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IAMAMOTO, Marilda Vilela e CARVALHO, Raul de. Relaes Sociais e Servio Social no Brasil: esboo de uma interpretao histrico-metodolgica. 35 Ed. So Paulo: Cortez, 2011. PARTE IV ASPECTOS DA HISTRIA DO SERVIO SOCIAL no BRASIL (1930-1960) Captulo IV Em Busca de Atualizao

Pg.343 - A especificidade que historicamente caracteriza o Servio Social, como foi apontado no incio deste trabalho, situa-se na demanda social que viabiliza e legitima a implantao e desenvolvimento da Instituio. A partir do momento em que a secularizao e o alargamento da base social de recrutamento o meio profissional passa a ser composto principalmente por elementos provenientes dos setores sociais subalternos se acentuam, isto , a partir do momento em que ultrapassa os limites do bloco catlico, a profisso no poderia deixar de ser profundamente marcada por aquela especificidade. Contrariamente, por exemplo, aos servios de educao e sade, o Servio Social no est isento da necessidade de constantemente produzir sua prpria justificao. Pg.344 [...] ser necessrio atualizar constantemente um discurso que legitime o Servio Social perante sua clientela. A contradio evidente entre o discurso institucional, seus objetivos e pretenses, e aquilo que realiza cotidianamente o Assistente Social, torna premente uma autojustificao para a prtica desenvolvida; uma confirmao constante de sua utilidade social e do carter imanente de seus objetivos: de que os determinismos sociais vistos como fatores que atuam de fora so os principais responsveis pelas limitaes e condicionamentos prtica profissional. O fato de orientar-se o Servio Social essencialmente aos setores mdios para os quais representa um campo de emprego e s classes dominantes e ao Estado que representam a demanda cria uma situao especfica em que o desenvolvimento da instituio depende diretamente do crdito de confiana de seus credores, do convencimento destes sobre sua necessidade e capacidade de ao. Esta necessidade constante de produzir uma autojustificao em relao definio de suas funes, a seus mantenedores institucionais e, secundariamente, clientela constitui-se num dos fatores explicativos da importncia de que se reveste, para o meio profissional, seus grandes encontros e reunies. Os Congressos e Seminrios aparecem, assim, como acontecimentos extremamente importantes para o desenvolvimento das estratgias de confirmao e autojustificao.

Pg.345 tambm um momento em que aqueles intelectuais podem sugerir retificaes e reafirmar a legitimidade da instituio. Nesse sentido, nos itens a seguir se procurar acompanhar alguns elementos mais caractersticos dos Congressos oficiais da instituio, no perodo 1945-1961.

1. Os Congressos de Servio Social na dcada de 1940

Pg.346 - O primeiro Congresso Brasileiro de Servio Social promovido em 1947 pelo CEAS Centro de Estudos e Ao Social. Apresenta, tambm, o carter de encontro preparatrio para o 2 Congresso Pan-Americano de Servio Social, a ser realizado no Brasil, em 1949. Um antecedente importante a essa reunio o 1 Congresso Pan-Americano de Servio Social, realizado no Chile, em 1945. O Congresso Pan-Americano de 1945, ao qual comparecem 14 delegaes estrangeiras, marcado por seu carter de oficialidade. O encontro, cujo temrio dividido em trs sees, apresenta em seu transcorrer entremeado de visitas a entidades assistenciais e festividades trs aspectos a serem ressaltados. Pg.347 - O primeiro, de ntido carter de posicionamento poltico e ideolgico da grande maioria dos participantes, se refere aos debates acerca do Servio Social na Indstria. Nesse debate derrotada uma ala mais avanada segundo a expresso de um dos participantes da delegao oficial brasileira que se posiciona a favor de um Servio Social ao lado dos operrios, afirmando, inclusive, que as organizaes operrias so as nicas legtimas fontes mantenedoras dos Assistentes Sociais. Prevalece amplamente a posio que afirma o carter de neutralidade, conciliao entre o capital e o trabalho, ao educativa e valorizao integral do homem como fundamento do Servio Social, e que este deve contar com a colaborao dos setores patronal e operrio. Os dois outros aspectos se referem, respectivamente, ao intercmbio interamericano e formao para o Servio Social, este ltimo o tema central do Congresso. Pg.348 As discusses mais importantes sero travadas em relao ao tema formao para o Servio Social. Procura-se definir normas para o funcionamento das escolas especializadas, que se multiplicam, a partir de um padro mnimo de exigncias condies de ingresso nas escolas, currculo bsico, planos de trabalho prtico etc. Dentro desse debate duas outras questes assumiro relevncia: a regulamentao do ensino e a luta pelo reconhecimento profissional, que influram no surgimento da Associao Brasileira de

