Psicomotricidade Na Inclusao
Psicomotricidade Na Inclusao
Psicomotricidade Na Inclusao
A prim eira respost a a est a quest ão a m eu ver é que a escola deve preocupar- se
com a const rução do conhecim ent o, de acordo com as t eorias psicogenét icas de
Piaget e Vygot sky. O aluno será desafiado por sua curiosidade a envolver- se com o
processo de conhecer e int eragir com o m undo e o professor será o m ediador,
aquele que prom ove a int erseção ent re a criança e o conhecim ent o.
Criança e conhecim ent o são re- significados diant e de cada propost a e de cada
desaf io do edu cador. Est e in dica o cam in h o par a alcan çar n ov os con t eú dos
conceit uais, rem et endo, infinit am ent e, para novas t ram as da singular e am pla rede
do conhecim ent o hum ano.
A diversidade e, por out ro lado, a especificidade do suj eit o / aprendiz, sem pre
envolvido em const ant es t ransform ações na int eração com seu m eio, leva- nos a
reconhecer que os alunos criam diferent es est rat égias de com preensão e de ação
sobre a realidade, frut o de suas diferent es inserções sociais e condições sociocult urais
no seu processo evolut ivo.
É nesse espaço at ent o às diferenças que surgem aprendizagem e conhecim ent os
que são explorados com o geradores de novos conhecim ent os, prom ovendo a riqueza
de pont os de vist a e de experiências que podem ser t rocadas.
Os proj et os pedagógicos int erdisciplinares são m at éria prim a para a const rução do
conhecim ent o e aprendizagem . Um proj et o de t rabalho ligado aos t em as cent rais
d o in t er esse d as cr ian ças ser á d esenv olv id o d essa f or m a. A con st r u ção d o
conhecim ent o, dent ro dest a perspect iva, vincula- se a esse proj et o cuj o t em a é
aglu t in ador, con st it u ído por acon t ecim en t os sociais qu e as cr ian ças est ej am
vivenciando no m om ent o, ou event os cult urais que est ej am previst os na program ação
da escola ( com o a visit a a exposições ou excursões) ou que sej am decididos e
planej ados pelas crianças e/ ou pelos professores. A const rução de conhecim ent o
pelas crianças levará à necessidade de um a divisão de t arefas e busca de inform ações
em diferent es font es, o que suscit ará a aprendizagem colaborat iva e a produção do
conhecim ent o em rede.
Com o exem plo de inclusão vou discut ir o que ocorre com as crianças aut ist as.
As crianças com Transt ornos I nvasivos do Desenvolvim ent o t êm dificuldades de
assim ilar os processos sim bólicos, de exercer a linguagem e a com unicação, e,
além disso, apresent am falhas nas capacidades de fixação de at enção ( grande
dispersão e, paradoxalm ent e, hiperseleção de det erm inados est ím ulos) . Most ram -
se apegadas ao concret o, com dificuldade de generalização e abst ração, e sua condut a
ext ravasa- se em agit ação e hiperat ividade, ou, ao cont rário, há um t olhim ent o
geral e apat ia.
Elas apresent am diversas caract eríst icas que, agrupadas, const it uem a síndrom e,
que pode ser de dois t ipos, a síndrom e de aut ism o descrit a por Leo Kanner, onde
com um ent e há at raso m ent al, e a descrit a por Asperger, com alt o desem penho ou
alt o funcionam ent o.
Oliver Sack s ( 1995) m ost ra que o quadr o clássico de aut ism o é «t er r ível» na
concepção da m aioria das pessoas e dos m édicos. O que aparece, em geral, é a
i m a g e m d e u m a cr i a n ça p r o f u n d a m e n t e i n ca p a ci t a d a , co m m o v i m e n t o s
est ereot ipados, com m ovim ent os de bat er com a cabeça e agit ando as m ãos em
flapping, sem linguagem ou com com unicação rudim ent ar, quase inacessível. Um a
criat ura a quem o fut uro não reserva m uit a coisa.
O t erm o espect ro aut íst ico, int roduzido por Lorna Wing ( 1988) e, depois com plet ado
por Bishop ( 1989) , propõe a definição de um a ent idade nosológica única para os
quadros de aut ism o infant il – de baixo ou alt o funcionam ent o. A diferenciação dest es
quadros est aria na int ensidade dos desvios de linguagem , déficit s cognit ivos e
int eração social.
De acordo com Rivière ( 2004) as principais dim ensões de variação do espect ro
aut ist a são:
«1. Transt orno nas capacidades de reconhecim ent o social.
2. Nas capacidades de com unicação social.
3. Nas dest rezas de im aginação e com preensão social.
4. Nos padrões repet it ivos de at ividade. Refere- se t am bém a out ras funções
p sicológ icas, com o a lin g u ag em , a r esp ost a a est ím u los sen sor iais, a
coordenação m ot ora e as capacidades cognit ivas.» ( p.242)
A Teoria da Ment e nos m ost ra que a grande incapacidade do aut ist a é at ribuir
m ent e ao out ro, pois não consegue int egrar, num a prim eira ordem , a suposição que
os out ros possuem est ados m ent ais ( os out ros t êm em oções, t am bém pensam e
t em «crenças») e m uit o m enos a segunda ordem ( é possível pensar que o out ro
t am bém pensa) ou a t erceira ( o out ro t am bém pode t er crenças sobre a m inha
crença) .
