O Covil Da Bruxa - Helena Petrovna Blavatsky

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O COVIL DA BRUXA

HELENA BLAVATSKY
(1831-1891)

Título original em inglês:


A WITCH’S DEN

Capa, Tradução e Revisão:


ALEX ZUCHI
Nosso amável anfitrião Sham Rao estava muito empolgado durante as
horas restantes de nossa visita. Ele fazia o possível para nos entreter e não
queria saber de nossa despedida da região sem que tivéssemos visto sua
maior celebridade, sua representação mais interessante. Uma jadu wâlâ -
feiticeira - bem conhecida no distrito, estava naquele momento sob a
influência de sete deusas irmãs, que a tomavam intercaladamente e falavam
de suas profecias através de seus lábios. Sham Rao dizia que não devíamos
ir embora antes de vê-la, nem que fosse apenas por um interesse científico.
A tarde chegava ao fim e mais uma vez nos preparamos para uma
excursão. Eram apenas cinco milhas até a caverna de Pythia de Hindostan; a
estrada atravessava uma selva, mas era plana e suave. Além disso, a selva e
seus habitantes ferozes haviam deixado de nos assustar. Os elefantes
tímidos que tínhamos na "Cidade Morta" haviam sido enviados para casa, e
montamos novos colossos pertencentes a um Râjâ vizinho. O par que ficava
diante da varanda como dois outeiros negros eram estáveis e confiáveis.
Muitas vezes esse par havia participado da caçada ao tigre real, e nenhum
urro selvagem ou rugido estrondoso poderia assustá-los. Sendo assim,
iríamos começar! As chamas avermelhadas das tochas ofuscavam nossos
olhos e aumentavam a escuridão da floresta. Ao nosso redor tudo parecia
tão escuro, tão misterioso. Havia algo indescritivelmente fascinante, quase
solene, nessas viagens noturnas para os confins mais afastados da Índia.
Tudo estava silencioso e deserto ao nosso redor, tudo estava estático na
terra e acima. Apenas o passo pesado e regular dos elefantes quebrava a
quietude da noite, como o som de martelos trabalhando na forjaria
subterrânea de Vulcano. De tempos em tempos, vozes e murmúrios
estranhos eram ouvidos na floresta negra.
— O vento canta sua música estranha entre as ruínas — disse um de
nós. — Que fenômeno acústico maravilhoso!
— Bhûta, bhûta! — sussurraram os assustados portadores das tochas.
Eles brandiam suas tochas e rapidamente giravam sobre uma perna e
estalavam os dedos para afastar os espíritos agressivos.
O murmúrio lamentoso se perdia à distância. A floresta estava mais
uma vez preenchida com as cadências de sua vida noturna invisível - o
chirriar metálico dos grilos, o fraco e monótono coaxar do sapo, o farfalhar
das folhas. De tempos em tempos, os ruídos repentinamente cessavam e
então recomeçavam, gradualmente aumentando mais.
Céus! Que vida abundante, que reservas de energia vital estavam
escondidas sob a folha mais pequena, as folhas de grama mais
imperceptíveis, nesta floresta tropical! Miríades de estrelas brilhavam no
azul escuro do céu, e miríades de vaga-lumes brilhavam para nós de cada
arbusto, movendo faíscas, como um pálido reflexo das estrelas distantes.
**
Deixávamos a densa floresta atrás de nós e alcançávamos um vale
profundo, em três lados margeados pela floresta densa, onde até mesmo de
dia as sombras são tão escuras quanto à noite. Estávamos cerca de 600
metros acima do pé da cordilheira de Vindhya, a julgar pela parede em
ruínas de Mandu, logo acima de nossas cabeças.
De repente, um vento muito frio subiu até nós e quase apagou nossas
tochas. Apanhados no labirinto de arbustos e pedras, o vento sacudia
furiosamente os galhos das Syringas em flor; então corria livremente e
retornava ao longo do vale, uivando, assobiando e berrando, como se todos
os demônios da floresta se reunissem em uma canção fúnebre.
— Aqui estamos — disse Sham Rao, desmontando. — Aqui está a vila;
os elefantes não podem ir mais longe.
— A vila? Certamente você está enganado. Não vejo nada além de
árvores.
— Está escuro demais para ver a vila. Além do mais, as cabanas são tão
pequenas e tão escondidas pelos arbustos que, mesmo durante o dia,
dificilmente você as encontraria. E não há luz nas casas, por medo dos
espíritos.
— E onde está sua bruxa? Você quer dizer que iremos assistir sua
apresentação em completa escuridão?
Sham Rao lançou um olhar furtivo e tímido ao seu redor; e sua voz,
quando respondeu às nossas perguntas, estava um tanto trêmula.
