Relatos Pratica Cajamar Junho2012
Relatos Pratica Cajamar Junho2012
Relatos Pratica Cajamar Junho2012
1
DIRETORIA DE
EDUCAÇÃO DE
CAJAMAR
Proposta Curricular
D pr tic
Aprender&Aprender
Cajamar - SP
junho 2012
VERSÃO PRELIMINAR
Prefeitura do Município de Cajamar Disponível no portal da educação:
Daniel Fonseca http://cajamar.nucleoead.net/moodle
Prefeito Municipal http://www.cajamar.sp.gov.br
Lúcia Maria de Carvalho
Diretora de Educação Aprender & Aprender – Assessoria e
Osana Barbosa de Abreu Pinheiro Consultoria Educacional
Departamento Administrativo
Marcia Cristina de Oliveira
Cláudia Serrano Coordenação
José Carlos Teles dos Santos
Departamento Pedagógico Adriana Gonçalves de Almeida
Adriana Silva
Marcia Cristina de Oliveira Ana Lucia Graciani
Osana Barbosa de Abreu Pinheiro Kézia Cortez
Organização da Publicação Equipe Pedagógica
Ana Lúcia Del Vigna Missé M. das Mercês F. Sampaio
Andréa Duarte Assessoria Pedagógica e Revisão
Andréa Rodrigues Dalcin
Ivoneide Maria de Araújo Alves Paula Santos
Maria Claudinez da Silva Strublic Projeto Gráfico e Diagramação
Maristela de Souza Giusti Stella Regina Azevedo Alves dos Anjos
Rute Marcela Pereira da Silva Revisão
Telma Regina Belchior Prebianqui Meneguin Campos
Vivian Sotello de Siqueira
Supervisão de Ensino Diretoria de Educação de Cajamar
Andréa Ribas Bortoletto Relatos na prática / Diretoria de Educação de Cajamar;
Edna Maria de Souza
ilustração de Paula Santos. – Cajamar: Aprender & Aprender Assessoria
Elen Aparecida de Mesquita Xavier
Glaucia Rodrigues Inácio Peclat e Consultoria Educacional Ltda., 2012.
Lenenira Maria dos Santos 200 p.; il. – (Proposta Curricular da Rede Municipal de Educação do
Lilian Rolin Correa
Município de Cajamar; vol. 6)
Márcia Regina Ferreira
Maria de Lourdes de Moura Santos
Renata Fernandes Gomes Olaia ISBN 978-85-65842-00-6 (Coleção Completa: 6 volumes)
Vanessa Sotelo da Silva
ISBN 978-85-65842-06-8 (Volume 6)
Oficina Pedagógica
Juliana Gnewuch da Silva Vieira
Maria Eloiza Godinho Machado 1. Relatos. 2. Prática Pedagógica. 3. Currículo. 4. Proposta Curricular. I.
Maria Marta Ferreira Título II. Série. III. Santos, Paula (il.).
Psicopedagogas
Luiz Ricardo da Silva CDD: 371
Rodrigo Fogaça Shimizu
D635d
Assessoria de Comunicação e Fotografia
Assessores Externos
Marcelo Papaterra Escolas da Rede Municipal de Educação
Sonia Carbonell
EMEB Aline Cristina Santos de Paula
Arte
EMEB Antonio Pinto de Campos
Elizabeth Barolli EMEB Arnaldo Correia da Silveira
Ciências EMEB Bairro do Gato Preto
EMEB Demétrio Rodrigues Pontes
Isabel Porto Filgueiras
EMEB Dirce Eufrásio Brasil
Educação Física
EMEB Emellyne de Azevedo Aguiar
Ana Lúcia Graciani EMEB Emerson Cruz Machado
Marcia Cristina de Oliveira EMEB Ester Catarine Lozano
Educação de Jovens e Adultos EMEB Eva Rosa de Oliveira Santos
EMEB Jailson Silveira Leite
Gilberto Costa Pamplona
EMEB Jardim São Luiz
Geografia
EMEB Josué Moreira Sena
Roberto Catelli Junior EMEB Marcus Vinicius da Silva Batista
História EMEB Maria Gonçalves de Freitas Gonçalves
EMEB Parque Paraíso
Airton Pretini Junior
EMEB Profª Elaine Margarete Meneguim Silva
Fernanda Coelho Liberali
EMEB Profª Franceli de Fátima Missé Nascimento
Rosemary Schettini
EMEB Profª Lucy Aparecida Bertoncini
Língua Inglesa
EMEB Profª Maria de Lourdes Mattar
Alfredina Nery EMEB Profª Veneranda de Freitas Pinto
Língua Portuguesa EMEB Profª Vera Almeida Santos
EMEB Profª Rosa Helena Motta Marcondes Sousa
Silvia Longato
EMEB Profª Maria Elce Martins Bertelle
Matemática
EMEB Profº Antonio Carlos de Carvalho
Luciana Cury EMEB Profº Marcelo Antonio Ricomini Pascoal
Maria Ester Lopes Moreira EMEB Profº Odir Garcia Araújo
Educação Inclusiva EMEB República do Panamá
EMEB São Benedito
Suely Amaral
EMEB Thays Almeida Alves
Gestão
EMEB Vinícius Couto da Silva
Neide Noffs
Psicopedagogia
AGRADECIMENTOS
À toda comunidade escolar incluindo professores, ges-
tores, pais, educandos, funcionários e representantes
da comunidade assim como à toda equipe técnica
da Diretoria de Educação e assessores externos que
participaram com seus saberes e experiências para a
construção desta proposta curricular.
CURRÍCULO E PARTICIPAÇÃO
Exercendo a Democracia na Educação de Cajamar
Com a entrega deste material, e mais do que isso, com a participação de todos os
que se envolveram para sistematizar os conhecimentos aqui apresentados, estamos
dando mais um passo na consolidação de uma educação de melhor qualidade para
nossas crianças, adolescentes, jovens e adultos. Ainda são poucos os municípios
do porte de Cajamar que se lançaram ao desafio de construir sua própria proposta
curricular e conseguiram sistematizar as diversas práticas vivenciadas pelos
profissionais da Educação. Esperamos que esse material sirva de referência para
outros municípios, buscando cada vez mais consolidar a nossa identidade enquanto
rede municipal. Parabenizo cada um de vocês por esta publicação!
Daniel Fonseca
Prefeito de Cajamar
IDENTIDADE E CURRÍCULO
Autores do Nosso Próprio Currículo
Não por acaso, boa parte dos encontros realizados durante o Horário de
Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPC) no decorrer de 2010 e 2011 estiveram vol-
tados para a discussão e registro das contribuições de todos os professores da
rede municipal sobre o processo de reorientação curricular. Os materiais fina-
lizados buscam dar voz a todos os profissionais que participaram direta e indi-
retamente desse importante momento de sistematização dos nossos saberes.
(GUIMARÃES ROSA)
pr s nt ç o
Contar é muito, muito dificultoso. Não pelos anos que se
já passaram. Mas pela astúcia que têm certas coisas pas-
sadas – de fazer balancê, de se remexerem dos lugares.
(GUIMARÃES ROSA. Grande Sertão: Veredas. 1986)
11
Diante dessas surpresas, lançamos ao grupo o desafio de es-
crever sobre suas experiências; foi solicitado que se escolhesse
uma experiência julgada como interessante, exitosa, inovadora.
Experiência que dialogasse com nossos estudos e intenções de
consolidar uma escola pública diferenciada, de qualidade, pau-
tada nos princípios da participação e da inclusão. O desafio foi
lançado ao grupo e aceito por quase todos.
Aprender&Aprender
12 - RELATOS DA PRÁTICA
RELATOS DA PRÁTICA
sum ´rio
1- O RECREIO DIRIGIDO “POR TODOS” 17
(EMEB Arnaldo Correia da Silveira)
5- REORGANIZANDO O TRABALHO
PEDAGÓGICO DAS CRIANÇAS PEQUENAS 32
(EMEB Emellyne de Azevedo Aguiar)
9- VITRINE DE LIVROS 51
(EMEB Emerson Cruz Machado)
13
11-C ONSTRUINDO O LIVRO A PARTIR DO CONTO
“BRANCA DE NEVE E OS SETE ANÕES” 56
(EMEB Profª Franceli de Fátima Missé Nascimento)
14 - RELATOS DA PRÁTICA
RELATOS DA PRÁTICA
15
32- FAMÍLIA E ESCOLA FORMAM UMA EQUIPE
NO PROCESSO PEDAGÓGICO 147
(EMEB São Benedito)
16 - RELATOS DA PRÁTICA
RELATOS DA PRÁTICA
1
O recreio dirigido
“por todos”1
Convivência harmoniosa, respeito, tolerância, participação, integração são palavras que
estão no dia a dia da escola, porém algumas ações presentes não estimulam ou demons-
tram tais atitudes. Nesse sentido, ações planejadas e retomadas são primordiais para o
cardápio escolar. Dentro deste cardápio destaco o recreio.
Percebi que seria fundamental direcionar as atividades neste momento tão impor-
tante, que possibilita a alimentação, mas que também pode ser muito rico. O que fazer
então para enriquecermos nosso recreio, evitarmos correrias e gasto de energia (que são
normais para a criança) com lutas, brigas e trombadas? Como transformar este ambiente
e ensinar as crianças através da vivência, estabelecendo regras de convivência harmonio-
sa, ouvindo das próprias crianças as regras que deveríamos colocar para facilitar nosso
dia a dia e não como imposição a ser seguida de punição?
Desta forma marquei uma reunião com as duas monitoras para que conversásse-
mos sobre algumas ações que poderiam direcionar e melhorar o intervalo. Sugeri que
pensássemos juntas o “como” fazer para que aquela situação se modificasse, até porque
sempre foi visível a dedicação e preocupação que as monitoras tinham com as crianças.
Então se fazia necessária uma intervenção e um trabalho em equipe.
1. Texto elaborado por Marília Gabriela Rodrigues (Gestora) , com a colaboração do assessor pedagógico e das
monitoras educacionais da EMEB Arnaldo Correa da Silveira.
17
Professores, funcionários, gestores, enfim, todos se engajaram para a obten-
ção do sucesso desta inicativa, pois todos, sem exceção, percebiam a real necessida-
de de ações para acabar com a literal “bagunça” na hora do lanche.
Como foi visível o êxito e como havia empolgação nos alunos foi sugerido
pelas monitoras uma parceria com o professor de Educação Física. Um torneio de
damas, o 1º Torneio de Damas da EMEB Arnaldo para alunos do 2º ao 5º ano, nos
meses de outubro e novembro. As crianças gostam muito de jogar e tal atividade
lúdica traz inúmeros benefícios para a aprendizagem, além do fato de que regras do
jogo prezam a concentração, um ambiente silencioso, de fala adequada, de respeito
aos turnos da fala (um fala, o outro ouve e vice versa), trabalho em dupla e, claro, a
participação de todos.
18 - RELATOS DA PRÁTICA
eram nosso grande foco), já que o problema naquele momento centrava-se nas
atitudes, nas relações interpessoais, no respeito às diferenças, tolerância e partici-
pação. Iniciamos um processo que foi longo, mas que rapidamente nos trouxe re-
sultados. Para o ano letivo de 2012 estamos com as duas monitoras em licença ges-
tante (retornarão no 2º semestre), o que dificulta a continuidade das ações, já que
as monitoras foram peças chave para o “como” e “o que” fazer, porém continuamos
com nossas ações e planejamos algumas atividades de jogos para o 2º semestre.
19
2
Leitura com autonomia2
Para mim a leitura sempre foi algo muito importante. Lembro-me de que foi mi-
nha mãe quem me fez tomar gosto pela leitura, antes mesmo de eu aprender a ler,
pois ela contava muitas histórias e dizia que as conhecia através dos livros que lera
quando criança. Foi graças à importância que minha mãe sempre deu aos livros e
suas histórias que cresci acreditando que quem lê aprende muito mais e por isso
sempre incentivei meus alunos a lerem.
O projeto Estudar Prá Valer amplia o repertório dos alunos quanto aos gêne-
ros e portadores, porque a leitura, propriamente dita, fica muito a cargo dos pro-
fessores e eu queria que meus alunos se tornassem mais autônomos para a escolha
do que ler, quando ler e por que ler.
Percebi que, além do clube de leitura trabalhado em sala de aula, isso deveria
se estender para fora dos muros da escola. Foi então que decidi realizar um trabalho
específico com leitura. Para mim ele nem tinha ainda as características ou ideais de
um projeto, eu queria apenas que os alunos conhecessem e se interessassem por
outras leituras para além dos livros infantis com os quais sempre tiveram contato.
Apresentei o material aos alunos e disse-lhes que aquele seria nosso “canto de
leitura”. Percebi um grande entusiasmo da turma. Após manipularem os exemplares,
perguntei-lhes se haviam percebido a maneira como estavam organizadas as publica-
ções e eles se interessaram em saber o porquê. Expliquei que cada tipo de texto serve
para alguma coisa. A revista de culinária, por exemplo, serve para prepararmos um
prato diferente, a de curiosidades para aprendermos sobre coisas que não conhece-
mos. Um aluno comentou que as poesia são lidas quando se está apaixonado e todos
acharam graça. Aproveitei este momento para mostrar-lhes que isso não era uma
verdade absoluta: disse-lhes que há poesias sobre amor, sim, mas que há também
poesias sobre bichos, coisas, acontecimentos diversos e não apenas sobre o amor
entre as pessoas. Uma poesia pode ser sobre raiva, amizade etc.
2. Autoria? EMEB Profª Rosa Helena Motta Marcondes Sousa
20 - RELATOS DA PRÁTICA
RELATOS DA PRÁTICA
Nos dias que se seguiram percebi que o interesse pelo cantinho da leitura só
aumentava, os alunos começaram a me questionar sobre a “grossura” dos livros,
dizendo que não dava tempo de ler tudo na sala, foi quando sugeri que levassem as
publicações para casa e todos adoraram a ideia.
Fiz então uma ficha de empréstimo para cada criança, onde registrávamos a
data de retirada, o título e a data de entrega dos livros e revistas.
Confesso que fiquei um pouco preocupada no início, pois além dos livros da
escola, havia muitos livros e revistas que eram meus e eu não queria que fossem
perdidos ou danificados. Essa preocupação logo passou, os alunos demonstraram
uma grande responsabilidade em manter todos os exemplares muito bem cuida-
dos e organizados. Os alunos me surpreenderam! Eles levavam os livros e revistas
para casa com frequência e se empolgavam ao perceber que a ficha de empréstimos
estava ficando “cheia” e teria de ser trocada. Alguns até comentavam: “Nossa, eu já
li tudo isso?!” e comparavam suas fichas para ver quem já havia levado mais livros
para casa.
Fiquei muito feliz ao perceber o resultado de todo esse trabalho nas produ-
ções escritas dos alunos - que melhoraram bastante. Notei que eles ficaram mais
participativos e críticos nas discussões sobre os assuntos estudados em sala de aula.
Uma das coisas que mais me agradou foi quando os alunos começaram a tra-
zer livros, revistas e gibis de suas casas, participando ativamente do nosso “canto
da leitura”. Percebi então, o quanto estavam realmente envolvidos com aquele es-
paço, com as aprendizagens conquistadas.
Tenho certeza de que muitos deles se tornarão adultos leitores, afinal, os li-
vros e as histórias têm esse poder de “prender”, de nos fazer “querer mais”.
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22 - RELATOS DA PRÁTICA
RELATOS DA PRÁTICA
3
A escola para casa3
É muito bom e construtivo participar de um projeto como este. Momentos como esse fica-
rão para sempre gravados na memória de nossas crianças. O momento de leitura em família
traz para a criança o prazer de estar perto de pessoas tão queridas (que a vida, o trabalho
acabam distanciando), instiga sua imaginação e a faz ir para lugares que não podemos ir na
vida real. No momento da leitura percebo que a Fernanda viaja em sua imaginação: é bom
olhar para ela e saber que podemos ir para muitos lugares, sem ao menos sair da casa.
(MÃE DE EDUCANDA – FASE III – B , 2011)
(...) a leitura de histórias é um momento em que a criança pode conhecer a forma de viver, pen-
sar, agir e o universo de valores, costumes e comportamentos de outras culturas situadas em
outros tempos em lugares que não o seu. A partir daí ela pode estabelecer relações com sua
forma de pensar e o modo de ser do grupo social a qual pertence...”.
Na reunião de pais em 2010, percebemos que havia um pequeno grupo que já vi-
venciava momentos de leituras com os filhos e traziam depoimentos orais significativos
sobre esta ação. No entanto a maioria não apresentava hábitos de leitura. Alguns pais
chegavam a ser céticos quanto à possibilidade de crianças “tão pequenas” lerem.
Apesar da decisão favorável, veio à tona certo receio, por parte de alguns profes-
sores, quanto à possibilidade de extravio de alguns livros. Contudo, era um risco pelo
qual valeria a pena passar e assim o fizemos. A gestão tranquilizou o grupo neste mo-
mento, no que se refere à manutenção do acervo, levando à reflexão sobre o direito
do aluno em ter acesso a livros de boa qualidade, contribuindo assim para sua forma-
ção: “(...) a melhor forma de desestabilizar algumas crenças dos professores era convencê-
-los a realizar a ação, dar algum sentido a ela e, na sequência, refletir sobre a experiência”.5
24 - RELATOS DA PRÁTICA
RELATOS DA PRÁTICA
Além do livro, esta maleta contém um caderno de registro, onde os pais po-
dem relatar como foi o momento da leitura em casa, através da escrita, de desenhos,
fotografias e outros. Algumas histórias são relidas na escola no momento da roda e,
na sequência, a professora lê também o registro dos familiares para socializar com
as demais crianças. É um momento riquíssimo, pois oferece à criança a oportuni-
dade de expressar a experiência leitora em família. Neste momento a criança se
sente valorizada, orgulhosa pelo compartilhamento dos momentos que vivenciou
em sua casa. É como se um pouco da casa de cada um viesse para a escola!
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apenas no segundo semestre como fizemos anteriormente e também pensamos
que, apesar das ações serem positivas, devemos refletir sobre alguns pontos para
melhoria do projeto, como, por exemplo, em envolver mais os pais e as crianças
em outras etapas e não somente na execução do mesmo.
Sabemos que esta ação configura-se apenas como um pequeno passo para a
formação de uma comunidade leitora. Intencionamos desdobrar o projeto consti-
tuindo um acervo específico para os pais, pois se eles puderam constatar que seus
bebês se encantaram com a leitura, que leem “mesmo sem saber ler”, que têm livros
preferidos, por que eles também não podem usufruir dessas experiências?
