Representações Sociais Da Doença Renal Crônica e
Representações Sociais Da Doença Renal Crônica e
Representações Sociais Da Doença Renal Crônica e
Área de Concentração:
Linha de Pesquisa:
Florianópolis, 2015
Larissa Papaleo Koelzer
Florianópolis
2015
“Deixo minha visão ao homem que jamais viu o amanhecer nos braços
da mulher amada. Deixo meu coração à mulher que vive exclusivamente
para fazer o coração de seu filho feliz. Deixo meus rins às pessoas que
tiveram seus sonhos interrompidos, mas que ainda os cultivam. Deixo
meu pulmão ao adolescente que quer gritar ao mundo mais uma vez ‘eu
te amo'. Deixo meu fígado para aqueles que não tinham esperança na
recuperação. Deixo ossos, pele, cada tecido meu, à criança que ainda
não descobriu o que é viver por inteiro. Deixo a você o meu exemplo.
Deixo à minha família o desejo de ser um doador. Deixo para a vida,
enfim, um recado: nós vencemos”.
Autor desconhecido
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus pela vida, pelas tantas preces atendidas, pela sabedoria
e discernimento que me levaram a fazer as escolhas certas ao longo do
caminho.
À minha mãe, Tânia, que soube criar cinco filhas mostrando que o
caminho do bem é o que leva mais longe. E que sempre primou pela
nossa educação, custasse o que custasse.
Às minhas irmãs, Tizziana, Maureen, Andrezza e Mirelle, mulheres
fortes e inteligentes que sempre foram e sempre serão meus maiores
exemplos, aquelas de quem procurei sempre seguir os passos.
À minha querida orientadora, professora Andréa, a quem devo grande
parte da minha felicidade. Mestre que admiro muito e que desde minha
graduação acompanha meus passos, mostrando que é possível ir mais
longe. Agradeço pelo exemplo de profissionalismo e competência e por
transmitir serenidade nos momentos difíceis com amorosidade,
equilíbrio e sutileza.
À minha amiga Mariana, com quem já dividi muitos momentos
importantes da vida e tenho certeza que continuarei dividindo. Agradeço
de coração pela companhia gostosa de sempre, pelas orientações quando
precisei, pelas risadas que aliviam o peso do cotidiano e pelo ombro
amigo nos momentos difíceis.
Aos colegas de trabalho na Prefeitura de Palhoça, em especial Fernanda,
Greici e Andresa. Obrigada por fazer parte do meu dia-a-dia, pela
companhia nessa trajetória e por me ouvir falar tanto deste trabalho.
Obrigada pelo bom humor de sempre, a companhia leve e as palavras de
incentivo.
Aos colegas do LACCOS, especialmente à Larissa, que me ajudou e
orientou nas análises desta dissertação. Agradeço a todos pela
colaboração, pelas orientações e pela leveza no dia-a-dia.
Aos professores da graduação e do mestrado em Psicologia da UFSC,
obrigada pela disponibilidade. Mestres que, com competência e carinho
muito colaboraram para meu crescimento acadêmico.
Aos diretores e toda equipe dos centros de hemodiálise onde coletei os
dados desta pesquisa. Obrigada pelo voto de confiança, por acreditar no
meu trabalho e permitir que eu o desenvolvesse.
Por fim, meu agradecimento aos sujeitos que participaram deste estudo,
a quem devo toda a elaboração e construção desta dissertação. Obrigada
pela confiança, por me permitir conhecer suas histórias, seus
sofrimentos e anseios.
Koelzer, Larissa Papaleo (2015). Representações sociais da doença
renal crônica e da hemodiálise e sua relação com a qualidade de
vida. Dissertação de Mestrado em Psicologia, Programa de Pós-
Graduação em Psicologia. Universidade Federal de Santa Catarina.
Florianópolis (SC).