Escolas de Servio Social (ABESS) e da Associao Brasileira de Assistentes Sociais (ABAS). Pg.350 um momento em que a aparato assistencial desenvolvido pelo Estado Novo e, mais recentemente, pelas corporaes empresariais encontra-se em expanso e passa a constituir-se crescentemente em mercado de trabalho para os Assistentes Sociais. Essa expanso atende s necessidades de absorver as presses desencadeadas pelos novos setores urbanos, que crescem aceleradamente em funo do avano da industrializao e da urbanizao, e tem em vista controlar a reproduo do proletariado urbano e atuar sobre as sequelas mais aberrantes do aumento de sua misria relativa. A vastido desse campo, assim como a grande quantidade de especialidades que cada subcampo comporta; o fato de que na representao dos setores socialmente dominantes a questo social vista atravs da multiplicidade dos efeitos (da explorao capitalista), determinam a existncia, para o Servio Social, de um sem-nmero de frentes de atuao, cuja sistematizao ir exigir um esforo prolongado. Pg.351 O 2 Congresso Pan-Americano de Servio Social realiza-se no Rio de Janeiro, entre os dias 2 e 9 de Julho de 1949, e tem por tema central O Servio Social e a Famlia. H, sem dvida, um discurso mais secularizado (menos apostolar), com maior nfase na psicologia e na tcnica. Definem-se novas qualidades para o Assistente Social: deve ser equilibrado psico-afetivamente para eliminar os conflitos e no ser causa dos mesmos; o Assistente Social no pode ser encarado como cientista, mas como o utilizador das tcnicas de base cientfica, nos problemas de ajustamento do homem coletividade e de integrao do mesmo em si prprio. Fala-se mais em articular, integrar, em problemas afetivos e relacionais etc., se bem que formao moral, educao etc., continuam sendo elementos essenciais na ao recomendada para o proletariado. Ao mesmo tempo em que se afirma o carter fundamental do Servio Social dos Casos Individuais, a vida familiar ntegra como objetivo precpuo, a entrevista como principal instrumento de trabalho etc., h maior solicitao para a utilizao dos mtodos de Grupo e Comunidade e um chamamento bastante generalizado para a preparao de Assistentes Sociais para o meio rural. Pg. 352 Destaca-se, na abertura do Congresso, a posio defendida pelo intelectual e lder catlico Amoroso Lima. Trata-se, para ele, da afirmao de uma terceira via, baseada na reforma social: Nem conservadorismo estril, nem transmutaes revolucionrias ou reacionrias de um modelo totalitrio.

