Sebenta de Etica

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UNIVERSIDADE LUSÍADA DE ANGOLA

FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS


CURSO DE GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS

SEBENTA DA CADEIRA

DE

Ética e deontologia profissional

PROFESSOR MSC. CELESTINO ANTÓNIO BUCA

LUANDA 2024
Prof. Msc: Celestino António Buca 2023-
2024

Conteúdo
CAPÍTULO – I CONSIDERAÇÕES HISTÓRICO-CONCEITUAIS SOBRE A
ÉTICA …………………………………………………………………………………. 5

Definição sobre a ética …………………………………………………………….

1.1. 5

1.2. Conceitos fundamentais: ética, moral, direito e deontologia............................................6


1.3. Panorama histórico sobre a ética......................................................................................6
1.3.1. A ética na idade antiga.................................................................................................6
1.3.2. A ética da idade média.................................................................................................9
1.3.3. A ética na idade moderna...........................................................................................11
1.3.4. A ética na idade contemporânea.................................................................................15
1.4. Objectivos da ética.........................................................................................................17
1.5. Divisão da ética..............................................................................................................18
1.6. Implicações da ética do futuro na visão de hans jonas no contexto social......................20
1.7. Diferença entre a ética e a moral....................................................................................21
CAPÍTULO II – A RELAÇÃO DA ÉTICA COM AS OUTRAS ÁREAS DO SABER.....23
2.1. A ética e a pedagogia...........................................................................................................23
2.2. A ética e a sociologia...........................................................................................................23
2.3. A ética e ciência jurídica.....................................................................................................23
2.4. A ética e a economia...........................................................................................................24
2.5. A ética e a ecologia.............................................................................................................25
2.6. A ética e a ciência politica...................................................................................................25
2.7. A ética e a gestão ou administração.....................................................................................25
2.8. A ética e o jornalismo..........................................................................................................26
2.9. A ética e a religião...............................................................................................................26
CAPÍTULO III – DEONTOLOGIA PROFISSIONAL......................................................29
3.1. Definição e objectivos da deontologia profissional:............................................................29
3.4. Dimensões da deontologia profissional:..............................................................................30
CAPITULO IV - ÉTICA DEONTOLOGIA E PRATICA PROFISSIONAL....................31
4.1. Da ética profissional...........................................................................................................31
4.2. O código deontológico de profissionais refere-se:...............................................................31
4.2.1. Éticas aplicadas (utente)...................................................................................................31
4.3. Deontologia (profissional) ética profissional.......................................................................32

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4.4. A moral comum: teorias éticas............................................................................................32


4.5. A moral comum: elementos da vida ética............................................................................33
4.6. A moral comum: principios ética........................................................................................34
4.7. Problemas éticos.................................................................................................................35
BIBLIOGRAFIA ……………………………………………………………………………. 37

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INTRODUÇÃO

Os variados desafios trazidos pelo desenvolvimento da tecno-ciêncica, fruto da


obra humana, provocam mudança no modo de pensar e de agir do homem, com
incidência na família, escola, local de trabalho, igreja, associação, no desporto, na rua,
organização empresa e finalmente em qualquer parte onde o homem estiver.

A ética é um conceito que promana do grego ethos hábito, costume ou carácter.


A moral, do latim mores, morales hábitos e costumes. A deontologia, do grego deontos
e logos tratado sobre o dever. Interessa destacar que, do ponto de vista da conceituação
real, a ética refere-se a uma reflexão em torno dos valores considerados fundamentais
para o homem, no sentido de ajuda-lo a saber ser e estar na vida social em benefício do
seu progresso. É o conjunto de princípios orientadores da conduta humana em
sociedade, de modo a fazer da cidadania um exercício fundamentado nos, em e para os
valores, no âmbito da construção da humanidade.

Assim, consegue-se perceber que, a ética constitui um imperativo categórico


para o homem principalmente da era moderna e contemporânea. Por isso, o seu
principal cliente é o homem independentemente da raça, cor, etnia e status, o que
equivale a dizer que a sua validade possui uma dimensão transversal na vida sócio-
organizacional e o seu ensino nas grelhas curriculares também em nosso entender, devia
ser transversal.

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CAPÍTULO – I CONSIDERAÇÕES HISTÓRICO-CONCEITUAIS SOBRE A


ÉTICA

1.2. DEFINIÇÃO SOBRE A ÉTICA

O Dicionário Especializado de Língua Portuguesa Aurélia, faz-nos perceber que


etimologicamente falando, a palavra ética vem do grego ethos que significa hábito,
morada, costume e carácter.

Ética: é a parte da filosofia que estuda os princípios que regulam a conduta


humana em sociedade. (ROCHA, 2010).

Estudo dos juízos de apreciação que se referem a conduta humana susceptível de


qualificação do ponto de vista do bem e do mal seja relativamente a determinada
sociedade, seja de modo absoluto. (HOLANDA, KARKOTLI & ARAGÃO, 2004).

Para fraseando Mario Sergio Cortella, ética é o conjunto de valores e princípios


que usamos para responder a três grandes questões da vida: quero devo posso nem tudo
que eu quero eu posso, nem tudo que eu posso eu devo e nem tudo que eu devo eu
quero. Você tem paz de espírito, quando aquilo que você quer é ao mesmo tempo o que
você pode e o que você deve.

Alem das definições acima mencionadas, podemos também apresentar o nosso


seguinte ponto de vista sobre a ética dizendo:

 Ética é a área do saber filosófico que do ponto de vista metódico e sistemático,


estimula a reflexão sobre os valores e ou moralidade dos actos humanos, de
modo a permitir que cada homem no contexto social, aprenda a viver numa
cultura assente nos princípios da pratica do bem e evitar o mal, em prol do
exercício da cidadania.
 É a ciência que orienta a conduta humana para o desafio do aprender a viver e
conviver, respeitando a dignidade humana promovendo a solidariedade,
responsabilidade social, justiça e integridade, visando a construção de uma
humanidade mais aberta para o amor, o dialogo, a partilhar, preservação do
planeta terra, das relações humanas e da reconciliação.

Com as definições acima mencionada, ficou notória a ideia de que a ética


pressupõe um princípio de ouro assente na prática do bem evitando o mal. Logo, trata-se
de uma bússola humana, sem a qual fica desprovida de interesse e cultura de
humanismo a vida social. Trata-se de um valor que gera valores para o bem do homem e
da humanidade.

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1.3. CONCEITOS FUNDAMENTAIS: ÉTICA, MORAL, DIREITO E


DEONTOLOGIA

A Deontologia e a Ética contribuem (diferente e decisivamente) para a


qualificação da prática profissional.

1. Conceitos Fundamentais

1. Ética – racionalidade da ação humana (nível da fundamentação e/ou justificação


da acção: razão de ser da acção/porque ajo assim?)
2. Moral – conjunto de normas voluntárias de acção (nível normativo ou da
regulamentação da acção, interiorizado pelo agente: como devo agir?)
3. Direito – conjunto de regras obrigatórias cuja infracção é sancionada (normativa
objectiva e universal, exterior ao agente: como sou obrigada a agir?)
4. Deontologia – ética profissional (normativa restrita, particular, corporativista:
como devo agir enquanto profissional?)

1.4. PANORAMA HISTÓRICO SOBRE A ÉTICA

A ética que, na presente obra constitui o objecto da nossa reflexão, não foi
estudada na mesma proporção, em todas as idades históricas existentes, nomeadamente,
a Antiga, Média, Moderna e a Contemporânea, porque cada uma destas idades, segundo
o testemunho da história, foi dominada por um pensamento especifico.

1.4.1. A ÉTICA NA IDADE ANTIGA

Idade Antiga: A barca o período que se estende desde a invenção da escrita (de
400 a.C a 3500 a.C), até a queda do Império Romano do Ocidente (476 d. C), que tinha
Roma como Capital. Diferentes povos se desenvolveram nesta idade com destaque para
as civilizações do Egipto, Mesopotâmia, China, Grécia, Roma, os Hebreus, os Fenícios,
alem dos Celtas, Etruscos, dos povos germanos, etc. (DOS SANTOS, 2016)

Na Antiguidade, o ponto de vista da ética grega centrou-se na busca da


felicidade ou o bem-estar próprio exclusivo do homem. (PE – GORARO, 2005).

Os gregos concebiam a ética, como uma parte da Filosofia encarregue pelo


estudo dos princípios reguladores do comportamento do homem em sociedade, na
perspectiva de facilitar a concretização do bem-estar ou felicidade enquanto fim último
da vida social. Interligavam a ética à política, porque tinham a consciência de que só
com o senso ético, aquele que impele o homem à prática do bem colectivo, era possível
no caso daqueles que governavam, exercer a função conforme os ditames da satisfação
dos intentos dos governados. Num só palavra, governar para servir e não se servir ou ser
servido. Neste caso, a ética já se apresentava como espécie de bússola da vida humana.

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Sócrates: Mondim (1982), faz-nos perceber que é um filosofo grego, que nasceu
em 470 a. C. e morreu em 399 a. C. O seu testemunho de vida e ensino, possuíam uma
dimensão transversal que continua a servir de garante na produção cientifica da era
actual, com destaque para os campos filosófico, ético e politico.

Refere-se que a ética Socrática tinha a virtude como o centro das atenções, que
se define como uma disposição para praticar o bem, suprimir os desejos despertados
pelos sentimentos, racionalizando as acções em benefício da colectividade. Defendia a
cultura da promoção de valores como o bem, a virtude, a justiça e a sabedoria, como
elementos indispensáveis para uma vida sadia e harmónica em sociedade. Identificou a
virtude na condição de conduta recta, como sendo sinónimo de sabedoria e a felicidade
como fim último da vida humana em sociedade. Considerava a ética como uma área do
saber que subsidiava a politica na assunção de comportamentos dignos à convivência
entre os homens e sobretudo no exercício de boa cidadania.

A este respeito, Prélot e Lescuyer (LUKAMBA & BARRACHO, 2012),


afirmam o seguinte:

Sócrates foi uma personalidade que viveu todas as perturbações políticas do seu
tempo, bateu-se com coragem pela sua cidade e levou a sua inquietante originalidade ao
extremo de aceitar voluntariamente uma sentença iníqua, era um falador incasável que
se imaginava vendedor de felicidade e de bem-estar e que na realidade, era um hábil
maçador sempre a pregar a virtude e outras coisas fastidiosas.

