Socialismo Utópico

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1.

Introdução

Todas as sociedades e regimes existentes no decorrer de todo processo histórico, sem


excepção, foram marcados pela desigualdade e pela exploração do homem pelo homem, seja
durante o regime esclavagista, o sistema feudal, o sistema monárquico ou o actual sistema
capitalista.

Paralelamente a isso, o desejo de liberdade e igualdade sempre persistiu nos campos da


consciência e na expectativa dos homens. Muitas foram as tentativas de se buscar
revolucionar e reverter a situação, assim como foram inúmeras as devidas repressões contra-
revolucionárias.

Surgiram inúmeros teóricos que tentaram desmascarar e colocar à prova a realidade dos
sistemas económicos de produção e de exploração, bem como foram inevitáveis, por outro
lado, a formulação de valores conservadores e que representavam os interesses da classe
dominante.

A crise em que o movimento socialista ingressou desde meados da década passada,


especialmente no Ocidente, pode ser objecto de duas considerações. A primeira consiste em
não perder de vista que essa crise é parte de um processo teórico e prático no qual se
articulam os distintos movimentos que, no plano das ideias e da luta social e política,
realizaram a crítica do capitalismo como modo de organização da vida social.

Este presente trabalho tem como objectivo principal compreender o socialismo utópico, e
para a sua realização serão observadas regras de elaboração de trabalhos científicos da
Universidade Técnica de Moçambique.

1.1.Objectivos

1.1.1.Objectivo geral

 Compreender o socialismo utópico

1.1.2.Objectivos específicos

 Conceituar o socialismo utópico;


 Descrever a origem e princípios do socialismo utópico;
 Explicar a idade cronológica das ideias do socialismo utópico;
 Identificar as características comuns do socialismo utópico;
 Mencionar os pensadores do socialismo utópico;
 Citar a proposta teórica do socialismo;
 Apresentar as razões da criação do socialismo;

1.2.Metodologia

Para a realização desse trabalho recorreu-se a consultas bibliográficas que consistiu em uma
leitura e análise das informações de diversas obras relacionadas com o tema acima
mencionado. Os autores e as referidas obras estão devidamente citados dentro do trabalho e
também na bibliografia final.
2. Fundamentação teórica

2.1.Socialismo utópico

Essa palavra foi inicialmente usado em 1839 por Louis Blanqui, no entanto, Marx e Engels
estabeleceram-no definitivamente no seu manifesto. O termo vem da palavra utopia, que
significa plano, projecto, doutrina ou sistema optimista que parece irrealizável desde o
momento da sua formulação. Utopia é uma obra escrita por Thomas More, intelectual,
político e humanista inglês, na qual ele teorizou sobre uma cidade de mesmo nome, ideal e
perfeita. Buber, (2007).

2.2.Origem e princípios

O socialismo utópico é uma consequência do socialismo cristão, onde temendo perder


adeptos devido ao avanço de movimentos sociais que questionavam a estrutura exploradora
capitalista, a Igreja Católica percebeu que não poderia ignorar esse grave problema social,
então tentou intervir e se posicionar diante da situação, onde em 1891, o papa Leão XIII
publicou a Encíclica Rerum Novarum. (Educar, 2002: 240).

Ela reconhecia a propriedade privada, condenava o lucro fácil à custa do operário, que não
deve ser considerado um simples instrumento de cobiça do patrão ganancioso, mas uma
pessoa humana, com direitos inalienáveis, dentre os quais o de ter justo salário. (Gusmão,
2006: 201).

Diante disso, podemos concluir então que era feita uma crítica ao capitalismo exagerado e
exploração excessiva, mas por outro lado, esta se posicionou totalmente contrária as ideias
socialistas que estavam surgindo. (Magela, 2007: 23).

Na tentativa de resolver esses problemas, surgiram os grandes pensadores utopistas do século


XIX, como por exemplo, Henri Saint-Simon, Robert Owen, Charles Fourier, Louis Blanc,
Pierre-Joseph Proudhon. Tais pensadores afirmavam que a sociedade estaria avançando para
uma nova realidade, onde a principal virtude seria o trabalho, e não o lucro e o egoísmo. A
exploração seria substituída pelo cooperativismo e a justiça social seria finalmente
estabelecida.
Desta forma, a teoria do progresso deixou de ser uma simples teoria do desenvolvimento
espiritual ou político e passou a se tornar uma teoria do progresso social, assim, toda teoria
progressista a partir de então, teria de levar em conta o problema da futura organização da
sociedade. (Mynayev, 1967: 21).

