Texto 01. Vigilância Ambiental No SUS
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Descritores Resumo
Vigilância ambiental. Exposição A incorporação da vigilância ambiental no campo das políticas públicas de saúde é
ambiental. Vigilância em saúde. uma demanda relativamente recente no Brasil. Um dos principais desafios da vigilância
Saneamento. SUS. ambiental em saúde é a definição do seu objeto e a especificidade de suas ações. O
conceito ampliado de exposição, tratado não como um atributo da pessoa, mas do
conjunto de relações complexas entre a sociedade e o ambiente, é central para a
definição de indicadores e para a orientação da prática de vigilância ambiental. Entre
as dificuldades encontradas para sua efetivação no Sistema Único de Saúde estão a
necessidade de reestruturação das ações de vigilância em saúde e a formação de
equipes multidisciplinares, com capacidade de diálogo com outros setores, além da
construção de sistemas de informação capazes de auxiliar a análise de situações de
saúde e a tomada de decisões. Nesse sentido, foi realizada uma revisão do objeto e
conceitos da vigilância ambiental em saúde, bem como identificados os desafios para
a sua implantação no Sistema Único de Saúde.
Keywords Abstract
Environmental surveillance. The incorporation of environmental surveillance in the field of public health policies
Environmental exposure. Health is a relatively recent demand in Brazil. One of the major challenges in environmental
surveillance. Sanitation. SUS (BR). health surveillance is defining its object and the specificity of its practice. The expanded
concept of exposure, treated as a set of complex relations between a society and the
environment, and not as a personal attribute, is central to the definition of indicators
and should guide the practice of environmental surveillance in the health sector.
Among the difficulties encountered in applying this concept within the Brazilian Health
System, is the need to restructure health surveillance activities and to form
multidisciplinary teams capable of dialoguing with other sectors. Furthermore,
information systems capable of aiding in health situation analysis and decision
making must be constructed. Taking this into consideration, a review of the object and
concepts of environmental health surveillance was undertaken and the challenges
with respect to its implementation in the Brazilian Health System were identified.
Correspondência/ Correspondence: *Bolsista pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq - n. 303798/2004-1)
Christovam Barcellos Recebido em 20/12/2004. Reapresentado em 29/6/2005. Aprovado em 8/8/2005.
Departamento de Informações em Saúde
Fiocruz
Av. Brasil, 4365
21045-900 Rio de Janeiro, RJ, Brasil
E-mail: [email protected]
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feração de vetores. Estão associadas às características Cabe à vigilância ambiental examinar esse conjun-
da ocupação e exploração do ambiente, como o to de indicadores e, pelo relacionamento entre esses,
desmatamento, crescimento urbano e a produção in- analisar os contextos particulares em que os riscos ocor-
dustrial, que são fontes de poluição ou geram outros rem. A ausência de relação entre os indicadores, ao
fatores diretos de degradação ambiental. O estado re- contrário de ser um resultado negativo de uma investi-
fere-se à condição e qualidade do ambiente que se gação é, antes de tudo, uma pista para identificar pa-
encontram em permanente modificação, dependendo drões de proteção ou de agravamento de riscos.
das pressões que recebem. Inclui não somente os ní-
veis de poluição por fatores biológicos e não biológi- O desenvolvimento e aperfeiçoamento de indica-
cos, mas também os riscos naturais, como os associa- dores específicos para a qualidade de vida associa-
dos às enchentes, inundações e secas, que podem ser dos aos de qualidade do ar, da água, nível de ruído, e
agravados pelas atividades humanas. outros, bem como a sistematização, difusão e disse-
minação da informação de modo ágil devem fazer
A exposição envolve a relação direta entre o ambi- parte das ações de vigilância ambiental em saúde.
ente imediato com determinados grupos de popula- Uma abordagem integrada considera os indicadores
ção. No caso de substâncias químicas, a exposição como elementos interdependentes, já que, na prática,
inclui a dose absorvida pelo organismo e pelos ór- estão referidos a uma realidade dinâmica em que di-
gãos atingidos. No caso das doenças transmissíveis, versos aspectos interagem.3 Outro aspecto a ser con-
a exposição corresponde ao processo de infecção das siderado é a construção de metodologias integradoras
pessoas. Finalmente, os efeitos sobre a saúde podem de indicadores para a constituição de um sistema de
manifestar-se em populações expostas e podem vari- informação. Essas devem ter a capacidade de, simul-
ar em função do tipo, magnitude e intensidade, de- taneamente, serem amplas o bastante para abranger
pendendo do nível e duração da exposição, idade, uma grande diversidade de problemas, e bem delimi-
formação genética, e outros. tadas para permitir a comparabilidade de resultados.
