Dissertação Aluandra Oficial
Dissertação Aluandra Oficial
Dissertação Aluandra Oficial
Dissertação de Mestrado
Manaus, Amazonas
2023
ALUANDRA FERREIRA REIS
Dissertação de Mestrado
Manaus, Amazonas
2023
Lista de figuras
Abstract ..................................................................................................................................... 12
1. Introdução ............................................................................................................................. 14
2. Objetivos............................................................................................................................... 17
3. Metodologia .......................................................................................................................... 18
6. Referências ........................................................................................................................... 40
7. Apêndice ............................................................................................................................... 46
Agradecimentos
A Deus, primeiramente, por ter me guardado e permitido concluir mais uma etapa em
minha vida.
À minha família que me deu todo apoio durante o andamento do curso. Destaco os nomes das
minhas irmãs Alessandra e Aliandra e do meu cunhado Elioney que não mediram esforços para
ajudar no que estivesse aos seus alcances. A minha mãe Adinelza Rozendo que me incentivou
a prosseguir meus estudos e ingressar neste curso. Ao meu sobrinho Natanael que, com sua
presença tornou mais leve essa árdua jornada que é a pós-graduação.
Ao grupo do Laboratório de Silvicultura pelo convívio e auxilio para alcançar mais esta
formação. Especialmente a Taynãna pela grande amizade que formamos e o apoio durante o
curso. Também ao Guilherme e a Thayane pela contribuição direta no meu aprendizado.
Ao meu orientador Marciel José Ferreira pela paciência, compreensão e ensino que também foi
imprescindível para concluir essa dissertação e curso.
Ao meu coorientador Victor Alexandre Hardt Ferreira dos Santos por toda contribuição na
construção do projeto e dissertação.
Para finalizar, a todos que contribuíram direta e indiretamente na minha formação e realização
desse trabalho.
Resumo
Abstract
1. Introdução
Entre os anos de 1990 e 2020, as regiões tropicais perderam cerca de 368 milhões de
hectares de florestas (FAO, 2020). As principais causas incluem a expansão agropecuária e a
extração ilegal de madeira (CURTIS et al., 2018; HENRIQUES, 2010; BRANCALION, 2012).
Somente na Amazônia Brasileira, aproximadamente, 81,3 milhões de hectares de florestas
naturais foram convertidos à outras formas de uso do solo (INPE, 2021). Diante deste cenário,
uma importante estratégia para o uso mais responsável dos recursos florestais é através do
Manejo Florestal Sustentável (MFS). O MFS é uma ciência aplicada à administração da floresta
para obter produtos madeireiros e não madeireiros, incluindo a utilização de outros bens e
serviços oriundos da floresta de forma que respeitem os limites da exploração para garantir a
sustentabilidade do ecossistema (LEI Nº 11.284, DE 2 DE MARÇO DE 2006). No entanto,
garantir a sustentabilidade na oferta contínua de madeira a longo prazo, após a primeira
exploração, permanece um dos maiores desafios no manejo de florestas nativas, tendo em vista
a vasta diversidade e riqueza de espécies coexistindo no mesmo ambiente (AZEVEDO, et al.,
2008; MATTOS et al., 2011).
