Domicílio
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Parte Geral – IV
Livro Eletrônico
DIREITO CIVIL
Parte Geral – IV
Carlos Elias
Sumário
Apresentação. . .................................................................................................................................. 3
Parte Geral – Parte IV. . .................................................................................................................... 4
1. Domicílio ........................................................................................................................................ 4
1.1. Noções Gerais............................................................................................................................. 4
1.2. Espécies de Domicílio.. ............................................................................................................. 7
1.3. Domicílio da Pessoa Jurídica.. ............................................................................................... 10
2. Bens............................................................................................................................................... 11
2.1. Bens e Coisas: Distinção......................................................................................................... 11
2.2. Semoventes..............................................................................................................................12
2.3. Classificação dos Bens. . .........................................................................................................13
Questões de Concurso.................................................................................................................. 38
Gabarito............................................................................................................................................ 43
Gabarito Comentado.....................................................................................................................44
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Apresentação
Meus queridos amigos e minhas queridas amigas, estamos seguindo um ritmo muito bom
de estudos.
Você está sendo muito bem preparado em Direito Civil.
Agora é hora de falarmos de domicílio e de bens. Ao final, iremos resolver exercícios!
Resumo
Amigos e amigas, quem tem pressa deve ler, ao menos, este resumo e, depois, ir para os
exercícios. É fundamental você resolver os exercícios e ler os comentários, pois, além de eu
aprofundar o conteúdo e tratar de algumas questões adicionais, você adquirirá familiaridade
com as questões. De nada adianta um jogador de futebol ter lido muitos livros se não tiver fa-
miliaridade com a bola.
Seja como for, o ideal é você ler o restante da teoria, e não só o resumo, para, depois, ir
às questões.
O resumo desta aula é este:
• Domicílio é a sede da vida jurídica da pessoa. Distingue-se de residência, porque este é
um mero lugar físico sem efeitos jurídicos;
• O domicílio da pessoa natural pode ser: voluntário, quando decorre da vontade, ou legal,
quando decorre de lei;
• O domicílio voluntário pode ser: geral (residência + ânimo definitivo) ou especial (como
o domicílio contratual do art. 78 do CC);
• O domicílio legal é imposto pela lei; as principais hipóteses estão no art. 76 do CC;
• O domicílio da pessoa jurídica de direito privado é o lugar da sua sede (diretoria e ad-
ministração), salvo previsão diversa no estatuto ou contrato sociais. Além disso, cada
estabelecimento também é domicílio para os atos lá praticados;
• Os bens podem ser classificados de duas principais formas: bens considerados em si
mesmos (imóveis/móveis, corpóreos/incorpóreos, consumíveis/inconsumíveis, divisí-
veis/indivisíveis, singulares/coletivos) e bens reciprocamente considerados (principal e
acessório);
• Há controvérsia em enquadrar a pertença como bem acessório ou como uma categoria
autônoma. Seja como for, a pertença não segue o principal, salvo lei, vontade ou circuns-
tâncias do caso. Em regra, não se lhe aplica o princípio da gravitação jurídica.
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Pluralidade domiciliar
Meus amigos e minhas amigas, o que mais você vai ter na vida são domicílios e residên-
cias depois de fazer o curso aqui do Gran Cursos Online, pois você ganhará muito dinheiro ao
passar no concurso que você deseja.
É bom, portanto, você saber tudo sobre domicílio. E vamos começar com esta questão:
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Domicílio é a sede da vida jurídica de uma pessoa, é o lugar onde ela pode ser encontrada
para efeitos jurídicos. Trata-se aqui de domicílio civil, ou seja, de um local que é relevante para
relações civis. Esse domicílio também será o vigente para os demais ramos do direito, se não
houver norma em sentido diverso. Por exemplo, no direito tributário, há o domicílio fiscal, local
onde a pessoa deve ser encontrada para efeito jurídico-tributário (art. 127, CTN). No direito
eleitoral, há o domicílio eleitoral como sede da vida jurídica para fins de obrigações e direitos
eleitorais (art. 42, Código Eleitoral – Lei 4.737/1965). Os domicílios eleitorais, fiscais e civis
não necessariamente coincidem. No caso do domicílio civil, as principais utilidades jurídicas
desse conceito é o de que, em regra, as ações judiciais devem ser propostas no juízo do domi-
cílio do réu (art. 46, CPC) e o de que se aplica a lei do país de domicílio da pessoa para reger
questões inerentes à sua condição de pessoa (art. 7º, LINDB).
Residência, por outro lado, é um mero local físico com o qual o seu titular mantém uma rela-
ção de fato sem querer ser encontrado lá para efeitos jurídicos. Se alguém reside em um lugar
onde não tem a intenção de ser encontrado para efeitos jurídicos (talvez queira ser encontrada
para tomar um café, para conversar, mas não para efeitos jurídicos), tal local não é domicílio,
e sim residência, salvo se houver alguma lei específica em sentido contrário. A residência não
tem relevância jurídica alguma quando se trata do exercício de direitos e deveres do seu titular.
Ela não é um atributo da personalidade. Por essa razão, em contratos, é desnecessária a pra-
xe de, na qualificação dos contratantes, averbar que eles são “residentes e domiciliados” em
determinado lugar, pois o que importa aí é o domicílio, visto que o objetivo dos contratantes é
saber a sede jurídica da vida da pessoa, e não necessariamente a sede lúdica ou de descanso
da pessoa. É claro, porém, que convém saber também o local da residência para efeito de con-
seguir encontrar a pessoa para citação em uma ação judicial, mas a competência jurisdicional
será a do foro do domicílio, que não necessariamente corresponde à residência.
Domicílio e residência não se confundem, embora uma residência possa se tornar domicí-
lio quando a pessoa passa a ter o ânimo definitivo, ou seja, o desejo de ser encontrado no local
de modo permanente para efeitos jurídicos (art. 70, CC).
Teoricamente é possível a pessoa viver em um local, mas lá não ser seu domicílio por falta
do ânimo definitivo. Em princípio, não se vê obstáculo a que uma pessoa indique uma caixa
postal de uma agência dos Correios como o seu domicílio, de modo que esse local será o con-
siderado para todos os efeitos da sua vida jurídica (como a definição do foro competente para
ações judiciais), ainda que essa pessoa resida em outra cidade. Essa é a interpretação mais
adequada do art. 70 do CC, pois há necessidade de assegurar o direito de qualquer indivíduo
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de eleger o lugar que lhe aprouver como seu domicílio, pois, por algum motivo particular re-
lacionado à sua dignidade, ele não deseja ser encontrado, para efeitos jurídico-civil, no lugar
onde reside. Já tivemos a oportunidade de deparar-se com o caso de uma pessoa que, embora
vivesse em Goiás, somente indicava como seu endereço uma caixa postal de uma agência
dos Correios, porque somente queria que esse local fosse considerado para efeitos jurídicos
(como, por exemplo, para fixação de competência jurisdicional). Vincular necessariamente o
conceito de domicílio ao de residência parece-nos violar a dignidade da pessoa humana e o
próprio regime de domicílio do Código Civil, que admite diversas situações de domicílio sem
residência, como o domicílio aparente do art. 73 do CC a seguir tratado e alguns casos de do-
micílio legal (ex.: o domicílio do servidor público não se está no lugar de sua residência, e sim
do lugar onde exerce a profissão).
O domicílio é relevante apenas para definir o lugar do exercício de direitos e deveres de-
correntes da situação jurídica de pessoa. Para, por exemplo, realizar a citação de uma pessoa,
esse ato jurídico se satisfaz com a sua comunicação em qualquer lugar onde ela for encon-
trada, seja no seu domicílio, seja na rua, seja em outro lugar, salvo proibições legais, como
o local onde estiver ocorrendo um culto religioso do qual esteja participando o citando (art.
244, I, CPC).
Há, ainda, quem distinga residência de moradia ou habitação. Enquanto aquela é um local
físico onde a pessoa habita com intenção de permanecer, ainda que sem querer que daí de-
corram efeitos jurídicos, a moradia ou a habitação é o local em que a pessoa está temporaria-
mente, sem intenção de permanecer, como sucede numa hospedagem de férias em um hotel.
Não há relevância prática nessa distinção, pois ambas as situações – a residência e a moradia
– não são a sede da vida jurídica da pessoa, dignidade que é reservada ao domicílio.
Há três conceitos importantes quando se trata de domicílio.
O primeiro é o princípio da cogência domiciliar.
O domicílio é um dos atributos da personalidade, assim como são o nome, a capacidade, a
fama e o estado civil. O domicílio integra-se à própria individualidade jurídica de uma pessoa. E,
como toda pessoa pode ter direitos e deveres em razão da personalidade jurídica, toda pessoa
tem de ter um lugar onde possa ser encontrada para efeitos jurídicos em razão desses direitos
e deveres. Trata-se do princípio da cogência domiciliar: toda pessoa tem um domicílio neces-
sariamente (cogentemente).
O segundo é o princípio da pluralidade domiciliar.
Nada obsta a que uma pessoa tenha mais de um domicílio, ou seja, mais de uma local de
referência para a sua aptidão de ter direitos e deveres. Se, por exemplo, uma pessoa possui o
ânimo definitivo em mais de uma residência, todos esses locais serão considerados domicí-
lios dessa pessoa, conforme art. 72, CC. Isso costuma acontecer com empresários que vivem
em mais de um local em razão da gestão das filiais da sua empresa. Igualmente uma pessoa
pode ter um domicílio voluntário e um domicílio legal, como um servidor público, que pode ter
o local onde vive como seu domicílio voluntário (art. 70, CC) e, ainda, obrigatoriamente terá o
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lugar onde exerce permanentemente a sua função como domicílio legal (art. 76, CC). Afinal de
contas, o domicílio legal não afasta o(s) domicílio(s) voluntário(s).
