Moçambique inde-WPS Office

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ÍNDICE

I Introdução......................................................................................................................................2

1.1 Objectivos..................................................................................................................................2

1.1.1 Geral:......................................................................................................................................2

1.1.2 Específicos:.............................................................................................................................2

1.2 Metologia...................................................................................................................................2

2.1 Moçambique independente........................................................................................................3

2.1.1 As estratégias Políticas, Económica e Sociais........................................................................3

2.2.1 Plano Estatal Central (PEC)....................................................................................................3

2.2.2 Plano Prospectivo Indicativo (PPI).........................................................................................4

2.3.2 Programa de Reabilitação Económica (PRE).........................................................................6

2.3.3 Programa de Reabilitação Económica e Social (PRES).........................................................7

2.3.4 Plano de Acção para a Redução da Pobreza (PARPA)..........................................................8

2.4.4 Política externa: O não-alinhamento, A linha da frente, SADCC-SADC..............................9

3.1 SADCC....................................................................................................................................10

3.1.1 A política de desestabilização da África do Sul e sua influência na situação económica,


social e política de Moçambique...................................................................................................12

3.2.1 Criação da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO)..............................................15

3.2.2 Acordo de Inkomati..............................................................................................................27

II Conclusão...................................................................................................................................32

III Referências Bibliográfica.........................................................................................................33


2

I Introdução

O presente trabalho visa em fazer uma abordagem geral sobre a situação económica,
social e política de Moçambique nos primeiros anos de independência onde dentro do mesmo
veremos que depois da independência nacional, a Frelimo adaptou uma política marxista que já
tinha raízes no ano de conflitos da guerra colonial. Para levar os seus objectivos de uma
sociedade de mais igualitária e justa seguiu o modelo já implementado noutros países, como
Cuba e China. Nesse sentido dedicou-se sobre tudo no III congresso da Frelimo, nacionalizar os
principais sectores de actividades como terra agrícola, empresas, banca, ensino e saúde.

1.1 Objectivos

1.1.1 Geral:

 Compreender a política de desestabilização da África do Sul e sua influência na situação


económica, social e política de Moçambique.
1.1.2 Específicos:

 Explicar a estratégia política, económica e social de Moçambique independente;


 Analisar os papéis de PEC,PPI,PRE e PRES;
 Falar sobre o surgimento da resistência nacional de Moçambique (RENAMO).

1.2 Metologia

Para a realização deste trabalho, não distantes daquilo que as directrizes para a
abordagem científica, baseou-se nos métodos bibliográficos, focado na pesquisa de informações
relacionados a História de Moçambique pós independência de seguida usar-se-ia o método
hermenêuticos e heurísticos, focado na interpretação das obras consultadas para posteriormente a
compilação de informações patentes no trabalho.
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2.1 Moçambique independente

Segundo Mosca (2005), Independência nacional significou para o povo moçambicano o


início de uma nova era de liberdade, o fim do sistema colonial português e o nascimento de uma
nova nação africana. A Frelimo chegou ao poder numa altura em que a maioria dos jovens
africanos escolhiam o modelo político socialista para o seu desenvolvimento.

2.1.1 As estratégias Políticas, Económica e Sociais

As estratégias políticas, económica e Sociais de desenvolvimento de Moçambique, depois


da independência nacional, foram inicialmente formulada no III congresso da Frelimo com forte
orientação científica adoptando duas políticas uma externa e a outra interna.

Política Interna

Conforme Mosca (2005), depois da independência nacional, a Frelimo adaptou uma


política marxista que já tinha raízes no ano de conflitos da guerra colonial. Para levar os seus
objectivos de uma sociedade de mais igualitária e justa seguiu o modelo já implementado noutros
países, como Cuba e China. Nesse sentido dedicou-se sobre tudo no III congresso da Frelimo,
nacionalizar os principais sectores de actividades como terra agrícola, empresas, banca, ensino e
saúde. Para concretizar este desejo de criação de uma sociedade marxista, estabeleceram-se
vários planos de política tais como:

 Plano Estatal Central (PEC);


 Plano Prospectivo Indicativo (PPI);
 Programa de Reabilitação Económica (PRE);
 Programa de Reabilitação Económica e Social (PRES);
 Plano de Acção para a Redução da Pobreza Absoluta (PARPA I-ll).

2.2.1 Plano Estatal Central (PEC)


O III Congresso da Frelimo deliberou a criação do primeiro Plano Estatal Central, o PEC.
Era um plano quinquenal (cinco anos), de linha orientadora sobre o modo de desenvolvimento da
economia moçambicana. Houve vário PEC durante os primeiros anos da independência e eram
deliberados no congresso. O PEC de 1977 determinava explicitamente:
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 A nacionalização da Banca;
 A nacionalização do Ensino;
 A nacionalização da Habitação;
 A nacionalização da Terra;
 A nacionalização da Saúde.
A 4 e 7 de Fevereiro de 1977 o III congresso define o Banco de Moçambique como
instrumento de controlo de economia e a palavra de poder do PEC era a nacionalização da
economia num forte trabalho de centralização do estado.

2.2.2 Plano Prospectivo Indicativo (PPI)

Segundo República Popular de Moçambique (1977,p. 4), o PPI é um instrumento na base


do qual o Estado moçambicano pretendia organizar os seus recursos para o desenvolvimento do
potencial agrário e industrial, para a elevação progressiva do nível de vida do povo e o reforço da
capacidade defensiva de uma pátria socialista. Sendo assim os três grandes objectivos deste
plano eram:

 A coperativização do campo;
 O desenvolvimento do sector estatal e agrário;
 Acção e desenvolvimento da indústria pesada, particularmente o ferro e o aço.
O Sistema político vigente na altura influenciou sobremaneira as decisões políticas pois,
ao conceber este Plano por 10 anos (1980-1990), procurava encontrar instrumentos que poderiam
reconstruir o desenvolvimento e a economia do país assolada pela guerra civil entre 1977-1992.
(Mosca e Oppenheimer,2005).

É por estes factores que este plano foi desenvolvido dentro das directrizes do III
Congresso da Frelimo realizado em 1977, com vista a reforçar os sinais que se aparentavam na
economia em recuperação.

Portanto, era objectivo do país, celebrar as vitórias sobre o subdesenvolvimento no


sentido de construir o país, pois, o então presidente da república, Samora Machel, declarou a
década de 1980 como uma era da luta contra o subdesenvolvimento e proclama as campanhas
políticas e organizacionais. Sob ponto de vista político ideológico, esta campanha preconizava a
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construção de um Estado novo e este é o elemento que justifica, a escolha pelo governo destes
instrumentos de planeação, (Carvalho, 2008).

No contexto do estabelecimento de uma dinâmica de desenvolvimento económico e


social no período entre 1975 a 1980 constatou-se que, as sanções aplicadas por Moçambique à
Rodésia do Sul (actualmente Zimbabwe) tiverem como consequência a redução do tráfego
internacional, para os países do interland na região austral de África, o que teve implicações nas
relações diplomáticas entre os dois países, no contexto da cooperação bilateral.

Neste período, as agressões constantes do regime minoritário e racista da Rodésia do Sul


exigiram a mobilização e canalização dos recursos para assegurar a defesa da soberania e
integridade territorial moçambicana e garantir o apoio ao desenvolvimento constante da luta do
povo zimbabwiano pela sua liberdade e independência nacional.

Durante os primeiros cinco anos, a essência da estrutura económica criada pelo


colonialismo manteve-se, e ela traduz uma forte dependência ao exterior no que se refere a
combustíveis líquidos, metais, produtos químicos, equipamento e peças sobressalentes. A
situação agravou-se ainda mais como resultado de novos factores externos, em especial no que se
refere aos preços do mercado internacional. A crise do sistema capitalista mundial teve com
efeito, reflexos negativos no processo de desenvolvimento que se traduziram na deterioração dos
termos de troca.

Portanto, com a concepção do PPI, a economia de Moçambique foi orientada em


conformidade com os eixos centrais denidos pela socialização do campo e desenvolvimento
agrário, que se assentava em dois elementos: por um lado, ao desenvolvimento acelerado do
sector estatal agrário (com base na exploração agrária e na mecanização, realizadas
principalmente, através dos grandes projectos que respondessem às necessidades do povo e
tornassem o sector estatal dominante na economia nacional) e na cooperatividade do campo
transformação de milhões de camponeses num forte campesinato socialista edificado sob novas
relações de produção. (Mosca e Oppenheimer, 2005).
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2.3.2 Programa de Reabilitação Económica (PRE)

Segundo Roesch, (1992,p.6), como resultado da situação económica em que o país se


encontrava, nos primórdios do período de1987-1990, o chamado período de recuperação em
tempo de guerra 24, o governo moçambicano apresenta o programa de Reabilitação económica
(PRE), que tem suas raízes nas grandes reformas económicas introduzidas no decurso do IV
Congresso do Partido Frelimo em 1983.

