4-Livro Sistema Registral e Notarial
4-Livro Sistema Registral e Notarial
4-Livro Sistema Registral e Notarial
NOTARIAL
autor
GEORGE WILTON TOLEDO
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2016
Conselho editorial solange moura; roberto paes; gladis linhares; karen bortoloti;
george wilton toledo
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2016.
isbn: 978-85-5548-172-7
Prefácio 7
Bons estudos!
7
1
Natureza e
Finalidades da
Atividade Notarial
e Registral.
Responsabilidade
do Notário e do
Registrador.
No capítulo 1 abordaremos temáticas importantes relacionadas com as ativida-
des registral e notarial.
Iremos abordar primeiramente o contexto histórico envolvido.
Depois passaremos a analisar o fundamento constitucional da atividade
registral e notarial, bem como as legislações federais que são aplicáveis nas
espécies.
Os conceitos do sistema registral e notarial e a aplicação do Código de
Defesa do Consumidor nos atos praticados pelos notários e registradores.
OBJETIVOS
Face as temáticas propostas, espera-se que o aluno (a) desenvolva as seguintes
competências:
• entender o valor jurídico dos documentos firmados com fé pública;
• a segurança jurídica envolvida em relação ao sistema registral e notarial;
• desenvolver com maior competência a atuação profissional para atender as exigências
legais na prestação de seus serviços profissionais.
10 • capítulo 1
1.1 Sistema Registral e Notarial. Breve
Histórico.
capítulo 1 • 11
conhecimento, uma vez que grande parte da população era então constituída
por camponeses sem nenhuma instrução.
Com o fim da Idade Média, no Século XV, a igreja católica acabou perdendo
muito do seu antigo poder e influência.
Este enfraquecimento se refletiu na questão dos registros, que passaram
a ser feitos por profissionais especializados na área, do mesmo modo como
acontecia com a figura dos escribas no antigo Egito.
Ocorreu, desta maneira, um “resgate” história clássica com o a renascen-
ça europeia, o qual se refletiu não só na filosofia, nas ciências e nas artes dos
antigos gregos e romanos (cujos conhecimentos resgatados pelos cientistas e
estudiosos europeus do Século XV e seguintes), mas também nos hábitos buro-
cráticos, organizacionais e governamentais, notadamente no que diz respeito à
figura dos “escribas”.
Para os egípcios e outros povos da antiguidade, os escribas eram considera-
dos os “doutores da lei”, isto é, pessoas com grande influência por receberem
dos faraós, reis, imperadores ou sacerdotes a incumbência de registrar todos os
fatos ocorridos dentro do país. Exerciam funções de alta importância, ajudan-
do a estruturar a administração dos soberanos (eram, em sua maioria, funcio-
nários nomeados ou de confiança destes).
Ainda naquela época (alguns milênios antes de Cristo), com a evolução na-
tural de suas funções, os escribas passaram a ser chamados de “escrivães” ou
“notários”, mesma denominação que se utiliza nos dias de hoje para nos refe-
rirmos aos funcionários de cartórios e serventias extrajudiciais.
O fim da Idade Média ocasionou um consequente crescimento das cidades
e urbanização, terminando com o sistema feudal e aumentando o número de
negócios firmado entre as pessoas. Por consequência, o serviço dos escrivães
ou notários também aumentou, fazendo com que os mesmos se organizassem
profissionalmente (como era comum na época), em associações denominadas
corporações de ofício, as quais acabaram se consistindo no embrião do que hoje
conhecemos pelo nome de “cartório” (sinônimo de serventia extrajudicial).
Foi através do surgimento dos cartórios que as pessoas começaram a se
conscientizar da necessidade de possuírem documentos escritos acerca das
transações comerciais que realizavam. Isso deu origem aos contratos escritos
e, posteriormente, aos contratos escritos registrados.
12 • capítulo 1
Nesta linha de raciocínio, cabe mencionar que no registro de documentos,
apenas se traslada e conserva os contratos privados para proporcionar elemen-
tos (provas) documentais da titularidade que poderão ser utilizados, posterior-
mente, pelos tribunais, caso exista alguma discussão a respeito do domínio”.
(TIMM et al., 2010, p. 458).
A palavra cartório tem origem nos termos em latim charta (que significa carta) + orius
(cuja conotação é instrumento), o que definia, para a época, a finalidade básica dos
cartórios, que era a de acondicionar, documentar e arquivar as cartas e que tinham por
objeto conter algum tipo de declaração de vontade das pessoas.
capítulo 1 • 13
acontecimentos ligados à pessoa natural, tais como nascimento, casamento,
divórcio e morte; o de Registro Imobiliário, cuja função é anotar e arquivar to-
dos os acontecimentos ligados ao patrimônio imóvel das pessoas naturais ou
jurídicas, tais como compra, venda, alienação, etc; e o de Títulos e Documentos
cuja atribuição é a de anotar e arquivar todas as declarações de vontade firma-
das por pessoas físicas ou jurídicas, tais como testamentos, doações, etc. No
Brasil, os cartórios se tornaram uma verdadeira ferramenta do Estado a serviço
da sociedade, possuindo, como finalidade, o dever formal de organizar, regis-
trar, conservar e dar publicidade às relações das pessoas humanas.
Por fim, cabe ressaltar que a denominação técnico-jurídica correta para os
cartórios de registro, atualmente, é a de “serventias”.
O artigo 22, inciso XXV, da Constituição Federal prescreve que, cabe a União
a competência para legislar sobre as matérias referentes ao registro público,
conforme se verifica abaixo:
14 • capítulo 1
1.1.2 Leis Federais específicas
Já a Lei 6015/73, através de seu artigo 1º, define o que são os serviços refe-
rentes aos registros públicos:
capítulo 1 • 15
[...]
A atuação do notário visa garantir a publicidade, autenticidade, segurança e
eficácia dos atos jurídicos preventivamente, desobstruindo o Judiciário do acú-
mulo de processos instaurados no intuito de restabelecer a Ordem Jurídica
do país, e atuando como instrumento de pacificação social. Para um melhor
entendimento da função notarial deve-se discorrer sobre seus caracteres,
abarcando seu caráter jurídico, cautelar, imparcial, público, técnico e rogatório.
A atividade notarial apresenta seu caráter jurídico quando o Tabelião orienta
as partes e concretiza a sua vontade na formulação do instrumento jurídico
adequado à situação jurídica apresentada. Através da orientação prévia, nota-
se o caráter cautelar da atividade. Leonardo Brandelli afirma que "o caráter
de imparcialidade do agente notarial tem sido posto a coberto pelo legislador
mediante um regime de incompatibilidades e inibições, bem como a obrigação
de segredo profissional e um sistema de responsabilidades civil, administrativa
e criminal, tudo a fim de mantê-lo intacto e sempre presente". A atividade no-
tarial é exercida por particulares em colaboração com o Poder Público, através
de delegação da função pública. Apesar de ser exercida em caráter privado,
a atividade notarial exerce uma função pública, de garantia da segurança ju-
rídica dos atos praticados pelos Tabeliães. Os preenchimentos dos requisitos
formais do ato praticado é essencial à sua validade jurídica, demonstrando
o seu caráter técnico. O notário precisa da provocação da parte interessada
para agir, tendo em vista o caráter rogatório da função notarial, não podendo
exercer o seu mister por iniciativa própria. "O notário exara pareceres jurídicos
a seus clientes, esclarecendo-os sobre a possibilidade jurídica de realizar-se
determinado ato, sobre a forma jurídica adequada, bem como sobre as con-
seqüências que serão engendradas pelo ato." Leonardo Brandelli analisa a
função de polícia jurídica sob dois aspectos: A aplicação do seu mister de
acordo com os ditames do Direito, e o zelo pela autonomia da vontade.
Quanto ao primeiro aspecto, revela o dever do notário de desempenhar
sua função em consonância com o ordenamento jurídico; deve receber a
vontade das partes e moldá-la de acordo com o Direito, dentro de formas
jurídicas lícitas. (...) O outro aspecto contempla a obrigação do tabelião
de velar pela autonomia da vontade daqueles que o procuram; deve ele
assegurar às partes, dentro do possível, uma situação de igualdade, bem
como assegurar a livre emissão da vontade, despida de qualquer vício,
recusando-se a desempenhar sua função caso apure estar tal vontade
16 • capítulo 1
eivada por algum vício que a afete. Os atos notariais são revestidos de for-
ma (forma ad probationem) que documenta a realização do ato jurídico, com a
finalidade primordial de constituição de prova. Representam tarefas do notário
a investigação dos elementos levados pelos particulares para realização de um
ato, o seu parecer jurídico acerca de sua concretização, a instrumentalização
da vontade das partes, buscando os meios mais adequados e condizentes
com o sistema jurídico-normativo e a guarda de documentos, com a intenção
de revestir o ato de maior segurança jurídica.
[...]
Depois, traz a definição da função registral.
[...]
A função registral tem por finalidade constituir ou declarar o direito real, através
da inscrição do título respectivo, dotando as relações jurídicas de segurança,
dando publicidade registral erga omnes (ou seja, a todos indistintamente), até
prova em contrário. A relação de títulos passíveis de registro está enumerada
no Código Civil, essa enumeração é taxativa, não podendo-se acrescentar
ou retirar situações de constituição de direitos reais. Veremos cada caso, nos
capítulos seguintes. Nicolau Balbino Filho, ao analisar a função registral nos
ensina ser uma pretensão constante que "o Registro seja uma fiel reprodução
da realidade dos direitos imobiliários. A vida material dos direitos reais, bem
como a sua vida tabular, deveriam-se desenvolver paralelamente, como se a
segunda fosse espelho da primeira. Com efeito, esta é uma ambição difícil
de se concretizar, mas em se tratando de um ideal, nada é impossível; bas-
ta perseverar".
[...]Fonte: http://jus.com.br/artigos/6765/introducao-ao-direito-
notarial-e-registral. Acesso em: 04 maio 2015.
capítulo 1 • 17
1.1.4 Motivação dos Atos Notariais e Registrais
A motivação dos atos notariais e registrais estão estampadas logo nos artigos 1º
e 3º da Lei 8.935/94, sendo a que merece maior destaque é a fé pública.
Antunes (2005) concede valiosa lição sobre este instituto:
18 • capítulo 1
A responsabilidade civil e criminal dos notários e oficiais de registros estão
previstas nos artigos 22 a 24 da Lei 8.935/94, a qual prescreve:
Art. 22. Os notários e oficiais de registro responderão pelos danos que eles e
seus prepostos causem a terceiros, na prática de atos próprios da serventia,
assegurado aos primeiros direito de regresso no caso de dolo ou culpa dos
prepostos. Art. 23. A responsabilidade civil independe da criminal. Art. 24. A
responsabilidade criminal será individualizada, aplicando-se, no que couber, a
legislação relativa aos crimes contra a administração pública. Parágrafo único.
A individualização prevista no caput não exime os notários e os oficiais de
registro de sua responsabilidade civil.
Não obstante a polêmica e a falta de consenso jurídico que o tema atrai, para
o magistrado e autor do artigo somente é possível responsabilizar civilmente os
notários e registradores em razão de dolo ou culpa ao praticar os seus atos, po-
dendo ainda o prejudicado optar pela responsabilização do próprio Estado pela
via objetiva, ou então, responsabilizar pessoalmente e diretamente os referidos
profissionais em decorrência de prejuízos experimentados no caso de dolo ou
de culpa destes últimos.
capítulo 1 • 19
[...] Destarte, não tenho dúvidas em afirmar que a responsabilidade dos notá-
rios e registradores é direta, mas não objetiva, daí por que, não configurada
a hipótese de dolo ou culpa, não há como responsabilizá-los por eventuais
danos causados no exercício das suas funções.
No direito vigente entre nós, toda a ideia da responsabilidade está vinculada
a caracterização da culpa. Não há responsabilidade sem culpa, salvante nas
hipóteses expressamente contempladas pela lei de infortunística e do risco
administrativo. De outra parte, se é certo que o notário e o registrador ostentam
responsabilidade direta, mas não objetiva, o mesmo não se pode dizer do Es-
tado, que inegavelmente responderá sempre de forma objetiva se demandado
por alguém prejudicado pelos erros dos tabeliães (STJ – RESP 696989/PE,
RESP 481939/GO). O fundamento, nesta hipótese, é totalmente diverso, ou
seja, a responsabilidade objetiva está centrada na escolha mal feita dos agen-
tes para exercerem função delegadas pelo Poder Público. Caberá ao Estado,
obviamente, demandar regressivamente o notário, devendo, contudo, compro-
var que o mesmo agiu com dolo ou culpa, consoante aliás, sustenta CLAY-
TON REIS, para quem o notário ou o registrador sequer devem integrar a ação
reparatória como denunciados, podendo, entretanto, intervir como assistentes
da administração (RT 703, pg. 19). Não me curvo integralmente ao aludido
pensamento, pois o usuário prejudicado pelo mal serviço prestado pelas ser-
ventias extrajudiciais não está compelido a ingressar com uma ação somente
contra o Estado. Pode ele, querendo, sem óbice algum, dirigir diretamente sua
pretensão contra o tabelião, notário ou registrador (CELSO ANTÔNIO BAN-
DEIRA DE MELO - Responsabilidade do funcionário por ação direta do lesado,
Revista de Direito Público 77/39), devendo, todavia, neste caso, comprovar a
existência de dolo ou da culpa, justo que a responsabilidade objetiva somente
se compadece com o Poder Público. Logo, de duas uma: ou o prejudicado
ingressa com uma ação contra o Estado, com base na responsabilidade obje-
tiva, e esse busca regressivamente seus prejuízos junto ao notário, provando a
ocorrência de dolo ou culpa, ou, ao revés, o usuário, para fugir do precatório,
demanda diretamente o tabelião ou registrador, devendo, neste caso, fazer
prova do comportamento doloso ou culposo com que o mesmo se houve na
condução do seu mister. [...]
