Livro Unidade 03
Livro Unidade 03
Livro Unidade 03
A educação brasileira, sistema que compõe o aparelho burocrático do Estado, é estruturada em diferentes níveis, de acordo
com a faixa etária dos estudantes e modalidades de ensino. Esses níveis vão desde os atendimentos da creche, para crianças
de zero a três anos, até o doutorado, grau máximo da pós-graduação. Em cada uma dessas etapas, os alunos têm de cumprir
certas exigências e atingir determinados graus de habilidade, sendo o seu desempenho avaliado requisito para avançar no
sistema de níveis.
Na presente unidade, vamos entender o funcionamento formal da escola pública no Brasil, compreendendo todo o seu
aparelho burocrático, os diferentes níveis de ensino, quais as principais exigências de cada um e as modalidades diversas que
compõem o sistema, desde a educação básica até o ensino superior. Além disso, vamos discutir os principais instrumentos
utilizados pelo poder público para avaliar a qualidade do ensino, tanto na educação básica como no ensino superior.
Primeiramente, precisamos entender o que é escola, no caso desta unidade, a escola pública, para além de sua infraestrutura
física. É imprescindível ter em mente que uma escola não é apenas uma estrutura composta de prédios, quadras de esporte,
salas e corredores, quadros e pátios, tampouco apenas um lugar de circulação de pessoas, professores, alunos e funcionários.
O fundamento dela é a ideia.
Todo o conhecimento humano é centrado no espaço sagrado da escola. Desde a verbalização das primeiras palavras da
criança até as pesquisas mais avançadas feitas em universidades e laboratórios, a escola está presente no cotidiano dos
indivíduos. É dentro dos seus muros que se conserva, se cria, se reproduz, se renova, se contesta e se valida o conhecimento
humano. Por esse motivo, é fundamental a liberdade dos professores para ensinar, porque ela extrapola o simples conteúdo
pelo conteúdo. É a valorização da prática humana, a produção e reprodução do conhecimento, que nos diferencia do restante
dos animais.
Em termos históricos, as escolas avançaram muito nas últimas décadas no Brasil. Todavia, ainda existem obstáculos
gigantescos para fornecermos uma educação de qualidade a todos os brasileiros. Desde as influências das escolas jesuíticas
no período colonial, passando pela Pedagogia Nova dos anos de 1930 até os debates em torno da democratização do ensino
no final dos anos de 1980, a educação no Brasil evolui paulatinamente. Há diversas dificuldades encontradas no âmbito da
educação, como problemas de infraestrutura, a necessidade de expansão do ensino, a urgência de melhoria na formação e
remuneração dos professores, bem como na qualidade de um ensino que atenda às demandas dos novos tempos, além da
busca pela equidade e pela valorização das diferenças. Porém, mesmo com tantos problemas, a educação no Brasil avança.
As escolas têm assumido e cumprido seus compromissos. Não é possível dizer que não estejamos caminhando para um
desenvolvimento, mesmo que a duras penas.
A BNCC objetiva também uma unificação dos conteúdos nas diversas etapas da educação básica em âmbitos federal,
estadual e municipal. Assim, a BNCC integra a política educacional alinhando ações nacionais no sentido de centralizar a
formação dos professores, as formas de avaliação, a elaboração e a aplicação dos conteúdos educacionais e a infraestrutura
mínima necessária para o funcionamento de todas as escolas do país. A promulgação da BNCC é a tentativa de superar a
fragmentação das políticas educacionais, criando uma integração entre as três esferas do poder público e dispondo
diretrizes para todos os níveis de ensino.
A educação básica é formada por três etapas: educação infantil, ensino fundamental e ensino médio. Essas três frentes de
ação articulam a construção de conhecimentos, o desenvolvimento de habilidades e a formação de atitudes e valores de
acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e
digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma
sociedade justa, democrática e inclusiva.
2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a
reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses,
formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das
diferentes áreas.
3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar
de práticas diversificadas da produção artístico-cultural.
4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora
e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e
partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem
ao entendimento mútuo.
5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa,
reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar
informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e
coletiva.
6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que
lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da
cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.
7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias,
pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência
socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em
relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta.
8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana
e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas.
9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o
respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de
grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.
