Ficha TA Cronica FernaoLopes L G
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Ficha TA Cronica FernaoLopes L G
Ficha
Português | 10ºano de
TRABALHO
AUTÓNOMO
Crónica de D. João I (1ª parte) , Fernão Lopes
Nome:_______________________________________________nº_____ Turma______Data____/____/____
Fernão Lopes, Crónica de D. João I: excertos dos capítulos 11, 115 ou 148 da 1.ª Parte.
Contexto histórico.
Afirmação da consciência coletiva.
Atores (individuais e coletivos).
Na cidade nom avia triigo pera vender, e se o havia, era mui pouco e tam caro, que as pobres gentes
1 2
nom podiam chegar a ele; ca valia o alqueire quatro livras ; e o alqueire do milho quareenta soldos ; e a
canada do vinho tres e quatro livras; e padeciam mui apertadamente, ca dia havia i que, ainda que
dessem por uũ pam uũa dobra, que o nom achariam a vender; e começarom de comer pam de bagaço
5 d’azeitona, e dos queijos das malvas e raízes d’ervas, e doutras desacostumadas cousas, pouco amigas
3
da natureza; e taes i havia, que se mantiinham alféloa . No logar u costumavom vender o triigo,
andavom homeẽs e moços esgaravatando; e, se achavom alguũs graãos de triigo, metiam-nos na boca
sem teendo outro mantiimento; outros se fartavom d’ervas e beviam tamta agua, que achavom mortos
homeẽs e cachopos jazer inchados nas praças e em outros logares.
10 Das carnes, isso mesmo, havia em ela grande mingua; e se alguũs criavom porcos, mamtiinham-se
em eles; e pequena posta de porco valia cinquo e seis livras, que era ũa dobra castelãa; e a galinha,
4
quareenta soldos; e a duzia dos ovos, doze soldos; e se almogávares tragiam alguũs bois, valia cada
uũ sateenta livras, que eram catorze dobras cruzadas, valendo entom a dobra cinco e seis livras; e a
cabeça e as tripas, ũa dobra; assi que os pobres, per míngua de dinheiro, nom comiam carne e
15 padeciam mal; e começarom de comer as carnes das bestas, e nom soomente os pobres e minguados,
5
mas grandes pessoas da cidade, lazerando, nom sabiam que fazer; e os geestos mudados com fame,
bem mostravom seus encubertos padecimentos. Andavom os moços de três e quatro anos pedindo pam
pela cidade por amor de Deos, como lhes ensinavam suas madres, e muitos nom tiinham outra cousa
que lhe dar senom lagrimas que com eles choravom que era triste cousa de veer; e, se lhes davom
20 tamanho pam come ũa noz, haviam-no por grande bem. Desfalecia o leite aaquelas que tiinham
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crianças a seus peitos per mingua de mantiimento; e veendo lazerar seus filhos, a que acorrer nom
podiam, choravom ameúde sobr’eles a morte ante que os a morte privasse da vida. Muitos esguardavom
as prezes alheas com chorosos olhos, por comprir o que a piedade manda, e nom teendo de que lhes
acorrer, caíam em dobrada tristeza.
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Toda a cidade era dada a nojo , chea de mezquinhas querelas , sem neuũ prazer que i houvesse:
uũs com gram mingua do que padeciam; outros havendo doo dos atribulados; e isto nom sem razom,
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ca, se é triste e mezquinho o coraçom cuidoso nas cousas contrairas que lhe aviinr podem, veede que
fariam aqueles que as continuadamente tam presentes tiinham?
Fernão Lopes. «Crónica de D. João I», cap. 148. In Teresa Amado, Textos Literários, 1980. Lisboa: Seara Nova, Editorial Comunicação.
Glossário:
1. livras: libras (moedas de prata e de cobre); 2. soldos: moedas de ouro, prata e cobre; 3. alféloa: massa branca de melaço, em ponto;
4. almogávares: soldados que assaltavam o acampamento inimigo para roubarem; 5. geestos: rostos; 6. lazerar: definhar; 7. nojo:
sofrimento, tristeza; 8. mezquinhas querelas: tristes queixas; 9. aviinr: acontecer.
1
Apresenta, de forma bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.
1. Com base no segundo parágrafo do texto, explicita como o sofrimento vivenciado na cidade abrange toda a
população.
2. Explica a intenção do cronista manifestada no último parágrafo, relacionando-a com o uso da interrogação
retórica.
3. Identifica duas características do estilo e linguagem de Fernão Lopes, fundamentando a tua resposta com
elementos textuais pertinentes.
Soarom as vozes do arroído pela cidade ouvindo todos braadar que matavom o Meestre; e assi
como viuva que rei nom tiinha, e como se lhe este ficara em logo de marido, se moverom todos com
mão armada, correndo a pressa pera u deziam que se esto fazia, por lhe darem vida e escusar
1
morte. Alvaro Paaez nom quedava d’ ir pera alá , braadando a todos:
5 – Acorramos ao Meestre, amigos, acorramos ao Meestre que matam sem por quê!
A gente começou de se juntar a ele, e era tanta que era estranha cousa de veer. Nom cabiam
pelas ruas principaes, e atravessavom logares escusos, desejando cada uuu˜ de seer o primeiro; e
preguntando uuu˜s aos outros quem matava o Meestre, nom minguava quem responder que o
matava o Conde Joam Fernandez, per mandado da Rainha.