Por fim, temos de falar da teoria do domicílio aparente.
Em decorrência do princípio da cogência domiciliar, todas as pessoas devem ter um domi-
cílio. Mesmo pessoas sem residência habitual, como os circenses, os ciganos, os itinerantes
ininterruptos, os que dormem nas praças e fazem das estrelas os seus cobertores – os mendi-
gos –, devem ter um domicílio, razão por que a lei fixa-lhes como domicílio o lugar onde forem
encontrados (art. 73, CC). Essa hipótese do art. 73 do CC é batizada de domicílio aparente ou
ocasional e representa um exemplo de domicílio sem residência. Se, por exemplo, alguém for
propor uma ação contra um circense que está em Brasília atualmente, o juízo competente será
o de Brasília, considerando que a competência é do foro do domicílio do réu (art. 46, CPC).
Brasília é o lugar que “aparenta” ser o domicílio dessa pessoa sem residência fixa, ou seja, é
o lugar em que “ocasionalmente” esse indivíduo errante está; daí o nome “domicílio aparente
ou ocasional. No referido exemplo, mudanças posteriores de domicílio são irrelevantes para
efeito de competência jurisdicional diante do princípio da perpetuatio jurisdictionis: a ação con-
tinuará tramitando em Brasília, ainda que o réu se mude para o Acre (art. 43, CPC).
Voluntário
Espécies
de domicílio
Legal ou necessário
Principais hipóteses no art. 76 do CC
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O domicílio voluntário geral é o que se aplica a todos os atos jurídicos da pessoa (aos atos
em geral). Ele é definido no art. 70 do CC e retrata a definição geral de domicílio. O domicílio
voluntário geral é a soma de dois elementos: um objetivo (a residência, ou seja, o lugar onde
reside) e outro subjetivo (o ânimo definitivo, ou seja, a intenção de ser encontrado nesse local
de forma definitiva para efeitos jurídicos). É, pois, o lugar onde a pessoa fixa a sua residência
com ânimo definitivo.
O domicílio voluntário especial é o que se aplica apenas a determinados atos jurídicos,
afastando o domicílio geral. Isso ocorre quando, por vontade das partes, os efeitos jurídicos
de determinado ato devam levar em conta o domicílio indicado. Um exemplo é o domicílio con-
tratual, que é o local eleito como domicílio para efeito de um contrato, conforme permissão do
art. 78, CC. Outro exemplo é o foro de eleição, que se destina apenas o local onde deverão ser
propostas as ações judiciais relativas a questões de um contrato específico. É menos amplo
que o domicílio contratual, que atinge outros efeitos jurídicos vinculados ao domicílio. Se, por
exemplo, um brasileiro e um norte-americano se encontram em Cancun para celebrar um con-
trato, eles poderiam estipular que o domicílio a ser levado em conta para esse contrato são os
EUA, caso em que será aplicada a lei ianque para reger o contrato e será o Poder Judiciário ian-
que que terá competência para eventuais ações judiciais. Quanto ao foro de eleição, é possível
a declaração de sua nulidade pelo juiz quando for constatado abuso de direito na forma do art.
63, CPC, além de ser admissível foro de eleição no estrangeiro (art. 25, CPC).
Falta falar da outra espécie de domicílio: o legal.
A lei pode impor um domicílio a qualquer pessoa. Trata-se do domicílio legal, necessário
ou publicístico.
As principais hipóteses estão no art. 76 do CC, que impõe como domicílio: (1) do incapaz
o do seu representante ou assistente; (2) do marítimo – que é a pessoa que vive ou trabalha
em embarcações como os comandantes, os tripulantes e os que vivem a negociar pelos mares
(oficiais e tripulantes de marinha mercante) – o local onde está matriculada a sua embarca-
ção; (3) o do preso o local onde cumpre sentença, abrangendo até mesmo caso de imposição
de medidas de internação em manicômio judiciário por sentença, de maneira que, no caso de
prisão cautelar, não haverá domicílio necessário para o preso por falta de um sentença penal
condenatória; (4) o do militar o local onde serve, salvo para os militares da Aeronáutica e da
Marinha, que, por servirem em locais não terrestres (ar ou água), tem por domicílio legal a sede
do comando aos quais estão imediatamente subordinados, de maneira que militar reformado
– por não estar na ativa, ou seja, por não estar servindo nem sob subordinação imediata – não
tem domicílio legal, mas apenas o voluntário; (5) o do servidor público o local onde exercer
permanentemente as suas funções.
No caso do domicílio do servidor público efetivo, o fato de ele assumir uma função de
confiança ou ocupar um cargo comissionado em local diverso da sua lotação não configura
um novo domicílio legal do servidor, dada a ausência do requisito de exercício permanente
previsto no parágrafo único do art. 76 do CC: o exercício das funções do servidor no lugar da
função comissionada ou do cargo em comissão não tem caráter temporário. De fato, quanto
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ao servidor público, “as funções temporárias e os cargos em comissão não operam mudança
no domicílio anterior” (Andrada e Freire, 2003, p. 97). Esse domicílio funcional do servidor pú-
blico só se aplica a servidor público efetivo, ou seja, ao servidor concursado e não temporário
e recai sobre o lugar de sua lotação e exercício, pois, para os demais tipos de agentes públicos,
como os comissionados ou os temporários, a sua atividade não possui a permanência exigida
pelo parágrafo único do art. 76 do CC. Para esses agentes públicos não efetivos, o domicílio
será o domicílio voluntário deles ou – pensamos – o domicílio profissional do art. 72 do CC,
que somente irradia efeitos para atos relacionados à sua profissão e nada mais.
A lógica subjacente é que não é razoável que imponha que o agente público temporário
passe a ter o centro da sua vida jurídica (domicílio) em um local onde ele está de modo tempo-
rário. No máximo, esse local pode ser domicílio apenas para atos relacionados à sua profissão
(domicílio profissional do art. 72 do CC). Essa interpretação de restringir o domicílio legal ao
servidor público efetivo guarda coerência com a história. Desde o direito romano, como lem-
bra Clovis Bevilacqua (1979, pp. 258-259), “o funcionário público vitalício tinha o seu domicílio
legal, onde exercia a sua função (...) sem perder o anterior (...). Ao empregado temporário não
fazia referência tal lei”. O art. 37 do CC/19161 seguia o mesmo caminho e era expresso quanto
à inaplicabilidade do domicílio legal para quem exercia função pública temporária, periódica ou
em comissão. Essa orientação é justa, por não impor a um agente público temporário ou co-
missionado (que é demissível ad nutum) o ônus de ter de responder por deveres e direitos em
um local onde não lhe dá segurança de perenidade. Ademais, para Maria Helena Diniz (2012,
p. 249), servidores públicos efetivos licenciados não perdem o seu domicílio legal, salvo no
caso de afastamento prolongado para interesse particular com mudança do servidor afastado
para outro local com intenção de transferir-se definitivamente, pois, nesses casos, “não haverá
como prendê-lo ao domicílio funcional ante a configuração de domicílio voluntário” (2012, p.
249). Dissentimos, com as devidas vênias, dessa exceção, pois, enquanto o servidor público
efetivo mantiver o vínculo com a Administração Pública, o local de lotação do seu cargo públi-
co deve ser considerado seu domicílio por lei na forma do art. 76 do CC, facilitando, por exem-
plo, ações judiciais que porventura a própria administração venha a propor contra ele diante da
competência do foro do local da lotação (foro do domicílio do réu, na forma do art. 46, CPC).
Outro caso de domicílio legal é do agente diplomático na forma do art. 77 do CC, à luz do
qual será seu domicilio o Distrito Federal ou o último local do Brasil onde ele teve domicílio na
hipótese de ele ser citado em uma ação judicial no exterior e recusar responder perante a ju-
risdição estrangeira diante da sua imunidade diplomática (ou seja, alegar extraterritorialidade).
Nesse caso, considerando que o foro competente é, em regra, o domicílio do réu (art. 46, CPC),
a ação contra o agente diplomático deverá ser proposta no Distrito Federal ou no último local
do Brasil onde ele teve domicílio.
1
Art. 37, CC/1916: “Os funcionários públicos reputam-se domiciliados onde exercem as suas funções, não sendo temporá-
rias, periódicas ou de simples comissão, porque, nestes casos, elas não operam mudança no domicílio anterior”.
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Mais um caso é o domicílio profissional do art. 72 do CC, que se aplica para as pessoas
que, não sendo servidoras públicas, exercitam uma profissão, como advogados, empregados
celetistas, autônomos etc. Nesse caso, o local do exercício da sua profissão é o seu domicílio
apenas para atos relacionados à profissão. Se houver vários locais de exercício, cada um será
domicílio para os atos que lhes corresponderem. Assim, se um advogado que vive em Luzi-
ânia/GO possui escritório em Brasília/DF, não se poderá considerar que Brasília/DF será seu
domicílio para um contrato particular que ele assinou (ex.: um contrato de alimentação), pois
não se trata de uma questão relativa à sua profissão.
