Virginia Leone Bicudo Pioneira Da Psicologia e Da
Virginia Leone Bicudo Pioneira Da Psicologia e Da
Virginia Leone Bicudo Pioneira Da Psicologia e Da
2014 217
RESUMO
Este artigo tem por objetivo compor um esboço biográfico que trace a trajetória profissional de
Virgínia Bicudo, destacando suas contribuições como pioneira da psicologia e da psicanálise no país.
Assim, realizou-se um estudo qualitativo de natureza histórica, que empregou fontes orais e fontes
documentais. Os resultados apontam que a atuação de Virgínia Bicudo tem duas fases distintas. A
primeira, desenvolvida nas décadas de 1940 e 1950, voltada à aproximação entre a psicanálise e a
saúde mental, por intermédio de ações preventivas junto a crianças com problemas escolares ou por
intermédio da divulgação de informações relativas à educação infantil nos meios de comunicação. A
segunda, que percorre as décadas de 1960 a 1980, caracteriza-se pela difusão do movimento
psicanalítico no país.
Palavras-chave: Psicanálise; Brasil; História.
ABSTRACT
Virgínia Leone Bicudo: pioneer of psychology and psychoanalysis in Brazil
This article aims to compose a biographical sketch that delineates Virginia Bicudo´s career,
highlighting her contributions as a psychology and psychoanalysis´ pioneer in the country. That way,
it was performed a qualitative study of historical nature which employed oral sources and
documentary sources, The results show that the performance of Virginia Bicudo has two distinct
phases. The first, was developed in the 1940s and 1950s, is focused on the approach of psychoanalysis
and mental health, through preventive actions with children who had problems in school or through
the dissemination of information related to early childhood education in the media. The second, which
covers 1960 to 1980 decades, is characterized by the diffusion of the psychoanalytic movement in the
country.
Keywords: Psychoanalysis; Brazil; History.
Virgínia Leone Bicudo é amplamente reconhecida que reconhecem esta psicanalista como personagem
no meio psicanalítico como personagem de grande de expressão não só para a história da psicanálise, mas
expressão, responsável por iniciativas pioneiras volta- também para memória histórica da cultura brasileira.
das à estruturação e difusão da psicologia e da psica- Vejamos os fatos que sustentam esta afirmação: Vir-
nálise no país. Tal afirmativa pode ser corroborada gínia Bicudo foi a primeira mulher na América Latina
mediante a análise de diversas pesquisas historiográfi- a deitar-se em um divã analítico ao iniciar, em 1937,
cas, entre as quais destacamos: (Campos, 2001), análise didática com Adelheid Koch; foi fundadora,
(Mokrejes, 1993), (Abrão, 2001, 2004), (Perestrello, em 1944, do Grupo Psicanalítico de São Paulo, pre-
1992), (Sagawa, 1994) e (Oliveira, 2006). Embora cursor da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São
nenhuma das pesquisas mencionadas tenha por objeti- Paulo (Sagawa, 1994) e figura como fundadora da
vo descrever a trajetória profissional de Virgínia Bi- Sociedade de Psicanálise de Brasília na década de
cudo é possível identificar várias indicações históricas 1970.
Assim, a presente pesquisa1 tem por objetivo com- destes profissionais foram ouvidos: Adele Pagni Laco-
por um esboço biográfico de Virgínia Leone Bicudo tis, secretária da Sociedade Brasileira de Psicanálise
que será narrado em um duplo movimento, conjugan- de São Paulo e Rosa Lúcia Zingg, sobrinha de Virgí-
do dois fatores centrais que se sobrepõem: a mulher, nia Bicudo e curadora de seu espolio.
enquanto representante das características sociocultu- Com relação à pesquisa das fontes documentais em
rais de sua época, particularmente a emancipação arquivos, identificamos dois grandes acervos. O pri-
feminina ocorrida ao longo do século XX, e a psicana- meiro relativo às obras publicadas por Virgínia Bicu-
lista, na condição de pioneira do movimento que aju- do que, em sua grande maioria encontram-se disponí-
dou a difundir no país. veis na biblioteca da Sociedade Brasileira de Psicaná-
A consecução deste objetivo pressupõe a necessi- lise de São Paulo, exceção aos primeiros trabalhos
dade da identificação de meios adequados para o le- publicados na década de 1940, como sua dissertação
vantamento das informações necessárias, de forma a de mestrado e alguns artigos publicados em periódi-
encontrar um conjunto de fatos e acontecimentos que cos, disponível na biblioteca da Fundação Escola de
sejam simultaneamente, relevantes e fidedignos, Sociologia e Política de São Paulo.
Feita esta consideração, delimitamos como fontes Uma vez realizado este levantamento podemos
históricas para esta pesquisa os depoimentos orais e a destacar três grandes períodos que caracterizaram a
análise de documentos disponíveis em arquivos, que sobreposição entre a vida profissional de Virgínia
conjuntamente garantem o levantamento de um núme- Bicudo e acontecimentos pioneiros da psicologia e da
ro expressivo de informações sobre Virgínia Bicudo e psicanálise no Brasil. 1. O período de formação, que
os contextos familiar, profissional e social em que vai desde o seu nascimento até os anos de formação
viveu. acadêmica; 2. A dimensão social da psicanálise, que
A partir das últimas décadas do século XX a histó- se caracteriza pela aplicação da psicanálise em dife-
ria oral passou a ocupar um lugar de maior destaque rentes frentes de atuações com abrangência social; e 3.
na historiografia. Dentre os principais fatores respon- Difusão e institucionalização da psicanálise no Brasil,
sáveis por esta mudança cabe destacar: o advento, a período em que Virgínia Bicudo assumiu posição de
partir das primeiras décadas do século XX, de uma destaque na Sociedade Brasileira de Psicanálise de
nova concepção de história originado na França que São Paulo.