Platão é para Luckesi (2011) um filosofo grego que nasceu no ano 427 a. C. e
morreu em 347 a. C.

Para Mondin (1982), Platão, tratou a ética com componente indissociável da


vida politica, da harmonia entre os habitantes da polis ou seja cidade. Toda a sua
filosofia, tem uma orientação ética, na medida em que ensinava o homem a desprezar os
prazeres, as riquezas e as honras, a renunciar aos bens do corpo e deste mundo e a visão
metafísica. No Fédon, ensina que para conseguir a felicidade, é necessário renunciar aos
prazeres e dedicar-se à prática da virtude. Essa, para ele como para o seu mestre
Sócrates, consiste essencialmente no conhecimento, ao passo que o mal consiste na
ignorância.

Aristóteles: para Luckesi (2011), nasceu em Estagira (Macedónia), no ano de


384 a. C. e morreu em 322 a. C.

O mundo ético o dos valores era o mundo da racionalidade e da liberdade que se


realizam plenamente na polis, pela pratica politica. Consideravam, ainda que, a
condição para o pleno exercício da cidadania é que o dialogo fosse travado entre
homens livres e iguais. Isso quer dizer que um comportamento só pode ser ético quando
livre de qualquer constrangimento, necessidade ou determinação. A ética era percebida
como linha orientadora da vida dos homens em sociedade, cujo princípio de ouro

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assentava-se na prática do bem na sua dimensão horizontal. (ABAURRRE e


GONÇALVES).

Para Mondin (1982), Aristóteles tornou-se célebre especialmente por suas obras
filosóficas. Como mais importantes podemos citar a Metafisica (14 livros), a Fisica (8
livros), a ética a Nicómaco (10livros), a politica (8 livros), o Da Alma (3 livros), o Da
Geração e da corrupção (2 livros) e a poética (1 livro incompleto).

Diz ainda Mondin que, Aristóteles, foi um filósofo que igualmente se revia no
chamado princípio teleológico segundo o qual, toda a acção do homem tem em vista um
fim que se identifica com o bem. Defendeu a felicidade como valor supremo em torno
do qual gravita a meta do esforço do homem sobre o cosmos. Enfatizou também que,
Aristóteles considerou a felicidade como fim último da vida social, cujo meio que leva o
homem a alcança-lo é a virtude, enquanto hábito de escolher o justo meio. Dividiu
assim, a virtude em duas vertentes seguintes:

 Virtudes do intelecto ou dianoéticas: Aquelas que concorrem para o


desenvolvimento e funcionamento das faculdades intelectivas, tais como: a
ciência intuitiva ou nous, a ciência intelectiva ou episteme, a sabedoria ou
sophia, a arte ou téchne e a ciência prática ou phrónesis;
 As virtudes morais: aquelas que presidem ao controlo das paixões e a escolha
dos meios aptos para a consecução do fim. As virtudes morais mais importantes
são as quatro virtudes chamadas cardeais. A prudência que corrige o intelecto, a
temperança que corrige o apetite concupiscivel, a fortaleza, o apetite irascível e
a justiça que rege o comportamento do homem em relação aos outros homens.

Fazendo uma análise ao pensamento dos referidos filósofos, pode-se retirar quatro
lições resumidas no seguinte:

 Primeira lição: sobre a necessidade da preservação da justiça enquanto valor e


parte integrante dos objectivos do Estado;
 Segunda Lição: sobre a necessidade da pratica da virtude como elemento
fundamental que marcando presença na vida de todo e qualquer ser humano em
especial o da era contemporânea, pode servir de alavanca para o resgate de
valores morais, éticos, culturais, religiosos, cívicos e epistemológicos de que
tanto necessitamos;
 Terceira Lição: sobre a necessidade da emancipação conjunta do espírito da
cidadania e integridade, como forma de auxiliar os Estados na concessão e
execução das suas politicas públicas em benefício da dignidade da pessoa
humana e transformação da humanidade;
 Quarta Lição: sobre a necessidade da descoberta permanente do conhecimento,
como garante de reforço da capacidade humana na distinção entre o bem e o
mal, assim como no aprofundamento da sua mundividência, para o bem do
desenvolvimento pessoal e do seu meio envolvente.

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A terminar e para evidenciar o quão era importante a ética na vida do povo heleno,
Rocha (2010), defende o seguinte:

A ética tinha entre os gregos, uma relação muito estreita com a politica tendo
como base a cidadania e a forma de organização social. Atenas era o ponto de encontro
da cultura grega onde nasceu uma democracia com assembleias populares e tribunais e
as teorias éticas incidiam sobre a relação entre cidadão e a polis em que a conduta do
indivíduo era determinante para se alcançar o bem-estar colectivo. Apesar das
diferenças conceptuais das várias correntes filosóficas, pode dizer-se que todas têm um
denominador comum: o homem devera por os seus conhecimentos ao serviço da
sociedade, de modo a que cada um dos seus membros possa ser feliz. A ética na
civilização grega, era apenas normativa, limitando-se a classificar os actos humanos
como correctos ou incorrectos e adequados ou inadequados a uma determinada situação.

1.4.2. A ÉTICA DA IDADE MÉDIA

Idade média: do ponto de vista histórico, compreendo o período que se desdobra


desde o século V d. C até a queda do Império Romano do Oriente, ou Binzantino, isto é,
em 1453, século XV que tinha como capital Constantinopla. (LIMA, 2017).

Na idade média, os princípios da ética antiga sofreram uma significativa


mudança. Em função do poder exercido pela Igreja, as normas de convivência social da
Idade Média passaram a ser reguladas pelos princípios do Cristianismo. (ABAURRE;
GONÇALVES, 2007).

Se antes o valores éticos deveriam nortear as relações humanas em busca do bem


comum, na ética cristã a finalidade da pratica dos valores é encaminhar as relações dos
indivduos para com Deus, supremo juiz das acções humanas: é ele que pode observar a
consciência e saber as intenções dos homens. Desse modo o que passa a ser avaliado é a
interioridade, a consciência. Para controlar a interioridade, cria-se a ideia de culpa
pessoal. A culpa funciona como um juiz particular que sabe quando a fé foi insuficiente,
a adesão não-sincera. É esse juiz, implacável na avaliação, que tira a paz dos indivíduos,
fazendo que eles paguem, desde agora, por suas faltas. Essa mudança de finalidade
marca o rompimento do vínculo entre ética e política. E a conduta ética, que era
decorrente da vontade, livre e racional (critica), apresenta-se, agora, como capacidade
de obediência à lei divina, a ordem dada à determinação da autoridade. Com a vigência
desses princípios desvaloriza-se autonomia e da libertação humana. Dá-se a decadência
e a fragilização da responsabilidade pessoal. Isso porque se acreditamos que tudo já esta
pré-determinado por uma ordem superior, divina, limitamos nossa possibilidade de
escolha de decisão.

Conforme se pode perceber, ao contrario da visão cosmocêntrica que dominou a


idade antiga, a idade média foi profundamente caracterizada pela visão teocêntrica, teos
do grego que significa Deus cêntrica que equivale a centro, ou seja, Deus no centro das

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atenções sobretudo devido ao poderio que a Igreja Católica havia conquistado nível
mundial tal como reza a historia.

Vale lembrar que, por força maior da visão teocêntrica, to pensamento dos
pensadores da época girou em torno da defesa da omnipresença divina nas
multifacêticas áreas do saber. Como prova da situação, o Estado subordinava-se a
Igreja, o que significa que a politica andou de mãos dadas e a mercê da religião, a
filosofia à Teologia e ética finalmente subordinava-se a moral cristã.

Para mais informações, Lukamba & Barracho (2012), afirmam o seguinte:

Em todas as épocas, as circunstâncias governaram as tomadas de posição do


pensamento teológico - politico. A primeira das metamorfoses das relações do
Cristianismo com o poder, dá-se com a conversão do Imperador Constantino. A Igreja
Católica, que até então não se imiscuía com a política, torna-se a partir desta altura,
religião oficial do Estado. Convêm referir que, os grandes eixos políticos - religiosos
comuns aos judeus e aos cristãos, constituem a própria fundação sobre a qual serão
edificadas todas as doutrinas relativas à problemática do nosso estudo e por isso, os
mais diversos autores se referem a diferentes modelos. O estudo do sagrado, constitui,
então uma das dimensões mais intangíveis e contudo irrecusáveis da História da
Humanidade, tanto na perspectiva do indivíduo como na das culturas em que o mesmo
se encontra inserido. A maneira como um sujeito concebe o sagrado parece determinar a
posição que o mesmo vai ocupar no mundo e também a sua maneira de hierarquizar as
suas experiencias psíquicas. A vinculação com o sagrado, estabelecida pelo sujeito, não
é necessariamente aquela que ele conscientemente afirma ter através da sua relação com
uma dada religião ou mesmo na ausência dela.

Se na Antiguidade, a ética era uma parte da filosofia, indissociável a politica que


ditava os princípios reguladores da conduta humana com vista a facilitar a convivência
sadia e ou harmónica em sociedade, rumo a conquista da felicidade ou do bem-estar
enquanto fim último da vida social, com a idade média, a ética e a moral passaram a
significar áreas do saber ou instrumento que apontava o homem para Deus. A felicidade
humana resumia-se no estar bem com o divino.

Santo Agostinho de Hipona: segundo Mondin (1982), nasceu em Tagaste


(actual Argélia), no ano 354 d. C e morreu em 430 d. C. A sua visão sobre a ética era
teocêntrica, porque defendia que a felicidade enquanto meta de toda a acção humana,
consiste na esperança da salvação. Estar em e com Deus, é a única forma de ser feliz. A
vida segundo o espírito e amor, devera gerar certas virtudes, a prudência, a coragem, a
justiça e a humildade. Outra revelação de Agostinho que aponta para a superioridade
divina na sua abordagem sobre a ética e religião, tem a ver com o conceito de mal, que
para ele é uma privação do bem, cuja causa ou autor não é Deus, mas sim a criatura
homem.

