Farinheiras Do Brasil Ebook Versão Final
Farinheiras Do Brasil Ebook Versão Final
Farinheiras Do Brasil Ebook Versão Final
(Organizadores)
FARINHEIRAS DO BRASIL
Tradio, Cultura e Perspectivas
da Produo Familiar de Farinha de Mandioca
MATINHOS/PR
ufpr litoral
2015
CATALOGAO NA FONTE
F226
ISBN 978-85-63839-23-7
SUMRIO
Apresentao 07
12
Captulo 1 13
Viver e sobreviver da farinha de mandioca no Litoral
do Paran no sculo XIX
Jos Augusto Leandro
Captulo 2 37
Os engenhos de farinha em Florianpolis: apontamentos
para uma histria plural
Adriane Schroeder Lins Leiroza
Captulo 3 59
Casas de farinha: cenrios de (con)vivncias, saberes
e prticas educativas
82
Captulo 4 83
Homens, mulheres e artefatos na produo da farinha
de mandioca no Alto Rio Juru - Acre
Lucia Hussak van Velthem
Captulo 5 109
Mulheres e patriarcado: relaes de dependncia e
submisso nas casas de farinha do Agreste Alagoano
Captulo 6 129
A Organizao dos assentados da reforma
agrria para o processamento da mandioca:
o caso de Capo do Cip - RS
Vilson Flores dos Santos, Paulo Roberto
Cardoso da Silveira, Ana Ceclia Guedes
Captulo 7 147
Produo de farinha de mandioca e de farinha
de tapioca no estado do Par como oportunidades
de negcios para empreendedores e agricultores
na Amaznia
174
Captulo 8 175
A multitransterritorialidade dos territrios
camponeses da farinha no Vale do Juru - Acre
Captulo 9 197
Farinheiras no Litoral do Paran: uma anlise a
partir da noo de sistema agroalimentar localizado
SIAL Farinheiras
Captulo 10 219
A feitura da farinha: notas etnogrficas de uma
farinhada no Alto Serto da Bahia
Andrea Lima Duarte Coutinho
244
Captulo 11 245
Fornos quentes, terra vestida
Natalia Ribas Guerrero
Captulo 12 273
A produo de farinha de mandioca em Guaraqueaba - PR:
entre sustentabilidade, interaes e conflitos socioambientais
Rosilene Komarcheski, Valdir Frigo Denardin
APRESENTAO
10
11
Parte I
HISTRIA, TRADIO E CULTURA
CAPTULO 1
VIVER E SOBREVIVER DA FARINHA DE MANDIOCA
NO LITORAL DO PARAN NO SCULO XIX
Introduo
Este artigo debrua-se sobre o territrio abrangido pela comarca
de Paranagu no perodo da segunda metade do sculo XIX. Vasta
e diversificada em suas paisagens, a comarca, na poca aqui estudada,
possua domnio jurdico e administrativo sobre populaes que viviam
na cidade de Paranagu, na vila de Guaratuba (ao Sul) e na freguesia de
Guaraqueaba (ao Norte); nesse domnio tambm estavam includas as
almas que habitavam em algumas ilhas e as que residiam em inmeros
quarteires esparramados pelo interior da Floresta Atlntica.
O texto que segue demonstra que o ambiente rural da regio
estudada foi, no sculo XIX, marcado pela intensa converso da mandioca
em farinha.2 Ao redor da raiz da terra emergiu, no litoral do Paran, uma
notvel cultura material destinada transformao do vegetal em massa,
1 Doutor em Histria Cultural, professor do Departamento de Histria e do Programa de Ps-Graduao em
Cincias Sociais Aplicadas da Universidade Estadual de Ponta Grossa/PR. Email: [email protected]
2 Algumas passagens deste texto j foram publicadas pela Revista Brasileira de Histria, no artigo A roda, a prensa,
o forno, o tacho: cultura material e farinha de mandioca no litoral do Paran (LEANDRO, 2007).
13
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Tradio, Cultura e Perspectivas da Produo Familiar de Farinha de Mandioca
em farelo e em p.3
necessrio, j de sada, que esquemas explicativos generalizantes
sobre o padro alimentar brasileiro sejam afastados, como o de Josu de
Castro (1937, p. 148), por exemplo, que dividiu o pas em cinco zonas
correspondendo cada uma delas a um tipo de alimentao usual, e
caracterstico. Para a zona que abarca a Regio Sul, o espao litorneo
parece ter sido ignorado, de acordo com a explanao do mdico
pernambucano, pois as substncias alimentares principais mencionadas
no incluram a farinha de mandioca. Seriam compostas por leite, carne,
po (de trigo), arroz, batata inglesa, manteiga, acar, verduras, frutas e
caf.4
A regio do litoral do Paran tambm ficou obliterada diante da
sugesto, pelo historiador Stuart Schwartz, de diviso do Brasil colonial em
duas grandes zonas referentes produo de alimentos.5 Segundo ele, para
o perodo seria possvel identificar a zona rural da mandioca e a zona rural
do milho, j que esses eram os dois principais alimentos que serviam de base
para a dieta na maioria dos lugares. Ao norte e nordeste corresponderia
a mandioca e a farinha dela extrada e, para as regies agrcolas mistas
de So Paulo para o sul, o milho e o trigo seriam as culturas prediletas.
(SCHWARTZ, 2001, p. 126-127).
Ceclia Westphalen, por sua vez, percebeu que a fabricao da farinha
14
3 Seguindo os ensinamentos de Fernand Braudel (1995, p.92), tudo indica que ao lado do trigo (Ocidente e partes
do mundo oriental), do arroz (Oriente) e do milho (Amrica), a mandioca tambm possa ser entendida como
uma planta de civilizao, dominante para o Brasil, pois a partir dela alimentos majoritrios foram gerados,
organizando a vida material e por vezes a vida psquica dos homens com grande profundidade, a ponto de se
tornarem estruturas quase irreversveis.
4 Obviamente Josu de Castro no estava se referindo ao Brasil do sculo XIX, e seu modelo explicativo no est
necessariamente incorreto; o que vale reforar aqui o fato de que as especificidades do sul litorneo parecem
muitas vezes desaparecer em esquemas generalizantes da histria econmica, social e cultural do pas. Se uma
pesquisa especfica sobre padres alimentares fosse realizada na dcada de 1930 no litoral do Paran, certamente a
farinha ali despontaria como integrante do cardpio das substncias principais. Muitas localidades litorneas no
se encaixam nos modelos comumente aceitos para o entendimento do desenvolvimento histrico da Regio Sul
do Brasil: o modelo das estncias de gado-peonagem ou o modelo da pequena propriedade imigrante geradora de
excedentes de produtos alimentares comercializveis.
5 Toma-se a liberdade de chamar de Paran, para o perodo colonial, o territrio que era Capitania de So Paulo, e
posteriormente denominado de Quinta Comarca da Provncia de So Paulo. A Provncia do Paran foi criada no
final de 1853.
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CAPTULO 1
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7 1855. Sem capa. Inventrio de Dona Leocadia Antonia Pereira da Costa. Museu da Justia, Curitiba. Na Fazenda
das Palmeiras havia 27 escravos. O inventrio post-mortem da esposa de Manoel Antonio Pereira indicou o
espetacular (para os padres litorneos paranaenses daquela poca) monte-mor bruto de 237 contos, 884 mil e
155 ris.
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rio da Prata e Zanzibar 254 sacos com 508 alqueires de arroz pilado; 146
sacos com 292 alqueires de feijo; 50 sacos com 100 alqueires de farinha;
20.700 achas de lenha; 09 barricas com roscas e bolachas; 55 barris com
03 pipas de aguardente; 05 peas de baeta; 15 clavinas e sabres; 100 cascos
com aguada para lastro, e mais batatas e charque, alm de obras de folha
e um alambique. Para o inspetor do porto era evidente que se tratava de
um navio negreiro, pois o carregamento do Luiza era parecido com o
das embarcaes utilizadas na travessia atlntica. Carregamento este que
abastecia a tripulao e os cativos, e que tambm era mercadejado com
traficantes na costa africana.9
Quando da construo do brigue Cascudo, em 1847, o valor do
alqueire de farinha de mandioca era de 1 mil e 200 ris. Em 1872, o alqueire
custava em mdia 5 mil ris. (SANTOS, 1995, p. 130). Em tempos de
encarecimento do produto, muito provavelmente a populao litornea
paranaense comportava-se da mesma maneira que os habitantes do
Recncavo Baiano. Nesta regio nordestina, quando o preo aumentava,
muitos no tinham escolha; tinham de pagar. Podiam comprar menos
carne; podiam se endividar; mas comprar menos farinha era a ltima
opo possvel. E, nesses casos, isso significava fome. (BARICKMAN,
1998, p. 53).
Viver e sobreviver da farinha de mandioca
Pequenos fragmentos de histrias de sujeitos que viveram no
litoral do Paran no sculo XIX possibilitam visualizar a civilizao da
farinha de mandioca como algo de carne e osso; e, para alm da retrica
da curiosidade, esses fragmentos apresentam o interesse de reintroduzir
o homem na histria, por intermdio da vivncia material. (PESEZ,
2001, p. 210-211).
A lavradora Anna do Carmo, moradora do quarteiro do rio
Retiro, em Paranagu, viveu muitos anos como se casada fosse com Jos
Pereira e com ele teve, ao longo do relacionamento, sete filhos. Em narrativa
24
9 Ofcios. Antonio Pedro dAlencastro para o Inspetor da Tesouraria Geral da Provncia de So Paulo. Paranagu,
1848. Arquivo do Estado de So Paulo.
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13 A noo de mnimos vitais para a anlise de comunidades interioranas brasileiras surgiu com Antonio Candido
(1977, p. 27) em seu estudo sobre o modo de vida dos caipiras de Bofete, interior de So Paulo. Dir-se-, ento, que
um grupo ou camada vive segundo mnimos vitais e sociais quando se pode, verossilmente, supor que com menos
recursos de subsistncia a vida orgnica no seria possvel... .
14 1855. Sem capa. Margarida de Souza e Silva inventariada. Agostinho Jose Pereira inventariante. Museu da
Justia, Curitiba.
15 1868. Traslados dos autos-crime do ru Gaspar escravo de Jos Antonio de Oliveira cujos autos sobem por
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Concluso
A partir dos inventrios analisados possvel concluir que
o principal trao do ambiente rural da comarca de Paranagu era a
vinculao das suas propriedades agrcolas ao cultivo da mandioca e
sua transformao em massa, farelo e p. A maioria das propriedades
inventariadas possua utenslios relacionados ao mundo da farinha,
aquilo que o jesuta Jos Rodrigues de Melo chamou, em meados do
sculo XVIII, de bens que o uso reclama.