20 • capítulo 1
1.2.1 Da aplicação do Código de Defesa do Consumidor nos
serviços prestados pelos notários e registradores
capítulo 1 • 21
jurídica da norma, ao tempo que afasta as demais, v.g., as normas civis."(13)
Perceba-se que o texto legal tem a clara intenção de dar um caráter universal à
definição de fornecedor, ao trazer a expressão "toda", o que denota claramente
a totalidade daqueles que caibam nas categorias ali listadas, sem exceção. Já
com relação aos produtos e serviços, faz uso da palavra "qualquer", que, por
sua vez, acaba por trazer a mesma ideia acima mencionada, ou seja, abranger
o maior número de situações possíveis, excetuados os casos expressamente
mencionados no citado artigo. No entanto para se enquadrar o prestador de
serviço notarial e de registro como fornecedor de serviços, nos termos do art.
3º do Código de Proteção e Defesa do Consumidor, é fundamental que se
aplique os elementos do conceito legal a essa atividade encontrando sua per-
feita adequação. Antes de tudo cumpre observar que o diploma consumerista
estendeu a todas as pessoas de direito público ou privado a possibilidade de
serem enquadradas como fornecedores. De logo já se percebe a clara inclusão
do prestador de serviço notarial no conceito de fornecedor uma vez que dita
atividade faz parte da própria administração pública possuindo ainda regula-
ção específica. Quis o legislador também incluir o serviço público como for-
necimento ao mercado de consumo, quando presente o elemento objetivo da
profissionalidade da atividade, consistente na sua prestação de forma habitual
e remunerada. É inegável que o serviço notarial tem seu regramento estabe-
lecido pela Constituição Federal, aplicando-se ainda a ele a Lei dos Registros
Públicos, Lei nº 6.015/51, e a Lei dos Cartórios, Lei nº 8.935/94, o que não
exclui, de modo algum, o alcance concomitante do Código de Proteção e De-
fesa do Consumidor, pelo contrário se auto completam.
22 • capítulo 1
constitucional da liberdade de iniciativa. A análise dessas características gerais
de uma relação de consumo, previstas no Código de Defesa do Consumidor,
evidencia que não existe mercado de consumo no que tange aos serviços
de registro imobiliário. Na verdade, sequer há concorrência entre os diversos
registradores de imóveis, pois as circunscrições geográficas vinculadas a cada
serventia são previstas nas leis de organização judiciária estaduais e não há
qualquer opção a ser feita pelo usuário quanto ao oficial apto a praticar atos
atinentes a seu imóvel. Não há, também, liberdade de iniciativa, pois o exer-
cício da atividade depende de delegação do Poder Público. Em relação aos
tabeliães de notas, onde há uma certa concorrência, em razão do direito de
livre escolha por parte do usuário do serviço, o Superior Tribunal de Justiça
assim se pronunciou no REsp 625144, abaixo ementado: PROCESSUAL.
ADMINISTRATIVO. CONSTITUCIONAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. TABE-
LIONATO DE NOTAS. FORO COMPETENTE. SERVIÇOS NOTARIAIS. A ati-
vidade notarial não é regida pelo CDC. (Vencidos a Ministra Nancy Andrighi
e o Ministro Castro Filho). O foro competente a ser aplicado em ação de re-
paração de danos, em que figure no pólo passivo da demanda pessoa jurídica
que presta serviço notarial é o do domicílio do autor. Tal conclusão é possível
seja pelo art. 101, I, do CDC, ou pelo art. 100, parágrafo único do CPC,
bem como segundo a regra geral de competência prevista no CPC. Recurso
especial conhecido e provido. (BRASÍLIA, STJ, 3ª Turma, Resp 625144/SP,
Rel. Min. Nancy Andrighi, DJ 29/05/2006, p. 232) Se inaplicável o CDC aos
notários, mais ainda o será em relação aos registradores de imóveis, onde não
há qualquer liberdade de escolha por parte do usuário, pois os registradores
atuam segundo circunscrições geográficas delimitadas, dentro das quais são
os únicos competentes para praticar os atos do seu ofício.
ATIVIDADES
01. Qual é o conceito de fé pública?
capítulo 1 • 23
REFLEXÃO
Já pensou como seria o nosso cotidiano sem a presença dos serviços notariais e registrais?
Indiscutivelmente a realização de alguns importantes atos em nossa vida não seria reali-
zado com a mesma segurança relativa que dispomos hoje.
Ao se decidir adquirir uma propriedade imobiliária, temos condições de saber através de
uma breve pesquisa junto ao registro imobiliário quem são os titulares daquela propriedade,
e se podem ostentar a posição de proprietários.
Imagine, por outro ângulo, se não houvesse registros fidedignos quanto a propriedade, no
caso a compra e venda permaneceria no campo da boa fé e da confiança – não que isso não
tenha valor jurídico, pois é certo que tem e o Direito não protege aqueles que agem de má fé.
Entretanto, os riscos para aquisição de uma propriedade seria bem maior se comparado
aos riscos que enfrentamos hoje.
Com efeito, é perfeitamente plausível o grande esforço tencionado pelo legislador ao
disciplinar as atividades notarial e registral – buscar a segurança jurídica frente aos atos de
maior relevância em nossa vida social.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BATISTA, Thales Pontes. Incidência do Código de Defesa do Consumidor nas atividades notariais e
de registro sob o enfoque da responsabilidade civil. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XI, n. 59, nov
2008. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_
leitura&artigo_id=3584>. Acesso em maio 2015.
CASSETTARI, Christiano. Código de Normas da Corregedoria Geral de Justiça de São Paulo:
legislação estadual e municipal para cartórios. São Paulo: Atlas, 2012.
FERNANDES, Márcio Silva. A responsabilidade civil dos registradores de imóveis e o Código de Defesa
do Consumidor. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 15, n. 2445, 12 mar. 2010. Disponível em:
<http://jus.com.br/artigos/14500>. Acesso em: 5 maio 2015.
FIGUEIREDO, Ivanildo. Direito Imobiliário. São Paulo: Atlas, 2010.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: direito das coisas. 7 ed. São Paulo: Saraiva,
2012.
MATTOS E SILVA, Bruno. Compra de Imóveis: aspectos jurídicos, cautelas devidas e análise de
riscos. TIMM, Luciano Benetti et. al. Novo Direito Imobiliário e registral. 2 ed. São Paulo: Quartier
Latin, 2010.
24 • capítulo 1
2
Do Divórcio, da
Separação e do
Inventário por
Escritura Pública e
o Registro Civil de
Pessoas Naturais
Neste capítulo trataremos do divórcio, como sendo uma das formas de disso-
lução da sociedade conjugal. Abordaremos também a inovação introduzia pela
lei ao permitir a realização do divórcio e do inventário pela via administrativa,
não mais sendo necessário a intervenção do Poder Judiciário em relação àque-
las situações de menor complexidade.
Também iremos abordar os principais atos envolvidos no registro civil de
pessoas naturais, ou seja, nascimento, casamento e o óbito.
Por fim teremos algumas noções sobre dois institutos muito presentes nas
transações imobiliárias: procuração, testamento e formal de partilha.
OBJETIVOS
• Oferecer noções gerais sobre divórcio e partilha por escritura pública;
• Oferecer noções sobre o conceito de estado civil;
• Oferecer noções sobre os principais atos no registro civil de pessoas naturais, tais como:
nascimento, casamento e o óbito, com as suas implicações jurídicas.
26 • capítulo 2
2.1 Divórcio e inventário por escritura pública
A Lei 11.441, de 04 de janeiro de 2007, trouxe grandes inovações em nosso siste-
ma legislativo sucessório e também familiar.
De acordo com a nova legislação, o que antes para produzir efeito dependia
da chancela do Poder Judiciário, hoje é possível - dependendo do caso, promo-
ver o inventário, a partilha, a separação consensual e o divórcio consensual pela
via administrativa.
Entretanto, quis exigir o legislador que, todos que pretendam participar dos
atos mencionados sejam maiores e capazes e, no caso da separação e do divór-
cio, não envolva a guarda de filhos menores. Outra exigência que a Lei fez é que,
todos os interessados sejam assistidos por advogados comuns, ou então, por
advogados de cada uma delas. É o que se depreende pela leitura dos artigos 1º
ao artigo 3º da Lei 11.441/2007:
capítulo 2 • 27
do art. 2.015 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil, será
homologada de plano pelo juiz, mediante a prova da quitação dos tributos re-
lativos aos bens do espólio e às suas rendas, com observância dos arts. 1.032
a 1.035 desta Lei. .........................................................................”
“Art. 1.031. A partilha amigável, celebrada entre partes capazes, nos termos
do art. 2.015 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil, será
homologada de plano pelo juiz, mediante a prova da quitação dos tributos re-
lativos aos bens do espólio e às suas rendas, com observância dos arts. 1.032
a 1.035 desta Lei.
.........................................................................” (NR)
28 • capítulo 2
Sem dúvida alguma isto veio a favorecer a vida dos jurisdicionados na medi-
da que, não há mais necessidade de ingressar na morosa lentidão e burocrática
do Poder Judiciário para definir situações jurídicas que pelas partes já estão
definidas, necessitando apenas cumprir certas formalidades para que os atos
produzam seus respectivos efeitos.
Neste particular, considerando que o Poder Judiciário não logrou êxito em
prestar a tutela jurisdicional com eficiência e agilidade, mesmo nos casos mais
simples em que as partes entraram num consenso, o legislador entendeu por
bem alterar o sistema legislativo para que essas questões pudessem ser resolvi-
das nas vias administrativas e sem a necessidade de provocar o Poder Judiciário.
IV - pelo divórcio.
capítulo 2 • 29
Para os objetivos colimados neste capítulo vamos tratar de estabelecer a
diferença entre separação judicial e do divórcio, já que estes repercutem mais
diretamente na situação patrimonial dos cônjuges.
30 • capítulo 2
2.1.2 Livre escolha dos tabeliães e efeito das escrituras e a
gratuidade dos atos
O Código de Processo Civil, impõe algumas regras e limites para que os juris-
dicionados possam exercer o seu direito de ação, tais como: a ação fundada em
direito pessoal e a ação fundada em direito real sobre bens móveis serão pro-
postas, em regra, no foro do domicílio do réu.
As ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o foro da si-
tuação da coisa, e o foro do domicílio do autor da herança, no Brasil, é o com-
petente para o inventário, a partilha, a arrecadação, o cumprimento de dispo-
sições de última vontade e todas as ações em que o espólio for réu, ainda que o
óbito tenha ocorrido no estrangeiro.
Todas esses temas estão regulamentados entre os artigos 94 a 124 do Código
de Processo Civil.
Com o advento da Lei 11.441/07 as partes não mais estão obrigadas as re-
gras estabelecidas sobre a competência para exercerem seus respectivos di-
reitos. Esse foi o entendimento do Conselho Nacional de Justiça, ao expedir a
Resolução 35, a qual disciplinou a aplicação da Lei citada.
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) é uma instituição pública que visa aperfeiçoar
o trabalho do sistema judiciário brasileiro, principalmente no que diz respeito ao con-
trole e à transparência administrativa e processual. Missão do CNJ - Contribuir para
que a prestação jurisdicional seja realizada com moralidade, eficiência e efetividade
em benefício da Sociedade. Maiores informações: http://www.cnj.jus.br/sobre-o-cnj/
quem-somos-visitas-e-contatos
Para a lavratura dos atos notariais de que trata a Lei no 11.441/07, é livre
a escolha do tabelião de notas, não se aplicando as regras de competência do
Código de Processo Civil.
capítulo 2 • 31
substancial economia para elaboração dos atos, na medida em que não preci-
sarão gastar com despesas de viagens para a realização de determinados atos
que o Código de Processo Civil outrora exigia.
Também a Resolução 35 foi providencial ao disciplinar os efeitos das es-
crituras públicas nos casos de inventários, partilhas, separações e divórcios
assegurando que são títulos hábeis e que não dependem da homologação do
Poder Judiciário para a produção de seus efeitos junto as instituições financei-
ras, registro civil, registro imobiliário, entre outros órgãos e instituições, para a
transferência de bens e de direitos. É o que se verifica através de seu artigo 3º :
Art. 7º Para a obtenção da gratuidade de que trata a Lei N.º 11.441/07, basta
a simples declaração dos interessados de que não possuem condições de
arcar com os emolumentos, ainda que as partes estejam assistidas por advo-
gado constituído.
32 • capítulo 2
lidades em relação a sua capacidade, inserindo-a a certa categoria no Estado,
na família ou no próprio indivíduo
Com efeito, do estado civil surgem conflitos referentes ao nascimento, mor-
te que é o fim da personalidade, a capacidade e também os direitos de família.
O estado civil possui as seguintes categorias:
capítulo 2 • 33
Sem dúvida nenhuma, esses acontecimentos são de extrema relevância
para o Direito, eis que produzem reflexos no mundo jurídico em vários níveis
daí a necessidade de sua documentação e publicidade.
