Cleófano Lopes de Oliveira - Flor Do Lácio

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CLEÓFANO LOPES DE OLIVEIRA nasceu

em Batata is, São Paulo, aos 17 de junho de


1895. Foi à Bélgica estudar medicina na
Universidade Livre de Bruxelas, mas, com
o início da I Guerra Mundial, voltou ao Bra-
sil. Iniciou sua carreira no magistério como
professor de inglês no Instituto de Educa-
ção Peixoto Gomide, de ltapetininga. Um
dos pracinhas da Revolução Constitucio-
nalista de 1932, defendeu os ditames do
Manifesto dos Pioneiros da Educação. Foi
professor catedrático de francês do cur-
so ginasial da Escola Estadual Caetano de
Campos, de São Paulo, e depois catedrático
de português e literatura do Curso Normal
dessa mesma escola. Flor do Lácio foi publi-
cado em 1943, sob o título A explicação de
textos e a composição literária com exercícios
de língua e de estilo, dedicado às suas alu-
nas. O livro foi logo adotado em escolas de
todo o estado de São Paulo e outras capi-
tais do país no período de 1944 a 1967. O
professor Cleófano foi autor, também, de
Eglantine de France, France Immortelle, e de
uma Grammaire Française Elémentaire. Fale-
ceu em 1988, em São Paulo, a poucos dias
de completar 93 anos.
Flor do Lácio
Flor do Lácio
Explicação de textos e
guia de composição literária

Cleófano Lopes de Oliveira

Apresentação de
Caio Perozzo

Posfácio de
Ana Lúcia de Oliveira Brandão

KÍRION
Flor do Lácio:
explicação de textos e guia de composição literária
Cleófano Lopes de Oliveira
1 ª edição - fevereiro de 2023- CEDET
Copyright © Herdeiros de Cleófano Lopes de Oliveira

Reservados todos os direitos desta obra.


Proibida toda e qualquer reprodução desta edição por qualquer meio ou forma, seja ela
eletrônica ou mecânica, fotocópia, gravação ou qualquer outro meio de reprodução, sem
permissão expressa do editor.

Sob responsabilidade do editor,


não foi adotado o Novo Acordo Ortográfico de 1990.

Editor:
Felipe Denardi

Preparação de texto:
Beatriz Mancilha

Capa:
Laura Barreto

Diagramação:
Thatyane Furtado

Revisão de provas:
Juliana Coralli
José Carlos Moura
Flávia Theodoro

Os direitos desta edição pertencem ao


CEDET Centro de Desenvolvimento Profissional e Tecnológico
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Condomínio GR Campinas 2 módulo 8
CEP: 13069-096 Vila San Martin, Campinas-SP
Telefones: (19) 3249-0580 / 3327-2257
e-mail: [email protected]

Conselho editorial:
Adelice Godoy
César Kyn d'Ávila
Sílvio Grimaldo de Camargo
Sumário

Apresentação 13
Caio Perozzo

Prefácio 19

Grupo de textos 23

PARTE I - EXPLICAÇÃO DE TEXTOS E COMPOSIÇÃO LITERÁRIA:


DESCRIÇOES CONVERSAÇÃO CARTAS

I. A descrição 29
Descrição de coisas sem movimento 31
Descrição de quadros de conjunto sem movimento 53
Descrição com impressões pessoais 75
Descrição de vistas e quadros animados 100

Retratos descritivos 121


Descrição de animais 145
Descrição de pessoas em ação....................................................17I
Descrição de animais ou de grupos de seres em ação 194
Descrição de animais em ação 195
Descrição de grupos de seres em ação 213
Descrição de ações num quadro 240
Descrição de sucessão de quadros ou de fatos............................. 256

II. Conversação 275

III. Cartas 295

PARTE II - EXPLICAÇÃO DE TEXTOS E COMPOSIÇÃO LITERÁRIA:


NARRATIVAS - FÁBULAS ANEDOTAS IMPRESSOES PESSOAIS-
DISCURSOS IDÉIAS MORAIS DISSERTAÇÓES

I. Narrativas 3 23
As diversas espécies de narrativas 341
Narrativas descritivas 342
Narrativas demonstrativas......................................................... 362
Narrativas dramáticas 376
Narrativas humorísticas 390
Narrativas com reflexões 402
Narrativas com conversação 414
Narrativas com retrato 426
Narrativas exóticas ....................................................................436
Narrativas antigas 448

II. Fábulas 461

III. Anedotas 475

IV. Expressão de impressões pessoais.....................................487

V. Discursos 503
Sermão 516

VI. A dissertação 521


Expressão de idéias morais 523
Dissertações 532

PARTE III: NARRAÇÕES

I. A narração 543
Narração em prosa 545
Narração em verso 550

PARTE IV: RUDIMENTOS DE ARTE LITERÁRIA

Rudimentos de arte literária 579

Caracteres gerais das grandes correntes literárias 597

Posfácio
A misteriosa e instigante trajetória profissional
do Professor Cleófano Lopes de Oliveira 601
-Ana Lúcia de Oliveira Brandão

6
Índice de textos

TEXTOS EXPLICADOS

A cela do religioso, de Aluísio de Azevedo 31


Chafariz secular, de Luís Carlos 34
Paisagem gaúcha, de Alcides Maia 54
A baía de Botafogo, de Canto e Melo 57
O Templo do Sol, de Gastão Cruls 59
Anoitecer, de Raimundo Correia 77
Ocaso, de Pinheiro Chagas 80
O salto do Guaíra, de Emílio de Menezes 101
Manhã na roça, de Virgílio Várzea 104
Sertão, de Luís Carlos 107
O Marechal Floriano, de Alcindo Guanabara 123
Cecília, de José de Alencar 125
O cisne (tradução) 147
O cavalo sertanejo, de Gustavo Barroso 149
A cascavel, de Júlio Ribeiro...................................................152
Maria-sem-tempo, de Domício da Gama..............................172
O Saci-Pererê, de Olívio do Lago 175
O touro do circo, de Rebelo da Silva 195
A festa de Santa Ifigênia, de Coelho Neto 213
Noite joanina, de Escragnolle Dória 241
Os elefantes, de Ricardo Gonçalves 258
Apelo de Dom João 1, de Alexandre Herculano 277

7
FLOR DO LÁCIO

O pintassilgo, de Francisco Xavier de Oliveira......................296


O Anhangabaú, de Giraldes Filho 325
A vila da praia, de Vicente de Carvalho 342
O quadro do "Estio", de Camilo Castelo Branco 344
O califa e o ancião, de Latino Coelho................................... 362
A morte de Rosa, de Aurélio Pinheiro 376
O sonâmbulo, de Humberto de Campos 390
O escravo, de Ciro Costa 402
Demonstração matemática, de Teodoro de Morais 414
O ideal de Nhonhô, de França Júnior 426
Na China de outrora, de Eça de Queirós..............................436
Na Judéia antiga, de Eça de Queirós 448
O Homem-Deus, de Camilo Castelo Branco 451
O leão velho, de Bocage........................................................463
Tiro ao alvo, de Teodoro de Morais 475
Noturno, de Coelho Neto.....................................................489
O velho lar, de Coelho Neto 491
As naus, de Luís Delfino.......................................................492
A catedral do arcebispo, de Carlos de Laet............................ 505
Velho terna, de Vicente de Carvalho 523
A torre dos ratos (lenda germânica) 545
A ascensão de Jesus Cristo, de Fagundes Varela 550

EXPLICAÇÕES DA DESCRIÇÃO E DA NARRAÇÃO

A descrição 29
Conselhos práticos de redação 48
Quadros de conjunto sem movimento 53
Descrição com impressões pessoais 75
Descrição de vistas e quadros animados 100
Retratos descritivos 121
Descrição de animais 145
Descrição de pessoas em ação 171
Descrição de animais ou de grupos de seres em ação 194
Descrição de ações num quadro 240
Descrição de sucessão de quadros ou de fatos........................ 256
Conversação 275
Cartas 295
Narrativas 323

8
ÍN DI CE DE TEXTOS

As diversas espécies de narrativas 341


A fábula 461
A expressão de impressões pessoais......................................487
Discursos 503
A dissertação 521
A narração 543

TEXTOS PARA EXPLICAÇÃO

A casa da fazenda, de Monteiro Lobato 38


O gabinete do médico, de Aurélio Pinheiro 41
Um quarto de moça, de José de Alencar 44
Um pôr de sol, de Eça de Queirós 63
Paisagem sertaneja, de Gustavo Barroso 66
O vale amazônico, de Raimundo Morais 69
Recife de coral, de Olegário Mariano 84
A baía do Rio de Janeiro, de Mateus de Albuquerque 87
Luar na praia, de Gustavo Barroso 90
Na floresta, de Gastão Cruls 1 II
Luz e calor, de Coelho Neto n4
Jacinto, de Eça de Queirós 129
O Conde dos Arcos, de Rebelo da Silva 132
O Duque de Caxias, de Pinto de Campos 135
O Visconde de Inhomerim, de Visconde de Taunay.............. 138
O cachorro do sertão, de Gustavo Barroso 155
O tamanduá-bandeira, de Couto de Magalhães....................158
O urubu-rei, de N. Badarioti 161
O polvo, de Padre Vieira..................................................... 164
lracema, de José de Alencar 177
O mineiro, de Luís Carlos 180
O selvagem, de José de Alencar.............................................184
Dança africana, de Xavier Marques 187
O jararacuçu, de J. Severiano de Rezende 198
Quincas Borba, de Machado de Assis 201
Leão, de Luís Carlos 205
O cão vadio, de Leo Vaz 208
A dança dos colonos alemães, de Graça Aranha 216
A dança dos selvagens, de Gastão Cruls 219
O estouro da boiada, de Rui Barbosa 222

9
FLOR DO LÁCIO

O estouro da boiada, de Euclides da Cunha 226


As borboletas, de Alberto de Oliveira 230
Os passarões, de Gastão Cruls 234
O trem de ferro, de Luís Carlos 243
Cena rural, de Veiga Miranda...............................................246
O milagre das chuvas no nordeste, de Graça Aranha 250
A cavalgada, de Raimundo Correia 261
Um trem parte de São Paulo, de Rubens do Amaral.............264
O prazer de viajar, de Eça de Queirós 268
Os três talismãs, de Teodoro de Morais 281
Ouvir estrelas, de Olavo Bilac...............................................284
O bom médico, de Antônio José da Silva 288
Carta a Monte Alverne, de Antônio Feliciano de Castilho ....299
Carta a Antônio Feliciano de Castilho, de Monte Alverne 303
O aniversário duma irmã, de Álvares de Azevedo 306
Uma carta, de O lavo Bilac 309
Carta a Ruth, de Olivério Lopes 312
A borboleta preta, de Machado de Assis 329
Um chá precioso, de Eça de Queirós 332
O coronel holandês, de Viriato Correia 336
O arroz-doce, de Eça de Queirós 347
Os foguetes, de Leo Vaz 351
A tempestade na selva, de Gastão Cruls 354
O amor materno, de Garcia Redondo...................................364
O tesouro do mujique, de Humberto de Campos.................367
A menina má, de Mendes Leal.. 370
A pobre escrava, de Afrânio Peixoto 379
A morte de Nuno Gonçalves, de Alexandre Herculano......... 382
O orador atrapalhado, de Viana Moog 393
Travessuras, de Machado de Assis 396
Artaxerxes e Demócrito, de Padre Manuel Bernardes 405
A morte de um herói, de Rio Branco 408
O filho pródigo, de João Batista de Castro 417
O rico avarento, de João Batista de Castro 420
O mestre de primeiras letras, de Machado de Assis 428
Reminiscências da vida colegial, de José de Alencar 431
Extravagante costume dos cipriotas,
de Frei Pantaleão de Aveiro 439

IO
ÍN DI CE DE TEXTOS

No castelo de Chapultepeque, de Rodrigo Otávio 442


O Gólgota e as santas mulheres, de Eça de Queirós 454
A cobra e o gaturamo, de Coelho Neto.................................465
O leão e a lebre, de V. de Santa Mónica................................469
Com amor de pai não se brinca, de Padre Manuel Bernardes .. 477
O sabichão, de Padre Manuel Bernardes...............................480
Os vagalumes, de Graça Aranha 494
Os vagalhóes, de Xavier Marques 497
A idéia abolicionista, de Rui Barbosa 508
Os bardos do Tabor, de Monte Alverne 512
O sal da terra, de Padre Vieira 516
A pátria, de Joaquim Manuel de Macedo 526
A virtude e a ciência, de Antônio Feliciano de Castilho 529
As violetas de Nossa Senhora, de Humberto de Campos 554

TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA

I. DESCRIÇOES

Coisas sem movimento 50


Quadros de conjunto sem movimento 73
Composições rápidas 94
Descrição mesclada de impressões pessoais 98
Vistas e quadros animados u8
Retratos descritivos 142
Descrição de animais 168
Pessoas em ação 191
Animais em ação 211
Grupos de seres em ação 237
Ações num quadro 254
Sucessão de quadros ou de fatos 272
Conversação 292
Cartas 317

I. NARRATIVAS

Narrativas simples 339


Narrativas descritivas 359
Narrativas demonstrativas 374
Narrativas dramáticas........................................................... 387
Narrativas humorísticas 400
II
FLOR DO LÁCIO

Narrativas com reflexões 412


Narrativas com conversação 424
Narrativas com retrato 434
Narrativas exócicas 447
Narrativas antigas 458
Fábulas 472
Anedotas 484
Impressões pessoais 501
Discursos 519
Expressão de idéias morais e dissertações 532
Dissertações sobre literatura brasileira 535
Narrações 556
Novelas e contos 569

RUDIMENTOS DE ARTE LITERÁRIA

Composição literária 579


Princípios da composição literária 579
Técnica literária 580
A explicação de textos 580
A crítica 580
Formas de composição 581
Versificação 581
Sílabas poéticas 5 81
Espécies de versos 582
Acentos 583
O enjambement 583
A rima 584
Qualidades da rima 584
Grupos de versos..................................................................585
Gêneros literários .................................................................585
O estilo 586
Qualidades do estilo 587
Figuras de palavras 588
Figuras de estilo 590
Ordem direta e ordem inversa 593
Discurso direto e discurso indireto 593
Literatura 595
As grandes épocas da literatura 595
Caracteres gerais das grandes correntes literárias 595
12
Apresentação

H Á alguns anos, eu e os professores Mateus Mota Lima, Danilo Moreira


Mendes, e Taiguara Fernandes, fomos convidados a palestrar aos adoles-
centes do maior colégio da rede estadual de ensino da Paraíba.
Recebemos o convite entusiasmados, e o aceitamos receosos, não apenas
porque à época estivéssemos habituados somente ao público jovial da Igreja,
mas antes por julgar que seríamos recebidos com o mais selvagem e absoluto
desinteresse. E ainda mais considerando os temas: literatura, história, e cultura.
Fomos. Não houve selvageria, mas havia o desinteresse. Todo palestrante
íntimo do púlpito sabe quando sua platéia não lhe corresponde; e o silêncio
bovino daqueles jovens era a mais inequívoca separação entre nossos discursos
e seus espíritos, que pelo mero fato de ser silente, foi tomada pelos professores
da casa, também nossos espectadores, como a mais estrondosa adesão.
Isto eles mesmos nos disseram logo após o fim do evento, enquanto tomá-
vamos café no refeitório, confortável e farto. Um, de trejeitos efeminados, até
perguntou como fazíamos para manter a atenção dos nossos alunos, pois que o
que tinha visto era incrível, não esperava que os meninos ficassem tão quietos,
etc. Eram todos de esquerda, construtivistas.
A escola possuía uma excelente estrutura. Depois do café, o mesmo pro-
fessor levou-nos em passeio pelas instalações, começando pelas salas de aula.
Eram grandes, iluminadas, limpas, bem ventiladas. Continuando a prosa do
refeitório, perguntei-lhe como era o comportamento de seus alunos. Disse que
era horrível, que já até soltaram bomba na classe, que pioram quando são amea-
çados de ser expulsos de sala, ao ponto, inclusive, de certa vez o terem agredi-
do. Que, de uns sessenta, somente dois ou três querem alguma coisa da vida,

13
FLOR DO LÁCIO

quase sempre pobres, filhos de porteiro, mototaxista, enquanto os demais os


atrapalham, sobretudo os figurões da turma, geralmente de melhor condição
financeira por terem parentes envolvidos com o tráfico da região, e que por isso
viviam de humilhar e corromper os honestos, e a vida de professor é muito di-
fícil, deve-se ter muito amor, etc., etc. Tive pena dele. Pior do que padecer um
mal, é não saber o quanto suas próprias convicções o alimentam.
Dali, acompanhados do diretor, fomos à biblioteca. Enorme, com boa mo-
bília, ar-condicionado, mais limpa que as classes, e mais farta que o refeitório
que acervo! Romances completos de Machado, Graciliano, José Lins do
Rego, Rachel de Queiroz, teatro e crônica de Nelson Rodrigues, e até os lendá-
rios volumes da Nova Aguilar de poesias completas de Murilo Mendes e Jorge
de Lima. Todos novíssimos, intocados. O diretor, vendo que eu os folheava
empolgado, com careta aborrecida e um muxoxo, queixou-se do desprezo lite-
rário dos alunos.
Antes de irmos embora, fui ao banheiro. Parecia limpo e sujo ao mesmo
tempo. O chão e as pias conservavam manchas e resíduos invencíveis às tenta-
tivas insistentes de higiene; e o cheiro não era intolerável, mas exalava aquela
adstringência meio artificial e meio fétida de quando se misturam produtos
químicos a restos incrustados de rejeitas.
Quando me viro para sair da cabina, deparo-me com uma série de inscrições
na porta. Uma obscenidade pior do que a outra. Olhei as outras portas, e li uma
antologia tão pornográfica que faria Henry Miller cair duro. Entendi, naquele
momento, que o banheiro, dentre todas as instalações da escola, era a mais viva,
a mais orgânica, e, arrisco dizer a mais simbólica. Ali jazia a autência expres-
são do espírito do alunado, o seu verdadeiro interesse literário.
Saio do banheiro, e faço a piada com o diretor. Ele se ri, e me diz: "Sabe o
que é pior? Mês passado esteve aqui uma moça, mestranda em Letras. Sua dis-
sertação era exatamente sobre as inscrições dos alunos nas portas dos banheiros
como forma de expressão artística. Veio aqui para 'colher material'. Acredita?".
À saída despediu-se de nós com o pesar resignado de quem vive de lançar se-
mentes que, irremediavelmente, ficarão sempre à beira do caminho.
Se promovêssemos uma pesquisa para indagar ao vulgo sobre qual o maior
problema do Brasil, a maioria responderia sem hesitar: educação. Não por acaso
que, a cada pleito eleitoral, os candidatos falam tanto em "investimento em
educação". Todos tendem a pensar que a educação brasileira está se fazendo
quando se constroem escolas como a que visitei. Porém, a cada escola, um novo
reduto dos mesmos problemas; e novamente a mesmíssima conclusão de que
precisamos investir mais em educação. Novas estruturas, mais problemas, mais
discurso, e mais dinheiro o nosso dinheiro.

14
APRESENTAÇÃO

Deste modo, note-se que, para o brasileiro médio, o valor do termo "educa-
ção" não se mede pela realidade educacional que deveria referenciar, senão que
pela expectativa de seus efeitos social e moral. Como "educação" é algo bom
em si mesmo, quanto mais, melhor! Quem seria louco de proclamar que não
precisamos de mais investimentos em educação?
No entanto, a grande verdade é que isto implica no financiamento desta
tragicomédia cíclica e infinda na qual todos os personagens se emaranham, na
mais profunda inconsciência de sua própria participação ativa na construção
do drama que os oprime: os professores não sabem que não educam, os alunos
não sabem que não são educados, os financiadores não sabem o que financiam,
e todos esperam, ao mesmo tempo, mais financiamento. Será realmente bom
em si mesmo nutrir tão pernicioso ciclo?
Além disso, escolas, papéis, canetas, merendas, salários, etc., são apenas
meios materiais de realização do processo educacional. Discutir os meios de
uma ação sem discutir os fins não significa absolutamente nada. É como deba-
ter a construção do melhor parque de diversão de todos, sem saber se será para
crianças ou cadáveres. Mas é justamente esta insistência teimosa na ostentação
dos meios que caracteriza nossa relação fetichista e artificial com a educação.
Todos só querem ver a escola pronta, bonitinha; pouco importa se dela saem
santos, ou monstros.
Longe de mim sugerir que burocratas discutam os fins da educação. O que
quero dizer é que, ao inverter a hierarquia entre meios e fins, no momento
mesmo em que alguém declara que o maior problema do Brasil está na "educa-
ção", ao menos dois traços se fazem patentes: 1) esse indivíduo não sabe o que
é educação, e, 2) está abstraindo a sua própria situação educacional da situação
discursiva, uma vez que a falta de educação seja sempre um problema da pátria
inteira, mas nunca dele mesmo, na dimensão pessoal.
Então, se todos falam sobre educação apenas na perspectiva de terceirização
dos meios, desconhecendo-lhe os fins, e, portanto, sem a menor consciência da
sua própria educação, temos elementos suficientes e incontestes para concluir
que, na verdade, o maior problema da educação brasileira é o fato de ninguém
querer se educar.
Em que pese caráter cultural tão deletério ao desenvolvimento das facul-
dades da alma, creio com toda benevolência que me é possível que se o leitor
optou livremente por adquirir o volume que ora tem em mãos, um antigo
manual escolar, é porque, mesmo de maneira incipiente, reconheceu o dever
de educar-se.
Mas convém adverti-lo que quem se livra do desleixo não está livre da pre-
sunção. Não se iluda achando que poderá, por si só, apreender o máximo deste

15
FL OR DO LÁCIO

livro. Primeiro pelo óbvio: foi escrito na perspectiva escolar, pressupondo a


dinâmica pedagógica entre aluno e professor; de modo que o livro, por ele
mesmo, não se presta a ser causa eficiente do processo pedagógico para o qual
fora concebido.
Ademais, pertence a uma época de professores mais qualificados e alunos
menos iletrados. Tenho absoluta certeza, pela minha experiência como profes-
sor de literatura, que quase ninguém está capacitado a, por exemplo, praticar os
exercícios de composição sem que alguém os corrija, e apreender a densidade
existencial das "idéias morais" (como chama o autor) que os textos trazem con-
sigo. De modo geral, só um professor letrado e minimamente culto será capaz
de modular o peso dos exercícios e corrigir o aluno. Nesse sentido, recomendo
os trabalhos dos professores Rafael Falcón, Francisco Escorsim, e, naturalmen-
te, a Formação Básica do Instituto Borborema.
Espero verdadeiramente que este livro, redivivo pelos esforços da Editora
Kírion, não seja mais uma semente a ficar no meio do caminho, mas que en-
contre solo fértil na alma de seus leitores, onde faça reflorescer, inculta e bela,
a última flor do Lácio.

CAIO PEROZzO
Professor do Instituto Borborema

16
A memória, sempre querida, de minha mãe
e a seu luminoso espírito, que vive junto de Deus.
Língua portuguesa

Última flor do Lácio, inculta e bela,


És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura,


Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu vio agreste e o teu aroma


De virgens selvas e de oceano largo.
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: "Meu filho!",


E em que Camões chorou, no ex/fio mnmgo,
O gênio em ventura e o amor sem brilho!

- Olavo Bilac
Prefácio

Este livro tem dois objetivos:


1) Procura ensinar a ler inteligentemente, de modo que o estudante possa
apreciar, em toda a plenitude, a beleza encerrada num texto e a forma literária
por que foi expressa;
2) Procura ensinar a colher, nessa leitura, os elementos necessários à estru-
turação de uma composição literária.

Considerando-se a amplitude deste programa, é bastante singelo, em suas


linhas gerais, o plano didático:
1) Estuda-se a descrição, em seus variados aspectos, desde a forma mais sim-
ples até a mais complexa, primeiramente em teoria, e, logo depois, em peque-
nos grupos de excertos escolhidos e seriados racionalmente, grupos que estão
indicados no capítulo seguinte. Desses excertos, os primeiros, de cada grupo,
são apresentados com uma explicação, que abrange as expressões, o plano de
composição e o estudo das idéias, impressões e sentimentos; e os outros, com
um questionário, que se refere a estes mesmos assuntos.
2) Estuda-se, de idêntico modo, a narrativa, em todas as suas modalidades,
entendendo-se que, por narrativa, designa o autor, por necessidade didática,
uma narração curta, em que são reduzidos, quanto ao número, os fatos e as
peripécias.
3) Transfere-se o mecanismo da descrição ou da narrativa explicada para
a composição que se vai desenvolver, após prepará-la por meio de exercícios
adequados. Com este fim:

19
FLOR DO LÁCIO

a. Cada texto é acompanhado de exercícios de vocabulário, gramática, elo-


cução e redação imitativa;
b. Cada grupo de textos termina por uma série de temas, sumários e esque-
mas de composição, organizados para desenvolver no aluno o sentido da obser-
vação e a disciplina intelectual. Esta parte poderá ser completada com trabalhos
baseados em gravuras, estampas ou quadros.

Mas as descrições e as narrativas nada mais são, neste livro, do que compo-
siçóes fragmentárias, de que se compõe a narração propriamente dita. Assim,
pois, o último estudo deste volume é o da narração, em prosa e verso, seguida
da ligeira análise dum texto e de sumários esquematizados, como, também, de
temas livres, para os trabalhos escritos deste gênero literário. Destarte,
1)O aluno é guiado e amparado na leitura crítica, sem que se lhe violente
a personalidade.
2) Por meio de variada ginástica, grava no espírito o que aprendeu.
3) Imita os escritores, apreendendo-lhes o segredo da arte de escrever, não
havendo perigo nesta imitação, pois constitui, apenas, um passo no aprendi-
zado, de que logo se liberta, conforme se pode verificar nas escolas européias,
onde tem sido praticada há muitos anos.
4) Aprende a observar, a julgar e a exprimir-se por si, tornando-se, pouco a
pouco, independente em sua sensibilidade estética e em sua expressão artística,
à medida que se vai assenhorando dos recursos estilísticos e das formas de com-
posição, o que lhe exige, sem dúvida, salutar e benéfico esforço criador.

No capítulo das "Dissertações", foi incluída, como exercícios especiais, uma


série de quarenta temas, que abrangem determinados aspectos da literatura
brasileira e cujo desenvolvimento requer, naturalmente, prévia explicação do
professor e acuradas leituras por parte dos alunos. Estas dissertações servem,
apenas, para completar o estudo que se faz neste manual.
Este livro, fruto de muitos anos de magistério, é regularmente volumoso,
pois contém, além dos rudimentos de arte literária e de explicações dos gêneros
e subgêneros literários estudados, quarenta e quatro textos já explicados, para
orientação dos estudantes, e cerca de setecentos e oitenta temas de composição.
Note-se, porém, que a parte destinada à explicação em aula consta, tão-so-
mente, de oitenta textos, dos quais nem todos precisam ser estudados, visto
como são, por vezes, numerosos os que pertencem ao mesmo grupo.
Este livro foi elaborado especialmente para os alunos das escolas normais
e institutos de educação do país; temos, todavia, a impressão e a esperança de
que talvez possa prestar algum serviço às classes adiantadas dos ginásios, colé-

20
PREFÁCIO

gios, escolas e cursos profissionais ou de comércio, colégios militares etc., assim


como a professores primários, que desejem ter à mão, para consultas, sugestões
e adaptações, um compêndio de composição.
Para melhor aproveitamento dos alunos, deve a explicação de textos obede-
cer rigorosamente à ordem de sucessão das lições indicadas na página seguinte.

21
Grupos de textos

Os textos, neste livro, estão agrupados da seguinte forma:


1) Descrição de coisas sem movimento
2) Descrição de quadros de conjunto sem movimento
3) Descrição mesclada de impressões pessoais
4) Descrição de vistas ou de quadros animados
5) Retratos descritivos
6) Descrição de animais
7) Descrição de pessoas em ação
8) Descrição de animais em ação
9) Descrição de grupos de seres em ação
10) Descrição de ações num quadro
11) Descrição de sucessão de fatos ou de quadros
12) Conversação
13) Cartas
14) Narrativas simples
15) Narrativas descritivas
16) Narrativas demonstrativas
17) Narrativas dramáticas
18) Narrativas humorísticas
19) Narrativas com reflexões
20) Narrativas com conversação
21) Narrativas com retrato
22) Narrativas exóticas
23) Narrativas antigas

23
FL OR DO LÁCIO

24) Fábulas
25) Anedotas
26) Impressões pessoais
27) Discursos
28) Idéias morais e dissertações
29) Narrações

Cada um desces grupos compreende estudos de textos e composições lite-


rárias.
Nesta obra também se encontram, como nas edições anteriores, uns pou-
cos exercícios de "composição rápida" para uso em classe, assim como três
resumos, incompletos, de "contos e novelas, que devem ser desenvolvidos e
completados.
Na arte como na ciência, no fazer como no agir, tudo está em apanhar
claramente um assunto e tratá-lo de conformidade com sua natureza.
Goethe
PARTE I
Explicação de textos e composição literária:
Descrições Conversação Cartas
I
A descrição

A DESCRIÇÃO é uma seqüência de análises de linhas, formas, aspectos, cor


[u o
relevo, reproduzindo artisticamente a natureza exterior, de modo que
possa ser visualizada, compreendida e apreciada pelo leitor. Pode ainda tra-
çar um caráter e, mesmo, traduzir as sensações experimentadas pelo escritor,
quando observa os objetos, os fatos e os fenômenos do mundo físico ou moral
que ele descreve.
Sua finalidade precípua, contudo, é fazer ver e sentir, o que exige de quem
escreve as mesmas qualidades indispensáveis à arte da pintura: desenho, relevo,
cor, perspectiva, além de um temperamento plástico que tenda sempre a satis-
fazer os sentidos pela representação, tão exata quanto possível, das formas, das
atitudes e dos cenários, através de meios de expressão precisos e vigorosos.
A descrição não se pode deter em minúcias inúteis ou desinteressantes, nem
abandonar dados essenciais, que se devem procurar pela observação ou pela
imaginação.
É um gênero que tem cabimento em todos os demais gêneros literários,
neles aparecendo sob diferentes formas: energia, pintura viva e rápida duma
situação; retrato físico ou moral, reprodução das feições ou do caráter duma
pessoa ou dum animal; cronografia, descrição das circunstâncias do tempo em
que sucedeu um fato; topografia, indicação das particularidades de um lugar.
Como exercício clássico, apresentamos, neste livro, a descrição desenvolvida
em onze grupos, distribuídos, de acordo com suas diferentes particularidades,
numa ordem que vai, em gradação crescente, do mais fácil ao mais difícil, do

29
FLOR DO LÁCIO

mais simples ao mais complexo, obedecendo, portanto, às leis que disciplinam


o fenômeno do conhecimento e que são fundamentais em literatura didática.
Esses grupos estão discriminados, logo no começo deste volume, na página 23.
Estude o aluno, não só nos textos já explicados, que servem de modelo,
como nos textos por explicar, que se apresentam acompanhados de questio-
nários, os processos descritivos dos escritores, e, depois, aplique-os aos temas
de composição literária, imitativa ou de observação, escolhendo ou formando,
com vagar e cuidado, expressões que traduzam, tão exatamente quanto possí-
vel, as formas, as cores, as luzes, as sombras etc., e procurando despertar-nos
o espírito para a fruição integral do que há de belo ou grandioso na natureza.

30
Descrição de coisas sem movimento
TEXTOS EXPLICADOS

I. A CELA DO RELIGIOSO

porta abriu-se sem ruído. Ele entrou, e a porta fechou-se de novo, silen-
A ciosamente. O lugar, em que o venerando religioso acabava de penetrar,
era uma triste cela, sombria e espaçosa, com uma janela gradeada e fechada, e
apenas frouxamente esclarecida por uma clarabóia do teto. As paredes, nuas de
alto a baixo, tinham uma cor sinistra de osso velho. Em uma delas havia um
grande nicho com a imagem da Virgem da Conceição, quase de tamanho na-
tural; a um dos cantos, uma negra estante, toscamente feita, pejada de grossos
alfarrábios amarelecidos pelo tempo; no centro, uma mesa de madeira escura
com um breviário em cima, ao lado de uma candeia de azeite, um pedaço de
pão duro, e um cilício de couro; junto à mesa, um banco de pau.

Al uísio de Azevedo

Estudo do plano de composição

1) Que nos descreve o autor nesta página?


R.: Descreve-nos a sombria e espaçosa cela, pobremente mobilada, de um
venerando religioso.

31
FL OR DO LÁCIO

2) Divida esta descrição em três partes, de acordo com o seguinte plano:


a. A triste cela
6. As paredes da cela
c. O mobiliário da cela
R.: A primeira parte começa em "A porta abriu-se" e termina em "clarabóia
do teto; a segunda inicia-se em "As paredes" e vai até "tamanho natural; a
terceira é o resto do trecho.

3) Mostre o que se vê em cada parte.


R.: Eis os elementos descritivos de cada parte:
a. Porta religioso cela janela fechada clarabóia
6. A cor das paredes o nicho a imagem
c. A estante os alfarrábios a mesa o breviário a candeia o
pedaço de pão duro o cilício o banco de pau

4) Como se faz a transição entre cada uma dessas partes e a seguinte?


R.: Faz-se suavemente, por meio de estreita sucessão de pormenores descri-
tivos, como que acompanhando o olhar do observador.

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse desta descrição?


R.: O interesse desta descrição está na seqüência dos pormenores descriti-
vos, porque nos revelam o interior duma cela de convento, deixando-nos entre-
ver aspectos da vida monacal.

2) Por que nos produz esta cela impressões de simplicidade, de ordem e de


pobreza?
R.: A impressão de simplicidade é-nos dada pelo aspecto geral da cela e pela
singeleza do mobiliário e dos utensílios; a ordem é-nos causada pela disposição
dos móveis e objetos; e a pobreza é-nos produzida pelo estado de conservação
das paredes, assim como pela escassez e rusticidade dos móveis.

3) Por que nos produz o religioso uma impressão de fé, de sobriedade, de


amor ao escudo, de expiação voluntária e de renúncia às coisas do mundo?
R.: Porque certas minúcias da descrição, se não todas, estão em íntima co-
nexão com a personalidade do monge, adquirindo determinado sentido por
seu uso. Assim:

32
A DESCRIÇÃO

a. O breviário e a imagem da Virgem assinalam-nos a fé do monge


b. O cilício, com que voluntariamente se mortifica, serve para robustecer-
-lhe ainda mais esse sentimento, na luta do espírito contra as tentações do mal
c. O resto de pão fala-nos de sua sobriedade
d. Os alfarrábios, de seu amor ao estudo
Nada mais, além das preces e de um incessante esforço para a perfeição cris-
tã, enche a vida do religioso, que, conseqüentemente, renuncia, por um voto
sagrado, às coisas do mundo.

4) Com que recursos literários exprime Aluísio de Azevedo suas impressões


pessoais? Analise-os.
R.: O autor deu forma a duas impressões pessoais, apenas: uma impressão
de melancolia e uma impressão de cor, mesclada a um sentimento fúnebre,
adequado, aliás, ao ambiente.
Traduziu a primeira com um adjetivo empregado em sentido figurado, tris-
te, para exprimir o sentimento que o aspecto da cela desguarnecida e sombria
lhe desperta na alma; e a segunda, com uma imagem evocativa da morte ("Ti-
nham a cor sinistra de osso velho").
O estilo: o estilo é vigoroso, simples e harmonioso. O autor descreve com
tanta clareza, que nos dá a impressão visual da cela.