26 - RELATOS DA PRÁTICA
RELATOS DA PRÁTICA
4
Rolamento e Cambalhota:
movimentos que deram certo6
Desta forma o movimento é uma das linguagens que a criança utiliza para interagir
com o ambiente que a cerca. Através dele a criança conhece mais sobre si mesma e sobre
o outro e aprende a se relacionar. Vale ressaltar a importância da motricidade nessa faixa
etária, uma vez que as crianças na primeira infância possuem uma inteligência motora que
utilizam como forma de compreender o mundo e a si mesmas.
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angústias e assistir vídeos do desenvolvimento do rolamento e da cambalhota com
a mesma faixa etária que atendemos. Os vídeos foram realizados pela assessora
externa do movimento9, que nos auxiliou na elaboração da sequência didática por
meio dos encontros de formação dos assessores pedagógicos.
Após assistir os vídeos das aulas realizadas em outras EMEBs, fiquei ainda
mais preocupada. Nas duas escolas as aulas foram realizadas pela formadora, que
contou com o auxílio da professora da turma e da professora auxiliar (no caso da
creche) e ainda sob os olhos do grupo de assessores pedagógicos (que estavam em
momento de formação). Em nossa escola vivemos outra realidade, não contamos
com professores auxiliares, as estagiárias participam de um rodízio para atender a
todos os grupos e as monitoras educacionais auxiliam no refeitório, ou seja, rea-
lizar esta sequência didática se tornou um desafio pessoal e individual para mim.
28 - RELATOS DA PRÁTICA
RELATOS DA PRÁTICA
dificuldades, outros com medo e, apenas duas crianças não quiseram se arriscar.
A partir de então, a sequência deixou de ser um problema para mim. Aprendi que
é possível realizar tais movimentos com segurança, desde que sejam bem planejados e
muito bem conversada com o grupo, pois realizávamos rodas de conversa antes e após
cada atividade, a fim de apresentar a proposta, construir as regras e combinados e, pos-
teriormente, finalizar a atividade com uma reflexão e exposição das ideias e sentimentos
suscitados durante a realização dela (facilidades, dificuldades, dicas e sugestões que au-
xiliassem a realização do movimento) e combinados para realizá-los novamente, promo-
vendo assim uma troca de experiências entre os alunos.
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RELATO DA PROFESSORA DA FASE V D – PERÍODO: TARDE
“Cambalhota sim! Por que não?”
Para as crianças foi só alegria e satisfação em demonstrar o que podem fazer com
seu corpo. Aqueles que conheciam começaram a exibir. Viraram com duas mãos a prin-
cípio, depois com uma e agora alguns já viravam sem o apoio das mãos no colchão. De
perna aberta, fechada, duas cambalhotas seguidas, com ou sem interferência.
Foi uma aula, duas, três, quatro treinando, depois com outros desafios, com outros
convidados a fazer. Até a assessora virou conosco.
Enfim, foi muito bom, melhor está sendo, pois as crianças querem mais! Alguns
necessitam de outras oportunidades para melhorar seu desempenho no controle do
corpo. Ah, o medo do princípio passou. Veio a certeza de que precisamos oportunizar às
crianças essa brincadeira. Na nossa infância virávamos cambalhotas em casa brincando
com nossos irmãos mais velhos. Hoje em dia muitas dessas brincadeiras estão desapare-
cendo; então, por que não resgatá-las na escola? Quer lugar melhor para isso?
30 - RELATOS DA PRÁTICA
RELATOS DA PRÁTICA
Concluindo...
11. GALLAHUE, David L.; OZMUN, John C. Compreendendo o Desenvolvimento Motor - bebês, crianças, adolescentes
e adultos. São Paulo: Phorte, 2001.
31
5
Reorganizando o trabalho
pedagógico das crianças pequenas12
Paulo Freire revela todo o sentido do trabalho que procurei organizar ao longo de 2011.
Isso porque, assim como ele, acredito que realmente ninguém pode se contentar com
uma maneira neutra de estar no mundo e foi por essa razão que me propus a buscar
caminhos e conhecimentos para reorganizar o trabalho pedagógico das professoras que
atuam com as crianças de 0 a 3 anos.
No entanto,oobjetivoaquiécontextualizarotrabalhodesenvolvidocomascrian-
ças do período integral, muito curiosas e sempre dispostas a aprender, como também
ensinar àqueles que fazem parte do seu dia a dia. E foi através de acompanhamentos
em sala de aula e de todo o trabalho desenvolvido nas formações em HTPCs que
evidenciamos um indicador importante, o de rever o trabalho pedagógico que vi-
nha sendo realizado.
32 - RELATOS DA PRÁTICA
RELATOS DA PRÁTICA
Foi então que participamos do curso de formação13, com ênfase na rotina do tra-
balho com os pequenos, o que acabou nos desestabilizando ainda mais, pois mexeu
diretamente com nossas convicções e necessidades de ampliarmos os nossos saberes.
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não bastava, ou seja, precisava haver um detalhamento mais específico do que seria
proposto para as crianças de1 a 3 anos durante o dia e na semana como um todo.
Diante disso, propus numa de nossas formações que analisassem o que vi-
nham fazendo em termos de planejamento, destacando o que envolvia o cuidar e
o que envolvia o educar na prática diária. Assim, resolvemos que seria necessário
rever a forma de planejar. Foi então que pensamos num outro instrumento de tra-
balho. Organizamos um caderno intitulado “Caderno de Planejamento Pedagógi-
co” e combinamos que a rotina de trabalho diária deveria ser especificada uma úni-
ca vez, no início do caderno, sendo pensada através dos horários de permanência
com as crianças e o que seria feito durante este tempo.
A proposta que levei ao grupo seria organizar esse tempo didático e em se-
guida planejar o que seria feito a cada semana e mais especificamente a cada dia,
considerando sempre as necessidades de cada faixa etária.
34 - RELATOS DA PRÁTICA
RELATOS DA PRÁTICA
A partir dessa rotina, as professoras teriam então que pensar “O quê? Como?
Para quê?” realizar determinada atividade pedagógica no tempo destinado a esta ação.
SEGUNDA-FEIRA
Até então as professoras registravam suas práticas, mas não era um hábito de
fato. No entanto, a partir do momento em que discutimos uma nova forma de pla-
nejar as ações com as crianças, sentimos a necessidade de um registro mais reflexivo
desta prática. Isso porque a tríade planejar, avaliar e replanejar envolvem a prática do
registro, que possibilita rever o que foi feito, repensar as ações, ver o que deu e o que
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não deu certo, a fim de que o replanejamento possa contribuir para novas ações.
36 - RELATOS DA PRÁTICA
RELATOS DA PRÁTICA
De forma geral, as necessidades relativas aos cuidados das crianças eram aten-
didas, mas faltava algo que era essa organização do tempo e do planejamento em si,
que aos poucos foram sendo sinalizados pelas próprias professoras.
Os meus objetivos enquanto gestora desse grupo vêm sendo alcançados, par-
tindo do pressuposto de que a partir de um olhar atento sobre a prática do profes-
sor podemos dialogar sobre as ações que o grupo já tinha e sobre outras possibili-
dades que foram surgindo a cada formação.
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E que objetivo é este?
Com isso, posso dizer que nossa maior conquista foi percorrer todo um pro-
cesso juntos, estudando cada passo, dialogando sobre as práticas e as ações desen-
volvidas e perceber que o nosso grupo tem muita disponibilidade a aprender e
interagir com novas práticas.
38 - RELATOS DA PRÁTICA
RELATOS DA PRÁTICA
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Por que brincar?14
Ele garante que o cérebro – e nas crianças quase sempre o corpo – fique
estimulado e ativo. Isso, por sua vez, motiva e desafia o participante
tanto a dominar o que é familiar quanto a responder o desconhecido
em termos de obter informações, conhecimentos, habilidades e enten-
dimento. (...) Em todas as idades, o brincar é realizado por puro prazer
e diversão e cria uma atitude alegre em relação à vida e à aprendiza-
gem. Isso certamente é uma razão suficiente para valorizar o brincar.
(MOYLES, 2002. p. 20-21).
O brincar é com certeza um dos meios pelos quais os seres humanos exploram
uma variedade de conhecimentos, ações e experiências em diferentes situações
para os mais variados propósitos. Por exemplo, quando os alunos são colocados
em situações de faz de conta em um canto de atividades diversificadas de casinha
(utensílios de cozinha, panelas, fogão, geladeira, bonecas, colchonetes que repro-
duzam uma casa de “verdade”) as crianças podem experimentar e vivenciar papeis,
ou seja, brincar de ser mãe, pai, filhinho, tio, irmã etc. Nesta situação eles viven-
ciam experiências reais do seu cotidiano e também têm a oportunidade de colocar
em jogo conhecimentos sobre as relações da sociedade em que vivem e sua com-
preensão sobre a formação desta.
Brincar é, neste sentido, uma ação aprendida na cultura na qual se está inseri-
do, e que possibilita às crianças se constituírem como sujeitos em um ambiente em
constante transformações, ou seja, embora os conteúdos das brincadeiras se mo-
difiquem de acordo com a cultura infantil de cada lugar e com o tempo, a essência
14. Relato de experiência escrito pelas gestoras Aparecida Ramalho Leite, Jaqueline Pinto Ferreira e Sandra Regina
Azevedo da EMEB Emerson Cruz Machado sobre as reflexões sobre o brincar vivenciadas em 2011.
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do brincar permanece firme para todas as crianças.
É importante destacar que as crianças não brincam para aprender, mas apren-
dem brincando, pois ao brincar estão a todo tempo aprendendo a realizar ações
sozinhas ou com pouca ajuda de outros parceiros mais experientes (adultos e crian-
ças); a valorizar ações de cooperação e solidariedade; socializar-se por meio da in-
teração com seus pares (adultos e crianças), desenvolvendo a percepção sobre estes;
explorar os próprios potenciais e limitações; experimentar e vivenciar diferentes pa-
péis sociais através do faz de conta; desenvolver a confiança em si mesmo e em suas
capacidades, além da atenção, imitação, memória e imaginação, conhecer e ampliar
o repertório de jogos e brincadeiras e suas regras, ter autonomia para escolher e
criar suas próprias brincadeiras; criar estratégias para resolver situações-problema
do cotidiano e em jogos e brincadeiras; a cuidar e organizar os brinquedos.
40 - RELATOS DA PRÁTICA
tadas. Além de ter opção de escolha, a criança também deve ter opções para como
brincar, seja sozinha, seja em pequenos grupos, ou com toda a turma. Por isso a
garantia da diversidade de opções ou ambientes organizados de forma confortável
e convidativa, por temas, recursos ou tipos de materiais, que devem estar sempre
acessíveis às crianças, é tão importante. O trabalho com os cantos diversificados,
além de desenvolver os conteúdos voltados ao brincar, também contribui para os
voltados à formação social e pessoal e para as diversas áreas de conhecimento. Por
isso ele é um eixo necessário para o desenvolvimento dos nossos pequenos alunos.
O parque, outro momento garantido diariamente pela rotina das crianças por
aproximadamente 30 minutos, seja de forma livre (entende-se por forma livre a
garantia da exploração dos materiais, brinquedos e espaços deste ambiente de for-
ma segura e mediada pelo professor ou de forma orientada, que proporcione mo-
mentos de intervenções no espaço – cordas ligando os brinquedos, amarradas em
árvores para “escalada”, pneus organizados com a intenção de criar obstáculos ou
caminhos, tecidos etc.) ou através de sugestões de brincadeiras feitas pelo profes-
sor ou pelas crianças. Ambas contribuindo para o desenvolvimento de autonomia,
criação e interação.
Sabíamos que não seria uma tarefa fácil mexer em algo que estava cristaliza-
do na prática das professoras, mas que era preciso olhar para o que é proposto e
como estamos propondo este momento rico em significados do ponto de vista da
criança, isto é, refletindo sobre nossa prática e ampliando nosso conhecimento em
relação ao brincar, em direção a uma educação de qualidade e que garanta à criança
o direito de ser criança.
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frente às demandas das outras áreas de conhecimento e suas expectativas, o que tornava
a rotina apertada” já que “diante dos mapeamentos de oralidade, escrita e leitura e das
observações em matemática para as Fases IV e V e as avaliações do 1º ano do Ensino
Fundamental não percebiam como o brincar é um dos principais norteadores da pro-
posta da rede no que diz respeito às crianças de 4 a 6 anos”.
42 - RELATOS DA PRÁTICA
RELATOS DA PRÁTICA
A partir de então passamos a refletir enquanto gestoras que cabia a nós, tam-
bém, a tarefa de ressignificar o brincar. Debruçamos-nos, assim, sobre alguns estu-
dos para ampliar nossos conhecimentos, como o Referencial Curricular Nacional
para a Educação Infantil, a Proposta Curricular Jundiaí: educação infantil de 4 a 5
anos, Janet R. Moyles (2002), Alfredina Nery (2007), Revista Pátio (Abril/Jun),
Orientações curriculares: expectativas de aprendizagens e orientações didáticas
para Educação Infantil (2007) e Vygotsky (2008).
Bem, isso nos sinalizou uma contradição, pois elas nos pontuaram que não
havia espaço/tempo para o brincar em sua rotina inicialmente e nos apontaram
diversos momentos em que ele acontece neste HTPC, ou seja, existe espaço/tem-
po para o brincar na escola. Deixando claro para nós que a necessidade, realmente,
estava em olhar para as suas práticas, pois elas possuem o conhecimento sobre o
brincar, mas falta que este esteja refletido em sua prática diária, segundo o que per-
cebemos nos acompanhamentos e na análise da rotina semanal.
43
lacionamos o que tinham de planejamento com o que levantaram no primeiro mo-
mento de estudo e o que havia sido observado nos acompanhamentos. Percebemos
juntas que seria preciso retomar o brincar e, principalmente neste momento, os cantos
de atividades diversificadas, lembrando que algumas professoras não tinham esta prá-
tica no nível de ensino em que atuavam e que as que já tinham, precisavam retomar,
refletir e ressignificar as práticas, pois o “como” não estava proporcionando às crianças
opções de atividades lúdicas que favorecessem suas necessidades e interesses.
Pensando neste percurso vivenciado até aqui, reforçamos que é necessário refletir
sobre o fato de que as crianças não aprendem a brincar sozinhas, da mesma forma que
não desenvolvem a linguagem sozinhas, é no contato com o meio, com a cultura e com
a com as pessoas qual convivem, ou seja, na interação com o meio sócio-histórico cons-
truído pelas transformações da sociedade e da cultura que elas aprendem o significado
dos objetos e dos brinquedos; é que elas aprendem a brincar.
Portanto, embora brincar seja uma ação espontânea da criança, ela não é na-
tural, ela acontece na mediação, na interação entre sujeito e objeto, fundamentos
44 - RELATOS DA PRÁTICA
importantes para que o sujeito possa aprender e se desenvolver cada vez mais, sen-
do este um processo contínuo e em constante movimento e mudança. Por isso o
brincar precisa receber uma atenção dos professores e, como todas as outras ativi-
dades, ser planejado, observado e avaliado, mas sem esquecer da sua especificidade
que é simplesmente brincar.
Essa tarefa tem nos movimentado cada vez mais. Estudamos, observamos as
práticas na escola, refletimos e nos fortalecemos enquanto gestoras, pois mobilizar
os professores na escola em que atuamos constitui-se um desafio para nós. Este
desafio apenas está começando e o maior aprendizado foi perceber que, embora
exista a prática, nem sempre ela é realizada de acordo com o ponto de vista da
criança, de forma planejada e intencional e por isso precisamos voltar não apenas
nossos olhos, mas todos os nossos sentidos para elas. Neste momento, nos dedi-
car ao brincar e à valorização de seus benefícios para as crianças, é fundamental,
pois, como salientamos no início deste relato, o brincar é importante para todas as
crianças independente de sua cultura, sexo, raça ou cor. Ele está inserido na vida de
qualquer grupo social sem perder sua essência.
45
R f r nci s BIBLIOGR FIC s
BASSEDAS, E.; HUGUET, T.; SOLÉ, I. Aprender e Ensinar na Educação Infantil. Porto Alegre:
Artes Médicas, 1999.
Revista Pátio. Brincar e aprender. Abril/Jun 2011 (foram usados todos os artigos, mas foi
citado apenas FORTUNA, Tânia Ramos. O lugar do brincar na Educação Infantil. p. 8-10).
SITE
46 - RELATOS DA PRÁTICA
RELATOS DA PRÁTICA
7
Classificando
blocos lógicos15
Segundo Smole (2000), o professor precisa saber também que os alunos neces-
sitam de um tempo para desenvolver os conceitos e as ideias matemáticas trabalhadas
na escola. Essas ideias e conceitos se desenvolveram através do trabalho pontual e das
intervenções que realizei no decorrer das atividades que propus.
15. Professora da Fase IV-D, Cheila Cristiane Azevedo Rogério, da EMEB Emerson Cruz Machado.
47
Fiquei surpresa quando percebi que, mesmo em outras situações de sala de aula,
os alunos começaram a classificar os objetos, como ao usar os blocos de montar nos
cantos de atividades diversificadas ou ao guardar os brinquedos. Sendo assim, avalio
que o trabalho desenvolvido foi significativo, possibilitando às crianças que utilizas-
sem o que foi aprendido em diferentes situações, ou seja, a classificar os objetos da
mesma classe por critérios diferentes (tamanhos, cores, espessuras e formas).
De acordo com Smole (2000), afirma que, é fundamental que as crianças sin-
tam-se participantes num ambiente que tenha sentido para elas, para que possam
engajar-se em sua própria aprendizagem. O ambiente da sala de aula pode ser visto
como uma oficina de trabalho, sendo este um espaço positivo, com muita comu-
nicação. E essa foi a maior aprendizagem que tive, pois percebi que as atividades
de classificação faziam sentido para as crianças num contexto de troca e interação,
envolvidas em um espaço prazeroso, acolhedor, de trabalho sério e organizado.
48 - RELATOS DA PRÁTICA
RELATOS DA PRÁTICA
8
Marcando a rotina
no calendário16
No início do ano letivo de 2011, as crianças dos 1° anos da EMEB Emerson Cruz Ma-
chado realizaram uma atividade diagnóstica elaborada pela Diretoria de Educação,
através da qual os professores mapearam os conhecimentos de seus alunos para, a partir
desses levantamentos, elaborem seus planos de ação. Diante dessa avaliação, as profes-
soras dos 1° anos analisaram que os alunos necessitavam de intervenções quanto ao uso
do calendário em relação à leitura de informações (dia da semana e dia) de forma que
pudessem consultá-lo com propriedade.
