Kjeld e Sampaio
Kjeld e Sampaio
Kjeld e Sampaio
Introdução
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MOÇAMBIQUE
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Para realizar essas transformações o governo interveio fortemente na
economia, eliminando a propriedade privada e nacionalizando os principais serviços
(saúde, educação, habitação, transportes, fábricas, etc). Essas medidas eram
consideradas pelo governo de extrema importância tanto por permitir o controlo
direto do Estado das principais áreas econômicas e de serviços como para promover
o acesso amplo dos cidadãos aos mesmos.
Contudo, a independência e as nacionalizações ocasionaram o abandono do
país de milhares de cidadãos portugueses, em sua grande maioria proprietários de
fábricas e comerciantes além de profissionais qualificados.
De acordo com Hanlon (1984), esse êxodo provocou um grave problema
econômico devido a falta de preparo de grande parte dos trabalhadores
Moçambicanos para gerenciar os seus locais de trabalho. O êxodo dos portugueses
provocou a paralisação de inúmeros comércios e fábricas que ocasionou a perda de
10.000 postos de trabalho e, conseqüentemente gerou um rápido declínio da
economia (Egero, 1992).
Diante deste cenário, o estado Moçambicano foi forçado a gerir desde uma
pequena mercearia até os estabelecimentos industriais de grandes proporções. Para
isso organizou um sistema de auto-gestão, na qual um comitê de produção1
constituído por trabalhadores gerenciava o abandono das fábricas, assegurava a
gestão das propriedades e prevenia as sabotagens dos colonizadores aos
equipamentos e edifícios das empresas. De acordo com Hanlon (1996) inexistia
qualquer separação entre os comitês de produção e o partido Frelimo, sendo este que
se encarregava da seleção dos membros. Como veremos mais adiante, essa relação
intima dos comitês de trabalhadores com o estado determinou significativamente o
perfil do sindicalismo moçambicano e marca a sua ação política até os dias atuais.
Além das nacionalizações dos serviços, outra medida central do governo para o
desenvolvimento do socialismo foi a políticas que visavam à socialização do campo.
A estratégia ao organizar aldeias comunais buscava integrar o setor produtivo rural
com a indústria. A intenção era promover o aumento da produção agrícola, ao
mesmo tempo em que melhorava as condições de 80% da população de Moçambique
que neste momento se localizava no campo. Ao governo caberia assegurar para as
aldeias à provisão de insumos e, a compra da produção de rendimento. No entanto, a
ação do estado não conseguiu acompanhar o esforço dos camponeses.
Essas medidas do governo Moçambicano procuravam, de acordo com palavras
de Samora Machel, vencer a dependência econômica de Moçambique, que consistia
em pagar mais por produtos industrializados e vender a força de trabalho a preços
ínfimos. Samora tinha consciência que para atingir este objetivo seria necessário
deslocar o país de sua tradicional posição periférica na divisão internacional do
trabalho, de mero vendedor de matéria prima barata para fornecedor de produtos
industriais. A partir deste intuito foi aprovado o Plano Prospectivo Indicativo (PPI),
que previa ultrapassar o subdesenvolvimento em 10 anos, através da promoção do
desenvolvimento industrial tardio. No entanto, as metas deste programa eram
extremamente ambiciosas, porque para serem concretizadas dependiam de um
recurso financeiro inexistente no país e de difícil mobilização externa diante do
contexto internacional.
Deste contexto também faziam parte o conturbado panorama de luta armada
local e regional no qual Moçambique estava inserido. Como veremos nos parágrafos
abaixo desde sua independência o país conviveu com guerras contínuas. Já em 1975,
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Esses comitês também eram denominados de Grupos Dinamizadores ou conselhos de produção.
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meses depois do término da colonização, o país sofreu ataques militares do país
vizinho provocados pela solidariedade de Moçambique a luta do povo da Rodésia
(atual Zimbábue). Além de sofrer esses ataques Moçambique resolveu bloquear o
comércio externo da Rodésia, através do fechamento dos portos, medida que
ocasionou perdas relevantes de receita.
