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PRINCIPÍO DA INSIGNIFICÂNCIA OU DA BAGATELA E O

CRIME DE EVASÃO DE DIVISA

Mateus Padovan Siviero 1


ORIENTADORA: Sabrina Medina Andrecioli de Oliveira2

SUMÁRIO: 1 PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA OU DA BAGATELA. 2


CRIMES CONTA O SISTEMA FINANCEIRO. 2.1 Operações de câmbio não
autorizadas. 2.2 Operações de câmbio não autorizadas. 3 EVASÃO DE DIVISAS.
4 CONCLUSÃO. REFERÊNCIAS.

RESUMO

O presente trabalho tem por finalidade fazer a análise doutrinária e jurisprudencial


acerca do Princípio Mínimo da Bagatela nos crimes de Evasão de Divisa, tratados no
artigo 22, caput e parágrafo único da Lei 7.492/86, narrando a operação de câmbio não
autorizada no contexto da evasão de moedas supervalorizadas atualmente. O objetivo
deste estudo é deixar visível a carência da lei penal brasileira, e se retratará questões
afetas a insuficiência da lei, sendo processos julgados mais condizentes com a realidade
do que a própria norma. Ainda, se dará ênfase nos crimes de evasão de divisa e o valor
instaurado na Lei 7.492/86 (crimes contra o sistema financeiro nacional), valores estes
que foram superados no ano de 2021 com a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI)
nº 5132 DF, jugada pelos ministros Gilmar Mendes (relator) e Cármen Lucia e nos
Habeas Corpus nº 162.404 e 160.172. Por fim, será questionado a redação do Artigo 65,
§1º da Lei nº 9069/95 (lei sobre o Plano Real, o Sistema Monetário Nacional), esta lei
ainda discorre sobre o teto máximo para as transações nacionais e internacionais.
Importa salientar que nas últimas décadas houve uma alteração gigantesca no quatro
financeiro nacional e internacional, e o presente estudo demonstrará que a lei
mencionada se encontra antiquada às transações nacionais e internacionais demandadas
pelas empresas, empresários e pessoas físicas as quais utilizam-se de transações de
moedas. Para o presente artigo foi utilizado o método teórico bibliográfico e
jurisprudencial, que consiste na pesquisa de obras, artigos, julgamentos, leis e material
eletrônico que abordam o tema

Palavras-chave: Ação direta de inconstitucionalidade; Crimes contra o sistema


financeiro evasão de divisa; Princípio mínimo da bagatela.

1
Acadêmico de Direito, 10º semestre, da Faculdade Maringá – FAC. Maringá-PR.
2
Doutoranda em Direito pela Universidade Unicesumar - BOLSISTA PROSUP/CAPES (módulo Bolsa).
Mestra em Ciências Jurídicas pela Universidade Unicesumar, com enfoque na linha de estudos sobre os
instrumentos de efetivação dos Direitos da Personalidade. Pós-graduada em Direito Aplicado pela Escola
da Magistratura do Paraná - EMAP. Pós-graduada em Docência em Ensino Superior: Tecnologias
Educacionais e Inovação pela Universidade Unicesumar. Advogada inscrita nos quadros da OAB/PR sob
nº 87.492. Professora de Direito de graduação e pós-graduação em Faculdade Maringá. Bacharel em
Direito pela Universidade Estadual de Maringá).
2

ABSTRACT

This paper aims to make a doctrinal and jurisprudential analysis about the Minimum
Trifle Principle in the crimes of Currency Evasion, referred to in article 22, caput and
sole paragraph of Law 7.492/86, narrating the unauthorized exchange operation in the
context of the evasion of currently overvalued currencies. The purpose of this study is to
make visible the shortcoming of Brazilian criminal law, and will portray issues related
to the insufficiency of the law, being - judged cases more in consonance with reality
than the norm itself. Furthermore, emphasis will be given to the crimes of currency
evasion and the value established in Law 7.492/86 (crimes against the national financial
system), amounts that were overcome in the year 2021 with the Direct
Unconstitutionality Action (ADI) nº 5132 DF, judged by Ministers Gilmar Mendes
(reporter) and Cármen Lucia and in Habeas Corpus nº 162. 404 and 160.172. Lastly, the
wording of Article 65, §1º of Law nº 9069/95 (law on the Real Plan, the National
Monetary System) will be questioned, this law also covers the maximum ceiling for
national and international transactions. It is important to point out that in the last
decades there has been a huge change in the four national and international financial
systems, and the current study will demonstrate that the abovementioned law is outdated
to the national and international transactions demanded by companies, entrepreneurs
and individuals who use currency transactions. For this article the bibliographical and
jurisprudential theoretical method were used, which consist in the research of works,
articles, judgments, laws and electronic material that address the theme.

