Resumo
Resumo
Resumo
APRESENTAÇÃO:
PROF. RICARDO
SIUFI
Estrategista, seja muito bem-vindo ao curso de Pneumologia
do Estratégia MED! Meu nome é Ricardo Siufi, mais conhecido
como Siufi. Com muito orgulho, sou um dos professores do time
de Pneumologia do Estratégia MED.
Assim como você, ao longo de minha carreira, tive diversas
dúvidas. Acredite em mim, nossa jornada é mais sinuosa do que
você imagina!
No período do ensino médio, na verdade, eu não sabia qual
seria meu destino. Minha única certeza era de que eu exerceria
uma profissão cuja principal atividade fosse o CUIDADO.
Logo após me formar, prestei vestibular para Nutrição, mas,
em seguida, mudei minha escolha, não completei o processo
seletivo e prestei para Medicina. Fui aluno da Universidade
Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), instituição que guardo com
muito carinho e orgulho, na qual me graduei em 2012!
Durante o internato, passei pelos mesmos dilemas que
você: a escolha da especialidade e a escolha do melhor curso
Pré-Residência. A decisão sobre a especialidade foi fácil: queria
Cardiologia e ponto, era uma certeza! No entanto, optei por não
realizar curso Pré-Residência no quinto e sexto anos. Eu tinha um
foco muito claro em resolver questões como forma de sedimentar
a teoria conquistada ao longo dos seis anos de graduação. Foi
bastante difícil, montei meu cronograma e, por vezes, precisei
refazê-lo; recorria a alguns resumos e não tinha materiais focados
Estratégia
MED
PNEUMOLOGIA Prof. Ricardo Siufi | Pneumologia Intensiva 3
nas provas. De qualquer maneira, estudei resolvendo um bom “Professor, mas era Nutrição, depois Cardiologia e, por fim,
montante de questões e provas ao longo do sexto ano e, assim, Pneumologia. E agora Gestão?”.
fui aprovado em Clínica Médica na Universidade Estadual de É exatamente a essa reflexão que eu quero chegar para
Campinas (UNICAMP) e em primeiro lugar na Residência em deixar alguns recados para você:
Clínica Médica da Faculdade de Medicina de São José do Rio 1 – A vida, assim como a Medicina, é cheia de verdades
Preto (FAMERP). transitórias. Portanto, erre, mas corrija rapidamente, redirecione
Tranquei minha vaga, pois fiquei o ano de 2013 no sua jornada e aprenda com seus erros. Essa máxima também é
Exército Brasileiro (EB) em Brasília e, após, cursei Clínica Médica válida para questões!
na UNICAMP (2014 – 2015). Durante a Residência, pensei em 2 - Independentemente do seu posto ou de sua graduação,
diversas especialidades, mas percebi que a certeza da Cardiologia VOCÊ é um exemplo para alguém. Portanto, não se subestime.
foi transitória. Considerei Reumatologia e, ao final, prestei para 3 – Seja feliz em sua trajetória. Os desfechos podem
Pneumologia. Fui aprovado em primeiro lugar na Residência de ser muito efêmeros para serem os únicos merecedores da sua
Pneumologia na UNICAMP, onde também cursei meu mestrado. felicidade.
Assim, concluí minha formação em 2018. 4 – Viva SEU sonho. A vida é muito curta para vivermos
Por quatro anos, fui médico assistente da Unidade de os sonhos dos outros. O melhor para o próximo pode não ser o
Emergência Referenciada (UER) da UNICAMP, onde pude ver o melhor para você.
que, de fato, o interno espera de um preceptor e quais são as Saiba que o Estratégia MED tem ciência de sua principal
dores que enfrentamos durante a reta final. Até então, eu tinha função: intermediar a realização do SEU SONHO!
vivido minha experiência e, nesse período, por quatro anos, pude Caso tenha alguma dúvida, estou a sua disposição no
vivenciar a realidade de mais de 400 formandos. Fórum, ambiente em que compartilharemos experiências e
Atualmente, sou docente em Pneumologia na Faculdade dúvidas que surgirão ao longo do caminho.
São Leopoldo Mandic (SLM), em Campinas, e curso MBA (Master Um grande abraço e bons estudos!
Business Administration) Executivo em Gestão de Saúde no
Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE).
@pneumologinsta
@estrategiamed t.me/estrategiamed
Estratégia
MED
PNEUMOLOGIA Pneumologia Intensiva Estratégia
MED
SUMÁRIO
2.2 CLASSIFICAÇÃO 13
2.3 ETIOLOGIA 14
2.4 FISIOPATOLOGIA 16
2.4.2 SHUNT 18
2.4.5 HIPOVENTILAÇÃO 20
2.6 DIAGNÓSTICO 20
2.7 TRATAMENTO 22
3.3 DEFINIÇÕES 26
VENTILAÇÃO 41
3.7.1 INTRODUÇÃO 42
3.7.2.6 BURP 46
3.7.3.1 SUPRAGLÓTICOS 48
3.7.3.2.1 COMBITUBE® 50
3.8.1.1 TÉCNICA 54
3.8.1.1.1 PREPARAÇÃO 55
3.8.1.1.2 PRÉ-OXIGENAÇÃO 55
4.2.1 INTRODUÇÃO 58
4.2.6 INDICAÇÕES 62
4.2.7 CONTRAINDICAÇÕES 63
4.4.2.1 DISPARO 66
4.4.2.2 INSPIRAÇÃO 67
4.4.2.3 CICLAGEM 67
4.4.2.4 EXPIRAÇÃO 67
4.4.3 TERMINOLOGIA 68
4.4.3.12 FIO2 72
4.4.3.13 COMPLACÊNCIA 72
4.4.3.14 ELASTÂNCIA 72
4.4.3.15 RESISTÊNCIA 72
5.2 FISIOPATOLOGIA 85
5.5 TRATAMENTO 88
6.0 HEMOPTISE 91
6.1 ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA 93
6.2.3 BRONCOSCOPIA 94
6.2.5 CIRURGIA 95
PNEUMOLOGIA INTENSIVA
Futuro Residente, revisei 278 questões sobre Pneumologia
Intensiva entre 2003 e 2021 e tenho uma novidade para contar
NAS PROVAS
para você: sua incidência em provas está em crescente, assim como
a avalanche de novas publicações acerca do assunto. 8% 14%
Os temas são de igual importância e a incidência das questões
dentro das provas de Residência e de Revalidação aponta mais para 17% 6%
temas como manejo da via aérea e ventilação mecânica (VM),
o que está alinhado com a importância de tais temas nas provas
práticas. Entretanto, é provável que tenhamos um aumento das
questões sobre o tema nos próximos anos, sobretudo questões 24% 31%
sobre síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA) e VM.
Teremos novidades sobre os temas nos próximos meses e
anos e, como você já sabe, nossos resumos estão em constante
transição e andam juntos com as atualizações na literatura. Por
isso, fique de olho em nossas revisões direcionadas para sua prova Insuficiência respiratória aguda Manejo básico da via aérea
SDRA Hemop�se
Capítulo
1.0 INTRODUÇÃO
Didaticamente, dividimos todos os tópicos da pneumologia e
reservamos ao tema Pneumologia Intensiva, talvez, o resumo com maior interface
com a prova prática.
É muito importante o domínio de alguns temas, como anatomia e
fisiologia respiratória, para o completo entendimento do resumo que se segue.
Iniciarei o resumo conversando sobre insuficiência respiratória
aguda (IRpA). Acompanhamos um aumento vertiginoso de casos dessa doença frente
à pandemia de COVID-19 e, talvez, por isso, observaremos um aumento importante
em sua incidência nas provas de Residência Médica e de Revalidação. Dessa maneira,
é importante que você saiba diferenciar os principais tipos de IRpA, bem como esteja
atento aos principais mecanismos fisiopatológicos de cada caso.
Figura 1. Ventilação bolsa-válvula-máscara, técnica com dois
operadores.
Em seguida, falarei sobre a abordagem da via aérea, desde o exame físico até conceitos (como
acesso à via aérea) e dispositivos de fornecimento de oxigênio. Não se assuste com o número de recursos
visuais presentes neste resumo. A ideia é facilitar o entendimento completo da matéria.
Manterei a linearidade do assunto, e os tópicos da sequência são Ventilação Mecânica e Ventilação
Mecânica Não Invasiva (VMNI), temas em que já observávamos um aumento da incidência antes mesmo
da pandemia de COVID-19. Portanto, reserve sua energia, pois abordarei desde conceitos iniciais em VM e
VMNI até modos ventilatórios e VM em situações especiais, como na DPOC, SDRA e na COVID-19. A ideia
não é formar especialistas em VM, mas sim ensinar os conceitos, a fisiologia em torno da VM, bem como os
ajustes iniciais e a resolução de questões sobre VM.
Figura 2. Ventilador mecânico
microprocessado. Fonte:
Shutterstock.
Nosso quinto assunto talvez seja o de maior relevância nas provas de Residência: Síndrome do
Desconforto Respiratório Agudo (SDRA). Por último, trataremos de hemoptise, tema extremamente
interessante, com causas muito heterogêneas e com fluxogramas diagnósticos e terapêuticos que, por
vezes, são motivos de perguntas em provas.
Portanto, este resumo merece atenção integral, bem como uma releitura às vésperas das provas para
sedimentar os conhecimentos nele presentes e já ficar craque para as provas práticas.
Figura 4. Hemoptise.
Fonte: Shutterstock.
Capítulo
2.1 DEFINIÇÃO
A insuficiência respiratória aguda (IRpA) é uma síndrome das mais complexas dentro da clínica médica e comum a
várias patologias de etiologia pulmonar e extrapulmonar. É condição associada à alta morbimortalidade e com tendência
a um aumento em sua incidência e prevalência, segundo dados epidemiológicos recentes.
Pode ser definida como a incapacidade do sistema respiratório de manter a troca gasosa adequada pela dificuldade na oferta
de oxigênio aos tecidos ou pela inadequada remoção de gás carbônico (CO2) pelos pulmões.
Uma outra definição presente na literatura define a IRpA como a inabilidade dos pulmões em suprir as demandas metabólicas do
organismo como consequência da insuficiência da oxigenação tissular e/ou falência da homeostase do CO2.
Estrategista, a IRpA é uma síndrome, não uma doença, sendo diversas as entidades clínicas que podem cursar com ela.
Convencionalmente, é definida a partir de uma gasometria arterial com uma PaO2 < 55-60 mmHg (ou saturação menor do que 90%)
ou um valor de pH menor do que 7,34 quando associado a uma PaCO2 acima de 45-50 mmHg.