Floresta secundária é uma tipologia florestal que regenera na maioria das vezes por
processos naturais em áreas que foram perturbadas por ações humanas ou naturais, e que
apresentam uma diferença na estrutura e composição em relação às florestas maduras da mesma
paisagem (CHOKKALINGAM; JONG, 2001). A partir da conversão de florestas para outras
classes de uso do solo, estima-se que metade das florestas tropicais não são mais florestas
maduras, mas vegetações secundárias em diferentes estágios de regeneração (FAO, 2010;
15
rendimentos futuros. Porém, este método limita-se normalmente pelo curto período de
monitoramento das parcelas permanentes instaladas em sítios de florestas nativas maduras na
Amazônia (BRIENEN; ZUIDEMA, 2006; CONDIT, 1995). Em florestas secundárias, as
parcelas permanentes são instaladas para monitoramento de pesquisa e dificilmente para avaliar
a produção madeireira (BIENG, et al., 2021; LAURENCE et al., 2011). Diante da necessidade
de informações para elaborar planejamentos eficientes, a dendrocronologia pode ser uma
importante ferramenta complementar para fornecer subsídios ao manejo sustentável de florestas
secundárias, a partir do resgaste do histórico de incremento radial das árvores (LOTFIOMRAN;
KOHL et al., 2017). A dendrocronologia nos trópicos vem sendo praticada há mais de cem anos
por ser uma ciência de datação baseada nos anéis de crescimento do tronco das árvores e que
possibilita traçar comparativos com estudos de eventos e variações ambientais (WORBES,
2002; KAENNEL; SCHWEINGRUBER,2012). Tem sido amplamente empregado nas áreas da
botânica, silvicultura e climatologia (WORBES, 1995). É notório a eficácia desta ciência para
determinar a idade da árvore e descobrir o padrão individual de crescimento com base em
modelos de crescimento em árvores que formam anéis anuais (BRIENEN; ZUIDEMA, 2006;
LOTFIOMRAN; KOHL, 2017; SCHONGART et al., 2007). No entanto, devido à grande
diversidade de espécies arbóreas tropicais, o ritmo de crescimento de grande parte das espécies
ainda é desconhecido (MATTOS et al. 2011), além do fato de existirem diversos fatores intra e
interespecíficos determinantes do crescimento de uma árvore, por exemplo, autoecologia,
competição, condições de sítio e herbivoria (MATTOS et al., 2011). No que se refere à
competição, a exposição da copa em um dossel denso de floresta secundária pode ser
determinante para variação intraespecífica no crescimento, tendo em vista que, já foi
demonstrado que árvores dominantes (com copas predominantemente expostas à luz solar
direta), em floresta secundária, apresentaram taxas mais elevadas de crescimento em diâmetro
quando comparadas às árvores suprimidas (totalmente sombreadas) (MENDOZA et al., 2019).
Portanto, a obtenção de informações sobre o incremento radial ao longo da trajetória de
desenvolvimento de árvores individuais, em um determinado sítio, a partir das técnicas de
dendrocronologia é fundamental para o manejo florestal. A partir de mensurações feitas nos
anéis de crescimento, é possível produzir informações relacionadas ao ponto de inflexão do
crescimento das árvores, os fatores determinantes que influenciam o incremento das árvores e
recuperar situações de competição correlacionando com outras variáveis, contribuindo para a
escolha de tratamentos silviculturais adequados (LOTFIOMRAN; KOHL, 2017; MATTOS et
al., 2011).
17
A espécie Goupia glabra Aubl, popularmente conhecida como cupiúba, é uma espécie
da família Goupiaceae e abundante em florestas secundárias (FERREIRA; TONINI, 2004). Na
Amazônia, é uma das espécies mais comercializadas a partir da exploração em florestas nativas
maduras (FERREIRA; TONINI, 2004; HIRAI; CARVALHO; PINHEIRO, 2007). Esse
destaque ocorre em função das boas características da madeira da espécie, dura e pesada
(densidade 0,87 g/cm³), de cor parda a castanho – rosada e com alta resistência ao ataque de
organismos xilófagos (LORENZI, 1998; FLORSHEIM, 2020). Além de ser uma árvore de
grande porte, podendo atingir até 40 m de altura, a espécie apresenta características típicas de
pioneiras de vida longa (FERREIRA; TONINI, 2004; FINEGAN, 1992). Portanto, G. glabra é
uma espécie que necessita exposição direta a luz (heliófita) para regenerar e se desenvolver
(FINEGAN, 1992). A ocorrência da cupiúba foi confirmada no Brasil nos estados de Acre,
Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima, Mato Grosso e Maranhão em áreas de Floresta
Ciliar, Floresta de Terra Firme, Floresta de Várzea, Floresta Ombrófila e vegetação antropizada
(BIRAL, 2019). A formação dos anéis de crescimento da espécie já foi demonstrada, sendo os
anéis delimitados por uma zona fibrosa formada a partir de células com paredes mais espessas
(LOTFIOMRAN; KÖHL, 2017). A espécie é semidecídua, por isso, provavelmente, forma o
lenho tardio no início do período seco quando perde, parcialmente, suas folhas (LORENZI,
1998).
Em uma floresta secundária com idade de 37 anos e alta densidade de árvores de G.
glabra, foram coletadas amostras do lenho de indivíduos com diferentes tamanhos e níveis de
exposição da copa, com o objetivo de investigar as seguintes questões científicas: i) Como é a
característica do lenho e a trajetória de crescimento ao longo dos anos de árvores de G. glabra
em um sítio de floresta secundária? ii) Como é a variação de crescimento radial e a
produtividade de árvores de Goupia glabra em floresta secundária? iii) Quais os efeitos dos
níveis de exposição da copa sobre o crescimento radial de árvores de G. glabra?