O IV Congresso considerou a reabilitação e rentabilização da capacidade instalada em


termos de industriais e de transportes, quer no sector estatal quer no privado, como uma
prioridade principal do programa de reformas económicas que o governo seria chamado a
implementar (ibid.9).

O objectivo geral do PRE consistia em suster o declínio económico do país e em


aumentar os resultados da produção e com o fim de recolocar o PIB do país aos níveis de 1981.
A agricultura, particularmente a camponesa, era o sector prioritário do programa de reabilitação
(ibid.:10). Esta abertura do PRE possibilitou um rápido crescimento da camada comerciante
aumentando o seu poder económico e sua influência política. Tornou possível que o sector
privado progressivamente substituísse o Estado no comércio aumentando o seu papel económico.

O PRE, foi uma realidade marcante na vida dos moçambicanos, aumentou


acentuadamente a disponibilidade de alimentos e de bens de consumo. Porem, não foi de todo
um programa enxugado de consequências sociais negativas, trouxe também consigo subidas
drásticas de preços dos alimentos e bens de consumo.

Especificamente, os serviços sociais, registaram aguçados aumentos de preços, pois os


preços das consultas e medicamentos haviam subido, significando para os trabalhadores com
baixo rendimento e pobres em geral25 um decréscimo significativo no acesso aos cuidados de
saúde de que anteriormente dispunham (Roesch,1992).
Contudo, entre “1987 e 1989 a economia registou um crescimento, embora na medida
não prevista. A média rondava aos 4% ao ano, um crescimento que incluía produtos agrários e
industriais comercializados como transportes e construções” (Marchall, 1990:9). Uma das
principais quebras registou-se no sector agrário, que registou apenas um crescimento de 2.6% e,
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noutros sectores notou-se que a principal tendência foi o declínio. As primeiras taxas de
crescimento feitas em 1990, indicavam uma contínua queda da economia (Marchall, 1990).

A guerra de desestabilização, que destruiu a maior parte de sistema ferro-portuário,


considerada uma das principais fontes de receitas para a economia moçambicana, foi uma das
causas da contínua queda da economia moçambicana nesse período.

Conforme Roesch, (1992,p.16), PRE teve consequências sociais e políticas na medida em


que os custos mínimos de subsistência para uma família urbana de cinco elementos em meados
de 1988 (cobrindo despesas de alimentação, renda de casa, electricidade e educação para as
crianças, mas excluindo o vestuário), localizava-se nos 29.000 Mt/mês, mais do dobro do salário
mínimo nacional de 12.500 Mt/mês recebido por muitos moçambicanos” (Roesch, 1992:16).

2.3.3 Programa de Reabilitação Económica e Social (PRES)

De acordo com Oppenheimer & Raposo, (2002,p.45), o que ficou atrás exposto, o PRE
não alcançou seus objectivos dentro do quadro geral para que foi desenhado. Só a partir de 1989,
no segundo ano do PRE é que a pobreza foi encarada como um objecto particular de
preocupação, no contexto da iniciativa dos doadores26 que levaria posteriormente à
transformação do PRE em Programa de Reabilitação Económica e Social (PRES).

Este programa começou a ser implementado de acordo com padrões desenvolvidos pelo
Banco Mundial (BM) e o FMI27. Assim, o PRES tomava mais em consideração as dimensões
sociais da reabilitação económica e passava a ter uma abertura em relação as forças do mercado,
numa perspectiva de liberalização do comércio interno para tornar mais fácil a actividade do
sector privado bem como o acesso aos insumos de capitais, (Abrahamson & Nillson, 1994:49).

O GDM salientava, mais do que nunca, a luta contra a pobreza e o desenvolvimento da


estrutura física e social da das zonas rurais. Sobre este prisma, quatro objectivos eram tomados
como importantes pelo PRES: i) Parar a diminuição da produção; ii) Assegurar às populações
das zonas rurais receitas mínimas e um nível de consumo mínimo; iii) Reinstalar o balanço
macro económico através da diminuição do deficit orçamental e; iv) Reforçar a balança de
transições correntes e a balança de pagamentos.
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Segundo Hanlon (1997:85), o PRE estimulou o crescimento económico ao mesmo tempo


que trouxe consigo grandes dificuldades, enquanto o PRES foi totalmente negativo neste aspecto,
pois concedia subsídios de alimentação de 2 dólares por mês a 85 famílias de idosos e deficientes
físicos através do Gabinete de Apoio à População Vulnerável. Contudo, a reestruturação do
sector industrial e a privatização desencadeou grandes críticas, ao trazer consigo o aumento de
desemprego Diz-nos ainda o autor que cerca de 38 000 trabalhadores tinham perdido o emprego
por causa das privatizações.

2.3.4 Plano de Acção para a Redução da Pobreza (PARPA)

Segundo PARPA I (200,p.2), a luta contra a pobreza tem sido realizada desde os
primeiros dias da Independência. Foi dada uma elevada prioridade às despesas da educação e
saúde, de modo a acentuar o desenvolvimento humano. Também foram realizados investimentos
profundos na reabilitação da infra-estrutura básica. A partir de 1987, foi iniciado um programa
de estabilização e ajustamento estrutural cujo objectivo era o restabelecimento da produção e
melhoria dos rendimentos individuais num processo de reformas profundas no sentido do
lançamento de uma economia propulsionada pela iniciativa privada e pelas forças de mercado.

Foram alcançados sucessos assinaláveis. Nos últimos dez anos, Moçambique atingiu um
crescimento económico de cerca de 8 por cento ao ano, em termos reais, num ambiente de
estabilização económica e política. A democracia e a paz foram fortalecidas e o povo
Moçambicano continua a sua luta na procura do progresso. Porém, os progressos alcançados não
permitiram que fossem superados problemas sociais e económicos graves. O país continua a ser
dos mais pobres do Mundo. Claramente, o problema da pobreza é o desafio chave que se coloca
ao país. A capacidade de enfrentar estes desafios ainda é muito limitada devido a carências
severas de recursos, derivada de uma profunda fraqueza estrutural da economia.

O Plano de Acção para Redução da Pobreza (PARP) é um instrumento de política pública


do GdM que se inspira nos “Documentos Estratégicos para a Redução da Pobreza” (Poverty
Reduction Strategy Papers - PRSPs), concebidos e adoptados pelo FMI e Banco Mundial (BM),
em 1999, como “uma nova estratégia para nortear sua assistência aos países de baixa renda”,
(Ames et al. 2002; IMF 2003, p.3).
9

Com efeito, o PARP (2011-2014) é a estratégia de médio prazo do GdM que


operacionaliza o Programa Quinquenal do Governo (PQG, 2010-2014) focando no objectivo de
combate a pobreza e promoção da cultura de trabalho, com vista ao alcance do crescimento
económico inclusivo e redução da pobreza e vulnerabilidade no País.

O GdM em 1999/2000 adoptou o primeiro Plano de Acção para a Redução da Pobreza


Absoluta (PARPA), previsto cobrir o período 2000-2004, mas acabou por vigorar apenas em
2000 (CM 1999; L. D. Diogo & Maleiane 2000; IMF 2000; MPF 2000).

O PARPA 2001-2005, também conhecido por PARPA I, como se o inicial tivesse sido
um PARPA-0, foi aprovado em Abril de 2001 (MPF 2001); o PARPA 2006-2009, também
conhecido por PARPA II, estendeu-se até 2010 (MPD 2006); e o PARPA 2011-2014, foi
aprovado pelo GdM, na 15ª sessão ordinária do Conselho de Ministros (CM), de 3 de Maio de
2011, e pelo Conselho de Administração do FMI, a 17 de Junho de 2011 (IMF 2011b; MPD
2011) e tem como meta principal reduzir o índice de incidência da pobreza alimentar dos actuais
54.7% em 2010 para 42% em 2014. (CM, 2011:5).

Em todos os PARP’s podemos constatar que o objectivo central foi e continua a ser
diminuir a incidência da pobreza para níveis progressivamente baixos de ano a ano. Este
objectivo nos PARP’s – a redução da pobreza – não se altera, mas os instrumentos, políticas e
metas podem e vêm sendo alterados à medida que se vai aprimorando o conhecimento sobre as
diferentes variáveis. Portanto, o PARP é um instrumento de políticas e acções que são revistas e
aperfeiçoadas periodicamente, envolvendo também um processo permanente de consultas.