Quant o à polêm ica de se encont rar explicações físicas para o aut ism o, m esm o com
o avanço dos est udos genét icos, pesquisa neuroquím ica, exploração cit ológica,
neuroim agem , elet rofisiologia, et c., ainda não se definiu com precisão possíveis
et iologias.
O básico da descrição do espect ro aut ist a é a dificuldade de est abelecer relações
sociais, que os est udiosos da m et arepresent ação correlacionam à pouca capacidade
de referência conj unt a ( ação, at enção e preocupação conj unt as) , sendo est a um a
caract er íst ica da pr é- linguagem . Tam bém é falha a ut ilização de gest os para
com part ilhar o int eresse com relação ao out ro e ao m undo.
Diz Bosa em capít ulo da colet ânea sobre aut ism o organizada por Cam argos ( 2002) :
«Conform e discut ido na int rodução, a part ir dessa idade, ( 9 m eses) em erge
a habilidade para com part ilhar as descobert as sobre o m undo ao redor, at ravés
da at ividade gest ual, da qualidade do olhar e da expressão em ocional, que
são int egrados no at o com unicat ivo. É nessa fase, em especial, que os pais
com eçam a not ar que seu filho raram ent e busca ou «cham a» pelo adult o
para com part ilhar suas experiências de form a espont ânea» ( p.45) .
Aí t odo o diálogo t ônico- cinét ico, conceit o propost o por Aj uriaguerra ( 1970) , se
desenvolv e com o pr é- linguagem int er subj et iv a e é nesse foco que a r elação
psicom ot ora t em foro privilegiado.
A Terapia Psicom ot ora é um a abordagem psicot erápica que é privilegiada para os
casos em que, t rabalhando em um regist ro de discurso m ais próxim o das t raduções
icônicas e indiciais, no sent ido ut ilizado pela Sem iót ica de Peirce ( 1977) , ut ilizando
a expressividade t ônico- cinét ica do diálogo corporal, m ím ico, post ural, o t erapeut a
pode levar o pacient e para o r egist r o sim bólico, at rav és do j ogo espont âneo,
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p.
RESUM O:
O at endim ent o da criança com Transt ornos I nvasivos do Desenvolvim ent o enfat iza
a cooperação ent re o t erapeut a psicom ot or e a escola inclusiva.
Durant e t odo o processo de t erapia enfocada na relação psicom ot ora, com um a
leit ura psicanalít ica, sem se esquecer os aspect os cognit ivos e de m et a- represent ação
necessários para a com preensão do aut ism o, é prim ordial que haj a um a int erlocução
com a escola freqüent ada pela criança aut ist a.
É im port ant e que a escola sej a abert a, acolha as diferenças, ut ilize proj et os de
const rução do conhecim ent o e est ej a at ent a para as especificidades de cada aluno.
Por out ro lado, o t erapeut a psicom ot or t em que se dispor a sair dos m uros de seu
set t ing e realizar observações na escola de seu client e.
O enfoque do t rat am ent o psicom ot or e da escolaridade inclusiva é o resgat e do
suj eit o em pot encial, do aut ist a preso em sua fort aleza vazia, levando- o a est abelecer
vínculos e a t er possibilidades de com unicação e de inserção no social.
PALAVRAS CH AVE:
Aut ism o, I nclusão, Diversidade, Especificidade do aluno, Relação Psicom ot ora, Terapia
Psicom ot ora.
ABSTRACT:
The t reat m ent of children wit h Pervasive Developm ent al Disorders m ust em phasize
t he cooperat ion bet ween t he Psychom ot or Therapist and t he inclusive school.
The process is focused in t he psychom ot or relat ionship during t he whole t herapy,
wit h a psychoanalyt ic approach, adding t he cognit ive aspect s and, of course, t he
t heory of m ind for t he underst anding of t he aut ism . I t is fundam ent al t hat a dialogue
occurs bet ween t he t herapist and t he school frequent ed by t he aut ist ic child.
I t is im port ant t hat t he school should be open t o t his relat ionship, welcom e t he
differences, use proj ect s of const ruct ion of t he knowledge and be at t ent ive for each
specific need of it s st udent s.
On t he ot her hand, t he psychom ot or t herapist m ust be available t o leave t he walls
of his set t ing t o accom plish observat ions in t he client ’s school.
The focus of t he psychom ot or t reat m ent and inclusive educat ion is t o free t he pot ent ial
subj ect from his em pt y fort ress, m aking him est ablish links wit h t he ot hers and t o
be able t o com m unicat e and t o be insert ed in t he social life.
KEYW ORD S:
Au t ism , I n clu sion , Div er sit y, St u den t ’s Specif icit y, Psy ch om ot or r elat ion sh ip,
Psychom ot or Therapy.
D AD OS D A AUTORA:
Su z a n a V e loso Ca br a l. Psicóloga, Psicom ot r icist a t it ular e sócia de honra da
Sociedade Brasileira de Psicom ot ricidade, especialist a em Psicom ot ricidade pelo
Conselho Regional de Psicologia da 4ª . Região – MG, especialist a em Educação
Especial I nclusiva pela PUC Minas Virt ual ( Pont ifícia Universidade Cat ólica de Minas
Gerais) . Professora de Psicom ot ricidade de Especialidades Lat o Sensu de várias
universidades Brasileiras ( em Minas Gerais, Curit iba, Fort aleza, Recife e Aracaj ú) .