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COLEÇÃO DIREITO
INTERNACIONAL DO
TRABALHO
Volume 2
A COMUNICABILIDADE DO DIREITO
INTERNACIONAL DO TRABALHO E O
DIREITO DO TRABALHO BRASILEIRO
São Paulo
2020
Copyright© 2020 by Tirant lo Blanch
Editor Responsável: Aline Gostinski
Capa e Diagramação: Carla Botto de Barros
ISBN: 978-65-86093-81-0
CDU: 341+349.2
É proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, inclusive quanto às características gráficas e/
ou editoriais.
A violação de direitos autorais constitui crime (Código Penal, art.184 e §§, Lei n° 10.695, de 01/07/2003), sujeitando-se
à busca e apreensão e indenizações diversas (Lei n°9.610/98).
Todos os direitos desta edição reservados à Tirant Empório do Direito Editoral Ltda.
C739 A comunicabilidade do direito internacional do
trabalho e o direito do trabalho brasileiro volume 2
Todos osOrganizadores
direitos desta edição
Cláudioreservados
Jannotti àdaTirant lo Blanch.
Rocha, Lorena
Vasconcellos
Avenida Brigadeiro LuizPorto,
Antonio Rúbia Zanotelli
nº2909, sala 44. de Alvarenga,
BairroRosemary de Oliveira
Jardim Paulista, São Paulo Pires.
- SP CEP–1.ed. –São Paulo : Tirant
01401-000
Fone:lo11Blanch,
2894 73302020. -- [email protected]
/ Email: (Coleção Internacional do Trabalho)
400 p.
www.tirant.com/br
COLEÇÃO DIREITO
INTERNACIONAL DO
TRABALHO
Volume 2
A COMUNICABILIDADE DO DIREITO
INTERNACIONAL DO TRABALHO E O
DIREITO DO TRABALHO BRASILEIRO
São Paulo
2020
COORDENADORES DO LIVRO
Adriana Calvo
Doutora e Mestre em Direito das Relações Sociais (PUC-SP), Professora Con-
vidada de Direito do Trabalho do Curso FGV Direito RJ. Professora de Direito
do Trabalho do curso de Graduação do Mackenzie/SP. Coordenadora de Di-
reito Individual do Trabalho da Comissão Especial de Direito do Trabalho da
OAB/SP. Advogada trabalhista.
Flora Oliveira
Mestra em Direito. Docente na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
e na Faculdade Imaculada Conceição do Recife para cursos de graduação.
Advogada trabalhista. Pertencente à Comissão de Combate e Erradicação ao
Trabalho Escravo Contemporâneo da Associação Brasileira de Advogados/as
Trabalhista. Autora do livro “O amargo doce do açucar: Análise Crítica do
Trabalho Escravo a partir das Ações Penais distribuídas em Pernambuco nos
anos de 2009 a 2015”.
Gilberto Stürmer
Pós-Doutor em Direito pela Universidade de Sevilha, Espanha. Doutor em
Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Professor da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Coordenador dos
QUADRO DE AUTORES 13
Guilherme Liberatti
Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
Mestre em Direito Agroambiental pela Universidade Federal de Mato Grosso
(UFMT). Advogado. Membro do Projeto de Pesquisa “O meio ambiente do
trabalho equilibrado como componente do trabalho decente”.
Jean-Michel Servais
Honorary President of the International Society for Labour Law and Social
Security, Visiting Professor at Gerona (Spain) University Former Director at
the International Labour Organisation (ILO).
14 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
Jens M. Schubert
Adjunct professor for Labour Law and European Law at Leuphana Universität
Lüneburg/Germany and head of the law department of ver.di (United Services
Union), the second largest Union in Germany with almost two Million Members.
Juliana Teixeira
Professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Doutora e Mestre
pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Mateus Tomazi
Advogado. Especialista em Direito e Processo do Trabalho pela Pontifícia Uni-
versidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS.
18 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
Ney Maranhão
Doutor em Direito do Trabalho pela Universidade de São Paulo (USP), com es-
tágio de Doutorado-Sanduíche junto à Universidade de Massachusetts (Boston/
QUADRO DE AUTORES 19
Magna cum Laude. Mestre em Direito, pela PUC MINAS (CAPES 6), com
distinção acadêmica Magna cum Laude. Advogado. Médico do Trabalho.
COORDENADORES DO LIVRO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
QUADRO DE AUTORES. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
PREFÁCIO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
Maurício Godinho Delgado
Gabriela Neves Delgado
APRESENTAÇÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
Drª Raquel Betty de Castro Pimenta
INTRODUÇÃO
Nesta oportunidade, tem-se o propósito de destacar a importância dos
instrumentos internacionais de proteção ao trabalhador, em especial dos
1 Mestre e Doutora em Direito do Trabalho pela PUC MINAS. Professora Titular do Centro Universitário do
Distrito Federal – UDF, Brasília. Advogada.
34 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
OIT, apesar de elas ocuparem o maior espaço. Isso porque todos os tratados
internacionais – mesmo fora do âmbito da OIT – podem conter regras sociais
que devem ser postas dentro de tal ramo de estudo.
De tal modo, também contribuíram para o fortalecimento do sistema
de proteção dos direitos sociais trabalhistas, em nível internacional, as fontes
gerais e específicas do Direito Internacional do Trabalho (DIT). Como princi-
pais fontes gerais do DIT, destacam-se: a) a Declaração Universal dos Direitos
Humanos, adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em Paris, em
10 de dezembro de 1948; e b) os Pactos Internacionais de Direitos Civis e
Políticos e de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais de 1966, dentre outros.
Já como fontes específicas do DIT figuram: 1 – a Constituição da OIT
de 1919; 2 – a Declaração Relativa aos Fins e Objetivos da OIT, aprovada na
Conferência de Filadélfia em maio de 1944 e incorporada à Constituição da
OIT como anexo na revisão geral empreendida pela Conferência de Montreal
de outubro de 1946; 3 – a Declaração sobre Direitos e Princípios Funda-
mentais no Trabalho de 1998; 4 – a Declaração Tripartite de Princípios sobre
Empresas Multinacionais e Política Social de 2000; e 5 – a Declaração da
OIT sobre Justiça Social para uma Globalização Equitativa de 2008. Cumpre
ressaltar que, além dessas ora elencadas, também constituem fontes do DIT
as Convenções, Recomendações e Resoluções da OIT.
Assim sendo, a OIT está para o DIT tal qual a ONU está para a Decla-
ração Universal dos Direitos do Homem – DUDH. São as Organizações as
geradoras, as mantenedoras, as propulsoras e as promovedoras dos Direitos
Humanos por elas agasalhados e instrumentalizados.
Logo, o DIT não se ocupa apenas das regras ou das fontes específicas (sejam
elas formais ou materiais) oriundas da Conferência Internacional do Trabalho da
OIT, e, sim, de todos os diplomas internacionais que contêm disposições sociais
e que o influenciam, de algum modo, por assegurarem a efetivação e a promoção
dos Direitos Humanos dos trabalhadores em escala mundial.
À guisa de elucidar e de fortalecer as noções nucléicas relativas aos objetivos
do Direito Internacional do Trabalho – DIT, torna-se crucial destacar a sua im-
portância, em especial a da Constituição da OIT e a da Declaração de Filadélfia.
Flávia Piovesan leciona:
Atente-se que o Direito Internacional dos Direitos Humanos, com seus inúme-
ros instrumentos, não pretende substituir o sistema nacional. Ao revés, situa-se
como direito subsidiário e suplementar ao direito nacional, no sentido de per-
mitir sejam superadas suas omissões e deficiências. No sistema internacional
Rúbia Zanotelli de Alvarenga 37
2 PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 14. ed. São Paulo: Sa-
raiva, 2013, p. 233.
38 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
3 MEDEIROS, Eduardo Raposo de. A Organização Internacional do Trabalho (OIT). In: CAMPOS, João
Mota de (Coord.). Organizações internacionais: teoria geral. Curitiba: Juruá, 2012.
4 MEDEIROS, Eduardo Raposo de. A Organização Internacional do Trabalho (OIT). In: CAMPOS, João
Mota de (Coord.). Organizações internacionais: teoria geral. Curitiba: Juruá, 2012, p. 313.
Rúbia Zanotelli de Alvarenga 39
admissão da ONU”. E o autor lembra que a Suíça, por exemplo, foi membro
da Organização Internacional do Trabalho antes de o ser da Organização das
Nações Unidas. 5
Por fim, Medeiros esclarece que são Membros da OIT:
os Estados que a compunham em 01.11.1945; b) os que, depois disso, sendo
Membros da ONU, manifestaram a vontade de aderir, pois tanto basta para
adquirir a qualidade de Estado-Membro, conforme preceitua o art. 1°, § 3°,
da Constituição da OIT; c) os que, não sendo Membros da ONU, tenham
solicitado a adesão e hajam sido admitidos por deliberação da Conferência
Geral tomada por maioria de dois terços. 6
2. A CONSTITUIÇÃO DA ORGANIZAÇÃO
INTERNACIONAL DO TRABALHO – OIT (1919)
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) foi criada em 1919, ao
fim da Primeira Guerra Mundial, por meio da Parte XIII do Tratado de Ver-
sailles, que, por sua vez, instituiu a Constituição da OIT de 1919.
A Parte XIII do Tratado de Versailles divide-se em 1ª e 2ª Seção. A 1ª vem
com preâmbulo e quatro capítulos: Capítulo 1 – Organização (arts. 387 a 389);
Capítulo 2 – Funcionamento (arts. 400 a 420); Capítulo 3 – Prescrições Gerais
(arts. 421 a 423); Capítulo 4 – Medidas Transitórias (arts. 424 a 426); enquan-
to a 2ª Seção, por meio do Artigo 427, trata dos princípios gerais, in verbis:
Art. 427. As Altas Partes contratantes, reconhecendo que o bem-estar físico, moral
e intelectual dos trabalhadores industriários é de importância essencial do ponto de
vista internacional, criaram um organismo permanente associado à Sociedade das
Nações. Reconhecem que as diferenças de clima, usos e costumes, de oportunidade
econômica e de tradição industrial tornam difícil alcançar, de maneira imediata, a
uniformidade absoluta nas condições de trabalho. Entretanto, persuadidos de que
o trabalho não há de ser considerado simplesmente como um artigo de comércio,
pensam que existem métodos e princípios para a regulamentação das condições de
trabalho que todas as comunidades industriais deverão esforçar-se em aplicar, en-
quanto as circunstâncias especiais em que possam encontrar-se o permitam. Entre
esses métodos e princípios, as Altas Partes contratantes opinam que os seguintes
têm uma importância especial e urgente:
1º – O princípio diretivo antes enunciado de que o trabalho não há de ser con-
siderado como mercadoria ou artigo de comércio;
2º – O direito de associação visando a alcançar qualquer objetivo não contrário
5 MEDEIROS, Eduardo Raposo de. A Organização Internacional do Trabalho (OIT). In: CAMPOS, João
Mota de (Coord.). Organizações internacionais: teoria geral. Curitiba: Juruá, 2012, p. 313.
6 MEDEIROS, Eduardo Raposo de. A Organização Internacional do Trabalho (OIT). In: CAMPOS, João
Mota de (Coord.). Organizações internacionais: teoria geral. Curitiba: Juruá, 2012, p. 313.
40 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
Na mui precisa visão de Paulo Borba Casella et al, citado por Pinto:
Esse Tratado de Paz, assim como o seu protocolo anexo, foi assinado aos 28
de junho de 1919, tendo como celebrantes os Estados Unidos da América, o
Império Britânico, França, Itália e Japão, como “potências principais aliadas”,
secundados pela Bélgica, Bolívia, Brasil, China, Cuba, Equador, Grécia, Gua-
temala, Haiti, Hedjaz, Honduras, Libéria, Nicarágua, Panamá, Peru, Bolívia,
Portugal, Estado Servo-Croata-Sloveno, Romênia, Sião, Tchecoslováquia e Uru-
guai, enquanto “potências associadas”, e a Alemanha. 12
demais fontes”.
O preâmbulo da Constituição da OIT preconiza que todos os objetivos
da organização só devem ser alcançados, in verbis: “Considerando-se que a
paz universal e permanente só pode basear-se na justiça social”.
Isso posto, torna-se necessário elucidá-los para a melhor compreensão
dos objetivos contidos na Constituição da Organização Internacional do
Trabalho, in verbis:
Considerando que a paz para ser universal e duradoura deve assentar sobre a
justiça social;
Considerando que existem condições de trabalho que implicam, para grande
número de indivíduos, miséria e privações, e que o descontentamento que daí
decorre põe em perigo a paz e a harmonia universais, e considerando que é ur-
gente melhorar essas condições no que se refere, por exemplo, à regulamentação
das horas de trabalho, à fixação de uma duração máxima do dia e da semana de
trabalho, ao recrutamento da mão-de-obra, à luta contra o desemprego, à garan-
tia de um salário que assegure condições de existência convenientes, à proteção
dos trabalhadores contra as moléstias graves ou profissionais e os acidentes do
trabalho, à proteção das crianças, dos adolescentes e das mulheres, às pensões
de velhice e de invalidez, à defesa dos interesses dos trabalhadores empregados
no estrangeiro, à afirmação do princípio “para igual trabalho, mesmo salário”, à
afirmação do princípio de liberdade sindical, à organização do ensino profissional
e técnico, e outras medidas análogas;
Considerando que a não adoção por qualquer nação de um regime de trabalho
realmente humano cria obstáculos aos esforços das outras nações desejosas de
melhorar a sorte dos trabalhadores nos seus próprios territórios.
AS ALTAS PARTES CONTRATANTES, movidas por sentimentos de justiça e
de humanidade e pelo desejo de assegurar uma paz mundial duradoura, visando
os fins enunciados neste preâmbulo, aprovam a presente Constituição da Orga-
nização Internacional do Trabalho:
[...]
John D. Rockefeller Jr., citado por Barzotto, considera que “da relação
estabelecida no preâmbulo, entre paz e justiça social, a conclusão possível é
que o conceito de paz não pode ser apenas ausência de guerra, mas deve ser a
13 SUSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. 3. ed. São Paulo: LTr, 2000, p. 102.
Rúbia Zanotelli de Alvarenga 43
21 MEDEIROS, Eduardo Raposo de. A Organização Internacional do Trabalho (OIT). In: CAMPOS, João
Mota de (Coord.). Organizações internacionais: teoria geral. Curitiba: Juruá, 2012, p. 313.
Rúbia Zanotelli de Alvarenga 45
22 MEDEIROS, Eduardo Raposo de. A Organização Internacional do Trabalho (OIT). In: CAMPOS, João
Mota de (Coord.). Organizações internacionais: teoria geral. Curitiba: Juruá, 2012, p. 313.
23 MEDEIROS, Eduardo Raposo de. A Organização Internacional do Trabalho (OIT). In: CAMPOS, João
Mota de (Coord.). Organizações internacionais: teoria geral. Curitiba: Juruá, 2012, p. 313.
24 SUSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. 3. ed. São Paulo: LTr, 2000, p. 18.
25 SUSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. 3. ed. São Paulo: LTr, 2000, p. 111..
26 SUSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. 3. ed. São Paulo: LTr, 2000, p. 18.
46 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
de 1919. 27
Para tanto, Reis pontua:
A Declaração da Filadélfia afigura-se como um dos mais importantes diplomas
internacionais já produzidos na seara juslaboral, em razão da densificação nor-
mativa do princípio da justiça social operada internacionalmente, precisando-lhe
o sentido e alcance. 28
Logo, complementa Reis:
A Declaração da Filadélfia expressa o sentido histórico da ordem internacional
de promover a progressão das condições sociais dos trabalhadores, que ampliou
significativamente o catálogo normativo com a consagração de regras e princípios
não expressados no documento constitutivo originário da OIT. 29
Organização, a saber:
1. Promover e aplicar os princípios e direitos fundamentais no trabalho; 2.
Desenvolver as oportunidades para que os homens e as mulheres tenham um
emprego digno; 3. Alargar a proteção social; 4. Reformar o tripartismo e o
diálogo social. 32
CONCLUSÃO
Viram-se, nesta oportunidade, as fontes do Direito Internacional
do Trabalho (DIT) que contribuíram para o surgimento da Organização
Internacional do Trabalho (OIT), bem como a sua substancial relevân-
cia e as conquistas dos direitos humanos dos trabalhadores em âmbito
internacional.
A colimada efetivação dos direitos sociais dos trabalhadores representa
importante instrumento de realização dos direitos humanos fundamentais no
terreno das relações de trabalho – sejam eles oriundos da seara internacional,
38 CRIVELLI, Ericson. Direito internacional do trabalho contemporâneo. São Paulo: LTr, 2010.
39 BARZOTTO, Luciane Cardoso. Direitos humanos e trabalhadores: atividade normativa da Organização
Internacional do Trabalho e os limites do Direito Internacional do Trabalho. Porto Alegre: Livraria do Ad-
vogado, 2007.
40 AZEVEDO NETO, Platon Teixeira de. A justiciabilidade dos direitos sociais nas cortes internacionais
de justiça. São Paulo: LTr, 2017, p. 97.
Rúbia Zanotelli de Alvarenga 51
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AZEVEDO NETO, Platon Teixeira de. A justiciabilidade dos direitos sociais nas cortes internacionais
de justiça. São Paulo: LTr, 2017.
BARZOTTO, Luciane Cardoso. Direitos humanos e trabalhadores: atividade normativa da Organização
Internacional do Trabalho e os limites do Direito Internacional do Trabalho. Porto Alegre: Livraria do Ad-
vogado, 2007.
CRIVELLI, Ericson. Direito internacional do trabalho contemporâneo. São Paulo: LTr, 2010.
HUSEK, Carlos Roberto. Curso básico de direito internacional público e privado. 3. ed. São Paulo: LTr,
2015.
GOMES, Ana Virgínia Moreira. A declaração da OIT de 1998: história, mudanças e desafios. In: GOMES,
Ana Virgínia Moreira; FREITAS JÚNIOR, Antônio Rodrigues (Org.). A Declaração de 1998 da OIT
sobre Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho. São Paulo: LTr, 2014.
GUERRA, Sidney. Direitos humanos. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2014.
MEDEIROS, Eduardo Raposo de. A Organização Internacional do Trabalho (OIT). In: CAMPOS, João
Mota de (Coord.). Organizações internacionais: teoria geral. Curitiba: Juruá, 2012.
52 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
PINTO, Marcio Morena. Introdução ao Direito Internacional do Trabalho. São Paulo: LTr, 2014.
PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 14. ed. São Paulo: Sa-
raiva, 2013.
______. Temas de direitos humanos. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
REIS, Daniela Muradas. O princípio da vedação do retrocesso no direito do trabalho. São Paulo: LTr,
2010.
SILVA, Homero Batista Mateus. Comentários à reforma trabalhista. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2017.
SUSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. 3. ed. São Paulo: LTr, 2000.
ZANGRANDO, Carlos. Curso de Direito do Trabalho. V. I. São Paulo: LTr, 2008.
O FUTURO DO TRABALHO SOB O OLHAR DA OIT:
ANÁLISE DO RELATÓRIO “TRABALHAR PARA UM
FUTURO MELHOR”
THE FUTURE OF WORK UNDER THE ILO: ANALYSIS OF THE REPORT
“WORKING FOR A BRIGHTER FUTURE”
Ney Maranhão1
Thiago Amaral Costa Savino2
1. INTRODUÇÃO
O mundo do trabalho está passando por um momento de mudanças
disruptivas. As inovações tecnológicas avançam em um ritmo cada vez mais
acelerado e invenções como a inteligência artificial, a big data e outros sistemas
inteligentes prometem transformar completamente o mercado de trabalho e o
modo que trabalhamos na contemporaneidade
Além disso, a discussão sobre os impactos ambientais causados pelo atual
modelo de desenvolvimento da humanidade conquistou a atenção da socie-
dade civil, países e organizações internacionais, criando uma demanda pela
criação de tecnologias e empreendimentos “verdes” com impacto direto no
mundo do trabalho. De igual modo, a transição demográfica experimentada
por grande parte das nações do mundo, seja no sentido de envelhecimento da
população ou de expansão da base da pirâmide etária, representa um obstáculo
que nos obrigará a criar soluções adequadas para acomodar essa distorção no
mercado de trabalho e proteger os trabalhadores.
Ainda que tais transições projetem uma profusão de desafios, são,
também, oportunidades singulares para aproveitar o momento e sanar vários
dos problemas já enfrentados no mundo do trabalho. Essa é justamente a pre-
missa a partir da qual parte o Relatório “Trabalhar para um Futuro Melhor”,
produzido pela Comissão Mundial sobre o Futuro do Trabalho, sob enco-
menda da Organização Internacional do Trabalho (OIT), com o objetivo de
fornecer uma base analítica para garantir a concretização da justiça social no
século XXI. Em linhas gerais, a proposta é simples: promover uma agenda
centrada no ser humano, pela qual os diversos atores inseridos no contexto
laboral, em exercício de diálogo social, assumirão a responsabilidade conjunta
de (re)construir as bases para um futuro do trabalho justo, digno e equitativo.
A expectativa é de que tal documento seja utilizado como base das
Ney Maranhão – Thiago Amaral Costa Savino 55
2. SÍNTESE DO RELATÓRIO
O Relatório “Trabalhar para um Futuro Melhor”, produzido pela
Comissão Mundial sobre o Futuro do Trabalho, a convite da Organização
Internacional do Trabalho (OIT), objetivou apresentar os principais desa-
fios para o futuro do trabalho, assim como recomendações quanto ao modo
de os enfrentar. Com 28 membros, incluindo os co-presidentes da OIT e
quatro membros de mérito, dos quais se se identifica o Diretor-Geral e os
integrantes do Conselho de Administração da Organização, a Comissão foi
criada no âmbito da Iniciativa do Centenário sobre o Futuro do Trabalho
da OIT, instituída em 2013, e precedida por diálogos nacionais em mais de
110 países, protagonizados por governos, organizações de empregadores e
56 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Relatório “Trabalhar para um Futuro Melhor” vem à tona em mo-
mento único no mundo do trabalho. Vivemos em um período de mudanças
rápidas e intensas, cujos efeitos começam a se manifestar em ritmo cada vez
mais acelerado. Robôs inteligentes, plataformas digitais, problemas ambien-
tais e demográficos ameaçam agravar ainda mais os déficits experimentados
nas relações de trabalho em todo o mundo ou fornecer um ponto de partida
privilegiado para, enfim, saná-los. Impossível, dessarte, deixar de traçar um
paralelo com o contexto igualmente paradigmático dentro do qual foi criada
a Organização Internacional do Trabalho, passados exatos cem anos.
As transformações em curso exigem medidas urgentes e efetivas. A Co-
missão, a partir dessa constatação, procurou identificar tais mudanças e propor
soluções para os problemas delas derivados a partir de diferentes frentes de atua-
ção, de forma a compor um panorama amplo e geral das perspectivas acerca
do que enfrentaremos em um futuro que demonstra sinais de já estar próximo.
O documento se mostra ainda mais relevante ao considerarmos a expec-
tativa de que seja utilizado como base das discussões travadas na Conferência
do Centenário da OIT, na qual serão definidas as diretrizes a serem seguidas
na construção do futuro do trabalho que queremos. Dessa forma, partimos de
um ponto de vista singular atinente aos debates mais atuais e pertinentes na
atualidade sobre o trabalho.
Ainda que o relatório se limite a uma análise pouco aprofundada sobre
os temas reunidos, dada a grande quantidade de questões sociais, políticas
e econômicas alcançadas, recaindo, por vezes, em recomendações demasia-
damente gerais e insuficientes para atender à complexidade dos fatores que
66 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
RFERÊNCIAS
CROSBY, Michael et al. BlockChain Technology: Beyond Bitcoin. Applied Innovation Review, Ber-
keley, n. 2, p. 5-19, jun. 2016. Disponível em: https://j2-capital.com/wp-content/uploads/2017/11/AIR-
-2016-Blockchain.pdf. Acesso em 28 abr. 2019.
FALCÓN, Carolina Serrano. Robótica avanzada y relaciones laborales: dificultades, análisis y propuestas.
Disponível em: <http://digibug.ugr.es/handle/10481/53820> Acesso em: 01 abr. 2019.
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Trabalhar para um Futuro Melhor. Lisboa:
OIT, 2019.
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. OIT lança Comissão Global sobre o Fu-
turo do Trabalho. OIT: Brasília, 22 ago. 2017. Disponível em: https://www.ilo.org/brasilia/noticias/
WCMS_571065/lang—pt/index.htm. Acesso em: 21 abr. 2019.
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Diálogo Social Nacional Tripartido: Um
guia da OIT para uma melhor governação. OIT: Geneva, 2015.
PHÉLAN, Mauricio; LEVY, Sary, GUILLÉM, Alejandro. Sistematización de índices e indicadores alterna-
tivos de desarrollo para América Latina. Revista Temas de Coyuntura, Caracas, n. 66, p. 175-196, dez. 2012.
REESE, Byron. The fourth age: smart robots, conscious computers and the future of humanity. Atria
Ney Maranhão – Thiago Amaral Costa Savino 67
Books, 2018.
SCHWAB, Klaus. The Fourth Industrial Revolution. Genebra: World Econommic Forum, 2016.
SEN, Amartya. O desenvolvimento como expansão de capacidades. Lua Nova, n. 28-29, p. 1, 1993.
UGUINA, Jesús R. Mercader. El impacto de la robítica y el futuro del trabajo. Revista de la Facultad de
Derecho de México, Cidade do México, t. 67, n. 269, set./dez. 2017.
ANEXOS
Quadro 1
68 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
Quadro 2
Ney Maranhão – Thiago Amaral Costa Savino 69
Quadro 3
ILO AND GERMAN LABOUR LAW - A SURVEY
Jens M. Schubert1
v UN:
• Some ILO-Conventions (including ILO core labour standards),
• Convention on the Rights of Persons with Disabilities (CRPD),
1 Prof. Dr. Jens M. Schubert is adjunct professor for Labour Law and European Law at Leuphana Universität
Lüneburg/Germany and head of the law department of ver.di (United Services Union), the second largest
Union in Germany with almost two Million Members. The author thanks for the opportunity to publish in
this book and for her great support very much Prof. Dr. Lorena Vasconcelos Porto.
2 E.g. Eberhard Eichenhofer, 100 years social fundamental rights in the German constitutional order – historic
development and future perspectives (German with an English abstract), Arbeit und Recht 2019, p. 200.
3 One positive example: Liber amicorum Klaus Lörcher, Arbeitsvölkerrecht, 2013, with 31 articles in German
and English related to international labour law, published by Nomos/Germany.
4 The date of 75 years after the declaration of Philadelphia (refoundation of ILO) is quite unknown, too.
Jens M. Schubert 71
5 See the articles in Rigaux/Rombouts, The Essence of social Dialogue in (South East) Europe, 2006, publi-
shed by intersentia, with various examples.
72 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
The rest of the story is very complicated and under academic dispute.