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S. Tomas de Aquino; Mondin (1982) ilustra que, nasceu em Roccasecca, perto


de Frosinome em 1225, isto é, na Itália e morreu em 1274. Foi alvo da educação dos
beneditinos de montecassimo. Teve uma forte inspiração da filosofia aristotélica e
desempenhou um papel proeminente sobretudo no enquadramento entre o pensamento
dos filósofos clássicos e a visão cristã.

Refere-se que na sua visão sobre a ética, S. Tomas de Aquino defende Deus
como fim supremo e da felicidade, alegando que para o ser humano atingir a felicidade
ou o fim supremo, são necessárias não somente as virtudes intelectuais e morais ou
cardeais (prudência, justiça, fortaleza e temperança), mas também e sobretudo as
virtudes teologais (fe, esperança e caridade). Para que possa ser considerada boa a
vontade deve conformar-se à norma moral que se encontra nos seres humanos como
reflexo da lei eterna da vontade divina.

Lukamba & Barracho (2012), defendem ainda o seguinte:

Tomás considera que o homem só encontra a sua realização na cidade. Ética é


no plano político, a instância possível em que o governo não tirânico, pode aliar a
ordem com a justiça na procura do bem-comum. Então o poder político, circunscreve-se
na ordem das necessidades naturais do homem enquanto ser social, que procura alcançar
seus fins terrenos. De forma que garantidos estes, ele possa depois tratar dos eternos
problemas de ordem supra-sensivel que são da alçada da Igreja, mas que o estado não
deve desconhecer nem tomar impossível a sua realização. O estado é o bem-comum. Só
o estado é a sociedade perfeita, não no sentido de uma perfeição absoluta igual a Deus,
mas no sentido em que se basta a si própria, que possui todas as virtudes para satisfazer
as necessidades do homem.

Conforme se pode constatar, os filósofos e teólogos da Idade Média, defenderam


a felicidade como fim último da acção humana, pelo que apontaram Deus como fim
supremo, o que equivale a dizer que a virtude que deve ser adoptada pelo homem, ao
invés de facilitar o seu convívio social, tem de propender para a salvaguarda do lugar
cimeiro de Deus. Ficou claro o posicionamento superior da Igreja em relação ao estado,
da Teologia à Filosofia, da fé à Razão e da Moral à ética, sobretudo, por causa da
perspectiva teocêntrica que vincava naquela época, cujo paradigma sofreu mudanças
profundas na era moderna.

1.4.3. A ÉTICA NA IDADE MODERNA

Idade Moderna: Do ponto de vista histórico, compreende o período que vai da


queda do Império Romano do Oriente isto é, em 1453 (século XV até o XVIII) que tem
como acontecimento referencial, a revolução francesa (1789) com os seus três
princípios basilares: Liberdade, Igualdade e fraternidade. Destaca-se também, o
renascimento cultural que revolucionou as artes e as ciências, as viagens europeias e a
reforma protestante impulsionada por Martinho Lutero e seus pares, como um dos
factores impulsionadores. (DA SILVEIRA, 2015).

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A idade moderna, caracteriza-se pela ética da liberdade, da autonomia do


homem e da força da razão, (PEGORARO, 2005).

Ao surgimento e fortalecimento de uma nova classe social a burguesia


corresponde o desenvolvimento de uma nova ordem de valores, que passa a nortear as
relações entre os homens. Os interesses dessa nova classe, dependentes do
desenvolvimento da produção e da expansão do comércio, exigiam mão-de-obra livre e
dedicação ao trabalho capazes de aumentar a produtividade e de contribuir para a
prosperidade dos negócios. A nova classe em ascensão tem como característica a
virtude de laboriosidade, honradez, puritanismo, amor à pátria e liberdade, em
contraposição aos vícios da aristocracia desprezo ao trabalho, ociosidade e libertinagem.
O trabalho, na modernidade, passa a ser reconhecido como facto social determinante da
própria humanização do homem (factor que o distingue do animal) e elemento capaz de
modificar as condições de existência da própria sociedade. A sociedade moderna
declara o trabalho uma expressão de liberdade, uma vez que, por meio dele (seja pela
força física, pela ciência pelas artes) o homem modifica a natureza, inventa a técnica,
cria nova realidade, enfim, altera o curso das coisas, alterando a si próprio e a sociedade
onde ele vive. Identifica-se o trabalho como factor económico, salário, poder aquisitivo,
mas também como necessidade psicilógica da humanidade, já que determina o status de
uma pessoa, fazendo-a pertencer a um grupo, levando-a a estabelecer laços
comunitários e de solidariedade, permitindo-lhe realização e felicidade pessoal e social.
Com base no papel atribuído a vontade à actividade humana, a sociedade moderna
desenvolve uma ética do trabalho. (ABAURRE; GONÇALVES, 2007).

Lembrar que, nesta época, a visão ou perspectiva deixou de ser teocêntrica e


passou para antropocêntrica (o homem no centro das atenções). Com esta mudança de
paradigma, o estado deixou de subordinar-se à Igreja, a filosofia à teologia, ou seja a
razão à fé e finalmente a ética ao deixar de subordinar-se a Moral, retomou a posição
que tinha na antiguidade, passando a centrar-se na pratica do bem como trampolim para
o alcance da felicidade no convívio entre os homens em sociedade.

Nesta conformidade, julgamos ser oportuno destacar duas figuras ligadas a


época em questão, expondo em síntese o seu posicionamento a respeito da ética.

Nicolau Maquiavel: para Luckesi (2011), nasceu há 04 de Maio de 1469 em


Florença Itália e morreu em 1527. Foi um político que conheceu momentos altos e
baixos da vida =, mas por acreditar nas suas capacidades cognitivas, soube fazer tudo no
sentido de resgatar a sua imagem inscrevendo o seu nome no livro da história da
humanidade em letra maiúscula. O fecundo e académico ambiente familiar que o
circundava, com destaque para o seu pai que era advogado, serviu de elemento
determinante na formação da sua personalidade para os grandes desafios da vida, cuja
demonstração do seu ser amigo da sophia, (amigo do saber), circunscreveu-se nas áreas
de Retórica, Gramática e Latim.

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Considera ainda Luckesi que, Maquiavel nasceu numa época em que a liberdade
de pensamento pesquisa e o estado nação em substituição das Cidades estado já eram
realidades sonantes. Tal é assim que, aos 29 anos de idade, foi nomeado Secretario da
Segunda Chancelaria da República e Secretario do Conselho dos Dez da liberdade e
paz-comissão de negócios estrangeiros e questões militares. Caído em desgraça na era
em que o governo florentino encontrava-se sob responsabilidade dos médicos, publicou
em 1531, a sua obra magna conhecida por O príncipe, cujo titulo verdadeiro é dos
principados, onde manifestou de forma sabia e sistemática, as estratégias inerentes a
conquista, exercício e manutenção do poder.

Quando em 1512, e com a ajuda do Papa Júlio II, os medicis foram reinvestidos
no poder em Florença, a carreira de Maquiavel teve um fim súbdito. Foi destituído de
todos os seus cargos e proibido de sair do território florentino. Sem fonte de sustento,
retirou-se para a quinta da família em Percussina, alguns quilómetros a sul de Florença,
onde começou a ler livros de História e biografia das grandes figuras de Roma e Atenas
antigas, aliado a grande experiencia que acumulara em matérias de governação. Assim,
tornou-se homem de letras, escreveu a história de Florença, obra que por ironia do
destino, havia sido encomendada pelos Médicis e outros textos entre os quais A Arte da
Guerra, a única das obras de carácter histórico ou politico que foi publicada no seu
tempo de vida (O príncipe, 2012, xviii).

Para cunha, (apud LUKAMBA & BARRACHO (2012),

Para Cunha, (apud LUKAMBA & BARRACHO (2012), Maquiavel é o


primeiro dos pensadores modernos em politica, é o símbolo do renascimento politico.
Com ele entra para o léxico politico a palavra estado-comunidade soberana na ordem
interna e internacional, e a politica é encarada na sua vertente de perigo, risco e
mistério, entre a virtu e sorte. Por isso, Maquiavel é considerado por vários politólogos
e não só, a exemplo de Freitas do Amaral, como pensador universal e
concomitantemente pais da Ciência Politica Moderna, porque soube autonomizar a
politica e distinguindo-a da moral e ou dos ditames da ética.

O relevante para Maquiavel, conforme esta expresso em principio, resume-se no


seguinte:

O que é importante, é o conjunto de meios capazes de obter e conservar o poder.


O príncipe não se move se não no domínio da força, porque o triunfo do mais forte, é o
facto essencial da história da humanidade. Tratando-se de estado Maquiavel rejeita os
imperativos da moral corrente e proclama a autonomia da politica. Assim, o príncipe é
bom ou mau em função do seu êxito político e não de critérios éticos. O príncipe para
preservar a possibilidade de alcançar fins bons, tem de estar preparado para poder não
ser bom. Um governante tem de tomar decisões que o cidadão comum nunca toma, tais
como entrar em guerra ou não, ou que fazer com aqueles que conspiram para o matar ou
para o depor. Assim, embora seja louvável que queira proceder sempre com rectidão, a

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verdade é que, para manter a ordem e paz, bem como preservar a honra do seu estado,
poderá ser necessário agir de modo tal que, como cidadão comum jamais agiria.

As varias interpretações feitas, em torno do teor expresso na obra o príncipe, tem


obrigado a muitos em especial os homens da era hodierna, chegar a conclusões que
estabelecem um hiato entre a politica e as questões ético-morais, consagrado desta
forma o uso da força na máxima o fim justifica os meios, como instrumento fundante no
exercício da politica enquanto arte de governar os homens em sociedade.

De facto, subscrevemos os feitos de Maquiavel sobretudo no capítulo em que de


forma sabia e sistemática autonomizou a politica, mas no tocante ao exercício desta,
sabendo que existe por causa do homem e para o homem, posicionamo-nos na condição
de apologistas da complementaridade que deve existir entre a politica enquanto arte de
governar os homens em sociedade e a ética, por tratar de uma área so saber filosófico
encarregue pelo estudo normativo da conduta do homem em sociedade.