Em 1980, mesmo com a independência do Zimbábue, Moçambique continuou
a enfrentar ações militares oposicionistas. Desta vez, o movimento emergiu
internamente a partir de setores tradicionais da sociedade e dissidentes da Frelimo
que não aceitavam o governo socialista. Essa oposição, denominada de Renamo
(Resistência Nacional de Moçambique), detinha o apoio de países vizinhos como o
regime sul africano do Apartheid. Com o tempo as ações militares da Renamo, que
atingiam alvos econômicos estratégicos, aumentaram de intensidade e se ampliaram
para todas as regiões do país transformando-se em uma guerra civil.
As dificuldades para o estabelecimento da paz ajudaram a inviabilizar o
desenvolvimento do regime socialista e, marcou decisivamente a história de
Moçambique no período pós-colonial. No entanto, de acordo com Pitcher (2002), as
crises vividas pelo regime socialista foram ocasionadas também pela ineficiência do
centralismo do governo. O autor argumenta que a burocracia e a inflexibilidade do
estado resultaram em dificuldades na formulação dos planos de produção das
empresas, assim como na incapacidade de controlar as mesmas para responder às
dinâmicas do mercado.
Na mesma linha, Pitcher (2002) aponta a ineficácia do governo em atingir as
metas de produção agrícola, o que ocasionava carência de bens de consumo no
mercado e, conseqüentemente o surgimento do descontentamento da população. Ao
mesmo tempo, a política de socialização do campo alcançou resultados muito
modestos, sendo que em determinadas regiões as aldeias comunais foram meras
réplicas do formato colonial de produção agrícola (Mosca, 1999). Para Pitcher
(2002) nos erros do estado em se articular com a área rural estaria à explicação da
adesão da população do campo à Renamo e conseqüentemente a formação de mais
um inimigo interno.
No início da década de 90 o governo de Moçambique começou a enfrentar
graves crises alimentares, ocasionada por secas que assolavam o país. Em 1983,
Moçambique demonstrou o primeiro sinal de que teria que aderir aos programas, do
Banco Mundial e do FMI, ao solicitar ajuda alimentar à comunidade internacional.
Em 1986, com o descontentamento interno crescendo e o apoio de parte da sociedade
às ações militares da Renamo, o governo teve de abandonar a sua política de
"socialização do campo".
Diante da erosão do estado, o crescimento dos conflitos domésticos e a falta de
capital (um dos constrangimentos mais sérios para os planos de desenvolvimento) o
governo reconheceu a inevitabilidade de pedir ajuda ao ocidente. Em 1987,
Moçambique assina um acordo com o Banco Mundial e FMI, assumindo inúmeras
mudanças econômicas e políticas que causaram o abandona das políticas
"socialistas". O respectivo acordo previa a introdução de medidas condizentes com a
cartilha neoliberal do Consenso de Washington.
Assim, nos anos subseqüentes o estado de Moçambique implementou um
programa de reforma estrutural que consistia em privatizar as empresas estatais e
abrir a economia para todos os tipos de investimento estrangeiro. Apesar de tudo, é
necessário reconhecer que a implementação destas políticas representou a única
alternativa no momento para apoiar a reconstrução nacional e, provavelmente tenha
sido uma condição indispensável para o final da guerra civil, em 1992.
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A partir deste momento se encaminhou o processo de paz dirigido pelas
Nações Unidas que ajudaram no desarmamento das tropas e, na organização das
primeiras eleições gerais multipartidárias, em 1994. As data marca a mudança do
regime socialista com uma agenda nacionalista e de economia planificada para o
domínio da economia de livre mercado, investimento estrangeiro e dependência dos
empréstimos do Banco Mundial.
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De 1987 até 2000, foram demitidos pelo menos 100 mil trabalhadores, a maior parte destes sem que
tivessem recebido salários há mais de dois anos de trabalho e, evidentemente, sem que tivessem recebido
qualquer indenização (Pitcher, 2002).
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unilateralmente pelo governo. Aos representantes dos trabalhadores cabia a tarefa de
receber e difundir as posições do governo. (Egero, 1992). Dessa forma, fica claro que
a criação dos sindicatos não surge através de um processo liderado pelos
trabalhadores, mas como uma iniciativa estatal (Assis, 1997). Em conseqüência, a
ação dos sindicatos neste período apenas procurava colaborar com o Estado
socialista e nunca confrontá-lo.