No universo rural da comarca de Paranagu, nas unidades
agrcolas com ou sem mo de obra escrava, foi possvel observar a
existncia de um notrio modo de vida cujo trabalho girava ao redor da
raiz da terra. Pela anlise dos documentos possvel afirmar que a farinha
de mandioca constituiu uma espcie de po comum aos afortunados e
minimamente afortunados do mundo rural da comarca. Ela estava
presente na mesa daqueles que possuam uma certa riqueza de bens para
serem legados aos herdeiros e tambm foi notria entre os que deixaram
cabedal de pouca monta no ambiente rural.
A farinha de mandioca garantia os mnimos vitais da populao,
sobretudo dos livres pobres e dos escravos. Estes a tinham como a sua
principal referncia alimentar, a sua primordial fonte calrica disponvel
poca. Era fundamentalmente na lida com a raiz da terra que a vida
dos menos favorecidos da comarca de Paranagu, na segunda metade do
sculo XIX, seguia seu curso.
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CAPTULO 1
18 O livro teve uma nova tiragem de 2 mil exemplares, em 1989, com apoio da Secretaria do Estado da Cultura. Na
reedio, no houve espao para comentrios crticos obra. Tampouco foi revisto, pelo autor, algum aspecto do
contedo ali presente passados 34 anos. Martins entende como Paran o espao que se configurou a partir do
final de 1853, com a criao da Provncia. A citao que ignora o passado luso-africano constitui parte do ltimo
pargrafo da obra.
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Referncias
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CAPTULO 1
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Apndice
QUADRO 1
PERFIL DAS PROPRIEDADES NOS INVENTRIOS RURAIS COM ESCRAVOS DA COMARCA DE
PARANAGU-1849-1887
32
TIPO DE
N.
PRODUO
ESCRAVOS
Farinha
No cita
Roa de mandioca
Farinha
12
1852
Rio Cubato
(Guaratuba)
No cita
No identificado
1852
Ilha Rasa
(Paranagu)
Farinha
1854
Riozinho
(Paranagu)
Farinha, acar,
aguardente
12
1855
Cassoeiro
(Paranagu)
Farinha
1855
Farinha
1856
Medeiros
(Paranagu)
Farinha
1856
Ijipijessara
(Paranagu)
Farinha, aguardente
1860
Rio Tagaaba
(Guaraqueaba)
Farinha
1861
Rio Descoberto
(Guaratuba)
No cita
Roa de mandioca
1861
Segundo Distrito
(Guaraqueaba)
Aguardente, farinha
33
1863
Olho dgua
(Paranagu)
Farinha
1864
Tromomo
(Guaraqueaba)
No cita
No identificado
1866
Aguardente, farinha
1866
Farinha
1868
Guaratuba
No cita
No identificado
1869
Bocuhy (Paranagu)
Farinha
1870
Guaraqueaba
Farinha
1871
Barra do Sul
(Paranagu)
Roda e prensa
Farinha
1871
Tagaaba
(Guaraqueaba)
No cita
No identificado
1872
Roa de mandioca e
farinha
1873
Farinha
ANO
LOCAL
UTENSLIOS
1849
Rio Grogussu
(Paranagu)
1849
No identificado
1850
pARTE i
CAPTULO 1
1873
Guaratuba
Farinha
1873
Saco Tambarutaca
(Paranagu)
1874
Guaraqueaba
No cita
No identificado
1874
Retiro (Paranagu)
Mandioca e farinha
1875
Ponta Grossa
(Paranagu)
Farinha
1876
Rocio Grande
(Paranagu)
Farinha
1878
Barra do Sul
(Paranagu)
Farinha
1879
So Joo Pequeno
(Guaratuba)
Farinha
1880
No identificado
No cita
No identificado
1881
Buquera (Paranagu)
Engenho de socar
Arroz
1884
Guaraqueaba
No cita
Farinha
1879
Rio do Cedro
(Guaratuba)
Aguardente
1880
Stio Retiro
(Paranagu)
Farinha
1881
Descoberto
(Guaratuba)
Farinha, roa de
mandioca, 200
alqueires de arroz
1881
Rio Cubato
(Guaratuba)
Aguardente, farinha
1881
1881
Itaqui
(Guaraqueaba)
Aguardente, farinha
1881
Saco Tambarutaca
(Paranagu)
No cita
No identificado
1882
Bocuhy (Paranagu)
No cita
No identificado
11
1882
Barra do Sul
(Paranagu)
Farinha
1883
Guaratuba
Aguardente, acar
1884
No identificado
Aguardente
1886
Imbocuhy
(Paranagu)
Farinha
1887
Tagaaba
(Guaraqueaba)
Farinha, mandioca,
vigas, milho
1887
Guaratuba
Engenho de cana
Aguardente, acar
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QUADRO 2
PERFIL DAS PROPRIEDADES NOS INVENTRIOS MISTOS COM ESCRAVOS DA COMARCA
DE PARANAGU - 1849-1887
ANO
LOCALIDADE
UTENSLIOS
TIPO DE PRODUO
N.
ESCRAVOS
1849
Rio Morato
(Guaraqueaba)
No cita
Cultivados
(mandioca)
16
1849
Olho dgua
(Paranagu)
Farinha
1852
No cita
No identificado
30
1854
Valadares
(Paranagu)
No cita
No identificado
1855
Farinha, madeira
38
1859
Riozinho
(Paranagu)
1860
Rio Grogussu
(Paranagu)
Farinha
1864
Guaraqueaba
(Local no definido)
Farinha, madeira
1864
Serra Negra
(Guaraqueaba)
Farinha
1867
Tagaaba
(Guaraqueaba)
No cita
No identificado
1868
Rio Guaraqueaba
(Guaraqueaba)
Farinha
10
1868
No identificada
Farinha
1868
Guaratuba
No cita
No identificado
1868
Rio Tagaaba
(Guaraqueaba)
No cita
No identificado
1871
No cita
No identificado
1871
Forno, bolandeira
Farinha
1877
Guaraqueaba
Casa de engenho
No identificado
1877
Itiguassu
(Paranagu)
Farinha
1883
Guaratuba
Acar, aguardente
1878
No identificado
Alambique, bolandeira
Aguardente
1873
Rio Cubato
(Guaratuba)
No cita
No identificado
1876
Guaraqueaba (local
no identificado)
Arroz, farinha
31
1876
Rio Guaraguassu
(Paranagu)
No cita
No identificado
1879
Barra do Sul
(Paranagu)
Farinha
1880
Bocuhy (Paranagu)
Farinha
34
Farinha
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CAPTULO 1
QUADRO 3
PERFIL DAS PROPRIEDADES NOS INVENTRIOS RURAIS E MISTOS SEM ESCRAVOS DA COMARCA
DE PARANAGU 1857/1884
ANO
LOCAL
UTENSLIOS
TIPO DE PRODUO
1857
Barra do Sul
1868
1869
Grogussu/Cachoeira
Tacho de cobre
Mandioca, lenha
1869
Ribeiro
1870
Rio Itiber
Pescado, frutferas
1871
Paranagu (stio)
1872
Guaratuba
Aguardente
1873
Rio Borrachudo /
Rio das Canoas
Madeira
1876
Rio Guaraguassu
No cita
No identificado
1876
Rio Guaraguassu
No cita
No identificado
1876
Sufrague
No cita
Caf
1878
Brejatuba
Forno, tacho
1880
Serra Negra
1880
Serra Negra
No cita
No identificado
1880
Rio Pequeno
No cita
No identificado
1882
Emboguassu
No cita
Mandioca
1882
Tagaaba
No cita
No identificado
1883
Emboguassu
1884
Barra do Sul
1884
Serra Negra
Aguardente
1885
Embocuhy
1887
No identificado
Aguardente
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CAPTULO 2
OS ENGENHOS DE FARINHA EM FLORIANPOLIS
APONTAMENTOS PARA UMA HISTRIA PLURAL
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PARTE i
CAPTULO 2
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1951. 121 p.; PACHECO, Darcy. Engenho-de-farinha [sic], in: loc. cit., ano XVI, n. 27/28 (jan. 1962/ jan. 1963), s/
ed. 129 p.; ALBUQUERQUE, Cleide M. C. P. de. Trabalho e lazer numa localidade pesqueira de Santa Catarina
in: Anais do Museu de Antropologia da UFSC. Florianpolis, Imprensa Universitria, 1993 (p. 57-74); BECK, Ana
Maria (org.). Roa, pesca e renda: trabalho feminino e reproduo familiar, in: loc. cit. Florianpolis, Imprensa
Universitria,1993 (p. 43-56); BLASKE, Helga. O tipiti, in: loc. cit., ano XVI, n. 27/28(jan. 1962/ jan. 1963), s/
ed. 129 p. CABRAL, Oswaldo Rodrigues. Nossa Senhora do Desterro Memria II. Florianpolis, Imprensa da
UFSC,1972. 284 p.; CABRAL, Oswaldo Rodrigues. Os Aorianos. Separata do volume II dos Anais do Primeiro
Congresso de Histria Catarinense. Florianpolis, Imprensa Oficial, 105 p. CASCAES, Frankilin J. Franklin Cascaes,
vida, arte e a colonizao aoriana (org. Caruso, Raimundo C.). Florianpolis, UFSC,1981. CREMA, ngelo. O
carro de bois. in: Boletim da Comisso Catarinense de Folclore, ano XVI, n. 27/28 (jan. 1962/ jan. 1963), s/ed.
129 p.; SANTOS, Silvio Coelho dos. Rio Vermelho, uma pvoa no interior da Ilha de Santa Catarina, in: loc. cit.,
ano XVI, n. 27/28(jan. 1962/ jan. 1963), s/ed. 129 p. ROCHA, Elton Batista. Os engenhos de farinha de mandioca
da Ilha de Santa Catarina e suas transformaes, in: Anais do Museu de Antropologia da UFSC. Florianpolis,
Imprensa Universitria, 1993(p.75-94). Sobre esta questo no Rio Grande do Sul, conferir: BUNSE, Heireich A.
W. Mandioca e acar - contribuio ao estudo das respectivas culturas e do folclore tnico e lingsticas no
Rio Grande do Sul, in: Comisso Gacha de Folclore, v. 27. Porto Alegre, Departamento de Imprensa Oficial do
Estado, s/d. 23 p.