ficou conhecido como “História Nova” (Le Goff &
Nora, 1974/1988a, 1974/1988b, 1974/1988c), que OS ANOS DE FORMAÇÃO
deslocou o interesse dos grandes eventos políticos Virgínia Leone Bicudo nasceu em 21 de novembro
para os fatos cotidianos; e a incorporação dos aconte- de 1910, na cidade de São Paulo. Os anos que se se-
cimentos contemporâneos como objeto de estudo da guiram ao seu nascimento consagraram-se como um
história, fazendo com que o testemunho vivo de per- período marcado por inúmeras transformações na vida
sonagens que protagonizaram partes de uma história econômica, cultural e social da cidade, oscilando entre
ainda não tão distante no tempo, fosse incorporado um modelo provinciano de relações e a urbanização
como objeto de estudo. acelerada, que se tornaria a marca distintiva da futura
Neste sentido, empregamos a história oral por con- metrópole.
siderá-la um meio eficaz para obter informações sobre Esquadrinhando a trajetória pessoal de Virgínia
a vida pessoal e profissional de Virgínia Bicudo, uma Bicudo, a partir de sua origem familiar até sua forte
vez que foi possível identificar um expressivo número ascendência profissional junto ao universo psicanalíti-
de pessoas que conviveram com esta psicanalista. co brasileiro, é possível reconhecer a existência de
Assim, foram entrevistados os seguintes psicanalistas: muitos elementos representativos da estrutura socio-
Antônio Luiz Serpa Pessanha, Myrna Pia Favilli, So- cultural brasileira que se consolidou ao longo do sécu-
nia Maria Sawaya Botelho Bracher, Maria Helena lo XX. Sua origem familiar humilde e o seu posterior
Teperman, Izelinda Garcia de Barros, Roberto Kehdy, reconhecimento profissional, concretizado através do
Paulo Cesar Sandler e Laertes Moura Ferrão. Além pioneirismo e da posição de liderança que assumiu no
universo psicanalítico do país, faz ressoar a imagem imigrantes eram reconhecidos pelas elites brasileiras
do mito convertido em realidade. Percorrendo alguns como um “mal necessário”, provavelmente fez com
fragmentos de sua história pessoal é possível compre- que a família Bicudo enfrentasse diversas manifesta-
ender como estes elementos coadunam-se de forma a ções de preconceito. A segunda conclusão indica que
forjar a representação ora referida. a família Bicudo era proveniente de uma origem social
De um lado, Joana Leone Bicudo, mãe de Virgínia humilde e, em contrapartida a esta realidade, buscava
Bicudo, é natural da Catânia, cidade italiana localiza- guindar-se a um posição social que conferisse maior
da na Sicília onde nasceu em 2 de dezembro de 1887. status e conforto, esta foi a intenção dos pais de Joana
Imigrou para o Brasil quando contava dez anos de Leone ao saírem da Itália em direção a terra prometida
idade, juntamente com uma leva de imigrantes evacua- e de Theofilo Julio Bicudo ao deixar o interior bus-
dos da Itália que chegavam ao país no final do século cando melhores oportunidades de estudo na capital,
XIX com a missão de substituir a mão de obra escra- embalado por seu pendor para a atividade intelectual
va. Desta forma, Pietro Paolo Leone e Agripina Pa- que ao longo de toda sua vida foi uma importante
lermo, avós maternos de Virgínia Bicudo, juntamente referência identitária.
com os quatro filhos, instalaram-se na Fazenda Matto Assim constatamos que Virgínia Bicudo foi forte-
Dentro localizada no município de Campinas no Esta- mente investida por uma representação mítica em seu
do de São Paulo. universo familiar, que identificavam nela grande po-
As aspirações da família Leone quanto às possibi- tencial para ascensão social por intermédio de sua
lidades de prosperar economicamente em solo brasi- capacidade intelectual.
leiro ilustram antes uma imagem que fora difundida Complementarmente encontramos no imaginário
na Europa no final do século XIX. “Este mundo ima- popular reinante entre os habitantes de São Paulo da
ginário de um Brasil afável e gentil onde tudo se mul- década de 1920 uma visão mítica fundada na crença
tiplicava à larga, permeou parte do campo europeu do em uma identidade coletiva que conferia aos paulista-
século XIX” (Alvim, 1998, p. 219). nos singularidade, distinguível por meio de algumas
Por outro lado, seu pai, Theofilo Julio Bicudo nas- características que lhe eram peculiares, como a consti-
ceu em 9 de janeiro de 1887, na Fazenda Matto Den- tuição étnica, formada a partir da miscigenação de
tro, onde viveu até os anos de juventude. De acordo indivíduos de várias origens raciais vivendo de forma
com as informações que chegaram a Rosa Lúcia harmoniosa e construtiva, e a emergência de um cen-
Zingg, por intermédio de sua mãe Maria de Lourdes tro urbano marcado pela tolerância e igualdade de
Bicudo Zingg, é possível supor que seu avô era filho oportunidades a todos os povos, o que garantiria opor-
do Coronel Bento Bicudo com uma escrava de sua tunidade de sucesso e êxito para todos aqueles que
fazenda, cujo nome é desconhecido na atualidade. Em tivessem iniciativa e espírito de conquista. Evidente-
1905 mudou-se para São Paulo com o intuito de dar mente tal conquista era uma condição distante da rea-
continuidade aos seus estudos, tornou-se funcionário lidade da grande maioria da população que enfrentava
público lotado nas Agências Brasileiras de Correios e condições de vida bastante precárias e poucas oportu-
Telégrafos, tendo na juventude acalentado o sonho de nidades de desenvolvimento pessoal e profissional em
cursar medicina. Paralelamente ao seu ofício nos Cor- uma sociedade fortemente marcada pelo preconceito.
reios, dedicou-se a dar aulas particulares que eram Fato este designada por Nicolau Sevcenko no livro
realizadas em sua casa, destinadas a preparação de “Orfeu Extático na metrópole: São Paulo, sociedade e
candidatos para o vestibular de medicina. cultura nos frementes anos 20” como o mito de Babel.
