferno. Então, apenas fiquei lá olhando para ele.
— Foi mal, atrasei! — gritou Josie, correndo até nós.
— Tudo bem. Só vamos embora. — falei, esperando
impacientemente que ela abrisse o carro.
— Acho que vejo você mais tarde — disse Ethan, com o rosto
rígido, e eu sabia que o tinha chateado de qualquer forma.
Ótimo, o jantar seria uma terrível cereja passivo-agressiva no
topo do bolo desastroso que já estava sendo o meu dia.
— Sim, vejo você mais tarde — falei, fechando a porta entre nós.
Eu realmente precisava que esse dia acabasse.
Doze

No dia seguinte, desejei que as pessoas pudessem voltar a


pensar em mim apenas como a gêmea fracassada de Ethan. Eu
estava cansada dos outros me perguntarem sobre Robbie. Sobre o
baile. Sobre qualquer coisa.
Evitei com sucesso tudo relacionado à internet ou redes sociais,
embora Josie agora tivesse começado a me enviar GIFs de Felicity
caindo de bunda. Falando em Felicity, ela veio à escola hoje.
Caroline a elogiou em voz alta no meio do pátio, dizendo que era
“corajosa” por voltar à escola tão rápido. Como se ela tivesse sido
atacada por um animal raivoso. Mas eu sabia por que tinha vindo. Se
não estivesse presente nas aulas durante o dia, não teria permissão
para ser líder de torcida no jogo desta noite, era uma regra.
Depois da escola, tudo o que eu mais queria era ir para casa, mas
não podia. Tinha prometido a Jackson um livro novo de aniversário
e queria levá-lo para ele esta noite, quando fosse ao centro
comunitário. Então apenas ignorei a falta de vontade e fui ao
shopping.
Eu tinha acabado de estacionar quando recebi uma mensagem da
minha mãe. Ela nunca me mandava mensagem, a menos que
quisesse “gritar” comigo ou que estivesse precisando de alguma
coisa.
MÃE: Onde você tá?
ELENA: No shopping.
MÃE: Vai ficar por aí um pouco?
ELENA: Só vou comprar um livro. Precisa de alguma
coisa?

Esperei pela resposta, mas ela não falou nada. Eu me convenci de


que talvez só quisesse se certificar de que eu estava segura. Isso
significava que ela se importava, certo?
Eu não era uma pessoa que gostava de comprar por lazer. Sei que
existem algumas que gostam de passear pelas lojas ou pelos
corredores, para ver as novidades e se tem algo que lhes chama a
atenção. Não sou uma delas. Só pego o necessário e vou embora. É
por isso que o shopping não era minha ideia de diversão.
Mas o que tornou tudo muito pior foi que faltava um mês para o
baile de formatura, o que significava que várias meninas da minha
escola estavam lá comprando vestidos, maquiagem ou sapatos. Se eu
esbarrasse nelas, pode ser que trouxessem à tona o terrível promposal.
Eu ficava estressada só de pensar nisso.
Fui direto para a livraria. Ela era praticamente a única razão pela
qual eu vinha ao shopping, já que era a única livraria da cidade.
Tinha acabado de entrar na loja quando um grupo de três garotas
bloqueou meu caminho. Comecei a contorná-las, mas uma delas se
moveu para me bloquear novamente.
— Precisa de alguma coisa? — perguntei. Como uma lição de boas
maneiras.
— Você é aquela garota, não é? — perguntou uma delas.
— Você vai ter que ser mais específica — falei, sentindo um nó no
estômago. Eu não a reconhecia de nenhuma das minhas aulas, mas
isso não significava que ela não fosse aluna do primeiro ou do
segundo ano.
— Foi você quem rejeitou o Robbie-oppa.
Droga. Eu não estava com humor para isso agora.
— Escuta. — Pensei que poderia explicar as coisas de maneira
racional, mas a garota me empurrou. Não foi um empurrão de leve;
foi forte e rude.
— Você não merece o Robbie-oppa!
— Eu não o quero — falei, por fim.
— Por que não? — perguntou uma das amigas da garota, dando
um passo à frente. — Você acha que é boa demais para ele?
Isso era ridículo. Primeiro não queriam que eu ficasse com Robbie
e agora querem? Será que elas não poderiam se decidir?
— Ei! — Karla apareceu correndo, e olhei para ela. Ela fazia parte
disso? — Meninas, vamos. Eu a conheço. É uma boa pessoa.
Finalmente, alguém que estava pensando direito.
— Mas ela envergonhou Robbie na frente do mundo inteiro! —
insistiu a primeira garota, encarando-me. Eu não conseguia decidir
se queria evitar o olhar dela ou encará-la de volta.
— Não vale a pena — disse Karla. Não sabia se ela estava
fingindo ou se realmente achava que eu não valia nada, mas,
honestamente, não me importava mais a esta altura. Ela poderia me
chamar de “monte de lama” se isso tirasse essas pessoas do meu pé.
— Tá bom, tanto faz — respondeu a primeira garota. — Vamos à
papelaria.
Fugi por entre as estantes altas e fui direto à seção infantil. Eu
tinha certeza de que não encontraria nenhum fã rebelde de Robbie
aqui, a menos que ele tivesse atingido um público com menos de 7
anos da idade. Na verdade, não dava para ter certeza de que ele não
tinha atingido.
Em vez de olhar os livros, apenas me joguei no chão e deixei meu
rosto cair em minhas mãos trêmulas. Nunca estive em uma situação
como essa antes. Isso era um caso de “cuidado com o que você
deseja”? Passei metade da minha vida desejando não estar sempre
na sombra dos outros. Mas agora as pessoas me conheciam por
todos os motivos errados. Eu não sabia o que fazer ou dizer para
aquelas garotas. Agora, pensando bem, gostaria de ter dito que
minha vida pessoal não era da conta delas. Mas apenas congelei,
querendo evitar qualquer tipo de confronto.
Eu precisava sair dessa. Não podia deixar algumas pessoas
horríveis estragarem o resto do meu dia. Já abri mão de muito da
minha semana por causa dessa situação. Estava na hora de deixar
isso para trás.
Estava esperando na fila com o livro de Jackson quando percebi
uma pessoa vagando por entre os caixas. Ele se destacava porque
usava um boné de beisebol com a aba abaixada até perto dos olhos.
O capuz de seu moletom estava puxado sobre o boné. E ele usava
óculos escuros, embora estivéssemos em um ambiente fechado.
Olhei ao redor, procurando pelo segurança do shopping, mas
ninguém parecia preocupado com um esquisito que estava
obviamente tentando esconder o rosto. E Josie sempre dizia que eu
me preocupava demais. A última coisa de que eu precisava era que
alguém me gravasse sendo histérica com um segurança e postasse na
internet. Mandei minha cabeça deixar de paranoia. Só estava no meu
limite depois daquele confronto com aquelas garotas. Apenas
pagaria pelo meu livro e cuidaria da minha vida. Abaixei a cabeça,
recusando-me a olhar para a pessoa que obviamente não estava aqui
para comprar livros.
Depois de pagar, ouvi passos atrás de mim. Não do tipo normal,
de pessoas andando no shopping. Esses estavam estranhamente
combinando com os meus. Como se acompanhassem o ritmo exato
em que eu estava andando. E quando acelerei, eles também
aceleraram. Dei uma olhada para trás, e o cara do capuz estava
definitivamente me perseguindo com rapidez.
Porcaria, eu deveria ter confiado nos meus instintos! Era mais um
superfã do WDB? Estavam me seguindo porque iam tentar fazer
alguma coisa comigo?
Uma parte de mim pensou que talvez eu devesse gritar. Ou isso o
deixaria com raiva? Se ele tivesse uma arma, simplesmente me
atacaria? Fiz aula de kickboxing uma vez, quando minha mãe me
arrastou consigo para a academia por um mês. Não, isso não
funcionaria. Tudo o que fizemos foi socar e chutar sacos de areia, e
eu errava o saco na maioria das vezes.
Decidi que era melhor me apressar e fui até os elevadores. Mas
antes que as portas pudessem se abrir, alguém agarrou meu braço.
— Eu luto kickboxing! — gritei, levantando meus punhos na
frente do rosto.
— O quê? — A voz soou estranhamente familiar. — Não, Elena,
sou eu. — Ele tirou os óculos escuros e o boné, revelando o rosto de
Robbie Choi.
— O que diabos você tava pensando? — Soquei o braço dele para
liberar um pouco da adrenalina que ainda percorria meu corpo. —
Não pode perseguir alguém pelo shopping vestido como se estivesse
prestes a assaltar um banco!
— O quê? Não, não era minha intenção fazer isso. Tentei sinalizar
para você, mas não olhava para mim.
— Sim, porque você tá parecendo um completo esquisito.
Ele mordeu o lábio inferior em um gesto que eu reconhecia.
Robbie costumava fazer isso o tempo todo quando estava nervoso.
— Eu não queria que ninguém me reconhecesse.
— Bem, objetivo alcançado — falei, endurecendo minha voz
enquanto afastava o resquício de nostalgia. — Você tá totalmente
ridículo.
— Sim, eu me sinto ridículo toda vez que uso essa roupa — disse,
e não consegui deixar de me sentir meio mal por ele. Sua voz estava
tomada de frustração.
— Como você sabia onde eu tava?
— Passei na sua casa, e sua mãe me disse que você tava no
shopping.
— Ela simplesmente te contou?
Deve ter sido disso que se tratava a mensagem estranha. Acho
que foi uma ilusão esperar que minha mãe se importasse do nada
com o meu paradeiro.
Um grupo de jovens passou por nós quando o elevador chegou, e
Robbie encolheu os ombros e abaixou o queixo. Ele rapidamente me
puxou para dentro do elevador, apertando o botão de fechar a porta.
— O que você tá fazendo? Aonde estamos indo? — perguntei,
percebendo que ele não havia pressionado um botão de escolher o
piso.
— Lugar nenhum.
— O quê?
— Talvez eu só esteja querendo “elevar” o nível da conversa. —
Ele me deu um sorriso maroto.
Soltei um grunhido.
— Você não faz mais aqueles trocadilhos terríveis, faz?
— Tá querendo dizer que nunca gostou deles? — Robbie franziu
a testa de uma forma tão exagerada que seu lábio fez um beicinho.
Quase abri um sorriso, mas então lembrei que estava com raiva
dele.
— Você não respondeu à minha pergunta. — Apontei para os
botões do elevador.
Seu rosto assumiu uma expressão triste, e ele suspirou:
— Eu só queria evitar as multidões. Não posso correr o risco de
ser reconhecido.
Apertei meus lábios.
— Se você quer evitar multidões, então por que veio a um
shopping?
— Porque você tá aqui. — Ele estava corando? Ou eram apenas
as luzes fluorescentes do shopping? — Queria falar com você sobre
ontem.
Senti meu coração subir pela garganta. Eu não queria falar sobre
ontem. Não queria pensar em ontem. Se eu pudesse encontrar uma
máquina que apagasse completamente o dia de ontem da linha do
tempo, apagaria. E então Robbie teve que piorar tudo perguntando:
— Qual foi a sua?
— A minha? — repeti incrédula. Ele estava mesmo me culpando?
— Foi você quem apareceu na minha escola e fez um espetáculo na
frente de metade dos meus colegas. Não sei para que tipo de truque
publicitário é tudo isso, mas será que você poderia simplesmente
encontrar outra garota para ser sua protagonista desavisada?
O músculo em sua mandíbula enrijeceu.
— Você acha que isso era para publicidade?
Ele parecia tão chateado que quase automaticamente soltei um
pedido de desculpas, mas a voz de Josie ecoou na minha cabeça: pare
de se desculpar o tempo todo. Pensei no vídeo viral e em como todos os
comentários negativos eram sobre mim, enquanto todos
simpatizavam com Robbie como se ele fosse a “pobre vítima” dos
meus modos malignos e coniventes. Cruzei os braços e perguntei:
— Se não era para publicidade, então por que você veio à minha
casa com uma câmera?
— Bem… — começou Robbie, então parou, franzindo a testa.
— Exatamente. — Balancei a cabeça para sua falta de palavras. —
Nos últimos dois dias, você me colocou em duas situações realmente
enervantes sem motivo.
— Enervantes? — Robbie ergueu uma sobrancelha, como se
estivesse intrigado. — Então, você fica nervosa perto de mim?
Ele estava falando sério?
— Nervosa perto de você?
— Sim. — Robbie parecia estar refletindo sobre essa teoria e a
achar agradável. — Quer dizer, eu entendo. Quando debutei, tava
perto de tantas grandes estrelas que nunca sabia o que dizer. Mas
você não precisa se sentir estranha perto de mim. Eu ainda sou o
mesmo velho Robbie.
— Não, você não é — falei sem pensar.
Sua boca se abriu.
— O quê?
Balancei a cabeça.
— O velho Robbie não ia assumir essa personalidade ridícula de
celebridade na minha frente porque ia saber que eu não gosto
quando as pessoas não são elas mesmas.
— Tudo bem — disse Robbie. — Talvez eu tenha mudado, mas
você também mudou com toda essa coisa do baile.
— Mudei porque eu não quero ir a um baile ridículo? — Tive
vontade de rir em descrença.
— Não, porque quando você era mais jovem, sempre cumpria
suas promessas. Uma vez, eu quis quebrar uma promessa de
mindinho que fiz para um bichinho de pelúcia, e você passou vinte
minutos me dando um sermão sobre honestidade e lealdade.
Eu estava paralisada, em estado de choque.
Odiava que ele tivesse conseguido fazer com que me sentisse
culpada. Como se eu estivesse quebrando algum tipo de juramento
sagrado e não uma promessa boba que fiz quando tinha 10 anos.
Mas ele não estava errado, promessas eram muito importantes para
mim quando eu era mais jovem. Esther sempre dizia que, se você
promete, você cumpre. Ponto final. E eu levava isso muito a sério.
Mas e quando a pessoa que você era quando fez a promessa não é
a mesma que é agora?
— Olha, não é como se eu tivesse planejando envergonhar você
ontem — disse Robbie.
Dei de ombros, e talvez estivesse sendo defensiva, ou talvez
apenas mesquinha, mas eu disse:
— Bem, algumas você ganha e outras você perde, não é?
Pelo menos ele teve o bom senso de estremecer.
— Você viu isso?
— Metade da minha escola viu — murmurei.
— Sinto muito — disse Robbie. — JD me pegou em um momento
ruim.
— Tanto faz, era só um story do Instagram. Já sumiu.
Encolhi os ombros.
— Lani… — começou Robbie, e ouvir o apelido me deu um
aperto no peito. Era confuso demais ouvi-lo dizer esse nome agora.
Já significou muito para nós, mas eu não reconhecia mais o cara que
o usava.
— Eu disse que tá tudo bem. Não quero mais falar sobre isso —
falei rapidamente. Esse assunto estava me dando dor de estômago.
— Vamos lá, eu sei que você tá com raiva de mim.
Tive vontade de revirar os olhos; agora ele, de repente, podia me
ler tão bem? E quando me envergonhou na frente das câmeras duas
vezes seguidas?
— Me fala como te compensar — pediu Robbie, inclinando a
cabeça com um sorriso tímido. Era um movimento pensado
exclusivamente para derreter corações. Então, eu intencionalmente
endureci o meu contra ele. Não serei só mais uma garota caindo aos
seus pés de idol. — Eu faço qualquer coisa. — Seu sorriso se alargou,
como se estivesse tentando arrancar um de mim.
Forcei meus lábios em uma carranca:
— Você pode me deixar em paz.
— Qualquer coisa, menos isso. — Então, seus olhos se
iluminaram, seu sorriso se tornou malicioso, como costumava
acontecer quando ele tinha uma ideia. — Que tal um desejo?
— O quê?
— Vamos lá, você não esqueceu, não é? Vou te conceder um
desejo, o que quiser. Mas tem que me perdoar quando eu realizar
seu pedido. — Ele ergueu a sobrancelha em um questionamento
silencioso, como que me desafiando a aceitar.
Por que Robbie estava insistindo em trazer de volta todas essas
coisas da nossa infância? Coisas que eu preferiria manter guardadas
onde ele não pudesse estragá-las com suas mãos sedosas de idol.
— Você realmente acha que um desejo aleatório vai te ajudar?
Ele assentiu, pensativo:
— Tudo bem, dois desejos.
Não pude deixar de ficar intrigada. Mas me forcei a bufar e tentar
apertar o botão da porta para escapar.
Ele se moveu para bloquear meu caminho.
— Três! Oferta final! Três desejos, o que você quiser.
Três desejos? Poderia demorar para ele realizar três desejos,
especialmente porque eu demoraria um pouco pensando neles. Isso
significava que Robbie estava planejando ficar aqui por um tempo?
— O que eu quiser? — perguntei.
Ele franziu a testa, como se percebesse quanto poder estava me
concedendo.
— Dentro dos limites do razoável. — Ele estendeu a mão. — Kol?
Abri um sorriso ao ouvir o termo coreano para fechar um acordo.
— Kol. — Aceitei o aperto de mãos.
Robbie sorriu, e foi um sorriso doce e meio autodepreciativo.
Meu pulso acelerou. Não é como se eu não o tivesse visto sorrir
antes. Mas esse sorriso não era um daqueles perfeitos de sessão de
fotos, mas suave e irônico, quase como o Robbie que eu lembrava de
sete anos atrás.
Ele colocou uma mão no meu ombro. E fiquei imóvel enquanto
uma estranha sensação de formigamento percorria meus braços. Por
que eu estava reagindo assim?
— Realmente sinto muito — disse. — Se eu tivesse que fazer de
novo, faria diferente.
— O quê? — falei baixinho. Eu não conseguia parar de focar sua
mão ainda no meu ombro. Estava fazendo minha pele esquentar
muito.
— Eu não teria ido à sua casa com uma câmera ou feito um
espetáculo na sua escola. Teria te pedido para me encontrar no velho
banco de balanço da sua mãe. Ela ainda tem aquilo?
— Sim — falei. Eu não conseguia pensar em mais nada para
dizer.
Robbie sorriu, e todo o seu rosto foi iluminado. Seus olhos se
tornaram pequenos.
— Eu realmente teria te perguntado em vez de presumir alguma
coisa. E teria me desculpado por não ter ligado cantando aquela
música que escrevemos juntos quando tínhamos 9 anos. Você
lembra?
— Hein? — falei, porque aparentemente eu só conseguia dar
respostas monossilábicas.
Então Robbie começou a cantarolar. E eu me lembrei. Nós a
escrevemos em seu antigo piano e até a gravamos no celular de sua
mãe, no formato MP3, para presentear nossos pais. Não tinha
nenhuma letra, porque continuávamos discutindo se era uma canção
de amor ou uma música dançante. Não era nenhum dos dois, mas
tínhamos apenas 9 anos.
— Você não pode cantar uma música que não tem letra —
observei.
— Então eu ia escrever uma — disse ele. — Afinal de contas, sou
músico.
— Você ainda escreve músicas? — perguntei, agarrando-me a
qualquer tópico, tentando desviar a conversa para algum assunto
neutro.
— Faço uns rascunhos — respondeu.
Era uma resposta estranhamente evasiva, e um olhar estranho
tomou conta de seus olhos por um momento antes de desaparecer.
Fui tomada de curiosidade, e eu queria insistir para obter mais
informações, mas não tive a chance, pois as portas do elevador se
abriram novamente. Reconheci a voz de Karla Hernandez antes de
ver seu rosto.
Sei que parece clichê dizer que tudo ficou em câmera lenta, mas
juro que ficou.
Eu pude ver Robbie começar a se virar, provavelmente se
perguntando quem tinha acabado de entrar no elevador. Se ele
continuasse se virando, Karla veria seu rosto completamente
exposto. Tive apenas um segundo para reagir. Eu o puxei para frente
de forma que pudesse ficar escondido no canto, levantando o
moletom para cobrir seu cabelo no processo. Só estava pensando
nisso, em esconder o rosto dele para que Karla não o reconhecesse e
começasse uma rebelião. Mas é claro que não pensei que puxá-lo
para o canto significava puxá-lo para mim.
Antes que qualquer um de nós pudesse se mover, mais pessoas
se amontoaram no elevador, e alguém estava trazendo um carrinho
gigante com caixas largas, fazendo com que todos se espremessem
nos cantos.
Alguém esbarrou em Robbie, e ele tropeçou para a frente,
tentando se segurar antes de cair por cima de mim. Estava colada no
canto, a bochecha dele agora praticamente encostada na minha,
minhas mãos ainda em volta de seu pescoço. Eu queria afastá-las,
mas o movimento faria com que meus cotovelos o acertassem no
peito. Então apenas fiquei lá, meus dedos segurando o tecido de seu
moletom. Ele cheirava às velas de linho fresco da minha mãe com
um toque de algo terroso, como quando fui para uns campos de chá
verde com minha família na Coreia.
Eu o ouvi murmurar alguma coisa enquanto ele começava a se
afastar, mas apertei meus braços ao redor de seu pescoço.
— Cuidado — sussurrei em seu ouvido. — São fãs.
Esperava que Robbie entendesse o que eu estava querendo dizer.
E pareceu que ele tinha entendido quando o senti acenar de leve com
a cabeça enquanto mantinha o rosto pressionado contra meu ombro.
Seus braços me envolveram, e senti o boné que ele segurava se
pressionar contra mim. Decidi me concentrar apenas nisso, na
sensação do boné, na aba batendo em meu braço. Dessa forma, eu
não pensaria em como Robbie estava pressionado contra mim. Na
maciez da sua pele contra a minha. Na sua respiração, que eu sentia
em meu pescoço.
— Ugh, algumas pessoas são tão nojentas. — Ouvi a amiga de
Karla dizer, e demorei um segundo para perceber que ela estava
falando sobre nós. Porque parecia que estávamos… Não, eu não
podia pensar nisso. Só estava tentando proteger Robbie. Como
costumava fazer quando tínhamos 10 anos. Isso não era nada. Já
estivemos mais próximos quando dávamos nossos abraços de
despedida. Ou daquela vez em que enfrentei Robbie porque ele não
queria me devolver meu iPad. Só que meu coração não tinha batido
tão rápido quando a Elena de 9 anos pulou no Robbie de 9 anos.
Nem meu cérebro tinha ficado tão confuso enquanto eu o segurava
no chão. Nem tinha sentido um formigamento por todo o corpo
quando arranquei o iPad de suas mãos.
O elevador finalmente parou, e todas as outras pessoas saíram.
Robbie se afastou apenas alguns centímetros para que seu rosto
não ficasse mais pressionado contra o meu. De alguma forma,
conseguir olhá-lo nos olhos era ainda pior. Eram os mesmos de que
me lembrava, só que havia um brilho estranho neles que eu nunca
tinha visto antes. Questionador e intenso. Fez com que calafrios
corressem pelos meus braços, até que um arrepio tomou conta de
mim.
Então, o elevador deu um solavanco enquanto recomeçava a se
mover, e o feitiço foi quebrado.
Robbie deu um passo para trás, e fui deixada pressionada no
canto do elevador.
— Eu conhecia aquelas meninas — expliquei rapidamente, um
rubor tomando conta de minhas bochechas. — Elas são grandes fãs.
Então eu tinha certeza de que elas te reconheceriam, e você disse que
não queria isso.
— Ah, sim. Quer dizer, faz sentido. — A voz de Robbie soou
grossa, e ele tossiu na manga de sua roupa.
— Eu só… não tinha certeza se você pensou que, na verdade, eu
estava tentando…
— Ah, não! — disse Robbie, balançando a cabeça com tanta força
que ele parecia um daqueles bonecos cabeçudos. — Eu nunca ia
pensar que você fez isso. Não que não possa fazer. Quer dizer,
suponho que já tenha feito com outros… Quer dizer… Não sei o que
tô querendo dizer.
Balancei a cabeça, tentando pensar em uma maneira de deixar de
lado o constrangimento que fazia minha pele parecer tensa demais.
— Não é grande coisa, certo? Não é como se a gente não tivesse
feito isso antes.
Ai, meu Deus, por que eu acabei de dizer isso?
— O quê? — perguntou Robbie, seus olhos se arregalando.
— Nada — falei rapidamente, xingando-me por dentro. — Você
provavelmente não lembra. Eu quase não lembro. Quer dizer,
obviamente lembro, ou não teria tocado no assunto. Nem sei por que
toquei no assunto. — Estava divagando. E, quanto mais eu falava,
pior ficava. Não conseguia olhar para ele. Sabia que, se olhasse, ele
estaria me encarando como se eu fosse uma completa esquisita.
— Eu lembro — disse Robbie, e eu finalmente olhei para cima.
Ele estava me encarando, mas não com desgosto ou
aborrecimento. Estava olhando para mim com uma seriedade tão
grande que me deixou constrangida. No que estava pensando? A
dúvida estava me matando.
O elevador parou mais uma vez, e eu praticamente pulei para
fora, assustando duas mulheres de meia-idade que esperavam para
entrar. Murmurei um pedido de desculpas, mas eu precisava sair do
elevador. De repente, parecia pequeno demais.
Robbie havia colocado o boné e os óculos escuros novamente.
Voltou a ser o idol distante:
— Preciso ligar para o meu empresário.
Senti meu estômago dar um nó. Ele estava mesmo com pressa
para ir embora?
Não, isso não deveria importar para mim. Toda vez que via
Robbie, as coisas ficavam tão confusas e complicadas que eu acabava
em uma situação sob medida para me fazer parecer ridícula. Seria
melhor se ele só fosse embora.
Eu não tinha certeza do que fazer enquanto ele se afastava para
falar ao telefone. Parecia falta de educação simplesmente ir embora
enquanto ele estava no celular. Deveria pelo menos esperar até
poder me despedir adequadamente.
Mas enquanto hesitava, vi Caroline e Felicity caminhando em
direção à saída segurando cafés gelados com chantilly no topo. Torci
para que elas simplesmente passassem direto. Argumentei com o
universo que eu já havia lidado com coisas o suficiente nos últimos
dias. Mas, ao que parece, o universo não se importava, porque
Caroline me viu.
— Tá aqui para impedir que os frequentadores do baile de
formatura gastem dinheiro no shopping do mal? — perguntou
Caroline com uma risada.
Cerrei os dentes e considerei fingir que não tinha ouvido.
— Sério? Você vai simplesmente me ignorar? — zombou
Caroline.
— Carol, tô entediada — disse Felicity com desdém, tomando um
gole de sua bebida. — Podemos ir? A gente vai se atrasar para o
aquecimento.
Ela nem ao menos olhou para mim, e, mais do que os
comentários rudes de Caroline, o jeito de Felicity agir, como se nem
estivesse me vendo, feriu meu orgulho. Foi provavelmente por isso
que eu disse:
— Se não sou ninguém, por que você se importa tanto com o que
eu faço? Por que simplesmente não me deixa em paz?
Caroline deu um passo à frente, e eu precisei de toda a minha
coragem para não recuar quando ela empurrou seu rostinho bonito
contra o meu.
— Você tem razão: por que eu me importo com uma fracassada
como você? Pelo menos tem uma coisa boa no seu protestinho anti-
baile. Você não vai estragar minha noite aparecendo no baile de
formatura.
Cerrei os punhos, minhas bochechas ardendo de vergonha. Meus
olhos desviaram rapidamente para Felicity, que estava mexendo no
celular, batendo o pé com impaciência.
Caroline ficou lá parada, seus olhos perfurando os meus como
punhais por três segundos inteiros antes de se virar tão bruscamente
que seu rabo de cavalo chicoteou minha bochecha. Foi mais ofensivo
do que se ela tivesse me dado um tapa. Pisquei furiosamente quando
senti lágrimas quentes ameaçando escorrer. E, sem olhar para trás,
Felicity e Caroline atravessaram a porta de saída.
Virei-me para enxugar meus olhos úmidos e vi Robbie
observando a apenas alguns metros de distância. Eu não conseguia
ver seus olhos por trás dos óculos escuros, mas ele estava perto
demais para não ter escutado o que Caroline disse.
Evitei seu olhar e cravei minhas unhas nas palmas das mãos,
concentrando-me naquela dor em vez de na vergonha que eu sentia
por saber que ele havia testemunhado aquilo.
Já era ruim o suficiente ter um ex-melhor amigo que havia
conquistado tanto quanto Robbie. Mas ele saber que, desde que me
deixou, eu me tornei menos do que ninguém era tão vergonhoso que
eu poderia morrer aqui mesmo.
— Elena.
— Não faz isso — pedi antes que ele pudesse continuar. Eu já
podia ouvir a pena em sua voz. — Não importa.
— Claro que importa — disse ele, sua voz baixa como se estivesse
tentando acalmar um animal ferido. — Elas não deviam ter…
— Eu disse para não fazer isso — retruquei, e ele parou. —
Preciso ir.
— Espere. — Ele estendeu a mão como se fosse me segurar, e eu
olhei para ele de um jeito que o fez desistir. — Você não devia dirigir
nessa situação. Provavelmente não é seguro ou algo do tipo.
Franzi a testa em confusão enquanto uma parte de mim se sentia
satisfeita com sua preocupação, mesmo que eu ainda não pudesse
olhá-lo nos olhos.
— Estou bem — murmurei, embora minha voz soasse tensa
demais.
— É por causa dela que você não quer ir ao baile? — perguntou
Robbie.
Um pouco da pressão no meu peito diminuiu, e eu deixei escapar
uma gargalhada.
— Caroline? Não. Ela é uma idiota, mas não é por causa dela.
— Então por quê?
Antes que eu pudesse responder, seu celular acendeu, e eu
reconheci os caracteres coreanos para “empresário”. Ele fez um
movimento para atender, e segurei seu pulso. Percebi que não queria
que ele fosse embora com essa imagem horrível de mim de uma
pária social que odeia o baile de formatura. Lentamente, falei:
— Você quer mesmo saber?
— Sim. — Assentiu enquanto seu celular parava de tocar.
— Você acha que seu empresário ia te deixar ir a um lugar
comigo? — perguntei.
— Agora? — Ele franziu a testa.
— Sim, agora. Será um dos meus desejos — falei, olhando para
ele com expectativa.
Ele sorriu, um sorriso suave e gentil, e, desta vez, eu me permiti
sorrir de volta.
Treze

A noite do meu primeiro beijo também foi uma das cinco noites
mais tristes da minha vida. Eu tinha 10 anos, e eram as férias de
verão. Estava ajudando Sarah a lavar a louça depois do jantar. Ela
esfregava e enxaguava, e eu secava. Minha mãe nunca usava a
máquina de lavar louça, a menos que fosse depois de um jantar
especial ou no Natal.
Robbie ligou quando eu estava terminando. Ele me perguntou se
poderia encontrá-lo no balanço, e Sarah disse que terminaria o
trabalho para mim. Corri lá para fora; estava quente e úmido, e
parecia que ia chover.
Havia uma estranha eletricidade no ar, que me deixou tonta
enquanto corria até Robbie.
Ele já estava me esperando lá, empurrando-se com os pés para
que o banco balançasse suavemente.
— E aí? — perguntei, sentando-me ao lado dele e empurrando-o
com mais força. Ele agarrou a corrente para não cair, e eu ri de sua
surpresa.
— Tenho uma coisa para te contar — disse. Por algum motivo,
não estava olhando para mim. E senti um estranho aperto no
estômago, como quando minha mãe e meu pai sentaram conosco
para nos dizer que o Haraboji estava doente.
— Seus pais tão bem? — perguntei.
— Sim, eles tão bem.
— Então o que foi? — Se todos estavam bem, poderíamos
resolver as coisas.
— A gente vai para Seul — disse ele.
Empurrei o chão novamente, perguntando-me até que altura
poderíamos ir.
— Tudo bem, vejo você quando voltar.
Ele arrastou os pés no chão para parar o balanço e finalmente
olhou para mim, seus olhos estavam cheios de lágrimas.
— Esse é o problema. A gente não vai voltar.
De início, eu não consegui processar. Simplesmente não fazia
sentido.
— Mas e a escola? — perguntei, mesmo quando comecei a me dar
conta. Robbie não estava passeando nas férias de verão. Ele estava se
mudando. Para Seul. Para o outro lado do mundo. Meu melhor
amigo estava indo embora, assim como Esther e Allie foram embora.
— Tem certeza? — falei, minha voz falhando ao fazer a pergunta.
— Sim, Appa disse que só veio aqui para ajudar Samchon com seu
negócio, e, agora que tá tudo resolvido, ele recebeu uma oferta de
emprego em Seul. É boa demais para deixar passar.
— Bem, e por que você e sua mãe têm que ir também? —
Lembrei-me da história de como o Haraboji tinha vindo para os
Estados Unidos por alguns anos sem a Halmoni, meu pai e suas
irmãs, e só depois todos vieram.
— Vai todo mundo. E não sei quando vou te ver de novo. — Ele
fungou e passou o nariz na manga da camisa.
— Mas por quê? — sussurrei.
Ele balançou a cabeça e fez um som triste e sufocado, e percebi
que nenhuma das minhas perguntas estava ajudando. Estendi a mão
e puxei-o para perto. Seus braços me envolveram, apertando-me
com tanta força que era quase difícil respirar. Mas eu não queria que
ele me soltasse.
— A gente vai se falar por mensagem o tempo todo — falei em
seu ombro. — E fazer ligações. E FaceTime.
— Claro — respondeu.
— Vamos conversar tanto que vai ser como se você nunca tivesse
ido embora.
— Sim — disse ele, desfazendo o abraço para se afastar. Eu quase
protestei, mas meus braços estavam começando a doer de tanto
apertá-lo.
— Vou sentir tanto a sua falta, Lani — sussurrou ele.
— Também vou sentir sua falta, Robbie. Você é meu melhor
amigo. — Minha garganta estava muito apertada, como se não
quisesse que eu falasse essas palavras.
Então Robbie se inclinou para a frente e pressionou seus lábios
nos meus. Foi rápido. Um selinho, na verdade. E tinha o gosto
salgado de nossas lágrimas. Mas foi um beijo de verdade.
Meu primeiro beijo.
Quatorze

Não pude deixar de observar Robbie com o canto do olho


enquanto entrávamos na área de recreação principal do centro
comunitário. Eu estava ciente das bolas de basquete gastas
empilhadas na lixeira torta; dos tapetes rasgados jogados
aleatoriamente no canto; das paredes arranhadas contra os blocos de
concreto amarelados, porque não havia dinheiro nem para pagar
uma nova camada de tinta; do cheiro de suor e mofo que pairava
perpetuamente no ar. Eu nunca tinha percebido como o espaço
parecia desgastado antes, mas agora, com Robbie ao meu lado, só
conseguia me concentrar nisso.
Eu o conduzi através de um grupo de crianças que estavam
jogando Base Quatro e pararam, olhando para ele com curiosidade.
Robbie abaixou a cabeça um pouco, como se estivesse preocupado
em ser reconhecido. Ou foi por que estava julgando o espaço?
— Que lugar é este? — perguntou.
— É o meu lugar favorito no mundo — respondi.
Na grande sala de jogos, havia crianças brincando animadamente
no canto, e a TV estava ligada. Algumas delas estavam discutindo
sobre um jogo de tabuleiro estendido sobre um tapete de segunda
mão, projetado para parecer uma estrada.
Jackson nos viu e saiu correndo do sofá.
— Quem é você? — perguntou, olhando para Robbie.
— Ah, hum. Me chamo Robbie. — Ele parecia um pouco
deslocado, e quase sorri com sua surpresa.
— O seu cabelo tem uma cor estranha — disse Jackson.
Comecei a dizer a Jackson que era falta de educação falar esse
tipo de coisa, e Robbie riu, passando os dedos pelo cabelo.
— É, acho que é verdade.
Jackson deu um sorriso largo.
— Vamos! Vocês estão perdendo Dragon Ball Z! — Ele pegou a
mão de Robbie logo antes de pegar a minha e nos puxou com toda a
sua força de criança de 4 anos. Robbie me olhou de um jeito que era
meio confuso e meio divertido.
Dei de ombros:
— Você ouviu. Vamos perder Dragon Ball Z.
O desenho já estava passando na TV de plasma gigante usada.
Era um daqueles modelos antigos que era pesado como um tijolo e,
às vezes, ficava com a imagem queimada, se você pausasse por
muito tempo.
Ethan e eu costumávamos assistir aos episódios de DBZ
religiosamente quando éramos crianças. Esther havia nos dado seus
DVDs antigos, e os vimos infinitas vezes, até que nossa mãe
ameaçou quebrar todos eles se não víssemos outra coisa. E agora eu
os dei a Jackson e ao centro comunitário.
— Ei! Você chegou — disse Tia, levantando-se de seu lugar na
ponta do sofá. Ela olhou para o relógio, e me senti culpada por estar
atrasada. Eu normalmente não me atrasava, mas o empresário de
Robbie se perdeu duas vezes no caminho até aqui. (Essa era uma
condição para Robbie vir, ele precisava ser escoltado.)
— Mas, mamãe, chegou a melhor parte! — gritou Jackson,
pulando para cima e para baixo e apontando um dedo minúsculo
para a tela.
— Eu sei, querido, mas tenho que ir trabalhar. — Ela deu um
beijo rápido em seus lábios amuados.
— Desculpa o atraso — pedi rapidamente.
— Tudo bem. Só não quero colocar a minha promoção em risco
— disse Tia, prendendo o cabelo em um rabo de cavalo apertado,
segurando o elástico entre os dentes.
— Não se preocupa — falei. — Tenho certeza de que você vai
chegar na hora.
— Sim, provavelmente. — Então os olhos de Tia pousaram em
Robbie, e ela parou de mexer no cabelo. — Hum, Elena. Vai me
apresentar ao seu amigo?
Senti um rubor subir pelo meu pescoço.
— Este é Robbie. Ele costumava ser meu… — Como eu poderia
descrever nossa relação? — vizinho quando a gente estava no ensino
fundamental.
Robbie levantou uma sobrancelha para mim, fazendo-me
questionar minha escolha de palavras. Mas, então, ele se virou para
ela.
— Prazer em conhecê-la.
— O prazer é meu. — Tia sorriu, apertando a mão estendida de
Robbie. Esperei, contando mentalmente até dez enquanto os olhos
de Tia se arregalavam e brilhavam de reconhecimento. — Robbie…
Choi?
Fiquei chocada ao ver Robbie corar.
— Culpado.
Os olhos surpresos de Tia se moveram entre mim e Robbie, de
um lado para o outro, como se ela tivesse mil perguntas e não
soubesse bem como fazê-las.
— Achei que você ia se atrasar. — Eu a lembrei.
— Ah, sim — disse, ainda encarando Robbie.
— Tia, você ainda quer uma carona? — Maria, outra mãe de West
Pinebrook estava parada na porta, as chaves balançando em seu
dedo.
— Sim, estou indo — disse Tia.
— Mamãe! Dragon Ball Z! — gritou Jackson novamente, com
lágrimas nos olhos.
— Sinto muito, querido, a gente já conversou sobre isso. Tenho
que ir trabalhar, mas volto logo. — Ela lhe deu outro beijo, desta vez,
na testa. No entanto, seus olhos continuaram voltando para Robbie.
Ela me dirigiu um olhar duro, e eu praticamente pude ler seus
pensamentos: Vamos conversar mais tarde.
— Tia, eu não quero me atrasar! — gritou Maria.
— Estou indo — disse ela, dirigindo-me um último olhar
aguçado.
— Mamãe! — chamou Jackson.
— Está tudo bem, Jack-Jack — falei. — Vou ver Dragon Ball Z com
você.
— Mas é uma coisa da mamãe! — lamentou Jackson.
Eu estava lutando para encontrar uma maneira de distraí-lo de
sua ansiedade de separação quando Robbie falou:
— Uau, sua mãe sabe tudo sobre Dragon Ball Z?
Jackson parou no meio de um soluço. Encarou Robbie com os
olhos cheios de lágrimas.
— Você é tão sortudo — disse Robbie com um sorriso que fez sua
covinha aparecer. — Minha mãe não sabe nada sobre programas de
TV legais, então eu nunca assisti. Você sabe me dizer quem é esse
cara rosa?
Jackson esfregou o rosto molhado de lágrimas com a mão.
— Majin Boo. — Fungou.
— Ele parece um grande homem-marshmallow rosa. Ele é legal?
Robbie estava olhando apenas para Jackson. Era como se
estivesse criando uma pequena bolha de segurança só para eles dois,
e não consegui evitar — meu coração derreteu. Tentei me dizer que
aquilo era apenas seu treinamento de mídia, mas ele não parecia
estar fingindo enquanto esperava pacientemente que Jackson
respondesse.
— Não, ele é do mau. A gente não gosta dele — explicou Jackson,
virando-se para a TV de novo, finalmente se esquecendo de ficar
triste por sentir falta da mãe. — Mas aquele cara é o Goku. Ele é o
melhor e o mais corajoso de todos, e agora o cabelo dele está preto,
mas, quando ele ganha mais poder, fica amarelo.
— Uau, que legal. Sabe, eu já tive o cabelo amarelo uma vez —
comentou Robbie.
Jackson soltou uma risadinha e estendeu a mão para passar os
dedinhos pelas pontas dos fios de Robbie, que se abaixou para
facilitar o acesso.
— É engraçado — disse Jackson com o jeito despreocupado das
crianças. Comecei a me intrometer, mas Robbie respondeu com um
sorriso.
— Você não gosta? — Robbie levou a mão aos cabelos, ainda
havia um tom de rosa nele, mas estava quase completamente
desbotado agora.
— É, mais ou menos — disse Jackson com um sorriso malicioso.
— Sério? — Robbie franziu a testa de um jeito comicamente
exagerado, e não pude deixar de sorrir. — Bem, de que cor você acha
que devia ser?
— Azul! — disse Jackson.
— Azul é a cor favorita do Jack-Jack — informei Robbie, que
sorriu.
Fiquei sem fôlego. Eu sabia que ele era bonito — claro que era —,
mas havia um olhar em seu rosto agora. Era como a cobertura de
caramelo quente que minhas irmãs costumavam fazer no outono
para que pudéssemos mergulhar maçãs. E o interior de meu corpo
derreteu inteiro, assim como aquele caramelo.
— Ou você podia pintar da cor do arco-íris! Ou fazer bolinhas! —
declarou Jackson, quebrando o momento. E Robbie riu ao se
concentrar no menino mais uma vez.
— É uma sugestão interessante — declarou.
— Ei! Se você tá fazendo sugestões, então precisa estar disposto a
cumpri-las também! — Fiz cócegas em Jackson até ele escorregar do
meu colo.
— Você é bom com ele — disse a ele enquanto Jackson corria pela
sala.
— Ele é divertido — respondeu Robbie. — Consigo ver por que
você gosta deste lugar.
— Sério? — perguntei, aliviada. Eu não tinha admitido para mim
mesma, mas estava com medo de Robbie ficar entediado aqui.
— Sim, eu não costumo fazer coisas desse tipo com frequência.
Apenas sentar num sofá e falar sobre anime. Talvez a gente possa
sair mais tarde e tentar organizar um jogo de basquete? — Ele
parecia esperançoso, como uma criança pedindo para sair para
brincar.
Fiquei um pouco surpresa por Robbie estar tão animado para
uma atividade tão cotidiana. Eu havia presumido que ser uma
celebridade significava ter uma vida glamourosa, viajar de jatinho
nas férias e possuir casas com cinemas particulares. Ser babá e jogar
basquete com crianças do ensino fundamental não pareceria
entediante para alguém assim?
— Então, o que este lugar tem a ver com o baile? — perguntou
Robbie, olhando ao redor.
— A recessão atingiu com força o nosso patrocinador principal, e
ele não pode mais apoiar o centro. Então, até que a gente possa
convencer a cidade a alocar mais fundos, estamos pedindo para os
estudantes doarem dinheiro em vez de gastar tudo no baile de
formatura.
Robbie assentiu.
— Isso é ótimo, Lani. De verdade.
Eu sorri, reafirmada por seu elogio.
— Sim, e…
Fui interrompida quando Jackson correu até nós, seguido pelo
restante das crianças mais novas.
— Vamos! Está com você! — gritou Jackson, pressionando a mão
no braço de Robbie e disparando novamente, as outras crianças
gritando e correndo em direções diferentes.
Robbie olhou para mim com uma sobrancelha arqueada, e me
encolhi, tentando segurar uma risada.
— Acho que está com você.
— É mesmo? — Ele me olhou com malícia.
— Calma! — Eu pulei para fora de seu alcance no momento em
que ele investiu contra mim, a surpresa fazendo meu coração
disparar. Ou, pelo menos, esse foi o motivo que eu me dei. — Você
precisa deixar a gente sair na frente!
— Não! Não tem regras! E eu vou pegar vocês! — disse Robbie,
pulando do sofá. E, com uma gargalhada, corri para o corredor,
onde podia ouvir Jackson rindo e gritando.

Eu não esperava que Robbie se encaixasse tão facilmente no caos do


centro comunitário. Ele brincou de pega-pega com as crianças mais
novas. E ensinou jogos diferentes a alguns dos mais velhos no
espaço recreativo. Não se importou em ficar suado ou de se sujar
quando Jackson espalhou manteiga de amendoim em seus jeans de
grife. E as crianças o adoraram.
No final da noite, quando Cora anunciou que era hora da
limpeza, Jackson arrastou Robbie com ele para guardar os Legos que
haviam espalhado. Mas, dez minutos depois, eu os encontrei
sentados entre os brinquedos ainda espalhados enquanto Robbie lhe
lia um livro. Eu tive que sorrir. Aquele garoto era mestre em fazer as
pessoas lerem para ele. Era como um adorável superpoder. Jackson
estava encantado com a história, e Robbie estava ligeiramente
inclinado para poder apontar os diferentes animais em cada página.
Percebi que era a primeira vez que eu o observava quando ele
não sabia que tinha público. Seria este o verdadeiro Robbie? Um cara
que ria enquanto tentava ajudar Jackson a pronunciar
“hipopótamo”? Era com esse cara de sorriso suave e paciente e olhos
gentis que eu sonhava em ir ao baile. Espere aí… Eu não ia mais
pensar no baile. Esse era um caso encerrado. Não havia jeito de me
convencer a ir. Mas eu não tinha dito que o principal motivo para
não querer fazer isso era que a pessoa com quem eu queria ir não
estava aqui? E agora, pelo que parecia, estava.
Comecei a dar um passo à frente, quando Jackson olhou para
Robbie e perguntou:
— Você vem brincar comigo de novo?
Robbie hesitou, e isso me paralisou. Claro que diria que não. Ele
tinha coisas mais importantes para fazer do que ser babá. E,
eventualmente, elas o levariam embora de novo. A porta do meu
coração que tinha começado a se abrir, fechou-se novamente. Eu
deveria ter lembrado que este não era o lugar ao qual Robbie
pertencia. E, se voltasse a me abrir com ele, fosse ao baile com ele,
sentisse… o que quer que eu estivesse começando a sentir, doeria
ainda mais quando ele partisse novamente.
— Por favor! — disse Jackson, olhando para Robbie com o olhar
do gato de Shrek.
Dei um passo à frente novamente, desta vez para interceder.
— Jackson…
Mas, antes que eu pudesse continuar, Robbie disse:
— Vou definitivamente tentar.
Pude sentir um aperto no peito. Como se Robbie estivesse
falando comigo em vez de com Jackson. Por que isso era pior do que
ouvir um “não”? Eu me sentia do mesmo jeito quando meu pai dizia
“vamos ver”. A dor de ainda querer ter esperança quando sabia que
era inútil.
— Promete! — disse Jackson. — Promete com o mindinho que
você vai tentar.
Comecei a balançar a cabeça. Uma promessa de mindinho era
sagrada para uma criança de 4 anos. Mas Robbie estendeu o dedo. E
Jackson o agarrou com o dele.
Então Robbie disse:
— Carimba! — E pressionou o polegar contra o de Jackson.
— Sela! — Eles deslizaram as palmas das mãos.
— E envia! — Os dois as bateram na testa.
— Ei, como você sabe isso? — perguntou Jackson. — É coisa da
Elena!
— Quem você acha que ensinou para ela? — perguntou Robbie
com um largo sorriso enquanto olhava para mim e piscava. E meu
coração já confuso e tenso bateu forte contra minhas costelas. Eu me
forcei a sorrir de volta. — Certo, hora de realmente limpar.
Jackson deu um suspiro resignado de alguém dez vezes mais
velho. Mas obedientemente colocou os Legos de volta na caixa. Com
nós três trabalhando, não demorou muito, e logo ouvi a voz de Tia
chamando no corredor.
— Mamãe! — Jackson voou para os braços da mãe.
Ela soltou uma risada, enterrando o rosto em seu pescoço
enquanto o pegava.
— Você se divertiu? — perguntou.
— Elena e Robbie me ensinaram a jogar H-O-R-S-E!
— É mesmo? — Os olhos de Tia se desviaram para nós, olhando
incisivamente para mim e Robbie.
— Robbie, você não disse que tinha que ir? — falei, puxando seu
braço para que ficasse perto de mim.
— O quê? — Seu olhar confuso passava de mim para Tia,
obviamente captando nossos sinais silenciosos.
— Não disse que seu empresário estava ficando impaciente? —
Pra-ticamente o empurrei para além do olhar de falcão de Tia,
evitando contato visual e quaisquer perguntas que o
acompanhariam. Eu sabia que era uma saída de covarde. E que ela
iria me bombardear com perguntas na próxima semana, mas eu
simplesmente não conseguia lidar com elas agora. Talvez porque,
por causa do tanto que meus pensamentos estavam distorcidos hoje,
eu não fizesse ideia de nenhuma das respostas.
Puxei Robbie pelo corredor em direção à saída lateral, esperando
evitar Cora também. Pela primeira vez, eu não estava com vontade
de ficar no centro comunitário.
— Ei, tá tudo bem? — perguntou Robbie enquanto eu abria a
porta.
— Sim, só não quero que você tenha problemas com seu
empresário — falei, conduzindo-o para o jardim do centro. O local
era envolto por uma grande cerca de madeira para segurança e
privacidade. Estava um pouco negligenciado, especialmente depois
da partida da Sra. Lewis. Pensei em tentar me lembrar de trazer
algumas crianças aqui na próxima semana para arrancar as ervas
daninhas.
— Se eu te dei a impressão de que precisava ir embora, não foi
minha intenção — disse Robbie, hesitando na porta.
— É mesmo? — falei, perguntando-me por que ele diria isso.
Robbie queria ficar mais tempo? Comigo? — Então quer fazer um
tour pelo jardim?
— Claro.
Não era grande o suficiente para exigir um tour. Mas talvez ele
estivesse usando isso como uma desculpa para não terminar a noite.
Essa ideia me deu um pequeno arrepio na espinha. Eu sabia que era
bobagem, como quando Sarah e seus namorados se demoravam no
telefone mesmo sem dizer nada. Mas será que era tão ruim querer
mais dez minutinhos com essa versão dele? Acho que eu estava com
medo de que amanhã ele voltasse a ser Robbie, o astro convencido.
— Aqui é onde as crianças plantam vegetais. A gente não ganha
muito com isso, mas elas ficam muito animadas quando veem um
broto de tomate ou de pimentão. — Apontei para cada planta
enquanto falava. — E, então, Tia e Anna, uma das outras mães,
plantaram algumas flores ali no canto. As rosas ficam muito bonitas
quando florescem. — Andei pelo caminho de grandes pedras
achatadas até a seção em questão, apontando para arbustos
dormentes e espinhosos.
— Então, como você começou a se voluntariar aqui?
— Todos os calouros têm que fazer um projeto voluntário para a
aula de educação cívica — expliquei.
— E você escolheu o centro porque ficaria bem nas candidaturas
de faculdade. — Robbie terminou a frase para mim.
Franzi a testa; quando ele falava dessa forma, parecia tão
calculado.
— Por que diz isso?
— Porque é assim que você sempre foi, mesmo quando a gente
era criança. Planejando sempre dez passos à frente.
Suspirei.
— Sim, porque quando você planeja, …
— Antecipa qualquer problema. — Robbie terminou a frase para
mim novamente. E eu olhei para ele. Sempre foi tão irritante assim
quando éramos mais jovens?
— Ah, qual é, eu sempre gostei de como você planejava tudo.
Isso significava que eu não precisava me preocupar — disse Robbie,
empurrando-me de leve com o ombro.
— Bem, não é como se eu conseguisse prever tudo. Você ainda se
mudou — murmurei.
Ele franziu a testa:
— Eu senti sua falta de verdade, Lani.
De repente, senti como se minha garganta estivesse fechada e
tossi um pouco para limpá-la.
— De qualquer forma, sim, é aqui que passo muito do meu
tempo. E é por isso que minha amiga e eu começamos a iniciativa
alternativa ao baile. Como você pode ver, isso me torna super
popular com o pessoal da minha turma.
— É um lugar incrível. E você está fazendo algo ótimo tentando
apoiá-lo. Mesmo que os outros alunos não consigam ver isso… —
Robbie não continuou a frase, e eu sabia que ele estava pensando
sobre o que tinha acontecido no shopping.
— Os outros alunos são muito apegados à ideia do baile de
formatura.
Robbie balançou a cabeça.
— Você não precisa explicar nada.
— Só não quero que você pense que sou uma fracassada anti-
baile de formatura — expliquei. — Eu sei que não conquistei tanto
quanto você, mas estou trabalhando nisso.
Robbie franziu a testa.
— Elena, isso não é uma competição de quem conquistou mais
coisas desde que a gente era criança.
Fiz uma careta. Para ele, era fácil falar, já que estava ganhando.
— De qualquer forma — falei rapidamente antes que Robbie
pudesse continuar suas tentativas de apaziguamento. — Obrigada
por ter vindo aqui comigo. Você foi muito bom com as crianças. Eles
te ensinam a entreter crianças como trainee?
Robbie assentiu, parecendo entender que eu estava mudando de
assunto:
— Somos ensinados a falar com fãs de todas as idades. Mas eu
sempre gostei de crianças. Tenho alguns primos mais novos em Seul.
O dia de hoje me lembrou do quanto sinto falta deles. No entanto,
não nos vemos muito hoje em dia.
— Sério? Nem mesmo nos fins de semana?
Robbie riu:
— Idols não têm folga nos fins de semana. Especialmente no
começo. Talvez tenha sido diferente para nós porque a Bright Star
era uma empresa bem nova. Mas conseguimos bastante com o nosso
próprio marketing de guerrilha. Ou fazendo shows surpresa em
Hongdae ou Myeongdong. Ou pequenas aparições em programas de
rádio. E a Bright Star nos mandava bastante para o exterior, então,
com todas as viagens, foi difícil encontrar tempo livre no primeiro
ano. E aí, quando pensamos que talvez as coisas fossem desacelerar
um pouco, fomos convidados para o MTV Music Awards, e as coisas
meio que… explodiram.
Eu me lembrava disso. Foi no meio do meu segundo ano do
ensino médio. As mulheres do salão coreano ficaram muito
animadas com a ideia de Robbie aparecendo na televisão americana.
No momento em que você entra na nossa comunidade, sempre fará
parte dela. Então, as senhoras coreanas de nossa cidade falavam
sobre Robbie como se todas o tivessem criado juntas. Era uma coisa
de solidariedade coreana da qual Ethan e eu sempre rimos. Mas,
secretamente, era bom sempre que elas falavam sobre algo bacana
que tínhamos feito. Era como uma validação do conselho feminino
coreano não oficial. E, sempre que as impressionávamos, nossa mãe
ficava de bom humor.
— Foi por isso que… — Não terminei a frase, já muito
envergonhada para terminar a pergunta.
— O quê? — Robbie estava me olhando com curiosidade.
— Foi por isso que você parou de me ligar? — perguntei,
dizendo-me para não esperar por uma resposta fácil, mesmo
enquanto eu ainda me agarrava a essa possibilidade. — Quando
você mudou de número, pensei… que talvez, depois de estrear, você
tinha ficado bom demais para…
— Ah, não — disse ele, estendendo as mãos para pegar as minhas
e apertá-las. — Não foi nada disso! Eu juro! Quando você tá prestes a
estrear, precisa abrir mão de seu antigo telefone pessoal. Como
novatos, não temos permissão para ter celular. Então, minha mãe
simplesmente parou de pagar pelo meu número, e ele foi cancelado.
— Ah, acho que faz sentido — falei. — Quer dizer, eu sabia que
você estava ocupado. Não é como se eu não tivesse ouvido sobre as
coisas legais que você estava fazendo. Late Night. SNL. E até
conheceu Randall Park e Steven Yeun!
Outra coisa muito coreana: agarrar-se às poucas celebridades
coreano-americanas. Minha mãe até chorou quando Sandra Oh falou
coreano durante seu discurso no Emmy.
Nós dois percebemos ao mesmo tempo que Robbie ainda estava
segurando minhas mãos frouxamente, e ele as soltou de maneira
desajeitada, deixando as suas caírem ao lado do corpo. Enfiei as
minhas nos bolsos, pois o que não é visto, não é lembrado.
— Sim, é legal. — Robbie sorriu timidamente e esfregou a mão na
nuca. Deus, por que ele tinha que parecer um protagonista fofo saído
direto de um dorama? Isso fazia com que a concentração se tornasse
uma tarefa difícil para mim. — Sinceramente, não consegui dizer
uma única palavra quando conhecemos a Beyoncé no AMA. Mas
também fica meio… exaustivo. — Ele franziu a testa. — Sei que eu
não deveria dizer isso. Parece muita ingratidão. Mas, às vezes,
gostaria de ter apenas uma semana em que eu não precisasse fazer
nada.
Uma semana? Isso é tudo o que ele queria? Parecia tão triste para
mim.
— Se você tá tão ocupado… — Comecei a perguntar, mas me
contive.
— O quê?
Tentei balançar a cabeça para dizer que não tinha importância,
mas Robbie se inclinou na minha direção.
— Vai em frente, você pode me perguntar qualquer coisa.
De tão perto, eu podia ver pontinhos dourados em seus olhos.
Lembrei-me de pensar que era tão injusto que ele tivesse olhos tão
bonitos quando os meus eram de uma cor marrom-lama tão feia.
Eles sempre foram tão hipnotizantes? Eu não conseguia desviar o
olhar deles.
E ele tinha um cheiro tão bom. Fresco e terroso. Era
estranhamente sedutor.
Mas esse é o ponto. Robbie precisava ser sedutor. Precisava atrair
você. Era a marca dele. Ele era uma pessoa com uma marca. E eu era
apenas uma pessoa que não fazia ideia do que estava fazendo na
maior parte do tempo.
— Elena? — disse Robbie, e percebi que estava olhando para sua
garganta, como uma espécie de vampiro faminto.
— Ah, eu só tava… — balbuciei. O que eu estava fazendo? Além
de estar me envergonhando completamente. Dei um passo em
direção a um grupo de flores que desabrochavam no canto. Parei,
como se estivesse estudando uma tulipa roxa para não ter que olhar
para Robbie. — Acho que eu só estava pensando que, se você tá tão
ocupado que nem consegue ver sua família, como você iria ao baile?
Robbie esfregou as pétalas de uma tulipa rosa entre os dedos.
— Hanbin-hyung me deve uma. Ele disse que poderia mexer uns
pauzinhos, já que já estamos na região metropolitana de Chicago
para o KFest.
— Por que você ia desperdiçar um favor com algo tão bobo
quanto o baile de formatura?
— Porque prometemos um ao outro que iríamos. Porque é o que
a gente queria quando tinha 10 anos e… — Robbie não completou a
frase, e eu senti que talvez estivesse errada em pressioná-lo. — Não
sei, acho que quando tínhamos 10 anos foi a última vez que as coisas
pareceram boas e simples. A situação ficou tão complicada quando
me mudei para Seul, quando meu appa… — Sua voz falhou, e ele
ficou em silêncio. Não terminou a frase, mas eu sabia como
terminava. Quando seu appa morreu. Acidente de carro.
Agora eu me sentia péssima. Não apenas pressionei Robbie, mas
o pressionei em uma direção que o fez pensar em seu pai.
— Sinto muito — falei. — Não queria te fazer pensar sobre essas
coisas.
— Tá tudo bem.
Tive vontade de abraçá-lo. Mas não tinha certeza se ele não se
incomodaria com isso. Não costumava pensar em como agir na
frente de Robbie. Por mais ridícula ou absurda que eu fosse, ele
sempre estava ao meu lado. E eu fazia o mesmo por ele. Mas agora
esse Robbie lindo e educado tinha passado por coisas que eu não
conseguia entender. Doeu um pouco perceber que, de diversas
maneiras, não nos conhecíamos mais completamente. Era como se eu
tivesse perdido o controle de algo importante para mim. Como se,
por fim, tivesse que reconhecer que uma parte da minha infância se
fora e não voltaria.
— Não me incomoda falar sobre isso — disse Robbie.
— Sério? — perguntei, tentando analisar seu rosto para ver se
estava apenas sendo educado. Eu odiava estar tão insegura sobre o
que ele estava pensando.
— Sim, eu odiava quando as pessoas tentavam ignorar o assunto.
Como se não falar sobre ele fizesse a dor ir embora. — Robbie
encolheu os ombros. — É por isso que minha mãe me deixou ser
trainee. Acho que ela estava disposta a fazer qualquer coisa para me
distrair.
O celular dele vibrou, e percebi, por sua expressão, que era o
empresário ligando. Provavelmente perguntando por que ele estava
demorando tanto.
— Podemos ir por aqui até a entrada — falei, destrancando o
portão.
Conduzi Robbie até a frente do prédio, quando, de repente,
começou uma gritaria. Câmeras dispararam, cegando-me antes que
eu pudesse fechar os olhos.
Robbie me empurrou para trás dele, estendendo o braço como se
estivesse me protegendo de um ataque.
— Robbie! Qual a sua relação com o centro comunitário?
— Você está se voluntariando aqui?
— É por isso que veio para a região metropolitana de Chicago tão
cedo?
— Robbie! Quem é sua amiga?
Ele me puxou para a porta da frente do centro, fechando-a atrás
de nós e bloqueando as vozes que gritavam.
Cora estava apagando as luzes quando parou por causa de nossa
entrada apressada.
— Elena, o que está acontecendo? Você está bem?
— O quê? — falei, ainda meio atordoada, tentando me livrar das
luzes brilhantes em minha visão.
— Estamos bem. — Robbie pegou seu celular. — Hyung? A
imprensa está aqui. Sim, tudo bem, esperamos você.
— O que tá acontecendo? — perguntei finalmente.
— Não sei — disse ele, olhando por uma das janelas estreitas.
— Porcaria, eles vieram porque eu trouxe você aqui sem pensar
em como este lugar é público— falei, segurando meu rosto em
minhas mãos enquanto a culpa queimava no meu peito.
— Elena? — Cora franziu a testa em confusão.
— Cora, eu sinto muito — falei. — Não queria causar uma cena.
— Não, Elena, não é sua culpa. É minha — disse Robbie. — Eu
causei isso.
— O que você quer dizer? — perguntei.
Naquele momento, o empresário de Robbie, Hanbin, empurrou a
porta, deixando entrar os gritos dos paparazzi.
— Ufa — disse Hanbin, balançando a cabeça como se tivesse
acabado de sair da chuva. — Ainda bem que este é um centro
comunitário, certo? As histórias que eles vão escrever sobre isso
provavelmente serão boas para a imagem do WDB. — Ele soltou
uma risada.
Robbie deu de ombros.
— Sim, é melhor do que os problemas com o figurino que
tivemos em São Francisco.
Eles estavam falando sobre o centro comunitário como se ele
fosse uma oportunidade de melhorar as relações públicas.
— Espera, você chamou os paparazzi para cá? — questionei. —
Isso é algum tipo de truque publicitário?
— O quê? — Robbie franziu a testa, e eu o observei, desejando
que ele negasse. Mas não o fez. E quanto mais o silêncio se arrastava,
mais eu sentia meu estômago dar um nó.
— Robbie, só me diz que você não fez isso — pedi, tentando
induzi-lo.
— Não… — começou, mas Hanbin o interrompeu.
— Vamos lá. — Ele conduziu Robbie em direção à porta. —
Precisamos ir antes que mais deles apareçam e se transformem em
uma multidão enfurecida.
Robbie estava dizendo que não, porque ele não os tinha
chamado, ou não, porque não negaria?
Quando Hanbin estendeu a mão para a porta, Robbie olhou para
mim.
— Elena, vamos deixar você em casa.
— Vou ficar.
— Mas como você vai voltar para casa? — Robbie olhou para as
câmeras do lado de fora, prontas para tirar fotos suas.
— Eles estão aqui por você, não por mim — falei.
— Mas… — Robbie começou a tentar discutir.
— Ela tem razão — disse Hanbin. — Vamos, precisamos ir. Já faz
tempo demais que você tá passeando.
Robbie finalmente deixou Hanbin conduzi-lo, andando depressa
através das câmeras e em direção à van parada no meio-fio.
— Elena —disse Cora baixinho, e eu me assustei com a voz dela;
tinha esquecido que ela estava aqui. Ótimo, mais uma vergonha
passada com plateia. Pelo menos eu sabia que Cora não contaria a
ninguém. — Tenho certeza de que ele não queria que isso
acontecesse.
— Então por que não negou? — perguntei, tentando lutar contra
as lágrimas que só iriam me envergonhar ainda mais.
— Elena.
Mas balancei minha cabeça para as suas tentativas de
apaziguamento. Não havia nada que alguém pudesse dizer para
consertar a decepção ardente que crescia dentro de mim.
Quinze