6 Conferir: ANDERMANN, Adriane Schroeder, op. cit. (Cap.III); FLORES, Maria Bernardete. A inveno da
aorianidade, in: Jornal Catarina!, n.18. Florianpolis, julho/agosto de 1996 (p.4); Teatros da vida, cenrios da
Histria. A farra do boi na Ilha de Santa Catarina - leitura e interpretao. Tese de Doutorado. So Paulo, PUC,
1991. 341 p. HOBSBAWN, Eric e RANGER, Terence (orgs.). A Inveno das Tradies. Rio de Janeiro, Paz e Terra,
1984. 316 p.
PARTE i
CAPTULO 2
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Tradio, Cultura e Perspectivas da Produo Familiar de Farinha de Mandioca
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8 Denominado informalmente como loteamento So Bento; agora, a rua onde se localizava o engenho recebe o
nome de Rua So Bento.
9 SCHROEDER, Adriane. Num engenho de farinha (...) deve ter trs cantad (...) o trabalho e o ldico nos
engenhos de farinha de mandioca em Florianpolis. Trabalho de Concluso de Curso. Florianpolis: UFSC, 1991.
10 ANDERMANN, Adriane Schroeder. Histrias de Engenho: os engenhos de farinha de mandioca em
PARTE i
CAPTULO 2
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do namoro; algumas delas so ligadas ao trabalho do engenho, onde a vida dessas pessoas se desenrolava. Um
exemplo dessa mescla citada por Cascaes (1981:57): Quando o engenho de farinhaEst coberto de poeira sinal
que neste anoFoge muita moa solteira.. Aqui, o fugir refere-se a um hbito comum das moas, principalmente
as de famlia pobre, fugirem com seus namorados para forar o casamento. Um verso da ratoeira integra este tipo
de cantiga com a aposta do capote: Maria pega a facaE vai chamar o MigoteQue j est chegando genteMode
jogar o capote (Pereira, 1991: 203). Conferir, ainda: Piazza (1951 e 1956).
15 BENJAMIN, Walter. O narrador, in: Obras Escolhidas, vol. I. So Paulo, Brasiliense,1985.
16 Ver, por exemplo: AV-LALLEMANT, Roberto. Viagem pelo Sul do Brasil no ano de 1858 (primeira parte). Rio
de Janeiro, Instituto Nacional do Livro, 1953. 398 p.; CARVALHO, Alfredo de. Uma visita Santa Catharina
em 1803-1804, in: Revista Trimestral do Instituto Histrico e Geogrfico de Santa Catharina. Vol. IV (I a IV
trimestres), 1915. Florianpolis, Typ. da Escola de Aprendizes Artifices, 1916.; LANGSDORF, George Heinrich
Von. Bemerkungenauf Reiseun die Welt, in: Ilha de Santa Catarina Relato de viajantes nos sculos XVIII e
XIX, 3. ed. revisada. UFSC/Lunardelli, 1992. (p. 157-184); LISIANSKY, Urey.A Voyage round the world, in: loc.
cit. (p.147-156); PERNETTY, Dom. Histoire dun voyage aux Isles Malouines, in: loc. cit. (p. 77-108); SAINTHILAIRE, Auguste de. Viagem Provincia de Santa Catharina (1820). So Paulo, Cia. Editora Nacional, 1936;
SHEVOLKE, George. A voyage round the world, in:loc cit.(p. 31-48); SEIDLER, Carl Friedrich Gustav. Zehn Jahre
in Bralisien Wahrend, in: loc. cit. (p. 277-309).
PARTE i
CAPTULO 2
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46
18 Ver: PEREIRA, Nereu do Valle. Cultura popular aoriana na Ilha de Santa Catarina, in: Anais da Segunda
Semana de Encontros Aorianos (1987 - Florianpolis - UFSC). Florianpolis, Editora daUFSC, 343 p.; PEREIRA,
Nereu do Valle et alli. Ribeiro da Ilha - vida e retratos. Florianpolis, Fundao Franklin Cascaes, 1990. 502
p.; PIAZZA, Walter F. A Epopia Arico-Madeirense (1748-1756). Florianpolis, UFSC/Lunardelli, 1992. 490 p.;
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e lingsticas no Rio Grande do Sul, in: Comisso Gacha de Folclore, v. 27. Porto Alegre, Departamento de
Imprensa Oficial do Estado, s/d. 23 p.
19 Recentemente, visitei um engenho desativado, movido a roda dgua, na regio de Nova Trento, SC, pertencente
famlia Wisenteiner, parentes de Ambile Lcia Wisenteiner, a Santa Paulina; tambm visitei engenhos em
Orleans (Museu ao Cu Aberto); estes esto ligados colonizao italiana (o sobrenome austraco se deve aos
processos de expanso da ustria em relao regio de Trento, de onde vieram famlias como a Wisenteiner);
guas Mornas, Rancho Queimado e Angelina, de famlias descendentes de germnicos.
20 Ver, por exemplo: BRITO, Paulo Jos M. de. Memoria Politica sobre a Capitania de Santa Catharina.
Florianpolis, Sociedade Literria Bibliotheca Catarinense, 1932; CABRAL, Oswaldo Rodrigues. Histria
de Santa Catarina. Florianpolis, Lunardelli, 1987, 500 p.; CUNHA, Idaulo. Evoluo Econmico-Industrial
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PARTE i
CAPTULO 2
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21 Um exemplo que ilustra bem essa ressignificao foi a criao, em 1988, do concurso Manezinho da Ilha pelo
jornalista Aldrio Simes; a inteno do concurso era reconhecer o nativo ilhu, bem como sua identificao com
o aoriano, valorizando o que antes era menosprezado. Vide, neste sentido: FANTIN, Mrcia. Cidade Dividida.
Florianpolis. Cidade Futura, 2000.
22 A chamada desta matria significativa neste sentido: Personagens baseados em tpicos manezinhos arrancam
risadas da platia; embora se procure moderar o tom ao longo do texto, de certa forma fazendo um elogio ao
manezinho, mantendo a associao litorneoaoriano, este tambm relacionado comdia, caricatura. Fonte:
http://ndonline.com.br/florianopolis/plural/102021-personagens-baseados-em-tipicos-manezinhos-da-ilhaarrancam-risadas-da-plateia.html.
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24 Conferir, por exemplo: Cascaes (1981: 64-65), Costa (1995: 29); Piazza (1956: 31- ss.), Schroeder (1991: 23-44).
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CAPTULO 2
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57
CAPTULO 3
CASAS DE FARINHA: CENRIOS DE (CON)VIVNCIAS,
SABERES E PRTICAS EDUCATIVAS
1
Introduo
O interesse em estudar o contexto socioeducativo e cultural das
casas de farinhas em suas dinmicas de produo e convivncia originouse de minha vivncia enquanto educadora numa escola de Ensino Mdio
da rede estadual localizada no municpio de Me do Rio PA, integrante da
Amaznia brasileira. Dentre as muitas situaes que marcam o cotidiano
de uma escola em um municpio que ainda guarda muitas caractersticas
rurais, uma, particularmente, inquietou-me e despertou meu interesse
de conhecer os saberes prticos de jovens agricultores familiares que
1 Este texto um recorte da Dissertao de Mestrado intitulada Casas de farinha: espao de (con)vivncias, saberes
e prticas educativas, defendida junto ao Programa de Ps-Graduao, Mestrado em Educao da Universidade do
Estado do Par (PPGED/UEPA), em 2011.
2 Sociloga, Mestre em Educao pelo Programa de Ps-Graduao da Universidade do Estado do Par - Linha de
Pesquisa: Saberes Culturais e Educao na Amaznia, pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Educao e Meio
Ambiente (GRUPEMA). E-mail: [email protected].
3 Sociloga Doutora em Planejamento Urbano e Regional (UFRJ/2002), com Estgio de Ps-Doutoramento em
Sociologia Ambiental (ICS/PT), professora Adjunto IV do Centro de Cincias Sociais e Educao e do Programa de
Ps-Graduao, Mestrado em Educao da Universidade do Estado do Par (UEPA), Lder do Grupo de pesquisa
em Educao e Meio Ambiente GRUPEMA (CNPq). E-mail: [email protected]. Orientadora da Dissertao.
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mas retiro hoje outra coisa, o certo casa de farinha mesmo, os indgenas
chamavam casa de forno, hoje casa de farinha (AFC, 03). Embora se
considere a autodenominao de produtores locais que se referem s
casas onde se produz a farinha como retiro, neste estudo optamos por
utilizar a de casa de farinha, por considerar que alm da transformao
da matria prima, razes de mandioca em farinha e, em alguns casos, em
outros produtos como a goma e o tucupi, o fazer farinha configura-se
como um processo que est para alm do resultado final de um sistema
produtivo, porque alberga tambm relaes de convivncia e vnculos
familiares na sua prtica.
Na Casa de Farinha, onde as prticas so dinamizadas a partir
da organizao da famlia nuclear, que estabelece o controle de todas as
etapas do fazer farinha, inclusive dos instrumentos de trabalho, foi, neste
estudo, denominada de Casa de Farinha Familiar pelo fato de que o
ncleo familiar (pais e filhos) que constitui a fora de trabalho no fazer
farinha.
De acordo com a percepo de um dos agricultores entrevistados,
a participao familiar no processo de produo garante a reproduo
social do grupo familiar, conforme indica o depoimento a seguir: A
casa de farinha, para mim, s pra gente de casa mesmo [...]. Tem tanta
importncia que dali t tirando o po de cada dia, direto, toda semana,
na casa de farinha (AFF, 01).
A forma de organizao dessa atividade produtiva aproxima a
famlia por meio de laos de solidariedade e de colaborao, conforme
indica a noo de sociabilidade construda por Martins (2008, p. 32), para
quem o trabalhador em sua produo de subsistncia se produzia (e se
produz ainda) um mundo de relaes sociais no capitalistas. De acordo
com essa ideia, as relaes assumem um sentido familiar e comunitrio.
Na casa de farinha na qual o processo de produo ocorre a partir
de diferentes relaes de parentesco, de relaes de ajuda mtua entre
vizinhos, e est localizada em um terreno agrcola afastado da vila da
Comunidade, neste trabalho denominamos de Casa de Farinha Mutiro.
Vrias atividades so desenvolvidas de forma partilhada e por meio do
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FIGURA 01 - O DESCASCAR
FIGURA 02 - O RASPAR
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olha debaixo, s vezes sempre o canto fica mole. s vezes as outras pessoas
que esto acostumados dizem: Pode tirar, que j t bom j (AFC, 05).
Dessa maneira, o saber-fazer farinha perpassado por um
conhecimento tcnico, que nas relaes cotidianas compartilhado como
se fosse um segredo de como fazer farinha de boa qualidade. Assim, ao
realizarem as prticas coletivamente, os agricultores criam possibilidades
para demonstrarem a experincia acumulada e promoverem a socializao
desse saber como uma prtica educativa.