Keywords: Direct action of unconstitutionality; Crimes against the financial system;


Currency evasion; Minimum trifle principle.
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1. INTRODUÇÃO
Os crimes de Evasão de Divisa, tratados no Artigo 22, caput e parágrafo
único da Lei 7.492/86, apresentam as operações de câmbio não autorizadas no contexto
da evasão de moedas supervalorizadas atualmente, as transações entre pessoas jurídicas,
bem como pessoas físicas passaram a valorar o quantum a ser entregue entre
determinadas transações, haja vista, que em comparação com o Euro o Real a
valorização do Euro é de R$ 5,13 reais e em comparação ao Dólar, é de R$ 4,80 reais.
Neste aspecto qualquer transação internacional mais agressiva, saindo da
moeda brasileira para a moeda estrangeira, enquadrara-se no parágrafo único, do art. 22,
da Lei 7492/1986, que incorre na pena do crime de evasão de divisa, quem, promove,
sem autorização legal, a saída de moeda ou divisa para o exterior, ou nele mantiver
depósitos não declarados à repartição federal competente.
Insta salientar que a lei supramencionada fora redigida ao ano de 1995, ano
este que o Euro era equivalente a R$ 0,92 (noventa e dois centavos) e o Dólar era
equivalente a R$ 0,90 (noventa centavos), assim, o teto máximo de R$ 10.000,00 (dez
mil reais) era equivalente com o redigito em texto de lei.
Desta feita, todas as transações que não se enquadrarem no art. 65, §1º da
Lei nº 9069/95, que aduz o teto máximo de R$ 10.000,00 (dez mil reais) estariam
cometendo o crime de evasão de divisa.
Contudo, com a supervalorização da moeda estrangeira, tal teto limite já não
é mais condizente com a realidade, sendo este limite inferior a quaisquer transações
internacionais, esta supervalorização posta atualmente no princípio da insignificância ou
mínimo da bagatela.
Deste modo, ao ano de 2020 (Resolução nº4.844/2020/DIÁRIO OFICIAL
DA UNIÃO,03/08/2020) fora fixado novo limite mínimo para a exigência de registro de
operação cambial no Sistema do Banco central (REGULAMENTO DO MERCADO
DE CÂMBIO E CAPITAIS INTERNACIONAIS – RMCCI 2013/2014), este que
impulsionou o limite para R$ 100.000,00 (cem mil reais), tornou a Resolução nº 3.568
de 29 de maio de 2008, inativa em relação ao novo limite mínimo.
Convém salientar que tal alteração de limite mínimo se deu devido ao
julgamento do Habeas Corpus nº 162.404 e 160.172. O julgamento deste Habeas
Corpus fora relatado a inépcia de denúncia do crime de evasão de divisa do empresário
Jacob Barata Filho.
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A partir de tal alegação fora efetuada a alteração do limite mínimo para a


exigência de registro pelo Banco Central, a fim de não causar a insegurança jurídica no
país diante do julgamento do Habeas Corpus nº 162.404 e 160.172. Neste contexto, o
presente artigo vem demonstrar a fragilidade da Lei Penal brasileira, bem como a
autuação do STJ e STF como fontes de jurisprudências e precedentes em que se
contraria nossa lei vigente.
Para o presente artigo foi utilizado o método teórico bibliográfico e
jurisprudencial, que consiste na pesquisa de obras, artigos, julgamentos, leis e material
eletrônico que abordam o tema.

