De Vocacao para Profissao Organizacao Sindical Doc
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Artigo extraído da Tese do autor de mesmo título.
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Doutor em Sociologia pela Universidade de Brasília e membro do GEPT ( Grupo de Estudo e Pesquisa
sobre o Trabalho) do Departamento de Sociologia da UnB.
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É um termo genérico, que designa caráter cultural ou social de um grupo ou sociedade e representa a
totalidade dos traços característicos pelo qual um grupo se individualiza e se diferencia dos outros
(Honigmann, 1987).
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Aprovado pelo CNPQ em 2005 sob a coordenação do Profº Dr. Sadi Dal Rosso.
Associativismo e sindicalismo docente no Brasil Rio de Janeiro, 17 e 18 de abril de 2009
Seminário para discussão de pesquisas e constituição de rede de pesquisadores
Educação (CNTE) que agrupa os sindicatos da educação básica da rede pública tem, em
2008, na sua base social cerca de 960 mil representados, congrega 36 sindicatos
estaduais filiados e é a segunda maior Confederação filiada à Central Única dos
Trabalhadores (CUT)5.
O conceito de tardio vincula-se ao tempo. Daí surge à questão: mas, qual o
tempo devido ou apropriado? No caso deste estudo, parte-se do pressuposto que a
organização sindical dos professores da educação básica ocorreu em dissonância com a
necessidade de conquista de direitos há mais tempo, pois as condições de trabalho da
categoria eram aviltantes como as dos operários, quando estes resolveram organizar-se
sindicalmente.
Mas, o que significa a organização dos trabalhadores em sindicatos? O sindicato,
por um lado, é a expressão de organização e luta de trabalhadores, de defesa e conquista
de direitos, portanto, criado para compensar a fraqueza do trabalhador atomizado na sua
relação contratual com o capital (Cattani, 2002); e, por outro lado, é a manifestação
política de uma categoria que se associa às lutas de outros trabalhadores, objetivando
tratar das questões de trabalho e de ação sindical como dimensão política mais geral.
Estas organizações constituem, na análise marxista, elementos da superestrutura
articuladoras dos interesses de classe; portanto, é uma estrutura político-ideológica
portadora de uma determinada concepção política, o que faz com que ela possa se
tornar, inclusive, um aparelho do Estado (Althusser, 1974).
Os sindicatos podem se organizar por ramo, por categoria e por empresa e a
estrutura sindical pode fundamentar-se no sindicato único ou no pluralismo sindical.
Eles podem ainda desenvolver-se num contexto de liberdade de organização, mas
também em situações tuteladas pelo poder político, tal como ocorreu no Brasil antes de
1988 e em Portugal no regime salazarista6. Nesta situação, “os sindicatos adotaram
funções de enquadramento e de subordinação das reivindicações dos trabalhadores aos
interesses definidos pelo regime político” (Cattani, 2002: 288-289). Portanto, sindicato
e profissão se vinculam mutuamente, pois o sindicato agrupa pessoas de uma profissão
por meio de uma organização interna para assegurar a defesa e a representação da
respectiva profissão. No caso específico da situação organizativa dos professores
precisava saber como se aplicava esta estrutura conceitual e analítica.
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A CNTE. Disponível em www.cnte.org.br. Acesso em: 10 de janeiro de 2008.
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Referência a António de Oliveira Salazar que implantou um Estado Novo (1933-1974) em Portugal, alegando
defender as doutrinas sociais da Igreja Católica, adotou um modelo autoritário, nacionalista e fascista.
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Segundo o censo demográfico de 1940 extraído do MEC – Aspectos da Educação no Brasil, a taxa de
analfabetismo da população de mais de 15 anos era de 56,17%.
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Não confundir esta CPB com a CPB (Confederação dos Professores do Brasil) que surge em 1973 em
São Paulo.
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Este direito foi assegurado no artigo 37, VI e VII, da Constituição Federal de 1988, devendo, contudo
ser objeto de lei complementar específica. Esta lei encontra-se no Congresso Nacional para ser votada.
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Lockout é a paralisação realizada pelo empregador com o objetivo de exercer pressões sobre os
trabalhadores, visando frustrar negociação coletiva ou dificultar o atendimento de suas reivindicações.
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Michael Apple contribui para essa discussão quando afirma que os professores
têm “uma posição social contraditória, com isto significando que “é sensato pensar
neles como estando simultaneamente em duas classes. Partilham assim tanto interesses
da pequena burguesia como da classe trabalhadora” (Apple, 1997:66). Apesar dessa
“dupla filiação”, atualmente, ressalta o autor, a tendência é de intensificação do
trabalho e de proletarização (grifo nosso).
