Primeiros Socorros

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MINISTÉRIO DA SAÚDE

CONSELHO NACIONAL DE SECRETARIAS MUNICIPAIS DE SAÚDE


UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

PRINCÍPIOS GERAIS EM
PRIMEIROS SOCORROS

PROGRAMA SAÚDE COM AGENTE


MATERIAL COMPLEMENTAR – DISCIPLINA 22

Brasília – DF
2023
MINISTÉRIO DA SAÚDE
CONSELHO NACIONAL DE SECRETARIAS MUNICIPAIS DE SAÚDE
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

PRINCÍPIOS GERAIS EM
PRIMEIROS SOCORROS

PROGRAMA SAÚDE COM AGENTE


E-BOOK 22

Brasília – DF
2023
Os primeiros socorros são uma intervenção temporária e imediata
em indivíduos feridos ou que sofrem de alguma doença súbita. Eles
também envolvem a capacidade de identificar situações que podem
colocar a vida em risco e de tomar medidas para manter a vítima
viva e em condições cumpridas até que atendimento especializado
esteja disponível (KARREN, 2013).

Entre os principais objetivos dos primeiros socorros estão:

● Reconhecer situações que ponham a vida em risco;


● Intervir em situações de urgência e emergência;
● Minimizar os riscos de novas lesões ou complicações;
● Providenciar assistência especializada;

É muito importante, também, que o socorrista apresente algumas


características específicas, como ter iniciativa, ser dinâmico, saber
liderar, ter raciocínio e ação rápida, manter a calma, transparecer
tranquilidade e ser assertivo, ou seja, tomar a melhor decisão diante
dos recursos disponíveis e da situação encontrada.

Diante de situações que exigem primeiros socorros, é comum


encontrarmos as pessoas em situações extremas, como dor intensa,
medo, pânico e estresse, o que pode levá-las a ter reações
inesperadas, como comportamentos agressivos, por exemplo. Assim,
é necessário que mantenhamos o controle emocional, preservando
os sentimentos de empatia, humanização, solidariedade e respeito a
essas pessoas.

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Ao se deparar com um acidente em seu território ou em outros
espaços, fique atento(a) e faça o seguinte:

1. Observe o local do acidente à medida que se aproxima.

2. Cuide de sua segurança e da segurança das outras pessoas no


local; se necessário, peça apoio das pessoas presentes,
preferindo as que tiverem alguma experiência com esse tipo de
situação. Essas pessoas poderão: ligar para o SAMU ou outro
serviço (polícia, bombeiros); desviar o tráfego direto do local do
acidente, posicionando sinalização de segurança; manter os
espectadores a uma distância segura; auxiliar na manutenção
da ordem e da calma entre as outras pessoas.

3. Acione o serviço móvel de emergência (SAMU 192).

4. Consiga acesso até a vítima e verifique se há qualquer risco de


vida imediato. Para isso, você poderá realizar os procedimentos
de verificação dos sinais vitais (frequência cardíaca e
frequência respiratória, por exemplo), além de verificar se há
algum sangramento.

5. Forneça suporte básico de vida (SBV) às pessoas que estiverem


em risco; sempre dê prioridade de atendimento às vítimas mais
graves.

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AVALIAÇÃO INICIAL DA VÍTIMA E PRIORIDADES NO ATENDIMENTO

O XABCDE do trauma corresponde a uma sequência que deve ser


seguida a partir de prioridades apresentadas pela vítima de trauma.
Cada letra tem um significado e representa uma etapa da avaliação.
Vamos conhecer um pouco mais sobre cada etapa.

X - Hemorragia Exsanguinante

O “X” significa verificar se há hemorragia e realizar uma ação para


controlá-la. Hemorragia exsanguinante corresponde a um
sangramento intenso que pode matar mais rápido do que a maioria
dos outros mecanismos de trauma. Esse tipo de sangramento pode
ser facilmente identificado pelo grande acúmulo de sangue próximo
à vítima e está associado às lesões de artérias ou veias (PHTLS, 2020).
É possível sangrar de forma grave em poucos minutos. O(a) paciente
pode perder uma quantidade significativa de sangue de ferimentos
no couro cabeludo, devido à alta concentração de vasos sanguíneos,
ou de feridas que danificam grandes vasos (PHTLS, 2020).

Diante de um trauma apresentando esse tipo de sangramento,


devemos intervir rapidamente, sendo a principal prioridade no
atendimento. Diante de uma situação de hemorragia grave, você
poderá realizar a compressão direta ou o torniquete para estancar o
sangramento. A compressão direta poderá ser realizada
comprimindo diretamente a ferida, com um pano limpo ou gazes,
com firmeza, até que o sangramento seja interrompido. Caso o
sangramento continue, poderemos realizar um torniquete. Essas
técnicas estão descritas com mais detalhes no tópico sobre
hemorragias.