Em 1990, a constituição moçambicana introduziu a democracia liberal,
multipartidária, e ampliou os direitos e liberdades sindicais. A nova conjuntura fez
com que a OTM deixasse de ser uma organização filiada á Frelimo, transformando-
se numa central sindical e, emergiu uma nova central, embora pequena e composta
por apenas tr6es sindicatos nacionais, a CONSILMO (Confederação Nacional dos
Sindicatos Livres de Moçambique). O atual número de trabalhadores sindicalizados
se situa em torno de 90.000.
ILHAS MAURÍCIO
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de açúcar introduzido no início da colonização inglesa é um componente importante
da economia até hoje.
Os primeiros sindicatos na ilha datam de 1936, fortemente influenciados pelos
imigrantes indianos que foram também responsáveis pela fundação do Partido
Trabalhista Mauriciano (PTM). O respectivo partido logo depois de sua fundação
disputou a hegemonia política com o Partido Social Democrata de Maurício
(PSDM). Este último apesar do nome era conservador e representava principalmente
os interesses dos colonos de descendência francesa. No final da década de 50, alguns
grupos muçulmanos criaram o Comitê de Ação Muçulmana que junto com o PTM
teve uma grande relevância na luta pela independência.
Após o final da segunda guerra mundial inicia-se o processo de independência
das Ilhas Maurício que foi concluído em 1968 de forma relativamente pacífica. Nos
anos subseqüentes o país foi uma monarquia parlamentarista membro do
Commonwealth Britânico até 1992, quando se proclamou a república de sistema
parlamentarista. A partir desta data passaram a ocorrer eleições regularmente.
Apesar do PSDM se opor à independência, os governos de 1968 á 1982 foram
de coalizão entre o PTM e o PSDM com uma linha política de direita. A tendência
conservadora deste governo pode ser exemplificada na medida em que as Ilhas
Maurício permitiram que o governo racista da África do Sul instalasse uma “zona
franca de exportações” em Port Louis, para evitar as sanções internacionais que lhe
foram aplicadas.
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20%, em 1983, para 3% no final da década. Contrastando com estes dados, no
período seguinte dos anos 90, o crescimento econômico foi baseado na
produtividade, ou seja, as firmas economizam no uso de trabalho focando no
aumento da produção. Alteração que resulta em um aumento constante da taxa de
desemprego.
Até 1968 a economia das Ilhas Maurício era caracterizada por seu baixo
resultado financeiro e por sua extrema dependência à agricultura de cana de açúcar,
com o desenvolvimento industrial a economia se tornou diversificada apresentando um
crescimento da indústria têxtil, do setor turístico e financeiro.
Para isso ser possível o estado desempenhou um papel fundamental no
processo de desenvolvimento econômico do país através de uma pesada intervenção
com instituições fortes, especializadas e participativas. O governo também forneceu
políticas de apoio com extensivos subsídios, estimulou investimento e criou a infra-
estrutura as ZPEs3. Paralelamente o estado procurou desenvolver a área social na qual
formulou um sistema de bem estar social para garantir a melhoria da qualidade de vida
priorizando a educação, saúde e meio ambiente.
Além da forte intervenção estatal, segundo Rodrik (1999), outro aspecto
peculiar da transformação econômica das Ilhas Maurício, é a estratégia de uma
liberalização comercial distinta. Caracterizada por uma política de abertura que
promoveu a competição da importação com o setor de exportação, além de altas
restrições ao comércio para não afetar as exportações. Medidas que resultaram, entre
1973 e 1999, no crescimento do PIB de 5,9% por ano, em uma taxa inflacionária de
7,8 % ao ano e, em um PIB per capita de US$4,6004. A melhora no IDH também é
substancial sendo que de 1975 para 2007, o índice aumentou de 0,626 para 0,804.
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Os ZPE tem um importante papel nas transferências tecnológicas e transmissão de
competências e know-how, tanto no plano do comércio intra-firma e os níveis inter-
empresa, entre empresas nacionais e estrangeiras.
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No ano de 2003.
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mercado de exportação gravemente afetado sendo obrigado a concorrer com
produtores agressivos da China e Bangladesh.