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exercício de uma profissão. Assim sendo assevera-se que este perfil contribuiu
sobremaneira para o atraso na organização sindical dos docentes, pois a consciência de
classe necessária e o poder reivindicativo frente às precárias condições de trabalho não
dominaram o pensamento da categoria.
Estudos sociológicos posteriores demonstraram que essa imagem dos atributos
do professor foi destruída pela massificação do ensino, de modo que eles já se
encontram profundamente envolvidos com estratégias de poder. Estes, quando a serviço
do poder dominante, funcionam como “ideólogos profissionais” (Althusser, 1974),
“agentes de reprodução cultural" (Bourdieu & Passeron, 1992) ou "agentes de controle
simbólico" (Bernstein, 1977). Noutra vertente e explorando as contradições sociais que
assolam as escolas, Henry Giroux (1986), defende a vocação intelectual dos professores
e assegura que nem todos são conservadores, muito pelo contrário, estão empenhados
na transformação da sociedade.
Mais contemporaneamente, sobretudo a partir dos anos de 1990, parece estar
ocorrendo uma inflexão do sindicalismo docente, dado certo esgotamento das práticas
de luta recentemente empregadas e por terem sido mais difíceis e menos vitoriosos os
conflitos com os governos estaduais e municipais.
A atuação do sindicato docente nem sempre se concentrou na defesa das
condições de trabalho, na reivindicação salarial ou na crítica às políticas educativas, mas
também na promoção da educação e dos modos de aprendizagem. Neste sentido, é
pertinente que o movimento sindical assuma também a dimensão original, deslocando-
se de ator para autor de processos educativos.
O sindicalismo docente tem de ser propositivo e não somente denunciador ou
mesmo conciliador. O que se pretende dizer é que ele deve procurar novas modalidades
de pressão social junto aos governos. A greve é um bom exemplo. Quando se convoca
uma greve isso não significa que tenha de se interromper a relação de aprendizagem.
Dependendo da forma como ela for gerida, uma greve pode perfeitamente tornar-se num
momento político-educativo, porque fora da escola também se aprende. O sindicalismo
docente precisa também recuperar uma dimensão que esteve na sua origem, que é a de
entender a educação como um fenômeno mais amplo, que olhe para além da escola.
Isso implica em dizer que ao nível da formulação das políticas educativas é
urgente que o movimento sindical docente requalifique a sua intervenção. Ao contrário
de se limitar e esperar cada mudança governamental ou ministerial, os sindicatos de
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Apesar da crise, não se trata de dizer que o sindicalismo perdeu o seu papel ou
se tornou uma instituição démodé, do passado, e que está destinado a se extinguir, como
interpretou Leôncio Martins Rodrigues, em sua obra “Destino do Sindicalismo” (2002).
Os sindicatos representam um elemento de organização dos trabalhadores, em uma
situação de desorganização social e coletiva, e ainda têm papel essencial a
desempenhar: de articulador, mobilizador do diverso e do múltiplo mundo do trabalho.
Dizer que rumamos para uma sociedade do não-trabalho, conforme se interpreta
da obra do sociólogo italiano, Dominico De Masi (2001), não se sustenta. O que tem
acontecido são deslocamentos no mundo do trabalho e uma intensificação da exploração
dos trabalhadores formais. Há uma redução do trabalho, mas também uma
intensificação da jornada (Dal Rosso, 1996).
Não estamos próximos de uma sociedade do ócio ou do lazer, pelo contrário.
Vivemos uma contradição que está se agudizando. Há uma redução horizontal e não
vertical do trabalho, mas continuamos numa sociedade baseada no mercado. Ou seja, as
pessoas precisam do trabalho e da renda para resolver os seus problemas. E para
aqueles que se mantêm empregados, há uma intensificação da jornada e da
produtividade. O não-trabalho significa exclusão e uma intensificação do trabalho em
outros pólos do sistema (Rodrigues, 1997).
Para os que acreditam que a forma-sindicato está esgotada, que já não consegue
dar respostas para as transformações em curso no mundo do trabalho, concordamos com
o professor e sociólogo Antonio David Cattani, quando diz que “o sindicato permanece
como um componente essencial na organização da sociedade democrática. A
reestruturação econômica não diminuiu sua importância, pelo contrário, aumentou
ainda mais. Os sindicatos continuam sendo uma instância indispensável para o
aperfeiçoamento das relações de produção, para a defesa dos interesses dos mais
desfavorecidos na esfera da produção e para a reconstrução do espírito de
solidariedade e de igualdade que anima as iniciativas mais progressistas do ser
humano” (Cattani, 2002).
Referências bibliográficas
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