2.4.4 Política externa: O não-alinhamento, A linha da frente, SADCC-SADC

Desde que Moçambique se tornou uma nação independente, optou pelo não-alinhamento.
O movimento dos não-alinhados é uma associação livre de países que durante a Guerra fria, não
se posicionaram das superpotências, os EUA e URSS. Apesar de Moçambique e maior parte dos
outros membros desta associação não se reverem, nem tão-pouco subscreverem as políticas
militares de qualquer de um dos blocos, mantinham uma política socialista. Isto é , Moçambique
apesar de formalmente não se colocar do lado da URSS estava politicamente bem mais próximo
dela do que dos EUA. (Christie,1996).
10

Segundo a Frelimo (1977, p.81), Está tomada de posição de Machel teve vantagens e
desvantagens, por um lado Machel e os demais não-alinhados limitaram a geografia da Guerra
Fria. Ao não se declararem do lado de qualquer potências impediram a escalada de violências em
muitos confrontos, por outro lado serviriam muitas vezes de mediadores contudo, a aproximação
de Machel e dos seu governo ao socialismo marxista foi vista em maus olhos pelo apoiante dos
EUA, países de matriz capitalista; isto afastou o investimento capitalista do país.

A linha da frente

Com a independência das antigas colónias portuguesas e de outras potências imperialista,


abriu-se uma nova era da história da região austral de África. A situação política e o equilíbrio de
poder sofreram uma transformação radical. A independência do Zimbabwe, em 1980,fez
desaparecer mais estado aliado do regime racista Sul-Africano. A República da África do Sul
tinha ficado sozinha na sua luta racista.

Em 1979, os estados de Angola, Moçambique, Tanzânia e Zâmbia decidiram dar início a


uma cooperação regional alternativa, Cujó objectivo era estabelecer seu domínio económico
regional e criaram linha da Frente.

A linha da Frente foi uma organização que pretendia apoiar países da região na sua luta
pela emancipação ou independência com destaque para o apoio a luta do sudoeste africano,
Namíbia, Zimbabwe e África do Sul. Em 1980, o Zimbabwe e África do Sul tornaram-se
independentes e aliou-se a linha da frente. (Zeca 2015).

3.1 SADCC

A SADCC, é a sigla Southem African Development Coordination Conference, foi


fundada em 1980 por noves países: Angola, Botswana, Lesoto, Malawi, Moçambique
Suazilândia, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabwe. O objectivo desta conferência de desenvolvimento
para a África do sul, que vivia sob o regime racista do apartheid. Ao reduzir a dependência em
relação a está potência ela perderia consequentemente, bastante poder na zona.

Assim a SADCC enquanto conferência traçou as seguintes linhas-mestras de


desenvolvimento:
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 Criar programaas de acção a agricultura e alimentação;


 Desenvolver os recursos humanos;
 Promover a indústria e as energias;
 Dar apoio aos transportes e comunicações.
SADC

Presentemente, a SADC, South African Development Community (Comunidade para


desenvolvimento da África Austral), existe desde 1992, em substituição da SADCC, e engloba
14 estados da região austral da África: África do Sul, Angola, Botswana, República democrática
de Congo, Lesoto, Madagáscar, Malawi, Maurícia, Moçambique, Namíbia, Suazilândia,
Tanzânia, Zâmbia e Zimbabwe. (FRELIMO 1977).

A região austral de África enfrenta uma série de dificuldade de natureza diversas, desde
os problemas ou adversidades naturais como seca prolongadas, cheias cíclicas doenças
endémica, como a malária, Duda, e a pobreza extrema. Neste quadro problemático a SADC
surge como como uma organização que tem como objectivo de unir esforço na região para a
promoção do desenvolvimento económico, político, cultural e desportivo de todos países
membros, mas isso de que forma?

Ajudando a incrementar estratégias comuns e de desenvolvimento de aproximação de


pessoas e bens entre países membros. No fundo os países da África Austral, depois de sofrerem
em separados resolveram unir esforço e vencer juntas as diversidades que os assolavam.

Os financiamentos dos projectos eram obtidos de duas maneiras. A primeira é a mais


importante é a contribuição de cada um dos membros, com o valor baseado no respectivo PIB; a
segunda e através da colaboração de parceiros económicos internacionais, como a UE, e alguns
países desenvolvidos. A SADC. Tem como principal parceiro económico a união europeia, que
para além de apoiar vários projectos de desenvolvimento regional realiza importante trocas
comerciais com os países da região. (FRELIMO 1977).
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3.1.1 A política de desestabilização da África do Sul e sua influência na situação económica,


social e política de Moçambique

Segundo Abrahamsson & Nilsson, (1998), a desestabilização pode ser definida como um
método político para forçar mudanças no comportamento de um governo, sem necessariamente
ter que o derrubar, ou seja, um processo em que acontecimentos observáveis indicam a perda de
controlo pelas autoridades governamentais, gerando uma ameaça física ou psicológica difusa ao
governo ou à segurança em geral.

Na África Austral, África do Sul escolheu a desestabilização como uma táctica dentro de
uma grande estratégia regional em defesa dos seus interesses políticos e económicos. Para o
Governo de Moçambique, a desestabilização visava destruir a produção agrária e o sistema de
comércio para provocar a fome e desencorajar a produção de excedentes; inviabilizar a
socialização do campo; paralisar a economia nacional através de bloqueio de estradas, linhas
férreas, linhas de telecomunicações e de transporte de energia para afectar indústrias e outras
unidades de produção; frustrar o esforço de cooperação e desenvolvimento regional, com a
destruição dos sistemas de comunicação rodoviário e ferroviário da Conferência de Coordenação
do Desenvolvimento da África Austral.

Segundo Newitt (1995, p. 481), África do Sul procurava impedir o apoio dos países
vizinhos ao Congresso Nacional Sul-Africano, sabotar a tentativa da Conferência de
Desenvolvimento da África Austral de criar um bloco económico fora da órbita sul-africana e
criar uma destruição económica e social em países seleccionados para denegrir a imagem tanto
do socialismo quanto de governos de maioria negra na região.

O autor acredita que os principais objectivos da política de desestabilização eram impedir


que a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral se tornasse uma força económica na
região e destruir as bases externas do Congresso Nacional Africano e da Organização do Povo do
Sudoeste Africano, assim como enfraquecer politicamente os Estados vizinhos, para que não
actuasse de forma coordenada com o sistema político do Apartheid. Desestabilização implicava o
enfraquecimento das economias dos estados circundantes, que os orçamentos considerassem
cada vez mais medidas de segurança e se fomentasse a dissidência interna.
13

Sendo assim entende-se deste trecho que a desestabilização movida pela África do Sul
visava essencialmente defender o sistema do Apartheid contra a oposição interna e externa do
país, criar um sistema social na África do Sul que fosse aceite internacionalmente, permitindo o
país voltar ao convívio normal no concerto das nações e dominar a região política e
economicamente. Além de defender a sobrevivência do sistema do Apartheid e a dominação
económica e política na região, Pretória procurava forçar mudanças políticas ou orientação dos
Estados-alvo. Em Moçambique, um dos objectivos mais importantes da África do Sul era
impedir a utilização do sistema de transporte moçambicano pelos países vizinhos.

O processo de desestabilização movido contra Maputo evoluiu em três fases. A primeira


fase decorreu entre 1980 e 1984. Esta etapa foi marcada pelo início de apoio sul-africano à
Resistência Nacional Moçambicana e culminou com a assinatura do Acordo de Inkomati cujo
objectivo primordial, para Moçambique, era travar os ataques directos e indirectos da África do
Sul.

A segunda fase compreende o período entre 1984 e 1988, caracterizado pela


intensificação do conflito armado no interior do país e pela resposta económico-militar da
comunidade regional e internacional para contrariar a estratégia sul-africana. A terceira e última
fase foram entre 1988 e 1992. Este é o período de mudanças políticas dentro da África do Sul e
sua abertura político-diplomática que conduziu ao fim do Apartheid e do conflito armado em
Moçambique, (NHABINDE, 1999).

Afirma-se que os primeiros sinais de desestabilização militar começaram a ser detectados


ainda em 1975, antes da independência nacional. Nessa altura, as forças de segurança de
Moçambique já interceptavam informações sobre a movimentação de indivíduos considerados
“reaccionários” ou contra-revolucionários. Neste âmbito, em Abril 1975, cinco indivíduos de
nacionalidade estrangeira, dentre eles um alemão e quatro sul-africanos, foram detidos.