[...] o Servio Social apresentado com funes bem mais amplas: O Servio Social , portanto e ao mesmo tempo, um movimento de ordem econmica, de ordem moral e estrutural. Visa extirpar o pauperismo, visa trabalhar pela purificao dos costumes e visa dar sociedade uma estrutura que melhor corresponde s exigncias da natureza humana. Nas discusses travadas pelo meio profissional, duas assumiram a forma de confrontao, delimitando posies. Uma primeira se refere tese defendida pela Escola Tcnica de Servio Social quanto Contribuio do Servio Social para a soluo dos problemas econmicos da Famlia. A preocupao central estar em, diante de to graves problemas sociais e para barrar o avano do comunismo, implementar tcnicas eficazes, suplementando aquelas, prprias do Servio Social, pelas da Ao Social. Na situao de crise, haveria um desajustamento coletivo, e o Servio Social dos Casos Individuais seria inoperante; a psicologia deveria ceder lugar economia. Pg.353 Pede, em suma, mais tcnica, mais planejamento e mais Ao Social. A defesa do Servio Social dos Casos Individuais polariza a discusso das questes levantadas nessa tese. O plenrio rejeita maciamente a crtica ao Servio Social dos Casos Individuais, situando seu carter bsico e fundamental dentro do Servio Social, e sua compatibilidade enquanto mtodo, com qualquer situao de desajustamento. Se as tcnicas de Grupo e Comunidade vem tendo sua importncia acrescida, a pesquisa social e o Servio Social dos Casos Individuais continuam sendo a base do diagnstico e do tratamento em Servio Social. Um segundo confronto de opinies ocorre nas discusses sobre Formao para o Servio Social. Esse confronto se colocou em torno da questo do nvel das escolas de Servio Social, pois at aquele momento no havia uma definio se nvel mdio ou superior exigindo as escolas apenas o ginasial como condio para o ingresso nas mesmas. A discusso se polariza quando, nos debates sobre Dificuldades e Solues Encontradas na Formao do Assistente Social, a Sra. N.G. Kfouri (da Escola de Servio Social de So Paulo) expe as experincias que sua escola vinha desenvolvendo para formar Assistentes Sociais de origem operria. Torna-se mais acalorada, a partir da proposta (Escola Cecy Dodsworth, da Prefeitura do Distrito Federal) e, em face das caractersticas especficas da realidade brasileira, formarem-se trabalhadores sociais em dois nveis. Pg.354 Exige-se que a formao para o Servio Social se faa unicamente em nvel universitrio. Por outro lado, aprovam-se definies tais como: O Servio Social uma vocao e, sendo princesa ou trabalhadora, ser sempre uma Assistente Social. No podemos

em absoluto, num sacerdcio como o da Assistncia Social, estabelecer distines em torno de categorias sociais ou de classes. O que importa o esprito, a mentalidade que deve reinar na profisso. Uma ltima posio destoante dentro deste 2 Congresso Pan-Americano ser a tese defendida pelo Sr. Luis Carlos Mancini, Formao do Assistente Social em face das necessidades presentes. um primeiro grito de alerta famoso na crnica posterior dos Congressos do Servio Social para que os agentes profissionais do Servio Social tomassem posio em face dos problemas estruturais, da necessidade de preparar agentes para atuar nas comunidades:
preciso fazer o povo pensar, reunir-se, equacionar os seus problemas, aprender a discutir. (...) O Assistente Social deve ser habilitado a analisar, identificar e mobilizar os rgos e agentes da comunidade e a ajudar a criar as molas da ao individual e coletiva. Todo o sistema pedaggico, da criana ao adulto, como todo o planejamento urbano, social e poltico, deve orientar-se no sentido de proporcionar meios de congregao de povo, equipando os agentes responsveis por sua educao, com tcnicas modernas do servio de grupo e de mtodos de discusso.

Esses trs Congressos que se realizam na segunda metade da dcada de 1940 apresentam alguns elementos comuns, que os caracterizam. Pg.355 Quanto s posies contestadoras, preciso assinalar que o tipo de material utilizado os Anais dos Congressos e relatos de participantes s permite (quando o permite!) registrar a existncia das mesmas. A partir desse material pode-se observar com maior preciso o comrcio e circulao das ideias e posies assumidas pela maioria dos participantes, sendo que, desses debates, afloram outros tipos de inquietao. A recorrncia a certos temas pode ser exemplificada por um que nesse perodo assume carter dominante: a Formao para o Servio Social. Esse tema aparece por efeito da contradio insolvel entre as representaes e o discurso sobre a profisso e o profissional e, neste caso, a realidade das escolas, da cooptao de vocaes e do mercado de trabalho. A posio do Servio Social e do Assistente Social dentro das instituies e futuramente nas equipes interdisciplinares e a necessidade de fixar suas funes; a discusso sobre cincia, mtodos e tcnicas; sobre objeto e objetivo; sobre a quem deve servir o Assistente Social etc., constituem-se em outros tantos temas que retornam s arenas de discusso pois as solues encontradas frequentemente so atropeladas pela realidade demonstrando a insegurana, limitaes e dvidas que atravessam o meio profissional.