A cabeça de Robbie estava girando enquanto ele corria para a


van que o esperava, seus ombros curvados contra os flashes das
câmeras e as perguntas gritadas.
Isso não estava certo. Robbie achou que tinha conseguido sentir
uma mudança com Elena naquela noite. Como se ela estivesse se
abrindo. Como se talvez não odiasse completamente a pessoa que
ele se tornou. Mas, se esse fosse o caso, como ela poderia acreditar
tão facilmente que ele usaria o centro comunitário para publicidade?
Tudo bem, talvez ele tenha se recusado a negar de prontidão.
Mas a culpa era dele se tinha se sentido ofendido por ela ter cogitado
fazer tal pergunta?
Maldição, ele deveria ter negado. Conhecendo Elena, ela pensaria
nisso obcecadamente até criar o pior cenário possível. Robbie pegou
seu celular, pensando em lhe mandar uma mensagem, e então se
lembrou de que havia esquecido de pegar seu número. Maldição, de
fato.
― Você tá bem? ― perguntou Hanbin do banco da frente assim
que escaparam com sucesso.
― Hyung! Como a imprensa nos encontrou? ― perguntou Robbie,
deixando sua frustração atingir seu empresário.
― Devem ter recebido informações. Talvez de alguém lá dentro?
― Não, eles não fariam isso. São apenas crianças. Por que você
não se livrou dos repórteres?
― Eram apenas alguns. E um pouco de boa publicidade não faz
mal a ninguém. Eu nunca teria deixado que entrassem no centro. Sei
fazer meu trabalho ― disse Hanbin com desdém, como se não fosse
grande coisa. Mas foi grande coisa para Elena.
― Sim, bem, talvez não valha a pena decepcionar as pessoas por
causa de boa publicidade ― Robbie cruzou os braços e afundou em
seu assento.
― Estava tudo sob controle.
Robbie sentiu uma irritação crescer dentro dele. Às vezes, sentia
que seu empresário focava demais a imagem do WDB em vez das
pessoas do WDB.
― Que seja ― disse Robbie. ― A propósito, a Elena me odeia. Ela
nunca vai ao baile agora.
― Ah, você vai descobrir como fazer as pazes com ela. Você é
Robbie Choi! Um dos 20 jovens mais bem-sucedidos da Coreia com
menos de 20 anos.
Normalmente, uma declaração como essa faria Robbie rir, mas
ele não estava no clima. Em momentos assim, odiava ser o Robbie
Choi do WDB. Uma pessoa construída por uma empresa a partir de
pedaços de quem ele realmente era. Muitas coisas exigiram prática e
um cultivo cuidadoso.
Por exemplo, quando eles começaram a dar entrevistas, Robbie
ficava imóvel e calado, nervoso demais para falar qualquer coisa, a
menos que fosse combinado. Ele ganhou a reputação de chadonam, o
tipo frio e silencioso. E os fãs adoraram. Então, a empresa adotou a
ideia.
Mas agora Robbie se sentia sobrecarregado por ter que manter a
fachada elegante, distante e estilosa. Às vezes, isso o fazia se sentir
tão falso. Ele não era descolado, apenas tímido.
Quando ingressou na empresa, pensou que trabalharia como
compositor. Seu tio havia prometido isso, dizendo que frequentar
aulas de dança e canto para trainees era apenas o padrão, e que
Robbie deveria frequentá-las para que não parecesse que recebia
tratamento especial só por ser sobrinho do CEO.
Na época, fez sentido. Até Jongdae foi a todas as sessões de
trainee necessárias, e seu pai era o dono da empresa. Mas Jongdae-
hyung adorava ser trainee; era como se tivesse nascido para ser uma
celebridade. Robbie se sentia desajeitado e rígido sempre que
tentava dançar.
Mas, então, o tio de Robbie pegou os samples do sobrinho, em que
ele havia gravado alguns vocais experimentais, e os “vazou”. Robbie
ficou horrorizado. Eles ainda não estavam prontos! E ele nunca quis
que ninguém ouvisse essa versão. Mas as músicas viralizaram. As
pessoas adoraram que se tratava de um garoto de 13 anos fazendo
rap com tanta habilidade. Ele até foi convidado para participar do
videoclipe de um grande ídolo. E isso selou o destino de Robbie. Foi
adicionado à lineup do WDB.
Ele se lembra de se sentir inseguro sobre se juntar a um grupo de
K-pop. Não era isso o que estava esperando. Não era um grande
dançarino, e a coreografia do WDB, mesmo no debut, era intensa.
Mas seu tio insistiu que isso impulsionaria a carreira de Robbie e,
uma vez que fosse bem conhecido, poderia escrever e produzir
qualquer música que desejasse para qualquer cantor em toda a
Coreia.
No início, Robbie se sentia como um peixe fora d’água.
Ele ensaiava sua dança repetidamente para não ser um fardo
para seus hyungs. E, por causa disso, quase não sobrava tempo para
se dedicar à sua verdadeira paixão: a composição. A empresa
permitiu que ele coescrevesse algumas das canções do WDB, mas
sempre sob a direção dela, com conceitos pré-escolhidos por ela.
Ainda parecia algo tão… fabricado. Eles explicaram que era preciso
muito esforço para construir uma marca e conquistar seguidores
leais. Disseram que havia muitas coisas em jogo e ele não entenderia
tudo isso. Que deveria apenas confiar neles.
Mas agora que o WDB se tornou mais conhecido, Robbie
esperava poder voltar a compor músicas de seu próprio jeito.
É o que Hanbin havia prometido. Um acordo que parecia bom
demais para ser verdade. Tudo o que Robbie precisava fazer era ser
seu “eu encantador”. Entretanto, ele estava começando a se
perguntar se havia tomado mais uma decisão precipitada e se
deixado convencer por uma conversa fiada que lhe prometia que
este era o único caminho para conseguir o que desejava.
Não, não se preocuparia com isso esta noite. Tinha coisas mais
urgentes para resolver. Por exemplo, como fazer Elena perdoá-lo. Ele
estava constantemente estragando tudo com ela. E isso era tão
frustrante.
Houve um tempo em que Robbie sentia que eles podiam
praticamente ler a mente um do outro. Ele sabia o que cada
expressão no rosto dela significava. Conhecia cada mensagem
implícita em cada declaração monossilábica que ela fazia. Mas agora
não fazia ideia do que Elena estava pensando ou por quê. É como se
os sete anos que se passaram entre eles fossem, na verdade,
setecentos. E ele não tinha ideia de como cruzar essa nova barreira.
Dezesseis

Assim que abri a porta do passageiro para entrar no carro de


Josie, ela se inclinou e disse:
— Da última vez que eu chequei, não era dia de “traga seu idol
para o trabalho”.
Tentei me manter calma:
— Do que você tá falando?
Ela me entregou seu celular.
Eu não queria olhar. Estava pensando seriamente em me mudar
para o campo e rejeitar toda e qualquer tecnologia. Mas sabia que
Josie iria me importunar até que eu visse aquilo, então olhei para
baixo e dei de cara com uma matéria em um blog sobre celebridades:
Robbie Choi do WDB é visto em centro comunitário local com garota
misteriosa.
— Mas já? — reclamei, afundando-me em meu assento. — Como
eles são tão rápidos com essas coisas? Preciso mudar meu nome,
fazer uma cirurgia plástica e desaparecer para sempre.
— Ou — disse Josie —, você poderia tirar vantagem disso.
Eu a encarei em estado de choque:
— O que eu tenho a ganhar com tudo isso além de cartas de ódio
dos fãs do Robbie?
— Olhe os comentários — insistiu.
— Acabei de dizer que não quero ler mensagens de ódio.
— Só olhe. — Ela estendeu a mão como se fosse rolar a página
para mim, mas tirei o celular de seu alcance.
— Preste atenção na rua — falei. — A única coisa pior do que a
semana que acabei de ter seria morrer em um acidente de carro.
— Certo, só lê os comentários. Eu prometo que vai ficar surpresa.
Suspirei e rolei a tela para baixo. Josie tinha razão; não era o que
eu estava esperando. Em vez das mensagens maldosas me
chamando de nomes terríveis, havia dezenas de fãs do WDB se
perguntando onde ficava o centro comunitário e como apoiá-lo.
Se Robbie-oppa é voluntário lá, então devemos ajudar também!,
escreveu uma fã.
Como posso me voluntariar?, escreveu outra.
Havia apenas um punhado de comentários perguntando quem
eu era. E, surpreendentemente, havia um que mencionava que eu
deveria ser a garota do promposal, mas era estranhamente neutro.
— Viu? — perguntou Josie, dando uma olhada na tela.
— Sim, tô lendo — falei, vendo mais comentários sobre como
Robbie era gentil e generoso. Talvez não tivesse sido um movimento
proposital de relações públicas, mas eles definitivamente estavam
conseguindo a boa publicidade que queriam.
— Todos são muito favoráveis ao centro! — exclamou Josie.
— Parecem legais — admiti. — Mas não acho que precisamos de
centenas de fãs do WDB por lá.
— Mas seria bom ter algumas centenas de fãs do WDB doando
para o centro comunitário.
— E como a gente ia fazer isso? Divulgando um comunicado à
imprensa dizendo “Ei, Robbie Choi esteve aqui uma vez, então será
que vocês poderiam doar para a nossa arrecadação de fundos?”?
— Bem, talvez — disse Josie, fazendo beicinho com a minha falta
de entusiasmo. — Ou! — exclamou. — Um show surpresa.
— O quê? Como se organiza algo assim?
— Talvez a empresa de Robbie perceba a boa publicidade e
queira lucrar com isso.
Estremeci com a menção à “boa publicidade”. Ainda assim, se
eles podem nos usar, por que nós não podemos usá-los? Eu já
conseguia ver no que isso iria dar. Se conseguíssemos que apenas
10% das pessoas que comentaram no post fizessem doações, talvez
não precisássemos mais da iniciativa alternativa ao baile. E eu
finalmente poderia admitir que ela não estava indo a lugar nenhum.
Mas, para este novo plano funcionar, eu precisaria pedir um
favor a Robbie. E não tinha certeza se queria fazer isso agora.
— Não sei. Robbie e eu realmente não terminamos a noite em
bons termos.
— Você precisa perguntar — disse Josie enquanto parava seu
carro ao lado do meu no estacionamento do shopping. Ela me deu
um sorriso triste. — Esses dias mesmo, você disse que o centro está
ficando sem fundos de emergência. Eles precisam durar até a nova
reunião orçamentária em junho. A gente não deveria fazer tudo o
que pudermos para ajudá-los? Mesmo que seja uma chance remota?
Suspirei. Eu odiava quando Josie me dava um de seus discursos
de motivação. Porque eles sempre funcionavam comigo.
— Tudo bem — concordei, suspirando. — Vou perguntar a
Robbie se ele pode fazer algo pelo centro. Mas a gente não pode
depender disso. Teremos que debater novas ideias de arrecadação
de fundos como garantia.
— Tudo certo. Ai, meu Deus, talvez eu conheça o Jaehyung! —
Josie deu um sorriso sonhador.
Fiquei boquiaberta.
— Josie! Você… gosta do WDB?
— Já te disse, minha prima é a presidente da filial das
Constellations na Cidade do México. Ouvi falar sobre eles o
suficiente para assistir aos MVs, e esse Jaehyung é realmente um fofo
— falou com um sorriso.
— Uau, você só está me usando para conhecer seu crush!
— Eu jamais faria isso! — Josie bateu com a mão no próprio
peito. — Acho mesmo que isso é o melhor para o centro
comunitário. E, se, por acaso, Jaehyung e eu nos conhecermos, nos
apaixonarmos e nos casarmos, seria apenas um benefício colateral
positivo.
Eu ri e dei um soquinho no braço dela antes de sair do carro.
— Você vai mandar uma mensagem para ele? — perguntou Josie,
inclinando-se sobre a marcha para que ainda conseguisse me ver
através da porta do passageiro.
— Vou ver o que posso fazer. Agora vá para casa sonhar com seu
crush ou algo do tipo.
— Sim, senhora! — disse Josie com uma saudação.
Ri e fechei a porta.
Dezessete

Durante todo o sábado, evitei a tarefa de falar com Robbie.


Acho que uma parte de mim esperava que ele entrasse em contato
primeiro. Afinal, tinha aparecido na minha frente três dias seguidos,
era tão estranho assim esperar que ele também aparecesse no meu
quarto? Mas não houve nenhuma batida na porta, nenhuma ligação
de um número desconhecido, nenhuma mensagem nas minhas DMs.
Eu sabia que precisava de alguns conselhos, então cliquei no
grupo que tinha com minhas irmãs. As últimas cinco mensagens
eram minhas. Doeu um pouco ser lembrada de que minhas irmãs
estavam todas vivendo suas vidas sem mim. Mas me obriguei a
acreditar que as últimas coisas que eu tinha enviado não precisavam
de resposta. Uma mensagem para o aniversário de Sarah, alguns
memes que achei engraçados e a última, enviada no dia do
promposal, dizendo “alguém me mata”.
Essa última meio que doeu. Você não responderia se sua irmã lhe
enviasse uma mensagem dessas? Criamos esse grupo como uma
forma de manter contato depois que Esther reclamou que nem
sempre conseguia entrar no FaceTime enquanto estudava para as
provas.
Mas, às vezes, parecia que eu estava falando sozinha.
Balancei minha cabeça, tentando evitar que me tornasse, de vez,
um poço de tristeza. Minhas irmãs poderiam estar ocupadas, mas
quando fazia uma pergunta direta, elas geralmente respondiam.
Ei, podem me aconselhar sobre uma coisa?
Quando fui informada de que “Allie está digitando”, senti um
alívio. Eu sabia que uma delas responderia.
Oi, acabei de embarcar em um voo, mas vá em frente e pergunte.
Respondo quando pousar!
Olhei para a mensagem e tentei me tranquilizar que estava tudo
bem. Não é como se ela tivesse me ignorado. E não é como se eu
pudesse ficar com raiva de Allie por ela estar em um avião. Eu só
sentia falta das minhas irmãs. Sentia que estava sempre tomando as
decisões erradas sem elas por perto para me aconselhar.
Gostaria de poder me esquecer de falar com Robbie, mas sabia
que Josie iria me importunar na segunda-feira se eu admitisse que
nem tinha tentado, e ela nunca mais me deixaria em paz. Mas havia
o pequeno problema de eu não ter o número dele.
Eu mandaria uma mensagem para Robbie nas redes sociais e
esperaria que ele não tivesse aqueles filtros de mensagem ridículos
que as celebridades usam. Ou… talvez eu esperaria que tivesse.
Dessa forma, não seria minha culpa, caso não me respondesse, certo?
Encontrei o perfil dele rapidamente. Era a conta principal de
nome “Robbie Choi”, embora parecesse haver um monte de contas
de fãs também. Fiquei surpresa ao descobrir que ele só tinha criado o
perfil ano passado. Então, lembrei de ter lido uma entrevista, no
auge da minha obsessão por K-pop, que um dos meus idols favoritos
disse que eles não tinham permissão para ter redes sociais quando
eram novatos.
Cliquei para me juntar aos outros sete milhões de fãs que
seguiam sua conta.
Eu deveria iniciar a conversa com um “Oi” casual? Deveria
começar me desculpando por ter gritado com ele no centro
comunitário?
Lembrei-me do olhar ansioso em seu rosto enquanto ele tentava
me bloquear das câmeras. Enquanto tentava me proteger. Realmente
parecia que havia ficado surpreso em ver os paparazzi ali. Então, por
que ele simplesmente não me disse isso?
Eu não podia me perder nesses pensamentos, então, por fim,
optei por um simples “Oi” e enviei a mensagem. Meu coração deu
um mortal para trás quando o pequeno balão apareceu na tela com a
minha mensagem. Encarei-a, desejando que o pequeno ícone de
“lido” aparecesse. Mas não apareceu. Cinco minutos se passaram. E,
então, quinze.
Isso era ridículo. Eu não era uma garota apaixonada esperando
que seu crush respondesse sua mensagem. Só estava tentando ver se
um amigo meu participaria de um serviço comunitário. Não deveria
estar tão nervosa.
Então, decidi que a melhor coisa a fazer era esquecer o assunto e
ir dormir.
Na manhã seguinte, verifiquei meu celular assim que acordei.
Nada ainda.
Eu estava prestes a ligar para Josie para reclamar e tentar romper
nosso acordo quando minha mãe chamou lá de baixo:
— Ethan! Al… Sar… Elena!
Uau, apenas três tentativas, hoje foi um bom dia, pensei
sarcasticamente.
— O que foi? — respondeu Ethan de seu quarto.
Saí do meu para olhar pelo corrimão e vi minha mãe no saguão lá
embaixo.
— Vão se arrumar, vamos ter um almoço em família na casa da
Halmoni e do Haraboji hoje.
— Mas nós já fomos semana passada — falei.
Almoço em família com nossos avós era algo mensal, porque
meu pai estava sempre ocupado demais no trabalho para ir toda
semana.
— Youngmi-como está na cidade. É questão de respeito ir
cumprimentá-la — explicou minha mãe, com um brilho revelador
nos olhos.
Olhei para Ethan, que tinha vindo até sua porta e a aberto, o
cabelo ainda despenteado como prova de que tinha acabado de
acordar. Nós compartilhamos um olhar de quem sabe das coisas.
Nossa mãe tinha uma estranha rivalidade com Youngmi-como. O que
significava que ela queria nosso melhor comportamento no almoço.
Suspirando, fui para o quarto me trocar. Talvez isso fosse uma
coisa boa. Talvez servisse de distração da mensagem não lida no
meu celular.
Depois de duas trocas de roupa, minha mãe estava finalmente
satisfeita, e todos nós nos amontoamos no SUV do meu pai. Ele
estava resmungando sobre não ter tempo para isso. Mas, quando
minha mãe estava de mau humor, nem meu pai conseguia dizer
“não”.
Uma vez por mês, íamos até nosso antigo bairro, onde minha
halmoni e meu haraboji ainda moravam. Era muito mais coreano do
que o nosso atual. Tinha um spa coreano gigante, o mercado coreano
e a igreja coreana que costumávamos frequentar.
Youngmi-como abriu a porta antes mesmo de a alcançarmos. Ela
era alta e magra e estava com o cabelo preso em um coque. Muitas
vezes, ela me lembrava das mães ricas dos doramas, sempre
elegantes e perfeitamente arrumadas.
— Irmãozinho. — Ela abraçou meu pai antes de abraçar
rigidamente minha mãe.
— Quem são esses dois adolescentes? — disse Como, virando-se
para nós. — Porque eles não podem ser meus sobrinhos. São
grandes demais.
Eu ri. Não pude evitar. Não sabia muito sobre a estranha
rivalidade dela e da minha mãe, mas Como sempre foi legal comigo.
E sempre me trazia máscaras faciais coreanas e artigos fofos de
papelaria.
— Omoni! Aboji! — gritou Como. — Sangchul e Hyunjoo estão
aqui!
Halmoni saiu arrastando os pés da cozinha, com jeotgarak super
compridos de cozinhar na mão. Ela se apressou até meu pai e o
envolveu em um abraço, então agarrou Ethan pelos ombros. Os
jeotgarak longos quase me acertaram no rosto, então dei um grande
passo para trás.
— Tão alto e bonito — disse ela. — Assim como seu aboji.
— Kamsahamnida — disse Ethan, falando o raro coreano que
usávamos principalmente com nossos avós.
— Elena, pegue o banquinho extra na garagem. — Halmoni me
instruiu imediatamente.
Balancei a cabeça, sabendo que resistir não levaria a nada.
Sempre fui a responsável pelas tarefas nesta família. Fui até a
garagem e encontrei o banco ao lado da grande geladeira de kimchi.
Ele estava um pouco instável e já deveria ter sido jogado fora há
muito tempo, mas era o único assento extra para a mesa sempre que
Como visitava. Eu simplesmente sabia que seria eu quem iria sentar
nele. Um banquinho rejeitado para a garota rejeitada.
Assim que o coloquei na mesa, a voz de Halmoni soou da cozinha.
— Elena, venha cozinhar o bindaetteok.
A cozinha estava repleta de cheiros deliciosos, e, na verdade, era
o meu espaço favorito da casa. Duas panquecas finas de feijão-
mungo já estavam fritando no fogão ao lado de um ensopado
fervente, vermelho como um caminhão de bombeiros. Fui colocada
na frente da frigideira cheia de óleo com uma espátula e um
conjunto gigante de jeotgarak na mão. O óleo espirrou em mim, e
estremeci, recuando um pouco para evitar os respingos. Quando o
bindaetteok parecia dourado, coloquei-o em um prato coberto de
papel toalha. E, então, repeti o processo. Bastante monótono, mas
não tão ruim quando você leva em consideração que eu podia comer
os que não ficaram tão bem feitos.
— Deixe que ajudo também, Eomonim — disse minha mãe,
tirando um avental da despensa.
Halmoni apenas grunhiu. Embora minha mãe fosse uma ótima
cozinheira, Halmoni nunca reconheceu suas habilidades. De uma
forma estranha, era o único momento em que sentia que minha mãe
e eu tínhamos algo em comum. Mas tenho certeza de que ela nunca
enxergaria o paralelo.
— Eomonim, Ethan é um dos melhores jogadores de seu time de
lacrosse. Até recebeu um prêmio por jogar na última temporada —
disse minha mãe.
Lá vamos nós, pensei. Minha mãe listando todas as realizações
incríveis de Ethan como uma forma de se exibir. Engraçado como ela
nunca falava sobre nada do que eu fazia.
— Que bom. Ele puxou ao seu forte aboji — disse Halmoni. Então,
como um periscópio procurando seu próximo alvo, ela se virou para
mim. — Então, Elena, você tem um namja chingu?
Antes que eu pudesse dar as respostas desajeitadas de sempre,
minha mãe interveio:
— Ela foi convidada para o baile de formatura.
Halmoni estreitou os olhos para mim, provavelmente observando
meu rosto ficar cada vez mais vermelho:
— Pelo seu namorado?
— Não, não tenho namorado — esclareci e, com o canto do olho,
observei minha mãe suspirar. — Só um amigo.
— Quem é só um amigo? — perguntou Youngmi, entrando na
cozinha. Era um pouco pequena para nós quatro, mas Halmoni
estendeu um bindaetteok embrulhado em papel toalha para Como
experimentar.
Olhei para a sala e vi Haraboji, meu pai e Ethan assistindo golfe
no sofá. Ethan olhou para mim com um olhar de dor. Apenas
encolhi os ombros. Golfe pode ser entediante, mas, na minha
opinião, ele tinha a tarefa mais fácil. Só ficar de bobeira enquanto
meu pai e Haraboji se comunicavam através de grunhidos.
— Elena? — Youngmi chamou minha atenção quando não
respondi sua pergunta.
— Ah, estávamos falando sobre o grande amigo de Elena, Robbie
Choi. Ele faz parte do WDB — disse minha mãe como se estivesse
anunciando que fui indicada ao Prêmio Nobel da Paz.
Torci o nariz por ela ter usado minha amizade de infância para
ganhar vantagem sobre Como.
— WDB? — Yougmi-como ergueu as sobrancelhas, claramente
reconhecendo o grupo. — Você é amiga deles?
— Bem, eu conhecia um deles. Tipo sete anos atrás — murmurei
enquanto minha mãe me lançava um olhar afiado.
— Ele veio até nossa casa para convidar Elena para o baile. Tão
fofo — disse minha mãe. — Sempre gostei dele.
— Isso é maravilhoso, Elena — disse Youngmi, provando o
ensopado. Ela pegou uma garrafa de molho de peixe e Halmoni
imediatamente arrancou-a de suas mãos.
— Jja demais — disse Halmoni em uma mistura de coreano e
inglês.
— Não é, Eomma.
— Seu aboji não pode comer nada muito salgado — insistiu
Halmoni.
— Não precisa colocar molho de peixe no kimchi jjigae, Unnie —
disse minha mãe para Como, um pouco simpática demais.
Youngmi-como, imperturbável, virou-se para mim.
— Então, Elena, se você tem um amigo em Seul, deveria vir
trabalhar no meu hagwon este verão.
— O quê? — perguntei ao mesmo tempo que minha mãe.
Como dirigia uma instituição escolar que atendia alunos do
ensino fundamental e médio em busca de melhores notas. Como um
Kumon intensificado.
— Sim, está ficando mais popular. Nossas turmas estão tão cheias
que tivemos que abrir mais, especialmente as de inglês. Você deveria
vir ajudar e talvez possa passar mais tempo com seu Robbie.
Eu me senti desconfortável ao ouvi-lo ser chamado de meu
Robbie. Especialmente quando eu não tinha certeza se ele e eu
estávamos ao menos nos falando.
Antes que eu pudesse pensar em uma resposta, minha mãe disse:
— Não, ela é muito nova.
— O quê? — perguntei. — Tanto Allie quanto Sarah deram aula
no curso.
— Quando estavam na faculdade.
— Sim, mas…
— Mas nada, Elena. Você vai esperar até a faculdade, assim como
suas irmãs — disse minha mãe.
Eu queria argumentar que não era como minhas irmãs, mesmo
que apenas por princípio. Que nem tudo o que fazíamos tinha que
ser exatamente igual. Mas eu sabia que isso não importaria para
minha mãe.
Youngmi-como se inclinou e sussurrou:
— Não se preocupe. O convite está sempre aberto, se conseguir
fazer sua mãe mudar de ideia.
Ela piscou para mim, e eu sorri de volta. Mas estava pensando
que talvez era assim que as coisas deveriam ser. Ir para Seul para
passar tempo com Robbie era uma ideia tola. Por que eu seguiria
alguém até o outro lado do mundo quando não tinha nem certeza se
estávamos nos falando?

Depois do almoço, como esperado, fui designada para lavar os


pratos. Ethan foi autorizado a sentar-se com os adultos e comer
fatias de pera coreana que Halmoni havia espetado com garfos
minúsculos.
Eu estava tentando desgrudar os dedos de um velho par de luvas
de lavar louças quando Ethan entrou na cozinha com seu copo vazio.
Abriu a geladeira e olhou para seu interior. Suas opções eram suco
de laranja, suco de ameixa ou podicha, um chá gelado de cevada que
eu sabia que ele odiava.
Ele escolheu suco de laranja, mas não saiu imediatamente depois
de encher o copo. Em vez disso, bebeu metade de uma vez e ficou
me observando lutar para colocar as luvas.
— Por que você simplesmente não coloca tudo na máquina de
lavar louça?
Quase ri da sua ingenuidade. O tipo de pergunta feita por
alguém que nunca precisou lavar uma louça na vida.
— Você quer dizer o escorredor de pratos asiático?
Ethan bufou, e o som meio que pareceu uma risada.
— Então, você e Robbie brigaram?
— Por que a pergunta?
Ethan deu de ombros:
— Eu vi alguma coisa sobre você levar Robbie para aquele centro
comunitário que ama, mas você está de péssimo humor o fim de
semana inteiro.
— Sim, e daí? — falei, me perguntando por que Ethan se
importava.
— Eu só não sabia que vocês estavam próximos de novo. Você
não convida nem eu para te acompanhar no centro.
Sim, porque Ethan iria rir na minha cara se eu fizesse isso.
— Bem, nós não brigamos. Simplesmente não estamos nos
falando muito agora. Ou, pelo menos, ele não está respondendo
minhas mensagens.
Comecei a esfregar os pratos furiosamente. Talvez o trabalho
físico me ajudasse a lidar com a frustração.
— Ele está te ignorando?
Eu olhei para ele com o canto dos olhos. Ethan estava feliz com
isso, de alguma forma?
— Não está me ignorando. Só mandei uma DM que ele ainda não
respondeu. Há dezesseis horas. Não que alguém esteja contando.
— Dizendo o quê?
Eu encarei Ethan, ainda desconfiada, mas também curiosa o
suficiente para perguntar:
— Você tá tentando me dar conselhos sobre garotos?
Os olhos de Ethan se arregalaram, em parte de surpresa e, em
outra, de horror.
— Não, definitivamente não. Só estou fazendo uma pergunta
normal.
Quase voltei para a louça e o ignorei. Mas, sem Josie ou minhas
irmãs, eu estava ficando desesperada por conselhos. Finalmente,
respondi:
— Eu disse “Oi”.
Ethan bufou uma risada, mas parou quando semicerrei meus
olhos para ele.
— Talvez ele só esteja ocupado. Ou não possa checar as
mensagens.
— Sim, talvez — falei pensativa.
A maneira como Ethan disse isso de maneira tão casual me fez
pensar que talvez Robbie não estivesse me ignorando
completamente.
Não acrescentei que, só de pensar em Robbie, eu já ficava nervosa
e na defensiva. Como se uma peça longa e contínua estivesse sendo
pregada em mim. Eu odiava estar em qualquer situação em que não
pudesse prever os resultados possíveis.
— Então, você acha que eu deveria encontrá-lo e pedir
desculpas?
— Claro. Sempre vá além, ou seja lá o que nosso pai diz.
— Bem, isso se eu conseguir encontrá-lo — falei.
Ethan riu e me deu um tapinha no ombro enquanto saía pela
porta.
— Tenho certeza de que vai conseguir. Você sempre consegue,
Gêmea.
Hum, quem diria que Ethan era quem me daria o conselho de
que eu estava precisando. Mas acho que coisas mais estranhas já
aconteceram. Como um superastro internacional aparecer na minha
porta.
Mas onde você encontra a localização de um idol? Bem, Robbie
disse que os paparazzi os seguiam para todos os lugares, certo?
Então, talvez eu devesse começar por aí.
Peguei meu celular e pesquisei “agenda WDB”. Tudo o que
consegui foi um monte de coisas sobre a apresentação deles em um
show matinal em Nova York e no KFest Chicago. Eu me perguntei se
poderia encontrar um daqueles grupos de conversa de fãs que Karla
estava olhando. Pesquisei “Constellations grupo” no Google. E
rapidamente descobri que era preciso se inscrever e ser aprovado.
Eu estava prestes a desistir quando abri o Instagram novamente,
pensando que talvez pudesse enviar uma mensagem de desculpas
para Robbie, quando notei sua última postagem. A legenda dizia:
Preparando um presente para nossas Constellations. Parecia um estúdio
de dança comum, mas pude ver metade do logotipo refletido no
espelho atrás deles. Eu o reconheci porque, por um breve período
durante o ensino fundamental, pensei que queria ser dançarina e
implorei à minha mãe para eu fazer aulas de balé. Isso foi antes de
eu descobrir que a maioria dos dançarinos já praticava balé desde
que tinham, tipo, 4 anos de idade e que estava atrasada demais. Era
o melhor estúdio da região. E era onde o WDB estava agora.
Dezoito

Enquanto eu entrava no estacionamento do estúdio de dança,


avistei a agora reconhecível van preta. Mas eu não estava esperando
os fãs. Havia algumas dúzias deles sentados em pequenos círculos,
trazendo cartazes com mensagens como Eu te amo, Jaehyung-oppa!
ou Jun! Fighting! Ou Robbie 사랑해요!!!
Alguns deles olharam para cima ao ouvirem meu carro
pipocando na rua. Eu precisava mesmo levá-lo na oficina para
examinarem seu silenciador. Se é que ele ainda tinha um silenciador.
Eu me perguntei se algum deles me reconheceria por causa do
vídeo viral do promposal. Por via das dúvidas, abaixei a cabeça
enquanto passava e parei no final do estacionamento. Conhecia uma
porta lateral que dava para as salas dos fundos. Mas, enquanto eu ia
até lá, um homem todo de preto apareceu e bloqueou meu caminho.
— Você não pode entrar aqui. Está fechado — disse.
— Ah, eu só vim ver um amigo — respondi vagamente.
Ele cruzou os braços, seus músculos salientes sob a camiseta
preta.
— Pode sentar com seus amigos e esperar até que a banda
termine de ensaiar. — Ele apontou para os fãs ainda sentado na
calçada.
— Ah, não estou com eles, não sou nem uma Constellation, só
preciso falar com meu amigo. — Percebi imediatamente que eu
provavelmente parecia uma fã desesperada tentando entrar para ver
o WDB. Mas esperava que ele pudesse ver a verdade em minhas
palavras.
— Espere com seus amigos — repetiu.
Quem disse que a honestidade é a melhor política nunca se
deparou com um segurança de celebridade desconfiado.
— Tudo bem — falei, virando-me devagar. Então, em um último
esforço, girei e tentei passar por ele correndo. O cara nem piscou
enquanto me levantava no ar, minhas pernas chutando o nada.
— Só vim ver um amigo! Não sou fã. Eu nem escuto a música
deles.
— Sério? Nem uma musiquinha? — perguntou uma voz
divertida.
O segurança parou, e me desvencilhei de seus braços, caindo de
pé com força. Robbie estava parado na porta lateral com os braços
cruzados e os lábios curvados em um sorriso divertido.
— Queria estar com meu celular. Isso teria dado um vídeo hilário
— disse. — Talvez até superasse o do promposal.
Estremeci com sua menção àquele vídeo.
— Você conhece? Ela é realmente sua amiga? — perguntou o
segurança, ainda me olhando como se eu fosse atacar Robbie de
repente.
— Sim, conheço — respondeu Robbie. Mas notei que ele não
disse que eu era sua amiga. — Vamos. — Vamos entrar antes que
nos vejam.
Lá dentro, as luzes fluorescentes eram fortes, e o prédio parecia
estranhamente vazio. Eu nunca tinha estado aqui quando não havia
meia dúzia de aulas acontecendo. Mas a empresa do WDB deve ter
alugado todo o espaço para os meninos ensaiarem.
— Como você sabia que eu estaria aqui? — perguntou Robbie.
Quase estremeci com seu tom casual.
— Instagram.
— Stalker — disse ele, mas seu lábio se contraiu como se estivesse
tentando não sorrir.
— Por que você está ensaiando aqui em vez de em algum lugar
em Chicago?
— Vamos ficar na região por alguns dias antes de irmos nos
apresentar em Nova York. Quando voltarmos, vamos ficar em
Chicago para o KFest.
— Ah — comecei, depois pensei que poderia muito bem pedir
desculpas logo de uma vez. — Então, sobre sexta… — Mas não
terminei a frase, sem saber exatamente o que dizer.
— Sinto muito — disse Robbie antes de mim.
— O quê?
— Não foi por isso que você veio? — perguntou Robbie. —
Porque queria que eu me desculpasse?
— Não — respondi, percebendo que Robbie não parecia bravo,
mas, sim, confuso. — Estou aqui para me desculpar.
— Ah. — Foi tudo o que ele disse.
— De qualquer forma, sinto muito por ter exagerado na noite
passada — falei rapidamente.
Robbie assentiu.
— Eu entendo. É difícil se acostumar com a imprensa. São bem
intensos. E, Elena, eu não tive nada a ver com eles estarem lá.
E assim que falou essas palavras, foi como se um peso tivesse
sido tirado do meu peito, e eu finalmente pudesse respirar de novo.
— Por que você não me disse isso ontem?
Robbie deu de ombros.
— Acho que me machucou você pensar que eu poderia fazer algo
assim.
Fiquei surpresa com a ideia de que eu poderia machucar Robbie.
Ele era literalmente adorado por milhões em todo o mundo. Eu não
sabia que minhas opiniões ainda poderiam ter alguma importância
para ele.
— Eu exagerei — admiti. — É que o centro comunitário significa
muito para mim. É difícil de explicar.
— Porque vocês são uma equipe.
— O quê?
— É como eu e meu grupo. Eu ficaria muito na defensiva se o
assunto fosse eles também. Consigo entender como vocês
construíram confiança e uma rotina. Aquelas crianças te amam de
verdade.
Depois de todo esse tempo, como Robbie poderia me atingir de
maneira tão certeira assim? Nem mesmo minha própria família
entendia por que eu amava tanto o centro comunitário. Mas Robbie
sempre foi diferente. Sempre foi capaz de me entender melhor do
que qualquer outra pessoa. E era o único que sempre me escolhia
primeiro. Eu não fazia ideia do quanto sentira falta disso.
— Robbie! Todos estão prontos para filmar! — gritou Hanbin da
sala de ensaios.
— Ah, desculpa. Eu não sabia que estava fazendo mais coisas —
falei, tentando me recompor. — Pensei que vocês estavam apenas
ensaiando. Posso esperar aqui.
— Por que você não assiste? — sugeriu Hanbin.
Robbie lançou um olhar estranho para seu empresário e me
perguntei se ele não queria que eu fizesse isso. Achei que estávamos
nos dando bem depois de nos desculparmos, mas, de repente, senti
uma estranha tensão no ar. Por que era tão difícil entrar em sincronia
com Robbie novamente?
— Não quero atrapalhar — falei, pensando em dar uma deixa
para Robbie.
— Você pode assistir — disse Robbie. — Se quiser.
— Ah, tudo bem — respondi lentamente, tentando descobrir se
ele estava falando sério ou apenas sendo educado. — Tem certeza?
— Sim — falou Robbie, desta vez com um aceno de cabeça. —
Vamos.
Ele pegou minha mão, seus dedos eram tão longos que
facilmente se entrelaçaram nos meus enquanto me conduzia para
dentro. Olhei para a sua nuca, perguntando-me se ele percebeu o
que tinha acabado de fazer. Parecia tão natural. Como se ele fizesse
isso o tempo todo. Ai, meu Deus, será que fazia isso o tempo todo?
Claro que devia fazer; é um idol. Aposto que as garotas se jogavam
para cima dele. Espera aí, nada a ver, por que me importo com isso?
Robbie podia fazer o que quisesse.
Achei que apenas os membros do WDB estariam lá dentro, mas
havia meia dúzia de funcionários, alguns encostados nos cantos,
conversando uns com os outros. Um deles carregava uma câmera.
Outro estava montando um tripé.
Quando entramos, todos pararam o que estavam fazendo, e
alguns pares de olhos se voltaram para nós.
Dezenove

Um garoto parou na nossa frente, e meu queixo caiu quando ele


sorriu para mim.
— Olá, garota aleatória. — Sua voz era brincalhona e curiosa, e eu
imediatamente me vi mudando de posição para me esconder atrás
de Robbie.
— Minseok-hyung, não a assuste — disse Robbie, cutucando o
outro garoto na testa para afastá-lo.
Minseok era um pouco mais baixo do que Robbie e usava uma
camiseta sem mangas que mostrava seus braços bem definidos.
Tinha olhos ligeiramente inclinados para cima, o que lhe dava um
perpétuo olhar travesso. Seu cabelo parecia castanho, mas, quando
se mexeu, vi que estava tingido de magenta.
Tentei me lembrar da biografia que tinha lido online.
— Minseok — falei lentamente. — Moonster. Lead rapper? — E o
único outro membro do WDB que falava inglês fluentemente.
Ele se curvou em uma reverência, menos como um gesto formal
no estilo coreano, e mais como um artista sendo aplaudido.
— Moonster é meu nome artístico. Amigas bonitas do Robbie
podem me chamar de Minseok. Ou Oppa, se você preferir — disse
com uma piscadela.
Fiquei desconcertada por ter sido chamada de “bonita”, então
não percebi quando dois outros membros do grupo se aproximaram
e pararam ao lado de Robbie.
— Noogoosaeyo? — perguntou um deles. Virei-me em direção à
voz que perguntava quem eu era e quase dei um grito de susto com
a proximidade. Ele tinha se inclinado, então estávamos olho no olho,
e tudo o que vi foi uma pele perfeitamente lisa, olhos escuros e nariz
reto. Será que todas as celebridades tinham a aparência perfeita?
Robbie deu uma cotovelada no outro garoto com força o
suficiente para fazê-lo recuar.
— Cheoneun Elena-iyayo — falei em um coreano formal.
— Ah, você pode simplesmente falar inglês — informou Robbie.
— Eles deveriam praticar mesmo.
— Este é Jun. — Ele gesticulou para o garoto que estava me
encarando.
Agora que estava com a postura reta, vi que ele era alto, mais alto
do que Robbie. Seu cabelo estava cortado em um corte que só
poderia ser chamado de mullet, mas caía bem nele. Era quase como
se ele tivesse saído diretamente de uma Nova York punk dos anos
1980.
— Este é Jaehyung — continuou Robbie. O outro garoto acenou
timidamente.
— Jun é o main dancer. Jaehyung é o main vocal — recitei a partir
da minha pesquisa.
— Lead vocal — disse Jaehyung, sua voz baixa e tímida. Ele era o
mais baixo do grupo e tinha um rosto fofo e infantil. Eu sabia que era
um ano mais velho que Robbie, que era o maknae.
— Existe um lead e um main? — perguntei.
Robbie riu.
— Jongdae é o main vocal. — Ele gesticulou para o único garoto
que não tinha vindo me cumprimentar. O primo de Robbie. O galã.
Estava parado ao lado das caixas de som, bebendo uma garrafa de
água. Parecia tão perfeito que poderia estar filmando um comercial.
— Já estão prontos? — perguntou Jongdae, aproximando-se e
mal olhando para mim.
De tão perto, ele era deslumbrante. Pude entender por que era
chamado de visual do grupo. Era como olhar diretamente para uma
estrela em chamas. Alto, mandíbula forte e maçãs do rosto
proeminentes, do tipo que minha mãe mataria para ter. E olhos
penetrantes que pareciam conseguir enxergar sua alma. Ou através
de você, como se você não existisse, como estavam fazendo comigo
agora.
— Claro. Vamos começar — respondeu Minseok afavelmente,
jogando o braço em volta dos ombros de Jongdae. — Elena, senta aí
e se prepare para ficar completamente deslumbrada.
— Mas não na frente. — Jongdae nem mesmo olhou para mim. —
Você pode se sentar ao lado do Hanbin.
Balancei a cabeça, de repente sentindo como se eu estivesse me
intrometendo em alguma coisa.
— Muito bem, música! — pediu Jongdae enquanto os meninos se
posicionavam próximos um do outro.
Eu já havia assistido a alguns vídeos de ensaios de dança do
WDB e ficado maravilhada. Mas isso não era nada em comparação a
vê-los ao vivo. Era impressionante como trabalhavam juntos, seus
movimentos completamente sincronizados. Algo que só conseguiam
por meio de horas e horas de prática. O que Robbie tinha dito
mesmo? Que uma equipe tinha confiança e uma rotina? Eu
conseguia ver isso agora enquanto os cinco garotos se moviam
juntos em perfeita sincronia.
A parte de rap de Robbie começou, e ele se afastou do resto dos
garotos. Uma linda dançarina deu um passo à frente, e Robbie se
aproximou dela enquanto fazia seu rap. Ela fingia indiferença e
serenidade enquanto andava graciosamente. Como algumas pessoas
conseguiam fazer algo tão simples quanto andar parecer bonito?
Robbie estava fingindo estar com o coração partido porque a garota
não dava a mínima para ele. E, no final de seu verso, foi finalmente
recompensado quando ela o deixou girá-la em seus braços antes de
sair andando, e o resto dos garotos se juntaram a Robbie para dançar
o refrão novamente.
— Foi ótimo! — disse Minseok com um grito quando os meninos
pararam em sua pose final, respirando com dificuldade. —
Deveríamos ter gravado essa.
— Vamos gravar esta — disse Hanbin, movendo o tripé na frente
do espelho. — Façam exatamente a mesma coisa.
Minseok riu.
— Claro, sem problemas — disse ele como um robô.
Os outros garotos riram também, até Jongdae. Talvez só fosse frio
com recém-chegados.
A música recomeçou. E mesmo que Minseok estivesse brincando,
os meninos começaram a dançar exatamente como antes, com
movimentos perfeitos e precisos. Só, que desta vez, quando o rap de
Robbie começou, a garota soltou um grito e tropeçou. Seu tornozelo
se torceu sob seu peso, e ela caiu com força no chão. A sala inteira
soltou um som de surpresa enquanto os meninos se aglomeravam ao
redor dela. Vozes se atropelavam em um coreano apressado.
Hanbin pediu para parar a música e se ajoelhou ao lado da
dançarina. Quando tentou se levantar, ela soltou um grito e caiu
outra vez, agarrando o tornozelo.
Um membro da equipe a levantou como se ela fosse leve como
uma pena, levando-a rapidamente para fora.
— Acho que isso significa que não podemos gravar o vídeo do
ensaio de dança — disse Minseok.
— Precisamos. — Hanbin abriu um caderno, folheando-o. — Pro-
metemos aos fãs que, se eles conseguissem cinquenta milhões de
visualizações no MV em uma semana, receberiam um vídeo do
ensaio de dança. Conseguimos essas visualizações em um dia.
— Uau — falei, impressionada. Eu não tinha percebido que tinha
dito isso em voz alta até os meninos se virarem para mim.
— Calma aí — disse Minseok com um brilho malicioso em seus
olhos. Lembrou-me o olhar de um personagem de alguma comédia
que surge com uma ideia que definitivamente vai acabar mal. — Só
precisamos de alguém para andar, certo?
— Espera aí, no que você está pensando, Hyung? — perguntou
Robbie, seu olhar tomado de preocupação enquanto encontrava o
meu.
Vinte