Para sobreviver à erosão da preferência comercial o governo das Ilhas
Mauricio precisará reestruturar a indústria têxtil e açucareira. Além de continuar a
desenvolver sua atual estratégia de desenvolvimento de instituições financeiras locais
e promoção de uma indústria de tecnologia de informação
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Estes trabalhadores são recrutados por intermédio de agências de emprego que
cuidam de suas permissões de trabalho e viagens. Por isso, freqüentemente assumem
dívidas enormes para chegar da Ásia às Ilhas Maurício. Como a permissão de
trabalho é de um ano, há muitos casos em que mesmo realizando horas extras
diariamente, além das 10 horas compulsórias, os imigrantes terminam o ano sem
saldar sua dívida com as agências. A população e os sindicatos locais têm reagido a
esta situação pleiteando a contratação preferencial de trabalhadores locais ao invés de
imigrantes. A postura sindical pouco solidária não tem resolvido o problema, pois
continua chegando por ano em torno de 15.000 imigrantes.
Em 2002 houve uma grande mobilização de trabalhadores imigrantes depois
que duas mulheres chinesas morreram desgastadas pelas más condições de trabalho e
atendimento médico precário. Uma de pneumonia e a outra de hemorragia cerebral.
Por cinco dias os trabalhadores se manifestaram em frente à embaixada chinesa e
somente se dispersaram após uma intermediação do Ministério do Trabalho junto aos
empresários das ZPE’s e os donos das principais agências que prometeram reformar
o sistema.
Atualmente, quando as empresas nas ZPE’s passam por dificuldades devido à
concorrência mais barata em outros países, por pressão dos empresários, a tendência
do governo tem sido a de propor modificações na legislação trabalhista no sentido de
reduzir o custo da mão de obra e também dificultar a ação sindical.
Há uma campanha sindical internacional em andamento em favor de cinco
dirigentes sindicais do setor da construção civil que serão submetidos a julgamento
por terem organizado e participado de uma marcha contra o fechamento de uma
autarquia estatal de apoio aos trabalhadores em julho de 2006, o que demonstra haver
uma atitude anti-sindical do governo, pois este somente decidiu acusá-los do suposto
crime, um ano depois do ocorrido.
A estratégia do movimento sindical frente a estas tentativas de mudanças para
pior, foi a de constituir uma “Plataforma Comum dos Sindicatos” como forma de
unir a ação das centenas de entidades sindicais contra as alterações preconizadas
pelos empresários e pelo governo nas relações industriais.
TANZÂNIA
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regime que vigorou no país após a independência e até o início dos anos 1990, era o
de partido único sob o argumento da manutenção da unidade da população para
superar as conseqüências do período colonial. O pluripartidarismo somente foi
instaurado como parte das reformas estruturais iniciadas em meados da década de
1980.
No processo da independência, as propriedades foram assumidas pelo Estado.
A principal produção da Tanzânia era agrícola; embora também possuísse um
potencial turístico imenso em função de suas reservas de animais selvagens; litoral,
principalmente, de Zanzibar e montanhas. Possui ainda reservas minerais pouco
exploradas até hoje.
A tática adotada inicialmente foi a de explorar a agricultura sob perspectiva de
alcançar a auto-suficiência alimentar e gerar excedentes para o comércio
internacional ao mesmo tempo em que haveria fortes investimentos na educação
popular.
Este desenvolvimento da agricultura foi inicialmente implementada por
intermédio de um sistema de exploração de propriedades comunais e métodos
tradicionais de produção, denominado “Ujamaa” que significa comunidade. A
expectativa era de adesão massiva ao sistema, pois não haveria proposições que
provocassem grandes transformações no modo de vida tradicional da população que,
em mais de 90%, viviam no campo e era uma oportunidade de geração de trabalho e
renda.
As melhores terras antes da independência pertenciam aos colonizadores
europeus e, na nova realidade da Tanzânia, seriam distribuídas às comunidades,
habitat usual da população, que as aproveitariam por meio de seus métodos
tradicionais de cultivo. Ao mesmo tempo, o espaço das comunidades seria utilizado
para promover a alfabetização e capacitação das pessoas para elevar o nível
tecnológico e produtivo do país.
Este modelo enfrentou várias dificuldades estruturais desde o começo. Uma foi
a necessidade de ampliar a quantidade de terra para o assentamento de novos
agricultores o que ampliou as áreas submetidas a processos erosivos devido aos
mecanismos tradicionais de produção que incluíam queimadas e também porque
algumas áreas eram pobres em nutrientes e se esgotavam rapidamente.