Os dados destacados acima, nos remetem a duas
O mundo novo representado por São Paulo, onde
conclusões sobre Virgínia Bicudo. A primeira diz primeiro o branco se fundiu com o índio, depois os
respeito à origem étnica da família Bicudo: a condição descendentes destes se cruzaram com os negros, e
de seu pai como descendente de escravos, em uma agora as novas gerações se consorciam com os fugi-
sociedade que começava muito lentamente a se refa- tivos da Europa convulsionada, é a nova terra da
zer do trauma da escravidão, e a condição de sua mãe promissão, onde se vão erguer as torres sólidas das
como imigrante italiana, em um momento em que os “novas arquiteturas da sociedade futura”, a Babel
invertida, a Babel que une e, portanto, leva ao clí- das, de tal modo que as atitudes “[...] representam os
max, à consumação da função mística que sua ante- aspectos estáveis e organizados da personalidade que
cessora frustrara [...]. Mais do que o mito de Babel, tendem a persistir enquanto funcionar bem e permitir
nesta ordem de metáforas, São Paulo para estes gru-
a conduta para proceder de um modo satisfatório”
pos evocaria o Cativeiro da Babilônia. (Sevcenko,
1992, p. 38-39) (Bicudo, 1945, p. 1-2). Além da evidente conotação
pessoal que envolvia o tema deste trabalho, o pionei-
rismo com que aborda o tema, deslocando os estudos
Da conjugação destes fatores encontraremos em raciais das discussões biológicas em favor de uma
Virgínia Bicudo uma forte propensão e aptidão para a visão que levava em consideração as condições sociais
atividade intelectual associada a uma aguçada percep-
e culturais, constitui-se em um marco histórico2.
ção das experiências de preconceito sofridas ao longo
da vida. Dando vazão as aspirações intelectuais da Foi durante o Curso de Ciências Sociais que Virgí-
família, Virgínia Bicudo ingressou na Escola Normal nia Bicudo entrou em contato pela primeira vez com a
Caetano de Campos onde concluiu o Curso Normal psicanálise, por intermédio de Noemy Silveira Rudol-
em 1930. Esta Escola, fundada em 1846, representou fer3 que ministrava a disciplina de Psicologia Social,
um marco para a educação paulistana ao se destacar concitando esta jovem mulher a buscar formação psi-
como uma instituição modelo que incorporou propos- canalítica, em uma época em que o tema era bastante
tas pedagógicas de vanguarda. Foi nesta instituição escasso no Brasil.
que Virgínia Bicudo entrou em contato direto com o Em 1936, Virgínia Bicudo foi orientada a procurar
preconceito e a discriminação racial, experiência que a Durval Marcondes4 para que pudesse dar vazão ao seu
impulsionou a procurar o Curso de Ciências Sociais anseio de estudar psicanálise. Rememorando seus
concluído em 1938 pela Escola Livre de Sociologia e primeiros movimentos de aproximação com a psicaná-
Política de São Paulo e posteriormente a enveredar lise, comentou Virgínia Bicudo em 1977.
pela psicanálise. Este fato foi narrado pela própria
Virgínia Bicudo em 1994 em entrevista concedida ao Então, eu saí por São Paulo procurando onde se es-
jornal Folha de São Paulo. tudava psicanálise. E foi assim que comecei. Disse-
ram-me que havia uma pessoa que estudava psicaná-
O que me levou para a psicanálise foi o sofrimento. lise, que era o Durval Marcondes. Procurei conver-
Eu queria me aliviar de sofrer. Imaginava que a cau- sar com ele. Tudo bem... “Eu sou estudante e estou
sa do meu sofrimento fossem problemas sociais, cul- interessada em fazer cursos, estudos sobre a psicaná-
turais. Então me matriculei na Escola de Sociologia lise. Disseram-me que o senhor é quem podia me
e Política. Isso foi em 1935. Eu tinha conflitos muito orientar e então eu queria saber quando poderia co-
grandes comigo mesma, mas achava que a causa era meçar”. Ele disse-me: “você estudar psicanálise?
social. Desde criança eu sentia preconceito de cor. Formação em psicanálise”? Eu disse. “Quero”. “A
(Bicudo, 1994, p. 6) senhora sabe o que é isso?”. “Bem, eu li alguma coi-
sa sobre inconsciente, sobre sublimação...”. “A se-
nhora não sabe onde vai entrar! Sabe que vai ter toda
O tema do preconceito racial e as tentativas de ela- a sociedade contra a senhora? Sabe que há um pre-
borá-lo foram fatos recorrentes na vida de Virgínia conceito contra a sexualidade e a senhora vai estudar
Bicudo. Uma das alternativas encontradas por esta isso?”. Bem, eu não tinha noção sobre o que ele es-
psicanalista para arrefecer as angústias mobilizadas tava alertando, que era perigoso, que precisava pen-
pelo preconceito foi a tentativa de compreendê-lo no sar muito. “Se a senhora está resolvida, vá para casa,
peça permissão a seu pai, e volte aqui. Se ele permi-
platô intelectual. Neste sentido, em 1945, já como
tir então eu posso indicar como fazer.” Assim eu fui
professora da Escola Livre de Sociologia e Política de para casa obter a permissão de meu pai, mas eu não
São Paulo, Virgínia Bicudo defendeu sua dissertação tinha mais pai, nesta época. No dia seguinte eu o
de mestrado intitulada “Estudo de Atitudes Raciais de procurei e disse: “Olha, eu estou de volta e decidida.