10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação,
tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários (BRASIL,
2018, p. 9).
Como é possível notar, os objetivos da educação básica são bastante complexos e implicam um longo período de
aprendizagem, além de uma infraestrutura adequada para a sua efetiva assimilação por parte dos alunos. Para que todas
essas competências sejam cumpridas, a formação dos professores também é ponto fundamental.
SAIBA MAIS
A Educação Básica no Brasil
Para compreender melhor as mudanças na educação básica desde 1988, entendendo temas como as consequências do pacto federativo, a
desigualdade social, as ligações internacionais e a própria noção de educação básica, sugerimos o artigo do conceituado professor Carlos Roberto
Jamil Cury. O autor propõe-se a não separar as políticas educacionais do contexto socioeconômico do Brasil. Para saber mais, acesse o artigo
disponível em: http://www.scielo.br/pdf/es/v23n80/12929.pdf. Acesso em: 26 nov. 2019.
Educação Infantil
A primeira etapa da educação básica é a educação infantil, dividida entre a creche e a pré-escola. Assim, o ensino começa nas
creches, com os bebês (de zero a um ano e seis meses) e as crianças bem pequenas (um ano e sete meses a três anos e onze
meses). Posteriormente, as crianças pequenas (de quatro a cinco anos e onze meses) passam para a pré-escola. Nessa fase, o
ensino é praticado principalmente por meio de interações e brincadeiras, respeitando os direitos de aprendizagem e
desenvolvimento previstos na legislação, que são:
1. Conviver com outras crianças e adultos, em pequenos e grandes grupos, utilizando diferentes linguagens,
ampliando o conhecimento de si e do outro, o respeito em relação à cultura e às diferenças entre as pessoas.
2. Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferentes parceiros
(crianças e adultos), ampliando e diversificando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua
imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas,
sociais e relacionais.
3. Participar ativamente, com adultos e outras crianças, tanto do planejamento da gestão da escola e das
atividades propostas pelo educador quanto da realização das atividades da vida cotidiana, tais como a escolha
das brincadeiras, dos materiais e dos ambientes, desenvolvendo diferentes linguagens e elaborando
conhecimentos, decidindo e se posicionando.
4. Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emoções, transformações,
relacionamentos, histórias, objetos, elementos da natureza, na escola e fora dela, ampliando seus saberes
sobre a cultura, em suas diversas modalidades: as artes, a escrita, a ciência e a tecnologia.
5. Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas necessidades, emoções, sentimentos, dúvidas,
hipóteses, descobertas, opiniões, questionamentos, por meio de diferentes linguagens.
6. Conhecer-se e construir sua identidade pessoal, social e cultural, constituindo uma imagem positiva de si e de
seus grupos de pertencimento, nas diversas experiências de cuidados, interações, brincadeiras e linguagens
vivenciadas na instituição escolar e em seu contexto familiar e comunitário (BRASIL, 2018, p. 38).
A BNCC garante que, durante a educação infantil, a criança desenvolva cinco campos de experiência:
Vamos tomar como exemplos de aprendizagem experimental o campo “traços, sons, cores e formas”. A educação infantil
prevê que, nesse caso, os bebês exploram sons produzidos pelo seu próprio corpo (gritos, choro, risadas) e a interação com
os objetos do ambiente (brinquedos, seus objetos pessoais, etc.). No caso das crianças bem pequenas, criam-se sons com
materiais, objetos e instrumentos musicais, para acompanhar os diversos ritmos de músicas infantis. As crianças pequenas,
por sua vez, aprendem a utilizar os sons produzidos pelos instrumentos e pelos objetos durante as brincadeiras de faz de
conta, encenações, criações musicais e festas.
Percebam que o objetivo desse nível de ensino não é que as crianças aprendam conteúdos formais, mas sim adquiram
habilidades mínimas de coordenação motora e compreensão do meio, realizando exercícios imaginativos por meio de
brincadeiras, jogos, cantigas e interações com outras crianças. Com isso, o educador infantil permite à criança conhecer a si
mesma e aos outros e compreender as relações com a natureza, com a cultura e com a produção científica, que são expressas
nos cuidados pessoais, como alimentar-se da maneira correta, vestir-se, cuidar de sua higiene pessoal, escovar os dentes e
lavar as mãos.