— Eu rogo que você não a chame de bruxa! Ela pode ouvi-lo... não está
muito longe, não mais de 800 metros. Não permita que essa curta distância
abale sua decisão. Nenhum elefante, e nem mesmo um cavalo poderia
chegar até lá. Precisamos andar... mas encontraremos muita luz quando
chegarmos...
Isso era inesperado e longe de ser agradável. Andar nesta noite sombria
da Índia; andar em meio a incontáveis cactos; aventurar-se em uma floresta
escura, cheia de animais selvagens - isso era demais para a senhorita X. Ela
declarou que não iria mais longe. Ela esperaria por nós no howdah às costas
do elefante e talvez fosse dormir.
Narayan era contra essa parti de plaisir desde o início, e agora, sem
explicar suas razões, ele dizia que ela era a única pessoa sensata entre nós.
— Você não vai perder nada — observou ele. — Ficando onde está. E
só desejo que todos sigam o seu exemplo.
— Que embasamento você teria para dizer isso? — protestou Sham
Rao, e uma leve nota de decepção soou em sua voz, quando viu que a
excursão, proposta e organizada por ele mesmo, ameaçava em não dar em
nada. — Que mal poderia ser causado por ela? Não vou insistir mais que a
“encarnação dos deuses” é uma visão rara e que os europeus quase nunca
têm a oportunidade de testemunhá-la; mas, além disso, Kangalim não é uma
mulher comum. Ela leva uma vida santa; é profetisa, e suas bênçãos não
podem ser prejudiciais a ninguém. Eu insisti nessa excursão por puro
patriotismo.
— Sahib, se seu patriotismo consiste em exibir diante dos estrangeiros
a pior das nossas pragas, então por que você não ordenou que todos os
leprosos de seu distrito se reunissem e desfilassem diante dos olhos de
nossos convidados? Você é um patèl, você tem o poder para fazer isso.
Quão amarga a voz de Narayan soou para nossos ouvidos
desacostumados. Geralmente ele era tão calmo, tão indiferente a tudo que
pertencia ao mundo exterior.
Temendo uma briga entre os hindus, o coronel comentou, num tom
conciliatório, que era tarde demais para reconsiderarmos nossa expedição.
Além disso, sem ser um crédulo na "encarnação dos deuses", ele estava
pessoal e firmemente convencido de que os demoníacos existiam mesmo no
Ocidente. Ele estava ansioso para estudar cada fenômeno psicológico, onde
quer que o encontrasse, e qualquer que fosse a forma que pudesse assumir.
Seria uma visão impressionante para nossos amigos europeus e
americanos se eles tivessem contemplado nossa procissão naquela noite
escura. Nosso caminho se estendia por um caminho estreito e sinuoso,
subindo a montanha. Não mais do que duas pessoas podiam andar juntas – e
estávamos em 30, incluindo os portadores das tochas. Certamente alguma
reminiscência dos ataques noturnos contra os sulistas confederados havia
sido revivido no peito do coronel, a julgar pela prontidão com que ele
assumia a liderança de nossa pequena expedição. Ele ordenou que todos os
rifles e revólveres fossem carregados, despachou três portadores das tochas
para andar à nossa frente e nos organizou em pares. Com um chefe tão
habilidoso, não tínhamos nada a temer dos tigres; e assim nossa procissão
começou a subir lentamente o caminho sinuoso.
Não pode ser dito que os indiscretos viajantes, que apareceram mais
tarde, na cova da profetisa de Mandu, cintilavam pelo esplendor e elegância
de seus trajes. Meu vestido, assim como os trajes de viagem do coronel e do
Sr. Y - estavam quase despedaçados. Os cactos haviam recolhido qualquer
tributo que pudessem, e os cabelos desgrenhados de Babu fervilhavam com
toda uma colônia de gafanhotos e vaga-lumes, provavelmente atraídos pelo
cheiro de óleo de coco. O robusto Sham Rao ofegava como um motor a
vapor. Narayan estava como o habitual - isto é, como um Hércules de
bronze, armado com um bastão. Na última curva abrupta do caminho,
depois de superar a dificuldade de escalar pedras enormes e dispersas, de
repente nos encontramos num lugar perfeitamente plano; nossos olhos,
apesar de nossas muitas tochas, eram ofuscados pela luz e nossos ouvidos
eram atingidos por uma mistura de sons incomuns.
Um novo vale estreito se abria diante de nós, cuja entrada estava bem
mascarada por árvores espessas. Nós percebemos com que facilidade
poderíamos ter andado próximos a ela sem sequer suspeitar de sua
existência. No fundo do vale estreito, descobrimos a morada da célebre
Kangalim.
