Testamentos e Herancas
Testamentos e Herancas
Testamentos e Herancas
BO
O
K
TESTAMENTOS
E HERANÇAS
Procedimentos, fiscalidade
e segurança social
5.ª edição, revista e atualizada
A
INSTRUÇÕES DE NAVEGAÇÃO
ÍNDICE GERAL
A ÍNDICE REMISSIVO
TESTAMENTOS E HERANÇAS
Procedimentos, fiscalidade e segurança social
TESTAMENTOS
E HERANÇAS
Procedimentos, fiscalidade
e segurança social
A
Prefácio
A morte de uma pessoa tem implicações jurídicas que, em certos casos, são
complexas. Com o presente guia, em edição revista e atualizada, a DECOPROTeste
pretende facilitar o entendimento dos direitos e deveres dos herdeiros e
ajudá-los a enfrentar os desafios burocráticos. A gestão da herança e a sua
partilha muitas vezes suscitam problemas, mas também as questões aparen-
temente mais simples podem levantar dúvidas, até porque são várias as áreas
abrangidas, da fiscalidade e das prestações e subsídios da Segurança Social
aos procedimentos a seguir face à existência de um seguro de vida, de um
crédito à habitação ou de uma aplicação financeira.
Os herdeiros não são os únicos destinatários deste guia, que procura esclarecer,
ainda, quem pretende ter uma palavra a dizer quanto ao destino dos seus bens.
Para estes, a preparação da herança será uma preocupação: como fixar um
legado, beneficiar um herdeiro ou chamar alguém à sucessão, para além dos
herdeiros legitimários? Além das questões patrimoniais, outras há a acautelar.
Por exemplo, algumas pessoas poderão querer efetuar um testamento vital
e/ou nomear um procurador de cuidados de saúde que assegurem, em fim de
vida, o cumprimento da sua vontade no que respeita aos cuidados de saúde
a receber ou a não receber.
Índice
O inventário 116
CAPÍTULO 2 Aceitar a herança a benefício
Segurança Social e outras proteções de inventário 117
Intervenção do Ministério Público 118
Regime geral da Segurança Social 82 Requerer ou intervir
Regime contributivo 82 no inventário 118
Regime não contributivo 85 A relação de bens 122
A conferência de interessados 124
Função pública 86 A partilha 128
Pensão de sobrevivência 86 Fim do processo 130
Subsídio por morte 89
Liquidação da herança 131
Subsídio de funeral 90
Impugnação da partilha 132
Acidentes de trabalho
e doenças profissionais 91
Acidentes de trabalho 92 CAPÍTULO 4
Doenças profissionais 96 A herança
A colação 154
Bens sujeitos a colação 155 CAPÍTULO 6
Dispensa de colação 155 Os crimes e a morte
Como é que tudo se processa? 156 Homicídio 180
Suicídio 181
A sucessão do arrendamento 157 Negligência médica 182
Contratos anteriores ao NRAU 158 Ofensas à memória do falecido 182
Contratos celebrados ao abrigo do NRAU 159 Desrespeito pelos mortos 183
PARTE 1
AS ÚLTIMAS VONTADES
A
A
CAPÍTULO 1
PREPARAR A SUCESSÃO
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Embora a partilha de bens seja mais frequente por morte de quem os deti-
nha, algumas pessoas optam por distribuir o seu património ainda em vida.
Nesse caso, trata-se de doações e não de uma herança, mas, mesmo assim,
existem regras quanto ao que pode ser doado e a quem. Além disso, deter-
minados beneficiários têm de pagar imposto sobre o património recebido.
Mesmo quem não pretenda dividir os bens em vida pode preparar a sua
sucessão. O testamento, de que falamos pormenorizadamente no capítulo
Escolher os herdeiros, a partir da página 17, é uma das possibilidades. Existem
ainda outros fatores a ter em conta e que podem influenciar, por exem-
plo, o imposto a pagar pelos herdeiros. Apesar de dedicarmos particular
atenção à fiscalidade, a preparação da sucessão não se esgota neste tema.
Efetivamente, também existem aspetos de ordem prática a considerar. Por
exemplo, quem não estiver certo de que todos os seus bens são conhecidos
dos potenciais herdeiros tem interesse em discriminá-los num documento,
o qual será de grande utilidade para quem desempenhar a tarefa de cabeça-
-de-casal e tiver de fazer a relação de bens, a entregar no serviço de Finan-
ças. É fundamental que alguém saiba onde encontrar esse documento após
a morte do seu autor.
Neste capítulo, falamos, por um lado, das partilhas em vida e, por outro, das
isenções de imposto pela transmissão de bens, informação dirigida a quem
pretenda reduzir este encargo relativamente aos beneficiários que não estão
isentos.
Partilha em vida
Embora, em princípio, não tenha vantagens fiscais, a partilha em vida é uma
forma de os herdeiros começarem a usufruir da herança mais cedo. Aliás,
nada impede uma pessoa de proceder à divisão do seu património enquanto
é viva, sendo, no entanto, recomendável que tenha o cuidado de guardar a
utilização de certos bens. Por exemplo, é possível doar uma casa reservando
para si o respetivo usufruto vitalício. O beneficiário desta doação já terá a
propriedade da casa, mas só poderá ocupá-la, ou mesmo arrendá-la, quando
o doador falecer.
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PARTE 1 • CAPÍTULO 1. PREPARAR A SUCESSÃO
A
BENEFICIAR UM HERDEIRO
Para quem tem cônjuge, ascendentes ou descendentes, os seguros de vida e a quota
disponível são as únicas possibilidades de atribuir bens a outras pessoas ou beneficiar
algum herdeiro com mais do que aquilo a que tem direito por lei. De facto, as disposi-
ções testamentárias que desrespeitem as quotas mínimas destes herdeiros não serão
aceites. Por outro lado, as doações feitas em vida poderão ter de ser devolvidas se vier
a constatar-se que ultrapassam o valor da quota disponível, que só é possível calcular
com rigor após o óbito do autor da herança. Quanto aos depósitos bancários, em princí-
pio não são opção para beneficiar herdeiros: considera-se que fazem parte da herança
todos aqueles de que o falecido fosse titular ou cotitular com poderes de movimenta-
ção. Se não for o caso, os herdeiros terão de provar que os valores depositados lhes
pertencem (por exemplo, demonstrando que recebiam o salário através dessa conta).
Se considerar a possibilidade de fazer um seguro de vida para beneficiar um herdeiro,
tenha em conta eventuais limites de idade para contratar e beneficiar das garantias
proporcionadas pelo seguro, os quais podem variar de uma seguradora para outra.
Além disso, o montante a pagar pelo seguro aumenta com a idade (ver também o
título Seguros de vida, na página 76).
Do ponto de vista fiscal, as regras das doações em vida são, em muitos aspetos,
idênticas às das sucessões. Até o impresso é o mesmo. Como tal, se quiser
saber de que modo serão tributados os bens que der ou receber e qual a
forma de liquidação do imposto, nada melhor do que consultar o capítulo
A fiscalidade nas sucessões, a partir da página 162.
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TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
atenuar em vida: como nem todos os bens estão sujeitos a imposto, basta
aplicar o património disponível em produtos com estas características.
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A
CAPÍTULO 2
ESCOLHER
OS HERDEIROS
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
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PARTE 1 • CAPÍTULO 2. ESCOLHER OS HERDEIROS
A
O testamento
O testamento é um ato legal através do qual uma pessoa (o testador) define
o destino a dar aos seus bens, no todo ou apenas em parte, após a sua
morte. As disposições do testamento só são executadas após a morte do
seu autor e, por norma, só nessa altura serão conhecidas pelos interessa-
dos. No entanto, também existem testamentos sem disposições relativas
ao património. Por exemplo, é possível fazer um testamento para defi-
nir o tipo de cerimónia fúnebre (veja um exemplo na página 50) ou para
reconhecer alguém como herdeiro (por exemplo, um filho nascido fora
do casamento).
HERDEIRO OU LEGATÁRIO?
Herdeiro e legatário, herança e legado: serão coisas distintas? Embora estejam ambas
relacionadas com a divisão de bens após a morte, traduzem, de facto, dois conceitos
diferentes.
•O herdeiro é alguém que recebe os bens do falecido, no todo ou apenas em parte.
O reconhecimento de que uma pessoa é herdeira de outra é feito através de um tes-
tamento ou por via da lei. Num testamento, um herdeiro poderia ser contemplado da
seguinte forma: “Deixo todo o meu património a Baltazar” ou, tratando-se somente
de uma parte, “Deixo um terço do meu património a Baltazar”. Ou seja, não está dis-
criminado o que é deixado. Aquele terço poderá ser composto por dinheiro, direitos,
bens móveis ou imóveis, dependendo do que for decidido na partilha.
•O legatário recebe bens predefinidos. Em regra, o reconhecimento de que alguém
é legatário só pode ser feito por testamento, documento que também indica qual o
bem a receber ou o direito a ser transmitido. Um exemplo de uma disposição desti-
nada a atribuir um legado seria: “Deixo a minha coleção de moedas a Blimunda.”
•É possível um testamento contemplar, em simultâneo, herdeiros e legatários, e um
herdeiro pode ser, ao mesmo tempo, legatário. Porém, em certas circunstâncias,
as regras mudam consoante se trate de um herdeiro ou de um legatário.
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TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
E OS HERDEIROS AUSENTES?
A execução das disposições do testamento não depende de os seus beneficiários terem
conhecimento dele. No limite, pode abrir-se uma conta para depositar a parte da
herança que couber a um herdeiro cujo paradeiro não seja conhecido. Mesmo que isso
não tenha sido feito, se, por exemplo, só souber que foi nomeado herdeiro muito depois
da abertura da herança, ainda pode fazer valer os seus direitos. Efetivamente, dispõe
de dez anos, a contar da abertura do processo de reconhecimento dos herdeiros, para
reivindicar a sua parte, através de uma ação em tribunal que reconheça a sua condição
de herdeiro. Pode confirmar se o seu nome constava de um determinado testamento
junto da Conservatória dos Registos Centrais (ver também a caixa Como saber se há
testamento?, na página 65).
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PARTE 1 • CAPÍTULO 2. ESCOLHER OS HERDEIROS
A
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TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
que o testador não fez o documento livremente (por exemplo, sofreu fortes
pressões para incluir uma disposição) ou simulou a intenção de fazer alguém
herdeiro (o testamento foi feito em favor de alguém, mas, na realidade, e com
o acordo dessa pessoa, destina-se a beneficiar outra).
Representantes legais
O testamento realizado por um maior acompanhado (veja a caixa da página 28)
em favor do seu acompanhante ou administrador legal de bens será nulo,
exceto se estes forem o cônjuge, descendentes (filhos, netos), ascendentes
(pais, avós) ou colaterais até ao 3.º grau (tios, sobrinhos).
Relações extraconjugais
Será nula qualquer disposição com que o autor, sendo casado, queira bene-
ficiar alguém com quem cometeu adultério. Isso só não acontece se, à data
de abertura do testamento, o casamento já tiver sido dissolvido, os cônjuges
se encontrarem separados de pessoas e bens ou separados de facto há mais
de seis anos. No entanto, a lei admite que essa pessoa receba uma pensão de
alimentos, isto é, um rendimento indispensável ao seu sustento (alimentação,
vestuário, habitação, etc.). O valor da pensão deve ser definido em função das
possibilidades financeiras da herança e das necessidades de quem a recebe.
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PARTE 1 • CAPÍTULO 2. ESCOLHER OS HERDEIROS
A
Intervenientes no testamento
Igualmente nulas serão as disposições a favor do notário (ou equivalente)
que lavrar o testamento público ou aprovar o testamento cerrado, da pes-
soa que tiver escrito este último a pedido do autor ou das testemunhas e
outras pessoas que nele tenham participado. Os cônjuges ou potenciais
herdeiros de todas estas pessoas também estão excluídos, assim como
terceiros com quem tenham sido feitos acordos para ultrapassar esta
limitação.
Apadrinhamento civil
O vínculo de apadrinhamento civil (não confundir com o de batismo) impede
a celebração do casamento entre padrinhos e afilhados, mas tal impedimento
pode ser ultrapassado se o conservador do registo civil considerar que há fun-
damentos para isso. Caso o casamento se concretize, impossibilita o padrinho
ou a madrinha de receber do cônjuge afilhado qualquer benefício por doação
ou testamento. Já o inverso não se verifica, pelo que os afilhados continuam
a poder receber dos padrinhos.
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TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Forma do testamento
O testamento só é válido se respeitar determinadas formalidades. Por exem-
plo, um testamento verbal não tem validade. Mesmo um documento escrito,
datado e assinado pelo seu autor, pode não ter os efeitos desejados. Ainda
que existam testamentos especiais, sujeitos a regras próprias e destinados a
quem não tem condições para seguir os procedimentos normais (militares em
campanha, pessoas a bordo de um navio ou avião ou perante uma calamidade
pública que impeça o acesso aos notários, por exemplo), por norma, apenas
duas formas são admitidas pela lei: o testamento público e o testamento cerrado
(ver exemplos nas páginas seguintes).
Testamento público
Este tipo de testamento é redigido pelo notário, num livro próprio (o livro de
notas), tendo em atenção as indicações do testador. De seguida, é assinado
por este último, na presença do notário e de duas testemunhas. A expressão
“público” não significa, porém, que o seu conteúdo seja conhecido de toda a
gente. É mantido sigilo até à morte do autor e apenas com a certidão de óbito
o notário revela o conteúdo do testamento.
Testamento cerrado
É escrito e assinado pelo autor ou, quando este não souber ou não puder
escrever, por outra pessoa, a seu pedido. O autor só poderá não assinar o
testamento cerrado quando não souber ou não puder fazê-lo e, mesmo nes-
ses casos, terá de figurar no documento a razão por que não o fez. Quem não
saiba ou não possa ler não pode realizar um testamento cerrado.
Para ser aprovado pelo notário, o testamento cerrado tem de mencionar que:
— o documento reflete as últimas vontades do seu autor;
— o testamento foi escrito e assinado pelo autor ou escrito por outra pes-
soa, a seu pedido, visto ele não o poder fazer, e indicar a causa dessa
impossibilidade;
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PARTE 1 • CAPÍTULO 2. ESCOLHER OS HERDEIROS
A
TESTAMENTO PÚBLICO
TESTAMENTO
No dia 22 de novemb
ro de 2021, no Ca
Manuel Correia, em rtório Notarial do Dr
Lisboa, perante mim, .
compareceu como respetivo notário,
testador:
– Diogo Mendes Al
buquerque, viúvo, na
de 1946, natural da scido a 24 de janeir
freguesia de São Se o
concelho e cidade de bastião da Pedreira,
Lisboa, filho de José
Albuquerque e de Ma Menezes de
ria Leonor Rosa Me
residência habitua ndes Albuquerque,
l na Avenida dos Co com
Guerra, n.º 12, 1.º mbatentes da Gran
andar, em Évora. de
– Verifiquei a identida
de do testador por
de cidadão n.º 0000 exibição do seu cart
001, válido até 1 de ão
emitido pelos Servi agosto de 2023,
ços de Identificação
Civil de Lisboa.
E DECLAROU:
– Que institui herd
eiro da sua quota dis
Ricardo Dias Farinha ponível o seu amigo
, com residência na ,
n.º 134, 3.º andar, Avenida Almirante
na cidade do Porto. Reis,
– Foram testemun
has Maria da Luz Do
residência habitua mingos da Silveira,
l na Rua Afonso de com
Esq., em Évora, e Jo Albuquerque, n.º 22
sé Carlos Figueiredo 3, 2.º
habitual na Avenida Pereira, com residê
Miguel Bombarda, n.º ncia
Lisboa. 27, 3.º andar, em
– Li este instrumen
to em voz alta ao te
seu conteúdo em vo stador e expliquei-
z alta e na presença lhe o
intervenientes. simultânea de todo
s os
A data do testamento é, para todos os efeitos legais, aquela em que foi aprovado
pelo notário. Ao contrário do que acontece com o testamento público, este
fica na posse do seu autor, que o guardará onde bem entender: pode mantê-lo
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TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
TESTAMENTOS CERRADOS
freguesia de
es Sousa, natural da
Eu, António Abrant Lisboa, casado com
dreira, concelho de
S. Sebastião da Pe usa e de Maria
tó nia Sa nt os , filho de José Manuel So
Maria An adão com o n.º
, po rt ad or do cartão de cid s de
Júlia Ab ra nt es 2008 pelos Serviço
em 1 de agosto de
1000001, emitido res idência na Aven ida Ge râ nio s, n.º
Lis bo a, co m
Identificação de minhas faculda s de
da r, em Lis bo a, no uso pleno das sições:
12 - 1. º an as seguintes dispo
nt ais , faço o me u testamento com
me
ponível o meu
tit uo he rd eiro da minha quota dis e
– declaro qu e ins na Avenida Almirant
o, An tó nio Fa rin ha, com residência
sobrinh Porto.
andar, na cidade do
Reis, n.º 134, 13.º
mbro de 2009
Lisboa, 21 de deze
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PARTE 1 • CAPÍTULO 2. ESCOLHER OS HERDEIROS
A
Conteúdo do testamento
Na maioria dos casos, as pessoas fazem um testamento para definir o destino
do seu património. Contudo, este documento pode destinar-se, no todo ou
em parte, a acautelar outras questões ou a estipular condições e regras para
que os herdeiros recebam os bens que lhes estão destinados.
A quota indisponível
Os herdeiros legitimários (cônjuge, descendentes e ascendentes), a menos que
venham a ser deserdados ou considerados indignos, não podem deixar de receber
uma parte dos bens, ainda que não seja essa a vontade do autor. A quota a que têm
direito, conhecida por legítima, encontra-se no quadro que se segue.
PARTE NA HERANÇA
DOS HERDEIROS LEGITIMÁRIOS
Tipo de herdeiro Quota mínima Quota da herança de que
(por ordem da herança o testador pode dispor
de preferência) (“legítima”) livremente
SÓ O CÔNJUGE 1/2 1/2
CÔNJUGE E FILHOS 2/3 1/3
SÓ UM FILHO 1/2 1/2
DOIS OU MAIS FILHOS 2/3 1/3
CÔNJUGE E ASCENDENTES 2/3 1/3
(PAIS, AVÓS)
SÓ PAIS 1/2 1/2
SÓ AVÓS OU BISAVÓS 1/3 2/3
2.o
Os descendentes de grau e seguintes (netos, bisnetos) têm direito à legítima que caberia ao seu ascen-
dente, caso este tenha falecido, não possa ou não queira recebê-la.
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TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
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PARTE 1 • CAPÍTULO 2. ESCOLHER OS HERDEIROS
A
Quando uma disposição é contrária à lei, será válida quanto ao que se deixa,
mas não relativamente à condição. Por outras palavras, a pessoa pode receber
os bens e, por exemplo, casar com quem o autor pretendia afastar.
