Apartheid
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BOLETIM CONTEÚDO
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BRASÍLIA
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Conselho Editorial
VALDINEI CORDEIRO COIMBRA (DF): Mestre em Direito Penal
Internacional pela Universidade de Granada - Espanha. Mestre em
Direito e Políticas Públicas pelo UNICEUB. Especialista em Direito Penal
e Processo Penal pelo ICAT/UDF. Pós-graduado em Gestão Policial
Judiciária pela ACP/PCDF-FORTIUM. Professor Universitário. Advogado.
Delegado de Polícia PCDF/Ap.
Boletim Conteúdo Jurídico v. 1111 de 03/09/2022 (ano XIV) ISSN - 1984-0454
País: Brasil. Cidade: Brasília – DF. Endereço: SIG SUL, Q. 01, lote 495, sala 236,
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Boletim Conteúdo Júrídico
Publicação semanal em formato digital
Circulação: Livre. Acesso aberto e gratuito
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Jurídico, Boletim Conteúdo, vol. 1111, (ano XIV) ISSN – 1984-0454 / Boletim Conteúdo
Jurídico, Brasília, DF. 2022. 545 f.
ISSN 1984-0454
CDD – 020.5
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SUMÁRIO
COLUNA
ARTIGOS
Breve estudo sobre aplicação dos princípios da precaução e prevenção
como instrumentos para uma agricultura sustentável
Antonio Augusto Vilela, 13.
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Token não fungível: uma análise acerca dos reflexos para os direitos
autorais
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Obviamente, o modus operandi dos estelionatários não é único e golpe pode variar
caso a caso. Aliás, quando o cliente tem habilitada a função de “pagar por aproximação”,
os fraudadores sequer precisam descobrir a senha para implementar o golpe, bastando
trocar os cartões das vítimas, em um momento de desatenção.
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Pois bem. É certo que os bancos não podem ser responsabilizados pela guarda do
cartão e senha, atribuição que compete exclusivamente ao consumidor. Todavia, se isto é
verdade, também é inegável que as instituições financeiras têm o dever de zelar pela
segurança da conta bancária dos clientes e dos fundos lá depositados.1
diretamente com o cliente, seja por telefone, e-mail, SMS, biometria, autenticação via
aplicativo, etc.
Ora, se as casas bancárias – que auferem lucros bilionários anualmente – não compartilham
com os consumidores tais ganhos, é patente que também não podem a eles transferir os
riscos inerentes à sua atividade empresarial (p. ex., fraudes).
1 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil, v. 7. 35ª Ed. São Paulo: Saraiva,
2021, p. 424.
2 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: obrigações e responsabilidade civil, v. 2. 21ª Ed. São Paulo: Atlas,
2021, p. 550.
3 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de Responsabilidade civil. 11ª Ed., São Paulo: Atlas, 2014, pp. 544/545.
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4 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: responsabilidade civil, v. 4. 16ª Ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2021, pp. 279/280.
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conectam a ela por nexo de causalidade e deveriam por ela ser evitados,
razão pela qual deve por eles responder”.5
E ainda que possa ter havido descuido por parte do correntista, tal fato não exime
as instituições financeiras de zelar pela higidez da conta bancária de seus clientes. Sobre
este tema, GONÇALVES leciona que “só se admite como causa exonerativa da
responsabilidade a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro, não a culpa
concorrente”6.
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5 TEPEDINO, Gustavo. Fundamentos do direito civil: responsabilidade civil, v. 4. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Forense,
2021, p. 110.
6 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: responsabilidade civil, v. 4. 16ª Ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2021, p.318.
7 TJSP. Apelação Cível nº 1052382-80.2019.8.26.0100, Des. Rel. Souza Lopes, j. em 22.01.2021.
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INTRODUÇÃO
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O direito ambiental surge para ditar normas e diretrizes, visando a tutela do meio
ambiente, recebendo especial destaque os chamados princípios da precaução e
prevenção.
principais exploradoras dos recursos naturais para então, findado isso, aliar tais
Antes de ser possível compreender a forma por meio da qual se pode granjear
uma agricultura que seja sustentável, é importante que se esclareça o que é,
efetivamente, o desenvolvimento sustentável. A organização das Nações Unidas (ONU),
no relatório Nosso futuro Comum, publicado em 1987, apresentou uma definição
concisa, objetiva e amplamente utilizada sobre o desenvolvimento sustentável, indicando
ser aquele que satisfaz necessidades da geração em que se vive –geração atual – sem
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que para isto comprometar a possibilidade das gerações futuras atenderem de forma
ampla suas necessidades (COMISSÃO MUNDIAL SOBRE O MEIO AMBIENTE E
DESENVOLVIMENTO, 1987, p.64).
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sustentável, sem perdas, ou que elas sejam mínmas, a fim de salvaguradar presentes e
futuras gerações. O desenvolvimento sustentável é tão importante para o curso da
humanidade quedisse Brunet, ou seja, “[...] o desenvolvimento sustentável tornou-se,
assim, a nova religião de nossas sociedades modernas” (BRUNET, 2008, p. 10).
E uma das maneiras que se pode falar da união entre a atividade agrícola e o
desenvolvimento sustentável, diz que
de obtenção de uma eficiência máxima em prol dos seres vivos de modo geral. Mas não
acaba por ser o objeto fim da sustentabilidade agrícola. Oque se almeja é, no entanto,
a produtividade máxima dos seus recursos, e não especificamente do maquinário que os
produzem. E que seja possível o crescimento populacional receber o devido amparo
frente a tal produtividade, sem que haja parte da população sob condições de
subnutrição. Também que possam os alimentos produzidos ser proporcionais às
condições que nossas terras nos oferecem, ou seja,sadios conforme as sadias condições
terrenas. E, finalmente, que os agricultores sejam reconhecidos como aqueles cuja
importância para o desenvolvimento da vida humana é fundamental e absolutamente
Frente a tudo o que foi exposto preconizando o Direito ambiental, sua importância
e a relação do significado dos seus princípios, em especial o da precaução e o da
prevenção, indispensável torna-se a análise da aplicabilidade prática dos mesmos a fim
de se concluir suas reais importâncias e também possíveis riscos na busca de uma
agricultura sustentável.
para as presentes como para as futuras gerações, de forma que tal instituto possa ir ao
encontro do que define a Constituição da República do Brasil, em seu artigo 225,
conforme já anteriormente mencionado.
Ora, se “precaução” quer dizer “ação antecipada feita para evitar ou para prevenir
um mal ou algo ruim [...], quem age com cautela e cuidado” (DICIO, 2015) e ainda,
segundo o que dispõe a Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio ambiente e
desenvolvimento – a ECO-92 – ao informar em seu princípio 15 que:
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Então parece restar claro que a cautela, ou a antecipação no cuidado para algo
futuro, sempre fez parte da história do homem, quer seja com o principal intuito de evitar,
ou então, quando da não possibilidade de se evitar; minimizar as consequências das
quais não se tem conhecimento; situações de risco ou perigo.
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8 Lei Florestal da Índia, Capítulo IX, 69 – Suposição de que recursos florestais pertencem ao governo:quando
em qualquer procedimento regulado por essa lei, ou em consequência de qualquer ato praticado sob sua
vigência, surjam questionamentos relativos à propriedade do recurso florestal, esse recurso deve ser
considerado como propriedade do governo até que seja provado o contrário.(tradução nossa)
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como o câncer. Quanto às alergias, estas se dão pelo fato de que para a obtençãode
um alimento geneticamente modificado, pode se estar retirando parte de umoutro
alimento a que se é alérgico a fim de introduzi-lo no alimento transgênico, quer seja com
a finalidade de melhoramento ou aumento de produtividade.
Entretanto, é preciso que haja uma garantia com o que diz respeito ao dano que
realmente irá ocorrer ou que já ocorreu com a ação humana que realmente o gerou. Do
contrário, resta incerto e até perigoso colocar em xeque a busca pelo crescimento
econômico, a livre iniciativa empresarial e o constante aquecimento do mercado, o qual
gera a livre concorrência entre as nações e torna sadio os setores da economia, no caso
em tela, e em especial, o setor agrícola.
Mas, e diante de tal situação, o que se pode dizer quanto à aplicação da precaução
ambiental? Há, de fato, um entendimento acerca das circunstâncias em
que o princípio da precaução deva ser acionado? O assunto parece, neste sentido, se
polarizar, e se envolver em um teor não tão fácil de ser assimilado.
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Com isto, mesmo que a existência humana simplesmente pareça estar em xeque,
o fato de não se possuir exata certeza se estamos em perigo ou não, acaba por gerar
insatisfação na vida de todos quantos dependem da agricultura e da atividade agrícola
para sobreviver. Tanto pequenas empresas desde o empreendedor individual, quanto
as grandes exportadoras nacionais e internacionais, enfrentam tais problemas ao se
verem, muitas vezes, impossibilitadasde manter a continuidade dos seus negócios em
função da necessidade ambiental científica de terem que provar que suas ações,
definitivamente, não afetarão a vida do amanhã.
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cientificamente provar sua prejudicialidade não podem servir de base indutiva na busca
pelo fretamento ou redução da utilização transgênica.
Isto porque tais produtos seguem sendo utilizados em escala global, fortalecendo
a agricultura e o setor agrícola de um modo geral, permitindo que outras possíveis
soluções ambientais venham a surgir, como o controle e combate à fome no planeta.
E foi por isso também que tais conferências foram regradas por princípios, os
quais deveriam ser, de fato seguidos. O medo e o temor instaurado entre os povos foi,
de longe, notado. E o que se buscou foi aliar desenvolvimento econômico com
sustentabilidade. Ou seja, é nisto que se firma este trabalho.
E já que o que antes se tinha era uma maneira de manter quase que
exclusivamente a busca pelo crescimento econômico, pouco importando a real
conservação do meio ambiente para as futuras gerações, então notou-se a real
necessidade de que esta mentalidade fosse mudada, em prol da vida e da sadia
continuidade desta. Foi aí que se firmou a nova ideia de que crescimento econômiconão
significava necessariamente a obtenção de aquisições materiais individuais ou coletivas,
mas sim a combinação disto com qualidade de vida.
O que se percebe é que tal instituto passa a não exigir sob forma mínima
(necessidade de prova científica absoluta) que o degradador comprove de forma
absoluta que cientificamente sua atividade degradante não irá gerar danos ambientais,
trazendo uma mudança no pensamento acerca da matéria, na necessidade de não mais
provar científica e absolutamente que sua ação ao meio ambiente é valida, mas de forma
mais atenuada, mostrar a existência de um alto nível probabilístico de que danos sérios
ou irreversíveis não ocorrerão. É assim que define Trouwborst, dizendo que “se há
impossibilidade de demonstrar a existência de riscos, não se pode exigir do possível
degradador que prove, inequivocamente, a inexistência deles” (TROUWBORST, 2002).
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momento em que se atenta profundamente mais para um lado do que para o outro da
balança, ao deixar de se zelar pelo novo sentido de desenvolvimento econômico, aliando
a necessidade de se produzir com a ampla observância da proteção ambiental.
danos conhecidos e presentes. A maneira que tal princípio se assevera está no fato de
que só se previne aquilo que sabe que há o risco de acontecer e, consequentemente,
que pode acontecer. Do contrário, não há que se falar em prevenção.
não atentarem tanto para a proteção ambiental, embora coletivamente saibam dessa
necessidade. Desta forma, encontram na precaução ambiental uma forma de proteção
mais abrangente, dado o“escudo” da incerteza científica e a necessidade de não mais
provar de forma absoluta a certeza de que não ocorrerá o dano, mas sim que há
grandiosa probabilidade de que não ocorra. Na prevenção, a garantia inequívoca de que
se esta tomando as devidas medidas, tantas quanto suficientes e necessárias para
impedir o dano, é o que vale, tornando, frise-se, muito mais gravoso para o causadordo
dano, a sua tentativa de se sair juridicamente ileso quando da ocorrência dodano.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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UNIVERSO ONLINE.Brasil tem 2ª maior área de transgênicos,e a que mais cresce nomundo.
Disponível em:
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2- maior-cultivo-e-producao-detransgenicos-que-mais-cresce.htm>. Acesso em
22/03/2022.
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ABSTRACT: The Society is constantly changing, while it is up to the legal system to find
solutions to meet new demands. In this regard, Deputy Pedro Lucas Fernandes presented
Bill of Law No. 105/2020, which establishes the legal institute called senexão, in response
to the growing material and emotional abandonment of the elderly. Thus, the present work
has as general objective to analyze the application of the senexão institute as a mechanism
to guarantee the dignified aging of elderly people who were excluded by their original
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family. Its main purpose is to be a source of research accessible to Law Operators, in order
to deepen the topic and, consequently, its application. The methodology applied in this
work will be the deductive method, from the collection of information of Brazilian’s
bibliography, with a focus on the aforementioned Bill. We will also use online search bases,
jurisprudential research, as well as other sources that are relevant to the enrichment of the
work, in order to achieve the proposed objective. Thereby, the debate on placing elderly
citizens in a surrogate family is necessary as an effective way of fulfilling national legislation
and implementing the principle of protection of the elderly and their fundamental right to
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INTRODUÇÃO
Nessa senda, surge o novo instituto jurídico denominado como senexão, que é o
ato de colocar pessoa idosa em família substituta, em atenção aos princípios de proteção
e amparo ao idoso, bem como mecanismo de garantia ao direito fundamental à
convivência familiar e comunitária.
Imperioso salientar que o instituto difere da adoção, uma vez que a adoção é o ato
civil que firma a relação de pais e filhos, com todos os direitos inseridos, inclusive os
9 VASSAL, M. G. Evolução das Famílias e seus Reflexos na Sociedade e no Direito. Série Aperfeiçoamento
de Magistrado 12, Família do Século XXI, Aspectos Jurídicos e Psicanalíticos, p. 126.
10 FARIAS, C. C. de; ROSENVALD, N. Curso de Direito Civil. Vol. 6: famílias. 7. ed. rev. e atual. São Paulo:
Editora Atlas, 2015, p. 03/04.
11 Art. 229 da CFRB/88: “Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores
têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade”.
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Pois bem, a escolha deste tema está atrelada ao fato do abandono de cidadãos em
idade avançada ser uma problemática de abrangência nacional e de cunho social, que
requer o olhar cuidadoso do Poder Legislativo e o estimulo do meio acadêmico, a fim de
se construir políticas públicas que garantem o envelhecer saudável e que venham a
incentivar a efetividade de direitos fundamentais. Isto porque, embora a velhice seja
decorrente do direito à vida, ao contrário do que acontece com as crianças e adolescentes,
atualmente no Brasil, não há qualquer legislação ou instrumento jurídico que efetivamente
acolha a pessoa idosa marginalizada, de forma a violar seus direitos e garantias
fundamentais. Ora, o envelhecimento se tornou um direito personalíssimo e sua proteção
é um direito social
Diante disto, este estudo tem como objetivo geral analisar o instituto jurídico da
senexão. No que diz respeito aos objetivos específicos, estes, dividir-se-ão em três tópicos:
contextualizar brevemente a evolução das famílias; analisar os direitos e garantias
fundamentais da pessoa idosa; bem como o abandono afetivo inverso; apresentar o Projeto
de Lei n° 105/2020 e as questões que o rodeiam e; averiguar a viabilidade da aplicação da
senexão.
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Nessa seara, a evolução dos arranjos familiares está vinculada ao avanço do homem
e da sociedade, mutável com o desenvolvimento técnico-científico-medicinal e o natural
progresso filosófico do ser humano15.
13 Rodrigo da Cunha Pereira já se posicionou em sua rede social Facebook abordando a escassez de
referências bibliográficas acerca do tema senexão. Disponível em:
https://www.facebook.com/watch/?v=500902810837530.
14 CALMON, P. N. A colocação de idosos em família substituta por meio da adoção: uma possibilidade?
Revista IBDFAM: Famílias e Sucessões. v.37(jan/fev) – Belo Horizonte: IBDFAM, 2020, p. 66.
15 HAFFERS, L. M. Multiparentalidade à luz do Direito Sistêmico. Tese (Graduação). Centro de Ciências
Humanas e Sociais Aplicadas, Faculdade de Direito. Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Campinas,
2016, p. 11.
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social, cujo perfil era patriarcal e hierarquizado. Isto porque, o seu principal objetivo era a
constituição e preservação do patrimônio, logo, entendia-se a família como unidade de
produção, menosprezando-se os laços afetivos16, ao passo que não eram reconhecidos os
filhos havidos fora do casamento. De forma sintética e clara, “a família tinha formação
extensiva, verdadeira comunidade rural, integrada por todos os parentes formando
unidade de produção, com amplo incentivo à procriação. Tratava-se de uma entidade
patrimonializada, cujos membros representavam força de trabalho. O crescimento da
família ensejava melhores condições de sobrevivência a todos”17. Sendo que tais restrições
perduraram até a Constituição Federal de 1988, embora a sociedade já havia se
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Pois bem. O ordenamento jurídico não traz a definição de família, tampouco poderia
por ser construção cultural e estar constantemente em mudança. Diante da diversidade
dos modelos familiares atualmente existentes, atrelar um único conceito à família é deixar
à margem/desprotegidos diversos núcleos familiares. Nos dizeres de Rodrigo da Cunha
Pereira:
20 PEREIRA, R. da C. Direito das Famílias. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021, p. 18/19.
21 MADALENO, R. Manual de Direito de Família. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 20.
22 PEREIRA, R. da C. Direito das Famílias. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021, p. 98.
23 FARIAS, C. C. de; ROSENVALD, N. Curso de Direito Civil. Vol. 6: famílias. 7. ed. rev. e atual. São Paulo: Editora
Atlas, 2015, p. 06.
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De forma que, “o amor está para o Direito de Família, assim como a vontade está para o
Direito das Obrigações”24. Acerca do tema, disserta Rodrigo da Cunha Pereira:
Sem afeto não se pode dizer que há família. Ou, onde falta o afeto, a
família é uma desordem, ou mesmo uma desestrutura. O afeto
ganhou status de valor jurídico e, consequentemente, foi elevado à
categoria de princípio como resultado de uma construção histórica
em que o discurso psicanalítico é um dos principais responsáveis.
Afinal, o desejo e o amor são o esteio do laço conjugal e parental.
24 VILLELA, J. B. apud PEREIRA, R. da C. Direito das Famílias. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021, p. 98.
25 PEREIRA, R. da C. Direito das Famílias. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021, p. 97.
26 DIAS, M. B. Manual de direito das famílias. 11. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016, p. 55.
27 HAFFERS, L. M. Multiparentalidade à luz do Direito Sistêmico. Tese (Graduação). Centro de Ciências
Humanas e Sociais Aplicadas, Faculdade de Direito. Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Campinas,
2016, p. 24/25.
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28 SANTOS, A. S.; THOMASI, T. Z. A aplicação do instituto de Senexão no Brasil. 2020. Disponível em:
<https://revistas.unibh.br/dcjpg/article/view/3110/pdf99875>. Acesso em 05 de agosto de 2021, p. 17/18.
29 HAFFERS, L. M.. Multiparentalidade à luz do Direito Sistêmico. Tese (Graduação). Centro de Ciências
Humanas e Sociais Aplicadas, Faculdade de Direito. Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Campinas,
2016, p. 24.
30 DIAS, M. B. Manual de direito das famílias. 11. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016, p. 647.
31 CALMON, P. N. A colocação de idosos em família substituta por meio da adoção: uma possibilidade?
Revista IBDFAM: Famílias e Sucessões. v.37(jan/fev) – Belo Horizonte: IBDFAM, 2020, p. 65.
32 CF/88 – Art. 230: A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando
sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida.
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EI – Art. 3°: É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com
absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte,
ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.
33 GIRARDI, V. apud IBDFAM. Abandono afetivo inverso é tema de palestra do Congresso Nacional do
IBDFAM. Notícia publicada em 14 de agosto de 2019. Disponível em:
<https://ibdfam.org.br/noticias/7027/Abandono+afetivo+inverso+%C3%A9+tema+de+palestra+no+Cong
resso+Nacional+do+IBDFAM>. Acesso em 10 de agosto de 2021.
34 SANTOS, A. S.; THOMASI, T. Z. A aplicação do instituto de Senexão no Brasil. 2020. Disponível em:
<https://revistas.unibh.br/dcjpg/article/view/3110/pdf99875>. Acesso em 05 de agosto de 2021, p. 9.
35 PEREIRA, R. da C. Direito das Famílias. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021, p. 506.
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Ainda, para fins de dizimar o debate, o Estatuto define como idoso a pessoa que
tem mais de 60 anos de idade. O critério escolhido se mostra o mais adequado e prudente.
Isto porque, o raciocínio etário por ser objetivo, desconsidera aspectos personalíssimos,
como físicos, emocionais, psíquicos, econômicos ou sociais, para qualificar a etapa idosa
do ciclo de vida de uma pessoa, o que evita desgastes e debates inviáveis38.
36 DIAS, M. B. Manual de direito das famílias. 11. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016, p. 642.
37 GOMES, V. S. Abandono afetivo de idosos: e o direito ao envelhecimento digno. 2020. Disponível em:
<https://www.riuni.unisul.br/bitstream/handle/12345/11564/Vers%c3%a3o%20final%20TCC%20Vit%c3%b3
ria-%20Abandono%20afetivo.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em 11 de agosto de 2021, p. 14.
38 GOMES, V. S. Abandono afetivo de idosos: e o direito ao envelhecimento digno. 2020. Disponível em:
<https://www.riuni.unisul.br/bitstream/handle/12345/11564/Vers%c3%a3o%20final%20TCC%20Vit%c3%b3
ria-%20Abandono%20afetivo.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em 11 de agosto de 2021, p. 11/12.
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Sendo que o artigo 9° determina ser obrigação do Estado “garantir à pessoa idosa
a proteção à vida e à saúde, mediante efetivação de políticas sociais públicas que permitam
um envelhecimento saudável e em condições de dignidade”.
Não é só, o mencionado diploma legal reconhece ainda a família substituta por
intermédio de seu artigo 37 ao expor que: “o idoso tem direito a moradia digna, no seio
39 Art. 8°: O envelhecimento é um direito personalíssimo e a sua proteção um direito social, nos termos desta
Lei e da legislação vigente.
40 Apud IBDFAM. Tratado de Direito das Famílias. 3. ed. Belo Horizonte: Instituto Brasileiro de Direito de
Família, 2019, p. 392.
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Ora, embora a velhice seja decorrente do direito à vida, por ser inerente à condição
humana e o envelhecimento populacional um fenômeno mundial, os idosos ainda carecem
de assistência, em especial, ao serem comparados, por exemplo, com as crianças. Isto
porque, soma-se a cultura brasileira de não respeitar a ancestralidade e conceder o valor
devido aos idosos, a maior longevidade da população ocorrida sem os estratos sociais e
atores políticos estivessem prontos para suportar seus custos emocionais e financeiros42.
41 CALMON, P. N. A colocação de idosos em família substituta por meio da adoção: uma possibilidade?
Revista IBDFAM: Famílias e Sucessões. v.37(jan/fev) – Belo Horizonte: IBDFAM, 2020, p. 67.
42 IBDFAM. Abandono afetivo inverso é tema de palestra do Congresso Nacional do IBDFAM. Notícia
publicada em 14 de agosto de 2019. Disponível em:
<https://ibdfam.org.br/noticias/7027/Abandono+afetivo+inverso+%C3%A9+tema+de+palestra+no+Cong
resso+Nacional+do+IBDFAM>. Acesso em 10 de agosto de 2021.
43 PIAZZA, M. S. de F.; TOMAZ, L. C. de L. Projeto de Lei n° 105/2020 e sua (in)adequação aos princípios
constitucionais sob a perspectiva dos direitos dos idosos. 2020. Disponível em:
<https://revistas.unaerp.br/cbpcc/article/view/2129/1656>. Acesso em 06 de agosto de 2021, p. 1122.
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É cediço que há duas formas de abandono: o material, que está ligado aos aspectos
econômicos e financeiros e; o afetivo, que em razão de suas peculiaridades e relevância
para o problema do presente trabalho será analisado mais profundamente a seguir.
44 FILHOS apud GOMES, V. S. Abandono afetivo de idosos: e o direito ao envelhecimento digno. 2020.
Disponível em:
<https://www.riuni.unisul.br/bitstream/handle/12345/11564/Vers%c3%a3o%20final%20TCC%20Vit%c3%b3
ria-%20Abandono%20afetivo.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em 11 de agosto de 2021, p. 20.
45 GOMES, V. S. Abandono afetivo de idosos: e o direito ao envelhecimento digno. 2020. Disponível em:
<https://www.riuni.unisul.br/bitstream/handle/12345/11564/Vers%c3%a3o%20final%20TCC%20Vit%c3%b3
ria-%20Abandono%20afetivo.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em 11 de agosto de 2021, p. 21.
46 GOMES, V. S. Abandono afetivo de idosos: e o direito ao envelhecimento digno. 2020. Disponível em:
<https://www.riuni.unisul.br/bitstream/handle/12345/11564/Vers%c3%a3o%20final%20TCC%20Vit%c3%b3
ria-%20Abandono%20afetivo.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em 11 de agosto de 2021, p. 20/21.
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Não obstante, o artigo 229 da Carta Magna estabelece o dever recíproco entre pais
e filhos no dever de cuidar, sendo denominado como abandono afetivo inverso quando o
filho, em relação aos pais na velhice, age de forma omissiva. É, portanto, o não exercício
do papel de filho no tocante aos seus pais idosos. Isto porque, no imaginário popular é
dos pais a responsabilidade de cuidar dos filhos, por isso, o termo inverso47:
47 PEREIRA, R. da C. Direito das Famílias. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021, p. 508.
48 PEREIRA, R. L. P. Adoção de idosos: a busca pelo direito da convivência familiar e comunitária da Terceira
Idade. Centro Universitário Unidade de Ensino Superior Dom Bosco. São Luís, 2020, p. 32.
49 IBDFAM. Abandono afetivo inverso é tema de palestra do Congresso Nacional do IBDFAM. Notícia
publicada em 14 de agosto de 2019. Disponível em:
<https://ibdfam.org.br/noticias/7027/Abandono+afetivo+inverso+%C3%A9+tema+de+palestra+no+Cong
resso+Nacional+do+IBDFAM>. Acesso em 10 de agosto de 2021.
50 DIAS, M. B. Manual de direito das famílias. 11. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016, p. 648.
51 IBDFAM. Abandono afetivo inverso é tema de palestra do Congresso Nacional do IBDFAM. Notícia
publicada em 14 de agosto de 2019. Disponível em:
<https://ibdfam.org.br/noticias/7027/Abandono+afetivo+inverso+%C3%A9+tema+de+palestra+no+Cong
resso+Nacional+do+IBDFAM>. Acesso em 10 de agosto de 2021.
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52 CASSETTARI, 2017, p. 22 apud MALUF, 2012, p. 18 apud PIAZZA, M. S. de F.; TOMAZ, L. C. de L. Projeto de
Lei n° 105/2020 e sua (in)adequação aos princípios constitucionais sob a perspectiva dos direitos dos idosos.
2020. Disponível em: <https://revistas.unaerp.br/cbpcc/article/view/2129/1656>. Acesso em 06 de agosto de
2021, p. 1127/1128.
53 PIAZZA, M. S. de F.; TOMAZ, L. C. de L. Projeto de Lei n° 105/2020 e sua (in)adequação aos princípios
constitucionais sob a perspectiva dos direitos dos idosos. 2020. Disponível em:
<https://revistas.unaerp.br/cbpcc/article/view/2129/1656>. Acesso em 06 de agosto de 2021, p. 1127/1128.
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Ora, é evidente que a pessoa humana – um ser social e movido por sentimentos,
necessita de ambiente propício a desenvolver toda sua potencialidade. “Muito mais
saudável que a institucionalização, parece ser a colocação da pessoa idosa no seio de uma
família (natural ou substituta), com plenitude para exercer os mais variados direitos
fundamentais que lhe são inerentes, pois assim se garantirá, efetivamente, seu direito à
convivência familiar e comunitária”55.
54 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Acórdão de decisão que deu provimento ao pedido de
responsabilidade civil por abandono afetivo. Recurso Especial nº 1.159. 242-SP. Relatora: Ministra Nancy
Andrighi. 24 de abril de 2012. Disponível em:
<https://ww2.stj.jus.br/processo/pesquisa/?src=1.1.2&aplicacao=processos.ea&tipoPesquisa=tipoPesquisa
Generica&num_registro=200901937019>. Acesso em: 02 de julho de 2021.
55 CALMON, P. N. A colocação de idosos em família substituta por meio da adoção: uma possibilidade?
Revista IBDFAM: Famílias e Sucessões. v.37(jan/fev) – Belo Horizonte: IBDFAM, 2020, p. 69.
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O cumprimento do processo natural da vida implica dizer que todos irão envelhecer.
Não por outra sorte, em consequência aos avanços científicos, tecnológicos e medicinais,
a longevidade da população está maior, ao passo que de acordo com projeção do IBGE –
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 2040, 25% da população terá mais de 60
Seguindo o viés de que a filiação não se limita ao nascimento, mas em crescer, viver
e envelhecer juntos, é que se enquadra no novo contexto social a senexão, prevista no
Projeto de Lei n° 105/2020, proposto pelo Deputado Federal do Partido Trabalhista
Brasileiro, Pedro Lucas Fernandes, à Câmara dos Deputados.
Em razão do Direito ser fruto da cultura, e esta, por seu turno, fruto da linguagem,
admite-se a criação de novos institutos pelo Poder Legislativo, com a finalidade de
56 PEREIRA, R. da C. Direito das Famílias. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021, p. 505.
57 SANTOS, A. S.; THOMASI, T. Z. A aplicação do instituto de Senexão no Brasil. 2020. Disponível em:
<https://revistas.unibh.br/dcjpg/article/view/3110/pdf99875>. Acesso em 05 de agosto de 2021.
58 DRUMOND, I. N. P. de C.; FERRAZ, M. Senexão: a colocação de idosos em famílias substitutas como
alternativa para o amparo de idosos órfãos. Revista dos Estudantes de Direito da Universidade de Brasilia. V.
1, n. 19, 2021. Disponível em: <https://periodicos.unb.br/index.php/redunb/article/view/36862 >. Acesso em
30 de agosto de 2021, p. 673.
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O Projeto de Lei (PL) define como senexão o ato da colocação de pessoas idosas em
família substituta, sem que haja a alteração no estado de filiação e, por conseguinte, nos
direitos sucessórios, mas, tão somente, a caracterização de laços socioafetivos, a fim de
proporcionar amparo e estabilidade aos idosos em situação de vulnerabilidade ou
abandono, conforme se extrai dos artigos do Projeto:
59 CALMON, P. N. Senexão: um novo instituto do direito das famílias?. 2020. Disponível em:
<https://ibdfam.org.br/artigos/1404/Senex%C3%A3o:+um+novo+instituto+de+direito+das+fam%C3%ADl
ias%3F>. Acesso em 06 de agosto de 2021.
60CÂMARA DOS DEPUTADOS. PL 105/2020. Disponível em:
<https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2236550>.
61 DRUMOND, I. N. P. de C.; FERRAZ, M. Senexão: a colocação de idosos em famílias substitutas como
alternativa para o amparo de idosos órfãos. Revista dos Estudantes de Direito da Universidade de Brasilia. V.
1, n. 19, 2021. Disponível em: <https://periodicos.unb.br/index.php/redunb/article/view/36862 >. Acesso em
30 de agosto de 2021, p. 668.
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que indivíduos aproveitem do instituto para obter vantagens patrimoniais da pessoa idosa.
Além disso, a adoção exige o respeito a requisitos subjetivos e objetivos que não são
necessários à senexão, ao passo que a senexão seria um método mais simples e célere62,
o que pode refletir em meio mais eficiente para idosos em situação de vulnerabilidade.
62 PIAZZA, M. S. de F.; TOMAZ, L. C. de L. Projeto de Lei n° 105/2020 e sua (in)adequação aos princípios
constitucionais sob a perspectiva dos direitos dos idosos. 2020. Disponível em:
<https://revistas.unaerp.br/cbpcc/article/view/2129/1656>. Acesso em 06 de agosto de 2021, p. 1125/1126.
63 MALUF, L. G.; SILVA, R. B. T. da. “Senexão” como novo instituto de família. 2020. Disponível em:
<http://www.reginabeatriz.com.br/post/senex%C3%A3o-como-novo-instituto-de-fam%C3%ADlia>. Acesso
em 30 de agosto de 2021.
64 MALUF, L. G.; SILVA, R. B. T. da. “Senexão” como novo instituto de família. 2020. Disponível em:
<http://www.reginabeatriz.com.br/post/senex%C3%A3o-como-novo-instituto-de-fam%C3%ADlia>. Acesso
em 30 de agosto de 2021.
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65 CALMON, P. N. Senexão: um novo instituto do direito das famílias?. 2020. Disponível em:
<https://ibdfam.org.br/artigos/1404/Senex%C3%A3o:+um+novo+instituto+de+direito+das+fam%C3%ADl
ias%3F>. Acesso em 06 de agosto de 2021.
66 CALMON, P. N. Senexão: um novo instituto do direito das famílias?. 2020. Disponível em:
<https://ibdfam.org.br/artigos/1404/Senex%C3%A3o:+um+novo+instituto+de+direito+das+fam%C3%ADl
ias%3F>. Acesso em 06 de agosto de 2021.
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Não é só, caso o senector venha a falecer antes do senectado, todos os direitos e
deveres advindos do instituto serão transferidos aos seus herdeiros (art. 55 I). À vista disso,
indaga-se a possibilidade da legislação impor aos herdeiros tal obrigação, eis que o elo
estabelecido é oriundo de escolha personalíssima das partes envolvidas, sendo que os
herdeiros do senector podem não possuir qualquer laço com o senectado.
68 CALMON, P. N. A colocação de idosos em família substituta por meio da adoção: uma possibilidade?
Revista IBDFAM: Famílias e Sucessões. v.37(jan/fev) – Belo Horizonte: IBDFAM, 2020, p. 76.
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Nesse ponto, nota-se que há, no retro mencionado dispositivo, uma ampliação
semântica perigosa ao direcionar o poder decisório ao senector de quaisquer atividades
do senectado, em caso de sua impossibilidade de decidir69.
Diante disso e, considerando que a curatela concerne apenas aos atos relacionados
a direitos patrimoniais e negocial71, a interpretação que parece melhor se aplicar ao artigo
55 G do PL é de abranger apenas normativas existenciais, como é o caso do tratamento de
saúde. “Afinal, pensar de outra forma esbarraria em nítida ilegalidade e, além disso, parece
que projeto de lei não tem por pretensão conferir maiores poderes ao senector do que
aqueles que a própria família biológica possuiria”72.
69 CALMON, P. N. Senexão: um novo instituto do direito das famílias?. 2020. Disponível em:
<https://ibdfam.org.br/artigos/1404/Senex%C3%A3o:+um+novo+instituto+de+direito+das+fam%C3%ADl
ias%3F>. Acesso em 06 de agosto de 2021.
70 CALMON, P. N. Senexão: um novo instituto do direito das famílias?. 2020. Disponível em:
<https://ibdfam.org.br/artigos/1404/Senex%C3%A3o:+um+novo+instituto+de+direito+das+fam%C3%ADl
ias%3F>. Acesso em 06 de agosto de 2021.
71 Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei n° 13.146/15), art. 85: A curatela afetará tão somente os atos
relacionados aos direitos de natureza patrimonial e negocial.
72 CALMON, P. N. Senexão: um novo instituto do direito das famílias?. 2020. Disponível em:
<https://ibdfam.org.br/artigos/1404/Senex%C3%A3o:+um+novo+instituto+de+direito+das+fam%C3%ADl
ias%3F>. Acesso em 06 de agosto de 2021.
73 CALMON, P. N. A colocação de idosos em família substituta por meio da adoção: uma possibilidade?
Revista IBDFAM: Famílias e Sucessões. v.37(jan/fev) – Belo Horizonte: IBDFAM, 2020, p. 69/70.
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CONCLUSÃO
Em suma, após os estudos feitos, que embora não tão abrangentes são de grande
valia para os Operadores do Direito, este trabalho é desenvolvido na tentativa de
compreender as questões sobre o tema escolhido, realizado por meio de prévios estudos
sobre o fenômeno mundial do envelhecimento e o consequente abandono afetivo e
material inverso, contemplando o instituto da senexão como um mecanismo adequado na
solução deste problema social, com a principal finalidade de ser uma fonte de pesquisa
acessível aos Operadores de Direito, a fim de se possibilitar o aprofundamento do tema e,
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dignificação enquanto ser humano da pessoa idosa, em nada afetando a sua capacidade
civil.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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a pessoa idosa. Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, 2019. Disponível
em: https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2019/junho/balanco-anual-do-
Boletim Conteúdo Jurídico v. 1111 de 03/09/2022 (ano XIV) ISSN - 1984-0454
disque-100-registra-aumento-de-13-em-denuncias-de-violacoes-contra-a-pessoa-idosa.
Acesso em 14 de agosto de 2021.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Acórdão de decisão que deu provimento ao pedido
de responsabilidade civil por abandono afetivo. Recurso Especial nº 1.159. 242-SP. Relatora:
Ministra Nancy Andrighi. 24 de abril de 2012. Disponível em:
<https://ww2.stj.jus.br/processo/pesquisa/?src=1.1.2&aplicacao=processos.ea&tipoPesqu
isa=tipoPesquisaGenerica&num_registro=200901937019>. Acesso em: 02 de julho de
2021.
BRASIL. Instituto Brasileiro de Direito de Família. IBDFAM. Abandono afetivo inverso pode
gerar indenização. Disponível em:
<http://www.ibdfam.org.br/noticias/5086/+Abandono+afetivo+inverso+pode+gerar+ind
eniza%C3%A7%C3%A3o>. Acesso em 21 de agosto de 2021.
CALMON, P. N. Senexão: um novo instituto do direito das famílias?. 2020. Disponível em:
<https://ibdfam.org.br/artigos/1404/Senex%C3%A3o:+um+novo+instituto+de+direito+
das+fam%C3%ADlias%3F>. Acesso em 06 de agosto de 2021.
______. A colocação de idosos em família substituta por meio da adoção: uma possibilidade?
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São Paulo: Editora Atlas, 2015.
IBDFAM. Adoção ou senexão: uma saída para garantir o direito à convivência familiar e
comunitária à pessoa idosa. Notícia publicada em 28 de maio de 2020 Disponível em:
<https://ibdfam.org.br/noticias/7318/Ado%C3%A7%C3%A3o+ou+senex%C3%A3o:+uma
+sa%C3%ADda+para+garantir+o+direito+%C3%A0+conviv%C3%AAncia+familiar+e+co
munit%C3%A1ria+%C3%A0+pessoa+idosa>. Acesso em 16 de agosto de 2021.
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Notícia publicada em 14 de agosto de 2019. Disponível em:
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solução para garantir o direito à convivência familiar e comunitária à pessoa idosa. 2020.
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(orientadora)
ABSTRACT: The main objective of the work is to carry out a broad study in relation to
obstetric violence, as obstetric violence is any measure and/or invasive act performed by
any health agent, without the authorization of the pregnant patient, remembering that
neither always the invasive act is physical, sometimes it can be a psychological damage.
For many, the theme can be considered somewhat controversial, because for the
understanding of many, it calls into question the good faith of health professionals.
However, it is undeniable that obstetric violence exists, because there is no lack of reports
of patients who have suffered and still suffer from the side effects of unnecessary invasive
procedures at the time of delivery, and it is known that the will of the pregnant woman
must be preserved in the time of childbirth. Given the above, it is possible to conclude that
the subject of obstetric violence has great relevance of study today, as it deals with rights,
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autonomy over one's own body and also the dignity of women. The work was carried out
based on literature reviews, with research on websites, blogs, articles, books, magazines,
reference for the area of study, in an arduous and meticulous way.
INTRODUÇÃO
O assunto abordado neste artigo busca explorar e explanar acerca dos direitos
Desde os primórdios até o início do século XX as mulheres davam à luz nas suas
casas com o auxílio de parteiras ou até membros da família. A partir da segunda década
do século XX, com o aumento da tecnologia, inicia-se a hospitalização do parto, o qual
passa a ser visto como um evento patológico, necessitado de condução médica em
instituições hospitalares.
O mesmo termo é utilizado para todos os tipos de violência sofridos pela mulher
durante a gravidez, o parto, pós-parto e abortamento. As agressões podem ser físicas,
psicológicas, verbais ou sexuais, além de negligência, discriminação e condutas
excessivas ou desnecessárias, muitas vezes prejudiciais e sem embasamento em
evidências científicas. Essas práticas submetem mulheres a normas e rotinas rígidas e
muitas vezes desnecessárias, que não respeitam os seus corpos e os seus ritmos naturais
e as impedem de exercer seu protagonismo. Nos últimos anos o Brasil tenha avançado a
violência obstétrica, uma a cada quatro mulheres sofre alguma forma de violência
durante o parto e aproximadamente metade das que abortaramrelatam ter sofrido algum
tipo de violência, principalmente no caso de abortos provocados.
partos, vale ressaltar que a OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda uma taxa
de cesáreas entre 10% e 15%. Em média, isso corresponde ao número de nascimentos
em que há complicações que uma cesariana pode eliminar, salvando vidas.
Cabe ressaltar-se que a violência física sofrida pela gestante não se limita a
violência genérica ou tratamento agressivo, bruto. A violência obstétrica também é a
utilização de procedimentos não autorizados, a cesárea desnecessária que o médico
optou por fazer ou a falta de tratamento analgésico adequado, por exemplo.
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e também o trauma que se seguirá indefinidamente” (REIS, 2005 apud SENADO, 2012, p.
105)
Outro meio ainda muito utilizado é a aplicação de ocitocina, hormônio usado para
acelerar as contrações e aumentar a dilatação, o grande problema desse método deve-
se a utilização sem necessidade, em muito dos casos a aplicação é feita de forma precoce,
fazendo com que a gestante sinta dores muito maiores, sem necessidade.