De acordo com as autoridades moçambicanas, o cidadão alemão era mercenário e um dos


sul-africanos era especialista em terrorismo urbano. Todos eles eram acusados de atentado contra
a economia moçambicana (TEMPO, 1975). Em Setembro do mesmo ano, duas pessoas ficaram
gravemente feridas quando accionaram uma bomba numa rua da cidade de Maputo. Segundo as
14

informações oficiais, a bomba havia sido colocada por contra-revolucionários que pretendiam
denegrir a imagem da Frelimo.

Em Novembro, mais de três mil pessoas provenientes dos principais centros urbanos do
país, acusados de comportamentos desviantes, foram enviados forçosamente para os campos de
produção, alegadamente para a sua reabilitação. Acredita-se que esta operação criou uma onda
de descontentamento no seio dos enviados, propiciando o seu recrutamento a redes consideradas
reaccionárias.

Em Dezembro, indivíduos armados desconhecidos confrontaram-se com as Forças de


Defesa e Segurança na Cidade de Maputo. Um grande número dos elementos suspeitos de serem
contra-revolucionários fora capturado. Alguns ficaram feridos e outros foram mortos. Ainda
neste mês, nos finais, mais de 1200 cidadãos portugueses, maioritariamente membros de defesa e
segurança, deixaram Maputo com destino ou para Lisboa ou para África do Sul e Rodésia do Sul.

A 19 de Dezembro de 1975, o presidente de Moçambique, Samora Machel, alertou a


sociedade moçambicana para a necessidade de estar vigilante contra elementos reaccionários e
subversivos, incluindo alguns membros das forças armadas, que pretendiam agitar a população
de modo a se levantar contra o Governo.

Em Março de 1976, Moçambique fechou as suas fronteiras com a Rodésia em


cumprimento total das sanções impostas pelas Nações Unidas sobre este país. Depois da decisão
de Maputo, a Rodésia começou a violar as fronteiras moçambicanas em Manica, alegadamente
em perseguição dos guerrilheiros da União Nacional Africana do Zimbabwe e da União Africana
do Povo do Zimbabwe. O presidente de Moçambique acusou a Rodésia de estar a violar a
soberania nacional e anunciou o abate de um avião militar em território moçambicano, (PEEL,
1976).

Em Junho, a Voz de África Livre, uma rádio de propaganda antigovernamental, iniciou as


suas emissões em Português e línguas nacionais, a partir da Rodésia. No mesmo mês, o Daily
Mail (1976) publicou, em Salisbúria (actual Harare), a entrada massiva de cidadãos portugueses
na Rodésia saídos de Moçambique em busca de liberdade.
15

Outro Jornal rodesiano, o Rhodesia Herald (1976), emitia uma outra informação sobre
um ataque perpetrado pelo povo Makonde no norte de Moçambique. Havia também artigos que
anunciavam que Moçambique estava à beira de uma guerra civil. Esta e outras informações
difundidas vieram a ser denunciadas pela imprensa nacional.

É importante frisar que, ao que tudo indica, a máquina propagandística do regime


rodesiano visava preparar a sociedade moçambicana para a aparição do movimento rebelde a que
veio a ser conhecido pela Resistência Nacional Moçambicana. Efectivamente, num dos seus
programas, a estação emissora anunciava a criação do movimento armado, nos seguintes termos:
“as aves chegaram a montanha; em breve segue transporte”.

Entende-se que com as aves se referia aos elementos da Resistência Nacional


Moçambicana já preparados militarmente e prontos para serem aerotransportados dos campos de
treino, na Rodésia, para o interior de Moçambique com o objectivo central de desencadear
ataques, sabotagens e outras acções de desestabilização. Assim, para além de bombardeamentos
directos contra objectos socioeconómicos e militares, o regime rodesiano iria atacar
indirectamente Moçambique através da Resistência Nacional Moçambicana.

3.2.1 Criação da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO)

Assume-se que Resistência Nacional Moçambicana foi criada pelos serviços de


inteligência da Rodésia do Sul em 1977, a Central Intelligence Organization, com a Direcção
Geral de Segurança portuguesa.

De acordo com Vines (1991), a origem da criação da Resistência Nacional Moçambicana


está na ofensiva da Frente de Libertação de Moçambique em Tete e do Exército de Libertação da
Nacional Africano do Zimbabwe, a partir desta mesma região. O grupo era composto por
portugueses da antiga Polícia Internacional de Defesa do Estado Direcção Geral Segurança,
alguns moçambicanos que pertenceram à tropa colonial portuguesa e dissidentes da Frente de
Libertação de Moçambique.

O objectivo inicial era recolher informação sobre as operações destes dois movimentos de
libertação, para melhor contrapor as suas as investidas militares. Ainda segundo Vines (1991),
16

este objectivo foi frustrado pelo golpe de Estado em Portugal e consequente independência de
Moçambique.

A partir da independência de Moçambique, o grupo foi reerguido, mas desta vez contra o
governo de Moçambique, porque este era hostil à Declaração Unilateral da Independência da
Rodésia, apoiava o Exército de Libertação Nacional Africano do Zimbabwe e, principalmente,
pelo encerramento das fronteiras em 1976. O encerramento das fronteiras pelo Governo de
Maputo, em 1976, serviu de pretexto para Rodésia iniciar ataques directos contra alvos militares
e objectos socioeconómicos de importância estratégica em território moçambicano. No ano
seguinte, 1977, a Rodésia conseguiu infiltrar elementos da Resistência Nacional Moçambicana,
por si criada, para realizar ataques a alvos civis, militares, assim como sabotagens de infra-
estruturas e destruição de bens públicos e privados.

Há um consenso entre vários estudiosos que a Resistência Nacional Moçambicana não


tinha aspirações políticas nos primeiros anos da sua criação. O Objectivo principal era servir-se
de instrumento de sabotagens e destruição no interior de Moçambique ao comando das Forças
Especiais do regime de Ian Smith. Nas palavras de Vines (1991), o regime rodesiano criou a
Resistência Nacional Moçambicana para desencadear acções de sabotagem, perturbar a
população, distorcer a economia e atacar as bases Frente de Libertação de Moçambique e do
Exército de Libertação Nacional Africano do Zimbabwe, bem como obter informação
estratégica. Assim o regime de Ian Smith sustentou a Resistência Nacional Moçambicana até
1979.

Segundo Hanlon, (1997, p. 12), em 1979, assinou-se o Acordo de Lancaster House, Grã-
Bretanha, entre o regime de Ian Smith e os Movimentos de Libertação do Zimbabwe, facto que
culminou com a independência do Zimbabwe, em 1980. Durante a transição, a Resistência
Nacional Moçambicana passou ao Comando e apoio directo das Forças de Defesa da África do
Sul. “Durante a transição no Zimbabwe, os serviços secretos da Rodésia transferiram a direcção
da Renamo36 para a África do Sul cuja Inteligência Militar se passou a ocupar dela. A Renamo
passou a beneficiar-se de muito mais apoio e melhor treino. Desta forma, a Resistência Nacional
Moçambicana tornou se no principal instrumento da África do Sul para a desestabilização.
17

Segundo a revista Tempo (1981), África do Sul passou, assim, a recrutar, treinar, equipar,
e infiltrar agentes através da fronteira moçambicana. A fonte avança que os agentes, por sua vez,
recebiam ordens directas dos serviços secretos sul-africanos. Como evidências, as Forças
Armadas de Moçambique capturaram trinta e seis armas diversas entre ligeiras e pesadas,
incluindo uma grande quantidade de munições no território moçambicano, através da fronteira de
Pafuri, na Província de Gaza. Além disso, África do Sul apoiava directamente a Resistência
Nacional Moçambicana em abastecimentos por via área. Outras acções incluíam a fabricação de
moedas falsas e lançamento de panfletos propagandísticos pelo ar, pelos rios e pelo mar.

Segundo Vines (1991), diz que quando a Resistência Nacional Moçambicana passou ao
controlo da inteligência sul-africana, foi reestruturada, passando a incluir forças especiais da
África do Sul. O movimento rebelde tornava-se assim o principal instrumento de
desestabilização (DAVIES; O’MEARA, 1986). De acordo com os mesmos autores, até 1983,
140 aldeias já haviam sido destruídas, incluindo 840 escolas, 900 cantinas rurais e mais 200
unidades sanitárias.

