Discurso Dia Da Cidade Da Póvoa de Varzim 2024
Discurso Dia Da Cidade Da Póvoa de Varzim 2024
Discurso Dia Da Cidade Da Póvoa de Varzim 2024
16 de junho de 2024
dirijo as minhas primeiras saudações ao Senhor Primeiro Ministro, Sr. Dr. Luís
Montenegro, que entendeu dar-nos o privilégio da sua nacional e distinta
presença num momento simbólico, um momento em que a Póvoa de Varzim
comemora o cinquentenário da sua conquista do título de cidade.
Não foi com armas, mas sim com influência social e com a participação notória
desta comunidade na construção do nosso país, que se fez essa conquista. É por
isso, Senhor Primeiro Ministro, que estes conquistadores, os poveiros, se sentem
honrados com tão elevada visita. Digamos que é merecida.
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Senhor Primeiro Ministro, queremos que saiba que fazemos figas para que seja
perseguido pelo êxito durante a sua governação, não fora o seu sucesso tornar-
se, obviamente, no sucesso dos portugueses.
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cumprimento todos os membros da Comissão, que tive o privilégio de integrar
após o seu honroso convite.
Senhora Deputada da Assembleia da República, Sr. Dra. Carla Barros, creia que
nos sentimos prestigiados com a sua presença e orgulhosos do seu
protagonismo.
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Começo por vos dizer que me recordo bem desse dia, 16 de junho de 1973, tão
só a data que colocou um selo distinto nesta comunidade e se tornou no dia de
celebração da cidade e da coesão identitária dos seus cidadãos.
Sim, é verdade e também um facto que deliberamos que seria o dia da
comemoração da cidadania poveira, o que justifica falarmos um pouco sobre
esse conceito abrangente, e hoje muito em voga nos discursos políticos.
Pois bem, colocar o bem comum em primeiro lugar e atuar sempre que possível
para o promover, é o dever de todo o político, mas também de todo o cidadão
refletido e responsável.
A cidadania deve ser entendida, portanto, como um processo contínuo, uma
construção individual e coletiva que objetiva a realização gradativa dos Direitos
Humanos, de uma sociedade mais justa e, como tal, mais solidária.
Como cidadão e como ser pensante, cogito muitas vezes como deveriam ser as
regras da sociedade, no sentido de todos usufruirmos uns dos outros. Deixem-
me partilhar convosco algumas dessas reflexões, sendo certo que, sem qualquer
reserva, estou convencido que os homenageados pelo nosso município no ano
de 2024, são pessoas e instituições modelares a imitar enquanto exemplo, dada
a sua vivência profissional, social, pacífica e solidária, ou dito de outra forma,
promotora do bem comunitário.
Pertencer a uma comunidade é, sem dúvida, participar na aplicação e divulgação
de preceitos éticos na profissão e participar na educação dos seus membros,
dado que os cidadãos de bem, por transversalidade, farão depois a difusão da
cultura, da ética, da compreensão geradora da paz e da solidariedade.
Fortalece-se a cidadania, através da participação ativa nos eventos da
comunidade, com a organização de encontros culturais, com a envolvência dos
cidadãos em projetos de serviço ao outro.
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A circunstância de não ficar em casa e participar nas associações da comunidade,
nos eventos culturais, políticos e desportivos, é de facto uma forma de combater
a mundanidade decadente que assenta no isolamento, no egoísmo e no
abstencionismo, que importa tudo fazer para contrariar.
A cidadania também se sente no abraçar da vida associativa com uma
participação ativa de alcance social.
Mas, permitam-me que aprofunde o conceito de cidadania e a sua importância
na defesa da liberdade, o maior princípio que indiscutivelmente traz felicidade
ao ser humano, lendo-vos um texto que escrevi há pouco e que passo a citar:
“O ser humano vem ao mundo sem assunto, tão imaturo quanto puro. É um ser
por formatar, que vai aprender para se programar. Edifica-se numa comunidade
que o acolheu, todavia numa sociedade que não escolheu. Fica obrigado a
decisões institucionais existentes, limitado por interpretações locais, marcado
por religiões e duras legislações, bem como por outras leituras como tais.
