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XI Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências – XI ENPEC

Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC – 3 a 6 de julho de 2017

Aprendizagem Baseada em Problemas no Ensino


Fundamental II: reflexões sob uma perspectiva
geocientífica

Problem-Based Learning in Elementary Education II:


reflections from a geoscientific perspective

Gabriela Finco-Maidame
Universidade Estadual de Campinas
[email protected]

Maria José Maluf de Mesquita


Universidade Estadual de Campinas
[email protected]

Resumo
As metodologias de aprendizagem ativas, nas quais os estudantes protagonizam o próprio
processo de construção do conhecimento, são fundamentais ao desenvolvimento intelectual
autônomo. Dentre as tendências, há a Aprendizagem Baseada em Problemas – ABP,
consagrada no Ensino Superior pelos resultados positivos, mas pouco desenvolvida no Ensino
Básico. A presente pesquisa, em andamento, investiga adaptações da metodologia da ABP,
através de aulas desenvolvidas e apoiadas em seus princípios, via conteúdos com enfoque nas
Ciências da Terra e da Vida, em uma turma do nono ano do Ensino Fundamental, de uma
escola pública. Analisa e discute, neste viés, habilidades relacionadas às atividades em
equipes, baseadas nos dados coletados de avaliações realizadas pelos alunos. Os resultados
preliminares deste tema específico apontam sinais de êxito no uso da ABP, e seus estudos no
Ensino Básico fornecem subsídios para motivar os docentes a novas experiências
metodologicamente ativas.

Palavras chave: aprendizagem ativa, aprendizagem baseada em problemas,


autonomia intelectual, ensino fundamental II, geociências, metodologia investigativa

Abstract
The active learning methodologies, in which the students are protagonists of their own
knowledge construction process, are fundamental for their intellectual autonomy. Among the
main trends, there is the Problem Based Learning - PBL, already established in the Higher
Education because their positive results, however poorly developed in Basic Education. The
present research, in progress, investigates adjustments of the PBL methodology, through
classes developed and supported on its principles, by focusing Earth Sciences and Life
contents, in one ninth year class of the Elementary School, of a public school. The thematic
approach analyzes and discusses, on this bias, skills related to the work-group activities,
based on data collected from evaluations performed by the students. The preliminary results
on the specific theme indicate good results for the PBL application, and their studies in an

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Elementary School class provides subsidies to motivate teachers to new experiences


methodologically active.

Key words: active learning, problem-based learning, intellectual autonomy,


elementary education II, geosciences, investigative methodology

A aprendizagem passiva e as metodologias ativas


Nas escolas tradicionais, nas mais conceituadas e em diversos níveis educacionais, o processo
do ensino/aprendizagem tido como passivo ainda impera. Neste formato, o professor
desempenha o papel de transmissor do conhecimento, em geral com a apresentação de estudos
teoricamente finalizados, e por outro lado, os alunos incorporam as informações e conteúdos
trazidos, numa condição inativa, não instigante à iniciativa e ação do pensamento.
Ribeiro (2010), sobre a aprendizagem passiva, relata que
há um consenso de que essa metodologia (tradicional) não mais dá conta de
promover a aprendizagem significativa de conhecimentos conceituais nem
consegue encorajar o desenvolvimento de outros tipos de conhecimentos,
procedimentais e atitudinais, valorizados na vida profissional e social.
(RIBEIRO, 2010, p. 9)
Não discordamos do valor desses conhecimentos desenvolvidos e disponíveis nos mais
variados formatos e fontes, mas questionamos que a passividade dos estudantes e dos
métodos de ensino não mais contribui e estimula a formação de cidadãos com condições reais
de participação e responsabilidades na sociedade. Leão (1999), em seus estudos sobre o
ensino tradicional e o construtivista, afirma que,
Um aspecto importante da escola tradicional é que ela se preocupa em
transmitir os conhecimentos acumulados pela humanidade. Possibilitar que
todo esse acervo cultural seja objeto de aprendizagem é um dos méritos da
escola tradicional. É óbvio que os conteúdos escolares têm de ser
valorizados e efetivamente ensinados ao aluno. O que se discute é a forma
mais adequada de realizar este contato dos alunos com os conteúdos
curriculares. (LEÃO, 1999, p. 203)
As afirmações de Leão (1999) estimulam à reflexão do que é aprendizagem, o que nos leva a
pensar no conceito e no processo do desenvolvimento do Pensamento Sistêmico - PS.
Ossimitz (2000) define quatro dimensões essenciais para o desenvolvimento desse modo de
pensamento: i) pensar o modelo (ou fenômeno), no sentido de visualizá-lo; ii) feedback ou
pensamento loop, que é um tipo de raciocínio não-linear, que considera as partes de um
modelo, e suas inter-relações num sistema cíclico; iii) pensar dinâmico, que envolve uma
visão retrospectiva e consiste em compreender eventos passados para entender os futuros; e
iv) a capacidade de reconstruir o sistema a partir dos fragmentos isolados.
Segundo Kali, Orion e Eylon (2003), o PS tem sido amplamente estudado nas Ciências
Sociais, Medicina, Psicologia, Matemática, no entanto, pouco se sabe sobre ele no contexto
da Educação. Esses autores desenvolveram uma pesquisa com estudantes do nível escolar
equivalente ao Fundamental II, e concluíram que os alunos dessa faixa etária fazem conexões
entre as partes e o todo e mostram graus diferentes de evolução, nesta forma de pensar.
A forma como se desenvolve o PS nos parece interessante para a aprendizagem de conteúdos
referentes aos fenômenos naturais, como a dinâmica do Sistema Terra, pois permite que, a
partir de noções da interação das esferas do planeta, possam surgir questões, levantamento de