Passaremos analisar alguns procedimentos exigidos pela legislação quan-
do da ocorrência desses atos jurídicos tão presentes em nosso cotidiano.
2.2.1 Do nascimento
A Lei 6015/73, através dos seus artigos 51 a 53 impõem prazo de 15 dias am-
pliando até 3 meses, conforme o caso, para efetuar o registro de nascimento e
determina a relação de pessoas obrigadas a fazer a declaração de nascimento.
Art. 51. Todo nascimento que ocorrer no território nacional deverá ser dado
a registro no cartório do lugar em que tiver ocorrido o parto, dentro de quinze
(15) dias, ampliando-se até três (3) meses para os lugares distantes mais de
trinta (30) quilômetros da sede do cartório.
Art. 52. Os nascimentos ocorridos a bordo, quando não registrados nos ter-
mos do artigo 65, deverão ser declarados dentro de cinco (5) dias, a contar
da chegada do navio ou aeronave ao local do destino, no respectivo cartório
ou consulado.
34 • capítulo 2
Art. 53. São obrigados a fazer declaração de nascimento:
1º o pai;
Art. 54. No caso de ter a criança nascido morta ou no de ter morrido na ocasião
do parto, será, não obstante, feito o assento com os elementos que couberem
e com remissão ao do óbito.
capítulo 2 • 35
Digno de nota é a ressalva do parágrafo único do artigo 56 que, assegura ao
oficial de registro a não obrigatoriedade de proceder o assentamento com even-
tuais nomes que exponham ao ridículo os seus portadores.
Art. 55. O assento do nascimento deverá conter:
1° o dia, mês, ano e lugar do nascimento e a hora certa, sendo possível deter-
miná-la, ou aproximada;
Art. 56. Quando o declarante não indicar o nome completo, o oficial lançará adian-
te do prenome escolhido o nome do pai, e na falta, o da mãe, se forem conhecidos
e não o impedir a condição de ilegitimidade, salvo reconhecimento no ato.
36 • capítulo 2
2.2.2 Do casamento
capítulo 2 • 37
e entregará aos nubentes certidão de que estão habilitados para se casar den-
tro do prazo previsto em lei.
Art. 70. Para a dispensa de proclamas, nos casos previstos em lei, os con-
traentes, em petição dirigida ao Juiz, deduzirão os motivos de urgência do
casamento, provando-a, desde logo, com documentos ou indicando outras
provas para demonstração do alegado.
38 • capítulo 2
horas, o Juiz decidirá, em igual prazo, sem recurso, remetendo os autos para
serem anexados ao processo de habilitação matrimonial.
capítulo 2 • 39
9° os nomes e as idades dos filhos havidos de matrimônio anterior ou legitima-
dos pelo casamento.
Parágrafo único. As testemunhas serão, pelo menos, duas, não dispondo a lei
de modo diverso.
2.2.3 Do óbito
Art. 78. Nenhum enterramento será feito sem certidão de oficial de registro do
lugar do falecimento, extraída após a lavratura do assento de óbito, em vista
do atestado do médico, se houver no lugar, ou, em caso contrário, de duas
pessoas qualificadas, que tiverem presenciado ou verificado a morte.
40 • capítulo 2
2º a viúva, a respeito de seu marido, e de cada uma das pessoas indicadas no
número antecedente;
Parágrafo único. A declaração poderá ser feita por meio de preposto, autori-
zando-o o declarante em escrito, de que constem os elementos necessários
ao assento de óbito.
capítulo 2 • 41
7º se deixou filhos, nome e idade de cada um;
9° lugar do sepultamento;
Art. 83. O assento deverá ser assinado pela pessoa que fizer a comunicação
ou por alguém a seu rogo, se não souber ou não puder assinar.
Art. 84. Quando o assento for posterior ao enterro, faltando atestado de médi-
co ou de duas pessoas qualificadas, assinarão, com a que fizer a declaração,
duas testemunhas que tiverem assistido ao falecimento ou ao funeral e pude-
rem atestar, por conhecimento próprio ou por informação que tiverem colhido,
a identidade do cadáver.
42 • capítulo 2
pelos oficiais da corporação militar correspondente, autenticado cada assento
com a rubrica do respectivo médico chefe, ficando a cargo da unidade que
proceder ao sepultamento o registro, nas condições especificadas, dos óbitos
que se derem no próprio local de combate.
Art. 87. Os óbitos a que se refere o artigo anterior, serão publicados em boletim
da corporação e registrados no registro civil, mediante relações autenticadas,
remetidas ao Ministério da Justiça, contendo os nomes dos mortos, idade,
naturalidade, estado civil, designação dos corpos a que pertenciam, lugar da
residência ou de mobilização, dia, mês, ano e lugar do falecimento e do se-
pultamento para, à vista dessas relações, se fazerem os assentamentos de
conformidade com o que a respeito está disposto no artigo 67.
Art. 89. Poderão os Juízes togados admitir justificação para o assento de óbito
de pessoas desaparecidas em naufrágio, inundação, incêndio, terremoto ou
qualquer outra catástrofe, quando estiver provada a sua presença no local do
desastre e não for possível encontrar-se o cadáver para exame.
2.2.4 Do testamento
O testamento pode ser considerado uma forma legal de fazer a repartição dos
respectivos bens, sem gerar conflitos após a sua morte.
capítulo 2 • 43
Estabelece o artigo 1857 do Código Civil Brasileiro:
“ Toda pessoa capaz pode dispor, por testamento, da totalidade dos seus
bens, ou de parte deles, para depois de sua morte”.
É muito comum no dia a dia dos negócios imobiliários aquisição de bens
imóveis através de testamento, sendo importante ao profissional dos negócios
imobiliários ter essa noção.
O artigo 1862 do Código Civil disciplina que existem entre as formas ordiná-
rias de testamentos: público, cerrado e o particular.
O mais comum é o testamento público, que é aquele escrito por tabelião ou
por seu substituto legal em seu livro de notas, de acordo com as declarações do
testador, podendo este servir-se de minuta, notas ou apontamentos, conforme
estabelece o inciso I, do artigo 1864 do Código Civil Brasileiro.
2.2.6 Da Procuração
44 • capítulo 2
Com efeito, podemos concluir que a função do mandato é que alguém pra-
tique atos jurídicos em nome de outra pessoa, ou ainda, possa administrar in-
teresses de outra pessoa.
A procuração pode ser através de instrumento público ou particular.
Instrumento particular é a aquela realizada entre os próprios interessados
sem maiores formalidades. Já a procuração através de instrumento público
ocorre quando há a necessidade de intervenção de um tabelião de notas.
Também é muito comum este tipo de documento se apresentar nas transa-
ções imobiliárias, sendo importante ao profissional dos negócios imobiliários
ter ao menos a sua noção.
ATIVIDADES
01. Afinal, qual é o efeito prático entre a pessoa estar separada ou divorciada?
02. As pessoas querem casar basta manifestar sua intenção perante o oficial de registro, ou
então, precisam cumprir certas exigências legais?
REFLEXÃO
Qual a razão que teria motivado o legislador a inserir tantos procedimentos até demasia-
damente complexos, para formalizar os atos tão presentes em nosso cotidiano, tais como:
nascimento, casamento e o óbito?
É que esses atos tão presentes e até mesmo aparentemente simples em nosso cotidiano
produzem reflexos jurídicos na seara de muitas pessoas e que uma vez desordenados po-
dem gerar instabilidade social e insegurança jurídica.
Por exemplo, o nascimento com vida confere personalidade jurídica permitindo a pessoa
praticar vários atos da vida civil, como por exemplo: contratos, etc...
O casamento muda por completo o regime jurídico de bens e também a linha sucessória.
O óbito põe fim a personalidade jurídica e reclama a destinação de eventuais bens e
direitos que foram conquistados pelo falecido.
Ao analisarmos esses aspectos certamente chegaremos a mesma conclusão que o le-
gislador chegou – é necessário uma disciplina rígida desses atos em nome da segurança e
da estabilidade das relações jurídicas.
capítulo 2 • 45
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Diniz, M. H. Compêndio de Introdução à Ciência do Direito. 19 ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
Nogueira, Grasiéla Macia & Fermentão, Cleide Aparecida Gomes Rodrigues. O estado civil das pessoas
que vivem sob o regime de união estável em face dos direitos da personalidade. Revista Jurídica
Cesumar v.6, n.1, p. 489-498. Maringá, 2006. Site: http://www.cesumar.br/mestradodireito/arquivos/
volume6/Estado%20civil.pdf – acesso em 07 de maio de 2015.
46 • capítulo 2
3
Aspectos Relativos ao
Nome e Prenome nas
Relações Familiares.
Registro Civil de
Pessoas Jurídicas e
Registro de Títulos e
Documentos
O presente capítulo tratará do nome e suas implicações jurídicas, inclusive,
como sendo um dos atributos da personalidade das pessoas.
Além disso veremos que o Direito considera o nome e o prenome como imu-
táveis, porém, a legislação estabeleceu casos pontuais aonde é possível postu-
lar a sua mudança.
Teremos algumas noções sobre a função do cartório de registro de pessoas
naturais no que tange a esse ônus.
Também será tratado das funções do cartório de registro de títulos e docu-
mentos e também do registro das pessoas jurídicas.
OBJETIVOS
O objetivo é entender as funções desses outros ofícios dentro de nosso sistema registral,
demonstrando a relação que existe entre a prática dos atos civis com o nome, a criação de
uma pessoa jurídica e o registro de documentos.
48 • capítulo 3
3.1 Imutabilidade do nome
Conforme ensinamentos doutrinários o nome é um dos atributos da persona-
lidade do indivíduo e se presta para imprimir a sua individualização perante a
sociedade, conforme, define o promotor de justiça André Ricardo Fonseca Car-
valho ao escrever interessante artigo sobre o tema.
Nos termos do artigo 16 do Código Civil Brasileiro, o nome se divide em pre-
nome e nome. Prossegue Carvalho ao consignar que:
Art. 57. O interessado, no primeiro ano após ter atingido a maioridade civil,
poderá, pessoalmente ou por procurador bastante, alterar o nome, desde que
não prejudique os apelidos de família, averbando-se a alteração que será pu-
blicada pela imprensa.
capítulo 3 • 49
Art. 58. Qualquer alteração posterior de nome só por exceção e motivadamen-
te, após audiência do Ministério Público, será permitida por sentença do Juiz
a que estiver sujeito o registro, arquivando-se o mandado e publicando-se a
alteração pela imprensa.
Parágrafo único. Poderá também ser averbado, nos mesmos termos o nome
abreviado, usado como firma comercial registrada ou em qualquer ativida-
de profissional.
50 • capítulo 3
§ 8o O enteado ou a enteada, havendo motivo ponderável e na forma dos
§§ 2o e 7o deste artigo, poderá requerer ao juiz competente que, no registro
de nascimento, seja averbado o nome de família de seu padrasto ou de sua
madrasta, desde que haja expressa concordância destes, sem prejuízo de seus
apelidos de família.” (NR)
Já a questão de filiação legítima ou ilegítima não poderá ser objeto para anu-
lação ou reforma do assentamento de nascimento perante a via administrativa
requerendo o ajuizamento do devido processo legal, cuja decisão será proferi-
da através de sentença judicial, ou seja, com a intervenção do Poder Judiciário,
conforme estabelece o artigo 114 da Lei 6015:
Interessante para este tema foi o artigo publicado por Mendes (2009), aonde
em determinado momento de seus estudos relata pesquisa sobre casos judi-
ciais envolvendo a mudança do prenome ou do nome em razão de constran-
gimentos, falta de identificação entre a pessoa e o seu nome, e até mesmo por
erros de grafia.
[...]
Trata-se de medida salutar para corrigir equívocos dos pais ou até mesmo
dos registradores. Tem a finalidade de devolver a tranqüilidade para seu por-
tador, que se vê atormentado por galhofas de terceiros. Imaginem uma líder
feminista cujo nome fosse Amélia Pacífica das Dores ou um militante pacifista
que chamasse Armando Guerra (exemplos de Euclides de Oliveira). Ou ainda
um religioso celibatário chamado Décio Pinto. Seriam, sem dúvida, situações
possíveis de corrigenda.
capítulo 3 • 51
Há registro de decisão que admitiu a retificação do nome de Zenilda Matos
Souza para Fabiana Zenilda Matos Souza, uma vez que a interessada provou
que era conhecida por Fabiana. O acórdão não permitiu que o prenome Ze-
nilda fosse substituído por Fabiana. Admitiu, porém, o prenome composto =
Fabiana Zenilda (RJTJSP 229/170, Rel. Osvaldo Caron).
Isso porque, em simples leitura, verifico que o nome da requerente de fato tem
sentido absolutamente masculino, de forma que, quando lido, nos traz a certe-
za de se tratar de um homem'' e não de uma mulher'', não restando dúvidas de
que causa a ela transtornos pessoais.
52 • capítulo 3
sendo certo que, também nesse caso, ela relatou que era alvo de chacotas em
razão do prenome, causando-lhe manifesto incômodo (RT 623/40).
capítulo 3 • 53
genealógica da interessada e configuraria negatória ao nome de família (Ap.
Cível 211.281-1).