Desde quando o indivíduo é bebê, a escola tem o papel fundamental de estimular o corpo a expressar os sentimentos e
experimentar habilidades corporais, como pular, correr, dançar, até nos anos finais da educação infantil, quando os pequenos
aprendem a ter o autocuidado com higiene e alimentação. O desenvolvimento de todas essas habilidades e competências
compõe a educação infantil.
Ensino Fundamental
O ensino fundamental no Brasil tem nove anos de duração e é a etapa mais longa da educação básica. Para ingressar nesse
nível, os estudantes devem ter entre 6 e 14 anos, fase muito delicada na vida dos indivíduos, devido às diversas
transformações que o corpo passa, afetando os aspectos emocionais.
O ensino fundamental é dividido em duas outras fases: os anos iniciais ou ensino fundamental I, e os anos finais, ou ensino
fundamental II. A primeira fase valoriza situações lúdicas de aprendizagem, articulando-se todo o campo de experiências
vivenciadas na educação infantil. Outro foco dessa primeira fase é o desenvolvimento da oralidade, pré-requisito central
para a apropriação do sistema de escrita alfabética e de outros sistemas de representação, como os sinais matemáticos e os
registros artísticos, além das concepções de tempo e espaço.
Os primeiros dois anos do ensino fundamental são quase que integralmente dedicados à alfabetização, garantindo aos
alunos oportunidades de se apropriarem do sistema de escrita alfabética, desenvolvendo, concomitantemente, as
habilidades de leitura.
Um dos maiores desafios do professor no cotidiano da escola é o surgimento da cultura digital. A introdução de tecnologias
de informação tem trazido mudanças na forma de incorporar computadores, tablets, smartphones, entre outros aparelhos, ao
cotidiano das instituições sem prejuízo às aprendizagens tradicionais. Nesse sentido, para evitar alienação por parte dos
alunos ou o fracasso no ensino fundamental, é crucial saber lidar com o uso dessas tecnologias em sala de aula. Na BNCC,
podemos ler:
Nessa direção, no Ensino Fundamental – Anos Finais, a escola pode contribuir para o delineamento do projeto
de vida dos estudantes, ao estabelecer uma articulação não somente com os anseios desses jovens em relação
ao seu futuro, como também com a continuidade dos estudos no Ensino Médio. Esse processo de reflexão sobre
o que cada jovem quer ser no futuro, e de planejamento de ações para construir esse futuro, pode representar
mais uma possibilidade de desenvolvimento pessoal e social (BRASIL, 2018, p. 62).
Vistos os objetivos do ensino fundamental, vamos a um estudo pormenorizado de cada componente do currículo, os quais se
encontram divididos em cinco áreas do conhecimento: Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza, Ciências Humanas e
Ensino Religioso.
A área das Linguagens, segundo a BNCC, é composta pelas disciplinas de Língua Portuguesa, Arte, Educação Física, e, nos
anos finais, ocorre a introdução da Língua Inglesa. Nesse contexto, as competências específicas de linguagens para o ensino
fundamental, conforme a BNCC, são:
1. Compreender as linguagens como construção humana, histórica, social e cultural, de natureza dinâmica,
reconhecendo-as e valorizando-as como formas de significação da realidade e expressão de subjetividades e
identidades sociais e culturais.
2. Conhecer e explorar diversas práticas de linguagem (artísticas, corporais e linguísticas) em diferentes campos
da atividade humana para continuar aprendendo, ampliar suas possibilidades de participação na vida social e
colaborar para a construção de uma sociedade mais justa, democrática e inclusiva.
3. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora
e digital –, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes
contextos e produzir sentidos que levem ao diálogo, à resolução de conflitos e à cooperação.
4. Utilizar diferentes linguagens para defender pontos de vista que respeitem o outro e promovam os direitos
humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, atuando
criticamente frente a questões do mundo contemporâneo.
5. Desenvolver o senso estético para reconhecer, fruir e respeitar as diversas manifestações artísticas e
culturais, das locais às mundiais, inclusive aquelas pertencentes ao patrimônio cultural da humanidade, bem
como participar de práticas diversificadas, individuais e coletivas, da produção artístico-cultural, com respeito
à diversidade de saberes, identidades e culturas.