2.2 CLASSIFICAÇÃO
Tipos de insuficiência Ve n t i l a ç ã o
Gasometria arterial Oxigenação Condições clínicas
respiratória (IRpA) alveolar (VA)
Gradiente
Tipos / Variáveis pH PaCO2 PaO2 VA alveoloarterial Doenças
de O2
Pneumonia, SDRA,
Tipo I (hipoxêmica) á â ââ á áá pneumocistose, EAP,
TEP.
Hipoventilação,
Tipo II (hipercápnica) ââ áá â ââ Normal intoxicação por
benzodiazeínicos
Pneumonia + fadiga
Mista â á ââ â á
muscular
SDRA: Síndrome do desconforto respiratório agudo; EAP: Edema agudo pulmonar; TEP: Tromboembolismo pulmonar
Tabela 1. Tipos de IRpA, características gasométricas, ventilação alveolar e exemplos de condições clínicas.
A IRpA hipoxêmica ou tipo I caracteriza-se por uma PaO2 com acidemia — quadros observados no curso natural das IRpA,
baixa em ar ambiente ou em pacientes com necessidade de ou seja, caso nenhuma intervenção terapêutica seja realizada.
oxigenoterapia suplementar. A IRpA hipercápnica ou tipo II cursa Abordaremos com detalhes algumas nuances sobre gasometria
com PaCO2 alta e com acidemia resultante. Já na IRpA mista, arterial no tópico “diagnóstico”.
podemos observar hipoxemia grave associada à retenção de CO2
2.3 ETIOLOGIA
A IRpA tipo I tem quatro principais mecanismos; no entanto, sua principal causa é a inadequação do equilíbrio
entre ventilação e perfusão (ou distúrbio V/Q), ao passo que a IRpA tipo II está, invariavelmente, em maior ou menor grau,
associada à hipoventilação alveolar. Vale lembrar que a progressão da hipoventilação pode cursar com hipoxemia, por isso
os tipos de IRpA tendem a ser intercambiáveis.
Cor pulmonale
DPOC / Asma
Efeito shunt
Grandes atelectasias
Pneumonias lobares
Distúrbio da difusão
Pneumonias virais
Pneumocistose
Tabela 2. Causas de IRpA hipoxêmica. Fonte: adaptado de UpToDate. Acesso: maio/2021
Hipertensão intracraniana
Doença neuromuscular
Miastenia gravis
Esclerose múltipla
Síndrome de Guillain-Barré
Cifoescoliose
Politrauma
Futuro Residente, é importante que você saiba a diferença entre IRpA tipos I e II e, sobretudo, que a tipo II está associada à
hipoventilação. Portanto, por enquanto, decore a tabela da classificação das IRpA. Tente, também, interpretar as causas de IRpA tipo II e
tudo ficará mais claro.
2.4 FISIOPATOLOGIA
Estrategista, antes de entrarmos no que podem cursar com hipoxemia, presentes no Fluxograma 2 e
cenário da fisiopatologia da IRpA, convido-o que serão explicados separadamente em seguida.
a revisitar o livro digital de Introdução à Portanto, para entendermos a IRpA, devemos reconhecer
Pneumologia e revisar conceitos acerca da os mecanismos da hipoxemia, sendo os principais:
membrana alveoloarterial e detalhes da • Distúrbio ventilação/perfusão (mais comum);
fisiopatologia pulmonar. • Shunt direita-esquerda;
• Alteração da difusão;
Embora a maior parte das IRpAs seja sabidamente
• Diminuição da fração inspirada de oxigênio (FiO2); e
multifatorial, elas podem ser secundárias a diversos mecanismos
• Hipoventilação.
Fluxograma 2. Representação esquemática da fisiopatologia dos diferentes tipos de IRpA. Fonte: adaptado de ERJ (2003).
2.4.2 SHUNT
Efeito shunt é diferente de shunt verdadeiro, dois termos corriqueiramente confundidos na prática clínica.
Estrategista, quanto mais espessa a parede da membrana e quanto menor for a superfície de trocas gasosas, menor será a taxa de
difusão dos gases.
A difusão dos gases respiratórios ocorre sempre que um alvéolo ventilado tem contato com um capilar
perfundido e o CO2 tem uma velocidade de difusão (constante de difusão) cerca de 20 vezes maior do que
a de O2. Por isso, os pacientes podem cursar com hipoxemia sem hipercapnia e progredir apenas quando há
presença de fadiga respiratória.
Geralmente, ocorre em decorrência da diminuição da pressão barométrica (hipóxia hipobárica) em grandes altitudes. Nesses casos,
a hipoxemia leva a um mecanismo conhecido como vasoconstrição hipóxica, com um aumento da resistência vascular pulmonar e da
hipertensão pulmonar, fato semelhante ao observado em pacientes com hipoxemia refratária à suplementação adequada de oxigênio.
2.4.5 HIPOVENTILAÇÃO
Ocorre quando o ar alveolar não se renova, cursando com Portanto, podemos concluir que a IRpA tipo II pode ser
diminuição da remoção de CO2 pelos pulmões, o que eleva sua secundária à diminuição da frequência respiratória (FR) e/ou ao
pressão parcial e dificulta a entrada de oxigênio nos alvéolos. A volume corrente (VC).
queda da pressão parcial de oxigênio nos alvéolos leva a baixos Como CO2 e pH são grandezas inversamente proporcionais,
níveis de oxigênio no sangue arterial e, consequentemente, à em casos de aumento agudo do CO2, observamos uma queda do
hipoxemia, caso o indivíduo esteja respirando em ar ambiente. pH, condição denominada de acidose respiratória.
2.6 DIAGNÓSTICO
Estrategista, estamos frente a uma das grandes síndromes imediato e contínuo, com acurácia excelente quando a saturação
dentro da clínica médica e uma das que requerem maior habilidade de hemoglobina está acima de 70%.
e celeridade para serem prontamente conduzidas. Todavia, para Alguns fatores podem interferir na leitura da saturação,
sua adequada condução, é muitíssimo importante a identificação sendo os mais relevantes a má perfusão, as arritmias, os tremores
precoce, o reconhecimento de sua fisiopatologia e a pronta e a presença de esmaltes. Portanto, em casos selecionados, tanto
investigação da causa de base. o diagnóstico quanto o seguimento eventualmente deverão ser
A oximetria de pulso é extremamente útil e é uma ferramenta gasométricos.
amplamente disponível, não invasiva, que oferece resultado
A gasometria arterial é um exame reincidente em provas de Residência Médica e de Revalidação. O tema será ostensivamente abordado
pela equipe de Nefrologia, mas, aqui, focarei nos principais pontos dos distúrbios respiratórios e no fluxograma de avaliação.
Valores de referência
Gasometria arterial pH = 7,35 - 7,45
pH < 7,35 pH > 7,45 PCO2 = 35 - 45 mmHg
Bic = 22 - 26 mEq/L
BE = -2 - +2
Acidose pH normal Alcalose
PCO2 > 45 Bic < 22
mmHg mEq/L
Respiratória Metabólica
Respiratória Metabólica (PaCO2) < (Bic > 26
35 mmHg) mEq/L)
Fluxograma 3. Interpretação sistemática da gasometria arterial, com foco nos distúrbios respiratórios. BE: Base excess; PCO2: Pressão Parcial do Gás Carbônico; LSN:
Limite Superior da Normalidade; BIC: Bicarbonato sérico.
O fluxograma deixa claro que o primeiro passo para a avaliação dos distúrbios gasométricos é a avaliação do pH. Na sequência,
devemos avaliar o distúrbio primário. No entanto, quero que você foque na acidose respiratória, condição em que temos pH reduzido
com PCO2 alta e, no contexto da diferenciação diagnóstica, devemos utilizar primariamente o base excess e, após, o bicarbonato sérico. O
bicarbonato alto também é um preditor de cronicidade de insuficiência respiratória.
2.7 TRATAMENTO
O tratamento da IRpA envolve, inicialmente, a correção o pronto tratamento da doença que desencadeou a IRpA são de
da hipoxemia, bem como a garantia da ventilação alveolar extrema importância e devem ser realizados prontamente.
adequada com suporte ventilatório não invasivo ou invasivo e, Portanto, a abordagem inicial deve ser em sala de
para os pacientes candidatos, deve ser fornecida oxigenoterapia emergência, com monitorização cardíaca contínua, acesso venoso
suplementar no dispositivo adequado e devidamente titulado. periférico e oximetria digital para todos os pacientes.
Em paralelo à correção da IRpA, a correta identificação e
O ar que respiramos apresenta uma concentração de oxigênio em torno de 21% ao nível do mar (FiO2 21%). Podemos aumentar o fluxo
e a concentração de oxigênio por meio de diferentes dispositivos, que serão abordados na sequência.
A máscara facial simples (Figura 10) é útil para pacientes com necessidade
de quantidades moderadas de oxigênio para manter uma saturação aceitável.
Entretanto, sua FiO2 não é confiável, muito embora forneça frações inspiradas de
oxigênio entre 35 e 50%. Cobre nariz e boca e deve ser utilizado fluxo entre 6 e
10 litros por minuto. Tal dispositivo não protege contra a aerossolização do meio
e, por isso, perdeu espaço no contexto da pandemia de COVID-19.
Capítulo
3.1 INTRODUÇÃO
Estrategista, agora abordaremos os cuidados com a via aérea no paciente clínico, tópico com diversos recursos visuais para seu
completo aprendizado e para que você tenha um bom desempenho em suas estações práticas!
Futuro Residente, antes de decorarmos as indicações de acesso à via aérea do paciente, devemos responder a três perguntas
fundamentais:
1. Há incapacidade de manter ou proteger a via aérea?
2. Há incapacidade de ventilar ou oxigenar?
3. Qual é a evolução clínica ou desfecho esperado?
Procedimentos e cirurgias
No contexto da Medicina de Emergência, ao avaliar um nome?”. Dessa forma, já na análise da voz do paciente, poderemos
paciente, o primeiro item a ser respondido deve ser sobre a patência avaliar diversas nuances, como o estado neurológico, além da
e a eficiência da via aérea. A eficiência pode ser confirmada a eficiência da voz.
partir do diálogo com o paciente, com perguntas como “qual é seu
Aproveite a primeira avaliação para acessar o estado mental de seu paciente e avaliar se, isoladamente, temos um critério para
acessar a via aérea do doente.
3.3 DEFINIÇÕES
Futuro Residente, leve para sua vida: via aérea difícil (VAD) é diferente de via aérea falha (VAF).
Estrategista, os dois cenários podem sim sobrepor-se, mas é extremamente importante que você saiba os dois conceitos
para seguir adequadamente os fluxogramas.
Via aérea definitiva é definida como um tubo endotraqueal posicionado na traqueia com balão insuflado. Pode ser obtida com
tubo orotraqueal, nasotraqueal ou via aérea cirúrgica – cricotireoidostomia ou traqueostomia.
Estrategista, estamos diante de um conceito novo na literatura, mas que pode perfeitamente estar presente em sua
prova: crash airway.
