Apostila de Tributação Internacional e Aduaneira
Apostila de Tributação Internacional e Aduaneira
Apostila de Tributação Internacional e Aduaneira
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Sumário
NOSSA HISTÓRIA .......................................................................................... 4
Introdução .................................................................................................................. 5
Princípios gerais .............................................................................................. 8
Não bitributação............................................................................................... 8
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REFERENCIAS: ............................................................................................ 44
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NOSSA HISTÓRIA
A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de co-
nhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no
desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua.
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos
que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino,
de publicação ou outras normas de comunicação.
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Introdução
Uma das principais características da teoria jurídica da segunda metade do
Século XX foi a retomada de uma abertura para as suas interseções com os valores
que permeiam as normas jurídicas. Com isso, buscava-se uma reação contra os
modelos mais extremados de positivismo jurídico, que haviam encerrado a discus-
são quanto à validade das leis na sua adequação ao processo de elaboração previs-
to no ordenamento jurídico. Nas palavras de Gustav Radbruch, “esta concepção da
lei e sua validade, a que chamamos Positivismo, foi a que deixou sem defesa o po-
vo e os juristas contra as leis mais arbitrárias, mais cruéis e mais criminosas. Torna
equivalentes, em última análise, o direito e a força, levando a crer que só onde esti-
ver a segunda estará também o primeiro”
A força normativa dos princípios foi levada ao centro dos debates jurídicos
contemporâneos pelos estudos de diversos autores que lhes transformaram em ob-
jeto de pesquisa, como Claus-Wilhelm Canaris, J. J. Gomes Canotilho, Josef Esser,
Karl Larenz, Ricardo Guastini, Robert Alexy e Ronald Dworkin, apenas para menci-
onar aqueles que nos parecem ter exercido maior influência sobre a dogmática jurí-
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dica brasileira.
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O impacto desta nova visão sobre os princípios jurídicos no Brasil foi tremen-
do. Paulo Bonavides incluiu em seu Curso de Direito Constitucional11 um capítulo
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refletindo a nova visão sobre os princípios na edição de 1994 (5ª edição). Posteri-
ormente, o livro de Humberto Ávila serviu de plataforma para a divulgação massifi-
cada dos debates contemporâneos acerca do tema12. No Direito Tributário deve-se
destacar a importância do trabalho do Professor Ricardo Lobo Torres sobre valores
e princípios constitucionais tributários além dos livros de “Direito Constitucional Tri-
butário” de Roque Antonio Carraza e Sistema Constitucional Tributário, de Humber-
to Ávila. Com isso, é raro encontrar um compêndio, tratado ou estudo sobre qual-
quer tema jurídico que não dedique algumas páginas à discussão dos princípios que
subjazem ao debate ali travado, sendo que o número de títulos dedicados aos prin-
cípios jurídicos no Brasil multiplicou-se de modo fantástico na última década.
O impacto das discussões travadas nas últimas décadas acerca dos princí-
pios jurídicos, contudo, não parece ter sido sentido de forma relevante no campo do
Direito Internacional Público em geral e do Direito Internacional Tributário em espe-
cial.
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não encontramos em tais estudos uma referência à evolução da temática dos prin-
cípios na teoria geral do direito.
Mais recentemente, podemos fazer referência aos livros de Carlos María Ló-
pez Espadafor e Paula Rosado Pereira. O primeiro, a despeito do título, como os
demais livros apontados acima não apresenta uma análise estruturada dos princí-
pios do Direito Internacional Tributário. Já o trabalho de Paula Rosado, na pesquisa
por nós realizada apresenta-se como o trabalho mais completo sobre o tema, embo-
ra não tenha tido a preocupação de buscar fundamentar suas análises acerca dos
princípios da tributação internacional nos estudos sobre princípios jurídicos desen-
volvidos pela teoria geral do direito nas últimas décadas.
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Princípios gerais
Não bitributação
Considerando as finalidades visadas pela celebração de convenções interna-
cionais para evitar a dupla tributação da renda, como a preservação da capacidade
contributiva e a justiça da tributação, a neutralidade da tributação como forma de
preservação da concorrência no mercado, o incentivo à inversões internacionais, a
prevenção da evasão fiscal, a distribuição das receitas fiscais entre os Estados con-
tratantes, a estabilidade nas relações empresariais entre os residentes dos Estados
contratantes, cremos ser possível enunciar a existência de um princípio da não bitri-
butação internacional.
Todavia, princípio aqui deve ser entendido em linha com as lições de Alexy
acima, como uma finalidade que deve ser alcançada o máximo quanto possível,
respeitadas as limitações fáticas e jurídicas. Assim, a não bitributação internacional
não pode ser entendida como uma regra aplicável no modelo tudo ou nada.
impor tributos.