RESUMO
ABSTRACT
The aim of this research was to verify the relation between chronic
kidney disease and hemodialysis social representations and the quality
of life in health of patients on hemodialysis. For this, this study tried to
identify the social representation of these themes and then investigate
the possible relationships between them. The study included 25 people
on hemodialysis, 12 female and 13 male. The criteria to participate in
this study was: age over 18 years, being in hemodialysis for at least six
months to be clinically stable, have the capacity to understanding the
interview and accept participate. The exclusion criteria of participants
was the historical of renal transplantation. The data were collected
through a semi-structured interview realized during the hemodialysis
session. The interview was about three inductors topics: chronic kidney
disease, hemodialysis and quality of life. Then instrument that was used
to measure the quality of life was the WHOQOL - Bref. And the
questions about the sample characterization were the following: gender,
age, education, income and place of domicile. For the analysis of textual
material obtained through the interviews was used a lexical analysis was
performed and a downward hierarchical classification of text segments,
with the aid of IRAMUTEQ software, and a content analysis of the
thematic-categorical type. The WHOQOL - Bref not have a numerical
rating on the quality of life, but an analog scale of 0 to 100, with the
criteria used to compare: the higher the score, the higher the quality of
life, and the lower the score , the lower quality of life. The final analysis
of the instrument was performed using the statistical software Statistical
Package for Social Sciences - statistical package for social sciences
(SPSS) by applying the syntax specifies. The analysis of data obtained
from the application of the WHOQOL - Bref allowed concluded that
there was a predominantly positive assessment of most of the areas that
make up the instrument. Therefore, with respect to quality of life, most
participants were satisfied. Some respondents attributed a negative
meaning to chronic kidney disease, the meaning is very tied to the
meaning of the treatment, since hemodialysis is considered a difficult
treatment. In this study we observed that hemodialysis is mainly linked
to the suffering. Each patient assigned meanings to the disease and
treatment based on their own experiences. The need for treatment is
perceived by many as a dependency. From the interviews it was noticed
that the dependence is due to the favorable feelings that the patients feel
when the treatment was successful and are afraid the prognosis without
hemodialysis. Hemodialysis is the possibility to live longer and the
relief of symptoms of the disease for many patients. There is also the
concept of hemodialysis like a salvation, an aspect linked to religiosity.
In this sense, hemodialysis is considered as "something of God" or a
"grace" and due of this the treatment was accepted as the only way of
survival. However, in this study emerged also negative aspects related to
treatment. The difficulties mentioned by the interviewers relate mainly
to the limitations on the food and fluid intake, difficulties in performing
various activities, work and make some necessary changes in routine.
We conclude that the representations of patients on chronic kidney
disease and treatment have aspects that are related and therefore are
shared. The main themes that are shared concern limitations imposed by
the treatment, and which are consequences of the disease and the routine
is established due to the need of hemodialysis. It is considered,
therefore, that the representation of the treatment is related to the design
of the disease, constituting a part of the latter. The social representation
of treatment as something that provides relief from the symptoms of the
disease and prolonging life expectancy is related to the increase in the
quality of life of participants, which in this study can be considered
good.
RESUMO ............................................................................................. 11
ABSTRACT ......................................................................................... 13
LISTA DE TABELAS ......................................................................... 15
LISTA DE FIGURAS ......................................................................... 17
1 INTRODUÇÃO ................................................................................ 21
2 OBJETIVOS ..................................................................................... 27
2.1 OBJETIVO GERAL ......................................................................... 27
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .............................................................. 27
3 REVISÃO DE LITERATURA........................................................ 28
3.1 DOENÇA RENAL CRÔNICA ............................................................ 29
3.2 HEMODIÁLISE .............................................................................. 34
3.3 QUALIDADE DE VIDA ................................................................... 39
4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA................................................... 44
4.1 TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS ...................................... 45
4.2 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE ............................................ 53
5 MÉTODO.......................................................................................... 61
5.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA ................................................. 61
5.2 PARTICIPANTES............................................................................ 61
5.3 INSTRUMENTOS PARA COLETA DE DADOS .................................... 61
5.4 PROCEDIMENTO PARA COLETA DE DADOS ................................... 64
5.5 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS .................................. 65
6 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS...................................... 69
6.1 CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES ...................................... 69
6.2 RESULTADOS SOBRE A QUALIDADE DE VIDA POR MEIO DO
WHOQOL – BREF............................................................................. 69
6.2.1 Domínio físico ...................................................................... 70
6.2.2 Domínio psicológico ............................................................ 73
6.2.3 Domínio relações sociais ..................................................... 76
6.2.4 Domínio meio-ambiente ....................................................... 78
6.3 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA DOENÇA RENAL CRÔNICA ............ 83
6.4 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA HEMODIÁLISE .............................. 87
6.5 ANÁLISE COM DIVISÃO TEMÁTICA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
DA DOENÇA E DO TRATAMENTO ........................................................ 93
6.6 ANÁLISE COM DIVISÃO TEMÁTICA DA QUESTÃO ACERCA DA QV 97
6.6.1 Categoria trabalho............................................................... 99
6.6.2 Categoria atividades diárias ................................................ 99
6.6.3 Categoria cuidados ............................................................ 100
6.6.5 Categoria lazer .................................................................. 103
6.6.6 Categoria consequências físicas ........................................ 104
6.6.7 Categoria alimentação....................................................... 105
7 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .............................................. 107
7.1 CONTEXTO DA AMOSTRA ........................................................... 107
7.2 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA DOENÇA RENAL CRÔNICA .......... 109
7.3 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA HEMODIÁLISE ............................ 117
7.4 QUALIDADE DE VIDA ................................................................. 120
7.5 AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA DOENÇA, DO TRATAMENTO E A
QUALIDADE DE VIDA ........................................................................ 124
1 INTRODUÇÃO
1
A doença renal crônica (DRC) anteriormente era chamada insuficiência renal
crônica (IRC), definida como a perda da função dos rins de forma progressiva e
irreversível. O termo DRC é mais abrangente, pois considera todos os pacientes
com alguma lesão renal, independente da taxa de filtração glomerular
(Warnock, 1997). Por isso, neste estudo será adotado o termo DRC.
