Testamentos e Herancas

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TESTAMENTOS
E HERANÇAS
Procedimentos, fiscalidade
e segurança social
5.ª edição, revista e atualizada
A

INSTRUÇÕES DE NAVEGAÇÃO

ÍNDICE GERAL

A ÍNDICE REMISSIVO

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ANTERIOR SEGUINTE
A

TESTAMENTOS E HERANÇAS
Procedimentos, fiscalidade e segurança social

Revisão técnica: Sónia Covita


Capa e projeto gráfico: Alexandra Lemos
Paginação: Isabel Espírito Santo
Formato Digital: Paula Sofia Silva e Cláudia Ferreira
Fotografia da capa: iStock
Edição de arte: Nuno Semedo
Revisão de texto: Ana Cristina Câmara
Coordenação editorial e redação: Paula Sofia Silva
Coordenadora dos guias práticos: Filipa Rendo
Diretora e editora de publicações: Cláudia Maia

© 2001-2024 DECOPROTeste, Editores, Lda.


Todos os direitos reservados por:
DECOPROTeste, Editores, Lda.
Avenida Engenheiro Arantes e Oliveira, 13
1900-221 LISBOA Tel. 218 410 800
Correio eletrónico: [email protected]

1.ª edição: julho de 2001


5.ª edição: janeiro de 2024

Depósito legal n.º 520109/23


ISBN 978-989-737-169-1

Impressão: LIGAÇÃO VISUAL


Edifício Ligação Visual
Casais São Martinho
2590-429 SAPATARIA

Esta publicação, no seu todo ou em parte,


não pode ser reproduzida nem transmitida
por qualquer forma ou processo, eletrónico,
mecânico ou fotográfico, incluindo fotocópia
ou gravação, sem autorização prévia
e escrita da editora.
A

TESTAMENTOS
E HERANÇAS
Procedimentos, fiscalidade
e segurança social
A

Prefácio
A morte de uma pessoa tem implicações jurídicas que, em certos casos, são
complexas. Com o presente guia, em edição revista e atualizada, a DECOPROTeste
pretende facilitar o entendimento dos direitos e deveres dos herdeiros e
ajudá-los a enfrentar os desafios burocráticos. A gestão da herança e a sua
partilha muitas vezes suscitam problemas, mas também as questões aparen-
temente mais simples podem levantar dúvidas, até porque são várias as áreas
abrangidas, da fiscalidade e das prestações e subsídios da Segurança Social
aos procedimentos a seguir face à existência de um seguro de vida, de um
crédito à habitação ou de uma aplicação financeira.

Os herdeiros não são os únicos destinatários deste guia, que procura esclarecer,
ainda, quem pretende ter uma palavra a dizer quanto ao destino dos seus bens.
Para estes, a preparação da herança será uma preocupação: como fixar um
legado, beneficiar um herdeiro ou chamar alguém à sucessão, para além dos
herdeiros legitimários? Além das questões patrimoniais, outras há a acautelar.
Por exemplo, algumas pessoas poderão querer efetuar um testamento vital
e/ou nomear um procurador de cuidados de saúde que assegurem, em fim de
vida, o cumprimento da sua vontade no que respeita aos cuidados de saúde
a receber ou a não receber.

O processo sucessório nem sempre é simples. Muitas vezes torna-se necessário,


ou mesmo obrigatório, recorrer a um processo de inventário, cabendo aos
tribunais decidir quanto aos aspetos mais sensíveis. Por outro lado, cada caso é
um caso e, apesar das regras gerais, podem surgir detalhes numa determinada
herança que impliquem esclarecimentos adicionais. Quando a herança tem
um elevado grau de complexidade, é de considerar recorrer a um advogado.
A

Índice

1. As últimas vontades CAPÍTULO 3


Fim de vida e destino dos restos
mortais
CAPÍTULO 1
Preparar a sucessão Diretivas antecipadas de vontade 44
Testamento vital 44
Partilha em vida 12 Procuração de cuidados de saúde 45
Como funciona o RENTEV? 45
Quando não se paga imposto 13
Quem está isento? 14 Morte medicamente assistida 46
Quais os bens isentos? 14
Doação de órgãos 47
Doar ou não 48
CAPÍTULO 2 Contribuir para a evolução
Escolher os herdeiros da medicina 48

O testamento 17 Cerimónia fúnebre 50


Quem pode fazer um testamento 19 Inumação e cremação 51
Quem não pode ser contemplado Quando terá lugar a cerimónia? 52
num testamento 20 Questões religiosas 53
Forma do testamento 22
Conteúdo do testamento 25
Alteração do testamento 33 2. Quando morre
Testamentaria 34 um familiar
Regimes de bens
e convenção antenupcial 36 CAPÍTULO 1
Impedidos de escolher 36 Procedimentos administrativos
Formalidades legais da convenção 37
Limites e possibilidades 37 Formalizar o óbito 59
Beneficiar terceiros 38 Verificação da morte 59
Alterar a convenção 39 Autópsia 59
Quando caducam as convenções? 39 Ausência e morte presumida 60

Deserdação e indignidade 40 Comunicação ao registo civil 62


Deserdação 40 Quem comunica 62
Indignidade 40 Informações necessárias 62
A

Do certificado à certidão de óbito 63 Pensão por méritos excecionais na defesa


Casos especiais 63 da liberdade e da democracia 100
Pensão por condecorações 101
A habilitação de herdeiros 65 Pensão de ex-prisioneiro de guerra 101
Prazo e documentos necessários 65
Certificado sucessório europeu 67 Outras proteções 102
Seguro escolar 102
Comunicação às Finanças 68 Seguro social voluntário 104
Preencher a participação Pescadores 106
de transmissões gratuitas 68
Outros documentos 68
Omissões e irregularidades 73 CAPÍTULO 3
Administração e partilha da herança
Outros procedimentos
e comunicações 74 O cabeça-de-casal 108
Trabalho 74 A quem compete? 109
Créditos bancários 75 A administração dos bens 112
Seguros de vida 76
Aplicações financeiras 77 Partilha 115

O inventário 116
CAPÍTULO 2 Aceitar a herança a benefício
Segurança Social e outras proteções de inventário 117
Intervenção do Ministério Público 118
Regime geral da Segurança Social 82 Requerer ou intervir
Regime contributivo 82 no inventário 118
Regime não contributivo 85 A relação de bens 122
A conferência de interessados 124
Função pública 86 A partilha 128
Pensão de sobrevivência 86 Fim do processo 130
Subsídio por morte 89
Liquidação da herança 131
Subsídio de funeral 90
Impugnação da partilha 132
Acidentes de trabalho
e doenças profissionais 91
Acidentes de trabalho 92 CAPÍTULO 4
Doenças profissionais 96 A herança

Pensões para casos especiais 96 O deve e o haver da herança 137


Pensão de preço de sangue 97
Pensão por serviços excecionais Quem herda? 138
e relevantes prestados ao País 99 Herança sem testamento 138
A

Herança com testamento 143 Quais os bens sujeitos a imposto? 163


Aceitação e repúdio da herança 145
O valor dos bens a declarar 165
Os legados 148 Bens móveis 165
O que são? 150 Bens imóveis 168
O que pode ser legado? 150
Qual a validade? 153 Quanto é devido? 171
Despesas com o cumprimento do legado 153 Liquidação do imposto do selo 172
Aceitação e repúdio do legado 154 Outros impostos 174

A colação 154
Bens sujeitos a colação 155 CAPÍTULO 6
Dispensa de colação 155 Os crimes e a morte
Como é que tudo se processa? 156 Homicídio 180
Suicídio 181
A sucessão do arrendamento 157 Negligência médica 182
Contratos anteriores ao NRAU 158 Ofensas à memória do falecido 182
Contratos celebrados ao abrigo do NRAU 159 Desrespeito pelos mortos 183

CAPÍTULO 5 Legislação em vigor 185


A fiscalidade nas sucessões

Quem paga imposto do selo? 162 Índice remissivo 189


A

PARTE 1

AS ÚLTIMAS VONTADES
A
A

CAPÍTULO 1

PREPARAR A SUCESSÃO
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

Embora a partilha de bens seja mais frequente por morte de quem os deti-
nha, algumas pessoas optam por distribuir o seu património ainda em vida.
Nesse caso, trata-se de doações e não de uma herança, mas, mesmo assim,
existem regras quanto ao que pode ser doado e a quem. Além disso, deter-
minados beneficiários têm de pagar imposto sobre o património recebido.
Mesmo quem não pretenda dividir os bens em vida pode preparar a sua
sucessão. O testamento, de que falamos pormenorizadamente no capítulo
Escolher os herdeiros, a partir da página 17, é uma das possibilidades. Existem
ainda outros fatores a ter em conta e que podem influenciar, por exem-
plo, o imposto a pagar pelos herdeiros. Apesar de dedicarmos particular
atenção à fiscalidade, a preparação da sucessão não se esgota neste tema.
Efetivamente, também existem aspetos de ordem prática a considerar. Por
exemplo, quem não estiver certo de que todos os seus bens são conhecidos
dos potenciais herdeiros tem interesse em discriminá-los num documento,
o qual será de grande utilidade para quem desempenhar a tarefa de cabeça-
-de-casal e tiver de fazer a relação de bens, a entregar no serviço de Finan-
ças. É fundamental que alguém saiba onde encontrar esse documento após
a morte do seu autor.

Neste capítulo, falamos, por um lado, das partilhas em vida e, por outro, das
isenções de imposto pela transmissão de bens, informação dirigida a quem
pretenda reduzir este encargo relativamente aos beneficiários que não estão
isentos.

Partilha em vida
Embora, em princípio, não tenha vantagens fiscais, a partilha em vida é uma
forma de os herdeiros começarem a usufruir da herança mais cedo. Aliás,
nada impede uma pessoa de proceder à divisão do seu património enquanto
é viva, sendo, no entanto, recomendável que tenha o cuidado de guardar a
utilização de certos bens. Por exemplo, é possível doar uma casa reservando
para si o respetivo usufruto vitalício. O beneficiário desta doação já terá a
propriedade da casa, mas só poderá ocupá-la, ou mesmo arrendá-la, quando
o doador falecer.

A partilha em vida é feita através de doações a todas as pessoas que se queira


contemplar. Contudo, tal não pode pôr em causa o direito de determinados
parentes a uma quota mínima da herança: o cônjuge, os descendentes e os

12
PARTE 1 • CAPÍTULO 1. PREPARAR A SUCESSÃO
A

BENEFICIAR UM HERDEIRO
Para quem tem cônjuge, ascendentes ou descendentes, os seguros de vida e a quota
disponível são as únicas possibilidades de atribuir bens a outras pessoas ou beneficiar
algum herdeiro com mais do que aquilo a que tem direito por lei. De facto, as disposi-
ções testamentárias que desrespeitem as quotas mínimas destes herdeiros não serão
aceites. Por outro lado, as doações feitas em vida poderão ter de ser devolvidas se vier
a constatar-se que ultrapassam o valor da quota disponível, que só é possível calcular
com rigor após o óbito do autor da herança. Quanto aos depósitos bancários, em princí-
pio não são opção para beneficiar herdeiros: considera-se que fazem parte da herança
todos aqueles de que o falecido fosse titular ou cotitular com poderes de movimenta-
ção. Se não for o caso, os herdeiros terão de provar que os valores depositados lhes
pertencem (por exemplo, demonstrando que recebiam o salário através dessa conta).
Se considerar a possibilidade de fazer um seguro de vida para beneficiar um herdeiro,
tenha em conta eventuais limites de idade para contratar e beneficiar das garantias
proporcionadas pelo seguro, os quais podem variar de uma seguradora para outra.
Além disso, o montante a pagar pelo seguro aumenta com a idade (ver também o
título Seguros de vida, na página 76).

ascendentes do doador, conhecidos por herdeiros legitimários. Caso contrário,


é aplicada uma norma designada por redução de liberalidades, através da qual
poderá ser necessário devolver bens já atribuídos, ou parte deles, para com-
pletar a quota dos herdeiros legitimários (ver caixa Redução de liberalidades,
na página 157).

Do ponto de vista fiscal, as regras das doações em vida são, em muitos aspetos,
idênticas às das sucessões. Até o impresso é o mesmo. Como tal, se quiser
saber de que modo serão tributados os bens que der ou receber e qual a
forma de liquidação do imposto, nada melhor do que consultar o capítulo
A fiscalidade nas sucessões, a partir da página 162.

Quando não se paga imposto


A transmissão dos bens implica o pagamento de imposto do selo sobre as
sucessões ou doações. Mas existem isenções, dependendo dos beneficiários e
do tipo de património. Assim, o imposto a pagar pelos herdeiros que não são
legitimários é um encargo que o autor da sucessão pode, se assim o entender,

13
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

atenuar em vida: como nem todos os bens estão sujeitos a imposto, basta
aplicar o património disponível em produtos com estas características.

Quem está isento?


O cônjuge, os descendentes (filhos, netos, bisnetos…) e os ascendentes (pais,
avós…), ou seja, os herdeiros legitimários, estão isentos do pagamento de
imposto. Também estão isentas a pessoa que vivesse em união de facto com
o autor da sucessão ou doação (que só é herdeira se tiver sido contemplada
em testamento) e outras entidades identificadas no quadro Quem está isento
de imposto do selo?, na página 162. Os restantes familiares, bem como terceiros
sem relação de parentesco, estão obrigados ao pagamento de imposto.

Quais os bens isentos?


Nem todos os bens ou direitos estão sujeitos a imposto do selo. Isto significa
que o proprietário dos bens pode “compor” a sua herança por forma a tor-
ná-la livre de impostos também para os beneficiários que não estão isentos.
Bastará que a herança seja constituída pelos seguintes bens, produtos finan-
ceiros ou direitos:
— créditos provenientes de seguros de vida;
— valores aplicados em fundos de poupança-reforma ou fundos de pensões;
— bens de uso pessoal ou doméstico (por exemplo, roupa, calçado, joias ou
eletrodomésticos e mobílias).

O imposto do selo também não é aplicável às seguintes transmissões:


— abono de família em dívida à morte do titular;
— pensões e subsídios atribuídos, ainda que a título de subsídio por morte,
por sistemas de Segurança Social;
— transmissões a favor de sujeitos passivos de imposto sobre o rendimento
das pessoas coletivas (IRC), ainda que dele isentas;
— donativos no âmbito da Lei do Mecenato;
— donativos de bens ou valores que não excedam 500 euros.

14
A

CAPÍTULO 2

ESCOLHER
OS HERDEIROS
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

O testamento e a convenção antenupcial, que também tratamos neste


capítulo, são as únicas formas juridicamente aceites para uma pessoa
manifestar a sua vontade quanto à repartição do seu património após a
morte. Qualquer outro documento, como, por exemplo, um contrato,
não terá validade. No entanto, de acordo com a legislação portuguesa,
não é necessário fazer um testamento para se certificar de que os seus
bens serão atribuídos após a sua morte: se este documento não existir,
são atribuídos à família mais próxima (com exceção da pessoa com quem
viva em união de facto, que só será herdeira se for contemplada por tes-
tamento) ou, na pior das hipóteses, revertem a favor do Estado. Verifique
quem são os herdeiros, com e sem testamento, no título Quem herda?,
a partir da página 138.

A parte da herança destinada ao cônjuge, descendentes e ascendentes


está definida por lei. Assim, o testamento é útil, sobretudo, para incluir
disposições não patrimoniais, indicar outros herdeiros além dos contem-
plados na legislação e/ou para beneficiar herdeiros legitimários com mais
bens do que o mínimo a que têm direito, recorrendo, para isso, à quota
disponível. Não existindo testamento, esta quota não é calculada, sendo
a totalidade dos bens distribuída pelos herdeiros legitimários. Por outro
lado, o testamento permite, por exemplo, fixar legados e indicar substi-
tutos para os herdeiros, caso estes não possam ou não queiram aceitar a
herança. Mas existem limites. O autor do testamento não pode estipular
o que bem lhe apetecer. Por exemplo, não pode excluir um herdeiro legi-
timário sem uma razão legalmente aceite (ver Deserdação e indignidade,
na página 40), nem beneficiar outras pessoas ao ponto de prejudicar os
direitos dos seus familiares mais próximos. Aliás, qualquer disposição
do testamento que não respeite a lei ficará sem efeito. Por isso, em casos
muito complexos, é de considerar o recurso a um advogado.

Para que o conteúdo do testamento seja respeitado, é necessário, ainda,


que os herdeiros saibam da existência do documento. Portanto, quem
quiser assegurar que as suas últimas vontades serão executadas deve
comunicar aos parentes mais próximos, ou até a um advogado, se estiver
disposto a pagar os seus honorários, que efetuou um testamento. Se, após
o óbito do autor da herança, tiverem dúvidas sobre a existência de testa-
mento, os herdeiros podem apresentar um pedido de informação junto da
Conservatória dos Registos Centrais, em Lisboa. Este serviço gere o índice
geral de testamentos e, quando exista, informa sobre a data e o cartório
em que o testamento foi realizado (ver também a caixa Como saber se há
testamento?, na página 65).

16
PARTE 1 • CAPÍTULO 2. ESCOLHER OS HERDEIROS
A

O testamento
O testamento é um ato legal através do qual uma pessoa (o testador) define
o destino a dar aos seus bens, no todo ou apenas em parte, após a sua
morte. As disposições do testamento só são executadas após a morte do
seu autor e, por norma, só nessa altura serão conhecidas pelos interessa-
dos. No entanto, também existem testamentos sem disposições relativas
ao património. Por exemplo, é possível fazer um testamento para defi-
nir o tipo de cerimónia fúnebre (veja um exemplo na página 50) ou para
reconhecer alguém como herdeiro (por exemplo, um filho nascido fora
do casamento).

O testamento é um ato individual, não sendo possível, por exemplo, que um


casal faça um testamento em conjunto: cada um terá de fazer o seu. Também
não é possível nomear um procurador ou outro tipo de representante ou refe-
rir no testamento que os herdeiros serão indicados por uma terceira pessoa.
Em suma, o testamento é individual, só permitindo a intervenção de terceiros
em dois casos muito específicos:

HERDEIRO OU LEGATÁRIO?
Herdeiro e legatário, herança e legado: serão coisas distintas? Embora estejam ambas
relacionadas com a divisão de bens após a morte, traduzem, de facto, dois conceitos
diferentes.
•O herdeiro é alguém que recebe os bens do falecido, no todo ou apenas em parte.
O reconhecimento de que uma pessoa é herdeira de outra é feito através de um tes-
tamento ou por via da lei. Num testamento, um herdeiro poderia ser contemplado da
seguinte forma: “Deixo todo o meu património a Baltazar” ou, tratando-se somente
de uma parte, “Deixo um terço do meu património a Baltazar”. Ou seja, não está dis-
criminado o que é deixado. Aquele terço poderá ser composto por dinheiro, direitos,
bens móveis ou imóveis, dependendo do que for decidido na partilha.
•O legatário recebe bens predefinidos. Em regra, o reconhecimento de que alguém
é legatário só pode ser feito por testamento, documento que também indica qual o
bem a receber ou o direito a ser transmitido. Um exemplo de uma disposição desti-
nada a atribuir um legado seria: “Deixo a minha coleção de moedas a Blimunda.”
•É possível um testamento contemplar, em simultâneo, herdeiros e legatários, e um
herdeiro pode ser, ao mesmo tempo, legatário. Porém, em certas circunstâncias,
as regras mudam consoante se trate de um herdeiro ou de um legatário.

17
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

— na repartição da herança, quando tiver sido indicado um grupo gené-


rico de pessoas;
— na nomeação de um legatário (ver caixa Herdeiro ou legatário?, na página
anterior), se este tiver de ser escolhido de entre um grupo de pessoas
indicadas pelo autor do testamento.
Nestes casos, os interessados podem requerer ao tribunal a fixação de um
prazo para a repartição da herança ou a nomeação do legatário. Se não,
no primeiro caso, a divisão pode ser efetuada por alguém indicado pelo
tribunal e, no segundo, por todas as pessoas indicadas pelo autor do
testamento.

O testamento tem de manifestar a vontade do seu autor de forma clara.


Assim, um documento em que o autor não tenha expresso claramente os
seus desejos, limitando-se ao uso de sinais e monossílabos em resposta
a questões que lhe tenham colocado (por exemplo, respostas de “sim”
e “não”), será nulo. Dependendo das suas capacidades de escrita, tam-
bém poderá ser necessário interpretar o conteúdo do testamento. Nesse
sentido, far-se-á o que parecer mais adequado à sua vontade, em função
do contexto do testamento. Em caso de dúvida, há que recorrer a meios
de prova, como, por exemplo, testemunhas. Mesmo assim, o contexto é
determinante, a tal ponto que, ainda que as testemunhas garantam ter
sido uma a vontade do autor, esta não será respeitada se não houver uma
concordância mínima com o conteúdo do testamento.

Como os testamentos têm de ser claros no que se refere aos destinatários


das suas disposições, são nulas todas as cláusulas que se refiram a uma
pessoa incerta e que não possa tornar-se certa. Será o caso, por exemplo,
se forem destinados bens “àquele que vier a ser presidente da empresa X” e,
entretanto, a empresa falir.

E OS HERDEIROS AUSENTES?
A execução das disposições do testamento não depende de os seus beneficiários terem
conhecimento dele. No limite, pode abrir-se uma conta para depositar a parte da
herança que couber a um herdeiro cujo paradeiro não seja conhecido. Mesmo que isso
não tenha sido feito, se, por exemplo, só souber que foi nomeado herdeiro muito depois
da abertura da herança, ainda pode fazer valer os seus direitos. Efetivamente, dispõe
de dez anos, a contar da abertura do processo de reconhecimento dos herdeiros, para
reivindicar a sua parte, através de uma ação em tribunal que reconheça a sua condição
de herdeiro. Pode confirmar se o seu nome constava de um determinado testamento
junto da Conservatória dos Registos Centrais (ver também a caixa Como saber se há
testamento?, na página 65).

18
PARTE 1 • CAPÍTULO 2. ESCOLHER OS HERDEIROS
A

Os testamentos têm de valer por si, embora, em certas circunstâncias, possam


ser complementados. Assim, não terão validade as disposições que dependam
de eventuais instruções transmitidas secretamente a terceiros. Pelo contrário, já
serão válidas as que se reportarem a documentos da autoria do testador, assinados
por ele com data anterior ou igual à do testamento. Mas, na melhor das hipóteses,
estes documentos servem para ajudar a interpretar o conteúdo do testamento,
quando este não for inteiramente claro. Nunca poderão substituir-se-lhe.

No âmbito do regulamento europeu relativo a sucessões transnacionais, um cida-


dão de um Estado-membro que tenha dupla nacionalidade, resida ou tenha bens
noutro Estado-membro, pode escolher, de entre estes, o país cuja lei irá aplicar-se
à sua sucessão. Esta escolha pode ter impacto, por exemplo, na determinação
de quem são os herdeiros e nas respetivas quotas-partes, bem como nos pode-
res do testamenteiro ou de outros administradores da herança. Excluídas estão,
entre outras, as questões fiscais. Esta escolha deve ser feita expressamente, por
exemplo, através de um testamento, e simplifica o processo, uma vez que será
aplicada uma única lei, pela mesma autoridade, evitando assim que as decisões
tomadas num país não possam ser executadas noutro.

Quem pode fazer um testamento


Qualquer pessoa pode fazer um testamento, exceto os menores não eman-
cipados (a emancipação de um menor ocorre com o casamento, possível a
partir dos 16 anos) e os maiores acompanhados que fiquem impedidos de o
fazer (o que nem sempre acontece).

A data do testamento é determinante: por exemplo, se este documento tiver


sido efetuado quando o seu autor tinha 17 anos (sem que fosse emancipado
pelo casamento), será considerado nulo, mesmo que venha a ser aberto aos
50 anos de idade do testador, por morte deste. Ou seja, o testamento realizado
por um menor nunca será válido, independentemente da sua vontade na hora
da morte. Quem não sabe ou não pode ler também está impedido de realizar
um testamento cerrado, de que falaremos a partir da página 22.

E se, quando redigiu o testamento, o testador não se encontrasse na plena


posse das suas capacidades mentais, ainda que se tratasse de um problema
transitório, devido, por exemplo, a uma doença neurológica, embriaguez
ou drogas? Se, durante essa perturbação momentânea, não se apercebeu do
sentido das disposições, o testamento não será automaticamente nulo, mas é
possível anulá-lo. No entanto, quem tiver interesse na anulação terá de provar
esta incapacidade momentânea. O mesmo acontece se houver suspeitas de

19
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

que o testador não fez o documento livremente (por exemplo, sofreu fortes
pressões para incluir uma disposição) ou simulou a intenção de fazer alguém
herdeiro (o testamento foi feito em favor de alguém, mas, na realidade, e com
o acordo dessa pessoa, destina-se a beneficiar outra).

Quem não pode ser contemplado num testamento


Algumas pessoas não podem receber bens do falecido por testamento.
Em regra, se tiverem sido incluídas as pessoas a seguir indicadas, os interes-
sados na sucessão podem pedir a anulação do testamento em tribunal.

Representantes legais
O testamento realizado por um maior acompanhado (veja a caixa da página 28)
em favor do seu acompanhante ou administrador legal de bens será nulo,
exceto se estes forem o cônjuge, descendentes (filhos, netos), ascendentes
(pais, avós) ou colaterais até ao 3.º grau (tios, sobrinhos).

Profissionais de saúde e sacerdotes


São nulas as disposições que beneficiem o médico ou o enfermeiro que cuida-
ram do autor, bem como o sacerdote que lhe tenha prestado apoio espiritual,
quando o testamento tiver sido efetuado durante a doença que antecedeu
o óbito. Só assim não será se tais disposições estiverem relacionadas com
o pagamento dos serviços prestados ao doente e se, por exemplo, o benefi-
ciado for seu ascendente (pai, avô), descendente (filho, neto), colateral até ao
3.º grau (tio, sobrinho) ou cônjuge.

Relações extraconjugais
Será nula qualquer disposição com que o autor, sendo casado, queira bene-
ficiar alguém com quem cometeu adultério. Isso só não acontece se, à data
de abertura do testamento, o casamento já tiver sido dissolvido, os cônjuges
se encontrarem separados de pessoas e bens ou separados de facto há mais
de seis anos. No entanto, a lei admite que essa pessoa receba uma pensão de
alimentos, isto é, um rendimento indispensável ao seu sustento (alimentação,
vestuário, habitação, etc.). O valor da pensão deve ser definido em função das
possibilidades financeiras da herança e das necessidades de quem a recebe.

20
PARTE 1 • CAPÍTULO 2. ESCOLHER OS HERDEIROS
A

Intervenientes no testamento
Igualmente nulas serão as disposições a favor do notário (ou equivalente)
que lavrar o testamento público ou aprovar o testamento cerrado, da pes-
soa que tiver escrito este último a pedido do autor ou das testemunhas e
outras pessoas que nele tenham participado. Os cônjuges ou potenciais
herdeiros de todas estas pessoas também estão excluídos, assim como
terceiros com quem tenham sido feitos acordos para ultrapassar esta
limitação.

Se o autor do testamento não puder ou não souber escrever, necessitando


da ajuda de um terceiro, convém que essa pessoa não seja alguém que ele
queira beneficiar com bens através do testamento. Caso contrário, perderá
o direito ao património.

Apadrinhamento civil
O vínculo de apadrinhamento civil (não confundir com o de batismo) impede
a celebração do casamento entre padrinhos e afilhados, mas tal impedimento
pode ser ultrapassado se o conservador do registo civil considerar que há fun-
damentos para isso. Caso o casamento se concretize, impossibilita o padrinho
ou a madrinha de receber do cônjuge afilhado qualquer benefício por doação
ou testamento. Já o inverso não se verifica, pelo que os afilhados continuam
a poder receber dos padrinhos.

Erro, dolo e coação


São anuláveis as disposições elaboradas com base num erro ou que sejam
fruto de dolo ou coação. No entanto, quanto aos motivos que levaram o autor
a incluir determinada disposição no testamento, os erros só dão origem a
uma anulação quando se prove que ele nunca teria contemplado tal cláusula
se soubesse a verdade. Imagine-se um testamento com a seguinte disposição:
“Deixo a minha coleção de moedas ao António, por ter sido ele quem salvou a vida
dos meus filhos.” Se vier a descobrir-se que tal pessoa não esteve envolvida no
salvamento dos filhos, essa disposição será anulável, com base em erro sobre
os motivos.

Caso o erro esteja relacionado com a indicação de pessoas ou bens no testa-


mento, mas seja possível identificar quem eram e quais os bens que o autor
tinha em mente, a disposição poderá manter-se para essas pessoas. Quanto
à anulação por dolo, acontece quando alguém, com a intenção de obter um

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TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

determinado resultado no testamento, deliberadamente faz algo para alterar


a vontade do autor. No que se refere à coação sobre o autor, pode ser exem-
plificada através de alguém que o ameaçou de fazer ou deixar de fazer algo
se ele não redigisse o testamento de determinada forma.

Forma do testamento
O testamento só é válido se respeitar determinadas formalidades. Por exem-
plo, um testamento verbal não tem validade. Mesmo um documento escrito,
datado e assinado pelo seu autor, pode não ter os efeitos desejados. Ainda
que existam testamentos especiais, sujeitos a regras próprias e destinados a
quem não tem condições para seguir os procedimentos normais (militares em
campanha, pessoas a bordo de um navio ou avião ou perante uma calamidade
pública que impeça o acesso aos notários, por exemplo), por norma, apenas
duas formas são admitidas pela lei: o testamento público e o testamento cerrado
(ver exemplos nas páginas seguintes).

Testamento público
Este tipo de testamento é redigido pelo notário, num livro próprio (o livro de
notas), tendo em atenção as indicações do testador. De seguida, é assinado
por este último, na presença do notário e de duas testemunhas. A expressão
“público” não significa, porém, que o seu conteúdo seja conhecido de toda a
gente. É mantido sigilo até à morte do autor e apenas com a certidão de óbito
o notário revela o conteúdo do testamento.

Testamento cerrado
É escrito e assinado pelo autor ou, quando este não souber ou não puder
escrever, por outra pessoa, a seu pedido. O autor só poderá não assinar o
testamento cerrado quando não souber ou não puder fazê-lo e, mesmo nes-
ses casos, terá de figurar no documento a razão por que não o fez. Quem não
saiba ou não possa ler não pode realizar um testamento cerrado.

Para ser aprovado pelo notário, o testamento cerrado tem de mencionar que:
— o documento reflete as últimas vontades do seu autor;
— o testamento foi escrito e assinado pelo autor ou escrito por outra pes-
soa, a seu pedido, visto ele não o poder fazer, e indicar a causa dessa
impossibilidade;

22
PARTE 1 • CAPÍTULO 2. ESCOLHER OS HERDEIROS
A

TESTAMENTO PÚBLICO

TESTAMENTO
No dia 22 de novemb
ro de 2021, no Ca
Manuel Correia, em rtório Notarial do Dr
Lisboa, perante mim, .
compareceu como respetivo notário,
testador:
– Diogo Mendes Al
buquerque, viúvo, na
de 1946, natural da scido a 24 de janeir
freguesia de São Se o
concelho e cidade de bastião da Pedreira,
Lisboa, filho de José
Albuquerque e de Ma Menezes de
ria Leonor Rosa Me
residência habitua ndes Albuquerque,
l na Avenida dos Co com
Guerra, n.º 12, 1.º mbatentes da Gran
andar, em Évora. de
– Verifiquei a identida
de do testador por
de cidadão n.º 0000 exibição do seu cart
001, válido até 1 de ão
emitido pelos Servi agosto de 2023,
ços de Identificação
Civil de Lisboa.

E DECLAROU:
– Que institui herd
eiro da sua quota dis
Ricardo Dias Farinha ponível o seu amigo
, com residência na ,
n.º 134, 3.º andar, Avenida Almirante
na cidade do Porto. Reis,
– Foram testemun
has Maria da Luz Do
residência habitua mingos da Silveira,
l na Rua Afonso de com
Esq., em Évora, e Jo Albuquerque, n.º 22
sé Carlos Figueiredo 3, 2.º
habitual na Avenida Pereira, com residê
Miguel Bombarda, n.º ncia
Lisboa. 27, 3.º andar, em
– Li este instrumen
to em voz alta ao te
seu conteúdo em vo stador e expliquei-
z alta e na presença lhe o
intervenientes. simultânea de todo
s os

— o testamento não contém palavras emendadas, truncadas, escritas sobre


rasuras ou entrelinhas, borrões ou notas marginais. Se as tiver, deve ser
mencionado que estão devidamente ressalvadas. Todas as folhas, com
exceção da que tem a assinatura, devem ser rubricadas por quem assinou
o testamento.

A data do testamento é, para todos os efeitos legais, aquela em que foi aprovado
pelo notário. Ao contrário do que acontece com o testamento público, este
fica na posse do seu autor, que o guardará onde bem entender: pode mantê-lo

23
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

TESTAMENTOS CERRADOS

freguesia de
es Sousa, natural da
Eu, António Abrant Lisboa, casado com
dreira, concelho de
S. Sebastião da Pe usa e de Maria
tó nia Sa nt os , filho de José Manuel So
Maria An adão com o n.º
, po rt ad or do cartão de cid s de
Júlia Ab ra nt es 2008 pelos Serviço
em 1 de agosto de
1000001, emitido res idência na Aven ida Ge râ nio s, n.º
Lis bo a, co m
Identificação de minhas faculda s de
da r, em Lis bo a, no uso pleno das sições:
12 - 1. º an as seguintes dispo
nt ais , faço o me u testamento com
me
ponível o meu
tit uo he rd eiro da minha quota dis e
– declaro qu e ins na Avenida Almirant
o, An tó nio Fa rin ha, com residência
sobrinh Porto.
andar, na cidade do
Reis, n.º 134, 13.º

mbro de 2009
Lisboa, 21 de deze

António Sousa TESTAMENTO

Eu, abaixo assinada, Maria Isabel Maia


dos Santos, portadora
do cartão de cidadão n.º 9807340,
nascida a 2 de maio de
1945, solteira, médica, residente em
Coimbra, na Rua Dona Inês
de Castro, 220, filha de António Man
uel dos Santos e de Maria
Alzira Maia dos Santos, no uso pleno
das minhas faculdades
mentais, e sem qualquer coação, faço
o meu testamento da
seguinte forma:

Deixo à minha irmã mais velha, Maria do


Rosário Maia dos
Santos, casada, doméstica, residente
em Viseu, na Rua Vasco
da Gama, 23, 4.º andar, o meu prédio,
sito nesta cidade de
Coimbra, na Rua da Glória, n.º 27, desc
rito na Conservatória do
Registo Predial desta cidade sob o n.º
183, freguesia da Sé e
inscrito na respetiva matriz predial urba
na sob o art.º 65;
A Januária Rosado Peres, residente em
Leiria, na Rua Dom
Diniz, n.º 27, deixo a minha biblioteca,
que se encontra na minha
residência nesta cidade, acima indicada;

Deixo o remanescente dos meus bens


à Santa Casa da
Misericórdia de Coimbra, instituição que
nomeio testamenteira.

Coimbra, 29 de janeiro de 2018

Maria Isabel Maia dos Santos

24
PARTE 1 • CAPÍTULO 2. ESCOLHER OS HERDEIROS
A

consigo, confiá-lo a terceiros (por exemplo, a um banco) ou depositá-lo num


cartório notarial. A pessoa que tiver o testamento em seu poder tem três dias,
após tomar conhecimento da morte do autor, para apresentá-lo num notá-
rio, onde será aberto. Não o fazendo, poderá ser responsabilizada por danos
resultantes do seu silêncio e, no caso de ser herdeira, vir a ser considerada
indigna, perdendo, assim, o direito à sua parte na herança (ver Deserdação
e indignidade, na página 40). Se for o próprio autor a guardá-lo e não for
encontrado por terceiros, o testamento cerrado corre o risco de perder-se.

Conteúdo do testamento
Na maioria dos casos, as pessoas fazem um testamento para definir o destino
do seu património. Contudo, este documento pode destinar-se, no todo ou
em parte, a acautelar outras questões ou a estipular condições e regras para
que os herdeiros recebam os bens que lhes estão destinados.

A quota indisponível
Os herdeiros legitimários (cônjuge, descendentes e ascendentes), a menos que
venham a ser deserdados ou considerados indignos, não podem deixar de receber
uma parte dos bens, ainda que não seja essa a vontade do autor. A quota a que têm
direito, conhecida por legítima, encontra-se no quadro que se segue.

PARTE NA HERANÇA
DOS HERDEIROS LEGITIMÁRIOS
Tipo de herdeiro Quota mínima Quota da herança de que
(por ordem da herança o testador pode dispor
de preferência) (“legítima”) livremente
SÓ O CÔNJUGE 1/2 1/2
CÔNJUGE E FILHOS 2/3 1/3
SÓ UM FILHO 1/2 1/2
DOIS OU MAIS FILHOS 2/3 1/3
CÔNJUGE E ASCENDENTES 2/3 1/3
(PAIS, AVÓS)
SÓ PAIS 1/2 1/2
SÓ AVÓS OU BISAVÓS 1/3 2/3
2.o
Os descendentes de grau e seguintes (netos, bisnetos) têm direito à legítima que caberia ao seu ascen-
dente, caso este tenha falecido, não possa ou não queira recebê-la.

25
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

Respeito pela quota dos legitimários


Sempre que haja herdeiros legitimários, o autor do testamento deve respeitar
os limites referidos no quadro da página anterior: as cláusulas que os ultra-
passem podem vir a ser consideradas inválidas. No entanto, o quinhão de
cada legitimário só pode ser calculado com exatidão após a morte do autor do
testamento. É que só nessa altura é possível determinar, por exemplo, o valor
relativo de eventuais doações que tenha feito em vida, bem como a totalidade
das despesas sujeitas a colação (ver A colação, na página 154) e das dívidas
da herança. Assim, o autor do testamento só pode fazer uma estimativa do
que virá a ser o quinhão de cada legitimário. A soma de todos os quinhões
corresponde à quota indisponível, ou seja, a parte da herança de que não
dispõe livremente. O que restar constitui a quota disponível, que pode atribuir
a quem entender, incluindo todos ou alguns dos legitimários. Se não deixar
outras indicações a este respeito, a totalidade dos bens será distribuída pelos
herdeiros legitimários, proporcionalmente ao seu quinhão.

Contra a vontade dos herdeiros?


O testador não pode impor encargos sobre a legítima (por exemplo, decidir
que esta pagará rendas de uma propriedade), nem designar os bens que a
compõem, contra a vontade do herdeiro. O testador não pode, por exem-
plo, pretender que a parte a atribuir aos filhos seja constituída por ações
de uma empresa, a menos que aqueles não se oponham. No entanto, já é
possível que deixe um legado a um herdeiro legitimário em substituição da
legítima. Por exemplo, pode definir que um determinado quadro, de valor
idêntico à legítima, será entregue a um herdeiro legitimário, como substi-
tuição da sua parte na herança. Nestes casos, a aceitação do legado leva à
perda da legítima e vice-versa: a aceitação da legítima implica a perda do
legado. O legado deixado nestas circunstâncias é incluído na quota indis-
ponível, mas, se ultrapassar o valor da legítima, o excesso é integrado na
quota disponível.

Dívidas e questões não patrimoniais


Vejamos, agora, outros tipos de cláusulas que podem integrar o testamento:
— reconhecimento da existência de uma dívida, identificando devidamente
o credor. Por exemplo: “Declaro que devo a Artur Resende, residente em Vila
Franca de Xira, a quantia de 500 euros.” Nesta circunstância, a dívida passa
a ser um encargo da herança e os herdeiros só recebem a sua parte depois
de descontado o montante em falta;
— indicação clara de que pretende revogar-se um testamento anterior;
— perfilhação, deserdação ou reabilitação de alguém que tenha sido conside-
rado indigno (ver Deserdação e indignidade, na página 40);

26
PARTE 1 • CAPÍTULO 2. ESCOLHER OS HERDEIROS
A

— nomeação de um tutor para um filho menor, no caso de os pais virem a fale-


cer ou a serem considerados incapazes (ver caixa Tutores, acompanhantes
e administradores legais de bens, na página seguinte);
— disposições a favor da alma. Por exemplo, destinar determinadas quantias
a instituições religiosas para a celebração de missas em nome do autor do
testamento. Nestes casos, é necessário que o autor do testamento indique
quais os bens a utilizar para o efeito ou que seja possível calcular o respe-
tivo montante;
— decisão sobre o destino dos restos mortais e o tipo de cerimónia fúnebre
(ver o próximo capítulo);
— disposições relativas a legados pios, que têm por objetivo, entre outros, criar,
manter ou desenvolver obras de assistência, educação ou previdência.

Condições para os herdeiros receberem os bens


O testamento pode impor condições para que os herdeiros venham a rece-
ber os bens. De facto, este documento pode conter as chamadas cláusulas
condicionais. A condição estabelecida tem de ser física e legalmente possí-
vel, não podendo ser contrária à lei nem aos bons costumes. Por exemplo,
em princípio, serão consideradas nulas as cláusulas que obriguem o herdeiro
ou legatário a:
— residir ou não em certo local;
— conviver ou não com certa pessoa;
— não fazer um testamento, não doar nem deixar em herança a determinada
pessoa os bens que recebeu ou não os partilhar nem dividir;
— não requerer um inventário;
— assumir um estado eclesiástico ou deixar de fazê-lo;
— seguir uma dada profissão ou deixar de fazê-lo;
— casar ou deixar de casar;
— realizar um testamento em favor do testador ou de outra pessoa por ele
designada.

São válidas as condições que atribuam o usufruto, uso, habitação, pensão ou


outra prestação periódica enquanto durar o estado de solteiro ou viúvo da
pessoa que receber os bens. Ou seja: embora não seja admissível, por exem-
plo, uma cláusula que imponha como condição para herdar uma quinta não
casar, já o será se apenas for deixado o usufruto dessa quinta enquanto tal
não acontecer.

Quando uma disposição é contrária à lei, será válida quanto ao que se deixa,
mas não relativamente à condição. Por outras palavras, a pessoa pode receber
os bens e, por exemplo, casar com quem o autor pretendia afastar.

27
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

TUTORES, ACOMPANHANTES
E ADMINISTRADORES LEGAIS DE BENS
Existem dois tipos de incapacidade jurídica: a dos menores e a dos maiores acom-
panhados a quem foram decretadas medidas de acompanhamento que limitam o
pleno exercício dos seus direitos. Estas incapacidades são automáticas, quando estão
relacionadas com a menoridade, ou resultantes de uma decisão do tribunal, no caso
dos maiores acompanhados. Os menores são, normalmente, representados por um
tutor, e os maiores acompanhados por um acompanhante (escolhido pelo acompa-
nhado ou pelo seu representante legal) designado pelo tribunal. Podem ser designa-
dos vários acompanhantes, com diferentes funções, especificando-se as atribuições
de cada um. O acompanhante fica abrangido pelo regime da tutela quando lhe são
conferidos poderes de representação legal do acompanhado.
•O maior acompanhado é uma pessoa maior de idade que, por razões de saúde, defi-
ciência ou pelo seu comportamento fica impossibilitada de exercer plenamente os
seus direitos e de cumprir os seus deveres. Este estatuto é atribuído pelo tribunal a
pedido do próprio ou, mediante autorização deste, do cônjuge, unido de facto ou
outro parente sucessível (que possa ser herdeiro) da pessoa em causa. Com ou sem
autorização, também o Ministério Público pode fazê-lo. Caso considere existir funda-
mento, o tribunal pode avançar com o processo sem a autorização do maior. As medi-
das de acompanhamento só são decretadas quando não existam, por exemplo, fami-
liares que assegurem a cooperação e a assistência necessárias. O acompanhamento
limita-se ao estritamente necessário para assegurar o bem-estar do acompanhado
e o pleno exercício dos seus direitos e deveres. Estas medidas podem ser revistas ou
levantadas pelo tribunal a qualquer momento.
•Quer o desempenho do tutor (tutela), quer o do acompanhante podem ser vigiados
por um grupo de pessoas a que se chama conselho de família. No que respeita à
tutela, um dos elementos do conselho de família, designado por protutor, tem como
competência fiscalizar a atuação do tutor e, com o consentimento deste, cooperar na
administração dos bens do incapaz, de acordo com o estabelecido pelo conselho de
família. O protutor tem ainda como missão representar o incapaz quando os seus inte-
resses entrem em conflito com os do tutor, a menos que o tribunal tenha designado
outra pessoa para o efeito, e substituir o tutor quando este se encontra impossibili-
tado. Também o acompanhante não pode atuar em conflito de interesse com o acom-
panhado, sob pena de o ato praticado ser anulável. Havendo conflito de interesses,
cabe ao acompanhante requerer ao tribunal autorização para a prática do ato ou as
medidas convenientes, podendo ser nomeado um curador provisório para o efeito.
•O administrador legal de bens surge quando o tribunal entende que a pessoa que
exerce a tutela não deve, em simultâneo, gerir o património do incapaz. A adminis-
tração dos bens pode ser feita por uma ou mais pessoas e, nos casos em que coexistir
com a tutela, deve contar com a participação do conselho de família. O administrador
tem poderes para representar o incapaz em tudo o que se relacionar com o seu patri-
mónio, devendo entregar-lhe as quantias necessárias ao seu sustento.

28
PARTE 1 • CAPÍTULO 2. ESCOLHER OS HERDEIROS
A

As condições resolutivas
Embora com as limitações referidas, são possíveis condições que impo-
nham ao herdeiro ou ao legatário não dar certa coisa ou não praticar
certo ato. E, se o herdeiro ou o legatário não cumprirem essas condições,
em princípio, perdem o direito aos bens. Quando o testamento está sujeito
a este tipo de cláusulas, juridicamente designadas por condições resoluti-
vas, o tribunal pode impor ao herdeiro ou legatário o pagamento de uma
caução, de modo a salvaguardar os direitos de quem receberá os bens
no caso de a condição não ser cumprida. Deste modo, acautela-se, por
exemplo, a eventualidade de o herdeiro ou legatário destruir, vender ou
hipotecar o que recebeu.

As condições suspensivas
Podem ser indicadas no testamento condições suspensivas. Estas estipulam
que o direito à herança ou ao legado depende da ocorrência de determinado
facto. Por exemplo, atribuir-se um bem a uma criança ainda não nascida,
ou nem sequer concebida, ou dizer-se que determinado património só será
entregue se um jovem concluir os seus estudos universitários. Neste caso,
a herança ou o legado são administrados por quem tiver sido indicado pelo
autor do testamento, até que a condição se cumpra ou, pelo contrário, haja a
certeza de que não pode vir a ser respeitada.

Se o autor não tiver indicado um administrador, serão as seguintes pessoas e


por esta ordem a fazê-lo:
— o próprio herdeiro;
— o seu substituto (ver Substituições de herdeiros, na página 31);
— os restantes herdeiros sobre os quais não recaia nenhuma condição,
quando entre eles e o potencial herdeiro exista o direito de acrescer (ver
caixa com o mesmo nome, na página 152).
Na falta destas pessoas, a administração dos bens, até que a condição seja
cumprida, cabe a quem deveria herdá-los no caso de a vontade do autor do
testamento não ser respeitada.

A administração dos bens


Esta administração em caso de condições resolutivas ou suspensivas é bas-
tante limitada, abrangendo apenas atos simples. Por exemplo, se o bem for
uma casa, o administrador deve assegurar a sua conservação e, se estiver
arrendada, receber e depositar as rendas. Não pode, por exemplo, vender o
bem sem o consentimento do tribunal, que só o autorizará se estiver em causa
a ruína ou deterioração do património, for preciso fazer obras ou houver
outra necessidade de caráter urgente. Sempre que o bem gerido estiver em
risco, cabe ao administrador entrar com ações em tribunal para protegê-lo.

