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ECLESIOLOGIA

AULA 6

Prof. Cicero Manoel Bezerra


CONVERSA INICIAL

Uma ideia básica a respeito da Igreja tem por início os cuidados de Jesus
para com seus discípulos, no chamado, na caminhada cotidiana e na tarefa a
ser executada, e o anúncio da mensagem das boas novas para aqueles que
precisam ouvir a respeito da salvação.
Outro fator importante para se entender a formulação da Igreja está nas
figuras pastorais, o pastor que dá a vida por suas ovelhas. Jesus algumas vezes
se apresenta como o “bom pastor”, essa era uma linguagem comum para a
época. As pessoas entendiam que os pastores tinham uma tarefa especifica,
cuidar das ovelhas, então nesta aula serão estudados a pessoa do pastor, o
conceito das ações pastorais e a importância do (a) pastor (a) para que a Igreja
exista na sua plenitude.

TEMA 1 – A PASTORAL DO SERVIÇO

O pastor como servo é o protagonista do conceito do serviço. É por meio


dele que o serviço acontece, ele é o inspirador e orientador para o que o serviço
acontece na Igreja e na vida dos servos de Deus.
O discípulo, à medida que conhece e ama a seu Senhor, experimenta a
necessidade de compartilhar com outros a sua alegria de ser enviado, de ir ao
mundo para anunciar Jesus Cristo, morto e ressuscitado, fazer realidade o amor
e o serviço na pessoa dos mais necessitados, em uma palavra, construir o Reino
de Deus. A missão é inseparável do discipulado, o qual não deve ser entendido
como uma etapa posterior à formação, ainda que ela seja realizada de diversas
maneiras de acordo com a própria vocação e o momento da maturidade humana
e cristã em que se encontre a pessoa (Aparecida, 2007, p. 65).
Tendo essa compreensão, percebemos que o serviço deve acontecer
num ambiente pastoral. Para termos melhor entendimento sobre esse assunto,
faremos uma análise do texto bíblico a respeito do bom pastor. O texto está no
livro de João, capitulo 10.1-21. Os ensinamentos são amplos – Jesus apresenta
lições importantíssimas para a prática do serviço. Conceituaremos o pastor, o
trabalho pastoral e as ações pertinentes.
Jesus descreve a si mesmo como o bom pastor comparado aos maus
pastores. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas; os fariseus, de outra forma,
não se preocupam com as ovelhas e as expulsam; o cego de nascimento foi

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excomungado pelas autoridades judaicas, porém Jesus, como o bom pastor,
buscou-o e apresentou para ele a salvação.

TEMA 2 – ANÁLISE DA FIGURA PASTORAL PARA ENTENDER AS FUNÇÕES

Os povos originários de Israel tinham como base de vida o conceito de


nomadismo, não tinham um local fixo e estabelecido para firmarem residência,
principalmente os pastores de ovelhas, cuja função requeria constante mudança
e busca de melhor pasto.
Nessa busca de melhores condições para o rebanho, várias experiências
eram adquiridas no trato com as ovelhas. Uma característica fundamental para
os pastores era a firmeza e a objetividade, ao mesmo tempo o cuidado e a
proteção para com as ovelhas do seu rebanho.
O pastor, na sua firmeza, às vezes tinha que agir com uma certa
determinação visando a proteção do rebanho, sua autoridade se legitimava a
partir da sua dedicação.
Esse conceito pastoral permeia a cultura de israel, pois desde o início o
povo entendia os governantes como cuidadores e protetores; já os primeiros reis,
Saul, Davi e Salomão, eram citados como os pastores de Israel (II Sm 5,2; Sl
78,70). (Jr 2,8;25,34-36). Até mesmo os nobres tinham essa característica de
cuidar do rebanho e protegê-lo.
Quando se tem esse pano de fundo, fica mais fácil entender as funções
pastorais. Esse é o modelo a ser seguido: o pastor tem como referência as
escrituras sagradas, não as técnicas empresariais ou de autoajuda.

TEMA 3 – O TRABALHO PASTORAL

Ainda no Novo Testamento, essa figura se aplica aos líderes da Igreja.


Os presbíteros de Éfeso pastoreavam O trabalho pastoral era árduo, com
muito serviço e pouca estrutura para a realização das tarefas, e as situações
climáticas eram árduas, o deslocamento era difícil, o trabalho diário era muito
desgastante. Trazendo essa figura para o contexto do Novo Testamento, temos
muito a aprender com essa metáfora.
Nos tempos do Novo Testamento, entretanto, a reputação dos pastores
tinha sido bastante alterada. Em nome de uma lei, que mal podiam cumprir, eles
eram comparados a ladrões e assassinos. “Os pastores não eram vistos com