22
2 OBJETIVOS
3 REVISÃO DE LITERATURA
3.2 Hemodiálise
4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
5 MÉTODO
5.2 Participantes
tema, pois os dados devem mostrar certa coerência para garantir uma
lógica quantificável. O material textual deve, portanto, ser
monotemático.
No corpus, os textos devem ser separados por linhas de
comando, chamadas “linhas de asteriscos”, que devem ser construídas
de acordo com um modelo padrão para que possam ser reconhecidas
pelo programa. Essa linha informa o número de identificação do
produtor da resposta e algumas variáveis, a serem definidas pelo
pesquisador, importantes para o delineamento da análise (Camargo &
Justo, 2013).
Apesar dos textos serem definidas pelo pesquisador, nem
sempre a divisão do corpus em segmentos de texto (STs) é também
definida por ele, pois numa análise padrão (chamada standard) o próprio
programa divide o material em STs após reconhecer as indicações dos
textos. Porém, o pesquisador pode configurar a divisão dos STs.
Quando o material apresentar grande quantidade de respostas curtas a
uma pergunta aberta de um questionário, é aconselhável que cada ST
seja definido enquanto texto, ou seja, enquanto a resposta dada à questão
(Camargo & Justo, 2013). Esse procedimento é chamado parametragem.
Segundo Camargo & Justo (2013), a CHD ocorre em quatro
etapas:
Tabela 1
Distribuição das respostas do domínio físico
Q 3- Em que
medida
você acha que
sua dor
5 7 9 4 0
impede você de
fazer o que você
precisa?
71
Q17 - Quão
satisfeito
você está com
sua
capacidade de
desempenhar 3 4 6 10 2
suas
atividades do seu
dia a
dia?
72
Q 18 - Quão
satisfeito
você está com
sua 6 7 7 5 0
capacidade para
o
trabalho?
Tabela 2
Distribuição das respostas do domínio psicológico
Q5- O 0 6 6 12 1
quanto você
aproveita a
vida?
Q6 - Em que
medida você
acha que sua
0 1 3 17 4
vida tem
sentido?
Q7- O
quanto você
0 1 6 17 1
consegue se
concentrar?
Muito
Nada Médio Muito Completamente
pouco
Q11- Você é 1 0 8 9 7
capaz de
aceitar sua
aparência
física?
Nem
Muito
Insatis- satisfeito
Insa- Satisfeito Muito satisfeito
feito Nem
tisfeito
insatisfeito
Q19 - Quão 2 2 2 15 4
satisfeito
você está
consigo
mesmo?
Muito
Algumas Frequen-
Nunca frequen Sempre
vezes temente
temente
75
Q 26- Com
que 5 15 3 0 2
frequência
tem
sentimentos
negativos?
Tabela 3
Distribuição das respostas do domínio relações sociais.
Nem
Domínio
Muito satisfeito Muito
Relações Insatisfeito Satisfeito
insatisfeito nem satisfeito
Sociais
insatisfeito
Q 20 - Quão
satisfeito
você está
com suas 0 2 2 10 11
relações
pessoais?
Q 21- Quão
satisfeito
você está
com apoio
1 2 3 11 8
que
recebe dos
amigos?