2. Objetivos
Objetivo Geral:
Avaliar as propriedades do lenho e a trajetória de crescimento ao longo dos anos de
árvores de G. glabra em um sítio de floresta secundária.
Objetivos específicos:
18
3) Analisar quais os efeitos dos níveis de exposição da copa sobre o crescimento radial
e a produtividade (volume e biomassa) de árvores de G. glabra.
3. Metodologia
3.1. Localização e caracterização da área de estudo
análise temporal de imagens de satélite (Figura 2). No ano de 2020, foi realizado o inventário
da área a partir da instalação de dez parcelas de 1 hectare cada, onde foram mensurados o
diâmetro a altura do peito (DAP) e feita a identificação botânica de todos os indivíduos com
DAP ≥ 10 cm. Foi registrado uma densidade de 582 ± 19 indivíduos ha-1 (x̅ ± IC 95%) e uma
área basal de 16,94 ± 0,71 m2 ha-1 (x̅ ± IC 95%). De acordo com o inventário realizado, os
gêneros mais dominantes são: Goupia > Vismia > Bellucia > Miconia > Guatteria > Croton.
Entre as espécies inventariadas, destaca-se Goupia glabra, que teve uma densidade de 110 ±
26,3 indivíduos ha-1 (x̅ ± IC 95%), com DAP médio de 16 ± 0,5 cm (x̅ ± IC 95%).
Figura 2. Histórico de desmatamento na área da FAEXP/UFAM, destacando a área de floresta secundária utilizada
nesse estudo. As imagens são do satélite LANDSAT 5 e PLANET, Datum = SIRGAS 2000.
As AFCs foram selecionadas com base no reconhecido interesse de mercado pela espécie e na
qualidade do fuste dos indivíduos. Foram aplicados dois tratamentos: 1) Cortes de liberação =
beneficiamento das AFCs com: corte de lianas, remoção de indivíduos com DAP ≥ 10 cm em
um raio de dois metros em torno da AFC e remoção de indivíduos além do raio de dois metros
que estivessem impedindo a expansão da copa da AFC; 2) Controle = sem aplicação de
tratamentos silviculturais (HUTCHINSON; WADSWORTH, 2006). Cada tratamento foi
aplicado em cinco das dez parcelas experimentais (Figura 3). Para a coleta das amostras do
presente estudo, foram selecionadas árvores de Goupia glabra abatidas pelos cortes de
liberação . Quando duas AFCs de Goupia glabra estavam competindo, uma teve que ser
retirada. As árvores-amostra foram selecionadas com base na distribuição diamétrica da espécie
na floresta, onde, a maior frequência de indivíduos está na menor classe diamétrica e, conforme
aumenta as classes a frequência diminui formando uma curva do tipo exponencial (Figura 4).
Antes de serem abatidas, as árvores foram classificadas quanto à exposição da copa em cinco
categorias de acordo com Dawkins e Field (1978), posteriormente agrupadas em três classes:
alta exposição (1 Total exposição lateral e vertical; 2 Exposição vertical total); média exposição
(3 Exposição vertical parcial) e baixa exposição (4 Apenas iluminação oblíqua; 5 Sem
iluminação direta).
22
Figura 3. Croqui com as parcelas e localização das 34 árvores de G. glabra estudadas na floresta secundária.
Figura 4 Distribuição diamétrica da população de Goupia glabra, com DAP > 10 cm, em uma área de 10 hectares
na floresta secundária.
23
A partir das árvores de G. glabra abatidas em campo, foi retirado, com o auxílio de uma
motosserra, um disco de cada árvore (34 discos) na posição de 1,30 m de altura desde a base da
tora (DAP) (Figura 5A). As amostras foram levadas para o Laboratório de Dendroecologia do
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia- INPA, onde foi feito o polimento (Figura 5B).
Posteriormente, o material foi encaminhado ao Laboratório de Anatomia da Madeira da Escola
Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – ESALQ/ USP para os procedimentos de
dendrocronologia.
As amostras foram polidas com lixas de diferentes granulometrias até chegar ao grânulo
600 para melhor visualização dos anéis de crescimento. Em seguida, todas as amostras foram
digitalizadas em um escâner de alta resolução para posterior auxílio nas demarcações dos
limites dos anéis. Após obter as imagens digitais das amostras, os discos foram reduzidos em
tamanho. Em sua sessão transversal, foram feitas marcações com lápis para retirar duas
amostras radiais (10 x 20 mm, largura x espessura), onde, posteriormente, foram coladas em
suporte de madeira.