Domicílio da PJ
(art. 75 do CC) Domicílio = sede
Demais PJs
+ de 1 ESTABELECIMEN-
TO: cada um deles é um
domicílio para os atos lá
praticados
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Se, por exemplo, uma empresa celebra o contrato com uma agência do Banco do Brasil
em Rio Branco/AC, essa agência será considerada domicílio do Banco do Brasil, assim como
será domicílio o Distrito Federal, onde está a diretoria e a administração central do Banco do
Brasil (a sede).
2. Bens
2.1. Bens e Coisas: Distinção
Coisa é GÊNERO,
Silvio Rodrigues
bem é ESPÉCIE
Coisa em sentido
Bem X coisa
amplo: tudo que Bem é “coisa” com
existe, exceto o valor econômico
ser humano
Clóvis Bevilacqua
Coisa em
sentido estrito:
bens corpóreos
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do CC) –, reporta-se primordialmente a bens corpóreos. Não se nega, porém, que há situações
em que o verbete “coisa” é empregado como sinônimo de bem (coisa apropriável pela pessoa),
a exemplo do erro na indicação da coisa no art. 142 do CC e da disciplina de obrigações de
dar coisa (art. 233 e seguintes, CC), mas temos que isso é uma ligeira imprecisão decorrente
do uso de um verbete mais genérico: é como se empregar a expressão genérica “ser vivente”
quando se está a falar de apenas uma das espécies de seres viventes, o ser humano (isso é
quase uma metonímia invertida: usar o todo para se referir à parte).
2.2. Semoventes
Regras de visita no
caso de divórcio
São considerados Regime de
Semoventes ABUSIVIDADE
BENS sencientes proteção especial
da convenção
condominial que
proíbe animais
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direito de visita sobre o animal. Não se trata de mera aplicação do regime de guarda de crian-
ças pelos pais, pois não é viável equiparar a situação de animais de estimação com o de poder
familiar. Trata-se, sim, de um reconhecimento da natureza especial dos animais de estimação
e do prestígio ao vínculo afetivo com o animal (STJ, REsp 1713167/SP, 4ª Turma, Rel. Ministro
Luis Felipe Salomão, DJe 09/10/2018).
Igualmente, há de ser tida por abusiva a cláusula de convenção condominial que proíbe
animais de estimação nas unidades privativas, especialmente quando se tratar de animais de
pequeno porte, pois, além da relevância desses animais para a individualidade dos seus pro-
prietários (dignidade da pessoa humana), é desproporcional esse tipo de invasão no direito de
propriedade exclusiva dos condôminos.
Há, ainda, quem se insurja contra o uso de animais como meio de transporte, mas tal de-
fesa parece-nos desprezar que quem costuma servir-se disso são pessoas de baixa renda que
dependem do animal para sua sobrevivência, de maneira que, em nome da função social, o
emprego da tração animal é devido desde que exercido com o máximo de cuidado ao animal.
Em Portugal, em 2017, foi editado o Estatuto Jurídico dos Animais (Lei n. 8/2017, de Por-
tugal), lei que modificou o Código Civil português e que estabeleceu inúmeras regras em prol
dos animais. O bem-estar do animal, por exemplo, é erguida como uma diretriz que obriga o
seu proprietário.
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De uso comum:
afetados a fim
público geral
De uso especial:
afetados a fim pú-
Pertencem ao blico especial
entes públicos; GA-
RANTIAS ESPECIAIS Dominicais:
NÃO afetados a
Públicos fim público
É admissível o uso
Quanto à de bens públicos por Os bens
TITULARIDADE, os particulares DESAFETADOS
bens podem ser: podem
ser ALIENADOS
Obs.: essa clas- Todos os demais
sificação não
abrange os bens Privados Quando
sem titulares pertencentes a
Podem ter
entes que prestam
proteção especial
serviço público
com exclusividade
Quanto à titularidade, os bens podem ser públicos, quando forem titularizados por entes
com personalidade jurídica de direito público interno, ou privados, quando o forem pelos de-
mais sujeitos de direito. A disciplina do tema está nos arts. 98 do CC, sem prejuízo de leis
especiais.
Nessa classificação, não são abrangidas as res nullius (coisa de ninguém), como os ani-
mais selvagens, nem as res derelictas (coisa abandonada), como um computador jogado no
lixo, pois não há titular desses bens.
Vamos falar um pouco mais sobre os bens públicos.
Como regra geral, os bens públicos possuem garantias especiais, como a sua impenho-
rabilidade, visto que o pagamento judicial das dívidas dos entes públicos se dá por meio de
precatórios, e a imprescritibilidade, visto que a usucapião (que é uma prescrição aquisitiva) é
vedada sobre bens públicos (art. 102, CC).
Conforme art. 99 do CC, os bens públicos podem ser dividido em três espécies: (1) bens
públicos de uso comum do povo: os que estão afetados a um fim público geral e que, portanto,
podem ser utilizados livremente pelos administrados dentro das restrições legais, como os
rios, os mares, as estradas, as praças etc.; (2) bens públicos de uso especial: os afetados a um
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fim público especial, como os imóveis destinados a repartições públicas, os veículos oficiais
etc.; (3) bens públicos dominicais: os que não estão afetados a fim público algum.
Os bens públicos afetados, ou seja, os de uso comum ou de uso especial não podem ser
alienados enquanto estiverem afetados. Ocorrendo, porém, a sua desafetação, eles se tornam
bens públicos dominicais e, como tais, podem ser alienados na forma da legislação vigente,
de que é exemplo a Lei 8.666/93. A desafetação, conforme doutrina do Direito Administrativo,
deve ocorrer mediante edição de lei específica. Assim, se o Estado deseja alienar um veículo
oficial, deve, em primeiro lugar, desafetar esse bem mediante lei específica para, depois, em
seguida, aliená-lo na forma da lei.
O uso de bens públicos por particulares é admissível e pode ser gratuito ou oneroso, mas
deve observar a legislação pertinente (art. 103, CC). Os instrumentos usuais para formalizar
esse uso são a concessão, a permissão e autorização de uso, em relação aos quais inexiste
uma lei federal geral. Há, ainda, outros veículos, como contratos administrativos e alguns direi-
tos reais instituídos em favor dos particulares, como a concessão de uso especial para fins de
moradia (MP 2.220/2001) ou a concessão de direito real de uso (art. 7º, DL 271/1967).
Por fim, é importante falar sobre alguns bens privados que recebem proteções próprias de
bens públicos.
Os privilégios indicados para os bens públicos não se estendem aos privados, de maneira
que estes, por exemplo, podem ser penhorados e ser usucapidos.
Todavia, quando se tratar de bens pertencentes a entes privados que desempenham servi-
ço público essencial com exclusividade, o STF costuma estender-lhes os privilégios do regime
de Direito Administrativo, vedando, por exemplo, a penhora de seus bens, fixando o regime
de precatório para o pagamento de condenações judiciais, censurando o usucapião etc. Isso
acontece, por exemplo, com a ECT, que tem a exclusividade do serviço público de postagem,
a Infraero, que tem exclusividade do serviço de suporte aeroportuário, a Terracap, que é uma
empresa pública do DF criada para administrar os imóveis que pertenciam ao DF e controlar
a ocupação territorial dessa capital. Nesses casos, embora haja empresas públicas, que são
pessoas jurídicas de direito privado, os seus bens – que são privados – usufruem os privilégios
do regime jurídico dos bens públicos.
Por fim, há o estranhíssimo parágrafo único do art. 99 do CC, que estabelece que são domi-
nicais os bens das pessoas jurídicas de direito público que tenham adotado estrutura de direito
privado. Trata-se de dispositivo sombrio, visto que não existe esse tipo de pessoa jurídica de di-
reito público com estrutura de direito privado no ordenamento jurídico brasileiro. Seja como for,
o STJ já se valeu desse dispositivo para considerar dominicais os bens da Terracap e, assim,
imunizá-los da usucapião, embora a Terracap seja uma pessoa jurídica de direito privado (STJ,
EREsp 695.928/DF, Corte Especial, Rel. Min. José Delgado, DJ 18/12/2006). Ao nosso sentir, o
referido dispositivo deve, por força de interpretação conforme à CF, respaldar que os bens das
empresas públicas que desempenham serviço público com exclusividade sejam considerados
como bens público dominicais, a exemplo do que decidiu o STJ no caso da Terracap. O art. 99,
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Parte Geral – IV
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parágrafo único, do CC, portanto, protegeria como bens públicos dominicais os bens da ECT,
da Infraero, da Terracap etc.
Corpóreos e Incorpóreos
Possibilidade de
Que têm existência
Bens corpóreos discutir POSSE e
material/tangíveis
PROPRIEDADE
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Parte Geral – IV
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Imóveis
Solo (abrange o
Por natureza
subsolo e o
(bens de raiz)
espaço aéreo)
Acessão
Resultam de artificial
Por acessão ACRÉSCIMOS
Bens IMÓVEIS ao solo Acessão
natural
Bens que, por lei,
devem ser havidos
Por por imóveis
determinação
legal Obs.: NAVIOS e
AERONAVES não
são bens imóveis
Pessoal, há diversas relevâncias na definição de um bem como móvel ou imóvel, seja para
efeitos tributários (ex.: o ITBI só incide sobre transmissão onerosa de bens imóveis, e não mó-
veis), seja para efeitos civis, como nestes casos: (1) os prazos de usucapião de imóveis são
superiores ao de móvel, conforme arts. 1.238 ao 1.244 e 1.260 ao 1.262, CC; (2) a escritura
pública é essencial para negócios envolvendo direitos reais sobre imóveis de valor superior a
30 salários mínimos, consoante art. 108, CC; (3) a alienação de imóveis por pessoas casadas
depende de consentimento do cônjuge, conforme art. 1.647, 1.649 e 1.656, CC; (4) as ações
imobiliárias exigem participação dos cônjuges das partes nos termos do art. 73, CC etc.