Esquema do plano de composição


Pormenores

Partes Porta religioso cela janela


fechada clarabóia
a. A triste cela
A cela do A cor das paredes o nicho a
religioso b. As paredes da cela imagem

c. O mobiliário A estante negra os alfarrábios


amarelecidos a mesa escura - o
breviário a candeia o pedaço
de pão duro o cilício de couro
Cru O banco de pau

33
FLOR DO LÁCIO

II. CHAF ARIZ SECULA R

No estilo arquitetônico obsoleto


Das construções serenas do passado,
Existe um chafariz abandonado
Na vetusta cidade de Ouro Preto.

Flor da umidade, cresce-lhe um boleto


Em cada canto e o musgo em cada lado.
Mas vem-lhe do conspecto deformado
A fúnebre tristeza do esqueleto.

Exaustos de verter-lhe a cristalina


Linfa, três leões, ao sono da ruína,
Bocejam para o tempo o seu algoz.

Pendura-se-lhe do alto um velho escudo,


Onde quem passa lê, pasmado e mudo:
"Mil setecentos e cinqüenta e dois!".

Luís Carlos 1

Estudo das palavras e expressões

Secular que tem um ou mais séculos.


Obsoleto que está fora da moda; antigo.
Boleto cogumelo.
Musgo - vegetação criptogâmica, cujo conjunto apresenta o aspecto dum
aveludado tapete verde.
Conspecto aparência, aspecto.
Verter derramar, manar, correr.
Algoz - carrasco, verdugo; executor de penas corporais; destruidor.
Pasmado com surpresa tão intensa, que transparece na expressão fisio-
nômica.
Escudo - brasão de armas da cidade de Ouro Preto.
Estilo arquitetônico - caracteres artísticos referentes à arquitetura.
Construções serenas do passado - construções antigas que, graças à sime-
tria harmoniosa das linhas e à beleza de seus ornados, infundem em quem as
observa uma impressão de serenidade.
r Luís Carlos da Fonseca Monteiro de Barros (da Academia Brasileira de Lerras).

34
A DESCRIÇÃO

Chafariz abandonado que não tem mais serventia e só é conservado por


constituir uma relíquia artística.
Flor da umidade esta expressão designa aqui o cogumelo, que nasce em
lugares úmidos.
A fúnebre tristeza do esqueleto com esta expressão, exprime o autor a
melancolia, que o empolga, vendo desaparecer a parte bela do chafariz, a qual
se desfaz com o tempo, deixando entrever sua estrutura bruta, da mesma forma
que num cadáver se corrompem as carnes, aparecendo o esqueleto.
Cristalina linfa esta expressão mostra-nos a coisa e o aspecto da coisa:
líquido que tem a transparência e a limpidez do cristal.
O sono da ruína a imobilidade das coisas que se desfazem em ruínas.
Bocejam para o tempo esta expressão designa a abertura da boca dos
leões, que parecem estar tomados de tédio.

Estudo da composição

1) Que nos descreve Luís Carlos neste soneto?


R.: O autor descreve-nos um chafariz artístico, que está situado na velha
cidade de Ouro Preto, estado de Minas Gerais, e que, com o tempo, ficou em
ruínas, por ter sido abandonado.

2) Que ordem seguiu ele em sua descrição?


R.: O autor partiu do geral, que ele descreveu em rápidos traços ("Estilo
arquitetônico obsoleto", "chafariz abandonado"), para o particular, constituído
pelas minúcias descritivas ("Musgo", "boleto", "leões" etc.).

3) Quais são as principais partes deste soneto?


R.: São as seguintes:
a. O chafariz abandonado: o 1 ° quarteto
b. A vegetação da umidade: os 2 primeiros versos do 2 quarteto
c. O triste aspecto do chafariz: os 2 últimos versos do 2 quarteto
d. Os leões: o 1 ° terceto
e. O escudo: o 2 terceto

4) Que pormenores descritivos contém cada uma destas partes?


R.: Encontram-se nestas partes elementos objetivos e elementos subjetivos:
os primeiros representam as coisas do chafariz, e, os segundos, impressões do
poeta. Assim, vemos nas partes componentes da descrição, indicadas por letras:

35
FLOR DO LÁCIO

a. Elementos objetivos: chafariz abandonado, a cidade de Ouro Preto


b. Elementos objetivos: boleto, musgo
Elemento subjetivo: uma comparação ("Flor da umidade")
c. Elemento objetivo: conspecto deformado
Elemento subjetivo: tristeza
d. Elemento objetivo presente: leões
Elemento objetivo passado: cristalina linfa
Elemento subjetivo: uma interpretação do poeta ("Exausto")
e. Elemento objetivo: velho escudo
Elemento subjetivo: uma hipótese ("Quem passa")

5) Escude em poucas palavras a metrificação deste soneto.


R.: E um soneto composto de versos decassílabos, acentuados nas 6 e 10a
sílabas, de rimas quase todas graves; têm rima aguda somente os últimos versos
de cada terceto.

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse desta descrição?


R.: O interesse está no assunto, que nos apresenta um monumento artístico.

2) Consegue o autor dar-nos uma idéia precisa desse chafariz abandonado?


R.: Sim, pela sábia escolha dos pormenores descritivos e das expressões com
que os traduziu, consegue o autor transmitir-nos uma imagem, se não precisa,
pelo menos bastante sugestiva, desse chafariz.

3) Que impressões produz esse chafariz no espírito do autor? Como se ex-


plicam essas impressões?
R.: Essas impressões são: de serenidade, expressa pelo adjetivo "serena" e
causada, como vimos no estudo das expressões, pela simetria harmoniosa das
linhas dos ornatos arquitetônicos; de beleza plástica, produzida pelo cogumelo
e pelo musgo, e traduzida por uma comparação: "Flor da umidade"; de tristeza,
causada pelo desaparecimento gradual do chafariz e expressa por uma frase de
sentido figurado, que evoca a idéia de morte: a "fúnebre tristeza do esqueleto";
e, enfim, a última das impressões vigorosas do poeta mostra-nos a boca escanca-
rada dos leões, acrescentando-lhe uma idéia de tédio: "Bocejam para o tempo.

4) Com que recursos nos transmite Luís Carlos suas impressões?


A DESCRIÇÃO

R.: Com adjetivos, comparações, palavras e frases de sentido figurado. Des-


ses recursos, os mais fracos são os adjetivos, por terem um sentido geral ou
indeterminado.

Esquema do plano de composição

Partes Pormenores

l
Elementos objetivos: chafariz abando-
a. O chafariz secular
nado e seu estilo a velha cidade de
Ouro Preto

b. A vegetação
da umidade j Elementos objetivos: boleto musgo
Elemento subjetivo: flor da umidade

Chafariz

l
secular Elemento objetivo: conspecto defor-
c. O triste aspecto
mado
do chafariz
Elemento subjetivo: tristeza

Elemento objetivo presente: leões

d. Os leões
l Elemento objetivo passado: a água
Elemento subjetivo: o cansaço atribuí-
do aos leões

l
Elemento objetivo: velho escudo
e. O escudo
Elemento subjetivo: uma hipótese
(o provável passante)

37
Descrição de coisas sem movimento
TEXTOS PARA EXPLICAÇÃO

I. A CASA DA FAZENDA

E o casarão clássico das antigas fazendas negreiras. Assobradado, erguia-


RA
-se em alicerces o muramento, de pedra até meia altura e, dali em diante,
de pau-a-pique. Esteios de cabriúva entremostravam-se, picados a enxó, nos
trechos donde se esboroara o reboco. Janelas e porcas em arco, de bandeiras
em pandarecos. Pelos interstícios da pedra, amoitavam-se samambaias e, nas
faces de noruega, avenquinhas raquíticas. Num cunhai, crescia anosa figueira,
enlaçando as pedras na terrível cordoalha tentacular. À porta da entrada ia ter
uma escadaria dupla, com alpendre em cima e parapeito esborcinado.

Monteiro Lobato

Estudo das palavras e expressões

1) Explique o sentido das seguintes palavras:


a. Clássico g. Amoitar
b. Muramento h. Cunhal
c. Cabriúva i. Alpendre

2 Em novas edições: "Faces de sombra".


A DESCRIÇÃO

d. Entremostrar j. Parapeito
e. Esboroar k. Esborcinado
f. Pandarecos

2) Que se deve entender por ... ?


a. Fazendas negreiras e. Anosa figueira
b. Erguia-se em alicerces f. Enlaçando
c. Pau-a-pique g Cordoalha tentacular
d. Em arco h. Escadaria dupla

Estudo do plano de composição

1) Que nos descreve Monteiro Lobato neste trecho?

2) Mostre que o autor, nesta descrição, partiu do geral, que ele apenas enun-
ciou, para o particular, que desenvolveu minuciosamente.

3) Divida o texto em três partes, de acordo com o seguinte plano de com-


posição:
a. As paredes do casarão
b. A vegetação
c. A escadaria

4) Diga o que se vê em cada uma dessas partes.

5) Localize este trecho no conto "Os negros" ( Obras completas, de Monteiro


Lobato).

Estudo das idéias

1) Mostre que o interesse desta descrição está nos pormenores descritivos.

2) Qual foi a particularidade que feriu a atenção do autor em cada um dos


aspectos desta casa de fazenda antiga?

39
FLOR DO LÁCIO

3) Quais são as impressões pessoais do autor? Com que expressões as tradu-


ziu ele?

4) Diga, em poucas palavras, o que pensa do estilo de Monteiro Lobato.

Exercício !: vocabulário

1) Cite sinônimos de:


a. Antigas f. Raquíticas k. Agro
b. Alicerces g. Enlaçar l. Feral
c. Picados h. Vetusto m. Feraz
d. Esboroar i. Prístino n. Prisco
e. Amoitar j.Atro

2) Cite adjetivos que exprimam uma idéia:


a. De ruína
b. De abandono

3) Cite verbos que exprimam a idéia de "cair" e "desmoronar".

4) Forme comparações em que entrem, como segundo elemento, as palavras:


a. Carvão
b. Morte
c. Trevas

5) Como se denomina a ação de matar... ?


a. Um rei e. Uma criança
b. Um homem f. O filho
c. O pai g. A esposa
d. A mãe h. O marido

Exercício ll: elocução

Seguindo o modelo dos dois primeiros períodos do texto, fale:


a. De um arranha-céu
b. De uma igreja antiga
A DESCRIÇÃO

Exercício II: redação imitativa

Descreva, obedecendo ao plano do texto estudado e acompanhando-lhe de


perto o movimento das frases, uma casa semidestruída por um incêndio.

II. O GABINETE DO MÉDICO

O Doutor Elesbão recebeu-nos com um sorriso sereno, em sua fecunda biblio-


teca, de altas, solenes estantes de mogno. Era uma grande sala, branca, de espi-
ritualizante claridade, com as janelas abertas para o nascente. Sobre a larga mesa
de estudos havia livros esparsos, papéis, vários objetos e um tinteiro de prata
com uma águia de asas distendidas na ânsia de um vôo fremente. Junto à mesa,
num dunquerque de ébano, pousava uma caveira sobre um suporte niquelado.
Pelos cantos, colunas de mármore ostentavam estatuetas e jarrões, e atrás da
cadeira do mestre surgia o busto de Hipócrates, saliente e austero como o de um
deus pensativo. Entre duas estantes um pêndulo alto e negro marcava as horas,
antecedendo-as de um minuete do tempo do Rei-Sol. Nas paredes dois quadros
a óleo: uma cabeça de velha a sorrir com brandura e uma álacre marinha ... Um
sofá de molas envolvido em capa de linho branco e algumas cadeiras de jacaran-
dá com espaldares em alto-relevo completavam o severo mobiliário.

Aurélio Pinheiro

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras:


a. Mogno f. Pêndulo
b. Dunquerque g. Minuete
c. Ébano h. Brandura
d. Suporte i. Marinha
e. Saliente

2) Explique as seguintes expressões:


a. Um sorriso sereno e. Na ânsia de um vôo fremente
b. Sua fecunda biblioteca f. Como o de um deus pensativo
c. Solenes estantes g. O severo mobiliário
d. De espiritualizante claridade

41
FLOR DO LÁCIO

3) Diga quem foi:


a. Hipócrates
b. O Rei-Sol

4) Que verbos empregou o autor neste trecho?

Estudo do plano de composição

1) Que nos descreve Aurélio Pinheiro nesta página?

2) Em que participa esta descrição da narração?

3) Que passagens desta descrição se referem ... ?


a. À sala e. Ao pêndulo
b. À mesa f. Aos quadros
c. Ao dunquerque g. Ao sofá e às cadeiras
d. Aos objetos de arte

Estudo das idéias

1)Prove como o interesse desta descrição está nos pormenores descritivos.

2) Mostre como as impressões pessoais do autor estão traduzidas principal-


mente por adjetivos e como estes não as exprimem senão de um modo geral e
indeterminado.

3) Diga que impressão lhe causa esse gabinete de médico. Justifique sua
opinião.

4) Localize este trecho no romance O desterro de Humberto Saraiva.

Exercício I: vocabulário

1) Que significam as seguintes palavras?


a. Sereno i. Anteceder q. Rubescente
b. Fecunda j. Brandura r. Rubificante
A DESCRIÇÃO

c. Solene k. Desvanecer s. Rubiginoso


d. Branca 1. Delir t. Esmeraldino
e. Nascente m. Purpúreo u. Glauco
f. Esparsos n. Rubicundo v. Verdeal
g. Fremente o. Rúbido w. Verdejante
h. Pensativo p. Rútilo x. Azulino

2) Que verbos correspondem a ...? Empregue-os em sentenças.


a. Sereno g. Canto
b. Alto h. Deus
c. Solene i. Negro
d. Esparso j. Quadro
e. Prata k. Garoto
f. Fremente

3) Que adjetivos correspondem a ..?


a. Prata e. Pedra
b. Ouro f. Madeira
c. Marfim g. Ferro
d. Mármore h. Deus

4) Cite expressões que traduzam a forma e o aspecto dum salão, de acordo


com o que desejaria que fosse o de sua biblioteca particular.

5) Que móveis deveriam guarnecê-lo e que objetos de arte deveriam orná-lo?

6) Que livros, ou que coleções de livros, figurariam em sua biblioteca?


Como seriam suas encadernações?

Exercício : elocução

Seguindo o modelo da primeira oração, fale:


a. De um amigo, que o recebe na sala de jantar
b. De um padre, que recebe alguém na sacristia
c. De um dentista, que recebe o cliente em seu gabinete

43
FL OR DO LÁCIO

Exercício : redação imitativa

Descreva, segundo o plano do texto estudado, uma biblioteca particular.

III. UM QUARTO DE MOÇA

Com efeito, nada mais loução do que essa alcova em que os brocatéis de seda se
confundiam com as lindas penas de nossas aves, enlaçadas, em grinaldas e fes-
tóes pela orla do teto e pela cúpula do cortinado de um leito colocado sobre um
tapete de peles de animais selvagens. A um canto, pendia da parede um crucifixo
em alabastro, aos pés do qual havia um escabelo de madeira dourada. Pouco
distante, sobre uma cômoda, via-se uma dessas guitarras espanholas que os ci-
ganos introduziram no Brasil quando expulsos de Portugal, e uma coleção de
curiosidades minerais de cores mimosas e formas esquisitas. Junto à janela, havia
um traste que à primeira vista não se podia definir: era uma espécie de leito ou
sofá de palha matizada de várias cores e entremeada de penas negras e escarlates.
Uma garça real empalhada, prestes a desatar o vôo, segurava com o bico a corti-
na de tafetá azul que ela abria com a ponta de suas asas brancas e, caindo sobre
a porta, vendava esse ninho de inocência aos olhos profanos. Tudo isto respirava
um suave aroma de benjoim, que se tinha impregnado nos objetos como o seu
perfume natural, ou como a atmosfera do paraíso que uma fada habitava.

José de Alencar

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as palavras:
a. Loução f. Alabastro
b.Alcova g. Traste
c. Brocatéis h. Entremeada
d. Festões i. Vendar
e. A orla do teto j. Benjoim

2) Qual é a significação de ... ?


a. Cores mimosas d. Olhos profanos

44
A DESCRIÇÃO

6. Prestes a desatar o vôo e. Respirava um suave aroma


c. Esse ninho de inocência

3) Explique as comparações existentes no texto.

Estudo do plano de composição

1) Que nos descreve José de Alencar neste trecho?

2) Que ordem seguiu ele em sua descrição?

3) Quais são as passagens desta descrição que se referem ..?


a. Ao quarto d. Ao traste indefinível
6. Ao crucifixo e. À garça
c. À cômoda f. Ao suave aroma

4) Que elementos descritivos contém cada uma dessas passagens?

Estudo das idéias

1) Que impressão nos causa o quarto descrito? Por quê?

2) Que é que mais nos desperta a atenção neste quarto?

3) Que representa para a dona do quarto ... ?


a. A guitarra
6. A coleção de curiosidades minerais

4) Faz-nos esta descrição ver o quarto com sua mobília e seus ornamentos?
Que se deduz daí em relação ao estilo do autor do trecho?

5) Localize este trecho no romance O guarani.

45
FLOR DO LÁCIO

Exercício I: vocabulário e gramática

1) De sinônimos a:
a. Loução f. Segurar k. Onirismo
b. Orla g. Brancas l. Obstância
c. Tapete h. Vendar m. Esfumar
d. Mimosas i. Suave n. Garrido
e. Esquisita j. Aroma o. Donaire

2) Cite palavras da mesma família que:


a. Pena g. Forma m. Ninho
b. Ave h. Vista n. Suave
c. Tapete i. Palha o. Aroma
d. Selvagem j. Negra p. Perfume
e. Dourada k. Bico q. Natural
f. Cor l. Brancas

3) Dê exemplos das seguintes formas sentimentais das figuras de estilo:


a. Prosopopéia
b. Amplificação
c. Ironia

4) Forme pequenas expressões comparativas em que entrem as palavras:


a. Seda e. Vôo i. Paraíso
b. Pena f. Azul j. Fada
c. Teto g. Branco
d. Tapete h. Ninho

5) Coloque no plural os nomes que estão no singular.

6) Coloque no singular os nomes que estão no plural.

7) Conjugue em todos os tempos os verbos "poder", "abrir", "definir", "cerzir".

8) Explique a colocação dos pronomes neste trecho.


A DESCRIÇÃO

9) Que móveis e ornatos se encontram geralmente numa sala de visitas?

Exercício li: elocução

Faça um resumo oral deste trecho.

Exercício III: redação imitativa

Imitando José de Alencar, descreva uma elegante sala de visitas.

47
Conselhos práticos de redação

J OVEM estudante,
Reflita bem, antes de redigir. Leia com a máxima atenção o tema propos-
to, a fim de lhe compreender perfeitamente o sentido; tente precisar as idéias
principais, que você deverá pôr em nítido relevo. Forme, de acordo com o que
já aprendeu na explicação de textos, um plano de composição ou, ainda, inspi-
re-se no sumário, se o houver.
Que seu estilo seja, antes de tudo, bastante claro. Evite, pois, as sentenças
demasiado longas e o abuso dos "que", "cujo", "qual", "então", "agora", "aqui",
"ali", "além" etc. Que não haja dúvidas quanto aos antecedentes dos pronomes
relativos. Um meio fácil, posto que não obrigatório, de dar realce a uma idéia
é fazer com que as orações adjetivas se refiram, dentro dum mesmo período, a
um único nome ou pronome, como no seguinte exemplo: "Deus, que é eterno,
cuja misericórdia é infinita, para quem se voltam os corações angustiados, de
quem se espera graça e perdão, é o supremo criador do céu e da terra".
Há, todavia, um caso, em que se pode caracterizar, por meio de orações ad-
jetivas, mais de um nome, sem quebra da clareza: é quando dois ou mais nomes
são confrontados ou se acham ligados por coordenação. Exemplo: "Aristófanes,
que é triste por natureza, e Ruth, que é alegre por temperamento, encontraram-
,,
-se e amaram-se .
Nunca, jovem estudante, empregue palavras cuja verdadeira significação lhe
escape. Não se esqueça, contudo, de ser elegante; tenha sempre o cuidado de
evitar lugares-comuns, termos de gíria ou muito familiares, expressões regio-
nais, locuções triviais, verbos sem valor expressivo, como "ter", "possuir", "ser",
"estar", "haver"; formas passivas como "vê-se", "via-se", "vêem-se", "avista-se",
A DESCRIÇÃO

«. nota-se , observa-se ° , "4;· ·b " , "á.(


ustungue-se , «. percebe-se Iescortuna-se que po-
dem, no entanto, ser empregadas, assim mesmo parcimoniosamente, quando
o interesse da composição reside, sobretudo, numa visão íntima do autor, que
fala, então, em seu próprio nome); ou, ainda, formas compostas com "ser" e
«.
estar: f s1tua
· d o , s esta: coocaco
A de" etc.
Procure não repetir palavras, a não ser que lhe sirvam para emprestar maior
vigor à expressão de uma idéia: neste caso, porém, consulte seu professor. Não
seja prolixo; abandone os pormenores que não tenham importância. Não deixe,
quando oportuno, de variar sua construção fraseológica, enriquecendo-a, não
só nas descrições, como também nas narrativas, com o emprego cuidadoso das
figuras.
Noutras palavras: não se esqueça das qualidades do estilo, que devem ser
procuradas, nem de seus defeitos, que devem ser evitados.
As primeiras são a correção, a nobreza, a precisão, a naturalidade, a clareza, a
concisão e a harmonia, a que se opõem os segundos, isto é, a incorreção, o avil-
tamento, a impropriedade, a afetação, a obscuridade, a prolixidade, e os vícios
da harmonia, como os hiatos, os ecos, as aliterações, as cacofonias, as repetições
desnecessárias etc.
Além disto, quando o estilo for simples, esforce-se por conseguir a simpli-
cidade ou a ingenuidade; quando temperado, procure a elegância, a delicadeza
e a finura; quando sublime, a riqueza, a energia, a veemência, a magnificência
e a sublimidade.

49
Descrição de coisas sem movimento
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA

O professor lerá à classe, previamente, um modelo de sua lavra. 3

1) Descreva uma sala de aula, de acordo com o seguinte plano:


a. A sala: vasta, quadrada, com largas janelas por onde entra a claridade do dia
b. As paredes: os quadros-negros, os mapas, as portas
c. O mobiliário: a cátedra, o estrado, o armário, as carteiras enfileiradas

2) Descreva um tinteiro, de acordo com o seguinte plano:


a. O material de que é feito: vidro, cristal, madeira, mármore, ônix, bronze,
prata etc.
b. Sua forma: quadrado, retangular, arredondado etc., simples, artístico
c. Elementos componentes: o suporte, o depósito de tinta, a tampa, os
ornatos

3) Descreva uma árvore, de acordo com o seguinte plano:


a. O tronco: alto, baixo, grosso, esguio, rugoso
b. Os galhos: compridos, curtos; a ramagem, as folhas (forma e cor), as
flores, os frutos

4) Descreva uma mesa de jantar, de acordo com o seguinte plano:


a. A forma: quadrada, retangular, redonda, oval; rústica, simples, artística

3 É imprescindível a leitura desse trabalho, que serve aos alunos de proveitosíssima orientação.

50
A DESCRIÇÃO

b. Elementos componentes: as tábuas, fixas ou móveis; os pés, às vezes subs-


tituídos por colunas simples ou duplas, que sustentam um jogo de traves sóli-
das, sobre as quais repousa toda a armação
c. O material: as diferentes madeiras de que se fazem as mesas

S) Descreva, depois de traçar um esquema de plano de composição:


a. Um livro d. Uma flor g. Um belo jarro
b. Um piano e. Uma fruta h. Uma geladeira
c. Um aparelho de rádio f. Uma poltrona i. O arco-íris

6) Descreva uma sala de visitas, de acordo com o seguinte plano:


a. A sala: forma, luz, aspecto, paredes, janelas, portas, cortinas, tapete, la-
reira
b. A mobília: mesa moderna, cadeiras, poltronas, sofá etc.
c. Ornatos: quadros, estatuetas, jarrões etc.

7) Descreva uma sala de jantar, de acordo com o seguinte plano:


a. A sala: forma, luz, aspecto, comunicações, paredes, quadros, tapetes ou
congóleum
b. A mobília: mesa, poltronas, cadeiras, cristaleiras, aparador etc.

8) Descreva uma biblioteca, desenvolvendo o seguinte plano:


a. A sala: forma, luz, aspecto, comunicações, paredes, estatuetas, tapetes
b. A mobília: escrivaninha, poltronas estofadas de couro, sofá, divã
e. A livraria: as estantes, os livros

9) Descreva, depois de traçar o esquema de um plano de composição:


a. Uma cozinha d. Um pequeno jardim
b. Um banheiro moderno e. Uma confeitaria
c. Uma copa f. Uma igreja

10) Descreva uma casa, desenvolvendo o seguinte plano:


a. O aspecto: grande ou pequena, estilo, isolada ou não, com um jardim a
separá-la da rua, número de andares, terraços, garagem
b. A porta: como é e onde está situada
c. Os compartimentos: o vestíbulo, a escada, o gabinete de trabalho, a sala
de visitas, a sala de jantar, a copa, a cozinha, os quartos, o banheiro

51
FLOR DO LÁCIO

11) Descreva, depois de traçar o esquema dum plano de composição:


a. Uma vitrina de brinquedos, apresentada como cena viva (o nascimento de
Cristo; o trenzinho de ferro etc.)
b. Um aeroplano, apresentado como uma ave (comparando cada uma de
suas partes componentes a uma parte do corpo do animal)
c. Um submarino, apresentado como um monstro marinho
Descrição de quadros de
conjunto sem movimento

o que interessa são os aspectos mais amplos de um quadro, duma


A QUI,
paisagem, de um panorama. As coisas, ou elementos descritivos, que os
constituem, devem ser pintadas em rápidos, mas expressivos traços, que con-
corram para a transcrição exata ou para o embelezamento do quadro geral.
Características de forma, cor, luz ou sombra precisam ser escolhidas com ri-
gor entre: "Via-se uma casa branca ao longe, e: "Uma casa branquejava ao
1 onge " ; entre: "O 1 ago re. fl et1a
• o ceu
' azu, l" ,e: "O 1 ago espetIh ava o azu 1 d o ceu
' ";
entre: "O sol parecia incendiar as nuvens, e: "O sol incendiava as nuvens', nin-
guém, numa descrição, recusará preferência às segundas formas, que exprimem
com maior energia o aspecto das coisas.
Será conveniente, também, nesta fase de exercícios de composição, evitar
referências a pormenores ou aspectos não-existentes no momento em que se
descreve, como por exemplo: "O sol já não brilhava; "o vento já não soprava;
"o céu, antes azul, estava agora recoberto de nuvens escuras; "os campos, até
há pouco tempo verdes, estavam secos" etc. São formas expressivas, estas, que
soem viciar os estudantes. Procure-se, ainda, não empregar certas afirmações de
cunho pessoal, como: "A tarde estava maravilhosa", "magníficà', "linda", "belà',
"formidável" etc. Denotando a presença de um observador interessado, tanto
as orações do primeiro tipo, como as do segundo, deixam de ser puramente
descritivas, para assumirem um caráter marcadamente narrativo.
E ainda não chegamos ao capítulo das narrativas.

53
Descrição de quadros de
conjunto sem movimento
TEXTOS EXPLICADOS

I. PAISAGEM GAÚCHA

E RA o mesmo de todos os dias, àquela hora, o aspecto da campanha; como


sempre, o crepúsculo amaciava as árvores, as várzeas; uma grande sereni-
dade pairava sobre as vastas planícies pontilhadas de reses; e apesar do tom
violento de algumas nuvens afogando o sol ao poente, o céu arqueava-se calmo,
sulcado ao largo pelo remígio alto dos gaviões. Ao longo do aramado, con-
finando a estância ao fundo, álamos estilhavam em linha, esguios, a fronde
rala: vermelhenta, corcovava-se num escalvado argiloso de coxilha a estrada de
Bagé; uma casa branquejava no horizonte; e imóvel, monótono, esquarroso, es-
palmava-se o banhado ao sul, com a água morta lapijada em traços baços entre
tiras verde-escuras de caraguatás.4

Alcides Maia

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta descrição?

4 Observem os alunos como o autor soube, neste trecho, só empregar verbos expressivos, exceção
feita da primeira oração, que, aliás, é toda narrativa.

54
A DESCRIÇÃO

R.: O autor descreve uma paisagem das cercanias de Bagé, no Rio Grande
do Sul, observada ao pôr do sol e caracterizada por meio de pormenores descri-
tivos apropriados ao aspecto do céu e da terra.

2) Aponte no texto as partes que correspondam aos seguintes títulos:


a. O aspecto do céu
b. A paisagem da terra
R.: A primeira parte (o aspecto do céu) vai desde o início do trecho até "ga-
viões". A segunda (a paisagem da terra), desde "ao longo do aramado" até o fim.

3) Explique como se faz a transição entre elas.


R.: Faz-se de modo suave, pelo movimento do olhar observador, que, des-
cendo do céu, alcança a linha do horizonte.

4) Que vemos em cada uma dessas partes?


R.: Concretizados em coisas expressas com vigor e arte, eis os pormenores
de que se compõe cada parte desta descrição:
a. O aspecto geral da campanha, imutável em relação à hora do dia; as ár-
vores e várzeas que se diluíam na penumbra envolvente; a serenidade reinante;
as reses espalhadas, como pontos, na planície; as nuvens rubras no Ocidente; o
céu calmo; os gaviões
b. A cerca de arame na linha do horizonte; a estância distante; os álamos
enfileirados; a estrada vermelhenta e ondulante; a coxilha; a casa branca, ao
longe; o banhado de águas estagnadas e escuras; os renques verde-escuros dos
caraguatás

Estudo das idéias

1) Por que nos causa a primeira parte uma impressão de calma, de sereni-
dade?
R.: Porque o aspecto é descrito numa hora em que tudo se suaviza: diminui
sensivelmente o calor, assim como a agitação e a claridade, esmaecendo-se as li-
nhas nítidas e rígidas das coisas; o próprio autor exterioriza essa impressão com
uma oração: "Uma grande serenidade pairava ... ", e com um adjetivo: "Calmo".

2) Com que expressões nos traduz o autor suas impressões de forma e de


cor, na segunda parte?
R.:

55
FLOR DO LÁCIO

Expressões que indicam forma Expressões que indicam cor


Estilhavam Vermelhenta
Em linha Branquejava
Esguios Verde-escuras
Fronde rala
Corcovava
Esquarroso
Espalmava
Traços
Tiras

3) Há cor local nesta descrição? Prove-o.


R.: O emprego de algumas palavras, como "coxilha" e "estância", próprias
do Rio Grande do Sul, designando a primeira determinadas ondulações de
terreno, e, a segunda, fazendas de gado, serve para emprestar a esta descrição
certa cor local, confirmada, aliás, pela citação do nome de uma cidade daquele
belo estado: Bagé.

4) Que impressão de conjunto nos dá esta descrição?


R.: Pela sábia e feliz disposição dos pormenores descritivos, pelo inteligen-
te arranjo dos meios-tons e das cores fortes, assim como pelas expressões que
traduzem as formas, delineia-se-nos, com nitidez e relevo, a paisagem ante os
olhos, dando-nos a impressão real de um quadro artístico.

Esquema do plano de composição


a. O aspecto do céu: o crepúsculo - as árvores e várzeas (efeito das
primeiras sombras) as vastas planícies e as reses (a serenidade que
baixa sobre elas) as nuvens o sol no poente - gaviões voando
- o céu claro

Paisagem
gaúcha
l é
à
o
e
"
g

-"' il ...g
g

;... .:= 0...


R < -=
b. Paisagem da terra: o aramado a estância as filas de álamos a
estrada vermelhenta o escalvado argiloso da coxilha a casa branca
ao longe o banhado e seu aspecto os renques de caraguatás
A DESCRIÇÃO

II. A BAÍA DE BOTAFOGO

As águas da baía estavam coalhadas de embarcações de todos os feitios, enfei-


tadas de bandeiras e flores. Nos paneiros dos escaleres repletos de moças, gar-
ridamente trajadas, grupos de tocadores sonorizavam a divina transparência da
tarde serena. No fundo daquele tumulto de embarcações, para o outro lado da
enseada, se destacava o vulto majestoso de um cruzador da nossa marinha de
combate, que fora levar os seus marinheiros a tomarem parte nas regatas. No
alto do mastro o vento estendia, paralela às águas, a flâmula de guerra. E, por
detrás do cruzador, a Urca, e, por detrás dela, a massa enorme do Pão de Açúcar,
em cujo cimo trapejava, sacudida pelo vento da tarde, uma bandeira branca.
Longe, para a esquerda, fechando o horizonte remoto, se elevava o indescritível
deslumbramento da Serra dos Órgãos. E mais no fundo, quase mergulhado nas
nuvens ensangüentadas pelas claridades da tarde, se arremessava ao céu, como
uma blasfêmia de pedra, o Dedo de Deus.

Canto e Melo

Estudo das palavras e expressões

Paneiros lugares destinados aos passageiros, nos botes e escaleres.


Trapejar agitar-se ao vento.
Enseada pequena baía.
Escaleres - embarcações destinadas ao serviço de um navio.
Garridamente elegantemente.
Cruzador barco de guerra.
Remoto distante.
O indescritível deslumbramento a beleza que deslumbra e que é impos-
sível de descrever.
Nuvens ensangüentadas - nuvens de cor vermelha como sangue.

Estudo do plano de composição

1) Que descreve Canto e Melo nesta página?


R.: Descreve o aspecto da baía de Botafogo emoldurada por montanhas,
numa clara tarde de regatas.

57
FLOR DO LÁCIO

2) Em quantas partes se divide esta descrição?


R.: O quadro apresenta duas partes:
a. A baía (até "guerra")
b. As montanhas (até o fim)

3) Como se ligam essas partes?


R.: Ligam-se pela conjunção "e", que lhes aproxima os pormenores descriti-
vos, na ordem seguida pelo autor.

4) Que vemos nos seis diferentes planos de que se compõe este quadro?
R.: No primeiro plano, vemos as águas da baía, as numerosas embarcações
ornadas de bandeiras, os escaleres, as moças, os músicos, a transparência da
tarde serena. No segundo, vê-se a enseada, o cruzador e o mastro com a flâmula
de guerra. No terceiro, avista-se a Urca. No quarto, por detrás da Urca, o Pão de
Açúcar e a bandeira branca. No quinto, ao longe eleva-se deslumbrantemente a
Serra dos Órgãos. No sexto, avistam-se, no horizonte remoto, nuvens rubras e,
no meio delas, o Dedo de Deus.

Estudo das idéias

1) Que nos interessa nesta descrição?


R.: O que mais nos interessa é a sábia disposição dos pormenores descriti-
vos, que reconstituem a nossos olhos a paisagem.

2) Com que expressões traduz o autor suas impressões pessoais, isto é, como
exprime ele as reações estéticas de seu espírito ante o aspecto das coisas?
R.: Ele as traduz por meio de adjetivos, mas, principalmente, por meio de
expressões figuradas e de comparações, como, por exemplo:
a. "Sonorizavam a divina transparência da tarde serena" (impressão de mú-
sica, de visibilidade e de calma)
b. "O indescritível deslumbramento da Serra dos Órgãos" (impressão de
êxtase)
c. "Nuvens ensangüentadas" (impressão de cor)
d. "Como uma blasfêmia de pedra (impressão religiosa e impressão de forma)

3) Quais são as qualidades descritivas do autor, tomando-se este quadro


como fonte de informação?
R.: O autor descreve como se pintasse: essencialmente plástico, ele tende,
antes de tudo, a satisfazer os olhos pela obediência aos princípios da perspecti-
va, da forma e da cor.
A DESCRIÇÃO

4) Há neste quadro algum movimento; em que consiste e como está expresso?