Sendo assim, pensamos no que poderia ser feito para que os nossos alunos
pudessem aprender a fazer uso do calendário. Levamos a discussão para a nossa
assessora pedagógica, que sugeriu o trabalho com calendário através de ativida-
de permanente, visto que essa modalidade tem como objetivo criar hábitos nas
crianças, considerando a gradação do trabalho para cada fase/ano, como também
deu algumas sugestões orientada pelas formações realizadas pela Diretoria de
Educação e coordenadas pela assessora externa de matemática, como: calendário
ampliado, preenchimento das datas no caderno, legenda dos códigos combinados
com os alunos, marcação de datas etc.
49
calendário, identificando os dias da semana, mês e ano explorando o calendário e
também antecipando, recordando e descrevendo oralmente sequências de aconte-
cimentos referentes ao período de um dia.
50 - RELATOS DA PRÁTICA
RELATOS DA PRÁTICA
9
Vitrine de Livros17
Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem li-
vros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever - inclu-
sive a sua própria história.
BILL GATES
Foi refletindo sobre esta tarefa do professor na escola que a assessora pedagógica
da EMEB Emerson Cruz Machado trouxe como estudo em HTPC, no ano de 2009, o
Projeto Clube de Leitura, que faz parte do Projeto Estudar pra Valer, que é desenvolvido
na rede de Cajamar pelas escolas de Ensino Fundamental do 2º ao 5º ano.
17. Relato de experiência da Professora Beatriz Mattos de Morais Cunha, 1º ano do Ensino Fundamental 2011,
EMEB Emerson Cruz Machado.
51
Na primeira vez em que realizei a Vitrine de Livros com os alunos, organi-
zei os livros de literatura infantil e gibis do acervo da escola no pátio em forma
de vitrine, um ao lado do outro, para que pudessem ser visualizados todos os
portadores ali expostos. Convidei os alunos a lerem. Cada um deveria escolher
o que mais lhe chamasse atenção e eles poderiam trocar de livros sempre que
quisessem, sem a obrigação de ler o livro ou gibi até o fim, pois o meu objetivo
era desenvolver o gosto pela leitura e os critérios de escolha.
Este é um momento onde o aluno fica livre para falar se tiver vontade, pois o maior
objetivo desta atividade é proporcionar o contato com os livros despertando o gosto
pela leitura de forma prazerosa, sem ter que ler porque algo lhe será cobrado. Ele pode ler
algumas palavras, olhar as imagens, ler o livro até o meio, ler sozinho ou com os amigos.
É um momento para apreciar os livros e perceber que ler é bom.
52 - RELATOS DA PRÁTICA
RELATOS DA PRÁTICA
Eu, enquanto professora, pude observar a cada dia o interesse maior dos alu-
nos durante os momentos de leitura, a cobrança dos alunos para que os momentos
acontecessem, o interesse com que manuseavam os livros, os comentários entre os
colegas sobre determinado livro. Pude aprender a grande importância de incenti-
vá-los a esse mundo da leitura.
53
10
Conscientização da Importância
da Preservação da Natureza e
de uma Alimentação Saudável18
O desenvolvimento teve início com uma roda de conversa na sala, com le-
vantamento dos conhecimentos prévios: a professora mostrou hortaliças e ques-
tionou o grupo se eles conheciam, alguns disseram o nome da hortaliça e ou-
tros não conheciam ou disseram outros nomes; na sequência foi feita uma
visita ao espaço da horta reconhecendo o espaço em que seria feito o plantio;
nessa etapa ainda foi retomada a roda de conversa e abordadas questões como ‘O que é
uma horta?’, ‘Para que Serve?’, ‘O que se pode plantar nela?’, ‘O que as crianças gostam?’;
foram apresentados fotos de hortaliças e os instrumentos que foram utilizados para
construir os canteiros e afofar a terra para a semeadura; como manusear a enxada, a pá,
o ancinho, os regadores, a mangueira, as sementes, as mudas e desmanchar os terrões.
54 - RELATOS DA PRÁTICA
RELATOS DA PRÁTICA
Ver a alface nascer, crescer e depois comê-la possibilita às crianças uma noção
bem diferente daquela que elas vivenciam ao acompanhar a mãe ao supermercado
e depois degustar. Nessa ela tem participação ativa, tem autoria e isso a motiva ain-
da mais para a degustação de alimentos sem a presença de agrotóxicos.
“Tudo o que existe e vive precisa ser cuidado para continuar a existir e a
viver: Uma planta, um animal, uma criança, um idoso, o planeta Terra”
(Leonardo Boff).
SITE
(http://www.hortaviva.com.br/EMPRESA/portfolio_cst/0002/programa.htm). Fevereiro 2012.
55
11
Construindo o livro
a partir do conto "Branca
de Neve e os sete anões"21
A ideia de construir o livro surgiu pelo encantamento das crianças a cada pá-
gina lida: era como mágica, as crianças ficavam eufóricas, a curiosidade aumenta-
va, todas as meninas diziam ser a Branca de Neve, daí surgiram muitos anões e tam-
bém príncipes em nossa sala. Todos, meninas e meninos ficaram envolvidos nes
se trabalho. Já trabalhamos outros contos em sala como: Chapeuzinho Vermelho, Os
três porquinhos, entre outros, porém esse conto da Branca de Neve se destacou.
Ferreiro (1989, p. 98), cita que “não existe idade para aprender a ler e que a
leitura e a escrita constituem um processo que começa cedo”. Neste sentido, a autora
56 - RELATOS DA PRÁTICA
RELATOS DA PRÁTICA
afirma que as crianças iniciam sua aprendizagem do sistema de escrita muito cedo,
nos mais variados contextos e acrescenta que a criança trabalha cognitivamente
(isto é, procura compreender) desde muito cedo informações das mais variadas
procedências: os próprios textos nos respectivos contextos em que aparecem (em-
balagens, cartazes de rua, tv, peças de vestuário, assim como livros e periódicos);
informação específica destinada às crianças (alguém lê uma historia para elas, diz-
-lhes que esta ou aquela forma é uma letra ou um número, escreve seu nome para
elas, etc.); informação obtida através de sua participação em atos sociais dos quais
fazem parte o ler e escrever.
A professora trouxe figuras dos personagens e com as fotos dos rotos das crian-
ças que tínhamos em sala, colamos no personagem escolhido. Nessa atividade todas as
crianças se envolveram, porém as crianças ficam livres para participarem das diversas
atividades oferecidas no nosso dia-a-dia.
A cada página elaborada as crianças foram ilustrando com pinturas a dedo, for-
mando árvores, flores, borboletas, animais etc...
57
Terminada a história juntamos as páginas e a professora levou para encadernar
deixando folhas livres no fim do livro para socializar com os pais e permitir que deixas-
sem seus depoimentos.
A escola pode e deve alimentar esse saudável apetite de faz de conta infantil.
E nós professores usarmos de nossa criatividade para oferecer diferentes contextos
e oportunidades de ampliar a fantasia. Assim, construímos nosso livro juntos a
partir da criatividade de cada um. Conclui que a leitura dos contos servem de en-
cantamento e aguçam a imaginação dos pequenos.
Paulo Freire afirma que o educador humilde percebe que educar é deixar-se
educar pelo educando e sua realidade. A rotina com a leitura proporciona estabili-
dade e segurança, ao ouvir e falar a aprendizagem.
58 - RELATOS DA PRÁTICA
RELATOS DA PRÁTICA
12
Família na escola:
angústia ou prazer?19
Aproximar os pais da escola é, sem duvida, uma das principais saí-
das para enfrentar os desafios que estamos expostos na área edu-
cacional. Essa aproximação tem como principal objetivo beneficiar
o aluno, a família, o professor e a escola.
(GALUZZI, 2004, p. 15)20
59
que admita essa diversidade em constante mudança e recupere a responsabilidade
de ambas que é o de cuidar, educar, levando as crianças e adolescentes à autono-
mia social, moral e emocional. Para que isso ocorra, a escola precisa favorecer a
participação da família dentro da perspectiva da gestão democrática, favorecendo
a tomada decisões conjunta e de forma participativa.
Em 2007, com meu ingresso nesta unidade escolar passei observar e acom-
panhar todos os preparativos para a reunião de pais como a definição das datas,
elaboração de convocação, mapeamento das expectativas, dúvidas etc. O compor-
tamento dos pais perante a escola também foi minuciosamente observado. Os pais
não acreditavam na escola, apareciam somente para reclamar e até mesmo brigar
com professores, funcionários e direção. Nesse sentido, presenciei algumas mães
que, após deixar seus filhos na escola, se escondiam atrás das árvores e ficavam ob-
servando para certificar de que havia olhares de adultos sobre seus filhos. Quando
chegava o dia da reunião, dificilmente era um momento tranquilo, uma vez que
sempre havia comentários dos professores de que a presença não era a esperada
e que os pais que precisariam comparecer não estavam presentes. Durante as reu-
niões também havia momentos desconfortáveis, como pais reclamando a todo o
momento da organização da escola, que era ruim etc. Enfim, era pai insatisfeito de
lá e escola insatisfeita de cá! Ambos desconhecendo seu papel como nos mostra o
relato21 abaixo:
Olá, é com muita alegria e satisfação que venho por meio deste compar-
tilhar com todas as pessoas que vierem a ler essas entrelinhas o grande
amadurecimento pedagógico e visual que a escola EMEB BAIRRO DO
GATO PRETO obteve durante os anos letivos de 2005 até o presente ano
de 2011. Na verdade faz algum tempo que me socializo com essa uni-
dade escolar, desde o ano de 2006, quando tive a oportunidade de ma-
tricular meu filho, na época com 03 anos de idade na Fase IV. Quando,
então, passei a ter mais contato com a equipe escolar, fazendo parte,
então, da APM (Associação de Pais e Mestres). Nesse mesmo período,
pude perceber quantas dificuldades essa unidade escolar vinha obten-
do. Era troca de professores quase todo o ano letivo. Reuniões de pais,
se na sala eram 20 alunos, apareciam somente no máximo seis (pais).
60 - RELATOS DA PRÁTICA
RELATOS DA PRÁTICA
Diante dessas questões entrei num tremendo conflito e refleti: como realizar
61
uma gestão mais democrática? Abrir os portões para a comunidade é suficiente?
Promover a flexibilização de um currículo que valoriza a participação significa só
abrir tais portões? Como mexer na prática de professores que possuem crenças
cristalizadas sobre a presença dos pais na escola? Eis a questão!
62 - RELATOS DA PRÁTICA
RELATOS DA PRÁTICA
Os pais também fazem suas avaliações sobre o encontro, pois para a escola é um
instrumento de levantamento de dados relevantes sobre o trabalho de toda equipe es-
colar, da organização do espaço, das aprendizagens de seus filhos como nos mostra o
trecho a seguir:
Os retornos por parte das famílias nos animaram a continuar inovando e bus-
cando novos desafios. Os alunos começaram a responder de forma satisfatória ao
perceberem que a escola e a família estabeleceram um vínculo de confiança.
A ideia deu certo! Ao longo do projeto os pais que antes reclamavam das
ações da escola, começaram a participar mais ativamente das atividades/eventos
da escola, demonstrando prazer e entusiasmo em colaborar. Percebíamos que par-
ticipar fazia sentido para os pais, pois reconheciam que as ações contribuíam para a
aprendizagem dos alunos. Exemplos: mães confeccionam roupas para as apresen-
tações, tocar violão, fazer receitas etc.
___________
22. Mãe de dois educandos matriculados na escola: um educando da 4.ª série e uma educanda da Fase V. Sempre
presente na escola, acompanha o trabalho realizado nesta unidade desde 2005. Deste processo, sentiu a
necessidade de desenvolver um relato que mostrasse o progresso vivido nesta escola.
63
Segue abaixo o relato de um familiar explicitando um exemplo de parceria:
64 - RELATOS DA PRÁTICA
RELATOS DA PRÁTICA
GALLUZZI, Carmen Silvia Penha. Propostas para Reunião de Pais - estratégias e relatos de
casos. São Paulo, Edicon, 2004.
65
13
Interação social entre as crianças
e o trabalho pedagógico25
Acreditando que a criança é um ser social desde o seu nascimento, e que a intera-
ção com o outro proporciona a aprendizagem e consequentemente amplia seus olha-
res para o mundo, o trabalho na EMEB Prof. Marcelo Antonio Ricomini Pascoal, que
atende crianças de 1 a 3 anos em período integral, foca o desenvolvimento social na
relação com o outro, sendo esta concepção parte integrante da rotina e do planejamen-
to semanal dos professores.
Uma vez que o objetivo dessa proposta era socializar os trabalhos pedagógicos
realizados em sala de aula para todas as crianças da nossa escola, com alguns segmentos
como monitores, estagiários, funcionários administrativos e gestores, os professores da
Fase III se reuniram em horário de HTPC para planejar ações que viabilizassem a cons-
trução de vínculos afetivos entre todos.
66 - RELATOS DA PRÁTICA
RELATOS DA PRÁTICA
O dia da semana escolhido foi sexta-feira, pois tínhamos como critério que
nós, gestoras, estivéssemos na escola sem precisar nos ausentar por conta de com-
promisso de alguma reunião ou formação. Assim podíamos participar ativamente
destes momentos.
Apesar de não termos o registro escrito de todo esse trabalho, avaliamos que,
diante das mudanças de comportamento das crianças, da maneira pela qual elas
reagiam e teciam comentários nos momentos das apresentações, acreditamos que
essa proposta atingiu o objetivo que havíamos planejado, sendo assim esse traba-
lho terá continuidade no ano de 2012.
19. BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil.
Formação Social e Pessoal. MEC, pág.39, 1998.
20. BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil
Formação Social e Pessoal. MEC, pág.32, 1998.
67
14
Interação e participação:
sinônimo de sucesso30
Uma prática bem sucedida é aquela em que se percebe o envolvimento, a mo-
tivação das pessoas e os bons resultados durante e depois do processo.
Considerando isto, nós da equipe gestora da EMEB Prof.ª Maria Elce Martins
Bertelle, destacamos um projeto de Educação Física desenvolvido no contraturno,
no ano de 2011.
O foco inicial deste projeto foi trabalhar os fundamentos do futsal, bem como
todos os aspectos inerentes ao trabalho esportivo e em equipe. Visava oferecer uma
iniciação esportiva que favorecesse o desenvolvimento de habilidades básicas e a
aquisição e o aperfeiçoamento dos fundamentos da modalidade.
Através deste trabalho foi possível perceber o interesse dos alunos pelo esporte e
68 - RELATOS DA PRÁTICA
RELATOS DA PRÁTICA
entender que às vezes o futsal não se manifesta por falta de incentivo, pois quando o
projeto foi elaborado, o objetivo era a integração aluno-escola no período inverso ao das
aulas regulares e também a participação dos pais no decorrer do projeto.
Quanto aos pais, a princípio não houve convite formal para que participas-
sem do projeto, no entanto eles foram se aproximando da escola nos momentos
do projeto por iniciativa própria. A partir daí, juntamente com a supervisão, nós,
gestores, sugerimos ao professor que convidasse os pais a participar e assistir aos
jogos. Gradativamente foram inseridos no projeto, de modo que no encerramento
puderam interagir com seus filhos, além de confraternizarem com todos os envol-
vidos. Com a participação e o envolvimento eles perceberam o quanto era im-
portante e significativo, visto que estava relacionado com a formação de caráter e
interferindo positivamente no comportamento de seus filhos. A satisfação dos pais
com os resultados foi verbalizada, por eles, no dia do encerramento.
69
15
O Projeto Expressão Corporal
e a sua dinâmica de trabalho21
70 - RELATOS DA PRÁTICA
RELATOS DA PRÁTICA
ra, de Vivaldi; O Trenzinho do Caipira, do grupo brasileiro Uaktei; Baião de Seis, dos
Barbatuques, entre outros. Ainda puderam participar da escolha das músicas, tendo seu
repertório enriquecido nos momentos em que viam, ao vivo ou por meio de vídeos e fo-
tografias, apresentações de grupos de danças conceituados, espetáculos circenses e suas
próprias criações coreográficas.
Não é a gramática abstrata, mas a vida em comum que nos deu uma
língua comum. Ensinar a língua é ampliar a experiência do aluno com
a nossa.
LOMBARDO RADICE
72 - RELATOS DA PRÁTICA
RELATOS DA PRÁTICA
73
durante as edições as duplas criaram novos textos. Como surgiram histórias muito
interessantes, resolvi aproveitá-las.
Para organizar a reescrita, dois grupos ficaram responsáveis pelo início (per-
sonagens, cenário), dois pelo desenvolvimento (clímax) e dois pelo desfecho (en-
cerramento). Nesse momento deixei claro que o autor da 1ª versão deveria ser con-
sultado, para manter a ideia inicial.
Com isso, partimos pra quarta etapa. Diante das análises dos textos produ-
zidos pelos alunos, percebi que apesar de todo esse contato com o gênero conto,
faltava ainda para a maioria da classe apropriar-se das características discursivas
do mesmo. Para isso, resolvi criar uma ponte entre o trabalho que já estava sendo
feito, de edição de textos, com a sequência de leitura do gênero conto Quem conta
um conto, aumenta um ponto, que estava desenvolvendo com a turma, dando assim
continuidade ao trabalho.
74 - RELATOS DA PRÁTICA
RELATOS DA PRÁTICA
Selecionei alguns contos para a leitura: O Voador, dos Irmãos Grimm; Bicho de
Palha, de Luís da Câmara Cascudo, e o Diamante, de Luís Fernando Veríssimo. Expli-
quei a proposta: conhecer bastante as histórias para depois reescrevê-las. Lemos e
discutimos como é feita a descrição de cada uma das personagens, do ambiente.
75
to, como precária caracterização das personagens ou passagens mal explicadas. Mi-
nha proposta era que, na medida do possível, todos os alunos passassem por esse
processo de expor seus textos para análise do grupo, buscando aprimorá-los, sem
perder o sentido.
A criança se coloca como ‘um outro’ em relação ao texto que está escre-
vendo ou já escreveu, e é como leitora que vai se dar conta de que algo
está faltando para que o texto faça sentido.