Nesta conformidade, subscreve-se o fundamento de Erasmo de Roterdão


expresso na sua obra: educação de um príncipe Cristão nos termos seguintes: Um
conjunto de súbditos decide submeter-se ao governo de um príncipe, sob a condição
estrita de que, as acções deste serão dirigidas ao bem comum daqueles. Há algo que vai
além da natureza humana, algo completamente divino, no governo absoluto sobre
súbditos livres e dispostos. O consentimento livre e disposto justifica e sustenta o
governo do príncipe Cristão. Dai decorre que ele precisa ser educado de forma a
reconhecer e buscar o que é moralmente bom em todas as coisas, a fim de ser capaz de
tomar decisões correctamente em nome de seu povo.

Portanto, com a instauração da idade moderna, varias nomenclaturas sobre a


ética foram surgindo, na perspectiva de ajudar o homem a concretizar os seus intentos,
razão por que já se pode falar da ética do dever e a consequencialista ou utilitarista.

Emmanuel Kant: para Luckesi (2011), nasceu em Konigsberg (Prússia


Oriental), em 22 de Abril de 1724 e morreu há 12 de Fevereiro de 1804, na cidade que o
viu nascer. As suas obras podem ser apresentadas da seguinte maneira: Critica da Razão
Pura (1781), prolegómenos a toda metafísica futura (1783), fundamentos da metafísica
dos Costumes (1785), critica da razão pratica (1788), critica do juízo (1791), a religião
nos limites da pura razão (1793) e a paz perpetua (1795), entre outras.

Para Mondin (1982), as doutrinas ética e jurídica de Kant, são expostas na critica
da razão pratica e nos fundamentos da metafísica dos costumes. Por razão pratica,
entende a razão na função de ditar a vontade e a moral. Enquanto as outras concepções
éticas são chamadas teleológicas porque tem o bem como fim supremo. Assim, a moral
de Kant é deontológica porque tem o dever como palavra-chave, e esta expressa num
princípio conhecido por Imperativo categórico, resumido no seguinte:

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 Quanto a universalidade da lei: Age de tal modo que a máxima da tua acção
possa sempre valer também como princípio universal da conduta.
 Quanto a humanidade como fim: Age de modo que trates a humanidade, na tua
pessoa como na dos outros, como fim e nunca como meio;
 Quanto a vontade legisladora universal: Age de tal modo que a tua vontade,
possa considerar a si mesma como instituidora de uma legislação universal, isto
é, age segundo máximas tais que a vontade de qualquer homem, enquanto
vontade legisladora universal possa aprova-las.

Refere-se que, a ética kantiana também conhecida por ética deontológica porque
se baseia no dever, dispõe no nosso ponto de vista de uma vontade firme que se prende
com a prática de um bem valido benéfico não só ao agente da acção, como também aos
seus destinatários.

Esta visão kantiana, de querer o bem colectivo, serviu de base para outros
pensadores que tanto contributo deram para o desenvolvimento da humanidade, a
exemplo do filósofo alemão Hans Jonas, que na sua obra princípio da responsabilidade,
publicada em 1979, procurou de forma sabia e sistemática adaptar o Imperativo
Categórico kantiano da seguinte maneira: actuar de tal forma que os efeitos de suas
acções sejam compatíveis com a permanência de uma vida humana genuína na terra
futuramente.

De facto, o Imperativo Categórico, apresenta-nos uma lição, que bem percebida


e vivida, poderá ajudar o homem moderno a rever a sua atitude comportamental pela
positiva, praticando a responsabilidade social de modo a contribuir na preservação do
seu entorno, sobretudo nesta época actual onde a reflexão sobre as questões ambientais
faz econa pauta das políticas publicas dos estados no mundo.

Portanto, com o surgimento da idade moderna, registou-se uma mudança


substancial do foco de actuação da ética, libertando-se assim da esfera religiosa para a
humana indicando caminhos para os desafios da vida sócio-organizacional.

1.4.4. A ÉTICA NA IDADE CONTEMPORÂNEA

Idade Contemporânea: do ponto de vista histórico, compreende o período que


vai do século XVIII aos nossos dias. Foi marcado pela corrente filosófica o Iluminismo
que, levava a importância da razão (FELIZARDO, 2016)

Cabe à época contemporânea, inaugurar o tempo da ética objectiva que nasce da


comunicação intersubjectiva, na reciprocidade do eu-tu-nós. Nesse ramo, construíram-
se tratados de ética abrangentes como o de J. Habermas, Paul Ricoeur e J. Rawls.
(PEGORARO, 2005).

Trata-se de um período fecundo em acontecimentos sobre o desenvolvimento da


tecnociencia, onde dentre os vários, se destaca: As duas grandes Guerras Mundiais, (1de
1914-1918 de 1939-1945), que vitimaram milhares de vidas humanas, a invenção da

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rádio, do avião, do telefone, da televisão, da internet, a proclamação da declaração


universal dos Direitos Humanos há 10 de Dezembro de 1948, pela ONU – Organização
das Nações, numa só palavra, era da revolução Industrial.

Nesta era, importa salientar que a perspectiva em voga é semelhante a da idade


anterior (Moderna), isto é a antropocêntrica que tem o homem como o centro das
atenções. Assim, vale levantar a questão seguinte: O homem da era pós-moderna
necessita da ética.

Para responder a esta questão, numa só palavra, afirmamos de forma categórica


que sim, porque se não, corremos o risco de eliminar a nossa própria vida e
comprometer a das gerações vindouras em nome da ganância, da apetência por bens
materiais e ou hedonistas e fundamentalmente pela conquista, exercício e manutenção
do poder.

Com a era contemporânea muita coisa mudou, a ética aplicada na perspectiva de


permitir que cada organização encontre uma codificação para melhor conduzir os seus
recursos humanos no exercício da profissão, rumo a conquista de sucesso por um lado e
por outro, ao estabelecimento de relações sadias com os consumidores, tornou-se prova
clarividente.

John Stuart Mill: para Luckesi (2011), nasceu em Londres há 20 de Maio de


1806 e morreu em Avinhão, há 08 de Maio de 1873. Defendeu o utilitarismo, doutrina
ética que defende que as acções praticadas pelo homem são boas se e somente tenderem
para a promoção da felicidade e más quando promovem danos. A moralidade de uma
acção só é boa se for útil ou provocar um prazer ao agente e seus destinatários. Vale o
resultado da acção. Esta doutrina teve como precursor o filósofo Jeremy Bentham e
defendida igualmente por John Stuart Mill, entre outros.

Segundo Silva (2010 152 – 153), John Stuart Mill, actualizou o epicurismo,
ligando-o à doutrina ética defendida pelo seu padrinho Jeremy Bentham: o objectivo da
ética é a maior felicidade para o maior número possível de pessoas. Os dois pensadores
são considerados os inspiradores do ideal aritmético e tecnológico de justiça social, isto
é de utilitarismo social, político e ético.

Em nosso entender o utilitarismo é uma doutrina eivada de um senso moral


susceptível de um aproveitamento quer para questões politicas, económicas, assim como
sociais, partindo do pressuposto básico da qualificação de boa a acção útil ao agente e
seus destinatários. Ou seja, o elemento determinante da moralidade da acção reside na
utilidade do acto que igualmente depende do conjunto das consequências. Assim,
podemos também afirmar que, para os utilitaristas, entre a intenção e o resultado, o
fundamental é o resultado.

Logo, o fundamental que necessitamos nesta era dos contravalores, é agir de


forma a produzir a quantidade maior de bem-estar, sem também perder de vista a

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necessidade de articular as nossas boas intenções às acções ou resultados. John Rawls:


Luckesi (2011), ajuda-nos a perceber que, nasceu em Baltimore, Maryland, há 21 de
Fevereiro de 1921 e morreu há 24 de Novembro de 2002. É um filosofo norte-
americano considerado como um dos pensadores proeminentes da era pos-moderna em
matéria ligada a justiça. Das várias obras de sua autoria, destacam-se: A Teoria da
Justiça (1971), liberalismo político (1993) e o direito dos povos (1999). O seu
liberalismo político – jurídico, possui um embasamento ético, na medida em que
defende que não podemos separar a justiça da moral ou da política ou do sistema
económico. Defende também os princípios seguintes:


Princípio da liberdade: cada pessoa tem um igual direito a um sistema
plenamente adequado de liberdades e de direitos fundamentais, iguais para
todos e compatível com o mesmo sistema para todos;
 Princípio da diferença: as desigualdades sociais e económicas devem cumprir
duas condições para serem admissíveis;
a) Ligarem-se a funções e posições abertas a todos em condições de justa igualdade
de oportunidades;
b) Servirem para o maior benefício dos menos favoráveis.

De facto, a intervenção de John Rawls, em nosso entender, defende um


princípio fundamental que se interliga a esfera da ética enquanto ciência orientadora da
conduta humana, o que implica dizer que a sua ética é profundamente humanística. A
justiça de que defende é um dos três tradicionais objectivos do Estado.

Para mais informações sobre o posicionamento deste pensador vale parafrasear


Lukamba & Barracho (2012), nos termos seguintes:

A verdade é para filósofo a primeira virtude do pensamento e da justiça, como


equidade, assenta na inviolabilidade da pessoa que não pode ver a sua liberdade
restringida. Rawls defende a necessidade de uma democracia constitucional como a
base fundamental para o estabelecimento de uma relação entre a teoria da justiça e os
valores da sociedade e o bem-comum.

1.5. OBJECTIVOS DA ÉTICA

Considera-se inicialmente que, o principal cliente da ética no contexto social é o


homem enquanto ser racional e de relação por natureza. Por isso, a ética possui entre
outros, os seguintes objectivos:

 Orientar a vida do homem em sociedade, para uma conduta aberta à prática das
virtudes bem, de modo a mitigar o fenómeno da propagação de conflitos no
mundo, por razões de natureza politica, cultural, económica, social, religiosa e
financeira.
 Ensinar o homem a aprender a ser e estar, respeitando-se como pessoa e
respeitar os outros como pessoa portadoras de dignidade, em prol da cidadania.

