Decisão Processo 0800748-10.2021.8.15.0021

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Tribunal de Justiça da Paraíba

PJe - Processo Judicial Eletrônico

14/06/2021

Número: 0800748-10.2021.8.15.0021
Classe: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL
Órgão julgador: Vara Única de Caaporã
Última distribuição : 10/06/2021
Valor da causa: R$ 1.000,00
Assuntos: Indenização por Dano Moral, Inclusão Indevida em Cadastro de Inadimplentes
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
ASSOCIACAO BRASILEIRA DE DEFESA DO CONSUMIDOR HADASSA LIVRAMENTO PINTO SANTOS (ADVOGADO)
ABDC (AUTOR)
SERASA S.A. (REU)
CONFEDERACAO NACIONAL DE DIRIGENTES LOJISTAS
(REU)
BOA VISTA SERVICOS S.A. (REU)
INSTITUTO DE ESTUDOS DE PROTESTO DE TITULOS DO
BRASIL - SECAO SAO PAULO - IEPTB - SP (REU)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
44418 11/06/2021 19:28 Decisão Decisão
063
Poder Judiciário da Paraíba
Vara Única de Caaporã

PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL (7) 0800748-10.2021.8.15.0021

DECISÃO

Vistos, etc.

A ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DEFESA DO CONSUMIDOR — ABDC, qualificada,


em favor de seus associados, discriminados nos autos, ajuizou a presente AÇÃO DE EXCLUSÃO DE
NEGATIVAÇÃO C/C INDENIZAÇÃO POR PERDAS E DANOS COM PEDIDO DE TUTELA
DE URGÊNCIA em face de SERASA S.A., CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE DIRIGENTES
LOJISTAS (SPC BRASIL), BOA VISTA SERVIÇOS S.A. (SCPC Serviço Central de Proteção ao
Crédito) e e INSTITUTO DE ESTUDOS DE PROTESTO DE TÍTULOS DO BRASIL – IPTB,
qualificadas, sob o argumento de que os associados da autora tiveram seus nomes negativados nos órgãos
restritivos de crédito, sem tomar ciência dessa inclusão, já que não foram notificados pelas requeridas das
inscrições, estando todos eles, por essa razão, estão com os seus nomes sujos na praça, sem que lhe fosse
assegurado o direito de saber a origem e o valor do débito de moda permitir o direito ao contraditório e à
ampla defesa

Assevera que além de não terem sido previamente notificados e muito menos informados dos atos
de constituição do cadastro e do registro de negativação, consoante determina a lei, a inscrições dos
nomes dos associados da autora nestes cadastros, mantidos pelas demandadas, não obedeceram aos
critérios técnico-legais e aos princípios constitucionais vigentes no país

Requer a tutela de urgência para que que as promovidas sejam obrigadas, de imediato, a: a.1-
excluir provisoriamente os nomes dos associados (RELAÇÃO ANEXA), além dos vindouros dos
cadastros do SERASA, SPC Brasil/CDL – Câmara Dirigentes Lojistas, SCPC Boa Vista, IPTB, e demais
órgãos mantidos ou conveniados com as demandadas; a.2- devendo, ainda, para cada associado, em
resposta às consultas realizadas, retornar o resultado “NADA CONSTA”; a.3- determinar a elevação do
“score”, para pessoa física e “rating”, para pessoa jurídica; a.4- impedirem que novos apontamentos
desabonadores de crédito sejam realizados, enquanto perdurar a presente ação; subsidiariamente que seja
restabelecido o status quo ante da pontuação do rating ou do score de imediato.

Juntou documentos.

DA LEGITIMIDADE DA ASSOCIAÇÃO PARA PROPOR A AÇÃO:

Assinado eletronicamente por: DANIERE FERREIRA DE SOUZA - 11/06/2021 19:28:31 Num. 44418063 - Pág. 1
http://pje.tjpb.jus.br:80/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21061119283051900000042228210
Número do documento: 21061119283051900000042228210
Inicialmente, ressalte-se que as Associações são partes legítimas para intentar ação coletiva,
substituindo seus associados, tratando-se da denominada legitimação extraordinária, cujo fundamento se
encontra no artigo 5º, inciso XXI, da Constituição Federal:

“(...) as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para


representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente”

Admite o art. 81, III, do CDC, a defesa coletiva de direitos ou interesses individuais homogêneos,
“assim entendidos os decorrentes de origem comum”.

Decorre ainda essa legitimação extraordinária, do estatuído nos artigos 82, IV, e 91 do Código de
Defesa do Consumidor, ao estabelecer, este último, que os legitimados no artigo 82, poderão, propor em
nome próprio, e no interesse das vítimas ou seus sucessores, ação civil coletiva de responsabilidade pelos
danos individualmente sofridos.

Veja-se as recentes decisões do STF:

EMENTA: DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO EM


RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. SUBSTITUÍDO
PROCESSUAL. LEGITIMIDADE PARA EXECUÇÃO DE TÍTULO
JUDICIAL FORMADO EM MANDADO DE SEGURANÇA
COLETIVO. POSSIBILIDADE.

1. O Supremo Tribunal Federal, com fundamento no art. 5º, LXX, b, da


Constituição, reconhece legitimidade ativa a associações para a
impetração de mandado de segurança coletivo em defesa dos interesses de
seus associados, independentemente de expressa autorização ou da relação
nominal desses. Precedentes.

2. Inaplicável o art. 85, § 11, do CPC/2015, uma vez que não é cabível, na
hipótese, condenação em honorários advocatícios (art. 25 da Lei nº
12.016/2009 e Súmula 512/STF). 3. Agravo interno a que se nega
provimento.

(ARE 1215704 AgR-segundo, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO,


Primeira Turma, julgado em 20/12/2019, PROCESSO ELETRÔNICO
DJe029 DIVULG 12-02-2020 PUBLIC 13-02-2020)

Do mesmo modo:

EMENTA: DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO EM


RECURSO EXTRAORDINÁRIO. SUBSTITUÍDO PROCESSUAL.
LEGITIMIDADE PARA EXECUÇÃO DE TÍTULO JUDICIAL
FORMADO EM MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO.
POSSIBILIDADE. TEMA 848. ALEGADA SEMELHANÇA.
INEXISTÊNCIA.

1. O Supremo Tribunal Federal, com fundamento no art. 5º, LXX, b, da


Constituição, reconhece legitimidade ativa a associações para a

Assinado eletronicamente por: DANIERE FERREIRA DE SOUZA - 11/06/2021 19:28:31 Num. 44418063 - Pág. 2
http://pje.tjpb.jus.br:80/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21061119283051900000042228210
Número do documento: 21061119283051900000042228210
impetração de mandado de segurança coletivo em defesa dos interesses de
seus associados, independentemente de expressa autorização ou da relação
nominal desses.

2. A matéria discutida nestes autos não se assemelha à controvérsia do


ARE 901.963-RG, tendo em vista que no Tema 848 a controvérsia não era
caso de mandado de segurança coletivo, e sim de ação civil pública.

3. Inaplicável o art. 85, § 11, Num. 6025951 - Pág. 2 Assinado


eletronicamente por: MARCOS CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE -
24/04/2020 17:04:23
http://pje.tjpb.jus.br:80/pje2g/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20042417042290
Número do documento: 20042417042290600000006005755 do
CPC/2015, uma vez que não é cabível, na hipótese, condenação em
honorários advocatícios (art. 25 da Lei nº 12.016/2009 e Súmula
512/STF).

4. Agravo interno a que se nega provimento.

(RE 1146736 AgR, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Primeira


Turma, julgado em 23/08/2019, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-191
DIVULG 02- 09-2019 PUBLIC 03-09-2019)

Ademais, no caso discutido nos autos, trata-se de Ação Coletiva com legitimação extraordinária
prevista no art.82, IV e §1º, do CDC, que visa a defesa de direitos individuais homogêneos dos
substituídos, não necessitando de autorização expressa ou assemblear, nos termos da legislação
consumerista abaixo:

Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados
concorrentemente: (Redação dada pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995) (Vide
Lei nº 13.105, de 2015) (Vigência)

IV - as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que


incluam entre seus fins institucionais a defesa dos interesses e direitos
protegidos por este código, dispensada a autorização assemblear.

