Discurso Dia Da Cidade Da Póvoa de Varzim 2024

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DIA DA CIDADE DA PÓVOA DE VARZIM

16 de junho de 2024

Poveiros, convidados e visitantes


Minhas Senhoras e Meus Senhores,

dirijo as minhas primeiras saudações ao Senhor Primeiro Ministro, Sr. Dr. Luís
Montenegro, que entendeu dar-nos o privilégio da sua nacional e distinta
presença num momento simbólico, um momento em que a Póvoa de Varzim
comemora o cinquentenário da sua conquista do título de cidade.
Não foi com armas, mas sim com influência social e com a participação notória
desta comunidade na construção do nosso país, que se fez essa conquista. É por
isso, Senhor Primeiro Ministro, que estes conquistadores, os poveiros, se sentem
honrados com tão elevada visita. Digamos que é merecida.

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Senhor Primeiro Ministro, queremos que saiba que fazemos figas para que seja
perseguido pelo êxito durante a sua governação, não fora o seu sucesso tornar-
se, obviamente, no sucesso dos portugueses.

Saúdo agora o Senhor Presidente da Câmara, o Sr. Eng.º. Aires Pereira, um


insigne autarca e um poveiro muito ilustre.
No Dia da Cidade da Póvoa de Varzim, estendo os meus cumprimentos através
da sua subida pessoa, a todos os concidadãos que Vossa Exª., de forma tão
alevantada, democraticamente representa.

Senhores Homenageados e Senhores Representantes das Instituições


Associativas e Empresariais a quem a autarquia dispensa hoje uma devida
consagração em jeito de homenagem municipal, não fora a circunstância de nos
terem envaidecido e elevado socialmente com o vosso modelo de cidadania ao
longo do meio século em que a Póvoa se vestiu com os trajes de cidade.
Curvo-me perante a vossa exemplar vivência coletiva e face ao vosso notório
protagonismo socioprofissional. Como estou a entrar na idade jurássica, sou
uma testemunha abonatória do vosso dilatado contributo à dignificação deste
município, razão para, publicamente, me congratular com a oportuna escolha do
Senhor Presidente da Câmara, que sabiamente se aconselhou e auscultou
diversas sensibilidades.

Uma palavra de forte apreço ao Senhor Presidente da Comissão das


Comemorações do Cinquentenário da Elevação da Póvoa de Varzim a cidade,
Senhor Dr. José Macedo Vieira, valioso e reconhecidíssimo poveiro, cuja
assinatura política marcou de forma indelével a nossa autarquia. Na sua pessoa

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cumprimento todos os membros da Comissão, que tive o privilégio de integrar
após o seu honroso convite.

Srs. Deputados Municipais, Srs. Presidentes de Junta de Freguesia, Srs.


Vereadores da Câmara Municipal saúdo-vos com a mesma estima e com a
mesma benevolência que os Senhores me têm emprestado nestes anos em que
tenho sido eleito para valorizar a nossa comunidade com o desempenho da
política local.

Senhora Deputada da Assembleia da República, Sr. Dra. Carla Barros, creia que
nos sentimos prestigiados com a sua presença e orgulhosos do seu
protagonismo.

Distintas autoridades civis, militares e religiosas, um muito obrigado pela vossa


honrosa comparência e creiam que a vossa presença legitima e agiganta este
evento social.

Dirijo ainda as minha palavras para os Exmos. Senhores Presidentes e Diretores


das Associações do nosso Município, sejam elas culturais, sociais ou desportivas,
a quem quero transmitir, tão só, um bem-haja.

