AV 3. Cidadania

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS - CAMPUS XX


CURSO DE DIREITO

ROBSON PEREIRA DIAS


VITÓRIA LUDMILA SILVA CARDOSO
PEDRO LUCAS SANDE PEREIRA ABRANTES

Parabéns pelo trabalho.

Observo que a estrutura do texto tem que ser reorganizada, conforme discutimos. O texto deve se organizar em
introdução, seções de desenvolvimento e conclusão.

Atenção também para partes que ficaram repetidas.

As referências precisam ser revistas completamente.

Conteúdo e análise crítica (6,0): 5,8


Estrutura do texto (2,0): 1,4
Linguagem (2,0): 2,0

Nota: 9,2 CIDADANIA


ENTRAVES E PROCESSO HISTÓRICO

Brumado
Texto 1

Lilia Moritz Schwarcz, doutora em antropologia social pela Universidade de São


Paulo (USP) e professora titular no Departamento de Antropologia da instituição,
destaca-se como figura proeminente no meio acadêmico e intelectual. Seu trabalho
analítico é fundamental para compreender a formação do Brasil, adotando uma
perspectiva crítica que desconstrói mitos enraizados no imaginário social.

Por sua vez, André Pereira Botelho, doutor em Ciências Sociais pela
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e atualmente professor associado na
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), concentra sua trajetória profissional na
Sociologia, especialmente no Pensamento Social Brasileiro e na Sociologia Política.
Sua produção intelectual não só amplia o conhecimento nessas áreas, mas também
evidencia seu comprometimento com a disseminação e aprofundamento do saber
sociológico, consolidando sua posição como expoente no cenário acadêmico, tanto
nacional quanto internacional.

Ambos surgem como destaques intelectuais contemporâneos, com trajetórias


profundamente imersas em um contexto histórico marcado por transformações sociais,
políticas e culturais significativas. Nascidos após a ditadura militar no Brasil, suas
carreiras se desenvolveram durante o período de redemocratização e expansão do debate
público sobre identidade, história, cultura e poder.

O conceito de cidadania, abordado por André Botelho e Lilia Moritz Schwarcz


no livro "Cidadania, um projeto em construção", em seu capítulo I, tem suas raízes no
termo latino civitas, remontando à Antiguidade. Na civilização grega, esse conceito
incorporou os valores de liberdade, igualdade e virtudes republicanas, que persistem até
os dias atuais.

Aristóteles, analisando a cidadania, divide o conceito em duas questões


fundamentais: a identificação do cidadão e a definição de quem merece ser designado
como tal. No que se refere à primeira indagação, Aristóteles destaca que ser cidadão
implica estar investido de autoridade pública e participar ativamente no processo
decisório coletivo. Quanto à segunda questão, os critérios parecem mais restritos,
abrangendo um contingente limitado de homens e excluindo aqueles dependentes do
próprio trabalho, como mulheres, escravos e estrangeiros. Essa visão mais restritiva
levanta questões sobre a verdadeira extensão da cidadania e quem, de fato, pode ser
considerado cidadão, revelando as complexidades e desafios inerentes a esse conceito
ao longo da história.

Outra concepção do conceito de cidadania, abordado no livro em questão, é


frequentemente intendido como a condição na qual o cidadão se torna o beneficiário dos
serviços fornecidos exclusivamente pelo Estado. Essa associação, talvez influenciada
pelo liberalismo, remete à visão tradicional de Jean Bodin, teórico francês do poder
soberano no século XVI. Bodin definiu o cidadão como aquele que "desfruta (possui) da
liberdade comum sob a proteção da autoridade". No entanto, a palavra "desfruta" sugere
uma postura passiva, oposta à atitude "ativa" que se espera de um cidadão.

André Botelho e Lilia Moritz Schwarcz exploram as diferentes perspectivas de


cidadania na Grécia e em Roma. Na Grécia, salientam que a cidadania era
principalmente restrita aos homens livres nascidos na cidade-estado (polis), no qual
escravos, mulheres e imigrantes não faziam parte. Em Atenas, por exemplo, os cidadãos
exerciam direitos políticos e participavam ativamente na democracia direta, votando em
assembleias e ocupando cargos públicos. Essa importância da cidadania grega
extrapolou o período histórico, vinculando-se ao surgimento da burguesia durante a era
medieval.

Em contraste, em Roma, a cidadania romana inicialmente era exclusiva para os


habitantes da cidade, conferindo direitos legais e políticos, embora com distinções entre
cidadãos romanos e não romanos. Ao longo da história romana, houve uma progressiva
ampliação dos critérios para cidadania e civitas romana, culminando na concessão de
direitos a todos os habitantes do Império ao longo do tempo.

