Aula 11a Sedimentação Floculenta MODELO

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SEDIMENTAÇÃO FLOCULENTA

Bibliografia consultada:

ECKENFELDER JR, W. W. Industrial Water Pollution Control. 3.ed, EUA:


McGraw-Hill, 2000.
IMHOFF, K.; IMHOFF, K. Manual de Tratamento de águas Residuárias. 1º
Reimpressão. São Paulo: Editora Edgard Blücher, 1998.
PESSOA, C.A.; JORDÃO, E.P. Tratamento de Esgotos domésticos. Rio de
Janeiro: ABES, 1995.
RAMALHO, R.S. Introduction to Wastewater Treatment Processes. 2nd ed.
London: Academic Press, 1983.
RAMALHO R.S. Tratamento de Aguas Residuales. Barcelona: Editora
Reverte, 1996.

A sedimentação floculenta acontece quando a velocidade de sedimentação das


partículas aumenta devido à coalescência com outras partículas. Isso faz com que se
formem aglomerados de diferentes tamanhos, formas e pesos. Ao contrário do que ocorre
com a sedimentação discreta, a trajetória das partículas é curva e não uma reta, pois as
partículas passam a ganhar maior velocidade à medida que aumentam de tamanho e peso.
Desta forma, todo o processo depende das características de floculação e sedimentação
das partículas. Não existe modelo matemático ou teórico capaz de representar a floculação
na suspensão sendo necessário recorrer à determinação experimental para se estabelecer
os parâmetros de projeto das suspensões floculentas.

DETERMINAÇÕES EM CONE DE SEDIMENTAÇÃO – CONE DE IMHOFF


O cone de sedimentação – Imhoff não pode ser empregado com segurança na
determinação da velocidade mínima de sedimentação (partículas flocosas), como no caso
de lodo estritamente granular; pois essa velocidade cresce a mediada que os flocos
afundam, variando constantemente. Também não é lícito transferir para escala plena uma
experiência feita em um cone de 0,40 metros de altura, quando a profundidade de água no
decantador for, por exemplo, de 2 ou 3 metros.
Seria necessário empregar um cone de sedimentação de mesma altura que a
profundidade do decantador em estudo, se o lodo for flocoso. Neste caso pode-se igualar o
tempo de sedimentação no cone com o tempo de detenção do decantador, no caso de fluxo
horizontal; este valor poderia ser empregado então no dimensionamento do cone.

1
DETERMINAÇÕES EM MODELO REDUZIDO (ESCALA PILOTO)

O modelo do ensaio nada mais é do que uma coluna cilíndrica formada por um tubo
de diâmetro igual ou superior a 150 mm, de altura igual ou superior à que se deseja para o
decantador. Esta coluna será cheia com o esgoto a se estudar. A intervalos iguais (0,60 m
por exemplo), se instala um registro para coleta de amostra, de forma a se poder, a
intervalos de tempos regulares, coletar e determinar o teor de matéria em suspensão (SS)
na amostra.
A Figura 1 é de uma coluna de ensaio e o exemplo seguinte indica os passos para
este tipo de experiência.

Figura 1 – Coluna para ensaio de sedimentação (JORDÃO & PESSOA, 1995)

2
Seja o esgoto de uma suspensão floculenta com concentração inicial de sólidos em
suspensão de 430 mg/L (SS0), cujas características de sedimentação se deseja determinar.
O seguinte procedimento se aplica :

1 enche-se uma coluna de sedimentação, tal como a apresentada na Figura 1;

2 da mistura homogênea, a intervalos regulares de tempo retira-se uma amostra de


cada profundidade, determinando-se, para estas amostras, a concentração de SS. A Tabela
1 apresenta os valores encontrados nos três pontos de amostragem de acordo com os
intervalos de tempo estabelecidos.

Tabela 1 – Concentração de SS na coluna de ensaio

Concentração de Sólidos em Suspensão


de acordo com a profundidade
tempo 0,60 m 1,20 m 1,80 m
(min) (ponto 1) (ponto 2) (ponto 3)
5 356,9 387 395,6
10 309,6 346,2 365,5
20 251,6 298,9 316,1
30 197,8 253,7 288,1
40 163,4 230,1 251,6
50 144,1 195,7 232,2
60 116,1 178,5 204,3
75 107,5 143,2 180,6

Fonte : Ramalho, 1983

3 com os dados da concentração de SS, calcula-se a percentagem de SS


removida, em cada profundidade, ao longo do tempo:
conc. inicial - conc. presente
%removida  x 100
conc. inicial
Na Tabela 2 podem ser observados os valores calculados, utilizando os dados obtidos da
Tabela 1.

3
Tabela 2 – Sólidos Suspensos removidos (%) na coluna de ensaio.

Sólidos Sólidos Sólidos


Suspensos Suspensos Suspensos
tempo (min) removidos (%) removidos (%) removidos (%)
a 0,60 m de a 1,20 m de a 1,80 m de
profundidade profundidade profundidade
0 0 0 0
5 17,0 10,0 8,0
10 28,0 19,5 15,0
20 41,5 30,5 26,5
30 54,0 41,0 33,0
40 62,0 46,5 41,5
50 66,5 54,5 46,0
60 73,0 58,5 52,5
75 75,0 66,7 58,0

Fonte : Ramalho, 1983.