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 Promover a cultura da preservação de valores e distintos níveis, para o beneficio


da vigente e futura gerações, face as transformações do mundo.
 Contribuir para a consolidação da combinação entre a formação e a educação do
homem para a vida, enquanto cidadão do mundo, tendo com fundamento os
valores e a pratica de responsabilidade social.
 Promover a cultura do respeito pelos direitos humanos e pela integridade na
gestão da coisa pública.

Segundo Rocha (2012), concorrem para tal desafio normativo do homem, quatro
ordens que integram a chamada categoria das normas de conduta social nomeadamente:

 Ordem moral: refere-se a interioridade do homem e determina-lhe um especifico


comportamento que, visa o aperfeiçoamento da pessoa em função daquilo que se
considera ser o Bem e o Mal.
 Ordem Religiosa: tem por função regular as condutas humanas em relação a
Deus, sendo pois uma ordem de transcendência ou de fé. Neste caso, actua em
sentido bivalente, isto é, vertical e horizontal, respectivamente.
 Ordem de tracto social: destina-se a permitir uma convivência mais agradável
entre as pessoas, em sociedade. Tem a ver com as boas maneiras etiquetas para o
bem do convívio social.
 Ordem jurídica: refere-se ao conjunto de normas jurídicas que, regulam os
aspectos mais relevantes da vida em sociedade. É a ordem social regulada pelo
Direito instituído pelo Estado.

1.6. DIVISÃO DA ÉTICA

Segundo Jolivet, a ética divide-se em duas grandes partes seguintes:

 Ética Geral: estuda o conjunto de princípios gerais que regem a conduta humana
em sociedade.
 Ética Especial: estuda princípios que regem a conduta de um profissional numa
área específica. Dito de outro modo, corresponde a ética aplicada a uma
determinada área ou profissão.

O entendimento que se deve retirar da conceituação sobre a ética especial, é de


que, a ética enquanto ciência normativa da conduta do homem em sociedade, pode se
desdobrar em vários campos da vida profissional e não só, com a finalidade de
humanizar as relações inter pessoal e implementar a cultura do respeito pela dignidade
da pessoa humana, responsabilidade social e qualidade na prestação de serviço no
mundo organizacional e na sociedade em geral, tendo como Alfa e Ómega o homem.

Em função dos dados acima, afirma-se que, a ética profissional ou aplicada


marca presença em todas as profissões da vida social, cujos exemplos se assentam no
seguinte:

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Deontologia: para Rocha (2010), vem do grego deon ou deonthos que significa
dever e logos que equivale a tratado ou ciência. É o tratado ou conjunto de deveres,
princípios e normas adoptadas por um determinado campo profissional. O termo como
tal foi introduzido por Jeremy Bentham, em 1834, para referir-se ao ramo da ética cujo
objecto de estudo são os fundamentos do dever e as normas morais.

Numa organização, a deontologia enquanto tratado sobre deveres articula-se em


3 dimensões: a primeira dimensão diz respeito ao dever da organização para o
funcionário, a segunda, do funcionário para a organização e a terceira, da organização e
funcionário para a sociedade. Tudo isto implica dizer que, os deveres e direitos
(deontologia e diceologia) no mundo organizacional andam de mãos dadas.

Para normatizar e fiscalizar o exercício profissional, todas as profissões


consideradas liberais, são portadoras de uma deontologia no sentido de regular as
acções operativas da profissão. E cabe às entidades representativas dessas profissões,
por determinação estatutária, a elaboração de um código de ética profissional.
(BONETTI 2012).

Bioética: segundo Bento (2008), vem do grego bios que significa vida ethos
relativo a ética. É a ciência que regula o comportamento humano no campo da vida e da
saúde à luz de valores e princípios morais racionais.

Assim, a Bioética, é um ramo da ética especial ou aplicada, que tem no seu bojo
a manifestação apologética do bem vida, apelando para o efeito a parcimónia na
operacionalização das proezas científicas, de modo a se evitar situações desastrosas da
profissão inerente ao ramo da saúde na vida social.

Ética Empresarial: refere-se a ética especial ou aplicada que reflecte o conjunto


de princípios, normas e regras de conduta que impelem o profissional de uma empresa a
pautar o seu comportamento na relação com os stakeholders, com e para os valores, de
modo a facilitar que a concretização da missão, visão e valores da empresa no mercado
e na sociedade em geral seja um facto.

Ética Pedagógica: refere-se a uma ética aplicada ao campo educacional, que


reflecte o conjunto de práticas e atitudes valorativas por parte dos profissionais do
sector da educação, no sentido de tornar possível o projecto de formação do homem
para a vida em prol do bom exercício de cidadania.

Ética nos Negócios: é o conjunto de princípios que regulam o comportamento


do homem de negócios ou comerciante, apelando-o para a observância não somente da
questão de maximização de lucros, mas também sobretudo da integridade, transparência
e promoção da cultura de responsabilidade social, respeitando desta forma os direitos do
consumidor e a preservação do meio ambiente.

Ética Jurídica: trata-se de uma ética especial ou aplicada ao mundo do Direito.


Estuda os princípios normas e regras de conduta do operador de direito, de modo a

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ajustar o seu modus vivendi e operandi, na promoção de valores, como a justiça,


lealdade, responsabilidade e integridade para o bem do homem e da sociedade de modo
geral.

Ética desportiva: trata-se de uma ética especial ou aplicada ao mundo do


Desporto. É o conjunto de princípios e normas que regulam a conduta de um
profissional ligado ao desporto, com vista a garantir a harmonia e ou espírito de equipa
no cumprimento das suas atribuições.

Ética da Família: trata-se de uma ética especial ou aplicada a uma família,


enquanto instituição primária da vida social, onde acorre a socialização primária do
homem. É o conjunto de princípios e regras que regem a conduta de uma família, tendo
como base a preservação e conservação de valores necessários ao convívio e a pratica
do bem em sociedade.

1.7. IMPLICAÇÕES DA ÉTICA DO FUTURO NA VISÃO DE HANS JONAS


NO CONTEXTO SOCIAL

Os estudos sobre a ética tal como se fez referencia nos pontos anteriores, deram
inicio na Antiguidade, tratando-se de uma ciência humana de carácter normativo apesar
das variações que foi ganhando ao longo do tempo por razões históricas. Conforme se
pode perceber, os referidos estudos com destaque para os realizados por Sócrates,
Aristóteles e Platão, tinham um cunho, mais virado para o presente.

O filósofo alemão Hans Jonas (1903-1993), considera-se como referencia na era


contemporânea, porque ao contrario de outros pensadores que o antecederam,
preocupou-se de forma sistemática, em abordar questões éticas, numa perspectiva
dualista, isto é o presente e o futuro ao mesmo tempo, onde na sua obra principio da
Responsabilidade, publicada em 1979, sustenta o seguinte:

 A sobrevivência humana, depende de nossos esforços para cuidar de nosso


planeta e seu futuro;
 Não pode o homem construir seu destino baseado numa cega ordem de
fenómenos de grande poder de transformação e destituída de valores éticos.

Em nosso entender, o posicionamento ético de Hans Jonas, é tão profundo a


ponto de gerar vários impactos positivos nas seguintes vertentes:

Vertente antropológica: a defesa da dignidade humana, constitui um direito


sublime consagrado na declaração Universal dos direitos humanos, no seu 3 ⸰ artigo.
Igualmente faz eco, no 30⸰ artigo da constituição da República de Angola. A
concretização da defesa da vida nestes documentos reitores, só é possível para além da
vontade expressa nas politicas publicas dos estados na dimensão mundial, se e somente
o homem tiver alguma preocupação com a ética, por ser o caminho e a meta da
harmonia pretendida no convívio dos homens em sociedade.

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Vertente Sócio-ambiental: a preocupação de velar pelo cuidado da natureza ou


meio ambiente na perspectiva de garantir a preservação da vida das espécies tanto no
presente e sobretudo no futuro, reflecte um direito igualmente consagrado no 39 ⸰ artigo
da constituição da República de Angola, cujo cumprimento escrupuloso, modéstia parte
clama por um auxílio ético.

Vertente da cidadania: o respeito quer pela vida, assim como pelo meio
ambiente, no sentido de beneficiar os viventes do presente e futuro, constitui um convite
ao exercício efectivo da cidadania, em que todo e qualquer cidadão é desafiado a rever-
se.

A apologia da ética do futuro defendida em primeira instancia por Hans Jonas,


conheceu vários seguidores dos quais se destaca:

Leonardo Boff: defende que a ética e as morais, devem servir a vida, à


convivência humana e a preservação da casa comum, a única que temos que é o cuidado
pela vida e o meio ambiente; A ética do respeito a outrem que impele o homem a ser
solidário com os outros em beneficio da humanidade.

Hermano Carmo: É recente a consciência de que constitui um dever cívico das


actuais gerações, responder às necessidades do presente sem comprometer as gerações
futuras deixando-lhes o planeta em condições pelo menos semelhantes às que os seus
pais lhe deixaram.

Edgar Morin: Compete-nos hoje reassociar, re-aliar o homem, a vida, a natureza


na ideia de Terra Pátria. Quando olhamos para o futuro, vemos numerosas incertezas
sobre o que será o mundo dos nossos filhos, dos nossos netos e dos filhos dos nossos
netos. Mas, pelo menos de uma coisa podemos estar seguros, se queremos que a Terra
possa satisfazer as necessidades dos seres humanos que a habitam, então a sociedade
humana devera transformar-se. Devemos por conseguinte, trabalhar para construir um
futuro viável. A democracia, a equidade, a justiça social, a paz e a harmonia com o
nosso meio ambiente natural, devem ser palavras-chave deste mundo em transformação.

Portanto, destaca-se que, é preciso resgatar a cultura do respeito e veneração pela


vida, porque é um valor que não tem preço no mercado. Para que estas premissas
encontrem eco na vida de cada homem, é necessário que cada um seja flexível a reforma
de pensamento, tal como muito bem defendeu o pensador em casa, na sua obre Pensar a
Reforma, Reformar o Pensamento a Cabeça Bem Feita.