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TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
TUTORES, ACOMPANHANTES
E ADMINISTRADORES LEGAIS DE BENS
Existem dois tipos de incapacidade jurídica: a dos menores e a dos maiores acom-
panhados a quem foram decretadas medidas de acompanhamento que limitam o
pleno exercício dos seus direitos. Estas incapacidades são automáticas, quando estão
relacionadas com a menoridade, ou resultantes de uma decisão do tribunal, no caso
dos maiores acompanhados. Os menores são, normalmente, representados por um
tutor, e os maiores acompanhados por um acompanhante (escolhido pelo acompa-
nhado ou pelo seu representante legal) designado pelo tribunal. Podem ser designa-
dos vários acompanhantes, com diferentes funções, especificando-se as atribuições
de cada um. O acompanhante fica abrangido pelo regime da tutela quando lhe são
conferidos poderes de representação legal do acompanhado.
•O maior acompanhado é uma pessoa maior de idade que, por razões de saúde, defi-
ciência ou pelo seu comportamento fica impossibilitada de exercer plenamente os
seus direitos e de cumprir os seus deveres. Este estatuto é atribuído pelo tribunal a
pedido do próprio ou, mediante autorização deste, do cônjuge, unido de facto ou
outro parente sucessível (que possa ser herdeiro) da pessoa em causa. Com ou sem
autorização, também o Ministério Público pode fazê-lo. Caso considere existir funda-
mento, o tribunal pode avançar com o processo sem a autorização do maior. As medi-
das de acompanhamento só são decretadas quando não existam, por exemplo, fami-
liares que assegurem a cooperação e a assistência necessárias. O acompanhamento
limita-se ao estritamente necessário para assegurar o bem-estar do acompanhado
e o pleno exercício dos seus direitos e deveres. Estas medidas podem ser revistas ou
levantadas pelo tribunal a qualquer momento.
•Quer o desempenho do tutor (tutela), quer o do acompanhante podem ser vigiados
por um grupo de pessoas a que se chama conselho de família. No que respeita à
tutela, um dos elementos do conselho de família, designado por protutor, tem como
competência fiscalizar a atuação do tutor e, com o consentimento deste, cooperar na
administração dos bens do incapaz, de acordo com o estabelecido pelo conselho de
família. O protutor tem ainda como missão representar o incapaz quando os seus inte-
resses entrem em conflito com os do tutor, a menos que o tribunal tenha designado
outra pessoa para o efeito, e substituir o tutor quando este se encontra impossibili-
tado. Também o acompanhante não pode atuar em conflito de interesse com o acom-
panhado, sob pena de o ato praticado ser anulável. Havendo conflito de interesses,
cabe ao acompanhante requerer ao tribunal autorização para a prática do ato ou as
medidas convenientes, podendo ser nomeado um curador provisório para o efeito.
•O administrador legal de bens surge quando o tribunal entende que a pessoa que
exerce a tutela não deve, em simultâneo, gerir o património do incapaz. A adminis-
tração dos bens pode ser feita por uma ou mais pessoas e, nos casos em que coexistir
com a tutela, deve contar com a participação do conselho de família. O administrador
tem poderes para representar o incapaz em tudo o que se relacionar com o seu patri-
mónio, devendo entregar-lhe as quantias necessárias ao seu sustento.
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PARTE 1 • CAPÍTULO 2. ESCOLHER OS HERDEIROS
A
As condições resolutivas
Embora com as limitações referidas, são possíveis condições que impo-
nham ao herdeiro ou ao legatário não dar certa coisa ou não praticar
certo ato. E, se o herdeiro ou o legatário não cumprirem essas condições,
em princípio, perdem o direito aos bens. Quando o testamento está sujeito
a este tipo de cláusulas, juridicamente designadas por condições resoluti-
vas, o tribunal pode impor ao herdeiro ou legatário o pagamento de uma
caução, de modo a salvaguardar os direitos de quem receberá os bens
no caso de a condição não ser cumprida. Deste modo, acautela-se, por
exemplo, a eventualidade de o herdeiro ou legatário destruir, vender ou
hipotecar o que recebeu.
As condições suspensivas
Podem ser indicadas no testamento condições suspensivas. Estas estipulam
que o direito à herança ou ao legado depende da ocorrência de determinado
facto. Por exemplo, atribuir-se um bem a uma criança ainda não nascida,
ou nem sequer concebida, ou dizer-se que determinado património só será
entregue se um jovem concluir os seus estudos universitários. Neste caso,
a herança ou o legado são administrados por quem tiver sido indicado pelo
autor do testamento, até que a condição se cumpra ou, pelo contrário, haja a
certeza de que não pode vir a ser respeitada.
29
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Outras condições
O autor do testamento pode impor ao legatário a obrigação de dar preferên-
cia a certa pessoa, por exemplo, na venda do bem legado. Nestes casos, se o
bem for um imóvel, convém registar o conteúdo da disposição que impõe a
preferência na conservatória do registo predial. Outra condição possível é a
fixação de um prazo a partir do qual um bem será entregue ao legatário. Mas,
regra geral, já não será admissível que defina um prazo após o qual o herdeiro
ou legatário deixará de sê-lo.
30
PARTE 1 • CAPÍTULO 2. ESCOLHER OS HERDEIROS
A
Substituições de herdeiros
O testador tem liberdade para definir que, em certas circunstâncias, os her-
deiros por si indicados sejam substituídos.
Substituição direta
O autor do testamento pode indicar outras pessoas para substituírem um ou
mais herdeiros, caso estes não possam ou não queiram aceitar a herança.
E, a menos que fique definido algo de diferente, o substituto recebe exata-
mente o mesmo que caberia ao herdeiro.
Substituição fideicomissária
A substituição fideicomissária ocorre quando o testador impõe ao herdeiro o
encargo de conservar a herança ou o legado, para que, por sua morte, reverta
a favor de outra pessoa. O herdeiro ou legatário que tem por missão conservar
a herança ou o legado é designado por fiduciário; aquele que receberá os bens
é o fideicomissário. A herança é entregue ao fideicomissário após a morte do
fiduciário. Na prática, é como se o autor do testamento tivesse estabelecido
dois herdeiros ou legatários de forma sucessiva, garantindo a conservação do
património ao longo destas transmissões.
O que pode fazer o fiduciário com a herança que lhe é confiada? Embora possa
usar, fruir e administrá-la, deve fazê-lo com razoabilidade, respeitando o fim a
que se destina. Por exemplo, tratando-se de uma quinta, pode colher a produção
agrícola, arrendar espaços a terceiros e receber os ganhos, em seu proveito ou
31
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Existem disposições testamentárias que, embora não sejam designadas por subs-
tituições fideicomissárias, apresentam características semelhantes:
— aquelas em que o autor do testamento proíba o herdeiro de dispor dos bens
recebidos. Nestes casos, serão os herdeiros deste último quem virá a dispor
dos bens;
— aquelas em que o testador atribua a um terceiro o que restar da herança, após
a morte de um herdeiro;
— aquelas em que o autor do testamento atribua a um terceiro o que restar dos
bens herdados por uma pessoa coletiva (empresa, associação, etc.) que entre-
tanto seja extinta.
Tudo o que foi dito para a substituição fideicomissária também se aplica a estes
casos, exceto no que se refere às exigências a observar para que possam vender-
-se ou hipotecar-se os bens. A venda, por exemplo, é possível sem o recurso ao
tribunal, desde que o fideicomissário dê o seu consentimento.
32
PARTE 1 • CAPÍTULO 2. ESCOLHER OS HERDEIROS
A
Alteração do testamento
O autor do testamento pode, a qualquer momento, revogá-lo, ficando este
sem efeito. A lei diz mesmo que não é possível prescindir deste direito, por
exemplo, incluindo uma cláusula nesse sentido no próprio documento.
No entanto, se quiser fazer alterações, por pequenas que sejam, terá de fazer
novo testamento.
Como revogar
A revogação pode ser efetuada expressamente, elaborando um novo testa-
mento em que essa vontade seja manifestada de forma clara, ou por escri-
tura pública, do mesmo modo. Mas também pode ser tácita, o que acontece
quando se opta por fazer um novo testamento, com outra distribuição dos
bens. Contudo, apesar de o testamento mais recente revogar o mais antigo,
se nem todos os bens tiverem sido redistribuídos, só é considerada a parte
modificada e tudo aquilo que não for incompatível com o novo documento
será mantido. Ou seja, é possível que uma pessoa faça vários testamentos e
todos venham a ser executados, pelo menos em parte.
Um testamento que tenha anulado outro também pode ser revogado. E qual-
quer testamento revogado pode voltar a ser válido se, entretanto, o autor
33
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
declarar que é essa a sua vontade. Como é evidente, essa declaração terá de
seguir as formas legais (ver Forma do testamento, na página 22).
Outra forma de revogação, neste caso para o testamento cerrado, que o autor
pode conservar consigo, é a destruição do documento. Porém, não basta ris-
car ou apagar passagens. Se ainda for possível ler o conteúdo, o testamento
não perde validade. No caso de ter sido eliminada apenas uma parte e essa
não ser legível, entende-se que existiu a intenção de revogar apenas as dispo-
sições em causa e não todo o documento. No entanto, já será uma anulação
total se, por exemplo, o testamento aparecer rasgado em pedaços (mesmo
que grandes e o conteúdo seja legível), a menos que se prove que o ato foi
praticado por outra pessoa, que não havia a intenção de revogação ou que
o autor, quando rasgou o documento, estava privado do uso da razão. Se o
testamento não estava na posse do autor à data da sua morte, considera-se
que foi destruído por outra pessoa.
Testamentaria
O testamenteiro é alguém indicado pelo autor para executar o testamento
e fiscalizar o cumprimento de eventuais condições por parte dos herdeiros
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PARTE 1 • CAPÍTULO 2. ESCOLHER OS HERDEIROS
A
Atribuições do testamenteiro
O testamenteiro não pode impor condições para aceitar o cargo nem dizer
que só o fará por um determinado período. Contudo, pode renunciar ao
cargo, o que, formalmente, implica uma declaração nesse sentido perante
o notário. As suas funções são as que o autor do testamento tiver definido.
35
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Regimes de bens
e convenção antenupcial
O regime de bens é o conjunto de regras que regula as relações patrimoniais
entre os cônjuges ou, ocorrendo a dissolução do casamento, entre estes e
terceiros (por exemplo, um filho anterior de apenas um dos cônjuges). Este
conjunto de regras especifica, entre outros, quais são os bens comuns do casal
e os que pertencem apenas a um dos cônjuges, a forma segundo a qual serão
partilhados em caso de divórcio e quem é responsável pela sua administração.
A lei prevê três regimes: a comunhão de adquiridos, a comunhão geral de bens e
a separação de bens. O casal pode, no entanto, combinar os regimes existentes
ou até criar um conjunto de regras próprio, desde que não seja contrário à
lei. Sempre que o regime escolhido não seja a comunhão de adquiridos, terá
de fazer uma convenção antenupcial. Se esta não for feita, considera-se, por
defeito, que o regime em vigor é o de comunhão de adquiridos.
Impedidos de escolher
Nem sempre é possível escolher o regime de bens. É o que acontece quando
o casamento não for precedido do processo preliminar, cuja função é averi-
guar se existem impedimentos ao matrimónio, ou quando um ou ambos os
36
PARTE 1 • CAPÍTULO 2. ESCOLHER OS HERDEIROS
A
Limites e possibilidades
Embora haja liberdade para definir o conteúdo de uma convenção antenup-
cial, existem limites:
— a convenção não pode basear-se numa lei estrangeira ou já revogada;
— não é possível alterar direitos ou deveres conjugais ou parentais. Por exem-
plo, não pode ficar estabelecido que, nascendo filhos do casamento, o dever
de alimentos em relação a estes caberá apenas a um dos progenitores;
— as regras relativas à administração dos bens do casal ou aos direitos e deve-
res de apenas um dos cônjuges não podem ser alteradas. Por exemplo, não
pode constar da convenção que cabe ao marido, em exclusivo, administrar
os bens do casal ou que um direito de usufruto que beneficie aquele tam-
bém abrangerá a mulher.
37
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
caso aconteça ou não aconteça alguma coisa (de reversão). Podem incluir-se
disposições que, por exemplo, designem um dos cônjuges como herdeiro ou
legatário do outro, em que um terceiro reconheça os noivos como seus herdei-
ros ou legatários ou, ainda, em que um dos noivos indique um terceiro como
seu herdeiro ou legatário. O reconhecimento dos noivos como herdeiros ou
legatários, quer seja um do outro, quer de terceiros, não poderá ser revogado
por uma das partes depois de aceite.
Beneficiar terceiros
Os noivos podem estipular cláusulas em que prometam um bem a alguém.
No entanto, ficam impedidos de doá-lo, prejudicando o potencial beneficiá-
rio. Se vierem a passar por uma situação de grave necessidade económica,
para venderem esse património terão de obter uma autorização escrita do
beneficiário ou do tribunal. Também podem revogá-la por mútuo acordo
com o beneficiário.
38
PARTE 1 • CAPÍTULO 2. ESCOLHER OS HERDEIROS
A
Alterar a convenção
A convenção antenupcial pode ser alterada ou revogada até à data do casa-
mento, se todas as pessoas que a assinaram, ou os seus herdeiros, estiverem
de acordo.
39
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Deserdação e indignidade
Duas situações podem afastar da sucessão potenciais herdeiros: a deserdação
e a indignidade.
Deserdação
A deserdação, destinada aos herdeiros legitimários, tem de ser feita através
de um testamento em que seja indicado o motivo. No entanto, o autor do
testamento não pode deserdar simplesmente porque lhe apetece. A lei
é muito precisa quanto às situações em que a deserdação pode ocorrer,
referindo:
— a condenação por um crime intencional contra a pessoa, bens ou honra
do autor, seu cônjuge, descendentes (filhos, netos), ascendentes (pais,
avós), adotantes ou filhos adotivos, desde que o crime seja punido com
uma pena superior a seis meses de prisão;
— a condenação do potencial herdeiro por denúncia caluniosa ou falso
testemunho contra as pessoas indicadas na alínea anterior;
— a recusa, sem justa causa, de prestação de alimentos ao autor e seu
cônjuge.
Indignidade
A indignidade também pode ser aplicada a outros herdeiros, e ocorre,
segundo a lei, nas seguintes circunstâncias:
— condenação, como autor ou cúmplice, por crime ou tentativa de homicídio
intencional contra o autor da sucessão, seu cônjuge ou algum descendente
(filho, neto), ascendente (pai, avô), adotante ou filho adotivo;
— condenação por denúncia caluniosa ou falso testemunho contra as mesmas
pessoas, relativamente a um crime a que corresponda uma pena de prisão
superior a dois anos;
— prática de atos contra a liberdade de realização do testamento, por exem-
plo, forçando o autor a fazê-lo, a modificar o conteúdo do documento ou a
revogá-lo ou, ainda, impedindo-o de proceder às alterações que entender;
— aproveitamento ou prática de atos contra o testamento, como a sua des-
truição, ocultação ou falsificação, antes ou depois da morte do autor da
sucessão.
40
PARTE 1 • CAPÍTULO 2. ESCOLHER OS HERDEIROS
A
Reabilitar o indigno
O autor pode reabilitar o indigno, ainda em vida, incluindo no testamento
uma cláusula nesse sentido ou efetuando outro documento através de escri-
tura pública. A reabilitação é ainda possível quando, apesar de conhecer a
causa da indignidade, o autor da sucessão o contempla com bens. O indigno
reabilitado receberá, assim, os bens da herança discriminados no testamento.
41
A
A
CAPÍTULO 3
Testamento vital
O testamento vital é um documento elaborado pelo interessado e que este
pode, a qualquer momento, declarar sem efeito, fazendo novo documento
44
PARTE 1 • CAPÍTULO 3. FIM DE VIDA E DESTINO DOS RESTOS MORTAIS
A
45
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
O registo no RENTEV é válido por cinco anos, mas pode ser anulado a qual-
quer momento, pelo próprio, ou renovado por períodos iguais. O processo é
gratuito e o Agrupamento de Centros de Saúde ou a Unidade Local de Saúde
informam o interessado — e, caso exista, o seu procurador de cuidados de
saúde —, com a antecedência mínima de 60 dias, da aproximação da data de
caducidade dos documentos registados.
46
PARTE 1 • CAPÍTULO 3. FIM DE VIDA E DESTINO DOS RESTOS MORTAIS
A
O doente deve fazer o pedido por escrito, dirigindo-o a um médico que terá
a seu cargo coordenar toda a informação e assistência, emitindo também
um parecer fundamentando, no prazo de 20 dias úteis, sobre os requisitos.
Cabe-lhe também esclarecer o doente sobre a sua situação clínica e os trata-
mentos aplicáveis, nomeadamente no que respeita aos cuidados paliativos
e prognóstico. Se a decisão do doente se mantiver, é registada por escrito.
Doação de órgãos
Algumas doenças e lesões exigem a substituição de órgãos, irremediavel-
mente afetados. Como, salvo raras exceções, os órgãos ainda não podem ser
fabricados, a solução é beneficiar da dádiva de alguém, em vida ou após a
morte, e ser submetido a um transplante. Em Portugal, todas as pessoas são
potenciais dadoras, a menos que se registem como não dadoras. Como vere-
mos mais à frente, a doação de órgãos também pode ter como beneficiária a
ciência e a investigação de novos métodos de cura.
47
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Doar ou não
Depois de morto, qualquer português, apátrida ou estrangeiro residente no nosso
país é um potencial dador de órgãos. Mas quem não quiser ser dador após a
morte também tem formas de assegurar a sua vontade. Para o efeito, terá de
informar o Ministério da Saúde, através do preenchimento de um formulário
no centro de saúde da sua área de residência ou próximo do local de trabalho.
Depois, o centro de saúde envia este impresso ao Registo Nacional de Não Dado-
res (RENNDA), que, por sua vez, remete um cartão de não dador ao interessado.
É possível ser não dador total ou parcial: o cidadão pode dizer que não se importa
que determinados órgãos sejam transplantados, mas que não dá o seu consenti-
mento quanto a outros. Todo o processo é gratuito.
No entanto, para que os restos mortais de alguém possam ser entregues para
fins científicos, é necessário que o visado não tenha declarado a sua oposi-
ção junto do RENNDA e, simultaneamente, que os seus restos mortais não
sejam reclamados pela família até 24 horas após a comunicação do óbito às
seguintes pessoas:
— o testamenteiro, que, como o nome indica, deve assegurar o cumprimento das
disposições do testamento do falecido (ver o título Testamentaria, na página 34);
— o cônjuge ou quem vivesse em união de facto com o falecido;
— os ascendentes (pais, avós, etc.), os descendentes (filhos, netos, etc.),
os adotantes (pais adotivos) ou os adotados;
— os parentes até ao 2.º grau da linha colateral (irmãos).