*Fundação Serviços Especiais de Saúde Pública (FSESP). Manual de saneamento. 2a ed. Rio de Janeiro; 1981.
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investimento nas áreas urbanas de maior densidade setor saúde, por seu lado, percebe-se um deslocamento
populacional no Brasil. Abordar o saneamento urba- gradual das ações mais próximas da execução de obras
no fora desse paradigma soa, ainda hoje, como uma para as atividades de vigilância sanitária sobre o ambi-
utopia, embora exista vasta literatura e experiências ente. A vigilância da qualidade da água para consumo
indicando a viabilidade das chamadas intervenções humano é exemplo emblemático do papel de audito-
não-estruturais. Essas intervenções são centradas na ria da qualidade que o setor saúde passa a desempe-
adoção de novos comportamentos em saúde e alian- nhar a partir do início da década de 90.
do padrões tecnológicos apropriados às condições
socioculturais e econômicas dos usuários.* Se no tocante ao tema saneamento básico o SUS
encontrou um espaço de atuação no escopo das ações
A participação do setor saúde nas ações de saneamen- de vigilância sanitária, o mesmo não ocorre quando
to vem oscilando ao longo da história. O clássico “Ma- o assunto é poluição do ar (contaminação e ruído) ou
nual de Saneamento”, editado em 1947 pela extinta do solo (por produtos perigosos), temas recorrentes
Fundação Serviços de Saúde Pública (FSESP), fornece na pesquisa acadêmica brasileira nos anos 90. O mo-
subsídios para que o próprio profissional de saúde ori- nitoramento da qualidade do ar está no escopo do
ente a construção de sistemas de abastecimento, fossas Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA), que
e redes coletoras de esgoto, entre outras atividades típi- tem nos órgãos estaduais de controle ambiental os
cas do chamado saneamento básico (abastecimento de principais executores da política.
água, coleta e tratamento de esgotos e do lixo). Embora
fruto de política pública do setor saúde, os Serviços O setor saúde poderia estender a vigilância epide-
Autônomos de Água e Esgotos (SAAE) deveriam bus- miológica às doenças com etiologias associadas àque-
car “as melhores relações” com as Unidades Sanitárias, les contaminantes. Iniciativas nesse sentido nunca
garantindo o adequado desempenho dos papéis já defi- avançaram na direção de sua absorção como rotina
nidos. À Unidade Sanitária caberia empenhar-se para pelos sistemas locais e estaduais de saúde e, ainda
que o sistema de abastecimento atingisse, o quanto an- que o tivessem, restaria a questão de o que fazer com
tes, sua meta de ligações efetivamente realizadas, medi- os resultados obtidos. Na questão da água para con-
ante as conhecidas estratégias de persuasão e coerção, sumo humano existe uma empresa de saneamento res-
via fiscalização sanitária. Aos SAAE competiria esten- ponsável legal pelo adequado tratamento e distribui-
der redes de abastecimento e coleta de esgotos, para o ção dessa água e, portanto, passível de auditoria pelo
qual o financiamento, via retorno tarifário, é compo- SUS. Porém, na questão do ar e solo contaminados os
nente fundamental. responsáveis estão, na maior parte das situações, dis-
tribuídos em diferentes níveis da cadeia produtiva,
A extensão da cobertura de abastecimento de água cuja auditoria, de parte deles, é competência de ór-
e coleta de esgotos propiciada pelo Plano Nacional gãos extra-SUS (as Agências Estaduais de Controle
de Saneamento (Planasa) durante as décadas de 70 e da Poluição, por exemplo).