Boletim Conteúdo Jurídico v. 1111 de 03/09/2022 (ano XIV) ISSN - 1984-0454
Por fim, a parturiente pode escolher sem qualquer tipo de exceção ou encargos,
quem vai acompanhá-la durante o pré-parto, parto e pós-parto de acordo com a Portaria
n° 2.418/05 do Ministério da Saúde. Afora de caracterizar como violência obstétrica, a
proibição de acompanhante durante o parto é contrária ao direto assegurado pela Lei
11.108/2005, da RDC nº 38/2008 da ANVISA. A presença do(a) acompanhante (inclusive
se este for adolescente) não pode ser impedida pelo hospital ou por qualquer membro
da equipe de saúde, nem deve ser exigido que o(a) acompanhante tenha participado de
alguma formação ou grupo. (BRASIL, 2005)
E, por fim, o art. 31, do CEM, também trata da liberdade de escolha do paciente e
de seu representante legal, vedando ao médico desrespeitar o direito dos mesmos de
“decidir livremente sobre a execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo em
caso de iminente risco de morte”, enquanto o art. 34 dispõe sobre a necessidade de o
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O Código Civil também assegura o bem estar da gestante, uma vez que, existem
alguns dispositivos que tratam da violência contra gestantes, como, por exemplo, o dano
moral e a responsabilização civil dos profissionais da saúde. Abaixo condenação por
Mesmo que a indenização isolada não seja a punição ideal, é uma forma de auxiliar
na reparação do dano causado a paciente gestante, o valor pecuniário jamais será o
suficiente para reparar danos irreversíveis, como por exemplo, a morte do nascituro, mas
é importante buscar algum tipo de punição ao agressor, mesmo que apenas pecuniária.
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Diante das informações conditas nesse tópico, reforça-se mais uma vez a falta de
tipificação para o crime de violência obstétrica. No entanto, é de conhecimento comum
que, na falta de legislação específica, utiliza-se muito da analogia.
A vítima de violência obstétrica precisa sim ser amparada na área cível, precisa de
ajuda psiquiatra e psicológica, mas há necessidade de o agressor nessas situações ser
punido, uma vez que, a ausência de punição pode acarretar em mais casos de
imprudência e negligência por conta dos profissionais da saúde.
Partindo dessa premissa, vale destacar alguns casos onde o agente de saúde
deverá ser punido de acordo com as tipificações penais existentes, em crimes de violência
obstétrica. Por exemplo, no procedimento de Episiotomia o qual deve ser realizado após
a gestante ter conhecimento acerca dos benefícios e malefícios e autorizar tal
procedimento, ocorre muito da realização dessa prática sem autorização. Portanto, tal
profissional poderá e deverá ser penalizado em razão das lesões sofridas pela gestão,
conforme prevê o artigo 129 do código penal sobre a lesão corporal, e não longe disso,
há casos onde ocorre a morte da gestante ou nascituro, nessa situação respondera pelo
crime de homicídio culposo, aplicando ainda o aumento de pena conforme o
artigo 121, § 3º do Código penal. Conforme jurisprudência a seguir:
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Uma curiosidade sobre as punições se refere ao aborto, tipificado como crime pelo
artigo 124, no entanto, essa tipificação se refere a conduta da gestante e não do
professional de saúde, portanto, nos crimes de violência obstétrica o agente de saúde
será penalizado pelo artigo 129 § 2, visto que a lesão gravíssima resultou no aborto,
conforme inciso V.
Por muito tempo pouco se falava em violência obstétrica, uma vez que como já
dito anteriormente, colocaria em cheque a ética médica, no entanto, é somente com a
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informação que tabus são quebrados, por isso, a necessidade dos movimentos sociais,
do incentivo a informação e a segurança de direitos.
No que tange aos meios de denúncia, existe uma Sala de Atendimento ao Cidadão
virtual, disponível no site do Ministério Público Federal (Sala de Atendimento ao Cidadão
(mpf.mp.br)) o qual recebe denúncias, informa sobre os direitos, recebe pedidos dentre
outros serviços. Outro meio de se conseguir ajuda é através da Associação Artemis, uma
organização não governamental que visa a promoção da autonomia feminina e
erradicação da violência contra a mulher, essa organização recebe relato de mulheres
que sofreram qualquer tipo de violência, dentre as violências, a obstétrica. Após o relato,
a organização buscar mapear e elucidar uma forma de solução mais sucinta. Por fim, a
denúncia também pode ser realizada na Secretária de Saúde mais próxima, ou discando
180, 136 ou para 08007019656 da Agência Nacional de Saúde Suplementar.
3.CONCLUSÃO
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é através do conhecimento que as práticas abusivas vão poder ser reprimidas, punidas e
quem sabe até abolidas.
É fato que já passou da hora do Estado como figura protetora dos cidadãos
elaborar uma legislação federal efetiva, que vise conscientizar as mulheres no período
Para combater a violência obstétrica é necessário ir além das leis, é preciso que
haja uma conscientização das mulheres acerca dos seus diretos, a reeducação dos
profissionais de saúde e a elaboração de políticas públicas objetivando a humanização
do pré-natal, do parto e do pós-parto. Somente através de mudanças sólidas nessas
bases a violência obstétrica deixará de ser um problema para a sociedade.
REFERÊNCIAS
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Disponível
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atendimento>. Acesso em 14 maio 2021.
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(coautora)
ABSTRACT: This article aims to promote a discussion about the work accident and its
effects on Social Security in Brazil. The legal norms that guarantee the mental and physical
safety of employees aim at work as a safe activity, as the employer is responsible for
individual and/or collective measures to protect the health and safety of the worker.The
social security right is a guarantor of the dignity of the human person and, due to its
relevance, it was elevated to the status of a fundamental human right, provided for in
articles 6 and 201 of the Federal Constitution.
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INTROCUÇÃO
A constituição brasileira reconhece tal proteção no local de trabalho (art. 7º, XXII e
XXIII da CF/1988). E, sendo constatada negligência patronal ou até mesmo transgressão a
obrigação segurança e higiene dos trabalhadores, restará configurada contravenção penal,
cuja pena pode ser multa, cabendo ao Ministérios do Trabalho e da Previdência Social
desempenharem a fiscalização (art. 19, §§ 1º, 2º e 4° Lei n. 8.213/1991).
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Constatada por perícia médica que a causa para a concessão do benefício tenha
ligação com trabalho exercido pelo segurado, o benefício a ser deferido/concedido será
por acidente de trabalho.
Se, por outro lado, a causa do benefício for uma doença incapacitante sem vínculo
com o trabalho realizado a concessão do benefício será previdenciário e não acidentário.
Desta forma a diferença entre um benefício e outro é a causa geradora, que irá
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84 Curso de Direito do Trabalho, 12ª edição, São Paulo, Saraiva, 2020, p. 768.
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A lei descreve esse conceito tecnicamente. O fato pode ser decorrente do trabalho,
podendo ser um acidente típico, uma doença ocupacional ou uma situação equiparada ao
acidente de trabalho, assim considerada pela legislação.
85 Meio Ambiente do Trabalho: Direito Fundamental, Editora LTr, São Paulo, 2001. p. 100.
86 Direito do Trabalho Aplicado – Saúde do trabalho e profissões regulamentadas, Revista dos Tribunais,
São Paulo, 2021.p. 85.
87 Frederico Amado, Direito Previdenciário, JusPudivm, 9ª Edição, 2018, salvador. P. 305
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Os acidentes típicos são os que decorrem de um evento traumático, que para ser
caracterizado, necessita ser demonstrado o nexo de causalidade entre o acidente e o
trabalho desenvolvido pelo empregado.
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De outra banda, as enfermidades do trabalho são aquelas doenças que não são
típicas a certos trabalhos, contudo são doenças que se manifestam em razão do ofício
desempenhado ou da forma como o labor é exercido. Não se podendo presumir o nexo
de causal, logo, é exigida comprovação de que a doença é oriunda do trabalho
desenvolvido. Exemplo bem comum trata-se da perda auditiva.
A lei também de forma expressa afasta determinadas doenças deixando claro que
elas não são doenças ocupacionais, segundo o art. 20, § 1º, do Lei n. 8.213/1.991, vejamos:
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a) a doença degenerativa;
2. BENEFICIÁRIOS
85
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87
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Havendo recusa do empregador em emitir o documento a lei (art. 22, § 2º, do Lei
n. 8.213/1991) determina que outras pessoas podem de forma subsidiaria emitir a CAT.
São eles:
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- O sindicato da categoria;
Vale destacar que qualquer comunicação subsidiária não inibe a aplicação da multa
ao empregador omisso, já que deixou de emitir o documento, logo, está caracterizada a
infração, já que o comunicado de acidente do trabalho se trata de um dever do
empregador.
Suely Ester Gitelman e Murilo Caldeira Germiniani afirmam que a pessoa jurídica
não se confunde com a pessoa dos seus sócios, já que a sociedade possui autonomia
patrimonial, entretanto, no Brasil existe a possibilidade de relativizar a personalidade
Jurídica da empresa, como consequência disto, os bens dos sócios responderão pelas
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O mesmo não ocorre com o dano moral, haja vista que não se pode exigir prova
de tal dano, mesmo porque ele é auto evidente, insuscetível de prova, mas por óbvio o
fato causador deve estar devidamente provado. O dano moral é presumido o fato não.
Alexandre Agra Belmonte discorre que o dano moral pode se referir aos efeitos
valorativos da personalidade, aos atributos físicos da personalidade, aos atributos
psíquicos ou intelectuais da personalidade e aos atributos culturais de certa comunidade
ou integridade cultural coletiva.93
No que pertine ao nexo causal deve haver evidência fática entre a conduta do
empregador e o dano sofrido pelo obreiro. Vale destacar que em caso de doenças
profissionais e ocupacionais é possível verificar outras causas, fora da alçada do
empregador.
91 Revista de Direito do Trabalho e Seguridade Social – RDT, ano 48 – 223 – Maio/junho de 2022, Revista
dos Tribunais, São Paulo, 2022. p. 126/127.
92 Curso de Direito do Trabalho, 15ª edição, Ltr, São Paulo, 2016. P. 691.
93 Danos Morais no Direito do Trabalho, 3ª Edição, Recife, Editora Renovar, 2007. p. 103.
94 Curso de Direito do Trabalho, 15ª edição, Ltr, São Paulo, 2016. P. 693
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E finalmente é bom destacar que, se a empresa comprovar que o fato ocorreu por
culpa exclusiva do trabalhador, no que se refere ao surgimento da lesão ou do acidente,
sendo exclusiva do obreiro, fica afastada a responsabilidade do empregador, mas se a
culpa for concorrente isso não ocorrerá, não excluirá a responsabilidade patronal, mas
poderá servir como fator atenuante, observadas as circunstâncias do caso concreto, e
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Os operários, por desconhecerem ou até mesmo por falta de consciência dos riscos
ocupacionais a que ficam expostos no exercício da sua profissão. Noutro compasso, temos
as empresas, que estão adormecidas, desconhecem as consequências jurídicas que devem
arcar pelo simples fato de não propiciarem a seus empregados ambientes de trabalho
sadios e seguros.
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que qualifica os riscos como sociais pelo fato de atingirem qualquer indivíduo e serem
inerentes à vida em sociedade; e outra, subjetiva, por compreender riscos cuja prevenção
somente a coletividade é apta a proporcionar e cujos danos somente a ela incumbe reparar,
posto que os indivíduos, isoladamente considerados, carecem de meios técnicos ou
econômicos para lhes fazer frente.”95
Convém relatar que “a proteção previdenciária não é plena, pois tarifada pela Lei
de Benefícios. Não cobre, por exemplo, lucros cessantes e danos emergentes”. 99
95 Direito Previdenciário Acidentário: Diogo Lopes Vilela Berbel, e Wagner Balera. Algumas definições – 1.
Ed. – São Paulo: LUJUR Editora, 2022, p. 41
96 Curso De Direito E Processo Previdenciário. Frederico Amado, 12. ed. rev., ampl. e atual. Salvador: Ed.
JusPodivm, 2020, p. 405
97 Direito Previdenciário Acidentário: Diogo Lopes Vilela Berbel, e Wagner Balera. Algumas definições – 1.
Ed. – São Paulo: LUJUR Editora, 2022, p. 51
98 Ibidem, p. 55
99 Direito Previdenciário, Lazzari Castro, 2. Ed. – Rio de Janeiro: Forense; MÉTODO, 2021, p. 273
92
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da vítima. Impõe-se que haja, sim, nexo causal entre o acidente ou a doença e a lesão ou
a morte.”100
Lembrando que o benefício previdenciário é devido até mesmo nos casos de culpa
da vítima, tendo em vista que “O sistema brasileiro adota a técnica do risco-causa. O risco-
causa é o conceito adotado pelo seguro social. Diferentemente do risco-previsão, do
seguro tradicional, que compreende o risco como previsão de cobertura, o risco-causa é
baseado na hipótese de incidência. Nele, o sinistro ocorre pela verificação e concretização
do risco, que, consequentemente, provoca a subsunção do fato ao modelo legal”.101
Ressaltando, que salvo em relação à pensão por morte, o auxilio por incapacidade
temporária e aposentadoria por incapacidade permanente são transitórios, ou seja, a
qualquer momento poderá ser cessado o benefício, desde que cessada a incapacidade
para o trabalho, sendo oportuno afirmar que o empregado/segurado deverá retornar ao
posto do trabalho, nesse caso o contrato de trabalho deixa de ser considerado suspenso.
b).Responsabilidade Acidentária
Vale ressaltar que “no caso da reparação civil, pode o empregado obter
indenização quando a empresa, por seus prepostos, tenha incorrido em conduta dolosa
ou culposa que tenha causado o infortúnio (ou quando seja o caso de responsabilização
objetiva), cabendo ao empregador provar a inexistência de dolo ou culpa”. 103
93
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O artigo 7º, XXVIII, da CRFB estabelece, como direito dos trabalhadores urbanos e
rurais, o “seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a
indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa”.
Pela regra vigente existem três alíquotas básicas para o financiamento do Seguro
de Acidentes de Trabalho (SAT), também conhecido por Risco Ambiental do Trabalho
(RAT), que incidem sobre o total da remuneração paga ou creditada, a qualquer título, aos
segurados empregados e trabalhadores avulsos, sendo elas as seguintes (Lei n. 8.212/91,
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Vale frisar que o INSS somente concede benefícios com código de acidente de
trabalho aos segurados que possuem o pagamento da contribuição SAT em seu favor:
empregado, empregado doméstico (este após a LC 150/2015), trabalhador avulso e
segurado especial.
104 Cláudia Salles Vilela Vianna. Acidente do Trabalho: Abordagem Completa e atualizada. 2. Ed. – São
Paulo: LTr, 2017, p. 197
105 Direito Previdenciário Acidentário: Diogo Lopes Vilela Berbel, e Wagner Balera. Algumas definições – 1.
Ed. – São Paulo: LUJUR Editora, 2022, 92
94
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O acidente pode ocasionar outras sequelas além das físicas, pode acarretar
problemas de ordens psicológicas e morais.
Cada acidente de trabalho ocorrido nas empresas atinge todo o sistema produtivo,
afetando diretamente o Produto Interno Bruto (PIB) do país.
106 Curso De Direito E Processo Previdenciário. Frederico Amado, 12. ed. rev., ampl. e atual. Salvador: Ed.
JusPodivm, 2020, p. 420
95
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O direito de regresso, está previsto de forma expressa nos arts. 120 e 121 da Lei n.
8.213/91 (dispõe sobre os planos e Benefícios da Previdência Social e outras providências),
eis os dispositivos:
Art. 19 .(...)
107 Curso De Direito E Processo Previdenciário. 12. ed. rev., ampl. e atual. Salvador: Ed. JusPodivm, 2020, p.
422
96
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O professor Miguel frisa que “A ação regressiva tem natureza preventiva. Num
primeiro momento, visa a proteção do trabalhador contra os acidentes do trabalho, com a
previsão de um mecanismo capaz de forçar o cumprimento das normas-padrão de
segurança e higiene do trabalho, e em um segundo momento, o ressarcimento dos valores
pagos a título de benefícios e serviços acidentários que oneraram os cofres públicos, nos
casos em que estes eventos poderiam ter sido evitados, se as medidas preventivas e
fiscalizatórias tivessem sido adotadas pelo empregador.”108
Convém relatar que “a ocorrência dessas ações tem sido cada vez mais frequente,
e das sentenças emitidas já se podem colher elementos suficientes para o estudo do direito
regressivo da Previdência contra o empregador desidioso no que diz respeito à proteção
à integridade física do trabalhador”.109
108 A ação regressiva acidentária do trabalho como instrumento de efetivação da proteção do meio
ambiente laboral. Revista do advogado – Direito Previdenciário, São Paulo, n. 149, p. (30-36), março de 2021
109 Lazzari Castro, Direito Previdenciário, 2. Ed. – Rio de Janeiro: Forense; MÉTODO, 2021, p. 277
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A fim de evitar uma futura ação regressiva, o empregador deve seguir a legislação
trabalhista bem como as normas regulamentadores que se aplicam ao campo. Além, é
claro, de proporcionar equipamentos de segurança individual e coletivos, bem como sua
fiscalização, capacitação periódica, equipamentos de segurança individual e coletivos,
aperfeiçoamento de canais de comunicação proativos estimulando o diálogo constante no
ambiente de trabalho.
A Justiça Federal possui competência para julgar a ação regressiva (art. 109, I, da
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Importante frisar que da mesma forma que todo cidadão almeja um meio
ambiente equilibrado, essencial a sua qualidade de vida, todo trabalhador tem direito a
receber a proteção normativa a um meio ambiente de trabalho seguro e saudável.
99
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112 A ação regressiva acidentária do trabalho como instrumento de efetivação da proteção do meio
ambiente laboral. Revista do advogado – Direito Previdenciário, São Paulo, n. 149, p. (30-36), março de 2021
100
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CONCLUSÃO
visando repor os danos decorrentes do evento acidentário, seja pelo aumento das
alíquotas básicas para o financiamento do Seguro de Acidentes de Trabalho (SAT).
Mesmo com todo esse “prejuízo” que decorre dos acidentes de trabalho, percebe-
se que os infortúnios não tem diminuído, e por via de consequência os custos sociais
decorrentes dos acidentes de trabalho só aumentam, tendo como reflexo disso uma
grande parte da população está ficando inativa por invalidez, parcial ou total, temporária
ou permanente.
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as%20condi%C3%A7%C3%B5es%20para,correspondentes%20e%20d%C3%A1%20outras%20prov
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RESUMO: Este artigo tem como objetivo principal abordar o tema da violência doméstica
e como os lares se tornaram ainda mais perigosos na pandemia. A violência doméstica
infelizmente está presente em lares do mundo inteiro, porém, no Brasil ao decorrer da
pandemia os números foram alarmantes para tamanha crueldade, tornando as vítimas cada
vez mais invisíveis, desemparadas, reféns de seus agressores, tornando impossível ir até a
delegacia efetuar o boletim de ocorrência e dessa forma, sendo privada de seu direito e
perdendo sua dignidade. Conforme pesquisa, uma em cada quatro mulheres acima dos
dezesseis anos asseguram ter sofrido algum tipo de violência, seja física, psicológica ou
sexual dentro de sua própria residência, apesar do maior número de denúncias, o aumento
da violência doméstica ainda assim foge das estatísticas dos órgãos de segurança pública. É
importante trazer essa informação para que todos tenham consciência e estejam cientes,
até mesmo, para que as outras pessoas possam ajudar essas vítimas ou, ainda, para que a
própria mulher saiba como reconhecer a violência e prosseguir para poder denunciar ou
pedir ajuda. O trabalho foi realizado por meio de pesquisas em sites, livros e revistas de
referência da área.
ABSTRACT: This article aims to address the issue of domestic violence and how homes
have become even more dangerous in the pandemic. Domestic violence is unfortunately
present in homes all over the world, however, in Brazil during the pandemic the numbers
were alarming for such cruelty, making the victims increasingly invisible, helpless, hostages
of their aggressors, making it impossible to go to the police station to carry out the police
report and thus, being deprived of their right and losing their dignity. According to a survey,
one in four women over the age of sixteen claim to have suffered some type of violence,
whether physical, psychological or sexual within their own home, despite the greater
number of complaints, the increase in domestic violence still escapes the statistics of the
public security agencies. It is important to bring this information so that everyone is aware,
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and even so that other people can help these victims, or so that the woman herself knows
how to proceed in order to report or ask for help. The work was carried out through
research on websites, books and reference magazine in the area.
1 INTRODUÇÃO
Boletim Conteúdo Jurídico v. 1111 de 03/09/2022 (ano XIV) ISSN - 1984-0454
As medidas que necessitaram ser adotadas com urgência impostas pela pandemia
do novo coronavírus (COVID-19), mudou consideravelmente a vida de todos os indivíduos,
principalmente a das mulheres, infelozmente, de uma forma totalmente negativa. O
isolamento social no Brasil, nos trouxe vários problemas, entre eles, o aumento da violência
doméstica, o que pôde ser notado ainda nas primeiras semanas de quarentena. Mesmo
antes da pandemia que vivenciamos, a violência doméstica sempre foi algo recorrente e
preocupante, com esse fenômeno só se agravou algo que, em nossa realidade, é algo que
não há como ser controlado.
No Brasil, calculasse que cinco mulheres são brutalmente espancadas a cada dois
minutos e os responsáveis por isso são seus companheiros, sejam eles maridos, namorados
ou ex-companheiros que se revoltam com o fim do relacionamento extremamente abusivo,
onde tratam mulheres como posse. A recorrência, no entanto não pode ser apenas
restringida à relações amorosas, é no geral: a relação íntima de afeto prevista na Lei Maria
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Mesmo com todos os dados alarmantes, muitas das vezes, essa violência não é
devidamente reconhecida e não se dá a importância que o assunto realmente deve ter, uma
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Violência Sexual: obriga-la a ter relações sexuais quando não quer ou quando
estiver dormindo, inconsciente ou sem condições para consentir, fazer a mulher olhar
imagens pornográficas quando ela não quer; obrigar a mulher a ter relações sexuais com
outra ou outras pessoas que ela claramente não se sente confortável e não quer, impedir
a mulher de prevenir a gravidez, forçá-la a engravidar ou ainda forçar o aborto quando ela
não quiser, esses atos ou tentativas de relação sexual de qualquer natureza sem o
consentimento da mulher e normalmente acontecem de maneiras violentas ou sob coação.
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Os atos são de quaisquer tipos de relação sexual até mesmo proibir a de mulher
utilizar anticoncepcionais, não utilizar contraceptivos contra a vontade dela, obrigá-la ou
impedi-la de abortar.
As medidas protetivas, criadas pela Lei Maria da Penha, podem levar ao afastamento
domiciliar, proibição de aproximação e obrigação de prestação de alimentos provisórios,
por exemplo. Tudo isso em 48 horas. É sempre necessário ter o apoio de alguém nesse
processo. Inclusive para diminuir o risco de retaliações.
Deve-se utilizar tudo que puder para provar a relação de abuso. As provas mais
comuns são: Conversas de texto com o agressor ou com qualquer outra pessoa; Fotos,
áudios ou vídeos que demonstrem a violência; Exame de corpo de delito (exame realizado
por médico que constata a origem das lesões); Depoimento da vítima: em casos de
violência doméstica, a palavra da mulher tem um peso maior; Testemunhas: qualquer
pessoa que tenha conhecimento ou tenha presenciado situações de violência pode ser útil.
Nos dias atuais, não se pode mais ir até a Delegacia de Polícia para “retirar” a denúncia,
pois o delegado não é a autoridade competente para essa desistência. Essa é uma forma
de proteger a mulher, que muitas vezes pode desistir da denúncia por medo, ou por estar
sendo ameaçada ou coagida.
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após ela sofrer agressões do seu pai na residência da família. Esse com certeza é um avanço
muito grande no poder judiciário.
Outras vítimas que acabam se tornando invisíveis quando se fala de violência contra
a mulher são aquelas que têm alguma deficiência. Segundos dados apontados, no estado
de São Paulo, houve queda de 51% nos registros de violência doméstica contra mulheres
com deficiência: foram 467 boletins de ocorrência no ano passado e 708 em 2019,
revelando mais um grande problema durante esse período (Amazônia Real, 2021).
Além do artigo no Código Penal que torna mais grave o crime cometido na frente
de descendente ou ascendente da vítima, o Projeto de Lei do Senado 195/2014 altera a Lei
Maria da Penha para obrigar a autoridade policial a colher as provas referentes à presença
de criança ou adolescente, como testemunha ou vítima, nos casos de violência doméstica
e, nesse caso, remeter os autos do inquérito policial ao juiz da infância e da juventude e ao
Conselho Tutelar.
que é o homicídio contra uma mulher porque ela é mulher, o crime em que estiver
envolvida a violência familiar e doméstica; o menosprezo e a discriminação à condição de
mulher. Isso porque 35% dos homicídios de mulheres no mundo são cometidos por seus
parceiros, segundo a Organização Mundial da Saúde.
Pode-se ressaltar que o motivo econômico nem sempre acaba sendo decisivo. Os
autores da citação abaixo concordan ser sim esta a condição favorável ao acontecimento.
E, desse modo, por todos esses motivos, esse aumento não ocorreu único e
exclusivamente no Brasil. A violência doméstica também cresceu substancialmente em
outros países que foram negativamente afetados pela pandemia. Porém, no Brasil, a
resolução de conflitos são resolvidos na grande maioria das vezes com extrema violência,
em 2020 podemos observar que a taxa média de feminicídios por 100 mil mulheres foi de
1,18. Em 2019, a taxa foi de 1,19. Conforme a análise do monitoramento, 16 estados
apresentaram taxas acima da média. Estes correspondem a 45% da população feminina
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dos estados analisados (102 milhões) e foram responsáveis por 61% das mortes ou 735
feminicídios.
Os estados que apresentaram as maiores taxas são Mato Grosso 3,56 e Roraima 2,95
– ambos com o triplo da média dos 24 estados e do Distrito Federal). Na contramão, 11
estados apresentaram taxas abaixo da média: Ceará (0,57), Rio Grande do Norte (0,64) e
São Paulo (0,74). Durante o corrente ano de 2020, menos de 3% do orçamento que seria
usado para iniciativas para mulheres pelo Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos
foi, de fato, gasto, conforme levantamento de Gênero e Número. Isso se reflete na
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O ciclo da violência foi um termo criado em 1979 por Lenore Walker, psicóloga norte-
americana, onde ela descreve em fases como é esse ciclo repetitivo para que melhor se
possa identificar, começando pela primeira fase que onde começa a gerar uma certa
tensão, com atritos onde o agressor fica tenso e visivelmente irritado por qualquer motivo
ou sem motivos, tendo crises de raiva sem explicações, destruindo objetos da vítima ou
humilhando a mesma.
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Esses conflitos da relação tomam uma proporção de tensão muito grande e causam
insegurança onde a mulher é responsabilizada pelo que acontece de desequilíbrio em sua
relação, onde ela se sente culpada e ela fica sempre em alerta adotando medidas de não
provocação, controlando- se com todos que estão próximos, justificando as agressões
porque o agressor não está bem, quando está relação está assim os sentimentos causados
nas vítimas são tristeza, desencadeia ansiedade, angústia, desilusão e o medo,
principalmente.
Na terceira e última fase, que é chamada como “lua de mel”, é aquela caracterizada
pelo suposto arrependimento do infrator, onde ele se torna uma pessoa amável para que
ele consiga ter a reconciliação com a vítima, onde ele faz promessas de mudanças e
consegue sustentar essa fase por um tempo, até ganhar a confiança de sua parceira
novamente, a partir daqui a companheira já tem a dependência emocional e o abusador
se aproveita fielmente disso, é quando voltamos para a primeira fase.
É importante estar constantemente alerta desde o primeiro sinal de abuso que pode
vir a se tornar algo extremamente violento e se tornar um ciclo contínuo e vicioso, onde se
tornarámuito difícil sair ou terminar o relacionamento, podendo durar anos e desobedecer
às ordens das fases, é preocupante pois é dessa forma que ocorre a grande maioria dos
casos de feminicídio.
As mulheres vítimas têm suas vidas completamente mudadas de uma forma muito
negativa, onde a insegurança é frequente, a vergonha e o constrangimento são
sentimentos que a vitima carrega, e é justamente esses sentimentos que fazem a mulher
não ir procurar ajuda imediata que necessita, a dependência seja ela emocional ou
financeira ou ainda mesmo pelo amor aos próprios filhos, faz com que adiem essas
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denúncias. Saber reconhecer todos esses sinais e essas várias formas de violência é
relevante para que possam ir atrás de seus direitos, efetuar denúncias, poder ter sua
dignidade de volta e viver em segurança.
5 CONCLUSÃO
Para que seja possível o enfrentamento contra essa conduta é distinguir que o real
problema é muito mais complexo e precisa de diferentes atuações, principalmente em
nossa sociedade, que são as principais pessoas que podem ajudar na solução. Para que
esse ciclo de violência contra a mulher seja quebrado, precisa-se que além da divulgação
de canais de denúncia, conhecimento de seus direitos, conhecimento que estão amparadas
pela Lei.
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A Integração de serviços essenciais também é algo que precisa ser incluído nessa
solução, o que já está bem próximo da realidade como foi citado acima com mulheres
pedindo socorro em drogarias e farmácias usando o “X” vermelho desenhado na palma de
sua mão, mas que esse pedido de ajuda também possa ser feito em outros
estabelecimentos e a sociedade possa dar devida atenção para um assunto tão sério e que
possa ter empatia com essas vítimas de abuso. O fornecimento de abrigos para que as
mulheres prejudicadas tenham um lugar para que possam ficar até que possam se
estabilizar, a criação de abrigos para mulheres e seus filhos que sofrem violência em casa
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era a proposta de combate à violência contra a mulher mais importante que os governos
poderiam fazer, onde também possam fornecer ajuda psicológica pois quando saem de
um relacionamento conturbado onde sofrem todos os tipos de violência, estão em
constante sofrimento psicológico, se sentem culpadas e sozinhas.
A empatia é o que revolucionará esta questão, muitas vezes algumas pessoas tem o
poder de ajudar aquelas que estão necessitam de cuidados, mas não tomam algum tipo
de atitude por receio ou por acreditar que não é um problema dela, quando deveria abraçar
e cuidar da dor do seu semelhante. Conforme tudo que foi citado acima, o probelma é de
toda uma sociedade, desde as mulheres vítimas de violência, até as próprias crianças e
adolescentes que presenciam esses fatores e mais tarde, quando mais velhos venham
reproduzir essa violência também. Ao que tudo indica, a sociedade está caminhando para
um modelo de intervenção do problema da violência doméstica que não se distancia da
utilização do Direito penal, mas que exige a interferência de outros setores para a resolução
do problema, precisa- se de mais investimento em políticas públicas que aprimorem as
práticas de acolhimento.
Por fim, não há como fugir ou fechar os olhos para isso, os operadores do direito
e aqueles que representam as pessoas de nossa sociedade deveriam estar mais
empenhados em mudar a situação desse cenário, que as mulheres estão sendo
assassinadas todos os dias é o um fato. Os responsáveis sejam pelas Leis do nosso país,
pela fiscalização ou por políticas públicas tem a obrigação de lutarem por aqueles que mais
necessitam de socorro, onde possam elaborar medidas que supram a necessidade de
combate contra a violência doméstica e familiar. Essa maior vulnerabilidade das vítimas na
pandemia acaba causando uma dependência muito maior, que os órgãos públicos possam
enxergar isso com maior cautela porque a consequência dessa falta de responsabilidade é
o maior causador de mortes e abusos.
A visão adotada para soluções dessa catástrofe frequente, com o número de mortes
e abusos aumentando deve ser enxergada de uma forma mais ampla e moderna, com
campanhas e propagandas não apenas contra as várias formas de violência mas que
também possam realizar estímulo ao empoderamento econômico e ao empreendedorismo
femininos, há mulheres que vivem em situações tão precárias que não acreditam que
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podem conseguir sua independência financeira sozinha e o seu abusador faz com que ela
acredite que não é capaz de ser uma mulher emponderada, que faz com que ela sinta
medo de sua própria liberdade, precisa estimular cada vez mais essa independência
feminina, onde ela possa ser a protagonista da sua própria vida e não apenas uma
coadjuvante.
REFERÊNCIAS
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PAULO, Paula Paiva. Uma em cada quatro mulheres foi vítima de algum tipo de
violência na pandemia no Brasil, aponta pesquisa. G1 SP, 2021.
Disponível em <https://g1.globo.com/sp/sao- paulo/noticia/2021/06/07/1-em-cada-4-
mulheres-foi-vitima-de-algum-tipo-de-violencia-na- pandemia-no-brasil-diz-
datafolha.ghtml>. Acesso em: 10, ago, 2022.
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RESUMO: O presente artigo analisa e discute a respeito dos crimes virtuais, abordando a
contextualização, conceituação e a atual legislação dos chamados cybercrimes e destaca
as problemáticas enfrentadas pela polícia e o pelo judiciário no que tange a investigação
e a punição dos criminosos, tentando esclarecer a sensação de impunidade que os
cidadãos sentem com a crescente onda dos crimes virtuais em todo o Brasil. Pretende-se
encontrar uma solução a partir de uma análise legislativa, doutrinária para que se possa
preencher as lacunas e planejar novos métodos para prevenção e punição com o intuito
de coibir a prática desses atos ilícitos, procurando sempre resguardar os princípios
constitucionais e a legislação penal e processual penal.
ABSTRACT: This article analyzes and discusses about virtual crimes, addressing the
contextualization, conceptualization and current legislation of the so-called cybercrimes
and highlights the problems faced by the police and the judiciary regarding the
investigation and punishment of criminals, trying to clarify the feeling of impunity that
citizens feel with the growing wave of cyber crimes across Brazil. It is intended to find a
solution from a legislative, doctrinal analysis so that we can fill the gaps and plan new
methods for prevention and punishment in order to curb the practice of these illicit acts,
always seeking to protect the constitutional principles and criminal legislation. and criminal
procedure.
INTRODUÇÃO
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anonimato e a sua falsa sensação de impunidade. Para tanto faz-se necessária a difícil
conceituação dos chamados crimes cibernéticos, a definição de sua autoria, bem como a
legislação até então existente.
Desta forma, havendo uma grande expansão dos meios eletrônicos e com
evolução do uso da internet, é cada mais frequente a prática de ilícitos com a finalidade de
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causar danos aos bens jurídicos de outrem. Para tanto, os agentes se valem de todos os
recursos e meios possíveis que a web proporciona para cometerem este tipo de delitos.
Embora nos últimos anos o Congresso Nacional tenha editado importantes leis
que tratam dos chamados cybercrimes, o ordenamento jurídico brasileiro ainda se
surpreende com situações para as quais não há precedentes, havendo diversas lacunas que
ainda não foram sanadas pelo legislador.
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Além desta também se pode destacar as alterações no ECA (Lei 8.069/90), a Lei
de Software (Lei antipirataria nº 9.609/98), a Lei de Racismo (Lei nº 7.716/89) e a Lei de
Segurança Nacional (Lei nº 7.170/83), compondo o conjunto das normas mais relevantes
aplicáveis aos cybercrimes.
uso da internet no Brasil, e que apesar de estabelecer sanções para alguma de suas normas,
não prevê qualquer tipo de infração cibernética.
Sob este viés, pode-se dizer que há no Brasil uma carência de legislação
pertinente, uma vez que o conjunto de normas brasileiras não acompanha as necessidades
sociais, levando a sensação de insegurança nos meios virtuais.
A Lei de Segurança Nacional (Lei nº 7.170/83), é outra norma que prevê alguns
crimes cibernético, porém, relaciona-se apenas aos crimes contra a segurança nacional, a
Devido aos crimes virtuais possuírem uma vasta amplitude, tanto no que tange
ao seu conceito, como no que tange nas diversas áreas do direito material que pode atingir,
em sendo ainda, um fenômeno relativamente novo para o judiciário, em que ainda não se
possui legislação própria e concisa, diversas problemáticas são enfrentadas para a punição
dos ilícitos virtuais.
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quando houver certeza da autoria e materialidade do crime, ou seja, de sua prática por
determinado infrator ou ao menos a existência de fortes indícios de sua prática.
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No que diz respeito a jurisdição aplicável, PINHEIRO (2006, s/p) aduz que:
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Capez (2011) entende que sobre o crime a distância, ou seja, nos casos em que
o crime se dá em um país e o resultado em outro, aplica-se a teoria da ubiquidade, e os
no caso, os dois países seriam competentes para julgar o delito.
Apesar disso, ainda não existe uma definição concreta acerca da execução do
crime no ambiente virtual. Por se tratar de um ambiente relativamente novo, o cybercrime
ainda não possui conceituações claras, o que leva a uma insegurança jurídica e a uma
sensação de impunidade do criminoso.
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CONCLUSÃO
Nesta era global que leva à constante falta de segurança que a rede possui para
os usuários, o crime cibernético, que se tornou um problema, frisa-se, não só do Brasil, mas
do mundo todo, deve ser visto como uma das lacunas da lei que merece prioridade por
parte dos legisladores e dos operadores do direito, uma vez que a sua crescente ocorrência
tem levado a sensação de impunidade dos infratores, deixando as vítimas sem amparo
judicial.
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de tais delitos virtuais. Deve haver mais investimentos no que tange ao preparo tanto da
população como de profissionais especializados para que se possa prevenir determinada
condutas, bem como para que se possa gerar novos meios de investigação e assim levar a
punição do criminoso.
REFERÊNCIAS
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. 17. ed. São Paulo: Sairava, 2017.
CASSANTINI, Moisés de Oliveira. Crimes virtuais, vítimas reais. Rio de Janeiro: Brasport,
2016.
DELMANTO, Celso et al. Código Penal Comentado. 6 ed. atual. e amp. Rio de Janeiro:
Renovar, 2002.
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FERREIRA, Ivette Senise. Direito & Internet: Aspectos Jurídicos Relevantes. 2 ed. São
Paulo: Quartier Latin, 2005.
MIRABETE. Julio Fabbrini. Manual do Direito Penal. 22. Ed. São Paulo: Atlas, 2005.
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(orientadora)
RESUMO: O presente artigo tem por objetivo analisar como o entendimento firmado pelo
Tribunal Regional Federal da 3ª Região, nos autos do Incidente de Resolução de Demandas
Repetitivas nº 0017610-97.2016.4.03.0000, acerca do cabimento do Incidente de
Desconsideração da Personalidade Jurídica em execuções fiscais, contribui para a
efetivação do princípio da busca da verdade material e, consequentemente, dos princípios
constitucionais do devido processo legal, ampla defesa e contraditório. Começaremos pelo
conceito de verdade, do princípio da busca da verdade material e sua aplicabilidade em
processo judicial tributário. Seguiremos ao estudo da natureza jurídica do IDPJ, do
redirecionamento fiscal, da cognição judicial realizada nos dois institutos e dos motivos
que levaram o TRF3 a entender pelo cabimento do IDPJ às execuções fiscais. Finalizaremos
analisando os benefícios que o referido incidente proporciona, tornando o feito executivo
mais justo e em consonância com as garantias fundamentais.
ABSTRACT: This article aims to analyze how the understanding signed by the Federal
Regional Court of the 3rd Region, in the records of the Incident of Repetitive Demands
Resolution nº 0017610-97.2016.4.03.0000, about the relevance of the Incidente of
Disregarding Legal Entity in fiscal executions, contributes to the realization of search for
material truth principle and, consequently, of due process of law, full defense and
contradictory constitucional principles. We will start with the concept of truth, of the search
for material truth principle and its applicability in tax court proceedings. We will proceed
to the study of IDPJ’s legal nature, tax redirection, the judicial cognition carried out in the
113 Doutora em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Mestre em Direito
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Diretora-Adjunta do Curso de Graduação da
Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Advogada.
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two institutes and the reasons that led the TRF3 to understand for the IDPJ's suitability for
tax executions. We will end by analyzing the benefits that the aforementioned incident
provides, making the executive act fairer and in line with the fundamental guarantees.
Key-words: Material truth. Tax executions. Disregarding legal entity. Tax redirection.
Judicial cognition. Fundamental guarantees.
INTRODUÇÃO
Não obstante, não se pode negar que o entendimento firmado pelo TRF3 implica
em importante e significativo avanço na maneira como deve ser tratada a cognição judicial
em execuções fiscais, bem como a satisfação do crédito tributário pelo verdadeiro agente
que praticou o fato gerador das exações.
114 Art. 135. São pessoalmente responsáveis pelos créditos correspondentes a obrigações tributárias
resultantes de atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos:
I - as pessoas referidas no artigo anterior;
II - os mandatários, prepostos e empregados;
III - os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado.
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115 WATANABE (2012, p. 46) assim leciona: “Sob o critério da cognição, mais coerente seria a classificação,
numa primeira e mais ampla sistematização, em ação de cognição plena, ação de cognição sumária e ação
de cognição rarefeita ou quase inocorrente”.
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1. DO CONCEITO DE VERDADE
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TOMÉ (2011, ps. 12-16) traz diversas concepções sobre a definição de verdade: a
verdade pragmática, para aquela cujo enunciado somente é verdadeiro se possuir efeitos
práticos; a verdade por consenso, segundo a qual se considera verdade o enunciado que
possuir maior credibilidade dentro de uma cultura; a verdade por coerência, que implica
ausência de enunciados contraditórios e presença de enunciados que possuam conexão
entre si; fenomenalismo, pelo qual inexistiria uma verdade absoluta, pois dependerá dos
sentidos de cada ser humano; e a verdade por correspondência, que exige a adequação, a
identidade de determinada sentença com a realidade por ela referida.
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A crítica feita pela referida autora à verdade pragmática consiste na confusão entre
os conceitos de verdade e utilidade, sendo tal posicionamento carente de cientificidade. À
verdade por consenso, consiste na sua relatividade, já que opiniões dominantes podem ser
alteradas com o passar do tempo. Quanto à verdade por correspondência e
fenomenalismo, realiza a mesma crítica: a de que os fenômenos, as coisas, apenas podem
ser cognoscíveis ao ser humano na medida em que são convertidas em linguagem
competente.
TOMÉ (2011, p. 22) adota a posição de que a verdade se dá pela relação entre as
próprias palavras, motivo pelo qual ela não é descoberta, mas sim criada pelo ser humano,
revelando-se plenamente possível que, mesmo não tendo ocorrido certo acontecimento,
seja este reconhecido pela linguagem.
O critério material, por sua vez, consiste na substância essencial, no estado de fato
descrito pela hipótese de incidência. Assim define ATALIBA (2021, p. 107): “aspecto material
é a imagem abstrata de um fato jurídico: propriedade imobiliário, patrimônio, renda,
produção, consumo de bens, prestação de serviços, ou uma atuação pública (...)”.
Logo, não é possível reputar como ocorrido um fato tão somente em virtude de
transcrição em linguagem competente, quando essa linguagem não corresponde à
realidade fenomênica. Conforme ensina GONÇALVES (2002, p. 16):
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Estado Democrático. Por isso, deve o processo judicial não apenas seguir os princípios
constitucionais processuais, como o devido processo legal e contraditório e ampla defesa,
como também perseguir a verdade.
Não obstante, quando se trata da verdade aplicada aos processos judiciais, é muito
comum, entre a doutrina, haver uma distinção entre os conceitos de verdade formal e
verdade material. Por verdade material, entende-se aquela que efetivamente ocorreu no
mundo dos fatos. Já a verdade formal seria aquela alcançada em autos processuais, por
meio da análise do conjunto probatório e em respeito aos ditames legais e constitucionais,
que dá amparo à formação de uma decisão jurídica.