MAYRINKI-SABINSON (1997, P.150)
Fazer todo esse trabalho foi muito bom, pois muitas crianças já se apropria-
ram de algumas questões discutidas quanto aos aspectos discursivos (coesão, co-
erência, vocabulário, desenvolvimento do tema) e estão fazendo uso desse conhe-
cimento no momento em que produzem seus próprios textos. Isso não quer dizer
que não fazia revisões regularmente, mas agora faço de uma forma mais focada,
com objetivos mais claros e precisos, garantindo na rotina semanal revisões e/ou
edições textuais articuladas ao EPV.
Com tudo isso, conclui que, para que haja aprendizagem, o professor pre-
cisa realmente estudar, se preparar, diminuindo assim sua ansiedade. Tem que ter
segurança e comprometimento. A competência de revisar/editar textos tem de ser
construída com as crianças, sendo muito importante o planejamento cuidadoso da
76 - RELATOS DA PRÁTICA
RELATOS DA PRÁTICA
atividade, focando um aspecto de cada vez. Só assim poderão ser feitas as interven-
ções adequadas e necessárias. Essa conclusão se deu diante dos acompanhamen-
tos sistemáticos que tive em sala de aula, dos momentos de planejamentos com o
grupo gestor, supervisão e assistente pedagógico, bem como os resultados obtidos
com a minha turma no desenvolvimento desse trabalho.
77
17
Flauta Doce na Sala de Aula25
O presente projeto tem como objetivo trabalhar a flauta doce como ele-
mento musicalizador no Projeto Vida Ativa, assim como a elaboração de um
repertório didático com partituras cifradas e tablaturas direcionadas para as
crianças acompanharem as canções. Desencadeou-se ao perceber que um gru-
po de crianças se organizava para brincar com músicas através de paródias, ges-
tos rítmicos e dinâmicos. Então propus a inserção de um instrumento acessível
para aprendizagem e para a brincadeira. Por sua vez, houve interesse despertado
na escola através das apresentações do Projeto Vida Ativa, mantido pela Pre-
feitura Municipal de Cajamar. Cabe ressaltar que eu já havia atuado no Projeto
Vida Ativa como voluntário, convidado pela colega professora Marta Brandolini
que me entusiasmou e, na ocasião, isso me proporcionou conhecer mais sobre
o encontro de saberes oriundos de diferentes contextos; num espaço propício
para promover a troca de conhecimento. Iniciei no ano de 2011 com a turma do
3º ano, pela procura e interesse desses alunos. Com o transcorrer de algumas
aulas, percebi o quanto os alunos se motivaram e demonstraram felicidade em
tocar uma pequena melodia, mesmo que envolvendo apenas algumas notas mu-
sicais. O instrumento escolhido já era conhecido pelas crianças, pois eles sabiam
25. Relato de experiência do professor Marcelo Aparecido da Silva, 3º ano “A” do Ensino Fundamental 2011, EMEB.
“Profª Maria de Lourdes Mattar”
78 - RELATOS DA PRÁTICA
RELATOS DA PRÁTICA
que encontrariam a flauta doce na famosa loja de “hum real e noventa e nove
centavos”, com baixo custo, fácil de transportar, um som suave com simples digi-
tação, seguindo uma lógica de facilidade para a execução de uma canção. Dessa
forma pôde-se adequar a execução do instrumento ao nível de aprendizagem do
aluno, pois as notas musicais permitem brincar com as palavras em “pedaços”,
bem como com frases e sílabas, além das resgatar canções de memória relacio-
nando som e grafia.
79
Nessas primeiras experiências com as crianças na sala de aula, observei que
tocar e cantar em alguns momentos diferenciaram as aulas; com um som agradável
produzido pela flauta, que eleva a empolgação, o entusiasmo coletivo foi pautado
na solidariedade e no respeito. Esse momento é vivenciado pelo respeito demons-
trado no momento de colaboração com o outro, pois as crianças se ajudam, con-
versam entre si, opinam na execução de uma canção, demonstram ser solidários
quando encontram dificuldades.
80 - RELATOS DA PRÁTICA
RELATOS DA PRÁTICA
Percebi que as crianças são estimuladas por músicas que fazem parte do seu dia
a dia e dos padrões musicais de sua cultura, ou seja, é possível ampliar o repertório
da criança apresentando-lhe outros universos sonoros. Isso favorece o atendimento
de casos de alunos com baixa autoestima, alunos não alfabetizados que conseguem
executar na flauta as músicas, ainda que desprovidos da leitura e da escrita.
Gainza (1988) afirma que as atividades musicais na escola podem ter objeti-
vos profiláticos, nos seguintes aspectos:
O planejamento das aulas é essencial para obter um resultado com êxito, tais como
explorar as propriedades do som ou de outros conteúdos permeados pelas modalidades
organizativas. Outra questão importante foi articular na rotina a musicalização. Utilizei
do período com os especialistas para o preparo das atividades; assim como fiz uma par-
ceria com eles para a subtração de alunos por um momento da aula corrente para os
ensaios, para atender aos alunos com muitas dificuldades e os não alfabetizados.
Segundo Murray Schaffer, o ser humano tem que “limpar” seus ouvidos,
criar paisagens sonoras com os sons do ambiente. O papel do professor unido-
cente é mostrar os caminhos e as ferramentas para explorar essas paisagens sono-
ras na vida do educando. Para tanto, o profissional deve ater-se à busca de biblio-
grafia e materiais que facilitem o processo de tornar o aluno sensível e receptivo
ao fenômeno sonoro.
82 - RELATOS DA PRÁTICA
RELATOS DA PRÁTICA
DOCUMENTOS
PREFEITURA MUNICIPAL DE CAJAMAR. Material de Apoio do Projeto Estudar pra Valer.
INTERNET
http://educarparacrescer.abril.com.br/politica-publica/musica-escolas-432857.shtml
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/lei/L11769.htm
http://www.portaledumusicalcp2.mus.br/Aprenda/aprendaflauta/flauta.htm
83
18
Escola: espaço de sentidos
e possibilidades38
A escola não pode tudo, mas pode mais. Pode acolher as diferenças.
É possível fazer uma pedagogia que não tenha medo da estranheza,
do diferente, do outro. A aprendizagem é destoante e heterogênea.
Aprendemos coisas diferentes daquelas que nos ensinam, em tempos
distintos, (...) mas a aprendizagem ocorre, sempre. Precisamos de uma
pedagogia que seja uma nova forma de se relacionar com o conheci-
mento, com os alunos, com seus pais, com a comunidade, com os fra-
cassos (com o fim deles) e que produza outros tipos humanos, menos
dóceis e disciplinados .
(ABRAMOWICZ, 1997).
Esse relato pretende apresentar boas práticas de ensino dos professores que atuam
na Escola Municipal de Educação Básica Professora Odir Garcia de Araújo, loca-
lizada no Município de Cajamar. Oferecemos à comunidade do Jardim Adelaide
e arredores o Ensino Fundamental do 2º ano ao 9º anos, Educação de Jovens e
Adultos e Atendimento Educacional de Especializado para alunos surdos.
Para tanto contamos com um espaço físico significativo, sala com computa-
dores, sala de multimídia com data show, sala de jogos, sala de recursos multifun-
cional, salas de aulas, 48 funcionários que trabalham ativamente de maneira cola-
borativa e imprescindível.
Toda essa infraestrutura para atender aos 880 alunos que estudam, relacio-
nando-se com o conhecimento e inter-relacionando-se com a diversidade humana
que existe no espaço escolar, desafiando o trabalho pedagógico da equipe escolar
que tem como premissa respeitar os objetivos pedagógicos de cada área, as expec-
tativas de aprendizagem existentes e metas traçadas que permeiam o fazer de cada
professor, pensadas a fim de propiciar condições de aprendizagem que não exclu-
am aluno algum.
Vale ressaltar que cada elemento citado acima é considerado como consti-
tuinte do processo de ensino e aprendizagem, pensado por professores que bus-
84 - RELATOS DA PRÁTICA
RELATOS DA PRÁTICA
Foi entregue aos alunos papel fechado (sorteio) com o nome do perso-
nagem da Mitologia que seria pesquisado. Nestes papéis continha o
nome de um deus, herói, monstro ou rei da Grécia Antiga. Foi proposta
aos alunos uma pesquisa sobre o personagem para apresentação para
a classe e uma imagem sobre o tema pesquisado. Os trabalhos foram
apresentados na sala de vídeo. (Trecho extraído do registro escrito fei-
85
to pelo Professor Ricardo Júlio em novembro de 2011).
Não basta solicitar uma pesquisa, é preciso dar lente aos alunos, é necessário
orientar o ato de pesquisar; não basta assistir um filme, é essencial contextualizar,
é singular promover debates e sistematizar aprendizagens; não basta apresentar
trabalhos e pesquisas, é primordial que o professor problematize as apresentações,
ajude os alunos a refletirem. Essa é a diferença na prática deste professor!
reflexões sobre sua prática, preocupações com a não aprendizagem dos alunos é
romper paradigmas e se abrir a uma nova forma de ensinar, para que de fato seus
alunos possam aprender. É direito de todos ter acesso a um ensino de melhor qua-
lidade, mais desafiador e inovador, aspecto este que vem ao encontro de mais um
eixo norteador do currículo, “Justiça e Cidadania”. Participar de formações e con-
verter a informação dada em conhecimento próprio a ponto de transformar o seu
fazer é dar condições para uma melhor educação e dignidade do pequeno cidadão.
Além disso, não se cansar de esperar pelo tempo de aprendizagem desse alu-
no e nem considerar que todos aprendem juntos e ao mesmo tempo, sem descon-
siderar que também é preciso dosar os diferentes ritmos com a necessidade de
aprendizagem é uma virtude docente nos tempos atuais. Assim como a prática do
professor Ricardo, a Professora Roseni também tem clareza do limite entre pro-
blematizar, informar, respeitar o ritmo, mas agir para que de fato a aprendizagem
possa acontecer. São ações óbvias e bem feitas que tornam uma prática exitosa,
visto que os professores acreditam no que fazem.
Essa foi uma proposta trabalhada durante duas semanas, mas muito sig-
nificativa, pois os alunos desenvolveram conceitos importantes, obser-
vando e manipulando desde as planificações até a construção do objeto
de estudo. (...) Foi proposto aos alunos que verificassem em suas casas
objetos com as características dos sólidos e que eles comparassem ou
observassem as características dos objetos, desenvolvendo um raciocí-
nio espacial por meio de materiais concretos (Trecho extraído do registro
escrito feito pela Professora Silvana em novembro de 2011)
87
Mais uma vez a pesquisa, a troca entre os alunos, a interação, o planejamento
intencional do professor, a linha tênue entre informar e problematizar, respeitar o
ritmo sem perder de vista que é preciso avançar foi determinante nesta prática exito-
sa. Esta oportunidade foi, sem dúvida, valiosíssima para os alunos, pois por meio de
desafios e manipulação de materiais concretos foram trabalhados diversos objetivos
didáticos da área de matemática e, sobretudo no que consta à aprendizagem que,
mais uma vez, transcendeu o lápis, o papel e a lousa e foi permeada por pesquisa,
experimentação e vivência, ações essas sempre presentes no trabalho realizado pela
professora, assim como a estratégia de aprendizagem em grupo, que favorece a troca
de saberes e possibilita o aprender com o outro, enriquecendo essa proposta.
Espera-se que essas amostras possam colaborar para uma maior valorização do tra-
balho docente, assim como provoquem reflexões, assim como Eduardo Galeano convida:
BARRETO, Vera. Paulo Freire para Educadores. São Paulo: Arte & Ciência, 1998.
88 - RELATOS DA PRÁTICA
RELATOS DA PRÁTICA
19
Sarau na Escola26
O trabalho de leitura com o gênero poema começou assim que iniciei minhas ati-
vidades nesta unidade escolar em 2008. Aonde vou levo na bagagem do meu ser o
gosto pelo poético e diante da possibilidade que sempre há de trabalhar no ambien-
te escolar – independente da disciplina – esse gênero, não hesitei em experimentá-
-lo com os alunos. Sempre enxerguei os textos poéticos enquanto um convite para
o despertar da sensibilidade e sentimento humanos. Aquele que se depara com um
poema dificilmente o vê com indiferença, desde que esteja minimamente prepara-
do para apreciá-lo. O que eu vislumbrava naquele momento era a possibilidade de
mostrar aos alunos uma nova forma de se relacionar com o mundo da poesia, que-
brando paradigmas rígidos e diria até mesmo desmotivantes acerca dessa situação.
Escreve Ligia Chiappini (1997, p. 151):
Para o aluno fica a impressão de que se lê textos para fazer exercícios gra-
maticais, que não mantém nenhuma ligação com a emoção estética que
sentem ao ouvir ou ler um poema, ou ao copiá-lo no seu diário.
Para que a instituição escolar cumpra com sua missão de comunicar a leitura
como prática social, parece imprescindível uma vez mais atenuar a linha divisória
que separa as funções dos participantes na situação didática. Realmente, para co-
municar às crianças os comportamentos que são típicos do leitor, é necessário que
o professor os encarne na sala de aula, que proporcione a oportunidade a seus alu-
26. Prof. Roberto de Arruda Rodrigues. Licenciado em História. Pós-graduando em Ética, Cidadania e Valores na
Escola. EMEB República do Panamá.
89
nos de participar em atos de leitura que ele mesmo está realizando, que trave com
eles uma relação “de leitor para leitor”.
Para prosseguirmos era necessária a ampliação do acesso aos textos e por ter-
mos poucos livros de poemas à disposição, alguns alunos traziam livros e também
passamos a utilizar a sala de informática para pesquisa e leitura de poemas. Duran-
te esse momento percebi na escola uma circulação maior não somente de livros,
mas de outros portadores contendo o gênero. Muitas vezes me pediam para ver o
90 - RELATOS DA PRÁTICA
RELATOS DA PRÁTICA
que eu achava de poemas escritos em seus cadernos e diários. Tive a certeza de que
alguns tinham tomado gosto pelo gênero ao ver que haviam memorizado poemas
a fim de declamarem para a sala.
Convidei os alunos a realizarem um Sarau, eles não sabiam o que era e os es-
clarecimentos foram feitos. Ao responderem positivamente, mesmo com o receio
de algo novo, iniciamos os trabalhos de escolha de poemas, memorização e en-
saios. Para diminuir a ansiedade de enfrentar o público eles se apresentavam para
as outras salas.
A sensação que eu tive foi de medo, nunca tinha feito algo parecido. Ima-
gina o frio na barriga que eu senti na hora! Mas foi muito bom, eles gosta-
ram de todo o sarau, das apresentações.
(EDUCANDA 8ª B)
91
Mesmo admirado e contagiado por tudo aquilo, não consegui me distanciar
do olhar de professor e perceber como aqueles alunos que antes mal falavam em
sala, não liam diante dos colegas, que no primeiro momento não se interessaram
pelo gênero, estavam ali em meio a umas duzentas pessoas! O momento merecia
comemoração!
Uma vez conseguido que os alunos gostassem do gênero, agora era preci-
so implementar a leitura interpretativa. Para tanto, comecei a fazer uso de meu
acervo levando cerca de 25 livros de poemas para as salas com o objetivo de que
em duplas escolhessem um poema e fizessem a leitura seguida de interpretação.
Utilizei o trabalho em duplas para que os mais tímidos se fortalecessem com a
presença do colega.
92 - RELATOS DA PRÁTICA
RELATOS DA PRÁTICA
tagonismo juvenil presente na escola! Ao fazer uma análise dos resultados obti-
dos sinto-me felicitado! Não imaginava que os alunos participantes fossem tão
longe – não que os descreditasse -, mas um primeiro diagnóstico revelava serem
tímidos, sem expressão corporal, desinteressados por poemas e não se sentiam
a vontade ao falar de sentimentos. Expor-se em público, então, nem se fala! In-
felizmente muitos ainda não se envolveram no projeto a ponto de participar e se
descobrirem possuidores de tais habilidades, mas em sua maioria são ouvintes e
apreciadores dos SARAUS.
93
Some-se a isso o olhar positivo dos envolvidos em relação à escola e à participação
no SARAU de alunos que não são mais da rede.
DRUMMOND, Carlos. Antologia Poética. 22ª ed. Rio de Janeiro: Record, 1987,196 p.
94 - RELATOS DA PRÁTICA
RELATOS DA PRÁTICA
20
Descobrindo e reconstruindo
história através da literatura 39
O homem lê desde sempre; lê todos os significantes que estão dispo-
níveis...
Somos leitores em tempo integral. Vivemos numa sociedade que exige a leitura.
Estamos diariamente lendo imagens, fotografias, letreiros, jornais, placas de rua,
sinais de trânsito, cartões, livros, rótulos, notas fiscais, documentos e outros. Não
lemos todos esses gêneros da mesma maneira. Há leituras para estudar e adquirir
conhecimento, prazer ou para obter informações. Utilizamos a leitura em vários
locais e com diversas finalidades.
Se isso não acontecer o leitor, nosso aluno, jovem adolescente, olha o texto
como símbolos gráficos, revira-os, nada encontra a não ser palavras e frases iso-
ladas. A leitura só é possível se o aluno com sua memória, habilidades e compe-
tências bem desenvolvida na escola, conseguir reconstituir o texto a partir das
próprias experiências, dando-lhe significado. Ler é mais do que decodificar as pa-
lavras. Através da leitura pode-se atribuir significados críticos às diversas formas de
pensamentos, idéias e textos que circulam no cotidiano, assim estabelecer relações
entre diferentes saberes, povos e culturas.
Os livros não são feitos para acreditarmos neles, mas para serem sub-
metidos às investigações. Diante de um livro não devemos nos pergun-
tar o que diz, mas o que quer dizer.”
(ECO, 1986)
96 - RELATOS DA PRÁTICA
RELATOS DA PRÁTICA
ANTES DA LEITURA:
DURANTE A LEITURA:
DEPOIS DA LEITURA:
97
Assim, pós-estudo e observações de práticas em sala de aula como coorde-
nadora e pensando nas estratégias do antes, durante e depois da leitura, do ler e
escrever compromisso de todas as áreas e tendo também como diagnóstico os
resultados da avaliação do SARESP, decidi desenvolver uma sequência didática
de leitura na área de História nas 4ª séries A e C, onde puséssemos em prática as
estratégias e que meus alunos construíssem as suas.
