A Ilha Da Madeira No Contexto Da Expansa
A Ilha Da Madeira No Contexto Da Expansa
A Ilha Da Madeira No Contexto Da Expansa
Rui Carita*
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O INICIAL COBERTO VEGETAL DA ILHA
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utilizar também cesto de gávea, independente da chegado a utilizar, o que somente se veio a fazer
designação que depois teve de corresponder à se- quase 50 anos depois. Assim, só ao longo do reinado
gunda vela imediatamente superior ao papa-figos. de D. João II se iniciaram experiências no domínio do
armamento naval, que levaram a inovações nas forta-
Data, em princípio, dos meados do século XV a
lezas costeiras da barra do Tejo.
divulgação da caravela, embarcação de nítida inspira-
ção islâmica e aparentada com os caíques algarvios e A corte portuguesa possuía relações privilegiadas
pangaios árabes. Era um navio de coberta, ou seja já com o ducado da Borgonha, tendo sido daí que nas
com porão e convés, o pavimento que cobre o mesmo primeiras décadas do século XV veio o principal arma-
porão, de casco algo alteroso à popa e mais raso a mento para as conquistas do norte de África. Poucos
vante, embora de pequeno calado. Era aparelhado à anos depois, no entanto, iniciou-se também em Portu-
latina, com velame bastardo nos seus mastros, de um gal a fabricação em série de artilharia de bronze numa
a quatro, apresentando grande capacidade de navegar só peça, passando assim a serem conhecidas as novas
à bolina e podendo atingir grandes velocidades. Tal bocas-de-fogo: peças, no sentido de unitárias. Ainda
capacidade levou à sua utilização até ao século XVIII como príncipe, D. João II mandou realizar em Setúbal
como navio de aviso, exploração e comunicações experiências de colocação de "artilharia grossa" em
rápidas, então designada como “mexeriqueira” navios, sendo dessa época o armamento das baixas e
(Esparteiro, 2001, 118-119). rápidas caravelas portuguesas.
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Os navios portugueses ao serviço do rei foram
então armados ao nível do convés e no cavername
abaixo, disparando quase ao nível da linha de água.
Quando D. João II mandou refazer as linhas de defesa
da barra de Lisboa, as fortalezas construídas aproxi-
mavam-se já de novos conceitos de arquitetura militar
e a colocação duma poderosa nau armada à entrada
da barra, marcou em Portugal o nascimento da fortifi-
cação marítima. Este aspeto da colocação da artilharia
é salientado por Garcia de Resende na crónica de D.
João II ao relatar as experiências do Rei com artilharia
em Setúbal, por volta de 1494, citando que anterior-
mente: "achou e ordenou em pequenas caravelas Figura 7. Arca. S. Roque. 1600-1700.
andarem muito grandes bombardas, e tirarem tão
rasteiras, que iam tocando na água" (Resende, 1991,
255). Na transição dos séculos XV para XVI teria sido
dos artesanatos importantes e sujeito a forte fiscaliza-
ção por parte dos examinadores nomeados pela
A CARPINTARIA E A CONSTRUÇÃO CIVIL
câmara (ARM, CMF, Vereações, 1508-1519, 130 v.),
O italiano Luis de Cadamosto parece ter sido o pri- referindo-se em 1499, no testamento de João Gonçal-
meiro a referir os trabalhos de carpintaria da Madeira, ves da Câmara, 2º capitão do Funchal, caixas de açú-
escrevendo que se “trabalhavam obras de carpintaria, car com cinco, seis ou sete arrobas cada. Esta ativi-
e bufetes de muitas invenções, de que se provê todo o dade terá sido de tal forma intensa, embora também
Portugal e outros países” (Aragão, 1981, 37). Por essa haja que ter em conta a construção civil, predominan-
altura, 1455, se deve ter incrementado o artesanato temente em madeira e a exportação, que em breve
em madeira, principalmente numa terra que possuiu era proibida a saída de açúcar em caixas de determi-
uma importante floresta e para a emergente exporta- nadas madeiras, como em cedro e em vinhático, dada
ção de açúcar. Para a segunda metade do século XV a sua raridade e a falta que já se fazia sentir, e permi-
temos várias informações a este respeito, com a utili- tindo-se só a saída em caixas de til (ARM, RG, T I,
zação das chamadas caixas de açúcar, essenciais na 1546, 45).
safra açucareira para a exportação dos pães.
Em 1506, Valentim Fernandes descrevia as
madeiras da ilha, mas utilizando, por certo, informa-
ções referentes ao século anterior. Assim, refere que
se explorava a madeira de cedro, sendo então possível
obter tabuado de sete palmos de largo, ou seja cerca
de metro e meio, referindo que quase parecia madeira
para mastros de navios. Desta madeira fabricavam-se
caixas, mesas e cadeiras. Saliente-se que para as
caixas de açúcar a madeira tinha de sofrer um especí-
fico tratamento, para o cheiro do cedro não afetar o
açúcar.