A produtividade do modelo agrícola não atingia os níveis necessários, pois as
formas tradicionais de cultivo eram de subsistência e não voltadas para a produção
em escala e para exportação. Além disto, a capacitação técnica não se desenvolvia na
rapidez necessária para superar esta lacuna e não havia recursos para investir
suficientemente em irrigação e fertilizantes. Desta forma, havia uma busca incessante
por novas áreas cultiváveis, o que levou à destruição de áreas florestais importantes,
quase 60% da mata nativa, e o abandono de largos territórios em função da erosão.
A intenção de acelerar e ampliar a produção também levou ao assentamento
forçado de muitas comunidades. Como nem sempre havia lugar para novos
assentamentos nas regiões de preferência de algumas delas, os habitantes destas
comunidades eram forçados a se deslocar para outras áreas, o que freqüentemente
levava a conflitos, normalmente, neutralizadas pelo governo.
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equipamentos e meios de transporte nas colônias eram os europeus. Como estes, em
grande maioria, se retiravam após a independência, muitas novas nações africanas
tiveram que reconstruir tudo praticamente do zero, o que foi também o caso da
Tanzânia.
Na segunda metade da década de 1970 houve uma queda acentuada nos preços
mundiais de commodities agrícolas como café, algodão, castanha de caju,
especiarias, entre outros, e um aumento expressivo no preço de manufaturas o que
prejudicou enormemente a balança de pagamentos da Tanzânia dependente da
importação de muitos bens que não produzia.
Em 1978 houve uma guerra entre Uganda governada por Idi Amin e a
Tanzânia, vencida por esta última que inclusive colaborou ativamente para a queda
do ditador ugandense. Porém, o custo desta mobilização armada contribuiu para
corroer ainda mais as combalidas finanças públicas. O advento de uma prolongada
seca no início dos anos 1980 foi a “pá de cal” que acelerou o desequilíbrio financeiro
do país, aumentou sobremaneira a dívida externa e obrigou o governo a reduzir
fortemente seu apoio ao “Ujamaa”.
Neste momento, a Tanzânia se tornou extremamente dependente da
cooperação internacional para importar bens de primeira necessidade, inclusive
alimentos e paulatinamente começaram a ocorrer movimentos no governo e no CCM
à procura de uma política alternativa.
O governo Nyerere foi marcante na história da África pela tentativa de
desenvolver um modelo econômico embasado na realidade africana na busca do
rompimento com os laços de dependência centro-periferia como tentavam tantos
outros países do Terceiro Mundo na Ásia, África e América Latina na mesma época
e com maior ou menor sucesso.
No entanto, a sua política foi insuficiente para superar as heranças do
colonialismo e gerar um novo modelo de desenvolvimento. Obviamente, as
mudanças na conjuntura internacional e os vínculos externos da Tanzânia também
contribuíram para que isto não ocorresse.
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O período de liberdade e autonomia sindical foi breve, pois em 1964 o governo
promulgou uma legislação trabalhista que, entre vários aspectos, também previa a
dissolução da TFL e o reconhecimento de uma nova e única central sindical, o
“Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Tanganyica” (NUTA) cujo presidente
seria indicado pelo governo.
Em Zanzibar foi ainda mais draconiano. Após a dissolução dos sindicatos
existentes, o governo criou a Federação dos Sindicatos Revolucionários que dois
anos depois também foi dissolvido e o Departamento do Trabalho assumiu a
coordenação dos assuntos sindicais, situação que perdurou até 1968.
Quando os dois partidos que atuavam nas ex-colônias Tanganyika e Zanzibar
se fundiram criando o CCM, os sindicatos passaram por nova reestruturação criando
a União dos Trabalhadores da Tanzânia (JUWATA) que manteve o tradicional
vínculo que havia anteriormente entre os sindicatos e o TANU.
Este processo de interferência do Estado na organização dos trabalhadores se
repetiu periodicamente até 2000 quando o governo provocou a quinta dissolução e
reorganização das entidades sindicais desde a independência e foi estabelecida a
atual estrutura com duas centrais sindicais, o Congresso de Sindicatos da Tanzânia
(TUCTA) e o Congresso de Sindicatos de Zanzibar (ZATUC). Além das centrais há
16 sindicatos nacionais reconhecidos por ramos de atividade econômica, onde o
sindicato dos trabalhadores na agricultura (TPAWU) e o sindicato dos trabalhadores
em construção e minas (TAMICO) são considerados os mais fortes no setor privado.
O índice de sindicalização é de, aproximadamente, 1,4%, o que significa em
torno de 300.000 trabalhadores sindicalizados. Havia um pouco mais em meados dos
anos 1990, mas a reforma administrativa provocou muitas demissões no setor
público.