Todas as amostras radiais coladas no suporte de madeira foram cortadas em finas fatias
(10 mm x 2mm, largura x espessura) por equipamento de dupla serra circular e, em seguida,
foram acondicionadas em câmara climatizada (20°C, 60% de umidade relativa por 24h) até
obter 12% de umidade (TOMAZELLO – FILHO et al., 2008).
Após a secagem, cada amostra foi submetida à análise pela técnica de densitometria de
raio - X. As fatias radiais das amostras foram digitalizadas no equipamento Faxitron MX20-
DC12 (Faxitron X-Ray, Illinois, EUA. Nesta técnica é necessário fazer a calibração. Para isso,
foi inserido no equipamento de raio X, juntamente com as amostras, uma cunha de calibração
de acetato. Em seguida, foi realizada a operação de calibração e de leitura automática (30 Kv,
19 segundos), gerando imagens digitais (resolução 513pp) das amostras, juntamente com a
cunha de calibração na tela do monitor. Após a obtenção dos perfis de microdensidade aparente,
foram calculadas a densidade média e a variação radial de densidade do lenho. O valor de
25
densidade aparente foi multiplicado por 0,828 para obter a densidade básica da madeira
(VIEILLEDENT et al., 2018).
As imagens de Raio X das amostras foram salvas em formato TIFF e analisadas com o
software WinDENDRO©. Em cada amostra radiografada foram demarcados os limites dos
anéis de crescimento no sentido medula – casca e mensuradas as larguras dos anéis em
milímetros. Posteriormente, as larguras radiais foram transformadas em diâmetro, sendo os
valores convertidos para centímetros.
Além das árvores inicialmente abatidas, foi mensurado o DAP de outras 40 árvores de
G. glabra, onde, posteriormente, parte desses dados também foi utilizada para o ajuste da
equação de volume. A altura das árvores foi estimada por meio de uma equação logarítmica
(Equação 1) com entrada simples, usando o DAP como variável independente. O ajuste do
modelo foi avaliado pelos parâmetros estatísticos R² (0,74) e Erro padrão (0,1458).
Equação 1:
𝐻𝑡 = ((𝑎) + ln(𝐷𝐴𝑃) ∗ 𝑏)
Em que:
𝑎 e b = parâmetros dados pelo modelo
a = 1,517 b = 0,454
DAP = diâmetro a altura do peito
método de Hohenadl em 10 secções. O volume de cada secção foi calculado de acordo com a
Equação 2 e somados para obtenção do volume total. Todas as medidas foram feitas com a
inclusão da casca. Foram selecionadas árvores sem bifurcações ou fustes muito tortuosos. A
distribuição diamétrica das 30 árvores levou em consideração a distribuição da própria floresta
secundária que é do tipo J invertido. Para cada árvore selecionada foi mensurado o DAP. Em
seguida, todas as árvores foram abatidas e coletadas informações de altura do fuste (Hf) e
volume real pela cubagem rigorosa, com auxílio de uma trena. Posteriormente, foi ajustada uma
equação volumétrica de Schumacher-Hall (Equação 3) para estimar o estoque de volume do
fuste das árvores de G. glabra da floresta secundária. A qualidade do ajuste do modelo de
volume foi verificada pelos critérios estatísticos Coeficiente de determinação (R²) que
correspondeu a um valor de 0,95 e Erro padrão (0,195).
A partir das equações geradas (volume e altura) foram aplicados os dados de largura dos
anéis de crescimento para estimar os incrementos em volume das árvores de G. glabra. Após
isso, foram calculados os incrementos em biomassa do tronco multiplicando o volume pela
densidade básica média obtida a partir da técnica de densitometria de Raio X.
Equação 2:
𝐴𝑆1+ 𝐴𝑆2
𝑉= ∗𝐿
2
Em que:
V = Volume
AS1 = Área seccional 1
AS1 = Área seccional 2
L = comprimento
Equação 3:
Em que:
V = volume
a, b e c = parâmetros dados pelo modelo
a = -9,117 b = 2,108 c = 0,519
27
Equação 4:
𝐷𝐴𝑃 = 𝑎 ∗ exp (−𝑏/(𝑋 + 𝑐))
Em que:
DAP = Crescimento médio cumulativo em diâmetro
a, b e c = são os paramentos das equações
Exposição
60,057 5,678 49,938 2,363 10,025 1,569 198,3
alta
Exposição
31,984 1,941 38,769 0,881 9,348 0,482 237,0
média
Exposição
23,604 1,132 27,904 0,726 6,1741 0,369 221,7
baixa
4. Resultados e discussão
Figura 6. Seção transversal de um disco de Goupia glabra destacando a variação da coloração do lenho, bem
como os anéis de crescimento (A); sessão transversal de discos sem cerne (B) imagem (aumento de 10 x)
destacando as zonas fibrosas ao longo do lenho (C).