O covil, como se revelou, estava situado nas ruínas de um antigo
templo Hindu, em razoável estado de conservação. Com toda a
probabilidade, fora construído muito antes da "Cidade Morta", porque
durante a época desta última, os pagãos não tinham permissão para erigir
seus próprios locais de adoração; e o templo ficava bastante perto da
muralha da cidade, de fato, logo abaixo dela. As cúpulas das duas torres
laterais menores haviam caído há muito tempo, e enormes arbustos
cresciam de seus altares. Naquela noite, seus galhos estavam escondidos
sob uma massa de trapos de cores vivas, pedaços de fita, potes e vários
outros talismãs, porque, mesmo neles, a superstição popular vê algo
sagrado.
— E essas pobres pessoas não estão certas? Esses arbustos não
cresceram em solo sagrado? A sua seiva não está impregnada com o
incenso de oferendas e as exalações dos reclusos sagrados, que uma vez
viveram e respiraram aqui?
O erudito, mas supersticioso Sham Rao, só responderia às nossas
perguntas com novas perguntas.
Mas o templo central, construído em granito vermelho, permanecia
intacto pelo tempo e, como descobrimos depois, um túnel profundo se abria
logo atrás da porta fechada. O que estava além, ninguém sabia. Sham Rao
garantiu-nos que nenhum homem das últimas três gerações havia
ultrapassado o limiar dessa porta grossa de ferro; ninguém havia visto a
passagem subterrânea por muitos anos. Kangalim morava lá em perfeito
isolamento e, segundo as pessoas mais velhas do distrito, ela sempre morara
lá. Algumas pessoas diziam que ela tinha trezentos anos; outras alegavam
que um certo homem velho em seu leito de morte havia revelado ao filho
que essa velha mulher não era ninguém mais que seu próprio tio. Esse
fabuloso tio havia se estabelecido na caverna nos tempos em que a "Cidade
Morta" ainda contava com várias centenas de habitantes. O eremita,
ocupado pavimentando seu caminho para Moksha, não tinha nenhum
contato com o resto do mundo, e ninguém sabia como ele vivia e o que
comia. Mas há muito tempo, nos dias em que os Bellati (estrangeiros) ainda
não haviam se apossado dessa montanha, o velho eremita de repente se
transformou em uma eremita. Ela continua suas atividades e fala com sua
voz, e muitas vezes em seu nome; mas ela recebe adoradores, o que não era
a prática de seu antecessor.
Havíamos chegado cedo demais, e os Pythia não apareceram à primeira
vista. Mas a praça diante do templo estava cheia de pessoas e era uma cena
selvagem, embora pitoresca. Uma enorme fogueira ardia no centro, e ao seu
redor uma multidão de selvagens nus como gnomos negros, jogando galhos
inteiros das árvores sagradas para as sete deusas irmãs. Lenta e
uniformemente, todos pulavam de uma perna para a outra, cantando uma
única frase musical monótona, que repetiam em coro, acompanhados por
vários tambores e tamborins. O trinado silencioso deste último misturava-se
aos ecos da floresta e aos gemidos histéricos de duas menininhas, que
estavam deitadas sob uma pilha de folhas junto à fogueira. As pobres
crianças haviam sido trazidas até ali por suas mães, na esperança de que as
deusas tivessem pena delas e banissem os dois espíritos malignos sob cuja
possessão estavam. As duas mães eram bem jovens e sentavam-se sobre
seus calcanhares, sem expressão e tristes, encarando as chamas. Ninguém
nos prestou a menor atenção quando aparecemos, e depois durante todo o
tempo que lá permanecemos essas pessoas agiam como se fôssemos
invisíveis. Se tivéssemos usado uma capa de escuridão, elas não poderiam
ter se comportado de maneira mais estranha.
— Eles sentem a aproximação dos deuses! A atmosfera está cheia de
suas emanações sagradas! — estranhamente explicou Sham Rao,
contemplando com reverência os nativos, a quem seu amado Haeckel
poderia facilmente ter confundido com seu "elo perdido", a raça de seu
Bathybius Haeckelii.
— Eles estão simplesmente sob a influência de bebida e ópio! —
retorquiu o irreverente Babu.
Os espectadores se moviam como num sonho, como se todos fossem
apenas sonâmbulos parcialmente acordados, mas os atores eram
simplesmente vítimas da dança de St. Vitus. Um deles, um homem velho e
alto, um mero esqueleto com uma longa barba branca, saiu do círculo e
começou a girar vertiginosamente, com os braços abertos como asas, e
rangendo alto os longos dentes parecidos com os de um lobo. Era doloroso
e nojento de se olhar. Ele logo caiu, e foi descuidadamente, quase
mecanicamente empurrado de lado pelos pés dos outros ainda envolvidos
em suas performances demoníacas.
Tudo isso já era assustador o bastante, mas muitos outros horrores
estavam guardados para nós.
