Hume

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11ºAno 2ª Q.

A Filosofia Dezembro 2024

Hume (A Resposta Empirista):


 David Hume foi um importante filósofo do séc. XVIII.

 Frequentou o colégio jesuíta

 Publicou o “Tratado da Natureza Humana”, a “Investigação sobre o entendimento humano” e a


“Investigação sobre os Princípios da Moral”.

-Este recorre a uma abordagem funcionalista para responder ao desafio cético.

O fundacionalismo de Hume atribui o estatuto de crenças básicas justamente às crenças que


provêm da nossa experiência sensível imediata Hume defendia a visão Empirista do
Fundacionalismo.

 Empirismo: O conteúdo das nossas mentes tem a sua origem na experiência.

Impressões e Ideias (a posteriori):

Para Hume o conteúdo das nossas mentes (Perceções), deriva da experiência e pode ser dividido
em duas categorias: Impressões e Ideias

Impressões dados na nossa experiência imediata, como ter uma experiência da cor azul, sentir
calor…

Ideias Cópias enfraquecidas das impressões, como recordar que se teve uma experiência da cor
azul, que se sentiu calor….
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O Princípio da Cópia Hume pensa que à nascença a nossa mente é como uma tábua rasa,
uma vez que as ideias são cópias enfraquecidas das impressões, não pode existir na nossa mente
nenhuma ideia que não tenha uma impressão associada.

Princípio da Cópia: Todas as ideias são cópias das impressões.

Surge o “argumento da Prioridade”

Formulação:

1 Cada impressão simples tem uma ideia simples associada

2 Se assim é, então ou as impressões simples são cópias de ideias simples ou o contrário


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3 As Impressões simples não são cópias das ideias simples

4 Logo, as ideias simples são cópias das impressões simples

 Surge ainda o “Argumento do cego de nascença”

Formulação:

1 Se as ideias simples não são cópias das impressões simples, então é possível um cego de
nascença ter a ideia da cor azul, apesar de não ter qualquer impressão que lhe corresponda.

2 Um cego de nascença não pode ter a ideia da cor azul

3 Logo, as ideias simples são cópias das impressões simples

Questões de Facto e Relações de Ideias:

 Considerando a distinção entre ideias e impressões, Hume reduz todo o conhecimento humano
a dois tipos: Relações de Ideias e Questões de Facto

Bifurcação de Hume

Relações de Ideias: Correspondem ao tipo de conhecimento que pode ser obtido apenas com base na
análise do significado dos conceitos envolvidos numa proposição.

Ex: “Nenhum solteiro é casado”- Para sabermos se esta proposição é verdadeira é só analisarmos os
conceitos de “solteiro” e “casado”

Trata-se de uma verdade necessária pois a sua negação implica uma negação dos termos.

Conhecimento característico de áreas como a matemática, geometria e a lógica.  “conhecimento a


priori”

Questões de Facto: Correspondem ao tipo de conhecimento que só pode ser obtido


diretamente através das impressões (experiência) e que nos fornece informação verdadeira acerca
do mundo.

Ex: “A neve é branca”- para se saber que a neve é branca é preciso ter experiência da neve e da sua
cor.

Conhecimento característico de áreas como a física  “Conhecimento a posteriori”


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 Segundo Hume, apenas o conhecimento sobre questões de facto nos pode fornecer informações
acerca do mundo. Além disso, reconhece que todo o conhecimento sobre questões de facto tem de
se basear na experiência, caso contrário corre o risco de ser demasiado especulativo.

Hume rejeita a conclusão do argumento cético da regressão infinita pois, embora reconheça que
as nossas cadeias de justificações podem acabar por regredir infinitamente (deixando as crenças
injustificadas), também acha que estas podem acabar por chegar a algo autoevidente, presente à
nossa memória e aos nossos sentidos, que possa servir de fundamento para a justificação de
algumas crenças.

 Para Hume, todo o conhecimento acerca do mundo tem necessariamente um fundamento a


posteriori. Já Descartes acreditava na possibilidade de haver conhecimento a priori acerca do
mundo.

Princípios de Associação de Ideias- Semelhança, Contiguidade,


Causalidade:
 Hume pretendia descobrir os princípios de atração (ou associação) de ideias na mente humana.

Na sua opinião existem três princípios de associação de ideias:


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 a semelhança;
 a contiguidade;
 a causalidade;

Semelhança Quando duas ideias se assemelham em algum aspeto, o aparecimento de uma


delas na nossa mente é frequentemente acompanhado pelo aparecimento da outra.

Ex: É natural que a contemplação de um retrato nos faça pensar na pessoa retratada.

Contiguidade Quando duas ideias representam coisas que são de algum modo próximas, no
espaço ou no tempo, o aparecimento de uma dessas ideias é frequentemente acompanhado pelo
aparecimento da outra.

Ex: Se é costume jantar depois do pôr do sol, é natural que pense em comida quando vejo o sol a
pôr-se.