6. Compreender e utilizar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa,
reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares), para se comunicar por meio das
diferentes linguagens e mídias, produzir conhecimentos, resolver problemas e desenvolver projetos autorais
e coletivos (BRASIL, 2018, p. 65).
Na disciplina de Língua Portuguesa, o texto é a unidade de trabalho fundamental do professor e dos alunos. O objetivo é
desenvolver as habilidades de leitura e produção de textos em várias formas, de modo que os alunos aprendam a relacionar o
texto com as condições de produção (autor, época e discurso), bem como reconhecer o tema e extrair as ideias principais. A
disciplina também visa desenvolver estratégias de leitura, como estabelecer relações entre o conhecimento prévio e o que o
texto traz. Em suma, a língua portuguesa no ensino fundamental é composta de oralidade, análise linguística e semiótica
(alfabetização) leitura/escuta e produção de textos.
A disciplina de Arte inclui artes visuais, dança, música e teatro. Por intermédio dos fenômenos artísticos, os professores
envolvem as crianças nas práticas de criar, ler, produzir, construir, exteriorizar e refletir sobre a sensibilidade, a intuição, o
pensamento, as emoções e a subjetividade. Por meio da música, elas reconhecem o timbre, o ritmo e a melodia. Pelo teatro,
reconhecem as situações do cotidiano. Pelas artes visuais, reconhecem os elementos de cor, espaços, movimento,
identificando diversas manifestações artísticas, como desenho, pintura, colagem, dobradura, etc.
A Educação Física, também pertencente à área das Linguagens, fica a cargo das práticas corporais por intermédio de jogos e
brincadeiras e dos esportes. É nessa disciplina que os alunos aprendem as marcas que comparam os resultados em segundos,
metros ou quilos e desenvolvem a precisão dos movimentos, como o ato de arremessar lançar objetos. Também é nessa
disciplina que se desenvolvem as primeiras noções de competitividade, de trabalho em equipe, com o uso de técnicas e
táticas para alcançar objetivos predeterminados.
Por fim, nos anos finais, se introduz a disciplina de Língua Inglesa, como forma de atender às demandas da sociedade
globalizada. Em um mundo cada vez mais transnacional, é elementar a aprendizagem desse idioma, compreendendo
composições interculturais entre a língua portuguesa e a inglesa.
Outra área do ensino fundamental é a da Matemática, a qual já se encontra em estágio bem complexo. Segundo a BNCC:
A terceira área mencionada pela BNCC é a das Ciências da Natureza, cujo objetivo é preparar os alunos para o letramento
científico. Nesse processo, os alunos aprendem, por intermédio da observação do mundo à sua volta, a fazer
questionamentos, definindo problemas que depois serão solucionados pelo método científico. Assim, os estudantes do
ensino fundamental aventam hipóteses, fazem o levantamento de dados e propõem intervenções para soluções de
problemas cotidianos, utilizando o método científico. Os conteúdos de Ciência estão organizados em três unidades
temáticas: matéria e energia; vida e evolução; e terra e universo.
A área das Ciências Humanas, por sua vez, contempla as disciplinas de História e Geografia, as quais se ocupam de construir
conhecimentos a respeito de tempo e espaço, cognição e contexto. A BNCC versa sobre as Ciências Humanas no ensino
básico afirmando que:
As Ciências Humanas devem, assim, estimular uma formação ética, elemento fundamental para a formação das
novas gerações, auxiliando os alunos a construir um sentido de responsabilidade para valorizar: os direitos
humanos; o respeito ao ambiente e à própria coletividade; o fortalecimento de valores sociais, tais como a
solidariedade, a participação e o protagonismo voltados para o bem comum; e, sobretudo, a preocupação com
as desigualdades sociais. Cabe, ainda, às Ciências Humanas cultivar a formação de alunos intelectualmente
autônomos, com capacidade de articular categorias de pensamento histórico e geográfico em face de seu
próprio tempo, percebendo as experiências humanas e refletindo sobre elas, com base na diversidade de pontos
de vista (BRASIL, 2018, p. 354).