4 Com os dados da Tabela 2, pode-se construir o gráfico apresentado na Figura 2,


de SS removidos (%) versus tempo.

80

70
0,60
m 1,20
60
m
SS removidos (%)

50 1,80
m
40

30

20

10

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80
tempo (min)
Figura 2 – Percentagem de SS removidos de acordo com o ponto de coleta versus o tempo
em minutos.

4
5 A partir da Figura 2 construa um gráfico de curvas características de remoção de
SS. Isso é feito pela leitura em porcentagens de remoção definidas (5, 10, 20, 30, ...) para
os intervalos de coleta no eixo x [ t(min) ] para cada uma das três profundidades. Este
valores estão apresentados na Tabela 3 e são utilizados na construção do gráfico
apresentado na Figura 3.

Tabela 3 – Valores obtidos por leitura do gráfico da Figura 2.

tempo (min)
SS removidos
0,60 m 1,20 m 1,80 m
(%)
5 1,2 2,5 3,7
10 2,5 5,0 6,5
20 6,7 11,0 14,5
30 11,7 19,0 25,0
40 18,0 30,0 39,0
50 27,0 44,0 56,5
60 38,5 61,5 77,5
70 55,0 87,5 -

Fonte : Ramalho, 1983.

0
remocao de 5% remocao de 10
0,2
remocao de 20 remocao de 30
0,4
remocao de 40 remocao de 50

0,6 remocao de 60

0,8

1,2

1,4

1,6

1,8
0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 90,0
tempo (min)

Figura 3 – Curva característica de remoção de SS.

5
6 A partir da Figura 3, na profundidade de 1,80 m, leia os valores de tempo (min)
correspondente às percentagens de 5, 10, 20, 30, 40, 50 e 60% de remoção, e calcule a
velocidade correspondente de sedimentação VS, a qual é igual a h/t, sendo t o tempo lido na
Figura 3 para cada curva de % de remoção de SS e h a altura de 1,80 m. Por exemplo, para
a curva de 30%, o tempo é igual a 25 min, sendo assim, a velocidade de sedimentação é
1,80 / 25 = 0,072 m/min = 4,3 m/h. Os valores obtidos são apresentados na Tabela 4.

Tabela 4 – Velocidades de Sedimentação

velocidade de
% de remoção t (min) sedimentação
(m/h)
5 3,7 29,19
10 6,5 16,62
20 14,5 7,45
30 25,0 4,32
40 39,0 2,77
50 56,5 1,91
60 77,5 1,39

Fonte : Ramalho, 1983.

Na Tabela 4 é possível adicionar a coluna de taxas de aplicação, cuja unidade deve


ser m3/(m2.d). Os resultados são apresentados na Tabela 5.

Tabela 5 – Cálculo da taxa de aplicação

Velocidade de taxa de
tempo (min) sedimentação aplicação % de remoção
(m/h) m3/m2.d
3,7 29,19 700,54 5,0
6,5 16,62 398,77 10,0
14,5 7,45 178,76 20,0
25,0 4,32 103,68 30,0
39,0 2,77 66,46 40,0
56,5 1,91 45,88 50,0
77,5 1,39 33,45 60,0

nota : taxa de aplicação = (velocidade de sedimentação) x 24

7 Assim, para a profundidade fixada, sólidos com a velocidade de sedimentação igual ou


maior do que 1,39 m/h são 60% removidos. Dessa forma, é necessário calcular a
percentagem de sólidos suspensos removidos de acordo com essas velocidades. Como

6
exemplo, pode-se calcular a percentagem de sólidos suspensos removidos para o tempo de
25 min.
Para t = 25 min, na altura de 1,80 m, 30% dos sólidos suspensos estarão
completamente removidos.
Considere agora a remoção de partículas em faixas de 10%. Iniciaremos com a
faixa 30 – 40% de remoção apresentada na Figura 3. Partículas nessa faixa são
removidas proporcionalmente à velocidade e de acordo com a altura média de
sedimentação. Entre as curvas de 30 e 40% tem-se a curva média de 35%. A altura
com que as partículas sedimentam a 30% é 1,80 m e a altura com que as partículas
sedimentam a 40% é 0,91m, sendo então a profundidade média com que as
partículas sedimentam na faixa de 30 – 40% de 1,355m; assim a remoção de
partículas nesta faixa é :
1,355 / 1,80 x (40 – 30) = 7,53%
De modo análogo, na faixa 40 – 50%, 40% sedimentam a 0,91 m, e 50% a 0,54 m;
assim, sendo 0,725 m a profundidade média em que são removidas, a remoção de
partículas nessa faixa é:
0,725 / 1,80 x (50 – 40) = 4,03%
De modo análogo, na faixa 50 – 60%, 50% sedimentam a 0,54 m, e 60% a 0,37 m;
assim, sendo 0,455 m a profundidade média em que são removidas, a remoção de
partículas nessa faixa é:
0,455 / 1,80 x (60 – 50) = 2,52%
Para este tempo de 25 minutos e velocidade de sedimentação correspondente, a
remoção total será a soma dos valores assim calculados : 30% + 7,53% + 4,03% +
2,53% = 44,1%.