§1° O requisito da pré-constituição pode ser dispensado pelo juiz, nas


ações previstas nos arts. 91 e seguintes, quando haja manifesto interesse
social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela
relevância do bem jurídico a ser protegido.

Art. 91. Os legitimados de que trata o art. 82 poderão propor, em nome


próprio e no interesse das vítimas ou seus sucessores, ação civil coletiva
de responsabilidade pelos danos individualmente sofridos, de acordo com
o disposto nos artigos seguintes. (Redação dada pela Lei nº 9.008, de
21.3.1995)

Assinado eletronicamente por: DANIERE FERREIRA DE SOUZA - 11/06/2021 19:28:31 Num. 44418063 - Pág. 3
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Número do documento: 21061119283051900000042228210
Nesse sentido, veja-se o entendimento do STJ em decisões mais recentes na qual dispõe sobre a
matéria e afirma que o direito discutido não fez parte do julgado do STF no RE 573.232/SC supracitado
no informativo acima, veja-se:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


AÇÃO COLETIVA AJUIZADA POR ASSOCIAÇÃO CIVIL.
LEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM.

1. Cuida-se de demanda coletiva na qual se busca a adaptação de agências


bancárias, com a instalação de assentos com encosto, a fim de evitar que
os consumidores formem filas e aguardem o atendimento em pé.

2. Versando a ação sobre direitos homogêneos e mantendo relação com os


fins institucionais da associação autora, há pertinência subjetiva para a
demanda.

3. A exegese firmada pelo Supremo Tribunal Federal, no âmbito do


julgamento do Recurso Extraordinário 573.232/SC não altera as hipóteses
de legitimação extraordinária previstas no Código de Defesa do
Consumidor (artigo 82, inciso IV), no Estatuto do Idoso (artigo 81, inciso
IV) e no artigo 3º da Lei 7.853/89, entre outras normas
infraconstitucionais.

4. O Supremo Tribunal Federal perfilhou o entendimento de que, à luz do


inciso XXI do artigo 5º da Constituição da República, a associação,
quando atuar, a título de representação, na defesa do direitos individuais
homogêneos de seus associados deverá Num. 6025951 - Pág. 3 Assinado
eletronicamente por: MARCOS CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE -
24/04/2020 17:04:23
http://pje.tjpb.jus.br:80/pje2g/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20042417042290
Número do documento: 20042417042290600000006005755 ostentar
credenciamento específico para tanto, via autorização assemblear ou
individual de cada representado. Na ocasião, a Excelsa Corte não declarou
a inconstitucionalidade de qualquer uma das fontes normativas
(infraconstitucionais) legitimadoras da atuação da associação na condição
de substituta processual em defesa de específicos direitos individuais
homogêneos.

5. Desse modo, sobressai a legitimidade da associação civil -


independentemente de autorização expressa da assembleia ou do
substituído - para ajuizar ação coletiva, na condição de substituta
processual, em defesa de direitos individuais homogêneos protegidos pelo
Código de Defesa do Consumidor.

6. Hipótese que não se confunde com a discussão sobre o alcance


subjetivo da coisa julgada no âmbito da ação civil pública (legitimidade
do não associado para a execução da sentença proferida em ação civil
pública manejada por associação na condição de substituta processual),
matéria afeta ao exame da Segunda Seção desta Corte nos Recursos
Especiais 1.438.263/SP e 1.361.872/SP, da relatoria do eminente Ministro
Raul Araújo.

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Número do documento: 21061119283051900000042228210
7. Agravo interno não provido. (AgInt no AREsp 975.547/PR, Rel.
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
24/09/2019, DJe 14/10/2019)

Ademais, extrai-se do Estatuto Social da ABDC – Associação Brasileira de Defesa do


Consumidor as finalidades institucionais, das quais se extrai pertinência temática para defender os
interesses de seus associados e/ou consumidores.:

“Art. 4º. São objetivos da Associação:

1. Buscar o equilíbrio ético nas relações de consumo, por meio da


divulgação dos direitos dos consumidor e do acesso à justiça nas causas
em que há o interesse do consumidora;

2. promover e auxiliar a formulação de legislação de defesa do


consumidor e matérias correlatas;

3. atuar junto aos poderes públicos visando o aperfeiçoamento da


legislação e das normas de fiscalização e demais procedimentos de defesa
do consumidor, bem como cumprimento das leis de defesa do
consumidor;

4. atuar judicial e extrajudicialmente para a defesa dos direitos individuais


dos consumidores associados ou não, em decorrência das relações de
consumo e de qualquer outra espécie de relação correlata, equiparada ou
decorrente da relação de consumo;

5. atuar judicial ou extrajudicialmente para a defesa dos direitos difusos,


coletivos ou individuais homogêneos;

6. orientar e informar o consumidor sobre produtos e serviços financeiros


e bancários, a respeito de todos os aspectos jurídicos envolvidos na
relação de consumo, incluindo legislação, regulamentação, fiscalização,
entre outros correlatos.

Impende ressaltar-se, por oportuno, que para se configurar a legitimidade analisada, inobstante a
possibilidade de substituição, há ainda a exigência de que a associação esteja constituída há pelo menos
um ano, para assim poder demandar em juízo representando seus associados, embora, tal previsão tenha
sido relativizada pelo próprio Código de Defesa do Consumidor e pela Lei nº 7.347/85. No entanto, no
caso concreto, não há a necessidade de se observar se é o caso da aplicação da relativização referida, uma
vez que de acordo com a Ata de Assembleia anexada às fls. 02 e 03 do id: 44336340, a promovente foi
constituída no dia 20 de fevereiro de 2019, ou seja, há mais de um ano, preenchendo os requisitos da
legitimidade.

Segundo o entendimento firmado no âmbito do Supremo Tribunal Federal, sob o regime da


Repercussão Geral (Tema 82), faz-se necessária a juntada de autorização expressa para o ajuizamento,
pela associação, de ação coletiva na defesa de interesses dos associados.

Eis a ementa do julgado paradigma em questão, in verbis:

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Número do documento: 21061119283051900000042228210
REPRESENTAÇÃO – ASSOCIADOS – ARTIGO 5º, INCISO XXI, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. ALCANCE. O disposto no artigo 5º,
inciso XXI, da Carta da Republica encerra representação específica, não
alcançando previsão genérica do estatuto da associação a revelar a defesa
dos interesses dos associados. TÍTULO EXECUTIVO JUDICIAL –
ASSOCIAÇÃO – BENEFICIÁRIOS. As balizas subjetivas do título
judicial, formalizado em ação proposta por associação, é definida pela
representação no processo de conhecimento, presente a autorização
expressa dos associados e a lista destes juntada à inicial. " (RE 573232,
Relator (a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Relator (a) p Acórdão:
Min. MARCO AURÉLIO , Tribunal Pleno, julgado em 14052014,
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-182 DIVULG 18-09-2014
PUBLIC 19-09-2014 EMENT VOL-02743-01 PP-00001)”

Por último, em relação à questão da representatividade, inobstante a possibilidade de substituição


da autora em relação aos seus associados, é necessária autorização para representar seus associados em
Juízo e nesse sentido, constam dos autos as autorizações dos substituídos para a interposição de demanda
judicial (nos documentos id: 44397715 e seguintes), de acordo com os objetivos da entidade (Art. 4º - fl. 5
do id: 44336340).

Portanto, não há dúvidas de que os representados anuíram com a interposição da presente ação,
não havendo nenhuma irregularidade processual a ser aferida nesse momento processual.

Assim, resolvido, passa-se a análise da tutela de urgência requerida.

DO PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA:

A parte promovente, formulou pedido de tutela de urgência, cabendo a este Juízo, nos moldes do
art. 300 e seguintes do Código de Processo Civil analisar a presença dos requisitos autorizadores para a
sua concessão, os quais sejam, a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco do resultado útil ao
processo.

Preenchidos os pressupostos de admissibilidade, o pedido de antecipação de tutela formulado deve


ser deferido, em parte, senão vejamos.