meados de 80, ocorreu notadamente nos grandes cen-
tros urbanos, mediante a constituição de empresas O modelo que permite visualizar o setor saúde nes-
estaduais. Ela determinou que as ações de saneamen- se cenário é preconizado pela promoção da saúde,
to ocupassem lugar específico nos organogramas da que estabelece como estratégias fundamentais à de-
administração pública. Com isso, essas ações – leia- fesa da saúde, a capacitação e a mediação. Por defesa
se obras – passaram a ser definidas no bojo do plane- da saúde entende-se a luta para que fatores políticos,
jamento das empresas de saneamento, obedecendo a econômicos, socioculturais e ambientais sejam cada
critérios próprios e, não raro, descolados de qualquer vez mais favoráveis à saúde. A capacitação pressu-
referencial de saúde. põe indivíduos aptos a conhecer e controlar os fato-
res determinantes da sua saúde. Finalmente, o enten-
Aparentemente, é esse distanciamento que mobiliza dimento de que a saúde se realiza num contexto de
o setor saúde na regulamentação do artigo 200 da Cons- múltiplos atores e interesses determina a necessidade
tituição Federal, Lei 8.080/90, art. 6o, inciso II, com de mediação entre eles. Nesse sentido, a saúde deve
dispositivo que inclui no campo de atuação do SUS a ser vista menos como um compartimento da adminis-
participação na formulação da política e na execução tração pública e mais como um pressuposto na for-
de ações de saneamento. Concretamente, entretanto, mulação de políticas, planos, programas e projetos. A
as metas de saneamento, incluindo a tecnologia, o participação da sociedade civil neste processo é pri-
porte e a localização das obras continuam obedecen- mordial para garantir a priorização, continuidade e
do à lógica das empresas, com poucas exceções. No transparência de políticas públicas.
*Quitério LAD. Educação e participação em ações de saneamento no reassentamento Fazenda Laranjeiras [dissertação de mestrado]. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública da
Universidade de São Paulo; 1995.
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Segundo a lógica de descentralização, a execução Um outro limitante diz respeito à própria cultura
dos programas é de co-responsabilidade do municí- do setor saúde, voltado historicamente para a vigi-
pio ou, dentro desses o distrito sanitário, o que impõe lância de agravos. Apesar dos incentivos estabeleci-
a necessidade de se estabelecer canais de diálogo dos por meio de projetos induzidos (e.g., Vigisus), de
entre as diferentes esferas de governo. O Sistema Na- instrumentos financeiros (e.g., Programação Pactua-
cional de Vigilância Ambiental em Saúde (SINVAS) da Integrada) e de programas (e.g., PACS/PSF) que
foi regulamentado com a Instrução Normativa No 1 promovem a superação do modelo assistencial do
do Ministério da Saúde, de 25 de setembro de 2001, SUS,16 alguns problemas têm sido enfrentados para a
que definiu competências no âmbito federal, dos Es- efetiva implementação das ações de vigilância am-
tados e dos municípios. No entanto esse sistema vem biental como prática do setor saúde. A vigilância em
adquirindo diferentes configurações institucionais em saúde é constituída pelas etapas de coleta, análise e
cada um desses níveis de governo. Nas secretarias interpretação sistemática de dados sobre eventos de
estaduais e municipais de saúde, a vigilância ambien- saúde que afetam a população.17 A vigilância da saú-
tal em saúde tem sido organizada, ora dentro dos de- de tem uma concepção mais abrangente, além da sim-
partamentos de epidemiologia, ora em departamen- ples análise de situação ou da integração institucional
tos de vigilância sanitária, ora como departamentos entre a vigilância sanitária e epidemiológica. Ela prevê
autônomos. Na rede básica de saúde, a atuação de a intervenção sobre problemas de saúde; a ênfase em
agentes de saúde dos Programas de Saúde da Família problemas que requerem atenção e acompanhamen-
e de controle de endemias podem garantir a necessá- to contínuos; a operacionalização do conceito de ris-
ria capilaridade do sistema. co; a articulação de ações de promoção, prevenção e
assistência; a atuação intersetorial; as ações sobre o
Por outro lado, cabe ao setor saúde o controle siste- território; e a intervenção sob a forma de operações.16
mático de fatores ambientais que possam ocasionar A ampliação do campo de atuação da vigilância da
risco, dentre esses a qualidade da água e do ar, que no saúde faz parte do mesmo processo de descentraliza-
entanto, ainda não dispõe de informações ou instru- ção e territorialização dessas ações.