Outro saber que emerge como parte do desenvolvimento das
prticas de fazer farinha, o saber peneirar. Ao referir-se a essa prtica,
uma agricultora explicou: quando a massa vem l da prensa, ela ainda
vem com uns pedaos de mandioca (AFM, 02). O saber peneirar permite,
entretanto, que a massa passe por um processo de refinamento. Assim,
descascar e peneirar so os primeiros saberes que so ensinados aos que
esto aprendendo a fazer farinha, conforme demonstra o discurso:
Eu iniciei com meu pai, porque a gente aprende logo com a
famlia da gente, assim como meus filhos vo aprendendo com
a gente, desde, peneirar uma massa, que isso que tu d conta,
vai descascar uma mandioca, a a gente vai aprendendo, vai
crescendo e vai aprendendo cada vez mais, n? (AFM, 02).
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Esse saber prtico orienta no s a disposio dos instrumentos
de fabricao da farinha, mas, tambm as interferncias que fenmenos
da natureza podem ocasionar nas condies de trabalho dos agricultores.
Freire (2008) considera que a prtica nos ensina, ou seja, no trabalho,
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o ser humano usa o corpo inteiro, e isso faz dos trabalhadores da roa,
intelectuais tambm.
Guarda em cima, pras crianas no pegarem e ficar mexendo
no cho. Ento parou o servio, boto l e quando for torrar, se
ficar sujo o cabo, a pessoa tem que lavar, botar pra enxugar, pra
quando chegar a hora de torrar, j est no jeito de sair (AFM, 02).
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o outro, jogam pra cima, como mostra a figura 05, prtica que requer uma
multiplicidade de movimentos corporais. Talvez, por isso, nem todos os
torradores conseguem ter domnio dessa habilidade: eu no sei jogar
a farinha pra cima (AFM, 01), afirmou o mais experiente produtor de
farinha da Casa Mutiro.
FIGURA 05 A FINALIZAO DA TORRAO
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Consideraes finais
Na introduo foi revelada a inteno dessa pesquisa transgredir
a ideia das casas de farinha ser consideradas apenas como espaos de
produo material. Nesse sentido, o dilogo com tericos de vrias reas
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CAPTULO 3
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do Par, Belm, 2011.
SILVA, Maria das Graas da. O cuidar da casa e do ambiente. In: TEIXEIRA, Elizabeth
(Org.). Rede de saberes e afetos. Belm: EDUEPA, 2008.
81
Parte II
REPRODUO SOCIOECONMICA
CAPTULO 4
HOMENS, MULHERES E ARTEFATOS NA
PRODUO DA FARINHA DE MANDIOCA NO ALTO
RIO JURU-ACRE
Introduo
A farinha de mandioca conhecida como Farinha de Cruzeiro
do Sul produzida em grandes quantidades e comercializada em
municpios do Alto Rio Juru, Estado do Acre. Possui destaque de venda
nos estados vizinhos, sobretudo nas cidades de Manaus e Porto Velho,
e alcana, ainda o Estado do Paran2. Adquiriu reputao favorvel
em decorrncia das caractersticas que apresenta e por qualidades que
se revelam no paladar, por se tratar de uma farinha especial. Nos
ltimos anos, vrias cooperativas e instituies pblicas interessaramse pelo potencial econmico desta farinha de mandioca e passaram a
explorar meios de valorizar esse produto e de melhorar a sua qualidade,
pois foi considerada sem uniformidade, em decorrncia do processo
de produo (VELTHEM e KATZ, 2012). Paralelamente, iniciativas
governamentais procuram garantir a tradio de produo artesanal da
1 MPEG/SCUP Ministrio da Cincia, Tecnologia e Inovao.
2 Os comerciantes de Cruzeiro do Sul afirmam que a farinha que produzem misturada no Paran farinha local
para dar-lhe tempero e assim torna-la mais saborosa.
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5 Foram entrevistadas vinte e nove famlias. Dezesseis vivem em stios nos ramais dos Paulino, dos Macacos e dos
Cruz -So Pedro - e treze na comunidade de Belfort e Caxixo.
6 Os stios so identificados nominalmente, tais como So Jos, Boa Esperana, Deus me Ajude, So Raimundo,
Boa Vista e outros.
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Fonte: LHVV.
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Fonte: LHVV.
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Fonte: LHVV.
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12 Para referncias mais completas sobre estes artefatos consultar Velthem (2008).
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Fonte: LHVV.
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Fonte: LHVV.
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Fonte: LHVV.
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Fonte: LHVV.
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Fonte: LHVV.
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Fonte: LHVV.
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107
CAPTULO 5
MULHERES E PATRIARCADO: RELAOES DE
DEPENDNCIA E SUBMISSO NAS CASAS DE
FARINHA DO AGRESTE ALAGOANO
Introduo
A diviso de trabalho entre indivduos e grupos advm do incio
da vida humana grupal, podendo ser encontrada em todas as sociedades
do passado e contemporneas; contudo guardando formas peculiares
decorrentes do processo histrico e civilizatrio de cada povo, nao ou
grupo.
Segundo Carloto (2001), a diviso sexual do trabalho uma
constante na histria das mulheres e homens. E as explicaes para tal,
frequentemente, apoiam-se no discurso do determinismo biolgico que
1 Doutoranda em Administrao. Universidade Federal de Alagoas Campus Arapiraca. Av. Manoel Severino
Barbosa, s/n, Bom Sucesso, Arapiraca AL, CEP: 57309-005. E-mail: [email protected].
2 Doutora em Administrao. Universidade de Fortaleza. Av. Washington Soares, 1321, Bloco P, Sala 17, Bairro
Edson Queiroz, Fortaleza CE, CEP: 60811-905. E-mail: [email protected].
3 Pesquisadora. Universidade Federal de Alagoas. Av. Manoel Severino Barbosa, s/n, Bom Sucesso, Arapiraca AL,
CEP: 57309-005. E-mail: [email protected].
4 Doutoranda em Administrao. Universidade Federal de Pernambuco Centro Acadmico do Agreste. Rodovia
BR-104, Km 59 - Nova Caruaru, Caruaru - PE, 55002-970. E-mail: [email protected].
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127
CAPTULO 6
A Organizao dos assentados da reforma
agrria para o processamento da
mandioca: o caso de Capo do Cip - RS
Introduo
Nos ltimos vinte anos tm sido intensos os debates em torno
da importncia da agricultura familiar no cenrio agrcola e agrrio do
pas. Abramovay (1998, p.57) destaca a agricultura familiar como capaz
de fornecer melhores condies de vida ao homem rural, considerando
este local como possuidor de valores da tradio, do folclore e da pureza,
contrapostas ao cenrio urbano, onde estas caractersticas no estariam
mais presentes. Para o autor faz parte dos valores que a agricultura
familiar incorpora a primazia do desenvolvimento e do poder locais e a
1 Doutor em Extenso Rural, Pesquisador e Coordenador do grupo NEMAD, Pesquisador do grupo NEPALS,
Professor do PROIPE Programa de Inovaes Pedaggicas da UFSM. E-mail: [email protected].
2 Zootecnista, Msc. Extenso Rural, Doutor pelo Programa Interdisciplinar em Cincias Humanas, Prof. do
Departamento de Educao Agrcola e Extenso Rural da UFSM, Coordenador do Ncleo Interdisciplinar em
Extenso e Pesquisa sobre Alimentao e Sociedade NEPALS. E-mail: [email protected].
3 Tecnloga em Gesto de Cooperativas, Engenheira Agrnoma, Mestranda em Extenso Rural pela Universidade
Federal de Santa Maria, pesquisadora do grupo NEPALS-UFSM; E-mail: [email protected].
129
FARINHEIRAS DO BRASIL
Tradio, Cultura e Perspectivas da Produo Familiar de Farinha de Mandioca
ideia de que, neste plano, os negcios pblicos podem ser geridos com a
participao direta dos cidados.
De acordo com Oliveira e Ribeiro (2002), a agricultura familiar
pode ser vista como uma possvel alternativa para um desenvolvimento
rural menos excludente e ambientalmente mais equilibrado. Destacamse suas caractersticas especficas no tocante produo capaz de gerar
renda e ocupao para um contingente expressivo, alm de contribuir
econmica e socialmente, atravs da produo de alimentos, da
distribuio mais equitativa da renda e no fortalecimento dos laos
comunitrios e organizacionais.
Como reconhecimento deste potencial da agricultura familiar e a
considerando como instrumento de preservao dos recursos naturais, o
estado brasileiro tem destinado a este segmento um conjunto de polticas
pblicas, as quais vo desde o crdito, os servios de Assistncia Tcnica
e Extenso Rural - ATER, comercializao4 e programas de formao
para as famlias agricultoras. Alm destas polticas de ao conjuntural,
ressaltam-se aquelas que tm o objetivo de reestruturar as relaes cidadecampo, destacando-se neste aspecto os incentivos agroindustrializao
das matrias-primas agrcolas e os projetos de assentamentos de reforma
agrria.
A primeira poltica busca reintroduzir nos espaos rurais o
processamento das matrias-primas agrcolas, o qual nos anos 1950
foi assumido pelas grandes agroindstrias processadoras de alimentos
em uma conjuntura em que a legislao sanitria constituiu barreiras
intransponveis para os agricultores familiares e pequenas unidades
processadoras (SILVEIRA e ZIMERMANN, 2004; GUIMARES
e SILVEIRA, 2007, SULZBACHER, 2011). A segunda visa alterar a
estrutura fundiria vigente, redistribuindo a posse da terra no Brasil.
No entanto, tais polticas apresentam limites, os quais tm razes
no modelo agrcola brasileiro que privilegia a monocultura voltada
130
4 Neste caso, assume destaque pelo nmero de beneficiados o PAA Programa de Aquisio de Alimentos
gerenciado pela CONAB- Companhia Nacional de Abastecimento e o PNAE Programa Nacional de Alimentao
Escolar, gestado pelo MDA Ministrio do Desenvolvimento Agrrio em parceria com as instituies de ao local.
PARTE ii
Captulo 6
131
FARINHEIRAS DO BRASIL
Tradio, Cultura e Perspectivas da Produo Familiar de Farinha de Mandioca
132
6 Considera-se aqui uma cadeia produtiva tradicional aquela em que os compradores so conhecidos e as regras de
relacionamento entre os diferentes agentes envolvidos so de conhecimento pblico.