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hipóteses, e o estudo das partes culminem numa reorganização da compreensão do todo.


A Secretária de Educação da Finlândia, Marjo Kyllonen, ao proferir uma palestra sobre
propostas de diretrizes para a educação, aponta competências para este século, e apresenta as
principais mudanças para o processo de ensino do currículo pedagógico do seu país. Segundo
Kyllonen (2015), a questão mais importante a se focar é a colaboração e a habilidade social,
descrita por ela como “uma capacidade de trabalhar, resolver problemas e construir
conhecimentos em conjunto”. Aponta a importância de se promover o papel ativo do aluno,
foco da aprendizagem, e que, nessa mudança de eixo, o professor passa a ser colaborador da
construção do conhecimento.
A Base Nacional Comum Curricular – BNCC (Brasil, 2017), orienta o desenvolvimento de
forma semelhante para a área de Ciências da Natureza nos anos finais do EF, ao apontar que
nesta faixa etária percebe-se uma ampliação progressiva da capacidade de abstração e da
autonomia de ação e de pensamento. Nesse contexto,
é importante motivá-los com desafios cada vez mais abrangentes, o que
permite que os questionamentos apresentados a eles, assim como os que eles
próprios formulam, sejam mais complexos e contextualizados. (BRASIL,
2017, p. 295)
O documento acima citado apresenta como uma das competências específicas de Ciências
para o Ensino Fundamental, a de
agir pessoal e coletivamente com respeito, autonomia, responsabilidade,
flexibilidade, resiliência e determinação, recorrendo aos conhecimentos das
Ciências da Natureza para tomar decisões. (BRASIL, 2017, p. 276)
Com base nesses estudos, entendemos que as metodologias alinhadas a estas premissas são as
chamadas aprendizagens ativas. Nelas, a atuação do aluno no processo de construção do
conhecimento é participativa, e o foco se volta para o seu aprender.
Queiroz e Cabral (2016), organizadores de uma obra sobre ensino/aprendizagem na educação
Básica, afirmam que,
a construção de práticas pedagógicas que priorizam o papel do aluno durante
o processo de ensino e aprendizagem tem sido amplamente recomendada por
educadores em âmbito nacional e internacional (VARELA & MARTINS,
2013; HERREID & SCHILLER, 2013). Por outro lado, é sabido que, muitas
vezes, quando estas são colocadas em funcionamento, encontram barreiras
difíceis de transpor no contexto de salas de aula tomadas por práticas
antigas, que visam unicamente à transmissão de informações (BRASIL,
1998). (QUEIROZ & CABRAL, 2016, p. 11)
Dentre as metodologias ativas, escolhemos a Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP),
consagrada no Ensino Superior, contudo carente de investigação no Ensino Básico.