Vamos tratar dos bens imóveis.
Os bens imóveis podem ser de três espécies: por natureza, por acessão ou por determina-
ção legal. Estão disciplinados nos arts. 79 ao 81 do CC.
Os bens imóveis por natureza, também designados de bens de raiz, dizem respeito ao solo,
o que abrange o subsolo e o espaço aéreo na profundidade e na altura útil do ponto de vista
da função social (não chega ao céu nem ao inferno, ao contrário do que sucedia no direito ro-
mano, onde se dizia cuius ets solum eius est usque ad sidera usque ad inferos2), sem abranger,
porém, as riquezas minerais, que são bens da União (arts. 1.229 e 1.230 do CC e art. 20, VIII ao
X, da CF).
Os bens imóveis por acessão são aqueles que resultam de acréscimos (= acessões) ao solo.
Se a acessão decorreu de conduta humana, tem-se um bem imóvel por acessão artificial,
física ou industrial, que abrange as construções e as plantações (arts. 1.253 e ss, CC).
2
A propriedade do solo estende-se do céu ao inferno.
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Se, porém, a acessão decorre da natureza, tem-se um bem imóvel por acessão natural, no
qual se incluem o aluvião (acréscimo lento de terras à margem do rio, aumentando o perímetro
do solo), a avulsão (acréscimo violento, abrupto de terras), o álveo abandonado (acréscimo de
terra diante da evaporação da água do rio) e a formação de ilha (acréscimo de área do imóvel
sobre a ilha que emergiu pelo esvaziamento parcial do rio), conforme arts. 1.249 ao 1.252, CC.
As árvores só são acessões naturais se não tiverem decorrido de trabalho humano; do contrá-
rio, serão acessões artificiais por serem plantações.
A acessão natural ou artificial exige que a coisa acrescida seja incorporada ao solo; não
basta estar meramente dentro do solo. O tesouro, p. ex., não é bem imóvel por acessão pelo
mero fato de estar enterrado, pois ele não se incorporou ao solo. Ele é um bem móvel, que,
aliás, se descoberto, deve ser rateado entre o proprietário do solo e o achador caso não se
tenha memória do legítimo dono, conforme art. 1.264 do CC. Igualmente, as construções que
estiverem presas ao solo, mas apenas apoiadas nele em caráter temporário, como barracas,
armações (os stands) de feiras, palcos para shows, etc., não se tornam imóveis por acessão;
continuam sendo bens móveis (Bevilacqua, 1955, p. 162). As construções devem incorporar
ao solo, devem ser definitivas, não podem ser provisórias, para serem consideradas imóveis
por acessão artificial. O mesmo sucede com plantas colocadas em caixas ou vasos, as quais
se destinam a ser deslocadas, e não a serem incorporadas ao solo, razão por que são bens
móveis, e não imóveis por acessão natural.
Por ficção legal, não perdem a característica de bens imóveis as edificações removíveis
(como as casas removíveis) nem os materiais destacados de um prédio temporariamente para
ser reempregado nele, conforme art. 81 do CC. A provisoriedade dessa separação justifica a
ficção legal. Trata-se de bens imóveis por determinação legal.
Antes do CC/2002, havia também os bens imóveis por acessão intelectual, que correspon-
diam a tudo quanto era, por vontade do titular (acréscimo, ou melhor, acessão intelectual),
destinado de modo duradouro ao solo. Com o CC/2002, essa figura foi absorvida pelo conceito
de pertença, prevista no art. 93 do CC, a qual será estudada na classificação de bens recipro-
camente considerados.
Por fim, são bens imóveis por determinação legal os casos de bens que, por lei, devem
ser havidos por imóveis. Trata-se de ficção legal e gera várias utilidades, como, por exemplo,
tributária (credencia a cobrança, por exemplo, de ITBI no caso de transmissão onerosa). Geral-
mente o legislador faz isso com bens incorpóreos, como os direitos, que, por serem imateriais,
não se enquadram em móveis nem imóveis por natureza. Nesse contexto, o art. 80 do CC
reúne dois casos de bens imóveis por determinação legal: (1) os direitos reais sobre imóveis
e as respectivas ações e (2) o direito à sucessão aberta, que são os direitos hereditários. As-
sim, por exemplo, ao se instituir um direito real de usufruto sobre um imóvel a uma pessoa em
troca de uma quantia financeira, está-se a transferir um bem imóvel onerosamente, o que atrai
a cobrança de ITBI. Igualmente, no caso de um herdeiro ceder o seu direito hereditário (= direi-
to à sucessão aberta) a terceiros em troca de dinheiro, tem-se uma transmissão onerosa de
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bem imóvel a configurar fato gerador do ITBI. As ações que asseguram os direitos reais sobre
imóveis, como, por exemplo, a ação reivindicatória, também são consideradas bens imóveis.
As ações que asseguram os direitos reais sobre imóveis “são os próprios direitos em atitude
defensiva, ou considerados por uma de suas faces”, como ensinava Clóvis Bevilácqua (1979,
p. 274). Teoricamente é possível alienar onerosamente apenas a ação destinada a reivindicar
um imóvel, caso em que o ITBI seria devido por haver transmissão de um imóvel por natureza.
O comum, porém, é a transmissão do direito real sobre a coisa em conjunto com as respec-
tivas ações que asseguram esse direito, mas teoricamente é possível negociar apenas estas
últimas isoladamente.
Navios e aeronaves não são bens imóveis, apesar de serem hipotecáveis (art. 1.473, VI e
VII, CC). São bens móveis, mas, em razão das elevadíssimas expressões econômicas, a legisla-
ção historicamente lhe dedicou regras típicas de bens imóveis, como lembra Clóvis Bevilacqua
(1959, p. 165). Assim, por exemplo, diante do elevado valor desses bens, convém permitir que
ele seja oferecido em garantia por mais de uma dívida, medida que a hipoteca viabiliza diante
das hipotecas sucessivas (art. 1.476, CC). O penhor não permitiria isso, por exemplo. Em tom
metafórico, navios e aeronaves são bens móveis com a bazófia de um imóvel.
Móveis
Os bens móveis podem ser: por natureza, por determinação legal ou por antecipação.
Os móveis por natureza são os bens deslocáveis sem perda da sua substância ou da sua
destinação econômico-social. O critério adotado pelo CC é funcional para definir a mobilidade
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plantação, o ITBI incidirá sobre o preço integral da venda, sem poder destacar o valor corres-
pondente à plantação, pois esse negócio jurídico não está se valendo da futura mobilidade das
coisas plantadas. Se, porém, a venda fosse da futura colheita da plantação, não haveria ITBI
dada a natureza de bem móvel por antecipação.
Fungíveis e Infungíveis
Em regra, somente
bens MÓVEIS
Quanto à
fungibilidade Que não podem ser substi- Empréstimo
tuídos; individualizados por = comodato
características próprias ou locação
Infungíveis
Bens fungíveis podem se
tornar infungíveis por vonta-
de das partes
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Art. 85. São fungíveis os móveis que podem substituir-se por outros da mesma espécie, qualidade
e quantidade.
Todavia, apesar do texto legal acima, excepcionalmente, imóveis também podem ser fun-
gíveis. Um apartamento costuma ser bem infungível, pois não pode ser substituído por outros,
que possuem localização diversa. Ele pode, no entanto, ser tido por fungível se, por vontade das
partes, for admitida a substituição do apartamento por outro situado no mesmo prédio e com
o mesmo tamanho, supondo-se que todos estejam com as mesmas características internas,
como no caso de prédio recém-construídos. Outro exemplo de fungibilidade de bens imóveis é
a partilha de vários lotes pertencentes a uma sociedade entre os sócios na hipótese de estes
terem acordado que cada um terá direito a uma certa quantidade de lotes. Outro exemplo é o
de uma incorporadora se obrigar a entregar dez lotes em um empreendimento, caso em que a
individualização da coisa deverá ser feita pelo gênero e pela quantidade.
A fungibilidade do bem deve ser analisada no caso concreto, pois um mesmo bem pode
ser tido por fungível ou infungível a depender das condições de cada situação. Nesse sentido,
a definição dada pelo art. 207º do Código Civil português parece ser mais técnico ao vincular
o conceito de fungibilidade de bem à forma como a relação jurídica ocorreu: “São fungíveis as
coisas que se determinam pelo seu gênero, qualidade e quantidade, quando constituam objec-
to de relações jurídicas”. No mesmo sentido, está António Menezes Cordeiro (2016, p. 208).
Há, porém, quem estabeleça que a fungibilidade decorre da natureza da coisa, e não do caso
concreto, embora reconheça exceções, a exemplo de Maria Helena Diniz (2016, pp. 385-386).
Há utilidade na classificação.
O empréstimo gratuito ou oneroso de coisas fungíveis é batizado de mútuo com discipli-
na no art. 586 e ss do CC. É comum falarmos de mutuários da CEF para designar as pessoas
que contraíram empréstimos pecuniários, ou seja, mútuo com essa instituição financeira. No
caso de mútuo pecuniária oneroso, a remuneração cobrada pelo mutuante chama-se juros
remuneratórios, que é uma espécie de “aluguel do dinheiro”. O mútuo de dinheiro a juros é co-
nhecido como mútuo feneratício (etimologicamente feneratício é relativo à cobrança de juros).