R.: Consiste na bandeira branca que se agita no cimo do Pão de Açúcar, sa-
cudida pelo vento da tarde. O movimento está expresso por um verbo onoma-
topaico ("trapejar), que indica o ruído característico do pano, quando agitado
com força.

Esquema do plano de composição


a. A baía 1• As águas da baía as embarcações
enfeitadas os escaleres as moças
os músicos o aspecto da tarde
2o. A enseada o cruzador a flâmula
de guerra
A baía de Planos de 3°. A Urca
Botafogo perspectiva [ 4.O Pão de Açúcar a bandeira branca
5. A Serra dos Orgãos, ao longe
b.As 6°. Nuvens rubras no poente o Dedo
montanhas de Deus

III. O TEMPLO DO SOL

Percintada pelos contrafortes da Cordilheira, que avultava ao longe com os seus


picos perdidos na neve eterna, a cidade de Cuzco enquadrava-se na paisagem
tranqüila de um extenso vale entrecortado de águas cantantes e a refletirem o
azul do céu. Sobranceiro ao casario e faiscante na pompa dos seus ouros, o que
logo atraiu o meu olhar foi o grandioso Templo do Sol, tesouro sem rival no
Novo Continente e, talvez, o mais soberbo monumento do mundo inteiro.
Todas as riquezas do poderoso império se acumulavam naqueles seis imensos
edifícios, onde os Filhos do Sol adoravam o seu Deus com a mais suntuosa li-
turgia, entre tabernáculos e nichos cravejados de esmeraldas e diante de grandes
estátuas de ouro e prata. À volta desses templos, cujas paredes eram de jaspe ou
pórfiro e travejadas também com metais preciosos, havia jardins e bosquetes
artificiais, onde tudo era de ouro e prata, desde os tanques e repuxos até os
animais e plantas, que os ornamentavam.

Gastão Cruls

59
FLOR DO LÁCIO

Estudo das palavras e expressões

Percintada cercada inteiramente.


Contrafortes filas de montanhas secundárias, que parecem apoiar-se na
Cordilheira propriamente dica.
Sobranceiro que está situado num ponto mais alto.
Faiscante que brilha, lançando cintilações.
Soberbo que é magnificente, suntuoso.
Tabernáculos - escavações abertas na parede, nas quais se colocam imagens
de deuses ou de santos.
Travejar assentar craves ou vigas; armar com traves; vigar.
Avultava parecia crescer ao longe.
Neve eterna que nunca se derrete, por recobrir pontos elevadíssimos,
onde a temperatura é sempre muito baixa.
Águas cantantes águas cujo marulho é sonoro e agradável.
A pompa dos seus ouros a enorme quantidade de ouro que o templo
ostentava.
Suntuosa liturgia ritual religioso que se distingue pela magnificência.

Estudo do plano de composição

1) Que nos descreve Gastão Cruls nesta página?


R.: O autor mostra-nos a localização e o aspecto geral da antiga cidade de
Cuzco, entrevista ao longe, no meio duma paisagem pinturesca, e, depois, o
Templo do Sol, em toda a sua grandiosidade e magnificência.

2) De quantas partes se compõe esta descrição?


R.: De duas:
a. Cidade de Cuzco
b. O Templo do Sol

3) Como se faz a transição entre elas?


R.: Faz-se docemente, por meio de uma frase em que há referência à cidade
(elemento da primeira parte) e ao templo (elemento da segunda): "Sobranceiro
ao casario". "Sobranceiro" refere-se a "templo, indicando-lhe a situação domi-
nante, em relação ao casario da cidade. Ligam-se, deste modo, as duas partes
da descrição.

60
A DESCRIÇÃO

4) Que mostra o autor nesta descrição?


R.: a. A Cordilheira com seus distantes picos nevosos, os contrafortes em
círculo, um vale extenso e tranqüilo, águas cantantes refletindo o céu; no meio
do vale, a cidade de Cuzco
b. O Templo do Sol, suntuoso em seus ouros; o casario da cidade
c. As riquezas do poderoso império, os seis edifícios, os tabernáculos e ni-
chos cravejados de esmeraldas, as estátuas de ouro e prata
d. As paredes de jaspe ou pórfiro, os jardins e bosquetes artificiais; os tan-
ques e repuxos, os animais e plantas tudo de ouro e prata

Estudo das idéias

1) Onde está o interesse desta descrição?


R.: O interesse está na reconstituição do Templo do Sol, em todo o seu
esplendor e luxo, graças ao vigor pinturesco e evocativo dos pormenores des-
critivos.

2) Com que expressões nos descreve Gastão Cruls a magnificência da cidade


de Cuzco?
R.: Ele enumera as riquezas: tudo ali era de ouro, prata, jaspe, pórfiro e
pedrarias; mas emprega, também, palavras, como "faiscante, para mostrar o
reflexo do sol sobre metais preciosos, e adjetivos que exprimem profunda admi-
ração, como "grandioso" e "soberbo", além de frases como: "Tesouro sem rival",
"a pompa de seus ouros" etc.
Aliás, estas expressões, indicando um modo de sentir pessoal, são essencial-
mente narrativas. O quadro não é, pois, uma simples descrição, visto como o
narrador transparece claramente na frase: "O que atraiu o meu olhar".

3) Que povo habitava essa cidade?


R.: Os habitantes eram os incas, raça da América do Sul, que ocupava, no
momento da conquista espanhola, o atual território do Peru. Sua civilização era
bem adiantada: eles já possuíam organização social e política, tinham cidades,
represas e estradas bem construídas.

4) Qual era a religião desse povo?


R.: Adorava o sol e a lua, fontes de vida, de saúde e de riqueza, cujos raios
fecundavam a terra, transformando-se em filões de ouro e prata; eram, porém,
deuses cruéis, que exigiam de seu povo sacrifícios humanos.

61
FLOR DO LÁCIO

Esquema do plano de composição

A Cordilheira dos Andes e seus picos nevosos -


a. A cidade as águas cantantes - o azul do céu a cidade

O Templo
de Cuzco
1 de Cuzco

Os ouros rebrilhantes as casas as riquezas


do Sol do império os seis edifícios do templo os
tabernáculos e nichos as estátuas de ouro e
b. O Templo
prata as paredes de jaspe ou pórfiro jardins
do Sol
e bosquetes artificiais tanques, repuxos, ani-
mais e plantas (tudo de ouro e prata)

62
Descrição de quadros
de conjunto sem movimento
TEXTOS PARA EXPLICAÇÃO

I. UM POR DE SOL

A tarde descia, calma, radiosa, sem um estremecer de folhagem ... Do lado do


mar, subia uma maravilhosa cor de ouro pálido, que ia no alto diluir o azul e
lhe dava um branco indeciso e opalino, um tom de desmaio doce, e o arvoredo
cobria-se todo de uma tinta loura, delicada e dormente. Nenhum contorno se
movia, como na imobilidade de um êxtase. E as casas voltadas para o poente,
com uma ou outra janela acesa em brasa, os cimos redondos das árvores api-
nhadas, descendo a serra numa espessa debandada para o vale, tudo parecia
ficar de repente parado, num recolhimento melancólico e grave, olhando a
partida do sol, que mergulhava lentamente no mar.

Eça de Queirós

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. Calma f. Dormente
b. Radiosa g. Êxtase
FLOR DO LÁCIO

c. Maravilhosa h. Apinhadas
d. Diluir i. Mergulhava
e. Delicada

2) Qual é a significação de ... ?


a. Cor de ouro pálido f.Os cimos redondos das árvores
6. Um branco indeciso e opalino g. Descendo a serra
c. Um tom de desmaio doce h. Espessa debandada
d. Uma tinta loura i. Recolhimento melancólico e grave
e. Janela acesa em brasa

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta descrição?

2) Divida o trecho em duas partes, a saber:


a. Do lado do mar
6. As casas e as árvores

3) Como se faz a transição da primeira para a segunda parte?

4) Quais são os elementos de cada uma dessas partes?

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse desta descrição?

2) Com que expressões consegue o autor dar forma, luz e colorido às coisas?

3) Quais são as impressões pessoais do autor e de que modo as traduz ele?

4) Que sentimentos empresta Eça de Queirós às coisas, consideradas como


pessoas que assistem à partida dum amigo querido?
A DESCRIÇÃO

Exercício 1: vocabulário

1) De um sinônimo a cada palavra seguinte:


a. Calma i. Lentamente q. Pernoite
b. Radiosa j. Ciclópico r. Aturdir
c. Pálido k. Enlevar s. Resmonear
d. Tinta 1. Reminiscência t. Perfulgido
e. Delicada m. Patético u. Relumbrar
f. Apinhadas n. Escamotear v. Fulgente
g. Melancólico o. Prestímano
h. Grave p. Magnânimo

2) Ajunte aos substantivos seguintes um ou mais adjetivos que lhes caracte-


rizem a forma e a cor:
a. Céu f. Água k. Árvores
b. Horizonte g. Ondas 1. Torre
c. Nuvens h. Reflexos m. Colina
d. Sol i. Praia n. Lago
e. Raios j. Bosques

3) Cite substantivos, adjetivos e verbos que exprimam idéias de refulgência,


de luz e de cor.

4) Forme cinco pequenas comparações, que tenham por segundo termo as


seguintes expressões:
a. Como um disco de fogo
b. Como barras de ouro
c. Como um velário de veludo cor de púrpura
d. Como labaredas
e. Como brasas

Exercício 11: elocução

Segundo o modelo do último período do texto, fale:


a. De um grupo de pessoas que assiste à partida dum navio
b. De uma multidão presente à partida dum aeroplano
FLOR DO LÁCIO

Exercício t: redação imitativa

Descreva, obedecendo ao plano do texto estudado, um nascer de sol à


beira-mar.

II. PAISAGEM SERTANEJA

Vasto, dourado à luz do meio-dia, [ ... ] o vale de Aracoiaba era duma beleza
forte e impressionante de paisagem sertaneja. Ao fundo barravam-lhe a pers-
pectiva, altas, abruptas, as serras do Baturité e do Acarape, onde emergiam da
verdura brancos talhados de granito, faiscando ao sol. A glória luminosa do dia
enchia tudo. Sob ela cintilavam os penhascos, incendiam-se as micas, palheta-
vam-se de tons flavos as águas paradas de uma lagoa, ao longe. Aqui e ali uma
grande árvore derramava sombra numa fachada clara de casa matuta ou espar-
gia frescura sobre um quintalejo benfeitorizado. Pelo recosto do cerro descia
em ondulações de veludo novo uma capoeira densa, de fetos, de marmeleiros e
ameixeiras-bravas. Por tudo e em tudo, do alto azul do céu à calma horizontal
das águas empoçadas, do dorso corcovado dos montes às extensões lisas da pla-
nície, sorria fana, orgulhosa, a pompa régia do inverno. A terra tinha um nobre
e calmo aspecto de abundância; o céu, um claro riso de bondade e proteção.

Gustavo Barroso

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. Barrar d. Benfeitorizado
b. Abruptas e. Recosto
c. Matuta f. Capoeira

2) Que se deve entender por. .. ?


a. Talhados de granito d. Cintilavam os penhascos
b. Faiscando ao sol e. Incendiam-se as micas
c. A glória luminosa do dia f. Palhetavam-se de tons flavos as águas

66
A DESCRIÇÃO

3) Qual é a significação de ... ?


a. A árvore derramava sombra
6. Ela espargia frescura
c. Em ondulações de veludo novo
d. A calma horizontal das águas empoçadas
e. Sorria farta, orgulhosa
f. A pompa régia do inverno
g. A terra tinha um nobre e calmo aspecto de abundância
h. O céu, um claro riso de bondade e proteção

4) Explique as inversões de sujeito, neste trecho.

S) Onde estão situadas as serras citadas neste trecho?

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta descrição?

2) Divida o trecho em três partes, de acordo com o seguinte plano:


a. O fulgor do sol
6. As árvores
c. A pujança da terra

3) Que pormenores descritivos contém cada uma dessas partes?

4) Como se faz a transição de cada parte para a seguinte?

Estudo das idéias

1) Está vigorosamente descrita esta paisagem? Por quê?

2) De que modo descreve o autor... ?


a. A claridade forte do sol
6. O aspecto da terra e do céu
FL O R DO LÁCIO

3) Que impressão nos causa a paisagem descrita?

4) Mostre que o estilo do autor suprime quase todas as palavras incolores,


inexpressivas, não deixando subsistir senão os termos produtores de sensações.

5) Localize este trecho no livro Praias e várzeas.

Exercício I: vocabulário

1) Empregue apropriadamente em curtas sentenças:


a. Topo Cume Cúspide Cimo Acúmen Vértice
b. Portento Beleza Lindeza Encanto
c. Forte Vigoroso Robusto
d. Emergir Imergir
e. Faiscar Fagulhar Cintilar
f. Luminosa Radiosa Fulgurante
g. Incender Abrasar Afoguear Acender
h. Flavo Louro Dourado
i. Menosprezar Menoscabar

2) Dê sinônimos a:
a. Parar f. Farta k. Enleio
b. Vasto g. Orgulhosa 1. Devaneio
c. Descansar h. Pompa m. Grei
d. Densa i. Encosta n. Griséu
e. Calma j. Enlevo

3) Cite palavras da mesma família que:


a. Diante e. Baixo i. Dia
b. Cima f. Forte j. Tom
c. Ouro g.Fundo k. Grande
d. Luz h. Raro 1. Sombra

4) Cite palavras cujos sufixos sejam "al", "ário", "eiro", "eira", "ura".

68
A DESCRIÇÃO

5) Cite sinônimos de:


a. Opalino f. Matuto k. Magnificência
b. Luz g. Esparzir l. Esfuzilar
c. Leitoso h. Cerro m. Gazofilácio
d. Argênteo i. Dorso n. Diatribe
e. Fulgir j. Constelar o. Solércia

Exercício : elocução

Segundo o modelo dos dois primeiros períodos, descreva oralmente:


a. Um grande lago, visto dum ponto dominante
b. Uma altaneira montanha, vista de um vale

Exercício i: redação imitativa

Descreva a mesma paisagem sertaneja, observada numa noite de luar.

III. O VALE AMAZÔNICO

O vale amazônico, em toda a vastidão do seu anfiteatro, é coberto de floresta.


Clâmide verde, atenuadora dos raios luminosos, cheia de mistérios e de encan-
tos, veste a terra como um zainfe sagrado e protetor. Solucionada aqui, ali, acolá
por um roçado, por uma vila, por uma clareira, por um vergel de gramíneas,
mal se fecha o motivo que a interrompe, ela retoma o esplendor da selva e abre
os braços para o céu na força do habitat. Em todo o meandro aquático, labi-
rinto de furos, canais, rios, afluentes, confluentes e defluentes da corda mater
que é o Amazonas, a cortina botânica, pelos taludes e ravinas, como aquele véu
mágico do rei dos nibelungens,5 esconde e transforma a gleba. Os milhares de
chapéus-de-sol gigantescos, amplos como zimbórios de catedrais, unidos num
velário cor de jade, cobrem as mesopotâmias em toldos ciclópicos. O olhar de
quem estaciona ou navega, neste ou naquele quadrante da bacia, esbarra, por
mais dilatado que lhe seja o horizonte, com o pano da floresta.

Raimundo Morais

Nibelungen (alemão): lendários anões que possuíam grandes riquezas subterrâneas e cujo rei era
Nibelung.
FLOR DO LÁCIO

Estudo das palavras e expressóes

1) Explique:
a. Anfiteatro f. Taludes k. Jade
b. Clâmide g. Ravinas l. Mesopotâmias
c. Clareira h. Gleba m. Quadrante
d. Meandro i. Zimbórios
e. Labirinto j. Velário

2) Que significam aqui ... ?


a. Veste a terra f. Na força do habitat
b. Zainfe sagrado g. A corda mater
c. Vergel de gramíneas h. A cortina botânica
d. O esplendor da selva i. Toldos ciclópicos
e. Abre os braços j. O pano da floresta

3) Explique as comparações do texto.

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto deste trecho?

2) Divida esta descrição em cinco partes, colocando-as, pela ordem, sob os


seguintes títulos:
a. A clâmide verde d. Os chapéus-de-sol
b. As interrupções na floresta e. O pano da floresta
c. O meandro aquático

3) Que pormenores encerra cada uma dessas partes?

4) Mostre que essas partes se ligam umas às outras numa sucessão de quadros.

5) Localize este trecho no livro Cartas da floresta.


A DESCRIÇÃO

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse desta descrição?

2) Em que é Raimundo de Morais preciso e vigoroso em suas expressões?

3) De que meios se serviu o autor para exprimir suas impressões pessoais?

4) Que impressão nos causa esta descrição?

Exercício I: vocabulário e gramática

1) De sinônimos às palavras:
a. Vastidão e. Esconder i. Desfilar
b. Motivo f. Amplos j. Conturbar
c. Esplendor g. Esbarrar k. Conjurar
d. Força h. Destruir l. Solerte

2) De exemplos de metáfora, metonímia, hipérbole, pleonasmo.

3) Cite nomes de árvores e arbustos brasileiros.

4) Substitua por um adjunto adnominal, composto de preposição e substan-


tivo, os seguintes adjetivos:
a. Amazônico d. Mágico
b. Luminoso e. Ciclópicos
e. Aquático

5) Substitua por um adjetivo:


a. De gramíneas
b. Da selva
c. Da floresta

6) Conjugue, em todos os tempos, os verbos "vestir", "abrir", "polir.

7) Forme algumas expressões que traduzam a forma, o aspecto e as cores de


diversos conjuntos de árvores (ipês, palmeiras etc.).

71
FLOR DO LÁCIO

8) Cite expressões que traduzam sensações luminosas.

Exercício : elocução

Tendo por modelo o último período, fale:


a. De uma pessoa que viaja por mar
b. De um excursionista que se perdeu na montanha

Exercício II: redação imitativa

Descreva, obedecendo ao plano estudado, um grande bosque, cheio de cla-


reiras, regatos e lagos.
Descrição de quadros
de conjunto sem movimento
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA

O professor lerá à classe, previamente, um modelo de sua lavra.

1) Descreva uma praça pública, num dia de feira, de acordo com o seguinte
plano:
a. O aspecto geral: o de uma cidade em miniatura ou de um acampamento
de ciganos
b. As seções: as barracas - peças de lona amareladas, brancas ou cinzentas
estendidas sobre armações desmontáveis de madeira. Os balcões. As merca-
dorias. As diversas seções: de legumes, de frutas, de peixes, de salsicharia, de
lacticínios, de conservas, de utensílios domésticos. Os caminhões e as carroças.
Os vendedores e a multidão
Nota: Não se esqueça de traduzir sensações de forma, relevo, cor e odor; não
traduza, porém, os movimentos. Neste particular, descreva como se tivesse à
frente uma estampa.

2) Descreva o que se vê da janela de sua casa ou de sua escola, de acordo


com o seguinte plano:
a. Aspecto geral: a semelhança da janela com um belo quadro
b. O quadro: praça pública, jardim ou rua. A claridade solar. O colorido e o
relevo das coisas. As coisas: casas, o calçamento, canteiros, estátuas, tanques, a
água, flores, arbustos, árvores. Efeitos de luz e de sombra

73
FLOR DO LÁCIO

3) Descreva o panorama duma cidade vista dum ponto culminante, de acor-


do com o seguinte plano:
a. A moldura: campos verdes, pontilhados de árvores e casas esparsas; coli-
nas ondulantes, montanhas
b. A cidade: as torres das igrejas, as chaminés das fábricas, as ruas alinhadas,
as praças, os prédios importantes, o rio ou os córregos, as pontes

4) Descreva, depois de traçar o esquema dum plano de composição:


a. Uma rua f. O mar, visto dum rochedo
b. Um cemitério g. Uma praia
c. Uma aldeia pitoresca h. Um pomar
d. Uma cidade morta i. Uma floresta
e. Uma paisagem j. Uma planície cultivada

5) Descreva, depois de traçar o esquema dum plano de composição:


a. Uma fazenda de café d. A capital dum de nossos estados
b. Um algodoal em floração e. A capital federal
c. Uma fazenda de criação

74
Descrição com impressões pessoais

N A descrição essencialmente objetiva e impessoal, o que desperta e aguça


a curiosidade do leitor, avivando-lhe a atenção, são os pormenores des-
critivos, selecionados, ordenados e expressos de tal forma, que, formando um
todo coisa, quadro, paisagem, vista animada, retrato etc. não lhe deixem
diminuir ou desaparecer o interesse.
Na descrição mesclada de impressões pessoais, de cunho essencialmente ro-
mântico, existe, além deste aspecto, o modo particular ou pessoal de o autor
sentir ou interpretar o que descreve, recebendo da natureza exterior impressões
que ele procura transmitir ao leitor sob forma artística e vigorosa, segundo o
grau de sua sensibilidade estética, e empregando, principalmente, figuras de
estilo.
Este último aspecto é que os alunos devem observar na explicação dos textos
que se seguem, e aplicar nos exercícios de composição literária, abstendo-se, por
enquanto:
1) De adjetivos que exprimam uma impressão informe, vaga ou generaliza-
da, como "belo", "lindo", "grandioso", "formidável", "magnífico", "medonho",
"horrível", "horroroso", "ensurdecedor", "estonteante", "irritante, "gostoso",
"saboroso", "delicioso", "cheiroso", "agradável", "desagradável" etc.
2) Dos advérbios que derivam de tais adjetivos: "Belamente", "lindamente,
"grandiosamente" etc.
3) De certas expressões que atribuem posse ou sentimentos às coisas, como:
"O sol, com seus raios, iluminava a terra"; "a lua com sua doce claridade, pra-
teava o espaço"; "as nuvens pareciam querer devorar o sol e avançavam furio-
samente contra o horizonte"; "a tempestade, como se quisesse destruir tudo,

75
FL OR DO LÁCIO

ululava horrivelmente neste último exemplo, há ainda uma palavra de que


os alunos se servem freqüentemente e que, quando inexpressiva, convém ser
evitada: "Tudo".

É certo que estas formas expressivas, e outras quejandas, são encontradas em


descrições de bons autores, o que talvez se explique:
1) Pelo fato de que eles as sabem manejar com propriedade, com precisão.
2) Porque as descrições, ilustrando obras do gênero narrativo, como contos,
romances etc., participam, por continuidade, da narração.

A impressão pessoal deve emprestar maior relevo e nitidez à forma e ao


aspecto das coisas: "O violino soluça; "o vento geme nos bosques"; "a linfa
cristalina (a água); "o lago espelhava o céu de anil; seus olhos cintilavam como
duas estrelas" etc.
Os alunos devem esforçar-se por serem os próprios criadores das figuras
com que exprimirão suas impressões pessoais, evitando, todavia, o abuso da
originalidade.
Descrição com impressões pessoais
TEXTOS EXPLICADOS

I. ANOITECER"

Esbraseia o Ocidente na agonia


O sol... Aves, em bandos destacados,
Por céus de ouro e de púrpura raiados,
Fogem ... Fecha-se a pálpebra do dia ...

Delineiam-se, além, da serrania


Os vértices de chama aureolados,
E em tudo, em torno, esbatem derramados
Uns tons suaves de melancolia ...

Um mundo de vapores no ar flutua ...


Como uma informe nódoa, avulta e cresce
A sombra, à proporção que a luz recua ...

A natureza apática esmaece ...


Pouco a pouco, entre as árvores, a lua
Surge trêmula, trêmula ... Anoitece.

Raimundo Correia

6 O professor deve, antes de tudo, ler este soneto na ordem direta.

77
FLOR DO LÁCIO

Estudo das palavras e expressões

Ocidente lugar onde o sol parece cair, esconder-se.


Bandos destacados grupos esparsos.
Raiados cheios de raias ou listróes cor de ouro e púrpura.
Delinear traçar contornos; perfilar.
Serrania cordilheira ou aglomeração de serras.
Vértice a parte mais alta e fina.
Esbater espalhar uma cor ou uma sombra, de que se vai apagando aos
poucos.
Derramados bem espalhados.
Flutuar pairar no ar, do mesmo modo que um objeto leve ou cheio de ar
sobrenada as ondas.
Esmaecer desmaiar, perder o brilho ou a cor.
Natureza apática natureza completamente imóvel.
Esbrasear iluminar com o brilho e a cor da brasa.
Agonia - os derradeiros instantes do dia.
Céus de ouro e púrpura - aspecto luminoso e rubro do céu, aos últimos
raios do sol.
Fecha-se a pálpebra do dia é uma personificação: o poeta imagina que o
dia vai adormecer. A expressão designa o período que decorre entre os últimos
momentos do dia e os primeiros da noite.
Aureolados de chama os cumes parecem envoltos em chama, porque o
sol já se acha atrás deles.
Tons suaves coloridos suaves, toques.
Um mundo de vapores o aspecto da atmosfera, que as primeiras sombras,
como vapores, vão invadindo.

Estudo do plano de composição

1) Que nos descreve aqui Raimundo Correia?


R.: O poeta descreve um pôr de sol, seguido do anoitecer, enriquecendo-o
com pormenores relativos ao aspecto do céu e exprimindo o próprio deslum-
bramento por meio de impressões pessoais.

2) Que elementos descritivos contém cada uma das estrofes?


R.: Primeira estrofe: o sol abrasando o Ocidente; os bandos de aves; o céu
colorido; a hora crepuscular. Segunda: os vértices da serrania; a luz que os
A DESCRIÇÃO

aureola; os tons suaves de melancolia. Terceira: o mundo de vapores e a noite


que avança. Quarta: a natureza apática, as árvores, a lua trêmula, o anoitecer.

Estudo das idéias

1) Que é que mais nos desperta a curiosidade neste soneto?


R.: O que mais nos desperta a curiosidade não é tanto o quadro, mas, prin-
cipalmente, a maneira com que o poeta o interpreta, com aguda sensibilidade
artística.

2) Faz-nos o autor ver a paisagem que descreve? Por quê?


R.: Ele nos faz ver a paisagem, pelos pormenores e pelas expressões vigorosas
que os traduzem: o quadro vai surgindo aos nossos olhos com suas luzes, cores,
sombras e formas.

3) Por que emprega o autor tantas inversões de termos em seu soneto?


R.: Para pôr em realce a idéia ou o pormenor de maior sentido estético,
colocando em primeiro lugar a palavra que os exprime: "Esbraseia", "de ouro e
púrpura raiados", "da serrania os vértices", "de chama aureolados" etc.

4) Quais são as impressões pessoais do poeta?


R.: As impressões pessoais do poeta são, sobretudo, de luz, sombra e cor,
embora haja outras, pouco numerosas e de valor artístico secundário.

5) Com que expressões nos transmite ele essas impressões?


R.: Do seguinte modo:

Expressões Impressões
Esbraseia Luz
Céus de ouro Cor luminosa
Pálpebra do dia Sombra
Aureolados de chama Luz
Mundo de vapores; como um nódoa Sombra

Assim, o poeta exprime as próprias impressões pessoais por meio de adjeti-


vos, comparações e metáforas.

79
FLOR DO LÁCIO

Ligeiro estudo da metrificação

1) Quantas sílabas poéticas contém cada verso deste soneto?


R.: Cada verso conta 10 sílabas poéticas:
Es bra sei ao O c1 den te na a go n1 a
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

2) Em que sílabas recaem os acentos predominantes?


R.: Na 6e na 1O sílaba.

3) Estude, neste soneto, as rimas e sua disposição.


R.: As rimas são graves, e sua disposição é a seguinte:
1 ° quarteto - 1-2-2--1 { interpoladas
29 quarteto - 1-2-2-1

1 ° terceto - 3-4-3
{ cruzadas
2o terceto - 4-3-4

Esquema do plano de composição

1 ° quarteto: o sol em declínio o poente colorido bandos de


aves a hora crepuscular
2° quarteto: os vértices da serrania, ao longe, aureolados de luz
Anoitecer -j tons suaves, que despertam a melancolia
1 ° terceto: o mundo de vapores flutuantes a sombra que avan-
ça a luz que recua
2° terceto: a natureza apática as árvores o anoitecer a luz

II. OCASO

"Tio Ambrósio" disse Leonor, voltando-se para o profeta de desventuras e


soltando um grito de entusiasmo -, "parece-me que se engana desta vez. Que
admirável, que esplêndido pôr do sol!".
E era assim. Qual a atufar-se nas águas, o sol desprendera-se por um esforço
das nuvens, que mais o assoberbavam, e, rareando-lhes um pouco a massa den-
síssima, luzia pelos intervalos em todo o seu esplendor. Os raios, que emanavam

8o
A DESCRIÇÃO

do luminoso orbe, abrasavam em toda a sua extensão o céu caliginoso. A massa


das nuvens, como palácio esboroado em ruínas pelo incêndio, assumia formas
fantásticas, purpurava-se e dourava-se com o esplêndido reflexo da luz solar.
Parecia que o céu estava todo em fogo e o mar, vermelho no horizonte, parecia
revolver, nas suas ondas, sangüíneas labaredas. Era um espetáculo realmente
maravilhoso.

Pinheiro Chagas

Estudo das palavras e expressões

Esplêndido brilhante, luzente; deslumbrante.


Atufar-se- mergulhar.
Assoberbar dominar, vexar; atormentar.
Esplendor brilho, resplandecência.
Emanar provir; disseminar-se sob a forma de partículas sutis.
Caliginoso muito denso e escuro; tenebroso.
Esboroado reduzido a pó.
Profeta de desventuras pessoa que anuncia desgraças ou coisas desagra-
dáveis.
Luminoso orbe- o sol.
Abrasavam iluminavam, dando um tom de brasa.
A massa das nuvens o conjunto informe das nuvens.
O céu estava todo em togo estava de um vermelho vivo e luminoso.
Sangüíneas labaredas reflexos do sol na água; sua forma e seus movimen-
tos relembram chamas rubras.

Estudo do plano de composição

1) Que nos descreve Pinheiro Chagas neste trecho?


R.: Descreve-nos um pôr de sol no mar e exterioriza as impressões pessoais,
que lhe causa esse espetáculo.

2) Quantas partes apresenta esta descrição?


R.: As seguintes:
a. O entusiasmo de Leonor
b. O pôr do sol

81
FL OR DO LÁCIO

3) Como se ligam essas partes?


R.: Pela frase narrativa: "E era assim, que torna suave a transição da primei-
ra para a segunda parte.

4) Explique minuciosamente cada uma dessas partes.


R.: Na primeira parte, aparecem duas personagens, uma das quais, Leonor,
chama com entusiasmo a atenção da outra para a magnificência do pôr do sol.
Na segunda, notam-se quatro fases pinturescas dos últimos momentos do dia:
1) O sol parece mergulhar nas águas do mar, depois de se desembaraçar das nu-
vens, entre as quais refulge com intenso brilho; 2) Os raios solares refletem-se
no céu obscuro do horizonte, dando-lhe aspecto de brasa; 3) Nuvens de formas
irregulares e evocativas tornam-se vermelhas ou douradas; 4) O céu fica todo
rubro no poente e, no mar, as ondas tremeluzem, agitando em seu seio reflexos
rubros, que se assemelham a labaredas cor de sangue.

Estudo das idéias

1) Onde está o interesse desta descrição?


R.: O que há de interessante nesta descrição são as impressões pessoais do
autor, pois nos dão idéia da beleza do quadro descrito.

2) Quais são essas impressões pessoais e como as exprime o autor?


R.: As impressões pessoais do autor, isto é, a reação estética de seu espírito
à natureza exterior (e não só da natureza exterior, como aqui, mas também
doutros agentes), são, nesta descrição, de forma, luz e cor. Ele as exprime por
meio de:
a. Adjetivos: "Admirável", "esplêndido", "luminoso", "caliginoso", "fantás-
tico" etc.
b. Expressões de sentido figurado: ''Assoberbavam", "esforço das nuvens",
"luminoso orbe", "abrasavam", "purpurava-se", "dourava-se", "mar vermelho",
"sangüíneas labaredas"
e. Orações narrativas, com as quais o autor comenta, em seu próprio nome,
o espetáculo: "Era assim ... ", "era um espetáculo realmente maravilhoso"

3) Que sensações experimentamos ante o quadro descrito? Por quê?


R.: Experimentamos sensações visuais de forma, luz e relevo, pois o autor
escolhe pormenores evocativos e expressões vigorosas, que, em conjunto, nos
dão a impressão dum quadro artístico. O autor dispõe, como se vê, de qualida-
des plásticas em literatura.
A DESCRIÇÃO

4) Que deficiências de estilo se encontram neste trecho?


R.: Pinheiro Chagas poderia ter evitado a repetição de certas palavras, que,
substituídas por outras ou suprimidas, emprestariam mais vigor expressivo e
estético à descrição. "Esplêndido reflexo", "esplêndido pôr de sol"; "massa den-
síssima", "massa das nuvens; "parece-me que se engana, "parecia que o céu",
"parecia revolver" - eis pequenas e desagradáveis falhas, fáceis de corrigir. O
penúltimo período, então, ficaria mais sugestivo sem o verbo "parecer": "O céu
estava todo em fogo, e o mar, vermelho no horizonte, revolvia, nas suas ondas,
sangüíneas labaredas".

Esquema do plano de composição


a. O entusiasmo de Leonor:
Leonor Tio Ambrósio o motivo do entusiasmo

8 ae
Ocaso J # ã
5 d)

- ai 1)O sol mergulhando no mar seu brilho en-


tre as nuvens
2) O reflexo solar no horizonte obscuro o as-
b. O pôr do sol pecto do céu
3) Nuvens que se purpureiam ou douram e to-
mam formas fantásticas
4) O poente rubro seu reflexo no mar
Descrição com impressões pessoais
TEXTOS PARA EXPLICAÇÃO

I. RECIFE DE CORAL?

O sol dentro do mar, em misteriosa aurora,


O profundo brenhal dos corais ilumina;
Mesclando, ao fundo da bacia esmeraldina,
A fauna florescente e a luxuriante flora.

E tudo que de sal e de iodo se colora,


O musgo, a actínia, o ouriço e a pobre alga franzina,
Põe desenhos irreais de sombra purpurina
No chão rendado a que o pólipo se incorpora.

Apagando o esplendor da espuma iriada, passa


Um peixe a navegar na trama que se enlaça;
Ora as águas alisa, ora as águas desfralda ...

Súbito agita em leque a barbatana enorme,


E à tona de cristal da água mansa que dorme
Corre um frêmito de ouro e nácar e esmeralda.

Olegário Mariano

7 Traduzido de J.-M. de Heredia.


A DESCRIÇÃO

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. Recife d. Musgo g. Trama
b. Brenhal e. Actínia h. Desfraldar
c. Mesclar f. Pólipo i. Barbatanas

2) Que significa cada uma das seguintes expressões?


a. Misteriosa aurora g. O chão rendado
b. A bacia esmeraldina h. A espuma iriada
c. A fauna florescente i. O cristal da água
d. A luxuriante flora j. Que dorme
e. Desenhos irreais k. Frêmito de ouro e nácar e esmeralda
f. Sombra purpurina

Estudo do plano de composição

1) Que nos descreve este soneto?

2) Divida esta descrição em duas partes, dando-lhes títulos expressivos.

3) Que pormenores descritivos se encontram em cada uma dessas partes?

Estudo das idéias

1) Em que é parnasiano este soneto?

2) Que rápida visão de arte nos apresenta ele?

3) Que impressão nos causa o poder expressivo do poeta? Por quê?