Exmos. Senhores Convidados, creiam-nos penhorados com a vossa notada


presença.
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Minhas Senhoras e Meus Senhores

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Começo por vos dizer que me recordo bem desse dia, 16 de junho de 1973, tão
só a data que colocou um selo distinto nesta comunidade e se tornou no dia de
celebração da cidade e da coesão identitária dos seus cidadãos.
Sim, é verdade e também um facto que deliberamos que seria o dia da
comemoração da cidadania poveira, o que justifica falarmos um pouco sobre
esse conceito abrangente, e hoje muito em voga nos discursos políticos.
Pois bem, colocar o bem comum em primeiro lugar e atuar sempre que possível
para o promover, é o dever de todo o político, mas também de todo o cidadão
refletido e responsável.
A cidadania deve ser entendida, portanto, como um processo contínuo, uma
construção individual e coletiva que objetiva a realização gradativa dos Direitos
Humanos, de uma sociedade mais justa e, como tal, mais solidária.
Como cidadão e como ser pensante, cogito muitas vezes como deveriam ser as
regras da sociedade, no sentido de todos usufruirmos uns dos outros. Deixem-
me partilhar convosco algumas dessas reflexões, sendo certo que, sem qualquer
reserva, estou convencido que os homenageados pelo nosso município no ano
de 2024, são pessoas e instituições modelares a imitar enquanto exemplo, dada
a sua vivência profissional, social, pacífica e solidária, ou dito de outra forma,
promotora do bem comunitário.
Pertencer a uma comunidade é, sem dúvida, participar na aplicação e divulgação
de preceitos éticos na profissão e participar na educação dos seus membros,
dado que os cidadãos de bem, por transversalidade, farão depois a difusão da
cultura, da ética, da compreensão geradora da paz e da solidariedade.
Fortalece-se a cidadania, através da participação ativa nos eventos da
comunidade, com a organização de encontros culturais, com a envolvência dos
cidadãos em projetos de serviço ao outro.

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A circunstância de não ficar em casa e participar nas associações da comunidade,
nos eventos culturais, políticos e desportivos, é de facto uma forma de combater
a mundanidade decadente que assenta no isolamento, no egoísmo e no
abstencionismo, que importa tudo fazer para contrariar.
A cidadania também se sente no abraçar da vida associativa com uma
participação ativa de alcance social.
Mas, permitam-me que aprofunde o conceito de cidadania e a sua importância
na defesa da liberdade, o maior princípio que indiscutivelmente traz felicidade
ao ser humano, lendo-vos um texto que escrevi há pouco e que passo a citar:

“O ser humano vem ao mundo sem assunto, tão imaturo quanto puro. É um ser
por formatar, que vai aprender para se programar. Edifica-se numa comunidade
que o acolheu, todavia numa sociedade que não escolheu. Fica obrigado a
decisões institucionais existentes, limitado por interpretações locais, marcado
por religiões e duras legislações, bem como por outras leituras como tais.
Quando tomamos consciência da situação, adotamos a anuência como direção
ou a divergência como contraposição. Aceitamos com apatia ou simpatia as
normas existentes ou rejeitamos com energia as regras vigentes, numa opção
entre conformismo e reformismo. Quer acatemos, quer contestemos com
argumentos de fundo, intervimos na configuração política do mundo.
Dado que implica reflexão crítica, uma tal decisão subversora retrata uma ação
política. Trata-se de uma operação libertadora da desigualdade, onde o cidadão
age em negação com a realidade. Procede em desconformidade com o que a
sociedade lhe concede. Procura na utopia da igualdade, uma via para a
felicidade.
O cidadão assimila da política uma imagem mítica de igualdade, uma mensagem
de imparcialidade que aniquila a desigualdade. E, ao desenvolver um trajeto

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crítico, envolve-se num projeto político. Vira arquiteto da cidadania e constrói o
alfabeto da democracia. Interessa à multidão quando expressa a sua opinião.”