A questão que interessa aqui é saber os objectivos que moviam África do Sul para
desestabilizar Moçambique. De acordo com Olson (1991), os objectivos estratégicos da África
do Sul eram defender és estruturas e instituições básicas do Apartheid e “manter África do Sul do
Apartheid como potência regional rodeada por uma cintura de Estados subjugados, servindo de
mercados para produtos sul-africanos e fornecimento de mão-de-obra, matérias-primas e,
quando, necessário, serviços de transporte” (OLSON, 1991, p.18). Ainda na versão do mesmo
autor, África do Sul procurava que os Estados vizinhos não se transformassem em economias
fortes e independentes. Estes deveriam manter e aumentar os seus laços económicos e a sua
relação de dependência com Pretória.

Nos dizeres de Newitt (1995), a Resistência Nacional Moçambicana tinha ordens para
atacar e sabotar infra-estruturas económicas e sociais, tais como pontes, estradas, linhas férreas,
aldeias comunais, cooperativas, hospitais, escolas, edifícios governamentais e armazéns das
plantações estatais. O objectivo primário da África do Sul era a destruição. A médio prazo a
África do Sul pretendia forçar Moçambique a adoptar uma postura favorável ao sistema político
18

do Apartheid e abandonar qualquer tipo de apoio ao Congresso Nacional Africano, incluindo o


trânsito dos guerrilheiros do Congresso Nacional Africano para a África do Sul.

O objectivo incluíam o enfraquecimento da campanha ideológica anti-apartheid liderada


por Moçambique e destruir as alternativas de transporte para manter os Estados da Linha da
Frente do hinterland dependentes dos serviços de transporte sul-africanos (MINTER, 1998).

Para Ferrão (2002), o regime sul-africano utilizou a Resistência Nacional Moçambicana


para garantir a hegemonia política e económica de Pretória, defender os interesses do regime do
Apartheid internamente e isolar o Congresso Nacional Africano.

Segundo Minter, (1998, p. 55), o objectivo último da África do Sul era agora criar uma
região da África Austral na qual todos os Estados aceitassem a legitimidade e hegemonia sul-
africanas e colaborassem activamente no policiamento da oposição ao regime do apartheid.
Objectivos maximalistas mais específicos incluíam a instalação da Renamo em Maputo.

O governo de Moçambique percebia que a acção de desestabilização visava


particularmente romper as vias de comunicação pela importância estratégica que tinham para o
desenvolvimento da região; perturbar as actividades dos Estados membros da Conferência de
Coordenação do Desenvolvimento da África Austral e frustrar o esforço para a criação de um
sistema de cooperação económica regional que libertasse os países da região da dependência
económica em relação à África do Sul.

Fica evidente que os objectivos da África do Sul eram amplos, mas o principal era
garantir a sobrevivência do sistema político do Apartheid e manter a sua hegemonia regional. De
1980 a 1984, a Resistência Nacional Moçambicana já actuava em quase todo o território
moçambicano. As acções da Resistência Nacional Moçambicana se ampliaram, atingindo, para
além das províncias centrais de Manica e Sofala, Tete e Zambézia, a província de Niassa e Cabo
Delgado no Norte, bem como Maputo, Gaza e Inhambane no Sul, não apenas para destruir a base
económica e comercial do país, mas também para aterrorizar a população.

De acordo com Vines (1981), entre 6.000 e 7.000 elementos da Resistência Nacional
Moçambicana operavam activamente em Moçambique, distribuídos por todas as províncias. Hall
(1990) fala de, praticamente, uma duplicação de efectivos do movimento, de 5.000 em 1981,
19

para 10.000 no ano seguinte. As suas operações se concentravam na destruição de objectos


económicos e infra-estruturas sociais, facto que indica o cumprimento dos objectivos sul-
africanos de enfraquecer Moçambique até ao ponto de este seguir os interesses de segurança do
regime do Apartheid.

De acordo com Minter (1998), as acções de desestabilização contribuíram para África do


Sul atingir o seu objectivo de criação de um clima de insegurança.

Segundo Hall e Young (1997), afirmam que o aumento dos efectivos da Resistência
Nacional Moçambicana deveu-se ao recrutamento forçado, com recurso à violência. Na mesma
linha, recrutamento forçado foi um componente essencial da construção da força insurgente.

De acordo com Minter, (1998, p. 227 - 228), os recrutas eram obrigados a caminhar para
campos de treino no interior de Moçambique, alguns deles começando por ter de transportar bens
para os soldados da Renamo ou por servir de guias nas suas zonas de origem. Eram raptados nos
campos, no caminho para visitar parentes ou em casa. Outros eram capturados em grandes
grupos, no decorrer de ataques a escolas, aldeias, plantações ou pequenas vilas.

Com a evidência, mostra que, em Janeiro de 1980, um grupo de passageiros da empresa


estatal de transporte colectivo, Romos, que havia sido raptado durante um assalto perpetrado por
elementos da Resistência Nacional Moçambicana, em Agosto de 1979, na região de Inchope,
Província de Manica, revelou que tinha recebido treino militar na Rodésia do Sul e mais tarde
fora infiltrado no interior de Moçambique, com ordens de destruir infra-estruturas económicas,
infringir assassinatos e estabelecer um clima de instabilidade.

Outros recrutamentos decorriam entre jovens e adultos que eram encontrados a procura
de emprego no Malawi e na Rodésia e entre imigrantes ilegais na África do Sul.

Na visão de Christie (1996, p. 177-178), ele acredita que Eles conseguiram recrutar
largamente entre os homens que perderam poder e privilégios quando a Frelimo conquistou o
poder e nos campos de reeducação, praticamente sem guardas.

O tribalismo também foi um factor, com recrutamento a ser baseado em argumentos de


que este ou aquele não está suficientemente representado no governo. Alguns antigos
20

guerrilheiros da Frelimo, aborrecidos por várias razões, também aderiram, e alguns trabalhadores
emigrados na África do Sul foram recrutados à base de dinheiro. Houve também emigrantes
ilegais na África do Sul que foram recrutados porque lhes disseram que a alternativa era a prisão.

Percebe-se que havia entre os recrutas da Resistência Nacional Moçambicana antigos


militares das Forças Armadas de Moçambique, os portugueses e moçambicanos que perderam
privilégios depois da independência, prisioneiros fugitivos e dos campos de produção, incluindo
alguns trabalhadores moçambicanos migrantes na África do Sul. O autor acrescenta que a adesão
massiva de jovens à Resistência Nacional Moçambicana também foi facilitada pela crise de fome
causada pela seca que assolou o país.

Repare-se que estes autores explicam os métodos de recrutamento, mas fica em aberto a
questão relacionada com a rápida inserção ou expansão da Renamo em todo o território
moçambicano, tendo em conta a sua origem (Rodésia) e sua base de apoio logístico-militar
(África do Sul).

O apoio social à Resistência Nacional Moçambicana foi obtido, principalmente, pelo


terror e coerção. Há quem também atribui a fácil inserção da Resistência Nacional Moçambicana
no território nacional, principalmente nas zonas rurais, ao sentimento de repulsa às políticas
socialistas da Frente de Libertação de Moçambique. Argumenta-se que a Resistência Nacional
Moçambicana se aproveitou do tal sentimento para se suceder bem nas suas acções de destruição
da economia, (VINES 1991).

Para Huffman (1992), algumas políticas, com destaque para as nacionalizações,


particularmente da nacionalização de unidades industriais, e a socialização do campo ou
colectivização da agricultura, foram as políticas mais desastrosas, porque privilegiaram as
machambas (grandes plantações) estatais em detrimento da agricultura familiar, que era
tradicional e largamente praticada em Moçambique

No mesmo alinhamento, Cahen (1993), explica que a rápida expansão da Resistência


Nacional Moçambicana pode ser explicada não apenas com base em apoio externo,
principalmente da África do Sul, como também indica que havia uma forte base social ao nível
interno. O autor aponta para os erros cometidos pelo partido Frente de Libertação de
21

Moçambique, na altura Partido-Estado, tais como o apoio inadequado prestado às aldeias


comunais, a inexistência de uma nação, a implementação de um programa de alfabetização que
apenas era em Português (e não em línguas africanas), assim como o anti tribalismo opressivo.
Para sustentar a sua posição, o autor questiona o seguinte:

“Como se poderia explicar que um movimento rebelde, criado pelos rodesianos e depois
apoiado pelos sul-africanos, tão poderosos e peritos em manipulação social, tenha vindo a
operar eficazmente em mais de 95% do território sem qualquer base social? Como explicar que
não houve resistência militar popular contra esta agressão, que se tratava de uma guerra
privada entre o exército oficial e as forças militares rebeldes?”