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grande confiança; havendo até mesmo um ditado popular que incluía o seu
trabalho entre as profissões que o judeu não devia ensinar a seu filho”
Todavia, seguindo a tradição profética e trazendo de volta à memória do
povo a profecia sobre o pastor futuro, Jesus se apresenta como o “bom pastor”.
Essa figura é detalhada de maneira maravilhosa no capítulo 10 do evangelho de
João. Como pastor, ele guia, salva e alimenta as ovelhas (v. 9) e lhes dá a vida
eterna (v. 10, 28) por meio de um sacrifício à Igreja (At 20:28; Ef 4:11).
A ideia de liderança e supervisão orientada pelo apostolo Paulo para as
igrejas da Ásia Menor tinha como pressupostos a humildade e a dedicação, mas
de certa forma essa regra não se aplicava a todos: alguns aproveitavam a
situação de liderança para se promover e obter vantagens pessoais. Jesus é o
exemplo a ser seguido. A partir das lições e práticas ensinadas por jesus, o
trabalho pastoral deve ser desenvolvido (At 20:29; Jd 12)
O trabalho pastoral deve servir de referência para as pessoas que são
cuidadas, porque existe uma relação de confiança e respeito.

TEMA 4 – O PASTOR É PASTOR

O pastor é pastor, não precisa provar isso em termos documentais;


também não é uma redundância, será pastor à medida que exercer o pastorado
e conduzir um rebanho de tal forma que consiga construir uma postura bíblica e
coerente com seu tempo, apresentando alternativas libertadoras e esperançosas
para aqueles que estiverem envolvidos no seu campo de ação.

Para ilustrar: O Leão não precisa metamorfosear-se para obter sua


presa, ele a consegue na qualidade dele mesmo. Antes de partir para
o ataque, ele ruge, deixando-se reconhecer; único como é, ele pode
revelar sua intenção anunciando-a bem alto, de forma audível a todas
as criaturas. Há aí uma obstinação que jamais se transforma em
qualquer outra coisa e que, por isso mesmo, espraia um pavor ainda
maior. Ele se basta a si mesmo, quer apenas a si mesmo. Sob essa
forma, ele pareceu notável aos homens, absoluto e irresponsável, ele
não existe em função de coisa ou de pessoa alguma. Sempre que
exibiu esta forma, o exerceu sobre os homens seu maior fascínio, e,
até hoje, nada é capaz de impedir-lhe a recorrência sob essa mesma
forma. (Machiavelli, 1976)

A vocação e o ministério pastoral vão demonstrar a autenticidade do


chamado e do serviço pastoral.
Em termos conceituais, esses procedimentos teóricos constroem uma
articulação ideológica sensata e coerente com os princípios ensinados por Jesus
ou se constituem nela.

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A ação regulada por normas é realizada no seio de um grupo social cujos
membros partilham valores comuns e regem sua conduta em função deles
(teoria dos papéis). Nesse quadro, as normas gozam de uma validade social:
são reconhecidas como legítimas por seus destinatários e são objetos de
aprendizagem. Essa ação implica dois mundos que o autor é capaz de
reconhecer: um mundo objetivo (as condições e os meios) e um mundo social
(os valores).1
A ação dramática, introduzida por E. Goffman, faz referência às pessoas
que, conforme o modelo do teatro, atuam de modo a fazer nascer no outro certas
impressões e imagens delas mesmas.
“Dessa forma, o Pastor que é Pastor (relação entre título e função).
Desperta esperança e apresenta um caminho a ser seguido por aqueles que
fazem parte do mundo de vida, onde o ‘sujeito’ (neste caso, o pastor) está
inserido na igreja e na comunidade” (Santos, 2015).

TEMA 5 – ALGUMAS POSTURAS PASTORAIS

Ao relacionar a pastoral, chegamos às seguintes conclusões:

 O pastor precisa conhecer os fundamentos da ideologia.


 O pastor precisa saber lidar com as ferramentas hermenêuticas de
interpretação para entender, criar, fundamentar e orientar aqueles que ele
influencia.
 A ação pastoral é uma dinâmica que precisa estar bem fundamentada.
 O pastor deve estar consciente de sua influência, o ministério pastoral não
acontece num vazio. Existe uma relação entre o pastor, a sociedade, de
forma geral, e os indivíduos que fazem parte de sua comunidade.

Refletir a respeito da “pastoral” equivale a reconhecer que essa função da


igreja deve se concretizar em meio aos conflitos da sociedade, que a luta frente
aos que se opõem a Cristo é inevitável. “Considerai, pois, aquele que suportou
tamanha oposição dos pecadores contra si mesmo, para que não vos fatigueis,
desmaiando em vossa alma. Ora, na vossa luta contra o pecado, ainda não
tendes resistido até ao sangue” (Hb 12.3,4.).