2
10 E per voontade de Deos todos feitos duuu˜ coraçom com talente de o vingar, como forom aas
portas do Paaço, que eram já çarradas, ante que chegassem, com espantosas palavras começarom
de dizer:
– U matom o Meestre? que é do Meestre? quem çarrou estas portas?
Ali eram ouvidos braados de desvairadas maneiras. Taes i havia que certeficavom que o Meestre
15 era morto.
Glossário:
1. pera alá: não parava de, continuava a dirigir-se para lá; 2. coraçom: unidos num mesmo desejo.
Apresenta, de forma bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.
1. Explicita o ponto de vista do autor perante o comportamento da multidão, após o apelo de Álvaro Pais, com
base em três exemplos textuais à tua escolha.
2. Transcreve a comparação presente no primeiro parágrafo do excerto e avalia a sua expressividade.
2
A3- Leia o excerto da Crónica de D. João I (cap.115) a seguir transcrito. Em caso de necessidade, consulte
as notas e o glossário apresentados.
Parte A:
Nem uũ falamento deve mais vizinho seer deste capitulo que havees ouvido, que poermos
logo aqui brevemente de que guisa estava a cidade, jazendo el-Rei de Castela sobr'ela; e per
que modo poinha em si guarda o Meestre, e as gentes que dentro eram, por nom receber dano
de seus ẽmigos; e o esforço e fouteza que contra eles mostravom, em quanto assi esteve
5 cercada.
Onde sabee que como o Meestre e os da cidade souberom a viinda del-Rei de Castela, e
esperarom seu grande e poderoso cerco, logo foi ordenado de recolherem pera a cidade os
mais mantiimentos que haver podessem, assi de pam e carnes, come quaes quer outras
cousas. E iam-se muitos aas liziras em barcas e batees, depois que Santarem esteve por
10 Castela, e dali tragiam muitos gaados mortos que salgavom em tinas, e outras cousas de que
fezerom grande açalmamento; e colherom-se dentro aa cidade muitos lavradores com as
molheres e filhos, e cousas que tiinham; e doutras pessoas da comarca d'arredor, aqueles a
que prougue de o fazer; e deles passarom o Tejo com seus gaados e bestas e o que levar
poderom, e se forom contra Setuval, e pera Palmela; outros ficarom na cidade e nom quiserom
15 dali partir; e taes i houve que poserom todo o seu1, e ficarom nas vilas que por Castela tomarom
voz. (…)
E ordenou o Meestre com as gentes da cidade que fosse repartida a guarda dos muros pelos
fidalgos e cidadãos honrados; aos quaes derom certas quadrilhas e beesteiros e homẽes
d'armas pera ajuda de cada uũ guardar bem a sua. Em cada quadrilha havia uũ sino pera
20 repicar quando tal cousa vissem2, e como cada uũ ouvia o sino da sua quadrilha, logo todos
rijamente corriam pera ela; por quanto aas vezes os que tiinham cárrego das torres viinham
espaçar pela cidade, e leixavom-nas encomendadas a homeẽs de que muito fiavom; outras
vezes nom ficavom em elas senom as atalaias; mas como davom aa campãa, logo os muros
eram cheos, e muita gente fora.
Teresa Amado, Crónica de D. João I de Fernão Lopes, Lisboa: Seara Nova/Comunicação, 1980, pp. 170-171.
1
puseram na cidade tudo que tinham.
2
quando vissem que era caso para isso.
Apresenta, de forma bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.
3
Parte B: Lê o seguinte texto.
Os que esperavam por tal triigo andavom per a ribeira da parte de Exobregas, aguardando
quando veesse, e os que velavam, se viiam as galees remar contra lá, repicavam logo por lhe
acorrerem. Os da cidade como ouviam o repico, leixavam o sono, e tomavam as armas e saía
muita gente, e defendiam-nos aas beestas se compria, ferindo-se aas vezes dũa parte e doutra;
1
5 porem nunca foi vez que tomassem alguũ, salvo ũa que certos batees estavom em Ribatejo
com triigo, e forom descubertos per uũ homem natural d' Almadãa, e tomados per os Castelãos;
e el foi depois tomado e preso e arrastado, e decepado e enforcado. E posto que tal triigo algũa
ajuda fezesse, era tam pouco e tam raramente, que houvera mester de o multiplicar como fez
Jesu Cristo aos pães, com que fartou os cinco mil homeẽs.
Teresa Amado, Crónica de D. João I de Fernão Lopes, [Capítulo 148] Lisboa: Seara Nova/Comunicação, 1980, p. 194.
1
nunca aconteceu que.
4
A4- Leia o excerto da Crónica de D. João I (cap.115) a seguir transcrito. Em caso de necessidade, consulte
as notas e o glossário apresentados.
1. Indica as várias precauções tomadas relativamente às portas da cidade cercada abertas durante o dia.
2. Elabora uma caracterização do Mestre de Avis com base nos elementos textuais pertinentes.
3. Tem em atenção a letra da cantiga que cantavam as «moças» de Lisboa, e identifica os seus destinatários
externos e internos, justificando.
4. Identifica a personagem coletiva referida na globalidade do texto, justificando.
5
A5- Leia o excerto da Crónica de D. João I (cap.148) a seguir transcrito. Em caso de necessidade, consulte
as notas e o glossário apresentados.
Apresenta, de forma clara e bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.
1. A cidade é apresentada como um ator coletivo. Justifica esta afirmação transcrevendo pelo menos dois
exemplos pertinentes.