Caso o paciente em questão apresente um estado arresponsivo — e se acredite que ele provavelmente não reaja
nem resista à laringoscopia —, está definida via aérea crítica. Aqui, também estão contemplados os pacientes com
disfunção orgânica importante, que podem evoluir para PCR em poucos segundos ou minutos, condição chamada de
pré-PCR.
Por vezes, laringoscopia e IOT difíceis estão ligadas a uma má visualização da glote. Em
outras palavras, quanto menos adequada for a visualização da glote, mais difícil será a IOT.
Figura 16. Regra 3-3-2 para avaliação da via aérea - laringoscopia difícil.
Na ausência de um método comprovado e validado e que, sobretudo, seja capaz de predizer dificuldade na IOT com alta acurácia, é
importante desenvolver uma abordagem que possibilite identificar pacientes difíceis de intubar. Nesse ponto, considerando tais dificuldades,
foi proposto o acrônimo LEMON para avaliar os pacientes em que a intubação é planejada. Tal avaliação inclui o planejamento do uso do
videolaringoscópio.
L – Olhe (Look) externamente: avaliar achados à ectoscopia que possam prejudicar a IOT.
E – Avalie (Evaluate), com a regra 3-3-2: esse passo é uma combinação de algumas variáveis que relacionam a abertura bucal e o
tamanho da mandíbula com a posição da laringe no pescoço em termos da probabilidade de sucesso de visualização das estruturas glóticas
durante a laringoscopia direta. O “3-3-2” na regra faz alusão às etapas da manobra em que, em dedos, teoricamente do próprio paciente,
são mensuradas as distâncias: A – distância de interincisivos (3 dedos); B – distância do espaço submandibular; e C – distância tireo-hioide (2
dedos).
M – Mallampati, escala de: Estrategista, estamos no item mais cobrado em provas dentro da avaliação da via aérea. A
classificação de Mallampati deve ser avaliada com o paciente sentado, com a boca em sua máxima abertura e com a maior
protrusão possível da língua, sem que o paciente emita sons. Tal avaliação não deve ser realizada com um abaixador de
língua (espátula).
Figura 17. Classificação de Mallampati, utilizada para avaliação de possível via aérea difícil. As classes de 1 a 3 correspondem ao espaço disponível para IOT, levando em
conta a abertura da boca e o tamanho da língua. As classes 1 e 2 são bons preditores.
Dica de ouro: as questões cobram duas coisas: como deve ser realizado o exame físico para a obtenção da classificação de
Mallampati ou a classe à qual o paciente pertence.
O – Obstrução/Obesidade: os quatro sinais de obstrução de vias aéreas ditos anteriormente devem ser avaliados. No que tange aos
obesos, com frequência, esses pacientes têm visualizações glóticas ruins pela laringoscopia direta e, por si só, tal achado deve ser considerado
como um preditor de laringoscopia difícil.
N – Mobilidade cervical (Neck): a capacidade de movimentar o pescoço e a cabeça durante a IOT é um dos principais fatores para obter
uma melhor visualização no procedimento. Alguns pacientes terão uma dificuldade importante nessa etapa, como é o caso de pacientes com
colar cervical, espondilite anquilosante, hipercifose, pacientes com artrodese de coluna cervical e alguns pacientes com artrite reumatoide.
resistência à ventilação, como asma, DPOC, doenças pulmonares A – Idade (Age): idade acima de 55 anos é
restritivas, entre outras. um preditor de risco isolado que dificulta a ventilação BVM.
O – Obesidade/Obstrução/Apneia obstrutiva do sono: N – Nenhum dente: em algumas referências, citado como
também chamados de triplo O, os três atributos estão interligados paciente edêntulo.
e dificultam sobremaneira a ventilação.
Figura 21. Principais acrônimos utilizados na avaliação da via aérea e o que avaliam.
Com a finalidade de minimizar os erros, bem como de O Fluxograma 4 traz o algoritmo universal
melhorar a eficiência na tomada de decisão no contexto da via da via aérea no departamento de emergência. Veja
aérea, alguns algoritmos foram propostos. Um dos objetivos é que a definição de VAF é crucial. Portanto, se você
simplificar algumas das complexidades do manejo da via aérea esqueceu esse conceito por um momento, retorne
de emergência, definindo diferentes cenários e propostas de ao tópico e revise-o, pois, independentemente
resolução dos problemas. Como estamos frente a uma emergência, do que foi utilizado no início (via aérea imediata,
as respostas dos nossos algoritmos são sempre binárias: “sim” e sequência rápida de intubação – SRI ou VAD), se houver falha na
“não”. obtenção da via aérea, o algoritmo da VAF deve ser prontamente
Em linhas gerais, todos os algoritmos de via aérea iniciam acionado!
com a decisão de intubar e terminam quando a via aérea está
assegurada, seja por IOT, seja por outro método de acesso à via
aérea.
Inconsciente,
arresponsivo, pré -
parada
cardiorespiratória
Sim Não
Falhou
Ir para o algoritmo
de via aérea falha Falhou
Falhou
No contexto de um paciente
Algoritmo da Via Aérea Crítica ou “Crash Airway”
inconsciente, não responsivo ou
no cenário de pré-PCR, devemos,
imediatamente, acionar o algoritmo da via aérea crítica ou
(”crash airway”)
crash airway. Nele, podemos observar identificada
que sempre estamos frente a um paciente
com pulso, mas com risco de vida imediato. A ideia central
da via aérea crítica é que estaremos diante de um paciente Manter oxigenação
minimamente reativo, a ponto de não reagir nem resistir
à laringoscopia. Portanto, em um primeiro momento, a
sedoanalgesia não se faz necessária. Sim
Tentativa de IOT
Antes de iniciar a abordagem, supõe-se que a Manejo pós IOT
bem-sucedida?
ventilação BVM já tenha sido instituída.
Não
Veja que todas as perguntas são binárias e que a via
final de todo algoritmo de via aérea na emergência sempre Sim
Falha em manter a
termina em dois braços: sucesso na obtenção de uma via Via aérea falha
oxigenação?
aérea ou na VAF.
Não
Succinilcolina 2
mg/Kg em bolus IV
Tentar IOT
Sim
Sucesso? Manejo pós IOT
Não
Não
≥ 3 tentativas por
profissional Sim
experiente?
Não
Fluxograma 5. Algoritmo da via aérea crítica ou crash airway. Fonte: adaptado de Walls
(2019).
Prof. Ricardo Siufi | Resumo Estratégico | Setembro 2021 33
PNEUMOLOGIA Pneumologia Intensiva Estratégia
MED
Futuro Residente, talvez aqui esteja imediatamente, antes que haja deterioração rápida do paciente até
um dos fluxogramas mais temidos quando uma PCR, como anafilaxia com indicação de via aérea.
estudamos via aérea. Portanto, bastante 2. “Melhor tentativa” – aquela tentativa que, pela avaliação
atenção, pois tentarei deixá-lo o mais claro do profissional, tenha maior chance de sucesso, ou seja, com
possível. paciente devidamente sedado, com analgesia adequada e, caso
Uma coisa é fato: você já está indicado, com o adequado bloqueio neuromuscular.
craque na identificação de uma VAD com os acrônimos fixados 3. “SRI com preparação dupla” – sequência rápida de
anteriormente. Caso você a identifique, o primeiro passo é pedir intubação no cenário em que o plano de resgate (em geral a
ajuda, a depender das circunstâncias clínicas específicas, bem cricotireoidostomia) é claramente estabelecido e o operador está
como da habilidade do profissional. preparado para passar imediatamente para a técnica de resgate,
Veja que temos alguns conceitos novos em nosso fluxograma: caso a IOT com o uso da SRI não alcance sucesso e o paciente
1. “Forçado a agir” – ainda que a via aérea seja identificada perfaça critérios para VAF.
como difícil, as condições do paciente forçam o profissional a agir
A melhor tentativa
Forçado a agir? Seguir com SRI obteve sucesso?
Não
Não Sim
Não
Fluxograma 6. Algoritmo da via aérea difícil. Fonte: adaptado de Walls,(2019). SRI: Sequência Rápida de Intubação;
IOT: Intubação Orotraqueal; BVM: Bolsa-Válvula-Máscara; DEG: Dispositivo Extraglótico;
Estrategista, a VAF é uma via sempre possível dentro de paciente não consiga (NINO), temos pouco tempo para agir antes
nossos algoritmos e, diferentemente da VAD, em que o objetivo é que ocorra hipóxia cerebral, por isso a ação deve ser imediata.
alocar um tubo na traqueia com o balonete insuflado, no contexto Podemos tentar a inserção de um único dispositivo extraglótico
da VAF, ações são necessárias para o fornecimento adequado da simultaneamente à preparação para cricotireoidostomia.
oxigenação de emergência, especialmente no cenário NINO. Entretanto, em um cenário de “não intubo, mas oxigeno”, vários
Universalmente, o primeiro passo deve ser pedir ajuda tão dispositivos estão disponíveis para a obtenção de uma via aérea e
logo a VAF a maioria também oferece algum grau de proteção. Vale lembrar
seja identificada. Após, devemos atuar em dois cenários que, entre os dispositivos extraglóticos, a máscara laríngea é o
distintos: o paciente consegue ou não consegue oxigenar? Caso o dispositivo preferível.
Videolaringoscopia,
broncofibroscopia Se contraindicada
flexível, DEG,
cricotireoidostomia
Adaptado Walls,
2019
Tubo Endotraqueal
com balonete Manejo pós IOT
posicionado?
Futuro Residente, tenha um conceito em mente: a abertura das vias aéreas deve anteceder a colocação da máscara facial. Vale
lembrar que a oclusão funcional das vias aéreas é comum em pacientes torporosos em posição supina, sobretudo em pacientes sob o efeito
de drogas de ação central e bloqueadores neuromusculares.
Caso estejamos frente a um paciente com obstrução de via aérea alta por corpo estranho, devemos
simular a tosse com alguma manobra. A mais bem descrita é a manobra de Heimlich ou manobra de
desobstrução das vias aéreas que, em última análise, é a pressão abdominal com elevação súbita do
diafragma, com aumento da pressão intratorácica, de modo que o paciente consiga expulsar o corpo estranho
que obstrui totalmente as vias aéreas.
O paciente apresentará sinais de obstrução, como tosse ineficaz, incapacidade de emitir sons, apneia
e sinal universal do engasgo.
Em crianças com idade superior a um ano, desde que conscientes, a manobra deve ser realizada da
seguinte maneira: Figura 22. Sinal universal do
engasgo. Fonte: Shutterstock.
Uma outra maneira de garantir a perviedade das vias aéreas é por meio da utilização de equipamentos básicos, como a cânula
orofaríngea (COF) e a cânula nasofaríngea (CNF).