Ambas as sociedades partilhavam uma concepção de cidadania ligada ao direito


de participar nos assuntos políticos, embora os critérios específicos variassem
significativamente entre as culturas.

O surgimento do mundo moderno é amplamente reconhecido como o berço da


cidadania contemporânea, cuja primeira expressão se encontra na formulação do
conceito de jusnaturalismo. O Estado de Natureza é então concebido como uma
condição que precede, de certa forma, a formação da comunidade política,
representando a liberdade individual dos indivíduos.
Um documento emblemático desse período, fortemente influenciado pelos
pensadores iluministas, como Rousseau, é a Declaração Francesa de 1789, que
proclama que os homens nascem e permanecem livres e iguais em seus direitos. No
contexto do mundo moderno, a liberdade individual deixou de depender da pertença a
uma comunidade, tornando-se, pelo contrário, um pré-requisito que a antecede e a
condiciona.
fonte?
A modernidade, conforme analisada por Michel Foucault, marca a emergência
do "indivíduo" como uma categoria jurídica e existencial, sobrepondo-se à identidade
coletiva. À medida que a modernidade avançava, impulsionada pelo capitalismo e pelo
Estado-nação, cujo surgimento e evolução estavam em andamento, o conceito e a
prática social da cidadania experimentavam desenvolvimentos cruciais, sendo
definitivamente incorporados ao vocabulário e à experiência política cotidiana.

Simultaneamente, diante do fortalecimento da urbanização e do espetáculo das


ruas, onde a multidão circulava, a luta pela cidadania se fundia com a busca pelos
direitos civis, alimentada pelos movimentos sociais que eclodiam globalmente a partir
dos anos 1970. Nesse contexto, a ideia de cidadania passava a estar associada ao pleno
exercício em um Estado de direitos, à convivência entre iguais e em sociedade, mas
também ao exercício das diferenças entre esses iguais. Foi nessa época que surgiram os
movimentos de minorias e uma compreensão diferenciada da ideia de igualdade,
incorporando a noção de diversidade.

Além disso, as perspectivas de filósofos e sociólogos sobre o conceito de


cidadão são também destacadas por André Botelho e Lilia Moritz Schwarcz. Entre esses
pensadores, destaca-se a visão de John Locke, que proferiu a célebre frase: "Não há
nada de mais evidente do que isso, que criaturas da mesma espécie, do mesmo nível,
nascidas sem distinção e com as mesmas vantagens da natureza e com o uso das
mesmas faculdades, devem ser iguais entre si, sem subordinação ou sujeição". Tal
afirmação sinaliza o fim da divisão entre servos e senhores, assim como entre livres e
escravos.

A qualificação da cidadania como uma "identidade social politizada", conforme


abordado na página 11 do livro "Cidadania: um projeto em construção", implica
reconhecer que a cidadania não é apenas um status legal, mas uma construção social que
envolve modos de identificação intersubjetiva entre as pessoas. Essa perspectiva destaca
os sentimentos de pertencimento formados coletivamente em diversas mobilizações,
confrontos e negociações cotidianas, tanto práticas quanto simbólicas.

A cidadania, portanto, é uma noção moldada coletivamente, ganhando


significado nas experiências sociais e individuais. Ela é considerada uma identidade
social, entendida como uma construção social relativa, contrastiva e situacional. Em
outras palavras, a identidade é uma resposta política a demandas específicas e
circunstâncias políticas, sendo volátil diante de diferentes situações de conflito ou
coesão social.

A expressão "identidade social politizada" destaca que a extensão dos direitos da


cidadania democrática é resultado das lutas concretas de grupos sociais. A força ou
fragilidade da cidadania depende das diversas mobilizações, confrontos e negociações
cotidianas, práticas e simbólicas. Esses processos variam conforme avançam a
construção do Estado-nação, a expansão capitalista, a urbanização e a coerção,
especialmente em contextos de guerra.

Assim, a compreensão de "identidade social politizada" implica que os direitos


da cidadania não são fixos por natureza, mas são moldados pelas ações dos indivíduos e
grupos que os reivindicam. Contrariamente à crença comum, a comunidade se forma
como um grupo primeiro, e a partir dessa formação surgem os sentidos e políticas
identitárias.