2. Explica por que razão havia pessoas na cidade cercada que desejavam a morte.
3. Explicita e justifica as reações do Mestre de Avis e de outros responsáveis pela defesa da cidade aos
lamentos dos habitantes cercados.
4. Identifica, justificando, o recurso expressivo presente em «padeciam duas grandes guerras», l. 23, tendo
em consideração o sentido geral do parágrafo em que ocorre a frase.
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A6- Leia o excerto da Crónica de D. João I (cap.11) a seguir transcrito. Em caso de necessidade, consulte
as notas e o glossário apresentados.
– U matom o Meestre? que é do Meestre? Quem çarrou estas portas?
1
Ali eram ouvidos brados de desvairadas maneiras. Taes i havia que certeficavom que o Meestre
2
era morto, pois as portas estavom çarradas, dizendo que as britassem para entrar dentro, e veeriam
que era do Meestre, ou que cousa era aquela.
5 Deles braadavom por lenha, e que veese lume pera poerem fogo aos Paaços, e queimar o treedor
3 4
e a aleivosa . Outros se aficavom pedindo escaadas pera sobir acima, pera veerem que era do
Meestre; e em todo isto era o arrroido atam grande que se nom entendiam uũs com os outros, nem
determinavom neũma cousa. E nom soomente era isto aa porta dos Paaços, mas ainda arredor deles
per u homeẽs e molheres podiam estar. Ũas viinham com feixes de lenha, outras tragiam carqueija
5
10 pera acender o fogo cuidando queimar o muro dos Paaços com ela, dizendo muitos doestos contra a
Rainha.
De cima nom minguava quem braadar que o Meestre era vivo, e o Conde Joam Fernandez morto;
mas isto nom queria neuũ creer, dizendo:
– Pois se vivo é, mostrae-no-lo e vee-lo-emos.
15 Entom os do Meestre veendo tam grande alvoroço como este, e que cada vez se acendia mais,
6
disserom que fosse sua mercee de se mostrar aaquelas gentes, doutra guisa poderiam quebrar as
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portas, ou lhe poer fogo, e entrando assi dentro per força, nom lhe poderiam depois tolher de fazer o
que quisessem.
Ali se mostrou o Meestre a ũa grande janela que viinha sobre a rua onde estava Alvoro Paaez e a
20 mais força de gente, e disse:
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– Amigos, apacificae vos, ca eu vivo e são som a Deos graças.
9
E tanta era a torvaçam deles, e assi tiinham já em creença que o Meestre era morto, que taes
havia i que aperfiavom que nom era aquele; porem conhecendo-o todos claramente, houverom gram
prazer quando o virom, e deziam uũs contra os outros:
10
25 – Ó que mal fez! pois que matou o treedor do Conde, que nom matou logo a aleivosa com ele!
11
Creedes em Deos , ainda lhe há de viinr alguũ mal per ela. Oolhae e vede que maldade tam grande,
mandarom-no chamar onde ia já de seu caminho, pera o matarem aqui per traiçom. Ó aleivosa! já
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nos matou uũ senhor , e agora nos queria matar outro: leixae-a, ca ainda há mal d’acabar por estas
cousas que faz!
30 E sem duvida, se eles entrarom dentro, nom se escusara a Rainha de morte, e fora maravilha
quantos eram da sua parte e do conde poderem escapar. O Meestre estava aa janela, e todos
olhavom contra ele dizendo:
– Ó, senhor! Como vos quiserom matar per treiçom, beento seja Deos que vos guardou desse
treedor! Viinde-vos, dae ao demo esses paaços, nom sejaes lá mais!
E em dizendo esto, muitos choravom com prazer de o ver vivo. […]
1
Desvairadas: várias, diversas. 2 Britassem: arrombassem. 3 Aleivosa: maldosa, traidora. 4 Aficavom: teimavam. 5 Doestos:
insultos. 6 Guisa: maneira, modo. 7 Tolher: impedir. 8 Som: sou. 9 Torçavam: perturbação. 10 Que: porque. 11 Creedes em Deos:
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Tão certo como Deus existir. Senhor: D. Fernando (o povo julgava que D. Leonor contribuíra para a sua morte).
Apresenta, de forma clara e bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.
1. Identifica o emissor das interrogativas iniciais do excerto.
2. Indica o que motivou a deslocação do povo aos Paços da rainha.
3. Esclarece o motivo do apego do povo ao Mestre de Avis.
4. Explicita como a ação do povo pode ser entendida como o despertar da consciência nacional.
5. Identifica o recurso expressivo nas seguintes expressões e explicita o seu valor:
a) «o treedor e a aleivosa» (ll. 5-6);
b) «Amigos, apacificae vos» (l. 20).
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Tópicos de resposta A1:
1. Em Lisboa, havia falta de alimentos, o que afetava toda a população – “Na cidade nom avia triigo pera vender” (l. 1).
Dada a sua escassez, os alimentos eram muito caros – “e se o havia, era mui pouco e tam caro” (l. 1). Esta situação era sentida, quer pelos
mais pobres, quer pelos mais favorecidos – “e nom soomente os pobres e minguados, mas grandes pessoas da cidade, lazerando, nom
sabiam que fazer; e os geestos mudados com fame, bem mostravom seus encubertos padecimentos.” (ll. 16-18).
As crianças pediam esmola pelas ruas da cidade, mas ninguém tinha nada para lhes dar – “Andavom os moços de três e quatro anos
pedindo pam pela cidade” (ll. 18-19).
As mães não tinham leite para amamentar os seus filhos – “Desfalecia o leite aaquelas que tiinham crianças a seus peitos” (l. 22).