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vinhático, suscetíveis de tabuado de quatro palmos, Se relermos o doutor Gaspar Frutuoso, que des-
pau branco, utilizado no fabrico de eixos e parafusos creve a ilha por volta de 1590, temos de reconhecer
nos engenhos de açúcar, aderno, “pau muito forte”, do que as suas informações estavam perfeitamente
qual se obtinha tabuado de três palmos, barbuzano, desatualizadas. Escreve então que “toda esta ilha é
“pau muito pesado e que nunca apodrece”, dando fragosíssima e povoada de alto e fresco arvoredo; que
tabuado de cinco palmos e ainda a urze, de que fabri- por ser tal, se perdem alguns caminhantes nos cami-
cava carvão e de que se podia obter tabuado de cinco nhos, e já aconteceu alguns perdidos morrerem”.
palmos. Acrescenta ainda o cronista, que existia então muito
til, “que quando o cerram, dentro do cerne é muito
Com o surto da safra açucareira, na transição do
preto e cheira mal”; vinhático, “de que se fazem caixas
século XV para o XVI, o inicial revestimento florestal
para o serviço de casa, que são muito boas”; aderno,
encontrava-se quase extinto na capitania do Funchal.
“de que se faz muita madeira para pipas para vinho e
Para além de outros casos, para a construção da sé do
mel, e o qual pau de aderno é tão rijo, que se fende à
Funchal, por exemplo, teve de se recorrer à madeira
cunha”.
do norte da ilha e, num curto espaço de tempo, nem
se encontrava na cidade madeira para caixas de açú- Ainda refere o cronista açoriano o cedro branco,
car. No entanto, as madeiras encontradas nos séculos o pau branco, o folhado, para armações de casa, o
XV e XVI na ilha tornaram-se uma legenda dessa azevinho, para cabos de machado, a giesta, de que se
época e, ainda nos meados do século XIX, Almeida colhia verga para cestos, “muito galantes e frescos
Garrett ao descrever o convento dos Jerónimos, no para serviço de mesa, e oferta de batismos, e outras
seu poema Camões, não resiste em citar um móvel de cousas, por serem muito alvos e limpos”, e o barbu-
“pranchas de escuro til, rudo lavradas...”, e em nota zano, de que se faziam “tanchões para latadas, por ser
refere que “o til é madeira escura e de pouco poli- pau muito rijo e durar muito no chão” (FRUTUOSO,
mento que naquele tempo se usava muito. Vêem-se 1968, 137-138). Tratam-se, no entanto, de informa-
ainda restos em casas antigas” (Garrett, 1854, 38 e ções sobre a costa norte, pois que por esses anos toda
158). a costa sul padecia de falta de madeira.
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Colombo embarcaria novamente com destino a Lisboa,
onde casaria com Filipa Moniz, filha de Bartolomeu
Perestrelo, 1º capitão do Porto Santo, falecido em
1457.
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bertas, ou a descobrir, “na direção dos índios”, com
idênticos direitos e privilégios que os portugueses
tinham pelas bulas anteriores. Uma segunda bula, sob
o mesmo título, de 4 de maio do mesmo ano, reproduz
a primeira parte da anterior e estabelece a linha de
demarcação entre os povos ibéricos: cem léguas a
oeste das ilhas dos Açores e de Cabo Verde.
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CONCLUSÕES Teria sido também essa situação no quadro do
Atlântico, mas que não só, claro, a responsável pela
O regime de ventos e de correntes condicionaram a
quase total emigração dos mestres de engenho de
navegação das caravelas portuguesas na segunda
açúcar da Madeira, primeiro para Cabo Verde e São
metade do século XV, obrigando a que quase todas as
Tomé, mas depois e com pessoal, material e, inclusi-
armadas com destino ao Novo Mundo tivessem de
vamente animais, para o Brasil. Num curto espaço de
passar pelos mares da Madeira. No regresso, entre-
tempo a produção brasileira eclipsava a madeirense,
tanto, dada a navegação em arco, face ao regime de
que foi quase que completamente abandonada, pas-
ventos, passavam também quase que obrigatoria-
sando o açúcar que era utilizada no consumo domés-
mente pelos mares dos Açores. Esta situação explica,
tico da ilha a ser importado do Brasil.
por exemplo, a quase imediata participação dos ma-
deirenses nas primeiras viagens para o Oriente e, A ilha, entretanto, recorria a nova e rentável
depois, para o Brasil, tal como a importância do arqui- produção para fazer face à sua subsistência: o vinho
pélago dos Açores no regresso das mesmas armadas da Madeira, continuando a ocupar assim um impor-
ao continente europeu, carregadas com as especiarias tante papel no quadro do Atlântico Norte, então no
e, por tal, o palco de contínua guerra de corso que se reabastecimento das armadas inglesas, especialmente
constituiu naqueles mares. com destino à América do Norte, onde se acreditava
possuir este vinho especiais qualidades terapêuticas. A
4 de julho de 1776, quando o congresso continental
aprovou o documento pelo qual as treze antigas coló-
nias inglesas declaravam a sua independência da
Inglaterra, o brinde final foi celebrado com Madeira.
BIBLIOGRAFIA
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Figura 13. Ratificação. Tratado de Tordesilhas. 1494. IAP/Universidade da Madeira.
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