Cahen (1993), admite que Rodésia e África do Sul desempenharam um papel chave na
criação, desenvolvimento e apoio à Resistência Nacional Moçambicana. Todavia, nega que o
factor externo seja o principal motor da sua expansão e defende: “esta guerra é uma verdadeira
guerra civil” (CAHEN, 1993, p.53), embora seja difícil de admitir38. Argumenta que não há
dúvida que o apoio externo foi importante, mas este factor não explica porque a guerra se
expandiu para todo o país. Cahen (1993), entende que, sem uma crise social profunda dentro da
Frente de Libertação de Moçambique, a Resistência Nacional Moçambicana nunca teria
encontrado possibilidades de crescimento.

Chan e Venâncio (1998), aliam-se a este posicionamento, atribuindo o rápido


crescimento e fácil inserção social da Resistência Nacional Moçambicana ao descontentamento
da população, sobretudo camponeses, com a política económica e social adoptada depois da
independência nacional e à incapacidade do governo de Moçambique em prover serviços básicos
essenciais, incluindo o excesso de zelo revolucionário nas políticas adoptadas interna e
externamente.

Segundo Venâncio, (1998, p. 1), tradicionalmente, o início da guerra civil em


Moçambique tem sido explicado em termos de desestabilização, primeiro, da Rodésia e, depois,
da África do Sul. Embora em grande medida esta explicação seja verdadeira, é importante
reconhecer que o conflito reuniu uma nova dinâmica interna, uma vez que o regime pós-
22

independência rapidamente se associou ao excesso de zelo revolucionário nas políticas


adoptadas, tanto a nível interno como externo, e na forma como estas foram levadas a cabo.

Para Pinto (2008), a Resistência Nacional Moçambicana surgiu de um conjunto de


razões, circunstâncias, vontades, sentimentos e ressentimentos, bem como apareceu de uma nova
conjuntura geopolítica regional na qual a Rodésia desejava vingar e contrabalançar o
acolhimento e apoio à União Nacional Africana do Zimbabwe – Frente Patriótica no território
moçambicano.

Adicionalmente, emergiu do descontentamento de uma parte da população rural,


particularmente no centro e norte do país, em relação às políticas socialistas da Frente de
Libertação de Moçambique. Como não bastasse, nasceu da resistência às perseguições contra os
antigos soldados moçambicanos do exército português, especialmente aos Grupos Especiais e
Grupos Especiais Pára-quedistas que se refugiaram e esconderam nas matas, incluindo a vontade
de retaliação e de mudança de uma parte dos colonos refugiados na África do Sul.

O argumento de Huffman (1992) e de Cahen (1993), a explicação de Chan e Venâncio


(1998), incluindo a explanação de Pinto (2008), contradizem-se com a tese de Hanlon (1997). Na
sua obra “Paz Sem Benefício: como o FMI Bloqueia a Reconstrução de Moçambique”, Hanlon
já havia fundamentado que os argumentos idênticos aos expostos por estes autores serviam
apenas para justificar a passagem posterior da Resistência Nacional Moçambicana ao partido
político. “Tem-se argumentado sobre o facto de a [Resistência Nacional Moçambicana] ser
moçambicana e se ter desenvolvido à custa do descontentamento dos camponeses, para justificar
a sua passagem posterior a partido político, mas isso não chega para fazer uma força de oposição.

Para Hanlon (1997, p. 12), a Resistência Nacional Moçambicana não passava de um


produto do interesse de segurança, antes de Rodésia e, posteriormente, da África do Sul.

Partilha-se a opinião de Hanlon (1997), em tese, defende-se que, na euforia da


independência, a população ainda não estava colectivamente consciente que havia outra
alternativa melhor que o governo que acabara de ser instituído e o sistema colonial que acabava
de se desmoronar. Além disso, a insuficiência de informação política, aliada a altos índices de
23

pobreza e baixa escolaridade, e o medo ou terror podem ter contribuído para rápida
instrumentalização política da população por parte da Resistência Nacional Moçambicana.

Reconhece-se, no entanto, que o facto de o Estado se encontrar ainda numa fase


embrionária de sua construção, com uma administração pública incipiente e políticas públicas
novas, mas ainda ancoradas no aparelho administrativo colonial, em processo de destruição,
pode ter contribuído na abertura de espaço para a tal manipulação.

A lógica dos acontecimentos corrobora com a afirmação de Minter (1998), segundo a


qual, a Resistência Nacional Moçambicana fora concebida como instrumento de destruição com
fins limitados, sem nenhuma intenção de pô-la no poder político em Moçambique.

A Resistência Nacional Moçambicana aumentou os ataques em 1983. O grupo já operava


em todas províncias, menos Cabo Delgado, graças ao amplo apoio que recebeu da África do Sul.

O MNR começou também a fazer reféns, sendo os primeiros um geólogo britânico e


vários portugueses, em finais de 1981 [...]. Estas acções [...] tiveram o efeito de impedir o
desenvolvimento rural. Os taques sistemáticos do MNR estenderam a muitas outras províncias,
incluindo a Zambézia, Tete, Inhambane, Gaza e Niassa. Segundo fontes do

Na visão de Minter, (1998, p. 53), o MNR, os seus contingentes atingiam já os 10.000


homens armados. Os abastecimentos sul-africanos começaram a entrar livremente através do
Malawi ou por outras rotas terrestres, em helicópteros e aviões de transporte DC-3, ou ainda por
mar.

Os intensos combates em várias regiões do país destruíram serviços sociais e vias de


comunicação. Nas províncias de Tete, Gaza e Inhambane, a intensidade da guerra coincidiu com
uma seca grave. Nestas regiões, a Resistência Nacional Moçambicana atacava as colunas de
abastecimento. Enquanto isso, África do Sul lançou outra incursão aberta de comandos em Maio
de 1983, matando cinco moçambicanos e refugiado sul-africano.

As acções da Resistência Nacional Moçambicana no interior de Moçambique eram


apoiadas por uma propagada (guerra de informação) engendrada pela estação emissora de rádio
24

“Voz da África Livre” e alguns meios de comunicação sul-africanos controlados pelos


respectivos Governos.

A propaganda não apenas tinha o objectivo de justificar as operações militares da África


do Sul no território moçambicano, mas também induzir a opinião pública mundial a pensar que a
luta de libertação da África Austral não era feita pelos povos oprimidos da região; que o combate
de libertação reduzia-se a uma rivalidade entre os Estados Unidos e a União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas; que o Governo de Moçambique era agressor; que existia um clima de
instabilidade e revolta popular em Moçambique.

Em face da expansão da guerra interna e das incursões militares de Pretoria contra


Maputo, as Forças Populares de Libertação de Moçambique intensificaram ataques contra a
Resistência Nacional Moçambicana, entre 1981 e 1984, com apoio do exército zimbabwiano.

As tropas zimbabwianas entraram em Moçambique em finais de 1982, para ajudar na


defesa de corredores de transporte fundamentais para o comércio e importação de petróleo para o
Zimbabwe. Um exército moçambicano reorganizado conseguiu obter alguns sucessos,
particularmente na província de Inhambane (MINTER, 1998).

O exército moçambicano revindicou ter morto 1.131 elementos da Resistência Nacional


Moçambicana, além de destruir 101 bases e feito 222 prisioneiros do grupo rebelde. Cerca de
4.000 pessoas raptadas pela Resistência Nacional Moçambicana foram, alegadamente, libertas.
Mas, estes sucessos não foram suficientes para estancar a intensidade da guerra. O nível de
assalto militar sul-africano não poderia somente ser travado por uma resposta armada. Ao todo,
era uma pressão política, militar, económica e informacional que, acrescida a uma situação
económica débil, resultado do efeito combinado de cheias, secas e ciclones41, levou o Governo
de Moçambique a procurar uma solução negociada com o Governo da África do Sul.

Ainda para Minter, (1998, p. 57), O objectivo dessa reivindicação consistia em convencer
os aliados ocidentais da África do Sul que Moçambique era um país genuinamente não-alinhado
e que a África do Sul era a verdadeira responsável pela instabilidade na região. Moçambique
procurava uma détente militar com África do Sul, ao mesmo tempo que se recusava a abandonar
o seu apoio político ao ANC.
25

A vontade de ter uma solução negociada já vinha desde o início das agressões militares
directas da África do Sul a Moçambique. Por exemplo, a 8 de Fevereiro de 1981, num discurso à
Nação em reacção aos ataques dos Comandos sul-africanos a Matola a 30 de Janeiro do mesmo
ano, Samora Machel, presidente de Moçambique, disse que o povo desejava a paz, mas não
temia a guerra.