Pretos e Mulatos em São Paulo”, cujo objetivo foi Meu pai disse que sim, que eu posso”. “Então se é
investigar as atitudes raciais de pretos e mulatos, uma assim, eu vou apresentá-la a uma senhora, Dra.
vez que as atitudes expressam a natureza própria do Koch, que veio da Alemanha e que vai iniciar aqui
indivíduo em interação com as condições sociais vivi- formação de analistas.” (Bicudo, 1977, p. 8)
saúde mental e fomentou o debate sobre a criação da Com relação ao segundo aspecto, a prática profis-
profissão de psicólogo. sional das visitadoras psiquiátricas, que estavam in-
No tocante ao primeiro aspecto, evidenciamos que cumbidas de realizar entrevistas e orientações com
a psicanálise foi inserida campo da saúde mental por pais e professores e fazer psicoterapia com a criança, e
intermédio do desenvolvimento de uma prática pre- das psicologistas, a quem cabia realizar a aplicação
ventiva, através da qual a atenção às manifestações dos testes psicológicos, introduziu oficialmente a fun-
sintomáticas da criança em idade escolar era entendi- ção de psicólogo no serviço público paulista desde o
da como um caminho para evitar a ocorrência de final da década de 1930, fomentando o debate relativo
transtornos mentais na vida adulta. à criação dos cursos de psicologia e à regulamentação
da profissão de psicólogo11.
Na tentativa de compreender as práticas preventivas
inspiradas na psicanálise que sustentaram o trabalho Da conjugação entre as características do movi-
desta autora nas décadas de 1940 e 1950, devemos, a mento psicanalítico em São Paulo, que possibilitaram
título de esclarecimento, contextualiza-la no movimen- o surgimento de analistas não médicos, com uma per-
to higienista surgido no Brasil nas primeiras décadas do sonalidade resoluta que soube perscrutar oportunida-
des e utilizá-las com consistência em sua vida pessoal
século XX. Cabe considerar que o trabalho de Virgínia
e profissional, emerge a figura de Virgínia Bicudo
Bicudo no campo da prevenção guarda relações com o
que, em um intervalo de aproximadamente vinte anos,
movimento higienista, porém, inova em relação a ele.
projetou-se como uma psicanalista bem-sucedida que
A filosofia higienista exerceu grande influência nas
trazia como diferencial o fato de ter obtido, sobretudo
políticas de saúde pública nas primeiras décadas do
no início da década de 1950, grande exposição na
século XX, cujo reflexo foi sentido no campo da saúde
mídia, o que fazia dela uma profissional reconhecida
mental com a adoção de várias práticas de caráter profi-
publicamente.
lático. Segundo Jurandir Freire Costa,
Este reconhecimento público aliado aos embates
Sobretudo a partir de 1926, os psiquiatras começa- travados entre a psicanálise e a psiquiatria acadêmica
ram a enunciar suas novas concepções de prevenção. em São Paulo, resultou em severas críticas a prática
Eles pretendiam tornar a prevenção psiquiátrica si- clínica de Virgínia Bicudo, uma vez que esta profissi-
milar a prevenção em medicina orgânica. A ação te- onal exercia a psicanálise sem possuir formação mé-
rapêutica deveria exercer-se no período pré-
dica. Os reflexos deste embate reverberarão de forma
patogênico, antes do aparecimento dos sinais clíni-
cos. Esta concepção leva-os a dedicar um maior inte-
mais contundente em 1954 durante o I Congresso
resse a prevenção da saúde mental. Daquele momen- Latino Americano de Saúde Mental, ocasião em que,
to em diante, o alvo de cuidado dos psiquiatras pas- ao apresentar uma comunicação relativa ao trabalho
sou a ser o indivíduo normal e não o doente. O que realizado na Clínica de Orientação Infantil, Virgínia
interessava era a prevenção e não a cura. (Freire Bicudo foi publicamente acusada de charlatanismo.
Costa, 1976, p. 33) Entre seus críticos figuravam nomes de destaque da
psiquiatria paulista como Antônio Carlos Pacheco e
Assim, as primeiras aproximações com a psicanáli- Silva (1898-1988), que defendiam a restrição do exer-
se sustentavam-se em propostas de caráter profilático cício da psicanálise apenas a profissionais com forma-
que tinha como finalidade intervir antes do apareci- ção médica.
mento de um estado patogénico, de forma a favorecer Embora as críticas fossem encaminhadas direta-
o desenvolvimento de indivíduos saudáveis, por in- mente a Virgínia Bicudo, a intenção de seus detratores
termédios de práticas que muito se aproximavam da era a de atacar a psicanálise, que começava ganhar
eugenia. A inovação contida no trabalho preventivo projeção em São Paulo. Segundo Plínio Montagna, a
desenvolvido por Virgínia Bicudo ganha destaque por psiquiatria paulistana “ao se mostrar ao continente,
distanciar-se da conotação eugênica, na medida em não podia prescindir da psicanálise e da experiência
que considerava as manifestações sintomáticas da de seus praticantes, em São Paulo. Mas notamos, tam-
criança para, na sequencia, propor as orientações ne- bém, uma psiquiatria “ciumenta” dos voos próprios do
cessárias a pais e educadores. movimento psicanalítico” (Montagna, 1994, p. 36).