Houve um caso em que os pais de duas crianças com sobrenome Morale (da
mãe) e Vieira Pinto (do pai) pediram a exclusão do apelido Pinto, justificando
que, como sinônimo popular do órgão genital masculino, estimulava troças e
outras situações constrangedoras sobre os infantes. A pretensão não foi aco-
lhida na 1ª instância e, chegando no TJSP, não teve melhor sorte. Com efeito,
o ilustrado Relator realçou, em lapidar acórdão, que a lei não pode ceder aos
reclamos de crianças insatisfeitas com as brincadeiras dos recreios escolares.
E diz mais: "Justamente por isso é que o artigo 56 da Lei 6.015/73 concede
oportunidade para alteração de nome apenas no vigésimo primeiro ano de
vida da pessoa, pressupondo que nesta fase caprichos da infância e a rebeldia
da adolescência foram gradualmente consumidas pelo amadurecimento, uma
evolução natural do ser humano" (JTJ-Lex 251/165).
"O nome de família não é apenas parte do indivíduo, mas traz a indelével nota
de origem, que vai aos antepassados" (RJTJSP 230, p. 174, Rel. Olavo Silvei-
ra). Nesse sentido, trecho elucidativo de acórdão do TJSP: "Mudar de apelido
de família seria o mesmo que renegar a origem de uma geração, uma substitui-
ção de identidade incompatível com a função da vida, porque, se cultivarmos
exemplos para memória post mortem, o único vestígio de lembrança apura-se
com a preservação do nome" (JTJ-Lex 251/165).
54 • capítulo 3
Embora a possibilidade de retificação do nome nos casos de erro de grafia não
tenha sido prevista na Lei 9.708/98, ela ainda subsiste eis que prevalece a re-
gra maior de proteção ao nome. Além disso, a previsão legal do procedimento
judicial para retificação do erro (art. 213, LRP) não foi alterada. Não bastasse,
permanece válida a norma contida no parágrafo único do artigo 55 da LRP,
que impede o registro de prenomes que exponham ao ridículo seu portador.
Enfim, o casos citados revelam bem a importância que o Direito reserva aos
nomes e prenomes, e somente em situações extremas é que a mutabilidade é
permitida.
capítulo 3 • 55
Nascituro: ser humano em gestação no útero.
Espólio: conjunto de bens deixado pelo falecido.
Condomínio edilício: edificações ou conjunto de edificações construídas sob a for-
ma de unidades autônomas e destinadas a fins residenciais ou não residenciais.
Massa falida: conjunto de bens, direitos e dívidas que constituem o acervo do falido.
Sociedade em comum: sociedade que não tenha seus atos constitutivos registra-
dos no órgão público competente.
Sociedade em conta de participação: sociedade sem personalidade jurídica, for-
mada por meio de um contrato de investimento celebrado entre os empresários
Ao formar uma sociedade empresária, por meio da união da vontade de seus só-
cios em desenvolver em conjunto uma atividade empresarial, a consequência
mais importante que surge é o descerramento de sua personalidade jurídica.
Conforme o ensinamento de Requião (2010), adquirindo personalidade ju-
rídica, diversas consequências úteis:
• a sociedade passa a ser uma entidade autônoma com legitimidade contra-
tual, responsabilidade patrimonial e legitimidade processual;
• a sociedade possui individualidade, isolando-se da vida particular dos só-
cios que a compõem, sendo que os efeitos do exercício de sua atividade não
comprometem direta e pessoalmente o seu quadro social;
• a sociedade adquire autonomia patrimonial, não confundindo, portanto,
com o patrimônio particular de seus sócios; e
56 • capítulo 3
• a constituição da sociedade é flexível, com possibilidade de modificar sua
estrutura jurídica, econômica e administrativa.
É válido, ainda, destacar que, como bem observou Requião (2010): numa
evolução do conceito de personalidade jurídica, o legislador a reconhece como
sujeito ativo de delito penal, como se vê na Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de
1998, que tutela o meio ambiente, art. 3o, ao estabelecer que “as pessoas jurídi-
cas serão responsáveis administrativa, civil e penalmente conforme o disposto
nesta lei, nos casos em que a infração seja cometida conforme o disposto nesta
lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representan-
te legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício de
sua entidade”.
Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a
inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário,
de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as
alterações por que passar o ato constitutivo.
Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas
jurídicas de direito privado, por defeito do ato respectivo, contado o prazo da publica-
ção de sua inscrição no registro.
capítulo 3 • 57
Art. 1151. O registro dos atos sujeitos à formalidade exigida no artigo antecedente
será requerido pela pessoa obrigada em lei e, no caso de omissão ou demora, pelo
sócio ou por qualquer interessado.
• regulado pela Lei no 6.404/76, em seus arts. 206 e seguintes, a ser aplicado
às sociedades institucionais;
• regulado pelo Código Civil, em seus arts. 1.033 a 1.038 para as socieda-
des contratuais.
Segundo o art. 1033 do Código Civil, dissolver-se-á a sociedade quan-
do ocorrer:
• o vencimento do prazo de duração, salvo se, vencido este e sem oposição
de sócio, não entrar a sociedade em liquidação, caso em que se prorrogará por
tempo indeterminado;
• o consenso unânime dos sócios;
• a deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na sociedade de pra-
zo indeterminado;
• a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de cento e oi-
tenta dias;
• a extinção, na forma da lei, de autorização para funcionar.
Por sua vez, o art. 206 da Lei das Sociedades Anônimas estabelece que dis-
solvem a companhia:
• de pleno direito:
– pelo término do prazo de duração;
– nos casos previstos no estatuto;
– por deliberação da assembleia-geral (artigo 136, X);
58 • capítulo 3
– pela existência de um único acionista, verificada em assembleia-ge-
ral ordinária, se o mínimo de dois não for reconstituído até à do ano se-
guinte, ressalvado o disposto no artigo 251;
– pela extinção, na forma da lei, da autorização para funcionar;
capítulo 3 • 59
Por outro lado, uma vez não atendido os requisitos estabelecidos no artigo
115 a pessoa jurídica não existirá regularmente, pois essa foi a consequência
prevista pelo legislador no artigo 120:
Art. 120. A existência legal das pessoas jurídicas só começa com o registro de
seus atos constitutivos.
60 • capítulo 3
Art. 129. À margem dos respectivos registros, serão averbadas quaisquer
ocorrências que os alterem, quer em relação às obrigações, quer em atinência
às pessoas que nos atos figurarem, inclusive quanto à prorrogação dos prazos.
3º as cartas de fiança, em geral, feitas por instrumento particular, seja qual for
a natureza do compromisso por elas abonado;
capítulo 3 • 61
Para fins de nossos estudos vale ressaltar a importância de registrar esses
documentos para que eles possam produzir efeitos perante terceiros, ou seja,
por uma presunção do Direito uma vez que esses documentos foram levados a
registro, a ninguém na defesa de seus direitos poderá alegar ignorância ou que
desconhecem o seu teor.
Na medida em que foram levados a registros pressupõem que todos teriam
condições de conhecê-los, já que se tornaram públicos.
ATIVIDADES
01. O que é o nome e qual é a sua função?
REFLEXÃO
As vezes não damos o devido valor ao nosso nome, porém, é importante verificar que o nome
integra a nossa personalidade e que não pode ser tratado de forma leviana ou sem menos
importância.
É pelo nome que sabe a origem do indivíduo, os seus ascendentes e ancestrais. Revela a
marca de uma geração que em muitos casos de uma duração multicentenária.
Talvez seja por isso que o Direito tratou de dar a sua devida regulamentação junto ao
Código Civil, inserindo como um dos atributos da personalidade, e tratou de disciplinar de
forma sistemática a hipótese de sua mudança.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALBERGARIA, B. Instituições de direito: para cursos de administra¬ção, ciências contábeis,
economia, comércio exterior e ciências sociais. São Paulo: Atlas, 2008.
BENTO BETIOLI, A. Introdução ao direito. 10 ed . São Paulo: Saraiva, 2008.
Constituição da República Federativa do Brasil. São Paulo: Saraiva, 2010.
CARVALHO, André Ricardo Fonseca. Aspectos relevantes do nome civil. http://www.mpto.mp.br/cint/
cesaf/opinioes_juridicas/301008093101.pdf. Acesso em: 08 maio 2015.
62 • capítulo 3
COTRIM, GILBERTO. Direito fundamental: instituições de direito público e privado. 22 Ed. São Paulo:
Saraiva, 2008;
DALLARI, D. de A. Elementos de teoria geral do estado. 27 Ed. São Paulo: Saraiva, 2007.
DINIZ, M. H. Compêndio de introdução à ciência do direito. 19 ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
MENDES, Clóvis. O nome civil da pessoa natural.. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 14, n. 2178,
18 jun. 2009. Disponível em:<http://jus.com.br/artigos/13015>. Acesso em: 7 maio 2015.
capítulo 3 • 63
64 • capítulo 3
4
Natureza e
Princípios do Registro
Imobiliário. Principais
Negócios Imobiliários,
Direitos Registráveis
e Procedimento de
Registro. Tributos
sobre Imóveis.
O registro imobiliário é o ato formal pelo qual são averbados todos os atos per-
tinentes ao imóvel, como compra, venda, doação, alienação, etc.
Ao estudar o registro imobiliário e todas as suas formalidades, você com-
preenderá não só sua importância, mas terá subsídios para responder a qual-
quer tipo de questão que, em sua vida prática, possam surgir acerca do tema.
Os temas estudados são todos embasados na bibliografia mais moderna que
há na área, bem como em todo aparato legislativo pertinente, da Constituição
Federal ao Código Civil atual, passando por outras legislações esparsas e nor-
mas de serviço da corregedoria dos tribunais de justiça estaduais (órgãos fisca-
lizadores dos cartórios extrajudiciais e de registro imobiliário).
Diante do exposto, desejamos a você um bom estudo e que os temas aborda-
dos sirvam para aprofundar ainda mais os seus conhecimentos!
OBJETIVOS
• Aprender sobre o histórico dos registros imobiliários, dos cartórios de registro, dos tipos
de documentação inerentes a propriedades imobiliárias (matrículas, certidões, etc.) e suas
respectivas averbações.
• Estudar as principais normas que regem os registros públicos e as serventias de registro.
66 • capítulo 4
4.1 Natureza jurídica do registro imobiliário
Debates acirrados entre os juristas tem trazido a atenção a fim de se alcançar a
definição quanto a natureza jurídica do registro imobiliário.
Para Chaves (2010) embora a natureza do serviço prestado seja pública, mas
o seu exercício é privado, citando juristas renomados que dão embasamento ao
posicionamento que adotou:
[...]
4.1.1 Histórico
capítulo 4 • 67
Assim, o registro da escritura é essencial para que ela passe a ter validade,
não só no mundo formal ou jurídico, mas também no mundo real, comprovan-
do a propriedade do imóvel por parte daquele que o registrou, perante terceiros.
Desta forma, o adágio popular “quem não registra não é dono” demonstra-
se de uma sabedoria infinita, uma vez que uma escritura de imóvel não regis-
trada no cartório competente não serve para fazer prova da propriedade do re-
ferido imóvel para ninguém!
Todo imóvel deverá ser registrado, seja com matrícula ou transcrição, em deter-
minado cartório imobiliário. Referido cartório pode até não estar situado pró-
ximo do imóvel, mas deve, necessariamente, ser o único cartório competente
para o registro em determinada área (circunscrição).
Isso é muito comum em grandes áreas territoriais do Brasil, por exemplo,
aquelas situadas dentro dos Estados do Pará ou do Amazonas, onde existe um
grande lapso geográfico, com poucas cidades dentro e população bastante es-
parsa. Neste tipo de local, o raio de atuação de um cartório de registro imobiliá-
rio pode se estender por centenas e centenas de quilômetros.
Desta forma, se o imóvel “X” for situado na circunscrição “Y”, este só pode-
rá estar registrado no cartório imobiliário referente à circunscrição “Y”. Nesse
cartório, deverá constar a matrícula do imóvel no livro próprio (note-se que tal-
vez o cartório não esteja na circunscrição “Y”, mas no centro da cidade ou em
outro bairro).
Figueiredo (2010, p. 153) esclarece que:
Como a forma é um dos requisitos de validade do ato jurídico (Código Civil, art.
104), a celebração do ato por escritura pública, quando esta é exigida por lei,
depende do cumprimento de todas as solenidades para a validade desse ato. E
se o ato for praticado por um cartório sem competência territorial, este ato é in-
válido, porque não é qualificado juridicamente como público, por absoluta au-
sência de pressuposto regular para a sua celebração (Código Civil, art. 109).
68 • capítulo 4
Na matrícula, as confrontações e características do imóvel devem estar
obrigatoriamente descritas. Geralmente, nas cidades médias e grandes, isso
não é problema, prevalecendo como regra geral a boa identificação do imóvel
na matrícula.
Porém, existem casos localizados principalmente nas zonas rurais do ter-
ritório nacional (e que possuem transcrições muito antigas), em que são feitas
referências a cercas, árvores, pequenos montes, construções e toda sorte de
coisas que podem ser mudadas de lugar, ou de referências a indicações vagas
e imprecisas.
Tais descrições, por óbvio, não são boas, eis que não demonstram de manei-
ra clara qual é o imóvel ou quais são seus limites.
Para estes casos, a lei prevê como solução o processo de retificação
de registro.
capítulo 4 • 69
por exemplo, pretensa inobservância do processo legal. (TIMM et. al., 2010,
p. 241-242).