Customary International Law ranks higher than acts of parliament (article
25 German Constitution = Basic Law/Grundgesetz) because of its general
acceptance in many states for a long duration. But this type of ius gentium is
accepted very rarely by a majority within German doctrine and jurisdiction.
Even the ILO core labour standards as a whole are not regarded as a case of
Customary international law.6 Especially employer´s organisations deny this
and try to diminish ILO Conventions (e.g. the right to strike shall not be part
of ILO Conv. 87, 98).7 In contrast one can give a positive example of custo-
mary international law: The protection against slavery.8
“Regularly” International labour law – if ratified – is on the same level
as acts by the parliament (art. 59 para. 2 German Constitution). But Inter-
national law is only addressed to the signing states. And, very often within
international law there are no specific rights for persons or self executing parts
which do not need a further act by the national legislator. For that reason
6 Other Opinions in favour of the acceptance of ILO core labour standards as customary international law (=
minority), Jens Schubert, Arbeitsvölkerrecht, 2017, page 109, published by Erich Schmidt; Klaus Lörcher,
in Wolfgang Däubler, Arbeitskampfrecht (industrial dispute law), 4th ed, 2017, § 10 No. 16 and 43; Heusch-
mid/Klebe, in: Liber amicorum Klaus Lörcher, Arbeitsvölkerrecht, 2013, p. 340.
7 Within the Committee on Freedom of Association, CFA. Positive example of international legal interconnec-
tedness: Supreme Court of Canada 30/1/1015, No. 35423 (Saskatchewan Federation of Labour v. Saskatche-
wan) in which the Supreme Court referred on European legal sources (ECHR and ESC).
8 See e.g. ECHR 26/7/2005, No. 73316/01.
Jens M. Schubert 73
International Law plays a role only in the interpretation of national rules. Four
main guidelines were given by the German Constitutional Court (Bundesver-
fassungsgericht – BVerfG) to this topic:
a. A breach of ILO-Conventions cannot be countered with a constitutional
complaint9. It is necessary that there is a breach of a fundamental right of
the German Constitution;
b. German law, even the German Constitution must be interpreted in an
international law-friendly way.10 This is applicable especially for the Euro-
pean Convention of Human Rights (ECHR) and the jurisdiction by the
European Court on Human Rights (ECtHR);
c. This interpretation in favour of international law is limited in
cases, in which
• International law is narrower than the basic rights of the German Cons-
titution (in the interpretation of the German Constitutional Court),
• touches the constitutional integrity,
• the human right in question is multi-pole (the freedom of association
e.g. has simultaneous effects for employers and employees and contains
a positive and a negative variant),
• there is no space for interpretation (contra legem),
• the sentence of the ECtHR is in regard of just one country and is not
applicable to the German situation due to other legal/social/economic
circumstances (see Art. 46 para 1 ECHR11).12
d. In cases of conflict between ratified international law and a “regular”
parliamentary act the court has to try to bring both together as close as
possible otherwise is has to proof whether the later (national) act has
priority by using the “Treaty Override” jurisdiction of the Constitutio-
nal Court.13
All in all: International law can support labour law rights if they are ac-
cepted by German Labour law in principle anyway, on the other hand against
established labour law positions or in order to enforce further rights it is very
difficult to argue with International Law alone.
9 BVerfG, 4/7/1999, No. 1 BvF 2/86 and BVerfG, 8/7/1997, No. 1 BvR 1243/95.
10 BVerfG 14/10/2004, No. 2 BvR 1481/04 (Görgülü) and BVerfG 4/5/2011, No. 2 BvR 2333/08 (Sicherungs-
verwahrung – prevent custody) and BVerfG 12/6/2019, No. 2 BvR 1738/12 (the right to strike for civil
servants).
11 Text: “The High Contracting Parties undertake to abide by the final judgment of the Court in any case to
which they are parties.” = A decision of the ECHR is not legally binding automatically for all signing states).
12 Again: BVerfG 14/10/2004, No. 2 BvR 1481/04 (Görgülü) and BVerfG 4/5/2011, No. 2 BvR 2333/08 (Si-
cherungsverwahrung – prevent custody) and BVerfG 12/6/2019, No. 2 BvR 1738/12 (the right to strike for
civil servants).
13 BVerfG 15/12/2015, No. 2 BvL 1/12.
74 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
14 Manfred Weiss, Decent work and § 618 BGB (Code Civil), in Liber amicorum Klaus Lörcher, Arbeitsvöl-
kerrecht, 2013, p. 84.
15 Klaus Lörcher, An embarrassing blank space: Current breaches of contract under international law by the
Federal Republic of Germany as regards labour law, Arbeit und Recht, 2019, p. 359 (in German with an
English abstract).
Jens M. Schubert 75
• About the principle that in one company only one collective agreement
could be valid even if there are more than one trade union working each
with collective agreements (ILO Convention 87 and 98)22,
• About protection against dismissal on grounds of HIV-infection (ILO-Re-
commendation No. 200, 17/6/2010, III.3. lit. c) and IV. 9. – 11.).23
But sometimes there are rare diamonds in jurisdiction. The local labour
court of Gelsenkirchen (town in western Germany) rules that a dismissal wi-
thout hearing of the employee in advance is null and void especially if there is
no works council in the enterprise. The court refers to ILO Convention 158
(Art. 7) although the Convention is not ratified in Germany!24
a) First approach
Describing all this there is one “hope”: The EU-law. European law is
much stronger than international law. The German Constitution allows
the transfer of national responsibilities and competences on EU-level
(Art. 23 German Constitution). Decisions of the EU have, consequently,
primacy in cases of collisions with German law. The German Constitutio-
nal Court accepted this while setting boundaries in extreme cases of the
misuse of the transferred competences or of acting without competences
(ultra vires).25
Within EU-Law (Treaties/primary law, Directives, Regulations, Deci-
sions by the ECJ) there are often references to international law. EU-Law
incorporates international law and enhances the status of it. Within the so
called European conform interpretation (this is very well known and accepted)
international law standards have to be included. Three examples26:
• Within directive 2000/78/EC establishing a general framework for equal
treatment in employment and occupation recital 4 refers on international
legal sources:
“The right of all persons to equality before the law and protection against
discrimination constitutes a universal right recognised by the Universal Decla-
ration of Human Rights, the United Nations Convention on the Elimination
of All Forms of Discrimination against Women, United Nations Covenants on
Civil and Political Rights and on Economic, Social and Cultural Rights and
by the European Convention for the Protection of Human Rights and Funda-
mental Freedoms, to which all Member States are signatories. Convention No
111 of the International Labour Organisation (ILO) prohibits discrimination
in the field of employment and occupation.”
27 EuGH 11/4/2013, No. C-335/11 (Ring). The German Constitutional Court uses the Convention at least as a
mean to interpret national law, BVerfG 23/3/2011, No. 2 BvR 882/09.
28 Text: “Every worker has the right to limitation of maximum working hours, to daily and weekly rest periods
and to an annual period of paid leave.”
29 ECJ 20/1/2009, C-350/06 (Schultz-Hoff); ECJ 20/11/2011, C-214/10 (KHS)
78 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
EU-law has priority over German law. That is the reason why it is so
relevant how EU-law incorporates international law, because international
law alone is not strong enough to overrule German legal norms. Within the
EU-Charter of Fundamental Rights there are two links to international law:
Art. 52 para 3
“In so far as this Charter contains rights which correspond to rights guaranteed
by the Convention for the Protection of Human Rights and Fundamental Free-
doms, the meaning and scope of those rights shall be the same as those laid down
by the said Convention. This provision shall not prevent Union law providing
more extensive protection.”
and a type of favourability-clause in
Art. 53
“Nothing in this Charter shall be interpreted as restricting or adversely affec-
ting human rights and fundamental freedoms as recognised, in their respective
fields of application, by Union law and international law and by international
agreements to which the Union, the Community or all the Member States30 are
party, including the European Convention for the Protection of Human Rights
and Fundamental Freedoms, and by the Member States‘‘ constitutions.”
30 This includes the ILO core labour standards if they are accepted as customary international law !
Jens M. Schubert 79
Finally for Labour law, Art. 151 Treaty on the Functioning of the
EU (TFEU):
“The Union and the Member States, having in mind fundamental social rights
such as those set out in the European Social Charter signed at Turin on 18 Oc-
tober 1961 and in the 1989 Community Charter of the Fundamental Social
Rights of Workers, shall have as their objectives the promotion of employment,
improved living and working conditions, so as to make possible their harmo-
nisation while the improvement is being maintained, proper social protection,
dialogue between management and labour, the development of human resources
with a view to lasting high employment and the combating of exclusion.“
31 E.g. ECJ 14/5/1974, No. C-4/73 (Nold, No. 12, 13) and Preamble para 5 of the EU-Charter of Fundamental
Rights.
32 Further information: Opinion of the ECJ 19/3/1993, No. 2/91 about ILO-Convention 170.
33 ECHR 12/11/2008, No. 34503/97.
80 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
law other than the Convention, the interpretation of such elements by compe-
tent organs, and the practice of European States reflecting their common values.
The consensus emerging from specialised international instruments and from
the practice of Contracting States may constitute a relevant consideration for
the Court when it interprets the provisions of the Convention in specific cases.”
No. 147: “The Court observes that in international law, the right to bargain
collectively is protected by ILO Convention No. 98 concerning the Right to Or-
ganise and to Bargain Collectively. Adopted in 1949, this text, which is one of
the fundamental instruments concerning international labour standards, was
ratified by Turkey in 1952. It states in Article 6 that it does not deal with the
position of “public servants engaged in the administration of the State”. However,
the ILO Committee of Experts interpreted this provision as excluding only those
officials whose activities were specific to the administration of the State. With that
exception, all other persons employed by government, by public enterprises or by
autonomous public institutions should benefit, according to the Committee, from
the guarantees provided for in Convention No. 98 in the same manner as other
employees, and consequently should be able to engage in collective bargaining in
respect of their conditions of employment, including wages.”
No. 166: “Secondly, Turkey had in 1952 ratified ILO Convention No. 98, the
principal instrument protecting, internationally, the right for workers to bargain
collectively and enter into collective agreements (see paragraphs 42-43 and 151
above). There is no evidence in the case file to show that the applicants’ union
represented “public servants engaged in the administration of the State”, that is
to say, according to the interpretation of the ILO Committee of Experts, officials
whose activities are specific to the administration of the State and who qualify
for the exception provided for in Article 6 of ILO Convention No. 98.”
34 Tough, the German Constitutional Court could say – as mentioned above – that the decision of the ECJ (with
the use of international law) goes beyond its competences (in extreme cases).
35 ECJ 15/6/1978, No. Case 149/77.
Jens M. Schubert 81
women) the ECJ refers to ILO-standards and said (No. 26, 28):
“The Court has repeatedly stated that respect for fundamental personal human
rights is one of the general principles of Community law, the observance of which
it has a duty to ensure.” (…) Moreover, the same concepts are recognized by the
European Social Charter of 18 November 1961 and by Convention No 111 of
the International Labour Organization of 25 June 1958 concerning Discrimi-
nation in respect of employment and occupation.”
Within the very much criticised decisions Viking and Laval (the right to
strike against fundamental economic freedoms)36 the ECJ refers to ILO-Con-
vention 87 and (in order to make it more complicated) interpreted the content
of this convention in the way the relevant committee did: A further step of
indirect influence of German labour law.
At a glance: German Labour Law interpreted in an EU-conform way —- the
latter interpreted with an adjustment to the European Convention of Human
Rights —- the latter with reference to the applicable ILO-Convention —- the
latter understood in a way the relevant ILO-Committee does.
c) Intermediate result
In the best case, the different legal sources of the triangle could streng-
then each other, gaps of protection could be closed, best solutions could be
found and latest developments in one system could influence the whole system
(“best practice in international law”). From a German perspective everything
is very complicated and regularly one is searching for a solution given simply
by German labour law.
5. FINAL OBSERVATIONS
ILO-Law is an important legal source, in Germany too. But it could
be better. Many ILO-Conventions are unkown or ignored. But sometimes
courts refer to ILO-Law and results are at least flanked by ILO-Conventions.
If fundamental positions are in doubt sometimes it is necessary to go over dif-
ferent bridges, bridges especially given by EU-Law. All in all there are positive
tendencies which could and should be strengthened now, especially during the
100 years-celebrations. International exchange could help, too, to show how
international law can function.
36 ECJ 11/12/2007, No. C-348/05 and ECJ 18/12/2007, No. C-341/05.
100 ANOS DA FUNDAÇÃO DA OIT: ORGANIZAÇÃO
INTERNACIONAL DO TRABALHO E SUA ATUAÇÃO
SOBRE SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHO
100 YEARS OF THE ILO FOUNDATION: INTERNATIONAL
LABOR ORGANIZATION AND ITS PERFORMANCE ON WORK
HEALTH AND SAFETY
1. INTRODUÇÃO
Neste ano de 2019, em que a OIT – Organização Internacional do Traba-
lho completou 100 anos de existência, cabe, nesta introdução, propor reflexões
sobre o papel e importância dessa organização tripartite, criada como parte
do Tratado de Versalhes para promover a justiça social. Cabe perquirir se real-
mente a OIT vem cumprindo o seu papel de promover justiça social e paz nos
183 Estados-membros que participam em situação de igualdade das diversas
1 Doutor e Mestre em Direito das Relações Sociais pela PUC/SP. Professor Titular do Centro Universitário
UDF/Mestrado em Direito e Relações Sociais e Trabalhistas e na Faculdade de Direito de São Bernardo do
Campo/SP, na Pós-Graduação em Direito e Relações do Trabalho. Consultor Jurídico e Advogado. Procu-
rador Regional do Trabalho aposentado. Membro da Academia Brasileira de Direito do Trabalho. Autor de
livros jurídicos, entre outros, “Direito ambiental do trabalho e a saúde do trabalhador”.
Raimundo Simão de Melo 83
instâncias da Organização.
Também cabe verificar sobre como se dá o ingresso dos Tratados Interna-
cionais produzidos pela OIT nos Estados-membros e, especialmente no direito
brasileiro. Indaga-se no trabalho e se procura responder sobre a importância das
Convenções, Recomendações e demais normas criadas pela OIT sobre o mundo
do trabalho. Considerando os preocupantes índices de acidentes do trabalho no
Brasil, serão feitas considerações sobre as Convenções 148 e 155 da OIT sobre
saúde, segurança e meio ambiente do trabalho, bem como da sua aplicabilidade
e eficácia na ordem jurídica brasileira em termos de políticas preventivas voltadas
a diminuir os indicies de acidentes e doenças do trabalho no nosso país.
As questões ambientais do trabalho, mais conhecidas como condições de
trabalho, são tão antigas quanto o próprio Direito do Trabalho. Se inadequadas
tais condições são provocadas consequências para a saúde física e psíquica dos
trabalhadores, levando-os à morte ou deixando-os inválidos para o trabalho e
muitas vezes até para os mais simples atos da vida. Cabe lembrar que uma das
razões da criação do Direito do Trabalho foram as reivindicações trabalhistas
por melhores e adequadas condições de trabalho, como forma de preservação
da saúde e higidez física dos trabalhadores. Por isso, a importância da prevenção
com implementação de condições adequadas de trabalho, com a eliminação dos
riscos que causam os inúmeros acidentes que colocam o Brasil nos anais mundiais
como um dos países que mais produzem infortúnios do trabalho, razão pela
qual se reclama a aplicação e eficácia da Constituição Federal de 1988, das leis
infraconstitucionais e dos tratados internacionais, especialmente as Convenções
148 e 155 da OIT no campo da prevenção dos riscos ambientais.
7. CONCLUSÕES
O Brasil, incluindo Tratados internacionais a que aderiu, o Capítulo V
da CLT, as NRs da Portaria n. 3.214/77 e a Constituição Federal de 1988
passou a ter uma boa legislação de proteção ao meio ambiente do trabalho e
à saúde dos trabalhadores. Houve, de fato, importante evolução da legislação
sobre o tema ora analisado. Não obstante isso, os índices acidentários ainda são
preocupantes, colocando o Brasil no ranking mundial por volta do 10º lugar.
Pela análise ora feita, verifica-se que as Convenções 148 e 155 da OIT ga-
rantem que os agentes e as substâncias químicas, físicas e biológicas, métodos e
condições de trabalho estejam sob o mais absoluto controle, não envolvam riscos
para a saúde dos trabalhadores, que sejam tomadas as medidas de proteção ade-
quadas, tudo com o fim de evitar os efeitos prejudiciais para a saúde dos mesmos.
Essas normas, em grande parte foram acolhidas na legislação infraconsti-
tucional brasileira e estão em total harmonia com os mandamentos e princípios
estabelecidos na Constituição de 1988, mas mostram dados estatísticos aci-
dentários oficiais, sua aplicação ainda é de pouca efetividade no cenário geral
dos acidentes e doenças ocupacionais no Brasil.
Essa situação poderá piorar com a reforma trabalhista recentemente
aprovada, a qual foi feita sem qualquer preocupação com a melhoraria das
condições de trabalho, banindo até do conceito de regras de saúde e segurança
a duração do trabalho e os intervalos intrajornada, para permitir que conven-
ções, acordos coletivos e até acordos individuais de trabalho possam aumentar
a jornada de trabalho, reduzir a proteção prevista em lei, estabelecer banco de
horas e reduzir intervalos de descanso, entre outras investidas sobre condições
de trabalho, o que ofende o comando do inc. XXII do art. 7º da Constituição
Federal, o qual visa à proteção da vida e da saúde dos trabalhadores como
Raimundo Simão de Melo 95
8. BIBLIOGRAFIA
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ANÁLISE DO CONTROLE DE
CONVENCIONALIDADE DAS CONVENÇÕES DA
OIT NO ÂMBITO DO TRIBUNAL SUPERIOR DO
TRABALHO
ANALYSIS OF THE ILO CONVENTIONALITY CONTROL AT THE
SUPERIOR LABOUR COURT
1 Doutora pela Universidade de São Paulo. Pós-Doutorado na School of Industrial and Labor Relations da
Cornell University. Professora da Pós-Graduação em Direito Constitucional e do Curso de Direito da Uni-
versidade de Fortaleza. Coordena o Núcleo de Estudos Sobre Direito do Trabalho e da Seguridade Social
(NETDS) da Universidade de Fortaleza. Endereço eletrônico: [email protected]
2 Advogada. Ex-pesquisadora Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PROBIC)
e membro do Núcleo de Estudos Sobre Direito do Trabalho e da Seguridade Social (NETDS) da Universi-
dade de Fortaleza. Endereço eletrônico: [email protected]
Ana Virginia Moreira Gomes· – Sarah Linhares Ferreira Gomes· 97
INTRODUÇÃO
As convenções internacionais aprovadas no âmbito da OIT constituem
um sistema de normas que buscam universalizar condições justas e decentes de
trabalho. O Brasil, como membro originário da OIT, já ratificou 97 das 190
convenções da OIT.3 A ratificação das convenções constitui passo essencial,
porém insuficiente, para se assegurar o efetivo cumprimento dos direitos ali
protegidos. O reconhecimento da validade dessas normas internacionais pelas
cortes nacionais é uma das formas de se assegurar que os Estados cumpram
suas obrigações internacionais perante a OIT.
Nesse sentido, este estudo tem como objetivo examinar em que medida e
como o Tribunal Superior do Trabalho – TST reconhece a validade das conven-
ções da OIT, analisando um aspecto específico do tema: o exercício do controle
de convencionalidade das convenções no âmbito do TST. A pesquisa explora
como uma hipótese a ampliação do uso do recurso de revista como meio para o
fortalecimento do exercício do controle de convencionalidade por esse tribunal.
A análise é realizada através de pesquisa bibliográfica e documental, por
meio de livros, artigos científicos, revistas. Ademais, o estudo realizou uma
pesquisa empírica, a partir da obtenção de dados coletados no sítio do TST,
especificamente em consulta jurisprudencial, utilizando-se o termo “conven-
ção da OIT”. Foram analisadas 600 decisões judiciais, com recorte temporal
de 2009 a 2019, sendo 60 decisões judiciais por cada ano. A abordagem do
presente trabalho, é, portanto, de natureza quantitativa e qualitativa, aplican-
do-se o critério de representatividade numérica para a compreensão dos dados
coletados e a análise das fundamentações jurídicas das decisões. Ressalta-se
que os dados foram tabulados através do software para análise quantitativa,
Statistical Package for the Social Sciences (SPSS versão 21) e estão apresentados
na forma descritiva por meio de tabelas.
A pesquisa foi financiada pelo Edital EDITAL PROBIC/FEQ/
UNIFOR 2018.4
8 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Teoria geral do Controle de Convencionalidade no direito brasileiro. Re-
vista de Informação Legislativa, Brasília, ano 46, n. 181, jan./mar. 2009.
9 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Teoria geral do Controle de Convencionalidade no direito brasileiro. Re-
vista de Informação Legislativa, Brasília, ano 46, n. 181, jan./mar. 2009, p. 121
10 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Teoria geral do Controle de Convencionalidade no direito brasileiro. Re-
vista de Informação Legislativa, Brasília, ano 46, n. 181, jan./mar. 2009, p. 114
11 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Teoria geral do Controle de Convencionalidade no direito brasileiro. Re-
vista de Informação Legislativa, Brasília, ano 46, n. 181, jan./mar. 2009, p. 114
100 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
12 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Teoria geral do Controle de Convencionalidade no direito brasileiro. Re-
vista de Informação Legislativa, Brasília, ano 46, n. 181, jan./mar. 2009, p. 117.
13 MAZZUOLLI, Valerio de Oliveira; FRANCO, Georgenor de Sousa Filho. Incorporação e aplicação das
convenções internacionais da OIT no Brasil. Revista de Direito do Trabalho, São Paulo, vol. 167, ano 42,
p. 169-182, jan./fev. 2016, p. 175.
Ana Virginia Moreira Gomes· – Sarah Linhares Ferreira Gomes· 101
14 HUSEK, Carlos Roberto. Curso Básico de Direito Internacional Público e Privado no Trabalho. 3. ed.
São Paulo: LTR, 2015, p. 128.
15 MAZZUOLLI, Valerio de Oliveira; FRANCO, Georgenor de Sousa Filho. Incorporação e aplicação das
convenções internacionais da OIT no Brasil. Revista de Direito do Trabalho, São Paulo, vol. 167, ano 42,
p. 169-182, jan./fev. 2016.
16 BOMFIM, Brena Késsia Simplício do. Controle de Convencionalidade na Justiça do Trabalho. 1 ed. Rio
de Janeiro: Lumem Juris, 2017, p. 50-51.
102 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
25 Para acessar a decisão do Tribunal Superior do Trabalho na íntegra, acessar o sitio eletrônico: <http://apli-
cacao4.tst.jus.br/consultaProcessual/consultaTstNumUnica.do?consulta=Consultar&conscsjt=&numeroTs-
t=1076&digitoTst=13&anoTst=2012&orgaoTst=5&tribunalTst=02&varaTst=0049&submit=Consultar>
108 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
trabalho, uma vez que essa possui limitação física, sendo vítima de paralisia
cerebral, contudo, o pedido foi negado. O TRT da 2ª região manifestou en-
tendimento de que “inexiste no ordenamento jurídico, e mesmo no complexo
das normas tuitivas do deficiente, qualquer previsão que obrigue a distribuição
geográfica dos postos de trabalho” e “a mudança de local de trabalho, desde
que não implique alteração do domicílio do empregado, está inserida no poder
diretivo do empregador, conforme se infere do art. 469 da CLT, não configu-
rando alteração contratual lesiva”.
Contudo, a Sétima Turma do TST, modificou o entendimento emanado
pelo TRT da 2ª região, determinando a condenação do banco ao pagamento
de indenização por danos morais equivalente a R$ 100 mil reais, com base na
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Entendeu o relator
do recurso, ministro Cláudio Brandão, que “não mais se admite postura passiva
das empresas em relação ao direito às adaptações razoáveis” e também “não lhes
cabe apenas oferecer vagas para pessoas com deficiência ou reabilitadas e esperar
que se adequem ao perfil exigido”. Ainda, fundamentou sua decisão com base
na Convenção nº 159 da OIT que versa sobre a reabilitação profissional e o
emprego de pessoas com deficiência, ratificada pelo Brasil.
A argumentação da decisão examinada partiu do reconhecimento da
validade da norma, reconhecendo as obrigações estatais perante a comuni-
dade internacional, de forma a garantir uma maior proteção ao direito dos
trabalhadores. Nesse sentido, Bomfim26 alude que “a máxima efetividade dos
direitos humanos, assim, deve ser sempre garantida por meio do diálogo entre
a legislação interna e a internacional ratificada”.
A decisão da sétima turma do TST demonstra um avanço no posiciona-
mento do TST acerca da possibilidade de interposição do recurso de revista em
face de tratados internacionais, devendo o caso ser utilizado como paradigma
para alcançar também, a apreciação meritória das convenções da OIT. Para
tanto, faz-se necessária uma interpretação extensiva do artigo 896, inciso “c”
da CLT que expressa a hipótese de cabimento de lesão à legislação federal e à
Constituição Federal.
CONCLUSÕES
Os dados examinados nesta pesquisa indicam ser insuficiente o exercí-
cio do controle de convencionalidade no âmbito do TST, mesmo tendo as
26 BOMFIM, Brena Késsia Simplício do. Controle de Convencionalidade na Justiça do Trabalho. 1 ed. Rio
de Janeiro: Lumem Juris, 2017, p. 46
Ana Virginia Moreira Gomes· – Sarah Linhares Ferreira Gomes· 109
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SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6ª. ed. São Paulo: Método, 2009.
27 O entendimento do STF acerca da supralegalidade dos tratados internacionais que versam sobre direitos
humanos foi explanado no Recurso Extraordinário nº 466.343-1/SP e Habeas Corpus nº 87.585/TO. Para vi-
sualizar as decisões, acessar o sítio eletrônico: <http://www.stf.jus.br/imprensa/pdf/re466343.pdf> e < http://
redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=597891>
CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE ACERCA
DO TRABALHO INFANTIL
CONVENTIONALITY CONTROL ABOUT CHILD LABOR
1. BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO
Atuar na área de proteção à criança e adolescente implica em conhecer
e analisar não apenas a legislação nacional que disciplinam seus direitos e
obrigações, se impondo sobremaneira a necessidade de se aplicar a legislação
internacional relativa a essa área.
Não poucas são as normas nacionais restritivas de proteção. E em tempo
de crise, novas normas advém por vezes mais perversas, embora fundadas numa
1 Juíza do Trabalho do TRT da 15ª Região. Coordenadora do Juizado Especial da Infância e da Adolescência
da Circunscrição de Campinas-SP.
Camila Ceroni Scarabelli 111
3. O CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE
O controle de convencionalidade nada mais é do que a verificação de con-
formidade de atos administrativos, legislativos e judiciais com as disposições
3 “EMENTA: PRISÃO CIVIL. Depósito. Depositário infiel. Alienação fiduciária. Decretação da medida
coercitiva. Inadmissibilidade absoluta. Insubsistência da previsão constitucional e das normas subalter-
nas. Interpretação do art. 5º, inc. LXVII e §§ 1º, 2º e 3º, da CF, à luz do art. 7º, § 7, da Convenção Ameri-
cana de Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica). Recurso improvido. Julgamento conjunto
do RE nº 349.703 e dos HCs nº 87.585 e nº 92.566. É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer
que seja a modalidade do depósito.” (STF. Pleno. RE 466.343-SP. Relator Ministro Cezar Peluso. Data do
Julgamento: 03/12/2008. DJe 04/06/2009).