Esperando o aparecimento da prima donna dessa companhia de ópera
florestal, sentamos no tronco de uma árvore caída, prontos para fazer
inúmeras perguntas ao nosso condescendente anfitrião. Mas eu mal estava
sentada quando um sentimento de indescritível espanto e horror me fez
recuar.
Eu contemplei o crânio de um animal monstruoso, do tipo que não
consegui encontrar em minhas reminiscências zoológicas.
Essa cabeça era muito maior do que a cabeça de um esqueleto de
elefante. E, no entanto, não podia ser outra coisa senão um elefante, a julgar
pela tromba habilmente restaurada, que descia aos meus pés como uma
sanguessuga negra e gigantesca. Mas a cabeça de um elefante não possui
chifres, enquanto esta tinha quatro deles! O par da frente ficava preso na
testa plana, dobrando-se levemente para a frente e depois se abrindo; e os
outros dois tinham uma base larga, como a raiz do chifre de um alce, que
gradualmente diminuía quase até o meio e tinha galhos longos o suficiente
para decorar pelo menos uma dúzia de alces comuns. Pedaços da pele
transparente de rinoceronte amarelo-âmbar estavam esticados sobre os
buracos oculares e vazios do crânio, e pequenas luzes acesas atrás deles
apenas realçavam o horror, a aparência diabólica dessa cabeça.
— O que isso poderia ser? — era a nossa pergunta unânime. Nenhum
de nós jamais vira algo assim, e até o coronel parecia horrorizado.
— É um Sivatherium — disse Narayan. — Será possível que vocês
nunca tenham encontrado esses fósseis nos museus europeus? Seus restos
mortais são bastante comuns no Himalaia, embora, é claro, em fragmentos.
Eles foram nomeados em homenagem a Shiva.
— Se o colecionador deste distrito ouvir falar que essa relíquia
antediluviana adorna a cova de sua - hummm! Bruxa — observou Babu. —
Ela não adornará por muitos dias.
Ao redor do crânio e no chão do pórtico havia montes de flores brancas
que, embora não fossem muito antediluvianas, eram totalmente
desconhecidas para nós. Elas eram do tamanho de uma rosa grande e suas
pétalas brancas estavam cobertas com um pó vermelho, o inevitável
acompanhante de todas as cerimônias religiosas indianas. Mais adiante
havia pilhas de cocos e grandes pratos de latão cheios de arroz, cada um
decorado com uma vela vermelha ou verde. No centro do pórtico, havia um
incensário com uma forma estranha, cercado por candelabros. Um
garotinho, vestido da cabeça aos pés de branco, jogava ali punhados de pós
aromáticos.
— Essas pessoas que se reúnem aqui para adorar Kangalim — disse
Sham Rao. — Na verdade não pertencem a sua seita ou a qualquer outra.
Eles são adoradores do diabo. Não acreditam nos deuses hindus; vivem em
pequenas comunidades; pertencem a uma das muitas raças indianas que
geralmente são chamadas de tribos das colinas. Ao contrário dos Shanars do
Sul de Travancore, eles não usam o sangue de animais sacrificiais, não
constroem templos separados para seus Bhutas. Mas são possuídos pela
estranha fantasia de que a deusa Kâli, a esposa de Shiva, desde tempos
imemoriais guarda rancor contra eles e envia seus espíritos malignos
favoritos para torturá-los. Salvo essa pequena diferença, possuem as
mesmas crenças que os Shanars. Deus não existe para eles, e até Shiva é
considerado por eles como um espírito comum. Sua principal adoração é
oferecida às almas dos mortos. Essas almas, por mais justas e amáveis que
possam ser durante sua vida, tornam-se após a morte tão perversas quanto
possível; só estão felizes quando estão torturando homens e gado. Como as
oportunidades de fazê-lo são a única recompensa pelas virtudes que eles
possuíam quando encarnados, um homem muito perverso é punido por se
tornar, após sua morte, um fantasma de coração mole; ele detesta sua perda
de ousadia e se torna completamente infeliz. Os resultados dessa estranha
lógica não são ruins, no entanto. Esses selvagens e os adoradores do diabo
são os mais gentis e amantes da verdade de todas as tribos das colinas. Eles
fazem o que podem para ser dignos de sua recompensa final; porque,
percebam, todos eles desejam se tornar os mais perversos dos demônios!
De bom humor por sua própria esperteza, Sham Rao riu até que sua
hilaridade se tornou ofensiva, considerando a sacralidade do lugar.
