Psicopatologia Geral I - Aula 30-04

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PSICOPATOLOGIA GERAL I

UNINASSAU - PARANGABA
PROF. MAYCKSON SHIMABUKURO
Do sintoma à síndrome
Psicopatologia e as grandes síndromes e transtornos psicopatológicos

Os teóricos Jaspers e Schneider, a partir da Psicopatologia Geral (1946)


enfatizam duas perspectivas fundamentais:

a) o transfundo (estáveis e mutáveis) da vivência generalista e amplo;


b) os sintomas específicos ou emergentes vivenciados (sintomas pontuais).

Ou seja, enfatizando duas posturas que se atuam de forma dialética (figura e o


fundo, a parte e o todo, o pontual e o contextual) em sua vivência. Influência de
modo marcante o sentido, a direção, a qualidade específica do sintoma
emergente
a) Os transfundos estáveis/duradouros, pouco mutáveis são representados
basicamente pela personalidade e inteligência. Qualquer experiência
(alucinação, delírio, afeto…) ganha conotação diferente a partir da
personalidade. A inteligência é outro transfundo estável, pois ela determina
essencialmente os contornos, a diferenciação, a profundidade e a riqueza de
todos os sintomas psicopatológicos.
Exemplo 1: Pacientes passivos, dependentes, “sem energia” tendem a vivenciar os sintomas de
modo mais passivo; já os pacientes mais hipersensíveis, explosivos, tendem a responder aos
sintomas de forma mais viva e ampla.
Exemplo 2: Pacientes muito inteligentes produzem delírios ricos e complexos, interpretam
constantemente suas vivências e desenvolvem as dimensões conceituais das experiências de
forma mais acabada; Pacientes com inteligência reduzida criam quadros psicopatológicos com
menos detalhes, superficiais.
Os transfundos mutáveis/momentâneos são representados pelo nível de
consciência, atenção, humor e estado afetivo de fundo.

O nível de consciência e atenção estabelecem a clareza, a precisão e a nitidez


dos sintomas.

O humor e o estado afetivo de fundo são momentâneos e passageiros


influenciando diretamente não apenas no desencadeamento dos sintomas com
maior intensidade.
Exemplo: No contexto ansioso, uma lembrança um delírio, uma alucinação pode ganhar dimensões
próprias; No contexto depressivo qualquer dificuldade cognitiva passam a ter uma importância
enorme para o sujeito.
b) os sintomas emergentes ou específicos são todas as vivências
psicopatológicas mais destacadas, individualizada, que o paciente experimenta.
São elementos mais precisos como a alucinação (sensopercepção), um
determinado sentimento (afetividade), um delírio (juízo), um pensamento
obsessivo (pensamento), uma paramnésia (memória), uma alteração da
linguagem ou da vontade.
Componentes do surgimento, constituição e manifestação dos sintomas e
dos transtornos mentais
Em relação tanto aos sintomas como às síndromes deve-se buscar esclarecer
quais são os possíveis

a) fatores predisponentes
b) fatores precipitantes
c) surgimento dos transtornos mentais
a) fatores predisponentes (carga genética, experiências emocionais na
infância e adolescência, condições pregressas de vida) são aqueles que se
configuram com a articulação da vulnerabilidade constitucional (hereditariedade)
e as primeiras experiências de vida que ocorrem na primeira e segunda
infância (0-6anos). Esse fator sensibiliza o paciente para as diversas
situações que a vida lhe colocará e tornam a pessoa mais ou menos
vulnerável para os
b) fatores precipitantes (estresses, perdas, fatores atuais ou mais recentes)
também chamados eventos da vida são geralmente eventos estressantes
e/ou traumáticos que ocorrem em proximidade do transtorno mental.
Exemplo: morte de pessoa próxima, brigas, traição, desemprego, separações…
Manifestação das doenças mentais (Birnbaum,1923)
1. O fator patogenético (patogênese) está mais relacionado à manifestação dos
sintomas diretamente produzidos pelo transtorno mental de base
Exemplo: humor triste, o desânimo e a inapetência relacionado a depressão; ou as alucinações
auditivas e a percepção delirante relacionado à esquizofrenia.

2. O fator patoplástico (patoplastia) são manifestações relacionadas a personalidade


pré-mórbida (antes do transtorno), a história de vida específica, os padrões de
sentir e de se comportar relacionado à cultura, meio familiar, religioso, classe social,
profissional. São fatores externos e prévios ao processo patológico mas nem por
isso menos importante pois intervêm de forma marcante na formação dos sintomas
e na exteriorização do quadro clínico.
3. O fator psicoplástico (psicoplastia) está relacionado aos eventos e às reações do
paciente com o meio posterior ao adoecer.
Exemplo: Um homem de 50 anos é acometido de um episódio depressivo grave
(fator patogenético); ele sempre teve personalidade extrovertida, ativa e
enérgica; e é filho de italianos (fator patoplástico). Após alguns meses do início
dos sintomas depressivos, estando ele muito descuidado com suas tarefas
profissionais, acaba por perder emprego (fator psicoplástico).