É importante ressaltar que a evolução da cidadania está intricadamente vinculada


às lutas e conquistas no processo de construção e democratização dos Estados de
direito, encontrando no caso brasileiro um espelho desse desenvolvimento. O país,
caracterizado por uma prolongada história de escravidão, enfrentou desafios únicos em
sua busca pela cidadania plena.

A formalização da cidadania no Brasil coincidiu com a consolidação da


democracia representativa, estabelecendo canais institucionais oficiais para a resolução
de conflitos. No entanto, a Primeira República trouxe consigo paradoxos, mesclando
inclusão e exclusão social, liberalismo associado a concepções racistas e uma complexa
dinâmica entre urbanidade e distantes sertões. Embora a experiência republicana tenha
buscado fomentar sentimentos de pertencimento nacional, desafios persistentes, como a
corrupção e a violência policial, permanecem como elementos distintivos na tradição
brasileira.
O período da ditadura militar (1964-1985) impôs restrições aos direitos civis e
políticos, resultando na fragilização da cidadania. A transição democrática culminou na
Constituição de 1988, que consolidou direitos de diversas naturezas, inaugurando um
novo capítulo na história da cidadania brasileira. Desde então, o país exibe um modelo
formal? exemplar de direito à representação, com sistemas eleitorais eficazes.

Contudo, as soluções políticas para crises evidenciam fragilidades, como os


elevados índices de desigualdade social no Brasil, refletidos em disparidades nas áreas
de educação, trabalho, mortalidade e lazer. A consolidação de modelos de inclusão
social contrasta com desafios republicanos, incluindo a persistência de corrupção e
violência. A história da cidadania brasileira é complexa, moldada por diferentes
processos históricos e democratizações.

Na contemporaneidade, a cidadania passa por redefinições, incorporando novos


direitos coletivos relacionados à segurança, propriedade e integração na comunidade
política. Pressões sociais por justiça material ampliam os significados da cidadania,
manifestando-se em lutas por moradia, saúde e educação básica. A emergência de
direitos coletivos, além dos individuais, destaca a complexidade da cidadania na
atualidade.
fonte?
Num contexto mais amplo, Maria Tereza Aina Sadek destaca a intrínseca relação
entre justiça e direitos, argumentando que, sem instituições de justiça eficientes, os
direitos se tornam meras quimeras. Por sua vez, a ausência de direitos despoja o
fonte?
trabalho da justiça de significado. Antonio Sérgio Alfredo Guimarães aprofunda a
análise ao abordar as interações entre desigualdades e diversidades, ressaltando o
desafio significativo de harmonizar a igualdade e a liberdade jurídicas constitucionais
das sociedades modernas com as desigualdades sociais e as diversidades culturais.
?
André Botelho, em seu verbete, explora as complexas relações entre o público e
o privado em diversas interpretações históricas do Brasil. Ele destaca os impasses que
essas dinâmicas apresentam para a cidadania democrática e para a incorporação diária
dos direitos na sociedade brasileira. Essas análises proporcionam uma compreensão
mais aprofundada das interconexões entre justiça, direitos, desigualdades e
diversidades, contribuindo para o debate sobre os fundamentos e desafios da cidadania
no contexto contemporâneo.
Portanto, a história da cidadania não segue uma evolução linear, e as sociedades
enfrentam diferentes trajetórias e experiências. O debate sobre a cidadania no contexto
brasileiro reflete diversas perspectivas, desde abordagens historicistas que consideram
as singularidades de cada contexto até visões estruturais que enfatizam padrões
universais de coordenação social. Em meio a essas abordagens, é fundamental
compreender a cidadania sempre em relação a outros fenômenos, instituições e atores
sociais, em vez de buscar uma definição teórica essencialista.

Clóvis Steiger de Assis Moura nasceu em 10 de julho de 1925, em Amarante, no


Piauí. Sua linhagem ancestral era diversa, com um bisavô materno sendo um barão do
Império da Prússia, enquanto, pelo lado paterno, sua bisavó Carlota era uma mulher
negra escravizada por um português – seu bisavô.

Moura foi um renomado historiador, sociólogo e escritor brasileiro. Destacou-se


como um intelectual negro que se dedicou ao estudo do escravismo, das lutas de classe
e das resistências experimentadas pelos negros no Brasil. O combate às ideias
capitalistas e à noção de que os negros tiveram um papel passivo na história do país,
especialmente durante a época escravista, tornou-se uma figura proeminente na análise
das estratégias de luta de classes na sociedade brasileira.