A metodologia da Aprendizagem Baseada em Problemas


Na ABP a aprendizagem do estudante é o foco principal e estes devem estar comprometidos
com o processo de construção do conhecimento. O processo ocorre pela interação estudante-
professor, que atua como mediador, e nas interações colaborativas em grupo.
Sobre a ABP, Araújo e Sastre (2009) entendem-na como um conjunto de orientações
pedagógicas que,
deslocam o aluno para o núcleo do processo educativo, dando a ele
autonomia e responsabilidade pela própria aprendizagem, por meio da
identificação e análise de problemas, da capacidade de elaborar questões, e

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procurar informações para ampliá-las e respondê-las. (ARAÚJO &


SASTRE, 2009, p. 9)
Ribeiro (2010) afirma que:
o PBL é uma metodologia de ensino-aprendizagem colaborativa,
construtivista e contextualizada, na qual situações-problema são utilizadas
para iniciar, direcionar e motivar a aprendizagem de conceitos, teorias e o
desenvolvimento de habilidades e atitudes no contexto de sala de aula, isto é,
sem a necessidade de conceber disciplinas especificamente para este fim.
(RIBEIRO, 2010, p. 10)
E complementa ao afirmar que mesmo que esta metodologia tenha suas raízes no ensino de
medicina, os seus princípios mostram-se suficientemente robustos para possíveis usos em
outras áreas e níveis, sem que as adaptações a desfigure.
Rodrigues e Figueiredo (1996) consideram que,
o sucesso da utilização da metodologia PBL depende de uma série de pré-
requisitos: os estudantes devem ter características de personalidade
adequadas (independência, determinação, senso de responsabilidade,
capacidade de comunicação, desinibição, capacidade de organização); o
corpo docente deve ser treinado e familiarizado com o método; e na
organização da estrutura curricular, deve ser previsto tempo adequado para o
estudo auto dirigido; a instituição deve dispor da infra-estrutura necessária
para o auto-aprendizado do aluno. (RODRIGUES & FIGUEIREDO, 1996,
p. 397)
No âmbito universitário, há cerca de quarenta anos, a ABP foi implantada e aplicada em três
instituições de ensino superior; na Universidade de Aalborg (Dinamarca), de McMaster
(Canadá) e de Maastricht (Holanda). Nesta última, as dinâmicas de desenvolvimento dos
programas seguiam os passos dos “Sete Saltos” (Schmidt, 1983), como vemos no quadro 1:

1. Esclarecer frases e conceitos confusos na formulação do problema.


2. Definir o problema: descrever exatamente que fenômenos devem ser explicados e entendidos.
3. Chuva de ideias (Brainstorming): usar conhecimentos prévios e senso comum próprios. Tentar formular o
máximo possível de explicações.
4. Detalhar as explicações propostas: tentar construir uma “teoria” pessoal, coerente e detalhada dos
processos subjacentes aos fenômenos.
5. Propor temas para a aprendizagem autodirigida.
6. Procurar preencher as lacunas do próprio conhecimento por meio do estudo individual.
7. Compartilhar as próprias conclusões com o grupo e procurar integrar os conhecimentos adquiridos em uma
explicação adequada dos fenômenos. Comprovar se sabe o suficiente. Avaliar o processo de aquisição de
conhecimentos.

Quadro 1: Os “Sete Saltos” (Schmidt, 1983)

Recentemente, na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo


(EACH, USP-Leste), a ABP atuou como pilar da base curricular de todos os cursos e sua
eficácia foi comprovada, pois “ao mesmo tempo em que apresentaram resultados positivos,
conseguiram manter a sua excelência acadêmica” (ARAÚJO & SASTRE, 2009). Esses
autores relatam que adotando os princípios comuns à maioria das propostas de ABP, pode-se
trabalhar em grupos ou equipes do seguinte modo:
• Identificando problemas na realidade científica e cotidiana.

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• Discutindo um problema particular.