Destarte, cumpre analisar, primeiramente, se existe o risco de dano grave na demora da prestação
jurisdicional, o perigo da irreversibilidade da decisão atacada e a presença do fumus boni iuris e, no caso,
estão presentes tais requisitos.

Primeiro, não existe o perigo da irreversibilidade da decisão ou do resultado útil do processo,


posto que se, no decorrer do processo, forem desconstituídos os argumentos esposados pela autora, não
haverá prejuízos para as promovidas, enquanto que o inverso, a ausência de comprovação da regular
notificação dos eventuais devedores, implica no prejuízo diário aos consumidores.

Ademais, ressalte-se que a plausibilidade do direito invocado pela demandante restou devidamente
demonstrada, enquanto que ainda não há comprovação de que as inscrições foram previamente
notificadas, de forma individualizada.

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E mais, a exclusão provisória do nome dos substituídos não configura prejuízo efetivo, capaz de
fundamentar a negativa da tutela pretendida nesse ponto específico.

Em caso análogo, inclusive, o Egrégio Tribunal de Justiça da Paraíba já teve a oportunidade de


analisar o pleito em questão, consoante se observa das seguintes decisões:

Agravo de Instrumento nº 0806292-47.2018.8.15.0000 Agravante: Boa


Vista Serviços S/A Agravada: (…) - Há de se considerar que a segurança
do ordenamento jurídico exige, de modo inafastável, o respeito às
condições erigidas pela legislação processual civil como requisitos
básicos à concessão da tutela antecipada, sendo tal procedimento conditio
sine qua non para a eficácia do instrumento processual em tese. Para o
deferimento do pedido de antecipação de tutela é mister a presença dos
elementos probatórios que evidenciem a veracidade do direito alegado,
formando um juízo máximo e seguro de probabilidade à aceitação da
proposição aforada. - Presente, em cognição sumária, os requisitos
exigidos pelo art. 273, caput, do Código de Processo Civil, é de se deferir
a tutela antecipada pleiteada. (…) A plausibilidade do direito invocado
restou demonstrado na Instância de origem. (…) A uma, porque os autos
dão conta de vários extratos das consultas aos órgãos de proteção ao
crédito, através dos quais se pode depreender a inscrição do nome dos
associados em seus cadastros. A duas, porque tampouco há ainda
comprovação de que as inscrições foram previamente notificadas.(…)
Não fosse isso o bastante, também havia perigo de dano irreparável, eis
que as inscrições privariam os agravados ao acesso de qualquer crédito,
possibilitando, até mesmo, o encerramento de suas atividades, acarretando
prejuízos de ordem financeira e moral. (Sala das Sessões da Quarta
Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Paraíba, em 06 de junho de 2019 -
data do julgamento. Alexandre Targino Gomes Falcão Juiz de Direito
Convocado. Relator).

Não somente isso, é certo que o ônus de provar a existência das notificações aos consumidores,
acerca da existência do débito e da inscrição do nome do consumidor, é da entidade responsável pela
inscrição, nos termos da Súmula 359 do STJ[5], o que leva ao entendimento que devem as demandadas
desconstituir as assertivas autorais, nos termos do art. 373, II, do CPC. E mais nesse sentido, do STJ:

“É ilegal e deve ser cancelada a inscrição do nome do devedor nos


cadastros de restrição ao crédito sem a notificação prévia exigida pelo art.
43, § 2º, do CDC.” (trecho do v. acórdão proferido no Recurso Especial
Repetitivo n.º 1.061.134/RS, relatado pela Ministra NANCY ANDRIGHI,
C. 3ª Turma, j. em 19 de maio de 2005).

Por outro lado, a matéria em disceptação já foi analisada pelo TJPB, cuja decisão recente ratifica o
entendimento ora esposado:

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DECISÃO INTERLOCUTÓRIA AGRAVO DE INSTRUMENTO N.
0800036-20.2020.8.15.0000 ORIGEM: Juízo da 15ª Vara Cível da
Comarca da Capital RELATOR: Desembargador João Alves da Silva
AGRAVANTE: Associação Brasileira de Defesa e Proteção ao
Consumidor – ABDC (Adv. Adriano José de Araújo Freitas)
AGRAVADOS: SERASA S/A, Confederação Nacional de Dirigentes
Logistas (SPC Brasil) e Boa Vista Serviços S/A Trata-se de agravo de
instrumento com pedido de efeito suspensivo interposto pela Associação
Brasileira de Defesa e Proteção ao Consumidor – ABDC contra decisão
interlocutória proferida pelo MM. Juízo da 15ª Vara Cível da Comarca de
João Pessoa, nos autos da ação de procedimento comum com pedido de
tutela de urgência e multa cominatória, proposta pela parte ora agravante
em face da SERASA S/A, Confederação Nacional de Dirigentes Logistas
(SPC Brasil) e Boa Vista Serviços S/A. No decisum agravado, o Juízo a
quo indeferiu o pedido de tutela provisória formulado pela associação
recorrente e consubstanciado na exclusão ou suspensão da inserção dos
nomes de seus associados nos cadastros restritivos de crédito,
fundamentando o magistrado a ausência da probabilidade do direito, ao
considerar que inexiste prova documental da negativação do nome dos
associados da promovente. (...) Por sua vez, para fins de apreciação dessa
medida sumária, destaca o art. 300, do diploma processual em referência,
que a “tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao
resultado útil do processo”. (...) Compulsando-se detidamente os autos,
penso que, em sede prefacial, a parte agravante logra êxito em demonstrar
os requisitos necessários ao deferimento do pleito liminar, para suspender
os efeitos da decisão recorrida. Vejamos. A lei de consumo determina que
a abertura de cadastro, ficha, registro ou dados pessoais em órgãos
consultivos de crédito deve ser precedida de comunicação ao consumidor,
quando não solicitada por este, sob pena do lançamento ser indevido e
gerador de dano moral (art. 43, § 2º, do CDC). Ademais, é ônus de
entidade recorrida provar o envio da notificação para os consumidores
acerca da existência do débito e da sua inscrição em cadastros restritivos é
exclusivamente da entidade responsável, sob pena de ser inválida, nos
termos da Súmula 359, STJ: “Súmula 359 STJ: Cabe ao órgão
mantenedor do cadastro de proteção ao crédito a notificação do devedor
antes de proceder à inscrição .” Nesse sentido é a orientação fixada pelo
E. STJ: “É ilegal e deve ser cancelada a inscrição do nome do devedor nos
cadastros de restrição ao crédito sem a notificação prévia exigida pelo art.
43, § 2º, do CDC.” (trecho do v. acórdão proferido no Recurso Especial
Repetitivo n.º 1.061.134/RS, relatado pela Ministra NANCY ANDRIGHI,
C. 3ª Turma, j. em 19 de maio de 2005). (grifou-se). “O ônus da prova das
excludentes da responsabilidade do fornecedor de serviços, previstas no
art. 14, § 3º, do CDC, é do fornecedor, por força do art. 12, § 3º, também
do CDC.” (STJ-3ª Turma, REsp 685662/RJ, rel. Min. Nancy Andrighi,
v.u., j. 10/11/2005, DJ 05.12.2005 p. 323). Ademais, o periculum in mora
no presente caso mostra-se fatal aos consumidores associados, eis que as
inscrições os privariam ao acesso de qualquer crédito, possibilitando,
graves crises financeiras ou mesmo o encerramento de suas atividades,
acarretando prejuízos incalculáveis. Em razão disso, entendo que, em sede
perfunctória, restam demonstrados os fumus boni iuris e periculum in
mora, face ao que defiro o efeito suspensivo ao recurso, para determinar