— Há um ano, alguns assuntos comerciais me levaram para Tinevelli
— continuou ele. — Hospedando-me com um amigo meu, que é Shanar, fui
autorizado a estar presente em uma das cerimônias em homenagem aos
demônios. Nenhum europeu ainda testemunhou esse culto, seja o que for
que os missionários possam dizer; mas há muitos convertidos entre os
Shanars, que os descrevem livremente aos padres. Meu amigo é um homem
rico, o que provavelmente é a razão pela qual os demônios são
especialmente cruéis com ele. Envenenam seu gado, prejudicam suas
colheitas, suas plantações de café e perseguem seus numerosos familiares,
enviando-lhes insolação, loucura e epilepsia, doenças sobre quais eles
especialmente controlam. Esses demônios perversos se instalaram em todos
os cantos de sua espaçosa propriedade - nas matas, nas ruínas e até em seus
estábulos. Para prevenir tudo isso, meu amigo cobriu sua terra com
pirâmides de estuque e orou humildemente, pedindo aos demônios que
desenhassem seus retratos em cada um deles, para que pudesse reconhecê-
los e adorá-los separadamente, como o legítimo proprietário dessa ou
daquela pirâmide em particular. E o que vocês acham? ... Na manhã
seguinte, todas as pirâmides foram encontradas cobertas de desenhos. Cada
uma delas apresentava uma semelhança incrivelmente grande com os
mortos do distrito. Meu amigo conhecera pessoalmente quase todos eles.
Ele também encontrou um retrato de seu próprio falecido pai em meio aos
outros.
— Bem? E ele estava satisfeito?
— Oh, ele estava muito feliz, muito satisfeito. Isso permitiu que
escolhesse a coisa certa para satisfazer os gostos pessoais de cada demônio,
vocês percebem? Ele não estava chateado por encontrar o retrato de seu pai.
Seu pai era um tanto quanto irascível; uma vez que ele quase quebrou
ambas as pernas do filho, aplicando-lhe uma punição paterna com uma
barra de ferro, para que ele não pudesse ser muito perigoso depois de sua
morte. Mas outro retrato, encontrado na melhor e mais bela das pirâmides,
surpreendeu meu amigo intensamente, e o colocou em pânico. O distrito
inteiro reconheceu um oficial inglês, um certo capitão Pole, que durante sua
vida fora um homem tão gentil.
— Sério? Mas você quer dizer que esse estranho povo também adorava
o capitão Pole?
— É claro que sim! O capitão Pole era um homem tão digno, um oficial
tão honesto que, após sua morte, não pôde deixar de ser promovido ao posto
mais alto de demônios Shanar. O Pe-Kovil, a casa do demônio, abençoada à
sua memória, fica ao lado do Pe-Kovil Bhadrakâlî, que fora recentemente
conferido à esposa de um certo missionário alemão, que também fora uma
dama de muita caridade e, portanto, agora é muito perigosa.
— Mas quais são as cerimônias deles? Conte-nos algo sobre seus ritos.
— Seus ritos consistem principalmente em dançar, cantar e matar
animais sacrificiais. Os Shanars não possuem castas e comem todo tipo de
carne. A multidão se reúne em torno do Pe-Kovil previamente designado
pelo padre; há geralmente o som dos tambores, e matança de aves, ovelhas
e cabras. Quando chegou a vez do capitão Pole, um boi foi morto, e foi
dada uma atenção especial aos gostos peculiares de sua nação. O sacerdote
apareceu, coberto de braceletes e segurando um cajado no qual inúmeros
sinos tocavam e usando guirlandas de flores vermelhas e brancas em volta
do pescoço e um manto preto, no qual estavam bordados os demônios mais
terríveis que vocês possam imaginar. As trombetas eram tocadas e os
tambores soavam incessantemente. E, oh, esqueci de dizer que também
havia uma espécie de violino, cujo segredo é conhecido apenas pelos
sacerdotes de Shanar. Seu arco é bastante comum, feito de bambu, mas
dizem que as cordas são veias humanas... Quando o capitão Pole tomou
posse do corpo do padre, o padre saltou alto no ar, e depois correu até o boi
e o matou. Bebeu do seu sangue quente e começou a dançar. Mas em que
choque ele estava ao dançar! Vocês sabem, eu não sou supersticioso... Sou?
Sham Rao olhou para nós interrogativamente, e eu, por minha vez,
fiquei grata nesse instante pelo fato que a senhorita X estava a 800 metros
de distância, dormindo no howdah.
— Ele girava e virava, como se estivesse possuído por todos os
demônios de Nâraka. A multidão enfurecida vaiava e uivava quando o
padre começou a infligir cortes profundos por todo o corpo com a sangrenta
faca de sacrifício. Vê-lo, com os cabelos balançando ao vento e a boca
coberta de baba; vê-lo banhando-se no sangue do animal sacrificado,
misturando-o com o seu próprio, era mais do que eu podia suportar. Eu me
senti como se estivesse numa alucinação, imaginei que também estava a
girar...
Sham Rao parou abruptamente, e permaneceu quieto. Kangalim estava
diante de nós!
