A Construção Da Política de Assistência Social BRASILEIRA: Uma Reflexão Necessária
A Construção Da Política de Assistência Social BRASILEIRA: Uma Reflexão Necessária
A Construção Da Política de Assistência Social BRASILEIRA: Uma Reflexão Necessária
Rafaella Bastos
Graduanda em Serviço Social da UniRedentor
E-mail: [email protected]
Resumo: A Assistência Social há muito vem sendo associada ao imediato da pobreza, por
meio da transferência direta de renda e da garantia do acesso às políticas públicas. Diante da
importância dessa política no atual cenário de desmantelamento das políticas sociais, este
estudo tem por objetivo debater como a Política de Assistência Social brasileira foi
construída, trazendo à luz os condicionantes para sua implementação. O contexto que
antecedeu a Constituição Federal de 1988 primou pelo clientelismo, seguido da focalização
das Políticas Sociais, o que nos permitiu realizar uma pesquisa qualitativa, pautada numa
perspectiva exploratória e na análise bibliográfica capaz de refletir sobre as nuances da
implantação desta política no território brasileiro.
Abstract: Social Assistance has long been associated with the immediate poverty, through
direct income transfer and the guarantee of access to public policies. Given the importance of
this policy in the current scenario of dismantling social policies, this study aims to debate how
the Brazilian Social Assistance Policy was built, bringing light to the conditions for its
implementation. The context that preceded the Federal Constitution of 1988, stood out for
clientelism, followed by the focus on Social Policies, which allowed us to carry out a
qualitative research, guided by an exploratory perspective and bibliographic analysis to be
able to reflect on the nuances of the implementation of this policy in Brazilian territory.
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INTRODUÇÃO
Este artigo surge diante da análise sobre os direitos dos cidadãos e da legislação
brasileira, instituídos a partir da Constituição Federal de 1988, perante os avanços e os
retrocessos nas políticas sociais públicas, mediante questionamentos que fossem capazes de
ultrapassar o senso comum, de que a Política de Assistência Social se vincula aos indivíduos
que almejam sobreviver sem trabalhar.
A Constituição Federal de 1988, popularmente conhecida como Constituição Cidadã,
representou um avanço para o campo da proteção social, pois prevê a instituição de um
Estado Democrático, capaz de assegurar direitos sociais. Em contrapartida, a reprodução
desses princípios constitucionais e universais não se configuram de fato como universais.
A discussão sobre o tema proposto se faz necessária, pois estamos vivendo um
momento histórico de transição de governo onde os programas assistenciais de distribuição e
redistribuição de renda é visto com outro viés, se antes eles tinham uma legitimidade junto ao
Governo Federal, hoje se tem uma atuação governamental que critica essas políticas e o
programas de transferências de renda, os quais se encontram ameaçadas.
Ao considerarmos o cenário adverso, nos propomos a refletir sobre o processo de
construção e desconstrução da política de assistência social brasileira no intuito de
compreender seus avanços e retrocessos diante de uma pesquisa exploratória e bibliográfica, o
que possibilitou o mergulho sobre a temática e contribuirmos para futuras analises no âmbito
das políticas sociais.
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Dessa forma, a assistência surge como uma prática voltada para atenção ao pobre, ou
seja, a atenção era voltada aqueles que não conseguiam suprir com a sua própria
sobrevivência, que eram vistos como um problema a ser superados por eles próprios, e pela
sociedade através da caridade.
O modo como o capital se acumula produz uma massa trabalhadora disponível muito
maior do que é necessário à sua acumulação o que vai gerar uma massa de trabalhadores que
só dispõe para sua sobrevivência da venda da sua força de trabalho. Sendo assim compreende-
se que:
O resultado é a produção da pobreza, originado dos baixos salários, dos que
se encontram incluídos no mercado de trabalho formal e as mais diferentes
situações de inclusão precarizada ou subordinada para a grande parcela de
excluídos que não consegue existir para o capital. (OLIVEIRA,2005, p.26)
Dessa forma, só eram considerados cidadãos aquelas pessoas que tinham algum tipo
de profissão ou ocupação, e seus direitos eram restritos ao lugar que se ocupava no processo
produtivo. Aqueles que não tinham emprego e nem profissão e não se enquadravam no
processo produtivo eram tachados como vadios.
Após a década de 1930 passou a ser caso de política, o governo de Getúlio Vargas
passa a trabalhar com essa questão que até então era renegada pelo Estado.
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O período que transcendeu os anos de 1930 a 1954 foram de grande importância para
a ampliação da proteção social dos trabalhadores, momento esse em que aconteci no país o
início de um período de Estado de Bem Estar Social, mesmo não sendo implantado de
maneira total de fato esse período foi de suma importância, pois foi onde aconteceram
melhorias em diferentes setores através de diversas ações como a criação do Ministério do
Trabalho em 1930, a criação dos Institutos de Aposentadoria e Pensão em 1933, que abrangia
diferentes categorias profissionais e dava mais proteção trabalhista aos trabalhadores, mas
pouco se avançou em termos de políticas públicas.