A recorrncia a uma srie de outros temas aparece, por outro lado, como desenvolvimento de estratgias coerentes mesmo que se originem na incoerncia de aes individuais de reafirmao das caractersticas especiais e especficas da profisso (primado do ser, por exemplo) e de luta pela legitimao e ampliao do campo de ao profissional. Quanto a este ltimo ponto, trata-se de mostrar, para as instncias que viabilizam a instituio, que os postos e funes conseguidos dentro do Aparelho de Estado vm sendo ocupados com eficincia. Pg. 356 - Que o Servio Social tem funo de grande relevncia dentro do equipamento assistencial, sendo imprescindvel ao seu funcionamento eficiente. Que a implantao do Servio Social representa um investimento altamente produtivo, e que contribui para a organizao tcnica da prestao da assistncia. Trata-se, tambm, de mostrar a necessidade de ampliar a rea de atuao do Servio Social, de convencer da rentabilidade do negcio, de mostrar a seriedade da formao profissional, a solidez dos princpios cristos, de seu posicionamento apenas moderadamente reformista, a partir do qual se mostra plenamente visvel sua adeso ordem natural (capitalista). Trata-se neste nvel, de mostrar que se fala a mesma linguagem das classes dominantes e que possvel atuar com maior racionalidade em cima de uma srie de problemas sociais (de economia poltica) que comeam a ser percebidos como problemas... assistenciais. H, como j foi observado, o fato de que o Estado passa a ser, direta ou indiretamente, o grande empregador de Assistentes Sociais, o que no necessariamente uma razo suficiente para prestigiar seus Congressos. Pg.357 Cabe situar, nesse sentido, que no apenas para o Servio Social, mas para grande parte das profisses ditas liberais, a estruturao corporativa da sociedade tornou o Estado rbitro maior de seu desenvolvimento, pois passa a controlar currculos mnimos, garantia de reconhecimento dos ttulos, garantia do monoplio do exerccio da funo etc. Nesse sentido, as profisses liberais so crescentemente tributrias do Estado, inclusive em termos de mercado de trabalho. Pg.358 Expanso da profisso e a ideologia desenvolvimentista

na dcada de 1960 que se observa a existncia de um meio profissional em franca expanso. No decorrer desses anos, a profisso sofrer suas mais acentuadas transformaes, modernizando-se tanto o agente como o corpo terico, mtodos e tcnicas por ele utilizados. H, tambm, um significativo alargamento das funes exercidas por Assistentes Sociais, em direo a tarefas, por exemplo, de coordenao e planejamento, que evidenciam uma evoluo no status tcnico da profisso.