• Utilizando seus próprios conhecimentos e experiências, com o auxílio de
professores e outros meios, na busca de respostas para o problema abordado.
• Levantando uma série de hipóteses que podem explicar e resolver o problema.
• Procurando investigar as hipóteses apontadas e apontar possíveis respostas
e/ou soluções.
• Preparando um relatório acadêmico contendo reflexões teóricas e análises
sobre o problema estudado e socializando os resultados do projeto
desenvolvido com o coletivo da classe.
Ao se trabalhar em grupos, o formato da avaliação é algo a se pensar, e nos moldes acima
apresentados, há uma preocupação tanto com os conteúdos estudados como com as
competências desenvolvidas. Deste modo, os grupos produzem relatórios parciais e finais,
que são socializados no coletivo da sala (onde são avaliados pelos colegas e professores),
além da autoavaliação. No caso desta última, os quesitos considerados pelos seus
idealizadores (os próprios estudantes), consistem na própria participação, respeito ao grupo,
responsabilidade e desempenho no desenvolvimento das suas funções.
Desta forma, a ABP e suas variantes, constituem-se em um conjunto de métodos que
estimulam o aluno a traçar a construção do conhecimento via seu próprio raciocínio e
habilidades de organização, no trabalho em grupo, rumo ao aprendizado e postura mais
autônoma.
Rué (2012) afirma que não é fácil alcançar essa forma autônoma de aprender, num cenário
onde predomina um ensino de transmissão de informações. Para que o aluno descubra seus
pontos fortes,
há de se assumir uma visão dos discentes e suas possibilidades, ao contrário
do que se observa hoje, de maneira generalizada. Trata-se de considerar o
ensino um entorno específico criado pelos professores para que os alunos
pensem e se percebam no processo de apropriação do conhecimento e em
seu próprio desenvolvimento como aprendizes. Daí a crescente influência de
estratégias metodológicas baseadas em projetos, em casos ou em problemas.
(RUÉ, 2012, p.159)
O autor supracitado admite que a postura autônoma é uma competência passível de
desenvolvimento, e destaca um estudo na Universidade McGuill, Canadá (Kirk, Bélisle e
McAlpine, 2003), no qual estudantes foram entrevistados em relação a algumas práticas de
aprendizagens nas quais, segundo eles, ocorre o aperfeiçoamento da autonomia. Para esses
estudantes, é importante a esse processo de aprendizagem:

• Escrever, fazer trabalhos e resumos;


• Apresentações orais e escritas para os colegas;
• Trabalho colaborativo em equipe;
• Pesquisar, compreender, investigar algum aspecto de um tema;
• Desenvolver e comprometer-se com projetos, e;
• Ler textos, artigos direta e indiretamente relacionados.

Quadro 2: Atividades de aprendizagem que estimulam a autonomia do aluno, baseado em Kirk, Bélisle e
McAlpine (2003, apud Rué 2009)

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Na opinião dos estudantes, a atividade que mais desenvolveu a aprendizagem autônoma foi a
“interação e socialização do conhecimento e das avaliações internas e externas de suas
criações, apresentações, além das trocas com os colegas”.

O ensino das Geociências e as metodologias ativas


Nossa pesquisa sobre a metodologia da ABP se desenvolveu sob conteúdos das Ciências da
Terra, no Nono Ano do Ensino Fundamental. Nesta perspectiva, discutiremos a definição de
Geociências, facilitando assim a sua compreensão.
O entendimento do Sistema Terra pode se dar pela interação de suas várias esferas, no espaço
e no tempo, o que propicia uma compreensão dos diferentes processos e ciclos de maneira
tanto particular como global.
As Geociências apresentam características interpretativas (que observa o todo, a parte, e
novamente o todo), históricas (por considerar os fatos no tempo), e interdisciplinares (ao
utilizar-se dos saberes diversos, para o seu entendimento). Neste sentido, acreditamos ser uma
boa área do conhecimento para desenvolver a ABP.
Segundo Frodeman (2001), as Geociências trazem um olhar holístico e englobam não
somente as dinâmicas das esferas sólidas do planeta, como também as interações envolvendo
as fluidas (a hidrosfera, a atmosfera, a biosfera, e a noosfera). Para o autor, trata-se de uma
ciência do tipo sintética, no sentido de que une aparatos, recursos, e uma série de técnicas
lógicas na solução dos seus problemas.
A natureza de raciocínio das Ciências da Terra permite o desenvolvimento de reflexões
conexas e a aproximação às metodologias modernas, pelo fato de trabalhar com a observação
de pistas, levantamento de hipóteses e busca do entendimento de fenômenos no tempo e
espaço.
Erik Klemetti (2016), professor de Geociências na Universidade de Denison (Ohio), relata a
deficiência de conhecimento dessa área nos alunos que concluem o ensino secundário e
chegam à universidade, principalmente ao se considerar a atuação consciente desses
indivíduos em uma sociedade com tantos problemas sociais e ambientais.
No cenário educacional brasileiro, a compreensão dos processos terrestres é de ampla
relevância social, e o entendimento das relações humanas com o Sistema Terra precisa fazer
parte, cada vez mais intensamente, do currículo escolar. A LDB da Educação Nacional
(Brasil, 1996) estabelece como uma de suas metas a educação para o exercício da cidadania, e
na BNCC (Brasil, 2017), objetos de conhecimentos biogeocientíficos aparecem fortemente
representados nas Unidades Temáticas “Vida e evolução” e “Terra e Universo”.
A complexidade das dinâmicas do Sistema Terra nos induz a considerar a totalidade dos
processos, onde este “pensar o todo” é passível de aprendizado. E utilizar os princípios da
ABP e do PS nos fornecem ferramentas para trabalhar esses conteúdos.
Com o direcionamento na dinâmica da ABP via temas geocientíficos, nos atemos a um viés
específico da pesquisa, a seguir apresentado, e analisamos algumas categorias características
de desenvolvimento de trabalhos autônomos em equipes.