PARTE ii
Captulo 6
133
FARINHEIRAS DO BRASIL
Tradio, Cultura e Perspectivas da Produo Familiar de Farinha de Mandioca
134
PARTE ii
Captulo 6
A experincia vivenciada
1. As primeiras tratativas
Quando da atuao como professor da rede pblica estadual do
Rio Grande do Sul na Escola Estadual Chico Mendes no assentamento
Sep Tiaraj, no ano de 2008, o primeiro autor deste artigo foi convidado
por um grupo de agricultores familiares dos Assentamentos Nova
Santiago (conhecido como Santa Rita), Sep Tiaraj, 14 de Julho e
Nova Esperana no municpio de Capo do Cip, para uma reunio. O
objetivo deste encontro era para contribuir na busca de alternativas que
possibilitassem viabilizar novas fontes de renda para estes agricultores
familiares que se encontravam com problemas financeiros, oriundos da
quebra de safra da soja, a qual era produzida em monocultura.
Com a presena de cerca de oitenta agricultores dos quatro
assentamentos foram discutidos vrias possibilidades, sendo que entre as
quais as duas que mais receberam a aceitao foram: a produo de canade-acar para ser comercializada na usina de produo de lcool que
se localiza no municpio de Porto Xavier; e a produo e transformao
da mandioca com a possibilidade de produzir a farinha de mandioca,
comercializar a mandioca pr-cozida e embalada a vcuo. Esta segunda
hiptese foi muito bem aceita pelos agricultores familiares assentados.
FIGURA 1 REUNIO COM PRODUTORES
135
FARINHEIRAS DO BRASIL
Tradio, Cultura e Perspectivas da Produo Familiar de Farinha de Mandioca
136
8 Grande parte dos habitantes do municpio direta ou indiretamente est envolvida com a agricultura, tendo acesso
aos alimentos produzidos localmente.
9 Entende-se aqui os agricultores familiares da regio que no so assentados da reforma agrria.
PARTE ii
Captulo 6
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Tradio, Cultura e Perspectivas da Produo Familiar de Farinha de Mandioca
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PARTE ii
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PARTE ii
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PARTE ii
Captulo 6
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CAPTULO 7
Produo de farinha de mandioca e de
farinha de tapioca no estado do par
como oportunidades de negcios para
empreendedores e agricultores na amaznia
Alves2
Introduo
Pessoas em todo o mundo, principalmente aquelas que possuem
perfil empreendedor, possuem o sonho de abrir seu prprio negcio e
conduzir um empreendimento lucrativo. Em 2013, foram constitudas no
Brasil 471.915 empresas (DEPARTAMENTO..., 2013), portanto, estimase que quase um milho de brasileiros, cerca de 1 a cada 212 pessoas,
tenham realizado seu sonho pela primeira vez ou resolveu abrir outra
empresa em 2013, sem contar os microempreendedores individuais. Essa
estatstica contabiliza predominantemente os empreendimentos urbanos
que esto regularizados, ficando de fora milhares de empreendedores
rurais que trabalham na informalidade.
1 Eng.-agrn. Especialista em Marketing e Agronegcio. Analista da Embrapa Amaznia Oriental. Tv. Dr. Enas
Pinheiro, s/n, Caixa Postal 48, CEP 66.095-100, Belm, PA. E-mail: [email protected].
2 Eng.-agrn. M.Sc. em Agronomia. Pesquisador da Embrapa Amaznia Oriental. E-mail: raimundo.brabo-alves@
embrapa.br.
147
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Tradio, Cultura e Perspectivas da Produo Familiar de Farinha de Mandioca
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PARTE ii
Captulo 7
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PARTE ii
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PARTE ii
Captulo 7
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Tradio, Cultura e Perspectivas da Produo Familiar de Farinha de Mandioca
Recepo de Raiz
de Mandioca
O manual
Descascamento
Imerso em tanque com gua
por 15 minutos para lavagem
Esfarelamento mecnico
(desintegrar a massa)
Esfarelamento mecnico
(desintegrar a massa)
Torragem manual
Torragem manual
Peneiraento manual
(grossa, media e fina)
Peneiraento manual
(grossa, media e fina)
Farinha de mandioca
seca pronta para
consumo
154
Recepo de Raiz
de Mandioca
Farinha de mandioca
dgua pronta para
consumo
PARTE ii
Captulo 7
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PARTE ii
Captulo 7
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Tradio, Cultura e Perspectivas da Produo Familiar de Farinha de Mandioca
Setembro/2011
Junho/2014
R$ 1,00
ms
R$ 1,00
ms
R$ 1,00
ms
1. INVESTIMENTO
INICIAL
34.367,85
37.896,65
38.182,65
1.1. Equipamentos e
construo civil
20.580,00
20.580,00
20.580,00
4.400,00
4.400,00
4.400,00
3.124,35
3.445,15
3.471,15
2. CUSTOS
18.431,50
61.756,50
22.710,50
1.371,50
1.371,50
971,50
17.060,00
60.385,00
21.739,00
2.2.1. Mo de obra
direta
4.892,00
8.100,00
8.760,00
2.2.2. Materiais
diretos
12.168,00
52.285,00
12.979,00
3. RECEITA
OPERACIONAL
18.960,00
70.720,00
24.520,00
18.480,00
70.000,00
23.800,00
480,00
720,00
720,00
4. LUCRO
OPERACIONAL
528,50
8.963,50
1.809,50
4.1. Contribuio
social (10% do
item 4)
52,85
896,35
180,95
5. SUB-TOTAL
475,65
8.067,15
1.628,55
5.1. Imposto de
renda
0,00
2.218,47
0,0
475,65
5.848,68
1.628,55
1.900,00
10,0
10.335,00
14,6
2.781,00
11,3
279,27
247,03
267,18
9. LUCRATIVIDADE
9,98
6,84
8,82
10. TAXA DE
RETORNO / PRAZO
DE RETORNO
1,38
72,2
15,4
6,5
4,27
23,4
6. LUCRO LQUIDO
7. MARGEM DE
CONTRIBUIO
8 PONTO DE
EQUILBRIO
(SACOS)
158
Maro/2013
PARTE ii
Captulo 7
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PARTE ii
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FARINHEIRAS DO BRASIL
Tradio, Cultura e Perspectivas da Produo Familiar de Farinha de Mandioca
Hidratao 48 horas
Hidratao 48 horas
Gomificao 4 horas
horas
Gomificao 4 horas
horas
Enxugamento
24 horas no vero
7 dias no inverno
Enxugamento
24 horas no vero
7 dias no inverno
Peneiramento Manual
Peneira de Guarum
Triturao da massa
em Cevadeira Eltrica
Encaroamento Manual
Peneira de 3 mm
Encaroamento em
Betoneira Eltrica
Escaldamento Manual
45 minutos
Peneiramento em
Plataforma Eltrica
Classificao
Escaldamento Manual
45 minutos
Classificao
Torragem Manual
20 minutos
Torragem em Forno
Mecnico
Peneiramento
retirada de impurezas
Peneiramento
retirada de impurezas
Ensacamento
FARINHA DE TAPIOCA
Peneiramento
retirada de impurezas
Ensacamento
FARINHA DE TAPIOCA
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Tradio, Cultura e Perspectivas da Produo Familiar de Farinha de Mandioca
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PARTE ii
Captulo 7
2013
2014
Funo
Quantidade
Torrador
580,00
1200,00
1.200,00
Encaroador
480,00
960,00
800,00
Peneirador/
(R$)
200,00
720,00
600,00
Embalador
480,00
678,00
728,00
TOTAL
1.740,00
3.558,00
3.328,00
Classificador
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Tradio, Cultura e Perspectivas da Produo Familiar de Farinha de Mandioca
Discriminao
Junho/2014
ms
R$ 1,00
ms
R$ 1,00
ms
1. INVESTIMENTO
INICIAL
27.932,44
48.739,93
52.258,09
1.1. Equipamentos e
construo civil
17.775,00
33.075,00
36.475,00
4.400,00
4.400,00
4.400,00
2.539,31
4.430,90
4.750,73
2. CUSTOS
10.975,13
29.393,08
26.264,26
1.478,13
3.276,03
3.304,36
9.497,00
26.117,05
22.959,90
2.2.1. Mo de obra
direta
1.740,00
3.558,00
3.328,00
2.2.2. Materiais
diretos
7.757,00
22.559,05
19.631,90
3. RECEITA
OPERACIONAL
11.825,00
34.115,00
32.107,50
11.700,00
33.915,00
31.920,00
3.2.Venda de farinha
para sorvete
125,00
200,00
187,50
4. LUCRO
OPERACIONAL
849,87
4.721,92
5.843,24
4.1. Contribuio
social (10% do
item 4)
84,98
472,19
584,32
5. SUB-TOTAL
764,89
4.249,73
5.258,24
5.1. Imposto de
renda
0,00
1.168,67
1.446,20
764,89
3.081,06
3.812,72
2.328,00
19,7
7.997,95
23,4
9.147,60
28,5
168,85
345,80
328,30
9. LUCRATIVIDADE
5,08
4,27
3,51
10. TAXA DE
RETORNO/PRAZO
DE RETORNO
2,74
36,5
6,32
15,82
7,30
13,7
6. LUCRO LQUIDO
7. MARGEM DE
CONTRIBUIO
8 PONTO DE
EQUILBRIO
(SACOS)
166
Maro/2013
R$ 1,00
PARTE ii
Captulo 7
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PARTE ii
Captulo 7
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170
PARTE ii
Captulo 7
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171
FARINHEIRAS DO BRASIL
Tradio, Cultura e Perspectivas da Produo Familiar de Farinha de Mandioca
172
PARTE ii
Captulo 7
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173
Parte III
Identidade e territorialidade
CAPTULO 8
A multitransterritorialidade dos territrios
camponeses da farinha no vale do juru acre
Introduo
Nesses primeiros anos do sculo XXI a abordagem geogrfica
focalizada no conceito de territrio tem se expandido significativamente,
se levarmos em considerao o mesmo perodo do sculo passado. Com
isso, o prprio conceito que era restrito ao espao dominado, passa a
aderir os aspectos sociais, culturais e econmicos de um povo circunscrito
a certo lugar no espao geogrfico, dando margem a novas interpretaes
mais abrangentes.
Diversos so os autores que se propem a descrever os territrios,
seus processos de construes/criaes e os agentes responsveis pela
1 Docente EBTT do IFAC Campus Rio Branco, Doutorando em Ensino de Biocincias e Sade FIOCRUZ/IOCRJ, Grupo de Pesquisas Relaes Sociais e Educao RESOE.
2 Graduandos em Agroecologia, Instituto de educao, cincia e tecnologia do Acre IFAC/ Campus Cruzeiro do
Sul.