Assinado eletronicamente por: DANIERE FERREIRA DE SOUZA - 11/06/2021 19:28:31 Num. 44418063 - Pág. 8
http://pje.tjpb.jus.br:80/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21061119283051900000042228210
Número do documento: 21061119283051900000042228210
que os nomes dos associados relacionados na lista constante na ação
originária sejam excluídos provisoriamente dos cadastros de restrição das
demandadas, sendo expedido, para cada um, em resposta as consultas
realizadas o resultado “nada consta”; além de o polo recorrido se abster de
novos apontamentos desabonadores ao crédito enquanto durar a ação, sem
que proceda com a notificação prévia. Comunique-se o juízo a quo acerca
desta decisão, para que adote as providências cabíveis, requisitando-lhe
informações. Intime-se o polo agravado para, querendo, apresentar
contrarrazões, no prazo de 15 dias, facultando-lhe juntar a documentação
que julgar necessária ao julgamento. Intime-se. João Pessoa, 13 de janeiro
de 2020. Desembargador João Alves da Silva Relator
(0800036-20.2020.8.15.0000, Rel. Des. João Alves da Silva, AGRAVO
DE INSTRUMENTO, 4ª Câmara Cível)

AGRAVO DE INSTRUMENTO N. 0805937-03.2019.8.15.0000 ORIGEM: Juízo da 1ª


Vara Cível da Comarca da Capital RELATOR: Desembargador João Alves da Silva
AGRAVANTE: Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (Adv. Vivian Meira
Avila Moraes) AGRAVADO: Associação Brasileira de Defesa do Consumidor - ABDC
(Adv. Hadassa Livramento Pinto Santos) AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO
ORDINÁRIA C/C PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA. LEGITIMIDADE ATIVA.
REQUISITO TEMPORAL. EXCEPCIONALIDADE. DISPENSA. LEGITIMIDADE.
AUTORIZAÇÃO ESPECÍFICA DOS ASSOCIADOS. NECESSIDADE.
CUMPRIMENTO. TEMA 82/STF. REPERCUSSÃO GERAL (RE 573.232/SC) .
AUSÊNCIA DE PROVA DO ENVIO DA NOTIFICAÇÃO DA INSCRIÇÃO EM
CADASTRO DE CRÉDITO. SÚMULA 359, STJ. APLICAÇÃO DO ARTIGO 932,
IV, A, B, CPC/2015. MANUTENÇÃO DA DECISÃO. DESPROVIMENTO DO
RECURSO. - “ É dispensável o requisito temporal da associação (pré-constituição há
mais de um ano) quando presente o interesse social evidenciado pela dimensão do dano
e pela relevância do bem jurídico tutelado” (STJ - REsp: 1443263 GO 2014/0061302-3,
Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de Julgamento: 21/03/2017, T3 -
TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 24/03/2017). - Segundo o entendimento
firmado pelo Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE 573.232/SC, sob o rito da
Repercussão Geral, é necessária a juntada de autorização expressa para o ajuizamento,
pela associação, de ação coletiva na defesa de interesses dos associados. Restando
comprovada a referida autorização, necessário se faz negar provimento ao recurso,
mantendo a decisão a quo em todos os seus termos. - “Súmula 359 STJ: Cabe ao órgão
mantenedor do cadastro de proteção ao crédito a notificação do devedor antes de
proceder à inscrição .” - Prescreve o artigo 932, inc. IV, alíneas “a” e “b” do CPC,
“negar provimento a recurso que for contrário a: a) súmula do Supremo Tribunal
Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal; b) acórdão proferido
pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de
recursos repetitivos; RELATÓRIO Trata-se de agravo de instrumento com pedido de
efeito suspensivo interposto pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistascontra
decisão interlocutória proferida pelo MM. Juízo da 1ª Vara Cível da Comarca de João
Pessoa, nos autos da ação ordinária com pedido de tutela de urgência e multa
cominatória cumulado com danos morais, proposta por Associação Brasileira de Defesa
do Consumidor - ABDCem face da recorrente e outros. No decisum agravado, o
magistrado a quo deferiu a tutela requerida para determinar a exclusão provisória dos
nomes dos associados da autora dos cadastros de restrição das demandadas, sendo
expedido, para cada um, em resposta as consultas realizadas o resultado “nada consta”;
a elevação do “score” para pessoa física e “rating” para pessoa jurídica; a abstenção de
novos apontamentos desabonadores ao crédito enquanto durar a ação, sem que
procedam com a notificação prévia, sob pena de multa diária. Irresignada com tal

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provimento judicial, a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas, segunda
demandada,ofertou suas razões recursais pela reforma da decisão a quo, posto que
ausentes o fumus boni iurise o periculum in mora, requisitos autorizadores da medida, o
que fizera ao suscitar, preliminarmente, a ilegitimidade ativa da associação agravada,
uma vez que constituída há menos de 01 (um) ano, pelo que não estaria legitimada a
propor ação civil pública e a incompetência do juízo, uma vez que nenhum dos
associados tem domicílio no âmbito da competência territorial dessa Comarca,
inobservando os termos da Lei nº 7.347/85. Sustenta, ademais, que não restaram
comprovadas: a condição de associado, a autorização para que autora pleiteie em nome
próprio direito de terceiro, a origem comum das dívidas dos supostos associados, dos
apontamentos, nem fora especificado em quais órgãos estão inscritos, se houve
reconhecimento ou não das dívidas, ou mesmo se estão sendo impugnadas em juízo,
acrescentando que a pretensão autoral é genérica, fundada em suposta negativa de envio
de notificação, sem ao menos identificar qual o registro, “visto que como seus
associados são devedores contumazes, cada um possui vários apontamentos”. Para além,
aponta a ausência de procuração e de representação nos autos, argumentando que os
associados-autores “apenas apresentam um suposto associativismo declarado por uma
declaração da própria entidade, sem valor probandi, produzido unilateralmente, sem
qualquer documento pessoal ou qualquer comprovante de associativismo”. Destaca que
não há qualquer questionamento quanto à legitimidade dos débitos inscritos, mas,
apenas, quanto à suposta falta de comunicação prévia da inscrição, revestindo-se de
legalidade as inscrições perpetradas, tratando-se o ato de exercício regular de direito dos
bancos de dados e cadastros relativos a consumidores. Afirma que os registros oriundos
dos bancos de dados da Requerida, ou de seus associados, foram devidamente
precedidos de notificação prévia, nos termos do art. 43, §2º, do CDC. Por fim, requer a
atribuição de efeito suspensivo à decisão agravada e, no mérito, seja dado provimento
ao recurso. Pedido de efeito suspensivo restou deferido. Contrarrazões devidamente
apresentadas. Diante da desnecessidade de intervenção do Ministério Público, deixo de
remeter os autos à Procuradoria-Geral de Justiça, nos termos do art. 169, §1º, do
RITJPB c/c o art. 178 do CPC. É o relatório.

DECIDO.

A controvérsia devolvida a esta Corte de Justiça reside em definir o acerto da decisão de


primeiro grau, que deferiu a tutela requerida para determinar a exclusão provisória dos
nomes dos associados da autora dos cadastros de restrição das demandadas, sendo
expedido, para cada um, em resposta as consultas realizadas o resultado “nada consta”;
a elevação do “score” para pessoa física e “rating” para pessoa jurídica; a abstenção de
novos apontamentos desabonadores ao crédito enquanto durar a ação, sem que
procedam com a notificação prévia, sob pena de multa diária. De início, é importante
esclarecer que a legitimidade das associações para propor ações coletivas depende da
satisfação dos requisitos dos arts. 82, IV, do CDC e 5º da Lei 7.34785, quais seja: a)
estejam constituídas há mais de 1 (um) ano; e b) possuam entre suas finalidades
institucionais a proteção ao patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao
consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos raciais,
étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico. Em consulta aos autos eletrônicos, extrai-se que o Estatuto Social da
ABDC – Associação Brasileira de Defesa do Consumidor prevê as seguintes finalidades
institucionais: “Art. 4º. São objetivos da Associação: 1. Buscar o equilíbrio ético nas
relações de consumo, por meio da divulgação dos direitos dos consumidores e do acesso
à justiça nas causas em que há o interesse do consumidor; 2. promover e auxiliar a
formulação de legislação de defesa do consumidor e matérias correlatas; 3. atuar junto
aos poderes públicos visando o aperfeiçoamento da legislação e das normas de