4) Analise suas impressões pessoais.


FLOR DO LÁCIO

Ligeiro estudo de metrificação

1) Quantas sílabas poéticas conta cada verso deste soneto?

2) Quais são as sílabas em que recaem os acentos predominantes?

3) Estude, neste soneto, as rimas, sua disposição e os enjambements.

Exercício I: vocabulário e gramática

1) De exemplos de metáfora, perífrase, antítese e suspensão.

2) Que adjetivos se formam de ...? Empregue-os em curtas sentenças.


a. Sol e. Esplendor i. Cristal
b. Mar f. Espuma j. Ouro
c. Coral g. Peixe k. Nácar
d. Sal h. Água 1. Esmeralda

3) Cite palavras formadas como "brenhal".

4) Cite palavras que exprimam, em diversos tons, as cores branca, amarela,


verde, cinza, vermelha, roxa e azul.

5) Forme doze comparações, em que entrem, como segundo elemento, os


substantivos do exercício número 2, acima.

6) Conjugue, em todos os tempos, os verbos "correr", "dormir" e "p6r".

7) Qual é o plural de ... ?


a. Aldeão e. Cortesão i. Charlatão
b. Ancião f. Folião j. Guardião
e. Vilão g. Faisão
d. Vulcão h. Sacristão

86
A DESCRIÇÃO

8) Qual é o superlativo absoluto de ... ?


a. Íntegro e. Capaz i. Atroz
b. Sagaz f. Tenaz j. Acre
c. Voraz g. Feliz k. Livre
d. Mendaz h. Feroz l. Mísero

9) Cite expressões que traduzam sensações de luz e cor.

Exercício : elocução

Faça, em prosa, a reprodução deste soneto.

Exercício It: redação imitativa

Imitando o autor no plano de composição deste soneto, descreva em prosa


um tanque artístico, em cujas águas nadam peixinhos encarnados.

II. A BAÍA DO RIO DE JANEIRO

O formoso panorama, tantas vezes decantado sem nunca se banalizar, surgia-


-lhes mais formoso na glória daquela manhã serena e clara. Já o véu de neblina
se desfizera totalmente, aos afagos do morno sol. No ar transparente e ligeiro re-
cortavam-se os cabeços dos montes mais altos, cujos perfis pontiagudos, toscos,
irregulares, pareciam transfigurar-se na suave pulverização da luz. Toda a baía,
iluminada, palpitante de mastros e mugidos longínquos de "sereias", florindo no
sorriso das ilhas verdejantes, era um grande sonho de esmeralda e ouro, refulgin-
do sob o vôo branco das gaivotas. E longe, no horizonte silencioso, divisava-se
o trecho da Serra dos Órgãos, cujas grimpas, caprichosamente recortadas, eretas
como torres, são como braços gigantescos erguidos para o céu.

Mateus de Albuquerque
FLOR DO LÁCIO

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. Panorama e. Ligeiro i. Toscos
6. Decantado f. Recortar j. Grimpas
c. Banalizar g. Cabeços k. Caprichosamente
d. Serena h. Perfil

2) Que significam aqui ... ?


a. A glória daquela manhã g. Sonho de esmeralda e ouro
6. O véu de neblina h. Refulgindo
c. Aos afagos do morno sol i. O vôo branco das gaivotas
d. Pareciam transfigurar-se j. Horizonte silencioso
e. A pulverização da luz k. Eretas como torres
f. Florindo no sorriso das ilhas verdejantes 1. Braços gigantescos

3) Substitua no texto por expressões mais vigorosas:


a. Formoso
6. Divisava-se

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta descrição?

2) Aponte no texto as passagens que possam ter por títulos:


a. A manhã serena e clara c. A baía
6. Os montes mais altos d. A Serra dos Órgãos

3) Qual é o conteúdo de cada uma dessas passagens?

Estudo das idéias

1) Mostre que o interesse desta descrição está, principalmente, no modo


particular que tem o autor de ver e sentir a paisagem.

88
A DESCRIÇÃO

2) Quais são as impressões pessoais do autor e com que expressões as traduz ele?

3) A frase do autor é harmoniosa e seus pormenores descritivos dão colorido


e relevo à paisagem. Prove esta asserção.

4) Localize este trecho no romance A juventude de Anselmo Torres.

Exercício 1: vocabulário

1) Releia o texto, substituindo as expressões que traduzem as impressões


pessoais do autor por palavras que estejam em seu sentido próprio.

2) Cite antônimos de:


a. Formoso e. Pontiagudo i. Silencioso
b. Clara f. Suave j. Gigantesco
c. Totalmente g. Luz k. Destrambelhar
d. Transparente h. Longínquo

3) Empregue as seguintes palavras em orações apropriadas que lhes precisem


o sentido:
a. Neblina bruma cerração nevoeiro
b. Afagos carícias mimos blandícias
c. Cabeço cume ápice vértice cúspide
d. Rosicler róseo

3) Cite substantivos, caracterizados por adjetivos, em expressões que expri-


mam os diversos matizes da cor de cinza.

4) Cite expressões que traduzam idéias de manchas escuras, indecisas ou


informes, como, por exemplo, nos parecem os prédios envolvidos em neblina.

5) Cite expressões que traduzam sensações de luz.

Exercício : elocução

Reproduza oralmente esta descrição, em dez orações curtas.


FLOR DO LÁCIO

Exercício t: redação imitativa

Imitando Mateus de Albuquerque, descreva uma cidade mergulhada em


densa neblina, traduzindo suas impressões pessoais por meio de comparações,
metáforas e imagens.

III. LUAR NA PRAIA

Nascia a lua. O mar clareava aos poucos. Na crista arrugada das ondas vagarosas
a luz joeirava cisalhas de prata. A praia clara recurvava-se entre duas finas e avan-
çadas pontas, arenosa, sem rochas, onde as vagas adormeciam, gemendo, num
grande espreguiçamento branco. Para o poente, vultos de coqueirais, batidos do
vento, destacavam-se negros no céu estrelado. Nas dunas desertas e tristes, apon-
toavam a brancura da areia mirradas moitas de pinhão bravo; de quando a quando
coleavam salsas rasteiras, como serpentes enormes. Ao norte, uma das pontas de
terra que longamente enfiava pelo oceano terminava em rochedos escuros, aqui
dispersos, ali quase igualmente intervalados à guisa de gigânteas alpondras: e por
sobre eles, flava, fulgurante, bocejava a intercadências a lanterna benéfica dum
farol. Todos os rumores dos matos, das águas e dos bichos notívagos diluíam-se
na noite enluarada. Um eflúvio dormente desprendia-se dos cajueiros floridos e
errava na face da terra uma canseira, um quê de sutil que impelia à modorra, ao
sono e à preguiça. Depois a lua resplandeceu alta e uma refulgência prateada, com
uns raros tons de azinhavre, derramou-se por sobre as coisas.

Gustavo Barroso

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. Joeirar e. Colear i. Modorra
6. Pontas f. Alpondras j. Azinhavre
c. Dunas g. Flava
d. Apontoar h. A intercadências

2) Qual é aqui a significação de ... ?


a. A crista arrugada das ondas

90
A DESCRIÇÃO

b. Cisalhas de prata
c. Adormeciam
d. Espreguiçamento branco
e. Bocejava a lanterna benéfica dum farol
f. Os rumores diluíam-se
g. Na noite enluarada
h. Eflúvio dormente
i. Refulgência prateada

Estudo do plano de composição

1) Que nos descreve Gustavo Barroso nesta página?

2) Aponte no texto as partes em que observamos:


a. O nascer da lua d. A quietude da natureza
b. O lado do poente e. O plenilúnio
c. O lado do norte

3) Que pormenores descritivos contém cada uma destas partes?

4) Como se faz a transição de cada uma delas para a seguinte?

Estudo das idéias

1) Mostre que o interesse desta descrição está não somente nos elementos
descritivos, que reconstituem a paisagem, como também nas impressões pes-
soais do escritor.

2) Em que consistem essas impressões pessoais e de que modo no-las trans-


mite o autor?

3) A expressão das impressões pessoais emprestou, acaso, maior nitidez e


relevo à forma e ao aspecto das coisas? Analise em poucas palavras o estilo do
autor.

91
FL OR DO LÁCIO

4) Localize este trecho no livro Praias e várzeas.

Exercício !: vocabulário

1) Dê sinônimos a:
a. Crista i. Mirradas q. Insuflar
b. Arrugada j. Moitas r. Desprazer
c. Ondas k. Colear s. Destrambelho
d. Joeirar 1. Escuros t. Fanar
e. Recurvar m. À guisa de u. Cairel
f. Poente n. Flava v. Bruxulear
g. Vultos o. Fulgurante
h. Destacar-se p. lnsueto

2) Dê antónimos a:
a. Clarear f. Adormecer k. Dispersos
b. Vagarosa g. Branco I. Benéfica
c. Luz h. Desertas m. Preguiça
d. Clara i. Brancura
e. Finas j. Mirradas

3) Empregue no sentido figurado, em curtas orações:


a. Pratear f. Enrubescer k. Sombrear
b. Argentear g. Purpurear 1. Cintilar
c. Dourar h. Esverdear m. Fulgurar
d. Avermelhar i. Amarelar n. Rutilar
e. Ensangüentar j. Branquear o. Florescer

4) Empregue em orações, como segundo termo de comparação:


a. Leite e. Lírio i. Serpente
b. Opala f. Ouro j. Ilha
c. Prata g.Fogo
d. Rosas h. Estrelas

92
A DESCRIÇÃO

5) Ajunte, aos seguintes substantivos, adjetivos que lhes caracterizem o as-


pecto:
a. Luar d.Mar g. Colina
b. Praia e. Ondas h. Lago
c. Areia f. Coqueiro i. Bosque

Exercício : elocução

Seguindo de perto o movimento fraseológico dos quatro primeiros períodos


do texto, fale, sem vacilar:
a. De um nascer de sol
b. De um pôr de sol

Exercício Ili: redação imitativa

Inspirando-se no plano de composição estudado neste texto, descreva uma


noite de luar numa planície, onde há regatos, bosques, chácaras etc., enrique-
cendo a descrição com impressões pessoais.

93
Composições rápidas

O s alunos devem, freqüentemente, fazer composições rápidas, em cinco


ou dez minutos, limitando-se, de início, a um único período e desenvol-
vendo-as, posteriormente, em dois ou três, depois de praticada a correção pelo
professor. Os elementos descritivos podem ser indicados aos alunos, até que eles
se habituem a procurá-los pela observação ou pela imaginação.

Exemplos: em um único período

1) Elementos descritivos: Campos verdes lago montanhas arroxeadas


- árvores céu azul

Paisagem 1: Enquadrado pela vastidão dos campos verdes, fechados no hori-


zonte por alta muralha de montanhas arroxeadas, o grande lago de águas claras
espelhava as esguias árvores que o margeavam e o azul imaculado do céu.

Paisagem II: Emoldurado por vastos campos verdes, limitados no horizonte


por uma linha sinuosa de montanhas arroxeadas, que se erguiam, na atmosfera
límpida, como gigantescos guardas, o grande lago espelhava o céu azul e as
esguias árvores de suas margens.

Paisagem III: Cintilando no meio de extensos campos verdes, limitados ao


longe por uma linha sinuosa de montanhas arroxeadas, o sereno lago de águas
transparentes refletia o céu azul e a folhagem das árvores circundantes, que se
ligavam, pelos troncos embaçados, à sua imagem invertida.

94
A DESCRIÇÃO

Paisagem IV: No meio de extensos campos verdes, fechados no horizonte


por alterosas montanhas violáceas, o vasto lago refletia o claro azul do céu e as
frondosas árvores que se alinhavam em suas margens, mirando-se nas águas
cristalinas, como hamadríades vaidosas.

2) Elementos descritivos: Rio céu azul colinas florestas rochedos

Paisagem: Ao longo da argêntea e líquida faixa, serpeando sob o azul do


céu, estendem-se, como dorsos de monstros antediluvianos, colinas arredon-
dadas, revestidas do verde-escuro das florestas e assinaladas, de distância em
distância, pelas chagas avermelhadas de altos rochedos que descem a pique até
a margem florida do rio.

3) Elementos descritivos: Regato campina arbustos flores

Quadro: O regato coleava, como uma serpente de cristal cintilante, através


da campina, emoldurado por tufos verdes de arbustos rasteiros, no meio dos
quais apontavam manchas de luz colorida: flores agrestes, vermelhas como ru-
bis, brancas como leite, amarelas como ouro, azuis como o céu.

4) Elementos descritivos: Parque árvores luar

Luar num parque: Uma claridade opalina descia em profusão das alturas,
branquejando as perspectivas e prateando as folhas das árvores, que, dentro da
quietude leitosa do luar, formavam um bosque encantado, cheio de cintilações,
como se as estrelas tivessem caído do céu.

5) Elementos descritivos: O sol o poente o céu abrasado

Pôr de sol: O sol descia, como um globo de fogo, rumo à linha do horizon-
te, abrasando o céu ao derredor e fulgurando, rátilo, num clarão incandescente,
que se alongava em faixas ígneas, semelhantes a labaredas imóveis.

6) Elementos descritivos: Horizonte escuro a alva nuvens douradas


clarão rubro sol

Nascer de sol: Uma lâmina de claridade corta, no horizonte, a massa escura


da noite e uma luz pálida cresce aos poucos, incendiando as nuvens, que se alon-
gam em barras de ouro fúlgido, enquanto o clarão rutilante vai aumentando e o

95
FLOR DO LÁCIO

sol desponta na glória da manhã, refulgindo e polvilhando a natureza com uma


densa e luminosa poeira loura.

7) Elementos descritivos: Noite de luar velha igreja casas duma pe-


quena cidade

A velha igreja: Silhuetando-se na atmosfera límpida e banhada na claridade


opalescente do luar, a velha igreja ergue para o céu as escuras torres, como dois
braços levantados numa prece muda, sem princípio nem fim, implorando a
proteção divina para as casas silenciosas, que se lhe aglomeram em torno, seme-
lhantes a tímidas ovelhas em redor de seu pastor.

Exemplos: em mais de um período

1) Elementos descritivos: Céu nórdico montanhas de gelo aurora


boreal lençol de neve claridade e sombras aludes

Paisagem polar: Contra o fundo acinzentado dum céu nórdico, recortam-


-se altas montanhas de gelo, que se estendem em linhas sinuosas, refulgindo na
claridade opalina de uma aurora boreal.
Sobre o imenso lençol de neve alongam-se, imóveis, sombras enormes, e,
nos trechos claros, luminosidades vaporosas maculam, como véus esgarçados,
as perspectivas brancas.
Estrugem, subitamente, surdos e roucos estrondos, como tonitruantes ri-
bombas, e, das alturas alvas, desagregam-se maciços aludes, que se despenham,
em cataratas trovejantes, pelas encostas e mergulham, rugindo, nos abismos
glaciais.

2) Elementos descritivos: Penhasco farol faixa de luz trevas notur-


nas vagas barco pedrouços

Um farol: Sobre um penhasco maciço e de arestas agudas, isolado como


uma ilhota na vastidão do oceano, alteia-se a sombra esguia de um farol, que
olha para o deserto líquido como uma sentinela vigilante.
Coroando-lhe o topo, uma cúpula giratória projeta, em movimento circular
constante, uma faixa perfulgente, que corta até o horizonte tenebroso, como
imenso e cintilante alfange, a escuridão noturna.
A DESCRIÇÃO

O longo feixe de luz ilumina, alternadamente, o dorso luzidio das vagas, as


velas esbranquiçadas de um barco distante ou os pedrouços negros, que emer-
gem do mar, franjados pela espuma rendilhada das ondas.

Exercícios

1) Faça de novo, em forma diferente, cada uma das descrições indicadas


neste capítulo.

2) Descreva, em um período, um cafezal morto pela geada.

3) Descreva, em um período, uma planície fértil, de culturas diversas.

4) Descreva, em um período, o mar em fúria.

5) Descreva, em um período, arrozais, que você comparará ao mar.

6) Descreva, em um período, uma cachoeira.

7) Descreva, em um período, uma chuva.

8) Descreva, em um período, um luar na fazenda.

9) Descreva, em um período, um temporal.

10) Descreva, em um período, um arco-íris.

11) Descreva, em um período, um incêndio.

12) Desenvolva, em três períodos, cada um dos onze temas supracitados,


destes exercícios.

97
Descrição com impressões pessoais
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA

O professor lerá à classe, previamente, uma descrição-modelo.

1) Descreva, assinalando vigorosamente suas impressões pessoais:


a. Uma paisagem de rochedos e montes
6. Um cafezal recoberto de geada
c. Um parque ou um jardim abandonado, numa noite de luar
d. Um nascer de sol
e. Um regato cristalino, margeado de plantas verdes e flores
f. A bandeira brasileira

2) Descreva, de cal forma que suas observações ou reflexões produzam uma


impressão de conjunto (a impressão de conjunto está indicada, nos temas que
se seguem, por uma oração subordinada adjetiva relativa):
a. Um pôr de sol, que você comparará a um incêndio
6. Uma tempestade no mar, que lhe parece uma luta de seres monstruosos
c. Uma force cerração, que parece mergulhar uma cidade no luto
d. Uma velha igreja, que, dentro da noite, parece um gigante a velar pelos
homens

3) Descreva, de acordo com o plano abaixo indicado, um vulcão flamívomo


comparando-o a um dragão:
a. Cadeia de montanhas perfilando-se, escuras, dentro da noite incipiente
A DESCRIÇÃO

b. Sua forma fantástica: um rebanho de monstros a erguer-se contra o céu


cinzento
e. O vulcão: coluna de fumaça, penacho rubro a lamber o espaço; ruído
trovejante; regato de lavas candentes, a descerem, como riachos esbraseados,
pelas encostas

4) Descreva, insistindo em suas recordações pessoais:


a. A casa paterna, que você não vê há um ano
b. A fazenda em que você passou a infância
c. A cidadezinha praiana em que você passou as férias
d. A chácara da montanha onde você esteve no verão
e. A igreja em que você fez a primeira comunhão
f. Um velho solar rústico, semi-arruinado, que parece ter saudades da bri-
lhante vida social de outrora

99
Descrição de vistas e quadros animados

E STA modalidade de descrição é semelhante à de quadros de conjunto, dei-


xando, porém, de ser estática, para se tornar dinâmica, o que exige seleta
escolha de expressões vigorosas, se não exuberantes, para a tradução do movi-
mento, tardo, acelerado, ou violento, dos fenômenos naturais ou dos seres ani-
mados, com tudo o que deles decorre: ruídos, sons, mutações de cores, trans-
formações de cenários etc. As orações curtas e seguidas, justapostas ou não,
traduzem movimentos rápidos, porque cada qual pinta, de modo incisivo, um
fato, do qual se passa imediatamente para outro; as orações longas e arrastadas,
modificadas por subordinadas, exprimem bem a lentidão dos movimentos. As
onomatopéias e outras figuras transcrevem, com energia evocativa, os sons e os
ruídos.
A descrição de vistas e quadros animados apresenta um tríplice interesse:
1) Ela procura traduzir a vida das coisas (uma cachoeira, um incêndio, uma
tempestade, um vendaval, uma inundação, um terremoto etc.); não aparecem
seres vivos senão acidentalmente e como pormenores descritivos secundários.
2) Transcreve uma vista ou um quadro, em que há movimento de pessoas
ou animais.
3) Insiste, principalmente, no caráter das coisas (uma catedral que parece
proteger e guardar uma cidade; um farol iluminando um trecho perigoso do
mar etc.); há aqui uma interpretação do autor, que personifica as coisas ou lhes
empresta caráter de símbolos, servindo-se geralmente, então, como recursos
literários, de figuras de estilo, para exprimir suas impressões pessoais.

100
Descrição de vistas e quadros animados
TEXTOS EXPLICADOS

I. O SALTO DO GUAÍRA

Largo oceano azul, ora margeando


Campina extensa, ora frondosa mata,
Léguas e léguas marulhoso e brando,
O rio enorme todo o céu retrata.

Súbito, as águas, brusco, represando,


Em torvelins de espuma se desata;
Vertiginoso, indômito, raivando,
Ruge, fracassa e tomba em catarata.

Tomba, e de novo em arco se levanta;


Nada a brancura esplêndida lhe turva
E na apoteose em que a caudal se expande

Do sol aos raios, multicor se encurva


Em tanto resplendor e glória tanta,
Rútilo arco-íris, luminoso e grande.

Emílio de Menezes

1OI
FL OR DO LÁCIO

Estudo das palavras e expressões

Salto catadupa, catarata, queda de água.


Margear seguir a margem.
Marulhoso que faz o ruído suave e característico das águas agitadas.
Brusco o poeta empregou este vocábulo no sentido de: subitamente,
inesperadamente.
Represar reter águas em seu conjunto ou em parte.
Desatar desfazer-se.
Vertiginoso tão rápido, que causa vertigens.
Indômito - que não se pode dominar; indomável, bravio.
Fracassar produzir fragor, estrépito.
Turvar macular o que é claro ou límpido.
Apoteose glorificação; beleza incomum.
Caudal torrente violenta.
Rútilo que refulge com luz avermelhada.
Largo oceano azul é uma figura pela qual o poeta designa a vastidão do
rio, que está azul, por refletir o céu.
Frondosa mata a folhagem densa das árvores se unifica, formando como
que uma única fronde.
Todo o céu retrata o rio reflete o céu, reproduzindo-lhe a imagem.
Torvelins de espuma redemoinhos de águas espumejantes.
Raivando revolto e tumultuoso.
Ruge produz um barulho semelhante a um rugido.
Em arco se levanta ao caírem, as águas ressaltam, arqueando-se.
Glória grande beleza.

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto deste soneto?


R.: O autor descreve o Rio Guaíra, primeiramente em seu aspecto tranqüi-
lo, quase dormente, e, depois, como se tivesse despertado em fúria, despenhan-
do-se em catarata ruidosa e espumejante.

2) De quantas partes se compõe esta descrição?


R.: De duas:
a. O rio antes do salto
6. O rio após o salto
A DESCRIÇÃO

3) Que aspectos apresenta esse rio?


R.: De acordo com o que observa o poeta, são quatro os aspectos desse rio;
cada aspecto apresenta uma nota pinturesca:
a. O espelho do céu c. A brancura esplêndida
b. Os torvelinhos de espuma d. O arco-íris

4) Que pormenores se encontram em cada um desses aspectos?


R.: No primeiro: largo oceano azul, campina extensa, frondosa mata, o céu.
No segundo: águas, torvelins de espuma, catarata. No terceiro: o arco, a bran-
cura esplêndida, o resplendor, a glória. No quarto: a apoteose, o caudal, os raios
de sol, o arco-íris.

5) Faça um ligeiro estudo de metrificação deste soneto


R.: Os versos são decassílabos:
Lar go o ce a no a zul, o ra mar gean do
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Cam pi na ex ten sa o ra fron do sa ma ta


1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

As rimas, todas graves, são, na maioria, ricas; sua disposição é a seguinte:


1 ° quarteto - 1-2-1-2
29 quarteto - 1-2-1-2
1 ° terceto - 3-4-5 [ cru~d~
2o terceto - 4-3-5

Os acentos predominantes recaem na sexta e na décima sílabas, em alguns


versos, e na quarta, oitava e décima, em outros.

Estudo das idéias

1) Em que reside o interesse desta descrição?


R.: O interesse está no aspecto variado e pinturesco apresentado pelo rio
nas três fases de seu curso: quando desliza calmamente, quando se precipita e
quando tomba em catarata.

2) Com que expressões Emílio de Menezes designa o rio?


R.: Estas expressões são:

103
FL OR DO LÁCIO

a. "Largo oceano azul", com que o poeta designa a vastidão do rio e sua cor
b. "Marulhoso e brando", com que indica o aspecto e o ruído agradável de
suas águas
c. "O rio enorme", que repete, restringindo-a, a idéia contida na figura ini-
cial (largo oceano)
d. "Represando as águas": é um aspecto do rio pouco antes da queda, quan-
do começa a animação violenta das águas
Outras expressões, que pintam aspectos tumultuosos do rio, se encontram
nas frases: "O rio se desata em torvelins de espuma", "vertiginoso", "raivando,
"ruge, fracassa e tomba", "em arco se levanta", "caudal".

3) Que impressão nos produz esta descrição?


R.: Experimentamos, ao lê-la, sensações de forma, luz, cor, assim como
sensações auditivas, que o poeta desperta habilmente por meio da harmonia
imitativa ou onomatopéia: "Vertiginoso, indômito, raivando, ruge, fracassa e
tomba em catarata".

Esquema do plano de composição

Calmo. "O espelho do céu": largo oceano azul


a. O rio antes ] campina extensa frondosa mata o céu
da queda
Vertiginoso. "Os torvelins": levanta-se em arco
- a brancura esplêndida o resplendor a
O salto do glória
Guaíra
O efeito da luz: a apoteose o caudal os
b. O rio após I raios de sol o arco-íris
a queda
A cor das espumas: levanta-se em arCO a
brancura esplêndida o resplendor a glória

II. MANHÃ NA ROÇA

Uma tênue mancha de claridade argêntea recorta em laca a linha ondulada das
colinas verdes. Pouco a pouco, uma poeira de ocre transparente, que se esbate
A DESCRIÇÃO

para o alto, cobre todo o horizonte e o sol aponta, deslumbradoramente, como


uma gema de ouro flamante. Vapores diáfanos diluem-se lentamente, em meio
dos listróes vivos que purpureiam o nascente. Fundem-se no ar tons delica-
dos de azul e rosa; e eleva-se da floresta uma orquestração triunfal. Despertam
de súbito, ao alagamento tépido da luz, as culturas adormecidas. Abrem-se as
casas. Pelos terreiros, úmidos da serenada da noite, homens de cócoras, em
camisa, de canjirão na mão, brancos de frio, ordenham as grossas tetas das
pacientes e mugidoras vacas, que criam amarradas aos finos paus das parreiras,
e que, expelindo fumaça no ar frígido, ruminam ainda restos de grama numa
mansidão ingênua de animal digno. Mulheres de xale pela cabeça chamam as
galinhas, com um ruído seco de beiço tremido, fazendo burrr e sacudindo-lhes
mãos cheias de milho e pirão esfarelado. Um carro atopetado de mandioca,
arrancadas de fresco, empoeiradas de areia, compridas, tortas, com o aspecto e
a cor esquisita das plantas que se avolumam e vegetalizam enterradas, chia mo-
notonamente, em direção ao engenho, solavancado pela aspereza do caminho ...
E pela compridão majestosa e verde dos alagados e das pastagens, o colorido
movimentoso e variado das reses.

Virgílio Várzea

Estudo do plano de composição

1) Que nos descreve Virgílio Várzea neste trecho?


R.: Descreve-nos, com efeitos de luz e de sombra, um amanhecer na roça,
traduzindo simultaneamente a primeira animação dos seres e das coisas.

2) De quantas partes se compõe esta descrição?


R.: Distinguem-se nela duas partes:
a. O amanhecer (desde o início até "triunfal")
b. A animação matinal

3) Como se ligam uma à outra essas partes?


R.: Pela idéia de despertar, indicada pelo verbo inicial da segunda parte
("despertam") e pelo canto do passaredo que acorda.

4) Qual é o conteúdo de cada uma delas?


R.: a. O amanhecer: mancha de claridade argêntea, linha ondulada das co-
linas verdes, poeira ocre, horizonte, sol apontando, vapores diáfanos, listrões
vivos, nascente, tons delicados de azul e rosa, floresta, orquestração triunfal.

105
FLOR DO LÁCIO

b. A animação matinal: alagamento tépido da luz, despertam as culturas,


abrem-se casas, homens mungem vacas nos terreiros, mulheres alimentam gali-
nhas, um carro de bois roda em direção ao engenho, chiando monotonamente,
reses se movimentam nos alagados e pastagens verdes.

Estudo das idéias

1) Explique as expressões que traduzem:


a. Os movimentos da luz
b. Os movimentos das cores
R.: a. Movimentos de luz: "Mancha de claridade argêntea" (a luz, de início,
é apenas um fio luminoso na linha do horizonte); "poeira de ocre (é a luz
dourada que cresce gradativamente, enquanto, pouco a pouco, vai apontando o
sol); "listróes vivos" (é o fundo de luz que aparece em forma de faixas no Orien-
te); "alagamento de luz" (o que indica sua expansão pela atmosfera e sobre a
superfície da terra)
b. Movimentos de cores: algumas das expressões de cor já foram estudadas,
por indicarem também movimentos de luz. Todavia, nota-se aqui um movi-
mento de cor, que forma delicado contraste: é a fusão, no ar, de tons azuis e
rosados, e a cor púrpura do nascente

2) Explique o aspecto, as atitudes e as ações das pessoas que aparecem nesta


descrição.
R.: As personagens que aparecem neste quadro são homens e mulheres.
Suas atitudes: Os homens estão de cócoras.
Aspecto: Os homens estão de camisa, de canjirão na mão, brancos de frio;
as mulheres têm xale na cabeça.
Ações: Os homens ordenham as vacas; as mulheres chamam as galinhas,
com um ruído seco de beiço tremido, sacudindo as mãos cheias de alimento.

3) Que mais empresta animação a este quadro?


R.: O carro, cheio de mandioca e que roda, chiando e aos solavancos, rumo
ao engenho; a orquestração do passaredo na floresta; as vacas, que ruminam ou
mugem; e, finalmente, as reses, que, como notas coloridas, andam pelas pasta-
gens verdes e pelos alagados.

4) Quais são as impressões pessoais do autor e de que recursos se valeu para


no-las transmitir?

106
A DESCRIÇÃO

R.: As impressões pessoais do autor giram, principalmente, em torno de


luz e de cor, traduzidas pelas expressões: "Claridade argênteà', "poeira de ocre
transparente", "deslumbradoramente, como uma gema de ouro flamante", "va-
pores diáfanos", "listróes vivos que purpureiam o nascente", "tons delicados de
azul e rosa'', "compridão majestosa e verde dos alagados e pastagens", "colorido
movimentoso e variado das reses".
Os recursos com que o escritor exterioriza suas impressões pessoais são, por-
tanto, numerosos e variados: substantivos, adjetivos, figuras, frases e até mesmo
orações. Encontram-se, também, porém mais raras, impressões de aspecto e
de forma: "Recorte em laca'', "linha ondulada das colinas", "brancos de frio",
"pacientes e mugidoras vacas, "aspereza dos caminhos etc.
O estilo: a forma literária de Virgílio Várzea é bela e precisa, vigorosamente
objetiva, de grande intensidade de luz, cor e relevo. O autor sabe fazer-nos ver
o conjunto do quadro e suas minúcias. Unindo-se à natureza por uma simpatia
profunda, que repercute em sua capacidade expressiva, ele nos transmite com
energia as linhas, as formas, o aspecto do ar, o aspecto da luz, os sons e a doçura
da paisagem.

Esquema do plano de composição


'A mancha de claridade no Oriente a linha
ondulada das colinas a poeira ocre - o sol
a. O amanhecer apontando no horizonte vapores diáfanos
listróes vivos colorido azul e róseo os can-
tos dos pássaros na floresta
Manhã
na roça O despertar das culturas aos raios mornos do sol
- as casas abrindo-se homens ordenhando
b. A animação
vacas mulheres alimentando galinhas o
matinal
carro rodando e chiando as reses andando nos
pastos e alagados

III. SERTÃO

À canícula escalda ... Espadanando adusto


No espaço os raios crus, relumbra a pino o fausto
Do sol. A terra esturra ... O vegetal, exausto,
Se estorce, sopesando a ramaria a custo!

107
FLOR DO LÁCIO

Alastra o amplo deserto a estagnação de um susto


Algares e álveos nus soltam, na ânsia de um hausto,
O bafo bochornal, que exsica o solo infausto.
Tudo estarrece ao sol, num sofrimento augusto!

Um boi galgaz estrinca, ao longe, a agra caatinga,


Numa heróica ilusão, vingando todo o estorvo,
Em busca de um marnel, onde água, enfim, distinga!

E por sobre a amplidão do panorama torvo,


Num sarcasmo feral, porque o sol já se extinga,
Surge a noite à feição de um formidável corvo!

Luís Carlos

Estudo das palavras e expressões

Canícula calor ardentíssimo.


Escaldar queimar; causar sensação de calor; secar pela ação do calor.
Espadanar lançar em jorras achatados, que relembram a forma duma
lâmina.
Adusto muito quente.
Raios crus - raios custosos de sofrer, por demasiado ardentes; raios rigoro-
sos, inclementes, cruéis.
Relumbrar reluzir, rebrilhar.
Esturrar requeimar.
opesar sustentar o peso de; tomar o peso de.
Ramaria o conjunto de muitos ramos; rama.
Algar caverna.
Alveos leitos de rio.
Hausto sorvo, aspiração.
Bochorno - atmosfera abafadiça, sufocante: vento quente.
Bochornal ardente.
Infausto infeliz.
Exsicar ressecar.
Estarrecer ficar como desfalecido; imobilizar-se.
Augusto - venerando, respeitável.
Galgaz - magro, espigado.
Estrincar fazer estalar.

108
A DESCRIÇÃO

Agra azeda.
Vingar vencer, ultrapassar.
Estorvo obstáculo, empecilho.
Marnel charco, alagadiço.
Torvo horrível.
Sarcasmo - ironia maldosa.
Feral fúnebre.

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto deste soneto?


R.: O autor descreve o sertão requeimado por um sol inclemente, numa
paisagem animada por um boi, que procura sofregamente um pouco de água;
a descrição abrange um espaço de tempo, que vai desde meio-dia até o cair da
noite.

2) Em quantas partes se pode dividir esta descrição?


R.: Em três, a saber:
a. A paisagem adusta (1 º e 2º quartetos)
b. O boi sequioso (1 º terceto)
c. O cair da noite (2º terceto)

3) Qual é o conteúdo de cada uma dessas partes?


R.: Na primeira, o sol dardeja a pino os raios ígneos, ressecando a terra e
exaurindo a seiva da vegetação; tudo se imobiliza; as cavernas e os leitos secos
dos rios lançam emanações ardentes. Na segunda, um boi magro, ao longe,
procura em vão um pouco de água. Na terceira, o autor compara a noite tropi-
cal, que desce rapidamente, a um grande corvo negro.

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse desta descrição?


R.: Ele abrange um tríplice aspecto: 1) O interesse descritivo, constituído
pela desolação da paisagem; 2) A pompa do estilo, formada, principalmente,
pela riqueza do vocabulário; 3) E, finalmente, as impressões pessoais do poeta,
traduzidas, numa forma sensível, por meio de adjetivos e de figuras, que igual-
mente concorrem para a pompa do estilo.

109
FLOR DO LÁCIO

2) Quais são os elementos descritivos que o poeta empregou para construir


o arcabouço de seu soneto?
R.: Os principais são os seguintes: a canícula, os raios crus do sol, a terra
requeimada, a vegetação exaurida, o deserto, os algares, os álveos secos, a caa-
tinga, o boi, o sol poente, a noite.

3) Que nos demonstra, neste soneto, ser pomposo o estilo do autor?


R.: Em primeiro lugar, o vocabulário escolhido e rico; depois, as compara-
çóes, as metáforas e as inversões de termos.

4) Quais são as impressões pessoais do autor?


R.: Algumas expressões traduzem fulgor ("Espadanando [ ... ] os raios, re-
lumbra a pino o fausto do sol"); outras, calor intenso ("A canícula escalda", "a
terra esturrà', "o bafo bochornal"); outras, ainda, imobilidade ("A estagnação
de um susto", "tudo estarrece ao sol"); e uma, enfim, sombra crescente ("Surge
a noite à feição de um formidável corvo").