175
FARINHEIRAS DO BRASIL
Tradio, Cultura e Perspectivas da Produo Familiar de Farinha de Mandioca
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PARTE iiI
Captulo 8
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PARTE iiI
Captulo 8
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PARTE iiI
Captulo 8
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Tradio, Cultura e Perspectivas da Produo Familiar de Farinha de Mandioca
182
3 Fornecimento aos seringueiros de gneros alimentcios e utenslios necessrios para o trabalho de extrao do
ltex no seringal (ALBUQUERQUE, 2001).
PARTE iiI
Captulo 8
183
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PARTE iiI
Captulo 8
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PARTE iiI
Captulo 8
Hortalias
Frutas
Arroz
Feijo
Milho
Mandioca
Menos de 1
13
21
03
08
06
05
15
03
05
02
03
29
5 10
01
01
03
11 20
01
Total
16
28
06
08
09
37
187
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Hortalias
Frutas
Arroz
Feijo
Milho
16
18
03
06
05
Mandioca
1
100 200
07
02
01
201 300
03
301- 400
01
400 500
02
500 a 1000
04
Mais de 1000
03
19
Total
16
32
06
08
09
37
188
PARTE iiI
Captulo 8
189
FARINHEIRAS DO BRASIL
Tradio, Cultura e Perspectivas da Produo Familiar de Farinha de Mandioca
Famlia
Assalariado temporrio
Parceiro
Analfabeto
15
02
06
Fundamental incompleto
02
05
11
Fundamental completo
20
01
Total
37
07
18
190
PARTE iiI
Captulo 8
191
FARINHEIRAS DO BRASIL
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PARTE iiI
Captulo 8
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PARTE iiI
Captulo 8
Referncias
195
CAPTULO 9
FARINHEIRAS NO LITORAL DO PARAN: UMA
ANLISE A PARTIR DA NOO DE SISTEMA
AGROALIMENTAR LOCALIZADO - SIAL FARINHEIRAS
Introduo
A noo de Sistema Agroalimentar Localizado (SIAL) pode
contribuir para a construo de um enfoque agroalimentar de base
territorial que permite compreender o funcionamento e organizao de
um conjunto de atividades produtivas e sociais no meio rural. Possibilita
pensar estratgias para dinamizar a agroindstria familiar com o intuito
de contribuir para a gerao de renda e auxiliar na reproduo social dos
agricultores.
1 Doutor em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pela UFRRJ/CPDA. Professor da Universidade Federal do
Paran Setor Litoral e Coordenador do Programa de Ps-Graduao em Desenvolvimento Territorial Sustentvel,
PPGDTS/UFPR. E-mail: [email protected]
2 Doutora em Desenvolvimento Econmico pela UFPR/PPGDE. Professora da Universidade Federal do Paran
Setor Litoral e do Programa de Ps-Graduao em Desenvolvimento Territorial Sustentvel, PPGDTS/UFPR.
E-mail: [email protected]
3 Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pelo PPGMADE/UFPR. Doutoranda no Programa de PsGraduao em Sociologia da UFPR. E-mail: [email protected]
197
FARINHEIRAS DO BRASIL
Tradio, Cultura e Perspectivas da Produo Familiar de Farinha de Mandioca
198
PARTE iiI
Captulo 9
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FARINHEIRAS DO BRASIL
Tradio, Cultura e Perspectivas da Produo Familiar de Farinha de Mandioca
farinha (farinhar). Por fim, as farinheiras comunitrias caracterizamse por serem agroindstrias que foram construdas atravs de polticas
pblicas (Paran 12 Meses), visando atender a grupos de famlias. So
farinheiras que possuem infraestrutura fsica construdas em alvenaria e
buscavam atender as exigncias da legislao sanitria em vigor na poca
(praticamente todas estas unidades esto desativadas).
Litoral Sul
Litoral Norte
Ativas
Autoconsumo
Inativas
Comunitrias
Total
Antonina
11
19
Guaraqueaba
10
13
30
Morretes
14
Guaratuba
17
27
48
Matinhos
Paranagu
17
Pontal do Paran
Total
54
56
15
133
200
PARTE iiI
Captulo 9
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FARINHEIRAS DO BRASIL
Tradio, Cultura e Perspectivas da Produo Familiar de Farinha de Mandioca
202
4 Uma discusso que evidencia as distines entre Distritos Industriais, Sistemas Produtivos Localizados e Sistemas
Agroalimentares Localizados pode ser encontrada em Muchnik et al. (2008).
PARTE iiI
Captulo 9
203
FARINHEIRAS DO BRASIL
Tradio, Cultura e Perspectivas da Produo Familiar de Farinha de Mandioca
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PARTE iiI
Captulo 9
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FARINHEIRAS DO BRASIL
Tradio, Cultura e Perspectivas da Produo Familiar de Farinha de Mandioca
206
5 As dimenses evidenciam, segundo Muchnik (2006, p 10-11), laos histricos atravs da origem e das referncias
indenitrias dos atores; laos materiais inerentes ao tipo de solo, clima, paisagem, tcnicas etc,; e laos imateriais
relacionados a imagem do territrio, sua cultura, seus saberes e tradies etc.
PARTE iiI
Captulo 9
207
FARINHEIRAS DO BRASIL
Tradio, Cultura e Perspectivas da Produo Familiar de Farinha de Mandioca
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PARTE iiI
Captulo 9
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PARTE iiI
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Referncias
216
PARTE iiI
Captulo 9
217
CAPTULO 10
A FEITURA DA FARINHA: NOTAS ETNOGRFICAS DE
UMA FARINHADA NO ALTO SERTO DA BAHIA
Introduo
Este texto tem sua origem nas impresses obtidas em momentos
da pesquisa de campo na comunidade camponesa de Lagoa do Saco,
localizada no municpio de Monte Santo-BA, lcus da minha pesquisa
de mestrado sobre a produo local de farinha de mandioca e sua relao
com a identidade do grupo em questo. Muito do que aqui exposto
tm sua origem na investigao sobre os variados hbitos alimentares e
nos momentos de leitura de textos, que deram descanso ao levantamento
bibliogrfico e fizeram brotar palavras sortidas para qualquer uso e para
qualquer graa. Como nos tempos da escola, os mitos e suas explicaes
sobre a inveno das formas, dos contedos, das tcnicas, das aes,
dos sentimentos, dos potenciais dos homens do Mundo e dos Deuses,
ilustraram o processo de compreenso acerca da diferena entre o
alimento e a comida.
1 Cientista Social e Mestre em Cultura e Sociedade- UFBA. Pesquisadora do Ncleo de Estudos Ambientais e
Rurais (NUCLEAR)- Faculdade de Filosofia e Cincias Humanas /Universidade Federal da Bahia. E-mail:
[email protected].
219
FARINHEIRAS DO BRASIL
Tradio, Cultura e Perspectivas da Produo Familiar de Farinha de Mandioca
220
2 Demter ou Demetra (em grego: , deusa me ou talvez me da distribuio) uma deusa grega, filha
de Cronos e Reia, deusa da terra cultivada, das colheitas e das estaes do ano. propiciadora do trigo, planta
smbolo da civilizao. Na qualidade de deusa da agricultura, fez vrias e longas viagens com Dionsio ensinando os
homens a cuidarem da terra e das plantaes. Fonte: http://www.brasilescola.com/mitologia/demetra.htm. Acesso
em: 02 de junho de 2014.
3 Gaia, a segunda divindade primordial segundo a mitologia grega, surgiu apenas depois de Caos, representando
a Terra. Com uma enorme potencialidade geradora, Gaia gera pontos, montanhas e seu principal filho e posterior
esposo, Urano. http://www.brasilescola.com/mitologia/gaia.htm. Acesso em: 02 de junho de 2014.
4 O Suplcio de Tntalo: Tntalo, filho de Zeus e de Plota, era rei da Frgia. Muito querido entre os deuses,
freqentemente era convidado a partilhar das suas refeies no Olimpo. Durante um desses banquetes,
Tntalo abusou da confiana dos deuses roubando-lhes um pouco de nctar e ambrosia, alimentos que davam
a imortalidade, porm um privilgio somente do Olimpo. Tntalo, julgou que tambm era um deus poderoso
e convidou os deuses para um jantar em sua casa, servindo-lhes como refeio, o seu prprio filho Plops em
pedaos, para testar a divindade dos deuses. Os convidados deram conta do crime de Tntalo, mas Demter comeu
o ombro de Plops. Tntalo foi condenado ao suplcio de fome e de sede eternas. Mergulhado em guas at ao
pescoo, quando ele se debruava para beber gua, esta desaparecia. Por cima de sua cabea, pendiam ramos de
rvores com frutos saborosos, porm o vento retirava do seu alcance sempre que tentava apanh-los. O aviso
dos deuses ficou na memria de todos: todo ser humano que provar da ambrosia dos deuses seria condenado ao
suplcio de Tntalo. http://consumonobrasil.wordpress.com/2013/05/28/mitologia-grega-o-suplicio-de-tantalo/.
Acessado em: 02 de junho de 2014.
5 Conta-se que e filha de um chefe indgena chamado de morubixaba apareceu grvida em uma determinada
aldeia. Seu pai (o morubixaba) lhe teria pressionado para que dissesse quem a tinha desonrado. Como ela no lhe
dissera, seu pai, resolveu mat-la como castigo; nessa ocasio crucial aparece um homem desconhecido, branco,
defendendo a menina, dizendo que esta era inocente e que realmente no tivera contato com nenhum homem.
Como o pai convenceu-se de que era mesmo verdade o que a sua filha lhe dissera, deixou que a gravidez prosseguisse.
Nascendo a menina viram que esta era branca, desembaraada, pois, com poucos meses falava e discorria sobre
tudo. Deram-lhe o nome de Mani. A menina atraiu muitas pessoas, inclusive povos vizinhos, curiosos para ver o
fenmeno da menina que era de raa diferente, tinha o dom da inteligncia e sabia coisas fantsticas para a sua
idade. Quando Mani completou um ano de idade, morreu sem explicao aparente. Enterraram-na prximo casa
de sua me. Como de costume jogavam sempre gua no lugar onde a menina fora enterrada. Pouco tempo depois
nasceu ali uma planta que eles ainda desconheciam, e deixaram-na crescer. Os pssaros que a comiam tinham
uma sensao de embriaguez, e com isso os indgenas ficaram admirados.Um dia fendeu-se a terra e tiraram o
seu excesso descobrindo, da planta, o tubrculo de sua raiz, no qual, acreditavam, estava representado o corpo de
Mani. Comeram o tubrculo e com ele tambm fizeram uma bebida fermentada, chamada cauim. Fonte: Clerot,
Leon F.R. Glossrio etimolgico dos termos de origem Tupi/Guarani, incorporados ao idioma nacional Braslia:
PARTE iiI
Captulo 10
221
FARINHEIRAS DO BRASIL
Tradio, Cultura e Perspectivas da Produo Familiar de Farinha de Mandioca
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7 O significado local de labuta est relacionado a trabalho muito grande que requer grande esforo fsico.