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fiscalização e demais procedimentos de defesa do consumidor, bem como cumprimento
das leis de defesa do consumidor; 4. atuar judicial e extrajudicialmente para a defesa dos
direitos individuais dos consumidores associados ou não, em decorrência das relações
de consumo e de qualquer outra espécie de relação correlata, equiparada ou decorrente
da relação de consumo; 5. atuar judicial ou extrajudicialmente para a defesa dos direitos
difusos, coletivos ou individuais homogêneos; 6. orientar e informar o consumidor sobre
produtos e serviços financeiros e bancários, a respeito de todos os aspectos jurídicos
envolvidos na relação de consumo, incluindo legislação, regulamentação, fiscalização,
entre outros correlatos.” Segundo a previsão do Estatuto, a Associação Brasileira de
Defesa do Consumidor – ABDC, detém pertinência temática para defender os interesses
de seus associados e/ou consumidores. Relativamente à pertinência temática, já decidiu
o Superior Tribunal de Justiça que basta haver vínculo de afinidade temática entre o
legitimado e o objeto litigioso: 'RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
PRODUTOS ALIMENTÍCIOS. OBRIGAÇÃO DE INFORMAR A PRESENÇA OU
NÃO DE GLÚTEN. LEGITIMIDADE ATIVA DE ASSOCIAÇÃO. REQUISITO
TEMPORAL. CONSTITUIÇÃO HÁ, PELO MENOS, UM ANO. FLEXIBILIZAÇÃO.
INTERESSE SOCIAL E RELEVÂNCIA DO BEM JURÍDICO TUTELADO.
DIREITO HUMANO À ALIMENTAÇÃO ADEQUADA. PERTINÊNCIA
TEMÁTICA DEMONSTRADA. DEFESA DOS CONSUMIDORES. PROMOÇÃO
DA SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL. 1. As associações civis, para
ajuizar ações civis públicas ou coletivas, precisam deter representatividade adequada do
grupo que pretendam defender em juízo, aferida à vista do preenchimento de dois
requisitos: a) pré-constituição há pelo menos um ano nos termos da lei civil -
dispensável, quando evidente interesse social; e b) pertinência temática - indispensável e
correspondente à finalidade institucional compatível com a defesa judicial do interesse.
2. Quanto ao requisito temporal, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é
firme quanto à possibilidade de dispensa do requisito de um ano de pré-constituição da
associação, nos casos de interesse social evidenciado pela dimensão do dano e pela
relevância do bem jurídico a ser protegido. (...) 5. A pertinência temática exigida pela
legislação, para a configuração da legitimidade em ações coletivas, consiste no nexo
material entre os fins institucionais do demandante e a tutela pretendida naquela ação. É
o vínculo de afinidade temática entre o legitimado e o objeto litigioso, a harmonização
entre as finalidades institucionais dos legitimados e o objeto a ser tutelado na ação civil
pública. 6. (…) 9. Recurso especial provido.(REsp 1357618/DF, Rel. Ministro LUIS
FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 26/09/2017, DJe 24/11/2017).'
No caso dos autos, a ação é voltada “exclusão provisória dos nomes dos associados em
cadastros restritivos ao crédito, em razão da ausência de notificação regular da
negativação”. Há, portanto, compatibilidade dos objetivos da autora com os fins
almejados com a presente demanda, que versa sobre a proteção dos consumidores.
Ademais, ainda que a associação autora não tenha sido constituída há menos de um ano
do ajuizamento da ação, é certo que esse requisito pode ser afastado, segundo o que
determina o artigo 82, IV, § 1º, do CDC, quando presente o manifesto interesse social
ou a dimensão e característica do dano ou, ainda, pela relevância do bem jurídico a ser
protegido, como acertadamente vem decidindo o Superior Tribunal de Justiça. Nesse
sentido: RECURSO ESPECIAL. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO CIVIL
PÚBLICA. ASSOCIAÇÃO CIVIL. DIREITO DE INFORMAÇÃO. GLÚTEN.
LEGITIMIDADE ATIVA. REQUISITO TEMPORAL. DISPENSA. POSSIBILIDADE.
1. Ação ajuizada em 12/01/2012. Recurso especial interposto em 13/05/2013 e atribuído
a este gabinete em 26/08/2016. (…) 4. É dispensável o requisito temporal da associação
(pré-constituição há mais de um ano) quando presente o interesse social evidenciado
pela dimensão do dano e pela relevância do bem jurídico tutelado. 5. É fundamental
assegurar os direitos de informação e segurança ao consumidor celíaco, sob pena de
graves riscos à saúde. 6. Recurso especial provido.(STJ - REsp: 1443263 GO

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2014/0061302-3, Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de Julgamento:
21/03/2017, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 24/03/2017) Não se
observa, igualmente, incompetência absoluta do juízo sentenciante, uma vez que, em se
tratando de ação coletiva que objetiva a defesa de direitos de consumidores, aplica-se a
regra de competência estabelecida na Lei n. 8.078/90, segundo a qual o foro competente
é o do domicílio do consumidor, de modo a facilitar a defesa de seus direitos. Na
espécie, a associação autora é sediada em João Pessoa, de maneira que não encontra
guarida a tese de incompetência aviada. Quanto à suposta falta de autorização para o
ajuizamento da ação, é de sabença geral que a legitimidade ativa está intimamente
relacionada à finalidade institucional de defesa de interesses coletivos em sentido
amplo, o CDC ressalta que, para a tutela de interesses individuais homogêneos, é,
inclusive, dispensada a autorização assemblear (art. 82, IV, última parte, do CDC).
Contudo, segundo o entendimento firmado pelo Supremo Tribunal Federal, sob o
regime da Repercussão Geral (Tema 82), faz-se necessária a juntada de autorização
expressa para o ajuizamento, pela associação, de ação coletiva na defesa de interesses
dos associados. Eis a ementa do julgado paradigma em questão, in verbis:
REPRESENTAÇÃO – ASSOCIADOS – ARTIGO 5º, INCISO XXI, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. ALCANCE. O disposto no artigo 5º, inciso XXI, da
Carta da Republica encerra representação específica, não alcançando previsão genérica
do estatuto da associação a revelar a defesa dos interesses dos associados. TÍTULO
EXECUTIVO JUDICIAL – ASSOCIAÇÃO – BENEFICIÁRIOS. As balizas subjetivas
do título judicial, formalizado em ação proposta por associação, é definida pela
representação no processo de conhecimento, presente a autorização expressa dos
associados e a lista destes juntada à inicial. " (RE 573232, Relator (a): Min. RICARDO
LEWANDOWSKI, Relator (a) p Acórdão: Min. MARCO AURÉLIO , Tribunal Pleno,
julgado em 14052014, REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-182 DIVULG
18-09-2014 PUBLIC 19-09-2014 EMENT VOL-02743-01 PP-00001)” Vale ressaltar
que a jurisprudência do STJ se alinhou ao posicionamento do STF, passando a exigir o
seu cumprimento, consoante se infere de inúmeros julgados já prolatados, dos quais
cumpre destacar recente acórdão proferido pela Terceira Turma, aplicando a tese,
inclusive, a lides envolvendo pessoas jurídicas de direito privado na fase de
conhecimento, senão vejamos: RECURSO ESPECIAL. DISCUSSÃO SOBRE A
VALIDADE DA AUTORIZAÇÃO PARA DESCONTO DE PARCELAS DO MÚTUO
BANCÁRIO EM FOLHA DE PAGAMENTO OU MEDIANTE DÉBITO EM
CONTA-CORRENTE. ALEGAÇÃO DE NEGATIVA DE PRESTAÇÃO
JURISDICIONAL. AFASTAMENTO. AÇÃO COLETIVA AJUIZADA POR
ASSOCIAÇÃO. ENTENDIMENTO FIRMADO PELO STF SOB O REGIME DO
ART. 543-B DO CPC1973. REPRESENTAÇÃO ESPECÍFICA. NECESSIDADE DE
AUTORIZAÇÃO EXPRESSA. AUSÊNCIA. EXTINÇÃO DO FEITO SEM EXAME
DE MÉRITO. 1. Afasta-se a alegação de ofensa ao art. 535, II, do CPC quando o
Tribunal de origem se manifesta sobre todas as questões suscitadas e necessárias ao
deslinde da controvérsia. 2. O STF, no julgamento do RE n. 573.232SC, em regime de
repercussão geral, firmou o entendimento de que a atuação das associações na defesa
dos interesses de seus membros dá-se por representação, e não por substituição
processual, salvo nos casos de mandado de segurança coletivo. Assim, mostra-se
imperiosa a existência de autorização expressa, individual ou por deliberação
assemblear. 3. De acordo com o novel entendimento firmado pelo STF, ausente a
necessária autorização expressa, carece de legitimidade ativa a associação autora. 4.
Recurso especial conhecido e parcialmente provido.(REsp 1.362.224MG, Rel. Ministro
JOÃO OTÁVIO DE NORONHA , TERCEIRA TURMA, julgado em 02062016, DJe de
10062016) Compulsando os autos, verifico que a parte agravada apresentou a
documentação dos seus filiados autorizando expressamente o ajuizamento de ações
visando a defesa dos seus interesses, cumprindo expressamente o requisito previsto pela