Militante negro do PCB (Partido Comunista Brasileiro), Moura se destacou


como um dos cientistas sociais mais proeminentes nos estudos sobre a população negra
no Brasil. Ele buscou espaço na imprensa partidária trabalhando como redator do jornal
"Última Hora" entre 1952 e 1958.

Vivendo em um contexto histórico permeado por transformações, no qual o país


experimentou um período de desenvolvimentismo sob líderes como Getúlio Vargas e,
posteriormente, Juscelino Kubitschek, que adotaram políticas inovadoras, mudanças no
desenvolvimento econômico e na industrialização, exemplificado pela construção de
Brasília. No entanto, também testemunhou o golpe militar de 1964, que instaurou um
regime autoritário caracterizado pela repressão política, censura e transparência dos
direitos humanos.
Enquanto isso, houve um aumento na conscientização e organização de
movimentos sociais, como sindicatos, movimentos estudantis e grupos de oposição ao
regime militar, todos em busca de reivindicações por direitos, melhores condições de
trabalho e protestos contra a repressão. Paralelamente, o contexto social e racial
mostrava uma sociedade hierarquizada, com evidente desigualdade racial e econômica,
em que a população negra enfrentava discriminação em diversas esferas da vida
cotidiana, desde acesso limitado a oportunidades educacionais até emprego, moradia
digna e serviços públicos. Todos esses fatos, contribuíram de forma significativa para a
criação de suas obras.

Texto 2

Clóvis Steiger de Assis Moura nasceu em 10 de julho de 1925, em Amarante, no


Piauí.

Moura foi um renomado historiador, sociólogo e escritor brasileiro. Destacou-se


como um intelectual negro que se dedicou ao estudo do escravismo, das lutas de classe
e das resistências experimentadas pelos negros no Brasil. O combate às ideias
repetido? capitalistas e à noção de que os negros tiveram um papel passivo na história do país,
especialmente durante a época escravista, tornou-se uma figura proeminente na análise
das estratégias de luta de classes na sociedade brasileira.

Militante negro do PCB (Partido Comunista Brasileiro), Moura se destacou


como um dos cientistas sociais mais proeminentes nos estudos sobre a população negra
no Brasil. Ele buscou espaço na imprensa partidária trabalhando como redator do jornal
"Última Hora" entre 1952 e 1958.

Vivendo em um contexto histórico permeado por transformações, no qual o país


experimentou um período de desenvolvimentismo sob líderes como Getúlio Vargas e,
posteriormente, Juscelino Kubitschek, que adotaram políticas inovadoras, mudanças no
desenvolvimento econômico e na industrialização, exemplificado pela construção de
Brasília. No entanto, também testemunhou o golpe militar de 1964, que instaurou um
regime autoritário caracterizado pela repressão política, censura e transparência dos
direitos humanos.
Enquanto isso, houve um aumento na conscientização e organização de
movimentos sociais, como sindicatos, movimentos estudantis e grupos de oposição ao
repetido
regime militar, todos em busca de reivindicações por direitos, melhores condições de
trabalho e protestos contra a repressão. Paralelamente, o contexto social e racial
mostrava uma sociedade hierarquizada, com evidente desigualdade racial e econômica,
em que a população negra enfrentava discriminação em diversas esferas da vida
cotidiana, desde acesso limitado a oportunidades educacionais até emprego, moradia
digna e serviços públicos. Todos esses fatos, contribuíram de forma significativa para a
criação de suas obras.

"O NEGRO, DE BOM ESCRAVO A MAU CIDADÃO?"

Obra de Clovis Moura.

Antes de analisar essa magnifica obra, é crucial contextualizá-la historicamente.


A história evidencia a presença constante da desigualdade social, econômica e racial em
nossa sociedade. Clovis Moura escreveu "O NEGRO, DE BOM ESCRAVO A MAU não colocar em
letra maiúscula
CIDADÃO?" em um período em que as discussões sobre identidade e desigualdade
racial ganhavam destaque. Nessa época, intelectuais estavam cada vez mais engajados
na reflexão e na luta contra o racismo estrutural no Brasil, destacando a continuidade
das desigualdades raciais após a abolição da escravatura. Em uma sociedade marcada
pela desigualdade, os negros eram marginalizados, sofriam com falta de trabalho,
pobreza, desemprego, falta de acesso à saúde, educação, e suas culturas e religiões eram
criminalizadas e marginalizadas.