Atividade no Ensino Fundamental II: do planejamento ao


desenvolvimento das aulas
A pesquisa em andamento, da qual recortamos a análise e discussão a seguir, tem por objetivo
a investigação e reflexão do desenvolvimento e funcionalidade de uma adaptação da

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metodologia da ABP, elaborada em conteúdos geocientíficos, em uma turma de 9° ano do


Ensino Fundamental, numa escola pública de Campinas. A questão central consiste no
entendimento de possibilidades da evolução desse método de aprendizagem, em aulas sobre
os processos e fenômenos da “Origem e Evolução do Universo, Terra e Vida”.
A escolha por conteúdos curriculares geocientíficos justifica-se por permitirem aproximações
às metodologias ativas, ao processo de desenvolvimento do PS, e serem pertinentes a esse
nível escolar.
Construímos um plano de aprendizagem sobre esse assunto, metodologicamente apoiado em
alguns princípios da ABP, e o desenvolvimento se deu durante 14 horas/aula, na disciplina de
Ciências, com os alunos organizados em seis grupos compostos pelo líder, orador, redator e
demais membros.
As atividades se basearam no modelo encontrado em Araújo & Sastre (2009), e apresentam-se
resumidamente descritas no quadro 3.

- Apresentação de um vídeo (motivacional), com imagens e trilha sonora de impacto, sem legendas, para
introdução do conteúdo curricular a ser trabalhado.
- Brainstorm e eleição de seis temas norteadores, ou seja, Origem do Universo, Formação da Terra,
Atmosfera Primitiva e Atual, Origem da Vida, Explosão da Vida e, Origem do Homem.
- Formação (organizada pelos próprios alunos) de seis grupos, atribuição das funções dos integrantes (líder,
orador, redator e demais membros), escolha dos respectivos temas (anteriormente citados), elaboração da
questão/problema, e levantamento da(s) hipótese(s).
- Investigação em diversas fontes digitais (sites educacionais, periódicos eletrônicos, de ONGs, universidades)
e impressas (livros didáticos, de educação básica e superior), para a busca de explicações e respostas.
- Elaboração de fichas parciais de registros, de um relatório final, e socialização com o coletivo da sala
(apresentação oral dos grupos).
- Avaliações do desenvolvimento da metodologia (autoavaliação realizada por cada aluno e líderes das
equipes, entre outras).

Quadro 3: Síntese das atividades desenvolvidas pelos grupos do Nono Ano, durante quase um bimestre

Os instrumentos de coleta dos dados consistiram em um caderno de anotações, registros


audiovisuais, uma entrevista semiaberta realizada com o professor titular da disciplina e
fichas parciais preenchidas pelos alunos, referentes às atividades e à autoavaliação.
Selecionamos, para este trabalho, os dados produzidos na autoavaliação dos alunos e nas
avaliações dos líderes dos grupos, relacionados ao desenvolvimento de habilidades voltadas
para atividades em equipes.

Análises e discussões
As análises e discussões desse recorte da pesquisa se apoiaram nos dados obtidos da
autoavaliação dos estudantes e da avaliação dos líderes, e basearam-se nas seguintes
habilidades relacionadas ao princípio das atividades em grupos da ABP:
• Agilidade e organização para o agrupamento nas equipes;
• Realização das atividades dentro do tempo disponível;
• Atenção às orientações do professor;
• Tom de voz moderado e respeito à opinião dos colegas;

