Fichamento Metodologia.

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FICHA - RESUMO

Referência: SANTOS, Boaventura de Sousa. Um discurso sobre as ciências. São Paulo:


Cortez, 2008, p. 20-40.

De acordo com o autor, o modelo da ciência dominante é o da racionalidade cientifica,


que se desenvolveu a partir da Revolução Científica no século XVI, sendo que esse modelo
epistemológico evoluiu somente junto com as ciências sociais no século XIX. O modelo
dominante em questão considera, por sua vez, divergências internas com fronteiras bem
delineadas de duas formas do saber: uma não científica, que é caracterizada pelo senso comum
e pelas chamadas “humanidades”; e, por outro lado, a racionalidade científica exposta pelo
autor.
O modelo dominante, global e totalitário apresenta-se como a única forma de
conhecimento então presidida pelo paradigma dominante. Desse modo, todas as formas do
saber que não utilizam das regras metodológicas e princípios estabelecidos pela racionalidade
cientifica, por vez, são rejeitados.
O autor menciona alguns autores que seguiram essa ciência dominante. Entre eles
Copérnico com a teoria heliocêntrica; Kepler, Galileu, Newton, Bacon e Descartes que, por vez,
protagonizaram o processo. Em seus métodos e descobertas acreditavam ter encontrado a única
e verdadeira ciência, rejeitando, com isso, outros tipos de saberes que não utilizassem dos
métodos epistemológicos dominantes no momento da época moderna. Exemplos dessa rejeição
são citados por Kepler e Descartes em suas obras.
Salienta-se ainda que por esse paradigma dominante os cientistas que defendiam o
racionalismo científico lutaram veementemente contra formas de conhecimento obtidos por
meio de dogmas e de autoridades, e estavam certos de que, o que separa o paradigma aristotélico
e medieval, apresenta-se como uma nova visão de mundo. Logo, o autor afirma que essa nova
visão aponta duas diferenças: a do conhecimento científico e a do conhecimento não científico,
nesse caso o senso comum, que permanece entre a natureza e o ser humano.
O autor ainda afirma que, diferentemente da epistemologia aristotélica, estudos sobre o
paradigma dominante apresentam desconfiança a todo momento da experiencia imediata às
quais, por estar em uma base do saber vulgar, por sua vez, não existem. Acerca disso,
Boaventura traz como exemplo uma teoria de Galileu na qual os movimentos de rotação e
translação da terra não podem ser desmentidos pelo simples fato (experiência imediata) de não
ser possível observar a terra se movimentar.
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A ciência moderna utilizava a rigor o uso da matemática para assim encontrar o