Na obra em questão, Clovis Moura, um grande pensador negro, aborda a


transição do negro, de escravo a ex-escravo e, por fim, a um status de cidadania plena.
Ele destaca a luta dos negros e suas consequências no sistema escravista, refletindo
sobre seu impacto no sistema daquela época e do presente. Moura analisa como, apesar
da abolição formal, as estruturas sociais e econômicas persistiram, mantendo muitos
negros em condições de marginalização e desigualdade. O livro critica as políticas
públicas, as relações raciais, enfatizando a busca dos negros pela igualdade e por seus
direitos. Diferentemente de outros autores, Moura apresenta uma visão histórica de um
negro ativo, não passivo, ao contrário de uma romantização da luta dos povos negros
que outros autores fazem, destacando a importância fundamental dessas lutas.

No primeiro tópico, intitulado "UM DILEMA AXIOLÓGICO", Clovis Moura


reflete sobre um estereótipo preconceituoso criado em relação aos negros: "o negro
como bom escravo e mau cidadão". Para o autor, esse julgamento, repetido como se
fosse inquestionável, transformou-se em um clichê reproduzido em diversas áreas onde
o negro disputa com o branco. Moura questiona a origem desse estereótipo, indagando
se vem do período escravista com implicações persistentes no presente, ou se surgiu
após a libertação dos negros da condição de escravos, em decorrência de sua presença
como trabalhadores livres no mercado.

Além disso, Clovis analisa se, durante a escravidão, os senhores consideravam


seus escravos como bons, ou se, ao contrário, montaram um sistema de repressão e
controle violento para evitar reações naturais dos escravos contra o regime. Para
analisar isso, o autor discute concepções de "bom escravo e mau escravo". Para Moura,
na sociedade escravista, o bom escravo era aquele que, com trabalho árduo e desumano,
mantinha e produzia a economia do país, gerando riqueza para seu senhor. Era o
indivíduo que aceitava seu status como algo imutável, suportava castigos e torturas, não
questionava as injustiças impostas pelo sistema e até mesmo abdicava de criar seus
próprios filhos para cuidar dos filhos de seu senhor. Enquanto isso, o mau escravo era
aquele que se recusava a aceitar seu status, questionava as injustiças da sociedade,
sentia a distância social entre escravos e senhores, não aceitava castigos e torturas, e até
fugia para quilombos em busca de liberdade.

Moura também reflete sobre quem seria considerado bom e mau cidadão negro
nos dias atuais. Em suas palavras, o bom cidadão negro seria aquele que aceita
passivamente a desigualdade social, racial e econômica, sem questionar seus direitos e
deveres, aceitando a ideia de superioridade branca e a inferioridade negra. Em
contrapartida, o mau cidadão negro seria aquele que questiona seu status social, não
aceita a discriminação e o racismo, seria mau cidadão negro, aquele vive em favelas,
cortiços, alagados ou aquele que luta pelos seus direitos, o negro que protesta, que vai a
rua.

Outro ponto que o autor aborda em sua obra é a questão do peneiramento e


marginalização dos povos negros. Clóvis aponta que o povo negro se encontra
atualmente marginalizado e em situação inferior ao branco, devido fundamentalmente
aos obstáculos que lhe foram impostos. Ao analisar a história do povo negro no Brasil,
vemos que isso é um fato: a marginalização dos povos negros e ex-escravos se deu
principalmente por parte do governo. Uma das medidas que caracterizam isso é a lei de
terras de 1850. Essa lei foi um marco na regulamentação da posse da terra no Brasil e
permitiu a aquisição por estrangeiros em determinadas condições, mas dificultava que o
povo negro obtivesse terras, instituindo a necessidade de títulos de propriedade para
legalizar a posse da terra. Isso resultou em situações em que comunidades quilombolas
e pessoas livres, especialmente as de origem africana, que ocupavam terras, enfrentaram
obstáculos burocráticos e legais para comprovar sua posse e manter suas terras. Como
resultado, muitos perderam o acesso à terra que ocupavam, enfrentaram despejos e
tiveram seus meios de subsistência ameaçados. Isso contribuiu para o surgimento das
favelas, pois esses indivíduos, uma vez impedidos de fazer parte da sociedade, só
restavam viver à margem dela. Essa marginalização do negro também ocorreu na
educação, com a Lei nº 1, de 14 de janeiro de 1837: 'São proibidos de frequentar as
escolas públicas: Primeiro: pessoas que padecem de moléstias contagiosas. Segundo: os
escravos e os pretos africanos, ainda que sejam livres ou libertos'. O samba e a capoeira
também foram alvos, sendo ambos criminalizados. Na década de 1930, durante o
governo de Vargas, o samba foi alvo de repressão e restrições legais. No início da
República, em 1890, o Código Penal Brasileiro considerou a capoeira como prática
ilegal. Quem fosse pego praticando ou ensinando capoeira poderia ser preso,
enfrentando punições severas. Todas essas leis fizeram com que a discriminação e o
preconceito aumentassem cada vez mais."