98 - RELATOS DA PRÁTICA
RELATOS DA PRÁTICA
Foram lidas outras bibliografias durante esse processo, porque à medida que
líamos formávamos a linha do tempo, que também estava no planejamento do pla-
no de ação. Iniciei a linha do tempo a partir do século XV (1400) com a leitura do
livro” Medo e Vitória nos Mares” de Janaína Amado. “A História dos Escravos”, de au-
toria Isabel Lustosa, “1808 Juvenil” de Laurentino Gomes, “Memória e Sociedade”
de Ecléia Bossi que traz relatos de memórias de muitos imigrantes, “Histórias de
Avô e Avó” de Arthur Nestrosvki também trazem relatos de memórias e “Serafina e
a criança que trabalha” de Jô Rezende. Líamos em capítulos, alguns trechos de rela-
tos Com a chegada dos livros iniciamos os procedimentos de leitura em capítulos
combinamos de ler nas aulas da disciplina de história relacionando ao conteúdo
trabalhado; A Industrialização no século XIX no Brasil, substituição da mão de
obra escrava e a chegada dos imigrantes. Houve momentos que a professora lia,
outros os alunos. À medida que líamos o capítulo, grifávamos o que estava presen-
te nas aulas de história: estabelecíamos relação de antes e depois do século XIX,
situações semelhantes do cotidiano europeu, situação dos escravos africanos antes
e pós a chegada da mão de obra branca, e hoje como está essa situação? Debates,
leituras de imagens, pesquisas, seminários e filmes e quando terminávamos o capí-
99
tulo procurávamos identificar o tema, ideia principal. Ao iniciarmos um capítulo
fazíamos a problematização, o mapeamento das hipóteses. Nesse momento anota-
va na lousa as falas dos alunos para posterior confirmação ou retificação. Muitas ve-
zes terminávamos essa etapa na outra aula, isso era bom porque estavam aguçados
para o próximo encontro com a leitura, já preparados para opinar. Desenvolvíamos
o resumo a cada três capítulos, esse tinha que passar por planejamento, rascunho
e socialização para a sala e mural da escola. Iniciei o primeiro no coletivo, ocorreu
tudo muito bem íamos formando o texto resumindo juntos, ilustramos as cenas e
fizemos a exposição. Nos próximos três capítulos resolvi por á prova se tinham en-
tendido o procedimento discutido para resumos escritos de textos; uma catástrofe,
poucos fizeram e nenhum havia compreendido bem o esquema para resumir; mais
pareciam cópias e na verdade eram. Conforme passava entre as carteiras percebia
as cópias e percebi também que deveria ter me posicionado como aluna para ser
escriba, mediadora naquele primeiro momento de produção de resumo. Interferi
demais finalizando o texto de acordo com as minhas expectativas. Solicitei que
quatro alunos lessem para a sala os resumos feitos por eles; a sala percebeu que
estavam como no livro, eles mesmos perceberam que não eram resumos.
escreviam e diziam que o filho não leu o capítulo conforme combinado em sala,
outros comentavam que o filho não para de falar da menina calabresa Fortunatella,
que o filho já havia lido todo o livro.
Embora a proposta fosse de leitura por capítulos, muitos alunos já o tinham lido
todo o livro sozinhos ou em companhia dos seus pais, conforme relato do mesmo em
reunião bimestral,” sempre está lendo o livro”,” me pergunta coisas que não sei res-
ponder sobre o livro”, alguns emprestaram ao irmão, primo e houve também alunos
que sempre quando íamos fazer a leitura diziam ter esquecido o livro em casa.
Ressalto que essas bibliografias, textos mesmo com uma diversidade de gêne-
ros, por si só, sem planejamento, sem intervenção de nada servem se não ensinar-
mos aos nossos alunos a lerem cada um com sua significância , a construírem suas
ferramentas que possibilitam, complementam o acesso ao conhecimento.
101
R f r nci s BIBLIOGR FIC s
ECO, Umberto. O nome da rosa. Rio de Janeiro: Record. 1986.
Ler e escrever: compromisso de todas as áreas. Organizado por Iara Conceição Bittencourt,
Jussara Vieira Souza, Neiva Otero, Paulo C. Guedes, Renita Klusener. Ed. UFRGS, 2006.
21
Arte, espaço e a criança27
INTRODUÇÃO
Percebemos diversas concepções equivocadas com relação às propostas de artes:
a organização do material e do espaço, o tempo para a realização da proposta, a
comanda apresentada, as aprendizagens das crianças e o destino das produções.
A PROPOSTA
Passamos por algumas etapas nesse processo:
Salientamos que nossos encontros tiveram três momentos que merecem ser
apontados: recusa, encantamento e reflexão.
27. Texto elaborado por Ana Carla Paiva, Maria Cristina O. M. Camargo, Silvana de Campos. Equipe Gestora da EMEB
Parque do Paraíso.
103
AS CRIANÇAS E A EXPLORAÇÃO
Sabemos, não é de hoje, que a criança se desenvolve pela a interação com o
meio, pela experiência com diversos materiais, pela exploração dos espaços. E segun-
do o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (1998, vol. 1, p. 21-22):
Outro aspecto relevante que precisa estar presente na prática do professor é ou-
vir e observar como as crianças se relacionam “com” e “nos” diferentes ambientes, de
modo que percebam suas necessidades e interesses demonstrados com o intuito de
realizar as modificações necessárias nestas propostas. Diante disso, temos professo-
res que já olham para as ações das crianças no espaço da escola tendo em vista a bus-
ca por estas respostas: quais são seus interesses, o que lhes provocam a curiosidade e
quais são suas necessidades. Infelizmente este olhar ainda não é de todos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Arte é ver, sentir, cheirar, provar...
(V.LOWENFELD E W. L. BRITTAIN, P. 17, 1970)
HOLM, Anna Marie. Baby-Art: os primeiros passos com a arte. São Paulo: Museu da Arte
Moderna, 2007.
105
22
A Leitura nos diferentes
âmbitos da escola 40
Ler é um hábito social. Não nascemos leitores; nos tornamos leitores por
convívio e por contato. Por isso, a oferta da leitura literária pelos pais e
professores, de forma amorosa, é fundamental para que a prática se tor-
ne agradável e contribua para o letramento das crianças, preparando-as
para momentos futuros em que a leitura, em seus múltipos suportes e
funções, vai demandar esforço e nem sempre será um prazer.28
Enquanto gestoras da EMEB Profª Vera de Almeida Santos, sempre procuramos prio-
rizar um trabalho que realmente garanta a qualidade na aprendizagem de nossos alunos
e pensamos em formas para inserir a família na vida escolar das crianças. Sabemos que
a não participação dos pais na vida escolar de seus filhos ocorre na maioria das vezes
pelo fato da incompatibilidade dos horários de trabalho, uma vez que a maioria dos pais
da nossa escola trabalham em empresas privadas. Justificamos estas informações com o
diagnóstico realizado para o PPP da escola.
Acreditamos que participar não se restringe apenas à presença dos pais na es-
cola, sendo assim procuramos formas de inseri-los num contexto onde possam con-
tribuir com ideias, sugestões, decisões, recados em agenda, conversas informais,
reuniões individuais, fortalecendo o vínculo família-escola. Pensando na valoriza-
ção da participação dos pais na escola como um bem para o aluno, fazendo-os par-
ceiros e colaboradores nas atividades desenvolvidas dentro da mesma e cientes de
que a formação leitora é um processo longo, que deve iniciar na primeira infância, de-
cidimos promover ações de leitura tentando sensibilizar os diversos segmentos da
escola e comunidade local em relação à leitura, conforme Kátia Lomba Brakling (2008)29:
Desta forma, destacamos alguns objetivos que permeiam esse nosso trabalho:
Na escola (...) a leitura é antes de mais nada um objeto de ensino. Para que se
transforme num objeto de aprendizagem, é necessário que tenha sentido do ponto
de vista do aluno, o que significa – entre outras coisas – que deve cumprir uma
função para a realização de um propósito que ele conhece e valoriza30
A avaliação desta proposta foi positiva mediante a reação dos pais, bem como
a participação dos mesmos neste processo.
30. LERNER, Delia. É possível ler na escola? Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário. Edição de
2002.
107
Leitura espontânea realizada pelos alunos
Na primeira reunião (de pais) do ano, os professores socializam com os pais esta
ação explicando os objetivos da mesma e orientando-os para que isso aconteça
de forma efetiva com todos os alunos. Na rotina semanal do professor esta ação é
realizada semanalmente, geralmente às sextas-feiras o aluno leva o livro para a casa
para que os pais ou um adulto leia para ele. Junto com o referido livro é enviado um
roteiro com orientações para a realização da leitura pelos pais.
Avaliamos que este é um dia de muita ansiedade e espera pelos alunos, uma
vez que esta ação acabou tendo duas vertentes: uma já esperada que é a leitura en-
quanto objeto de aprendizagem e a outra que é o livro, enquanto vínculo afetivo
entre a escola e a família.
Este diario é enviado juntamente com o livro para que os pais possam relatar a ex-
periência de leitura realizada com os filhos em casa. Como foi, qual a expectativa
para este momento por ambas as partes e tudo mais que os pais julgarem necessá-
rio registrar. Segue abaixo parte de um relato dado por uma mãe sobre a experiên-
cia de ler para o filho:
(...) Acho muito importante este projeto de leitura, pois estimula e in-
centiva a leitura dos pequenos desde cedo, sem contar que fortalece o
“(...) Foi uma experiência muito somativa, tanto como mãe, quanto
profissional, pois é encantador prender a atenção das crianças, sentir
o entusiasmo deles e a curiosidade para saberem o que se segue em
cada página. Me senti orgulhosa com o desenvolvimento escolar do
meu filho e espero poder participar ativamente do cotidiano e ativida-
des realizadas na escola
(ROSELI, MAMÃE DO ALUNO BRENO – FASE V).
109
Empréstimo de livros para os funcionários e comunidade
Podemos avaliar que tais ações têm como resultado a intensificação do incenti-
vo à leitura e a integração dos diversos setores da escola, mas que ainda, como todo
projeto, necessita de replanejamentos específicos, tais como a compra de novos títu-
los para diferentes faixas etárias e o fortalecendo do projeto de maneira mais signifi-
cativa, principalmente nos empréstimos de livros aos funcionários e pais.
23
O processo de alfabetização: ações que
fizeram a diferença 43
O mundo é do tamanho do conhecimento que temos dele. Alargar o
conhecimento, para fazer o mundo crescer, e apurar seu sabor, é tarefa
de seres humanos. É tarefa, por excelência, de educadores.31
31. RIOS, Terezinha Azeredo. Compreender e ensinar. Por uma docência da melhor qualidade. Cortez Editora. 3ª
edição, p.24.
111
Logo vimos um desafio ainda maior na nossa escola, pois temos sete salas
para as quais os professores estão designados para outras funções na educação, e
todos os anos recebemos na maioria das vezes professores novos que não são da
rede de ensino de Cajamar, muitas vezes chegam sem entender a concepção da
rede, passam pela formação continuada sobre o trabalho diversificado, recupera-
ção contínua, jogos, dentre outros, e logo vão embora, deixando muitas vezes o
trabalho realizado pela metade, não criando vínculos fortalecidos com os alunos
e causando lentidão no processo de aprendizagem. Por isso, era necessário inves-
tir nos acompanhamentos pedagógicos pontuais nos anos iniciais, nas formações
continuadas para toda a equipe escolar e investir no fortalecimento do grupo do-
cente, onde os professores “novos” pudessem contar com o auxílio também dos
colegas, ou seja, vendo os mesmos como pares avançados. Esses acompanhamen-
tos pedagógicos e formações eram uma meta não só para a equipe gestora, que já
realizava esse processo, mas sim tratava-se de apoio mais intensificado das assisten-
tes pedagógicas de alfabetização e da supervisão.
Estabeleceu-se então uma parceria ainda mais intensificada entre todos os en-
volvidos no processo de ensino e aprendizagem: professores, estagiárias, gestores,
supervisão, APs de alfabetização, iniciando um processo de reflexão diante dessa
situação: Que atividades deveríamos sistematizar ainda mais? Que ações, enquan-
to grupo, poderíamos estabelecer? Como? Quais as salas que seriam foco de for-
mações e acompanhamentos?
Foi nesse momento do conselho que decidimos de forma coletiva que todos
se envolveriam no processo de alfabetização valorizando a diversidade existente na
sala de aula, pois,
Todo esse processo foi monitorado, tanto pelos registros nas rotinas semanais,
como também por meio das visitas em sala de aula, realizadas pela gestão esco-
lar, supervisão e assistentes pedagógicos de alfabetização;
113
FORMAÇÕES INTERNAS NOS HTPCS com tematização da prática dos professores,
garantindo a troca de experiências, discussões e reflexões. Relatos orais e filma-
gens de algumas atividades sobre o trabalho diversificado e atuação diversificada
fizeram a equipe escolar refletir sobre as práticas em sala de aula;
PROJETO DE RECUPERAÇÃO PARALELA, que aconteceu nos dois períodos por um bi-
mestre (segundo bimestre), sendo trabalhadas as propostas discutidas nos HTPCs.
No entanto, no terceiro e quarto bimestres tive a recuperação paralela somente no
período da manhã, pois não tínhamos professores disponíveis na rede para o perí-
odo da tarde, por isso todos os alunos desse período participaram da recuperação
contínua em sala de aula. Em síntese, como nos diz Solé (2004, p. 53),
115
24
O Brasil no Planeta Terra33
Desde o segundo semestre de 2009 atuando como assessora pedagógica da EMEB
Eva Rosa de Oliveira Santos (antiga EMEB Bairro do Paraíso), venho desenvol-
vendo um trabalho visando ampliar a qualidade docente e melhorar a qualidade
do ensino-aprendizagem dos alunos. Em 2011, diante das conversas e do resultado
abaixo do esperado no mapeamento da área de Geografia, elaborei e desenvolvi
um projeto a fim de propor um trabalho diferenciado, onde os alunos pudessem
aprender de forma contextualizada e descontraída, onde fosse possível apresentar
aos professores o quanto é possível trabalhar esta área do conhecimento, aparen-
temente difícil de dominar, segundo relato dos mesmos, apoiando-se nas metas e
expectativas da rede e envolvendo as outras disciplinas, sendo:
EXPECTATIVAS DE GEOGRAFIA
• Utilizar a linguagem cartográfica para representar e interpretar informações;
• Saber indicar direção, distância e proporção;
• Construir conjuntos, atitudes que os possibilitem conhecer a organização, o
espaço geográfico e suas transformações;
• Analisar interações entre sociedade e natureza na organização do espaço
histórico e geográfico, envolvendo a cidade e o campo;
• Localizar-se, utilizando pontos de referência e direções.
EXPECTATIVAS DE HISTÓRIA
• Construir linhas do tempo para organizar cronologicamente os assuntos es-
tudados;
• Produzir textos de opinião baseados em argumentos;
• Conhecer a origem, a evolução das indústrias no Brasil (séculos XIX e XX).
Diante das expectativas das áreas e das etapas que selecionei, surgiram-me dúvidas como:
Onde aplicar determinado conteúdo? Há uma ordem coerente para aplicar o mesmo?
117
um trabalho que provoca interesse e curiosidade sobre a leitura desse
espaço. É possível aprender Geografia desde os primeiros ciclos do En-
sino Fundamental, mediante a leitura de autores brasileiros consagra-
dos (Jorge Amado, Érico Veríssimo, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa,
entre outros), cujas obras retratam diferentes paisagens do Brasil, em
seus aspectos sociais, culturais e naturais. Também as produções mu-
sicais, a fotografia e até mesmo o cinema são fontes que podem ser
utilizadas por professores e alunos para obter informações, comparar,
perguntar e inspirar-se para interpretar as paisagens e construir co-
nhecimentos sobre o espaço geográfico.
O projeto teve início no dia 18-08-2011. Iniciei a aula explicando para as crian-
ças que iríamos trocar experiências até o mês de dezembro e que nos encontraríamos
uma vez por semana. Expliquei o projeto na íntegra para eles e ressaltei que durante
o mesmo iria precisar muito deles com trocas de experiências, com críticas se não es-
tivessem gostando para que, juntos e na medida do possível, fizéssemos adaptações,
com participação ativa e com atividades que deveriam ser realizadas em casa.
Uma etapa marcante foi quando trabalhei com a música de Danilo Cayammi. Neste
dia a assessora do Aprender e Aprender esteve presente. A mesma não faz parte do grupo
da escola, porém tem uma experiência fantástica, podendo contribuir para que o projeto
tivesse seus objetivos alcançados. A atividade foi desenvolvida com a seguinte música:
119
eles que hoje iriam aprender sobre o Brasil através da música de Danilo Caymmi.
Durante as etapas, tivemos uma que foi marcante: “Seca no nordeste e transpo-
sição do rio São Francisco”. Tivemos a honra de ter a presença do assessor externo
explicando sobre a transposição do rio São Francisco, realizando com os alunos uma
experiência, usando como recurso garrafas PET, para explicar o que e como aconte-
ceria a transposição do rio São Francisco. As crianças participaram da aula oralmente.
Durante as etapas desenvolvidas os alunos apresentaram uma participação
ativa e significativa. A cada término da aula, questionávamos o que eles haviam
aprendido e retomávamos as etapas anteriores, construímos linhas do tempo, as-
sistimos DVDs com histórias das regiões brasileiras, construímos cartazes, pinta-
mos o mapa do Brasil no chão da escola, construímos linha do tempo, jogamos
dominó com as capitais brasileiras, todas estas etapas estavam previstas para que a
aprendizagem acontecesse de forma agradável.
25
O Pote Vazio
e a Cadeira do Dentista34
No início do segundo semestre do ano de 2011, a gestão, mais a supervisora da
escola EMEB Eva Rosa de Oliveira Santos, onde trabalho, me convidaram a de-
senvolver um trabalho na área de Língua Portuguesa envolvendo as estratégias de
leitura, devido ao baixo rendimento dos alunos, tanto na avaliação interna como
externa. O trabalho foi desenvolvido em parceria com a assessora pedagógica, a
supervisora, a A.P de comunicação e eu, “a professora da sala”.
Com a primeira sequência feita, utilizamos uma crônica de Carlos Eduardo No-
vaes, intitulada A Cadeira do Dentista. As crianças vivenciaram a leitura da imagem da
capa do livro, sugerindo possibilidades que poderiam estar contidas no texto que iriam
trabalhar e se surpreenderam ao confrontar suas hipóteses com o conteúdo do texto ori-
ginal, fazendo com que, durante as atividades propostas, os alunos buscassem informa-
ções implícitas e explícitas. Isso reforçou ainda mais nossos objetivos perante as dificul-
dades já detectadas nos diagnósticos.