As pessoas definhavam, sentiam-se impotentes, os seus rostos espelhavam a dor sentida, todos choravam. – “e muitos nom tiinham outra
cousa que lhe dar senom lagrimas que com eles choravom que era triste cousa de veer” (ll. 20-21); “e nom teendo de que lhes acorrer,
caíam em dobrada tristeza”(l. 25).
2. O cronista manifesta a sua opinião, mostrando o sofrimento da população e partilhando essa dor. Fernão Lopes compreende as atitudes
e sentimentos experimentados pelas pessoas.
O uso da interrogação retórica reforça essa intenção, ao sublinhar que, apenas os que viveram aquele momento, puderam, na verdade,
avaliar o profundo desespero.
3. Visualismo e realismo:
• expressividade dos recursos: comparação – “se lhes davom tamanho pam come ũa noz” (l. 21); antítese – “choravom ameúde sobr’eles a
morte ante que os a morte privasse da vida” (ll. 23-24); enumeração – “mamtiinham-se em eles; e pequena posta de porco valia cinquo e
seis livras, que era ua dobra castelãa; e a galinha, quareenta soldos; e a duzia dos ovos, doze soldos; e se almogávares tragiam alguus bois,
valia cada uu sateenta livras, que eram catorze dobras cruzadas, valendo entom a dobra cinco e seis livras” (ll. 11-15);
• uso expressivo do advérbio e do adjetivo: “padeciam mui apertadamente” (l. 3); “se é triste e mezquinho o coraçom cuidoso nas cousas
contrairas” (l. 28);
• realismo dos pormenores descritivos e informativos: “ca valia o alqueire quatro livras1; e o alqueire do milho quareenta soldos; e a canada
do vinho tres e quatro livras” (ll. 2-3).
2. Com a utilização da comparação “e assi como viuva que rei nom tiinha, e como se lhe este ficara em logo de marido”, o narrador sugere,
de forma expressiva, o estado de espírito da cidade.
Tal como uma “viúva”, a cidade sente-se desamparada por não ter rei. Ao vislumbrar a hipótese de ter um rei na figura do Mestre,
adota-o afetivamente como se ele já fosse seu “marido”; esse amor leva a cidade de Lisboa a defender o Mestre incondicionalmente.
2. Aquando do iminente cerco da cidade, o Mestre ordenou que o povo se abastecesse de alimentos: «logo foi ordenado de recolherem pera
a cidade os mais mantiimentos que haver podessem, assi de pam e carnes, come quaes quer outras cousas» e que fossem tomadas medidas
militares para proteger a cidade: «que fosse repartida a guarda dos muros pelos fidalgos e cidadãos honrados; aos quaes derom certas
quadrilhas e beesteiros e homẽes d'armas pera ajuda de cada uũ guardar bem a sua».
3. Todas as medidas tomadas pelo Mestre demonstram o seu receio pela duração do cerco e o cronista chama a atenção dos leitores para
esse facto quando qualifica o cerco como «grande e poderoso» na frase: «Onde sabee que como o Meestre e os da cidade souberom a
viinda del-Rei de Castela, e esperarom seu grande e poderoso cerco».
4. Neste excerto, o Mestre assume o seu papel de líder incontestado do povo. As medidas tomadas pelo Mestre não são questionadas e
cada homem e mulher do povo contribui, como pode, para a defesa da cidade: «e como cada uũ ouvia o sino da sua quadrilha, logo todos
rijamente corriam pera ela».
5. A relação que se estabelece entre os dois textos apresentados é de causa consequência. No texto A anuncia-se o cerco à cidade de Lisboa
e no texto B deparamos com as consequências desse cerco junto das populações: «E posto que tal triigo algũa ajuda fezesse, era tam pouco
e tam raramente, que houvera mester de o multiplicar como fez Jesu Cristo aos pães, com que fartou os cinco mil homeẽs» (ll. 7-9).
6. Perante a falta de alimentos, alguns homens, de noite, aventuravam-se a sair das muralhas e transportar mantimentos a partir da
margem sul do rio Tejo: «porem nunca foi vez que tomassem alguũ, salvo ũa que certos batees estavom em Ribatejo com triigo, e forom
descubertos per uũ homem natural d' Almadãa, e tomados per os Castelãos» (ll. 4-6).
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Tópicos de resposta A4:
1. Estas portas da muralha da cidade cercada, embora abertas todo o dia, estavam guardadas por pessoas aguerridas; por outro lado,
estas pessoas tinham de verificar bem quem pretendia entrar e sair.
2. No terceiro parágrafo, ocorrem referências ao Mestre de Avis. Pelas informações que Fernão Lopes faculta, pode concluir-se que o
Mestre era uma pessoa previdente, pois tratou de providenciar certos modos de defesa, ao saber do cerco que se aproximava.
3. Os destinatários externos da cantiga são, certamente, os que cercavam Lisboa: a cantiga tinha como função desmoralizá-los, ao
mandá-los embora; os internos são, evidentemente, os lisboetas cercados: a cantiga tinha como função alentá-los.
4. A personagem coletiva é a cidade de Lisboa cercada – que age como um todo – «os da cidade», l. 17.
2. O desejo da morte por parte de habitantes da cidade cercada surge nas ll. 12-13, quando o narrador informa que algumas pessoas
a desejavam sob pretexto de, desse modo, deixar de testemunhar o conjunto de desgraças que tinham caído sobre Lisboa – ll. 12-16.