Por outro lado, o empréstimo de coisa infungível corresponde ao comodato se for gratuito ou
à locação se for onerosa (com cobrança de aluguel).
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Outra utilidade é que o art. 645 do CC dá tratamento especial para o depósito de coisas fun-
gíveis, invocando as regras de mútuo no que couber. Trata-se do chamado depósito irregular.
Mais uma utilidade é a de que a propriedade fiduciária sobre móveis só recai sobre bens
infungíveis (art. 1.361, CC).
Consumíveis e Inconsumíveis
Não se destroem
Bens não consumíveis
imediatamente com o USO
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Divisíveis e Indivisíveis
Conceito residual:
tudo que não é
Bens indivisível
divisíveis
Indivisibilidade atribuída por
Por lei
lei. Ex.: herança até a partilha
Divisibilidade
Pela vontade das partes. Pra-
Por vontade
zo máximo de 5 anos.
Bens
indivisíveis Impossibilidade de fracio-
Por natureza mento sem perda da sua
utilidade socioeconômica.
Quanto à divisibilidade, os bens podem ser divisíveis ou indivisíveis. A definição dos bens
divisíveis é residual: é aquilo que não é indivisível.
A indivisibilidade pode ser: (1) por natureza; (2) por vontade; (3) por lei.
Diz-se que o bem é naturalmente indivisível quando a coisa não pode ser fracionada sem
perda da sua utilidade socioeconômica ou da sua substância ou sem desvalorização conside-
rável, conforme art. 87 do CC. Como tudo pode ser materialmente fracionado (até o elétron é
fracionável em outras partículas na Física), o CC adotou o critério da utilidade socioeconômico,
ou seja, um critério utilitarista para definir os bens indivisíveis por natureza. Ex.: um cavalo,
uma cadeira etc.
A vontade também pode tornar indivisível um bem. Todavia, a legislação impõe limites, es-
tabelecendo o prazo máximo de cinco anos para essa indivisibilidade quando decorrer de ato
de vontade, seja do testador, seja do doador, seja dos condôminos, admitido, porém, prorroga-
ção posterior apenas por nova expressão de vontade dos condôminos (art. 1.320, CC). Aliás, o
juiz pode afastar a indivisibilidade antes do prazo se houver graves razões (art. 1.320, § 2º, CC).
O motivo disso é que, como ensinavam os romanos, o condomínio tradicional – aquele em que
mais de uma pessoa é titular da mesma coisa na proporção de uma fração ideal – é a “mãe da
discórdia” diante das inevitáveis divergências procedentes dos interesses egoísticos de cada
um, de maneira que a legislação sempre prestigia o retorno à feição unitária da coisa, do que
dá exemplo esse limite temporal da indivisibilidade e o direito de preferência ao condômino no
caso de alienação da fração ideal por outro (art. 504, CC).
A lei também pode impor a indivisibilidade dos bens, como sucede com os imóveis de ta-
manho correspondente à fração mínima de parcelamento (art. 4º, III, da Lei de Parcelamento
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Urbano, ou seja, da Lei 6.766/79) ou ao módulo rural (art. 4º, II e III, do Estatuto da Terra, ou
seja, da Lei 4.504/1964), admitido imóveis em tamanho inferior com expressa autorização
legal, como costuma acontecer em imóveis destinados a programas sociais de habitação.
Outro exemplo é o art. 1.386 do CC, que tem por indivisíveis as servidões prediais, ainda que
os prédios dominante ou serviente sejam divididos, salvo incompatibilidade com a natureza
ou a destinação da servidão. A herança também é tida por indivisível até a partilha (art. 1.791,
parágrafo único, CC). Outros exemplos: a quota da sociedade é indivisível em relação à socie-
dade (art. 1.056, CC); o fundo de reserva da sociedade cooperativa é indivisível em relação aos
sócios (art. 1.094, VIII, CC); há composse no caso de mais de um possuidor sobre uma coisa
indivisa (art. 1.199, CC)
A utilidade da classificação é manifesta. Ex.: a incapacidade relativa terá de aproveitar os
cointeressados capazes se o objeto for indivisível (arts. 105 e 177, CC); a distinção entre obri-
gações divisíveis e indivisíveis atrela-se à natureza do bem objeto da obrigação; a suspensão
da prescrição em prol de um credor solidário aproveita os demais no caso de obrigação indivi-
sível (art. 201, CC); a interrupção da prescrição contra um dos herdeiros do devedor solidário
prejudicará os demais herdeiros ou devedores apenas no caso de indivisibilidade da obrigação
e do direito (art. 204, § 2º, CC); a titularidade da coisa indivisível por mais de um pessoa gera
condomínio (art. 1.314, CC), embora seja possível condomínio sobre coisa divisível se esta não
tiver sido fracionada entre os condôminos, como no caso de condomínio sobre uma grande
faixa de terra.
Singulares
Os bens singulares são os que existem por si sós e guardam uma unidade sociocultural
econômica, conforme art. 90 do CC. Em princípio, qualquer bem poderia ser decomposto, fato
que não lhe retira a sua condição de bem singular. Um celular pode ser decomposto em chip,
tela, metais etc. e, nem por isso, deixa de ser um bem singular, pois ele é tido como uma unida-
de sócio-cultural-econômico. O conceito de bem singular abrange o que os romanos designavam
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de coisas compostas ex contingentibus, assim entendidas as que eram formadas por outros
pequenos móveis interconectados, a exemplo do telhado, fruto de diversas telhas. Assim, uma
cadeira, um veículo e um celular são exemplos de bens singulares.
O art. 54 do CC/1916 classificava os bens singulares em: (a) simples, quando fossem for-
mados por partes homogêneas – da mesma espécie – unidas em razão da natureza, como
um cavalo ou uma árvore, ou da ação humana, como a folha de papel, o quadro, o vaso ou o
direito de crédito, caso em que os componentes perdem a sua individualidade; (b) compostas,
quando as suas partes fossem objetos independentes e heterogêneos – de espécies diversas,
unidos pelo engenho humano, como o veículo, composto por rodas, motor etc.; a casa, com-
posta por vários materiais de construção; o relógio; etc. A utilidade prática dessa classificação
seria a de que, nas coisas singulares compostas, os seus componentes poderiam ser objeto
de negociação isolada, ao contrário dos bens singulares simples, que constituem uma unida-
de natural incindível em razão de suas partes perderem a individualidade. Assim, “é possível
a existência de direitos, tanto sobre a coisa composta, na sua unidade, como sobre os seus
elementos componentes, o que não se verifica na coisa simples” (Francisco Amaral, 2014, p.
390). O proprietário das rodas ou do motor de um veículo pode, por exemplo, ser uma pessoa
diversa do dono do veículo, a quem esses bens foram emprestados em comodato. Nas coisas
simples, isso é inviável: não há como alguém ser proprietário da perna do cavalo e não o ser de
todo o animal dada a indivisibilidade natural da coisa. É possível, sim, alguém ser condômino
do cavalo, mas não titular de uma parte individualizada dele, por se tratar de coisa simples.
Coletivos
Natureza
jurídica do Há controvérsia
estabelecimento
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Os bens coletivos são os que não existem por si sós. São também chamados de universitas
rerum, por envolver uma coletividade de coisas. Eles podem ser de duas espécies: universali-
dade de fato (universitas facti3) e universalidade de direito (universitas iuris). Ao adotar as con-
cepções de universalidades, o direito brasileiro incorporou uma categoria medieval, “particu-
larmente reanimada nos princípios do século XIX”, como lembra o catedrático da Universidade
de Lisboa António Menezes Cordeiro (2016, p. 220).
Vamos falar primeiramente da universalidade de fato.
A universalidade de fato é a pluralidade de bens singulares com destinação única em ra-
zão da vontade do seu titular, conforme art. 90 do CC. Há duas principais características: (1) a
pluralidade de bens singulares é essencial; não há universalidade de fato se inexistir, de fato,
mais de um bem singular; (2) a destinação única da coisa decorre da vontade do titular; não há
universalidade de fato se o titular não quiser tratar o conjunto dos seus bens singulares como
uma unidade. Ex. de universalidade de fato: biblioteca (conjunto de livros) e rebanho (conjunto
de gados). Se só houver um livro, não há biblioteca, mas apenas um bem singular. Parece-nos
haver proximidade do conceito de universalidade de fato com o de bem singular composto, pois,
nestes, há objetos independentes que, pelo engenho humano, constituem a coisa. Os conceitos,
porém, se distanciam por dois motivos: (1) a universalidade de fato é constituída por bens sin-
gulares, simples ou compostos; (2) a identificação sociocultural econômico da universalidade
de fato é diversa da dos bens singulares compostos: enquanto é usual se entender a biblioteca
como um conjunto de bens singulares, de modo a ser razoável a alienação de livros individualizados,
3
Há quem se valha do termo universitas rerum para a universalidade de fato, como Maria Helena Diniz (2012, p. 381), mas
prevalece o emprego dessa expressão como gênero do qual a universalidade de fato e a de direito são espécies, como
ensina Francisco Amaral (2014, p. 391)
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A sub-rogação real pode ser entendida como a substituição de um ou mais bens por outro
ou outros com manutenção do regime jurídico. É a transferências das qualidades jurídicas que
recaem sobre um bem para o outro. Assim, por exemplo, a herança é um exemplo de univer-
salidade de direito. A sua qualidade de universalidade decorre de lei (art. 1.791, CC). Se uma
pessoa deixou apenas um imóvel, mesmo assim haverá aí a herança, que é uma universalidade
de direito. É irrelevante a pluralidade de bens singulares. Caso esse imóvel seja permutado por
3 pequenos apartamentos mediante autorização judicial, esses novos apartamentos substi-
tuirão o imóvel e integraram a universalidade de direito (sub-rogação real). Outro exemplo é o
patrimônio particular dos cônjuges, que se reporta aos bens que, por lei, não se comunicam
em razão do regime de bens. Assim, por exemplo, se uma pessoa casou sob o regime da co-
munhão parcial de bens e já tinha um imóvel, esse imóvel enquadra-se nas regras legais que o
fazem integrar o patrimônio particular desse cônjuge. Se, no curso do casamento, esse imóvel
é permutado por 3 pequenos apartamentos, esses novos apartamentos continuam sendo inte-
grantes dessa universalidade de direito e, portanto, seguem sendo integrantes do patrimônio
particular do cônjuge em razão da sub-rogação real.
