ABP em Geociências PDF
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Gabriela Finco-Maidame
Universidade Estadual de Campinas
[email protected]
Resumo
As metodologias de aprendizagem ativas, nas quais os estudantes protagonizam o próprio
processo de construção do conhecimento, são fundamentais ao desenvolvimento intelectual
autônomo. Dentre as tendências, há a Aprendizagem Baseada em Problemas – ABP,
consagrada no Ensino Superior pelos resultados positivos, mas pouco desenvolvida no Ensino
Básico. A presente pesquisa, em andamento, investiga adaptações da metodologia da ABP,
através de aulas desenvolvidas e apoiadas em seus princípios, via conteúdos com enfoque nas
Ciências da Terra e da Vida, em uma turma do nono ano do Ensino Fundamental, de uma
escola pública. Analisa e discute, neste viés, habilidades relacionadas às atividades em
equipes, baseadas nos dados coletados de avaliações realizadas pelos alunos. Os resultados
preliminares deste tema específico apontam sinais de êxito no uso da ABP, e seus estudos no
Ensino Básico fornecem subsídios para motivar os docentes a novas experiências
metodologicamente ativas.
Abstract
The active learning methodologies, in which the students are protagonists of their own
knowledge construction process, are fundamental for their intellectual autonomy. Among the
main trends, there is the Problem Based Learning - PBL, already established in the Higher
Education because their positive results, however poorly developed in Basic Education. The
present research, in progress, investigates adjustments of the PBL methodology, through
classes developed and supported on its principles, by focusing Earth Sciences and Life
contents, in one ninth year class of the Elementary School, of a public school. The thematic
approach analyzes and discusses, on this bias, skills related to the work-group activities,
based on data collected from evaluations performed by the students. The preliminary results
on the specific theme indicate good results for the PBL application, and their studies in an
Quadro 2: Atividades de aprendizagem que estimulam a autonomia do aluno, baseado em Kirk, Bélisle e
McAlpine (2003, apud Rué 2009)
Na opinião dos estudantes, a atividade que mais desenvolveu a aprendizagem autônoma foi a
“interação e socialização do conhecimento e das avaliações internas e externas de suas
criações, apresentações, além das trocas com os colegas”.
- Apresentação de um vídeo (motivacional), com imagens e trilha sonora de impacto, sem legendas, para
introdução do conteúdo curricular a ser trabalhado.
- Brainstorm e eleição de seis temas norteadores, ou seja, Origem do Universo, Formação da Terra,
Atmosfera Primitiva e Atual, Origem da Vida, Explosão da Vida e, Origem do Homem.
- Formação (organizada pelos próprios alunos) de seis grupos, atribuição das funções dos integrantes (líder,
orador, redator e demais membros), escolha dos respectivos temas (anteriormente citados), elaboração da
questão/problema, e levantamento da(s) hipótese(s).
- Investigação em diversas fontes digitais (sites educacionais, periódicos eletrônicos, de ONGs, universidades)
e impressas (livros didáticos, de educação básica e superior), para a busca de explicações e respostas.
- Elaboração de fichas parciais de registros, de um relatório final, e socialização com o coletivo da sala
(apresentação oral dos grupos).
- Avaliações do desenvolvimento da metodologia (autoavaliação realizada por cada aluno e líderes das
equipes, entre outras).
Quadro 3: Síntese das atividades desenvolvidas pelos grupos do Nono Ano, durante quase um bimestre
Análises e discussões
As análises e discussões desse recorte da pesquisa se apoiaram nos dados obtidos da
autoavaliação dos estudantes e da avaliação dos líderes, e basearam-se nas seguintes
habilidades relacionadas ao princípio das atividades em grupos da ABP:
• Agilidade e organização para o agrupamento nas equipes;
• Realização das atividades dentro do tempo disponível;
• Atenção às orientações do professor;
• Tom de voz moderado e respeito à opinião dos colegas;
• Anotações próprias/particulares, e;
• Cumprimento do seu papel/função na equipe.
A título de exemplo, a tabela 1 apresenta as respostas dos alunos de somente uma das equipes
(Grupo 3) aos testes da autoavaliação, e da avaliação realizada pelo líder, quanto ao
desempenho da primeira das habilidades anteriormente listadas, ou seja, a “agilidade em se
agrupar organizadamente”.