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• Anotações próprias/particulares, e;
• Cumprimento do seu papel/função na equipe.
A título de exemplo, a tabela 1 apresenta as respostas dos alunos de somente uma das equipes
(Grupo 3) aos testes da autoavaliação, e da avaliação realizada pelo líder, quanto ao
desempenho da primeira das habilidades anteriormente listadas, ou seja, a “agilidade em se
agrupar organizadamente”.
Autoavaliação
Avaliação do desempenho
ALUNO (avaliação realizada
realizada pelo líder do grupo
por cada aluno)
G3L (grupo3/líder) BOM BOM
G3R (grupo3/redator) BOM BOM
G3O (grupo3/orador) BOM RAZOÁVEL
G3M1 (grupo3/membro1) BOM RAZOÁVEL
G3M2 (grupo3/membro2) RAZOÁVEL BOM
G3M3 (grupo3/membro3) RAZOÁVEL ALUNO AUSENTE

Tabela 1: Desempenho do aluno quanto à habilidade “agilidade e organização para se agrupar nas equipes”
(opções das alternativas dos testes na avaliação: excelente, bom, razoável, e insatisfatório).

E a tabela 2 mostra o número de respostas das autoavaliações, de todos os alunos da sala, a


cada opção de desempenho proposto para tal habilidade.

Desempenho para “agilidade e organização ao se agrupar” Número de respostas nas Autoavaliações

EXCELENTE 3

BOM 9

RAZOÁVEL 18

INSATISFATÓRIO 0

Tabela 2: Quantidade de respostas para cada opção de desempenho da habilidade “agilidade e organização para
se agrupar”, referente às autoavaliações realizadas pelos 30 alunos da turma

Destacamos de uma segunda parte da autoavaliação, que continha questões discursivas sobre
habilidades colaborativas sociais, as respostas a seguir:
- Poderia ter participado mais... (G6M1)
- Eu me envolvi pouco... (G3M2)
Para a referida habilidade, no Grupo 3, houve uma proximidade das respostas da
autoavaliação à da avaliação realizada pelo líder dessa equipe. A maioria considerou como
“BOM” o desempenho dessa habilidade, e uma menor parcela classificou o rendimento como
“RAZOÁVEL” (tabela 1). E nas respostas das autoavaliações produzidas pelos 30 alunos da
turma (tabela 2), 60% consideraram os respectivos desempenhos como “RAZOÁVEL”.
Consideramos as indicações da tabela 1, referente à “agilidade e organização para se agrupar”,
como um primeiro sinal de êxito em habilidades favoráveis à utilização da metodologia da
ABP, admitindo-se o seu princípio dos trabalhos em equipes. Porém na tabela 2, que se refere

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à autoavaliação dos 30 alunos da turma, mais da metade dos estudantes se avaliaram com o
desempenho “RAZOÁVEL”.
Características esperadas dos alunos, entendidas por Rodrigues e Figueiredo (1996) como pré-
requisitos para o sucesso das atividades da metodologia da ABP, foram pelos alunos,
avaliadas positivamente, mas com possibilidades de melhorias. E pistas de “futura melhora
dessa postura” ou “percepção de não total empenho” foram sinalizadas, como vimos nas
respostas discursivas destacadas.

Considerações finais
Trouxemos as análises e discussões apresentadas como forma de demonstrar alguns
direcionamentos dos trabalhos dessa pesquisa em andamento. Os demais dados das avaliações
seguirão o mesmo encaminhamento, juntamente com as anotações do caderno de campo e
demais informações produzidas, para a obtenção de mais subsídios, visando aprofundar as
discussões e considerações.
Com os resultados das demais respostas dos alunos, para as habilidades, surgirão dados para
uma análise do relacionamento entre os membros dos grupos e para uma discussão sobre a
questão da colaboração e habilidade social do estudante, bem como sobre formas de promover
o seu papel ativo (Kyllonen, 2015), além dos indícios de autonomia intelectual.
Como passos futuros da presente pesquisa, serão igualmente analisados e discutidos
(considerando os métodos da ABP) os dados referentes aos saberes geocientíficos
desenvolvidos e extraídos dos relatórios finais e da coletivização apresentada pelas equipes.
Acreditamos que pesquisas sobre aplicação da metodologia ABP no Ensino Fundamental
possam fornecer subsídios valiosos para professores em exercício da Educação Básica que
optam por desenvolver esses métodos na sala de aula. Nesta lógica, é importante indicar
pontos favoráveis e/ou limitantes do desenvolvimento da metodologia da ABP, para este nível
educacional brasileiro.

Agradecimentos e apoios
À Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior, pela bolsa de doutoramento.

Referências
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superior. 1. ed. São Paulo: Summus, 2009. v. 1. 236 p.
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União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação – UNDIME. Brasília: 2017. 396 p.
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