- A manifestação dramática dos sintomas depressivos fica por conta dos


fatores patoplástico;
- O humor triste, a perda do apetite e a anedonia fica atribuído ao fator
patogenético;
- A sensação de fracasso, de inutilidade e desmoralização aos fatores
psicoplástico.
A evolução temporal dos transtornos mentais
CRÔNICOS-LONGITUDINAIS: PROCESSO e DESENVOLVIMENTO
- Processo: refere-se a uma transformação lenta e insidiosa da personalidade. O
processo rompe a continuidade do sentido normal do desenvolvimento biográfico
de um paciente. Utiliza o termo “processo” para caracterizar a natureza de um
quadro esquizofrênico de evolução; lenta e radicalmente transforma a
personalidade do paciente.
- Desenvolvimento: diz respeito à evolução psicologicamente compreensível de
uma personalidade onde há uma conexão de sentido, uma trajetória compreensível
ao longo da vida do paciente (desen. histriônico / desen. hipocondríaco).
É importante considerar além do desenvolvimento (evolução) e do processo
(transformação) outros cursos que incidem diretamente na correspondência dos
fenômenos entre agudos ou subjacentes classificados em:
A evolução temporal dos transtornos mentais
AGUDOS-EPISÓDICO: CRISE ou ATAQUE, FASES, SURTOS e REAÇÕES
VIVÊNCIAS.
- Crise ou Ataque é caracterizado por surgimento e término abrupto, com duração
de segundos, minutos e raramente horas. (crise de ansiedade, ataque de pânico)
- Fase refere-se aos períodos de depressão e de mania dos transtornos afetivos
(t.bipolar / t. depressivo recorrente). Passada a fase o paciente volta como era
antes dela, sem alterações duradouras na personalidade, ou seja, não há sequelas
na personalidade.
- Reações vivenciais ocorrem geralmente em personalidades vulneráveis,
predispostas a reagir de forma anormal, podendo durar semanas ou até meses.
Passada a reação vivencial o paciente retorna ao que era antes, sua personalidade
não sobre ruptura, pode até empobrecer ou enriquecer mas não se modifica
radicalmente.
- Surto trata-se de uma ocorrência aguda que se instala de forma mais ou
menos repentina, fazendo eclodir uma doença não compreensível
psicologicamente. Produz sequelas irreversíveis, danos à personalidade e/ou
na esfera cognitiva e/ou afetiva do paciente, pode durar 3 a 4 meses… o
paciente “sai diferente”, seu contato com amigos torna-se mais distanciado, o
afeto modula menos gerando dificuldades na vida social, as quais não
consegue explicar ou entender.
- Episódio é mais genérico, compreende duração de dias até semanas, é uma
denominação referente apenas ao aspecto temporal.

Dessa forma é incorreto falar em surto maníaco, fase esquizofrênica, crise


maníaca, tal uso revela o desconhecimento das terminologias e conceitos
psicopatológicos básico. Na dúvida, recomenda-se utilizar o termo episódio.
CONTEXTUALIZAÇÃO DO SINTOMA EM RELAÇÃO A
SUA ORIGEM NEUROBIOLÓGICA OU SOCIOCULTURAL
- Certos sintomas são tidos como intimamente dependentes de alterações
neuronais, como os sintomas neurológicos primários (paralisia,
anestesias, perdas sensoriais) ou os sintomas neuropsicológicos (afasias,
agnosias, apraxias, algumas amnésias).
Exemplo: Afasia refere a dificuldade do paciente se comunicar adequadamente, afetando a
compreensão de imagens, sons, expressões…Agnosia dificuldade de identificar objetos
através de um ou mais sentidos…