Apesar da hegemonia política do CCM e o vínculo do partido com os
sindicatos, o movimento sindical deu demonstrações de vontade própria em várias
ocasiões a partir dos anos 1990. Em 1993 houve uma greve geral de três dias que
obrigou o governo a cumprir sua promessa de elevar os salários. Em 1994 houve
uma greve de professores, duramente reprimida, mas que levou à criação do
sindicato nacional de professores hoje o maior do país. Em 2000 houve uma greve de
4.000 trabalhadores de uma usina de açúcar contra a demissão sem justa causa de 61
empregados desta empresa.
Diante da crise do modelo de desenvolvimento pós – independência, o governo
tentou implementar programas de reestruturação próprios em 1981 e 1983 que
envolviam principalmente a tentativa de atrair investimentos externos diretos.
Este objetivo não foi atingido e o presidente Ali Hassan Mwinyi que sucedeu
Nyerere assinou um acordo com o Banco Mundial (BIRD) em 1986 que previa a
concessão de empréstimos condicionados à adoção de um Programa de Ajuste
Estrutural (SAP) pela Tanzânia.
O objetivo deste programa era clássico: aumentar a produtividade e os preços
das commodities agrícolas; liberalizar o câmbio; reduzir as tarifas de importação de
matéria prima para incrementar a capacidade produtiva da indústria e, finalmente,
ampliar a participação do setor privado na economia.
Na segunda fase do programa houve a privatização, principalmente, do setor
de serviços de telecomunicações, bancos, energia, entre outros, e a implantação de
uma reforma administrativa no setor público.
O ajuste no setor agrícola contribuiu para a transferência de uma parcela
importante da terra para o setor privado e o surgimento de produção em escala mais
larga, principalmente, de cana de açúcar e tabaco. Por exemplo, a ocupação de terra
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para cultivar tabaco cresceu 13% no início do programa. Sob estas novas condições o
sistema “ujamaa” foi praticamente abandonado.
Num primeiro momento a produtividade e as exportações aumentaram, bem
como o preço das commodities e os ganhos dos produtores, porém estes ganhos
foram rapidamente corroídos pela inflação ascendente. A agricultura tanzaniana
responde por 60% do PIB do país e por 85% dos postos de trabalho ainda que
sazonais, mas a concentração de terra decorrente do SAP eliminou muitos postos de
trabalho e o problema da erosão crescente nunca foi resolvido.
O balanço de praticamente 15 anos de ajuste estrutural, realizado no início de
2000, foi extremamente negativo. A renda per capita retrocedeu aos valores dos anos
1960, as matrículas escolares que no início dos anos 1980 correspondiam a 80% das
crianças em idade escolar retrocederam a quase 50% e a Tanzânia continuou
figurando entre os 30 países mais pobres do mundo.
No primeiro semestre de 2000 o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o
BIRD concederam novos empréstimos, respectivamente, no valor de US$ 181
milhões e US$ 290 milhões, e estruturaram uma política de cancelamento da dívida
externa.
No entanto, as condições para participar deste programa eram extremamente
perversas a ponto de exigir a contribuição direta dos cidadãos para custear os
sistemas de educação e saúde. Um verdadeiro contra senso, particularmente num país
tão pobre, onde grande parte do montante dos dois empréstimos mencionados seria
utilizada para adquirir alimentos e outros produtos necessários e não existentes no
país.
A reforma do serviço público levou à demissão de milhares de servidores que
foram substituídos por trabalhadores terceirizados por intermédio de empresas
privadas prestadoras de serviço, o que afetou sobremaneira a estrutura do sindicato
dos empregados no governo e na saúde (TUGHE), bem como reduziu o número de
seus filiados.
A Tanzânia ainda é beneficiada pela imagem de Julius Nyerere como líder do
movimento de libertação e da unidade africana, bem como pela sua postura pessoal
absolutamente íntegra e sóbria. Seu governo é freqüentemente convidado a integrar
iniciativas diplomáticas relevantes, por exemplo, a co-presidência da Comissão de
Alto Nível sobre a Dimensão Social da Globalização, instaurada pela OIT em 2002.