70 • capítulo 4
i) Princípio da disponibilidade: este princípio indica a quantidade exis-
tente, relativamente ao imóvel. Explicando: se um indivíduo tem 1000 (mil)
hectares de terra, a disponibilidade dele com relação ao uso, gozo e fruição de
sua propriedade é igual a 1000 (mil) hectares, nem mais e nem menos. Isso sig-
nifica que, se ele quiser desmembrar parte do terreno e vender, ele ficará exa-
tamente com a sobra restante. Vendeu 400 (quatrocentos) hectares, restou-lhe
600 (seiscentos) hectares e por aí adiante.
CONEXÃO
Para quem deseja se aprofundar ainda mais no estudo dos princípios do registro imobiliário,
recomenda-se acessar o site www.portalibest.com.br e, no mesmo, acessar o artigo intitulado
“Princípios do Direito Registral Imobiliário Brasileiro”, de autoria de Paschoal de Angelis Neto
e Rodrigo Felix Rodrigues.
4.2.2 Da Retrovenda
capítulo 4 • 71
Segundo o artigo 505 do Código Civil, o vendedor de coisa imóvel pode reservar-se o
direito de recobrá-la no prazo máximo de decadência de três anos, restituindo o preço
recebido e reembolsando as despesas do comprador, inclusive as que, durante o
período de resgate, se efetuaram com a sua autorização escrita, ou para a realização
de benfeitorias necessárias.
72 • capítulo 4
Importante destacar que, a cláusula de reserva de domínio deve ser estipu-
lada por escrito nos contratos de compra e venda, em especial, quanto a bens
móveis, sendo que, há controvérsias doutrinárias e jurisprudenciais, quanto à
utilização desta cláusula, em se tratando de bens imóveis.
Importante destacar também que, sob pena de nulidade, não podem ser
comprados, ainda que em hasta pública (art. 497, CC):
capítulo 4 • 73
indivisível vender a sua parte a estranhos, se outro consorte a quiser, tanto por
tanto. O condômino, a quem não se der conhecimento da venda, poderá, depo-
sitando o preço, haver para si a parte vendida a estranhos se o requerer no prazo
de cento e oitenta dias, sob pena de decadência.
A venda da parte indivisa a estranho somente se viabilizará, portanto, quan-
do: a) for comunicado previamente aos demais condôminos; b) for dada prefe-
rência aos demais condôminos para aquisição da parte ideal, pelo mesmo valor
que o estranho ofereceu; c) os demais condôminos não exercerem a preferência
dentro do prazo legal (GONÇALVES, 2007).
4.2.6 Da doação
74 • capítulo 4
Onerosa ou com encargo: trata-se de uma modalidade
de doação, na qual a liberalidade vem acompanhada de
incumbência atribuída ao donatário, em favor do doador
ou de terceiro, ou no interesse geral (VENOSA, 2004).
Está prevista no artigo 533 do Código Civil, do qual dis-
DOAÇÃO MODAL põe que, “o donatário é obrigado a cumprir os encargos
da doação, caso forem a benefício do doador, de terceiro,
ou do interesse geral”. Vale destacar que, se desta última
espécie for o encargo, o Ministério Público poderá exigir
sua execução, depois da morte do doador se este não
tiver feito (parágrafo único).
capítulo 4 • 75
De acordo com Gonçalves (2012, p. 514):
Pode-se dizer, assim, que num compromisso de compra e venda, uma das
partes, chamada de “compromissária compradora”, se compromete a comprar
um determinado bem imóvel da outra parte, denominada de “compromitente
vendedora”, a qual, também assume um compromisso: o de vender o referi-
do bem.
No mundo concreto o compromisso de compra e venda surge quando as
partes não querem ou não podem celebrar desde logo, por escritura pública,
o contrato definitivo, como ocorre quando se trata de negociação envolvendo
imóvel na planta ou que, embora já construído, ainda está passando por um
processo de regularização de sua documentação.
A figura abaixo ilustra uma planta de imóvel:
©© JUAN CARLOS ZAMORA | DREAMSTIME.COM
76 • capítulo 4
Assim, como seu objetivo é, justamente, a elaboração de outro contrato, o
compromisso de compra e venda é considerado um pré-contrato, ou contrato
preliminar (também chamado de ajuste prévio).
Mattos e Silva (2012, p. 249) nos ensina que:
capítulo 4 • 77
que poderá ou não ser celebrado no futuro, eis que dependerá de outras cir-
cunstâncias, dentre elas a conveniência das partes.
A legislação que primeiro definiu o instituto, qual seja, o Decretolei nº
58/1937, trouxe a expressão “compromisso” ao invés da expressão “promessa”,
sendo certo que o poder legislativo, na época, optou pela primeira expressão
com o fito de diferenciar este tipo de contrato de outros contratos que pudes-
sem comportar retratação (o que poderia ser o caso se fosse utilizada a expres-
são “promessa de compra e venda”).
Não obstante, o novo Código Civil, ao tratar do tema, optou pelo uso do
termo “promessa”, conforme constou na redação do seu artigo 1.417, abai-
xo transcrito:
Em que pese a redação do artigo 1.417 do Código Civil, acima transcrito, ter
optado pelo termo “promessa” ao invés do termo “compromisso”, a maior par-
te dos doutrinadores entende que, a modalidade contratual a que ele se refere
se enquadraria muito melhor no significado real do segundo vocábulo do que
no significado do primeiro vocábulo.
Grosso modo, o que diferencia juridicamente o “compromisso” da “pro-
messa” é a possibilidade ou não de retratação, de arrependimento do negócio
firmado, e as consequências deste ato para as partes contratantes.
Desta forma, sob a ótica da possibilidade ou não de retratação, podem ser
distinguidos os instrumentos de compromisso de compra e venda e promessa
de compra e venda.
Estudiosos do direito afirmam que a promessa de compra e venda contém,
implicitamente, a ideia de retratação, remetendo as partes à possibilidade de
ganharem perdas e danos, no caso de não cumprimento por culpa ou dolo
(intenção) do outro contratante, mas sem direito de promoverem uma execu-
ção específica.
Para exemplificar o pensamento acima, imaginemos um caso hipotético
onde, na promessa de compra e venda firmada se pactue que o arrependimento
de uma das partes deverá ser reparado com arras penitenciais, sendo certo que
78 • capítulo 4
quem as deu deverá perdê-las em prol da outra parte, e quem as recebeu deverá
ter a obrigação de restituí-las em dobro, se for a pessoa responsável pela não
concretização do negócio.
Você já tinha ouvido falar em arras? Arras é um termo jurídico cujo significado é
designar o “sinal, que vem a ser uma quantia em dinheiro ou outra coisa fungível, dado
por um dos contratantes ao outro, a fim de concluir o contrato e, excepcionalmente,
assegurar o pontual cumprimento da obrigação”. (DINIZ, Maria Helena. Dicionário
Jurídico – v. 1. São Paulo: saraiva, 1998, p. 272). Numa concepção mais popular,
podemos entender as arras como a entrada ou o sinal que uma parte dá num negócio.
Exemplo: quem procura uma incorporadora visando adquirir um imóvel na planta,
assina um contrato de comprometendo a pagar “x” de arras, entrada ou sinal, mais “y”
parcelas mensais fixas durante a obra, mais “w” parcelas semestrais, etc.
capítulo 4 • 79
tinada a conferir eficácia à manifestação da vontade já externada no contrato
preliminar e se resolveria apenas em sede de perdas e danos. (2009, p. 18).
80 • capítulo 4
O direito real de aquisição do imóvel é o direito concreto, que dá prioridade
a quem registra em detrimento de terceiros, o que é muito importante no caso
de se lidar com incorporadoras inidôneas, que possam praticar irregularmente
a “dupla venda” de uma mesma unidade do empreendimento (quem registrar
o contrato, em casos tais, terá prioridade absoluta na aquisição do bem em de-
trimento daquele que não registra).
Desta forma, o registro da promessa de compra e venda não se consiste num
requisito para a irretratabilidade do pactuado.
O registro funciona, sim, como ato constitutivo do direito do compromissá-
rio comprador em obter a prioridade para a aquisição do imóvel em detrimento
de terceiros interessados no mesmo.
Neste prisma, nunca é demais lembrar que o registro imobiliário é público,
de modo que qualquer pessoa pode obter uma certidão e verificar que determi-
nado imóvel é objeto de um compromisso de venda.
Assim, se existir um compromisso de compra e venda registrado, é porque
existe alguém que detém o direito de prioridade na aquisição daquele determi-
nado imóvel.
Ao contrário, se não houver nenhum registro de compromisso de venda,
não haverá prioridade na aquisição do bem imóvel, mas isso nada interfere, de
acordo com a boa técnica jurídica, com a questão da retratabilidade ou irretra-
tabilidade da promessa de venda, que diz respeito às pessoas do compromiten-
te vendedor e compromissário comprador.
Ressalte-se que uma das grandes vantagens do compromisso de compra e
venda reside nos efeitos gerados por seu registro. É que, com o registro, o com-
promisso de compra e venda, que não contenha cláusula de arrependimento,
passará a ter eficácia erga omnes (contra todos), que se confunde com o men-
cionado direito à prioridade.
O compromisso de compra e venda, que contenha cláusula prevendo o di-
reito de uma das partes se arrepender do negócio, também pode ser registrado,
pois a lei não o proíbe (conforme podemos aferir da leitura do artigo 167, inciso
I, itens 9 e 20, da lei nº 6.015/1973). Entretanto, este tipo de contrato continuará
passível de retratação até o recebimento do preço, podendo o compromiten-
te vendedor rescindir o compromisso, cancelar seu registro e alienar o imóvel
para terceiro, ficando o compromissário comprador com direito à devolução
dos valores pagos e, conforme o caso, a uma indenização por perdas e danos.
capítulo 4 • 81
Portanto, embora não influencie diretamente na possibilidade e no exercí-
cio ou não do direito de arrependimento, deve o compromissário comprador
sempre registrar o compromisso de compra e venda, sob pena de não obter o
direito à prioridade na aquisição do bem, quando este estiver pronto e/ou com
sua documentação disponível para escrituração.
De acordo com Mattos e Silva (2012, p. 253) “registrado o compromisso de
compra e venda, que não contenha cláusula de arrependimento, o compromi-
tente vendedor não poderá transferir a propriedade do imóvel a outra pessoa.
Portanto, o compromissário comprador deverá registrar o compromisso de
compra e venda tão logo ele seja formalizado”.
Na vida real, infelizmente, percebe-se ser raro o registro dos compromissos
de compra e venda (apesar de altamente recomendável, no sentido legal, para
se evitar problemas futuros).
As promessas ou compromissos de compra e venda que não são levados a
registro, na prática, nada mais são do que famigerados “contratos de gaveta”,
eis que estabelecem direitos e obrigações somente entre as partes contratan-
tes, mas jamais sobre quaisquer terceiros, como, por exemplo, um credor da in-
corporadora, que pretenda se apoderar dos bens imóveis em construção, para
saldar as dívidas que ela tenha com ele.
Num caso como o acima exposto, se o compromisso não estiver registrado,
será quase impossível, juridicamente, o promitente comprador opor qualquer
tipo de embargo ao credor da promitente vendedora (incorporadora), se este
pretender numa execução judicial levar a leilão os bens desta última (incluindo
aí o imóvel construído que deu origem ao contrato entre ambas) para pagamen-
to das dívidas que ela possui e que não honrou com o pagamento.
Outro direito importante do compromissário comprador é o de obter
a adjudicação compulsória do imóvel, nos termos do artigo 1.418 do novo
Código Civil:
82 • capítulo 4
CONEXÃO
Como vimos, sem o respectivo registro no cartório imobiliário competente, o compromisso de
compra e venda não tem validade. Para se entender um pouco mais sobre o funcionamento
dos cartórios imobiliários, pode-se acessaro site www.arisp.com.br, mantido pela Associação
dos Registradores Imobiliários de São Paulo.
capítulo 4 • 83
4.3.3 Cessão de direitos do compromisso de compra e venda
Um caso que pode ocorrer na vida prática de quem trabalha com negócios imo-
biliários é a pretensão de cessão de direitos de um compromisso de compra e
venda, por parte do compromitente vendedor.
Isso é possível, no sentido legal, técnico e jurídico da palavra?
A resposta para esta pergunta é sim, porque não existe nenhuma norma ju-
rídica que proíba a cessão de direitos oriundos de um contrato de compromis-
so de compra e venda.
Desta forma, não há nenhum dispositivo legal que impeça o compromiten-
te comprador de celebrar um contrato com uma terceira pessoa, transferindo
para ela os seus direitos de compromissário comprador.
Este tipo de pacto de transferência de direitos de compromisso de compra e
venda é chamado de contrato de cessão de direitos.
Assim, por meio de um contrato de cessão, o cessionário (terceira pessoa)
irá adquirir do cedente (o compromitente comprador original) os seus direitos
de compromitente comprador.
Isso pode ser entendido se pensarmos numa mudança ocorrida no compro-
misso de compra e venda, relativamente à uma das pessoas contratantes.
Neste caso, o cedente, ao transferir seus direitos desse contrato para um
terceiro (o cessionário), por meio de um outro contrato (contrato de cessão de
direitos), deixa de ocupar a posição de compromitente comprador, pois essa
posição passa a ser ocupada pelo cessionário, que então deterá todos os direi-
tos de compromissário comprador.
Saliente-se que as cessões de direitos decorrentes do compromisso de com-
pra e venda também podem ser registradas, com os mesmos efeitos, preenchi-
dos os requisitos já estudados anteriormente.