Além da variação intra - anéis, observou-se também uma variação decrescente dos
valores de microdensidade no sentido medula - casca das árvores (0,93 - 0,8 g cm-3). Ao
comparar a média dos primeiros 5 anéis das 34 árvores de G. glabra com os últimos 5,
observou-se redução de 7 % nos valores de densidade. Devido à baixa variação de densidade,
que indica um perfil de lenho mais homogêneo, o qual deve estar associado à baixa idade das
árvores, podemos considerar a utilização de toda área transversal para usos alternativos da
madeira. No entanto, são necessários mais estudos de ensaios físicos e mecânicos da madeira
para definir o uso final da madeira.
1,4
1,2
Densidade aparente (g cm )
-3
1,0
0,8
0,6
0,4
0,2
0,0
0 50 100 150 200 250 300
Distância radial (mm)
Figura 7. Perfil densitométrico do lenho e imagem de uma amostra radial de G. glabra demonstrando a variação
de densidade aparente intra - anéis.
após 31 anos, enquanto as árvores da classe de baixa exposição tiveram DAP médio de 10,34
cm aos 28 anos de idade. O crescimento acumulativo de G. glabra já foi avaliado em outros
sítios, por exemplo, no trabalho de Lotfiomran e Kohl (2017), onde a espécie apresentou
crescimento linear constante ao longo de 174 anos. Considerando um valor de referência de
DAP = 10 cm, as árvores que estavam com as copas mais expostas (alta exposição) levaram em
média 19 anos para alcançar este valor de referência. Em contrapartida, as árvores que estavam
em condição intermediária de exposição (média exposição) levaram mais tempo para atingir
esse mesmo valor de DAP (24 anos em média); porém, foram mais rápidas quando comparadas
às árvores mais sombreadas, que atingiram o mesmo diâmetro somente após 27 anos (Figura
8).
Figura 8. Crescimento acumulado em diâmetro (DAP) de árvores de G. glabra em função das classes de exposição
da copa (alta, média e baixa) em uma floresta secundária. A linha tracejada indica o DAP = 10 cm das árvores. As
linhas verticais representam as idades médias das árvores com DAP = 10 cm nas diferentes classes de exposição
das copas. Azul = alta; verde = média; cinza = baixa.
O incremento médio anual (IMA) em DAP das árvores variou entre 0,19 cm ano-1 (baixa
exposição) e 0,51 cm ano-1 (alta exposição) (Figura 9A). Quanto a área transversal acumulada,
a classe de alta exposição exibiu valores cerca de 4 vezes superiores (0,0380 m²) em relação a
baixa exposição (0,0086 m²) (Figura 9B). No estudo de Lotfiomran e Kohl, (2017), o valor de
incremento de 0,29 cm ano-1 ao longo dos 174 anos foi inferior às árvores de alta exposição do
33
básica pode estar relacionada ao fato de que as análises foram feitas em maior parte no alburno
devido à ausência de cerne.
Figura 9. Incremento médio anual (IMA) em DAP (A), área transversal (B) e densidade básica (C) do tronco das
árvores de G. glabra por classe de exposição da copa, em que (1) corresponde à baixa exposição; (2) média
exposição; e alta exposição (3). As linhas são as médias e os círculos os outliers. Os valores de significância dos
modelos estão indicados pela letra p, valores de p < 0,05 indicam que há diferença estatisticamente significativa;
NS = não significativo.
35
O padrão de crescimento (incremento) em área transversal das árvores ao longo dos anos
mostrou-se diferente em função dos níveis de exposição das copas (Figura 10). Árvores com
alta exposição tiveram IMA de 0,0008 m² ano-1, com ICA máximo de 0,0015 m² aos 40 anos
de idade (Figura 10A). Nas classes intermediária, o valor de IMA correspondeu a metade da
classe anterior, 0,0004 m² ano-1, com ICA máximo da classe de média exposição, 0,0006 m²
aos 30 anos de idade (Figura 10B). O menor ICA máximo foi observado na classe de baixa
exposição com 0,0004 m² aos 22 anos de idade com IMA de 0,0003 m² ano-1 (Figura 10C). A
diferença entre o IMA da classe alta para baixa foi de 62,5%.
