Fichamento Textos 08 e 10 - Loyanny Alves Ramos

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PÊCHEUX, Michel. “Discurso e Ideologia”.

In: Semântica e Discurso: Uma crítica à


afirmação do óbvio. Campinas: Editora da UNICAMP, 2009, P. 142-168.

Fichamento de citação

“b) Ao falar de “reprodução/transformação”, estamos designando o caráter intrinsecamente


contraditório de todo modo de produção que se baseia numa divisão em classes, isto é, cujo
“princípio” é a luta de classes.” (p.144)

“1) a Ideologia não se reproduz sob a forma geral de um Zeitgeist (isto é, o espírito do tempo,
a “mentalidade” da época os “costumes de pensamento”, etc.) que se imporia de maneira igual
a homogênea à “sociedade”, como espaço anterior à luta de classes.” (p.144)

“[...] é impossível atribuir a cada classe sua ideologia, como se cada uma delas vivesse
previamente a luta de classes”, em seu próprio campo, com suas próprias condições de
existências e suas instituições específicas, sendo a luta de classes ideológica o encontro de
dois mundos distintos e pré-existentes, [...]” (p.144)

“[...] conjunto complexo, isto é com relações de contradição-desigualdades-subordinação entre


seus “elementos”, e não uma simples lista de elementos: na verdade, seria absurdo pensar que,
numa conjuntura dada, todos os aparelhos ideológicos de Estado, contribuem de maneira
igual para a reprodução das relações de produção e para sua transformação.” (p.145)

“[...] o que o vínculo contraditório entre reprodução e transformação das relações de


produções de produção se liga ao nível ideológico, na medida em que não são os “objetos”
ideológicos regionais tomados um a um, mas sim o próprio desmembramento em regiões [...]
e as relações de desigualdade-subordinação entre essas regiões que constituem a cena da luta
ideológica de classes.” (p.146)

[...] “a objetividade material da instância ideológica é caracterizada pela estrutura de


desigualdade-subordinação do “todo complexo com o dominante” das formações ideológicas
de uma formação social dada, estrutura que não é senão a da contradição reprodução/
transformação que constitui a luta ideológica de classes.” (p.147)
[...] “a aparição do termo “sujeito” na exposição teórica [...] é rigorosamente contemporânea
ao emprego do termo “Ideologia” no singular, o sentido de “toda ideologia.” (p.149)

“O conceito de Ideologia em geral aparece, assim, muito especificamente como o meio de


designar, no interior do marxismo-leninismo[...]” (p. 151-2)

“Todo nosso trabalho encontra aqui sua determinação pela qual a questão da constituição do
sentido junta-se à da constituição do sujeito, e não de um modo marginal (por exemplo, no
caso particular dos “rituais” ideológicos da leitura e da escritura), mas no interior da própria
“tese central”, na figura da interpelação.” (p.153-4)

“[...] o ‘não-sujeito’ é interpelado-constituído em sujeito pela Ideologia.” (p.155)

“[...] trata-se da evidência do sujeito como único, insubstituível e idêntico a si mesmo [...]”
(p.155)

“[...] o sujeito é desde sempre “um indivíduo interpelado em sujeito.” (p.155)

“[...] a ‘evidência’ da identidade oculta que esta resulta de uma identificação-interpelação do


sujeito, cuja origem é, contudo, ‘estranhamente familiar’.” (p.155)

“[...] o sujeito resulta dessa rede como “causa de si” no sentido espinosano da expressão.”
(p.157)

“É a ideologia que fornece as evidências pelas quais “todo mundo sabe” o que é um soldado,
um operário, um patrão, uma fábrica, uma greve, etc., evidências que fazem com que uma
palavra ou enunciado “queiram dizer o que realmente dizem” e que mascaram, assim, sob a
“transparência da linguagem”, aquilo que chamaremos o caráter material do sentido das
palavras e dos enunciados.” (p.160)