Interação Psicol., Curitiba, v. 18, n. 2, p. 217-227, maio/ago. 2014
Virgínia Leone Bicudo: Pioneira da Psicologia e da Psicanálise no Brasil 223
Na medida em que as críticas e acusações de char- encarregado de gerir a formação de novos psicanalis-
latanismo avolumavam-se, provocando em Virgínia tas, que deu origem ao Instituto de Psicanálise (Bar-
Bicudo o recrudescimento de sentimentos de exclu- cellos, 1976), cargo ocupado até 1973.
são, esta psicanalista lançou-se em uma nova iniciati- Outra frente de atuação que teve grande repercus-
va intelectual, buscando aperfeiçoamento profissional são para a psicanálise brasileira foram as iniciativas
na Inglaterra, que na ocasião era a principal referência editoriais que empreendeu na década de 1960. O pri-
da psicanálise mundial. Residiu em Londres no perío- meiro periódico a ser editado foi o Jornal de Psicaná-
do de 1955 e 1959, frequentou o Instituto de Psicaná- lise, idealizado por Virgínia Bicudo com a finalidade
lise de Londres e a Clínica Tavistock, nestas institui- de divulgar os trabalhos produzidos pelos candidatos
ções teve contato direto com vários expoentes do gru-
do Instituto de Psicanálise, sendo que seu primeiro
po kleiniano, como Hebert Rosenfeld, Hanna Segal,
número, publicado em 1966. Em 1967, uma iniciativa
Wilfred Bion e, particularmente, Melanie Klein.
mais ousada começa a tomar forma com a publicação
do primeiro número da Revista Brasileira de Psicaná-
DIFUSÃO E INSTITUCIONALIZAÇÃO DA lise, destinada a tornar-se um veículo de comunicação
PSICANÁLISE NO BRASIL oficial da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São
O regresso ao Brasil marca o final de um ciclo na Paulo. Assim, um grupo de analistas constituído por
vida de Virgínia Bicudo, e a partir desse momento Durval Marcondes, Virgínia Bicudo, Luiz Almeida
engaja-se em grandes projetos que ganharão repercus- Prado Galvão, Laertes Ferrão e Armando Ferrari, bus-
são no cenário psicanalítico nacional, assumindo uma caram reunir as condições necessárias, tanto técnicas
posição de liderança na Sociedade Brasileira de Psi- quanto financeiras, para editarem a Revista (Galvão,
canálise de São Paulo e passando a desfrutar de gran- 1967). Para tal, contaram com o apoio do empresário
de reconhecimento público. Em contrapartida, as ini- José Nabantino Ramos, com larga experiência no ramo
ciativas de abrangência social que desenvolveu anos editorial. Superadas as dificuldades iniciais, a Revista
antes, foram gradualmente perdendo espaço em sua foi lançada em 1967 por ocasião da realização da I
atuação profissional. Ao menos dois fatores concorre- Jornada Brasileira de Psicanálise.
ram para este redirecionamento: o golpe militar de Na década de 1970, Virgínia Bicudo lança-se em
1964 que desarticulou iniciativas de abrangência social uma nova empreitada, dedicando-se à difusão da psi-
e o deslocamento dos seus interesses para uma atua- canálise no Brasil, fato que resultou na criação da
ção clínica e didática dentro da Sociedade Brasileira Sociedade de Psicanálise de Brasília. Alguns fatores
de Psicanálise de São Paulo. concorreram para que Virgínia Bicudo tomasse esta
Desde seu regresso ao Brasil, Virgínia Bicudo pas- iniciativa, entre os quais destacamos: desde a década
sou a ser muito requisitadas por diversos psicanalistas de 1950, quando soube da criação de Brasília, essa
e candidatos em formação analítica, que desejavam psicanalista viu-se atraída pela ideia de levar a psica-
aprimorar seu conhecimento teórico e técnico sobre a nálise para a nova Capital do país; o arrefecimento,
teoria kleiniana, tema no qual Virgínia Bicudo havia durante a década de 1970, da influência de Virgínia
adquirido amplo conhecimento mediante um profícuo Bicudo sobre a Sociedade Brasileira de Psicanálise de
contato com Melanie Klein. São Paulo e, aliado a estes fatores, a crescente deman-
O reconhecimento e a credibilidade conferidos a da da população brasileira por análise neste período
Virgínia Bicudo, aliados a uma personalidade afeita à (Figueira, 1991), fato que estimulou o interesse de
liderança, fizeram com que essa psicanalista assumis- diversos profissionais em fazer formação psicanalítica
se posição de destaque junto à Sociedade Brasileira de em diferentes regiões do país. No entendimento dessa
Psicanálise de São Paulo, sendo eleita secretária da psicanalista, ao invés de os profissionais interessados
Sociedade para o biênio 1961 a 1963 e, a partir de deslocarem-se para os poucos centros que possuíam
março de 1961, integrou, juntamente com Adelheid formação psicanalítica no Brasil, nesta ocasião apenas
Koch, Darcy Uchoa, Lygia Amaral, Isaias Melsohn e São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre, seria mais
Henrique Schlomann, a Comissão de Ensino, órgão adequado promover a migração de analistas habilita-
dos e fomentar a criação de novos grupos de psicaná- Neste sentido da conjugação entre a experiência ad-
lise no interior do país. quirida na Inglaterra e a ascensão da cultura psicanalí-
O processo de implantação da psicanálise em Bra- tica no país, encontramos as condições para que Vir-
sília teve início em 1970, ocasião em que Virgínia gínia Bicudo viesse a ocupar um lugar de liderança no
Bicudo iniciou a análise de um grupo de psiquiatras senário psicanalítico nacional, exercendo influência na
que almejavam fazer a formação psicanalítica12. So- formação das futuras gerações de psicanalistas surgi-
mente em 1971, após serem superadas as primeiras das no Brasil.
