Garantismo Penal
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Resumo: O presente artigo pretende analisar o Abstract: This article intends to analyze the
princípio constitucional da presunção de inocên- constitutional principle of the presumption of
cia à luz da teoria do garantismo penal, desen- innocence in the light of the theory of penal
volvida e sistematizada pelo jurista italiano Luigi garantism, developed and systematized by the
Ferrajoli. Nesse sentido, mostra que o garantismo Italian jurist Luigi Ferrajoli. In this sense, it shows
representa um pilar fundamental do Estado de- that garantism represents a fundamental pillar
mocrático de direito, ao passo que a presunção of the democratic State of law, while the pre-
de inocência, que nele haure a sua vivacidade, sumption of innocence, that in garantism finds
ergue-se, de um lado, como exigência de que o its liveliness, arises, on the one hand, as an exi-
órgão acusador deve provar a culpa do imputa- gency that the accusing body must prove the
do e não este a sua inocência, e, do outro, como guilt of the accused and the accused does not
obstáculo à execução da sentença condenatória have to prove his innocence, and, on the other,
antes do trânsito em julgado. Prossegue esclare- as an obstacle to the execution of the conviction
cendo que, apesar desses valores democráticos, before the final judgment. It proceeds clarifying
expressamente positivados no ordenamento jurí- that despite of these democratic values, expres-
dico brasileiro e em importantes documentos in- sly affirmed in the Brazilian legal system and in
ternacionais, o Supremo Tribunal Federal (STF), ao important international documents, the Supre-
julgar o habeas corpus 126.292/SP, entendeu por mo Tribunal Federal (STF), in judging habeas cor-
admitir como constitucional a execução da pena pus 126.292/SP, admitted as constitutional the
após a confirmação da decisão condenatória pe- execution of the penalty following the confirma-
la segunda instância, embora pendentes de jul- tion of the condenation by the second instance,
gamento os chamados recursos extraordinários, although the extraordinary appeals are pending
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com isso relativizando o sentido e o alcance da judgment, thereby reducing the meaning and
garantia fundamental. A pesquisa é de cunho bi- scope of the fundamental guarantee. The resear-
bliográfico, tendo como pano de fundo o estudo ch is bibliographic, presenting as a background
de alguns casos de indubitável repercussão so- the study of some cases of indubitable social and
ciojurídica enfrentados pelo STF. legal repercussions faced by the STF.
Palavras-chave: Garantismo penal – Presunção Keywords: Penal garantism – Presumption of in-
de inocência – Pena de prisão – Supremo Tribu- nocence – Prison sentence – Supremo Tribunal
nal Federal – Habeas Corpus 126.292/SP. Federal – Habeas Corpus 126.292/SP.
1. Introdução
A teoria do garantismo penal, embora desconhecida em profundidade por
muitos, é, qual um mantra, reiteradamente invocada, seja no âmbito da pesqui-
sa acadêmica, que de algum modo inspiraria, seja por parte dos operadores do
direito, quando se defrontam com situações concretas que reclamam a melhor
solução, supostamente nela encontrada. Sob a égide da segunda perspectiva,
os principais atores do processo (penal) assim se sentiriam contemplados: a
defesa, na medida em que o garantismo asseguraria, contra a potestade estatal,
o respeito aos direitos fundamentais do imputado; a acusação, à luz da ideia
de garantismo integral como estorvo à chamada proteção social deficiente; e o
aplicador, que encontraria no garantismo o fundamento de racionalidade para
produzir uma decisão mais próxima dos anseios de justiça.
Com efeito, o grande teórico moderno dessa doutrina é o jurista italiano
Luigi Ferrajoli, que a desenvolveu e sistematizou em sua densa obra intitulada
Diritto e ragione: teoria del garantismo penale, cuja primeira edição, prefacia-
da por Norberto Bobbio, veio a lume no ano de 1989. Ferrajoli, como se sabe,
é autor de linha nitidamente positivista1, fortemente inspirado nos ideais ilu-
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ministas, que constituem, destarte, a pedra angular de sua sólida formação ju-
rídico-filosófica.
Em outra mirada, não são poucas as tintas gastas, aqui e alhures, quando
o assunto é presunção de inocência2, a despeito de nem sempre as abordagens
desenvolvidas se afigurarem as mais adequadas, mormente por se tratar de te-
ma dos mais fecundos e repleto de nuances, comumente identificadas apenas a
partir de casos práticos.
Produto de equívocos interpretativos, a incompreensão do tema resvala ine-
xoravelmente sobre os pilares do sacrossanto direito constitucional à liberdade
de locomoção (ir, vir e ficar)3, desgraçadamente ferindo-o de morte em plena
arena onde se encontra erigido o Estado democrático de direito.
Nessa toada, emblemático e recente exemplo de malferimento da aludi-
da garantia fundamental por força de viés interpretativo é coligido do julga-
mento pelo Supremo Tribunal Federal (STF) do Habeas Corpus (HC) 126.292/
SP, o qual modificou entendimento pretoriano sedimentado desde o ano de
2009, quando do julgamento do paradigmático HC 84.078/MG (Rel. Min.