Causalidade Quando duas ideias representam dois acontecimentos que nos parecem estar
ligados por uma conexão necessária, ou relação causa-efeito, o aparecimento na nossa mente de
uma dessas ideias é frequentemente acompanhado do aparecimento da outra.

Ex: Se pensarmos numa ferida, é comum pensarmos na dor que lhe está associada.

 Conexão Necessária, Conjunção Constante e Hábito:


Conexão Necessária: Existe uma conexão necessária entre dois acontecimentos quando a
ocorrência de um deles torna necessária a ocorrência do outro.

Esta ideia coloca um enorme desafio ao empirismo de Hume, pois, visto que a negação de uma
qualquer relação causal não resulta em qualquer contradição, esta ideia não corresponde a uma
relação de ideias.

 Assim sendo, a única alternativa possível é ser uma questão de facto. Contudo, uma vez que não
parece haver nenhuma impressão sensível que corresponda a uma ligação causal ou conexão
necessária entre dois acontecimentos, será que se pode dizer que esta provém da
experiência?

Problema da Causalidade- “Como pode a ideia de causalidade ter origem empírica se,
aparentemente, não existe nenhuma impressão sensível que lhe corresponda?”

Experiência Mental do Adão Inexperiente:


 Esta experiência mental consiste em imaginar alguém que, embora “dotado da mais forte
capacidade e razão natural”, ainda não tenha tido qualquer experiência das regularidades do
mundo.
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 Como consequência dessa falta de experiência a pessoa seria incapaz de inferir qualquer efeito
apenas pela simples ocorrência da sua causa.

Se imaginarmos que essa pessoa adquire experiência das regularidades do mundo, isso era
suficiente para que ela fosse capaz de fazer tal inferência.

A experiência encarregar-se-ia de mostrar que os referidos acontecimentos aparecem


constantemente conjugados (um a seguir do outro).

 A solução de Hume para o problema da causalidade consiste em assumir que a ideia de relação
causal ou conexão necessária entre dois acontecimentos mais não é do que a expectativa de um
deles (o efeito) irá ocorrer sempre que outro (a causa) ocorra.

Esta expectativa resulta do hábito, isto é, da experiência que temos de uma conjunção
constante desses dois acontecimentos.

Conjunção ConstanteTemos experiência de uma conjunção constante entre dois


acontecimentos quando a experiência de um deles surge sempre associada à experiência do outro.

 Assim, Hume acaba por mostrar que a ideia de causalidade não se funda na razão, mas sim na
experiência, mais precisamente numa impressão interna que consiste na expectativa, devido ao
hábito de os vermos constantemente conjugados.

Formulação:

1) Se não tivermos experiência da conjunção constante entre dois acontecimentos, não temos a
ideia de uma relação causal, ou conexão necessária, entre eles.

2) Se tivermos experiência da conjunção constante entre dois acontecimentos, passamos a ter a


ideia de uma relação causal, ou conexão necessária entre eles.

3) Logo, temos ideia de uma relação causal, ou conexão necessária, entre dois acontecimentos se, e
só se, temos a experiência de uma conjunção constante entre eles.

Problema da Indução:
 A solução de Hume para o problema da causalidade mostra-nos que a nossa expectativa de que
causas semelhantes terão efeitos semelhantes se baseia no hábito (experiência de certas
regularidades ou repetições), pelo que não temos legitimidade para postular a existência de uma
força ou poder secreto da natureza que estabelece uma relação causal entre diferentes objectos e
acontecimentos.

No entanto essa constatação não está isenta de dificuldades.

 Chama-se “indutiva” a uma inferência que se baseia num determinado número de casos
observados para chegar a uma conclusão que inclui casos dos quais ainda não tivemos experiência.
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Sendo assim, será que podemos justificadamente confiar nas nossas inferências indutivas? 
“Problema da indução”

 A resposta de Hume é que, de facto, não temos forma de justificar racionalmente a nossa
confiança na indução.

Formulação:

(1) A crença de que “ a indução é fiável “ só pode ser justificada a priori ou a posteriori

(2) Esta crença não pode ser justificada a priori

(3) Esta também não pode ser justificada a posteriori

(4) Logo, a crença de que “ a indução é fiável “ não pode ser justificada

Daqui segue-se validamente que a nossa confiança na indução não pode ser racionalmente
justificada.

Problema do Mundo Exterior:

 Todos nós Estamos dispostos a assumir a existência de um mundo exterior às nossas mentes,
que não depende da nossa perceção e que é a verdadeira causa das nossas impressões.

Segundo Hume,” nada pode estar presente à mente a não ser uma imagem ou perceção, e os
sentidos são apenas as entradas por onde as imagens são transportadas sem conseguirem suscitar
uma comunicação imediata entre a mente e o objeto..”

É um erro confundir os objetos exteriores e o mundo exterior à nossa mente com as nossas
percepções dos mesmos.

Formulação:

(1) Se a mesa que está presente na nossa mente fosse a mesa real, então o seu tamanho não se
alterava conforme a nossa perspetiva.

(2) Mas a mesa que está presente na nossa mente parece diminuir à medida que nos afastamos
dela, ou seja, o seu tamanho altera-se conforme a nossa perspetiva.