resistências, as análises conduzidas por Virgínia Bi- Por outro lado, o declínio da influência de Virgínia
cudo em Brasília foram oficialmente admitidas como Bicudo junto aos círculos psicanalíticos que ajudou a
análises didáticas e o Instituto de Psicanálise da Soci- fundar, pode ser atribuído a dois fatores principais que
edade Brasileira de Psicanálise de São Paulo reconhe- ocorrem paralelamente a partir de meados da década
ceu o grupo de Brasília como uma sede avançada, que de 1980: arrefecimento do interesse pela psicanálise
ficou conhecida como Sede Brasília da SBPSP. no meio social, em decorrência do declínio de seu
Quando Virgínia Bicudo encerrou suas atividades prestígio como principal recurso para a resolução de
em Brasília no início da década de 1990, A Sociedade dificuldades emocionais, acompanhado do surgimento
Psicanalítica de Brasília já estava consolidada, uma de outros modelos de psicoterapia, e expansão dos
vez que em 1994 o Grupo de Estudos de Psicanálise modelos teóricos adotados na psicanálise brasileira a
de Brasília foi oficialmente reconhecido pelo IPA, partir da década de 1990, de forma tal que as influên-
sendo integrado ao quadro de sociedades provisórias cias freudianas e kleinianas, antes hegemônicas, foram
em 1999. sendo relativizadas com a introdução de outros auto-
res, fato que conduziu a uma diminuição da influência
A partir da década de 1990, Virgínia Bicudo res- e do prestígio de Virgínia Bicudo enquanto represen-
tringe suas atividades em São Paulo, dedicando-se tante do pensamento kleiniano.
exclusivamente a atendimentos clínicos e supervisões.
Após ser submetida, em 1993, a uma cirurgia em de-
corrência de um aneurisma na aorta abdominal, Virgí- CONSIDERAÇÕES FINAIS
nia Bicudo foi gradualmente perdendo vitalidade até A relação entre a psicanálise e a vida de Virgínia
falecer em setembro de 2003. Bicudo comporta diferentes dimensões, de tal forma
Ao analisarmos o contexto histórico das décadas que uma é constitutiva da outra enquanto representan-
de 1960 e 1970 e 1980, período que circunscreve as te da atmosfera de modernização da sociedade brasi-
iniciativas mais ousadas e originais de Virgínia Bicu- leira, que caracteriza as primeiras décadas do século
do, percebemos coincidir com o período de maior XX.
expansão do movimento psicanalítico no país. Entre A forma como a psicanálise foi introduzida no
os fatores que impulsionaram o rápido crescimento da Brasil no início do século XX, entendida como um
psicanálise a partir da década de 1970, com forte ade- sistema teórico capaz de subsidiar diferentes áreas do
são de parcelas expressivas da população, em particu- conhecimento, como a educação, o direito, a medicina
lar a classe média, destacamos: o processo de urbani- a arte, entre outras, possibilitou diferentes leituras e
zação e modernização ocorrido no país e a desarticu- interpretações da teoria psicanalítica. Se por um lado a
lação, a partir do golpe militar de 1964, de iniciativas psiquiatria da década de 1920 apropriou-se da psica-
de caráter social sustentadas na psicanálise, estimu- nálise como um instrumental capaz de evitar o surgi-
lando estratégias de natureza individual para a resolu- mento de transtornos mentais, subsidiando uma práti-
ção dos conflitos, como a psicoterapia. Desta forma, ca que muito se aproximava da eugenia (Costa, 1976);
“a “cultura psicanalítica brasileira” foi se organizando por outro lado, a aproximação entre a psicanálise e a
em torno do alto consumo de psicoterapia apoiada arte, particularmente o movimento modernista, cujo
numa psicanálise difundida que opera de modo múlti- ícone mais notório foi a Semana de Arte Moderna de
plo, flexível e sutil como “mapa” para a orientação 1922, criavam o substrato para expressões de van-
neste mar de incertezas” (Figueira, 1991, p. 225). guarda de uma sociedade em ebulição (Lobo, 1994).
Particularmente em São Paulo, a chegada da psica- conhecimento fossem estimuladas, como, por exem-
nálise esteve envolta em uma aura de transformação e plo, a educação. Por outro lado, o percurso acadêmico
modernização social, esboçando uma forte relação de Virgínia Bicudo até seu encontro com a psicanáli-
com diferentes esferas da vida cultural da cidade, que se, iniciado na Escola Normal Caetano de Campos,
começava a despontar rumo ao desenvolvimento. passando pelo Curso de Educadora Sanitária no Insti-
Ao descobrir a psicanálise no final da década de tuto de Higiene de São Paulo e culminando com a
1930, por intermédio de Durval Marcondes e Ade- formação em Ciências Sociais na Escola Livre de
lheid Koch, Virgínia Bicudo encontrou não só respos- Sociologia e Política de São Paulo, fez com que esta
tas a uma série de inquietudes que a acompanhavam, psicanalista estivesse em constante sintonia com as
dando um novo significado à sua vida pessoal, como demandas sociais de sua época, de tal modo que ao
também foi confrontada com uma nova dimensão em aproximar-se da psicanálise, soube apropriar-se deste
sua vida profissional, rica em possibilidades e alterna- referencial teórico para prover respostas e buscar so-
tivas. Neste sentido, a psicanálise foi o ponto de parti- luções para os problemas e necessidades que identifi-
da de diversas transformações ocorridas na vida de cava a partir de sua prática como educadora sanitária e
Virgínia Bicudo. visitadora psiquiátrica.
Dentre todas as atividades que exerceu e as respon- O grande destaque deste período recai sobre a série
sabilidades que assumiu ao longo de aproximadamen- Nosso Mundo Mental, representada por programas
te cinquenta anos de exercício profissional enquanto radiofônicos apresentados na Rádio Excelsior e arti-
psicanalista, um aspecto do trabalho de Virgínia Bicu- gos jornalísticos publicados no jornal Folha da Ma-
do ganham particular destaque, sua constante preocu- nhã, ambas as iniciativas veiculadas na década de
pação em promover a expansão das fronteiras psicana- 1950. Nestes trabalhos, Virgínia Bicudo divulga ori-
líticas. Suas ações neste sentido tomaram duas dire- entações sustentadas em princípios psicanalíticos,
ções: inicialmente seu trabalho assumiu uma forte destinadas a pais e educadores, procurando com isto
conotação social, procurando aproximar a psicanálise fazer com que os benefícios da psicanálise estivessem
da educação de forma a beneficiar a educação infantil acessíveis a um maior número de pessoas. Secundari-
e compreender as dificuldades manifestadas pela cri- amente, estas iniciativas, associadas a muitas outras
ança; em um segundo momento as ações de Virgínia surgidas no país, contribuíram para a popularização
Bicudo foram direcionadas para a difusão das institui- das ideias psicanalíticas entre a população brasileira,
ções psicanalíticas em diferentes regiões do país, con- favorecendo o surgimento de um imaginário coletivo
tribuindo para a formação de um maior número de no qual a subjetividade passa a ser considerada como
psicanalistas. fator relevante no desenvolvimento da personalidade e
na forma como são estabelecidas as relações sociais e
Tomemos em análise as iniciativas voltadas à
afetivas.
