Saiba Mais Parla 05
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Sobre o autor
Louis de Silvestre (1675-1760)
1 Entre os séculos XVI e XVIII, a Polônia e a Lituânia formavam uma monarquia dual e eletiva, chamada de
Comunidade Polaco-Lituana. Os nobres poloneses e lituanos elegiam o monarca a partir da Sejm, o parlamento
polonês. O rei eleito também acumulava o título de Grão-duque da Lituânia, e a única exigência era que o
candidato fosse católico. À época de Louis de Silvestre, Augusto II da Polônia era também Eleitor da Saxônia, e
sua corte ficava em Dresden.
Maurice Quentin de La Tour (1704-1788)
Retrato do pintor Louis de Silvestre, c. 1753
Pastel sobre papel
Museu Antoine Lecuyer, Saint-Quentin (FR)
os deuses são capazes de escapar de seu ferimento. Para provar o que disse, Cupido
voa até o Parnaso, uma montanha perto da cidade de Delfos, na Grécia, onde se
reuniam as ninfas, e ali encontra Dafne, filha do deus-rio2 Peneu (divindade atribuída
aos rios da região da Tessália). Cupido então desfere suas flechas: a de ponta aguda
e feita de ouro contra Apolo, e a rombuda de chumbo contra Dafne. Apolo então se
apaixona instantaneamente pela ninfa, mas esta lhe rechaça de todas as formas,
recusando seus avanços. Cansada da perseguição, Dafne implora que o pai lhe ajude
a escapar do seu infortúnio. Sem poder insurgir-se contra um deus, Peneu transforma
a própria filha em um loureiro. Isso, entretanto, não diminui o ímpeto de Apolo. O
deus decide, então, adornar-se com os galhos e as folhas do loureiro, em sinal de seu
amor por Dafne.3
2 Os deuses-rio (do grego Ποταμοi, “rios”), são divindades atribuídas aos rios e riachos da terra, filhos de Oceano
(o rio primordial) e de Tétis, sua irmã. Por serem descendentes dos titãs, são divindades mais antigas que os deuses
do Olímpo (Cf. HESÍODO. Teogonia. Cambridge, MA.,Harvard University Press; London, William Heinemann Ltd, 1914).
3 De acordo com Bulfinch (2002), a partir de Ovídio (1844), a coroa de louros seria dada como prêmio aos generais
romanos vitoriosos em batalha. Ovídio, a fonte original, acrescenta que, antes dos generais vitoriosos, os poetas
seriam os primeiros agraciados com a coroa de louros – sendo Apolo também o deus consagrado às artes. Será
em Heródoto (1899) que encontraremos a referência a uma coroa de ramos como prêmio para os vencedores dos
esportes olímpicos, mas é uma coroa de ramos de oliveira.
Louis De Silvestre (1675-1760)
Cena mitológica com Apolo e Dafne, séc. XVII-XVIII
Óleo sobre tela
Rio de Janeiro, Casa Museu Eva Klabin (BR)
4 The work is finished, which nor dreads the rage / Of tempests, fire, of war, or wasting age; / Come, soon or late,
death’s undermined day, / This mortal being only can decay. / My nobler part, my fame, shall reach the skies, / And to
late times with blooming honours rise. / Whatever the umbounded Roman power obeys, / All climes and nations shall
record thy praise. / If this allowed to poets to divine, / One half of round eternity is mine.
Louis De Silvestre (1675-1760)
Cena mitológica com Apolo e Dafne, séc. XVIII
Óleo sobre tela
Dijon, Museu Nacional Magnin (FR)
Atribuição
No século XV, Antonio del Pollaiuolo executa uma pintura baseada no mito de Apolo
e Dafne. O deus está prestes a finalmente capturar a ninfa, mas a metamorfose já é
bastante visível: ambos os braços de Dafne já se transformaram completamente em
galhos de loureiro, e a perna esquerda já se encontra rija como tronco de madeira.
Pollaiuolo localiza as personagens em sua Florença natal, visto que o vale do rio
Arno é visível na paisagem ao fundo. As vestes dos personagens, também, em nada
lembram os drapeados atribuídos à tradição clássica. E como expressão, a cena se
desenrola de forma pacífica e resoluta. O que se observa na obra de Pollaiuolo é sua
maestria na técnica do desenho, e a complexidade com que desenvolve a perspectiva
aérea da cena (Freedman, 2011/2012, p. 213).
No século XVII, Gian Lorenzo Bernini executa seu grupo escultórico Apolo
e Dafne, por encomenda do cardeal Scipione Borghese. É, talvez, a obra mais
emblemática do mito. Vemos Apolo em completo encantamento por Dafne, pronto
para consumar sua paixão. Ele toca os últimos resquícios de humanidade da ninfa,
apalpando seu ventre em uma tentativa vã de um último abraço. Em contraste, temos
a expressão contrariada de Dafne, já em seu processo de metamorfose. Ela ergue
os braços, como que afastando essa última tentativa de contato físico. Suas mãos
já se tornaram galhos com folhas, e o resto do corpo segue o mesmo caminho. A
transmissão dessa dramaticidade, em sentimentos tão conflitantes, fazem de Bernini
um mestre na “suprema arte da ornamentação teatral” (Gombrich, 2013, p. 333), tão
característica do Barroco europeu.
Bibliografia
DUSSIEUX, Louis-Étienne. Les Artistes français à l’étranger. Paris; Lyon, Jacques Lecoffre, 1876.
FREEDMAN, Luba. Apollo and Daphne by Antonio del Pollaiuolo and the poetry of Lorenzo de Medici.
In: Memoirs of the American Academy in Rome, Vol. 56/57 (2011/2012), pp. 213-242.
FULCO, Daniel. Exuberant Apotheoses: Italian Frescoes in the Holy Roman Empire: Visual Culture and
Princely Power in the Age of Enlightenment. Boston: Brill, 2016.
GOMBRICH, E.H. A história da arte. Rio de Janeiro: LTC, 2013.
HERÓDOTO. Histórias. Nova Iorque: D. Appleton and Company, 1899.
OVÍDIO. Metamorfoses. 1 v. Nova Iorque: Harper & Brothers, 1844.
OVÍDIO. Metamorfoses. 2 v. Nova Iorque: Harper & Brothers, 1844.