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Suprema Corte de Justiça, consoante se observa dos autos (ID 4900666 e seguintes)
Quanto à comprovação de envio da notificação apta a legitimar a inscrição em cadastros
restritivos ao crédito, entendo que a parte agravante não logrou êxito em demonstrar seu
regular envio, o que demonstra um total descaso com a legislação consumerista. É
cediço que a notificação qualificada pela legislação como indispensável quando do
registro de dados do consumidor, é imputável à entidade que o procede, qual seja,
aquela mantenedora do serviço de proteção ao crédito. O CDC erige como direito básico
do consumidor à facilitação da defesa dos seus direitos (artigo 6º, inciso VIII). Razão
pela qual, entende-se que, frente a tal legislação, toda a cadeia participante da prestação
do serviço ou do fornecimento do produto causador do dano será responsável,
assegurado, por óbvio, o direito de regresso a ser exercido em momento posterior,
quando já exaurida a tutela buscada pelo consumidor. Tal sistema de responsabilização
atende aos fins últimos da legislação protetiva do consumidor, visto que reconhece a sua
vulnerabilidade, a possibilidade da reparação efetiva dos danos, a facilitação da defesa
dos seus direitos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como da qualidade dos
produtos e serviços ofertados no mercado de consumo. Tal questão, aliás, encontra-se
pacífica no âmbito do STJ e inclusive é objeto do Enunciado de Súmula nº 359, que
prevê que “cabe ao órgão mantenedor do Cadastro de Proteção ao Crédito a notificação
do devedor antes de proceder à inscrição”. A propósito: APELAÇÃO CÍVEL -
ANTECIPAÇÃO DE TUTELA - FRAUDE –RESPONSABILIDADE CIVIL -
REGISTRO NO SPC - NOTIFICAÇÃO PRÉVIA REALIZADA – CULPA
EXCLUSIVA DE TERCEIRO -ENDEREÇO DIVERSO - DANO MORAL –
SENTENÇA REFORMADA -RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. A prévia
notificação ao consumidor quanto à abertura de registro negativo em seu nome é
obrigatória, e o descumprimento da norma pelo autor ou mantenedor do arquivo de
consumo autoriza ao consumidor a busca pelo cancelamento e reparação pelos danos
decorrentesdo apontamento feito às avessas da lei. (TJMS – Apelação nº
0804695-65.2011.8.12.0002. Rel. Marcelo Câmara Rasslan, 1ª Câmara Cível, DJ
15.09.2015) Assim, anoto que a prévia comunicação é requisito essencial para a
legitimidade do cadastro e, uma vez não efetivada ou não realizada regularmente, ele
não pode ser mantido e enseja o cancelamento, como bem entendeu o magistrado
processante. Cabia então à agravante provar o alegado, nos termos do art. 373, II, do
NCPC, trazendo aos autos provas que demonstrassem a devida notificação da autora
acerca da inserção de seu nome no rol de maus pagadores de forma a legitimar o
procedimento, quedando-se inerte nesse ponto. Veja-se que as provas trazida aos autos
pela ré não comprova, efetivamente, que todos os associados constantes da lista
apresentada pela parte autora foram regularmente notificados, uma vez que não há
qualquer informação específica de postagem, como declaração/protocolo emitido pelos
correios com data e efetiva entrega, em relação a todos eles. Embora a parte agravante
alegue a existência de débitos, o artigo 43, § 2º do CDC, é claro quanto ao dever dos
órgãos mantenedores de proteção ao crédito de notificar previamente o devedor acerca
da inserção do seu nome em cadastro de inadimplentes, sob pena de ser declarada ilegal
a inscrição realizada. Portanto, não havendo o cumprimento do que dispõe o art. 43, § 2º
do CDC, configurado está o ato ilícito praticado pela ré, ora agravante. “O ônus da
prova das excludentes da responsabilidade do fornecedor de serviços, previstas no art.
14, § 3º, do CDC, é do fornecedor, por força do art. 12, § 3º, também do CDC.” (STJ-3ª
Turma, REsp 685662/RJ, rel. Min. Nancy Andrighi, v.u., j. 10/11/2005, DJ 05.12.2005
p. 323). A inversão do ônus da prova pode decorrer diretamente da própria lei (ope
legis), quando a comprovação de um fato, que normalmente seria encargo de uma parte,
é atribuída, pela própria lei, à outra parte. Ou seja, o ônus da prova da comprovação do
envio da notificação é da parte agravante, que não se desincumbiu deste encargo, dando
azo, então, a manutenção da decisão agravada, por sua própria inércia. Ademais, o
periculum in mora inversose mostrapresente aos consumidores associados, eis que as

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inscrições os privariam ao acesso de qualquer crédito, possibilitando, graves crises
financeiras ou mesmo o encerramento de suas atividades, acarretando prejuízos
incalculáveis, mormente se considerar a crítica crise financeira que assola o país.
Outrossim, tem-se que a decisão do magistrado a quo determinou a “exclusão provisória
dos cadastros de restrição das entidades demandadas”, o que implica, ainda, na ausência
de prejuízo efetivo, capaz de justificar a reforma da decisão, já que, caso a ação seja
julgada improcedente as negativações serão reativadas. Este Tribunal já entendeu de
forma semelhante, inclusive com minha participação no julgamento. AGRAVO DE
INSTRUMENTO Nº 0806292-47.2018.8.15.0000 AGRAVANTE: BOA VISTA
SERVIÇOS S/A AGRAVADA: ABRADECO - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
DEFESA DO CONSUMIDOR AÇÃO INDENIZATÓRIA. Tutela ANTECIPADA
DEFERIDA EM PRIMEIRO GRAU. IRRESIGNAÇÃO. PRELIMINARES.
ILEGITIMIDADE PASSIVA. ILEGITIMIDADE ATIVA DA ASSOCIAÇÃO.
OBRIGATORIEDADE DA AUTORIZAÇÃO INDIVIDUAL DE FILIADO OU
ASSOCIADO DE SINDICATO PARA PROPOR AÇÃO JUDICIAL. AUSÊNCIA DE
APRECIAÇÃO NA DECISÃO AGRAVADA. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA.
IMPOSSIBILIDADE. REJEIÇÃO. MÉRITO. PLAUSIBILIDADE DAS
ALEGAÇÕES. PERIGO DE DANO IRREPARÁVEL. REQUISITOS PRESENTES.
INTELIGÊNCIA DO ART. 1.019 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.
MANUTENÇÃO DA DECISÃO RECORRIDA. DESPROVIMENTO.- (…) - Há de se
considerar que a segurança do ordenamento jurídico exige, de modo inafastável, o
respeito às condições erigidas pela legislação processual civil como requisitos básicos à
concessão da tutela antecipada, sendo tal procedimento conditio sine qua non para a
eficácia do instrumento processual em tese. Para o deferimento do pedido de
antecipação de tutela é mister a presença dos elementos probatórios que evidenciem a
veracidade do direito alegado, formando um juízo máximo e seguro de probabilidade à
aceitação da proposição aforada. - Presente, em cognição sumária, os requisitos exigidos
pelo art. 273, caput, do Código de Processo Civil, é de se deferir a tutela antecipada
pleiteada. (…) A plausibilidade do direito invocado restou demonstrado na Instância de
origem. (…) A uma, porque os autos dão conta de vários extratos das consultas aos
órgãos de proteção ao crédito, através dos quais se pode depreender a inscrição do nome
dos associados em seus cadastros. A duas, porque tampouco há ainda comprovação de
que as inscrições foram previamente notificadas.(…) Não fosse isso o bastante, também
havia perigo de dano irreparável, eis que as inscrições privariam os agravados ao acesso
de qualquer crédito, possibilitando, até mesmo, o encerramento de suas atividades,
acarretando prejuízos de ordem financeira e moral. (Sala das Sessões da Quarta Câmara
Cível do Tribunal de Justiça da Paraíba, em 06 de junho de 2019 - data do julgamento.
Alexandre Targino Gomes Falcão Juiz de Direito Convocado. Relator). Por fim, como
bem consignado pelo magistrado de primeiro grau, não vislumbro, por ora, motivos
suficientes para a reforma da decisão de primeiro grau, eis que os requisitos
autorizadores da tutela de urgência se mostram inversos, em efetivo prejuízo aos
consumidores associados à parte agravada. Diante de todo o acima exposto e tendo em
vista que a decisão recorrida está em inequívoca consonância com o entendimento
consolidado pelo STF em sede de Repercussão Geral e em Súmula, tem-se restar
materializada a hipótese de julgamento monocrático do recurso, nos termos do art. 932,
IV, “a” e “b”, do novo CPC, daí porque nego provimento ao recurso, mantendo
incólumes todos os termos da decisão agravada. Comunique-se o Juízo a quo.
Intimem-se as partes. João Pessoa, 14 de novembro de 2019. Desembargador João
Alves da Silva Relator”