Camila Ceroni Scarabelli 113
10 BRASIL. Decreto 3.597/2000. Convenção 182 da OIT. Proibição das piores formas de trabalho infantil e
ação imediata para a sua eliminação. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3597.
htm. Acesso em: 29/02/2020.
Camila Ceroni Scarabelli 119
para trabalho infantil antes dos 18 anos de idade, o que por óbvio está ex-
cluindo o trabalho infantil em ruas e logradouros públicos15. Além disso, o
art. 3º, item d, da Convenção 182 da OIT considera como uma das piores
formas de trabalho infantil aqueles “d) trabalhos que, por sua natureza ou
pelas circunstâncias em que são executados, são suscetíveis de prejudicar a saúde,
a segurança e a moral da criança.”16. Também viola art. 32.1 da Convenção
sobre os Direitos da Criança, que obriga o país a fazer cumprir o direito da
criança de estar protegida contra a exploração econômica e contra o desempenho
de qualquer trabalho que possa ser perigoso ou interferir em sua educação, ou que
seja nocivo para sua saúde ou para seu desenvolvimento físico, mental, espiritual,
moral ou social.
Por fim, há que se considerar que em tempos de intensa alteração legisla-
tiva, especialmente por meio de normas infraconstitucionais das mais variadas
naturezas, tais como leis ordinárias (por exemplo, Lei 13.467/17, que reforma
a CLT), medidas provisórias (por exemplo, MP 905/2019, que institui o con-
trato verde amarelo e altera dispositivos da legislação trabalhista, recentemente
revogada no último dia de sua vigência), assim como por meio de propostas de
emenda constitucional (por exemplo, PEC 18/2011, e as apensadas 35/2011,
274/2013, 77/2015, 107/2015 e 108/2015), o controle de convencionalidade
volta à tona como meio mais rápido e eficaz de avaliação da conformidade
entre as mudanças legislativas e o respeito aos Direitos Humanos, devendo
ser exercido com prioridade pelo Poder Judiciário nacional, para assegurar a
preservação da proteção aos Direitos Humanos, inclusive das crianças e ado-
lescentes na área trabalhista.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Embora pouco adotado na prática pelo poder Judiciário Brasileiro, o
controle de convencionalidade é não apenas necessário, mas principalmente
indispensável para o afastamento da aplicabilidade de normas internas vio-
ladoras de princípios internacionais de proteção de crianças e adolescentes,
inclusive na área trabalhista.
15 “Artigo 8º.
1. A autoridade competente, após consulta às organizações de empregadores e de trabalhadores concer-
nentes, se as houver, poderá, mediante licenças concedidas em casos individuais, permitir exceções para a
proibição de emprego ou trabalho provida no Artigo 2º desta Convenção, para finalidades como a partici-
pação em representações artísticas.
2. Licenças dessa natureza limitarão o número de horas de duração do emprego ou trabalho e estabelece-
rão as condições em que é permitido.” (Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/
D4134.htm. Acesso em: 29/02/2020).
16 OIT. Convenção 182. Piores formas de trabalho infantil. Disponível em: https://www.ilo.org/brasilia/con-
vencoes/WCMS_236696/lang—pt/index.htm. Acesso em: 29/02/2020.
122 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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146 da OIT sobre Idade Mínima de Admissão ao Emprego.
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de 1969. Disponível em: https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/c.convencao_americana.htm. Acesso
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STF. Pleno. RE 466.343-SP. Relator Ministro Cezar Peluso. Data do Julgamento: 03/12/2008. DJe
04/06/2009.
A PROTEÇÃO MULTINÍVEL DOS DIREITOS:
PIONEIRISMO DA ORGANIZAÇÃO
INTERNACIONAL DO TRABALHO
MULTIPLE PROTECTION OF RIGHTS: PIONEERING OF THE
INTERNATIONAL LABOR ORGANIZATION
1. INTRODUÇÃO
A doutrina da proteção multinível dos direitos humanos sustenta a existência
1 Pós-doutor em Direito pela Universidad Nacional de Córdoba/ARG. Doutor em Direito pela Universidade
Federal de Minas Gerais. Mestre em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Professor
dos cursos de graduação e pós-graduação (mestrado e doutorado) da Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais. Juiz do Trabalho junto ao TRT da 3ª Região.
2 Pós-doutora em Direito pela Universidad Nacional de Córdoba/ARG. Doutora e mestra em Direito Privado
pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Professora de Direitos Humanos no curso de gra-
duação da Faculdade de Direito Milton Campos. Professora de Direitos Humanos do Trabalho e Processo
Coletivo do Trabalho no curso de especialização, em Direitos Humanos e coordenadora do Núcleo da Di-
versidade da Faculdade de Direito Milton Campos. Advogada.
124 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
exemplo, a adoção, pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1948, da De-
claração Universal dos Direitos Humanos, valendo observar que em 1945 a Carta
da Organização das Nações Unidas realçou, no artigo 55, “c”, a necessidade de
favorecer “o respeito universal e efetivo dos direitos humanos e das liberdades
fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião”.
Portanto, a Declaração Universal dos Direitos Humanos e a Carta da Orga-
nização das Nações Unidas apontam para a necessidade de promoção e proteção
dos direitos humanos para além dos Estados nacionais, o que permite afirmar
que, em princípio, o surgimento formal da ideia de proteção multinível de
direitos está localizado nos dois textos acima citados.
Mas, como foi adiantado, o presente artigo pretende demonstrar que a
OIT é a pioneira na ideia de proteção multinível de direitos inerentes à dig-
nidade humana.
Pois bem.
A proteção multinível dos direitos tem como fundamento a necessidade
de promover e proteger a dignidade humana.
E é esta exatamente a finalidade fundamental do Direito do Trabalho.
Com efeito, o Direito do Trabalho disciplina a relação de emprego vi-
sando à proteção e promoção da dignidade humana daqueles que dependem
da alienação da sua força de trabalho para atender às necessidades próprias
e familiares.
Hugo Sinzheimer aduz, neste sentido, que realizar a dignidade do homem
“é a missão especial do Direito do Trabalho. Sua função consiste em evitar que
o homem seja tratado igual às coisas. Quem quiser compreender o espírito do
Direito do Trabalho deve ver dominar esta ideia fundamental nas múltiplas
disposições que contem”.6
Portanto, o Direito do Trabalho antecipa, formalmente, a preocupação
com a proteção e promoção da dignidade humana.
Esta preocupação é realçada em 1919, com a criação, no Tratado de
Versalhes, da OIT.
É que a OIT foi criada tendo como um dos seus objetivos fundamentais
“universalizar os princípios da justiça social e, na medida do possível, uni-
formizar as correspondentes normas jurídicas” e “incrementar a cooperação
internacional visando à melhoria das condições de vida do trabalhador e à
6 SINZHEIMER, Hugo. La esencia del Derecho del Trabajo, 1984, p. 67.
126 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
13 MARITAIN, Jacques. Los derechos del hombre y la ley natural, 1982, p. 79.
Cleber Lúcio de Almeida – Wânia Guimarães Rabêllo de Almeida 129
liberdades nela reconhecidos e garantir o seu livre e pleno exercício (artigo 1º, n. 1) e
adotar as medidas legislativas ou de outra natureza que forem necessárias para tornar
efetivos os direitos e garantias nela previstos (artigo 2º, n. 1); a Constituição da OIT
dispõe que os Estados devem cumprir as convenções que tiverem ratificado (art. 35).
CONCLUSÃO
A doutrina da proteção multinível dos direitos humanos sustenta a existência
de um marco plural, composto, em rede ou multinível de proteção de direi-
tos humanos.
É afirmado que a gênese desta doutrina está no processo de integra-
ção europeia.
No entanto, a OIT foi pioneira naquilo que constitui a ideia funda-
mental da doutrina da proteção multinível dos direitos, ou seja, estabelecer
múltiplos níveis de reconhecimento de proteção de direitos inerentes à digni-
dade humana.
A proteção multinível dos direitos humanos ganha especial relevância
em ambiente de reformas legislativas voltadas à desconstrução do Direito
do Trabalho, vez que coloca em evidência a técnica de confronto normati-
vo, que visa verificar a compatibilidade ou ausência de contradição entre as
disposições de Direito interno e as normas que compõem o Direito Interna-
cional dos Direitos Humanos, dentre elas as convenções da OIT, qual seja,
17 MARTÍNEZ, Juan Manuel Romero. La protección multinivel de los derechos humanos. Tendencias y de-
safios para a región interamericana. Métodhos. Revista Electronica de Investigación Aplicada em Derechos
Humanos de la CDHDF, n. 12, p. 47.
18 MARTÍNEZ, Juan Manuel Romero. La protección multinivel de los derechos humanos. Tendencias y de-
safios para a región interamericana. Métodhos. Revista Electronica de Investigación Aplicada em Derechos
Humanos de la CDHDF, n. 12, p. 43.
Cleber Lúcio de Almeida – Wânia Guimarães Rabêllo de Almeida 133
o controle de convencionalidade.
A realização deste controle atende à necessidade de garantir a mais ampla
proteção dos seres humanos e, ao realizá-lo, os juízes e tribunais se tornam não
apenas agentes do Direito Internacional dos Direitos Humanos, mas verdadei-
ros agentes da dignidade humana.
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O DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO E
O PAPEL DA OIT NO ÂMBITO DA PROTEÇÃO À
LIBERDADE SINDICAL
THE INTERNATIONAL LABOR LAW AND THE ILO’S ROLE IN
PROTECTING THE TRADE UNION FREEDOM
1 Pós-Doutorado pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Doutora em
Direito pela UFMG em cotutela com a Universidade de Roma Tor Vergata. Master em Direito Sindical pela
Universidade de Roma Tor Vergata. Bacharel em Direito pela UFMG. Advogada, com atuação especial em
Direito Coletivo do Trabalho no escritório Caldeira Brant. Endereço eletrônico: [email protected]
Adriana L. S. Lamounier Rodrigues 135
11 REIS, Daniela Muradas. O princípio da vedação do retrocesso no Direito do Trabalho. Tese (Doutorado
em Direito do Trabalho) – Faculdade de Direito, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte,
2007, p. 23.
12 SUSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. São Paulo. LTr, 2000, p. 106.
138 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
como elaboradora de fontes formais de Direito Internacional, uma vez que produz
tratados e atos normativos que devem ser observados pelos Estados-membros13.
As denominadas Convenções Internacionais do Trabalho correspondem
às principais e mais densas normas elaboradas pela organização. Nominalmente
são convenções internacionais, mas, em sua essência, se firmam como tratados
internacionais de Direitos Humanos.
As convenções, uma vez aprovadas pelas Conferências Internacionais do
Trabalho, “ficam abertas à ratificação dos Estados-membros até uma eventual
decisão de revisão futura, total ou parcial, por uma nova convenção”14.
Quanto aos procedimentos e obrigações relacionados às Convenções, a
Constituição da OIT, em seu art. 19, §5º, dispõe de forma detalhada:
a) será dado a todos os Estados-Membros conhecimento da convenção para fins
de ratificação; b) cada um dos Estados-Membros compromete-se a submeter,
dentro do prazo de um ano, a partir do encerramento da sessão da Conferência
(ou, quando, em razão de circunstâncias excepcionais, tal não for possível, logo
que o seja, sem nunca exceder o prazo de 18 meses após o referido encerra-
mento), a convenção à autoridade ou autoridades em cuja competência entre a
matéria, a fim de que estas a transformem em lei ou tomem medidas de outra
natureza; c) os Estados-Membros darão conhecimento ao Diretor-Geral da Re-
partição Internacional do Trabalho das medidas tomadas, em virtude do presente
artigo, para submeter a convenção à autoridade ou autoridades competentes,
comunicando-lhe, também, todas as informações sobre as mesmas autoridades
e sobre as decisões que estas houverem tomado; d) o Estado-Membro que tiver
obtido o consentimento da autoridade, ou autoridades competentes, comuni-
cará ao Diretor-Geral a ratificação formal da convenção e tomará as medidas
necessárias para efetivar as disposições da dita convenção; e) quando a autoridade
competente não der seu assentimento a uma convenção, nenhuma obrigação
terá o Estado-Membro a não ser a de informar o Diretor-Geral da Repartição
Internacional do Trabalho — nas épocas que o Conselho de Administração
julgar convenientes — sobre a sua legislação e prática observada relativamente
ao assunto de que trata a convenção. Deverá, também, precisar nestas informa-
ções até que ponto aplicou, ou pretende aplicar, dispositivos da convenção, por
intermédio de leis, por meios administrativos, por força de contratos coletivos,
ou, ainda, por qualquer outro processo, expondo, outrossim, as dificuldades que
impedem ou retardam a ratificação da convenção15.
13 CRIVELLI, Ericson. Direito Internacional do Trabalho Contemporâneo. São Paulo, LTr, 2010, p. 71.
14 CRIVELLI, Ericson. Direito Internacional do Trabalho Contemporâneo. São Paulo, LTr, 2010, p. 72.
15 ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO Lisboa. Normas internacionais do trabalho.
Disponível em: <http://www.ilo.org/public/portugue/region/eurpro/lisbon/html/portugal_visita_guia-
da_03b_pt.htm>. Acesso em 10 agosto de 2019.
Adriana L. S. Lamounier Rodrigues 139
20 CRIVELLI, Ericson. Direito Internacional do Trabalho Contemporâneo. São Paulo, LTr, 2010, p. 80.
21 RODRIGUEZ, Américo Plá. Los Convenios Internacionales del Trabajo. Montivideu, 1965, p. 76.
22 VALTICOS, Nicolas. Derecho internacional del trabajo. Madrid, Editorial Tecnos, 1977, p. 518.
23 CRIVELLI, Ericson. Direito Internacional do Trabalho Contemporâneo. São Paulo, LTr, 2010, p. 85.
24 Tal Comitê será objeto de tópico específico à frente.
Adriana L. S. Lamounier Rodrigues 141
Por fim, o artigo 6º da Convenção nº 154 estabelece que não serão cria-
dos obstáculos para o funcionamento de sistemas em que a negociação coletiva
seja celebrada num quadro de mecanismos de conciliação ou arbitragem, em
relação às partes que participem de forma voluntária da negociação.
Para enfatizar a importância da negociação, a OIT ainda criou a Re-
comendação nº 163 sobre meios de se promover a negociação coletiva. Em
seu artigo 2º, a referida Recomendação dispõe que medidas condizentes com
as condições nacionais devem ser tomadas para facilitar o estabelecimento e
desenvolvimento, em base voluntária, de organizações livres, independentes e
representativas de empregadores e de trabalhadores45.
Em seu penúltimo dispositivo (artigo 8º), a Recomendação nº 163 res-
salta que se facilitem os procedimentos para a solução de conflitos trabalhistas
ajudem as partes a encontrar elas próprias a solução da disputa.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em face da crise normativa dos Estados Nacionais e, consequentemente,
da OIT, um dos fatores causadores de tal crise poderia ser atenuado se se ins-
tituísse a Organização como uma das mediadoras internacionais de conflitos
coletivos multinacionais. Até porque tal mediação evidentemente se coaduna-
ria com a Declaração Tripartite de Princípios sobre as Empresas Multinacionais
51 CRIVELLI, Ericson. Direito Internacional do Trabalho Contemporâneo. São Paulo, LTr, 2010, p. 109.
52 PERONE, Giancarlo. Le fonti internazionali. In: PERSIANI, Mattia; CARINCI, Franco (org.). Le fonti del
Diritto del Lavoro, Volume Primo del Trattato di Diritto del Lavoro. Padova, CEDAM, 2010, p. 252.
152 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
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53 PERONE, Giancarlo. Le fonti internazionali. In: PERSIANI, Mattia; CARINCI, Franco (org.). Le fonti del
Diritto del Lavoro, Volume Primo del Trattato di Diritto del Lavoro. Padova, CEDAM, 2010, p. 264.
Adriana L. S. Lamounier Rodrigues 153
1. INTRODUÇÃO
A atividade normativa da Organização Internacional do Trabalho (OIT)
consiste basicamente na elaboração de convenções e recomendações internacio-
nais do trabalho, cuja finalidade é promover justiça social entre os Estados,
de maneira equitativa e de modo a que não exista concorrência desleal entre
eles.2 Até 2010 a OIT já havia aprovado 188 Convenções e 199 Recomen-
dações, as quais versam temas dos mais diversos e dos mais importantes para
o cenário jurídico laboral.
Contudo, as convenções e as recomendações são instrumentos jurídi-
cos distintos, merecendo ser analisados separadamente. Tais instrumentos,
que examinaremos a seguir, têm sua regulamentação prevista na Consti-
tuição da OIT, à qual os Estados ratificantes se comprometeram a cumprir
e a fielmente executar. Sua aplicação interna, porém, há de atender ao
princípio pro homine, segundo o qual, havendo conflito entre as disposi-
ções internacionais e as de Direito interno, deve-se optar pela norma mais
benéfica ou mais favorável ao ser humano sujeito de direitos. É sob esse
prisma que se deve compreender a integração das convenções e das reco-
mendações da OIT no Brasil.
2. AS CONVENÇÕES DA OIT
Na gênese, as convenções da OIT tinham por finalidade proteger apenas
os trabalhadores da indústria. Posteriormente (por decisão da Corte Perma-
nente de Justiça Internacional, de 1922) atingiram também os trabalhadores
agrícolas. Com o passar do tempo, evoluiu-se para a proteção dos trabalhadores
tanto do setor público como do privado, passando depois a também atingir
os autônomos e cooperados. Atualmente, até mesmo grupos ou sociedades
tradicionais, como os índios e povos tribais, são protegidos pelas convenções
(destaque-se, v.g., a Convenção 169 de 1989). Essa “ação normativa” da OIT
tem sido, ao longo dos anos, a pedra angular de todo o sistema internacional
de proteção ao trabalho e ao trabalhador.3
Deve-se, portanto, compreender a mecânica dessas convenções (sua
natureza jurídica, modo de elaboração, vigência internacional etc.) e seu
processo de integração à ordem jurídica interna, para depois investigar como
há de ser aplicado o princípio pro homine quando em jogo a utilização de
uma convenção da OIT no Brasil.
2 Para detalhes, v. Mazzuoli, Valerio de Oliveira, Curso de direito internacional público, 12. ed. rev., atual. e
ampl., Rio de Janeiro: Forense, 2019, p. 943 e ss.
3 V. Süssekind, Arnaldo. Direito internacional do trabalho, 2. ed. ampl. e atual. São Paulo: LTr, 1986, p. 176.
156 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
René R. & Sansinena, Patricia J. Los convenios de la OIT en el derecho del trabajo interno. Córdoba: Ad-
vocatus, 2010, p. 87-89.
8 Sobre essa temática, v. Mazzuoli, Valerio de Oliveira, O controle jurisdicional da convencionalidade das
leis, 3. ed. rev., atual. e ampl., São Paulo: Ed. RT, 2013.
9 Cf. Süssekind, Arnaldo. Direito internacional do trabalho, cit., p. 174.
10 Plá Rodríguez, Américo. Los convenios internacionales del trabajo. Montevideo: Facultad de Derecho y
Ciencias Sociales de la Universidad de la República, 1965, p. 233-235.
11 Eis o que dispõe: “Todo projeto que, no escrutínio final, não obtiver dois terços dos votos presentes, poderá
ser objeto de uma convenção particular entre os Membros da Organização que o desejarem”.
12 Cf. Süssekind, Arnaldo. Direito internacional do trabalho, cit., p. 182-183.
158 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
O art. 19, § 5º, letra d, do mesmo tratado, deixa entrever ser obrigatória
a ratificação da convenção, quando assim estabelece:
“d) o Estado-Membro que tiver obtido o consentimento da autoridade, ou
autoridades competentes, comunicará ao Diretor-Geral a ratificação formal da
convenção e tomará as medidas necessárias para efetivar as disposições da dita
convenção” [grifo nosso].
24 V. Süssekind, Arnaldo. Idem, p. 202-203 e p. 206-207, respectivamente; e Crivelli, Ericson, Direito interna-
cional do trabalho contemporâneo, São Paulo: LTr, 2010, p. 72. Em idêntico sentido na doutrina argentina,
v. Mirolo, René R. & Sansinena, Patricia J., Los convenios de la OIT en el derecho del trabajo interno, cit.,
p. 153-155. Alguns autores, como João Hermes Pereira de Araújo, entendem que a expressão “autoridades
competentes” incluiria “tanto o Poder Executivo como o Legislativo” (A processualística dos atos interna-
cionais, cit., p. 177). No mesmo sentido, v. Hurd, Ian, International organizations: politics, law, practice.
Cambridge: Cambridge University Press, 2011, p. 167, para quem: “As autoridades competentes podem ser
o legislativo ou o executivo internos, ou (no sistema federal) um governo subnacional, como uma província
ou cantão”.
25 V. Courtin, Michel. La pratique française en matière de ratification et l’article 19 de la Constitution de
l’O.I.T., in Annuaire Français de Droit International, vol. 16, Paris, 1970, p. 601.
26 V. Mello, Celso D. de Albuquerque. Direito constitucional internacional: uma introdução, 2. ed. Rio de
Janeiro: Renovar, 2000, p. 280; e também, Rezek, José Francisco, Direito dos tratados, cit., p. 162, para
quem: “Obtido que seja o consentimento da ‘autoridade competente’, o governo do Estado membro deverá
ratificar a convenção internacional do trabalho, fazendo chegar à secretaria da OIT o pertinente instrumento
Valerio de Oliveira Mazzuoli 163
de ratificação. Quebra-se, assim, por duas vezes, a sistemática usual, em que o governo nem está obrigado
a submeter ao parlamento o projeto de tratado a que não lhe interesse dar sequência, nem tampouco, ocor-
rendo a submissão e a aprovação, a levar adiante seu primitivo intento, ratificando o tratado”. Em sentido
contrário, entendendo que os Estados “não são obrigados a ratificar as convenções”, v. Nascimento, Amauri
Mascaro, Curso de direito do trabalho, 19. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 99; e também Sei-
tenfus, Ricardo, Manual das organizações internacionais, cit., p. 232, que assim leciona: “A obrigatoriedade
imposta aos Estados de submeter o texto das convenções aos seus Parlamentos não implica uma automática
ratificação. Os Estados podem negar-se a fazê-lo. No entanto, os textos poderão servir de orientação para
ações governamentais. Do ponto de vista do direito internacional, portanto, as normas oriundas da OIT não
devem ser assimiladas a uma legislação internacional, pois dependem de um ato de concordância por parte
dos Estados”. V. ainda, Mirolo, René R. & Sansinena, Patricia J., Los convenios de la OIT en el derecho del
trabajo interno, cit., p. 59, que entendem que “a submissão [à autoridade competente] não significa ratifica-
ção, ainda que o objeto daquela seja possibilitar posteriormente a ratificação”.
27 Cf. Mello, Celso D. de Albuquerque. Ratificação de tratados: estudo de direito internacional e constitu-
cional. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1966, p. 77-80. Na lição desse mesmo internacionalista: “Devemos
assinalar que com relação ao Convênio da OIT a ratificação deixa de ser um ato discricionário do Poder Exe-
cutivo; entretanto, isto não significa que o Estado se veja obrigado a ratificá-la, bastando para não ocorrer
tal fato que elas sejam rejeitadas pelo Legislativo. A ratificação permanece como um ato discricionário do
Estado, mas deixa de sê-lo por parte do Poder Executivo” (Idem, p. 80). Para João Hermes Pereira de Araújo,
mesmo no caso de o Poder Executivo não julgar oportuna uma convenção, deverá submetê-la ao Congresso
Nacional, mas acompanhada de uma Exposição de Motivos solicitando, naturalmente, a sua rejeição; e caso
o Congresso não a rejeite, “o Presidente seria obrigado a ratificar a contragosto um ato internacional, pois
o mesmo art. 405 do Tratado de Versailles [antigo correspondente do art. 19, § 5º, alínea b, do convênio
constitutivo da OIT] torna obrigatória a ratificação dos atos aprovados” (A processualística dos atos interna-
cionais, cit., p. 179).
164 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
28 Nesse sentido, v. Valticos, Nicolas, Derecho internacional del trabajo, Trad. José Mª Treviño. Madrid: Tec-
nos, 1977, p. 467-469.
29 Cf. Plá Rodríguez, Américo. Los convenios internacionales del trabajo, cit., p. 262.
30 Süssekind, Arnaldo. Direito internacional do trabalho, cit., p. 211.
Valerio de Oliveira Mazzuoli 165
constitucional desses instrumentos ao nosso direito interno, v. o nosso estudo “O novo § 3º do art. 5º da
Constituição e sua eficácia”, in Revista Forense, vol. 378, já cit., p. 89-109.
39 Cf. Crivelli, Ericson. Direito internacional do trabalho contemporâneo, cit., p. 74.
40 V. Mazzuoli, Valerio de Oliveira. Tratados internacionais de direitos humanos e direito interno. São Paulo:
Saraiva, 2010, p. 104-105 e 118-120, respectivamente. Para idêntica discussão no direito argentino, v. Miro-
lo, René R. & Sansinena, Patricia J., Los convenios de la OIT en el derecho del trabajo interno, cit., p. 36-38.
41 Para um estudo completo dessas “cláusulas de diálogo” entre o Direito Internacional dos Direitos Humanos
e o Direito interno, v. Mazzuoli, Valerio de Oliveira, Tratados internacionais de direitos humanos e direito
interno, cit., p. 116-128.
168 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
3. AS RECOMENDAÇÕES DA OIT
Para além das convenções, a atividade normativa da OIT compreende
também a celebração de recomendações internacionais do trabalho. Tais ins-
trumentos distinguem-se das convenções tão-somente sob o aspecto formal,
uma vez que, como já se disse, ambas podem tratar dos mesmos assuntos sob
o enfoque material. Enquanto as convenções são tratados internacionais em
sentido estrito, as recomendações não são tratados e visam tão somente sugerir
ao legislador de cada um dos países vinculados à OIT mudanças no seu Direito
interno relativamente às questões que disciplina.
Assim como se fez relativamente às convenções da OIT, é também im-
portante verificar o que são propriamente as recomendações, qual sua natureza
jurídica e como se integram ao ordenamento jurídico pátrio.
170 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
45 Cf. Valticos, Nicolas. Derecho internacional del trabajo, cit., p. 234-235. Ainda sobre o tema, v. Fontoura,
Jorge & Gunther, Luiz Eduardo, A natureza jurídica e a efetividade das recomendações da OIT, in Revista de
Informação Legislativa, ano 38, nº 150, Brasília: Senado Federal, abr./jun./2001, p. 195-404.