Quando tomamos consciência da situação, adotamos a anuência como direção
ou a divergência como contraposição. Aceitamos com apatia ou simpatia as
normas existentes ou rejeitamos com energia as regras vigentes, numa opção
entre conformismo e reformismo. Quer acatemos, quer contestemos com
argumentos de fundo, intervimos na configuração política do mundo.
Dado que implica reflexão crítica, uma tal decisão subversora retrata uma ação
política. Trata-se de uma operação libertadora da desigualdade, onde o cidadão
age em negação com a realidade. Procede em desconformidade com o que a
sociedade lhe concede. Procura na utopia da igualdade, uma via para a
felicidade.
O cidadão assimila da política uma imagem mítica de igualdade, uma mensagem
de imparcialidade que aniquila a desigualdade. E, ao desenvolver um trajeto
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crítico, envolve-se num projeto político. Vira arquiteto da cidadania e constrói o
alfabeto da democracia. Interessa à multidão quando expressa a sua opinião.”
Senhoras e Senhores,
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mas sim a arte, seja arquitetónica, monumental, pictórica, escultórica, cénica, e
outras…. Vamos ver a suprema manifestação humana que é a arte.
Já nos dizia Pascal Mercier, e permitam-me a citação:
“Não quero viver num mundo sem catedrais. Preciso da sua beleza e da sua
transcendência. Preciso delas contra a vulgaridade do mundo (…) Um mundo
sem estas coisas seria um mundo no qual eu não gostaria de viver (…) Preciso
delas contra o veneno insidioso do superficial e do supérfluo.”
Por isso, potenciar a educação e fomentar a cultura deve ser o objetivo político
número um, e se alguma dúvida houvesse relativamente a esse argumento,
permitam-me que vos leia uma pequena passagem para ajudar na reflexão:
“Na realidade, o Homem culto evita o tumulto. Porque formatado para avaliar e
valorizar, destrói menos; prefere preservar a deteriorar. Se tem mais cultura
demonstra mais desenvoltura; se mais sabido, mais valoriza o antigo; se mais
sabedor, mais promove o amor e, quanto mais artista, mais usa a imaginação
como conquista. Também, quanto mais culto menos oculto e mais promove o
indulto. Por isso, o ensino deve ter a cultura como hino e, no reinado da
educação, a arte como primado e qualificação. “
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Por fim, a cidadania é promover o encontro de pessoas com objetivos culturais,
sociais, políticos, solidários, porque a vida nasce do encontro. Passo a explicar:
sabemos dos físicos que tudo muda no universo a cada instante, e que o mundo
é constituído por matéria orgânica e inorgânica. Embora, seja para nós mais
simples entender a mudança do mundo orgânico, é importante saber que o
mundo inorgânico, que a nós parece parado, também vai mudando
irreversivelmente. Vai arrefecendo, dado que as partículas subatómicas que o
constituem se encontram cada vez menos e ficam dispersas e informes, ao que
se dá o nome de entropia ou desordem.
Já qualquer forma de vida tem o movimento inverso e as partículas, os átomos,
as moléculas, as células, os tecidos, e os corpos têm cada vez mais encontros
entre si e caminham para a ordem, configurando formas mais organizadas e
complexas.
Do encontro dos átomos para formar moléculas e macromoléculas, do encontro
destas para formar células, do encontro destas para formar tecidos que se
juntam em órgãos dando depois os organismos que se encontram entre si para
formar as comunidades. Ora, assim se vê cientificamente que a vida nasce do
encontro e não do desencontro, e fomentar o encontro é valorizar e promover a
vida.
Por isso, Minhas Senhoras e Meus Senhores, a Póvoa de Varzim está no bom
caminho e merece bem continuar a vestir-se com a roupagem própria de uma
urbe de luxo.