2793-Texto Do Artigo-6743-1-10-20221230
2793-Texto Do Artigo-6743-1-10-20221230
2793-Texto Do Artigo-6743-1-10-20221230
660
1 Introdução
A teoria do diálogo das fontes tem direta relação com os direitos fundamentais,
pois põe em relevo o sistema de valores que estes representam e orienta a
aplicação simultânea de regras de diferentes fontes para dar efetividade
a estes valores. (BENJAMIN; MARQUES, 2018, p. 29).
e coletiva (art. 22); e que as ações de reparação por danos coletivos possam ser
exercidas coletivamente em juízo, observada a legislação pertinente (art. 42, § 3o).
Portanto, reitera-se que a proteção de dados pessoais deve ser encarada
predominantemente como direito coletivo lato sensu, justificada pela (i) assimetria
informacional entre os agentes de tratamento de dados (controlador e operador)
e o titular dos dados pessoais; (ii) por conta das inúmeras relações telemáticas
cotidianas que inviabilizem que os indivíduos tenham plena consciência de todas as
vezes em que teve os dados pessoais coletados apenas para a finalidade consentida;
(iii) garantia de que a proteção de dados possa ser amparada pela atuação do
Ministério Público e também por entidades civis especializadas, com estrutura e
expertise adequadas para equilibrar a relação jurídica e coibir eventuais abusos que
venham a ser cometidos por organizações, públicas ou privadas, as quais devem
manter o registro de tratamento de dados pessoais para controle e auditoria, sob
pena de serem penalizadas.
1 “Como acontece no domínio ambiental, privacidade de dados e leis de proteção sofrem violações com
muitas vítimas. Estes são normalmente delitos de exposição em massa. Semelhante aos delitos ambientais,
danos podem ser causados em um cenário de múltiplos atores em que é difícil identificar o culpado
(criadores de tecnologia, prestadores de serviços etc.) diante da pluralidade de causas (violação de dados,
design deficiente etc.); o que é um obstáculo extra para determinar a responsabilidade. Como resultado,
a legislação enfrenta um cenário onde a causalidade é complexa e estabelecer a responsabilidade é um
desafio.” (tradução nossa).
6 Conclusão
A economia digital se utiliza do aparato tecnológico disponível no estado da
arte e promove a coleta e o tratamento massivo de dados implicando restrições às
liberdades e à privacidade do cidadão e ofensa ao direito fundamental à proteção
de dados pessoais e à autodeterminação informativa.
A construção doutrinária e jurisprudencial sobre a proteção de dados pessoais
deve superar o critério da especialidade da norma da Lei no 13.709/2018 (LGPD) e ir
ao encontro de se estabelecer um diálogo com outras fontes normativas compatíveis
como, por exemplo, a do Direito do Consumidor e a do Direito Ambiental, a fim de
interpretar a legislação à luz de vetores coerentes e complementares, conformando-a
à realidade e aos direitos fundamentais.
Necessário reconhecer ligação entre o direito à proteção de dados pessoais
e o direito ambiental, uma vez que ambos apresentam características comuns e
demandam instrumentos jurídicos aptos a promover a proteção coletiva.
A utilização do princípio da ubiquidade ou transversalidade revela-se como
parâmetro implícito para auxiliar na aplicação da Lei no 13.709/2018 (LGPD), tanto
7 Referências
BENJAMIN, Antônio Herman; MARQUES, Cláudia Lima. A Teoria do Diálogo das
Fontes e seu Impacto no Brasil: uma homenagem à Erik Jayme. Revista de Direito
do Consumidor, São Paulo, v. 115, ano 27, jan./fev. 2018. Disponível em: https://
revistadedireitodoconsumidor.emnuvens.com.br/rdc/article/view/1042/911. Acesso
em: 16 fev. 2022.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI 6387 MC-REF/DF (Tribunal Pleno, Relator(a):
Min. ROSA WEBER). Disponível em: https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.
asp?incidente=5895165. Acesso em: 28 out. 2022.
COSTA, Luiz. Privacy and the precautionary principle. Computer Law & Security
Review, v. 28, n. fev. 2012. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/
article/abs/pii/S0267364911001804?via%3Dihub. Acesso em: 17 fev. 2022.
FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 4. ed. São
Paulo: Saraiva, 2003.
ZUBOFF, Shoshana. The Age of Surveillance Capitalism: the fight for a human future
at the new frontier of power. Nova Iorque: Public Affairs, 2020.