É muito comum, ainda, atribuir-se a busca pela verdade material, ou seja, por
aquilo que efetivamente ocorreu no mundo dos fatos, em processos administrativos
tributários, pois o rigor das formalidades ali é muito menor, como, por exemplo, a
possibilidade do próprio contribuinte apresentar sua defesa e juntar novos documentos a
qualquer tempo, inclusive em seara recursal.
Não é apenas em virtude de haver uma legislação que disciplina, de forma mais
rigorosa, com imposição de prazos e formalidades, os atos a serem praticados em juízos,
que isso implica na existência de uma outra categoria de verdade, que não aquela que
corresponda ao que ocorreu no mundo dos fatos, menos exigente que a verdade material
(MACEI, 2012, p. 38).
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TOMÉ (2011, ps. 27 e 28), por sua vez, ao rejeitar a concepção de verdade por
correspondência, sob o fundamento de que o mundo da experiência não pode ser
integralmente descrito, defende que a verdade a ser buscada, tanto em processos judiciais
quanto administrativos, é a verdade lógica.
De acordo com o que foi abordado, conquanto seja impossível ao homem voltar
no tempo para obter o conhecimento da verdade absoluta nos casos investigados, não
podemos nos desvincular da necessidade de haver, da maneira mais próxima possível,
correspondência entre os fatos narrados em uma decisão jurídica e os eventos ocorridos.
Entretanto, não se pode negar que a verdade material buscada, por meio das
provas a serem produzidas em autos processuais, também pode ser considerada uma
verdade lógica, justamente em virtude da ausência de contradição entre os enunciados a
serem pronunciados pela autoridade judicial competente e os eventos ocorridos na
realidade.
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Logo, o princípio da busca da verdade material também deve ser aplicado aos
processos judiciais, não somente os administrativos, pois a existência de regramento acerca
da produção probatório não elimina o compromisso de manter fiel a linguagem
competente com os eventos do mundo real. A verdade é apenas uma, não subsistindo uma
verdade no plano normativo e outra no plano dos fatos, motivo pelo qual se destaca
importância da produção probatória para efetivação do referido princípio.
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cunho pessoal e utilização de imóveis em nome da pessoa jurídica para proveitos de lazer
pessoal.
Dispõe seu parágrafo único, por sua vez, que referida autonomia é instrumento
lícito de alocação e segregação de riscos, estabelecido pela lei com a finalidade de
estimular empreendimentos, para a geração de empregos, tributo, renda e inovação em
benefício de todos.
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observação dos requisitos exigidos pela lei, implica em verdadeiro desestímulo à iniciativa
privada, principal geradora de empregos e renda para população e, também, principal alvo
da tributação brasileira.
Já a nova redação dada ao art. 50 começa em seu caput, dispondo que a extensão
dos efeitos de certas e determinadas relações de obrigações serão estendidos aos bens
particulares, não apenas dos administradores ou sócios da pessoa jurídica, mas dos
administradores ou sócios que foram beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso da
personalidade jurídica.
Desta forma, depreende-se que o Novo Código de Processo Civil foi cuidadoso ao
tratar do instituto da desconsideração da personalidade jurídica, com a devida razão, em
116 Art. 50, § 1º Para o disposto neste artigo, desvio de finalidade é a utilização da pessoa jurídica com o
propósito de lesar credores e para a prática de atos ilícitos de qualquer natureza.
117 Art. 50, § 2º Entende-se por confusão patrimonial a ausência de separação de fato entre os patrimônios,
caracterizada por:
I - cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do administrador ou vice-versa;
II - transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto os de valor
proporcionalmente insignificante; e
III - outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial
118 Art. 50, § 4º A mera existência de grupo econômico sem a presença dos requisitos de que trata
o caput deste artigo não autoriza a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica.
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razão das consequências patrimoniais danosas que sua aplicação de maneira indistinta
pode causar não somente aos sócios e administradores, mas à sociedade como um todo,
desincentivando a iniciativa privada, geradora de empregos e renda à população brasileira.
O art. 135, inc. III, do CTN, estabelece a responsabilidade pessoal dos diretores,
gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado pelos créditos
correspondentes a obrigações tributárias resultantes de atos praticados com excesso de
poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos.
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praticantes de ato ilícito, motivo pelo qual não faz sentido manter a pessoa jurídica no polo
passivo, já que não cometeu infração alguma (LIMA, 2018, p. 81).
Ao contrário do que ocorre com o IDPJ, não há citação dos indicados pela
exequente para apresentação de defesa antes da apreciação do pedido. Desta forma, os
diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado são desde
logo incluídos no polo passivo da demanda.
Destaca-se que, para a oposição de embargos à execução em feito fiscal, o ar. 16,
§ 1º, da LEF, é expresso ao exigir a garantia da execução. No entanto, com o advento do
NCPC, que estabelece, em seu art. 914, que referida modalidade de defesa é oponível
independentemente de penhora, caução ou depósito, passou a haver uma flexibilização da
regra contida na Lei nº 6.830/80. Tornou-se admissível a oposição de embargos à execução
119 Art. 124. São solidariamente obrigadas: I – as pessoas que tenham interesse comum na situação que
constitua o fato gerador da obrigação principal.
120 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Agravo Interno no Recurso Especial nº 1.832.514/PE, Processo
2019/0051039-6, Relator: Ministro Benedito Gonçalves. Julgamento: 16 de novembro de 2021. Órgão
Julgador: Primeira Turma. Publicação: DJe 18 de novembro de 2021.
121 _______. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1.273.396/DF, Processo 2011/0200989-7,
Relator: Napoleão Nunes Maia Filho. Julgamento: 05 de dezembro de 2019. Órgão Julgador: Primeira Turma.
Publicação: DJe 12 de dezembro de 2019.
144
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fiscal quando a garantia não for suficiente, cujo processamento será desprovido de efeito
suspensivo122.
122 _______. Superior Tribunal de Justiça. Agravo Interno no Recurso Especial nº 1.699.802/RJ, Processo
2017/0248606-5, Relator: Ministro Benedito Gonçalves. Julgamento: 21 de março de 2019. Órgão Julgador:
Primeira Turma. Publicação: DJe 26 de março de 2019.
145
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O IDPJ, por sua vez, pode ser instaurado tanto em processo de conhecimento
como em cumprimento de sentença ou execução fundada em título executivo extrajudicial,
tanto em petição inicial quanto em caráter incidente, sendo que, nesta última hipótese,
ocorrerá a suspensão do processo principal, independentemente de garantia.
A cognição, de acordo com WATANABE (2012, ps. 118 e 119), pode ser considerada
no plano vertical e horizontal. A cognição horizontal diz respeito a quantas questões, sejam
processuais ou de mérito, são tratadas em uma determinada decisão. Pode ser plena,
quando o juiz analisar a todas, ou parcial, quando analisar apenas parte delas. A cognição
vertical, por sua vez, diz respeito à profundidade da análise, podendo ser exauriente
(completa) ou sumária (incompleta).
146
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Por isso, questiona-se qual o tipo de cognição realizada pelo juiz, quando do
deferimento do redirecionamento fiscal baseado tão somente nas alegações da Fazenda
Nacional, com fundamento no art. 135, inc. III, do CTN, que prevê a prática de atos graves,
como infração à lei, contrato social.
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redirecionamento da execução fiscal e o IDPJ, consiste na hipótese prevista no art. 135, inc.
III, do CTN. Atos praticados com excesso de poderes, infração à lei, contrato social ou
estatuto possuem íntima ligação com abuso da personalidade jurídica, desvio de finalidade
e confusão patrimonial.
Desta forma, justamente por ser o IDPJ um procedimento mais lento que o pedido
de redirecionamento, a Fazenda Nacional nunca iria proceder à instauração do referido
incidente em execuções fiscais, quando possui outro instrumento mais célere à sua
disposição. Todos os atos com aparência de ilícitos poderiam ser encaixados no
redirecionamento com fulcro no dispositivo anteriormente citado.
Ainda, tal fundamento não se sustenta quando se observa que a nova redação do
art. 50, do Código Civil, estabelece que a desconsideração da personalidade jurídica apenas
atingirá os sócios que agiram com abuso da personalidade jurídica, e não todos, podendo
ser tanto um sócio comum ou um sócio com poderes de administração.
148
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Referido desembargador iniciou o seu voto explicando que a tese proposta pelo
relator deixaria em aberto diversos pontos atinentes ao redirecionamento fiscal, além de
não se enquadrar à legislação atual, não somente com relação ao CPC/15, mas também
com relação à Lei nº 13.874/19, denominada Declaração de Direitos da Liberdade
Econômica.
Ressaltou ser dever do Fisco lançar o tributo com indicação das pessoas jurídicas
que estejam vinculadas ao fato gerador, e não redirecionar a cobrança para pessoa jurídica
estranha ao fato, ainda que integrante do mesmo grupo econômico. O interesse comum
se dá quando os sujeitos, conjuntamente, fazem parte da situação que permite a ocorrência
do fato imponível. A responsabilidade solidária, prevista no inc. II, também não pode estar
desvinculada à ocorrência do fato gerador.
123 Art. 1, § 3º: O disposto neste Capítulo e nos Capítulos II e III desta Lei não se aplica ao direito tributário
e ao direito financeiro, ressalvado o disposto no inciso X do caput do art. 3º desta Lei (grifo no original).
124 Art. 4º, § 2º À Dívida Ativa da Fazenda Pública, de qualquer natureza, aplicam-se as normas relativas à
responsabilidade prevista na legislação tributária, civil e comercial.
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Deste modo, segundo o desembargador, para que terceiro não indicado na CDA
seja incluído no polo passivo da execução fiscal, seja em virtude de interesse comum ou
por atos contrários à lei ou contrato social, deve ser instaurado o contraditório por meio
do IDPJ.
Destacou, inclusive, que ainda que se entenda por suposta incompatibilidade entre
os procedimentos, a exceção de pré-executividade a ser oferecida pelos responsáveis
deverá possuir novos contornos e amplitude temática e ritualística, ou seja, deverá abarcar
Boletim Conteúdo Jurídico v. 1111 de 03/09/2022 (ano XIV) ISSN - 1984-0454
Veio o desembargador Fabio Prieto a proferir o seu voto, no sentido de que o IDPJ
seria cabível a todas as hipóteses de redirecionamento fiscal, tendo como pressupostos a
proteção constitucional à livre iniciativa e ao desenvolvimento nacional, fazendo parte de
suas razões o argumento de que “o arbítrio fazendário e judicial causa mal imenso ao País”.
150
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O princípio do devido processo legal, previsto no art. 5º, inc. LIV, da Constituição
Federal, revela-se na previsão em lei dos atos a serem adotados na instauração e
procedimento tanto de processo administrativo quanto judicial. Esses atos asseguram às
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Não obstante, conquanto seja reconhecido o cuidado que deve se ter na aplicação
da desconsideração da personalidade jurídica, revelando-se indispensável a instauração do
contraditório e ampla defesa, o mesmo cuidado não se dá na aplicação do
redirecionamento fiscal com fundamento no art. 135, inc. III, do CTN.
Ademais, tendo em vista que o art. 135, inc. III, do CTN, converge absolutamente
com as hipóteses de desconsideração da personalidade jurídica, a cognição judicial a ser
realizada deve ser a mesma, pois revela-se imperiosa a dilação probatória para apuração
da prática de atos tão graves como aqueles previstos tanto no CTN como no CPC.
152
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8.CONCLUSÃO
diante de acusações tão graves e, por isso, incompatível com a medida judicial concedida,
a qual exige uma atividade probatória mais intensa.
Isso porque, se o princípio da busca da verdade material também deve ser aplicado
nos processos judiciais, a cognição a ser realizada na hipótese de abuso de personalidade
jurídica e atos contrários à lei, ao contrato social e ao estatuto deve ser a mesma, por se
tratarem de hipóteses intrínsecas. Em ambas hipóteses deve se proceder ao contraditório,
ampla defesa e instrução probatória, antes de proferida qualquer decisão que venha a
atingir o patrimônio de terceiro.
154
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BIBLIOGRAFIA
ATALIBA, Geraldo. Hipótese de Incidência Tributária. 6ª Ed. São Paulo: Malheiros, 2021.
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Malheiros, 2019.
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Grandes Temas do Novo CPC - Direito Probatório, Vol. 5, 3ª Ed., São Paulo: Jus Podivm,
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2011.
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Teoria Geral do Direito
Processual Civil e Processo de Conhecimento, Vol. 1. 53ª Ed., Rio de Janeiro: Forense, 2012.
WATANABE, Kazuo. Cognição no Processo Civil. 4ª Ed., São Paulo: Saraiva, 2012.
156
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ABSTRACT: Alternative means of conflict resolution have gained important space in the
legal landscape in recent years. Looking for of human beings for a faster resolution and
the complaints in relation to the judicial processes explain a particular caution in the
matter. It is also clear that the Brazilian Judiciary has been struggling with a high number
of pending issues that are growing excessively. A presumptive change in the conduct of
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citizens, who by nature aspire to have a more litigious attitude, can collaborate with the
State in the judgment of cases that truly deserve state intervention. The present work
analyzes the alternative forms of conflict resolution, namely conciliation, mediation,
negotiation and arbitration, conceptualizing each one of them, approaching their
techniques, characteristics and applicability. It analyzes the alternative form of conflict
resolution, bringing a brief history and other relevant points on the raised theme.
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INTRODUÇÃO
As ações voltadas para a defesa dos consumidores em todo o mundo têm origem
em marcos passados historicamente importantes. Esse marco aconteceu no Brasil, com a
inclusão do tema na Carta Magna de 1988, instituindo a defesa jurídica dos consumidores
como sendo um direito indispensável do ser humano. Posteriormente, Código de Defesa
do Consumidor que foi criado em 1990 o (CDC), regimentando a proteção das relações
de consumo.
Nos dias atuais, o consumidor é um sujeito ativo nas ações consumidoras, buscando
cada vez mais os subsídios e sem aceitar com displicência as imposições que lhe possam
prejudicar. Nesse panorama de consternação, surgem uma imensa gama de processos que
se acumulam desordenadamente no judiciário, permanecendo por anos afim de que sejam
desenvoltos e resolvidos.
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No mesmo sentido, afirmam Cintra, et al.,(2010, p. 26) que conflito é uma palavra
que se caracteriza em ocasiões em que um indivíduo, querendo adquirir para si um
certo bem, não pode consegui-lo seja porque a pessoa que poderia possibilitar a posse
não o faz ou porque o próprio direito torna proibida a intensão voluntária da pretensão.
De acordo Sales et al., (2009, p. 75) o conflito é analisado como algo apropriado do
dia-dia, intrínseco ao incremento das relações. Nesse contexto, a acepção de conflito
empenha-se em romper com a resistência do elemento oposto para controlá-la e, deste
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modo, estabelecer o recurso, entretanto, a parte contrária pode protestar diante do desafio
de forma prosaica ou impresumível, conforme os denodos culturais do contexto social dos
abarcados.
tornando difícil a concepção real do problema, por sua vez, quando existe probabilidade
de entender o conflito de uma forma positiva as duas partes podem se beneficiar.
Neste aspecto, na busca pela solução de conflitos, a tutela jurisdicional tem cedido
lugar, ainda muito gradativamente, a conciliação, a mediação, a negociação ea arbitragem
extrajudicial, consideradas alternativas menos formais, mais céleres, menos onerosas e, por
vezes, mais eficazes do que a via tradicional do processo.
2.1 A conciliação
160
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Com a perspectiva da mudança no judiciário, bem como das formas que serão
tratados os conflitos de acordo com o novo Código de Processo Civil, a mediação é uma
das técnicas que serão aplicadas para a busca da solução do conflito. Sobre ela se
debruça o tópico a seguir.
162
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2.2 A mediação
163
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técnicas de facilitação, para que haja comunicação entre as partes, “estabeleceo contexto
do conflito existente, mediante técnicas da psicologia e do serviço social, identifica
necessidades e interesses, objetivando produzir decisões consensuais, com ajuda do
direito”. (SPENGLER, 2012, p. 136). Segundo Almeida (2003, p. 193), na mediação há duas
modalidade básicas a serem observadas:
164
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Para que a medição tenha o resultado esperado é preciso que o mediador possua
habilidades autocompositivas, para isso, ele deve buscar conhecimentos específicos,
rápida e precisa buscou-se uma forma mais simples e objetiva de se chegar a uma
acordo, através do método de negociação, tratada no próximo item.
2.3 A negociação
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perguntas para levantar informações úteis para uma adequada elaboração do plano da
negociação conduzida.
167
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a) Distanciamento emocional;
2.4 A arbitragem
168
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constitutiva.
170
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Uma vez proferida a sentença arbitral, pelo juízo arbitral, de acordo com o
CONCLUSÃO
Nos dias atuais, vivemos em uma sociedade de consumo, pois a oferta por
produtos e serviços disponíveis no mercado, a publicidade empregada como forma de
despertar a vontade de consumir e a facilitação do crédito acaba por gerar uma procura
imensa pela satisfação de adquirir produtos e serviços, que na maioria das vezes não
são de necessidade do consumidor. Como o consumidor é considerado a parte
vulnerável da relação de consumo, acaba caindo na tentação das condições domercado.
Considerando que na atualidade a busca pela solução dos conflitos gerados, tem
aumentado de forma acelerada, e a procura da solução pela via jurisdicional temsido
demorada, devido ao grande número de processos existentes no judiciário, é que se
procurou por formas alternativas de resolução de conflitos através da conciliação,
mediação, negociação e arbitragem. Esses métodos alternativos são menos formais,com
isso, proporcionam uma rapidez na solução e satisfação do litigio, são menos onerosos
e na maioria das vezes mais eficazes que o processo tradicional. Possibilitao diálogo
entre as partes interessadas para se construir uma acordo de forma pacífica,para isso, são
utilizadas técnicas auto compositivas para cada tipo de conflito apresentado.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Fábio Portela Lopes de. A teoria dos jogos: uma fundamentação teórica dos
métodos de resolução de disputa. In: AZEVEDO, André Gomma de (Org.). Estudos em
arbitragem, mediação e negociação. Brasília: Editora Grupo de Pesquisas, 2003. P. 175-
199.
MIRAGEM, Bruno. Curso de direito do consumidor. 4. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2013.
172
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RIBEIRO, Rochelle Pastana. A utilização de algoritmos para uma negociação mais justa e
sem ressentimentos – uma análise da obra de Brams e Taylor. In: AZEVEDO, André
Gomma de (Org.). Estudos em arbitragem, mediação e negociação. Brasília: Editora
Grupo de Pesquisas, 2003. P. 381-395.
Acesso em 24/03/2022.
SILVA, Marco Antônio Marques da. Juizados especiais criminais. São Paulo: Saraiva,
1999.
SILVA, Ovídio de Araújo Baptista da. Curso de Processo Civil. V. 1. 4. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2008.
SPENGLER, Fabiana Marion; MORAIS, José Luis Bolzan de. Mediação e arbitragem. Porto
Alegre: Livraria do advogado, 2012.
173
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1. INTRODUÇÃO
A violência é uma das ações que mais denigre o ser humano. É o ato que traz
prejuízos (muitos deles insuperáveis e permanentes) de toda ordem para o indivíduo,
afetando diretamente o principal princípio da Constituição Federal de 1988: o da Dignidade
da Pessoa Humana. Por essa razão, entre os vários tipos de violência existente, para fins
A violência obstétrica perpassa por três momentos distintos de uma gestação: o pré-
parto; o parto e o pós-parto. Por se tratar de uma violência contra a mulher, é a gestante
a principal vítima desse ato. Assim, ela é fundamental nesse cenário, uma vez que possui o
poder decisório no decorrer desses momentos (AZEVEDO, 2017).
175
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Frente a esse cenário, nasce algumas questões aos quais ainda precisam ser
debatidas. Dentre as mais notórias, encontra-se: Como se dá a configuração da violência
obstétrica? e; qual a penalidade para aqueles que cometem a violência obstétrica?
Boletim Conteúdo Jurídico v. 1111 de 03/09/2022 (ano XIV) ISSN - 1984-0454
Por meio dessas questões acima apresentadas, o presente estudo teve como
finalidade discorrer a respeito da violência obstétrica no Brasil. Para além de conceituar e
estabelecer as principais características desse ato, buscou-se analisar a criminalização (ou
não) dessa violência na legislação penalista brasileira.
176
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Apesar disso, como bem acentua Lansky et al. (2019) esse método que tinha a
alcunha de “parto indolor”, nada mais era do que um mito, uma vez que mesmo que as
Ainda sobre esse cenário Tesser et al. (2015) descrevem que as mulheres, em sua
grande maioria, se debatiam e se machucavam, além de gritarem, o que era imediatamente
repreendido pelos profissionais ali presentes, que às prendiam em suas camas, para que
não caíssem no chão. No período em que tivessem que estar nas camas, eram amarradas
sem qualquer conforto ou segurança. Seus bebês eram retirados à força através do uso
irrestrito de fórceps.
Diante desses fatos, houve já naquele período, uma enorme repercussão nos
Estados Unidos. Com a publicação da matéria jornalística, muitas mulheres americanas
começaram a compartilhar depoimentos semelhantes aos expostos na reportagem. Isso
acabou por impulsionar mudanças importantes na maneira como a assistência médica era
realizada com as parturientes (TESSER et al. 2015).
Tais movimentos foram o ponto inicial para que a discussão acerca desse tipo de
violência começasse a ser debatido pela sociedade e pela comunidade médica. O termo
violência obstétrica, criado pelo Dr. Rogelio Pérez D’ Gregório, presidente da Sociedade de
Obstetrícia de Ginecologia da Venezuela, vem do conceito de disrespect and abuse during
childbirth, e se tornou a base internacional para estabelecer o que seja esse tipo de
agressão (FIORETTI, 2014).
Esse tema foi reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2014,
como uma questão de saúde pública que atinge diretamente as mulheres e seus bebês125.
puerpério. Aqui há a existência de atos agressivos que gerem dor, dano ou sofrimento
desnecessário à mulher. Em grande parte dos casos, esses atos ocorrem sem a sua
anuência, desrespeitando a sua autonomia, escolhas e preferências (PAES, 2019).
Azevedo (2017) em sua definição entende que a violência obstétrica é um ato (ou a
falta dele), dolosa ou culposa, que agride o aspecto físico, mental e psicológico da mulher
grávida e que ao ser exercido por profissionais da saúde, venha lhe causar danos e
prejuízos de toda forma.
Mascarenhas e Pereira (2017) por sua vez destaca que essa ação pode ser ainda vista
nos casos de aborto autorizado legalmente, quando há uma violação ao direito de
assistência médica da mulher, implicando em abuso, maus tratos ou a ausência de respeito
à autonomia feminina sobre o próprio corpo.
Além desses conceitos acima apresentados, a violência obstétrica também pode ser
encontrada em diversas situações. Como bem exemplifica Leal et al. (2018) ela é vista na
demora na assistência, na recusa de internações nos serviços de saúde, na falta de cuidado
básico, na negativa na administração de analgésicos, na prática de maus tratos físicos,
verbais e/ou psicológicos, na detenção de mulheres e seus bebês nas instituições de saúde,
entre outros.
125 Organização Mundial da Saúde (OMS). Prevenção e eliminação de abusos, desrespeito e maus-tratos
durante o parto em instituições de saúde Genebra: Departamento de Saúde Reprodutiva e Pesquisa/OMS;
2014
178
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Carneiro (2017, p. 03) descreve várias ações que podem ser interpretadas como uma
violência obstétrica; a saber:
179
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alegação de ausência de
privacidade para justificar
o desrespeito ao direito a
acompanhante.
desmoralização dos
pedidos de ajuda e
humilhações de caráter
sexual.
Frente ao exposto até aqui, nota-se que uma agressão à mulher grávida no período
gestacional é aquela que fere qualquer indício de sua dignidade, que a deixa em estado
ainda maior de vulnerabilidade e exposição a perigos além da condição ao qual se
encontra. Por essa razão, tem-se discutido formas de responsabilização dos agentes
causadores desses atos. A respeito disso, apresenta-se o tópico a seguir.
180
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Apesar de o Direito Penal não possuir uma regra específica que discorra sobre essa
prática, é possível encontrar outras normas que se enquadram na presente situação. Dessa
Do mesmo modo, o Código Civil solidificou esse entendimento, por meio do art.
186. Nesse caso, há de se falar da responsabilidade civil objetiva, que conforme explica
Schreiber (2022, p. 53) é aquela que tem como fundamento o elemento objetivo, o dano.
Para esta corrente da responsabilidade objetiva, basta apenas que exista o dano, para
surgir o dever de indenizar, dispensando a configuração de culpa por parte do agente
causador do dano, sendo necessária apenas a comprovação da autoria e do dano, para
que fique o autor da lesão abrigado a indenizar a vítima.
Com base nisso, compreende-se que os profissionais de saúde que tenham feito
algum ato de violência obstétrica podem ser responsabilizados civilmente pelos prejuízos
causados às vítimas. Para a justiça brasileira, enquadra-se essa situação em erro médico.
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Capítulo I
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
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Capítulo III
RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL
É vedado ao médico:
Capítulo IV
DIREITOS HUMANOS
É vedado ao médico
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(BRASIL, 2009)
Ao observar tal trecho acima destacado, verifica-se que o médico (assim como a sua
equipe) possui a obrigação de zelar pelos seus pacientes, seja no período anterior ou
posterior da operação médica (BRASIL, 2009).
Dentro desse cenário, também fica evidente destacar que tanto o médico e sua
equipe quanto os estabelecimentos de saúde são responsabilizados pela ocorrência de
uma violência obstétrica (SILVA; SERRA, 2017).
Soma-se a isso o texto do art. 43 do Código Civil que enfatiza que as pessoas
jurídicas de direito público interno são “civilmente responsáveis por atos de seus agentes
que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvando direito regressivo contra os
causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo” (BRASIL, 2002).
Mais especificamente na área penal, foco central dessa pesquisa, conforme já citado
anteriormente, em seu ordenamento não há um artigo ou lei que disponha sobre a
violência obstétrica. Todavia, isso não afasta a penalização criminal dos agentes causadores
da presente agressão.
Injúria: são as ofensas que a mulher grávida recebe, que tem como
efeito o desrespeito a sua dignidade. Nesse caso a pena é de 1 (um)
a 6 (seis) meses de detenção e multa.
183
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Além disso, cabe citar o aborto causado por outrem, que no caso presente se
enquadra no art. 125 do códex penal, cuja pena é de reclusão de 3 a 10 anos. Há um
aumento da pena de 1/3 se ocorrer lesão corporal grave, e em caso de morte, será
duplicada (LIMA, 2019).
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Com isso, caso seja necessário fazer a episiotomia, é preciso antes, disponibilizar
todas as informações necessárias, além da autorização da parturiente. Caso o médico
realize-o de maneira inadequada, o mesmo deve ser responsabilizado criminalmente, com
base no delito de lesão corporal (art. 129, CP). Se esse procedimento resultar na morte da
mulher ou do nascituro, este profissional responderá pelo crime de homicídio culposo, com
aumento de pena (art. 121, § 3º do CP). (CARVALHO, 2020)
Insta salientar que todo procedimento que não seja devidamente informado à
mulher grávida e posteriormente autorizado, caso haja complicações e danos, o médico
Conforme apresentado no julgado acima, ficou nítido constatar, com base nos autos
do processo, que posterior à realização do parto com o procedimento de episiotomia, o
profissional de saúde responsável se ausentou de realizar a revisão do reto, que por essa
razão acabou por gerar uma fístola, e em seguida uma infecção generalizada, que no fim
resultou em morte da mulher a 27 dias depois de realizado o parto. Dessa forma, devido
ao fato de que o médico não agiu de forma prudente e correta, foi condenado pelo crime
de homicídio culposo.
185
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Na decisão proferida, o relator deixou claro que para além do caso concreto
analisado, é de conhecimento geral que a manobra de Kristeller não tem respaldo da
maioria dos profissionais da saúde devido aos riscos que oferece, principalmente se a
técnica não for aplicada da maneira correta, tal como na hipótese vertente.
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Apesar de muito frequente encontrar julgados na área Civil para o presente tema,
notou-se durante a coleta de dados, pouco material que direcionasse essa temática na área
penal. Isso se deve pelo fato de que não há uma norma penalista mais específica que
penalize especificamente esse crime.
Esse fato ainda é uma lacuna pelo qual o Direito Penal brasileiro precisa preencher.
Ainda que, como bem mostrado no decorrer desse estudo, médicos e equipes médicas
possam ser responsabilizados criminalmente pelos danos causados às parturientes, fica
ainda nítido a sensação de maior formalização da violência obstétrica.
Apesar dessa barreira, é possível encontrar movimentos jurídicos que visem driblar
esse obstáculo. No Brasil, atualmente, já se encontra alguns Projetos de Lei que buscam
criminalizar a respectiva conduta. Para citar um exemplo, o Estado de São Paulo possui o
Projeto de Lei nº 1.130/2017 de autoria da deputada Leci Brandão, onde no seu artigo 6º,
incisos II e III, normatiza a responsabilização administrativa, civil e criminal do profissional
ou agente de saúde; do gestor de saúde, diretor clínico ou responsável pelo
estabelecimento onde o descumprimento da lei ocorreu (BRASIL, 2017).
Mesmo que seja necessária uma lei que regule mais especificamente essa violência,
188
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na doutrina jurídica brasileira esse entendimento não é uniforme. Brandão (2019) explica
que caso se crie uma norma que penalize tal conduta, pode-se correr o risco de haver uma
hipercriminalização do Direito Penal, uma vez que essa matéria já pode ser enquadrada em
diversos tipos penais (citados anteriormente).
Essa realidade é vista por Queiroz (1998 apud BRANDÃO, 2019, p. 01) como: “mais
leis, mais penas, mais policiais, mais juízes, mais prisões significa mais presos, mas não
necessariamente menos delitos”.
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XXI - tratar o pai do bebê como visita e obstar seu livre acesso para
acompanhar a parturiente e o bebê a qualquer hora do dia.
(BRASIL, 2022)
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Executivo, através da Secretaria de Estado da Saúde, tem de criar uma Cartilha dos Direitos
da Gestante e da Parturiente, onde conterá dados, informações e esclarecimentos precisos
para um atendimento hospitalar digno e humanizado, objetivando o saneamento da
violência obstétrica (BRASIL, 2022).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não existe uma lei definindo o que é violência obstétrica no Brasil e nem a sua
criminalização. No entanto, ainda, que não tenha uma legislação específica, aqueles que
praticam a violência obstétrica sofrem às responsabilidades civis e penais. Partindo da
possiblidade de responsabilizações, faz-se necessário que a violência obstétrica seja
declarada pelos agentes de Justiça e analisadas nos julgamentos.
No campo penal, área em foco nessa pesquisa, ficou evidente que atualmente, a
violência obstétrica se enquadra em alguns tipos penais existentes, tais como a injúria, os
maus-tratos, a ameaça, o constrangimento ilegal, a lesão corporal e o homicídio.
Em que pese a importância em se discutir esse tema, o que ficou claro é que
praticadas contra o gênero feminino, a violência obstétrica faz com essas pessoas sejam
vítimas de normas e rotinas rígidas e muitas vezes desnecessárias, que não respeitam os
seus corpos e os seus ritmos naturais e as impedem de exercer seu protagonismo.
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Desse modo, esse estudo entende que a precisão em estabelecer de modo geral o
que seja uma violência obstétrica, seus tipos, formas e meios de configuração, bem como
a devida penalização de seus agentes é extremamente necessária. Com a norma vigente,
pode-se vislumbrar um melhor entendimento sobre esse tema em solo nacional.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AZEVEDO, Júlio Camargo de. Precisamos falar sobre a violência obstétrica. 2017.
Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2015-mai-16/julio-azevedo-precisamos-falar-
violencia-obstetrica>. Acesso em: 02 jul. 2022.
BEZERRA, Cairo José Gama et al. Violência Obstétrica: uma dor além do parto. 2018.
Disponível em: <https://www.unibalsas.edu.br/wp-content/uploads/2017/01/TCC-CAIRO-
BEZERRA.pdf>. Acesso em: 01 jul. 2022.
BRASIL. Decreto – Lei 2.848 de 1940. Código Penal Brasileiro. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-lei/Del2848compilado.htm>. Acesso em:
27 jun. 2022.
BRASIL. Lei nº 18.322, de 05 de janeiro de 2022. Consolida as Leis que dispõem sobre
Políticas Públicas de Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres. Disponível em:
<http://leis.alesc.sc.gov.br/html/2022/18322_2022_lei.html>. Acesso em: 28 jun. 2022.
BRASIL. Projeto de Lei n° 8.219, de 2017. Dispõe sobre a violência obstétrica praticada
por médicos e/ou profissionais de saúde contra mulheres em trabalho de parto ou logo
após. Disponível em:
<http://imagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/DCD0020170825001460000.PDF#page=26
2>. Acesso em: 28 jun. 2022.
CARNEIRO, Ana Catarine. Você sabe o que é violência obstétrica? 2017. Disponível em:
<http://www.blog.saude.gov.br/index.php/promocao-da-saude/53079-voce-sabe-o-que-
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FIORETTI, B. Nascer no Brasil: parto, da violência obstétrica às boas práticas. DVD. Rio
de Janeiro: Fiocruz; 2014.
FRANCO, Luciele Mariel; MACHADO, Isadora Vier. Brasil em trabalho de parto: um estudo
sobre a violência obstétrica. In: CAMARDELO, Ana Maria; FERRI, Caroline; OLIVEIRA, Mara
de. Contornos de opressão: história passada e presente das mulheres. Caxias do Sul, RS:
Educs, 2016.
LEAL, Sarah Yasmin Pinto et al. Percepção de enfermeiras obstétricas acerca da violência
obstétrica. Cogitare Enferm. (23)2: e52473, 2018.
MORAES, Samuel Justino. A violência obstétrica é crime no Brasil? 2022. Disponível em:
<https://www.otempo.com.br/opiniao/artigos/a-violencia-obstetrica-e-crime-no-brasil-
1.2625926>. Acesso em: 28 jun. 2022.
NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado: estudo integrado com processo
e execução penal. 14. Ed. Revista atualizada e ampliada. Rio de Janeiro: Forense, 2014.
194
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SOUZA, Alessandra Varrone de Almeida Prado. Resumo de direito médico. Leme, SP: JH
Mizuno, 2020.
195
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(orientador)
ABSTRACT: The objective of the present research is to ponder about the Brazilian prison
system that faces a great difficulty inside the penitentiaries, where it will be reported about
its main problems as well as the possible solutions, bringing to light the crisis faced inside
and outside the penitentiaries, where it is seen through of the media, the situations that
occur behind bars, where we observe the state of pity in which those people are
incarcerated, being exposed to inhumane conditions, showing the failure of the prison
system and the State, which should, in addition to apprehending, recover and reintegrate
the individual into society, with this, there is a disrespect for the rights provided for in the
Federal Constitution, as well as in the Penal Execution Law, where what is provided for in
them do not match the current reality, this due to a bad administration that occurs due to
the lack of State supervision, in view of this, he realized that effective means are necessary
to solve this crisis in the prison system. Given this circumstance, the present work brings
196
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the privatization of prison units, as a possible solution to the problems faced, where the
responsible companies would seek improvements inside and outside the units,
guaranteeing the rights of inmates and better prison administration.
1.INTRODUÇÃO
O que infelizmente é algo que só vemos na teoria, uma vez que na prática
dificilmente acontece, pois se torna um problema que não consegue se resolver devido ao
tamanho da massa carcerária atual do nosso país, como podemos ver através de inúmeras
notícias e estudos divulgados nos meios jornalísticos através das mídias.
2.CRIME E PUNIÇÃO
197
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matéria, ninguém será declarado culpado sem o devido processo legal que
obrigatoriamente inclui o contraditório e a ampla defesa, sob pena de nulidade. Superado
esse processo e ao final a sentença for condenatória, é feita a dosimetria da pena seguindo
os parâmetros legais.
Das penas expressas no artigo 32 do Código Penal, que são: privativas de liberdade,
restritivas de direito e de multa. A espécie que vamos relatar no presente artigo é sobre a
pena privativa de liberdade.
Onde conforme previsto no artigo 33 do Código Penal, essa pena pode ser cumprida
em três regimes:
A medida repressiva pela prática de crime nesse caso tem uma dupla finalidade, que
é, uma demostrar aos criminosos que as condutas realizadas por eles serão punidas de tal
modo, servindo como exemplo para os demais indivíduos e assim, conter-se a
criminalidade e outra a ressocialização do condenado, ou seja, preparar o indivíduo que
após o cumprimento da sua pena, ele venha retornar a sociedade de uma forma melhor,
onde que seja aceito pela mesma.
3.POPULAÇÃO CARCERARIA
qualquer um pode ser preso, desde que cometemos algum ato infracional, não há
diferença, se formos negros ou brancos, com baixa renda ou ricos, formados ou sem
nenhuma escolaridade, todos há de pagar pelo ato praticado. Porém, pesquisas ainda
apontam que a maioria da população carcerária se compõe de negros e pardos com baixa
ou nenhuma renda e escolaridade, ou seja, em algumas situações nossa sociedade é
completamente atualizada, e já em outras parece a mesma de muitos anos atrás.
Desde o último levantamento sobre o sistema prisional feito pelo G1, publicado em
fevereiro de 2020, foram criadas 17.141 vagas, números ainda insuficientes para dar conta
dos diversos problemas, mesmo havendo uma redução no número de pessoas
encarceradas. Onde antes era aproximadamente 709,2 mil detentos e com essa baixa hoje
são 682,1 mil, mas ainda é uma quantidade muito acima da capacidade de vagas que temos
em todo o sistema prisional, que é para 440,5 mil presos, chegando há 54,9% acima da
capacidade que a estrutura carcerária oferece atualmente. Ou seja, existe um déficit de
241,6 mil vagas no Brasil. O total não considera os presos em regime aberto e os que estão
em carceragens de delegacias da Polícia Civil. Se forem contabilizados esses presos, o
número chega a quase 750 mil no país, com índice alarmante de 322 presos para 100 mil
habitantes.
Um fato que pode ser observado e que contribui para as superlotações dentro dos
presídios, é o fato que muitos detentos que estão ali dentro ainda não foram nem
condenados, ou seja, com isso reúne os presos provisórios com os já sentenciados,
deixando assim um aumento significativo da população carcerária.
199
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200
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Atualmente sabe-se que grande parte da sociedade brasileira não faz ideia de
quantos indivíduos são presos diariamente, pois muitos casos não são divulgados pela
mídia porque são casos de menor potencial ofensivo, onde não envolve nenhuma
celebridade ou algum bandido que faz parte de alguma facção, muitas vezes tendo
situações em que o indivíduo foi preso preventivamente onde ainda aguarda a fase de
investigação dentro do sistema prisional, essas pessoas acabam passando “despercebidas”
aos olhos da sociedade, mas para o sistema carcerário elas fazem uma grande diferença,
onde pesquisas apontam que hoje em dia no Brasil o número de pessoas detidas podem
chegar a uma estimativa de mais de 3 mil novos presos por mês, onde com isso afeta todo
o sistema carcerário devido à falta de estruturas para poder abrigar todos esses indivíduos.
201
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Há muitos debates sobre o que deve fazer e qual a melhor maneira, para preparar
e ressocializar um detento durante o período que cumpre sua pena, pois segundo
especialistas mais de 70% dos que deixam a prisão acabam cometendo novos crimes e
retornando para o sistema prisional, onde fica evidente que a reincidência é uma realidade
fracassada do nosso sistema, deixando claro que o objetivo maior do sistema carcerário,
que é preparar o indivíduo para reinseri-lo a sociedade para se tornar uma pessoa melhor,
não foi atingido, pesquisadores acreditam que a solução para este problema depende de
medidas socioeducativas dentro das prisões, onde os detentos podem ter acesso a cursos
Boletim Conteúdo Jurídico v. 1111 de 03/09/2022 (ano XIV) ISSN - 1984-0454
A má administração do sistema carcerário não é causada por uma única coisa em si,
ou um único problema, muito acontece para que uma penitencia seja mal dirigida, e uma
delas que tem o peso maior e é a principal causadora desse problema é o fator das
superlotações, que através daí recai todos os outros problemas, como exemplo as
rebeliões, onde os próprios detentos buscam uma forma de protestar sobre aquilo que
estão propondo a eles ou o estado em que estão sendo mantidos, onde em um passado
recente, mais precisamente no ano de 2017, o Brasil presenciou uma das maiores rebeliões
presenciadas até o momento desde o Carandiru, onde houve um massacre dentro do
sistema prisional contendo mais de 60 mortes de encarcerados, devido ao aumento das
facções criminosas, dificultando assim os objetivos do sistema prisional, que é, em primeiro
lugar, privar o indivíduo de sua liberdade e fazer com que essas pessoas se reeduquem
para poder reintegra-las para conviver em sociedade, o que dificilmente acontece, pois
devido essas má administração onde as pessoas acabam perdendo quase todos os direitos,
muitos se revoltam contra o sistema, onde não colaboram para a melhoria dessas unidades
prisionais, ao oposto, só acabam piorando ainda mais a imagem do sistema carcerário.
203
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5.A PRIVATIZAÇÃO
problemas sozinho, por isso cada vez mais surgem debates sobre a privatização das
unidades prisionais, onde muitos acreditam que com essas empresas privadas assumindo
o controle das unidades, os problemas irão diminuir.
Para que se entenda melhor sobre tal ato é necessário que se apresenta um breve
conceito, onde a privatização nada mais é que a contratação de empresas privadas pelo
Estado para que as mesmas passem a administrar o sistema carcerário sobre a fiscalização
do Estado, onde com isso se entrega o serviço público para que seja executado por
terceiros, mediante compensação financeira.
Com base nos índices alarmantes da nossa massa carcerária, que foi aumentando
cada vez mais com o passar do tempo, a privatização começou a ser discutida como uma
alternativa necessária para combater a superlotação e o crescimento da população dentro
das unidades prisionais. Diante de tais acontecimentos, pesquisadores passaram a estudar
e buscaram em outros países modelos de penitenciárias privadas, para que pudesse
ingressar com esses projetos da melhor maneira possível no nosso país e diante desses
estudos feitos notou-se que um dos modelos que mais se adequa na nossa legislação é o
modelo Francês, onde a iniciativa privada atua em conjunto com o poder público ficando
responsável pelos serviços de alimentação, vestuário, limpeza e a segurança interna,
ficando a cargo do setor público a segurança externa e a direção geral, administrando a
pena sob o aspecto jurídico, aplicando punições em caso de faltas ou privilegiando em
caso de merecimento, inclusive esse modelo já foi implantado em algumas unidades
brasileiras, mais precisamente em 32 unidades, onde atualmente em nosso país temos os
dois modelos de empresas privadas, que são as PPPs (Parceria Pública-Privada) onde as
empresas ficam responsáveis por construir o presidio, e o Estado paga pelas obras durante
um longo período de tempo no caso do Brasil o contrato é de 30 anos, e também temos a
204
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Cogestão que é a mais comum em nosso país, onde as empresas que vencem a licitação
assume um presídio já construído pelo Estado e apenas fica responsável pelas sua
administração interna, como exemplo o modelo Francês citado acima.