Sua aparência era tão inesperada que todos nos sentimos
envergonhados. Levados pela descrição de Sham Rao, não havíamos notado
nem como nem de onde ela viera. Se tivesse aparecido debaixo da terra, não
poderíamos ter ficado mais surpresos. Narayan olhou para ela, arregalando
seus grandes olhos negros; Babu estalou a língua em total confusão.
Imaginem um esqueleto com dois metros de altura, coberto de couro
marrom, com a cabeça minúscula de uma criança morta presa nos ombros
ossudos; os olhos tão profundos e, ao mesmo tempo, irradiando chamas tão
diabólicas por todo o corpo que você começa a sentir que seu cérebro vai
parar de funcionar, seus pensamentos se enredam e seu sangue congela em
suas veias.
Descrevo minhas impressões pessoais, e nenhuma palavra minha pode
lhes fazer justiça. Minha descrição é muito fraca. O Sr. Y e o coronel
ficaram pálidos sob o olhar dela e o Sr. Y fez um movimento como se
estivesse prestes a se levantar.
É inútil dizer que essa impressão não poderia durar. Assim que a bruxa
voltou os olhos brilhantes para a multidão ajoelhada, a impressão
desapareceu tão rapidamente quanto havia chegado. Mas ainda assim toda a
nossa atenção estava concentrada nessa criatura notável.
Trezentos anos de idade! Quem poderia dizer? A julgar por sua
aparência, podíamos muito bem conjeturá-la como sendo mil.
Contemplávamos uma genuína múmia viva, ou melhor, uma múmia dotada
de movimento. Ela parecia estar murchando desde a criação. Nem o tempo,
nem os males da vida, nem os elementos jamais poderiam afetar esta estátua
viva da morte. A mão destruidora do tempo a tocara e parara logo depois. O
tempo não podia fazer mais nada, e por isso a havia deixado. E com tudo
isso, nem um único fio de cabelo grisalho. Seus longos cachos negros
brilhavam com um brilho esverdeado e caíam volumosamente até os
joelhos.
Para minha grande vergonha, devo confessar que uma reminiscência
repugnante surgiu em minha memória. Pensei nos cabelos e nas unhas dos
cadáveres que crescem nos túmulos e tentei examinar as unhas da velha
mulher.
Enquanto isso, ela permaneceu imóvel como se de repente se
transformasse em um ídolo odioso. Numa mão, ela segurava um prato com
um pedaço de cânfora em chamas; na outra, um punhado de arroz, e nunca
tirava os olhos ardentes da multidão. A pálida chama amarela da cânfora
cintilava ao vento e iluminava sua cabeça com aspecto de morta, quase
tocando seu queixo; mas ela não prestava atenção a isso. Seu pescoço, tão
enrugado quanto um cogumelo, e tão fino como um bastão, estava cercado
por três fileiras de medalhões de ouro. Sua cabeça estava adornada com
uma cobra dourada. Seu corpo grotesco, quase não humano, estava coberto
por um pedaço de musselina amarelo-açafrão.
As menininhas demoníacas ergueram a cabeça por baixo das folhas e
deram um uivo prolongado, parecido com o de um animal. O exemplo delas
foi seguido pelo velho, que estava exausto por sua dança frenética.
A bruxa sacudiu a cabeça convulsivamente e começou suas invocações,
subindo na ponta dos pés, como se movida por alguma força externa.
— A deusa, uma das sete irmãs, começava a se apossar dela —
sussurrou Sham Rao, sem pensar em enxugar as grandes gotas de suor que
escorriam de sua testa. — Olhem, olhem para ela!
Este conselho foi bastante desnecessário. Estávamos olhando para ela, e
nada mais.
A princípio, os movimentos da bruxa eram lentos, desiguais, um tanto
convulsivos; então, gradualmente, eles se tornaram menos angulares; por
fim, como se pegasse a cadência dos tambores, inclinando todo o longo
corpo para a frente e se contorcendo como uma enguia, ela corria em volta
da fogueira ardente. Uma folha seca presa em um furacão não poderia voar
mais rápido. Os seus pés descalços pisavam silenciosamente no chão
pedregoso. Os longos cachos de seus cabelos voavam em volta dela como
cobras, açoitando os espectadores, que se ajoelhavam, esticando os braços
trêmulos em sua direção. Quem quer que fosse tocado por um dos cachos
negros, caia no chão, dominado pela felicidade, gritando graças à deusa e
considerando-se abençoado para sempre. Não eram os cabelos humanos que
tocavam os felizes eleitos, era a própria deusa, uma das sete.
Cada vez mais rápido voam suas pernas decrépitas; as mãos jovens e
vigorosas do responsáveis pelos tambores mal podiam segui-la. Mas ela não
pensava em seguir as batidas da música deles; ela corria, voava para frente.