A COF deve ser inserida na boca aberta em posição invertida, com sua
extremidade deslizando ao longo do palato. Conforme progride, na transição do
palato duro com o palato mole, deve ser rotacionada 180° até sua posição final,
com o rebordo em contato contra os lábios. Tal técnica minimiza a chance da COF
deslocar a base da língua posteriormente.
Sempre que possível, a técnica com as duas mãos deve ser utilizada.
VENTILAÇÃO
O objetivo é a ventilação sem pressão inspiratória excessiva, com a administração de 10-12 respirações com volume reduzido (5-7 mL/
kg, o que para um adulto médio gira em torno de 500 mL). A inspiração deve ter a duração de 1-2 segundos cada uma.
Estrategista, não a confunda com a manobra BURP, que será explicada adiante.
3.7.1 INTRODUÇÃO
Futuro Residente, aqui abordaremos os métodos de obter sucesso nas estações práticas das provas!
obtenção de uma via aérea definitiva, procedimento denominado Vale lembrar que os algoritmos da tomada de decisão já foram
de manejo avançado da via aérea. Também abordaremos os estudados, por isso abordaremos apenas as questões técnicas, bem
dispositivos extraglóticos que, por vezes, não são necessariamente como vantagens e desvantagens de cada procedimento. Aperte os
definitivos, mas excelentes alternativas em casos selecionados. cintos e vamos em frente!
Relembro-o de que chegamos a uma parte crucial para quem quer
O adequado
reconhecimento dos planos
anatômicos é fundamental
para uma LD de sucesso. Sendo
assim, as estruturas que devem
ser prontamente reconhecidas
são pregas vocais, epiglote,
aritenoides e esôfago.
Figura 36. Principais referências anatômicas durante a laringoscopia.
Figura 42. Introdução do tubo orotraqueal após adequada visualização das pregas vocais. Fonte: Shutterstock.
Nas duas situações, após visualizar adequadamente as pregas vocais, passa-se o tubo orotraqueal (TOT) através das pregas vocais até
a traqueia, garantindo que o balonete do TOT se posicione imediatamente abaixo das pregas vocais.
Deve-se evitar o movimento de báscula durante a realização do procedimento pelo risco de trauma e avulsão dentária. A
tração do cabo do laringoscópio deve ser realizada em direção superior e caudal, em direção única e reta.
3.7.2.6 BURP
A radiografia de tórax é sistematicamente utilizada na prática costumeiramente gera dúvidas e discussões à beira do leito é o
clínica. Todavia, uma coisa que poucos sabem é que o exame não embaçamento (condensação) do TOT, achado não confiável para
deve ser utilizado para diferenciar se o TOT está na traqueia ou confirmação da posição do TOT; por isso, não deve ser utilizado
no esôfago, mas apenas para avaliar a profundidade adequada para checagem da sua posição.
para fins de avaliação da seletividade do TOT. Uma questão que
Futuro Residente, existe uma ampla gama de VL disponíveis para uso clínico;
no entanto, pelo seu custo elevado, ainda são pouco disponíveis na prática clínica.
A literatura compara a VL com a LD no departamento de emergência e tem
mostrado, de forma consistente, que a VL é superior ou, ao menos, igual à LD para
IOT.
O conjunto de dispositivos de manejo da via aérea, que são inseridos na hipofaringe e no esôfago superior, ainda carece de
padronização. Aqui, trataremos tais dispositivos como extraglóticos, que podem ser subdivididos em supraglóticos (acima da laringe) e em
retroglóticos ou infraglóticos, que são os dispositivos inseridos às cegas no esôfago superior.
3.7.3.1 SUPRAGLÓTICOS
Figura 49. Posição adequada da máscara laríngea com seu balonete insuflado
e sobre o introito da laringe, permitindo ventilação e vedação adequadas.
Dentro do espectro dos dispositivos retroglóticos, todos compartilham características de projeto, como duas bolsas de grande volume
e baixa pressão, sendo que a bolsa proximal veda a orofaringe, ao passo que a bolsa distal veda o esôfago, com o gás saindo e entrando no
dispositivo e na via de entrada da laringe entre as duas bolsas.
3.7.3.2.1 COMBITUBE®
Estrategista, assim como a ML, o Combitube® não é uma via aérea definitiva.
Um pequeno balonete distal e um grande proximal foram desenvolvidos para obliterar o esôfago/traqueia e a hipofaringe,
respectivamente.
Uma das maiores desvantagens do Combitube® é a impossibilidade de aspiração das vias aéreas quando na posição esofágica.
Entre suas complicações, incluem-se perfuração esofágica ou traqueal, incapacidade de proporcionar uma ventilação adequada e
laceração da faringe e da hipofaringe.
A IOT com broncoscópio flexível é uma técnica, por vezes, valiosa no manejo da via aérea, em especial nos pacientes em que
a laringoscopia e a IOT têm previsão de serem difíceis ou impossíveis. Os dispositivos endoscópicos podem ser utilizados inclusive para
avaliação diagnóstica da via aérea superior e para IOT.
CRICOTIREOIDOSTOMIA Técnica utilizada em cenários emergenciais como última opção de acesso à via
PERCUTÂNEA COM PUNÇÃO aérea na indisponibilidade de material ou de condições de obter outro acesso.
POR AGULHA Por meio desse dispositivo, é realizada a ventilação a jato transtraqueal.
CRICOTIREOIDOSTOMIA
Essa técnica é de fácil execução e fácil aprendizado. Utiliza-se o famoso “kit de
PERCUTÂNEA PELA TÉCNICA DE
crico” presente nas caixas de material de via aérea difícil.
SELDINGER
Estrategista, mais importante universal da via aérea. Fique atento! O tema cai muito em provas!
do que conhecer a SRI é, de fato, saber Nele, podemos ver que o paciente candidato à SRI é o
quando se deve utilizá-la. Portanto, paciente consciente, responsivo e sem critérios para VAD, como
trago novamente um algoritmo já vimos nos acrônimos previamente apresentados.
conhecido por você: o algoritmo Pois bem, do que se trata a SRI?
Inconsciente,
arresponsivo, pré-
parada
cardiorespiratória
Sim Não
Falhou
Ir para o algoritmo
de via aérea falha
Falhou Falhou
Fluxograma 8. Algoritmo universal da via aérea no departamento de emergência. Fonte: adaptado de Walls (2019).
O propósito da SRI é deixar o paciente inconsciente e paralisado para, então, intubar a traqueia com o paciente oxigenado e
fisiologicamente otimizado, sem o uso de VBVM, que pode cursar com distensão gástrica e aumentar o risco de aspiração.
3.8.1.1 TÉCNICA
7 Pós-intubação (manejo)
Tabela 7. Os 7 Ps da sequência rápida de intubação. Fonte: adaptado de Walls
(2019).
3.8.1.1.1 PREPARAÇÃO
Trata-se do manejo do paciente crítico como um todo, com monitorização multiparamétrica e acessos venosos. Aqui, o paciente já
com o manejo básico da via aérea otimizado.
É importante também uma avaliação completa sobre a possibilidade de VAD com os acrônimos já apresentados. Todo o material para
o procedimento deve estar devidamente preparado e as medicações aspiradas.
3.8.1.1.2 PRÉ-OXIGENAÇÃO
Essa etapa envolve a otimização, bem como a mitigação, de desidratação, sepse e cardiopatia, condições que podem complicar
áreas de vulnerabilidade cardiopulmonar que podem complicar o manejo do paciente crítico.
os esforços de reanimação, mesmo se a IOT for rápida e sem O fentanil é um dos agentes recomendados nessa fase,
incidentes. Portanto, tenha uma coisa em mente: se a necessidade com o objetivo de reduzir a resposta cardiovascular exacerbada
de IOT não for imediata, os parâmetros hemodinâmicos anormais e a pressão intracraniana; no entanto, sua aplicação pode cursar
devem ser normalizados o quanto antes. com depressão respiratória, hipotensão (por redução da atividade
O problema mais comumente observado é a hipotensão, simpática) e tórax rígido. Por motivos didáticos, será incluído na
mas também podemos encontrar pacientes com sangramento, tabela junto com as medicações da próxima fase.
Estrategista, aqui um agente indutor de ação rápida deve ser administrado em dose adequada para que o paciente evolua, rapidamente,
com perda da consciência e que tal perda seja seguida, de imediato, pela administração de um bloqueador neuromuscular, em geral, a
succinilcolina.
Medicação /
Benefícios Desvantagens Contraindicações Dose
Características
Rápido início de
Hipotensão / risco de Hipersensibilidade ao 1 - 3 mcg/
Pré-tratamento Fentanil ação, potente
rigidez (tórax rígido) fentanil / bradicardia Kg
analgésico
Hipersensibilidade
Depressão miocárdica
Sedação com ao midazolan / 0,2 - 0,3
Midazolan dose-dependente /
amnésia depressão respiratória mg/Kg
depressão respiratória
e miocárdica
Bloqueio rápido
Fasciculações / risco
e curto, principal Rabdomióse /
de hipertemia maligna 1 - 1,5
Succinilcolina droga na indução hipercalemia /
/ trismo / risco de mg/Kg
sequencial rápida insuficiência renal
paralisia prolongada
(ISR)
Paralisia
BNM
adespolarizante Bloqueio mais
/ droga de prolongado (40-60 Hipersensibilidade ao
Rocurônio 1 mg/Kg
escolha quando min) / taquicardia / rocurônio
succinilcolina está miopatia
contraindicada
Tabela 8. Principais características das principais medicações utilizadas na sequência rápida de intubação.
Após a administração do BNM, caso o paciente esteja de fato flácido, devemos prosseguir com a IOT (posicionamento do TOT). Vale
lembrar que todos os passos anteriores foram feitos visando a IOT! Portanto, caso o paciente não tenha comorbidade grave e os passos
anteriores tenham sido cumpridos, você terá um tempo hábil de apneia segura maior, permitindo que a IOT seja realizada de maneira delicada
e segura.
Após o posicionamento do TOT, ele deve ser checado conforme explicado anteriormente.
Futuro Residente, após a confirmação da localização do TOT, ele deve ser fixado junto à rima labial. Uma radiografia de tórax deve ser
sistematicamente solicitada para checar parênquima pulmonar e complicações, como pneumotórax e IOT seletiva, que é mais comum no
brônquio principal direito.
Capítulo
4.1 INTRODUÇÃO
Estrategista, em linhas gerais, o suporte ventilatório é definido como a aplicação de pressão positiva na via aérea do paciente de
maneira artificial. Para todos os fins, pode ser subdividido em suporte invasivo e não invasivo.
Portanto, abordaremos os temas de maneira separada, iniciando pela ventilação mecânica não invasiva (VMNI) e, na sequência,
abordaremos a ventilação mecânica invasiva (VMI), ambas com diferentes graus de complexidade, mas de grande importância.