48
PARTE 1 • CAPÍTULO 3. FIM DE VIDA E DESTINO DOS RESTOS MORTAIS
A
49
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Cerimónia fúnebre
A escolha em vida do tipo de cerimónia fúnebre deve ser comunicada a fami-
liares próximos ou referida em testamento, para que, depois, seja executada
por estas pessoas ou pelo testamenteiro. Como vimos, o testamento não serve
apenas para dar um destino ao património após a morte, podendo ser uti-
lizado para indicar o que fazer com os restos mortais. Aliás, respeitadas as
exigências legais quanto às formalidades do testamento, nada impede que
este sirva em exclusivo para definir a cerimónia fúnebre ou outros assuntos
de natureza não patrimonial (ver exemplo nesta página). Dar conhecimento
aos familiares mais próximos da existência de tal documento irá facilitar o
cumprimento do seu conteúdo.
Testamento
por-
Eu, abaixo assinado, ................................. [nome],
ro .......... .......... .., cont ribuin te
tador do cartão de cidadão núme
ido em ........ de .......... .......... . de .........,
número ........................, nasc
], residente em ..
................ [estado civil], ....................... [profissão
.......... ...........................
......................................., filho de ..............................
, no uso pleno das minhas
. e de ............................................................
sem qualq uer coaç ão, dete rmino que
faculdades mentais e
s mort ais dever ão ser crem ados e as respeti-
os meus resto
vas cinzas lançadas ao mar.
ais do
Mantenho todas as disposições patrimoni
amen to [no caso de exist ir um tal docu men-
meu antigo test
to].
[Assinatura]
50
PARTE 1 • CAPÍTULO 3. FIM DE VIDA E DESTINO DOS RESTOS MORTAIS
A
Se o próprio nada tiver dito a esse respeito, será a família a decidir. Têm
legitimidade para isso, por esta ordem: o testamenteiro, em cumprimento
de disposição testamentária, o cônjuge ou o companheiro de facto, qual-
quer herdeiro, familiar, pessoa ou entidade. Se o falecido não tiver nacio-
nalidade portuguesa nem família, o seu representante diplomático no
nosso país pode intervir. Na eventualidade de as pessoas referidas não
poderem estar presentes, existe a possibilidade de serem representadas
por um procurador com poderes especiais: neste caso, a menção expressa
do que deverá ser feito com o corpo.
Inumação e cremação
Existem duas possibilidades quanto ao destino dos restos mortais: a inu-
mação, seja através de enterramento ou depósito em jazigo, e a cremação.
Em princípio, a inumação só pode ser levada a cabo em cemitérios públicos.
Mas há exceções: as pessoas que, pela sua importância, recebam a honra de
serem sepultadas no Panteão Nacional (em Lisboa) ou no Panteão Privativo
dos Patriarcas de Lisboa; as que, atendendo à sua nacionalidade ou religião,
devam ser depositadas em locais especiais; e, finalmente, membros de famí-
lias que dispõem de capelas privativas fora dos aglomerados populacionais
e que sejam, por tradição, locais de inumação de corpos. Estas duas últimas
situações requerem a autorização da câmara municipal.
51
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Quando não haja autópsia, mas, por qualquer motivo, o corpo não possa ser
entregue, é removido pelas autoridades para um dos seguintes locais:
— nas comarcas de Lisboa, Porto e Coimbra, para o respetivo Instituto de
Medicina Legal;
AGÊNCIAS FUNERÁRIAS
•A preparação da cerimónia fúnebre passa, inevitavelmente, pelo recurso a uma agên-
cia funerária, escolhida com base em dois critérios fundamentais e aplicáveis a qual-
quer serviço: o preço e a qualidade. Se os familiares não tiverem referências que lhes
permitam avaliar este último, pelo menos o primeiro deve ser tido em conta, desde
que exista disposição psicológica para tal.
•As agências funerárias estão obrigadas a afixar os preços dos serviços que prestam
e a facultá-los ao consumidor antes da contratação dos serviços. Devem apresentar
um orçamento com o preço total do serviço, discriminando os diversos componentes.
•As funerárias têm de facultar um serviço básico de funeral social, sujeito a um preço
máximo, que também deve estar afixado de forma visível. Esse valor é atualizado
anualmente, de acordo com o índice de inflação.
•Cabe à Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) fiscalizar o cumpri-
mento de todas estas regras, sendo também junto desta entidade que deverão ser
apresentada eventuais reclamações. As agências funerárias estão obrigadas a ter livro
de reclamações.
52
PARTE 1 • CAPÍTULO 3. FIM DE VIDA E DESTINO DOS RESTOS MORTAIS
A
Questões religiosas
Oficialmente, Portugal é um Estado laico. Quer isto dizer que não existe uma
religião oficial. No entanto, a população portuguesa, na sua maioria, segue
a fé católica, com cujos fundamentos são compatíveis todas as disposições
referidas neste capítulo. Como certamente existirão leitores de outras con-
fissões religiosas, propomos aqui algumas orientações de caráter genérico,
que lhes permitam respeitar a sua doutrina, sem, no entanto, colidirem com
a legislação nacional. Embora a lei portuguesa seja sensível em termos de
opções religiosas, respetivas cerimónias fúnebres e formas de luto ou velório,
deixa de sê-lo no que toca às autópsias médico-legais. Com efeito, ninguém
pode deixar de ser autopsiado apenas por razões religiosas. Em princípio,
sempre que haja indício de crime ou não se saiba a causa de uma morte, será
realizada uma autópsia.
53
A
A
PARTE 2
QUANDO MORRE
UM FAMILIAR
A
A
CAPÍTULO 1
PROCEDIMENTOS
ADMINISTRATIVOS
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Convém estar atento aos prazos legais. Se muitos destes procedimentos não
têm um prazo específico, o incumprimento, naqueles que o têm, pode ter
consequências. É o caso do reembolso dos Certificados de Aforro, quando
existem, já que revertem a favor do Estado se os herdeiros não fizerem, entre-
tanto, a habilitação de herdeiros e a partilha (ver quadro abaixo).
58
PARTE 2 • CAPÍTULO 1. PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS
A
Formalizar o óbito
A partir do momento em que é verificada ou presumida a morte de alguém,
inicia-se, para os familiares mais próximos, um percurso burocrático que, con-
soante os casos, poderá ser mais ou menos longo. Em algumas circunstâncias,
será mesmo necessário apurar a causa da morte, através de uma autópsia.
Verificação da morte
Considera-se que a morte ocorre com a cessação irreversível das funções cere-
brais. O médico que verifica a morte é aquele que tem a responsabilidade
sobre o doente ou o que surja primeiro no local onde se encontrar o corpo.
Cabe-lhe redigir o certificado de óbito, mencionando:
— a identificação possível da pessoa falecida, indicando se o faz através da
verificação de um documento de identificação ou de informação verbal;
— a sua própria identificação, indicando nome e número de cédula da Ordem
dos Médicos;
— o local, a data e a hora da verificação;
— informação clínica ou observações eventualmente úteis.
Autópsia
Se o óbito tiver ocorrido de forma violenta (por exemplo, devido a acidente
de trabalho ou de viação dos quais tenha resultado morte imediata), hou-
ver suspeitas de crime, tiver ocorrido há mais de um ano ou a sua causa for
ignorada, o corpo é submetido a uma autópsia. Esta obrigatoriedade aplica-
-se também sempre que a morte ocorra sob custódia policial ou associada a
intervenção policial ou militar ou quando haja suspeita de tortura, tratamento
cruel, desumano ou degradante. Na prática, o que procura apurar-se com
este exame médico-legal é se na origem da morte esteve a prática de um
crime. No entanto, atendendo ao trauma causado às famílias, é admissível
59
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
A autópsia deve ser efetuada tão rapidamente quanto possível após serem
verificados os sinais que confirmam a morte. E, a menos que exista uma
ordem legítima de um tribunal, ninguém pode deixar de ser submetido a
um exame médico-legal, se este for necessário ao inquérito ou à instrução
de um processo. Nem sequer razões de ordem religiosa podem sobrepor-se
a esta regra. Em certas circunstâncias, a autópsia pode até ocorrer já depois
do funeral, se o corpo não tiver sido cremado. No entanto, para a exumação
do corpo, terá de haver uma ordem do tribunal.
60
PARTE 2 • CAPÍTULO 1. PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS
A
Situação do cônjuge
A declaração de morte presumida tem as consequências jurídicas da morte,
exceto no que respeita ao casamento, que não é dissolvido automaticamente.
De facto, e tendo em conta que o cônjuge do ausente pode voltar a casar-se,
há o risco de verificar-se uma espécie de bigamia legal. Casando o cônjuge,
se o ausente regressar ou houver notícias de que estava vivo quando foi cele-
brado o segundo matrimónio, considera-se que o primeiro foi dissolvido, por
divórcio, à data da declaração de morte presumida. Isto não significa que o
cônjuge tenha de esperar dez anos, até que seja declarada a morte presumida,
para voltar a casar. A lei permite que avance com um pedido de divórcio após
um ano de ausência.
61
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Quem comunica
O óbito é declarado, segundo a ordem indicada, por uma das seguintes pessoas:
— o parente mais próximo do falecido que esteja presente no óbito;
— outros familiares presentes;
— os donos da casa onde ocorreu o óbito;
— o diretor ou administrador do estabelecimento onde a morte tiver ocor-
rido, sido verificada ou no qual o corpo tenha sido autopsiado;
— o sacerdote, de qualquer culto, presente no momento do falecimento;
— a pessoa ou entidade encarregada do funeral (normalmente é a agência
funerária quem trata da declaração);
— as autoridades administrativas ou policiais, se o corpo tiver sido
abandonado.
Informações necessárias
Quem fizer a comunicação deve estar preparado para responder às seguin-
tes questões sobre o falecido, embora só os dados da primeira alínea sejam
indispensáveis:
— nome completo, sexo, data de nascimento, estado civil, naturalidade e
última residência;
— nome completo dos pais;
— nome completo do último cônjuge;
— hora, data e local do falecimento ou do aparecimento do cadáver;
— local onde os restos mortais estão ou serão depositados.
62
PARTE 2 • CAPÍTULO 1. PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS
A
Casos especiais
A morte pode ocorrer em circunstâncias que tornem necessários procedi-
mentos específicos. Vejamos alguns casos.
63
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Morte fetal
Ocorrendo a morte de um feto com um mínimo de 22 semanas, é apre-
sentado e depositado na conservatória do registo civil o respetivo certifi-
cado médico. Contudo, o certificado médico de morte fetal é dispensado
quando ocorra:
— interrupção voluntária da gravidez devido a doença grave ou malforma-
ção congénita incurável, desde que realizada nas primeiras 24 semanas
de gravidez;
— situação de feto inviável, em que a interrupção da gravidez pode ter
lugar a qualquer momento;
— uma interrupção da gravidez espontânea, até às 24 semanas de gestação.
64
PARTE 2 • CAPÍTULO 1. PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS
A
A habilitação de herdeiros
Outro documento importante, quando existam bens a partilhar, é o que
habilita os herdeiros ao património deixado pelo falecido. Tanto pode ser
uma escritura pública de habilitação como uma certidão do procedimento
simplificado de habilitação de herdeiros (ver caixa Balcão das Heranças,
na página 66), como, na eventualidade de ter havido um inventário, uma
peça do processo. Para a escritura, os herdeiros terão de recorrer ao notário;
quando há inventário, será o tribunal, o notário ou um conservador a emitir o
documento (ver O inventário, na página 116). Também pode ocorrer uma habi-
litação de legatários, nomeadamente quando estes forem indeterminados ou
instituídos de forma genérica (por exemplo, se for um grupo de pessoas) ou,
ainda, quando a herança for distribuída em legados na sua totalidade.
65
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
66
PARTE 2 • CAPÍTULO 1. PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS
A
O certificado sucessório europeu tem uma validade de seis meses, prazo que
pode ser prolongado, e é pedido, por qualquer beneficiário da herança, num
Balcão das Heranças (ver caixa da página anterior). Se o falecido tiver mais do
que uma nacionalidade e não tiver escolhido, expressamente (por exemplo,
através de testamento), a legislação nacional que regula a sua sucessão, o que
também é permitido pelo regulamento europeu (ver página 19), aplica-se a lei
do Estado onde tinha residência habitual quando morreu.
67
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Comunicação às Finanças
Informado o registo civil e feita a habilitação de herdeiros, também o serviço de
Finanças terá de ser posto ao corrente do falecimento do autor da herança, rece-
ber a declaração de morte presumida (em caso de ausência sem notícias durante
um determinado período) ou a justificação judicial do óbito. Recorrendo ao
Balcão das Heranças, o cabeça-de-casal pode cumprir estas duas etapas em
simultâneo ou fazer apenas a habilitação, deixando para depois a participação
do óbito e a entrega da relação de bens nas Finanças. A participação é de modelo
oficial e identifica o autor da sucessão, a data e o local do óbito, os beneficiá-
rios, as relações de parentesco e respetiva prova. Deve ainda incluir a relação
dos bens transmitidos, com os valores a declarar. O prazo para a entregar às
Finanças é até ao final do 3.º mês após o do óbito. Só por motivo excecional o
chefe do serviço poderá conceder um adiamento deste prazo, até ao máximo
de 60 dias. Juntamente com a participação são entregues outros documentos,
como os extratos de depósitos bancários de que o falecido fosse titular à data
da transmissão (com os movimentos dos últimos 60 dias) e a certidão de testa-
mento, se existir. Há que contar com o custo destes documentos.
Outros documentos
Sempre que existam, outros documentos devem acompanhar a participação.
É o caso da certidão do testamento e dos comprovativos de dívidas e encargos
para com o autor da sucessão. Se a herança incluir bens como as participa-
ções em empresas, serão ainda entregues os documentos respetivos. Vejamos
em que consistem alguns dos documentos necessários.
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PARTE 2 • CAPÍTULO 1. PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS
A
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TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
1
2
3 4
5 8
6 7
1 Campo 3 (Tipo de prédio): podem ser urbanos (“U”) ou rurais (“R”). Nos imóveis
mistos, há um desdobramento entre duas verbas distintas, uma com “U”, a outra
com “R”. Como têm o mesmo artigo, não há o risco de serem considerados dois bens
distintos.
2 Campo 4 (Artigo da matriz n.º.........): caso o imóvel esteja omisso na matriz,
ou esteja inscrito sem valor patrimonial e ainda não tenha sido requerida a avaliação,
há duas possibilidades:
– se o imóvel for urbano, entregar previamente o modelo 1 do Imposto Municipal sobre
Imóveis e inserir o artigo provisório atribuído, precedido da letra “P”;
– se for rústico, solicitar a sua avaliação.
3 Campo 5 (Fração/Secção): nos prédios urbanos constituídos em propriedade
horizontal (em condomínio), é colocada a letra da respetiva fração autónoma. Para os
imóveis rústicos inscritos na matriz predial, deve ser indicada a letra da secção cadastral
a que se refere a herança.
4 Campo 6 (Árvore/Colónia): a preencher no caso de as árvores de prédios rústicos
estarem identificadas autonomamente face ao terreno em que estão implantadas.
5 Campo 9 (Avaliação do prédio): quando o valor patrimonial tributável ainda não
tiver sido fixado, indica-se aqui o número de registo e a data de entrega do modelo 1 do
Imposto Municipal sobre Imóveis. Se a avaliação for feita com base noutro documento,
indica-se apenas a data.
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PARTE 2 • CAPÍTULO 1. PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS
A
71
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
mencionar-se todos os bens que dela fazem parte, a quota que lhe correspon-
dia e a indicação de que se trata de parte de herança indivisa, colocando-se
um S (sim) na quadrícula imediatamente ao lado do campo 2. Não sendo o
caso, coloca-se um N (não).
Anexo II
— tipo 01: para a liquidação da herança;
— tipo 02: nas sucessões por morte, destina-se à liquidação dos legados.
Anexo III
Serão apresentados tantos quantos forem necessários, quando o espaço des-
tinado à identificação dos beneficiários no modelo 1 for insuficiente para o
efeito (o modelo 1 tem espaço para identificar quatro beneficiários).
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PARTE 2 • CAPÍTULO 1. PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS
A
Omissões e irregularidades
Quando não for possível juntar a certidão do testamento, por se encontrar
nas mãos de outrem, cabe ao chefe do serviço de Finanças notificar essa
pessoa para, no prazo de 15 dias, fornecer a certidão. O mesmo acontece
relativamente a administradores, gerentes, liquidatários da empresa ou
administradores da massa falida, caso os interessados provem a impossi-
bilidade de obter informações sobre as empresas indicadas (por exemplo,
apresentando documentos que as recusam).
Ainda que não seja devido imposto, por se estar isento, por exemplo,
é obrigatório fazer a declaração e a relação de bens. Se não forem cumpri-
das estas diligências e o chefe do serviço de Finanças tomar conhecimento
de que houve uma transmissão de bens, por outro meio, deve instaurar
oficiosamente o processo de liquidação. Antes disso, notifica o infrator ou
infratores para efetuarem a participação ou corrigirem irregularidades ou
omissões detetadas na declaração apresentada — sob pena de se considerar
que os bens foram intencionalmente ocultados ou, em linguagem jurídica,
sonegados. O prazo é definido pelo chefe do serviço de Finanças, mas não
será inferior a dez dias nem superior a trinta.
73
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Outros procedimentos
e comunicações
Dependendo das relações contratuais de que o falecido era parte e dos bens
que detinha, podem ainda ser necessárias outras diligências.
Trabalho
A morte põe termo ao contrato de trabalho e, com exceção da comunica-
ção do óbito à entidade patronal do falecido, os familiares nada têm a fazer.
No entanto, a morte de familiares confere o direito a um determinado número
74
PARTE 2 • CAPÍTULO 1. PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS
A
Créditos bancários
A herança terá de responder por eventuais créditos bancários contraídos pelo
falecido. Nos casos em que o seu valor ultrapasse o do património, das duas,
uma: ou se vende o bem ou os herdeiros assumem a dívida. Esta última opção
pode ser particularmente importante no que respeita ao crédito à habitação.
Embora em situações desta natureza os herdeiros possam assumir a dívida
ao banco, se houver um seguro de vida, o empréstimo ficará total ou parcial-
mente pago: tudo depende do tipo de apólice contratada (ver a seguir).
75
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Seguros de vida
Os seguros de vida garantem o pagamento de um capital aos beneficiários
indicados na apólice, em caso de morte da pessoa segura. Tanto podem
existir seguros para garantir um crédito à habitação como para beneficiar
um herdeiro.