Valerio de Oliveira Mazzuoli 171
47 Para alguns autores, como René Mirolo e Patricia Sansinena, as recomendações da OIT têm apenas “força
moral orientadora”, à diferença das convenções, que criam “obrigações jurídicas de fundo, tão logo sejam
ratificadas” (Los convenios de la OIT en el derecho del trabajo interno, cit., p. 59). No mesmo sentido, v.
Seitenfus, Ricardo, Manual das organizações internacionais, cit., p. 230, para quem: “Ao contrário das con-
venções, as recomendações não possuem um efeito vinculante e tampouco implicam obrigatoriedade para os
Estados. São elas manifestações, que têm o peso de aconselhamento, e não da imposição. Contudo, o fato de
redigi-las e divulgá-las cria um ambiente favorável ao encaminhamento de soluções que, porém, originam-se
na vontade dos Estados”.
48 Cf. De la Cueva, Mario. Derecho mexicano del trabajo, vol. 1, 2. ed. México, D.F.: Porrúa, 1943, p. 280.
Valerio de Oliveira Mazzuoli 173
4. CONCLUSÃO
A integração das convenções e recomendações da OIT no Brasil – assim
como a de quaisquer tratados de direitos humanos ratificados pelo Estado
– deve atender ao princípio pro homine, segundo o qual o intérprete deve
sempre optar pela aplicação da norma mais favorável ao ser humano (traba-
lhador) sujeito de direitos. Como se viu, há na Constituição da OIT (art. 19,
§ 8º) preceito segundo o qual em caso algum a adoção “de uma convenção ou
49 Süssekind, Arnaldo (et all.). Instituições de direito do trabalho, vol. 2, cit., p. 1.500.
50 Cf. Süssekind, Arnaldo. Direito internacional do trabalho, cit., p. 208-209.
174 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
5. BIBLIOGRAFIA
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Valerio de Oliveira Mazzuoli 175
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COMPLIANCE E DUE DILIGENCE TRABALHISTA:
APLICAÇÃO CONJUNTA DA DECLARAÇÃO
TRIPARTITE DE PRINCÍPIOS SOBRE EMPRESAS
MULTINACIONAIS E POLÍTICA SOCIAL DA
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO,
DOS GUIDING PRINCIPLES ON BUSINESS AND
HUMAN RIGHTS DA ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES
UNIDAS E DO DUE DILIGENCE GUIDANCE
FOR RESPONSIBLE BUSINESS CONDUCT DA
ORGANIZAÇÃO PARA A COOPERAÇÃO E
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
COMPLIANCE AND DUE DILIGENCE LABOR: JOINT APPLICATION
OF THE TRIPARTITE DECLARATION OF PRINCIPLES ON
MULTINATIONAL ENTERPRISES AND SOCIAL POLICY OF THE
INTERNATIONAL LABOR ORGANIZATION, OF THE GUIDING
PRINCIPLES ON BUSINESS AND HUMAN RIGHTS OF THE
ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS GUIDELINES
COOPERATION AND ECONOMIC DEVELOPMENT
RESUMO: Este artigo tem por objetivo apresentar os fundamentos dos progra-
mas de compliance e os riscos da não-conformidade, enfatizando-se a necessidade
de aperfeiçoamento da atividade de due diligence em matéria de trabalho, em-
prego e direitos humanos. Analisa ainda a proposta da Organização das Nações
Unidas de incentivo ao uso da due diligence em direitos humanos. Discute as
1 Mestre em Gestão Pública pela Universidade do Federal do Espírito Santo. Especialista em Direito Civil,
Direito Processual Civil, Direito do Trabalho, Direito Processual do Trabalho e Direito Previdenciário
(UnB). MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas. Exerce o cargo de Procurador do
Trabalho desde 1999 e a chefia do Ministério Público do Trabalho no Espírito Santo desde 2017. Exerceu
os cargos efetivos de Procurador da Fazenda Nacional, de Procurador do INSS e Analista Judiciário do
TRT-ES. Nomeado em 1º Lugar para o cargo efetivo de Procurador do Município de Vitória em (1996).
Aprovado nos concursos para os cargos de Auditor Fiscal do Trabalho, Oficial de Justiça Avaliador e Téc-
nico Judiciário do TRT-MG. Professor no programa de Pós-Graduação em Compliance da FDV-Vitória.
Conferencista e palestrante nas áreas de gestão de organizações públicas e privadas, Direito do Trabalho,
ética e desenvolvimento humano.
Valério Soares Heringer 177
1. INTRODUÇÃO
O Relatório de Competitividade Global de 2019 do Fórum Econômico
Mundial2 constatou que o mundo não está no caminho certo para alcançar
os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas para
2030. Segundo o estudo, nas últimas quatro décadas a desigualdade de renda
aumentou nos países desenvolvidos assim como nos países emergentes, am-
pliando as diferenças sociais.
De acordo com estimativas do Banco Mundial3, a redução da pobreza
extrema está desacelerando: 3,4 bilhões de pessoas, ou 46% da população
mundial, ainda vive com menos de US$ 5,50 por dia e luta para atender às
suas necessidades básicas. Após alguns anos de declínio constante, a fome volta
a aumentar no planeta e atinge 826 milhões de pessoas, contra 784 milhões
em 2015. 20% da população africana sofre com a desnutrição e a meta da
Organização das Nações Unidas de ‘fome zero’ está inviabilizada.
O Fórum Econômico Mundial reconhece que nos últimos quarenta anos
2 Disponível em http://www3.weforum.org/docs/WEF_TheGlobalCompetitivenessReport2019.pdf
3 Fórum Econômico Mundial. Relatório de Competitividade Global de 2019, p.8
178 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
10 FARIAS, Adilson de Brito; MACHADO JÚNIOR, Celso. Manual de Sistema de Gestão de Compliance.
Revista Metropolitana de Governança Corporativa. 2018, p. 89.
11 Aon Centre of Innovation and Analytics. Pesquisa Global de Gestão de Risco 2019 – Sumário Executivo, p. 17.
Valério Soares Heringer 181
dedicada a essa atividade. Já nas empresas com faturamento de até 500 milhões
de reais, a porcentagem cai para 20%”. 12 Nessa pesquisa, os 10 fatores de risco
mais reportados pelas empresas com atuação no território nacional foram, em
ordem percentual de indicações: riscos regulatórios (86%), riscos aos acionistas
(84%), riscos associados às estratégias de negócio (82%), riscos operacionais
(81%), condições econômicas e de mercado (79%), concorrência (79%), riscos
associados à atuação do acionista controlador (76%), riscos jurídicos (76%),
riscos financeiros e de caixa (71%) e riscos associados aos gestores (60%).
A avaliação dos fatores de risco de compliance com identificação de suas
causas permite o estabelecimento de mecanismos de controle adequados para
cada situação, os quais devem ser acompanhados de protocolos ou checklists de
atuação e resposta aos impactos negativos deles decorrentes. O processo de ava-
liação dos riscos de não-conformidade envolve, por conseguinte, uma análise
situacional crítica, permanente e regularmente exercida, sem prejuízo de sua
deflagração extraordinária sempre que mudanças normativas ou contextuais
exijam um novo posicionamento ou abordagem diversa da aplicada até então.
Medida normalmente incorporada aos programas de compliance é a
devida diligência ou due diligence baseada no risco (risk-based diligence), ado-
tada sempre que o risco de compliance se posicione além dos marcos ordinários
pré-definidos pela organização, notadamente quando desenvolve análises a
respeito de categorias específicas de negócio; de pessoas; de processos ou pro-
jetos; de produtos ou serviços; de normas, acordos e contratos; de aquisições,
fusões ou transações não ordinárias. Nesses casos, o processo de análise deve
incluir qualquer due diligence necessária para obter informação suficiente para
avaliar os riscos de não-conformidade13 de modo a permitir a construção de
uma matriz de riscos individualizada, baseada na probabilidade de ocorrência
do evento e no impacto dele resultante, permitindo à organização estabelecer
as relevâncias e priorizações, bem como estruturar planos de ação.
Considerando que as organizações analisam frequentemente diferentes
tipos de riscos e impactos, um dilema que normalmente se apresenta é se os
direitos humanos podem ser integrados aos processos tradicionais de avaliação
de riscos.14 Esse assunto será analisado nos capítulos seguintes.
18 ONU. Guiding Principles on Business and Human Rights: Implementing the United Nations ‘Protect, Res-
pect and Remedy’ Framework. 2011 (princípio 16).
19 ONU. Guiding Principles on Business and Human Rights: Implementing the United Nations ‘Protect, Res-
pect and Remedy’ Framework. 2011 (princípio 18).
184 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
Promoção de emprego
As empresas devem se esforçar para melhorar as oportunidades e os
padrões de emprego levando em consideração as políticas e os objetivos
dos governos, prover a segurança no emprego, garantir o desenvolvimento
25 Disponível em https://civil-20.org/2019/wp-content/uploads/2019/08/C20-POLICY-PACK-2019-web2.pdf
26 Declaração Tripartite de Princípios sobre Empresas Multinacionais e Política Social da OIT – Anexo, item 47.
188 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
27 Declaração Tripartite de Princípios sobre Empresas Multinacionais e Política Social da OIT – Anexo, itens
13 e 14.
28 Disponível em https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/—-americas/—-ro-lima/—-ilo-brasilia/docu-
ments/publication/wcms_226229.pdf
29 Disponível em https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/—-americas/—-ro-lima/—-ilo-brasilia/docu-
ments/genericdocument/wcms_302678.pdf
30 Declaração Tripartite de Princípios sobre Empresas Multinacionais e Política Social da OIT – Anexo, item 18.
31 Disponível em http://www.lim.ilo.org/1/wp-content/uploads/2009/12/OIT_Pacto_Mundial_PORT_web.pdf
32 Disponível em https://nacoesunidas.org/conheca-os-novos-17-objetivos-de-desenvolvimento-sustenta-
vel-da-onu/
33 Declaração Tripartite de Princípios sobre Empresas Multinacionais e Política Social da OIT – Anexo, item 25.
Valério Soares Heringer 189
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desemprego, o aumento da desigualdade social e da pobreza, a ausência
42 Cf. https://smartlabbr.org/diversidade/localidade/0?dimensao=genero
43 A esse respeito, confira-se as Diretrizes da OCDE para Empresas Multinacionais, 2011, Capítulo V, parágrafo 1 b.
192 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
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Valério Soares Heringer 193
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UM SÉCULO DE OIT – NOVOS DESAFIOS E
PERSPECTIVAS
ILO CENTURY – NEW CHALLENGES AND PROSPECTS
3 BONAVIDES, Paulo. Do Estado Liberal ao Estado Social. 11. ed. São Paulo: Malheiros, 2013. p. 61.
196 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
4 A esse respeito: MARX, Karl; ENGELS, Friederich. Manifesto do Partido Comunista. Trad. Sueli Toma-
zzini Barros Cassal. Porto Alegre: L&PM, 2002. E também: MARX, Karl. O Capital: crítica da economia
política. Trad. Rubens Enderle. 2. ed. São Paulo: Boitempo, 2017.
5 BONAVIDES, Paulo. Do Estado Liberal ao Estado Social. 11. ed. São Paulo: Malheiros, 2013. p. 61; 187-191.
6 Num dos incontáveis exemplos de seu profundo trabalho descritivo sobre a origem e o modus operandi do
sistema de produção capitalista, Karl Marx registra o seguinte relato desse período: “Na fábrica de papéis de
parede, os tipos mais grosseiros são impressos com máquinas, e os mais finos, manualmente. O período de
atividade mais intensa é entre o começo de outubro e o fim de abril, quando esse trabalho é realizado quase sem
interrupção das 6 horas da manhã às 10 da noite ou ainda mais tarde. J. Leach declara: “No último inverno”
(1862), “6 das 19 moças foram dispensadas em decorrência de doenças provocadas por excesso de trabalho.
Para mantê-las acordadas, tenho de gritas em seus ouvidos”. W. Duffy: “Frequentemente, as crianças estavam
tão cansadas que não podiam manter seus olhos abertos durante o trabalho; na verdade, nós mesmos quase não
conseguimos.” J. Lightbourne: “Tenho 13 anos [...]. Durante o inverno passado, trabalhamos até as 9 horas da
noite e, no inverno anterior, até as 10 da noite. No último inverno, quase todas as noites eu costumava gritar
de dor em meus pés machucados”. G. Aspden: “Quando este meu filho tinha 7 anos de idade, eu costumava
carregá-lo nas costas para toda parte, atravessando a neve, e ele costumava trabalhar 16 horas por dia! [...]
Frequentemente eu tinha de ajoelhar-me para alimentá-lo, enquanto ele permanecia junto à máquina, pois não
lhe era permitido abandoná-la ou pará-la”. MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. Livro I: o
processo de produção do capital. Trad. Rubens Enderle. 2. ed. São Paulo: Boitempo, 2017. p. 320-321.
7 A data de 1º de maio foi internacionalmente escolhida como Dia do Trabalhador em homenagem a traba-
lhadores submetidos a violenta repressão estatal após a deflagração de uma greve geral nos Estados Unidos
em 1º.5.1886, precisamente em Chicago, à época centro industrial daquele país, e cujo principal pleito era
a redução da jornada de trabalho de 13h para 8h diárias em todo o país. Na época, tanto na Europa quanto
nos Estados Unidos as jornadas de trabalho chegavam a 17h por dia, não havendo falar em férias, segurança
no trabalho ou aposentadoria. Era o auge da 2ª Revolução Industrial, especialmente após a descoberta do
gerador e do motor elétrico (1831).
Gustavo Teixeira Ramos 197
era visto como propriedade com valor econômico (a ser preservada, portanto),
enquanto o operário seria facilmente substituído num contexto de enorme de-
semprego e pobreza, com os lucros empresariais variando em função da maior
ou menor exploração de sua força de trabalho (mais-valia8).
O Estado deveria deixar, pois, seu clássico papel de passividade (lais-
sez-faire9) – em sua concepção liberal – para intervir (especialmente na
economia) mediante a implementação de medidas positivas (obrigações de
fazer) visando a garantir uma igualdade material mínima entre os cidadãos no
que se refere aos direitos à saúde, à educação, à moradia, ao trabalho, enfim,
no campo dos direitos sociais. Constatou-se a falácia do direito à liberdade
sem a consideração de fatores econômicos e sociais, reconhecidos hoje como
indispensáveis ao gozo da verdadeira liberdade10.
Era preciso, então, que o Direito se afastasse de seu papel histórico de
instrumento de dominação11 e retirasse a venda dos olhos de Dice12.
Com a instituição do novo paradigma constitucional estabelecido em
conformidade ao chamado Estado Social de Direito, a igualdade vincula-se à
ideia de Justiça Social e a demandas por redistribuição de recursos financeiros
e de poder. Procura-se estabelecer, em nível nacional e internacional, antídotos
contra situações de desequilíbrio e de exploração, especialmente mediante a
proteção jurídica do polo mais fraco em certas relações jurídicas, com destaque
para a relação jurídica trabalhista.13
É nesse contexto de consolidação do chamado Estado Social de Direito,
8 “Sabemos que o valor de toda mercadoria é determinado pela quantidade de trabalho materializado em seu
valor de uso, pelo tempo de trabalho socialmente necessário à sua produção”. MARX, Karl. Ibidem, p. 263/264.
9 “A expressão completa é “laissez-faire, laissez-aller, laissez-passer, le monde va de lui-même”, que significa literal-
mente “deixai fazer, deixai ir, deixai passar, o mundo vai por si mesmo”. Esta frase teria sido usada pela primeira
vez, em associação ao liberalismo econômico, pelo Marquês de Argenson em 1751.” SIGNIFICADOS. Signifi-
cado de laissez-faire. Disponível em: <https://www.significados.com.br/laissez-faire/>. Acesso em 9 out. 2019.
10 A desigualdade extrema, na pertinente análise de Oscar Vilhena Vieira, torna invisíveis os muito pobres e dá
imunidade aos privilegiados. (VIEIRA, Oscar Vilhena. Direitos Fundamentais: uma leitura da jurisprudência
do STF. Colaboração de Flávia Scabin e Marina Feferbaum. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2017. p. 257/270).
11 Maquiavel (1469-1527) observou ser o controle da lei uma das formas de o príncipe se perpetuar no poder,
de onde a célebre frase: “Aos amigos os favores, aos inimigos a lei”. MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe.
Comentários de Napoleão Bonaparte e Rainha Cristina da Suécia. Trad. Ana Paula Pessoa. São Paulo: Jar-
dim dos Livros, 2007. p. 157.
12 Personificação da Justiça na mitologia grega, cuja representação é feita descalça e com os olhos bem aber-
tos, metaforizando a busca pela verdade, enquanto a Iustitia romana era representada de olhos vendados e
empunhando uma espada e uma balança.
13 “Nesse quadro inovador, surgem inclusive ramos inusitados na árvore jurídica, compostos por segmentos
jurídicos especializados, porém abrangendo largos setores sociais, invertendo, regra geral, o viés dominador
característico dos segmentos jurídicos tradicionais. É o que se passa com os instigantes e criativos Direito
do Trabalho e Direito de Seguridade Social, despontados, revolucionariamente, em fins do século XIX e
início do século XX, os quais foram seguidos, décadas depois, após a Segunda Guerra Mundial, pelo Direito
do Consumidor e pelo Direito Ambiental.” DELGADO, Maurício Godinho; DELGADO, Gabriela Neves.
Constituição da República e Direitos Fundamentais. Dignidade da Pessoa Humana, Justiça Social e Di-
reito do Trabalho. 3. ed. São Paulo: LTr, 2015. p. 73/74.
198 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
Como um vulcão que vomita lava, a nova fábrica lança para fora tudo o que
não diz respeito ao foco de suas atividades, chegando até – no limite – a jogar-se
inteira, ou quase inteira, descartando sua própria natureza de fábrica.35
58 ACSELRAD, Henri; MELLO, Cecília Campello do Amaral; BEZERRA, Gustavo das Neves. O que é
Justiça Ambiental. Rio de Janeiro: Garamond, 2009. p. 133-142.
59 A esse respeito, indica-se a seguinte leitura: MICHAELS, David. Doubt is their product: how industry´s
assault on science threatens your health. Oxford: Oxford University Press, 2008. Nesta obra, o autor com-
prova como a indústria do cigarro, sabedora dos malefícios do cigarro à saúde humana, por décadas, con-
tratou cientistas mercenários para esconder tal fato do conhecimento público, disputando cada conclusão
científica em prol de manter a população confusa e, assim, consumindo seus produtos.
60 Esconde-se, assim, a evidente desigualdade distributiva quanto ao uso e acesso aos recursos naturais do pla-
neta, bem como a concentração dos riscos sociais e ambientais sobre os mais despossuídos. Há construção
de insensibilidades quanto à poluição ambiental por intermédio da desinformação (informações perversas)
e de promessas de empregabilidade, de modo a cooptar a sociedade, contando sempre com a dependência
econômica da população no entorno de determinada empresa poluente. A respeito do conceito de poluição
ambiental, ver: EBERT, Paulo Roberto Lemgruber. Dano ambiental: conceito e caracterização. In: Dicio-
nário de Saúde e Segurança do Trabalhador. Conceitos. Definições. História. Cultura. MENDES, René
(org.). Novo Hamburgo: Proteção Publicações Ltda, 2018. p. 337.
61 SUPIOT, Alain. Ibidem, p. 105.
212 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
sua existência, caso não existam condições mínimas para o seu exercício em
condições hígidas e dignas. Assim, “compreender o trabalhador enquanto
mero instrumento para a realização de determinado serviço, tônica da so-
ciedade civil contemporânea, compromete o entendimento maior de que o
homem deve ser fim em si mesmo”62.
A importância do Direito do Trabalho – e das Normas Internacionais do
Trabalho, naturalmente – foi bem sintetizada por Maurício Godinho Delgado
e Gabriela Neves Delgado:
Mediante suas regras imperativas, o Direito do Trabalho busca democratizar a
mais importante relação de poder existente no âmbito da dinâmica econômica,
instituindo certo parâmetro de igualdade jurídica material nessa relação profun-
damente assimétrica. Atenua o poder empregatício e eleva as condições de vida e
trabalho da pessoa humana trabalhadora no âmbito de sua relação de emprego. [...]
Com isso, o Direito do Trabalho também realiza um importante papel de política
de distribuição de renda no mundo da economia e da sociedade capitalistas,
diminuindo, em alguma medida, as tendências concentradoras de renda e de
poder que são características do capitalismo63.
62 DELGADO, Gabriela Neves. Direito fundamental ao trabalho digno. 2. ed. São Paulo: LTr, 2015. p. 25.
63 DELGADO, Maurício Godinho; DELGADO, Gabriela Neves. A Reforma Trabalhista no Brasil com os
comentários à Lei nº 13.467/2017. São Paulo: LTr, 2017. p. 40-41.
64 Sob tal premissa, Maurício Godinho Delgado observa que a Constituição de 1988 sabiamente detectou
que o trabalho regulado é o mais importante veículo de afirmação comunitária da grande maioria dos seres
humanos que compõem a atual sociedade capitalista, sendo, por isso, um dos mais relevantes instrumentos
de afirmação da democracia na vida social. Daí porque se afirma que, na desigual sociedade capitalista, “o
emprego, regulado e protegido por normas jurídicas, desponta [...] como o principal veículo de inserção do
trabalhador na arena socioeconômica capitalista, visando a propiciar-lhe um patamar consistente de afirma-
ção individual, familiar, social, econômica e, até mesmo, ética”. DELGADO, Maurício Godinho. Direitos
fundamentais na relação de trabalho. In: Revista LTr: legislação do trabalho, São Paulo, v. 70, n. 6, p. 657-
667, jun. 2006, p. 658-659.
65 “O objetivo principal da revolução ultraliberal” é “colocar a ‘ordem espontânea do mercado ao abrigo do
poder das urnas. Isso pressupõe retirar inteiramente a repartição do trabalho e das riquezas, assim como do
dinheiro, da esfera política. Essa limitação da democracia é necessária para impedir as populações ignoran-
tes de se imiscuir nas leis da economia que escapam aos seu entendimento”. Para a doutrina ultraliberal “a
insegurança econômica dos trabalhadores e sua exposição ao risco são os motores de sua produtividade e de
sua criatividade” [...] Ao recusar em seu princípio a ideia de justiça social, ela preconiza que a repartição do
trabalho e de seus frutos precisa da ordem espontânea do Mercado e deve ser, assim, retirada da intervenção
pública.” SUPIOT, Alain. Op. Cit, p. 31.
66 PEREIRA, Ricardo. PEREIRA, Ricardo. A Inconstitucionalidade da liberação generalizada da terceirização.
In: Revista da ABET, v. 14, n. 1, p. 62-77, jan./jun. 2015, p. 72.
Gustavo Teixeira Ramos 213
78 É disso que o Brasil precisa, argumenta-se: cultura de empreendedorismo. Ainda que isto seja verdade em
alguma porção, este é um discurso enganador para a maior parte da população brasileira, pois muito pou-
cos têm real condição de empreender. Ser pequeno empresário não é tarefa fácil. Os riscos são muitos. É
necessário capital inicial. Nem todos têm preparo ou formação. É preciso ser gestor de pessoas, entender
de questões financeiras e tributárias, de marketing (inclusive virtual), lidar com contabilidade, compras,
estoque etc. Mesmo sem o gozo de direitos básicos (férias, direito a se afastar do trabalho se vier a adoecer)
e sem as benesses reais dos grandes empresários, “é melhor ser empresário”, pensam muitos “pejotizados”
ou “autônomos”, que não se dão conta de que são trabalhadores como outros quaisquer, mas sem direitos
e sem segurança. E sem perspectiva real de futuro. Na verdade, cuida-se de um discurso auto iludido, que
aparenta liberdade e poder, como resposta aos assustadores índices de desemprego, especialmente entre os
mais jovens.
Gustavo Teixeira Ramos 217
79 SINAIT. Relatório OIT. Trabalho para um futuro mais brilhante. Disponível em: <https://sinait.org.br/docs/
relatorio_oit_portugues_2019.pdf>. Acesso em 5 nov. 2019.
80 SUPIOT, Alain. Op. Cit., p. 44.
81 Américo Plá. Princípios de Direito do Trabalho. Tradução de Wagner D. Giglio. 3. ed. São Paulo: LTr,
2000. p. 85.
218 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
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HOBSBAWN, Eric. Tempos fraturados. Cultura e sociedade no século XX. Trad. Berilo Vargas. 1. ed. São
Gustavo Teixeira Ramos 219
1 Professora Adjunta da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Doutora em Ciências Jurídicas e
Sociais pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito da Universidade Federal Fluminense
(PPGSD/UFF). Mestre em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Carolina Pereira Lins Mesquita 221
1. INTRODUÇÃO
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) é uma organização in-
tergovernamental permanente, sediada em Genebra, na Suíça, fundada após
a Primeira Guerra Mundial, em 1919, pela Conferência de Paz. A OIT tem
como objetivos a promoção da justiça social e o reconhecimento internacional
dos direitos humanos e trabalhistas, além de ser encarregada de promover a
realização do programa exposto no preâmbulo e os fins e objetivos previstos
na Declaração da Filadélfia.
Trata-se da única das agências especializada do Sistema das Nações
Unidas dotada de particular estrutura tripartite na qual os representantes dos
empregadores e dos trabalhadores atuam na construção normativa.
A OIT, que tem mantido representação no Brasil desde 1950, possui
como objetivos estratégicos: promover os princípios fundamentais e direitos
no trabalho com base em um sistema de supervisão e de aplicação de normas;
promover melhores oportunidades de emprego/renda para mulheres e homens
em condições de livre escolha, de não discriminação e de dignidade; aumen-
tar a abrangência e a eficácia da proteção social; e fortalecer o tripartismo e o
diálogo social.
As normas de Direito Internacional do Trabalho são fontes jurídicas,
dotadas de inquestionável teor jurídico-normativo, destinadas a universalizar
padrão mínimo de tutela indispensável ao homem, diante de sua excelência
222 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
2 A teoria do direito como instituição contrapõe-se à teoria normativa do direito, entendendo o direito
não como norma (ou seja, que o “fenômeno originário da experiência jurídica é a regra de conduta”), mas
como instituição, surgida no âmbito da sociedade civil, como fenômeno social. Em linhas gerais, para este
entendimento haverá direito sempre que houver grupos sociais organizados, isto é, grupos que suplantaram
a fase inorgânica e que, portanto, passaram à fase de institucionalização (inclusive, grupos organizados
de delinquentes e a família). Mas, ao contrário, não haverá direito em grupos sociais inorgânicos (por
exemplo, classes sociais não organizadas). A crítica que se faz a esse entendimento é que combate-se
propriamente a teoria estadista do direito, ao invés da teoria normativa do direito (teoria esta que admite a
pluralidade de centros de positivação jurídica e que, em princípio, não coincide, na sua acepção ampla, ao
estadismo jurídico). Outra crítica que se faz a teoria do direito como instituição é que as normas (regras
de conduta) antecedem as instituições (grupos sociais organizados). Em verdade, são as regras de conduta
que possibilitam a transformação dos grupos de inorgânicos em grupos organizados. E, de outro lado, nem
Carolina Pereira Lins Mesquita 223
todas as regras de condutas são suficientemente hábeis a constituir uma instituição (cf. Bobbio, 2001, p.