Olhando com suas órbitas inexpressivas e imóveis para frente, para algo
que não era visível aos nossos olhos mortais, ela mal olhava para seus
adoradores; então seu olhar se tornava cheio de fogo, e quem quer que ela
olhasse se sentia queimado até a medula de seus ossos. A cada olhar, ela
jogava alguns grãos de arroz. O pequeno punhado parecia inesgotável,
como se a palma enrugada contivesse a bolsa sem fundo do príncipe
Fortunatus.
De repente, ela parou como se estivesse estupefata.
A insana corrida em volta da fogueira havia durado doze minutos, mas
procuramos em vão por um traço de fadiga no rosto mortal da bruxa. Ela
parou apenas por um momento, apenas o tempo necessário para a deusa
libertá-la. Assim que se sentiu livre, com um único esforço, pulou sobre o
fogo e mergulhou no profundo tanque próximo do pórtico. Desta vez, ela
mergulhou apenas uma vez e, enquanto permanecia sob a água, a segunda
deusa irmã entrou em seu corpo. O garotinho de branco elaborou outro
prato, com um novo pedaço de cânfora em chamas, bem a tempo de a bruxa
pegá-lo e se apressar novamente em seu caminho impetuoso.
O coronel estava sentado com o relógio na mão. Durante a segunda
possessão, a bruxa correu, pulou e disparou por exatamente catorze
minutos. Depois disso, mergulhou duas vezes no tanque, em homenagem à
segunda irmã; e a cada nova possessão o número de mergulhos aumentava,
até que se tornaram seis.
Já fazia uma hora e meia desde o início da primeira corrida. Por todo
esse tempo a bruxa nunca descansou, parando apenas por alguns segundos,
para desaparecer na água.
— Ela é um demônio, ela não pode ser uma mulher! — exclamou o
coronel, vendo a cabeça da bruxa imersa pela sexta vez na água.
— Me enforque se eu souber! — resmungou o Sr. Y, puxando
nervosamente a barba. — A única coisa que sei é que um grão de arroz
amaldiçoado entrou na minha garganta e não consigo tirá-lo!
— Silêncio, silêncio! Por favor, fiquem quietos! — implorou Sham
Rao. — Ao falar, vocês estragará todo o ritual!
Olhei para Narayan e me perdi em conjecturas.
Suas feições, que geralmente eram tão calmas e serenas, estavam
bastante alteradas naquele momento por uma profunda sombra de
sofrimento. Seus lábios tremiam e as pupilas dos olhos estavam dilatadas,
como se por uma dose de beladona. Seus olhos estavam erguidos sobre as
cabeças da multidão, como se, com desgosto, ele tentasse não ver o que
estava diante dele e, ao mesmo tempo, não pudesse vê-lo, envolvido num
profundo transe que o afastava de nós e de todo o ritual.
— Qual é o problema com ele? — era o meu pensamento, mas não tive
tempo de perguntar, porque a bruxa estava novamente em plena ação,
perseguindo sua própria sombra.
Mas com a sétima deusa o ritual foi ligeiramente alterado. A corrida da
velha fora alterada para um saltitar. Às vezes, curvando-se no chão, como
uma pantera negra, ela pulava sobre algum adorador, e hesitava antes dele
tocar sua própria testa com o dedo dela, enquanto a alta e magra mulher
tremia com risos inaudíveis. Então, novamente, como se estivesse se
afastando da brincadeira com sua sombra e sendo perseguida por ela, como
se em algum jogo misterioso, a bruxa nos apareceu como uma horrível
caricatura de Dinorah, dançando sua dança louca. De repente, endireitou o
corpo totalmente, disparou para o pórtico e agachou-se diante do incensário
fumegante, batendo a testa nos degraus de granito. Outro salto, e ela estava
bem perto de nós, diante da cabeça do monstruoso Sivatherium. Ajoelhou-
se novamente e inclinou a cabeça no chão várias vezes, com o som de um
barril vazio batendo contra algo duro.
Mal tivemos tempo de nos levantar e recuar quando ela apareceu no
topo da cabeça do Sivatherium, parada entre os chifres.
Somente Narayan não se mexeu e, sem medo, olhou diretamente nos
olhos da assustadora feiticeira.
Mas o que foi isso? Quem falou naqueles profundos tons masculinos?
Os lábios da mulher estavam se movendo, de seu peito emitiam aquelas
frases rápidas e abruptas, mas a voz soava vazia como se viesse debaixo do
chão.
— Silêncio, silêncio! — sussurrou Sham Rao, todo o seu corpo
tremendo. — Ela vai profetizar!
— Ela? — perguntou incredulamente o Sr. Y. — Essa é a voz de uma
mulher? Eu não acredito nisso nem por um momento. O tio de alguém deve
estar escondido em algum lugar. Não o fabuloso tio de quem ela encarnou,
mas um vivo!
Sham Rao estremeceu com a ironia dessa suposição e lançou um olhar
desesperado para o homem que falara.