36
Figura 10. Curvas de incremento médio anual (IMA), incremento corrente anual (ICA) e acumulado de área
transversal de árvores de G. glabra em função da classe de exposição das copas, em que (A) corresponde á alta
exposição; (B) média exposição; e (C) baixa exposição. As linhas tracejadas verticais indicam as idades com
valores máximos de ICA.
das copas à luz solar (alta exposição) tiveram IMA-volume de 0,0064 m³ ano-¹ (Figura 11A).
Em relação a biomassa, nesta mesma classe, o valor médio foi de 5,028 kg ano-¹ (Figura 11D).
Para as árvores pertencentes a classe de exposição média, comparando com a classe de alta
exposição, o volume e biomassa reduziram em 51% (0,0027 m³ ano-¹ - 2,124 kg ano-¹) (Figura
11B e 11E). Os menores valores de incremento em volume e biomassa foram observados para
árvores na classe de baixa exposição com 0,0022 m³ ano-1 e 1,720 kg, respectivamente (Figura
11C e 11F).
Para ambas as variáveis, volume e biomassa, não se observou estabilização dos valores
de IMA nas diferentes classes de exposição (Figura 11). Entretanto, o ICA alcançou valores
máximos em diferentes idades dependendo da classe de exposição das copas. Na classe de alta
exposição, o ICA máximo em volume e biomassa foi alcançado aos 42 anos de idade (0,0161
m³ e 12,774 kg). Já para a classe de média exposição, o maior ICA foi quase 3 vezes menor
comparando à classe mencionada anteriormente, com valores de 0,0048 m³ em volume e 3,829
kg de biomassa aos 37 anos. Por fim, na classe de baixa exposição, o ICA máximo obtido aos
27 anos foi de 0,003 m³ (volume) e 2,605 kg (biomassa) representando uma diminuição de 80%
do volume e biomassa comparados aos valores observados sob alta exposição (Figura 11). As
árvores de G. glabra, mesmo na classe de alta exposição, não mostraram estabilização das
curvas de incremento, ou seja, não alcançaram valores máximos de incremento médio anual.
Isso indica que as árvores ainda apresentam um importante potencial de crescimento a
considerar também o grupo ecológico da espécie, pioneira de vida longa (FINEGAN, 1992),
que indica um longo período de permanência dos indivíduos na floresta. Em contrapartida,
árvores de exposição baixa a partir dos 27 anos começaram a reduzir o ICA, indicando que a
aplicação dos tratamentos silviculturais deverá ser feito primeiro nas árvores suprimidas, visto
que, dependendo da disponibilidade de luz as árvores podem impulsionar seu investimento no
crescimento em diâmetro, do contrário, na ausência de luz árvores jovens tendem a investir
mais em crescimento relativo em altura do que em diâmetro (BEAUDET et al., 2007; JAOUEN
et al. 2010; ROZENDAAL et al., 2015). Neste contexto, a aplicação de tratamentos
silviculturais de desbaste, a exemplo da liberação, pode reduzir a competição e melhorar o
crescimento das árvores (LAMPRECHT, 1990). Em um estudo realizado por Hu et al. (2020),
os efeitos positivos dos tratamentos silviculturais de desbaste sobre o crescimento de Flindersia
bourjotiana, uma espécie tropical, foram determinados pelo tamanho das árvores, pelo tamanho
e posição das copas no dossel. Esses resultados reforçam a importância de identificar aspectos
fenotípicos das árvores, bem como suas condições de crescimento, para a melhor efetividade
38
das intervenções silviculturais. Portanto, a partir dos resultados alcançados no presente estudo,
espera-se que esforços contínuos de monitoramento do crescimento das árvores em médio e
longo prazo, além da avaliação de outras características (por exemplo, a qualidade das copas e
o grau de infestação por lianas), além da ampliação deste diagnóstico para outras espécies de
interesse comercial, possam ser decisivos para futuras ações de manejo neste povoamento.
Figura 11. Curvas de incremento médio anual (IMA), incremento corrente anual (ICA) e acumulado de volume e
biomassa de árvores de G. glabra em função da classe de exposição das copas, em que (A e D) corresponde à alta
exposição; (B e E) média exposição; e (C e F) baixa exposição. As linhas tracejadas verticais indicam as idades
com valores máximos de ICA.