A interpolação gráfica para a leitura dos valores de alturas correspondentes às


intersecções com as curvas são apresentadas na Figura 4.
Os resultados para a remoção de todas as partículas no cilindro de ensaio, para o
tempo de 25 min encontram-se na Tabela 6.

Tabela 6 – Percentagem de sólidos suspensos removidos para t = 25 min.


100% remoção @ 30% 30
Primeiro intervalo (30 – 40%): 1,355 / 1,80 x (40 – 30) 7,53
Segundo intervalo (40 – 50%): 0,725 / 1,80 x (50 – 40) 4,03
Terceiro intervalo (50 – 60%) : 0,455 / 1,80 x (60 – 50) 2,53
Total removido após 25 minutos 44,1%

7
0
remocao de 5% remocao de 10
0,2
remocao de 20 remocao de 30
0,4
remocao de 40 remocao de 50

0,6 remocao de 60

0,8

1,2

1,4

1,6

1,8
0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 90,0
tempo (min)

Figura 4 – Leitura gráfica da intersecção do tempo de 25 min com as curvas de


remoção.

Este trabalho é feito sucessivamente para todos os tempos, podendo-se preencher a Tabela
7.
Tabela 7 – Remoção de todas as partículas no cilindro de ensaio.

% de remoção entre as curvas


velocidade de Taxa de
tempo
sedimentação aplicação % de remoção 5 - 10% 10 - 20% 20 - 30% 30 - 40% 40 - 50% 50 - 60% % total removida
(min)
(m/h) m3/(m2.d)
3,7 29,19 700,54 5 3,79 3,53 1,43 0,83 0,54 0,35 15,47
6,5 16,62 398,77 10 - 6,72 2,63 1,49 0,96 0,63 22,42
14,5 7,45 178,76 20 - - 7,29 6,55 3,98 1,47 39,29
25 4,32 103,68 30 - - - 7,53 4,03 2,53 44,09
39 2,77 66,46 40 - - - - 7,72 4,42 52,14
56,5 1,91 45,88 50 - - - - - 7,86 57,86
77,5 1,39 33,45 60 - - - - - - 60

8 Pode-se agora, construir uma tabela com os valores de tempo, taxa de aplicação e
percentagem total de sólidos suspensos removidos. Esses valores encontram-se na Tabela
8. Com os valores da Tabela 8 pode-se construir duas novas curvas : a curva de
percentagem de sólidos suspensos removidos versus tempo de detenção, apresentada

8
na Figura 5; e a curva de percentagem de sólidos suspensos removidos versus taxa de
aplicação apresentada na Figura 6.

Tabela 8 – Percentagem de sólidos suspensos removidos de acordo com o tempo de


detenção hidráulico e a taxa de aplicação superficial.

tempo taxa de aplicação SS removidos


(min) m3/(m2.d) (%)
3,7 700,54 15,47
6,5 398,77 22,42
14,5 178,76 34,59
25 103,68 44,09
39 66,46 52,14
56,5 45,88 57,86
77,5 33,45 60

70

60

50
SS removidos (%)

40

30

20

10

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
tempo (min)

Figura 5 - Percentagem de sólidos suspensos removidos versus tempo de detenção.

9
70

60

50
SS removido (%)

40

30

20

10

0
0 100 200 300 400 500 600 700 800
taxa de aplicação superficial [ m3/(m2.d) ]

Figura 6 - Percentagem de sólidos suspensos removidos versus taxa de aplicação


superficial.

A partir das figuras 5 e 6, para uma remoção qualquer desejada se poderá selecionar a taxa
de aplicação superficial indispensável a se empregar. Pode-se igualmente relacionar a
remoção de SS ao tempo de detenção.

10
Exemplo Prático

1. Deseja-se determinar as dimensões de um decantador destinado a reduzir o teor de SS


a 200 mg/L, de um esgoto cujas características são as referidas no estudo anterior
(concentração inicial de 430 mg/L), sendo a vazão de projeto de 18000 m3/d.

 redução desejada de SS = (430 – 200) / 430 = 53,5%


 na curva da Figura 5, lê-se, para redução de 53,5% : tempo residência = 42 min
 na curva da Figura 6, lê-se, para redução de 53,5% : taxa de aplicação = 62
m3/(m2.d)
 é usual tomar-se um coeficiente de segurança de 1,5, uma vez que as
condições de escoamento não são ideais, sendo assim:
 taxa de aplicação superficial = 62 / 1,5 = 41,33 m3/m2.d
 vazão de efluente = 18000 m3/d x 1,5 = 27000 m3/d
 área superficial do decantador : Q / taxa = 27000 / 41,33 = 653,3 m2
 diâmetro do decantador, considerando circular : 28,8 m
 volume útil do decantador : V = Q . t = 27000 m3/d x 42 min = 787,5 m3
 altura útil do decantador : H = V / A = 1,21 m

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