3. Os responsáveis políticos e o Mestre de Avis sabiam do sofrimento do povo e condoíam-se com ele, mas como nada podiam fazer,
tornaram-se indiferentes às queixas populares – cf. o quarto parágrafo.
4. A palavra «guerras» refere-se a duas realidades: por um lado, a verdadeira guerra, com os castelhanos que cercavam Lisboa: (a
palavra está aqui no sentido denotativo) mas ocorre também no sentido conotativo, significando o sofrimento de que padeciam por
não terem de comer – l. 24. Trata-se, por isso, de uma metáfora desse sofrimento.
2. O boato espalhado pelo pajem e por Álvaro Pais dizendo que matavam o Mestre nos Paços da rainha.
3. Segundo o povo, o Mestre de Avis era a escolha mais viável para assegurar a independência do Reino, ao contrário da herdeira de
D. Fernando casada com o rei de Castela ou os filhos de D. Pedro com D. Inês de Castro.
4. Pela primeira vez, assistimos à união do povo numa causa comum e, mais importante ainda, «ouvimos a sua voz» e a vontade
expressa na defesa das fronteiras do reino: pegam em armas para ajudar e apoiar aquele que ele (povo) considera ser o seu salvador.
Esta defesa em torno de um ideal comum, que congrega a classe mais baixa da sociedade e até então «sem voz» é sinal de mudança
daquilo que a sociedade em geral, e não só os nobres reconhecem como «seu» o território a que pertencem e conseguem ver mais
além do que o pedaço de terra onde nascem e morrem. Desta forma, e embrionariamente, começa a surgir um sentimento nacional
de apego à terra e uma consciência nacional.
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PARTE C1
Um dos aspetos da Crónica de D. João I de Fernão Lopes que mais cativa o leitor de hoje – habituado às
lutas sociais, tão frequentes – é a consciência coletiva que emana do povo da cidade de Lisboa cercada.
Escreve um texto de natureza expositiva no qual comproves esta firmação com base na tua experiência
de leitura.
O teu texto deve ter entre 120 e 150 palavras.
PARTE C2
Recordando o período histórico documentado pela Crónica de D. João I, expõe a importância dos
acontecimentos relatados pelo capítulo 11.
PARTE C3
«Em frases curtas», Fernão Lopes «ilumina as figuras, enreda-as nas teias do amor ou do ódio, faz andar e
ferver as multidões». […] «Escrivão de ofício», Fernão Lopes «temperou uma linguagem própria capaz de se
elevar tanto ao discurso moral e filosófico como à informação económica, à intriga política, ao marulhar da
multidão e ao encadeamento e ordenação da história» […]. Linguagem que, sublinha [António Borges
Coelho], «mergulha no português primitivo, mas é já um primeiro grande momento do português
moderno». A sua atualidade reside aí, na mestria e na plasticidade com que trabalhou a língua portuguesa,
tornando «a frase [...] próxima da fala». Frase que, «mesmo presa no papel, tem som».
Maria João Pinto «Fernão Lopes, cronista para todos os tempos», in Diário de Notícias (19/12/2007). (disponível em http://www.dn.pt/inicio/interior,
consultado em dezembro de 2014) (texto adaptado)
Explicita, fazendo apelo à tua experiência de leitura, de que forma a escrita de Fernão Lopes
demonstra a realidade descrita, fundamentando a tua resposta em três aspetos relevantes da obra do
cronista. Escreve uma exposição entre setenta a cento e vinte palavras.
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PROPOSTA DE CORREÇÃO – PARTE C.1
11
Grupo II.1
Lê atentamente o texto.
Landing
De Né Barros
Teatro Camões, Lisboa.
1.2. A utilização de uma linguagem valorativa, associada à manifestação do ponto de vista do emissor, são marcas que
permitem afirmar que este texto é
(A) uma exposição sobre um tema.
(B) um artigo de divulgação científica.
(C) um relato de viagem.
(D) uma apreciação crítica.
1.5. Em “Aqui explora as potencialidades de uma dança” (l. 8), “de uma dança” tem a função sintática de
(A) sujeito.
(B) complemento direto.
(C) complemento do nome.
(D) complemento oblíquo.
12
1.6. No contexto em que ocorre, a expressão «Por outras palavras» (ll. 12-13) é equivalente a
(A) assim.
(B) além disso.
(C) aliás.
(D) ou seja.
1.7. Em “que se cruza com os dias de hoje”. (l. 15), o segmento “cruza com” pode ser substituída por
(A) entrelaça com.
(B) confunde com.
(C) sobrepõe aos.
(D) substitui aos.
2.2. Identifica a função sintática desempenhada pelo pronome sublinhado na frase “diz-nos Né Barros” (l. 10).
2.3. Procura no texto três palavras que pertençam ao campo lexical de “expressões artísticas”.
Grupo III
Considerando as palavras de Pablo Picasso, acima transcritas, redige uma exposição, devidamente estruturada, sobre a
importância da arte na sociedade atual, num texto de cento e oitenta a duzentas e cinquenta palavras.
GRUPO II.2
Lê, atentamente, o texto seguinte.
Quando tinha onze anos, o meu pai deu-me um livro fascinante escrito por Albert Einstein e Leopold
Infeld, chamado A evolução da Física. Logo nas primeiras linhas o livro compara a ciência a um romance
policial. A diferença estará em que a ciência procura descobrir não quem foi o culpado, mas porque é o
mundo como é.