Sabe-se que a privatização já não é algo tão recente, pois os debates sobre tal
função, se iniciaram já há algum tempo, no entanto até os dias atuais tem aqueles que
acreditam que a privatização vai resolver a maioria dos problemas enfrentados pelo Estado
dentro dos Presídios Brasileiros, assim como também tem aqueles que acreditam, que isso
não mudará nada, devido ao seu principal problema que são as superlotações de detentos
dentro das unidades prisionais.
Essa primeira corrente acredita que as empresas privadas estão pensando mais no
benefício financeiro que irão receber, do que a satisfação de direitos e garantias
fundamentais. Ou seja, estão interessadas somente pelo valor recebido por cada detento,
onde quanto mais cheio o sistema prisional, mais dinheiro eles ganham, como relata o
autor Ferreira:
205
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garantindo todos os direitos que os detentos possuem, que consequentemente faria com
que diminuísse as rebeliões, tentativas de fugas e reincidências.
É melhor que esse lixo que existe hoje. Nós temos depósitos
humanos, escolas de crime, fábrica de rebeliões. O Estado não tem
recursos para gerir e construir presídios, sendo assim, a privatização
deve ser enfrentada não do ponto de vista ideológico ou jurídico, se
sou a favor ou contra, tem que ser enfrentada como uma necessidade
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Porém tem se em mente que para os presídios de menor porte, dos modelos
apresentados o governo incentiva o da Associação de Proteção e Assistência aos
Condenados (Apac). Que é organização da sociedade civil que tem como ideia inicial a
administração de pequenos presídios onde possui menos detentos e a periculosidade é
menor, e diante dos resultados encontrados, buscarão progressos nas demais
penitenciárias.
7.APAC
O que podemos perceber nessa Apac, é a valorização humana que eles dão aos
reeducandos, algo que não acontece em outras unidades prisionais, onde ali eles fazem
com que essas pessoas se sintam novamente importantes para a sociedade e garantem
que eles realmente estão prontos para serem reinseridos a população.
Fazendo assim com que essas pessoas consigam uma nova oportunidade de vida,
ao serem reinseridas na sociedade, onde muitos sairão com experiências em algumas áreas
207
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Claro que não pode comparar a Apac com o sistema público por operar em
situações diversas. No entanto pode se afirmar que com a privatização das penitenciárias
faria grandes melhorias nas unidades carcerárias.
8.CONCLUSÃO
Boletim Conteúdo Jurídico v. 1111 de 03/09/2022 (ano XIV) ISSN - 1984-0454
Há muitos pontos que podem ser alterados pela administração, visando uma
melhoria do sistema, no entanto sabemos que muitas pesquisas e debates ainda serão
realizados, para que isso possa ocorrer.
Mas o nosso sistema não pode ficar mais do jeito que está, uma verdadeira
desordem total, e a realidade atual exige medidas de urgências que solucione ou minimize
o problema carcerário no Brasil, por isso o presente trabalho versa sobre a privatização
carcerária, onde acredita que com isso poderá haver melhorias no sistema carcerário
brasileiro.
Melhorando não só a dignidade humana dos detentos dentro das unidades, como
também faria que diminuísse a reincidência desses indivíduos, que com as devidas
oportunidades dadas a eles, sairiam melhores preparados para a sociedade, e dificilmente
retornariam as prisões.
REFERÊNCIAS
208
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D´URSO. Luiz Flávio Borges. Entregar as prisões à iniciativa privada é mais eficiente e
garante os direitos dos internos. 2016. Disponível em:
<http://super.abril.com.br/ciencia/a-privatizacao-dos-presidios/>. Acesso em: 16 nov.
2021.
209
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População carcerária diminui, mas Brasil ainda registra superlotação nos presídios
em meio à pandemia | Monitor da Violência | G1. Disponível em:
<https://g1.globo.com/monitor-da-violencia/noticia/2021/05/17/populacao-carceraria-
diminui-mas-brasil-ainda-registra-superlotacao-nos-presidios-em-meio-a-
pandemia.ghtml>. Acesso em: 16 nov. 2021.
210
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TOKEN NÃO FUNGÍVEL: UMA ANÁLISE ACERCA DOS REFLEXOS PARA OS DIREITOS
AUTORAIS
Resumo: À vista das inúmeras possibilidades propiciadas pela web 3.0, questão importante
Abstract: In view of the numerous possibilities provided by web 3.0, an important question
that arises is to know to what extent blockchain-based innovations should reflect on
copyright protection. In view of this, the following question arises: What would be the
reflexes that the NFT's - Non fungible tokens - would bring to Copyright? In this way, the
general objective is to analyze the legal implications related to the interaction between the
NFT's and the legal protection system of Copyright. To this end, it has as specific objectives:
to expose the legal repercussions that tokenization can cause to intellectual property and
the fight against piracy, highlighting the technological limitations regarding the centralized
storage of NFT's. In advance, the interaction between memes, artistic and literary works
and the NFT's is analyzed, with regard to the reflexes for Copyright Law, as well as this
interaction is related to customized licenses. Finally, the prospects for the media industry
and the potential benefits for authors, performers and users are examined, based on the
new technological frontier based on smart contracts, NFT's and metaverses.
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INTRODUÇÃO
Blockchain é a tecnologia por trás de toda essa inovação, dos NFT’s – Non Fungible
Tokens – ao Metaverso. Ao permitir a descentralização do armazenamento de informações
em nuvem127 e a descentralização de aplicações por intermédio de organizações
autônomas descentralizadas, a tecnologia pode devolver aos indivíduos a privacidade e o
poder de controle sobre os dados pessoais.
126 A DAO é um sistema baseado em blockchain que habilita as pessoas a se coordenarem e governarem
mediadas por um conjunto de regras auto-executáveis implantadas em blockchain público de governança
descentralizada. Disponível em: HASSAN, Samer; DE FILIPPI, Primavera. Decentralized Autonomous
Organization. Internet Policy Review, v. 10, n. 2, p. 1-10, 2021. Acesso em: 24.fev 2022
127 WILLIAMS, Sam; JONES, Will. Archain: An Open, Irrevocable, Unforgeable and Uncensorable Archive for
the Internet. Publicado em: 2 aug. 2017.
212
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Interações sociais de humor registradas por memes agora podem ganhar conotação
e amparo jurídico. Novas possibilidades de obras artísticas como as esculturas imaginárias
podem gerar controvérsias diante da legislação autoral vigente. Contratos inteligentes
podem se aliar às licenças Creative Commons e oferecer muitas outras oportunidades de
customização frente a todos os direitos reservados.
A elaboração do presente trabalho terá por base uma pesquisa teórica e de cunho
exploratório, valendo-se para isso do método dedutivo. Além disso, a pesquisa
bibliográfica e documental será abordada com fundamento nos documentos de projetos
128 A quantidade de tokens emitidos em uma blockchain pode ser limitada por algoritmo, como na rede
bitcoin, cuja emissão máxima será de 21 milhões de criptomoedas. Essa escassez de tokens ou criptomoedas
circulantes na rede não se relaciona com a infungibilidade do token. Na rede bitcoin, todas as criptos
circulantes são iguais, possuindo o mesmo valor de troca. NFT’s, ao contrário, não possuem unidade de troca,
sendo seu valor baseado na utilidade e subjetividade, posto que um token não fungível não se confunde
com o outro em razão do seu registro único.
213
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Token não fungível pode ser definido como um ativo criptográfico exclusivo,
insubstituível, indivisível e verificável por intermédio de blockchain, podendo representar
um ativo exclusivamente digital ou físico.129 A propriedade infungível130 e rastreável do
Boletim Conteúdo Jurídico v. 1111 de 03/09/2022 (ano XIV) ISSN - 1984-0454
NFT o torna uma excelente opção para representar itens como obras de arte, músicas, itens
de jogos e até mesmo memes.
129 Valeonti, F.; Bikakis, A.; Terras, M.; Speed, C.; Hudson-Smith, A.; Chalkias, K. Crypto Collectibles, Museum
Funding and OpenGLAM: Challenges, Opportunities and the Potential of Non-Fungible Tokens (NFTs). Appl.
Sci. 2021, 11, 9931. https://doi.org/10.3390/app1121993.
130 O aspecto infungível do token apresenta conceituação a contrário sensu no Código Civil. “Art. 85. São
fungíveis os móveis que podem substituir-se por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade. (Lei
10.406/2002)”. Outras qualidades inerentes ao NFT como a singularidade e a indivisibilidade encontram
classificação no mesmo diploma legal.
131 PESSERL, Alexandre. NFT 2.0: Blockchains, Mercado Fonográfico e Distribuição Direta de Direitos Autorais.
RRDDIS – Revista Rede de Direito Digital, Intelectual & Sociedade, Curitiba, v. 1 n. 1, p. 255-294, 2021
132 Sotheby's second NFT auction presents first ever minted NFT from 2014, rare Cryptopunk & more.
Disponível em:<http://www.mutualart.com/ExternalArticle/Sotheby-s-Second-NTF-Auction-
Fi/F2CFBDE1D6A4DDAC?source_page=Artist\Articles&utm_source=mutualart&utm_medium=referra
l>. Acesso em: 13 nov. 2021
133 What is ERC-721? The ERC-721 introduces a standard for NFT, in other words, this type of Token is unique
and can have different value than another Token from the same Smart Contract, maybe due to its age, rarity
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foi responsável por democratizar a criação de tokens não fungíveis na rede blockchain, ao
permitir a implementação de tokens únicos em plataformas de contratos inteligentes.
Mais recentemente, o lançamento da coleção Bored Ape Yacht Club se tornou muito
popular entre famosos e celebridades. A coleção apresenta desenhos de macacos
entediados gerados a partir de algoritmo. Cada imagem de macaco, conhecidos como
Bored Apes, é representada por um NFT registrado no blockchain da rede ethereum. O
detentor de um Bored Ape terá acesso a benefícios exclusivos a medida que o
desenvolvimento da comunidade avança.136
Outra valiosa obra foi vendida na famosa casa de leilões Christie’s. Trata-se da obra
“Todos os dias - Os primeiros 5.000 dias”(tradução nossa)137, coleção criada pelo artista
Beeple, a qual se tornou conhecida em todo mundo. A obra continha 5.000 obras de arte
digital registradas em apenas um NFT. À época a obra foi vendida pelo preço recorde 69
milhões de dólares.138
215
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O breve histórico apresenta alguns dos fatos mais marcantes relacionados a recente
história dos NFT’s. Nesse contexto, os colecionáveis e as artes digitais se apresentam como
os primeiros aspectos visíveis das inúmeras possibilidades promovidas pela tecnologia de
NFT’s. Ao se criar identidade única e escassez com registro em blockchain, torna-se possível
remodelar toda a estrutura jurídica em torno dos direitos autorais.
139 EVANS, Tonya M. Cryptokitties, cryptography, and copyright. AIPLA QJ, v. 47, p. 219, 2019.
140 HEINES, Roger; DICK, Christian; Pohle, Christian; and Jung, Reinhard, "The Tokenization of Everything:
Towards a Framework for Understanding the Potentials of Tokenized Assets" (2021). PACIS 2021 Proceedings.
40. https://aisel.aisnet.org/pacis2021/40.
141 Id. Heines e Dick.
142 Nos termos originais: “tokenization can be initially described as the process of creating a token on a
shared ledger in terms of a singular identifier that enables a unique and persistent reference.”
143 Id. Heines e Dick.
144 Valeonti, F.; Bikakis, A.; Terras, M.; Speed, C.; Hudson-Smith, A.; Chalkias, K. Crypto Collectibles, Museum
Funding and OpenGLAM: Challenges, Opportunities and the Potential of Non-Fungible Tokens (NFTs). Appl.
Sci. 2021, 11, 9931. https://doi.org/10.3390/app11219931
216
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Todo o autor possui o direito exclusivo de utilizar, publicar ou reproduzir sua obra,
além de transmitir esse direito aos herdeiros.148 De outro modo, a todos devem ser
proporcionados os direitos de acesso à cultura, a educação e a ciência.149 A tokenização
de obras artísticas, fonogramas e demais itens do mundo da música tende a se conciliar
com os princípios mais sublimes dos direitos autorais, bem como se aliar ao combate à
pirataria, no que pese os desafios do atual estado da arte da tecnologia.
O termo “pirataria”, popularizado pelo discurso público e pela mídia, apresenta uma
ampla variação de significados, conforme informa o dicionário de língua portuguesa
Michaelis.150 De bandido dos mares que pilha navios às povoações ao longo da costa que
operam emissora de rádio ou TV clandestinamente. Entre estes, um significado apresenta
145 HEINES, Roger; DICK, Christian; Pohle, Christian; and Jung, Reinhard, "The Tokenization of Everything:
Towards a Framework for Understanding the Potentials of Tokenized Assets" (2021). PACIS 2021 Proceedings.
40. https://aisel.aisnet.org/pacis2021/40.
146 Contratos Inteligentes nada mais são que contratos típicos que foram codificados e colocados em uma
base de dados. Dito isso, esses negócios são “execução automática de um conjunto juridicamente constituído
ou mesmo de contratos mais simples, cuja formação pode se dar de forma verbal, mas que deverão obedecer
a legislação para a sua elaboração” (CAMPOS, 2018, p. 109).
147 PESSERL, Alexandre. NFT 2.0: Blockchains, Mercado Fonográfico e Distribuição Direta de Direitos Autorais.
RRDDIS – Revista Rede de Direito Digital, Intelectual & Sociedade, Curitiba, v. 1 n. 1, p. 255-294, 2021.
148 “ Art. 5º, XXVII , CF – aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de
suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar.”
149 “Art. 23, CF - É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: V -
proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação, à ciência, à tecnologia, à pesquisa e à inovação;”
150 MICHAELIS. Dicionário de Lingua Portuguesa. Disponível em: <Pirata | Michaelis On-line
(uol.com.br)>. Acesso em: 24 jan. 2022
217
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definição concordante com os ditames dos Direitos Autorais: “Copiar ou imitar produção
intelectual ou produtos em geral, infringindo a lei e desrespeitando a legislação autoral”.
151 “Art. 5º Para os efeitos desta Lei, considera-se: VII - contrafação - a reprodução não autorizada;” (Lei n°
9610/98)
152 Direitos autorais em reforma / Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getulio Vargas, Centro
de Tecnologia e Sociedade. - Rio de Janeiro: FGV Direito Rio, 2011. 122p.
153 Id. Direitos autorais em reforma.
154 EVANS, Tonya M. Cryptokitties, cryptography, and copyright. AIPLA QJ, v. 47, p. 219, 2019
218
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Para Tonya M. Evans “o controle do token e a propriedade são garantidas pela posse
155 EVANS, Tonya M. Cryptokitties, cryptography, and copyright. AIPLA QJ, v. 47, p. 219, 2019.
156 Nos termos originais: “It is the creator’s public-private asymmetric key pair that secures ownership and
control of the token and prevents counterfeiting and piracy.”
157 Direitos autorais em reforma / Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getulio Vargas, Centro
de Tecnologia e Sociedade. - Rio de Janeiro: FGV Direito Rio, 2011. 122p.
158 WILLIAMS, Sam; JONES, Will. Archain: An Open, Irrevocable, Unforgeable and Uncensorable Archive for
the Internet. Publicado em: 2 aug. 2017.
219
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O artigo relata que os dados ou imagens não são gravados na cadeia de blocos, mas
são ligados ao NFT por um endereço eletrônico que os vinculam. O experimento se baseou
na criação de um NFT, publicado no marketplace da Opensea e da Rarible, cuja imagem se
alterava com base no IP. Usuários de plataformas diferentes passaram a ver imagens
diferentes de um mesmo NFT (FIGURA 1). Logo após o acontecido, a Opensea removeu o
Boletim Conteúdo Jurídico v. 1111 de 03/09/2022 (ano XIV) ISSN - 1984-0454
159 MARLINSPIKE, Moxie. My First Impressions of web 3.0. Publicado em: 07 jan. 2022. Disponível em: <
https://moxie.org/2022/01/07/web3-first-impressions.html >. Acesso em: 26 jan. 2022
160 Id. MARLINSPIKE, Moxie.
161 Id. MARLINSPIKE, Moxie.
220
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162 Blockweave é uma estrutura similar a um blockchain. Nos termos originais da Fundação Arweave: “The
blockweave is a blockchain-like structure designed to enable scalable on-chain storage in a cost efficient
manner for the first time. As the amount of data stored in the system increases, the amount of hashing
needed for consensus decreases, thus reducing the cost to store data.
163 WILLIAMS, Sam; JONES, Will. Archain: An Open, Irrevocable, Unforgeable and Uncensorable Archive for
the Internet. Publicado em: 2 aug. 2017.
164 WILLIAMS, Sam; JONES, Will. Archain: An Open, Irrevocable, Unforgeable and Uncensorable Archive for
the Internet. Publicado em: 2 aug. 2017.
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O meme “Disaster Girl”, que retrata uma menina em frente a uma casa em chamas,
foi vendida como NFT por US$ 480 mil dólares, indicando uma tendência de um novo
negócio.165Até mesmo esculturas imaginárias já são registradas em blockchain. A obra “Io
sono”, de Salvatore Garau, existente apenas no plano das ideias, foi arrematada na Galeria
Art-Rite de Milão pelo valor de 15 mil euros. O Autor da obra estipula um espaço de 150
cm x 150 cm para uma escultura que não pode ser captada pelos sentidos.166
Por outro lado, a expressão através de memes pode gerar controvérsias. A recente
facilidade de registrar um meme como único, abre espaço para seu reconhecimento
autoral. O rol exemplicativo, previsto na lei autoral, revela-se aberto à recepção dos memes
como obras a serem protegidas. Entretanto, o uso de obras, imagens ou frases de terceiros
para ilustrar um meme, quando usados sem a autorização ou em desconformidade com a
lei, pode gerar prejuízos de ordem jurídica.
Nesse contexto, vale a pena destacar que, em recente decisão, o STJ decidiu que
paródias podem ser monetizadas. A decisão se baseou no caso de um influenciador digital
165 FREITAS, Tainá. NFT: como artistas estão vendendo obras através de criptomoedas? Publicado em: 21
mai. 2021. Dísponivel em: < https://app.startse.com/artigos/nft-artistas-vendas-criptomoedas>. Acesso
em: 17 nov. 2021
166 WACHOWICS, Marcos; CIDRI, Oscar. Direitos autorais e a Tecnologia NFT: Esculturas imaginárias e
Destruição Criativa. Publicado em 11 ago. 2021. Disponível em: < https://www.gedai.com.br/direitos-
autorais-e-a-tecnologia-nft-esculturas-imaginarias-e-destruicao-criativa/>. Acesso em: 18 nov. 2021
167 “Art. 7º São obras intelectuais protegidas ascriações do espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas
emqualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro, tais como:...” (Lei nº
9610/98)
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que teve dois vídeos removidos por violação de Direitos Autorais. O influenciador tinha um
canal dedicado a criação de paródias de artistas famosos.168
Já o uso de esculturas imaginárias pode gerar uma maior discussão no que se refere
ao seu agasalhamento pelo direito autoral. Seria a escultura imaginária, dentro de um
espaço demarcado em uma determinada paisagem, uma criação do espírito a merecer
proteção? O regulamento autoral é expresso em afirmar que as ideias não são objetos de
proteção.169Embora a escultura imaginária se apresente apenas no plano das ideias de cada
indivíduo, o conjunto da obra intelectual não é todo imaginativo ao se criar a possibilidade
de imaginar algo dentro de um cenário expresso.
168 ALVES, Alexandre. SILVA, Priscilla. Impactos do caso do canal “não famoso” na política de governança do
Youtube no Brasil. 10.26668/IndexLawJournals/2526-0049/2018.v4i2.4702. Revista de Direito, Governança e
Novas Tecnologias.
169 “Art. 8º Não são objeto de proteção como direitos autorais de que trata esta Lei: I- as idéias...” (Lei nº
9610/98)
170 Art. 18. A proteção aos direitos de que trata esta Lei independe de registro. (Lei nº 9610/98)
223
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cópias a mesma proteção de que goza a obra original, tal como os títulos, segundo os
ditames da lei de direitos autorais.173 174
171Art. 20. Para os serviços de registro previstos nesta Lei será cobrada retribuição, cujo valor e processo de
recolhimento serão estabelecidos por ato do titular do órgão da administração pública federal a que estiver
vinculado o registro das obras intelectuais. (Lei nº 9610/98)
172 PESSERL, Alexandre. NFT 2.0: Blockchains, Mercado Fonográfico e Distribuição Direta de Direitos Autorais.
RRDDIS – Revista Rede de Direito Digital, Intelectual & Sociedade, Curitiba, v. 1 n. 1, p. 255-294, 2021
173 Art. 9. À cópia de obra de arte plástica feita pelo próprio autor é assegurada a mesma proteção de que
goza original. (Lei nº 9610/98)
174 Art. 10. A proteção à obra intelectual abrange o seu título, se original e inconfundível com o de obra do
mesmogênero, divulgada anteriormente por outro autor. (Lei nº 9610/98)
175 “Art. 49. II - somente se admitirá transmissão total e definitiva dos direitos mediante estipulação
contratual escrita;” (Lei nº 9610/98)
176 “Art.49. V - a cessão só se operará para modalidades de utilização já existentes à data do contrato;” (Lei
nº 9610/98)
224
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A transmissão dos direitos de autor aos sucessores se torna favorecida pelo uso de
chaves privadas. A transferência a terceiros tende a se tornar mais simples pelo uso dos
NFT’s e contratos inteligentes, prescindindo-se acerca da necessidade de documentos e
contratos escritos e onerosos, o que pode tornar leis obsoletas e ineficazes frente às novas
Creative Commons é uma entidade não governamental e sem fins lucrativos, cuja
finalidade é permitir a cópia e o compartilhamento de obras criativas com restrições
customizadas, contribuindo, assim, para a expansão de obras disponíveis.178A fundação foi
criada em 2001, pelo professor Lawrence Lessig, em resposta a rigidez de todos os direitos
reservados. Posteriormente, em 2005, o instituto abrangeu trabalhos científicos e, desde
então, as licenças Creative Commons foram expandidas e compatibilizadas com as leis de
direitos autorais em diversos países,179incluindo o Brasil, que teve a versão 3.0 lançada no
Campus Party, em 2009.180
À primeira vista, pode parecer que as licenças CC constituem uma entidade isolada
e sem qualquer interação com o sistema de proteção aos direitos autorais, ou até mesmo
ser considerada um sistema alternativo, ou substitutivo à legislação vigente. De modo
contrário, as licenças CC foram criadas com base na legislação autoral com a finalidade de
permitir aos autores uma maior gestão sobre os direitos de uso de suas obras. As licenças
177 Branco, Sérgio O que é Creative Commons? novos modelos de direito autoral em um mundo
mais criativo / Sérgio Branco, Walter Britto. - Rio de Janeiro : Editora FGV, 2013. 176 p. (Coleção FGV de bolso.
Direito & Sociedade)
178 Disponível em: <https://br.creativecommons.net/>. Acesso em: 11. Fev. 2022
179 Dowling, John D.H. “Creative Commons.” Encyclopaedia of Social Movement Media
(2011): 1--‐3. SAGE Knowledge, 01 Dec. 2010. Web.
180 Id. Branco, Sérgio.
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A chave para essas respostas pode estar nos contratos inteligentes, cujas regras
podem ser definidas da mesma forma que cláusulas em um contrato particular. A diferença
reside no fato de que as “cláusulas” são aplicadas por códigos de maneira automática e as
interações entre as partes são irreversíveis.183Quanto a irreversibilidade, pouco se
diferencia, em regra, do contrato jurídico uma vez celebrado, por força do princípio da
força obrigatória dos contratos.
Para o direito, o contrato realiza leis entre as partes – “pacta sunt servanda”, ou seja,
visto que não exista violação de lei e não haja defeito no negócio jurídico, as partes se
181 “Espécie de propriedade intelectual que concede ao autor de uma obra direitos exclusivos por um
determinado tempo.” Miller, Frederic P., Agnes F. Vandome, and John McBrewster. Creative
Commons: Non--‐profit Organization, Creativity, Copyright, License, Creative Commons Licenses,
Waiver, Creative Commons International, Copyleft. Beau Bassin, Mauritius: Alphascript Pub.,
2009. Print.
182 No termos originais: “Therefore, Creative Commons and Lessig have no problem with copyright itself,
but the ways that it limits freedom through its restrictions and the constantly extended time periods placed
on the copyright.” Cyberlawyer 2.0.” The Economist 8 Dec. 2007: 31(US). Academic OneFile.
Web.7 Oct. 2013.
183 Disponível em: https://ethereum.org/pt-br/developers/docs/smart-contracts/. Acesso em: 11 fev.
2022.
226
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Ainda que não seja objeto do presente estudo, vale ressaltar haver protocolos em
desenvolvimento visando arbitrar disputas em qualquer contrato descentralizadamente a
partir de contratos inteligentes.184Tais iniciativas têm o potencial de aproximar a realidade
Desta forma, nada impede que criadores e público se utilizem das licenças em suas
relações no âmbito das blockchains. As licenças nasceram de uma maior necessidade de
flexibilização dos direitos do autor diante das limitações e restrições do copyright.
184 LESAEGE, Clément; AST, Federico; GEORGE, William. Kleros. Short Paper v1.0.7. 2019. Disponível em: <
whitepaper.pdf (kleros.io)>. Acesso em: 20 mai. 2021.
185 LEMOS, Ronaldo. Creative Commons, Mídia e as Transformações Recentes do Direito da Propriedade
Intelectual. Revista Direito GV. V. 1 N. 1 | P. 181 - 187 | MAIO 2005 : 181
227
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Direito autoral é tema central no que se refere aos NFT’s. O mundo da música, em 2017,
gerou 43 bilhões de dólares em receita, mas apenas 12% desse valor se reverteu aos
artistas. Atualmente, uma série de desafios são enfrentados pelos artistas para fazer valer
Boletim Conteúdo Jurídico v. 1111 de 03/09/2022 (ano XIV) ISSN - 1984-0454
seus direitos autorais. Pouca transparência em relação às fontes de pagamento dos artistas,
camadas de intermediários que geram atrasos no pagamento e burocracias para
licenciamento são alguns desses problemas.186
186 RUMBURG, Roneil; SETHI, Sid; NAGARASH, Hareesh. Audius: A descentralized Protocol for Audio Content.
Publicado em: 8 ago. 2020
187 PESSERL, Alexandre. NFT 2.0: Blockchains, Mercado Fonográfico e Distribuição Direta de Direitos Autorais.
RRDDIS – Revista Rede de Direito Digital, Intelectual & Sociedade, Curitiba, v. 1 n. 1, p. 255-294, 2021
228
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que pode ser determinante, inclusive, para os rumos culturais da sociedade, refletindo-se
em comportamentos e costumes.
Além disso, o modelo de negócio das empresas que administram direitos autorais
é construído com base no lucro, cuja mercadoria consiste na arte e criatividade de autores
e interpretes. Essa situação contribui para redução do potencial de ganhos dos autores,
sendo eles remunerados através da participação percentual na forma de royalties, em que
a origem está em contratos de direitos de reprodução e distribuição.
A internet evoluiu durante os últimos anos e, junto a ela, toda a indústria de mídia.
Antigos intermediários precisaram se reinventar e até mesmo se associar às novas
plataformas de streaming. O que pouco evoluiu foram as relações de dependência entre
os verdadeiros titulares de direitos autorais e as instituições responsáveis por administrar
esses direitos. Atualmente, os intermediários vestem outra roupagem, utilizando-se não
apenas de conteúdo musical, mas também de metadados gerados pelo fluxo de
informações de consumo de conteúdo e hábitos dos usuários. Os produtores de conteúdo,
ao contrário, permanecem na mesma posição de risco assumido e vulnerabilidade frente
às bightechs de entretenimento.
Toda essa transformação está sendo amplificada pelo uso dos NFT’s, tecnologia
integrada ao blockchain e aos contratos inteligentes. Os NFT’s estão remodelando diversas
188 PESSERL, Alexandre. NFT 2.0: Blockchains, Mercado Fonográfico e Distribuição Direta de Direitos Autorais.
RRDDIS – Revista Rede de Direito Digital, Intelectual & Sociedade, Curitiba, v. 1 n. 1, p. 255-294, 2021
189 RUMBURG, Roneil; SETHI, Sid; NAGARASH, Hareesh. Audius: A descentralized Protocol for Audio Content.
Publicado em: 8 ago. 2020.
229
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indústrias, sendo a indústria musical uma das principais. De agora em diante é possível a
retomada do controle criativo pelos artistas em um modelo de negócios que prescinde de
intermediários.
Assim, os direitos autorais podem ser reivindicados sem a necessidade de dividir lucros
com gravadoras ou outros intermediários.
Diante de tantas notícias sobre o advento da tecnologia do token não fungível, pode
parecer em um primeiro momento que se trata de uma entidade isolada, uma tecnologia
que existe por si mesma. Entretanto, não é possível refletir sobre o NFT sem levar em
consideração sua tecnologia subjacente de blockchain e contratos inteligentes. Da mesma
forma, é de suma importância considerar sua integração com as plataformas de DEFI e
Web 3.0, tendo em vista serem um dos principais meios em que é possível transacionar
NFT’s.
Tendo isso vista, torna-se importante frisar que uma das principais características de
um token é a possibilidade dos indivíduos realizarem a auto-custódia, ou seja, não existe
a necessidade de guarda por terceiros como um título ou uma ação. Os detentores de
token podem armazená-los em uma carteira não custodial190, mantendo as chaves
privadas sob sua posse, tornando a portabilidade um importante atributo.
190 Uma carteira de criptomoedas sem custódia é uma carteira em que apenas o titular possui e controla as
chaves privadas. Disponível em: https://academy.binance.com/pt/articles/custodial-vs-non-custodial-
nfts-what-s-the-difference. Acesso em: 22 fev. 2022
230
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chamado staking191. Esse processo permite que os possuidores dos tokens possam ser
remunerados por apostá-los na rede.
191 Como o staking funciona? O staking envolve validadores que bloqueiam suas moedas na rede para ter
chance de serem selecionados, aleatoriamente, pelo protocolo para criação de um bloco. Geralmente, os
usuários que fazem staking de maiores quantias, têm mais chance de serem escolhidos como validadores de
bloco. Disponível em: https://academy.binance.com/pt/articles/what-is-staking. Acesso em: 22 fev. 2022.
192 USDC é uma criptomoeda estável que tem por finalidade representar o dólar americano. A criptomoeda
é lastreada em ativos denominados em dólar. Disponível em:
https://www.gemini.com/cryptopedia/what-is-usdc-stablecoin-circle-crypto. Acesso em: 22 fev. 2022.
231
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232
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Essa breve consideração sobre DEFI, economia dos tokens e contratos inteligentes
se torna importante por serem as tecnologias que compõem o sistema tecnológico de
sustentação aos NFT’s. Sem essa tecnologia subjacente o NFT não existiria da forma como
existe hoje. O NFT nada mais é do que um token emitido a partir de uma blockchain e que
só pode ser transacionado mediante contratos inteligentes. Todo esse sistema tecnológico
representa o que hoje é conhecido como web 3.0.
195 BENEDETTI, Hugo. Public Blockchains and Applications. In: The Emerald Handbook of Blockchain for
Business. Emerald Publishing Limited, 2021.
233
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através da venda de ingressos é um dos motivos pelo qual houve um grande incremento
na lucratividade e renda de artistas.196
196 PESSERL, Alexandre. NFT 2.0: Blockchains, Mercado Fonográfico e Distribuição Direta de Direitos Autorais.
RRDDIS – Revista Rede de Direito Digital, Intelectual & Sociedade, Curitiba, v. 1 n. 1, p. 255-294, 2021
197 Disponível: https://about.facebook.com/br/meta/. Acesso em: 25 fev. 2022
198 CARDOZO, Missila Loures. Impactos da Pandemia na Indústria Gamer. Intercom-Revista Brasileira de
Ciências da Comunicação, v. 31, n. 1, p. 1-15, 2020.
199 As Crypto Bridges ou Bridges são responsáveis por podermos interligar as diferentes blockchains
existentes e podermos interoperar entre elas, diversificando e aumentando a usabilidade e o alcance das
criptomoedas e dos ecossistemas que são construídos em torno delas. Disponível em:
https://academy.bit2me.com/pt/o-que-%C3%A9-uma-ponte-de-criptografia/. Acesso em: 30 mar.
2022
234
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Resta saber qual ou quais metaversos artistas de todo mundo devem aderir.
Questões relativas às taxas, interoperabilidade e economias dos tokens podem ser
determinantes para a adesão do público e artistas, e até mesmo questões ligadas à
proteção da privacidade. A resposta à pergunta sobre quais metaversos sairão vencedores
tem o potencial de definir se as possibilidades oferecidas pela tecnologia serão desfrutadas
em sua plenitude ou serão deixadas de lado em benefício daqueles que controlam a
indústria da mídia e da tecnologia, perpetuando antigos desequilíbrios em desfavor de
autores e intérpretes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesse contexto, o status quo da indústria de mídia tende a ser severamente afetado.
A descentralização e os contratos inteligentes já permitem novas formas de produzir
conteúdo e artes, seja por memes ou até mesmo esculturas imaginárias, que agora podem
ser registradas por tokens não fungíveis. A conexão direta entre autor e público por
contratos inteligentes, mais do que se aliarem às licenças CC, criarão outras possibilidades
de customização de licenças de uso em oposição ao copyright.
235
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Dessa forma, a web 3.0 proporciona possibilidades que se conciliam fortemente com
os princípios mais elevados de proteção ao autor, bem como os direitos de acesso à cultura
e a informação. Se a finalidade precípua das leis autorais é proteger o vínculo entre o autor
e a sua obra, há de se ter cuidado para as leis não cercearem as oportunidades oferecidas
por essas tecnologias. Afinal, a utilização, publicação ou reprodução de obras são direitos
exclusivos do autor201, cabendo a ele dar lhes o destino que melhor lhe aprouver.
REFERÊNCIAS
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metaverse>. Acesso em: 16 nov. 2021
201 “Art. 5º, XXVII, CF – aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de
suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar”
236
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239
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(orientador)
240
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artigo busca refletir sobre esporte como instrumento de direitos humanos ao longo da
história até os tempos atuais.
ABSTRACT: Sport and war are correlated because rivalry and dispute are present among
its participants. Sport is an integrative phenomenon that assemble different realities,
playing an important social and political role, since it encompasses several spheres,
1.Introdução:
O esporte como fenômeno integrativo tem importante papel na sociedade visto que
abrange diversos setores exercendo relevante papel inclusivo, sendo fundamental para
saúde, educação, turismo e outros setores. A prática esportiva desenvolve habilidades
físicas, sociais, cognitivas que independem de raça, cor, orientação sexual, religião e/ou
nacionalidade. Portanto, o esporte possui um caráter de agregar distintas realidades, sejam
elas de caráter socioeconômicas, étnicas e/ou raciais.
A Constituição Federal de 1988, dispõe em seu o artigo. 6° que "são direitos sociais
a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a
proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição."
241
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Para alguns, o esporte é “ópio do povo” em razão de sua utilização política, porém
se trata de um direito do cidadão, conforme acima relatado.202
Não à toa, desde a Grécia Antiga passando pelas duas grandes guerras mundiais até
as ditaduras mais atuais, o esporte sempre teve seu uso político, utilizado pelos
governantes. Por que será que as eleições presidenciais no Brasil, pais do futebol, sempre
ocorrem no mesmo ano da realização da copa do mundo da FIFA?
Boletim Conteúdo Jurídico v. 1111 de 03/09/2022 (ano XIV) ISSN - 1984-0454
Historicamente, o esporte sempre foi utilizado, seja para o bem ou para o mal, como
forma de desenvolvimento de ideologias e/ou pensamentos das camadas dominantes em
seus respectivos períodos. No limiar do século XXI o governo do estado do Rio de Janeiro,
desenvolveu refeitórios e política de ingressos em eventos esportivos a preços populares,
ou seja, reeditando a prática da política do “Pão e Circo” da Roma Antiga.
202 Neste sentido RUBIO. Katia, “Esporte um direito do cidadão ou ópio do povo?” in
https://jornal.usp.br/artigos/esporte-um-direito-do-cidadao-ou-opio-do-povo/.
203 SIGOLI. Marcio André, “A história do uso político do esporte.” in RBCM, Vol. 12 – junho/2004.
242
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Os direitos fundamentais têm sua base no pensamento iluminista que culminou com
a revolução francesa de 1789, e podem ser definidos como normas de natureza protetiva,
que garantem o mínimo necessário para que um indivíduo exista de forma digna dentro
de uma sociedade administrada pelo Poder Estatal. Nas lições do Constitucionalista
português Canotilho:
De acordo com o Professor Jorge Miranda: “direitos fundamentais são os direitos que,
por isso mesmo, se impõem a todas as entidades públicas e privadas” e que “incorporam
os valores básicos da sociedade.”205
204 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 5ª edição.
Editora Livraria Almedina, 2002.
205 MIRANDA, Jorge. Direito Constitucional - Tomo IV, Coimbra Editora. Coimbra, 2000.
243
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Direitos estes, que estão diretamente ligados aos direitos humanos, reconhecidos
pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, que de acordo com a doutrina, podem
ser divididos em gerações ou dimensões, sendo a liberdade de expressão ligada a um dos
princípios iluministas que é a liberdade. Conforme leciona o Professor Marco Antônio
Boletim Conteúdo Jurídico v. 1111 de 03/09/2022 (ano XIV) ISSN - 1984-0454
Marques da Silva:
A dignidade da pessoa humana entre os períodos das duas grandes guerras passou
a fazer parte de diversos tratados e convenções internacionais, entre eles podemos citar a
Carta da ONU (1945), Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948), a Convenção
Americana de Direitos Humanos (1978), dentre outros.
A doutrina coloca o respeito aos direitos humanos como princípio é o núcleo entre
os demais direitos em um Estado Democrático de Direito que não pode se afastar da visão
humanista em relação a proteção deste e os demais direitos. Sendo os direitos humanos
fundamentais e indisponíveis.
206 MELLO, Marco Aurélio. Liberdade de Expressão, Dignidade Humana e Estado Democrático de
Direito. In Tratado Luso-Brasileiro da Dignidade da Pessoa Humana. MIRANDA, Jorge et alli (org.). Quartier
Latin. São Paulo. 2009.
207 SILVA, Marco Antônio Marques da. Cidadania e Democracia: Instrumento para Efetivação da
Dignidade da Pessoa Humana. In Tratado Luso-Brasileiro da Dignidade da Pessoa Humana. MIRANDA,
Jorge et alli (org.). Quartier Latin. São Paulo. 2009.
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Portanto, os direitos humanos servem como forma de através dos erros do passado
Essas primeiras pressões tiveram efeito limitado, mas foram suficientes para que o
COI desse um ultimato ao Comitê Olímpico Sul-Africano: o Comitê olímpico daquele país
se colocava contrário às políticas de Apartheid, que afetava também o esporte, ou
deixariam de participar dos Jogos Olímpicos de 1964.
208 BARROSO, Luís Roberto. Colisão entre Liberdade de Expressão e Direitos da Personalidade. Critérios
de Ponderação, Interpretação Constitucionalmente Adequada do Código Civil e da Lei de Imprensa.
Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro: Vol. 235, 2004.
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negou a expulsar os neozelandeses que haviam realizado amistoso de rúgbi com os sul-
africanos, argumentando, entre outras coisas, que o rúgbi não era esporte olímpico na
época. Então em protesto, vinte e nove países, a maioria africanos, anunciaram um boicote
aos Jogos Olímpicos de Montreal — o primeiro boicote em larga escala na história das
Olimpíadas.
Símbolo da luta pela igualdade racial na África do Sul, Nelson Mandela usou o
esporte como grande arma para unir negros e brancos num país historicamente dividido
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Uma nação que ficou quase cinquenta anos (1948 – 1994) segregada pelo regime
do Apartheid – que permitiu que a minoria branca se mantivesse no poder e isolasse as
outras etnias da vida política do país – se viu unida novamente por ocasião de um evento
esportivo, a Copa do Mundo de Rúgbi em 1995.
A África do Sul estava marcada para sediar o principal torneio de rúgbi do mundo,
um ano depois que Mandela foi eleito presidente.
Usou então, a própria seleção do país para isso. No time que disputou a Copa do
Mundo de Rúgbi e que, historicamente, era formada somente por jogadores brancos,
houve um integrante negro que ajudou Mandela a trazer todas as raças juntas na torcida
pela equipe nacional. O resultado foi o histórico e inédito título do torneio.
Este belo episódio da história que relaciona o esporte com política, como forma de
derrubar barreiras, buscando a igualdade e o respeito aos direitos humanos é bem relatado
pelo filme “Invictus” dirigido por Clint Eastwood (2009).
Cabendo lembrar, ainda, que a África do Sul foi o primeiro país do território africano
a sediar uma Copa do Mundo da FIFA, em 2010, fato que segmentou a união racial naquele
país.
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O início dos conflitos na Europa em 1914 impediu a realização dos jogos olímpicos
designados para Berlim em 1916, sendo realizados apenas em 1920 na cidade de Antuérpia
na Bélgica, em razão do impedimento de participação dos países derrotados na Primeira
Guerra Mundial (Império Otomano).
Embora tenha sido o primeiro país asiático a sediar os jogos olímpicos de 1932, o
Os Jogos Olímpicos de 1944, designados para Londres, teve sua realização frustrada
em função da continuidade da Segunda Guerra Mundial, porém a capital inglesa obteve o
direito de sediar os jogos olímpicos de 1948.
O velocista norte americano Jesse Owens, neto de escravos, calou Hitler e sua
desrespeitosa política ao conquistar quatro medalhas de ouro demonstrando ao mundo,
que o absurdo propagado pelo nazismo não prevaleceria, pois somos todos iguais sem
prevalência de uma raça em relação a outra.
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dos países aliados a União Soviética protagonizaram a denominada “Guerra Fria” que
durou entre 1945 até 1991.
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3.6 Iugoslávia.
A UEFA proibiu a participação dando lugar para Dinamarca que se sagraria campeã
daquele torneio em território sueco. A Dinamarca fora escolhida por ter sido a equipe
segunda colocada em seu grupo, cuja Iugoslávia liderou e havia conquistado a vaga.