No campo da Geografia, o objetivo central é criar o chamado raciocínio geográfico, que é uma maneira de pensamento
espacial para compreender aspectos fundamentais da realidade, desde a localização de fatos e fenômenos terrestres até a
composição física-natural do planeta Terra em suas diversas localidades. Este raciocínio implica sete princípios, cujas
descrições constam no quadro a seguir.
Princípio Descrição
Aqui concluímos o tópico referente ao ensino fundamental, a mais longa das etapas do ensino e que cobre uma parte
fundamental da vida, que é a transição entre a infância e a adolescência. Todos os processos aqui descritos estão detalhados
com maior profundidade na BNCC, que é o documento fundamental que deve guiar o planejamento de aulas de todo
profissional da educação.
Ensino Médio
O ensino médio é a etapa final do ensino básico. Nessa fase, os alunos passam a ser uma categoria sociocultural conhecida
como juventude. Nesse contexto, uma escola voltada aos jovens deve entendê-los em sua singularidade, reconhecendo a
juventude como uma categoria de participantes ativos da sociedade. Implica também na adoção de uma escola que acolha
das diversidades, garantindo direitos básicos e promovendo o respeito à pessoa humana.
Um dos principais objetivo do ensino médio, para além de um aprofundamento dos conteúdos trabalhados no ensino
fundamental, é a articulação desses conhecimentos com um projeto de vida, tanto no que diz respeito aos estudos – a
escolha de um curso de ensino superior ou profissionalizante – quanto na definição de uma área de trabalho que vá ao
encontro dos interesses pessoais, das ambições de vida de um estudante. É papel do professor e da escola auxiliar os alunos
nessa fase da vida, aconselhando-os a mesclar suas habilidades pessoais com um plano de vida que lhe forneça uma profissão
digna.
Para que isso ocorra, há a expansão dos itinerários formativos em conjunto com o aumento das disciplinas curriculares. As
áreas no ensino médio são compostas por: Linguagens e suas Tecnologias; Matemática e suas Tecnologias; Ciências da
Natureza e suas Tecnologias; Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.
No ensino médio, Linguagens e suas Tecnologias continua a abarcar as mesmas disciplinas (Língua Portuguesa, Arte,
Educação Física e Língua Inglesa), com o foco no desenvolvimento de uma autonomia de produção na prática de diferentes
linguagens e no uso criativo das mídias. Em Matemática e suas Tecnologias, o foco é o aprofundamento dos conhecimentos
desenvolvidos no ensino fundamental, aperfeiçoando as operações básicas e lidando com operações cada vez mais
complexas com maior nível de reflexão e abstração. A área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias se especializa em três
disciplinas, Física, Química e Biologia, as quais lidam com complexidades que antes só ficavam a cargo das Ciências. No
campo das Ciências Humanas e suas Tecnologias, a área passa a incorporar quatro disciplinas: História, Geografia, Sociologia
e Filosofia.
A formação desses itinerários formativos objetiva uma maior flexibilização da organização curricular, possibilitando a
escolha do estudante pelas áreas com as quais mais se identifica, compondo, assim, os itinerários integrados, que são os
seguintes:
Modalidades de Educação
Além das etapas que compõem a educação básica, a legislação educacional brasileira prevê seis modalidades de ensino com o
objetivo de atender a demandas específicas da sociedade. Veja o infográfico a seguir.
Modalidades
As modalidades da educação básica visam atender a demandas específicas de alguns setores sociais que precisam de uma
educação com certas particularidades. É importante sublinhar que cada modalidade foi alcançada ou estruturada a partir das
pressões políticas de cada grupo ou da necessidade do poder público de incorporar as exigências desses setores.
A educação especial atende também alunos que apresentam alguma dificuldade de aprendizagem, problemas de conduta ou
mesmo alunos superdotados. A educação especial está inserida nas escolas regulares a fim de integrar essas pessoas à
sociedade, para que não se desenvolvam em instituições isoladas do meio social. Conforme a LDBEN de 1996, que
regulamenta o ensino especial, algumas disciplinas precisam ser incorporadas na formação dos professores, como noções
mínimas de libras (MANTOAN, 2006).
Por sua vez, a educação de jovens e adultos (EJA) foi criada com o objetivo de promover a alfabetização, além do incentivo à
profissionalização. Trata-se de um fundamento essencial da cidadania, o qual visa vincular o trabalho intelectual ao
profissional (ALMEIDA; CORSO, 2015).