Eros Grau)4, deixando em polvorosa toda a advocacia criminal brasileira, as-
sim como parcela considerável de estudiosos e defensores da Carta Cidadã de
1988, que, atônitos, ainda não digeriram tão grave entendimento promanado
da maior Corte de justiça do país.
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Seguindo essa direção, o presente trabalho tem como objetivo crucial ana-
lisar o instituto da presunção de inocência – expressamente positivado no or-
denamento jurídico pátrio (v.g., Constituição Federal/88 e Código de Processo
Penal) – em consonância com a doutrina do garantismo penal, tendo como
ponto de referência o entendimento do STF acima ventilado. A crítica volta-se
para o fato de que essa garantia não pode ser restringida por obra do julgador,
admitindo-se, no máximo, uma modificação legislativa que atinja o sistema re-
cursal com o fito de propiciar maior celeridade ao trânsito em julgado da sen-
tença penal condenatória.
Cuida-se, portanto, de uma pesquisa marcadamente bibliográfica, apresen-
tando como pano de fundo, além do HC 126.292, o estudo de alguns outros
casos de induvidosa repercussão sociojurídica enfrentados pelo STF antes e
após o seu julgamento (análise de jurisprudência).
5. Ad exempli, verifica-se essa premissa na seguinte passagem: “... o que confere rele-
vância penal a um fenômeno não é a verdade, a justiça, a moral, nem a natureza, mas
somente o que, com autoridade, diz a lei” (cf. FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão:
teoria do garantismo penal. Trad. Ana Paula Zomer Sica et al. 4. ed. rev. São Paulo: Ed.
RT, 2014. p. 39). Em artigo recente no qual critica o neoconstitucionalismo, Ferrajoli
(cf. Constitucionalismo garantista e neoconstitucionalismo. Trad. André Karam Trin-
dade. Anais do IX Simpósio Nacional de Direito Constitucional da ABDConst, Curitiba:
ABDConst, 2011. p. 96 e 100-101) aponta uma nova tendência: “com a incorporação
nas Constituições de princípios de justiça de caráter ético-político, como a igualda-
de, a dignidade das pessoas e os direitos fundamentais, desaparece o principal traço
distintivo do positivismo jurídico: a separação entre direito e moral, ou seja, entre
validade e justiça. Segundo esta tese, a moral, que no velho paradigma juspositivista
correspondia a um ponto de vista externo ao direito, agora faria parte do seu ponto de
vista interno”, com a qual não concorda: ““[...] continua a valer, contra aquela enési-
ma e insidiosa versão do legalismo ético, que é o constitucionalismo ético, o princí-
pio juspositivista da separação entre direito e moral [...] É, portanto, insustentável a
derivação – em razão da banal circunstância de que leis e Constituições incorporam
“‘valores”’ – da tese de uma “‘conexão conceitual”’ entre direito e moral ”[...]”. Na
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recer que garantismo não se confunde com abolicionismo penal, estando mais
próximo, isto sim, do minimalismo penal, que é um de seus pilares6. O terceiro
aspecto, que avulta como consequência do primeiro, sustenta que a pena não
tem função pedagógica, pelo que ao Estado não é dado regenerar o condenado
com o fito de, reeducando-o no cárcere, reintegrá-lo, corrigido, à sociedade por
ele vilipendiada quando da perpetração do crime7. Por último, e como quarto
mesma linha, cf. PRIETO SANCHÍS, Luis. “Principia iuris”: una teoría del derecho
no (neo)constitucionalista para el Estado constitucional. Doxa. Cuadernos de Filosofía
del Derecho, Alicante, n. 31, p. 325-353, 2008.
6. Em momento algum da sua extensa e profícua obra Ferrajoli propugna a abolição
do sistema penal, papel desempenhado pelas teorias abolicionistas. A esse respeito,
assim se pronuncia criticamente àqueles que defendem que a sociedade resolva todos
os problemas: “... o modelo da espontânea autorregulação social, que marca a so-
ciedade perfeita sonhada pelas várias versões do abolicionismo holístico, não é uma
previsão cientifica, mas um modelo normativo irremediavelmente utópico, idôneo a
avalizar sistemas sociais repressivos totalizantes, que, somente graças a uma falácia
normativista, podem ser descritos como livres de constrições e coerções” (cf. FER-
RAJOLI, op. cit., p. 305-306). Por isso, mantido o sistema penal, professa a adoção
de técnicas despenalizadoras e desencarceradoras, bem como a redução dos limites
máximos das penas privativas de liberdade. É o que diz, expressis verbis: “penso que a
duração máxima da pena privativa de liberdade, qualquer que seja o delito cometido,
poderia muito bem reduzir-se, a curto prazo, a dez anos e, a médio prazo, a um tempo
ainda menor; e que uma norma constitucional deveria sancionar um limite máximo,
digamos, de dez anos” (cf. FERRAJOLI, op. cit., p. 381). Sobre os efeitos perniciosos
do cárcere (argumento de cunho abolicionista), cf. ZAFFARONI, Eugenio Raúl. A
palavra dos mortos: conferências de criminologia cautelar. São Paulo: Saraiva, 2012,
passim; cárcere como instrumento de exploração da força de trabalho e aviltamento,
cf. MELOSSI, Dario; PAVARINI, Massimo. Cárcere e fábrica: as origens do sistema
penitenciário (séculos XVI-XIX). Trad. Sérgio Lamarão. 2. ed. Rio de Janeiro: Revan,
2010. passim.