conhecimento com mais profundidade. Dessa aplicação da matemática na ciência moderna,
deriva-se duas consequências principais: na primeira o rigor utilizado na ciência dominante vira
sinônimo de quantificação, logo, as qualidades do objeto estudado são meramente
desqualificadas; logo, na segunda, o método utilizado na ciência dominante causa uma redução
da complexidade do mundo por meio da divisão e da classificação. Dessa forma, a divisão
fundamental é a que distingue entre as condições iniciais e as leis da natureza. Com isso, as
descobertas das leis da natureza se isolam das condições iniciais.
As leis da ciência moderna enquanto selecionadas como compreensíveis estão, portanto,
em um conceito de causalidade que está na física aristotélica, ou seja, Aristóteles diferencia
quatro tipos de causa, são elas: material, formal, eficiente e final. As leis que regem a ciência
moderna são um tipo de causa formal, afirma Santos. As leis que regem a ciência moderna são
consideradas uma causa formal na medida em que privilegia o “como funciona” em detrimento
do “agente” ou o “fim das coisas”. Em razão disso, pode-se dizer que o saber científico rompe
com o senso comum, pois nele a causa e a intenção vivem juntas sem problemas. Logo, na
ciência moderna ocorre a eliminação da intenção.
Na ciência moderna a construção das leis prevê que o passado seja igual ao futuro, ou
seja, surge a ideia de um mundo estável e sem mudanças. Nesse sentido, surge também a ideia
de mundo-máquina, que toma destaque na época moderna. O autor ainda afirma que é estranho
e paradoxo haver uma visão de mundo sendo construída pautada na ideia mecanicista que ganha
forma no século XVIII no continente europeu e que, inclusive, ganha força entre as camadas da
burguesia. Santos ainda afirma que tais condições de estabilidade do mundo são condições para
o desenvolvimento tecnológico.
Essa ideia mecanicista determinista que, por vez, foi hegemônica no período moderno,
se torna a forma utilizada para os estudos das ciências sociais e ganha espaço pela burguesia,
partindo do princípio que se houvesse leis que poderiam regular os fenômenos da natureza,
haveriam leis que poderiam regular a sociedade. Boaventura de Souza Santos prossegue
informando alguns precursores dessa nova ideia, sendo eles: Bacon, Vico e Montesquieu.
Bacon afirma que devido a plasticidade dos seres humanos é possível determinar com rigor as
normas sociais. Já Vico recomenda que sejam criadas leis sociais afim de prever a sociedade
em seu conjunto. Montesquieu, por sua vez, estabelece a relação entre normas jurídicas e leis
da natureza.
No século XVIII essa ideia dos estudos sociais pautado em leis é ampliado e, com o
advento do iluminismo, torna-se possível criar condições emergentes para um início imediato
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dos estudos das ciências sociais. Já no século XIX, com o positivismo, o estudo das ciências
sociais foi sedimentado. No século XIX, surgiram duas correntes de pensamento a respeito do
modelo mecanicista: a primeira corrente consistia em aplicar os métodos já utilizados nas
ciências naturais para as ciências sociais; já a segunda, era uma corrente que buscava uma
epistemologia própria, ou seja, métodos próprios para o estudo das ciências sociais.
Ambas as correntes têm visões diferentes, entretanto, como afirma Santos, nas duas
torna-se possível verificar a reivindicação do conhecimento científico-social. O autor, então
apresenta duas vertentes a respeito do assunto, apresentadas nos próximos parágrafos.
A primeira vertente tem a missão infalível de utilizar uma epistemologia que o autor
chama de “física social’’, ou seja, os preceitos utilizados no campo do estudo da natureza são
incorporados para os estudos sociais pois o campo do saber que utiliza-se dos métodos adotados
pela ciência moderna são, para seus defensores, inquestionáveis e universais.
No início da obra o autor afirma que as características qualitativas são ignoradas, por
sua vez, retoma essa ideia e afirma que não há diferenças qualitativas entre o processo de estudo
no campo social e das ciências naturais. Durkheim, fundador da sociologia acadêmica e
defensor da ideia cientifico-social, afirmava que para o estudo da sociedade se faz necessário
reduzir os fatos sobre as suas dimensões externas, ou seja: ao invés de se explicar as causas do
suicídio por seus motivos, explica-se através da verificação de regularidade, como o sexo, idade
e religião desses suicidas.
Existem alguns obstáculos a se considerar ao compartilhar critérios das ciências
naturais, como afirma o autor, porém, esses obstáculos não são insuperáveis, afirma Santos.
Ernest Nagel, apresenta alguns obstáculos e inicia um apontamento para a superação dos
mesmos. Entre alguns obstáculos apresentados por Nagel, são eles: que as ciências sociais não
dispõem de uma forma metodológica as teorias explicativas, de modo a buscar nelas a prova
concreta; que as ciências sociais não podem ciar leis universais e únicas; que as ciências sociais
não podem realizar previsões concretas; que os fenômenos utilizados pelas ciências sociais são
de ordem subjetivas; que as ciências sociais não são objetivas, visto que, o cientista social, ao
observar tais fenômenos, não pode libertar-se da observação dos valores.
Diante disso, Nagel ainda afirma que a busca para a superação de tais obstáculos nem
sempre é fácil, podendo alguns fatos serem superados ou negligenciados e, salienta ainda que,
esses fatos são o principal atraso das ciências sociais, podendo haver por esse atraso a redução
ou eliminação dessa ciência. Thomas Kunh, em sua teoria das revoluções cientificas, afirma
que as ciências sociais são tidas, ainda, por seu caráter pré-paradigmático ao passo que, as
ciências naturais são tidas como paradigmáticas. Concluímos que o fato de as ciências sociais
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ainda não terem estabelecido um conjunto de teorias das quais sejam aceitas sem grandes
debates pela comunidade científica, apresenta-se como um obstáculo à sua permanência, como
ocorre com as ciências naturais.
A segunda vertente reivindica uma epistemologia e metodologia que são próprias para
o estudo das ciências sociais, contradizendo os defensores dessa corrente que afirmam que não
há como superar os obstáculos entre as ciências naturais e sociais, do modo como colocado por
Nagel na primeira vertente.
A principal argumentação para a criação de uma epistemologia e metodologia nos
estudos sociais gira em torno da subjetividade do comportamento humano. Diferentemente das
ciências naturais em que tais fenômenos são descritos e explicados, nos estudos sociais isso não
se faz possível, ou seja, as ciências sociais além de serem subjetivas também deve-se
compreender os fenômenos por ela estudados tão somente a partir de atitudes mentais e, com
isso, utilizar-se de métodos de investigação e epistemológicos diferentes dos quais dispõem as
ciências naturais.
Por fim, salienta-se ainda que a segunda vertente, mesmo apresentando ideias
antipositivistas, ainda subsidiaria o modelo de racionalidade das ciências naturais, ou seja, essa
ideia de ciência social tem algo em comum com a última a distinção do ser humano e da
natureza, trabalhado no século XVI. Ambas as correntes, afirma Santos, são concepções da
ciência moderna, ainda que a segunda represente um sinal de crise e transição para outro
paradigma.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Boaventura de Sousa Santos em seu capítulo “O Paradigma Dominante’’ tem a