Já em relação à educação do campo, ao invés de um entendimento depreciativo a respeito do camponês, a educação rural
visa à valorização dos conhecimentos e das práticas dos trabalhadores rurais, enfatizando o campo como lugar de trabalho
por práticas sustentáveis (SOUZA, 2008).
Na educação escolar indígena, existe a preocupação com a formação de uma consciência a respeito da cidadania e do
pertencimento desses indivíduos na sociedade (SOBRINHO; SOUZA; BETTIOL, 2017).
Na educação escolar quilombola, os desafios se organizam em mesclar os conteúdos regulares com metodologias que
dialoguem com a realidade social em que vivem os quilombolas, respeitando os aspectos referentes à sua etnia, aos seus
costumes e às suas memórias presentes.
Por fim, a educação a distância (EAD) trata-se de uma modalidade em amplo crescimento que visa a autonomia e o uso de
processos tecnológicos como ferramentas auxiliares ao ensino. A EAD tem proporcionado aos estudantes a possibilidade de
organizarem seus próprios horários de estudo, conforme seu ritmo e seu estilo de aprendizagem. A EAD objetiva a
construção de uma comunidade de ensino virtual que mantenha o aspecto tradicional da coletividade na produção e na
reprodução do conhecimento (COSTA, 2017).
Além do Plano Nacional de Educação (PNE), cada escola elabora o seu Projeto Político-Pedagógico (PPP). Um dos grandes desafios da gestão
escolar é articular os objetivos do PNE com os conhecimentos elaborados pela escola. Isso se deve ao fato de que, por exemplo, estudantes do
ensino médio de uma escola no interior do Amazonas possuem conhecimentos prévios e formas de assimilação completamente diferentes das que
apresentam estudantes de ensino médio de um colégio no centro do Rio de Janeiro. Reflita sobre como a escola pode construir um projeto que
inclua as especificidades dos seus alunos com os PNEs.
Para Bernadette Gatti (2002), os anos 1980 foram um marco na história dos métodos avaliativos da educação no Brasil. Foi a
primeira vez que ocorreu, para além da avaliação de conteúdos objetivos, um levantamento de dados completos a respeito
da condição socioeconômica dos estudantes, da formação dos professores, das especificidades locais e dos fatores familiares
(GATTI, 2002).
Com a consolidação do debate em torno da criação de um sistema nacional de ensino no final da década de 1980 e início de
1990, o Ministério da Educação (MEC), em conjunto com as Secretarias estaduais, criou o Sistema de Avaliação da Educação
Básica (Saeb). Esse sistema passou a realizar avaliações anuais em todos os estados da federação. Abordaremos adiante as
contribuições da Saeb e dos sistemas secundários de que ele é composto.
Além dos sistemas de avaliação, foram criados também os índices que medem o desenvolvimento da educação pública.
Nacionalmente, foi criado o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), um indicador que monitora a qualidade
da educação por meio de dados concretos. Por meio dele, a sociedade, em conjunto com o poder público e os profissionais da
educação, pode se mobilizar em busca de melhorias. O cálculo do Ideb é feito a partir de dois componentes: a taxa de
rendimento escolar (aprovação) e as médias de desempenho nos exames aplicados pelo Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Os índices de aprovação são obtidos a partir do Censo Escolar, realizado
anualmente.
Em 1998, o governo criou o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), objetivando aferir a qualidade do ensino nos anos
finais da educação básica. Em 2009, o governo passou a adotar medidas para estimular o uso do Enem como forma de acesso
ao ensino superior. Assim, foi criado o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), o qual possibilitou o acesso de estudantes a
universidades federais nos mais variados locais do país. Todavia, a mobilidade proporcionada pelo sistema Enem/Sisu ainda é
baixa. Os estados da federação com o maior produto interno bruto (PIB) dominam a exportação de alunos para as
Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes). O Enem tem evoluído progressivamente como uma das principais formas de
acesso às universidades, mas tem suscitado intensos debates sobre a sua forma e o seu conteúdo (SILVEIRA; BARBOSA;
SILVA, 2015).