4.2.1 INTRODUÇÃO
A VMNI pode ser definida como todo suporte ventilatório com pressão
positiva ofertado ao paciente por meio de uma máscara, aqui chamada de
interface, dispensando a necessidade de uma via aérea definitiva.
A VMNI é dividida em dois principais modos ventilatórios: o CPAP (Continuous Positive Airway Pressure) e o BiPAP (Bi-level Positive
Airway Pressure, que em algumas referências também é encontrado como Biphasic Positive Airway Pressure), como descrito na Tabela 9.
Modos Descrição
Neste momento, é de extrema importância que você saiba alguns conceitos e terminologias utilizadas na VMNI:
Estrategista, um erro muito visto em discussões à beira do leito é a confusão na terminologia da VMNI,
sobretudo o tratamento de PS e IPAP como sinônimos.
O modo CPAP (Continuous Positive Airway Pressure) impõe um nível de pressão ao longo do ciclo respiratório. Tal modalidade não gera
fluxo e tem seu principal benefício na fase expiratória, por manter uma EPAP que, para todos os fins, é sinônimo de PEEP (Positive End
Expiratory Pressure), com melhora nas trocas gasosas.
Futuro Residente, é motivo de discussão na literatura se CPAP é uma modalidade de VMNI, visto que não fornece um delta
pressórico e, assim, não gera ventilação.
Também conhecida como VMNI com pressão positiva ou VMNI em dois níveis de pressão, a pressão do fluxo de ar programada oscila
entre uma pressão positiva inspiratória na via aérea (IPAP) e uma pressão positiva expiratória na via aérea (EPAP) e tal modo é denominado
de BiPAP (Bilevel Positive Airway Pressure). É capaz de gerar fluxo e, por isso, ventilação.
Estrategista, conceitualmente, podemos pensar no BiPAP como uma CPAP com pressão de suporte (PS).
Vantagens Desvantagens
Possibilidade de manter a comunicação com o paciente Possibilidade de lesão por pressão da pele em contato
e alimentação pela via oral com a interface
4.2.6 INDICAÇÕES
Evidência
Indicação Recomendações
favorável
Exacerbação aguda
hipercápnica da doença Diminui necessidade de intubação orotraqueal (IOT), tempo de internação
Forte
pulmonar obstrutiva e mortalidade. Deve ser utilizado o BiPAP para reversão da hipercapnia.
crônica (EADPOC)
Edema agudo
Diminui necessidade de IOT e mortalidade hospitalar. Pode ser utilizado
de pulmão (EAP) Moderada
tanto o BiPAP quanto o CPAP.
cardiogênico
Insuficiência
respiratória aguda Recomendado nos 7 dias do pós-operatório, sobretudo procedimentos de
Moderada
(IRpA) no pós- alto risco de atelectasia no pós-operatório.
operatório
Pós-extubação imediata
Deve ser utilizada imediatamente após a extubação em um grupo
em pacientes de alto
Baixa selecionado de pacientes sob risco para tal complicação, como pacientes
risco de falência à
obesos, com doença respiratória cardiovascular e outras.
extubação
Futuro Residente, fique atento! Quando a falência respiratória pós-extubação já está estabelecida (nas primeiras 48 horas
pós-extubação, o chamado IRpA de novo na literatura), a VMNI não parece prevenir a necessidade de reintubação, por isso o
paciente deve ser submetido à reintubação.
4.2.7 CONTRAINDICAÇÕES
Trata-se de um tópico controverso, sobretudo se analisarmos as questões que cobram tal conceito nos últimos anos. Entretanto,
devemos estar atualizados e pautados em uma referência robusta e o que temos é a III Diretriz Brasileira de Ventilação Mecânica, publicada
em 2013.
É importante saber que, para fazer VMNI, o paciente tem que ter drive respiratório. A mais importante contraindicação absoluta à
VMNI é a indicação imediata de VMI.
Falência orgânicas não respiratórias (encefalopatia, taqui ou bradiarritmias, hemorragia digestiva, instabilidade
hemodinâmica)
Estrategista, quem vê os ventiladores atuais (ventiladores de quarta geração) não imagina que eles são
fruto de uma evolução de décadas de estudo e de hipóteses que mais se adaptariam à respiração fisiológica,
respeitando a reprodutibilidade do método. E o mais incrível, acredite, é que, em um dado momento da história,
os ventiladores ventilavam com pressões negativas para simular a respiração fisiológica!
Atualmente, estamos na fase do ventilador microprocessado, capaz de diversas funcionalidades que não
se limitam apenas a ventilar o paciente, mas a gerar uma alça de feedback entre a ventilação e os aspectos
fisiopatológicos pulmonares. Talvez aí esteja o maior avanço na ventilação mecânica.
Os ventiladores modernos fornecem uma mistura pressurizada de ar comprimido e oxigênio, fechando e abrindo de maneira cíclica as
válvulas inspiratória e expiratória por meio de controle microprocessado.
Observe que o controlador determina o fluxo a ser gerado, bem como a mistura de ar a ser entregue ao doente. Tal fluxo imposto
provocará aumento nas pressões das vias aéreas de acordo com as características mecânicas do sistema respiratório, ou seja, de acordo com
a complacência e a resistência, que são inerentes ao paciente.
Parâmetros
programados pelo
usuário
Controlador
microprocessado
Características inerentes ao
Partes mecânicas do Fluxo para o paciente
paciente (complacência,
ventilador
resistência, esforço muscular)
Figura 61.
4.4.2.1 DISPARO
É a mudança da fase expiratória para a fase inspiratória. Aqui, ocorre o fechamento da válvula expiratória e a abertura da válvula
inspiratória. O disparo pode ser desencadeado pelo ventilador ou pelo paciente (controlado ou assistido, respectivamente). Quando
assistido, ou seja, realizado pelo paciente, o disparo acontece após a detecção de esforço inspiratório do paciente, que pode ser por detecção
de uma mudança de pressão (queda) ou de fluxo (aumento) medida nas vias aéreas.
4.4.2.2 INSPIRAÇÃO
Nessa fase, o ventilador deverá insuflar os pulmões do paciente com o objetivo de manter as variáveis de controle preestabelecidas.
Para isso, deverá vencer as propriedades elásticas e resistivas do sistema respiratório.
Veja que, nessa fase, a válvula inspiratória está aberta e a expiratória está totalmente fechada.
4.4.2.3 CICLAGEM
Trata-se da interrupção da inspiração (fechamento da válvula inspiratória) e abertura da válvula expiratória. Com isso, dá-se início ao
processo de expiração.
4.4.2.4 EXPIRAÇÃO
A expiração é um processo passivo que ocorre com fechamento da válvula inspiratória e abertura parcial da válvula expiratória
para que uma PEEP seja mantida.
O gráfico representa uma curva fluxo por tempo e explica, dentro da curva, as fases do ciclo respiratório.
Figura 64. Gráfico fluxo por tempo, com representação esquemática das fases do ciclo respiratório.
4.4.3 TERMINOLOGIA
Estrategista, diversas vezes fui abordado à beira do leito por estudantes de Medicina que falaram que desistiram do
estudo de ventilação mecânica por parecer um universo à parte, com diversas expressões novas e representações gráficas
que parecem não fazer sentido.
Veja, meu papel aqui é de facilitador para seu completo entendimento da matéria. Para isso,
preciso que se esforce ao máximo para gravar as principais terminologias em ventilação mecânica. Aqui,
falaremos sobre os principais parâmetros que podem ser ajustados ou monitorizados ao longo da ventilação mecânica.
É a representação indireta da pressão alveolar, registrada durante uma pausa inspiratória de 2 segundos, na ausência de esforço do
paciente. É útil tanto para o cálculo da Driving Pressure (DP) quanto da complacência, conceitos que serão estudados na sequência.
Uma definição muito interessante da Ppl é a pressão da via aérea ao final da inspiração, já que a pressão de pico é a máxima pressão
que a via aérea atinge para vencer o componente resistivo.
É a pressão positiva ao final da expiração e tem a finalidade de evitar o colapso alveolar cíclico e melhorar a oxigenação, prevenindo
lesão pulmonar. Uma PEEP elevada pode trazer efeitos deletérios, como elevação da pressão de platô, levando à hiperdistensão pulmonar e,
em casos mais avançados, choque obstrutivo.
No entanto, enquanto a PEEP pode recrutar alvéolo e estabilizar algumas unidades alveolares, ela também pode contribuir para a
distensão excessiva e para o desenvolvimento de lesão pulmonar induzida pela ventilação (VILI), tema que será abordado à frente.
Figura 65. Curva de pressão por tempo com pausa inspiratória para avaliação da pressão de platô
e cálculo do driving pressure.
Em outras palavras, é o tempo necessário para a pressurização do sistema, por isso pode ser controlado apenas nos modos ventilatórios
à pressão.
É o tempo de insuflação pulmonar. Na representação gráfica das curvas ventilatórias, é a fase do ciclo respiratório em que a curva de
volume está em sua fase ascendente e a curva de fluxo se encontra acima da linha de base.
É o tempo de exalação do ar pulmonar, tempo total da fase expiratória. Na representação gráfica das curvas ventilatórias, é a fase do
ciclo respiratório em que a curva de volume está abaixo da linha de base e a curva de volume está em decrescente.
4.4.3.12 FIO2
É a fração inspiratória de oxigênio na mistura fornecida ao paciente. O tópico foi abordado quando falamos da IRpA. A FiO2 ao ar
ambiente é de 21% e a fração fornecida pelo ventilador varia de 21 a 100%, a depender do programado pelo operador.
4.4.3.13 COMPLACÊNCIA
Um aumento do volume pulmonar durante a fase inspiratória leva a uma expansão pulmonar e da parede torácica, distendendo,
assim, as estruturas elásticas do sistema respiratório. Dessa forma, define-se complacência como a variação de volume do sistema ventilado
(parênquima pulmonar e estruturas adjacentes) em resposta a uma variação de pressão (no caso, a driving pressure).
4.4.3.14 ELASTÂNCIA
4.4.3.15 RESISTÊNCIA
Futuro Residente, os modos ventilatórios definem como os ciclos ventilatórios serão iniciados (“disparados”), mantidos e finalizados.
Dica Estratégica: o ciclo respiratório, como vimos anteriormente, inclui tanto a fase inspiratória quanto a expiratória.
Entretanto, as classificações dos ciclos e modos baseiam-se, principalmente, na fase inspiratória.
Aluno Estratégia MED, é de grande importância que você deposite toda sua atenção no completo entendimento da mecânica
dos ciclos respiratórios, pois, afinal de contas, essa etapa é fundamental para o entendimento dos modos ventilatórios e sua divisão
em controlado, assistido-controlado, assistido ou espontâneo.
Figura 67. Gráfico de pressão, fluxo e volume em função do tempo — três ciclos respiratórios
controlados, com disparo a tempo. Não observamos a influência do paciente.