Também são exemplos de universalidade de direito a massa falida e a herança, pois, por
força de lei, são um conjunto de todos os ativos e passivos de uma pessoa jurídica falida (mas-
sa falida) ou de uma pessoa natural morta (herança).
Por fim, para terminarmos a discussão com um tema interessante, vamos falar da natureza
jurídica do estabelecimento.
Há controvérsia quanto ao fundo de comércio, antigo nome do que atualmente se conhece
como estabelecimento. Há quem o tenha como uma coisa singular composta, como Nelson
Rosenvald (2016, p. 517); outros, como uma universalidade de fato; outros como universalida-
de de direito, a exemplo de Maria Helena Diniz (2012, p. 382). Parece-nos mais acertada esta
última corrente, pois o estabelecimento é fruto de uma previsão legal (arts. 1.142 e ss do CC)
e, portanto, constitui um conjunto de bens singulares com destinação única por força de lei.
Para ele, teoricamente, não há exigência de haver pluralidade de bens singulares: se uma socie-
dade só possui um imóvel, integra a universalidade de direito. Se esse imóvel é permutado por
3 pequenos imóveis, esses novos imóveis seguem integrando essa universalidade de direito
diante da sub-rogação real. Essas características evidenciam a natureza de universitas iuris do
estabelecimento.
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DIREITO CIVIL
Parte Geral – IV
Carlos Elias
Noções Gerais
Bem
principal
Espécies de
Segue o princípio Segue o PRINCIPAL;
bens quando Bem
da GRAVITAÇÃO assumirá a sua
comparados acessório
JURÍDICA natureza jurídica
entre si
NÃO se sujeitam ao princípio
Pertenças da gravitação jurídica, salvo lei,
vontade ou circunstância
Levando em conta um bem em relação a outros, podem-se classificar os bens em três es-
pécies: (a) principais; (b) acessórios; (c) pertenças.
Só há essa classificação quando se compara um bem com outro.
Não há falar em bem acessório, principal ou pertença se não houver mais de um bem a
ser cotejado. Explicaremos esses conceitos mais abaixo. Antes, porém, há o princípio da gra-
vitação jurídica, segundo a qual os bens acessórios seguem o principal, salvo disposição em
contrário. Trata-se da milenar regra romana conhecida como accessorium principale sequitur
(o acessório segue o principal). Embora o texto do art. 59 do CC/16 (“Salvo disposição espe-
cial em contrário, a coisa acessória segue a principal”) não tenha sido reiterado no CC/2002,
essa regra subsiste com as adaptações deste Codex, que ineditamente previu a figura das
pertenças.
Pertenças não são bens acessórios (embora haja quem assim os enquadre), mas sim uma
terceira categoria de bens, e, por isso, não se sujeitam ao princípio da gravitação jurídica, salvo
lei, vontade ou circunstância. Isso significa que a pertença não acompanha o bem principal
em um negócio jurídico que envolva este, salvo circunstâncias do caso ou disposição legal ou
voluntária em contrário (art. 94 do CC). Daí decorre que, se alguém alienar um apartamento,
presume-se que as benfeitorias – que são bens acessórios – estão inclusas, como as pias, a
privada, as torneiras etc., mas não abrangem as pertenças que guarnecem a casa, como os
racks, as cadeiras, as mesas, as televisões etc. Outro exemplo são os aparelhos de adaptação
que são instalados em veículos para viabilizar a sua condução por pessoa com deficiência
física ou com mobilidade reduzida, de modo que, ao ser alienado o veículo, o vendedor não
está obrigado a entregar também essas pertenças (STJ, REsp 1305183/SP, 4ª T., Rel. Ministro
Luis Felipe Salomão, DJe 21/11/2016). Daí igualmente decorre que o bem acessório assume
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Parte Geral – IV
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a natureza jurídica do bem principal: o bem móvel incluído em um imóvel como bem acessório
torna-se imóvel também.
Os bens podem ser incorpóreos, como no caso do direito de crédito, e, por isso, pode ha-
ver relação de acessoriedade com incidência do princípio da gravitação jurídica. Entre direitos
também há relação de acessoriedade. Isso justifica o porquê de o art. 233 do CC estabelecer
que, na cessão de crédito, presume-se que os acessórios – como os juros no caso de crédito
pecuniário – também foram cedidos, salvo disposição em contrário (art. 287, CC). Também
são acessórios os encargos moratórios (cláusula penal, juros moratórios, correção monetária
etc.), as arras, os dividendos, os direitos reais sobre coisa alheia, como a servidão, a hipoteca
etc., como lembra Francisco Amaral (2014, p. 393)
Principal e Acessório
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De um lado, bem principal é o que existe por si só, é o que cumpre sua função social e
econômica independentemente de outro, conforme art. 92, CC. O critério para definir o seu pro-
tagonismo é o da função econômica e social. O veículo é principal em relação ao pneu por sua
finalidade econômica e social: não se trata do valor, e sim da destinação do bem.
De outro lado, na definição tautológica do art. 92 do CC, bens acessórios são aqueles que
supõe um principal, ou seja, os bens que cumprem a sua função social e econômica quan-
do estão conectados a um bem principal. Sozinhos, eles não atendem à sua utilidade so-
cioeconômica.
Como os bens incorpóreos (ex.: direitos de crédito) também são bens, eles podem ser
acessórios ou principais. Ex.: O direito de crédito perante um fiador é um bem acessório em re-
lação ao direito de crédito perante o devedor principal, pois a fiança é acessória a um contrato
principal que é garantido.
Vamos falar das espécies de bens acessórios: os frutos, os produtos, as benfeitorias e as
partes integrantes.
Frutos são bens extraídos da coisa principal de modo inesgotável. São utilidades produzi-
das periodicamente pela coisa sem alteração de sua substância, com possibilidade de serem
destacadas da coisa e serem objeto de relações jurídicas autônomas. A periodicidade da pro-
dução dos frutos pela coisa é essencial nessa definição. O bem principal pode gerar os frutos
incessantemente, sem se esvaziar. A fonte dos frutos é inesgotável.
Quanto à origem, os frutos podem ser: (1) naturais, quando decorre de força da natureza,
ou seja, da força orgânica da coisa, ainda que possa haver colaboração técnica humana para
maximizar a produção, a exemplo das frutas produzidas por uma árvore, das crias de animais
e dos ovos; (2) industriais4, quando decorre de conduta humana, ou seja, do engenho humano,
como o lucro de uma empresa, os pães produzidos por uma padaria, a produção de uma fá-
brica etc.; (3) civis, quando decorrem da utilização da coisa por terceiros, como o aluguel, os
juros, os dividendos, as rendas, os foros (no caso de enfiteuse, o enfiteuta deve pagar anual-
mente um valor designado de foro para o senhorio direto).
Os frutos civis são também chamados de rendimentos. Apesar disso, o legislador, por ex-
cesso de cautela, incorre em redundância ao se valer da expressão frutos e rendimentos em
conjunto, provavelmente com o objetivo de impedir interpretações restritivas do verbete “fru-
tos” que pudessem excluir os frutos civis, a exemplo do que sucede no art. 1.506 do CC (per-
cepção de frutos e rendimentos pelo credor anticrético).
Quanto ao estado, os frutos podem ser: (1) pendentes, quando ainda não foram desta-
cados da coisa; (2) percebidos ou colhidos, quando já foram separados da coisa, mas ainda
existem; (3) estandes, quando estão armazenados para futuro deslocamento ou alienação;
(4) percipiendos, quando já deveriam ter sido destacados da coisa, mas ainda não o foram;
4
A proximidade do conceito de frutos industriais com o de naturais conduziu, por exemplo, o CC português a incluir os frutos
industriais nos naturais, de modo a contemplar apenas duas espécies de frutos: os naturais e os civis (Cordeiro, 2016, p.
232).
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(5) consumidos, quando já não existem mais. Os frutos naturais e industriais consideram-se
percebidos logo quando são separados da coisa principal, ao passo que os frutos civis presu-
mem-se percebidos a cada dia, conforme art. 1.215 do CC. Isso significa que, se alguém tem
direito a ser indenizado pelos frutos civis (ex.: o invasor de um imóvel deve indenizar o esbu-
lhado pelos frutos percebidos), ele deverá pagar os frutos civis produzidos diariamente (ex.: no
caso do invasor, este deve pagar o valor da diária do aluguel do imóvel).
Há relevância prática nessas distinções, do que dão exemplo do art. 206, § 3º, III (fixa prazo
de prescrição de 3 anos para pretensão de cobrar frutos civis pagáveis em períodos inferiores
a um ano), dos arts. 1.214 ao 1.216 (disciplinam a indenização pelos frutos no caso de posse)
e do art. 1.232 (presume titularidade dos frutos e dos produtos pelo proprietário do imóvel,
salvo norma diversa).