28-37).
3 A teoria do direito como instituição contrapõe-se à teoria normativa do direito, entendendo o direito
não como norma (ou seja, que o “fenômeno originário da experiência jurídica é a regra de conduta”), mas
como instituição, surgida no âmbito da sociedade civil, como fenômeno social. Em linhas gerais, para este
entendimento haverá direito sempre que houver grupos sociais organizados, isto é, grupos que suplantaram
a fase inorgânica e que, portanto, passaram à fase de institucionalização (inclusive, grupos organizados
de delinquentes e a família). Mas, ao contrário, não haverá direito em grupos sociais inorgânicos (por
exemplo, classes sociais não organizadas). A crítica que se faz a esse entendimento é que combate-se
propriamente a teoria estadista do direito, ao invés da teoria normativa do direito (teoria esta que admite a
pluralidade de centros de positivação jurídica e que, em princípio, não coincide, na sua acepção ampla, ao
estadismo jurídico). Outra crítica que se faz a teoria do direito como instituição é que as normas (regras
de conduta) antecedem as instituições (grupos sociais organizados). Em verdade, são as regras de conduta
que possibilitam a transformação dos grupos de inorgânicos em grupos organizados. E, de outro lado, nem
todas as regras de condutas são suficientemente hábeis a constituir uma instituição (cf. Bobbio, 2001, p.
28-37).
224 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
ma, a norma de direito internacional para ter eficácia no plano interno deve ser
internalizada (por meio de procedimentos legislativos), só depois disso passando
a ter vigência interna.11
Em face da previsão desses procedimentos legislativos de internalizar as
normas internacionais, a natureza jurídica dessas normas sofreria uma muta-
ção: passando de normas internacionais para normas internas derivadas. E, já
que derivadas e subordinadas à Constituição do país, seriam dotadas de eficácia
de norma infraconstitucional.
Afasta-se, por conseguinte, a possibilidade de haver conflito entre normas
de direito interno e de direito internacional, posto que a norma internacional
só vai ser obrigatória para o Estado se a estiver positivado no ordenamento
interno. Dessa feita, os conflitos porventura existentes tratarão de conflitos
entre normas internas, seguindo as regras de solução de antinomias do mesmo
sistema jurídico (no caso, as propostas pelo ordenamento estatal).
Para a corrente monista, as ordens jurídicas internacional e nacional
compõem um sistema jurídico único ou “universal”, havendo, pois, interde-
pendência e inter-relação entre elas, residindo o critério distintivo apenas no
que se refere a graus de manifestação (grau interno e grau internacional).
Em face desta teoria, o Estado, quando assume compromisso internacio-
nal – reverberado pelo ato de adesão do Chefe de Estado à norma de direito
internacional (ratificação) –, acarreta a automática atribuição de vigência da
norma internacional no plano nacional, sendo desnecessários atos legislativos
internos. Logo, verifica-se a coincidência entre vigência interna e a vigência
internacional.12 Além disso, constata-se também a manutenção da natureza
jurídica de norma internacional, mesmo quando aplicável à dimensão interna.13
Do ato de ratificação decorrem obrigações no plano internacional para o
Estado. Entretanto, pode ou não coincidir com o marco inicial da vigência do
instrumento normativo no plano internacional porquanto o próprio diploma
pode prever outras condições necessárias para lhe desenvolver a vigência. Caso
11 Nesse sentido, Álvares da Silva (1996, p. 19), para quem o marco da vigência interna pátria dos tratados
internacionais é a aprovação pelo Congresso Nacional, via Decreto Legislativo.
12 Pelo entendimento de coincidência da vigência interna com a internacional, Muradas (2010). A autora con-
clui: “Não implementada a condição ou termo inicial de vigência do tratado internacional (não expirado,
pois o período da vacatios legis) a vigência interna fica sobrestada até que se opere a vigência internacional,
salvo, é claro, se o ordenamento jurídico nacional dispuser de modo diverso” (cit., p. 116-121).
13 Reportando especificamente para o caso brasileiro, segundo Fraga (1998), a promulgação (e publicação)
da norma internacional pelo Decreto Presidencial “não convolaria esta fonte jurídica em direito nacional,
eis que o decreto presidencial somente emprestaria força executória ao tratado”. Completa que, “ao aplicar
a norma internacional, o Poder Judiciário aplica o próprio tratado (Direito Internacional), e não o direito
nacional (o produzido, apenas, pelos órgãos internos), em que, supostamente, se tenha transformado por via
do decreto de promulgação” (cit., p. 127).
228 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
decorre do art. 4º, II,19 da CRFB, que estabelece a prevalência dos direitos fun-
damentais para a República Federativa do Brasil, e do art. 5º, §2º, da CRFB,
que prescreve: “os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem
outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.”
O Supremo Tribunal Federal, contudo, rejeitou expressamente a aplicabi-
lidade imediata dos tratados internacionais e o status de norma constitucional,
ainda os que versem sobre direitos humanos, exigindo, para que eles tenham
vigência interna, a incorporação conforme os ritos previstos na Carta de 1988.20
Colocando de certa forma um fim nesta discussão, a EC 45/2004 acres-
centou o §3º ao art. 5º da CRFB, prescrevendo: “os tratados e convenções
internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do
Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos
membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.”
Em um primeiro momento, a interpretação do citado dispositivo consti-
tucional foi no sentido de ter atribuído força à teoria monista mista (a sustentada
pelos constitucionalistas), posto que somente quando as normas internacionais
versarem sobre direitos humanos poderão ser equivalentes às emendas consti-
tucionais, passando a ser não só “materialmente” constitucional, mas também
“formalmente” constitucional, ainda, com a alteração subordinada ao art. 60,
§4º, da CRFB (cláusula pétrea).
Entretanto, os efeitos da positivação desse dispositivo restringiram a in-
terpretação progressista há muito afiançada pelos doutrinadores defensores dos
direitos humanos. Ora, diante dessa alteração constitucional, somente os tratados
aprovados depois da EC 45/04 é que poderão ser equiparados às emendas consti-
tucionais e, mesmo assim, desde que atendidas as formalidades de incorporação
no direito interno (aprovação em dois turnos, com três quintos, em cada Casa do
Congresso Nacional). Dessa forma, ao invés de a alteração constitucional a priori
atribuir força constitucional às normas internacionais sobre os direitos humanos,
independentemente de formalidades específicas de aprovação, de fato, dificultou
a atribuição de status constitucional a esses tratados.21
cia, são os fundados na dignidade da pessoa humana nas suas dimensões jurídicas, políticas e econômicas.”
19 Art. 4º, II, da CRFB: “A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos se-
guintes princípios: II – prevalência dos direitos humanos”.
20 Cf. Recurso Extraordinário 80.004/SE, DJ 29.12.1977; Habeas Corpos 72.131/RJ, DJ 01.08.2003; Habeas
Corpos n. 81.139/GO, DJ 19.08.2005, dentre outros.
21 Em 2019, após quinze anos da EC45/04, somente a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Defi-
ciência e seu protocolo facultativo e o Tratado de Marraqueche para Facilitar o Acesso a Obras Publicadas
às Pessoas Cegas, com Deficiência Visual ou com outras Dificuldades para Ter Acesso ao Texto Impresso
foram aprovados com o status de emenda constitucional no País.
Carolina Pereira Lins Mesquita 231
22 Cf. decisão do STF, RE-466343; RE-349703; HC-87585, Sessão de 3.12.2008. Neste julgamento, o STF
decidiu conforme o voto do ministro Gilmar Mendes, pela supralegalidade dos tratados internacionais rati-
ficados pela República Federativa do Brasil. Em sentido contrário, como voto vencido, o ministro Celso de
Melo, para quem todos os tratados internacionais de direitos humanos ratificados pelo Brasil e em vigor te-
riam sempre status de norma constitucional, seja com hierarquia somente material (status material de norma
constitucional) ou hierarquia material e formal (status de emenda constitucional, quando aprovados com o
quorum especial do art. 5º, §3º/CRFB), considerando o disposto no art. 5º, §2º/CRFB. O posicionamento de
Celso de Melo coincide com o de Mazzuoli (2009).
23 Salienta-se que a tese da supralegalidade dos tratados internacionais ratificados pelo Brasil já foi positivado
na ordem jurídica pátria, conforme se aufere do art. 98 do Código Tributário Nacional: “Os tratados e as
convenções internacionais revogam ou modificam a legislação tributária interna, e serão observados pela
que lhes sobrevenha”.
24 DJ 18.05.2001. Muradas (2010, p. 141) critica: “[...] o entendimento de mera equiparação do tratado à lei
permite a revogação da norma de origem internacional por mera superveniência de lei – o que é um non
232 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
38 Esclarece Süssekind (1998, p. 30): “Multilaterais, porque podem ter um número irrestrito de partes; abertos,
porque podem ser ratificadas, sem limitação de prazo, por qualquer dos Estados-membros da OIT, ainda que
esse Estado não integrasse a Organização quando da aprovação do tratado (o simples fato de estar filiado à
OIT permite ao país aderir a qualquer das convenções até então adotadas, salvo as que foram revistas por
outras e que, por esse motivo, não mais permanecem abertas à ratificação); de caráter normativo, porque
contém normas cujo destino é a incorporação ao direito interno dos países que manifestaram sua adesão ao
respectivo tratado”.
39 Dispõe o artigo 1 da Constituição da OIT: “2. Serão Membros da Organização Internacional do Trabalho os
Estados que já o eram a 1º de novembro de 1945, assim como quaisquer outros que o venham a ser, de acordo
com os dispositivos dos parágrafos 3º e 4º do presente artigo. 3. Todo Estado-Membro das Nações Unidas,
desde a criação desta instituição e todo Estado que for a ela admitido, na qualidade de Membro, de acordo com
as disposições da Carta, por decisão da Assembléia Geral, podem tornar-se Membros da Organização Inter-
nacional do Trabalho, comunicando ao Diretor-Geral da Repartição Internacional do Trabalho que aceitou,
integralmente as obrigações decorrentes da Constituição da Organização Internacional do Trabalho. 4. A
Conferência Geral da Organização Internacional do Trabalho tem igualmente poderes para conferir a qualidade
de Membro da Organização, por maioria de dois terços do conjunto dos votos presentes, se a mesma maioria
prevalecer entre os votos dos delegados governamentais. A admissão do novo Estado-Membro tornar-se-á
efetiva quando ele houver comunicado ao Diretor-Geral da Repartição Internacional do Trabalho que aceita
integralmente as obrigações decorrentes da Constituição da Organização”. (sem destaque no original).
236 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
40 Deveali (apud Muradas, 2010, p. 108) afirma a natureza jurídica das convenções, recomendações e resolu-
ções internacionais do trabalho, esclarecendo que “[...] são de diferentes intensidades, do ponto de vista de
sua característica normativa, as recomendações aprovadas pelas Conferências Internacionais do Trabalho da
OIT, assim como suas resoluções e igualmente as declarações de outros congressos internacionais”.
41 A competência é privativa do Presidente da República para celebrar tratados. Contudo, esta competência pode
ser delegada ao Ministro das Relações Exteriores e a outras pessoas que tenham conhecimento da temática dis-
cutida, denominados de “agentes plenipotenciários”. O instrumento pelo do qual essa competência é delegada
designa-se Carta de Plenos Poderes, na qual se autoriza o agente para a negociação de tratado e prevê os limites
para a essa negociação. Por força do previsto no art. 8º da Convenção de Viena, pacífico que essa delegação é
presumida para o Ministro das Relações Exteriores. Importante esclarecer, ainda, que o agente plenipotenciário
tem autorização para assinar o tratado internacional, entendido como ato de autenticação do texto e de mani-
festação da intenção do Estado em se obrigar futuramente (duplicidade de efeitos), que não se confunde com o
ato de ratificação do tratado, por meio do qual o Chefe de Estado manifesta formalmente o seu consentimento e
efetivamente se obriga no plano internacional. Logo, deve restar claro: a assinatura e a autenticação do tratado
não se confundem com a sua ratificação, não gerando obrigatoriedade do tratado para o Estado (este encargo só
ocorre com a ratificação, conforme a Convenção de Havana, de 1928).
42 Dispõe o art. 84, VIII, da CRFB: “Compete privativamente ao Presidente da República: VIII – celebrar
tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos à referendo do Congresso Nacional”.
43 Dispõe o art. 49, I, da CRFB: “É da competência exclusiva do Congresso Nacional: I – resolver definitiva-
mente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao
patrimônio nacional”.
Carolina Pereira Lins Mesquita 237
44 Exemplificam-se: Cançado Trindade, Nicolas Válticos, Flávia Piovesan, Antônio Boggiano, Massimiliano
Delfino, Celso Lafer e José Joaquim Gomes Canotilho, entre outros.
45 Ilustram-se com alguns documentos internacionais nos quais a autora baseia sua tese de progressividade
da proteção da pessoa humana e da reserva implícita do retrocesso sociojurídico do trabalhador: art. 30 da
Declaração de Direitos do Homem, art. 5º do Pacto de Direitos Civis e Políticos (1966), art. 5º do Pacto de
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966), Diploma Internacional de Proteção aos Direitos Humanos
de Teerã (1968), Diploma Internacional de Proteção aos Direitos Humanos de Viena (1993), art. 29 da Con-
venção Americana sobre Direitos Humanos, art. 1.1 da Convenção contra a Tortura, art. 41 da Convenção
sobre os Direitos da Criança e art. 19, VIII, da Constituição da OIT.
46 Também designado de cláusula de proibição de evolução reacionária, regra do não retorno da concretização,
princípio da proibição da retrogradação (cf. Fileti, 2009).
238 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
sentenças normativas (art. 114, §2º, da CRFB),47 das cláusulas contratuais (art.
468/CLT),48 das normas internacionais do trabalho (art. 19 da Constituição
da OIT, com disposição correspondente no art. 405, §11, do Tratado de Ver-
sailles)49 e a positivação constitucional dos princípios da norma mais favorável,
vedação do retrocesso e seu corolário lógico, o princípio da progressividade
(art. 7º, caput, da CRFB).50
Note-se que esta compreensão das normas juscoletivas como integrantes
do todo sistêmico do direito do trabalho e sujeitas aos critérios de validade
formal (celebração por sindicato profissional, art. 8º, IV/CRFB)51 e material
(princípios da vedação do retrocesso e progressividade sociojurídica do traba-
lhador, caput do art. 7º/CRFB), supera as tradicionais teorias52 de aderência
contratual das normas coletivas, inclusive a expressada na súmula 277 do TST53
bem como o problema do limbo jurídico criado pela nova redação do art. 614,
§3º54 pela Lei 13.467/17.
Aufere-se, então que a noção de vedação do retrocesso social está de manei-
ra indissolúvel vinculada à noção de progresso, que por sua vez se define como
‘marcha adiante, movimento em uma direção definida.
Além disso, o princípio da vedação do retrocesso atua inquestionavel-
mente como limite material à edição normativa, mormente aquela tendente a
47 Dispõe o art. 114, §2º/CF: “Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é facul-
tado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza econômica, podendo a JT decidir o
conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas
anteriormente.”
48 Dispõe o art. 468/CLT “Nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração das respectivas condi-
ções por mútuo consentimento, e ainda assim desde que não resultem, direta ou indiretamente, prejuízos ao
empregado, sob pena de nulidade da cláusula infringente desta garantia”.
49 Dispõe o art. 19 da Constituição da OIT: “Em nenhum caso poderá considerar-se que a adoção de uma
convenção ou de uma recomendação pela Conferência, ou a ratificação de uma convenção por qualquer dos
Membros, afetará qualquer lei, sentença, costume ou acordo que garanta aos trabalhadores condições mais
favoráveis do que as que figuram na convenção ou na recomendação”.
50 Dispõe o caput, do art. 7º/CRFB: “São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem
à melhoria de sua condição social”.
51 Dispõe o art. 8º, VI/CRFB: “é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho”.
52 Em síntese, as teorias são: aderência irrestrita (as normas coletivas ingressam para sempre nos contratos
individuais de trabalho, não podendo ser deles suprimidas, seguindo os efeitos de cláusulas contratuais, art.
468/CLT); aderência limitada ao prazo de vigência (as normas coletivas vigoram pelo prazo assinalado
no diploma, em aplicação semelhante à atribuída às sentenças normativas pelo antigo teor da Súmula 277/
TST) e; aderência limitada por revogação (as normas coletivas vigoram até que novo diploma negocial os
revogasse de forma expressa ou tácita, conforme atual redação da Súmula 277 de aplicação suspensa pelo
STF, ADPF n. 323/DF).
53 Dispõe a Súmula 277/TST: “As cláusulas normativas dos acordos coletivos ou convenções coletivas inte-
gram os contratos individuais de trabalho e somente poderão ser modificadas ou suprimidas mediante nego-
ciação coletiva de trabalho”. O ministro relator Gilmar Mendes, na ADPF 323/DF determinou a suspensão
da aplicação da referida súmula, sob o entendimento que o TST, sem amparo legal, interpretou o art. 114,
§2º, da CRFB de forma arbitrária, especialmente porque o §1º, do art. 1º da Lei 8.542/92 foi revogado pelo
Poder Legislativo.
54 Dispõe o §3º do art. 614 da CLT (com redação dada pela Lei 13.467/2017): “Não será permitido estipular dura-
ção de convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho superior a dois anos, sendo vedada a ultratividade”.
Carolina Pereira Lins Mesquita 239
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Supremo Tribunal Federal ao decidir em 2008(RE-466343; RE-
349703; HC-87585) pela supralegalidade dos tratados internacionais de
Carolina Pereira Lins Mesquita 241
direitos humanos não aprovados por quórum qualificado (art. 5º, §3º/CRFB)
atribuiu qualidade dispares para os instrumentos normativos internacionais.
Além de dificultar a aquisição do status de norma materialmente constitucional,
o STF restringiu a possibilidade de controle concentrado de convencionalidade
das normas domésticas, somente possível tendo como paradigmas os tratados
internacionais aprovados como emendas à constituição.
Este posicionamento do STF diverge da corrente afirmadora dos direitos
humanos, nos quais se inclui os sociais trabalhistas, no sentido de superação da
dicotomia entre teoria monista e teoria dualista, amparando uma verdadeira
concorrência normativa entre a ordem interna e a internacional, que se inter-
penetram e completam para a melhor proteção da pessoa humana (princípio
pro homine ou pro persona).
As diretrizes dos princípios pro homine, da vedação do retrocesso e da
progressividade sociojurídica do trabalhador determinam a aplicação da norma
mais benéfica ao indivíduo, seja entre duas ou mais normas internacionais
(dimensão horizontal) ou entre normas internacionais e nacionais (dimensão
vertical). Ademais se afastam, por conseguinte, os conflitos normativos entre
ordem interna e ordem internacional, já que a proteção aos direitos humanos
é concorrente e cumulativa.
As normas de Direito Internacional do Trabalho consubstanciam em
bloco ou sistema de proteção dos direitos do homem, especialmente diante de
seu relevo na tutela do trabalhador e em face de seu propósito de universali-
zação e atribuição de civilidade mínima à exploração do trabalho pelo capital.
Reverberando piso mínimo universal de proteção laboral, aceitável pela co-
munidade internacional, as normas da OIT são direcionadas pela diretriz de
progressiva ampliação pelo direito interno, não tendo, vocação para a redução
de patamares normativos já alcançados no plano interno de cada Estado.
Demais, vislumbra-se que a ideia de progressividade no campo do Direito
do Trabalho atua como diretriz em dois sentidos não excludentes: o horizontal
e o vertical. O primeiro é atribuído como função do Direito Individual do
Trabalho e o segundo, como função do Direito Coletivo do Trabalho.
A progressividade horizontal em matéria justrabalhista deve ser verificada e
perquirida sobremaneira pelo segmento individual do Direito do Trabalho, no
sentido de extensão do seu manto tutelar regulamentador a universo cada vez
maior de trabalhadores (não apenas aos subordinados clássicos). Nesse aspecto,
o princípio da progressividade exercido pelo Direito individual do Trabalho
atua na promoção de um mínimo de distribuição de riquezas; na retirada de
242 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
BIBLIOGRAFIA
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SÜSSEKIND, Arnaldo. Convenções da OIT. 2. ed. São Paulo: LTr, 1998.
APONTAMENTOS SOBRE A QUARTA REVOLUÇÃO
INDUSTRIAL E AS RECENTES IMPRESSÕES DA OIT A
RESPEITO SOB A ÓTICA DO TRABALHO DECENTE
NOTES ON THE FORTH INDUSTRIAL REVOLUTION AND RECENT
ILO IMPRESSIONS OF IT FROM PERSPECTIVE OF DECENT WORK
ILO’s relationship with the protection and promotion of human rights in the
field of labor relations, the creation and content of the concept of Decent Work,
the so-called first three Industrial Revolutions, the current phenomenon called
the Fourth Industrial Revolution and finally, two international and one Brazilian
official reports, written by the ILO itself, which problematize the contempo-
rary transformations of labor morphology, will be examined, thus trying to
apprehend the current impressions of the Organization about the contemporary
transformations experienced in its object of activity. The inductive approach and
the bibliographic method of procedure were employed.
Keywords: Fourth industrial revolution; International Labor Organization;
Decent work.
1. INTRODUÇÃO
A Quarta Revolução Industrial, fenômeno identificado pelo Fórum Econô-
mico Mundial, altera profundamente os paradigmas de compreensão do sistema
de produção vigente e, por conseguinte, a morfologia das relações de trabalho.
Neste cenário, o trabalho, elemento estrutural do capitalismo, é tomado
como profundamente modificado em sua dinâmica de funcionamento e ope-
ração, a fim de se adequar às novas exigências do mercado.
Novas tecnologias, ocupações até então impensadas, produtos e bens da
vida absolutamente inovadores, dentro deste contexto, convivem e, muitas vezes,
viabilizam o incremento do desemprego estrutural planetário, a aceleração da
transferência em massa de mão-de-obra dos setores agrícola e industrial para o
setor de serviços, o decréscimo dos salários médios e a absoluta precarização de
direitos humanos sociais, em especial pela labuta informal e insegura (em suas
várias facetas) e pela extinção ou flexibilização de direitos básicos, por diferentes
vias, tais como o advento de distintas modalidades de contratos de trabalho atí-
picos (intermitentes, teletrabalho, etc.), a intensificação da fragilização sindical,
a prevalência absoluta dos negociados coletivo e individual sobre o legislado e o
arrefecimento da proteção social a desempregados, inválidos e idosos.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT), por sua vez, desde o
início do século XXI, tem na concepção de Trabalho Decente o fio condutor
de todas as suas construções teóricas, elaboradas a partir do diálogo entre re-
presentantes de empregados, empregadores e Estados. A promoção do Trabalho
Decente propõe um caminho de políticas públicas que se opõe justamente
àquelas ocorrências verificadas com a Quarta Revolução Industrial, na medida
em que suscita a proteção de direitos humanos nas relações de trabalho, a ge-
ração de empregos de qualidade, a ampliação da proteção social e a adoção do
246 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
3 “Considerando que existem condições de trabalho que implicam, para grande número de indivíduos, misé-
ria e privações, e que o descontentamento que daí decorre põe em perigo a paz e a harmonia universais, e
considerando que é urgente melhorar essas condições no que se refere, por exemplo, à regulamentação das
horas de trabalho, à fixação de uma duração máxima do dia e da semana de trabalho.” (ORGANIZAÇÃO
INTERNACIONAL DO TRABALHO. Constituição OIT e Declaração de Filadélfia. Disponível em:
<https://www.ilo.org/brasilia/centro-de-informacoes/documentos/WCMS_336957/lang—pt/index.htm>.
Acesso em: 22 out. 2019).
4 RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 4. ed. São Paulo. Saraiva. 2017. p. 53.
248 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
10 BELTRAMELLI NETO, Silvio; BONAMIM, Isadora R.; VOLTANI, Julia de C. Trabalho Decente segundo
a OIT: uma concepção democrática? Análise crítica à luz da teoria do contrato social. Revista Eletrônica do
Curso de Direito da UFSM, v. 14, p. 1-36, 2019, p. 8.
11 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração e Programa de Ação da Cúpula Mundial sobre
Desenvolvimento Social, 1995. Disponível em: <http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Confer%-
C3%AAncias-de-C%C3%BApula-das-Na%C3%A7%C3%B5es-Unidas-sobre-Direitos-Humanos/declara-
cao-e-programa-de-acao-da-cupula-mundial-sobre-desenvolvimento-social.html>. Acesso em: 21 out. 2019.
12 A construção da noção de Desenvolvimento Social vem a reboque da difusão das ideias econômicas de John
Maynard Keynes e da consolidação política do modelo do Welfare State, nos países hegemônicos da época
do pós-Segunda Guerra Mundial (SANTOS, Boaventura de Sousa. A crítica da razão indolente: contra o
desperdício da experiência. 2. ed. Porto: Edições Afrontamento, 2002, p. 137). A consagração internacional
do Desenvolvimento Social pelas Declarações da ONU, já nos anos setenta do século XX, vai representar a
consolidação da superação da visão desenvolvimentista puramente econômica — segundo a qual a produção
de riquezas gera, per si, incremento das condições de vida — pela percepção de que o desenvolvimento só
se aufere com o bem-estar coletivo em diferentes aspectos sociais, como educação, saúde, valor do salário
mínimo, meio ambiente, entre outros, panorama contrário à desigualdade social (HUNT, L. A Nova história
cultural. 3. ed. São Paulo: Martins Editora, 2001, p. 34; AMARO, R. R. Desenvolvimento – Um conceito
ultrapassado ou em renovação? Da teoria à prática e da prática à teoria. Cadernos de Estudos Africanos, n.
4, 2003, p. 40-60, p. 59).
250 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
campo para habitar as cidades que estavam nascendo estimulou o florescer das
indústrias, ao gerar um exército de reserva pela grande mão-de-obra existente.22
A transição do modo de produção feudal para o capitalista gerou uma acumu-
lação primitiva de capital, possibilitando o investimento e impulsionando o
desenvolvimento econômico.23
Cabe ressaltar o fato de que a Inglaterra possuía ávidos espaços para o
consumo de mercadorias, uma vez que influenciou político-financeiramen-
te o fim da escravidão nas colônias e o seu êxodo rural criou um mercado
antes inexiste nas cidades.24 Por sua vez, os processos produtivos da época eram
organizados, inicialmente, de forma artesanal. Todas as etapas poderiam ser
realizadas por uma única pessoa. O artesão era o dono de seu próprio tempo,
das ferramentas de trabalho e da matéria-prima necessária. Nesse sentido, a
família estava umbilicalmente ligada à organização do labor.