Tinha que haver outro motivo para eles estarem olhando para
mim. Talvez eu só estivesse com alguma coisa no dente? Por favor,
que seja apenas comida no meu dente.
— Aaaah — disse Jun, depois falou em um coreano tão rápido
que eu não consegui acompanhar.
— Não — respondeu Robbie. — Não podemos pedir para ela
fazer isso sem qualquer preparação.
Senti o sangue sumir do meu rosto quando comecei a entender.
Não, era uma ideia horrível. Eu precisava pôr um fim naquilo.
— Ela só precisa passar por você andando e depois te deixar girá-
la. Qualquer um pode fazer isso — argumentou Minseok.
— Ótimo, então faz você — consegui dizer, finalmente. — Eu sou
uma péssima dançarina.
— Nem é dançar, sério — explicou Minseok, pegando minha
mão. Ele sorriu para mim de um jeito tão charmoso e deslumbrante
que comecei a sorrir de volta antes de lembrar que deveria estar
sendo firme. Isso era ridículo; eu não podia dançar com Robbie. —
Além do mais! — adicionou animadamente. — Isso pode ajudar
depois daquele vídeo desastroso do promposal.
Senti minha espinha enrijecer; por que as pessoas continuavam
falando desse vídeo?
— Bobagem — falei. — Como isso ajudaria?
— Você precisa pensar na imagem pública — respondeu
Minseok, levantando o dedo no ar em um exagero quase cômico de
alguém que tem um argumento a provar. — Os fãs não sabem o que
pensar da garota misteriosa que rejeitou Robbie de maneira tão
espetacular. De verdade, foi muito divertido para mim. Já te amo só
por isso — continuou, segurando minhas mãos. — Mas os fãs não
sabem do que eu sei. É por isso que eles estão tão confusos. Se
colocarmos Elena no vídeo para mostrar que não há ressentimentos e
explicarmos na WDB TV que ela é uma velha amiga de infância de
Robbie, então tenho certeza de que eles gostarão dela.
Parecia ridículo, mas, quanto mais eu pensava sobre isso, mais
fazia sentido de uma forma estranha. Os fãs já pareciam menos
bravos comigo nas fotos do centro comunitário. Talvez, se me
associassem a coisas positivas, poderiam me perdoar por não ter
aceitado o promposal.
Robbie balançou a cabeça.
— Minseok-hyung, se ela não quiser, podemos simplesmente
pedir a alguma das empresárias-noonas.
— Elas não têm a idade certa — insistiu Minseok.
Uma parte de mim queria reclamar de etarismo, qualquer coisa
que o fizesse abandonar essa ideia maluca. Mas ele continuou
insistindo.
— Seria ótimo. Você não acha, Jongdae?
Esperei que JD me apoiasse. Não havia como concordar com isso.
Mas ele apenas balançou a cabeça e disse:
— Pode ser que funcione.
— Ótimo! — soltou Minseok, batendo palmas enquanto os outros
meninos começavam a falar também.
Robbie se aproximou e murmurou para mim:
— Você não precisa fazer isso. Podemos pedir a alguma das
cabeleireiras.
— Não, Minseok tem mesmo um bom ponto sobre os fãs online
— falei.
Robbie estremeceu.
— Eu estava esperando que você não tivesse lido nada daquilo.
— Sou uma pessoa naturalmente curiosa, Robbie. Você realmente
não se lembra disso? — perguntei com um sorriso fraco.
Ele sorriu de volta.
— Bem, só para constar, acho que ele tem razão. Se eles virem
que você e eu somos amigos desde sempre, aposto que vão te
adorar.
Hanbin se virou para nós.
— Elena, venha cá. Robbie, você vai precisar se esforçar mais
para fazê-la entrar na linha.
Quase estremeci com as palavras dele, era como se já estivesse
esperando que eu fosse fazer besteira.
— Vai ser bem simples — disse ele. — Vou ficar ao seu lado e,
quando eu der a deixa, apenas comece a andar. Cada batida é um
passo, certo?
Assenti, tentando decorar tudo.
— Robbie vai aparecer do seu lado esquerdo. — Hanbin
gesticulou para ele, que fez como o indicado. — E você só precisa
deixar que ele te gire.
Robbie me puxou pela mão, mas eu não estava preparada e o
ultrapassei com o impulso. Soltei um grito enquanto perdia o
equilíbrio. Girei, balançando os braços e tentando me estabilizar
para não fazer uma grande besteira. Mas eu podia sentir a gravidade
me puxando e, em um último esforço desesperado, passei meus
braços em volta do pescoço de Robbie e o puxei para baixo comigo.
Senti o ar deixar meus pulmões enquanto eu batia no chão com um
baque, e ele caía em cima de mim.
— Acho que não era bem isso que Hanbin queria — disse Robbie
no meu ouvido, sua respiração ofegante.
Eu resmunguei e o empurrei:
— Isso não é hora para suas piadinhas idiotas.
Robbie riu e se apoiou nos cotovelos, aliviando um pouco da
pressão no meu peito.
— Você tá bem? — perguntou. Seus braços eram como um abrigo
ao meu redor, bloqueando o resto da sala. Eu não conseguia ver
nada além de seu rosto pairando sobre o meu.
— Tô — sussurrei, ainda incapaz de encher totalmente os
pulmões de ar. Assim de perto, Robbie ainda era bonito, mas eu
conseguia ver que ele tinha a mesma sobremordida sutil de quando
éramos crianças. E seu nariz ainda era um pouco grande demais
para o rosto, arredondado na ponta de um jeito que conferia um ar
infantil às suas feições.
— Você ainda tem o mesmo nariz. — Eu me peguei dizendo.
Ele sorriu, e isso fez suas bochechas subirem, seus olhos se
apertando em meias-luas.
— Ficou preocupada que eu tivesse feito uma cirurgia plástica
agora que sou um idol?
— O quê? Não! — Fui rápida em assegurá-lo.
Ele riu, e senti sua risada ressoar entre nós.
— Não se preocupa. Fiz mesmo. Eu não te culparia por se
perguntar.
Então, seu sorriso desapareceu aos poucos, uma expressão
estranhamente séria tomando seu lugar. Senti algo puxar meu cabelo
e percebi que seus dedos estavam entrelaçados nas mechas.
— Lani — disse em uma voz tão grave que senti vibrações em seu
peito. Ele se abaixou um pouco, aproximando-se de mim. O que
estava fazendo? O que estava pensando?
— Oi? — Meus olhos desceram para seus lábios. Estavam tão
perto que eu conseguia ver seu arco do cupido perfeito. Meu coração
estava batendo tão forte que tive certeza que ele podia senti-lo.
— Acho que a gente devia se levantar agora — sussurrou.
— Hein? — Franzi a testa.
— Os outros estão começando a encarar a gente. — Seus olhos se
moveram para o lado.
Quando olhei, todos na sala estavam de olho em nós. Senti um
aperto no estômago, e um arrepio de vergonha tomou conta de mim.
— Aimeudeus — falei, empurrando Robbie para longe. Ele riu
enquanto se levantava, rápido e ágil, e me ofereceu a mão, mas
ignorei. De pé, eu não conseguia nem olhar nos olhos dele.
— Nunca vi alguém dar um grito tão agudo antes — brincou
Robbie com uma risada. Fechei a cara, irritada por ele achar tudo
isso tão engraçado enquanto eu estava absolutamente mortificada.
— Espertalhão — murmurei.
— Uau, Elena Soo xinga agora! — Robbie colocou a mão sobre o
coração em uma demonstração cômica de espanto.
Eu ri, não pude evitar. E Robbie sorriu, como se isso fosse tudo o
que ele queria ouvir. E, de repente, lembrei que essa era uma de suas
habilidades quando éramos mais jovens. Fazer você se sentir como
se fosse o centro de sua atenção.
— Vocês dois estão prontos para tentar de novo? — perguntou
Hanbin.
— De novo? — respondi, surpresa por ainda não terem desistido
dessa ideia horrível. Minha falta de coordenação era dolorosamente
óbvia.
— Hyung, você pode me dar um segundo para ensaiar a sós com
a Elena? — perguntou Robbie.
Hanbin olhou para o relógio.
— Claro, mas só cinco minutos. Precisamos gravar esse vídeo
logo.
— Acho que não consigo — falei para Robbie enquanto Hanbin
se afastava. — Vou fazer besteira, e todos os seus fãs vão me odiar
ainda mais.
— Você tá sendo muito dura consigo mesma — disse Robbie.
Então pensei tê-lo ouvido murmurar como sempre. Mas não tinha
certeza.
Ele me pegou pelos ombros e falou:
— Pense nisso como se fosse um dos nossos ensaios de dança
quando tínhamos 9 anos.
— Você quer dizer aquela vez em que te fiz encenar a
apresentação do telhado de High School Musical 2 comigo e quase te
matei na parte em que você me levantava? — perguntei.
Robbie riu.
— Certo, então vamos pular a parte de eu te levantar desta vez.
Eu simplesmente não conseguia ver nenhum resultado além da
minha total humilhação. Mas esse sentimento conflitava com minha
necessidade de cumprir promessas.
— Tudo bem — cedi.
Robbie assentiu.
— Apenas tenta se divertir. E não estende a mão. Não é para você
ficar esperando que eu te pegue. Precisa ser algo natural.
Contei a batida, concentrando-me em manter meus passos
suaves, meus braços normais. Era difícil, como quando você se
concentra demais para fazer algo que deveria fluir naturalmente.
— Relaxa — disse Robbie, cutucando-me nas costelas. Bem no
meu ponto mais sensível de cócegas.
— Ei! — comecei a dizer, mas, antes que eu pudesse dar um tapa
em sua mão, ele agarrou a minha e me puxou para um giro.
Seus braços me envolveram, segurando-me no lugar. Seu rosto
estava a apenas alguns centímetros do meu, então pude ver seu
sorriso se espalhar lentamente, aquela covinha se tornando mais
perceptível em sua bochecha. E, por um segundo interminável, tudo
o que eu pude fazer foi olhar para Robbie enquanto meu pulso
ecoava como um trovão em minha cabeça.
— Viu? Não é tão difícil quando você para de pensar nisso.
Depois de ensaiarmos mais três vezes, Hanbin declarou que
estávamos prontos. Minseok apareceu com uma pequena câmera na
mão.
— Conheçam a Elena, nossa salvadora! Elena, diga “oi” para as
Constellations.
— Hum, oi — gaguejei, encolhendo-me.
— Hyung! — disse Robbie. — Pare com isso. Elena é tímida.
— Então por que você fez aquele promposal extravagante? —
perguntou Minseok, apontando a câmera para Robbie.
Eu esperava que ele fosse franzir a testa ou ficar irritado, mas, em
vez disso, Robbie suspirou e disse:
— Só queria fazer algo especial para minha amizade mais antiga
do mundo.
Minseok acenou com a cabeça em aprovação, então virou a
câmera para si mesmo.
— Acho que não posso culpar Robbie por isso. É chocante que
alguém tenha ficado ao lado dele por tanto tempo. Elena, você devia
ganhar um prêmio ou algo do tipo. — Ele girou a câmera de volta
para mim, e eu soltei uma risada estranha.
Jun apareceu, empurrando o rosto tão perto da lente que
provavelmente só o seu nariz foi filmado. Usei a distração para
escapar enquanto Jun dançava uma versão boba e desajeitada de sua
coreografia, e Jaehyung cantava a letra em falsete.
Eu ri das travessuras. Todos pareciam estar se divertindo de
verdade, e, mesmo quando Robbie revirou os olhos para os
membros de seu grupo, estava sorrindo. Um de seus grandes
sorrisos bobos. Ele se virou um pouco, e seus olhos encontraram os
meus, trazendo-me para o momento. E sorri de volta. Robbie fez um
sinal de positivo para mim quando JD o chamou para assumirem
seus lugares.
Era como noite e dia quando as personalidades brincalhonas
desapareciam para dar lugar às expressões sérias que os meninos
assumiam quando tomavam suas posições.
A música iniciou, e eles começaram a se mover. Os sorrisos bobos
se foram. Agora, eram artistas poderosos e carismáticos que
preenchiam todo o espaço com suas presenças. Quando dançavam,
ninguém mais na sala importava, todos os olhos estavam neles.
Eu estava ocupada contando a batida mentalmente, tentando não
a perder depois de tê-la encontrado. Então, quase não percebi que
minha parte estava chegando, até que Hanbin se inclinou e
perguntou:
— Pronta?
Assenti e dei um passo à frente.
Eu estava dolorosamente consciente da câmera apontada para
mim, mas também sabia que não deveria olhar para ela. Então,
mantive meus olhos fixos à frente. Robbie se aproximou e sorriu.
Sorri fraco de volta. Ele estava murmurando as palavras do rap, e
era tão rápido que eu não conseguia entender a maior parte. Mas
Robbie torceu o nariz para mim como se estivesse dizendo “Vamos
lá, divirta-se.”
Meu sorriso se alargou. Não pude evitar. Quando a câmera
estava nele, sua expressão era feroz, como o Robbie nos MVs. Mas,
sempre que se virava para mim, ele me dava seus sorrisos e
expressões exageradas mais bobos, como se estivesse transformando
isso em nosso próprio joguinho. Eu não pude deixar de rir. Ele
estava, de alguma forma, tirando minha cabeça da performance,
fazendo com que eu me sentisse mais confortável de um jeito que só
Robbie poderia fazer. Parecia que estávamos em completa sincronia
outra vez. Então, ele me pegou pela mão e me girou em seus braços.
E agora tudo o que eu tinha que fazer era sorrir e ir embora.
Mas Robbie continuou segurando minha mão e a levou aos
lábios. Uma faísca subiu pelo meu braço, acertando meu coração
como um raio. Atordoada, saí da cena, mal percebendo o sinal de
aprovação de Hanbin.
O resto da música passou como um borrão. Eu ainda podia sentir
o toque dos lábios de Robbie na minha mão, como se eles tivessem
deixado uma marca. Por que ele fez isso? Pressionei minha outra
palma nela, como se eu pudesse selar a sensação na minha pele.
Calma aí, o que eu estava fazendo? Eu não era uma fã
desesperada. Este era Robbie. Minha amizade mais antiga. Aquele
que, uma vez, eu tinha visto engolir uma pedrinha porque estava se
perguntando se eram comestíveis. Meu coração não deveria estar
acelerado só porque ele beijou minha mão como parte da atuação do
vídeo. Entretanto, Robbie não tinha feito isso com a dançarina. Foi só
comigo.
A música terminou, e todos ficaram imóveis para a pose final,
ofegantes com o esforço. E, de repente, eles passaram de misteriosos
e taciturnos a garotos despreocupados novamente. Observei Robbie
abraçar Jongdae, ainda obviamente cheio de adrenalina. A equipe
explodiu em aplausos, todos rindo e falando ao mesmo tempo. Eu
podia sentir a energia movendo-se pelo ar. Se esse era o sentimento
que ficava depois de um bom ensaio de dança, qual devia ser a
intensidade deles depois de uma apresentação? É por isso que as
pessoas se tornam artistas? Para perseguir essa adrenalina
constantemente?
Os olhos de Robbie encontraram os meus, e, apesar de tudo, senti
meu pulso disparando como cavalos a galope. Ele sempre teve
aquela pequena cavidade na bochecha, mas antes era mais do tipo
adorável; agora, era charmoso. Era isso que sete anos faziam com
alguém? Pegavam as características mais fofas e as afiavam para
torná-las perigosas? Porque aquela covinha era uma baita de uma
arma.
— Você foi incrível! — disse e, antes que eu soubesse suas
intenções, Robbie me pegou em um abraço e me girou. Precisei me
segurar em seus ombros para não cair. Senti seus músculos se
contraírem sob minhas mãos enquanto ele nos girava. Fiquei tonta,
meu cabelo me chicoteando o rosto. E, mesmo quando paramos, tive
que continuar me segurando nele, porque meus joelhos, de repente,
ficaram tão firmes quanto gelatina.
— Acho que eu tava fazendo umas caras estranhas — falei.
— Não, você tava ótima. Como se estivesse tentando não se
encantar. Foi muito sexy.
Sexy? Meu cérebro estava derretendo? Ou Robbie acabou de me
chamar de sexy?
— Elena! — disse Minseok quando Robbie finalmente me soltou.
— Você foi incrível!
Minseok levantou uma mão, e demorei um segundo para
perceber que ele queria um high five. Quando encostei minha mão na
sua, seus dedos se fecharam em volta dela, e ele a levou aos lábios
com uma piscadinha.
— Ei! Hyung! — Robbie me puxou para longe.
— Que foi? Eu queria agradecer a Elena por ter ajudado. Estava
só imitando você. — Minseok piscou para ele desta vez. Mas Robbie
não deve ter gostado, porque começou a falar em coreano, sua voz
baixa e apressada.
— Não seja mal-educado com a convidada — disse Jongdae,
passando por nós. Ele acenou com a cabeça para mim. — Você fez
um bom trabalho. Agradecemos sua participação.
— Sem problemas — falei, incapaz de sustentar seu olhar intenso.
Jongdae tinha o tipo de beleza que fazia você se sentir corada
quando olhava para ele por muito tempo. E, de tão perto e
pessoalmente, era um pouco demais.
— Vamos — chamou Robbie, tocando meu cotovelo e desviando
minha atenção de Jongdae. — Vou te acompanhar até a saída.
— Ah, sim. Claro. — Na verdade, eu estava grata por ir embora,
já estava começando a me sentir sobrecarregada com esse grupo de
garotos bonitos ao meu redor.
— Obrigado, Elena! — gritou Jun do canto mais distante.
— Komowayo! — disse Jaehyung.
Assenti e segui Robbie para o corredor.
Quando comecei a me dirigir para a porta lateral, ele pegou meu
ombro, virando-me para o outro lado.
— Vamos pelos fundos. Um dos nossos empresários já foi buscar
o carro para te deixar em casa.
— Ah, você não precisa fazer isso.
— Não tem problema. Nossa programação do dia já está quase
no fim, então dá tempo — disse tão casualmente que parecia normal
ele pedir para o levarem de carro para os lugares. E eu acho que,
para Robbie, era mesmo.
Limpei a garganta desajeitadamente.
— Não, quer dizer, tô com meu carro. Tá bem ali na frente.
— Ah. — Robbie acenou para um membro da equipe. — Você
pode pegar o carro da Elena e trazê-lo para a saída de trás? — Ele se
aproximou de mim. — Isso vai evitar que você tenha que lidar com
os fãs lá na frente.
Balancei a cabeça de leve; isso significava que ele pretendia me
acompanhar até o meu carro? Entreguei minhas chaves ao
empresário, que se virou depressa e correu em direção à entrada da
frente. Eu nem tive a chance de lhe dizer qual era o meu carro ou
que a porta do lado do motorista meio que emperrava, sendo preciso
sacudi-la para abrir. Mas era tarde demais, e ele já estava virando no
corredor.
— Sinto muito por Jongdae-hyung — disse Robbie quando
começamos a caminhar em direção aos fundos. — Ele pode ser
bastante arrebatador para pessoas novas.
— Vocês todos são.
— É mesmo? Você me acha arrebatador? — Os lábios de Robbie
se contraíram como se estivesse tentando não sorrir.
— Quer dizer, é só que você mudou muito. — Tentei explicar. —
Ficou muito mais alto. E agora tem esses braços. E sua covinha é
distrativa.
Eu realmente disse isso? Fiquei pensando se era possível
simplesmente afundar no chão e ser enterrada aqui mesmo.
— Covinha? — perguntou Robbie, sorrindo para mostrá-la.
— Sim, e você continua sorrindo para mim de uma forma que
parece proposital. Se é que faz sentido. — Só que nada disso fazia
sentido, nem mesmo para mim. Eu sabia que estava só balbuciando
palavras a esmo e já estava ficando frustrada. — E então você ainda
fez aquela… coisa no final. E fiquei desconcertada. Não é justo. Eu
sempre disse que não gosto de surpresas, mas você sempre me
surpreendia mesmo assim. E, se isso foi apenas mais uma das suas
piadas, não tem graça, Robbie Choi!
Parei quando Robbie bufou. E percebi que ele estava tentando
não rir.
— Não ri de mim quando eu estiver gritando com você — falei,
dando um soco no braço dele.
Robbie estremeceu, mas eu consegui ver que era exagero dele
quando seus ombros balançaram com sua risada.
— Robbie — adverti.
— Tá bem, tá bem. — Ele ergueu uma mão para evitar outro
soco. — Sinto muito por rir. É só que você me faz sorrir. Não consigo
evitar quando tô perto de você.
Calma aí, o que isso queria dizer? Ele estava flertando?
Abaixei meu punho quando a confusão substituiu minha raiva:
— Então você não tá rindo de mim?
— Não, eu juro que não. — Mas ele ainda estava direcionando
aquele sorriso estranho para mim. Tive vontade de me contorcer.
— Certo, tudo bem — falei, percebendo que não estava com
raiva, mas, sim, com vergonha. Eu me sentia tão desacostumada com
esse novo mundo de Robbie e não conseguia descobrir como
acompanhá-lo. Isso estava causando um caos na minha mania de
querer antecipar o resultado das coisas.
Estremeci com o barulhão do meu carro sem silenciador que se
aproximava.
— Ai, meu Deus. Seu carro é o “Monstro Marrom”? — Seus olhos
se arregalaram.
Eu não ouvia esse nome há anos. Era como Allie chamava o carro
quando era dela. Mesmo naquela época, ele não estava em sua
melhor forma. Ri:
— Tinha esquecido que a gente chamava o carro assim.
— Não acredito que ainda tá funcionando — disse ele, passando
a mão pelo capô. O carro soltou uma pequena tosse enquanto
parava, como se ele se lembrasse de Robbie.
— Bom, quase não funciona — admiti. — Mas tenho fé que vai
durar até o final do ensino médio.
— Talvez seja melhor eu pedir a um dos meus empresários-
hyungs para te levar em casa. — Robbie olhou para o carro com
cautela. — Não tenho certeza se seria responsável te mandar para
casa nesta coisa.
— Ei! Ele tá te ouvindo — falei, dando um tapinha no carro como
se fosse meu melhor amigo.
— Tudo bem. — Robbie riu.
Mas, quando fui abrir a porta, ele colocou uma mão no meu
ombro.
— Espera.
Congelei. Ele ia me pedir para ficar? Robbie disse que tinha o
resto do dia de folga; talvez quisesse que continuássemos fazendo
algo juntos.
— Você disse que veio aqui para me perguntar uma coisa.
Ah, sim. Isso mesmo. Eu não podia acreditar que tinha esquecido
completamente a minha missão.
— Na verdade, é sobre o centro comunitário — falei, tentando
esconder minha decepção.
— Aconteceu alguma coisa depois que fui embora ontem? —
perguntou Robbie, a preocupação tomando conta de seu rosto.
— Ah, não. Tá tudo bem. Eu só estava pensando… — Fiz uma
pausa, tentando descobrir como formular a pergunta. — Quero usar
meu próximo desejo.
— Seu desejo? — As sobrancelhas dele se arquearam.
— Sim, então, lembra que precisamos arrecadar fundos para
manter o centro aberto? Bem, eu queria… — Fiz uma pausa,
tentando avaliar a reação dele, mas, para a minha frustração, seu
rosto estava inexpressivo. — Eu poderia usar meu desejo para te
pedir ajuda?
— Claro — disse, e meu estômago agitado se acalmou. — O que
eu posso fazer?
— Bem, minha amiga Josie e eu estávamos pensando que talvez
vocês pudessem fazer um show surpresa beneficente? — Estava
falando muito rápido agora, não querendo perder meu ímpeto ou o
interesse dele. — Isso poderia fazer as pessoas conhecerem o centro
comunitário, e você disse que não foi lá ontem por causa das
relações públicas, mas os fãs pareceram realmente adorar a ideia de
que você estava se voluntariando. Então mal não poderia fazer,
certo? E significaria muito para as crianças. E para mim?
Terminei a última frase como uma pergunta, sem ter certeza se
Robbie ligava para a importância disso para mim, mas tinha
esperança…
Ele sorriu, e parte da minha ansiedade foi substituída pela
semente da esperança.
— Parece ótimo! Acho que os meninos também iam gostar. Eu só
teria que falar com o Hanbin-hyung. — Então seu sorriso
desapareceu.
Ah, não. Será que o empresário dele odiaria a ideia? Ele odiava
coisas de última hora? Seria algum tipo de quebra de contrato fazer
algo assim?
— O que foi? Você acha que seu empresário não gostaria da
ideia?
— Não é isso. Eles adoram esse tipo de coisa. Mostra que “ainda
estamos conectados às nossas raízes”. — Robbie fez aspas no ar. —
Mas vão querer filmar algo assim para a WDB TV. E postar sobre
isso nas redes sociais. Eu sei que você odeia ser filmada, e acabou de
nos fazer um grande favor com o vídeo do ensaio de dança. Não
quero te forçar a fazer mais nada.
Own, isso foi meio fofo. Ver Robbie se preocupando com meu
conforto. Sorri para tranquilizá-lo e disse:
— Isso é muito legal da sua parte. Mas é para o centro. Acho que
quanto mais cobertura tiver, melhor. Até eu posso aguentar isso pela
causa.
— Ótimo, então seu desejo está concedido! Vou te enviar uma
mensagem com mais detalhes. Deixa eu pegar seu número. — Ele
estendeu a mão, e lhe entreguei meu celular.
— Achei que vocês não deveriam ter celulares — falei.
— Sim, todos compramos telefones por contra própria no ano
passado. Tecnicamente, é um segredo, mas todos da nossa equipe
sabem. — Ele me entregou o celular de volta. — Me manda uma
mensagem quando chegar em casa.
— Não tenho 12 anos, e não é tão longe.
— Sim, mas eu ainda quero saber se você tá bem, especialmente
porque tá dirigindo essa coisa.
— Tudo bem, papai. Te mando uma mensagem.
Robbie sorriu, e seu sorriso era quente e doce, e tive uma vontade
estranha de abraçá-lo. Não, percebi enquanto olhava para seus
lábios; eu não queria apenas abraçá-lo.
De repente, senti que precisava sair dali antes que eu fizesse ou
dissesse alguma coisa que me envergonhasse ainda mais. Cambaleei
para dentro do carro e fechei a porta entre nós com firmeza. O motor
acelerou enquanto eu dirigia para longe, esperando que as janelas
escuras escondessem meu rubor.
Maldição, pensei. Eu estava começando a ter um crush em Robbie
Choi?
Vinte e um

Quando Robbie voltou para a sala de ensaio, Jongdae jogou


um braço em volta de seus ombros.
— Ora, ora, priminho — disse Jongdae com um sorriso. — Acho
que você não é tão ruim assim com as garotas, afinal.
— Claro que não — respondeu Robbie. Estava meio irritado.
Sabia que Jongdae era o visual do grupo. Estava acostumado com
garotas praticamente se jogando aos pés do primo. Mas ver Elena tão
impressionada com ele deixou Robbie com ciúmes.
— Quem te falou para dar aquele beijo na mão dela? —
perguntou Jongdae.
— Ninguém. — Ele deu uma cotovelada nas costelas de seu
hyung. Não estava com humor para brincadeiras.
Com um grunhido, Jongdae aumentou seu aperto até colocar
Robbie em uma chave de braço.
— Ei! — gritou ele, tentando se soltar, mas quanto mais lutava,
mais preso ficava.
— Diga quem te deu a ideia do beijo.
— Ninguém!
— Tá bom, sei. Você não é tão desenrolado assim. — Jongdae
apertou mais forte.
— Hyung! — gritou Robbie, sem saber se estava gritando com o
primo ou pedindo ajuda a algum dos outros membros.
Em sua disputa, eles perderam o equilíbrio e caíram no chão.
Robbie cutucou as costelas de Jongdae com os dedos, o único lugar
onde ele sentia cócegas. Com um grito de surpresa, o aperto de
Jongdae afrouxou, e Robbie teria se livrado dele, mas Minseok
gritou:
— Montinho no Robbie!
— Não! — disse Robbie, mas era tarde demais.
Os outros membros se amontoaram em cima deles. Criando um
peso que prendeu Robbie no lugar, impedindo-o de se mexer.
Apenas Jaehyung se absteve, mas ficou ao lado deles rindo e
filmando com uma das câmeras que usavam para o vlog.
— Você admite a derrota, Robi-ya? — exigiu Jongdae.
Robbie grunhiu e tentou empurrá-los com toda a força uma
última vez, então deixou os braços caírem:
― Admito.
― Invicto! ― anunciou Minseok, pulando com os braços para
cima como se tivesse acabado de ganhar o campeonato de peso-
pesado.
― Hum ― Robbie aceitou a mão de Jaehyung como ajuda para se
levantar. ― Não é difícil estar invicto quando são três contra um!
— A gente tem que dar trabalho pro nosso maknae — disse
Minseok, então se virou para a câmera que Jaehyung ainda
segurava. — Até o nosso Robi-ya precisa saber seu lugar, não é,
Constellations?
— Você tá bem? — perguntou Jun com uma risada.
— Claro — respondeu Robbie. — Posso ter deslocado um ombro,
mas logo sara, certo? — Ele riu para mostrar que estava apenas
brincando.
— Vou pegar uma Cider. Quer uma? — ofereceu Jun.
— Não, tranquilo.
— Pausa para o lanche? — Jaehyung se animou, como sempre
fazia quando havia comida envolvida. — Tô dentro!
— Eu também! — anunciou Minseok. — Jongdae-ya, Robi-ya,
vocês vêm?
— Não, vou ficar aqui e cuidar das minhas feridas — falou
Robbie.
— Vou te fazer companhia, primo — disse Jongdae. — Tragam
salgadinho! — gritou para os outros.
— Qual? — perguntou Minseok, embora já estivesse a meio
caminho da porta.
— Do bom! — Jongdae levantou a voz para ser ouvido, mas não
havia sinal de que Minseok tivesse realmente escutado. E então
Robbie e Jongdae ficaram sozinhos com Hanbin.
— Deu tudo certo hoje — anunciou Hanbin, pegando seu bloco
de anotações e escrevendo algo em uma de suas listas intermináveis.
— Acho que o vídeo vai ter uma boa repercussão — disse Robbie.
— E você fez progresso com a Elena — adicionou Hanbin. — Isso
também é bom. Eu estava começando a pensar que teríamos que
jogar fora tudo o que fizemos até aqui.
— Sim, tô orgulhoso de você. — Jongdae deu um tapinha nas
costas do primo.
Algo surgiu dentro de Robbie. Uma labareda de calor em torno
de seu coração.
— Acho que sim — disse com cautela. Ele realmente não queria
falar sobre isso agora.
— Você tá bem? — Os olhos de Jongdae se estreitaram de
preocupação enquanto olhava para Robbie.
— Só cansado do treino. — Robbie queria mudar de assunto
depressa. O brilho quente que tinha sentido ao ver Elena, ao resolver
as coisas com ela, estava lentamente desaparecendo, dando lugar a
uma sensação desconfortável de queimação em seu peito. Quase
como um refluxo ácido, mas ele não tinha comido nada ainda, então
não podia ser isso.
Robbie foi até sua mochila. E uma notificação de mensagem
iluminou a tela de seu celular.
Era de Elena.
ELENA: Cheguei em casa, sã e salva. Pode mandar todas
as equipes de emergência recuarem.

Robbie sorriu com o sarcasmo tão evidente que quase saltou da


tela.

ROBBIE: Vou ter que ligar de volta para a equipe da


SWAT, pode levar um tempo para abortarem a missão de
resgate.
ELENA: Demora um pouco para um tanque blindado dar
meia-volta.
ELENA: Mas sério agora, valeu por concordar em ajudar o
centro comunitário, Robbie. Significa muito para mim.

Ele sorriu, então lançou um olhar furtivo para Jongdae e Hanbin;


eles estavam ocupados conversando entre si. Então digitou de volta
rapidamente.

ROBBIE: Sem problemas. Qualquer coisa por você, Elena.


<3

WDB (원더별): PERFIL DOS MEMBROS


NOME ARTÍSTICO: JD
NOME: Lee Jongdae (이종대)
POSIÇÃO NO GRUPO: main vocal, leader, center
ANIVERSÁRIO: 29 de outubro
SIGNO: Escorpião
ALTURA: 185cm
PESO: 67kg
TIPO SANGUÍNEO: A
LOCAL DE NASCIMENTO: Seul, Coreia do Sul
FAMÍLIA: pai, irmã mais velha
HOBBIES: tocar guitarra
EDUCAÇÃO: Escola de Artes Cênicas de Seul
COR DO LIGHTSTICK: verde

FATOS SOBRE JD:


Debutou quando tinha 19 anos (20 na idade coreana).
Foi trainee por 6 anos.
Morou a vida toda em Seul.
Seu tipo ideal é Yoona, do SNSD.
É amigo de Sooyeon; Wooyoung, do Ateez; e Changbin,
do Stray Kids.
Às vezes, escreve músicas para se divertir com seu
primo Robbie (coescreveu a música “If U Can” para o
último mini álbum).
Seu melhor amigo é seu companheiro de grupo Minseok
(Moonster).
Canta desde que aprendeu a falar.
Foi o 3º melhor aluno da sua turma do ensino
fundamental.
Costumava cantar na frente da imobiliária da mãe.
Saía escondido para se apresentar quando tinha 13 anos
(14 na idade coreana) até que seu pai finalmente
concordou em deixá-lo se tornar trainee.
Vinte e dois

Se a escola na semana passada tinha sido insuportável,


então, na segunda-feira, foi… surreal.
Fiel à sua palavra, Robbie anunciou o show surpresa nas redes
sociais. Ele até me mandou uma mensagem dizendo que haveria um
convidado especial secreto.
Seria no sábado. O que significava que tínhamos uma semana
para nos prepararmos. E uma semana para o pessoal da escola ficar
vindo até mim como se, de repente, fôssemos melhores amigos.
— Uau, tá todo mundo agindo de forma totalmente diferente —
comentou Josie com uma risada quando finalmente nos livramos de
algumas pessoas que haviam me parado no corredor.
Estava no horário de almoço. Hora de montar nossa barraca, uma
tarefa que me entusiasmava muito menos agora que os outros
estavam prestando tanta atenção em mim. Sério, aposto que 75%
dessa gente nem sabia meu nome antes da semana passada.
— Essas crianças de hoje em dia. Não é? — brincou Josie.
Ri e dei uma cotovelada de leve em suas costelas:
— Fui verificar o site de arrecadação de fundos. A gente já tá
recebendo mais doações.
— Eu disse que ia funcionar. Provavelmente vamos poder acabar
com a iniciativa alternativa ao baile também. E então talvez você
possa reconsiderar o convite de uma certa pessoa.
Ela me devolveu a cotovelada enquanto entrávamos no refeitório.
Estremeci com a insinuação. Eu não estava pronta para falar sobre o
assunto “eu e Robbie”. Se é que existia algo como “eu e Robbie”.
Tudo parecia tão confuso e complicado, e a lembrança de seu sorriso
torto lá fora do estúdio de dança não estava ajudando.
Decidi me concentrar em ajudar Max e Josie a arrumar a mesa. Eu
sabia que, provavelmente, era desnecessário continuar pedindo
doações na hora do almoço com todo o burburinho pré-show. Mas
havíamos prometido a nós mesmos que ficaríamos duas semanas
nesta barraca, e não fazia mal cumprir a promessa até o fim.
Eu estava organizando os panfletos quando Caroline veio até
mim.
— Aposto que tá feliz com o que aconteceu! — gritou.
Ergui uma mão para limpar os respingos de saliva que voaram
no meu rosto enquanto ela falava.
— Do que você tá falando?
Conhecendo minha sorte, só podia ser outro vídeo viral. Talvez
alguém tivesse tirado uma foto daquele segurança me levantando na
frente do estúdio de dança. A essa altura, isso não me surpreenderia.
— O lugar inundou, e agora o baile tá arruinado! — Caroline
soluçou.
— O quê? — Eu não sabia o que dizer.
— O baile tá arruinado, e eu me recuso a ficar aqui e ver você
esfregar isso na nossa cara! — Caroline estendeu a mão e pegou uma
pilha de panfletos, rasgando-os.
— Ei! — Tentei pegá-los de volta. — Para com isso.
Ela se virou enquanto eu fazia outra investida, e, acidentalmente,
agarrei sua bolsa. A alça arrebentou na minha mão.
— Maldita! É uma Fendi! — gritou e, em vez de pegar mais
panfletos, Caroline me agarrou pelos cabelos.
Minha visão foi tomada por estrelinhas enquanto ela puxava, e
eu soltei um grito que ecoou no pé-direito alto do refeitório,
silenciando metade das conversas.
— Carol, segura as pontas aí — disse Felicity. Comecei a pensar
que essa era uma péssima escolha de palavras, mas logo a dor
apunhalou meu crânio novamente.
Escutei gritos alegres de “briga” enquanto outros alunos
começaram a se reunir ao nosso redor.
Josie pulou nas costas dela com um grito de guerra, tentando
soltar os dedos dela do meu cabelo. Isso só fez Caroline soltar um
guincho que quase estourou meus tímpanos.
— O que está havendo aqui? — Uma voz ecoou como trovão.
Finalmente meu cabelo foi solto. Eu tinha certeza de que agora
ele estava todo emaranhado no topo da minha cabeça, mas, pelo
menos, não tinha sido arrancado do meu crânio. Olhei para cima e vi
a diretora, Dra. Agarwal, aproximando-se:
— Caroline, Josefina, não permitimos brigas na escola. Preciso
que vocês quatro venham comigo.
— Mas — comecei, porém a diretora me dirigiu um olhar afiado.
Josie pegou minha mão e a apertou antes de sairmos do
refeitório. Alguns alunos acenaram com a cabeça discretamente, e
uma corajosa estudante do segundo ano fez um discreto sinal de
encorajamento com as mãos.
Isso era tão injusto. Eu não tinha começado a briga. E, por mais
que isso fizesse com que me sentisse patética, eu estava muito mais
para “tendo meus cabelos arrancados” do que para brigando.
Todas nos aglomeramos no escritório da diretora, o silêncio tão
denso que dava para espetá-lo com um garfo.
— Existe uma política de tolerância zero quando se trata de
brigas nesta escola — disse, finalmente, a Dra. Agarwal, cruzando as
mãos sobre a mesa.
— Elas que começaram — acusou Caroline rapidamente.
— Mentira! — contrapôs Josie. — Ela que atacou a Elena sem
nenhuma maldita razão.
— Cuidado com a língua, Josefina — avisou a Dra. Agarwal.
— Desculpe — murmurou Josie, inclinando-se para trás.
Caroline assumiu uma postura presunçosa, como se já tivesse
ganhado.
— Qual é a sua versão, Elena? — perguntou a Dra. Agarwal, e
havia algo em seus olhos, como se isso fosse algum tipo de teste.
Como se algo pior do que a detenção pudesse acontecer se déssemos
a resposta errada. Se eu fosse suspensa, minha mãe me mataria.
Normalmente, eu me encolheria ainda mais e só murmuraria um
“não sei”. Mas algo tomou conta de mim, talvez tivesse a ver com
Josie estar do meu lado, pronta para me apoiar. Ou talvez tivesse a
ver com eu estar tão cansada de pessoas aleatórias me xingando na
internet e não poder fazer nada a respeito. Mas, neste caso, eu tinha
a chance de me defender. Então, endireitei a postura:
— A Caroline estava bem irritada. Ela nos contou que o local do
baile tinha sido inundado, então, começou a rasgar nossos panfletos.
— Sua ratazana! — disse Caroline.
A Dra. Agarwal pigarreou, o que interrompeu essa fala.
— Bem, ela quebrou minha bolsa. — Caroline mostrou a alça
arrebentada.
A diretora suspirou.
— E então, Felicity? Você viu quem começou?
Tive vontade de resmungar. Se era para ser duas contra uma, não
sei em quem a Dra. Agarwal acreditaria.
Felicity não falou nada por um longo tempo. Ficou mexendo na
barra da saia, esfregando-a ansiosamente entre os dedos. Lembro
que ela costumava puxar a barra de suas camisas no ensino
fundamental até que elas se desgastassem e desfiassem. Sempre que
a pegava fazendo isso, eu a deixava segurar minha mão. São
estranhas as coisas que lembramos sobre velhas amizades.
— A Elena não fez nada — murmurou Felicity, por fim.
Eu troquei um olhar chocado com Josie. Não conseguia acreditar
que Felicity nos apoiou. Isso era sem precedentes. Eu precisava
gravar esta data.
— Tá, tá bom! — explodiu Caroline. — Eu estava chateada,
simplesmente não achei justo o que aconteceu com o hotel do baile.
Só fiquei emotiva. O baile significa muito para mim.
Ela olhou para a Dra. Agarwal com seu melhor olhar de cachorro
abandonado. Até pensei ter visto o brilho de lágrimas.
— Bem, Felicity, eu agradeço a sua honestidade de verdade. Josie
e Caroline, vocês duas esperem lá fora. Falarei com vocês
separadamente sobre a detenção.
— Detenção? — resmungou Caroline — Dra. Agarwal, a senhora
não pode simplesmente me dar um aviso verbal desta vez?
— Caroline, por favor, espere lá fora.
Bufando, ela abriu a porta. Josie se levantou para sair.
— Sinto muito — falei, agarrando a mão dela. — Você só estava
me defendendo.
— Ah, não se preocupe com isso. Eu sempre quis muito dar umas
bofetadas na Caroline. Qualquer detenção vale totalmente a pena.
— Josefina, por favor, espere lá fora — disse a Dra. Agarwal com
uma voz que mostrava que ela já estava no limite de sua paciência.
Josie apertou minha mão antes de sair.
Eu não conseguia imaginar sobre o que a Dra. Agarwal queria
falar comigo e com Felicity. A não ser que quisesse registrar nossas
declarações de testemunhas. Isso acontecia em uma briga de escola?
— Então, na verdade, eu estava indo ao refeitório para falar com
vocês sobre o que aconteceu com o local do baile.
Endireitei a postura. Não era isso que eu estava esperando.
— Como vocês sabem, o local que o comitê do baile escolheu não
está mais disponível devido à inundação na cozinha do hotel ontem
à noite.
— Ainda faltam algumas semanas para o baile. A senhora não
sabe se vão conseguir consertar antes disso? — Felicity parecia
bastante abalada. Na verdade, senti-me um pouco mal por ela.
— Disseram que o dano afetou metade do andar, incluindo o
salão de festas e o depósito do porão. Precisarão trazer uma equipe
para derrubar o drywall e tratar os danos causados pela água. Vai
demorar um pouco, e não ficará pronto até o dia do baile.
— Então o baile está cancelado? — perguntou Felicity.
— Bem, felizmente conseguimos nosso dinheiro de volta. O hotel
se sentiu realmente mal por ter que cancelar conosco, então
devolveram o valor na íntegra. Mas não há outros locais de eventos
grandes o suficiente e disponíveis tão em cima da hora.
— Então, o que vamos fazer?
— Poderíamos fazer o baile aqui — sugeriu a Dra. Agarwal.
— No ginásio? — Felicity franziu a testa.
— Por que não? É onde fizemos nosso baile quando eu era aluna.
Eu sempre esquecia que a Dra. Agarwal tinha estudado aqui há
quase 25 anos.
— Sem ofensas, Dra. Agarwal, mas bailes de formatura no
ginásio deixaram de ser legais depois dos anos 1980 — disse Felicity.
Eu quase revirei os olhos. Quem ia julgar nosso baile? O “Conselho
Nacional de Bailes de Formatura”?
— Bom — disse a diretora, com um sorriso forçado. Aposto que
ela não gostou daquela observação sobre os anos 1980. Como se
Felicity a estivesse chamando de velha. — Existe outra possibilidade.
É por isso que chamei Elena aqui, porque pensei que esta poderia ser
uma oportunidade para trabalharmos juntas.
— Trabalharmos juntas em quê? — perguntou Felicity. — Ela
odeia o baile.
E aqui estamos, novamente em lados opostos. A trégua durou
incríveis três minutos.
— Eu não odeio o baile. — Soei como um disco arranhado. Mas,
desta vez, percebi que não sentia o mesmo aborrecimento que
costumava sentir quando o baile era mencionado. Uau, Caroline
deixou alguma peça solta no meu cérebro quando me atacou?
— Então, existe um local grande o suficiente para fazer o baile e
que cabe no nosso orçamento. Eu tinha acabado de ligar para eles
quando fui procurar vocês — disse a Dra. Agarwal, e seus olhos se
moveram para mim. — O Centro Comunitário de West Pinebrook.
— O quê? — Felicity e eu exclamamos ao mesmo tempo, mas por
razões distintas.
Isso significava que doariam todo o valor do local para o centro
comunitário? Era muita grana!
— Aquele lugar é meio que uma velha fábrica, não é? — os lábios
de Felicity se tornaram uma linha fina.
— Já foi feita uma ótima renovação — falei, comprando a ideia.
— O espaço de recreação é enorme, com teto abobadado, e as janelas
antigas são originas. Muito retrô.
Felicity pareceu intrigada com a palavra “retrô”.
— Acho que poderia funcionar — refletiu Felicity. — Mas eu teria
que dar uma olhada no espaço antes, e a gente ia ter que aumentar o
orçamento da decoração.
— Acho que isso pode ser feito — disse a Dra. Agarwal e, então,
ergueu a mão antes que Felicity pudesse fazer mais exigências. —
Com parcimônia. E, Elena, eu estava pensando que talvez você e o
Clube da Conscientização pudessem ajudar. Temos menos de um
mês para encontrar decorações para um espaço tão grande.
— Não precisamos da ajuda delas — disse Felicity. — Podemos
fazer isso sozinhos.
— Tenho certeza que sim, Felicity. E ficaria lindo. Mas acho que
devemos aproveitar esta oportunidade para tirar algo positivo de
tudo isso. Talvez tentar tornar o novo baile mais ecológico e
sustentável — disse a Dra. Agarwal. — Parece algo em que o Clube
da Conscientização poderia ajudar, Elena?
Ah, Josie adoraria este projeto. Era bem a praia dela.
— Sim! — respondi com entusiasmo.
Eu conseguia ver Felicity olhando para mim com o canto do olho,
mas não me importei. Era uma ótima notícia. Esse dinheiro e o que
arrecadaríamos com o show surpresa tinha que ser o suficiente para
cobrir as despesas do centro até a votação do orçamento.
Pela primeira vez, eu realmente pensei que conseguiríamos.
Realmente pensei que conseguiríamos salvar o centro comunitário.
Vinte e três

Uma vida pode se tornar uma verdadeira montanha-russa de


emoções? Depois de falar com a Dra. Agarwal, senti que as coisas
pareciam estar se alinhando. O centro comunitário tinha duas novas
maneiras de arrecadar de fundos, e, embora eu não estivesse muito
feliz com a ideia de trabalhar com Caroline e Felicity no
planejamento do baile, isso valeria a pena por causa do salto em
nossos esforços de arrecadação de fundos.
E, então, o vídeo do ensaio de dança foi lançado.
Se as pessoas já estavam estranhamente interessadas em mim
antes, agora isso beirava a perseguição e o assédio. A gota d’água foi
quando duas alunas do primeiro ano me seguiram até o banheiro
para me perguntarem se eu poderia pegar um autógrafo de Robbie
para elas. Enquanto eu fazia xixi!
Depois disso, tentei segurar minha bexiga na escola.
Isso tudo parecia errado, como se fosse uma atenção que eu não
merecia. Apareci na tela por, literalmente, dez segundos. Não
significava nada. Mas, ainda assim, meu pulso acelerou quando
assisti ao vídeo pela primeira vez. Se não me lembrasse de ter
participado da filmagem, não teria me reconhecido. Eu parecia tão…
no controle. E, quando Robbie beijou minha mão, senti meu rosto
corar, embora estivesse sozinha em meu quarto.
Pelo menos a primeira reunião de planejamento do baile foi
melhor do que o previsto. Sugeri que nos baseássemos no
comentário de Felicity sobre os anos 1980 e adotássemos a temática
dos filmes de John Hughes. Surpreendentemente, todos
concordaram com a ideia. Felicity até disse, a contragosto, que a
temática retrô estava na moda. Mas nada no universo poderia fazer
Josie e Caroline Anderson se entenderem.
— Aquela garota tá sonhando se acha que vamos ter esculturas
de gelo. E como vou arrumar um tecido feito de material reciclado e
parecido com seda que custe menos de quinhentos dólares? Quem
sequer vai estar prestando atenção nas toalhas de mesa no escuro? —
Josie estava espumando de raiva quando chegamos ao centro
comunitário bem cedo no sábado para ajudar na organização do
show.
Alguém havia colocado grades na frente da entrada, e fiquei
chocada ao ver que já tinham pessoas esperando lá fora. Havia um
segurança grande e corpulento que reconheci, era o mesmo que me
levantara do chão no estúdio de dança. Ele pareceu me reconhecer
também, pois ergueu as sobrancelhas para mim ao deixar eu e Josie
passarmos.
— E, foi mal, mas por que é a gente que precisa ficar resolvendo
as coisas do comitê mesmo? — continuou Josie enquanto nos
aproximávamos do palco temporário que havia sido montado
durante a noite. Havia um banner na parte de trás dele com os
dizeres #SalveCentroComunitárioWP seguido do site da
arrecadação de fundos.
— Sim, é irritante — murmurei. Não conseguia evitar que meus
olhos viajassem pela grande área de recreação. Robbie tinha dito que
já eles estariam aqui a essa hora, mas eu não os via em lugar
nenhum. Verifiquei meu celular mais uma vez. As últimas três
mensagens eram minhas:

Valeu de novo por fazer isso hoje!


Já estamos aqui organizando tudo.
Ei, me manda uma mensagem se precisar de alguma
coisa.

Estremeci. Essa última mensagem parecia tão desesperada. Não


deveria ter enviado. Na hora, pensei que parecia algo que um
anfitrião faria por um convidado. Mas era possível haver um
anfitrião em um show surpresa?
— Ele provavelmente já está chegando — disse Josie.
— O quê? — perguntei, enfiando o celular no bolso de trás, como
se não fosse super óbvio.
— Aposto que eles ainda tão arrumando seus cabelos
maravilhosos ou algo do tipo.
— Sim, provavelmente — falei, dirigindo-me ao corredor dos
fundos. Se eles já estivessem aqui, eu deveria checar como estavam,
certo? Mas, quando abri a porta, Cora veio correndo e me abraçou.
— Elena, você viu o site da arrecadação de fundos? As pessoas
estão doando a semana inteira. Uma loucura!
— É, tá sendo ótimo. — Sorri enquanto tentava ver o corredor
atrás dela.
— Então, vamos instalar as estações de água ao longo da parede
lateral — informou Cora. — E aquele fofo do Max tem sido incrível
arrumando todas as mesas. — Ela apontou para ele, que estava
lutando com uma das mesas dobráveis antigas.
Josie suspirou e foi ajudá-lo. Ela afastou a mão dele e montou a
mesa sozinha. A perna da mesa se encaixou no lugar. Tentei resistir
a olhar meu celular outra vez, mas o peguei para verificar se,
acidentalmente, não o tinha colocado no silencioso. E me senti
ridícula quando vi que o som estava ativado e que não havia novas
mensagens.
Tia se aproximou com a esposa de Cora, Sofie. Ambas estavam
usando camisetas com o logotipo do centro, assim como todos os
voluntários.
— Isso tá ótimo de verdade — disse Sofie, vindo me dar um
abraço. Era dona de um restaurante na cidade. Aparentemente, as
duas se conheceram quando Cora estava em um desastroso encontro
às cegas. — Sei que isso significa muito pra Cora. Você realmente se
esforçou pelo centro.
Suas palavras me lembraram que eu estava aqui pelo centro
comunitário. Não para me preocupar comigo e com Robbie.
— Obrigada, Sofie — falei, e era sério. Eu precisava desse
empurrãozinho para colocar minha cabeça no lugar.
Tia se juntou a mim quando comecei a desempacotar um
engradado cheio de caixinhas de água (que Josie insistiu em comprar
porque eram biodegradáveis).
— Então, não consegui falar com você na quarta — disse Tia.
— Ah, sim. Ando muito ocupada com essa coisa toda do show.
Na verdade, eu estava meio que evitando ter “a conversa” com
ela. Sabia que ia me perguntar sobre Robbie, o que se tornaria,
inevitavelmente, uma conversa sobre meus sentimentos por ele. Só
que eu não fazia ideia de quais eram meus sentimentos agora.
— Parece que nossa atração principal chegou — disse Josie,
cutucando-me nas costelas.
As portas de fundo se abriram, e os meninos entraram. Indivi-
dualmente, estavam lindos, mas, caminhando juntos como um
grupo, era como assistir a um MV.
Minhas palmas começaram a suar imediatamente. Por que eu
estava nervosa? Tinha visto Robbie no último fim de semana. Havia
passado metade do dia com ele. Então por que meu coração estava
tão acelerado?
Talvez eu tivesse deixado as provocações de Josie me atingirem
depois que o vídeo do ensaio de dança foi postado. Toda vez que
alguém o mencionava na escola, Josie fazia caretas exageradas de
beijos para mim.
— O galã tá bonito — sussurrou Josie.
— Para com isso — pedi. Quem ainda falava “galã”? Mas,
enquanto observava Robbie, tive que concordar. Ele estava incrível.
Usava uma simples calça jeans preta e uma camiseta com uma
estampa de linhas no meio. Mas, de alguma forma, parecia
glamoroso. Como se pudesse estar a caminho de uma sessão de fotos
para a edição coreana da Elle.
Eu jamais teria sonhado que um garoto que, uma vez, tinha
colocado gelatina no meu tênis, estaria andando em minha direção
como em uma cena em câmera lenta de um seriado. Só estava
faltando aquelas trilhas sonoras instrumentais épicas que tocavam
sempre que o interesse amoroso bonitão e herdeiro de um
conglomerado era apresentado.
Mas isto não era um dorama, e Robbie não era um interesse
amoroso. Ele era Robbie Choi. O garoto que achava que trocadilhos
eram o ápice do humor e havia relido meus livros de Percy Jackson
até as lombadas rasgarem.
Mas ele também era Robbie Choi, idol de K-pop e meu primeiro
beijo. O garoto capaz de fazer meu coração disparar com seu sorriso
de covinhas. Como eu deveria encaixar todas essas peças?
— Ei, Elena! — Minseok me envolveu tão rápido em um abraço
que não tive tempo de reagir. Fui esmagada contra seu peito. Ele
cheirava a sabonete e rosquinhas.
Quando ele me soltou, Robbie estava ao meu lado. Estávamos
mais perto que o normal? Calma aí, qual era a distância normal para
se ficar ao lado de alguém? De repente, eu não tinha certeza.
— Oi, Robbie. — Apertei meu celular com as mensagens
ignoradas.
— E aí, Elena.
Eu queria perguntar se Robbie tinha estado ocupado esta manhã,
mas senti que isso me faria parecer incomodada por ele não ter
respondido minhas mensagens.
— Dormiu bem? — perguntei em vez disso, e imediatamente me
arrependi. Que tipo de pergunta é essa?
Robbie sorriu, bem-humorado.
— Sim. E você?
Tentei sorrir de volta, mas sentia meu rosto rígido.
— Muito bem. Poderia ter sido melhor, mas sou meio chata com
isso.
— Eu lembro — disse Robbie.
Os olhos de Minseok se arregalaram, e sua boca se abriu em
surpresa.
— Por causa das festas do pijama — expliquei rapidamente. —
Quando tínhamos 8 anos. E eu melhorei.
— Ela chutava dormindo — disse Robbie com um sorriso mais
largo. Covinha ativada. Pulso acelerado de Elena ativado.
— Não mais — insisti.
Josie deu um passo à frente e entrelaçou um braço no meu.
— Você não vai me apresentar ao seu melhor amigo? — perguntou
ela através de um sorriso exagerado direcionado diretamente para
Jaehyung, que estava logo atrás de Minseok. Max olhou para eles
detrás da mesa.
— Ah, claro. Estes são Tia, Josie e Max — falei, feliz com a
mudança de assunto.
— Oi, eu sou Moonster — disse Minseok, pegando a mão de Josie
e beijando-a de leve, como se fosse um príncipe em vez de uma
estrela pop.
Josie soltou uma risadinha, e a encarei com olhos arregalados.
Josie não era de dar risadinhas. E, pelo olhar surpreso em seu rosto,
ela estava tão chocada quanto eu.
Minseok estendeu a mão para Tia e depois para Max, que hesitou
até que as boas maneiras o fizeram retribuir o aperto. Mas, quando
Minseok flexionou os dedos depois, suspeitei que Max havia
apertado sua mão mais forte do que o necessário.
— Como você tá? — perguntou Robbie, colocando o braço em
volta dos meus ombros. Fiquei surpresa. Uma coisa era ser girada
em seus braços durante uma dança ensaiada, mas isso não era uma
dança. E parecia que todos estavam nos observando.
— Tô b-bem — gaguejei, tentando não estremecer com o quanto
minha voz soava estranha. — E você?
— Bem. Melhor agora.
O que isso queria dizer? Senti como se borboletas estivessem
batendo as asas no meu estômago.
Olhei para Josie, que estava fazendo um sinal não tão sutil de
positivo para mim, e ela soltou um Isso aí! mudo com a boca.
Antes que eu pudesse pedir para ela se acalmar, a porta dos
fundos se abriu novamente, e alguns dos empresários do WDB
entraram com Jun e JD. Jun estava carregando uma filmadora em
um pau de selfie. JD estava rindo de algo que ele dizia. Levei um
minuto para perceber que não estavam sozinhos. Havia uma garota
com eles, e eu a reconheci na hora.
Era mais alta do que eu, mas ainda parecia pequena,
provavelmente porque era muito magra e esguia. Ela tinha longos
cabelos pretos que desciam pelas costas. Um rosto pálido em
formato de coração, nariz pequeno e olhos grandes. Eu tinha feito
algumas pesquisas sobre K-pop depois que Robbie voltou para a
cidade. E era impossível estar por dentro do K-pop hoje em dia e não
saber quem era Sooyeon. Ela era a maior idol feminina atualmente
nos top charts.
— Sooyeon-noona! — Robbie disparou, correndo em sua direção e
envolvendo-a em um abraço de um braço só. A mão dele demorou
um pouco em seu quadril. Sooyeon sorriu e o abraçou de volta.
— O que ela tá fazendo aqui? — perguntei, chocada.
— É nossa convidada especial para o show surpresa — disse
Minseok enquanto a risada de Sooyeon ecoava pelo ambiente.
Robbie sorriu, abraçou-a novamente e, de repente, não parecia
mais tão especial que ele tivesse colocado o braço em volta de mim,
não quando ainda estava segurando a cintura de Sooyeon. Senti uma
pontada no estômago. Havia algo entre os dois? Ela era considerada
a “xodó da nação”, fofa e pura. Nunca tinha estado em um
escândalo amoroso, nunca tinha feito nada além de ser premiada e
estar nos top charts. A música dela era do tipo que eu amaria no
ensino fundamental. Um pop muito doce e inocente.
— Por que ela ia querer vir para cá? É apenas um pequeno show
em um centro comunitário — falei.
— Acho que estava curiosa para conhecer onde Robbie cresceu —
explicou Minseok.
Por que ela iria querer ver onde Robbie cresceu? Meu estômago
parecia estar repleto de pedras. Esse é o tipo de coisa que você faz
por alguém com que está namorando.
Eu deveria estar surpresa que Robbie poderia estar com uma
garota como Sooyeon? Mesmo de longe, ela era mais deslumbrante
pessoalmente do que na TV. E, pelo jeito que olhava para ele, eu
percebia que Sooyeon realmente correspondia aos sentimentos de
Robbie. Tentei me convencer de que eu estava feliz por ele. Como
sua amiga, é claro que deveria estar. Mas as pedras que preenchiam
meu estômago me diziam que isso era uma grande mentira.