5) Que impressão geral nos causa esta paisagem?


R.: Causa-nos uma impressão de desolação e abatimento, dando-nos quase
que uma sensação física de calor e cansaço.

Esquema do plano de composição

a. A paisagem adusta: o sol a pino a terra aquecida a vegetação


exausta O abatimento das coisas cavernas e álveos lançando
emanações ardentes

Sertão ~ b. O boi sequioso: um boi magro, ao longe a agra caatinga o


marnel procurado

e. O cair da noite: o sol desaparecendo no horizonte a noite que


desce

IIO
Descrição de vistas e quadros animados
TEXTOS PARA EXPLICAÇÃO

I. NA FLORESTA

Com a aproximação da noite, a mata começava a animar-se. Da crista do ar-


voredo mais alto, onde, aos raios do sol, sazonam frutos e se abrem as corolas
perfumosas, desciam bandos de macacos e esfuziava a passarinhada em busca
de seus ninhos. É que a natureza amazônica reproduz os jardins suspensos de
Semíramis. A muitos metros do solo, as frondes portentosas tecem-se num
vergel florido que atrai, durante o dia, todos os habitantes da floresta. Assim,
enquanto no recesso da mata tudo é silêncio e obscuridade, vai lá por cima
uma agitação constante. São ramos que vergam ao peso dos animais; araras e
tucanos que trincolejam sementes duras; flores que esfarfalham tocadas pelos
beija-flores; gritos agudos, chilreados álacres; frêmitos de asas, ruge-ruge de
penas ... A noite, porém, traz a transmutação do cenário. Povoa-se o subosque
em detrimento do dossel de verdura. A bicharada baixa a seus esconderijos.
Estalidam galhos. Sombras esgueiram-se na meia-luz do crepúsculo. As aves
aconchegam-se entre a folhagem. Era o que eu observava agora, ouvindo ao
longe o coro triste dos guaribas, concertando com as outras muitas vozes que
me cercavam: pios flébeis, chilidos, assobios, e até o rechino de algumas cigar-
ras e a coaxação dos primeiros sapos.

Gastão Cruls

III
FLOR DO LÁCIO

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. Sazonam f. Esfarfalham k. Aconchegam-se
b. Esfuziava g. Chilreados álacres 1. Concertando
c. Frondes portentosas h. Frêmitos de asas m. Flébeis
d. Recesso da mata i. Subosque n. Chilidos
e. Trincolejam j. Esgueiram-se o. Rechinos

2) Que significam aqui ... ?


a. Crista e. Dossel de verdura
b. Tecem-se f. Meia-luz do crepúsculo
c. Vergel florido g. Coro triste dos guaribas
d. Transmutação de cenário

3) Que quer o autor dizer com a oração: "A natureza amazônica reproduz os
jardins suspensos de Semíramis"?

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto deste trecho?

2) Quais são, neste trecho, as passagens narrativas? Por que são narrativas?

3) Divida a descrição em três partes, a saber:


a. A noite desce sobre a mata
b. A vida da mata durante o dia
c. A vida da mata à noite

4) Que contém cada uma dessas partes?

Estudo das idéias

1) Estude, neste trecho, as expressões que denotam movimento na floresta.

2) Estude as expressões que denotam ruído, indicando as que são onoma-


topaicas.

II2
A DESCRIÇÃO

3) Explique por que o autor empregou o indicativo presente no texto, já que


o iniciou e terminou com o imperfeito do indicativo.

4) Analise, em poucas palavras, o estilo do autor.

5) Localize este trecho no romance A Amazônia misteriosa.

Exercício J: vocabulário

1) Cite dez nomes de aves selvagens do Brasil, dez de feras e dez de árvores.

2) Cite palavras que reproduzam vozes de animais (palavras onomatopaicas).

3) Determine, por meio de orações, o sentido de:


a. Reproduzir repetir imitar simular
b. Vergar curvar dobrar inclinar
c. Laia lacuna insular (verbo)

4) Dê sinônimos às palavras:
a. Animar e. Portentoso i. Transmutação
b. Crista f. Tecer j. Detrimento
c. Sazonar g. Vergel k. Incólume
d. Busca h. Recesso 1. Insano

5) Cite dez palavras que exprimam semi-obscuridade.

6) Cite expressões substantivos, adjetivos e verbos que exprimam


sensações auditivas.

Exercício : elocução

Segundo o modelo "Estalidam galhos ..." (até o fim do trecho) e respeitando


a mesma disposição de sentenças, fale a respeito de:
a. Estudantes que brincam no dormitório dum internato e que percebem a
aproximação do diretor
b. Urna festa de São João ao ar livre

113
FLOR DO LÁCIO

Exercício : redação imitativa

Obedecendo ao plano de composição do trecho estudado, descreva a mesma


floresta às primeiras horas do dia.

II. LUZ E CALOR

Por todos os lados, onde quer que a vista repousasse, o sol resplandecia. Som-
bras raras enegreciam de manchas as campinas louras e, para o horizonte dis-
tante, fina e translúcida, uma névoa de ouro passava como um véu corrido do
céu sobre os montes dum forte azul quase negro. À sombra dos tejupás da roça,
cães arquejantes modorravam e as galinhas, de asas frouxas, bico aberto, ofe-
gando, paradas, pareciam hipnotizadas pela irradiação deslumbrante. Ao cair
da tarde, esmaecendo a luz em laivos de sangue e ouro sob a fímbria do ocaso,
as cigarras entravam a chiar, respondendo-se, em concerto, dum ponto e dou-
tro; pássaros saíam repousados, atravessando o ar tépido; borboletas tontas,
como se despertassem dum torpor de narcótico, esvoaçavam de ramo em ramo;
ruflos de asas, de beija-flores, surdinavam e rolas, com enternecida e apaixona-
da tristeza, gemiam entre os milhos, onde os sanhaçus, em chusma, gritavam
estridulamente e os periquitos verdes grazinavam.

- Coelho Neto

Estudo das palavras e expressões

1) Explique o sentido das seguintes palavras do texto:


a. Resplandecer f. Ofegando k. Sanhaçus
b. Translúcida g. Concerto 1. Chusma
c. Tejupás h. Tépido m. Estridulamente
d. Arquejantes i. Ruflos n. Grazinavam
e. Modorravam j. Surdinavam

2) Que significam aqui as expressões ... ?


a. Onde quer que a vista repousasse g. Laivos de sangue e ouro
b. Sombras enegreciam de manchas h. A fímbria do ocaso
as campinas louras
114
A DESCRIÇÃO

c. Uma névoa de ouro i. Torpor de narcótico


d. Como um véu corrido do céu j. Gemiam
e. Irradiação deslumbrante k. Com enternecida e apaixonada
f. Esmaecendo a luz tristeza

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta descrição?

2) Divida o trecho em duas partes, dando a cada uma delas um título ex-
pressivo.

3) Qual é o conteúdo de cada uma dessas partes?

Estudo das idéias

1) Que nos interessa mais nesta descrição?

2) Como descreveu o autor... ?


a. O efeito da luz sobre as coisas
b. O efeito do calor sobre os animais

3) Com que expressões traduziu ele as ações dos insetos e dos pássaros, ao
cair da tarde?

4) Analise, em poucas palavras, o estilo do autor.

Exercício I: vocabulário

1) Empregue apropriadamente em curtas orações:


a. Relumbrar resplandecer (ou resplendecer) reluzir rebrilhar
rutilar refulgir
b. Louras douradas amarelas gualdas
e. Translúcida transparente diáfana
d. Azul - cerúleo - anilado

115
FLOR DO LÁCIO

e. Arquejante ofegante anelante esbaforido


f. Funesto feral exicial exuberante

2) Cite sinônimos das seguintes palavras, e empregue-os apropriadamente


em curtas sentenças.
a. Deslumbrante e. Fímbria i. Torpor
b. Esmaecer f. Exício j. Esvoaçar
e. Luz g. Ocaso k. Chusma
d. Laivos h. Tépido

3) Cite palavras que exprimam idéias de penumbra, luminosidade, frescor e


animação ruidosa. Empregue-as apropriadamente em curtas sentenças.

4) Forme pequenas expressões comparativas, que exprimam as mesmas


idéias indicadas no item 3.

5) Forme, com os ra d•acaus• ''um,r l " "aqu,


b " , ,e coor, " "l un,
" "pen,
l " "fl 'uv " ,
"rad", "pisc" e "ped", palavras que se refiram a sombra, cor, água, lua, cheio,
rio, raio, peixe e pé.

6) Que diferença há entre ... ?


a. Concerto e conserto g. Democracia e demagogia
b. Inalar e exalar h. Conjetura e conjuntura
e. Inspirar, expirar e aspirar i. Seção e sessão
d. Eminência e iminência j. Coser e cozer
e. Emergir e imergir k. Ingente e pungente
f. Descrição e discrição l. Içar, eriçar e inçar

7) Acrescente, aos seguintes substantivos, adjetivos que lhes caracterizem o


aspecto, a forma ou a cor:
a. Sol e. Ribeiro i. Olhos
b. Rosa f. Serpente j. Rosto
e. Sombra g. Poente
d. Campina h. Floresta

116
A DESCRIÇÃO

Exercício II: elocução

Reproduza minuciosamente esta descrição, de viva voz.

Exercício III: redação imitativa

Descreva este mesmo quadro, visto nos primeiros momentos da manhã.

117
Descrição de vistas e quadros animados
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA

O professor lerá à classe, previamente, uma descrição-modelo.

1) Descreva uma fazenda ao amanhecer, de acordo com o seguinte plano:


a. A paisagem: a casa da fazenda, a alpendrada, o jardim, o pomar, o terreiro
de café, a máquina de beneficiar, as filas de casas dos colonos, o cafezal e seu
aspecto, os algodoais, as pastagens, o chiqueiro e o curral
6. A animação incipiente: o movimento na colônia, a partida dos colonos
para a lavoura, a distribuição de rações aos galináceos e aos porcos, o mugir dos
bois, revoadas de pombos, o canto da passarada, o latir dos cães

2) Descreva uma chuva, desenvolvendo o seguinte plano:


a. O aspecto do céu: as nuvens que parecem mover-se lentamente, cobrindo
o firmamento azul. A mudança de cor, que se vai acinzentando
6. A chuva: a linha do horizonte, imprecisa e vaga. A cortina líquida e alva,
ao longe; o vento; as primeiras gotas de água. A bátega: aspecto e ruído

3) Descreva um incêndio, de acordo com o seguinte plano:


a. No exterior do prédio: vidraças que se estilhaçam ao calor intenso; la-
baredas que surgem das janelas, requeimando-as e enegrecendo-as; sua dança
macabra
6. No interior da casa: o fogo, crepitante e vivo, alastra-se do assoalho para
os móveis e dos móveis para as escadas, galgando-as rapidamente, num foga-
réu coruscante, de focos mais e mais intensos, e que vai atingindo os andares
superiores
118
A DESCRIÇÃO

c. O aspecto geral: uma fogueira imensa, ruidosa e aureolada de centelhas;


os desabamentos estrondosos; a negra e espessa coluna de fumo, que se enovela
e sobe para o céu

4) Descreva, pelo que tem visto no cinema, um alude na região polar, de


acordo com o seguinte plano:
a. A paisagem: o céu nórdico, a formar um fundo acinzentado; altas mon-
tanhas de gelo; a pálida claridade do dia; as perspectivas brancas; as grandes
sombras que se alongam nas planícies geladas; pingüins e focas
b. O alude: roucos e surdos estrondos; suas vibrações sonoras; os picos alvos
que se desfazem, rombam e rolam; o alude tonitruante que se engrossa, envolto
numa poeira de neve, e se precipita, rugindo, nos abismos glaciais

5) Descreva uma tempestade, desenvolvendo o seguinte plano:


a. Nuvens que se adensam rapidamente, cobrindo de negror o céu. A obscu-
ridade. Relâmpagos a se amiudarem, em trepidações fulgurantes que iluminam
a trevosa e fantástica abóbada celeste
b. Desencadeia-se a tempestade. Ululante ventania sacode e verga as árvo-
res. Estrugem trovões, secos e fortes, e o fragor rola em ondas que diminuem
e se perdem ao longe, no espaço. O aguaceiro denso, pesado, encachoante. A
escuridão

6) Descreva, de imaginação, a cidade dos gnomos (fantasia), guiando-se


pelo seguinte plano de composição:
a. A cidade subterrânea: uma imensa caverna, iluminada no centro e cercada
de espaços tenebrosos. Colunas de metal que se perdem nas alturas e sustentam
a superfície da terra. A planície central. Pequeninas casas e jardinzinhos flori-
dos. Avenidas e praças de boneca. Fábricas e chaminés. Forjas
b. A animação: a ativa multidão de pigmeus barbudos. Seu trabalho: fabri-
cação de metais preciosos e de pedrarias que eles, em grandes filas escuras, vão
enterrar nas distâncias tenebrosas em forma de filões de ouro e prata, assim
como de minas de diamantes, rubis, safiras, topázios etc.

7) Descreva, procurando traduzir a vida das coisas (primeiramente em com-


posições rápidas de um único período, e depois, em três períodos):
a. Um grande rio brasileiro
b. A maré num porto ou numa praia
c. Uma inundação num vale
d. Uma queimada de campo
e. Um vendaval

119
FL OR DO LÁCIO

8) Descreva, insistindo no caráter das coisas (primeiramente, em composi-


çóes de um único período, e, depois, de três):
a. Uma escola, que parece um templo de luz
b. Um grande quartel, que parece um gigante a velar pela pátria
c. Uma catedral, que parece guardar e proteger uma cidade
d. Uma queda de água, que movimenta uma usina

9) Descreva como vista animada, em que haja movimento de pessoas ou


anima1s:
a. Um circo de cavalinhos de pau
b. A partida de um trem
c. A chegada de um navio
d. A passagem duma boiada por um campo
e. Um jardim público aos domingos, numa pequena cidade
f. Um jardim zoológico

120
Retratos descritivos

O retrato é uma das modalidades da descrição, em que se reproduzem as


feições ou o caráter duma pessoa.
Se não conhecemos a pessoa, temos de procurar informações precisas em
fontes idôneas: fotografias, retratos, descrições e relatos, de cuja autenticidade
e veracidade não se possa duvidar. Em se tratando, porém, de personagens
fictícias, goza o autor de ampla liberdade, pois elas são criadas por sua imagina-
ção; se forem, no entanto, sobrenaturais ou lendárias, terá ele de submeter-se,
relativamente às particularidades fisionômicas ou anatômicas, às indicações da
tradição religiosa ou da lenda.
Na descrição de pessoas, devemos é claro considerar o aspecto anatô-
mico, dando primazia aos traços fisionômicos, sem desprezar o indumento.
Certas pessoas são caracterizadas por um exterior particular, que nos esforça-
remos por descrever caprichosamente. Exemplo: uma normalista uniformizada,
um cadete, um sacerdote, uma freira, um juiz togado, um oficial do exército, da
aeronáutica, da marinha ou da polícia etc.
Nos retratos morais, ou descrições de caráter, devemo-nos interessar, princi-
palmente, pelas qualidades, defeitos ou manias, gerais ou predominantes.
O retrato descritivo pode ser, simultaneamente, físico e moral.
Chama-se "caricatura descritiva" o retrato em que os traços ou certos traços
são exageradamente acentuados, tornando-se cômicos. Exemplo: um palhaço.
Constitui interessante caricatura o retrato descritivo de Marcos Parreira, princi-
pal personagem do romance Dois metros e cinco, de Cardoso de Oliveira. Ei-la:

121
FLOR DO LÁCIO

M ARCOS PARRE IRA

Encaminharam-se para a sala. O Marcos Parreira ia na frente, e, curvando-se


para poder passar pela porta do terraço, aliás bastante alta, desdobrou de novo
na sala de jantar a magra estatura, que atraía a atenção em toda a parte. Andava
cauteloso, de mansinho, "para não incomodar o Luz, explicou em voz baixa,
concentrado, a cofiar carinhosamente o basto cavanhaque, que se abria em le-
que, estendendo-se numa linha quase horizontal "o seu espanador de injú-
rias como ele lhe chamava, atribuindo a esse ornato a propriedade de varrer
as que lhe eram atiradas antes que atingissem a face. Do lábio superior, onde se
salientava um ralo bigode de escova, que mordiscava por irreprimível cacoete,
afastava-se o outro pendente, "como o de um cavalo cansado, deixando em
exposição a dentadura falha e esverdeada. Ajuntem-se a estes acentuados ca-
racterísticos um nariz de cavalete, uns olhos castanhos fulvos, como os cabelos
que "nunca viram pente, como ele próprio confessava, olhos de cabra morta,
mas de uma convexidade singular de quem só vê para fora; imagine-se agora
esse todo, realçado por uma formidável verruga na face esquerda e preso por
um imenso pescoço ao tronco desengonçado, que a custo se equilibrava sobre
duas pernas de cegonha, e far-se-á uma idéia de orate-mor da leva, que invadia
naquele momento a sala da frente.

Cardoso de Oliveira

122
Retratos descritivos
TEXTOS EXPLICADOS

I. O MARECHAL FLORIANO

C ABOCLO do norte, homem de quarenta e quatro a quarenta e seis anos de


idade, de estatura mediana, cabeça bem conformada, testa larga, nariz
grosso e reto, lábios grossos, cobertos de um bigode escasso, queixo rigorosa-
mente escanhoado, suíças imperceptíveis, duas rugas sensíveis e fortes, des-
cendo das abas das narinas ao canto dos lábios, que lhe animam e adoçam a
fisionomia rude; olhos pardos, grandes, fundos e de extrema mobilidade, mal
velados pelos cílios quase sempre baixos, eis em duas paletadas o aspecto do
vice-presidente da República. Quase nunca aparece em público, e, quando o
faz, veste sempre a sua farda de marechal do exército, trazendo ao peito as me-
dalhas de campanha ganhas no Paraguai. Em casa, de ordinário, as suas vestes
habituais consistem na calça e no jaleco de brim, e camisa sem goma.

Alcindo Guanabara

Estudo das palavras e expressões

Caboclo Mestiço. Geralmente, porém, dá-se esta denominação às pes-


soas de pele acobreada, ou, ainda, às que têm os hábitos singelos dos genuínos
caboclos.
Bigode escasso bigode ralo.

123
FLOR DO LÁCIO

Escanhoado barbeado com apuro.


Suíças barba formando tufo dum e doutro lado da face.
Imperceptíveis pequenas (exagero de expressão).
Narinas ventas ("narinas" é galicismo).
Paletada palavra derivada de paleta. A paleta é uma pequena prancha de
forma ovalada, onde os pintores põem as tintas. "Paletadas" foi empregada por
Alcindo Guanabara com o sentido de "pinceladas, traços".
Jaleco casaco curto, fardeta.

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta descrição?


R.: Alindo Guanabara faz aqui o retrato descritivo do Marechal Floriano
Peixoto, focalizado quando vice-presidente da República.

2) De quantas partes se compõe este retrato?


R.: O trecho divide-se em duas partes:
a. O aspecto fisionômico do marechal
b. Seu vestuário

3) Qual é o conteúdo de cada uma dessas partes?


R.: A primeira parte contém os seguintes pormenores descritivos: estatura
mediana, cabeça bem conformada, testa larga, nariz grosso e reto, lábios gros-
sos, bigode escasso, queixo escanhoado, pequeninas suíças, rugas sensíveis e
fortes, fisionomia rude, grandes olhos pardos e fundos, cílios. A segunda: em
público farda de marechal com as condecorações de guerra; em casa cal-
ças, jaleco de brim e camisa sem goma.

4) Como se faz a transição da primeira parte para a segunda?


R.: Por meio duma frase narrativa, que afirma um hábito do marechal:
"Quase nunca aparece em público".

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse deste trecho?


R.: Consiste no próprio assunto, que nos mostra os traços fisionômicos e
um hábito curioso duma das mais empolgantes figuras da história do Brasil.

124
A DESCRIÇÃO

2) Por que é a primeira parte deste retrato mais longa do que a segunda?
R.: Porque é na primeira que o autor nos descreve a fisionomia do marechal,
mostrando-o tal como era em determinado momento da vida.

3) Que impressão nos causa ... ?


a. O aspecto fisionômico do marechal
6. Seu vestuário em casa
R.: O aspecto fisionômico dá-nos a impressão de energia rude; o vestuário
caseiro, de simplicidade habitual.

Esquema do plano de composição


Aspecto geral: caboclo do norte idade estatura

Pormenores físicos: cabeça bem conformada testa larga

O Marechal
Floriano
i nariz grosso e reto lábios grossos (o autor poderia ter evitado
a repetição deste adjetivo)
nhoado suíças pequenas
bigode escasso
rugas olhos
queixo esca-
cílios

Vestuário
j a. De_ aparato: farda de marechal, com conde-
coraçoes
b. Caseiro: jaleco camisa sem goma calças

II. CECÍLIA

No pequeno jardim da casa do Paquequer, uma linda moça balouçava-se indo-


lentemente numa rede de palha, presa aos ramos de uma acácia silvestre, que,
estremecendo, deixava cair algumas de suas flores miúdas e perfumadas. Os
grandes olhos azuis, meio cerrados, às vezes se abriam languidamente, como
para se embeberem de luz, e abaixavam-se de novo as pálpebras rosadas. Os
lábios vermelhos e úmidos pareciam uma flor de gardênia dos nossos campos,
orvalhada pelo sereno da noite; o hálito doce e ligeiro exalava-se formando um
sorriso. Sua tez, alva e pura como um fraco de algodão, tingia-se nas faces duns
longes cor-de-rosa ... O seu trajo era do gosto mais mimoso e mais original que
é possível conceber: mistura de luxo e de simplicidade. Tinha sobre o vestido
branco de cassa um ligeiro saiote de riço azul apanhado à cintura por um bro-
che; uma espécie de arminho cor de pérola, feito com a penugem macia de

125
FL OR DO LÁCIO

certas aves, orlava o talhe e as mangas, fazendo realçar a alvura de seus ombros
e o harmonioso contorno de seu braço. Os longos cabelos louros, enrolados
negligentemente em ricas tranças, descobriam a fronte alva e caíam em volta
do pescoço, presos por uma presilha finíssima de fios de palha cor de ouro. A
mãozinha afilada brincava com um ramo de acácia, que se curvava, carregado
de flores, e ao qual de vez em quando segurava-se para imprimir à rede uma
oscilação. Esta moça era Cecília.

José de Alencar

Estudo das palavras e expressões

Languidamente com frouxidão; sem força.


Fraco (ou foco) tufo de algodão, lã, paina, pêlos, penugem, ou de algo
semelhante.
Uns longes um colorido leve, desbotado.
Mimoso delicado.
Riço tecido de lá, de pêlos crespos.
Arminho pêlo sedoso e alvo dum animal do mesmo nome, que vive em
regiões frias.
Afilada alongada e fina.
Embeber-se de luz encher-se, fartar-se de luz.
Doce e ligeiro suave e fugaz.

Estudo do plano de composição

1) Que nos descreve o autor, nesta página?


R.: Nesta página, o autor descreve uma jovem, Cecília (personagem do ro-
mance O guarani), vestida à moda do tempo fim do século XVI - e balou-
çando-se indolentemente numa rede de palha, suspensa duma acácia silvestre,
que se erguia no jardim da casa do Paquequer.

2) Quantas partes se notam neste trecho?


R.: Distinguem-se nele duas grandes partes:
a. O aspecto físico de Cecília
b. Seu indumento

3) Que pequeno quadro serve de fundo a este retrato?

126
A DESCRIÇÃO

R.: É o jardim da casa, com a acácia donde caem flores miúdas e pende a
rede em que se acha a moça. Este quadro aparece rapidamente no período, que
vai desde o início até "perfumadas", e é completado pela passagem que começa
com a expressão: ''A mãozinha afiladà', e termina em: "Esta moça era Cecília".

4) Quais são ... ?


a. Os caracteres físicos da jovem
b. Os pormenores relativos a seu vestuário
R.: Caracteres físicos: grandes olhos azuis, pálpebras rosadas, lábios verme-
lhos e úmidos, tez alva e pura, faces cor-de-rosa, ombros alvos, braços bem con-
tornados, mãozinhas afiladas, cabelos louros, em tranças, fronte alva. Vestuário:
vestido branco, de cassa, ligeiro saiote de riço azul, arminho cor de pérola na
orla do talhe e das mangas.

5) Como se faz a transição da primeira para a segunda parte?


R.: Efetua-se a transição por meio de uma sentença narrativa, em que o
autor expende, de um modo geral, sua opinião sobre o trajo da moça: "Era do
gosto mais mimoso etc.

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse desta descrição?


R.: O interesse está na própria personagem, que ficamos conhecendo através
dum retrato descritivo físico, cujo final no-la apresenta: "Esta moça era Cecília".

2) Quais são as impressões pessoais do autor? Como as exprime ele?


R.: O autor traduz suas impressões pessoais por meio de simples adjetivos
("1inda", "mimoso", "original", "ricas" etc.) e de comparações ("Pareciam uma
flor de gardênia", "alva como um floco de algodão").
As impressões pessoais são geralmente, como já vimos em diversas lições,
reações do espírito à natureza exterior; umas já se generalizaram e são expressas
por adjetivos, como "linda", "suave", "mimoso" etc; outras são mais individuais
e vigorosas, exigindo figuras para se exprimirem. Estas últimas, principalmente,
dão ao leitor uma idéia precisa e forte daquilo que o autor quer dizer. As com-
paraçóes: "Pareciam uma flor de gardênia orvalhada pelo sereno, e: "Como
um floco de algodão" acentuam pronunciadamente a idéia de cor, que ambas
exprimem.

127
FLOR DO LÁCIO

3) Que impressão geral nos causa esta descrição?


R.: Causa-nos a impressão dum retrato artístico, que tem por fundo um
quadrinho pinturesco.
O estilo: é um estilo nervoso, vário, meigo e cambiante, de forte poder des-
critivo, que satisfaz a nossos ouvidos pela harmonia musical e a nossos olhos
pela evocação da forma, do colorido e do relevo.

Esquema do plano de composição


a. O aspecto físico de Cecília: grandes
olhos azuis pálpebras rosadas lábios
vermelhos e úmidos tez alva e pura
faces cor-de-rosa ombros alvos braços
Fundo artístico:
bem contornados mãozinhas afiladas
Cecília jardim acácia
cabelos louros, em tranças fronte alva
[ flores caindo a rede
b. O vestuário: vestido branco, de cassa -
ligeiro saiote de riço azul arminho na orle
do talhe e das mangas

128
Retratos descritivos
TEXTOS PARA EXPLICAÇÃO

I. JACINTO

delicioso Jacinto fizera então vinte e três anos, e era um soberbo moço
E STE
em quem reaparecera a força dos velhos Jacintos rurais. Só pelo nariz, afi-
lado, com narinas quase transparentes, duma mobilidade inquieta, como se an-
dasse fariscando perfumes, pertencia às delicadezas do século XIX. O cabelo
ainda se conservava, ao modo das eras rudes, crespo e quase lanígero; e o bigode,
como o dum celta, caía em fios sedosos, que ele necessitava aparar e frisar. Todo
o seu fato, as espessas gravatas de cetim escuro que uma pérola prendia, as luvas
de anta branca, o verniz das botas, vinham de Londres em caixotes de cedro;
e usava sempre ao peito uma flor, não natural, mas composta destramente pela
sua ramalheteira com pétalas de flores dessemelhantes, cravo, azálea, orquídea
ou tulipa, fundidas na mesma haste entre uma leve folhagem de funcho.

Eça de Queirós

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. Afilado e. Anta i. Fundidas
b. Fariscando f. Ramalheteira j. Funcho

129
FLOR DO LÁCIO

c. Crespo g. Azálea
d. Lanígero h. Orquídea

2) Qual é a significação de ... ?


a. Este delicioso Jacinto e. Uma mobilidade inquieta
b. Soberbo moço f. As eras rudes
c. Os velhos Jacintos rurais g. Como o dum celta
d. Narinas quase transparentes

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto deste trecho?

2) Divida este trecho em duas partes, a saber:


a. Os caracteres físicos de Jacinto
6. Seu trajo

3) Qual é o conteúdo de cada parte?

4) Localize este trecho no romance A cidade e as serras.

Estudo das idéias

1) Que semelhança física tem Jacinto com seus antepassados? E em que é


que deles difere?

2) Que quer Eça de Queirós dizer ao afirmar de Jacinto que ele pertencia às
"delicadezas do século xrx"?

3) Quais são os pormenores mais nítidos cio indumento de Jacinto? E como


se pode avaliar a elegância de seu trajo?

4) Que impressão nos causa sua flor habitual? Por quê?

5) Analise em poucas palavras o estilo de Eça de Queirós.


A DESCRIÇÃO

Exercício r: vocabulário e gramática

1) Determine, por meio de orações curtas, o sentido de:


a. Delicioso - agradável- deleitoso - ameno - aprazível magnífi-
co - excelente - encantador
b. Soberbo - arrogante - orgulhoso - vaidoso - desvanecido - pre-
sunçoso - majestoso - suntuoso - magnificente - imponente -
faustoso
c. Força - energia - vigor - robustez
d. Senhoril - heril - hierático - nobre - aristocrático
e. Cérebro - cérbero

2) Empregue apropriadamente em orações curtas:


a. Rurais - campesinos - campônios - rústicos
b. Afilado - adelgaçado - fino
c. Transparente - diáfano - transluzente - translúcido
d. Inquieta - agitada - desassossegada - buliçosa trêfega
e. Fariscar - farejar - cheirar
f. Perfumes - odores - cheiros - essências - extratos
g. Retaco - achaparrado
h. Fictício - factício
i. Figadal - fidalga!
j. Patriarcado - matriarcado

3) Dê sinônimos a:
a. Delicadezas e. Fato i. Destramente
b. Rudes f. Espessas j. Dessemelhante
c. Crespo g. Escuro k. Incongruência
d. Frisar h. Branca 1. Incriminar

4) Dé antônimos a:
a. Delicioso h. Inquieta o. Irrequieto
b. Soberbo i. Delicadeza p. Ínclito
c. Moço j. Rude q. Invicto
d. Força k. Sedoso r. Insueto

131
FL OR DO LÁCIO

e. Rural 1. Espesso s. Evoluir


f. Afilado m. Escuro
g. Transparente n. Natural

5) Cite nomes:
a. De peças de indumento masculino
b. De peças de indumento feminino
c. De traços físicos delicados e belos

6) Retire do texto, analisando-os:


a. Os substantivos próprios c. Os substantivos abstratos
6. Os substantivos concretos d. Os adjetivos

7) Conjugue, na forma negativa, os verbos "fazer", "cair" e "vir"; "polir",


+ )9 ))
cerzir e ruIr .

Exercício II: elocução

Respeitando a construção fraseológica dos três primeiros períodos deste tre-


cho, fale de uma pessoa conhecida ou amiga.

Exercício : redação imitativa

Faça, imitando Eça de Queirós, a descrição física:


a. Dum rapaz moderno
b. Duma senhorinha elegante e bela
c. Duma noiva

II. O CONDE DOS ARCOS

O Conde dos Arcos, entre os cavaleiros, era quem dava mais na vista. O seu
trajo, cortado à moda de Luís xv, de veludo preto, fazia realçar a elegância do
corpo. Na gola da capa e no corpete, sobressaíam as finas rendas das gravatas e
dos punhos. Nos joelhos, as ligas bordadas deixavam escapar com artifício os

132
A DESCRIÇÃO

tufos de cambraieta alvíssima. O conde não excedia a estatura ordinária, mas,


esbelto e proporcionado, todos os seus movimentos eram graciosos. As faces
eram talvez pálidas demais, porém animadas de grande expressão, e o fulgor
das pupilas negras fuzilava tão vivo, e por vezes tão recobrado, que se tornava
irresistível. Filho do marquês de Marialva e discípulo querido do seu pai do
melhor cavaleiro de Portugal, e, talvez, da Europa-, a cavalo a nobreza e a na-
turalidade do seu porte enlevavam os olhos. Ele e o corcel, como que ajustados
em uma só peça, realizavam a imagem do centauro antigo.

Rebelo da Silva

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. Corpete d. Tufos g. Recobrado
b. Sobressair e. Estatura ordinária h. Peça
c. Artifício f. Proporcionado i. Centauro

2) Qual é a significação de ... ?


a. Dar na vista c. Enlevava os olhos
b. Fuzilava d. Realizavam a imagem

3) Que quer dizer a expressão: "Como que ajustados em uma só peça"?

4) Quem foi Luís x:v?

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto deste trecho?

2) Divida-o em três partes, a saber:


a. O indumento do conde
b. Seu aspecto físico
c. O centauro

3) Que contém cada uma dessas partes?

133
FLOR DO LÁCIO

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse desta descrição? Por quê?

2) Que impressão nos causa o conde ... ?


a. Por seu vestuário
b. Pela expressão do rosto

3) Explique a reminiscência mitológica do autor.

4) Analise, em poucas palavras, o estilo de Rebelo da Silva.

5) Localize este trecho em "Última corrida de touros em Salvaterra".

Exercício !: vocabulário e gramática

1) Cite palavras da mesma família que:


a. Conde e. Renda i. Graça
b. Cavalo f. Punho j. Face
c. Corte g. Joelho k. Fulgor
d. Veludo h.Alvo l. Fuzil

2) Forme expressões comparativas, em que entrem como segundo termo:


a. Centauro d. Deusa g. Diana
b. Hércules e. Sílfide
c. Vênus f. Ninfa

3) Quais são os verbos derivados de ... ?


a. Trajo d. Fino g. Tufo
b. Corte e. Pálido h. Grande
c. Preto f. Corpo i. Imagem

4) Forme curtas orações empregando, no imperativo afirmativo e negativo,


os verbos deste trecho.

5) C onjugue
• d os tempos os verbos
em todos b "ffazer,
" "'ver,
" "·ir,
" "d Iescobrir
b • ",
)9
rIr e vr .
• )) +

134
A DESCRIÇÃO

6) Cite nomes de peças de vestuário dum gaúcho.

7) Explique o sentido das seguintes palavras:


a. Pilhar f. Conclave k. Inibir
b. Saquear g. Assembléia 1. Alvoroço
c. Concitar h. Minguar m. Alvíssaras
d. Incitar i. Exorbitar
e. Excitar j. Eximir

Exercício lf: elocução

Segundo o modelo dos quatro primeiros períodos, fale:


a. Dum toureiro
b. Dum arlequim
c. Dum palhaço

Exercício m: redação imitativa

Faça, obedecendo ao plano do texto estudado, o retrato descritivo de Gari-


baldi, trajado à gaúcha.

III. O DUQUE DE CAXIAS

Nas mais diversas aplicações de sua inteligência, soube ele permanecer o mes-
mo. Por mais alto que subisse, em cada degrau da sua esplêndida vida, nunca
foi visto vacilar. Soube administrar, combater, governar, tudo em máxima esca-
la, ficando sempre simples e modesto. Distinguiu-o invariavelmente a austera
simplicidade de um Cincinato, mas a quem nunca o Estado permitiu voltar do
triunfo para a charrua, pois não têm sido dado férias a tão constante lidar. Por
mais que barafuste a inveja, a história não aceitará que o nome de outro algum
dos nossos cidadãos se superponha ao deste; e ao nosso compatriota passará
também o cognome de Duque de Ferro, com que outro general foi saudado. Já
lhe conheceis as qualidades morais e físicas. Duma sobriedade exemplar, supor-
ta as maiores fadigas, sem demonstrar cansaço. Nunca foi visto desmentir-lhe

135
FL OR DO LÁCIO

o vigor do ânimo ou a placidez do espírito, nem nos mais críticos momentos,


que a responsabilidade de um comando em chefe devia converter em séculos
de ansiedade. Sempre achou tempo para Deus, para a pátria, para os amigos,
para a humanidade. Essa estréia que lhe atribuem, acredita nela, não como os
fatalistas, mas sim como predomínio da inteligência sobre as ações, caso esse em
que a sorte, como diz Vieira, não está nas mãos dos fados, senão nas nossas. Se
o acaso venturoso entra por um décimo nos grandes resultados obtidos, nove
décimos são devidos ao cálculo, à inteligência, à perspicácia, à prontidão.