1.8. Diferença entre a ética e a moral

Tem-se constatado no seio da classe estudantil e não só, certa confusão na


diferenciação entre a ética e a moral, onde uns consideram ser a mesma coisa e outros
alegam ser elementos diferentes mas que se completam mutuamente. Nesta
conformidade, para facilitar a compreensão a volta do assunto, julga-se necessário
começar pela definição de cada uma das partes.

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Ética: do grego Ethos que significa costume e carácter. É a parte da filosofia que
estuda os princípios que regulam a conduta humana. (ROCHA, 2010).

Trata-se de uma reflexão em torno da moralidade da conduta e ou dos actos


humanos em sociedade, centrando-se como referencial na tese da pratica do bem e
evitar o mal. Neste caso, a ética representa a parte teórica no estudo sobre a conduta
humana.

Moral: do latim, mor morales que significa hábitos e costume. É o conjunto de


normas de conduta, quer em geral, quer aquelas que são reconhecidas por um
determinado grupo humano. (Ibidem).

Refere-se ainda que, a moral, tem a ver com a qualificação que se atribui aos
actos humanos, onde se considera bom ou positivo o acto, se e somente estiver de
acordo com os padrões estabelecidos numa determinada sociedade e negativo, caso não
esteja de acordo com os padrões estabelecidos. Neste caso, a moral, representa a parte
prática no estudo sobre a conduta humana e por isso, é considerada como o objecto de
estudo da ética. A moral varia de povo para povo e de época para época, ao passo que a
ética não.

Portanto, a ética e a moral, constituem dois elementos distintos, ou seja,


diferentes mas que se completam mutuamente. A ética é diferente da moral, pela
etimologia e pela forma de actuação. Ao estabelecer os princípios de conduta do homem
em sociedade, a ética manifesta-se como uma ciência comprometida com o dever ser ou
seja, com a indicação de caminhos favoráveis ao aprimoramento do comportamento do
homem enquanto ser de relação, razão pela qual assume uma componente reflexiva e
acima de tudo teórica. Ao passo que, a moral ao reflectir a conduta e qualificação dos
actos humanos, aponta para aquilo que é, por isso, se expressa na vida pratica do
contexto social ou na atitude comportamental de cada sujeito.

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CAPÍTULO II – A RELAÇÃO DA ÉTICA COM AS OUTRAS ÁREAS DO


SABER

2.1. A ÉTICA E A PEDAGOGIA


Já anteriormente mencionamos que a ética é a parte da filosofia que se encarrega
pelo estudo analítico – reflexivo dos princípios que norteiam a conduta da pessoa
humana em sociedade.

A pedagogia por sua vez, é uma palavra de origem grega paidos, agoge, que
significa arte de guiar a criança. É a ciência que se encarrega pelo estudo de questões
relacionadas a educação. Um processo de endoculturação ou socialização, o que
equivale dizer o seu enfoque é sem quaisquer duvidas o homem, porque ela existe por
causa dele e para ele. O objectivo da educação é desenvolver em cada indivíduo, toda a
perfeição da qual ele é capaz. Esta perfeição refere-se ao desenvolvimento barmonioso
de todas as faculdades humanas, (KANT apud DURKHEIM).

Em nosso entender, a relação que deve existir entre a ética e a educação, é de


interdependência e já se tornou manifesta na antiguidade de, concretamente no século V
a, C, com o surgimento da geração de filósofos gregos que se comprometeram a reflectir
sobre o homem, a exemplo de Sócrates, Platão, Aristóteles e os Sofistas, reconhecendo
que, não pode haver educação em ética, nem ética sem educação, respectivamente.

2.2. A ÉTICA E A SOCIOLOGIA


Para Comte (apud DIAS, 2012), a Sociologia é uma ciência que estuda a
sociedade, sua organização social e os processos que interligam os indivíduos em
grupos, instituições e associações. Surgiu no século XIX, num momento em que se
consolidava a primeira fase da Revolução Industrial.

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É necessário que o estudo sobre a sociedade e os fenómenos que nela ocorrem,


seja feito na lógica de uma parceria com a ética, no sentido de tornar possível a cultura
dos valores e do respeito pelos princípios éticos e morais em prol do exercício da
cidadania.

2.3. A ÉTICA E CIÊNCIA JURÍDICA


Para o professor Catedrático Miguel Reale (1910-2006), a Ciência Jurídica é o
estudo metódico e sistemático sobre a concretização da ideia de justiça na pluralidade
de seu dever – ser histórico, tendo a pessoa como fonte de todos os valores. Envolve na
sua teoria tridimensional três elementos: a norma, o facto e valor.

Refere-se que a pessoa humana é a palavra – chave para a qual propende a acção
jurídica. O Direito, ao preocupar-se com o estabelecimento de regras por via da lei que é
a sua positivação, salvaguarda uma oportunidade solene de querer ver o homem
enquanto ser de relação, a agir de forma ordeira, civilizada e com espírito de
responsabilidade e co-responsabilidade, permitindo desta forma a preservação do meio
ambiente que o circunda e dirimir os conflitos resultantes das relações interpessoais,
rumo ao alcance do bem-estar social.

Defende-se que a ciência jurídica tem uma relação de complementaridade com a


ética, em razão desta ser uma ciência normativa de dimensão intersubjectiva com
repercussões intersubjectivas que, tendo no seu bojo, a orientação da conduta humana e
o estimulo pela pratica das virtudes e comportamentos dignos para o contexto social. É
necessário que, o operador de direito não seja apenas um especialista em questão
técnicas sobre a lei direito não mas também e acima de tudo espera-se que esteja
preparado do ponto de vista humano, no sentido de agregar valores éticos e morais
como, a integridade, lealdade, justiça transparência e respeito pela dignidade humana,
para o bem da prestação de serviços de interesse público na era dos direitos.

2.4. A ÉTICA E A ECONOMIA


Para Paul A. Samuelson, a economia ou Ciência Económica estuda a forma
como as sociedades utilizam os recursos escassos para produzir bens com valor e de
como distribuem esses mesmos bens entre os vários indivíduos. É a ciência que procura
responder três questões básicas: o que, o como e o para que produzir.

Analisando a visão conceitual acima destacam-se os seguintes pontos:

Sobre a distribuição de bens: A Economia ao preocupar-se com a distribuição


de bens, advoga-se que o faça com modéstia, na perspectiva de permitir a
implementação da justiça social, enquanto elemento condutor para o alcance do bem –
comum. Assim sendo, há necessidade de se observar a ética sempre e quando o homem
exerce as suas tarefas em relação a distribuição de bens, tendo em conta o principio da
equidade.

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Sobre a meta dos bens produzidos e distribuídos: em nosso entender, a meta dos
bens produzidos e distribuídos, destina-se fundamentalmente à concretização do bem-
estar do homem enquanto ser de relação e politico por natureza, bem como ao progresso
social, realidade esta que efectivamente pode acontecer desde que haja no seio dos
homens um senso moral e ético.

Sobre o protagonista e destinatário dos bens produzidos e distribuídos:

Distribuídos: Os dois pontos em supra, desembocam nesta última uma vez que a
economia existe por causa do homem e para o homem. Logo, considera-se que, a ética e
a economia, possuem uma relação de interdependência. Se a economia não estiver
centrada na ética, estaremos condenados a continuar a assistir posições mercantilistas
que releguem o homem para a condição de meio e o dinheiro ou a maximização de
lucros como fim último da vida social.

2.5. A ÉTICA E A ECOLOGIA


Para o professor Sérgio Túlio Cassini, a palavra ecologia é oriundo do grego
oikos que significa casa ou lugar onde se vive habitat o logos, tratado ou ciência. Foi
utilizada pela primeira vez pelo biólogo alemão Hernst Haekel em 1866 na sua obra
Generelle Morphologie der Organismen. Logo, ecologia significa o estudo do habitat.
A ciência que estuda as condições de existência dos seres vivos e as interacções de
qualquer natureza, existentes entre esses seres vivos e seu meio.

Por conseguinte, considera-se que, a relação que deve existir entre a ética e a
ecologia, é de complementaridade. O menosprezo que o homem possa fazer às questões
inerentes a ética, sobretudo no seu contacto permanente com os novos meios
tecnológicos, é passível de gerar consequências nefastas à vida dos presentes e das
posteriores gerações, dai a necessidade do cuidado e da preservação da mesma e do
meio ambiente.

2.6. A ÉTICA E A CIÊNCIA POLITICA


Para Diogo Freitas do Amaral a politica vem do grego polis quem significa
cidade. É uma competição entre homens ou grupos sociais e tem como objectivo o
governo dos povos. É também a arte de governar, conduzir e direccionar os homens, na
perspectiva de ajuda-los para p alcance da realização social.

Em relação a Ciência Politica, para Marcel Prélot e Marcelo Caetano, ela tem
como objecto de estudo. É o conhecimento descritivo, explicativo e prospectivo do
Estado e dos fenómenos que com ele se relacionam, quer por autoridade, quer por
simultaneidade ou ainda por sobreposição.

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2.7. A ÉTICA E A GESTÃO OU ADMINISTRAÇÃO


A gestão é o processo de se conseguir obter resultados, (bens ou serviços), com
o esforço dos outros. É a Ciência Social que estuda e sistematiza as práticas usadas para
administrar. É o acto de administrar ou gerência negócios, pessoas ou recursos com o
objectivo de alcançar as metas pretendidas. (TEIXEIRA, 2005).

Para Peter Drucker (1909-2005), a gestão ou administração é a ciência que trata


sobre pessoas nas organizações.

Portanto, a gestão de pessoas nas organizações, se não estiver centrada numa


perspectiva antropocêntrica e em valores éticos e morais, torna-se utopia e letra morta.
Assim sendo, considera-se fundamental que haja uma relação de complementaridade
entre a ética e a Gestão ou administração, no sentido de ajudar a humanizar as
organizações no cumprimento das suas atribuições, sem prejuízo da materialização do
seu objecto social, missão, visão e valores, respectivamente.