5 Como em todos os bons mistérios, é frequente os investigadores desviarem-se do caminho certo.
Vezes sem conta têm de recomeçar de novo, separando as pistas falsas das verdadeiras. Mas chega
finalmente o dia em que reúnem elementos em número suficiente para lhes poderem aplicar essa
ferramenta humana de poder inigualado que é a capacidade de dedução e desse modo começarem a
perceber o que se passou. Tendo elaborado uma teoria do mistério em estudo, fazem então algumas
10 conjeturas, as quais serão em seguida postas à prova para, assim, se espera, resolver o mistério.
Contudo, alguns parágrafos mais à frente a analogia com o romance policial é abruptamente
abandonada. Dizem-nos que os cientistas enfrentam um dilema que nunca aflige quem combate o crime.
No jogo de desvendar o mistério do universo, os cientistas nunca podem dizer «caso encerrado». Quer
gostem quer não, nunca têm entre mãos um mistério, mas sim uma pequena fração de um enorme
15 conjunto de mistérios interdependentes. Sucede com frequência que a mais recente solução de uma parte
do enigma indique que certas soluções encontradas anteriormente para outras partes desse enigma afinal
estão erradas, ou pelo menos precisam de ser reanalisadas. Pode dizer-se com grande rigor que o jogo
da ciência é um interminável insulto à inteligência humana.
Mau grado a «indignidade» a que a física nos sujeita, ela fascinou-me de imediato. Gostei
20 particularmente da maneira como são apresentados os mistérios do universo: através de perguntas que
parecem superficialmente muito simples, mas têm na verdade um significado extremamente profundo;
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vêm, além disso, envoltas nas belas roupagens das experiências conceptuais e da lógica pura.
Mas foi só bem depois de ter iniciado a minha carreira como físico que me apercebi de que muitos,
talvez a maior parte, dos problemas da física não são abordados de forma fria e racional; pelo menos
25 não a princípio. Antes de sermos cientistas somos Homo sapiens, uma espécie que, pese embora o seu
pomposo nome, obedece mais às emoções do que à razão. Nem sempre descartamos cuidadosamente
as pistas falsas ou as suposições erróneas ou resolvemos os nossos problemas pelas técnicas mais
racionais.
João Magueijo, Mais rápido que a luz, Lisboa: Gradiva, 2003, p. 27.
1.5. A frase: «o jogo da ciência é um interminável insulto à inteligência humana.» (ll. 17-18) significa que
A. nunca conseguimos descodificar os enigmas mais complicados.
B. não se deve jogar com a ciência.
C. a inteligência humana não está preparada para o jogo da ciência.
D. em ciência, nunca podemos considerar um enigma como completamente resolvido.
2.2. Classifica a oração sublinhada: «Dizem-nos que os cientistas enfrentam um dilema que nunca aflige
quem combate o crime.» (l. 12).
2.3. Divide e classifica as orações da frase: «Quando tinha onze anos, o meu pai deu-me um livro fascinante
escrito por Albert Einstein e Leopold Infeld, chamado A evolução da Física.» (ll. 1-2).
14
GRUPO III
«As palavras, como os seres vivos, nascem de vocábulos anteriores, desenvolvem-se e
fatalmente morrem. As mais afortunadas reproduzem-se. Há-as de índole agreste, cuja simples
presença fere e degrada, e outras que de tão amoráveis tudo à sua volta suavizam. Estas
iluminam, aquelas confundem.»
José Eduardo Agualusa, Milagrário Pessoal, Lisboa: Dom Quixote, 2010, p. 15.
Tendo em conta o comentário apresentado, num texto bem estruturado, com um mínimo de 100 e um máximo de
150 palavras, apresenta uma exposição sobre a importância das palavras num mundo em que as pessoas se
deixam encantar pela imagem.
Grupo II.3
1.1. O primeiro parágrafo do texto está assente numa lógica de progressão textual que caracteriza
(A) em primeiro lugar, as personagens individuais e seguidamente as coletivas.
(B) em primeiro lugar, as personagens coletivas e depois as individuais, exemplificando pela mesma ordem.
(C) em primeiro lugar, as personagens individuais e depois as coletivas, exemplificando pela ordem inversa.
(D) em primeiro lugar, as personagens individuais e depois as coletivas.
15
1.2. No segundo parágrafo, explicita-se a relação entre
(A) as palavras que saem da multidão e os atos desta.
(B) as ações da multidão e as palavras de quem a dirige.
(C) as palavras que saem da multidão e os objetivos desta.
(D) as ações da multidão e as palavras de oposição aos nobres e burgueses.
1.5. A sequência de várias orações subordinadas adverbiais causais presente no final do texto, entre as ll. 22-25,
tem como função
(A) realçar a camaradagem entre D. João I e os seus soldados e cavaleiros.
(B) comprovar que D. João I não tinha somente defeitos.
(C) chamar a atenção para as qualidades humanas e de chefia de D. João I.
(D) ilustrar as suas capacidades militares.
2.1. Indica o processo fonológico presente na evolução da palavra do português antigo «batees» para batéis, no
português moderno.
2.2. Indica a função sintática desempenhada por «D. João I, Nun’Álvares e D. Leonor.», ll. 7-8.
2.3. Classifica a segunda oração coordenada presente em «ameaçando ou anunciando a decisão duma passagem à
ação.», ll. 13-14.
16
Grupo II.4
Os homens e as mulheres que viviam há mil anos são nossos antepassados. Falavam uma língua parecida
1
com a nossa e as suas conceções do mundo não andavam muito longe das nossas. Há portanto analogias
entre as duas épocas, mas também diferenças e são estas diferenças que têm muito a ensinar-nos. Não são
as semelhanças que vão impressionar-nos, é o que nos afasta que nos leva a interrogar-nos.