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Dessa forma, embora seja do interesse dos diversos países evitar que a du-
pla tributação seja causa de um arrefecimento econômico, nenhuma nação está
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Princípio da boa-fé
O princípio da boa-fé está intrinsecamente vinculado à interpretação de trata-
dos internacionais e se encontra previsto no próprio artigo 31 da Convenção de Vie-
na sobre Direito dos Tratados (“CVDT”). Segundo André Gonçalves Pereira e Faus-
to de Quadros, “a principal regra de interpretação é a da boa fé, segundo a qual os
tratados são negócios bona fide e devem ser interpretados por forma a excluir a
fraude”.
sos corolários, “como o do efeito útil ou de que a interpretação não pode conduzir ao
absurdo, além de se acrescentar o princípio da admissão dos efeitos implícitos do
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Dihn, Daillier e Pellet, embora não examinem a fundo o que seria a boa-fé
enquanto diretriz hermenêutica, afirmam que “este princípio fundamental está na
origem dos diversos meios e regras utilizados para interpretar os tratados e é em
função desta exigência fundamental que deve efetuar-se a escolha entre os diferen-
tes métodos”.
Sob o prisma subjetivo, a boa-fé determinaria a busca pela intenção das par-
tes consagrada no tratado internacional, de forma que os pactuantes somente este-
jam obrigados nos lindes de seu consentimento.
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nêutica das normas internacionais “a própria boa-fé exclui a interpretação que torne
uma cláusula sem significação, ou ineficaz”.
Princípio da neutralidade
Como pontua Luís Eduardo Schoueri, numa visão extrema a neutralidade tri-
butária poderia ser tida como a pretensão de que as decisões econômicas não fos-
sem afetadas pelos tributos. Contudo, segundo bem destaca o citado autor, “revela-
se utópica esta ideia. Como visto, descartados casos extremos como a tributação
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per capta, qualquer que seja o tributo, haverá, em maior ou menor grau, a influência
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A mesma lição é encontrada em Luís Eduardo Schoueri, para quem “no Direi-
to Tributário Internacional, o princípio da fonte caracteriza um critério adotado por
diversos ordenamentos jurídicos nacionais para a definição do alcance da lei tributá-
ria a partir do seu aspecto objetivo. Enquanto o princípio da residência firma-se no
elemento de conexão subjetivo, o princípio da fonte baseia-se no aspecto objetivo
da situação tributável”.
lecem como horizonte que ambos países, aquele onde a renda foi gerada e aquele
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onde reside seu titular, possuem competência para tributar um determinado fato.
Não vão eles além disso. Ou seja, não respondem à questão que mais intriga os
estudiosos em tributação internacional desde o início do Século XX, qual seja, quais
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Princípio da transparência
Norberto Bobbio, em seu estudo sobre o futuro da democracia, afirma carac-
terizar-se esta por ser “o governo do poder público em público”. Seguindo os ensi-
namentos do mestre italiano, aduz Odete Medauar, tendo como pano de fundo a
Administração Pública, que “o secreto, invisível, reinante na Administração, mostra-
se contrário ao caráter democrático do Estado. A publicidade ampla contribui para
garantir direitos dos administrados; em um nível mais geral, assegura condições de
legalidade objetiva porque atribui à população o direito de conhecer o modo como a
Administração atua e toma decisões”.
Esses dois campos de atuação (público e privado) são bastante claros na se-
ara fiscal, onde se busca a transparência do Estado arrecadador bem como do con-
tribuinte. Como disserta Ricardo Lobo Torres, o princípio da transparência “sinaliza
no sentido de que a atividade financeira deve se desenvolver segundo os ditames
da clareza, abertura e simplicidade. Dirige-se assim ao Estado como à sociedade,
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tensificação das relações entre as empresas associadas nos diferentes países tor-
nou-se necessária a regulamentação dos preços e serviços.
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Dessa assertiva pode-se depreender que, uma vez que a aplicação das nor-
mas internacionais é atribuição de cada uma das nações, a efetividade do Direito
Internacional Público stricto sensu depende de atitudes concretas dos Estados nes-
te sentido, principalmente no que se refere à adequação de seus ordenamentos ju-
rídicos internos às disposições do ordenamento internacional, quando este não seja
dotado de aplicabilidade direta.
truturado de normas jurídicas que possui suas próprias fontes e está dotado de ór-
gãos e procedimentos aptos para produzi-las.
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Com efeito, no Uruguai o IVA se caracteriza por ser um imposto não cumula-
tivo, incidente sobre a circulação de mercadorias em todas as etapas da cadeia pro-
dutiva, bem como sobre a prestação de serviços e as operações de importação,
sendo, ainda, “um imposto nacional, cujas receitas ingressam para Rendas Gerais,
não podendo constitucionalmente os Governos Departamentais estabelecerem um
tributo com estas características”. Modelo similar é adotado pela Argentina e pelo
Paraguai.