aproximação entre psicanálise e educação, que Virgí-
nia Bicudo protagonizou durante as décadas de 1940 e Após regressar de Londres, Virgínia Bicudo afas-
1950, seja por sua prática como visitadora psiquiátrica tou-se gradativamente das atividades em instituições
da Clínica de Orientação Infantil da Seção de Higiene públicas, deslocando o foco de sua atenção para o
Mental Escolar ou por intermédio de ações voltadas a ensino da psicanálise dentro das Sociedades de Psica-
divulgação de informações relativas à educação infan- nálise. Entre os fatores que contribuíram para este
til orientadas por princípios psicanalíticos em progra- redirecionamento estão as transformações políticas
mas de rádios ou artigos jornalísticos. ocorridas no país a partir de meados da década de
1960 que desestimulou iniciativas sociais de grande
Dois fatores contribuíram para o desenvolvimento
repercussão e a crescente demanda da Sociedade Bra-
de uma prática que colocou em relevo a dimensão
sileira de Psicanálise de São Paulo que reivindicava a
social da psicanálise. Por um lado, a direção assumida
participação de Virgínia Bicudo na estruturação dos
pelo movimento psicanalítico em São Paulo que favo-
critérios para a formação de novos psicanalistas.
receu a aproximação das idéias freudianas com a área
das ciências humanas, fazendo com que práticas vol- Assim, o interesse na difusão da psicanálise ga-
tadas à aplicação da psicanálise em diferentes áreas do nhou uma nova forma. Ao invés de dedicar-se à
transmissão da psicanálise ao grande público, como Barcellos, R. (1976). Algumas anotações biográficas da
Sociedade brasileira de psicanálise de São Paulo. São
fizera nas décadas de 1940 e 1950, Virgínia Bicudo
Paulo: SBPSP. (mimeo).
passou, ao longo das décadas de 1960 a 1970, a inte-
Campos, R. H. F. et. al. (2001). Dicionário biográfico da
ressar-se pela migração do movimento psicanalítico psicologia no Brasil. Rio de Janeiro: Imago.
no país. Sua ação mais contundente neste sentido é Costa, J. F. (1976). História da psiquiatria no Brasil. Rio
representada pela idealização e pela fundação em de Janeiro: Campus.
1970 de um núcleo voltado à formação de psicanalis- Figueira, S. A. (1991). Notas sobre a cultura psicanalítica
tas na Capital Federal sob o patrocínio da Sociedade brasileira. In Nos Bastidores da psicanálise (pp. 219-
Brasileira de Psicanálise de São Paulo, cujo êxito re- 227). Rio de Janeiro: Imago.
sultou, anos mais tarde, na criação da Sociedade de Galvão, L. A. P. (1976). Pré-história e história da Revista
Psicanálise de Brasília enquanto instituição autônoma Brasileira de Psicanálise. Revista Brasileira de Psicaná-
lise, 10(1), 7-11.
reconhecida pela IPA.
Le Goff, J., & Nora, P. (1988a). História: novos problemas
Ao tomar para si a responsabilidade de promover a (3ª ed.). (T. Santiago Trad.). Rio de Janeiro: Francisco
difusão da psicanálise em diferentes regiões do territó- Alves. (Originalmente publicado em 1974.)
rio brasileiro, Virgínia Bicudo tornou-se pioneira, não Le Goff, J., & Nora, P. (1988b). História: novas aborda-
só pela precedência de suas ações, como o fato de ter gens (3ª ed.). (T. Santiago Trad.). Rio de Janeiro: Fran-
cisco Alves. (Originalmente publicado em 1974.)
sido a primeira mulher analisada no Brasil, mas tam-
bém pela força de suas iniciativas políticas e adminis- Le Goff, J., & Nora, P. (1988c). História: novos objetos (3ª
ed.). (T. Santiago Trad.). Rio de Janeiro: Francisco Al-
trativas, que contribuíram para a expansão das frontei- ves. (Originalmente publicado em 1974.)
ras psicanalíticas. Lobo, R. (1994). As mudanças históricas e a chegada da
psicanálise no Brasil. In L. Nosek (Org.). Álbum de famí-
REFERÊNCIAS lia: Imagens, fontes e idéias da psicanálise em São Pau-
lo (pp. 49-55). São Paulo: Casa do Psicólogo.
Abrão, J. L. F. (2004). A tradição kleiniana no Brasil: uma
investigação histórica sobre a difusão do pensamento Mokrejes, E. (1993). A psicanálise no Brasil: as origens do
kleiniano. Tese de Doutorado, Instituto de Psicologia, pensamento psicanalítico. Petrópolis: Vozes.
Universidade de São Paulo, São Paulo. Montagna, P. (1994). Psicanálise e psiquiatria, São Paulo.
Abrão, J. L. F. (2001). A história da psicanálise de crianças In L. Nosek (Org.). Álbum de Família: imagens, fontes e
no Brasil. São Paulo: Escuta. idéias da psicanálise em São Paulo (pp. 29-38). São
Paulo: Casa do Psicólogo.
Alvim, Z. Imigrantes: a vida privada dos pobres do Brasil.