Pg.359 Estas condies amadureceram dentro de um quadro mais amplo, de expanso econmica e de afirmao do desenvolvimentismo como ideologia dominante. No decorrer da dcada de 1940 e at a metade da dcada seguinte, a economia nacional apresenta graas a diversos fatores, entre os quais sobressai a melhoria das relaes de intercmbio com o exterior taxas de crescimento altamente positivas, que se fazem acompanhar de medidas de poltica econmica que tm em vista o aprofundamento da industrializao. A ideologia desenvolvimentista em seu aspecto mais aparente e geral envolve a proposta de crescimento econmico acelerado, continuado, autossustentado. O problema central a resolver constitui-se em superar o estgio transitrio do subdesenvolvimento e do atraso. A meta a atingir a prosperidade, a grandeza material da nao, a soberania dela decorrente, a paz e a ordem social tudo isso potencialmente vivel, bastando que se traga luz a riqueza existente e adormecida de que o pas dispe, atravs do traado de poltica adequada e do trabalho constante. Pg.360 Nesse sentido, o desenvolvimentismo visa a uma integrao mais dinmica no sistema capitalista. Na busca do desenvolvimento, no necessrio discutir ou questionar a presena do capital estrangeiro. Pelo contrrio, a ajuda internacional ao processo expansivo da economia um fator positivo, representando o esforo industrializante a abertura de uma frente atrativa para o ingresso e participao dos capitais externos. Nesse sentido, o conceito de soberania fica politicamente invertido, quando vinculado e dependente do desenvolvimento ou riqueza: no se trata de garantir a soberania do pas, evitando ou controlando a presena do capital estrangeiro. Pelo contrrio, efetivando-se a soberania a partir da riqueza econmica do pas, trata-se de conquistar aquela soberania. Os resultados do progresso econmico, assim entendido, no seriam, segundo essa ideologia, exclusivos de e para certos setores ou classes; pelo contrrio, abrangeriam, nas conseqncias por ele geradas, o conjunto da sociedade. Pg.361 O desenvolvimento significa, pois, no plano desse discurso, a valorizao do homem brasileiro, e traz como conseqncia o fim do pauperismo, a elevao do nvel de vida. Cabe notar, especialmente em sua vertente juscelinista, que o contedo econmico na base da ideologia desenvolvimentista passa a constituir seu elemento central, o qual marcar de forma profunda o contedo dos demais fatores presentes no discurso, imprimindo-lhes caractersticas bastante especficas e prprias. A misria e a pobreza, superadas no e pelo

desenvolvimento, so apenas uma etapa transitria para o destino final, quando a riqueza ser patrimnio de todos grupos sociais ou naes. Por outro lado, misria e pobreza devem ser superadas, pois podem constituir-se em focos de descontentamento social, facilmente explorveis pelo comunismo e ideologia materialista, podendo transformar-se em meios que ameacem a democracia. Pg.362 Por outro lado, a face populista da poltica desenvolvimentista, o apelo participao das massas trabalhadoras herana da poltica de massas do getulismo se choca e se contrape tendncia conservadora da instituio, tendncia essa que respaldada pela posio da Igreja naquele momento. Parece situar-se em torno a essas questes um segundo nvel de hipteses, para explicar o desencontro entre este tipo de desenvolvimentismo e o Servio Social: a repulsa demagogia, ao jogo poltico com as massas, s alianas com a esquerda, enfim, a perspectiva do perigo permitido por essa poltica ambgua que constitua o populismo em termos de politizao e organizao do proletariado. No fim da dcada de 1940 e especialmente na dcada seguinte, abre-se um novo e amplo campo para os Assistentes Sociais; as grandes empresas (especialmente as industriais) passam a constituir um mercado de trabalho crescente. Pg. 363 - O Servio Social se interioriza, acompanhando o caminho das grandes instituies, a modernizao das administraes municipais, e o surgimento de novos programas voltados para as populaes rurais. Ao mesmo tempo, nas instituies assistenciais mdicas, educacionais etc. o Servio Social paulatinamente logra maior sistematizao tcnica e terica de suas funes, alcanando definir reas preferenciais de atuao tcnica. Aprofunda-se, no plano de ensino, a influncia norte-americana, voltando-se o Servio Social ainda mais para o tratamento, nas linhas da psicologia e psiquiatria, dos desajustamentos psicossociais. O Servio Social de Grupo, que h tempo vinha sendo utilizado de forma tradicional (recreao e educao), na dcada de 1950 comea a fazer parte dos programas nacionais do SESI, LBA, SESC, em hospitais, favelas, escolas etc., iniciando-se uma nova abordagem que se generaliza na dcada de 1960 que relaciona estudos psicossociais do participante com os problemas da estrutura social e utilizao da dinmica de grupo. Pg.364 As iniciativas vinculadas ao Desenvolvimento de Comunidade apresentam nesse perodo franco desenvolvimento, com o surgimento de uma srie de organismos e a realizao de importantes Seminrios. Esses organismos desenvolvero programas que buscam sua inspirao na experincia norte-americana.