preocupação toda voltada para a desconstrução de uma ideia até então dominante, que consiste
na separação dos métodos epistemológicos utilizados nas ciências naturais que, por vez,
também são utilizados no campo das ciências sociais. É interessante observar a preocupação do
autor na construção do capítulo, ou seja, Santos vai trabalhando de forma linear desde o
conceito e estabelecimento da racionalidade científica até o momento em que põe lado a lado a
ciência moderna e as ciências sociais, evidenciando o principal objetivo desse capítulo.
Nota-se ainda a preocupação histórica, que o autor e professor traz, de mostrar ao leitor
o momento inicial do interesse pelos estudos das ciências naturais, citando diversos pensadores
modernos até chegar ao século XVIII. Uma crítica do autor que se faz presente durante o
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capítulo inteiro é o modo pelo qual esses defensores da ciência moderna colocam a
epistemologia do pensamento moderno como um saber primário, ou seja, todos as formas de
conhecimentos que surgiram antes do século XVI, para esses precursores da racionalidade
cientifica, são formas de conhecimento não válidas. Um dos possíveis motivos para tais fatos
deve-se à inquietação causada no final da Idade Média, com o surgimento de um movimento
coletivo entre pensadores em busca de uma única verdade.
Um exemplo clássico da busca pela verdade única e a rejeição do conhecimento até
então presente, é apresentado na obra Meditações Metafísicas de René Descartes onde, já na
primeira meditação, o autor afirma que irá se desprender de todas as crenças e falsas opiniões
que recebeu ao longo de sua vida. Um fato marcante na obra de Descartes é que, mesmo o autor
vivendo em um período de inquietação mútua e afirmações cada vez mais marcantes da física
e da matemática, ele põe em dúvida até a matemática, área do conhecimento que Boaventura
nos traz como única e universal para os estudos naturais e, depois, sociais.
Santos, não tem o propósito de tão somente expor o paradigma dominante e criticar o
rigor das ciências naturais que, por vez, é levado para as ciências sociais. O que o autor busca
é uma democratização do conhecimento científico, ou seja, nenhuma forma de conhecimento
científico deve ser rejeitada, incluindo até o senso comum que os defensores do racionalismo
científico rejeitavam.

REFERÊNCIAS FINAIS

DESCARTES, René. Meditações Metafísicas. Excertos das meditações 1ª, 2 ª, 3 ª e 4 ª. In:


MARÇAL, J. CABARRÃO, M.; FANTIN, M. E. (org.) Antologia de textos filosóficos,
Curitiba: SEED-PR, 2009, p.153-176.

26/07/2020
Éllenton Freitas de Oliveira

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