39
5. Conclusão
6. Referências
AGUIAR, A. P. D.; VIEIRA, I. C. G.; ASSIS, T. O.; DALLA-DORA, E.L.; TOLEDO, P. M.;
JUNIOR, R. A. O. S.; BATISTELLA, M.; COELHO, A. S.; SAVAGET, E. K.; ARAGÃO, L.
E. O. C.; OMETTO, J. P. H. Land use change emission scenarios: anticipating a forest
transition process in the Brazilian Amazon. Global Change Biology, v. 22, n. 5, p. 1821-1840.
2016.
AZEVEDO, C. P.; CARLOS, R. S.; SILVA, J. N. M.; MACHADO, S. A.; SOLZA, C. R.;
OLIVEIRA, M. M. Simulação de estratégias de manejo florestal na Amazônia com o uso do
modelo SYMFOR. Acta Amazonica, v. 38, p. 51-70, 2008.
BIENG, M. A. N.; OLIVEIRA, M. S.; RODA, J. M.; BOISSIÈRE, M.; HÉRALT, B.; GUIZOL,
P.; VILALOBOS, R.; SIST, P. Relevance of secondary tropical forest for landscape
restoration. Forest Ecology and Management, v. 493, p. 119-265, 2021.
BRASIl. Lei nº 11.284, de 2 de março de 2006 Dispõe sobre a gestão de florestas públicas para
a produção sustentável. Disponível em: < https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb. Acesso
em: 02 de julho de 2022.
BRIENEN, R. J. W.; ZUIDEMA, P. A. Lifetime growth patterns and ages of Bolivian rain
forest trees obtained by tree ring analysis. Journal of Ecology. 94, 481 – 493. 2006.
CHAUVEL, A. Os latossolos amarelos, álicos, argilosos dentro dos ecossitemas das bacias
experimentais do INPA e da região vizinha. Acta Amazonica, v. 12, p. 47-60, 1982.
CHAZDON, Robin L. Second growth. In: Second Growth. University of Chicago Press, 2014.
CHOKKALINGAM, U.; JONG, W. Secondary forest: a working definition and typology. The
International Forestry Review, p. 19-26, 2001.
41
CONDIT, Richard. Research in large, long-term tropical forest plots. Trends in Ecology &
Evolution, v. 10, n. 1, p. 18-22, 1995.
COSTER, C. Zur Anatomie und Physiologie der Zuwachszonen und Jahresringbildung in den
Tropen II. Annales Jardim Botanica Buitenzorg, v. 37, p. 49–160, 1927.
CURTIS, P.G.; SLAY, C. M.; HARRIS, N. L.; TYUKAVINA, A.; HANSEN, M.C. Classifying
drivers of global forest loss. Science 361, 1108-1111, 2018.
FINEGAN, Bryan. The management potential of neotropical secondary lowland rain forest.
Forest Ecology and Management, v. 47, n. 1-4, p. 295-321, 1992.
GURGEL, Ely Simone et al. Conhecendo Espécie de Plantas da Amazônia: Cupiúba (Goupia
glabra Aubl.– Goupiaceae). Belém: Embrapa Amazônia Oriental, p. 7, 2015.
42
HENRIQUES, Fernando Santos. O futuro incerto das florestas tropicais. Revista de Ciências
Agrárias, v. 33, n. 2, p. 265-271, 2010.
HU, J.; HERBOHNA, J.; CHAZDON, R. L.; BAYNESB, J.; VANCLAY, J. K. Long-term
growth responses of three Flindersia species to different thinning intensities after selective
logging of a tropical rainforest. Forest Ecology and Management, v. 476, p. 118442, 2020.
KING, D. A.; DAVIES, J. S.; NUR- SUPSRD, M. N.; TAN, S. Tree growth is related to light
interception and wood density in two mixed dipterocarp forests of Malaysia. Functional
ecology, v. 19, n. 3, p. 445-453, 2005.
43
KÖHL, M.; NEUPANE, P. R.; LOTFIOMRAN, N. The impact of tree age on biomass growth
and carbon accumulation capacity: A retrospective analysis using tree ring data of three tropical
tree species grown in natural forests of Suriname. Plos one, v. 12, n. 8, p. e0181187, 2017.