No que se refere à possibilidade de adjudicação compulsória (caso haja re-
cusa do promitente vendedor em passar a escritura), vale o mesmo que foi dito
para o compromisso de compra e venda, inclusive quanto à necessidade ou não
do registro. Embora a Súmula nº 239 do STJ não se refira à cessão, mas apenas
ao compromisso de compra e venda, tem sido admitida a ação de adjudicação
compulsória mesmo se a cessão estiver registrada.
Importante é o titular da última cessão de direitos de compromisso de com-
pra e venda demonstrar que o preço do imóvel foi recebido pelo proprietário,
sendo que a ação deve ser proposta não só contra o proprietário do imóvel,
84 • capítulo 4
mas também em face do último cessionário que constar da matrícula do imó-
vel. Desta forma, se os efeitos da sentença atingirão o proprietário do imóvel e
aquele que, de acordo com o registro imobiliário, for o titular do direito real à
aquisição da propriedade, preservando-se a continuidade dos registros na ma-
trícula do imóvel.
Ante os argumentos já expostos nos tópicos anteriores, o cessionário deverá
registrar o contrato de cessão. Por óbvio, ele só poderá registrar esse contrato
caso o contrato de compromisso de compra e venda já esteja registrado. Nesse
mesmo sentido, o compromisso de compra e venda só poderá ser registrado se
o compromissário vendedor ainda for o proprietário do imóvel.
Portanto, alguém que pensa em comprar um imóvel por meio da aquisição
dos direitos de compromissário comprador, deverá antes de celebrar o contra-
to de cessão, tomar os mesmos cuidados em face do cedente, do compromi-
tente vendedor e dos proprietários anteriores, verificando a situação pessoal de
cada um deles (nesta verificação, o “candidato a cessionário” deverá registrar
seu contrato de cessão de direitos, de modo a ter assegurada também a priori-
dade, prevenindo-se assim de qualquer tipo de fraude que possa prejudicá-lo
no futuro).
Saliente-se que, na hipótese de cessão de direitos à aquisição de imóvel po-
derá haver a incidência do Imposto de Transmissão de Bens Inter-vivos (ITBI),
conforme disposto pelo artigo 156, inciso II, da Constituição Federal, no caso
de assim dispor a lei municipal da cidade onde o imóvel se localize.
No próximo tópico vamos falar justamente sobre a não incidência des-
te mesmo imposto (ITBI) sobre os compromissos de compra e venda firma-
dos originalmente.
capítulo 4 • 85
Assim, nos dias atuais, somente não tem matrícula o imóvel que, desde o
advento da lei nº 6.015/1973), não tenha sofrido nenhum registro de venda, de
doação, de hipoteca, de penhora ou qualquer outro tipo de registro que a lei
permite ou ato que ela determina que seja registrado.
De acordo com Mattos E Silva (2012, p. 1):
No entanto, até hoje, ainda é possível encontrar imóveis muito antigos que
não tenham nenhum tipo de registro.
Ainda podemos encontrar, também, imóveis em situação irregular que não
têm nenhum tipo de registro válido.
Para efeito de esclarecimento, a matrícula é uma folha de papel, em um li-
vro ou uma ficha, que tem um número e se refere a apenas um único imóvel em
particular. Do mesmo modo, cada imóvel possui uma só matrícula.
“Por isso, a matrícula é a ‘carteira de identidade do imóvel’, uma vez que a
matrícula identifica o imóvel” (MATTOS E SILVA, 2012, p. 2).
A matrícula é o ato que imprime individualidade ao imóvel, sua situação
geográfica, e nos casos de imóveis rurais, através de coordenadas georeferen-
ciadas para sua perfeita descrição. Nela serão escritos os atos de registro e aver-
bação, espelhando todo o estado do imóvel.
Cada matrícula terá um número de ordem para pronta identificação.
A matrícula tem por finalidade individualizar o imóvel. Antes da LRP a ma-
trícula só existia no registro Torrens. Após a lei 6.015/73, o registro passou a ter
por base os próprios imóveis, independentes de sua titulação. Com o advento
da matrícula foi introduzido o Livro de Registro Geral nº 2 (art. 176) (TIMM et
al., 2010, p. 464).
Nessa folha de papel chamada matrícula estará contada toda a história do
imóvel, através dos seus sucessivos registros e averbações.
Por meio dela, será possível saber quem foram os proprietários do imóvel,
quantas vezes o imóvel foi vendido, dentre outras informações cruciais.
86 • capítulo 4
A grande vantagem do sistema atual em relação ao sistema anterior é, sem
dúvida, essa, ou seja, todos os registros relativos ao imóvel estão em um único
documento, que é a folha de matrícula. Isso torna tanto a consulta mais fácil
quanto o registro é mais seguro.
Toda matrícula, sem exceção, terá um número individual e personalíssimo,
e começa seu texto com uma descrição do imóvel, por exemplo, “UM TERRENO
URBANO, com benfeitorias, situado na rua dos Andradas nº 348, outrora cha-
mada de rua B, gleba T, medindo 10 metros de frente por 30 metros de fundo...”.
Após a leitura dos registros, que se seguirão à descrição do imóvel, será pos-
sível saber se o proprietário, que consta da descrição ou do início da matrícula,
continua figurando como proprietário do imóvel ou não e, neste segundo caso,
o nome da pessoa para quem ele vendeu e assim sucessivamente. Se qualquer
venda tiver ocorrido – e o comprador registrado sua escritura no cartório de re-
gistro de imóveis competente – ela necessariamente deverá constar da matrícu-
la, na forma de registro, bem abaixo da descrição do próprio imóvel.
EXEMPLO
Segundo o site dos corretores (http://www.sitedoscorretores.com.br/facilidades/cuidadoi-
movel.php - acesso em 10 de junho de 2015), segue abaixo o rol de documentos recomen-
dados para garantir certa margem de segurança na aquisição de uma propriedade imóvel,
embora ao nosso ver esta lista não seja exaustiva e não é capaz de demonstrar todos os
documentos efetivamente necessários para uma aquisição com certa medida de segurança
de uma propriedade.
capítulo 4 • 87
1. Escritura do imóvel, ou Título de Propriedade – devidamente registra-
do no Cartório de Registro de Imóveis da circunscrição competente (matrícula
do imóvel);
2. Solicitar a emissão de Certidão de ônus Reais, atualizada da proprie-
dade, a ser fornecida pelo cartório de registros de imóveis, obtida por meio da
matrícula do imóvel constante da escritura:
3. Solicitar a emissão de todas as Certidões negativas de Débitos relacio-
nadas ao vendedor de Imóveis, enumeradas abaixo:
a. Certidão de Ações Cíveis;
b. Certidão de Tutela;
c. Certidão da Justiça federal, do vendedor e esposa (se casado), que
pode ser retirada através de site;
d. Certidão de Ações Trabalhistasque pode ser retirada através de site;
e. Certidão Negativa de IPTU;
f. Certidões de Tributos Federais junto a Secretaria da Receita Federal
e junto a Procuradoria da Fazenda Nacional;
g. Certidões de Tributos Municipais junto a Secretaria da
Fazenda Municipal;
h. Certidões de Tributos Estaduais junto a Secretaria da Fazenda
dos Estados;
i. Certidão Negativa de Projeto de Desapropriação junto a respectiva
Câmara Municipal de Vereadores, a fim de assegurar que o imóvel não
corre o risco de ser alvo de um projeto desapropriação no futuro;
4. Solicitar ao orgão competente ou ao cartório onde será lavrada a escri-
tura, a emissão da Guia do imposto ITBI/ITCMD, que será emitida com base em
um percentual sobre o valor da venda a ser recolhida ao município, este impos-
to é denominado imposto sobre transmissão de bens imóveis.
88 • capítulo 4
A aquisição de uma propriedade, por meio de compra e venda de imó-
veis com escritura, sempre é feita por cartório devidamente qualificado para
esta operação, que irá Gerar um documento oficial denominado ESCRITURA
DO IMÒVEL.
Se pessoa jurídica
capítulo 4 • 89
CONEXÃO
O aluno poderá obter maiores informações acessando o site http://www.sitedoscorretores.
com.br/facilidades/cuidadoimovel.php
90 • capítulo 4
Se levarmos em consideração a letra da lei, o compromisso de compra e ven-
da não se enquadra em nenhuma das hipóteses retro mencionadas, isto é, ele
não representa transmissão direta de propriedade e nem cessão de direitos à
aquisição dessa propriedade.
Por este motivo, a primeira e mais direta resposta ao questionamento aci-
ma é não, ou seja, por não se enquadrar nas hipóteses correspondentes a regra
geral da legislação, o compromisso de compra e venda, por si só, não geraria a
incidência do ITBI, nem do ITCMD e nem de nenhum outro imposto.
Ocorre que, a resposta acima não pode ser generalizada, uma vez que a le-
gislação do ITBI, como já visto, é de incumbência dos municípios, razão pela
qual poderá haver algum município cuja legislação preveja a incidência e co-
brança de tal tributo sobre compromissos de compra e venda lavrados (regis-
trados ou não).
Daí a necessidade de se conhecer, profundamente, o que dispõe a legislação
municipal da cidade onde se pretende fazer este tipo de negócio.
Muitos livros bons já foram escritos sobre direito tributário e sobre as mais variadas
modalidades de impostos, normalmente esmiuçando o tipo escolhido (imposto de
renda sobre pessoa física – IRPF, imposto sobre circulação de veículos automotores
– IPVA, etc.), ou seja, falando-se tudo o que seja possível para que o leitor entenda
o funcionamento do mesmo, seus critérios de incidência, etc. No caso do ITBI não é
diferente, existindo uma vasta gama de autores jurídicos que abordam o tema. Dentre
as várias obras disponíveis no mercado, podemos recomendar a do doutrinador Ki-
yoshi Harada, da editora Atlas, intitulada “ITBI – Doutrina e Prática” (edição de 2010).”
ATIVIDADES
01. Qual é a natureza jurídica do registro imobiliário?
capítulo 4 • 91
REFLEXÃO
Inegável a importância deste estudo aonde pudemos conhecer e refletir sobre as principais
normas e aspectos jurídicos envolvidos na formalização dos registros, sua constituição, e,
notadamente, a segurança que esses institutos conferem àqueles que realizam qualquer tipo
de transação imobiliária.
Embora nenhum sistema registral seja absolutamente perfeito, ainda sim, ele imprime
certa medida de segurança para aqueles que realizam seus negócios imobiliários.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CASSETTARI, Christiano. Código de Normas da Corregedoria Geral de Justiça de São Paulo:
legislação estadual e municipal para cartórios. São Paulo: Atlas, 2012.
CHAVES, Luisa Helena Cardoso. A natureza jurídica dos serviços notariais e de registros. In: Âmbito
Jurídico, Rio Grande, XIII, n. 75, abr 2010. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/
index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=7474
FIGUEIREDO, Ivanildo. Direito Imobiliário. São Paulo: Atlas, 2010.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: direito das coisas. 7 ed. São Paulo: Saraiva,
2012.
MATTOS E SILVA, Bruno. Compra de Imóveis: aspectos jurídicos, cautelas devidas e análise de
riscos.
TIMM, Luciano Benetti et. al. Novo Direito Imobiliário e Registral. 2 ed. São Paulo: Quartier Latin,
2010.
92 • capítulo 4
5
Procedimentos
Judiciais e Extrajudiciais
de Retificação e Dúvida.
Venda e Compra de
Imóveis Rurais e os
Aspectos Registrais
do Condomínio e da
Incorporação Imobiliária.
Neste capítulo trataremos dos procedimentos judiciais e extrajudiciais, quanto
a necessidade de retificação de algum ato de registro. Estudaremos também as
incorporações imobiliárias, os condomínios (abrangendo aí sua constituição,
definição legal, direitos e deveres dos condôminos, problemas relativos à sua
administração e ao síndico, dívidas condominiais,etc.
OBJETIVOS
• Compreenderá que o os atos praticados pelos oficiais do sistema registral e notarial pre-
cisam ser formais, e como regra imutáveis na esfera extrajudicial, porém, comportando algu-
mas exceções que podem ser utilizadas no desempenho profissional;
• Compreenderá o tamanho da importância (ainda mais se considerarmos a atual realidade
econômica do país no que tange ao setor da construção civil e da diversificação dos grandes
empreendimentos imobiliários por todo o território nacional), de se conhecer os principais
dispositivos jurídicos que:
– permeiam questões atinentes à incorporações imobiliárias;
– regulamentam os condomínios edilícios;
Assim, de vital importância para qualquer profissional do ramo imobiliário, do corretor de
imóveis ao empreiteiro, do incorporador ao administrador de empreendimentos.
94 • capítulo 5
5.1 Retificação extrajudicial do registro
público
capítulo 5 • 95
Algumas legislações passaram a introduzir a possibilidade de algumas reti-
ficações serem desenvolvidas ainda no âmbito administrativo, sem a necessi-
dade de intervenção do Poder Judiciário.
Por exemplo, a Lei 12.100/09, alterou a Lei 6015/73, prevendo a possibilida-
de de correção do registro de assentamento civil sem a necessidade de interven-
ção do Poder Judiciário em algumas hipóteses bem pontuais:
“Art. 40. Fora da retificação feita no ato, qualquer outra só poderá ser efetuada
nos termos dos arts. 109 a 112 desta Lei.” (NR)
.............................................................................” (NR)
“Art. 110. Os erros que não exijam qualquer indagação para a constatação
imediata de necessidade de sua correção poderão ser corrigidos de ofício pelo
oficial de registro no próprio cartório onde se encontrar o assentamento, me-
diante petição assinada pelo interessado, representante legal ou procurador,
independentemente de pagamento de selos e taxas, após manifestação con-
clusiva do Ministério Público.