No crédito à habitação
Normalmente, quem contrai um crédito para comprar casa contrata um
seguro de vida, indicando o banco como beneficiário. Por norma, é esco-
lhido o capital seguro variável, em que o valor vai diminuindo ao longo do
período contratado, acompanhando a amortização do empréstimo. Quando
o crédito é pedido por um casal, há a possibilidade de o seguro garantir o
risco de morte de ambos ou de apenas um deles (aquele que mais contribui
para a amortização). Não tendo o agregado capacidade para pagar o crédito,
na eventualidade de um dos cônjuges falecer, é recomendável a contratação
de um seguro para duas cabeças, a 100%: por morte de um dos cônjuges,
o crédito fica automaticamente pago.
Beneficiar um herdeiro
Estes seguros também podem ser contratados sem estarem associados a
um fim específico, visando tão-somente acautelar a situação financeira
de alguém que esteja ligado à pessoa que subscreveu a apólice. Tal como
referido no capítulo Preparar a sucessão, a partir da página 12, são a única
forma de contornar as limitações impostas pelas regras da sucessão legiti-
mária. Mas atenção ao capital seguro: quanto mais elevado, mais caro é o
76
PARTE 2 • CAPÍTULO 1. PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS
A
preço a pagar. Da mesma forma, o prémio será tanto mais elevado quanto
mais avançada for a idade do titular.
Em caso de morte
Se o titular do seguro morrer, o banco e a seguradora devem ser avisados
de imediato. A seguradora paga o capital aos beneficiários indicados ou aos
que resultarem da habilitação de herdeiros, depois de apresentados, respe-
tivamente, a certidão de óbito ou o documento da habilitação de herdeiros.
Na eventualidade de os beneficiários terem falecido antes do titular da apó-
lice, a seguradora entrega o capital ao cônjuge deste último, desde que o
casal não se encontrasse divorciado nem separado judicialmente. Na falta de
cônjuge, serão os herdeiros legítimos do titular a receber o capital.
Aplicações financeiras
Os investimentos do falecido fazem parte da herança. Neste contexto, são consi-
derados, entre outros, os depósitos a prazo, as ações cotadas em Bolsa, as obri-
gações, os Certificados de Aforro ou outros títulos de dívida pública, como os
Certificados do Tesouro, e alguns seguros de capitalização. Ora, para que tais
aplicações sejam transferidas para os novos titulares, é necessário que os herdei-
ros tenham a certidão de óbito e o documento de habilitação e, em conjunto, o
apresentem à entidade que as detém: no caso dos depósitos a prazo, ao banco;
no das ações e obrigações, ao banco ou à corretora; no dos Certificados de Aforro
e demais títulos da dívida pública, à Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida
Pública; e, no dos seguros, à seguradora ou mediador onde tiverem sido contrata-
dos. Se não o fizerem em conjunto, terão de aguardar pela conclusão da partilha
e receber a parte que corresponder a cada um.
77
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Valores mobiliários
Ações, obrigações e unidades de participação em fundos de investimento são
supervisionados pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).
É a esta entidade que os herdeiros têm de dirigir-se para obter a declaração
comprovativa dos valores detidos pelo falecido, que terão de apresentar nas
Finanças. O pedido é feito através do Balcão Único Eletrónico, disponível no
site desta entidade (www.cmvm.pt), sendo necessário efetuar um registo pré-
vio. No entanto, para solicitar a declaração, os herdeiros já precisam de saber
que o falecido detinha valores mobiliários e terão de indicar a identificação
completa dos produtos. Sem essa informação, ficam impossibilitados de os
reclamar.
78
PARTE 2 • CAPÍTULO 1. PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS
A
79
A A
A
CAPÍTULO 2
SEGURANÇA SOCIAL
E OUTRAS PROTEÇÕES
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Quando morre uma pessoa, os familiares têm direito a prestações sociais, por
exemplo, através do Centro Nacional de Pensões ou da Caixa Geral de Aposen-
tações. Algumas são pagas de uma só vez, como o subsídio por morte, outras
são-no periodicamente (pensão de sobrevivência, por exemplo), quando se
destinem a garantir o sustento do cônjuge ou de parentes próximos de quem
faleceu. Muitas destas prestações são calculadas por referência ao Indexante
dos Apoios Sociais (IAS), mas também ao salário mínimo nacional ou à pensão
social. Se quiser fazer os cálculos, saiba que os respetivos valores, em 2024,
são de 510 euros, 820 euros e 231,88 euros. Poderá manter-se a par de even-
tuais atualizações destes montantes através dos serviços da Segurança Social.
Regime contributivo
O regime contributivo, a que pertence quem efetuou descontos ao abrigo da
sua atividade profissional, abrange os trabalhadores por conta de outrem,
os independentes e, ainda, as pessoas que contrataram o seguro social volun-
tário (veja em que consiste na página 104). Por isso, em regra, as explicações
que aqui deixamos aplicam-se a todos estes beneficiários.
Pensão de sobrevivência
A atribuição desta prestação depende de o falecido, à data do óbito, ter
descontado para a Segurança Social durante um mínimo de 36 meses
82
PARTE 2 • CAPÍTULO 2. SEGURANÇA SOCIAL E OUTRAS PROTEÇÕES
A
Qual o montante?
O valor da pensão de sobrevivência corresponde a uma percentagem da pen-
são que o falecido recebia ou daquela a que teria direito quando morreu. Esta
percentagem varia em função de quem tem direito a recebê-la:
— cônjuge, ex-cônjuge ou unido de facto: 60%, se for um titular; 70% divi-
didos em partes iguais, se for mais do que um. O montante atribuído ao
ex-cônjuge não pode exceder o que recebia como pensão de alimentos;
— descendentes: 20%, sendo um; 30%, se a pensão for repartida por dois;
40% divididos em partes iguais, se forem três ou mais. Estas percentagens
duplicam, caso não haja cônjuge ou ex-cônjuge com direito à pensão;
83
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
— ascendentes: 30%, para um; 50%, para dois; 80%, para três ou mais.
Só recebem se não existirem cônjuge nem descendentes com direito à
pensão.
Morte presumida
A pensão também é atribuída se a pessoa desaparecer em situação de guerra,
calamidade pública, sinistro ou outra semelhante, em condições que permi-
tam pressupor que terá morrido. Nesse caso, é necessário apresentar um
documento que declare o desaparecimento e a suposição de que ocorreu a
morte. A declaração é feita sob compromisso de honra e confirmada por duas
testemunhas. Se entender que não dispõe de elementos suficientes, a Segu-
rança Social pode pedir provas adicionais (ver também Ausência e morte pre-
sumida, na página 60).
84
PARTE 2 • CAPÍTULO 2. SEGURANÇA SOCIAL E OUTRAS PROTEÇÕES
A
Pensão de viuvez
É concedida ao viúvo ou a quem vivia em união de facto com o beneficiário
da pensão social (atribuída por invalidez ou velhice) que não tenha direito a
outra pensão nem disponha de rendimentos mensais ilíquidos superiores a
40% do IAS. O montante é de 60% da pensão social fixada anualmente pelo
Estado. Deve ser requerida nos serviços da Segurança Social, no prazo de seis
meses após o do falecimento. Decorrido este prazo, é paga a partir do mês
seguinte ao do pedido.
Pensão de orfandade
Podem usufruir desta pensão os órfãos de pessoas não abrangidas por um
regime de Segurança Social, até atingirem a maioridade ou a emancipação
pelo casamento. Mas têm de preencher ainda um dos seguintes requisitos:
85
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Função pública
As prestações por morte, caso o falecido fosse agente ou funcionário da Admi-
nistração Pública, são idênticas às do regime geral da segurança social para
todos aqueles que se reformaram ou viriam a fazê-lo, se não tivessem falecido,
no regime que entrou em vigor no início de 2006. Quanto aos aposentados ao
abrigo do regime que vigorou até final de 2005, que se inscreveram na Caixa
Geral de Aposentações antes de 31 de agosto de 1993, bem como aos que,
estando no ativo, se aposentariam ao abrigo desse regime, há as especificida-
des que contemplamos a seguir.
Pensão de sobrevivência
A atribuição desta pensão requer que o falecido tivesse um mínimo de cinco
anos de inscrição na Caixa Geral de Aposentações (ou três anos, em caso de
incapacidade absoluta e permanente para qualquer trabalho). A contagem
deste período inclui, também, os descontos efetuados para outros sistemas
de previdência que prevejam o pagamento da pensão de sobrevivência. Têm
direito a ela os chamados herdeiros hábeis, ou seja:
— o cônjuge;
— o divorciado ou separado de pessoas e bens, desde que, à data da morte,
tivesse direito a receber pensão de alimentos daquele, fixada ou reconhe-
cida pelo tribunal;
— quem vivesse em união de facto com o falecido (ver caixa União de facto,
na página 141);
86
PARTE 2 • CAPÍTULO 2. SEGURANÇA SOCIAL E OUTRAS PROTEÇÕES
A
Repartir a pensão
Em caso de concorrência entre os herdeiros, a pensão é repartida da seguinte
forma:
— se os herdeiros forem todos do mesmo grupo — apenas filhos, por exem-
plo —, a pensão é repartida em partes iguais;
— se houver filhos e netos, a pensão é repartida pelos filhos. Caso algum já
tenha falecido, os seus filhos (ou seja, os netos) dividem entre si a parte
que lhe cabia;
— se existirem apenas netos, a pensão é dividida em partes iguais pelos pais,
isto é, todos os filhos do falecido. Posteriormente, cada uma destas partes
será subdividida, também em frações iguais, por cada grupo de irmãos
(ou seja, os netos do falecido);
— se existir cônjuge, separado de pessoas e bens, divorciado ou companheiro
de facto a concorrer com filhos, netos ou ambos, a pensão é dividida em
duas partes iguais, uma para o primeiro grupo e a outra para o segundo.
Estas duas frações são partilhadas entre os herdeiros de cada grupo,
de acordo com as regras atrás referidas.
87
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Requerimento e pagamento
A pensão de sobrevivência é requerida, pelos interessados ou seus repre-
sentantes legais, através de formulário próprio, disponível no portal da
Caixa Geral de Aposentações (www.cga.pt/formularios.asp > CGA02 Pres-
tações por morte). Pode assumir os seguintes valores:
— se os anos de descontos e de inscrição na Caixa Geral de Aposentações
coincidirem, ou seja, se, desde a sua inscrição, tiver feito descontos de
forma contínua, a pensão de sobrevivência será igual a metade da pen-
são de aposentação ou de reforma que o falecido recebesse ou a que,
no momento da morte, tivesse direito;
— se os anos referidos na alínea anterior não coincidirem, porque os des-
contos foram feitos de forma intercalada, será igual a metade da pensão
de aposentação ou de reforma que corresponder ao período de descon-
tos, até ao limite de 36 anos;
— se o falecido usufruísse de uma pensão extraordinária de aposentação
ou reforma, o montante a receber equivale a metade do respetivo valor.
A possibilidade de aposentação extraordinária existiu até final de abril
de 2000 e verificava-se quando uma junta médica da Caixa Geral de
Aposentações declarava um trabalhador absoluta e permanentemente
incapaz para o exercício das suas funções, na sequência de acidente de
trabalho ou doença profissional. Também se incluíam os casos em que
o acidente ou a doença resultara de um ato humanitário ou de interesse
público (ver Pensões para casos especiais, na página 96). Apesar de já
não ser possível obter esta pensão, quem a tem continua a recebê-la
até falecer.
Pensão unificada
Na eventualidade de o falecido ter contribuído para o regime geral da
Segurança Social e para o da função pública, há a possibilidade de reque-
rer uma pensão unificada. O montante desta pensão nunca será inferior à
soma de todas as pensões a que o trabalhador teria direito, mas pode até
ser superior.
88
PARTE 2 • CAPÍTULO 2. SEGURANÇA SOCIAL E OUTRAS PROTEÇÕES
A
Repartir o subsídio
O cônjuge ou equivalente e os descendentes têm preferência na atribuição
da prestação face aos restantes parentes. Em caso de concorrência entre o
cônjuge ou o companheiro de facto e os descendentes, o subsídio será divi-
dido em duas partes iguais, cabendo uma ao primeiro e a outra aos segundos.
Havendo mais do que um descendente, será partilhado por estes em partes
iguais. Por exemplo, se existir um cônjuge e dois filhos que reúnam as condi-
ções para a atribuição do subsídio e este for de mil euros, o primeiro recebe
500 euros e os segundos 250 euros cada um.
89
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Requerimento e pagamento
O subsídio por morte é pago de uma só vez e corresponde a três vezes
o valor da pensão mensal ilíquida a que o falecido teria direito, até ao
máximo de três vezes o Indexante dos Apoios Sociais (IAS). Os interessados
têm um ano, a contar da data da morte, para requerer esta prestação junto
da Caixa Geral de Aposentações. Se não existirem pessoas que reúnam as
condições para receber este subsídio (herdeiros legais), quem tiver supor-
tado as despesas com o funeral pode ser reembolsado até ao limite do
subsídio. O interessado deve solicitar esta prestação no prazo de 180 dias,
após o registo do óbito, junto da Caixa Geral de Aposentações.
Subsídio de funeral
Trata-se de uma prestação atribuída de uma só vez, destinada a compensar
quem pagou as despesas do funeral, até a um montante máximo equiva-
lente ao triplo do valor do Indexante dos Apoios Sociais (IAS). É comum ao
regime geral da Segurança Social e à função pública e deve ser requerido
no prazo de 90 dias, a contar do primeiro dia do mês seguinte ao da morte.
90
PARTE 2 • CAPÍTULO 2. SEGURANÇA SOCIAL E OUTRAS PROTEÇÕES
A
Acidentes de trabalho
e doenças profissionais
Os trabalhadores por conta de outrem e os independentes estão obrigados,
por lei, a ter um seguro de acidentes de trabalho. Se, no primeiro caso, é o
empregador a contratar o seguro, tendo como beneficiário o trabalhador,
no segundo, é este quem tem de suportar as despesas com a apólice. Tra-
tando-se de funcionários da Administração Pública, os organismos estatais
normalmente não contratam este seguro, pagando dos seus cofres as despesas
de um eventual acidente.
91
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Quem sofra de doença profissional, ainda que não esteja protegido por um
seguro, também irá obter uma compensação financeira. Quando a doença
acabe por provocar a morte, serão o Departamento de Proteção contra os
Riscos Profissionais ou a Caixa Geral de Aposentações a assumir a responsa-
bilidade. Apesar de o regime também cobrir outras situações, tratando este
livro de sucessões e heranças são referidas apenas as prestações devidas por
morte do trabalhador.
Acidentes de trabalho
A lei diz que o acidente de trabalho é aquele que se verifica no local e durante
o tempo de trabalho, tendo como consequência, direta ou indireta, uma lesão
corporal, uma perturbação funcional (alteração do funcionamento de um
órgão ou faculdade) ou uma doença que reduza a capacidade de trabalho ou
ganho ou provoque a morte. Para este efeito, também é considerado local de
trabalho o lugar onde o trabalhador esteja a prestar teletrabalho, desde que
conste do acordo de teletrabalho. Por tempo de trabalho entende-se, além do
período normal de trabalho, o que o precede, em atos de preparação ou com
ele relacionados, e o que se lhe segue, também em atos com ele relacionados,
e ainda as interrupções normais ou forçosas.
92
PARTE 2 • CAPÍTULO 2. SEGURANÇA SOCIAL E OUTRAS PROTEÇÕES
A
93
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
94
PARTE 2 • CAPÍTULO 2. SEGURANÇA SOCIAL E OUTRAS PROTEÇÕES
A
Trabalhadores independentes
Os trabalhadores independentes têm de efetuar um seguro que lhes garanta,
e aos seus familiares, as prestações por morte devidas a acidente de trabalho,
nas mesmas condições dos trabalhadores por conta de outrem. Só está dis-
pensado deste seguro quem produza apenas para consumo ou utilização do
agregado familiar. Todos os outros trabalhadores, incluindo os independentes
que também exerçam uma atividade por conta de outrem, sujeitam-se a uma
coima entre 50 e 500 euros se não o fizerem.
95
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Doenças profissionais
Reconhece-se que um trabalhador, incluindo os independentes, sofre de
doença profissional quando o diagnóstico aponta para uma causa diretamente
relacionada com a sua atividade profissional. O diagnóstico é efetuado pelo
Departamento de Proteção contra os Riscos Profissionais, a que o próprio
trabalhador pode tomar a iniciativa de dirigir-se.
96
PARTE 2 • CAPÍTULO 2. SEGURANÇA SOCIAL E OUTRAS PROTEÇÕES
A
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TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Quem recebe
Recebem a pensão, pela ordem de preferência indicada, as seguintes pessoas:
— cônjuge, divorciado, separado de pessoas e bens, pessoa que vivesse em
união de facto com o falecido e descendentes (filhos, netos);
— pessoa que tenha criado e sustentado o falecido;
— ascendentes (pais, avós, etc.);
— irmãos.
Para receberem esta pensão, teriam de estar a cargo do falecido à data do
óbito. Essa exigência só não se aplica aos órfãos menores, ascendentes (pais,
avós) do falecido ou quem o tenha criado e sustentado.
Outros requisitos
Há, ainda, outros requisitos a respeitar:
— o cônjuge não separado de pessoas e bens tinha de viver com o falecido;
— os divorciados ou separados de pessoas e bens recebem pensão se, à data
do óbito, recebessem uma pensão de alimentos fixada ou reconhecida pelo
tribunal e não fossem casados nem vivessem em união de facto com outra
pessoa;
— os descendentes devem ter menos de 18 anos; de 21 anos, se estiverem
matriculados no ensino secundário ou equiparado; de 25 anos, se frequen-
tarem o ensino superior ou equivalente. Caso sofram de incapacidade abso-
luta e permanente para o trabalho, não há limite de idade;
— a pessoa que criou o falecido e os ascendentes (pais, avós) têm direito a
partir dos 65 anos, a menos que sofram de incapacidade permanente e
absoluta para o trabalho, caso em que podem ter acesso com idade inferior;
— os irmãos têm acesso com a idade referida para os descendentes e se forem
órfãos de pai e mãe à data do falecimento do titular da pensão.
Qual o valor?
O valor da pensão corresponde a 70% do salário do autor dos atos que a ori-
ginam se for atribuída ao cônjuge, ex-cônjuge, separado de pessoas e bens,
unido de facto ou descendentes. Os restantes beneficiários recebem 50 por
cento. A remuneração a ter em conta é a que recebia quando praticou os atos.
98
PARTE 2 • CAPÍTULO 2. SEGURANÇA SOCIAL E OUTRAS PROTEÇÕES
A
Requerer a pensão
O pedido é dirigido ao presidente do conselho de administração da Caixa
Geral de Aposentações e acompanhado das certidões, atestados ou outros
documentos que provem o direito à pensão.