Para a segunda sequência didática utilizei o livro O Pote Vazio, porque no momen-
to da escolha lembrei-me de uma formação da qual participei, do Projeto Estudar pra
Valer, um dos projetos pertencentes à rede de ensino do Município de Cajamar para a
34 autoria
121
área de Língua Portuguesa. Uma das formações ocorreu no centro de São Paulo, com
várias tendas com diferentes oficinas. Participei da oficina Contadores de História, onde
vivenciei o conto chinês A Semente da Verdade. A contadora tirou do baú uma blusa,
representando a vestimenta chinesa, e foi contando. Em dado momento, ela entregou
uma semente para cada participante. Lembro-me de que a semente era uma semente de
pêssego torrada. Utilizando somente estes recursos, foi tão significado e prazeroso que
ficou marcado em minha memória.
Ao escolher este livro relembrei de tudo que passei e socializei com a equipe gesto-
ra. Elas ficaram fascinadas e propuseram-me fazer o mesmo trabalho na escola.
A princípio seria uma dramatização simples, porém as ideias não paravam de surgir
e, a cada etapa, a empolgação crescia. Começamos a colocar adereços e o que deveria ser
um baú apenas acabou se transformando em três baús improvisados. Ficou completíssi-
ma a encenação, tendo vários recursos visuais.
Data marcada, sala preparada, transformada num verdadeiro palco teatral, iniciei a
aula explicando aos alunos que iríamos fazer uma viagem inesquecível. Enquanto falava
fui me caracterizando com o vestuário chinês, notei que neste momento as crianças já
começaram a notar que realmente teríamos um momento diferente. Conforme eu nar-
rava os fatos ia buscando os recursos visuais no baú.
A aceitação do corpo docente foi ótima quando socializei a prática nos HTPCs.
Despertamos nas professoras o desejo de realizar também em suas salas. E, o que foi
mais marcante para mim, é que todas as professoras me convidaram para fazer a dramati-
zação em suas salas, devido à empolgação ao fazer a encenação, vivenciada nos HPTCs.
Posso dizer que o trabalho não foi fácil, exigiu muita dedicação, mas os objetivos,
que eram que os alunos pegassem um texto e soubessem fazer a interpretação e compre-
ensão na leitura foram alcançados, pois é perceptível o avanço na aprendizagem desses
alunos. Além de uma melhora na autoestima e autonomia deles.
O resultado foi tão positivo que os gestores relataram que eu não poderia de deixar
de apresentar esta sequência de leitura na prosa pedagógica. Confesso que fiquei um
pouco receosa, pois nunca passei por uma experiência assim, pensando no número de
professores que poderiam ver a minha socialização. No dia da prosa o resultado também
foi positivo.
123
26
Projeto “Entre na Roda”35
Inicialmente emociono-me ao relembrar o trabalho realizado com os alunos da EJA na
EMEB Bairro do Paraíso, Polvilho, Cajamar, o qual acrescentou muito conhecimento
para a minha prática pedagógica. Foi meu primeiro contato com a modalidade EJA,
com muitos desafios.
Uma das práticas muito significativa realizada com os alunos da EJA priori-
zou o gênero poema, com a proposta dos textos Estatutos do Homem, de Thiago
de Melo, e a Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU), ressaltando a
questão dos direitos humanos. Iniciamos a conversa questionando os alunos se
já ouviram falar da declaração, poucos alunos tinham conhecimento a respeito.
Explicou-se então que cada artigo simboliza o acordo internacional, onde há ga-
rantido o direito de uma vida digna e feliz. Ressaltou-se que as pessoas têm direito
à cidadania, conhecer seus direitos e exigir que sejam exercidos a todo momento.
Questionamos os alunos se esses direitos são respeitados integralmente. Os alunos
ficaram atentos durante a leitura com a forma com que o poeta retrata os direitos,
realizando analogias com suas vivências.
125
mundo. Não basta somente realizar leituras com os alunos, mas é preciso seduzi-los
para o prazer de ler. Afinal, para se tornar verdadeiramente leitor é preciso gostar de
ler e infelizmente a escola ainda não tem seduzido os alunos para a leitura.
127
na EJA com o olhar nas passagens que a vida me proporcionou, contribuindo para
minha trajetória profissional. Continuo a procurar e descobrir as jóias no tempo,
inclusive as do presente, como ouvir novas e velhas histórias.
Agradeço muito o empenho dos professores que participaram do projeto e
que foram parceiros constantes, sempre auxiliando e respeitando os diferentes rit-
mos de aprendizagens dos alunos da EJA.
27
Estudo, reflexão, ação:
ingredientes imprescindéveis para
boa formação do profissional 48
A EMEB Vinícius Couto Silva foi inaugurada em Junho de 2008 no bairro do Polvi-
lho36, na cidade de Cajamar, com o objetivo de atender um número maior de crian-
ças de Educação Infantil, compreendendo desde crianças de um ano e dois meses à
crianças de seis anos de idade, fase esta ainda denominada Fase VI37.
36. Neste momento havia uma grande demanda de crianças desta faixa etária que ainda não havia sido atendidas
pelo município, por contar com um grande aumento da população, devido às condições empregatícias oferecidas
nesta região e a localização privilegiada que a mesma possui.
37. No ano de 2009 o município implantou o primeiro ano do Ensino Fundamental de nove anos, atendendo as
crianças desta faixa etária adequando-se à Deliberação CEE nº 73/2008, implementando as mudanças no ensino e
transformando a fase VI em 1ºano, com todas as adequações necessárias.
129
Formar uma gestão com um olhar mais apurado às necessidades dos alunos
era a mola propulsora para ampliar os estudos, discussões e debates, transforman-
do essa iniciativa em um projeto para sistematizar os acertos e ganhos obtidos com
esses momentos, o que, até então, não tinha uma pauta definida e era permeado
pela leitura de textos que traziam temas relacionados às nossas dificuldades no
acompanhamento do trabalho dos professores em sala de aula e questões de con-
cepções referentes à atuação do assessor pedagógico.
Nasce, então, a provocação para divulgar as práticas bem sucedidas nas escolas
com o evento “Prosa Pedagógica”38, difundido pela Diretoria de Educação de Caja-
mar, o que se torna um desafio. Engajadas no entusiasmo de contribuir com os de-
mais profissionais da rede, a gestão encara o desafio como uma meta a ser alcançada.
AVALIAÇÃO
A avaliação ocorre ao longo das reuniões, a partir dos pareceres (os quais serão
registrados nas sínteses dos encontros) expressos pelo trio durante estas, obser-
vação das práticas, no incentivo e qualificação dos profissionais oriundos do co-
tidiano escolar, impressões, registros orais e escritos, filmagem de depoimentos e
relatos dos envolvidos no projeto, tais como gestores e supervisão escolar.
MACEDO, L.; Competências e habilidades: Elementos para uma reflexão pedagógica. In:
SEMINÁRIO ENEM, 1999, São Paulo.
131
FREIRE, M.; Escola, grupo e democracia. Paixão de aprender, Porto Alegre, pg.30-37, 1992.
ARRUDA, L.; O desafio da convivência grupal no local de trabalho. Espaço Pedagógico,São
Paulo, 2004.
CORSI, E.;ORTIZ, C. Rotina da equipe gestora. Disponível em: <http:avisala.org.br> nov. 2010.
28
O projeto “movimento,
rolamentos e cambalhotas”40
O movimento é uma importante dimensão do desenvolvimento e da
cultura humana. As crianças se movimentam desde que nascem, adqui-
rindo cada vez maior controle sobre seu próprio corpo e se apropriando
cada vez mais das possibilidades de interação com o mundo.41
A unidade escolar E.M.E.B. Aline Cristina Santos de Paula atende 320 crianças de 1 a
7 anos divididas em 11 salas de Educação Infantil, sendo 6 salas com crianças de 1 a 3
anos, 5 salas com crianças de 4 e 5 anos e 4 salas do Ensino Fundamental (6 a 7 anos).
Assim que a proposta da formadora chegou até mim, em HTPC, fiquei super ten-
sa, senti muita insegurança para executar a sequência por achar que os alunos iriam se
machucar devido à faixa etária (dois anos), mas, lendo o livro proposto42, descobri que
nessa fase do desenvolvimento os alunos estão ativamente envolvidos na exploração e
na experimentação das capacidades motoras de seus corpos.
Depois de planejar, fui para a sala e iniciei a atividade com uma roda de conversa
com os alunos perguntando para eles se já haviam virado cambalhota sobre o colchão.
Algumas crianças responderam que sim, mas, na verdade, nem sabiam o que era. Ob-
servei que uma única aluna sabia do que eu estava falando, porque ela respondeu que já
tinha virado cambalhota na cama da mamãe e logo foi dizendo:
40. Relato elaborado pela professora Ana Paula de Moraes Brabo, da EMEB Aline Cristina Santos de Paula.
41. Autoria
42. Filgueiras Isabel Porto , “Psicomotricidade” – IESDE Brasil S.A 2010.
133
Após ouvir a aluna, expliquei como seria desenvolvida a atividade, fiz a exposição
virando uma cambalhota para os alunos observarem e fui explicando cada etapa. Em
seguida, fiz alguns combinados com eles. Pedi para que ficassem sentados aguardando
a sua vez que eu iria chamar um por um para que pudessem vivenciar a cambalhota e
assim que terminassem deveriam voltar ao seu lugar. Os demais alunos deveriam nesse
momento observar como fazer. As crianças ficaram super ansiosas para realizar a ativi-
dade proposta. Durante a atividade, elas batiam palmas, gritavam para o amigo – ‘Muito
bem!’, ‘Parabéns!’. No término da atividade, perguntei se eles gostaram. Todos respon-
deram que sim e que queriam fazer novamente. Combinei que em outro momento irí-
amos fazê-la.
Ao realizar esta atividade, pude observar que a maioria das crianças precisa real-
mente de momentos diversificados para alcançar o desenvolvimento proposto por nós
professores. Observei que, durante o desenvolvimento da sequência, os alunos, na hora
de dormir, ficavam tentando virar cambalhotas sobre o colchão; no pátio da escola e no
parque, ou seja, houve um despertar por parte das crianças na exploração dos movimen-
tos do corpo, criando desafios, ajustando suas habilidades para a realização da atividade.
Concluí que a proposta foi super interessante. O medo e a insegurança que tive no
primeiro momento foram amenizados. É notório que, após o estudo, leitura de textos,
o trabalho com a atividade ficou mais claro e eu me senti mais segura para elaborar e
desenvolver a sequência didática de cambalhota, com foco no movimento. Aprendi que
é possível realizar tais movimentos com segurança desde que seja bem planejado, pen-
sando sempre nas possibilidades das crianças e em sua faixa etária.
No meu ponto de vista, a proposta trazida para o eixo do movimento abriu para
nós, professores, novas possibilidades de propormos atividades que realmente auxiliem
no desenvolvimento dos pequenos, pois a criança, sozinha, não conseguirá desenvolver
todas as técnicas necessárias para ter um crescimento saudável e completo se não tiver a
ajuda de um professor que, por sua vez, deve estar sempre atento às etapas do desenvol-
vimento de cada criança, colocando-se como facilitador da aprendizagem.
29
Com asas ao amanhecer43
Se é praticando que se aprende a nadar.
Se é praticando que se aprende a trabalhar,
É praticando também que se aprende a ler e escrever
Vamos praticar para aprender
E aprender para praticar melhor
Vamos ler
Povo
Saúde
Metabala
Rádio”
(PAULO FREIRE. A IMPORTÂNCIA DO ATO DE LER)
135
pois a professora , em vez de utilizar-se de atividades mecânicas, como cópias ou
ditados para aprimorar a ortografia dos alunos, considerou de suma importância
ensiná-los a consultar essa grande lista de palavras, dando-lhes autonomia no uso
desse portador.
Para que realmente ocorra avanços, é preciso que todas as crianças e
jovens, além de estarem na escola, aprendam. Ensinar a todos signifi-
ca aprender a lidar com a diversidade. Sabemos que essa diversidade
pressupõe diferenças individuais, sociais, culturais, étnicas, físicas,
de gênero, de interesse, de aprendizagem etc... é preciso que a escola
trabalhe numa perspectiva de respeito à diversidade, entendida como
identidade de pessoas e grupos. No entanto, é necessário também
ultrapassar a diversidade naquilo que ela tem de entrave ao sucesso
escolar. É nessa direção que procuramos caminhar... o trabalho diver-
sificado tem por objetivo atender às diferenças de aprendizagem dos
alunos. Geralmente, entende-se por trabalho diversificado aquele em
que o(a) professor(a) oferece diferentes atividades a diferentes crian-
ças ou grupos de crianças. Nossa proposta amplia esse conceito. Para
atender à heterogeneidade da classe, propomos um trabalho diversi-
ficado que se constitui de duas formas inter-relacionadas, mas especí-
ficas de ação: a atuação diversificada do(a) professor(a) no desenvol-
vimento de uma mesma atividade por todas as crianças e a oferta de
atividades diversificadas para diferentes alunos ou grupos.
(PROJETO ESTUDAR PRA VALER! LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO NOS
ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL - MÓDULO INTRODUTÓRIO,
2005, P 72 E 73.)
137
sive daquela criança com dificuldades.... Descobrimos, a duras penas,
que a inclusão apenas apresenta um momento do processo e que ela
se tornará efetiva quando a nossa criança deficiente puder senti-se
mais integrada ao grupo ao qual pertence. (p.167)
O que eu mais gostei de aprender este ano foi de ler. Eu gosto de ler
livros, revistas da CHC sobre as histórias do REX. Gosto de matemáti-
ca, também gosto de fazer continhas estou fazendo certinho.” Qual a
diferença que o aprender a ler e a escrever fez na sua vida? – “Agora
posso ler a lousa o que a professora escreve, leio as placas na rua e
também consigo escrever, sei contar, faço continhas e uso quando vou
no mercado para comprar as coisas e o dicionário para conhecer as pa-
lavras.” Eu tô gostando de escrever mais agora porque a professora tá
me ensinando. Ela me ajudou a ficar melhor.
Ler e escrever são tarefas da escola, questões para todas as áreas, uma
vez que são habilidades indispensáveis para a formação de um estu-
dante, que é responsabilidade da escola. Ensinar é dar condições ao
aluno para que ele se aproprie do conhecimento historicamente cons-
truído e se insira nessa construção como produtor de conhecimento.
Ensinar é ensinar a ler para que o aluno se torne capaz dessa apropria-
ção, pois o conhecimento acumulado está escrito em livros, revistas,
jornais, relatórios, arquivos. Ensinar é ensinar a escrever porque a re-
flexão sobre a produção de conhecimento se expressa por escrito. (Ler
e escrever – Compromisso de todas as áreas- p.15)
PERRENOUD, Philippe,THURLER, Monica Gatther, MACEDO Lino de, MACHADO, Nilson José,
ALLESSANDRINI,Cristina Dias – As Competências para ensinar no século XXI – A formação
dos professores e o desafio da avaliação –pág 167
NEVES, Iara Conceição Bitencourt, SOUZA, Jusamara Vieira, SCHAFFER, Neiva Otero, GUEDES,
Paulo Coimbra, KLUSENER< Renite – Ler e escrever – Compromisso de todas as áreas- pág 15
139
30
Quando ensino, aprendo
e quando aprendo, ensino 56
Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que-fazeres
se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo bus-
cando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque
indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando intervenho,
intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não
conheço e comunicar ou anunciar a novidade.
(PAULO FREIRE. PEDAGOGIA DA AUTONOMIA: SABERES NECESSÁRIOS
À PRÁTICA EDUCATIVA– 1996)
O projeto “Olhos voltados para o mundo” foi proposto há alguns anos pelo Ins-
tituto Avisa Lá, o qual realizava assessoria na rede municipal de Cajamar. Em 2010,
este trabalho foi resgatado pela Educação Infantil através dos assessores pedagó-
gicos das unidades escolares junto com os assistentes pedagógicos da Diretoria de
Educação, que analisaram e discutiram o projeto, avaliando que seria interessan-
te trazê-lo novamente à rede, por se tratar de um trabalho apropriado à Educação
Infantil. O projeto oferece a possibilidade de muitos olhares para o mundo: o da
leitura, o da arte e o da ciência, integrando-os numa perspectiva lúdica do conhe-
cimento. Integra espaços para brincar com espaços de aprendizagem. A criança,
ao precisar confeccionar cenários para a brincadeira que correspondam aos ce-
nários reais estudados, além de ter seu faz-de-conta alimentado, com a produção
de outros contextos para a sua realização, terá a possibilidade de, na repetição e
141
Com o projeto, as crianças aprendem a manifestar suas opiniões, idéias e
pensamentos em rodas de conversa sobre o assunto estudado; a falar sobre o
que aprenderam, estabelecendo relações entre os modos de ser, viver e traba-
lhar de outras culturas e a sua própria; a participar de situações de leitura com
o propósito de saber mais sobre o assunto estudado, tendo acesso, por meio do
professor, a diversos tipos de textos, desde a literatura até os textos informativos,
jornais, revistas, etc.; e a incorporar alguns elementos de diferentes culturas em
suas brincadeiras. Um exemplo bem simples, porém elucidativo, foi o trabalho
realizado por uma fase V sobre o Japão, em que o produto final era brincar de
casinha japonesa. Para tal, as crianças estudaram a cultura e outros aspectos do
país, criaram cenários e utensílios, relacionaram “jeitos” da cultura japonesa e
brasileira, passando por um rico processo de aquisição de conhecimentos para
brincar com propriedade.
Todo este trabalho foi apresentado aos pais através de uma exposição inte-
rativa, em que as crianças e a professora mostraram o que aprenderam através
dos registros do desenvolvimento do trabalho, dos cenários construídos, da or-
ganização dos objetos e da brincadeira.
31
Projeto “leitura”45
Livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas. Os
livros só mudam as pessoas.
(MÁRIO QUINTANA)
45
143
Vale ressaltar que os alunos tiveram a liberdade e autonomia para apreciar outros
gêneros trocando os livros entre eles, não deixando de ler o que foi combinado no grupo.
Após explicar o projeto aos pais, iniciamos a busca pelos livros. No início o
número de alunos comprando os títulos sugeridos foi desanimador, mas não desis-
timos. Incentivamos o empréstimo e os professores também, os estimulava através
de rodas de discussão, aguçando a curiosidade de todos.
Hoje o projeto tomou força e o interesse dos alunos é muito maior. Ainda
temos alunos que não adquirem livros, por isso continuamos com o incentivo ao
empréstimo.