1 PREISWERK, M. Educação popular e teologia da libertação. São Paulo: Vozes, p. 324.


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Sendo assim, a pastoral deve reconhecer sua relação com aqueles
aspectos da vida humana em que há tensões, das quais as de caráter público,
social e político são de suma importância. É ao povo seguidor de Jesus, formado
por aqueles que hoje integram seu movimento (e que durante anos na Igreja
primitiva era conhecido como “os do caminho”), que compete entender a função
pastoral. Para isso, vão contar com força e inspiração do Espírito Santo. É ao
binômio unido “Espírito-povo” que é dada a função pastoral.
Dentre o povo surgirão os pastores, inspirados e vocacionados por Deus
e capacitados pelo Espirito Santo.
No caminho entre povo, Igreja, sociedade, religião e sistemas de governo,
surge a pessoa do pastor, o indivíduo treinado para explicar a religião, não para
estar alheio aos postulados religiosos, mas, sim, para intelectualmente
esclarecer o que deve ser vivido no dia a dia pelos praticantes de sua
comunidade religiosa. Precisa-se entender que a religião exige prática, e o
principal referencial desses aspectos pragmáticos é a figura pastoral ou
sacerdotal da liderança. O pastor pode ser um especialista, mas, sem a devoção
e o entendimento a respeito de suas funções pastorais, sua tarefa acaba num
vazio.
Com a intelectualidade e a busca desordenada ao pastor especialista, o
cidadão moderno se esquece dos postulados da fé, que devem ser simples,
objetivos e práticos e que têm tudo a ver com seu cotidiano. Um relacionamento
apenas intelectual com respeito à religião redunda numa superficialidade
religiosa que acaba substituindo outras atividades, sem força para concorrer com
as pressões tanto da comunidade quanto da sociedade.

NA PRÁTICA

A pastoral é uma forma de agir cujo objetivo final é assegurar a salvação


individual no outro mundo e uma vida plena no cotidiano.

 A pastoral não é apenas uma forma de quem comanda; o pastor deve


também estar preparado para se sacrificar pela vida e pela salvação do
rebanho. Portanto, é diferente do poder real que exige um sacrifício de
seus súditos para salvar o trono.
 É uma forma de ação que não cuida apenas da comunidade como um
todo, mas de cada indivíduo em particular, durante toda a sua vida.

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 Finalmente, essa forma de ação não pode ser exercida sem o
conhecimento da mente das pessoas, sem explorar a alma delas, sem
lhes fazer revelar os segredos mais íntimos. Implica um saber da
consciência e a capacidade de dirigi-la.

FINALIZANDO

A figura pastoral exercida por homens e mulheres na Igreja reflete o


cuidado de Deus para com o seu povo.
O serviço expressa na essência no que se resumem as tarefas pastorais.
O modelo está demonstrado nas ações de Jesus: seu ministério dedicou-se a
servir as pessoas, ao ponto de afirmar que não veio para ser servido, mas para
servir.
O pastor reflete uma figura forte que inspira confiança, mas, ao mesmo
tempo, devotado com amor e cuidado para com o seu rebanho, essa é uma
figura emblemática que demonstra o trabalho pastoral, aqueles que exercem tal
função devem ter esse modelo nas suas práticas pastorais.
Os (as) lideres pastores (as) devem seguir o exemplo de Cristo, renuncia,
dedicação, empenho e compromisso com o serviço pastoral.
Os pastores e pastoras são autênticos, não precisam apresentar uma
postura que não sejam legítimas, cabe a eles exercerem suas funções de forma
legítima e verdadeira.
Os pastores precisam ser capacitados, bem formados para que exerçam
o serviço pastoral com excelência.

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REFERÊNCIAS

MACHIAVELLI, N. di B. D. O príncipe. Trad. Roberto Grassi. 3. ed. Rio de


Janeiro: Civilização Brasileira, 1976. p. 65.

PREISWERK, M. Educação popular e teologia da libertação. São Paulo:


Vozes, 1997. p. 324.

SANTOS, H. C. de P. O pastor que cuida e conduz – a formação da figura do


pastor na igreja hoje. 90 f. Dissertação (Mestrado em Teologia) – Faculdade
Jesuíta de Filosofia e Teologia, Belo Horizonte, 2015.

STOTT, J. R. W. O cristão em uma sociedade não cristã. Trad. Sileda


Steuernagel. Niterói: Vinde Comunicações, 1989.

_____. Evangelização e responsabilidade social. São Paulo: ABU, 1985. p.


56.

_____. A felicidade segundo Jesus. São Paulo: Vida Nova, 1998.

STEURNAGEL, V. R. No princípio era o verbo. Curitiba: Encontrão, 1986.

_____. E o verbo habitou entre nós. Curitiba: Encontrão,1996.

_____. E o verbo se fez carne. Curitiba: Encontrão, 1995.

_____. Obediência missionária e prática histórica. São Paulo: ABU, 1993.

_____. A missão da Igreja. Belo Horizonte: Missão, 1994.

SWINDOLL, C. Firme e seus valores. Trad. Myrian Talitha Lins. Belo Horizonte:
Betânia, 1985.

THOMPSON, J. B. Ideologia e cultura moderna. Teoria Social Crítica na era


dos meios de comunicação de massa. Petrópolis: Vozes, 1995.

TOFFLER, A. Powershift: as mudanças do poder. 4. ed. Rio de Janeiro: Record,


1995, p. 614.

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