7. A despeito de ser justificacionista, Ferrajoli enfatiza que em hipótese alguma a pena
deve cumprir a função de correção (moral) do apenado. Com isso, rechaça as teorias
da prevenção especial positiva e negativa, remanescendo a teoria da prevenção geral,
justificada em face de que a função preventiva geral, em razão do caráter abstrato da
previsão legal quer dos delitos, quer das penas, enfoca o delito e não o delinquente
individualmente, protegendo estes de tratamentos desiguais e personalizados com fins
corretivos de emenda ou de terapia individual ou social ou para fins políticos de re-
pressão exemplar (cf. FERRAJOLI, op. cit., p. 259). A posição de Ferrajoli é confron-
tada por outras, como o correcionalismo, doutrina do século XIX que, ao defender a
“cura” do criminoso por meio de tratamento correcional, diz que o delito nada mais é
do que um sintoma da anormalidade psíquica do infrator, uma prova de seu desequilí-
brio moral, que denota a necessidade de um remédio racional destinada à sua emenda,
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qualquer outro sistema penal que se possa imaginar no futuro como alter-
nativa a modelos formais e abstratos de solução de conflitos, postulando a
abolição radical dos sistemas penais e a solução dos conflitos por instâncias
ou mecanismos informais. O direito penal mínimo (minimalismo penal ou
contração penal), a exemplo do abolicionismo, nega a legitimidade do siste-
ma penal, tal como hoje funciona, mas propõe uma alternativa mínima que
considera como mal menor necessário. Esta corrente é tão deslegitimante
quanto o abolicionismo em relação aos sistemas penais existentes, embora o
duplo uso do palavra “deslegitimação” por alguns autores tenha gerado al-
guma confusão: enquanto, para o abolicionismo, a “deslegitimação” engloba
tanto os sistemas penais formais existentes como os futuros, para alguns
autores do minimalismo penal a deslegitimação estende-se apenas aos sis-
temas penais atuais e aos sistemas penais que, propostos para o futuro, não
incorporem os postulados de sua contração minimizante.
Pautados tais postulados, insta aclarar que o Sistema Penal Garantista (SG)
de Luigi Ferrajoli, também chamado pelo autor de cognitivo ou de legalida-
de estrita, resulta da adoção de dez axiomas ou princípios axiológicos funda-
mentais não deriváveis entre si12. Nessa linha, após desdobrar o seu sistema
em máximas latinas de elevada carga semântica, assim Ferrajoli13 desnuda os
referidos princípios:
1) princípio da retributividade ou da consequencialidade da pena em relação
ao delito; 2) princípio da legalidade, no sentido lato ou no sentido estrito;
3) princípio da necessidade ou da economia do direito penal; 4) princípio da
lesividade ou da ofensividade do evento; 5) princípio da materialidade ou da
exterioridade da ação; 6) princípio da culpabilidade ou da responsabilidade
pessoal; 7) princípio da jurisdicionariedade, também no sentido lato ou no
sentido estrito; 8) princípio acusatório ou da separação entre juiz e acusação;
9) princípio do ônus da prova ou da verificação; 10) princípio do contraditó-
rio ou da defesa, ou da falseabilidade.
12. Eis as máximas aludidas por Ferrajoli: A1 Nulla poena sine crimine; A2 Nullum crimen
sine lege; A3 Nulla lex (poenalis) sine necessitate; A4 Nulla necessitas sine injuria; A5
Nulla injuria sine actione; A6 Nulla actio sine culpa; A7 Nulla culpa sine judicio; A8
Nullum judicium sine accusatione; A9 Nulla accusatio sine probatione; A10 Nulla proba-
tio sine defensione. As seis primeiras são garantias penais e as demais, processuais.
13. Cf. op. cit., p. 91.
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das, obedecendo com rigor a uma sequência argumentativa bem definida, que
desemboca na defesa intransigente do Estado de direito e da democracia con-
tra toda e qualquer investida de jaez arbitrário ou autoritário, não importado
se proveniente do poder público ou de um particular, sendo impossível não se
concordar integralmente com a teoria quando se concorda com as suas premis-
sas14. Sendo, como de fato o é, um ideal, não restam dúvidas de que tal modelo
jamais será alcançado em sua plenitude, mormente no seio de uma sociedade
marcada por imperfeições, embora sirva como farol a guiar todos os poderes do
Estado, bem como os seus cidadãos, na busca pelo implemento e observância
dos direitos fundamentais15.
Nesse contexto, tem-se por inabdicável, num primeiro momento, o postu-
lado de estrita legalidade, dirigido fundamentalmente ao legislador, a quem
prescreve a taxatividade e a precisão empírica das formulações legais (auctori-
tas, non veritas facit legem). Para Ferrajoli, “a lei não pode qualificar como pe-
nalmente relevante qualquer hipótese indeterminada de desvio, mas somente
comportamentos empíricos determinados, identificados exatamente como tais
e, por sua vez, aditados à culpabilidade de um sujeito”16.