Logo me identifiquei com o projeto, por acreditar que a leitura abre muitas
portas, também por acreditar que o desenvolvimento da leitura é o principal ca-
minho para se chegar ao conhecimento. A leitura, dentre inumeráveis benefícios,
apresenta lugares nunca visitados, é sempre desafiadora, abre caminhos, amplia os
horizontes, desenvolve a fluência, a eloquência, melhora a escrita, enfim, a leitura
é primordial na formação de um cidadão informado, crítico e autônomo.
Cada título escolhido leva o aluno a conhecer um pouco mais sobre outras
culturas. É também bastante ilustrativo, o que garante que esses novos leitores, que
ainda estão tomando gosto pela prática de ler, não sejam desmotivados.
A nossa ação para adesão deste projeto começa logo no início do ano, quando
informamos os pais através de avisos sobre como funciona o projeto, qual o papel
da família no incentivo à leitura, qual o valor que a equipe dá à leitura e por que, a
145
lista de títulos que a família pode estar adquirindo e dicas de onde podem ser en-
contrados. Solicitamos a leitura de um título por bimestre, para os pais de alunos
que só conseguem adquirir um título; instruímo-los a trocar com outros colegas
nos bimestres subsequentes.
A maioria dos pais realmente abraçou essa causa, pois entenderam a impor-
tância do incentivo à leitura, ainda mais nessa faixa etária, que a autonomia está em
desenvolvimento. Alguns relataram que estipularam um horário para que lessem
em casa, até mesmo outros títulos do projeto e além dele.
O projeto apresenta etapas como: roda de apreciação com foco no livro (qual
parte o aluno está lendo, quais descobertas foi possível obter até o momento, em
qual momento se viram mais presos à leitura, comentários sobre quais partes não
gostaram muito e por que), troca de experiências em grupo com integrantes que op-
taram pelo mesmo título e leitura compartilhada. Durante o desenvolvimento das
etapas do projeto, percebi os alunos mais envolvidos, conversando sobre os títulos,
melhorando a compreensão de textos nas aulas, lendo mais e com melhor fluência.
32
Família e escola formam uma equipe no
processo pedagógico 58
Tudo o que a gente puder fazer no sentido de convocar os que vivem
em torno da escola, e dentro da escola, no sentido de participarem,
de tomarem um pouco o destino da escola na mão, também. Tudo o
que a gente puder fazer nesse sentido é pouco ainda, considerando o
trabalho imenso que se põe diante de nós, que é o de assumir esse país
democraticamente.
(PAULO FREIRE)
Uma das ações promovidas por essa escola foi a elaboração de um jornal escolar, o
qual tem por objetivo: divulgar as ações desenvolvidas dentro e fora do espaço escolar;
esclarecer a comunidade sobre a proposta político-pedagógica da escola; socializar os tra-
balhos desenvolvidos pelos professores e alunos; favorecer com que as famílias se sintam
parte integrante do processo de desenvolvimento das crianças.
Sabemos que, muitas vezes, a causa da abstenção dos pais na vida escolar dos
filhos passa pelos seus horários de trabalho inflexíveis e, acompanhar o percurso
escolar do aluno, torna-se bastante difícil. A estas circunstâncias, para ratificarmos
o diagnóstico e para concretizarmos o trabalho desenvolvido, realizamos visitas à
casa dos alunos com o intuito de identificarmos, junto ao ambiente familiar, as ra-
ízes das dificuldades de aprendizagem do aluno, buscar maior parceria dos pais no
processo de ensino e aprendizagem dos alunos, esclarecer os pais sobre a metodo-
logia de ensino adotada pela escola, suas características e suas atividades, compre-
ender melhor as condições de vida da família e ajustar a metodologia educacional
a essa realidade.
Depois dessa ação, diretamente ligada à família, a equipe escolar refletiu so-
bre a necessidade de repensarmos e construir uma proposta curricular que de fato
atue de maneira mais significativa e integrada. Mas, para isso, precisamos efetivar
ações capazes de desenvolver saberes, garantir aprendizagens que favoreçam com
que as pessoas se tornem mais comprometidas com as próprias escolhas e com o
desenvolvimento de suas comunidades e de seu país. Além disso, é preciso cons-
truir consensos que garantam o bem comum, este entendido como um projeto
coletivo, que cuide do desenvolvimento e da aprendizagem de cada um e de todas
as pessoas envolvidas.
1ª edição 2011.
33
Experimentando com
os materiais não estruturados 58
Sabemos que a primeira fase da Educação Infantil está marcada por um período
em que as crianças estão se desenvolvendo rapidamente a partir das experiências
que são possibilitadas a elas.
A experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca,
a cada dia se passam muitas coisas, porém, ao mesmo tempo, quase
nada nos acontece. Dir-se-ia que tudo o que se passa está organizado
para que nada aconteça.
(BENJAMIM. 1991:111)
(...) os objetos que as rodeiam começam a ser para elas uma oportuni-
dade de movimentos que não tem muito a ver com a sua estrutura. Ela
os atira ao chão, observando o seu desaparecimento. Tendo aprendido
a agarrá-los, desloca-os com força, como para exercitar os olhos a en-
contrá-los em cada nova posição. Se eles tem partes que se entrecho-
cam, ela não para de reproduzir o som percebido, agitando-os de novo.
(WALLON, 1994:148)
151
A caixa com os materiais não estruturados deve ser sempre modificada, sempre eli-
minando e acrescentando um novo objeto, para que haja uma novidade. Percebe-se que
a organização do espaço com a disposição planejada dos materiais, favorece com que as
crianças brinquem com materiais, sem precisar da intervenção direta do adulto, o qual
passa atuar como facilitador da interação das crianças com o objeto.
Para que possamos evidenciar ainda mais como as crianças se relacionam com
estes objetos procuramos sempre filmar as crianças nestas atividades de exploração, e
assim saber como está sendo para cada um este momento, visto que conforme o de-
senvolvimento existe uma investigação diferente da criança. Ao analisarmos os vídeos
muitas são as reações que percebemos nas crianças: algumas ficam um tempo muito
significativo envolvidas com um mesmo material; outras necessitam trocar várias vezes
de objeto, experimentando todos; algumas crianças vão sentindo as sensações que os
objetos produzem no corpo; as crianças maiores começam criar enredos de brincadeiras
através dos objetos. Enfim inúmeras são as possibilidades que estes objetos trazem.
pas, aviões, em que a criança passa a fazer uma exploração objetiva diante dos objetos,
trazendo e construindo a realidade em que vivem através da brincadeira.
Por acreditar que esta atividade é uma das mais completas para a faixa etária com
a qual trabalhamos, estamos investindo nesta proposta com os professores, visto que
alguns já identificam e outros necessitam das intervenções, no sentido de acreditar nesta
atividade e para que este trabalho possa fluir com mais qualidade, assim formações nos
HTPCs, trocas de experiências e filmagens das crianças nestas atividades, estão sendo
vivenciadas aqui na nossa escola, para que este trabalho seja ainda mais efetivo.
É importante considerar ainda que, logo que iniciamos o trabalho nesta escola,
EMEB “Marcus Vinicius”, recém-inaugurada, iniciou-se com um grupo de professores
com pouca experiência na educação infantil, principalmente com a faixa etária de 1 a 3
anos, que junto à gestão da escola acreditou ser necessário, aprimorar conhecimentos
e investir em formações direcionadas a esta faixa etária, aprofundando nossos conhe-
cimentos, com relação à organização dos tempos e da rotina na escola, toda esta busca
trouxe muitas reflexões e embasamento, para o nosso trabalho, a possibilidade deste tra-
balho com materiais não estruturados, foi uma delas, que foi sendo reafirmada, eviden-
ciando o quanto é necessária para o desenvolvimento de trabalho com esta faixa etária.
Destaco também que a equipe de trabalho desta escola, tanto os professores como
os monitores educacionais, estão sempre buscando novas aprendizagens e possibilida-
des de trabalho, procurando, trazer sempre o melhor para nossos alunos, acreditamos
que é nesta busca constante de aprimoramento, que se fortalece o trabalho, as conquis-
tas e a prática em busca de uma escola de qualidade, nos quais todos os envolvidos (alu-
nos, professores, funcionário e pais) estejam satisfeitos com os resultados obtidos.
MAHONEY, Abigail Alvarenga; ALMEIDA, Laurinda Ramalho, (org.) Psicologia Educação Henry
Wallon. São Paulo: Loyola. 2000. p.32.
153
34
34 - Faz de conta
na educação infantil 58
Assim, a brincadeira é cada vez mais entendida como atividade que, além de
promover o desenvolvimento global das crianças, onde podem aprendem a ser, fa-
zer, viver e conviver em comunidade, também incentiva a interação entre os pares, a
resolução construtiva de conflitos, uma vez que juntas decidem com o que brincar,
como brincar, a função de cada uma nessa brincadeira. Através da conversa resolvem
seus conflitos e, caso não consigam nesse momento, o professor pode intervir, mas
46. Doutora em Psicologia pela Universidade de Brasília (2006), Mestre em Educação pela Universidade de Brasília
(1994), Gaduada em Pedagogia (1986) e Graduada em Letras (1992), ambas pela Universidade de Brasília. Texto
retirado da internet Brincadeira e Desenvolvimento Infantil: um olhar sociocultural construtivista”.
47. Brasil, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular
Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998. Volume 1: Introdução; Volume 2: Formação Pessoal e
Social; Volume 3: Conhecimento de Mundo.
deixando que as crianças se resolvam. Elas passam a pensar sobre suas ações nas brin-
cadeiras, sobre o que falam e sentem, não só para que os outros possam compreendê-
-las, mas também para que continuem participando das brincadeiras.
(...) está intimamente ligada ao símbolo, uma vez que por meio dele, a
criança representa ações, pessoas ou objetos, pois estes trazem como
temática para essa brincadeira o seu cotidiano (contexto familiar e es-
colar) de uma forma diferente de brincar com assuntos fictícios, con-
tos de fadas ou personagens de televisão (p.76).
Neste sentido, ele diz que o pensamento da criança pequena não é suficientemen-
te preciso e maleável para comunicar um conjunto de ideias, então o símbolo assume a
função de mediador, dando oportunidade à criança de expressar seu pensamento.
Após essas considerações, vamos falar sobre a prática em sala de aula, onde
deve ser oportunizado às crianças muitos momentos de brincar: planejados, pen-
sados sobre o que as crianças vão aprender, em que contexto social elas poderão
utilizar tais aprendizados, afinal, é através do brincar que a criança constrói sua
experiência de se relacionar com o mundo de maneira ativa. Em uma brincadeira
qualquer, ela pode optar por brincar ou não, o que é característica importante da
brincadeira, pois oportuniza o desenvolvimento da autonomia, criatividade e res-
ponsabilidade quanto a suas próprias ações.
155
HTPC na escola, e nos encontros na Diretoria de Educação de Cajamar, resolve-
mos (professoras, gestão, alunos e pais) confeccionar novos kits, com diferentes
desafios, kits de faz de conta como: cabeleireiro, médico, escritório, matemático,
fantasias, casinha, pizzaria, jogos de montar, dentro outros, com o combinado de
serem utilizados todos os dias, por mais ou menos 30 minutos, criando ambientes
planejados às vezes na sala de aula, às vezes em outras salas, fazendo rodízio, no
pátio, no parque. Queríamos inovar, queríamos um kit com o qual os alunos pu-
dessem realmente explorar sem muitas intervenções, usando sua criatividade, e foi
durante uma troca de experiência de professoras em uma formação sobre Wallon
que vimos, através de um vídeo, alunos de 03 a 06 anos brincando com um kit
de materiais não estruturados. No mesmo momento nos olhamos (professores da
escola), mostrando o interesse em confeccionar. A cada imagem mais ideias sur-
giam sobre diferentes materiais para compor esse kit. Sentamos, discutimos o que
poderia ser comprado e o que poderia ser confeccionado com sucata e todo dia
uma professora trazia uma nova ideia para ampliar e diversificar esse kit. Assim foi
“nascendo” nosso kit, que pode ser comparado com o conhecimento, nunca está
completo, sempre é possível buscar mais.
Quanto aos pontos negativos, seria muito interessante que as crianças passassem a
participar da confecção de alguns materiais, mas ainda podemos fazer isso e nós vamos.
É fundamental que o professor mostre aos alunos que o faz de conta implica
em negociação. Para brincar com outra criança sobre um mesmo tema, a criança
precisa de um acordo quanto aos significados implícitos nos papéis e ações, caso
contrário a brincadeira não ocorrerá em grupo. Sendo assim, as transformações re-
alizadas sobre os objetos precisam ser acompanhadas pelos parceiros e, para fazer
parte da brincadeira, deve haver a aceitação dos papéis e/ou formas de negociação.
Cabe ao professor também, como adulto mais experiente, estimular brincadeiras,
ordenar o espaço interno e externo da escola, facilitar a disposição dos brinquedos,
mobiliário e os demais elementos da sala de aula. Outras formas de intervenção
podem ser propostas visando incitar as crianças a desenvolverem brincadeira nesta
ou naquela direção, mas só como incitações, nunca obrigação, deixando-as toma-
rem a decisão de se engajarem na atividade.
dado respeitando sua brincadeira e ritmo. Sem dúvida, esta forma de intervenção é
delicada, por ser difícil o adulto participar da brincadeira sem destruí-la, é preciso
muita sensibilidade, habilidade e um bom nível de observação para participar de for-
ma positiva. Para isso o planejamento do brincar é fundamental, pois a partir dele o
professor poderá direcionar o seu olhar em relação às propostas e aos objetivos, ante-
cipando algumas possibilidades de ações das crianças e também de intervenções suas.
Também não deve ser entendido esse momento como a mudança de tudo o
que fazemos, mas a mudança do que pode ser melhorado, sempre apostando numa
coisa chamada ‘diálogo’. Essa palavra está desgastada, por ser muita falada, mas
pouco usada, principalmente na educação. Ela vem do grego dialogos, que quer
dizer “entendimento por meio da conversa”. Essa é uma expressão muito bonita. É
saber ouvir o outro, para elaborar algo coletivo, em comum. Isso não é brincadeira.
Numa sala com mais de 30 alunos, o diálogo é um processo que pode se tornar
muito trabalhoso, mas que também é fantástico quando bem sucedido. A criação
das condições necessárias para que o diálogo aconteça é fundamental. O ambiente
escolar tem de cultuar isso e o aluno tem de ser visto como um participante impor-
tante do processo de ensino e aprendizagem.
157
35
Ler tem um porquê
A problemática apresentada pela formação do leitor, longe de ser espe-
cífica de determinadas séries, é comum a toda a instituição escolar. O
desafio de dar sentido à leitura tem, então, uma dimensão institucio-
nal e, se essa dimensão é assumida, se a instituição como tal se encarre-
ga da análise do problema, se seus integrantes em conjunto elaboram e
levam à prática projetos direcionados a enfrentá-lo, começa a se tornar
possível encurtar a distância entre os propósitos e a realidade.49
Precisamos ter cuidado para que a escola não se preocupe apenas com a conquis-
ta do código e com o decifrar palavras, mas que se preocupe, principalmente, com que
os alunos façam da leitura um prazer, que conheçam e façam deste conhecimento um
sentido para a vida. Sabemos que as crianças, desde o nascimento, desenvolvem-se nas
interações com as pessoas de seu convívio social, entrando em contato com seus valores,
crenças e costumes.
Neste processo e, partindo da premissa de que o grau de letramento da criança
depende das experiências compartilhadas com adultos, é preciso que se invista no pen-
samento de que ler se ensina e que se ensina com bons modelos e boas práticas. São as
relações da criança com o objeto-livro, da criança com outra criança e/ou adulto que se
fazem presentes no ato de ler que trarão grandes contribuições à formação do leitor.
BAÚ LITERÁRIO: Este Baú de Livros com gêneros diversos circula nas salas de
aula uma vez por semana, conforme cronograma pré-estabelecido pela gestão.
O acervo é renovado bimestralmente com o mesmo critério: da diversificação e
dos gêneros e portadores. A cada renovação os livros são apresentados aos alu-
nos para que apreciem e possam reconhecê-los no momento da escolha. Estes
momentos de leitura acontecem para o professor, uma vez por semana após ob-
servar o interesse dos alunos por algum livro ou em situações onde é proposto
que os alunos leiam os livros, mesmo que de forma não convencional para que
antecipem significados de um texto escrito a partir de imagens e ilustrações que
acompanham, após recontam aos colegas e professora.
159
nos recorrer posteriormente para lembrar algo que precisam pesquisar, estudar
e até mesmo se divertir, podendo conter nesta pasta
PROJETO TRILHAS: Este projeto acontece tanto nas fases IV e V como nos primeiros
anos do Ensino Fundamental com gêneros: História de Animais, Histórias Clássicas,
História com engano, História com acumulação, História com Cartas a serem apro-
fundadas. “Este projeto é uma iniciativa do Programa Crer para Ver, da Natura Cos-
méticos, que envolve um conjunto de materiais elaborados para instrumentalizar e
apoiar o trabalho docente no campo da leitura, escrita e oralidade, com crianças de
4 a 6 anos, com o objetivo de inseri-las no mundo letrado”. Desenvolver as compe-
tências linguísticas (oral e escrita), conversar sobre as histórias, falar de seus pon-
tos de vista compartilhar dúvidas e descobertas são possibilidades que as crianças
conquistam como leitoras antes mesmo de saberem ler, fazendo da leitura fonte de
conhecimento, ampliando seu universo cultural.
161
As práticas de leituras destacadas pela EMEB Ester Catarine Lozano são si-
tuações de leitura planejadas para que se efetive o ler para aprender, para signifi-
car e encantar de forma a atender as necessidades de cada aluno, nos momentos
de leitura feita por eles mesmos com o objetivo de melhorar sua fluência, lendo
em todas as áreas, emprestando livros, recontando, indicando leituras e rodas de
conversa para falar sobre a leitura, é mágico este encontro, esta descoberta de dife-
rentes portadores e leitores. São planejados também pelos gestores, espaços com
livros, revistas e jornais para manuseio, possibilitando descobertas aos que circu-
lam pelos espaços da escola.
Temos como meta, que o ato de ler na escola seja luz refletida para irradiar o
hábito da leitura para a vida de todos os envolvidos. Estamos dando os primeiros
passos na direção desta tão valiosa conquista, a de formar leitores.