WDB (원더별): PERFIL DOS MEMBROS


NOME ARTÍSTICO: Moonster
NOME: Moon Minseok (문민석)
POSIÇÃO NO GRUPO: subvocal, lead rapper
ANIVERSÁRIO: 20 de outubro
SIGNO: Libra
ALTURA: 180cm
PESO: 65kg
TIPO SANGUÍNEO: B
LOCAL DE NASCIMENTO: Paris, França
FAMÍLIA: mãe, pai, irmão mais velho (5 anos de diferença)
HOBBIES: assistir filmes
EDUCAÇÃO: Escola de Artes Cênicas de Seul
COR DO LIGHTSTICK: amarelo

FATOS SOBRE MOONSTER:


Sua comida favorita é qualquer tipo de carne.
Sua estação favorita é a primavera.
Sua cor favorita é verde.
Seu número favorito é o 13.
Debutou quando tinha 18 anos (19 na idade coreana).
É amigo de Chani, do SF9; Han, do Stray Kids; Felix, do
Stray Kids; Sunwoo, do The Boyz; Yeji, do Itzy, e
Shuhua, do (G)I-DLE
Nasceu em Paris, mas se mudou para a Inglaterra com a
família quando tinha apenas 3 anos. E depois para
Xangai quando tinha 7. Por fim, mudou-se para a Coreia
do Sul quando entrou no ensino fundamental coreano
(equivalente ao 8º ano estadunidense).
Reza a lenda que foi descoberto enquanto estava
tocando na rua aos 13 anos (14 na idade coreana) depois
da escola (em vez de estar em seu hagwon).
Seu tipo ideal é Bae Suzy.
Vinte e quatro

Uma enxurrada de fãs correu para dentro assim que as portas


do centro se abriram. Achei que seriam apenas garotas da minha
idade, mas fiquei surpresa ao ver a mistura de faixas etárias. Havia
até mães e pais com seus filhos mais novos. E acho que vi alguém
carregando um bebê. Um grupo de meninas estava usando
camisetas com o logotipo de uma universidade de Michigan. Eu me
perguntei se elas realmente viajaram até aqui só para ver o show
surpresa.
Mas a pessoa que mais me surpreendeu foi Ethan. Ele se
aproximou e disse:
— Duas águas com limão, por favor.
Franzi a testa para ele enquanto lhe estendia duas caixinhas:
— O que você tá fazendo aqui?
— Que foi? Não posso apoiar a minha irmã gêmea?
— Pode, mas é isso mesmo que tá fazendo?
— Elena, você precisa relaxar às vezes — disse em vez de
realmente me responder, então saiu com as duas águas. Assisti em
choque enquanto ele se juntava a Felicity Fitzgerald e lhe entregava
uma das caixinhas.
— Hum, o que tá acontecendo ali? — sussurrou Josie ao meu
lado.
— Não faço ideia. — Franzi a testa, tentando não pensar demais
nisso. Talvez Ethan e Felicity simplesmente tivessem se esbarrado
aleatoriamente.
Eu me disse para deixar isso de lado e me virei para entregar
uma caixinha de água e um panfleto do centro para a próxima
pessoa.
Dez minutos depois, minhas águas acabaram. Inclinei-me para
Max que estava na outra mesa.
— Ei, você ainda tem água? As minhas acabaram.
— Josie foi buscar mais faz uns cinco minutos, mas
provavelmente se distraiu com seus novos melhores amigos. — Ele
fez uma careta.
— Ei, se você estiver indo lá para trás, leve algumas dessas para
os meninos — pediu Cora, entregando-me cinco caixinhas bem
geladas.
Eu as equilibrei em meus braços enquanto serpenteava pela
multidão, dirigindo-me às portas na parte de trás do centro. Elas
estavam trancadas, mas Cora havia me dado as chaves extras, que
balançavam desajeitadamente nos meus dedos enquanto eu tentava
equilibrar o chaveiro e as águas.
Encontrei os garotos na área da cozinha, reunidos em volta da
grande mesa. Josie estava lá, dando em cima de Jaehyung. Apesar de
ele ser o pior no inglês e ela não saber uma palavra de coreano além
de nomes de comida, isso não a impediu de sorrir confiante e de
despejar histórias para as quais ele só sorria e balançava a cabeça.
Minseok e Jun estavam lá também. E parecia que eles estavam se
divertindo com Josie. Minseok até se inclinou e sussurrou algo em
seu ouvido, fazendo-a rir.
— Josie, era para você estar ajudando nas mesas. — Eu a lembrei.
— Tô tentando me certificar de que os convidados de honra
tenham algum entretenimento antes do show — respondeu ela,
pegando duas caixinhas de água dos meus braços antes que caíssem.
— Ela está fazendo um ótimo trabalho — disse Minseok com um
sorriso, e, em choque, eu a vi corar. Josie Flores não era de corar.
Mas, aparentemente, na frente desses caras, era.
Jaehyung abriu um pacote de amêndoas cristalizadas e começou
a comê-las a bocadas. A mesa inteira estava repleta de salgadinhos,
uns ainda meio embrulhados em papel de presente colorido. Parecia
que alguns embrulhos haviam sido feitos à mão com o logo da
banda impresso ou desenhado.
— O que é isso tudo? — questionei.
— Jogong — respondeu Jaehyung.
— O quê? — perguntou Josie.
— Presentes dos nossos fãs — esclareceu Minseok. — Eles
entregaram para nossos empresários-hyungs lá fora.
— Os fãs trouxeram tudo isso? — A mesa estava completamente
coberta de coisas, e notei uma pilha ainda fechada no canto.
— Tem mais — respondeu Jun.
— Sim, os hyungs não conseguiriam carregar tudo. — Minseok
agiu como se não fosse grande coisa.
Eu não podia acreditar que tantas pessoas trouxeram presentes
para a banda. E alguns deles pareciam caros. Até vi alguns bifes em
um recipiente de isopor. Então a vida de Robbie era assim? Receber
presentes e ser adorado onde quer que fosse?
— Bem, se vocês precisarem de algo para fazer toda essa comida
descer — Entreguei uma caixinha para Minseok enquanto Josie
entregava as dela para Jaehyung e Jun.
— Cadê o Robbie? — perguntei, olhando ao redor.
— Acho que ele está dando uma última arrumada no cabelo com
a Sooyeon — disse Minseok.
Suas palavras foram como um soco no estômago. Eu ainda não
tinha me apresentado a ela. E, quanto mais esperava, mais estranha
me sentia.
— Você quer ajuda para encontrar os dois? — perguntou Josie.
— Não, pode deixar que eu procuro — falei e comecei a caminhar
pelo corredor em direção às salas de estudo individuais.
Eu os encontrei na grande sala de jogos que transformamos em
camarim. Havia maquiagem e spray de cabelo espalhados sobre a
mesa dobrável, mas Robbie e Sooyeon eram os únicos ali. Estavam
mais perto que o normal? É comum ficar assim com amigos
próximos? Ou Robbie estava… se inclinando?
Para com isso, Elena. Não importa o que eles são.
Sooyeon sorriu para Robbie. Ela colocou, de leve, a mão em seu
braço. E ele não pareceu se incomodar.
Eu não queria bisbilhotar, mas acabei escutando o final da fala de
Sooyeon.
— … tão feliz que a gente pode se ver. Sinceramente, não sei o
que eu faria sem você. — Ela apertou o braço de Robbie, que colocou
a mão sobre a dela.
— Claro, Noona. Eu tava realmente começando a sentir sua falta
— disse Robbie.
Meu coração se encolheu no peito, e meu estômago se
embrulhou. Não havia como confundir o afeto na voz dele. Robbie
pode ter mudado muito, mas eu ainda sabia quando se importava
com alguém.
Saí, apressada, antes que eles pudessem me notar. Não queria
que pensassem que eu estava ouvindo uma conversa particular. E
definitivamente não queria ver Robbie dando em cima de uma
garota com quem eu nunca poderia competir.
E por que eu iria querer competir com ela? Perguntei-me.
Robbie era apenas alguém que eu costumava conhecer e que
estava de volta à cidade por alguns dias. E era isso. Sempre seria só
isso.
— Ei — disse Josie, correndo para me alcançar. — Você tá bem?
Tá tão pálida.
— Só tô com muito calor — respondi, sem me importar se ela
acreditaria em mim. Senti como se estivesse prestes a hiperventilar.
Então me concentrei em respirar fundo.
— Aconteceu alguma coisa? — perguntou Josie.
— Não. Por quê?
— Bem, porque você meio que esmagou essas caixinhas de água.
— Ela apontou para minhas mãos, e eu olhei para baixo e as vi
prontas para explodirem nos meus punhos cerrados.
— Ah. — Foi tudo o que consegui dizer, jogando-as em uma lata
de lixo na beirada da minha mesa.
— Ei, você esqueceu as águas? — perguntou Max.
— Max, se quer mais água, por que não deixa de ser tão
preguiçoso e pega você mesmo? — disse Josie de maneira brusca.
Normalmente eu diria para ela pegar leve com ele, mas não
consegui fazer nada além de me apoiar pesadamente contra a mesa.
— Claro, eu pego, é só que vocês disseram que iam pegar mais —
murmurou Max enquanto ia buscar as águas.
Cora se aproximou e colocou uma mão no meu ombro e a outra
no de Josie.
— Não é incrível? — Ela sorriu, examinando a sala lotada. — Vou
dar um grande abraço em Robbie depois disso.
Meu estômago se embrulhou só de ouvir o nome dele. Então
Cora sorriu de novo e disse:
— Gosto muito desse garoto.
Sim, eu também, pensei. Esse é o problema.
Vinte e cinco

Mesmo de mau humor, tive que admitir que o show foi


incrível.
Assim que as luzes diminuíram e a música aumentou, pude
sentir a expectativa da multidão enquanto esperava os meninos
aparecerem. Isso mudou a forma como me sentia em relação a esse
espaço, com o qual eu estava tão familiarizada. Não era mais um
lugar onde crianças brincavam ou onde organizávamos nossas
noites anuais de filmes de Halloween. Parecia que correntes elétricas
estavam viajando pelo ar. E, finalmente, as luzes aumentaram
quando os meninos entraram no palco.
O barulho da multidão atingiu níveis de decibéis que eu não
sabia que eram possíveis. Os gritos ecoaram em meus ouvidos
quando a primeira nota tocou, e os meninos começaram a cantar sua
faixa-título mais recente.
Eu nunca tinha ido a um show de K-pop, mas já tinha visto
apresentações em programas de música coreana. Era uma sensação
diferente dos shows de pop ocidentais. Os fãs ficavam muito
envolvidos com as apresentações. Quando a música ganhou vida,
eles fizeram o mesmo aqui. A melodia de introdução tocou alto, e
lightsticks balançavam no ritmo da batida. Os lightsticks do WDB
tinham o formato de estrelas e piscavam em cinco cores diferentes.
Então os fãs começaram a entoar: Lee Jong-dae! Moon Min-seok! Xiao
De-jun! Do Jae-hyung! Choi Ji-seok! Sa-rang-hae-yo Won-deo-byul!
Isso aumentou ainda mais a adrenalina, dando vida a todo o
espaço. Eu me juntei involuntariamente ao coro quando ele se
repetiu.
Os MVs do WDB eram épicos. Seus vídeos de ensaio de dança
eram precisos. Mas, ainda assim, eu não estava preparada para o
espetáculo que veio da combinação das luzes, da batida e da música
ao vivo. O poder que eles emanavam quando se apresentavam era
viciante. Como se não estivessem apenas cantando, mas injetando
sua energia em toda a multidão. Não era de se admirar que tivessem
se tornado uma sensação em todo o mundo. E parte de mim se
sentiu orgulhosa enquanto eu observava Robbie. Orgulhosa de ele
ter se tornado esse artista carismático do qual as pessoas não
conseguiam tirar os olhos. Do qual eu não conseguia tirar os olhos.
Depois que a música acabou, Robbie e os meninos se sentaram
em banquinhos para conversar com a multidão.
— Como estão todos hoje? — gritou Minseok, e a multidão
explodiu em aplausos. — Ficamos muito felizes em estar aqui.
Shows como esse nos lembram das nossas raízes. Quando estreamos,
tocávamos onde quer que as pessoas deixassem. Éramos um grupo
totalmente novo de uma empresa totalmente nova. Posso arrumar
problemas por dizer isso, mas não tínhamos ideia do que estávamos
fazendo.
— Ainda não temos — acrescentou Robbie com um sorriso
tímido, e a multidão caiu na risada.
— Fale por você — disse Minseok com um sorriso malicioso.
Mais risadas.
Uau, eles eram bons.
— Tivemos sorte de os programas musicais terem acabado nos
dando uma chance. De termos conseguido tocar nossa música na
rádio. Mas, quando estávamos estreando, nossas apresentações
favoritas eram onde podíamos fazer shows surpresa, em
Myeongdong ou Dongdaemun. Amávamos esses shows porque eles
nos ajudavam a conhecer o coração do grupo: nossas Constellations!
Mais aplausos, e até eu tive que admitir que foi muito fofo. E
pensar que esses cinco meninos começaram praticamente do nada,
sem saber se teriam sucesso. Mas agora eles eram a maior banda de
K-pop do mundo. Não tiveram uma gravadora famosa para apoiá-
los. Realmente conquistaram tudo através do próprio trabalho duro.
— Também nunca queremos esquecer nossas origens humildes
— disse Robbie. — Sempre tivemos sorte de ter um teto sobre nossas
cabeças e comida em nossos pratos, mesmo que fosse apenas
ramyun.
— Quer dizer, eu ainda prefiro ramyun — interveio Jun.
— Sério, Hyung? O que você escolheria, bife hanu ou shin ramyun?
— Isso é uma pegadinha! — disse Minseok. — Você sempre
escolhe os dois!
Até eu ri disso.
— Bem, gostaríamos de reconhecer que temos muito pelo que
agradecer e procuramos uma forma de retribuir — disse Robbie. —
Muitos de vocês sabem que passei parte da infância nesta região.
Aplausos e gritos irromperam da multidão.
— Bem, este lugar é muito importante para esta comunidade.
Mas, agora, ele acabou perdendo parte do financiamento. Então,
vocês podem fazer duas coisas por nós. Podem doar para a
arrecadação de fundos e, se morarem aqui, podem ligar para os
representantes locais, pedindo que votem pelo financiamento do
Centro Comunitário de West Pinebrook! Vocês podem fazer isso por
nós, Constellations?
A multidão aplaudiu tão alto que o eco perdurou muito tempo
após as palmas cessarem. Era mais do que eu poderia ter imaginado.
Não queria admitir isso para ninguém, mas a ansiedade que
acompanhava o pensamento de não conseguir salvar o centro
comunitário estava me corroendo por dentro nas últimas duas
semanas. Eu odiava admitir que até mesmo meu planejamento
cuidadoso não seria suficiente para causar uma mudança por si só.
Mas, agora, eu tinha esperança de que esse sonho fosse possível. E
sabia que devia essa esperança renovada a Robbie.
— Também quero mandar um “alô” para alguém. Ela era minha
melhor amiga quando eu morava aqui e foi quem me apresentou a
este centro comunitário. Vocês podem reconhecê-la de um certo
vídeo. — Robbie fez uma careta cômica e passou a mão pela
garganta como se estivesse sendo assassinado. Risos e conversas
surgiram na multidão, e algumas das meninas da minha escola se
viraram para olhar para mim. Resisti à vontade de me esconder atrás
de Cora. — Quero que todos vocês peguem leve com ela. A culpa foi
minha por surpreendê-la. Minha Elena não é do tipo que gosta de
muita atenção, mas eu não teria sobrevivido a muitas coisas sem ela
ao meu lado. Então, vamos todos apoiar Elena e o centro
comunitário!
Mais aplausos irromperam, e eu não percebi que minhas lágrimas
haviam transbordado até Cora estender um lenço para mim.
— Ele é um garoto especial — comentou Tia, envolvendo-me nos
braços. — Acho que, definitivamente, é do tipo para casar.
Tia não fazia ideia de como suas palavras fizeram meu estômago
se embrulhar.
— Ele é um bom amigo.
— Só amigo? — perguntou ela, dirigindo-me um olhar
questionador.
Olhei para Robbie enquanto Minseok tentava forçá-lo a fazer
aegyo, uma forma exagerada de agir como criança, que era, de algum
jeito, comum entre os idols. Robbie tentou desviar do pedido, mas,
no final, foi impelido a cantar alguma música infantil exagerada para
receber os aplausos da multidão. Ele parecia tão ridículo, mas, ao
mesmo tempo, deu a entender que estava se divertindo. Robbie
olhou para mim, seu olhar encontrou o meu, e ele me dirigiu um
sorriso envergonhado. Eu praticamente podia ouvir a voz dele na
minha cabeça: Está vendo o que eu sou obrigado a aguentar?
Por que tinha que ser tão charmoso e bobão ao mesmo tempo?
Era uma combinação injusta.
Então, Robbie falou no microfone novamente.
— Agora temos uma surpresa especial para todos! Deixem-me
apresentar a incrivelmente talentosa e adorável Sooyeon!
A multidão começou a gritar de surpresa e entusiasmo, e meu
coração ficou pesado como uma pedra.
Sooyeon subiu no palco, e Robbie a envolveu em um grande
abraço.
Pois é, ele ainda fazia parte de um mundo completamente
diferente do meu. Eu não deveria me permitir esquecer disso porque
só me machucaria mais quando ele voltasse para aquela realidade.
Vinte e seis

Tentei me acalmar enquanto caminhava para as salas dos


fundos após o show. Só queria agradecer a Robbie por ter feito isso.
E, se Sooyeon estivesse lá, eu seria gentil e educada. Afinal, fui bem
treinada para mostrar falsa educação toda vez que meus pais
recebiam amigos ou quando eu e Ethan éramos arrastados pela
nossa halmoni para a igreja coreana. Não era tão difícil. Porém, a
maioria dos amigos de igreja de Halmoni não falavam inglês.
Quando entrei na sala dos fundos, os meninos deviam estar rindo
de alguma coisa que Josie disse, porque ela estava no meio de seu
pequeno círculo. Max estava mal-humorado no canto, apertando as
chaves do carro em uma mão.
Ele me dirigiu um olhar triste de cachorro abandonado.
— Preciso ir. Meus pais conseguiram ingressos para a filarmônica
hoje à noite, e vou ficar de babá. Pensei que talvez vocês precisassem
de uma carona… — Ele interrompeu sua fala, olhando ansiosamente
para Josie outra vez.
— A gente veio com a Josie, então acho que não precisa.
Ele suspirou, e seus ombros caíram com resignação. E o olhar
oprimido em seu rosto era uma boa representação de como eu estava
me sentindo quando vi Robbie sentado com Sooyeon no sofá gasto.
Dei um tapinha no ombro de Max em solidariedade:
— Te vejo segunda na escola.
Ao sair da sala, ele quase atingiu Tia com a porta, murmurou um
pedido de desculpas e escapou apressadamente.
— O Max tá bem? — perguntou Tia, juntando-se a mim.
— Sim, só um pouco triste. — Apontei para Josie com a cabeça,
que agarrou o ombro de Minseok, rindo tanto que fez um barulho de
ronco.
Tia também riu:
— Acho que ele não precisa se preocupar. No final das contas,
são os caras firmes e resilientes que tendem a conquistas as garotas.
Eu esperava que ela estivesse certa. Josie nunca pareceu ser
alguém impressionável, mas parecia muito envolvida agora.
— El! — chamou Josie, notando minha presença. — Os garotos
nos convidaram para jantar. Podemos ir? — Ela me perguntou como
uma criança pedindo à mãe para ficar até mais tarde na casa de uma
amiga.
— Ah, estava pensando em ajudar mais um pouco na limpeza
daqui.
— Não, vai se divertir com seus amigos — disse Tia. — Você já
fez o suficiente por hoje. Podemos cuidar do resto da limpeza.
Tentei não deixar meus olhos se desviarem para avaliar a reação
de Robbie no sofá. Ele queria que eu fosse? Não gostaria de passar
um tempo sozinho com a namorada?
— Vai — insistiu Tia, empurrando-me de leve na direção de Josie.
— Vamos ficar bem.
— Tudo bem — concordei, por fim, e Josie ergueu o punho em
triunfo.
— Vamos ter uma conversa na próxima vez que você estiver
aqui, certo? — disse Tia. Ela pareceu bem séria.
— Algum problema?
Tia sorriu e balançou a cabeça.
— Não, só quero colocar o papo em dia. Não temos tido tempo
ultimamente.
Mesmo que Josie parecesse muito interessada em andar na van
de idol com os meninos, eu insisti que fôssemos no carro dela. Dessa
forma, poderíamos ir embora do restaurante mais cedo, se nos
sentíssemos incomodadas ou estranhas.
Saímos do centro comunitário, e eu dei um pulo quando gritos
começaram de repente. A princípio, pensei que tivesse acontecido
algum tipo de acidente. Então, olhei para a multidão de, pelo menos,
uma dúzia de fãs que correram para a frente e só pararam quando a
equipe avançou calmamente com os braços estendidos, como uma
barreira humana. Eles não pareciam nem um pouco surpresos. E
nem os meninos, encaminhando-se para a barricada humana. Os fãs
entregavam álbuns, revistas e photo cards. Cada um autografou o
máximo de coisas que conseguiu. Uma garota passou metade de seu
corpo por Hanbin e estendeu seu celular, que JD pegou
graciosamente, inclinando-se um pouco para tirar uma selfie com
ela.
Observei Robbie rir com um de seus fãs enquanto autografava
uma capa de álbum, uma capa de revista e o braço de uma garota
rapidamente. Desse jeito, ele parecia tão inacessível. Como se
houvesse uma barreira entre ele e os empresários que mantinham os
fãs afastados.
Nunca me senti tão distante de Robbie quanto neste momento.
Nem mesmo quando estava a milhares de quilômetros de distância.
Nem quando estava do outro lado de uma tela de televisão. Agora, a
apenas alguns metros de distância, sorrindo para uma foto com uma
fã que chorava, ele parecia mais afastado de mim e da minha vida do
que nunca.
Fiquei em silêncio durante os primeiros dez minutos de viagem.
Josie ou não percebeu, ou estava tentando corajosamente preencher
o silêncio falando a mil por hora sobre todas as histórias e piadas
que Minseok e Jaehyung haviam lhe contado. Eu soltava alguns
barulhos de concordância em intervalos regulares, mas não estava
ouvindo. Ir jantar com Robbie e seu grupo estava começando a
parecer um grande erro. Quanto mais tempo eu passava com ele,
mais me apaixonava. Não seria mais inteligente cortar isso agora
antes que fosse longe demais? Quase disse a Josie para dar meia-
volta uma dúzia de vezes.
Só quando entramos em uma rodovia que voltei para a realidade.
— Calma aí, aonde estamos indo?
Josie deu de ombros.
— Só estou seguindo o GPS até o endereço que eles nos deram.
Finalmente percebi a localização do restaurante.
— A gente vai entrar na cidade?
Não sei por que eu estava imaginando um jantar tranquilo no
restaurante local, como costumávamos fazer depois dos shows da
nossa banda do ensino médio. Mas é claro que um grupo como o
WDB não iria a um restaurante suburbano qualquer.
Não acabamos em um restaurante, mas em um pequeno hotel
boutique elegante. O saguão tinha um pé-direito alto com colunas de
mármore. Estava silencioso como um museu. O tipo de silêncio que
cheirava a dinheiro. A clientela desse lugar definitivamente esperava
um certo nível de serviço que nunca encontraria em hotéis comuns
de franquia.
Nossos passos ecoavam alto enquanto caminhávamos em direção
ao elevador.
— Com licença? — A voz parecia pretensiosa, beirando o sotaque
britânico, mas sem alcançá-lo totalmente. O homem usava um
elegante terno preto com gravata de cetim da mesma cor. Seu crachá
dizia apenas “Gerente”. O balcão de check-in estava entre nós e ele,
mas eu ainda sentia vontade de me afastar do homem.
— É com a gente? — perguntei, olhando ao redor.
— Sim, vocês são membros?
— Do hotel?
— Sim, apenas membros ou hóspedes do hotel podem subir.
— Somos convidadas do WDB — disse Josie, sua voz refletindo o
tom pretensioso. — Por que você não liga para o quarto 1603 e avisa
que Elena e Josie estão aqui?
— Quarto 1603? — perguntou, obviamente surpreso. Eu me
perguntei se era algum tipo de suíte VVIP.
Mas, antes que o homem pudesse pegar o telefone, Hanbin
apareceu no saguão.
— Meninas, que bom que chegaram. Posso subir com vocês.
Dei um último aceno de cabeça ao gerente, que ainda estava me
observando como se eu tivesse espalhado impressões digitais sujas
por toda parte.
Hanbin nos levou para o último andar. Precisou passar seu
cartão-chave para ter acesso a ele. Chique.
O melhor hotel em que eu já tinha ficado era um que tinha café
da manhã continental complementar. E os muffins estavam velhos.
Emergimos em uma área de jantar na cobertura cercada por
janelas do chão ao teto, que exibiam as vistas panorâmicas do lago, a
leste, e da cidade, a oeste. Embora houvesse duas dúzias de mesas, o
espaço estava vazio, exceto pelos garotos e alguns de seus
funcionários.
— O restaurante tá fechado? — perguntei.
Hanbin riu:
— Fechado ao público.
Josie se inclinou e sussurrou:
— Elena, este é um restaurante com estrela Michelin. O chef é,
tipo, famoso. Meus pais estão morrendo de vontade de comer aqui.
A lista de espera é de dois anos!
Meus olhos se arregalaram enquanto eu olhava para o espaço ao
redor. Devia haver pelo menos meia dúzia de garçons, todos
alinhados ao longo da parede como se estivessem a postos para o
menor sinal de que alguém gostaria de ser servido. A mesa central
era redonda, grande o suficiente para acomodar dez pessoas. Mas
apenas o grupo e Sooyeon estavam sentados lá, os empresários e
outros funcionários tendo optado por se sentar nas mesas menores
ao redor, como se fossem planetas na órbita do WDB.
Mas também não somos? Pensei. Quando você está perto de
pessoas tão brilhantes quanto as do WDB, não consegue deixar de se
concentrar nelas.
— Josie! Elena! Vocês vieram. — Minseok acenou para nós com
um sorriso brilhante.
Os garotos estavam todos agrupados em um lado da mesa,
Sooyeon no centro, entre Robbie e Jongdae. Josie rapidamente
sentou-se ao lado de Minseok, o que me deixou no lugar mais
distante de todos. Logo em frente a Robbie e Sooyeon.
— Valeu pelo convite — agradeci educadamente, tentando não
ficar encarando Robbie.
— Claro! A gente fica sempre tão empolgado depois de um show.
Tínhamos que fazer alguma coisa ou provavelmente íamos explodir
— explicou Minseok.
— Bem, sou grata de verdade pelo que vocês fizeram hoje.
Significa muito para todos no centro comunitário. — Eu não sabia
mais o que dizer. Odiava ser o centro das atenções; isso me deixava
inquieta. Olhei para Josie, que percebeu meu estranho sinal
silencioso.
Ela se voltou para a mesa:
— Então, o que vocês costumam fazer depois de um show?
— Comemos, muito — respondeu Jaehyung.
Olhei em volta, para a decoração chique do restaurante. Parecia
um daqueles lugares que serviam porções minúsculas e caras.
Quanto eles realmente comeriam aqui?
— Geralmente vamos a algum lugar que consiga lidar com o
enorme apetite do Jaehyung — explicou Minseok, como se estivesse
lendo minha mente. — Mas o chef daqui nos convidou.
— Ele convidou vocês? — Arqueei minhas sobrancelhas. Não era
à toa que fecharam todo o lugar, já que estavam aqui a convite
pessoal do chef.
Eu estava dando um gole na minha água lentamente quando o
assento ao meu lado se moveu, e Sooyeon se sentou nele. Quase me
engasguei com a surpresa, mas consegui engolir.
— Olá — disse Sooyeon com suavidade. Uau, até a voz dela era
bonita.
— É. Quer dizer, olá — falei, encolhendo-me por dentro com
minha falta de jeito. Ela era ainda mais bonita de perto.
— Eu me sinto tão mal por não termos tido a chance de
conversar. Não queria ser tão mal-educada. Fico nervosa antes de
shows em lugares novos. — Ela estava mesmo se desculpando
comigo, quando eu que a evitara o dia inteiro? Tentei analisar seu
rosto para ver se conseguia captar algum sinal de enganação, mas
Sooyeon realmente parecia estar sendo sincera. Realmente merecia o
título de “xodó da nação”.
— Ah, não. Tudo bem. Estávamos todos muito ocupados. —
Peguei minha água outra vez, agitando-a nervosamente até tirar
toda a condensação das bordas. — A propósito, obrigada pela
apresentação de hoje.
— Claro. Quando Robbie me contou sobre isso, achei uma causa
incrível. Ficarei feliz em postar sobre o centro comunitário
diretamente em minhas SNS também. Basta pedir para Robbie me
enviar o link da arrecadação de fundos.
Droga, por que ela tinha que ser tão legal? Por que não poderia
ser condescendente ou arrogante?
— Seria incrível — falei, aceitando que eu estava fadada a gostar
dessa garota, mesmo que ela tivesse roubado o coração de Robbie.
Fazia sentido. Sooyeon não apenas se encaixava no mundo
brilhante em que Robbie vivia; ela era a princesa dele. Muito mais
adequada para estar com ele do que alguém que tinha dois pés
esquerdos, um estilo de moda questionável com roupas de segunda
mão e não conseguia falar em público sem ficar vermelha como um
tomate.
— Você fez um ótimo trabalho na organização — disse Sooyeon
com um sorriso gentil.
Eu me encolhi, desconfortável com elogios:
— A água acabou bem rápido. E a gente deveria ter feito um
sistema melhor para informar às pessoas qual era o site da
arrecadação de fundos.
— Você continua uma baita perfeccionista — disse Robbie,
puxando a cadeira ao lado de Sooyeon. — Achei que você ia superar
isso.
— Querer antecipar as coisas não é perfeccionismo.
Robbie riu.
— Quando você quer antecipar cada coisinha como se realmente
tivesse poderes psíquicos, é.
Franzi a testa para isso. Eu não estava com humor para ter meus
defeitos expostos na frente da namorada perfeita de Robbie.
— Você tá precisando de alguma coisa? — perguntei, olhando
intencionalmente para sua antiga cadeira vazia.
— Só queria ter certeza de que vocês duas não tavam falando de
mim.
Balancei a cabeça:
— Nem tudo é sobre você, Robbie.
— Mas a maioria das coisas é. — Ele deu aquele sorriso arrogante
de idol, e eu queria ficar irritada, mas vi o brilho travesso em seu
olhar e ouvi o tom de autodepreciação em sua voz. Agora que eu
tinha me acostumado de novo com a cadência dela, era mais fácil de
perceber. Pena que essa familiaridade também me fazia pensar que
éramos mais próximos do que realmente éramos.
Decidi que era mais seguro ignorá-lo e focar Sooyeon:
— Então, é a sua primeira vez em Chicago?
— Sim, eu estava muito animada para ver onde ele cresceu nos
Estados Unidos. — Sooyeon sorriu largamente para Robbie.
— Você sabe que nunca cresci — disse Robbie, sorrindo em
resposta.
Sooyeon riu, e juro que a risada dela era como música.
— Sim, eu sei. Lembra quando você me enterrou durante aquele
episódio de Running Man, e Yoo Jae-suk me chamou de Ip-Sooyeon?
Esse apelido durou o ano inteiro. Não fique achando que eu esqueci.
— Ela deu um soquinho em Robbie.
Ele agarrou o próprio braço como se ela o tivesse machucado
fatalmente, e senti uma pontada no peito. Eu sabia que Robbie havia
construído uma vida completa depois que fora embora, mas acho
que pensei que ela fosse cheia de salas de ensaio e shows. Eu tinha
esquecido completamente o fato de que ele era um idol bonitão que
andava com outras celebridades lindas.
— O que significa? — perguntei, sentindo como se estivesse
sendo deixada de fora de uma piada.
— Ah, ip-soo-hada significa “entrar na água”. Ele só estava
fazendo um trocadilho. — Robbie e Sooyeon riram, e eu sabia que
estavam rindo da piada, mas, estranhamente, parecia que estavam
rindo de mim.
Uma fila de garçons saiu da cozinha, cada um carregando um
prato. Eles circularam a mesa antes de colocar os pratos na nossa
frente, como uma dança ensaiada. Um homem apareceu, vestindo
uma roupa de chef. Fiquei surpresa ao ver que era coreano. Ele falou
com um leve sotaque sulista e explicou sua filosofia de misturar os
sabores da Coreia com outras cozinhas e disse que esperava que
apreciássemos o menu degustação que tinha preparado para a noite.
O prato à minha frente parecia com tteokbokki, por causa de seus
longos túbulos de arroz, mas o molho era leve e cremoso em vez do
vermelho picante com que eu estava acostumada. Aparentemente,
ele tinha misturado tteok com um molho de queijo e trufas. A comida
derreteu em minha boca assim que a provei; fechei os olhos e senti
como se tivesse ido para o céu.
Devorei o prato inteiro e estava me perguntando se seria rude
lambê-lo quando notei que Sooyeon não havia tocado no dela.
— Tá tudo bem? — perguntei a ela.
— Ah, sim. Eu só não posso comer carboidratos ou laticínios —
disse Sooyeon.
— Nunca? —perguntei, chocada. Certo, talvez ser Sooyeon não
fosse tão bom assim. Eu morreria sem pizza e rosquinhas.
— Na maioria das vezes. Mas definitivamente não quando estou
promovendo. — Ela suspirou. — Tudo bem. Vou tomar só uma água
saborizada.
— E quando sentir que vai desmaiar, coma um pedacinho de
queijo — murmurei.
— O Diabo Veste Prada! — disse ela com um sorriso.
Uau, agora eu queria namorar Sooyeon.
Recebemos mais sete pratos, cada um mais incrível que o outro.
Uma fusão de galbi-jjim, ou seja, costelas refogadas. Bibimbap feito
com poutine em vez de arroz. Kimchi feito com coisas que eu nunca
imaginaria, como couve e couve-de-bruxelas; um foi até feito com
maçã. Kimbap, ou seja, rolinhos de algas, feitos com ovo em vez de
arroz. (Este Sooyeon podia comer, embora ela ainda os pegasse com
bastante cautela.)
Quando o jantar terminou, recostei-me na cadeira, perguntando-
me se seria falta de educação desabotoar a calça. Observei
maravilhada enquanto Jaehyung devorava mais porções. Ele se
ofereceu para comer os restos de Sooyeon e estava se
empanturrando com uma segunda porção de galbi-jjim.
― Ele é um buraco negro. — Eu me peguei dizendo.
― Isso não é nada. Fui a um buffet livre com ele uma vez e pensei
que o gerente fosse ter um aneurisma com o quanto ele comia ―
contou Sooyeon com uma risada.
― Bem, estou cheia ― anunciou Josie, jogando o guardanapo
sobre a mesa. ― Qual é a próxima?
― Acho que deveríamos ir ― comecei a dizer, mas Minseok me
interrompeu.
― Agora, para o after do after na nossa casa!
Meus olhos se desviaram para Robbie, que estava bebendo o
resto de sua Coca Zero.
― Vocês não precisam se sentir na obrigação de convidar a gente
― informei lentamente, esperando para ver se ele diria alguma coisa.
Eu não me sentia tão insegura com alguém desde que tive um
crush irracional em Luca Mendoza, há três anos. Ele era um veterano
do time de lacrosse, e seus olhos eram de um tom estranho de cinza,
como os de um lobisomem (não tão no estilo assassino durante a lua
cheia). Fiquei na escola depois do horário por duas semanas para
encontrar Ethan, só para poder assistir Luca correr pelo campo de
lacrosse. Mas acho que ele nunca soube meu nome.
― Não se deve ir embora com o estômago cheio. É preciso esperar
pelo menos trinta minutos ― insistiu Minseok.
Franzi a testa:
― Isso é antes de nadar.
― É nisso que eles querem que você acredite. ― Minseok me
ofereceu sua mão como um pretendente charmoso em um baile de
debutantes.
Eu ri, mas peguei a mão dele.
― Tudo bem, vamos ficar mais trinta minutos.
Minseok puxou a cadeira de Josie com todo o drama de um ator
de época e nos ofereceu os dois braços, então não tivemos escolha a
não ser pegá-los. Ele nos conduziu pelo corredor até o que parecia
ser um elevador particular que funcionava através de um cartão-
chave. A decoração era feita de mármore e ouro, tão brilhante que eu
conseguia ver meu reflexo nas paredes. Apenas metade de nós cabia
lá dentro, então Robbie, Sooyeon e Jongdae tiveram que ficar para
trás. Meus olhos se demoraram em Robbie enquanto as portas se
fechavam, mas ele já havia se virado para Sooyeon e estava
murmurando algo no ouvido dela. Ouvi a risada dela quando as
portas se fecharam.
Quando o elevador se abriu outra vez, eu estava esperando ver
um corredor e fiquei boquiaberta quando a porta deu diretamente
para uma suíte de hotel. Outro sinal de que este não era o tipo de
lugar em que eu me hospedaria. Era como entrar em um
apartamento de luxo, não em um hotel. Não havia sequer uma cama
à vista. Apenas uma grande sala de estar com móveis brancos e
elegantes. Uma pequena cozinha com balcões de mármore. E um bar
de verdade, com garrafas de licor de tamanho normal e copos de
cristal.
Josie se jogou no sofá ao lado de Jaehyung, que já havia pegado
um recipiente cheio de nozes e estava mastigando alegremente como
se não tivesse acabado de devorar dois jantares gourmet.
O elevador chegou novamente, deixando Robbie e os outros no
quarto. Tentei não deixar transparecer que estava esperando por ele
e peguei um vaso de cristal como se o tivesse estudando. Virando-o,
percebi que era um Swarvoski e o coloquei de volta imediatamente,
certificando-me de que ele estava firme antes de soltá-lo com
cuidado.
― Ei! Vamos jogar mimica! ― gritou Josie.
― Por quê? ― perguntei.
― Porque não precisamos falar para jogar ― respondeu Josie com
uma piscadela para Jun e Jaehyung.
― Sua amiga é engraçada ― disse Minseok. ― Mas ela fala rápido
demais para os meninos entenderem.
Eu ri, grata pelas travessuras de Josie para me distrair dos meus
nervos.
― Tudo bem, tô dentro.
― Eu também ― disse Sooyeon, entrelaçando seu braço no meu.
― Fi-ca no meu time, Elena.
Não pude deixar de aceitar que Sooyeon era legal demais para
que eu mantivesse minhas barreiras erguidas, então concordei:
― Claro, por que não? Mas fique sabendo que sou muito
competitiva.

Se você tivesse me dito há duas semanas que eu estaria brincando e


jogando com um grupo de estrelas pop internacionais, eu teria
respondido que você tinha batido a cabeça. Mas, relaxando em sua
suíte de hotel e rindo das travessuras uns dos outros, eles não eram
tão intimidadores.
Quer dizer, ainda eram lindos, mas também reais. Jaehyung era
tímido e doce. Eu gostava de como sempre sorria para mim de forma
tranquilizadora. Como se duas almas introvertidas pudessem se
reconhecer. Jun era realmente engraçado. Estava sempre dizendo
coisas improvisadas que faziam os outros rirem.
Até Jongdae não conseguia resistir e sorria com as tentativas de
Josie de encenar títulos de filmes. E ele tinha se levantado para
encher o copo de Sooyeon sem dizer uma palavra. Eu me perguntei
se Jongdae estava sendo tão legal por causa do relacionamento
amoroso dela com Robbie.
― Muito bem, e agora? ― perguntou Minseok, esfregando uma
mão na outra. ― Mais uma rodada?
― Não, se eu tiver que ver o Jun imitar mais uma cena de beijo
com as próprias mãos, vou arrancar meus olhos ― anunciou
Jongdae.
― Você é um estraga-prazeres ― disse Minseok.
Robbie riu ao meu lado. Enquanto cada um de nós ia se
levantando durante o jogo, nossos assentos foram sendo
reorganizados, e acabei ao lado dele no sofá.
Ele segurava um violão que antes estava encostado contra o sofá
e o afinava lentamente.
― Toca alguma coisa, Robbie ― pediu Josie.
― Sim, toca aquela canção de amor ridícula que você costumava
cantar quando a gente era trainees ― brincou Minseok.
― Que canção de amor? ― perguntei.
― Nenhuma. ― Robbie encarou Minseok. ― Eu nem sei do que ele
tá falando.
― Você não lembra? ― perguntou Minseok, incrédulo. ― Ai, meu
Deus. Ela ficou incrustada no meu cérebro de tanto que você tocou.
― De quem é? ― questionei.
― Não sei ― disse Minseok. ― Mas ficou grudada na minha
cabeça porque o Robbie tocava toda hora. ― Ele cantarolou um
pouco e, para meu espanto, reconheci a melodia da música que
escrevi com Robbie quando éramos crianças.
― É nossa música ― virei-me para Robbie, surpresa. ― Você
continuou trabalhando nela?
Robbie encolheu os ombros:
― Não, ela só não saía da minha cabeça, então eu tocava às vezes.
Fiquei estranhamente satisfeita com a ideia de que, mesmo
quando Robbie estava no caminho de se tornar uma grande estrela,
guardava algo de seu tempo comigo.
― Por que você não toca?
― Qual é. ― Robbie riu. ― É só uma melodia básica. Não é nem
uma música.
Senti minhas bochechas corarem de vergonha pela rejeição dele.
O prazer que eu tinha sentido ao ouvir que ele lembrava da música
desapareceu.
― Toca aquela que você coescreveu na primavera passada ― disse
Sooyeon.
― Pode ser. ― Robbie deu de ombros.
Tentei não ficar amargurada por ele estar tão disposto a atender o
pedido dela e não o meu.
Ele começou a dedilhar, e uma melodia lenta e doce se fez ouvir.
E, mesmo antes de ele começar a cantar, eu sabia que era uma
música sobre perda. Sua voz era baixa e cadenciada, tão diferente de
como soava no palco.
― É sobre o quê? ― Ouvi Josie perguntar.
E os olhos de Robbie se voltaram para Josie enquanto ele fazia
uma transição perfeita para a letra em inglês.
Ele cantou sobre um garoto que saiu em busca de seu primeiro
amor. Mas ela se foi, e ele não conseguiu encontrá-la novamente.
Então, vagou pela costa. O sal do mar misturou-se com suas
lágrimas, criando linhas em seu rosto que se transformaram nas
rugas do tempo e da idade. E ele nunca a esqueceu.
― A música deveria ser em inglês? ― perguntei a Minseok.
Ele riu.
― Não, o Robbie tá só se exibindo.
Estava traduzindo a letra na hora? Como? Era tão bonita.
Ele voltou para coreano no próximo refrão, e Sooyeon se juntou a
ele. Suas vozes se misturaram bem. Era uma música mais
melancólica do que as que ela costumava cantar, mas, de alguma
forma, combinava com sua voz. Realçava bem seu tom rouco.
Os olhos de Robbie se voltaram para mim enquanto ele cantava
os últimos versos, pronunciando-os lentamente. E, mesmo que
estivessem em coreano, eu conseguia entender o significado. Eu vou
esperar por ela. Ela nunca virá. Mas vou esperar por ela noite adentro.
Quando ele tocou a última nota, todos aplaudiram.
― De onde é? ― perguntei.
― Fez parte da trilha sonora original de um drama ― disse
Robbie.
― Foi lindo ― falou Josie, enxugando suas bochechas úmidas.
E percebi que também estava chorando. Era por isso que Robbie
estava olhando para mim com tanta atenção? Eu estava fazendo
papel de idiota na frente dele de novo?
― Muito bem, vamos melhorar o clima. Toca algo mais animado!
― exigiu Minseok.
Robbie pensou por um momento; então, os acordes iniciais da
música de estreia deles soaram.
― Aaah! ― Minseok pulou com Jaehyung. Eles começaram a
cantar juntos.
Meu pulso estava acelerado como se eu tivesse acabado de correr
uma maratona. E fiquei preocupada que meu rosto estivesse uma
bagunça por causa do choro. Então me espremi para fora do meu
lugar no sofá e fui procurar um banheiro.
A suíte era enorme, com três quartos separados. Dois deles eram
conectados por um banheiro compartilhado, e me tranquei lá dentro.
Olhei para o meu rosto no espelho. Não estava tão ruim quanto
tinha pensado, mas joguei um pouco de água nele. Eu não conseguia
parar de pensar em como Robbie olhou para mim enquanto cantava
aquela música. Como se ele estivesse tentando me dizer algo. Mas o
quê? E por que meu coração ainda batia tão rápido? Pressionei uma
mão sobre meu peito, como se, assim, pudesse desacelerar meu
pulso.
Esse crush que eu estava desenvolvendo por Robbie tinha que
parar. Eu conseguia prever exatamente como isso terminaria, e
definitivamente seria em desastre. Tentei me lembrar de todas as
coisas ruins que ele já tinha feito comigo desde que voltou.
Ele me envergonhou na frente da escola inteira. Mas se desculpou
por isso, pensei.
Os paparazzi na frente do centro. Um mal-entendido.
Fazer com que eu sentisse falta dele mais uma vez. Pronto. Não
havia desculpa fácil para isso.
Quando abri a porta do banheiro, Sooyeon estava lá, e dei um
pulo para trás, surpresa.
― Você tá bem? ― perguntou com uma risada.
― Só um pouquinho assustada ― admiti.
― Sim, fico sempre com a adrenalina alta depois de um show. ―
Ela sorriu, e seu sorriso iluminou seu rosto. Como se isso fosse a
razão de tudo, essa sensação radiante depois de uma apresentação.
― Você foi incrível hoje. Adorei sua música.
― Obrigada ― disse Sooyeon. ― Com certeza é uma das favoritas
dos fãs.
― É muito alegre e divertida.
― Essa sou eu. A alegre e divertida Sooyeon. ― Ela sorriu, mas o
sorriso não alcançou seus olhos.
Eu me lembrei de quão maravilhosamente impressionante sua
voz tinha soado enquanto ela cantou com Robbie.
― Você consideraria fazer algo diferente um dia?
― Talvez ― disse ela. Então se inclinou em minha direção de
forma conspiratória. ― Posso te contar um segredo?
― Ah ― falei, pega de surpresa. ― Claro.
― Tenho uma ideia de um rumo diferente para o meu próximo
álbum. Algo que misture soul e folk-pop. Venho dando dicas à
minha empresa.
― Ah! ― Fiquei surpresa que ela estava me confiando essa
informação. Mas, quanto mais eu pensava nisso, mais podia ver que
combinava com a voz dela. ― Que incrível. Acho que funcionaria
muito bem para você.
― Sério? ― Ela parecia tão feliz, e eu senti um brilho caloroso por
ter sido a pessoa que a fez sorrir. Vi porque Robbie gostava dela. Era
alguém que fazia você se sentir feliz quando estava feliz.
― Então, há quanto tempo você e o Robbie se conhecem? ―
perguntei, decidindo que deveria ser uma boa amiga e, pelo menos,
tentar ficar feliz por eles.
― Estreei no mesmo ano do WDB, então, quatro anos? ― Sooyeon
sorriu melancolicamente. Como se fossem boas lembranças para ela.
Lembranças de Robbie.
― Dá para ver que vocês são muito próximos. ― Será que minha
voz soou tensa?
― Sim ― respondeu com outro daqueles sorrisos nostálgicos, e, de
repente, meu estômago pareceu ter dado um nó.
― Vou lá pegar uma bebida ― falei, precisando de um minuto
para me recompor. ― Você quer uma?
― Claro.
Sem pressa nenhuma, peguei uma Coca para mim e uma água
saborizada para ela. Recomponha-se, Elena. Sooyeon era ótima. Se ela
não fosse uma celebridade super famosa, acho que poderíamos nos
tornar amigas íntimas. Bateria mais uns dez minutos de papo
furado; então acharia Josie e inventaria alguma desculpa para que
pudéssemos ir embora. Eu ficaria bem. Com as bebidas em mãos,
voltei para os sofás, mas não vi Sooyeon. Talvez ela tivesse precisado
usar o banheiro. Mas, quando fui lá, também estava vazio. As latas
estavam começando a congelar meus dedos, então as coloquei no
balcão no momento em que vi um movimento no outro quarto e um
murmúrio de vozes.
― Sooyeon? ― chamei, passando pelo banheiro e abrindo a porta.
Parei imediatamente quando vi Sooyeon e Jongdae em um abraço
que, definitivamente, não poderia ser confundido com um gesto de
amizade.
Vinte e sete

― Elena! ― disse Sooyeon, chocada, afastando-se de Jongdae.