“[...] o caráter material do sentido- mascarado por sua evidência transparente para o sujeito –
consiste na sua dependência constitutiva daquilo que chamamos “o todo complexo das
formações ideológicas” (p.160)
“Chamaremos, então, formação discursiva aquilo que, numa formação ideológica dada, isto é,
a partir de uma posição dada numa conjuntura dada, determinada pelo estado da luta de
classes, determina o que pode e deve ser dito.” (p.160)

“[...] formação discursiva... a condição para que cada elemento (palavra, expressão ou
proposição) seja dotado de sentido.” (p.161)

“[...] o próprio de toda formação discursiva é dissimular, na transparência do sentido que nela
se forma, a objetividade material contraditória do interdiscurso” [...] (p. 162)

“[...] a interpelação do indivíduo em sujeito de seu discurso se efetua pela identificação (do
sujeito) com a formação discursiva que o domina (isto é, na qual ele é constituído como
sujeito) [...]” (p.163)

“[...] intradiscurso, isto é, o funcionamento do discurso com relação a si mesmo (o que eu


digo agora, com relação ao que eu disse antes e ao que eu direi depois; portanto, o conjunto
dos fenômenos de “co-referência” que garantem aquilo que se pode chamar o “fio do
discurso”, enquanto discurso de um sujeito.” (p.166)

“[...] a forma-sujeito [...] simula o interdiscurso no intradiscurso, de modo que o interdiscurso


aparece como o puro “já-dito” do intra-discurso, no qual ele se articula por “co-referência.”
(p. 167)

“O poder de mise em scène, o efeito “poético” que faz assistir à cena, tem, pois, como base a
condição implícita de um deslocamento das origens (do “ponto zero” das subjetividades),
deslocamento do presente ao passado, acoplado ao deslocamento de um sujeito a outros
sujeitos, que constitui a identificação.” (p.168)

RESUMO

No texto 08, Pêcheux postula como as formações ideológicas atravessam as formações


discursivas dos sujeitos que são interpelados pela Ideologia e que determina, em termos
simples, o que pode e o que não pode. E isso ocorre pela heterogeneidade do discurso o qual é
atravessado e tem seu sentido deslocado por uma dada condição de produção, ou seja, a frase
“Vai!”, por exemplo, produz efeitos diferentes receptor da mensagem em diferentes condições
ou acontecimentos que o que Pêcheux trata no texto fichado a seguir.

ANÁLISE CRÍTICA

É interessante observar o modo como Pêcheux pensa o sujeito, que ocorre pelo
funcionamento na e pela relação discursiva-ideológica. Assim, nenhum discurso é puro,
existem sempre ideologias que permeiam os nossos dizeres, todavia, não nos damos conta
desse trabalho separadamente no instante da enunciação. Desse modo, é possível perceber o
funcionamento das ideologias no discurso justamente porque somos indivíduos coletivos,
históricos e isso nos constitui sujeitos do discurso.

TEXTO 10
PÊCHEUX, M. O discurso: estrutura ou acontecimento. Campinas: Pontes Editores, 2006.

Fichamento de citação

“[...] hoje o marxismo procura casar-se, ou contrair relações extraconjugais [...]” (p.16)

“[...] a opacidade do acontecimento, inscrita no jogo oblíquo de suas denominações: os


enunciados.” (p.20)

“[...] enunciados remetem ao mesmo fato, mas eles não constroem as mesmas significações.”
(p.20)

“[...] jogo metafórico em torno do enunciado “On a gagné” [Ganhamos] veio sobredeterminar
o acontecimento, sublinhando a equivocidade [...]” (p.22)

do “[...] enunciado “On a gagné” [...] imerge em uma rede de relações associativas implícitas
– paráfrases, implicações, comentários, alusões, etc. – isto é, uma série heterogênea de
enunciados, funcionam sob diferentes registros discursivo, e com uma estabilidade lógica
variável.” (p.23)
“O apagamento do agente (com o uso do pronome indefinido on) induz um complexo efeito
de retorno [...]” (p. 24)