29
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

Estas regras também se aplicam à administração de uma herança deixada a


alguém ainda não concebido, desde que os pais sejam vivos no momento da
abertura da sucessão. Se o futuro herdeiro já tiver sido concebido, a adminis-
tração da herança ou do legado compete a quem administraria os seus bens
se ele já tivesse nascido (em princípio, os pais).

A administração não pode prejudicar os poderes do cabeça-de-casal, a pes-


soa que gere a herança enquanto esta não é dividida (ver O cabeça-de-casal,
a partir da página 108). Quando a administração termina por haver a certeza
de que a condição não será cumprida, se não houver substitutos ou herdeiros
com direito de acrescer (ver caixa da página 152), os bens são entregues aos
restantes herdeiros.

Outras condições
O autor do testamento pode impor ao legatário a obrigação de dar preferên-
cia a certa pessoa, por exemplo, na venda do bem legado. Nestes casos, se o
bem for um imóvel, convém registar o conteúdo da disposição que impõe a
preferência na conservatória do registo predial. Outra condição possível é a
fixação de um prazo a partir do qual um bem será entregue ao legatário. Mas,
regra geral, já não será admissível que defina um prazo após o qual o herdeiro
ou legatário deixará de sê-lo.

O reconhecimento de alguém como herdeiro ou legatário pode estar


sujeito a encargos, ou seja, o autor do testamento pode dizer que aqueles
só receberão os bens se cumprirem uma obrigação. Por exemplo, pode
impor a uma câmara municipal a construção de um parque infantil para
que venha a receber um terreno da herança. Mas, se for imposto um
encargo impossível de cumprir, contrário à lei ou à ordem pública ou
ofensivo dos bons costumes, os direitos destes herdeiros ou legatários não
serão prejudicados.

Existindo encargos legítimos, é possível que o tribunal obrigue ao pagamento


de uma caução que garanta o seu cumprimento. Se estes não forem respeita-
dos, qualquer interessado (por exemplo, outro herdeiro ou legatário) pode
começar por exigir que o sejam. No caso de, mesmo assim, não o serem,
pode pedir que a cláusula relativa à atribuição do bem deixe de ter validade
e o beneficiário perca o direito ao património, na eventualidade de ter sido
essa a vontade do autor do testamento ou de ficar provado que, sem o cum-
primento do encargo, a referida cláusula nunca teria sido escrita. Ainda que
a disposição deixe de ser válida, o encargo deve ser cumprido por quem disso
beneficiou (quem ficou com o legado, por exemplo), exceto se o testamento
indicar algo em contrário.

30
PARTE 1 • CAPÍTULO 2. ESCOLHER OS HERDEIROS
A

Substituições de herdeiros
O testador tem liberdade para definir que, em certas circunstâncias, os her-
deiros por si indicados sejam substituídos.

Substituição direta
O autor do testamento pode indicar outras pessoas para substituírem um ou
mais herdeiros, caso estes não possam ou não queiram aceitar a herança.
E, a menos que fique definido algo de diferente, o substituto recebe exata-
mente o mesmo que caberia ao herdeiro.

A substituição também pode acontecer entre herdeiros. Sempre que um


ou mais herdeiros sejam substituídos por outros, se estes tiverem qui-
nhões desiguais, em princípio, é respeitada a mesma proporção na subs-
tituição. Só assim não será se, à substituição, não forem chamados todos
os herdeiros (ou for outra pessoa além deles) e nada se declarar sobre a
proporção. Nestas circunstâncias, a distribuição é feita em partes iguais
pelos substitutos.

Substituição fideicomissária
A substituição fideicomissária ocorre quando o testador impõe ao herdeiro o
encargo de conservar a herança ou o legado, para que, por sua morte, reverta
a favor de outra pessoa. O herdeiro ou legatário que tem por missão conservar
a herança ou o legado é designado por fiduciário; aquele que receberá os bens
é o fideicomissário. A herança é entregue ao fideicomissário após a morte do
fiduciário. Na prática, é como se o autor do testamento tivesse estabelecido
dois herdeiros ou legatários de forma sucessiva, garantindo a conservação do
património ao longo destas transmissões.

O fideicomissário não pode aceitar nem rejeitar a herança, tão-pouco dis-


por dos bens que a integram antes de lhe serem transmitidos. Na realidade,
tem apenas uma expectativa de vir a ser herdeiro. Mas, se vier a recusar os
bens, a substituição fica sem efeito e o património considera-se adquirido
pelo fiduciário na data da morte do autor do testamento. Assim, os seus her-
deiros poderão dispor destes bens livremente. Já o fiduciário pode recusar
a herança. Nestes casos, a menos que o testamento diga algo em contrário,
o fideicomissário herda diretamente, com efeitos desde a morte do testador.

O que pode fazer o fiduciário com a herança que lhe é confiada? Embora possa
usar, fruir e administrá-la, deve fazê-lo com razoabilidade, respeitando o fim a
que se destina. Por exemplo, tratando-se de uma quinta, pode colher a produção
agrícola, arrendar espaços a terceiros e receber os ganhos, em seu proveito ou

31
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

da herança. Mas também deve realizar as obras necessárias à conservação do


edifício e seu recheio. Já não pode, no entanto, vender a quinta ou hipotecá-la,
a menos que o autor do testamento ou o tribunal o autorizem.

O tribunal poderá autorizar a venda ou a hipoteca em caso de evidente necessidade


ou utilidade para os bens. Por exemplo, se for útil vender máquinas velhas ou
desadequadas para determinadas tarefas, bem como um imóvel, para financiar
a recuperação de outros bens mais valiosos. A autorização também é possível em
caso de evidente necessidade ou utilidade para o próprio fiduciário (por exemplo,
por questões de saúde), desde que os interesses do fideicomissário não sejam
prejudicados. Esta evidente necessidade ou utilidade é apreciada, caso a caso,
pelo tribunal.

A substituição fideicomissária pode ter repercussões em diversas áreas. Por


exemplo, se o fiduciário tiver dívidas, embora os credores não possam exigir o
pagamento com os bens que lhe forem entregues, podem fazê-lo no que se refere
aos frutos que deles resultem.

Existem disposições testamentárias que, embora não sejam designadas por subs-
tituições fideicomissárias, apresentam características semelhantes:
— aquelas em que o autor do testamento proíba o herdeiro de dispor dos bens
recebidos. Nestes casos, serão os herdeiros deste último quem virá a dispor
dos bens;
— aquelas em que o testador atribua a um terceiro o que restar da herança, após
a morte de um herdeiro;
— aquelas em que o autor do testamento atribua a um terceiro o que restar dos
bens herdados por uma pessoa coletiva (empresa, associação, etc.) que entre-
tanto seja extinta.
Tudo o que foi dito para a substituição fideicomissária também se aplica a estes
casos, exceto no que se refere às exigências a observar para que possam vender-
-se ou hipotecar-se os bens. A venda, por exemplo, é possível sem o recurso ao
tribunal, desde que o fideicomissário dê o seu consentimento.

Substituição pupilar e quase pupilar


Estamos, desta feita, perante uma substituição relacionada com a incapaci-
dade dos menores e dos maiores acompanhados impedidos de testar. Como
estes não podem fazer o seu próprio testamento, os pais podem designar
substitutos para eles em relação à herança que lhes caberia.

Através da substituição pupilar, os progenitores que não estejam inibidos, total


ou parcialmente, da responsabilidade parental, podem nomear substitutos
para os seus filhos menores, no caso de estes falecerem antes de completarem
18 anos de idade. A substituição ficará sem efeito assim que aqueles atingirem

32
PARTE 1 • CAPÍTULO 2. ESCOLHER OS HERDEIROS
A

a maioridade ou a emancipação pelo casamento, mas também se vierem a falecer


deixando descendentes (filhos) ou ascendentes (pais, avós).

A substituição quase pupilar aplica-se aos filhos incapazes de fazer um testa-


mento devido a uma sentença de acompanhamento (regime do maior acom-
panhado). Nestas situações, a substituição deixará de existir se as medidas
de acompanhamento forem alteradas, por exemplo, devido à recuperação
do filho considerado incapaz, ou se este falecer deixando descendentes ou
ascendentes.

Estas substituições só abrangem os bens atribuídos pelo autor do testamento


à pessoa substituída. Na prática, o que se pretende não é excluir o incapaz da
herança, mas determinar-lhe um herdeiro à partida, através do testamento.
Os potenciais substitutos tornam-se, assim, herdeiros do filho e não dos pais.
Por outras palavras, trata-se de, com recurso ao testamento dos pais, ultrapassar
a impossibilidade de os menores ou outros incapazes de testar efetuarem o seu
próprio testamento.

Alteração do testamento
O autor do testamento pode, a qualquer momento, revogá-lo, ficando este
sem efeito. A lei diz mesmo que não é possível prescindir deste direito, por
exemplo, incluindo uma cláusula nesse sentido no próprio documento.
No entanto, se quiser fazer alterações, por pequenas que sejam, terá de fazer
novo testamento.

Como revogar
A revogação pode ser efetuada expressamente, elaborando um novo testa-
mento em que essa vontade seja manifestada de forma clara, ou por escri-
tura pública, do mesmo modo. Mas também pode ser tácita, o que acontece
quando se opta por fazer um novo testamento, com outra distribuição dos
bens. Contudo, apesar de o testamento mais recente revogar o mais antigo,
se nem todos os bens tiverem sido redistribuídos, só é considerada a parte
modificada e tudo aquilo que não for incompatível com o novo documento
será mantido. Ou seja, é possível que uma pessoa faça vários testamentos e
todos venham a ser executados, pelo menos em parte.

Um testamento que tenha anulado outro também pode ser revogado. E qual-
quer testamento revogado pode voltar a ser válido se, entretanto, o autor

33
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

declarar que é essa a sua vontade. Como é evidente, essa declaração terá de
seguir as formas legais (ver Forma do testamento, na página 22).

Outra forma de revogação, neste caso para o testamento cerrado, que o autor
pode conservar consigo, é a destruição do documento. Porém, não basta ris-
car ou apagar passagens. Se ainda for possível ler o conteúdo, o testamento
não perde validade. No caso de ter sido eliminada apenas uma parte e essa
não ser legível, entende-se que existiu a intenção de revogar apenas as dispo-
sições em causa e não todo o documento. No entanto, já será uma anulação
total se, por exemplo, o testamento aparecer rasgado em pedaços (mesmo
que grandes e o conteúdo seja legível), a menos que se prove que o ato foi
praticado por outra pessoa, que não havia a intenção de revogação ou que
o autor, quando rasgou o documento, estava privado do uso da razão. Se o
testamento não estava na posse do autor à data da sua morte, considera-se
que foi destruído por outra pessoa.

Se existirem legados e o autor do testamento vender ou doar, total ou par-


cialmente, o bem que pretendia atribuir a alguém, também estará a revogar
o legado, mesmo que a venda ou a doação sejam anuladas. Só não será assim
se os interessados provarem que não era intenção do autor efetuar essa venda
ou doação, habilitando-se, assim, a receber os bens de volta.

Quando o testamento caduca


O testamento pode perder validade, no todo ou apenas em parte, sem interven-
ção do seu autor. Isso ocorre nas seguintes situações:
— falecimento do herdeiro ou legatário antes do autor do testamento, a não ser
que exista direito de representação (ver caixa da página 149);
— existência de uma condição suspensiva (ver As condições suspensivas,
na página 29) e o beneficiário dos bens falecer antes de cumpri-la;
— impossibilidade de o herdeiro ou legatário vir a receber os bens em causa;
— divórcio, separação de pessoas e bens ou declaração de nulidade ou anulação
do casamento do autor, independentemente do momento em que a sentença
seja proferida;
— repúdio da herança pelo beneficiário, exceto se existir direito de representação.

Testamentaria
O testamenteiro é alguém indicado pelo autor para executar o testamento
e fiscalizar o cumprimento de eventuais condições por parte dos herdeiros

34
PARTE 1 • CAPÍTULO 2. ESCOLHER OS HERDEIROS
A

ou outros intervenientes. Caso o autor do testamento não tenha indicado


ninguém para o cargo, não é obrigatório nomear uma pessoa: será o cabeça-
-de-casal a garantir o cumprimento das disposições testamentárias.

Quem pode ser testamenteiro


O cargo pode ser atribuído a um ou mais herdeiros ou legatários ou a quais-
quer outras pessoas, havendo a possibilidade de receberem um pagamento,
desde que o autor assim o tenha decidido. Se o testamento indicar um grupo
de pessoas e nada for dito em contrário, considera-se que desempenharão
essa função em conjunto. Mas também pode ser dito, por exemplo, que essas
pessoas são nomeadas sucessivamente, ou seja, cada uma delas só será testa-
menteira se a anterior recusar o cargo.

Independentemente do que for dito no testamento, nem todas as pessoas


podem ser testamenteiras. Estão incluídos neste grupo os menores e os maio-
res acompanhados (veja a caixa da página 28).

Atribuições do testamenteiro
O testamenteiro não pode impor condições para aceitar o cargo nem dizer
que só o fará por um determinado período. Contudo, pode renunciar ao
cargo, o que, formalmente, implica uma declaração nesse sentido perante
o notário. As suas funções são as que o autor do testamento tiver definido.

Se nada tiver sido estabelecido, a lei prevê que o testamenteiro:


— trate do funeral do testador, respeitando eventuais indicações no testa-
mento quanto à cerimónia fúnebre ou, na falta destas, seguindo os usos da
terra em que tal vier a ocorrer. O testamenteiro é responsável pelo paga-
mento das despesas inerentes, com recurso aos bens da herança;
— vigie a execução do testamento e, se necessário, recorra ao tribunal para
que a vontade do autor seja cumprida;
— exerça as funções de cabeça-de-casal (ver título da página 108).
Se o autor assim o entender, o testamenteiro é responsável pelo cumprimento
dos legados e de outros encargos da herança, desde que não seja necessário
recorrer a inventário e seja, simultaneamente, cabeça-de-casal. Para isso,
o autor pode autorizar o testamenteiro a vender quaisquer bens da herança
ou apenas os que tiverem sido designados para esse efeito no testamento.

Depois de aceitar o cargo, o testamenteiro só pode recusá-lo (o que é desig-


nado por escusa do testamenteiro) devido a uma das seguintes situações:

35
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

— ter mais de 70 anos;


— estar impossibilitado, devido a doença, de exercer as funções de forma
conveniente;
— exercer um cargo público que seja incompatível com a função de
testamenteiro.

O testamenteiro tem de prestar contas anualmente, de modo a manter os


interessados a par da sua gestão. No caso de não exercer o cargo de forma
prudente ou de revelar-se incompetente, pode ser destituído pelo tribunal,
a pedido de qualquer interessado. Causando prejuízos aos herdeiros ou lega-
tários, será responsabilizado, podendo ter de compensar os lesados. Se esta
função for desempenhada por um grupo de pessoas e não houver acordo
entre elas sobre o seu exercício, podem ser afastadas todas ou apenas algumas.

Regimes de bens
e convenção antenupcial
O regime de bens é o conjunto de regras que regula as relações patrimoniais
entre os cônjuges ou, ocorrendo a dissolução do casamento, entre estes e
terceiros (por exemplo, um filho anterior de apenas um dos cônjuges). Este
conjunto de regras especifica, entre outros, quais são os bens comuns do casal
e os que pertencem apenas a um dos cônjuges, a forma segundo a qual serão
partilhados em caso de divórcio e quem é responsável pela sua administração.
A lei prevê três regimes: a comunhão de adquiridos, a comunhão geral de bens e
a separação de bens. O casal pode, no entanto, combinar os regimes existentes
ou até criar um conjunto de regras próprio, desde que não seja contrário à
lei. Sempre que o regime escolhido não seja a comunhão de adquiridos, terá
de fazer uma convenção antenupcial. Se esta não for feita, considera-se, por
defeito, que o regime em vigor é o de comunhão de adquiridos.

Impedidos de escolher
Nem sempre é possível escolher o regime de bens. É o que acontece quando
o casamento não for precedido do processo preliminar, cuja função é averi-
guar se existem impedimentos ao matrimónio, ou quando um ou ambos os

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PARTE 1 • CAPÍTULO 2. ESCOLHER OS HERDEIROS
A

noivos já tiverem 60 anos de idade. Nestas circunstâncias, a lei exige que o


casamento seja celebrado ao abrigo do regime de separação de bens. Por
outro lado, não é permitida a comunhão geral de bens quando um ou ambos
os noivos tiverem filhos (exceto se todos os filhos forem comuns), ainda que
maiores ou emancipados.

Formalidades legais da convenção


A convenção antenupcial tem de ser feita antes do casamento, obedecendo
a determinadas formalidades. Por exemplo, só será válida se for efetuada
através de escritura pública ou perante o conservador do registo civil. Além
disso, em certas circunstâncias, terá de ser registada noutras conservatórias.
Caso a convenção abranja uma sociedade, por exemplo, tem de ser registada
na conservatória do registo comercial; se envolver imóveis, deverá sê-lo na
conservatória do registo predial.

Estão legalmente autorizadas a fazer convenções antenupciais todas as


pessoas que possam casar-se. Os menores necessitam de autorização dos
representantes legais (os pais ou um tutor) e, dependendo das medidas de
acompanhamento decretadas pelo tribunal, o mesmo poderá aplicar-se aos
maiores acompanhados, exigindo o acordo expresso do acompanhante.

Limites e possibilidades
Embora haja liberdade para definir o conteúdo de uma convenção antenup-
cial, existem limites:
— a convenção não pode basear-se numa lei estrangeira ou já revogada;
— não é possível alterar direitos ou deveres conjugais ou parentais. Por exem-
plo, não pode ficar estabelecido que, nascendo filhos do casamento, o dever
de alimentos em relação a estes caberá apenas a um dos progenitores;
— as regras relativas à administração dos bens do casal ou aos direitos e deve-
res de apenas um dos cônjuges não podem ser alteradas. Por exemplo, não
pode constar da convenção que cabe ao marido, em exclusivo, administrar
os bens do casal ou que um direito de usufruto que beneficie aquele tam-
bém abrangerá a mulher.

Não é possível utilizar este documento para definir a sucessão e os herdei-


ros entre terceiros. No entanto, são permitidas as cláusulas que prevejam a
substituição do herdeiro (fideicomissárias) ou que os bens sejam devolvidos

37
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

caso aconteça ou não aconteça alguma coisa (de reversão). Podem incluir-se
disposições que, por exemplo, designem um dos cônjuges como herdeiro ou
legatário do outro, em que um terceiro reconheça os noivos como seus herdei-
ros ou legatários ou, ainda, em que um dos noivos indique um terceiro como
seu herdeiro ou legatário. O reconhecimento dos noivos como herdeiros ou
legatários, quer seja um do outro, quer de terceiros, não poderá ser revogado
por uma das partes depois de aceite.

Caso o regime de bens escolhido para vigorar no casamento seja o da sepa-


ração de bens, a convenção também pode prever a renúncia recíproca à
condição de herdeiro legitimário do cônjuge. Esta possibilidade pode ser con-
dicionada à sobrevivência de outros herdeiros (filhos, por exemplo), e só se
aplica aos casamentos com convenção antenupcial celebrados desde setem-
bro de 2018, os quais ficam, obrigatoriamente, sujeitos ao regime de separa-
ção de bens. Não afeta o direito a alimentos (falecido o cônjuge obrigado a
prestar alimentos, será a herança a pagar a prestação) ou as prestações sociais
por morte e, se a casa de morada de família fosse propriedade exclusiva do
falecido, o cônjuge sobrevivo poderá aí residir durante cinco anos, exceto
se tiver uma casa no mesmo concelho ou, tratando-se de Lisboa e Porto,
no mesmo concelho ou nos concelhos limítrofes. Este direito caduca caso o
cônjuge sobrevivo não habite a casa por mais de um ano.

Beneficiar terceiros
Os noivos podem estipular cláusulas em que prometam um bem a alguém.
No entanto, ficam impedidos de doá-lo, prejudicando o potencial beneficiá-
rio. Se vierem a passar por uma situação de grave necessidade económica,
para venderem esse património terão de obter uma autorização escrita do
beneficiário ou do tribunal. Também podem revogá-la por mútuo acordo
com o beneficiário.

Se os bens prometidos forem vendidos, a pessoa indicada como beneficiária


passa a ser legatária do doador, tendo direito a receber o valor que os bens
vendidos teriam à data da morte deste. Caso a doação tenha sido prometida
por ambos os noivos, o beneficiário terá de esperar pela morte dos dois para
receber os bens. Aberta a herança, o montante referente ao bem prometido
e depois vendido deve ser pago antes de qualquer outro legado deixado pelo
falecido.

Em certos casos, as cláusulas em que os noivos prometeram bens a ter-


ceiros podem ser revogadas. Quando o beneficiário não tiver participado

38
PARTE 1 • CAPÍTULO 2. ESCOLHER OS HERDEIROS
A

na escritura da convenção antenupcial, a cláusula pode ser revogada a


qualquer momento. Já se o beneficiário tiver intervindo na convenção,
a cláusula só ficará sem efeito se a convenção caducar, for revogada com o
consentimento escrito do beneficiário ou do tribunal ou quando se justifi-
que a ingratidão (ver título Deserdação e indignidade, na página seguinte).
Mas, se a cláusula mencionar que o doador poderá revogá-la, estas restri-
ções ficam sem efeito.

Alterar a convenção
A convenção antenupcial pode ser alterada ou revogada até à data do casa-
mento, se todas as pessoas que a assinaram, ou os seus herdeiros, estiverem
de acordo.

Depois do casamento, a convenção só pode ser modificada se:


— tiver sido indicado um prazo de validade ou uma condição no próprio
documento. Por exemplo, é possível estipular-se que o regime da sepa-
ração de bens escolhido poderá transformar-se automaticamente em
comunhão geral de bens a partir de certa data ou se nascerem filhos
do casamento;
— um dos cônjuges se sentir prejudicado pela administração dos bens feita
pelo outro. Neste caso, terá de requerer a separação de bens ou a separação
de pessoas e bens;
— houver revogação de disposições, devido a uma eventual separação de
bens ou separação de pessoas e bens.

Quando caducam as convenções?


As convenções antenupciais podem ficar sem efeito se:
— o casamento não for celebrado no prazo de um ano após a realização da
convenção ou, tendo sido, vier a ser declarado nulo ou for anulado. Ocor-
rendo o casamento, a convenção pode não terminar de imediato se os
cônjuges tiverem agido de boa-fé, ou seja, se desconhecessem as razões
que o impossibilitavam. Nestes casos, os efeitos da convenção mantêm-se
até ao trânsito em julgado da sentença (sentença definitiva) que declarar a
anulação ou a nulidade do casamento;
— o beneficiário falecer antes do doador. Se a doação tiver sido efetuada por
terceiros a um dos membros do casal e houver filhos daquele casamento,
estes poderão herdar os bens prometidos.

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TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

Deserdação e indignidade
Duas situações podem afastar da sucessão potenciais herdeiros: a deserdação
e a indignidade.

Deserdação
A deserdação, destinada aos herdeiros legitimários, tem de ser feita através
de um testamento em que seja indicado o motivo. No entanto, o autor do
testamento não pode deserdar simplesmente porque lhe apetece. A lei
é muito precisa quanto às situações em que a deserdação pode ocorrer,
referindo:
— a condenação por um crime intencional contra a pessoa, bens ou honra
do autor, seu cônjuge, descendentes (filhos, netos), ascendentes (pais,
avós), adotantes ou filhos adotivos, desde que o crime seja punido com
uma pena superior a seis meses de prisão;
— a condenação do potencial herdeiro por denúncia caluniosa ou falso
testemunho contra as pessoas indicadas na alínea anterior;
— a recusa, sem justa causa, de prestação de alimentos ao autor e seu
cônjuge.

Indignidade
A indignidade também pode ser aplicada a outros herdeiros, e ocorre,
segundo a lei, nas seguintes circunstâncias:
— condenação, como autor ou cúmplice, por crime ou tentativa de homicídio
intencional contra o autor da sucessão, seu cônjuge ou algum descendente
(filho, neto), ascendente (pai, avô), adotante ou filho adotivo;
— condenação por denúncia caluniosa ou falso testemunho contra as mesmas
pessoas, relativamente a um crime a que corresponda uma pena de prisão
superior a dois anos;
— prática de atos contra a liberdade de realização do testamento, por exem-
plo, forçando o autor a fazê-lo, a modificar o conteúdo do documento ou a
revogá-lo ou, ainda, impedindo-o de proceder às alterações que entender;
— aproveitamento ou prática de atos contra o testamento, como a sua des-
truição, ocultação ou falsificação, antes ou depois da morte do autor da
sucessão.

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PARTE 1 • CAPÍTULO 2. ESCOLHER OS HERDEIROS
A

Prática do crime e condenação


A condenação pelos crimes referidos nos dois primeiros pontos do título ante-
rior pode ocorrer após a abertura da sucessão, mas, para que também tenha
como consequência a indignidade, a prática do crime tem de ser anterior.
Quando o reconhecimento de alguém como herdeiro ou legatário dependa
da verificação de uma determinada condição, contam também os crimes pra-
ticados até ao momento em que a condição seja cumprida.

Execução automática e recurso ao tribunal


Ao contrário da deserdação, a indignidade pode ser executada automatica-
mente: basta não entregar os bens ao indigno. Se este já os tiver em seu poder,
os interessados podem recorrer ao tribunal para reavê-los. Neste último caso,
a ação para declarar alguém indigno pode dar entrada no tribunal no prazo de
dois anos a contar da abertura da sucessão ou de um ano após a condenação
pelos crimes ou do conhecimento dos factos relativos à prática de atos contra
a liberdade de fazer o testamento.

Caso o único herdeiro seja considerado indigno, cabe ao Ministério Público


intentar a ação judicial. Não tendo a indignidade sucessória sido declarada na
sentença penal, a condenação por crime ou tentativa de homicídio é obrigato-
riamente comunicada ao Ministério Público, para que este avance com a ação.

Reabilitar o indigno
O autor pode reabilitar o indigno, ainda em vida, incluindo no testamento
uma cláusula nesse sentido ou efetuando outro documento através de escri-
tura pública. A reabilitação é ainda possível quando, apesar de conhecer a
causa da indignidade, o autor da sucessão o contempla com bens. O indigno
reabilitado receberá, assim, os bens da herança discriminados no testamento.

41
A
A

CAPÍTULO 3

FIM DE VIDA E DESTINO


DOS RESTOS MORTAIS
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

O património, e o destino a dar-lhe após a morte, não será a única preocu-


pação de quem quer acautelar o futuro. Para muitas pessoas é importante
antecipar decisões relacionadas com os cuidados de saúde que querem ou
não receber, em caso de quase morte ou de incapacidade física ou mental,
e ter uma palavra a dizer quanto aos seus restos mortais. Outras questões,
como a doação de órgãos ou o tipo de cerimónia fúnebre, também podem
ser definidas ainda em vida.

Diretivas antecipadas de vontade


Qualquer pessoa maior de idade e que não tenha sido judicialmente impedida
de o fazer, reunindo condições para optar de forma livre, esclarecida e cons-
ciente, pode decidir os cuidados de saúde que quer receber, ou não receber,
caso venha a estar entre a vida e a morte e incapaz de expressar a sua vontade.
O prolongamento artificial da vida e o diagnóstico de uma doença em fase
terminal, sem expectativa de recuperação, de acordo com a avaliação feita
por uma equipa médica, são algumas das situações abrangidas.

As Diretivas Antecipadas de Vontade (DAV) podem assumir a forma de


testamento vital ou de nomeação de procurador de cuidados de saúde.
São expressas através de documento escrito, assinado perante funcioná-
rio do Registo Nacional do Testamento Vital (RENTEV) ou notário. Não
obedecem a um modelo obrigatório, mas é disponibilizado um formulário
para o efeito.

Testamento vital e/ou procuração de cuidados de saúde também são váli-


dos se não forem registados no RENTEV, desde que a vontade do interes-
sado esteja expressa de forma clara e inequívoca e sejam cumpridos os
requisitos no que respeita ao reconhecimento da assinatura. No entanto,
neste caso, nada garante que a vontade expressa é conhecida quando tal
se revelar necessário.

Testamento vital
O testamento vital é um documento elaborado pelo interessado e que este
pode, a qualquer momento, declarar sem efeito, fazendo novo documento

44
PARTE 1 • CAPÍTULO 3. FIM DE VIDA E DESTINO DOS RESTOS MORTAIS
A

ou através de simples declaração oral ao responsável pela prestação de


cuidados de saúde. Este facto deve ser inscrito no processo clínico, no
RENTEV, quando aí esteja registado, e comunicado ao procurador de cui-
dados de saúde, quando exista. Do testamento vital podem constar ins-
truções sobre:
— recusa ou autorização para receber determinados cuidados como, por
exemplo, não ser submetido a reanimação cardiorrespiratória, a meios
invasivos de suporte artificial de funções vitais ou a medidas de alimen-
tação e hidratação artificiais que visem apenas retardar o processo natu-
ral de morte, ou não autorizar a administração de sangue ou derivados;
— recusa em receber tratamentos em fase experimental ou em participar
em programas de investigação científica ou ensaios clínicos.

Procuração de cuidados de saúde


Através deste documento atribui-se a outra pessoa, de forma voluntária e
gratuita, o poder de representação em matéria de cuidados de saúde. O procu-
rador será chamado a tomar decisões, em substituição do interessado, se este
estiver incapaz de expressar a sua vontade no que respeita aos cuidados que
lhe serão ministrados. No formulário disponível para indicar as diretivas
antecipadas de vontade está prevista também a possibilidade de nomear um
procurador de cuidados de saúde suplente.

Como funciona o RENTEV?


O Registo Nacional do Testamento Vital (RENTEV) recebe, regista, organiza
e mantém atualizada a informação e a documentação relativas às diretivas
antecipadas de vontade. O registo de um testamento vital ou de uma procu-
ração de cuidados de saúde pode ser efetuado presencialmente ou solicitado
por correio registado com aviso de receção. Para o efeito pode ser utilizado
o formulário disponibilizado na internet, por exemplo no site dos Serviços
Partilhados do Ministério da Saúde (www.spms.min-saude.pt) ou no da Dire-
ção-Geral da Saúde (www.dgs.pt) , ou outro documento que, de forma clara
e inequívoca, traduza a sua vontade sobre os cuidados de saúde que deseja,
ou não, receber. Em qualquer dos casos, a assinatura deve ser reconhecida no
notário ou, em alternativa, o documento ser assinado perante um funcionário
do RENTEV. Consulte a lista dos balcões RENTEV e os respetivos contactos,
a nível nacional, na página dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde,
em www.spms.min-saude.pt/balcoes-rentev.

45
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

O registo é feito em português, pelo que, se os documentos forem redigidos


noutro idioma, terá de ser apresentada tradução certificada. Não terão efeito
as diretivas antecipadas de vontade:
— contrárias à lei, à ordem pública ou que determinem uma atuação contrá-
ria às boas práticas;
— que possam provocar uma morte não natural e evitável, enquadrável nos
crimes “homicídio a pedido da vítima” ou “incitamento ou ajuda ao suicí-
dio” (ver capítulo 6, a partir da página 180);
— em que a vontade do outorgante não seja clara e inequívoca.

O registo no RENTEV é válido por cinco anos, mas pode ser anulado a qual-
quer momento, pelo próprio, ou renovado por períodos iguais. O processo é
gratuito e o Agrupamento de Centros de Saúde ou a Unidade Local de Saúde
informam o interessado — e, caso exista, o seu procurador de cuidados de
saúde —, com a antecedência mínima de 60 dias, da aproximação da data de
caducidade dos documentos registados.

Morte medicamente assistida


Em Portugal, desde maio de 2023 que uma pessoa sujeita a sofrimento muito
intenso, com lesão definitiva de gravidade extrema ou doença grave e incurá-
vel pode praticar a morte medicamente assistida ou ser ajudada nesse intento
por profissionais de saúde. Terá de ser maior de idade, de nacionalidade
portuguesa e residir legalmente no território nacional. Esta possibilidade está
sujeita a uma série de regras que terão forçosamente de ser cumpridas, sob
pena de se considerar que existiu homicídio a pedido da vítima, o que cons-
titui um crime e é punido por lei (veja a página 181).

Por sofrimento de grande intensidade entende-se aquele que decorre de doença


grave e incurável ou de lesão definitiva de gravidade extrema e considerada
intolerável pelo próprio; a lesão definitiva de gravidade extrema é amplamente
incapacitante e deixa a pessoa dependente de terceiro ou de apoio tecnoló-
gico para realizar as tarefas elementares da vida diária, existindo certeza ou
elevada probabilidade de essas limitações persistirem no tempo, sem possi-
bilidade de cura ou melhoria significativa; a doença grave e incurável é a que
ameaça a vida, em fase avançada e progressiva, incurável e irreversível, que
provoca sofrimento de grande intensidade.

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PARTE 1 • CAPÍTULO 3. FIM DE VIDA E DESTINO DOS RESTOS MORTAIS
A

A morte medicamente assistida pode ocorrer por suicídio, em que o doente


autoadministra fármacos letais sob supervisão médica, ou por eutanásia.
Neste caso, os fármacos letais são administrados por médico ou profissional
de saúde habilitado para o efeito. Contudo, a eutanásia só pode ocorrer se a
incapacidade física do doente não permitir o suicídio medicamente assistido.

O doente deve fazer o pedido por escrito, dirigindo-o a um médico que terá
a seu cargo coordenar toda a informação e assistência, emitindo também
um parecer fundamentando, no prazo de 20 dias úteis, sobre os requisitos.
Cabe-lhe também esclarecer o doente sobre a sua situação clínica e os trata-
mentos aplicáveis, nomeadamente no que respeita aos cuidados paliativos
e prognóstico. Se a decisão do doente se mantiver, é registada por escrito.

Se o parecer do médico não for favorável à morte medicamente assistida,


o procedimento é cancelado e o processo encerrado. Mas pode ser reaberto
mediante novo pedido. Sendo favorável, este médico terá de consultar outro,
especialista na doença, para confirmação dos requisitos no prazo de 15 dias
úteis. Também será necessário consultar um psiquiatra caso existam dúvidas
sobre a capacidade do doente para fazer o pedido ou eventual perturbação
psíquica ou condição médica que afete a tomada de decisões.

Se todos os pareceres forem favoráveis, o médico a quem o doente dirigiu o


pedido remete cópia do registo clínico especial para a comissão de verifica-
ção e avaliação dos procedimentos clínicos de morte medicamente assistida.
Dando esta parecer favorável, o procedimento é agendado, mas pode ser
cancelado a qualquer momento se entretanto o doente ficar inconsciente ou
a sua vontade se alterar.

Doação de órgãos
Algumas doenças e lesões exigem a substituição de órgãos, irremediavel-
mente afetados. Como, salvo raras exceções, os órgãos ainda não podem ser
fabricados, a solução é beneficiar da dádiva de alguém, em vida ou após a
morte, e ser submetido a um transplante. Em Portugal, todas as pessoas são
potenciais dadoras, a menos que se registem como não dadoras. Como vere-
mos mais à frente, a doação de órgãos também pode ter como beneficiária a
ciência e a investigação de novos métodos de cura.

47
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

Doar ou não
Depois de morto, qualquer português, apátrida ou estrangeiro residente no nosso
país é um potencial dador de órgãos. Mas quem não quiser ser dador após a
morte também tem formas de assegurar a sua vontade. Para o efeito, terá de
informar o Ministério da Saúde, através do preenchimento de um formulário
no centro de saúde da sua área de residência ou próximo do local de trabalho.
Depois, o centro de saúde envia este impresso ao Registo Nacional de Não Dado-
res (RENNDA), que, por sua vez, remete um cartão de não dador ao interessado.
É possível ser não dador total ou parcial: o cidadão pode dizer que não se importa
que determinados órgãos sejam transplantados, mas que não dá o seu consenti-
mento quanto a outros. Todo o processo é gratuito.

Os médicos encontram-se obrigados a consultar o registo de não dadores antes


de procederem à colheita de tecidos humanos. E, se colherem órgãos a um não
dador, sujeitam-se a sanções disciplinares da Ordem dos Médicos e a ter de
indemnizar a família.

Quanto a pagamentos, a lei é muito clara, proibindo a cobrança de qualquer


quantia ou recompensa pela entrega de órgãos para transplante. Dentro deste
princípio de gratuitidade, o hospital que fizer o transplante, embora possa cobrar
pelos seus serviços, está impedido de o fazer pelo órgão propriamente dito.

Contribuir para a evolução da medicina


A investigação científica e, em particular, a que é realizada em prol da medi-
cina, necessita de cadáveres para evoluir: o ensino, a pesquisa sobre certas
doenças e a procura de novas curas baseiam-se, também, na dissecação de
restos mortais e na extração de órgãos.

No entanto, para que os restos mortais de alguém possam ser entregues para
fins científicos, é necessário que o visado não tenha declarado a sua oposi-
ção junto do RENNDA e, simultaneamente, que os seus restos mortais não
sejam reclamados pela família até 24 horas após a comunicação do óbito às
seguintes pessoas:
— o testamenteiro, que, como o nome indica, deve assegurar o cumprimento das
disposições do testamento do falecido (ver o título Testamentaria, na página 34);
— o cônjuge ou quem vivesse em união de facto com o falecido;
— os ascendentes (pais, avós, etc.), os descendentes (filhos, netos, etc.),
os adotantes (pais adotivos) ou os adotados;
— os parentes até ao 2.º grau da linha colateral (irmãos).

48
PARTE 1 • CAPÍTULO 3. FIM DE VIDA E DESTINO DOS RESTOS MORTAIS
A

Se o corpo for reclamado depois do prazo estabelecido ou, independente-


mente deste, por alguém que não conste da lista referida, só será entregue
se as faculdades de medicina não estiverem interessadas nele ou após
terem procedido aos estudos pretendidos. Nesta última situação, os futu-
ros médicos ou os investigadores têm de tratar o corpo, de forma que
os sinais da utilização sejam atenuados, e de entregá-lo num máximo de
15 dias.

Também neste caso, é proibida a comercialização de cadáveres ou de partes


deles. O desrespeito por esta disposição legal pode levar o prevaricador à
prisão, por um período de dois a dez anos, pena que pode ser agravada no
seu limite mínimo e máximo se o falecido tiver manifestado a sua condição
de não dador junto do RENNDA. É igualmente proibida a revelação da iden-
tidade da pessoa cujo cadáver tenha sido utilizado para fins de ensino e de
investigação científica.

DOAÇÃO DE ÓRGÃOS EM VIDA


• Só há colheita de órgãos, tecidos ou células em vida, para transplante, quando
não seja possível efetuá-la em dador defunto nem exista outro método de eficá-
cia comparável que permita o tratamento de quem os recebe. Para que ocorra a
doação de um órgão ou tecido não regenerável (por exemplo, um rim), a extração
não pode implicar risco considerável e permanente para a saúde ou vida do dador.
A doação fica ainda dependente de parecer favorável da Entidade de Verificação
de Admissibilidade da Colheita para Transplante (EVA).
• Regra geral, os menores e as pessoas que o tribunal tenha considerado incapazes
(por exemplo, os doentes mentais graves) não podem doar órgãos ou tecidos não
regeneráveis. Para que a colheita seja efetuada, o dador tem de expressar a sua
vontade, de forma escrita e inequívoca, junto do médico. Relativamente a órgãos
ou tecidos regeneráveis, tratando-se de menores, o consentimento será dado
pelos pais ou, se estes não detiverem a responsabilidade parental ou tiverem
falecido, pelo próprio tribunal. Se os menores já tiverem capacidade de enten-
dimento, a sua concordância é indispensável. A colheita em incapazes maiores
exige sempre o consentimento do tribunal.
• A dádiva e a colheita em menores ou outros incapazes estão ainda dependentes
da verificação cumulativa dos seguintes requisitos:
— inexistência de dador capaz compatível;
— o recetor ser irmão ou irmã do dador;
— a dádiva ser necessária à preservação da vida do recetor.
O dador tem direito a assistência médica até ao completo restabelecimento e pode
voltar atrás na decisão de doar os seus órgãos. Terá também a possibilidade de ser
indemnizado pelo Estado se, durante a colheita do órgão, alguma coisa correr mal.

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TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

Cerimónia fúnebre
A escolha em vida do tipo de cerimónia fúnebre deve ser comunicada a fami-
liares próximos ou referida em testamento, para que, depois, seja executada
por estas pessoas ou pelo testamenteiro. Como vimos, o testamento não serve
apenas para dar um destino ao património após a morte, podendo ser uti-
lizado para indicar o que fazer com os restos mortais. Aliás, respeitadas as
exigências legais quanto às formalidades do testamento, nada impede que
este sirva em exclusivo para definir a cerimónia fúnebre ou outros assuntos
de natureza não patrimonial (ver exemplo nesta página). Dar conhecimento
aos familiares mais próximos da existência de tal documento irá facilitar o
cumprimento do seu conteúdo.

(Exemplo de testamento cerrado)

Testamento

por-
Eu, abaixo assinado, ................................. [nome],
ro .......... .......... .., cont ribuin te
tador do cartão de cidadão núme
ido em ........ de .......... .......... . de .........,
número ........................, nasc
], residente em ..
................ [estado civil], ....................... [profissão
.......... ...........................
......................................., filho de ..............................
, no uso pleno das minhas
. e de ............................................................
sem qualq uer coaç ão, dete rmino que
faculdades mentais e
s mort ais dever ão ser crem ados e as respeti-
os meus resto
vas cinzas lançadas ao mar.
ais do
Mantenho todas as disposições patrimoni
amen to [no caso de exist ir um tal docu men-
meu antigo test
to].

.................., ....... de ................ de ............ [data]

[Assinatura]

50
PARTE 1 • CAPÍTULO 3. FIM DE VIDA E DESTINO DOS RESTOS MORTAIS
A

Se o próprio nada tiver dito a esse respeito, será a família a decidir. Têm
legitimidade para isso, por esta ordem: o testamenteiro, em cumprimento
de disposição testamentária, o cônjuge ou o companheiro de facto, qual-
quer herdeiro, familiar, pessoa ou entidade. Se o falecido não tiver nacio-
nalidade portuguesa nem família, o seu representante diplomático no
nosso país pode intervir. Na eventualidade de as pessoas referidas não
poderem estar presentes, existe a possibilidade de serem representadas
por um procurador com poderes especiais: neste caso, a menção expressa
do que deverá ser feito com o corpo.

Inumação e cremação
Existem duas possibilidades quanto ao destino dos restos mortais: a inu-
mação, seja através de enterramento ou depósito em jazigo, e a cremação.
Em princípio, a inumação só pode ser levada a cabo em cemitérios públicos.
Mas há exceções: as pessoas que, pela sua importância, recebam a honra de
serem sepultadas no Panteão Nacional (em Lisboa) ou no Panteão Privativo
dos Patriarcas de Lisboa; as que, atendendo à sua nacionalidade ou religião,
devam ser depositadas em locais especiais; e, finalmente, membros de famí-
lias que dispõem de capelas privativas fora dos aglomerados populacionais
e que sejam, por tradição, locais de inumação de corpos. Estas duas últimas
situações requerem a autorização da câmara municipal.

O depósito de corpos em sepultura comum não identificada (“vala


comum”) está proibido, a menos que se esteja perante uma situação de
calamidade pública ou em caso de fetos mortos abandonados ou partes
de um corpo. Qualquer cadáver decorrente de uma situação de calami-
dade pública, feto morto abandonado ou partes amputadas de um corpo
humano podem ser cremados. Mas, se o cadáver tiver sido autopsiado pelo
Instituto de Medicina Legal, a cremação requer autorização do tribunal,
pois poderá conter, por exemplo, provas de um crime, as quais não devem
ser eliminadas.

Realizada a cremação, as cinzas podem ser colocadas em jardins especial-


mente destinados a esse efeito, conhecidos por cendrários, em sepultura,
jazigo, ossário ou em compartimentos próprios, designados por columbá-
rios. Podem também ser entregues a quem requereu a cremação e deposi-
tadas onde esta pessoa entender ou de acordo com a vontade do falecido
(por exemplo, no mar). Com a exceção do depósito em cendrário, em todas
as opções é exigido um recipiente especial para as cinzas, disponível nas
agências funerárias.

51
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

Quando terá lugar a cerimónia?


Nenhum cadáver pode ser inumado, cremado ou encerrado em caixão de
zinco antes de decorrerem 24 horas após o óbito. O corpo só pode ser colo-
cado numa câmara frigorífica passadas seis horas da constatação de sinais
inequívocos de morte. E, naturalmente, também devem ser observados pra-
zos máximos para submeter o corpo à cerimónia fúnebre:
— 72 horas, se tiver sido entregue às pessoas atrás referidas (ver Cerimónia
fúnebre, na página 50) imediatamente após o óbito;
— 72 horas a contar da data de entrada em território nacional, caso tenha sido
transportado do estrangeiro;
— 48 horas após a autópsia médico-legal, se esta tiver existido;
— 24 horas após a entrega às pessoas que decidem sobre o destino do cadá-
ver, quando aquele tiver aguardado pelo cumprimento de procedimento
indispensável (por exemplo, autópsia). A cremação só pode ocorrer com
autorização do tribunal;
— caso nenhuma destas pessoas ou entidades o receba, o corpo não pode ser
cremado e a inumação deve ocorrer nos 30 dias seguintes ao óbito.

Quando não haja autópsia, mas, por qualquer motivo, o corpo não possa ser
entregue, é removido pelas autoridades para um dos seguintes locais:
— nas comarcas de Lisboa, Porto e Coimbra, para o respetivo Instituto de
Medicina Legal;

AGÊNCIAS FUNERÁRIAS
•A preparação da cerimónia fúnebre passa, inevitavelmente, pelo recurso a uma agên-
cia funerária, escolhida com base em dois critérios fundamentais e aplicáveis a qual-
quer serviço: o preço e a qualidade. Se os familiares não tiverem referências que lhes
permitam avaliar este último, pelo menos o primeiro deve ser tido em conta, desde
que exista disposição psicológica para tal.
•As agências funerárias estão obrigadas a afixar os preços dos serviços que prestam
e a facultá-los ao consumidor antes da contratação dos serviços. Devem apresentar
um orçamento com o preço total do serviço, discriminando os diversos componentes.
•As funerárias têm de facultar um serviço básico de funeral social, sujeito a um preço
máximo, que também deve estar afixado de forma visível. Esse valor é atualizado
anualmente, de acordo com o índice de inflação.
•Cabe à Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) fiscalizar o cumpri-
mento de todas estas regras, sendo também junto desta entidade que deverão ser
apresentada eventuais reclamações. As agências funerárias estão obrigadas a ter livro
de reclamações.

52
PARTE 1 • CAPÍTULO 3. FIM DE VIDA E DESTINO DOS RESTOS MORTAIS
A

— nas restantes comarcas, para a casa mortuária dotada de câmara frigorífica


que fique mais próxima do local do óbito;
— nas zonas sob a alçada do Sistema de Autoridade Marítima (mar, praias),
para qualquer um dos locais referidos nos pontos anteriores.

Questões religiosas
Oficialmente, Portugal é um Estado laico. Quer isto dizer que não existe uma
religião oficial. No entanto, a população portuguesa, na sua maioria, segue
a fé católica, com cujos fundamentos são compatíveis todas as disposições
referidas neste capítulo. Como certamente existirão leitores de outras con-
fissões religiosas, propomos aqui algumas orientações de caráter genérico,
que lhes permitam respeitar a sua doutrina, sem, no entanto, colidirem com
a legislação nacional. Embora a lei portuguesa seja sensível em termos de
opções religiosas, respetivas cerimónias fúnebres e formas de luto ou velório,
deixa de sê-lo no que toca às autópsias médico-legais. Com efeito, ninguém
pode deixar de ser autopsiado apenas por razões religiosas. Em princípio,
sempre que haja indício de crime ou não se saiba a causa de uma morte, será
realizada uma autópsia.