Senhoras e Senhores,

Sendo a via que exalta a participação crítica, a cidadania é, então, alta


intervenção política, já que objetiva a integração individual enquanto perspetiva
a igualização social. Visa a inclusão do sujeito num estado de direito. Interessa à
defesa da liberdade e exige muita educação.
De facto, quanto mais a cidadania for exercida, mais a sociedade será
conseguida. Daí que um dia como este a lembrar a cidadania seja atitude a
louvar.
A cidadania passa também pelo nosso contributo à educação cultural que
advém da vivência entre os cidadãos. É importante ensinar a respeitar a
diversidade, a ser tolerante com ideias dissemelhantes, a falar na sua vez e a
viver com regras. Enfim, é relevante compreender que nada é mais desigual do
que um tratamento igual para desiguais.
Neste ano de comemoração da Elevação a Cidade da Póvoa de Varzim, a
autarquia fez um esforço notável para reforçar a coesão identitária do nosso
povo, plantando na cidade alguns monumentos que assinalam momentos e
pessoas que nos marcaram neste meio século de urbanidade.
Está de parabéns a autarquia por ter escolhido a via cultural para o reforço da
identidade de quem cá vive e de quem cá viverá.
Sei que o governo local o fez porque sabe que é na cultura e na arte que reside
a diferença entre as comunidades livres e pacíficas e as oprimidas e
ameaçadoras. Quando visitamos outros países não vamos ver prédios e estradas,

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mas sim a arte, seja arquitetónica, monumental, pictórica, escultórica, cénica, e
outras…. Vamos ver a suprema manifestação humana que é a arte.
Já nos dizia Pascal Mercier, e permitam-me a citação:

“Não quero viver num mundo sem catedrais. Preciso da sua beleza e da sua
transcendência. Preciso delas contra a vulgaridade do mundo (…) Um mundo
sem estas coisas seria um mundo no qual eu não gostaria de viver (…) Preciso
delas contra o veneno insidioso do superficial e do supérfluo.”

Deixo-vos a reflexão. De facto, a comunidade não deveria deixar-se governar


pela vulgaridade.

Por isso, potenciar a educação e fomentar a cultura deve ser o objetivo político
número um, e se alguma dúvida houvesse relativamente a esse argumento,
permitam-me que vos leia uma pequena passagem para ajudar na reflexão:

“Na realidade, o Homem culto evita o tumulto. Porque formatado para avaliar e
valorizar, destrói menos; prefere preservar a deteriorar. Se tem mais cultura
demonstra mais desenvoltura; se mais sabido, mais valoriza o antigo; se mais
sabedor, mais promove o amor e, quanto mais artista, mais usa a imaginação
como conquista. Também, quanto mais culto menos oculto e mais promove o
indulto. Por isso, o ensino deve ter a cultura como hino e, no reinado da
educação, a arte como primado e qualificação. “

A cidadania, na promoção da cultura é a forma de criar um novo universo, um


mundo menos perverso, onde o Homem não se justifique apenas pelo trabalho,
e encontre na cultura e na arte, viagem e agasalho.

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Por fim, a cidadania é promover o encontro de pessoas com objetivos culturais,
sociais, políticos, solidários, porque a vida nasce do encontro. Passo a explicar:
sabemos dos físicos que tudo muda no universo a cada instante, e que o mundo
é constituído por matéria orgânica e inorgânica. Embora, seja para nós mais
simples entender a mudança do mundo orgânico, é importante saber que o
mundo inorgânico, que a nós parece parado, também vai mudando
irreversivelmente. Vai arrefecendo, dado que as partículas subatómicas que o
constituem se encontram cada vez menos e ficam dispersas e informes, ao que
se dá o nome de entropia ou desordem.
Já qualquer forma de vida tem o movimento inverso e as partículas, os átomos,
as moléculas, as células, os tecidos, e os corpos têm cada vez mais encontros
entre si e caminham para a ordem, configurando formas mais organizadas e
complexas.
Do encontro dos átomos para formar moléculas e macromoléculas, do encontro
destas para formar células, do encontro destas para formar tecidos que se
juntam em órgãos dando depois os organismos que se encontram entre si para
formar as comunidades. Ora, assim se vê cientificamente que a vida nasce do
encontro e não do desencontro, e fomentar o encontro é valorizar e promover a
vida.

Por isso, Minhas Senhoras e Meus Senhores, a Póvoa de Varzim está no bom
caminho e merece bem continuar a vestir-se com a roupagem própria de uma
urbe de luxo.

Bem-hajam e Muito obrigado


Afonso Pinhão Ferreira, Presidente da Assembleia Municipal

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