Este posicionamento, embora paradoxal, era uma clara manifestação de que as


divergências político-ideológicas entre Moçambique e África do Sul só poderiam ser resolvidas
por via de negociações.

De acordo com Christie (1996, p. 186), “Samora sabia que a guerrilha tinha tomado
proporções para as quais o seu país não estava equipado para lidar. Calculou o pacto de não-
agressão com a África do Sul poderia pôr fim a tudo isso”. Desta feita, a 5 de Abril de 1984,
Samora Machel aludiu, num discurso à Assembleia Popular, que “nas nossas relações directas
com África do Sul sempre estivemos disponíveis para uma solução negociada”. De facto, as
conversações formais directas, de nível ministerial, entre Moçambique e África do Sul haviam
iniciado em Dezembro de 1982, com apoio dos Estados Unidos, tendo progredido em Maio de
1983

Os consensos alcançados nestes encontros não são bem conhecidos, mas tudo leva a crer
que consistiam em concertações de pontos a serem negociados ao nível mais alto, rumo a
assinatura de um pacto de não-agressão e boa vizinhança.

O objectivo principal de Moçambique era acabar com as incursões militares sul-africanas


directas no território moçambicano e abrir caminho para o fim das acções de desestabilização da
Resistência Nacional Moçambicana e para a recuperação económica. Sérgio Vieira, então chefe
da inteligência moçambicana, afirma nas suas memórias: “Quando me chamou a Maputo em
Dezembro de 1983, o presidente perguntou-me o que pensava de um acordo de não-agressão
com sul-africanos”.

Esta revelação indica que o Governo de Moçambique estava determinado a negociar


com África do Sul, para, em definitivo, estabelecer a paz. Negociar com a África do Sul
começou a ser, efectivamente, uma estratégia mais justa, depois de, em Outubro de 1983,
26

Samora Machel ter efectuado uma tournée diplomática a vários países Ocidentais,
especificamente à Europa, para obter apoio diplomático aos esforços de busca de paz para
Moçambique e África Austral e ao programa construtivo de desenvolvimento de Moçambique.
Segundo Christie (1996), Samora, em conversas com funcionários do Departamento de Estado
americano, tinha pedido ao Ocidente para pressionar a África do Sul para assinar um tal acordo.

Segundo Silva, (2013, p.191), dessa viagem, Machel voltou desiludido, porque a ajuda
que foi oferecida era claramente insuficiente para compensar o estado ruinoso da economia
moçambicana. Paralelamente à desilusão, os ataques da África do Sul contra Moçambique
continuaram, e a Resistência Nacional Moçambicana intensificou as operações de sabotagem e
assassinatos, principalmente nas zonas rurais. A economia rural ficou paralisada. Até Dezembro
de 1983, 900 estabelecimentos comerciais rurais haviam sido destruídos; 102 postos de saúde e
489 escolas primárias e 86 secundárias, incluindo 140 aldeias comunais também foram
destruídas; mais de 1,5 milhão de pessoas abandonaram as suas zonas de origem.

A economia, no seu todo, empalideceu De acordo com Shaw e Msabaha (1987), o custo
total das agressões directas e indirectas da África do Sul entre 1982 e 1983, eram estimados em
333 milhões de dólares norte-americanos.

A questão que se coloca é: porque é que África do Sul aumentou o seu apoio a
Resistência Nacional Moçambicana para destruir Moçambique, no meio de negociações? Na
literatura a que se acedeu não se levanta esta questão. Mas sabe-se que Moçambique e África do
Sul eram Estados hostis e economicamente diferentes. África do Sul era e é muito mais forte do
que Moçambique em quase todos os aspectos.

No dizer de Silva, (2012, p. 166), a negociação iniciada em 1982 era, sem dúvida, entre
um Estado forte e outro fraco e, as negociações diplomáticas entre nações fortes e fracas poderão
por vezes transformar-se num mero processo de troca de pontos de vista em que o Estado
poderoso, independentemente das opiniões do seu interlocutor, impõe a sua vontade.

Maganya (1987), afirma categoricamente que a África do Sul não tinha vontade de parar
as incursões de desestabilização em Moçambique.
27

Com base nestas asserções afirma-se que África do Sul optou pela diplomacia coerciva
no processo de negociações com Moçambique, com objectivo de obrigar este último a fazer
concessões favoráveis aos seus interesses políticos e económicos.

Erasmus (1984), é peremptório ao afirmar que a estratégia declarada de Pretória era de


negociar a partir de uma posição de força, e a sua força não se limitava à sua capacidade militar.

Porém, não se pode negar que África do Sul estava interessada em negociar. A situação
interna do país e o seu isolamento internacional impingiam-no a buscar soluções ao nível da
região, soluções que as operações militares não traziam.

A economia sul-africana, entre 1982 e 1983, enfrentava uma série de problemas


relacionados com os impactos da seca, mudanças políticas e económicas internas, sanções
económicas, acções de sabotagem perpetradas pelos movimentos contestatários, depreciação de
preços das principais mercadorias de exportação no mercado internacional e contínuo aumento
de despesas militares em consequência das intervenções nos países vizinhos (ERASMUS, 1984).

Além disso, havia uma enorme pressão internacional sobre o Governo da África Sul
vinda das Nações Unidas e dos principais aliados, principalmente dos Estados Unidos no sentido
de pôr termo às suas investidas militares (CROKER, 1992). Estes factores foram determinantes
para África do Sul procurar a via negocial como forma de regular as relações regionais e
melhorar a sua reputação internacional. Estes factos, conjugados com o interesse de Moçambique
em estabelecer a paz, culminaram com a assinatura do Acordo de Inkomati.

3.2.2 Acordo de Inkomati

Em 20 de Dezembro de 1983, as partes moçambicanas e sul-africana retomaram as


negociações. África do Sul pretendia que as negociações se centrassem em questões económicas
e turismo. Moçambique insistia na necessidade de discutir-se, primeiro, o assunto da Resistência
Nacional Moçambicana e de segurança. Para Moçambique, o pressuposto básico do seu
relacionamento com África do Sul era a necessidade de se estabelecer uma plataforma de
entendimento na área de Segurança (MACHEL, 1984).
28

A saída foi a criação de quatro comissões para conduzirem conversações bilaterais nos
meados de Janeiro de 1983, em matérias de segurança, relações económicas, turismo e a
Barragem Hidroeléctrica de Cahora Bassa. As conversações culminaram com a assinatura de um
acordo, a 16 de Março de 1984, nas margens do Rio Inkomati, na fronteira entre Moçambique e
África do Sul, posto fronteiriço de Ressano Garcia. Por isso, o acordo tomou o nome de - Acordo
de Inkomati, ou Acordo de Não Agressão e Boa Vizinhança.

A assinatura do Acordo de Inkomati foi norteada pela convicção das partes de que as
relações de boa vizinhança contribuiriam para a paz, segurança, estabilidade e progresso na
África Austral, no Continente Africano e no Mundo. Com base nesta convicção e nos princípios
básicos42 do Direito Internacional, Moçambique e África do Sul comprometiam-se a não
permitir que os seus espaços territoriais (terrestre, marítimo e aéreo) fossem usados por outros
Estados, governos, forças militares estrangeiras, organizações ou indivíduos que planeassem ou
preparassem cometer actos de violência, terrorismo ou agressão da integridade territorial ou
independência política de cada uma das partes do Acordo.

Para o efeito, ambas partes deveriam proibir e prevenir nos seus respectivos territórios a
organização de forças regulares ou bandidos armados, incluindo mercenários, cujo objectivo
fosse levar a cabo actos de violência, terrorismo e agressão, incluindo a eliminação de bases,
centros de treino, acomodação, trânsito, centros ou depósitos de armamentos, comunicação e
instalações de comunicação, estações de rádio; proibição e prevenção do recrutamento de
elementos para fins de actos de violência, terrorismo e agressão, bem como a proibição de
provisão logística para os mesmos fins.

O acordo não se referia expressamente à proibição de apoio político e militar de


Moçambique ao Congresso Nacional Africano, nem da África do Sul à Resistência Nacional
Moçambicana. Contudo, não restam dúvidas que estes movimentos eram o principal objecto do
acordo. Outro aspecto mais importante é a previsão de criação de uma Comissão Conjunta de
Segurança com o objectivo de supervisionar e monitorar a aplicação do Acordo. De resto, o
acordo foi estritamente de segurança. As questões relativas às relações económicas, turismo e à
Barragem Hidroeléctrica de Cahora Bassa não foram contempladas, embora tivessem sido
previamente colocadas à mesa de negociações e já houvesse comissões a respeito.
29

Segundo Machel, (1984a, p.6), os signatários interpretaram a assinatura do Acordo de


Inkomati de duas formas diferentes. Para a parte moçambicana, o acordo de “Inkomati marcou o
insucesso e a inviabilidade da estratégia regional que visava a destruição dos Estados
independentes e progressistas da África Austral.