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Quanto aos jogos olímpicos de Barcelona, o COI encontrou uma solução para que
os atletas classificados pudessem competir. Usando a bandeira olímpica e utilizando o
nome de “Participantes Olímpicos independentes” conquistando um total de três medalhas
(uma de prata e duas de bronze).
Doze anos após boicotar os Jogos Olímpicos de Seul (1988) por rusgas políticas com
os vizinhos, a Coreia do Norte concordou em desfilar em conjunto com a Coreia do Sul na
cerimônia de abertura de Sydney-2000.
Antes dos Jogos Olímpicos de Tóquio, inicialmente programados para 2020, porém
adiados em razão da pandemia da Covid-19, foram programados para o ano subsequente.
Em parte, por questões políticas que separam os norte coreanos dos japoneses.
Em abril de 2021, poucos meses antes da realização dos jogos o governo norte
coreano anunciou que deixaria de participar alegando temores relacionados a pandemia
da corona vírus - sendo a primeira desistência desde 1988 pela própria Coreia do Norte.
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Mas a situação mudou em 1971, quando a ONU deixou de reconhecer Taiwan como
a representação legal dos chineses e transferiu a vaga para os comunistas de Pequim.
A solução encontrada para Taiwan, que não poderia usar mais o nome China, foi
passar a competir com a nomenclatura “Taipé Chinesa” a partir de 1984 não só nos Jogos
Olímpicos, mas também em outros eventos.
Estes atletas, tiveram que deixar seus países de origem devido a guerras, violações
dos direitos humanos e perseguições sendo acolhidos em novos países. Com o auxílio da
Organização das Nações Unidas, em conjunto ao Comitê Olímpico Internacional, puderam
participar dos jogos olímpicos empenhando a bandeira dos atletas de países refugiados.
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Neste mesmo sentido o sempre brilhante advogado Andrei Kampff em seu artigo
“Guerra na Ucrânia abre paradoxo no esporte: direitos humanos x direitos humanos. O Juiz
será o TAS” a respeito do assunto:
Cabe lembrar que, os atletas russos que comprovaram não ter qualquer ligação com
o escândalo de dopagem cometido pelo Comitê Olímpico Russo puderam participar das
Olímpiadas de Tóquio realizadas em 2021 sem qualquer alusão a Rússia e ainda utilizando
a bandeira apenas a sigla ROC (Russian Olympic Committe).
209KAMPFF, Andrei. Guerra na Ucrânia abre paradoxo no esporte: direitos humanos x direitos humanos.
O Juiz será o TAS in https://leiemcampo.com.br/guerra-na-ucrania-abre-paradoxo-no-esporte-direitos-
humanos-x-direitos-humanos-o-juiz-sera-o-tas/, publicado em 22 de março de 2022.
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Não existem alternativas como atuar com portões fechados, sem qualquer alusão
ao seu país ou em locais diversos da Rússia? Mais fácil cometer injustiças do que buscar
alternativas pro competitione, mas injustiças não se apagam com novas injustiças.
O esporte não pode ser meio de vingança. O esporte não pode aplaudir a barbárie
Onde está o espírito contido na Carta Olímpica que visa uma consciência
democrática e humanitária por meio da prática esportiva?
Os regulamentos esportivos que precisam cada vez mais dialogar com princípios de
direitos humanos, pois o esporte sempre atuou como incentivo ao diálogo e respeito aos
direitos humanos.
5. Conclusão:
Cabe lembrar que, um dos mais importantes esportes olímpicos possui sua origem
por causa de uma guerra. Em 490 a.c. ocorreu a Batalha de Maratona faz parte da cultura
popular em função da ordem seguida pelo soldado Fidípides, que seguindo as instruções
do General Milcíades correu mais quarenta e dois quilômetros entre Maratona e Atenas
para informar sobre a vitória grega. A lenda diz que, logo após informar a vitória, Fidípedes
teria caído morto de cansaço. É por causa desta batalha, que existem hoje as famosas
provas de corrida de longa distância chamadas de maratona.
Embora possuam semelhanças, guerra e esporte são como água e vinho que não se
misturam. O esporte cada vez mais com seu papel de entretenimento e interesses
econômicos não pode permitir que interesses externos tenham lugar em suas competições.
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Como não lembrar o dia dezoito de agosto de 2004 em que a seleção brasileira de
futebol, única pentacampeã mundial, paralisou por algumas horas a guerra civil no Haiti
para que seus craques pudessem desfilar em Porto Príncipe com sua desigualdade social.
Este raciocínio não se limita apenas as questões políticas tratadas neste artigo, mas
igualmente a violência nos estádios de futebol, ao preconceito em razão de desigualdades.
O esporte é meio de socialização onde eventuais diferenças são medidas dentro dos
campos e quadras se encerrando ao término da partida. O Fair Play que ocorrer dentro do
esporte deve se transmitir para toda sociedade.
A única guerra que pode haver no esporte é a guerra pela paz em busca de ideais
humanistas e de igualdade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
MIRANDA, Jorge. Direito Constitucional - Tomo IV, Coimbra Editora. Coimbra, 2000.
NICOLAU, Jean Eduardo. Direito Internacional Privado do Esporte. Editora Quartier Latin.
São Paulo, 2018.
254
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SAYEG. Ricardo, & BALERA. Wagner, O Capitalismo Humanista. Editora KBR. São Paulo,
2011.
SIGOLI. Marcio André, A história do uso político do esporte. in RBCM, Vol. 12 – junho,
2004.
255
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(orientador)
Palavras chave: Drogas; Direito Penal; Guerra às Drogas; Lei de Drogas 11.343/2006;
Diferenciação entre usuário e traficante.
ABSTRACT: This article aims to demonstrate how the repressive “drug war” policy ruling
in the world its a failed system. Under the guise of decreasing drug trafficking and
consumption, ends up in fact intensifying public health problems hiding its true
motivations, whether be economic or social excludent. To do so, it is necessary to
understand how this model was constructed historically, and the difficulty of implementing
alternative policys, despite their failure. Through literature review of law doctrine, articles
and news, we are going to analyse the 11.343/2006 Law, specifically in the matter of
differentiate the drug user and drug dealer, analyzing the law articles 28 and 33, in order
to understand its problems and inconsistencies, that goes from the judiciary scope, passing
through the prisional to the public health. Finally demonstrate the need to change the law,
that combined with prevention campaings, without Criminal Law interventions, has the
opportunity of obtain significant results on this matter.
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Key words: Drugs; Criminal Law; Drug War; Drug Law 11.343/06; Differentiation betwen
user and dealer.
1- INTRODUÇÃO
O direito penal nesse aspecto não soluciona questões de saúde pública, apenas
dificulta estratégias de redução de danos e campanhas de educação e conhecimento sobre
o assunto, além de ter um custo de manutenção altamente elevado.
2- DEFINIÇÃO DE DROGA
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14). Utilizando dessa definição temos como drogas o álcool, o tabaco e a cafeína, algumas
das substâncias mais consumidas no mundo todo.
As drogas ainda permitem a classificação entre ilícitas e lícitas as quais podem ser
ou não controladas. Essa é a classificação jurídica, tendo como ilícitas aquelas positivadas
em lei que tem seu uso proibido pelo Estado e por organizações internacionais. Lícitas são
as que são permitidas em lei, e que podem ser controladas: como o caso do álcool e da
nicotina; ou não, como é o caso do café (cafeína).
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3 - A DROGA NA HISTÓRIA
No Egito Antigo, substâncias como mel, alho e inclusive ópio eram utilizados como
medicamentos, além da cerveja egípcia que era utilizada para o lazer em festividades.
Existem relatos da Grécia antiga, onde drogas eram consumidas em rituais, em que
era possível “ver os deuses”, indicativo do uso de substâncias alucinógenas.
em seus rituais, que sofriam bastante preconceito por parte dos adeptos ao cristianismo
que era a religião dominante.
Com as grandes navegações a Europa expandiu suas relações com grande parte
do mundo, levando e trazendo novas drogas para sua população e para as populações ao
alcance de seus navios, como o ópio vindo da China e da Companhia das Índias Orientais
e o tabaco vindo das Américas.
Como foi o caso dos Estado Unidos, onde a “Guerra às Drogas” teve seu
agravamento nas mãos de um homem chamado Harry Anslinger, movido por motivos
pessoais e pelo viés econômico.
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4 - PROIBICIONISMO NO BRASIL
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Pode se perceber também o uso da norma penal em branco, onde utilizam-se listas
controladas pelo estado que podem ser modificadas de tempos em tempos, mantendo o
rol sempre atualizado. A portaria SVS/MS nº 344, de 12 de maio de 1998 regula a lista de
substâncias ilegais. Entre as drogas ilegais, podemos destacar: maconha, cocaína, haxixe,
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crack, ecstasy e heroína. As mais populares em nosso país são a maconha e a cocaína.
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1998)
Entretanto nosso foco nesse estudo serão os artigos 28 e 33, que tratam do
consumo pessoal e do tráfico respectivamente.
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Em outras palavras, são inúteis as penas brandas do artigo 28, se o parâmetro para
caracterização de consumo pessoal está nas mãos de um juiz que, em grande parte, não
sabe distinguir se a quantidade de uma droga específica é razoável para o uso ou não, ou
carrega uma visão estereotipada, sendo preconceituoso ao considerar as “circunstâncias
sociais e pessoais”, restando apenas ouvir o policial que atendeu à ocorrência, para no fim
decidir sobre a pessoa apreendida. Sobre o tema destaca Guilherme Nucci:
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Desse modo o que atingimos não é uma diminuição do tráfico e dos problemas
causados por ele, mas sim um novo desafio, nefasto e preocupante, que é a lotação das
cadeias com condenados no Art. 33 da Lei 11.343/2006, de homens e mulheres que em
sua grande maioria poderiam ser poupados caso houvesse uma mudança na norma,
trazendo uma nova maneira de diferenciar os tipos.
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Hoje no Brasil um único preso custa ao estado a quantia de R$ 1.800,00 (um mil e
oitocentos reais) por mês. Valor este que representa uma média ponderada considerando
a população carcerária de todo o estado, havendo diferenças gritantes entre estes, tendo
que o custo em Pernambuco é de apenas R$ 955,00 por presidiário enquanto em Tocantins
o valor chega a R$ 4.200. (G1, 2021)
Além disso fez com que houvesse um aumento do número de processos nas varas
criminais, prejudicando o andamento e intensificando a morosidade que já é um fator
extremamente preocupante no judiciário, cerceando nesse sistema o direito de muitos
indivíduos, conforme aduz Guilherme Nucci:
5 - PREVENÇÃO
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Dessa forma, pode-se entender que as drogas estão ligadas, de forma direta e
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indireta, a inúmeras situações sociais que causam um efeito negativo na sociedade. Sendo
assim, medidas educacionais e preventivas são muito importantes, tendo que muitos
crimes analisados pelo judiciário, seja furto, agressão doméstica ou homicídio, têm como
agente uma pessoa sob a influência de drogas. A prevenção se faz essencial, por ser a
melhor forma de impedir que crimes como os descritos aconteçam.
Nesse viés, temos três níveis de prevenção que podem ser trabalhadas. A
prevenção primária opera no sentido de evitar que o contato inicial da pessoa com a droga
ocorra. Caso já exista uma relação com alguma substância, será preciso aplicar a prevenção
secundária, que tem o objetivo de não deixar que o uso se transforme em vício, voltada
para os usuários iniciantes. Por fim quando o caso já evoluiu para dependência química,
temos a prevenção terciária, que atua no sentido de recuperar a pessoa
dependente/viciada. (PMGO, 2017)
6 – CONCLUSÃO
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7 - REFERÊNCIAS
ARAUJO, Tarso. Almanaque das drogas. 2ªed. São Paulo: Leya, 2015.
A HISTÓRIA DAS DROGAS. Direção: Adam Barton. Produção: Bill Johnston; Ron Lillie.
Roteiro: Bryan Carmel. [S.l.]. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=mY_C1Z93GUo. Acesso em: 11 mar. 2022
VALOIS, Luís Carlos. O Direito penal da Guerra às drogas. 3ª ed. Belo Horizonte: Editora
D’Plácido, 2019.
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CONJUR. Para Guilherme Nucci, não há nada a comemorar nos 10 anos da Lei de
drogas. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2016-nov-04/nucci-nao-nada-
comemorar-10-anos-lei-drogas. Acesso em: 15 jun. 2022
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RESUMO: Para que haja um melhor desempenho nas investigações criminais, muitas
técnicas estão sendo criadas, uma delas é conciliar a psicologia à área criminal, o que, por
meio das análises comportamentais dos criminosos, e informações a respeito do crime, cria
um perfil criminal, que serve como um instrumento para a investigação. O perfil adiciona a
investigação criminal algumas abordagens metodológicas, como Análise da Investigação
Criminal - CIA, Perfil Geográfico, Psicologia Investigativa e a Análise dos Vestígios
Comportamentais - AVC. Consequentemente, combinando essas metodologias se tem
uma ferramenta relevante para o processo investigativo. O artigo em questão possui a
finalidade de analisar a técnica de criminal profiling, definindo e exibindo seu
aproveitamento nas investigações no Brasil e no mundo. Como meios de pesquisa foram
utilizadas revisões bibliográficas do assunto proposto, em livros, sites e artigos acadêmicos,
resultando em informações que sustentam a relevância da utilização dessa técnica em
questão, assim como da junção da Psicologia ao Direito, a fim de trazer uma maior eficácia
para as investigações.
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profiling, defining, and exhibiting its use in investigations in Brazil and worldwide. As means
of research, bibliographic reviews of the proposed subject were used, in books, websites
and academic articles, resulting in information that supports the relevance of the use of
this technique in question, as well as the combination of Psychology and Law, to bring
greater effectiveness to the investigations.
INTRODUÇÃO
Profiling é uma das técnicas de investigação criminal que tem seu fundamento na
Criminologia, nas Ciências Forenses, na Psiquiatria, e na Psicologia. O perfil é esboçado
através da interpretação dos conhecimentos sobre os padrões de comportamento do
criminoso marcando possíveis características do suspeito. Essa técnica tem o objetivo
ajudar os investigadores a avaliar as características de delinquentes desconhecidos que
cometeram crimes bárbaros, desenvolvendo a vitimologia, e preparando uma lista de
suspeitos.
Porém não são todos os crimes que essa técnica é adequada. Alguns critérios
devem ser observados, como o fato do ser crime violento ou não possuir nenhum vestígio
forense, ou ainda não serem conclusivos, ou quando os criminosos apresentarem alguma
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2. CRIMINOLOGIA
e o delinquente, todavia, seu objeto de estudo se ampliou após 1950, englobando também
o controle social e a vítima, estando na atualidade fracionada, contendo estes quatro
objetos de estudo.
3 CIÊNCIAS FORENSES
4 PSICOLOGIA INVESTIGATIVA
A Psicologia Investigativa teve seu início por meio dos trabalhos de elaboração de
perfis criminais feitos pela Unidade de Ciência Comportamental do FBI. Todavia, sua origem
científica se deu por meio dos trabalhos do, até então considerado pai da Psicologia
Investigativa, o Psicólogo David Victor Canter em 1985. (NOVO, 2018)
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De acordo com Rodrigues (2010) o princípio do uso dos perfis criminais aconteceu
quando o Dr. Langer, que era psiquiatra, foi chamado pelo Office of Strategic Services (OSS)
para fazer um perfil de Adolph Hitler. Após conter os dados sobre Hitler, Langer
desenvolveu um perfil da personalidade psicodinâmica, enfatizando as decisões que Hitler
Para Soeiro (2009), os perfis criminais começaram a ser utilizado pelo FBI, em 1972,
como auxílio da Unidade de Ciência Comportamental (BSU- Behavioral Science Unit). O
professor da Academia do FBI, Howard Teten, criou os perfis para os agentes que estavam
investigando crimes. Após isso, a utilização dos perfis se iniciou formalmente. Porém só foi
depois de 1978 que o FBI definiu um Programa de Perfis Psicológicos (Psychological
Profiling Program).
Segundo Rodrigues (2010) o segundo maior avanço da história dos perfis ocorreu
em 1985, quando foi requerido ao Dr. David Canter, psicólogo da Universidade de Surrey,
na Inglaterra, que assessorasse a Polícia de Surrey, a Polícia Metropolitana de Londres e a
Polícia de Hertfordshire na investigação de uma sequência de 30 estupros e 02 homicídios.
Dr. Canter fez o perfil criminal do suspeito que foi chamado pela imprensa como o
estuprador da ferrovia. Dr. Canter desenvolveu um perfil incrivelmente preciso e demostrou
ser bastante útil na captura do estuprador-homicida John Duffy.
Alguns dados atuais apontam que a técnica dos perfis criminais é aplicada pelo FBI
em mais de mil casos por ano. A polícia do Reino Unido também associaram a técnica dos
perfis criminais nas suas investigações com mais frequência. (PENTEADO FILHO, 2019)
6 CRIMINAL PROFILING
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O criminal profiling é empregado ainda que não haja traços físicos deixados na cena
de crime, e nas últimas fases da investigação. É utilizado para diminuir a lista de suspeitos.
O Perfil criminal não deve ser comparado perfil feito pelos psicológico, que diz
respeito ao diagnóstico de um paciente. De modo diferente deste perfil, o Perfil criminal
não lida com um paciente e sim, com a análise de um crime para interpretar os indícios
comportamentais e deles gerar uma descrição, que não seja a apenas psicológica, de um
sujeito suscetível de apresentar essas condutas e será provável que tenha realizado o crime
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em questão.
De acordo Heusi (2016) a técnica de perfilamento envolve uma análise dos traços,
comportamento, características físicas, todas as ações que o criminoso comete, antes,
durante e depois do crime. Também acrescenta informações sobre a possível idade, o
gênero, a raça, a profissão, o passado criminoso, os passos dados pelo transgressor para
evitar a sua detecção, os métodos de assassinato do criminoso, essas informações da
vítima.
De acordo com Ebisik (2008) existe duas formas atuante no criminal profiling:
Dessa forma, pode-se dizer que o criminal profiling é a junção virtual de um perfil
psicológico, físico, social, tipológico e geográfico do sujeito não identificado, apto de ter
realizado um ou mais crimes, e poderá também ser revelado sua área de atuação.
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O perfil criminal tem como seu principal objetivo o apoio à investigação policial,
utilizando sempre como parâmetro as ciências humanas e as ciências criminais auxiliares,
que serão utilizados para descobrir crimes análogos que abranjam as mesmas informações
e características, fornecendo dados que auxiliam na investigação de crimes violentos e
aparentemente insolúveis.
Silva e Gracioli (2016) diz que o profiling é usado sobretudo nos casos de crimes
violentos podendo eles ser sequenciais ou não, evidentes, sem motivação aparente, e não
elucidados.
O criminal profiling pode ser empregado nos casos de homicídio que pode ser em
serial ou não, ou em qualquer crime disposto na lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990 (Lei
de Crimes Hediondos), além de quaisquer crimes que deixem vestígios, sejam eles
comportamentais ou físicos.
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Embora em outros países o Criminal Profiling siga tendo ainda sua validade
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A análise de investigação criminal tem como base a revisão das evidências da cena
de crime, das vítimas e das testemunhas e é produzida tanto numa perspectiva
investigativa como numa perspectiva comportamental. Esta análise pode colaborar com
informações sobre o criminoso mostrando suas características e traços, como também
pode dar algumas indicações de investigação e estratégias de como proceder nas
entrevistas de testemunhas.
Burgess et al., (1992, p. 310 apud Turvey, 2012, p. 73) diz que “O FBI determina
análise de investigação criminal é um processo de investigação que identifica a grande
personalidade e as características comportamentais do infrator com base nos crimes que
ele ou ela tenham cometido”.
Como diz Toutin, (2002, apud Correia et al., 2007, p. 595): “Pode-se distinguir o
termo profiling Criminal do termo Análise Criminal, no sentido em que o primeiro se refere
a dimensão psicológica, psiquiátrica e psicanalítica do crime e do criminoso, enquanto o
segundo diz respeito às sugestões e conselhos de investigação.”
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Apesar desse método de não admitir uma identificação rápida do ofensor, ele
Por causa dos perfis o FBI desenvolveu um programa com bases metodológicas que
facilita aplicação dos profiling, e que pode ser utilizada por todos os policiais e agentes em
todo o território dos EUA. Segundo Soeiro (2009), este programa sugere uma mudança em
alguns aspectos da aplicação dos Perfis Criminais, criando assim uma base de dados
totalmente informatizada, o Violent Criminal Apprehension Program (Programa de
apreensão de Criminosos Violentos), ou VICAP, traz com sigo algumas facilidades, como o
caso de que os policiais podem as verificar as informações contidas nele sempre que for
necessário.
O uso desse programa, que foi destinada para a Análise de Investigação Criminal,
admite a criação de hipóteses sobre o ofensor, sobre as características da personalidade,
particularidades pessoais e desenvolvimento do comportamento criminal, assim, em casos
que há uma grande complexidade, simplifica a investigação criminal deixando-a mais
organizada.
8 PERFIL GEOGRÁFICO
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De acordo com Rossmo e Velarde (2008), o crime não acontece de forma eventual
e têm padrões espaciais que conjeturam a personalidade e a vida do agressor. Konvalina
–Simas, (2014. p. 79) diz “quando um indivíduo comete uma série de crimes deixa
informações acerca do seu mapa mental, o que, por sua vez, permite deduzir informações
acerca do agressor”.
acontecerá o crime.
De acordo com Carter e Larkin (1993) o caminho que o criminoso percorre possui
uma certa ligação com o tipo de delito cometido, sem contar que eles se sentem mais
confortáveis e no controle da situação se estiverem em uma área por eles conhecida.
Segundo Rossmo e Velarde (2008), as localizações dos crimes não são distribuídas
por acaso, e estes locais recebem influências das características do ambiente e do seu
espaço físico.
De acordo com Canter e Larkin (1993) o profiling geográfico possui dois tipos de
extensão: a primeira, descrita como alcance residencial, ou seja, o local onde o criminoso
habita e é conservado pelo elevado risco de ser apanhado ou reconhecido, por isso nessa
área não o criminoso não comete crimes, se calcula que aproximadamente, oitocentos
metros em torno da residência; já a segunda extensão é descrita como alcance criminal,
que é a abrangência da área que acontecem os crimes.
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origem da distância trilhada pode ser devido à falta de alvos perto de casa ou a descoberta
de vítimas mais interessantes em outra região.
Segundo Paulino (2013) o perfil criminal se aproveita dos resultados das AVCs que
foram descobertos para produzir padrões comportamentais a fim de sugerir características
do suspeito.
De acordo com Turvey (2012) é com suporte de três fontes de dados que são feitas
as análises para conclusão dos casos sem a necessidade de ideias pré-concebidas do
suspeito. A primeira fonte é exame forense que nada mais é que a averiguação e
interpretação de evidências físicas relacionadas ao crime; é onde o profiler inicia o seu
trabalho de produzir os vestígios comportamentais. A segunda fonte é a vitimologia mede
as características da vítima, o grau de risco e a exposição ao risco para poder identificar
características do suspeito, como sua motivação e o grau de risco que ele se colocou
quando cometeu o crime. A última fonte é a análise do crime, que nada mais é, que todo
o processo de investigação e sobre o tipo de crime atentado, os seus procedimentos e suas
características do local do crime, assim como a análise da vitimologia e dos exames
forenses que se conectam ao final para a construção do perfil.
É necessária uma análise profunda e criteriosa das pistas comportamentais para que
seja feita um a conclusão de um perfil criminal com resultado confiável e completo.
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Segundo Douglas et al. (1992, apud Canter, et al, 2004) existe uma terceira categoria,
que seria o Agressor Misto, uma mistura de organizado e desorganizado, pois existe
algumas razões para os que os criminosos não sejam facilmente discriminados como
organizado ou desorganizado, já que o crime pode ter mais de um autor, ou pode aparecer
alguns imprevistos que o autor do crime não tenha planejado como no caso de a vítima
resistir, ou ainda o ofensor pode alcançar um diferente resultado durante seu delito.
De acordo com Soeiro (2009), os criminosos matam, ao que parece, sempre depois
que passam por algo estressante, como um relacionamento amoroso fracassado,
problemas financeiros, ou problemas no local de trabalho. As ações destes sempre
espelham um nível alto de planejamento e controle. Por isso a cena do crime vai refletir,
uma abordagem sistemática e metódica.
Uma cena de crime cometida por criminoso organizado, nem sempre vai ser oculta,
pois muitas vezes o ofensor planeja a descoberta apenas para que fique implícito seu
controle. Porém toda cena de crime não oculta tem sempre um sentido de organização,
para que o autor do crime não seja descoberto. De acordo com Girod (2004, p. 33) “o
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ofensor toma precauções contra a sua própria descoberta. Poucas, se algumas, armas ou
impressões digitais são encontradas. O crime aparenta ser deliberado, calculado e pré-
planejado”.
Segundo Douglas et al. (1992, apud Canter, et al, 2004), o criminoso provavelmente
estará bem próximo da cena do crime. A falta de planejamento durante todo o crime, seja
antes, durante ou após, será repetida no estado caótico do delito cometido e da cena do
crime. Por não ter um relacionamento social saudável e normal, pode aumentar a
possibilidade de ignorância sexual, fazendo assim como componente dos atos homicidas,
o aumento do grau de perversões sexuais ou disfunções.
George Metesky, o Mad Bomber de Nova York, foi culpado por implantar mais de
30 bombas caseiras na cidade de Nova York durante por 15 anos.
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companhia de energia elétrica que teve sua sede como palco para o primeiro atentado da
cidade. Além disso, o homem teria paranoia progressiva, sem contar que seria uma pessoa
introvertida, porém não seria antissocial, seria hábil como mecânico, além de astuto e
habilidoso com ferramentas. O suspeito deveria demonstrar um desprezo por outras
pessoas e um ressentimento disfarçado com relação a críticas sobre seu trabalho, e não
seria interessado em mulheres, sem contar que teria uma educação que correspondesse
ao ensino médio. Por fim, o suspeito sempre usaria um terno com uma fileira dupla de
botões, e totalmente abotoado (VIANA, 2016).
Metesky foi preso em janeiro de 1957, onde confessou o crime. Ele foi condenado a
25 anos de prisão, onde cumpriu apenas 2/3, e mandando para uma clínica psiquiátrica.
Porém foi liberado em 1973. Ele morreu em 1994, em casa, aos 90 anos.
Ted Bundy foi um dos assassinos em series mais conhecido, seu método de atrair
universitárias até o carro fingindo ser deficiente físico, para estuprá-las e depois matá-
las, foi descoberto por dois especialistas do FBI que estudaram seus padrões
comportamentais, ou seja, como agia, tanto escolhendo suas vítimas, tanto como as
atraía e as matava. (MEDEIROS, 2018).
Ted Bundy, foi preso em 1978 e sentenciado a execução por cadeira elétrica. Ele
confessou 30 mortes, porém as autoridades acreditam que ele possa ter matado muito
mais. Ele foi executado em 1989.
poucos os profissionais que possuem qualificação para atuar como profiler. Além disso a
literatura a respeito do tema é quase inexistente em português, fazendo com que as
referências sempre venham de outros países, principalmente dos EUA.
De acordo com Penteado Filho (2019) a Academia de Polícia de São Paulo, começou
a ter conversas com o FBI a respeito de implementar um projeto de perfilamento criminal,
em 2007, porém o projeto não foi para a frente por conta do descaso e ignorância sobre o
assunto das autoridades governamentais. Em 2011 a Academia voltou ao projeto, criando
a disciplina Perfilamento Criminal, que se tornou obrigatória na formação de novos
A Polícia Civil de Goiás (2021) possui um projeto em andamento para pôr em pratica
a Unidade de Ciências Comportamentais, Análise e Observação de Suspeitos (UCCAOS),
onde visa estudar as evidências psicológicas e os vestígios comportamentais do criminoso
que se que se transmite na forma de cometer os crimes.
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intencionada, na maioria dos casos, por deficiência material e técnica, várias investigações
acabam não tendo uma resolução.
Assim, percebe-se a importância dos perfis para o Direito Penal e Processual Penal,
já que o Juiz precisa que as considerações dos investigadores a respeito do
comportamento do criminoso sejam incisivas, colaborando para uma aplicabilidade da lei
mais junta.
13 CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei 8.072, de 25 de julho de 1990. Lei dos crimes hediondos. Disponível em:
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Cidade do Porto. Universidade do Porto. 2010.
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a visão de um profissional do sistema judiciário brasileiro. Ribeirão Preto. Instituto
Paulista de Estudos Bioéticos e Jurídicos. 2016
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Abstract: This article deals with constitutional interpretation in modernity, considering the
debate on the legitimacy and active subjects of the interpretive activity, carried out from
current and warm issues that brought new rights and obligations, as well as new ways of
facing problems and solutions. social. The introductory part of the interpretive study is
analyzed, the origins and principles that permeate the theme, followed by the debate about
the legitimacy and the interpreters of the constitution, notably those who feel the
normative influence in practice. Subsequently, the legal interpretation in the face of new
rights is covered, addressing how interpretive techniques ended up giving rise to judicial
activism and congressional activism. The present work has a descriptive and explanatory
character, using exploratory research as an instrument, using data available in physical and
electronic bibliographic sources. At the end, the final considerations and the bibliographic
references follow.
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Introdução
Este trabalho tem como problema a análise central da interpretação jurídica diante
das diversas e multifacetadas demandas modernas, tendo por norte as técnicas
interpretativas como método fundante de soluções legislativas e judiciais. Diante desse
problema, a hipótese parece ser complexa, multitarefada e, como tal, social, sendo que
analisar as diversas formas de interpretação jurídica frente a diversidade de demandas
modernas, passa a ser uma tarefa essencial, difícil em sua consecução, legitimidade e
aceitação.
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Como qualquer instituto jurídico, mas muito mais que isso, a interpretação jurídica
é compreendida ao redor de alguns princípios, que auxiliam na construção de respostas, e
também de (re) perguntas.
Já o princípio do efeito integrador, tem relação com o acima descrito, pois orienta
um entendimento de pertencimento, de forma que a resposta deve ser encontrada pelo
exercício da integração política e social.
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Lenza (2020, pg. 143), mencionando Daniel Sarmento, destaca que “no Estado
Democrático de Direito, não só os princípios, mas também as regras devem ser ‘levadas a
sério’, evitando-se a ‘anarquia metodológica’ e a ‘carnavalização’ da Constituição”. É que a
abertura para que todos os temas se tornem princípios, pode vir acoplada a um problema
de legitimidade, pois, na falta de leis, qualquer princípio serviria como base para qualquer
decisão.
Lenio Luiz Streck, sobre esse tema, em seu dicionário sobre hermenêutica jurídica,
argumenta de forma contundente:
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soluções sociais, legítimas e adequadas, pois cada método usado de maneira fidedigna ao
seu arquétipo original, só pode redundar em aplicação congruente com o ordenamento. É
nesse sentido que a doutrina trabalha com a ideia de limite à interpretação:
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2. O debate da legitimidade
Impende destacar que a teoria dos diálogos constitucionais ganha grande território
para discussão, visto que em um ordenamento jurídico lapidado na ideia de freios e
contrapesos, a troca de informações e o exercício da argumentação nas mais diversas
hipóteses de decisão, constroem o tipo de exercício democrático existente.
Isto vai ao encontro da ideia de que atividade interpretativa deve passar por aqueles
que sentem a norma, que vivem no cotidiano as consequências práticas do arranjo
normativo democrático. Por tal razão, ampliar os legitimados no debate para além daqueles
formalmente institucionalizados é encontrar genuinamente a solução adequada para a
realidade social.
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Para acirrar ainda mais a questão, a sociedade experimenta uma explosão de novos
direitos, que claramente gravitam o discurso sensível de diversas searas, por vezes
envolvendo religião, orientação sexual, ambiente, capitalismo e tecnologia.
É certo que alguns valores jurídicos vêm se modificando ao longo dos anos, outros
se extinguindo, e muitos se criando. Isto se denota da própria natureza da sociedade e de
sua característica de constante evolução.
É que muitas questões que eram meramente legais ou mesmo que ficavam apenas
na seara da retórica, transformaram-se em direitos constitucionais. Isto foi percebido
quando da constitucionalização do direito, após experimentos autoritários que
redundaram em guerras e traumas sociais. Daí surge o que a doutrina chama de
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neoconstitucionalismo:
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Veja-se, ainda, que um tema muito relevante foi o estatuto da pessoa com
deficiência, que trouxe uma correção hermenêutica no que tange à tutela da pessoa com
deficiência. A lei consagrou a capacidade plena dos indivíduos deficientes, estabelecendo
que os absolutamente incapazes são apenas os menores de 16 anos, o que trouxe inúmeras
questões práticas para a vida dessas pessoas dentro da sociedade e perante os demais com
os quais convive. Nesse ínterim, Vitor Almeida:
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É certo que muitas vezes o progresso e a atividade interpretativa não são elaborados
e aplicados de maneira pacífica, o que resulta na necessidade de intervenção judicial
pontual para que, em tese, seja cumprida a vontade do legislador em cotejo com os valores
de uma sociedade progressiva.
jurídica, a qual envolve o papel do juiz na atividade interpretativa sob dois aspectos
conflitantes: um defendendo o caráter limitado ao captar o sentido das normas, e outro
endossa uma atitude mais ampla, invocando e aplicando valores e princípios substantivos.
Tratam-se das correntes interpretativistas e não interpretativistas. Veja-se:
Trazendo o debate para seara pátria, podemos observar um termo muito presente
no debate jurídico atual: o ativismo judicial. Trata-se de uma conduta progressista, a qual
faz com que o Poder Judiciário atue ativamente na sociedade, não se limitando na mera
obediência aos literais ditames legais. O ativismo vai além, busca sentidos e valores
importantes para uma determinada sociedade, protagonizando, de fato, a consecução dos
direitos consagrados pelo constituinte. Segundo Juliano Taveira Bernardes e Olavo Augusto
Viana Alves Ferreira (2016, pg. 567, tomo II):
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Por outro lado também temos, como já relatado em alguns julgados, a posição de
autocontenção, a qual defende uma atitude contida do Poder Judiciário que, de maneira
conservadora, endossa um ideal restritivo, de não intervenção, atuando em estrita
obediência ao espaço expressamente determinado constitucionalmente. Citando o
Boletim Conteúdo Jurídico v. 1111 de 03/09/2022 (ano XIV) ISSN - 1984-0454
Veja-se que por vezes, inclusive, o Judiciário passa a ser instado para resolver
questões afetas aos outros poderes, em políticas públicas, assuntos partidários internos
entre outros. Observa-se a seguir algumas influências práticas das decisões do Supremo
Tribunal Federal sob aspecto do ativismo judicial:
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O autor continua destacando que tal prática é evidente em países com constituições
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abrangentes, que disciplinam praticamente quase toda vida política e social e, por isto, a
constituição ubíqua acaba por tutelar grandes e pequenas questões (CAMPOS, 2020, pg.
93). Ainda segue:
É certo que o tema é de alta complexidade e exige análise de casos concretos, não
bastando meras conjecturas para fundamentar a aceitação ou rejeição de um modelo
ativista. Observa-se, então, que algumas decisões judiciais estão sendo alvo de uma reação
legislativa, de forma que o Poder Legislativo, diante de um provimento confrontante com
os ideais dos representantes do povo, edita normas que revertem frontalmente a decisão
judicial anteriormente encampada. Trata-se do efeito backlash, explicado didaticamente
por Lenza, citando o Ministro Luiz Fux (2020, pg.79)
Poder Legislativo.
Apesar de a decisão ter alta relevância no cenário social, há certo perigo na análise
técnica do caso. Isto porque o Supremo Tribunal Federal acabou por legislar positivamente,
criando um crime, ofendendo-se, teoricamente, o princípio da legalidade penal, a qual
dispõe que normas incriminadoras devem ser editadas mediante lei.
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Assim, nota-se que o ativismo judicial, bem como a reversão jurisprudencial (ou
ativismo congressual) são formas práticas nas quais o Poder Judiciário ou Legislativo
interpretam as normas do ordenamento, tendo por base suas compreensões como
instituições democráticas.
Veja-se que, em pouco tempo, uma decisão do Supremo Tribunal Federal foi
revertida pela atividade inventiva dos representantes do povo, que entenderam por bem
dar uma interpretação que atenda aos anseios culturais da sociedade, notadamente pela
importância da atividade em determinadas regiões do país. Já o Tribunal, por fundamento,
teve o bem estar animal como arrimo para sua decisão, valor fundamental (proteção ao
meio ambiente) encampado em um capítulo exclusivo da Constituição Federal de 1988.
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legítimo da cidadania, na busca pela justiça social, e por uma convivência igualitária.
Assim, como bem fundamenta Haberle, ninguém melhor para exercer a atividade
interpretativa do que aqueles que vivem a norma, aqueles que sentem os efeitos práticos
de todo arquétipo normativo institucionalizado.
Considerações Finais
Conquanto seja utópico imaginar uma interpretação ideal e perfeita para uma
sociedade multifacetada, a verdade é que a evolução democrática legitimou diversos
discursos, multiplicou o debate, e deu origem a uma sociedade complexa, com exigências
tais quais.
É certo que o progresso social vem acoplado com diversas dificuldades. Como seria
possível legitimar a mesma decisão, a mesma aplicabilidade e a mesma norma para um
país tão multifacetado. O importante é garantir a representatividade em todas as órbitas
dos poderes constituídos, para que o diálogo seja fidedigno às especificidades da vida. É
preciso conhecer a realidade local, de forma que se legitime um discurso inclusivo e
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adequado.
A interpretação não é estanque, não é una e não é efetivada por uma única pessoa
ou por um grupo de pessoas. A atividade interpretativa deve ser realizada por toda
sociedade, cada qual em seu âmbito de atuação, em sentido micro e macro social, pois os
poderes institucionalizados não detém da sensibilidade da vida em sociedade, afinal, são
representantes abstratos.
Referências
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Toffoli. Julgamento: 15/08/2018. DJ: 10/03/2020. Disponível em:<
http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudenciaRepercussao/verAndamentoProcesso.asp?incid
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Acesso em 17 jun. 2021.
CAVALCANTE, Márcio André. Lei 13.873/2019: altera a Lei 13.364/2016 para reforçar
que as atividades de rodeio, vaquejada e laço são bens de natureza imaterial
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https://www.dizerodireito.com.br/2019/09/lei-138732019-altera-lei-133642016-
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SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de direito
constitucional. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
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ABSTRACT: The present study sought to demonstrate about the possibility of effective
employment of the armed forces in public security. In Brazil, the issue of public security has
been increasingly explored by all sectors of society, and it is certainly of total importance
for the instability of any government, as well as for society. In this scenario, it is necessary
to strengthen the control of police activity, considering that the State has a monopoly on
the use of force to maintain order and the preservation of rights and assets. And to carry
out the public safety activity, it does so through the police. It is true that this monopoly
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must strictly follow the dictates of legality, which makes it the object of constant internal
and external controls, mainly for inspection and repression of deviations in the exercise of
police activity, since this activity to it sometimes jeopardizes individual constitutional rights.
Security is an inviolable right for Brazilians and foreigners residing in the country,
institutionalized by the Federal Constitution in its article 5th. In the study, it was found that
with the increasing criminality, the public security forces provided for in Article 144 of the
Federal Constitution, by themselves, remain insufficient to face this reality. In this context,
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the Brazilian Army proves to be increasingly indispensable to fight crime. Thus, this study
seeks to demonstrate the importance of the Brazilian Army in safeguarding the Democratic
Rule of Law, in protecting the individual and collective security of Brazilians.
1. INTRODUÇÃO
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Faz isso com seu aparato das polícias militar e civil entre outras. O poder de polícia
vem para garantir o bem-estar geral da coletividade, embasado nas sanções legais busca
impedir o comportamento antissocial e as práticas negativas à coletividade.
Vale ressalvar que a polícia isoladamente não é autossuficiente para essa missão
de combater a violência, sendo que o Sistema de Segurança Pública deve ser concebido
de forma ampla, abrangendo inclusive, outros setores como a justiça, sistema prisional,
Ministério Público e não menos importante, a comunidade.
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numa ilusão, acreditam estar a salvo do desrespeito destes direitos. Para que a polícia seja
empregada como instrumento de garantia da cidadania e não apenas como instrumento
de luta contra o crime, é necessário retirar-lhe o papel acessório atribuído pela sociedade
para canalizar a sua ira contra a marginalidade.
Com isso é factível deduzir que quanto menos técnica seja a polícia, mais violenta
será, pois é bem verdade que muitas vezes esta, agindo sob pressão popular, acaba por
usar meios condenáveis para a elucidação de crimes, que não raras vezes acabam por
comprometer o resultado do trabalho investigativo.
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das polícias. É certo que este monopólio deve seguir rigorosamente os ditames da
legalidade, o que faz com que seja objeto de controles internos e externos constantes,
principalmente para fiscalização e repressão de desvios no exercício da atividade policial,
uma vez que esta atividade às vezes coloca em risco os direitos constitucionais individuais.
Wilson Odirley Valla, ensina que controle da atividade policial é o “acompanhamento das
ações e operações da Corporação por todos os que exercem comando, de forma a
assegurar o recebimento, a compreensão e o cumprimento das decisões do escalão
A própria Constituição Federal, em seu inciso VII, do artigo 129 estabelece que o controle
externo da atividade policial é uma das funções institucionais do Ministério Público.
Portanto, o que não falta são instituições destinadas à promoção do controle externo e
interno das Polícias, sendo que falta ainda a necessária coordenação e interação entre os
diversos órgãos para uma melhor efetividade da atividade de segurança pública.
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A apuração de crimes cometidos por policiais merece especial atenção, face serem
pessoas preparadas e conhecedoras dos métodos investigativos, e justamente por essa
razão, usam do conhecimento para evitar deixar pistas que indiquem a autoria; quando
identificados, beneficiam-se do silêncio de vítimas e testemunhas, face ao temor de
represálias. Adiante, restará a conclusão de que todos os métodos de controle da atividade
policial (internos e externos) apresentam determinadas deficiências que acabam por
comprometer sua finalidade (SANTOS, 2018).
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Dezoito dos vinte municípios com maior taxa de homicídios se localizam nas regiões
Norte e Nordeste, foco de guerra entre facções. As dez cidades com mais homicídios por
100.000 habitantes, conforme o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) são: 1-
Maracanaú (CE) – 145,7;2- Altamira (PA) – 133,7; 3- São Gonçalo do Amarante (RN) –
131,2;4- Simões Filho (BA) – 119,9; 5- Queimados (RJ) – 115,6; 6- Alvorada (RS) – 112,6; 7-
Isto posto, pode-se afirmar que o Brasil, mesmo não estando em guerra, possui
indicadores de morte violenta semelhantes aos dos países que estão envolvidos em
conflitos armados.