— Ai de vocês! Ai de vocês! — ecoou a voz. — Ai de vocês, filhos dos
impuros Jaya e Vijaya! Dos zombadores e incrédulos que ficam ao redor da
grande porta de Shiva! Vocês, que são amaldiçoados por oitenta mil sábios!
Ai de vocês que não acreditam na deusa Kâli, e vocês que nos negam, suas
sete irmãs divinas! Abutres de carne e pernas amarelas! Amigos dos
opressores de nossa terra! Cães que não têm vergonha de comer do mesmo
cocho com os Bellati! (estrangeiros).
— Parece-me que sua profetisa apenas prediz o passado — disse o Sr.
Y, filosoficamente colocando as mãos nos bolsos. — Eu diria que ela está
insinuando você, meu caro Sham Rao.
— Sim! E para nós também — murmurou o coronel, que
evidentemente começava a se sentir desconfortável.
Quanto ao azarado Sham Rao, ele começava a suar frio e tentava nos
garantir que estávamos enganados, que não entendíamos completamente a
linguagem dela.
— Não é sobre vocês, não é sobre vocês! É de mim que ela fala, porque
estou no serviço do governo. Oh, ela é inexorável!
— Râkshasas! Asuras! — trovejou a voz. — Como vocês se atrevem a
aparecer diante de nós? Como se atrevem a ficar neste chão sagrado com
botas feitas com a pele sagrada de uma vaca? Sejam amaldiçoados por toda
a eternidade...
Mas sua maldição não estava destinada a ser terminada. Num instante,
Narayan, semelhante a Hércules, caiu sobre o Sivatherium e esparramou
toda a pilha, incluindo o crânio, os chifres e a demoníaca Pythia. Mais um
segundo e pensamos ter visto a bruxa voando no ar em direção ao pórtico.
Uma visão confusa de um Brahman robusto e barbeado, emergindo
subitamente do Sivatherium e desaparecendo instantaneamente no vazio
abaixo dele, brilhou diante dos meus olhos dilatados.
Mas, oh! Depois que o terceiro segundo se passou, todos chegamos à
conclusão embaraçosa de que, a julgar pelo ruído alto da porta da caverna, a
representante das Sete Irmãs fugira de maneira desonrosa. No momento em
que ela desapareceu de nossos olhos inquisidores para seu domínio
subterrâneo, todos percebemos que a voz sobrenatural que ouvimos não
tinha nada sobrenatural e que pertencia ao Brahman escondido sob o
Sivatherium - ao tio vivo de alguém, como o Sr. Y havia corretamente
sugerido.
**
Oh, Narayan! Quão descuidados, quão desordenados os mundos giram
em torno de nós. Começo a seriamente duvidar da realidade deles. A partir
deste momento, sinceramente acredito que todas as coisas no universo não
passam de ilusão, um mero Mâyâ. Estou me tornando um Vedantin ...
Duvido que em todo o universo possa ser encontrado algo mais objetivo do
que uma bruxa hindu voando sobre um tanque.
**
A senhora X acordou e perguntou qual era a razão de todo aquele
barulho. O barulho de muitas vozes e os sons de muitos passos em retirada,
a agitação geral da multidão a tinham assustado. Ela nos ouviu com um
sorriso condescendente e alguns bocejos, e foi dormir de novo.
Na manhã seguinte, ao amanhecer, nós muito relutantemente, isso
precisa ser conquistado, tentamos nos despedir de Sham Rao, com seu bom
coração e bondade. A simples vitória de Narayan pairava pesadamente em
sua mente. Sua fé na santa eremita e nas sete deusas fora bastante abalada
pela vergonhosa renúncia das irmãs, que haviam se rendido ao primeiro
golpe de um mero mortal. Mas, durante as horas escuras da noite, ele tivera
tempo para refletir sobre o assunto e afastar a sensação desconfortável de
ter enganado e desapontado, sem intenção, seus amigos europeus.
Sham Rao ainda parecia confuso quando nos cumprimentou ao nos
separarmos e nos expressou os melhores votos de sua família e de si
mesmo.
Quanto aos heróis dessa narrativa verdadeira, eles montaram seus
elefantes mais uma vez e dirigiram seus pesados passos em direção à
estrada principal e a Jubbulpore.
Sobre o tradutor / autor
Alex Zuchi nasceu em Sapucaia do Sul, no estado do Rio Grande do
Sul em 1977. É formado em Inglês e Engenharia de Produção pela
UNISINOS e Pós-Graduado em Gestão de Projetos pela UNINTER, além
de ser o vocalista e letrista da banda de Death Metal IN TORMENT.
Atualmente reside em São Leopoldo/RS.

Traduções:
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Livros do tradutor:
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- INFERIS
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- O HOMEM QUE ODIAVA


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