Qual o valor?
O valor da pensão é igual a 70% do salário do autor dos atos que a originam,
quando o beneficiário for o próprio ou o cônjuge, ex-cônjuge, separado de
pessoas e bens, companheiro de facto ou descendentes. Outros beneficiários
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TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Requerer a pensão
O processo para atribuição da pensão depende de requerimento do interes-
sado, dirigido ao presidente do conselho de administração da Caixa Geral
de Aposentações, ou de uma ordem do Governo. A pensão é concedida por
despacho conjunto do primeiro-ministro e do ministro das Finanças, obtido
parecer favorável da Procuradoria-Geral da República. A pensão é devida a
partir do mês seguinte ao do requerimento ou da ordem do Governo.
100
PARTE 2 • CAPÍTULO 2. SEGURANÇA SOCIAL E OUTRAS PROTEÇÕES
A
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TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Outras proteções
Existem proteções específicas para pessoas ligadas a determinadas atividades,
como é o caso dos estudantes, voluntários, bombeiros voluntários, bolseiros
de investigação científica ou pescadores.
Seguro escolar
É obrigatório para todos os alunos que frequentam o ensino público não
superior, mas não nos estabelecimentos privados, onde, quando existe,
o âmbito do seguro é mais variável. Estão isentos do pagamento os alunos
desde a educação pré-escolar até ao final da escolaridade obrigatória, bem
como os deficientes. Quanto aos alunos do superior, em regra, os estabele-
cimentos de ensino dispõem de seguros próprios.
102
PARTE 2 • CAPÍTULO 2. SEGURANÇA SOCIAL E OUTRAS PROTEÇÕES
A
103
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Voluntários
Os voluntários podem aderir a este regime para obter proteção na velhice,
invalidez ou morte, e ainda em caso de doença profissional, se preencherem
os seguintes requisitos:
— ter idade superior a 18 anos;
— fazer parte de um programa de voluntariado devidamente legalizado;
— não estar abrangido por um regime de proteção social, por exercer em
simultâneo uma atividade profissional, nem estar a receber subsídio de
desemprego;
— não ser pensionista da Segurança Social nem de outro regime de proteção
social.
104
PARTE 2 • CAPÍTULO 2. SEGURANÇA SOCIAL E OUTRAS PROTEÇÕES
A
Bombeiros voluntários
Os bombeiros voluntários que não beneficiem de proteção social, por não
exercerem atividade profissional, podem beneficiar de proteção na velhice,
invalidez, morte e doenças profissionais, através do seguro social voluntário,
se satisfizerem as seguintes condições:
— idade superior a 18 anos;
— exercerem a atividade há, pelo menos, 12 meses, ou estarem integrados
nos quadros de comando;
— não estarem abrangidos por regime de proteção social, pelo facto de exer-
cerem uma atividade profissional, nem numa situação que lhes permita
receber subsídio de desemprego;
— não serem pensionistas da função pública ou de um regime de segurança
social.
Bolseiros de investigação
Os bolseiros de investigação cuja bolsa tenha a duração mínima de seis meses
e não estejam abrangidos por um regime de proteção social podem aderir
ao seguro social voluntário, que lhes garante proteção na invalidez, velhice,
morte, maternidade, paternidade, adoção, doença e doenças profissionais.
105
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Para isso, têm de escolher um de dez escalões, que variam entre 1 IAS e 8 IAS.
A taxa a pagar é de 29,6 por cento. A entidade com a qual o bolseiro colabora
suporta os encargos correspondentes ao primeiro escalão. Se o bolseiro qui-
ser uma proteção maior, terá de suportar o acréscimo das contribuições.
Pescadores
Sem prejuízo de estarem abrangidos por um regime de proteção social,
os pescadores têm direitos específicos. Falecendo um tripulante da embar-
cação durante a viagem, os herdeiros têm direito ao seu salário até ao último
dia do mês em que tiver sucedido o óbito, desde que fosse pago ao mês. Se o
contrato tiver sido efetuado “a partes”, isto é, se ao pescador tiver sido prome-
tida uma parte do resultado da captura, os herdeiros têm direito ao quinhão
relativo a essa viagem. Caso o pescador faleça na tentativa de salvar a embar-
cação, a retribuição será paga por inteiro e pelo tempo que durar a viagem.
As despesas com o funeral correm por conta do armador, tendo este de efe-
tuar a trasladação do corpo para uma localidade portuguesa indicada pelo
cônjuge ou, na falta deste, pelos parentes do pescador ou de quem com ele
vivia. Além do seguro de acidentes de trabalho, o armador terá de contratar
outro que garanta indemnizações por morte ou desaparecimento no mar ou,
ainda, incapacidade absoluta e permanente. A indemnização é paga ao pró-
prio ou, em caso de morte, aos seus herdeiros ou a quem esteja indicado como
beneficiário. O capital seguro mínimo desta apólice é de 49 879,79 euros.
106
A
CAPÍTULO 3
ADMINISTRAÇÃO E
PARTILHA DA HERANÇA
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
O cabeça-de-casal
O cabeça-de-casal é o administrador da herança, embora o seja sobretudo
em relação a um vasto conjunto de obrigações e não tanto de direitos.
As suas atribuições são, de resto, determinantes no processo sucessório.
Além das obrigações junto do Fisco, referidas no capítulo 5 (ver caixa da
página 163), o cabeça-de-casal administra a herança até à conclusão das
partilhas.
108
PARTE 2 • CAPÍTULO 3. ADMINISTRAÇÃO E PARTILHA DA HERANÇA
A
A quem compete?
O cargo de cabeça-de-casal não pode ser exercido, em simultâneo, por mais
do que uma pessoa. Em princípio, compete a uma das seguintes pessoas, por
esta ordem:
— cônjuge não separado de pessoas e bens, se for herdeiro ou tiver meação,
isto é, se o regime de bens em vigor no casamento determinar que cada
cônjuge é proprietário de metade dos bens. Neste caso, a herança é cons-
tituída apenas pela parte do falecido;
— testamenteiro, se tiver sido indicado um e salvo declaração em contrário
do falecido;
— parentes que sejam herdeiros legais, incluindo os adotados (ver Herança
sem testamento, na página 138);
— herdeiros reconhecidos em testamento.
Havendo mais do que um familiar que seja herdeiro legal, será cabeça-de-ca-
sal o que tiver o grau de parentesco mais próximo do falecido. Se existirem
diversos herdeiros do mesmo grau, é dada preferência a quem vivesse com
ele há mais de um ano, contado da data do óbito. Este princípio também é
válido para os herdeiros definidos em testamento. Se, ainda assim, existir
concorrência entre dois ou mais herdeiros, a responsabilidade é atribuída
ao mais velho.
Recusar o cargo
É possível que as pessoas indicadas recusem o cargo, invocando um dos moti-
vos previstos na lei, que são explicados mais à frente. Se todas elas recusa-
rem o cargo ou, por alguma razão, forem destituídas, o cabeça-de-casal é
designado pelo tribunal. Esta designação pode ser solicitada por qualquer
interessado (ver, na página 116, o título O inventário).
109
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Ajudas do cabeça-de-casal
No exercício das suas funções, o cabeça-de-casal pode recorrer a especialistas
ou a conselheiros. Atendendo à complexidade de certas tarefas, é natural que
procure o auxílio de pessoas que dominem determinada área (económica,
jurídica, fiscal, etc.). Por exemplo, se tiver de assegurar a administração de
uma empresa pertencente à herança e não possuir conhecimentos de gestão,
pode procurar um perito nessa área. No entanto, as decisões cabem sempre
ao cabeça-de-casal. Em caso de auxílio por parte de terceiros, será a herança
a suportar os encargos daí decorrentes.
110
PARTE 2 • CAPÍTULO 3. ADMINISTRAÇÃO E PARTILHA DA HERANÇA
A
111
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
112
PARTE 2 • CAPÍTULO 3. ADMINISTRAÇÃO E PARTILHA DA HERANÇA
A
Poderes limitados
O cabeça-de-casal não tem plenos poderes sobre a herança. Fora dos casos
indicados, e sem prejuízo de pedir a entrega dos bens que deva administrar,
os direitos referentes à herança são exercidos em conjunto com todos os her-
deiros. Por exemplo, para a cobrança de dívidas que não estejam em risco de
não serem pagas, mas que os herdeiros entendam que devem ser cobradas
de imediato, terão de ser todos a propor a ação em tribunal. O mesmo se
aplica a atos como a venda de bens da herança ou o pagamento de dívidas
que sobre ela recaiam. Só não será assim se, em testamento, o falecido tiver
atribuído tais direitos ao testamenteiro (coincidindo este com o cabeça-de-ca-
sal), no que se refere ao cumprimento de legados ou outros encargos. Neste
último caso, e dentro dos limites impostos pelo testamento, o cabeça-de-casal
pode vender os bens que sejam necessários à satisfação dos referidos legados
ou encargos.
113
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
114
PARTE 2 • CAPÍTULO 3. ADMINISTRAÇÃO E PARTILHA DA HERANÇA
A
Partilha
A partilha é o ato que permite dividir os bens do falecido pelos beneficiários.
Pode ser efetuada de duas formas:
— através de documento particular autenticado ou de escritura pública, num
notário ou numa conservatória do registo predial (quando há imóveis, por
exemplo), se houver acordo entre os herdeiros quanto a todos os aspetos
da herança (património, distribuição dos bens, dívidas, etc.) e estiverem
reunidos os requisitos legais, ou;
— com recurso ao processo de inventário, requerido em cartório notarial ou
no tribunal (ver título da página seguinte).
Partilha Processo
por acordo de inventário
115
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
O inventário
No que respeita às sucessões, o processo de inventário destina-se a iden-
tificar os bens que compõem a herança e a regular as partilhas, quando
não há acordo entre os interessados, existem dúvidas sobre o deve e o
haver da herança ou, por qualquer razão, se torna necessária a interven-
ção do notário ou do tribunal. Em processos relativamente simples, por
exemplo, para apurar os bens que constituem a herança, pode requerer-
-se o inventário num notário que preste este serviço (veja quais são em
www.inventarios.pt/notarios) ou, em alternativa, no tribunal que abrange
o local do óbito. O processo terá, obrigatoriamente, de decorrer em tri-
bunal, quando:
— for requerido pelo Ministério Público ou este entender que tal é necessário
para assegurar a defesa dos interesses de herdeiros juridicamente incapa-
zes (por exemplo, os menores ou os maiores acompanhados);
— houver interessados diretos na herança que se encontrem ausentes em
parte incerta ou sofram de incapacidade permanente, não podendo, por
isso, fazer valer os seus direitos numa partilha por acordo;
— o inventário surja na sequência de um processo judicial.
116
PARTE 2 • CAPÍTULO 3. ADMINISTRAÇÃO E PARTILHA DA HERANÇA
A
117
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
118
PARTE 2 • CAPÍTULO 3. ADMINISTRAÇÃO E PARTILHA DA HERANÇA
A
119
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
REQUERIMENTO DE INVENTÁRIO
Exmo. Senhor
Lisboa
Juiz do Tribunal Judicial da Comarca de
, contribuinte
ral de Lisboa, da freguesia de Alvalade
João Silva Martins, solteiro, maior, natu 8 ZY4 , válid o até
ão de cidadão 888 888
fiscal n.º 555 555 555, titular do cart 01 Lisbo a, vem requ erer
s, n.º 16, 1350-0
10/05/2027, residente na Rua da Flore interessa dos,
eridos os seguintes
inventário, para o qual devem ser requ
0-555 Lisboa,
ente na Rua Sacadura Cabral, 11, 180
1) Ana Silva Martins, solteira, maior, resid nio da Silva , 6, 5.º esquerdo,
r, residente na Rua Antó
2) Daniel Silva Martins, solteiro maio
2800-555 Amadora,
ntos seguintes:
O que faz nos termos e com os fundame ciado de
eu Luís Silva Martins, no estado de divor
1. No dia 28 de junho de 2023, falec Cast elo Bran co, n.º 35,
ência habitual na Rua Camilo
Maria José Monteiro, com última resid a, tudo conforme
o António, concelho de Lisbo
1350-155 Lisboa, freguesia de Sant o esta a
com o códi go de consulta 888-888-888, send
certidão do assento de óbito
tura da sucessão .
morada a considerar como local da aber
nça deixo u os seus filho s como herdeiros, a saber:
2. O autor da hera e de Maria
abril de 1985, filho de Luís Silva Martins
a) João Silva Martins, nascido a 13 de
José Monteiro; tins e Maria
mbro de 1989, filha de Luís Silva Mar
b) Ana Silva Martins, nascida a 9 de nove
José Monteiro, e tins e Maria
de abril de 2000, filho de Luís Silva Mar
c) Daniel Silva Martins, nascido a 22
José Monteiro, gos de
de assento de nascimento com os códi
Tudo conforme consta das certidões 33, resp etiva men te.
44 e 333 -33 3-3
consulta, 555-555-555, 444-444-4 as funções de cabe ça-de-casal,
, deve rá assu mir
3. O requerente, por ser o filho mais velho
de honra.
juntando-se o respetivo compromisso a vontade.
amento nem outra disposição de últim
4. O autor da sucessão não deixou test a.
tam da relação que se anex
5. Os bens a relacionar são os que cons
itos da hera nça que importe relacionar.
6. Não existem dívidas ou créd ir os seus
aplicável, devem os presentes autos segu
Nestes termos e nos mais de direito
termos.
de honra.
Junta: Relação de bens e compromisso imos). O valor
mil e doze euros e noventa e dois cênt
Valor: 97 012,92 € (noventa e sete ,49) .
subtraído o valor do passivo (585
resulta da soma do ativo (97 598,41)
O Requerente
120 120
PARTE 2 • CAPÍTULO 3. ADMINISTRAÇÃO E PARTILHA DA HERANÇA
A
Verba n.º 2
Automóvel de marca Y, modelo K, com
a matrícula 77-LN-77, adquirido em
no valor de 3000 € (doc. xx – cópia do maio de 2013,
DUA);
TOTAL ATIVO
97 598,41 €
PASSIVO (despesas suportadas pelo
cabeça-de-casal e que constituem um
de 2/3 a favor do cabeça-de-casal) crédito
Verba n.º 1
Imposto único de circulação do veículo
automóvel identificado na verba n.º 2
ano de 2023, no valor de 258,78 € (doc do ativo, relativo ao
y - comprovativo do IUC e respetivo paga
mento);
Verba n.º 2
2.ª Prestação do imposto municipal sobr
e os imóveis identificados na verba n.º
ao ano de 2022, no valor de 326,71 3 do ativo, relativo
€ (doc yy - comprovativo IMI e respetivo
pagamento);
TOTAL PASSIVO
€ 585,49
HONRA
COMPROMISSO DE
e contribuinte
tu ra l de Lis bo a, freguesia de Alvalad
, solteiro, maior, na 888 8888 ZY4, vá
lido até
João Silva Martins ula r do cartão de cidadão ta por
55 5, tit bo a, pres
fiscal n.º 555 555 re s, n.º 16 , 1350-001 Lis
ente na Rua da Flo beça-de-casal no
10/05/2027, resid l ex er cíc io das funções de ca
misso de ho nra do fie ra partilha dos bens
este meio o compro i ins ta urar no (Tr ibunal / Cartório), pa
rio que va
processo de inventá Luís Silva Martins
.
a aber ta po r óbito de seu pai,
da heranç
mbro de 2023
Lisboa, 10 de Nove cida)
(assinatura reconhe
121
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
A relação de bens
A relação de bens para efeitos de inventário é diferente da necessária para
efeitos fiscais. Enquanto esta última obedece a um formulário próprio (ver
página 70), a primeira descreve os bens através de verbas numeradas, pela
ordem seguinte: direitos de crédito (isto é, créditos que o falecido tinha sobre
alguma coisa ou alguém, assim como direitos de autor, ações de indemnização
por perdas e danos a que tivesse direito e que os seus herdeiros possam ins-
taurar, entre outros), dinheiro, moedas estrangeiras, objetos de ouro, prata,
pedras preciosas e afins, outras coisas móveis e bens imóveis (ver exemplo
na página anterior). As dívidas são discriminadas em separado e sujeitas a
numeração própria.
Identificação e valor
A menção dos bens é acompanhada, sempre que possível, dos elementos
necessários à sua identificação e ao apuramento da situação jurídica (uma
eventual penhora ou hipoteca, por exemplo). Tratando-se de bens sujeitos a
registo, como os imóveis e os automóveis, juntam-se as respetivas certidões,
que podem ser obtidas no site da internet das entidades onde estão registados:
o registo predial online, no caso dos imóveis (www.predialonline.pt) e o auto-
móvel online, no caso dos veículos automóveis (www.automovelonline.mj.pt).
Os bens móveis podem ser integrados numa mesma verba, desde que tenham
a mesma finalidade e sejam de pequeno valor (por exemplo, utensílios de
cozinha ou de jardinagem).
Além da descrição dos bens, deve indicar-se o valor que se atribui a cada um.
Tratando-se de prédios inscritos na matriz, considera-se o valor que dela
122
PARTE 2 • CAPÍTULO 3. ADMINISTRAÇÃO E PARTILHA DA HERANÇA
A
Se não tiver acesso a alguns bens (por exemplo, porque a pessoa que os detém
se encontra no estrangeiro), o requerente do inventário deve informar o tribu-
nal ou o notário, por escrito, indicando o nome de quem os tem. Essa pessoa
será notificada para, no prazo estipulado pelo tribunal ou notário, facultar
o acesso a esses bens e fornecer os elementos necessários à sua inclusão na
relação de bens. Se não cumprir esta obrigação, o juiz ou o notário acionam
as medidas devidas, que podem passar pela apreensão dos bens, durante o
tempo necessário, até serem incluídos na relação.
Benfeitorias
As despesas feitas pelo falecido com a conservação ou o melhoramento de
um bem (benfeitorias) de outra pessoa e que pertençam à herança devem ser
descritas, desde que a obra possa ser separada do imóvel. Caso contrário, são
mencionadas como um crédito. Já as que foram efetuadas por um terceiro
num imóvel da herança (por exemplo, por um inquilino numa casa arren-
dada) são descritas como dívidas, se não puderem ser levantadas por quem as
realizou. A única exceção a esta regra são as benfeitorias voluptuárias, ou seja,
as que não são necessárias à conservação do edifício nem lhe acrescentam
valor, servindo apenas para efeitos lúdicos ou para satisfazer o sentido esté-
tico de quem as realiza. Neste caso, não são abrangidas.