5 Mudamos porquê e em quê? E em que pode o passado trazer-nos confiança?
2 3
A nossa sociedade sente-se inquieta. O simples facto de ela se voltar resolutamente para a sua memória
é prova disso. Os franceses nunca comemoraram tanto. Todas as semanas se festeja aqui ou além o
aniversário de qualquer coisa. Se nos agarramos assim à memória dos acontecimentos ou dos grandes
homens da nossa história é também para recuperarmos a confiança. É portanto porque está oculta no fundo
10 de nós uma inquietação, uma angústia.
A Idade Média está longe da nossa história e as informações são raras. Temos portanto que considerar a
Idade Média no seu conjunto. Verificamos que esta sociedade foi tomada, entre o ano 1000 e o século XIII, por
um progresso material fantástico, comparável ao que se desencadeou no século XVIII e ainda hoje prossegue.
A produção agrícola multiplicou-se por cinco ou seis e, em dois séculos, a população das regiões que
15 constituem a França atual triplicou. Este mundo mudava muito depressa. Acelerava-se a circulação dos
homens e das coisas. Depois, nos meados de século XIV, entrou-se numa fase de quase estagnação que
durou até meados do século XVIII. Assim, por exemplo, nenhum progresso notável se registou nos transportes
entre o reinado de Filipe Augusto e o de Luís XVI, a duração do trajeto de Marselha a Paris mantém -se
praticamente igual num período de cinco séculos.
20 Vemos também claramente a evolução das mentalidades. Num período de forte crescimento, como
4
atualmente, os filhos não pensavam como os pais. Apesar de esta sociedade muito hierarquizada cultivar
fundamentalmente o respeito pelos anciãos. Ora aí temos uma diferença em relação a hoje.
Todavia, não podemos responder a todas as perguntas que se fazem sobre a Idade Média. Para
compararmos o homem medieval e o homem de hoje nos seus temores é necessário abrir um pouco o campo
25 a fim de recolher indicações, factos suficientes.
Temos também de tentar esquecer o que pensamos e meter-nos na pele dos homens de há oito ou dez
séculos para penetrarmos na civilização da Idade Média, tão diferente da nossa. Nesse tempo, ninguém
duvidava que houvesse outro mundo situado além das coisas visíveis. Impunha-se então uma evidência: os
mortos continuavam a viver nesse outro mundo. E, à exceção das comunidades judaicas, toda a gente estava
5
30 convencida de que Deus tinha encarnado . (…)
6 7
Tudo o que parecesse um desregramento da natureza era considerado sinal anunciador das atribulações
que haviam de preceder o fim do mundo. Tomo um exemplo: toda a gente pensava que, segundo a vontade
divina, o curso dos astros é regular. O aparecimento de um cometa, isto é, de uma irregularidade, su scitava
inquietação.
Georges Duby, Ano 1000 ano 2000 – no rasto dos nossos medos, Lisboa, Teorema, 1997, pp. 13-18. (Texto adaptado)
Vocabulário e notas
1
semelhanças; 2 corajosamente; 3 para a lembrança, através de comemorações, de momentos ou personagens importantes da história; 4 sociedade dividida
em estratos segundo a importância de cada um, fundamentalmente clero, nobreza e povo; 5 Deus tinha vindo ao mundo, fazendo-se homem na pessoa de
Jesus Cristo; 6 algo invulgar; 7 sofrimentos
17
1.3. O «progresso material», l. 13, registado na Idade Média, a partir do ano 1000,
(A) não é comparável ao dos nossos tempos.
(B) é comparável ao dos nossos tempos.
(C) não é comparável ao que se iniciou no século XVIII.
(D) foi de curtíssima duração.
1.4. No que respeita às relações familiares, uma grande diferença entre o nosso tempo e a Idade Média do tempo
do progresso material – séculos XI a XIV – reside
(A) no modo como olhamos para os idosos.
(B) no modo como os filhos se relacionam com os pais.
(C) no modo como os idosos eram tratados nesse tempo.
(D) no modo como os pais se relacionavam com os filhos.
1.5. O homem medieval via em determinados fenómenos físicos, para ele incompreensíveis,
(A) um sinal de Deus.
(B) um sinal de desgraça.
(C) um aviso de desgraça próxima.
(D) um sinal de que se aproximava o fim do mundo.
2.2 Indica a função sintática das palavras destacadas na frase «está oculta no fundo de nós uma inquietação»,
ll. 9-10.
2.3 Classifica a oração subordinada presente em «Nesse tempo, ninguém duvidava que houvesse outro mundo»,
ll. 27-28.
GRUPO III
Escrita
Num texto bem estruturado, com um mínimo de 100 e um máximo de 150 palavras, apresenta uma
exposição sobre a «urgência da implementação de medidas ecológicas conjuntas de diminuição das emissões
de gases de efeito de estufa».
Recorre aos teus conhecimentos sobre a necessidade do envolvimento mundial num problema que é de
todos.
18
Grupo II.5
O trabalho do tempo
Rodado ao longo de uma dúzia de anos – alguns dias por ano, seguindo um argumento
pré-escrito na sua esmagadora maioria – “Boyhood − Momentos de uma Vida” segue a vida de
Mason (Ellar Coltrane), da irmã Samantha (Lorelei Linklater) e dos pais (Patricia Arquette e
Ethan Hawke), divorciados ainda antes de o filme começar. Mason é um miúdo pequeno, no
5 início da vida escolar, quando o filme arranca; está a entrar na universidade, quando o filme se
conclui.