3. O II Congresso Brasileiro de Servio Social e a descoberta do desenvolvimentismo

O II Congresso Brasileiro de Servio Social realiza-se em 1961, tendo tambm o carter de ato preparatrio de um encontro internacional, no caso, a XI Conferncia Internacional de Servio Social, marcada para a cidade de Petrpolis (RJ), em 1962. Pg.365 [...] este segundo encontro abrangente do meio profissional dos assistentes sociais ir ocorrer numa conjuntura bastante modificada. Aps mais de uma dcada de desenvolvimentismo sustentado em estratgias polticas populistas, a vitria do janismo representava a possibilidade de um novo comeo. A preocupao central do que poderia ser caracterizado como projeto

desenvolvimentista janista estaria na formao de uma nao forte, com um povo forte e uma economia globalmente forte. Desse eixo central decorre uma ateno especial ao social; a meta prioritria o homem e no o crescimento econmico em si mesmo. Trata-se, para a ideologia janista, de diminuir a pobreza para que a democracia se faa no plano econmico e a nao possa constituir um todo harmnico e equilibrado. Pretende um desenvolvimento integral, equilibrado e nacional. Pg.366 A nfase no social no , assim, um (ou apenas um) alvo demaggico no projeto janista. D grande importncia sade, propondo, alm da perspectiva de uma melhora no nvel de vida, campanhas de enriquecimento do sistema alimentar, contra a desnutrio infantil e contra as insalubridades. Em seu projeto educacional situa-se outro ponto de destaque: a educao no vista apenas a partir do prisma economicista de aumento da produtividade. A proposta educacional inclui, como um de seus aspectos fundamentais, uma perspectiva de reestruturao da sociedade, de redeno do pas pela educao, a viso da educao como um dos esteios do projeto de desenvolvimento para a integrao nacional. Quanto ao trabalho, o projeto janista se baseia num trip: eficincia, moralizao, despolitizao. A preocupao bsica o aumento da produtividade em relao qual o trabalhador deve receber sua parte, implicando aumento de seu salrio real. A sada para tanto a qualificao do trabalhador e o salrio profissional. Quanto ao sindicalismo, se coloca pela plena liberdade sindical, propondo o fim do paternalismo estatal. Tem em relao a esse campo uma perspectiva moralizadora e de Justia Social. Pg.368 A vitria eleitoral do populismo de direita aliado s foras mais conservadoras traz para o discurso do Poder uma linguagem h tempo relegada a segundo plano. Uma linguagem em certos momentos muito prxima quela tradicionalmente empregada pelo Servio Social. No apenas o discurso do Poder se faz atravs de uma

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linguagem conhecida; o prprio Servio Social situado como instrumento de consecuo dos objetivos nacionais. Mais ainda, o Poder adianta a forma pela qual o Servio Social dever trabalhar: diversas modalidades de atuao em Desenvolvimento da Comunidade. A organizao do II Congresso Brasileiro de Servio Social aparece como um exemplo bastante claro de uma estratgia de atualizao em relao s ideias que agitam os setores dominantes e s demandas objetivas que fazem instituio Servio Social. De acordo com o momento, o tema central do Congresso ser: Desenvolvimento Nacional para o Bem-estar Social, sendo os trabalhos organizados, segundo as modernas tcnicas, em torno desse tema e sua particularizao para o Servio Social, com a presena de diversos especialistas seja como conferencistas, seja nas comisses viabilizando o aprofundamento das discusses para temas no especficos do Servio Social. Pg.371 Na explicao do programa e temrio constante dos Anais, essas preocupaes e intenes so resumidas de forma concisa: Ora, se o Servio Social no quiser ser relegado a um segundo plano, deve preparar-se para
poder competir na mesma igualdade de condies com os demais setores profissionais. As solicitaes de uma sociedade em mudana e em crescimento, como o caso de nosso pas, so cada vez maiores. Maiores, tambm, tm de ser as contribuies dos profissionais, da tcnica, da cincia. Este o motivo pelo qual se torna necessrio de um lado aperfeioar o aparelhamento conceitual do Servio Social e, de outro, elevar o padro tcnico, cientfico e cultural dos profissionais desse campo de atividade. Somente assim o elemento terico e os executores da politica social podero corresponder satisfatoriamente s exigncias de uma sociedade em mudana. Cumpre, pois, vincular estreitamente o Servio Social ao processo de desenvolvimento nacional e dar aos Assistentes Sociais, na rea de sua estrita competncia, as atribuies que lhes so prprias e que ainda no foram devidamente definidas. Neste sentido, tanto o Servio Social como os profissionais dessa atividade devem desempenhar na sociedade brasileira um papel pioneiro e relevante no que toca ao desenvolvimento nacional.