― Sinto muito ― falei e dei meia-volta, escapando para a sala em
que estava anteriormente. Jongdae me alcançou, bloqueando meu
caminho enquanto eu tentava fugir. Parecia irritado.
― Acho melhor você não contar para ninguém ― avisou, os
músculos de sua mandíbula se contraindo.
― Oppa, para com isso. ― Sooyeon nos alcançou e puxou o braço
de Jongdae. JD nem piscou, seus olhos ainda me perfurando. Parecia
que estavam queimando buracos a laser no meu crânio. Mas, com
um puxão forte, Sooyeon conseguiu fazer com que ele se
concentrasse nela. ― Me deixa falar com a Elena.
Jongdae parecia estar prestes a protestar, mas Sooyeon cruzou os
braços e disse com firmeza:
― Sozinha, Oppa.
Ele finalmente cedeu e se virou para sair, mas não antes de me
olhar ameaçadoramente e dizer:
― Se isso vazar, vou saber que foi você.
Havia uma pequena sala de estar dentro do quarto, com duas
poltronas e uma mesinha de centro, que estavam cobertas de
cadernos e papéis. Sooyeon se sentou em uma das cadeiras e, não
querendo apenas ficar em pé desajeitadamente, peguei os papéis que
cobriam a outra e me sentei também.
― Sinto muito por Jongdae-oppa ― começou ela.
― Ele tava tão bravo comigo.
― Não, não com você. ― Sooyeon me assegurou. ― Acho que ele
tava bravo consigo mesmo. A gente estava sendo imprudente.
Somos inteligentes demais para fazer esse tipo de coisa quando
temos companhia. É só que eu não via o Oppa há semanas por causa
da turnê deles.
― Então, vocês dois tão… — Não terminei a frase, sem ter certeza
se deveria falar a palavra.
— Eu amo o Jongdae — disse ela baixinho com um pequeno
sorriso curvando seus lábios.
— Se você ama, então por que não pode simplesmente anunciar
que estão juntos? Isso ia fazer tão mal à sua imagem? — Eu sabia
que os fãs, às vezes, ficavam muito intensos sobre o namoro de seus
idols. Especialmente uma com a imagem de xodó fofa como a que
Sooyeon tinha. Isso significaria um flood de mensagens. Uma criação
de hashtags de repúdio. Às vezes, os fãs até alugavam grandes
caminhões para estacionar do lado de fora da casa ou da empresa de
um idol com uma mensagem de desaprovação. Mas realmente valia a
pena viver se escondendo?
— Não se trata apenas de imagem. Se fosse só isso, eu contaria ao
mundo inteiro amanhã — disse ela, sua voz cheia de paixão. — Mas
minha empresa não é tão… relaxada quanto a Bright Star.
A Bright Star era considerada relaxada? Quando os meninos
tinham funcionários os seguindo 24 horas por dia, 7 dias por
semana?
— Eu era muito jovem quando assinei meu contrato. Queria ser
cantora mais do que tudo no mundo e não queria estragar minha
chance. Então, não pensei muito sobre todas as cláusulas extras. Mas
minha empresa exige que seus artistas não namorem por pelo menos
quatro anos após o debut.
― Isso está mesmo no contrato? ― perguntei, chocada. Parecia um
pouco demais. Uma empresa poderia mesmo controlar a sua vida
pessoal só porque você era uma celebridade?
Ela assentiu.
― Realmente não pensei que eles levariam isso tão a sério quando
eu era apenas uma trainee. Havia algumas unnies na empresa que
tinham namorados secretos. Mas a maioria dos relacionamentos
terminou logo depois do debut. E então, no ano passado, duas das
minhas sunbaes foram pegas namorando em segredo. A empresa
cancelou seus contratos imediatamente. Sem dar segunda chance.
Simples assim.
― Que terrível. Não acredito que eles são tão rigorosos.
― É um setor competitivo. Todo mundo tem sua própria ideia do
que está disposto a fazer para ter sucesso. ― Ela deu de ombros
como se não houvesse nada a ser feito sobre o controle totalitário
estrito que a empresa tinha sobre suas vidas.
Hesitei por um momento e, então, perguntei lentamente:
― Se eles são tão rigorosos, então por que…
― Por que estou correndo o risco? — perguntou com uma risada
autodepreciativa. E eu me senti mal por trazer isso à tona. Ela
parecia tão infeliz. — O ano do debut foi mais difícil do que eu
esperava. Atendia ligações às 4 da manhã. Nunca chegava em casa
antes da meia-noite. Encaixava os ensaios quando dava. Comia
quando dava, mas tinha que ter cuidado com o peso o tempo todo.
Era como estar em um campo de treinamento. Campo de
treinamento de celebridades. ― Sooyeon riu, mas não havia
nenhuma alegria em sua risada.
Fiquei surpresa com a honestidade dela comigo. Toda vez que
Sooyeon dava uma entrevista sobre seu debut, sempre afirmava que
tinha sido um sonho. O melhor ano de sua vida. Eu já tinha ouvido
falar que ser um idol novato era difícil, mas sempre presumi que eles
nunca falavam sobre isso. Tipo Clube da Luta.
― Os garotos estrearam no mesmo ano que eu. Acabamos no
mesmo circuito de shows e eventos, sempre nos encontrando no
Music Bank ou no Inkigayo. Era bom ter amigos com quem
compartilhar a dor. No começo, Jongdae-oppa era apenas meu
amigo. Era meu confidente quando eu estava me sentindo mal e
vice-versa. Mas então, no ano passado… — A voz dela ficou baixa,
uma pequena linha se formando entre suas sobrancelhas. — Minha
mãe ficou doente. E, com minha agenda apertada, não pude ir para
casa ficar com ela. Tanto Jongdae quanto Robbie perderam um dos
pais quando eram mais jovens. Eles entendiam. Nós nos
aproximamos bastante. E as coisas entre mim e Jongdae meio que…
evoluíram.
Lembrei-me das pontadas de ciúmes que fiquei sentindo o dia
todo por causa da proximidade de Sooyeon e Robbie. E agora,
ouvindo a história dela, eu me senti uma completa idiota pelo tanto
que minhas preocupações pareciam totalmente superficiais. Estava
me permitindo ser consumida por paranoias e agi como uma idiota o
dia inteiro sem motivo. Por que não tinha simplesmente
perguntado?
Eu sabia a resposta para isso. Porque tinha certeza que a resposta
seria a mais dolorosa. Frequentemente era assim para mim.
— Não percebi que estava me apaixonando tanto por ele até que
já era tarde demais — confessou Sooyeon. — Tentamos negar e ficar
longe um do outro. Mas, quanto mais nos aproximamos do final da
minha cláusula, mais forte meu amor por Jongdae fica. E eu só
preciso estar perto dele. Para me assegurar de que tudo ainda está
do mesmo jeito, de que ainda vamos estar juntos quando estivermos
livres.
— Se ele te ama, vai esperar por você — apontei.
— Ele esperaria por mim, com certeza. — Sooyeon sorriu, o tipo
de sorriso que eu reconhecia, que aparecia sempre que Sarah estava
caidinha por algum novo namorado. — Não é culpa do Oppa eu não
conseguir tirar minhas mãos dele.
Uau, isso definitivamente não estava de acordo com a imagem de
xodó fofa.
— Sei que podemos confiar em você, Elena. O Robbie sempre
sabe quando alguém é bom caráter, e ele gosta muito de você —
disse ela.
Por alguma razão, suas palavras causaram um nó em minha
garganta. Comecei a mexer com os papéis ainda em minhas mãos, a
empilhá-los ordenadamente.
— Prometo que não vou contar a ninguém — falei. Deveríamos
jurar de mindinho? Ou seria muito infantil para a situação?
Fui salva de ter que decidir quando a porta se abriu, e Robbie
entrou.
— Elena, você tá bem? O Jongdae tava dizendo…
— Tá tudo bem — disse Sooyeon, levantando-se para pegar as
mãos dele e tranquilizá-lo. — Elena tá bem. Eu tô bem. O Jongdae
vai se acalmar em breve também.
— Bom, talvez você tenha mais sorte para lidar com ele. Está em
um daqueles humores. — Robbie anunciou a palavra com um olhar
significativo.
Sooyeon suspirou:
— Onde ele tá?
— Na outra suíte — informou Robbie. — Achei melhor que ele
gastasse sua energia em algum lugar mais privado.
Com um aceno de cabeça, Sooyeon foi atrás dele.
— Tem certeza que tá bem? — Robbie me perguntou.
— Sim, tô bem — comecei a assegurá-lo, mas Robbie ficou imóvel
de repente. Seus olhos estavam fixos nas minhas mãos, que ainda
estavam colocando os papéis sobre a mesa. — Ah, desculpa. São
seus?
Pela primeira vez, realmente olhei para eles. Eram partituras com
notas e letras rabiscadas sobre as notas. Coreano em uma coluna,
inglês em outra. E, antes que pudesse evitar, passei os olhos pela
primeira página.
— Não percebi que não tinha guardado — disse ele, começando a
estender a mão para pegar os papéis. Mas eu o afastei, ainda lendo.
— Isso é bom — falei enquanto virava para a próxima página e
lia mais da letra.
Robbie pigarreou.
— Valeu.
— Não, Robbie, isso é tipo muito, muito bom. — Finalmente olhei
para ele.
Não era uma canção de amor ou uma música dançante como de
praxe no WDB, mas falava sobre a ansiedade e a depressão que
poderiam advir de ser um adolescente diante de adultos que exigem
que você se defina. Falava da pressão de conseguir alcançar o que se
busca. E de ser bom o suficiente para ser escolhido, ou então correr o
risco de cair em uma multidão sem rosto. E, caso isso acontecesse,
será que seus pais se arrependeriam das esperanças e sonhos que
depositaram em você? Como corresponder a essas expectativas?
Era como se Robbie tivesse atingido minha alma e desenterrado
todas as minhas inseguranças mais profundas. A letra falava tão
honestamente sobre ansiedade e estresse. Abaixei os papéis, e ele
finalmente pegou a pilha de mim, guardando-os em uma gaveta.
— Robbie, essa música… — Não concluí a frase, não conseguindo
encontrar as palavras certas.
— É apenas experimental — disse, com um gesto desdenhoso. —
Só estou me divertindo, não é nada sério.
— Nada sério? — falei, tomando as dores da música. — Robbie,
você é talentoso pra caramba, sabia? — Eu estava praticamente
gritando agora, mas não conseguia me segurar. — Por que não
compartilharia isso com o mundo? Tem ideia do que eu daria para
ter metade do seu talento e da sua energia?
Robbie pareceu chocado com minha falta de controle. Para ser
honesta, eu também estava.
— Elena, eu não quis dizer isso.
— Então, você vai mostrar isso para sua empresa?
Robbie hesitou antes de responder:
— É complicado. Essa música pode ser diferente demais. A
empresa não gosta muito que a gente fale sobre assuntos sérios em
nossas músicas.
— Isso é ridículo. — Comecei a andar de um lado para o outro,
sentindo uma onda de frustração por não conseguir me expressar
tão bem quanto Robbie tinha conseguido em apenas algumas
estrofes. E ele queria esconder isso em alguma gaveta? — Você é um
baita artista, sabia? Essa música obviamente veio de algum lugar
muito pessoal. A empresa seria completamente estúpida, se não
enxergasse que essa música é incrível. — Tentei pensar em um jeito
de convencê-lo. — Josie sabe organizar petições online, aposto que
poderíamos começar uma para fazer com que sua empresa permita
que você escreva mais músicas como esta.
Robbie riu e me agarrou pelos pulsos, então fui forçada a parar
no meio do caminho.
— Você acha mesmo que ela é boa assim?
Fiz uma pausa, percebendo que ele estava sinceramente pedindo
minha opinião.
— Sim. — Virei minhas mãos para poder segurar as suas,
esperando que ele pudesse enxergar a verdade em minhas palavras.
— Quer dizer, não sou compositora profissional nem nada, mas
estou te dizendo que essa música é cheia de significado. Você precisa
gravá-la.
Ele entrelaçou seus dedos nos meus, segurando firme:
— Significa muito ouvir isso de você.
As mãos de Robbie eram quentes, e, quanto mais ele segurava as
minhas, mais consciente disso eu ficava. Minhas palmas estavam
começando a suar? Ele percebeu? Pensei em soltar, mas minha
imagem, tentando me livrar de suas mãos enquanto ele olhava
boquiaberto para meu surto, cruzou minha mente. E tentei
compensar ficando tão imóvel quanto possível.
Tentando fingir que não fui afetada pela quantidade de tempo
que estávamos passando de mãos dadas, falei:
— Bem, eu fui coautora da sua primeira música. Então, tenho
uma perspectiva única dessa situação toda.
— Você tem mesmo. — Ele sorriu, e nós dois estarmos de pé
assim, de mãos dadas, pareceu, de alguma forma, muito íntimo.
Eu deveria me afastar? Perguntei-me. Estávamos de mãos dadas há
muito tempo? Isso daria a impressão errada?
Mas talvez essa fosse exatamente a impressão que eu queria dar.
Talvez devesse lhe dizer que não pensava nele apenas como um
amigo. Mas… e se não se sentisse do mesmo jeito? Não, era melhor
não arriscar. Eu sabia que funcionaríamos como amigos; já
funcionamos assim antes. Por essa estrada, eu sabia muito melhor
por onde andava.
— Hoje foi divertido — falei sem jeito.
Robbie assentiu:
— Fico feliz por termos passado um tempo juntos depois do
show. Quase não te vi no centro.
Sim, porque eu estava evitando você como uma perdedora patética e
enlouquecendo por causa de uma garota que, na verdade, é a namorada
secreta do seu primo, pensei.
Mas, em voz alta, falei:
— Sim, eu também.
— Talvez a gente possa passar mais tempo juntos enquanto estou
na cidade? — perguntou Robbie.
— Talvez — respondi, tentando não deixar meu coração bater
forte demais com a expectativa da ideia.
— Será que talvez você gostaria de passar um tempo comigo no
baile? — perguntou Robbie, tão hesitante que teria sido fofo, só que
a palavra “baile” me atingiu como um balde de água fria na cara.
Agora me afastei, e Robbie me soltou, como se já estivesse
esperando por isso.
Uma grande parte de mim queria dizer “sim”. Muitos dos meus
motivos para não ir ao baile não existiam mais. A arrecadação de
fundos do centro estava indo bem. Tecnicamente, agora eu estava no
comitê de planejamento do evento. E era Robbie quem estava me
convidando. O que eu sempre quis. Então, por que me sentia tão
relutante?
— Por que isso é tão importante para você? — perguntei,
juntando minhas mãos e torcendo-as com nervosismo. Por alguma
razão, parecia que alguma coisa estava faltando aqui. Uma peça do
quebra-cabeça que me ajudaria a entender o quadro geral.
— É importante. — Robbie fez uma pausa para pensar. — Porque
eu preciso ir ao baile com você — finalizou.
Fiquei tão surpresa com a resposta que deixei escapar uma risada
curta.
— Você não acredita em mim? — Robbie franziu a testa.
— Claro que não — falei, ainda dando umas risadinhas.
— É a verdade.
— Então é uma verdade que parece mentira. — Dei de ombros.
— Tudo bem, mas você ainda tem que responder a minha
pergunta. Você vai ao baile comigo ou não?
Ele estava me observando atentamente, esperando minha
resposta.
No final das contas, tínhamos feito uma promessa. E essa
promessa fora a única coisa a me fazer rir no dia em que foi feita.
Todo o resto tinha sido tão triste, e ela tinha me dado esperanças de
que nos veríamos outra vez. Então, eu conseguia entender por que a
promessa era importante para ele. Era importante para mim
também.
— Tudo bem — falei.
E um sorriso gigante e cheio de dentes se espalhou pelo rosto
dele. Seu sorriso de verdade. Aquele que fazia seus olhos se
apertarem como se estivéssemos compartilhando um segredo.
— Mas como amigos, certo? — Eu me peguei dizendo, como se
tivesse que dizer isso primeiro. Porque se fosse eu quem dissesse,
doeria menos.
— Sim — disse Robbie. Seu sorriso pareceu diminuir? Eu
estraguei o clima? Bem, agora era tarde demais. “Claro que vamos
como amigos. — Robbie pegou minha mão novamente. — Bons
amigos que cumprem suas promessas.”
Vinte e oito

Robbie estava sentado em sua cama, folheando a partitura


que havia escondido na gaveta. Continuava voltando para a música
que Elena tinha lido. As palavras dela ecoavam como uma memória
calorosa, e ele se viu sorrindo enquanto lia a letra.
— Ei — disse Jongdae, parado na porta que ligava seu quarto de
hotel ao de Robbie. — Você tá bem?
— Sim, por quê? — perguntou Robbie, enfiando a partitura na
gaveta da mesa de cabeceira.
— Sinto muito por ter tratado a Elena daquele jeito — disse
Jongdae, deitando-se de costas ao pé da cama de Robbie.
— Sooyeon te disse para falar isso?
— Não. Eu realmente sinto muito.
— Então você devia estar dizendo isso para Elena.
— É. — Jongdae passou as mãos pelo rosto como se carregasse o
peso do mundo todo sobre os ombros. Às vezes, parecia que
carregava mesmo. Robbie não queria estar no lugar dele, que tinha a
posição de líder do WDB e o dobro de compromissos comparado ao
resto dos garotos. Ele era o rosto do grupo, e sua carga de trabalho
deixava isso bem claro.
— A Elena é leal, Hyung. Ela nunca contaria a ninguém sobre
você e Sooyeon.
— Quer dizer, se você confia nela, então eu também confio —
disse Jongdae, sentando-se. — Arruinei sua chance de convidar a
Elena para o baile de novo?
— O que te faz pensar que eu a convidaria de novo? —
perguntou Robbie, seu estômago dando um nó como se ele tivesse
comido algo que não caiu bem.
— Ouvi Hanbin-hyung te dizendo que era a chance perfeita
depois que arrasamos naquele show para o centro comunitário dela.
Robbie odiava como aquilo fazia tudo parecer tão calculista, e sua
sensação de enjoo se intensificou. Uma sensação que agora
conseguia identificar como culpa.
— Convidei.
Jongdae endireitou sua postura, seu olhar se tornando afiado:
— O que ela disse desta vez?
— Ela disse “sim”.
— Ela disse “sim”? — gritou Jongdae, um sorriso se espalhando
por seu rosto. — Que ótimo, Robi-ya!
— É — disse Robbie, mas isso não parecia mais tão bom assim.
— Qual é! Significa que a primeira etapa está concluída. Agora
que ela disse “sim”, vamos poder ver como o público reage a alguém
do grupo namorando.
— Sim, sobre isso… — disse Robbie lentamente.
— O quê? — Jongdae franziu a testa, a confusão evidente em seu
rosto. — É um bom plano.
— Mas eu não tô namorando a Elena de verdade. Ela disse que
íamos apenas como amigos.
— Tudo bem — falou Jongdae. — A gente só precisa fazer
parecer, nas redes sociais, que você tá namorando.
— Para mim, isso parece mentira — disse Robbie, franzindo a
testa.
— Não é. Não vamos afirmar que você tá namorando. Vamos
negar tudo oficialmente em algumas semanas, assim que voltarmos
para Seul, quando as coisas voltarem ao normal.
Robbie não gostou de como Jongdae parecia tão casual. Como se
pensasse que ele estava sendo dramático demais.
— Só não quero correr o risco de machucar a Elena. Ela é minha
amiga. — Mas, por alguma razão, a palavra “amiga” não parecia
suficiente para definir seus sentimentos. Não mais.
— Eu sei. É por isso que é um bom paralelo, certo? Os fãs já
sabem que Sooyeon e eu éramos amigos desde o debut. Portanto,
Hanbin deu um bom argumento quando disse que essa é a
comparação mais próxima. Além disso, você consegue imaginar
algum dos outros caras tentando fingir namorar alguém? Eles
provavelmente se apaixonariam de verdade. — Jongdae riu.
— Sim, seria ridículo, não é? — murmurou Robbie. Agora o mal-
estar havia se transformado em náusea. — É só que, quando Hanbin
explicou tudo, ele fez parecer que seria uma troca justa. Eu ajudaria
a testar o terreno do WDB no assunto de namoro, e ele pressionaria a
empresa para o meu debut solo na próxima reunião de
desenvolvimento.
— É o seu sonho, Robi-ya. E suas músicas são boas. Você merece
isso — Jongdae deu um tapinha em seu ombro.
— Então por que eu tenho que passar por tantos obstáculos para
conseguir? — perguntou Robbie, frustrado. Por que eu tenho que,
potencialmente, machucar alguém de que gosto para conseguir?
— Achei que você tivesse gostado da ideia — falou Jongdae. —
Foi você quem trouxe o assunto da Elena à tona, lembra?
— Quando eu pedi um dia de folga para visitá-la — respondeu
Robbie.
Agora, tudo isso parecia ter acontecido há muito tempo. Quando
ele viu que o grupo estaria na área de Chicago por algumas semanas
antes do KFest, pensou que era obra do destino. Que poderia vir
para Pinebrook e rever sua velha amiga. Robbie sempre se
perguntava como a vida dela estaria agora.
Hanbin tinha sido totalmente contra no início, falando sobre
escândalos de namoro e a imagem de Robbie.
Então, um paparazzo tirou uma foto granulada de Jongdae e
Sooyeon saindo juntos de uma loja de conveniência. Era vago o
suficiente para que a Bright Star conseguisse encerrar qualquer
especulação ao explicar que Jongdae e Sooyeon eram apenas bons
amigos que se encontraram por acaso perto de uma estação de
transmissão. Mas foi por pouco.
No dia seguinte, Robbie foi chamado para uma reunião com
Hanbin e Jongdae. Eles apresentaram a ideia de que Robbie poderia
visitar Elena para testar como os fãs reagiriam a um membro do
grupo saindo com uma garota. Seria mais fácil testar o terreno com
um relacionamento que eles pudessem negar totalmente. E isso lhes
daria a chance de ver se conseguiriam controlar a narrativa de
relacionamento quando a cláusula de namoro de Sooyeon expirasse.
Eles precisavam pensar adiante, explicou Hanbin-hyung. Precisavam
controlar a história para proteger o WDB e Sooyeon.
Parecia inocente, então Robbie concordou, pensando que seria o
caso de só tirar uma foto rápida para o Instagram.
Então, tudo acabou virando uma bola de neve. Jongdae
mencionou a antiga promessa de Robbie sobre o baile de formatura.
E Hanbin começou a fazer aquele seu olhar de que estava tramando
algo. E tudo se transformou em um plano para levar Elena ao baile,
passar um tempo significativo com ela e deixar a imprensa
descobrir. E, então, avaliar se as Constellations estavam prontas para
ver um dos garotos em um potencial relacionamento.
No começo, Robbie disse “não”. Era demais. Só queria ver sua
velha amiga. Visitar seu antigo bairro. Então Hanbin utilizou a
cartada do álbum solo. E não apenas um álbum solo, mas um em
que Robbie escreveria e produziria as próprias músicas sem o
microgerenciamento da empresa. Em que ele poderia usar as
músicas que estava guardando. Não é que não gostasse das canções
de amor e faixas dançantes pelas quais o WDB era reconhecido. E
Robbie entendia o motivo de a empresa escolher esse tipo de música.
Elas se encaixavam na fórmula de sucesso que a Bright Star achava
que deveria seguir, já que não tinha nenhuma outra influência na
indústria quando o WDB estreou.
Mas, às vezes, Robbie queria dizer algo mais com sua música.
Falar sobre a realidade de ser adolescente enquanto ainda era um.
Além disso, saúde mental ainda era considerado um assunto tabu
na Coreia, mas Robbie tinha a vantagem de ter morado no exterior e
ter visto que nem sempre precisava assim. Ele queria que sua música
o ajudasse a abrir as portas para isso, especialmente depois de ter
lidado com a depressão após a morte de seu pai. Na época, a música
tinha sido uma das únicas maneiras pelas quais Robbie pôde
expressar isso. E demorou um pouco para que ele tivesse vontade de
compartilhar isso com o mundo. Mas já estava pronto há algum
tempo. Se ao menos a empresa lhe desse uma chance.
— Você não acha que as coisas ficaram complicadas demais? —
perguntou Robbie. — Parecia mais simples quando Hanbin-hyung
explicou.
— Estamos fazendo isso pelo grupo. E por Sooyeon — respondeu
Jongdae. — Não vai machucar Elena da mesma maneira. Ela não tem
uma carreira com que se preocupar.
— Mas ainda é uma pessoa com sentimentos — disse Robbie,
afundando-se em seus travesseiros e pensando se, talvez, não
poderia apenas se enterrar neles para acabar com essa conversa.
Jongdae deu de ombros.
— A Elena não precisa descobrir nada. De qualquer forma, ela
sabe que você não veio para ficar.
— Sim… — Robbie não continuou a frase. Por que o fato de
Jongdae ter pontuado isso o deixou tão chateado?
— Se você não se sente confortável com isso, não precisa fazer. —
Mas Jongdae já parecia decepcionado.
— Eu sei.
E ele sabia. Jongdae sempre o protegeu e o apoiou. Foi quem
disse a Hanbin que, se quisessem que Robbie fizesse parte desse
plano, ele precisava receber algo em troca. Robbie não teria nem
esperanças de apresentar suas músicas à empresa se não fosse por
Jongdae. Ele ficou tão grato que concordaria até em raspar as
sobrancelhas. Porém, não estava em uma sala de conferências em
Seul agora. Estava em Pinebrook e ainda podia sentir o calor da mão
de Elena na sua.
Mas ela não estaria mais em sua vida dentro de duas semanas,
Robbie se lembrou. Jongdae e Sooyeon estariam. Eram sua família. E
ele queria protegê-los se pudesse. Sabia como era fácil o público se
voltar contra eles apenas por tentarem levar uma vida normal. Idols
não podiam ser normais. Tinham que ser melhores, mais brilhantes,
mais limpos. Sexys, mas ainda puros. O equilíbrio perfeito entre a
ilusão e a acessibilidade. E ninguém era melhor nisso do que
Jongdae, até ele se apaixonar. E agora JD faria qualquer coisa para
proteger Sooyeon. Inclusive pedir ao primo que deixasse os fãs
acreditarem que estava namorando alguém que não estava.
— Temos sorte de a Bright Star estar disposta a nos apoiar. Mas
eles só farão isso se provarmos que os fãs continuarão com a gente
depois de anunciarmos meu relacionamento — disse Jongdae.
― Você não pode pedir apoio ao seu pai? ― perguntou Robbie,
embora já soubesse a resposta.
― Ele seria ainda mais duro conosco, porque não quer que a
gente receba tratamento preferencial, Robi-ya. Você sabe disso.
― Eu sei. ― Robbie suspirou.
― Quer desistir? ― perguntou Jongdae. ― Posso falar com Hanbin
que não vamos fazer isso.
Ele estava observando o primo com um olhar cauteloso. E Robbie
sabia que, se fosse ao contrário, Jongdae o ajudaria sem pensar duas
vezes.
Robbie olhou para sua partitura, que segurava, amassada, nos
punhos cerrados. Ele a alisou cuidadosamente e suspirou:
― Eu não vou falar para Elena nada que seja uma mentira
descarada.
― Eu nunca ia esperar isso de você ― disse Jongdae, o alívio
evidente em sua voz quando concordou rapidamente.
― E faremos todo o possível para proteger Elena, se a internet se
voltar contra ela ― falou Robbie.
― Esse sempre foi o plano.
Robbie suspirou.
― Tudo bem, vamos seguir em frente.
― Obrigado, Robi-ya. ― Jongdae se inclinou e deu um beijo
molhado na testa de Robbie.
― Eca! ― reclamou Robbie, empurrando-o para fora da cama.
Seu primo riu e se levantou de repente.
― Vou ligar para Sooyeon ― disse, entrando em seu quarto e
fechando a porta.
E Robbie foi deixado sozinho com seus pensamentos conflitantes
e a certeza de que não importava o quanto Jongdae e Hanbin
garantissem que Elena ficaria bem, ele sabia que não seria bem
assim. Elena gostava de estar no controle das situações, de antecipar
cada movimento. Mas, com Robbie escondendo isso, não havia como
ela se preparar, caso as coisas dessem errado. O que significava que
ele tinha que estar preparado pelos dois. Devia isso à sua amiga.
Ele se lembrou da noite em que seu pai lhe disse que iriam se
mudar. Robbie gritou com seus pais pela primeira vez em toda a
vida. Sua mãe ficou chocada, seu pai, resignadamente desapontado.
Mas Robbie estava muito chateado, porque ele havia passado uma
semana escrevendo a letra perfeita para a música que tinha
composto com Elena. A música que planejava usar para confessar
seus sentimentos por ela. Mas tudo estava arruinado.
Ainda assim, naquela noite, Robbie reuniu toda a sua coragem e
a beijou. Aquilo era tudo o que ele conseguiria fazer, e foi esse
pensamento que lhe deu coragem para agir.
Durante os últimos sete anos, de tempos em tempos, ainda
pensava naquele beijo. E no que poderia ter acontecido entre eles,
caso tivesse ficado.
E agora Robbie seria capaz de viver esse “e se”. Só que era tudo
uma mentira. Uma fachada criada para obter reações nas redes
sociais. Assim como tudo em sua vida nos dias de hoje.
É uma verdade que parece mentira, ela havia dito.
Robbie não havia previsto como seria estar de volta aqui e ser
forçado a esconder as coisas de Elena.
Seu celular acendeu com uma nova mensagem, e seu coração
balançou quando viu que era dela. Metade de Robbie se sentiu feliz
por Elena ter lhe enviado uma mensagem tão rapidamente depois de
vê-lo. Mas a outra metade sentiu a culpa aumentar tanto que
ameaçava sufocá-lo.
Ainda assim, ele não pôde deixar de se torturar ao ler a
mensagem: Então, quer dizer que devo comprar para você aquela flor de
lapela de Lego?
Os dedos de Robbie pairaram sobre a tela. Uma dúzia de
respostas diferentes passaram por sua cabeça. Algumas delas eram
piadas, outras, uma forma de flerte, e ainda havia as que eram algo
entre as duas. Mas a verdadeira mensagem que queria enviar —
aquela que confessava a verdade — era a única que não poderia
digitar. Então ele ativou o modo “não perturbe” de seu celular e o
colocou virado com a tela para baixo na mesa de cabeceira.
Robbie nunca havia escondido nada de Elena quando eram
crianças. Ela era a única que sabia tudo sobre ele. Até mesmo coisas
que seus pais não sabiam. Por exemplo, como ele odiou morar nos
Estados Unidos durante o primeiro ano. O ano que tinha passado ali
antes de conhecê-la.
Depois que Elena se tornou sua vizinha, ele conseguiu imaginar
um futuro nos Estados Unidos. E sempre quis que esse futuro fosse
com ela ao seu lado. Sua melhor amiga. Sua pessoa favorita.
E agora estava mentindo para Elena. E, se ela descobrisse, nunca
o perdoaria.
Vinte e nove

Nunca pensei que seria necessário um show para minha mãe


reconhecer a importância do centro comunitário. Mas, quando ela
nos arrastou para mais um almoço de família na casa de Halmoni e
Haraboji, ficou se gabando de todo o trabalho comunitário que eu
tinha feito lá como se tivesse me voluntariado por ideia dela.
— Nossa Elena tem uma alma tão generosa — disse enquanto
colocava o galbi-jjim em uma travessa.
As costelas refogadas foram cozidas com perfeição e me deram
água na boca. Observei uma castanha macia mergulhar no molho.
Eu me perguntei se não poderia provar antes de ser servido.
— Uau, Elena, não acredito que você realmente conseguiu fazer o
WDB se apresentar — disse Como.
Minha mãe ajeitou a postura com o que eu só poderia chamar de
orgulho e disse:
— A Elena é tão gentil por usar suas conexões para uma causa
tão boa.
— Ela aprendeu direitinho — disse Halmoni com uma voz rouca.
Sorri involuntariamente. Sabia que era, principalmente, porque
elas estavam impressionadas com minha conexão com Robbie, mas
era raro eu recebia uma atenção tão positiva durante uma reunião
familiar. Geralmente só perguntavam por que eu não tenho
namorado, por que não pratico esportes como Ethan e me
importunavam para seguir os passos de sucesso das minhas irmãs.
Desta vez, eu estava finalmente sendo reconhecida por algo que era
completamente meu. Mesmo que o que era meu — minha relação
com Robbie — fosse passageiro.
— Você devia vir passar o verão comigo em Seul — disse Como.
— Não vai desde que era uma garotinha.
— Pois é — falei devagar, meus olhos desviando dela na direção
da minha mãe. Eu não queria pressionar, mas a ideia de ir para a
Coreia no verão, de não ter que dizer adeus a Robbie para sempre
depois do baile, era, com certeza, atrativa. Eu conseguiria ver tudo
com clareza, passaríamos um tempo realmente conhecendo um ao
outro outra vez. Talvez deixaríamos nossos sentimentos se
desenvolverem de maneira natural. Talvez Robbie abrisse as portas
para algo a mais, de forma que eu pudesse ter certeza de que ele
sentia o mesmo antes que arriscasse me envergonhar com confissões
indesejadas.
Mas minha mãe balançou a cabeça com firmeza.
— Não vejo por que Elena não pode esperar para ir na mesma
época que suas irmãs foram.
Suspirei e fiz contato visual com Como, que deu de ombros de
forma bem-humorada. Pelo menos ela tentou.
— Não seja tão rigorosa, Hyunjoo-yah — repreendeu Halmoni.
Pela primeira vez no dia inteiro, minha mãe fechou a cara. Não,
eu não podia deixá-la ficar de mau humor. Era a primeira vez em
um longo tempo que estava me tratando bem. Eu não queria perder
o brilho temporário da aprovação da minha mãe, então, antes que
pudesse me conter, deixei escapar:
— Mãe, posso marcar um horário no seu salão de beleza?
— Sério? — Ela me olhou, surpresa. — Por quê?
— Bem… — Hesitei, perguntando-me se tinha sido um erro, mas
não havia como voltar atrás agora, com Como e Halmoni me
encarando. — Eu vou ao baile. Com o Robbie.
— O quê? — Minha mãe praticamente gritou. — Por que você
não disse isso antes?
Seus olhos se arregalaram de alegria, como se ela tivesse ganhado
na loteria. E imagino que se sentiu como se tivesse ganhado na
loteria de mães coreanas.
Esther costumava dizer que nossos pais cresceram em uma
geração e cultura diferentes. Na cultura coreana, gabar-se de si
mesmo não é visto com bons olhos. Então, os pais compensam se
gabando dos filhos sempre que têm a chance. Seria bom se eles não
nos pressionassem constantemente para conseguir mais e mais
realizações.
— Ouviu isso, Unnie? Ela vai ao baile com Robbie Choi — disse
minha mãe, radiante.
— Sim, ouvi, Hyunjoo. Isso é ótimo, Elena. Qual vestido você vai
usar?
— Ah, ela vai usar algo incrível. Talvez a gente possa fazer
compras hoje à tarde. Só vou ter que reagendar algumas coisas.
Deixei minha mãe divagar. Ela parecia tão feliz, e, pela primeira
vez em muito tempo, era por causa de algo que eu tinha feito.
Mesmo que eu só tivesse aceitado ir ao baile.
Se esta fosse a única vez em que eu seria o motivo do orgulho da
minha mãe, poderia aceitar. Afinal, quando Robbie voltasse para a
Coreia, eu perderia a única coisa que me tornava interessante, até
para os meus próprios pais.
Ajudei a levar a comida para a mesa e fiquei surpresa quando
minha mãe disse para Ethan trocar de lugar comigo. Ela não ia me
fazer sentar no banquinho rejeitado?
Ethan franziu a testa enquanto se sentava no assento vacilante, e
eu assumia o lugar ao lado da minha mãe, que me passou o galbi-jjim
primeiro. Sim, eu definitivamente ia tirar vantagem de ser a garota de ouro
do dia, pensei enquanto pegava uma porção gigante de carne.
Trinta

Apesar da minha missão de vida (deixar de ser invisível),


nunca tive o objetivo de realmente me tornar popular. Só queria
encontrar um meio-termo entre ser vista como a gêmea esquecível
de Ethan e ficar famosa na internet. Mas, como sempre, a vida não
deu a mínima para o que eu queria.
Claro, o boato de que eu iria ao baile com Robbie se espalhou
pela minha turma como um incêndio no palheiro. Agora estava
sendo presenteada com high fives e tapinhas nas costas onde quer
que fosse.
— Ótimo show, Elena — disse Diana Walker enquanto eu
passava por ela em direção à minha mesa.
— Ahn, é, valeu — balbuciei.
— Ora, ora, ora, veja como o jogo virou! — declarou Josie,
sentando-se em seu lugar, e Diana abaixou a cabeça ao lhe
chamarem a atenção pela mudança drástica de atitude.
Eu me sentia tão estranha com toda aquela atenção. Não estava
acostumada e fiquei só esperando pelo pior. Esperando toda a minha
turma lançar a piada final de um jeito épico no nível da cena do
sangue de porco de Carrie, a Estranha.
Tentei me dizer que estava sendo ridícula. Isso não era do nada.
As pessoas gostaram do show que eu tinha ajudado a organizar.
Deveria apenas aceitar isso e parar de me preocupar demais com
tudo. Mas, mesmo assim, uma pequena voz dentro da minha cabeça
dizia que a atenção era apenas por causa de Robbie. Sem ele, eu
continuaria sendo uma fracassada. Ninguém se importava com
quem a verdadeira Elena era.
Eu pensei em enviar uma mensagem para Robbie uma dúzia de
vezes nos últimos dias. Mas ele ainda não tinha respondido à minha
piada sobre a lapela de Lego. Eu estava adotando uma postura
casual e presumindo que as coisas ainda estavam leves e divertidas
entre nós. Mas acho que ele não retribuiu. E agora eu precisava de
toda a minha força de vontade para me impedir de ficar analisando
demais e criando paranoias sobre isso.
Na quarta-feira, Robbie ainda não havia respondido, e eu estava
começando a pensar que algo poderia estar errado. Eu me disse que
ele provavelmente só estava ocupado. Que tinha muito o que fazer
na preparação para o KFest, ou precisava dar entrevistas, ou fazer
seja lá o que os idols faziam.
Mas nem mesmo ir ao centro comunitário melhorou meu humor.
Nem quando Jackson gritou de alegria e correu até mim.
— Ganhamos! — exclamou, estendendo os braços para mim. —
Ganhamos! Ganhamos!
— Ganhamos o quê? — perguntei, pegando-o no colo.
— Elena! — disse Tia, também correndo e fazendo um paralelo
engraçado com Jackson. — Conseguimos!
Ela envolveu nós dois em um abraço, pulando para cima e para
baixo. Jackson soltou uma risadinha e levantou os braços de alegria.
— Conseguimos o quê? Ganhamos o quê? — perguntei.
— Não posso falar. Cora quer que você escute da boca dela —
disse Tia, soltando-me. — Cora, a Elena chegou!
Ela veio caminhando pelo corredor, um sorriso gigante em seu
rosto.
— Sua garota incrível e maravilhosa. — Cora envolveu todos nós
em um abraço, e minha confusão lentamente se transformou em
esperança.
— Conseguimos? — Olhei de Cora para Tia. — Arrecadamos
dinheiro suficiente?
— Não só isso — disse Cora. — Mas estive no telefone o dia todo.
Parece que as pessoas estão congestionando as linhas telefônicas de
nossos representantes, exigindo que aprovem nosso financiamento.
Praticamente tenho uma promessa verbal de que nosso orçamento
será aprovado em junho!
— Ai, meu Deus. — Agora era eu quem estava pulando de
emoção.
E, enquanto dançávamos, comemorando, a única coisa em que eu
conseguia pensar era que queria contar a Robbie.
E foi assim que fui parar do lado de fora do hotel dele.
Era uma péssima ideia, eu me lembrei pela centésima vez. Não
conseguia fazer meus pés se moverem. Estava presa embaixo da
entrada coberta ornamentada, ao lado do estande do manobrista.
— Elena?
Eu me virei aliviada e encontrei Robbie e Jaehyung saindo de
uma van de cor escura. Comecei a sorrir, mas Robbie não parecia
feliz em me ver. Na verdade, parecia um pouco irritado. Isso me fez
querer dar meia-volta e fugir. Mas eu sabia que essa seria uma saída
covarde.
Então, voltei-me para Jaehyung enquanto a van se dirigia para o
estacionamento. Ele estava segurando uma braçada de salgadinhos.
Sério, esse cara era um poço sem fundo. Toda vez que eu o via, ou
estava comendo ou falando de comida.
— Foi comprar um lanchinho para o grupo?
— O quê? — Jaehyung pareceu confuso por um momento antes
de um sorriso de compreensão surgir em seu rosto. — Ah, não. São
todos meus.
Eu ri:
— Não acredito que você nunca ganha peso.
Ele assentiu.
— Tenho um bom… — Ele não finalizou a frase, então perguntou
algo a Robbie em um coreano sussurrado.
— Metabolismo. — Robbie preencheu a lacuna.
— Ah — falei, tentando sorrir para Robbie, que ainda se recusava
a olhar para mim.
A expectativa inebriante que eu estava sentindo com a
perspectiva de vê-lo desapareceu.
Eu me vi olhando para minhas mãos, cutucando minhas cutículas
até que ficassem vermelhas. Será que estava começando a se
arrepender de me convidar para o baile? Será que estava percebendo
que não queria mais ir? Talvez ele estivesse tentando descobrir como
me decepcionar com delicadeza, e minha presença aqui estava
arruinando tudo.
Minha ansiedade rapidamente se transformou em raiva. Se não
queria ir ao baile comigo, então deveria me dizer diretamente. Foi ele
quem quis ir. Foi ele quem ficou me importunando com isso. Eu nem
gostava de bailes. Se ele não queria ir, não me importava.
— Beeeem. — Jaehyung esticou a palavra enquanto seus olhos se
alternavam entre mim e Robbie. — Vou subindo. — Ele fez uma
reverência para mim, quase deixando cair um saco de batatinhas,
que apertou contra o peito, e me deu um sorriso gentil antes de
entrar.
Eu meio que esperava que Robbie escapasse com ele, mas não
escapou.
— O que você tá fazendo aqui? — perguntou, baixinho.
— Só queria te contar que o centro comunitário arrecadou
dinheiro suficiente para permanecer aberto. — Eu tinha esperanças
de que a notícia melhorasse seu humor.
Mas ele apenas assentiu:
— Ótimo.
Um silêncio constrangedor pairou entre nós. Perguntei-me se eu
deveria simplesmente ir embora. Dizer que tinha vindo aqui só para
lhe contar sobre o centro e que tinha outra coisa para fazer. Qualquer
empolgação que tivesse sentido ao compartilhar a boa notícia
desapareceu.
Eu estava tentando pensar em como me despedir graciosamente
quando ele soltou:
— Você quer ir a algum lugar?
— O quê? — Eu não conseguia entender seu humor; agora
parecia quase frenético. Com se não conseguisse ficar parado.
— Você tá com seu carro, certo? — perguntou depressa, virando-
se para ir na frente até o estacionamento.
— É, sim — falei, seguindo-o.
— Vamos. Eu dirijo. — Ele estendeu a mão com tanta autoridade
que entreguei minhas chaves sem nem pensar.
Comecei a me perguntar se Robbie podia, de fato, dirigir
legalmente aqui quando ele agarrou meu braço e se abaixou atrás de
um grande SUV.
— O que…
Robbie me interrompeu colocando a mão em concha sobre minha
boca. Estreitei meus olhos para ele e pensei em lamber a palma de
sua mão em protesto. Mas decidi não fazer esse gesto infantil. Por
enquanto.
Ele obviamente queria se esconder de alguém. Então, quando me
liberou, espiei cautelosamente ao redor e vi Hanbin e outro
empresário caminhando em direção ao hotel.
— Estamos indo por debaixo dos panos?
Robbie franziu a testa.
— Que pano?
— Você está saindo escondido? — esclareci.
Ele balançou a cabeça:
— Só não estou indo direto para o meu quarto.
Decidi não entrar em uma discussão semântica enquanto
chegávamos no meu carro.
Eu rapidamente afivelei meu cinto de segurança, pois não estava
muito confiante de que Robbie fosse um bom motorista. Afinal, ele
passava a maior parte do tempo sendo conduzido por seus
empresários.
— Você sempre tem que fazer isso quando quer sair? — Mantive
meu tom de voz o mais casual possível.
— Fazer o quê? — perguntou Robbie sem sequer olhar para mim.
— Sair escondido.
Robbie se mexeu no banco e tossiu um pouco.
— Sim, meio que sim.
— Que horrível — falei, pensando em como seria frustrante se eu
nunca tivesse permissão para sair sozinha.
Robbie deu de ombros. Seus olhos ainda fixos na estrada.
— Nem sempre foi assim. Quando começamos, a gente não era
ninguém. Assim, todos podíamos sair, e ninguém nos reconhecia.
Mas, algumas semanas depois de nossa aparição no VMA, Jongdae
foi perseguido por uma multidão de fãs. Ele ficou todo arranhado e
torceu o pulso. Então, agora, a empresa se preocupa tanto com nossa
segurança quando estamos em público que não podemos ir a lugar
nenhum sozinhos.
— Nem mesmo ao supermercado?
— Acho que não. — Robbie ainda não olhava para mim.
— Que horas você precisa voltar? — Olhei para o meu relógio. —
Seus empresários ficarão bravos se ficar fora por muito tempo?
— Nem todo minuto precisa ser planejado, Elena. Dá para
simplesmente fazer algo sem tentar adivinhar a reação de todos.
Ele pareceu tão irritado, e me encostei de volta no meu assento,
magoada com seu tom ríspido. Será que Robbie achava que eu era
controladora demais? Bem, eu estava deixando que ele me levasse
para um local desconhecido, não estava?
Bati meu pé ansiosamente, sentindo, de repente, que o carro era
muito pequeno e claustrofóbico com toda a tensão zumbindo ao
nosso redor. Meu crush recente em Robbie não estava ajudando.
Percebi que estava remoendo suas palavras. Será que isso significava
que Robbie não gostava de passar tempo comigo? Porque ele achava
que era controladora demais? Eu odiava que a sua opinião fosse
muito mais importante para mim do que a minha era para ele.
Eu não deveria ter agido como se tudo fossem flores entre nós só
porque iríamos ao baile juntos. Só porque estávamos cumprindo
uma antiga promessa de infância, não significava que tudo tinha
voltado a ser como antes. Eu tinha feito muitas suposições e agora já
estava sentindo a dor da rejeição antes mesmo de ela acontecer. Não
é como se eu nunca tivesse feito isso antes.
— Sinto muito por ter aparecido de surpresa no hotel — comecei,
tentando evitar ainda mais constrangimento ao admitir que havia
me precipitado primeiro. — Eu devia ter te ligado.
— Não, desculpa por estar com um humor tão estranho — disse
Robbie. — Tô feliz que veio. Passei a semana toda querendo falar
com você.
— Sério? — perguntei. Não pude evitar.
— Sim, eu só… não queria que parecesse que tava te
pressionando — disse, ainda sem tirar os olhos da estrada. — Eu sei
que as coisas foram muito intensas no sábado, com o show e
Jongdae. Fiquei preocupado que você precisasse de tempo para
processar tudo.
— Eu tô bem — assegurei, grata pela tensão no ar estar
diminuindo. — Consigo me virar. Já sou grandinha.
— Eu sei. — Robbie sorriu. — Acredite, sei que você cresceu. — E
percebi que as pontas de suas orelhas ficaram vermelhas. Ele estava
corando?
De repente, senti um friozinho na barriga. Uma estranha e nova
tensão pairou entre nós. Do tipo que fazia minha pele coçar.
— Então, o que você queria me dizer?
— O quê? — perguntou, sua voz meio aguda de repente.
— Hum, você disse que queria falar comigo — expliquei, confusa
com suas estranhas oscilações de humor. — Sobre o que era?
— Ah. — Ele relaxou outra vez. — Nada, eu só queria ouvir sua
voz.
Comecei a corar e virei meu rosto para a janela a fim de escondê-
lo. Robbie havia nos levado para fora da cidade, percebi enquanto
entrávamos na reserva natural. Eu já havia passado por ela antes,
mas nunca tinha entrado. As pessoas gostavam de vir aqui para ver
a vida selvagem e fazer caminhadas. Duas coisas que realmente não
me atraíam.
— O que estamos fazendo aqui? — questionei.
― Quero te levar para um lugar. ― Ele estacionou o carro.
― Tudo bem ― falei, olhando para os meus sapatos Keds. Não
eram exatamente tênis de caminhada. ― Mas, se tentar me matar e
desovar meu corpo no lago, vou ficar muito brava com você.
Robbie riu:
― Droga, lá se vai todo o meu plano. Agora vou ter que pensar
em outra coisa para fazer.
Sorri, satisfeita que agora ele estava relaxado o suficiente para
fazer brincadeiras. Enquanto o seguia, finalmente me permiti relaxar
também.
― Então, aonde estamos indo? ― perguntei, olhando para as
árvores altas ao nosso redor. Dei um tapa no meu ombro onde
pensei ter sentido um inseto.
― Estamos quase lá ― disse Robbie com um sorriso malicioso que
me lembrava de quando ele estava prestes a fazer alguma gracinha.
Isso me deixou com o pé atrás enquanto ele me conduzia ao longo
do caminho arborizado. Ouvi o som de água e me perguntei se
estava me levando até um lago para poder me jogar nele.
Não era um lago. Era um riacho que corria sob uma ponte
coberta, construída a partir de galhos e gravetos, o tipo de
construção que definitivamente era mal-assombrada. E me perguntei
se, pelo menos, ela era estável, mas, com a mão quente de Robbie
segurando a minha, eu me sentia mais disposta a ser conduzida para
uma ponte vacilante.
Depois de alguns passos, fiquei um pouco mais confiante de que
ela aguentaria nosso peso e segui Robbie até o meio da estrutura. Ele
se encostou no corrimão, observando a água fluir abaixo de nós.
― Quando o período de chuvas chega, o riacho fica mais parecido
com um rio ― explicou Robbie. ― Meu appa me trouxe aqui algumas
vezes.
― É doloroso? ― perguntei baixinho, olhando para ele em vez de
para a água. ― Estar de volta onde existem memórias dele?
― Um pouco. ― Ele deu de ombros, e o gesto foi espasmódico e
defensivo. Tive vontade de abraçá-lo, mas Robbie ainda segurava
minha mão com força na dele. ― Eu me pergunto se estaria
orgulhoso de mim. Do que estou fazendo agora com a minha vida.
― Tenho certeza de que estaria ― falei de forma tranquilizadora,
apesar de eu nunca ter chegado a conhecer o pai de Robbie muito
bem. Ele era como o meu, vivia trabalhando.
― Ele costumava dizer que só queria que eu fosse para uma boa
faculdade. Acho que não teria me deixado entrar tão jovem como
trainee na Bright Star. ― Robbie suspirou e finalmente soltou minha
mão. Ela estava um pouco dormente por causa da privação de
sangue, então eu a sacudi levemente.
― Nossos pais querem que a gente frequente uma boa faculdade
porque isso vai nos ajudar a conseguir um bom emprego no futuro.
Mas você já é bem-sucedido. Seu pai iria querer isso para você.
― Acho que nunca vamos saber ― murmurou Robbie como se
estivesse falando mais consigo mesmo do que comigo.
Eu queria confortá-lo, mas não sabia como fazer isso, então tentei:
― Foi por sua causa que o centro comunitário foi salvo. Você
conseguiu em um dia o que não consegui em um mês.
Robbie franziu a testa.
― Por que você faz isso? Por que fica se comparando comigo?
Você faz isso com todo mundo?
― O quê? ― Fui pega de surpresa. Ele parecia irritado comigo. ―
Não, só tô dizendo que você é uma boa pessoa. Seu pai ficaria
orgulhoso.
Seus olhos arderam, e, por algum motivo, ele parecia ainda mais
irritado. O que eu disse dessa vez?
― Você é uma pessoa muito melhor do que eu ― falou.
― Quem está se comparando com o outro agora? ― perguntei
com um sorriso hesitante.
Ele sorriu de volta, mas seus olhos ainda pareciam preocupados e
distantes.
― Justo.
Ele ficou quieto por um momento, observando o fluxo de água
abaixo de nós. Eu estava tentando pensar no que dizer, ou se sequer
deveria dizer alguma coisa, quando Robbie perguntou:
― Você sacrificaria qualquer coisa para realizar seu sonho?
Ele perguntou com tanta seriedade que tentei pensar em uma boa
resposta. Mas o problema era que eu não sabia como era ter um
sonho.
― Não tenho certeza ― admiti. ― Depende do que eu tivesse que
sacrificar.
Esperei que Robbie continuasse, que esclarecesse do que estava
falando. Quando ele não disse mais nada, perguntei:
― Tem a ver com sua música?
Robbie franziu a testa, encarando a água.
― Eu menti para você.
Eu enrijeci, com medo do que ele estava prestes a me confessar.
― Quando eu disse que estava apenas me divertindo com aquela
música que você encontrou. É algo em que venho trabalhando há
anos. Fiz algumas delas antes mesmo de a gente estrear.
― Por que não mostrou para sua empresa?
― Porque eu sei o que vão dizer ― respondeu. ― Eles gostam de
promover a ideia de eu ser cantor e compositor, mas querem
controlar o tipo de música. O estilo que quero escrever não condiz
com a imagem que construíram para mim. Mas, se eles só me
dessem uma chance, eu sei que conseguiria. Só precisam acreditar
em mim o suficiente para me permitir fazer isso. Tudo isso tem que
valer a pena.
― Tenho certeza que vai. ― Estendi a mão e apertei a sua. Ele
apertou de volta, com força.
― Já esperei tanto tempo e tenho tantas ideias na cabeça, só quero
torná-las reais. Eu preciso torná-las reais.
A paixão na voz dele era tão densa. Não sei se já tinha
conversado com alguém que tinha tanta certeza do que queria da
vida quanto Robbie tinha agora. Fiquei triste por não sentir nem um
terço dessa paixão por nada.
― Você recebeu um dom ― murmurei. ― Poder amar algo tanto
quanto ama sua música.
― Só é um dom se eu puder fazer acontecer. Escrever meu
próprio álbum no meu próprio estilo sempre foi um sonho meu. ― A
voz de Robbie tornou-se um sussurro tenso, como se ele estivesse
confessando um segredo profundo e obscuro. ― Algo que eu possa
fazer sem me preocupar se vai chegar aos top charts ou condizer com
uma imagem. Algo honesto, vindo apenas de mim.
― É ótimo que você saiba qual é o seu sonho. Muitos de nós não
sabem.
Ele soltou minha mão quase violentamente. Como se estivesse
jogando-a fora.
― Não é tão simples assim. Nada é simples nesta indústria. É
sempre “você é jovem demais”, “você é novato demais”, “o som é
diferente demais do que seus fãs esperam”. Tudo é controlado com
tanta firmeza para formar o combo perfeito. Até que você percebe
que nada mais lhe pertence.
Dei um passo na direção dele:
— Não seja tão duro consigo mesmo, Robbie. Você vai ter sua
chance. Eu sei que vai.
Então deixei escapar um som de surpresa quando, sem aviso
prévio, ele se virou e me envolveu nos braços. Robbie me abraçou
com tanta força que eu mal conseguia respirar.
— Você precisa entender: é o meu sonho — disse ele em meu
cabelo.
— Eu entendo — falei, dando um tapinha desajeitado nas costas
dele.
Robbie deixou sua bochecha descansar contra a minha, e senti um
aperto no coração. Sua pele era tão macia e suave. Suas mãos
agarraram a parte de trás da minha camisa. Então o apertei para lhe
garantir que eu não iria a lugar nenhum.
E então ele sussurrou:
— Não importa o que aconteça, preciso que saiba o quanto me
importo com você.
Robbie parecia tão triste, como se estivesse prestes a chorar.
Tentei me afastar para olhar seu rosto, mas ele estava me apertando
com muita força. Então, apenas sussurrei:
— Eu sei.
— Nunca deixei de me importar com você — disse, e senti
minhas bochechas queimarem. Estava grata por ele não poder me
ver; tinha certeza de que meu rosto estava da cor de um caminhão
de bombeiros. — Eu realmente senti sua falta, Lani.
— Também senti sua falta, Robbie. — Eu me permiti dizer. E
sabia que havia feito o que prometi que não faria. Tinha me
apaixonado perdidamente por Robbie Choi.

WDB (원더별): PERFIL DOS MEMBROS


NOME ARTÍSTICO: Jaehyung
NOME: Do Jaehyung (도재형)
POSIÇÃO NO GRUPO: lead vocal
ANIVERSÁRIO: 24 de fevereiro
SIGNO: Peixes
ALTURA: 174cm
PESO: 59kg
TIPO SANGUÍNEO: AB
LOCAL DE NASCIMENTO: Daegu, Coreia do Sul
FAMÍLIA: mãe, pai
HOBBIES: tirar fotos, fazer longas caminhadas
EDUCAÇÃO: Escola de Artes Cênicas de Seul
COR DO LIGHTSTICK: azul

FATOS SOBRE JAEHYUNG:


É chamado de mong-do, porque sempre parece confuso.
Debutou quando tinha 15 anos (16 na idade coreana).
Foi trainee por 3 anos.
Sua cor favorita é branco.
Seu número favorito é o 3.
É conhecido como o único introvertido e quieto do
grupo.
É amigo de Doyoung, do Treasure; e de Yuna, do Itzy.
Suas comidas favoritas são geleia, chocolate, pêssego,
strawberry milk, salgadinho sabor manteiga e mel, Pepero
de Oreo, tteokbokki, frango frito, ramen, salgadinho de
camarão e Flamin’ Hot Cheetos.
Toca violino e piano.
Ganhou uma competição de canto quando tinha apenas
5 anos.
Costumava cantar no coral da igreja.
Adora tirar fotos.
Seu tipo ideal é uma garota que come bem.
Trinta e um

Na sexta-feira, meu celular começou a vibrar sem parar no


meio da aula de pré-cálculo, a ponto de a Sra. Hewitt (possivelmente
a professora mais tranquila quando se trata de celulares na aula)
começar a me dirigir olhares penetrantes. Tentei expressar minhas
profundas e sinceras desculpas com os olhos antes de apertar o
botão de desligar.
Eu esperava que talvez um bando de operadores de
telemarketing tivesse conseguido meu número de alguma forma, e
que não fosse mais uma situação relacionada à internet.
Eu realmente deveria ter sido mais esperta.
Quando religuei meu celular no horário de almoço, as
notificações do meu Instagram explodiram na tela.
Chequei minhas DMs. Havia um monte de perfis aleatórios me
enviando solicitações de mensagens. Eu não abri nenhuma. Mas
havia algumas do pessoal da escola. Todas elas me marcando na
mesma postagem.
Estava no perfil de Robbie, uma foto do dia do show.
Ele e eu estávamos sentados lado a lado no sofá da suíte do hotel.
Ele estava com o violão no colo. A legenda dizia performance pós-
show. Dava para ver Minseok e Jaehyung no fundo, mas nós dois
éramos o foco da foto. Meu corpo estava virado em direção a Robbie,
então não dava para ver minha expressão, mas eu me lembrava do
momento. Fiquei encantada com sua forma de tocar violão. Adorei
ver seus dedos se moverem pelas cordas.
Por que ele postaria algo assim? Os fãs tinham acabado de
superar o promposal desastroso. Robbie estava tão mal-humorado e
estranho ontem. E agora estava postando uma foto nossa para seus
milhões de seguidores verem e julgarem? Qual era o problema dele?
Por que estava sendo tão instável? Mandei uma mensagem para ele.

ELENA: Ei, qual é a daquela foto no Instagram?


ROBBIE: Foi mal, é meu empresário que cuida das minhas
redes sociais. Não gostou? Achei que você tava bonita.

Achou que eu estava bonita? Não, eu não podia deixar que ele
me distraísse. Então as borboletas voltaram a dançar por alguns
instantes enquanto ele digitava: Posso pedir para eles apagarem, se você
quiser…
Agora, de repente, eu me senti como a vilã. Estava sendo exigente
demais pedindo para ele apagar a postagem? Lembrei-me de seus
comentários naquele dia sobre eu ser muito controladora. Tentei me
convencer de que poderia deixar isso para lá. Mesmo que alguns
comentários sarcásticos dissessem que eu não merecia Robbie. Na
verdade, a maioria deles era legal. Alguns até diziam que éramos
um modelo de amizade. Um deles falava que Robbie parecia tão
relaxado depois de passar um tempo com sua melhor amiga de
infância.
Ele realmente parecia mais relaxado? Bem, acho que parecia estar
à vontade enquanto dedilhava o violão. Não, eu não seria
influenciada. Deveria aceitar sua oferta de apagar a foto, mas… tanta
gente já tinha visto. Será que as pessoas não tirariam conclusões
precipitadas, caso ele apagasse?
Isso era tão complicado. Se eu me sentia assim sendo apenas
amiga de Robbie, não fazia ideia de como era para ele no dia a dia.
Devia ficar se perguntando se poderia postar uma foto ou não.
Como os fãs a receberiam. Como a julgariam ou o julgariam por ela.
Decidi não dificultar mais as coisas para ele.