Já em 1938 foi criado a Legislação Brasileira de Assistência Social (LBA) que tinha
como objetivo auxiliar o Estado em assuntos referentes à Assistência Social sendo esta a
primeira forma de intervenção concreta do estado brasileiro institucionalmente organizada.
Em 1940 a primeira-dama Darcy Vargas assume a LBA em meio a Segunda Guerra Mundial,
de maneira à da assistência aos pobres e as famílias dos soldados, essa assistência era voltadas
para a prestação auxílios emergenciais.
Com o pós-guerra a LBA continuou como um órgão de assistência com a finalidade
de atender ás famílias que se encontravam em necessidade, vale ressaltar que sempre se esteve
presente o princípio do primeiro damismo no qual as esposas dos políticos faziam com que o
trabalho desta entidade estivesse ligado a ideia da caridade e da filantropia o que ajudava a
valorizar a imagem do partido político que estivesse vigente. O que se confirma o fato de que
a assistência social no Brasil além de ser permeada pela influência religiosa foi também por
influência governamental, levando-se então muito tempo para ser instaurada como uma
política pública.
A década de 1950 foi marcada por fortes turbulências tanto econômicas, quanto
políticas e sociais, o país se encontrava mais urbanizado, os movimentos populares e
operários se mantinham mais sólidos e organizados e com uma lista extensa de
reivindicações, a burguesia brasileira se encontrava fragilizada, foi um período marcado pela
intensificação das lutas de classes. Para as políticas sociais afirma-se que:
[...] sua expansão foi lenta e seletiva, marcada por alguns aperfeiçoamentos
institucionais, a exemplo da separação entre os Ministérios da Saúde e da
Educação em 1953, e da criação de novos IAPs. A disputa de projetos
implicou em uma certa paralisia no campo da política social[...](BERHRING
& BOSCHETTI,2011,p.110)
Em seguida ocorreu o Golpe Militar em 1964 que durou até 1985, vinte anos de uma
ditadura que impulsionou uma modernização conservadora no país e que ocasionou
“importantes consequências para a política social” (BEHRING&BOSCHETTI, 2011) nesse
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período em que o país viveu a ditadura ao mesmo tempo em que se ampliava o mercado
interno expandiu-se a também;
[...] cobertura da política social brasileira, conduzida de forma tecnocrática e
conservadora, reiterando uma dinâmica singular de expansão dos direitos
sociais em meio à restrição dos direitos civis e políticos, modernizando o
aparato varguista. (BERHRING &BOSCHETTI, 2011, p.135)
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passo à frente em direção à superação do caráter caritativo e fragmentado das ações que
permearam sua trajetória no país.
No artigo 1° da LOAS a assistência Social é definida como:
[...] direito do cidadão e dever do Estado, é política de seguridade social não
contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto
integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o
atendimento às necessidades básicas (BRASIL, 1993).
A partir da LOAS a Assistência Social passa a ser compreendida como uma política
de responsabilidade do estado, ou seja, um instrumento de reivindicação de proteção social
pública, que tem por objetivo a busca por uma sociedade igualitária e o combate à pobreza
absoluta, e à exclusão social.
Dessa forma mesmo com a aprovação da LOAS a assistência social ainda era vista
com o viés filantrópico, e de benemerência do estado, se mantendo ainda permeada de
contradições devido a atuação deste perante o atendimento das necessidades da população.
Com o intuito de materializar o que propunha a LOAS, é criada a Política Nacional de
Assistência Social (PNAS) em setembro de 2004 que propunha:
Trata-se, portanto, de transformar em ações diretas os pressupostos da
Constituição Federal de 1988 e da LOAS, por meio de definições, de
princípios e de diretrizes que nortearão sua implementação, cumprindo uma
urgente, necessária e nova agenda para a cidadania no Brasil.
(BRASIL,2004, p.11).
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Historicamente falando das políticas sociais, cabe ressaltar que as mesmas devem ser
pensadas como conquistas, frutos de uma dinâmica social, como um instrumento de
legitimação conquistado pela classe trabalhadora.