Monsenhor Pinto de Campos

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. Escala e. Cognome i. Predomínio
b. Austera f. Sobriedade j. Fados
c. Lidar g. Estrela k. Prontidão
d. Superpor h. Fatalistas

2) Que significam as expressões ... ?


a. Cada degrau de sua esplêndida vida d. Críticos momentos
b. O vigor do ânimo e. Séculos de ansiedade
c. A placidez do espírito f. O acaso venturoso

3) Explique quem foi:


a. Cincinato
b. Vieira

Estudo do plano de composição

1) De que trata o autor neste trecho?

2) Aponte no texto as passagens referentes:


a. À inalterável simplicidade do duque
b. À história quanto ao duque
c. A seu espírito forte e calmo
d. À inteligência e ao acaso

136
A DESCRIÇÃO

3) Faça um curto resumo de cada uma destas passagens.

Estudo das idéias

1) Mostre que, neste retrato, o que se estuda é, principalmente, um caráter.

2) Quais são as qualidades morais que, segundo o texto, formavam a perso-


nalidade do duque?

3) Que quer o autor dizer quando afirma que o duque "sempre achou tem-
po para Deus, para a pátria, para os amigos, para a humanidade"?

4) Como se chamava o general inglês, que foi cognominado Duque de Fer-


ro? Qual a razão desse cognome?

Exercício 1: vocabulário e gramática

1) De sinônimos às palavras:
a. Afã h. Jactancioso o. Vigor
b. Azáfama i. Vanglória p. Placidez
c. Marulho j. Esplêndida q. Converter
d. Guardião k. Austera r. Perspicácia
e. Esfumar l. Constante s. Cancelar
f. Espavorido m. Saudar t. Gélido
g. Presunçoso n. Fadigas

« )
"pre" ante ,
)
2)F orme p al avras com os pre fi xos """d"
com , e , contra,
"anti", "pro", "ex", "extra".

3) Cite adjetivos que dêem idéia de:


a. Energia c. Patriotismo
b. Simplicidade d. Bravura

4) Cite substantivos que exprimam coleção de:


a. Árvores f. Bananeiras k. Cães
b. Álamos g. Jabuticabeiras l. Bois

137
FLOR DO LÁCIO

c. Roseiras h. Lobos m. Carneiros


d. Bambus i. Homens n. Elefantes
e. Laranjeiras j. Soldados o. Cavalos

5) Conjugue em todos os tempos os verbos "dar", "coroar", "perdoar, "po-


lir" e "resfolegar".

6) Cite expressões que traduzam sensações auditivas.

Exercício : elocução

Faça oralmente, em dez sentenças curtas, um resumo deste trecho.

Exercício Ili: redação imitativa

Faça o retrato moral do Marechal Floriano Peixoto, segundo o plano do


texto que acabamos de estudar.

IV. O VISCONDE DE INHOMERIM

Nada atraente o físico, a figura de Sales Torres Homem. De estatura baixa,


tinha predisposição para engordar, com exagero, o ventre proeminente, pernas
curtas em relação ao busto, o todo pesadão. O rosto de tez amarelenta e feições
inexpressivas, numa quietude apática, era pronunciadamente vultuoso, o que
mais se acentuava no fim da vida, quando a bronquite crônica de que sofria
desde moço se foi transformando em opressora asma cardíaca; os lábios grossos,
o inferior um tanto penso, belfo. Usava óculos fixos de aros de ouro sobre os
olhos pardacentos, esbugalhados, e basta cabeleira postiça sob o chapéu alto
de abas um tanto largas, o que lhe dava, conjuntamente com o rosto liso e
barba sempre escanhoada em regra, aspecto de comodista e gordalhufo pastor
protestante. Vestia-se, porém, com o maior apuro, buscando conservar certa
elegância de bom cunho parisiense, na sobrecasaca rigorosamente abotoada e
bem assente ao corpo, nas gravatas de gosto com alfinetes artísticos, nas botinas
envernizadas, sem nunca dispensar luvas, que trazia quase todo o dia calçadas.
Gostava de bengalas de valor e delas tinha grande variedade; nem jamais se via

138
A DESCRIÇÃO

de guarda-sol ou de chapéu-de-chuva, como é cão geral no Brasil, hoje ainda


mais do que outrora. "É preciso, aconselhava ele, "não deixar aos medíocres e
colos sequer essa superioridade, trajarem bem".

Visconde de Taunay

Estudo das palavras e expressões

1) Explique o sentido das seguintes palavras do texto:


a. Visconde e. Belfo i. Escanhoada
6. Proeminente f. Aros de ouro j. Gordalhufo
c. Vulcuoso g. Esbugalhados k. Apuro
d. Penso h. Basca

2) Qual é a significação de ..?


a. O todo pesadão d. Opressora asma cardíaca
6. Tez amarelenta e. Cunho parisiense
c. Quietude apática

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desce retrato descritivo?

2) Divida o retrato em partes, dando-lhes nomes expressivos.

3) Que pormenores descritivos encerra cada uma destas partes?

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse desta descrição? Quem foi o Visconde de


Inhomerim?

2) Que ordem seguiu o autor no desenvolvimento desce retrato?

3) Com que expressões pinta ele o físico de seu retratado? Analise-as.

139
FLOR DO LÁCIO

4) Este retrato não parece, em certos trechos, uma caricatura? Por quê?

5) Que pormenores do indumento revelam o bom gosto do visconde?

6) Com que fim se requintava ele no apuro do vestuário? Explique a frase


com que o justificava.

Exercício t: vocabulário e gramática

1) Determine por meio de orações apropriadas, o sentido de:


a. Atraente - fascinante - encantador -- agradável
6. Talhe - altura - grandeza - tamanho
c. Predisposição - tendência - inclinação
d. Exagero - excesso - amplificação
e. Ventre - abdômen - barriga - pança
f. Proeminente - saliente - ressaltado
g. Evento advento provento

2) Empregue em orações curtas:


a. Rosto face fisionomia cara focinho tromba
6. Apática indolente preguiçosa
c. Quietude serenidade tranqüilidade calma paz
d. Pronunciada distintamente evidentemente claramente
marcadamente
e. Penso pendente suspenso
f. Obeso gordo rotundo adiposo

3) Que significam as palavras ... ?


a. Esbugalhados f. Conservar k. Todos
6. Basta g. Cunho 1. Registrar
c. Vestir h. Rigorosamente m. Tergiversar
d. Apuro i. Gostar
e. Buscando j. Preciso

4) Explique a colocação de pronomes neste trecho.


A DESCRIÇÃO

5) Dê antônimos a:
a. Atraente g. Grossos m. Gostar
6. Baixa h. Basta n. Geral
c. Engordar i. Postiça o. Tolos
d. Curtas j. Vestir p. Silente
e. Quietude k. Apuro q. Bulha
f. Vida 1. Elegância r. Nédio

6) Retire do texto:
a. Seis substantivos concretos d. Os advérbios
6. Seis substantivos abstratos e. As preposições
c. Os pronomes

7) Conjugue, nos tempos simples, os verbos "indignar-se", "refazer", "po-


der", "sentir" e "por".

Exercício II: elocução

Reproduza oralmente este retrato, evitando empregar as palavras do texto.

Exercício i: redação imitativa

Descreva, tendo por modelo o texto estudado, uma senhora gorda, com
pretensões a elegante.
Retratos descritivos
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA

O professor lerá previamente à classe uma descrição-modelo.

Retratosflsicos

1) Descreva, guiando-se por uma fotografia, o presidente da República, de


acordo com o seguinte plano:
a. Estatura; expressão/traços fisionômicos (rosto, cabelos, fronte, olhos, na-
riz, boca, lábios, queixo)
b. Indumento (casaca, camisa, colarinho, gravata branca, faixa simbólica
com as cores nacionais)

2) Descreva um soldado, de acordo com o seguinte plano:


a. Aspecto físico: sua estatura; pormenores físicos importantes (cor dos
olhos, forma do nariz, forma da boca, cor dos cabelos)
b. Equipamento: vestuário (quepe, bibi ou capacete, túnica, calças, polainas,
botinas, talabarte, cinturão); armas (sabre, fuzil)

3) Descreva um oficial de cavalaria, de acordo com o seguinte plano:


a. O cavaleiro: sua atitude, traços fisionômicos, uniforme, armas
b. O cavalo: seu aspecto, seus arreios

142
A DESCRIÇÃO

4) Inspirando-se no plano n" 1, faça o retrato físico dum arcebispo ou dum


bispo.

5) Faça, de acordo com o seguinte plano, o seu próprio retrato físico:


a. Aspecto: estatura; fisionomia (cor da tez, forma da testa, forma e cor dos
olhos, forma e cor das sobrancelhas, forma do nariz, forma da boca, forma e cor
dos lábios, cor e disposição dos dentes, forma do queixo; rosto redondo, magro,
oval etc.; cabelos curtos, longos, lisos, ondulados, frisados, negros, louros etc.)
b. Vestuário: paletó, calças, camisa, colarinho, gravata, calçado; ou, se for
mulher, chapéu, vestido, luvas, meias, sapatos)

6) Descreva uma pessoa caracterizada por um exterior particular, tal como:


a. Uma estudante uniformizada f. Um palhaço
b. Um cadete militar g. Um magistrado
c. Um selvagem h. Um eclesiástico
d. Uma dançarina i. Uma freira
e. Um chofer

Retrato moral ou descrição de caráter

1) Descreva um mau aluno, de acordo com o seguinte plano:


a. Defeitos: preguiçoso, insolente, brincalhão, mentiroso, covarde, maldoso
b. Procedimento: gosta de pregar peças aos colegas; chama-lhes "maricas,
quando estudiosos; ostenta valentia; incita às greves; falta às aulas; não prepara
lições; recorre sempre à cola

2) Descreva um aluno distraído, de acordo com o seguinte plano:


a. Ele chega à aula: enganou-se nos exercícios, nas lições, nos livros
b. Durante a aula: não presta atenção às explicações; qualquer coisa o diver-
te; muitas vezes, fica mergulhado em profundos devaneios
c. Conclusão: nenhum progresso. É preciso que o professor ou a professora
descubra a causa de tais distrações

3) Descreva uma boa colega, de acordo com o seguinte plano:


a. Suas mais belas qualidades
b. Seu modo de agir em relação às colegas, aos mestres
c. Terminando, diga qual é a qualidade que você mais aprecia nela

143
FLOR DO LÁCIO

4) Faça o retrato duma pessoa que tenha uma qualidade ou um defeito pre-
dominante, por exemplo:
a. Um velho vaidoso f. Uma jovem bondosa
b. Um guarda-civil atencioso g. Um homem grosseiro
c. Um rapaz astuto h. Uma menina gulosa
d. Um menino mentiroso i. Um menino fanfarrão
e. Um cobrador de ônibus amável j. Um barbeiro tagarela

5) Faça o retrato duma pessoa que tenha uma forte mania, ridicularizando-
-a, por exemplo:
a. A velha escrava da moda f. A atriz de rádio
b. O colecionador de selos g. O futuro campeão de boxe
c. Um futuro cantor de ópera h. O velho-moço
d. Uma futura estrela de cinema i. O grande caçador de feras
e. O futuro locutor de rádio

6) Faça o retrato duma pessoa adulta, cuja vida se cruza ou entrelaça com a
sua e cujo caráter você pôde observar; por exemplo:
a. Sua avó e. Sua irmã i. Uma professora
b. Seu avô f. Seu irmão j. Um professor
c. Sua mãe g. Sua madrinha k. O seu vigário
d. Seu pai h. Seu padrinho l. Uma amiguinha

144
Descrição de animais

De diversos modos podemos considerar a descrição de animais:

1) Retrato físico:
a. Observamos o aspecto físico, as atitudes mais comuns ou interessantes, e,
secundariamente, certos movimentos bem característicos
b. Esforçamo-nos por assinalar artisticamente o encanto das formas ou das
cores (um galgo, uma corça, um cavalo, um pavão, um faisão, uma arara, um
papagaio, uma ave-do-paraíso etc.)
c. Comparamos o animal com um homem, com outro animal ou com uma
coisa (um gorila, comparado ao homem; um gato, comparado ao tigre; uma
estrela-do-mar, comparada a uma flor; um cisne, comparado a um navio anti-
go, etc.)

2) Retrato moral: Aqui, preocupamo-nos, apenas, com as qualidades, ma-


nhas e defeitos do animal, sem que nos vejamos obrigados a cuidar de seu
aspecto físico.

3) Retrato físico-moral:
a. Descrevemos o animal, salientando-lhe um característico predominante
(um carneiro, com sua timidez; um lobo, com sua voracidade; uma raposa,
com sua astúcia; um cão, com sua fidelidade etc.)
b. Descrevemo-lo, comparando-o com um ser humano, que se caracterize
por qualquer qualidade ou habilidade (um galo-de-briga, apresentado como
um espadachim; um tamanduá-bandeira, apresentado como um lutador; um

145
FLOR DO LÁCIO

tigre, apresentado como um caçador; um abutre, apresentado como um saltea-


dor; uma lebre, apresentada como um covarde; um macaco, apresentado como
um palhacinho etc.)
Descrição de animais
TEXTOS EXPLICADOS

I. O CISNE"

arredondadas, graciosos contornos, alvura deslumbrante e pura,


F ORMAS
movimentos flexíveis, tudo no cisne nos agrada aos olhos. Pela facilidade,
pela liberdade de seus movimentos na água, devemos reconhecê-lo, não so-
mente como o primeiro dos navegadores alados, mas ainda como o mais belo
modelo, que, para a arte da navegação, nos ofereceu a natureza. Seu pescoço
ereto e seu peito arredondado parecem, com efeito, figurar a proa de um navio,
ao fender as ondas; seu largo estômago representa a quilha; o corpo, inclinado
para a frente ao singrar as águas, ergue-se atrás, como uma popa; a cauda é um
verdadeiro leme; os pés parecem largos remos e as grandes asas, semi-abertas
ao vemo e levemente pandas, são velas a impelirem o navio, que é, ao mesmo
tempo, navio e piloto.

C. L. O.

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta descrição?


R.: Esta descrição é um retrato do cisne.

8 Traduzido de Buffon.

147
FLOR DO LÁCIO

2) De quantas partes se compõe esta descrição?


R.: Compõe-se de duas partes:
a. O cisne
b. O navio vivo

3) Que contém cada uma destas partes?


R.: Na primeira, o autor apresenta o cisne por meio de pormenores rapi-
damente enumerados, que exprimem, em poucas e escolhidas palavras, suas
formas, sua cor, seus movimentos. Na segunda, ele o compara a um navio, que
fende serenamente as águas. Esta comparação é, por assim dizer, feita parte por
parte: é assim que o pescoço e o peito do animal figuram a proa; o estômago
representa a quilha, a cauda é transformada em leme, os pés tornam-se remos
e as asas se transmudam em velas, que o vemo encurva ligeiramente. Depois
de ter enumerado todos estes pormenores, o autor termina, exprimindo a idéia
geral do navio vivo, que é, ao mesmo tempo, o seu próprio piloto, pois é sua
vontade que o dirige.

4) Como se faz a transição da primeira para a segunda parte?


R.: A transição se faz pela idéia de navegação, que surge no espírito do autor
à vista dos movimentos do cisne na água.

Estudo das idéias

1) Como exprime o autor o aspecto físico do animal?


R.: É de notar que simples adjetivos qualificam os pormenores gerais ("For-
d d d " , " graciosos
mas arredondadas • contornos " , "al 'vura d teslumorante
l b e pura" etc.,
)
assinalando mesmo os caracteres particulares das partes do corpo ("Pescoço
ereto", "peito arredondado", "largo estômago).

2) De que modo evoca o autor a imagem d.um navio antigo?


R.: As partes do corpo do cisne tornam-se objeto duma série de compara-
çóes: "Parecem figurar a proa do navio", "representa a quilha", "é um verdadeiro
leme", "parecem largos remos", "são velas".
A DESCRIÇÃO

Esquema do plano de composição


r
Formas arredondadas
a. O cisne Graciosos contornos
Alvura deslumbrante
Movimentos flexíveis na água
O cisne
Comparações: A cauda o leme
O pescoço e o peito a proa Os pés os remos
b. O navio vivo
O estômago - a quilha As asas as velas

II. O CAVALO SERTANEJO

O cavalo sertanejo é esguio, sóbrio, pequeno, rabo compridíssimo, crinas gran-


des, capaz de resistir a todas as privações, a todos os serviços e a todos os esfor-
ços. É o melhor auxiliar do vaqueiro e ele o estima e trata com o maior carinho.
O cavalo do sertão é feioso como um corcel quirguiz. Lá uma vez aparece um
exemplar bonito, esbelto, alto. Não tem saracoteios, nem saltos, nem corcovos,
salvo quando espantadiço. O olhar só brilha quando se apresenta ocasião de
correr; depois as pálpebras murcham numa sonolência lassa. É ativo e parece
ronceiro; forte e parece fraco; ágil e parece pesado. É pasmosa sua agilidade.
Nos imprevistos das furibundas carreiras pelos matos em fora, salta galhos bai-
xos, mergulha sob os altos, alonga-se, encurta-se, pula de lado, faz prodígios. É
necessariamente baixo para essas ligeirezas; a aridez do clima não produz outro.
É raridade um animal de sete palmos do casco à cernelha. O meio torna-o
sóbrio e magro. Passa dias sem comer, quase sem beber. Num dia faz quinze
léguas, puxando um pouco; dez faz normalmente. É manso; quando o cavaleiro
cai, pára ao lado.

Gustavo Barroso

Estudo das palavras e expressões

Esguio fino de linhas.


Sóbrio parco na alimentação.
Corcel cavalo veloz, de raça.
Quirguiz de raça tártara.
Saracoteios movimentos para os lados.

149
FLOR DO LÁCIO

Corcovos saltos que o cavalo dá, arqueando o dorso.


Espantadiço que se assusta facilmente.
Ronceiro lerdo, vagaroso.
Cernelha a parte do corpo dos cavalos, bois etc., onde se unem as espá-
duas, formando uma cruz.
As pálpebras murcham fecham-se.
Sonolência lassa torpor de quem está muito cansado.
Imprevistos lances, episódios inesperados.
Furibundas carreiras carreiras muito velozes.
Mergulha passa rapidamente por baixo.
Alonga-se distende-se, alongando as pernas.
Encurta-se contrai os músculos e as pernas.
Faz prodígios faz coisas fora do comum.
A aridez do clima clima onde nada ou muito pouco se produz.
Puxando um pouco fazendo certo esforço.

Estudo do plano de composição

1) Que nos descreve o autor nesta página?


R.: O autor faz a descrição do cavalo sertanejo, parecendo compará-lo men-
talmente com o tipo comum dos cavalos e mostrando-nos seu aspecto físico,
assim como suas qualidades.

2) Mostre como o autor alterna, nesta descrição, os caracteres físicos com as


qualidades do cavalo sertanejo.
R.: Caracteres físicos: esguio
Qualidades: sóbrio
Caracteres físicos: pequeno, rabo compridíssimo, crinas grandes
Qualidades: Capaz de resistir às privações, aos serviços, aos esforços
E assim por diante. É um recurso literário interessante, pois empresta varie-
dade e movimentação à descrição.

3) Quais são as passagens em que o autor abre exceção ao tipo comum do


cavalo sertanejo?
R.: São:
a. "Lá uma vez aparece um exemplar bonito, esbelto, alto"
b. "É raridade um animal de sete palmos do casco à cernelha"
A DESCRIÇÃO

Estudo das idéias

1) Que nos impressiona no cavalo assim descrito?


R.: É o contraste existente entre seu físico enfezado e suas notáveis qualidades.

2) Qual é esse contraste?


R.: O cavalo é pequeno, quieto, sonolento, mas, quando corre, torna-se ve-
loz; parece fraco, mas é duro e resistente; e, embora se excite nas correrias, não
deixa de ser manso, pois se cai o cavaleiro, ele lhe pára ao lado. Aliás, o próprio
autor acentua, de modo claro, esse contraste, quando diz: "É ativo e parece
ronceiro; forte e parece fraco; ágil e parece pesado". Em resumo, suas principais
qualidades são: resistência, mansidão, sobriedade e agilidade.

3) Analise as expressões com que o autor traduz os movimentos do cavalo


sertanejo, em suas furibundas carreiras pelo mato.
R.: Ele os traduz por meio de seis orações coordenadas justapostas: 1) Salta
galhos baixos; 2) mergulha sob os altos; 3) alonga-se; 4) encurta-se; 5) pula de
lado; 6) faz prodígios.
Cada uma destas orações exprime, sugestivamente, uma ação do cavalo,
com exceção da última, que pode exprimir várias. E como estas orações são
curtas, as ações se sucedem rapidamente, emprestando movimento e velocidade
à descrição da corrida do animal.

4) Por que é que o meio torna o cavalo sertanejo pequeno, magro e sóbrio?
R.: A causa é toda biológica, de adaptação a um meio árido e improdutivo,
que, não lhe permitindo desenvolver-se fisicamente por deficiência de alimen-
tação, cria hábitos de sobriedade.

Esquema do plano de composição

a. Aspecto físico
j Esguio, magro, pequeno, baixo, rabo compridíssimo,
crinas grandes, feio

O cavalo Resistente (passa dias sem comer e quase sem beber;


sertanejo caminha de dez a vinte léguas diárias); manso (não
tem saracoteias, nem corcovas; quando o cavaleiro
b. Qualidades
cai, pára ao lado); ativo, forte e ágil (salta galhos bai-
xos, mergulha sob os altos, alonga-se, encurta-se, pula
de lado, faz prodígios)
FLOR DO LÁCIO

III . A CASCAVE L

Rojando em ondulações por entre as plantas rasteiras de mata, entreparando


num lugar, escutando em outro, veio avançando para a ceva uma cobra de gran-
de talhe. Tinha o dorso fusco, sem brilho, maculado de losangos escuros, quase
negros. A cabeça era chata, o focinho, tronco, como que aparado, com duas
fossazinhas tapadas, duas ventas falsas. De cada olho partia um traço escuro,
que ia fenecer no pescoço. A cauda terminava em um como rosário curto, de
contas córneas, ocas, achatadas, que, ao rastejar do animal, deixava escapar um
ruído leve, quase imperceptível, de pergaminho fuxicado. Chegou, viu os ratos,
parou, foi-se torcendo em espiral, formou um rolo, donde emergia, atenta,
vigilante, a pavorosa cabeça. O olhar negro, luzente, gélido, tinha uma fixidez
fascinadora. A língua lúrida, comprida, fina, bífida, açoutava o ar em rápidas
lambidelas.

- Júlio Ribeiro

Estudo das palavras e expressões

Entreparar parar um pouco na caminhada.


Ceva sítio onde se põe isca para atrair animais. Os ratos freqüentavam
esse lugar por causa da isca, e, a cascavel, por causa dos ratos.
Talhe tamanho, porte.
Fusco escuro; de cor parda.
Tronco como se fosse cortado, mutilado.
Fenecer terminar, extinguir-se.
Córneas constituídas de uma substância semelhante à do chifre.
Fuxicado amarrotado.
Lúrida amarelo-escura.
Bifda bipartida, fendida em duas.
Rojando em ondulações - rastejando em movimentos ondulatórios.
Maculado de losangos escuros com manchas da forma de losangos.
Formou um rolo enrolou-se sobre si própria.
Emergia - erguia-se; vinha de baixo para cima.
Pavorosa cabeça cabeça que inspira pavor.
Olhar gélido sem vivacidade; sem exprimir sentimento algum.
Fixidez fascinadora fixidez que magnetiza.
Açoutava o ar agitava-se rapidamente no ar.

152
A DESCRIÇÃO

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta descrição?


R.: O autor faz a descrição física, bastante minuciosa, duma cascavel, que se
encaminha para uma ceva, em procura de ratos.

2) Como se pode dividir esta descrição?


R.: Pode-se dividir em três partes:
a. A cobra avança para a ceva (do princípio até "talhe")
b. Os característicos físicos da cobra (de "tinha" até "fuxicado")
c. Sua atitude ao avistar os ratos (de "chegou" até o fim)

3) Como se faz a transição da primeira para a segunda? E da segunda para


a terceira?
R.: Faz-se a transição:
a. Apresentando a cobra que se dirige à ceva, o autor a observa e faz-lhe a
descrição
b. Terminada a descrição, ele no-la mostra chegando e preparando-se para
o ataque

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse desta descrição?


R.: O interesse consiste na riqueza dos pormenores descritivos, relativos não
só ao aspecto da cascavel, mas também a seus movimentos mais característicos,
emprestando-lhe vida, num acentuado caráter de realismo.

2) De que modo é pintada a cobra?


R.: O autor pintou-a com substantivos concretos e adjetivos, que expri-
mem, com precisão e nitidez, forma e cor ("Dorso fusco", "maculado de losan-
gos escuros " , " ca b eça c h ata" etc. ) .
Seus movimentos apresentam duas fases:
a. Quando se encaminha, rajando em ondulações, para a ceva, ela vai deva-
gar, atenta e cuidadosa, entreparando num lugar, escutando em outro
b. Quando chega e avista os ratos, enrodilha-se para o bote, ergue a cabeça
e sua língua açoita o ar

3) Que sentimentos nos desperta a cobra descrita? Por quê?

153
FLOR DO LÁCIO

R.: Sentimentos de horror, porque sabemos que seu golpe é inopinado e


mortífero.

Esquema do plano de composição

l
Tamanho: de grande talhe
Movimento: ondula entre plantas rasteiras
a. A cobra rasteja
Atitudes: entrepara num lugar, escuta noutro

Dorso fusco, sem brilho, maculado de lo-


sangos escuros, cabeça chata focinho
tronco, com duas ventas falsas, traço escu-
A cascavel] b. Aspecto físico
ro, que começa nos olhos e fenece no pes-
coço rosário de contas córneas na extre-
midade da cauda

l
Torceu-se em espiral formou um rolo,
e. Armando O bote donde emergia a horrenda cabeça olhar
fixo e gélido língua bífida, a açoitar o ar

154
Descrição de animais
TEXTOS PARA EXPLICAÇÃO

I. O CACHORRO DO SERTÃO

N A generalidade os cachorros do sertão são pequenos, ossos à mostra, ful-


vos, arrepelados, gafeirentos, selvagens e valentes. O seu olhar glauco,
melancólico e doce, segue ansiosamente todos os gestos de uma pessoa: estão
sempre sob o temor duma pancada, dum mau trato. As suas pituitárias finíssi-
mas sentem o guaxinim9 ao longe; os seus ouvidos atilados percebem o estalar
distante dum graveto sob a pata forte do gado, no sombrio recesso das caatin-
gas. São caçadores e pegadores de gado. Ninguém nunca os educou; jamais os
ensinaram: fizeram-se por si na selvatiqueza dos matagais espessos, no descam-
pado das várzeas solitárias e tristes.

Gustavo Barroso

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. Fulvos d. Glauco g. Descampado
b. Arrepelados e. Caatingas
c. Gafeirentos f. Matagais

9 Nome vulgar duma espécie de raposa.

155
FLOR DO LÁCIO

2) Precise o sentido das expressões:


a. Pituitárias finíssimas c. Sombrio recesso
b. Ouvidos atilados d. Várzeas solitárias e tristes

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta descrição?

2) Divida esta descrição em três partes, a saber:


a. O aspecto físico dos cachorros
b. Suas qualidades
c. Sua "educação", ou adestramento

3) Qual é o conteúdo de cada uma destas partes?

4) Como se faz a transição entre elas?

Estudo das idéias

1) Haverá alguma relação entre o animal descrito, tal como é, e o meio em


que vive? Qual?

2) Como se explica o contraste existente entre o físico do animal e suas


qualidades?

3) Estude no texto as expressões que pintam:


a. O físico do cachorro sertanejo
b. Suas atitudes
c. Suas qualidades

4) Analise, em poucas palavras, o estilo do autor.

Exercício I: vocabulário e gramática

1) Empregue as seguintes palavras em curtas orações que lhes precisem o


sentido:
A DESCRIÇÃO

a. Fulvo dourado amarelo


b. Arrepelado arrepiado eriçado
c. Gafeirento sarnento leproso
d. Selvagem bravio feroz
e. Glauco verde esverdeado esmeraldino
f. Selvatiqueza selvajaria selvagismo
g. Vacilar hesitar titubear

2) Cite palavras que exprimam cores e aspectos de pêlos de cão.

3) Que verbos correspondem a ... ?


a. Doce d. Pancada g. Sombrio
b. Pessoa e. Distante h. Espesso
c. Temor f. Forte i. Triste

4) Explique o sentido das palavras:


a. Canil c. Canzarrão e. Canzoal
b. Canino d. Canzoada

5) Conjugue nos tempos simples os verbos "cair" e "produzir".

6) Coloque no superlativo, absoluto e relativo, os adjetivos do texto.

7) Como se chama um grupo de ... ?


a. Vacas e. Ovelhas i. Colunas
b. Ramos f. Carneiros j. Barricas
c. Juncos g. Cavalos k. Arcos
d. Bois h. Balaústres

8) Acrescente, aos substantivos seguintes, adjetivos que exprimam maciez


ou aspereza:
a. Seda e. Pêlos i. Penugem
b. Veludo f. Pele j. Pluma
c. Feltro g. Lixa k. Algodão
d. Cabelos h. Almofada 1. Parede

157
FL OR DO LÁCIO

Exercício : elocução

Tendo por modelo o período, que começa em: "O seu olhar glauco", fale de:
a. Uma criancinha, que acompanha com olhar curioso o movimento das
pessoas
b. Um gato, prestes a desferir o bote contra descuidado passarinho

Exercício II: redação imitativa

Descreva, imitando o plano do autor e obedecendo, tanto quanto possível,


à sua ordem fraseológica:
a. Um cãozinho lulu
b. Um cão de guarda
c. Um cão perdigueiro

II. O TAMANDUÁ-BANDEIRA

O tamanduá-bandeira, assim chamado por causa da cauda, coberta de pêlos


compridos, bastos e dispostos em forma de leque, é um dos animais de mais
força que temos em nossas matas. Pouco maior do que um cão de fila, tem a
cabeça muito pequena em relação ao corpo, olhos tão minguados como os de
um rato, focinho comprido, boca estreita e sem dentes, na qual se oculta a
língua roliça, sumamente comprida. As suas mãos são guarnecidas de grandes
unhas, os pés, muito semelhantes aos do homem, a ponto de muitas vezes se
confundirem seus rastos com os nossos. O corpo é envolvido em um couro
grosso, resguardado por uma lã basta, áspera, comprida, parda na barriga e
negra pelo fio do lombo; da espádua direita desce uma pinta, mais clara do que
o resto do pêlo e que termina pelo meio da barriga, semelhante a uma faixa.
Tão grande animal sustenta-se de formigas e de cupim, para o que cava as casas
desses insetos, enfia no buraco a língua e colhe-a logo que nela se ajunta grande
porção, e repete este processo até que se farte. O mais curioso instinto deste
animal é o de deitar-se de barriga para o ar, abrir os braços para, enganando os
que não estão prevenidos, fazer com que cheguem perto, de modo a esmagá-los
em um abraço infernal.

General Couto de Magalhães


A DESCRIÇÃO

Estudo das palavras e expressões

1) Explique o sentido das seguintes palavras do texto:


a. Bastos d. Roliça g. Casas
b. Cão de fila e. Sumamente h. Processo
c. Minguados f. Cupim i. Fartar-se

2) Explique as comparações existentes no texto, assim como as expressões:


a. O fio do lombo
b. Abraço infernal

3) Analise as seguintes expressões:


a. Fazer com que cheguem até perto fazer que cheguem até perto
b. De modo a esmagá-los de modo que possa esmagá-los

Estudo do plano de composição

1) Que nos descreve o autor neste trecho?

2) Quais são as partes desta descrição, que correspondem aos títulos ... ?
a. O aspecto físico do tamanduá
b. Seu alimento
c. Seu estratagema instintivo

3) Qual é o conteúdo de cada uma destas partes?

Estudo das idéias

1) Por que nos desperta curiosidade este bicho?

2) Em que consiste sua originalidade?

3) Como nos descreve o autor seus contrastes físicos?

4) Que mais há de interessante em seu aspecto?

5) Por que tem o tamanduá uma língua tão comprida?

159
FLOR DO LÁCIO

6) Que impressão nos produz o animal descrito?

Exercício t: vocabulário e gramática

1) Forme orações curtas, empregando em sentido figurado:


a. Leque d. Dentes g. Unha
b. Cabeça e. Língua h. Pé
c. Boca f. Mãos i. Couro

2) Cite palavras da mesma família que:


a. Forma g. Corpo m. Fio
b. Animal h. Boca n. Clara
c. Força i. Mão o. Grande
d. Mata j. Pé p. Braço
e. Cão k. Homem
f. Cabeça l. Couro

3) Quais são os homônimos de ... ?


a. Forma j. Este s. Professores
b. Força k. Esse t. Portugueses
c. Boca l. Aquele u. Ingleses
d. Enfermo m. Amores v. Porto
e. Topo n. Alfinete w. Posto
f. Cerro o. Piloto x. Pêlo
g. Fecho p. Medo y. Esteve
h. Nele q. Fez z. Enterro
i. Dele r. Editores

4) Forme sentenças, empregando a preposição "a" antes de ... Explique por


que não se acentua o "a''.
a. Santos g. Recife n. Minha mãe
b. São Paulo i. Porto Alegre o. Uma prima
c. Natal j. São Salvador p. Certa pessoa
d. Belo Horizonte k. Manaus q. Esta colega

160
A DESCRIÇÃO

e. São Luís l. Aracaju r. Teu amigo


f. Florianópolis m. Meu pai s. Cavalo

5) Explique a colocação dos pronomes no trecho.

6) Forme orações curtas, empregando a contração "à" antes de ... Explique


por que se acentua o "à'.
a. Mulher f. Flor k. Princesa
b. Moça g. Cidade l. Roma
c. Irmã h. Capital m. Luís xv
d. Aula i. Duas horas n. Moda italiana
e. Escola j. Maneira

Exercício : elocução

Imitando o autor, no último período do trecho, fale:


a. De uma aranha, em sua teia
b. Do estratagema de um gato, para apanhar um passarinho

Exercício II: redação imitativa

Descreva, seguindo o plano do General Couto de Magalhães, uma onça


pintada, empregando substantivos, adjetivos, comparações e metáforas que lhe
traduzam vigorosamente o aspecto físico.

III. O URUBU-REI

Estava um dia um bando de urubus se banqueteando no nojento festim; de re-


pente um deles dá um guincho rouco e todos se afastam e dispõem em círculo,
numa atitude de respeito. O ar vibra, silvando ao impulso de asas possantes, es-
tremecem as folhas e um magnífico urubu-rei pousa majestosamente sobre um
galho seco; dá um olhar imperioso sobre aquela turba vil e, lançando-se pesada-
mente ao chão, acode ao banquete, desdenhando todo aquele círculo de rivais
invejosos e impotentes ... Era um lindo animal, maior que um peru, escuro na
FLOR DO LÁCIO

parte superior do corpo e branco debaixo das asas e do peito. A cabeça coberta
somente de uma penugem ostentava sete cores; o bico robusto, os olhos largos
e expressivos sem a ferocidade de seus congêneres, o pescoço aveludado e ador-
nado dum colar de alvas penas, fazem do urubu-rei um animal soberbo e de
nenhum modo merecedor do nome vulgar tão humilhante para ele.