(3) Logo, aquilo que está presente na nossa mente não é a mesa real, mas sim uma imagem ou
representação mental da mesma.

 Uma vez que este argumento pode ser generalizado para todo e qualquer objeto do mundo
exterior, concluímos que não temos acesso direto aos objetos do mundo exterior, mas a imagens e
representações mentais dos mesmos.
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Vivemos confinados no interior das nossas mentes sem nunca podermos sair para confirmar se
realmente existem objetos no mundo exterior, que estão na origem das nossas representações
mentais e aos quais estas correspondem.

 Hume considera que, uma vez que se trata de uma questão que diz respeito à existência, uma
investigação desta natureza deve ser resolvida com recurso à experiência. Mas a nossa experiência
não pode alguma vez estender-se para além das nossas impressões, e estas não devem ser
confundidas com os objetos externos.

Uma vez que nunca poderemos sair do interior da nossa mente, nunca seremos capazes de
verificar se existem objetos exteriores que são a causa das nossas perceções.

O Ceticismo Moderado De Hume:


Embora apoie que a crença na indução e no mundo exterior não são racionalmente justificáveis,
Hume considera que estas não devem ser abandonadas.

Não podemos deixar de nos apoiar em certas regularidades para prever acontecimentos futuros,
nem poderemos deixar de assumir que existe um mundo real para lá das nossas mentes.

Assim, Hume acaba por defender que se adote um Ceticismo Moderado como forma de nos
protegermos contra o dogmatismo, as decisões precipitadas e as investigações demasiado
especulativas, distantes da experiência e sem suporte empírico.

Objeções à Respostas Empirista de Hume:


O Contraexemplo do Tom de Azul desconhecido: Objeção ao Princípio da Cópia

 Este contraexemplo consiste em imaginar uma situação em que alguém é colocado perante
uma vasta gama de tons de azul, tendo um dos tons sido propositadamente escondido.
Alguém que nunca tenha tido experiência desse particular tom de azul pode, ainda assim,
formar uma ideia a seu respeito, mesmo na ausência de uma impressão que lhe
corresponda.

Isto não seria possível se, de facto, todas as nossas ideias fossem cópias de impressões

 Embora Hume desvalorize este contraexemplo, a verdade é que ele pode minar a nossa
confiança no princípio da cópia.
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Objeção à Conceção Humeana de Causalidade:

 Thomas Reid, rejeita a análise Humeana do conceito de causalidade em termos de


conjução constante.

Reid procura mostrar que existem contraexemplos que demonstram que haver uma
conjunção constante entre dois acontecimentos não é nem uma condição suficiente, nem
uma condição necessária para que exista uma relação de causalidade entre ambos.

Não é suficiente Existem acontecimentos que se sucedem constantemente sem que sejam a
causa um do outro.

Ex: A sucessão dos dias e das noites.

Não é Necessária Existem acontecimentos que se encontram numa relação causal, embora
não surjam constantemente associados.

Ex: A origem do Universo (ocorrência única e singular) não podemos dizer que há uma
conjunção constante entre a sua causa e o seu efeito.

A teoria Humeana da causalidade tem a estranha implicação de que o Universo não teve uma
causa.

Objeção baseada na argumentação a favor da Melhor Explicação:

 Bertrand Russel rejeita as conclusões céticas de Hume, pois considera que a sua ideia de
“fundamento racional” é demasiado restrita.
 Hume parece admitir que nenhuma crença está racionalmente justificada, a menos que
exista uma prova definitiva da sua verdade.

Para Russel, pode simplesmente acontecer que, de entre as alternativas disponíveis para
explicar a nossa experiência, exista uma hipótese mais plausível do que todas as outras 
“abdução” ou Argumentação a favor da melhor explicação.

 Russel acredita que, a existência de um mundo exterior às nossas mentes é uma explicação da
nossa experiência muito mais simples e apelativa do que qualquer cenário cético que possamos
imaginar e, por isso, considera que estamos racionalmente justificados a acreditar nisso.

Russel recorre à análise do comportamento de um gato para ilustrar a sua ideia:

Quando vemos um gato aparecer numa parte da sala e posteriormente nos apercebermos que
este está noutro espaço da casa, parece bastante mais aceitável a hipótese de que ele se deslocou de
um local para o outro enquanto nós não o estávamos a observar, do que aceitar a possibilidade do
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gato ter simplesmente desaparecido da sala quando deixamos de o observar para voltar a aparecer
de novo noutro espaço.

 Esta estratégia argumentativa aplica-se igualmente à ideia de causalidade:

 Hume sugere que a nossa crença de que existe uma relação causal entre diferentes objetos
ou acontecimentos não tem qualquer fundamento racional e corresponde apenas à
expectativa de que um deles ocorra sempre que outro ocorrer, devido á experiência que
temos da conjunção constante desses dois acontecimentos.

Parece mais razoável aceitar que as relações causais, de facto, existem do que supor que essas
conjunções constantes simplesmente ocorrem no mundo de um modo casual.

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