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ademais, podem ser acordados caso a caso, por meio dos tra-
tados internacionais para evitar a bitributação, que são impor-
tantes instrumentos para neutralizar o impacto impositivo sobre
a renda nas jurisdições que adotam a base global da imposi-
ção (como é o caso, no Mercosul, da Argentina e do Brasil), e
também ante a regulamentação do denominado preço de
transferência (transfer pricing) nas transações levadas a efeito
entre partes relacionadas.”( AMARAL, Antonio Carlos Rodri-
gues do, Visão Global da Fiscalidade no Mercosul: Tributação
do Consumo e da Renda, 2000, p. 24).
Nessa mesma ordem de ideias, aduzem Jose Luis Perez de Ayala e Miguel
Perez de Ayala Becerril que:
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mentação do transfer pricing. Com efeito, conforme salienta Victor Uckmar, “naquilo
que diz respeito aos impostos diretos, o objetivo primordial é permitir a livre circula-
ção de capital, evitando casos de bitributação no fluxo de capital entre os diferentes
Países”
existentes na forma em que cada nação componente desse bloco econômico realiza
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a tributação da renda. Tal uniformização se faz necessária para que se possa atingir
os já tão falados objetivos de paridade da tributação e equânime competitividade no
âmbito do MERCOSUL.
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Com efeito, para que se possa atingir a desejada isonomia entre os agentes
econômicos no âmbito do mercado integrado, faz-se necessário que se atinja uma
harmonização dos encargos tributários incidentes sobre as relações de trabalho,
com o que se visa não só aproximar o custo da mão-de-obra nos países componen-
tes de determinado bloco econômico, mas, da mesma forma, viabilizar a transferên-
cia de trabalhadores entre os diversos países sem que isso signifique, para os
mesmos, radical alteração na sua proteção. Como salienta Edison Carlos Fernan-
des:
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Assim, é possível assinalar que um dos principais objetivos que se busca al-
cançar com a harmonização dos encargos sociais é a eliminação do chamado dum-
ping social, conforme salientam Dromi, Ekmekdjian e Rivera, procura-se “obter certo
grau de eliminação das diferenças mais agudas. O que se deve evitar são as dife-
renças muito agudas que possam legar ao dumping social”
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AS FUNÇÕES DA ADUANA
O controle aduaneiro
Segundo Ricardo Xavier Basaldúa, a função essencial da Aduana, cuja au-
sência a descaracteriza, é o controle que deve exercer sobre as mercadorias objeto
do tráfego internacional, ou seja, sobre as importações ou exportações. Trata-se do
princípio da universalidade do controle aduaneiro, sem o qual não existe função
aduaneira, que retrata a soberania do território.
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A aplicação de restrições
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A tributação aduaneira
A terceira função clássica da Aduana, e durante muito tempo a mais relevan-
te, é a tributação aduaneira, mediante a arrecadação e fiscalização dos tributos inci-
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merciais. Para evitar que o aumento dos custos resulte numa diminuição do volume
do comércio internacional, buscou-se uma nova etapa na administração aduaneira,
por meio de medidas de “facilitação do comércio”, mediante a simplificação e a har-
monização das atividades aduaneiras.
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A preocupação com essa nova realidade e a busca por soluções foi objeto de
estudo da OMA intitulado “A Aduana do Século XXI”, no qual foram apresentadas as
seguintes orientações para as administrações aduaneiras: procedimentos de de-
sembaraço aduaneiro simplificados e automatizados a partir de um sistema de ge-
renciamento de risco, combinado com procedimentos fiscais de auditoria a posterio-
ri, a partir de uma legislação clara, transparente e previsível, baseada nos instru-
mentos elaborados pelas organizações internacionais.
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como uma legítima medida de política econômica. O Ministro Ilmar Galvão interpre-
tou o dispositivo constitucional em consonância com a função primordial da Aduana:
o controle aduaneiro, que visa a proteção da economia e da sociedade, de acordo
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com a política econômica determinada pelo Governo Federal. O destaque dado pelo
constituinte ao controle aduaneiro, essencial à defesa dos interesses fazendários
nacionais, mereceu a devida consideração do Ministro Ilmar Galvão.
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atuação estatal como agente regulador ou interventor direto nas atividades econô-
micas. A função aduaneira de aplicação de restrições, assim como as medidas de
facilitação comercial, insere-se também no campo de competência do Direito Eco-
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REFERENCIAS:
AMARAL, Antonio Carlos Rodrigues do. (coord.) Tratados internacionais na
ordem jurídica brasileira. São Paulo: Lex Editora/Aduaneiras, 2005.
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COELHO, Flávio José Passos. Facilitação comercial: desafio para uma Adu-
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FÉLIX ALAIS, Horacio. Los principios del Derecho aduanero. Buenos Aires:
Marcial Pons Argentina, 2008.
MELO, Ruy de; REIS, Raul. Manual do imposto de importação e regime cam-
bial correlato. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1970.
SMITH, Adam. A riqueza das nações – livro quinto. São Paulo: Editora Nova
Cultura, 1996.
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Aduaneiras, 1996.
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