Em 2018 houve quase 58 mil homicídios no Brasil. Nesse contexto, a taxa é de 27,8
mortes para cada 100 mil habitantes. Esse era menor nível de homicídios naqueles últimos
quatros anos. A redução em relação ao ano anterior foi de 12%. Em 2020, no entanto,
notou-se nova crescente, em alguns estados, em especial durante a pandemia do Corona
Vírus. Entre os homens, 77% foram mortos por arma de fogo, enquanto a taxa das mulheres
é de quase 54%. O risco de um homem negro ser assassinado é de assustadores 74%
maior, se comparado com pessoas de outras raças, e para as mulheres negras a taxa é
próximo a 65%.
Diante dos dados sobre a violência no Brasil e estudos realizados por especialistas,
é possível afirmar que os índices de violência no Brasil estão acima do nível tolerância dos
órgãos internacionais. O número de mortes no Brasil de 2008 a 2011 chegou a ser maior
que a soma de mortes dos 12 maiores conflitos armados no mundo, de 2004 a 2007.
a violência, como visto na comparação dos dados entre o Estado de São Paulo e Piauí.
As taxas de homicídios no Brasil pouco variaram desde 1997 até 2013, tendo em
vista a redução a níveis toleráveis estamos longe de alcançá-los. A grande dificuldade em
se pôr um fim a essa problemática é a grandeza de suas causas. Existe um ciclo vicioso que
envolve a desigualdade social, crimes, violência, ineficiência institucional e impunidade.
Essa realidade estatística não é fato novo. Isso porque ainda em 2000, 45.233 brasileiros
foram assassinados, a taxa nacional de 27 homicídios por 100 mil habitantes, o que coloca
o Brasil entre os países mais violentos do mundo.
Para os jovens em áreas urbanas pobres, a taxa é de 230 mortes por 100.000
habitantes, o que quase equivale a um genocídio. A sociedade civil tem vindo a responder
cada vez mais a essa violência com demonstrações, projetos, programas e iniciativas locais
como formas de combater o problema e promover a segurança pública (SOUZA, 2016).
Ora, nesse contexto, se verifica que o Executivo necessita não apenas do poder de
polícia, mas também de outros setores, como defesa civil, assistência social, entre outros,
sendo que tais incumbências poderão ser desempenhadas pelo exército.
estrutura composta por soldados que, além de outras atribuições, entre as quais a de salvar
vidas em incêndios, também desempenhava vigilância noturna com o escopo de evitar a
prática de ilícitos penais, como roubos. Por outro lado, também em Roma, mas no tempo
do Império, foram encarregados funcionários para que levassem as primeiras informações
de ilícitos empreendidos, aos juízes (TOURINHO FILHO, 2009).
O Estado detém o monopólio do uso das forças armadas para manter a ordem e a
preservação de direitos e bens. E para a realização da atividade de segurança pública, o faz
Wilson Odirley Valla, Coronel Reformado da Polícia Militar do Paraná, em sua obra
Doutrina de Emprego de Polícia Militar e Bombeiro Militar, ensina que controle da atividade
policial é o “acompanhamento das ações e operações da Corporação por todos os que
exercem comando, de forma a assegurar o recebimento, a compreensão e o cumprimento
das decisões do escalão superior pelo órgão considerado, possibilitando, ainda, identificar
e corrigir desvios” (VALLA, 2014, p. 54).
A própria Constituição Federal, em seu inciso VII, do artigo 129 estabelece que o
controle externo da atividade policial é uma das funções institucionais do Ministério
Público. Portanto, o que não falta são instituições destinadas à promoção do controle
externo e interno das Polícias, sendo que falta ainda a necessária coordenação e interação
entre os diversos órgãos para uma melhor efetividade da atividade de segurança pública.
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corporação para o cometimento de crimes. Muito embora, na maioria dos casos, esses
indivíduos quando da prática de atos criminosos, não façam uso da estrutura policial, mas
devido ao fato de a ela pertencerem, à infligem profundo desgaste perante a opinião
pública (BATELLA, 2018).
A apuração de crimes cometidos por policiais merece especial atenção, face serem
pessoas preparadas e conhecedoras dos métodos investigativos, e justamente por essa
razão, usam do conhecimento para evitar deixar pistas que indiquem a autoria; quando
identificados, beneficiam-se do silêncio de vítimas e testemunhas, face ao temor de
represálias. Adiante, restará a conclusão que todos os métodos de controle da atividade
policial (internos e externos) apresentam determinadas deficiências que acabam por
comprometer sua finalidade (SANTOS, 2010).
Nesse contexto, o Exército adentra como uma força arma de inevitável proeminência
na segurança pública, principalmente ante o grave descontrole da criminalidade e da
violência, onde as forças policiais do estado encontram óbices para atuar, perdendo sua
capacidade operativa de controlar a criminalidade e de oferecer segurança à população
Com isso, o Exército combate tanto o inimigo externo quanto o interno, agindo com
o bojo de trabalhar em parceria com as forças constitucionais de segurança pública, de
modo que sejam diminuídas as lacunas inerentes a tais forças de atuação, considerando o
treinamento e atribuições de cada uma delas. Garantir a lei e a ordem significa assegurar
o cumprimento da lei e a manutenção da ordem interna, objetivando a preservação da
ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, após o reconhecimento
formal da indisponibilidade, inexistência, insuficiência ou falência dos órgãos de segurança
pública competentes para tal (CARVALHO, 2015).
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dispõe sobre as normas gerais para a organização, o preparo e o emprego das Forças
Armadas, a partir da criação do Ministério da Defesa, adequando-se, portanto, à nova
estrutura político-administrativa adotada pelo Governo Brasileiro no tocante à condução a
sua Política de Defesa Nacional, na qual se buscou simultaneamente, a maior integração
operacional entre as três forças singulares e a ampliação da sua subordinação ao poder
civil. Esta Lei Complementar, por sua vez, veio a ser alterada, sofrendo acréscimo de alguns
dispositivos, pela Lei Complementar n 117, de 02 de setembro de 2004 (SOUZA, 2012).
Ressalte-se ainda que, por ser uma ação que envolve o emprego de Força Armada,
3 CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS
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Editores.com, 2014.
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Ed., 2015.
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e Tendências Futuras. Boletim IBCCRIM, nº. 113, 2002.
325
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(orientadora)
RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo analisar a Síndrome da Mulher de Potifar
e suas implicações probatórias nos crimes contra a dignidade sexual. Tal figura jurídica que
demonstra a capacidade de culpar outrem por crimes devido à recusa, de apresentar
denúncias inverídicas com a intenção de punir a pessoa causadora de tal desilusão, bem
como das consequências que acarreta e dos critérios que a desencadeiam na esfera
administrativa e judicial. Na perspectiva, detalha os sistemas de apreciação de provas,
como o do livre convencimento motivado, que é adotado pelo Brasil, e a versão de quando
a palavra da vítima é falsa. O Capítulo VI do Código Penal Brasileiro regulamenta os crimes
contra a dignidade sexual, pois nesses casos típicos, o sistema penal brasileiro atribui
grande importância à fala da vítima como mecanismo de avaliação de provas de tais crimes
(art. 201, CPP), e como isso pode acarretar danos ao acusado. E como a descoberta da
falsidade, inverte o papel de acusado ao de vítima, alvo de dois possíveis crimes o de
denunciação caluniosa e calúnia, este último dependendo do meio ao qual foi propagado.
Para discutir a frequente ocorrência de falsas denúncias de crimes sexuais nesse contexto,
este artigo foi desenvolvido na medida em que busca analisar a questão e as consequências
para os réus de tais delitos, abordando também uma provável institucionalização da prisão
preventiva ou medidas cautelares diversas como obrigatórias e automáticas no judiciário
brasileiro, e como a relevância da opinião pública nestes casos, torna a situação do falso
autor do delito extremamente delicada, fazendo com que o mesmo seja jogado no rol dos
culpados sem direito ao devido processo legal. Como também o princípio da presunção
de inocência.
ABSTRACT: The present work aims to analyze Potiphar's Woman Syndrome and its
evidentiary implications in crimes against sexual dignity. Such a legal figure that
demonstrates the ability to blame others for crimes due to refusal, to present untrue
complaints with the intention of punishing the person causing such disillusionment, as well
as the consequences it entails and the criteria that trigger it in the administrative and
judicial sphere. In perspective, it details the evidence assessment systems, such as the
motivated free conviction, which is adopted by Brazil, and the version of when the victim's
326
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word is false. Chapter VI of the Brazilian Penal Code regulates crimes against sexual dignity,
because in these typical cases, the Brazilian penal system attaches great importance to the
victim's speech as a mechanism for evaluating evidence of such crimes (art. 201, CPP), and
as this may cause harm to the accused. And as the discovery of falsehood, inverts the role
of accused to that of victim, target of two possible crimes: slanderous denunciation and
slander, the latter depending on the medium to which it was propagated. To discuss the
frequent occurrence of false reports of sexual crimes in this context, this article was
developed as it seeks to analyze the issue and the consequences for the defendants of such
crimes, also addressing a probable institutionalization of preventive detention or various
1 INTRODUÇÃO
“Eis que meu amo não sabe nem o que há comigo na casa, e tudo o
que tem ele entregou na minha mão. Não há quem seja maior do
que eu nesta casa, e ele não me vedou absolutamente nada, exceto
a ti, porque és sua esposa. Portanto, como poderia eu cometer esta
grande maldade e realmente pecar contra Deus? ” (Gênesis 39:8, 9)
E com isso a esposa disse ao marido ter sido vítima de violência sexual, por tanto a
doutrina penal usando analogicamente este fato batizou com este nome, sendo um termo
327
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Neste contexto se tem a síndrome da mulher de Potifar, teoria que busca analisar
a credibilidade do depoimento da vítima no direito penal e no processo penal, buscando
a validade e seriedade na investigação notadamente nos delitos sexuais, sendo via de regra
crimes praticados na clandestinidade por muitas vezes sem testemunhas, e com isto, temos
a palavra da vítima contra a do acusado, trazendo à tona fatos com maior veracidade a
narrativa acusatória prestada e impedir a possível prática da denunciação caluniosa, crime
descrito no artigo 339 do Código Penal, quando se dá causa à instauração de investigação
policial, de processo judicial, instauração de investigação administrativa, inquérito civil ou
ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que o sabe
inocente, evitando a injustiça gerada.
2 OBJETIVO
Com o presente trabalho objetiva-se apurar a relação entre o direito penal brasileiro
e a síndrome da mulher de Potifar, trazendo à tona informações pertinentes quanto a
implicações probatórias da palavra da vítima contra o acusado e mostrando como em
muitos casos há o prejuízo ao instituto do in dubio pro reo.
Para entendermos mais sobre a Síndrome da Mulher de Potifar e como ela interage
no direito penal, vislumbraremos o fenômeno da vitimização, que tem classificação de
acordo com a teoria sociológica criminológica que faz com que esta vitimização seja
encarada como primária, secundária e terciária. A vitimização primária são os efeitos
decorrentes da própria prática do crime ou os sofridos pela própria vítima decorrentes da
adoção por um terceiro da conduta socialmente inadequada. A vitimização secundária ou
sobre vitimização é a necessidade de lembrar dos fatos como aconteceram afim de permitir
a instrução de procedimentos investigatórios ou mesmo procedimentos judiciais e
apuração da responsabilidade penal das pessoas envolvidas. Na vitimização terciaria há
Com todo o contexto exposto, torna-se possível, com que a Síndrome da Mulher
de Potifar não se atenha apenas aos registros bíblicos, mas seja alvo de discussões na vida
real.
margem a palavra da vítima como meio de prova, conforme art. 201 do Código de Processo
Penal, que dispõe:
330
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6 QUESTÕES INDICIÁRIAS
Como quase todos os crimes de natureza sexuais aconteçam muitas vezes sem
testemunhas e também na clandestinidade, tal avalição seria uma forma de
complementação de prova da ocorrência do abuso, pois, muitas vezes não é suficiente para
a comprovação da materialidade do delito, com tal complementação tribunais e juízes de
direito utilizarem desse meio para afirmar com maior segurança e com isso consistência a
veracidade do depoimento acusatório.
331
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7 CONCLUSÃO
332
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um indivíduo acusado de cometer um crime específico, porém, não são raros os casos de
ausência de fundamentação para as prisões preventivas ou medidas cautelares.
No cerne do direito penal a avaliação do in dubio pro reo fica contaminada, tendo
exposto que a palavra da vítima teria maior peso contra a do acusado, como exemplo claro
dessa dissonância probatória, temos o crime de estupro e sua abrangência nos termos da
Lei nº 12.015/09 que quando descoberto causa um forte clamor social em favor da vítima
e quase que instantaneamente torna o acusado culpado, operando-se um pré-julgamento
em volta de quaisquer delitos de natureza sexuais, relembrando assim os dias sombrios do
O presente trabalho visa demonstrar critérios que deveriam ser observados antes
da valoração da palavra da vítima, que à luz das provas, conclui-se que nos crimes contra
a dignidade sexual, a pena não tem caráter absoluto, e que no caso em questão, bem como
todas as provas apresentadas pela suposta vítima do crime, devem ser completamente
perscrutadas, assim ao examinar os fatos relatados pela vítima o juiz deve ser cauteloso.
Ressalta - se que o objetivo deste estudo não é argumentar que tal crime não deva ser
punido, mas sim demonstrar que, em determinadas circunstâncias, a vítima pode criar um
cenário de violência com o objetivo de condenar um indivíduo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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6. ed. rev. e atual ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método: Forense, v. 2, 2014.
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO GRANDE DO SUL. Quinta Vara Criminal. Apelação Crime
ACR n. 70048486203. Relator: Diogenes Vicente Hassan Ribeiro. Julgamento em 30 de
setembro de 2021.
334
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RESUMO: A definição de terrorismo é uma tarefa difícil no cenário mundial, seja em razão
da alta complexidade do fenômeno, seja pela possibilidade de sua manifestação de
INTRODUÇÃO
Nesse exato sentido, Manuel Cancio Meliá aduz que o ponto de partida de qualquer
análise do conceito de terrorismo consiste em não se confundir a sua definição jurídico-
positiva com qualquer outra que lhe possa ser atribuída, em pontos de vista distintos de
uma análise estritamente dogmática.211
Nessa linha, de acordo com as lições de L. Arroyo Zapatero: “(...) puede ensayarse
una definición del problema ‘terrorismo’ conjugando dos elementos. De una parte, los
medios empleados y los resultados producidos por los autores de las prácticas terroristas
y, de otra, la finalidad que se persigue.” 212
211
CANCIO MELIÁ, Manuel. Los delitos de terrorismo: estructura típica e injusto. Madrid: Editora Reus, 2010.
212
ARROYO ZAPATERO, L., 1985 apud CAPITA REMEZAL, Mario. Análisis de la legislación penal
antiterrorista. Madrid: Editora Colex, 2008. p. 25.
GRUPO DE ESTUDIOS de Política Criminal. Uma alternativa a la actual política criminal sobre terrorismo.
213
337
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Nesse passo, pode-se afirmar que o terrorismo tem por objetivo imediato a difusão
do sentimento de terror, isto é, a promoção generalizada de um estado psíquico de grande
medo ou pavor, que corresponderia ao meio capaz de levá-lo ao seu objetivo último ou
mediato, a ser estudado em tópico subsequente.
Cumpre salientar que, para além da mensagem pretendida pelo ato terrorista, deve
haver a sua efetiva disseminação, ou seja, a ocorrência de um verdadeiro fenômeno
comunicacional. Na contemporaneidade, o que se percebe é uma relação de cumplicidade
PÉREZ CEPEDA, Ana Isabel. La seguridad como fundamento de la deriva del Derecho penal
215
338
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entre o terrorismo e a mídia, responsável pela divulgação dos atentados terroristas, o que
viabiliza a configuração prática do fenômeno em análise.
É de se notar que as vítimas diretas do terrorismo, que tiveram, por exemplo, a vida
ou a integridade física atingida, são tomadas como meros instrumentos necessários para o
alcance da disseminação do terror. As pessoas atacadas diretamente assumem o papel de
instrumento, funcionando como portadoras da mensagem terrorista.
LLOBET ANGLÍ, Mariona. Derecho penal del terrorismo: límites de su punición en un Estado democrático.
216
339
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Frise-se que, ainda que se tenha cometido um único ato, não restará prejudicada a
sua classificação como terrorista, pois, conforme os ensinamentos de Mariona Llobet Anglí,
o sentimento de pânico gerado pelo terrorismo não depende da pluralidade de atos
Boletim Conteúdo Jurídico v. 1111 de 03/09/2022 (ano XIV) ISSN - 1984-0454
Mariona Llobet Anglí, a quem se fez e ainda se fará outras referências ao longo do
presente estudo, não considera a ocorrência de um ato individual como um empecilho à
configuração do terrorismo, desde que o agente empregue meios de atuação poderosos,
capazes de alcançar a lesividade e operacionalidade próprias de uma organização
terrorista.218
LLOBET ANGLÍ, Mariona. Derecho penal del terrorismo: límites de su punición en un Estado democrático.
217
340
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complexidade. Conclui a autora que tudo isso só se faz possível no seio de uma
organização, demonstrando, assim, a necessária estrutura coletiva do terrorismo.219
Não obstante, não se afasta a possibilidade de um único sujeito ser capaz, por meio
de seu ato, de difundir o sentimento de medo em grande escala. Sobretudo na sociedade
moderna, em que a instantaneidade de informações é realidade, o medo é facilmente
disseminado, ainda que o ato ocorra em local isolado e distante do receptor da notícia.
Ocorre que não nos parece que esse medo, ainda que generalizado, poderá atingir a
magnitude típica do terrorismo.
VILLEGAS DÍAS, MYRNA. Elementos para um concepto jurídico de terrorismo. Santiago, Chile, 29 maio
219
341
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Estado, para, ao final, ocasionar uma alteração política, sem o respeito às formas
democráticas de consecução de resultados políticos (lê-se: manifestações sociais, exercício
do voto, greves, etc.).
e objetiva, por meio de atos de violência, a sua alteração forçada, as demais manifestações
do crime organizado sobrevivem na ordenação política local e, dessa forma, pretendem
seguir.
Nesse ponto, não merecem retoques as ponderações de Myrna Villegas Díaz, para
quem o terrorismo é: “(...) cometido con la finalidad de conmover los fundamentos del
Estado democrático alterando la estructura política, social, econômica y/o medioambiental
del país (que podría concretarse en un bien jurídico como el ordenamiento constitucional
democrático)”.222
LLOBET ANGLÍ, Mariona. Derecho penal del terrorismo: límites de su punición en un Estado democrático.
221
342
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que, como já exaustivamente explicitado, o ato terrorista possui como objetivo final forçar
o Estado a adotar a sua vontade imposta.
Importa salientar que não se deve aceitar, como meio suficiente para a configuração
do terrorismo, a lesão unicamente à propriedade, seja privada ou pública.
Entende-se que, para que o ato tenha capacidade de afetar ou ameaçar de forma
concreta a ordem democrática, deverá atingir bens jurídicos essenciais ao homem, como a
vida, a integridade física e a liberdade.
Destaca-se que tais meios são, em regra, os crimes que atentam contra os bens
jurídicos dotados de extrema importância às pessoas, quais sejam, a vida, a liberdade e a
integridade física. Isso porque somente o ataque aos bens mais essenciais do indivíduo
tem o condão de criar uma verdadeira atmosfera de terror, capaz de, em um segundo
momento, afetar ou ameaçar de forma concreta a ordem democrática.
Por conta disso, para Mariona Llobet Anglí, os atos que atentem exclusivamente
contra a propriedade ou outros bens materiais não são capazes de ser qualificados como
terroristas, incluindo-se, nesse grupo, por exemplo, os atos de grupos ecologistas que
produzam danos contra bens públicos ou grupos que produzam desordem pública. 14
343
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Nesse linha, Lauquer afirma que tal distinção “(...) is vitally important to recognize
that terrorism, although difficult to define precisely, as this brief history will show, is not a
synonym for civil war, banditry, or guerrilla warfare.”. 224 Veja-se que o autor, não obstante
reconheça a imprecisão do termo, afasta a possibilidade de o terrorismo ser sinônimo de
guerra civil, banditismo ou combates de guerrilha.
344
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XLIII, prevê que o Brasil repudia internacionalmente o terrorismo e que considera este crime
inafiançável e insuscetível de graça ou anistia.
(...)
SOUZA, Artur de Brito Gueiros. As novas tendências do direito extradicional. 2ª edição. Rio de Janeiro:
226
345
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É exatamente esse o raciocínio que vem sendo utilizado pelo Supremo Tribunal
Federal quando da distinção entre terrorismo e crime político, com vistas à extradição ou
não do estrangeiro. Na Extradição 399, a mero título exemplificativo, prevaleceu o caráter
de crime complexo no tocante ao sequestro do Diretor da Fiat-France, conduta pela qual
foi condenado o extraditando na França, o que viabilizou o afastamento da hipótese
excludente de concessão de extradição.
227
BARBOSA, Renata da Silva Athayde; COSTA, Rodrigo de Souza. O terrorismo na Constituição brasileira e
seu tratamento na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal.
228
HUNGRIA, 1960 apud SOUZA, Artur de Brito Gueiros. As novas tendências do direito extradicional. 2ª
edição. Rio de Janeiro: Renovar, 2013, p. 190.
229
CANCIO MELIÁ, Manuel. Los delitos de terrorismo: estructura típica e injusto. Madrid: Editora Reus, 2010,
p.70.
BAUMAN, Zygmunt. Medo líquido. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2008, p.
230
158.
346
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Na busca por um artifício equivalente à força militar que não possui, o terrorismo
encontra na disseminação de pânico, de prejuízos e de vulnerabilidade a arma para
compelir o grupo mais forte a recuar em sua política de dominação. Nesse sentido, Manuel
Cancio Meliá menciona que o equivalente ao uso da força militar desvendado pelo
terrorismo é a seleção de objetos distintos como alvos de sua agressão, com o objetivo de
gerar uma ameaça generalizada. 231
Isto posto, resta patente que guerra e terrorismo não refletem um mesmo
fenômeno. Ora, possuísse o grupo de agentes terroristas um poderio militar, típico dos
Desse modo, não se pode perder de vista que a mensagem da manifestação social,
diferentemente daquela emitida pelo terrorismo, tende a ser enviada diretamente ao
231
CANCIO MELIÁ, Manuel. Los delitos de terrorismo: estructura típica e injusto. Madrid: Editora Reus, 2010,
p. 70-71.
347
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Ocorre que não há qualquer evidência de que um tratamento penal mais rigoroso
representará de fato uma maior eficácia preventiva. Nas lições de Manuel Cancio Meliá, a
atuação do Direito Penal em caráter preventivo possui uma complexidade muito maior do
que supõe o discurso político-criminal que prevalece no cenário moderno, segundo o qual
haveria uma relação correspondente entre o maior nível de severidade do ordenamento
jurídico-penal e níveis superiores de eficácia preventiva. 233
232
VIGANÒ, Francesco. Terrorismo, guerra e sistema penale. In: Rivista Italiana di Diritto e Procedura Penale,
Milão, v. 49, p. 655, abr./jun, 2006.
233
CANCIO MELIÁ, Manuel. Los delitos de terrorismo: estructura típica e injusto. Madrid: Editora Reus, 2010,
p. 57.
234
CANCIO MELIÁ, Manuel. Los delitos de terrorismo: estructura típica e injusto. Madrid: Editora Reus, 2010,
p. 73.
348
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DIÉZ RIPOLLÉS, José Luis. Política criminal y derecho penal: estúdios. 2. Ed. Valencia: Tirant lo Blanch,
235
2013, p. 47.
HASSEMER, Winfried. Derecho Penal simbólico y protección de bienes jurídicos. In: BUSTOS RAMIREZ,
236
Ruan (dir.). Pena y Estado. Santiago: Editora Jurídica ConoSur, 1995, p.26.
237
CANCIO MELIÁ, Manuel. Los delitos de terrorismo: estructura típica e injusto. Madrid: Editora Reus, 2010,
p. 77.
349
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Percebe-se que, com o passar do tempo, boa parte das “leis de exceção” tendem a
perder a natureza de exceção para se tornarem comuns. É o que ocorre, por exemplo, com
o rol de crimes considerados como hediondos, que se encontra em constante expansão,
abrangendo cada vez mais tipos penais e, por conseguinte, despindo-se de seu caráter de
exceção.
É bem verdade que, sozinho, o Direito Penal não é suficiente ao combate de uma
forma de criminalidade tão complexa como é o terrorismo. Nas palavras de Manuel Cancio
Meliá: “Parece que en el caso de estos grupos, es especialmente claro que resulta imposible
desarticular – usando sólo medios de persecución criminal y duraderamente – una
organización multicéntrica y carente de una verdadera estructura funcional en su
conjunto.” 239
Ao revés, deve-se primar pela aplicação do Direito Penal comum, com o respeito
aos limites impostos por um Estado Democrático de Direito, aliada, ainda, a uma ação
LLOBET ANGLÍ, Mariona. Derecho penal del terrorismo: límites de su punición en un Estado democrático.
238
2010, p. 61
240
FERRAJOLI, Luigi. Principia iuris: teoria del diritto e della democrazia. 2. Teoria della democrazia. Itália,
Bari: Ediroti Laterza, 2007, v. 2, p. 507.
350
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como aquelas voltadas para a prática dos atos de terrorismo legalmente definidos.”.
351
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advento da Lei Antiterrorismo, verificava-se uma flagrante inércia por parte do legislador
ordinário em relação ao mandado de criminalização consubstanciado no art. 5º, XLIII, da
Constituição Federal.
O artigo 2º, da Lei n. 13.260/16, a fim de conceituar o terrorismo, utiliza-se das duas
classes de características comumente identificadas pela doutrina e já mencionadas em
oportunidade anterior. De um lado, indica aspectos que dizem respeito ao elemento
estrutural, destacando a forma de configuração do terrorismo; e, de outro, indica aspectos
relativos ao elemento teleológico, cujo enfoque corresponde aos objetivos traçados por
quem pratica o ato, nos seguintes termos:
III - (VETADO);
352
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353
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Da leitura dos incisos I a V, do §1º, do artigo 2º, da Lei, extraem-se as condutas por
meio das quais o ato terrorista será praticado, devendo-se ter sempre em mente que a
exposição a perigo de pessoa, patrimônio, paz pública ou incolumidade pública, prevista
no caput do art. 2º, é exigida para a configuração do crime de terrorismo, na forma de
qualquer dos seus incisos.
O inciso I 247
, da Lei, refere-se a substâncias danosas em geral, como “explosivos,
gases tóxicos, venenos, conteúdos biológicos, químicos, nucleares ou demais meios que
possam causar danos ou promover destruição em massa”, sendo certo que se está diante
de um rol meramente exemplificativo.
354
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Os incisos II250 e III42 foram vetados quando da sanção da Lei Antiterrorismo. Em relação à
redação do inciso III, havia a previsão do que se denomina, no mundo moderno, de
ciberterrorismo, que, nas lições de Mariona Llobet Anglí, constitui-se pelo uso da
tecnologia com o objetivo de disseminar um estado psíquico de terror na população.251
Por fim, o inciso IV 252 estabelece como conduta-meio para a prática do terrorismo
355
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da Lei 13.260/2016, aponta, em sua redação, as motivações exigíveis para que se configure
o ato de terrorismo, bem como o objetivo ou a finalidade que deve se fazer presente no
mesmo ato.
No tocante à finalidade do ato, a Lei em exame não faz alusão, de forma expressa,
à finalidade eminentemente política do ato de terrorismo, sustentada exaustivamente em
linhas precedentes, limitando-se o art. 2º a estabelecer como finalidade do crime de
terrorismo “provocar terror social ou generalizado”.
356
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públicos, considerada essa finalidade como seu objetivo final ou mediato, embora,
aparentemente, ausente do dispositivo legal.
Por essa razão, o §2º, do artigo 2º, da Lei Antiterrorismo255, afasta cabalmente a
aplicação do tipo penal de terrorismo à conduta individual ou coletiva de pessoas no
contexto de manifestações diversas, resguardando o livre exercício de manifestação e
evitando futuros enquadramentos equivocados do tipo penal de terrorismo. Todavia, ao
final do dispositivo legal, há ressalva quanto à possibilidade de responsabilização criminal
por outros fatos criminosos eventualmente praticados no ato.
255
“§2o O disposto neste artigo não se aplica à conduta individual ou coletiva de pessoas em
manifestações políticas, movimentos sociais, sindicais, religiosos, de classe ou de categoria profissional,
direcionados por propósitos sociais ou reivindicatórios, visando a contestar, criticar, protestar ou apoiar,
com o objetivo de defender direitos, garantias e liberdades constitucionais, sem prejuízo da tipificação
penal contida em lei.”.
357
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Convém registrar que a punição de atos que não necessitam de resultado material
Boletim Conteúdo Jurídico v. 1111 de 03/09/2022 (ano XIV) ISSN - 1984-0454
Dispõe o caput do artigo 5º 258 que será considerado como crime, inclusive, a prática
pelo agente de atos preparatórios ao terrorismo, estabelecendo para a sua caracterização
256
ROXIN, Claus. Derecho Penal. Parte General. Tomo I. Fundamentos. La Estructura de la Teoría Del Delito.
Traducción y notas Diego-Manuel Luzón Pena, Miguel Diaz y Garcia Conlledo y Javier de Vicente Remesal.
Madrid: Civitas, 1997. p. 177.
257
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal – parte geral (arts. 1º ao 120). – 3ª Ed. Vol. Único.
Editora Juspodivm, 2015.
“Art. 5o Realizar atos preparatórios de terrorismo com o propósito inequívoco de consumar tal delito:
258
358
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Note-se que o legislador quis evitar que fosse passível de punição o agente tão
somente a partir do início da execução de atos materiais destinados à realização do ato
ilícito. Ao contrário, antecipou-se na configuração do delito, punindo o ato preparatório ao
terrorismo, mesmo antes do início de qualquer ato executório, desde que demonstrado o
propósito de consumar o crime.
BACIGALUPO, Enrique. Derecho Penal. Parte general. 2. Ed. Buenos Aires: Editora Hammurabi, 1999, p.
259
462-463.
359
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Urge ressaltar que não se quer defender a toda razão a doutrina do direito penal do
inimigo, na forma como preconizada por Jakobs. No entanto, não há como se negar que a
antecipação da configuração do delito de terrorismo mostra-se, a princípio, condizente
com a gravidade e a complexidade do crime em questão.
Por fim, encerrando a análise da redação polêmica do art. 5º, da Lei n. 13.260/16,
quando o ato criminoso previsto no §1º 262 não envolver países distintos, mas permanecer
em um âmbito nacional, haverá a incidência do § 2º do mesmo artigo, da Lei.
260
JAKOBS, Gunter. Direito penal do inimigo: noções e críticas. 2ª Ed. Tradução: André Luis Callegari, Nereu
José Giacomolli. Editora: Livraria do Advogado. 2007, p. 44.
261
“§ lo Incorre nas mesmas penas o agente que, com o propósito de praticar atos de terrorismo: I -
recrutar, organizar, transportar ou municiar indivíduos que viajem para país distinto daquele de sua
residência ou nacionalidade; ou II - fornecer ou receber treinamento em país distinto daquele de sua
residência ou nacionalidade.
262
“§ 2o Nas hipóteses do § 1o, quando a conduta não envolver treinamento ou viagem para país distinto
daquele de sua residência ou nacionalidade, a pena será a correspondente ao delito consumado,
diminuída de metade a dois terços.”
360
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O artigo 7º, da Lei antiterrorismo, prevê uma causa especial de aumento de pena
para os crimes anteriormente previstos, em razão de eventual produção de lesão corporal
grave ou morte, salvo quando tais resultados constituírem elementares da prática do crime.
265
263
“Art. 6 o Receber, prover, oferecer, obter, guardar, manter em depósito, solicitar, investir, de qualquer
modo, direta ou indiretamente, recursos, ativos, bens, direitos, valores ou serviços de qualquer natureza,
para o planejamento, a preparação ou a execução dos crimes previstos nesta Lei: Pena - reclusão, de
quinze a trinta anos.”
264
“Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem oferecer ou receber, obtiver, guardar, mantiver em
depósito, solicitar, investir ou de qualquer modo contribuir para a obtenção de ativo, bem ou recurso
financeiro, com a finalidade de financiar, total ou parcialmente, pessoa, grupo de pessoas, associação,
entidade, organização criminosa que tenha como atividade principal ou secundária, mesmo em caráter
eventual, a prática dos crimes previstos nesta Lei.”.
265
“Art. 7o Salvo quando for elementar da prática de qualquer crime previsto nesta Lei, se de algum deles
resultar lesão corporal grave, aumenta-se a pena de um terço, se resultar morte, aumenta-se a pena da
metade.”
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A ressalva feita pelo legislador no início da redação do artigo 7º (“Salvo quando for
elementar da prática de qualquer crime previsto nessa Lei”) impossibilita a sua incidência
no delito de terrorismo consubstanciado no artigo 2º, que já prevê como modalidade do
crime, em seu inciso V, “atentar contra a vida ou a integridade física de pessoa”.
Importa anotar que, ainda que não existisse a previsão do inciso V, do artigo 2º, da
Lei, ou a ressalva do artigo 7º, levando-se em consideração a gravidade inerente ao crime
de terrorismo, mostrar-se-ia desarrazoado o aumento de pena em caso de observância
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Percebe-se que o art. 10, da Lei n. 13.260/16, anuncia uma hipótese de antecipação
do marco inicial da desistência voluntária e do arrependimento eficaz, restando a chamada
266
“Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado
se produza, só responde pelos atos já praticados.”
267
“Art. 10. Mesmo antes de iniciada a execução do crime de terrorismo, na hipótese do art. 5o desta Lei,
aplicam-se as disposições do art. 15 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal.”
268
GREGO, Rogério. Curso de Direito Penal. Parte Geral. Niterói: Impetus, 2012, p. 271.
362
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ponte de ouro 269 habilitada desde antes dos atos de execução, ainda durante os atos
preparatórios, o que amplia a incidência do benefício de política criminal.
363
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Ressalte-se, ainda, que eventual violação aos direitos humanos também não implica,
automaticamente, a competência da Justiça Federal, pois deve haver a inércia ou ineficácia
dos órgãos estaduais, bem como a representação do Procurador Geral da República
devidamente acatada pelo STJ, para que se processe o respectivo incidente de
deslocamento de competência, nos estritos termos do artigo 109, § 5º, da CR/88.
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No entanto, isso certamente não se pode firmar por mera injunção dogmática. Aos
tribunais e, mais especificamente, ao STF, cabe firmar esse entendimento, sendo dada a
interpretação do artigo 11, da Lei 13.260/16, conforme a Constituição, ou mesmo
declarando-se a sua inconstitucionalidade. Enquanto isso não acontece, a questão, a
princípio, é de atribuição da Polícia Federal, na fase investigatória, e de competência da
Justiça Federal, na fase processual.
BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de Processo Penal. 7ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 274. 63
270
MUCCIO, Hidejalma. Curso de Processo Penal. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011, p. 467.
271
Art. 5º, XLIII, da Constituição Federal: “a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou
anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos
como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los,
se omitirem;”.
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Com o advento da Lei n. 13.260/16, dúvida logo emergiu em relação a qual ou quais
dos crimes previstos na referida Lei é ou são equiparados aos crimes hediondos, nos termos
do artigo 5º, XLIII, da CF, surgindo na doutrina dois entendimentos diversos quanto ao
ponto.
Uma primeira corrente, aderida por Renato Brasileiro, adotando uma visão restritiva,
Já uma segunda corrente, defendida por Rogério Sanches, é no sentido de que todos
os crimes previstos na Lei n. 13.260/16 devem ser equiparados aos delitos hediondos. Isso
porque a Constituição Federal equipara aos crimes hediondos não os atos terroristas, mas
sim o terrorismo, seja este estampado em atos, no financiamento da atividade, em atos
preparatórios ou em qualquer outra modalidade.
De mais a mais, não parece razoável equiparar a crime hediondo o artigo 2º, § 1º,
da Lei 13.260/16, que trata dos atos de terrorismo, e não equiparar a crime hediondo o
art. 6º, da mesma Lei, que dispõe acerca do financiamento do terrorismo, punindo mais
severamente o agente, com pena de reclusão de quinze a trinta anos.
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aos crimes definidos pelo art. 2º, § 1º, da Lei. Se quisesse o legislador restringir a incidência
da Lei 8.072/90, certamente o faria de maneira expressa.
objetivando assegurar a eficácia das investigações criminais quanto a alguns crimes graves.
275
O artigo 18, da Lei n. 13.260/16, alterou a Lei n. 7.960/89 - Lei sobre prisão
temporária -, para permitir essa modalidade de prisão aos crimes previstos na Lei
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julgamento dos crimes de terrorismo. O art. 19 278, da Lei, ainda, altera a referência da Lei
de Organizações Criminosas em sua menção ao terrorismo.
278
“Art. 19. O art. 1o da Lei no 12.850, de 2 de agosto de 2013, passa a vigorar com a seguinte alteração:
‘Art.1o .......................................................................
§2o .............................................................................
II - às organizações terroristas, entendidas como aquelas voltadas para a prática dos atos de terrorismo
legalmente definidos.’”.
279
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 5. ed. Salvador: Ed. JusPodivum, 2017, p.
280
.
281
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 5. ed. Salvador: Ed. JusPodivum, 2017, p. 813.
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CONCLUSÃO
Boletim Conteúdo Jurídico v. 1111 de 03/09/2022 (ano XIV) ISSN - 1984-0454
À vista disso, deve o Direito Penal incidir nos casos de terrorismo, tipificando
adequada e proporcionalmente cada conduta e empregando instrumentos efetivos de
controle, a fim de que os atos delituosos sejam, ao máximo, evitados. Evidentemente, deve-
se observar o sistema constitucional-penal vigente, para que se preserve a dignidade da
pessoa humana e todas as garantias constitucionais, penais e processuais penais do sujeito
incriminado.
Mais do que isso seria, como já referido, alimentar o próprio terrorismo, vez que a
opção por medidas extremadas de repressão, como aquelas próprias dos atos de guerra,
provoca, na realidade, o agravamento da situação a que se quer repelir, encontrando o ato
terrorista na própria ideologia agressiva de seu combate um fator que contribuirá com a
criação da atmosfera de pânico pretendida.
197.
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É bem verdade que a Lei apresenta algumas falhas, como: (i) a previsão, no preceito
secundário do seu art. 2º, da aplicação do tipo penal referente à ameaça ou à violência
concomitantemente ao tipo penal de terrorismo, afastando o princípio da consunção; (ii) a
ausência de previsão expressa, em seu art. 2º, da finalidade eminentemente política do ato,
característica essencial do terrorismo; e (iii) a determinação, em seu art. 11, da competência
Por fim, espera-se que a aplicação da Lei não se mostre necessária tão cedo, mas o
cenário mundial atual, em que se verificam, reiteradamente, atentados terroristas violentos,
marcados pela instrumentalização de vítimas diretas e indiretas, sobretudo no Oriente
284
Art. 5º, XLIII, da Constituição Federal: “a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou
anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos
como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los,
se omitirem;”.
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Médio e na Europa, não permite ao Brasil ter uma visão passiva e romântica em relação ao
que ocorre além de suas fronteiras.
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Impetus, 2012.
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Abstract: Constitutionalism was consolidated in the 17th and 18th centuries. Constitutional
control was inaugurated in 1803 in the Marbury versus Madison trial in the US. These events
contributed to the 1931 clash over who should be the guardian of the Constitution. Carl
Schmitt in Germany argues that this role belongs to the President of the Reich. Hans Kelsen
in Austria argues that a constitutional court with extraordinary, independent and neutral
jurisdiction is the appropriate body to promote the defence of fundamental rights. These
285 Doutor em Direito pela UFMG. Especialização em Direito pela UFMG. Graduação em Direito pela UFMG.
Procurador do Estado de Minas Gerais. Professor Titular da FHC e da FUMEC.
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Keywords: Constitutionalism. Judicial Review. Carl Schmitt. Hans Kelsen. Systemic Evolution.
Introdução
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1. Contexto Histórico
No século XVIII esse sistema firma-se nos Estados Unidos da América “quando
iniciaram a codificação do direito constitucional e instituíram aquela moderna forma de
Governo democrático” e na França com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão
de 1789.
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Com fundamento na Lei de 1789, Jucidiary Act, que dava à Suprema Corte o poder
de conceder mandados, Marbury, ajuizou ação, writ of mandamus, pedindo a posse no
cargo de juiz. Porém o pedido foi negado com amparo no fato de que a mencionada lei é
inconstitucional, por criar uma competência não prevista nas normas constitucionais. O
controle de constitucionalidade instituído com a clássica denominação de judicial review
em prevalência ao princípio da supremacia constitucional, dado que a norma considerada
inconstitucional com os efeitos ex tunc de retorno ao satus quo ante tendo em vista a
declaração de nulidade da norma infraconstitucional (BARROSO, 2019a, p. 393-424).
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Adolf Hitler como Chanceler e lhe conferir poder ilimitado, que foi legitimado pelo próprio
sistema legal existente à época.
Carl Schmitt elaborou a Teoria da Constituição que serviu de base dogmática para
a doutrina do direito e do estado nacional socialista. A carta magna é a compilação das
decisões políticas fundamentais do Poder Constituinte Originário, que por sua vez exprime
a realidade social. Várias são as acepções da Constituição, a saber: absoluta que a
reconhece como um todo unitário, relativa que a identifica como uma pluralidade de leis
absolutas, positiva que a distingue com o conjunto de decisões políticas e ideal que a
classifica como tendo um conteúdo específico (CARVALHO, 2015a, p. 61-62).
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social, seja educacional, seja trabalhista. Por outro lado, seu artigo 48 marcou a intervenção
estatal com a criação do estado de exceção, pois no caso de a segurança e a ordem públicas
estivessem seriamente ameaçadas o Presidente do Reich, como defensor constitucional,
poderia tomar as medidas necessárias a seu restabelecimento com auxílio de força armada,
podendo, para esse fim, suspender os direitos fundamentais.
O limite objetivo deve ser observado para o exercício da jurisdição, uma vez que
tem um caráter político, seja na esfera civil ou administrativa em que a proteção judicial
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serve ao interesse jurídico de um dos litigantes, seja na esfera penal em que o delito é o
objeto da lei penal, que tutela valores sociais. A decisão judicial é proferida sempre depois
do evento ocorrido, ou seja, refere-se a fatos passados e aplicável ao caso concreto objeto
dos autos do processo judicial, tendo como escopo a formação de jurisprudência e
eliminação autoritária da dúvida surgida.