Com efeito, naqueles casos em que ocorreram erros notórios e sem maiores
indagações para a sua constatação é possível proceder a sua correção através da
via extrajudicial no caso de assentamento civil.
96 • capítulo 5
5.1.1 Retificação administrativa do registro de imóveis
capítulo 5 • 97
extrajudicial, conforme determina o artigo 213, inciso II, o: “requerimento ins-
truído com memorial descritivo assinado por profissional legalmente habili-
tado, que será também responsável pela elaboração da planta, assinada pelo
proprietário e por todos os confrontantes”. Na prática, o oficial de registro de
imóveis será o responsável pelo encaminhamento do processo de retificação de
área e metragens.
De acordo com a nova redação do artigo 212 da Lei 6.015/1973, “se o regis-
tro ou a averbação for omissa, imprecisa ou não exprimir a verdade, a retifica-
ção será feita pelo Oficial de Registro de Imóveis competente, a requerimento
do interessado, por meio do procedimento administrativo previsto no art. 213,
facultado ao interessado requerer a retificação por meio de procedimento judi-
cial”. Pela antiga disciplina legal, toda retificação ou correção de registro imobi-
liário deveria ser feita através de procedimento judicial, cabendo ao cartório de
imóveis apenas proceder a retificação de erro evidente. (FIGUEIREDO, 2010,
p.179)
Pela nova lei, cabe ao cartório de registro de imóveis, até mesmo de ofício,
retificar o registro ou a averbação na matrícula em diversos casos em que se
constate erro ou incorreção no seu conteúdo, inclusive a “retificação que vise
a indicação de rumos, ângulos de deflexão ou inserção de coordenadas geor-
referenciadas, em que não haja alteração das medidas perimetrais”, conforme
redação do seu artigo 213, inciso I, aliena “d”.
Por fim, nos casos em que houver a modificação de perímetro, isto é, pela
inserção ou alteração de medida perimetral de que resulte, ou não, alteração de
área, o interessado deverá, para obter a retificação, apresentar requerimento
instruído com planta e memorial descritivo assinado por profissional legalmen-
te habilitado, com prova de anotação de responsabilidade técnica do Conselho
Regional de Engenharia e Arquitetura (CREA), bem como pelos confrontantes.
Isso tudo é determinado pelo inciso II do artigo 213 da lei nº 10.931/2012.
98 • capítulo 5
Cancelamento de registro é o ato pelo qual o oficial do cartório imobiliário
torna sem efeito o lançamento de um registro anteriormente realizado na ma-
trícula imobiliária.
De acordo com o artigo 167, inciso II, item 2 e artigo 148, o cancelamento do
registro é promovido como ato de averbação, ainda que possa alterar a titulari-
dade do direito real sobre o imóvel, devendo ser declarado o motivo determi-
nante de estar ocorrendo tal cancelamento.
O cancelamento do registro pode ocorrer de forma total ou parcial.
Cancelamento total é a supressão integral do registro, enquanto que cance-
lamento parcial é aquele que incide, apenas, sobre um efeito ou ato específico
constante do registro.
Referido cancelamento poderá ocorrer por razões voluntárias
ou involuntárias.
Será voluntário o cancelamento quando resulta da vontade das partes. Por
exemplo, se após celebrarem a escritura de compra e venda do imóvel e regis-
trá-la, as partes se arrependerem e desistirem do negócio, elas podem, conjun-
tamente, pleitear o cancelamento do referido registro na matrícula, através de
requerimento dirigido ao oficial do cartório de imóveis que procedeu o ato. Já o
cancelamento involuntário é aquele que decorre de ordem judicial ou de deci-
são administrativa emanada da Corregedoria de Justiça, órgão responsável pela
fiscalização dos cartórios de imóveis.
É bom observar que, o cancelamento por ordem judicial geralmente é pro-
vocado por atos de alienação (venda) do imóvel com fraude a credor, no curso
de processo de execução contra o vendedor. Nestes casos, o vendedor, sabendo
que possui uma dívida líquida e certa com um credor, e que será condenado no
curso de um processo judicial a pagá-lo, opta por vender, por se livrar do bem
imóvel que possui, a fim de que o mesmo não acabe sendo penhorado para pa-
gar sua dívida. Este tipo de venda, dada a má-fé das intenções do proprietário
que vende o imóvel, pode ser cancelada por ordem judicial.
capítulo 5 • 99
A parte interessada que portar um título que o repute hábil para garantir o
direito da transferência da propriedade imobiliária, deverá apresentá-lo ao car-
tório de registro imóveis para proceder ao seu competente registro.
Com efeito, assim que o título ingressa no cartório de registro de imóveis
recebe a sua prenotação, que juridicamente garante provisoriamente a priori-
dade da transferência daquela propriedade imobiliária ao seu apresentante.
Caso o registrador entenda que o título padece de alguns requisitos para ser
hábil visando a transferência da propriedade imobiliária, apontará as exigên-
cias necessárias que deverão ser satisfeitas pelo apresentante e em determina-
do prazo.
Na eventualidade das exigências serem satisfeitas, o título será levado a re-
gistro. Por outro lado, uma vez não atendidas, a apresentação do título com sua
prenotação perderá eficácia e não será levado a registro, e, consequentemente,
não transferindo a propriedade imobiliária.
Todavia, é possível que o apresentante não concorde com as exigências de-
duzidas pelo registrador, neste caso, formalizando mediante petição ou reque-
rimento o seu inconformismo, dando origem ao denominado procedimento
administrativo “suscitação de dúvida”.
O professor Ceneviva (2009) define bem o citado instituto:
100 • capítulo 5
úteis, salvo no caso previsto no parágrafo único do artigo 7º do Decreto-Lei n.
549, de 24 de abril de 1969, em que o prazo será de três (3) dias úteis.
Este instituto é muito importante, eis que serve de controle para evitar even-
tuais abusos ou exigências que são incompatíveis com a ordem jurídica vigente.
Em relação aos imóveis rurais, a Lei 10.267/01 instituiu o novo Cadastro Nacio-
nal de Imóveis Rurais, que é estruturado de acordo com o Cadastro de Imóveis
Rurais.
Quanto a esta exigência legal, Dias (2005) explica a sua motivação por par-
te do legislador ao exigir o georreferenciamento de imóveis rurais em algumas
situações:
[...] a Lei 10.267/01 instituiu o novo CNIR - Cadastro Nacional de Imóveis
Rurais - sistema gerido pelo INCRA e a Receita Federal, que é composto pe-
los dados contidos nas Declarações para o Cadastro de Imóveis Rurais (o
popular "Cadastro do INCRA") e os polígonos formados pelas coordenadas
georreferenciadas dos vértices que compõem os seus limites - ou seja - o
polígono matematicamente definido de cada imóvel, geograficamente referi-
do ao sistema de coordenadas oficial e único do país. Porém, como nosso
território não é um plano e sim um "gomo" da esfera terrestre, na verdade o
georreferenciamento se efetua não sobre um sistema de coordenadas simples
e sim sobre um sistema de coordenadas e de projeção geodésicos que envol-
vem distintas superfícies matematicamente definidas e relacionadas entre si
(não mais um sistema de coordenadas local sobre um plano, como até agora
capítulo 5 • 101
se executavam tradicionalmente os levantamentos topográficos). No Brasil,
o IBGE regulamenta e mantém o Sistema Geodésico Brasileiro (SGB), que
adota o Sistema de Coordenadas e Projeção UTM (Universal Transverso de
Mercator) sob o novo datum SIRGAS 2000. Por sua vez o SGB é represen-
tado no território nacional pela materialização das centimétricas coordenadas
dos inúmeros marcos geodésicos, homologados pelo órgão e distribuídos pelo
nosso território. Destes marcos é que deverão partir todas as coordenadas a
serem transportadas até os vértices das propriedades rurais, pelos métodos e
precisões aceitos pelo INCRA [...]
[...] Se você possui um imóvel rural com mais de 500 ha (ou com qualquer área
após outubro de 2005) e necessita registrar um novo ato em sua matrícula -
uma escritura de compra e venda ou de inventário, por exemplo - você recebe-
rá do Oficial do Registro de Imóveis uma exigência para realizar o georreferen-
ciamento do imóvel nos termos da Lei 10.267/01[...]
102 • capítulo 5
5.2 Aspectos registrais do condomínio e da
incorporação imobiliária
capítulo 5 • 103
Rios (2009, p. 253) esclarece que o incorporador “pode também alienar as
unidades já construídas”.
E quem é o incorporador?
Incorporador pode ser pessoa física ou jurídica, comerciante ou não que,
embora não efetuando a construção, compromisse ou efetive a venda de fra-
ções ideais de terreno objetivando a vinculação de tais frações a unidades au-
tônomas, em edificações a serem construídas ou em construção, sempre sob
regime condominial.
No sentido legal, também é considerado incorporador aquele que mera-
mente aceita propostas para a efetivação de tais transações, coordenando e le-
vando a termo a incorporação e responsabilizando-se, conforme o caso, pelo
preço e pelas condições de pagamento e de entrega do restante da obra, quando
esta já estiver concluída.
De acordo com os artigos 29 e 30 da Lei nº 4.591/1964, considera-se tam-
bém incorporadores aqueles proprietários e titulares de direitos que contratam
empreiteiras ou construtores para erguerem condomínios em edifício em seus
imóveis, com o intuito de iniciar as alienações dos mesmos antes do término
do prazo de conclusão das obras.
Para concluir, tendo em vista as disposições da Lei 4.591/64 (especialmente
seus artigos 29 a 32 e também o 68), torna-se irrelevante a forma da construção
efetuada (vertical, horizontal, autônoma, isolada, etc.), para que uma pessoa
física seja considerada incorporadora e se submeta ao regime de equiparação à
pessoa jurídica para todos os efeitos fiscais pertinentes (junto à Receita Federal
do Brasil), desde que existentes os demais pressupostos para a configuração
dessa forma de tributação dos resultados auferidos neste tipo de empreendi-
mento (o que acaba fugindo ao escopo do nosso estudo).
CONEXÃO
Vários sites e blogs especializados mantidos por imobiliárias, construtoras, incorporadoras
e profissionais a área, entre outros, contém informações valiosas acerca das incorporações
imobiliárias, algumas voltadas para temas mais específicos, outras para um entendimento
geral do instituto. Como exemplo deste último caso, recomendamos o acesso ao site www.
ogestorimobiliario.blogspot.com.br.
104 • capítulo 5
5.3 Dos condomínios
5.3.1 Breves conceitos introdutórios
Os mesmos artigos do atual Código Civil que deram uma nova roupagem
a alguns dos institutos relativos às incorporações imobiliárias no Brasil (ini-
cialmente previstos pela Lei nº 4.591/64), quais sejam, os artigos de número
1.331 a 1.358, também trouxeram parâmetros normativos mais modernos no
que tange à constituição, administração, duração e extinção dos condomínios
em edifícios.
Não obstante, não é necessário recorrer-se a nenhum tipo de código legal ou
conjunto de leis para se ter a ideia (ainda que intuitiva, no caso de todos aque-
les que jamais passaram por este tipo de experiência pessoal), de que viver em
condomínio requer muito bom senso, espírito de grupo e respeito ao próximo,
além de auto disciplina e respeito às normas e regras gerais de convivência.
Tudo isso sem falar na responsabilidade de pagar a quota condominial em
dia, para não onerar os demais condôminos (seus próprios vizinhos).
No entanto, o morador de condomínio também deve ser uma pessoa flexí-
vel, pois deve estar sempre preparado para enfrentar, debater e resolver ques-
tões bastante complexas e delicadas, tais como barulho, vazamentos, festas,
presença de animais em outras unidades condominiais, vagas de garagem, ina-
dimplência, rateios extraordinários, dentre outras.
Desta forma, até para se evitar desgastes e dissabores que podem culminar
em ações e brigas acirradas na Justiça, o comprador deve conhecer as regras
do local onde vai morar e ler atentamente tanto a minuta da Convenção de
Condomínio, quanto a minuta do seu Regulamento Interno, tudo isso antes de
adquirir uma unidade autônoma nesse tipo de empreendimento imobiliário.
Para efeito de esclarecimento, a leitura da Convenção de Condomínio e do
Regulamento Interno permitirá ao condômino conhecer todos os seus direi-
tos e deveres, as formas de usar e conservar as áreas e equipamentos comuns
(como piscinas, quadras, salão de festas, churrasqueira entre outros), a forma
de administração do condomínio, as penalidades aos infratores, as proibições,
os prazos para convocação de assembleias, o quorum necessário para delibe-
ração e votação dos assuntos, as limitações de horário para festas, reformas
e mudanças, as normas para manter animais domésticos, a forma de usar as
capítulo 5 • 105
garagens, dentre outros assuntos relevantes para sua própria vida, enquanto
proprietário de uma dessas unidades.
Você sabia que a palavra condomínio significa “propriedade comum” (ou propriedade
com mais de um titular)?. Na Europa, na Idade Média, jám existia um sistema de pro-
priedade muito semelhante ao condomínio atual, o qual teve sua origem de um modo,
para não dizer trágico, no mínimo curioso.