Autoavaliação
Avaliação do desempenho
ALUNO (avaliação realizada
realizada pelo líder do grupo
por cada aluno)
G3L (grupo3/líder) BOM BOM
G3R (grupo3/redator) BOM BOM
G3O (grupo3/orador) BOM RAZOÁVEL
G3M1 (grupo3/membro1) BOM RAZOÁVEL
G3M2 (grupo3/membro2) RAZOÁVEL BOM
G3M3 (grupo3/membro3) RAZOÁVEL ALUNO AUSENTE
Tabela 1: Desempenho do aluno quanto à habilidade “agilidade e organização para se agrupar nas equipes”
(opções das alternativas dos testes na avaliação: excelente, bom, razoável, e insatisfatório).
EXCELENTE 3
BOM 9
RAZOÁVEL 18
INSATISFATÓRIO 0
Tabela 2: Quantidade de respostas para cada opção de desempenho da habilidade “agilidade e organização para
se agrupar”, referente às autoavaliações realizadas pelos 30 alunos da turma
Destacamos de uma segunda parte da autoavaliação, que continha questões discursivas sobre
habilidades colaborativas sociais, as respostas a seguir:
- Poderia ter participado mais... (G6M1)
- Eu me envolvi pouco... (G3M2)
Para a referida habilidade, no Grupo 3, houve uma proximidade das respostas da
autoavaliação à da avaliação realizada pelo líder dessa equipe. A maioria considerou como
“BOM” o desempenho dessa habilidade, e uma menor parcela classificou o rendimento como
“RAZOÁVEL” (tabela 1). E nas respostas das autoavaliações produzidas pelos 30 alunos da
turma (tabela 2), 60% consideraram os respectivos desempenhos como “RAZOÁVEL”.
Consideramos as indicações da tabela 1, referente à “agilidade e organização para se agrupar”,
como um primeiro sinal de êxito em habilidades favoráveis à utilização da metodologia da
ABP, admitindo-se o seu princípio dos trabalhos em equipes. Porém na tabela 2, que se refere
à autoavaliação dos 30 alunos da turma, mais da metade dos estudantes se avaliaram com o
desempenho “RAZOÁVEL”.
Características esperadas dos alunos, entendidas por Rodrigues e Figueiredo (1996) como pré-
requisitos para o sucesso das atividades da metodologia da ABP, foram pelos alunos,
avaliadas positivamente, mas com possibilidades de melhorias. E pistas de “futura melhora
dessa postura” ou “percepção de não total empenho” foram sinalizadas, como vimos nas
respostas discursivas destacadas.
Considerações finais
Trouxemos as análises e discussões apresentadas como forma de demonstrar alguns
direcionamentos dos trabalhos dessa pesquisa em andamento. Os demais dados das avaliações
seguirão o mesmo encaminhamento, juntamente com as anotações do caderno de campo e
demais informações produzidas, para a obtenção de mais subsídios, visando aprofundar as
discussões e considerações.
Com os resultados das demais respostas dos alunos, para as habilidades, surgirão dados para
uma análise do relacionamento entre os membros dos grupos e para uma discussão sobre a
questão da colaboração e habilidade social do estudante, bem como sobre formas de promover
o seu papel ativo (Kyllonen, 2015), além dos indícios de autonomia intelectual.
Como passos futuros da presente pesquisa, serão igualmente analisados e discutidos
(considerando os métodos da ABP) os dados referentes aos saberes geocientíficos
desenvolvidos e extraídos dos relatórios finais e da coletivização apresentada pelas equipes.
Acreditamos que pesquisas sobre aplicação da metodologia ABP no Ensino Fundamental
possam fornecer subsídios valiosos para professores em exercício da Educação Básica que
optam por desenvolver esses métodos na sala de aula. Nesta lógica, é importante indicar
pontos favoráveis e/ou limitantes do desenvolvimento da metodologia da ABP, para este nível
educacional brasileiro.
Agradecimentos e apoios
À Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior, pela bolsa de doutoramento.
Referências
ARAÚJO, U. F. & SASTRE, G. (Orgs.). Aprendizagem baseada em problemas no ensino
superior. 1. ed. São Paulo: Summus, 2009. v. 1. 236 p.
BRASIL, Base Nacional Comum Curricular – Educação é a Base – Versão Final.
Ministério da Educação - MEC, Conselho Nacional das Secretarias de Educação – consed e
União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação – UNDIME. Brasília: 2017. 396 p.
Disponível em http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_publicacao.pdf. Acesso
em 28 abr. 2017.
FRODEMAN, R. A Epistemologia das Geociências. In: MARQUES, L. & PRAIA, J. (Edt.).
Geociências nos Currículos dos Ensinos Básico e Secundário. Departamento de Didáctica
e Tecnologia Educativa. Universidade de Aveiro; 2001; p. 41-57.
KALI, Y.; ORION, N. & EYLON, B. S. Effect of Knowledge Integration Activities on
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