Ainda, recentemente pelo Exmo. Desembargador Luiz Silvio Ramalho Júnior, foi prolatada
decisão Interlocutória nos autos do Agravo de Instrumento n. 0800613-61.2021.815.0000 interposto em
face de decisão proferida por este Juízo de Direito da Vara Única de Caaporã-PB:

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AGRAVO DE INSTRUMENTO (Processo nº
0800613-61.2021.815.0000) RELATOR: Desembargador Luiz Silvio
Ramalho Júnior AGRAVANTE:Boa Vista Serviços SA AGRAVADO:
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DEFESA DO CONSUMIDOR -
ABDC DECISÃOTrata-se de Agravo de Instrumento com pedido de
efeito suspensivo interposto por Boa Vista Serviços SA, objetivando
impugnar decisão proferida pelo Juiz de Direito da Vara Única de
Caaporã, que nos autos da ação coletiva promovida pela ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE DEFESA DO CONSUMIDOR – ABDC, deferiu
parcialmente pedido de antecipação de tutela: para determinar que as
inscrições dos nomes dos associados relacionados na lista constante desta
ação sejam suspensas provisoriamente dos cadastros de restrição das
demandadas, sendo expedido, para cada um, em resposta as consultas
realizadas o resultado “nada consta”, devendo as requeridas cumprir essa
obrigação no prazo máximo de 05 (cinco) dias, sob pena de multa diária
no valor de R$ 300,00 (trezentos reais) até o limite de R$ 30.000,00
(trinta mil reais). Argui, preliminarmente, a ilegitimidade ativa da
Agravada (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DEFESA DO
CONSUMIDOR), por considerar que os direitos defendidos têm natureza
individual. Relata, ainda, a incompetência territorial; a ausência de
autorização expressa dos associados; a ausência de procuração; haver
procedido a inclusão no exercício regular de um direito; que as
notificações teriam sido previamente emitidas; a impossibilidade da
exclusão dos nomes do cadastro de inadimplentes, bem como a
inaplicabilidade das astreintes. Pugna, ao final, para que seja atribuído
efeito suspensivo ao recurso, para suspender os efeitos da decisão
agravada. No mérito, a ratificação da decisão liminar (ID 9275996). É o
relatório. DECIDO Inicialmente, sobre a incompetência relativa arguida
pelo Agravante, é certo que a matéria, antes de ser enfrentada por este
Tribunal de Justiça, deve ser submetida a análise do Juiz de 1º grau, nos
termos do art. 64, do CPC, a fim de que o próprio magistrado decida, sob
pena de supressão de instância. Assim, o recurso não deve ser conhecido
neste ponto. DA ILEGITIMIDADE ATIVA A pretensão dos autos
volta-se à exclusão provisória dos nomes dos associados em cadastros
restritivos ao crédito, em razão da ausência de notificação regular da
negativação. Pois bem. Admite o art. 81, III, do CDC, a defesa coletiva de
direitos ou interesses individuais homogêneos, “assim entendidos os
decorrentes de origem comum”. Na hipótese dos autos a origem comum
encontra-se representada no direito da Agravada de busca tutelar a suposta
inscrição de consumidores em cadastros de restrição ao crédito, sem a
prévia comunicação, na forma do art. 43, § 2º, do CDC, o que satisfaz a
exigência da tutela coletiva. Ademais, extrai-se do Estatuto Social da
ABDC – Associação Brasileira de Defesa do Consumidor as finalidades
institucionais, das quais se extrai pertinência temática para defender os
interesses de seus associados e/ou consumidores.: “Art. 4º. São objetivos
da Associação: 1. Buscar o equilíbrio ético nas relações de consumo, por
meio da divulgação dos direitos dos consumidor e do acesso à justiça nas
causas em que há o interesse do consumidora; 2. promover e auxiliar a
formulação de legislação de defesa do consumidor e matérias correlatas;
3. atuar junto aos poderes públicos visando o aperfeiçoamento da
legislação e das normas de fiscalização e demais procedimentos de defesa

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do consumidor, bem como cumprimento das leis de defesa do
consumidor; 4. atuar judicial e extrajudicialmente para a defesa dos
direitos individuais dos consumidores associados ou não, em decorrência
das relações de consumo e de qualquer outra espécie de relação correlata,
equiparada ou decorrente da relação de consumo; 5. atuar judicial ou
extrajudicialmente para a defesa dos direitos difusos, coletivos ou
individuais homogêneos; 6. orientar e informar o consumidor sobre
produtos e serviços financeiros e bancários, a respeito de todos os
aspectos jurídicos envolvidos na relação de consumo, incluindo
legislação, regulamentação, fiscalização, entre outros correlatos.” Sobre a
pertinência temática, já decidiu o Superior Tribunal de Justiça sobre o
nexo material que deve existir entre os fins institucionais e a tutela
pretendida: 'RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
PRODUTOS ALIMENTÍCIOS. OBRIGAÇÃO DE INFORMAR A
PRESENÇA OU NÃO DE GLÚTEN. LEGITIMIDADE ATIVA DE
ASSOCIAÇÃO. REQUISITO TEMPORAL. CONSTITUIÇÃO HÁ,
PELO MENOS, UM ANO. FLEXIBILIZAÇÃO. INTERESSE SOCIAL
E RELEV NCIA DO BEM JURÍDICO TUTELADO. DIREITO
HUMANO À ALIMENTAÇÃO ADEQUADA. PERTINÊNCIA
TEMÁTICA DEMONSTRADA. DEFESA DOS CONSUMIDORES.
PROMOÇÃO DA SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL. 1.
As associações civis, para ajuizar ações civis públicas ou coletivas,
precisam deter representatividade adequada do grupo que pretendam
defender em juízo, aferida à vista do preenchimento de dois requisitos: a)
pré-constituição há, pelo menos, um ano nos termos da lei civil -
dispensável, quando evidente interesse social; e b) pertinência temática -
indispensável e correspondente à finalidade institucional compatível com
a defesa judicial do interesse. 2. Quanto ao requisito temporal, a
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é firme quanto à
possibilidade de dispensa do requisito de um ano de pré-constituição da
associação, nos casos de interesse social evidenciado pela dimensão do
dano e pela relevância do bem jurídico a ser protegido. (...) 5. A
pertinência temática exigida pela legislação, para a configuração da
legitimidade em ações coletivas, consiste no nexo material entre os fins
institucionais do demandante e a tutela pretendida naquela ação. É o
vínculo de afinidade temática entre o legitimado e o objeto litigioso, a
harmonização entre as finalidades institucionais dos legitimados e o
objeto a ser tutelado na ação civil pública. 6. (…) 9. Recurso especial
provido.(REsp 1357618/DF, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
QUARTA TURMA, julgado em 26/09/2017, DJe 24/11/2017).' Não há,
portanto, que se acolher a preliminar de ilegitimidade ativa ad causa. DA
AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO LEGAL Segundo o entendimento
firmado no âmbito do Supremo Tribunal Federal, sob o regime da
Repercussão Geral (Tema 82), faz-se necessária a juntada de autorização
expressa para o ajuizamento, pela associação, de ação coletiva na defesa
de interesses dos associados. Eis a ementa do julgado paradigma em
questão, in verbis: REPRESENTAÇÃO – ASSOCIADOS – ARTIGO 5º,
INCISO XXI, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. ALCANCE. O disposto
no artigo 5º, inciso XXI, da Carta da Republica encerra representação
específica, não alcançando previsão genérica do estatuto da associação a
revelar a defesa dos interesses dos associados. TÍTULO EXECUTIVO
JUDICIAL – ASSOCIAÇÃO – BENEFICIÁRIOS. As balizas subjetivas
do título judicial, formalizado em ação proposta por associação, é definida