ELENA: Não, tudo bem. Mas, da próxima vez, posta meu


lado bom.
ROBBIE: Então, a parte de trás da sua cabeça?
ELENA: Ei! Retiro o que eu disse! Você NÃO TEM mais os
privilégios de postar fotos.
ROBBIE: ;) <3

Josie se sentou ao meu lado com uma fatia enorme e oleosa de


pizza na mão.
— Então, viu sua sessão de fotos?
— Nem me fala. Me dá um pedaço. — Peguei a pizza e dei uma
mordida gigante.
— Ei! — protestou Josie, mas não me importei. Eu merecia queijo
derretido e carboidratos.
Trinta e dois

Eu ainda estava me sentindo meio esquisita com a foto,


especialmente quando percebi olhares estranhos do pessoal da
escola. Ouvi alguém dizer “Não entendo. Ela nem é tão especial”
enquanto eu estava passando. E, quando olhei, estavam me
encarando. Nem tiveram a decência de desviar o olhar ou ficar com
vergonha ao serem pegos fofocando. Tentei me convencer de que
estava sendo paranoica. Mas tinha a sensação de que algumas
pessoas da escola estavam ficando cansadas da minha nova fama
por associação. E, para ser sincera, eu também estava. No horário de
almoço, quando passei por Ethan e seus amigos no pátio, Tim disse
em voz alta “Ei, Ethan, como é ser parente de uma influenciadora
digital?”
Curvei meus ombros contra seu tom sarcástico e passei
apressada, sem querer ouvir suas provocações.
Decidi mergulhar de cabeça no planejamento do baile. A
decoração havia sido entregue no centro comunitário, e tivemos que
organizar tudo e começar os projetos faça-você-mesmo. Até agora,
Josie e Caroline só haviam brigado uma vez. Então considerei que
estava tendo um bom dia. Apesar de que, talvez, a preocupação com
uma briga delas me ajudasse a me distrair.
Ótimo, agora eu estava ansiando por uma briga só para não ter
que me estressar com comentários aleatórios que poderiam estar
surgindo naquela foto.
Meu celular acendeu. Eu o havia colocado no silencioso, mas
esqueci de desabilitar as notificações de mensagens. Estava prestes a
enfiá-lo na mochila quando vi o nome de Robbie na tela.

ROBBIE: vem aqui fora


ELENA: fora onde?
ROBBIE: só abre a porta.

Fiquei curiosa o suficiente para abrir a porta e enfiar a cabeça


para fora.
— Ei!
Quase gritei, dando um pulo para trás. A porta teria batido na
minha cara, se Robbie não a tivesse segurado.
— Que diabos! — Dei um soco no braço dele. — Não me assusta
assim.
— Eu te disse que estava aqui fora.
— Você disse “vem aqui fora” todo enigmático. Como eu ia saber
o que estava aqui fora?
Robbie riu, mas eu não estava com humor para as piadas dele,
não quando ainda me sentia toda confusa com a história da
postagem.
— Elena, você já tá descansando? — disse Caroline,
aproximando-se irritada. Então o rosto dela fez aquela coisa estranha
de simplesmente congelar. Sua boca se abrindo, e seus olhos se
arregalando quase como os de um inseto.
— Ah, sim. Acho que vocês nunca se conheceram — falei, meio
sem jeito. — Robbie, esta é…
— Caroline Anderson. Sou uma grande fã! — gritou ela, correndo
para pegar a mão de Robbie. — Você veio sozinho?
Ela olhou por cima do ombro de Robbie, vendo que Hanbin
estava esperando na porta. A princípio, eu não tinha percebido que
ele estava lá. Mas acho que ia onde quer que seus meninos fossem.
— Caroline, deixa o menino respirar — disse Josie, balançando a
cabeça. — Sinto muito, algumas pessoas simplesmente não
conseguem agir normalmente perto de celebridades.
Quase dei risada de tão ridícula que essa situação era.
— Oi, Robbie — disse Felicity com um sorrisinho.
Robbie semicerrou os olhos para Caroline e Felicity, e, com um
sobressalto, percebi que ele provavelmente se lembrava delas
daquela situação humilhante no shopping.
Ele segurou minha mão.
— Eu só queria roubar a Elena um pouquinho. — Enquanto ele
encarava as meninas, seus olhos ficaram tão escuros e sérios quanto
os de Jongdae.
Caroline estava olhando para nossas mãos dadas com um misto
de horror e inveja.
— Claro — disse Josie, alegre. — Eu sei que você provavelmente
gostaria de ter o máximo de tempo possível com a Elena para
planejar seu encontro no baile de formatura.
Caroline inflou as bochechas com a confirmação não tão sutil de
que os boatos sobre nossa ida ao baile eram verdadeiros. E, apesar
do fato de que eu deveria estar me divertindo com o desconforto
dela, a atenção só me deixou desconfortável, então puxei a mão de
Robbie.
— Vamos, podemos conversar ali — falei, levando-o para o
corredor lateral que dava acesso aos banheiros.
— Não precisava ser tão maldoso com elas — censurei.
— Não fui maldoso. Mas não preciso ser educado com quem
comete bullying com meus amigos — disse ele.
Quase estremeci com a palavra “amigos”. O que era ridículo. Era
isso o que nós éramos. Mesmo que uma parte de mim desejasse que
fôssemos algo mais.
— Então, o que você tá fazendo aqui? — perguntei, tentando
mudar de assunto.
— Queria me desculpar. — Ele enfiou as mãos nos bolsos.
— Pelo quê?
— Eu devia ter perguntado antes de postar a foto — respondeu.
— Não estava pensando. Estava apenas me lembrando daquela noite
e de como nos divertimos. E de como estou feliz por ter você de
volta na minha vida.
De volta na minha vida. O jeito como ele disse isso, como se fosse
uma coisa permanente.
Não, Elena, você não pode pensar assim. É temporário, lembrei-me.
— Ah — falei, tentando pensar em como responder quando eu já
tinha insistido que estava tudo bem com a questão da foto. — Tenho
que admitir que não estou acostumada a ligar para curtidas nas
redes sociais. Mas entendo que faz parte do seu trabalho.
Robbie franziu a testa. Porcaria, eu falei a coisa errada?
— Bem — disse ele —, sinto que continuo tendo motivos por que
me desculpar, então queria te compensar. E isso não vai contar como
um desejo. É um evento bônus gratuito.
Eu ri de sua expressão animada. A mesma que tinha sempre que
me dava um presente.
— Recebi permissão especial do Hanbin-hyung para tirar a noite
de folga. Achei que talvez a gente pudesse ir a todos os nossos
antigos lugares favoritos. Já pedi para Hanbin ligar para o antigo
Pinebrook Crossing Cinema para alugar o cinema para a gente.
— O cinema inteiro?
— Sim. — Robbie esfregou a nuca timidamente. — É o único jeito
de a gente ir sem sermos assediados por uma multidão.
— Ah — falei, sobrecarregada com a ideia de alugar um cinema
inteiro só por diversão. E então meu estômago deu um nó. — Ah,
não. Hoje eu não posso.
— Por que não? — perguntou, e eu podia sentir a decepção
emanando dele.
— Preciso ficar por aqui — respondi.
— Você não pode reagendar?
Franzi a testa para sua suposição de que seria tão fácil para mim
largar tudo só porque ele queria sair.
— Você não pode reagendar?
— Claro que não. Sabe como sou ocupado.
— Bem, posso não ser uma celebridade chique que consegue
alugar cinemas inteiros — falei, sentindo-me na defensiva. — Mas
tenho compromissos e não posso simplesmente fugir deles.
— Não foi isso que eu quis dizer — disse ele com um tom de voz
arrependido. — Acho que só tô decepcionado.
Suspirei. Talvez eu estivesse exagerando. Estar perto de Robbie
era como estar em uma constante montanha-russa emocional.
— Tá tudo bem. Eu só preciso ajudar com a decoração do baile. A
Felicity e a Caroline estão insistindo em fazer com que não se pareça
com um ginásio, e já estamos com pouco tempo.
— Ah. — Robbie assentiu, a decepção ainda evidente em sua voz.
— Preciso ir — falei, ansiosa para escapar. — A Caroline pode me
colocar no “caderninho do mal” dela ou algo do tipo. — Comecei a
andar em direção aos outros.
— Você precisa de ajuda? — perguntou Robbie, alcançando-me.
— Não, consigo lidar com a Caroline.
— Não, eu quis dizer com as decorações.
Parei imediatamente.
— Você quer fazer decorações para o baile?
— Claro, seria divertido.
— Mas e o seu filme particular?
Robbie riu.
— Tirei a noite de folga para ficar com você, não para assistir a
um filme aleatório que posso ver a qualquer momento.
Droga, por que ele tinha que ser tão charmoso? Eu conseguia
sentir o efeito desse magnetismo em mim.
Fiz um esforço para deixar minha voz calma e casual:
— Só estamos cortando estrelas de papelão e pintando de
dourado.
— Parece uma boa! — disse ele, pegando minha mão. Meu
coração começou a sapatear contra minhas costelas enquanto Robbie
me puxava para perto dos outros.
Josie estava ocupada cortando as estrelas e colocando-as em uma
pilha para Felicity pintar. Caroline estava de pé próxima a elas,
segurando uma prancheta em suas mãos imaculadas e bem-
cuidadas.
— Robbie vai ajudar. — Eu me sentei no chão ao lado de Josie e
peguei uma tesoura, recusando-me a olhar para os outros.
Ele se sentou ao meu lado.
— Posso pintar? — perguntou, como quem pede para lamber o
glacê de uma colher.
— Claro — disse Josie com uma risada, entregando-lhe um
pincel.
Pude perceber que Caroline não havia se movido um centímetro
desde que Robbie chegou. Ela estava congelada no lugar, pairando
sobre nós.
— Caroline, se você continuar na minha cola, eu vou fazer
besteira — disse Felicity sem sequer olhar para cima.
Irritada, ela saiu de seu torpor e foi até as caixas distantes para
separar as borlas de prata. Nunca pensei que um dia ficaria grata
pela língua afiada de Felicity.
Robbie pegou um frasco de tinta dourada, abriu a tampa e
começou a derramar no meio de sua estrela.
— Robbie, não… — Tentei avisar, mas era tarde demais, a tinta
esguichou do frasco, derramando na calça dele.
Tentei segurar a risada.
— Não era para você apertar com tanta força assim. E também
não era simplesmente para jogar a tinta na estrela desse jeito, senão
vai empelotar. Colocamos a tinta em pedaços de papelão e
espalhamos com um pincel. — Apontei para Felicity, que estava
fazendo exatamente isso.
— Ah. — Robbie corou.
Na verdade, era bem fofo como ele não sabia nada sobre algo que
parecia tão básico para mim. Isso me lembrava das celebridades nos
doramas tentando aprender a cozinhar e limpar pela primeira vez.
— Uau, Hanbin deve estar arrependido de não ter chamado os
paparazzi para tirar uma foto disso. Robbie Choi tentando ser um
garoto comum. Isso daria uma boa história publicitária. — Eu ri. E
não percebi que Robbie não estava rindo comigo. Na verdade,
parecia irritado.
— Nem tudo que faço é por publicidade — disse ele.
— Não foi isso que eu quis dizer — falei.
Mas Robbie se levantou, tentando limpar a tinta de seus jeans.
— Vou tentar passar uma água nisso.
— Acho que você feriu os sentimentos dele, El — sussurrou Josie.
— Não foi a intenção. — Só estava brincando. Fui mesmo longe
demais?
— Bem, mesmo que não tenha sido a intenção, não significa que
não tenha machucado — disse Felicity.
— Como assim? — perguntei. Por que ela estava se metendo?
— É como quando você deixou de ser minha amiga.
— O quê? — Eu praticamente gritei. — Foi você quem deixou de
ser minha amiga.
— Sim, depois de você deixar claro que não me achava inteligente
o suficiente para ser sua amiga.
Minha boca estava tão aberta que eu poderia pegar moscas com
ela. Felicity estava vivendo em algum tipo de realidade alternativa
onde tudo estava ao contrário?
— Eu nunca pensei que você não era inteligente o suficiente.
Você que se tornou uma líder de torcida popular e me largou. Que
me disse que eu não podia mais sentar na sua mesa durante o
almoço na frente de metade da turma do primeiro ano.
Felicity bufou de forma soberba.
— Muito bem, fiz isso mesmo, mas eu estava irritada de verdade.
Durante aquela semana inteira de testes você deixou claro que
achava que ser líder de torcida era para cabeças de vento em busca
de popularidade.
— Isso não é justo. Foi você quem me disse que todas as meninas
legais eram líderes de torcida.
— Foi porque estava tentando convencer você a tentar também.
Eu achava que era uma boa maneira de fazer amizades.
— Eu não queria novas amizades. Já tinha você. — Cruzei os
braços.
— Você simplesmente não entende, Elena. Você queria que a
gente continuasse sendo exatamente as mesmas pessoas do
fundamental. Mas eu, não. O ensino médio era a minha chance de
virar uma nova pessoa. E foi sendo líder de torcida que minha mãe
fez amigos em Pinebrook. Eu sempre quis ser uma líder de torcida
dos Vikings como ela.
Ah, sim. Isso era verdade, eu me lembrei. Felicity idolatrava a
mãe.
— Quando entrei para o time, você disse que eu estava me
vendendo por popularidade, e acho que perdi a paciência. Te disse
para parar de sentar conosco naquele dia. Mas pensei que você
voltaria, e nunca voltou. — Felicity fez um gesto indiferente. —
Realmente não imaginei que você seria tão teimosa.
Eu estava chocada. Lembrava ter dito todas essas coisas, mas
tinha sido um terrível mecanismo de defesa. Tinha medo de ser
deixada de lado, caso Felicity se desse bem com os alunos populares.
Sabia que, uma vez que ela se integrasse naquele mundo, eu não
teria como manter sua amizade. Que a perderia assim como perdi
Robbie. E então isso aconteceu mesmo. Mas nunca parei para pensar
que fora eu quem tinha feito acontecer.
— Olha, não estou te dizendo isso porque quero que a gente se
abrace e faça as pazes. Estou te falando porque você tá fazendo a
mesma coisa com o Robbie. É como se, no momento em que ele faz
algo que não se encaixa na sua ideia de “Plano de Vida da Elena”,
você começa a provocá-lo. Mas nem todo mundo quer as mesmas
coisas que você, Elena. — Felicity terminou seu discurso com um dar
de ombros e voltou a pintar sua estrela.
Olhei para Josie, que parecia igualmente chocada. Eu queria
perguntar se ela concordava com Felicity, mas tinha medo da
resposta.
Eu havia passado tanto tempo da minha vida me sentindo
invisível que nunca parei para pensar que minhas palavras podiam
machucar outra pessoa. Especialmente alguém que sempre foi tão
confiante quanto Felicity.
— Vou atrás do Robbie — falei, ficando de pé.
— Vai que é teu — disse Josie, levantando o punho em
solidariedade.
Até Felicity acenou a cabeça para mim, em encorajamento.
O mundo realmente havia virado de cabeça para baixo, se era
Felicity Fitzgerald quem estava me dando conselhos amorosos.
Trinta e três

Esperei Robbie do lado de fora do banheiro e o abordei assim


que saiu.
— Sinto muito — falei rapidamente antes que ele pudesse dizer
qualquer coisa.
Robbie cruzou os braços, e percebi que estava esperando que eu
continuasse.
— Não pensei antes de dizer aquelas coisas sobre paparazzi e
publicidade. Não sei por que eu disse aquilo.
Robbie levantou uma sobrancelha.
As palavras de Felicity ecoaram na minha cabeça, como um
lembrete incômodo de que eu não estava falando toda a verdade.
— Tudo bem, eu sei o porquê — admiti. — Estou com… medo.
— Por quê? — falou Robbie finalmente.
Aliviada por ele, pelo menos, estar falando comigo, respondi:
— Porque as coisas estão muito diferentes entre a gente agora. E é
tão difícil descobrir o que é certo no seu novo mundo brilhante. Eu
tô, constantemente, com medo de fazer besteira e envergonhar você
na frente de todos os seus fãs e amigos famosos.
Robbie balançou a cabeça.
— Eu não me importo com o que os fãs pensam sobre você e eu,
Elena. Eu só me importo com o que a gente pensa.
Senti um aperto no coração. Você e eu.
— Eu só queria não ter que ficar sempre me perguntando se vão
filmar ou tirar uma foto de seja lá o que eu esteja fazendo para um
bando de pessoas sem rosto escondidas atrás de um teclado
examinarem.
— Acredite, eu sei exatamente como você se sente — disse
Robbie com uma risada irônica. — Só porque sou um idol não
significa que eu só posto nas redes sociais para receber curtidas ou
opiniões de fãs. Ou… pelo menos, não é isso o que quero. — Ele
parecia tão frustrado que tive vontade de abraçá-lo, mas não tinha
certeza se ele ia querer isso de mim agora. — Às vezes, eu queria ir
para algum lugar muito alto, acima do resto do mundo, onde
ninguém pudesse opinar sobre o que faço.
— Sério? — perguntei. — Você quer ir agora?
— Calma aí, o quê? — Robbie parecia preocupado, do jeito que
ficava sempre que eu tinha alguma ideia maluca quando éramos
crianças.
E, desta vez, peguei a mão dele.
— Vamos lá.
— Aonde estamos indo?
— Você vai ver. Espero que não tenha mais medo de altura.

— A gente pode mesmo subir aqui? — perguntou Robbie enquanto


eu pisava no telhado do centro comunitário. Ele olhou para a borda
com nervosismo.
— Bem, ninguém está nos impedindo. — Dei de ombros.
— E isso significa que você definitivamente devia se impedir —
disse Robbie, e percebi que ele não estava saindo de perto da porta.
— Robbie Choi, você ainda tem medo de altura — constatei com
uma risada.
— Sim, claro que tenho. A gravidade ainda funciona do mesmo
jeito que quando tínhamos 10 anos, e não quero que esteja escrito no
meu obituário: Robbie Choi poderia ter evitado a morte, mas era estúpido
demais para ter qualquer senso de autopreservação.
Eu ri e dei um passo em direção à borda, olhando por cima do
meu ombro e sorrindo quando vi Robbie me encarando com os olhos
arregalados.
— Elena, para com isso — pediu, sua voz um pouco trêmula.
Isso só me fez querer ir mais longe.
— Às vezes, eu venho aqui à noite. É muito bonito.
Havia uma pequena mureta de uns sessenta centímetros de
altura. Definitivamente não era alta o suficiente para impedir
alguém de cair. Então, tomei cuidado ao esticar o pescoço para ver o
chão lá embaixo.
Deixei escapar um assobio.
— Acho que essa altura não seria letal. Mas seria, com certeza,
incapacitante — falei em tom reflexivo.
— Elena, tô falando sério. Volta aqui — chamou Robbie. Ele
havia entrado totalmente no telhado, mas estava imóvel no meio
dele.
— Qual é. Você nem consegue ver nada daí — gritei para Robbie.
Ele balançou a cabeça, e sua expressão teimosa me fez rir. Eu
meio que queria me inclinar mais para ver como Robbie reagiria.
Mas, enquanto eu pensava nisso, o vento aumentou um pouco atrás
de mim, e, involuntariamente, inclinei-me para a frente. Deixei
escapar um som de surpresa, meus braços girando tentando retomar
o equilíbrio.
— Toma cuidado — disse Robbie, e, para minha surpresa, sua
voz estava bem perto de mim. Ele me puxou para trás, seu braço me
envolvendo com segurança.
Eu ri.
— Meu herói.
Mas, quando olhei para cima, meu sorriso desapareceu.
Estávamos tão próximos que nossos narizes praticamente se
tocavam. Ele olhou para mim. Sua expressão parecia
propositalmente neutra. E, por um momento, eu me perguntei qual
de nós piscaria primeiro.
— Você tem razão. É uma bela vista — sussurrou, mas seus olhos
ainda estavam em mim. Isso me lembrou daqueles momentos clichês
nos doramas em que o garoto finge que está achando a vista bonita,
mas, na verdade, está falando da garota. Mas isso não era um
dorama. Era Robbie e Elena.
Só que tudo na minha vida parecia dez vezes mais dramático
desde que Robbie voltou. Tudo parecia ter sido intensificado dez
vezes. Como minha pulsação. Como meus sentimentos por Robbie.
Como esse desejo estranho de me inclinar para a frente e
simplesmente beijá-lo. E, antes que eu pudesse pensar demais ou
pensar em todos os resultados possíveis, fiquei na ponta dos pés,
meus olhos fixos em seus lábios.
Robbie se afastou e virou o rosto, soltando-me. Quase caí para
trás, o vento batendo no meu cabelo.
Ai, meu Deus. Que vergonha. No único momento em que me
deixei levar sem pensar demais, fui rejeitada. Girei em direção à
saída quando Robbie me pegou pela mão.
— Sinto muito — disse ele.
— Não, eu que sinto muito — falei, incapaz de olhar para ele. —
Não devia ter presumido. Quer dizer, não pensei… — Não continuei
a frase por medo de que, se dissesse mais alguma coisa, faria um
papel de idiota ainda maior.
— Eu me importo com você. Muito.
Fechei meus olhos. Pude ouvir o “mas” silencioso no final de sua
frase. Eu me importo com você, mas apenas como uma amiga.
Pare de desejar mais, Elena, pensei. Ou você vai se machucar ainda
mais.
Trinta e quatro

Robbie ficou em silêncio durante a maior parte do caminho


até o hotel.
Ele continuava repassando o mesmo momento repetidamente em
sua cabeça. Elena estava em seus braços. Seu cabelo tinha cheiro de
lavanda. Ela o olhou como se ele fosse a única pessoa em todo o
mundo. E então se inclinou na direção dele. Tudo o que Robbie
queria fazer era ir ao encontro dela e beijá-la. Mas não podia, não
com sua mentira pairando sobre eles.
E, quando ele se afastou, ela pareceu tão magoada. Robbie sabia
que não poderia mais fazer isso.
— Você não pode ficar tirando tanta folga — alertou Hanbin do
banco da frente. — Eu te dei essas deixas por causa do que está
fazendo por Jongdae. Mas, na próxima semana, vamos começar os
ensaios completos para o KFest.
— Eu sei — disse Robbie, afundando-se em seu assento. Ele não
queria falar sobre Elena com Hanbin. Toda vez que fazia isso,
parecia que os sentimentos agradáveis que sentia por ter estado com
ela eram sugados até ele não poder mais sentir a presença de Elena.
— A reação à postagem do Instagram foi positiva, no geral. É um
bom sinal — contou Hanbin. Robbie meio que esperou que seu
empresário pegasse sua lista e marcasse a tarefa como feita. Mas
Hanbin não anotaria isso. Se alguém visse, seriam expostos, e não
teria como voltar atrás dessa mentira.
E Robbie não sabia quem ele mais temia que descobrisse: os fãs
ou Elena.
— Seria bom se pudéssemos postar outra foto com ela, talvez
uma selfie desta vez? — sugeriu Hanbin.
— Não — respondeu Robbie, para a própria surpresa.
— O quê? — Hanbin franziu a testa para o espelho retrovisor.
— Chega de postagens — falou Robbie, com mais ênfase. —
Chega de testar o terreno. Chega de mentiras. Ela é uma pessoa real
com sentimentos reais.
— Achei que tínhamos conversado sobre isso. Não estamos
mentindo. Estamos apenas deixando os fãs acreditarem no que
quiserem e vendo o que acontece.
— Não quero mais ser sua cobaia. Eu nem devia ter concordado
com isso para início de conversa. Só quero poder passar um tempo
com minha amiga antes de ter que deixá-la de novo.
— E se eu te dissesse que, se você desistir desse acordo, não vou
mais apresentar sua música para a empresa?
Robbie sentiu um aperto no coração. Ele havia esperado anos
pela chance de ter sua música ouvida. Mas realizar seu sonho às
custas de Elena iria arruiná-lo para sempre.
— Então vou encarar as consequências.
Trinta e cinco

Não falei com Robbie o fim de semana inteiro. Eu só soube


que eles tinham deixado Chicago quando vi a apresentação do WDB
na Times Square no Good Morning America.
Talvez fosse melhor assim, eu me disse. Deveríamos voltar às
nossas vidas separadas agora para que não fosse um choque quando
ele voltasse para Seul. Era um plano inteligente. Então, por que eu
ficava decepcionada sempre que mais um dia se passava sem uma
mensagem dele?
Faltando menos de duas semanas para o baile, estávamos indo ao
centro comunitário todos os dias depois da escola. Na terça-feira,
Caroline declarou que precisava de um dia de descanso. Como se
estivesse criando um mundo inteiro, não pendurando enfeites
metálicos. Mas ninguém protestou. E, para ser sincera, preferia
quando ficávamos apenas eu, Josie e Felicity. Estranhamente, as
coisas entre mim e Felicity se estabilizaram. Era como se, no
momento em que tivemos nosso pequeno confronto, a animosidade
entre nós tivesse se dissipado, virado pó, de forma que nenhuma de
nós se importava o suficiente para insistir no assunto.
O lado bom da ausência de Caroline era que Felicity e Josie não
se importavam se as crianças do centro ajudassem a pintar. E, se elas
sujassem tudo, era para isso que o pano embaixo das estrelas servia.
— Ainda bem que as crianças podem usar essa tinta — disse Josie
enquanto observava Jackson se sujar todo de prateado.
Eu ri e decidi que ele já havia se divertido o suficiente com as
tintas por hoje. Se deixássemos Jackson continuar, Tia encontraria
uma criança completamente prateada quando voltasse. Eu o peguei
no colo, ignorando seus protestos enquanto o levava até o banheiro
para lavá-lo.
Quando voltei, congelei ao ver Robbie sentado com Josie e
Felicity, desembaraçando pisca-piscas.
Contraí meus punhos imediatamente. O que ele estava fazendo
aqui? Achei que Robbie fosse querer um pouco de espaço depois
daquele momento desastroso no telhado. Mas aqui estava ele, sem
aviso prévio.
— Ei! Recrutamos dois voluntários. — Josie apontou para Robbie
e seu empresário (não era Hanbin desta vez), que haviam sido
encarregados de pendurar guirlandas prateadas.
Forcei minhas mãos a se abrirem e esfreguei as palmas suadas
contra meu jeans. Tentei dizer alguma coisa, mas minha boca estava
seca demais para emitir qualquer som.
Robbie resolveu o problema ao se aproximar. Parou a cerca de
um metro de distância, como se sentisse que eu precisava de espaço.
E ele tinha razão. Sentia-me como um gigante nervo exposto. Eu
estava com medo de que o menor toque me desestabilizasse.
— Oi — disse Robbie.
— Ah, oi — falei, ainda incapaz de erguer meus olhos para ele.
Gostaria de não ter uma plateia para seja lá o que isso fosse.
Especialmente se ele tivesse vindo para cancelar oficialmente nosso
encontro no baile.
— Desculpa ter estado tão ocupado nos últimos dias.
Por fim, olhei para cima e vi Robbie morder seu lábio inferior. Ele
também estava nervoso? Vendo isso, relaxei um pouco.
— Tudo bem. Mas não precisa mesmo ajudar com a decoração —
falei.
— Vale a pena, se eu puder passar um tempo com você — disse
Robbie com um sorriso hesitante que fez suas covinhas aparecerem
levemente.
Não pude lutar contra o pequeno sorriso que se formou no canto
dos meus lábios. Agora que eu finalmente o estava analisando, algo
parecia diferente nele. Robbie parecia mais solto, mais relaxado.
Como se um peso gigante e desconhecido tivesse sido tirado de suas
costas. Eu me perguntei se sua viagem a Nova York tinha ajudado
nisso de alguma forma.
— Então, por que você veio? — perguntei.
O sorriso de Robbie se tornou divertido.
— O quê? Não acredita que tive uma vontade profunda e
repentina de pintar estrelas de papelão?
Não consegui evitar minha risada de resposta:
— Quer dizer, claro, essa é a coisa mais legal para fazer hoje em
dia. Mas achei que seria educado perguntar se tinha mais algum
motivo.
— Eu queria te convidar para um lugar.
— Hoje? — perguntei, olhando para a enorme bagunça de
artesanato à nossa volta. — Acho que não posso sair agora.
— Ah, não. Eu nunca ia tirar você da sua… arte — disse Robbie
com uma risada bem-humorada. — Mas tá ocupada neste fim de
semana?
— Hum, você não tá ocupado? — respondi. — Não é o fim de
semana do KFest?
— Sim, e eu queria que você viesse. Se estiver livre.
Eu não sabia o que dizer. Sabia que os ingressos tinham esgotado
há meses, poucas horas depois de terem sido colocados à venda. O
pessoal da escola estava morrendo de vontade de ir. Eu até ouvi
Karla dizer que implorou para seus pais lhe darem quinhentos
dólares para comprar os ingressos que estavam sendo revendidos
online.
— Sério? Você quer que eu vá? — perguntei, um pouco insegura.
— Não quero atrapalhar.
— Atrapalhar? Agora você é nosso amuleto da sorte não oficial.
Aquele vídeo do ensaio de dança é o mais assistido do nosso canal.
Minseok disse que vamos falhar miseravelmente se você não for.
Eu ri.
— Bem, não posso decepcionar o Minseok.
— Vamos lá, menos conversa e mais pintura! Não tô pagando
vocês para desperdiçarem tempo de trabalho com fofocas —
interrompeu Josie, fingindo tocar em um relógio de pulso invisível.
— Sim, falando nisso — falei, sentando ao lado dela. — O que
você acha de dar um aumento agora que estamos contratando
terceirizados?
— Quais são suas exigências? — Josie estreitou os olhos quando
Robbie se sentou ao meu lado.
— Que tal três vezes o valor atual? — perguntou Robbie.
— Bem, três vezes zero é zero. Então, negócio fechado. Agora,
mãos à obra — disse Josie, estendendo um pincel.
Enquanto eu amarrava flores metálicas umas nas outras para
formar uma guirlanda que serviria de fundo fotográfico, meus olhos
continuavam se desviando em direção a Robbie. Definitivamente
havia algo diferente nele. Ele parecia… mais radiante. Eu não
conseguia desviar o olhar. Agora, Robbie estava muito concentrado
ao pintar de dourado metálico as estrelas de papelão. Tentando
passar o pincel nas pequenas fendas da borda, sua concentração era
tão profunda que ele estava fazendo aquela coisa de morder
levemente a língua no canto da boca. Quando éramos crianças, eu
costumava dizer que, se alguém o surpreendesse, ele poderia acabar
arrancando a ponta da língua com uma mordida, mas Robbie dizia
que não conseguia evitar, e acho que acabou nunca perdendo o
costume.
Estendi a mão e cutuquei sua bochecha, e ele ergueu a cabeça,
meio surpreso.
— Para que isso?
— Você tava fazendo aquela sua cara de bobão com a língua para
fora. Não queria que você mordesse a língua por acidente. — Eu ri.
Ele franziu a testa.
— Valeu, Hanbin-hyung também odeia quando faço essa cara.
— Eu não odeio. Na verdade, acho meio fofo.
Ele arqueou uma sobrancelha para mim.
— Sério? Você costumava pegar no meu pé por causa disso.
— Sim, é. Você sabe o que dizem sobre o jeito que as criancinhas
flertam — falei.
— Flertam? — perguntou Robbie.
Por que fui dizer isso? Eu estava tão à vontade que escapou.
— Sim, quer dizer, você sabe: essas coisas bobas que fazemos
quando somos crianças — falei, apenas juntando palavras sem
sentido esperando que ele deixasse para lá. Abaixei a cabeça,
decidindo que eu precisava me concentrar muito para enfiar o
barbante em mais flores metálicas.
— Quando foi que você flertou comigo quando a gente era
pequeno? — perguntou Robbie, aproximando seu rosto de forma
que eu não pudesse evitar seu olhar.
Desisti e larguei minha guirlanda.
— Qual é, não é possível que você não sabia que era meu crush.
— O quê? — perguntou. — Quando?
— Por um tempinho na terceira série, achei que você era meio
que fofo. — Mantive meu tom leve, com cuidado para ter certeza de
usar todos os verbos no passado.
— Para de gracinha. Isso não é verdade. — Robbie balançou a
cabeça.
— Estou te falando que é. — Eu ri. — Mas desisti, porque você
não percebeu, e odeio esperar.
— Então você devia ter me dito — murmurou, voltando a girar o
pincel na tinta que estava começando a secar.
— Bem, acho que agora nunca vamos saber o que teria sido do
nosso grande amor de terceira série — brinquei.
Robbie franziu a testa e pegou o frasco de tinta para esguichar
mais em seu recipiente. Mas, depois de sacudi-lo por um minuto
inteiro, ele olhou para cima.
— Acabou.
— Vou pegar mais. — Prontifiquei-me.
De qualquer forma, eu precisava esticar minhas pernas. Estavam
começando a ficar dormentes, e bati meus punhos contra elas
enquanto caminhava até o depósito. Ele estava cheio, armazenando
todos os equipamentos esportivos do centro, mas Cora havia nos
dado uma prateleira alta para colocarmos todas as tintas necessárias
para a decoração do baile.
Ouvi a porta abrir e meio que esperei que fosse Josie vindo
fofocar sobre Robbie, mas era o próprio.
— Eu te disse que ia pegar a tinta — falei, dando um passo para
trás enquanto ele se espremia no quartinho apertado.
— Eu sei — disse Robbie quando a porta se fechou atrás dele. O
depósito era iluminado apenas por uma lâmpada fraca, que lançava
tudo na penumbra. Desse jeito, era impossível eu ler sua expressão.
— Entãããão — arrastei a palavra nervosamente, uma centena de
borboletas batendo as asas no meu estômago —, pode voltar lá para
fora com os outros.
— Você realmente tinha um crush em mim? — perguntou, seus
olhos escuros me prendendo no lugar.
— Quer dizer, foi há muito tempo. — Minha voz soou fraca, e o
ar de repente pareceu muito denso.
— Não faz tanto tempo, se você ainda tá trazendo isso à tona. —
Ele arqueou uma sobrancelha.
— Que seja. — Eu ri e o empurrei, mas Robbie não se mexeu. —
O que deu em você? Tá agindo tão estranho hoje.
— Nada. Só tô sendo eu mesmo — murmurou, inclinando-se
para mais perto. — Mais eu mesmo do que tenho sido há algum
tempo.
— Que… bom — gaguejei, sentindo que, de repente, o espaço era
pequeno demais para duas pessoas.
— Sabe, eu também tinha um crush em você. — Ele se aproximou
ainda mais. Tentei recuar, mas a prateleira pressionou minhas
costas.
— Quando? — sussurrei.
Robbie se inclinou até nossos olhos ficarem alinhados.
— Quando você gostava de mim? — perguntei outra vez, e eu
podia ouvir meu sangue pulsando tão alto quanto as Cataratas do
Niágara.
— Adivinha.
Eu queria dizer agora, porque queria tanto que fosse verdade,
mas apenas dei de ombros, com muito medo de responder. Tinha
aprendido a lição semana passada no telhado.
Robbie se aproximou ainda mais, e eu fechei meus olhos com
força, esperando pelo que viria a seguir. Mas ele apenas ficou na
ponta dos pés e estendeu a mão por trás de mim para pegar um
frasco de tinta dourada.
— Não foi para isso que você veio aqui?
— Hein? — falei enquanto Robbie colocava o frasco em minhas
mãos, fechando-as com as dele. Ficamos assim, com as mãos em
concha por uns dez segundos intermináveis. Então, ele deu um
passo para trás e abriu a porta. Cambaleei para a frente, como se
meu corpo fosse magneticamente atraído pelo dele.
— Te vejo lá fora — falou com um sorriso.
A porta se fechou atrás dele, e eu apertei a tinta contra meu
coração ainda acelerado. O que tinha acabado de acontecer? Estava
tão confusa. Mas de uma coisa eu sabia: precisaria ficar aqui por
alguns segundos para me recompor antes de sair outra vez.
Trinta e seis

Não sou o tipo de pessoa que se importa muito com o que


veste. Apenas coloco algo limpo e confortável (e “limpo” é
negociável). Mas, enquanto me via diante de cada peça que possuía
neste mundo, percebi que, pela primeira vez na vida, estava tendo
problemas com roupas.
Não era o baile que me preocupava. Eu já havia dado um jeito
nisso. Comprei um vestido usado muito legal em um brechó na
Main Street. Era azul elétrico com uma silhueta retrô de linha A, as
mangas um pouco bufantes, mas não a ponto de parecer ridículo.
Até mandei fazerem a bainha logo acima dos joelhos para deixá-lo
mais moderno. O visual era perfeito para o tema dos anos 80 e me
custou menos de 35 dólares no total.
Era o KFest que me preocupava. Havia vlogs inteiros de
YouTubers dedicados a como deram tudo de si na escolha de suas
roupas para o evento. E este show abriria o evento. Eu não podia
parecer desleixada.
Além disso, Robbie havia me dito que me conseguiu um passe
VIP para que eu possa ter acesso aos bastidores. O que significava
que estaria no mesmo ambiente de dezenas de idols. E não conseguia
tirar da cabeça alguns comentários maldosos do vídeo do promposal.
Como os que diziam que eu parecia uma soccer mom.
Peguei mais uma camisa e considerei usá-la. Era a única que
tinha algum tipo de brilho. Apesar de as lantejoulas se parecerem
mais com algo saído dos anos 2000 do que com alguma tendência de
moda atual. Tentei me lembrar se eu tinha herdado isso de Sarah e,
honestamente, não consegui me recordar.
Tirei uma foto e enviei para Josie. E, antes que eu pudesse mudar
de ideia, enviei para Sooyeon também. Ela havia me dado seu
número e dito que eu poderia enviar uma mensagem, se precisasse
de alguma coisa. E eu definitivamente precisava da ajuda de alguém
que entendesse de moda para esse tipo de situação.
Quando Josie e Sooyeon responderam, recebi a confirmação de
que a camisa era boa para a escola, mas não para um grande show.
— Ei, Elena? — Ethan bateu na minha porta aberta e, então,
congelou na entrada. Olhei à minha volta; acho que realmente
parecia que uma bomba tinha sido detonada no meu armário.
— Ethan, estou ferrada — falei, desabando na pilha de roupas.
Pelo menos, davam uma boa almofada. Mas, sinceramente, só
serviam para isso.
— O que você tá fazendo? — perguntou com um ar risonho.
Estreitei meus olhos, e ele, sabiamente, endireitou os lábios.
— Tô tentando encontrar uma roupa para usar no fim de semana,
mas não tenho nada que não pareça… usado.
— Isso que acontece quando você não compra nada novo por três
anos. — Ethan entrou e pegou um par de leggings. Enrolou-a nas
mãos, em uma tentativa meia-boca de dobrá-la.
— Ser amiga de Josie me deixa ciente demais da crise ambiental
do fast fashion. Você sabe quantos quilos de roupas são jogados fora a
cada ano?
Ethan riu.
— Honestamente, não sei e acho que não quero saber. Na
verdade, queria falar com você sobre o baile.
— Ai, senhor, por favor, não. Chega de problemas com o baile. O
que foi agora? Uma petição para fazer mais arcos de balões ou algo
do tipo?
— Vão ter arcos de balões? — perguntou Ethan. — Por quê?
Balancei a cabeça. Já podia sentir a dor de cabeça de estresse
chegando:
— A esta altura, eu nem sei mais.
Ethan suspirou, torcendo a legging com mais força. Eu queria lhe
dizer que, se continuasse fazendo isso, ele iria esgarçá-las, mas, antes
que pudesse falar alguma coisa, ele disse:
— Então, pensei que talvez devesse te contar com quem vou ao
baile.
Ethan estava me contando sobre sua vida amorosa? Por acaso o
sol havia começado a se pôr no leste?
— Vou com a Felicity.
Agora eu me sentei.
— Felicity? Fitzgerald?
— É — disse Ethan lentamente, olhando para mim como se
estivesse observando um gato selvagem prestes a atacar.
Uma dúzia de reações passou por mim. Mas as mais fortes foram
confusão e aborrecimento. É claro que Ethan convidaria Felicity para
o baile. Sem nem pensar no fato de que Felicity havia me
atormentado regular e publicamente nos últimos três anos.
Mas você não estava achando que está se dando bem com ela agora?
Disse uma voz na minha cabeça. Uma voz que, suspeitamente,
parecia a da minha mãe.
Seria mais fácil só deixar isso para lá. Era o que esperavam de
mim. Mas fiquei pensando sobre todas as vezes em que os amigos de
Ethan me provocaram impiedosamente nas últimas duas semanas, e
ele não me defendera. Desta vez, nu não queria só deixar para lá.
Isso fazia parte de um padrão em que o príncipe Ethan fazia o que
bem queria sem se importar comigo.
— Não sei por que você tá me contando isso quando sei que nada
do que eu disser vai mudar alguma coisa.
Ethan franziu a testa:
— Não tô te contando porque quero sua opinião. Só tô te
alertando porque sei que você surtaria se eu não falasse nada.
Meu sangue ferveu com suas palavras.
— Não é surtar. É ficar irritada por você não se importar o
suficiente com meus sentimentos e convidar a única pessoa que eu
poderia, com razão, considerar minha arqui-inimiga.
— Você tá sendo muito dramática. — Ethan ergueu os olhos para
o teto, o que me deixou ainda mais irritada.
— Tá bom, faz o que quiser. Você nunca se importa com o que
acontece na minha vida. Então por que eu deveria me importar com
o que tá acontecendo na sua?
Agora Ethan parecia irritado:
— Isso é muito injusto! Só é assim porque você quer!
— O quê? — Ele não estava fazendo nenhum sentido.
— A gente só fica fora da vida um do outro porque você quer. —
Ethan torceu a legging com tanta força que ela começou a ficar
transparente nas costuras.
Tentei pegá-la, mas ele se afastou.
— Você tá esgarçando a calça! — falei. Mas ele ergueu os braços
acima da cabeça com ela. — Ethan, para com isso! — Pulei, mas
ainda não consegui alcançá-la.
— O que tá acontecendo aí em cima? — A voz da minha mãe veio
do andar de baixo. — Elena, não grita com seu irmão!
Ah, claro. Só eu que gritei. Eu estava praticamente soltando
fumaça.
Ethan finalmente abaixou o braço, e peguei a legging de volta.
— Só me deixa em paz — sussurrei para que minha mãe não
conseguisse ouvir com sua superaudição.
— Tá bom. Eu nem deveria ter me dado ao trabalho de te contar.
— Ele saiu furioso e entrou em seu quarto, batendo a porta atrás de
si.
— Elena! — gritou minha mãe.
Segurei um grito enquanto fechava minha porta, jogando a
legging no chão em frustração. Ela estava definitivamente esgarçada.
Trinta e sete

Eu não tinha mais energia para continuar procurando roupa


depois da minha briga com Ethan.
Quase mandei uma mensagem para Josie reclamando de toda a
situação, mas senti que não era algo que se compartilhava. Para ser
honesta, Ethan nunca havia ficado bravo comigo assim. Sempre
presumi que era porque ele nunca tinha se importado o suficiente
com qualquer coisa que eu tivesse feito para chegar a ficar bravo.
Comecei a pegar minhas roupas, pensando que era melhor
arrumar tudo antes que minha mãe subisse e tivesse um aneurisma,
mas meu corpo não queria se mover da posição atual, jogado na
cama.
Meu celular vibrou, e quase o ignorei, mas sabia que, se fosse
Josie, ela continuaria mandando mensagens. Eu me sentei, surpresa,
quando vi o nome de Robbie.

ROBBIE: Abre a porta.

E a campainha tocou.
Uma adrenalina percorreu meu corpo e, esquecendo minha
exaustão anterior, desci as escadas correndo. Por um momento
fugaz, pensei que ter um namorado deveria ser assim. Ficar tão
animada para vê-lo que você não consegue chegar à porta rápido o
suficiente.
Eu a abri e só fiquei parada lá, deixando a eletricidade do
momento soltar faíscas entre nós dois. Desde seu comportamento
estranho no depósito, era como se houvesse um elástico esticado
entre nós, e eu sentia que o primeiro a se mover iria arrebentá-lo.
— Você tá bem? — perguntou Robbie, um sorriso hesitante
iluminando seu rosto.
— Ah, sim. Tô bem — falei, saindo do meu devaneio. — Calma
aí. Como assim você tá aqui? Achei que estivesse com a agenda cheia
de ensaios até o KFest!
— Dei uma escapada. — Ele sorriu e ergueu uma bolsa de
viagem.
— O que é isso? — Estava indo viajar?
— É surpresa.
— Ah, bem. É uma… bolsa bonita — falei, embora fosse bastante
normal. E usada.
Robbie riu.
— A bolsa não é a surpresa. — Ele entrou e tirou os sapatos. —
Abre.
Olhei para o corredor em direção à cozinha, perguntando-me se
minha mãe colocaria a cabeça para fora.
— Certo, mas vamos subir primeiro.
Quando entramos no meu quarto, só me lembrei do estado dele
quando já era tarde demais. Comecei a dar meia-volta para bloquear
a visão de Robbie. Mas ele entrou e soltou um assobio baixo.
— Lani, não queria te dizer isso, mas… acho que você foi
roubada.
— Não tira sarro de mim. Tô tendo um surto de guarda-roupa.
— Bom, é para isso que serve o seu presente.
— Sério? — perguntei confusa. — É um organizador de roupa ou
algo do tipo?
Robbie riu enquanto abria o zíper da bolsa. Ele tirou de dentro
um vestido vermelho de lantejoulas. Era de um ombro só com uma
bainha assimétrica. Eu não entendia nada de moda, mas sabia que
esse vestido era lindo.
Ai, meu Deus. Eu estava vivendo um momento no estilo de Uma
Linda Mulher? Robbie era meu Richard Gere?
— Como você soube? — perguntei, aproximando-me e tirando as
roupas de dentro da bolsa, uma mais linda que a outra.
— São da Sooyeon. De seu guarda-roupa de turnê. Ela não
precisa de nenhuma dessas roupas para o KFest. Então me disse que
você poderia escolher uma para vestir no sábado.
Não era um momento no estilo de Uma Linda Mulher. Era um
momento no estilo de Cinderela. E Sooyeon era minha fada
madrinha.
— Quer provar alguma? — perguntou Robbie.
— Não — falei, pegando com cuidado a preciosa bolsa e
colocando-a delicadamente na cadeira da minha escrivaninha. —
Quero fazer uma surpresa para você.
Robbie riu.
— Mas você não me enviou uma selfie com seu vestido do baile?
— É só o baile. — Dei de ombros.
— Você é estranha, Elena Soo.
— É por isso que você me adora — falei com uma piscadela de
brincadeira. Eu estava me sentindo inebriada pelo presente.
— Claro — disse Robbie, aproximando-se da minha cômoda e
pegando um velho porta-joias.
— O que você tá fazendo? — perguntei, estranhamente
autoconsciente de como ele estava inspecionando o espaço.
— Faz sete anos que não venho aqui. Não mudou muito.
— Mudou, sim.
Ele me lançou um olhar cético.
— Eu tenho novos… — Olhei em volta. — Lençóis.
Robbie riu enquanto puxava um caderno da prateleira.
— É da minha fase de poesia — falei, arrancando-o de sua mão.
Não queria que ele visse meus poemas ruins quando era um
compositor tão talentoso.
Robbie pegou um caderno de desenhos amassado.
— Minha fase artística. — Também o puxei de sua mão.
Ele riu e pegou mais três cadernos, erguendo-os.
— Escrita criativa. Jornalismo. Bullet Journal. — Agarrei cada um
deles enquanto listava meus hobbies abandonados, segurando agora
uma pilha de meus fracassos.
— Que legal — disse ele enquanto eu colocava os cadernos de
volta na prateleira.
— Que sou um fracasso em tudo que tento? — zombei.
— Que você continua tentando — disse ele. — Na nossa idade, a
gente ainda não precisa saber quem é, Lani.
— Você sabe — apontei.
Robbie me dirigiu um olhar estranho, sua cabeça inclinada:
— Por que isso é tão importante para você?
— Hein? — falei, sem entender o que estava realmente
perguntando.
— Que diferença faz você saber, agora, pelo que é apaixonada?
— É que… — Fiz uma pausa. — Eu sou como um livro vazio.
Ninguém tem interesse em ler uma página em branco.
Robbie franziu a testa e colocou as mãos nos meus ombros.
— Elena, a gente pode descobrir carreiras, hobbies e sonhos a
qualquer momento. O que te torna interessante não é uma única
coisa só. Você é composta de tantas coisas bonitas. Sabe disso, não é?
Tive que piscar com força porque, de repente, meus olhos
estavam ardendo. Era a primeira vez que alguém dizia que eu era
boa o suficiente do jeito que eu era desde… bem, desde Robbie,
quando criança.
— Ahn, vai falar isso para os orientadores da minha escola.
Ele riu e deixou suas mãos caírem dos meus braços, pegando
coisas aleatórias da minha cômoda bagunçada. Robbie pegou uma
edição bem gasta de Para Todos os Garotos que Já Amei, expondo uma
cópia novinha em folha do último álbum do WDB. Tentei agarrá-lo,
mas ele foi muito rápido.
— Ora, ora, ora. Você é uma Constellation secreta, Elena?
— Não — falei, arrancando o álbum de sua mão. — Só estou
apoiando meu amigo. Cada venda conta, sabe.
— Tem razão. Eu não devia te provocar. Agradecemos o apoio —
disse ele com uma reverência.
Ri enquanto colocava o álbum entre Simon e Starr na minha
estante lotada.
— Sabe — refleti. — Eu meio que curtia o WDB quando a
empresa lançou seus teasers de pré-debut.
— O quê? Não curtia, não — disse Robbie, olhando-me com
desconfiança.
— Curtia, sim — insisti, sorrindo para seu olhar cético. — Eu
sabia tudo da biografia do JD e do Minseok.
Robbie franziu a testa.
— O que foi? — perguntei, gostando de sua óbvia irritação.
— Por que eles?
— Bem, o Minseok é hilário. Qualquer um podia ver isso, mesmo
naquela época. E JD… — Eu apenas suspirei. E contive uma risada
quando a carranca de Robbie se intensificou tanto que ficou
parecendo a de Jackson quando fazia birra.
— Você…? — Ele não continuou a frase.
— O quê? — Cutuquei Robbie, contendo um sorriso. Era quase
fácil demais provocá-lo agora que eu sabia onde atingi-lo.
— Você já teve um crush nele?
— Talvez — admiti. — É que ele era tão legal.
— Você ainda gosta dele? — Era difícil manter uma cara séria ao
ver sua expressão grave.
— Claro que não. — Eu finalmente ri. — Ah, qual é, não faz birra.
Eu te disse que tinha um crush em você na terceira série. É tudo
igual.
— Não, não é. As coisas nunca são iguais entre você e eu. —
Robbie estava me olhando de um jeito engraçado. Isso fez minhas
entranhas se contorcerem e meu coração apertar.
— Claro que são — falei baixinho, tentando ignorar minha
pulsação acelerada. — Por que não seriam?
— Você realmente não sabe? — perguntou. — Que eu teria feito
qualquer coisa por você?
— Sério? Roubaria um carro por mim? — Tentei
desesperadamente escapar dessa situação com uma brincadeira,
porque nunca tinham me olhado do jeito que Robbie estava me
olhando. Eu não conseguia pensar. Se ele ao menos piscasse ou desse
um passo para trás, talvez eu fosse capaz de recuperar meu fôlego.
— Tô falando sério — disse ele. — Você foi meu primeiro amor,
Lani.
Eu tentei sorrir, mas o sorriso parecia vacilante no meu rosto.
— Qual é, “primeiro amor” é coisa de filmes e doramas.
— Por quê? — Robbie inclinou a cabeça. — Você foi minha
primeira crush. Meu primeiro beijo. A primeira pessoa para quem
tive vontade de dizer “eu te amo” fora da minha família.
— Quando você teve vontade de dizer isso? — Por que eu estava
soando tão sem fôlego? Robbie conseguia perceber isso na minha
voz?
— Naquela noite em que eu te contei que a gente ia se mudar —
respondeu ele sem hesitar. — Eu tinha planejado tudo: ia tocar nossa
música e confessar que te amava.
— Isso é ridículo. — Forcei uma risada, mas tudo que saiu foi um
som de nervosismo. Eu me disse que Robbie estava falando do
passado. Isso não significava que ele ainda sentia o mesmo. Mas
estava me olhando tão atentamente que estava confundindo o meu
cérebro. — Por que você se esforçaria tanto?
— Porque você vale a pena. — Tentei procurar por um sorriso,
por uma piada. Mas ele parecia muito sério.
— Mas você não está aqui para ficar — apontei. — Vai voltar
para Seul em breve e estará do outro lado do mundo outra vez. —
Por que eu estava questionando tudo o que Robbie estava dizendo?
Por que eu sentia que tinha que rejeitá-lo antes que ele pudesse me
rejeitar?
— Você tem razão — admitiu, e deixei meus ombros caírem por
ele ter concordado tão facilmente.
Então Robbie deu um passo em minha direção.
— Meu appa costumava dizer que, para começar a mudar as
coisas, você só precisa dar um único passo.
Prendi a respiração, esperando o que ele diria a seguir.
— Então, você acha que pode tentar? Apenas um passo.
Eu não conseguia recuperar o fôlego para dizer alguma coisa,
mas dei um passo à frente. E Robbie sorriu, segurando meu rosto
com as mãos, a sensação quente de suas palmas contra minhas
bochechas.
— Você não fala como nenhum garoto do ensino médio que eu
conheço — falei quando finalmente encontrei minha voz. — Faz
sentido você escrever músicas.
Robbie riu, um som baixo, mais parecido com um zumbido.
— É por causa de todos os doramas que eu vejo — disse. E
abaixou um pouco a cabeça, seus olhos fixos nos meus. Robbie
arqueou as sobrancelhas, e eu percebi que ele estava me fazendo
uma pergunta. Você topa?
Em resposta, fiquei na ponta dos pés e diminuí o espaço entre
nós. Foi a segunda vez que beijei Robbie Choi. E foi infinitamente
melhor que a primeira.