Em certas circunstâncias, relacionadas com a religião e a nacionalidade do


falecido, é possível pedir uma autorização às câmaras municipais no sen-
tido de o corpo ser sepultado em locais diferentes dos habituais. Mas estes
locais correspondem a cemitérios próprios, pelo que as formas de inumação
acabam por ser as mesmas. Se a prática fúnebre for incompatível com a lei
portuguesa, é sempre possível procurar um país em que seja admitida. Neste
caso, há que conhecer as regras portuguesas de transporte de restos mortais.
Antes de mais, a trasladação tem de ser efetuada em veículo funerário pró-
prio, em caixão de zinco, tratando-se de um cadáver, e em caixão de zinco
ou madeira, no caso de ossadas. Já o transporte das cinzas é livre, desde que
sejam acondicionadas num recipiente adequado. Antes disso, há que obter
autorizações no país de destino, pelo que é recomendável uma consulta ao
respetivo consulado, para obter as informações necessárias.

53
A
A

PARTE 2

QUANDO MORRE
UM FAMILIAR
A
A

CAPÍTULO 1

PROCEDIMENTOS
ADMINISTRATIVOS
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

Dos primeiros passos, para formalizar o óbito, às comunicações necessá-


rias e às diligências junto de bancos e seguradoras, o processo sucessório
envolve diversas tarefas. E, se algumas são automáticas a partir do registo
do óbito, outras dependem da intervenção dos herdeiros. Por exemplo,
nada é preciso fazer para remover o nome do falecido dos cadernos elei-
torais, mas, se existirem pessoas ou entidades com quem o falecido tivesse
relações financeiras, já será necessário intervir. Entre outras situações,
se fosse titular de um seguro, a seguradora deve ser avisada e a apólice
cancelada.

Convém estar atento aos prazos legais. Se muitos destes procedimentos não
têm um prazo específico, o incumprimento, naqueles que o têm, pode ter
consequências. É o caso do reembolso dos Certificados de Aforro, quando
existem, já que revertem a favor do Estado se os herdeiros não fizerem, entre-
tanto, a habilitação de herdeiros e a partilha (ver quadro abaixo).

OS PRAZOS A NÃO ESQUECER (1)


Comunicação
Registo do óbito Partilha
às Finanças
PRAZO MÁXIMO 48 horas final do 3.° mês após 10 anos a contar da data
o do falecimento; em que o herdeiro teve
excecionalmente, mais conhecimento de que
60 dias o era
ONDE DIRIGIR-SE? conservatória serviço de Finanças conservatória, notário
do registo civil ou balcão das heranças
QUEM PODE depende das cabeça-de-casal herdeiros e/ou cabeça-
FAZÊ-LO? circunstâncias do -de-casal
falecimento, mas,
preferencialmente,
o familiar mais próximo.
Também pode ser feito
pela agência funerária
INFORMAÇÕES – nome completo, sexo, – nome completo do certidão de óbito,
OU DOCUMENTOS data de nascimento, falecido, data e local do certidões de nascimento
NECESSÁRIOS estado civil, naturalidade óbito, beneficiários da dos herdeiros, certidão
e última residência do herança, relações de comprovativa do
falecido. De preferência, parentesco e respetiva pagamento do imposto do
levar documento de prova; selo e, consoante o caso,
identificação do falecido; – relação dos bens certidão de casamento
– certificado de óbito. transmitidos, com o ou certidão do teor
A conservatória irá passar respetivo valor, e, se existir, do testamento ou de
a certidão de óbito. certidão de testamento do escritura de doação por
autor da herança. morte.
(1) Além destes prazos, comuns a todos os casos, convém não esquecer o prazo de reembolso quando o falecido
tinha Certificados de Aforro (5 ou até 10 anos após a morte ou a data de vencimento, consoante a série) ou
Certificados do Tesouro (10 anos). Num caso como noutro, os herdeiros ou o cabeça-de-casal terão de dirigir-se à
Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública.

58
PARTE 2 • CAPÍTULO 1. PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS
A

Formalizar o óbito
A partir do momento em que é verificada ou presumida a morte de alguém,
inicia-se, para os familiares mais próximos, um percurso burocrático que, con-
soante os casos, poderá ser mais ou menos longo. Em algumas circunstâncias,
será mesmo necessário apurar a causa da morte, através de uma autópsia.

Verificação da morte
Considera-se que a morte ocorre com a cessação irreversível das funções cere-
brais. O médico que verifica a morte é aquele que tem a responsabilidade
sobre o doente ou o que surja primeiro no local onde se encontrar o corpo.
Cabe-lhe redigir o certificado de óbito, mencionando:
— a identificação possível da pessoa falecida, indicando se o faz através da
verificação de um documento de identificação ou de informação verbal;
— a sua própria identificação, indicando nome e número de cédula da Ordem
dos Médicos;
— o local, a data e a hora da verificação;
— informação clínica ou observações eventualmente úteis.

O certificado de óbito é emitido eletronicamente, através do Sistema de Infor-


mação dos Certificados de Óbito (SICO). Se a morte ocorrer num estabeleci-
mento de saúde, é registada no processo clínico do doente. Nos casos em que
as funções cardiocirculatória ou respiratória do falecido foram mantidas de
forma artificial, a morte deve ser verificada por dois médicos.

Autópsia
Se o óbito tiver ocorrido de forma violenta (por exemplo, devido a acidente
de trabalho ou de viação dos quais tenha resultado morte imediata), hou-
ver suspeitas de crime, tiver ocorrido há mais de um ano ou a sua causa for
ignorada, o corpo é submetido a uma autópsia. Esta obrigatoriedade aplica-
-se também sempre que a morte ocorra sob custódia policial ou associada a
intervenção policial ou militar ou quando haja suspeita de tortura, tratamento
cruel, desumano ou degradante. Na prática, o que procura apurar-se com
este exame médico-legal é se na origem da morte esteve a prática de um
crime. No entanto, atendendo ao trauma causado às famílias, é admissível

59
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

que o Ministério Público dispense a autópsia, desde que as informações clí-


nicas e outros elementos permitam concluir com suficiente segurança não
ter havido crime.

Com o objetivo de possibilitar a autópsia, existem regras rígidas sobre o que


fazer quando as circunstâncias da morte apontarem para essa necessidade.
Assim, quando o óbito ocorrer em estabelecimentos de saúde com interna-
mento, cabe ao respetivo diretor contactar o Ministério Público e fornecer-lhe
toda a informação relevante para a averiguação da causa e das circunstâncias
da morte, bem como assegurar a permanência do corpo e eventuais vestí-
gios a examinar em local apropriado. Ocorrendo a morte noutro local, será
a polícia a inspecionar e preservar o local, comunicar ao Ministério Público
as informações relevantes e assegurar a presença de um perito médico ou,
na sua ausência, da autoridade de saúde da área onde foi encontrado o corpo.
Em qualquer dos casos, é o Ministério Público que autoriza a remoção do
corpo, com vista à realização da autópsia médico-legal.

A autópsia deve ser efetuada tão rapidamente quanto possível após serem
verificados os sinais que confirmam a morte. E, a menos que exista uma
ordem legítima de um tribunal, ninguém pode deixar de ser submetido a
um exame médico-legal, se este for necessário ao inquérito ou à instrução
de um processo. Nem sequer razões de ordem religiosa podem sobrepor-se
a esta regra. Em certas circunstâncias, a autópsia pode até ocorrer já depois
do funeral, se o corpo não tiver sido cremado. No entanto, para a exumação
do corpo, terá de haver uma ordem do tribunal.

Ausência e morte presumida


A morte é reconhecida quando existe um cadáver identificável, sempre que
se verifique um desaparecimento em circunstâncias que não deixem dúvidas
sobre o falecimento da pessoa ou, por último, pode ser presumida. Se os dois
primeiros casos não suscitam dúvidas, já o último exige explicações. De facto,
uma pessoa pode desaparecer sem deixar rasto, não dando notícias durante
bastante tempo. Não se sabe se está morta ou viva, e a família vive momentos
de impasse. Por exemplo, o cônjuge não sabe se é casado ou viúvo, não é pos-
sível dividir o património do desaparecido (com os prejuízos que daí possam
decorrer) e os potenciais herdeiros não têm a confirmação de que o são de
facto. Para ultrapassar estas situações, decorridos dez anos sobre a data das
últimas notícias (ou cinco, se entretanto o desaparecido tiver completado
80 anos de idade), pode requerer-se ao tribunal a declaração de morte pre-
sumida, para o que será necessário recorrer a um advogado. Podem fazê-lo o

60
PARTE 2 • CAPÍTULO 1. PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS
A

cônjuge não separado de pessoas e bens, os herdeiros e todos os que tiverem


direitos sobre os bens do desaparecido. Tratando-se de um menor, a declara-
ção de morte presumida só será proferida quando tiverem passado cinco anos
sobre a data em que o ausente, se fosse vivo, atingiria a maioridade.

Situação do cônjuge
A declaração de morte presumida tem as consequências jurídicas da morte,
exceto no que respeita ao casamento, que não é dissolvido automaticamente.
De facto, e tendo em conta que o cônjuge do ausente pode voltar a casar-se,
há o risco de verificar-se uma espécie de bigamia legal. Casando o cônjuge,
se o ausente regressar ou houver notícias de que estava vivo quando foi cele-
brado o segundo matrimónio, considera-se que o primeiro foi dissolvido, por
divórcio, à data da declaração de morte presumida. Isto não significa que o
cônjuge tenha de esperar dez anos, até que seja declarada a morte presumida,
para voltar a casar. A lei permite que avance com um pedido de divórcio após
um ano de ausência.

Quem herda os bens do desaparecido?


No que respeita à transmissão dos bens do ausente, os herdeiros à data
das últimas notícias recebem o que legalmente ou por testamento lhes
competir. Ou seja, não será considerada a data da declaração de morte
presumida, mas aquela em que o desaparecido deu o último sinal de vida.
Esta regra é especialmente importante para se determinar quem são os
herdeiros. Por exemplo, à data da declaração de morte presumida, podem
já ter falecido pessoas que seriam consideradas herdeiras no momento
do desaparecimento. Através do direito de representação (ver caixa
da página 149), os herdeiros desse herdeiro podem ser assim contempla-
dos com bens.

Se, declarada a morte presumida, o ausente regressar ou houver notícias


dele, o seu património será devolvido no estado em que se encontrar,
acrescido do valor dos bens que tiverem sido vendidos, hipotecados ou
doados ou daqueles que os tenham substituído. Caso os herdeiros tenham
adquirido património com o produto da venda de um bem do ausente,
também aquele será devolvido, desde que do título de aquisição (por
exemplo, um contrato) conste expressamente a proveniência do dinheiro.
Se os herdeiros soubessem que o ausente estava vivo à data da declaração
de morte presumida, este tem direito a ser indemnizado por eventuais
prejuízos.

61
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

Comunicação ao registo civil


Verificada a morte em território português ou declarada a morte presumida,
terá de ser comunicada a uma conservatória do registo civil, verbalmente,
no prazo de 48 horas. Se o óbito ocorrer, por exemplo, numa sexta-feira ou
a um sábado, a comunicação será feita no dia útil seguinte. Este prazo é con-
tado, consoante os casos, do momento em que ocorrer o falecimento, for
encontrado ou autopsiado o corpo, dispensada a autópsia ou recebida a cópia
ou duplicado da guia de enterramento emitida por uma autoridade policial.
Caso o óbito tenha ocorrido no estrangeiro, a comunicação pode ser feita na
embaixada ou no consulado.

Quem comunica
O óbito é declarado, segundo a ordem indicada, por uma das seguintes pessoas:
— o parente mais próximo do falecido que esteja presente no óbito;
— outros familiares presentes;
— os donos da casa onde ocorreu o óbito;
— o diretor ou administrador do estabelecimento onde a morte tiver ocor-
rido, sido verificada ou no qual o corpo tenha sido autopsiado;
— o sacerdote, de qualquer culto, presente no momento do falecimento;
— a pessoa ou entidade encarregada do funeral (normalmente é a agência
funerária quem trata da declaração);
— as autoridades administrativas ou policiais, se o corpo tiver sido
abandonado.

Informações necessárias
Quem fizer a comunicação deve estar preparado para responder às seguin-
tes questões sobre o falecido, embora só os dados da primeira alínea sejam
indispensáveis:
— nome completo, sexo, data de nascimento, estado civil, naturalidade e
última residência;
— nome completo dos pais;
— nome completo do último cônjuge;
— hora, data e local do falecimento ou do aparecimento do cadáver;
— local onde os restos mortais estão ou serão depositados.

62
PARTE 2 • CAPÍTULO 1. PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS
A

Do certificado à certidão de óbito


A declaração é confirmada pelo certificado de óbito, passado gratuitamente pelo
médico que o tiver verificado (ver Verificação da morte, na página 59). Se não for
apresentado o certificado, o funcionário do registo civil deverá requisitar à autori-
dade de saúde local a verificação do óbito e o referido documento. Na impossibi-
lidade de comparência de um médico, o certificado pode ser substituído por um
auto, com a intervenção de duas testemunhas, no qual se declara a verificação do
óbito e a existência ou a inexistência de sinais de morte violenta ou de suspeita
de crime. No registo de óbito de pessoa cuja identidade não seja possível apurar,
é mencionado o lugar, a data e o estado em que o cadáver tenha sido encontrado,
o sexo, a cor e a idade aparente, bem como o vestuário, papéis ou objetos encon-
trados junto do corpo.

Comunicada a morte, a conservatória do registo civil emite o boletim de óbito,


que serve como guia de enterramento, e a certidão de óbito. Fora do horário
de funcionamento das conservatórias, o boletim de óbito é emitido pelas
autoridades policiais com competências na área em que ocorreu ou foi veri-
ficado o falecimento.

A certidão de óbito é um documento essencial para muitos dos procedimentos a


efetuar, como, por exemplo, para requerer as pensões e os subsídios por morte
(ver capítulo seguinte). Qualquer pessoa pode pedir uma certidão de óbito, junto
de qualquer conservatória do registo civil, indicando o nome do falecido e o
ano do falecimento. A certidão também pode ser pedida através da internet,
no serviço de Registo Civil Online (www.civilonline.mj.pt). As certidões são emi-
tidas de imediato, exceto quando for necessário fazer pesquisas por não terem
sido indicados todos os elementos (por exemplo, o nome completo e a data do
óbito). Eventuais menções discriminatórias de filiação (por exemplo, a expressão
“pai incógnito”) são eliminadas nas certidões de registo emitidas.

Casos especiais
A morte pode ocorrer em circunstâncias que tornem necessários procedi-
mentos específicos. Vejamos alguns casos.

Averiguar a causa de morte


Havendo indícios de morte violenta, suspeitas de crime, declarando o médico
ignorar a causa da morte ou tendo o óbito ocorrido há mais de um ano,

63
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

o registo civil recusará lavrar o assento ou o auto de declarações. Além disso,


comunica o facto às autoridades judiciais ou policiais, para que seja ordenada
a autópsia ou outras diligências necessárias à averiguação da causa de morte
(ver também Autópsia, na página 59).

Óbito em viagem marítima ou aérea


Se a morte acontecer numa viagem por mar ou por ar, em navio ou aeronave
portugueses, a autoridade de bordo deve lavrar o registo do falecimento no prazo
de 24 horas. Caso não exista livro próprio a bordo, o registo é efetuado em papel
avulso, em duplicado. Se o corpo não for encontrado, a autoridade de bordo
lavra um auto da ocorrência, na presença de duas testemunhas, e remete-o a
uma conservatória. Esta encarrega-se das diligências necessárias à oficialização
do óbito. Na eventualidade de o óbito se verificar em pequenas embarcações, o
auto da ocorrência é substituído por um auto de averiguações, lavrado na capi-
tania competente.

Acidente ou calamidade pública


Em caso de incêndio, desmoronamento, explosão, inundação, terramoto,
naufrágio ou outro acidente semelhante, de que resulte a morte para uma
ou mais pessoas, é realizado um registo para cada vítima cujo corpo tenha
sido encontrado em condições de ser identificado. Quando os cadáveres
não forem encontrados, tiverem sido destruídos e não sejam individua-
lizáveis ou seja impossível chegar ao local onde se encontrem, cabe ao
Ministério Público levar a cabo as diligências necessárias ao reconheci-
mento do óbito.

Morte fetal
Ocorrendo a morte de um feto com um mínimo de 22 semanas, é apre-
sentado e depositado na conservatória do registo civil o respetivo certifi-
cado médico. Contudo, o certificado médico de morte fetal é dispensado
quando ocorra:
— interrupção voluntária da gravidez devido a doença grave ou malforma-
ção congénita incurável, desde que realizada nas primeiras 24 semanas
de gravidez;
— situação de feto inviável, em que a interrupção da gravidez pode ter
lugar a qualquer momento;
— uma interrupção da gravidez espontânea, até às 24 semanas de gestação.

64
PARTE 2 • CAPÍTULO 1. PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS
A

A habilitação de herdeiros
Outro documento importante, quando existam bens a partilhar, é o que
habilita os herdeiros ao património deixado pelo falecido. Tanto pode ser
uma escritura pública de habilitação como uma certidão do procedimento
simplificado de habilitação de herdeiros (ver caixa Balcão das Heranças,
na página 66), como, na eventualidade de ter havido um inventário, uma
peça do processo. Para a escritura, os herdeiros terão de recorrer ao notário;
quando há inventário, será o tribunal, o notário ou um conservador a emitir o
documento (ver O inventário, na página 116). Também pode ocorrer uma habi-
litação de legatários, nomeadamente quando estes forem indeterminados ou
instituídos de forma genérica (por exemplo, se for um grupo de pessoas) ou,
ainda, quando a herança for distribuída em legados na sua totalidade.

Tratando-se de uma sucessão transnacional, envolvendo vários países da


União Europeia, os beneficiários devem pedir o certificado sucessório euro-
peu no Balcão das Heranças (ver título da página 67).

Prazo e documentos necessários


Embora não exista um prazo legal para fazer a habilitação de herdeiros,
é aconselhável que tal aconteça tão rapidamente quanto possível, para evi-
tar que a partilha se prolongue por muito tempo. Para fazer uma escritura de
habilitação, são necessários os seguintes documentos:
— certidão de óbito do proprietário dos bens da herança;
— documentos justificativos da sucessão legítima (certidões de nascimento e
casamento dos herdeiros);

COMO SABER SE HÁ TESTAMENTO?


Os notários comunicam à Conservatória dos Registos Centrais a identificação dos testamen-
tos que realizam, bem como de escrituras de revogação de testamentos e, ainda, a iden-
tificação dos testadores ou outorgantes. Havendo dúvidas sobre se quem faleceu tinha
redigido testamento, é possível obter esta informação junto daquela entidade pública,
ou através de qualquer conservatória do registo civil, que servirá de intermediária. Online,
é possível fazê-lo no site justica.gov.pt. Note-se que, em vida, só o próprio ou um procu-
rador com poderes especiais podem pedi-la. Já depois da morte do testador, qualquer
pessoa pode ter acesso a essa informação, juntando a certidão de óbito ao requerimento.

65
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

— certidão do conteúdo do testamento ou da escritura de doação por morte


(se existirem).

A habilitação em notário consiste na declaração, feita por três pessoas que o


notário considere dignas de crédito (e que não sejam parentes), sobre quem

BALCÃO DAS HERANÇAS


•Através destes balcões é possível fazer a habilitação de herdeiros e/ou a partilha. Con-
tudo, o procedimento simplificado que inclua a partilha só será possível se, na herança,
existirem bens sujeitos a registo (por exemplo, imóveis, carros ou uma quota numa
sociedade). Havendo partilha, são efetuados os respetivos registos. O número de iden-
tificação fiscal da herança também pode ser obtido nestes balcões. É feita a liquidação
do imposto do selo e, havendo lugar ao pagamento de Imposto Municipal sobre as
Transmissões Onerosas de Imóveis (IMT), pode ser aí realizado. A inscrição ou atualiza-
ção de prédios urbanos na matriz, bem como a alteração de domicílio fiscal para um
imóvel obtido na herança, são outras possibilidades. Existem balcões das heranças na
maioria das conservatórias do registo civil e não é necessário optar por aquela onde
estão localizados os bens ou os direitos. Para saber onde estão disponíveis, consulte
o site justica.gov.pt. Informe-se sobre os custos envolvidos, consoante pretenda fazer
aqui apenas a habilitação de herdeiros ou também a partilha e o registo dos bens
em nome dos novos proprietários, bem como sobre o valor dos impostos a pagar.
A habilitação de herdeiros também pode ser feita por videoconferência, através da
plataforma de atendimento à distância disponível em justica.gov.pt.
•O cabeça-de-casal, ou quem o represente, deverá munir-se da identificação de todos
os herdeiros (nome, naturalidade, estado civil, residência e números de contribuinte),
bem como fazer um levantamento dos bens e direitos do falecido. Quando o pro-
cedimento inclua a participação de óbito e a entrega da relação de bens, o prazo
para recorrer ao balcão é o mesmo que para efeitos fiscais: até ao final do terceiro
mês após o do falecimento. Ultrapassando este prazo, terá de pagar uma coima às
Finanças. Aquando do atendimento inicial, a conservatória marca uma data para os
procedimentos necessários. O prazo é de sete dias úteis, mas, em processos mais com-
plexos, poderá ser de dez dias úteis. Isto aplica-se quando:
— a sucessão seja regulada por lei estrangeira;
— haja testamento ou disposição por morte numa convenção antenupcial;
— algum dos herdeiros repudiar a herança;
— seja necessário chamar bens à colação (ver A colação, na página 154);
— a herança integre mais de 15 bens ou direitos;
— haja meações e quinhões hereditários noutro património ainda por dividir;
— a herança incorpore bens futuros e expectativas de aquisição;
— existam bens ou direitos localizados ou registados no estrangeiro ou a que se apli-
que a legislação de outro país.
Se a documentação solicitada não for entregue até cinco dias antes da data marcada,
a conservatória pode adiar o procedimento e marcar outra data.

66
PARTE 2 • CAPÍTULO 1. PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS
A

são os herdeiros do falecido. Este ato é efetuado através de escritura pública.


Em alternativa, a declaração pode ser feita pelo cabeça-de-casal, no notário
ou no Balcão das Heranças. Em qualquer dos casos, terão de ser apresentadas
certidões diversas (óbito, nascimento dos herdeiros, testamento, etc.) e indi-
cados o nome completo, o estado civil, a naturalidade e a última residência
do falecido e de quem se habilita a herdeiro (no caso de algum ser menor, isso
deve ser mencionado).

A habilitação notarial ou através de procedimento simplificado (efetuado no


Balcão das Heranças) tem os efeitos de uma habilitação feita em processo
de inventário, sendo o documento adequado para que possam fazer-se em
comum, a favor de todos os herdeiros e do cônjuge com direito a metade dos
bens, os seguintes atos:
— registos nas conservatórias do registo predial;
— registos nas conservatórias do registo comercial e da propriedade
automóvel;
— averbamentos de títulos de crédito, isto é, a colocação do nome de outra
pessoa no respetivo título;
— averbamentos de direitos de propriedade literária, científica, artística ou
industrial;
— levantamentos de dinheiro ou outros valores.

Certificado sucessório europeu


O certificado sucessório europeu permite a qualquer cidadão de um Estado-
-membro da União Europeia provar, noutro Estado-membro, a sua qualidade
de herdeiro, legatário, executor testamentário ou administrador de herança.
Desta forma, também aí poderá exercer os seus direitos, sem outras formali-
dades. O certificado aplica-se a óbitos ocorridos desde 17 de agosto de 2015,
quando o falecido:
— residia num país e era originário de outro;
— não residia no mesmo país que os herdeiros;
— possuía bens em vários países.

O certificado sucessório europeu tem uma validade de seis meses, prazo que
pode ser prolongado, e é pedido, por qualquer beneficiário da herança, num
Balcão das Heranças (ver caixa da página anterior). Se o falecido tiver mais do
que uma nacionalidade e não tiver escolhido, expressamente (por exemplo,
através de testamento), a legislação nacional que regula a sua sucessão, o que
também é permitido pelo regulamento europeu (ver página 19), aplica-se a lei
do Estado onde tinha residência habitual quando morreu.

67
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

Comunicação às Finanças
Informado o registo civil e feita a habilitação de herdeiros, também o serviço de
Finanças terá de ser posto ao corrente do falecimento do autor da herança, rece-
ber a declaração de morte presumida (em caso de ausência sem notícias durante
um determinado período) ou a justificação judicial do óbito. Recorrendo ao
Balcão das Heranças, o cabeça-de-casal pode cumprir estas duas etapas em
simultâneo ou fazer apenas a habilitação, deixando para depois a participação
do óbito e a entrega da relação de bens nas Finanças. A participação é de modelo
oficial e identifica o autor da sucessão, a data e o local do óbito, os beneficiá-
rios, as relações de parentesco e respetiva prova. Deve ainda incluir a relação
dos bens transmitidos, com os valores a declarar. O prazo para a entregar às
Finanças é até ao final do 3.º mês após o do óbito. Só por motivo excecional o
chefe do serviço poderá conceder um adiamento deste prazo, até ao máximo
de 60 dias. Juntamente com a participação são entregues outros documentos,
como os extratos de depósitos bancários de que o falecido fosse titular à data
da transmissão (com os movimentos dos últimos 60 dias) e a certidão de testa-
mento, se existir. Há que contar com o custo destes documentos.

Preencher a participação de transmissões gratuitas


As instruções que acompanham o formulário (modelo 1) nem sempre são
suficientes para dissipar as dúvidas quanto ao preenchimento. Sempre que
possível, reúna a documentação necessária e dirija-se ao serviço de Finanças,
de preferência o da área de residência do falecido. O funcionário que o aten-
der preenche diretamente a declaração no computador, onde, após abertura
do processo, surgem desde logo os dados dos imóveis, e também os dos bens
móveis sujeitos a registo (por exemplo, um automóvel). No final terá apenas
de assinar a declaração e fica com uma cópia impressa.

Outros documentos
Sempre que existam, outros documentos devem acompanhar a participação.
É o caso da certidão do testamento e dos comprovativos de dívidas e encargos
para com o autor da sucessão. Se a herança incluir bens como as participa-
ções em empresas, serão ainda entregues os documentos respetivos. Vejamos
em que consistem alguns dos documentos necessários.

68
PARTE 2 • CAPÍTULO 1. PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS
A

BENS E DOCUMENTOS A ENTREGAR


Bens da herança Documento a entregar
AÇÕES, TÍTULOS OU
Certidão, emitida pela Comissão do Mercado de Valores
CERTIFICADOS DE DÍVIDA
Mobiliários (CMVM) ou pelo Instituto de Gestão do Crédito Público,
PÚBLICA E DE OUTROS
conforme os casos, das respetivas cotações.
VALORES MOBILIÁRIOS
– certidão comprovativa da falta de cotação oficial das ações,
passada pela CMVM, indicando o valor nominal;
– sendo necessário calcular o valor de cada ação à data da
transmissão, o extrato do último balanço da sociedade participada,
acompanhado de declaração emitida por esta. Aí constam a data
AÇÕES SEM COTAÇÃO
da sua constituição, o número de ações em que se divide o capital
OFICIAL
e respetivo valor nominal, bem como os resultados líquidos obtidos
nos dois últimos exercícios;
– no caso de sociedades em liquidação ou partilha, além da
declaração referida no ponto anterior, o extrato do último balanço
ou do balanço de liquidação.
TÍTULOS DE PARTE
Declaração passada pela cooperativa, onde conste o valor nominal
DO CAPITAL SOCIAL
dos títulos.
DE COOPERATIVAS
AÇÕES QUE APENAS Declaração da sociedade, confirmando essa característica e
CONCEDEM O DIREITO A indicando o valor do dividendo distribuído nos dois exercícios
PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS anteriores.
Extrato do último balanço, ou do balanço de liquidação,
ESTABELECIMENTOS ou certidão do contrato social, consoante os casos. Não havendo
COMERCIAIS, INDUSTRIAIS balanço, um inventário, que deve incluir as existências, os bens de
OU AGRÍCOLAS equipamento, créditos, valores de patentes, de marcas de fabrico
e direitos relacionados, bem como os respetivos débitos.

Anexo I – Relação de bens


A relação de bens é um documento bastante codificado. Existem diver-
sos formulários, consoante o tipo de bens ou direitos que devem ser
relacionados:
— Relação de bens 01: identifica os bens imóveis detidos em propriedade
plena. Ou seja, nenhuma das características da propriedade, como o
usufruto, lhe foi retirada (Código 1);
— Relação de bens 02: destina-se às figuras parcelares e a outros direitos
sobre imóveis, como o usufruto ou o direito de superfície (Código 2);
— Relação de bens 03: visa os bens móveis, os direitos de autor e os direitos
de propriedade industrial (Código 3), bem como os créditos (Código 4);
— Relação de bens 04: para as participações sociais, os estabelecimentos
comerciais, industriais ou agrícolas sujeitos a IRS, as participações em
sociedades de transparência fiscal e estabelecimentos afetos a profis-
sões liberais (Código 5);

69
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

— Relação de bens 05: identifica os títulos e certificados da dívida pública


e outros valores mobiliários (Código 6);
— Relação de bens 06: regista os encargos existentes à data da transmissão
(Código 7).

1
2
3 4

5 8
6 7

1 Campo 3 (Tipo de prédio): podem ser urbanos (“U”) ou rurais (“R”). Nos imóveis
mistos, há um desdobramento entre duas verbas distintas, uma com “U”, a outra
com “R”. Como têm o mesmo artigo, não há o risco de serem considerados dois bens
distintos.
2 Campo 4 (Artigo da matriz n.º.........): caso o imóvel esteja omisso na matriz,
ou esteja inscrito sem valor patrimonial e ainda não tenha sido requerida a avaliação,
há duas possibilidades:
– se o imóvel for urbano, entregar previamente o modelo 1 do Imposto Municipal sobre
Imóveis e inserir o artigo provisório atribuído, precedido da letra “P”;
– se for rústico, solicitar a sua avaliação.
3 Campo 5 (Fração/Secção): nos prédios urbanos constituídos em propriedade
horizontal (em condomínio), é colocada a letra da respetiva fração autónoma. Para os
imóveis rústicos inscritos na matriz predial, deve ser indicada a letra da secção cadastral
a que se refere a herança.
4 Campo 6 (Árvore/Colónia): a preencher no caso de as árvores de prédios rústicos
estarem identificadas autonomamente face ao terreno em que estão implantadas.
5 Campo 9 (Avaliação do prédio): quando o valor patrimonial tributável ainda não
tiver sido fixado, indica-se aqui o número de registo e a data de entrega do modelo 1 do
Imposto Municipal sobre Imóveis. Se a avaliação for feita com base noutro documento,
indica-se apenas a data.

70
PARTE 2 • CAPÍTULO 1. PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS
A

6 Campo 10 (Expropriação por utilidade pública): é preenchido com o valor da


indemnização, se o imóvel tiver sido expropriado após a transmissão e antes da data de
liquidação do imposto. Caso tenha sido expropriado antes da transmissão, este valor já
faz parte da herança.
7 Campo 11 (Valor das partes integrantes): é preenchido quando, juntamente com o
imóvel, são transmitidos bens móveis a ele ligados, com caráter permanente, desde
que não estejam incluídos no valor patrimonial tributário (por exemplo, a bomba de
um furo).
8 Campo 12 (Descrição): é preenchido quando se considera serem necessárias
explicações adicionais para a correta identificação do imóvel.

O relacionamento dos bens deve ser numerado (número de verba) e iniciar-se


pelos que têm um número de código mais baixo. Ou seja, se a herança incluir
bens imóveis em propriedade plena, estes terão os números de verba iniciais
(dois terrenos são identificados por 1 e 2, por exemplo); havendo também o
usufruto sobre uma quinta, este será o n.º 3; bens móveis seguirão com 4, 5,
6... No final surgem os encargos, cuja numeração deve respeitar a ordenação
anterior.

Em princípio, a cada bem transmitido corresponde apenas uma verba, com


exceção dos seguintes casos:
— se um bem for transmitido a favor da herança e de um legatário e/ou a
diferentes legatários, é desdobrado em tantas verbas quantos os sujeitos
passivos, referindo-se a respetiva quota-parte;
— se o cumprimento de um encargo for atribuído a diferentes beneficiários,
é desdobrado em tantas verbas quantos os beneficiários, com a indicação
da quota-parte correspondente.

Tal como exemplificado nas instruções do impresso, se o autor da herança


instituir no testamento um legado de 1⁄3 de um imóvel e atribuir ao legatário
o encargo de 1⁄4 do pagamento da hipoteca, cabendo o restante do imóvel e
do encargo aos herdeiros, a relação de bens deve incluir quatro verbas:
— no impresso relativo aos bens imóveis, uma verba com 1⁄3 do imóvel e
outra com 2⁄3;
— no impresso sobre encargos, uma verba com 1⁄4 da hipoteca e outra com
3⁄4.

No campo 2 da relação de bens (quota-parte transmitida) é indicada a parte


do bem efetivamente transmitida. Por exemplo, na transmissão de um bem
comum de um casal, a parte transmitida por óbito de um dos cônjuges é de
metade. Logo, o campo é preenchido com 1⁄2. Quando o autor da herança já
era, por sua vez, titular de um quinhão de herança ainda não dividida, devem

71
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

mencionar-se todos os bens que dela fazem parte, a quota que lhe correspon-
dia e a indicação de que se trata de parte de herança indivisa, colocando-se
um S (sim) na quadrícula imediatamente ao lado do campo 2. Não sendo o
caso, coloca-se um N (não).

Anexo II
— tipo 01: para a liquidação da herança;
— tipo 02: nas sucessões por morte, destina-se à liquidação dos legados.

Anexo III
Serão apresentados tantos quantos forem necessários, quando o espaço des-
tinado à identificação dos beneficiários no modelo 1 for insuficiente para o
efeito (o modelo 1 tem espaço para identificar quatro beneficiários).

Documentos previstos no n.o 1 do art. 15.o


Trata-se do último balanço das empresas que constem da herança ou,
em alternativa, da certidão da partilha ou liquidação da sociedade (onde
consta o valor atribuído nestes processos) ou, ainda, do contrato social.

Documentos previstos na alínea f) n.o 6 do art. 26.o


— extrato do último balanço das sociedades que integram a herança;
— declaração emitida pela empresa, referindo a sua data de constituição,
o número de ações em que se divide o capital e respetivo valor nominal,
bem como os resultados líquidos dos dois últimos anos.

Documentos previstos na alínea g) n.o 6 do art. 26.o


É o extrato do último balanço da empresa ou do balanço da liquidação.

Documentos previstos na alínea h) n.o 6 do art. 26.o


Declaração emitida por cooperativas, onde consta o valor nominal dos títulos
que as representam.

72
PARTE 2 • CAPÍTULO 1. PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS
A

Documentos previstos na alínea i) n.o 6 do art. 26.o


É um documento emitido pelas sociedades, indicando que as ações detidas
pelo autor da herança apenas dão direito a participação nos lucros e, também,
o valor dos dividendos distribuídos nos dois exercícios anteriores.

Documentos previstos na alínea j) n.o 6 do art. 26.o


Podem consistir no extrato do último balanço do estabelecimento comercial,
industrial ou agrícola, no balanço de liquidação, na certidão do contrato social
ou do inventário, consoante as circunstâncias.

Omissões e irregularidades
Quando não for possível juntar a certidão do testamento, por se encontrar
nas mãos de outrem, cabe ao chefe do serviço de Finanças notificar essa
pessoa para, no prazo de 15 dias, fornecer a certidão. O mesmo acontece
relativamente a administradores, gerentes, liquidatários da empresa ou
administradores da massa falida, caso os interessados provem a impossi-
bilidade de obter informações sobre as empresas indicadas (por exemplo,
apresentando documentos que as recusam).

Se, terminado o prazo para apresentar a declaração, algum herdeiro ou


legatário tiver na sua posse bens da herança que não constem na relação
de bens, terá de descrevê-los nos 30 dias seguintes.

Ainda que não seja devido imposto, por se estar isento, por exemplo,
é obrigatório fazer a declaração e a relação de bens. Se não forem cumpri-
das estas diligências e o chefe do serviço de Finanças tomar conhecimento
de que houve uma transmissão de bens, por outro meio, deve instaurar
oficiosamente o processo de liquidação. Antes disso, notifica o infrator ou
infratores para efetuarem a participação ou corrigirem irregularidades ou
omissões detetadas na declaração apresentada — sob pena de se considerar
que os bens foram intencionalmente ocultados ou, em linguagem jurídica,
sonegados. O prazo é definido pelo chefe do serviço de Finanças, mas não
será inferior a dez dias nem superior a trinta.

Mantendo-se a suspeita de ocultação de bens, o chefe do serviço de Finan-


ças requer o seu arrolamento (inventário) em tribunal. Tratando-se de
bens a que a administração fiscal não possa aceder, devido a sigilo bancário

73
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

ou profissional, por exemplo, o Ministério Público do tribunal da comarca


da residência do autor da herança ou do beneficiário é informado, para que
tome as diligências necessárias.

Quando os interessados ou os bens forem desconhecidos, ou os bens tiverem


desaparecido, cabe ao serviço de Finanças decidir se o processo é arquivado
ou se, por exemplo, decorrerão investigações adicionais com vista ao apura-
mento desses interessados ou bens. O chefe do serviço de Finanças deverá
ainda juntar alguns documentos, tais como as certidões relativas ao valor
patrimonial tributário dos imóveis. Depois de instruído o processo com todos
os elementos necessários, terá lugar a liquidação do imposto, com base na
informação apurada e na previamente existente.

Se estiver pendente um processo judicial acerca da qualidade de herdeiro,


validade ou objeto da transmissão ou, ainda, um processo de expropriação
por utilidade pública de bens pertencentes à herança, o cabeça-de-casal
ou o testamenteiro podem requerer a suspensão da liquidação. Para o
efeito, terão de apresentar nas Finanças uma certidão do tribunal que
indique o estado da causa. Esta suspensão refere-se apenas aos bens que
forem objeto do litígio. Depois de a decisão transitar em julgado (quando o
recurso deixa de ser possível), os interessados têm 30 dias para o declarar
junto do serviço de Finanças.

Outros procedimentos
e comunicações
Dependendo das relações contratuais de que o falecido era parte e dos bens
que detinha, podem ainda ser necessárias outras diligências.

Trabalho
A morte põe termo ao contrato de trabalho e, com exceção da comunica-
ção do óbito à entidade patronal do falecido, os familiares nada têm a fazer.
No entanto, a morte de familiares confere o direito a um determinado número

74
PARTE 2 • CAPÍTULO 1. PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS
A

de faltas justificadas, que depende da proximidade com o falecido (ver o qua-


dro abaixo). Estas faltas, além de justificadas, não podem ser descontadas ao
salário nem à antiguidade do trabalhador.

FALTAS JUSTIFICADAS POR FALECIMENTO DE FAMILIARES


– CÔNJUGE OU PESSOA COM QUEM VIVIA
EM UNIÃO DE FACTO
– FILHOS (1) OU ENTEADOS 20 dias seguidos
– QUALQUER PESSOA QUE VIVESSE EM ECONOMIA COMUM
COM O FALECIDO
– PAI/MÃE
– PADRASTO/MADRASTA 5 dias seguidos
– SOGRO/SOGRA
– GENRO/NORA
– NETOS E BISNETOS
– IRMÃOS
2 dias seguidos
– CUNHADOS
– AVÓS E BISAVÓS DO PRÓPRIO OU DO CÔNJUGE
(OU UNIDO DE FACTO)
(1) Tratando-sede luto gestacional, o pai tem direito a três dias. A mãe também terá se não gozar a licença
de 14 a 30 dias por interrupção da gravidez.

Créditos bancários
A herança terá de responder por eventuais créditos bancários contraídos pelo
falecido. Nos casos em que o seu valor ultrapasse o do património, das duas,
uma: ou se vende o bem ou os herdeiros assumem a dívida. Esta última opção
pode ser particularmente importante no que respeita ao crédito à habitação.
Embora em situações desta natureza os herdeiros possam assumir a dívida
ao banco, se houver um seguro de vida, o empréstimo ficará total ou parcial-
mente pago: tudo depende do tipo de apólice contratada (ver a seguir).

Caso a dívida não fique automaticamente saldada, as condições do cré-


dito são renegociadas, como se de um novo empréstimo se tratasse. Logo,
depende da aprovação do banco, tendo em conta os critérios adotados
para os empréstimos em geral. Se, pelo contrário, os herdeiros não qui-
serem ficar com o bem financiado, a solução passa pela venda, com a
liquidação da dívida. O dinheiro que sobrar é dividido por todos como
fazendo parte da herança.

75
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

Seguros de vida
Os seguros de vida garantem o pagamento de um capital aos beneficiários
indicados na apólice, em caso de morte da pessoa segura. Tanto podem
existir seguros para garantir um crédito à habitação como para beneficiar
um herdeiro.

COMO SABER SE HÁ SEGUROS DE VIDA?


Na eventualidade de existirem dúvidas sobre se o falecido tinha ou não subscrito segu-
ros de vida, de acidentes pessoais ou de capitalização com beneficiários em caso de
morte, qualquer pessoa pode solicitar essa informação à Autoridade de Supervisão de
Seguros e Fundos de Pensões. Basta preencher um formulário que pode ser obtido no
site daquele organismo (www.asf.com.pt) e apresentado, pessoalmente ou por cor-
reio, no Serviço de Atendimento Público da Autoridade de Supervisão de Seguros e
Fundos de Pensões. Se a resposta for positiva, para saber se é beneficiário, o próprio
ou o seu representante legal podem dirigir-se à seguradora indicada na resposta.

No crédito à habitação
Normalmente, quem contrai um crédito para comprar casa contrata um
seguro de vida, indicando o banco como beneficiário. Por norma, é esco-
lhido o capital seguro variável, em que o valor vai diminuindo ao longo do
período contratado, acompanhando a amortização do empréstimo. Quando
o crédito é pedido por um casal, há a possibilidade de o seguro garantir o
risco de morte de ambos ou de apenas um deles (aquele que mais contribui
para a amortização). Não tendo o agregado capacidade para pagar o crédito,
na eventualidade de um dos cônjuges falecer, é recomendável a contratação
de um seguro para duas cabeças, a 100%: por morte de um dos cônjuges,
o crédito fica automaticamente pago.

Beneficiar um herdeiro
Estes seguros também podem ser contratados sem estarem associados a
um fim específico, visando tão-somente acautelar a situação financeira
de alguém que esteja ligado à pessoa que subscreveu a apólice. Tal como
referido no capítulo Preparar a sucessão, a partir da página 12, são a única
forma de contornar as limitações impostas pelas regras da sucessão legiti-
mária. Mas atenção ao capital seguro: quanto mais elevado, mais caro é o

76
PARTE 2 • CAPÍTULO 1. PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS
A

preço a pagar. Da mesma forma, o prémio será tanto mais elevado quanto
mais avançada for a idade do titular.

Em caso de morte
Se o titular do seguro morrer, o banco e a seguradora devem ser avisados
de imediato. A seguradora paga o capital aos beneficiários indicados ou aos
que resultarem da habilitação de herdeiros, depois de apresentados, respe-
tivamente, a certidão de óbito ou o documento da habilitação de herdeiros.
Na eventualidade de os beneficiários terem falecido antes do titular da apó-
lice, a seguradora entrega o capital ao cônjuge deste último, desde que o
casal não se encontrasse divorciado nem separado judicialmente. Na falta de
cônjuge, serão os herdeiros legítimos do titular a receber o capital.

Extinção das garantias e exclusões


As garantias do seguro de vida terminam a partir de determinada idade, con-
soante a seguradora e o tipo de coberturas contratadas. Além disso, como
qualquer seguro, também o de vida se encontra sujeito a exclusões. É o caso,
entre outros, do suicídio do titular (geralmente, nos dois primeiros anos de
contrato), da morte causada por estado de embriaguez ou uso de estupefa-
cientes e do falecimento na sequência de atos de terrorismo, greves, guerras
e desportos de alto risco.

Aplicações financeiras
Os investimentos do falecido fazem parte da herança. Neste contexto, são consi-
derados, entre outros, os depósitos a prazo, as ações cotadas em Bolsa, as obri-
gações, os Certificados de Aforro ou outros títulos de dívida pública, como os
Certificados do Tesouro, e alguns seguros de capitalização. Ora, para que tais
aplicações sejam transferidas para os novos titulares, é necessário que os herdei-
ros tenham a certidão de óbito e o documento de habilitação e, em conjunto, o
apresentem à entidade que as detém: no caso dos depósitos a prazo, ao banco;
no das ações e obrigações, ao banco ou à corretora; no dos Certificados de Aforro
e demais títulos da dívida pública, à Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida
Pública; e, no dos seguros, à seguradora ou mediador onde tiverem sido contrata-
dos. Se não o fizerem em conjunto, terão de aguardar pela conclusão da partilha
e receber a parte que corresponder a cada um.

77
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

Valores mobiliários
Ações, obrigações e unidades de participação em fundos de investimento são
supervisionados pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).
É a esta entidade que os herdeiros têm de dirigir-se para obter a declaração
comprovativa dos valores detidos pelo falecido, que terão de apresentar nas
Finanças. O pedido é feito através do Balcão Único Eletrónico, disponível no
site desta entidade (www.cmvm.pt), sendo necessário efetuar um registo pré-
vio. No entanto, para solicitar a declaração, os herdeiros já precisam de saber
que o falecido detinha valores mobiliários e terão de indicar a identificação
completa dos produtos. Sem essa informação, ficam impossibilitados de os
reclamar.

No que respeita à transferência da titularidade das aplicações, os procedi-


mentos variam. Havendo uma partilha por inventário, é o próprio notário,
conservador ou funcionário judicial, se o inventário decorrer em tribunal,
a ocupar-se de tal tarefa. Nos restantes casos, o cabeça-de-casal ou o notário
que tenha lavrado a escritura de partilha procedem a estas operações junto
do banco ou da corretora.

Contas bancárias e seguros de capitalização


Os montantes depositados em contas a prazo ou à ordem podem ser transferi-
dos para outras contas, de que os herdeiros sejam titulares. Se o dinheiro for
depositado noutro banco, os herdeiros poderão ter de pagar a transferência.
Uma vez mais, será necessário o documento de habilitação de herdeiros. Pre-
sume-se que fazem parte da herança as contas que pudessem ser movimenta-
das pelo falecido. Os capitais contratados nos seguros de capitalização devem
ser resgatados e atribuídos aos herdeiros. Os interessados nada têm a pagar
para recuperarem o dinheiro.

Títulos de dívida pública


A transferência de titularidade dos Certificados de Aforro e de outros títulos
da dívida pública é requerida à Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida
Pública. O impresso pode ser obtido em www.igcp.pt. Mas convém ter em
atenção o prazo de reembolso, já que, terminando sem que haja habilitação
de herdeiros e partilhas, há o risco de o dinheiro aplicado reverter a favor do
Estado. Assim, os Certificados de Aforro da série A e B prescrevem no prazo
de cinco anos a contar do falecimento, caso este tenha ocorrido antes de 4 de
maio de 1997, ou no prazo de dez anos, quando a data do óbito for posterior a

78
PARTE 2 • CAPÍTULO 1. PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS
A

4 de maio de 1997. Também os Certificados do Tesouro prescrevem no prazo


de dez anos a contar do falecimento do titular. Já os Certificados de Aforro da
série C, D e E prescrevem no prazo de dez anos após o respetivo vencimento.
Caso a prescrição venha a verificar-se, os herdeiros poderão ainda recorrer
ao tribunal, dado que já existem sentenças a considerar que o direito a pedir
o reembolso ou a transmissão dos Certificados de Aforro de que era titular
o falecido prescreve no prazo de dez anos após a data em que os herdeiros
tiveram conhecimento da sua existência.