2.3.Pensadores do socialismo utópico

2.3.1.Segundo Saint Simon

Segundo Saint Simon, a tarefa fundamental de toda sociedade seria satisfazer as


necessidades fundamentais de todos os seus membros, uma sociedade onde não haveria
ociosos nem exploração, seria uma sociedade de associação de produtores. Suas ideias
combinavam propriedade privada com planeamento centralizado. Porém, nem ele nem seus
discípulos sabiam nem conheciam os meios realistas que permitissem a colocação das suas
ideias em prática, nem mesmo compreendiam a significação da luta de classes, a maior força
propulsora da história. (Mynayev, 1967: 22-23).

2.3.1.1.Princípios de Saint Simon

Ele defendia que o progresso humano se obtém através do progresso económico. Entretanto,
segundo ele a indústria deveria receber um novo impulso para evitar confrontos entre
homens.

Segundo Saint-Simon, a sociedade deveria ser governada por uma elite de intelectuais,
cientistas e sábio, por isso é a favor de uma tecnocracia que garantiria o desenvolvimento da
classe mais humilde. Isto é, era necessário que houvesse uma transferência de poder dos
sectores da sociedade (Exército, Igreja e Nobreza) em direcção aos produtores (industriais e
agricultores).

2.3.2.Charles Fourier

Charles Fourier, trouxe à realidade os problemas e as conjecturas que o sistema capitalista


trazia em si. Ele afirmou que o progresso social estava se tornando uma ilusão, a burguesia se
desenvolvia enquanto a classe proletária era cada vez mais massacrada, e os instrumentos de
trabalho juntamente com o capital encontravam-se cada vez mais centralizados, o que fará
com que a sociedade passe a ser governada por um punhado de capitalistas, uma vez que a
competição burguesa leva ao monopólio (fato este que foi retratado por Lênin em sua obra
Imperialismo: Fase Superior do Capitalismo).

2.3.2.1.Princípios de Charles Fourier

Fourier defendia a reorganização da sociedade baseada na justiça social. Segundo ele, a


sociedade deveria ser agrupada de acordo com as preferências e as aversões de seus
membros, e estes ficariam divididos então em associações de indivíduos, as quais ele deu o
nome de Falanges. Cada Falange se situaria em um Falanstério, que seriam cooperativas
onde produtores industriais, agrícolas e trabalhadores produziriam juntos. Mynayev, (1967:
24-27).

Cada trabalhador iria produzir o que quisesse, e o trabalho passaria a ser visto como algo
bom, mas que cada um ganharia conforme a sua participação e a sua função. Mas assim
como Saint Simon, não reconheceu o verdadeiro significado da luta de classes, e despejou
todo o seu trabalho na generosidade da burguesia. (Mynayev, 1967: 24-27).

2.3.3.Robert Owen

Robert Owen desempenhou importante papel na educação da classe operária, e, segundo ele,
com a expansão do ensino “o conjunto do sistema e a organização da sociedade existente irá
parecer tão monstruosa e contraditória que ninguém, depois de algum tempo, deixaria de se
sentir envergonhado de continuar a advogar a continuação de tão heterogéneo acervo de
pecado e miséria, se grosseiro irracionalismo e obstrução à felicidade humana”. Ele
construiu creches para os filhos dos funcionários da sua fábrica, diminuiu as jornadas de
trabalho, dividia os lucros com os funcionários, dentre outras medidas, e, acreditava que com
isso, os outros empresários o seguiriam e assim mudariam o mundo. (MYNAYEV, 1967: 27-
28)

2.3.3.1.Princípios do Robert Owen

Segundo Buber, (2007), Robert Owen, defendia a classe operária, até que implementou uma
série de medidas destinadas a melhorar as condições de vida dos seus trabalhadores como a
redução tempo laboral, salários mais dignos, educação infantil. Apesar de ter fracassado a
comunidade ideal criada por ele nos EUA, o seu pensamento e sua prática tiveram uma
influência significativa no cooperativismo.

2.4.Cronologia das ideias do socialismo utópico

Cronologicamente, as ideias do socialismo utópico atingiram o seu máximo desenvolvimento


no período entre 1815 e 1848, data em que o Manifesto foi publicado Comunista. Buber,
(2007).