Com o aumento do número de pessoas na cidade, surgiu a necessidade
de otimizar e acelerar a confecção dos produtos. Houve o surgimento das
manufaturas, que demandavam a concentração de trabalhadores em local espe-
cífico, contratados por um comerciante. A produção foi cindida e cada grupo
de trabalho cuidava de uma etapa específica.25
Gradualmente, a fabricação foi assumindo outras características. O
comerciante passou a vender matéria-prima e alugar ferramentas para o ar-
tesão. Estabeleceu-se, assim, uma relação de dependência entre comerciante
e artesão. As máquinas, especialmente o tear mecânico, somada ao uso da
energia a vapor, permitiram a separação e organização das fábricas em regi-
mes específicos de trabalho. Assim, o tempo que o funcionário levava para
desempenhar alguma função estava subordinado ao tempo da máquina. A
despersonalização da atividade produtiva afetou a maneira como o indivíduo
interpretava a própria subjetividade.26
O avanço tecnológico evoluiu muito no final do século XIX, principal-
mente na indústria. Incrementou-se bastante: gasolina, máquinas, motores
a combustão, telefone, etc. Nessa mesma época, a energia elétrica passou a
ser usada nas indústrias e nas casas. A capacidade da produção industrial foi
22 Ibidem, p. 3-5.
23 HOBSBAWM, Eric J. A era das revoluções. São Paulo: Paz e Terra, 2015, p. 56-64.
24 SALLES, Ricardo. A segunda escravidão. Tempo, Niterói, v. 19, n. 35, p. 249-254, dez. 2013.
25 ROMEIRO, Ademar Ribeiro. Revolução Industrial e a mudança tecnológica na agricultura europeia. Revis-
ta História, São Paulo, n. 123-124, p. 5-33, ago/jul.1990/1991, p.14-16.
26 UGARTE, Maria Cecília Donaldson. O corpo utilitário: Da revolução industrial à revolução da informação.
IX Simpósio Internacional Processo Civilizador: Tecnologia e Civilização. Ponta Grossa, 2008, p. 1-8,
p.2. Disponível em: <http://www.uel.br/grupo-estudo/processoscivilizadores/portugues/sitesanais/anais9/
artigos/mesa_redonda/art5.pdf>. Acesso em: 21 out. 2019.
254 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
27 SILVA, Maria Cristina Amaral da Silva; GASPARIN, João Luiz. A Segunda Revolução Industrial e suas
influências sobre a educação escolar brasileira. Navegando pela história da educação brasileira – 20 anos
de Histedbr. Campinas: HISTEDBR, 2009, p. 6-10.
28 DATHEIN, Ricardo, op. cit., p. 4-5.
29 HOBSBAWN, Eric. Da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo. 5. ed. Rio de Janeiro. Forense
Universitária, 2000, p.101-123.
30 Ibidem, p.124-127.
31 SEVES, Natalia Cabau. Capitalismo monopolista no Brasil: a implantação do novo padrão de acumulação
do capital e a redefinição da hegemonia política no seio do bloco no poder. Anais do V Simpósio Interna-
cional Lutas Sociais na América Latina. Londrina, 2013, p.14-16.
Silvio Beltramelli Neto – Leandro Faria Costa 255
32 CAMPOS, Fabio Antonio de. Imperialismo e internacionalização dos mercados latino-americanos nos anos
1950. Revista Economia Ensaios, n. 30, v. 1, 2015, p. 7-34.
33 HOBSBAWN, Eric. Da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo, cit., p. 160-171.
34 Ibidem, p. 172-181.
35 PEREIRA, Elenita Malta. O ouro negro: Petróleo e as crises políticas, econômicas, sociais e ambientais na
2ª metade do século XX. Outros Tempos, v. 5, n. 6, p. 54-72, São Luís, dez. 2008, p. 57-59.
256 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
36 FARAH JÚNIOR, Moisés Francisco. A Terceira Revolução Industrial e o Novo Paradigma Produtivo: Algu-
mas Considerações sobre o Desenvolvimento Industrial Brasileiro nos Anos 90. Revista da FAE, Curitiba,
v. 3, n. 2, p. 45-61, mai./ago. 2000, p. 48-50.
37 SCHWAB, Klaus. The fourth industrial revolution. Geneva: World Economic Forum, 2016. p. 26-40.
38 Ibidem, p. 45-58.
Silvio Beltramelli Neto – Leandro Faria Costa 257
46 Ibidem., p. 44-51.
47 Ibidem., p. 57-59
48 INTERNATIONAL LABOUR OFFICE. Global Employment Trends for Youth 2017: Paths to a better
working future. Geneva: ILO, 2017. Disponível em: <https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/—-dgre-
ports/—-dcomm/—-publ/documents/publication/wcms_598669.pdf>. Acesso em: 21 out. 2019.
49 Ibidem, p. 21.
50 Ibidem, p. 39.
260 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As mudanças na morfologia do trabalho ocorridas na Quarta Revolução In-
dustrial já são perceptíveis em todo mundo mesmo que, de maneira e intensidade
diferentes, conforme o nível de desenvolvimento econômico e social dos países.
O fato é que, chame-o com a designação conferida pelo Fórum Econô-
mico Mundial ou não, é inegável o fenômeno contemporâneo da influência
determinante da revolução tecnológica na morfologia do trabalho e seus impac-
tos na extinção e criação de novos postos laborais, sua influência nas taxas de
emprego formal, informal e desemprego, bem como sua associação ao ímpeto
ultraliberal que se espalha pelo mundo, nesta quadra histórica, em prol do
avanço vertiginoso da flexibilização de direitos humanos trabalhistas.
A OIT demonstra, em suas discussões e estudos, não estar alheia aos
acontecimentos, embora pareça ainda se encontrar, assim como todos os
estudiosos do assunto, na busca pelo entendimento da abrangência e da com-
plexidade das mudanças societais deste século, que, para além do trabalho,
atinge os costumes, a saúde física e mental, a economia, a política, enfim, a
vida humana em todas as suas dimensões.
Ao menos neste momento, não parece exagerado imaginar que se está a
passar por um período da existência humana de profunda transformação social
e sua compreensão, em todas as nuances, afigura-se sobremaneira dificultada
55 Ibidem, p. 25-31.
56 Ibidem, p. 39.
262 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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FARAH JÚNIOR, Moisés Francisco. A Terceira Revolução Industrial e o Novo Paradigma Produtivo: Algu-
mas Considerações sobre o Desenvolvimento Industrial Brasileiro nos Anos 90. Revista da FAE, Curitiba,
Silvio Beltramelli Neto – Leandro Faria Costa 263
RESUMO: Este trabalho tem por objetivo tratar dos avanços tecnológicos que
configuram a Quarta Revolução Industrial com sérias e relevantes repercussões
nas relações trabalhistas. Tal como vêm apontando as Declarações da Organi-
zação Internacional do Trabalho – no auge de seus 100 anos de fundação – as
mudanças assim introduzidas pela globalização econômica vêm provocando, no
mundo, um acentuado crescimento econômico para poucos e um retrocesso
social para a grande maioria das pessoas que depende de um trabalho decente
para viver com dignidade. É o que espelha, em particular, a realidade brasileira,
diante das altas taxas de desemprego e do aumento expressivo da desigualdade
social. Todavia, à luz dos princípios e regras constitucionais em sintonia com
as normas dos Tratados Internacionais dos Direitos Humanos, que incluem
o conjunto normativo da OIT, impõe-se, no âmbito do Estado Democrático
1 Pós-Doutora em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUCSP. Doutora em Direito
do Trabalho e Sindical pela Università degli studi di Roma I, “La Sapienza”, com revalidação do diploma
pela Universidade de São Paulo – USP. Pós-Graduada em Economia do Trabalho – Curso de Especializa-
ção pela UNICAMP. Magistrada do Trabalho aposentada (9ª. Região- PR). Membro Titular da Academia
Paranaense de Direito do Trabalho. Membro Titular da Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina.
Professora Universitária. E-mail: [email protected].
2 Pós-Doutor em Direito Econômico pela Università degli studi di Roma II, “Tor Vergata”. Doutor em Direito
do Trabalho e Previdência Social pela Università degli studi di Roma I, “La Sapienza”, com revalidação do
diploma pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mestre em Direito do Trabalho pela PUCSP.
Professor Titular do Programa de Pós-graduação (Mestrado e Doutorado) em Direito da Pontifícia Univer-
sidade Católica (PUCPR). Professor Adjunto II do Curso de Graduação em Direito da UFSC. Professor do
Centro Universitário Internacional UNINTER de Curitiba/PR. Coordenador do Núcleo de Estudos Avança-
dos de Direito do Trabalho e Socioeconômico (NEATES) da PUCPR. Advogado. E-mail: marcovillatore@
gmail.com.
Dinaura Godinho Pimentel Gomes – Marco Antônio César Villatore 265
1. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS
O presente ensaio trata do impacto dos avanços tecnológicos, em ritmo
bem acelerado, a provocar significativas mudanças na organização e no desem-
penho do processo produtivo. Se, de um lado, o ritmo dessas transformações
promove o progresso no desenvolvimento de muitas atividades empresariais,
do outro, vem gerando incertezas e instabilidades nas relações pessoais, prin-
cipalmente no mundo do trabalho.
Essa verdadeira revolução técnica e científica está conectada ao poderio
econômico centrado em grandes conglomerados transnacionais com programas
de qualidade altamente capitalizados. Reforça a facilidade de que dispõem na
circulação de informações e de seus produtos, nos países em desenvolvimento,
porém, sem a eles oferecer alternativas. Afastados de quaisquer limites e responsa-
bilidade social, visam ao aumento inexorável de suas margens de lucro. Com isso,
266 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
a competição no mercado global se torna cada vez mais selvagem, a exigir sempre
mais diferentes formas de gerenciamento da produção de bens e de serviços.
Tais tendências chegam a ameaçar inclusive as bases da democracia
duramente conquistada, porque se voltam sobremaneira a minimizar o Esta-
do-nação, principalmente aquele que não incentiva o exercício da cidadania na
defesa dos interesses comuns, por meio de uma relevante participação social.
Assim, torna-se incapaz de regular a ordem econômica e, por consequência, de
ditar novas políticas sociais, bem como de defender e expandir as existentes.
É visível o afastamento de projetos de investimento social, principalmente nas
áreas de educação, segurança e saúde.
As imposições do mercado globalizado, assim fomentadas pela conside-
rável expansão da tecnologia e da informação, não levam em conta os valores
éticos, morais e de solidariedade. Desse modo, propiciam a eliminação maciça
de empregos e a manutenção de uma alarmante desigualdade social a imperar
em todo planeta. Para o enfrentamento desse triste panorama, no âmbito
interno brasileiro, os princípios e regras constitucionais têm como direcionar
a conduta ética dos poderes públicos, para a realização dos objetivos funda-
mentais da República Federativa do Brasil, a fim de assegurar a todos existência
digna (CRFB/1988, artigos 3º. e 170).
Nessa mesma direção, os Tratados Internacionais de Proteção dos Di-
reitos Humanos têm como influenciar fortemente a adoção e imposição de
medidas democráticas de condução das Ordens Econômica e Financeira, em
vista de um progresso social que, majoritariamente, depende de um desenvol-
vimento sustentável lastreado na valorização do trabalho humano.
Em 22 de janeiro de 2019 foi publicado um estudo em comemoração
aos 100 anos da Organização Internacional do Trabalho intitulado “Trabalhar
para um futuro com mais promessa”, que também será utilizado como base
no presente momento.
É o que se propõe a tratar neste ensaio.
4 FRIEDEN, Jeffry A. Capitalismo Global: história econômica e política do Século XX. Trad. Vivian Man-
nheimer. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008, p. 500.
5 CONSENTINO, Carlo. Direito do Trabalho, Tecnologias da Informação e da Comunicação: impactos nas
relações individuais, sindicais e internacionais de trabalho. Belo Horizonte: Editora RTM, 2018, p. 291-292.
Dinaura Godinho Pimentel Gomes – Marco Antônio César Villatore 269
e assim por diante. São grandes os efeitos suscitados por esse estado de coisas.
Vemos hoje os dois membros adultos de várias famílias trabalhando, porém suas
famílias estão entrando em colapso, pois não possuem a contraparte de serviços
públicos como as das nações com condições econômicas semelhantes às nossas.
No entanto, para os donos do mundo, está tudo ótimo. Eles obtêm lucros enor-
mes. Contudo, para a maior parte da população, a situação é desoladora. Esses
dois sistemas, financeirização e terceirização internacional da produção, fazem
parte dos processos que nos levaram ao círculo vicioso da concentração de ri-
queza e de poder. Os industriais ainda continuam ganhando muito dinheiro,
mas seus meios de produção estão em terras estrangeiras. A maior parte dos
lucros das maiores empresas americanas vem do exterior, e isso cria todo tipo
de oportunidades para se transferir para o restante da população o fardo de se
manter em condições mínimas de sobrevivência.6
6 CHOMSKI, Noam. Réquiem para o sonho americano: os dez princípios de concentração de riqueza e poder.
Trad. Milton Chaves de Almeida. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2017, p. 56/57.
270 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
Afinal, quem não pode confiar nas condições jurídicas para a realização de seus
atos guardará distância das grandes realizações, já que a liberdade significa, jus-
tamente, a possibilidade de plasmar a própria vida de acordo com os próprios
projetos [...].
A segurança jurídica também é um elemento objetivo do ordenamento jurídi-
co. Ela é um meio de atingir o bem de todos. Quando há um elevado grau de
insegurança, o indivíduo evita ações que estimulam a integração. Com isso, a
cooperação social é reprimida.
A segurança jurídica é, igualmente, um meio de garantir a dignidade da pessoa
humana. O respeito à dignidade abrange o tratamento do homem como pessoa
capaz de planejar o seu futuro. O homem é um ser orientado para a ação futura,
que procura, no seu agir, estabilizar o futuro. A garantia da dignidade engloba,
pois, o respeito da autonomia individual do homem. A insegurança jurídica
prejudica, enfim, a vida dos cidadãos.7
7 ÁVILA, Humberto. Segurança jurídica. Em Permanência, Mudança e Realização do Direito Tributário. São
Paulo: Malheiros Editores, 2011, p. 34, 63 e 64.
8 SCHWAB, Klaus. A Quarta Revolução Industrial. Trad. Daniel Moreira Miranda. São Paulo: Edipro, 2016,
p. 42.
Dinaura Godinho Pimentel Gomes – Marco Antônio César Villatore 271
14 ATKINSON, Anthony B. Desigualdade: o que pode ser feito. Trad. Elisa Câmara. São Paulo: Le Ya, 2015,
p. 117/118.
Dinaura Godinho Pimentel Gomes – Marco Antônio César Villatore 275
Quando se promove o bem de todos (CRFB, art. 3º., inciso IV), eficaz-
mente, o direito à vida digna se concretiza sem exceções, eis que tem como
parâmetro o valor Justiça. Assim, podem ser combatidas as selvagens projeções
do capitalismo, que causam exclusões no âmbito social, econômico e cultural.
Sob esse aspecto, deixa de prevalecer a ideia de sobrevivência do mais apto com
o descarte do inapto, nas palavras de Ricardo Hasson Sayeg e Wagner Balera,
que ainda asseveram o seguinte:
O neoliberalismo acredita na intervenção mínima do Estado, segundo a qual
deve-se permitir que – por meio da famosa “mão invisível“ de Adam Smith – a
economia siga a maré de sua própria dinâmica e selvageria [...].
Por sua vez, a grave crise ocorrida em 2008 no sistema financeiro global – que
estendeu a destruição do capitalismo às pessoas mais favorecidas – demonstrou
definitivamente que o capitalismo precisa ser salvo dos capitalistas neoliberais.
Uma resposta deve ser dada a eles, e a melhor resposta é a humanização da
economia de mercado, deslocando deontologicamente o capitalismo neoliberal:
do ser – que corresponde ao estado de natureza, selvagem e desumano – para o
dever-ser da concretização multidimensional dos direitos humanos mediante a
universal dignificação da pessoa humana.18
17 HABERMAS, Jürgen. A luta por reconhecimento no Estado Democrático de Direito. In: A inclusão do ou-
tro: estudos de teoria política. Trad. Georg Sperber; Paulo Astor Soethe [UFPR]. São Paulo: Edições Loyola,
2002, p. 243.
18 SAYEG, Ricardo Hasson; BALERA, Wagner. O Capitalismo Humanista. Petrópolis: KBR. 2011, p. 24-25.
Dinaura Godinho Pimentel Gomes – Marco Antônio César Villatore 277
19 Nesse sentido, Pedro Demo, ao tratar da exclusão social, fundando-se em Schnaper, pontua que, “embora a ex-
clusão esteja estreitamente ligada à solidão e à desagregação social, o emprego continua preponderante para
definir a condição social do indivíduo”. Reproduz o pensamento de Robert Castel que define a marginalidade
como “uma produção social que encontra sua origem nas estruturas da base da sociedade, na organização do
trabalho e no sistema de valores dominantes a partir dos quais se repartem os lugares e se fundam as hierar-
quias, atribuindo a cada um sua dignidade ou sua indignidade social”. In: DEMO, Pedro. Charme da exclusão
social: polêmicas do nosso tempo. 2. ed. Campinas: Autores Associados, 2002, p. 20-21.
20 VIEIRA, Oscar Vilhena. Direitos Fundamentais: uma leitura da jurisprudência do STF. 2. ed. São Paulo:
Malheiros, 2017, p. 547.
21 HABERMAS, Jürgen. A inclusão do outro: estudos de teoria política. Trad. Georg Sperber; Paulo Astor
Soethe [UFPR]. São Paulo: Edições Loyola, 2002, p. 128.
278 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
22 O Estado Constitucional Cooperativo vem conceituado por Peter Häberle como “o Estado que justamente
encontra a sua identidade também no Direito Internacional, no entrelaçamento das relações internacionais
e supranacionais, na percepção da cooperação e responsabilidade internacional, assim como no campo da
solidariedade. Ele corresponde, com isso, à necessidade internacional de políticas de paz”. In: HÄBERLE,
Peter. Estado Constitucional Cooperativo. Trad. Marcos Augusto Maliska e Elisete Antoniuk. Rio de Janeiro
– São Paulo- Recife: Renovar, 2007, p. 4.
Dinaura Godinho Pimentel Gomes – Marco Antônio César Villatore 279
23 Declaração da OIT sobre os princípios e direitos fundamentais no trabalho. In: Constituição da Organização
Internacional do Trabalho (OIT) e seu Anexo (Declaração de Filadélfia). In: SCALÉRCIO, Marcos; MIN-
TO, Tulio Martinez. Normas da OIT organizadas por temas. São Paulo: LTr, 2016, p. 414.
24 Declaração da OIT sobre os princípios e direitos fundamentais no trabalho. In: Constituição da Organização
Internacional do Trabalho (OIT) e seu Anexo (Declaração de Filadélfia). In: SCALÉRCIO, Marcos; MIN-
TO, Tulio Martinez. Normas da OIT organizadas por temas. São Paulo: LTr, 2016, p. 414.
280 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
27 Informe de la Comisión Mundial sobre el Futuro del Trabajo. Disponível em: http://www.cuestaduarte.org.
uy/noticias/item/730-informe-de-la-comisi%C3%B3n-mundial-sobre-el-futuro-del-trabajo. Acesso em:
24.11. 2018.
28 Com 28 membros, OIT lança Comissão Global sobre o Futuro do Trabalho. Disponível em: <https://www.
ilo.org/brasilia/noticias/WCMS_571065/lang—pt/index.htm.> Acesso em: 22.08.2019.
282 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
Nesse cenário, urge desenvolver cada vez mais uma cultura local – tanto
pelos poderes públicos, quanto pela própria sociedade – que favoreça a plena
aplicação dessas normas internacionais de proteção dos direitos humanos. Por
decorrência, abre-se a oportunidade de favorecer, em quaisquer circunstâncias,
o acesso ao trabalho decente para toda pessoa em busca da satisfação de suas
necessidades e do real sentido de sua vida, por meio de suas realizações de
ordem econômica, social e cultural.
O trabalho publicado em final de janeiro de 2019 traz a sua importância,
da seguinte forma:
Un programa centrado en las personas.
Proponemos un programa centrado en las personas para el futuro del trabajo que
fortalezca el contrato social, situando a las personas y el trabajo que realizan en
el centro de las políticas económicas y sociales y de la práctica empresarial. Este
programa se asienta en tres ejes de actuación, que combinados entre sí generarían
crecimiento, igualdad y sostenibilidad para las generaciones presentes y futuras:
(…)
1. APROVECHAR EL MOMENTO
Nuestra subsistencia se basa en el trabajo. Gracias al trabajo podemos satisfacer
nuestras necesidades materiales, evitar la pobreza y construir una vida digna.
Más allá de satisfacer nuestras necesidades materiales, el trabajo puede contribuir
a darnos una sensación de identidad, de pertenencia y de propósito. También
amplía el abanico de opciones que se nos presentan y nos permite vislumbrar
un futuro más optimista.
El trabajo también tiene importancia colectiva al establecer una red de conexio-
nes e interacciones que forjan la cohesión social. La organización del trabajo y
de los mercados laborales es esencial para determinar el grado de igualdad que
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
No âmbito de uma sociedade democrática, como a nação brasileira – à
luz da Constituição da República Federativa do Brasil e sob a inspiração da
força vinculante dos Tratados Internacionais de Direitos Humanos – cumpre
ao Estado direcionar a atuação dos agentes econômicos à obtenção do bem de
todos, no pleno exercício de sua função social, conforme os ditames da Justiça
Social (CRFB, art. 170).
Por decorrência, alicerçadas numa parceria socioeconômica, emergem as
condições de se buscar a ampliação de sistemas de informação a possibilitar
a transferência e a adaptação de novas tecnologias advindas de países mais
desenvolvidos, nos mais diversos campos. Tudo de forma a motivar novos
e rentáveis negócios, associados ao compromisso de geração de empregos
decentes. Nesse particular, a contínua capacitação técnico-profissional dos tra-
balhadores tornou-se indispensável para o enfrentamento dos desafios impostos
pela contemporânea revolução tecnológica no mundo do trabalho.
De forma transparente, incumbe, portanto, ao Estado adotar regras segu-
ras para estimular empresas ao alcance de etapas mais progressistas e inovadoras
de produção, mediante estímulos fiscais com diminuição da carga tributária e
menos burocracia. Assim, mediante alocação de recursos públicos, jungida a
plataformas de internacionalização, tem como reger com segurança o desen-
volvimento do país, de forma mais sustentável.
Desses meios institucionais, assim previstos e sedimentados, renderá
ensejo à adoção de diretrizes necessárias para a redução da desigualdade social,
atualmente em níveis elevadíssimos, o que também legitima o investimento
público na proteção dos mais vulneráveis.
Trata-se, portanto, de relevantes estratégias para também se comba-
ter o domínio de especulações financeiras que não propiciam empregos,
crescimento e, muito menos, inovações tecnológicas. Portanto, no âmbito
governamental, à luz da Lei Maior, urge conciliar, de fato, os valores sociais
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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FRIEDEN, Jeffry A. Capitalismo Global: história econômica e política do Século XX. Trad. Vivian Man-
Dinaura Godinho Pimentel Gomes – Marco Antônio César Villatore 285
1. INTRODUÇÃO
Saúde e a segurança são questões que encontram-se relacionadas direta-
mente e implicitamente ao surgimento do Direito do Trabalho, tendo em vista
as condições deploráveis, perversas e sub-humanas que os trabalhadores vive-
ram nos séculos XVIII e XIX, que acarretaram número alarmante de acidente
de trabalho. Portanto, falar nestes temas significa discorrer também sobre as
fontes materiais, fatores propulsores ao próprio desenvolvimento e sedimenta-
ção do ramo juslaborativo, tanto no espectro nacional, como no internacional.
Daí a sua extrema relevância no cenário jurídico e social no qual estão inseridas
as relações trabalhistas.
O Direito do Trabalho emergiu no século XX, como produto do sistema
capitalista, através do Estado Social, estando, por isso, ligado à linha evolutiva
do sistema de produção industrial e do próprio capitalismo. A relação empre-
gatícia é o objeto nuclear do direito laboral, sendo perceptível exatamente ao
longo do movimento de eclosão e expansão da Revolução Industrial (séculos
XVII e XVIII), com a vinculação da mão de obra livre ao sistema produtivo
capitalista que se buscava consolidar.
O Estado Social de Direito é fruto do constitucionalismo social, iniciado
no México (1917) e na Alemanha (1919), quando foram criados direitos so-
ciais (trabalho, saúde, educação, alimentação, previdência, habitação e outros)
com patamar constitucional. Logo após, outras nações, principalmente as
ocidentais, passaram a constitucionalizar os direitos sociais inspirados nesses
dois países. Essa modalidade estatal é capitaneada justamente pelo Direito
do Trabalho.
O processo de formação e consolidação da relação empregatícia, molda-
do pelo que se denomina de sistema da grande indústria, serviu à conjuntura
288 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
4 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Estrutura normativa da segurança e saúde do trabalhador no Brasil.
Revista do Tribunal Regional do Trabalho 3ª Região, v.45, n.75, jan./jun., 2007, p. 109.
CLÁUDIO JANNOTTI DA ROCHA – AILANA SANTOS RIBEIRO – HELENA EMERICK ABAURRE 289
6 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 18ª ed. São Paulo: Ltr 2019, p. 789.
7 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 18ª ed. São Paulo: Ltr 2019, p. 789.
8 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 18ª ed. São Paulo: Ltr 2019, p. 789.
294 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
2. A INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL E
CONVENCIONAL DAS NORMAS TRABALHISTAS
2.1. UMA VISÃO CONGLOBADA DAS NORMAS DE SAÚDE
E SEGURANÇA DO TRABALHADOR
O complexo normativo atualmente existente, responsável por disciplinar
9 CARRION, Valentim. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho. Atualizado por Eduardo Car-
rion. 36.ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 219.
10 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 18ª ed. São Paulo: Ltr 2019, p. 789.
CLÁUDIO JANNOTTI DA ROCHA – AILANA SANTOS RIBEIRO – HELENA EMERICK ABAURRE 295
14 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Estrutura normativa da segurança e saúde do trabalhador no Brasil.
Revista do Tribunal Regional do Trabalho 3ª Região, v.45, n.75, jan./jun., 2007.
CLÁUDIO JANNOTTI DA ROCHA – AILANA SANTOS RIBEIRO – HELENA EMERICK ABAURRE 297
15 BARROS, Alice Monteiro. Curso de Direito do Trabalho. 7.ed. São Paulo: Ltr, 2011, p. 106.
16 DELGADO, Gabriela Neves. Direitos humanos dos trabalhadores: perspectiva de análise a partir dos
princípios internacionais do direito do trabalho e do direito previdenciário. Revista do TST, vol. 77, n.
3, jul/set, 2011
17 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 18ª ed. São Paulo: Ltr 2019, p. 230.
298 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
18 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 18ª ed. São Paulo: Ltr 2019, p. 236.
CLÁUDIO JANNOTTI DA ROCHA – AILANA SANTOS RIBEIRO – HELENA EMERICK ABAURRE 299
19 MELO, Raimundo Simão. O papel da OIT em 100 anos de existência e a importância das Convenções 148
e 155 sobre Saúde, Segurança e Meio Ambiente do Trabalho. Disponível em: https://www.cidp.pt/revistas/
rjlb/2019/4/2019_04_1457_1478.pdf Acesso em 17/10/2019.