COMO SABER SE HÁ VALORES DEPOSITADOS?


Numa situação ideal, o autor da herança terá transmitido a um familiar ou deixado
uma informação escrita sobre os ativos financeiros de que dispõe. No entanto, nem
sempre assim acontece. Nestes casos, em que não se sabe se o falecido tinha aplica-
ções em bancos ou, sabendo-se que existem, se desconhece qual a instituição em que
estão depositados, é possível recorrer ao Banco de Portugal e solicitar essa informação.
Qualquer herdeiro tem legitimidade para o fazer, devendo, para o efeito, consultar
a Base de dados de contas do Banco de Portugal (www.bportugal.pt) e comprovar,
por exemplo através da habilitação de herdeiros, que tem legitimidade para isso. Em
alternativa, pode fazer o pedido por correio ou presencialmente, em qualquer posto
de atendimento do Banco de Portugal. Num caso como noutro, terá de apresentar os
originais ou cópias autenticadas da habilitação de herdeiros e do seu documento de
identificação. Se a dúvida se prende com Certificados de Aforro, a entidade a contactar
é a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública. O formulário está disponível
no site www.igcp.pt.

79
A A
A

CAPÍTULO 2

SEGURANÇA SOCIAL
E OUTRAS PROTEÇÕES
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

Quando morre uma pessoa, os familiares têm direito a prestações sociais, por
exemplo, através do Centro Nacional de Pensões ou da Caixa Geral de Aposen-
tações. Algumas são pagas de uma só vez, como o subsídio por morte, outras
são-no periodicamente (pensão de sobrevivência, por exemplo), quando se
destinem a garantir o sustento do cônjuge ou de parentes próximos de quem
faleceu. Muitas destas prestações são calculadas por referência ao Indexante
dos Apoios Sociais (IAS), mas também ao salário mínimo nacional ou à pensão
social. Se quiser fazer os cálculos, saiba que os respetivos valores, em 2024,
são de 510 euros, 820 euros e 231,88 euros. Poderá manter-se a par de even-
tuais atualizações destes montantes através dos serviços da Segurança Social.

Se a morte decorrer de um acidente de trabalho, também haverá compensações


para os herdeiros, embora, neste caso, suportadas por apólices de seguros ou
pela própria entidade patronal. Outro tipo de prestações pode ainda estar ao
alcance dos familiares do falecido, como irá verificar ao longo deste capítulo.

Regime geral da Segurança Social


Vejamos a que prestações têm direito os familiares das pessoas que se encon-
tram abrangidas pelo regime geral da Segurança Social. Para as requerer,
é necessário preencher alguns formulários, que pode obter diretamente na
Segurança Social ou através do site www.seg-social.pt.

Regime contributivo
O regime contributivo, a que pertence quem efetuou descontos ao abrigo da
sua atividade profissional, abrange os trabalhadores por conta de outrem,
os independentes e, ainda, as pessoas que contrataram o seguro social volun-
tário (veja em que consiste na página 104). Por isso, em regra, as explicações
que aqui deixamos aplicam-se a todos estes beneficiários.

Pensão de sobrevivência
A atribuição desta prestação depende de o falecido, à data do óbito, ter
descontado para a Segurança Social durante um mínimo de 36 meses

82
PARTE 2 • CAPÍTULO 2. SEGURANÇA SOCIAL E OUTRAS PROTEÇÕES
A

(ou 72 meses, tratando-se de contribuições para o seguro social voluntário),


podendo dela beneficiar:
— o cônjuge ou ex-cônjuge com direito a receber pensão de alimentos do
falecido;
— a pessoa que vivesse com o falecido em união de facto, desde que este não
fosse casado ou, sendo-o, se encontrasse separado de pessoas e bens;
— os descendentes, incluindo os que estiverem por nascer (nascituros) e os
adotados, até aos 18 anos; até aos 25 anos, se estiverem a frequentar um
curso de nível secundário, complementar, médio ou superior ou, ainda,
cursos de formação profissional que não os enquadrem num regime de
proteção social; até aos 27 anos, se frequentarem cursos de mestrado ou
pós-graduação ou estiverem a preparar a tese de licenciatura ou de douto-
ramento, bem como a realizar um estágio de fim de curso que seja indis-
pensável à obtenção do diploma, desde que não aufiram remuneração
superior a dois terços do Indexante dos Apoios Sociais (IAS). Não há limite
de idade para quem sofra de deficiência, desde que seja destinatário das
prestações familiares (ver, na página 91, a caixa Assegurar as prestações
familiares e outros subsídios). Caso se tenha candidatado ao ensino superior,
mas não tenha sido colocado, o descendente mantém o direito à pensão
durante um ano;
— os ascendentes (pais, avós, etc.) a cargo do falecido à data da morte, se não
houver cônjuge ou ex-cônjuge nem descendentes com direito à pensão.

Não havendo filhos comuns, o cônjuge só tem direito a pensão se já estivesse


casado com o falecido há, pelo menos, um ano, a menos que a morte deste
se deva a acidente ou a doença contraída ou manifestada depois de casarem.
Quando o cônjuge, unido de facto ou ex-cônjuge tenha menos de 35 anos
no momento da morte do beneficiário, recebe a pensão durante cinco anos.
Se atingir essa idade enquanto tiver direito à pensão ou estiver numa situação
de incapacidade total e permanente para qualquer trabalho, e sempre que
tenha 35 anos ou mais, não existe limite de tempo. No entanto, se voltar a
casar ou passar a viver em união de facto, perde direito à pensão.

Qual o montante?
O valor da pensão de sobrevivência corresponde a uma percentagem da pen-
são que o falecido recebia ou daquela a que teria direito quando morreu. Esta
percentagem varia em função de quem tem direito a recebê-la:
— cônjuge, ex-cônjuge ou unido de facto: 60%, se for um titular; 70% divi-
didos em partes iguais, se for mais do que um. O montante atribuído ao
ex-cônjuge não pode exceder o que recebia como pensão de alimentos;
— descendentes: 20%, sendo um; 30%, se a pensão for repartida por dois;
40% divididos em partes iguais, se forem três ou mais. Estas percentagens
duplicam, caso não haja cônjuge ou ex-cônjuge com direito à pensão;

83
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

— ascendentes: 30%, para um; 50%, para dois; 80%, para três ou mais.
Só recebem se não existirem cônjuge nem descendentes com direito à
pensão.

Em julho e dezembro de cada ano, os pensionistas recebem o dobro do valor


habitual da pensão. Esta pode ser requerida após a morte do titular dos des-
contos, junto dos serviços da Segurança Social ou numa loja do cidadão. Não
há prazo para o fazer, sendo a pensão paga a partir do mês seguinte ao da
apresentação do requerimento.

Morte presumida
A pensão também é atribuída se a pessoa desaparecer em situação de guerra,
calamidade pública, sinistro ou outra semelhante, em condições que permi-
tam pressupor que terá morrido. Nesse caso, é necessário apresentar um
documento que declare o desaparecimento e a suposição de que ocorreu a
morte. A declaração é feita sob compromisso de honra e confirmada por duas
testemunhas. Se entender que não dispõe de elementos suficientes, a Segu-
rança Social pode pedir provas adicionais (ver também Ausência e morte pre-
sumida, na página 60).

Subsídio por morte


A atribuição desta prestação não exige um prazo mínimo de descontos.
Excetuam-se, apenas, as pessoas que estivessem ao abrigo do seguro social
voluntário, cujos beneficiários só receberão o subsídio se tiver existido o
mínimo de 36 meses de contribuições e o solicitarem até seis meses depois
do falecimento.

Os destinatários do subsídio por morte são os da pensão de sobrevivência, nos


mesmos moldes, mas tem de ser solicitado no prazo de 180 dias a partir do
falecimento. Se estes destinatários não existirem ou nenhum deles satisfizer
as condições para o receber, pode ser atribuído a outros familiares ou afins,
em linha reta ou colateral até ao 3.º grau (por exemplo, tios ou sobrinhos),
desde que se encontrassem a cargo do falecido no momento do óbito.

O montante do subsídio corresponde ao triplo do valor do Indexante dos


Apoios Sociais (IAS) e é atribuído da seguinte forma:
— metade ao cônjuge, ex-cônjuge ou unido de facto e metade aos descenden-
tes, quando haja membros de ambos os grupos;
— por inteiro ao cônjuge, ex-cônjuge ou unido de facto ou aos descendentes,
se não coexistirem;

84
PARTE 2 • CAPÍTULO 2. SEGURANÇA SOCIAL E OUTRAS PROTEÇÕES
A

— integralmente aos ascendentes ou aos outros familiares acima referidos,


se não houver cônjuge, ex-cônjuge ou unido de facto nem descendentes.

Em cada grupo de titulares do direito ao subsídio por morte, o montante


atribuído é dividido em partes iguais.

Reembolso de despesas de funeral


Não havendo familiares que reúnam as condições para receber o subsídio
por morte (os valores não são cumuláveis), a pessoa que tenha pago o funeral
pode ser reembolsada pela Segurança Social. O valor do reembolso corres-
ponde ao das despesas apresentadas, até ao limite de três vezes o IAS. O reem-
bolso tem de ser requerido no prazo de 90 dias, a contar da data da morte,
nos serviços da Segurança Social.

Regime não contributivo


Este regime abrange as pessoas que nunca descontaram para a Segurança
Social, residem em Portugal e estão numa situação de carência económica
ou social. Todas as prestações são requeridas da mesma forma que as men-
cionadas no âmbito do regime contributivo.

Pensão de viuvez
É concedida ao viúvo ou a quem vivia em união de facto com o beneficiário
da pensão social (atribuída por invalidez ou velhice) que não tenha direito a
outra pensão nem disponha de rendimentos mensais ilíquidos superiores a
40% do IAS. O montante é de 60% da pensão social fixada anualmente pelo
Estado. Deve ser requerida nos serviços da Segurança Social, no prazo de seis
meses após o do falecimento. Decorrido este prazo, é paga a partir do mês
seguinte ao do pedido.

Pensão de orfandade
Podem usufruir desta pensão os órfãos de pessoas não abrangidas por um
regime de Segurança Social, até atingirem a maioridade ou a emancipação
pelo casamento. Mas têm de preencher ainda um dos seguintes requisitos:

85
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

— rendimentos ilíquidos mensais até 40% do IAS, desde que o rendimento do


agregado familiar não ultrapasse uma vez e meia o valor deste indexante;
— rendimento por cada pessoa do agregado familiar até 30% do IAS e encon-
trar-se em situação de risco social.

O valor da pensão corresponde a uma percentagem da pensão social e varia


consoante o número de órfãos: 20%, se for apenas uma criança; 30%, se forem
duas; e 40%, se forem três ou mais. Na ausência de cônjuge ou ex-cônjuge do
falecido, estas percentagens sobem para o dobro.

Função pública
As prestações por morte, caso o falecido fosse agente ou funcionário da Admi-
nistração Pública, são idênticas às do regime geral da segurança social para
todos aqueles que se reformaram ou viriam a fazê-lo, se não tivessem falecido,
no regime que entrou em vigor no início de 2006. Quanto aos aposentados ao
abrigo do regime que vigorou até final de 2005, que se inscreveram na Caixa
Geral de Aposentações antes de 31 de agosto de 1993, bem como aos que,
estando no ativo, se aposentariam ao abrigo desse regime, há as especificida-
des que contemplamos a seguir.

Pensão de sobrevivência
A atribuição desta pensão requer que o falecido tivesse um mínimo de cinco
anos de inscrição na Caixa Geral de Aposentações (ou três anos, em caso de
incapacidade absoluta e permanente para qualquer trabalho). A contagem
deste período inclui, também, os descontos efetuados para outros sistemas
de previdência que prevejam o pagamento da pensão de sobrevivência. Têm
direito a ela os chamados herdeiros hábeis, ou seja:
— o cônjuge;
— o divorciado ou separado de pessoas e bens, desde que, à data da morte,
tivesse direito a receber pensão de alimentos daquele, fixada ou reconhe-
cida pelo tribunal;
— quem vivesse em união de facto com o falecido (ver caixa União de facto,
na página 141);

86
PARTE 2 • CAPÍTULO 2. SEGURANÇA SOCIAL E OUTRAS PROTEÇÕES
A

— os filhos menores ou os que, sendo maiores, sofram de incapacidade


permanente e total para o trabalho, comprovada por uma junta médica
da Caixa Geral de Aposentações. Não tendo esta incapacidade, os filhos
maiores recebem a pensão até aos 25 anos, se frequentarem com apro-
veitamento um curso médio, profissional ou superior; ou até aos 27 anos,
desde que estejam a fazer mestrado, pós-graduação, tese de licenciatura ou
de doutoramento ou, ainda, um estágio de fim de curso, se a remuneração
não for superior a 2/3 do salário mínimo nacional;
— os netos que reúnam as condições previstas para os filhos e sejam órfãos
de pai e mãe, ou só de um deles, se o outro não conseguir sustentá-los;
os que, não sendo órfãos, não possam exigir uma pensão de alimentos a
um dos progenitores e o outro não consiga assegurar a sua subsistência;
ou aqueles cujos pais se encontrem em parte incerta e não garantam o seu
sustento. Os netos só podem habilitar-se à pensão se os progenitores não
puderem fazê-lo;
— os pais e os avós que, à data do óbito, vivessem a cargo do falecido, desde
que não existam os herdeiros atrás referidos. Os pais e os avós consideram-
-se a cargo do falecido quando os seus rendimentos individuais ou, sendo
casados, metade do rendimento do casal (não incluindo a pensão de sobre-
vivência a que se habilitam) não sejam superiores ao valor do Indexante
dos Apoios Sociais e provarem que o falecido contribuía regularmente para
o seu sustento.

Repartir a pensão
Em caso de concorrência entre os herdeiros, a pensão é repartida da seguinte
forma:
— se os herdeiros forem todos do mesmo grupo — apenas filhos, por exem-
plo —, a pensão é repartida em partes iguais;
— se houver filhos e netos, a pensão é repartida pelos filhos. Caso algum já
tenha falecido, os seus filhos (ou seja, os netos) dividem entre si a parte
que lhe cabia;
— se existirem apenas netos, a pensão é dividida em partes iguais pelos pais,
isto é, todos os filhos do falecido. Posteriormente, cada uma destas partes
será subdividida, também em frações iguais, por cada grupo de irmãos
(ou seja, os netos do falecido);
— se existir cônjuge, separado de pessoas e bens, divorciado ou companheiro
de facto a concorrer com filhos, netos ou ambos, a pensão é dividida em
duas partes iguais, uma para o primeiro grupo e a outra para o segundo.
Estas duas frações são partilhadas entre os herdeiros de cada grupo,
de acordo com as regras atrás referidas.

87
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

Requerimento e pagamento
A pensão de sobrevivência é requerida, pelos interessados ou seus repre-
sentantes legais, através de formulário próprio, disponível no portal da
Caixa Geral de Aposentações (www.cga.pt/formularios.asp > CGA02 Pres-
tações por morte). Pode assumir os seguintes valores:
— se os anos de descontos e de inscrição na Caixa Geral de Aposentações
coincidirem, ou seja, se, desde a sua inscrição, tiver feito descontos de
forma contínua, a pensão de sobrevivência será igual a metade da pen-
são de aposentação ou de reforma que o falecido recebesse ou a que,
no momento da morte, tivesse direito;
— se os anos referidos na alínea anterior não coincidirem, porque os des-
contos foram feitos de forma intercalada, será igual a metade da pensão
de aposentação ou de reforma que corresponder ao período de descon-
tos, até ao limite de 36 anos;
— se o falecido usufruísse de uma pensão extraordinária de aposentação
ou reforma, o montante a receber equivale a metade do respetivo valor.
A possibilidade de aposentação extraordinária existiu até final de abril
de 2000 e verificava-se quando uma junta médica da Caixa Geral de
Aposentações declarava um trabalhador absoluta e permanentemente
incapaz para o exercício das suas funções, na sequência de acidente de
trabalho ou doença profissional. Também se incluíam os casos em que
o acidente ou a doença resultara de um ato humanitário ou de interesse
público (ver Pensões para casos especiais, na página 96). Apesar de já
não ser possível obter esta pensão, quem a tem continua a recebê-la
até falecer.

O pagamento é efetuado desde a data do óbito, se a pensão for requerida


no prazo de 12 meses; desde o primeiro dia do mês seguinte ao do óbito,
se for requerida pelo membro sobrevivo da união de facto no prazo de seis
meses; e a partir do mês seguinte ao da apresentação do requerimento,
se for solicitada depois de terminados estes prazos.

Pensão unificada
Na eventualidade de o falecido ter contribuído para o regime geral da
Segurança Social e para o da função pública, há a possibilidade de reque-
rer uma pensão unificada. O montante desta pensão nunca será inferior à
soma de todas as pensões a que o trabalhador teria direito, mas pode até
ser superior.

88
PARTE 2 • CAPÍTULO 2. SEGURANÇA SOCIAL E OUTRAS PROTEÇÕES
A

Subsídio por morte


Por morte do funcionário público, no ativo, já aposentado ou em caso de
desaparecimento no decurso de uma guerra, calamidade pública, acidente ou
outra situação semelhante, os seus beneficiários têm direito ao subsídio por
morte. Mas, para isso, é necessário que não possam receber um subsídio da
mesma natureza através de outro regime de segurança social. Os beneficiários
desta prestação são os seguintes:
— o cônjuge, desde que o casal não se encontrasse separado de pessoas e bens
ou de facto, ou a pessoa com quem o falecido vivesse em união de facto;
— os ex-cônjuges, desde que à data do falecimento tivessem direito a receber,
do falecido, pensão de alimentos decretada por sentença judicial;
— os descendentes (filhos, netos), adotados, afins no 1.º grau da linha reta des-
cendente (enteados), tutelados e pessoas que o tribunal tenha entregado à
guarda do falecido ou do seu cônjuge e que, à data do óbito, tenham menos
de 18 anos. Com esta idade ou superior, só recebem o subsídio se sofrerem
de deficiência ou, não sendo o caso, estivessem a cargo do falecido ou
vivessem com ele e não tivessem um rendimento superior ao Indexante
dos Apoios Sociais;
— os ascendentes (pais, avós), afins no 1.º grau da linha reta ascendente
(sogros) e adotantes do falecido ou do cônjuge que, no momento do óbito,
vivessem a seu cargo;
— outros parentes, segundo a ordem de sucessão legítima (ver Herança sem
testamento, na página 138), e os que, na data da morte, estivessem a cargo
do falecido ou com ele vivessem e não apresentassem rendimentos supe-
riores ao valor da pensão social (ou ao dobro desta, se forem casados).

Repartir o subsídio
O cônjuge ou equivalente e os descendentes têm preferência na atribuição
da prestação face aos restantes parentes. Em caso de concorrência entre o
cônjuge ou o companheiro de facto e os descendentes, o subsídio será divi-
dido em duas partes iguais, cabendo uma ao primeiro e a outra aos segundos.
Havendo mais do que um descendente, será partilhado por estes em partes
iguais. Por exemplo, se existir um cônjuge e dois filhos que reúnam as condi-
ções para a atribuição do subsídio e este for de mil euros, o primeiro recebe
500 euros e os segundos 250 euros cada um.

Se a concorrência se verificar apenas entre descendentes, apenas entre ascen-


dentes ou, ainda, entre outros parentes, o montante do subsídio é repartido

89
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

em frações iguais. Finalmente, se o direito ao subsídio for detido em simultâ-


neo por ascendentes e outros parentes, o montante é dividido em duas partes
iguais, sendo depois repartido da forma referida para a concorrência entre o
cônjuge e os descendentes.

Requerimento e pagamento
O subsídio por morte é pago de uma só vez e corresponde a três vezes
o valor da pensão mensal ilíquida a que o falecido teria direito, até ao
máximo de três vezes o Indexante dos Apoios Sociais (IAS). Os interessados
têm um ano, a contar da data da morte, para requerer esta prestação junto
da Caixa Geral de Aposentações. Se não existirem pessoas que reúnam as
condições para receber este subsídio (herdeiros legais), quem tiver supor-
tado as despesas com o funeral pode ser reembolsado até ao limite do
subsídio. O interessado deve solicitar esta prestação no prazo de 180 dias,
após o registo do óbito, junto da Caixa Geral de Aposentações.

Subsídio de funeral
Trata-se de uma prestação atribuída de uma só vez, destinada a compensar
quem pagou as despesas do funeral, até a um montante máximo equiva-
lente ao triplo do valor do Indexante dos Apoios Sociais (IAS). É comum ao
regime geral da Segurança Social e à função pública e deve ser requerido
no prazo de 90 dias, a contar do primeiro dia do mês seguinte ao da morte.

O subsídio de funeral é atribuído às pessoas que demonstrem ter efetuado


essas despesas, desde que:
— o falecido e quem pagou as despesas fossem residentes em território
nacional. No caso da pessoa que pagou as despesas, também está abran-
gido quem seja equiparado a residente ou resida num país com o qual
Portugal tenha celebrado um acordo internacional para estas situações;
— o falecido não estivesse enquadrado por um regime obrigatório de pro-
teção social com direito ao subsídio por morte ou, estando enquadrado,
o valor a que os beneficiários teriam direito por essa via seja inferior a
50% do subsídio por morte do regime geral da Segurança Social (ver a
página 84).

90
PARTE 2 • CAPÍTULO 2. SEGURANÇA SOCIAL E OUTRAS PROTEÇÕES
A

ASSEGURAR AS PRESTAÇÕES FAMILIARES


E OUTROS SUBSÍDIOS
•Algumas prestações da Segurança Social são um direito das crianças e dos jovens,
independentemente de ter ou não ocorrido o óbito dos progenitores. Mas são os pais,
ou outros adultos que os tenham a cargo, que têm de as requerer e recebem os res-
petivos montantes. Morrendo um deles, pode ser necessário contactar a entidade res-
ponsável pelo pagamento destas prestações para que sejam efetuadas as alterações
necessárias. Se o beneficiário já for maior, pode ser o próprio a requerê-las. Entre estas
prestações encontram-se as que se seguem:
— abono de família para crianças e jovens, atribuído aos que residirem em Portugal.
Existe um limite de idade até aos 16 anos, mas, em determinadas circunstâncias,
nomeadamente se os beneficiários estiverem a estudar ou forem portadores de
deficiência, o pagamento do subsídio poderá ser prolongado até aos 24 anos ou,
caso exista declaração médica a atestar que o jovem sofreu acidente ou doença que
não lhe permitiu concluir os estudos nesse prazo, até aos 27 anos;
— bolsa de estudo, para os membros de agregados familiares com baixos rendimen-
tos que tenham menos de 18 anos e estejam a estudar com aproveitamento.
•Há, ainda, outras prestações, atribuídas a pessoas com limitações, cuja continuidade
pode ser necessário assegurar:
— subsídio por frequência de estabelecimento de educação especial, atribuído a
portadores de deficiência que frequentem este tipo de estabelecimento, até aos
24 anos;
— prestação social para a inclusão, destinada a promover a inclusão social de pes-
soas com deficiência de que resulte uma incapacidade igual ou superior a 60%;
— subsídio por assistência de terceira pessoa, atribuído a portadores de deficiência
com elevado grau de dependência para a satisfação das suas necessidades básicas
diárias que recebam abono de família.

Acidentes de trabalho
e doenças profissionais
Os trabalhadores por conta de outrem e os independentes estão obrigados,
por lei, a ter um seguro de acidentes de trabalho. Se, no primeiro caso, é o
empregador a contratar o seguro, tendo como beneficiário o trabalhador,
no segundo, é este quem tem de suportar as despesas com a apólice. Tra-
tando-se de funcionários da Administração Pública, os organismos estatais
normalmente não contratam este seguro, pagando dos seus cofres as despesas
de um eventual acidente.

91
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

Quem sofra de doença profissional, ainda que não esteja protegido por um
seguro, também irá obter uma compensação financeira. Quando a doença
acabe por provocar a morte, serão o Departamento de Proteção contra os
Riscos Profissionais ou a Caixa Geral de Aposentações a assumir a responsa-
bilidade. Apesar de o regime também cobrir outras situações, tratando este
livro de sucessões e heranças são referidas apenas as prestações devidas por
morte do trabalhador.

Acidentes de trabalho
A lei diz que o acidente de trabalho é aquele que se verifica no local e durante
o tempo de trabalho, tendo como consequência, direta ou indireta, uma lesão
corporal, uma perturbação funcional (alteração do funcionamento de um
órgão ou faculdade) ou uma doença que reduza a capacidade de trabalho ou
ganho ou provoque a morte. Para este efeito, também é considerado local de
trabalho o lugar onde o trabalhador esteja a prestar teletrabalho, desde que
conste do acordo de teletrabalho. Por tempo de trabalho entende-se, além do
período normal de trabalho, o que o precede, em atos de preparação ou com
ele relacionados, e o que se lhe segue, também em atos com ele relacionados,
e ainda as interrupções normais ou forçosas.

São acidentes de trabalho todos os que ocorram:


— entre a residência habitual ou ocasional e o local de trabalho;
— entre os locais atrás referidos e o de pagamento da retribuição ou o local
onde o trabalhador receba assistência devido a um acidente de trabalho
anterior, bem como enquanto aí permanecer;
— entre o local de trabalho e o de refeição;
— entre o local onde, por ordem do empregador, preste um serviço relacio-
nado com o seu trabalho, e as instalações onde trabalha habitualmente ou
a sua residência;
— entre os seus locais de trabalho, se tiver mais do que um emprego;
— enquanto representante dos trabalhadores, em reuniões ou outras ativida-
des, no local de trabalho ou fora dele;
— em ações de formação profissional, mesmo no exterior, desde que, neste
caso, expressamente autorizadas pelo empregador;
— quando, no decurso de um processo de cessação do contrato de trabalho
(por exemplo, despedimento coletivo ou por extinção do posto de traba-
lho), estiver à procura de emprego, durante o período que a lei prevê para
o efeito (o equivalente a dois dias por semana);
— sempre que estiver a realizar serviços que resultem em benefícios econó-
micos para a entidade patronal, ainda que esta não os tenha pedido;

92
PARTE 2 • CAPÍTULO 2. SEGURANÇA SOCIAL E OUTRAS PROTEÇÕES
A

— fora do local ou do tempo de trabalho, durante a execução de serviços


determinados pelo empregador ou por este consentidos.

Quanto aos acidentes no trajeto habitual, também são considerados os que


ocorrerem quando o percurso sofreu alterações, interrupções ou desvios,
para satisfazer uma necessidade válida do trabalhador (levar os filhos à
escola, por exemplo) ou por motivos de força maior (obras na estrada, trân-
sito intenso, etc.).

Pensão por morte


Quando do acidente resultar a morte do trabalhador, as pensões anuais (mas
pagas mensalmente) são as seguintes, pela ordem de preferência indicada:
— ao cônjuge ou pessoa com quem vivesse em união de facto: 30% do salário
do falecido, até chegar à idade de reforma por velhice, e 40% a partir desta
idade ou, antes, se ocorrer uma doença física ou mental que afete em mais
de 75% a sua capacidade de trabalho;
— ao ex-cônjuge ou separado de pessoas e bens à data do acidente e com
direito a alimentos: os valores referidos na alínea anterior, mas com o limite
correspondente à pensão de alimentos que recebia;
— aos filhos, incluindo nascituros, adotados e enteados com direito a alimen-
tos por parte do falecido, até aos 18 anos, podendo prolongar-se até aos 22
ou 25 anos, desde que frequentem, respetivamente, o ensino secundário
ou o ensino superior (ou cursos equiparados). Não há limite de idade se
sofrerem de deficiência ou doença que afete em mais de 75% a sua capa-
cidade de trabalho. Recebem 20% do salário, se for um; 40%, sendo dois;
50%, se existirem três ou mais. Terão direito ao dobro destas percentagens,
até ao limite de 80%, se forem órfãos de pai e mãe ou, enquanto tiverem
direito à pensão, ficarem nessa situação;
— aos ascendentes (pais, avós) com rendimentos individuais inferiores ao
valor da pensão social ou, sendo um casal, ao dobro deste montante, bem
como a outros parentes suscetíveis de serem herdeiros (por exemplo, sobri-
nhos), que vivessem com o falecido. Estes têm de satisfazer as mesmas
condições que os filhos (recebem até aos 18, 22 ou 25 anos, conforme o grau
de ensino que frequentem). Cada um recebe o correspondente a 10% do
salário, não podendo o total exceder 30%. Caso não haja mais pessoas com
direito, recebem 15% até chegarem à idade da reforma e 20% depois ou em
caso de doença física ou mental que os incapacite consideravelmente para
o trabalho (mais de 75 por cento).

As pensões atribuídas a estas pessoas podem ser cumulativas, até atingirem


80% da retribuição do falecido. Se excederem este limite, cada beneficiário

93
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

recebe proporcionalmente ao que teria direito. O cônjuge, o ex-cônjuge,


o companheiro de facto ou o separado de pessoas e bens que case ou passe a
viver em união de facto recebe, de uma só vez, o triplo da pensão anual. Não
havendo ninguém com direito a pensão, reverte para o Fundo de Acidentes
de Trabalho uma quantia igual ao triplo da retribuição anual do falecido.

Subsídio por morte


O subsídio por morte é pago de uma única vez e destina-se a cobrir os encar-
gos originados pela morte de quem sofre o acidente de trabalho. O seu mon-
tante equivale a 12 vezes o valor de 1,1 Indexante dos Apoios Sociais (IAS).
Metade do subsídio é entregue ao cônjuge, ex-cônjuge ou companheiro de
facto, e a outra é repartida pelos filhos com direito à pensão por morte. Se não
houver, em simultâneo, cônjuge (ou companheiro de facto ou ex-cônjuge) e
filhos, aquele ou estes recebem o subsídio por inteiro.

Subsídio por despesas de funeral


Destinado a compensar as despesas com o funeral, será pago a quem demons-
trar tê-las suportado, independentemente de se tratar de um familiar ou não.
O seu valor corresponde ao montante gasto, com o limite máximo de quatro
vezes 1,1 IAS. O subsídio deve ser pedido no prazo de um ano após a realização
das despesas.

Especificidades da função pública


O regime dos acidentes de trabalho na função pública abrange todos os traba-
lhadores ao serviço da Administração Pública, quer tenham sido nomeados
quer estejam ao abrigo de um contrato de trabalho. Este regime é semelhante
ao dos trabalhadores abrangidos pelo regime geral da Segurança Social, ado-
tando as mesmas definições de acidente de trabalho e doença profissional.
No entanto, a menos que se demonstre ser mais vantajoso, a responsabili-
dade não é transferida para as seguradoras. A celebração destes contratos
de seguro tem de ser expressamente autorizada pelo ministro das Finanças e
pelo ministro que tutela a área de atividade do serviço em causa.

O subsídio por morte, que se destina a compensar os encargos resultantes


do falecimento de um membro do agregado familiar, é de 12 � 1,1 IAS, sendo
atribuído às seguintes pessoas:

94
PARTE 2 • CAPÍTULO 2. SEGURANÇA SOCIAL E OUTRAS PROTEÇÕES
A

— cônjuge ou companheiro de facto, este desde que tenha a possibilidade


de exigir uma pensão da herança (ver caixa União de facto, na página 141);
— filhos, incluindo os nascituros, adotados e enteados com direito a presta-
ção de alimentos, desde que tenham direito à pensão por morte.
Em caso de concorrência entre estes dois grupos, o subsídio é repartido
equitativamente.

O subsídio por morte e as despesas de funeral são pagos pelo serviço,


quando o falecido ainda estava no ativo, e pela Caixa Geral de Aposenta-
ções, caso já se encontrasse aposentado. As despesas com o funeral são
pagas até ao limite de quatro vezes 1,1 IAS, ou o dobro, se houver trasla-
dação do corpo. Este pagamento é feito a quem provar ter suportado as
despesas de funeral.

Em matéria de pensões, pagas pela Caixa Geral de Aposentações, os direitos


são os referidos para o Regime Geral da Segurança Social. Destaca-se o facto
de a pensão por morte atribuída nestes casos não ser acumulável com outras
prestações (por exemplo, a pensão de preço de sangue, de que se fala mais
adiante), com exceção da pensão de sobrevivência, que é cumulativa na
parte em que exceder a pensão por morte.

Trabalhadores independentes
Os trabalhadores independentes têm de efetuar um seguro que lhes garanta,
e aos seus familiares, as prestações por morte devidas a acidente de trabalho,
nas mesmas condições dos trabalhadores por conta de outrem. Só está dis-
pensado deste seguro quem produza apenas para consumo ou utilização do
agregado familiar. Todos os outros trabalhadores, incluindo os independentes
que também exerçam uma atividade por conta de outrem, sujeitam-se a uma
coima entre 50 e 500 euros se não o fizerem.

Quando a vítima trabalhar, simultaneamente, por conta de outrem e de forma


independente, e houver dúvidas quanto ao regime a aplicar, presume-se, até
prova em contrário, que o acidente ocorreu ao serviço da entidade emprega-
dora. Se ocorrer um acidente mortal, os beneficiários devem comunicá-lo à
seguradora. Esta, por sua vez, envia de imediato uma comunicação escrita ao
tribunal. Para o cálculo da indemnização a entregar aos beneficiários, serão
considerados como rendimentos, pelo menos, 14 salários mínimos nacio-
nais. Se o trabalhador indicar outro valor de referência quando subscrever a
apólice, a seguradora pode exigir provas do rendimento auferido e aplicar o
acréscimo ao prémio do seguro, ou seja, ao seu custo.

95
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

O seguro é válido em Portugal e nos Estados-membros da União Europeia


onde o trabalhador exerça a sua atividade, por um prazo até 15 dias. Para
abranger períodos superiores e ser válido noutros países, é necessário con-
tratar uma extensão da cobertura e pagar um montante adicional.

Doenças profissionais
Reconhece-se que um trabalhador, incluindo os independentes, sofre de
doença profissional quando o diagnóstico aponta para uma causa diretamente
relacionada com a sua atividade profissional. O diagnóstico é efetuado pelo
Departamento de Proteção contra os Riscos Profissionais, a que o próprio
trabalhador pode tomar a iniciativa de dirigir-se.

Existe uma lista oficial de doenças profissionais (a Tabela Nacional de Incapa-


cidades por Acidentes de Trabalho e Doenças Profissionais), mas o conceito
contempla ainda as situações em que o trabalhador sofre uma lesão corporal,
alteração no funcionamento de um órgão ou doença, resultantes de uma
causa contínua, mesmo que não conste da tabela. Porém, é preciso provar
que a doença é consequência da atividade profissional e não de um desgaste
normal do organismo.

Quando a doença profissional origina a morte do trabalhador, têm direito às


prestações por morte (pensão, subsídio e reembolso das despesas de funeral)
as pessoas referidas nos acidentes de trabalho, nas mesmas condições (ver
Pensão por morte, na página 93). O pagamento das prestações é solicitado
junto do Departamento de Proteção contra os Riscos Profissionais ou dos
centros distritais da Segurança Social.

Pensões para casos especiais


As prestações que se seguem são atribuídas em situações menos comuns,
por serviços prestados à Nação, defesa da democracia, atos de bravura
num cenário de guerra, entre outras, mas, no geral, são cumulativas com
as anteriores.

96
PARTE 2 • CAPÍTULO 2. SEGURANÇA SOCIAL E OUTRAS PROTEÇÕES
A

Pensão de preço de sangue


A morte em prol da Pátria pode dar lugar ao pagamento de uma pensão de
preço de sangue. Isso acontece quando se verifica o falecimento de:
— militar ao serviço da Nação, morto devido a acidente em serviço ou
a doença adquirida ou agravada em serviço como consequência do
acidente;
— civil incorporado numa missão das Forças Armadas, nas mesmas
circunstâncias;
— deficiente das Forças Armadas com uma incapacidade igual ou superior
a 60%;
— magistrado, oficial de justiça, agente da autoridade, elemento das forças
de segurança, funcionário dos serviços prisionais e de reinserção social
falecido na sequência de ferimentos ou de acidente no desempenho das
suas funções;
— médico, veterinário, farmacêutico ou enfermeiro falecido devido a feri-
mentos ou a acidente no desempenho da sua atividade, em caso de alte-
ração da ordem ou no combate a epidemias de doenças infecciosas ou
contagiosas, nos laboratórios de bacteriologia ou em postos de desinfeção;
— médico, engenheiro ou outro técnico falecido devido a ferimentos ou a
acidente no desempenho de missões oficiais, em caso de trabalhos com
radiações ionizantes, a lesões ou doenças contraídas devido a esses tra-
balhos ou ao contacto com materiais tóxicos;
— funcionário ou agente do Serviço Nacional de Bombeiros e Proteção Civil
ou pertencente a corpo de bombeiros, quando a morte resultar de feri-
mentos ou acidente no desempenho da sua missão;
— funcionário da Direção-Geral das Florestas, falecido no combate a
incêndios;
— funcionário ou agente da administração central, regional ou local ou de
outros serviços ou órgãos do Estado, quando a morte resulte de ferimen-
tos ou acidente no decurso de ações de emergência ou proteção civil;
— titular de órgão de soberania ou de governo das regiões autónomas, pre-
sidentes de câmaras municipais e vereadores em regime de permanência,
no exercício e por causa das suas funções.

É equiparado ao falecimento o desaparecimento em campanha ou numa


situação de perigo de um militar ou de um civil ao serviço das Forças Arma-
das, havendo indícios de que morreu. Há, ainda, a possibilidade de o Con-
selho de Ministros atribuir a pensão de preço de sangue aos herdeiros das
pessoas que estivessem em missão no estrangeiro, ao serviço do Estado ou
de uma organização internacional a que o Estado esteja associado.

97
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

Quem recebe
Recebem a pensão, pela ordem de preferência indicada, as seguintes pessoas:
— cônjuge, divorciado, separado de pessoas e bens, pessoa que vivesse em
união de facto com o falecido e descendentes (filhos, netos);
— pessoa que tenha criado e sustentado o falecido;
— ascendentes (pais, avós, etc.);
— irmãos.
Para receberem esta pensão, teriam de estar a cargo do falecido à data do
óbito. Essa exigência só não se aplica aos órfãos menores, ascendentes (pais,
avós) do falecido ou quem o tenha criado e sustentado.

Outros requisitos
Há, ainda, outros requisitos a respeitar:
— o cônjuge não separado de pessoas e bens tinha de viver com o falecido;
— os divorciados ou separados de pessoas e bens recebem pensão se, à data
do óbito, recebessem uma pensão de alimentos fixada ou reconhecida pelo
tribunal e não fossem casados nem vivessem em união de facto com outra
pessoa;
— os descendentes devem ter menos de 18 anos; de 21 anos, se estiverem
matriculados no ensino secundário ou equiparado; de 25 anos, se frequen-
tarem o ensino superior ou equivalente. Caso sofram de incapacidade abso-
luta e permanente para o trabalho, não há limite de idade;
— a pessoa que criou o falecido e os ascendentes (pais, avós) têm direito a
partir dos 65 anos, a menos que sofram de incapacidade permanente e
absoluta para o trabalho, caso em que podem ter acesso com idade inferior;
— os irmãos têm acesso com a idade referida para os descendentes e se forem
órfãos de pai e mãe à data do falecimento do titular da pensão.

Qual o valor?
O valor da pensão corresponde a 70% do salário do autor dos atos que a ori-
ginam se for atribuída ao cônjuge, ex-cônjuge, separado de pessoas e bens,
unido de facto ou descendentes. Os restantes beneficiários recebem 50 por
cento. A remuneração a ter em conta é a que recebia quando praticou os atos.

A pensão é devida a partir do mês seguinte ao do falecimento, se for reque-


rida no prazo de dois anos. Sendo-o depois, a partir do mês que se segue ao
da entrega do requerimento. O ex-cônjuge ou unido de facto perde direito
à pensão assim que casar ou passar a viver em união de facto com outrem.

98
PARTE 2 • CAPÍTULO 2. SEGURANÇA SOCIAL E OUTRAS PROTEÇÕES
A

Se houver vários beneficiários com direito à pensão, esta será dividida em


partes iguais por todos, exceto nos seguintes casos:
— existência de cônjuge e filhos: metade da pensão pertence ao primeiro e a
outra metade, dividida em partes iguais, aos segundos;
— existência, em conjunto, de cônjuge, separado de pessoas e bens, divor-
ciado ou companheiro de facto, bem como de filhos: a pensão é dividida
em duas partes iguais, sendo uma delas distribuída pelos elementos do
primeiro grupo e a outra partilhada equitativamente pelos filhos;
— se os filhos tiverem falecido deixando descendentes, os descendentes de
cada filho constituem apenas uma unidade, dividindo entre si e equitati-
vamente a parte que caberia àquele.

Requerer a pensão
O pedido é dirigido ao presidente do conselho de administração da Caixa
Geral de Aposentações e acompanhado das certidões, atestados ou outros
documentos que provem o direito à pensão.

Pensão por serviços excecionais


e relevantes prestados ao País
Destina-se a quem revele uma conduta moral e cívica exemplar, sendo esta
entendida como o respeito pelos direitos e liberdades individuais e coletivos
e pelo prestígio e dignidade do País. Pode ser atribuída ao próprio, enquanto
for vivo e, após a sua morte, às pessoas referidas para a pensão de preço de
sangue. Ainda que concedida em vida, é depois transmitida a essas pessoas.
Eis os atos que podem dar origem ao pagamento da pensão:
— prática, por cidadão português, de feitos heroicos numa guerra, de atos de
abnegação e coragem ou de excecionais serviços à Humanidade ou à Pátria;
— prática, por qualquer cidadão, de um ato humanitário ou de dedicação à
causa pública, de que resulte a incapacidade absoluta e permanente para
o trabalho ou o falecimento do seu autor.

Qual o valor?
O valor da pensão é igual a 70% do salário do autor dos atos que a originam,
quando o beneficiário for o próprio ou o cônjuge, ex-cônjuge, separado de
pessoas e bens, companheiro de facto ou descendentes. Outros beneficiários

99
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

recebem apenas 50 por cento. As restantes regras são idênticas às da pensão


de preço de sangue.

Requerer a pensão
O processo para atribuição da pensão depende de requerimento do interes-
sado, dirigido ao presidente do conselho de administração da Caixa Geral
de Aposentações, ou de uma ordem do Governo. A pensão é concedida por
despacho conjunto do primeiro-ministro e do ministro das Finanças, obtido
parecer favorável da Procuradoria-Geral da República. A pensão é devida a
partir do mês seguinte ao do requerimento ou da ordem do Governo.

Pensão por méritos excecionais na defesa


da liberdade e da democracia
Esta pensão destina-se a premiar quem se tenha distinguido por atos meri-
tórios excecionais em defesa da liberdade e da democracia. É atribuída ao
autor de tais atos ou, após a sua morte, às seguintes pessoas, sucessivamente
e por ordem de preferência, desde que satisfaçam os requisitos referidos para
a pensão de preço de sangue (ver página 97) e dependam economicamente
do falecido:
— cônjuge sobrevivo, separado de pessoas e bens, divorciado ou pessoa com
quem vivesse em união de facto e descendentes;
— pessoa que tenha criado e sustentado o falecido;
— ascendente de qualquer grau (pais, avós);
— irmãos.

O processo inicia-se com uma proposta do primeiro-ministro, membros


do Governo, deputados, órgãos da administração local (câmara municipal,
assembleia municipal, junta de freguesia) ou regional (Governo regional,
assembleia regional) ou instituições de interesse público, dirigida ao ministro
das Finanças. Depois, vai para a Caixa Geral de Aposentações, que organiza o
processo e o remete à Procuradoria-Geral da República, que elabora um pare-
cer. Sendo favorável, regressa ao ministro das Finanças, que, se o entender,
dará um despacho conjunto com o primeiro-ministro. A pensão é devida a
partir da data de publicação do despacho.

A Caixa Geral de Aposentações calcula o valor da pensão nos mesmos ter-


mos das pensões de sangue e por serviços excecionais e relevantes prestados

100
PARTE 2 • CAPÍTULO 2. SEGURANÇA SOCIAL E OUTRAS PROTEÇÕES
A

ao País, tendo em conta a remuneração auferida à data da prática dos factos


que lhe dão origem. Esta pensão não é acumulável com as duas anteriormente
referidas.

Pensão por condecorações


Tem direito à pensão por condecorações quem tiver sido agraciado com
a medalha de valor militar ou com a medalha de cruz de guerra e esteja
numa situação de insuficiência económica. Considera-se que estão nesta
situação aqueles cujo agregado familiar tenha um rendimento bruto men-
sal não superior a uma vez e meia o salário mínimo nacional ou, sendo
superior, o rendimento per capita da família seja inferior a metade do
salário mínimo.

O valor da pensão corresponde a 10% do vencimento-base de um capitão e


não é acumulável com outra pensão atribuída pelo mesmo motivo. O agra-
ciado pode escolher a que mais lhe convier. A pensão é transmissível ao côn-
juge e aos filhos menores ou incapazes. O requerimento é dirigido à Caixa
Geral de Aposentações, apresentando documentos que provem a insuficiên-
cia económica (a declaração de IRS, por exemplo).

Também têm acesso a uma pensão no valor do salário mínimo nacional


os condecorados com um dos graus da Ordem Militar da Torre e Espada,
e do Valor, Lealdade e Mérito. Mesmo que recebam outras pensões, conti-
nuam a ter direito àquele montante. Para receber a pensão, o condecorado
terá de provar que já não exerce uma atividade remunerada. Ocorrendo a
morte do condecorado, têm direito à pensão o cônjuge e os filhos menores
ou incapazes.

Pensão de ex-prisioneiro de guerra


Esta pensão é atribuída a cidadãos portugueses que tenham sido feitos pri-
sioneiros ou capturados em combate no decurso da guerra nas ex-colónias.
Tendo estes falecido, também podem recebê-la os familiares referidos na
pensão de preço de sangue, desde que satisfaçam as condições aí descritas
(ver página 97).

Se houver vários beneficiários, a pensão é dividida em partes iguais por todos.


No entanto, o cônjuge ou o companheiro de facto não podem receber menos

101
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

de metade. Verificando-se a perda do direito à pensão por parte de um dos


beneficiários, a sua parte acresce à dos outros em montantes iguais. Isto pode
ocorrer, por exemplo, por perda de requisitos ou por indignidade ou deser-
dação (ver título da página 40).

A pensão não pode ser atribuída se o ex-prisioneiro tiver sido condenado


pela prática de um crime com dolo a que corresponda pena igual ou superior
a um ano de prisão ou se, pertencendo à Administração Pública, tiver sofrido
a sanção disciplinar de aposentação, reforma ou reserva compulsiva, prisão
disciplinar agravada ou demissão. Os outros beneficiários também não pode-
rão recebê-la pelas mesmas razões.

O processo para atribuição da pensão inicia-se com um requerimento diri-


gido ao ministro da Defesa Nacional, e a prestação é paga pela Caixa Geral
de Aposentações.

Outras proteções
Existem proteções específicas para pessoas ligadas a determinadas atividades,
como é o caso dos estudantes, voluntários, bombeiros voluntários, bolseiros
de investigação científica ou pescadores.

Seguro escolar
É obrigatório para todos os alunos que frequentam o ensino público não
superior, mas não nos estabelecimentos privados, onde, quando existe,
o âmbito do seguro é mais variável. Estão isentos do pagamento os alunos
desde a educação pré-escolar até ao final da escolaridade obrigatória, bem
como os deficientes. Quanto aos alunos do superior, em regra, os estabele-
cimentos de ensino dispõem de seguros próprios.