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pela representação no processo de conhecimento, presente a autorização
expressa dos associados e a lista destes juntada à inicial. " (RE 573232,
Relator (a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Relator (a) p Acórdão:
Min. MARCO AURÉLIO , Tribunal Pleno, julgado em 14052014,
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-182 DIVULG 18-09-2014
PUBLIC 19-09-2014 EMENT VOL-02743-01 PP-00001)” Posto isto, em
análise aos autos do primeiro grau verifica-se que a A gravada juntou aos
autos lista de seus filiados, bem como autorização expressa para o
ajuizamento de ações visando a defesa dos seus interesses, cumprindo
expressamente o requisito previsto pela Suprema Corte de Justiça (IDs
24919765 a 24920121). DA NOTIFICAÇÃO PRÉVIA Quanto à
comprovação de envio da notificação prévia apta a legitimar a inscrição
em cadastros restritivos ao crédito, a Agravante não logrou êxito em
demonstrar seu regular envio em relação às pessoas referidas nos autos.
Ora, sabe-se que a idoneidade da notificação, que deve se dar de modo
prévio a inclusão, é imputável à entidade que o procede, mantenedora do
serviço de proteção ao crédito. Neste sentido, a Súmula nº 359 do STJ,
que prevê: “cabe ao órgão mantenedor do Cadastro de Proteção ao Crédito
a notificação do devedor antes de proceder à inscrição”. Assim, sendo a
prévia comunicação requisito essencial para a legitimidade do cadastro,
uma vez não efetivada, justifica a ratificação da decisão agravada, que
determinou a “exclusão provisória dos cadastros de restrição das entidades
demandadas”. Ante o exposto, indefiro o pedido de efeito suspensivo.
Comunique-se o inteiro teor da decisão ao Juiz a quo. Intime-se a parte
Agravada para apresentar contraminuta no prazo legal. João Pessoa, 10 de
março de 2021. Desembargador Luiz Silvio Ramalho Júnior Relator
(0800036-20.2020.8.15.0000, Rel. Des. Luiz Silvio Ramalho Júnior,
AGRAVO DE INSTRUMENTO, 2ª Câmara Cível).

No tocante ao pedido de elevação do “score” para pessoa física e “rating” para a pessoa
jurídica, bem como em relação ao pleito de que sejam as rés impedidas de anotar novos apontamentos
desabonadores de crédito enquanto perdurar a presente ação, deve, tais pedidos antecipatórios serem
indeferidos.

Isso porque, não há nos autos critérios objetivos para determinar que os associados tenham
determinado “score” ou “rating” após a retirada de seus nomes dos cadastros de inadimplentes, não se
justificando, portanto, a concessão da tutela ante a inexistência da plausibilidade do direito.

Já no tocante ao pleito de que sejam impedidas as rés de proceder a novos apontamentos dos
nomes dos consumidores associados, este também deve ser indeferido. É que a presente ação está
questionando apontamentos realizados até a data da sua propositura, não se podendo prever que o mesmo
fato ocorrerá daqui para frente. Não somente isso, se os consumidores praticarem novos atos capazes de
restringir seu crédito, devem ter a anotação permitida, caso as demandadas observem o regular
procedimento, uma vez que não pode o Judiciário ser responsável pelo descumprimento das obrigações
futuras dos consumidores inadimplentes, desde que, repita-se, sejam observadas as formalidades legais.

Quanto ao requerimento formulado pela promovente no sentido de ser reestabelecido o status


quo ante da pontuação do rating ou do score de imediato, conforme fez prova a associação autora na
inicial, os seus associados vêm sendo prejudicados com a prática abusiva dos demandados de violar a
garantia da privacidade e do direito à informação dos associados da autora, mediante a conduta de, após o

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deferimento da liminar fazerem constar no rating UM PONTO DE INTERROGAÇÃO (?) com a nota ao
lado alegando não ser possível obter o score para o CNPJ por insuficiência de informações na base de
dados.

A prova produzida initio litis, aponta para o fato de as promovidas utilizarem pontos de
interrogação, de exclamação, asteriscos, parágrafos, sinais de mais ou sinais de menos, entre outros
subterfúgios, a fim de identificar para terceiros que os consumidores substituídos está em débito ou que
tem litígios em andamento, além de outros fatos desabonadores aos associados.

Tal conduta se torna ainda mais prejudicial aos associados, vez que com aludidas observações as
entidades continuam restringindo o acesso ao crédito dos consumidores, utilizando-se de critérios
arbitrários, deixando de fornecer o percentual de rating ou o score conforme anteriormente estabelecido
nas consultas, e dessa forma estão a causar danos morais aos associados da entidade promovente.

Outrossim, nos termos do art. 300, § 3º a concessão da tutela de urgência poderá ser perfeitamente
revertida em caso de decisão contrária no curso da presente ação.

Desta feita, este Juízo, neste primeiro momento, entende que diante das alegações prefaciais,
corroboradas com a documentação acostada, o deferimento da tutela de urgência nos termos requeridos na
exordial, está fundado nos requisitos do art. 300 do CPC.

Nesse contexto, o pleito liminar deve ser deferido, em parte.

Ante o exposto, DEFIRO, EM PARTE, A TUTELA DE URGÊNCIA PLEITEADA para


determinar que:

1. as inscrições dos nomes dos associados relacionados na lista constante desta ação sejam
suspensas provisoriamente dos cadastros de restrição das demandadas, sendo expedido, para cada um,
em resposta as consultas realizadas o resultado “nada consta”,

2. se abstenham de se utilizarem de qualquer forma de sinal ou comunicação no sentido de


restringir ou impedir a obtenção ou concessão de crédito aos associados da autora, inclusive
reestabelecendo o status quo ante da pontuação do rating ou do score de imediato.

Estabeleço que as requeridas cumpram a determinação da presente decisão no prazo máximo de 05


(cinco) dias, sob pena de multa diária no valor de R$ 300,00 (trezentos reais) até o limite de R$ 30.000,00
(trinta mil reais).

ADOTEM-SE AS SEGUINTES PROVIDÊNCIAS:

1. Valendo esta decisão como ofício/mandado, em consonância com o Código de Normas


Judiciais da Corregedoria Geral da Justiça da Paraíba (artigos 102 e seguintes), INTIMEM-SE as
promovidas da presente decisão, remetendo-se a relação dos nomes e CPF de todos os associados da
entidade autora.

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2. Considerando a parte autora dispensou a realização da audiência de autocomposição (artigo
334, § 5º do CPC), CITEM-SE as requeridas para, querendo contestar a ação, no prazo de 15(quinze),
observando o teor do art. 242, caput, do CPC.

3. Intime-se a parte autora, através do(a)(s) advogado(a)(s) constituído(a)(s).

Caaporã, data e assinatura eletrônica.

DANIERE FERREIRA DE SOUZA

Juíza de Direito

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