Comunicações e reclamações
Apresentada a relação de bens, é comunicado aos interessados que o inven-
tário está a decorrer. São também informados de que podem reclamar o seu
conteúdo, opor-se ao inventário, impugnar a legitimidade dos interessados
convocados ou alegar a existência de outros, bem como a competência do
cabeça-de-casal ou as suas declarações. Podem, por exemplo, indicar os bens
que deveriam ter sido incluídos, requerer a exclusão dos que tenham sido
indevidamente referidos ou invocar imprecisões na descrição do património
que sejam relevantes para a partilha. Para isso, dispõem de 30 dias a contar
da receção da comunicação.
123
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
A conferência de interessados
Resolvidas todas as questões que podem influenciar o processo e determina-
dos os bens a partilhar, o juiz ou o notário marcam um dia para a conferência
de interessados. Esta só pode ser adiada uma vez, se faltar algum dos convo-
cados, e o juiz ou o notário considerarem viável o acordo sobre os bens que
integram cada quinhão com a presença de todos os interessados.
124
PARTE 2 • CAPÍTULO 3. ADMINISTRAÇÃO E PARTILHA DA HERANÇA
A
Para assegurar uma justa repartição dos bens, os interessados podem pedir
uma avaliação das verbas. O pedido é deferido pelo juiz ou pelo notário, que
designa um perito avaliador.
125
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
ADJUDICAÇÃO DE BENS
O pedido de adjudicação consiste na possibilidade de um herdeiro que seja compro-
prietário de um bem indivisível (por exemplo, um terreno que não possa ser loteado)
e que tenha uma quota superior a metade do valor desse bem requerer que as res-
tantes quotas lhe sejam entregues. Mas, para o efeito, essa pessoa tem de ter obtido
a sua quota através de uma forma que seja excluída do inventário. Ou seja, não lhe
pode ter sido atribuída por doação do falecido, por exemplo. Não havendo herdei-
ros legitimários, já é possível que esse direito tenha resultado de uma doação ou de
legado do autor da herança. Da mesma forma, qualquer interessado pode pedir a
adjudicação de bens fungíveis (dinheiro, sobretudo) ou de títulos de crédito (ações,
obrigações), na proporção da sua quota, salvo se a divisão em espécie acarretar pre-
juízos consideráveis. Estes pedidos de adjudicação de bens são feitos na conferência
de interessados, pelo que todos serão ouvidos sobre as questões da indivisibilidade
ou do eventual prejuízo causado pela divisão, além de poderem requerer que se faça
uma avaliação.
Feita a avaliação e terminadas as licitações dos outros bens, o “leilão” dos bens
doados fica sem efeito se vier a verificar-se que o beneficiário não é obrigado a
126
PARTE 2 • CAPÍTULO 3. ADMINISTRAÇÃO E PARTILHA DA HERANÇA
A
Avaliar os legados
Declarando algum interessado que pretende licitar sobre bens legados, o lega-
tário pode opor-se nos termos indicados para a doação. Se o fizer, não existirá
licitação, mas os herdeiros podem requerer a avaliação dos bens legados se
considerarem que foram subavaliados e que tal poderá prejudicá-los. Pelo
contrário, se o legatário não se opuser, os bens são licitados, tendo aquele
direito ao respetivo valor. Tal como na doação, a avaliação pode ser requerida
até terminar o prazo para o exame do processo de partilha.
Avaliar o património
Independentemente do que foi referido para a redução de liberalidades
devido a doações ou legados que prejudiquem o quinhão dos legitimários,
o beneficiário da doação ou o legatário podem requerer a avaliação do patri-
mónio que lhes foi atribuído ou de qualquer outro que ainda não o tenha sido.
Podem fazê-lo, igualmente, em relação a outros bens da herança, quando,
face à avaliação dos bens doados ou legados e às licitações já feitas, se chegue
à conclusão de que terá de haver redução de liberalidades.
127
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Tal como acontece com as doações, o legatário pode escolher, dos bens
legados, os necessários para preencher a sua quota e os encargos do legado,
devolvendo à herança os que excederem o seu quinhão. Sobre estes, pode
ser aberta licitação entre os restantes interessados, não podendo o legatário
participar no processo.
A partilha
Realizada a conferência de interessados, efetuadas as avalia-
ções requeridas e terminadas as licitações, caso tenham lugar,
os interessados e o Ministério Público (quando tenha intervenção principal
no inventário) são ouvidos sobre o mapa da partilha no prazo de 20 dias.
Decorrido esse prazo, o juiz ou o notário determinam como será organizada
a partilha. Devem ser resolvidas todas as questões pendentes com implicações
no mapa de partilha, podendo o juiz ou o notário solicitar as provas que julgue
necessárias (por exemplo, documentos, testemunhas ou peritos).
128
PARTE 2 • CAPÍTULO 3. ADMINISTRAÇÃO E PARTILHA DA HERANÇA
A
Pagamento de tornas
Sempre que haja uma distribuição irregular do património, na qual um dos
herdeiros fique sem os bens que preenchiam integralmente o seu quinhão
(por exemplo, porque outros licitaram mais do que ele), terá de ser compen-
sado através do pagamento de tornas. Esta avaliação é feita na decisão da
partilha. Na prática, o mais beneficiado com bens pode ter de entregar a parte
que exceder o seu quinhão, de modo que o herdeiro prejudicado preencha
a sua quota.
129
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Não sendo reclamado o pagamento das tornas, estas vencem juros legais
desde a data em que a decisão da partilha se tornou definitiva. Os credores
podem registar uma hipoteca sobre os bens imóveis que foram adjudicados
ao devedor ou, quando essa garantia for insuficiente, requerer uma nova
partilha para os bens móveis.
Fim do processo
A partilha constante do mapa e resultante do sorteio é confirmada pelo juiz
ou pelo notário. É a decisão homologatória da partilha, de que é possível recor-
rer para o Tribunal da Relação. Se algum dos interessados quiser receber os
bens antes de terminar o prazo para o recurso (ou seja, antes de a sentença
se tornar definitiva), observa-se o seguinte:
— o registo de transmissão dos bens imóveis é feito a título provisório;
— os títulos de crédito sujeitos a averbamento (alguns tipos de ações ou obri-
gações, por exemplo) são averbados com a indicação de que o interessado
não poderá dispor deles enquanto a sentença não se tornar definitiva;
— quaisquer outros bens só são entregues se o interessado prestar caução,
a qual não pode ser constituída por rendimentos, juros ou dividendos.
130
PARTE 2 • CAPÍTULO 3. ADMINISTRAÇÃO E PARTILHA DA HERANÇA
A
Sendo necessário proceder a nova partilha, por decisão do recurso, por exem-
plo, o cabeça-de-casal fica com a guarda dos bens que deixaram de pertencer
a quem os recebeu. O inventário só é alterado no estritamente necessário para
que a decisão seja cumprida, mantendo-se sempre a avaliação e a descrição,
mesmo que haja substituição completa dos herdeiros.
Imprecisões e omissões
Se, entretanto, se verificar que a partilha tinha imprecisões quanto à des-
crição dos bens ou outras falhas que possam ter induzido as partes em
erro, poderá haver uma emenda, independentemente de a sentença já ser
ou não definitiva. Estando todos de acordo quanto à correção a fazer, esta
pode ser realizada no mesmo processo de inventário. Caso os interessados
não estejam de acordo quanto à alteração, pode ser pedida como recurso
da sentença que homologou a partilha. O recurso deve ser interposto no
prazo de um ano a contar do conhecimento do erro, desde que este seja
posterior à sentença.
Liquidação da herança
Independentemente de a partilha ter sido feita por acordo ou por processo
de inventário, cada herdeiro deve satisfazer eventuais encargos na proporção
da quota que lhe foi atribuída. Contudo, os herdeiros podem acordar que o
pagamento seja feito com dinheiro ou outros bens separados para o efeito
131
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
ou, ainda, que fique a cargo apenas de um ou alguns deles. Mas, se a herança
ainda não tiver sido dividida, todos respondem, coletivamente, pelo paga-
mento dos encargos.
Impugnação da partilha
A partilha pode ser anulada quando algum herdeiro tiver sido ignorado
ou não tiver intervindo no processo e se demonstre que os outros inte-
ressados procederam intencionalmente ou com má-fé, excluindo-o ou
prejudicando-o. Se as razões para a exclusão do herdeiro forem outras ou,
sendo estas, ele preferir que o seu quinhão seja composto em dinheiro,
pode convocar a conferência de interessados para se determinar o valor
a que teria direito. Se houver acordo quanto ao montante, a situação fica
resolvida. Caso contrário, os bens que suscitarem divergências são nova-
mente avaliados, fixando-se, mais tarde, a importância a que o herdeiro
tem direito.
132
PARTE 2 • CAPÍTULO 3. ADMINISTRAÇÃO E PARTILHA DA HERANÇA
A
VENDA DA HERANÇA
•Os bens que compõem a herança podem ser vendidos, total ou parcialmente, antes e
após a partilha. Mas, se for antes, o negócio terá de ser feito por todos os herdeiros,
devendo todos eles participar no ato que o confirma. Por exemplo, se quiserem vender
uma casa, todos devem participar na escritura pública. Mesmo que não se trate de
bens imóveis, o negócio é feito por escrito, embora com menos formalidades.
•Quando é vendida a totalidade da herança, é possível, ainda assim, reservar para si
objetos mais íntimos ou pessoais, tais como os diplomas (certificados), correspondên-
cia e recordações de reduzido valor económico (por exemplo, fotografias).
•O comprador da herança responde por eventuais encargos a que aquela esteja sujeita.
Por exemplo, se tiverem de ser saldadas dívidas com recurso à herança, essa pessoa
terá de fazê-lo ou acordar com o vendedor para que este o faça. No entanto, quem
vende responde solidariamente por esses encargos. Quer isto dizer que, se o compra-
dor não os cumprir, será ele a suportá-los.
•Outra limitação à venda é, tratando-se de um quinhão, o direito de preferência dos
restantes herdeiros. Por isso, o herdeiro que quiser vender tem de comunicar a sua
decisão aos restantes, dispondo estes de dois meses para, também eles, decidirem
se estão ou não interessados. Na falta de comunicação, os herdeiros interessados nos
bens podem recorrer ao tribunal. Se houver mais de dois herdeiros a querer comprar
o quinhão em causa, a distribuição é feita em função da proporção das respetivas
quotas.
133
A
A
CAPÍTULO 4
A HERANÇA
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Legítima
Legal
Legitimária
Convenção
Sucessão Contratual
antenupcial
Através de
testamento
Se o falecido não deixar testamento nem uma convenção antenupcial que contenha disposições por
morte, estaremos perante a sucessão legal. Caso estes documentos existam, as suas disposições só
serão cumpridas se não forem contrárias às regras da sucessão legal.
136
PARTE 2 • CAPÍTULO 4. A HERANÇA
A
A herança deve ainda pagar outras despesas (em regra, através do cabeça-de-
-casal), algumas prioritárias face às anteriores, e por esta ordem:
— funeral ou atos religiosos em intenção do falecido;
— encargos com a testamentaria (ver Testamentaria, na página 34);
137
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Quem herda?
De acordo com a lei portuguesa, o cônjuge, os descendentes e os ascenden-
tes (os herdeiros legitimários) têm prioridade na partilha do património dei-
xado pelo falecido. A parte que lhes cabe está definida por lei e não pode
ser reduzida. Esta parte do património, que o autor da sucessão não pode
atribuir em testamento a outras pessoas, é conhecida por legítima ou quota
indisponível. Por exemplo, mesmo que um indivíduo não queira deixar nada
ao cônjuge, a lei não o permite. Estes herdeiros só deixarão de receber bens
se forem deserdados ou considerados indignos (ver Deserdação e indignidade,
na página 40).
138
PARTE 2 • CAPÍTULO 4. A HERANÇA
A
SIM NÃO
Herdam os herdeiros
Existem herdeiros legítimos, de acordo
legitimários? com as regras
definidas por lei
SIM NÃO
O falecido podia
A quota indisponível dispor livremente de
é respeitada? todos os seus bens
SIM NÃO
As disposições que
O testamento é prejudicarem a
completamente válido quota indisponível
são reduzidas até
que o quinhão de
cada legitimário
seja preenchido ou,
se a redução não
for possível, são
consideradas inválidas
139
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Se, além do cônjuge, existirem até três filhos, a herança é dividida por todos
em partes iguais. Caso os filhos sejam mais de três, o cônjuge terá sempre
direito a um quarto da herança, sendo o restante dividido equitativamente
pela prole. Os descendentes de 2.º grau e seguintes, isto é, netos, bisnetos,
etc., têm direito à parte que caberia ao seu progenitor: é o direito de repre-
sentação, que ocorre quando um herdeiro não quer ou não pode aceitar a
herança (ver caixa da página 149).
Cônjuge e ascendentes
Se não existirem filhos, caso sobrevivam ascendentes do falecido (por exem-
plo, pais e avós), o cônjuge recebe dois terços e o terço que sobra é repartido,
em primeiro lugar, pelos pais do falecido, que recebem partes iguais. Não
existindo pais, herdam os ascendentes de 2.º grau (avós), e a divisão é feita
nos mesmos moldes. Quando algum dos ascendentes não puder ou não qui-
ser aceitar a herança, a sua parte é dividida pelos restantes. Só se estes não
140
PARTE 2 • CAPÍTULO 4. A HERANÇA
A
existirem é que essa parte é entregue ao cônjuge (ver caixa Direito de acrescer,
na página 152).
UNIÃO DE FACTO
•Ao contrário do casamento, a união de facto não permite perspetivas de herança.
De facto, o companheiro sobrevivo pode apenas receber uma pensão de alimentos da
herança e, se residisse no imóvel, com o falecido, há mais de um ano, a transmissão
do arrendamento (ver caixa O que é “viver em economia comum”?, na página 160).
Para obter a pensão de alimentos, deverá provar junto da Segurança Social que vivia
em união de facto e apresentar um requerimento.
•A única forma de garantir que o unido de facto receberá uma parte da herança é o
testamento, mas, ainda assim, com limites. Basta, por exemplo, que o falecido deixe
filhos, pais ou não tenha dissolvido um casamento anterior para que, devido às regras
da sucessão legitimária, não possa dispor livremente da totalidade dos seus bens.
•Se a casa de morada do casal for propriedade apenas do falecido, o companheiro
sobrevivo terá o chamado direito de habitação, pelo prazo de cinco anos ou, em certas
circunstâncias, pelo equivalente à duração da relação, se for mais longa, e preferência
na compra. Esgotado este prazo, tem direito a permanecer no local como inquilino,
exceto se os proprietários denunciarem o contrato por necessitarem do imóvel para
sua habitação. O direito à habitação por parte do unido de facto não se verifica se este
tiver casa própria ou arrendada no concelho onde está localizada a casa ou, tratando-
-se de Lisboa ou Porto, também nos concelhos limítrofes.
•Quanto ao imposto do selo sobre as sucessões, também os unidos de facto estão
isentos caso venham a herdar por testamento.
141
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
LINHA RETA
(ASCENDENTES)
3.o grau
bisavós
2.o grau
avós
1.o grau
pais
Cônjuge
LINHA COLATERAL
2.o grau 3.o grau 4.o grau
irmãos tios e primos,
sobrinhos tios-avós e
sobrinhos-
Falecido -netos
1.o grau
LINHA RETA (DESCENDENTES)
filhos
2.o grau
netos
3.o grau
bisnetos
142
PARTE 2 • CAPÍTULO 4. A HERANÇA
A
O Estado
Quando não existem cônjuge, parentes com direito à herança, tão-pouco um
testamento, será o Estado a receber o património do falecido. Tem os direi-
tos e deveres de qualquer outro herdeiro, embora não tenha de formalizar a
aceitação da herança nem possa recusá-la.
Para calcular o valor dos bens que compõem a quota indisponível ou legítima,
são considerados o património do falecido à data do óbito, os bens eventual-
mente doados, as dívidas e as despesas sujeitas a colação (ver, na página 154,
o título A colação). Vejamos, então, qual é a quota indisponível, em função
dos herdeiros que sobrevivem.
143
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Cônjuge
Quando não existem mais herdeiros legitimários, o cônjuge recebe, pelo
menos, metade dos bens. Mas o direito à herança pressupõe a existência do
casamento à data do óbito ou que os cônjuges não se encontrem separados
de pessoas e bens. Nesse sentido, o cônjuge nada recebe se, no momento da
morte, já tiver sido decretada a separação de pessoas e bens ou o divórcio.
Se, quando ocorre o óbito, houver uma ação em tribunal com vista ao divór-
cio ou à separação de pessoas e bens, os herdeiros podem pedir que siga os
trâmites normais, para efeitos patrimoniais. Decretada a sentença, tem efeitos
retroativos, no que respeita ao património dos cônjuges, desde a data em que
foi proposta a ação de divórcio.
Cônjuge e filhos
Estes herdeiros têm direito, no mínimo, a dois terços dos bens. Se, por exemplo,
o falecido deixar um património de 150 mil euros, repartidos segundo as regras
da sucessão legítima (ver quadro sobre as quotas indisponíveis, na página 25),
pelo menos 100 mil pertencerão a estes herdeiros. Estão incluídos nesta cate-
goria os filhos do casal e todos os que tiverem sido reconhecidos pelo falecido.
Filhos
Se houver apenas um filho, e não existir cônjuge, a sua legítima será de metade
da herança; existindo dois ou mais, recebem, pelo menos, dois terços dos
bens, que dividirão entre eles em partes iguais.
144
PARTE 2 • CAPÍTULO 4. A HERANÇA
A
de António, seu pai. Logo, são os netos deste a herdar os bens que caberiam
ao pai, dividindo-os entre si em partes iguais. Mas os filhos de Carlos nada
recebem, a menos que este repudie a herança.
Cônjuge e ascendentes
Caso existam, simultaneamente, cônjuge e ascendentes (pais, avós), recebem,
no mínimo, dois terços da herança, divididos segundo as regras da sucessão
legítima (ver esquema Quem herda e quanto?, na página seguinte).
Ascendentes
Havendo apenas ascendentes, a parte que lhes cabe é, no mínimo, de metade
ou de um terço da herança, conforme se trate dos pais ou dos avós e seguintes
(bisavós).