Vale ressaltar que somente no período que corresponde ao pós-guerra é que vai
surgir a generalização das medidas de seguridade social, no qual:
Assiste-se à singular experiência de construção do Welfare State em alguns
países da Europa Ocidental- com destaque para o Plano Beverige (Inglaterra,
1942), acompanhada de diversos e variados padrões de proteção social, tanto
em países de capitalismo central, quanto na periferia. (BEHRING, 2000, p.2)
O período que compreende o século XIX até a década de 1930 é predominado pelo
liberalismo, onde cada indivíduo passa a buscar seu interesse econômico próprio:
[...] a liberdade e a competitividade naturalizam a miséria, mantém um
Estado mínimo, ou seja, para os liberais o Estado deve assumir o papel
“neutro” de legislador e árbitro, e desenvolver somente ações
complementares ao mercado e as políticas sociais estimulam o ócio e o
desperdício e devem ser um paliativo, o que significa que a pobreza deve ser
minimizada pela caridade privada. [...](PIANA, 2009, p.25)
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A ideologia neoliberal age desastrosamente nas políticas sociais, passando estas a ter caráter
eventual mediante as práticas compensatórias e fragmentadas onde
o Estado só deve intervir com o intuito de garantir um mínimo para aliviar a
pobreza e produzir serviços que os privados não podem ou não querem
produzir, além daqueles que são, a rigor, de apropriação coletiva. Propõem
uma política de beneficência pública ou assistencialista com um forte grau
de imposição governamental sobre que programas instrumentar e quem
instruir, para evitar que se gere “direitos”. Além disso, para ter acesso aos
benefícios dos programas públicos, deve se comprovar a condição de
indigência. Racha-se o conceito dos direitos sociais e a obrigação da
sociedade garanti-los através da ação estatal. Portanto, o neoliberalismo
opõe-se radicalmente à universalidade, igualdade e gratuidade dos serviços
sociais. (LAURELL, 1997 apud PIANA, 2009, p.34)
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Estado na área social e toda prática assistencial era desenvolvida pela Igreja Católica e
organizações de caridade. Já durante o período da ditadura militar no Brasil se consolidou o
estado assistencial, onde os serviços, os programas e projetos da área social passam a ser
criados de acordo com o problema, através de práticas assistências que duram até hoje.
Até a promulgação da Constituição Federal de 1988 só tinha o direito de acessar a
política quem fazia parte do mercado formal de trabalho, com a inserção da assistência social,
passa a existir a possibilidade das classes menos favorecidas terem acesso aos direitos
garantidos independentes de estarem no mercado formal.
A Constituição Federal de 1988 possibilitou trazer uma nova concepção para a
Assistência Social no país, a partir daí posicionou-se como uma política de seguridade social.
Ao compor o tripé da seguridade social, houve a possibilidade de indivíduos da classe
pauperizada passasse a ter seus direitos sociais garantidos.
Dentre os avanços alcançados com a CF/88 houve a responsabilização do Estado,
que antes era secundário, a população passa a participar da formulação das políticas.
Por outro lado, os anos de 1990 foi marcado por debates sobre a assistência e através
da CF/88 a assistência social ganha novas discussões inseridas no tripé Seguridade Social,
seguidos nos anos 2000 na contramão dos direitos conquistados.
Na década de 1990, as consequências da lógica excludente e destrutiva do
capitalismo, aprofundadas no processo de globalização neoliberal, são
visíveis mundialmente e particularmente no Terceiro Mundo. Entre muitos
aspectos, eliminam-se toda estrutura e responsabilidade social do Estado em
face da “questão social”; privatizam-se serviços públicos e empresas estatais,
desmontam-se, gradualmente, as legislações de proteção social e do trabalho.
O emprego e subemprego, o empobrecimento crescente das camadas médias,
a precarização dos contratos de trabalho, a repressão aos movimentos sociais
e às organizações de classe dos trabalhadores são algumas das consequências
desse modelo político-econômico. (BARROCO, 2010, p. 178).
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crescentes cortes nos repasses de verbas, e na ameaça de que esse programa possa vir a ser
extinto, pois o atual cenário político caminha para isso.
A unificação de programas sociais regulamentou o Programa Bolsa Família,
considerado uma importante ferramenta no atendimento de emergência a famílias que se
encontram em “necessidade”, com o alívio imediato da pobreza, através da transferência
direta de renda, o que não significou o enfretamento da desigualdade brasileira
A política de Assistência Social tem sua gênese marcada pelo conservadorismo
brasileiro, transformando-se em política pública somente após 1988. Contudo, nesse período
neoliberal implanta diversos fatores que desaceleram as conquistas alcanças nessa política,
associando-a a medidas paliativas, emergenciais e pulverizadas. Como consequência,
experimenta-se a ampliação dos programas de transferência de renda como formas de
proteção social, colocando os serviços da assistência social como complementares.
REFERENCIAS
BEHRING, Elaine R. Fundamentos de política social. Mota AE, Bravo MIS, Uchoa R,
Nogueira V, Marsiglia R, Gomes L, et al., organizadores. Serviço social e saúde: formação e
trabalho profissional. São Paulo: OPAS, OMS, Ministério da Saúde, p. 13-49, 2006.
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HÖFLING, Eloisa de. Estado e Políticas (públicas) Sociais. Cadernos Cedes, v. 21, n. 55, p.
30-41, 2001.
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