Em 2002, o MEC instituiu o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja). Segundo a
portaria do MEC, tratava-se de um “[...] instrumento de avaliação para aferição de competências e habilidades de jovens e
adultos em nível do ensino fundamental e do ensino médio” (BRASIL, 2002, on-line). O Encceja está inserido nas políticas de
EJA, com dois objetivos: 1) ser um exame supletivo aplicado nos Estados como forma de certificar a conclusão do ensino
fundamental e médio e 2) completar o ciclo de avaliação da educação básica, em conjunto com o Saeb e o Enem.
Nos últimos anos, o Encceja tornou-se um importante instrumento de certificação da educação básica, tendo aumentado
gradativamente o número de participantes. Porém, como afirma Roberto Catelli Jr., Gisi e Serrao (2013), o Encceja, como
instrumento de avaliação, ainda é muito precário e, em quase vinte anos de existência, ainda não conseguiu tornar-se uma
ferramenta avaliativa com um banco de dados preciso. Segundo Catelli Jr., Gisi e Serrao (2013), isso se deve muito à política
descontinuada do Inep, responsável pela condução do Encceja.
Entre as diversas composições do Sinaes, está o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade). Segundo
Francisco e Monteiro (2016, p. 10), o Enade:
[...] surge com o objetivo de se constituir em um instrumento de avaliação do desempenho estudantil, de modo
que seja garantida a observância das Diretrizes Curriculares Nacionais em seu percurso formativo. Nesse
sentido, considerando a estrutura da avaliação que se aplica ao estudante, a intenção inicial era a de constituir
um instrumento com a capacidade de fortalecer o desenvolvimento de uma área específica de conhecimento, de
modo a considerar um amplo conjunto de análises em seus resultados. Para isso, o ENADE conta com o
questionário do estudante e com o questionário do coordenador, que são dois instrumentos que auxiliam os
órgãos de regulação na compreensão dos desafios que envolvem uma determinada área em avaliação.
O ENADE é realizado periodicamente em todas as instituições de ensino superior, públicas e particulares, com o intuito de
validar o conhecimento transmitido nos cursos de graduação. O resultado da prova permite o desenvolvimento de medidas
diretas de intervenção por parte do MEC que podem ser positivas (como o aumento do repasse financeiro) ou negativas (se
um curso tiver seguidas notas baixas na avaliação do Enade, ele pode ser fechado pelo MEC).
FIQUE POR DENTRO
Avaliação da Educação Básica no Brasil
Neste vídeo, o professor José Francisco Soares debate os sistemas de avaliação da educação básica no Brasil e os resultados apresentados nos
últimos anos. A indagação central feita pelo jornalista Antônio Gois, do Canal Futura, é: será que estamos sabendo tirar todo o potencial que
essas avaliações nos trazem para melhorar a qualidade do ensino? Para ficar por dentro do assunto, assista ao vídeo disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=GTbrLjKJvNg. Acesso em: 26 nov. 2019.
Apesar de um crescimento contínuo nas áreas avaliadas pelo Pisa (Matemática, Ciências e Leitura), o Brasil tem ocupado as
últimas colocações nas avaliações das quais participam 70 países. Em 2015, a educação brasileira ocupou a 63ª posição em
Ciências, a 59ª em Leitura e a 66ª em Matemática. O Inep questiona os dados do Pisa, afirmando que ele não leva em
consideração fatores elementares em suas avaliações. Apesar disso, o Pisa tem composto a base de dados para a formulação
das políticas públicas na área da Educação.
Considerações Finais
Nesta unidade, discutimos a composição principal da educação básica no Brasil, passando pela educação infantil, pelo ensino
fundamental e pelo ensino médio e compreendendo as etapas e as diferentes modalidades que compõem o nosso sistema de
ensino. Discutimos também as competências e as habilidades necessárias para a passagem de cada etapa da educação básica.
Além disso, vimos a importância dos instrumentos avaliativos da educação, como o Enem, o Ideb, o Encceja e o Enade.
Tais instrumentos são de extrema importância para que possamos gerir o sistema de ensino com eficácia, sabendo
exatamente onde o dinheiro público deve ser aplicado e de que forma podemos melhorar a formação dos profissionais e a
qualidade do ensino, uma vez que a política educacional brasileira precisa contar com bases de dados, informações e índices
de avaliação periodicamente atualizados.