Vencida essa etapa, pode ocorrer, no mundo vivido, a prática de uma con-
duta em tese amoldada à descrição típica. Nessa hipótese, cumprirá aos órgãos
de investigação do Estado descobrirem por meio de provas idôneas a autoria e
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19. Cf. BECCARIA, Cesare. Dei delitti e delle pene. Milano: Litteratura italiana Einaudi,
1973. p. 17.
20. Em outros momentos (HC 126.292 e ADCs 43 e 44), consoante se verá ao longo
deste texto, o Tribunal cedeu às pressões da população, proferindo decisões com
esteio no “clamor público” (populismo judiciário), o que é de todo lamentável. Além
desses casos notáveis, houve relativização do princípio quando o Supremo, julgando
as ADCs 29 e 30 e a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4.578, reconheceu
a constitucionalidade de dispositivos da Lei Complementar 135/2010 (Lei da Ficha
Limpa) que consideram inelegível o cidadão que tiver condenação não transitada em
julgado, desde que proveniente de órgão colegiado.
21. Verbis: “Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de
fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de
terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade
disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato
processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado” (SV 11);
“É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos
de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão
com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de de-
fesa” (SV 14).
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uploads/1/Constitucionalismo_principalista_y_const._garantista_Luigi.pdf]. Acesso
em: 21.10.2017).
27. Cf. SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. A expansão do direito penal: aspectos da política
criminal nas sociedades pós-industriais. Trad. Luiz O. de O. Rocha. 3. ed. rev. e atual.
São Paulo: Ed. RT, 2013. p. 177-186.
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propõe-se que as sanções penais que se imponham ali onde têm se flexibilizado
as garantias não sejam penas de prisão. Isso tem duas consequências. Por um
lado, naturalmente, admitir as penas não privativas de liberdade como mal
menor, dadas as circunstâncias, para as infrações nas quais têm se flexibi-
lizado os pressupostos de atribuição de responsabilidade. Mas, sobretudo,
exigir que ali onde se impõem penas de prisão, e especialmente penas de
prisão de larga duração, se mantenha todo o rigor dos pressupostos clássicos
de imputação de responsabilidade28.
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ou nela conservado estando já preso, se prestar fiança idônea, nos casos que a lei a
admite [...]. § 10 [...] O que fica disposto acerca da prisão antes de culpa formada não
compreende as ordenanças militares, estabelecidas como necessárias à disciplina; e
recrutamento do Exército; nem os casos que não são puramente criminais, e em que
a lei determina todavia a prisão de alguma pessoa, por desobedecer aos mandatos da
justiça, ou não cumprir alguma obrigação dentro de determinado prazo.
32. Numa visão mais restritiva, há quem destaque que as Constituições brasileiras ante-
riores à de 1988, embora destinassem um capítulo específico aos direitos e garantias
individuais, se limitaram a mencionar que a especificação dos direitos e das garantias
contidos na Constituição não excluiria outros direitos e garantias decorrentes do
regime e dos princípios nelas adotados (cf. GIACOMOLLI, Nereu José. Art. 5º, LVII.
In: CANOTILHO, J. J. Gomes et al. (Coord.). Comentários à Constituição do Brasil.
São Paulo: Saraiva/Almedina, 2013, p. 442).
33. O Decreto-lei 88/37 – que instituiu o Tribunal de Segurança Nacional – previa, no
art. 20.5, que “presume-se provada a acusação, cabendo ao réu prova em contrário,
sempre que tenha sido preso com arma na mão, por ocasião de insurreição armada,
ou encontrado com instrumento ou documento do crime”.
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34. Para Paulo Bonavides (Curso de direito constitucional. 19. ed. São Paulo: Malheiros,
2006. p. 529-530), as garantias constitucionais são as disposições assecuratórias que,
em defesa dos direitos, limitam o poder. No dizer de Rui Barbosa, lembrado pelo
ilustre constitucionalista, são as “solenidades tutelares”, de que a lei circunda alguns
direitos contra os abusos do poder. Fala-se, outrossim, de garantias primárias, como
sendo todas aquelas que se relacionam com o conteúdo dos direitos, é dizer, com as
expectativas positivas ou negativas que o Estado deve satisfazer, identificadas como
direitos liberais e sociais, respectivamente (cf. PORTALES, Rafael Enrique Aguilera;
SÁNCHEZ, Rogelio López. Los derechos fundamentales en la teoría jurídica garantis-
ta de Luigi Ferrajoli. Disponível em: [https://archivos.juridicas.unam.mx/www/bjv/
libros/6/2977/4.pdf, p. 64]. Acesso em: 02.07.2017). Diz Ferrajoli (cf. Poderes sel-
vagens: a crise da democracia italiana. Trad. Alexander Araujo de Souza. São Paulo:
Saraiva, 2014. p. 26-27) acerca das garantias: “... as garantias constitucionais dos
direitos fundamentais são também garantias da democracia [...] As garantias cons-
titucionais são as garantias da rigidez dos princípios e dos direitos constitucionais
estabelecidos que incidem sobre os poderes supremos do Estado”.