2. CRIME CONTRA O SISTEMA FINACEIRO

Os crimes contra o sistema financeiro então elencados na Lei nº 7.492, de


16 de junho de 1986, na qual dispõe em seu Artigo 1º, que é considerado, segundo
ANDRADE, (2006):

“Instituição financeira qualquer pessoa jurídica de direito


público ou privado e tenha como atividade principal ou acessória a captação,
intermediação ou aplicação de recursos financeiros, em moeda nacional ou
estrangeira. ”

Deste modo, os crimes contra o sistema financeiro nacional estão elencados


no Artigo 2º e seguintes da Lei nº 7.492/86, o crime ora mencionado neste artigo
científico é o crime de evasão de divisa, elencado no Artigo 22º o qual dispõe: “Art. 22.
Efetuar operação de câmbio não autorizada, com o fim de promover evasão de divisas
do País: Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. ”
Denota-se que o crime de evasão de divisa elencado ao artigo
supramencionado está disposto em nosso ordenamento jurídico, ainda, o crime contra o
sistema financeiro, evasão de divisa é um dos mais brandos, haja vista que sua pena
máxima é de 06 (seis) anos.
Nesta senda, o crime de evasão de divisas e os crimes contra o sistema
financeiro, em nosso ordenamento jurídico possuímos o princípio da insignificância ou
bagatela, princípio este que será explanado em tópico abaixo.
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2.1 Princípio da insignificância ou bagatela

Este princípio permite a análise concreta do caso, possibilitando que um


delito não se enquadre como crime quando a sua consequência é insignificante, ainda tal
princípio jurídico visa afastar a tipicidade, isentando o agente da ação de pena.
Segundo Tiago Fachini (2020), o princípio da insignificância é um
mecanismo do direito penal como direito subsidiário, que é aplicado em última instância
acerca do comportamento ilícito do agente, reafirmando o caráter positivista do
princípio que o fundamenta.
O princípio da bagatela não está exposto em legislação específica, portanto,
somente é utilizado a partir da jurisprudência entorno das situações que se enquadrem
tal princípio. Nas palavras de Fachini Tiago, (2020):

“O princípio da insignificância ou bagatela, portanto,


descaracteriza a tipicidade penal de um ato que é insignificante aos olhos do
Poder Judiciário, tornando a pena prevista para o mesmo muito
desproporcional com as consequências do ato praticado. ”

Assim, o princípio supramencionado decorre do entendimento de que o


direito penal não deve se preocupar com condutas em que o resultado não é grave
suficientemente a ponto de não haver necessidade de punir o agente, nem de se recorrer
aos meios judiciais, sendo somente “um beliscão”, “um puxão de orelha” suficiente a
demonstrar que o mesmo incorreu em um ato ilícito e somente a “bronca” é capaz de
fazê-lo entender que teve a conduta errada.
Tal princípio se instaura em condutas ilícitas de agente que não tenham
repercussão coletiva. Contudo, o que vimos no Habeas Corpus nº 162.404 (no qual o
Senhor Ministro Gilmar Mendes julgou como insignificante a evasão de divisa em que o
agente portava R$ 40.000,00 (quarenta mil reais) para ida à Portugal, vê-se que o
mesmo princípio fora banalizado. (STF - HC: 160172 RJ 0075552-52.2018.1.00.0000,
Relator: GILMAR MENDES, Data de Julgamento: 07/12/2021, Segunda Turma, Data
de Publicação: 06/04/2022).
Ainda, ao que se diz respeito ao HC supramencionado, tal julgamento veio
diante da interpretação de uma norma penal em branco. Segundo Guilherme de Souza
Nucci: “são as que possuem a descrição de conduta indeterminada, dependente de um
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complemento, extraído de outra fonte legislativa extrapenal, para obter sentido e poder
ser aplicada. A pena prevista é sempre determinada - Manual de Direito Penal - Parte
geral e parte especial. (STF - HC: 160172 RJ 0075552-52.2018.1.00.0000, Relator:
GILMAR MENDES, Data de Julgamento: 07/12/2021, Segunda Turma, Data de
Publicação: 06/04/2022).
Neste sentido, denota-se que fora aplicado ao valor uma bagatela mínima,
em que se enquadraria uma norma penal em branco, pois o agente estava indo viajar ao
exterior com suas duas filhas, sendo o valor de R$ 40.000,00 (quarenta mil) previsto ao
Artigo 65, §1º da Lei nº 9069/95. Tal entonação não é clara. Vislumbrando a lei,
destaca-se que o valor seria superior ao delimitado.
Denota-se que a lei penal supracitada fora burlada por um princípio que por
muitas vezes não vemos sendo aplicado em nosso cotidiano, conforme matéria exposta
por Guilherme Padin (2021) ao narrar o caso do homem que fora condenado a cinco
anos de prisão por roubar uma galinha, na cidade de Jaú – São Paulo, e que
posteriormente ocorrera sua soltura. Ora, tanto absurda são as duas comparações em que
a saída de R$ 40.000,00 (quarenta mil reais) fora insignificante, mas um roubo de uma
galinha que custaria no máximo R$ 15,00 (quinze reais) levou a condenação sem nem
ser aplicado tal princípio, demonstrando a fragilidade no sistema penal brasileiro.
Diante do exposto, vê-se que nem sempre a utilização dos princípios penais,
como no caso o da bagatela mínima é aplicado de maneira efetiva, sendo em algumas
circunstâncias passado em branco, ou em outros casos, sendo aplicado de maneira
equívoca perante ao acontecimento.