Vamos falar agora dos produtos.
Produtos são bens extraídos da coisa principal de modo esgotável. Os produtos implicam
uma fragmentação da coisa principal e, portanto, são finitos. São utilidades extraídas da coi-
sa principal, alterando-lhe a substância. Ilustrativamente, as pedras, o petróleo, os minérios
são produtos em relação ao imóvel do qual são extraídos, pois, em algum dia, esgotar-se-ão.
Há relevância prática nessa classificação. Por exemplo, no regime da comunhão parcial
de bens, os frutos dos bens particulares do cônjuge se comunicam (ex.: o aluguel auferido
com a locação de um imóvel adquirido por um dos cônjuges antes do casamento), conforme
art. 1.660, V, CC. Há presunção absoluta de que os frutos – que são rendimentos periódicos
da coisa – decorrem de esforço comum dos cônjuges. O mesmo não sucede em relação aos
produtos extraídos do bem particular, que continuam sendo bens particulares em razão do
fato de que o produto nada mais é do que a desintegração parcial da coisa: são fragmentos do
bem particular. Se se pudesse comunicar os produtos, estar-se-ia comunicando o próprio bem
particular, o que não é admissível. O STJ já se manifestou nesse sentido (STJ, REsp 1171820/
PR, 3ª T., Rel. p/ Acórdão Min. Nancy Andrighi, DJe 27/04/2011).
Vamos agora falar de benfeitorias.
Benfeitoria é a despesa ou o trabalho (o esforço) feito para a conservação ou o aperfeiço-
amento de um bem principal ou para mero deleite. A benfeitoria envolve alteração na estrutura
do bem principal. Há uma adesão material ao bem principal. Benfeitorias são despesas ou
condutas voltadas a um bem. Etimologicamente, benfeitoria envolve o verbo “fazer” (-feitoria).
Benfeitoria decorre da aglutinação de um bem, de uma despesa ou de um serviço ao bem
principal mediante uma alteração feita na estrutura física da coisa. Há adesão material da
benfeitoria ao bem principal. Assim, a reparação de um telhado envolve uma despesa com a
contratação de um profissional especializado ou um esforço pessoal do próprio benfeitor na
conservação da coisa principal. Essa despesa ou esse serviço pessoal são considerados ben-
feitorias necessárias.
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Bens imóveis também podem ser pertenças, a exemplo de um lote destinado de modo dura-
douro a servir de estacionamento para um imóvel principal (ex.: lote para estacionamento dos
clientes de um banco, cujo prédio está localizado em lote vizinho) ou a exemplo de um imóvel
destinado à acomodação de doentes com moléstias contagiosas em local separado do imóvel
sede do hospital. A relação de pertença pode ser aperfeiçoada até mesmo pela formalização
de um direito real de servidão, tornando esse imóvel de estacionamento o prédio serviente.
Pode também ser meramente averbado na matrícula do imóvel a condição de pertença, sem
um direito real correlato. A doutrina majoritária é nesse sentido (Carnacchioni, 2013, p. 456).
E realmente não há motivos para se insurgir contra isso, pois o art. 93 do CC não restringe as
pertenças aos bens móveis, ao contrário, por exemplo, do que fez o art. 210º, item 1, do Código
Civil português de 1966, que textualmente limitou a pertença a bens móveis8. O CC brasileiro,
embora tenha inegável influência do Código lusitano, não quis reproduzir essa limitação. Há di-
vergência, todavia. Para Maria Helena Diniz (2012, p. 391), a pertença é sobre bens móveis, de
maneira que as hipóteses retrocitadas de “imóvel-pertença” seriam classificadas como bens
imóveis por acessão física artificial, categoria não contemplada textualmente no CC e utilizada
pela eminente doutrinadora diante da sua interpretação restritiva do art. 93 do CC.
8
Os Códigos Civis suíços e alemão também textualmetne limitaram as pertenças aos bens móveis.
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QUESTÕES DE CONCURSO
001. (CESPE/DELEGADO/PC-GO/2017/ADAPTADA) Sendo o domicílio o local em que a pes-
soa permanece com ânimo definitivo ou o decorrente de imposição normativa, como ocorre
com os militares, o domicílio contratual é incompatível com a ordem jurídica brasileira.
005. (CESPE/TCE-RO/2013) Assim como as pessoas naturais, a pessoa jurídica pode ter mais
de um domicílio, se tiver diversos estabelecimentos em lugares diferentes. Nesse caso, cada
estabelecimento será considerado domicílio para os atos nele praticados.
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GABARITO
1. E 15. C 29. E
2. C 16. C 30. E
3. E 17. E 31. E
4. E 18. C 32. b
5. C 19. C 33. C
6. E 20. E 34. c
7. E 21. E 35. E
8. E 22. C 36. E
9. E 23. a 37. E
10. E 24. E 38. E
11. C 25. E 39. E
12. E 26. E 40. E
13. C 27. E 41. C
14. b 28. E
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GABARITO COMENTADO
001. (CESPE/DELEGADO/PC-GO/2017/ADAPTADA) Sendo o domicílio o local em que a pes-
soa permanece com ânimo definitivo ou o decorrente de imposição normativa, como ocorre
com os militares, o domicílio contratual é incompatível com a ordem jurídica brasileira.
Art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo
definitivo.
Art. 76. Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o militar, o marítimo e o preso.
Parágrafo único. O domicílio do incapaz é o do seu representante ou assistente; o do servidor pú-
blico, o lugar em que exercer permanentemente suas funções; o do militar, onde servir, e, sendo da
Marinha ou da Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar imediatamente subordinado;
o do marítimo, onde o navio estiver matriculado; e o do preso, o lugar em que cumprir a sentença.
Art. 78. Nos contratos escritos, poderão os contratantes especificar domicílio onde se exercitem e
cumpram os direitos e obrigações deles resultantes.
Errado.
É o art. 70 do CC:
Art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo
definitivo.
Certo.
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É uma espécie de domicílio voluntário especial, pois decorre de vontade das partes (“voluntá-
rio”) e se destina a um fim jurídico específico (o contrato em que foi pactuado o foro de elei-
ção). Veja art. 78 do CC:
Art. 78. Nos contratos escritos, poderão os contratantes especificar domicílio onde se exercitem e
cumpram os direitos e obrigações deles resultantes.
Errado.
O domicílio do servidor público decorre de lei, e não de sua vontade. É o lugar onde ele exerce
permanentemente suas atividades. É o art. 76 do CC:
Art. 76. Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o militar, o marítimo e o preso.
Parágrafo único. O domicílio do incapaz é o do seu representante ou assistente; o do servidor pú-
blico, o lugar em que exercer permanentemente suas funções; o do militar, onde servir, e, sendo da
Marinha ou da Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar imediatamente subordinado;
o do marítimo, onde o navio estiver matriculado; e o do preso, o lugar em que cumprir a sentença.
Errado.
005. (CESPE/TCE-RO/2013) Assim como as pessoas naturais, a pessoa jurídica pode ter mais
de um domicílio, se tiver diversos estabelecimentos em lugares diferentes. Nesse caso, cada
estabelecimento será considerado domicílio para os atos nele praticados.
É o § 1º do art. 75 do CC:
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Cada local de trabalho é domicílio para questões jurídicas relativas a esse local, conforme pa-
rágrafo único do art. 72 do CC:
Art. 72. É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o lugar
onde esta é exercida.
Parágrafo único. Se a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada um deles constituirá
domicílio para as relações que lhe corresponderem.
Errado.
Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva, conside-
rar-se-á domicílio seu qualquer delas.
Errado.
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Art. 76. Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o militar, o marítimo e o preso.
Parágrafo único. O domicílio do incapaz é o do seu representante ou assistente; o do servidor pú-
blico, o lugar em que exercer permanentemente suas funções; o do militar, onde servir, e, sendo da
Marinha ou da Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar imediatamente subordinado;
o do marítimo, onde o navio estiver matriculado; e o do preso, o lugar em que cumprir a sentença.
Certo.
Art. 76. Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o militar, o marítimo e o preso.
Parágrafo único. O domicílio do incapaz é o do seu representante ou assistente; o do servidor pú-
blico, o lugar em que exercer permanentemente suas funções; o do militar, onde servir, e, sendo da
Marinha ou da Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar imediatamente subordinado;
o do marítimo, onde o navio estiver matriculado; e o do preso, o lugar em que cumprir a sentença.
Errado.
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É o art. 73 do CC:
Art. 73. Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha residência habitual, o lugar onde for
encontrada.
Certo.
Juiz de fora e apartamento alugado no Rio de Janeiro são domicílio voluntário, pois há ânimo
definitivo (arts. 70 e 71, CC). Petrópolis não são domicílio por faltar ânimo definitivo (art. 70,
CC). Hospital é domicílio profissional do médico (art. 72, CC). Com a nomeação dos tutores, o
domicílio legal dos menores passou a ser o domicílio dos tutores por força do parágrafo único
do art. 76 do CC. O gabarito, pois, é letra “B”. Veja os referidos dispositivos:
Art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo
definitivo.
Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva, conside-
rar-se-á domicílio seu qualquer delas.
Art. 72. É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o lugar
onde esta é exercida.
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Parágrafo único. Se a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada um deles constituirá
domicílio para as relações que lhe corresponderem.
Art. 76. Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o militar, o marítimo e o preso.