- há sintomas mais “independentes” de determinações e fatores


neurobiológicos e mais associados a processos e mecanismos
psicológicos, subjetivos e simbólicos (mediados pela cultura)
DSM-5 e CID-11
São dois sistemas de classificação que definem e descrevem os transtornos
mentais específicos de forma clara, sendo útil clinicamente na abordagem inicial
dos quadros mentais por meio da perspectiva dinâmica.
As síndromes são conjunto de sinais e sintomas que se agrupam de forma
recorrente e são observados na prática clínica. São agrupamentos estáveis de
sintomas que podem ser produzidos por várias causas. Identificar síndromes é o
primeiro passo no sentido de ordenar a observação psicopatológica dos sinais e
dos sintomas do paciente. O diagnóstico sindrômico é um ato clínico modesto
mas estrategicamente importante no raciocínio clínico pois trata-se de uma
indicação preciosa para o diagnóstico. (HD)
SÍNDROMES
DEPRESSIVAS
SÍNDROMES DEPRESSIVAS
Do ponto de vista psicopatológico as síndromes depressivas têm como elementos
mais saliente o humor triste e, na esfera volitiva, o desânimo, mais ou menos
marcante. Tal tristeza e desânimo são, na depressão, desproporcionalmente mais
intensos e duradouros do que nas respostas normais de tristeza que ocorrem ao
longo da vida. O quadro depressivo se caracteriza por uma multiplicidade de
sintomas afetivos, instintivos e neurovegetativos, ideativos e cognitivos, relativos
a autovalorização e à psicomotricidade. Também podem estar presentes, em
formas graves de depressão, sintomas psicóticos (delírios e/ou alucinações),
alteração psicomotora (lentificação psicomotora), assim como fenômenos
biológicos (neuronais ou neuroendócrino) associados.
PERDAS E DEPRESSÃO
As síndromes e as reações depressivas surgem com muita frequência após
perdas significativas: de uma pessoa muito querida, emprego, moradia,
status socioeconômico ou algo puramente simbólico.
Apesar de muitas vezes ser desencadeada por perdas, a depressão não é o
mesmo que o sentimento normal do luto, mesmo que marcante. Entretanto, a
distinção entre o luto normal, mas intenso, e depressão nem sempre é fácil.
As perdas/Luto pode induzir grande sofrimento, mas não costuma provocar
episódio de transtorno depressivo maior. Quando ocorre em conjunto, os
sintomas depressivos e o prejuízo funcional tendem a ser mais graves, e o
prognóstico é pior comparando com luto que não é acompanhado do
transtorno.
Subtipos de síndromes e transtornos depressivos
A ordenação da depressão em vários subtipos é um desafio psicopatológico
permanente (Kupfer et al., 2012; Singh; Gotlib, 2014). Os subtipos de síndromes e
transtornos depressivos mais utilizados na prática clínica, de acordo com a
Classificação internacional de doenças e problemas relacionados à saúde
(CID11) e o Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-5):
- Episódio depressivo e Transtorno depressivo maior recorrente (CID e DSM)
- Transtorno depressivo persistente e transtorno distímico (CID e DSM)
- Depressão atípica (DSM)
- Depressão tipo melancólica ou endógena (CID e DSM)
- Depressão psicótica (CID e DSM)
- Estupor depressivo ou Depressão catatônica (DSM)
- Depressão ansiosa ou com sinais proeminentes (CID e DSM)
- Transtorno misto de depressão e ansiedade
- Depressão unipolar ou depressão bipolar
- Depressão como transtorno disfórico pré-menstrual (CID e DSM)
- Depressão mista (DSM)
- Depressão secundária ou T. Depressivo devido a cond.médica (CID e DSM)
Episódio Depressivo e Transtorno Depressivo Maior (CID-11 e
DSM-5)
Critérios diagnósticos para os transtornos depressivos segundo o DSM-5
Pelo menos cinco critérios (ou mais) por duas semanas, com prejuízo no
funcionamento psicossocial ou sofrimento significativo. Pelo menos um dos
sintomas é humor deprimido ou perda do interesse ou prazer.
Para Ep.Depressivo maior, pelo menos 5 critérios por pelo menos duas semanas:
Humor Deprimido# Energia

Anedonia# Inutilidade/Culpa#

Peso/Apetite Cognição/Atenção#

Sono/ Hipersonia# Pensamento de morte/ Suicidio

Psicomotricidade (Catatonia)# Sofrimento (Causas)


Episódio Depressivo e Transtorno Depressivo Maior (CID-11 e
DSM-5)
A-C

D: Outro transtorno

E: Mania ou hipomania

T.D.M é caracterizado por Ep. depressivos maiores distintos e remissões interepisódicas.

- Sintoma recente ou piora;


- Déficit cognitivo (Dif em tomar decisões, organização…)
- Alteração Psicomotora (Gravidade)
- Humor disfórico (cça e adoles) Início na puberdade
- Alta mortalidade
- Remissão (2 meses - 2 sintomas) x Persistente
EP. DEPRESSIVO x T.D.M
- A cada novo ep. aumenta o risco de recorrência (Ex: Hipertensão);
- TDM 5 sintomas com (EP DISTINTO + REMISSÃO [2sint] + EP DISTINTO);
- Tristeza não é transtorno;
- Não é uma resposta esperada/Resposta inadequada (Perda;Evento
Estressor;Rompimento de namoro)

Diagnóstico Diferencial

- Transtorno de Adaptação (Início 3 meses/Final 6 meses/Não satisfaz critérios para


outro transtorno)
TRANSTORNO DEPRESSIVO PERSISTENTE
(DISTIMIA)
- Duração: 2 anos
- Mínimo 3 sintomas / Sem remissão
- Humor deprimido
- Sem mania/hipomania
- Grau de prejuízo (10…15anos)
INICIAL AGUDA CONTINUAÇÃO MANUTENÇÃO

LATÊNCIA RESPOSTA RECAÍDA RECORRÊNCIA

1-2 SEMANAS 1 Semana - 3 6 meses/mínimo Indeterminado


meses

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