35. Cf. DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. Trad. Nelson Boeira. 3. ed. São
Paulo: Martins Fontes, 2010. p. 42-43. É extremamente perigoso considerar a pre-
sunção de inocência um princípio nos moldes preconizados por R. Dworkin e R. Alexy,
pois isso permitirá que seja aplicada em maior ou menor intensidade a partir da
ponderação com outros princípios constitucionais colidentes. Admite-se, contudo,
esse atributo (o de que é princípio), na perspectiva de que constitui norma nuclear
do sistema constitucional.
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37. Cf. LOPES JR., Aury. Direito processual penal. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 588.
38. Cf. GIACOMOLLI, op. cit., p. 444.
39. Nesse sentido, a antiga Súmula 9 do Superior Tribunal de Justiça (STJ), verbis: “A
exigência da prisão provisória, para apelar, não ofende a garantia constitucional da
presunção de inocência”.
40. Cf. Direito e razão, op. cit., p. 505-506.
41. Cf. PELUSO, op. cit., p. 231-238.
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42. Na common law não há nexo entre a presunção de inocência e a liberdade pessoal,
mas sim com o encargo probatório, em razão do modelo acusatório de processo pe-
nal, que dá a esse princípio significado dúplice: regra de tratamento do imputado e
regra de juízo (cf. GIACOMOLLI, op. cit., p. 441).
43. “Art. 105. Transitando em julgado a sentença que aplicar pena privativa de liberdade,
se o réu estiver ou vier a ser preso, o Juiz ordenará a expedição de guia de recolhimen-
to para a execução” e “Art. 147. Transitada em julgado a sentença que aplicou a pena
restritiva de direitos, o Juiz da execução, de ofício ou a requerimento do Ministério
Público, promoverá a execução, podendo, para tanto, requisitar, quando necessário,
a colaboração de entidades públicas ou solicitá-la a particulares”.
44. “Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e funda-
mentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença condena-
tória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do processo, em virtude
de prisão temporária ou prisão preventiva”. A matriz garantista do constitucionalis-
mo, esclarece Alfredo Copetti Neto (cf. O paradigma constitucional garantista em
Luigi Ferrajoli: a evolução do constitucionalismo político para o constitucionalismo
jurídico. Revista de Direitos Fundamentais e Democracia, Curitiba, v. 14, n. 14, p. 417,
jul.-dez. 2013), “reforça o positivismo jurídico, no sentido de que os próprios direitos
fundamentais estabelecidos nas normas constitucionais devem promover o direito
positivo, ou seja, trata-se de um positivismo não apenas formal, mas material, com-
plementando o positivismo jurídico tradicional e o Estado de Direito”.
Oliveira Neto, Emetério Silva de. Garantismo penal e presunção de inocência: uma análise do Habeas Corpus 126.292.
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45. Proposta em 2011 pelo então presidente do STF, min. Cezar Peluso, a chamada PEC
dos recursos teve como principal objetivo atacar os problemas da lentidão dos pro-
cessos e da impunidade. A fórmula seria evitar que recursos de natureza meramente
protelatória chegassem às instâncias superiores a partir de uma alteração nos arts.
102 e 105 do CF/88. Com ela, as decisões judiciais de segunda instância já teriam
efeito imediato. Antecipava-se o trânsito em julgado das decisões. Em artigo publi-
cado, disse o min. Cezar Peluzo: “Em termos simples, o projeto estabelece o final do
processo após duas decisões judiciais. O Brasil é o único país do mundo em que um
processo pode percorrer quatro graus de jurisdição: juiz, tribunal local ou regional,
tribunal superior e Supremo Tribunal Federal (STF). O sistema atual produz intole-
ráveis problemas, como a “‘eternização”’ dos processos, a sobrecarga do Judiciário e a
morosidade da Justiça” (disponível em: [http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticia-
Detalhe.asp?idConteudo=181248]. Acesso em: 10.07.2017). Ocorre, no entanto, que
por vontade política do Poder Legislativo o projeto não vingou.
46. Cf. FERRAJOLI, Luigi. Contro la giurisprudenza creativa. Questa Rivista, n. 4/2016,
p. 16. Disponível em: [http://www.questionegiustizia.it/rivista/pdf/QG_2016-4_03.
pdf]. Acesso em: 20.10.2017.
Oliveira Neto, Emetério Silva de. Garantismo penal e presunção de inocência: uma análise do Habeas Corpus 126.292.
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47. A outra espécie, prevista na Lei 7.960, de 1989, é a prisão temporária, cabível em
três hipóteses: I - quando imprescindível para as investigações do inquérito policial;
II - quando o indiciado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos necessá-
rios ao esclarecimento de sua identidade; e III - quando houver fundadas razões, de
acordo com qualquer prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação
do indiciado em crimes graves (homicídio, roubo, extorsão, tráfico de drogas etc.).
48. Cf. OLIVEIRA NETO, Emetério Silva de. A pena de prisão no Brasil: contradições,
desproporcionalidade e ausência de isonomia na sua aplicação. In: AVILA, Gustavo
Noronha de et al. (coord.). Criminologias e política criminal: Org. CONPEDI/UFMG/
FUMEC/Dom Helder Câmara. Florianópolis, SC: CONPEDI, 2015. v. 1. p. 191.