mentos técnicos para sua operacionalização. A vigi-
lância ambiental em saúde é definida pelo SUS como Finalmente, os técnicos e pesquisadores atuantes
“um conjunto de ações que proporcionam o conheci- nessa interface ainda carecem de instrumentos que
mento e a detecção de qualquer mudança nos fatores permitam analisar conjuntamente informações tanto
determinantes e condicionantes do meio ambiente sobre o ambiente quanto de saúde. Para conhecer mais
que interferem na saúde humana, com a finalidade de detalhadamente as condições de saúde da população
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é necessário trabalhar com meios que permitam ob- A água servida à população pode ser um veículo de
servar a distribuição desigual de situações de risco e disseminação rápida de agentes infecciosos, causan-
dos problemas de saúde, com dados demográficos, do surtos, principalmente quando o sistema de abas-
socioeconômicos e ambientais, promovendo a inte- tecimento distribui água fora dos padrões bacterioló-
gração dessas informações. Nesse sentido, é funda- gicos de potabilidade (presença repetida de colifor-
mental que as informações sejam contextualizadas mes). Esse indicador, altamente sensível para a con-
no tempo e no espaço, fornecendo elementos para taminação fecal nos países de clima temperado,
construir uma cadeia explicativa dos problemas de pode estar sujeito, em países tropicais, a interferên-
saúde e aumentando o poder de orientar ações cias da presença de animais, temperatura e da alta
intersetoriais específicas. concentração de nutrientes nas águas.12 Mesmo na
ausência de coliformes, podem ser encontrados al-
ABORDANDO O SANEAMENTO COM OS guns vírus em sistemas de abastecimento, como o de
INSTRUMENTOS DA VIGILÂNCIA AMBIENTAL hepatite A. Também os indicadores quantitativos de
EM SAÚDE cobertura dos sistemas de abastecimento são insufi-
cientes para avaliar a proteção da população e a satis-
Conforme o exposto, um dos exemplos mais fação das necessidades de saneamento básico. Esses
marcantes da interação entre saúde e ambiente é dado indicadores não levam em consideração a intermi-
pelo saneamento. O processo de urbanização nos paí- tência no fornecimento de água, que constitui um
ses periféricos tem tido o papel duplo de permitir um risco para a saúde das comunidades atingidas.
maior acesso a diversos serviços públicos, mas por
outro lado, promove o aumento de interações entre Os sistemas de informação de saúde passaram por
agentes infecciosos e populações. Isso aumenta risco um processo inegável de melhoria de qualidade, prin-
de adoecer e morrer nos grupos populacionais sem aces- cipalmente ao longo da década de 1990, bem como de
so a esses serviços. A proteção à saúde é colocada inva- facilitação e universalização de acesso e análise por
riavelmente como uma das conseqüências benéficas meio de sistemas computacionais simples. No entan-
do saneamento. A comprovação epidemiológica dessa to, dados sobre condições ambientais são muitas ve-
relação é, no entanto, de difícil verificação devido ao zes coletados e organizados de forma assistemática.
grande número de variáveis intervenientes no proces- Os componentes dos sistemas de abastecimento de água
so de determinação das doenças. Os riscos de infecção (tipo de manancial, estação de tratamento e pontos de
e adoecimento de uma população estão relacionados à amostragem) estão sendo cadastrados pelo Sistema de
suas condições de habitação,de hábitos, à concentra- Informação do Programa de Vigilância da Qualidade
ção e tipo de agentes patogênicos ingeridos e à da Água para Consumo Humano (Sisagua), de respon-
suscetibilidade e estado geral de saúde da população.11 sabilidade da Secretaria de Vigilância em Saúde do
Ministério da Saúde (SVS/MS). O Sisagua permite a
Apesar das relações teóricas e técnicas entre recur- recuperação de dados sobre o abastecimento de água
sos hídricos, saneamento e saúde, estes setores são ge- de modo que se produzam periodicamente relatórios
ridos por uma grande diversidade de órgãos federais, sobre o funcionamento do sistema e a qualidade da
estaduais e municipais. Desse modo, as informações água, incluindo as chamadas soluções alternativas de
sobre tais temas têm sido coletadas pelos instrumentos abastecimento. A Agência Nacional de Águas (ANA)
e sistemas de informação próprios de cada instituição. mantém um programa de monitoramento da qualida-
Isso dificulta a análise integrada de dados sobre quali- de da água com postos de monitoramento situados nos
dade e quantidade da água, o acesso da população a maiores rios do Brasil, o que permite a utilização des-
este recurso, bem como sobre sua condição de saúde. sas informações em um sistema integrado.