Padre N. Badarioti

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. Festim d. Acode g. Soberbo
b. Silvando e. Desdenhando
c. Pesadamente f. Congêneres

2) Qual é o sentido de ..?


a. O ar vibra e. Turba vil
b. Magnífico urubu-rei f. Rivais invejosos e impotentes
c. Pousa majestosamente g. Bico robusto
d. Olhar imperioso h. Colar de alvas penas

3) Explique a colocação do pronome "se" neste trecho.

Estudo do plano de composição

1) Que nos descreve o autor do trecho?

2) Divida a descrição em três partes, guiando-se pela seguinte indicação:


a. O bando de urubus
b. A chegada do urubu-rei
c. Seu aspecto físico

3) Que pormenores descritivos contém cada uma destas partes?

162
A DESCRIÇÃO

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse desta descrição?

2) De que modo o autor nos apresenta o urubu-rei?

3) Quais são, no trecho, as expressões narrativas? Por que são narrativas?

Exercício t: vocabulário e gramática

1) Quais são os substantivos coletivos, que designam grandes bandos de ... ?


a. Pássaros d. Cães g. Peixes
b. Cavalos e. Carneiros h. Elefantes
c. Lobos f. Burros

2) Quais são os verbos, que exprimem as vozes dos seguintes animais?


a. Urubu f.Cavalo k. Sapo
b. Galinha g. Elefante 1. Porco
c. Peru h. Leão m. Coruja
d. Pato i. Cabra
e. Boi j. Cobra

3) Que adjetivos correspondem a ... ?


a. Galinha e. Cabra i. Cão
b. Cavalo f. Leão j. Gato
c. Ovelha g. Tigre k. Porco
d. Boi h. Víbora 1. Lebre

4) Forme sentenças, empregando o pronome "se":


a. Como objeto direto d. Como apassivador impessoal
b. Como objeto indireto e. Como expletivo
c. Como apassivador pessoal

5) Conjugue nos tempos simples os verbos "fazer" e "trazer".

6) Cite substantivos, adjetivos e verbos que exprimam cores vivas.


FLOR DO LÁCIO

7) Forme pequenas comparações em que o primeiro termo seja uma das


seguintes palavras:
a. Verde c. Azul e. Preto
b. Amarelo d. Branco

Exercício : elocução

Inspirando-se na terceira parte da descrição, fale:


a. De uma ave-do-paraíso d. De um galgo
b. De um pavão e. De uma arara
c. De um faisão

Exercício I: redação imitativa

Descreva, imitando o autor neste trecho, uma arara que desce a um milha-
ral, onde há um bando de papagaios.

IV. O POLVO

O polvo, com aquele seu capelo na cabeça parece um monge; com aqueles seus
raios estendidos parece uma estrela; com aquele não ter ossos nem espinha pa-
rece a mesma brandura, a mesma mansidão. E debaixo desta aparência tão mo-
desta, ou desta hipocrisia tão santa, o polvo é o maior traidor do mar. Consiste
esta traição do polvo, primeiramente, em se vestir ou pintar das mesmas cores
de todas aquelas cores a que está pegado. As cores, que no camaleão são gala, no
polvo são malícia; as figuras que em Proteu são fábula, no polvo são verdade e
artifício. Se está nos limos faz-se verde, se está no lodo faz-se pardo, se está em
alguma pedra, como mais ordinariamente costuma estar, faz-se da cor da mes-
ma pedra. E daqui o que sucede? Sucede que o outro peixe, inocente da traição,
vai passando desacautelado, e o salteador, que está de emboscada dentro do seu
próprio engano, lança-lhe os braços de repente e fá-lo prisioneiro.

- Antônio Vieira
A DESCRIÇÃO

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. Capelo d. Malícia g. Artifício
b. Hipocrisia e. Proteu h. Emboscada
c. Gala f. Fábula

2) Que significam aqui ... ?


a. Raios e. O salteador
b. Hipocrisia tão santa f. Dentro do seu próprio engano
c. Vestir-se g. Lança-lhe os braços
d. Pintar-se

Estudo do plano de composição

1) Que nos descreve Antônio Vieira nesta página?

2) Como considera ele o seu assunto? Limita-se, acaso, a indicar os caracte-


rísticos físicos do animal?

3) Divida a descrição em três partes, a saber:


a. A aparência do polvo
b. Seus recursos traiçoeiros
c. O assalto ao peixe

4) Como se faz a transição de cada parte para a seguinte?

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse desta descrição?

2) De que modo caracteriza o autor o aspecto físico do polvo?

3) Que qualidades e defeitos humanos empresta ele ao polvo?

4) Quais são os artifícios e as qualidades do polvo? Para que lhe servem?


FL OR DO LÁCIO

5) Analise, em poucas palavras, o estilo do autor.

Exercício I: vocabulário e gramática

1) Empregue apropriadamente em curtas orações:


a. Capelo capuz touca
b. Monge frade cenobita
c. Hipocrisia fingimento falsidade simulação
d. Santa augusta virtuosa venerável
e. Gala ornamento enfeite
f. Hesitar vacilar

2) Cite palavras do mesmo sentido que:


a. Vestir d. Artifício g. Inocente
b. Malícia e. Ordinariamente h. Desacautelado
e. Fábula f. Suceder i. Engano

3) Dê antônimos a:
a. Brandura d. Santa g. Verdade
b. Mansidão e. Vestir h. Inocente
c. Modesta f. Malícia

4) Cite palavras que caracterizem expressivamente o aspecto físico dum tu-


barão.

5) Conjugue em todos os tempos os verbos "ir", "abrir" e "confundir".

6) Acrescente, a cada substantivo seguinte, dois ou três adjetivos, que expri-


mam tonalidades duma cor:
a. Campos d. Nuvens g. Lábios
b. Poentes e. Mares h. Vinho
c. Céu f. Olhos

166
A DESCRIÇÃO

Exercício : elocução

Inspirando-se no primeiro período do trecho, fale:


a. Dum gorila
b. Dum peru
c. Dum papagaio

Exercício III: redação imitativa

Imitando o autor neste trecho, descreva um tubarão, comparando-o a um


pirata sangüinário.
Descrição de animais
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA

O professor lerá à classe, previamente, uma descrição-modelo.

Retrato fisico

1) Descreva uma vaca, de acordo com o seguinte plano:


a. O aspecto da vaca: o pêlo (avermelhado, preto, pintado, malhado, áspero,
sedoso; cauda terminada em tufo); a cabeça (forte, focinho negro e luzidio,
olhos grandes e doces, chifres curtos, em forma de aspas, orelhas pendentes); as
pernas (curtas ou compridas, fortes ou delgadas, cascos rijos, córneos); o úbere
(róseo, volumoso, farto)
b. Sua atitude: quando pasta, quando rumina, quando muge
c. Seus movimentos: quando anda, quando corre

2) Descreva um galo, de acordo com o seguinte plano:


a. O aspecto do galo: a plumagem (avermelhada, branca, preta, mesclada,
cores brilhantes, plumas sedosas no dorso, cauda erguida em penacho); a cabe-
ça (olhos vivos e duros, crista rubra, bico forte e agudo, barbela); as patas (coxas
robustas, o esporão, os dedos)
b. Sua atitude: orgulhosa, cheia de dignidade e majestade, como se ele esti-
vesse cônscio de sua posição de rei dos galinheiros
c. Seus movimentos: o enérgico bater das asas, o esticar do pescoço, o canto
rouco, o passo sacudido

168
A DESCRIÇÃO

3) Descreva uma borboleta, de acordo com o seguinte plano:


a. O aspecto da borboleta: sua cor e sua forma (amarela, alaranjada, azul
etc.; denteada, aveludada, acetinada, esmaltada, arabescos, pontos vermelhos,
pretos, pérolas); asas: parte importante da descrição já se falou das cores,
falar-se-á agora de seus movimentos; as patas: seu número e sua disposição; a
tromba: como dela se serve a borboleta
b. Movimentos: como se alimenta a borboleta, como se desloca, sua ligeireza

4) Descreva um coelho, depois de formar um plano, em que se considerem:


a. Sua forma, seu pêlo lustroso, suas patinhas, seu toco de cauda, suas gran-
des orelhas nacaradas e móveis, seus olhos redondos, seu focinho rosado, seus
belos bigodes
b. Seus movimentos: quando corre, quando se senta, quando come

5) Descreva uma vespa, depois de formar um plano em que se considerem:


a. Seu tamanho, sua forma, sua cor, suas asas
b. O que ela faz: estraga as frutas, pica-nos; perigo de morder numa fruta,
sem examiná-la antes

6) Descreva, esforçando-se por assinalar o encanto das formas ou das cores:


a. Uma ave-do-paraíso e. Um faisão i. Uma arara
b. Um pavão f. Um camaleão j. Uma cobra-coral
c. Um gato angorá g. Uma águia
d. Um galgo h. Um cavalo árabe

7) Descreva:
a. Um condor, comparando-o a um aeroplano
b. Um gorila, comparando-o ao homem
c. Um gato, comparando-o a um tigre
d. Uma baleia, comparando-a a um submarino
e. Uma estrela-do-mar, comparando-a a uma flor
f. Um abutre, comparando-o a um salteador

Retrato moral

1) Descreva, salientando um caráter predominante:


a. Um cão, com sua fidelidade
FLOR DO LÁCIO

b. Uma andorinha, com sua celeridade


c. Um elefante, com sua força
d. Um porco, com sua glutoneria
e. Uma raposa, com sua astúcia
f. Um carneiro, com sua timidez
g. Um lobo, com sua voracidade

2) Descreva, comparando-os com um ser humano:


a. Um peru, apresentado como um homem enfatuado
b. Um galo-de-briga, apresentado como um espadachim
c. Um tamanduá, apresentado como um lutador
d. Um sagüi, apresentado como um menino irrequieto
e. Um papagaio, apresentado como um discursador ridículo
f. Um urso, apresentado como um dançarino pesadão
Descrição de pessoas em ação

A QUI, não é a fisionomia ou o aspecto físico, nem tampouco o aspecto mo-


[ al, o quer há de mais importante: são as ações, isto é, tudo o que o homem
faz, e, por vezes, os instrumentos e as máquinas de que ele se utiliza.
Freqüentemente, também, seu vestuário está em relação com o trabalho que
ele executa: observem-se, por exemplo, os sacerdotes, os soldados, as jovens
normalistas, os carteiros, os condutores de bonde etc.
Nos textos por explicar, veja bem o estudante como consegue o autor ex-
primir as ações de suas personagens, e, quando for o caso, como lhes descreve
o indumento.

Processo de composição Nos temas de composição propostos aos alu-


nos, convirá, em razão do que acima afirmamos, dizer alguma coisa a respeito
do vestuário. E, para que se complete o quadro, será interessante localizar a
personagem, isto é, descrever em rápidos traços o lugar, onde se realiza a ação,
acrescentando-se a esta moldura do retrato alguns pormenores que impressio-
nam os sentidos: a vista, o ouvido, o olfato, o tato e o paladar.
Para traduzir bem as ações, escolham-se verbos expressivos, variando-os tan-
to quanto possível; evitem-se expressões como: "Há", "havia, "está, "estava',
"vê-se", "via-se", "vemos", "nota-se", "notamos", "observa-se", "observamos",
"avista-se", "avistamos", "percebe-se", "percebemos", "distingue-se", "distingui-
mos" etc.
Procure-se, ainda, dar relevo às coisas, empregando adjetivos e figuras que se
relacionem com a forma, o aspecto, a cor e o tamanho dos objetos.
Descrição de pessoas em ação
TEXTOS EXPLICADOS

I. MARIA-SEM-TEMPO

pequena, magra, escura. Tinha a extrema humildade dos que vivem


E RA
longos anos sob o céu destruidor, sem pensar ao menos em resistir à sorte,
com a passividade inerte da folha que o vento rola pelos caminhos. Era assim
mirrada e seca e sombria, como se tivesse perdido a seiva ao ardor dos estios,
como se guardasse das noites sem estrelas o negrume cada vez mais intenso.
Era louca, porque só tinha uma idéia, e a criatura humana pode não ter idéias,
mas não pode ter só uma. A sua era o angustioso desassossego das maternida-
des malogradas. Perdera um filho e o procurava. Andava pelos caminhos para
buscá-lo e só levantava a voz para chamá-lo ansiosamente, carinhosamente:
"Luciano! Meu filho!", e escutava longo tempo por trás das cercas, nos aceiros
dos matos, à entrada dos terreiros das fazendas, nos desertos e nos povoados,
onde quer que a levasse a sua dolorosa esperança. Aquela figura miserável, toda
feita num gesto indagador, com a mão abrigando os olhos, à espreita, ou le-
vantando o xale que lhe cobria a cabeça de cabelos hirtos, para ouvir melhor a
resposta ideal, aquela encarnação de uma aspiração sempre iludida, enturvava
o esplendor do mais radioso meio-dia.

Domício da Gama
A DESCRIÇÃO

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto deste trecho?


R.. É a descrição duma pobre louca à procura incansável de um filho, que
ela perdera.

2) Qual é o plano de composição seguido pelo autor?


R.: O texto compõe-se, nitidamente, de duas partes:
a. O aspecto da pobre mulher
b. Sua loucura

3) Como se faz a transição da primeira para a segunda parte?


R.: Faz-se a transição por meio das sentenças narrativas: "Era louca [ ... ]. A
sua era etc., sentenças que explicam o estado mental da mulher; a segunda
parte não é mais do que o desenvolvimento dessa idéia.

4) Que pormenores contém cada uma destas partes?


R.: A primeira encerra pormenores relativos ao aspecto físico da velha, ex-
pressos por meio de adjetivos, e que outros adjetivos repetem, como a con-
firmá-los: "Pequena, magra, escura"; "mirrada e seca e sombria". Uma frase
narrativa acentua um traço moral: "Tinha a extrema humildade" etc.
A segunda mostra-nos, primeiramente, a mulher na ansiosa procura de seu
filho, e, em seguida, desenvolve longamente suas atitudes características: "Leva
as mãos aos olhos, num gesto perscrutador, e escuta atentamente, levantando o
xale a fim de melhor ouvir a resposta ideal".

Estudo das idéias

1) Por que razão é a segunda parte mais longa do que a primeira?


R.: Porque é nas ações e atitudes, que caracterizam a loucura, que se acha
o interesse descritivo deste trecho. Não é a pessoa da velha que nos interessa,
senão todos os atos e gestos que lhe denunciam o estado mental.

2) Mostre que a personagem deste trecho é a protagonista de uma pequena


tragédia.
R.: Há aqui um choque entre o mais profundo dos sentimentos o amor ma-
terno e a realidade da vida. A tragédia emocionante consiste nessa busca inútil
de um filho morto, que a desgraçada mãe, em sua insânia, julgava ainda vivo.

173
FL OR DO LÁCIO

3) Que idéia filosófica constitui o centro dessa tragédia?


R.: A de que apenas uma idéia pode tornar-se obsessão, perigosa para a in-
tegridade mental da criatura humana.

4) Como exprime o autor suas impressões pessoais?


R.: Exprime-as por meio de comparações hipotéticas ("Como se tivesse
perdido", "como se guardasse"), assim como de adjetivos ("Destruidor", "an-
gustioso", "dolorosa", "miserável" etc.) ou ainda de frases ou orações com que
interpreta aspectos, ações e atitudes ("Dos que vivem longos anos sob o céu",
"sem pensar em resistir à sorte", "com a passividade da folha que o vento rola",
on +d e quer que a evasse a sua esperança etc ..

5) Em que consiste o interesse narrativo deste trecho?


R.: Este retrato, composto como está, não é uma simples descrição. Os por-
menores de forma, cor ou caráter estão apresentados como uma seqüência, não
de análises, mas de ações. As frases e orações têm um cunho acentuadamente
narrativo e exprimem, sobretudo, aspectos, gestos e atitudes; as que parecem
puramente descritivas servem, apenas, de explicação às orações e frases narrati-
vas que as acompanham. Deste modo, a personagem é colocada como que viva
diante de nossos olhos.

1) Pormenores objetivos físicos: peque-


Esquema do plano de composição na, magra, escura (mirrada, seca, sombria)

2) Pormenor moral: (humildade) dos


a. O aspecto
que vivem longos anos sob o sol destrui-
da mulher
dor sem pensar em resistir à sorte
com a passividade da folha que o vento
rolacomo se tivesse perdido a seiva-
corno se guardasse das noites o negrume
Maria-sem-tempo
l) Ações: andava pelos caminhos
levantava a voz escutava por trás
das cercas, no aceiro dos matos, à
entrada das fazendas, nos desertos, nos
b. Sua loucura { povoados, por toda a parte

2) Gestos e atitudes: gesto indagador


mão abrigando os olhos levan-
tando o xale para ouvir melhor

174
A DESCRIÇÃO

II. O SACI-PERE Ré

O Saci habita na cavidade dos bambus e gosta da agitação dos redemoinhos de


vento. É escuro como a noite sem luar e traz habitualmente, na cabeça, uma
carapuça rubra como sangue. Tem um enorme olho no centro da testa, saltita
com agilidade sobre a única perna que possui. Surge inopinadamente numa
curva de estrada, atira-se às crinas dos cavalos que passam, grita-lhes com estri-
dor ao ouvido e fá-los disparar em desabalado e estrepitoso galope pelo campo
afora. Assusta os pobres e bondosos pretos de carapinha branca, aparecendo-
-lhes de súbito à frente. Entra nos casebres pelo buraco das fechaduras ou por
uma fenda da porta, arrebenta, por simples prazer, os móveis e vasilhas, faz
desandar o sabão caseiro em preparo, lança punhados de cinza sobre os doces
que borbulham, fervendo e desmanchando-se, dentro dos grandes tachos de
ferro, apaga o fogo rubro e crepitante, derrama no chão de terra socada os potes
de água, e, ora assobiando com viva alegria, ora tirando longas fumaçadas do
cachimbinho de barro, salta daqui, pula dacolá, a tudo pondo em pandarecos.
E, depois, desaparece, rápido como o relâmpago, para recomeçar mais adiante
suas maldosas travessuras.

Olivio do Lago (e. L. o.)

Estudo do plano de composição

1) Que nos descreve o autor neste trecho?


R.: O autor descreve um ser fictício, considerando-o relativamente aos tra-
ços físicos e às ações características que lhe atribui a crendice popular.

2) De quantas partes se compõe esta descrição?


R.: Ela apresenta duas partes:
a. O aspecto físico do Saci (até "única perna que possui")
b. Suas ações

3) Qual é o conteúdo de cada uma destas partes?


R.: A primeira parte contém o aspecto físico do Saci, indicado pelos seguin-
tes pormenores descritivos: "Escuro como noite sem luar", "carapuça rubra",
"um olho no centro da testa", "uma única perna". A segunda descreve-lhe as
ações, expressas por meio de orações curtas, coordenadas, que servem para in-
dicar movimentos rápidos e sucessivos: "Surge inopinadamente", "grita-lhes

175
FLOR DO LÁCIO

com estridor", "fá-los disparar", "assusta os pobres pretos", "entra nos casebres",
"arrebenta móveis e vasilhas", "faz desandar o sabão", "lança cinzas dentro dos
tachos de doce", "derrama a água'', "apaga o fogo", "assobia, fuma, pula e de-
saparece".

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse desta descrição?


R.: O interesse reside no aspecto físico, rapidamente delineado, e no minu-
cioso desenvolvimento das travessuras do Saci.

2) Como exprime o autor suas impressões pessoais?


R.: Exprime-as, principalmente, por meio de comparações, que caracteri-
zam, com mais vigor e justeza, o aspecto físico do Saci: "Escuro como a noite",
"rubra como sangue; ou que assinalam, de idêntico modo, um de seus atribu-
tos: "Rápido como o relâmpago".

3) Por que emprega o autor o indicativo presente em sua descrição?


R.: Ele emprega o "presente de narração, que é o recurso literário para em-
prestar mais vida e colorido às cenas descritas, e, também, para colocá-las com
mais força ante nossos olhos.

4) Que impressão nos causa o Saci assim descrito?


R.: Causa-nos a impressão de um garoto irrequieto, mal-educado, maldoso
e travesso.

Esquema do plano de composição

a. Aspecto físico: escuro como a noite sem luar carapuça rubra


um só olho no centro da testa uma única perna

O Saci
b. Ações (orações curtas): como aparece o assalto aos cavalos
como os faz correr como assusta os pobres pretos velhos como
entra nos casebres e o que aí faz como desaparece
Descrição de pessoas em ação
TEXTOS PARA EXPLICAÇÃO

I. IRACEMA

A LÉM, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu
.1"\.J: racema. lracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais
negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da
jati não era doce como o seu sorriso, nem a baunilha recendia no bosque como
seu hálito perfumado. Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem cor-
ria o sertão pelas matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande
nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia
que vestia a terra com as primeiras águas. Um dia, ao pino do sol, ela repousava
em um claro da floresta. Banhava-lhe o corpo a sombra da oiticica, mais fresca
do que o orvalho da noite. Os ramos da acácia silvestre esparziam flores sobre
os úmidos cabelos. Escondidos na folhagem, os pássaros ameigavam o canto.
lracema saíra do banho; o aljôfar da água ainda a roreja, como à doce mangaba
que corou em manhã de chuva. Enquanto repousa, empluma das penas do
guará as flechas do seu arco e concerta com o sabiá da mata, pousado no galho
próximo, o canto agreste. A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca
junto dela.

José de Alencar

177
FLOR DO LÁCIO

Estudo das palavras e expressões

1) Explique o sentido das seguintes palavras do texto:


a. Azular h. Roçar o. Rorejar
b. Favo i. Ao pino do sol p. Mangaba
c. Graúna j. Um claro q. Emplumar
d. Jati k. Oiticica r. Guará
e. Campear 1. Acácia s. Concertar
f. Tabajara m. Esparzir t. Ará
g. Grácil n. Aljofar

2) Qual é a significação de ... ?


a. Lábios de mel d. A verde pelúcia g. Banhava
b. Recendia e. Que vestia a terra h. Ameigar
c. Corria o sertão f. As primeiras águas i. Corar

3) Analise as comparações do texto.

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta descrição?

2) Divida o trecho em três partes, a saber:


a. O aspecto físico de lracema
b. Correndo o sertão
c. O repouso da selvagem

3) Que pormenores contém cada uma destas partes? Como se faz a transição
da primeira parte para a segunda e desta para a terceira?

Estudo das idéias

1) Em que consiste a originalidade desta descrição?

2) Quais são os caracteres físicos que servem para embelezar a selvagem?


Como os exprimiu José de Alencar?
A DESCRIÇÃO

3) De que modo descreveu ele as ações de lracema?

4) Que impressão nos causa lracema, tal como está descrita neste trecho?

5) Estude, em poucas palavras, o estilo de Alencar.

Exercício I: vocabulário e gramática

1) Empregue apropriadamente, em curtas orações:


a. Serra montanha serrania cordilheira
b. Lábios beiços beiçama beiçorra
c. Recender cheirar exalar trescalar tresandar
d. Hálito bafo bafagem bafejo expiração
e. Campear campar acampar
f. Roçar roçagar resvalar deslizar
g. Macular enlamear enxovalhar
h. Mandil esfregão trapo

2) Cite sinônimos das seguintes palavras:


a. Negros j. Esparziam s. Influente
b. Doce k. Escondidos t. Afluente
c. Perfumado 1. Grazinada u. Confluente
d. Rápida m. Enfezar v. Defluente
e. Selvagem n. Horripilar w. Aflorar
f. Vestia o. Imutar x. Florir
g. Repousar p. Jalne y. Dirimir
h. Claro q. Limo z. Manirroto
i. Orvalho r. Madrigaz

3) Cite antônimos das seguintes palavras:


a. Além g. Recender m. Repousar
b. Serra h. Perfumado n. Úmidos
c. Nascer i. Rápida o. Concertar
d. Negros j. Selvagem p. Próximo
e. Longos k. Grácil q. Retrogradar
f. Doce 1. Guerreira r. Evolver

179
FLOR DO LÁCIO

4) Cite palavras que designem:


a. O aspecto físico dum selvagem
b. Seus ornatos
c. Suas armas

5) Forme orações curtas, empregando a preposição "à' antes de ... Explique


por que não se acentua o "à'.
a. Tiros f. Ninguém k. Lápis
b. Pé g. Nenhum lugar 1. Facadas
c. Sopapos h. Alguém m. Ferro e fogo
d. João i. Canivete n. Bala
e. Carlos j. Óleo

6) Conjugue nos tempos simples os verbos "fugir" e "investir".

7) Forme curtas orações em que empregue o verbo "investir":


a. Transitivamente c. Com a preposição "por"
b. Pronominalmente d. Com a preposição "com"

Exercício 11: elocução

Imitando o autor nas duas primeiras partes, fale:


a. Duma jovem desportista, num campo de corrida
b. De uma jovem elegante, loura, passeando num belo parque

Exercício 111: redação imitativa

Descreva, obedecendo ao plano de Alencar, um guerreiro selvagem.

II. O MINEIRO

Herói como os heróis da Grécia em rumo ao porto


Da Cólchida no ardor da aurífera conquista,

18o
A DESCRIÇÃO

Ei-lo a encosta a escavar, na crença de que exista


O almejado filão, que viu no sonho, absorto.

Luta feroz, minaz, sem trégua e sem conforto;


E posto que a montanha aspérrima resista,
Brandindo sempre o alvião, fitando a fundo a vista,
Há de o veio ferir ou estatelar-se morto.

Investe ... Falta-lhe o ar. O aerólito intradorso


Da galeria o fere. E mal se lhe equilibra
No antro sem luz o corpo ousadamente torso!

Mas investe ... A exaustão empolga-o, fibra a fibra.


De súbito, entre a glória e o horror do extremo esforço,
Cai num grito... e o filão relampagueia e vibra.

Luís Carlos

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. Cólchida e. O veio i. Antro
b. Encosta f. Estatelar-se j. Torso
e. Minaz g. Aerólito
d. Alvião h. Intradorso

2) Qual é a significação de ... ?


a. Ardor e. Luta feroz
b. Aurífera conquista f. A exaustão empolga-o
c. O almejado filão g. A glória e o horror do extremo
d. Que viu no sonho esforço
h. O filão relampagueia e vibra

Estudo do plano de composição

1) Que nos descreve Luís Carlos neste soneto? Responda em poucas palavras.

181
FL OR DO LÁCIO

2) Que desenvolvimento deu ele a seu assunto?

3) Que pormenores formam a estrutura deste soneto?

Estudo das idéias

1) Que ações pratica o mineiro e como as exprime o poeta?

2) Que sentimento impele o homem a essa luta titânica contra a rocha


bruta?

3) A que heróis da Grécia clássica o compara Luís Carlos? Que fizeram esses
heróis?

4) Que impressão nos causa o epílogo do pequeno drama que acabamos de


ler? Por quê?

Estudo da metrificação

1) Por que são alexandrinos os versos deste soneto?

2) Por que se chamam alexandrinos?

3) Estude neste soneto os enjambements, as rimas e sua disposição.

Exercício I: vocabulário e gramática

1) Substitua por outras expressões do mesmo valor:


a. Da Grécia d. Sem conforto g. De súbito
b. Em rumo e. Posto que h. Num grito
c. Na crença f. Sem luz

2)E mpregue as pa l avras " como ,, e " quan d,,


o :
a. Como advérbio, em cinco sentenças
b. Como conjunção, em cinco sentenças

182
A DESCRIÇÃO

3) Forme pequenas expressões comparativas com:


a. Herói d. Sonho g. Luz
b.Ardor e. Feroz h. Ouro
e.Ar f. Montanha i. Amor

4) Conjugue nos tempos simples os verbos "querer", "rugir" e "surgir".

5) Que diferença há entre ... ?


a. Acrólito acrópole necrópole
6. Torso torço dorso
e. Crença crendice
d. Horror terror
e. Descrição - discrição
f. Dispensa despensa
g. AHuxo refluxo
h. Ascensão - assunção
i. Vislumbrar relumbrar deslumbrar
j. Artimanha patranha

6) Cite dez nomes de árvores florestais; dez de pedras preciosas; dez de aves
brasileiras.

Exercício : elocução

Decore este soneto e recite-o.

Exercício : redação imitativa

Descreva em prosa, inspirando-se neste soneto, a morte de um bandeirante


- o "Caçador de esmeraldas", por exemplo.
FLOR DO LÁCIO

III . O SELVAGEM

O tigre desta vez não se demorou; apenas se achou a coisa de quinze passos do
inimigo, retraiu-se com uma força de elasticidade extraordinária, e atirou-se
como um estilhaço de rocha, cortada pelo raio. Foi cair sobre o índio, apoiado
nas largas patas de trás, com o corpo direito, as garras estendidas para degolar
a sua vítima, e os dentes prontos a cortar-lhe a jugular. A velocidade deste salto
monstruoso foi tal que, no mesmo instante que se vira brilhar entre as folhas
os reflexos negros de sua pele azevichada, já a fera tocava o chão com as patas.
Mas tinha em frente um inimigo digno dela, pela força e agilidade. Como a
princípio, o índio havia dobrado um pouco os joelhos, e segurava na esquerda
a longa forquilha, sua única defesa; os olhos fixos magnetizavam o animal. No
momento em que o tigre se lançava, curvou-se ainda mais; e fugindo com o
corpo apresentou o gancho. A fera, caindo com a força do peso e a ligeireza do
pulo, sentiu o forcado cerrar-lhe o colo, e vacilou. Então, o selvagem distendeu-
-se com a flexibilidade da cascavel ao lançar o bote: fincando os pés e as costas
no tronco, arremessou-se e foi cair sobre o ventre da onça, que, subjugada,
prostrada de costas, com a cabeça presa ao chão pelo gancho, se debatia contra
o seu vencedor, procurando debalde alcançá-lo com as garras. Esta lutou du-
rante minutos: o índio, com os pés apoiados fortemente nas pernas da onça, e
o corpo inclinado sobre a forquilha, mantinha assim imóvel a fera.

José de Alencar

Estudo das palavras e expressões

1) Explique o sentido das seguintes palavras do texto:


a. Jugular d. Magnetizar g. Colo
b. Pele e. Forcado h. Distender-se
c. Azevichada f. Cerrar

2) Qual é a significação de ... ?


a. Força de elasticidade extraordinária
b. Salto monstruoso
c. A força do peso
d. A flexibilidade da cascavel
A DESCRIÇÃO

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta página?

2) Em que participa esta descrição da natureza da narração?

3) Aponte no texto as passagens que se referem:


a. Ao ataque da onça c. A seu contra-ataque
b. À defesa do índio d. A sua vitória

4) Que pormenores se encontram em cada uma destas partes?

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse desta descrição?

2) Como transcreve o autor as atitudes e os movimentos ... ?


a. Da onça
b. Do selvagem

3) Que impressão nos causa ... ?


a. O selvagem
b. Sua luta com a onça

4) Localize este trecho no romance O guarani, de José de Alencar.

Exercício t: vocabulário e gramática

1) Cite sinônimos de:


a. Selvagem h. Cerrar o. Mácula
6. Extraordinária i. Vacilar p. Febril
e. Estendidas j. Prostrada q. Febricitante
d. Cortar k. Alcançar r. Árdego
e. Monstruoso 1. Debalde s. Apupar
f. Brilhar m. Eventual
FLOR DO LÁCIO

g. Agilidade n. Gilvaz

2) Empregue apropriadamente em curtas orações:


a. penas assim que logo que
b. Degolar decapitar decepar
c. Num instante num segundo num átimo
d. Magnetizar hipnotizar
e. De costas - supino - de borco
f. Eventualidade possibilidade probabilidade
g. Conjuntura - circunstância
h. Propício oportuno ocasional favorável
i. Perlustrar calcorrear

3) Empregue em sentido figurado:


a. Selvagem c. Rato e. Olhos
b. Tigre d. Brilhar f. Fera

4) Empregue em sentido derivado:


a. Corpo e. Olhos h. Cabeça
b. Dentes f. Colo
d. Folha g. Pés

5) Conjugue em todos os tempos os verbos "seguir", "argüir" e "distinguir.

6) Classifique as orações contidas no primeiro período deste trecho.

7) Aponte, nas orações classificadas:


a. O sujeito
b. O predicado

8) Cite expressões que traduzam o aspecto físico:


a. De um toureiro
b. De um touro bravio

186
A DESCRIÇÃO

Exercício II: elocução

Imitando José de Alencar nos dois primeiros períodos do texto, fale de:
a. Um gato atirando-se a um rato
b. Um gavião lançando-se contra uma pomba
c. Um jogador de futebol num lance emocionante

Exercício t: redação imitativa

Descreva um toureiro ao pegar um touro "à unha".

IV. DANÇA AFRICANA

Sem lhes dar mais tempo nem repouso, parte a esgalgada filha do terreiro no
balanço exaustivo, aos golpes ferinos do gá e ao tunque-tunque dos atabaques,
em volta dos quais revolucionam as cabaças. Reaparece a tremelga viscosa, con-
vulsiva, a tresfolegar. Daí a pouco já não é figura humana; é uma harpia, uma
górgona, perseguida por um dardo secreto. Freme e tressua, rumina e devora
com as ventas túmidas o ar saturado de catinga e bafos de álcool. Braços e
tronco, pernas e cabeça agitam-se-lhe em trepidações de calafrio. Reergue-se
e oscila, as mãos abertas, os dedos hirtos, como palpando uma sombra. As
contrações do rosto, a palidez do beiço, o esgazear dos olhos já denunciam
demasiado sofrimento. É uma angústia contagiosa, de que parece sofrer todo o
terreiro. Mas esta mesma agonia exalta ainda mais as irmãs da ronda e dá-lhes
a ânsia mórbida do paroxismo. Suas vistas coruscantes parecem invejar a ditosa
dor da companheira.

-Xavier Marques

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. Filha do terreiro e. Tresfolegar i. Hirtos
b. Golpes ferinos f. Tressuar j. Esgazear dos olhos
FLOR DO LÁCIO

c. Gá g. Ventas túmidas k. Paroxismo


d. Atabaques h. Saturado de catinga 1. Coruscantes

2) Qual é a significação de ... ?


a. Balanço exaustivo h. Devora
b. Revolucionam as cabaças i. Trepidações de calafrio
c. A tremelga viscosa j. Todo o terreiro
d. Uma harpia k. Agonia
e. Górgona 1. As irmãs da ronda
f. Dardo m. Ânsia mórbida
g. Rumina n. Ditosa dor

3) Aponte no texto:
a. As comparações
b. As onomatopéias

4) Como se conjuga o verbo "resfolegar"?

5) Não se poderia dizer: "Suas vistas parece invejarem", em vez de: "Suas
vistas parecem invejar?

Estudo do plano de composição

1) Que nos descreve Xavier Marques neste trecho?

2) Divida esta descrição em três partes, a saber:


a. O início da dança
b. A dança convulsiva
c. A angústia contagiosa

3) Que pormenores descritivos contém cada uma destas partes?

4) Como se faz a transição de cada parte para a seguinte?

188
A DESCRIÇÃO

Estudo das idéias

1) Em que consiste a originalidade da dança descrita?