8 Mesmo existindo uma diviso do trabalho por gnero e gerao, deve ser lembrado que caso haja necessidade, as
mulheres podem trabalhar na roa e os homens na malhada. Em anos ideais de chuva, os trabalhos aumentam e a
produo tambm, a diviso do trabalho reconfigurada para que as metas sejam cumpridas.
PARTE iiI
Captulo 10
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PARTE iiI
Captulo 10
Fonte: desenhado pela pesquisadora durante pesquisa de campo, outubro de 2012. Local: Lagoa do Saco, Monte
Santo BA.
229
FARINHEIRAS DO BRASIL
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Plantar a mandioca
Arrancar
Atividade masculina
Carregar (Carrada)
Atividade masculina
Descarregar
Atividade masculina
Raspar
Lavar
Trabalho coletivo
Ralar
Lavar
Trabalho coletivo
Tirar a goma
Atividade feminina15
Prensar
Atividade masculina
Torrar
Atividade masculina
Peneirar
Atividade feminina
Ensacar
Atividade masculina
Fonte: dados primrios levantados em trabalho de campo pela pesquisadora, outubro de 2012.
Local: Lagoa do Saco, Monte Santo BA.
230
amplamente difundida no Brasil. A goma da tapioca, ao ser espalhada em uma chapa ou frigideira aquecida,
coagula-se e vira um tipo de panqueca, em forma de pastel (ou disco, como em algumas regies). O recheio varia
de lugar para lugar.
14 Outro fato de grande relevncia: Em anos de grande estiagem, como foi o de 2012, a fcula ou a goma utilizada
na feitura dos beijus foi comprada pela Associao atravs de cooperativas do Estado do Paran, para que o contrato
com a CONAB, no fosse descumprido.
15 As atividades marcadas dizem respeito contrapartida doada para as participantes da raspagem. Toda mulher
que participa da raspagem da mandioca, leva um balde de goma para casa. Na maior parte das vezes, essa goma
PARTE iiI
Captulo 10
231
FARINHEIRAS DO BRASIL
Tradio, Cultura e Perspectivas da Produo Familiar de Farinha de Mandioca
232
agrcola, desinteresse dos mais jovens. O So Joo, est em vias de desaparecimento, sendo essa data marcada
apenas pela presena das fogueiras e dos pratos servidos nas casas das famlias (a festa h aproximadamente 15
anos atrs, era comemorada coletivamente. Os pratos eram servidos em uma grande mesa na frente da Igreja de
Nossa Senhora): pamonha, beiju, canjicas, laranjas, licor, milho cozido, carne de porco ou bode assados. Em anos
como o de 2012, os pratos servidos foram bastante reduzidos, existindo apenas a presena de alguns para no
passar a data em branco.
PARTE iiI
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PARTE iiI
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18 Syagruscoronata uma palmeira nativa do bioma Caatinga que pode chegar a ter 12 metros de altura.
conhecida popularmente como ouricuri, licuri, alicuri, aricu, aricuri, buti, butiazeiro, coco-cabeudo, coqueirocabeudo, iricuri, licurizeiro, nicuri, uricuri, urucuriibaenicuri-de-caboclo. Seus frutos so comestveis e de suas
sementes pode-se extrair leo vegetal. As fibras das folhas so matria-prima para a confeco de chapus e outros
objetos artesanais. Os frutos so amndoas, e so utilizados na indstria alimentcia para diversos produtos, como
tambm consumido in natura. As amndoas tm grande quantidade de leo, variando em torno de 40%, e so
utilizadas na fabricao de azeite, e o subproduto, originado da prensa dessas amndoas, na torta do licuri, usada
na alimentao animal. Fonte: www.comidanacabeca.com. Acesso: 20 de junho de 2014.
19 A relao mencionada entre fora e satisfao diz respeito noo de fartura e o ato de comer. Sua concepo
est interligada satisfao fsica e satisfao dos desejos individuais e coletivos. Assim, a noo de fartura, fora
e satisfao enquanto uma experincia emocional construda historicamente est intimamente ligada feitura da
farinha.
PARTE iiI
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PARTE iiI
Captulo 10
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FARINHEIRAS DO BRASIL
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Preta, Dona Bertulina, Seu Z de Elia, Jos Nilton e Dona Josefa, que
so todos juntos os donos dessa histria. Meus sinceros e emocionados
agradecimentos!
Referncias
242
PARTE iiI
Captulo 10
243
PARTE IV
RELAES ENTRE SOCIEDADE E
NATUREZA
CAPTULO 11
FORNOS QUENTES, TERRA VESTIDA
Introduo
Entre estudos e debates que se dedicam a refletir sobre
territorialidades quilombolas, a histria do Quilombo Frechal, na Baixada
Ocidental do Maranho, emerge clssica, seminal. Primeiro grupo
reconhecido pelo Estado como remanescente de comunidade de quilombo
no Brasil2, aps o contexto inaugurado pela Constituio Federal de 1988,
Frechal contribuiu, por meio de sua resistncia histrica, com as prprias
redefinies conceituais e polticas que possibilitaram a incorporao do
artigo 68 ao Ato das Disposies Constitucionais Transitrias (ADCT),
garantindo que aos remanescentes das comunidades de quilombos que
estejam ocupando suas terras reconhecida a propriedade definitiva,
devendo o Estado emitir-lhes os ttulos respectivos.
No foi um ttulo de terras definitivo, contudo, que coroou a
1 Jornalista e mestre em Geografia Humana pela Universidade de So Paulo (USP). Endereo eletrnico: nat.
[email protected].
2 O parecer da Fundao Palmares que faz essa caracterizao foi exarado em 1992.
245
FARINHEIRAS DO BRASIL
Tradio, Cultura e Perspectivas da Produo Familiar de Farinha de Mandioca
246
3 Criada, mais especificamente, pelo Decreto n 536, de 20 de maio de 1992, com 9.542 hectares.
4 Os ncleos de Frechal, Rumo e Deserto eram os principais ncleos da Fazenda Frechal e, hoje, da Resex
Quilombo do Frechal. Mas a ocupao do territrio no se reduzia ou reduz a eles (Guerrero, 2012). H um nmero
equiparvel de famlias em um processo de reconhecimento que se estende h alguns anos. Nesse sentido, ver
Guerrero (2012) e Tassan (2009).
5 Para reflexes sobre a luta que surge entre os seringueiros do Acre nas dcadas de 1970 e 1980 e que resultar nas
linhas das reservas extrativistas como poltica pblica, ver Pantoja (1997), Porto-Gonalves (2003) e Barbosa de
Almeida (2004).
PARTE iV
Captulo 11
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FARINHEIRAS DO BRASIL
Tradio, Cultura e Perspectivas da Produo Familiar de Farinha de Mandioca
248
7 Para consideraes adicionais a respeito da historiografia maranhense e a forma que consagra uma agricultura
sem agricultores, ver Berno de Almeida (2008a).
PARTE iV
Captulo 11
8 Em alguns desses relatos, esse episdio envolto em uma ambiguidade temporal, ora situado no sculo XX, com
Arthur Coelho de Souza, ora remontando ao sculo XIX, com seu pai, Zezinho Coelho de Souza.
249
FARINHEIRAS DO BRASIL
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250
PARTE iV
Captulo 11
ter sua moradia e roas no interior da fazenda, desde que pagassem aos
proprietrios a renda da terra em produto, em uma porcentagem que
variava de acordo com o cultivo meia, no caso da cana-de-acar, e um
paneiro9 de farinha por linha10 plantada, no caso da mandioca.
Alm disso, desses povoados se originaram muitos
administradores ou encarregados, ou seja, trabalhadores designados para
coletar esse pagamento entre os outros moradores da fazenda, conferindo
a quantia devida de acordo com o tamanho das reas cultivadas e atuando,
assim, de forma complementar aos funcionrios diretos dos fazendeiros.
Nas palavras de um dos mais idosos moradores de Rumo:
Era medio de terreno, era fazimento de servio da fazenda.
Tinha os empregados l da fazenda, mas eles [meu pai e meu
tio] que administravam aqui o Rumo. Quem ia tirar ordem para
roagem ia tirar direto l, mas eles que faziam aqui a reviso.
251
FARINHEIRAS DO BRASIL
Tradio, Cultura e Perspectivas da Produo Familiar de Farinha de Mandioca
252
PARTE iV
Captulo 11
So Lus. [...] Os pretos dela, como ela chamava. Sobre essa prestao
de favor ou servio, diz de Mundoca um antigo morador de Frechal, Jos
de Silva, j falecido: se ela queria buscar um ferro em Pinheiro, ou outra
qualquer coisa, a cada qual dava uma junta de boi e se ia buscar. Por que
todo mundo usava do canavial (Carvalho, 2001: 124-5).
Era, em suma, um sistema de relaes prximo ao que Martins
descreveu para a moradia de favor, em que se ultrapassam as relaes de
trabalho:
[...] a concepo de favor, como prestao pessoal, mas recproca,
envolve no apenas a produo material, mas a prpria lealdade
das partes: a defesa de supostos direitos de propriedade de um
fazendeiro, bem como o abrigo e proteo ao campons contra a
perseguio policial por um crime cometido (Martins, 1990: 36).
253
FARINHEIRAS DO BRASIL
Tradio, Cultura e Perspectivas da Produo Familiar de Farinha de Mandioca
O ltimo fazendeiro
A venda no tardou, e esperana restava engendrar a resistncia.
Das mos de Zuleide, a fazenda passaria, em 1969, pelo empresrio
descendente de dinamarqueses Adam Von Blow, at chegar, em 1974,
a Thomaz Melo Cruz11, fazendeiro sergipano radicado em So Paulo.
Iniciava-se ali um conflito que duraria mais de uma dcada e terminaria
por envolver muitos mais sujeitos dos que os diretamente ligados
Fazenda Frechal.
Cruz iniciou sua administrao dosando continuidades e rupturas,
muito a depender do grupo com quem tratava. Ele veio dum jeito,
botando muito dinheiro, lembra uma senhora quilombola de Frechal.
Cruz empregou trabalhadores de todos os povoados nas demandas da
fazenda medies, cobrana de foro, consertos e reformas. Por outro lado,
cuidando para que isso no significasse qualquer tipo de reconhecimento
sobre direitos territoriais daqueles grupos, o que constitua uma ameaa
a seu prprio direito como proprietrio, o fazendeiro fazia questo de
afirmar-se como patro, mantendo os camponeses como clientes de seus
favores, e no cidados de direito. Escola, sade e at energia eltrica foram
providos por Cruz, afastando a prefeitura de qualquer dever na rea.