Veja o gráfico de pressão, fluxo e volume, respectivamente, em função do tempo e repare que temos o disparo nas linhas tracejadas
verticais. No momento do disparo, o fluxo está na linha de base (fluxo zero) e não são observadas deflexões negativas na curva de pressão,
que permanece ao nível da PEEP. Aproveite o ensejo e revise as fases do ciclo respiratório. Esse gráfico é uma reprodução esquemática da
representação gráfica do que é mostrado no painel do ventilador mecânico.
Figura 69. Gráfico de pressão, fluxo e volume por tempo com três esforços respiratórios
assistidos, disparados pelos esforços inspiratórios, que são detectados a partir de
variações de pressão, o que é chamado de disparo à pressão.
Dica Estratégica: a frequência respiratória dos pacientes que assumem ciclos assistidos é maior do que a frequência respiratória
programada pelo controlador no ventilador mecânico.
Os ciclos respiratórios espontâneos são iniciados pelo paciente e podem ser controlados e finalizados, parcial ou totalmente, pelo
paciente. O ventilador pode manter, por exemplo, um fluxo contínuo no circuito e o paciente pode respirar espontaneamente, controlando
totalmente a frequência, o fluxo e o volume. No entanto, pode também ser parcialmente assistido quando o ventilador auxilia na inspiração
do paciente, aumentando o fluxo na via aérea em resposta a um esforço, como ocorre no modo pressão de suporte.
Estrategista, a combinação das modalidades ventilatórias nada mais é do que um modo ventilatório a volume ou à pressão associado
à característica dos ciclos disponibilizados (controlados, assistidos ou espontâneos).
Trata-se de uma modalidade ventilatória assistida/controlada, porque permite a ocorrência de ciclos ventilatórios
disparados a tempo, à pressão ou a fluxo (tempo ou o paciente).
É a modalidade ventilatória mais utilizada no mundo!
A ciclagem ocorre quando o volume corrente (VC) ajustado pelo operador é fornecido ao paciente pelo ventilador
mecânico. Vale lembrar que o cálculo do VC deve ser feito de acordo com o peso predito ou ideal.
Figura 70. Gráfico de volume, fluxo e pressão por tempo no modo VCV, com a realização da
pausa inspiratória para o cálculo da pressão de platô. Observe que, no momento da pausa
inspiratória, o fluxo deve ser zero (na linha de base).
No gráfico de pressão, fluxo e volume por tempo no modo VCV, podemos observar que o fluxo permanece constante enquanto o
volume está sendo entregue e a pressão pode variar. Na forma de onda quadrada, o aumento do volume é linear, independentemente da
complacência do sistema respiratório. Aproveite para observar que, no gráfico, podemos avaliar que só temos ciclos controlados, visto que o
fluxo estabiliza na linha de base e não observamos deflexões abaixo da PEEP na fase expiratória da curva de pressão por tempo.
Também chamado de PCV (do inglês Pressure Controlled Ventilation), é o modo ventilatório que pode ser
disparado pelo paciente (pressão ou fluxo) ou pelo tempo, enquanto a ciclagem é determinada pelo tempo inspiratório
(modalidade controlada à pressão, ciclada a tempo). Nesse modo, programamos a pressão que será aplicada nas
vias aéreas durante a inspiração, bem como o tempo inspiratório (ou, a depender do modelo do ventilador utilizado,
a relação I:E). Portanto, quando a maior pressão das vias aéreas for atingida (Ppico), o VC entregue vai variar de
acordo com as características do paciente (complacência e resistência).
Dica Estratégica: devemos buscar a menor pressão necessária para a obtenção do VC ideal para o paciente. Caso o paciente
precise de altas pressões para obter o VC alvo, devemos avaliar a ventilação com VC mais baixos e, eventualmente, cogitar a hipercapnia
permissiva, manobra que será abordada adiante.
Figura 71. Curva de pressão, fluxo e volume ao longo do tempo no modo pressão
controlado ou PCV (Pressure Controlled Ventilation) – a pressão permanece
constante, o pico de fluxo é o mesmo, mas o volume pode variar.
Dica: no modo PCV, o ventilador apresenta fluxo livre para manter a pressão na via aérea constante e a ventilação é ciclada
a tempo.
Em suma: VCV – pressão variável a cada ciclo, PCV – volume variável a cada ciclo.
“Siufi, maravilha! Já estou craque em ventilação mecânica e sei acoplar meu paciente em um modo controlado! Mas qual deles é
melhor?”
A resposta é: aquele com que você estiver mais familiarizado (CHEST, 2015), visto que não há diferença em relação à mortalidade,
bem como ao tempo de ventilação mecânica, quando comparados os dois modos ventilatórios.
Figura 72. Gráfico de pressão, fluxo e volume por tempo em paciente no modo ventilatório
PSV. Veja que a ciclagem é de acordo com a porcentagem do pico de fluxo inspiratório e,
quanto menor a porcentagem, maior o tempo inspiratório.
Como podemos observar no gráfico de pressão, fluxo e volume por tempo no modo PSV, a ciclagem ocorre quando o fluxo inspiratório
cai a uma determinada percentagem do pico de fluxo.
Antes de tudo, quero que saiba que o modo SIMV (do inglês, Synchronized Intermittent Mandatory Ventilation) está em desuso e
devemos evitar sua utilização na prática clínica, pois, de acordo com as Diretrizes Brasileiras de Ventilação Mecânica (2013), mostrou-se
associado a aumento do tempo de retirada da ventilação mecânica.
Aqui, os ciclos controlados podem ser ciclados a volume ou limitados à pressão e os ciclos espontâneos devem ser associados à PSV.
Em última análise, caracteriza-se por permitir a presença de ciclos controlados, assistidos e espontâneos dentro de uma mesma janela de
tempo, que é determinada pela frequência respiratória do modo controlado.
Tabela 12. Modalidades ventilatórias convencionais (básicas) com as principais variáveis de controle e características quanto aos ciclos respiratórios.
Dica de ouro do Estratégia MED para você nunca mais errar na identificação das curvas da VM:
- Curva de fluxo: é a única que tem componente positivo e negativo (ultrapassa a linha de base);
- Curva de volume: é a única que toca a linha de base, na ausência de autoPEEP (o tema será abordado adiante);
- Curva de pressão: não toca a linha de base, pelo uso da PEEP.
Estrategista, existem novas modalidades ventilatórias, mas não serão citados aqui por dois motivos: o primeiro, por jamais terem sido
cobrados em provas de Residência e de Revalidação, e o segundo, porque, na prática clínica, mais de 85% dos casos são resolvidos apenas
com os modos ventilatórios apresentados.
Estrategista, apresentarei algumas recomendações quanto aos ajustes iniciais da ventilação mecânica a seguir, mas
reforço que não devemos nos apegar a nenhuma receita pronta acerca dos parâmetros da VM, mas sempre individualizar
a estratégia ventilatória, a depender das características da mecânica pulmonar dos pacientes.
AJUSTES VENTILATÓRIOS INICIAIS - O QUE SABER?
• FiO2 – após a IOT, FiO2 100% e reduzir progressivamente até alvo oximétrico, que, em pacientes não
crônicos, deve ser entre SpO2 de 93 a 97%. Cuidado com a hiperóxia! De acordo com UpToDate (acesso
junho/2021), pacientes sob risco são aqueles com FiO2 > 60% por tempo prolongado. Pacientes com FiO2 >
100% por um período maior do que 24 horas podem apresentar lesões. E quais são os principais riscos? 1.
Aumento da formação de espécies reativas de oxigênio; 2. Vasoconstrição hiperoxêmica (hipóxia tecidual
paradoxal); e 3. Atelectasia de reabsorção.
• FR – deve ser programada inicialmente entre 12 e 16 respirações por minuto e, após, ajustada de
acordo com a necessidade ventilatória – tolerar pH até 7,2 com pCO2 até 70-80 mmHg para prosseguir
com VC baixo.
• VC – ajustar para 6 mL/kg o peso ideal ou predito.
• Relação I:E – entre 1:2 e 1:3.
• PEEP – tem a finalidade de manter os alvéolos abertos ao final da expiração e é recomendada,
inicialmente, PEEP de 5 cmH2O. Em pacientes portadores de SDRA, podem ser necessários valores maiores
de PEEP.
• Sensibilidade – pressão: 1,0 cmH2O; fluxo: 2,0 L/min.
• Os demais parâmetros devem ser ajustados conforme o modo ventilatório escolhido, lembrando que
Ppico deve ser menor do que 40 cmH2O; Pplatô menor do que 30 cmH2O; e DP menor do que 15 cmH2O.
alta, fazendo grandes volumes quando são submetidos a uma pressão transpulmonar nem tão grande.
Para diagnosticar autoPEEP, devemos estar atentos à curva fluxo x tempo e observar que o fluxo inspiratório se inicia antes do término
do fluxo expiratório anterior. Em última análise, não chega à linha de base (fluxo zero).
Para quantificar a autoPEEP, é necessário medir a pressão das vias aéreas durante a realização de uma pausa expiratória.
Figura 73. Curva de fluxo em função do tempo em paciente com autoPEEP. Observe que a curva de fluxo não volta à linha
de base — o paciente apresenta fluxo expiratório no momento em que o ventilador dispara um novo ciclo.
O primeiro passo para correção da autoPEEP é uma diminuição do volume corrente e/ou da FR. Caso não melhore, devemos reduzir
o tempo inspiratório, visto que, assim, aumentaremos o tempo expiratório.
A VM, quando bem utilizada, pode previamente existente, conceitos denominados, respectivamente,
ser terapêutica. Entretanto, quando há de lesão pulmonar induzida pelo ventilador (LPIV) e lesão
utilização de altas pressões e altos VC, ela pulmonar associada à ventilação (LPAV), dois espectros com
pode cursar com uma lesão pulmonar aspectos histológicos semelhantes à SDRA. O espectro da lesão
nova ou exacerbar uma lesão pulmonar pulmonar na VM pode ser dividido em:
LPAV LPIV
Volutrauma
Barotrauma Atelectrauma
Biotrauma
Querido aluno Estratégia MED, o desmame ventilatório é a transição da ventilação artificial para a espontânea nos pacientes
que permaneceram em VMI por um período superior a 24 horas. O termo extubação é a retirada da via aérea artificial e, nos pacientes
traqueostomizados, o termo utilizado deve ser a decanulação.
Para todo paciente que evoluímos dentro de uma UTI, devemos considerar progredir com o desmame ventilatório,
que é a etapa de progressão da retirada da prótese ventilatória, visto que a duração da VMI está diretamente associada
a um aumento da incidência de complicações, como pneumonia, LPIV/LPAV, trauma, além das complicações inerentes à
terapia farmacológica (sedoanalgesia e bloqueio neuromuscular). Tal processo corresponde a aproximadamente metade
do tempo total da VMI.