Parágrafo único. O domicílio do incapaz é o do seu representante ou assistente; o do servidor pú-
blico, o lugar em que exercer permanentemente suas funções; o do militar, onde servir, e, sendo da
Marinha ou da Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar imediatamente subordinado;
o do marítimo, onde o navio estiver matriculado; e o do preso, o lugar em que cumprir a sentença.
Letra b.
É o art. 76 do CC:
Art. 76. Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o militar, o marítimo e o preso.
Parágrafo único. O domicílio do incapaz é o do seu representante ou assistente; o do servidor pú-
blico, o lugar em que exercer permanentemente suas funções; o do militar, onde servir, e, sendo da
Marinha ou da Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar imediatamente subordinado;
o do marítimo, onde o navio estiver matriculado; e o do preso, o lugar em que cumprir a sentença.
Certo.
Art. 76. Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o militar, o marítimo e o preso.
Parágrafo único. O domicílio do incapaz é o do seu representante ou assistente; o do servidor pú-
blico, o lugar em que exercer permanentemente suas funções; o do militar, onde servir, e, sendo da
Marinha ou da Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar imediatamente subordinado;
o do marítimo, onde o navio estiver matriculado; e o do preso, o lugar em que cumprir a sentença.
Certo.
Trata-se de uma universalidade de direito (art. 91, CC), e não de universalidade de fato (art. 90,
CC). Veja os referidos dispositivos:
Art. 90. Constitui universalidade de fato a pluralidade de bens singulares que, pertinentes à mesma
pessoa, tenham destinação unitária.
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Parágrafo único. Os bens que formam essa universalidade podem ser objeto de relações jurídicas
próprias.
Art. 91. Constitui universalidade de direito o complexo de relações jurídicas, de uma pessoa, dota-
das de valor econômico.
Errado.
Nenhum bem público pode ser objeto de qualquer tipo de usucapião. Veja o art. 102 do CC:
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Art. 94. Os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não abrangem as pertenças, sal-
vo se o contrário resultar da lei, da manifestação de vontade, ou das circunstâncias do caso.
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por não serem parte integrante do bem principal, não devem ser alcançados pelo negócio
jurídico que o envolver, a não ser que haja imposição legal, ou manifestação das partes
nesse sentido.
4. É direito do devedor fiduciante retirar os aparelhos de adaptação para direção por defi-
ciente físico, se anexados ao bem principal, por adaptação, em momento posterior à cele-
bração do pacto fiduciário.
5. O direito de retirada dos equipamentos se fundamenta, da mesma forma, na solidarie-
dade social verificada na Constituição Brasileira de 1988 e na Lei n. 13.146 de 2015, que
previu o direito ao transporte e à mobilidade da pessoa com deficiência ou com mobili-
dade reduzida, assim como no preceito legal que veda o enriquecimento sem causa.
6. Recurso especial provido.
(STJ, REsp 1305183/SP, 4ª T., Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, DJe 21/11/2016)
Certo.
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Art. 103. O uso comum dos bens públicos pode ser gratuito ou retribuído, conforme for estabelecido
legalmente pela entidade a cuja administração pertencerem.
Errado.
Art. 101. Os bens públicos dominicais podem ser alienados, observadas as exigências da lei.
Errado.
Questão define bem consumível (art. 86, CC), e não infungível (art. 85, CC):
Art. 85. São fungíveis os móveis que podem substituir-se por outros da mesma espécie, qualidade
e quantidade.
Art. 86. São consumíveis os bens móveis cujo uso importa destruição imediata da própria substân-
cia, sendo também considerados tais os destinados à alienação.
Errado.
Questão define bens fungíveis (art. 85, CC), e não consumíveis (art. 86, CC).
Errado.
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Questão trata dos produtos, e não dos frutos. Os produtos são bens acessórios extraídos da
coisa principal de modo esgotável. Os produtos são, grosso modo, a fragmentação de parte
da coisa principal. A sua retirada altera, pois, a substância da coisa principal. Ex.: o petróleo
extraído de uma fazenda é produto, pois, ao ser retirado, a fazenda perde esse conteúdo e não
produz outro no lugar.
É diferente dos frutos, que são bens extraídos do principal de modo inesgotável, pois o bem
principal pode produzir outros no lugar do que foi extraído. Ex.: os grãos de soja colhidos de
uma fazenda são frutos, pois, com uma nova plantação, a fazenda pode gerar mais grãos.
Errado.
Rendimentos, que são também chamados de frutos civis, são frutos. De fato, quanto à origem,
os frutos podem ser:
a) naturais, quando decorre de força da natureza, ou seja, da força orgânica da coisa, ainda que pos-
sa haver colaboração técnica humana para maximizar a produção, a exemplo das frutas produzidas
por uma árvore, das crias de animais e dos ovos;
b) industriais, quando decorre de conduta humana, ou seja, do engenho humano, como o lucro de
uma empresa, os pães produzidos por uma padaria, a produção de uma fábrica etc.;
c) civis, quando decorrem da utilização da coisa por terceiros, como o aluguel, os juros, os dividen-
dos, as rendas, os foros (no caso de enfiteuse, o enfiteuta deve pagar anualmente um valor designa-
do de foro para o senhorio direto).
Errado.
Questão trata das benfeitorias necessárias, e não das úteis, conforme art. 96 do CC:
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Art. 88. Os bens naturalmente divisíveis podem tornar-se indivisíveis por determinação da lei ou por
vontade das partes.
Errado.
a) Errada. Item define bens fungíveis (art. 85, CC), e não bens móveis (arts. 82 a 84, CC).
b) Certa. É o art. 89 do CC.
c) Errada. Ao contrário do dito no item, admite-se bens imóveis por acessão artificial, e não
apenas por acessão natural (art. 79, CC).
d) Errada. Parte final contraria art. 82 do CC.
e) Errada. Não pode ter diminuição considerável do valor (art. 87, CC).
Veja os dispositivos citados:
Art. 82. São móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força alheia, sem
alteração da substância ou da destinação econômico-social.
Art. 83. Consideram-se móveis para os efeitos legais:
I – as energias que tenham valor econômico;
II – os direitos reais sobre objetos móveis e as ações correspondentes;
III – os direitos pessoais de caráter patrimonial e respectivas ações.
Art. 84. Os materiais destinados a alguma construção, enquanto não forem empregados, conservam
sua qualidade de móveis; readquirem essa qualidade os provenientes da demolição de algum prédio.
Art. 87. Bens divisíveis são os que se podem fracionar sem alteração na sua substância, diminuição
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considerável de valor, ou prejuízo do uso a que se destinam.
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
Art. 89. São singulares os bens que, embora reunidos, se consideram de per si, independentemente
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dos demais.
Letra b.
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É o art. 84 do CC:
Art. 84. Os materiais destinados a alguma construção, enquanto não forem empregados, conser-
vam sua qualidade de móveis; readquirem essa qualidade os provenientes da demolição de algum
prédio.
Certo.
É o art. 99 do CC:
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Art. 97. Não se consideram benfeitorias os melhoramentos ou acréscimos sobrevindos ao bem sem
a intervenção do proprietário, possuidor ou detentor.
Errado.
Art. 88. Os bens naturalmente divisíveis podem tornar-se indivisíveis por determinação da lei ou por
vontade das partes.
Errado.
Art. 94. Os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não abrangem as pertenças, sal-
vo se o contrário resultar da lei, da manifestação de vontade, ou das circunstâncias do caso.
Errado.
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Uma caneta BIC azul é um bem fungível, apesar de não ser consumível (o seu uso não implica
destruição imediata).
Errado.
A questão define as pertenças, e não os bens acessórios (art. 94, CC). Bens acessórios são
aqueles que supõe um principal (art. 92) e envolvem várias subespécies: frutos, produtos, ben-
feitorias e parte integrante. Há controvérsia se pertença é ou não um bem acessório: o STJ
tende a entender que é um bem acessório, apesar de reconhecer que as pertenças possui
particularidades, como a de não seguir a sorte do bem principal se não houver lei, pacto ou
circunstâncias nesse sentido à luz do art. 94 do CC. Veja os dispositivos retrocitados:
Art. 92. Principal é o bem que existe sobre si, abstrata ou concretamente; acessório, aquele cuja
existência supõe a do principal.
Art. 93. São pertenças os bens que, não constituindo partes integrantes, se destinam, de modo du-
radouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro.
Art. 94. Os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não abrangem as pertenças, sal-
vo se o contrário resultar da lei, da manifestação de vontade, ou das circunstâncias do caso.
Veja ainda este precedente do STJ, que entendeu que, apesar de o equipamento de monitora-
mento acoplado ao caminhão seja um bem acessório ser um bem acessório na modalidade
“pertença”, ele não acompanha o bem principal pelo fato de, em regra, as pertenças não se
sujeitarem ao princípio da gravitação jurídica:
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Carlos Elias
Consultor Legislativo do Senado Federal em Direito Civil, Processo Civil e Direito Agrário (único aprovado no
concurso de 2012). Advogado. Professor em cursos de graduação, de pós-graduação e de preparação para
concursos públicos em Brasília, Goiânia e São Paulo. Ex-membro da Advocacia-Geral da União (Advogado
da União). Ex-Assessor de Ministro do STJ. Ex-técnico judiciário do STJ. Doutorando e Mestre em Direito
pela Universidade de Brasília (UnB). Bacharel em Direito na UnB (1º lugar em Direito no vestibular da UnB
de 2002). Pós-graduado em Direito Notarial e de Registro. Pós-Graduado em Direito Público. Membro do
Conselho Editorial da Revista de Direito Civil Contemporâneo.
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