Legislativo, pois no Estado de Direto, a justiça, assim entendida como decisão judicial,
sempre deve ser exarada com base na norma, tendo tem vista o princípio da legalidade ao
qual o Poder Judiciário está vinculado, de modo a diferenciar a aplicação do direito e a
função jurisdicional. O conceito de justiça tinha como limite o fato de que a norma
constitucional é dificilmente emendável, ainda que seu conteúdo seja equívoco. Este
conflito não pode ser resolvido mediante a aplicação da teoria de há uma hierarquia entre
as leis, devendo, neste caso ser adotada a interpretação autêntica. Uma norma deve se
autoproteger normativamente, uma vez que não é concebível que uma norma
necessariamente tenha que ter fundamento de validade em outra norma. Não há que se
falar em justiça constitucional em um sistema de aplicação de norma sobre norma, de
forma a distinguir o Direito e a atividade legislativa.
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assim o mencionado Tribunal teria que ter uma essência totalmente diversa, já que a
Constituição do Reich é autônoma em relação às Constituições dos Estados que o compõe.
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eles destinadas com força coercitiva e de cumprimento geral, ou seja, um verdadeiro dever
ser baseado em uma norma fundamental. Nessa denominada Teoria Pura do Direito é
implantado o princípio da supremacia da Constituição por uma sistemática positivista em
que uma norma jurídica tem como fundamento de validade outra norma, já que Estado é
uma personificação metafórica da ordem jurídica. O “ordenamento jurídico forneceria, em
muitos casos, apenas uma moldura, um conjunto de possibilidades decisórias legítimas,
[pois a] escolha de uma dessas possibilidades [...] seria um ato político, isto é, plenamente
discricionário”, o que justifica a sentença judicial pautada na lei editada pelo Poder
O Direito também é entendido como o próprio Estado, que por sua vez é a
personificação metafórica da ordem jurídica. Suas duas faces são a estática, que atende ao
conteúdo da norma em si mesma e a dinâmica, em que a norma é sempre recriada com
base em lei anterior por um órgão estatal previamente estruturado para o desempenho
desta função.
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Influenciado por todos seus estudos prévios sobre o Direito, Hans Kelsen em 1931
apresenta suas contrarrazões à tese de Carl Schmitt suscitando que o guardião da
Constituição deve ser um órgão estatal denominado Tribunal Constitucional, com as
funções estatais próprias do Poder Legislativo e do Poder Judiciário, que criam e aplicam
as normas jurídicas de forma genérica e de forma individual, respectivamente.
Há uma distinção essencial entre uma função jurisdicional e uma função política.
O controle de constitucionalidade das normas legais “é reservado a um único tribunal [que
detém a] competência para anular a validade da lei reconhecida como inconstitucional não
só em relação a um caso concreto mas em relação a todos os casos a que a lei se refira”. A
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“norma jurídica, em regra, somente é anulada com efeitos para o futuro, de forma que os
efeitos já produzidos que deixar para trás permaneçam intocados” (MORAES, 2019, p. 789
e 823).
No exercício da função política jamais será feita justiça, já que é própria do Poder
Legislativo, sendo um equívoco pensar que o Poder Judiciário poderia dela se valer como
atribuição autêntica. Ilustrando, na jurisdição internacional há por certo um conflito de
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interesses políticos entre Estados soberanos, mas este evento não tem o condão de lhe
retirar a natureza de uma disputa tipicamente jurídica.
4. Considerações Finais
Esses eventos muito contribuíram para o embate ideológico entre Carl Schmitt na
Alemanha e Hans Kelsen na Áustria de quem deveria ser o defensor da Constituição no
contexto do Estado Liberal de Direito ocorrido no período histórico entreguerras no século
XX.
Em 1931, Carl Schmitt defende a tese antiliberal de que o Presidente do Reich tem
legitimidade para desempenhar a função, inclusive legislativa, de guardião de Constituição,
questionando veementemente o papel do Poder Judiciário politizado, por considerá-lo
uma instituição que almeja garantir a segurança e as liberdades da burguesia,
desequilibrando o sistema constitucional do Estado. Deste modo, no controle político da
constitucionalidade não se pode conceber um Tribunal independente para revisão de atos
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Para Hans Kelsen, com base na sua Teoria Pura do Direito e na supremacia da
Constituição, ainda em 1931, em resposta direta às proposições de Carl Schmitt, manifesta
seu posicionamento liberal no sentido de que uma democracia moderna, que visa a
liberdade e o pluripartidarismo, não pode prescindir de um Tribunal com prerrogativa
judicante extraordinária, diferenciado das atribuições legislativas, executivas e
jurisdicionais ordinárias.
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deve ser o guardião da constituição? Trabalho publicado nos Anais do XXV Congresso
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MONTESQUIEU, Charles Louis de. O espírito da leis. São Paulo: Martins, 2005.
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Perícia Criminal.
Abstract: The present work aims to present the trajectory and historical construction of
the Public Defender's requisition power, which culminated in the dismissal of Direct Action
of Unconstitutionality 6.852/DF, proposed by the Attorney General of the Republic, in an
attempt to invalidate such institutional prerogative, and judged by the Federal Supreme
Court, when there was confirmation of the power of requisition, to be guided by the
responsibility and ethics of each defense member, as an institutional instrument. Historical,
legal and jurisprudential elements were used. Based on this flow of reasoning, the reflection
was built on the historical context since the ancient Roman figure of the tribunus plebis,
and on the importance of achieving a broad defense, equipped with isonomy and efficient
capacity to carry out, by all legal means, its greatest expression, namely, the right to
produce evidence.
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Introdução
É dizer, o direito a uma defesa jurídica de qualidade (que nasceu como a direito a
uma defesa, sem adjetivação), irradiado do cânone do devido processo legal, nasceu
difusamente, podendo-se concluir, originado da lenta evolução civilizatória, ou até mesmo
do sentimento caritativo de matriz religiosa.
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Adicionalmente, na esteira da análise dos votos escritos na ADI 6852, frisamos que
o STF reconheceu o poder de requisição à Defensoria Pública como poder implícito,
expressão do princípio da isonomia em similitude e paralelismo com o mesmo poder
conferido ao Ministério Público, para equiparação de forças institucionais, dentre outros
argumentos também referenciados no decorrer do capítulo.
Sobretudo após a Emenda Constitucional 80/14, que alterou o disposto no art. 134
da Lei Maior, delimitou-se com maior clareza a distinção da atividade institucional da
Defensoria Pública em relação à advocacia privada, assim como se tonificou o perfil
institucional e constitucional da Defensoria Pública no ordenamento jurídico brasileiro,
como instituição independente, dotada de unidade corporativa entre seus ramos e, por
isso, indivisibilidade representativa.
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não é repetido, por exemplo, no que diz respeito ao controle externo da atividade policial
(inciso VII), à realização de levantamentos investigativos ou menos ainda à interlocução
interinstitucional.
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400
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A esse respeito, no transcurso de seu voto como relator da aludida ação direta (ADI
6852), o Min. Edson Fachin diversas vezes pontuou tal paralelismo institucional como
pertinente para o exercício de poderes equivalentes, como na seguinte passagem: “Em
diversas ocasiões esta Suprema Corte tratou de apontar o paralelismo traçado pelo
constituinte entre Ministério Público e Defensoria Pública.”
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(...)
Por sua vez, o Min. Gilmar Mendes enfatizou a relevância da EC 80/14 para o
fortalecimento de um regime jurídico diferenciado à Defensoria Pública:
Ao seu turno, o Min. Nunes Marques, citando a renomada obra do saudoso jurista
italiano Mauro Cappelletti, somou a observação de que a Defensoria Pública deve
corporificar verdadeiro instrumento de aperfeiçoamento da prestação jurisdicional:
“Aponto também que a criação da Defensoria Pública atende a um dos pressupostos de
aperfeiçoamento do acesso à justiça, inserindo-se nas suas respectivas ondas renovatórias,
conforme lição de Mauro Cappelletti (CAPPELLETTI, GARTH, 1988).”
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No que diz respeito ao voto da Min. Cármen Lúcia, convém lembrar, primeiro, que
notadamente em julgamentos de maior relevo e repercussão dificilmente se obtém
unanimidade no plenário de uma corte constitucional, como os 11 votos no plenário da
Corte Suprema brasileira; segundo, que a ministra foi relatora do entendimento anterior
proclamado na ADI 230, julgada em 01.02.10, que foi superado pelo julgamento da ADI
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CONCLUSÃO
Não obstante, o fato é que a controvérsia e tal resistência reacionária foi proposta
pelo chefe do Ministério Público Federal, o Procurador Geral da República, e a Corte
Suprema brasileira sedimentou que tal prerrogativa é inerente às funções institucionais
corporificadas pela Defensoria Pública, tanto no julgamento da ADI 6852 quanto das
mesmas ações (ADI) contra todas as leis estaduais que reiteram as mesmas disposições
(Ministério Público Federal, 2021), por maioria absolutamente representativa, incluindo
unanimidade no aspecto da tutela coletiva (diga-se de passagem, também antes atacada
pela Associação Nacional do Ministério Público – Conamp, e já derrotada no julgamento
da pretérita ADI 3943, julgada pelo STF em 07.05.15).
Para encerrar, é sempre oportuno reforçar que o instituto jurídico hoje traduzido
na Defensoria Pública, como órgão constitucional e autônomo, deriva das primeiras raízes
históricas da percepção da importância do devido processo legal, isto é, do direito a uma
defesa. E, nessa linha do tempo, cada vez mais, tem-se evoluído para o direito a uma defesa
eficientemente adjetivada, defesa de qualidade, defesa necessariamente comprometida
com valores éticos e sobretudo com a ideia de justiça substancial que contribua para um
tratamento de efetiva igualdade perante a lei para todos os cidadãos, assim como colabore
para a melhor organização do sistema de justiça e da vida em sociedade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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realização dos fins. Recorrente: Jairo de Souza Coelho. Recorrido: Ministério Público do
Estado de Minas Gerais. Redator: Min. Gilmar Mendes, 14 de maio de 2015. Disponível
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Acesso em: 24 jun 2022.
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Tip. do Instituto Philomathico, 1870. Disponível em:
https://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/242733. Acesso em: 16 maio 2022.
408
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ABSTRACT: The present work seeks to analyze the problem of the adoption of children
and adolescents regarding the situation before, during and after divorce, as well as the
necessary posture of the State and civil society in the face of such situation. The legal rights
and responsibilities of adoptive parents, after divorce or divorce proceedings during
adoption, are topics present in this research that seek to highlight and clarify such
questions about adoption. Can the court consider the biological link to a stepfather who
adopts another parent's child? How are child custody determinations made, assigned by a
judge or mediation? We will address these and other questions throughout this article.
Keywords: Fundamental Rights. Adoption and Divorce. Biological bond. Child and
teenager.
Quando os pais optam por adotar uma criança, assumem certas obrigações
relacionadas a essa criança, bem como adquirem certos direitos, perante a face legal, uma
vez finalizado o processo de adoção. O progenitor tem o dever de cuidar e sustentar a
criança, assim como faz com os filhos nascidos de um casamento. Além disso, os pais têm
o direito de tomar decisões relacionadas ao filho adotivo, incluindo decisões sobre sua
educação, atividades extracurriculares e outros aspectos de sua vida.
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do outro pai. O tribunal pode considerar o vínculo biológico e há quanto tempo o padrasto
é pai legal da criança como parte da consideração, porém todas essas informações podem
não ser definitivas na determinação da guarda da criança.
casos, ambos os pais mantêm a custódia legal total, mas um dos pais pode receber uma
quantidade maior de custódia.
Intenção de divórcio
Conclusão
410
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FILHO, Arthur Marques da Silva. ADOÇÃO. 4ª ed. REVISTA DOS TRIBUNAIS. 2019. 300 p.
TARTUCE, Flávio. Direito Civil – Direito de Família. 5ª ed. Editora Forense. 2022. 888 p.
411
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1 INTRODUÇÃO
412
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413
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414
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Significa dizer, noutros termos, que se trata de veículo criado com o objetivo de
289 FORTUNA, Eduardo. Mercado financeiro: produtos e serviços, 19ª ed. rev. e atual., Rio de Janeiro:
Qualitymark Editora, 2013, p. 839.
290 WALD, Arnoldo. Da natureza jurídica do fundo imobiliário. In: Revista Forense, 309, p. 9-14.
291 “Do ponto de vista do investidor [...] o interesse pelo fundo se justifica pelo fato de os FIDCs
oferecerem rentabilidade superior à dos ativos disponíveis no mercado financeiro com nível de risco
equivalente combinado com colateralização pelas cotas subordinadas ou outra modalidade de garantia,
que mitigam o risco da carteira. ” (ANBIMA. Estudos Especiais – Produtos de Capitação: Fundos de
Investimento em Direitos Creditórios. Rio de Janeiro: ANBIMA, 2015, p. 11).
415
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416
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Ocorre que, sem prejuízo das necessárias críticas à posição atualmente adotada,
por ausência de substrato fático ou legal relevante que confira razoabilidade à forte
intervenção judicial nas relações mantidas no âmbito do fomento mercantil, o que se tem,
voltando-se ao escopo do presente trabalho, é que o entendimento pacificado acerca da
impossibilidade de regresso no âmago das aludidas operações, sob pretexto de situação
análoga, vinha sendo indiscriminadamente estendido à securitização de recebíveis, mais
especificamente, ao FIDC, sem devido aprofundamento acerca da matéria, tampouco das
particularidades desta última operação.
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(g) o FIDC tem como maior objetivo vender cotas para investidores,
ele possui CNPJ, mas não é uma empresa; ao contrário, a sociedade
de factoring é uma empresa independente, cujo objetivo principal é
adquirir os recebíveis dos seus clientes.294
294 CASTRO, Rogério Alessandre de Oliveira. Factoring e securitização de recebíveis mercantis. In: O direito
brasileiro em evolução: estudos em homenagem à Faculdade de Direito de Ribeirão Preto[S.l: s.n.], 2017.
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419
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(...) é bem de ver que o art. 2º, II, da Instrução CVM n. 356/2001, com
prudência e trazendo mais segurança jurídica à operação,
expressamente se abstém de imiscuir-se na disciplina legal, ao prever
que a cessão dos direitos creditórios é a transferência pelo cedente,
credor originário ou não, de seus direitos creditórios para o FIDC,
mantendo-se inalterados os restantes elementos da relação
obrigacional.
Boletim Conteúdo Jurídico v. 1111 de 03/09/2022 (ano XIV) ISSN - 1984-0454
O seu art. 2º, XV, por sua vez, vai além, ao trazer expressamente o conceito de
coobrigação, nos termos a seguir:
É certo que tal previsão foi incluída na Instrução Normativa com a finalidade de
referendar a higidez da cláusula ora sob foco, buscando dar cabo à polêmica doutrinária e
jurisprudencial instaurada acerca do tema.
420
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E, ainda, sobre o parágrafo único do artigo 421, que objetiva dar maior concretude
à liberdade contratual:
É de se dizer, ainda, que tal configuração de cessão de crédito não pressupõe lesão
ao cedente, voltando-se à outra razão (ii) que alicerça as posições contrárias à estipulação
422
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da cláusula. Não pressupõe lesão, primeiro, porque não estamos diante de relação
assimétrica.
Mas vai além. Referida configuração da cessão de crédito, com garantias acopladas
aos títulos mais robustas, ao fornecer maior segurança ao cessionário na aquisição do
crédito, considerando que isso enseja uma diminuição do risco de inadimplência,
proporciona cenário propício à celebração de referidas operações, com potencial para o
desenvolvimento e a expansão de um mercado que, em última análise, permite aos titulares
de direitos creditórios obter, quando necessário, liquidez a partir dos créditos que
possuem, contribuindo para o crescimento da economia como um todo.
424
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Quanto a esse ponto, retome-se a análise do voto proferido pelo Ministro Luis
Felipe Salomão quando do julgamento do Recurso Especial nº. 1.726.161/SP:
(...)
Por fim, imprescindível, mais uma vez, promover destaque das ponderações do
amicus curiae Instituto Brasileiro de Direito Civil - IBDCIVIL:
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(...)
Significa dizer que, quando da contratação das cessões de crédito por esses FIDC,
as partes negociaram, em boa-fé e com base nas normas vigentes, os respectivos termos
e condições, incluindo a eventual prestação de coobrigação pelos cedentes ou por suas
partes relacionadas, sendo referida existência ou não de coobrigação fator essencial para
aquisição do crédito, pois indica a quais riscos os direitos creditórios estão expostos, além
de ser elemento crítico para a justa precificação desses direitos na carteira de fundo.
296 O tema já voltou a ser objeto de análise da Corte, mediante julgamento do REsp 1.909.459-SC em
18/05/2021. Referida decisão, como dito, replica entendimento sufragado no âmbito do apelo nobre REsp
1.726.161/SP, no sentido de ser valida a cláusula pro solvendo. Vide Informativo nº 0697 do STJ, com
publicação em 24 de maio de 2021.
297 Distinção necessária, máxime pelo entendimento consolidado acerca das operações de factoring,
recentemente ratificado no bojo do REsp 1.711.412-MG, julgado em 04/05/2021 (Info 695).
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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RESUMO: O presente artigo tem por objetivo analisar o aumento da criminalidade no país,
bem como entender por qual motivo as tentativas de inovações em que gestores da
segurança pública vêm utilizando não estão contribuindo para diminuição da violência
urbana, tampouco aumentando a sensação de segurança do povo brasileiro, pelo
contrário, está subindo a taxa de violência, principalmente em crimes contra a vida, que é
o bem jurídico tutelado de maior importância no nosso ordenamento. Em seguida, será
citado dados, a sua identificação, as consequências e as formas de prevenção e melhoria
da gestão de segurança pública. Este artigo foi elaborado por meio de pesquisas realizadas
em artigos científicos, sites da internet e debates realizados por pesquisadores da área de
segurança, obtendo seu desenvolvimento através da análise de dados, reflexão e leitura de
outros pesquisadores, visando analisar e explorar a causa, consequências e propostas de
melhorias na segurança pública brasileira.
ABSTRACT: This article aims to analyze the increase in crime in the country, as well as to
understand why the attempts at innovations that public security managers have been using
are not contributing to a reduction in urban violence, nor are they increasing the sense of
security of the Brazilian people , on the contrary, the rate of violence is rising, mainly in
crimes against life, which is the most important legal asset under our legal system. Next,
data will be cited, their identification, consequences and ways of preventing and improving
public safety management. This article was elaborated through research carried out in
scientific articles, internet sites and debates carried out by researchers in the field of
security, obtaining its development through data analysis, reflection and reading of other
researchers, aiming to analyze and explore the cause, consequences and proposals for
improvements in Brazilian public safety.
1 INTRODUÇÃO
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I - polícia federal;
IV - polícias civis;
As atribuições da Polícia Federal são apurar infrações penais contra a ordem política
e social, assim como outras infrações que tenham repercussão interestadual ou
internacional; reprimir e prevenir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins; exercer
funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras, bem como exercer as funções
de polícia judiciária da União.
Já as Polícias Civis, que são comandadas por Delegados de Polícia de carreira, têm
como funções a de polícia judiciária e apuração de infrações penais, salvo as militares.
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Temos ainda o artigo 5º da Constituição Federal que trata a respeito dos direitos e
deveres individuais e coletivos, que em seu caput dispõe:
Por outro lado, é possível analisar no transcorrer dos anos que esse direito não está
sendo garantido de forma eficiente pelo Estado, visto que as medidas que são utilizadas
não trazem a sensação de segurança para os cidadãos, pelo contrário, a população
brasileira está imersa no medo e na insegurança de ir e vir livremente, dado que a violência
vem aumentando cada vez mais, bem como progressivamente, a justiça brasileira insere
cada vez mais indivíduos dentro de um sistema prisional precário, insalubre e sem
ressocialização efetiva, contribuindo assim, para um indivíduo mais violento.
Apura-se, ainda, que os Estados tem investido cada vez mais na contratação de
novos policiais, o que deveria ser positivo, entretanto, uma grande parcela da população
não se sente segura com esses servidores, dado que existem muitos policiais que em suas
operações utilizam-se de força excessiva e letal, bem como os lamentáveis casos de
corrupção policial. Em contrapartida, no militarismo, por exemplo, superiores hierárquicos
ainda compactuam com a cultura de fazer com que os novos soldados na escola de
formação, recebam treinamentos humilhantes, viris, violentos e vexatórios, para assim criar
agentes violentos e de fácil manipulação, o que colabora com o índice de suicídio de
policiais, por não resistirem a pressão da corporação.
Dito isso, será que o Estado está investindo e trabalhando de forma a diminuir os
índices de violência no país ou está indo na contramão do que realmente deve ser feito? A
longo prazo, seria a prevenção da violência, evitando que jovens ingressem no mundo do
crime, ou seja, através de políticas públicas, assim como estão investindo na criação de
policiais mais eficientes, íntegros e profissionais?
Sabe-se que existem várias instituições que compõem o Sistema de Justiça Criminal,
como o Poder Judiciário, o Ministério Público, os órgãos de Segurança Pública e do Sistema
Penitenciário. Entretanto, no presente trabalho, será dado ênfase às polícias brasileiras,
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visto que são as organizações mais visadas e acessíveis pela população, simplificando, são
a “linha de frente”.
Somente em 2018, 6.220 pessoas foram mortas por agentes de segurança civis e
militares, representando um aumento de aproximadamente 20% em relação ao ano
anterior, segundo dados de 2019 do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
Por outro lado, a academia de formação desses policiais, proporciona para os alunos
tratamentos humilhantes, rudes, viris e violentos, com a finalidade de desconstruir o lado
humano daqueles seres, para que se tornem o militar superior a tudo, e que fará tudo em
nome da segurança, como por exemplo, utilizar habitualmente a força letal em suas
operações. Dito isso, esse tratamento traz consequências severas para muitos policiais,
visto que grande parte desenvolve transtornos psicológicos devido à pressão militar, a
baixa remuneração e ao alto risco de vida, levando muitos a buscarem tratamento
psiquiátrico e outros a cometerem suicídios como única alternativa.
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Segundo Jorge da Silva (2004, p.15), é necessário ter consciência de que a segurança
pública não é um simples problema policial, muito menos uma responsabilidade exclusiva
do Poder Executivo, sendo também um problema de toda a sociedade e dos demais
poderes.
A forma como a Polícia Militar é organizada, é única no mundo, já que elas não
conduzem investigações, ou seja, é também um modelo ineficiente, visto que não garante
segurança à população e aos próprios policiais. Costumeiramente, as polícias militares são
pequenos exércitos desviados da função.
As policiais militares não possuem essa função, visto que elas existem para evitar a
violação de direitos, tendo como objetivo garantir a segurança da população. Dito isso, a
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desmilitarização da polícia, significa rever como as polícias são organizadas, a fim de que
elas estejam prontas para prevenir crimes e não combater uma guerra.
No Brasil, as polícias militares são as que possuem o efetivo mais numeroso e são
cobradas a serem produtivas. No entanto, as polícias militares entendem por essa cobrança
de produtividade como uma cobrança por mais prisões. Em maior parte dos casos, sob a
acusação de tráfico de drogas, das quais são uma das causas da superlotação dos presídios
brasileiros. O policial militar está propenso a grandes operações, como as realizadas em
periferias e favelas, onde na maioria das vezes, segundo dados, resultam na morte de
Ademais, essa proposta de desmilitarização das polícias militares, garante que todos
os direitos trabalhistas sejam mantidos, pois o que é visado, é que os policiais sejam
corretamente valorizados perante a sociedade e o Estado. Vejamos exemplos de alguns
direitos individuais que policiais civis possuem e que policiais militares não possuem:
liberdade de expressão; não ser arbitrariamente preso no quartel; poder se organizar em
sindicato para defender coletivamente seus direitos e interesses.
Dito isso, uma pesquisa divulgada em 2014 pela Fundação Getúlio Vargas em São
Paulo e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) em parceria com a Secretaria
Nacional de Segurança Pública (SENASP), órgão do Ministério da Justiça, é de que 73,7%
dos praças (soldados, cabos, sargentos e subtenentes) são favoráveis à desmilitarização.
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Por fim, em alguns modelos defendidos por estudiosos da área, o policial que está
presente nas ruas, deveriam atuar como um gestor local da segurança pública. Sendo capaz
de manter diálogo com a população e com o governo, a fim de diagnosticar os principais
problemas de segurança daquela região, ou seja, alertaria a prefeitura, quais regiões
necessitam de investimentos locais, como por exemplo em iluminação pública e lazer para
Boletim Conteúdo Jurídico v. 1111 de 03/09/2022 (ano XIV) ISSN - 1984-0454
crianças e adolescentes. Esse novo tipo de trabalho para os policiais, exigirá um novo perfil
policial, com maior investimento em sua formação e mais valorização salarial para esses
funcionários, bem como seria fundamentado no diálogo e na investigação, aproximando e
conquistando a confiança da população local.
Também é importante salientar que, uma ação fundamental a ser tomada, é investir
na reinserção social de ex-detentos. É possível realizar essa ação, por meio de qualificações
para essas pessoas e mais oportunidades de empregos, para que não haja reincidência.
Atualmente, já é utilizada uma política de reinserção através de cursos profissionalizantes,
porém, ainda não é tão abrangente porque não há um investimento adequado nessa área.
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Outro ponto sobre a reinserção dos ex-apenados, é investir em debates políticos com a
população para que a sociedade extinga o preconceito contra essas pessoas.
Por fim, outra ação que poderia ser analisada, é o estudo por parte dos gestores e
É sabido que, cada vez mais o mundo digital e físico está sendo interligado, trazendo
soluções mais eficientes e céleres para diversas situações. A inteligência e tecnologia vem
se mostrando como os principais aliados de todos os setores, públicos e privados, e no
aparato da segurança pública não é diferente, é um dos principais aliados das forças
policiais, dado que ajuda a combater e a prevenir à criminalidade, através da investigação
inteligente.
Para Bueno de Jesus (2044, p.16), é certificado que é de grande importância que o
Estado conceba as políticas para a Segurança Pública, envolvendo os demais setores da
Administração Pública, em uma gestão democrática com toda a sociedade, visto que
ajudará impedir a solução de continuidade das ações, a qual se verifica justamente pela
inexistência de uma política séria e eficiente para a Segurança Pública.
6 CONCLUSÃO
Lisboa (1997, p. 9), complementa que a Constituição Federal estabeleceu que cabe,
precipuamente aos Município, a função de atuar socialmente, incumbindo aos Estados e à
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Por derradeiro, importante salientar que o estudo desse artigo não possui a
pretensão de exaurir todo o tema, pelo contrário, este é apenas o início de uma extensa
discussão que ainda está por vir sobre o assunto, uma vez que a segurança é um direito
REFERÊNCIAS
Brasil se mantém como 3º país com maior população carcerária do mundo. Conectas –
Direitos Humanos. Disponível em: <https://www.conectas.org/noticias/brasil-se-
mantem-como-3o-pais-com-a-maior-populacao-carceraria-do
mundo/?gclid=CjwKCAjw0qOIBhBhEiwAyvVcfzsU-yoFr2uShqK-
CFw9xsj5RUbcAhwS8jPODaC1rFBu43aau0cv8xoCw5IQAvD_BwE>. Acesso em: 31 jul.
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<https://gvpesquisa.fgv.br/sites/gvpesquisa.fgv.br/files/arquivos/renato_s_de_lima_segura
naca_publica_e_ordem_publica_apropriacao_juridica.pdf> Acesso em: 01 ago. 2021.
OLIVEIRA, Caroline. O que está por trás da truculência da Polícia Militar? Brasil de
Fato. São Paulo. Disponível em: <https://www.brasildefato.com.br/2020/10/02/o-que-
esta-por-tras-da-truculencia-da-policia-militar>Acesso em: 27 jul. 2021.
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Introdução
1. Multiparentalidade: Conceito
discriminatório contra a mulher que teve um filho sem ter um marido. Mas nada disso
mais subsiste em um mundo plural, em que o amor tornou-se líquido e o afeto passou
a ser o elemento identificador das relações familiares e parentais. Tanto uma como a
outra são se constituem pelos elos de convivência e não estão sujeitas a modelos pré-
moldados ou condicionadas a qualquer vinculação genética. (Dias, 2016)
a essa nova realidade social. A multiparentalidade, por sua vez, é resultado desses novos
arranjos familiares.
É a possibilidade de ter dois pais e duas mães no seu registro de nascimento. Trata-
se basicamente de uma questão atual, a partir de um julgamento no Supremo Tribunal
Federal, no qual se reconheceu na decisão a possibilidade de se ter dois pais.
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Ainda que a biologia – ao menos por enquanto – reconheça que uma criança tem
origem da junção de material genético reprodutivo de um homem e uma mulher, nem
sempre são os genitores que assumem as funções parentais. Pais são aqueles que têm
um vínculo afetivo de tal ordem que assumem as funções parentais. Assim, pai e mãe,
não necessariamente têm uma vinculação biológica com o filho. Daí a diferenciação
prejudica os filhos, pois a estes é imposta uma prova de lealdade: amar o pai biológico,
ou o padrasto. Ao final um juiz decidirá quem é o pai. Questiona então: Será que precisará
optar somente por um deles ¿ E, conclui afirmando que “Um é pouco, dois é bom e três
não é demais” (Dias, 2016)
2. A Multiparentalidade no Brasil
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De forma simples e didática, os alimentos não são devidos somente para atender às
necessidades básicas de sobrevivência. Alimentos tem significado de valores, bens ou
serviços destinados as necessidades existenciais de pessoas, em virtude de relações de
parentesco, do dever de assistência ou de amparo.
Os alimentos têm como finalidade garantir o direito à vida, que por sua vez é um
direito da personalidade, além de ser o maior direito resguardado pela Constituição
Federal de 1988.
Posto isso, verifica-se que alimentos não está relacionado apenas à alimentação,
mas a um gênero maior que abrange os direitos sociais acima descritos.
pedir uns aos outros os alimentos que necessitem para viver de modo compatível com
sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação.”
Quanto ao fim da obrigação alimentar, Maria Berenice Dias traz uma importante
distinção sobre o tema: “Merece ser feita uma distinção entre a extinção do direito a
alimentos e exoneração do encargo alimentar. A morte de qualquer das partes leva à
extinção da obrigação. Quando da morte do credor, havendo eventual crédito alimentar
devido e não pago, os herdeiros do alimentado têm legitimidade para cobrá-lo. Com o
Boletim Conteúdo Jurídico v. 1111 de 03/09/2022 (ano XIV) ISSN - 1984-0454
Por fim, o art. 1.708, no seu parágrafo único, traz a possibilidade de extinção da
obrigação alimentar quando há o procedimento indigno em relação ao devedor, ou seja,
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aquele que paga os alimentos: “Com relação ao credor cessa, também, o direito a
alimentos, se tiver procedimento indigno em relação ao devedor. Para Maria Berenice
Dias, o reconhecimento de indignidade pode gerar a extinção total ou parcial da obrigação
alimentar, de modo a assegurar o mínimo existencial ao credor. Além disso, é possível o
restabelecimento dos alimentos caso o credor comprove ter ocorrido o perdão por parte
do alimentante.” (Dias, 2020)
Por sua vez, o enunciado 341 da CJF, prevê que para os fins do art. 1.696, a relação
socioafetiva pode ser elemento gerador de obrigação alimentar. Vale salientar que
conforme o art. 1.609 do Código Civil brasileiro, o reconhecimento de um filho é ato
irrevogável.
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Considerações Finais
Nas palavras do professor Conrado Paulino, não podemos esquecer que o direito
de filiação é imprescritível (art. 27 do Estatuto da Criança e do Adolescente) e que, se for
o caso, é um direito incontestável da prole em buscar o reconhecimento do vínculo
parental. Todavia, esse deve atender o melhor interesse dos filhos e não, por outro lado,
dos genitores. Imperioso referir que, a partir da constituição de um vínculo multiparental,
não há dúvidas que o filho contará com todos os direitos inerentes ao estado de filiação,
entre eles, convivência familiar e alimentos, mas também, as consequências sucessórias.
O que não pode ser esquecido que embora esse filho que obtenha o reconhecimento
de sua ancestralidade multiparental aparentemente conte com certa “vantagem”, em
comparação ao tradicional modelo biparental, é o fato de que, na velhice de seus
ascendentes, a Constituição Federal, no artigo 229, imputar-lhe o dever de amparo de
todos eles. Quanto maior o direito, maior a obrigação e, em breve, tais demandas
certamente estarão batendo às portas do judiciário. (Rosa, 2021)
Referências
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práticos sob o enfoque do princípio da afetividade – Belo Horizonte: Fórum,2021.
QUEIROZ, Mônica. Direito Civil – 3ed. – Belo Horizonte: Editora D’ Plácido, 2018.
ROSA, Conrado Paulino da. Direito de Família Contemporâneo. 8. Ed. Ver., ampl. e atual. – São
Paulo: JusPodivm, 2021.
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(orientador)
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1 INTRODUÇÃO
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filósofo René Descartes (1596 a 1650), que em sua tese, o mecanicismo cartesiano, definia
os animais como meras máquinas que não possuíam sentimentos, capacidade de raciocinar
e de sentir dor ou prazer, a ideia é de que o papel do animal é de ser usado para satisfazer
a vontade humana, mesmo que essa ultrapasse seu bem-estar.
A corrente reformista afirma que o tratamento dado aos animais deve ser
gradualmente alterado através de estudos científicos e alterações legislativas. Como
animais são seres sencientes, Singer (2004) alega que estes possuem interesses, pelo
menos o de viver sem sentir dor ou maus-tratos, de acordo com ele, seria o suficiente
garantir um status ético.
Para Ataíde Junior (2018), o direito animal é o conjunto de princípios e normas que
estabelecem os direitos fundamentais dos animais, independentemente da sua função
ecológica. Este conceito se baseia na apreciação da Constituição que assegura proteção
aos animais e que não sejam sujeitados a tratamentos que ponham em risco os submetam
a crueldade, possam provocar sua extinção ou prejudiquem sua função ambiental.
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Quando se refere aos animais o artigo 1º, caput da Lei nº 5.197/67 (BRASIL, 1967),
Lei de proteção à fauna, define os animais silvestres como bem de uso comum do povo. Já
os animais domésticos são classificados pelo Código Civil (BRASIL, 2002) como semoventes
suscetíveis de direitos reais, eles possuem direito à integridade física, mas não à vida e à
liberdade.
Na Constituição Federal (BRASIL, 1988) tem-se o tratamento dos animais por duas
visões: a de fauna, visão do Direito Ambiental, com base no valor ecológico e o valor
enquanto indivíduo senciente, com dignidade própria, visão do Direito animal. Assim é
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Mesmo com essa atitude cruel, a Lei não admitia que os animais fossem tratados
desta forma, ou seja, que a sua integridade física fosse violada apenas para satisfação e
entretenimento de indivíduos.
conferiria aos animais humanos uma superioridade jurídica em relação aos outros.
Baseados neste pensamento fica o questionamento a respeito da situação dos bebês e de
pessoas que não possuem condições mentais de demonstrar suas vontades claramente.
Esses indivíduos, mesmo sem conseguir desenvolver um raciocínio complexo, não perdem
a condição de humanos, nem os direitos advindos dela.
No Chile a proteção animal é regulamentada pela Lei 21.020 de 2017 – Lei de posse
responsável de animais de companhia e também pelo artigo 291 do seu Código Penal. De
acordo com o Código Penal chileno (CHILE, 1874) é possível que haja a inabilidade
perpetua para possuir animais, também há a individualização do termo animal, podendo
diferenciar o crime cometido contra uma ou mais animais e assim punir adequadamente
Ainda assim, a Lei chilena não mudou o status legal do animal e assim como no Brasil são
colocados como propriedade.
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A Colômbia também possui Lei própria para a proteção animal, o Estatuto Nacional
de Proteção dos Animais de 1989, que foi alterado pela Lei 1.774/16 (CHILE, 2016), que
alterou também o Código Civil Colombiano, reconhecendo os animais como seres
sencientes. A Lei colombiana descreve taxativamente as condutas consideradas como
crueldade, mas classifica o crime de maus tratos como material. Semelhante a Lei brasileira
e chilena, a Lei colombiana também mantem o status legal do animal como coisa.
Em 2015 a França alterou seu Código Civil, através da Lei 177, de 28 de janeiro de
2015, conferindo maior proteção aos direitos dos animais, rompendo com a teoria
A nova lei de bem-estar animal regulou temas como a proibição gradual do uso
de animais em circos, a proibição da venda de cães e gatos em sites e pet shops, a exigência
para novos donos de animais que devem assinar um certificado confirmando que
entendem as responsabilidades e custos envolvidos, a lei também trouxe penalidades mais
severas para o abandono de animais.
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A Farra do Boi, por exemplo, consiste em perseguir e bater com uma vara no
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animal, boi, depois matá-lo e repartir a carne entre os participantes, mesmo que
explicitamente se reconheça as barbaridades realizadas somente para o entretenimento
humano, por estarem arraigadas a Cultura ainda há grupos que discutem e apoiam a
legalidade de suas realizações, alegando que essa proibição fere o exercício dos direitos
culturais, e que o dever do Estado é proteger as manifestações das culturas populares (art.
215, caput e § 1º CF).
O artigo 103, § 2º, da Constituição (BRASIL, 1988) prevê eficácia vinculativa das
decisões do Supremo Tribunal Federal, quando proferidas em ações de controle de
constitucionalidade. Significa que todos os julgados proferidos através desta ferramenta
passam a ter força obrigatória para toda a jurisdição brasileira.
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Julgados como o que ocorreu agora em 2021 na 7ª Câmara Civil do TJ/ PR que
proferiu uma decisão inédita ou o julgado na 17ª vara Cível de João Pessoa/PB, mostram
463
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Como decisão que consolida a visão protecionista o STF julgou em 2016 a ADI
4983, ADI da vaquejada, que tratava do uso de animais em manifestações culturais,
reafirmando o que os animais não-humanos são portadores de garantias individuais e não
devem ser expostos aos maus tratos. Neste sentido foram as palavras do Min. Roberto
Barroso em seu voto:
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De acordo com a emenda, toda e qualquer outra prática que envolva o uso de
animais, desde que reconhecida como manifestação cultural e regulamentada, não será
considerada como infração ao disposto no inciso VII do parágrafo 1º do artigo 225 da CF.
Criou-se então uma abertura normativa para a crueldade, e para a ampliação pelo
legislador infraconstitucional do rol de manifestações que se enquadram na nova
regulamentação. Outro ponto inserido é a necessidade de regulamentação previa das
atividades culturais, evidenciando que se as atividades não possuam esta regulamentação
estariam constitucionalmente ilegais.
465
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A emenda ofende também o art. 60, parágrafo 4º, inciso IV, da CF, este artigo
prevê que não será objeto de deliberação a proposta de emenda constitucional inclinada
a abolir cláusula pétrea, entre elas, o direito fundamental de proteção aos animais.
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A ADI 5.728 foi apresentada pelo Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal,
para questionar a Emenda Complementar nº 96, que considerou não cruéis as práticas
esportivas que utilizem animais, se consideradas manifestações culturais.
O Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, como autor da ADI, citou, como
precedentes, as decisões anteriores do STF que julgaram inconstitucionais práticas como
as brigas de galo e a vaquejada e pediu a concessão de liminar para suspender a eficácia
da emenda.
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(…)
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(…)
(…)
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Desta forma, a PGR opinou pelo conhecimento da ADI 5728 e pela procedência do
pedido formulado, a fim de que seja declarada a inconstitucionalidade da Emenda
Complementar nº96/2017. O parecer expõe que não é porque entendemos que
determinada prática é considerada manifestação cultural que ela deixa de caracterizar a
crueldade.
Além da Emenda Constitucional, a ação também visa impugnar as leis federais que
regulamentam a prática da vaquejada. O PGR alega que, embora a Emenda figure a
possibilidade de tratar como manifestações culturais as atividades desportivas que utilizam
animais e as leis federais regulamentem as atividades que inevitavelmente sujeitem os
animais a tratamentos violentos e cruéis, ainda que sejam manifestações culturais, são
incompatíveis com a Constituição Federal, com os artigos. 1º, III (princípio da dignidade
humana), e 225, § 1º, VII (proteção da fauna contra crueldade), e com as jurisprudências do
STF.
469
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Em abril de 2018, o Ministro Marco Aurélio julgou prejudicada a ADI 5713, ajuizada
pela Procuradoria Geral da República contra a Lei nº 10.428/2015, do Estado da Paraíba,
que autoriza a prática da vaquejada. O Ministro relator julgou que a ação perdeu seu objeto
depois da promulgação da EC/96. De acordo com o ministro, com a edição da EC/96
alterou-se o tratamento constitucional conferido à vaquejada, ficando prejudicada a análise
desta ação. Mas destacou que o Tribunal ainda discutirá a matéria nas duas ADIs em
trâmite na Corte contra a emenda.
10 CONCLUSÃO
Desde a antiguidade os animais têm sido tratados de forma cruel pelo ser humano,
que estabeleceu uma relação predominância ante a natureza. Com base na suposta
irracionalidade animal, ao longo dos séculos esses seres têm sido utilizados para saciar as
vontades humanas, seja em pesquisas cientificas, meios de locomoção ou para o seu
simples entretenimento.
A legislação brasileira trata o animal como coisa, mas houve um avanço nas leis de
proteção, que apesar de não reconhecerem o animal como sujeito de direito, reconhecem
sua dignidade e sua senciência.
470
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REFERÊNCIAS
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de Conclusão de Curso (Graduação em Direito) - Universidade Estadual da Paraíba,
Centro de Ciências Jurídicas, Campina Grande, Paraíba, BR-PB, 2020. Disponível em:
http://dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/22891/1/PDF%20Jair%20Ranier
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SANTANA, Heron José de. Abolicionismo animal. Revista de Direito Ambiental, São
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https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=266833. Acesso
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STF. ADI 5105. Relator: Min. Luiz Fux. Número único: 9958029-82.2014.1.00.0000.
Disponível em:https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4552286. Acesso
em: 15 de Nov. de 2021.
STF. ADI 5713/PB. Relator: Min. Marcos Aurélio. Julgamento em 02 de março de 2018
STF. ADI 5728. Relator: Min. Dias Toffoli. Número único: 0006285-27.2017.1.00.0000.
STF. ADI 5772. Relator: Min. Roberto Barroso. Número único: 9034443-36.2017.1.00.0000.
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STF. Recurso especial n.º 302.906 - SP (2001/0014094-7). Segunda Turma. Rel. Min.
Hermann Benjamin. Brasília, DF, j. 26 ago. 2010. Disponível em: <https://bit.ly/2EWto5H>.
Acesso em: 06 jun. 2022.