20 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de direito internacional público. 9ª ed. São Paulo. Revista dos
Tribunais, 2015, p. 197.
CLÁUDIO JANNOTTI DA ROCHA – AILANA SANTOS RIBEIRO – HELENA EMERICK ABAURRE 303
5. CONCLUSÃO
Conforme buscou-se demonstrar inicialmente, o Direito do Trabalho
teve o seu surgimento e desenvolvimento centrado, em grande parte, na ne-
cessidade de se conferir um patamar mínimo de proteção à saúde e segurança
do trabalhador, cuja mão de obra era explorada pelos empresários industriais.
Destaca-se ainda que o número de mortes e acidentes de trabalho ocasiona-
dos por tais questões nesse momento histórico era alarmante, próximo ao das
grandes guerras mundiais.
Consolidado como ramo do direito comprometido em garantir equilíbrio
nas relações jurídicas entre empregado e empregador, desenvolveu princípios,
valores e regras próprias, encarregadas de nortear que o local de trabalho deve
21 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 18ª ed. São Paulo: Ltr 2019, p. 233.
CLÁUDIO JANNOTTI DA ROCHA – AILANA SANTOS RIBEIRO – HELENA EMERICK ABAURRE 305
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no limiar do século XXI. Revista da Faculdade de Direito da UFMG, n. 37, 2000
O COMBATE AO TRABALHO INFANTIL SOB A
PERSPECTIVA DA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL
DO TRABALHO
1. INTRODUÇÃO
Desde sua criação em 19193, a Organização Internacional do Trabalho
tem como um dos pilares de sua atuação o combate efetivo ao trabalho infantil,
3 A Organização Internacional do Trabalho (OIT) foi criada em 1919, como parte XIII do Tratado de Ver-
salhes, que pôs fim à Primeira Guerra Mundial, fundando-se sobre a convicção primordial de que a paz
universal e permanente somente poderia estar baseada na justiça social.
Adriana Goulart de Sena Orsini – Raquel Betty de Castro Pimenta 309
reitos Humanos (1948). In: ROCHA, Cláudio Jannotti da; LUDOVICO, Giuseppe; PORTO, Lorena Vascon-
celos; BORSIO, Marcelo; ALVARENGA, Rúbia Zanotelli de (Coord.). Direito internacional do trabalho:
aplicabilidade e eficácia dos instrumentos internacionais de proteção ao trabalhador. São Paulo: LTr, 2018,
p. 310-323.
5 PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 14 ed. rev. e atual. São Paulo:
Saraiva, 2013. p. 287.
Adriana Goulart de Sena Orsini – Raquel Betty de Castro Pimenta 311
[...]
III — A Conferência proclama solenemente que a Organização Internacional
do Trabalho tem a obrigação de auxiliar as Nações do Mundo na execução de
programas que visem:
[...]
h) garantir a proteção da infância e da maternidade;
[...]
j) assegurar as mesmas oportunidades para todos em matéria educativa e
profissional.”6
físico e mental.
Dentre outras questões, a necessidade de se garantir a educação básica
para as crianças e adolescentes é enfatizada pela Recomendação n. 146, que
registra que:
“Deveria ser obrigatória e efetivamente garantida a freqüência escolar em tempo
integral ou a participação em programas aprovados de orientação profissional
ou de formação, pelo menos até a idade mínima especificada para admissão
a emprego”.
16 ARRUDA, Kátia Magalhães. As piores formas de trabalho e o direito fundamental à infância. In: Adriana
Goulart de Sena; Gabriela Neves Delgado; Raquel Portugal Nunes. (Org.). Dignidade humana e inclusão
social. São Paulo: LTr, 2010, p. 37-38.
17 BRASIL. Decreto n. 3.597, de 12 de setembro de 2000. Promulga Convenção 182 e a Recomendação 190
da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre a Proibição das Piores Formas de Trabalho Infantil
e a Ação Imediata para sua Eliminação, concluídas em Genebra, em 17 de junho de 1999. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3597.htm>. Acesso em: 12 out. 2019.
Adriana Goulart de Sena Orsini – Raquel Betty de Castro Pimenta 317
Além disso, em seu artigo 8º, a Convenção possibilita aos Estados to-
marem medidas de apoio recíproco para a aplicação dos seus dispositivos, por
meio de cooperação ou assistência internacionais intensificadas, que incluirão
o apoio ao desenvolvimento social e econômico, programas de erradicação da
pobreza e de educação universal.
A Convenção n. 182 é complementada pela Recomendação n. 190,
editada em 1999, estabelecendo que os programas de ação mencionados na
referida Convenção deverão ser implementados em caráter de urgência, em
consulta com instituições governamentais, organizações de empregadores e de
trabalhadores, e levando em consideração a opinião das crianças diretamente
afetadas pelas piores formas de trabalho infantil, de suas famílias e de outros
grupos interessados. Segundo Florença Dumont Oliveira:
“Entre os objetivos de tais programas deve-se identificar e denunciar as piores
18 No Brasil, para o cumprimento de tal previsão da Convenção n. 182, foi elaborada a denominada LISTA
TIP – Lista das Piores Formas de Trabalho Infantil, por meio do Decreto n. 6.418, de 12 de junho de 2008.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Decreto/D6481.htm>. Acesso
em 12 out. 2019.
19 CORRÊA, Lelio Bentes. O trabalho infantil sob a perspectiva internacional. In: CALSING, Renata de Assis;
ALVARENGA, Rúbia Zanotelli de (Coord.). Direitos humanos e relações sociais trabalhistas. São Paulo:
LTr, 2017, p. 187.
Adriana Goulart de Sena Orsini – Raquel Betty de Castro Pimenta 319
formas de trabalho infantil, não só impedindo tal labro como protegendo crian-
ças resgatadas, que deverão ter garantidas sua inserção social por meio de medidas
que atendam a suas necessidades educacionais, físicas e psicológicas.
Ademais, prevê a referida Recomendação que seja dispensada especial atenção às
crianças mais jovens, às menias e ao problema do trabalho oculto. Neste ponto,
merece destaque o trabalho doméstico de crianças e adolescentes, cujo combate
é mais árduo, por ocorrer dentro das residências, dificultando a fiscalização,
inclusive em razão da inviolabilidade do domicílio. Por esse motivo, fundamen-
talmente em casos de trabalho infantil doméstico, é elementar a conscientização
e sensibilização social.
Aliás, a Recomendação em comente também prevê, como objetivos dos alu-
didos programas de ação, a necessidade de informar, sensibilizar e mobilizar a
opinião pública e os grupos interessados, inclusive as crianças e suas famílias. Tal
sensibilização é essencial, mormente em países como o Brasil, onde ainda há,
lamentavelmente, uma conivência social com a questão do trabalho infantil.”20
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho infantil é uma das mais graves violações dos direitos huma-
nos, e seu combate é um dos eixos fundamentais de atuação da Organização
Internacional do Trabalho e de todos os Estados que fazem parte do orga-
nismo internacional.
A erradicação do trabalho infantil é uma das principais formas de se dar
efetividade ao dever de proteção integral e prioritária à criança e ao adoles-
cente, de concretizar os princípios da dignidade da pessoa humana e do valor
social do trabalho, bem como de se atingir uma sociedade justa, igualitária
e socialmente responsável.
O trabalho infantil priva crianças e adolescentes de uma infância
verdadeiramente saudável, criando empecilhos de ordem prática em sua
Adriana Goulart de Sena Orsini – Raquel Betty de Castro Pimenta 321
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARRUDA, Kátia Magalhães. As piores formas de trabalho e o direito fundamental à infância. In: Adriana
Goulart de Sena; Gabriela Neves Delgado; Raquel Portugal Nunes. (Org.). Dignidade humana e inclusão
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Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre a Proibição das Piores Formas de Trabalho Infantil e a Ação
Imediata para sua Eliminação, concluídas em Genebra, em 17 de junho de 1999. Disponível em: <http://www.
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BRASIL. Decreto n. 6.418, de 12 de junho de 2008. Regulamenta os artigos 3o, alínea “d”, e 4o da Conven-
ção 182 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que trata da proibição das piores formas de trabalho
infantil e ação imediata para sua eliminação, aprovada pelo Decreto Legislativo no 178, de 14 de dezembro de
1999, e promulgada pelo Decreto no 3.597, de 12 de setembro de 2000, e dá outras providências. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Decreto/D6481.htm>. Acesso em 12
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lho Infantil. Disponível em: <http://www.tst.jus.br/documents/2237892/21583082/Programa+de+Traba-
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322 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
1 Procuradora Regional do Trabalho em Minas Gerais. Mestre e Doutora em Direito Processual pela PUC
MINAS, visitante na Universidade La Sapienza de Roma, professora Adjunta I (admitida por concurso) da
graduação e mestrado da Universidade FUMEC, durante dez anos, ganhadora do Prêmio Evaristo de Morais
Filho por três vezes. Atualmente também é professora da Escola Superior do Ministério Público da União
(ESMPU) e assessora do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) na Comissão de Defesa de
Direitos Fundamentais. CV: http://lattes.cnpq.br/1516587726318143.
324 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
evolutionary propositions were made with a view to both the evolution in gender
symmetry in Brazil and the resignification of the actual feminist movements.
Keywords: past and currente normativity; infomisogenia: incle’s; ilo; conven-
tions; statistics.; proposals
1. INTRODUÇÃO
Este artigo tem como propósitos investigar uma análise crítica dos 10
(dez) principais tipos de feminismo: (1º) o feminismo carreirismo- branco;
(2º) o neoliberal; (3º) o negro; (4º) o feminismo verde, ou ecofeminismo;
(5º) o interseccional; (6º) o social democrático; (7º) o comunista e o socialis-
ta; (8º) o comunitário; (9º) O LGBTIQ+ (10º) e o descolonial. As chaves de
leitura deste trabalho são primeiro lugar o feminismo descolonial (Lugones)
e depois o interseccional (Fraser).
Foi analisada a questão da mulher, em geral, nas angulações normativas e
históricas, no mundo e no Brasil. Inventariou-se a normatividade feminina no
mundo (método indutivo) e no Brasil (método dedutivo), incluindo a questão
da infomisoginia (Chan’s, MRA’s, INCEL’s) na sequência analisou-se as quatro
grandes fases do movimento feminista no mundo e no Brasil. Foi feita uma
pesquisa estatística que comprova as discriminações sofridas pela mulher no
Brasil em quatro recortes: remuneração (redistribuição), Feminicídios, mídia
(reconhecimento) e representatividade (Poder Legislativo). Foram feitas pes-
quisas bibliográficas e estatísticas sobre a situação do gênero feminino feito
pela Organização das Nações Unidas (ONU), Organização Internacional do
Trabalho (OIT), Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e no Conselho Nacional do Mi-
nistério Público (CNMP). Na conclusão, foram apresentadas proposições de
ressignificações evolutivas de gênero, no Brasil.
Deputados
53 49 04 7,5%
Federais
Deputados
77 67 10 13%
Estaduais
Senadores 3 3 0 0%
mulheres (ttp://www.worldbank.org/content/dam/Worldbank/Event/Gender/
GenderAtWork_web2.pdf, acesso: 04/03/2018) o que é corroborado pela OIT
(www.ilo.org/global/about-the-ilo/newsroom/news/WCMS_619550?lang=es,
acesso em 17-04-2019). Estudos realizados também pelo IBGE em 2018, deno-
minados “Sistema Nacional de Informações de Gênero” – SNIG – comprovam
a “dupla” e “tripla” jornada feminina, ou seja, a divisão sexual do tempo do tra-
balho (Https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101551_informativo.
pdf, Informações 08.06.2018, acesso em 15-4-2019):
E por que isso ocorre? As hipóteses levantadas por esta pesquisa (e que
serão provadas no item seguinte, que trata da segunda fase do Movimento Fe-
minista) é de que basicamente são três os motivos: primeiro, porque é somente
a mulher que goza do direito de licença ampla para os cuidados iniciais com
334 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
filhos e filhas (licença à gestante – de 120 a 180 dias). A licença ao pai em regra
é ínfima (5 a 20 dias). Segundo, porque é senso comum que cabe à mulher,
e “naturalmente” somente a ela, todos os cuidados para com os filhos e a casa
(TEODORO, 2016). Esses dois motivos fazem com que ela tire licença gestan-
te, tenha menos tempo disponível para o empregador, não possa fazer amiúde
horas extras etc., o que culmina no seu menor potencial de contratação, na
sua menor remuneração e, de forma muito recorrente, subemprego e trabalho
na informalidade para conseguir dar conta dessas duplas e triplas jornadas.
Essa divisão sexual do tempo de trabalho doméstico/familiar entre os gêneros no
Brasil, sobrecarregando a mulher, diminui sua remuneração, independência e
perpetua o “ciclo feminino geracional da pobreza”.
Um terceiro fator, que deve ser apontado por sua relevância, é a não
ratificação pelo Brasil da Convenção 156, da OIT, que prevê tratamento
legal diferenciado em favor do trabalhador e da trabalhadora com obrigações
familiares e também a falta de responsabilidade do Estado na manutenção
de creches e escolas para afiançar que a mulher possa sair para trabalhar sem
temores de que seus filhos estarão sem amparo, ou, como ocorre no Brasil
(em franco descumprimento ao art. 212, CF/88) em perigo, notadamente
para as famílias de baixa renda.
Para a demonstração desta hipótese, seguem provas das duplas e
triplas jornadas femininas no Brasil. Com efeito, além do trabalho re-
munerado, externo (produtivo), as mulheres acumulam a maior parte do
trabalho reprodutivo, não remunerado (lar e filhos) validando a tese da
divisão sexual do tempo do trabalho “in pejus” da mulher. Em 2016, o
IBGE (https://www.ibge.gov.br/estatisticas-novoportal/multidominio/
genero/20163-estatisticas-de-genero-indicadores-sociais-das-mulheres-
-no-brasil.html?=&t=resultados, acesso em 7-4-2019) indicou que a
mulher, em média, tem pelo menos o dobro de horas por semana gastas
com o cuidado para com o lar e filhos:
Lutiana Nacur Lorentz 335
Pelo exame dos dados constata-se que, sob os dois grandes motes da pri-
meira fase do Movimento Feminista, o Brasil ainda não atingiu os objetivos
pretendidos pelas Trabalhistas e Sufragistas.
A segunda fase do Movimento Feminista deu-se dos idos do final da
década de 1960 e durou até 1990, tendo referenciado a figura da filósofa
Simone de Beauvoir (BEAUVOIR, 2009) apesar de o livro mencionado ter
sido publicado em 1949, o mesmo passou a ser usado como base matricial
apenas na segunda fase do Movimento), sendo notável o corte promovido por
ela entre dois conceitos diversos: sexo e gênero. A autora clarificou que sexo é
o biológico (homem e mulher) e gênero é a construção complexa histórica do
“papel fixo” da mulher na sociedade nos vieses: social, cultural, político, eco-
nômico etc. Porém, até o advento da obra de Beauvoir, havia a “transposição
automática” de caracteres (pseudo-biológicos, ou de biologismo de má-fé) de
sexo para gênero (BEAUVOIR, 2018) no seguinte senso: sexo homem, macho,
é ativo, detentor da força, da razão, liderança, dominação. Já a Mulher, a fêmea,
seria a passiva, detentora da fraqueza, emoção, irracionalidade, submissão,
função básica de matriz.
Esses conceitos (pseudo-biológicos (SANTOS, 2019) foram “assimila-
dos” pelo gênero: masculino papel de domínio (ou liderança) social, político,
econômico e cultural, trabalho externo, remunerado e reconhecido é papel
principal. Já o feminino seria função de parideira, de mãe, voltada (“natural-
mente”, ou pela “vontade de Deus”) aos cuidados com a prole, com a casa,
ausência de papéis (ou parca presença) nos vieses político, econômico e cul-
tural, ou seja, situação de opressão ou subalternidade. Trabalho que caberia a
ela seria naturalmente o labor dentro de casa, não remunerado, invisibilizado,
secundário. Tanto isto é verdade que, mesmo quando a mulher obteve o di-
reito de trabalhar fora de casa (exceto a negra que desde sempre laborou como
escrava) ela manteve no Brasil a dupla jornada e a tripla jornada (cuidado com
filhos e casa) pouco divido com os homens, conforme dados de 2018 IBGE
(https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101551_informativo.pdf,
acesso em 15-04-2019).
Beauvoir demonstrou o erro da naturalização dos “papéis fixos” de gênero.
Para ela, a superação desses papéis depende do preenchimento, por homens
e mulheres, dos pressupostos: controle de natalidade (felizmente a pílula an-
ticoncepcional foi inventada em 1960), oferta igualitária (https://biblioteca.
ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101551_informativo.pdf, acesso em 15-04-
2019) de oportunidades educacionais (sobre a falta de educação às mulheres há
documentário: Daughters of Destiny, NETFLIX, direção: Vanessa Roth, 240
336 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
6. PROPOSIÇÕES
Em termos proposições gerais propugna-se que o Brasil ratifique a Con-
venção 156, da OIT (e sua Recomendação 165, da OIT) que trata da questão
dos empregados (As) com obrigações familiares, que devem ter tratamento
diferenciado (OIT, 2009)2, até porque em 2009, segundo a OIT3, um terço
das famílias na América Latina eram providas apenas por mulheres, com proje-
ção para 2019 de 51% destas famílias monoparentais sustentadas apenas por
mulheres (em detrimento das biparentais).
Outra medida necessária seria a publicização, para fins de boicote eco-
nômico e social, das condenações de pessoas, físicas ou jurídicas por assédio
moral, sexual, agressões, discriminação por gênero etc. Vale lembrar que em
2017, em Charlottesville, Virgínia (EUA), três negros foram mortos na jornada
de violência provocada por grupos racistas. Usou – se a informática contra a
discriminação, através do site “Yes, You’re Racist” que tirou fotos dos nazistas
e enviou para seus contatos pessoais obtidos no Face Book, etc.: emprega-
dor (a), família, amigos (as), etc. usando de informações dos racistas em suas
próprias páginas da internet. O resultado foi devastador para os racistas! O
movimento feminista também precisa dar transparência e para isto ter acesso
as condenações por práticas machistas, assédio moral, sexual, discriminação
de remuneração, etc.
2 A OIT recomenda licença para cuidar de filhos doentes (ou para emergências familiars), adoção da licença
parental, horários flexíveis e prestações serviços educacionais pelo Estado. No Chile 30% do salário das
empregadas de 18-24 é pago pelo Estado, in Trabalho e família: rumo as novas formas de conciliação
com corresponsabilidade social/Organização Internacional do Trabalho. Brasília: OIT, 2009, p.21, 31 e
p.50.
3 Trabalho e família: rumo as novas formas de concilição com corresponsabilidade social/Organização
Internacional do Trabalho. Brasília: OIT, 2009, p 42-44.
340 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
7. CONCLUSÕES
No presente trabalho restou provado que há discriminações em face da
mulher tanto no âmbito societário geral quanto no MPB. Dessarte, segundo a
base matricial desta pesquisa, as teorias Lugones e após de Fraser, nenhuma das
três chaves de leitura da igualdade feminina foram alcançadas no Brasil, quais
sejam: redistribuição, representação e reconhecimento das mulheres. E pior,
verificou-se que vários movimentos feministas têm reais propósitos adversatá-
rios a simetria com o gênero feminino notadamente o Feminismo Carreirismo
Branco e as representações legislativas de extrema direita religiosa, mostrando
que a Colonialidade está muito presente, lamentavelmente, notadamente no
PL 867/2015 “Escola Sem Partido”.
Através das estatísticas, verificou-se que há imensa assimetria desses
pressupostos, no Brasil, com relação ao gênero feminino, que sequer atingiu
plenamente os ideários da segunda fase do Movimento Feminista, da terceira
e muito menos da quarta, verificando-se inclusivamente mais retrocessos
recentes do que avanços. Nesse contexto, este trabalho propõe medidas a
serem implementadas tanto pela sociedade em geral, quanto nas carreiras
públicas e escolas para que sejam combatidas e superadas as discriminações
à mulher, para a efetivação da jusfundamentalidade da Constituição/88 e das
Convenções Internacionais adotadas pelo Brasil para efetivação dos melhores
ideais de democraticidade, respeitabilidade e simetria entre gêneros.
342 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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344 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
1. INTRODUÇÃO
É com enorme prazer que aceitamos o estimado convite para colaborar
com esta obra coletiva intitulada 100 anos da Organização Internacional
do Trabalho: análises e reflexões seculares necessárias, sob a coordenação
dos Doutores Lorena Vasconcelos Porto, Cláudio Jannotti da Rocha e Rúbia
Zanotelli de Alvarenga. A importância do cerne, considerando a longevidade
da OIT e as suas relevantes funções no âmbito do Direito Internacional do
Trabalho, bem como a competência dos respectivos coordenadores, desde logo,
1 Doutora em Direito Público pela Universidade de Coimbra. Mestre em Ciências Jurídico-Políticas pela
Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Professora Concursada da PUCMINAS-Belo Horizonte.
Procurada do Trabalho. Atualmente, membro do Ministério Público da União (MPU/MPT) Auxiliar da Pro-
curadoria-Geral da República em matéria trabalhista.
346 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
2 GOMES. Ana Cláudia Nascimento. NETTO. Luísa Cristina Pinto e.; “Sindicalização na Função Pública
Brasileira: Desafios para a Implementação da Convenção nº 151 da OIT”, in A Convenção nº 151 da OIT
sobre o Direito de Sindicalização e Negociação na Administração Pública: desafios na Realidade Brasi-
leira, Org. SILVA. Clarissa Sampaio; GOMES. Ana Virgínia Moreira; Ed. LTR, São Paulo, 2017, p. 71-94;
GOMES. Ana Cláudia Nascimento, “A Liberdade de Associação Sindical e o Reconhecimento Efetivo do
Direito de Negociação Coletiva: Há Espaço Hermenêutico para a Superação do Status Quo?; in Direito
Internacional do Trabalho – Aplicabilidade e Eficácia dos Instrumentos Internacionais de Proteção ao
Trabalhador, Coord. DA ROCHA, Cláudio Jannotti; LUDOVICO, Giuseppe; PORTO, Lorena Vasconcelos;
BORSO. Marcelo; ALVARENGA, Rúbia Zanoteli de, Ed. LTR, São Paulo, 2018, p. 400-415; GOMES. Ana
Cláudia Nascimento. ALBERGARIA. Bruno. “Vinculação imediata das Autoridades Públicas aos Direitos
Fundamentais e aos Direitos Coletivos dos Servidores Públicas ‘Estatutários’ no Brasil – O Exemplo do
Direito de Greve – Algum Paradoxo ou Necessidade de Reflexão, in Direito Administrativo e Direitos Fun-
damentais: Diálogos Necessários, Coord. NETTO, Luísa Cristina Pinto e; BITTENCOURT NETO, Eurico.
Ed. Fórum, Belo Horizonte, 2012, p. 19-49.
3 “OIT inclui Brasil entre países suspeitos de violar convenções de trabalho – Ministério da Economia critica
decisão e afirma que não foram apresentadas provas de que a reforma trabalhista tenha violado as normas da
organização”, in https://veja.abril.com.br/economia/oit-inclui-brasil-entre-paises-suspeitos-de-violar-con-
vencoes-de-trabalho/, acesso em 05 out. 2019. Ainda: “No centenário da OIT, violação de normas trabalhis-
tas pelo Brasil volta ao debate”, in https://www.redebrasilatual.com.br/trabalho/2019/06/no-centenario-da-
-oit-violacao-de-normas-trabalhistas-pelo-brasil-volta-ao-debate/, acesso em 04 out. 2019.
4 V. LEITE. Jorge. O Direito da Greve. Das lições ao 3º ano da FDUC ed. 1992/1993, Serviços de Acção So-
cial da Universidade de Coimbra, Serviços de Textos de Coimbra, 1994; FERNANDES, António Monteiro,
“Reflexões sobre a Natureza do Direito à Greve”, in Estudos sobre a Constituição, 2º vol., Livraria Petrony,
Porto, 1978, pág. 321-333.
Ana Cláudia Nascimento Gomes 347
dispersos, não formalmente subordinados, nem sempre estão sob uma dada
representação sindical ou podem ter suas demandas resolvidas mediante a
celebração de instrumentos normativos. E isto sem olvidar que, simultanea-
mente, tem sido notada a perda de centralidade das associações sindicais na
defesa dos interesses dos trabalhadores (basta pensar, por exemplo, no poder
atual das plataformas digitais e nos trabalhadores alijados do sistema formal
de empregos).9 Portanto, essas possíveis condicionantes nos orientaram a ótica
para a verificação da adequação da greve política como meio legítimo de tutela
desses “hodiernos” trabalhadores e de suas complexas reivindicações.
Vejamos, portanto, esse quadro de diferenças entre as interpretações do
Direito Convencional e do Direito Interno e sobre ele pretendemos poder
antecipar algumas constatações. Este é, pois, o nosso objetivo.
12 Cf. HODGES-AEBERHARD, Jane. ODERO DE DIOS. Alberto. Princípios do Comitê de Liberdade Sindi-
cal Referentes à Greve. Organização Internacional do Trabalho, Brasília, 1993.
13 Decreto n. 591, de 06 de julho de 1992, p. 4.
14 STF. RE 466.343/SP, Rel. Min. Cezar Peluso: “diante do inequívoco caráter especial dos tratados internacio-
nais que cuidam da proteção dos direitos humanos, não é difícil entender que a sua internalização no orde-
namento jurídico, por meio do procedimento de ratificação previsto na CF/1988, tem o condão de paralisar
a eficácia jurídica de toda e qualquer disciplina normativa infraconstitucional com ela conflitante”.
350 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
Comitê de Liberdade Sindical Referentes à Greve. Organização Internacional do Trabalho, Brasília, 1993, p.
6. Sobre a criação do CLS (juntamente a Comissão de Investigação e Conciliação em Matéria de Liberdade
Sindical), em 1950/51, V. OIT: Liberdade Sindical: ... (cit.).
19 Cf. OIT: Liberdade Sindical: Recopilação de Decisões ... (cit.), p. 120.
20 Cf. HODGES-AEBERHARD, Jane. ODERO DE DIOS. Alberto. Princípios do Comitê ... (cit.), p. 9: “...o
Comitê tem considerado que as greves de caráter puramente político não se enquadram nos princípio da
liberdade sindical”; porém, “é difícil fazer uma clara distinção entre o político e o realmente sindical”, pois
“ambas as noções têm pontos comuns”. Cf. OIT: Liberdade Sindical: Recopilação de Decisões ... (cit.), p.
121: “Os interesses profissionais e econômicos, que os trabalhadores defendem mediante o direito de greve,
abrangem não só a obtenção de melhores condições de trabalho ou reivindicações coletivas de ordem pro-
fissionais, como também envolvem a busca de soluções para questões de política econômica e social e para
problemas que se apresentam na empresa e que interessam diretamente aos trabalhadores”; “Embora as greve
de natureza puramente política não estejam amparadas pelos princípios da liberdade sindical, os sindicatos
deveriam poder organizar greves de protesto, especialmente para exercer o direito de criticar a política eco-
nômica e social do governo”.