2.8. A ÉTICA E O JORNALISMO


O homem, desde os primórdios, por possuir uma faculdade natural identificada
por linguagem, sempre se preocupou com a comunicação, visando exteriorizar o seu
pensamento e fazer a vida na colectividade. A maneira como ele se comunica, foi
variando de tempo em tempo, na dimensão proporcional ao estado evolutivo da
tecnociência.

O jornalismo, é uma actividade profissional que consiste em lidar com as


notícias, dados factuais e divulgação de informações. É uma actividade que concorre
para a satisfação do direito de informar, de se informar e ser informado, conforme
previsto na Declaração Universal dos Direitos Humanos e no 40 ⸰ artigo da Constituição
da República de Angola.

O jornalismo é uma profissão que, exercida com apetência exacerbada pelo


dinheiro, espírito imediatista e sem ética, ao invés de contribuir para a formação da
mentalidade da população, pode servir de elemento dicotómico com os valores,
tornando-se assim letal nos actos humanos.

Portanto, o jornalismo existe por causa do homem e para o homem, defende-se


uma relação de complementaridade entre a ética e o jornalismo, de modo a ajudar os
profissionais ligados à área na agregação de valores no cumprimento das suas
atribuições, rumo a projecção de uma sociedade e ou geração comprometida com o
exercício de boa cidadania.

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2.9. A ÉTICA E A RELIGIÃO


Etimologicamente falando, a palavra religião vem do latim religare que significa
unir. Juntar ou ligar. É o conjunto de conhecimentos, acções e estruturas com as quais o
homem expressa reconhecimento, dependência e veneração em relação ao Sagrado.

Se a ética é uma parte da filosofia que estuda os princípios que disciplinam a


conduta do homem em sociedade, elevando-o a condição de saber ser e conviver com o
seu semelhante por um lado e por um lado e por outro, a religião é um caminho que
aponta para a ligação harmoniosa entre o homem e o Sagrado, na perspectiva de garantir
a salvação, não temos duvida alguma, de afirmar que entre ambas áreas do saber, deve
existir uma relação de complementaridade, porque a prática do bem colectivo,
defendida pela ética no seu principio de ouro, coabita igualmente com a doutrina
religiosa que impele o homem à estar bem consigo, com o próximo e com o divino.

1. Respeito: para o Dicionario Aurelio, vem do latim, respectus que significa olhar
outra vez, veneração e consideração. É uma qualidade que contempla
consideração, sentimento que leva alguém a tratar outra pessoa com grande
atenção e profunda deferência.
2. Sensibilidade: segundo o Dicionario Michaelis, vem do latim sensibilitas, que
significa sentir. É a capacidade de sentir e ou ser emocionalmente favorável e
compreensível. Faculdade responsável pela recepção das impressões sensoriais,
possibilitando o processo de conhecimento imediato e intuitivo que o ser
humano estabelece e vincula com os objectos.
3. Empatia: para Wispe (1986), vem do grego empatheia, que significa paixão ou
sentir com. É a capacidade de conhecer a consciência de outra pessoa e de
raciocinar de maneira análoga a ela através de um processo de imitação interna,
sendo que por meio dessa capacidade, pessoas com o mesmo nível intelectual e
moral poderiam compreender-se umas das outras. Refere-se que, o termo em
causa, foi utilizado pela primeira vez pelo filósofo alemão Rudolf Letze em
1858.
4. Prudência: de acordo com o dicionário Miachaelis, vem do latim prudentia que
quer dizer agir ou falar com cuidado, de forma justa e apropriada, cautelosa, com
moderação, com previsão e reflexão, sensata e com precaução, para evitar
possíveis danos, dificuldades, males e inconveniências.
5. Justiça: segundo Perelman (2005), é uma virtude entre outras que consiste em:
i. Dar a cada a mesma coisa;
ii. Dar a cada segundo os seus méritos;
iii. Dar a cada segundo as suas obras;
iv. Dar a cada segundo as suas necessidades;
v. Dar a cada segundo a sua posição;
vi. Dar a cada segundo o que a lei lhe atribui.
6. Integridade: para o dicionário Aurélio, vem do latim integritas que quer dizer
qualidade de ser íntegro. É aquilo que é íntegro, trata-se de alguém que é recto,
honesto e exemplar.

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iii) Integridade Profissional: Acto que consiste em manter uma conduta combinada
entre a pessoa e a profissional, de modo a viabilizar a relação de proximidade, harmonia
e progresso entre o consumidor cidadão e a organização no contexto sócio –
organizacional. Por isso, observar o principio de sigilo profissional, é uma questão de
integridade profissional, assim como respeitar as normas que regem a profissão, em
conformidade com o previsto nas clausulas contratuais entre o profissional e a
organização na qual pertence;

iv) Integridade pessoal: Acto que consiste em respeitar-se como pessoa e respeitar os
outros como pessoas, independentemente da cor, raça, etnia e condição social. Neste
caso, respeitar o nosso corpo e o do outro como templo do Espirito Santo e de um
sujeito portador de dignidade capaz de ser respeitada e preservação na qual pertence;

v) Integridade de dados: Acto que consiste em proteger os dados e ou informações


inerentes a uma pessoa ou organização, no sentido de fazer valer o direito a reserva e ou
privacidade, cuja violação é passível de responsabilização civil e criminal. O
fornecimento de dados pessoais e da estratégia de actuação de uma organização,
incluindo clientes de uma empresa ou organização por parte de profissionais à pessoas
não devidamente autorizadas, é um dos exemplos de violação do direito a integridade de
dados.

7. Educação: Etimologicamente deriva do latim educare que significa criar, nutrir,


alimentar, levar e extrair. É o desenvolvimento integral, harmonioso e progressista da
pessoa humana, até a sua plena maturidade. (Viegas, 2012).

8. Altruismo: para o dicionário Michaelis vem do latim Alter que significa o outro e do
francês Altruisme que quer dizer falta de egoísmo. O termo foi criado no século XIX,
pelo pensador francês Augusto Conte, para definir o tipo de comportamento contrário
ao egoísmo. Dito de outro modo, é a tendência de ajudar os outros desinteressadamente.

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CAPÍTULO III – DEONTOLOGIA PROFISSIONAL

3.1. DEFINIÇÃO E OBJECTIVOS DA DEONTOLOGIA PROFISSIONAL:


Deontologia Profissional: Origina-se do grego deontos que significa dever e
logos tratado ou ciência. É o conjunto de deveres, princípios e normas adoptadas por um
determinado grupo profissional, com o fito de reger a sua conduta em prol da
organização. (ROCHA 2010).

O termo Deontologia, foi utilizado pela primeira vez, por Jeremy Bentham,
filósofo inglês no ano de 1834. Envolve um código de direitos e deveres num âmbito
concreto de acção, o que implica conhecimento das competências exigidas e as relações
inerentes a cada pratica profissional em questão, uma reflexão crítica sobre esse código,
para aperfeiçoar os comportamentos dos profissionais na organização (Ibidem).

Nesta conformidade, Carapeto e Fonseca, (2012), consideram que, a deontologia


profissional conta outros com os seguintes objectivos:

 Regular o comportamento dos membros de uma profissão para alcançar a


excelência no trabalho, tendo em vista o reconhecimento pelos pares;
 Garantir a confiança do público e proteger a reputação da profissão;
 Implementar a cultura do cumprimento de princípios deontológicos, puro o bom
funcionamento dos profissionais na organização;
 Construir uma identidade capaz de ajustar a conduta dos profissionais de uma
organização, à missão, visão e valores consagrados, para o estabelecimento de

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uma relação profícua entre a organização e os demais stakeholders, assim como


a sociedade de modo geral;
 Implementar a cultura de sigilo e do cumprimento de deveres inerentes à
profissão, de modo a facilitar o normal funcionamento organizacional;

Valores organizacionais: São fenómenos que guiam a vida da organização e


possibilitam a orientação do comportamento de seus colaboradores;

Poder organizacional: É a capacidade de determinar os resultados a serem alcançados


dentro da organização;

Ritos: São as actividades que demonstram na prática, como os valores organizacionais


foram absorvidos;

Mitos: São acontecimento que por meio das acções, percepções sentimentos e
pensamentos, são manifestos em forma de histórias;

Cerimonia: Referem-se aos encontros formais ou não que concorrem dentro de um


grupo social, buscando reafirmar os seus valores, suas crenças e ou costumes;

3.4. DIMENSÕES DA DEONTOLOGIA PROFISSIONAL:


1. Dimensão pedagógica: visa incutir no seio do profissional de uma organização,
princípios educacionais adequados e desejáveis para um bom cumprimento das
atribuições profissionais. Trata-se de um dever ético que cada profissional tem de
observar para a qualidade que se pretende no exercício das suas actividades, de modo a
representar positivamente a organização em que pertence na relação com as outras
partes interessadas no contexto social e a nível do mercado.

2. Dimensão Axiológica: visa implementar no seio dos profissionais de uma


organização, a cultura de pensar e agir com, em e para os valores, com vida a tornar
eficiente e eficaz a relação entre a organização e a sociedade, partindo da lógica de que,
a organização existe por causa do homem em sociedade.

3. Dimensão Disciplinadora: visa incluir no seio dos profissionais de uma organização,


a cultura de disciplina em prol da qualidade na prestação de serviços e cumprimento das
diversas atribuições que a vida sócio – organizacional impõe. Lembrar que, a cultura de
disciplina, funciona como um comando na vida social e organizacional, cuja
inexistência compromete o progresso que se tem como meta da acção das empresas,
organizações e dos estados no mundo.

4. Dimensão Deontológica: visa implementar no seio dos profissionais, a cultura do


respeito pelo cumprimento do dever inerente a vida organizacional, de modo a facilitar a
concretização dos objectivos traçados. O dever de cumprir as normas que regem a vida
social e organizacional, é um imperativo categórico que se configura como natural ao

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homem em razão de possuir no seu sentido existencial a condição de sociabilidade e


politicidade.

CAPITULO IV - ÉTICA DEONTOLOGIA E PRATICA PROFISSIONAL

4.1. DA ÉTICA PROFISSIONAL


Um “Código Deontológico” é um conjunto de normas que incidem sobre
obrigações, responsabilidades, direitos e regulam o exercício de uma profissão,
incluindo regras de natureza:

Ética ou moral, que visam assegurar a integridade (carácter) do profissional;

Jurídica e administrativa, que visam assegurar a qualidade (técnica) do exercício


da profissão.