WDB (원더별): PERFIL DOS MEMBROS


NOME ARTÍSTICO: Jun
NOME: Xiao Dejun (소데준/萧德钧)
POSIÇÃO NO GRUPO: subvocal, main dancer
ANIVERSÁRIO: 5 de dezembro
SIGNO: Sagitário
ALTURA: 182cm
PESO: 65kg
TIPO SANGUÍNEO: A
LOCAL DE NASCIMENTO: Distrito de Haidian, Pequim,
China
FAMÍLIA: mãe, pai, duas irmãs (mais novas)
HOBBIES: futebol
EDUCAÇÃO: ele se formou na Escola de Ensino Fundamental
Beijing Shida e frequentou o internato
COR DO LIGHTSTICK: vermelho

FATOS SOBRE JUN:


Antes de entrar para o grupo, era jogador de futebol. Ele
ainda adora jogar.
Fez o teste para uma grande agência de entretenimento
quando tinha 15 anos e foi para Seul treinar.
Acabou deixando a agência e se juntando à Bright Star
quando tinha 16 anos.
Debutou quando tinha 17 anos (18 na idade coreana).
Suas comidas favoritas são qualquer coisa que contenha
pão ou seja feita disso (pizza, sanduíches etc.).
Gosta do número 7.
Sua cor favorita é preto.
Sabe tocar guitarra.
É amigo de Sungchan, do NCT; Chenle, do NCT; e
Kuanlin, do Wanna One.
Seu comediante favorito é Yoo Jae-suk.
É o melhor cozinheiro do grupo. Sempre cozinha para
todos quando estão em casa.
Seu tipo ideal é Kim Tae-hee.
Trinta e oito

Na quinta-feira anterior ao KFest, voltei ao centro


comunitário para ajudar na decoração, mas, na verdade, estava
esperando por Tia. Eu precisava conversar com ela sobre o que
estava acontecendo entre mim e Robbie. Eu tinha tantos
pensamentos girando perigosamente na minha cabeça. O que
éramos um para o outro? O que significava o fato de termos nos
beijado agora? Era algo que só duraria até o baile? E o que eu faria
quando ele tivesse que ir embora?
Ouvi o grito de alegria de Jackson atrás de mim e me virei para
pegá-lo no meio de um pulo.
— Elena-lena-lena! — cantou, praticamente vibrando em meus
braços.
— E aí, Jack-Jack?
— Vamos ter uma casa nova! — gritou ele, jogando os braços
para o ar no momento em que Tia chegou apressada.
— O quê? — Sorri para Tia, surpresa. — Como assim?
Eu estava confusa. Tia odiava seu apartamento (que tinha
problemas de fiação e uma torneira pingando), mas, toda vez que eu
sugeria que ela se mudasse, dizia que era o único lugar que podia
pagar.
— Jackson, vai procurar a senhorita Cora — pediu Tia, pegando-
o dos meus braços. Ele foi imediatamente, chamando por Cora e
gritando sobre sua nova casa.
— Você conseguiu a promoção? — perguntei, meu sorriso se
alargando.
— Sim, mas…
Envolvi Tia em um abraço.
— Isso é ótimo! Tô tão feliz por você.
— Sério? — perguntou Tia. — Isso é ótimo, porque tô querendo
conversar sobre esse assunto há um tempo.
Eu ri:
— Não precisava disso tudo. Podia só ter me contado. — Por que
Tia estava me olhando com esse olhar estranho e cauteloso? Era uma
boa notícia.
— Hum, não é sobre a promoção. É sobre o lugar para onde estou
sendo promovida.
— O quê? Não é na mesma loja? — Seu tom hesitante estava
fazendo o medo se instalar em meu estômago.
— Não — disse Tia. — Mas a promoção não é apenas para
gerente de piso. É para gerente assistente. Em Ann Arbor.
— Ann Arbor? — Franzi a testa, ainda sem conseguir processar
totalmente. — Em Michigan?
Não, isso não poderia estar certo. Tia e Jackson moravam em
Illinois. Foi aqui que ela tinha estudado. Tia era parte vital do centro.
Da minha vida. Ela não poderia estar indo embora.
— É sobre isso que eu queria conversar. Queria ter certeza de que
estava… tudo bem — disse ela lentamente, observando-me com
cautela.
— Mas por que eles não podem simplesmente manter você na
mesma loja? E quanto ao cargo de gerente de piso?
— É um bom emprego, Elena, mas, com o aumento que receberia
como gerente assistente, eu poderia comprar um carro novo. E pagar
atividades extracurriculares para o Jackson.
— Ele tem atividades extracurriculares aqui — insisti, quase
estremecendo com meu tom irritado. Eu podia sentir o início de uma
crise. Tia estava me deixando. Assim como Esther, Allie e Sarah.
Estava seguindo em frente com sua vida, e eu não fazia mais parte
disso. Ela iria embora e prometeria manter contato, mas logo ficaria
“tão ocupada” que as ligações diminuiriam até cessarem por
completo. E ela simplesmente seguiria em frente. E eu ficaria
sozinha. Esquecida.
— Tudo bem — falei, minha voz rígida. Eu não queria arriscar
dizer mais nada. Sabia que esta era uma ótima oportunidade para
Tia. Que ela merecia isso. Sabia que, se deixasse as lágrimas que
queimavam em meus olhos caírem, então eu pareceria uma grande
pirralha.
— Elena, não quero que você fique chateada.
— O quê? — Tentei soltar uma risada, mas saiu entrecortada por
um soluço. — Não tô chateada. Só muito ocupada. Tenho que
terminar essas decorações e fazer o dever de casa que estou
enrolando para começar. Então, parabéns, eu acho, e me envia umas
fotos da casa nova quando chegar lá. — Eu me voltei para a caixa de
luzes cintilantes que estava desembaraçando, fechando os olhos com
força para conter as lágrimas.
Ouvi Tia arrastar os pés atrás de mim. Como se estivesse
refletindo se deveria continuar a conversa ou não. Então, por fim, ela
disse:
— Te ligo mais tarde. — E foi embora.
Finalmente deixei as lágrimas espessas caírem, enxugando-as
inutilmente com a manga da camisa. Eu já tinha ouvido essas
palavras tantas vezes antes. Mas ninguém nunca ligava.
Trinta e nove

No dia do KFest, eu sabia que precisava de uma distração. Ethan


estava me evitando a todo custo em casa. E agora o centro não
parecia um lugar para onde eu pudesse fugir, já que corria o risco de
encontrar Tia e Jackson e começar a chorar.
Então, a ideia de ir para a cidade pareceu uma boa mudança de
ares. Quando eu era mais nova, achava que todos os dias em
Chicago eram como em Curtindo a Vida Adoidado, porque esse era o
filme favorito de Esther, e ela assistia repetidamente. Mas, depois
que fiz 13 anos, percebi que ninguém era tão sortudo ou ousado na
vida real quanto o protagonista. E, se fossem, eu teria muito medo
de andar com eles.
Por outro lado, eu estava fazendo muitas coisas que teria medo
de fazer quatro anos atrás. Como usar a roupa que estava usando.
Escolhi algo com um short, pensando que seria mais modesto,
embora fosse uns cinco centímetros mais curto do que os que
costumo escolher. Coloquei botas compridas de camurça que
chegavam até meus joelhos. A princípio, pensei que havia calçado
errado, mas, depois de enviar uma mensagem para Sooyeon, ela me
garantiu que esse era o estilo. Minha blusa era ligeiramente curta,
mas não a ponto de mostrar toda a minha barriga (ao contrário de
algumas das outras opções). Era rosa bebê e de um tecido elástico, o
que era necessário levando em consideração que Sooyeon vestia um
tamanho menor que o meu. Alguns babados decoravam as laterais e
as mangas da blusa, cobrindo um pouco mais a pele. Infelizmente,
meus ombros estavam descobertos.
Até desenterrei minha miserável coleção de maquiagem e passei
rímel e batom. A maioria era coisas que Josie tinha me forçado a
comprar, mas tive que admitir que caíram bem em mim. Quando eu
estava pronta, enviei uma foto minha para Josie, e ela respondeu
com um monte de emojis de olhos de coração.
Nessa roupa, eu me sentia quase outra pessoa. Finalmente
entendi porque algumas garotas diziam que usavam roupas e
maquiagem como uma armadura de batalha. Vestida assim, senti
que poderia ser mais corajosa. Mais ousada. Que talvez… talvez
conseguisse dizer a Robbie que queria ver se poderíamos ficar juntos
depois do baile. A ideia de ter que me despedir dele machucava
demais agora. Tinha que haver outro jeito, certo? E talvez meu erro
da última vez que Robbie foi embora tenha sido desistir ao primeiro
sinal de dificuldade. Talvez, se eu lutasse por nós, ele também
tivesse vontade de lutar.
Eu tinha tudo planejado. Diria a ele que deveríamos manter
contato pelo resto do semestre. E, enquanto isso, eu convenceria
minha mãe a me deixar passar o verão com Como.
Até comecei a espalhar pistas e perguntar à minha mãe coisas
aleatórias sobre crescer em Seul. Depois de cada história, eu dizia
“Uau, queria poder ir logo”. Não era tão sutil, mas achei que
precisava pelo menos tentar.
Se eu passasse o verão com Robbie, sabia que poderíamos fazer
dar certo. E ter um plano me ajudava a criar coragem e admitir que
não queria que isso fosse apenas uma coisa temporária. Parecia que
meu coração ia explodir só de pensar nisso. Mas explodir de um jeito
bom. Ou… você sabe o que quero dizer.
Meu Nissan pipocou enquanto eu entrava no estacionamento do
Soldier Field, onde o KFest estava acontecendo. O carro havia feito
sons muito patéticos no caminho, e rezei a todos os deuses para que
não quebrasse.
Robbie disse que havia deixado um passe especial para eu entrar
quando quisesse. Na esperança de evitar a multidão, cheguei cedo.
Não serviu de nada. Haviam filas enormes do lado de fora, todos
esperando pela abertura dos portões.
O estádio tinha enormes faixas penduradas do lado de fora,
colocando cada membro em destaque. E a maior de todas era uma
enorme foto do grupo. Robbie e seus companheiros me olhavam de
cima quando me juntei à multidão. Sempre que alguém virava na
minha direção, eu abaixava o rosto, esperando que ninguém me
reconhecesse.
Na minha vez, murmurei meu nome para a mulher que cuidava
da cabine.
— Seu nome não consta aqui — disse ela com um carregado
sotaque de South Side.
— O quê? — perguntei, pegando meu celular para enviar uma
mensagem para Robbie. — Ele disse que deixaria aqui. Talvez esteja
no nome de Robbie Choi?
— Robbie? — disse a garota atrás de mim na fila. — Você disse
que Robbie Choi deixou ingressos para você?
— O quê? Não, eu… — Parei enquanto observava o
reconhecimento iluminar seus olhos.
— Ai, meu Deus. É a garota do baile do Robbie!
Cabeças se viraram com o grito da garota, e tentei recuar, mas a
multidão me cercou.
Balancei a cabeça, pensando que eu talvez ainda pudesse negar.
Mas outra pessoa gritou:
— Com certeza. Lembro dela do vídeo do ensaio de dança!
Mãos se estenderam para apertar meu ombro, e celulares foram
empurrados na minha cara. As pessoas gritavam uma dúzia de
coisas ininteligíveis para mim. Alguém até estendeu uma pelúcia do
WDB de Robbie e perguntou se eu poderia autografá-la.
— Eu não… eu não… sinto muito, mas… — gaguejei, incapaz de
responder aos gritos conflitantes.
Uma mão forte me puxou para trás, e soltei um gritinho, quase
perdendo o equilíbrio. Se eu caísse, seria pisoteada? Ou pior, viraria
mais um meme da internet?
Mas, quando me virei, encontrei Hanbin e deixei escapar um
meio soluço de alívio.
— Vamos — disse ele, puxando-me atrás dele até começarmos a
correr para longe da multidão de fãs. Hanbin me conduziu
rapidamente por uma barreira de segurança, e os guardas fecharam
as fileiras para impedir que alguém nos seguisse.
Enquanto entrávamos no estádio, finalmente respirei fundo.
— Sinto muito — disse Hanbin, ainda me puxando atrás dele por
corredores sinuosos que me lembravam aquelas cenas dos bastidores
de filmes sobre bandas de rock. Pessoas passavam carregando cabos
e suportes de microfone. Funcionários corriam de um lado para o
outro com os braços cheios de trajes com lantejoulas. E parecia que
todos precisavam estar em dez lugares ao mesmo tempo.
— Houve uma confusão, e eles não conseguiram mandar seu
passe para a cabine. Com tudo que está acontecendo, Robbie não
conseguiu enviar uma mensagem para você. Os meninos sempre
têm agendas muito cheias nos dias de show. — Ele estendeu um
passe, e eu passei o cordão em volta do meu pescoço.
— Ah, sem problemas — falei, esticando o pescoço. Aqueles eram
os meninos do EXO? Eu os amava quando estava no ensino
fundamental.
— Prontinho — disse Hanbin, abrindo uma porta que tinha uma
placa de papel escrita “WDB”.
A sala de espera era um oásis tranquilo em comparação com o
corredor movimentado. As prateleiras estavam cobertas de produtos
para penteados e maquiagem. E havia um membro da equipe
conferindo uma lista enquanto examinava um cabide cheio de
roupas.
Minseok estava sentado em um canto fazendo sua maquiagem.
Jun estava ao lado dele, com fones de ouvido. Parecia que estava
dormindo enquanto o cabeleireiro passava um pente em seu cabelo.
Jaehyung se levantou de um pequeno sofá.
— Elena — disse ele, me abraçando com um braço só. Estava com
um tipo de toalha de papel protegendo seu colarinho, então achei
que não deveria abraçá-lo muito forte. Eu não queria estragar sua
maquiagem.
— Este lugar é insano — falei.
Minseok riu.
— Sim, é sempre assim antes de um show, mas você se acostuma.
Ri. Do jeito que ele falou, parecia que eu estaria em mais
situações desse tipo no futuro. Ele realmente achava isso ou só
estava sendo educado?
Olhei em volta:
— Onde estão Jongdae e Robbie?
— Jongdae sumiu assim que chegamos aqui. Acho que Robbie foi
encurralado em algum lugar para uma entrevista.
— Ah — falei. Fiquei um pouco decepcionada por ele não estar
aqui para me receber. Mas eu sabia que os meninos não estavam
aqui para se divertir; estavam trabalhando.
— Nunca dão Flamin’ Hot Cheetos suficientes — suspirou
Jaehyung, remexendo uma cesta de salgadinhos. — Será que tem
algum no balcão de lanches?
Minseok riu:
— Bem, duvido que consiga ir até lá sem ser assediado por uma
multidão. Você sabe que os empresários-hyungs vão te matar se os
fãs rasgarem sua camisa… de novo.
— Eu posso ir — ofereci.
— Você não precisa fazer isso — disse Jaehyung, mas ele parecia
esperançoso o suficiente para me fazer rir.
— Não ligo — falei. — De qualquer forma, já ia pegar um lanche
para mim. — E queria encontrar Robbie. Eu me sentia estranha aqui
sem ele.
Tive que perguntar a dois técnicos diferentes para que lado
ficavam os balcões de lanche. E, depois de me perder pela terceira
vez, estava prestes a desistir quando vi um rosto familiar.
— Sooyeon! — Levantei minha mão, acenando.
Ela ainda estava de moletom, mas já com a maquiagem completa
de palco, que brilhava toda vez que ela movia a cabeça.
— Elena! Você tá maravilhosa. Eu sabia que essa roupa cairia
bem em você.
— Obrigada. Sinto quase como se estivesse fazendo um cosplay.
— Eu ri, e Sooyeon abriu um sorriso, mas ela parecia distraída. — Tá
tudo bem?
— Sim, claro — respondeu e sorriu novamente, mas, desta vez,
consegui perceber que era forçado.
— Tem certeza? — perguntei. — Se você precisar conversar…
— Lembra quando eu te contei que estava tentando fazer com
que minha empresa me deixasse escolher o conceito do meu
próximo álbum? — disse ela. — Eles rejeitaram. Disseram que os fãs
não iriam gostar se eu tentasse ir por um caminho mais maduro.
— Eles nem fingiram pensar no assunto? — perguntei, irritada
por ela. — Você está entre os maiores idols da Coreia agora!
— Essa é a questão. Quando você está no topo, sempre pode cair.
Minha empresa está apenas cuidando de mim. — Ela deu de
ombros, mas não parecia convencida.
— Você devia tentar falar com eles de novo. Não disse que tinha
uma empresária-unnie de quem era próxima?
Sooyeon balançou a cabeça:
— Não vale a pena. Não quero que pensem que tô sendo difícil.
Vou só fazer o que eles acham melhor. São especialistas nisso, não é?
— Acho que sim — respondi. Não pude deixar de me lembrar do
rosto de Robbie na ponte. De como ele queria que sua empresa
levasse seu novo estilo musical a sério. Eu lhe disse que tinha certeza
de que daria certo, mas talvez estivesse errada. Se Sooyeon não
conseguiu convencer sua empresa, será que Robbie conseguiria?
Comecei a ficar preocupada, será que incentivá-lo tinha sido um
erro?
— Sooyeon para a passagem de som!
— Preciso ir. Te vejo mais tarde — disse ela.
— Claro. — Observei-a correr em direção ao técnico, que
verificou seu microfone.
Pensei em perguntar a mais um funcionário sobre o balcão de
lanches quando ouvi alguém me chamar.
— Elena!
Eu me virei e vi Robbie correndo pelo corredor, e foi mais um
daqueles momentos em câmera lenta de doramas que continuavam
acontecendo comigo nos últimos dias. Ele estava incrível. Vestia
jeans e uma camiseta larga, mas fizeram algo em seu cabelo para
mantê-lo para trás. E, em vez de rosa, a raiz dos fios estava mais
escura, enquanto as pontas estavam em um azul elétrico. Eu sorri,
lembrando de Jackson exigindo que essa fosse sua próxima cor.
Um sorriso gigante se espalhou no rosto de Robbie, suas covinhas
aparecendo enquanto seus olhos me olhavam de cima a baixo:
— Uau, você tá… uau.
Não pude deixar de sorrir ainda mais, exibindo-me sob seu olhar
apreciativo.
— Você achou? Não tô parecendo uma criança brincando de se
fantasiar?
— Não — disse ele, pegando minhas mãos e abrindo meus braços
como se quisesse dar uma olhada melhor. — Você tá perfeita. Mas
tem um problema.
Seu rosto e tom de voz se tornaram tão sombrios que a ansiedade
tomou conta de mim. Ah, não. Será que eu estava usando alguma
peça da roupa do jeito errado? As alças estranhas com babados eram
tão confusas. Mas Sooyeon não tinha dito nada.
— Não sei como vou conseguir me concentrar na minha
performance sabendo que você tá me assistindo vestida assim.
Ri e empurrei Robbie. Ele sorriu e pegou minha mão antes que eu
pudesse me afastar novamente:
— Você terá o melhor assento de todo o estádio, logo ao lado do
palco.
Deixei meus dedos se entrelaçarem com os dele.
— Então, você vai poder me ver enquanto estiver se
apresentando?
— Sim — disse Robbie. — E cada música que eu cantar será para
você.
— Que meloso! — Eu ri. — Uma de suas músicas não é sobre
colocar fogo nas coisas?
— É sobre arder de paixão. — Ele mexeu as sobrancelhas de
brincadeira.
— Sunbae! — Um grupo de garotas glamorosas em minivestidos
brilhantes combinando se aproximou, e eu puxei rapidamente minha
mão da dele. Cada uma delas tinha pelo menos 1,80, se não mais.
Reconheci vagamente o nome do grupo delas, e todas fizeram uma
reverência para Robbie.
Não podíamos dar dez passos sem encontrar alguém que ele
conhecia. E todos eram tão lindos e arrumados que, mesmo com
minha roupa nova, eu me sentia invisível. Só que, toda vez, Robbie
fazia questão de me puxar para mais perto dele e me apresentar. Na
maioria das vezes, falava em inglês, mas eu andei praticando meu
coreano desde que ele voltara e conseguia acompanhar as conversas,
mesmo que minha pronúncia ainda não fosse boa. Ainda assim,
percebi que, sempre que Robbie falava coreano, pronunciava
devagar para tornar mais fácil que eu acompanhasse a conversa. Era
bom perceber que estava fazendo isso por mim. Que se importava o
suficiente comigo para impedir que eu me sentisse excluída. Era
bom perceber que, sem perguntar, Robbie sabia do que eu precisava.
E eu mal podia esperar pelo fim do show para poder chamá-lo de
lado e dizer o quanto ele significava para mim.
— Robi-ya! — chamou alguém, e quase desmaiei. Era D.E.T., uma
das maiores estrelas do rap coreano da última década. Eu o amava no
ensino fundamental. Na verdade, tinha até um pôster dele, de sua
turnê de comemoração de cinco anos. E agora D.E.T. estava bem na
minha frente.
— Quando você vai compartilhar aquelas músicas comigo? —
perguntou, fazendo aquele gesto casual de apertar a mão e puxar
para um abraço.
Robbie riu.
— Quando estiverem prontas.
— Cara, nada nunca está pronto. Você só devia desapegar. Tô
trabalhando em um projeto que ainda não anunciaram e adoraria
conversar sobre trazer você a bordo para escrever e produzir
algumas músicas. A gente devia marcar um horário para se
encontrar.
— Produzir? É sério? — perguntou Robbie, sua voz aguda com a
surpresa. Sua mão apertou a minha com tanta força que meus dedos
latejaram. Acho que nem percebeu que estava fazendo isso. — Eu
teria que perguntar ao meu CEO. Não sei se ele aprovaria.
— Não se preocupe. Eu cuido disso. — D.E.T. fez um gesto com a
mão, dispensando a preocupação de Robbie.
— Seria tão legal — falei. — Você vai pelo menos ouvir a
proposta, certo?
— Isso aí, escute sua garota — disse D.E.T., sorrindo para mim, e
eu quase evaporei. — Desculpe pela falta de educação. Eu sou…
— Você é o rei All-Kill da última década, a máquina de dança da
BT Entertainment, o líder do M-Battle — soltei, e me senti como se
tivesse 12 anos de novo.
— Ah, uma fã — D.E.T. sorriu. — Você tem um bom gosto para
garotas, Robi-ya.
— Não sabia que era fã dele, Elena — disse Robbie, finalmente
soltando minha mão agora latejante.
— Eu te disse que acompanhava K-pop quando você debutou,
Robbie. E o M-Battle era meu favorito — falei, incapaz de olhar nos
olhos de D.E.T.
D.E.T. riu.
— Bem, você deveria dar uma passada no meu camarim. Vou te
dar um álbum autografado e te apresentar ao resto dos caras.
— Uau, sério? — perguntei, sem ar.
D.E.T. piscou para mim.
— Preciso voltar, mas, Robbie, pensa no que eu te disse.
Quando ele foi embora, virei-me para Robbie, que parecia
perdido em pensamentos. Eu o cutuquei nas costelas, e ele deu um
pulinho.
— Você vai, não é? Participar da reunião?
— Eu teria que perguntar à minha empresa primeiro… — Ele não
terminou a frase, uma pequena ruga se formando entre suas
sobrancelhas.
— Tudo bem, mas não descarta a ideia antes disso. Sua música é
boa! — Isso era promissor e ajudou a eliminar o desconforto que eu
estava sentindo depois de ter falado com Sooyeon. Se alguém tão
grande quanto D.E.T. queria que Robbie escrevesse com ele, então
tinha que ser um bom sinal.
— Acho que não faz mal ouvir o que ele tem a dizer. —
Finalmente pude ver um sorriso começar a se formar em seu rosto.
— Sua empresa seria boba de não te deixar trabalhar com D.E.T. Ele
é um dos maiores idols da década.
Os olhos de Robbie se estreitaram:
— Não acredito que você é fã dele e não minha.
— Eu sou sua fã — falei, segurando um sorriso. — Mas você era
apenas um bebê que tinha acabado de estrear quando eu curtia K-
pop. O M-Battle é um grupo lendário. Eles estão por aí há mais de
dez anos.
Robbie franziu a testa, e eu finalmente ri, cutucando-o nas
costelas outra vez.
— Você não tá mesmo com ciúmes, não é? — Sorri. Saber que
Robbie ligava tanto para eu ser sua fã me agradava. Mostrava que
ele se importava com a minha opinião, assim como eu me importava
com a dele.
— Não tô com ciúmes — respondeu, mas sua voz saiu baixa e
amuada.
Eu ri e abracei sua cintura. Ele ergueu o queixo, recusando-se a
olhar para mim.
— Ah, qual é. Você sabe que, se eu pudesse escolher entre você e
os artistas mais legais aqui hoje, sempre escolheria você.
— Não — disse Robbie, fungando orgulhosamente. — Não sei,
não.
— O que eu posso fazer para te compensar? — perguntei,
piscando meus cílios para ele, incapaz de conter meu sorriso.
Ele baixou os olhos para mim.
— Bem, tem uma coisa.
— O quê? — perguntei. — Eu faço qualquer coisa.
— Qualquer coisa? — perguntou, um sorriso malicioso se
espalhando por seu rosto, e então se inclinou para que nossos olhos
ficassem alinhados.
Meu coração deu um salto. E eu olhei ao redor; embora o
corredor estivesse vazio agora, qualquer um poderia passar.
Comecei a soltá-lo, mas seus braços me envolveram, segurando-me
próxima a ele.
— Nada disso, você prometeu — falou, inclinando-se mais para
perto.
— Tudo bem. — Desisti de tentar me livrar dele. — O que você
quer?
Então ele se aproximou e sussurrou:
— Isto.
E pressionou seus lábios nos meus.
Por um breve momento, eu me perguntei se alguém estava
olhando. E então não consegui pensar em mais nada, porque os
lábios de Robbie se moviam nos meus, e eram tão macios. Fizeram
cada pensamento voar para fora do meu cérebro enquanto eu
levantava meus braços para abraçá-lo.
Eu poderia beijar Robbie Choi o dia inteiro. Eu poderia beijá-lo o
ano inteiro. Se não tivesse que respirar, eu só iria querer beijá-lo para
sempre.
Ele se afastou cedo demais. E suspirei de decepção.
— Sua dívida está oficialmente paga — informou ele.
— Acho que gostei dessa nova moeda de troca — murmurei.
Robbie riu e me estendeu a mão novamente. E, pegando-a, deixei
que ele me guiasse.
Quarenta

Robbie tinha razão: meu lugar durante o show era o melhor


da casa, logo ao lado do palco.
Quando chegou a vez do WDB, o telão no palco piscou na
escuridão. O vídeo de introdução começou. Ele destacava cada
garoto em um cenário especial. A multidão vibrou por cada
membro, e podem falar que sou suspeita, mas definitivamente
parecia que os gritos mais altos foram para Robbie. Então, todos os
garotos se juntaram, caminhando por um deserto plano e vazio. O
vídeo piscou, e eles passaram para algum tipo de complexo
industrial. Aconteceu mais uma vez, e passaram para as montanhas.
E, por fim, viraram apenas silhuetas, e os garotos reais foram
erguidos ao palco por uma plataforma. E a multidão realmente foi à
loucura.
Eles abriram o show com seu grande sucesso do ano passado.
Aquele que fez com que se tornassem estrelas globais. Era uma
mistura de música eletrônica e instrumentos coreanos tradicionais.
Eu me lembrei de ter ouvido JD falar sobre isso em uma entrevista.
Sobre como queria homenagear sua herança coreana nas músicas. As
luzes do palco se expandiram para mostrar uma dúzia de bateristas
coreanos vestidos com hanboks preto e branco, seus movimentos
coordenados enquanto tocavam tambores de ampulheta. Então, do
outro lado do palco, meia dúzia de instrumentistas de yanggeum
foram iluminados. Os yanggeums estavam dispostos como mesas
baixas diante deles. Eram placas planas de madeira com dezenas de
cordas atravessadas em que eles batiam com finas varas de bambu
em movimentos tão precisos que pareciam uma dança. E notei, pela
primeira vez, que os movimentos de dança do WDB eram espelhos
dos movimentos usados para tocar cada instrumento.
Nunca pensei muito sobre minha herança coreana. Acho que tive
sorte, nunca tendo que pensar demais nisso ou me estressar com
isso. Mas também nunca pensei que assistiria à apresentação de uma
música tão profundamente enraizada na cultura coreana na maior
casa de shows de Chicago. Acho que é esse tipo de orgulho que as
mulheres do salão coreano sentiam sempre que um artista coreano
fazia sucesso.
Quando o WDB terminou a música, eles imediatamente
começaram seu debut single.
Eu não conseguia tirar os olhos de Robbie, que se separou do
grupo para fazer seu rap. Então seu olhar se desviou, e ele olhou
para mim. E foi como se, por apenas um segundo, estivesse
cantando só para mim. Uma adrenalina percorreu meu corpo tão
rapidamente que quase estremeci.
Este idol brilhante e reluzente que milhares, não, milhões,
adoravam era minha pessoa. Já era antes de os fãs gritarem seu
nome em um estádio lotado.
Era o Robbie de quem eu me lembrava, com sorrisos lentos e
piadas idiotas. Aquele que sempre insistia para eu me sentar ao seu
lado no ônibus para que ele não tivesse que se sentar sozinho. Mas
também era alguém novo, uma pessoa diferente com a qual eu
também me importava. Um garoto apaixonado por escrever
músicas. Um garoto que se importava tanto com seus companheiros
de banda que faria qualquer coisa para defendê-los. E um garoto que
se esforçou para voltar e cumprir uma promessa que tinha feito há
sete anos. Era de se admirar que eu tivesse me apaixonado por ele?
Por todas as partes dele.
A música acabou, e os garotos ficaram imóveis em suas poses
finais, respirando forte o suficiente para que pudéssemos ouvi-los
ofegar depois que os aplausos cessaram na multidão.
Eles foram para a parte da frente do palco.
— Como vocês estão, Chicago? — gritou Minseok, e os gritos
aumentaram. — Estamos muito felizes por estarmos aqui para o
primeiro KFest Chicago!
— A próxima música é nosso single mais recente — disse Robbie,
e a multidão foi à loucura. — É uma música que gostamos muito de
tocar.
— Bem, acho que o Robbie gostou de filmar o vídeo do ensaio de
dança um pouquinho mais que os outros — brincou Minseok.
A multidão gritou e senti alguns olhos ao meu redor se virarem
para mim. Tentei ignorá-los, concentrando toda a minha atenção em
Robbie.
— Hyung — disse ele, meio indignado.
— Que foi? — disse Minseok. — É verdade, não é, Jun-ie?
— Acho que é nosso único single que o vídeo do ensaio tem tantas
visualizações quanto o MV — brincou Jun. Traidor.
— Vocês gostaram do vídeo? — perguntou Minseok, e foi como
se todo o estádio gritasse “Sim!” em resposta.
— Sabe, sinto que devemos algo especial ao público — disse
Minseok.
— Não, Hyung — disse Robbie, rindo. — Para de brincadeiras.
— O quê? Tô apenas tentando tornar as coisas interessantes —
disse Minseok. — Vocês querem ver o Robbie recriar aquele vídeo?
A multidão gritou.
— Olha, vou escolher alguém da plateia hoje — disse Minseok.
Robbie suspirou:
— Tá bem.
Mas Minseok não foi para a frente do palco. Em vez disso, foi
para o lado. Bem na minha direção. E senti todo o sangue do meu
rosto se drenar.
— O que me diz, Elena? — perguntou, estendendo-me a mão. —
Vamos dar às pessoas o que elas querem?
Comecei a balançar a cabeça, mas senti minha mão se erguer e
pegar a dele. O que eu estava fazendo? Minseok me puxou para o
palco. As luzes eram mais ofuscantes dali. Eu nem conseguia ver a
multidão, apenas pontos de luz brilhantes e flashes de câmeras.
— Parece que temos uma convidada especial — disse Minseok
em seu microfone enquanto me puxava para o centro do palco.
Pareceu que demorou uma eternidade para chegar lá, de tão grande
que era o palco. Jaehyung e Jun me deram sorrisos encorajadores.
Até Jongdae estava rindo e balançando a cabeça. Apenas Robbie
estava sério. Ele se aproximou, abaixando o microfone para que sua
voz não fosse captada.
— Elena, você não precisa fazer isso, se não quiser.
— Por que não? — falei, minha voz tremendo um pouquinho. —
É dar às pessoas o que elas querem, certo?
— Que garota — disse Minseok, dando um tapinha nas minhas
costas, então continuou em seu microfone: — Temos a adorável
Elena aqui para recriar seu papel no vídeo. Uma salva de palmas!
Quase tropecei para trás com os aplausos que ressoaram. Eles
ecoaram estrondosamente, intensificados pela acústica do palco.
— Podemos preparar a parte do Robbie? — gritou Minseok.
Robbie se aproximou de mim e baixou a voz.
— Certo, é igual ao vídeo do ensaio de dança, só que no palco.
— E com milhares de pessoas assistindo, caso eu caia de bunda
— falei.
Robbie sorriu e apertou minha mão.
— Vou estar aqui com você o tempo todo.
— Ótimo, porque se eu cair, levo você comigo — avisei.
— Música! — pediu Minseok.
A música começou, tocando a parte logo antes do rap de Robbie.
JD e Jaehyung harmonizaram juntos, afastando-se para o lado
enquanto Robbie me dava um aceno final e erguia o microfone para
começar seu rap. E eu respirei fundo e comecei a atravessar o palco.
Robbie dançava ao meu lado, e não sei se foram as luzes, a roupa,
ou apenas a adrenalina de estar neste palco gigante, mas apenas me
soltei. Acrescentei um pouco de atitude aos meus passos. Revirei os
olhos quando Robbie cantou a frase “Se ela só me desse uma chance,
eu provaria que a melhor escolha sou eu”. E então adicionei uma
pequena jogada de cabelo que fez a multidão aplaudir
ruidosamente. Robbie sorriu, dando-me um aceno de aprovação
quando chegamos à parte em que pegava minha mão. Eu o deixei
me girar em sua direção. Ele estava um pouco suado por causa da
dança, mas não me importei e deixei meus braços envolverem seu
pescoço. E então, em vez de me soltar, Robbie me abaixou e me deu
um beijo no nariz. Ele me puxou de volta sob gritos e aplausos
estrondosos.
Meu coração batia tão forte quanto os aplausos do público, e não
consegui conter o sorriso que se abriu no meu rosto. Peguei a mão de
Robbie, e ele ergueu nossas mãos no ar antes de nós dois nos
curvarmos em uma reverência exagerada.
— Minha grande amiga, Elena! — disse Robbie em seu
microfone, gesticulando para eu me curvar outra vez. Foi isso que fiz
antes de correr de volta para Hanbin, que estava batendo palmas na
lateral do palco.
— Você já considerou ser artista? — perguntou.
— Acho que essa foi a primeira e última performance da minha
curta carreira — falei com uma risada.
— Bem, você e o Robbie são bons juntos — disse ele.
— Você acha? — perguntei, ainda tonta enquanto os meninos
assumiam suas posições para a música completa com seus
dançarinos.
— Sim, ele fica diferente com você. Mais assertivo, vai atrás do
que quer. Robbie precisa disso se quiser ter poder de permanência
nesta indústria.
— O que você quer dizer com isso?
Hanbin ainda estava observando os garotos no palco, seus olhos
aguçados como se estivesse monitorando qualquer erro.
— É um lugar difícil de se estar. Temos que pressioná-los, porque
cada vez precisamos de mais e mais deles. E, para Robbie e o WDB, é
dez vezes pior. Toda a Coreia está assistindo, pois representam o
país para o mundo inteiro agora. Robbie sempre foi o mais doce dos
garotos, e me preocupava com ele. Talvez eu tenha tentado
pressioná-lo mais por causa disso. Pedi que fizesse coisas das quais
não me orgulho… — Hanbin se interrompeu com um suspiro,
massageando seu pescoço com a mão, como se de repente estivesse
estressado.
— Como o quê? — perguntei, preocupada.
— Não é nada. Já passou. Fico feliz que você faça o Robbie feliz.
Eu queria perguntar mais, mas a música acabou, e os meninos
saíram correndo do palco. Robbie veio direto para mim e me puxou
em um abraço.
— Eca! Você tá todo suado! — protestei, mas não fiz um esforço
real para afastá-lo.
— Você foi incrível! — disse ele e me girou em círculos até minha
cabeça começar a girar.
Quarenta e um

Durante o intervalo, eu estava no corredor do estádio


conversando com Jun e uma dupla de música folk de uma das
maiores gravadoras.
— Eu vi alguns episódios daquele programa de competição em
que vocês estavam — falei a eles. — Se tivesse uma votação
internacional, eu, com certeza, teria votado em vocês.
— Obrigada — disse a garota com um sorriso doce que fez suas
bochechas se arredondarem. — Eu te vi no palco. Você nasceu para
isso.
Corei, sentindo que era surreal receber um elogio de alguém que
sempre entrava no top dez com suas músicas assim que as lançava.
— Lani. — Robbie se aproximou e segurou minha mão. — Quer
pegar algo para beber?
Ele me puxou antes que eu tivesse a chance de concordar.
Ri quando Robbie acelerou o passo.
— Por que a pressa? — perguntei enquanto me puxava para um
corredor lateral cheio de paletes de madeira descartados. O espaço
estava completamente vazio, e ele me girou até que eu ficasse de
costas para a parede, colocando um braço de cada lado do meu
corpo, prendendo-me.
— Eu só queria te afastar de todos os seus novos admiradores —
falou.
Eu ri e empurrei seu ombro, mas ele não se moveu.
— O Hanbin vai ficar irritado se não conseguir te encontrar —
apontei. — E vai colocar a culpa em mim.
— Se isso acontecer, eu te defendo — disse, inclinando-se para
mais perto. Eu conseguia sentir meu rosto corando, mas não pude
fazer nada para esconder isso. Ele estava perto demais, e minhas
mãos estavam presas entre nós.
— Vamos lá, Robbie. Você tem outra performance após o
intervalo. Provavelmente precisa trocar de roupa ou algo do tipo.
— Ainda tenho tempo — murmurou ele, inclinando-se ainda
mais. Agora seus lábios estavam a centímetros dos meus.
— O que deu em você? — perguntei.
— Você — disse ele. — Você tomou conta de mim, Elena Soo. E
acho que não conseguiria te tirar de mim outra vez. Acho que não
quero.
Senti uma adrenalina percorrer meu corpo. Comecei a ficar na
ponta dos pés e a diminuir o espaço entre nós quando um estrondo
rompeu nos bastidores. Pessoas passaram correndo. Algumas delas
gritavam. E ouvi a voz de Sooyeon gritar:
— Jongdae!
A cabeça de Robbie se virou bruscamente, e ele disparou pelo
corredor. Eu estava logo atrás dele, e paramos quando vimos o que
havia causado a comoção. Jongdae estava deitado no chão, bem
onde eu estava assistindo o show mais cedo, com sangue formando
uma poça ao seu lado, sua perna presa sob a haste de metal que
segurava as luzes.
Sooyeon estava na passarela acima do palco, chorando enquanto
se agarrava ao corrimão. Sua empresária subiu as escadas estreitas,
correndo para o lado dela.
— Hyung! — gritou Robbie, correndo até o primo.
A multidão ao redor de Jongdae estava repleta de empresários,
ajudantes de palco e outros idols. Então fui até a base da escada para
esperar Sooyeon descer, imaginando que ela precisaria de uma
amiga agora. Quando me viu, desabou em meus braços. Afaguei
suas costas enquanto ela enterrava o rosto no meu ombro.
— O que aconteceu? — perguntei a Sooyeon.
— Queríamos encontrar um lugar privado para conversar, e
Jongdae sugeriu que subíssemos lá. — Soluçou. — Eu não deveria
ter olhado para baixo, mas olhei e fiquei com medo. JD estava
tentando garantir que eu não caísse e deve ter perdido o equilíbrio.
Ai, meu Deus. E se ele estiver machucado de verdade?
— Ele vai ficar bem — falei enquanto os paramédicos abriam
caminho pela multidão que se reunia. — Vão levar Jongdae para o
hospital, e ele vai ficar bem.
Mas, enquanto observava Robbie agachado ao lado de seu primo,
eu não tinha certeza se estava certa.

Robbie e Hanbin foram com Jongdae na ambulância. Pude ler sua


ansiedade na tensão de sua mandíbula e, quando ele hesitou em me
deixar antes de se apressar atrás do primo, garanti-lhe que eu ficaria
bem.
Fui ver como Sooyeon estava, preocupada que ninguém pensasse
nela com tudo isso acontecendo, já que seu relacionamento com
Jongdae era um segredo. Ela estava sozinha em seu camarim,
novamente de moletom. Seu cabelo estava uma bagunça, e a
maquiagem escorria pelo seu rosto quando ela levantou a cabeça no
momento em que abri a porta.
— Elena. — Sooyeon se levantou depressa, correndo até mim e
pegando minha mão, esmagando, entre nossas palmas, lenços de
papel usados. — Tem alguma notícia do Jongdae?
— Ele foi levado para o hospital, mas não sei de mais nada.
Ela suspirou, as lágrimas brotando em seus lindos olhos.
— Não sei o que fazer. Odeio ficar sentada aqui enquanto ele está
machucado assim, sendo que é tudo culpa minha!
— Não — falei, envolvendo-a em um abraço. — Foi só um
acidente.
— Mas eu devia estar com ele. O Jongdae se machucou por
minha causa, e eu devia estar ao lado dele.
— Bem, não é tarde demais. — Olhei em volta e peguei um
guardanapo para limpar as manchas de rímel que escorriam por seu
rosto.
Sooyeon balançou a cabeça:
— Minha empresária nunca deixaria. Ela está me implorando há
meses para terminar tudo. Não me deixaria ir ao hospital de jeito
nenhum.
— Então não peça permissão — falei. Eu sabia que existiam
partes deste mundo que eu realmente não entendia, mas também
existiam partes que eu não queria entender. E aquela que ditava que
você não tinha permissão para amar quem queria amar era a parte
que eu mais odiava. Se Sooyeon queria ficar com Jongdae, ela
deveria ter permissão para isso.
— Como eu chegaria lá? — perguntou.
— Eu te levo.
— Sério? — perguntou, fungando em seus lenços amassados. Ela
parecia tão perdida e confusa que isso me fez querer protegê-la.
— Claro — respondi. — Quem vai saber se você não é só uma
amiga preocupada?
O rosto de Sooyeon assumiu uma expressão resoluta:
— Você tá certa. Eu devia ter permissão para visitar um amigo.
Vamos!
Nós nem consideramos contar a ninguém, com medo de que
impedissem Sooyeon de sair. Só corremos para o meu carro. No
meio do caminho, vimos uma multidão de fãs com cartazes e
presentes em seus braços para ver seus artistas favoritos. Agarrei a
mão de Sooyeon e corri na direção oposta, desviando dos carros e
correndo pelo estacionamento em uma diagonal acentuada,
passando apressadamente pelas filas para evitar que alguém nos
reconhecesse. Demorou o dobro do tempo normal para chegarmos
ao carro, mas conseguimos alcançá-lo sem sermos identificadas. E
nós duas estávamos sem fôlego quando entramos no veículo.
— Você deveria ser empresária — disse Sooyeon com admiração
enquanto entrávamos no carro.
— Sabe, você é a segunda pessoa a insinuar que me encaixo aqui.
É estranho.
— Por quê? — perguntou Sooyeon enquanto eu saía do
estacionamento, meu carro fazendo barulhos esquisitos enquanto
pegávamos a estrada.
— Porque… olha para mim.
— Estou olhando. E acho que você se encaixa muito bem. Espe-
cialmente com o Robbie. — Abaixei minha cabeça para esconder o
sorriso que se espalhou no meu rosto por causa de suas palavras.
Quando chegamos ao hospital, as pessoas estavam nos
encarando, e percebi que parecia que tínhamos acabado de sair de
uma festa. Sooyeon ainda estava com a maquiagem de palco. E
minhas botas estalavam no linóleo a cada passo que eu dava.
Corremos para o balcão de informações logo à frente e demos o
nome de Jongdae. Torci para que a recepcionista não fosse fã de K-
pop. Imaginei que não fosse quando respondeu com um tom
monótono:
— Ele está no leito pré-operatório doze.
— Pré-operatório? — A voz de Sooyeon estava embargada. Ela
agarrou minha mão. — Elena.
— Tá tudo bem. Vamos descobrir o que está acontecendo.
Segui as placas até a ala pré-operatória, mas havia uma placa
gigante de “Somente Pessoal Autorizado” nas grandes portas de
metal e uma luz de LED vermelha brilhante.
— E agora? — A voz de Sooyeon soava fraca e resignada
enquanto ela olhava ao redor, puxando o capuz do moletom sobre o
rosto.
— Espera aí — falei, determinada a não deixar que uma placa nos
derrotasse.
Tentei canalizar minha Josie interior e ergui meu queixo com
propósito, indo em direção a uma enfermeira que estava lendo
alguma coisa em um tablet enquanto se aproximava das portas.
— Com licença. — Minha voz vacilou um pouco, e eu respirei
fundo para estabilizá-la. — Nosso, hum, amigo está na sala pré-
operatória e queríamos vê-lo.
— Sinto muito, querida, somente família e pessoal autorizado
podem seguir a partir deste ponto.
— A questão é que ele está de visita da Coreia — falei depressa.
— Mal entende inglês, e seus pais ainda estão em Seul. Mas minha
amiga pode traduzir para ele. — Puxei o braço de Sooyeon para que
ela se aproximasse. Eu pude ver que a enfermeira estava nos
analisando, seus olhos percorrendo minha roupa brilhante. — Por
favor, ele deve estar com tanto medo, sem entender nada do que os
médicos estão dizendo.
Prendi a respiração enquanto a enfermeira refletia. Então ela
suspirou.
— Tudo bem, mas faça o que eu mandar — disse para Sooyeon,
que assentiu enfaticamente. Sooyeon me agradeceu silenciosamente
enquanto era conduzida para dentro, e, com um suspiro, eu me
encostei na parede. Não cheguei tão perto assim de ter um ataque de
ansiedade enquanto falava com a enfermeira. Josie ficaria orgulhosa.
Peguei meu celular para enviar uma mensagem para Robbie, e vi
que ele já havia me enviado uma. Dizia que estava no hospital e
pedia desculpas profusamente por ter me abandonado.
Respondi dizendo que tinha dito a ele para ir com o primo. E
pedindo para não se preocupar. Eu também já estava no hospital.
Fiquei me perguntando por um momento se ele estava com
Jongdae, mas, já que eu havia usado toda a minha coragem ao
implorar para a enfermeira deixar Sooyeon entrar, imaginei que
poderia verificar as salas de espera para ver se Robbie estava lá. Não
o vi, mas vi fãs usando camisetas do WDB ocupando metade dos
assentos. Eles devem ter vindo para ver como Jongdae estava. Será
que me reconheceriam se fossem fãs que tivessem vindo do show?
Decidi que era melhor não tentar a sorte e voltei para a porta da ala
pré-operatória.
A enfermeira que tinha deixado Sooyeon entrar me viu e acenou
para me chamar:
— Hoje está parado, então, se quiser, pode entrar para ver seu
amigo também, mas seja rápida.
— Obrigada! — falei, pensando que Robbie provavelmente
estava lá, já que não estava na sala de espera.
Havia camas ao longo de ambas as paredes, cada uma separada
por uma cortina. A maioria delas estava vazia, o que me facilitou
localizar os sapatos de Sooyeon por baixo da cortina da última cama.
Eu estava prestes a chamá-la, quando a ouvi dizer meu nome.
— Elena choahhae, kibuni nappa.
Fiquei feliz em saber que ela gostava de mim, mas confusa sobre
a segunda parte.
Por que Sooyeon se sentiria mal? Eu me perguntei.
Jongdae respondeu tão baixo que não consegui entender tudo,
mas ouvi as palavras “Robbie” e “baile”.
— Não gosto desse plano — respondeu Sooyeon em coreano. —
Queria que tivesse falado comigo antes do Robbie convidar a Elena
para o baile.
Plano? Que tipo de plano envolvia Robbie e o baile?
Meu coração desacelerou de pavor. Minha respiração ficou presa
em meus pulmões.
— O Robbie está fazendo isso por nós — disse Jongdae.
Ouvi passos se aproximando e, rapidamente, entrei debaixo da
cama vazia do leito ao lado de Jongdae. Meus dedos tremiam
enquanto eu segurava a cortina para mantê-la fechada. Um dos
empresários do WDB se aproximou, posicionando-se na frente da
cama de JD, seus braços cruzados como um guarda-costas.
Jongdae e Sooyeon trocaram para inglês, provavelmente para
evitar que o empresário ouvisse a conversa.
— O Hanbin armou tudo para proteger a gente — disse JD
suavemente. — Depois que sua cláusula de namoro expirar,
podemos nos assumir para o público. E agora sabemos como os fãs
vão reagir a alguém do WDB namorando.
— Mas o Robbie e a Elena são tão fofos juntos — disse Sooyeon.
— Espero que ela não se machuque.
Jongdae deu uma risada sarcástica:
— Ela vai ficar bem. Conseguiu seus cinco minutos de fama.
Depois disso tudo, Robbie voltará para sua vida real. Ele tá apenas
deixando os fãs pensarem que estão namorando. Não é como se nada
disso fosse real.
— Acho que você tá errado — opinou Sooyeon suavemente. —
Acho que existem sentimentos reais entre eles.
Não é como se nada disso fosse real. As palavras de Jongdae ecoaram
na minha cabeça. Era tudo mentira. Robbie ter voltado. Ter me
convidado para o baile. Ter fingido que gostava de mim. Ter me
feito pensar que poderíamos ficar juntos.
Tudo mentira.
Quarenta e dois

Com meus pensamentos girando em um turbilhão na minha


cabeça, corri para fora da ala pré-operatória, quase esbarrando na
enfermeira gentil de antes.
— Querida, você está bem? Seu rosto está pálido.
— Tô bem — respondi. — Só preciso sair daqui. Preciso tomar
um ar.
Ela começou a levar a mão à minha testa, e me afastei, correndo
pelo corredor, precisando escapar. Eu teria seguido em frente, se não
tivesse dado de cara com Minseok.
— Elena! O Robbie te procurou por toda parte — disse ele. —
Deram uma sala de conferência privada para a gente esperar.
— Robbie? — falei. Robbie havia mentido para mim. Era tudo
falso. Ele fez tudo aquilo como uma espécie de experimento.
Ai, meu Deus. Eu precisava sair daqui.
— Elena? — disse Jaehyung, dando um passo à frente. Eu nem
tinha visto que ele estava ali.
— Só preciso tomar um ar — repeti e corri para longe, em direção
aos elevadores.
— Elena! — Ouvi a voz de Robbie. Ele estava correndo pelo
corredor em minha direção.
Não, não. Eu não conseguiria falar com ele agora. Virei-me e
tentei abrir uma porta. Estava trancada, então corri para a próxima.
Entrei em um escritório desocupado que aparentemente pertencia a
uma tal de Dra. Mitchell. Eu esperava que ela não se importasse que
pegasse sua sala emprestada para ter um colapso mental.
Tentei fechar a porta, mas Robbie foi rápido e conseguiu entrar
antes disso.
— Elena, qual o problema? — perguntou, fechando a porta atrás
de si.
Eu me afastei:
— Não me toca.
— Tudo bem — falou lentamente, levantando as mãos como que
para mostrar que não apresentava perigo. E isso só me irritou mais.
Eu não era um gato doméstico assustado. Era uma pessoa para quem
ele tinha mentido por semanas!
Tentei contorná-lo, sair da sala, mas Robbie ficou na minha
frente, bloqueando o caminho.
— Fala comigo, Elena. Me diz qual é o problema.
— Tá bom — falei, minha raiva transbordando. — Então você me
convidou para o baile por causa de uma espécie de plano que fez
com o Jongdae? Por quê? — Eu gostaria de não precisar saber seus
motivos, mas precisava. Mesmo quando meu coração já estava se
partindo.
Robbie pareceu estupefato. Boquiaberto.
— O que foi? Não tem nenhuma mentira perfeita para se safar
dessa? — provoquei.
— Elena, não. Não é assim. — Ele me estendeu a mão, e eu me
afastei.
Robbie fechou os olhos e levou as mãos às têmporas como se não
conseguisse pensar. Provavelmente estava tentando inventar uma
desculpa para tudo isso. Mas eu não acreditaria. Não era mais idiota.
É claro que alguém como Robbie Choi, que tinha tudo, não
precisaria se reconectar com uma zé-ninguém dos subúrbios se não
houvesse um motivo oculto. E eu tinha deixado Robbie voltar e me
convencer de que eu era especial. De que ele só queria cumprir uma
promessa. E, percebi, tinha deixado Robbie me fazer ficar mal por eu
não cumprir a promessa.
— Por favor, vou explicar tudo. Só me diz quem te contou isso.
— Por quê? — falei, irritada. — Para você descobrir o quanto eu
sei? Para você evitar expor mais mentiras? — Andei para o outro
lado da sala, precisando de mais espaço.
— Não, para eu descobrir por que te contaram isso e te
machucaram desse jeito.
— Você é o único que tá me machucando — sussurrei e odiei o
quão sufocada minha voz ainda parecia. Olhei para as estantes de
guias médicos, não para Robbie. Eu não queria ver o rosto dele
agora.
— Sinto muito. Meu Deus, só queria que não tivesse acontecido
assim.
É claro que Robbie queria que isso não tivesse acontecido assim.
Queria que fosse quando ele já estivesse de volta à Coreia para não
ter que lidar com as consequências.
— Você sabe sobre Jongdae e Sooyeon. Eles querem ficar juntos, e
o Jongdae é minha família. Eu faria qualquer coisa por ele. O Hanbin
queria ver como os fãs reagiriam a um de nós namorando — disse
Robbie rapidamente, apressando-se em sua explicação.
Não importava. Eu não me importava com o motivo de ele ter
feito isso. Só o que importava para mim é que Robbie tinha feito isso
sem se importar com os meus sentimentos. Assim como Ethan não
se importava. Assim como minhas irmãs não se importavam.
Ninguém dava a mínima para a invisível e esquecível Elena.
— O Jongdae se lembrou das histórias que eu costumava contar
sobre você — continuou Robbie, mal parando para respirar. —
Porque eu falava de você o tempo todo quando me tornei trainee.
Lembra quando o Minseok disse que eu tocava nossa música o
tempo todo? É porque continuava tentando escrever a letra perfeita
para acompanhar a melodia. Para você.
Eu me virei. Robbie havia se aproximado, mas agora dava um
passo cauteloso para trás.
— Acha que isso resolve alguma coisa? Uma história bonitinha
sobre o Robbie de 11 anos que tinha um antigo crush em mim? O
Robbie de 11 anos não foi o que mentiu para mim. Não foi ele quem
me fez parecer uma completa… — Minha raiva sufocou minhas
palavras. Respirei fundo para me recompor. — Por que você acharia
que tava tudo bem fazer isso comigo?
— O Hanbin disse que, se eu ajudasse a garantir a estabilidade do
grupo, então poderia… — Ele se interrompeu, mordendo o lábio.
Era um hábito que eu estava começando a achar encantador, e agora
ele era como uma facada no meu coração. — Disse que eu poderia
produzir minhas próprias músicas. Total controle criativo.
— Suas músicas — sussurrei. — Aquelas que você estava
desesperado para a empresa aceitar.
— Mas cancelei tudo — falou. — Disse para ele que eu não
mentiria mais para você.
— Antes ou depois de eu aceitar ir ao baile com você?
Ele franziu os lábios, e eu sabia a resposta, mas ainda queria
ouvi-la.
— Quando você cancelou o plano, Robbie?
— Depois de você aceitar ir ao baile.
Cruzei meus braços com força para impedi-los de tremer.
— Eu sabia que não devia ter me permitido confiar em você, mas
confiei mesmo assim. O que mais eu devia ter esperado quando você
passou os últimos quatro anos apenas pensando em como fazer o
WDB e Robbie Choi terem uma boa imagem?
Ele abriu a boca e a fechou novamente, contraindo as bochechas
como se tivesse comido algo azedo.
— Eu não tava tentando mentir para você.
— E o que você tava tentando fazer?
Robbie hesitou. Um segundo. Três. Dez. Tempo demais. E eu
soube que ele não tinha uma boa resposta. Pelo menos não uma que
não o fizesse parecer o mentiroso que era.
— Foi o que eu pensei. — Passei por ele e saí para o corredor,
mas Robbie me alcançou e estendeu os braços para bloquear meu
caminho.
— Por favor, tem mais coisas em jogo. Deixa eu te explicar tudo
melhor.
— Sabe qual é a pior parte de tudo isso? Se eu tivesse conhecido a
Sooyeon primeiro, e todos vocês me pedissem para fazer isso por
ela, talvez eu até fizesse. Porque gosto dela e concordo que não
deveria precisar esconder seu relacionamento com o Jongdae. Mas
você não confiou em mim. — Minha voz falhou na última palavra.
Lágrimas brotaram em meus olhos. E me virei, afastando-me de
Robbie. Essas lágrimas não eram por causa ele. Eram por minha
causa. Porque eu estava agoniada com o fato de ter me apaixonando
por ele quando tudo fora só um jogo o tempo inteiro. Uma mentira
para Robbie conseguir o que queria. Porque era assim que pessoas
como ele eram; mentirosas egoístas.
Só que ele ajudou a salvar o centro comunitário. E consegue enxergar
quem você é de verdade.
Mandei meu eu interior calar a boca e enxuguei as lágrimas. E
então fiquei estupefata, porque, bem na minha frente, havia meia
dúzia de garotas, com celulares erguidos e olhos arregalados.
Quarenta e três

— Ai, essa não — falei antes de me virar para Robbie. Ele


também estava encarando as garotas em total descrença.
— JD-oppa está realmente namorando Sooyeon? — perguntou
uma das meninas. Isso pareceu descongelar todos nós, e elas
avançaram. Comecei a levantar minha mão em defesa. Mas Robbie
agarrou meu braço e me puxou pelo corredor.
Irrompemos no saguão de elevadores no momento em que um
grupo de pessoas saía de um deles, e Robbie passou bruscamente
por elas ao som de protestos espalhados, puxando-me para dentro
do elevador e apertando o botão de fechar as portas. Elas começaram
a se fechar no momento em que as fãs nos viram lá dentro.
— Robbie-oppa! — chamaram elas, mas suas vozes foram
cortadas quando as portas se fecharam.
— Eu não queria ter dito tudo aquilo na frente delas —
murmurei, a culpa crescendo dentro de mim com seus irmãos: a
raiva e o constrangimento.
Robbie pegou seu celular.
— Droga, preciso ligar para o Hanbin.
Ele olhou para mim, hesitando por um momento.
— Vá em frente. Liga. — Fiz um gesto de desprezo com a mão. —
Pode contar que estraguei o plano, e que agora precisa consertar isso
para que possa manter sua preciosa reputação. Eu conheço o
protocolo.
— Você não sabe de tudo, juro. Explico depois. Só preciso
encontrar o Hanbin agora.
— Não precisa tentar explicar. Eu já entendi o suficiente.
— Droga, Elena. Isso não é fácil! — explodiu Robbie.
— Não me importo! — gritei de volta, lágrimas de raiva brotando
novamente, e, desta vez, eu não tentei escondê-las.
Robbie esfregou as mãos no rosto e no cabelo, refletindo:
— Você não entende como é te dizerem quem deveria ser. Não
poder respirar errado por medo de aparecer em um artigo de revista
para todos lerem e te julgarem. A empresa me diz como agir, como
falar, como pensar. E eu tenho que andar na linha ou então perco
tudo.
As portas do elevador se abriram, e eu fiquei imóvel. Minha raiva
me dizia para ir embora. Mas meu coração queria ficar. Porque eu
podia ouvir a dor em sua voz. Mas a dor que ele me causou era
grande demais.
— Bem, você devia voltar e tentar salvar o que puder para que
não perca tudo. Porque já me perdeu. — Forcei meus pés a se
moverem, a me levarem para a frente no momento em que o aviso
sonoro sinalizava o fechamento das portas.
Robbie segurou as portas com uma mão para mantê-las abertas.
— Elena, por favor. — Os olhos dele penetraram nos meus. Eles
imploravam para que acreditasse nele. E uma parte de mim ainda
queria acreditar. Queria ficar aqui e deixá-lo me convencer de que eu
havia entendido errado. De que ele ainda se importava comigo. Mas
eu sabia que não daria certo. Nada jamais teria dado certo entre mim
e Robbie.
As portas do elevador zumbiram em alerta enquanto ele as
segurava.
— Sabe — falei baixinho. — Eu sempre pensei que ser invisível
fosse a pior coisa do mundo. Mas o que você fez foi pior. Me fez
sentir que, embora você pudesse me ver, eu ainda não importava.
Que era apenas uma ferramenta a ser usada em seus joguinhos de
celebridades. — Enquanto as lágrimas caíam, eu não conseguia mais
ficar envergonhada ou brava. Só estava exausta.
— Elena — disse Robbie, mas seu celular tocou, e o nome de
Hanbin apareceu na tela. Ele hesitou, seu dedo pairando sobre o
botão de atender a chamada.
— Já sei qual é o meu último desejo — falei. — Quero que você
fique bem longe de mim.
Comecei a andar, sem saber aonde estava indo.
E, apesar de tudo, ainda esperei ouvir o som de seus passos.
Porque, não importa o quanto eu soubesse que não deveria, ainda
esperava que ele viesse atrás de mim. Mas ouvi o barulho das portas
do elevador se fechando, e, quando me virei, ele havia sumido.
Quarenta e quatro

Minhas lágrimas ameaçavam me cegar enquanto dirigia


para casa, então parei no acostamento e me permiti chorar até
minhas costelas doerem.
Depois, abaixei o retrovisor, tentando ver o estrago. O rímel e o
delineador estavam escorrendo pelo meu rosto. Limpei tudo com
um lenço de papel, mas não havia nada que eu pudesse fazer a
respeito dos meus olhos vermelhos e inchados.
Quando girei a chave na ignição, o motor deu um estalo patético
que se transformou em cliques intercalados.
— Não, qual é! Agora não — falei, girando a chave de novo, desta
vez com uma força irritada. O motor pipocou em protesto, os cliques
altos em advertência. E tudo o que eu queria fazer era socar ou
chutar alguma coisa. Mas com a minha sorte, só acabaria me
machucando.
Peguei meu celular e liguei para Josie. Quando ela não atendeu,
olhei meus contatos. Eu poderia ligar para minha mãe, mas ela
bateria o olho no meu rosto inchado e me bombardearia de
perguntas sobre o que tinha acontecido no KFest. Talvez Ethan? Até
parece, ele provavelmente iria rir da minha cara e desligar.
Por fim, com relutância, cliquei no número de Tia.
Ela veio sem questionar, o que, por algum motivo, apenas
intensificou meu péssimo humor. Tia assumiu o comando, ligando
para o guincho, o que eu deveria ter pensado em fazer, mas não fiz
porque meu cérebro estava confuso demais para pensar direito.
Finalmente, eu estava sentada em seu carro enquanto ela dirigia de
volta para Pinebrook. Antes que pudesse entrar no meu bairro, eu
disse:
— Será que podemos não ir para minha casa agora?
Sem dizer uma palavra, ela voltou para a pista e continuou
dirigindo.
O silêncio compreensivo de Tia começou a me pressionar. Por
que estava sendo tão legal comigo quando, da última vez que me
vira, eu tinha sido uma grande pirralha? Eu estava mesmo
parecendo tão patética agora? Ou talvez ela só não desse a mínima
que eu tivesse ficado brava? Talvez simplesmente me visse como
uma criança fazendo birra, e, de um jeito ou de outro, isso não
importava para ela. Assim como mentir para mim não importava
para Robbie. E eu nem sabia que tinha começado a chorar até que as
lágrimas pingaram sobre meus punhos, que estavam apertados com
tanta força em meu colo que os nós dos meus dedos estavam
brancos.
Não percebi que Tia tinha estacionado o carro até que ela se
inclinou, soltou meu cinto de segurança e me puxou para um abraço.
O console central pressionou meu quadril, mas não me importei.
Apenas encostei meu rosto na camisa de Tia e me permiti chorar até
meus pulmões arderem e meus olhos ficarem inchados demais para
abrir.
Quando terminei de chorar, ela finalmente abriu o porta-luvas e
tirou lenços de papel. Eu os usei para enxugar a pele machucada sob
meus olhos. Estava doendo, mas não me importei.
— Você quer me contar o que aconteceu? — perguntou Tia.
Sacudi a cabeça.
— Quer dirigir mais um pouco?
Sacudi a cabeça outra vez. Sabia que eu não estava fazendo nada
com nada. Só não sabia o que diabos queria fazer agora.
E então, em um sussurro entre soluços, eu finalmente disse:
— O que há de errado comigo que faz todo mundo querer ir
embora?
— Ah, querida, é isso que você acha? — Tia começou a se
aproximar de mim novamente, mas me afastei, empurrando meu
corpo contra a porta do passageiro.
Ela suspirou e recostou-se de novo:
— Você não pode interpretar que são as pessoas que te deixam.
Eu não sabia que era assim que se sentia. Mas acho que te entendo.
Mesmo sendo eu quem foi embora, parecia que minha família tinha
me abandonado depois que tive o Jackson. É realmente difícil se
sentir abandonada.
Inspirei, a respiração longa e trêmula, tentando usar toda a minha
força de vontade para acalmar meu coração. Eu me sentia tão
sensível agora, como se qualquer pressãozinha pudesse me fazer
explodir.
— Sei que ir para Michigan é o melhor para você e Jackson —
falei, por fim. — Eu só… odeio perder pessoas.
— Você não tá perdendo ninguém, Elena. E qualquer um que não
consiga ver como você é especial não vale o seu tempo, para começo
de conversa — disse Tia, estendendo a mão para afastar uma mecha
de cabelo que tinha ficado grudada na minha bochecha molhada de
lágrimas.
Assenti com a cabeça. Ela tinha razão. Qualquer um que não
conseguisse me valorizar não valia o meu tempo. E o número um na
minha lista de pessoas para deixar para trás era Robbie Choi.
Quarenta e cinco

Passei o domingo inteiro evitando contato humano.