Se é verdade que um filme, qualquer filme, é uma forma de contrariar o trabalho da morte
(porque fixa gente viva, para sempre imutável, num momento da sua trajetória temporal),
“Boyhood” − Momentos de uma Vida” mostra-nos o contrário, mostra o trabalho do tempo, em
10 contínuo, imparável. Para mais, esse trabalho não vai na direção de um desfecho que resolva
conflitos (que é a lógica normal das narrativas de ficção cinematográfica), vai na rota de
incógnitas cada vez mais amplas (que é a regra normal da vida). E é verdadeiramente
extraordinário caminhar com as alterações físicas das personagens, não apenas dos miúdos,
mas também dos pais (corajosa é, neste campo, a atitude de Patricia Arquette, que expõe o seu
15 corpo numa fase da vida que ela afastara do olhar de outras câmaras) a que correspondem
fases da vida, encontros e derivas e o mundo em volta que vai mudando, (…) – a esperança da
campanha de Obama, o trauma do Iraque, até a febre “Harry Potter” por lá passa e a discussão
sobre se “Star Wars” pode ir além de “O Regresso de Jedi”.E, todavia, vendo as personagens
evoluir na nossa frente, jamais pensamos que estamos em presença da vida como ela é.
Jorge Leitão de Barros, in Atual, Expresso, 29 de novembro de 2014, p. 26.
1.5. A frase: «esse trabalho não vai na direção de um desfecho que resolva conflitos (…), vai na rota de
incógnitas cada vez mais amplas» (ll. 10-12) significa que
A. o filme tem um final fechado.
B. o filme resolve os conflitos interiores das personagens, logo no início.
C. o filme faz refletir os espetadores sobre a existência humana.
D. o filme acompanha a evolução das personagens.
19
2. Responde de forma correta aos itens apresentados.
2.1. Identifica a função sintática desempenhada pela expressão sublinhada na frase «E é verdadeiramente
extraordinário caminhar com as alterações físicas das personagens» (l. 13).
2.2. Classifica a oração sublinhada e indica a sua função sintática: «Mason é um miúdo pequeno, no início da
vida escolar, quando o filme arranca» (l. 5).
2.3. Na frase «Se é verdade que um filme, qualquer filme, é uma forma de contrariar o trabalho da morte
(porque fixa gente viva, para sempre imutável, num momento da sua trajetória temporal), “Boyhood – Momentos
de uma Vida” mostra-nos o contrário» (l. 7), classifica a oração sublinhada.
GRUPO III
Escrita
«Há muitas situações em que as pessoas reagem plenamente indiferentes em relação aos
semelhantes nas situações de fragilidade e incapacidade» (autor anónimo).
Tendo em conta o comentário apresentado, num texto bem estruturado, com um mínimo de 100 e um
máximo de 150 palavras, apresenta uma exposição sobre a indiferença nas relações humanas.
20
CORREÇÃO GRUPO II.1
1.1. C
1.2. D
1.3. B
1.4. C
1.5. C
1.6. D
1.7. A
2.1. Oração subordinada adjetiva relativa restritiva.
2.2. Complemento indireto.
2.3. Dança, música, vídeo.
Desenvolvimento
– Arte: supérflua ou indispensável à vida do homem?
– “Arte é uma mentira”
• fingimento
• imaginação/fantasia.
• recriação da realidade.
– "A arte … faz compreender a verdade”
• humaniza.
• é reflexo do ser humano e, muitas vezes, da sua condição social.
• é denúncia e arma.
– Relação do artista com o recetor da obra de arte.
– Arte é memória e permite a fruição estética
Conclusão
– Arte:
• deve seduzir, levar a pensar e encorajar a ação;
• é um fator determinante na construção da identidade de um país;
• é uma forma de internacionalização e de afirmação de um povo.
1.1. A
1.2. D
1.3. C
1.4. C
1.5. D
Oração subordinante: «o meu pai deu-me um livro fascinante escrito por Albert Einstein e Leopold Infeld, chamado A evolução da Física.»
2.3.
Oração subordinada adverbial temporal: «Quando tinha onze anos».
21
• a palavra traz consigo o pensamento, a inteligência, a verdade;
• tal com “há imagens que valem mais do que mil palavras”, também há situações que apenas as palavras conseguem descrever;
• para um deficiente visual, as palavras escutadas, que descrevem as situações, são o retrato mais fiel que têm da realidade.
1. 1.1 (B); 1.2 (A); 1.3 (C); 1.4 (C); 1.5 (A)
2. 2.1 Sinérese – as duas vogais contíguas /ee/, em hiato, dão lugar ao ditongo /ei/ por semivocalização de uma delas.
2.2 Sujeito
2.3 Oração coordenada disjuntiva [«ou anunciando a decisão de uma passagem à ação»]
1.1 (C); 1.2 (D); 1.3 (B); 1.4 (A); 1.5 (D)
2. 2.1 O processo fonológico é a epêntese – inserção de unidade fónica no interior da palavra.
2.2 Sujeito
2.3 Oração subordinada substantiva relativa [«que houvesse outro mundo», a sua função sintática é de complemento direto do seu elemento subordinante –
«duvidava»].
1.1. B
1.2. C
1.3. D
1.4. D
1.5. C
2.1. Sujeito.
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