Os trabalhos e concluses das Comisses e Grupos de Estudo se orientam nesse sentido. Pg.372 Constatam, tambm, que as novas concepes poltico-sociais e o processo de industrializao trazem maiores responsabilidades para o Servio Social, e que o meio profissional est empenhado em preparar-se para assumir essas responsabilidades. No campo profissional, reivindica-se a fixao de uma srie de direitos, entre os quais carga horria reduzida (mximo de 30 horas semanais), remunerao condigna (fixao do salrio

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profissional), e a estimulao da organizao gremial, propondo-se a coexistncia de entidades sindicais e das associaes profissionais. Os Assistentes Sociais se propem a aceitar o desafio de sua participao no novo projeto desenvolvimentista, exigem posies e funes, e avaliam as formas para para preparar-se para desempenh-las a contento. Mas, afinal, o que so e como se posiciona o Congresso em relao a essas mudanas s quais aderem com entusiasmo? Pg.373 Procuram-se solues tcnicas para os grandes problemas estruturais: rgos nacionais de coordenao e planejamento; a definio de uma poltica social e a fixao de diretrizes bsicas de atuao etc., muito pouco se adiantando em termos de medidas concretas. Pg.374 Pede-se melhor qualidade e pontualidade nos servios prestados pela Previdncia, Salrio-famlia e Auxlio Desemprego (caso se constate ser o desemprego uma questo social) Pg.376 Fica assim definida a dimenso de progressismo a que adere o Servio Social. No limite, perdura a perspectiva de modernizao, de facilitar o movimento do capital e a permanncia das relaes sociais capitalistas. A introduo das tcnicas de DC e DOC se enquadram nos marcos desse novo tipo de relacionamento. Essas tcnicas alcanam rpida difuso. Sob a influncia das regras da obsolescncia programada de ideias e concepes formuladas e exportadas pela indstria do conhecimento norte-americana, as tcnicas de DC e DOC passam a ser aplicadas crescentemente em programas diversos, at constituir-se em elemento de importncia na poltica assistencial do governo central. A partir da renovao de ideias, valores e orientaes de comportamento emanadas da nao hegemnica, as tcnicas de DC e DOC, ao serem incorporadas pelo Estado, passam a se colocar como problema bsico para o Servio Social. Pg.377 Observa-se, por outro lado, que neste Congresso reaparecem diversos elementos destacados nos conclaves anteriores. Verifica-se, por fim, que a adeso ao desenvolvimento leva a que se reifiquem os mtodos considerados mais adequados a essa postura, ao mesmo tempo em que se desqualificam os anteriores; adotam-se novos idelogos, celebrando-se as novas perspectivas para atuar em cima da questo social; ao discurso profissional se integra uma srie de novas categorias como demonstrao de sua nova racionalidade: produtividade, programao de atividades, racionalizao de recursos etc. Essas transformaes, no entanto, parecem pertencer mais ao terreno das aparncias; pouco atingem a perspectiva central da atuao dos Assistentes Sociais: o prisma atravs do qual

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vista a populao cliente, a perspectiva daquilo que deve ser transformado. A populao cliente sempre objeto e nunca sujeito de sua prpria histria.