“[...] ‘há real’, isto é, pontos de impossível, determinando aquilo que não pode não ser
‘assim’.” (p.29)

“[...] quaisquer aspas de natureza interpretativa, que deslocariam as categorizações; por


exemplo, o enunciado: ‘Fulano é muito ‘militar’ no civil’, enunciado que é, aliás,
perfeitamente dotado de sentido.” (p.31)

“A idéia de que os espaços estabilizados seriam impostos do exterior, como coerções, a este
sujeito pragmático, apenas pelo poder dos cientistas, dos especialistas e responsáveis
administrativos, se mostra insustentável desde que se a considere um pouco mais seriamente.”
(p.33)

“Nesse espaço de necessidade equívoca [...] toda conversa [...] é suscetível de colocar em jogo
uma bipolarização lógica das proposições enunciáveis [...]” (p.33)

“Vamos parar de proteger Marx e de nos proteger nele. Vamos parar de supor que “as coisas-
a-saber” que concernem o real sócio-histórico formam um sistema estrutural, análogo à
coerência conceptual-experimental galileana.” (p.42)

“A sobre-interpretação estruturalista funciona a partir de então como um dispositivo de


tradução, transpondo ‘enunciados empírico vulgares’ em ‘enunciados estruturais conceptuais’
[...]” (p.46)

“Isto é, nem linguagem, nem fala, nem discurso, nem texto, nem interação conversacional,
mas aquilo que é colocado pelos linguistas como a condição de existência (de princípio), sob
a forma da existência (de princípio), sob a forma da existência do simbólico, no sentido de
Jakobson e de Lacan.” (p.50)

“Isto obriga a pesquisa linguística a se construir procedimentos [...] capazes de abordar


explicitamente o fato linguístico do equívoco como fato estrutural implicado pela ordem do
simbólico.” (p. 51)
“Todo enunciado, toda sequência de enunciados é, pois, linguisticamente descritível como
uma série [...] de pontos de deriva possíveis, oferecendo lugar a interpretação. É nesses espaço
que pretende trabalhar a análise de discurso.” (p.53)

“E é neste ponto que se encontra a questão das disciplinas de interpretação: é porque há o


outro nas sociedades e na história, correspondente a esse outro próprio ao linguajeiro
discursivo, que aí pode haver ligação, identificação ou transferência, isto é, existência de uma
relação abrindo a possibilidade de interpretar.” (p. 54)

“[...] ninguém pode estar seguro de ‘saber do que se fala’, porque esses objetos estão inscritos
em uma filiação e não são o produto de uma aprendizagem [...]” p.55
“A posição de trabalho que aqui evoco em referência à análise de discurso não supõe de
forma alguma a possibilidade de algum cálculo dos deslocamentos de filiação e das condições
de felicidade ou de infelicidade envenemenciais.” (p.57)

RESUMO

Neste livro, Pêcheux analisa o enunciado On a gagné e o esmiúça sintaticamente ao


tratar das eleições para presidente da França na qual a esquerda saiu vitoriosa. Assim, o autor
traz a noção do real interpretável e de um saber que está relacionado aos sentidos do discurso.
Portanto, on (pronome indefinido) quem? gagné (verbo transitivo, sem complemento) o quê?
para quem?. Um real interpretável, um saber que só se atrela ao sentido porque acontece num
determinado momento e se torna histórico por ser um acontecimento. Trago, simploriamente,
o enunciado “Vai!” verbo intransitivo, porém, carregado de sentidos que podem gerar
diversos efeitos, entre eles: alguém pode receber tal ordem com empolgação (Estou torcendo
por você!) ou com apatia (Anda depressa! ou Vai embora logo!). Os sentidos se constroem em
torno de enunciados e esses em certas condições.

ANÁLISE CRÍTICA

A análise discursiva do enunciado “On a gagné” faz com que reflitamos sobre como a
estrutura da nossa língua constitui discursos que podem trazer sentidos os quais não nos
atentamos, mas que são importantes para percebemos os mecanismos de poder que estão
amalgamados aos nossos discursos.

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