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A – AIRWAY (VIAS AÉREAS)

Airway é uma palavra em inglês. Em português, significa vias aéreas.


Nesta etapa da avaliação, devemos manter as vias aéreas livres,
para que o oxigênio possa fluir para os pulmões, realizando as
manobras de abertura das vias.

Atenção! Enquanto realizamos essas manobras, temos que manter a


coluna cervical alinhada, evitando movimentá-la. Deve-se observar a
boca por dentro e, caso necessário, retirar secreções ou outros
materiais que possam estar obstruindo a passagem de ar, como
próteses (dentaduras), líquidos, vômito, sangue, fragmentos de
dentes, terra, grama, entre outros. Uma das formas de obter a
abertura das vias aéreas é fazendo a manobra de inclinação da
cabeça com elevação do queixo (em inglês, é conhecida como
manobra Chin-Lift), como apresentado na figura 1. Essa manobra é
indicada para pessoas SEM suspeita de lesão na coluna ou história de
trauma.

Figura 1. Divisões do corpo humano

Fonte: BRASIL, 2016

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Como fazer:

● Posicionar uma das mãos sobre a testa e a outra, com os


dedos indicador e médio, tocando o queixo do(a) paciente.
● Realizar movimento de elevação do queixo.
● Simultaneamente, efetuar uma leve pressão no pescoço.
● Manter a boca do(a) paciente aberta.

Outra forma de abrir as vias aéreas é realizando a manobra de


tração da mandíbula no trauma (em inglês, é conhecida como
manobra Jaw Thrust), como demonstrado na figura 2. Esta manobra
é indicada para vítimas de trauma em que há suspeita de lesão na
coluna.

Figura 2. Manobra Jaw Thrust

Fonte: BRASIL, 2016

Como fazer:

● Posicionar-se à cabeceira (atrás) do(a) paciente.


● Realizar o controle manual da coluna cervical para
alinhamento e estabilização em posição neutra, colocando as
mãos espalmadas uma de cada lado da face.
● Localizar o ângulo da mandíbula e realizar força para cima.

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B – BREATHING (BOA RESPIRAÇÃO)

A palavra breathing significa respiração em inglês. Devemos expor o


tórax (peito), mas apenas o suficiente para observarmos sua
movimentação, mantendo a vítima aquecida. Podemos avaliar a
ventilação observando se o tórax está se elevando; se apresenta
esforço ao respirar; se existem lesões ou sangramentos na região.

Problemas para respirar podem resultar em deficiência no transporte


de oxigênio, e a pessoa pode apresentar-se com uma coloração
arroxeada (chamada de cianose), principalmente, nos lábios e na
ponta dos dedos, como na figura 3. A frequência respiratória é um
bom indicativo de algum problema, de forma que ela deve estar
entre 12-20 movimentos por minuto. Caso a pessoa não esteja
respirando, você poderá realizar as manobras de Ressuscitação
Cardiopulmonar (RCP) que serão apresentadas a seguir.

Figura 3. Cianose (coloração arroxeada) nos dedos das mãos,


indicando deficiência na oxigenação.

Fonte: BERNARDES FILHO et al., 2014

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C – CIRCULATION (CIRCULAÇÃO)

A palavra Circulation, em inglês, quer dizer circulação. Nesta etapa,


devemos avaliar a circulação, observando se há outros
sangramentos. Também é importante observarmos se a vítima
encontra-se pálida (hipocorada) ou suando em excesso (sudoreica),
uma vez que esses sinais podem indicar queda da pressão
(hipotensão).

O pulso central e o pulso periférico, bem como a perfusão sanguínea,


deverão ser averiguados, pois o pulso acelerado pode indicar
sangramentos. Podemos verificar o pulso comprimindo com os dedos
a região da carótida (pulso central) ou dos pulsos (pulso periférico).
Nos adultos, é considerada normal uma contagem entre 60-100
batimentos por minuto (bpm).

A perfusão sanguínea corresponde ao fluxo


de sangue nos tecidos e órgãos. Podemos
avaliá-la verificando o tempo de enchimento
capilar, ou seja, o tempo necessário para que
as extremidades dos dedos recuperem o fluxo
de sangue após uma pressão aplicada com o
dedo para provocar palidez. Considera-se o
tempo de enchimento capilar normal quando
este for igual ou menor a 2 segundos.

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Ao verificar a perfusão periférica, se perceber sinais como: palidez,
queda de pressão, pulso acelerado e sangramentos, é importante
saber o que fazer.