49. Na mesma esteira, proíbe penas de morte (à exceção da previsão constante do art. 84,
inciso XIX), de trabalhos forçados, de banimento e cruéis.
Oliveira Neto, Emetério Silva de. Garantismo penal e presunção de inocência: uma análise do Habeas Corpus 126.292.
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50. Cf. FRISCHEISEN, Luiza Cristina Fonseca et al. Execução provisória da pena. Um
contraponto à decisão do Supremo Tribunal Federal no Habeas Corpus n. 84.078.
Garantismo penal integral. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 493-494.
51. Os recursos extraordinários corrigem erros na dosimetria da pena, na fixação do regi-
me prisional, etc., cujo impacto incide diretamente na execução da pena. Além disso,
reconhecem temas como a prescrição e o princípio da insignificância.
Oliveira Neto, Emetério Silva de. Garantismo penal e presunção de inocência: uma análise do Habeas Corpus 126.292.
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52. Verbis: “os recursos extraordinário e especial serão recebidos no efeito devolutivo”.
Tal dispositivo foi revogado pela Lei 13.105/2015, que instituiu o Novo Código de
Processo Civil, tratando da matéria no art. 1.029, § 5º.
53. Tanto que o STJ editou em 2002 a Súmula 267, que dizia: “A interposição de recurso,
sem efeito suspensivo, contra decisão condenatória não obsta a expedição de manda-
do de prisão” (consultada em: [https://ww2.stj.jus.br/docs_internet/revista/eletroni-
ca/stj-revista-sumulas-2011_20_capSumula267.pdf.]. Acesso em: 26.10.2017).
54. O Plenário Virtual do STF reconheceu a repercussão geral do tema objeto do refe-
rido HC, cujo processo paradigma é o Recurso Extraordinário com Agravo (ARE)
964.246, rel. Min. Teori Zavascki, DJe 10.11.2016, assim ementado: “Constitucional.
Recurso extraordinário. Princípio constitucional da presunção de inocência (CF, art.
5º, LVII). Acórdão penal condenatório. Execução provisória. Possibilidade. Reper-
cussão geral reconhecida. Jurisprudência reafirmada. 1. Em regime de repercussão
geral, fica reafirmada a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no sentido de
que a execução provisória de acórdão penal condenatório proferido em grau recursal,
ainda que sujeito a recurso especial ou extraordinário, não compromete o princípio
constitucional da presunção de inocência afirmado pelo artigo 5º, inciso LVII, da
Constituição Federal. 2. Recurso extraordinário a que se nega provimento, com o
reconhecimento da repercussão geral do tema e a reafirmação da jurisprudência sobre
a matéria” (disponível em: [http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAnda-
mento.asp?incidente=4966379]. Acesso em: 21.10.2017).
55. Transcrevem-se, pela importância, os pontos altos da ementa deste precedente: “Ha-
beas corpus. Inconstitucionalidade da chamada “‘execução antecipada da pena”’. Art.
5º, LVII, da Constituição do Brasil. Dignidade da pessoa humana. Art. 1º, III, da
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Constituição do Brasil. 1. O art. 637 do CPP estabelece que “‘[o] recurso extraordi-
nário não tem efeito suspensivo, e uma vez arrazoados pelo recorrido os autos do
traslado, os originais baixarão à primeira instância para a execução da sentença”’.
A Lei de Execução Penal condicionou a execução da pena privativa de liberdade
ao trânsito em julgado da sentença condenatória. A Constituição do Brasil de 1988
definiu, em seu art. 5º, inciso LVII, que “‘ninguém será considerado culpado até o
trânsito em julgado de sentença penal condenatória”’. 2. Daí que os preceitos veicu-
lados pela Lei n. 7.210/84, além de adequados à ordem constitucional vigente, sobre-
põem-se, temporal e materialmente, ao disposto no art. 637 do CPP. 3. A prisão antes
do trânsito em julgado da condenação somente pode ser decretada a título cautelar.
4. A ampla defesa, não se a pode visualizar de modo restrito. Engloba todas as fases
processuais, inclusive as recursais de natureza extraordinária. Por isso a execução da
sentença após o julgamento do recurso de apelação significa, também, restrição do
direito de defesa, caracterizando desequilíbrio entre a pretensão estatal de aplicar a
pena e o direito, do acusado, de elidir essa pretensão. 5. [...]. 6. A antecipação da exe-
cução penal, ademais de incompatível com o texto da Constituição, apenas poderia
ser justificada em nome da conveniência dos magistrados – não do processo penal.
A prestigiar-se o princípio constitucional, dizem, os tribunais [leia-se STJ e STF]
serão inundados por recursos especiais e extraordinários e subsequentes agravos e
embargos, além do que “‘ninguém mais será preso”’. Eis o que poderia ser apontado
como incitação à “‘jurisprudência defensiva”’, que, no extremo, reduz a amplitude ou
mesmo amputa garantias constitucionais. A comodidade, a melhor operacionalidade
de funcionamento do STF não pode ser lograda a esse preço. 7. No RE 482.006, rela-
tor o Ministro Lewandowski, quando foi debatida a constitucionalidade de preceito
de lei estadual mineira que impõe a redução de vencimentos de servidores públicos
afastados de suas funções por responderem a processo penal em razão da suposta
prática de crime funcional [art. 2º da Lei 2.364/61, que deu nova redação à Lei n.