No caso do povoado de Frechal, Cruz desejava ter o stio
limpo, ou seja, eliminar a ocupao em torno de seu recm-reformado
casaro colonial. Em expediente comum expropriao de agregados
(Moura, 1986), Cruz ofereceu dinheiro e outros agrados para que os
254
11 Na dcada de 1970, antes de receber as terras das mos de Adam von Blow, os negcios de Thomaz iam muito
bem. Em 1964, adquirira o controle acionrio da Concreto Redimix, gigante do ramo da construo pesada. A
partir de 1973, o advogado paulista iniciava sua expanso por estados do Nordeste.
PARTE iV
Captulo 11
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PARTE iV
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PARTE iV
Captulo 11
O advento da Resex
Ocorre que, a partir da dcada de 1980, a luta de Frechal
para permanecer na terra fortalecida e amplificada por apoiadores,
destacadamente por organizaes que j atentavam para as ameaas s
ento chamadas comunidades negras rurais. Fundamental mostrouse a rede de apoio propiciada pelo Centro de Cultura Negra (CCN) do
Maranho, um dos mais reconhecidos grupos do emergente movimento
negro fora do eixo Rio-So Paulo, ladeado com a Sociedade Maranhense
de Defesa dos Direitos Humanos (SMDDH).
Com a incluso do artigo 68 no Ato das Disposies Constitucionais
Transitrias (ADCT), em 1988, despontava no horizonte uma soluo
para Frechal, que resistia aos assdios cada vez mais violentos de Thomaz
Melo Cruz. Sucedeu-se, ento, um extenso leque de aes que buscava
justificar o direito de Frechal de ser amparada pelo artigo 68. Objetivo,
contudo, que s parcialmente seria atingido.
O reconhecimento veio, mas sem o ttulo de propriedade.
Parecer tcnico, exarado em 30 de maro de 1992 pela ento recmhabilitada Fundao Cultural Palmares (FCP), atribua a Frechal o
status de comunidade remanescente de quilombo. No entanto, apesar
dessa importante e histrica atribuio a primeira no Brasil no
foram emitidos os ttulos sobre o territrio de Frechal, nos termos das
disposies do artigo 68. O incio de 1992 trouxe uma alternativa para
solucionar o conflito fundirio em Frechal: a proposta de criao da
Resex Quilombo do Frechal.
O resultado uma sobreposio: a identidade quilombola, que
articularia o processo de territorializao, confrontada com um campo
identitrio das chamadas populaes tradicionais, a quem se destinam as
Resex13. Alterna-se, portanto, a base fundamental do pleito de Frechal,
13 Aqui importante dizer que nos identificamos com a crtica de autores que apontam a inadequao dos termos
populaes tradicionais para significar a realidade dos grupos em questo. Em uma anlise coerente, Berno de
Almeida (2008b) destaca o processo de mobilizao social que emergiu na dcada de 1980 e que configurou a
ao dos povos da floresta, bem como a atuao das entidades confessionais, que terminariam por consolidar a
reivindicao do termo comunidades. Ambos povos e comunidades seriam revestidos de uma conotao
poltica, ligada a um princpio de autodefinio, ausente no termo populaes, que acabou sendo abandonado em
certos contextos. Ou, como descreve o autor, estaramos diante de um deslocamento em que a noo de populaes
259
FARINHEIRAS DO BRASIL
Tradio, Cultura e Perspectivas da Produo Familiar de Farinha de Mandioca
260
tradicionais afastada mais e mais do quadro natural e do domnio dos sujeitos biologizados e acionada para
designar agentes sociais, que assim se autodefinem, isto , que manifestam conscincia de sua prpria condio
(ALMEIDA, 2008b, p. 38).
14 Lembre-se que, at a criao do Instituto Chico Mendes de Conservao da Biodiversidade, em 2007, cabia ao
Ibama levar adiante o processo de criao e a gesto das unidades de conservao federais.
PARTE iV
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16 Na Resex, mutiro designa a reunio de trabalhadores unidos por lao de vizinhana e compadrio para
desempenho de determinada tarefa, que pode ser de utilidade marcadamente pblica (limpeza de um caminho,
edificao de uma ponte) ou relativa a determinadas unidades familiares. Essa reunio pode configurar uma prtica
de ajuda mtua com ou sem intermediao financeira, ou seja, a convocao de trabalhadores pagos pelo seu dia de
trabalho na diria tambm chamada de mutiro.
PARTE iV
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268
17 As discusses de gesto da Resex em torno do uso dos recursos, provocadas pelo Instituto Chico Mendes de
Conservao da Biodiversidade (ICMBio), no partiam, segundo visto no perodo da pesquisa, de um esforo
para reconhecimento da apropriao do territrio pelos povoados, para identificao do manejo e do uso que j
eram tradicionalmente feitos. No h um esforo consistente, calcado em discusses e produo de conhecimento,
no sentido de incorporar as distintas dinmicas identitrias dos grupos, seus espaos de tomada de deciso, os
circuitos de poder gesto do territrio (Guerrero et. al., 2011).
PARTE iV
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PARTE iV
Captulo 11
MOURA, Margarida Maria. Os deserdados da terra. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1986.
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271
CAPTULO 12
A PRODUO DE FARINHA DE MANDIOCA EM
GUARAQUEABA- PR: ENTRE SUSTENTABILIDADE,
INTERAES E CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS
Introduo
As discusses sobre sustentabilidade emergem com fora em
meados da dcada de 1960, quando a ateno de cientistas, do poder
pblico e da sociedade civil convocada para a denncia da eminncia
de uma crise ambiental que despertava em mbito global. Esta chamada
de ateno teve o reforo de uma srie de informes publicados com vistas
denncia da crise e da realizao de eventos que propiciassem o debate
sobre a questo, promovessem a visibilidade da crise e possibilitassem a
tomada de decises sobre o futuro das relaes entre sociedade e natureza
no planeta com nfase especial sobre o que diz respeito aos graves danos
ambientais promovidos pelo modelo de industrializao que vinha sendo
1 Doutoranda em Sociologia (UFPR), Bolsista CAPES.
2 Doutor em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade (UFRRJ), Professor do Programa de Ps-Graduao em
Desenvolvimento Territorial Sustentvel (PPGDTS/UFPR).
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3 O desenvolvimento sustentvel resultou de estudos e discusses promovidos pela Comisso das Naes Unidas
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), criada para este fim, sendo divulgado/publicado em 1987
pelo Relatrio Nosso Futuro Comum e institucionalizado na Conferncia de 1992.
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na regio. Os entrevistados tambm informaram que a religio seguida por muitas famlias locais na atualidade
inibe a prtica de danas e festejos tradicionalmente realizados nas comunidades.
PARTE iV
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Contudo, nem todas as farinheiras familiares encontramse atualmente em uso nas comunidades, sendo que, por motivos
diversos, alguns produtores deixaram de utiliz-las, o que coloca em
risco a continuidade desta tradio bem como a memria material
nela envolta. Um destes motivos o no enquadramento das unidades
produtivas familiares locais nas normas de padronizao sanitria dos
estabelecimentos, as quais so previstas em mbito nacional pela Agncia
Nacional de Vigilncia Sanitria (ANVISA). Assim, foram instaladas
uma farinheira comunitria em Aungui e outra em Potinga, as quais
so destinadas ao uso pblico e coletivo das famlias ali residentes,
tendo sido implantadas por uma poltica pblica estadual e que tm sido
restauradas com o apoio de um Projeto de extenso universitria6 de
modo a obedecerem a padronizao estabelecida pela ANVISA.
Nesse sentido, impem-se, no mnimo, duas situaes diante
das comunidades e que as inserem necessariamente num [novo]
processo acentuado de transformao sociocultural: de um lado, com
o acesso a farinheiras adequadas padronizao sanitria, as famlias
6 As farinheiras comunitrias foram instaladas nas comunidades atravs de um Programa do governo do Estado do
Paran, em 2000, intitulado Paran 12 meses. A restaurao e adaptao destas unidades produtivas est sendo
realizada com o apoio do Programa de Extenso Universitria da UFPR Farinheiras no Litoral.
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7 As demandas do mercado convencional passam pela padronizao de produtos e modos de produo, onde
desconsideram-se saberes particulares enraizados na tradio local.
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8 O nmero total de empregos formais no municpio de cerca de 695, dos quais a maior parcela (475) se
concentram em atividades vinculadas administrao pblica.
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10 As reas de Reserva Legal so definidas, no caso do bioma Mata Atlntica, como uma poro de 20% de rea
coberta por vegetao nativa, a ser delimitada em cada propriedade, alm das APPs existentes no local. A vegetao
da reserva legal no pode ser suprimida, podendo apenas ser utilizada sob regime de manejo florestal sustentvel,
de acordo com princpios e critrios tcnicos e cientficos (Art. 16, LEI 4.771, 1965).
11 As unidades de conservao so diferenciadas conforme o grau de restries de uso estabelecidas. Assim, se
dividem, basicamente, em dois grupos, ou categorias de manejo: de Proteo Integral, onde o uso da rea
altamente restrito; e de Uso Sustentvel, onde permitido o desenvolvimento de atividades, porm, com algumas
restries. Estas ainda se subdividem em outras, seguindo o mesmo padro de restries (SNUC, 2000).
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Fonte: Adaptado da base cartogrfica do Instituto de Terras, Cartografia e Geocincias do Paran (ITCG), 2010
(apud IPARDES, 2010).
Legenda: a rea circulada apontada na figura representa o litoral do Paran, que, no mapa, encontra-se destacada
como a maior rea coberta por floresta original em conjunto com toda a rea de restinga do Estado.
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Concluso
Atravs das transformaes socioculturais que tm ocorrido
nas comunidades de Aungui e Potinga podem-se elencar alguns
elementos oriundos de uma cultura [capitalista] hegemnica que
passam a ser incorporados localmente. Isso pode ser notado, por
exemplo, no abandono de certa forma imposto de prticas coletivas
tradicionais como a realizao do mutiro e do festejo do fandango; na
insero da padronizao das unidades produtivas segundo normas
nacionais; na necessidade do aprendizado de novas prticas coletivas e
compartilhamento de espao em funo destas normas; dentre outras
tantas transformaes que se processam nesse conjunto. Todas estas
transformaes recentes que ocorrem nas comunidades estudadas podem
ser estendidas a um contexto mais amplo da sociedade, uma vez que
denotam possuir um fundo comum a muitas realidades na atualidade:
se configuram como situaes em que a ordem do capital e do sistema
hegemnico tem sido imposta sobre modos de vida tradicionais.
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