36
Brincar é preciso! 50
Sabemos que as crianças são mestres em transformar objetos, que exploram, en-
cantam-se, divertem-se e dão vida a objetos sem utilidade, transformando-os em
brinquedos inventivos. Segundo Adriana Klisys “quando a criança tem à disposição
uma variedade de materiais, a capacidade de inventar é valorizada”, portanto cabe a
nós, educadores, criar oportunidades para que os pequenos possam inventar, ima-
ginar e criar seus próprios brinquedos. Diante desta premissa, resolvemos organi-
zar o “kit de objetos não estruturados”.
Com o apoio das gestoras, montamos um kit com sucatas industriais, mate-
riais que permitem diferentes utilizações e classificados, segundo Leontiev, como
materiais de “largo alcance”, por oferecerem a possibilidade de mobilizar as mais
variadas ações, durante as quais as crianças podem atribuir diversos significados,
ao contrário dos brinquedos industrializados como bonecas e panelinhas. Orga-
nizamos o kit com objetos de utilidades domésticas, como: varais de vários tipos,
prendedores de roupa, tecidos coloridos, cestas, porta-sutiã, tampinhas de garra-
fa pet, pratos, colher de pau, potes plásticos (com e sem tampa), caixas encapa-
das com papéis coloridos (vários tamanhos), carretéis de papelão, canos de PVC,
conduítes, lã, tapete de EVA (alfabeto), tambores encapados, caixotes de madeira,
pneu, etc.
163
livremente para dar vida aos enredos por elas inventados”. Para esclarecer melhor essa situa-
ção, pensemos em uma criança brincando com um pote e uma colher de pau. Esses ob-
jetos no armário de uma casa são apenas utensílios domésticos para cozinhar. O que os
torna brinquedos nas mãos das crianças é o seu uso e transformação, ou seja, um mesmo
brinquedo pode ser em um momento uma bateria, em outro, um instrumento de um
grupo de pagode, e, em outro, um tambor dos africanos. Neste caso, as crianças em
ritmo africano, tocavam e cantavam, relacionando com a Cultura Africana estudada pelo
grupo no 1º semestre. As crianças são capazes de modificar o significado dos objetos
durante a brincadeira e transformá-los em inúmeras “coisas” porque possuem gestos
imaginários. Por isso mesmo elas devem ter sua criatividade incentivada e motivada per-
manentemente.
Vale lembrar que a brincadeira deve ser observada pelo professor, pois sa-
bemos que podem ocorrer conflitos, como disputa pelos materiais, pelo próprio
espaço e que estes devem ser mediados através das relações entre as crianças;
165
uma proposta interessante e desafiadora para as crianças. É preciso garantir espaço
para revisitar o que foi construído e possibilitar a interação entre crianças de idades
diferentes, ou seja, trabalhar com pares mais experientes, pois, segundo Vygotsky,
elas aprendem através da interação e de modelos. Propiciando momentos assim,
estaremos viabilizando a troca de saberes e de idéias, o trabalho em parceria e, aci-
ma de tudo, a observação das ações umas das outras, o que gera o aprendizado. É
muito interessante observar como os maiores adoram “ensinar” os menores... Eles
orientam como devem usar os objetos, “usam-nos” como personagens da própria
brincadeira, transformando-os em filhinhos, alunos, etc. É uma troca muito rica!
Mahoney, Abigail Alvarenga; Laurinda Ramalho de (org.), Henri Wallon, Psicologia e Educação-
Edições Loyola. Local e data
WAISKOP, Gisela. O Brinquedo como objeto cultural. Revista Pátio-Educação Infantil. Ano V,
Nº 15, Nov.2007 / Fev.2008.
37
Olhando, sentindo e conversando com os
espaços da escola64
Buscando uma perspectiva de sucesso para o desenvolvimento e apren-
dizagem do educando no contexto da educação infantil o espaço físico
torna-se um elemento indispensável a ser observado. A organização
deste espaço deve ser pensada tendo como principio oferecer um lugar
acolhedor e prazeroso para a criança, isto é, um lugar onde as crianças
possam brincar, criar e recriar suas brincadeiras sentindo-se assim esti-
muladas e independentes.52
O termo espaço tem diversas concepções, sendo que da sua definição e sentido
ocupam-se diversas áreas: filosofia, sociologia, arquitetura, pedagogia, etc. De
maneira geral o termo espaço é conceituado como uma “extensão indefinida,
meio sem limites que contém todas as extensões finitas, parte dessa extensão que
ocupa cada corpo”. Muitas vezes os adultos abstraem o espaço como um volume,
uma caixa que até se poderia encher. No entanto, é necessário compreendê-lo
enquanto um espaço onde a vida acontece e se desenvolve num conjunto com-
pleto. Para as crianças, o espaço se constitui no que os adultos chamam em espa-
ço equipado, com tudo o que o compõe: os móveis, as cores, odores, objetos, as
sensações, e principalmente o próprio corpo, o qual favorece ações e descobertas
diversas. (FORMEIRO, 1998)
167
cheiros que ali circulam, falam com a forma que os objetos são neles inseridos,
dispostos, falam através da maneira como circulamos e nos relacionamos nele.
É claro que a busca pela superação do modelo escolar atual não é simples, pois esta
é fruto de uma tradição secular e encontra-se enraizado dentro de cada um de nós. Serão
necessárias mudanças profundas, tanto na concepção de infância quanto no modelo de
sociedade atual, já que os traços burocráticos, hierárquicos e de relações de poder pró-
prios da escola; são também o reflexo das relações que se estabelecem nesta sociedade.
Contudo, é importante acreditarmos que tais mudanças podem partir de microestrutu-
ras como a escola.
Na EMEB Ester Catarine Lozano, desde 2004 estamos nos desafiando a pen-
sar em como construir juntos, um ambiente mais seguro, saudável e que eduque
a todos que por ali passam, tendo como princípio que para nos sentirmos bem
precisamos estar num local que seja pensado em diferentes formas de cuidados,
proporcionando maneiras agradáveis de sentir, viver, interagir, aprender.
169
refletem no funcionamento de cada um dos espaços de aprendizagem da escola.
Costumamos dizer que a escola tem a cara da sua Gestão, e isto é real, pois os
espaços são ou não são materializados por decisões que estes tomam diariamente.
Abordarei adiante nossos passos nesta viajem desde 2004 até 2011, no que se
refere ao nosso pensar, fazer e ressignificar os espaços desta escola.
Respeitar o público desde o portão mostra o tipo de relação que a equipe esta-
belece com a comunidade. Assim, buscamos na entrada da nossa escola favorecer um
acolhimento inicial com um toldo que protege da chuva e do sol para aqueles que nos
visitam ou participam do nosso cotidiano. Outra conquista também foi a instalação de
um porteiro eletrônico, temos como meta a instalação de câmera que favorecerá maior
segurança, visualizando os que necessitam entrar na Unidade Escolar.
O verde é majestoso, encantador e se impõe no olhar não apenas dos que ultrapas-
sam os portões, mas dos que pela Avenida passam, há uma transparência para aqueles
que querem olhar. Procuramos sempre renovar e cuidar do nosso jardim, com dificulda-
des devido ao tamanho da área verde que temos. Mas não é impossível, solicitamos aju-
da dos pais para complementar o serviço oferecido pela Prefeitura, compramos mudas
de plantas, enfeite para jardim e tudo vai ficando com outro aspecto, bonito, agradável de
olhar e prático de cuidar.
No momento nosso muro está sem marcas, com pouca identidade, mas em outra
época ele registrava um trabalho feito com as crianças e um grafiteiro sobre o Brincar.
Era lindo!!! Mas, em outro momento que a escola foi pintada, num piscar de olhos e sem
a orientação adequada os pintores, passaram tinta por cima do que estava registrado.
Nossa meta agora é resgatar esses trabalhos que valorizam a produção de nossos
alunos nos muros externos e internos da escola, de forma que nossa história possa ser
também contada neste suporte, falando sobre o que estudamos, do que gostamos e do
que acreditamos precisar melhorar.
faixas de pedestres, para uma organização com maior segurança dos alunos, familiares e
comunidade em geral. Para alcançarmos esta conquista foi necessária uma solicitação ao
Setor responsável (DEMUTRAN), o qual se dispôs para o que fosse necessário.
O nosso portão vem servindo também como mural, mas não estamos muito satis-
feitos com ele, pois os cartazes e informes ficam amarrados com barbante, as vezes mo-
lham. Precisamos ter outras ideias em como melhor aproveitar este espaço, pensando
nas questões estéticas para uma boa visualização de todos.
Temos também um mural no corredor externo, por onde todos passam, sen-
do um canal para comunicação, tendo os informes a vista para os pais, com avisos,
54. LOPES, Noemia. Diretor Presente em toda escola - Revista Nova Escola Gestão Escolar- out/nov ,2011.
171
convites, dias de reuniões, prestações de contas das verbas recebidas pela escola.
A horta cedeu espaço para sala de informática em 2009. Mas, esta é viva em
nossa memória e em nosso Projeto Institucional: temos planos de reativá-la, até
por que temos muitas histórias de trabalho com a comunidade; vários protagonis-
tas que por ela passaram deixaram marcas, saberes e conhecimentos sobre como
construir e manter uma horta. Além disto, o aprendizado pelos alunos sempre é
grandioso, além de plantar, cuidar e colher favorecia também o foco na alimenta-
ção saudável e reaproveitamento dos alimentos.
RECEPÇÃO
Como podemos receber as pessoas que entram em nosso espaço? O oferece-
mos para que já comecem a conhecer um pouco da nossa identidade? Conhe-
cer um pouco do que temos, do que somos, do que valorizamos?
Este e outros espaços para expor as produções dos alunos é um ato de valori-
zação dessas construções, não pretendemos na escola apenas reproduzir o que fora
dela já convivem, ou seja, desenhos da mídia. Pretendemos sim partir de uma va-
lorização das produções pessoais, dividindo espaços com obras de arte de artistas
diversos, principalmente da nossa região.
As portas das salas de aula também precisam ser identificadas com nome das
turmas, e do professor, facilitando a comunicação interna.
55 Livro do Diretor. Escolas espaços e Pessoas – Idéias práticas para aprimorar a escola – CEDAC, p.34.
173
No momento nosso objetivo é alimentar o olhar do grupo com outras for-
mas de expor, indo além da parede, fazendo uso de outras formas para expor,
móbiles, instalações, marcações e sinalizações no chão. Para planejarmos e re-
alizarmos estas possibilidades pretendemos realizar visitações culturais com os
funcionários, em experiências anteriores essas ampliaram nosso olhar diante do
que pretendíamos realizar.
O espaço do corredor também é composto por sons das crianças, dos adul-
tos, da sirene/sinal dos intervalos para lanches; entrada e saída dos alunos. Pen-
samos em melhor harmonizá-lo com músicas ambientes, trazendo sons variados
para o ambiente: pássaros cantando; cachoeira, chuva, músicas infantis e popu-
lares de qualidade.
Pensando por este ângulo não importa se a sala é grande, pequena, não im-
porta se os móveis são novos em folha, se o mural é de cortiça, imantado ou apenas
um varal. Hoje entendemos que o que realmente importa é que a sala seja um es-
paço acolhedor, onde os professores tenham intimidade. Um espaço que ao longo
do ano vai sendo composto, transformado com a participação de todos.
Assim, podemos pensar que tal como a salas de aula, a sala dos professores
pode ou não explicitar o processo de aprendizagem que estamos vivendo, traba-
lhos produzidos pelos professores, pesquisas, notícias. É uma sala na qual cada
professor que passa por ela se identifica com o que se tem para ver, ler, aprender...
Nossa sala dos professores foi sendo modificada com o passar do tempo, via-
bilizamos melhor os espaços tirando as mesas dos computadores e colocando ban-
cadas de granito para os mesmos, além de mais bonito ficou mais funcional. Há
computadores funcionando e impressoras para uso profissional.
Ter cortina é algo fundamental para proteção contra a claridade, mas é im-
portante que essas estejam conservadas, pois cortinas faltando parte, desbotadas,
sujas, não favorecem um ambiente esteticamente agradável.
Um filtro com água normal e gelada é deixado à vontade para uso dos profes-
sores e visitantes que necessitam.
Cestas com revistas destinadas ao professor ou aos alunos são dispostas. Além
disto, sempre que chega um novo exemplar é exposto na mesa para conhecimento.
Temos como objetivo organizar um mural para expor os novos títulos de li-
vros adquiridos para os professores, bem como construir uma estante para expor
de forma mais visível os jornais e revistas. Muitos passos a dar pela frente!
BIBLIOTECA
Você gosta de viajar?
Para aqueles que gostam, o espaço para viagens em nossa escola pode ser en-
contrado no acervo de livros que estão a disposição dos alunos, professores e re-
centemente aos pais.
A troca literária ocorre a cada dois meses, no Conselho de Classe. Neste ocu-
pamos 1hora para trocarmos experiências leitoras, realizarmos indicações literá-
rias, etc.. Vem dando muito certo, pois os funcionários tomaram mais gosto pela
leitura e é possível observá-los no cotidiano lendo pelos espaços da escola. A no-
vidade neste ano foi inserir pais representantes no Conselho de Classe, os quais
também participaram como leitores nestas rodas.
Refeitório e pátio
A palavra ``refeição`` - Re- feição - não nos remete ao pensamento
de que depois de comemos, ficamos com uma nova... feição? Diga-
mos... bem mais felizes? E que um refeitório é um lugar onde muitas
pessoas comem, re-fazem as suas feições, e ficam bem dispostas e
alegres? Re-feitas?56
Nosso refeitório nem sempre foi como é hoje, parece que a vida veio morar neste
local. Antes ele era cinzento, sem nada para ver além de paredes e mesas com ban-
cos compridos.
O Self Service existe na escola antes de 2004, mas deste ano em diante a
equipe foi dando vida a existência deste. Incorporamos com auxílio do Setor de
Alimentação Escolar pratos e xícaras de vidro, garfos, facas e guardanapo, além
de fazer funcionar periodicamente o balcão térmico, o qual antes não era tão uti-
lizado por termos apenas uma merendeira.
Não como num passe de mágica, mas com muito trabalho, este espaço foi
sendo composto com nossa cara, nosso jeito de estar e se relacionar com o local.
Inicialmente tivemos uma reforma do piso, forro e pintura das paredes; em seguida
pensamos numa nova disposição das mesas, para que favorecesse melhor circula-
ção dos alunos no sistema self service (balcão térmico).
As cortinas, os quadros, o mural foi vestindo o espaço, o qual hoje considero
56. Livro do Diretor. Escolas espaços e Pessoas – Ideias práticas para aprimorar a escola – CEDAC, p.69
estar quase pronto para uma festa de acolhimento, digo quase, pois nada é acabado
por completo quando se trata de compor espaços ele se renova ou não se renova
com o passar das pessoas por ele.
Os peixes também habitam este espaço num pequeno aquário, ele é o mimo
das crianças e das visitas, seres vivos que encantam e dividem o espaço da escola
conosco.
Este é um dos espaços que precisamos avançar com nossa forma de olhar e fazer o
ressignificar, pois até então não demos a completa atenção ao mesmo.
57. Livro do Diretor. Escolas espaços e Pessoas – Ideias práticas para aprimorar a escola – CEDAC, p.61
177
Sabemos o que fazer e como fazer, assim, deixaremos relatado aqui quais são
as mudanças pretendidas:
PARQUE
Eis aqui um dos espaços que mais nos encanta. O que há nele que causa tanta excelência,
exuberância. Venha viver momentos nele e a resposta será por você encontrada.
Eis aqui mais um espaço para superação do que é, ou melhor, do que está.
Nosso parque é um espaço que teve algumas modificações, entre elas a instala-
ção de bancos em madeira e outros azulejados, uma torneira para possibilidades
de brincadeiras com água no tanque de areia, amarelinhas pintadas no chão pelos
pais, árvores que foram plantadas pelos alunos e professores, já podemos ver flores
de ipê amarelo aparecendo naquelas que a muda por nós foi vista e plantada, além
de pinheiros, cezarinas e Murtas. Nossa história também está nas plantas existen-
tes no espaço.
Porém, nosso fazer é bem inicial, precisamos buscar superar o que está apre-
sentado. Transgredir acredito ser a palavra desejada, criando novas possibilidades
de interação dos alunos com o corpo e com os objetos inseridos no espaço, indo
além dos comuns escorregadores, trepa-trepa, gira-gira. Criar situações mais inu-
sitadas, nas quais os próprios alunos sejam convidados a realizar suas construções
lúdicas, pesquisando e experimentando sucatas com segurança, realizando uma
arquitetura e engenharia infantil com monitoramento.
Assim, a utilização de materiais não estruturados para criação dos alunos po-
derá vir compor este espaço, tal como palete, carretel, pneus, conduite, cones, os
quais irão viabilizar outras interações e mediações que transgridem aquelas já tão
bem por nós conhecidas.
Para isto, a brincadeira para nós gestores precisará voltar a ser motivo de for-
mação, para que juntos possamos construir novas competências, tendo outros
olhos para o brincar no parque, sabendo intervir nos seus múltiplos aspectos, in-
corporando práticas educativas que considerem o saber das crianças e sua liber-
dade de criação sem contudo, esquecer de alimentar o fazer delas com novas in-
formações, conhecimentos, possibilidades, indo além dos brinquedos industriais
postos por alguém naquele espaço.
179
Muitas são as propostas apresentadas por vários autores, mas que só serão
praticadas o dia em que o gestor, o educador e funcionários da escola tomarem
consciência da importância de oferecer espaços ricos de informações, interações
e sensações na vida das crianças, passando a reconhecer a importância das trocas
que ocorrem nos espaços oferecidos como fator essencial em nossa vida.
ASSIS, R. O trabalho pedagógico. In Kramer, S. (org). Com a pré escola nas mãos. São Paulo.
Ática, 1998.
BRASIL, Referencial Curricular Para a Educação Infantil. Vol. 1. Brasília: MEC/SEI, 1998, p.28.
HORN, Maria da Graça de Souza. Sabores, cores, sons, aromas. A organização dos espaços na
educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2004.
Livro do Diretor. Escolas espaços e Pessoas.- Idéias práticas para aprimorar a escola-
CEDAC,2002
LOPES, Noemia. Diretor Presente em toda a Escola. Revista Nova Escola Gestão Escolar-
out/Nov/2011.
OLIVEIRA, de M. O. et alli, Creches: Crianças faz de conta & Cia. Petrópolis, Rio de Janeiro:
Vozes,1992.
181
182 - RELATOS DA PRÁTICA