O objectivo é credibilizar e prestigiar a profissão e os seus agentes, através da


autoregulação, atendendo ao reconhecimento do valor social da profissão. Assim as
normas:

a) São consensuais e de fácil cumprimento, implicando sanções para os


prevaricadores;
b) Exprimem uma moral comum e tendem, cada vez mais, a aproximarem das leis
positivas.

4.2. O CÓDIGO DEONTOLÓGICO DE PROFISSIONAIS REFERE-SE:

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1. A valore e princípios éticos


2. Aos princípios da autonomia, não-maleficência, beneficência e justiça
3. À honestidade e integridade
4. Aos deveres específicos da privacidade e a confidencialidade

Refere-se também às relações com:

1. Clientes
2. Colegas
3. Outros profissionais
4. Entidades empregadoras

Hoje, porém, no contexto do respeito de todas as pessoas na sua dignidade


humana, num estatuto de plena igualdade entre todas as pessoas, as relações são
necessariamente simétricas, e assim também entre pessoas que carecem de
aconselhamento nutricional e os profissionais da área.

4.2.1. ÉTICAS APLICADAS (UTENTE)


Reflexão sobre o modo como o homem deve agir num contexto de actividade
humana específico ou particular

Moral comum

Regras morais segundo uma noção de bem/dever

Zelar pelo pessoal dimensão pessoal e social

4.3. DEONTOLOGIA (PROFISSIONAL) ÉTICA PROFISSIONAL


Moral restrita a um grupo

Regras morais, administrativas, jurídicas

Zelar pela profissão dimensão social

4.4. A MORAL COMUM: TEORIAS ÉTICAS


1. PERSPECTIVAS ÉTICAS: TELEOLÓGICA

(o termo grego telos significa “fim”) privilegia a enunciação do(s) fim(ns) ou


bem(ns) para que a acção se deve dirigir e em função do(s) qual(is) ela será ajuizada
como boa (a moralidade da acção depende do fim ou bem para que esta se dirige) /
descritivas. [Aristóteles, ética das virtudes]

O hedonismo (realização do prazer) e o utilitarismo (realização da máxima utilidade)


são teleológicas e consequencialistas.

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(o termo grego “deon significa “dever” ou “obrigação”) privilegia a


enunciação de um princípio prévio ou concomitante ao agir (que constitua também sua
causa final) segundo o qual a acção se deverá orientar e em cujo cumprimento consistirá
a sua moralidade, independentemente das consequências da acção (a moralidade da
acção depende do princípio que a determinou no seu dinamismo) prescritivas. (Kant,
ética do dever)

2. PERSPECTIVAS ÉTICAS: PROCEDIMENTAL

Empenha-se no diálogo, na comunicação entre as pessoas morais, numa


abdicação de princípios ou de finalidades previamente estabelecidas, privilegiam a
construção de amplos consensos acerca das modalidades preconizáveis da acção
(subordina-se a moralidade da acção ao juízo da maioria) consensuais. (Habermas e
Apel, ética da discussão)

3. ÉTICA DE MÁXIMOS E ÉTICA DE MÍNIMOS

No mundo actual dominado pelo pluralismo, não é possível ir muito além de


uma ética dos mínimos (ética cívica), um conjunto de princípios comuns ou
partilhados, reconhecidos por todos como obrigatórios (justiça) a qual, aliás, tende a ser
plasmada em normativa jurídica.

Uma ética dos máximos (ética pessoal), como aspiração moral desejada e
procurada (felicidade), mantém-se poderosa como ideal a alcançar, mobilizador das
vontades, e sempre por acabar.

4.5. A MORAL COMUM: ELEMENTOS DA VIDA ÉTICA


1. PRINCÍPIOS E NORMAS

Enunciados formais gerais que fundamentam e regulam a acção e se exprimem


por obrigações (interdições ou permissões).

PRINCÍPIOS NORMAS
1. Descritivos
2. Gerais 1. Prescritivos
3. Abstractos 2. Específicos
4. Fundamentadores 3. Concretos
4. Reguladores

PRIVACIDADE CONFIDENCIALIDADE

2. VALOR

Enunciados avaliativos que contêm expressões de apreciação ou depreciação

1. Concepção objectiva 2. Concepção subjectiva

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a) O valor apoia-se sobre um objecto a) O valor depende do sujeito que


bom em si mesmo classifica algo como bom

Valores objectivos: valores que não Valores subjectivos: valores que o são de
variam a partir das circunstâncias. acordo com as circunstâncias (dependem
Permanecem do espaço e do tempo)
Transmutam-se

3. VIRTUDES E DEVERES

Virtudes Deveres
Disposição habitual para bem agir ou Impõem-se como obrigação
excelência de carácter

Propõem-se como uma exortação formulam-se a partir do reconhecimento


estimulam-se a partir de uma concepção da validade da norma.
partilhada de bem

Realizam-se na prossecução do bem Cumprem-se na obediência à norma

Honestidade Integridade

4.6. A MORAL COMUM: PRINCIPIOS ÉTICA


1. PRINCÍPIOS ÉTICOS (TELEOLÓGICOS)
a) Beneficência

Obrigatoriedade de iniciativas positivas para ajudar outros, de realizar um bem;


a utilidade requer que os agentes ponderem benefícios e contrariedades para produzir os
melhores resultados globais.

b) Não-maleficência

Obrigatoriedade de não infligir qualquer mal aos outros.

2. PRINCÍPIOS ÉTICOS (DEONTOLÓGICO)

a) Autonomia

Obrigatoriedade de respeitar um agente autónomo isto é, no mínimo, reconhecer


o direito dessa pessoa manter os seus pontos de vista, fazer escolhas, e agir baseada em
valores e crenças pessoais. Inclui, pelo menos nalguns contextos, obrigações para
manter as capacidades dos outros para escolhas autónomas.

b) Justiça

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 Libertária
 Utilitária
 Igualitária
 Comunitarista
1. Libertária: obrigatoriedade de respeito integral pelos direitos individuais
(liberdade e propriedade privada), sem que o Estado tenha autoridade para impor
padrões de redistribuição;
2. Utilitária: obrigatoriedade de maximização da utilidade social (o maior bem
para o maior número de pessoas), podendo subestimar direitos, valores,
singularidades;
3. Igualitária: obrigatoriedade de distribuição igualitária de bens (atendendo à
especificidade das pessoas e grupos particulares);
4. Comunitária: obrigatoriedade de codificar as práticas sociais de acordo com as
tradições culturais de cada sociedade, tendo a comunidade prioridade sobre os
interesses particulares e mesmo sobre as liberdades individuais e o respeito pela
igualdade entre todos os cidadãos.
5. A Justiça distributiva refere-se à distribuição justa (fair), equitativa (equitable) e
apropriada, determinada por normas justificáveis que estruturam os termos da
cooperação social. Não há um único princípio que possa responder a todos os
problemas de justiça.

c) Vulnerabilidade

a) Exprime para todos a finitude e a fragilidade da existência humana que, para os que
são capazes de autonomia, funda a possibilidade e a necessidade da moral;

b) A vulnerabilidade é objecto de todo o princípio moral enquanto apelo à


responsabilidade e assinala o limite de toda a liberdade.

4.7. PROBLEMAS ÉTICOS


Estes são de natureza muito diversa, podendo-se organizar nas seguintes categorias:

1. (estatuto/papel) Os diferentes estatutos e desempenhos do profissional: relações com


empresas (comercialização dos serviços), media (publicidade), investigação científica
(assistente-investigador), as quais podem envolver conflito de interesses.

2. (relações profissionais) As diferentes relações profissionais: com os colegas


(diferentes perspectivas sobre uma mesma realidade e diferentes abordagens – a
validação científica), a equipa de saúde (competição e individualismo), o paciente
(autonomia e beneficência), os familiares (colaboração e confidencialidade).

4.8. ANÁLISE DE GRANDES VIRTUDES

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Obra central na análise das virtudes é o livro de André Comte-Sponville,


Pequeno tratado das grandes virtudes, em que cada capítulo se debruça sobre uma
virtude: Polidez, virtude de etiqueta, de aparato, “moral começa pela polidez.

1. Fidelidade, só pela memória o homem é espírito; só pela fidelidade ele é


humano fidelidade é aquilo pelo qual há valores e virtudes.
2. Prudência, é a disposição que permite deliberar correctamente acerca do que é
bom ou mau para o homem e agir de acordo com isso.
3. Temperança, é a moderação, “a prudência aplicada aos prazeres.
4. Coragem, “virtude dos heróis”, permite “enfrentar os perigos e suportar os
trabalhos
5. Justiça, é o horizonte de todas as virtudes e a lei da sua coexistência, é
igualdade dos direitos, quer sejam juridicamente estabelecidos ou moralmente
exigidos.
6. Generosidade, virtude da dádiva.
7. Compaixão, permite passar da ordem afectiva à ordem ética, do que sentimos ao
que queremos, do que somos ao que devemos.
8. Misericórdia, a “virtude que perdoa, não suprimindo a falta ou a ofensa mas
deixando de querer mal a quem ofendeu ou prejudicou
9. Gratidão, reconhecimento do que deve aos outros, “a mais agradável das
virtudes e o mais virtuoso dos prazeres.
10. Humildade, “não é ignorância do que somos mas o reconhecimento de tudo o
que não somos
11. Simplicidade, “ausência de cálculo, de artifício, de composição
12. Tolerância, opõe-se ao fanatismo, ao sectarismo, à intolerância; só vale dentro
de certos limites (“existem coisas intoleráveis, mesmo para os tolerantes”)
13. Pureza, “desejo sem falta e sem violência é a doçura., a paz, a inocência do
desejo
14. Doçura, a “benignidade, a recusa de fazer sofrer.
15. Boa-fé, a virtude que “rege as nossas relações com a verdade” - sinceridade,
veracidade, autenticidade - é “a conformidade dos actos com a vida interior”, a
verdade do que acreditamos
16. Humor, (complete)
17. Amor, (complete)

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Bibliografias

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