145
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
O cônjuge
A herança é O cônjuge
recebe 1/4
repartida em recebe O cônjuge
da herança; A herança é
partes iguais 2/3 da recebe a
o resto é dividida em
entre o herança; os totalidade
dividido partes iguais
cônjuge e os ascendentes da herança
pelos
descendentes recebem 1/3
descendentes
146
PARTE 2 • CAPÍTULO 4. A HERANÇA
A
Há Não há
ascendentes ascendentes
Germanos Unilaterais
Não há
(filhos do (filhos da Há colaterais
Germanos colaterais
mesmo pai mesma até ao
E unilaterais até ao
E da mesma mãe OU do 4.o grau
4.o grau
mãe) mesmo pai)
Cada irmão
A herança é A herança é
germano A herança é
A herança é dividida em dividida em
recebe o dividida em
dividida em partes iguais partes iguais Estado
dobro de partes iguais
partes iguais pelos irmãos pelos irmãos
cada irmão por todos
germanos unilaterais
unilateral
147
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Em caso de repúdio
Por vezes, o herdeiro não quer receber os bens. De resto, em certos casos,
é até aconselhável que o faça: basta que tome conhecimento de que sobre a
herança pendem dívidas superiores ao património que a compõe e que não
exista, no conjunto de bens deixado pelo falecido, nenhum que lhe interesse.
Tal como a aceitação, o repúdio é irrevogável, indivisível e incondicional. Con-
tudo, tem de ser feito por escrito e seguindo as regras aplicadas à alienação
da herança (por exemplo, venda). Por outras palavras, se a herança contiver
bens imóveis ou móveis sujeitos a registo (um automóvel, por exemplo), é repu-
diada por escritura pública ou por documento particular autenticado. Se, pelo
contrário, não existirem estes bens, basta um documento particular com a
menção expressa de que não existem bens imóveis ou móveis sujeitos a registo.
Sendo a partilha feita sem recurso ao processo de inventário, a recusa é dirigida
ao cabeça-de-casal. Na eventualidade de existir inventário, deve ser também
declarada junto do tribunal ou do notário onde o mesmo decorrer. O repúdio
é posteriormente comunicado à Conservatória dos Registos Centrais.
Os legados
Ao longo deste livro, referimo-nos por diversas vezes a herdeiros e legatários e
a heranças e legados. Embora tenham semelhanças, são realidades diferentes,
tal como é explicado no capítulo sobre os testamentos, a partir da página 16.
148
PARTE 2 • CAPÍTULO 4. A HERANÇA
A
Sem prejuízo do que aí é dito, há ainda outros aspetos a considerar num pro-
cesso sucessório. Antes de mais, lembremos que a distinção entre herdeiro
e legatário só faz sentido quando o falecido tiver elaborado um testamento
ou uma convenção antenupcial. De outro modo, estamos perante a sucessão
legal (legítima e/ou legitimária) e, nesse caso, todos os que beneficiarem da
herança são herdeiros.
DIREITO DE REPRESENTAÇÃO
Se um herdeiro ou legatário não quiser ou não puder aceitar os bens que lhe foram
destinados, herdam, no seu lugar, os seus descendentes (filhos, netos). Não existindo
estes, herdam os irmãos do falecido ou, se estes também não quiserem ou não pude-
rem aceitá-la, os respetivos filhos. Trata-se do direito de representação que, embora
com algumas diferenças, pode ser aplicado à sucessão com e sem testamento. Num
caso como noutro, o cônjuge do herdeiro não está abrangido.
•Na sucessão legal (sem testamento), existe sempre o direito de representação, nomea-
damente devido a morte, indignidade, deserdação, ausência em parte incerta ou
repúdio da herança. Em linha reta, beneficia os descendentes dos filhos do falecido;
na linha colateral, contempla os descendentes dos irmãos do falecido. Os descenden-
tes dos restantes colaterais até ao 4.o grau (por exemplo, filhos ou netos dos tios)
já não usufruem deste direito.
•Na sucessão por testamento, têm direito de representação os descendentes do poten-
cial herdeiro que tenha falecido antes do autor do testamento ou da pessoa que repu-
diou os bens. O direito de representação fica sem efeito em caso de nomeação de um
substituto (ver título Substituições de herdeiros, na página 31), bem como em relação
a um eventual fideicomissário ou a um usufruto ou outro direito pessoal.
•Vejamos um exemplo. António e Bernardina têm três filhos: Carlos, Duarte e Ernesto.
Ernesto morreu, deixando dois filhos: Francisco e Guilherme, o último dos quais,
embora já concebido, ainda não tinha nascido. Entretanto, Bernardina veio a falecer
dois anos depois do filho. A sua herança será dividida da seguinte forma:
— António, o marido, recebe um quarto dos bens;
— Carlos e Duarte, os filhos sobrevivos, também têm direito a um quarto cada um;
— Francisco e Guilherme, filhos do falecido Ernesto, recebem o restante quarto, a que
o pai teria direito, repartindo-o equitativamente. Cada um fica, assim, com um
oitavo dos bens da avó.
•Os descendentes representam, pois, os seus progenitores, inclusivamente se tiverem
recusado a herança destes. Outro pormenor importante refletido no exemplo: os nas-
cituros (filhos já concebidos, mas ainda não nascidos) também podem ter direito de
representação e, ainda, receber doações. Não havendo ninguém com direito de repre-
sentação, a quota ou o legado do beneficiário excluído são redistribuídos pelos restan-
tes (ver caixa Direito de acrescer, na página 152).
149
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
O que são?
A atribuição de um bem ou direito específico a uma pessoa, por morte de quem
o detinha, é um legado. Por exemplo, o testamento pode dizer que o quadro X
será entregue à pessoa Y. Em regra, o autor do testamento ou da convenção
define o bem ou o direito que compõe o legado, mas também pode não o fazer,
por exemplo, dando a escolher ao legatário. Por outro lado, os legados podem
ter um encargo associado. Por exemplo, o legatário recebe um imóvel, mas as
rendas recebidas desse imóvel são entregues a outra pessoa.
150
PARTE 2 • CAPÍTULO 4. A HERANÇA
A
totalidade dos seus bens sejam atribuídos a uma pessoa, mas o respetivo
usufruto a outra. Nestes casos, ainda que o direito incida sobre a totali-
dade dos bens da herança, o usufrutuário é considerado um legatário.
E o usufruto, a menos que algo seja estabelecido em contrário, é vitalício.
Já se o beneficiário for uma pessoa coletiva (uma sociedade, uma associa-
ção, etc.), a duração não poderá exceder os 30 anos.
151
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
DIREITO DE ACRESCER
•O direito de acrescer consiste na possibilidade de uma quota recusada (ou não atri-
buída) por um dos herdeiros ser distribuída pelos restantes. No entanto, este direito
só é aplicado se não existir ninguém em condições de exercer o direito de represen-
tação (ver caixa da página 149). Assim, se dois ou mais herdeiros tiverem recebido
partes iguais da herança e um deles não quiser ou não puder (por ter sido considerado
indigno, por exemplo) aceitar o seu quinhão, este último acresce ao dos outros. Se as
partes de cada um forem desiguais, a do que não pôde ou não quis aceitar os bens é
dividida proporcionalmente.
•Na eventualidade de existirem, em simultâneo, herdeiros legais e definidos por testa-
mento, o direito de acrescer é aplicado em separado para cada uma destas categorias
de pessoas. Este direito também é válido entre legatários nomeados em relação ao
mesmo objeto, seja ele um bem, um direito ou outro tipo de valor, e segue as regras
enunciadas para os herdeiros.
•Não será aplicado o direito de acrescer quando o autor do testamento tiver decidido
em sentido contrário: por exemplo, referindo em testamento que, no caso de uma
pessoa recusar ou não poder aceitar determinado bem, este seja entregue a outrem.
Também não existe este direito quando o legado tiver uma natureza puramente pes-
soal (por exemplo, o usufruto de uma casa, mas com a exceção referida a seguir).
Ainda que o usufruto seja uma atribuição de caráter pessoal, é possível que acresça
quando for instituído em favor de duas ou mais pessoas e uma delas não puder ou
não quiser aceitá-lo.
•O beneficiário dos bens acrescidos não pode repudiar separadamente essa parte,
a menos que esteja sujeita a encargos impostos pelo autor do testamento. Neste
caso, a parte repudiada reverte em favor da pessoa que irá beneficiar dos encargos.
Por exemplo, se, para beneficiar de parte do usufruto de um imóvel, o herdeiro tiver
de pagar algo a um terceiro e repudiar essa parte, a mesma reverte em favor do tal
terceiro. Ou seja, pode acontecer passarem a usufruir do imóvel os restantes herdeiros
e uma pessoa desconhecida.
•Os herdeiros ou legatários que beneficiarem de um acréscimo têm os mesmos direitos
e obrigações de quem não pôde ou não quis aceitar os bens, desde que estes não
tenham uma natureza puramente pessoal (por exemplo, o direito a alimentos).
152
PARTE 2 • CAPÍTULO 4. A HERANÇA
A
Qual a validade?
Entre a elaboração do testamento e o cumprimento do legado pode decor-
rer um longo período. Será que deve ser integralmente cumprido ou, pelo
contrário, ajustado face ao tempo decorrido? O que fazer se, por exemplo,
forem realizadas benfeitorias no legado? As respostas a estas questões
dependem do tipo de legado e da vontade de quem o deixou.
153
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Sendo a herança insuficiente para pagar todos os legados, estes são pagos
por rateio, isto é, proporcionalmente ao que caberia a cada beneficiário.
Apenas os legados remuneratórios fogem à regra, por serem considerados
dívidas da herança. Estes legados remuneratórios traduzem-se no paga-
mento de um serviço, por exemplo, e devem ser sempre pagos em pri-
meiro lugar.
A colação
Através da colação, o montante correspondente a doações feitas em vida a
descendentes que sejam herdeiros (e somente a eles) é somado ao quinhão da
pessoa em causa e, se o total prejudicar a quota dos restantes herdeiros legi-
timários, poderá ter de ser reduzido. Presume-se que a intenção do falecido
não era beneficiar uns em detrimento de outros, mas adiantar a transferência
de uma parte dos bens que lhes caberiam após a morte. Estão excluídos da
colação os bens doados aos ascendentes ou ao cônjuge do autor da herança
ou do descendente.
154
PARTE 2 • CAPÍTULO 4. A HERANÇA
A
Dispensa de colação
A colação pode ser dispensada, até pelo próprio doador, no ato da doa-
ção ou posteriormente. De resto, a colação presume-se sempre dispen-
sada nas doações manuais e remuneratórias. As primeiras traduzem-se na
entrega, em mão, do bem que pretende doar-se, sem que haja um docu-
mento escrito a formalizar o ato, ao passo que as segundas correspondem
a um pagamento de serviços prestados ao doador, ainda que não existisse
essa obrigação. Estão também dispensados os bens doados que tenham
desaparecido em vida do proprietário por um motivo que não seja da res-
ponsabilidade do beneficiário. Por exemplo, não será contabilizado um
automóvel oferecido a um filho e que, ainda em vida do pai, tenha sido
roubado e nunca recuperado.
155
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
O valor dos bens doados é o que tiverem à data da morte do doador e não
quando foram atribuídos. Se os bens tiverem desaparecido, em circuns-
tâncias que não admitam a dispensa de colação, é considerado o valor que
teriam caso ainda existissem na abertura da sucessão. Quanto às doações
em dinheiro e aos encargos (por exemplo, rendas), o seu valor deve ser
atualizado, atendendo à inflação desde que foi feita a doação. A avaliação
de outros bens é feita de comum acordo entre os vários herdeiros ou, não
sendo possível, recorrendo a peritos.
156
PARTE 2 • CAPÍTULO 4. A HERANÇA
A
REDUÇÃO DE LIBERALIDADES
•As liberalidades, isto é, as doações ou o património deixado em testamento, quer ocorram
em vida, quer após a morte do proprietário dos bens, e que prejudiquem a quota dos her-
deiros legitimários, dizem-se inoficiosas, podendo ficar sem efeito. Por exemplo, se, ainda
que em vida e há muitos anos, o falecido tivesse feito uma doação que comprometesse a
quota indisponível, pode ser necessário reduzir a primeira para garantir a segunda. Para que
tal aconteça, os herdeiros legitimários ou os seus próprios herdeiros terão de o solicitar ao
tribunal, no prazo de dois anos a contar da aceitação da herança. Excluídas deste âmbito
estão as liberalidades a favor do cônjuge sobrevivo que tenha renunciado à qualidade de
herdeiro, que não são objeto de redução até ao limite da legítima que lhe caberia se não
tivesse renunciado.
•A redução de liberalidades consiste em retirar ao bem o suficiente até que a quota indispo-
nível seja respeitada, se necessário através da devolução total do bem. Primeiro reduzem-se
os valores dos bens deixados em testamento (exceto legados). Se não for suficiente, recor-
re-se aos legados e, se necessário, são reduzidas as doações feitas em vida pelo falecido.
•Bastando a redução dos bens deixados por testamento, deve ser feita proporcionalmente,
tanto no que respeita a deixas com caráter de herança, como a legados. No entanto, se o
autor do testamento tiver determinado que certas disposições têm caráter preferencial,
estas só são reduzidas se as restantes não forem suficientes para perfazer a legítima. As dei-
xas remuneratórias, destinadas a pagar um dado serviço prestado ao autor do testamento,
têm esse caráter de preferência.
•Se for necessário recorrer às doações em vida, começa-se pela última, no todo ou em parte.
Caso seja insuficiente, passa-se à penúltima e assim sucessivamente. Tendo ocorrido diver-
sas doações na mesma altura, a redução é proporcional, salvo se alguma delas for remune-
ratória: esta só será reduzida se as restantes não forem suficientes.
•Quando os bens atribuídos puderem ser divididos (por exemplo, uma coleção de obras de
arte), é-lhes retirada a parte necessária para preencher a quota dos herdeiros legitimários.
Caso contrário, tudo depende do valor da redução: se exceder metade do valor dos bens,
o legitimário recebe-os na íntegra e o legatário ou o beneficiário da doação recebem o resto
em dinheiro; se não exceder, os bens ficam para o legatário ou beneficiário, tendo estes de
compensar o legitimário em dinheiro, através do pagamento de tornas.
•No que respeita aos bens doados que tiverem desaparecido ou sido destruídos, vendidos
ou arrendados, o preenchimento da legítima é efetuado, em dinheiro, pelo beneficiário da
doação (ou pelos seus sucessores, se este já tiver falecido).
A sucessão do arrendamento
Se falecer o senhorio, quem herdar o imóvel arrendado e precisar do imó-
vel para sua habitação ou dos seus filhos pode denunciar de imediato o
157
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
158
PARTE 2 • CAPÍTULO 4. A HERANÇA
A
— filho ou enteado com menos de um ano de idade ou que com ele vivesse
há mais de um ano e seja menor de idade ou, tendo idade inferior a
26 anos, frequente, pelo menos, o 11.º ano;
— filho ou enteado que com ele vivesse há mais de um ano, portador de
deficiência com grau de incapacidade superior a 60%;
— filho ou enteado que com ele vivesse há mais de cinco anos, com 65 anos
de idade ou mais, desde que o rendimento anual bruto corrigido (RABC)
do agregado familiar seja inferior a cinco retribuições mínimas nacio-
nais anuais (RMNA).
Nos contratos com termo certo, caso o inquilino faleça nos seis meses anterio-
res à data da cessação do contrato, a pessoa a quem se transmitiria o contrato
tem o direito de permanecer na casa por período não inferior a seis meses a
contar da data do óbito.
159
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
160
A
CAPÍTULO 5
A FISCALIDADE
NAS SUCESSÕES
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
162
PARTE 2 • CAPÍTULO 5. A FISCALIDADE NAS SUCESSÕES
A
163
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Vejamos, então, quais os bens transmitidos na sucessão por morte (ou por
doação em vida) que estão sujeitos a imposto do selo e terão, obrigatoria-
mente, de ser declarados:
— direito de propriedade ou figuras parcelares desse direito (usufruto, uso
e habitação, direito de superfície...) sobre bens imóveis situados em terri-
tório nacional;
— bens móveis situados em território nacional ou aí registados ou sujeitos a
registo, matrícula ou inscrição (por exemplo, um automóvel registado em
Portugal ou com matrícula nacional, ainda que, no momento da abertura
da herança, estivesse noutro país);
— participações sociais, quando a sociedade em causa tenha a sua sede, dire-
ção efetiva ou estabelecimento em território nacional, desde que o bene-
ficiário também tenha domicílio em Portugal;
— direitos de crédito ou direitos patrimoniais sobre pessoas singulares ou
coletivas quando o devedor tiver residência, sede, direção efetiva ou esta-
belecimento em território nacional e desde que aí tenha domicílio o bene-
ficiário daqueles direitos;
— estabelecimentos comerciais, industriais ou agrícolas;
— direitos de propriedade industrial, direitos de autor e direitos conexos
registados ou sujeitos a registo em território nacional;
— transmissão de bens imóveis com o encargo expresso do pagamento de
dívidas ou de pensões devidas ao próprio herdeiro ou legatário, ou a ter-
ceiro, desde que, quanto ao herdeiro, o seu valor exceda a respetiva quota
nas dívidas;
— valores monetários e criptoativos depositados em instituições com sede,
direção efetiva ou estabelecimento em território nacional. Na ausência de
depósito, estão sujeitos a imposto do selo sempre que o autor da herança
tenha domicílio em Portugal.
164
PARTE 2 • CAPÍTULO 5. A FISCALIDADE NAS SUCESSÕES
A
Bens móveis
O valor dos bens móveis é o seu valor oficial, quando exista, ou o decla-
rado pelo cabeça-de-casal ou pelo beneficiário, consoante o que for maior,
devendo, tanto quanto possível, aproximar-se do valor de mercado. Mas há
exceções a esta regra. É o caso dos automóveis, dos motociclos, das aeronaves
de turismo e dos barcos de recreio.
165
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
166
PARTE 2 • CAPÍTULO 5. A FISCALIDADE NAS SUCESSÕES
A
Obras de arte
— quadros, colagens e peças similares, pinturas e desenhos, inteiramente executa-
dos à mão pelo artista, excluindo os desenhos de arquitetos, engenheiros e outros
desenhos industriais, comerciais, topográficos ou similares, os artigos manufatura-
dos decorados à mão, as telas pintadas para cenários de teatro, fundos de estúdios
ou utilizações análogas;
— gravuras, estampas e litografias originais, até 200 exemplares, inclusive, de uma
ou várias chapas inteiramente executadas à mão pelo artista;
— produções originais de estatuária ou de escultura, em qualquer material, desde
que inteiramente executadas à mão pelo artista; fundições de esculturas de tira-
gem até oito exemplares e controlada pelo artista ou pelos seus herdeiros;
— tapeçarias e têxteis para decoração de paredes, tecidos à mão a partir de desenhos
originais fornecidos por um artista, desde que não tenham sido feitos mais de oito
exemplares de cada;
— exemplares únicos de cerâmica, inteiramente executados à mão pelo artista e por
ele assinados;
— esmaltes sobre cobre, inteiramente executados à mão, até oito exemplares nume-
rados e assinados pelo artista ou pela oficina de arte, excluindo os artigos de biju-
taria, ourivesaria ou joalharia;
— fotografias tiradas pelo artista ou sob o seu controlo, assinadas e numeradas, até
30 exemplares, independentemente do formato ou suporte.