Devo ter passado uma impressão realmente patética, porque nem
minha mãe gritou comigo por não ter saído da cama o dia todo.
Robbie ligou uma dúzia de vezes antes de eu desligar meu
celular. Então ouvi o telefone de casa tocar lá embaixo. Um segundo
depois, minha mãe estava batendo na minha porta.
— Elena, é o Robbie — informou ela.
— Diz que tô ocupada — falei, puxando minhas cobertas sobre
minha cabeça. — Ou que morri.
Ouvi minha mãe murmurando ao telefone e esperei que ela
viesse ver como eu estava. Desejei que viesse. Mas é claro que não
veio. Tentei me convencer de que não me importava. E adormeci
repetindo essa mentira.

A escola teria sido uma tortura se não fosse por Josie. De alguma
forma, vê-la com tanta raiva me ajudou a ficar mais calma.
— Vou furar os pneus dele — disse Josie enquanto me ajudava a
pendurar mais pisca-piscas no centro comunitário.
— Ele não tem carro — comentei, grunhindo enquanto esticava
meu braço para colar um gancho na parede.
— Então vou colocar fogo na bagagem dele — falou.
— Só toma cuidado para não ser acusada de incêndio criminoso.
Ouvi dizer que a lei é muito rigorosa no estado de Illinois —
respondi, descendo.
Havia definitivamente algo de estranho em estar no comitê de
um baile ao qual eu não tinha intenção de comparecer.
Cada estrela dourada que pendurava me lembrava das
brincadeiras que tinha feito com Robbie enquanto as pintávamos.
Cada guirlanda de prata que colocava me lembrava de Robbie
segurando minha mão e me dizendo que precisava ir ao baile
comigo. Sim, precisava mesmo. Só não pelos motivos que eu tinha
presumido.
Já havia postagens em sites de fãs. Além de matérias sobre o
relacionamento de Jongdae com Sooyeon, havia postagens
especulativas sobre boatos de uma briga entre Robbie e seu amor de
infância. Elas questionavam se iríamos ao baile de formatura.
Durante a aula de química na segunda-feira, Karla me perguntou se
os boatos eram verdade, e eu apenas a ignorei, o que era meu jeito
de confirmar sem dizer algo claramente. Ela pareceu meio triste e
disse que sentia muito.
Eu não queria que ninguém sentisse pena de mim. Não queria
que ninguém pensasse nada sobre mim. Eu só queria afundar na
obscuridade outra vez e não ter conexões com o WDB ou Robbie
Choi nunca mais.
O único resultado bom nisso tudo era que eu não me importava
mais se ninguém nunca mais soubesse o meu nome. Já tive atenção e
infâmia suficientes para uma vida inteira.
— E aí, pessoal. — Max se aproximou carregando outra caixa de
pisca-piscas, então recuou ao ver a expressão no rosto de Josie. —
Seja lá o que tiver acontecido, eu sinto muito.
— Me diz uma coisa, Max. Por que todos os homens são idiotas
completos e absolutos?
Max ficou surpreso.
— Você tá brava porque pedi à minha mãe para levar a gente ao
baile?
Josie fez um gesto de cortar a garganta, mas era tarde demais.
Pausei meu movimento de pegar mais um cordão de pisca-piscas.
— Calma aí, vocês vão ao baile? Juntos? — Olhei de um para o
outro.
Josie suspirou e deu de ombros.
— Não precisamos falar sobre isso na sua frente. A gente tá aqui
para compor o novíssimo Clube Anti-Robbie. Será a nova missão do
Clube da Conscientização. Conscientizar as pessoas do quanto Robbie
Choi é idiota.
— Você não precisa guardar segredo só porque acha que vai ferir
meus sentimentos — falei. — Tô realmente cansada dessa coisa de
segredos.
Josie assentiu:
— Sim, eu entendo.
— Então — falei, forçando um sorriso. — Como isso aconteceu?
— Bom, eu cansei de esperar que Max tomasse uma atitude e
fizesse alguma coisa sobre seu crush em mim. Então o convidei para
o baile na sexta passada.
Tive que rir. Era uma atitude típica de Josie.
— Fico feliz por vocês — falei, separando um cordão de pisca-
pisca dos outros. — Depois me contem como foi o baile.
— Não precisamos mais ir — disse Josie. — Podemos todos ficar
na minha casa e ver filmes de terror, como era o plano original.
Vi o rosto de Max assumir uma expressão decepcionada, mas ele
assentiu com Josie em solidariedade.
— Não, eu quero que vocês vão e se divirtam. — Peguei a mão
dela. — Você trabalhou duro nisso. Merece se divertir.
— Tudo bem, mas, no domingo, vamos ter um dia totalmente de
garotas. Com máscaras faciais coreanas e tudo o mais.
— Combinado.
Quarenta e seis

Eu finalmente estava arrumando as minhas roupas que


formavam uma pilha triste no canto do quarto e percebi que ainda
precisava devolver a bolsa com as coisas de Sooyeon. Enviei uma
mensagem dizendo que ela poderia mandar um empresário para
buscá-la. Sooyeon respondeu que alguém viria à minha casa na
quinta-feira à tarde.
Mas quando abri a porta depois da escola, fiquei sem palavras ao
ver a própria Sooyeon parada na minha frente. Ela estava usando
um velho conjunto de moletom puído, o capuz puxado sobre a
cabeça e um grande par de óculos escuros sobre seu rosto sem
maquiagem. De alguma forma, parecia mais glamorosa assim do que
quando estava toda produzida.
— Ah, não sabia que você viria em pessoa — gaguejei.
— Eu tinha esperanças de que a gente pudesse conversar. — Ela
tirou os óculos escuros, revelando olheiras sob os olhos.
— Claro. — Fui na frente até a sala de estar. A bolsa estava no
sofá. Eu me sentei ao lado dela para que Sooyeon pudesse ficar na
poltrona do meu pai. Era o móvel mais bonito da sala, embora
parecesse opaca e desbotada com Sooyeon acomodada nela.
— Hum, quer algo para beber? — perguntei, sem saber o que
dizer.
— Não, não precisa — respondeu, então pigarreou, seus olhos se
movendo ao redor da sala.
— Você sabia? — perguntei. — Sobre o plano de Robbie e
Jongdae?
Sooyeon franziu a testa:
— Sim. Mas só soube depois do promposal.
Balancei a cabeça. De alguma forma, saber que ela não tinha sido
uma cocriadora da mentira ajudava.
— Não tive a intenção de expor seu relacionamento — falei. —
Queria que a imprensa simplesmente deixasse você viver sua vida.
— O jogo é assim — respondeu Sooyeon, indiferente. — Para ser
honesta, poderia ter sido pior. Acho que as pessoas estão sendo
solidárias por causa do acidente do Jongdae.
— Ah — disse, sem saber como reagir. — Imagino que isso seja
bom?
— Acho que sim, agora que sabemos que ele vai se recuperar.
Quando os sites de notícias divulgaram que a gente tava
namorando, a maioria dos fãs achou insensível e inapropriado fazer
isso enquanto Jongdae estava se recuperando de uma cirurgia.
Disseram que eu era leal, porque fiquei ao lado dele no hospital.
— Que bom que estão sendo gentis.
— Sim. — Sooyeon assentiu. — E eu te devo isso. Nunca teria
tido a coragem de ir ao hospital se não fosse por você.
Sorri, aliviada de verdade, até que vi a expressão triste de
Sooyeon.
— Nem tudo são boas notícias, não é?
— Minha empresa decidiu rescindir meu contrato.
— Sinto muito, Sooyeon! — falei. — Eu devia ter tomado mais
cuidado.
Ela balançou a cabeça.
— Não é culpa sua. A verdade é que eu tava sentindo minha
empresa se afastando de mim desde que comecei a insinuar que
queria tentar um som novo para o meu próximo álbum. Era como se
estivessem procurando uma desculpa para me dispensar no
momento em que pensassem que eu tava sendo muito difícil. Então,
na verdade, o problema não era a cláusula de namoro. E sei que você
não expôs a gente de propósito. Mesmo se tivesse feito isso, eu não
teria te culpado. Não depois do que todos nós fizemos com você.
Uma parte de mim, a parte que odiava confrontos, queria afirmar
que estava tudo bem. Que eu tinha superado. Mas não tinha, e
imaginei que Sooyeon podia ver isso em meu rosto.
— O Robbie tá muito mal com o jeito que tudo aconteceu — disse
ela.
— Sim, tenho certeza de que tá realmente chateado por ter sido
descoberto antes que ele mesmo pudesse me dar um fora.
Provavelmente tinha todo um plano para fazer isso de forma a se
vingar por causa do fiasco do promposal. — Mesmo enquanto dizia
essas palavras, eu sabia que elas não eram verdadeiras. Mesmo que
achasse Robbie um mentiroso egoísta, eu sabia que ele não era
intencionalmente cruel.
— Você me deu conselhos sobre o Jongdae, e isso realmente me
ajudou. Posso retribuir?
Dei de ombros. Não tinha certeza se queria conselhos quando se
tratava de Robbie e eu. Não tinha certeza se ainda havia algo como
Robbie e eu.
— O Robbie pode ter 17 anos, mas emocionalmente ele ainda é…
como se diz “choding”?
Franzi a testa:
— Tipo choding hakyo? Escola primária?
— Sim, emocionalmente, ele ainda é como um aluno do ensino
fundamental — disse Sooyeon. — Muitos de nós não conhecemos
nada além das salas de ensaio quando entramos nas agências como
trainees. O Robbie era tão jovem que nunca teve a oportunidade de
descobrir algumas coisas. Mas tem um bom coração, e, se você der
uma chance para ele, acho que Robbie poderia aprender com a
professora certa.
— E se eu também não souber o que tô fazendo? — admiti.
— Então não é menos solitário vocês aprenderem juntos?
Suspirei.
— Só não sei se o Robbie com quem me importo é real. Antes,
conseguia prever cada movimento dele, mas agora ele parece um
estranho.
Sooyeon estreitou os olhos, pensativa:
— Acha mesmo que tudo o que descobriu sobre Robbie é
mentira? Ou talvez você esteja apenas se convencendo de que é,
porque assim seria mais fácil descartar o que ainda sente por ele.
Franzi a testa. Quando falava assim, ela me fazia parecer uma
covarde. Então suspirei, percebendo que era exatamente o que eu
estava sendo.
— É como a rescisão do meu contrato — continuou. — Antes, eu
pensava que isso seria a pior coisa que poderia me acontecer. Mas,
agora que aconteceu, não tenho tanto medo da incerteza como
costumava ter. Tô meio que animada por não saber o que vem a
seguir.
Assenti, embora só a ideia de não saber o que vem a seguir me
deixasse ansiosa por ela. Mas eu senti uma calma em Sooyeon. E
invejei isso.
— Bem, independente do que você faça, sempre serei sua fã.
— Obrigada — disse Sooyeon, inclinando-se para me abraçar. —
Não tô dizendo que você tem que perdoar o Robbie. Mas,
pessoalmente, acho que vocês dois merecem uma chance de
descobrir o que podem ser juntos.
Queria ser tão corajosa quanto ela. Parar de ter tanto medo do
desconhecido. Mas eu estava com medo demais do poder que
Robbie tinha sobre meu coração. Perdoá-lo significaria confiar que
ele não me machucaria novamente, e eu não tinha certeza se poderia
fazer isso.
Quarenta e sete

Depois que Sooyeon foi embora, eu me senti inquieta.


Como se houvesse muitos pensamentos girando em minha cabeça e
me deixando nervosa. Então fui até o jardim da minha mãe e me
sentei no velho balanço. Inclinei-me sobre a parte de trás e achei um
local onde Robbie e eu havíamos esculpido nossas iniciais. Passei o
dedo pelas letras, um pouco gastas pelo tempo.
Escutei um carro estacionando na garagem e vi Ethan voltando
do treino de lacrosse. Ele começou a entrar em casa, mas parou
quando me viu. E, depois de um momento de hesitação, aproximou-
se e sentou-se comigo no balanço. Em silêncio, Ethan empurrou os
pés no chão, fazendo-o balançar suavemente.
— Você tá bem? — disse ele finalmente.
— Não tá com raiva de mim?
— Não tá com raiva de mim? — perguntou de volta.
— Tô cansada demais para ficar com raiva de você.
— Eu também. Não é divertido a gente ficar brigado. Você é
minha única aliada contra nossos pais.
Eu ri:
— Como se você precisasse de ajuda com eles. Príncipe Ethan.
Ele franziu a testa, chutando o chão de novo, fazendo o balanço
se agitar tão descontroladamente que tive que me segurar na
corrente para não cair.
— Você acha que é muito fácil para mim, mas não é — disse ele.
— Não pode negar que a mãe te dá um tratamento totalmente
preferencial.
Ele reagiu com indiferença.
— Talvez, mas não é culpa minha.
— Não é culpa sua, Ethan, mas isso te fez pensar que nada é
grande coisa. Para alguns de nós, é, sim. Nem todo mundo pode se
dar ao luxo de ser tão tranquilo quanto você.
Ethan não pareceu impressionado com o meu discurso.
— Aí que tá, Elena. Se você fosse mais tranquila, talvez não se
machucasse tão facilmente.
— Se você sabe que me machuco com facilidade, então por que
nunca parece se importar?
Isso fez Ethan franzir a testa.
— Acho que é porque tô cansado de ser rejeitado por você. — Ele
arrastou os pés no chão para desacelerar o balanço.
— O quê? — Eu o encarei, perguntando-me se ele estava só de
brincadeira comigo. Mas parecia sério, quase envergonhado. — Eu
não te rejeito.
— Sim, rejeita — afirmou com uma risada sarcástica. — É por
isso que eu odiava ficar com você e Robbie quando a gente era
criança. Vocês nunca me deixavam participar de seus jogos ou
brincadeiras.
— Isso não é justo. A gente te deixava brincar junto, mas você
sempre dizia que nossas brincadeiras eram chatas.
— Sim, porque vocês inventavam aqueles jogos ridículos de
magos e monstros com mil regras que duravam dias. E eu nunca
conseguia acompanhar. E vocês dois usavam, tipo, códigos e faziam
piadas internas, e eu sempre ficava de fora. Então só dizia que
achava suas brincadeiras chatas.
Estava chocada.
— Eu não sabia disso.
Ethan encolheu os ombros:
— Sim, bem, acho que eu nunca quis que você soubesse o quanto
doía toda vez que você escolhia o Robbie em vez de mim.
Sempre presumi que ele se achava legal demais para nós. Nunca
havia me ocorrido que havíamos feito Ethan se sentir excluído.
— Mesmo agora, você levou Robbie para o centro e nem me
pediu para ir com você.
Lembrei que Ethan tinha me dito isso na casa de Halmoni, e eu
tinha ignorado. Não percebi que ele estava tentando me dizer que o
machucara.
— Tinha medo de que tirasse sarro disso — admiti. — Como você
e seus amigos fizeram com meus panfletos.
— Se ficou chateada por causa dos panfletos, devia ter dito
alguma coisa.
— Igual quando você sempre me defende toda vez que o Tim
zomba de mim na escola? — perguntei incisivamente.
Ele fez uma careta, então assentiu.
— Tudo bem, eu deveria ter pedido para ele parar. Mas não é por
isso que você tem essa aversão a mim. Já tinha quando a gente era
mais novo. Odiava quando as pessoas te chamavam de minha
gêmea. Sempre corrigia dizendo que não era a “irmã do Ethan”,
mas, sim, “Elena Soo”, como se tivesse vergonha de ser relacionada a
mim.
— Não é isso — falei. — Só… me sentia invisível perto de você,
Ethan.
— Por quê?
— Porque sempre fui apenas a “gêmea do Ethan” quando você
estava por perto. Isso quando não era a irmã da Sarah ou da Allie.
Isso fazia com que sentisse que não importava quem eu era sem
você. — E quando você não importa, as pessoas não se importam o
suficiente para ficar por perto. Mas eu ainda tinha vergonha demais de
dizer essa última parte.
Ethan franziu a testa.
— Mas as pessoas faziam isso comigo também.
— Não faziam, não. A mãe sempre coloca você em primeiro
lugar.
— Sim, a mãe faz isso. Mas os professores me chamavam de
“gêmeo da Elena”. E às vezes até de “garoto Soo.” — Ele deu de
ombros. — Isso me incomodava às vezes, mas eu achava que era
porque nossa família é grande.
Pela primeira vez, perguntei-me se eu não estava vendo as coisas
pela perspectiva errada esse tempo todo. O que via como
autopreservação, Ethan via como rejeição. O que via como ser
esquecível, Ethan via como vir de uma família grande.
— Talvez você tenha razão — falei. — Mas ainda dói quando é de
você que todos sempre gostam. Você é mais popular e melhor em
fazer amigos. Nunca precisou de mim, então eu também não queria
precisar de você.
— Você faz muito isso — murmurou. — Desiste das coisas antes
que elas fiquem difíceis. Dos seus hobbies também. No momento em
que para de acontecer do jeito que imaginou, você desiste. Sarah já
me disse que é como se você nunca se desse a chance de fazer
besteira — disse Ethan.
Sarah falou isso de mim? Para Ethan?
— Não é verdade — murmurei. — Eu não desisto das pessoas,
elas que desistem de mim.
— Elena. — Ethan riu. — Acabou de admitir que me afastou
antes que eu pudesse fazer isso com você. E não desistiu de sua
amizade com Felicity no nono ano assim que ficou difícil?
— Ela te disse isso? — Franzi a testa, inquieta por ela ter lhe
contado algo tão pessoal.
— Você admite que é verdade? — pressionou, sem me deixar
desviar do assunto.
— Talvez.
— É por isso que você tá afastando o Robbie? Porque ele vai
voltar para a Coreia em breve?
— Não, o Robbie mentiu para mim. Eu devia ter dado ouvidos
aos meus instintos, nunca devia ter me envolvido com ele de novo.
— Que seja — disse Ethan como se não acreditasse em mim.
— Você acha que eu devia dar uma chance para Robbie sendo
que ele mentiu para mim desde o momento em que chegou?
— Quer dizer, não faço ideia do que ele chegou a fazer. Mas até
eu consigo ver que você não tá superando isso. Talvez você devesse
falar com o cara. Caso contrário, sempre seria um “e se…?”, não é?
Olhei para Ethan, surpresa.
— Quando foi que você ficou tão inteligente?
— Tenho meus momentos. Mas não sou um nerd completo como
você. — Ele me deu um soquinho no ombro de brincadeira. E não
pude deixar de sorrir de volta. Não conseguia acreditar que, esse
tempo todo, eu pensava que Ethan nunca notava nada da minha
vida, sendo que ele conhecia algumas partes de mim melhor do que
eu mesma.
— Sabe — comecei lentamente. — Realmente não entendo o que
há de tão interessante em um bando de caras jogando futebol
americano com tacos, mas, se você quiser que vá a um de seus jogos
de lacrosse, eu vou.
Ethan riu.
— Futebol americano com tacos? De onde saiu isso?
— É o que parece para mim. Todos aqueles protetores e capacetes
e tudo o mais. Vai ter que me explicar as regras para eu não torcer
pelo outro time sem querer.
— Claro, depois que você me disser quais baleias estamos
tentando salvar, porque ouvi dizer que baleias-assassinas são meio
malvadas.

Mais tarde, estava deitada na cama pensando nas minhas conversas


com Sooyeon e Ethan.
Acho que eu era mesmo culpada por afastar as pessoas antes que
elas pudessem me deixar primeiro. Como Ethan. Como Felicity. E
agora eu estava fazendo isso com Robbie? Não, com ele era
diferente. Robbie realmente me machucou. Mas, ainda assim, eu não
gostava da ideia de deixá-lo ir embora sem conversar primeiro.
E Sooyeon tinha razão; descobrir como me sentia sobre ele era
algo que eu me devia.
Devo ter escrito dez versões diferentes da mesma mensagem
antes de finalmente me dizer para simplesmente enviar qualquer
uma. Ou eu sabia que nunca enviaria. Então só digitei: Se você ainda
quiser, vamos conversar.
Quarenta e oito

— Fala de novo: por que você tá se arrumando para o baile na


minha casa mesmo? — perguntei a Josie enquanto ela aplicava rímel
cuidadosamente de frente para o meu espelho de corpo inteiro.
Eu já estava de pijama, deitada de bruços na cama, observando
Josie se arrumar.
— Porque não acho que você devia ficar sozinha esta noite.
Então, vejo dois resultados possíveis. Ou eu me arrumo na sua
frente, e você tem um surto intenso de medo de ficar de fora e decide
que precisa usar aquele vestido incrível que reaproveitou e vir
comigo e com o Max. Ou, e esta é a minha opção preferida, o Robbie
aparece em um grande gesto romântico, despertando uma paixão
avassaladora em você, e vamos todos ao baile e dançamos até nossos
sapatos pedirem arrego.
— Ah, como você é doce e delirante — falei.
— Ei! — Josie jogou um lápis delineador em mim.
Eu me esquivei, rindo.
— Não vou mudar de ideia sobre o baile. E o Robbie não vai
aparecer aqui. Mas tá tudo bem. Eu tentei. Queria um desfecho e, do
meu ponto de vista, mesmo que ele não me ligue de volta, consegui
o que queria, porque sei que fiz o certo. — Fiz um gesto indiferente
para mostrar como estava zen com tudo isso.
— Você é uma péssima mentirosa, El — disse Josie.
— Eu sei. — Virei-me de costas para olhar o teto.
— Posso dizer uma coisa?
— Claro — falei, encarando uma rachadura no canto do teto e
seguindo seu contorno com os olhos.
— Eu meio que acho que você devia perdoar o Robbie — disse
Josie rapidamente.
— O quê? — perguntei, virando-me para encará-la. — Como
você pode dizer isso? Darrel Pratt te deu um bolo ano passado, e
você, de alguma forma, conseguiu fazer o restaurante favorito dele
proibir o cara de entrar.
— Darrel Pratt era um risco sanitário ambulante. Ele usava
chinelos! Isso vai contra a regra de “proibido entrar sem camisa e
sem sapatos”.
— Tenho certeza de que chinelos se qualificam como sapatos.
— Não depois que argumentei com eles.
— Não acredito que você acha que eu devia perdoar o Robbie. O
que ele fez foi muito pior do que me dar um bolo em um encontro.
— Sim, eu sei — disse Josie. — Mas a diferença entre Darrel Pratt
e Robbie é que você tem uma história com Robbie. E existem coisas
na vida dele que nenhuma de nós poderia entender.
Eu me sentei, suspirando.
— Sim, talvez você tenha razão — admiti. — E talvez eu já
estivesse querendo perdoá-lo. Só não sei se daria certo. Você tá
vendo como virei um poço de tristeza e ansiedade, e a gente nem ao
menos estava namorando. Não ia doer muito mais se a gente
realmente tentasse, e não desse certo?
Josie assentiu:
— Quer dizer, sim, acho que sempre existe a chance de terminar
quando você namora alguém. Vai virar freira por causa disso?
Soltei uma risada e balancei a cabeça. Josie tinha a habilidade de
fazer minhas crises de ansiedade parecerem tão ridículas que eu só
as deixava de lado.
— El, você sabe que amo o quanto você pensa no futuro. Isso
realmente ajuda quando estamos planejando comícios e outras
coisas, mas nem sempre você vai poder prever como as coisas vão se
desenrolar — disse Josie. — Além disso, a vida ia ser muito chata se
a gente sempre soubesse o que vai acontecer.
Franzi a testa, sem saber se Josie estava me chamando de chata
ou não, mas não tive a chance de ficar indignada, porque a
campainha tocou, e nós duas congelamos.
Josie sorriu e mexeu as sobrancelhas sugestivamente.
— Para com isso — falei, jogando um travesseiro nela. — Não é
ele.
— Você não sabe! — cantarolou Josie. — E o desconhecido é
empolgante. — Ela se levantou e dançou ao redor do quarto, e eu ri
de sua energia ridícula.
— Elena! — chamou minha mãe. — É para você!
Eu não queria ter esperanças, mas meu coração não tinha
recebido o recado, pois estava copiando a dança de Josie. Tentei
descer as escadas o mais devagar possível, em vez de sair correndo
como queria.
E, quando cheguei ao saguão, soltei um suspiro de decepção.
— Ah, oi, Max.
— Caramba, valeu. Acho que valeu mesmo a pena pagar por esse
smoking — disse ele.
— Desculpa, não quis dizer isso — falei. — Você tá ótimo. Josie
vai ficar totalmente impressionada.
— Você acha? — perguntou ele, mexendo nervosamente no
corsage.
— Claro — respondi, ajeitando sua gravata borboleta.
Eu tinha razão. Josie não conseguia parar de sorrir para Max
enquanto ele colocava o corsage no pulso dela. E fez uma
demonstração exagerada ao prender sua flor na lapela dele sem furá-
lo acidentalmente. Eu me ofereci para tirar fotos deles, e, embora
Josie tivesse revirado os olhos, estava exibindo um grande sorriso
cheio de dentes em todas as fotos.
— Tem certeza de que não quer se trocar rapidinho e vir com a
gente? — perguntou ela uma última vez.
— Tenho — respondi com uma risada forçada para lhe mostrar
que eu estava bem. — Vai lá se divertir. Quero fotos do lugar com
toda a iluminação, estrelas e tudo o mais.
— Tá bom — disse Josie, envolvendo-me em um abraço apertado.
— Pode ser que ele ainda venha — sussurrou.
— Não tô contando muito com isso — falei.
E, quando Josie e Max foram embora, voltei para o meu quarto.
Parecia estranhamente vazio agora. Estava falando sério quando
disse que não queria ir ao baile com eles. Porque, admiti para mim
mesma agora que estava sozinha, ainda queria ir ao baile com
Robbie. Mas ele não estava aqui.
Quarenta e nove

Na tarde seguinte, eu estava sentada na escada esperando Josie


vir me buscar. Meu carro ainda estava na oficina, e tínhamos que ir
ajudar a limpar o centro depois do baile.
Minha mãe apareceu no saguão de entrada com um pano de
limpeza na mão. Comecei a me afastar para deixá-la passar, mas, em
vez disso, ela se sentou ao meu lado. Eu a encarei, confusa. Ela
nunca se sentava comigo assim.
— Mãe?
— Tive uma conversa com Ethan — disse ela.
— Tudo beeeem — respondi, sem saber aonde isso estava
levando, mas tensa no caso de eu ter me metido em problemas.
— Ele tava dizendo que acha que vocês dois deviam ir para Seul
neste verão — contou ela.
— O Ethan falou isso? — perguntei, minha voz aguda de
surpresa.
— Acho que, se vocês estivessem juntos, então eu ficaria menos
preocupada.
Uau, pensei. Não acredito que Ethan fez isso por mim.
— Então, você tá dizendo que podemos ir? — perguntei,
hesitante.
— Você ainda quer? — Ela olhou para mim como se estivesse
tentando ver todos os meus pensamentos mais profundos através do
meu crânio.
Hesitei, pensando sobre isso por um segundo, e então assenti.
— Sim, quero. — E eu realmente queria. Mesmo sem Robbie,
queria ir. Não visitava a Coreia desde que era pequena e tinha
gostado da ideia de ajudar com as crianças no hagwon de Como. Do
mesmo jeito que eu fazia no centro comunitário.
— Então vou ligar para a Como.
Fiquei pensando que Ethan tinha mesmo nossa mãe na palma de
sua mão. Mas agora que ele estava usando seus poderes para me
ajudar, isso me abria portas para muito mais possibilidades no
futuro. Eu ri e peguei meu celular para enviar uma mensagem para
ele no momento em que Josie buzinou na rua.
Quando entrei no carro, ela perguntou:
— Pronta para um trabalho manual intenso?
Suspirei.
— Claro, será meu exercício físico do dia.
Quando chegamos ao centro comunitário, tentei abrir a porta,
mas estava trancada. Estranho. As portas nunca ficavam trancadas
no meio do dia.
Bati com a lateral do meu punho.
— Olá? Cora? Alguém?
Quando ninguém respondeu, tentei ligar para Cora e ouvi seu
celular tocar do outro lado da porta no momento em que ela abriu
uma fresta.
— Oi, Elena! — disse um pouco mais alto que o normal.
— Oi, Cora. E aí? Por que a porta tá trancada?
— Estávamos só fazendo uma coisa — respondeu.
— Os outros já chegaram? Já começaram a limpeza?
— Hum, ainda não. — Olhou para trás. Ela estava agindo tão
estranho.
Eu ri.
— Bem, será que posso entrar?
— Sim, claro, mas você tem que fechar os olhos.
Em vez disso, olhei para ela com olhos semicerrados.
— Por quê?
Ela riu e disse:
— Só confia em mim!
— Tudo bem. — Imaginei que, se Cora estava tentando me
animar, eu poderia muito bem permitir. Na verdade, era meio fofo.
Ela realmente não precisava fazer isso só porque eu estava de mau
humor na última semana.
Fechei os olhos e deixei que me guiasse.
— Lena!
— Jackson? — falei, começando a abrir os olhos.
— Não pode espiar!
Eu ri de sua voz preocupada e fechei meus olhos com força de
novo.
— Não vou espiar — assegurei a ele.
— Estende a mão.
Eu obedeci e senti algo envolvendo-a. Como um elástico de
cabelo, só que mais pesado.
— O que é isso?
— Sem olhar — disse Cora, voltando a me conduzir para a frente.
Eu podia sentir luzes se movendo sobre minhas pálpebras
fechadas e estava prestes a perguntar impacientemente o que estava
acontecendo quando uma voz muito familiar disse:
— Abre os olhos.
Jackson, Tia, Josie e Cora estavam nas laterais do ginásio ainda
decorado. Nada havia sido movido ou retirado. As estrelas e luas
estavam penduradas nas vigas, girando ligeiramente. As luzes
principais estavam apagadas, e os dois globos espelhados que
penduramos refletiam nas paredes e no chão, que estava coberto de
balões dourados e prateados. Os pisca-piscas brilhavam no alto
como pequenas estrelas. E, no meio disso tudo, estava Robbie
segurando um violão.
Olhei para a minha mão, e meu coração disparou ao ver um
corsage com borboletas de seda. Olhei para Tia e Cora, lágrimas
começando a se acumular em meus olhos enquanto elas sorriam
largamente para mim.
— Elena — chamou Robbie, puxando minha atenção de volta
para ele. — Queria fazer algo para você que eu deveria ter feito há
muito tempo.
Então ele começou a tocar a música que escrevemos juntos
quando crianças e começou a cantar.

Não deveria estar surpreso que você abriu esta porta trancada
Pensei em fechar meu coração com tanta força
Mas te ver é como relembrar como rir

Eu mesma soltei involuntariamente uma espécie de risada


misturada com choro. As palavras eram de alguma forma perfeitas
para a melodia que ele transformou em uma balada. O Robbie de 10
anos estava certo, era uma canção de amor.

Eu odeio ser aquele que te faz chorar


Me arrependo dos momentos em que perdi minha fé, porque isso
fez
Você perder a fé em mim.

Tentei conter as lágrimas. Por que Robbie sempre sabia


exatamente o que dizer (ou cantar) para me fazer chorar? Como ele
poderia saber que essa era exatamente a maneira certa de se
desculpar?

Você sempre foi aquela que soube como alcançar meu coração
Mas esqueci que as ações contam mais que as intenções

Por favor, acredite que você é a única para mim


Quem sempre viu o melhor de mim
Quem sempre aceitará o pior de mim

Por favor, acredite


Por favor, acredite
Em mim de novo

Minha visão se tornou um borrão de formas enquanto as


lágrimas tomavam conta dela. Pisquei com força, e gotas densas
pingaram em minhas bochechas.
Robbie deu um passo à frente e pegou minhas mãos nas dele.
— Eu queria te dizer que sinto muito, Elena. Que errei feio. Mas
vejo você. Sei que você é leal. Que você faria qualquer coisa para
defender um amigo. Que você odeia falar em público. Que você
gosta de fazer planos e adora suas planilhas.
Soltei uma risada cheia de lágrimas.
Robbie sorriu.
— Você é teimosa, inteligente e odeia trocadilhos, mas me deixa
fazer mesmo assim. Não quer que ninguém mais te defina, mas
ainda tá descobrindo quem é a verdadeira Elena Soo. Mas posso
dizer que, para mim, a verdadeira Elena Soo é alguém que sempre
me desafia a ser melhor. E sei que este lugar significa tudo para
você, então queria me desculpar aqui. Em um lugar que você ama.
Porque eu amo você.
— Não sei o que dizer. — Não queria admitir que suas palavras
me causaram uma reviravolta no estômago e um aperto no peito.
Ele assentiu, como se estivesse esperando por isso:
— Podemos conversar?
Olhei para onde os outros estavam e percebi que haviam nos
deixado sozinhos.
— Claro — falei, por fim.
— Quando tudo isso começou, pensei que estava fazendo um
favor para o meu hyung — explicou Robbie. — Eu via que ele estava
em conflito por precisar desistir da garota que amava. Mas sempre
soube que JD não seria capaz de fazer isso. Eu não entendia por que
isso era tão difícil até voltar aqui e me pedirem para desistir de você.
Senti minha respiração prender na garganta, mas fiquei quieta,
deixando-o terminar.
— Você tinha razão quando disse que eu só pensava em como as
coisas afetariam minha imagem. Nos últimos anos, me convenci de
que precisava aprender a jogar o jogo se quisesse conseguir algo que
fosse realmente meu.
Observei seus punhos cerrarem e lutei contra o desejo de
estender a mão e entrelaçar meus dedos nos dele.
— Mas não quero mais jogar— falou. — Não se for machucar as
pessoas que eu amo.
Agora estendi a mão e peguei a dele.
— Eu nunca conseguiria entender como é ser jogada nesse
mundo como aconteceu com você. Quer dizer, mal consegui me
comprometer a ficar no time de futebol da escola quando tinha 14
anos, imagina estrear em um grupo de K-pop. Eu te admiro por
fazer isso e por ser tão bom nisso. Mas, sendo sincera, o mundo em
que você vive me assusta, porque é um lugar que pode fazer uma
pessoa boa fazer coisas ruins para alcançar o sucesso.
Robbie assentiu:
— Eu entendo. E entenderia se você nunca mais quisesse olhar na
minha cara. Mas fique sabendo que não concordei com o plano só
por causa do Jongdae-hyung ou de um álbum estúpido. Concordei
porque queria muito te ver de novo. E o plano parecia ser a
oportunidade perfeita. Não apenas ia poder te ver, mas também
passar um tempo com você. E talvez eu estivesse usando essa
desculpa para me impedir de amarelar.
— Amarelar? — perguntei. — Por quê?
Ele deu de ombros, baixando os olhos.
— Eu te disse, não sou bom em conversar com garotas.
— Sim, eu até acreditaria nisso, se não tivesse visto uma dúzia de
vídeos seus em encontros de fãs, fazendo todas aquelas garotas
corarem.
— Isso é trabalho. — Robbie soltou uma risadinha envergonhada
que fez sua covinha aparecer. — Elena, eu tinha 10 anos da última
vez que estive perto de uma garota de quem gostava. E sinto que
não melhorei nada em falar sobre meus sentimentos. É meio
vergonhoso perceber que consigo cantar na frente de milhares de
pessoas, mas que existem garotos de 13 anos por aí que
provavelmente conversam melhor do que eu com garotas.
Eu ri. Robbie estava subestimando seriamente suas habilidades,
porque esta garota aqui estava quase desmaiando contra a própria
vontade. Tentei me convencer de que seria um relacionamento
fadado ao fracasso desde o início. Que tínhamos muitos empecilhos
entre nós. Logo haveria países inteiros entre nós. Mas meu coração
queria Robbie, e aqui, na frente dele, eu não conseguia ignorar isso.
— Eu podia me desculpar mil vezes pelos próximos mil dias, e,
ainda assim, nunca seria o suficiente para merecer seu perdão —
disse ele. — Mas será que você poderia levar em consideração que
sou um idol de K-pop emocionalmente atrofiado e superprotegido
que é apaixonado por você há sete anos e talvez me dar um
desconto?
E embora pensar em todos os “e se…?” me aterrorizasse, Josie
tinha razão: tentar prever tudo era uma batalha perdida. Mesmo que
eu não pudesse ter certeza de que Robbie não me deixaria
novamente algum dia, não conseguiria desistir dele. Eu precisava
dele, algo que vinha crescendo dia após dia no último mês. Talvez
nos últimos sete anos.
Viva o momento, Elena. Eu iria trabalhar duro para fazer desse o
meu novo mantra. O futuro poderia ser o que fosse. Mas o medo do
desconhecido não me impediria de viver a minha vida.
— Sim, acho que posso te dar um desconto — falei. — Mas só
porque foram sete anos inteiros. Se fossem apenas seis e meio, você
estaria ferrado.
Robbie soltou um suspiro aliviado, então passou a mão pelo meu
braço até entrelaçar seus dedos nos meus.
— Pode ser um novo começo — disse ele.
— Não. — Balancei a cabeça, e seu rosto assumiu uma expressão
triste. — Tem coisas demais entre a gente para estarmos apenas
começando. Mas podemos descobrir como daremos certo agora,
depois de toda a nossa história, das partes boas e ruins. Um K-idol e
uma garota normal.
Robbie sorriu e se inclinou para a frente até nossos narizes se
tocarem:
— Um garoto e a garota que ele sempre amou.
— Você tem muita sorte de ser artista, ou não teria uma boa
desculpa para soar tão cliché. — Eu ri.
Robbie riu e pegou seu celular. Após alguns cliques, a versão
original de “Gobaek Hamnida” começou.
— Você me concede esta dança de não-baile? — Ele estendeu a
mão.
Não consegui evitar o sorriso pateta que apareceu no meu rosto.
Peguei sua mão e ri quando Robbie fez uma reverência exagerada,
como se estivéssemos em um filme de época. Retribuí o gesto e
deixei que ele me puxasse para seus braços.
Era o meu primeiro não-baile, mas, devo admitir, estava sendo
muito bom.
— Sabe, você me deve dois desejos agora — falei.
As luzes cintilantes criaram figuras brilhantes em suas bochechas
enquanto ele se inclinava para trás franzindo a testa em surpresa.
— Porque não me concedeu meu último. Essa é sua penalidade.
Robbie sorriu enquanto dançávamos juntos ao som da música.
— É uma penalidade que estou disposto a aceitar, porque nada
neste mundo vai me manter longe de você por muito tempo.
Sorri de volta e o beijei. Robbie Choi. Meu melhor amigo de
infância. Astro internacional de K-pop. Meu primeiro beijo. E meu
primeiro amor.
Epílogo

Duas semanas depois do início da minha viagem de verão a


Seul, eu ainda sentia como se estivesse vivendo a vida de outra
pessoa.
Uma coisa era o pessoal da minha escola perguntando se eu
estava realmente namorando Robbie. Mas a Coreia era outro nível.
Os meninos do WDB não eram apenas celebridades aqui, eram
ícones, responsáveis por levar a onda coreana (Hallyu) ao redor do
mundo. E muitos fãs pareciam realmente nos apoiar, alegando que
nossa história era como a de uma comédia romântica adolescente ou
um dorama.
Ainda assim, o que mais me surpreendeu não teve nada a ver
com Robbie ou com o K-pop. Foi ensinar no hagwon de Como. No
começo, foi assustador. Como havia me colocado na turma mais
nova, mas, ainda assim, eles estavam no ensino fundamental e não
pareciam muito mais jovens do que eu. Sou muito grata pela
hierarquia de idade coreana, ou tenho certeza de que os estudantes
teriam se aproveitado mais da minha falta de jeito na primeira
semana. Acho que eu devia mais uma a Robbie, porque todas as
garotas da classe achavam muito legal que havia rumores de que
estávamos namorando.
E descobri que, depois de superar minha ansiedade inicial, eu era
realmente muito boa em ensinar. Hoje mesmo, ajudei meu aluno
mais quieto a entender preposições. Eu ainda conseguia me lembrar
do olhar em seu rosto e de seu sorriso radiante quando ele disse:
— Obrigado, Seonsaengnim.
A estranheza de ser chamada de “professora” era atenuada pela
alegria de ajudar alguém de verdade.
Eu mal podia esperar para contar a Robbie por FaceTime hoje. Ele
estava no estúdio trabalhando em um projeto misterioso durante a
última semana, dando pistas de que seria algo grande. Tentei fazer
com que me contasse. Reivindiquei privilégios de namorada, mas ele
não cedeu.
Ainda me sentia estranha dizendo isso em voz alta. “Namorada.”
Mas Robbie começou a me chamar assim, então apenas segui seu
exemplo.
Eu estava prestes a sair na rua quando alguém me deu um
tapinha no ombro. Antes que pudesse me virar, fui agarrada pela
mão e puxada para uma escada lateral vazia.
Deixei escapar um gritinho agudo, erguendo meus punhos para
proteger meu rosto. Ainda havia algumas Constellations que não
estavam felizes por eu ter tirado Robbie da pista.
— Vai me ameaçar com suas habilidades de kickboxing de novo?
Baixei minhas mãos e falei ofegante:
— Robbie?
— Lani. — Ele sorriu, o que fez com que borboletas batessem
suas asas contra meu coração.
Tive vontade de jogar meus braços em volta dele, mas eu ainda
estava muito confusa com sua aparição.
— O que você tá fazendo aqui? — perguntei. — Achei que
precisava trabalhar.
— Acabei. Projeto secreto oficialmente concluído.
— E?
Robbie pegou minha mão, entrelaçando seus dedos nos meus.
— E eu queria comemorar com a minha namorada.
A palavra fez meu coração aumentar de tamanho, como sempre.
— E você vai contar para a sua namorada que projeto é esse?
Ele pensou sobre o assunto e disse:
— Vai custar um dos seus desejos?
Abri a boca em uma indignação exagerada.
— Você espera que eu gaste um desejo inteiro nisso?
Robbie se inclinou para mais perto, de modo que nossos olhos se
alinharam, e meu pulso disparou.
— É um segredo realmente muito bom.
Eu sabia exatamente o joguinho que ele estava fazendo aqui, mas,
ainda assim, caí de bom grado na armadilha.
— Tudo bem, então me conta o segredo como um dos meus
desejos.
— O D.E.T. tá abrindo a própria agência. E ele precisa de uma
música nova para o primeiro artista que contratou… A Sooyeon.
Agarrei seus ombros, empolgada.
— É sério? Que incrível! Uau! — Agora abracei Robbie, e suas
mãos envolveram minha cintura.
Ele se abaixou, aproximando-se o suficiente para acariciar meu
nariz com o dele.
— Não sei se teria coragem de fazer isso sem você.
Eu ri, apesar de minha garganta ter ficado repentinamente seca, e
dei um soco em seu ombro. Mas ele não se afastou, apenas apertou
minha cintura com mais força.
— Você teria chegado até aqui. É muito talentoso, Robbie.
— É mais fácil assumir riscos quando sabemos que tem alguém
que acredita na gente. Você é muito especial, Lani, sabia disso?
O embaraço de aceitar um elogio guerreava com a onda de calor
que percorria todo o meu corpo. Decidi focar no calor e fiquei na
ponta dos pés para beijá-lo. Só Robbie Choi para fazer uma garota se
sentir o centro do universo quando era ele quem tinha milhões de fãs
em todo o mundo.
— Robbie! — Hanbin irrompeu pela porta.
Ele suspirou, mas não me soltou quando se virou para o
empresário.
— Hyung, você disse que eu tinha cinco minutos. Só se passaram
três.
— Que pena. Alguém postou sua localização. Temos que ir.
Hanbin nos conduziu porta afora rapidamente, mas era tarde
demais. No momento em que pisamos sob o sol escaldante de verão,
meia dúzia de paparazzi correram para a frente, tirando fotos
nossas. A mão de Robbie apertou a minha, puxando-me para mais
perto dele, como se pudesse me esconder.
— Robbie! Essa é sua namorada? — gritou alguém em coreano.
— Ei! Namorada do Robbie, que tal um sorriso?
Robbie começou a se virar para ficar na minha frente, mas apertei
sua mão e me virei para o paparazzi que havia feito a pergunta.
— Na verdade, meu nome não é “namorada do Robbie”. É Elena.
— E então fiz um V com os dedos e deixei que tirassem uma foto
antes de eu entrar na van de idol.
Enquanto Hanbin se afastava dos flashes das câmeras, Robbie se
virou para mim.
— E aí, como é estar totalmente no meu mundo agora? — Ele
arqueou uma sobrancelha enquanto esperava pela minha resposta.
Pensei sobre isso por um momento, sobre o risco constante de
tirarem uma foto nossa. Sobre as hipóteses dos internautas. Sobre os
comentários às vezes mal-educados da internet que criticavam tudo,
desde a cor do meu cabelo até as minhas roupas.
E então pensei em Robbie compartilhando seus sonhos comigo.
Em como ele gostava de encostar a bochecha na minha cabeça
sempre que nos abraçávamos. Em como ele gostava de entrelaçar
nossos dedos, do jeito que estava fazendo agora. Em como ele
conseguia fazer meu coração disparar apenas ao dizer meu nome.
Então eu sorri e respondi:
— É definitivamente imprevisível. Mas essa é a graça, não é?
Agradecimentos

Se alguém tivesse dito à Kat de 15 anos que ela escreveria uma


comédia romântica sobre K-pop um dia, ela provavelmente teria
desmaiado de felicidade. Este livro realmente realizou um grande
sonho de infância da fã e escritora em mim!
Primeiramente, gostaria de agradecer a SG Wannabe por me
viciar em MVs melodramáticos de K-pop quando eu era mais jovem.
“살다가 살다가 살다가 너 힘들 때!”
Agradeço à minha agente incrível, Beth Phelan. Você me forneceu
apoio e conselhos incríveis que me tornaram a pessoa e autora que
sou hoje e, por isso, sou eternamente grata.
Agradeço à minha editora incrível, Rebecca Kuss! Uma vez, um
sábio me disse que eu só precisava identificar a pessoa que
entenderia completamente o que eu estava tentando alcançar com o
meu livro e pedir que ela o lesse. E eu soube, imediatamente, que
essa pessoa era você. Portanto, sinto-me extremamente sortuda por
termos trabalhado juntas oficialmente neste livro!
Agradeço à equipe da Hyperion, que me ajudou a dar vida a esta
história. Agradeço a Kieran, por acreditar na minha escrita.
Agradeço às equipes de design, publicidade e marketing, que
trabalharam para levar este livro até os leitores!
À minha irmã, Jennifer Magiera, agradeço por ter me
apresentado ao H.O.T. quando eu estava no ensino fundamental. E
te amo muito!
À minha prima e autora favorita, Axie Oh, agradeço por me
apresentar a GD e Fin.K.L/Lee Hyori. Agradeço por tentar
memorizar a letra de “Thriller” do BtoB comigo, mesmo que fosse
uma causa perdida. Além disso, agradeço por cantar muito mal
“Spring Day” no karaokê comigo toda vez que íamos a um noraebang
em Seul! 사랑해!
Agradeço aos meus amigos editores que estão trabalhando duro
para fazer mudanças positivas na indústria e me inspiram todos os
dias: Deeba Zargarpur, Emily Berge e Alexa Wejko.
Agradeço aos autores que me apoiaram durante toda a minha
jornada editorial: Rena Barron, Ronni Davis, Samira Ahmed, Gloria
Chao, David Slayton, Karuna Riazi, Nafiza Azad e Swati Teerdhala!
Ao meu culto de escritores: Janella Angeles, Alexis Castellanos,
Maddy Colis, Mara Fitzgerald, Amanda Foody, Amanda Haas,
Christine Lynn Herman, Katy Rose Pool, Tara Sim e Melody
Simpson. Agradeço o apoio constante. Akshaya Raman, agradeço
por me ajudar a resolver meus problemas mentais e ser mais
produtiva! Ashley Burdin, agradeço por ouvir minhas reflexões
aleatórias sobre meus personagens durante o rascunho. Meg
Kohlmann, agradeço por conversar comigo o tempo todo sobre BTS
e Taemin.
Claribel Ortega, saber o quanto você ama o RM e suas covinhas
confirma que eu estava certa em te mandar uma DM há seis anos.
Agradeço por ser minha amiga, coapresentadora de podcast e
amante de nuggets de frango!
Agradeço à minha família: Halmoni Oh, Emo Helen, Tio Doosang,
Emo Sara, Tio Warren, Tio John, Tia Heejong, Emo Mary, Tio Barry.
Adam, Alex, Saqi, Jim, Sara Kyoung, Wyatt, Jason, Christine, Kevin,
Bryan, Josh, Scott e Camille. Eu amo vocês!
Lucy, agradeço por ser minha companheira de dança de K-pop!
Nora, mal posso esperar para você participar de nossas festas
dançantes!
Mãe e pai, eu amo vocês. 보고싶어요.
E, finalmente, agradeço a todos os leitores que apoiaram meus
livros e acompanharam minha jornada de escrita até agora! Eu não
teria conseguido sem vocês!

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