Tabela 4
Distribuição das respostas do domínio meio ambiente
Domínio
Meio Muito Mais ou
Nada Bastante Extremamente
Ambiente pouco menos
Q 8 - Quão 0 3 8 13 1
seguro você
se sente
com sua
vida diária?
Q 9 - Quão 0 0 5 19 1
saudável é
seu
ambiente
físico?
Q 12- 0 8 15 0 2
Você tem
dinheiro
79
suficiente
para
satisfazer
suas
necessidad
es?
Q 13- 0 3 5 14 3
Quão
disponível
para você
estão as
informaçõe
s que
precisa no
seu dia a
dia?
Q 14- Em 8 7 5 3 2
que medida
tem
oportunida
de de
lazer?
Nem
Muito Insatisfeito satisfeito Satisfeito Muito
insatisfeito nem satisfeito
insatisfeito
Q 23- 1 1 1 16 6
Quão
satisfeito
você está
com as
condições
do local
onde
mora?
Q 24- 1 6 3 14 1
Quão
satisfeito
você está
com o
80
acesso aos
serviços de
saúde?
Q 25- 0 0 3 20 2
Quão
satisfeito
você
está com o
seu meio
de
transporte?
Tabela 5
Distribuição das médias dos escores nos domínios do WHOQOL-Bref.
Fiz uns três ou quatro exames, levei para ela ver, ela viu e
disse que eu tinha que procurar um especialista o quanto antes
85
Foi uma surpresa, eu não sabia que eu estava com essa doença
e quando eu fui ver ela já estava muito agravada. Quando eu
soube fiquei meio assim, mas não me assustei muito não,
porque a gente tem que aceitar. (Mulher, 50 anos, aposentada,
faz hemodiálise há 6 meses).
Para mim ser renal crônico é uma prisão porque não pode
fazer tudo que quer, fica um dependente. Eu dependo de
alguém para fazer as coisas para mim na cozinha. (Homem, 58
anos, aposentado, faz hemodiálise há 3 anos).
87
Ainda bem que tem a máquina que dá uma ajuda, dá uma força
para a gente. Ajuda para a gente ficar mais viva, a gente vai
levando assim, como Deus quer. Não quero entrar na fila para
fazer transplante, não entrei. (Mulher, 70 anos, aposentada, faz
hemodiálise há 2 anos e seis meses).
Cuido com peso para não pegar muito, para não esforçar
muito o braço, caminho devagar e é isso. Não pode deixar a
peteca cair, como dizem. Se tem que fazer hemodiálise, vamos
fazer, eu quero viver muito ainda e é por isso que estou aqui.
(Mulher, 63 anos, costureira, faz hemodiálise há 3 anos)
Entretanto, o significado da hemodiálise foi ambíguo, uma vez
que ao mesmo tempo em que significa vida, esperança de viver mais
tempo, observou-se também que a ausência do tratamento é sinônimo de
morte. Isso pode ser verificado nos trechos a seguir:
É uma chatice só ter que vir para cá duas vezes por semana.
Tem dias que eu falto, venho num dia e não venho no outro,
fico uma semana sem vir. (Mulher, 52 anos, aposentada, faz
hemodiálise há 6 anos).
Descobri essa doença por causa disso tudo que me deu. Fui no
médico e ele disse que eu tinha que começar a fazer
hemodiálise sem escapatória. Mas ela é uma doença silenciosa,
ela é quietinha, daqui a pouco ela aparece. (Homem, 57 anos,
gerente operacional, faz hemodiálise há 11 anos).
Agora não posso fazer mais nada, nem lavar roupa, nem fazer
faxina, nem mais nada. Até tenho que pagar para fazerem na
minha casa e nem me aposentei ainda nem nada, não estou na
perícia nem nada. (Mulher, 62 anos, aposentada, faz
hemodiálise há 3 anos).
Mas como tem que vir aqui três vezes por semana acaba
dependente dessa máquina porque o rim não trabalha mais.
Para mim é terrível ficar dependente de uma máquina para
caminhar, para ir para algum lugar, para poder levar a vida.
(Homem, 58 anos, aposentado, faz hemodiálise há 8 meses).
doença, sendo que não mencionam ainda o tratamento, por isso esse
conteúdo é relacionado apenas ao tema doença.
Tabela 6
Explicitação da Categorização Temática
subir, descer
da doença no país, que é dos 19 aos 64 anos. Esses dados também foram
encontrados em pesquisas anteriores com pacientes em tratamento
hemodialítico no Brasil e em outros países (Russo et al., 2010; Rambod
& Rafii, 2010; Birmelé, Gall, Sautenet, Aguerre, & Camus, 2012; Nunes
& Lobo, 2012; Veerappan, Arvind, & Ilayabharthi, 2012).