Entende-se, assim, que o Acordo de Inkomati foi interpretado como uma grande vitória
diplomática de Moçambique sobre o regime do Apartheid e “um pesado revés” da África do Sul
ou seja, uma derrota da política de desestabilização. Dentro da África do Sul, o Acordo de
Inkomati foi percebido como uma capitulação humilhante de Moçambique.

O Ocidente saudou o acordo porque abriria novas oportunidades para a implementação


das iniciativas da Conferência de Coordenação do Desenvolvimento da África Austral, sobretudo
a restauração do sistema de transportes e comunicações.

Os restantes Estados membros da Conferência de Coordenação do Desenvolvimento da


África Austral ficaram no silêncio e a Organização da Unidade Africana não condenou o Acordo
(PETER, 1987).

Todavia, em círculos não formais de altas individualidades das duas organizações, a


assinatura do Acordo era entendida como um retrocesso na luta de libertação da região e do
Continente. Cita-se os casos dos Presidentes da Zâmbia, Kenneth Kaunda, e do Botswana, Quett
Masire, (ANGLIN, 1985).

O Estados da Linha da Frente (Angola, Botswana, Tanzânia e Zâmbia), após uma troca
de pontos de vista com a liderança moçambicana em volta do acordo de Inkomati na Conferência
de 29 de Abril de 1984, em Arusha, Tanzânia, expressaram a esperança de que África do Sul se
comprometeria a parar com os actos de desestabilização, e apreciaram o cometimento de
Moçambique de continuar a prestar o apoio moral, político e diplomático ao Congresso Nacional
Africano na sua luta contra o Apartheid.

Este posicionamento revela que, excepto o presidente de Moçambique, os líderes do


Estados da Linha da Frente duvidavam que o regime sul-africano cumpriria, de facto, o Acordo,
e não acreditavam que o Acordo de Inkomati traria a paz para Moçambique e extensivamente
para a região.
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Na prática, o Acordo de Inkomati não trouxe a paz e, portanto, fracassou. Há várias


explicações do fracasso, mas antes de perscrutá-las é necessário ter em mente que o acordo foi
desigual, porque foi estabelecido entre um Estado fraco (Moçambique) e outro forte (África do
Sul). Além de ser poderosa, África do Sul era uma nação agressora. De acordo com Silva (2012):

Tal como teoriza Silva (2012), os desenvolvimentos posteriores à assinatura do Acordo


de Inkomati mostram que a vontade da África do Sul se sobrepôs aos objectivos de Moçambique.
Os objectivos de Moçambique, ao assinar o acordo, eram ver terminadas as operações militares
directas e indirectas da África do Sul no seu território e recuperar a economia, África do Sul
pretendia expurgar a base de apoio do Congresso Nacional Africano.

Efectivamente, Moçambique reduziu a presença do Congresso Nacional Africano em


Moçambique a uma representação diplomática. Cerca de 800 membros do do Congresso
Nacional Africano saíram de Moçambique Pelo contrário, África do Sul não deixou de apoiar a
Resistência Nacional Moçambicana, embora tenha refreado as agressões directas contra
Moçambique, (JASTER, 1985).

A 3 de Outubro de 1984, África do Sul facilitou o primeiro contacto directo entre o


governo de Moçambique e a Resistência Nacional Moçambicana. O encontro decorreu em
Pretória e culminou com uma declaração – Declaração de Pretória – em que se reconhecia
Samora Machel como presidente de Moçambique, instava o fim imediato das operações militares
dentro do território moçambicano. O governo da África do Sul era chamado a fazer parte da
implementação da Declaração e previa-se a criação de uma comissão de implementação (GUNN,
1985).

Todavia, não se sabe se esta declaração significava o cessar-fogo, pois os resultados não
passaram de uma teatralização política. A confrontação militar entre as Forças Armadas de
Moçambique e a guerrilha da Resistência Nacional Moçambicana ganhou um novo ímpeto.

África do Sul reavivou o uso do Malawi como base de apoio logístico à Resistência
Nacional Moçambicana e, a partir daí, as incursões da Resistência Nacional Moçambicana
intensificaram-se. Desde Março de 1984 até Janeiro de 1985, Moçambique foi denunciando actos
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de violação do acordo. Entre Março e Junho de 1984, África do Sul forneceu armas, munições e
equipamento militar diverso à Resistência Nacional Moçambicana através do Mar, em Sofala.

Em Setembro, um avião da Força Aérea Sul-Africana foi visto a lançar equipamento


militar e uniformes na base da Resistência Nacional Moçambicana em Gorongosa, Sofala no
centro de Moçambique. Em Novembro, um avião sul-africano é interceptado a violar o espaço
aéreo moçambicano em Manica. Estes actos eram denunciados pelo Governo de Moçambique,
mas África do Sul foi negando o seu envolvimento, imputando toda a responsabilidade à
Resistência Nacional Moçambicana, até Agosto de 1985.

Em 28 de Agosto de 1985, as Forças Armadas de Moçambique, numa operação conjunta


com as Forças de Defesa do Zimbabwe, assaltaram a base da Resistência Nacional Moçambicana
em Gorongosa, onde capturaram documentos, dentre os quais o diário do líder do movimento,
Afonso Dhlakama. Os documentos revelaram, evidentemente, que as Forças de Defesa Sul-
Africanas continuaram a fornecer armas, munições, equipamento de comunicação, material
médico e propagandístico, mas antes, o Ministro dos Negócios Estrangeiros da África do Sul,
Roelof F. (Pik) Botha, já havia admitido que o seu país continuava a apoiar a Resistência
Nacional Moçambicana com armas, munições, transporte e outro material, (PARKS,1985).

A Inteligência Militar sul-africana também o confirmava, mas dizia que era apenas
material e equipamento não letal destinado a facilitar a negociação entre o Governo de
Moçambique e a Resistência Nacional Moçambicana, Como se pode depreender, ficou provado
que o Acordo de Inkomati foi violado. A justificação da África do Sul era que Moçambique não
deixara de ser canal de apoio e trânsito do Congresso Nacional Africano.

Os documentos de Gorongosa contribuíram para o esfriamento das relações políticas


entre Moçambique e África do Sul. Moçambique retirou-se das actividades da Comissão
Conjunta de Segurança criada no quadro do Acordo de Inkomati. O período pós Inkomati foi
mais dramático nas relações políticas entre Moçambique e África do Sul, porque a Resistência
Nacional Moçambicana prosseguiu e expandiu as suas operações para todo o país, com o apoio
expresso das Forças de Defesa da África do Sul.
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II Conclusão

No presente trabalho, procurou-se compreender as estratégias adoptada por Moçambique


pós independência e motivações que levaram Moçambique e África do Sul a manter as relações
económicas bilaterais, no meio de divergências ideológicas, hostilidades políticas e agressões
militares, entre 1975 e 1992. Por isso, conclui-se que, na ordem política regional da África
Austral, África do Sul utilizava o poder hegemónico para se impor como um centro, e os
restantes países, Moçambique incluso, posicionavam-se na periferia. Na sua interacção com
Moçambique, África do Sul exercia uma pressão económica e política com vista a manter
Moçambique numa posição de subserviência e de dependência, e como fonte de mão-de-obra
barata para as empresas mineiras e agrícolas sul-africanas. Para o efeito, África do Sul recorria a
acções militares directas e indirectas, incluindo sabotagens e chantagens económicas.
Moçambique por si não conseguiria reduzir a sua dependência e vulnerabilidade em relação à
África do Sul.

Em reconhecimento desta fragilidade, Moçambique alinhou-se a outros Estados


independentes da região, criando a Conferência de Coordenação do Desenvolvimento da África
Austral, com o objectivo último de reduzir a dependência económica ou a sua vulnerabilidade
em relação à África do Sul, através de esforços cooperativos em troca de bens e serviços. Desta
forma, estabeleceram-se relações bilaterais hostís, onde os objectivos políticos se misturavam
com interesses económicos, tanto do lado de Moçambique quanto da parte sul-africana,
evidenciando a dificuldade de se separar os assuntos políticos dos económicos, num contexto
internacional bipolar e numa ordem regional caracterizada por balanço de poder.
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III Referências Bibliográfica

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