LAMPRECHT, Hans. Silviculture in the Tropics: tropical forest ecosystems and their tree
species-possibilities and methods for their long-term utilization. Eschborn, Rep. of Germany:
GTZ, 1989., 1989
LAMPRECHT, Hans. Silvicultura en los trópicos: los ecosistemas forestales en los bosques
tropicales y sus especies arbóreas, posibilidades y métodos para un aprovechamiento sostenido.
GTZ,, 1990.
MENDOZA – HERNANDES, M.; GEREZ, F.; P. PURATA, V. S.; TODELO, A. Growth rates
of valuable tree species in secondary tropical montane cloud forests in Mexico: influence of
tree size, crown position and competition. Madera y bosques, v. 25, n. 3, 2019.
PAN, Y. R. A.; BIRDSEY, J.; FANG, R.; HOUGHTON, P. E.; KAUPPI, W. A.; KURZ, O. L.;
PHILLIPS, A.; SHVIDENCO, S.; LEWIS, J.G.; CANADELL, P.; CIAIS, R. B.; JACKSON,
S. W.; PACALA, A D.; MCGUIRE, S.; PIAO, A.; RAUTIAINEN, S.; SITCH, D.; HAYES, A.
A large and persistent carbon sink in the world’s forests. Science, v. 333, n. 6045, p. 988-993,
2011.
PEREIRA, C. A.; VIEIRA, I.C.G. A importância das florestas secundárias e os impactos de sua
substituição por plantio mecanizado de grãos na Amazônia. Interciência, v. 26. n. 8, p.337-
341, agosto de 2001.
PINHEIRO, J. C.; BATES, D. M. Mixed Effects Models in S and S-Plus. Springer, 2000.
PIPONIOT, C.; RODRIGUES, E.;PUTZ, F. E.; RUTISHAUSER, E.; SIST, P.; ASCARRUNZ,
N.; BLANC, L.; DERROIRE, G.; DESCROIX, L.; GUEDES, M. C.; CORONADO, E. H.;
HUTH, A.; KANASHIRO, M.; LICONA, J. C.; MAZZEI, L.; OLIVEIRA, M. V. N.; PEÑA-
CLAROS, M.; RODNEY, K.; SHENKIN, A.; SOUZA, C. R.; VIDAL, E.; WEST, T. A. P.;
WORTE, V.; HÉRAULT, B. Can timber provision from Amazonian production forests be
sustainable?. Environmental Research Letters, v. 14, n. 6, p. 064-014, 2019.
SIST, P.; PIPONIOT, C.; KANASHIRO, M.; PENA-CLAROS, M.; PUTZ, F. E.; SCHULZE,
M.; VIDAL, E. Sustainability of Brazilian forest concessions. Forest Ecology and
Management, 496, p. 119-440, 2021.
TOMAZELLO, M.; BRAZOLIN, S.; CHAGAS, M. P.; OLIVEIRA, J. T.; BALLARIN, A. W.;
BENJAMIN, C. A. Application of X-ray technique in nondestructive evaluation of eucalypt
wood. Maderas. Ciencia y tecnología, 10(2), p. 139-149, 2008.
VIEILLEDENT, G.; FISCHER, F. J.; CHAVE, J.; GUIBAL, D.; LANGBOUR, P.; GÉRARD,
J. New formula and conversion factor to compute basic wood density of tree species using a
global wood technology database. American Journal of Botany, p.1653-1661, 2018.
WORBES, Martin. One hundred years of tree-ring research in the tropics–a brief history and
an outlook to future challenges. Dendrochronologia, v. 20, n. 1-2, p. 217-231, 2002.
WORBES, Martin. How to measure growth dynamics in tropical trees a review. IAWA
journal, v. 16, n. 4, p. 337-351, 1995.
WORBES, M. e JUNK, W. J. Dating tropical Trees by Means of 14C from Bomb Tests.
Ecology, Vol.70 (2):503-507, 1989.
XU, H. SUM, Y.; WANG. X.; FU, Y.; DONG, Y.; LI, Y. Nonlinear mixed-effects (NLME)
diameter growth models for individual China-fir (Cunninghamia lanceolata) trees in southeast
China. PLoS ONE, v. 9, n. 8, p. 1–10, 2014.
ZHU, J.; LU, D.; ZHANG, W. Effects of gaps on regeneration of woody plants: a meta-
analysis. Journal of Forestry Research, v. 25, n. 3, p. 501-510, 2014.
46
7. Apêndice
3. Coleta de informações das árvores: altura e 4. Lenho de G. glabra sob a lente de aumento