869/52], o STF afirmou, por unanimidade, que o preceito implica flagrante violação
do disposto no inciso LVII do art. 5º da Constituição do Brasil. Isso porque – disse
o relator – “‘a se admitir a redução da remuneração dos servidores em tais hipóte-
ses, estar-se-ia validando verdadeira antecipação de pena, sem que esta tenha sido
precedida do devido processo legal, e antes mesmo de qualquer condenação, nada
importando que haja previsão de devolução das diferenças, em caso de absolvição”’.
[...]. 8. Nas democracias mesmo os criminosos são sujeitos de direitos. Não perdem
essa qualidade, para se transformarem em objetos processuais. São pessoas, inseridas
entre aquelas beneficiadas pela afirmação constitucional da sua dignidade (art. 1º, III,
da Constituição do Brasil). É inadmissível a sua exclusão social, sem que sejam consi-
deradas, em quaisquer circunstâncias, as singularidades de cada infração penal, o que
somente se pode apurar plenamente quando transitada em julgado a condenação de
cada qual. Ordem concedida” (Disponível em: [http://www.stf.jus.br/portal/processo/
verProcessoAndamento.asp?incidente=2208796]. Acesso em: 02.07.2017).
Oliveira Neto, Emetério Silva de. Garantismo penal e presunção de inocência: uma análise do Habeas Corpus 126.292.
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56. Merece destaque o voto do min. Celso de Mello, na parte em que diz: “A necessária
observância da cláusula constitucional consagradora da presunção de inocência (que
só deixa de prevalecer após o trânsito em julgado da condenação criminal) represen-
ta, de um lado, como já assinalado, fator de proteção aos direitos de quem sofre a
persecução penal e traduz, de outro, requisito de legitimação da própria execução de
sanções privativas de liberdade ou de penas restritivas de direitos” (Disponível em:
[http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=10964246].
Acesso em: 10.07.2017, p. 85-86).
57. Na esteira do positivismo jurídico, Bobbio (Teoria da norma jurídica. Trad. Ariani
Bueno Sudatti e Fernando Pavan Baptista. 6. ed. São Paulo: Edipro, 2016. p. 59)
acentuou: “quando Kelsen sustenta que aquilo que constitui o direito como direito
é a validade não quer em absoluto afirmar que o direito válido seja também justo,
mesmo porque os ideais de justiça, para ele, são subjetivos e irracionais”.
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58. Argumentos colhidos do voto do min. Edson Fachin, que bem sintetiza o entendi-
mento esposado pela maioria (Disponível em: [http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/
paginador.jsp?docTP=TP&docID=10964246]. Acesso em: 07.07.2017, p. 20-26).
59. a) Inglaterra: a regra é aguardar o julgamento dos recursos já cumprindo a pena, a
menos que a lei garanta a liberdade pela fiança; b) Estados Unidos: o Código de Pro-
Oliveira Neto, Emetério Silva de. Garantismo penal e presunção de inocência: uma análise do Habeas Corpus 126.292.
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cesso Penal (Criminal Procedure Code), vigente em todos os Estados, em seu artigo 16
dispõe que “se deve presumir inocente o acusado até que o oposto seja estabelecido
em um veredicto efetivo”, o que não impede que as decisões penais condenatórias se-
jam executadas imediatamente, pois “o sistema legal norte-americano não se ofende
com a imediata execução da pena imposta ainda que pendente sua revisão”; c) Ca-
nadá: após a sentença de primeiro grau, a pena é automaticamente executada, tendo
como exceção a possibilidade de fiança; d) Alemanha: o Código de Processo prevê
que, não obstante a relevância da presunção da inocência, diante de uma sentença pe-
nal condenatória, apenas alguns recursos terão efeito suspensivo; e) França: traz em
seu Código de Processo Penal hipóteses em que o Tribunal pode expedir o mandado
de prisão, mesmo pendentes outros recursos; f) Portugal: o Tribunal Constitucional
interpreta o princípio da presunção de inocência com restrições. As decisões dessa
mais alta Corte portuguesa dispõem que tratar a presunção de inocência de forma
absoluta corresponderia a impedir a execução de qualquer medida privativa de liber-
dade, mesmo as cautelares; g) Espanha: é outro dos países em que, muito embora seja
a presunção de inocência um direito constitucionalmente garantido, vigora o prin-
cípio da efetividade das decisões condenatórias; h) Argentina: o Código de Processo
Penal federal dispõe que a pena privativa de liberdade seja cumprida de imediato, nos
termos do art. 494. A execução imediata da sentença é, aliás, expressamente prevista
no art. 495 do mesmo diploma (cf. op. cit., p. 507-515).
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60. Para o ministro, ainda, não se pode suplantar a literalidade do art. 5º, inciso LVII,
da Lei Maior, de ordem a admitir a gradação da formação da culpa para fins de in-
cidência da garantia em jogo, pelo que é necessário admitir que a certeza jurídica
não ocorre em segunda instância, mas, sim, perante o Superior Tribunal de Justi-
ça (Disponível em: [http://www.uni7setembro.edu.br/wp-content/uploads/2017/03/
UNI7-ADC-44-MC-votos-parcial.pdf]. Acesso em: 09.07.2017, p. 17).