2.2 Operações de câmbio não autorizadas

No ordenamento jurídico brasileiro, a lei pune aqueles que se utilizam de


opções de câmbio não autorizadas, ou seja, a transferência de valores, compra e venda
de moedas nacionais e estrangeiras sem a devida regularização e/ou comprovação fiscal
desta operação para com o Banco Central.
Para Bitencourt, comete evasão de divisas “qualquer pessoa física,
independentemente de qualquer qualidade ou condição especial; no caso específico,
mesmo que não ostente a natureza ou condição de instituição financeira”
(BITENCOURT, 2014, p. 136). Desta forma, qualquer pessoa que participar da
operação de câmbio não autorizada responderá conjuntamente.
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As operações de câmbio não autorizadas estão previstas no Artigo 22 da Lei


7.492/1986, possuindo a seguinte redação:
“Art. 22. Efetuar operação de câmbio não autorizada, com o fim de
promover evasão de divisas do País: Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 6
(seis) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, a qualquer título,
promove, sem autorização legal, a saída de moeda ou divisa para o
exterior, ou nele mantiver depósitos não declarados à repartição
federal competente. ”

Nesta direção, denota-se que a operação de câmbio não autorizada, com o


fim de promover evasão de divisas do País é configurado como crime em nosso
ordenamento jurídico, ainda, em seu parágrafo único, a lei discorre que a saída de
moeda ao exterior sem declaração à repartição federal competente incorre no mesmo
crime.
Desta feita, a legislação brasileira entende que a compra ou venda de moeda
estrangeira sem as devidas autorizações empregadas pelo texto da lei configuram-se
como crime, ainda, a operação de câmbio irregular é aquela praticada no mercado
“negro”, ou seja, são câmbios de valores que não são declarados perante a receita,
entendendo como enriquecimento ou até mesmo adentrando no crime de sonegação.
O crime supramencionado, crime de sonegação é aquele que “consiste no
ato de deixar de declarar ou mentir para as autoridades fiscais, no intuito de não pagar
ou pagar menos impostos” (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL,
2016).
Deste modo, denota-se uma linha muito tênue entre o crime de câmbio não
autorizado e o crime de sonegação, pois a partir do momento em que não se declara a
saída de valores nas divisas brasileiras, ou até mesmo a compra de moeda estrangeira,
ou nacional sem a devida declaração de tal valor está “mentindo” para as autoridades
fiscais acerca do real valor ou poder aquisitivo do indivíduo.
Por fim, sendo objeto de estudo o câmbio não autorizado não há o que se
narrar mais profundamente acerca do crime de sonegação fiscal, mas sim o câmbio não
autorizado, sendo este a compra e venda de moeda estrangeira ou nacional, incorrendo
no Artigo 22 da Lei 7.492/1986, crime estre narrado no começo deste subtópico.
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3. CRIME DE EVASÃO DE DIVISA