Este caso, em particular, representou outra contradição, pois o governo
tanzaniano tem poucas qualidades a apresentar na área social e trabalhista. Apesar de
haver ratificado a Convenção 98 da OIT sobre o direito à sindicalização e à
negociação coletiva já em 1962 e a Convenção 87 sobre liberdade sindical em 2000,
até hoje a legislação trabalhista é intervencionista e desrespeitosa quanto à liberdade
sindical conforme previsto no “Ato N° 10” que a regulamenta.
O “Registrar” tem amplos poderes para conceder e cancelar ou suspender o
registro dos sindicatos e definir se o sindicato está agindo adequadamente e restrito
ao âmbito das relações trabalhador – empregador. O modelo é o de unicidade
sindical como no Brasil. As filiações internacionais dos sindicatos podem ser
desfeitas se o “Registrar” assim o decidir sob risco da aplicação de multas e penas de
prisão em caso de desobediência.
Realizar greves legalmente é quase impossível diante da exigência de
comunicação prévia, vários processos de conciliação prévia e a proibição de realizá-
las nos setores considerados essenciais cuja lista é cada vez maior.
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Em Zanzibar, devido a uma série de leis locais, é ainda mais difícil registrar
sindicatos e esta possibilidade vale somente para o setor privado. Nesta ilha, bem
como na ilha de Pemba, as greves são simplesmente ilegais.
O relatório de Direitos Humanos e Sindicais organizado anualmente pela
Confederação Sindical Internacional (CSI) assinala inúmeras violações de direitos
trabalhistas como a falta de contratos regulares de trabalho e de negociação coletiva,
demissões arbitrárias, violação do direito a livre organização sindical, crescimento do
trabalho infantil e prática de discriminação no trabalho contra as mulheres.
Portanto, o modelo econômico e político adotado no período imediato após a
independência não deu conta de promover o desenvolvimento econômico da
Tanzânia e tampouco fortaleceu a organização social e política dos trabalhadores. O
ajuste estrutural piorou a situação social e econômica da população e a resistência
dos sindicatos em geral foi passiva e insuficiente. Não se conhece a existência de
qualquer proposta sindical atual em defesa de uma alternativa de desenvolvimento do
país ou da ampliação dos direitos.
CONCLUSÃO
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Entende-se como divisão internacional do trabalho a divisão das atividades entre os inúmeros países do mundo,
particularmente entre (capital) o poder dos países desenvolvidos e os subdesenvolvidos (exportadores de matéria-
prima) com mão-de-obra barata e geralmente de industrialização tardia.
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O modelo de desenvolvimento ocidental consiste em considerar o mundo moderno personificado pelo estilo de vida
ocidental (capitalista, democrático, racionalista, cientifico, tecnológico, industrializado,etc) como um objetivo
universal de desenvolvimento que deve ser alcançado por todas as nações. Ou seja, no geral essa visão considera o
desenvolvimento capitalista nos países desenvolvidos como paradigmático.
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partido único, por acreditarem que esta medida integraria a nação. Contudo, isso
impediu a formação de uma sociedade participativa, gerando um controle excessivo
dos sindicatos pelo Estado. Essa medida tornou os sindicatos destes países altamente
dependentes até os dias atuais.
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Nas Ilhas Maurício, onde o movimento sindical é pulverizado e caracterizado
por suas divisões ideológicas, enfrenta-se um aumento constante da taxa de
desemprego e, o difícil desafio de organizar os sindicatos nas ZPE’s devido à
repressão dos empregadores e governos, rotatividade de trabalhadores e presença de
imigrantes.
Referências Bibliográficas
- Arvind S. and Devesh R. (2001). Who can Explain The Mauritian Miracle: Meade,
Romer, Sachs, or Rodrik?, International Monetary Fund.
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Como o uso da internet para promover reivindicações, denúncias e campanhas locais e internacionais
além de exercer o apoio constante aos movimentos sociais, etc.
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- Cristiano, A. (2005). Neoliberalismo e Crise do Trabalho em Moçambique: O caso
do Caju, Assembléia Geral do Codesria, Maputo.
- Hanlon, J. (1984). Mozambique: the revolution under fire. London: Zed Books.
- Rodrik, D. (1999a) The New Global Economy and Developing Countries: Making
Openness Work’ Overseas, Development Council, London.
- Waterman, P., (2002). "Reflections on the 2nd World Social Forum in Porto Alegre
: what's left internationally?," Working Papers - General Series 362, Institute
of Social Studies.
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