Objetos de coleção
— selos de correio ou fiscais;
— carimbos postais;
— envelopes de 1.o dia;
— blocos postais e análogos, obliterados ou não, mas que não estejam em circulação
nem se destinem a esse efeito;
— coleções e espécimes para coleções de zoologia, botânica, mineralogia ou anato-
mia ou que tenham interesse histórico, arqueológico, paleontológico, etnográfico
ou numismático.
Antiguidades
Os bens, excluindo os objetos de arte e os de coleção, com mais de 100 anos.
167
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Criptoativos
O valor tributável dos criptoativos é determinado de acordo com as seguintes
regras e pela ordem indicada:
— pelo preço tabelado oficialmente, se existir;
— pela cotação oficial de compra, quando exista;
— pelo valor declarado pelo cabeça-de-casal ou pelo beneficiário, aproximan-
do-se, tanto quanto possível, do valor de mercado. Caso as Finanças consi-
derem, com fundamento, que há uma divergência entre o valor declarado
e o valor de mercado, podem determinar o valor tributável com base no
valor de mercado.
Valores em espécie
No caso dos valores em espécie (por exemplo, cortiça ou madeira), a equiva-
lência em euros faz-se de acordo com as seguintes regras, e segundo a ordem
indicada, sempre que sejam viáveis:
— pelo preço tabelado oficialmente, se existir;
— pela cotação oficial de compra;
— pelos preços dos bens ou serviços homólogos publicados pelo Instituto
Nacional de Estatística;
— pelo valor do mercado em condições de concorrência;
— por declaração das partes.
Bens imóveis
Para os bens imóveis (casas, terrenos…), será tido em conta o valor patri-
monial tributário constante da matriz, atualizado, se necessário, nos termos
168
PARTE 2 • CAPÍTULO 5. A FISCALIDADE NAS SUCESSÕES
A
169
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
período indivisível de cinco anos, até ao final da duração desses direitos. Porém,
a dedução não pode exceder a que seria aplicada se o direito fosse vitalício.
Por exemplo:
170
PARTE 2 • CAPÍTULO 5. A FISCALIDADE NAS SUCESSÕES
A
Quanto é devido?
O apuramento dos impostos a pagar é feito pelo serviço de Finanças. Este
montante irá depender, em parte, da quantidade ou do valor dos bens que não
estão sujeitos a imposto do selo e de quem é herdeiro (ver títulos Quais os bens
sujeitos a imposto?, na página 163 e Quem paga imposto do selo?, na página 162).
171
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Documento de cobrança
O imposto liquidado é cobrado através de um documento próprio, dirigido às
pessoas a quem foram transmitidos os bens ou, caso o imposto seja devido pela
herança, ao autor da mesma, com o aditamento “Cabeça-de-casal da herança
de...”. A herança é ainda identificada pelo número fiscal que lhe foi atribuído.
172
PARTE 2 • CAPÍTULO 5. A FISCALIDADE NAS SUCESSÕES
A
Pagamento em prestações
Quando o imposto ultrapassa os mil euros, é possível dividi-lo em prestações
iguais, no máximo de dez, com o valor mínimo de 200 euros por prestação.
À primeira acrescem as frações resultantes do arredondamento de todas elas,
assim como os juros compensatórios e o IMT que, porventura, tiver de ser
liquidado no processo. Optando-se por esta modalidade, a primeira prestação
vence no segundo mês seguinte ao da notificação e, cada uma das restantes,
seis meses após o vencimento da anterior.
173
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Outros impostos
O Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis (IMT) pode
pesar na fiscalidade das sucessões por morte. Por sua vez, as normas relativas
ao Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) podem ser indispensáveis para a
avaliação dos imóveis da herança. Daí que seja útil conhecer as regras.
174
PARTE 2 • CAPÍTULO 5. A FISCALIDADE NAS SUCESSÕES
A
175
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Caso um herdeiro venda bens da herança, sem que a sua quota-parte seja
conhecida, o IMT é calculado sobre o valor indicado no contrato para os
bens imóveis, procedendo-se à correção necessária quando a quota-parte
for determinada.
O imposto deve ser pago nos 30 dias posteriores à notificação das Finanças.
Se o IMT for liquidado juntamente com o imposto do selo, será o prazo de
pagamento deste imposto que conta.
176
PARTE 2 • CAPÍTULO 5. A FISCALIDADE NAS SUCESSÕES
A
1 2 3 4 5 6 7
2 Valor de construção
É fixado pelo Fisco, tendo em conta o custo médio de construção por m2 e o valor do m2
do terreno, fixado em 25% do custo médio de construção. Em 2023, este valor foi fixado
em 665 euros, mas é natural que, em imóveis que não tenham sofrido atualização do
valor patrimonial, a caderneta predial indique um valor inferior.
3 Área
Soma, com diferentes ponderações, de todas as áreas do imóvel (área bruta privativa e
dependente, áreas de terreno livre e coeficiente de ajustamento de áreas). Inclui terraço,
garagem, arrecadações, estacionamento e terrenos.
4 Coeficiente de afetação
Fim a que se destina o imóvel, como habitação, comércio ou serviços. Por exemplo,
o coeficiente para habitação é 1, enquanto o fixado para o comércio é de 1,20.
5 Coeficiente de localização
Fixado pelo município a cada três anos. Oscila entre 0,35 e 3,5, consoante o valor de
mercado imobiliário da área, e pode diferir de rua para rua.
7 Coeficiente de vetustez
É atribuído de acordo com a idade do imóvel. Por exemplo, um edifício com menos de
dois anos apresenta um coeficiente de 1; outro com mais de 60 anos tem um coeficiente
de 0,40, o que reduz substancialmente o imposto a pagar.
construção, pode ter um impacto contrário. Para fazer as suas contas, no que
respeita aos imóveis destinados a habitação, e verificar se compensa pedir
uma nova avaliação, muna-se de uma caderneta predial atualizada (pode
obtê-la, gratuitamente, através do portal das Finanças) e recorra ao simula-
dor disponibilizado em www.deco.proteste.pt/campanhas/pague-menos-imi.
Verifique o coeficiente de localização em https://zonamentopf.portaldasfinan-
cas.gov.pt/simulador/default.jsp.
177
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Se o imóvel pertencer a uma herança indivisa (ou seja, ainda não foram feitas
as partilhas), preencha os dados do simulador de IMI escolhendo a opção
“único proprietário”. O IMI que cabe a cada herdeiro é determinado pela res-
petiva quota-parte na herança. Tenha em conta que o pedido de atualização
do valor patrimonial, no caso de heranças indivisas, só pode ser efetuado com
o acordo de todos os herdeiros.
IDADE DO IMÓVEL
Anos completos Coeficiente de vetustez
Menos de 2 1
2a8 0,90
9 a 15 0,85
16 a 25 0,80
26 a 40 0,75
41 a 50 0,65
51 a 60 0,55
Mais de 60 0,40
Pedir a avaliação
Chegando à conclusão de que vale realmente a pena pedir uma nova avaliação
do imóvel às Finanças, convém ainda saber que só poderá fazê-lo se tiverem
passado mais de três anos desde a última avaliação fiscal. Em regra, conside-
ra-se como data da última avaliação a data de inscrição na matriz, mencio-
nada na caderneta predial. No entanto, se o imóvel tiver sido reavaliado na
sequência de partilhas por divórcio ou herança, ou ainda devido a doação,
essa é a data a ter em conta. Considere a data indicada em “Entregue em” na
parte relativa aos dados de avaliação da caderneta predial.
O pedido é gratuito e pode ser feito aos balcões dos serviços de Finanças ou
através da internet, no portal das Finanças, em www.portaldasfinancas.gov.pt
> Cidadãos > Serviços > Imposto Municipal sobre imóveis > Modelo 1 > Entregar
Declaração. O preenchimento é algo complexo e requer que o contribuinte
disponha da caderneta predial do imóvel.
178
A
CAPÍTULO 6
OS CRIMES E A MORTE
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
A vida dos seres humanos é protegida pela lei, tendo sido criadas normas
que punem quem contra ela atentar. Da mesma forma, também o desres-
peito pelos mortos ou pela sua imagem é punido por lei. As penas para estes
crimes encontram-se referidas no quadro A cada crime a sua pena, na página
seguinte. Como pode verificar-se no quadro, em função da gravidade de um
ato que provoque a morte, as sanções aplicadas pelos tribunais podem atingir
os 25 anos de prisão, as mais pesadas do nosso ordenamento jurídico-penal.
Mas vejamos os diversos tipos de crimes existentes:
— os públicos, que, pela sua gravidade, exigem sempre a intervenção do
tribunal, independentemente de os familiares da vítima quererem apre-
sentar queixa. A polícia toma conta da ocorrência e o processo segue
o seu curso, eventualmente para tribunal. Os homicídios são exemplo
destes crimes;
— os semipúblicos, em que, para haver intervenção do tribunal, é preciso que
tenha sido apresentada queixa às autoridades policiais ou ao Ministério
Público. As ofensas à integridade física por negligência enquadram-se nesta
categoria de crimes;
— os particulares, que, além da queixa, exigem que se faça uma acusação
escrita. Será o caso de ofensas à memória de uma pessoa falecida. Neste
caso, é necessário recorrer a um advogado.
Homicídio
Para se considerar que existiu homicídio, não é necessário provar-se ter
havido intenção de matar. Basta, por exemplo, que a morte tenha ocorrido
por negligência de alguém. E, apesar de não serem classificados como homi-
cídios, existem outros crimes que podem provocar a morte e, como tal, são
punidos por lei. É o caso das ofensas à integridade física, do abandono em
circunstâncias que impliquem risco de vida ou em que a pessoa não possa
defender-se.
Se o autor do crime for um potencial herdeiro da vítima e o ato tiver sido exe-
cutado intencionalmente, poderá ser considerado indigno e perder o direito
ao seu quinhão (ver Deserdação e indignidade, na página 40). Da mesma
forma, se existir um seguro de vida e o homicida ou cúmplice estiverem indi-
cados na apólice como beneficiários, não receberão a indemnização, a menos
que se trate de um homicídio por negligência.
180
PARTE 2 • CAPÍTULO 6. OS CRIMES E A MORTE
A
compreensível emoção violenta, compaixão, desespero ou por um motivo de relevante valor social ou
moral, que diminua consideravelmente a sua culpa.
(3) Mãe que mata o filho durante ou logo após o parto.
Suicídio
As pessoas que incitarem ou ajudarem alguém a suicidar-se são punidas com
penas de prisão, exceto se tal ajuda ocorrer ao abrigo da Lei da Morte Medica-
mente Assistida (ver título da página 46). O mesmo é válido para quem divul-
gar um produto, objeto ou método, enquanto meio adequado para provocar
a morte por suicídio. Neste caso, a pena de prisão pode ser substituída por
181
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Negligência médica
Os erros cometidos por profissionais de saúde podem ter consequências
trágicas, entre as quais a morte. Se a família entender que houve atuação
negligente ou que a morte decorreu de um erro médico, pode fazer uma parti-
cipação ao Ministério Público ou contactar um advogado e dar entrada a uma
ação no tribunal, para que o médico seja condenado por homicídio ou ofensas
à integridade física e/ou para obter uma indemnização. No entanto, terá de
provar as suas alegações, recorrendo ao parecer de outros profissionais de
saúde, o que nem sempre será fácil de conseguir. Ainda que tenha ocorrido
uma morte, se ficar provado que tudo foi feito para evitá-la, não haverá con-
denação do médico nem direito a indemnização. O prazo para dar entrada à
ação em tribunal é de três anos a contar da morte ou da ocorrência do dano
que esteve na sua origem.
Além das sanções penais, existe a tutela civil da memória do falecido. A lei
protege os indivíduos contra ofensas infundadas ou ameaças de ofensa à sua
personalidade física e moral. Este direito mantém-se após a morte, tendo o
cônjuge e os familiares (descendentes, ascendentes, irmãos, sobrinhos ou
182
PARTE 2 • CAPÍTULO 6. OS CRIMES E A MORTE
A
No que respeita à imagem, o retrato de uma pessoa não pode ser exposto,
reproduzido ou comercializado sem o consentimento dela ou, tendo falecido,
do cônjuge ou dos familiares atrás referidos. O consentimento já não será
necessário quando a publicação for justificável pela notoriedade ou cargos
que o falecido tiver ocupado, bem como em situações de interesse científico,
cultural ou didático ou, ainda, quando a imagem tiver sido captada em locais
ou acontecimentos públicos. Por exemplo, se o falecido tiver participado
numa manifestação, os familiares não podem impedir que uma fotografia
aí tirada seja publicada. No entanto, a imagem não pode ser reproduzida ou
exposta publicamente se daí resultar prejuízo para a honra ou reputação da
pessoa em causa.
183
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Estes três últimos comportamentos são punidos com pena de prisão até dois
anos ou multa até 240 dias. Embora, em termos gerais, a tentativa de executar
um crime só seja punível se, ao ato consumado, corresponder pena de prisão
superior a três anos, neste caso, a mera tentativa é punível com a mesma pena
do ato consumado, com eventuais atenuantes.
184
LEGISLAÇÃO EM VIGOR
A
Legislação em vigor
Encontra aqui referida a legislação mais relevante para os temas tratados neste
livro. Também pode consultar a legislação em vigor no Diário da República
Eletrónico (dre.pt), pesquisando aquilo que lhe interessa. Sempre que estiver
disponível uma versão consolidada, isso significa que o diploma original foi
alterado, pelo que deve consultar esta versão, que engloba todas as atualiza-
ções. No que respeita aos impostos, vá à página da Autoridade Tributária e
Aduaneira, em info.portaldasfinancas.gov.pt > Informação Fiscal > Códigos
Tributários.
Lei da Sucessão
• Código Civil (em especial, os artigos 2024.º a 2334.º) — Sucessões
Fiscalidade
• Decreto-Lei 199/96, de 18 de outubro — Regime de tributação de bens em segunda
mão, objetos de arte, de coleção e antiguidades
185
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
Inventário
• Artigos 1082.º a 1135.º Código do Processo Civil e Lei 117/2019, de 13 de setembro
Registo Civil
• Decreto-Lei 131/95, de 6 de junho, com a última versão dada pela Lei 49/2008,
de 14 de agosto — Código do Registo Civil
• Lei 15/97, de 31 de maio, com a última versão dada pelo Decreto-Lei 101-F/2020,
de 7 de dezembro — Contrato de trabalho nas embarcações de pesca
186
LEGISLAÇÃO EM VIGOR
A
Trabalho
• Decreto-Lei 159/99, de 11 de maio, alterado pelo Decreto-Lei 382-A/99, de
22 de setembro — Acidentes de trabalho para profissionais independentes
Diversos
• Lei 12/93, de 22 de abril, com a última versão dada pela Lei 75-B/2020, de 31 de
dezembro; Decreto-Lei 411/98, de 30 de dezembro, com a última versão dada
pela Lei 14/2016, de 9 de junho — Doação de órgãos
187
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A
• Lei 25/2012, de 16 de julho, com a versão dada pela Lei 35/2023, de 21 de julho;
Portaria 96/2014, de 5 de maio, alterada pela Portaria 141/2018, de 18 de maio;
Portaria 104/2014, de 15 de maio — Diretivas antecipadas de vontade (testamento
vital e nomeação de procurador de cuidados de saúde) e o Registo Nacional do
Testamento Vital (RENTEV)
188
ÍNDICE REMISSIVO
Índice remissivo
A imóveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 164, 168-171
Abono de família . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91 indivisíveis . . . . . . . . . . . . . . . . 126, 127, 128
Aceitação móveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 164, 165-168
da herança . . . . . . . . . 115, 117-118, 145-148 Boletim de óbito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
do legado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 154 Bolsa de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
Acidente Bolseiros de investigação . . . . . . 105-106, 187
de trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . 91-96, 187 Bombeiros voluntários . . . . . . . . . . . . 105, 187
em serviço . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97-99
escolar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102-104 C
Ações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69, 77, 78 Cabeça-de-casal . . . . . . . . . . 66, 108-114, 163
Acompanhante de maior . . . . . . . . . . . . . . 28 Caducidade
Adjudicação de bens . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126 da convenção antenupcial . . . . . . . . . . . 39
Administração da herança . . . . . . 29, 108-114, do testamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163 Casa de morada de família . . . . . . . . . . 117, 141
Administrador legal de bens . . . . . . . . . 21, 28 Cerimónia fúnebre . . . . . . 27, 50-53, 181, 183
Adultério . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 Certidão de óbito . . . . . . . . . . . . . . . . . 58, 63
Aeronaves de turismo . . . . . . . . . . . . . . . . . 165 Certificado
Agências funerárias . . . . . . . . . . . . 52, 62, 188 de óbito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58, 59, 63
Antiguidades . . . . . . . . . . . . . . . . 166, 167, 185 sucessório europeu . . . . . . . . . . . . . . 65, 67
Apadrinhamento civil . . . . . . . . . . . . . . 21, 188 Certificados
Aplicações financeiras . . . . . . . . . . . . . . . 77-79 de Aforro . . . . . . . . . . . . . . . . 58, 69, 77, 78
Arrendamento . . . . . . . . . . . . . . . . 141, 157-160 do Tesouro . . . . . . . . . . . . . . . 58, 69, 77, 78
Arte (ver Obras de arte) Cláusulas condicionais . . . . . . . . . . . . . . 27-30
Automóveis . . . . . . . . . . . . . 122, 165, 166, 185 Colação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 154-157
Autópsia . . . . . . . . . . 51, 52, 53, 59-60, 63-64 Colaterais . . . . . . . . . . . . . . .140, 143, 147, 149
Avaliação dos bens . . . . . 125, 126-128, 165-171 Coleções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 166, 167, 185
Comunhão
B de adquiridos . . . . . . . . . . . . . . 36, 112, 140
Balcão das Heranças . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66 geral de bens . . . . . . . . . . . . . . . 36, 112, 140
Barcos de recreio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165 Comunicação do óbito . . . . . 58, 62-64, 68-74
Beneficiar Condições
herdeiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13, 16 resolutivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
terceiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38-39 suspensivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29, 146
Benefício de inventário . . . . . . 115, 117-118, 145 Conferência de interessados . . . . . . . . 124-128
Benfeitorias . . . . . . . . . . . . . . . . . 123, 153, 156 Conselho de família . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
Bens Contas bancárias . . (ver Depósitos bancários)
deterioráveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112-113 Convenções antenupciais . . . . . . . . 36-39, 143
fungíveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126 Créditos bancários . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75, 76
189
TESTAMENTOS E HERANÇAS
190
ÍNDICE REMISSIVO
191
TESTAMENTOS E HERANÇAS
192
A
www.deco.proteste.pt/guiaspraticos