Inicialmente insta compreender e entender qual o conceito de divisas, que


pode ser entendida como ordem de pagamento, letras e cheques.
Resumidamente, “divisa” é aquilo que pode ser convertido em moeda e
utilizado para transações comerciais, desde que não estejam em seu país de origem
(REALE JR MIGUEL, 2002, pg. 98).
Já ao que diz respeito a evasão de divisas, é a conduta criminosa em que o
indivíduo se utiliza de divisas para se voltar em face do sistema financeiro (LUIZ
REGIS PRADO, 2019, pg.137). É o momento em que se transfere de maneira ilícita
moedas a outro país sem a intenção de se justificar esta transação à repartição federal
competente.
O caso de transferência supramencionado é para as transações de câmbio
utilizadas hoje de maneira on-line, mas também incorre quando o indivíduo porta
cédulas em espécie, e sem que haja a devida declaração, sai sem reportar à repartição
federal competente.
Conforme já narrado no tópico 2, a evasão de divisas também está elencada
no Artigo 22 da Lei nº 7.492/1986, que define os crimes contra o sistema financeiro
nacional. Pode ser considerada evasão de divisas toda operação de câmbio não
autorizada, com o fim de promover a “retirada” das divisas do país.
Desentranhando a descrição que a Lei nº7492/86 nos fornece, denota-se que
por diversas as condutas de um cidadão brasileiro podem ser enquadradas no crime de
evasão de divisas. Com base na descrição do crime de evasão de divisas, é possível que
a conduta se configure, principalmente, de três maneiras distintas e saber diferenciá-las
bem como entendê-las é de suma importância para o cidadão comum, visto que, com o
processo de digitalização e o crescimento na velocidade das informações do mundo
afora, os investimentos estrangeiros se tornaram cada vez mais interessantes, às vezes
como uma fonte alternativa de renda, às vezes como um trabalho principal (LUCIANO
ANDERSON DE SOUZA, 2019, pg. 199).
Em resumo, hoje, o cidadão brasileiro investe muito mais na compra de
dólares, fundos de investimentos e ações diretas de bolsas de valores estrangeiras
através da internet. São estes três os investimentos “culpados” pela maioria dos casos de
evasão de divisas no país.
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Além das diferenças legais entre os tipos penais, a pena estabelecida para as
condutas também se difere. Enquanto no crime de lavagem de dinheiro a pena prevista é
de três a dez anos de reclusão, no crime de evasão de divisas a pena é de dois a seis anos
de reclusão (FAUSTO SANTICS, 2003, pg.108).
De maneira brevemente resumida, no crime de lavagem de dinheiro,
diferentemente da evasão de divisas, o foco não é apenas a transação econômica de um
país para outro. Na evasão de divisas o dinheiro foi ganho de maneira lícita e apenas a
transferência é que não se dá de maneira correta (LEITE JUNIOR, 2021). Já na
lavagem, o dinheiro é ilícito e advindo de crime, é ocultado.
Por fim, ressalta-se que existe a diferença entre evasão de divisas e lavagem
de dinheiro, a lavagem de dinheiro foi prevista na edição da Lei nº 9.613, em 03 de
março de 1998, onde foi exposto que a conduta a ser caracterizada como lavagem de
dinheiro consistia, principalmente, na ocultação da natureza, origem, localização,
disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes,
direta ou indiretamente, de crimes como tráfico, contrabando de armas, sequestro e
suborno.
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4. CONCLUSÃO

O presente artigo objetivou ressaltar a falta de alinhamento entre o sistema


penal brasileiro, suas leis e julgamento, os quais apresentam diversidades em ambas as
instâncias. Ademais, é possível inferir que a nossa lei penal redigida há mais de 82
(oitenta e dois) anos, está em total desacordo com o contido em nossos julgamentos e
jurisprudências, conforme é exposto o caso narrado nesta peça, onde o julgamento do
HC nº 162.404, fez a aplicação do princípio mínimo da bagatela aos valores
considerados como crime de evasão de divisa, vindo posteriormente o Banco Central a
alterar em sua redação o teto máximo para saída de moedas sem que seja considerado
crime, ainda, a lei mantem o teto de saída de moedas do país narrado ao ano de 1995.
Ainda se verifica que que a existência da lei penal é repleta de lacunas,
possuindo entendimentos diversificados em nosso ordenamento jurídico, como exemplo
é o HC narrado nesta peça, que julgou e aplicou um princípio perante a uma clara
tentativa de evasão de divisa. A intenção do legislador de nosso código penal fora
desentranhada por um sistema jurídico falho em que julgados foram enchendo de
ementas as quais puderam modificar e desconectar o nosso código penal com a
sociedade, como verifica-se na alteração do teto mínimo para o crime de evasão de
divisa que veio a ser modificado por um julgamento do Supremo Tribunal Federal e
posteriormente alterado pelo Banco Central, mantendo a lei, com o valor narrado em
1995.
Por fim, estende-se que a necessidade de atualização é urgente para que
possamos ter a melhor aplicabilidade da nossa lei penal em nosso ordenamento jurídico,
a necessidade de atualização perante a nossa sociedade é clara, vindo a ficar quase que
óbvia a sua falta de recurso.
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REFERÊNCIAS

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