Caso identifique sangramento externo, poderá realizar a compressão


direta. Mas se a vítima não apresenta sangramentos visíveis, e você
perceber palidez, pressão baixa, pulso acelerado, pode estar
ocorrendo um sangramento interno, não sendo possível a
visualização. Nesses casos, procure acalmar e não movimentar a
vítima, providenciando o socorro especializado o mais rápido
possível.

D – DISABILITY (DISFUNÇÃO NEUROLÓGICA)

A palavra disability, em inglês, significa deficiência ou disfunção. No


acrônimo XABCDE, o “D” representa a etapa de verificar se há
disfunção neurológica.

No momento da abordagem inicial, devemos avaliar o estado


neurológico da vítima, isto é, verificar se a vítima está acordada,
sonolenta ou inconsciente. Podemos fazer isso utilizando uma escala
chamada Escala de Coma de Glasgow. Essa avaliação neurológica
simplificada tem o objetivo de descrever rapidamente o estado de
consciência da vítima e detectar possíveis alterações. Essa escala
avalia três tipos de reações dos(as) pacientes: abertura do olho
(abertura ocular); como o(a) paciente fala (resposta verbal) e
como movimenta o corpo (resposta motora).

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E – EXPOSURE (EXPOSIÇÃO E CONTROLE DA HIPOTERMIA)

A palavra exposure, em inglês, significa exposição. Representa a


etapa final da avaliação inicial, em que devemos realizar a exposição
do corpo da vítima em busca de lesões que, em um primeiro
momento, não comprometem a sobrevivência da vítima, mas
precisam de atenção.

É importante ficar atento quando da realização da exposição, pois


poderá favorecer a hipotermia (queda da temperatura) que ocorre
quando a temperatura corporal está abaixo de 35°C. Assim, sempre,
devemos ficar atentos para manter as vítimas aquecidas durante a
exposição. Um cuidado que devemos ter é realizar a exposição de
algumas partes por vez, cobrindo a parte do corpo onde já se realizou
a avaliação.

Outra situação bastante grave em que um socorrista treinado poderá


fazer muita diferença é durante uma parada cardiorrespiratória.
Sabemos que as UBS são ricas de situações e, como ponto da rede
de atenção à saúde mais próximo ao usuário, acabam por receber
muitas demandas, inclusive de urgências.

A parada cardiorrespiratória (PCR) consiste em uma emergência


cardiovascular que pode ocorrer por diversas causas (infarto do
miocárdio, infecção generalizada, crises asmáticas, intoxicações por
fumaça, entre outros) que é caracterizada pela interrupção súbita da
atividade cardíaca e respiratória, somada à ausência de consciência.
Existem quatro principais ritmos cardíacos que levam a uma PCR:
fibrilação ventricular (FV), taquicardia ventricular, atividade elétrica
sem pulso (AESP) e assistolia (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA,
2019). Para a determinação desses ritmos cardíacos, são necessários
equipamentos específicos, conhecidos como desfibriladores.

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Mas como vou saber se uma pessoa está em PCR?

Primeiro, diante de uma pessoa desacordada, faça estímulos verbais,


caso a pessoa não responda, faça estímulos físicos (pinçamento do
trapézio ou pressão na ponta dos dedos da mão).

Não havendo resposta, confira se a pessoa está respirando. Poderá


fazer isso usando o “ver, ouvir e sentir”. Faça o seguinte: aproxime seu
ouvido ao nariz da vítima, tentando sentir e ouvir a respiração,
olhando para seu tórax, tentando detectar elevação (EUROPEAN
RESUSCITATION COUNCIL, 2021). Dessa forma, concentre-se em ouvir e
sentir a respiração, ao mesmo tempo em que observa se existem
movimentos de elevação no tórax, que indicam se a vítima está ou
não respirando.

Em seguida, é necessário saber se a vítima apresenta pulso. O pulso


deve ser verificado na artéria carótida. Você poderá identificar,
facilmente, a carótida se tocar no seu próprio pescoço, ou no de
outra pessoa, logo ao lado da traqueia. No entanto, caso esteja com
dúvidas sobre o pulso, inicie as compressões mesmo sem ter a
certeza de que a pessoa está sem pulso, pois muitas vezes a
identificação da ausência do pulso em alguém em PCR poderá ser
difícil (EUROPEAN RESUSCITATION COUNCIL, 2021).

Assim, estando o(a) paciente sem responder aos estímulos (verbal e


físico) com ausência de movimentos respiratórios e/ou sem pulso,
podemos concluir que ele(a) se encontra em uma PCR e
imediatamente devemos iniciar a abordagem.

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