In História da vida privada no Brasil (Vol. 3, pp. 215- Oliveira, C. L. M. V. (2006). História da psicanálise: São
287). São Paulo: Companhia das Letras. Paulo (1920-1969). São Paulo: Escuta.
Bicudo, V. L. (1994, 5 de junho). “Já fui chamada de char- Perestrello, M. (1992). História da psicanálise no Brasil: o
latã”. (Depoimento a Cláudio João Tognolli). Folha de ensino nos institutos. In M. Perestrello (Org.), Encon-
S. Paulo, p. 6. tros: psicanálise &. (pp. 155-182). Rio de Janeiro: Ima-
go.
Bicudo, V. L. (1977). Entrevista: Adivinhe quem vem para
jantar? uma conversa com a prof. Virgínia L. Bicudo. Rocha, G. S. (1989). Introdução ao nascimento da psicaná-
IDE, 3(4), 7-13. lise no Brasil. Rio de Janeiro: Forense Universitária.
Bicudo, V. L. (1956). Nosso mundo mental. São Paulo: Roudinesco, E., & Plon, M. (1998). Dicionário de Psicaná-
Instituição Brasileiro de Difusão Cultural. lise (V. Ribeiro, L. Magalhães, Trad.). Rio de Janeiro:
Zahar. (Originalmente publicado em 1997.)
Bicudo, V. L. (1946). Funções da visitadora psiquiátrica na
clínica de orientação infantil e noções de higiene mental Sagawa, R. (2002). Durval Marcondes. Rio de Janeiro:
da criança. In D. M. Marcondes (Org.). Noções gerais de Imago.
higiene mental da criança (p. 79-89). São Paulo: Livra- Sagawa, R. (1994). A história da Sociedade Brasileira de
ria Martins Editora. Psicanálise de São Paulo. In L. Nosek (Org.). Álbum de
Bicudo, V. L. (1945). Estudo de atitudes raciais de pretos e Família: imagens, fontes e idéias da psicanálise em São
mulatos em São Paulo. São Paulo, 1945, 68 p. Disserta- Paulo (pp. 15-28). São Paulo: Casa do Psicólogo.
ção (Mestrado). Escola Livre de Sociologia e Política de Sevcenko, N. (1992). Orfeu Extático na metrópole: São
São Paulo. Paulo, sociedade e cultura nos frementes anos 20. São
Paulo: Companhia das Letras.
Notas:
1
Pesquisa realizada com apoio financeiro da FAPESP.
2
Virgínia Bicudo foi orientada nesta dissertação por Donald Pierson (1900-1995), sociólogo norte-americano que
realizou pesquisas sobre relação racial na Bahia entre os anos de 1935 a 1937. Atuou como professor da Escola Livre de
Sociologia e Política de São Paulo entre os anos de 1939 a 1959.
3
Noemy Silveira Rudolfer (1902-1988) assumiu em 1932 a cátedra de Psicologia Educacional da Escola Normal Caetano
de Campos, posteriormente incorporada à Universidade de São Paulo (Campos et. al., 2001). Foi também professora da
Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo entre os anos de 1935 a 1941. A partir de 1949 iniciou análise com
Werner Kemper no Rio de Janeiro tornando-se, em 1955, membro fundador da Sociedade Psicanalítica do Rio de
Janeiro.
4
Durval Bellegarde Marcondes (1899-1981) formou-se em 1924 pela Faculdade de Medicina de São Paulo. Seguindo os
passos do mestre e incentivador Francisco Franco da Rocha, (1864-1933) de quem herdou o gosto e a dedicação pela
psicanálise, iniciou o atendimento de pacientes empregando a técnica de Freud nos últimos anos da década de 1920
(Sagawa, 2002).
5
Adelheid Lucy Koch (1896-1980), de origem judia, nasceu em Berlim onde se formou em medicina. Após ter sido
analisada por Otto Fenichel, integrou a Sociedade Psicanalítica de Berlim. Instalou-se no Brasil em 1936, onde residiu
até a data de seu falecimento. É reconhecida nos anais da historiografia psicanalítica como pioneira da psicanálise na
América Latina (Roudinesco & Plon, 1997/1998).
6
Darcy de Mendonça Uchoa (1907-2003), formado em medicina pela Faculdade Nacional de Medicina do Rio de Janeiro
em 1927, atuou como psiquiatra do Hospital do Juquery durante 30 anos, Iniciou em 1937 análise com a Dra. Koch e
participou da fundação da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo. Em 1964, tornou-se professor titular do
Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina. (Campos et. al., 2001).
7
Flávio Rodrigues Dias (1899-1994), paulistano, formou-se em medicina pela Faculdade Nacional de Medicina do Rio
de Janeiro. Participou ativamente da criação da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, sendo um de seus
pioneiros (Campos et. al., 2001).
8
Posteriormente Lygia Alcântara do Amaral veio integrar-se a este grupo.
9
Prática semelhante foi introduzida no Rio de Janeiro em 1938 por intermédio do Serviço de Ortofrenia e Higiene
Mental idealizado por Anízio Teixeira e coordenado por Arthur Ramos.
10
Estas iniciativas foram desenvolvidas sob o patrocínio de José Nabantino Ramos, advogado, jornalista e entusiasta da
psicanálise. Em 10 de março de 1945 assumiu o controle acionário da Empresa Folha da Manhã, que posteriormente foi
vendida para Otávio Frias em 1962.
11
A profissão de psicólogo foi oficialmente reconhecida no Brasil em 1962 por intermédio da Lei 4.119/62.
12
Entre eles estavam: Caiuby de Azevedo Marques Trench, Humberto Haydt de Souza Mello, Luiz Meyer, Ronaldo
Mendes de Oliveira Castro, Stela Maris Garcia Loureiro e Tito Nicias Rodrigues Teixeira da Silva.