Quem está coberto


O seguro escolar cobre as lesões, doença ou morte decorrentes de um aci-
dente ocorrido no local e horário da atividade escolar, abrangendo:

102
PARTE 2 • CAPÍTULO 2. SEGURANÇA SOCIAL E OUTRAS PROTEÇÕES
A

— crianças e jovens a frequentar qualquer regime escolar até ao final do


ensino secundário, incluindo o ensino profissional e artístico, bem
como alunos do ensino recorrente e de educação extracurricular;
— crianças abrangidas pela educação pré-escolar; alunos do primeiro ciclo
do ensino básico que frequentem atividades de animação socioeduca-
tiva organizadas pelas associações de pais ou pelas autarquias, em esta-
belecimentos de educação e ensino;
— alunos do ensino básico e secundário que frequentem estágios ou desen-
volvam experiências de formação num local de trabalho necessárias
para a obtenção de um diploma;
— alunos que participem em atividades do desporto escolar;
— crianças e jovens inscritos em atividades ou programas de ocupação
de tempos livres, organizados pelos estabelecimentos de educação ou
ensino e realizados durante as férias;
— alunos que se desloquem ao estrangeiro, integrados em visitas de
estudo, projetos de intercâmbio e competições desportivas no âmbito
do desporto escolar. Neste caso, o seguro escolar só será ativado para
cobrir os danos não incluídos no seguro de assistência em viagem, que
é obrigatório contratar nestas situações. A deslocação ao estrangeiro
só está coberta se tiver sido comunicada à direção regional de edu-
cação, com a antecedência mínima de 30 dias, e por ela autorizada.
Se estes requisitos não tiverem sido cumpridos, será a escola a assumir
a responsabilidade.

Acidentes e outras situações


Outras situações podem inserir-se no âmbito do acidente escolar, nomea-
damente as que resultarem de uma atividade desenvolvida com o consenti-
mento ou sob a responsabilidade da direção do estabelecimento de ensino.
Estão ainda incluídos os acidentes que ocorrerem no trajeto habitual entre
casa e escola, desde que em horário imediatamente anterior ou posterior
ao das aulas e que, no momento do sinistro, o aluno não estivesse acompa-
nhado por um adulto obrigado à sua vigilância (um dos pais, por exemplo).

Tratando-se de um atropelamento, só é considerado acidente escolar


se ocorrer nas circunstâncias referidas no parágrafo anterior (percurso
escola/casa no horário ali definido, sem estar acompanhado por um
adulto) e o aluno for menor de idade e tiver culpa, ainda que parcial, no
acidente. Tem, ainda, de ser participado às autoridades policiais no prazo
de 15 dias. Porém, se não houver culpa do aluno, mas o responsável pelo
atropelamento não for identificado ou localizado, há a possibilidade de ser
considerado acidente escolar.

103
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

Se, do acidente, resultar a morte da criança ou do jovem, será a direção


regional de educação a decidir se se tratou de um acidente escolar. O seguro
escolar cobre as despesas de assistência médica (tratamentos e interna-
mento, por exemplo), transporte e alojamento anteriores ao falecimento,
bem como a deslocação do corpo e as despesas com o funeral, garantindo,
ainda, a compensação por eventuais prejuízos causados a terceiros. O seguro
não indemniza danos, nomeadamente morais, que o falecimento provoque
nos familiares. No entanto, os pais do menor podem intentar ações contra
eventuais responsáveis.

Seguro social voluntário


Todas as pessoas que não estejam ao abrigo de um sistema de previdência
podem obter proteção através da adesão ao seguro social voluntário. Esta
possibilidade assume maior importância para quem exerce uma atividade que
não apresenta as características de um contrato de trabalho e, como tal, não
obriga à inscrição na Segurança Social. É o caso dos voluntários, bombeiros
voluntários e bolseiros de investigação científica, por exemplo. Em regra,
o seguro social voluntário apenas garante proteção na velhice, invalidez ou
morte, mas, nestes três tipos de atividade, a cobertura é mais vasta.

A inscrição no seguro social voluntário é efetuada pelo próprio, embora tam-


bém possa ser a entidade à qual presta serviço a apresentar o requerimento
à Segurança Social. O pagamento é feito pela entidade que recebe o serviço.
Morrendo o beneficiário, para que os herdeiros tenham acesso à pensão de
sobrevivência e ao subsídio por morte, é necessário apresentar 72 ou 36
meses de contribuições, respetivamente.

Voluntários
Os voluntários podem aderir a este regime para obter proteção na velhice,
invalidez ou morte, e ainda em caso de doença profissional, se preencherem
os seguintes requisitos:
— ter idade superior a 18 anos;
— fazer parte de um programa de voluntariado devidamente legalizado;
— não estar abrangido por um regime de proteção social, por exercer em
simultâneo uma atividade profissional, nem estar a receber subsídio de
desemprego;
— não ser pensionista da Segurança Social nem de outro regime de proteção
social.

104
PARTE 2 • CAPÍTULO 2. SEGURANÇA SOCIAL E OUTRAS PROTEÇÕES
A

O montante de referência para o cálculo das contribuições é o Indexante dos


Apoios Sociais (IAS). Mensalmente, têm de contribuir com uma verba corres-
pondente a 27,40% deste montante.

Além desta proteção, o voluntário está também abrangido por um seguro


que atribui uma indemnização por acidente, doença ou morte devidos ao
exercício do trabalho voluntário. Este seguro, contratado pela entidade à qual
presta a sua colaboração, é obrigatório.

Bombeiros voluntários
Os bombeiros voluntários que não beneficiem de proteção social, por não
exercerem atividade profissional, podem beneficiar de proteção na velhice,
invalidez, morte e doenças profissionais, através do seguro social voluntário,
se satisfizerem as seguintes condições:
— idade superior a 18 anos;
— exercerem a atividade há, pelo menos, 12 meses, ou estarem integrados
nos quadros de comando;
— não estarem abrangidos por regime de proteção social, pelo facto de exer-
cerem uma atividade profissional, nem numa situação que lhes permita
receber subsídio de desemprego;
— não serem pensionistas da função pública ou de um regime de segurança
social.

Se, estando abrangidos pelo seguro social voluntário, iniciarem atividade


profissional, têm oito dias para comunicá-lo ao seu corpo de bombeiros, que
informará a Segurança Social. A contribuição mensal é paga pela corporação.
O montante de referência para as contribuições é o IAS, e a taxa aplicada é de
27,40 por cento. Para terem acesso à proteção na doença e na parentalidade,
os bombeiros devem pagar um adicional de 1,41% e 0,76 por cento.

Os bombeiros podem ter acesso à pensão de preço de sangue (ver título da


página 97) e dispõem, ainda, de um seguro de acidentes pessoais com um
capital mínimo, em caso de morte, de 250 vezes o salário mínimo nacional.

Bolseiros de investigação
Os bolseiros de investigação cuja bolsa tenha a duração mínima de seis meses
e não estejam abrangidos por um regime de proteção social podem aderir
ao seguro social voluntário, que lhes garante proteção na invalidez, velhice,
morte, maternidade, paternidade, adoção, doença e doenças profissionais.

105
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

Para isso, têm de escolher um de dez escalões, que variam entre 1 IAS e 8 IAS.
A taxa a pagar é de 29,6 por cento. A entidade com a qual o bolseiro colabora
suporta os encargos correspondentes ao primeiro escalão. Se o bolseiro qui-
ser uma proteção maior, terá de suportar o acréscimo das contribuições.

Pescadores
Sem prejuízo de estarem abrangidos por um regime de proteção social,
os pescadores têm direitos específicos. Falecendo um tripulante da embar-
cação durante a viagem, os herdeiros têm direito ao seu salário até ao último
dia do mês em que tiver sucedido o óbito, desde que fosse pago ao mês. Se o
contrato tiver sido efetuado “a partes”, isto é, se ao pescador tiver sido prome-
tida uma parte do resultado da captura, os herdeiros têm direito ao quinhão
relativo a essa viagem. Caso o pescador faleça na tentativa de salvar a embar-
cação, a retribuição será paga por inteiro e pelo tempo que durar a viagem.

As despesas com o funeral correm por conta do armador, tendo este de efe-
tuar a trasladação do corpo para uma localidade portuguesa indicada pelo
cônjuge ou, na falta deste, pelos parentes do pescador ou de quem com ele
vivia. Além do seguro de acidentes de trabalho, o armador terá de contratar
outro que garanta indemnizações por morte ou desaparecimento no mar ou,
ainda, incapacidade absoluta e permanente. A indemnização é paga ao pró-
prio ou, em caso de morte, aos seus herdeiros ou a quem esteja indicado como
beneficiário. O capital seguro mínimo desta apólice é de 49 879,79 euros.

106
A

CAPÍTULO 3

ADMINISTRAÇÃO E
PARTILHA DA HERANÇA
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

As heranças não são, necessariamente, patrimónios inativos. Em muitos


casos, entre o óbito do autor da herança e as partilhas, exigem uma série
de procedimentos que garantam, por um lado, a integridade do património
e, por outro, a sua expansão e desenvolvimento. O que fazer, por exemplo,
de uma empresa que fica sem proprietário ou de uma quinta cujas colheitas
não podem esperar pela partilha? Para evitar a deterioração do património
que compõe a herança, a lei permite que o cabeça-de-casal continue a gerir
os bens deixados, como se fosse representante do falecido. No entanto, a sua
atuação tem limites bem definidos. Se, por um lado, pode fazer tudo o que
estiver ao seu alcance para garantir a boa administração da herança, por
outro, não pode dispor dela livremente. Para iniciar as partilhas, sempre que
não haja acordo entre os herdeiros ou noutras circunstâncias definidas por
lei, será necessário recorrer ao processo de inventário, seja em tribunal ou
num notário.

O cabeça-de-casal
O cabeça-de-casal é o administrador da herança, embora o seja sobretudo
em relação a um vasto conjunto de obrigações e não tanto de direitos.
As suas atribuições são, de resto, determinantes no processo sucessório.
Além das obrigações junto do Fisco, referidas no capítulo 5 (ver caixa da
página 163), o cabeça-de-casal administra a herança até à conclusão das
partilhas.

As funções de cabeça-de-casal devem ser exercidas com prudência, até por-


que os erros podem ter consequências graves para o próprio (ver Sanções
por mau desempenho, na página 111). Se a herança incluir um estabeleci-
mento comercial ou industrial, o cabeça-de-casal terá de assegurar o seu
funcionamento. Dentro dos limites dos poderes da administração, pode
fazer levantamentos bancários de dinheiro da herança ou efetuar vendas,
se isso se revelar indispensável à boa gestão do estabelecimento. O mesmo
se aplica se, por exemplo, tiver de ser movida uma ação de despejo con-
tra um inquilino que habite numa casa pertencente à herança ou, ainda,
se for necessário rentabilizar uma quinta, vendendo o que esta produzir e
fazendo refletir o lucro na respetiva gestão ou transferindo-o para a herança.
De igual forma, se for necessário representar a herança em tribunal, cabe
ao cabeça-de-casal fazê-lo (para mais pormenores, ver A administração dos
bens, na página 112).

108
PARTE 2 • CAPÍTULO 3. ADMINISTRAÇÃO E PARTILHA DA HERANÇA
A

A quem compete?
O cargo de cabeça-de-casal não pode ser exercido, em simultâneo, por mais
do que uma pessoa. Em princípio, compete a uma das seguintes pessoas, por
esta ordem:
— cônjuge não separado de pessoas e bens, se for herdeiro ou tiver meação,
isto é, se o regime de bens em vigor no casamento determinar que cada
cônjuge é proprietário de metade dos bens. Neste caso, a herança é cons-
tituída apenas pela parte do falecido;
— testamenteiro, se tiver sido indicado um e salvo declaração em contrário
do falecido;
— parentes que sejam herdeiros legais, incluindo os adotados (ver Herança
sem testamento, na página 138);
— herdeiros reconhecidos em testamento.

Havendo mais do que um familiar que seja herdeiro legal, será cabeça-de-ca-
sal o que tiver o grau de parentesco mais próximo do falecido. Se existirem
diversos herdeiros do mesmo grau, é dada preferência a quem vivesse com
ele há mais de um ano, contado da data do óbito. Este princípio também é
válido para os herdeiros definidos em testamento. Se, ainda assim, existir
concorrência entre dois ou mais herdeiros, a responsabilidade é atribuída
ao mais velho.

Caso o património seja distribuído exclusivamente em legados, será o lega-


tário mais beneficiado a exercer o cargo. Em igualdade de circunstâncias,
é escolhido o mais velho. Na eventualidade de a pessoa sobre a qual recair o
cargo ser incapaz (um menor ou um maior acompanhado), o cargo é exer-
cido pelo seu representante legal. Na prática, isto significa que o cargo não é
transferido para a categoria seguinte de candidatos.

Recusar o cargo
É possível que as pessoas indicadas recusem o cargo, invocando um dos moti-
vos previstos na lei, que são explicados mais à frente. Se todas elas recusa-
rem o cargo ou, por alguma razão, forem destituídas, o cabeça-de-casal é
designado pelo tribunal. Esta designação pode ser solicitada por qualquer
interessado (ver, na página 116, o título O inventário).

Apesar destas regras para determinar quem é o cabeça-de-casal, é possível


atribuir a administração da herança a qualquer outra pessoa, seja ela her-
deira ou não. Basta que todos os herdeiros estejam de acordo. Resumindo,
se os herdeiros chegarem à conclusão de que não pretendem assumir tais

109
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

responsabilidades, é preferível que escolham, por unanimidade, alguém a


quem reconheçam competência para o efeito.

Na falta de um acordo, em princípio, o cargo de cabeça-de-casal é obrigatório.


Mas existem circunstâncias em que é possível recusá-lo (sendo o cargo trans-
ferido para a categoria de pessoas seguinte), nomeadamente:
— se a pessoa em causa tiver mais de 70 anos;
— se, devido a uma doença, estiver impossibilitada de exercer conveniente-
mente as funções;
— se o exercício das funções de cabeça-de-casal for incompatível com o
desempenho de um eventual cargo público que detenha.

Caso esteja a decorrer um inventário (ver título da página 116), a recusa é


invocada no próprio processo. Não existindo inventário, a recusa não tem
de obedecer a um formalismo judicial. Basta, por exemplo, que a pessoa
manifeste a sua vontade através de um documento escrito, de preferência
reconhecido por um notário ou advogado, para que a sua validade não
possa ser contestada. Também é recomendável que os outros herdeiros
manifestem a sua concordância com os motivos invocados. Caso contrário,
mais tarde, podem avançar com um processo em tribunal, para contestar
a recusa.

Ajudas do cabeça-de-casal
No exercício das suas funções, o cabeça-de-casal pode recorrer a especialistas
ou a conselheiros. Atendendo à complexidade de certas tarefas, é natural que
procure o auxílio de pessoas que dominem determinada área (económica,
jurídica, fiscal, etc.). Por exemplo, se tiver de assegurar a administração de
uma empresa pertencente à herança e não possuir conhecimentos de gestão,
pode procurar um perito nessa área. No entanto, as decisões cabem sempre
ao cabeça-de-casal. Em caso de auxílio por parte de terceiros, será a herança
a suportar os encargos daí decorrentes.

O cabeça-de-casal também pode passar uma procuração a pessoas que o aju-


dem na sua tarefa. Contudo, essa procuração deve ser orientada para um fim
específico. Não será aceite, por exemplo, que delegue todos os seus poderes
a outra pessoa e não controle os seus atos. Se assim o entender, pode nem
sequer emitir a procuração, atribuindo a responsabilidade da administra-
ção de determinado bem a outra pessoa (por mandato), com as limitações
referidas.

110
PARTE 2 • CAPÍTULO 3. ADMINISTRAÇÃO E PARTILHA DA HERANÇA
A

Sanções por mau desempenho


O cargo de cabeça-de-casal deve ser exercido com cautela e respeitando,
escrupulosamente, as disposições legais, fiscais e testamentárias. De outro
modo, o cabeça-de-casal fica sujeito a pesadas sanções, que podem implicar
suportar os encargos da herança, pagar impostos que seriam da responsabili-
dade de terceiros ou até perder direitos na herança (neste último caso, se tam-
bém for herdeiro). Por exemplo, o herdeiro que ocultar intencionalmente
bens da herança, seja ou não cabeça-de-casal, perderá a favor dos restantes
herdeiros todos os direitos que pudesse vir a ter sobre esse património. Além
disso, pode ser sancionado fiscal ou penalmente, dependendo de como ocul-
tou os bens. A nível criminal, poderemos estar, por exemplo, perante crimes
de furto ou de burla.

Os herdeiros que se sintam prejudicados pela atuação do cabeça-de-casal


podem, em conformidade, decidir afastá-lo. A lei prevê as circunstâncias que
o possibilitam:
— se, intencionalmente, ocultar a existência de bens da herança ou de doa-
ções efetuadas pelo falecido;
— se, também intencionalmente, disser ter havido doações ou outros encar-
gos que, afinal, nunca existiram;
— se não administrar o património da herança com zelo e prudência;
— se revelar incompetência para o exercício do cargo;
— se não cumprir os deveres que a lei lhe impõe no inventário.

O pedido de afastamento do cabeça-de-casal pode ser feito por qualquer


interessado, no processo de inventário, se existir, ou recorrendo ao tribunal.
Como em qualquer ação judicial, os interessados terão de provar as suas
alegações.

Remuneração e transmissão do cargo


Em princípio, o exercício do cargo é gratuito, a menos que seja acumulado
com o de testamenteiro, e o autor do testamento tenha estabelecido uma
remuneração para este último efeito. Claro que o direito à remuneração
deixará de existir se a pessoa que for, simultaneamente, cabeça-de-casal e
testamenteira não aceitar o cargo ou for dele afastada. Se a testamentaria
entretanto terminar, a remuneração será proporcional ao tempo que tiver
durado. O cargo pode ainda ser remunerado quando os herdeiros acordarem
que será desempenhado por uma terceira pessoa e decidirem nesse sentido.

111
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

O cabeça-de-casal não pode negociar a entrega do cargo a outra pessoa


enquanto for vivo, nem os seus herdeiros podem exercê-lo em seu nome, após
a morte. No entanto, neste último caso, os herdeiros podem representá-lo
quanto aos interesses patrimoniais que pudesse ter na herança.

A administração dos bens


O cabeça-de-casal administra os bens do falecido e, se este tiver sido casado
num regime de comunhão (de adquiridos ou geral), também os bens comuns
do casal. Embora, na maioria dos casos, o cabeça-de-casal seja o cônjuge, se o
não for, este último pode ficar limitado na administração dos bens comuns.
Já os bens doados em vida pelo falecido continuam a ser administrados pelo
beneficiário da doação. Na prática, apenas os bens doados e os próprios do
cônjuge do falecido ficam fora da alçada do cabeça-de-casal. No entanto,
os bens doados podem vir a ser integrados na massa da herança, designada-
mente se forem sujeitos a colação ou a redução de liberalidades (ver título
A colação, na página 154, e a caixa Redução de liberalidades, na página 157).

No sentido de cumprir as obrigações relativas ao património que fica sob


a sua administração, o cabeça-de-casal pode pedir aos herdeiros ou a uma
terceira pessoa a entrega de bens que estejam em seu poder e, inclusive,
propor ações em tribunal contra essas pessoas, caso recusem a entrega ou
queiram retirar-lhe a posse dos bens. Mas, se o cabeça-de-casal tiver em
seu poder bens que não lhe compita administrar, os herdeiros ou terceiras
pessoas também podem fazer o mesmo, isto é, avançar com ações em tri-
bunal contra ele.

Vejamos outros exemplos dos atos de administração a cargo do


cabeça-de-casal:
— a gestão da herança pode estar sujeita a despesas: desde a manutenção do
património à remuneração dos especialistas contactados, passando por
salários a pagar a trabalhadores de uma empresa que integre a herança,
muitas são as possíveis fontes de gastos. Cabe, pois, ao cabeça-de-casal
certificar-se de que esses pagamentos são efetuados;
— cobrar todas as dívidas que devam ser pagas à herança. Tanto recebe os
pagamentos feitos por iniciativa dos devedores, como tem poderes para
cobrar, de forma não litigiosa (fora do tribunal), os créditos da herança.
Se puder provar que há risco de o pagamento não ser feito, também tem
a possibilidade de recorrer ao tribunal;
— vender os bens deterioráveis (tudo aquilo que possa perder-se se não for
vendido de imediato), podendo aplicar o dinheiro obtido nas despesas

112
PARTE 2 • CAPÍTULO 3. ADMINISTRAÇÃO E PARTILHA DA HERANÇA
A

com o funeral do falecido e em cerimónias religiosas, bem como na satis-


fação de despesas inerentes aos atos de gestão que tiverem de ser rea-
lizados. Para esse efeito, até pode vender frutos não deterioráveis (por
exemplo, madeira, minerais, produtos oriundos da indústria). O restante,
se o houver, é integrado na herança ou, eventualmente, distribuído pelos
herdeiros.

Poderes limitados
O cabeça-de-casal não tem plenos poderes sobre a herança. Fora dos casos
indicados, e sem prejuízo de pedir a entrega dos bens que deva administrar,
os direitos referentes à herança são exercidos em conjunto com todos os her-
deiros. Por exemplo, para a cobrança de dívidas que não estejam em risco de
não serem pagas, mas que os herdeiros entendam que devem ser cobradas
de imediato, terão de ser todos a propor a ação em tribunal. O mesmo se
aplica a atos como a venda de bens da herança ou o pagamento de dívidas
que sobre ela recaiam. Só não será assim se, em testamento, o falecido tiver
atribuído tais direitos ao testamenteiro (coincidindo este com o cabeça-de-ca-
sal), no que se refere ao cumprimento de legados ou outros encargos. Neste
último caso, e dentro dos limites impostos pelo testamento, o cabeça-de-casal
pode vender os bens que sejam necessários à satisfação dos referidos legados
ou encargos.

Obrigatoriedade de prestar contas


O cabeça-de-casal terá de prestar contas, anualmente, das suas atividades.
Trata-se de uma obrigação de todos aqueles que tratam de negócios ou bens
que não lhes pertencem e, neste caso, as contas são apresentadas aos her-
deiros. A prestação de contas abrange as despesas efetuadas no exercício do
cargo, tal como os rendimentos gerados pela herança. Se o cabeça-de-casal
tiver vendido algum bem (dentro dos limites legais), o valor dessa venda é
integrado nas contas apresentadas. De resto, são contabilizados como despe-
sas os rendimentos que o cabeça-de-casal entregue aos herdeiros (ver caixa
Distribuição de rendimentos da herança, na página seguinte) ou ao cônjuge
com direito a metade dos bens do casal, assim como os juros relativos ao
que o próprio tenha gasto com a administração da herança. Por exemplo,
podem ser integrados os honorários dos advogados que tenha contratado
para o auxiliarem nas suas funções. Se, das contas anuais, resultar um saldo
positivo, é distribuído pelos interessados, de acordo com as respetivas quo-
tas, depois de deduzido o montante destinado a satisfazer as despesas com a
administração do ano seguinte.

113
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

Caso o cabeça-de-casal não apresente as contas voluntariamente, qualquer


herdeiro pode recorrer ao tribunal, para que este ordene o cumprimento
dessa obrigação. Como é evidente, o cabeça-de-casal fica dispensado de apre-
sentar contas se não estiver a administrar bens de outros herdeiros. Por outras
palavras, se todos os bens geridos lhe tiverem sido atribuídos ou se tiver sido
reconhecido como usufrutuário da totalidade da herança, essa obrigação
deixa de fazer sentido.

Se a herança não produzir rendimentos que permitam suportar as despesas


e o cabeça-de-casal não quiser pagá-las do seu próprio bolso (reclamando-
-as, depois, junto dos restantes herdeiros), pode pedir autorização para
vender bens que a ela pertençam. O pedido é dirigido aos herdeiros, cuja
decisão terá de ser unânime, até porque, em princípio, todos devem parti-
cipar no ato que formalizar essa venda (escritura, por exemplo). Em alter-
nativa, não havendo o acordo de todos os herdeiros, o cabeça-de-casal pode
pedir o consentimento do tribunal, demonstrando a necessidade de proce-
der à venda para satisfazer encargos. Caso esteja a decorrer um processo
de inventário, a autorização será dada pelo notário ou pelo tribunal onde
decorrer o processo.

Existindo contas bancárias com saldo suficiente, se todos os herdeiros esti-


verem de acordo, o cabeça-de-casal também pode usá-las, por exemplo, para
pagar impostos (IMI, IUC, etc.), quotas de condomínio ou outras despesas
relativas a bens da herança e que esta deva pagar. No limite, caso a herança
não disponha de património suficiente, pode ser declarada insolvente.

DISTRIBUIÇÃO DE RENDIMENTOS DA HERANÇA


Entre a morte do proprietário dos bens e a partilha efetiva da herança pode decorrer
ainda muito tempo. Por isso, a lei permite que os herdeiros ou o cônjuge com direito a
metade dos bens exijam do cabeça-de-casal a distribuição por todos eles de até 50%
dos rendimentos que lhes couberem, salvo se mesmo essa parte for necessária para
satisfazer encargos com a administração. Note-se, no entanto, que estamos a falar
de rendimentos e não de bens que componham a herança. Ou seja, pode ser pedida
parte das rendas de um prédio, por exemplo, mas não o próprio prédio. A distribuição
é efetuada na proporção das quotas dos herdeiros, segundo as regras da sucessão
legítima (ver título Herança sem testamento, na página 138). Com esta possibilidade,
evitam-se as situações em que os herdeiros são potencialmente detentores de rendi-
mentos elevados, mas não podem usufruir deles até à partilha. Se o cabeça-de-casal
não entregar os referidos valores voluntariamente, os interessados podem recorrer
aos tribunais.

114
PARTE 2 • CAPÍTULO 3. ADMINISTRAÇÃO E PARTILHA DA HERANÇA
A

Partilha
A partilha é o ato que permite dividir os bens do falecido pelos beneficiários.
Pode ser efetuada de duas formas:
— através de documento particular autenticado ou de escritura pública, num
notário ou numa conservatória do registo predial (quando há imóveis, por
exemplo), se houver acordo entre os herdeiros quanto a todos os aspetos
da herança (património, distribuição dos bens, dívidas, etc.) e estiverem
reunidos os requisitos legais, ou;
— com recurso ao processo de inventário, requerido em cartório notarial ou
no tribunal (ver título da página seguinte).

A partilha pode ser efetuada quando os herdeiros entenderem, e até podem


decidir que a herança (ou parte dela) se mantenha indivisa por períodos de
cinco anos, renováveis. No entanto, se o herdeiro não reclamar a herança

VIAS PARA PARTILHAR A HERANÇA

Partilha Processo
por acordo de inventário

Os herdeiros estão É recomendado, É obrigatório e terá de


de acordo sobre a em notário ou no tribunal, decorrer em tribunal quando:
distribuição dos bens e quando: – existem herdeiros incapazes
nenhum é incapaz nem – existe suspeita de que e o Ministério Público entenda
está impossibilitado de as dívidas da herança são que a aceitação deve ser feita
participar na partilha superiores ao valor do a benefício de inventário;
património; – algum herdeiro não
– os herdeiros não pode participar na partilha
chegam a acordo por estar ausente em
parte incerta ou devido a
incapacidade permanente;
– o inventário surja na
dependência de processo
judicial ou seja requerido pelo
Ministério Público

115
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

no prazo de dez anos a contar da data em que teve conhecimento de que o


era (o que pode coincidir, ou não, com a data do óbito do autor da herança),
perde o direito à herança.

Normalmente, quando a partilha é feita por acordo entre os herdeiros,


estes podem organizá-la da forma que lhes parecer mais adequada. Mas
também podem inspirar-se no processo seguido em caso de inventário e
adaptá-lo à sua situação específica. A criação de verbas e lotes, a possibi-
lidade de licitação e até de sorteios são, provavelmente, boas formas de
evitar os impasses e os conflitos que surgem, muitas vezes, com a abertura
de uma sucessão. Cabe aos interessados decidir, conjuntamente, quais as
formas a utilizar.

Para definir valores para os bens e eventual pagamento de tornas, deve


ser considerada a relação de bens entregue no serviço de Finanças, nos
termos indicados no título O valor dos bens a declarar, na página 165.
Depois, faz-se algo semelhante ao mapa de partilhas, ou seja, um docu-
mento em que são referidas as verbas que caberão a cada herdeiro.

O inventário
No que respeita às sucessões, o processo de inventário destina-se a iden-
tificar os bens que compõem a herança e a regular as partilhas, quando
não há acordo entre os interessados, existem dúvidas sobre o deve e o
haver da herança ou, por qualquer razão, se torna necessária a interven-
ção do notário ou do tribunal. Em processos relativamente simples, por
exemplo, para apurar os bens que constituem a herança, pode requerer-
-se o inventário num notário que preste este serviço (veja quais são em
www.inventarios.pt/notarios) ou, em alternativa, no tribunal que abrange
o local do óbito. O processo terá, obrigatoriamente, de decorrer em tri-
bunal, quando:
— for requerido pelo Ministério Público ou este entender que tal é necessário
para assegurar a defesa dos interesses de herdeiros juridicamente incapa-
zes (por exemplo, os menores ou os maiores acompanhados);
— houver interessados diretos na herança que se encontrem ausentes em
parte incerta ou sofram de incapacidade permanente, não podendo, por
isso, fazer valer os seus direitos numa partilha por acordo;
— o inventário surja na sequência de um processo judicial.

116
PARTE 2 • CAPÍTULO 3. ADMINISTRAÇÃO E PARTILHA DA HERANÇA
A

CASA DE MORADA DE FAMÍLIA


A partilha pode implicar que se abra licitação entre os herdeiros sobre os bens que
integram a herança. Contudo, alguns direitos são exclusivos. É o caso do direito de
habitação da casa de morada de família e do direito do uso do seu recheio, que,
na partilha, pertencem apenas ao cônjuge do falecido e, em alguns casos, à pessoa
que com ele vivesse em união de facto (ver caixa da página 141) ou em economia
comum. Mas, atenção, não se fala aqui de propriedade, mas tão-somente de uso dos
referidos bens. Se o valor destes direitos exceder a parte que lhe caberia, o cônjuge
poderá ter de compensar os restantes herdeiros. E, em princípio, os direitos referidos
caducam se o cônjuge deixar de habitar a casa por mais de um ano.
A pedido dos herdeiros que vierem a receber o imóvel, o tribunal pode impor uma
caução (por exemplo, para garantir a integridade do recheio). Mas se, pelo contrário,
a casa de morada de família não fizer parte da herança, por ser arrendada, por exem-
plo, ou tiver sido atribuída por usufruto, as regras atrás indicadas aplicam-se apenas
ao recheio, composto por mobiliário e demais objetos de uso doméstico e decoração.

Podem também ser remetidos para tribunal os processos que:


— estejam pendentes no notário, sem diligências úteis, há mais de seis meses,
ou suspensos, há mais de um ano, à espera de decisão do tribunal;
— decorram em cartório notarial, desde que tal seja requerido por interes-
sados diretos que detenham, isolada ou conjuntamente, mais de metade
da herança.

A lei só exige a intervenção de um advogado no processo de inventário


quando estão em causa questões de direito, como determinar se alguém é
herdeiro, ou para recorrer da decisão final. No entanto, a complexidade das
matérias em análise e o grau de litigiosidade envolvido poderão aconselhar
que o herdeiro se faça representar por um advogado.

Aceitar a herança a benefício de inventário


É necessário recorrer a este processo, desde logo, quando se aceita a herança
a benefício de inventário (ver Aceitação e repúdio da herança, na página 145),
o que pode ocorrer requerendo um inventário ou intervindo num que já esteja
a decorrer. A aceitação a benefício de inventário é recomendável quando há a
suspeita de que as dívidas da herança são de valor superior ao do património,
evitando confusões entre os bens dos herdeiros e os da herança. Por exem-
plo, em caso de conflito com eventuais credores, serão estes quem terá de

117
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

provar que existem mais bens na herança, suscetíveis de suportar as dívidas.


De outro modo, tem de ser o herdeiro a provar que não existem mais bens,
o que nem sempre será fácil.

Intervenção do Ministério Público


Pode haver inventário a pedido do Ministério Público, por existirem her-
deiros menores ou maiores acompanhados, e aquele organismo entender
que estes devem aceitar os bens a benefício de inventário. Ocorre, ainda,
quando algum dos herdeiros não possa, por motivo de ausência em parte
incerta ou por incapacidade permanente, participar numa partilha por
acordo. A existência de um menor ou de outro incapaz não significa, neces-
sariamente, que o inventário é obrigatório: o Ministério Público avalia
cada caso e decide.

Requerer ou intervir no inventário


O inventário pode ser requerido pelo cabeça-de-casal ou por qualquer inte-
ressado direto na partilha (herdeiros ou credores, por exemplo). Mas também
poderá fazê-lo quem exerce as responsabilidades parentais, se o interessado
for menor de idade, ou o acompanhante de um maior incapacitado a quem
uma sentença do tribunal confira esses poderes. Quando o representante
legal de um incapaz for também herdeiro ou concorrerem à herança vários
incapazes representados pela mesma pessoa, é nomeado um curador espe-
cial. Também os ausentes em parte incerta são representados por um cura-
dor, a nomear pelo tribunal.

O processo é apreciado pelo juiz ou pelo notário e, quando estiver com-


pleto, os interessados e, se necessário, o Ministério Público, são informa-
dos da sua abertura. Podem opor-se ao processo ou contestar algo que
dele conste no prazo de 30 dias. São depois convocados para audiências e
conferências de interessados, para que possam chegar a acordo quanto à
partilha da herança. Por norma, estes processos são complexos e demoram
alguns anos.

Sempre que houver herdeiros legitimários (cônjuge, descendentes e ascen-


dentes), os legatários e as pessoas que tenham beneficiado de doações
podem intervir em todas as fases do processo que sejam suscetíveis de

118
PARTE 2 • CAPÍTULO 3. ADMINISTRAÇÃO E PARTILHA DA HERANÇA
A

influenciar o cálculo da quota indisponível. Tal como é explicado nos capí-


tulos sobre o testamento e a herança, as doações feitas pelo falecido e
determinados legados podem ser alvo de redução, independentemente
do momento em que os bens forem entregues, pelo que se justifica a inter-
venção destas pessoas. Também os credores da herança e os legatários têm
a possibilidade de intervir nas questões relativas à verificação e satisfação
dos seus direitos. Se falecer um legatário, credor ou beneficiário da herança,
os seus herdeiros podem representá-lo. Morrendo um interessado direto na
partilha antes de concluído o inventário, o cabeça-de-casal indica os suces-
sores do falecido, sendo estes convocados para o processo em curso. Tam-
bém os próprios sucessores podem pedir a sua habilitação (reconhecimento
enquanto herdeiros), apresentando a devida prova.

Requerimento apresentado pelo cabeça-de-casal


Se for apresentado pelo cabeça-de-casal, o requerimento deve:
— identificar o autor da herança e indicar o seu estado civil e a última resi-
dência, bem como a data e lugar do óbito;
— identificar o próprio requerente e justificar o fundamento para assumir a
função de cabeça-de-casal (por exemplo, ser cônjuge do falecido);
— identificar os interessados diretos na partilha, respetivos cônjuges e regi-
mes de casamento, os legatários e os donatários;
— indicar os documentos que anexa (por exemplo, testamento ou convenção
antenupcial).

O requerimento deve ir acompanhado dos seguintes documentos:


— certidão de óbito do autor da sucessão;
— documentos que comprovem a legitimidade do cabeça-de-casal e dos
demais interessados diretos na partilha (por exemplo, as certidões de nas-
cimento dos filhos), com identificação dos cônjuges e dos regimes de bens
dos casamentos;
— testamentos, convenções antenupciais que contenham disposições relacio-
nadas com a sucessão e escrituras de doação, se existirem;
— relação dos bens sujeitos a inventário, acompanhada dos documentos rela-
tivos aos registos (predial, automóvel ou outro) e, no caso dos imóveis,
também das cadernetas prediais;
— relação dos créditos e das dívidas da herança, acompanhada dos respetivos
comprovativos (documentos ou indicação de testemunhas) e, se possível,
da identificação de devedores e credores;
— compromisso de honra do fiel exercício das funções de cabeça-de-casal,
com assinatura reconhecida.

119
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

DOCUMENTOS A APRESENTAR PARA O INVENTÁRIO

REQUERIMENTO DE INVENTÁRIO
Exmo. Senhor
Lisboa
Juiz do Tribunal Judicial da Comarca de


, contribuinte
ral de Lisboa, da freguesia de Alvalade
João Silva Martins, solteiro, maior, natu 8 ZY4 , válid o até
ão de cidadão 888 888
fiscal n.º 555 555 555, titular do cart 01 Lisbo a, vem requ erer
s, n.º 16, 1350-0
10/05/2027, residente na Rua da Flore interessa dos,
eridos os seguintes
inventário, para o qual devem ser requ

0-555 Lisboa,
ente na Rua Sacadura Cabral, 11, 180
1) Ana Silva Martins, solteira, maior, resid nio da Silva , 6, 5.º esquerdo,
r, residente na Rua Antó
2) Daniel Silva Martins, solteiro maio
2800-555 Amadora,

ntos seguintes:
O que faz nos termos e com os fundame ciado de
eu Luís Silva Martins, no estado de divor
1. No dia 28 de junho de 2023, falec Cast elo Bran co, n.º 35,
ência habitual na Rua Camilo
Maria José Monteiro, com última resid a, tudo conforme
o António, concelho de Lisbo
1350-155 Lisboa, freguesia de Sant o esta a
com o códi go de consulta 888-888-888, send
certidão do assento de óbito
tura da sucessão .
morada a considerar como local da aber
nça deixo u os seus filho s como herdeiros, a saber:
2. O autor da hera e de Maria
abril de 1985, filho de Luís Silva Martins
a) João Silva Martins, nascido a 13 de
José Monteiro; tins e Maria
mbro de 1989, filha de Luís Silva Mar
b) Ana Silva Martins, nascida a 9 de nove
José Monteiro, e tins e Maria
de abril de 2000, filho de Luís Silva Mar
c) Daniel Silva Martins, nascido a 22
José Monteiro, gos de
de assento de nascimento com os códi
Tudo conforme consta das certidões 33, resp etiva men te.
44 e 333 -33 3-3
consulta, 555-555-555, 444-444-4 as funções de cabe ça-de-casal,
, deve rá assu mir
3. O requerente, por ser o filho mais velho
de honra.
juntando-se o respetivo compromisso a vontade.
amento nem outra disposição de últim
4. O autor da sucessão não deixou test a.
tam da relação que se anex
5. Os bens a relacionar são os que cons
itos da hera nça que importe relacionar.
6. Não existem dívidas ou créd ir os seus
aplicável, devem os presentes autos segu
Nestes termos e nos mais de direito
termos.

de honra.
Junta: Relação de bens e compromisso imos). O valor
mil e doze euros e noventa e dois cênt
Valor: 97 012,92 € (noventa e sete ,49) .
subtraído o valor do passivo (585
resulta da soma do ativo (97 598,41)
O Requerente

João Silva Martins

120 120
PARTE 2 • CAPÍTULO 3. ADMINISTRAÇÃO E PARTILHA DA HERANÇA
A

RELAÇÃO DOS BENS POR ÓBITO DE


LUÍS SILVA MARTINS
ATIVO – Bens móveis:
Verba n.º 1
Saldo bancário da conta à ordem n.º 555
000214, domiciliada no Banco X, SA,
à data do óbito, era de 639,86 € (seis que,
centos e trinta e nove euros e oitenta
e seis cêntimos) (doc. x – extrato banc
ário);

Verba n.º 2
Automóvel de marca Y, modelo K, com
a matrícula 77-LN-77, adquirido em
no valor de 3000 € (doc. xx – cópia do maio de 2013,
DUA);

ATIVO – Bens Imóveis


Verba n.º 3
Fração autónoma designada pela letra
F, a que corresponde o 5.º andar direi
sito na Rua José Silva, n.º 24, inscrito to do prédio
na matriz predial urbana sob o artigo
da freguesia de Alvalade, concelho de 8153,
Lisboa, com o valor patrimonial tributário
93 958,55 € (doc. xxx – caderneta de
predial e certidão de registo predial);

TOTAL ATIVO
97 598,41 €
PASSIVO (despesas suportadas pelo
cabeça-de-casal e que constituem um
de 2/3 a favor do cabeça-de-casal) crédito

Verba n.º 1
Imposto único de circulação do veículo
automóvel identificado na verba n.º 2
ano de 2023, no valor de 258,78 € (doc do ativo, relativo ao
y - comprovativo do IUC e respetivo paga
mento);

Verba n.º 2
2.ª Prestação do imposto municipal sobr
e os imóveis identificados na verba n.º
ao ano de 2022, no valor de 326,71 3 do ativo, relativo
€ (doc yy - comprovativo IMI e respetivo
pagamento);
TOTAL PASSIVO
€ 585,49

HONRA
COMPROMISSO DE
e contribuinte
tu ra l de Lis bo a, freguesia de Alvalad
, solteiro, maior, na 888 8888 ZY4, vá
lido até
João Silva Martins ula r do cartão de cidadão ta por
55 5, tit bo a, pres
fiscal n.º 555 555 re s, n.º 16 , 1350-001 Lis
ente na Rua da Flo beça-de-casal no
10/05/2027, resid l ex er cíc io das funções de ca
misso de ho nra do fie ra partilha dos bens
este meio o compro i ins ta urar no (Tr ibunal / Cartório), pa
rio que va
processo de inventá Luís Silva Martins
.
a aber ta po r óbito de seu pai,
da heranç

mbro de 2023
Lisboa, 10 de Nove cida)
(assinatura reconhe

121
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

Requerimento apresentado por outro interessado


Se o requerimento for apresentado por outro interessado direto na partilha
que não o cabeça-de-casal, deve indicar:
— identificação do autor da herança, última residência e local e data do óbito;
— identificação do próprio requerente e a qualidade em que intervém;
— quem deve exercer o cargo de cabeça-de-casal.

Também neste caso, os comprovativos dos factos alegados devem acompa-


nhar o requerimento (certidões de óbito, de casamento, de nascimento ou
outras).

A relação de bens
A relação de bens para efeitos de inventário é diferente da necessária para
efeitos fiscais. Enquanto esta última obedece a um formulário próprio (ver
página 70), a primeira descreve os bens através de verbas numeradas, pela
ordem seguinte: direitos de crédito (isto é, créditos que o falecido tinha sobre
alguma coisa ou alguém, assim como direitos de autor, ações de indemnização
por perdas e danos a que tivesse direito e que os seus herdeiros possam ins-
taurar, entre outros), dinheiro, moedas estrangeiras, objetos de ouro, prata,
pedras preciosas e afins, outras coisas móveis e bens imóveis (ver exemplo
na página anterior). As dívidas são discriminadas em separado e sujeitas a
numeração própria.

Identificação e valor
A menção dos bens é acompanhada, sempre que possível, dos elementos
necessários à sua identificação e ao apuramento da situação jurídica (uma
eventual penhora ou hipoteca, por exemplo). Tratando-se de bens sujeitos a
registo, como os imóveis e os automóveis, juntam-se as respetivas certidões,
que podem ser obtidas no site da internet das entidades onde estão registados:
o registo predial online, no caso dos imóveis (www.predialonline.pt) e o auto-
móvel online, no caso dos veículos automóveis (www.automovelonline.mj.pt).
Os bens móveis podem ser integrados numa mesma verba, desde que tenham
a mesma finalidade e sejam de pequeno valor (por exemplo, utensílios de
cozinha ou de jardinagem).

Além da descrição dos bens, deve indicar-se o valor que se atribui a cada um.
Tratando-se de prédios inscritos na matriz, considera-se o valor que dela

122
PARTE 2 • CAPÍTULO 3. ADMINISTRAÇÃO E PARTILHA DA HERANÇA
A

constar, apresentando o cabeça-de-casal a respetiva caderneta predial (ver


Bens imóveis, na página 168).

Se não tiver acesso a alguns bens (por exemplo, porque a pessoa que os detém
se encontra no estrangeiro), o requerente do inventário deve informar o tribu-
nal ou o notário, por escrito, indicando o nome de quem os tem. Essa pessoa
será notificada para, no prazo estipulado pelo tribunal ou notário, facultar
o acesso a esses bens e fornecer os elementos necessários à sua inclusão na
relação de bens. Se não cumprir esta obrigação, o juiz ou o notário acionam
as medidas devidas, que podem passar pela apreensão dos bens, durante o
tempo necessário, até serem incluídos na relação.

Se o inventário não tiver sido requerido pelo cabeça-de-casal, este é citado


para, no prazo de 30 dias, confirmar, corrigir ou completar o que consta do
requerimento inicial, apresentar a relação de bens e o compromisso de honra
do fiel exercício das suas funções.

Benfeitorias
As despesas feitas pelo falecido com a conservação ou o melhoramento de
um bem (benfeitorias) de outra pessoa e que pertençam à herança devem ser
descritas, desde que a obra possa ser separada do imóvel. Caso contrário, são
mencionadas como um crédito. Já as que foram efetuadas por um terceiro
num imóvel da herança (por exemplo, por um inquilino numa casa arren-
dada) são descritas como dívidas, se não puderem ser levantadas por quem as
realizou. A única exceção a esta regra são as benfeitorias voluptuárias, ou seja,
as que não são necessárias à conservação do edifício nem lhe acrescentam
valor, servindo apenas para efeitos lúdicos ou para satisfazer o sentido esté-
tico de quem as realiza. Neste caso, não são abrangidas.

Comunicações e reclamações
Apresentada a relação de bens, é comunicado aos interessados que o inven-
tário está a decorrer. São também informados de que podem reclamar o seu
conteúdo, opor-se ao inventário, impugnar a legitimidade dos interessados
convocados ou alegar a existência de outros, bem como a competência do
cabeça-de-casal ou as suas declarações. Podem, por exemplo, indicar os bens
que deveriam ter sido incluídos, requerer a exclusão dos que tenham sido
indevidamente referidos ou invocar imprecisões na descrição do património
que sejam relevantes para a partilha. Para isso, dispõem de 30 dias a contar
da receção da comunicação.

123
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

Caso a relação de bens suscite reclamações, o cabeça-de-casal e os inte-


ressados com legitimidade para responder à reclamação têm 30 dias para
o fazer e provar as suas alegações. Se vier a confirmar-se a existência de
bens que não incluiu na relação, o cabeça-de-casal efetua um aditamento,
discriminando os elementos em falta, e os interessados são informados
das alterações. Na ausência de consenso, ou surgindo outras questões,
o tribunal ou o notário irão requerer as diligências necessárias para apurar
os factos.

A conferência de interessados
Resolvidas todas as questões que podem influenciar o processo e determina-
dos os bens a partilhar, o juiz ou o notário marcam um dia para a conferência
de interessados. Esta só pode ser adiada uma vez, se faltar algum dos convo-
cados, e o juiz ou o notário considerarem viável o acordo sobre os bens que
integram cada quinhão com a presença de todos os interessados.

Se não quiserem ou não puderem comparecer, os interessados podem fazer-


-se representar por um procurador (por exemplo, o advogado ou outro inte-
ressado). Os legatários também são chamados à conferência, desde que toda
a herança tenha sido distribuída por legados ou exista a possibilidade de
estes virem a ser reduzidos. Quanto aos beneficiários de doações, podem ser
chamados a participar se a probabilidade de ocorrer uma redução de libera-
lidades for elevada (ver caixa da página 157).

Caso não cheguem a acordo quanto à divisão da herança e à composição dos


quinhões, os interessados decidem o valor a atribuir a cada verba e outras
questões que possam influenciar a partilha. Cabe-lhes, também, decidir sobre
a aprovação do pagamento das dívidas da herança (ver Uma questão de dívi-
das, na página seguinte) e a forma de cumprimento dos legados e demais
encargos, caso existam. As decisões que tomarem nestas matérias, e noutras
que constem da convocatória, também vinculam aqueles que, tendo sido
devidamente notificados, não compareceram na conferência.