No entanto, para isso, devemos ter recuperação total ou parcial do evento que levou o paciente à VMI. Por isso, os
critérios para a progressão do desmame devem ser bem estabelecidos.
Parâmetros Critérios
Oxigenação PaO2/FiO2 ≥ 150 - 200 com PEEP ≤ 5 a 8 cmH2O com FiO2 ≤ 40%
Caso o paciente preencha os critérios anteriores, devemos prosseguir com uma avaliação pormenorizada, chamada de teste de
respiração espontânea (TRE), que pode ser realizada por um tubo em que o paciente assume respirações espontâneas (tubo T) ou em PSV,
com pressões fisiológicas.
Aluno Estratégia MED, o fato de o paciente preencher os critérios acima não significa que ele é elegível para ser extubado! O
que o torna elegível é ser aprovado no TRE!
Capítulo
Estrategista, muita atenção com questões de SDRA na era pós-COVID-19. Caso estejam presentes em sua prova, serão cobrados
dados acerca dos fatores predisponentes, critérios diagnósticos e tratamento, não dados epidemiológicos.
Futuro Residente, a síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA) é uma doença comum em pacientes
críticos e associa-se a uma alta taxa de mortalidade. É uma doença pulmonar AGUDA, DIFUSA e INFLAMATÓRIA que
está associada a diversas etiologias. O pronto reconhecimento e tratamento é importante para seu melhor desfecho.
Desde sua descrição, diversas nomenclaturas e definições foram utilizadas na tentativa de padronizar nome
e diagnóstico da doença. Em 2012, um grupo de especialistas de diversas sociedades reuniu-se e publicou os novos
critérios definidores de SDRA atualmente aceitos: a DEFINIÇÃO DE BERLIM, publicada no Journal of the American Medical Association (JAMA),
em 2012.
Em até uma semana de um evento sabidamente causador de SDRA ou após o paciente ter
Tempo de evolução
evoluído com novos sintomas ou piora dos sintomas pré-existentes no período
Radiologia (tomografia/ Opacidade bilaterais não totalmente explicadas por derrame pleural, atelectasias, nódulos
radiografia) ou massas pulmonares
Não pode ser totalmente explicado por insuficiência cardíaca ou sobrecarga volêmica.
Origem do edema
Avaliação ecocardiográfica nos casos em que há dúvidas
Tabela 14. Definição de Berlim para a Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA). Fonte: JAMA (2012).
Tenha muito cuidado com questões acerca da classificação de terapia intensiva e até 23% dos pacientes submetidos à VM,
da SDRA de antes de 2012! Algumas alterações foram propostas dados que devem aumentar na era pós-COVID-19. A doença tem
pela Definição de Berlim: mortalidade de aproximadamente 40%, números que aumentam
• O termo “lesão pulmonar aguda (LPA)” foi removido; quanto maior a gravidade da doença.
• A pressão de oclusão da artéria pulmonar (POAP) foi A maior parte dos pacientes com SDRA (80%) requer
removida; e
VMI. Entre os pacientes com SDRA, a maioria (47%) é portadora
• A PEEP foi incluída na classificação quanto à oxigenação.
de SDRA moderada, enquanto 30% apresentam SDRA leve e os
Futuro Residente, atenção agora: de acordo com a
outros 23% apresentam SDRA grave. Vale lembrar que, a depender
classificação ATUAL, a SDRA é definida como uma doença de
da prevalência das doenças em determinados países, a SDRA pode
instalação AGUDA (sete ou menos dias de exposição a uma
sofrer uma variação geográfica.
das prováveis etiologias) associada a infiltrados bilaterais na
A PRINCIPAL causa de óbito em pacientes com SDRA é a
radiografia ou na tomografia, relação PaO2/FiO2 MENOR OU IGUAL
disfunção de múltiplos órgãos e sistemas (DMOS) e sepse. A
A 300, desde que o quadro clínico não seja totalmente explicado
insuficiência respiratória é a causa mortis em apenas 9-16% dos
por insuficiência cardíaca ou sobrecarga volêmica.
casos e os fatores de risco para maior letalidade do paciente com
A incidência da SDRA aumenta com a idade. Os dados
SDRA são: idade, pior classificação nos índices prognósticos,
atualmente disponíveis apontam para SDRA em uma porcentagem
relação PaO2/FiO2 e presença de imunossupressão.
aproximada de 10-15% em todos os pacientes admitidos em leito
5.2 FISIOPATOLOGIA
A fisiopatologia da SDRA tem relação Um dado importante que você precisa saber é que a SDRA é
direta com o aumento da permeabilidade dividida em três fases: exsudativa, proliferativa e fibrótica.
capilar, atelectasia e aumento do efeito shunt, • Exsudativa (dano alveolar difuso) – dura de 7-10 dias,
que está diretamente associado à piora nas caracterizada por dano alveolar difuso, uma reação não específica
a diversas causas, caracterizada por EDEMA INTERSTICIAL,
trocas gasosas.
HIPERPLASIA DE PNEUMÓCITOS TIPO II e formação de MEMBRANA
As consequências fisiopatológicas da SDRA estão presentes HIALINA.
em três esferas: • Proliferativa (ou fibroproliferativa) – após o período
• Alteração nas trocas gasosas: edema e colapso alveolar, inicial, o estágio proliferativo desenvolve-se, caracterizado por
cursando com hipoxemia; RESOLUÇÃO do edema pulmonar, proliferação dos pneumócitos
• Alterações na mecânica do sistema respiratório, com tipo II, metaplasia escamosa, infiltrado intersticial e DEPOSIÇÃO
redução da complacência e necessidade de grandes pressões PRECOCE DE COLÁGENO.
para abertura alveolar; • Fibrótica – obliteração da citoarquitetura pulmonar, fibrose
• Alterações na circulação pulmonar, levando à vasoconstrição e formações císticas. O grau de fibrose pode variar.
hipóxica e hipertensão pulmonar.
SDRA deve ser suspeitada em pacientes com sintomas Os exames laboratoriais são inespecíficos e, assim como o
respiratórios progressivos e necessidade de um aporte crescente quadro clínico, estarão alterados a depender do fator predisponente
de oxigênio associado a infiltrado alveolar bilateral à radiografia da SDRA.
de tórax após 6-72 horas do evento inicial, que pode ocorrer em Por definição, a gasometria arterial apresenta hipoxemia e,
um período de até 7 dias após o insulto. frequentemente, em um momento inicial, cursa com ALCALOSE
Ao exame, o paciente pode apresentar taquipneia, RESPIRATÓRIA com AUMENTO DO GRADIENTE ALVÉOLO-
taquicardia e crepitações difusas e, claro, o quadro respiratório ARTERIAL.
estará sobreposto ao insulto que levou à SDRA.
A presença de acidose respiratória hipercápnica pode significar gravidade da IRpA e/ou iminência de parada respiratória. A
presença de acidose metabólica requer investigação de fator predisponente, tal qual choque séptico.
Pneumonia bilateral
Futuro Residente, a condição mais importante Hemorragia alveolar difusa (HAD)
a ser excluída é o EDEMA PULMONAR CARDIOGÊNICO
Condições autoimunes ou inflamatórias
e, na prática clínica, biomarcadores (BNP/NT-proBNP) e
ecocardiograma podem ser úteis para essa diferenciação, Vasculite Pulmonar
assim como achados clínicos inerentes ao paciente.
Pneumonia intersticial aguda (PIA)
Para fins diagnósticos, o paciente precisa perfazer os critérios trazidos na Definição de Berlim, ou seja, evolução compatível,
quadro radiológico, origem do edema, bem como apresentar PaO2/FiO2 de NO MÁXIMO 300 mmHg com PEEP de PELO MENOS 5
cmH2O.
5.5 TRATAMENTO
A partir da segunda metade dos anos 90, uma série de trabalhos mudou a utilização da VM na SDRA. A partir desses estudos, o emprego
de estratégias ventilatórias com o uso de baixo VC (6 mL/kg do peso predito) — a denominada ESTRATÉGIA PROTETORA ou VENTILAÇÃO
PROTETORA — transformou-se no paradigma da VM, com impacto na mortalidade. Daí, convencionou-se chamar de VM protetora um
conjunto de ajustes ventilatórios menos lesivos ao parênquima pulmonar, cuja utilização se associa à menor mortalidade e morbidade
(ARDS network, 2000).
Gravidade da SDRA
de Platô < 30 cmH2O PEEP > 5 cmH2O
(PEEP decremental, por exemplo) minimiza o dano Hipercapnia permissiva SDRA confirmada
do uso de baixas pressões de distensão ou Driving Pressure. evidências não suportam a indicação da VMNI no contexto da SDRA,
Portanto, devemos tolerar uma PaCO2 até 70-80 mmHg, desde que de acordo com as últimas recomendações presentes na literatura
mantenhamos o pH acima de 7,20, embora esse valor não tenha (ERJ, 2017). No entanto, de acordo com a Diretriz Brasileira de
sido testado prospectivamente. Ventilação Mecânica de 2013, pode-se utilizar a VNI na Síndrome
Estrategista, quer saber todos os parâmetros de ventilação de Desconforto Respiratório Agudo (SDRA), especialmente nos
mecânica na SDRA que foram cobrados até hoje em provas de casos de SDRA leve, com os cuidados de observar as metas de
Residência e Revalidação? Então decore a tabela que segue: sucesso de 0,5 a 2 horas. No caso de não sucesso, evitar retardar a
Mais um detalhe que preciso falar para você é que as intubação. Estrategista, a VMNI não está contraindicada na SDRA!
Manobra de recrutamento alveolar (MRA): define-se MRA maior incidência de barotrauma no grupo recrutamento.
como processo de aumento temporário da pressão transpulmonar, ECMO: a oxigenação extracorpórea por membrana (ECMO,
com o objetivo de vencer a pressão de abertura alveolar, dos do inglês Extracorporeal Membrane Oxygenation) vem ganhando
alvéolos previamente colapsados. O recrutamento alveolar ainda importância no tratamento de pacientes com hipoxemia refratária.
é uma prática que não foi associada à redução da mortalidade, É uma terapia de resgate capaz de dar suporte às trocas gasosas,
ao contrário: de acordo com o ART TRIAL (JAMA, 2017), estudo permitindo o repouso do pulmão até que a condição de base
brasileiro multicêntrico, o uso de manobras de recrutamento seja total ou parcialmente corrigida. Em última análise, além de
alveolar nos pacientes portadores de SDRA moderada a grave melhorar a oxigenação, diminui o impacto dos efeitos lesivos da
resultou em aumento significativo de mortalidade, bem como VMI.