Para Clóvis Moura, o ex-escravo não tinha condições de estabelecer um novo


tipo de ordenação social. Os mais avançados dos seus membros viam apenas a luta
individual ou grupal, sem estabelecer projetos de ordenação social superiores para
substituir aquele que eles desejavam destruir.

Clóvis divide o status do escravo brasileiro para o de cidadão em dois estágios.


atenção a
parágrafos No primeiro, ele seria apenas ex-escravo para, posteriormente e de forma definitiva,
muito grandes.
atrapalham a
ingressar na categoria de cidadão, integrando-se. No entanto, segundo Moura, se o
leitura cientista social penetrar nas áreas onde se encontra a maioria da população negra e
mestiça das cidades brasileiras, especialmente na capital paulista e na maioria das
grandes cidades do país, verificará sem muito esforço, depois de um período de contato
com os seus habitantes, que a extensão do conceito de cidadão para eles é muito
relativa. Segundo Clóvis, apenas conceder o título de cidadão a alguém não o torna
cidadão; é preciso que haja a garantia de seus direitos e deveres, assim como uma vida
digna, um trabalho e uma moradia. Clóvis argumenta que, os aglomerados
marginalizados das grandes cidades destacam-se exatamente por isso: não há para os
seus habitantes nenhuma garantia de segurança, sem destacarmos a falta de estabilidade
nos empregos eventuais (pois quase sempre funcionam na faixa do subemprego). A
violência é quase cotidianamente usada contra eles pela polícia através de razias
noturnas do aparelho policial. Para o autor, alguns negros, atingidos pela miséria, pela
falta de oportunidade e imensa desigualdade, acabam descarregando esse sentimento de
frustração na criminalidade; para Moura, "aqueles de almas fracas" acabam por se
entregar ao crime quando se veem sem saída. Outros recebem a influência de
movimentos negros que existem em outros países, especialmente nos Estados Unidos ou
nos países africanos: o Black Power, os "Panteras Negras", o movimento da "Negritude"
e outros. Dessa dupla situação nasce o protesto negro que se manifesta de diversas
maneiras: desde a organização de grupos específicos negros com vários papéis e
funções, até a formação de uma intelectualidade negra que toma posição de contestação
contra essa realidade.

Além disso, o autor aborda a questão de escritores e poetas negros não terem o
devido reconhecimento e muitas vezes, aqueles que abordam questões sociais acabam
sendo vistos como ingratos, rebeldes. Ele aponta a marginalização da literatura negra,
tendo seus poetas ridicularizados: "onde já se viu negro ser poeta?" ou quando se trata
de poetisa: "lugar de negra é na cozinha, será que ela não sabe procurar o seu lugar?",
etc. Segundo o autor, o negro que, ao realizar-se como escritor, não branqueia a sua
temática, não se incorpora às correntes de produção oficiosas e acadêmicas, passa a ser
visto, também, como deformado, contestador sem motivo e, muitas vezes,
mal-agradecido."

Por fim, o livro 'O NEGRO, DE BOM ESCRAVO A MAU CIDADÃO?' de


Clóvis Moura nos faz refletir sobre a questão da desigualdade social, econômica e racial
que existe em nosso país, assim como sobre a importância da luta do negro e seu reflexo
no sistema escravista e sua evolução, apresentando fatos que nos fazem compreender a
existência dessa desigualdade. Clóvis aborda de maneira magnífica a introdução do
negro na sociedade e as mazelas por ele impostas, dando ênfase à luta dos povos negros
de forma fácil e compreensível; sua crítica beira a perfeição."

Referencias: ver regras para construção das referências!

https://www.cedem.unesp.br/#!/noticia/551/intelectual-clovis-moura-ganha-biograf
ia/
https://periodicos.ufba.br/index.php/afroasia/article/view/21080/13672

https://www.politize.com.br/clovis-moura/

https://www.companhiadasletras.com.br/colaborador/00456/lilia-moritz-schwarcz

https://www.cobogo.com.br/lilia-moritz-schwarcz

http://ppgsa.ifcs.ufrj.br/andreacute-pereira-botelho.html

https://www.escavador.com/sobre/4988290/andre-pereira-botelho

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