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Resumo: O presente artigo tem por objetivo analisar o nexo de causalidade no âmbito da
responsabilidade civil, considerado por muitos doutrinadores, o pressuposto de maior
relevância deste instituto no direito brasileiro. Além disso, serão examinadas as principais
teorias que buscaram nortear a compreensão e a aferição da extensão do dever de
ressarcimento do prejuízo causado a terceiros, abarcando, adicionalmente, de forma
breve, os demais pressupostos da responsabilidade civil, quais sejam, a conduta, o dano e
a culpa do agente.
Abstract: This article aims to analyze the causal link in the scope of civil liability,
considered by many scholars, the most important assumption of this institute in Brazilian
law. In addition, the main theories that sought to guide the understanding and
measurement of the extent of the duty to reimburse the damage caused to third parties
will be examined, covering, as well, briefly, the remaining assumptions of civil liability, as
is, the conduct, the damage and agent's fault.
Keywords: Private Right; Civil Right; Civil Liability; Assumptions; Causal Link; Theories.
1.INTRODUÇÃO
Nesse sentido, o presente artigo tem por finalidade analisar, de forma crítica, as
principais teorias do nexo de causalidade, considerado, por muitos, o principal pressuposto
do instituto da responsabilidade civil no direito brasileiro.
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Além disso, há grande dificuldade na aplicação das teorias correlatas, cada uma com
suas especificidades. Isso porque, como será abordado, o limite de uma, muitas vezes,
encontra-se no começo de outra e vice-versa. Por esta razão, as teorias do nexo causal na
responsabilidade civil devem ser estudadas de forma pormenorizada.
Ressalta-se, por fim, que a formulação das teorias do nexo de causalidade teve por
objetivo nortear a interpretação e a aplicação do dever de indenizar em situações
específicas. Ela serve, de certo modo, para apontar o sujeito ao qual devem ser imputadas
as consequências do evento danoso, delimitar a extensão do dano ressarcido, bem como
verificar se um determinado acontecimento pode ser considerado causa do resultado
danoso.
299 TEPEDINO, Gustavo e FACHIN, Luiz Edson. Diálogos sobre Direito Civil, Volume II. 23°. Ed. Rio de
Janeiro: Renovar, 2014, p.431.
300 “Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e
causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”
(BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil). Disponível em:
<www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm>. Fonte: Planalto)
301 MONTENEGRO, Antonio Lindbergh C. Responsabilidade civil. Rio de Janeiro: Anaconda Cultura, 1986,
p. 16. In: TEPEDINO, Gustavo; FACHIN, Luiz Edson (org.). Diálogos sobre Direito Civil.
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2.1 Conduta
A omissão, por sua vez, do ponto de vista jurídico, é uma conduta (comissiva) que
depende de norma anterior que a impõe. Possui, destarte, natureza normativa, e não
naturalística, sendo considerada uma abstenção de uma atividade que poderia e deveria
realizar.304
Como explica João de Matos Antunes Varela, a omissão não pode gerar física ou
materialmente o dano sofrido pelo lesado, mas entende-se que é a causa do dano, sempre
que o dever jurídico especial de praticar um ato que, seguramente ou muito
provavelmente, teria impedido a consumação do dano.305
Para Antônio Menezes Cordeiro, há, fundamentalmente, duas situações nas quais a
omissão pode ser verificada.306 A primeira diz respeito a situações de negligência, nas
quais o bem protegido é atingido não por uma ação destinada a atingi-la, mas pela
inobservância de certos deveres de cautela que se impusessem. E a segunda situação
302 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 15ª. Ed. São Paulo: Ed. Atlas, 2021, p.
62.
303 Ibidem, p. 62.
304 Ibidem, p. 62.
305 VARELA, João de Matos Antunes. Das Obrigações em Geral. 10ª. ed. Coimbra: Almedina, 2003. p. 428.
306 CORDEIRO, Antonio Menezes. Tratado de Direito Civil, v. VIII – Direito das Obrigações. 1ª. ed. Lisboa:
Almedina, 2014, p. 437.
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referem-se aos deveres de tráfego, ou seja, aqueles que protegem bens delicados ou que
impedem sobre quem tenha o controle de fontes de perigo.307
Em regra, apenas aquele que der causa ao dano responde pelo fato. O referido
preceito encontra fundamento na teoria da reparação, que, por sua vez, estabelece que
aquele que, ao infringir dever legal ou social, prejudica terceiro, deverá certamente
indenizar pelo prejuízo sofrido.
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Por fim, para que a conduta possa ensejar a reparação de dano a outrem, ela precisa
ter a característica da antijuridicidade, isto é, a ação ou omissão deve violar lei ou preceito
jurídico.
2.2 Culpa
O Código Civil estabelece que aquele que, por negligência ou imprudência, viola
direito e causa danos a terceiros comete ato ilícito, sendo, portanto, responsável pelo seu
ressarcimento. A obrigação de indenizar existe não somente em razão de uma conduta
previamente almejada, mas, também, pela demonstração da existência de culpa pelo
infrator.
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308 NORONHA, Fernando. Direito das obrigações. 4ª. ed. São Paulo: E-book. Biblioteca eletrônica Saraiva,
2013, p. 187.
309 TERRA, A. de M.; GUEDES, G. S. da C.; TEPEDINO, G. Responsabilidade Civil - Fundamentos do Direito
Civil. V. 4. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 120.
310 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. Cit., p. 68
311 Ibidem, p. 68.
312 MIRAGEM, Bruno. Responsabilidade Civil. 2ª. ed. Rio de Janeiro: E-book. Biblioteca eletrônica Forense,
2021, p. 155.
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A culpa stricto sensu possui conceito único, qual seja a violação de um dever de
diligência. No entanto, a conduta culposa pode se exteriorizar de diversas maneiras. Para
Sérgio Cavalieri Filho, a graduação da culpa em diferentes modalidades consiste em
313 MARTINS-COSTA, Judith. Comentários ao Novo Código Civil. 2ª ed. Rio de Janeiro: E-book. Biblioteca
eletrônica Forense, 2009, p. 191.
314 RIZZARDO, Arnaldo. Responsabilidade civil. 8ª. ed. Rio de Janeiro: E-book. Biblioteca eletrônica
Forense, 2019, p.5.
315 MIRAGEM, Bruno. Responsabilidade Civil. Cit., p. 156.
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Ainda, são três as espécies de culpa nas quais a doutrina se atenta. A primeira é a
culpa grave. que mais se aproxima ao dolo. Nela, o agente está próximo a procurar o
resultado ou tem total consciência de que sua conduta implicaria em tal fato, mas acredita
sinceramente que o evento não ocorrerá. A culpa leve, por sua vez. é a falta evitável com
atenção ordinária. Por fim, a culpa levíssima consiste na falta evitável com atenção
extraordinária, com especial habilidade ou conhecimento singular.
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Pela Teoria da Diferença, como exposto por Agostinho Alvim, o dano resulta da
diferença entre a situação do bem antes do evento danoso e aquela que se verifica após
a sua ocorrência321. As críticas nessa teoria residiam no fato de que o dano deveria ser
amplamente considerado, ou seja, levando em consideração tanto os prejuízos
patrimoniais, quanto os não patrimoniais, aqui incluídos os bens coletivos, ou seja, que
não pertençam a pessoas determinadas, mas à coletividade.
319 ALVIM, Agostinho. Da inexecução das Obrigações e suas Consequencias, 3° ed, São Paulo. Saraiva
1980, p. 169-170.
320 Ibidem, p. 170.
321 TERRA, A. de M.; GUEDES, G. S. da C.; TEPEDINO, G. Responsabilidade Civil Fundamentos do Direito
Civil. Cit., p. 29.
322 MARTINS-COSTA, Judith. Comentários ao Novo Código Civil. Cit., p. 167-169.
323 NORONHA, Fernando. Desenvolvimento contemporâneos da responsabilidade civil. Revista Sequência
– PPGD UFSC. V. 19, n° 37 (1988), p. 33 (Disponível em:
https://periodicos.ufsc.br/index.php/sequencia/article/view/15533/14089)
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324 “Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor
abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar.”
(BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil). Disponível em:
<www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm>. Fonte: Planalto)
325 NORONHA, Fernando. Desenvolvimento contemporâneos da responsabilidade civil. Revista Sequência
– PPGD UFSC. V. 19, n° 37 (1988), p. 33 (Disponível em:
https://periodicos.ufsc.br/index.php/sequencia/article/view/15533/14089)
326 TEPEDINO, Gustavo e FACHIN, Luiz Edson. Diálogos sobre Direito Civil. Cit., p.433.
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não mais no sentido de punição à conduta do ofensor, mas a plena reparação da vítima
acometida por um prejuízo. 327
327 CARPES, Artur Thompsen. A prova do nexo de causalidade na responsabilidade civil (Coleção O Novo
Processo Civil. Kindle),
328 “Art. 37, § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços
públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o
direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.”
(BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988. Disponível em:
<www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Fonte: Planalto).
329 TEPEDINO, Gustavo e FACHIN, Luiz Edson. Diálogos sobre Direito Civil. Cit., p. 430.
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Diferentemente do que ocorre com a culpa ou dolo, a relação causal jamais pode
Para Marco Fábio Morsello, depreende-se do conceito, pois, que o nexo causal: “é o
vínculo, a relação de causa e efeito, entre a conduta e o resultado, o que permite inferir
gênese do conceito no âmbito das ciências naturais, de modo a analisar se a ação ou
omissão foi ou não a causa do dano”333
330 SCHREIBER, Anderson. Novos paradigmas da responsabilidade civil. 4ª. ed. São Paulo; Atlas, 2012,
p.51.
331 ALVIM, Agostinho. Da Inexecução das Obrigações e suas Consequências. Cit., p. 342 apud SAVATIER.
Traité de la Responsabilité Civile em Droit Français, vol. II,, n° 456.
332 MARTINS-COSTA, Judith. Comentários ao Novo Código Civil. Cit., p. 132.
333 MORSELLO, Marco Fábio. O nexo causal e suas distintas teorias: apreciações críticas. Revista do
Instituto dos Advogados de São Paulo, vol. 19, janeiro de 2007, pp. 211-218.
334 MARTINS-COSTA, Judith. Comentários ao Novo Código Civil. Cit., p. 132.
335 CARPES, Artur Thompsen. A prova do nexo de causalidade na responsabilidade civil (Coleção O Novo
Processo Civil. Kindle), posição 447.
336 Ibidem, posição 447.
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Além disso, Gustavo Tepedino traz as duas funções do nexo causal. Por um ângulo,
determina o responsável pelo prejuízo causado a outrem. Por outro, é protagonista na
verificação da extensão do dano a indenizar.337
O conceito de nexo causal não é, assim, exclusivamente jurídico, uma vez que
decorre, em princípio, das leis naturais. Possui natureza epistemológica. A relação causal
estabelece o vínculo entre um determinado comportamento e um evento, permitindo
concluir, com base nas leis naturais, se a ação ou omissão do agente foi ou não a causa do
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Pontes de Miranda esclarece que “o nexo de causalidade deve ser verificado entre
o fato e dano, e não sempre entre o devedor e o dano, porque o ato ilícito não é a única
fonte dos deveres de indenizar.”339
337 TERRA, A. de M.; GUEDES, G. S. da C.; TEPEDINO, G. Responsabilidade Civil Fundamentos do Direito
Civil. Cit., p. 84.
338 FILHO, Sérgio Cavalieri. Programa de Responsabilidade Civil. Cit., p. 47.
339 PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Tratado de direito privado. Tomo XXII. São Paulo: Ed. RT,
3° ed., 1984.
340 ALVIM, Agostinho. Da Inexecução das Obrigações e suas Consequências. Cit., p. 342.
341 PEREIRA, Caio Mário da Silva; TEPEDINO, Gustavo. Responsabilidade Civil. 13ª. ed. Rio de Janeiro; E-
book. Biblioteca eletrônica Forense, 2022, p. 76.
342 ALVIM, Agostinho. Da Inexecução das Obrigações e suas Consequências. Cit., p. 342.
343 VENOSA, Silvio de Salvo. Direitos Civil – Obrigações e Responsabilidade Civil. V. 2. 21ª. ed. São Paulo;
E-book. Biblioteca eletrônica Atlas, 2021, p. 403.
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faz-se necessário restringir, com precisão, qual delas é considerada a causa real do
resultado danoso.
Sublinha-se, no entanto, que nenhuma das teorias oferece soluções certas e precisas
para os problemas práticos, uma vez que buscam meramente nortear o raciocínio dos
profissionais do direito na busca de uma melhor solução. É esperado dos julgadores,
portanto, o balizamento de suas decisões nos princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade.
De certo, o nexo causal deverá ser analisado e determinado caso a caso, com base
nas provas produzidas pelo demandante e avaliação de todos os aspectos que a espécie
oferece.
344 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 174.
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A obra ora citada, em seu princípio, objetivava esclarecer, na seara penal, a razão
pelo qual o cúmplice poderia ser considerado responsável pelo crime cometido pelo autor.
No entanto, também foi utilizada como fundamento para a averiguação da extensão do
dano na responsabilidade civil.
Todas condições indispensáveis para o evento seriam causas; mesmo uma qualquer
causa da causa seria sempre causa do resultado: “causa causae causa causati”
A apreciação das causas que resultam no dano opera-se por meio de uma valoração
“após o fato” em dois sentidos (i) a conduta é causa do evento apenas se, na ausência
desta, o evento não se verificar (sentido positivo). e (ii) a conduta não é causa do evento
quando, mesmo na ausência desta, o evento teria igualmente ocorrido (sentido
negativo).349
345 PEREIRA, Caio Mário da Silva; TEPEDINO, Gustavo. Responsabilidade Civil. Cit., p. 76
346 ALVIM, Agostinho. Da Inexecução das Obrigações e suas Consequências. Cit., p. 345.
347 MARTINS-COSTA, Judith. Comentários ao Novo Código Civil. Cit., p. 199-200.
348 COSTA JÚNIOR, Paulo José. Nexo Causal. Siciliano Jurídico. 3° ed. São Paulo, 2003, p. 102.
349 CARPES, Artur Thompsen. A prova do nexo de causalidade na responsabilidade civil (Coleção O Novo
Processo Civil. Kindle), posição 608.
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No mesmo sentido, Sérgio Cavalieri Filho anota que essa teoria é criticada pelo
seguinte motivo:
350 “Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os
prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei
processual.”
(BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil). Disponível em:
<www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm>. Fonte: Planalto)
351 NORONHA, Fernando. O Nexo de Causalidade na Responsabilidade Civil. Revista dos Tribunais | vol.
816/2003
352 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. Cit., p. 62.
352 Ibidem, p.85
353 MARTINS-COSTA, Judith. Comentários ao Novo Código Civil. Cit., p. 201-202.
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lege (não existe crime sem que haja lei que o defina).354 No entanto, na esfera civil, caso
fosse utilizada a teoria da equivalência das condições para averiguar a existência de liame
causal, o direito seria palco de inúmeras injustiças.355
Assim, essa teoria poderia causar resultados desastrosos, uma vez que o direito civil
se guia por cláusulas gerais, sem a amarra de um princípio da tipicidade.
teoria não seria grande, ao passo que possui a culpa como filtro para a sua constatação. A
partir do momento que fosse constatada a culpa, somente seriam indenizáveis os danos
que teriam ocorrido com o fato culposo.
Caio Mario da Silva Pereira traz em uma de suas obras o resumo da teoria:
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357 PEREIRA, Caio Mário da Silva; TEPEDINO, Gustavo. Responsabilidade Civil. Cit., p. 133.
358 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. Cit., p. 86.
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Não há, portanto, uma regra determinada para se estabelecer qual a causa mais
adequada. Faz necessário a análise casuística para se chegar na melhor solução possível,
com base no bom senso e na ponderação.
359 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. 21° ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2022, p. 581
360 NORONHA, Fernando. Direito das Obrigações. Cit., p. 236.
361 Ibidem, p. 236-237.
362 Ibidem, p. 236-237.
494
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De acordo com Agostinho Alvim, a teoria requer que haja, entre a inexecução da
obrigação e o dano, uma relação de causa e efeito direta e imediata. “É indenizável todo
dano que se filia a uma causa, ainda que remota, desde que ela lhe seja causa necessária,
por não existir outra que explique o mesmo dano. Quer a lei quer o dano seja o efeito
direito e imediato da inexecução”366
Os lucros cessantes (dano remoto), nessa situação, não seriam indenizáveis, já que
se mostram como consequência indireta do inadimplemento. Por outro lado, Agostinho
Alvim defende que “os danos indiretos ou remotos não se excluem, só por isso; em regra,
não são indenizáveis, porque deixam de ser efeito necessário, pelo aparecimento de
concausas. Suposto não existam estas, aqueles danos são indenizáveis.”367
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falecer em sua totalidade. O comprador, ficando sem animais para lavrar e adubar as terras,
não plantou, por isso não colheu. Ficando impossibilitado de pagar as suas dívidas, viu a
fazenda ser executada e vendida judicialmente.369
Com essa situação, Pothier quis demonstrar que o negociante não era obrigado a
reparar os danos que fossem “consequência distante e indireta do dolo” com que tinha
procedido.370
Essa teoria, no entanto, recebeu críticas dos doutrinadores no que tange sua
austeridade. A sua rigidez teria o condão de gerar injustiças no que diz respeito àquelas
situações em que existem danos indiretos que resultam do comportamento do agente, os
chamados “danos por ricochete”.
No mesmo sentido, “para fazer frente a essa questão a doutrina postula uma
interpretação que distinga entre “causa direta” e “causa mais próxima”. A causa direta e
imediata nem sempre seria a mais próxima do dano, mas, sim, aquela que necessariamente
o ensejou.”371
368 “Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os
prejuízos efetivos e os livros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei
processual”
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil). Disponível em:
<www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm>. Fonte: Planalto
369 NORONHA, Fernando. O Nexo de Causalidade na Responsabilidade Civil. Revista dos Tribunais | vol.
816/2003
370 Idem ref. 54
371 MARTINS-COSTA, Judith. Comentários ao Novo Código Civil. Cit., p. 214.
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Para Judith, não obstante o prestígio que a teoria do dano direto e imediato
alcançou no direito brasileiro, o certo é que, examinadas as suas bases, verifica-se que esta
constitui mera variante da teoria da causalidade adequada. Reconhecer que determinado
evento foi mais determinante para provocar o resultado (dano), nada mais é do reconhecer
ter sido este o mais adequado para que o resultado tivesse ocorrido.372
Com o nexo causal, é possível determinar quem será o responsável pela reparação
dos danos e quais os danos que serão reparados. Isso é, o referido pressuposto possui
tanto a função de imputar a alguém que agiu de tal forma a produzir um dano, a obrigação
de indenizar, quanto a função de estabelecer a extensão do dano para sua reparação.
Com efeito, a doutrina elaborou diversas teorias para facilitar e nortear a solução
da problematização do nexo causal, quais sejam: (i) teoria da equivalência das condições,
(ii) teoria da causalidade adequada, (iii) teoria do dano direito e imediato.
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Conclui-se, portanto, que as teorias não devem ser excludentes entre si. Uma pode
servir como complemento e fundamentação da outra. Cada caso, pois, deve ser analisado
conforme suas especificidades.
6.BIBLIOGRAFIA
CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 15ª. Ed. São Paulo: Ed.
Atlas, 2021.
CORDEIRO, Antonio Menezes. Tratado de Direito Civil, v. VIII – Direito das Obrigações. 1ª.
ed. Lisboa: Almedina, 2014.
COSTA JÚNIOR, Paulo José. Nexo Causal. Siciliano Jurídico. 3° ed. São Paulo, 2003.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. 21° ed. São Paulo: Editora Saraiva,
2022.
MIRAGEM, Bruno. Responsabilidade Civil. 2ª. ed. Rio de Janeiro: E-book. Biblioteca
eletrônica Forense, 2021.
MORSELLO, Marco Fábio. O nexo causal e suas distintas teorias: apreciações críticas.
Revista do Instituto dos Advogados de São Paulo, vol. 19, janeiro de 2007.
NORONHA, Fernando. Direito das obrigações. 4ª. ed. São Paulo: E-book. Biblioteca
eletrônica Saraiva, 2013.
PEREIRA, Caio Mário da Silva; TEPEDINO, Gustavo. Responsabilidade Civil. 13ª. ed. Rio
de Janeiro; E-book. Biblioteca eletrônica Forense, 2022.
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RIZZARDO, Arnaldo. Responsabilidade civil. 8ª. ed. Rio de Janeiro: E-book. Biblioteca
eletrônica Forense, 2019.
SCHREIBER, Anderson. Novos paradigmas da responsabilidade civil. 4ª. ed. São Paulo;
Atlas, 2012.
STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2004.
VARELA, João de Matos Antunes. Das Obrigações em Geral. 10ª. ed. Coimbra: Almedina,
2003.
499
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1. Introdução.
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Justamente sob esta nova percepção que se insere o instituto da TDA, cujo
principal objetivo é o reconhecimento das capacidades e habilidades oportunizando que
as pessoas com deficiência (física ou mental) tenham condições de igualdade no exercício
373 BRASIL. Comentários ao Estatuto da Pessoa com Deficiência/ Coordenação de Flávia Piva Almeida Leite,
Lauro Luiz Gomes Ribeiro e Waldir Macieira da Costa Filho. – São Paulo: Saraiva: 2016, p. 63.
501
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2. Natureza jurídica.
374 ROSENVALD, Nelson. A tomada de decisão apoiada: primeiras linhas sobre um novo modelo jurídico
promocional da pessoa com deficiência. Revista IBDFAM, n. 10, p. 11, 2015.
375 RODRIGUES, Oswaldo Peregrina; NANNI, Giovanni Ettore (Coord.) A capacidade civil da pessoa natural.
São Paulo: Editora IASP, 2020, p.300.
502
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3. Procedimento.
376 MENEZES, Joyceane Bezerra de. Tomada de decisão apoiada: instrumento de apoio ao exercício da
capacidade civil da pessoa com deficiência instituído pela Lei Brasileira de Inclusão (Lei n. 13.146/2015). 2016.
377 RODRIGUES, Oswaldo Peregrina; NANNI, Giovanni Ettore (Coord.) A capacidade civil da pessoa natural.
São Paulo: Editora IASP, 2020, p. 308
503
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necessidades, no qual indicará duas ou mais pessoas, de sua confiança e com as quais
possua vínculo para que sejam nomeadas suas apoiadoras (BEZERRA DE MENEZES).
Tendo em vista que nada é tratado expressamente pela lei, e considerando que se
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trata de negócio jurídico privado, o plano de apoio a ser exercido pode abranger tanto
questões patrimoniais quanto existenciais, escolhas no âmbito médico, cuidado pessoal
dentre outras matérias de interesse do apoiado.
Deve-se atentar para o fato de que apenas a pessoa a ser beneficiada pelo apoio
é titular do direito de requerer sua homologação judicial, eis que se trata de um ato
personalíssimo, e nunca deve ser aceito sob requerimento de terceiros.
A lei determina que, em se tratando de negócio jurídico "que possa trazer risco ou
prejuízo relevante, havendo divergência de opiniões entre a pessoa apoiada e um dos
apoiadores, deverá o juiz, ouvido o Ministério Público, decidir sobre a questão" (art. 1.783-
A, § 6.º).
4. Efeitos.
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deficiência não sofrerá restrição em seu estado de plena capacidade, apenas será privada
de legitimidade para praticar episódicos atos da vida civil (ROSENVALD).
Contudo, caso o terceiro com quem contrata a pessoa apoiada manifeste sua
insegurança quanto a validade do negócio jurídico diante da deficiência do contratante,
aquele pode solicitar que os apoiadores contra-assinem o contrato ou acordo,
especificando, por escrito, sua função em relação ao apoiado (§5º do artigo 1.783-A do
Código Civil).
5. Apoiadores.
Ao ser informado o juiz, importará verificar se a pessoa que requereu o apoio ainda
persiste com a sua capacidade de agir e se, relativamente ao negócio jurídico em formação,
379 TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. São Paulo: Método, 2017, p. 942.
505
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A atuação dos apoiadores deverá sempre estar nos termos do plano de apoio
homologado e sua atuação estará sempre sob a fiscalização judicial, ao passo que se
houver casos de abusos, pressão indevida sobre o apoiado ou de negligência de sua
atuação ou inadimplemento de suas funções, o apoiador – após a oitiva da pessoa apoiada
e o Ministério Público – poderá ser destituído do cargo (1.783-A, § 7º), determinando que
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380 MENEZES, Joyceane Bezerra de. Tomada de decisão apoiada: instrumento de apoio ao exercício da
capacidade civil da pessoa com deficiência instituído pela Lei Brasileira de Inclusão (Lei n. 13.146/2015). 2016.
506
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Acrescenta a Professora Joyceane que “nada obsta que se possa orientar a pessoa
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8. Conclusão.
9. Bibliografia.
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. São Paulo: Método, 2017
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Palavras-Chave: Civil law; Common law; Novo Código de Processo Civil; Precedentes;
Obrigatoriedade; Ratio decidendi; Constitucionalidade.
INTRODUÇÃO
Como é sabido, o Brasil faz parte da tradição do civil law, tendo como principal fonte
do direito a lei. Com efeito, a aplicação do Direito é realizada a partir de um processo de
interpretação segundo o qual o juiz interpreta uma lei positivada e extrai dela a norma
jurídica que será aplicada ao caso concreto.
Entretanto, verifica-se que a lei comporta infinitas interpretações, fazendo com que
essa atuação dos magistrados implique em tratamentos distintos para casos idênticos e
afetando, por conseguinte, os princípios da segurança jurídica e da isonomia.
510
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1.1. Conceito
Inicialmente, cumpre registrar que precedente judicial consiste, nas lições de Didier,
na decisão judicial tomada à luz do caso concreto, cujo núcleo essencial pode servir como
diretriz para o julgamento posterior383. Assim, toda e qualquer decisão de qualquer órgão
jurisdicional, a qual é utilizada como base de formação de outra decisão jurisdicional
posterior, é tida como um precedente.
Observa-se aqui a máxima treat like cases alike, segundo a qual os casos iguais
devem ser tratados igualmente. Ou seja, cabe ao judiciário conceder o mesmo tratamento
aos casos que apresentam a mesma tese jurídica, na ocasião do seu julgamento.
383 DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de direito processual civil:
teoria da prova, direito probatório, ações probatórias, decisão, precedente, coisa julgada e antecipação dos
efeitos da tutela. vol. 2. 10ª ed. Salvador: Ed. Jus Podivm, 2015, p. 441.
384 PINHO, Humberto Dalla Bernardina de; RODRIGUES, Roberto de Aragão Ribeiro. O microssistema de
formatação de precedentes judiciais vinculantes previsto no novo CPC. Revista de Processo, nº 259, 2016, p.
407.
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Isto posto, Ronaldo Cramer conceituou precedente como “todo julgado de tribunal
que, por força de sua condição originária ou de reconhecimento posterior, cria a norma
jurídica a ser seguida, obrigatoriamente ou não, em casos idênticos.”386
385 CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2016, p. 439.
386 CRAMER, Ronaldo. Precedentes Judiciais: teoria e dinâmica. 1. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 86.
512
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O juiz não pode criar direito do nada, da sua própria cabeça, seguindo
suas convicções e crenças pessoais. Afinal, vivemos num Estado
Democrático de Direito e o juiz deve decidir de acordo com a lei,
interpretada pela jurisprudência, à luz da doutrina. O direito é tripé:
lei + doutrina + jurisprudência389.
387 CRAMER, Ronaldo. Precedentes Judiciais: teoria e dinâmica. 1. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, pp. 87-
88.
388 SCHAUER, Frederick. Precedent. Stanford Law Review, v. 39, 1987, com tradução por André Duarte de
Carvalho; MACÊDO, Lucas Buril de. In: DIDIER JR., Fredie; CUNHA et. al. Precedentes. Salvador: Juspodivm,
2015, p. 57.
389 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. A vinculatividade dos precedentes e o ativismo judicial: Paradoxo apenas
aparente. In: DIDIER JR., Fredie; CUNHA et. al. (Org.). Precedentes. Salvador: Juspodivm, 2015, p. 57.
513
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decidendi e (v) o obiter dictum. Merecem especial destaque os dois últimos elementos,
que serão analisados individualmente nas linhas seguintes.
Nas lições de Luiz Guilherme Marinoni, “a ratio decidendi não se confunde com a
fundamentação, mas nela se encontra”391, sendo certo que a ratio decidendi constitui a
própria norma do precedente que deverá ser seguida em casos idênticos e, ausente este
elemento, fica comprometida a identificação da norma do precedente392.
Ainda conforme leciona Luiz Guilherme Marinoni, “ratio decidendi são as razões
necessárias e suficientes para a solução da causa ou de qualquer questão julgada pelo
tribunal”393.
390 DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de direito processual civil:
teoria da prova, direito probatório, ações probatórias, decisão, precedente, coisa julgada e antecipação dos
efeitos da tutela. vol. 2. 10ª ed. Salvador: Ed. Jus Podivm, 2015, p. 447.
391 MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes obrigatórios. São Paulo: RT, 2010, p. 149.
392 CRAMER, Ronaldo. Precedentes Judiciais: teoria e dinâmica. 1. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 104.
393 MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes obrigatórios. São Paulo: RT, 2010, pp. 239-241.
394 MACÊDO, Lucas Buril de. Precedentes judiciais e o direito processual civil. Salvador: JusPodivm, 2015,
p.337.
514
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Por fim, convém registrar que a doutrina observa que o obiter dictum pode
demonstrar uma inclinação do Tribunal a superar determinado precedente ou até mesmo
Com efeito, não cabe alternativa ao órgão jurisdicional a não ser a aplicação do
precedente vinculante, com exceção dos casos de distinção (distinguishing) ou superação
(overruling) do referido precedente, que serão estudados em momento posterior do
presente artigo.
395 CRAMER, Ronaldo. Precedentes Judiciais: teoria e dinâmica. 1. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 107.
396 CRAMER, Ronaldo. Precedentes Judiciais: teoria e dinâmica. 1. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 107.
515
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397 CRAMER, Ronaldo. Precedentes Judiciais: teoria e dinâmica. 1. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 116.
398 DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de direito processual civil:
teoria da prova, direito probatório, ações probatórias, decisão, precedente, coisa julgada e antecipação dos
efeitos da tutela. vol. 2. 10ª ed. Salvador: Ed. Jus Podivm, 2015, p. 456.
399 CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2016, p. 435.
400 DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de direito processual civil:
teoria da prova, direito probatório, ações probatórias, decisão, precedente, coisa julgada e antecipação dos
efeitos da tutela. vol. 2. 10ª ed. Salvador: Ed. Jus Podivm, 2015, p. 490.
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seja, deve verificar se há identidade de tese jurídica e semelhança de fatos entre os casos,
o do precedente e o sob julgamento.
1.5.2 Distinção
401 CRAMER, Ronaldo. Precedentes Judiciais: teoria e dinâmica. 1. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 140.
402 NUNES, Dierle; HORTA, André Frederico. Aplicação de precedentes e distinguishing no CPC/2015: Uma
breve introdução. In: DIDIER JR. Fredie; CUNHA et. al. (Org.). Precedentes, 2015, p. 310.
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Nesse sentido, Lucas Buril de Macêdo defende que devem ser observados os fatos
relevantes para a tomada de decisão. Assim, “a distinção se faz quando os fatos
juridicamente relevantes do precedente e do caso subsequente não são os mesmos.”403
Boletim Conteúdo Jurídico v. 1111 de 03/09/2022 (ano XIV) ISSN - 1984-0454
Já Ronaldo Cramer entende que podem ser considerados casos idênticos os casos
que apresentam semelhança dos fatos referentes ao pedido ou à questão a ser julgada e
identidade dos fundamentos jurídicos desses fatos (esses requisitos formam a identidade
de tese jurídica). 404
Por fim, registre-se que a distinção no direito processual civil brasileiro pode ser
realizada tanto pelos juízes de primeira instância vinculados ao tribunal do qual emanou o
precedente quanto pelo próprio tribunal, sendo certo que “as distinções são um método
aplicativo dos precedentes, não se justificando sua limitação a órgãos específicos”405.
1.5.3 Superação
Hermes Zaneti Jr., apresenta uma justificativa para a superação dos precedentes:
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(...) como o direito é artificial e serve aos homens, não estando escrito
em pedras de mármore, existirão casos em que o precedente deverá
ser modificado ou superado. Trata-se de uma premissa decorrente
da racionalidade da decisão e da pretensão de correção das decisões
judiciais que lhe está na base.408
A superação do precedente pode ser feita pelo Poder Judiciário, quando este
proferir decisão formando um novo precedente do qual se extraia uma norma jurídica
diferente da extraída do precedente anterior. Com base no artigo 927, §4º, do CPC, esta
revogação deve ser expressa, apresentando fundamentação adequada e específica para a
superação.
Ademais, a superação pode ser realizada pelo Poder Legislativo, sendo certo que o
legislador pode tanto proferir um ato em sentido contrário ao precedente, quanto
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promulgar uma lei com o conteúdo da norma do precedente, passando a ser, assim, o
referencial normativo daquela norma410.
Por fim, para não gerar insegurança jurídica, ao promover a superação, o órgão
jurisdicional deve concluir que a necessidade de superação do precedente é mais forte que
a necessidade de continuidade dele411.
que o Tribunal faça a revogação parcial da norma do precedente, o que reduziria sua
incidência com a modificação parcial de seu significado.412
Como visto, o Brasil é reconhecidamente um país que adotou a tradição do civil law,
na medida em que a principal fonte do direito, juntamente com os princípios, é a lei. Nesse
passo, todo o ordenamento jurídico é codificado, devendo o juiz interpretar as normas
para aplicá-las ao caso concreto.
Percebe-se, com isso, que a segurança jurídica é colocada em cheque, visto que,
para casos idênticos, a mesma regra pode ser interpretada de maneira diferente, dando
origem a uma norma que leva a conclusões e a decisões distintas. Ante o grande número
de decisões em sentidos diversos para casos idênticos, verifica-se que não é possível ao
cidadão ter a previsibilidade que se espera do direito.
410 MACÊDO, Lucas Buril de. Precedentes judiciais e o direito processual civil. Salvador: JusPodivm, 2015, p.
388.
411 MACÊDO, Lucas Buril de. Precedentes judiciais e o direito processual civil. Salvador: JusPodivm, 2015, p.
393.
412 CRAMER, 2016, p. 147.
413 MARINONI, Luiz Guilherme. A ética dos precedentes. 1ª ed. São Paulo: Revista do Tribunais, 2014, p. 63.
520
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Nesse diapasão, em que pese, na maioria dos casos, inexistir no modelo brasileiro o
dever funcional dos juízes de seguir em casos sucessivos as decisões anteriormente
proferidas em situações análogas, o legislador do CPC/15 (L. 13.105 de 16 de março de
2015) optou por introduzir um sistema de precedentes ao novo Código a partir do artigo
927, com o objetivo de trazer aos jurisdicionados maior segurança jurídica e previsibilidade
das decisões.
A segurança jurídica encontra previsão implícita nos incisos II, XXXVI, XXXIX e XL do
artigo 5º da Constituição da República, sendo, antes tudo, caracterizada como “valor
fundamental para qualquer sistema jurídico”414.
414 MACÊDO, Lucas Buril de. Precedentes judiciais e o direito processual civil. Salvador: JusPodivm, 2015, p.
118.
415 CRAMER, Ronaldo. Precedentes Judiciais: teoria e dinâmica. 1. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 54.
521
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Para Teresa Arruda, ‘os sistemas devem fornecer elementos para que se tenha
previsibilidade e para que se possa nele confiar. Os ingleses e anglo-saxões em geral
adquirem esta previsibilidade pelo respeito aos precedentes417.
Boletim Conteúdo Jurídico v. 1111 de 03/09/2022 (ano XIV) ISSN - 1984-0454
2.2. Isonomia
Atualmente, pode-se dizer que a propositura de uma ação equivale a uma “aposta
lotérica”. Isso porque, recorrentemente, órgãos jurisdicionais decidem de maneira
contraditória casos idênticos. Inclusive, é possível observar que, muitas vezes, um mesmo
juiz pode vir a decidir casos semelhantes de maneira distinta.
416 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Precedentes e evolução do direito. In: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim
(Coord.). Direito Jurisprudencial. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, p. 32.
417 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Precedentes e evolução do direito. In: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim
(Coord.). Direito Jurisprudencial. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012, p. 33.
418 CRAMER, Ronaldo. Precedentes Judiciais: teoria e dinâmica. 1. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 55.
522
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419 CAMARGO, Luiz Henrique Volpe. A força dos precedentes no moderno processo civil brasileiro. In:
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim (Coord.). Direito Jurisprudencial. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, p.
572.
420 CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2016, pp. 434-435.
421 Enunciado 453, FPPC: “Uma das dimensões da coerência a que se refere o caput do art. 926 consiste em
os tribunais não ignorarem seus próprios precedentes (dever de autorreferência).”
422 MACÊDO, Lucas Buril de. Precedentes judiciais e o direito processual civil. Salvador: JusPodivm, 2015, p.
163.
523
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legislador foi de concretizar este direito, criando, em virtude disto, ferramentas processuais
capazes de garantir o amplo acesso à justiça.
524
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Com efeito, para esta primeira corrente doutrinária, deve-se dar interpretação ao
artigo 927 do Código de Processo Civil de modo a garantir eficácia persuasiva aos
precedentes, devendo ser obrigatoriamente observadas pelo juiz as teses aplicadas
423 CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2016, p. 437.
424 CÂMARA, 2015, p. 434.
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A segunda corrente, por sua vez, sustenta que o rol de precedentes indicados pelo
Código de Processo Civil é vinculante, visto que a previsão constitucional da força
vinculante da decisão de controle concentrado de constitucionalidade e da súmula
vinculante existe em razão do fato destes precedentes vincularem, além do Poder
Judiciário, outros poderes (no caso, a Administração Pública Direta e Indireta). Assim, a
eficácia vinculante destes precedentes teriam previsão constitucional porque interfere na
separação de poderes425.
425 CRAMER, Ronaldo. Precedentes Judiciais: teoria e dinâmica. 1. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 189.
526
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CONCLUSÃO
426 MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. Precedentes e jurisprudência: papel, fatores e perspectivas no
direito brasileiro contemporâneo. Aluisio Gonçalves de Castro Mendes, Luiz Guilherme Marinoni e Teresa
Arruda Alvim Wambier (coord.). Direito jurisprudencial: volume II. São Paulo: RT, 2014, pp. 35-36.
427 CRAMER, Ronaldo. Precedentes Judiciais: teoria e dinâmica. 1. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, pp.
190-191.
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vez que evita a insegurança jurídica decorrente de decisões judiciais contraditórias, assim
como combate o tratamento desigual destinado aos jurisdicionados. Contudo, é
questionada a criação de uma teoria dos precedentes vinculantes por meio de uma norma
infraconstitucional - o Código de Processo Civil -, sem que exista autorização constitucional
para tanto. Isso porque se pode estar diante de flagrante violação da Constituição Federal,
que reservou a obrigatoriedade das decisões a casos específicos por ela indicados.
jurisdicionais traz inúmeras vantagens àqueles que demandam uma posição jurisdicional,
mas, ao mesmo tempo, pode amesquinhar prerrogativas dos magistrados e fragilizar o
contraditório, sendo necessário discutir, sopesar e definir, enfim, quais dos interesses
devem prevalecer.
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EDUARDO CURY428
(orientador)
ABSTRACT: The main objective of this paper is to carry out a study on the evolution of
succession law with an emphasis on succession when it causes death. Inheritance law deals
with the ways of transferring rights and obligations as a result of death, as well as ensuring
that assets arising from inheritance are divided fairly among the heirs. Inheritance is a right
guaranteed by the Federal Constitution of 1988, article 5, item XXX is considered a
fundamental right. Given the above, it is possible to conclude that the theme of succession
law in the face of social changes is of great relevance for study today, as it deals with not
only the individual within the family, but the norm and how it is necessary to adapt to
society, in order to avoid future conflicts. The work was carried out based on literature
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reviews, with searches on websites, articles, books and reference magazines for the study
area, in an arduous and meticulous way.
1.INTRODUÇÃO
Com intuito de elucidar ainda mais acercado tema, o doutrinador Carlos Roberto
Gonçalves explica que o direito de sucessão se aplica somente a pessoas físicas, ou
Como já dito o direito de sucessão já vem sendo aplicado há muito tempo, por
exemplo,no Código Civil de 1916, havia nos artigos 978 e 1572 previsão sobre os filhos
fora do casamento, os quais não seriam beneficiados pela herança, caso o pai viesse a
falecer, no entanto, a Constituição Federal de 1988 vetou tais artigos, em razão da sua
inconstitucionalidade, visto que os mesmos pregavam a discriminação.
Após a readequação do Código Civil em 2002, o livro V, título II que tratava sobre
a legitimidade, ganhou dois novos artigos, 1.841 e 1.843 os quais buscam estar em
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3.1 Aceitação
No que tange a aceitação, constitui como ato unilateral, uma vez que o herdeiro,
legítimo ou testamentário, manifesta livremente sua vontade de receber a herança que
lhe é transmitida. Lapera (2014), explana:
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3.2 Renúncia
Para que de fato ocorra a renúncia é necessário que alguns requisitos sejam
checados, sendo eles: Capacidade jurídica do renunciante, Inadmissibilidade de
condição ou termo, Forma prescrita em lei, não realização de ato equivalente à
aceitação, Impossibilidade de repúdio parcial da herança, Objeto lícito, Aberta a
sucessão.
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Como bem esclarecido por Santos, a herança digital não é algo tão simples, pois
nãohá legislação especifica acerca do tema, é importante que os herdeiros tenham
consciência e busquem acima de tudo, respeitar os princípios daquele que faleceu. E
quanto ao ordenamento jurídico brasileiro, enquanto não há uma legislação especifica,
resta utilizar-se ao máximo dasanalogias, afinal, a herança digital também é um bem
jurídico a ser protegido.
Enquanto o Código Civil não é atualizado, criou-se alguns projetos de lei com a
intenção de sanar os problemas enfrentados. O projeto de Lei 4.099/2012 traz algumas
sugestões de alterações futuras. Sobre a herança digital o capítulo II-A prevê:
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Por conseguinte, mais tarde outro PL importante, Projeto de Lei n.º 7.742/2017,
a fim de dispor sobre a destinação das contas de aplicações de internet após a morte
de seu titular:
Salienta-se ainda que, em 2013 foram apresentadas inúmeras petições para que
contas de entes queridos fossem excluídas, como facebook, whatsapp, instagram dentre
outras redes sociais. Outra opção que vem se tornando cada vez mais popular, é o
“Holding” familiar, que se trata de uma estratégia jurídica para segurança patrimonial
seja ela física ou digital, com a holding é possível realizar um planejamento sucessório,
garantir que os bens e negócios permaneçam no núcleo familiar e obter uma grande
diminuição na carga tributária.
5.CONCLUSÃO
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