2.5.Características comuns do socialismo utópico

Segundo Buber, (2007), os socialistas utópicos constituíam um grupo heterogéneo de


pensadores, sem no entanto, tinham uma série de características comuns, muito influenciadas
pelas ideias de Rousseau;

 A ideia de natureza sobreviveu em suas doutrinas, porém não estavam contra novos
desenvolvimentos, como a indústria moderna ou as máquinas.
 Dedicaram seus esforços à criação de uma sociedade ideal e perfeita, na qual a vida
humana teria paz, harmonia e igualdade.
 Que a sociedade seria realizada pela simples vontade dos homens, portanto,
pacificamente.
 Os meios para alcançá-lo não seriam obrigatórios ou violentos, daí a os seguidores
dessas doutrinas eram contra revoluções e acções como a greve.
 Eles expuseram, criticaram e condenaram os efeitos do capitalismo, mas não
analisaram suas causas profundas.
 Para atenuar os seus efeitos adversos, propuseram planos de vários tipos, nos quais
que a solidariedade, a filantropia e o amor fraterno prevaleceram.

2.6.Socialismo como proposta teórica

Explica Buber (p. 21): uma profética, que faz depender a preparação da redenção [...] da
força da resolução de todo homem a que se dirija; uma apocalíptica, para a qual o processo
de redenção foi fixado desde a eternidade com todos os pormenores, com suas datas e
prazos, e para cuja realização os homens servem apenas de instrumento. O pensamento
escatológico se tornou, depois da Revolução Francesa, uma utopia. Por força da laicidade do
pensamento iluminista, a crença ou redenção do homem ficou restrita à construção de uma
sociedade justa nascida do esforço humano. Buber, (2007).

Encontrando-se nessa perspectiva moderna e próxima do iluminismo, Marx e seu parceiro


Friedrich Engels (1820-1895) explicam que os socialistas utópicos pretendem reorganizar a
sociedade valendo-se da razão e dos esforços do homem. Para Buber, enquanto os socialistas
chamados utópicos assumiam a escatologia profética, o pensamento de Marx e Engels,
tornou-se prevalentemente, mesmo que não exclusivamente, articulador de uma escatologia
apocalíptica.

3.Razões da criação do socialismo

A razão fundamental, esclarece, é que eles queriam a reorganização da sociedade mantendo a


mesma sociedade, mesmo sem saber exactamente que sociedade surgiria com a expansão do
proletariado. Buber esclarece o essencial da análise marxista (p. 10):

Foi a impossibilidade de compreender e dominar o problema do proletariado que deu azo ao


aparecimento desses sistemas, que só poderiam ser imaginários, fantásticos e utópicos e que, no
fundo, propunham a abolição de uma diferença de classes que estava apenas começando a
processar-se e que, um dia, iria provocar a transformação geral da sociedade.

A crítica a esses socialistas foi desenvolvida especialmente no Manifesto Comunista. Seu


autor, o filósofo e sociólogo Karl Marx (1818-1883), pretendia dar tratamento científico à
reorganização da sociedade, pois os precursores do socialismo não lhe pareciam conscientes
do desenvolvimento e dos problemas da sociedade industria. Marx, (2005).
4.Conclusão

Feito o trabalho que abordou sobre o tema socialismo utópico, compreendemos os socialistas
utópicos apesar de denunciarem a opressão do povo pela minoria burguesa e criticarem o
regime capitalista, tentando criar um novo sistema ideal, e que alguns chegavam a idealizar a
sociedade perfeita, mas não demonstravam o caminho para a construção dessa sociedade,
uma vez que não encontravam condições materiais para a sua transformação, eles não
propunham soluções reais para os problemas apresentados, eram incapazes de explicar a
natureza e as tendências do capitalismo, não podendo assim resolver o problema. Eles
depositavam suas esperanças nas ideias de que os “ricos” modificassem suas ideias e
repartissem seus lucros com a classe operária, assim alguns chegavam até a pensar que o
próprio sistema capitalista encontraria solução para esses problemas sociais.

Desta forma, a sociedade justa e igualitária, almejada por uma infinidade de gerações
continuará apenas no sonho das gerações, e quem sabe, algum dia, possa vir à tona, uma vez
que o regime capitalista não é e nunca será eterno, tal qual se desenvolve a eterna dialéctica
da humanidade
5.Referências bibliográficas

Buber, Martin. O Socialismo Utópico. São Paulo: Perspectiva, 2007.

Marx, Karl E Engels, Friedrich. Manifesto Comunista. São Paulo: Boitempo, 2005

Educar: Programa de estudo e pesquisa. São Paulo: DCL, 2002.

Gusmão, Paulo Dourado de. Introdução ao Estudo do Direito. 37. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2006.

Magela, Geraldo. Colecção Estudo 2007: Ideias Sociais e Políticas no século XIX. São
Paulo: DRP, 2007.

Magela, Geraldo. Revolução Industrial e Movimento Operário. São Paulo: DRP, 2007.

Mynayev, L. Origem e Princípios do Socialismo Científico. Tradução de Daniel Campos.


São Paulo: Argumentos, 1967.

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