61. A pretexto de conferir uma interpretação sistemática ao dispositivo, Barroso, em ver-
dade, procedeu a uma autêntica mutação constitucional. Absolutamente desneces-
sário qualquer esforço semântico para concluir que uma interpretação meramente
literal ou gramatical do texto constitucional é suficiente para extrair o seu autêntico
sentido. Mas, ad argumentandum, ainda que fosse uma “norma de textura aberta”, o
que não é o caso, é defeso ao julgador “extrair B de A”. Como disse o professor Do-
menico Pulitanò (Il giudice e la legge penale. Questione Giustizia, n. 2/2017, p. 158.
Disponível em: [http://www.questionegiustizia.it/rivista/pdf/QG_2017-2_21.pdf].
Acesso em: 25.10.2017) acerca da interpretação em “contextos abertos”, “L’impor-
tanza fondamentale della critica, dell’argomentazione, di un dare ragioni in un con-
testo aperto, vincolato alla legge e non a precedenti fabbricati altrove, è un’esigenza
comune a tutti i fabbricanti di interpretazioni: allo studioso, alla parte nel processo,
e anche al singolo giudice”. Ferrajoli (cf. Constitucionalismo garantista e neoconsti-
tucionalismo... op. cit., p. 104), em defesa do que denomina constitucionalismo ga-
rantista, alçado como complemento do positivismo jurídico, é categórico em dizer
que a legitimidade da jurisdição se funda sobre o caráter mais cognitivo possível da
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mento, contudo, não procede, exata e precisamente porque a prisão como pe-
na é a consequência da sentença definitiva, estando, sim, atrelada ao conceito
de culpa, o que não ocorre quanto à prisão processual (ou cautelar), que do re-
conhecimento desta independe. Essas modalidades de prisão, tal qual frisado
anteriormente, são, em essência, diversas, de modo que diversos deverão ser
os seus requisitos e as suas consequências jurídicas. Nesse ponto, Ferrajoli62 é
preciso:
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Com efeito, tudo isso demonstra que o tema é de todo sensível e não con-
sensuado, até mesmo no âmbito do próprio STF, em que alguns ministros
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67. Cf. Supremo Tribunal Federal, HC 137.728/PR, 2017, voto. Min. Dias Toffoli. Dispo-
nível em: [http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/HC137728DT.
pdf]. Acesso em: 05.05.2017.
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Ainda, estando o paciente preso durante quase dois anos, vê-se, também,
claramente o excesso de prazo da sua prisão preventiva, o que per se a torna
ilegal, independentemente da presença ou não na espécie dos seus requisitos.
Ora, diferentemente da prisão temporária, a preventiva não tem prazo de du-
rabilidade prefixado em lei, o que não significa dizer que se deva alongar no
tempo, de maneira indefinida, ad aeternum, mesmo em se tratando de caso
complexo, que geralmente envolve acusações de crimes graves. A sua duração,
portanto, deve ocorrer dentro de prazo razoável, e dois anos de manutenção de
prisão provisória decididamente não se amolda ao conceito de razoabilidade.
Todas essas considerações comprovam que há razões suficientes para afir-
mar que a decisão do STF se reveste de correção. O possível fato, apontado
por um dos investigadores da operação Lava Jato, de o Tribunal não ter man-
tido coerência, uma vez que anteriormente teria negado liberdades em casos
semelhantes ou até de menor gravidade, não retira a legitimidade, a legalidade
e a constitucionalidade da decisão que determinou a revogação da prisão pre-
ventiva. Isto porque, despiciendo lembrar, o cometimento de dez arbitrariedades
não autoriza a prática de mais uma. Ao revés, deve ser levado em consideração
que o decisum em comento, o qual já figura como importante precedente, tem
a potencialidade de conduzir o Tribunal a outro patamar em termos de garan-
tia de direitos fundamentais contra o uso arbitrário e indiscriminado de prisões
cautelares – que faz o Brasil aparecer nas primeiras colocações dentre os países
com maior massa carcerária composta de presos provisórios –, o que se dará a
partir do exercício pleno e intimorato de sua função contramajoritária, a qual,
conforme pontuado por um dos ministros naquela sessão de julgamento, mui-
tas vezes tem o efeito prático de proteger o cidadão contra seus próprios instintos.
6. Considerações finais
Os argumentos desenvolvidos exaustivamente ao longo deste trabalho per-
mitem inferir as seguintes conclusões:
68. Cf. Supremo Tribunal Federal, HC 127.186/PR, 2015, voto min. Teori Zavascki. Dis-
ponível em: [http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?inci-
dente=4733030]. Acesso em: 02.07.2017.
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170 Revista Brasileira de Ciências Criminais 2018 • RBCCrim 142
Pesquisas do Editorial
Oliveira Neto, Emetério Silva de. Garantismo penal e presunção de inocência: uma análise do Habeas Corpus 126.292.
Revista Brasileira de Ciências Criminais. vol. 142. ano 26. p. 133-170. São Paulo: Ed. RT, abr. 2018.