Havendo acordo relativamente a todas estas questões, o inventário ter-


mina nesta conferência. Não sendo o caso, os interessados podem acordar
quanto à composição dos respetivos quinhões ou na venda total ou parcial
dos bens que compõem a herança. Na ausência de acordo entre os interes-
sados, o juiz ou o notário procedem à abertura de licitações dos bens que
compõem a herança. A licitação tem a forma de arrematação (leilão). Cada
interessado licita por relação às verbas apresentadas na relação de bens,

124
PARTE 2 • CAPÍTULO 3. ADMINISTRAÇÃO E PARTILHA DA HERANÇA
A

podendo, se houver acordo, vários interessados licitar determinados bens


para lhes serem adjudicados em comum. Antes de licitarem, os interessa-
dos podem requerer a avaliação de todos ou alguns dos bens que compõem
a herança.

Como dividir a herança?


Na conferência, os titulares do direito à herança podem decidir, por unanimi-
dade, que a composição dos quinhões se faça através de uma das seguintes
formas:
— designando as verbas (bem ou conjunto de bens) que vão compor, no todo
ou em parte, o quinhão de cada um deles e o valor a atribuir-lhes;
— indicando as verbas ou lotes e respetivos valores, para que, no todo ou em
parte, sejam sorteados entre os interessados;
— acordando na venda total ou parcial dos bens da herança e na distribuição
do dinheiro obtido com a transação pelos diversos interessados.

Para assegurar uma justa repartição dos bens, os interessados podem pedir
uma avaliação das verbas. O pedido é deferido pelo juiz ou pelo notário, que
designa um perito avaliador.

Uma questão de dívidas


Como vimos na página anterior, na conferência de interessados também se
decide sobre a aprovação ou não das dívidas (passivo) da herança e a forma
segundo a qual eventuais legados e demais encargos serão cumpridos. No que
se refere às dívidas, as regras variam consoante sejam aprovadas ou reprova-
das pelos interessados:
— as que forem aprovadas por unanimidade consideram-se reconhecidas
e a partilha também servirá para ordenar o seu pagamento. No entanto,
quando a lei exija prova documental da sua existência, a dívida não pode
ser aprovada pelos representantes de menores ou equiparados sem que
se junte ou exiba essa prova;
— se todos os interessados, ou alguns deles, votarem contra o reconheci-
mento das dívidas, o juiz ou o notário irão avaliar a prova documental
apresentada, e a sua decisão abrange todos os interessados.

Se todos aprovarem as dívidas entretanto vencidas e o credor exigir o seu


pagamento, devem ser satisfeitas de imediato. Caso a herança não tenha
dinheiro suficiente e os interessados não cheguem a acordo para outra forma
de pagamento imediato, podem ser vendidos bens da herança (na falta de

125
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

consenso sobre os bens a vender, será o juiz ou o notário a decidir). Outra


possibilidade é o credor estar disposto a receber em espécie. Já para as dívidas
vencidas, mas aprovadas apenas por alguns interessados, terão de ser estes
a definir a forma de pagamento, embora a sua decisão não possa prejudicar
os restantes interessados.

Caso se verifique a insolvência da herança, situação que ocorre quando o valor


das dívidas é superior ao dos bens, qualquer interessado direto na partilha
pode requerer ao juiz ou ao notário que extinga o processo de inventário e
remeta os interessados para o processo de insolvência.

ADJUDICAÇÃO DE BENS
O pedido de adjudicação consiste na possibilidade de um herdeiro que seja compro-
prietário de um bem indivisível (por exemplo, um terreno que não possa ser loteado)
e que tenha uma quota superior a metade do valor desse bem requerer que as res-
tantes quotas lhe sejam entregues. Mas, para o efeito, essa pessoa tem de ter obtido
a sua quota através de uma forma que seja excluída do inventário. Ou seja, não lhe
pode ter sido atribuída por doação do falecido, por exemplo. Não havendo herdei-
ros legitimários, já é possível que esse direito tenha resultado de uma doação ou de
legado do autor da herança. Da mesma forma, qualquer interessado pode pedir a
adjudicação de bens fungíveis (dinheiro, sobretudo) ou de títulos de crédito (ações,
obrigações), na proporção da sua quota, salvo se a divisão em espécie acarretar pre-
juízos consideráveis. Estes pedidos de adjudicação de bens são feitos na conferência
de interessados, pelo que todos serão ouvidos sobre as questões da indivisibilidade
ou do eventual prejuízo causado pela divisão, além de poderem requerer que se faça
uma avaliação.

Avaliar os bens doados


Se houver herdeiros legitimários (cônjuge, descendentes ou ascendentes)
e algum deles invocar que foram feitas doações que não respeitam a legí-
tima, ou seja, a parte dos bens de que o testador não pode dispor por ser
legalmente destinada a estes herdeiros, a oposição do beneficiário da doa-
ção obriga à avaliação do património em causa. Isto independentemente
de o beneficiário ter ou não de juntar os bens à herança, para efeitos de
colação e redução de liberalidades.

Feita a avaliação e terminadas as licitações dos outros bens, o “leilão” dos bens
doados fica sem efeito se vier a verificar-se que o beneficiário não é obrigado a

126
PARTE 2 • CAPÍTULO 3. ADMINISTRAÇÃO E PARTILHA DA HERANÇA
A

repor nenhum deles. Contudo, se se verificar que a doação prejudica a quota


dos herdeiros legitimários, serão consideradas as seguintes regras:
— tratando-se de um imóvel suscetível de ser dividido, pode ser feita licitação
sobre a parte que o beneficiário da doação tiver de repor, sem que este
último possa licitar;
— se, pelo contrário, se tratar de um bem indivisível, os herdeiros legitimários
podem licitar sobre ele, caso a redução da doação exceda metade do seu valor;
— se a redução for igual ou inferior a essa metade, o beneficiário da doação
terá de repor o excesso;
— se nenhuma das situações referidas acontecer, o beneficiário da doação
poderá escolher, de entre os bens doados, os necessários para o preenchi-
mento da sua quota e dos encargos da doação (quando existirem), devendo
repor os que excederem o seu quinhão. Sobre estes últimos, é aberta lici-
tação, se for requerida ou já o tiver sido, não podendo o beneficiário da
doação participar nela.

O beneficiário que queira opor-se à licitação deve fazê-lo na conferência de


interessados, se estiver presente. Não estando, deve ser previamente notifi-
cado para o efeito. A avaliação pode ser requerida até ao final do prazo para
exame do processo de partilha.

Avaliar os legados
Declarando algum interessado que pretende licitar sobre bens legados, o lega-
tário pode opor-se nos termos indicados para a doação. Se o fizer, não existirá
licitação, mas os herdeiros podem requerer a avaliação dos bens legados se
considerarem que foram subavaliados e que tal poderá prejudicá-los. Pelo
contrário, se o legatário não se opuser, os bens são licitados, tendo aquele
direito ao respetivo valor. Tal como na doação, a avaliação pode ser requerida
até terminar o prazo para o exame do processo de partilha.

Avaliar o património
Independentemente do que foi referido para a redução de liberalidades
devido a doações ou legados que prejudiquem o quinhão dos legitimários,
o beneficiário da doação ou o legatário podem requerer a avaliação do patri-
mónio que lhes foi atribuído ou de qualquer outro que ainda não o tenha sido.
Podem fazê-lo, igualmente, em relação a outros bens da herança, quando,
face à avaliação dos bens doados ou legados e às licitações já feitas, se chegue
à conclusão de que terá de haver redução de liberalidades.

127
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

Se o legado prejudicar a quota dos herdeiros legitimários, o legatário deve


repor, se possível em espécie, a parte em excesso. Sobre esta, pode haver
licitação, mas o legatário não pode participar. No entanto, se o bem legado
for indivisível (por exemplo, um quadro), as regras serão outras:
— se a reposição for feita em dinheiro, qualquer dos interessados pode reque-
rer a avaliação do bem legado;
— se a reposição puder ser feita em espécie, o legatário pode requerer a sua
participação na licitação.

Tal como acontece com as doações, o legatário pode escolher, dos bens
legados, os necessários para preencher a sua quota e os encargos do legado,
devolvendo à herança os que excederem o seu quinhão. Sobre estes, pode
ser aberta licitação entre os restantes interessados, não podendo o legatário
participar no processo.

A partilha
Realizada a conferência de interessados, efetuadas as avalia-
ções requeridas e terminadas as licitações, caso tenham lugar,
os interessados e o Ministério Público (quando tenha intervenção principal
no inventário) são ouvidos sobre o mapa da partilha no prazo de 20 dias.
Decorrido esse prazo, o juiz ou o notário determinam como será organizada
a partilha. Devem ser resolvidas todas as questões pendentes com implicações
no mapa de partilha, podendo o juiz ou o notário solicitar as provas que julgue
necessárias (por exemplo, documentos, testemunhas ou peritos).

Eventuais divergências são resolvidas pelo juiz ou notário, e é elaborado


novo mapa de partilha. Os interessados são notificados da sua existência e
têm dez dias para reclamar. Se surgirem questões que, dada a sua natureza
ou complexidade, não devam ser decididas no processo de inventário, serão
remetidas para resolução em ação própria em tribunal. Não sendo o caso,
o juiz ou o notário têm mais dez dias para decidir o processo.

Entrega dos bens


No preenchimento dos quinhões, são observadas as seguintes regras e por
esta ordem:
— os bens licitados são entregues a quem os licitou, tal como os bens doados
ou legados o são ao respetivo donatário ou legatário (exceto se houver algo
que o impossibilite, como, por exemplo, uma redução de liberalidades);

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PARTE 2 • CAPÍTULO 3. ADMINISTRAÇÃO E PARTILHA DA HERANÇA
A

— aos restantes herdeiros são atribuídos bens da mesma espécie e natureza


dos doados e licitados. Quando tal não seja possível, recebem outros bens
da herança, mas, no caso de estes terem uma natureza diferente ou um
valor insuficiente, podem exigir que lhes seja entregue dinheiro, venden-
do-se através do tribunal o património necessário para obter as respetivas
quantias;
— os bens restantes, se os houver, são repartidos por sorteio entre os interes-
sados, em lotes iguais;
— os créditos a que o falecido tivesse direito e que sejam litigiosos, isto é,
em relação aos quais decorram ações em tribunal, ou que não se encon-
trem devidamente comprovados, assim como os bens sem valor, são distri-
buídos pelos interessados proporcionalmente aos seus quinhões.

Sorteio dos lotes


Fixado o mapa da partilha, se os interessados não tiverem, entretanto,
chegado a acordo quanto aos bens não licitados, procede-se ao sorteio
dos lotes. Por exemplo, são introduzidos numa urna tantos papéis quantos
sejam os lotes a sortear, depois de se ter escrito em cada um a letra cor-
respondente ao lote que representa. Pode determinar-se que o primeiro
a tirar um papel será o cônjuge do falecido, seguindo-se os restantes her-
deiros, por ordem alfabética. Também são tiradas as sortes pelos que não
compareçam e registados os nomes dos interessados a quem cabe cada
lote. Concluído o sorteio, os interessados podem trocar os lotes entre si,
mas, no caso dos menores e outros incapazes, é necessária autorização de
quem exerce as responsabilidades parentais ou a tutela. Tratando-se de
um maior acompanhado, a troca de lotes só pode ocorrer com o consen-
timento do seu representante legal.

Pagamento de tornas
Sempre que haja uma distribuição irregular do património, na qual um dos
herdeiros fique sem os bens que preenchiam integralmente o seu quinhão
(por exemplo, porque outros licitaram mais do que ele), terá de ser compen-
sado através do pagamento de tornas. Esta avaliação é feita na decisão da
partilha. Na prática, o mais beneficiado com bens pode ter de entregar a parte
que exceder o seu quinhão, de modo que o herdeiro prejudicado preencha
a sua quota.

Os interessados com direito a tornas são notificados para requererem


a composição dos seus quinhões ou reclamarem o pagamento. Se um

129
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

interessado tiver licitado em mais verbas do que as necessárias para preen-


cher a sua quota, os notificados com direito a tornas podem requerer
que as verbas em excesso ou parte delas lhes sejam atribuídas pelo valor
resultante da licitação, até ao limite do seu quinhão. Nestes casos, a pessoa
que licitou pode escolher, de entre as verbas que obteve, as necessárias
para preencher a quota.

Havendo mais do que um requerente, na ausência de acordo entre eles


sobre a quem devem ser entregues os bens em causa, compete ao juiz ou ao
notário decidir qual a melhor forma de equilibrar os lotes, podendo mandar
que se faça um sorteio ou autorizar a atribuição em comum, na proporção
que indicar.

Reclamado o pagamento de tornas, quem deva pagá-las é notificado para as


depositar. Se não o fizer, os herdeiros com direito a recebê-las podem esco-
lher, de entre as verbas destinadas ao devedor, as necessárias para preencher
as respetivas quotas. No entanto, se ficarem, por seu turno, obrigados ao
pagamento de tornas, terão de as depositar de imediato. Os requerentes tam-
bém podem pedir que, quando a decisão da partilha já não admitir recurso,
sejam vendidos os bens atribuídos ao interessado que se encontra em falta,
até ao valor necessário à satisfação do encargo.

Não sendo reclamado o pagamento das tornas, estas vencem juros legais
desde a data em que a decisão da partilha se tornou definitiva. Os credores
podem registar uma hipoteca sobre os bens imóveis que foram adjudicados
ao devedor ou, quando essa garantia for insuficiente, requerer uma nova
partilha para os bens móveis.

Fim do processo
A partilha constante do mapa e resultante do sorteio é confirmada pelo juiz
ou pelo notário. É a decisão homologatória da partilha, de que é possível recor-
rer para o Tribunal da Relação. Se algum dos interessados quiser receber os
bens antes de terminar o prazo para o recurso (ou seja, antes de a sentença
se tornar definitiva), observa-se o seguinte:
— o registo de transmissão dos bens imóveis é feito a título provisório;
— os títulos de crédito sujeitos a averbamento (alguns tipos de ações ou obri-
gações, por exemplo) são averbados com a indicação de que o interessado
não poderá dispor deles enquanto a sentença não se tornar definitiva;
— quaisquer outros bens só são entregues se o interessado prestar caução,
a qual não pode ser constituída por rendimentos, juros ou dividendos.

130
PARTE 2 • CAPÍTULO 3. ADMINISTRAÇÃO E PARTILHA DA HERANÇA
A

Sendo necessário proceder a nova partilha, por decisão do recurso, por exem-
plo, o cabeça-de-casal fica com a guarda dos bens que deixaram de pertencer
a quem os recebeu. O inventário só é alterado no estritamente necessário para
que a decisão seja cumprida, mantendo-se sempre a avaliação e a descrição,
mesmo que haja substituição completa dos herdeiros.

Quem paga as custas?


As custas do processo de inventário são pagas pelos herdeiros, pelo cônjuge
com direito a metade dos bens e pelo usufrutuário de toda a herança ou de
parte dela, na proporção do que receberam. Se o património for todo atri-
buído em legados, as custas são pagas pelos legatários, também de forma
proporcional aos legados.

Imprecisões e omissões
Se, entretanto, se verificar que a partilha tinha imprecisões quanto à des-
crição dos bens ou outras falhas que possam ter induzido as partes em
erro, poderá haver uma emenda, independentemente de a sentença já ser
ou não definitiva. Estando todos de acordo quanto à correção a fazer, esta
pode ser realizada no mesmo processo de inventário. Caso os interessados
não estejam de acordo quanto à alteração, pode ser pedida como recurso
da sentença que homologou a partilha. O recurso deve ser interposto no
prazo de um ano a contar do conhecimento do erro, desde que este seja
posterior à sentença.

Descoberta a omissão de bens, depois de efetuada a partilha através do pro-


cesso de inventário, procede-se, no mesmo processo, a uma partilha adicio-
nal, a qual terá de ser requerida e fundamentada.

Liquidação da herança
Independentemente de a partilha ter sido feita por acordo ou por processo
de inventário, cada herdeiro deve satisfazer eventuais encargos na proporção
da quota que lhe foi atribuída. Contudo, os herdeiros podem acordar que o
pagamento seja feito com dinheiro ou outros bens separados para o efeito

131
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

ou, ainda, que fique a cargo apenas de um ou alguns deles. Mas, se a herança
ainda não tiver sido dividida, todos respondem, coletivamente, pelo paga-
mento dos encargos.

As heranças encontram-se, ainda, sujeitas a imposto do selo. Por essa razão,


o cabeça-de-casal, ou qualquer beneficiário, tem até ao último dia do terceiro
mês após o do óbito para o comunicar às Finanças e apresentar a relação dos
bens que constituem a herança, com indicação dos respetivos valores. É com
base neste documento que se procede (ou não, dependendo dos herdeiros e
dos bens) à liquidação do imposto do selo (ver Quando não se paga imposto,
na página 13, e Comunicação às Finanças, na página 68).

O imposto é devido pela herança, representada pelo cabeça-de-casal e/ou


pelos legatários, se existirem, devendo entregar-se os quinhões a cada bene-
ficiário depois de descontado este montante, atendendo à proporção de
imposto que cada herdeiro teria de suportar individualmente (ver também
o capítulo A fiscalidade nas sucessões, a partir da página 162). Para efetuar
a partilha, será necessário o comprovativo da liquidação e pagamento do
imposto do selo.

Impugnação da partilha
A partilha pode ser anulada quando algum herdeiro tiver sido ignorado
ou não tiver intervindo no processo e se demonstre que os outros inte-
ressados procederam intencionalmente ou com má-fé, excluindo-o ou
prejudicando-o. Se as razões para a exclusão do herdeiro forem outras ou,
sendo estas, ele preferir que o seu quinhão seja composto em dinheiro,
pode convocar a conferência de interessados para se determinar o valor
a que teria direito. Se houver acordo quanto ao montante, a situação fica
resolvida. Caso contrário, os bens que suscitarem divergências são nova-
mente avaliados, fixando-se, mais tarde, a importância a que o herdeiro
tem direito.

Quando se constate, depois da partilha, que houve omissão de bens, não


se procede à anulação, mas a uma partilha adicional, no mesmo processo.
Se, pelo contrário, a partilha tiver incidido sobre bens que, afinal, não faziam
parte da herança, deixará de ser válida quanto a essa parte. Nestas circuns-
tâncias, o herdeiro a quem tenham sido entregues os bens “alheios” será

132
PARTE 2 • CAPÍTULO 3. ADMINISTRAÇÃO E PARTILHA DA HERANÇA
A

indemnizado pelos restantes, na proporção dos respetivos quinhões. Caso


algum dos herdeiros não possa efetuar essa compensação, os outros respon-
dem pela sua parte, na mesma proporção.

VENDA DA HERANÇA
•Os bens que compõem a herança podem ser vendidos, total ou parcialmente, antes e
após a partilha. Mas, se for antes, o negócio terá de ser feito por todos os herdeiros,
devendo todos eles participar no ato que o confirma. Por exemplo, se quiserem vender
uma casa, todos devem participar na escritura pública. Mesmo que não se trate de
bens imóveis, o negócio é feito por escrito, embora com menos formalidades.
•Quando é vendida a totalidade da herança, é possível, ainda assim, reservar para si
objetos mais íntimos ou pessoais, tais como os diplomas (certificados), correspondên-
cia e recordações de reduzido valor económico (por exemplo, fotografias).
•O comprador da herança responde por eventuais encargos a que aquela esteja sujeita.
Por exemplo, se tiverem de ser saldadas dívidas com recurso à herança, essa pessoa
terá de fazê-lo ou acordar com o vendedor para que este o faça. No entanto, quem
vende responde solidariamente por esses encargos. Quer isto dizer que, se o compra-
dor não os cumprir, será ele a suportá-los.
•Outra limitação à venda é, tratando-se de um quinhão, o direito de preferência dos
restantes herdeiros. Por isso, o herdeiro que quiser vender tem de comunicar a sua
decisão aos restantes, dispondo estes de dois meses para, também eles, decidirem
se estão ou não interessados. Na falta de comunicação, os herdeiros interessados nos
bens podem recorrer ao tribunal. Se houver mais de dois herdeiros a querer comprar
o quinhão em causa, a distribuição é feita em função da proporção das respetivas
quotas.

133
A
A

CAPÍTULO 4

A HERANÇA
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

Quando alguém morre, o seu património é transmitido aos herdeiros,


segundo as regras e os limites definidos pela lei. Porém, nem tudo pode
ser transmitido. Por exemplo, as relações jurídicas (usufruto ou direito de
habitação, direito de receber alimentos, etc.), cargos, distinções e honrarias
pessoais extinguem-se no momento da morte. Estamos na esfera do pessoal.
O usufruto e o direito de habitação são mesmo paradigmáticos a este nível.
Regra geral, são atribuídos com base na confiança do proprietário do imó-
vel, que pode não ser extensível aos herdeiros. Já o direito ao arrendamento,
embora possa transmitir-se, não se inclui na sucessão: os beneficiários são
designados segundo as regras tratadas no título A sucessão do arrendamento,
na página 157. Outro exemplo é a transmissão de um bem cuja gestão exija
um certo grau ou qualificação profissional. Em suma, a regra aponta para
a transmissão dos direitos patrimoniais, mas não dos de natureza mais
pessoal.

O processo sucessório considera-se aberto no momento da morte do


proprietário dos bens. Nesta fase, são chamados à sucessão aqueles que
tiverem prioridade na hierarquia dos sucessíveis, desde que não sejam
indignos (ver o título da página 40). Se estes não quiserem ou não pude-
rem aceitar a herança, são chamados os seguintes e assim sucessivamente.
As regras da sucessão podem ser determinadas pela lei, por testamento,
por contrato ou por estas três vias, tal como indicado no esquema que
se segue.

OS VÁRIOS TIPOS DE SUCESSÃO

Legítima

Legal

Legitimária

Convenção
Sucessão Contratual
antenupcial

Através de
testamento

Se o falecido não deixar testamento nem uma convenção antenupcial que contenha disposições por
morte, estaremos perante a sucessão legal. Caso estes documentos existam, as suas disposições só
serão cumpridas se não forem contrárias às regras da sucessão legal.

136
PARTE 2 • CAPÍTULO 4. A HERANÇA
A

O deve e o haver da herança


A herança é constituída pelo património do falecido, nomeadamente:
— os bens deixados no momento do óbito;
— os bens trocados por património pertencente à herança;
— o dinheiro realizado com a venda de bens da herança;
— os bens adquiridos com dinheiro ou valores da herança, desde que a prove-
niência deste dinheiro ou valores seja indicada no documento da aquisição;
— os frutos produzidos pela herança até que seja feita a partilha (por exem-
plo, juros de aplicações).

O valor da herança e o do quinhão a atribuir a cada herdeiro são calculados


tendo em conta o património existente à data do óbito. No entanto, se os
descendentes do falecido considerarem que foram lesados devido a uma
doação ou legado significativos por este efetuados em vida podem reque-
rer que também esses bens sejam incorporados na herança (ver A colação,
na página 154, e a caixa Redução de liberalidades, na página 157). Se, por-
ventura, algum herdeiro dever dinheiro ao falecido e, consequentemente,
à herança, este é incluído na sua quota e assumido como se já tivesse sido
atribuído.

A herança terá de suportar eventuais dívidas. Cabe ao cabeça-de-casal


e aos legatários, se existirem, garantir o pagamento do imposto do selo
sobre a herança. Na prática, o imposto é suportado pelo conjunto da
herança, antes de esta ser distribuída pelos beneficiários. Se, por exemplo,
o proprietário dos bens tiver falecido sem pagar integralmente a casa onde
habitava, essa dívida não se extingue. Caso não exista um seguro de vida
associado ao empréstimo, é a herança a liquidá-la, ou, não havendo bens
suficientes, pode até ser necessário vender a casa. Eventualmente, existe a
hipótese de um herdeiro que receba a casa assumir a dívida, liquidando-a
em acordo com o banco. A questão das dívidas é de tal forma importante
que a lei determina que, durante cinco anos, contados a partir da aber-
tura da sucessão ou da contração da dívida (neste caso, se o prazo para
a pagar terminar depois da morte do autor da sucessão), os credores do
falecido recebem o dinheiro antes de outras pessoas a quem o herdeiro
deva dinheiro.

A herança deve ainda pagar outras despesas (em regra, através do cabeça-de-
-casal), algumas prioritárias face às anteriores, e por esta ordem:
— funeral ou atos religiosos em intenção do falecido;
— encargos com a testamentaria (ver Testamentaria, na página 34);

137
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

— encargos com a administração e a liquidação do património a atribuir;


— cumprimento de legados. Estes devem ser entregues ao legatário à custa
do património que compõe a herança.

Quem herda?
De acordo com a lei portuguesa, o cônjuge, os descendentes e os ascenden-
tes (os herdeiros legitimários) têm prioridade na partilha do património dei-
xado pelo falecido. A parte que lhes cabe está definida por lei e não pode
ser reduzida. Esta parte do património, que o autor da sucessão não pode
atribuir em testamento a outras pessoas, é conhecida por legítima ou quota
indisponível. Por exemplo, mesmo que um indivíduo não queira deixar nada
ao cônjuge, a lei não o permite. Estes herdeiros só deixarão de receber bens
se forem deserdados ou considerados indignos (ver Deserdação e indignidade,
na página 40).

Se o falecido tiver deixado testamento, e este respeitar a quota indisponível,


a disposição dos bens aí enunciada será válida (ver esquema Testamento ver-
sus sucessão legal, na página seguinte). Na ausência de testamento, os herdei-
ros legítimos recebem os bens em função das regras definidas por lei. Podem
herdar, além do Estado, todos os herdeiros já nascidos ou concebidos quando
a sucessão é aberta, desde que não tenham sido deserdados nem considera-
dos indignos. Na sucessão definida em testamento, até pode herdar quem
ainda não tenha sido concebido (por exemplo, é possível dizer que, se deter-
minadas pessoas vierem a ter filhos, estes serão contemplados com parte da
herança) e as pessoas coletivas em geral (empresas, fundações, sociedades,
agremiações desportivas, etc.).

Herança sem testamento


Se o falecido não tiver deixado testamento, abre-se a sucessão legítima,
em benefício dos herdeiros legítimos: o cônjuge, os parentes e o Estado, orde-
nados segundo uma hierarquia de classes sucessórias (ver quadro A sucessão
legítima, na página 140). Se os primeiros não quiserem ou não puderem aceitar
a herança, esse direito é transmitido aos seguintes, e assim sucessivamente.
Ou seja, estes herdeiros não são chamados à sucessão em simultâneo, mas

138
PARTE 2 • CAPÍTULO 4. A HERANÇA
A

TESTAMENTO VERSUS SUCESSÃO LEGAL

Ocorrido o óbito, é encontrado um testamento?

SIM NÃO

Herdam os herdeiros
Existem herdeiros legítimos, de acordo
legitimários? com as regras
definidas por lei

SIM NÃO

O falecido podia
A quota indisponível dispor livremente de
é respeitada? todos os seus bens

SIM NÃO

As disposições que
O testamento é prejudicarem a
completamente válido quota indisponível
são reduzidas até
que o quinhão de
cada legitimário
seja preenchido ou,
se a redução não
for possível, são
consideradas inválidas

por ordem de preferência, de modo que os parentes mais chegados excluem


o direito de herdar dos mais afastados. Por exemplo, se o falecido deixar côn-
juge e filhos ou apenas estes últimos, os seus pais não têm direito à herança.
Da mesma forma, se não deixar filhos, mas os pais sobreviverem, os irmãos
nada recebem; e assim sucessivamente. Se não existirem parentes até ao

139
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

4.º grau da linha colateral, é o


Estado que herda. Vejamos A SUCESSÃO LEGÍTIMA
como é feita a distribuição dos Classes
Herdeiros
bens na sucessão legítima. de sucessíveis
1.a Cônjuge e descendentes
2.a Cônjuge e ascendentes
Cônjuge e descendentes 3.a Irmãos e seus descendentes
4.a Outros colaterais até ao 4.º grau
No que respeita à partilha dos
5.a Estado
bens do casal, pelo menos nos
regimes de comunhão geral
de bens ou comunhão de adquiridos, há que contar com o património que
já era do cônjuge. Por exemplo, se o património comum do casal fosse de
dez mil euros, metade seria do cônjuge sobrevivo e, enquanto herdeiro, este
receberia ainda uma parte dos cinco mil euros da herança. Na comunhão de
adquiridos, os bens próprios do falecido são integrados no conjunto de bens
a atribuir aos herdeiros.

O cônjuge não é chamado à herança se, à data da morte do autor da suces-


são, se encontrar divorciado ou separado judicialmente de pessoas e bens,
por sentença que já não seja suscetível de recurso. O mesmo será válido se a
sentença de divórcio ou separação vier a ser proferida mais tarde. O cônjuge
também não será herdeiro se tiver sido celebrada convenção antenupcial a
prever a renúncia recíproca dos membros do casal à herança (sobre a renún-
cia recíproca, ver Limites e possibilidades, na página 37).

Se, além do cônjuge, existirem até três filhos, a herança é dividida por todos
em partes iguais. Caso os filhos sejam mais de três, o cônjuge terá sempre
direito a um quarto da herança, sendo o restante dividido equitativamente
pela prole. Os descendentes de 2.º grau e seguintes, isto é, netos, bisnetos,
etc., têm direito à parte que caberia ao seu progenitor: é o direito de repre-
sentação, que ocorre quando um herdeiro não quer ou não pode aceitar a
herança (ver caixa da página 149).

Cônjuge e ascendentes
Se não existirem filhos, caso sobrevivam ascendentes do falecido (por exem-
plo, pais e avós), o cônjuge recebe dois terços e o terço que sobra é repartido,
em primeiro lugar, pelos pais do falecido, que recebem partes iguais. Não
existindo pais, herdam os ascendentes de 2.º grau (avós), e a divisão é feita
nos mesmos moldes. Quando algum dos ascendentes não puder ou não qui-
ser aceitar a herança, a sua parte é dividida pelos restantes. Só se estes não

140
PARTE 2 • CAPÍTULO 4. A HERANÇA
A

existirem é que essa parte é entregue ao cônjuge (ver caixa Direito de acrescer,
na página 152).

Irmãos e seus descendentes


Os irmãos e seus descendentes (sobrinhos do falecido) só herdam se não existi-
rem as pessoas atrás referidas. Quando têm direito aos bens, os irmãos recebem
em partes iguais, exceto se forem filhos de pais diferentes. Com efeito, os irmãos
germanos (filhos do mesmo pai e da mesma mãe) têm direito a receber o dobro
dos unilaterais: sejam eles consanguíneos (filhos do mesmo pai) ou uterinos
(filhos da mesma mãe). Vejamos o exemplo do António, que, ao falecer, deixa
três irmãos: Bento, Carlos e Daniel. António e Bento são filhos do mesmo pai e da
mesma mãe, sendo, portanto, irmãos germanos. Carlos, por sua vez, é filho de
um primeiro casamento da mesma mãe, e Daniel de um primeiro casamento do
mesmo pai. Carlos e Daniel são, assim, irmãos unilaterais de António. Supondo
que a herança deste último corresponde a quatro mil euros, é necessário dividi-
-los por quatro: Bento recebe dois quartos (dois mil euros) e Carlos e Daniel um
quarto cada um (mil euros cada). Os descendentes dos irmãos também herdam
por direito de representação, se o herdeiro não aceitar a herança ou tiver falecido.

UNIÃO DE FACTO
•Ao contrário do casamento, a união de facto não permite perspetivas de herança.
De facto, o companheiro sobrevivo pode apenas receber uma pensão de alimentos da
herança e, se residisse no imóvel, com o falecido, há mais de um ano, a transmissão
do arrendamento (ver caixa O que é “viver em economia comum”?, na página 160).
Para obter a pensão de alimentos, deverá provar junto da Segurança Social que vivia
em união de facto e apresentar um requerimento.
•A única forma de garantir que o unido de facto receberá uma parte da herança é o
testamento, mas, ainda assim, com limites. Basta, por exemplo, que o falecido deixe
filhos, pais ou não tenha dissolvido um casamento anterior para que, devido às regras
da sucessão legitimária, não possa dispor livremente da totalidade dos seus bens.
•Se a casa de morada do casal for propriedade apenas do falecido, o companheiro
sobrevivo terá o chamado direito de habitação, pelo prazo de cinco anos ou, em certas
circunstâncias, pelo equivalente à duração da relação, se for mais longa, e preferência
na compra. Esgotado este prazo, tem direito a permanecer no local como inquilino,
exceto se os proprietários denunciarem o contrato por necessitarem do imóvel para
sua habitação. O direito à habitação por parte do unido de facto não se verifica se este
tiver casa própria ou arrendada no concelho onde está localizada a casa ou, tratando-
-se de Lisboa ou Porto, também nos concelhos limítrofes.
•Quanto ao imposto do selo sobre as sucessões, também os unidos de facto estão
isentos caso venham a herdar por testamento.

141
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

ESTRUTURA FAMILIAR NO PROCESSO SUCESSÓRIO

LINHA RETA
(ASCENDENTES)
3.o grau
bisavós

2.o grau
avós

1.o grau
pais

Cônjuge

LINHA COLATERAL
2.o grau 3.o grau 4.o grau
irmãos tios e primos,
sobrinhos tios-avós e
sobrinhos-
Falecido -netos

1.o grau
LINHA RETA (DESCENDENTES)

filhos

2.o grau
netos

3.o grau
bisnetos

142
PARTE 2 • CAPÍTULO 4. A HERANÇA
A

Outros colaterais até ao 4.o grau


Inserem-se neste grupo tios e primos, tendo prioridade os mais próximos
(se houver primos de 2.º grau, não herdam os de 3.º). A partir deste grau,
não há direito à herança, a não ser por testamento. Quando estes parentes
herdam, a divisão é feita por cabeça, não sendo possível o direito de repre-
sentação. Ou seja, caso estes parentes não queiram ou não possam aceitar os
bens, os seus herdeiros não são chamados à sucessão.

O Estado
Quando não existem cônjuge, parentes com direito à herança, tão-pouco um
testamento, será o Estado a receber o património do falecido. Tem os direi-
tos e deveres de qualquer outro herdeiro, embora não tenha de formalizar a
aceitação da herança nem possa recusá-la.

Herança com testamento


Existindo testamento (ou uma convenção antenupcial), há que cumprir a
vontade dos autores, atendendo às limitações decorrentes da lei (ver o capí-
tulo Escolher os herdeiros, a partir da página 16). Tal como já foi referido,
certas classes de herdeiros, devido à sua proximidade com o falecido, têm
sempre reservada uma parte dos bens. Assim, mesmo que o proprietário
dos bens elabore um testamento em que determine que os herdeiros legiti-
mários (cônjuge, descendentes e ascendentes) nada recebem, essa cláusula
não será válida.

A lei impede o autor do testamento de impor encargos sobre a quota indis-


ponível ou designar os bens que irão constituí-la, contra a vontade dos her-
deiros. Na verdade, sem prejuízo das questões não patrimoniais (ver título da
página 26), o testamento só pode ser utilizado para dar um destino aos bens
que possam vir a integrar a quota disponível.

Para calcular o valor dos bens que compõem a quota indisponível ou legítima,
são considerados o património do falecido à data do óbito, os bens eventual-
mente doados, as dívidas e as despesas sujeitas a colação (ver, na página 154,
o título A colação). Vejamos, então, qual é a quota indisponível, em função
dos herdeiros que sobrevivem.

143
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

Cônjuge
Quando não existem mais herdeiros legitimários, o cônjuge recebe, pelo
menos, metade dos bens. Mas o direito à herança pressupõe a existência do
casamento à data do óbito ou que os cônjuges não se encontrem separados
de pessoas e bens. Nesse sentido, o cônjuge nada recebe se, no momento da
morte, já tiver sido decretada a separação de pessoas e bens ou o divórcio.
Se, quando ocorre o óbito, houver uma ação em tribunal com vista ao divór-
cio ou à separação de pessoas e bens, os herdeiros podem pedir que siga os
trâmites normais, para efeitos patrimoniais. Decretada a sentença, tem efeitos
retroativos, no que respeita ao património dos cônjuges, desde a data em que
foi proposta a ação de divórcio.

O cônjuge também não será herdeiro se tiver sido celebrada convenção


antenupcial a prever a renúncia recíproca dos membros do casal à quali-
dade de herdeiro (sobre a renúncia recíproca, ver Limites e possibilidades,
na página 37).

Cônjuge e filhos
Estes herdeiros têm direito, no mínimo, a dois terços dos bens. Se, por exemplo,
o falecido deixar um património de 150 mil euros, repartidos segundo as regras
da sucessão legítima (ver quadro sobre as quotas indisponíveis, na página 25),
pelo menos 100 mil pertencerão a estes herdeiros. Estão incluídos nesta cate-
goria os filhos do casal e todos os que tiverem sido reconhecidos pelo falecido.

Filhos
Se houver apenas um filho, e não existir cônjuge, a sua legítima será de metade
da herança; existindo dois ou mais, recebem, pelo menos, dois terços dos
bens, que dividirão entre eles em partes iguais.

Descendentes de 2.o grau e seguintes


Os netos, bisnetos e respetivos descendentes têm direito à parte que caberia
aos seus progenitores, caso estes não aceitem a herança ou já tenham fale-
cido. De seguida, entre eles, a divisão é em partes iguais. Imaginemos que
António é pai de Bernardo e Carlos, ambos com filhos. Bernardo morre antes

144
PARTE 2 • CAPÍTULO 4. A HERANÇA
A

de António, seu pai. Logo, são os netos deste a herdar os bens que caberiam
ao pai, dividindo-os entre si em partes iguais. Mas os filhos de Carlos nada
recebem, a menos que este repudie a herança.

Cônjuge e ascendentes
Caso existam, simultaneamente, cônjuge e ascendentes (pais, avós), recebem,
no mínimo, dois terços da herança, divididos segundo as regras da sucessão
legítima (ver esquema Quem herda e quanto?, na página seguinte).

Ascendentes
Havendo apenas ascendentes, a parte que lhes cabe é, no mínimo, de metade
ou de um terço da herança, conforme se trate dos pais ou dos avós e seguintes
(bisavós).

Aceitação e repúdio da herança


A herança não é uma imposição, pode ser aceite ou recusada. Trata-se,
de resto, de uma decisão a ponderar, já que uma aceitação irrefletida pode
trazer dissabores. Quando houver a suspeita de existirem muitas dívidas a
saldar, é preferível aceitar a herança a benefício de inventário, pois, se exis-
tir conflito com eventuais credores, terão de ser estes a provar que há bens
na herança para satisfazer os pagamentos. Caso contrário, têm de ser os
herdeiros a provar que já não existe património para pagar as dívidas.
Embora as dívidas do falecido só sejam pagas até ao valor da herança,
e os herdeiros nada tenham a suportar caso esta não seja suficiente, pode
nem sempre ser fácil prová-lo. A aceitação a benefício de inventário é, por
isso, a via a seguir. É requerida num cartório notarial ou no tribunal (ver
informação mais detalhada no título O inventário, na página 116).

Aceite a herança, é impossível voltar atrás na decisão. Além disso, é uma


questão de tudo ou nada, não sendo possível aceitar uma parte dos bens
e recusar outra. Ao herdeiro está ainda vedada a possibilidade de impor
condições para aceitar. Por exemplo, não pode dizer que só fica com os
bens se não tiver de satisfazer dívidas do falecido ou se lhe forem atribuí-
dos determinados direitos.

145
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

O direito de aceitar a herança caduca ao fim de dez anos, contados a partir do


momento em que o herdeiro tem conhecimento de que o é. Caso o herdeiro
tenha sido designado sob uma condição suspensiva (ver Condições para
os herdeiros receberem os bens, na página 27), o prazo é contado a partir
do momento em que houver conhecimento de que a condição foi cum-
prida. Face a uma substituição fideicomissária (ver título Substituições de
herdeiros, na página 31), é considerada a data da morte do fiduciário ou,
tratando-se de uma pessoa coletiva, da extinção desta última.

QUEM HERDA E QUANTO?

Falecido deixa Falecido deixa Falecido não


cônjuge e cônjuge, mas não deixa cônjuge,
descendentes deixa descendentes mas deixa
descendentes

Até três Mais de três Há Não há


filhos filhos ascendentes ascendentes

O cônjuge
A herança é O cônjuge
recebe 1/4
repartida em recebe O cônjuge
da herança; A herança é
partes iguais 2/3 da recebe a
o resto é dividida em
entre o herança; os totalidade
dividido partes iguais
cônjuge e os ascendentes da herança
pelos
descendentes recebem 1/3
descendentes

146
PARTE 2 • CAPÍTULO 4. A HERANÇA
A

Aceitação tácita ou expressa


A aceitação dos bens pode ser tácita ou expressa. Se, após o falecimento do
proprietário dos bens, o herdeiro entrar na posse do património e se com-
portar como seu dono, estaremos perante uma aceitação tácita. Por exemplo,
se passou a utilizar o automóvel do falecido ou a residir na sua casa, entende-
-se que aceitou a herança. Porém, se declarar por escrito que aceita os bens,
já se tratará da forma expressa. Para o efeito, basta uma simples carta, por

Falecido não deixa cônjuge nem


descendentes

Há Não há
ascendentes ascendentes

Há irmãos ou seus Não há irmãos ou


descendentes seus descendentes

Germanos Unilaterais
Não há
(filhos do (filhos da Há colaterais
Germanos colaterais
mesmo pai mesma até ao
E unilaterais até ao
E da mesma mãe OU do 4.o grau
4.o grau
mãe) mesmo pai)

Cada irmão
A herança é A herança é
germano A herança é
A herança é dividida em dividida em
recebe o dividida em
dividida em partes iguais partes iguais Estado
dobro de partes iguais
partes iguais pelos irmãos pelos irmãos
cada irmão por todos
germanos unilaterais
unilateral

147
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

exemplo, dirigida ao cabeça-de-casal ou ao testamenteiro. Dependendo das


circunstâncias, também pode considerar-se que há uma aceitação expressa
dos herdeiros que constam da respetiva habilitação.

Em caso de repúdio
Por vezes, o herdeiro não quer receber os bens. De resto, em certos casos,
é até aconselhável que o faça: basta que tome conhecimento de que sobre a
herança pendem dívidas superiores ao património que a compõe e que não
exista, no conjunto de bens deixado pelo falecido, nenhum que lhe interesse.
Tal como a aceitação, o repúdio é irrevogável, indivisível e incondicional. Con-
tudo, tem de ser feito por escrito e seguindo as regras aplicadas à alienação
da herança (por exemplo, venda). Por outras palavras, se a herança contiver
bens imóveis ou móveis sujeitos a registo (um automóvel, por exemplo), é repu-
diada por escritura pública ou por documento particular autenticado. Se, pelo
contrário, não existirem estes bens, basta um documento particular com a
menção expressa de que não existem bens imóveis ou móveis sujeitos a registo.
Sendo a partilha feita sem recurso ao processo de inventário, a recusa é dirigida
ao cabeça-de-casal. Na eventualidade de existir inventário, deve ser também
declarada junto do tribunal ou do notário onde o mesmo decorrer. O repúdio
é posteriormente comunicado à Conservatória dos Registos Centrais.

Repudiada a herança, os restantes herdeiros podem disputar o quinhão que


ficou vago. Na prática, tudo se passa como se a pessoa que recusou os bens
nunca tivesse existido para efeitos de herança, com exceção do que se refere
ao direito de representação (ver caixa na página seguinte). Por exemplo, se o
pai recusou a herança do avô, o neto é chamado a aceitá-la (sendo repre-
sentado, se for caso disso, pelo próprio pai, por um tutor ou pelo Ministério
Público). Da mesma forma, se a pessoa com direito à herança morrer antes
de poder aceitá-la ou recusá-la, esse direito é transmitido aos seus herdeiros.

Os legados
Ao longo deste livro, referimo-nos por diversas vezes a herdeiros e legatários e
a heranças e legados. Embora tenham semelhanças, são realidades diferentes,
tal como é explicado no capítulo sobre os testamentos, a partir da página 16.

148
PARTE 2 • CAPÍTULO 4. A HERANÇA
A

Sem prejuízo do que aí é dito, há ainda outros aspetos a considerar num pro-
cesso sucessório. Antes de mais, lembremos que a distinção entre herdeiro
e legatário só faz sentido quando o falecido tiver elaborado um testamento
ou uma convenção antenupcial. De outro modo, estamos perante a sucessão
legal (legítima e/ou legitimária) e, nesse caso, todos os que beneficiarem da
herança são herdeiros.

DIREITO DE REPRESENTAÇÃO
Se um herdeiro ou legatário não quiser ou não puder aceitar os bens que lhe foram
destinados, herdam, no seu lugar, os seus descendentes (filhos, netos). Não existindo
estes, herdam os irmãos do falecido ou, se estes também não quiserem ou não pude-
rem aceitá-la, os respetivos filhos. Trata-se do direito de representação que, embora
com algumas diferenças, pode ser aplicado à sucessão com e sem testamento. Num
caso como noutro, o cônjuge do herdeiro não está abrangido.
•Na sucessão legal (sem testamento), existe sempre o direito de representação, nomea-
damente devido a morte, indignidade, deserdação, ausência em parte incerta ou
repúdio da herança. Em linha reta, beneficia os descendentes dos filhos do falecido;
na linha colateral, contempla os descendentes dos irmãos do falecido. Os descenden-
tes dos restantes colaterais até ao 4.o grau (por exemplo, filhos ou netos dos tios)
já não usufruem deste direito.
•Na sucessão por testamento, têm direito de representação os descendentes do poten-
cial herdeiro que tenha falecido antes do autor do testamento ou da pessoa que repu-
diou os bens. O direito de representação fica sem efeito em caso de nomeação de um
substituto (ver título Substituições de herdeiros, na página 31), bem como em relação
a um eventual fideicomissário ou a um usufruto ou outro direito pessoal.
•Vejamos um exemplo. António e Bernardina têm três filhos: Carlos, Duarte e Ernesto.
Ernesto morreu, deixando dois filhos: Francisco e Guilherme, o último dos quais,
embora já concebido, ainda não tinha nascido. Entretanto, Bernardina veio a falecer
dois anos depois do filho. A sua herança será dividida da seguinte forma:
— António, o marido, recebe um quarto dos bens;
— Carlos e Duarte, os filhos sobrevivos, também têm direito a um quarto cada um;
— Francisco e Guilherme, filhos do falecido Ernesto, recebem o restante quarto, a que
o pai teria direito, repartindo-o equitativamente. Cada um fica, assim, com um
oitavo dos bens da avó.
•Os descendentes representam, pois, os seus progenitores, inclusivamente se tiverem
recusado a herança destes. Outro pormenor importante refletido no exemplo: os nas-
cituros (filhos já concebidos, mas ainda não nascidos) também podem ter direito de
representação e, ainda, receber doações. Não havendo ninguém com direito de repre-
sentação, a quota ou o legado do beneficiário excluído são redistribuídos pelos restan-
tes (ver caixa Direito de acrescer, na página 152).

149
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

O que são?
A atribuição de um bem ou direito específico a uma pessoa, por morte de quem
o detinha, é um legado. Por exemplo, o testamento pode dizer que o quadro X
será entregue à pessoa Y. Em regra, o autor do testamento ou da convenção
define o bem ou o direito que compõe o legado, mas também pode não o fazer,
por exemplo, dando a escolher ao legatário. Por outro lado, os legados podem
ter um encargo associado. Por exemplo, o legatário recebe um imóvel, mas as
rendas recebidas desse imóvel são entregues a outra pessoa.