21 Cf. HODGES-AEBERHAR, Jane (e outro). Princípios do Comitê ... (cit.), p. 9. Ainda, BABOIN, José Car-
los de Carvalho. O tratamento jurisprudencial da greve política no Brasil. Faculdade da Universidade de
São Paulo, 2013, p. 9.
352 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
a greve podem ser de três categorias: (i) as de natureza trabalhista, que buscam
garantir ou melhorar as condições de trabalho e de vida dos trabalhadores; (ii)
as de natureza sindical, que buscam garantir e desenvolver os direitos das or-
ganizações sindicais e de seus dirigentes; (iii) as de natureza política, que têm
por fim, embora indiretamente, a defesa dos interesses econômicos e sociais dos
trabalhadores.22
Portanto, hoje o CLS tem adotado uma posição razoável sobre a Greve
Política (assim também em relação à Greve de Solidariedade)23. Não seriam as
greves puramente políticas aquelas albergadas pela Convenção nº 87 da OIT;
porém, também não seriam apenas aquelas puramente trabalhistas as admitidas
no seu âmbito de proteção. Trata-se de uma solução compromissória, equilibra-
da e harmoniosa com a própria composição heterogênea da organização.24 Daí
optarmos pela denominação de Greve Político-laboral, a fim de demonstrar
não envolver uma greve alienada em termos juridicamente trabalhistas.
Essa controvérsia não é nova, derivada da abertura dada pela norma ga-
rantidora do direito fundamental dos trabalhadores (art. 9º), a quem incumbe
decidir sobre os interesses a serem tutelados pelo movimento paredista, e a Lei
de Greve (Lei 7.783/1989), que, de forma inversa, pretende amarrar o recurso
à greve às cláusulas de contratação (individuais ou coletivas). Considerado o
quadro normativo semelhante em Portugal (Constituição da República Por-
tuguesa de 1976 e respectiva lei de greve), anotam nesse particular Gomes
Canotilho e Vital Moreira:
Os trabalhadores são livres na determinação dos motivos, na definição da men-
sagem e na seleção dos fins da greve, não podendo a lei liminar o âmbito dos
interesses defendidos – liberdade de definição dos motivos da greve (nº 2).
Uma tão enfática norma não pode deixar para dúvidas acerca da ilegitimidade
da restrição do direito de greve ao âmbito das relações de trabalho propriamente
ditas, sendo um caso raro de proibição de restrições a direitos fundamentais.
Não surpreende, aliás, tal solução constitucional. Sendo os trabalhadores cons-
titucionalmente interessados não apenas em obter as melhores condições de
trabalho (e não só perante a entidade empregadora, mas também perante o
Estado ...); mas, igualmente, no campo da organização e gestão da economia (...)
e, ainda, num vasto conjunto de domínios que consubstanciam a democracia
participativa (...), compreende-se então que não apenas os interesses estritos às
relações de trabalho possam ser fundamento de recurso à greve.46
Servidores Públicos Civis, Fixação do Prazo de 60 (Sessenta) Dias para que o Congresso Nacional Legisle
sobre a Matéria. Mandado de Injunção Deferido para Determinar a Aplicação das Leis nos 7.701/1988 e
7.783/1989”.
51 COUTINHO. Grijalbo Fernandes. FAVE. Marcos Neves. Justiça do Trabalho: Competência Ampliada,
LTR, São Paulo, 2005.
52 Assim, por exemplo, em nossa ótica, ao negar de forma absoluta o exercício do direito de greve às carreiras
policiais, não obstante o silêncio da CR/88 para tal categoria: ARE 654.432/GO, Rel. Min. Alexandre de
Moraes, Tribunal Pleno, DJe nº 114, de 11/06/2018: “Impossibilidade absoluta do exercício do direito de
greve às carreiras policiais. Interpretação teleológica do texto constitucional, em especial dos artigos 9º, §
1º, 37, VII e 144”. Neste julgado, fixou-se a seguinte tese: “1 – O exercício do direito de greve, sob qualquer
forma ou modalidade, é vedado aos policiais civis e a todos os servidores públicos que atuem diretamente na
área de segurança pública”.
53 STJ. Petição nº 12.195 (2018/0090436-8), Rel. Ministro Og Fernandes. No relatório da decisão monocrática:
“Entretanto, houve recurso para que tal projeto de lei fosse ao plenário da Câmara dos Deputados, para apre-
ciação e votação. Como não houve a aprovação do projeto de lei no ano de 2016, as categorias da carreira
de auditoria da RFB, auditores-fiscais e analistas-tributários, intensificaram sua pressão política, resolvendo
o Presidente da República, Michel Temer, dar prosseguimento na questão da maneira que reputou conve-
niente.” E, na Dúvida não há, portanto, sobre a legitimidade e a possibilidade de deflagração de movimento
paredista por servidores públicos, quando já envidados todos os esforço necessários para a tentativa de
negociação com a administração, ou mesmo descumprimento de acordos e tratativas anteriores, de forma
a frustrar a expectativa legítima da categoria laboral No caso em testilha, inexistem evidências a afastar a
presunção de legalidade de movimento paredista, fundado na inobservância por parte da União do acordo
firmado através do Instrumento n. 13/2015”.
Ana Cláudia Nascimento Gomes 359
54 Lei nº 12.619, de 30 de abril de 2012: Dispõe sobre o exercício da profissão de motorista; altera a Consoli-
dação das Leis do Trabalho – CLT (...) para regular e disciplinar a jornada de trabalho e o tempo de direção
do motorista profissional; e dá outras providências.
55 Lei nº 13.103, de 2 de março de 2015: Dispõe sobre o exercício da profissão de motorista; altera a Consolida-
ção das Leis do Trabalho – CLT, (...) para disciplinar a jornada de trabalho e o tempo de direção do motorista
profissional; altera a Lei nº 7.408, de 25 de novembro de 1985; revoga dispositivos da Lei nº 12.619, de 30
de abril de 2012; e dá outras providências.
360 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
da produção.
Nos anos seguintes, no entanto, a economia tornou-se profundamente de-
pendente desse modelo, pois a pressão pelo barateamento do custo do frete
rodoviário brasileiro reduziu seu preço a um dos menores do mundo, desestimu-
lando o investimento em ferrovias e hidrovias, que perderam competitividade em
face do seu alto custo de construção. É o que conclui a Confederação Nacional
dos Transportes (CNT), com base em estudo desenvolvido pelo Instituto CO-
PPEAD de Administração, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 2009,
sobre o transporte rodoviário de cargas brasileiro.
Analisando o contraste do baixo preço do frete com seu alto custo operacional,
decorrente das precárias condições das rodovias brasileiras, do preço elevado dos
caminhões e combustíveis e do elevado índice de acidentes de trânsito e roubos
de carga, a pesquisa CNT/COPPEAD revela que o valor médio pago pelos
fretes rodoviários é muito baixo em comparação com seus custos, e que esse frete
artificialmente baixo compromete a saúde do setor, impede o crescimento de
outros modelos de transporte e “gera externalidades negativas para a sociedade”.
Segundo o estudo, as principais causas para o baixo valor dos fretes rodoviários
são, dentre outras, a baixa manutenção e renovação de veículos, carregamentos
com sobrepeso, “jornadas de trabalho excessivas” e inadimplência no setor.
Reconhece-se, aqui, que o excesso de jornada de trabalho imposto aos motoristas
do transporte rodoviário de cargas, no país, é prática ínsita ao modelo de ativi-
dade praticada, e que esse excesso ordinário contribui para a redução artificial
do preço do frete, por sonegação de custos.
Isso revela que, além dos custos operacionais ordinários com remuneração de
motoristas, combustível, pneus etc., o frete rodoviário também implica custos
não computados e não assumidos pelo setor, seja nos reparos das rodovias, por
avarias decorrentes do excesso de peso transportado, seja no custeio previden-
ciário e nos tratamentos de saúde decorrentes de mortes e ferimentos causados
por acidentes de trânsito envolvendo caminhões de frete, seja, também, na apro-
priação barata do excesso de jornada de trabalho dos motoristas, com todas as
implicações trabalhistas e sociais que disso decorre.(…).56
57 “MPT publica nota à sociedade brasileira sobre a crise no transporte de cargas”, do Procurador-Geral do
Trabalho em exercício Luiz Eduardo Guimarães Bojart, de 30 mai. 2018. Acessível em: http://portal.mpt.
mp.br/wps/portal/portal_mpt/mpt/sala-imprensa/mpt-noticias/955d1378-f13f-4f9c-95ca-c653d6a69626,
em 30 mai. 2018.
362 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
58 STF. ADC 48, Rel. Min. Roberto Barroso, DJe 18, de 31 jan. 2018: “Ementa: Direito do Trabalho. Medida
Cautelar em Ação Declaratória de Constitucionalidade. Transporte rodoviário de cargas. Terceirização da
atividade-fim. Medida cautelar deferida. 1. A Lei nº 11.442/2007 (i) regulamentou a contratação de transpor-
tadores autônomos de carga por proprietários de carga e por empresas transportadoras de carga; (ii) autorizou
a terceirização da atividade-fim pelas empresas transportadoras; e (iii) afastou a configuração de vínculo de
emprego nessa hipótese. 2. É legítima a terceirização das atividades-fim de uma empresa. A Constituição
Federal não impõe uma única forma de estruturar a produção. Ao contrário, o princípio constitucional da
livre iniciativa garante aos agentes econômicos liberdade para eleger suas estratégias empresariais dentro do
marco vigente (CF/1988, art. 170). 3. A proteção constitucional ao trabalho não impõe que toda e qualquer
prestação remunerada de serviços configure relação de emprego (CF/1988, art. 7º). 4. A persistência de deci-
sões judiciais contraditórias, após tantos anos de vigência da Lei 11.442/2007, reforça a presença de perigo
de dano de difícil reparação e gera grave insegurança jurídica, em prejuízo a todas as partes que integram
a relação contratual de transporte autônomo de carga. 5. Verossimilhança do direito e perigo da demora
demonstrados. Medida cautelar deferida”.
59 “Dispõe sobre o transporte rodoviário de cargas por conta de terceiros e mediante remuneração e revoga a
Lei no 6.813, de 10 de julho de 1980”.
60 MAIOR. Jorge Luiz Souto Maior, “Você realmente se preocupa com os caminhoneiros?”, in https://www.
conjur.com.br/2018-mai-28/souto-maior-voce-realmente-preocupa-caminhoneiros, acesso em 30 mai.
2018.
61 ADPF 187, Rel. Min. Celso de Mello, Tribunal Pleno, julgamento 15/06/2011, DJe nº 102, de 29/05/2014.
Na ementa: “A Liberdade de Reunião como Pré-Condição Necessária à Ativa Participação dos Cidadãos
no Processo Político e no de Tomada de Decisões no Âmbito do Aparelho de Estado – Consequente Le-
gitimidade, sob Perspectiva Estritamente Constitucional, de Assembleias, Reuniões, Marchas, Passeatas
ou Encontros Coletivos Realizados em Espaços Públicos (ou Privados) com o Objetivo de Obter Apoio
para Oferecimento de Projetos de Lei, de Iniciativa Popular, de Criticar Modelos Normativos em Vigor, de
Ana Cláudia Nascimento Gomes 363
um todo e em harmonia.
Dessa maneira, como os demais Direitos Fundamentais, os direitos de reunião e
greve são relativos, não podendo ser exercícios, em uma sociedade democrática,
de maneira abusiva e atentatória à proteção dos direitos e liberdades dos demais,
as exigências da saúde ou moralidade, da ordem pública, a segurança nacional,
a segurança pública, da defesa da ordem e prevenção do crime, e o bem-estar da
sociedade; como proclamam a Declaração dos Direitos Humanos das Nações
Unidas, em seu artigo 29 e a Convenção Europeia de Direitos Humanos, em
seu artigo 11:
(...)
A relatividade e razoabilidade no exercício dos direitos de reunião e greve são
requisitos essenciais em todos os ordenamentos jurídicos democráticos; sendo
necessário harmonizá-los com os demais direitos e garantias fundamentais nas
hipóteses de conflitos, de forma a coordenar e combinar os bens jurídicos em
atrito, evitando o sacrifício total de uns em relação aos outros, realizando uma
redução proporcional do âmbito de alcance de cada qual, sempre em busca do
verdadeiro significado da norma e da harmonia do texto constitucional com suas
finalidades precípuas e buscando o bem-estar de uma sociedade democrática.
(...)
Não há dúvidas, portanto, que os movimentos reivindicatórios de empregadores
e trabalhadores – seja por meio de greves, seja por meio de reuniões e passeatas – ,
não podem obstar o exercício, por parte do restante da Sociedade, dos demais
direitos fundamentais, configurando-se, claramente abusivo, o exercício desses
direitos que impeçam o livre acesso das demais pessoas aos aeroportos, rodovias
e hospitais, por exemplo, em flagrante desrespeito à liberdade constitucional
de locomoção (ir e vir), colocando em risco a harmonia, a segurança e a Saúde
Pública, como na presente hipótese.
Na presente hipótese, entendo demonstrado o abuso no exercício dos direitos
de reunião e greve, em face da obstrução do tráfego em rodovias e vias públicas,
impedindo, a livre circulação no território nacional e causando a descontinui-
dade no abastecimento de combustíveis e no fornecimento de insumos para a
prestação de serviços públicos essenciais, como transporte urbano, tratamento
de água para consumo humano, segurança pública, fornecimento de energia
elétrica, medicamentos, alimentos e tudo quanto dependa de uma cadeia de
fabricação e distribuição dependente do transporte em rodovias federais – o que,
na nossa realidade econômica e social, tem efeitos dramáticos.65
65 STF. ADPF 519, Rel. Min. Alexandre de Moraes, decisão liminar monocrática, de 23/05/2018.
366 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
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A TERCEIRIZAÇÃO DE ATIVIDADE-FIM NO BRASIL
COMO IMPEDITIVO AO TRABALHO DECENTE
PRECONIZADO PELA OIT
THE OUTSOURCING OF END-ACTIVITY IN BRAZIL AS IMPEDITIVE
TO DECENT WORK PROVIDED BY THE ILO
which the outsourced work of end activity compromises and prevents the reali-
zation of decent work in the Brazilian socioeconomic fabric.
Keywords: Outsourcing. Decent work. ILO.
TRABALHO DECENTE
O trabalho decente é conceito central para o alcance dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS) definidos pelas Nações Unidas que busca
promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, em-
prego pleno e produtivo e trabalho decente.
O trabalho decente é o ponto de convergência dos quatro objetivos
Paulo Antonio Maia e Silva 371
estratégicos da OIT:
I- O respeito aos direitos no trabalho, notadamente os definidos como funda-
mentais como a liberdade sindical, o direito de negociação coletiva, a eliminação
de todas as formas de discriminação em matéria de emprego e ocupação e erra-
dicação de todas as formas de trabalho forçado e trabalho infantil);
II- A promoção do emprego produtivo e de qualidade;
III- A ampliação da proteção social;
IV- O fortalecimento do diálogo social.
Na década de 90, o avanço da globalização e as grandes transformações por
ela produzidas, a reengenharia produtiva implantada em grandes empresas e po-
líticas econômicas baseadas na estabilização monetária, que chegaram a endossar
a inevitabilidade de um “crescimento sem emprego”, provocaram consequências
negativas na esfera das relações trabalhistas, onde defender recomendações de for-
talecimento do trabalho e das melhorias de suas condições era uma tarefa árdua.2
Neste cenário, no início da década seguinte, a OIT estimulou a adoção de
políticas para a geração de trabalho e renda, assim como para a difusão dos di-
reitos do trabalho, principalmente nos países economicamente mais atrasados,
lançando uma campanha internacional pela promoção do trabalho decente,
na qual reafirma os postulados do trabalho como valor em si mesmo, dele não
poder ser enxergado apenas como fator de produção e da impossibilidade da
autorregulação das relações de trabalho.
O trabalho decente tem como prerrogativa a afirmação do papel do
Estado democrático na consolidação de um padrão civilizado de relações so-
ciais, tendo como pressuposto a fundamentalidade do trabalho como vetor
para a superação da pobreza, da inclusão social e condição elementar para a
consecução de uma vida digna e da cidadania.
Para Druck, o trabalho decente se refere a um:
“trabalho produtivo e adequadamente remunerado, exercido em con-
dições de liberdade, equidade, e segurança, sem quaisquer formas de
discriminação, e capaz de garantir uma vida digna a todas as pessoas
que vivem de seu trabalho”.3
A promoção do trabalho decente no Brasil passou a ser um compromisso
quando o governo brasileiro e a OIT, em 2003, assinaram o ‘Memorando de
Entendimento’ que prevê um programa Especial de Cooperação Técnica para
2 PRONI, Marcelo Weishaupt. Trabalho decente e vulnerabilidade ocupacional no Brasil.In: Economia e So-
ciedade, Campinas, v. 22, n.3 (49), p. 825-854, dez. 2013.Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/ecos/
v22n3/09.pdf>. Acesso em: 03 set 2019
3 DRUCK, Graça. Trabalho, precarização e resistências: novos e velhos desafios?.CADERNO CRH, Salva-
dor, v. 24, p. 37-57, 2011.
372 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
de trabalho alheia, com proveito econômico ou não. Se, por um lado, é assegu-
rada aos trabalhadores a percepção dos direitos sociais, por outro lado é imposta
aos empregadores a responsabilidade pelo seu cumprimento.
Com tais considerações, se pode afirmar que relação de emprego firmada
entre empregado e empregador está constitucionalmente delineada como vetor
da ordem social do Estado Democrático de Direito brasileiro sendo vedada sua
descaracterização, sobretudo quando presentes seus elementos constitutivos
(artigos 2° e 3°, da CLT).
7 DELGADO, Maurício Godinho e DELGADO, Gabriela Neves. Constituição da República e direitos funda-
mentais: dignidade da pessoa humana, justiça social e direito do trabalho.2 ed., São Paulo: Ltr, 2013, p.107.
8 DELGADO, Gabriela Neves, AMORIM, Helder Santos. Os Limites Constitucionais da Terceirização, 2ª
ed., São Paulo:Ltr, 2015, p.92
9 PEREIRA, Ricardo José Macedo de Brito. A Inconstitucionalidade da Liberação Generalizada da Terceiri-
Paulo Antonio Maia e Silva 375
Com efeito, no rol dos direitos sociais dos trabalhadores, cuja condição
de direito fundamental estabelece patamar civilizatório mínimo e indispen-
sável ao atingimento da dignidade da pessoa humana, mas que também atua
na condição de norma reguladora da ordem social do Estado Democrático
de Direito brasileiro preconiza no artigo 7°, inciso I, a proteção da relação de
emprego contra a despedida arbitrária ou sem justa causa, enfatizando-a como
a destinatária de todo arcabouço jurídico-trabalhista em nosso país.
Desta forma, se pode extrair que o modelo bilateral da relação de em-
prego em sua concepção clássica formatada nos artigos 2° e 3° da CLT, mas
também reconhecida pelas legislações de diversos países como “verdadeira fat-
tispecie a partir do qual se identificam as condições relacionais determinantes para
a incidência de todas as normas imperativas de proteção ao trabalhador, principal
fonte dos direitos sociais trabalhistas.”10 se constitui, no texto da Constituição
Federal de 1988, em modelo de proteção social e não apenas jurídico.
zação. Interpretação da Lei 13.429, de 31.03.2017 in in GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. ALVARENGA,
Rúbia Zanotelli de(Coord).Terceirização de Serviços e Direitos Sociais Trabalhistas. São Paulo: Ltr, 2017.
10 DELGADO, Gabriela Neves, AMORIM, Helder Santos. Os Limites Constitucionais da Terceirização, 2ª ed,
São Paulo:Ltr, 2015, p.93
11 DELGADO, Gabriela Neves, AMORIM, Helder Santos. A Inconstitucionalidade da Terceirização na Ati-
vidade-Fim: O Valor Social da Livre-Iniciativa e a Função Social da Empresa in GARCIA, Gustavo Filipe
Barbosa. ALVARENGA, Rúbia Zanotelli de(Coord).Terceirização de Serviços e Direitos Sociais Trabalhis-
tas. São Paulo: Ltr, 2017.
376 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
principais ou secundárias.
Entretanto, a decisão do Supremo Tribunal Federal não altera o regramen-
to da terceirização dado pelas leis 13.429/17 e 13.467/17. Extrai-se dos textos
das referidas leis que não será permitido à empresa contratante (a que terceiriza
uma ou mais etapas de suas atividades) exercer sobre os empregados da empresa
contratada a pessoalidade ou subordinação, ainda que transfira a atividade-fim.
Ou seja, a essência jurídica da terceirização continua mantida, apenas
estendida à atividade-fim das empresas (de difícil implantação, diga-se), de
maneira que não se pode entender que a decisão da excelsa Corte autorizou
a contratação de empregados por empresa interposta. Neste sentido trazemos
parte do voto do Ministro Alexandre de Moraes no referido julgamento
“Da mesma maneira, caso a prática de ilícita intermediação de mão de obra, com
afronta aos direitos sociais e previdenciários dos trabalhadores, se esconda for-
malmente em uma fraudulenta terceirização, por meio de contrato de prestação
serviços, nada impedirá a efetiva fiscalização e responsabilização, pois o Direito
não vive de rótulos, mas sim da análise da real natureza jurídica dos contratos.
Impende anotar que no ordenamento jurídico brasileiro somente se autoriza
a contratação de trabalhadores por empresa interposta na modalidade do trabalho
temporário, na forma e requisitos da lei, como já registra a súmula 331 do TST.
Neste aspecto, convém salientar que a lei 13.429, de 30 de março de
2017, que passa a disciplinar a terceirização sob a denominação de contrato
de prestação de serviços a terceiros, altera a lei 6.019/1974, originariamente
reguladora do trabalho temporário.
A Lei 6.019/74 é considerada como uma das primeiras leis que inseriram
no plano normativo positivo a terceirização nas relações de trabalho no Brasil.
Algumas diferenças substanciais, porém, ocorrem entre o trabalho temporá-
rio e a terceirização propriamente dita. A primeira, que só foi eliminada pela
permissão da terceirização de atividade-fim que adveio da lei 13.467/2017, é
que os serviços objeto do contrato de trabalho temporário são modalidades de
terceirização de atividade-fim.
As outras características distintivas entre o trabalho temporário e a tercei-
rização típica são a duração provisória do trabalho e a presença da pessoalidade
e da subordinação entre o trabalhador temporário e o tomador de serviços. A
essência do trabalho temporário reside na substituição provisória da mão de
obra permanente da empresa tomadora de serviços, admitindo-se a pessoali-
dade e a subordinação na prestação.
A pessoalidade e a subordinação, entretanto, são excluídas pela lei
13.429/17 do contrato de prestação de serviços a terceiros.
Paulo Antonio Maia e Silva 379
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A terceirização não é um fenômeno passageiro. Sua aplicação, entretanto,
deve observar a limites que lhe permitam atingir ao seu objetivo e natureza,
que é o de permitir ao empresário realizar a descentralização de atividades
empresariais periféricas e secundárias para um terceiro, fazendo com que ele
possa concentrar suas energias nas atividades que lhe são fundamentais para
atingir o êxito empresarial.
A adoção da terceirização da atividade-fim das empresas, chancelada pelas
leis 13.429 e 13.467, de 2017 e declarada constitucional pelo STF, possibilitaria a
20 Cf DELGADO, Gabriela Neves, AMORIM, Helder Santos. A Inconstitucionalidade da Terceirização na
Atividade-Fim: O Valor Social da Livre-Iniciativa e a Função Social da Empresa in GARCIA, Gustavo
Filipe Barbosa. ALVARENGA, Rúbia Zanotelli de(Coord).Terceirização de Serviços e Direitos Sociais Tra-
balhistas. São Paulo: Ltr, 2017.
382 COLEÇÃO DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO – VOLUME 2
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DELGADO, Gabriela Neves, AMORIM, Helder Santos. Os Limites Constitucionais da Terceirização. 2ª ed,
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___ A Inconstitucionalidade da Terceirização na Atividade-Fim: O Valor Social da Livre-Iniciativa e a Fun-
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LUCES Y SOMBRAS EN LOS CIEN AÑOS DE LA OIT
LUZES E SOMBRAS NOS CEM ANOS DA OIT
Podríamos afirmar que son las tareas sin cumplir que entrarían a primer
plano para el segundo siglo y que parecen ser el sentido de instrumentos interna-
cionales muy importantes, que a raíz del centenario se han conocido sin olvidar
los 17 objetivos del 2030 y la declaración sobre la globalización equitativa.
Nos referimos al informe de la comisión mundial, producto de los pro-
fundos análisis de 9 importantes miembros de ese grupo, que durante 2018
trabajaron para presentar el informe el 22 de enero de 2019, en donde en sus
274 páginas se consagra en nuestro sentir el derrotero que deberá cumplir la
OIT como órgano asesor de la ONU y por tanto la rectora del desarrollo del
futuro del trabajo.
A ese documento se agrega el informe sobre protección social que analiza
los resultados de la recomendación 202 de 2012, sobre pisos de protección social
queriéndola hacer sostenible, desde la construcción de este documento en los
años 2011 y 2012, observamos dos aspectos importantes, no tuvo la jerarquía de
convenio cuando veníamos del Convenio 102 de 1952 con tan baja ratificación,
23 antes y ahora 43 y, basar la sostenibilidad de la seguridad social en la carga
impositiva que el sector gobierno asume abandonando el trípode sobre el cual
se construyó la seguridad social, dejando los aportes a los empleadores y traba-
jadores, nos pareció inviable ya que los países en vía de desarrollo no resistimos
la carga impositiva con fenómenos de corrupción, evasión y elusión que han
llevado nuestros sistemas a grados de colapso muy peligrosos.
El estado de bienestar de España tuvo que revisarse por lo difícil de
sostenibilidad, ese documento al que nos venimos refiriendo fue presentado
durante la 108ª reunión de asamblea de 2019 y que recomendamos estudiar
a fondo para comprender hacia dónde vamos en materia de seguridad social.
Nos opusimos a la adopción de un nuevo convenio el 190 del centenario
y recomendación 206 de 2019, hemos manifestado en diferentes escenarios la
preocupación por la baja ratificación de los convenios, con el agravante de que
no contamos con estudios serios para detectar las razones de la baja ratificación
de convenios y sobre todo que, en casos como el de México frente al Convenio
98 sobre negociación colectiva, adoptado en 1948 y en el caso de Colombia se
adoptó en 1976, sin que conozcamos pronunciamientos de los organismos de
control frente al no cumplimiento de los 12 meses como plazo para ingresar a
la legislación nacional en casos como este.
Lo anterior, nos lleva a la consideración que los organismos de control
resultan inoperantes y que sus mecanismos no cumplen con la función asignada,
esto como un simple ejemplo para reiterar lo que hemos manifestado en repetidas
oportunidades frente al análisis de la OIT y definirlo como un organismo pétreo,
Martha Elisa Monsalve Cuellar 385
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