Existem relatos de um grande incêndio ocorrido numa vila europeia, que destruiu
muitas casas, deixando milhares de famílias sem residência.
Esses europeus, em sua maioria camponeses e pessoas destituídas de grandes posses,
foram então obrigados a construir suas novas casas em espaços menores e, diante da
necessidade de economizar tempo e dinheiro, suas famílias se agruparam em pequenas
comunidades, levantando edifícios divididos por pisos. Os resultados finais acabaram
sendo bem melhores do que o esperado e chegaram a ser comemorados pelos chama-
dos “arquitetos reais”, funcionários do rei a que tal vilarejo era subordinado!.
106 • capítulo 5
Após tomadas todas estas providências, deve acontecer a assembleia de ins-
talação oficial do condomínio, a qual elegerá o primeiro síndico (que poderá ou
não se tratar de um morador ou proprietário de unidade autônoma) e aprovará
a primeira previsão orçamentária.
Dos “arquitetos reais”, funcionários do rei a que tal vilarejo era subordinado!
A partir de então, o referido condomínio estará formal e legalmen-
te instalado.
Observação importante é que o regime de regulação do condomínio edilí-
cio, da forma como era disciplinado pela Lei 4.591/1964, dizia que o ato de ins-
tituição do condomínio, através da sua convenção, poderia ser celebrado tanto
por instrumento público como por contrato particular.
Nesse sentido, assim prescreve o art. 7º da Lei 4.591/1964:
Art. 7º. O condomínio por unidades autônomas instituir-se-á por ato entre vi-
vos ou por testamento, com inscrição obrigatória no registro de Imóvel.
O artigo 1.334, parágrafo 1º, do Código Civil veio a estipular, de modo ex-
presso, que “a convenção poderá ser feita por escritura pública ou por instru-
mento particular”, afastando, em definitivo, as dúvidas até então existentes.
Disso tudo pode-se concluir que, a partir da edição do Código Civil de 2002,
por exceção evidente, a convenção de condomínio e suas alterações podem ser
capítulo 5 • 107
celebradas tanto por instrumento público quanto por instrumento particular,
sendo ambas as formas admitidas como válidas perante a Justiça.
108 • capítulo 5
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Nas frações ideais de uso privativo dos condomínios chamados de “horizon-
tais”, geralmente denominadas de módulos ou unidades imobiliárias, o condô-
minos constroem as suas casas, segundo padrões e limites fixados na própria
convenção de condomínio, mas estas frações ideais não são denominadas de
lotes, uma vez que, se assim ocorresse, a Prefeitura, que deve aprovar a licença
da divisão das frações e da construção das casas, poderia considerar esse con-
domínio fechado como um loteamento, e a divisão de glebas em regime de lo-
teamento está sujeita a um regime mais rigoroso, através da Lei nº 6.766/1979
(a qual não será aqui transcrita por fugir do escopo do nosso estudo).
Ainda de acordo com Figueiredo (2010, p. 95),
capítulo 5 • 109
No entanto, como já ressaltado acima, o Código Civil atual não faz referên-
cia ao condomínio de casas, construídas em terreno de propriedade comum
a todas as unidades, geralmente com destinação residencial, mas sujeitas ao
mesmo regime jurídico do condomínio edilício, razão pela qual, este tipo de
empreendimento imobiliário (“condomínios de casas ou horizontais”) não se
enquadraria na definição legal de condomínio.
Sobre este tema, Rios (2009, p. 256) nos ensina que:
110 • capítulo 5
de condomínios, no sentido estrito da palavra, o que não significa que seus mo-
radores não possuam direitos e deveres inerentes àqueles que habitam qual-
quer tipo de moradia coletiva, bem como que não possam ser acionados, em
caso de infração ou desrespeito à normas internas ou à nossa legislação civil
(considerada de uma forma generalista), a responder por seus atos perante o
nosso poder judiciário (todo tipo de problema pode, em tese, ser submetido
ao arbítrio de um juiz de direito, e com o “condomínio de casas” isso não se-
ria diferente).
A convenção de condomínio, uma vez pronta, para ser alterada, ainda que
parcialmente, deverá ser submetida a uma votação composta por um quorum
capítulo 5 • 111
mínimo de 2/3 dos condôminos, exatamente para que se evite a prática de alte-
rações frequentes, ditadas por modismos, caprichos ou interesses pessoais de
um ou poucos condôminos.
Importante registrar que a convenção condominial não pode se sobrepor à
lei e nem com ela conflitar, posto que, neste caso, ela será completamente nula.
112 • capítulo 5
Você sabia que existem dois tipos de assembleias nos condomínios? São elas: a) As
assembleias ordinárias, chamadas de AGO, que devem se realizadas ao menos uma
vez por ano, para tratar de previsão orçamentária, do valor da taxa condominial, da
prestação e aprovação de contas e da eleição do síndico, subsíndico e membros do
conselho, além de tratar de temas de interesse geral de todos os condôminos. b) As
assembleias extraordinárias, chamadas de AGE, que podem ser realizadas sempre
que houver necessidade para tratar de assuntos de interesse do condomínio, não pre-
vistos na assembleia geral ordinária, tais como a realização de obras e benfeitorias e a
destituição do síndico, dentre outros assuntos.
capítulo 5 • 113
5.3.6 Problemas condominiais mais comuns
114 • capítulo 5
e, por este emotivo, quando as partes envolvidas não conseguem chegar a um
acordo, a decisão da Justiça dependerá da realização de uma perícia judicial.
d) Uso do salão de festas, churrasqueira e demais áreas de lazer comum:
mesmo sendo áreas de uso coletivo, as mesmas estão sujeitas a alguns procedi-
mentos, normalmente previstos no regulamento interno. Via de regra, o mora-
dor não pode utilizar tais áreas para fins políticos, religiosos ou para a prática
de jogos de azar e deverá responder por todo tipo de depredação da área comum
que ocorra enquanto a utilização de tais áreas encontra-se sob sua responsabi-
lidade (quando estiver dando uma festa apenas para seus amigos e parentes,
por exemplo).
e) Exercício de atividade comercial nos apartamentos: atualmente, traba-
lhar em casa significa viver com extrema qualidade, sendo que a cada dia mais
e mais pessoas optam pelo chamado home office, razão pela qual muitos ex-
cessos e abusos cometidos por condôminos que trabalham em casa acabam
por desvirtuar a natureza residencial dos condomínios, perturbar os vizinhos
e comprometer a segurança do empreendimento. Trabalhar em casa não pode
ser sinônimo de possuir uma verdadeira empresa funcionando dentro do apar-
tamento e, assim, dentro do próprio condomínio e, para coibir estes abusos,
é que existe a convenção do condomínio, com a possibilidade de se imputar
multas, sanções e outras penalidades ao condômino infrator.
capítulo 5 • 115
Sobre este tema, Figueiredo (2010, p. 88), considera que:
O atual Código Civil introduziu diversas inovações nas regras que regulam o pa-
gamento e a cobrança das taxas condominiais, sendo certo que, em princípio,
essa nova disciplina criava maiores dificuldades para a cobrança dos condômi-
nos inadimplentes.
No entanto, uma análise mais aprofundada das normas do novo Código
Civil permite concluir que o condomínio mantém as prerrogativas necessá-
rias à defesa dos interesses da maioria dos condôminos que cumprem com
suas obrigações.
Mas como isso é possível?
Se, por um lado, o novo Código reduziu a multa por atraso de 20% para ape-
nas 2% sobre o valor do débito (fato amplamente noticiado pela imprensa à
época), por outro lado, ele trouxe uma inovação em seu artigo 1.337, a qual per-
mite que o condomínio, mediante aprovação de três quartos dos condôminos,
imponha o pagamento de uma multa adicional de até cinco vezes o valor da
taxa de condomínio, contra o proprietário ou ocupante do imóvel que atrasar
reiteradamente o pagamento da taxa devida.
116 • capítulo 5
Assim, o condômino reincidentemente inadimplente poderá ser obrigado a
pagar, em favor do condomínio, multa pela sua inadimplência.
Esse mesmo condômino inadimplente, além dessa multa, poderá também
ser obrigado a pagar as perdas e danos que eventualmente o condomínio venha
a suportar em face do descumprimento reiterado de suas obrigações, o que ser-
ve para coibir que se reincida na prática desta conduta.
Não obstante, se o condomínio tiver de pagar encargos e juros por haver
atrasado o pagamento das tarifas de energia elétrica ou saneamento, em razão
da inadimplência de condôminos, estes serão responsáveis pelo pagamento
dos encargos e adicionais a que deram causa, tudo em favor do próprio condo-
mínio (e, por consequência, dos condôminos responsáveis que não costumam
atrasar com o pagamento de suas obrigações).
CONEXÃO
Para saber um pouco mais sobre esta figura tão comum no dia a dia de quem mora em prédios
ou edifícios – o síndico – podese acessar o site www.sindiconet. com.br, que possui uma série
de informações interessantes e curiosas sobre este profissional.
capítulo 5 • 117
Cabe ao síndico agir com toda probidade e diligência na administração con-
dominial, sendo certo que, no exercício do seu mandato, ele deverá cumprir as
obrigações gerais da sua função perante o condomínio, que são aquelas relacio-
nadas no artigo 1.348 do Código Civil.
Nesta ótica, Figueiredo (2010, p. 100) nos lembra que:
ATIVIDADES
01. O que é o procedimento administrativo de suscitação de dúvida?
REFLEXÃO
Não obstante a todos os entraves que a Lei instituiu para que o registro público se torne imu-
tável sob o ponto de vista administrativo, não se pode criticar a percepção que o legislador
teve sobre o tema.
118 • capítulo 5
Na verdade, essa imutabilidade é relativa e comporta algumas mínimas exceções, que re-
presentam maior flexibilização e sensibilização da própria Lei em decorrência dos problemas
que envolvem o nosso cotidiano.
Interessante notar é que, essa flexibilização não foi capaz de colocar em risco a seguran-
ça jurídica e a fé pública – instrumentos essenciais para a garantia dos direitos fundamentais
dos cidadãos em razão dos registros públicos que cuidam entre outras coisas dos direitos
relacionados a nossa própria existência e também da propriedade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CENEVIVA, Walter. Lei dos Notários e dos Registradores Comentada (Lei n. 8.935/94), Ed. Saraiva, 2.
ed., 1999, pg 179)
DIAS, Regis Wellausen. Georreferenciamento de Imóveis Rurais em 15 Perguntas e Respostas. http://
www.notariado.org.br/index.php?pG=X19leGliZV9ub3RpY2lhcw==&in=MzQ0Mg==&filtro=9&Data=
FIGUEIREDO, Ivanildo. Direito Imobiliário. São Paulo: Atlas, 2010.
MILAGRES, Marcelo de Oliveira. Direito à Moradia. São Paulo: Atlas, 2011.
RACHKORSKY, Márcio. Tudo o que Você Precisa Saber Sobre Condomínios. São Paulo: Saraiva,
2009.
RIOS, Arthur. Manual de Direito Imobiliário. 3 ed. Curitiba: Juruá, 2009.
GABARITO
Capítulo 1
01. A fé pública é atribuída por lei e "afirma a certeza e a verdade dos assentamentos que o
notário e oficial de registro pratiquem e das certidões que expeçam nessa condição, com as
qualidades referidas no art. 1°" da Lei n. 8.935/94 (publicidade, autenticidade, segurança e
eficácia dos atos jurídicos)
02. Conforme se pode observar, quando falamos na função notarial estes são direcionados
a assegurar que foram praticados segundo a vontade das partes envolvidas, preenchendo
os requisitos jurídicos essenciais para a constituição do ato jurídico. Já função registral tem
por finalidade entre outras razões, declarar ou constituir um direito real sobre determinadas
coisas, ou seja, bens imóveis.
capítulo 5 • 119
Capítulo 2
01. Com efeito, podemos resumir que a principal diferença entre a separação e o divórcio é
que, com apenas este último o cônjuge poderá contrair novas núpcias.
02. Quanto ao casamento é necessário que os interessados antes de convolarem núpcias
sejam submetidos a um processo de habilitação que também é regulamentado pela Lei
6015/73.
Capítulo 3
01. É um dos atributos da personalidade do indivíduo e se presta para imprimir a sua indivi-
dualização perante a sociedade.
02. As pessoas jurídicas para existirem regularmente devem levar a registro os seus contra-
tos e/ou demais atos constitutivos junto ao registro civil de pessoas jurídicas.
Capítulo 4
01. Para Chaves (2010) embora a natureza do serviço prestado seja pública, mas o seu
exercício é privado.
02. A matrícula é o ato que imprime individualidade ao imóvel, sua situação geográfica, e
nos casos de imóveis rurais, através de coordenadas georeferenciadas para sua perfeita
descrição. Nela serão escritos os atos de registro e averbação, espelhando todo o estado do
imóvel. Cada matrícula terá um número de ordem para pronta identificação. A matrícula tem
por finalidade individualizar o imóvel.
Capítulo 5
01. Dúvida define o procedimento administrativo, pelo qual o serventuário submete à deci-
são judicial, a pedido do interessado, a exigência apresentada por aquele e não satisfeita por
este (Ceneviva, 2009).
02. A convenção do condomínio e o seu regulamento interno são os documentos de identi-
ficação e comprobatórios do nascimento e da existência do condomínio.
120 • capítulo 5