Bloqueio neuromuscular: deve-se utilizar o cisatracúrio para Medicine, 2017) e tem provável impacto na mortalidade, embora
pacientes com PaO2/FiO2 < 120 mmHg, profundamente sedados. sua recomendação seja condicional.
Obs.: o estudo ACURASYS (NEJM, 2010) analisou cisatracúrio Obs.: não deve ser utilizada, de maneira
em SDRA precoce para pacientes com PaO2/FiO2 < 150 mmHg e sistemática, em sepse sem choque séptico, nem
demonstrou impacto na mortalidade apenas no subgrupo com deve ser utilizada para SDRA leve.
PaO2/FiO2 < 120, resultados que não foram replicados em trial Os regimes comumente utilizados são
recente. (UpToDate, acesso junho/2021):
Corticoterapia: deve ser utilizada para dois subgrupos: • Metilprednisolona 1 mg/kg, EV, por 21 – 28
• Pacientes com indicações não relacionadas à SDRA, como, dias, seguido de desmame; e
por exemplo, pneumonia eosinofílica aguda ou insuficiência • Dexametasona 20 mg/dia, EV, por 5 dias, seguido de 10 mg/
adrenal; e dia, por mais 5 dias.
• Pacientes com SDRA moderada a grave nos primeiros dias A terapia farmacológica no contexto da COVID-19 será
de doença. Tal conduta é pautada em metanálise (Intensive Care abordada em um material específico.
Capítulo
6.0 HEMOPTISE
Sangramento proveniente do trato respiratório superior e do trato gastrointestinal pode, também, cursar com expectoração com
sangue. Entretanto, quando isso ocorre, tal entidade é chamada de PSEUDO-HEMOPTISE.
Hemoptise - Causas
Carcinoma broncogênico
Bronquiectasia
Fístula broncovascular
Corpo estranho
Vasculites pulmonares
Leptospirose
Estenose mitral
Insuficiência cardíaca
Causas hematológicas
Trombocitopenia
Trauma
Pós broncoscopia
Misclânea
Cigarro eletrônico
Embora represente o menor percentual das hemoptises, o na literatura. Atualmente, o termo “hemoptise ameaçadora à vida”
termo “HEMOPTISE MACIÇA” é reservado aos sangramentos que é preferido em detrimento do termo “hemoptise maciça”, já que a
são potencialmente ameaçadores à vida e sua definição varia na doença pode ser definida como um evento, de fato, ameaçador à
literatura. Na prática clínica, deve ser considerada uma quantidade vida, pois pode causar obstrução significativa da via aérea, alteração
maior do que 500 mL no período de 24 horas ou sangramento significativa nas trocas gasosas ou instabilidade hemodinâmica.
maior ou igual a 100 mL/hora (Journal of Intensive Care, 2020). Estima-se que 5-14% das hemoptises sejam consideradas maciças.
Estrategista, tais definições são controversas e conflitantes
A depender do status cardiopulmonar de base do paciente, volumes menores podem ser causas de hemoptise ameaçadora
à vida. Por isso, a definição pura e simplesmente associada ao volume expectorado está em desuso, mas pode ser cobrada!
A mortalidade da hemoptise ameaçadora à vida está entre 9 e 38% e diversos fatores são preditores de mau prognóstico, como a
necessidade de ventilação monopulmonar, aspiração para o pulmão contralateral e altas alíquotas de sangue expectorado.
As principais diferenças encontradas no diagnóstico diferencial entre hemoptise e hematêmese são apresentadas na Tabela 19.
Estrategista, as causas mais comuns de hemoptise não há dados epidemiológicos confiáveis, mas suspeita-se que a
ameaçadora à vida em países desenvolvidos são bronquite, tuberculose deve ser um dos principais diagnósticos diferenciais.
bronquiectasia e carcinoma broncogênico, ao passo que as causas Mesmo após investigação pormenorizada, até 30% das
infeciosas (micobacteriose) e bronquiectasia não fibrocística hemoptises podem permanecer sem sua causa estabelecida, a
lideram em países em desenvolvimento. Em nosso meio, não chamada hemoptise criptogênica.
Aluno Estratégia MED, até 30% dos pacientes portadores de hemoptise não têm a causa evidenciada mesmo com investigação
diagnóstica pormenorizada.
95% das hemoptises são provenientes das ARTÉRIAS BRÔNQUICAS, sistema de ALTA PRESSÃO, responsável por apenas 2% da
irrigação pulmonar! Por isso, veremos adiante que a embolização das artérias brônquicas é uma opção terapêutica para hemoptise
ameaçadora à vida.
Exames laboratoriais são necessários em todos os pacientes portadores de hemoptise ameaçadora à vida
(hemograma, função renal e hepática, gasometria arterial e tipagem sanguínea/Rh) e devem ser ponderados em
hemoptise não ameaçadora à vida.
Exames de escarro, em casos selecionados, assim como função pulmonar e ecocardiograma, também devem
ser realizados.
Exame de fácil realização, rápido e amplamente disponível, que permite iniciar a investigação dos quadros de hemoptise, mas só
consegue identificar a causa específica em uma minoria dos casos e pode ser normal em 15-30% dos pacientes.
A tomografia pode detectar o foco de sangramento com maior acurácia do que a broncoscopia e a radiografia de tórax, além de
elucidar a etiologia envolvida na origem do sangramento, especialmente nos casos de bronquiectasias e neoplasias.
Caso o paciente seja candidato, deve ser realizada com contraste, a não ser que tenhamos uma forte suspeita de doença brônquica
(bronquiectasia, bronquite crônica) como causa de hemoptise.
6.2.3 BRONCOSCOPIA
A broncoscopia é um exame muito importante na investigação e no tratamento da hemoptise e, sempre que a condição clínica do
paciente permitir, deve ser precedida de exames laboratoriais e de imagem, preferencialmente a tomografia de tórax com contraste.
Cada tipo de broncoscopia tem suas vantagens e desvantagens. Resumidamente, a broncoscopia rígida tem
sua principal vantagem em pacientes com hemoptise maciça no cenário emergencial. Ela possui um diâmetro mais
largo, permitindo melhor aspiração de coágulos e de sangue, além da ventilação do paciente. Suas desvantagens
são: poucos profissionais habilitados para seu uso, necessidade de anestesia geral para realização do procedimento e
dificuldade de acesso a brônquios distais.
Já a broncoscopia flexível tem sua limitação na hemoptise volumosa, que prejudica a técnica.
A embolização da artéria brônquica é uma opção interessante nos casos de hemoptise recorrente, hemoptise maciça
e pacientes com risco cirúrgico proibitivo. Esse método possui grande eficácia na resolução dos sangramentos (cerca de
90%). Entretanto, 20 a 30% dos casos podem recorrer. A complicação mais temida desse método é o desenvolvimento
de tetraparesia ou tetraplegia devido à embolização inadvertida das artérias intervertebrais. Essas complicações são
extremamente raras.
6.2.5 CIRURGIA
Deve ser vista como uma opção de resgate quando temos refratariedade às medidas anteriores. Apresenta alta mortalidade e
costuma ser indicada nos casos de hemoptise maciça refratária aos procedimentos convencionais – broncoscopia e embolização das artérias
brônquicas. Também pode ser indicada em casos específicos dependendo da doença de base.
Estrategista, os pacientes portadores de hemoptise não necessária a realização da tomografia computadorizada (TC) de
ameaçadora à vida normalmente apresentam estabilidade clínica, tórax com contraste para melhor avaliação das artérias brônquicas
com a possibilidade de tratamento sem urgência. Veja o Fluxograma e intercostais.
11. Após a realização do exame de imagem, avalia-se a
O primeiro passo após um exame físico pormenorizado é a necessidade da broncoscopia para complementação da investigação.
realização da radiografia de tórax em PA e perfil. É o caso de pacientes com hemoptise e massas torácicas proximais
Em alguns casos, o quadro clínico associado à radiografia a esclarecer. A broncoscopia permite a coleta de material por meio
é suficiente para elucidação e resolução do caso. Em outros, é do lavado broncoalveolar e da realização da biópsia.
Radiografia de tórax
Normal
O quadro é
compativel com
pseudohemoptise? Anormal
Sim Não
Não Sim
Fluxograma 11. Avaliação dos pacientes portadores da hemoptise não ameaçadora à vida. Fonte: adaptado de
UpToDate. Acesso maio/2021.
Futuro Residente, devemos fazer a TC de tórax em duas situações: paciente com radiografia de tórax anormal ou, quando
normal, em pacientes com fator de risco para TEP ou neoplasia pulmonar.
Esse é um quadro dramático que necessita ser revertido com urgência. Antes da solicitação de qualquer exame,
deve-se estabilizar o paciente e sua via aérea. Ao contrário do que se imagina, os problemas principais, nesses casos,
não são o volume do sangramento em si e a possibilidade de evolução para choque hemorrágico, mas sim a evolução do
paciente para asfixia por inundação pulmonar pelo sangue.
O procedimento diagnóstico de escolha para a maioria dos pacientes é a broncoscopia flexível, visto que é um exame que fornece
informações valiosas, como guia para a arteriografia, identificando o pulmão ou segmento/subsegmento sangrante e, se necessário, pode
ser realizada em paciente com instabilidade. Caso o paciente esteja estável do ponto de vista hemodinâmico e com seu sangramento
controlado, podemos lançar mão da TC de tórax com contraste precedendo a broncoscopia.
A broncoscopia rígida é utilizada quando capacidades maiores de sucção e visualização são necessárias e também pode ser necessária
no contexto de intervenção.
Caso o paciente não tenha o sangramento controlado, devemos lançar mão de
estratégias mais agressivas, como VMI com ventilação monopulmonar do pulmão não
sangrante. A arteriografia pulmonar é reservada aos casos em que o paciente mantém o
sangramento a despeito das medidas iniciais (broncoscopia e/ou TC de tórax). A arteriografia
pode localizar o sangramento e tratar (embolização).
Portanto, de acordo com o UpToDate (acesso maio/2021), a arteriografia com
embolização não deve ser o primeiro exame no contexto da hemoptise ameaçadora à vida
e tem seu espaço para refratariedade às medidas iniciais.
https://estr.at/E2B2
Capítulo
1. Annane D, Pastores SM, Rochwerg B, Arlt W, Balk RA, Beishuizen A, Briegel J, Carcillo J, Christ-Crain M, Cooper MS, Marik PE, Umberto
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Capítulo
Querido Estrategista, este resumo foi confeccionado com muito carinho e riqueza de recursos visuais, como
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O tema está em constante transição e, claro, nós do Estratégia MED não o deixaremos na mão. Como você
viu, o resumo que acabou de ler contempla as últimas atualizações sobre todos os tópicos acerca da Pneumologia
Intensiva. Espero que possa ajudá-lo na resolução de questões bem como na sua prática clínica!
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Faça bom proveito, futuro Residente! Um abraço do Siufi!