Se nada tiver sido dito em contrário, os bens ou direitos a entregar ao legatário


são descontados ao valor total da herança. No entanto, o testador também
pode estabelecer que o legado seja cumprido por apenas um ou alguns dos
herdeiros ou legatários. Neste último caso, as pessoas sobre quem recai o
legado devem cumpri-lo proporcionalmente ao quinhão dos bens a que tive-
rem direito, a menos que o testador tenha definido uma repartição diferente.

Se o autor do testamento nada definir a este respeito, os legados são entregues


aos destinatários no local onde aqueles (os legados) se encontravam à data do
óbito, no prazo de um ano. Só não será assim se, por motivo que não seja da
responsabilidade da pessoa que deve entregar o legado, o prazo não puder
ser respeitado. Já se o legado for em dinheiro ou corresponder a um bem que
não faça parte da herança (por exemplo, que ainda tenha de ser adquirido),
a entrega é feita no local onde for aberta a sucessão, no mesmo prazo. Nestes
casos, o legado terá de corresponder a um bem indeterminado, mas de um
certo género (por exemplo, um automóvel não especificado).

O legado deixado a um menor com a condição de só ser entregue quando


atingir a maioridade nunca poderá ser atribuído antes dessa data, ainda que
tal pessoa tenha sido emancipada pelo casamento. Caso o legado consista
numa prestação periódica, situação em que deve ser paga a partir da morte
do autor do testamento, o seu beneficiário só pode exigi-lo no final do período
definido no testamento (um mês, por exemplo) e em função da data em que
se vence essa prestação periódica. O beneficiário só pode pedir o pagamento
do legado no início de cada período (o tal mês, no exemplo indicado) no caso
das pensões de alimentos.

O que pode ser legado?


É possível que, em vez de um bem, o autor do testamento entenda atribuir
um direito ou um encargo. Por exemplo, pode decidir que uma parte ou a

150
PARTE 2 • CAPÍTULO 4. A HERANÇA
A

totalidade dos seus bens sejam atribuídos a uma pessoa, mas o respetivo
usufruto a outra. Nestes casos, ainda que o direito incida sobre a totali-
dade dos bens da herança, o usufrutuário é considerado um legatário.
E o usufruto, a menos que algo seja estabelecido em contrário, é vitalício.
Já se o beneficiário for uma pessoa coletiva (uma sociedade, uma associa-
ção, etc.), a duração não poderá exceder os 30 anos.

O autor do testamento também pode legar uma coisa ou um montante


para satisfazer uma dívida sua. E, em princípio, o legado é válido mesmo
que venha a verificar-se que, afinal, a dívida não existia. Contudo, o legado
efetuado nestas circunstâncias fica sem efeito se o testador, apesar de
devedor na altura em que elaborou o documento, tiver entretanto liqui-
dado a dívida. Há que ter em conta que, se o autor do testamento não
tiver dito expressamente que o bem se destinava a saldar a dívida, o legado
efetuado em favor de um credor considera-se uma oferta e não um paga-
mento. Na prática, a lei entende que havia a intenção de contemplar essa
pessoa com uma parte da herança, independentemente de existir uma
dívida. Ou seja, a lei não o encara como credor, mas como beneficiário
de um legado. Logo, a herança continuará a ter de entregar o bem legado
e, bem entendido, pagar a dívida.

O autor do testamento pode querer deixar os valores de que seja credor,


indicando, por exemplo: “Aníbal receberá os montantes que me são devidos
por Mário.” Mas se, até à data da morte, a pessoa que estiver em dívida for
pagando, Aníbal só receberá o que ainda estiver em falta. Nestes casos,
ao beneficiário do legado serão entregues os títulos respeitantes à dívida:
um contrato de empréstimo, uma letra, uma livrança, etc.
Se o testador legar a totalidade das dívidas que tenham para com ele,
em caso de dúvida, entende-se que o legado só abrange os créditos em
dinheiro. No entanto, não se incluem neste âmbito os depósitos bancários
nem os títulos ao portador ou nominativos. Por outro lado, se o legado
for o recheio de uma casa ou o dinheiro nela existente, não se entende
que os créditos estão incluídos (ainda que os documentos que os titulam
se encontrem na casa), exceto se o testador tiver declarado o contrário.
Neste caso, consideram-se incluídos apenas bens como dinheiro, joias,
mobílias, quadros, eletrodomésticos, etc.

É possível deixar legados que incidam sobre algo indeterminado, mas


pertencente a um certo género. Será o caso se o autor do testamento dis-
ser que Sofia receberá um dos seus automóveis. Nestas situações, a não
ser que o testador tenha definido algo diferente, a escolha do bem cabe à
pessoa indicada no testamento para fazer a entrega. Por último, refiram-
-se os legados pios, aqueles que o autor do testamento destinou à criação,

151
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

manutenção ou desenvolvimento de obras de assistência, previdência,


educação ou fins semelhantes.

Como se vê, em matéria de legados existem diversas modalidades. O autor do


testamento pode, inclusive, dar ao beneficiário a possibilidade de escolher
um de entre um grupo de bens ou valores. São os legados alternativos. Se a
pessoa que deve efetuar a escolha, isto é, o herdeiro designado para o efeito
ou o legatário, vier a falecer sem o ter feito, este direito será transmitido aos
seus próprios herdeiros.

DIREITO DE ACRESCER
•O direito de acrescer consiste na possibilidade de uma quota recusada (ou não atri-
buída) por um dos herdeiros ser distribuída pelos restantes. No entanto, este direito
só é aplicado se não existir ninguém em condições de exercer o direito de represen-
tação (ver caixa da página 149). Assim, se dois ou mais herdeiros tiverem recebido
partes iguais da herança e um deles não quiser ou não puder (por ter sido considerado
indigno, por exemplo) aceitar o seu quinhão, este último acresce ao dos outros. Se as
partes de cada um forem desiguais, a do que não pôde ou não quis aceitar os bens é
dividida proporcionalmente.
•Na eventualidade de existirem, em simultâneo, herdeiros legais e definidos por testa-
mento, o direito de acrescer é aplicado em separado para cada uma destas categorias
de pessoas. Este direito também é válido entre legatários nomeados em relação ao
mesmo objeto, seja ele um bem, um direito ou outro tipo de valor, e segue as regras
enunciadas para os herdeiros.
•Não será aplicado o direito de acrescer quando o autor do testamento tiver decidido
em sentido contrário: por exemplo, referindo em testamento que, no caso de uma
pessoa recusar ou não poder aceitar determinado bem, este seja entregue a outrem.
Também não existe este direito quando o legado tiver uma natureza puramente pes-
soal (por exemplo, o usufruto de uma casa, mas com a exceção referida a seguir).
Ainda que o usufruto seja uma atribuição de caráter pessoal, é possível que acresça
quando for instituído em favor de duas ou mais pessoas e uma delas não puder ou
não quiser aceitá-lo.
•O beneficiário dos bens acrescidos não pode repudiar separadamente essa parte,
a menos que esteja sujeita a encargos impostos pelo autor do testamento. Neste
caso, a parte repudiada reverte em favor da pessoa que irá beneficiar dos encargos.
Por exemplo, se, para beneficiar de parte do usufruto de um imóvel, o herdeiro tiver
de pagar algo a um terceiro e repudiar essa parte, a mesma reverte em favor do tal
terceiro. Ou seja, pode acontecer passarem a usufruir do imóvel os restantes herdeiros
e uma pessoa desconhecida.
•Os herdeiros ou legatários que beneficiarem de um acréscimo têm os mesmos direitos
e obrigações de quem não pôde ou não quis aceitar os bens, desde que estes não
tenham uma natureza puramente pessoal (por exemplo, o direito a alimentos).

152
PARTE 2 • CAPÍTULO 4. A HERANÇA
A

Qual a validade?
Entre a elaboração do testamento e o cumprimento do legado pode decor-
rer um longo período. Será que deve ser integralmente cumprido ou, pelo
contrário, ajustado face ao tempo decorrido? O que fazer se, por exemplo,
forem realizadas benfeitorias no legado? As respostas a estas questões
dependem do tipo de legado e da vontade de quem o deixou.

Se o autor do testamento nada especificar sobre a extensão do legado,


entende-se que abrange todas as benfeitorias realizadas. Por exemplo,
se, aquando da realização do testamento, o legado correspondia a um
terreno com uma casa de duas divisões e, à morte do autor, já existis-
sem mais duas e anexos, todos estes acrescentos seriam considerados
como parte integrante do bem a atribuir. Da mesma forma, se o legado
proporcionar frutos (por exemplo, produção agrícola), o legatário deve
recebê-los desde a morte do autor do testamento, com a exceção dos que
este último tenha recebido em adiantado.

Se o legado for em dinheiro ou um bem que não pertença à herança, mas


seja suportado por terceiros, os frutos só terão de ser atribuídos a partir
do momento em que a pessoa obrigada a entregá-los ultrapasse o prazo
previsto (no testamento, por exemplo).

Despesas com o cumprimento do legado


As despesas necessárias ao cumprimento do legado ficam a cargo de quem
deva satisfazê-lo. Por regra, estas despesas estão previstas no testamento
e, de qualquer modo, há o limite do valor do próprio legado. Também
pode acontecer que o legado esteja sujeito a encargos. Será o caso de
um terreno a que tenha sido imposta uma servidão de passagem, o que
acontece, geralmente, quando existe um lote “encravado”, que necessite
dessa passagem para aceder à via pública. Nesta situação, o legatário terá
de continuar a suportar o encargo. Por fim, se o encargo tiver caracterís-
ticas diferentes, como prestações em atraso ou uma dívida garantida pela
hipoteca de um bem legado, então, será a herança a satisfazê-lo, uma vez
que se trata de uma dívida do autor da sucessão.

Quando o autor do testamento defina encargos para o legado, é o próprio


legatário a suportá-los. Porém, se o legatário não receber a totalidade dos
bens prometidos, só está obrigado a fazê-lo na proporção do que lhe for
atribuído. Se, por qualquer motivo, o legado vier a ser atribuído a outra

153
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

pessoa, o legatário tem direito a ser reembolsado por eventuais despesas


efetuadas. Já no caso de a herança ter sido repartida, totalmente, em lega-
dos, os encargos são suportados por todos os beneficiários, na proporção
do que cada um recebeu. Só não será assim se o autor do testamento definir
algo diferente.

Sendo a herança insuficiente para pagar todos os legados, estes são pagos
por rateio, isto é, proporcionalmente ao que caberia a cada beneficiário.
Apenas os legados remuneratórios fogem à regra, por serem considerados
dívidas da herança. Estes legados remuneratórios traduzem-se no paga-
mento de um serviço, por exemplo, e devem ser sempre pagos em pri-
meiro lugar.

Aceitação e repúdio do legado


O legado, tal como a herança, pode ser aceite ou recusado. Embora as regras
enunciadas para os herdeiros possam, no geral, aplicar-se aos legatários, exis-
tem diferenças. Também não é possível receber uma parte do legado e recu-
sar outra, mas já é admissível ficar com um legado e dispensar outro, desde
que este não esteja sujeito a encargos impostos pelo autor do testamento.
Por outro lado, o herdeiro que seja simultaneamente legatário pode aceitar
a herança e repudiar o legado, e vice-versa, desde que, uma vez mais, não
existam encargos sobre os bens recusados.

A colação
Através da colação, o montante correspondente a doações feitas em vida a
descendentes que sejam herdeiros (e somente a eles) é somado ao quinhão da
pessoa em causa e, se o total prejudicar a quota dos restantes herdeiros legi-
timários, poderá ter de ser reduzido. Presume-se que a intenção do falecido
não era beneficiar uns em detrimento de outros, mas adiantar a transferência
de uma parte dos bens que lhes caberiam após a morte. Estão excluídos da
colação os bens doados aos ascendentes ou ao cônjuge do autor da herança
ou do descendente.

154
PARTE 2 • CAPÍTULO 4. A HERANÇA
A

Bens sujeitos a colação


São objeto de colação todos os bens doados aos descendentes, exceto despe-
sas com casamentos, prestação de alimentos, estabelecimento e colocação
(por exemplo, ajuda na compra de um negócio para um filho), desde que
sejam compatíveis com a condição social e económica do falecido, isto é, não
sejam excessivas face às suas condições financeiras. Em último caso, será o
tribunal a avaliar esta compatibilidade. Estão ainda obrigados a colação, após
a abertura da sucessão, os frutos provenientes do bem doado (por exemplo,
o resultado da venda de produtos agrícolas de uma quinta doada). Logo,
os frutos anteriores estão dispensados.

Dispensa de colação
A colação pode ser dispensada, até pelo próprio doador, no ato da doa-
ção ou posteriormente. De resto, a colação presume-se sempre dispen-
sada nas doações manuais e remuneratórias. As primeiras traduzem-se na
entrega, em mão, do bem que pretende doar-se, sem que haja um docu-
mento escrito a formalizar o ato, ao passo que as segundas correspondem
a um pagamento de serviços prestados ao doador, ainda que não existisse
essa obrigação. Estão também dispensados os bens doados que tenham
desaparecido em vida do proprietário por um motivo que não seja da res-
ponsabilidade do beneficiário. Por exemplo, não será contabilizado um
automóvel oferecido a um filho e que, ainda em vida do pai, tenha sido
roubado e nunca recuperado.

Os bens atribuídos ao cônjuge do descendente também não estão sujeitos


a colação. Se ambos os cônjuges receberem bens, só são objeto de colação
os que couberem ao herdeiro legitimário do falecido. É que, mesmo que
o casal tenha um regime de comunhão geral de bens, a doação feita a um
cônjuge pode não ser extensível ao outro.

Em síntese, para efeitos de colação, só contam os descendentes que,


à data da doação, fossem herdeiros legitimários do doador. Por exemplo,
caso o falecido tivesse feito uma doação a um neto numa altura em que o
progenitor deste, seu filho, ainda era vivo, mas, à data da morte, também
aquele seu filho já tivesse falecido, os bens doados não seriam sujeitos
a colação. Isto porque, à data da doação, o neto não era seu herdeiro
legitimário.

155
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

Como é que tudo se processa?


A obrigação de indicar os bens para colação recai sobre o beneficiário,
se vier a ser herdeiro do falecido. Caso não queira ou não possa aceitar
a herança, deve fazê-lo quem suceder no seu lugar (ver caixa Direito de
representação, na página 149), mesmo que essa pessoa nada tenha benefi-
ciado com a doação.

Se na herança não existirem bens suficientes para que os herdeiros rece-


bam o seu quinhão, as doações só são reduzidas se prejudicarem a quota
dos legitimários (ver caixa Redução de liberalidades, na página seguinte)
ou se, no momento em que foram feitas, essa redução tiver sido prevista.
Por outras palavras, se um herdeiro tiver recebido um bem no valor de
dez mil euros e, depois de calculado o valor da herança, cada herdeiro
tiver a receber 7500 euros, o primeiro terá sempre direito àquele valor,
a não ser que prejudique a quota dos herdeiros legitimários. Se for o caso,
o herdeiro beneficiado terá de devolver o que tiver recebido a mais e seja
necessário para preencher a quota destes herdeiros: no exemplo referido,
até 2500 euros.

O valor dos bens doados é o que tiverem à data da morte do doador e não
quando foram atribuídos. Se os bens tiverem desaparecido, em circuns-
tâncias que não admitam a dispensa de colação, é considerado o valor que
teriam caso ainda existissem na abertura da sucessão. Quanto às doações
em dinheiro e aos encargos (por exemplo, rendas), o seu valor deve ser
atualizado, atendendo à inflação desde que foi feita a doação. A avaliação
de outros bens é feita de comum acordo entre os vários herdeiros ou, não
sendo possível, recorrendo a peritos.

Se o beneficiário tiver efetuado benfeitorias no bem recebido, tem direito


a ser indemnizado ou a retirar as melhorias realizadas. No entanto, só será
indemnizado pelas benfeitorias necessárias, isto é, as que forem indispen-
sáveis à conservação do bem, evitando a sua deterioração ou perda, e ape-
nas pode retirar as benfeitorias úteis, as que, não sendo indispensáveis, lhe
aumentam o valor (por exemplo, pode proceder à remoção de um aque-
cimento central num apartamento), desde que da operação não resultem
danos para o bem. Caso a benfeitoria não possa ser retirada, terá de ser
paga, considerando-se o valor acrescentado ao bem com a obra. Por fim,
as benfeitorias voluptuárias, aquelas que, não sendo necessárias nem úteis,
se destinam exclusivamente ao prazer de quem as utiliza (por exemplo,
a instalação de um circuito de música em todas as divisões da casa), não
conferem o direito a compensação.

156
PARTE 2 • CAPÍTULO 4. A HERANÇA
A

REDUÇÃO DE LIBERALIDADES
•As liberalidades, isto é, as doações ou o património deixado em testamento, quer ocorram
em vida, quer após a morte do proprietário dos bens, e que prejudiquem a quota dos her-
deiros legitimários, dizem-se inoficiosas, podendo ficar sem efeito. Por exemplo, se, ainda
que em vida e há muitos anos, o falecido tivesse feito uma doação que comprometesse a
quota indisponível, pode ser necessário reduzir a primeira para garantir a segunda. Para que
tal aconteça, os herdeiros legitimários ou os seus próprios herdeiros terão de o solicitar ao
tribunal, no prazo de dois anos a contar da aceitação da herança. Excluídas deste âmbito
estão as liberalidades a favor do cônjuge sobrevivo que tenha renunciado à qualidade de
herdeiro, que não são objeto de redução até ao limite da legítima que lhe caberia se não
tivesse renunciado.
•A redução de liberalidades consiste em retirar ao bem o suficiente até que a quota indispo-
nível seja respeitada, se necessário através da devolução total do bem. Primeiro reduzem-se
os valores dos bens deixados em testamento (exceto legados). Se não for suficiente, recor-
re-se aos legados e, se necessário, são reduzidas as doações feitas em vida pelo falecido.
•Bastando a redução dos bens deixados por testamento, deve ser feita proporcionalmente,
tanto no que respeita a deixas com caráter de herança, como a legados. No entanto, se o
autor do testamento tiver determinado que certas disposições têm caráter preferencial,
estas só são reduzidas se as restantes não forem suficientes para perfazer a legítima. As dei-
xas remuneratórias, destinadas a pagar um dado serviço prestado ao autor do testamento,
têm esse caráter de preferência.
•Se for necessário recorrer às doações em vida, começa-se pela última, no todo ou em parte.
Caso seja insuficiente, passa-se à penúltima e assim sucessivamente. Tendo ocorrido diver-
sas doações na mesma altura, a redução é proporcional, salvo se alguma delas for remune-
ratória: esta só será reduzida se as restantes não forem suficientes.
•Quando os bens atribuídos puderem ser divididos (por exemplo, uma coleção de obras de
arte), é-lhes retirada a parte necessária para preencher a quota dos herdeiros legitimários.
Caso contrário, tudo depende do valor da redução: se exceder metade do valor dos bens,
o legitimário recebe-os na íntegra e o legatário ou o beneficiário da doação recebem o resto
em dinheiro; se não exceder, os bens ficam para o legatário ou beneficiário, tendo estes de
compensar o legitimário em dinheiro, através do pagamento de tornas.
•No que respeita aos bens doados que tiverem desaparecido ou sido destruídos, vendidos
ou arrendados, o preenchimento da legítima é efetuado, em dinheiro, pelo beneficiário da
doação (ou pelos seus sucessores, se este já tiver falecido).

A sucessão do arrendamento
Se falecer o senhorio, quem herdar o imóvel arrendado e precisar do imó-
vel para sua habitação ou dos seus filhos pode denunciar de imediato o

157
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

contrato de arrendamento, sem ter de esperar pela sua renovação. Mas


terá de indemnizar o inquilino pelo equivalente a um ano de renda e de
comunicar-lhe a data em que a casa deve ser desocupada com o mínimo de
seis meses de antecedência. Também não pode ter casa que satisfaça as suas
necessidades de habitação ou as dos filhos, no mesmo concelho e, em Lisboa
e no Porto, também nos concelhos limítrofes, há mais de um ano. Mantendo-
-se o arrendamento, mantêm-se também os termos do contrato, exceto se o
anterior senhorio não fosse o proprietário, mas o usufrutuário. Neste caso,
o contrato caduca e o inquilino tem direito a celebrar um novo contrato.
Se quiser vender o imóvel, o novo proprietário terá de começar por verificar
se o inquilino tem direito de preferência, o que acontece, em princípio, se o
contrato de arrendamento durar há mais de dois anos.

O contrato de arrendamento não termina, necessariamente, devido ao óbito


do inquilino que o assinou. Existem dois regimes para a transmissão dos con-
tratos, aplicando-se um ou outro consoante estes tenham sido assinados até
28 de junho de 2006 ou em data posterior, já ao abrigo do Novo Regime do
Arrendamento Urbano (NRAU). Num caso como noutro, a transmissão do
arrendamento ou a sua concentração no cônjuge sobrevivo (caso tivessem
arrendado os dois) devem ser comunicadas ao senhorio no prazo de três meses
a contar do falecimento. Esta comunicação é acompanhada dos documen-
tos comprovativos da morte e da qualidade que confere o direito ao arrenda-
mento. Por exemplo, a certidão de óbito, a de casamento ou de nascimento.

As normas que se seguem referem-se ao arrendamento para habitação per-


manente. Quanto ao de habitação secundária (por exemplo, uma casa de
férias), por norma caduca com a morte do inquilino. No entanto, e inde-
pendentemente do tipo de contrato, há sempre a possibilidade de garantir a
transmissão: se este contiver uma cláusula que o preveja, os herdeiros pode-
rão continuar a habitá-la.

Contratos anteriores ao NRAU


Os contratos assinados antes de 28 de junho de 2006 não caducam por morte
do primeiro arrendatário quando lhe sobrevivam as seguintes pessoas:
— cônjuge com residência na casa arrendada;
— pessoa que com ele vivesse em união de facto há mais de dois anos, com
residência no local arrendado há mais de um ano;
— pai ou mãe que com ele vivesse há mais de um ano;

158
PARTE 2 • CAPÍTULO 4. A HERANÇA
A

— filho ou enteado com menos de um ano de idade ou que com ele vivesse
há mais de um ano e seja menor de idade ou, tendo idade inferior a
26 anos, frequente, pelo menos, o 11.º ano;
— filho ou enteado que com ele vivesse há mais de um ano, portador de
deficiência com grau de incapacidade superior a 60%;
— filho ou enteado que com ele vivesse há mais de cinco anos, com 65 anos
de idade ou mais, desde que o rendimento anual bruto corrigido (RABC)
do agregado familiar seja inferior a cinco retribuições mínimas nacio-
nais anuais (RMNA).

A transmissão a estas pessoas é feita pela ordem indicada e, havendo várias


nas mesmas circunstâncias (os pais que com ele vivessem há mais de um
ano, por exemplo), à mais velha. Quando o pai e a mãe sobrevivem ao
inquilino, dá-se ainda a transmissão entre eles.

O direito à transmissão não se verifica se, à data da morte do arrendatário,


o titular desse direito tiver outra casa, própria ou arrendada, na área dos
concelhos de Lisboa ou do Porto e seus limítrofes, ou no mesmo concelho,
quanto ao resto do País.

Contratos celebrados ao abrigo do NRAU


Nos contratos de arrendamento assinados após 28 de junho de 2006, a posi-
ção de inquilino é atribuída, em primeiro lugar, ao cônjuge que resida no
imóvel ou à pessoa que vivesse com o falecido em união de facto há mais de
um ano. Se estes não existirem ou não estiverem interessados em manter o
contrato, pode ainda ser transmitida à pessoa que com ele residisse em econo-
mia comum há mais de um ano (ver caixa O que é “viver em economia comum”?,
na página seguinte). Havendo mais do que uma pessoa nestas circunstâncias,
o contrato será transmitido sucessivamente entre elas. Têm prioridade, por
esta ordem:
— o parente ou afim mais próximo ou, de entre estes, o mais velho;
— a mais velha de entre as restantes pessoas que com ele vivessem em eco-
nomia comum.

Nos contratos com termo certo, caso o inquilino faleça nos seis meses anterio-
res à data da cessação do contrato, a pessoa a quem se transmitiria o contrato
tem o direito de permanecer na casa por período não inferior a seis meses a
contar da data do óbito.

159
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

O QUE É “VIVER EM ECONOMIA COMUM”?


•Entende-se que existe economia comum quando duas ou mais pessoas vivem em
comunhão de mesa e habitação há mais de dois anos e estabeleceram uma relação
de entreajuda ou partilha de recursos. Para efeitos de transmissão do arrendamento,
será também necessário que residissem no local arrendado há mais de um ano. Por-
tanto, independentemente do grau de parentesco, todas as pessoas que vivam com o
inquilino nestas condições podem beneficiar da transmissão do arrendamento. Exis-
tem, contudo, exceções a esta regra, designadamente quando exista uma relação
contratual ou uma duração reduzida. Será o caso quando a coabitação:
— assentar num contrato de subarrendamento, hospedagem ou outro que implique
um pagamento;
— derivar de uma relação laboral entre as pessoas que vivem juntas, como é o caso,
por exemplo, de empregados domésticos internos;
— esteja relacionada com finalidades transitórias, como, por exemplo, dois estudan-
tes que vivem em conjunto até à conclusão dos seus cursos;
— só existir porque alguma das pessoas se encontra submetida a coação física ou
psicológica ou privada da sua liberdade individual (um sequestro, por exemplo).
•Provar que se vive em economia comum nem sempre é fácil. Se o senhorio colocar
reservas sobre a veracidade da situação, as possibilidades são, muitas vezes, escassas.
Algumas pistas:
— sendo feita a entrega da declaração de IRS em conjunto, a cópia da mesma ou do
documento de liquidação do imposto é uma prova quase irrefutável;
— a prova testemunhal, de vizinhos, por exemplo, pode ser determinante caso se che-
gue a tribunal;
— faturas ou recibos comuns também poderão revestir-se de alguma utilidade.

160
A

CAPÍTULO 5

A FISCALIDADE
NAS SUCESSÕES
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

O cônjuge, os descendentes e os ascendentes não pagam imposto do selo sobre


os bens e valores que receberem do falecido e, tal como os restantes herdeiros,
não têm de os declarar no IRS. Contudo, tal não significa que os beneficiários
de uma herança nada tenham a declarar ou a pagar à administração fiscal. Por
um lado, o processo burocrático é complexo, mesmo para quem esteja isento
do pagamento de impostos. Por outro, algumas transmissões são tributadas ao
abrigo do imposto do selo, para a generalidade dos casos, e do Imposto Muni-
cipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis (IMT). Assim, interessa saber
quando é devido imposto e conhecer as formalidades a respeitar.

Quem paga imposto do selo?


Nas sucessões por morte, são sujeitos passivos do imposto do selo as pessoas
a quem são transmitidos os bens. Contudo, o imposto é devido pela herança,
representada pelo cabeça-de-casal e pelos legatários. Ou seja, o imposto é
pago pelo conjunto da herança, antes de ser distribuída pelos herdeiros.
No caso dos legados, cada legatário pagará o que lhe corresponder, depois
de receber os bens. Não pagam imposto os beneficiários na sucessão legiti-
mária (a família mais próxima) e quem vivesse em união de facto com o fale-
cido. Recorde-se que o unido de facto só será herdeiro se tal constar de um
testamento. Estão ainda isentas do pagamento de imposto outras entidades,
identificadas no quadro Quem está isento de imposto do selo?. Como explicá-
mos em capítulos anteriores, o Estado pode ser herdeiro, caso não haja outros

QUEM ESTÁ ISENTO DE IMPOSTO DO SELO?


FAMÍLIA – cônjuge;
– unido de facto;
– descendentes (filhos, netos...);
– ascendentes (pais, avós...).
OUTRAS ENTIDADES – Estado;
– Regiões Autónomas;
– autarquias locais (incluindo, entre outros, as associações e federações
de direito público a elas ligadas);
– instituições da Segurança Social;
– pessoas coletivas com estatuto de utilidade pública;
– instituições particulares de solidariedade social e entidades a estas
legalmente equiparadas;
– transmissões a favor de sujeitos passivos de IRC, ainda que dele isentas,
com exceção de bancos, sociedades financeiras, seguradoras e afins.

162
PARTE 2 • CAPÍTULO 5. A FISCALIDADE NAS SUCESSÕES
A

beneficiários, no âmbito da sucessão legítima. Quanto às outras entidades


referidas, podem ser contempladas através de testamento.

Quais os bens sujeitos a imposto?


Nem todos os bens ou direitos estão sujeitos a imposto do selo. Isto significa
que há heranças que não pagam imposto, ainda que os seus beneficiários
sejam, total ou parcialmente, pessoas não isentas dessa obrigação. Aliás, nal-
guns casos nem sequer é necessário fazer a relação dos bens. Basta que a
herança seja constituída por:
— abono de família em dívida à morte do titular;
— créditos provenientes de seguros de vida;
— pensões e subsídios atribuídos, ainda que a título de subsídio por morte,
por sistemas de segurança social;

QUEM VAI ÀS FINANÇAS E PAGA O IMPOSTO?


O cabeça-de-casal é, por lei, o administrador da herança, embora o seja como titular
de um vasto conjunto de obrigações e não tanto de direitos. Cabe-lhe comunicar o
óbito às Finanças, entregando a respetiva certidão e a relação dos bens e, se existir
imposto a liquidar, proceder ao respetivo pagamento, por conta da herança. Para o
efeito, caso não se recorra à partilha por processo de inventário (veja a página 116),
terá de fazer as “contas” com os beneficiários, com base no imposto apurado, e verifi-
car quanto cabe a cada um suportar.
O exercício desta função deve ser escrupuloso. De outro modo, o cabeça-de-casal
pode ser alvo de sanções, como ter de suportar despesas da herança, pagar impostos
que seriam da responsabilidade de terceiros ou até perder direitos quanto à herança
(se também for herdeiro). Deve estar especialmente atento ao património a constar
da relação de bens, e, caso suspeite que há bens não declarados por um potencial
herdeiro, comunicá-lo ao serviço de Finanças. O herdeiro que ocultar (ou sonegar, em
linguagem jurídica) bens da herança, seja ou não cabeça-de-casal, perde, em bene-
fício dos co-herdeiros, o direito a qualquer parte destes bens, além de incorrer em
outras sanções. Estas sanções podem ser de natureza fiscal (ver o título Omissões e
irregularidades, na página 73) ou penal, dependendo de como os bens foram oculta-
dos. Em matéria criminal, poderemos estar, por exemplo, perante crimes de furto ou
de burla. Para mais informação sobre o cabeça-de-casal, ver o capítulo Administração
e partilha da herança, a partir da página 108.

163
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

— valores aplicados em fundos de poupança-reforma, fundos de poupança-


-educação (ou abrangendo as duas modalidades em simultâneo), fundos de
poupança-ações, fundos de pensões ou fundos de investimento mobiliário
e imobiliário;
— transmissões a favor de sujeitos passivos de imposto sobre o rendimento
das pessoas coletivas (IRC), ainda que dele isentas, com exceção de bancos,
sociedades financeiras, seguradoras e afins;
— bens de uso pessoal ou doméstico.

Vejamos, então, quais os bens transmitidos na sucessão por morte (ou por
doação em vida) que estão sujeitos a imposto do selo e terão, obrigatoria-
mente, de ser declarados:
— direito de propriedade ou figuras parcelares desse direito (usufruto, uso
e habitação, direito de superfície...) sobre bens imóveis situados em terri-
tório nacional;
— bens móveis situados em território nacional ou aí registados ou sujeitos a
registo, matrícula ou inscrição (por exemplo, um automóvel registado em
Portugal ou com matrícula nacional, ainda que, no momento da abertura
da herança, estivesse noutro país);
— participações sociais, quando a sociedade em causa tenha a sua sede, dire-
ção efetiva ou estabelecimento em território nacional, desde que o bene-
ficiário também tenha domicílio em Portugal;
— direitos de crédito ou direitos patrimoniais sobre pessoas singulares ou
coletivas quando o devedor tiver residência, sede, direção efetiva ou esta-
belecimento em território nacional e desde que aí tenha domicílio o bene-
ficiário daqueles direitos;
— estabelecimentos comerciais, industriais ou agrícolas;
— direitos de propriedade industrial, direitos de autor e direitos conexos
registados ou sujeitos a registo em território nacional;
— transmissão de bens imóveis com o encargo expresso do pagamento de
dívidas ou de pensões devidas ao próprio herdeiro ou legatário, ou a ter-
ceiro, desde que, quanto ao herdeiro, o seu valor exceda a respetiva quota
nas dívidas;
— valores monetários e criptoativos depositados em instituições com sede,
direção efetiva ou estabelecimento em território nacional. Na ausência de
depósito, estão sujeitos a imposto do selo sempre que o autor da herança
tenha domicílio em Portugal.

Só os bens que se encontrem em território nacional estão sujeitos a imposto.


Se a herança for composta por bens que estejam noutros países (imóveis, por
exemplo), será a legislação desse país a definir se há isenções e, não havendo,
qual o imposto a suportar.

164
PARTE 2 • CAPÍTULO 5. A FISCALIDADE NAS SUCESSÕES
A

O valor dos bens a declarar


Para apurar o valor tributável, há que ter em conta a natureza dos bens
ou direitos transmitidos e, para alguns deles, outras especificidades. Veja-
mos como determinar esse valor, em função do tipo de bens mais comuns.
Havendo um elevado grau de complexidade, como, por exemplo, tratan-
do-se de participações em sociedades e empresas, se o cabeça-de-casal
não tiver experiência nestas áreas, será conveniente recorrer ao técnico
que acompanha a contabilidade da sociedade ou a um técnico de contas
independente.

Bens móveis
O valor dos bens móveis é o seu valor oficial, quando exista, ou o decla-
rado pelo cabeça-de-casal ou pelo beneficiário, consoante o que for maior,
devendo, tanto quanto possível, aproximar-se do valor de mercado. Mas há
exceções a esta regra. É o caso dos automóveis, dos motociclos, das aeronaves
de turismo e dos barcos de recreio.

Automóveis e outros meios de transporte


O valor dos veículos automóveis, motociclos, aeronaves de turismo e barcos
de recreio a ter em conta é o maior dos seguintes:
— o valor de mercado;
— o determinado nos termos definidos pelo código do IRS. Diz este código
que o valor de mercado é o que resulta da diferença entre o valor de aqui-
sição e o produto desse valor pelo coeficiente de desvalorização corres-
pondente ao número de anos do veículo (ver a tabela da página seguinte).

A título de exemplo, se o valor de mercado do automóvel for de quatro mil


euros (apurado, por exemplo, através de stands de automóveis usados), e o
resultado da fórmula referida no parágrafo anterior for 4500 euros, será este
o valor a ter em conta. Vejamos como é aplicada esta fórmula e como é calcu-
lado o valor a indicar na declaração de imposto. Imaginemos um automóvel
com quatro anos cujo valor de aquisição tenha sido de dez mil euros:

10 000 × 0,45 = 4500

165
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

Para todos os bens móveis sujeitos


a imposto, sempre que os elemen-
TABELA DE DESVALORIZAÇÃO
tos necessários à determinação do AUTOMÓVEL
valor tributável sejam expressos Idade do veículo Coeficiente
em moeda estrangeira, as taxas de (anos) de desvalorização
câmbio a utilizar são as da venda 1 0,80
em vigor à data da transmissão. 2 0,65
3 0,55
4 0,45
Objetos de arte, de coleção 5 0,35
e antiguidades 6 0,30

O valor dos objetos de arte, 7 0,25


de coleção e antiguidades, tal 8 0,20
como definidos na lei (ver caixa 9 0,15
da página seguinte), é determi- 10 ou superior 0,10
nado de acordo com as seguin-
tes regras, respeitando a ordem
indicada:
— por avaliador oficial, caso exista, desde que o cabeça-de-casal ou inte-
ressado apresente a certidão de avaliação. Ou seja, o cabeça-de-casal
recorre a um avaliador oficial (por exemplo, de moedas) para apurar o
valor de um bem e, quando faz a participação do óbito junto das Finan-
ças, entrega a certidão de avaliação;
— por 60% do valor de substituição ou perda fixado em contrato de seguro
que incida sobre esses bens, caso tenha sido celebrado e esteja em vigor
à data da transmissão (ou até 30 dias antes) e seja apresentado com a
participação do óbito. Admitindo que o autor da herança fez um seguro
cobrindo, por exemplo, uma obra de arte, o valor da mesma para efeitos
de imposto corresponderá a 60% do que consta da apólice. Neste caso,
a apólice deve acompanhar a participação do óbito;
— pelo valor do contrato do seguro referido no parágrafo anterior, caso seja
a administração fiscal a obter os dados junto das companhias de seguros;
— por avaliação promovida pela administração fiscal, a expensas do inte-
ressado, para obter o parecer de um perito independente. O interessado
deve colaborar na avaliação, facultando o acesso aos bens.

Ouro para investimento


Nesta categoria estão incluídos:
— os lingotes de ouro;
— os títulos ou créditos sobre o ouro (fundos ou obrigações);

166
PARTE 2 • CAPÍTULO 5. A FISCALIDADE NAS SUCESSÕES
A

— as moedas de ouro. De acordo com a lei, terão de reunir, entre outras,


as seguintes características: um toque igual ou superior a 900 milésimos;

O QUE É UMA OBRA DE ARTE, UM OBJETO


DE COLEÇÃO OU UMA ANTIGUIDADE?
O legislador entendeu que tais conceitos deveriam ser inequívocos, e criou listas dos
bens que lhes correspondem.

Obras de arte
— quadros, colagens e peças similares, pinturas e desenhos, inteiramente executa-
dos à mão pelo artista, excluindo os desenhos de arquitetos, engenheiros e outros
desenhos industriais, comerciais, topográficos ou similares, os artigos manufatura-
dos decorados à mão, as telas pintadas para cenários de teatro, fundos de estúdios
ou utilizações análogas;
— gravuras, estampas e litografias originais, até 200 exemplares, inclusive, de uma
ou várias chapas inteiramente executadas à mão pelo artista;
— produções originais de estatuária ou de escultura, em qualquer material, desde
que inteiramente executadas à mão pelo artista; fundições de esculturas de tira-
gem até oito exemplares e controlada pelo artista ou pelos seus herdeiros;
— tapeçarias e têxteis para decoração de paredes, tecidos à mão a partir de desenhos
originais fornecidos por um artista, desde que não tenham sido feitos mais de oito
exemplares de cada;
— exemplares únicos de cerâmica, inteiramente executados à mão pelo artista e por
ele assinados;
— esmaltes sobre cobre, inteiramente executados à mão, até oito exemplares nume-
rados e assinados pelo artista ou pela oficina de arte, excluindo os artigos de biju-
taria, ourivesaria ou joalharia;
— fotografias tiradas pelo artista ou sob o seu controlo, assinadas e numeradas, até
30 exemplares, independentemente do formato ou suporte.

Objetos de coleção
— selos de correio ou fiscais;
— carimbos postais;
— envelopes de 1.o dia;
— blocos postais e análogos, obliterados ou não, mas que não estejam em circulação
nem se destinem a esse efeito;
— coleções e espécimes para coleções de zoologia, botânica, mineralogia ou anato-
mia ou que tenham interesse histórico, arqueológico, paleontológico, etnográfico
ou numismático.

Antiguidades
Os bens, excluindo os objetos de arte e os de coleção, com mais de 100 anos.

167
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

cunhagem posterior ao ano de 1800; terem tido, ou terem ainda, curso


legal no país de origem; serem habitualmente vendidas a um preço que não
exceda em mais de 80% o valor, no mercado livre, do ouro nelas contido.

Ficam de fora, portanto, as peças de joalharia ou outras obras de arte em ouro


que estivessem na posse do autor da herança. Quanto ao ouro para investi-
mento, é tido em conta o valor da aquisição que serviu de base à liquidação de
IVA (mesmo em caso de isenção), ou o valor declarado, consoante o que seja
mais elevado. Se não for para investimento, o valor tributável é determinado
pelas regras gerais dos bens móveis.

Criptoativos
O valor tributável dos criptoativos é determinado de acordo com as seguintes
regras e pela ordem indicada:
— pelo preço tabelado oficialmente, se existir;
— pela cotação oficial de compra, quando exista;
— pelo valor declarado pelo cabeça-de-casal ou pelo beneficiário, aproximan-
do-se, tanto quanto possível, do valor de mercado. Caso as Finanças consi-
derem, com fundamento, que há uma divergência entre o valor declarado
e o valor de mercado, podem determinar o valor tributável com base no
valor de mercado.

Valores em espécie
No caso dos valores em espécie (por exemplo, cortiça ou madeira), a equiva-
lência em euros faz-se de acordo com as seguintes regras, e segundo a ordem
indicada, sempre que sejam viáveis:
— pelo preço tabelado oficialmente, se existir;
— pela cotação oficial de compra;
— pelos preços dos bens ou serviços homólogos publicados pelo Instituto
Nacional de Estatística;
— pelo valor do mercado em condições de concorrência;
— por declaração das partes.

Bens imóveis
Para os bens imóveis (casas, terrenos…), será tido em conta o valor patri-
monial tributário constante da matriz, atualizado, se necessário, nos termos

168
PARTE 2 • CAPÍTULO 5. A FISCALIDADE NAS SUCESSÕES
A

do Código do Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) à data da transmissão.


Tratando-se de imóveis e direitos sobre eles incidentes cujo valor não seja deter-
minado desta forma (permutas e bens futuros, por exemplo), considera-se o valor
declarado ou o resultante de avaliação, consoante o que for maior. Na eventuali-
dade de ocorrer uma expropriação por utilidade pública, antes da liquidação
do imposto, o valor a ter em conta é o da indemnização.

No prazo para participar o óbito às Finanças, os interessados podem reque-


rer a avaliação dos imóveis existentes na herança, nomeadamente quando
considerem que o valor constante da matriz é excessivo ou demasiado baixo.
Caso a propriedade seja transmitida separadamente do usufruto, o imposto
devido em consequência da consolidação posterior da propriedade com o
usufruto incide sobre a diferença entre o valor patrimonial tributário e o valor
da propriedade considerado na liquidação.

Valor da propriedade separada do usufruto


O valor da propriedade separada do
respetivo usufruto, uso ou habitação VALOR DA PROPRIEDADE
vitalícios obtém-se deduzindo ao SEM USUFRUTO (1)
valor da propriedade plena as percen-
Idade do usufrutuário Percentagens
tagens constantes do quadro Valor da (em anos) a deduzir
propriedade sem usufruto, de acordo menos de 20 80
com a idade da pessoa de cuja vida
25 75
dependa a duração daqueles direitos
30 70
ou, havendo várias, da mais velha ou
da mais nova, consoante eles devam 35 65
terminar pela morte de qualquer uma 40 60
ou da última que sobreviver. 45 55
50 50
Por exemplo: 55 45
60 40
Valor da propriedade: 100 000 euros
65 35
Idade do usufrutuário: 52 anos
70 30
Percentagem aplicável: 45%
75 25
Valor tributável: 80 20
100 000 – 45 000 = 55 000 euros 85 15
85 ou mais 10
Se o usufruto, uso ou habitação forem (1) Esta tabela resulta do Código do Imposto
temporários, deduzem-se ao valor Municipal sobre as Transmissões Onerosas de
da propriedade plena 10% por cada Imóveis (IMT).

169
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

período indivisível de cinco anos, até ao final da duração desses direitos. Porém,
a dedução não pode exceder a que seria aplicada se o direito fosse vitalício.

Por exemplo:

Valor da propriedade: 100 000 euros


Duração restante do direito: 11 anos
Percentagem a aplicar: 20%

Valor tributável: 100 000 – 20 000 = 80 000 euros

Tendo sido fixado, na partilha, um valor superior ao apurado nas fórmulas


indicadas, é o primeiro que prevalece.

Valor do usufruto separado da propriedade


Obtém-se descontando o valor da propriedade ao da propriedade plena,
nos termos da regra enunciada no título anterior. Recorrendo aos exemplos
dados, o valor tributável do usufruto seria de 45 mil euros e 20 mil euros,
respetivamente.

Transmissão de propriedade e usufruto com encargos


Quando a propriedade do bem for transmitida com o encargo de uma pensão
ou de uma renda vitalícia ou temporária a favor de terceiro, o imposto incide
sobre o valor dos bens, deduzido do valor atual da pensão. Se o pensionista
suceder ao proprietário, a regra é igual: o imposto incide sobre o valor da
propriedade, deduzido do valor atual da pensão. Já no caso de transmissão
de um usufruto com encargos de natureza idêntica, o imposto incidirá sobre
o valor da propriedade, se o usufruto for vitalício. Sendo temporário, incide
sobre o produto da vigésima parte do valor da propriedade pelo número de
anos definido para o usufruto, sem que exceda 20. Em qualquer caso, são
deduzidas as importâncias relativas às pensões ou rendas.

O valor da pensão ou de uma renda vitalícia determina-se aplicando ao pro-


duto da pensão ou renda por 20 as percentagens constantes do quadro Valor
da propriedade sem usufruto (ver página anterior), tendo em conta a idade da
pessoa ou pessoas de cuja vida dependa a subsistência da pensão ou renda.
Se forem temporárias, o valor atual determina-se multiplicando seis décimas
partes da pensão ou renda anual pelo número de anos que deva durar. Mas
não pode exceder o valor que a pensão ou renda teria se fosse vitalícia.

170
PARTE 2 • CAPÍTULO 5. A FISCALIDADE NAS SUCESSÕES
A

Valor da propriedade sem o direito de superfície


O direito de superfície é o direito de alguém a ter a propriedade de edifícios
ou plantações em terreno que não lhe pertence, devidamente autorizado pelo
proprietário do terreno. O valor patrimonial tributário do direito de proprie-
dade do solo, quando o direito de superfície for perpétuo, corresponde a 20%
do valor do terreno.

Quando o direito de superfície for temporário, obtém-se deduzindo ao valor


da propriedade plena 10% por cada período completo de cinco anos, con-
forme o tempo por que aquele direito ainda deva durar, não podendo, porém,
a dedução exceder 80 por cento. Já o valor do terreno de prédio rústico sujeito
a direito de superfície corresponde a 20% do valor patrimonial tributário.

Valor do direito de superfície


O valor patrimonial tributário do direito de superfície perpétuo é igual ao
valor da propriedade plena do imóvel, deduzido o valor da propriedade do
solo, tal como explicamos no título anterior. O valor do direito de superfície
temporário obtém-se descontando ao valor da propriedade plena o valor da
propriedade do solo, calculado nos moldes referidos no segundo parágrafo
do título anterior.

Valor de qualquer prestação, pensão ou renda perpétua


Para o obter, multiplica-se o seu montante anual por 20.

Quanto é devido?
O apuramento dos impostos a pagar é feito pelo serviço de Finanças. Este
montante irá depender, em parte, da quantidade ou do valor dos bens que não
estão sujeitos a imposto do selo e de quem é herdeiro (ver títulos Quais os bens
sujeitos a imposto?, na página 163 e Quem paga imposto do selo?, na página 162).

A taxa de imposto, quando devido, é de 10% sobre o total recebido. Tra-


tando-se de bens imóveis, pode ainda ser necessário pagar outros

171
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

impostos. Independentemente do tipo de bens, são deduzidos ao seu valor


de transmissão:
— o montante dos encargos e dívidas constituídas a favor do autor da herança,
até à data da abertura da sucessão, mediante atos ou contratos relativos
aos bens;
— os impostos devidos por atos ocorridos até àquela data.

Feitas as contas, a liquidação só terá lugar se o imposto a pagar for, no mínimo,


de dez euros.

Liquidação do imposto do selo


A liquidação do imposto é promovida pelo serviço de Finanças da residência
do autor da transmissão, sempre que este residisse em território nacional. Nos
restantes casos, será efetuada através do serviço de Finanças da residência do
cabeça-de-casal ou do beneficiário. Optando-se por esta última via, se exis-
tirem vários beneficiários, caberá ao serviço de Finanças a que pertencer o
mais velho ou, caso sejam transmitidos bens situados em território nacional,
onde estiverem os bens de maior valor.