A construção de indicadores epidemiológicos para Além das informações coletadas por esses sistemas,
o saneamento tem como primeira etapa a seleção de outros dados podem ser incorporados para a análise
doenças que melhor representem condições ambien- de condições de vida e infra-estrutura urbana no ní-
tais adversas e sua categorização segundo os meca- vel local. Nesse caso, alguns dados podem ser busca-
nismos de transmissão em que a água está envolvi- dos em órgãos e entidades de atuação restrita, como
da.11 Devido às suas diferentes características de por exemplo as agências locais de saneamento, cujos
infectividade, patogenicidade e virulência, as doen- dados não fazem parte dos grandes sistemas de infor-
ças de veiculação hídrica podem ser captadas com mação, de cobertura nacional.
maior ou menor eficiência pelos sistemas de infor-
mação em saúde. Por isso, a construção de indicado- CONSIDERAÇÕES FINAIS
res epidemiológicos para o saneamento pode ser afe-
tada pela representatividade dos dados disponíveis. A incorporação da Vigilância Ambiental em Saúde
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envolve alguns processos mais gerais que tem ocorri- ainda de instrumentos de avaliação e controle. Entre
do no sistema de saúde brasileiro, tal como a as metodologias propostas para a vigilância ambien-
descentralização de ações de saúde e a reestruturação tal em saúde destaca-se o papel do mapeamento e da
do campo da vigilância em saúde. Por outro lado, será avaliação de riscos, bem como a incorporação da abor-
necessária a delimitação mais precisa do objeto de tra- dagem epidemiológica para questões ambientais.
balho da vigilância ambiental em saúde e sua diferen-
ciação em relação a áreas tradicionais da saúde coleti- O modelo conceitual da vigilância das situações de
va como a vigilância sanitária e a vigilância epidemi- risco é baseado no entendimento que as questões per-
ológica. Neste trabalho ressalta-se a exposição como tinentes às relações entre saúde e ambiente são inte-
objeto específico da vigilância ambiental em saúde, grantes de sistemas complexos, exigindo abordagens
que deve ser tratada não como um atributo da pessoa, e articulações interdisciplinares e transdisciplinares,15
mas do conjunto de relações complexas entre a socie- palavras de ordem da promoção da saúde. Atuar nessa
dade e o ambiente. Esse esforço pressupõe também a perspectiva é reconhecer e encarar a complexidade
ampliação das ações ambientais coordenadas pelo se- inerente ao processo de produção da saúde, exigência
tor saúde, que tem se mantido como parceiro de outros do atual estágio no qual as sociedades defrontam, a
setores, principalmente nas ações de saneamento. A um só tempo, a necessidade de garantir a permanência
vigilância ambiental em saúde também estende sua e democratização das condições ambientais favorá-
atuação sobre fatores biológicos representados por veis à vida já conquistadas nas sucessivas etapas do
vetores, hospedeiros, reservatórios e animais peço- desenvolvimento e de reivindicar a correção ou mitiga-
nhentos, bem como fatores não biológicos como a água, ção das conseqüências desfavoráveis desse mesmo
o ar, o solo, contaminantes ambientais, desastres natu- desenvolvimento. Engajada na tarefa de consolidar o
rais e acidentes com produtos perigosos.10 SUS, a Vigilância Ambiental em Saúde deve emergir
tendo a intersetorialidade e a interdisciplinaridade
Esse novo campo de atuação do setor saúde carece como pressupostos e a humildade como atitude.
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