Cabe ressaltar que a idade é um fator que influencia fortemente
na questão da mortalidade, no andamento do tratamento e nas
possibilidades de realização do transplante renal. Terra (2007) salienta
que o avanço da idade tem relação com o aumento da frequência de
problemas e complicações decorrentes da condição crônica.
A maioria dos participantes relatou ser casado, condição
semelhante foi encontrada em outros estudos com essa população, como
o de Zambonato, Thomé e Gonçalves (2008), no qual 65% dos
participantes relataram ser casados. Quanto à escolaridade
predominaram ensino fundamental completo e ensino médio completo.
Esse dado corrobora a pesquisa de Loureiro et al. (2011), na qual 90%
dos pacientes de hemodiálise estudados possuíam ensino fundamental
completo.
A renda familiar foi de, na maioria dos casos, de 2 a 3 salários
mínimos. No que diz respeito ao tempo de tratamento a maioria referiu
estar fazendo hemodiálise de 1 a 3 anos. Quanto às comorbidades, as
relatadas com maior frequência foram diabetes e doenças cardíacas.
Esses dados corroboram os encontrados em outros estudos realizados
com população de pacientes da hemodiálise (Souza, Cintra & Gallani,
2005; Barbosa, Júnior, & Bastos, 2007; Arenas et al., 2009; Cavalcante
et al., 2013).
A maioria dos participantes desse estudo relataram ter um(a)
companheiro(a) e filhos. Morin (2005) afirma que o contexto familiar,
bem como as amizades, acompanha o indivíduo na vivência da doença
crônica e possui um papel chave na continuidade do tratamento.
Portanto, o fato da maioria dos pacientes relatar ter convívio com a
família pode se caracterizar um fator protetor em relação ao tratamento.
Kimmel (2000) aponta que o suporte social está relacionado
com o aumento da sobrevida em pacientes que realizam hemodiálise.
Porém, o contexto familiar também pode reagir negativamente quanto às
mudanças decorrentes do tratamento, o que pode gerar conflitos entre a
família devido à necessidade de mudanças de hábitos, principalmente os
alimentares.
Sabe-se que as refeições são uma prática social partilhada no
grupo familiar, por isso, mudar os alimentos e a forma de preparo deles
109
é tida como uma doença que maltrata, cujo tratamento é responsável por
uma melhora na saúde e possibilidade de sobreviver.
A hemodiálise é reconhecida como a possibilidade de estar vivo
e poder redescobrir o valor da vida, ainda que exija diversas restrições.
Portanto, pode-se apontar que os participantes, por atribuírem um
sentido à vida, à doença e ao tratamento, bem como em sua maioria
estar há bastante tempo na hemodiálise, apresentam uma boa percepção
de qualidade de vida.
129
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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of quality of life and causes of hospitalization between hemodialysis and
peritoneal dialysis patients in China. Health Qual Life Outcomes, 5(49).
APÊNDICES
APÊNDICE A
e-mail: [email protected]
e-mail: [email protected]
Eu,________________________________________________declaro
que fui informado(a) da pesquisa “Representações sociais da doença
renal crônica e da hemodiálise e sua relação com a qualidade de vida”, e
estando ciente da mesma, autorizo a utilização dos meus dados para
análise.
APÊNDICE B
Questionário
Nº do entrevistado: _____
3) Em que medida você acha que sua dor (física) impede de fazer o que
você precisa?
6)Em que medida você acha que sua vida tem sentido?
13) Quão disponível para você estão as informações que precisa no seu
dia-a-dia?
Muito ruim Ruim Nem ruim nem bom Bom Muito bom
1 2 3 4 5
18) Quão satisfeito(a) você está com sua capacidade para o trabalho?
21) Quão satisfeito(a) está com o apoio que recebe dos seus amigos?
24) Quão satisfeito(a) está com o seu acesso aos serviços de saúde?
26) Com que frequência você tem sentimentos negativos, tais como mau
humor, desespero, ansiedade, depressão?
Questionário sociodemográfico
4) Idade: _________
5) Profissão: ______________________
8) Nível de estudo:
Não estudou
Ensino fundamental incompleto
Ensino fundamental completo
Ensino médio incompleto
Ensino médio completo
Ensino superior incompleto
Ensino superior completo
ANEXOS
168