Quando houver processo de inventário, o cartório notarial ou o tribunal reme-


tem ao serviço de Finanças competente, no prazo de 30 dias após a conclusão
do processo, uma participação com o nome do inventariado e os do cabeça-
-de-casal, herdeiros e legatários, respetivo grau de parentesco ou vínculo de
adoção e bens que ficaram a pertencer a cada um, com a especificação do
seu valor.

Documento de cobrança
O imposto liquidado é cobrado através de um documento próprio, dirigido às
pessoas a quem foram transmitidos os bens ou, caso o imposto seja devido pela
herança, ao autor da mesma, com o aditamento “Cabeça-de-casal da herança
de...”. A herança é ainda identificada pelo número fiscal que lhe foi atribuído.

O documento de cobrança de cada prestação ou da totalidade do imposto é


enviado ao interessado até ao final do mês anterior ao do pagamento. Pode
ser pago na totalidade, até ao fim do segundo mês seguinte ao da notificação,
ou durante o mês em que vence cada prestação. Se for pago na totalidade,
há um desconto de 0,5% ao mês, calculado sobre cada uma das prestações em
que o imposto tivesse de ser dividido, com exclusão da primeira.

172
PARTE 2 • CAPÍTULO 5. A FISCALIDADE NAS SUCESSÕES
A

Pagamento em prestações
Quando o imposto ultrapassa os mil euros, é possível dividi-lo em prestações
iguais, no máximo de dez, com o valor mínimo de 200 euros por prestação.
À primeira acrescem as frações resultantes do arredondamento de todas elas,
assim como os juros compensatórios e o IMT que, porventura, tiver de ser
liquidado no processo. Optando-se por esta modalidade, a primeira prestação
vence no segundo mês seguinte ao da notificação e, cada uma das restantes,
seis meses após o vencimento da anterior.

A notificação é acompanhada do plano de pagamento em prestações, bem


como da indicação do desconto caso se opte por pagar de uma só vez. Depois
de a receber, o interessado deve comunicar, no prazo de 15 dias, que pretende
pagar por inteiro. Se preferir as prestações, não terá de responder.

Para o pagamento em prestações, terá de ser apresentada uma garantia idó-


nea. Pode ser uma garantia bancária, uma caução, um seguro-caução ou
outro meio suscetível de assegurar os créditos em causa (veja também a caixa
da página seguinte). Se a administração fiscal concordar, pode ser prestada
garantia sob a forma de penhor sobre um bem ou uma conta bancária, por
exemplo, ou uma hipoteca sobre um imóvel. A garantia é prestada pelo valor
da dívida, acrescida de 25 por cento. É constituída para cobrir o período
necessário ao pagamento, acrescido de três meses, e apresentada no prazo
de 15 dias a contar da notificação. Estas garantias podem ser reduzidas, ofi-
ciosamente ou a requerimento dos interessados, à medida que os pagamen-
tos forem efetuados e se tornar manifesta a desproporção entre o montante
daquela e a dívida restante.

Cobrança adicional de imposto


Em caso de omissão de bens ou valores sujeitos a tributação, ou havendo
indícios de que foram celebrados negócios com o intuito de reduzir o imposto,
a administração pode corrigir a liquidação e fazer uma cobrança adicional.
No primeiro caso, este acréscimo de imposto pode ocorrer nos oito anos
seguintes à liquidação a corrigir; no segundo, o prazo é de quatro anos. Sendo
desconhecida a quota do herdeiro, caso este venda os bens que lhe couberam,
aos oito anos acresce o período pelo qual tiver durado o desconhecimento.
Confirmando-se a liquidação adicional, haverá lugar ao pagamento de juros
compensatórios diários, contados entre o termo do prazo para o pagamento
do imposto e a data em que a falta for suprida. Existindo atraso na liquidação
por motivo imputável ao herdeiro, os juros serão devidos desde o início do
prazo de pagamento.

173
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

Outros impostos
O Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis (IMT) pode
pesar na fiscalidade das sucessões por morte. Por sua vez, as normas relativas
ao Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) podem ser indispensáveis para a
avaliação dos imóveis da herança. Daí que seja útil conhecer as regras.

EVITE AS PRESTAÇÕES E AS GARANTIAS BANCÁRIAS


O desconto associado ao pagamento a pronto (ver Documento de cobrança,
na página 172) torna esta modalidade preferível às prestações. Contudo, podem
não existir meios para satisfazer de imediato a dívida ao Fisco – por exemplo, por a
herança ser constituída essencialmente por bens imóveis ou bens móveis difíceis de
transacionar –, e a repartição do pagamento tornar-se incontornável. Nestes casos,
a administração exige uma garantia idónea. Antes de a apresentar, o contribuinte
pode tentar demonstrar ao Fisco que não há riscos de incumprimento e solicitar a
dispensa de apresentação de garantia. Se não for bem-sucedido, convém ponderar
cuidadosamente o tipo de garantia a prestar e equacionar as várias opções.
•As garantias propostas por lei não são fáceis de contratar. A garantia bancária é
a única que, normalmente, está disponível (as cauções ou os seguros-caução não
estão, regra geral, ao alcance dos particulares). Mas nem esta é recomendável.
Desde logo, para a obter terá de prestar ao banco uma garantia no valor da dívida
(por exemplo, uma aplicação financeira). Alguns bancos ainda exigem uma livrança
em branco e, por vezes, um avalista. Os custos associados à garantia bancária e,
em particular, a sua comissão de manutenção, são elevados. Por último, qualquer
alteração às condições iniciais da garantia (a sua redução, por exemplo) tem custos
acrescidos.
•O recurso a uma hipoteca voluntária tem custos elevados, nomeadamente no notá-
rio e na conservatória do registo predial. Em princípio, não é uma boa solução,
exceto para valores de imposto muito elevados. Normalmente, a partir de 30 mil
euros, também pode servir de garantia para um empréstimo com o mesmo fim.
Assim, na maior parte dos casos, é preferível pedir um crédito junto de um banco.
Esta opção permite-lhe pagar o imposto por inteiro, beneficiando do desconto e,
desde que consiga contratar uma boa taxa de juro, pagar menos do que nas res-
tantes alternativas.
•Quando os valores em causa não são muito elevados, o penhor sobre contas bancá-
rias ou aplicações financeiras, desde que aceite pela administração fiscal, também
pode ser uma solução. Para qualquer uma destas soluções, há que ter em conta
que os bens (ou aplicações, no caso do penhor) ficam indisponíveis enquanto durar
a dívida. Mais uma vez, o crédito pessoal com recurso a penhor ou a garantia pes-
soal poderá ser uma opção, uma vez que a taxa de juro é mais baixa do que noutros
tipos de crédito, e o penhor será aceite mais facilmente pelo banco do que pela
administração fiscal.

174
PARTE 2 • CAPÍTULO 5. A FISCALIDADE NAS SUCESSÕES
A

O Imposto Municipal sobre as Transmissões


Onerosas de Imóveis (IMT)
Mais associado ao setor imobiliário, sendo devido de cada vez que é transa-
cionado um imóvel (exceto nos casos em que há isenções), o IMT também
pode incidir, autonomamente ou em simultâneo com o imposto do selo, nas
transmissões por morte:
— quando o beneficiário recebe um bem imóvel cujo valor exceda a sua quo-
ta-parte na partilha. Por exemplo, se à quota do herdeiro corresponder
um valor de 80 mil euros e, feita a partilha, receber um imóvel de 100 mil,
haverá lugar ao pagamento de IMT sobre 20 mil euros. As contas são feitas
pelas Finanças, tendo em conta o valor patrimonial tributário dos bens
e o atribuído aos imóveis não sujeitos a inscrição matricial ou, caso seja
superior, o valor que tiver servido de base à partilha;
— nas transmissões de bens imóveis por sucessão testamentária com
encargo expresso de pagamento de dívidas ou de pensões devidas ao
próprio herdeiro, ao legatário ou a terceiro. O IMT é aplicado indepen-
dentemente de terem sido ou não determinados os bens sobre os quais
recai o encargo e desde que, quanto ao herdeiro, o valor dos bens rece-
bidos exceda a respetiva quota nas dívidas. Nestes casos, há pagamento
simultâneo de imposto do selo e de IMT. O valor sujeito a imposto corres-
ponde ao montante das dívidas ou ao valor atual das pensões (no IMT) ou
ao excedente do valor dos bens (no imposto do selo). Para obter o valor de
uma pensão ou renda vitalícias, multiplica-se o seu montante anual por
20 e aplicam-se as percentagens do quadro Valor da propriedade sem usu-
fruto, na página 169, de acordo com a idade da pessoa ou pessoas de cuja
vida dependa a subsistência da pensão ou renda. Se forem temporárias,
multiplicam-se seis décimas partes da pensão ou renda pelo número de
anos que deva durar. Porém, esse valor não pode exceder o que a pensão
ou renda teria se fosse vitalícia;
— quando se venda a herança, o quinhão de um herdeiro ou a metade dos
bens do casal que pertencia ao cônjuge do falecido, e não entra para a
herança (meação);
— o valor tributável é o que resultar do contrato de compra e venda ou o
valor patrimonial dos imóveis, consoante o que for maior. Ficando pro-
vado que o montante efetivamente pago foi inferior ao valor patrimonial,
é considerado o primeiro. Nestes casos, o pagamento do IMT compete a
quem adquire os bens.

A liquidação é feita em modelo oficial, sendo identificados os imóveis e a


quota-parte do herdeiro na herança. O serviço de Finanças competente é o
mesmo que para a liquidação de imposto do selo (ver o título da página 172).
Não sendo devido imposto do selo, a liquidação é efetuada no serviço de

175
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

Finanças da área onde estiverem os bens ou, se estiverem dispersos em diver-


sas áreas, por aquele a que pertencerem os de maior valor patrimonial.

Caso um herdeiro venda bens da herança, sem que a sua quota-parte seja
conhecida, o IMT é calculado sobre o valor indicado no contrato para os
bens imóveis, procedendo-se à correção necessária quando a quota-parte
for determinada.

O imposto deve ser pago nos 30 dias posteriores à notificação das Finanças.
Se o IMT for liquidado juntamente com o imposto do selo, será o prazo de
pagamento deste imposto que conta.

O Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI)


O IMI incide sobre o valor patrimonial do imóvel, indicado na caderneta
predial, e é determinado pela fórmula mostrada na página seguinte. É pago
anualmente pelo proprietário do imóvel ou, enquanto fizer parte da herança
indivisa, pelo cabeça-de-casal, recorrendo aos bens que integram a herança
ou repartindo a despesa pelos herdeiros. Trata-se, neste caso, de uma despesa
da herança.

Qual o montante a pagar?


A taxa aplicada ao valor patrimonial é fixada pelo município onde se localiza
o imóvel e varia entre 0,3% e 0,45%, para os imóveis urbanos (casas e terrenos
para construção, por exemplo), sendo sempre de 0,8% no caso dos terrenos
rústicos. No entanto, se reunirem determinados requisitos, os contribuintes
poderão estar isentos do pagamento deste imposto, de forma temporária ou
permanente.

Simular a avaliação do imóvel


Quem herda imóveis pode ter interesse em verificar se estão devidamente
avaliados pelas Finanças e se o valor do IMI a pagar anualmente não está
inflacionado.

O valor tributário do imóvel é atualizado automaticamente pelas Finanças,


a cada três anos e sempre que o imóvel muda de proprietário, mas a idade do
imóvel, o coeficiente de localização e o preço por metro quadrado apenas o
são a requerimento do contribuinte. Em 2023, o preço por metro quadrado
subiu para 665 euros, o que veio dificultar eventuais descidas do valor patri-
monial tributário. Já o coeficiente de vetustez, que deve corresponder à idade
do imóvel (veja o quadro da página 178) contada pelo número inteiro de anos
decorridos desde a data de licença de utilização ou da conclusão das obras de

176
PARTE 2 • CAPÍTULO 5. A FISCALIDADE NAS SUCESSÕES
A

CALCULAR O VALOR PATRIMONIAL TRIBUTÁRIO DO IMÓVEL

1 2 3 4 5 6 7

1 Valor patrimonial tributário


Valor do imóvel para o Fisco. Resulta da multiplicação de um conjunto de variáveis
comuns a todos os imóveis.

2 Valor de construção
É fixado pelo Fisco, tendo em conta o custo médio de construção por m2 e o valor do m2
do terreno, fixado em 25% do custo médio de construção. Em 2023, este valor foi fixado
em 665 euros, mas é natural que, em imóveis que não tenham sofrido atualização do
valor patrimonial, a caderneta predial indique um valor inferior.

3 Área
Soma, com diferentes ponderações, de todas as áreas do imóvel (área bruta privativa e
dependente, áreas de terreno livre e coeficiente de ajustamento de áreas). Inclui terraço,
garagem, arrecadações, estacionamento e terrenos.

4 Coeficiente de afetação
Fim a que se destina o imóvel, como habitação, comércio ou serviços. Por exemplo,
o coeficiente para habitação é 1, enquanto o fixado para o comércio é de 1,20.

5 Coeficiente de localização
Fixado pelo município a cada três anos. Oscila entre 0,35 e 3,5, consoante o valor de
mercado imobiliário da área, e pode diferir de rua para rua.

6 Coeficiente de qualidade e conforto


Agrava ou reduz o imposto a pagar, consoante o nível de qualidade e conforto do imóvel.
Por exemplo, um sistema central de climatização tem um coeficiente majorativo de 0,03,
enquanto à inexistência de rede de esgotos é atribuído um coeficiente minorativo de 0,05.

7 Coeficiente de vetustez
É atribuído de acordo com a idade do imóvel. Por exemplo, um edifício com menos de
dois anos apresenta um coeficiente de 1; outro com mais de 60 anos tem um coeficiente
de 0,40, o que reduz substancialmente o imposto a pagar.

construção, pode ter um impacto contrário. Para fazer as suas contas, no que
respeita aos imóveis destinados a habitação, e verificar se compensa pedir
uma nova avaliação, muna-se de uma caderneta predial atualizada (pode
obtê-la, gratuitamente, através do portal das Finanças) e recorra ao simula-
dor disponibilizado em www.deco.proteste.pt/campanhas/pague-menos-imi.
Verifique o coeficiente de localização em https://zonamentopf.portaldasfinan-
cas.gov.pt/simulador/default.jsp.

177
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

Se o imóvel pertencer a uma herança indivisa (ou seja, ainda não foram feitas
as partilhas), preencha os dados do simulador de IMI escolhendo a opção
“único proprietário”. O IMI que cabe a cada herdeiro é determinado pela res-
petiva quota-parte na herança. Tenha em conta que o pedido de atualização
do valor patrimonial, no caso de heranças indivisas, só pode ser efetuado com
o acordo de todos os herdeiros.

IDADE DO IMÓVEL
Anos completos Coeficiente de vetustez
Menos de 2 1
2a8 0,90
9 a 15 0,85
16 a 25 0,80
26 a 40 0,75
41 a 50 0,65
51 a 60 0,55
Mais de 60 0,40

Pedir a avaliação
Chegando à conclusão de que vale realmente a pena pedir uma nova avaliação
do imóvel às Finanças, convém ainda saber que só poderá fazê-lo se tiverem
passado mais de três anos desde a última avaliação fiscal. Em regra, conside-
ra-se como data da última avaliação a data de inscrição na matriz, mencio-
nada na caderneta predial. No entanto, se o imóvel tiver sido reavaliado na
sequência de partilhas por divórcio ou herança, ou ainda devido a doação,
essa é a data a ter em conta. Considere a data indicada em “Entregue em” na
parte relativa aos dados de avaliação da caderneta predial.

O pedido é gratuito e pode ser feito aos balcões dos serviços de Finanças ou
através da internet, no portal das Finanças, em www.portaldasfinancas.gov.pt
> Cidadãos > Serviços > Imposto Municipal sobre imóveis > Modelo 1 > Entregar
Declaração. O preenchimento é algo complexo e requer que o contribuinte
disponha da caderneta predial do imóvel.

178
A

CAPÍTULO 6

OS CRIMES E A MORTE
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

A vida dos seres humanos é protegida pela lei, tendo sido criadas normas
que punem quem contra ela atentar. Da mesma forma, também o desres-
peito pelos mortos ou pela sua imagem é punido por lei. As penas para estes
crimes encontram-se referidas no quadro A cada crime a sua pena, na página
seguinte. Como pode verificar-se no quadro, em função da gravidade de um
ato que provoque a morte, as sanções aplicadas pelos tribunais podem atingir
os 25 anos de prisão, as mais pesadas do nosso ordenamento jurídico-penal.
Mas vejamos os diversos tipos de crimes existentes:
— os públicos, que, pela sua gravidade, exigem sempre a intervenção do
tribunal, independentemente de os familiares da vítima quererem apre-
sentar queixa. A polícia toma conta da ocorrência e o processo segue
o seu curso, eventualmente para tribunal. Os homicídios são exemplo
destes crimes;
— os semipúblicos, em que, para haver intervenção do tribunal, é preciso que
tenha sido apresentada queixa às autoridades policiais ou ao Ministério
Público. As ofensas à integridade física por negligência enquadram-se nesta
categoria de crimes;
— os particulares, que, além da queixa, exigem que se faça uma acusação
escrita. Será o caso de ofensas à memória de uma pessoa falecida. Neste
caso, é necessário recorrer a um advogado.

As pessoas que não tiverem meios financeiros para contratar um advogado


podem dirigir-se à Segurança Social, pedindo a nomeação de alguém que as
defenda.

Homicídio
Para se considerar que existiu homicídio, não é necessário provar-se ter
havido intenção de matar. Basta, por exemplo, que a morte tenha ocorrido
por negligência de alguém. E, apesar de não serem classificados como homi-
cídios, existem outros crimes que podem provocar a morte e, como tal, são
punidos por lei. É o caso das ofensas à integridade física, do abandono em
circunstâncias que impliquem risco de vida ou em que a pessoa não possa
defender-se.

Se o autor do crime for um potencial herdeiro da vítima e o ato tiver sido exe-
cutado intencionalmente, poderá ser considerado indigno e perder o direito
ao seu quinhão (ver Deserdação e indignidade, na página 40). Da mesma
forma, se existir um seguro de vida e o homicida ou cúmplice estiverem indi-
cados na apólice como beneficiários, não receberão a indemnização, a menos
que se trate de um homicídio por negligência.

180
PARTE 2 • CAPÍTULO 6. OS CRIMES E A MORTE
A

A CADA CRIME A SUA PENA


Tipo de crime Pena
Abandono em situação de risco, que acabe 3 a 10 anos de prisão
por provocar a morte
Ameaça ou ato violento que impeça até 1 ano de prisão ou 120 dias
ou perturbe uma cerimónia fúnebre de multa
Genocídio 12 a 25 anos de prisão
Incitamento ao genocídio 2 a 8 anos de prisão
Acordo para prática de genocídio 1 a 5 anos de prisão
Homicídio a pedido da vítima – até 3 anos de prisão (1)
por negligência – pena de multa ou prisão até
3 anos
por negligência grosseira – até 5 anos de prisão
privilegiado (2) – 1 a 5 anos de prisão
qualificado – 12 a 25 anos de prisão
simples – 8 a 16 anos de prisão
Negligência médica até 2 anos
Incitamento ou ajuda ao suicídio até 3 anos de prisão ou, tratando-se
de menor de idade ou de alguém
com capacidades reduzidas,
de 1 a 5 anos (1)
Infanticídio (3) 1 a 5 anos de prisão
Ofensa à integridade física que provoque a morte até 16 anos de prisão
Ofensa grave à memória de alguém falecido até 6 meses de prisão ou 240 dias
há menos de 50 anos de multa
Profanação dos restos mortais ou do lugar onde até 2 anos de prisão ou 240 dias
se encontrem de multa
Publicidade a meios de suicídio até 2 anos de prisão ou 240 dias
de multa
Tratamento cruel, degradante ou desumano, por parte 1 a 5 anos de prisão
de um representante da autoridade, que acabe por
provocar a morte ou o suicídio
(1) Excetose cumprir o procedimento para a morte medicamente assistida, que não é crime nem está
sujeita a pena (ver Morte medicamente assistida, na página 46).
(2) Considera-se crime privilegiado aquele que é praticado por uma pessoa que esteja dominada por uma

compreensível emoção violenta, compaixão, desespero ou por um motivo de relevante valor social ou
moral, que diminua consideravelmente a sua culpa.
(3) Mãe que mata o filho durante ou logo após o parto.

Suicídio
As pessoas que incitarem ou ajudarem alguém a suicidar-se são punidas com
penas de prisão, exceto se tal ajuda ocorrer ao abrigo da Lei da Morte Medica-
mente Assistida (ver título da página 46). O mesmo é válido para quem divul-
gar um produto, objeto ou método, enquanto meio adequado para provocar
a morte por suicídio. Neste caso, a pena de prisão pode ser substituída por

181
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

multa. A perda do direito à herança é ainda uma possibilidade, na eventua-


lidade de o criminoso ser um potencial herdeiro da vítima (ver Deserdação
e indignidade, na página 40). Regra geral, a indemnização de um eventual
seguro de vida só é entregue aos beneficiários indicados na apólice se já tive-
rem decorrido, pelo menos, dois anos sobre a data da contratação.

Negligência médica
Os erros cometidos por profissionais de saúde podem ter consequências
trágicas, entre as quais a morte. Se a família entender que houve atuação
negligente ou que a morte decorreu de um erro médico, pode fazer uma parti-
cipação ao Ministério Público ou contactar um advogado e dar entrada a uma
ação no tribunal, para que o médico seja condenado por homicídio ou ofensas
à integridade física e/ou para obter uma indemnização. No entanto, terá de
provar as suas alegações, recorrendo ao parecer de outros profissionais de
saúde, o que nem sempre será fácil de conseguir. Ainda que tenha ocorrido
uma morte, se ficar provado que tudo foi feito para evitá-la, não haverá con-
denação do médico nem direito a indemnização. O prazo para dar entrada à
ação em tribunal é de três anos a contar da morte ou da ocorrência do dano
que esteve na sua origem.

Ofensas à memória do falecido


Tal como as injúrias contra os vivos são punidas por lei, também os mortos
têm direito à proteção da sua memória. Assim, quem ofender gravemente a
memória de uma pessoa já falecida sujeita-se a uma pena de prisão até seis
meses ou multa até 240 dias. Este tipo de ofensa só deixará de ser punível
quando tiverem passado 50 anos sobre o falecimento. E, como acontece com
as injúrias aos vivos, a pena pode ser agravada quando a ofensa for praticada
através de meios que facilitem a sua divulgação ou se o autor do crime sou-
besse que os factos eram falsos. Caso a injúria seja cometida através de meios
de comunicação social ou das redes sociais, a pena de prisão pode atingir os
dois anos. O processo pode ser desencadeado através de queixa e acusação
junto do tribunal.

Além das sanções penais, existe a tutela civil da memória do falecido. A lei
protege os indivíduos contra ofensas infundadas ou ameaças de ofensa à sua
personalidade física e moral. Este direito mantém-se após a morte, tendo o
cônjuge e os familiares (descendentes, ascendentes, irmãos, sobrinhos ou

182
PARTE 2 • CAPÍTULO 6. OS CRIMES E A MORTE
A

herdeiros do falecido) a possibilidade de reclamar uma indemnização pelos


danos que a ofensa tenha suscitado e de desencadear os processos necessá-
rios para cessar a ameaça ou a ofensa propriamente dita.

Após a morte também se mantém o direito ao nome (ou a pseudónimo, se tiver


notoriedade) e à oposição a que alguém o utilize de forma ilícita para se iden-
tificar ou para outros fins. Têm legitimidade para pedir a intervenção dos
tribunais as pessoas indicadas no parágrafo anterior.

Merece idêntico cuidado da lei a proteção da correspondência. Assim, as car-


tas confidenciais, depois de morto o destinatário, podem ser reclamadas,
em tribunal, pelo autor ou seus familiares (os referidos anteriormente). A sua
destruição ou entrega a pessoa idónea são, entre outras, possibilidades de
destino dessas cartas. Assim, a publicação do conteúdo, bem como de outras
memórias familiares, pessoais ou escritos confidenciais relativos à vida pri-
vada, depois da morte do seu autor, necessita de autorização das mesmas
pessoas.

No que respeita à imagem, o retrato de uma pessoa não pode ser exposto,
reproduzido ou comercializado sem o consentimento dela ou, tendo falecido,
do cônjuge ou dos familiares atrás referidos. O consentimento já não será
necessário quando a publicação for justificável pela notoriedade ou cargos
que o falecido tiver ocupado, bem como em situações de interesse científico,
cultural ou didático ou, ainda, quando a imagem tiver sido captada em locais
ou acontecimentos públicos. Por exemplo, se o falecido tiver participado
numa manifestação, os familiares não podem impedir que uma fotografia
aí tirada seja publicada. No entanto, a imagem não pode ser reproduzida ou
exposta publicamente se daí resultar prejuízo para a honra ou reputação da
pessoa em causa.

Desrespeito pelos mortos


O desrespeito pelos restos mortais também é punido por lei, considerando-se
crimes os seguintes atos:
— o comportamento que consistir em, através de violência ou ameaça signi-
ficativa, impedir ou perturbar uma cerimónia fúnebre. Os autores podem
ser punidos com prisão até um ano ou multa até 120 dias;
— subtrair, destruir ou ocultar um cadáver, parte deste ou as cinzas do fale-
cido, sem autorização para tal;
— profanar um cadáver, parte dele ou as cinzas, praticando atos ofensivos ao
respeito devido aos mortos;

183
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

— profanar o lugar onde esteja uma pessoa falecida ou um monumento eri-


gido em sua memória, praticando o mesmo tipo de atos.

Estes três últimos comportamentos são punidos com pena de prisão até dois
anos ou multa até 240 dias. Embora, em termos gerais, a tentativa de executar
um crime só seja punível se, ao ato consumado, corresponder pena de prisão
superior a três anos, neste caso, a mera tentativa é punível com a mesma pena
do ato consumado, com eventuais atenuantes.

184
LEGISLAÇÃO EM VIGOR
A

Legislação em vigor
Encontra aqui referida a legislação mais relevante para os temas tratados neste
livro. Também pode consultar a legislação em vigor no Diário da República
Eletrónico (dre.pt), pesquisando aquilo que lhe interessa. Sempre que estiver
disponível uma versão consolidada, isso significa que o diploma original foi
alterado, pelo que deve consultar esta versão, que engloba todas as atualiza-
ções. No que respeita aos impostos, vá à página da Autoridade Tributária e
Aduaneira, em info.portaldasfinancas.gov.pt > Informação Fiscal > Códigos
Tributários.

Lei da Sucessão
• Código Civil (em especial, os artigos 2024.º a 2334.º) — Sucessões

Fiscalidade
• Decreto-Lei 199/96, de 18 de outubro — Regime de tributação de bens em segunda
mão, objetos de arte, de coleção e antiguidades

• Decreto-Lei 398/98, de 17 de dezembro, com várias alterações desde 1999,


sendo a mais recente a Lei 24-D/2022, de 30 de dezembro — Lei geral tributária

• Decreto-Lei 362/99, de 16 de setembro — Regime fiscal do ouro para investimento

• Decreto-Lei 433/99, de 26 de outubro — Código de procedimento e de processo


tributário (com várias alterações desde 2000, sendo a mais recente o Decre-
to-Lei 74-B/2023, de 28 de agosto)

• Portaria 383/2003, de 14 de maio — Coeficientes de desvalorização acumulada


de automóveis

• Decreto-Lei 287/2003, de 12 de novembro — Imposto Municipal sobre as Trans-


missões Onerosas de Imóveis e Imposto Municipal sobre Imóveis (com várias
alterações desde 2004, sendo a mais recente a Lei 56/2023, de 6 de outubro)

• Decreto-Lei 287/2003, de 12 de novembro — Código do Imposto do Selo — Reforma


do Património (com várias alterações desde 2004, sendo a mais recente a Lei
56/2023, de 6 de outubro)

185
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

Inventário
• Artigos 1082.º a 1135.º Código do Processo Civil e Lei 117/2019, de 13 de setembro

Registo Civil
• Decreto-Lei 131/95, de 6 de junho, com a última versão dada pela Lei 49/2008,
de 14 de agosto — Código do Registo Civil

Segurança Social e outras proteções


• Decreto-Lei 160/80, de 27 de maio, com a última versão dada pelo Decreto-Lei
126-A/2017, de 6 de outubro — Pensão de viuvez e pensão de orfandade

• Decreto-Lei 322/90, de 18 de outubro, com várias alterações desde 1990,


sendo a última o Decreto-Lei 53/2003, de 25 de julho; Decreto Regulamentar
1/94, de 18 de janeiro, com a versão do Decreto-Lei 153/2008, de 6 de agosto
— Pensão de sobrevivência, subsídio por morte e despesas de funeral (regime
geral de Segurança Social)

• Decreto-Lei 223/95, de 8 de setembro, com a última versão dada pelo Decre-


to-Lei 108/2019, de 13 de agosto — Subsídio por morte (Administração Pública)

• Lei 15/97, de 31 de maio, com a última versão dada pelo Decreto-Lei 101-F/2020,
de 7 de dezembro — Contrato de trabalho nas embarcações de pesca

• Lei 34/98, de 18 de julho, regulamentado pelo Decreto-Lei 161/2001, de 22 de


maio, ambos alterados pelo Decreto-Lei 170/2004, de 16 de julho — Pensão
de ex-prisioneiro de guerra

• Lei 71/98, de 3 de novembro, e Decreto-Lei 389/99, de 30 de setembro, alterado


pelo Decreto-Lei 176/2005, de 25 de outubro e pelo Decreto-Lei 124/2009,
de 21 de maio — Regime jurídico do voluntariado

• Portaria 413/99, de 8 de junho, alterada pela portaria 298-A/2019, de 9 de


setembro — Regulamento do Seguro Escolar

• Decreto-Lei 466/99, de 6 de novembro, com a última versão dada pela Lei


61/2019, de 16 de agosto — Pensão de preço de sangue e pensão por serviços
excecionais e relevantes prestados ao país

• Decreto-Lei 189/2003, de 22 de agosto — Pensão por méritos excecionais na


defesa da liberdade e da democracia

186
LEGISLAÇÃO EM VIGOR
A

• Lei 40/2004, de 18 de agosto, com a última versão dada pelo Decreto-Lei


123/2019, de 28 de agosto — Bolseiros de investigação

• Lei 60/2005, de 29 de dezembro — Pensão de Sobrevivência (Administração Pública)

• Decreto-Lei 241/2007, de 21 de junho, com a última versão dada pelo Decre-


to-Lei 64/2019, de 16 de maio — Bombeiros voluntários

• Decreto-Lei 40/89, de 1 de fevereiro, com a última versão dada pela Lei


110/2009, de 16 de setembro — Seguro social voluntário

• Lei 5/2011, de 2 de março, com a redação dada pelo Decreto-Lei 55/2021,


de 29 de junho — Pensão por condecorações

• Decreto-Lei 28/2023, de 28 de abril, e Portaria 172/2023, de 23 de junho — Pen-


sões e outras prestações sociais da Segurança Social e da Caixa Geral de
Aposentações

Trabalho
• Decreto-Lei 159/99, de 11 de maio, alterado pelo Decreto-Lei 382-A/99, de
22 de setembro — Acidentes de trabalho para profissionais independentes

• Decreto-Lei 503/99, de 20 de novembro, com a versão dada pela Lei 24-D/2022,


de 30 de dezembro — Acidentes de trabalho e doenças profissionais (Caixa
Geral de Aposentações)

• Lei 7/2009, de 12 de fevereiro, com a versão dada pela Lei 13/2023, de 3 de


abril, relativa à Agenda do Trabalho Digno, regulamentada pelo Decreto-Lei
53/2003, de 5 de julho — Código do Trabalho

• Lei 98/2009, de 4 de setembro, alterada pela Lei 83/2021, de 6 de dezem-


bro — Acidentes de trabalho e doenças profissionais

• Lei 105/2009, de 14 de setembro, alterada pela Lei 13/2023, de 3 de abril


— Regulamenta e altera o Código do Trabalho

Diversos
• Lei 12/93, de 22 de abril, com a última versão dada pela Lei 75-B/2020, de 31 de
dezembro; Decreto-Lei 411/98, de 30 de dezembro, com a última versão dada
pela Lei 14/2016, de 9 de junho — Doação de órgãos

187
TESTAMENTOS E HERANÇAS
A

• Decreto-Lei 48/95, de 15 de março, com várias alterações desde 1998, incluindo


a Lei 82/2014, de 30 de dezembro, sobre a indignidade sucessória — Código Penal

• Decreto-Lei 411/98, de 30 de dezembro, com a última versão dada pela Lei


14/2016, de 9 de junho — Remoção, transporte, inumação, exumação, trasla-
dação e cremação de cadáveres

• Decreto-Lei 274/99, de 22 de julho — Utilização de cadáveres para fins de ensino


e investigação científica

• Lei 7/2001, de 11 de maio — Direitos na união de facto, com a redação da Lei


23/2010, de 30 de agosto, e da Lei 71/2018, de 31 de dezembro

• Lei 45/2004, de 19 de agosto, com a redação do Decreto-Lei 53/2021, de 16 de


junho — Perícias médico-legais

• Lei 103/2009, de 11 de setembro, com as alterações da Lei 141/2015, de 9 de


setembro — Apadrinhamento civil

• Decreto-Lei 109/2010, de 14 de outubro, com as alterações da Lei 13/2011,


de 29 de abril, e do Decreto-Lei 10/2015, de 16 de janeiro — Regime de acesso
e de exercício da atividade funerária

• Lei 25/2012, de 16 de julho, com a versão dada pela Lei 35/2023, de 21 de julho;
Portaria 96/2014, de 5 de maio, alterada pela Portaria 141/2018, de 18 de maio;
Portaria 104/2014, de 15 de maio — Diretivas antecipadas de vontade (testamento
vital e nomeação de procurador de cuidados de saúde) e o Registo Nacional do
Testamento Vital (RENTEV)

• Lei 143/2015, de 8 de setembro, alterado pela Lei 46/2023, de 17 de agosto —


Novo regime do processo de adoção

188
ÍNDICE REMISSIVO

Índice remissivo
A imóveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 164, 168-171
Abono de família . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91 indivisíveis . . . . . . . . . . . . . . . . 126, 127, 128
Aceitação móveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 164, 165-168
da herança . . . . . . . . . 115, 117-118, 145-148 Boletim de óbito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
do legado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 154 Bolsa de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
Acidente Bolseiros de investigação . . . . . . 105-106, 187
de trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . 91-96, 187 Bombeiros voluntários . . . . . . . . . . . . 105, 187
em serviço . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97-99
escolar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102-104 C
Ações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69, 77, 78 Cabeça-de-casal . . . . . . . . . . 66, 108-114, 163
Acompanhante de maior . . . . . . . . . . . . . . 28 Caducidade
Adjudicação de bens . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126 da convenção antenupcial . . . . . . . . . . . 39
Administração da herança . . . . . . 29, 108-114, do testamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163 Casa de morada de família . . . . . . . . . . 117, 141
Administrador legal de bens . . . . . . . . . 21, 28 Cerimónia fúnebre . . . . . . 27, 50-53, 181, 183
Adultério . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 Certidão de óbito . . . . . . . . . . . . . . . . . 58, 63
Aeronaves de turismo . . . . . . . . . . . . . . . . . 165 Certificado
Agências funerárias . . . . . . . . . . . . 52, 62, 188 de óbito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58, 59, 63
Antiguidades . . . . . . . . . . . . . . . . 166, 167, 185 sucessório europeu . . . . . . . . . . . . . . 65, 67
Apadrinhamento civil . . . . . . . . . . . . . . 21, 188 Certificados
Aplicações financeiras . . . . . . . . . . . . . . . 77-79 de Aforro . . . . . . . . . . . . . . . . 58, 69, 77, 78
Arrendamento . . . . . . . . . . . . . . . . 141, 157-160 do Tesouro . . . . . . . . . . . . . . . 58, 69, 77, 78
Arte (ver Obras de arte) Cláusulas condicionais . . . . . . . . . . . . . . 27-30
Automóveis . . . . . . . . . . . . . 122, 165, 166, 185 Colação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 154-157
Autópsia . . . . . . . . . . 51, 52, 53, 59-60, 63-64 Colaterais . . . . . . . . . . . . . . .140, 143, 147, 149
Avaliação dos bens . . . . . 125, 126-128, 165-171 Coleções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 166, 167, 185
Comunhão
B de adquiridos . . . . . . . . . . . . . . 36, 112, 140
Balcão das Heranças . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66 geral de bens . . . . . . . . . . . . . . . 36, 112, 140
Barcos de recreio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165 Comunicação do óbito . . . . . 58, 62-64, 68-74
Beneficiar Condições
herdeiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13, 16 resolutivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
terceiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38-39 suspensivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29, 146
Benefício de inventário . . . . . . 115, 117-118, 145 Conferência de interessados . . . . . . . . 124-128
Benfeitorias . . . . . . . . . . . . . . . . . 123, 153, 156 Conselho de família . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
Bens Contas bancárias . . (ver Depósitos bancários)
deterioráveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112-113 Convenções antenupciais . . . . . . . . 36-39, 143
fungíveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126 Créditos bancários . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75, 76

189
TESTAMENTOS E HERANÇAS

Cremação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51, 52, 188 F


Crimes . . . . . . . . . . . . . . . . 40-41, 49, 180-184 Faltas ao trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
Criptoativos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 164, 168 Fideicomissário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
Cuidados de saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . 44-46 Fiduciário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31, 32, 149
Curador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28, 118 Fiscalidade . . . . . . . . . . . . . 13-14, 162-178, 185
Fundos de investimento . . . . . . . . . . . . . . . 78
D Funeral . 35, 52, 85, 90, 94, 95, 104, 106, 186
Decisão homologatória da partilha . . . . . . 130
Declaração de morte presumida . . . . . . 60-61 G
Depósitos bancários . . . . . . . . . . . . 13, 78, 114 Genocídio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 181
Deserdação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26, 40-41 Graus de parentesco . . . . . . . . . . . . . . . . . . 142
Despesas
da herança . . . . . . . . . . . . . . . . 112, 113-114 H
de funeral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85, 94 Habilitação de
Desrespeito pelos mortos . . . . . . . . . . 183-184 herdeiros . . . . . . . . . . . . . . . . 65-67, 78, 119
Direito de legatários . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
acrescer . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 152 Herdeiros
habitação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 136, 141 ausentes . . . . . . . . . . . 18, 60-61, 115, 116, 118
propriedade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 164 hábeis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
representação . . . . . . . . . . . . . . . . . 140, 149 incapazes . . . . . . . . . . . . 27, 28, 115, 116, 118
superfície . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 164, 171 legitimários . . . . . . 13, 14, 16, 25, 26, 40, 118,
Diretivas antecipadas de vontade . . 44-46, 188 126-127, 138, 139, 143, 154, 155, 157, 162
Disposições a favor da alma . . . . . . . . . . . . 27 legítimos . . . . . . . . . . . . . . . . . 138, 139, 140
Dívidas maiores acompanhados . 28, 32, 109, 116, 118
à herança . . . 68, 112, 113, 122, 129, 137, 151 menores . . . . . 27, 28, 32-33, 109, 116, 150
da herança . . . . . 26, 117-118, 119, 124, 125, Homicídio . . . . . . . . . . . . . . . 40, 180, 181, 182
. . . . . . . . . . . . . . . . . . 137, 145, 148, 151, 153
Doação de órgãos . . . . . . . . . . . . . . 47-49, 187 I
Doações . . . . . . . . 12-13, 112, 119, 124, 126-127, Imóveis . . . . . . . . . . . . . . . . (ver Bens imóveis)
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137, 155, 157 Imposto
Doenças profissionais . . . . . . . . . . . 91, 96, 187 do selo . . . . . . . . . . . 13-14, 58, 66, 132, 137,
141, 162-173, 175, 185
E Municipal sobre as Transmissões Onerosas
Economia comum . . . . . . . . . . . . 117, 159, 160 de Imóveis (IMT) . . . . 66, 174, 175-176, 185
Emancipação de um menor . . . . . . . . . . . . . 19 Municipal sobre Imóveis (IMI) . . 176-178, 185
Encargos Impugnação da partilha . . . . . . . . . . . 132-133
da herança . . . . . . . . . . 26, 30, 35, 70, 112, Incapacidade jurídica . . . 28, 32, 115, 116, 118
. . . . . . . . 13311 113-114, 131-132, 133, 137-138 Indexante dos Apoios Sociais (IAS) . . . . . . . 82
do legado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153-154 Indignidade . . . . . . . . . . . . . . . . . 25, 26, 40-41
Estabelecimentos comerciais . . . 69, 108, 164 Infanticídio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 181
Eutanásia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 Insolvência da herança . . . . . . . . . . . . . . . . 126
Expropriação por utilidade pública . 71, 74, 169 Inumação . . . . . . . . . . . . . . . . . 51, 52, 53, 188
Exumação do corpo . . . . . . . . . . . . . . 60, 188 Inventário . . . . . . . . . . . . . . . 115, 116-131, 186

190
ÍNDICE REMISSIVO

Investimentos . . . . (ver Aplicações financeiras) N


Irmãos Negligência médica . . . . . . . . . . . . . . 181, 182
consanguíneos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141
germanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141, 147 O
unilaterais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141, 147 Obras de arte . . . . . . . . . . . . 157, 166, 167, 185
uterinos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141 Obrigações . . . . . . . . . . . . . . . 77, 78, 126, 130
Ocultação de bens . . . . . . . . . . 73-74, 111, 163
L Ofensas
Legados . . . . . . . . . . . . 16, 26, 27, 30, 38, 119, à integridade física . . . . . . . . . 180, 181, 182
124, 125, 127-128, à memória do falecido . . . 180, 181, 182-183
137, 148-154 Ouro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 166-168, 185
Legatário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
Legítima . . . . . . . . . . (ver Quota indisponível) P
Legitimários . . . . . (ver Herdeiros legitimários) Participação
Liberalidades . (ver Redução de liberalidades) de transmissões gratuitas . . . . . . . . . . 68-74
Licitação de bens . . . . . . . . . . . . . . . . . 124, 127 do óbito . . . . . (ver Comunicação do óbito)
Liquidação Partilha
da herança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131-132 da herança . . 58, 115-116, 128-130, 132-133
do imposto do selo . . . . . . . . . . . . . . 172-173 em vida . . . . . . . . . . . . . . . . . (ver Doações)
do IMT . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 175-176 Pensão
Livro de notas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 de alimentos . . . . . . . . . 20, 38, 83, 86, 87,
89, 93, 95, 98
M de ex-prisioneiro de guerra . . . 101-102, 186
Maior acompanhado . . . . . . . . 20, 28, 32-33 de orfandade . . . . . . . . . . . . . . . . 85-86, 186
Mapa da partilha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128 de preço de sangue . . . . . . . . . . . 97-99, 186
Meação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109 de sobrevivência . . . 82-84, 86-88, 186, 187
Menores de idade . . . . . . . . . . 19, 27, 28, 32-33, de viuvez . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85, 186
109, 116, 150 por condecorações . . . . . . . . . . . . . 101, 187
Minutas por méritos excecionais
compromisso de honra . . . . . . . . . . . . . . 121 na defesa da liberdade
relação de bens (inventário) . . . . . . . . . . 121 e da democracia . . . . . . . . . . 100-101, 186
requerimento de inventário . . . . . . . . . . 120 por morte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93-94
testamento cerrado . . . . . . . . . . . . . . 24, 50 por serviços excecionais e relevantes
testamento público . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 prestados ao País . . . . . . . . . . 99-100, 186
Morte social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
a pedido da vítima . . . . . . . . . . . . . . . . . 181 unificada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
em viagem marítima ou aérea . . . . . . . . 64 Perfilhação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
fetal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64 Pescadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106
medicamente assistida . . . . . . . . . . . . 46-47 Prestação social para a inclusão . . . . . . . . . . 91
presumida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60-61, 84 Procurador de cuidados de saúde . . . . 44, 45
verificação da . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 Profanação dos restos mortais . . . . . . 181, 183
violenta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64, 180, 181 Profissionais de saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
Motociclos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165 Protutor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

191
TESTAMENTOS E HERANÇAS

Q Separação de bens . . . . . . . . . . . . . 36, 37, 38


Quinhões dos herdeiros . . . 128-130, 132, 133, 139 Servidão de passagem . . . . . . . . . . . . . . . . 153
Quota Sorteio dos lotes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129
disponível . . . . . . . . . . . 13, 16, 26, 138, 143 Subsídio
indisponível . . 25-26, 119, 126, 138, 139, 143 de funeral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90, 94
por assistência de terceira pessoa . . . . . . . 91
R por frequência de estabelecimento
Redução de liberalidades . . . . 13, 126-128, 157 de educação especial . . . . . . . . . . . . . . . 91
Regimes de bens . . . . . . . . . . . . 36-39, 112, 119 por morte . . . . . 84-85, 89-90, 94, 95, 186
Registo Substituição de herdeiros . . . . . . . . 31-33, 146
do óbito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58 Sucessões transnacionais . . . . . . . . . . . . 19, 65
Nacional de Não Dadores (RENNDA) . . . 48, 49 Suicídio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47, 77, 181-182
do testamento vital . . . . . . . . . . . . . 45-46, 188
Relação de bens . . . . . . . . 58, 68, 69-72, 121, T
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122-124, 163 Tabela de desvalorização automóvel . . . . . 166
Relações Testador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17, 19, 25, 31
extraconjugais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 Testamentaria . . . . . . . . . . . . . . . . . 34-36, 111
jurídicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 136 Testamento vital . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44-45
Rendimentos da herança . . . . . . . . . . 113, 114 Testamentos . . . . . 16-36, 40, 50, 65, 73, 138,
Renúncia recíproca à condição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139, 143-145
de herdeiro . . . . . . . . . . . . . . . 38, 140, 144 Títulos da dívida pública . . . . . . . 69, 77, 78-79
RENTEV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44, 45-46 Tornas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129-130, 157
Representantes legais . . . . . . . . . . . . . . 20, 118 Trasladação . . . . . . . . . . . . . . 53, 95, 106, 188
Repúdio Tutor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26, 28
da herança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145-148
do legado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 154 U
Requerimento de inventário . . . . . . . . . . . . 120 União de facto . . . . . . 14, 16, 75, 141, 162, 188
Restos mortais . . . . . . . . . . . 27, 48, 50-53, 183 Uso e habitação . . . . . . . . . . . . . . . . . 164, 169
Revogação Usufruto . . . . . . 12, 136, 150-152, 164, 169-170
da convenção antenupcial . . . . . . . . . . . 39
do testamento . . . . . . . . . . . . . . . . 26, 33-34 V
Vala comum . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
S Valor tributável dos bens
Sacerdotes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 imóveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 168-171
Salário mínimo nacional . . . . . . . . . . . . . . . 82 móveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165-168
Segurança Social . . . . . . . . . . . 82-102, 186-187 Valor
Seguro da herança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137, 156
de acidentes de trabalho . . . . . . .82, 91, 95 patrimonial tributário dos imóveis . 168, 177
de acidentes pessoais . . . . . . . . . . . . . . . 76 tributável dos bens . . . . . . . . . . . . . 165-175
de capitalização . . . . . . . . . . . . . . . . . 76, 78 Venda de bens da herança . . . . . 112, 113, 114,
de vida . . . . . . . . . . 13, 75, 76-77, 180, 181-182 125, 133, 175, 176
escolar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102-104, 186 Verificação da morte . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
social voluntário . . 82, 83, 84, 104-106, 187 Voluntários . . . . . . . . . . . . . . . . . 104-105, 187

192
A

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