2) Estude as expressões com que o autor traduziu:


a. Os sons da música primitiva
6. Os movimentos da dançarina
c. O seu contagioso sofrimento

3) Analise, em poucas palavras, o estilo do autor.

4) Localize este trecho no romance O feiticeiro, de Xavier Marques.

Exercício t: vocabulário e gramática

1) Determine, por meio de sentenças apropriadas, o sentido de:


a. Esgalgada - galgaz esguia esbelta emaciada
6. Exaustivo fatigante esgotante
c. Trepidante trêmula fremente
d. Viscosa glutinosa pegajosa peganhenta

2) Empregue em curtas orações:


a. Convulsiva agitada
6. Tresfolegar resfolegar ofegar arquejar anelar
c. Dardo lança aguilhão
d. Túmidas - tumefactas - intumescidas
e. Egoísmo egotismo- egocentrismo solipsismo
f. Regirar redemoinhar rodopiar

3) Cite sinônimos de:


a. Repouso f. Calafrio k. Nédio
6. Balanço g. Hirtos 1. Cairel
e. Reaparecer h. Angústia m. Ourela
d. Devorar i. Mórbida
e. Saturado j. Ditosa
FLOR DO LÁCIO

4) Cite antônimos de:


a. Repouso e. Palidez i. Mórbido
b. Esgalgada f. Demasiado j. Ditosa
c. Ferinos g. Sofrimento
d. Hirtos h. Exaltar

5) Classifique as orações do primeiro período.

6) Aponte, nas orações classificadas:


a. O sujeito
b. O predicado

7) Cite expressões que pintem o vestuário tradicional:


a. Duma baiana
b. Duma dançarina

Exercício 11: elocução

Imitando Xavier Marques na segunda parte desce trecho, fale:


a. De uma dança clássica
b. De uma dança moderna

Exercício 111: redação imitativa

Descreva, obedecendo ao plano do autor:


a. Uma baiana dançando um samba
b. Uma dançarina executando uma dança clássica
Descrição de pessoas em ação
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA

O professor lerá à classe, previamente, uma descrição-modelo.

1) Descreva um menino ocupado em fazer sua toilette, de acordo com o


seguinte plano:
a. Moldura: a sala de banho, o toucador ou a pia (o espelho: vista; a imagem
refletida: vista; banheira: vista; o jorro de água: ouvido; as loções: olfato)
b. Vestuário: o menino, o pijama, os chinelos (adjetivos de cor: azul, verde,
róseo; listrado, pintalgado etc.)
c. Ação: os movimentos, o sabonete, as escovas, os pentes, as toalhas (verbos
de movimento: colhia, apanhava, tomava, esfregava etc.)

2) Descreva um barbeiro em seu trabalho, de acordo com o seguinte plano:


a. O salão: as cadeiras, os espelhos, o aparelho anti-séptico, a pia, os perfu-
mes, os vaporizadores, os armários etc.
b. O barbeiro e o freguês: vestuário, ligeiros traços do aspecto físico
c. As ações: atitudes e atividade
(Procure traduzir, por meio de substantivos e adjetivos bem escolhidos, sen-
saçóes de vista, ouvido, olfato e tato)

3) Descreva um pintor em seu trabalho, de acordo com o seguinte plano:


a. A moldura: o estúdio, cavaletes, telas, banquetas etc.
b. O pintor: seu indumento. Siga determinada ordem. Alguns pormenores
de forma e cor
FLOR DO LÁCIO

c. Ações: como trabalha o pintor: os instrumentos (o material empregado);


como se utiliza deles (movimentos, atividade)

4) Descreva, segundo suas observações pessoais, uma pessoa entregue ao


trabalho, como, por exemplo:
a. Um professor e. Um poeta i. Uma pianista
b. Um estudante f. Um amolador j. Um vendedor de frutas
c. Um médico g. Uma cozinheira
d. Uma dona de casa h. Um acrobata

5) Descreva, segundo suas observações pessoais, primeiramente num só pe-


ríodo e, depois, em três, as sucessivas ações de:
a. Um guarda-civil f. Um bailarino
b. Um ciclista g. Um vendedor de jornais
c. Um pescador h. Um sorveteiro ambulante
d. Um caçador i. Um palhaço
e. Um sacerdote j. Um prestidigitador em ação, no
palco dum teatro

Retratos narrativos morais

1) Descreva, numa seqüência de ações, conforme suas observações pessoais:


a. Um menino gabola (em classe, no recreio, na rua, em casa)
b. Um preguiçoso (vestuário, atitudes, procedimento, trabalho)
c. Uma vaidosa (vestuário, penteado, atitudes, ações)
d. Um presunçoso (quanto à própria coragem, inteligência, elegância e beleza)
e. Um aluno negligente e distraído
f. A agonia dum avarento, cuja avareza sobrevive a todo sentimento

2) Descreva, numa seqüência de ações, segundo suas leituras:


a. A vida dum menino em Esparta
b. A vida dum legionário romano em campanha
c. A vida de Cícero em Roma
d. A vida de Camões em Lisboa
e. A vida dum bandeirante no sertão
f. A vida de Dom João VI no Brasil
g. A vida do Imperador Dom Pedro II no Rio de Janeiro
A DESCRIÇÃO

h. A vida do Duque de Caxias em campanha


i. A vida do Marechal Floriano na presidência da República
j. O Almirante Barroso na Batalha do Riachuelo

193
Descrição de animais ou
de grupos de seres em ação

N descrição de animais em ação ou na de grupos de seres em ação, são


A
aplicáveis, mutatis mutandis, os mesmos conselhos dados e os ensinamen-
tos hauridos no estudo da descrição de pessoas em ação e da de vistas ou qua-
dros animados. O seguinte quadro sinóptico indica, resumidamente, o que se
deve observar em cada uma destas modalidades de descrição.

!
Calmas ou nervosas: de 1) Localização da cena,
a. Atitudes repouso, espreita, ataque, numa descrição feita em
defesa, fúria, medo etc. rápidos traços

Naturais ou ensinados.
Rápidos: frases e orações
1. Animais 4 É. Movimentos { curtas, sucessivas
Lentos: frases e orações 2) Aspectos amplos, de
longas, arrastadas conjunto (podendo-se
empregar figuras de estilo)

!
Traduzidas por expressões
c. Ações adequadas, onomatopéias
ou comparações
a. De pessoas Expressões coleti-
b. De animais da vas e movimentos
mesma espécie de conjunto, 3) Verbos
II. Grupos 7 e. De animais de tardos ou céleres; bastante expressivos
várias espécies expressôes de
d. Mistos, de pessoas ruído
e animais

194
Descrição de animais em ação
TEXTO EXPLICADO

O TOURO DO CIRCO

T INHAM-SE picado alguns bois. Abriu-se de novo a porta do curro, e um


touro preto investiu com a praça. Era um verdadeiro boi de circo. Armas
compridas e reviradas nas pontas, pernas delgadas, indício de grande ligeireza,
e movimentos rápidos e bruscos, sinal de força prodigiosa. Apenas tocara o
centro da praça, estacou como deslumbrado, sacudiu a fronte e, escavando a
terra, impaciente, soltou um mugido feroz no meio do silêncio que sucedera
às palmas e gritos dos espectadores. Dentro em pouco os capinhas, saltando
a pulo as trincheiras, fugiam à velocidade espantosa do animal, e dois ou três
cavalos expirantes denunciavam a sua fúria.

Rebelo da Silva

Estudo do plano de composição

1) Que nos descreve Rebelo da Silva nesta página?


R.: Ele descreve a entrada impetuosa dum touro feroz na arena de um circo,
assim como sua parada súbita e sua investida contra os toureiros.

2) Como se pode dividir este trecho?


R.: De conformidade com o plano de composição, este trecho pode ser
dividido em quatro partes:

195
FLOR DO LÁCIO

a. A entrada do touro no circo (até "praça")


b. Os característicos físicos do animal (até "força prodigiosa")
c. Sua parada no centro da praça (até "espectadores")
d. A perseguição aos capinhas (até o fim)

3) Que contém cada uma destas partes?


R.: Na primeira parte, o autor, depois de nos fazer sentir, por meio de uma
oração, que o espetáculo começara havia já algum tempo, situando-nos assim
no momento interessante, mostra-nos a porta do curro abrindo-se e por ela
entrando impetuosamente na arena um touro preto.
Na segunda, ele observa os característicos físicos mais impressionantes em
um touro de combate: chifres compridos e pontiagudos, pernas delgadas a de-
notarem grande ligeireza, e uma força descomunal que se traduzia em movi-
mentos rápidos e inopinados.
Na terceira, pinta as atitudes peculiares ao touro, ao surpreender-se no meio
de uma turba frenética e barulhenta.
Na quarta, enfim, vemos os capinhas pulando as barreiras, para fugirem à
veloz perseguição da fera, e dois ou três cavalos trespassados mortalmente por
seus chifres.

4) Como se ligam essas partes umas às outras?


R.: Os princípios da transição são tecnicamente bem aplicados neste trecho.
Depois de apresentar, na primeira parte, o touro preto, passa o autor, na segun-
da, a descrever o que há de mais impressionante em seu aspecto físico; termina-
da esta curta descrição, mostra-nos, na terceira parte, o animal chegando ao fim
da carreira iniciada na primeira. Rebelo da Silva passa da terceira para a quarta
com a expressão: "Dentro em pouco, que denota certa pausa entre a atitude
da fera e seu arremesso contra os capinhas. Esta pausa impressiona tanto mais,
quanto coincide com o silêncio geral que sucedera às manifestações do público,
estarrecido ante o vigor físico e a velocidade do animal.

Estudo das idéias

1) Que é que mais nos interessa nesta descrição? Por quê?


R.: O que mais nos interessa são as ações do touro, pois nelas focaliza o
autor sua atenção.

2) Analise os meios de expressão com que o autor pintou o touro.


A DESCRIÇÃO

R.: O autor emprega expressões simples, que transcrevem com precisão o aspec-
to físico do animal, alternando-as com observações pessoais a respeito das qualida-
des que elas denotam ("Indicio de grande ligeireza", "sinal de força prodigiosa").
Quanto a suas ações, descreve-as o autor, primeiramente, com orações cur-
tas, sucessivas e nervosas ("Estacou como deslumbrado", "sacudiu a fronte"
etc.), e, depois, deixa-nos, apenas, imaginar os fulminantes e furiosos avanços
do touro, que afugenta capinhas e malfere cavalos.

3) Quais são as expressões narrativas deste trecho?


R.: Se, na descrição, os pormenores de forma, de aspecto, de cor, de luz ou
de caráter são apresentados como uma série de análises, e se, na narração, eles
são apresentados como uma série de ações, de gestos, atitudes ou observações
pessoais que traem a presença dum observador, é bem de ver que este trecho é
fundamentalmente narrativo.
De fato, as frases e orações têm aqui a forma das frases e orações narrativas:
"Tinham-se picado alguns bois" (só um observador presente à tourada poderia
dizer isto; ele transparece, pois, no trecho, como narrando aquilo que viu);
"era um verdadeiro boi de circo"; "dentro em pouco"; "velocidade espantosa;
"denunciavam a sua fúria".
As frases e palavras descritivas acham-se, neste trecho, para servirem de ex-
plicação às frases e palavras narrativas. Isto concorre para que o touro seja co-
locado cheio de vida ante nossos olhos, com sua força prodigiosa, sua ligeireza
e sua ferocidade.

4) Com fundamentos neste trecho, diga alguma coisa acerca do estilo do autor.
R.: O autor é simples e preciso em seu vocabulário, objetivo, quase não em-
pregando figuras. O estilo é cheio de relevo e movimento, fazendo-nos ver parte
mais importante do espetáculo, com nítida sensação de realidade.

Esquema do plano de composição


a. A entrada do touro no circo: alusão a cenas anteriores (aos touros já
picados) a porta do curro abrindo-se a impetuosa entrada do animal

b. Característicos físicos: cor preta chifres compridos e revirados nas


O touro pontas pernas delgadas e nervosas movimentos rápidos e inopinados
do circo
c. Sua parada: o centro da praça estacou como deslumbrado sacudiu
a tronte escavou a terra mugiu ferozmente silêncio espectadores

d. A perseguição aos capinhas: toureiros pulando as trincheiras fugiam


ao animal veloz e furioso cavalos expirando

197
Descrição de animais em ação
TEXTOS PARA EXPLICAÇÃO

I. O JARARACUÇU

No fundo da horta existe, e há tempos já, vizinho


Ao poço e ao capinzal, um jararacuçu,
Que ao meio-dia em ponto à cerca vem, sozinho,
A esgueirar-se por entre uns soutos de bambu.

Gente que o viu colear nas moitas, de mansinho,


Diz que ele mora num grosso taquaruçu,
E sempre vai até à beira do caminho,
Mole, a aquecer ao sol ardente o dorso nu.

Se alguém o assanha, o bicho, hirto e arfante, arma o bote,


Esgargala-se, cresce, e parte, num pinote,
Precípite, a investir, rábido, a língua no ar.

E as mais das vezes, como uma rodilha enorme,


Em bolo, junto à estrada, a canícula dorme,
Longo tempo tranqüilo e manso, a modorrar.

José Severiano de Rezende


A DESCRIÇÃO

Estudo das palavras e expressões

1) Explique:
a. J araracuçu f. Assanhar k. Rábido
b. Esgueirar-se g. Hirto 1. Canícula
c. Soutos h. Arfante m. Modorrar
d. Colear i. Pinote
e. Taquaruçu j. Precípite

2) Que significam aqui ... ?


a. Mole c. Esgargala-se
b. Arma o bote d. Cresce em bolo

3) Desenvolva o sentido contido na comparação: "Como uma rodilha enorme".

Estudo do plano de composição

1) Que nos descreve o poeta neste soneto?

2) Divida esta descrição em quatro partes, a saber:


a. O jararacuçu do quintal c. O bicho assanhado
b. Sua moradia d. O sono ao sol

3) Qual é o conteúdo de cada uma destas partes?

4) Mostre que o segundo quarteto repete a idéia contida no primeiro, mas


precisando o lugar onde mora a cobra e aquele aonde ela se dirige ao meio-dia.

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse desta descrição?

2) Quais são os hábitos desse jararacuçu?

3) Em que ocasiões fica ele irritado e qual é sua reação?

199
FLOR DO LÁCIO

4) Em que participa esta descrição da natureza da narração?

Estudo da versificação

1) Quantas sílabas poéticas contém cada verso deste soneto?

2) Como se chama o verso desse número de sílabas? Por quê?

3) Quais são as sílabas em que recaem os acentos predominantes?

4) Aponte neste soneto as rimas graves, as rimas agudas, os enjambements.

Exercício !: vocabulário e gramática

1) Empregue apropriadamente em orações curtas:


a. Caminho senda vereda estrada
b. Ardente causticante adusto ignescente
c. Assanhar irritar excitar incitar
d. Hirto retesado inteiriçado
e. Arfante arquejante anelante ofegante
f. Precípite rápido veloz célere
g. Inferir deduzir concluir

2) Cite substantivos terminados em "ez" e "eza".

3) Forme orações curtas com as seguintes palavras, tanto no sentido próprio


como no figurado:
a. Dia d.Lua g. Língua
b. Noite e. Colear h. Dormir
c. Sol f. Caminho

4) Cite os advérbios equivalentes a:


a. Neste lugar i. Com rudeza
b. Nesse lugar j. Com brilho
c. Naquele lugar k. De modo que se sucedam

200
A DESCRIÇÃO

d. Em todos os tempos 1. De modo que não deixe dúvida


e. Neste momento m. Com delícias
f. Em tempo algum n. Sem pretensão
g. Com coragem o. Sem cuidado
h. Sem medo

5) Classifique as orações contidas nos dois primeiros quartetos do soneto.

6) Cite expressões que traduzam:


a. O aspecto físico dum escorpião
b. Seus movimentos

Exercício : elocução

Reproduza em prosa este soneto (oralmente).

Exercício II: redação imitativa

Imitando o autor, quanto ao plano de composição, descreva um escorpião,


que alguém assanha com uma varinha.

II. QUINCAS BORBA

"Quincas Borba!" exclamou [Rubiáo], abrindo-lhe a porta. O cão atirou-


-se fora. Que alegria! Que entusiasmo! Que saltos em volta do amo! Chega a
lamber-lhe a mão de contente, mas Rubião dá-lhe um tabefe, que lhe dói; ele
recua um pouco, triste, com a cauda entre as pernas; depois o senhor dá um
estalinho com os dedos, e ei-lo que volta novamente com a mesma alegria.
"Sossega! sossega!" Quincas Borba vai atrás dele pelo jardim fora, contorna a
casa, ora andando, ora aos saltos. Saboreia a liberdade, mas não perde o amo de
vista. Aqui fareja, ali pára a coçar uma orelha, acolá cata uma pulga na barriga,
mas de um salto galga o espaço e o tempo perdido, e cose-se outra vez com os
calcanhares do senhor. Parece-lhe que Rubião não pensa em outra coisa, que
anda dum lado para o outro unicamente para fazê-lo andar também e recuperar

201
FLOR DO LÁCIO

o tempo em que esteve detido. Quando Rubiáo estaca, ele olha para cima, à
espera; naturalmente, cuida dele; é algum projeto, saírem juntos, ou coisa assim
agradável. Não lhe lembra nunca a possibilidade dum pontapé ou dum tabefe ...
Tem o sentimento da confiança, e muito curta a memória das pancadas. Ao
contrário, os afagos ficam-lhe impressos e fixos, por mais distraídos que sejam.
Gosta de ser amado. Contenta-se de crer que o é.

- Machado de Assis

Estudo das palavras e expressões

1) Que significam aqui as expressões ... ?


a. Saboreia a liberdade
6. Galga o espaço e o tempo perdido
c. Cose-se com os calcanhares do senhor
d. Tem muito curta a memória das pancadas

2) Diga o que pensa da construção desta oração: "Não lhe lembra nunca a
possibilidade dum pontapé.

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta descrição?

2) Em que participa esta descrição da natureza da narração?

3) Divida o trecho em duas partes, dando-lhes títulos expressivos e dizendo


como se faz a transição entre elas.

4) Qual é o conteúdo de cada uma destas partes?

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse desta descrição?

2) Como exprimiu o autor... ?

202
A DESCRIÇÃO

a. Os movimentos do cão
b. O que parece o cão sentir

3) Analise, em poucas palavras, o estilo do autor.

4) Localize este trecho no romance Quincas Borba, de Machado de Assis.

Exercício t: vocabulário e gramática

1) Determine, por meio de orações curtas, o sentido de:


a. Abrir - soabrir - entreabrir - semicerrar
b. Alegria - júbilo - contentamento
c. Entusiasmo - arrebatamento - excitação
d. Saltos - cabriolas - pinchos
e. Sandeu - mentecapto
f. Onirismo - quimera

2) Empregue em orações curtas:


a. Sossegar - acalmar - aquietar - serenar tranqüilizar apaziguar
b. Contornar voltear cercar rodear circundar circunvagar
c. Saborear prelibar gozar apreciar
d. Amarelo jalde
f. Fantasma- espectro abantesma avejão
g. Evento - advento - provento
h. Irrupção erupção

3) Dê sinônimos a:
a. Contente g. Recuperar m. Afagar
b. Triste h. Detido n. Promanar
c. Voltar i. Estacar o. Postergar
d. Aquietar j. Projeto p. Calcorrear
e. Farejar k. Agradável
f. Galgar 1. Lembrar

203
FLOR DO LÁCIO

4) Quais são os homônimos de:


a. Massa h. Medo o. Pêlo
6. Caça i. Amores p. Alfinete
c. Vezes j. Tapete q. Piloto
d. Bolo k. Toda r. Soneto
e. Rolo 1. Prelo s. Portuguesa
f. Topo m. Nele t. Professora
g. Cerro n. Dele u. Garota

5) Dê antônimos a:
a. Alegria e. Perder i. Confiança
6. Entusiasmo f. Curta j. Quieto
c. Recuar g. Amar k. Recusar
d. Liberdade h. Agradável

6) Quais são os adjetivos correspondentes a ...? Forme pequenas expressões


comparativas com cada um dos nomes desses animais (modelo: "Fiel como um
-
cao .
a. Cão d. Cavalo g. Tigre
6. Gato e. Asno h.Lobo
c. Galinha f. Leão i. Elefante

7) Classifique as orações contidas no trecho final, que vai desde: "Tem o


sentimento da confiança" até o fim.

8) Determine a função de cada termo das orações classificadas.

Exercício : elocução

Imitando Machado de Assis no trecho que vai desde: "Quincas Borba vai
atrás dele" até "calcanhares do senhor", fale:
a. Dum perdigueiro acompanhando o caçador
6. Dum macaco passeando com seu dono
A DESCRIÇÃO

Exercício : redação imitativa

Descreva a alegria dum cãozinho ao rever o dono, após longa ausência.

III. LEÃO

Aviltado na sua altiva glória, ao fundo


Da jaula, cisma o leão numa atitude queda.
No olhar, que em força e brilho outro não há que o exceda,
Perpassa-lhe a visão de um sonho moribundo!

De súbito, porém, erguendo-se iracundo,


Morde a grade e, porque esta à fúria lhe não ceda,
Ao recôndito fel de ânsia espumante e azeda,
Urra sinistramente apóstrofes ao mundo!

Aquieta-se, outra vez; parece que lhe resta


Uma esperança. E à idéia hostil do seu destino,
Corre a jaula, sondando-a, então, fresta por fresta.

Urra agora do horror fatal daquele encerro!


E a turbamulta ri, vendo o rei da floresta
Na desesperação de um cárcere de ferro!

Luís Carlos

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. Aviltado e. Apóstrofes i. Fresta
b. Iracundo f. Hostil j. Encerro
c. Recôndito g. Desterro k. Turbamulta
d. Sinistramente h. Sondar

205
FL OR DO LÁCIO

2) Qual é a significação de ... ?


a. Altiva glória d. Fel de ânsia espumante e azeda
6. Uma atitude queda e. Horror fatal
c. Um sonho moribundo f. O rei da floresta

Estudo do plano de composição

1) Que nos descreve o poeta neste soneto?

2) Cada estrofe é uma parte desta composição poética; que contém cada
uma delas?

3) De um título expressivo a cada parte.

Estudo das idéias

1) Quais são as atitudes e ações do leão, e como as descreve o poeta?

2) Que sentimento impele o leão a atirar-se contra as grades da jaula e a rugir?

3) Com que expressões transcreve o poeta a fúria da fera?

4) Que idéias, atitudes e sentimentos humanos atribui Luís Carlos ao leão?


Justifique sua opinião com expressões tiradas do texto.

Estudo da metrificação

1) Prove que cada verso deste soneto conta dez sílabas poéticas.

2) Como se chamam esses versos? Por quê?

3) Estude neste soneto as cesuras, os enjambements, as rimas e os acentos


predominantes.

206
A DESCRIÇÃO

Exercício t: vocabulário e gramática

1) Empregue no sentido figurado, em curtas orações:


a. Gemer e. Brilho i. Coração
b. Soluçar f. Angústia j. Flor
c. Uivar g. Alma k. Fruto
d. Chorar h. Luz

2) Cite, explicando-lhes o sentido, homônimos de:


a. Sua i. Enfermo q. Amores
b.Fundo j. Lobo r. Posto
c. Vez k. Loba s. Porto
d. Queda l. Lodo t. Nele
e. Força m. Colher u. Lesma
f. Desterro n. Venda v. Garoto
g. Encerro o. Seda
h. Fecho (subs.) p. Sede

3) Forme o diminutivo de ...


a.Ave i. Dor q. Jardim
b. Pé j. Princesa r. Anel
c. Pó k. Chapéu s. Papel
d. Só l. Leão t. Jornal
e. Café m. Onça u. Lençol
f. Mão n. Lugar v. Flor
g. Dedo o. Balão w.Amor
h. Rei p. Pássaro
Qual é o plural destes diminutivos?

4) Como se explicam as inversões de termos neste soneto?

5) Classifique as orações contidas nos dois primeiros quartetos.

6) Determine a função de cada termo dessas orações.

207
FLOR DO LÁCIO

7) Cite adjetivos e comparações, que caracterizem o aspecto físico:


a. Da fisionomia dum gorila
b. De seu tronco
c. De seus membros

Exercício II: elocução

Decore este soneto e recite-o com expressão.

Exercício III: redação imitativa

Descreva, imitando Luís Carlos, um gorila preso numa jaula.

IV. O CÃO VADIO

De súbito, surgiu no pátio, dum corredor escuro, um cão. Um cão trivial e


sorna, que arrastava atrás de si uma velha lata vazia, de marmelada, amarrada
por mão gaiata à sua cauda. E sobre a lata vinha uma metade de tijolo. O gozo
transportava o fardo, ao léu, vagaroso, indeciso, indiferente, no tranco ordiná-
rio de vaganau despercebido. Por toda a área vagueou o cachorro, arrastando a
carga bulhenta. Pelas lajes a folha entrebatida, monótona, arrastava-se, levando
o tijolo. Ao cérbero parecia não se lhe dar do caso. Passeava pelos cantos; torna-
va ao sol; estirava-se; em três patas, coçava o ventre; prosseguia; farejava; volvia
aos mesmos pontos, a cauda estirada, o tijolo atrás, sobre a lata, chiando. Por
fim, encontrando um velho osso, voltou ao sol, estirou-se sobre o ventre, a roer
a presa, com pachorra.

Leo Vaz

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. Sorna f.Entrebatida
b. Mão gaiata g. Não se lhe dar do caso

208
A DESCRIÇÃO

c. Tranço ordinário de vaganau h. Presa


d. Despercebido i. Pachorra
e. Carga bulhenta

2) Com que diferentes palavras designa Leo Vaz o mesmo cão? Por quê?

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta descrição?

2) Divida o trecho em três partes, dando-lhes títulos expressivos.

3) Qual é o conteúdo de cada uma destas partes?

Estudo das idéias

1) Analise as palavras ou expressões que traduzem atitudes do cão e ruído.

2) Como se desenvolvem os movimentos do cão? Indique-os em suas fases.

3) Estude, em poucas palavras, o estilo do autor neste trecho.

4) Localize este trecho no romance O Professor jeremias, de Leo Vaz.

Exercício t: vocabulário e gramática

1) Cite sinônimos de:


a. Gaiato f. Bulhenta k. Sobraçar
b. Ao léu g. Estirar 1. Socavar
c. Vagaroso h. Pachorra m. Soçobrar
d. Indeciso i. Sobredourar n. Lôbrego
e. Vaguear j. Sobrasar

2) Cite nomes de raças de cães e gatos.

209
FLOR DO LÁCIO

3) Indique, com expressões adequadas, as diversas cores e aspectos dos pêlos


de cão.

4) Determine, por meio de orações apropriadas, o sentido de:


a. Trivial ordinário costumeiro habitual
b. Preguiçoso vagaroso lerdo mandrião madraço
c. Enternecimento ternura;
d. Carícias blandícias carinhos afagos

5) Classifique as orações contidas no primeiro período deste trecho.

6) Determine as funções de cada termo dessas orações.

7) Qual é o futuro do subjuntivo dos verbos "ver" e "vir"?

8) Acrescente, aos substantivos seguintes, adjetivos que exprimam forma,


aspecto e cor:
a. Gato g. Tijolo
b. Rato h. Pêlo
c. Porão i. Olho
d. Casa j. Dente
e. Parede k. Cauda
f. Chão l. Perna (de gato ou rato)

Exercício : elocução

Imitando Leo Vaz na passagem que vai desde o início do trecho até "metade
de tijolo", fale de um cavalo que arrasta pelo estribo um cavaleiro tombado.

Exercício : redação imitativa

Descreva um gato à caça de ratos, no grande porão de uma velha casa.

2IO
Descrição de animais em ação
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA

O professor lerá à classe, previamente, uma descrição-modelo.

1) Descreva uma galinha a alimentar sua ninhada, de acordo com o seguinte


plano:
a. A galinha: cor, tamanho, penas eriçadas
b. A ninhada: tamanho, forma e cor dos pintainhos
c. Ações: os pintainhos acompanham a galinha, que de vez em quando se
detém para ciscar; um ou outro corre, parecendo rolar como uma bola de feltro.
O modo de ciscar: esgaravatando o solo com os pés. O encontro dum verme
e o chamado. A corrida geral: a sofreguidão dos pintainhos, que porfiam em
arrancar o alimento do bico da galinha. Continuando a busca. Ensinando a
beber. Descansando

2) Descreva um cão à espera do dono, de acordo com o seguinte plano:


a. O aspecto físico: raça, tamanho, cabeça, orelhas, olhos, focinho, pêlos
b. Ações: choraminga, salta para um móvel perto da janela, ergue-se sobre
as patas traseiras, apóia as dianteiras na vidraça, olha para fora; desce num pulo
elástico, corre à porta de entrada, fareja o chão, volta, senta-se, gane; retorna à
janela, olha de novo, até que avista o dono
Descreva-lhe a atitude e as ruidosas manifestações de alegria

3) Descreva, numa seqüência de ações, segundo suas observações:


a. Um cão de guarda no jardim duma casa

211
FLOR DO LÁCIO

b. Um beija-flor a esvoaçar de flor em flor


c. Um papagaio atemorizado diante dum gato
d. Uma borboleta multicor, a esvoaçar num raio de sol
e. Um peru a fazer roda
f. Um alvo cisne, a nadar num lago cristalino
g. Um gato preguiçoso e glutão
h. Um cão de caça em ação
i. Um galo cantando de madrugada
j. Um potro a divertir-se num pasto verde
k. Um peixinho dourado a nadar dentro dum aquário
l. Uma cobra-coral a aquecer-se ao sol
m. Uma serpente a atacar um sapo
n. Uma onça a atacar um animal

4) Descreva, numa seqüência de ações, segundo suas observações:


a. A agilidade dum macaco ao furtar uma banana
b. A astúcia e a crueldade dum gato que apanha um camundongo
c. O devotamento dum cão policial
d. A dura vida dum cavalo de carroça
e. A vigilância duma galinha em torno de seus pintainhos
f.O "espírito" dum papagaio ao ver-se livre da perseguição de um gato

212
Descrição de grupos de seres em ação
TEXTO EXPLICADO

A FESTA DE SANTA IFIGÊNIA

D IAS antes da festa reuniam-se na igreja centenas de negras


todas a carapinha empoada de ouro - e cantando lavavam as tábuas
traziam

do templo, floriam os altares, vestiam as imagens, tapeçavam o adro de folhas


aromáticas. No dia da festa famílias negras arranchavam-se nas imediações
da igreja e os tambores da África estrugiam, vinham os descames crioulos e a
mulata, airosa e trêfega, saía pela areia semeada de rosas, nos passos do samba;
mas, quando os coros sagrados começavam, acudiam todas, as mulheres des-
cobriam as cabeças e o ouro reluzia ao sol maravilhoso. Ao fim da cerimônia
irrompia o canto feminino e as negras, uma a uma, cantando, baixavam as ca-
beças na pia e lavavam a carapinha, e o ouro depositava-se no fundo do lavabo
santo era a oferenda dos cativos à santa misericordiosa. E fora, à luz viva, os
negros batucavam nos atabaques, saudando com alarido as mulheres que volta-
vam gotejantes e louvando o Deus do Céu e a santa da devoção.

Coelho Neto

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta página?


R.: O autor apresenta-nos um cerimonial semi-religioso e semipagão, com
que os antigos escravos ofereciam ouro à santa de sua devoção.

213
FLOR DO LÁCIO

2) De quantas partes se compõe este trecho?


R.: Ele pode ser dividido em quatro partes:
a. Os preparativos (do começo a "aromáticas")
b. Nas imediações da igreja: a festa profana (até "samba")
c. A oferenda (até "santa misericordiosa")
d. O alarido dos homens (até o fim)

3) Qual é o conteúdo de cada uma destas partes?


R.: Na primeira parte, encontram-se os preparativos, que consistem na
limpeza e ornamentação do templo, realizadas pelas negras, ao som de cantos
religiosos. Na segunda, as danças profanas. Na terceira, os coros sagrados, e a
oferenda, que é feita lavando-se, na pia sagrada, as carapinhas empoadas de
ouro. Na quarta, o batucar infrene dos atabaques e a ruidosa recepção que os
homens faziam às mulheres, quando estas saíam da igreja.

Estudo das idéias

1) Quais são os pormenores desta descrição que nos causam ... ?


a. Sensações luminosas
b. Sensações auditivas
R.: Sensações luminosas: o ouro reluzia ao sol maravilhoso a luz viva.
Sensações auditivas: cantando tambores estrugiam descontes crioulos
- coros sagrados começavam irrompia o canto feminino batucavam os
atabaques alarido.

2) Há nesta descrição duas notas artísticas que se sobressaem às outras.


Quais são?
a. A areia semeada de rosas, sobre a qual dança a mulata airosa e trêfega
b. O sol a rebrilhar nas carapinhas recobertas de ouro em pó

3) Explique como as orações curtas exprimem com vigor os movimentos e


as ações das personagens, que aparecem nesta descrição.
R.: ''As negras [ ... ] lavavam as tábuas do templo, floriam os altares, vestiam
as imagens etc.: eis orações coordenadas justapostas, cada uma das quais expri-
me uma ação completa; e, como as orações são curtas, passa-se muito depressa
de uma à outra, estabelecendo-se uma cadeia de ações sucessivas, ricas de mo-
vimento. Esta explicação aplica-se a toda a descrição, composta inteiramente
de orações curtas.

214
A DESCRIÇÃO

4) Por que nos produzem impressões de originalidade e beleza as cenas aqui


apresentadas?
R.: Visto como fogem a todo ritual da religião católica, tendo, talvez, expli-
cação em algum costume primitivo das selvas africanas, essas cenas apresentam
forte cunho de originalidade, se não de exotismo. Nelas, o que nos impressiona
o senso estético são as danças, os cantos, o modo de oferecer ouro, realçados
pela música selvagem e pela ornamentação do templo e do adro.

5) Em que apresenta esta cerimônia resquícios de paganismo?


R.: A Igreja Católica é essencialmente austera e grave em todas as cerimô-
nias, ao passo que o paganismo apresentava, geralmente, um caráter festivo
-quando não era trágico-, algo semelhante ao ritual dos pretos escravos, ao
fazerem sua oferenda a Santa Ifigênia.

Esquema do plano de composição

!
A reunião das negras na igreja - suas
a. Os preparativos carapinhas empoadas de ouro limpeza
e ornamentação do templo

Nas imediações da Igreja: tambores a


b. A festa profana
j estrugirem descantes crioulos
mulata a dançar o samba
uma

A festa de
Santa Ifigênia Os coros sagrados as mulheres
descobriam as cabeças o ouro reluzia
e. A oferenda O canto feminino a lavagem
das cabeças na pia sagrada o ouro a
depositar-se no fundo da pia

À luz viva do sol: os negros a batucar nos


d. O alarido atabaques a saída das mulheres, que
dos homens cantam louvores a Deus e à santa de sua
[
devoção

215
Descrição de grupos de seres em ação
TEXTOS PARA EXPLICAÇÃO

I. A DANÇA DOS COLONOS ALEMÃES

s dançantes continuavam no compasso marcial da polaca, executando va-


O riadas figuras, ora desenhando meias-luas, ora separando-se em alas, mar-
chando frente a frente, ora fazendo evoluções de homens e mulheres, separados,
para se reunirem depois de diferentes voltas. Os movimentos eram tardas e pesa-
dos; dentro de sapatos grossos e ferrados, batendo fortemente os pés no assoalho,
arrastando-se com esforço, faziam um barulho seco, enorme, que dominava as
vozes dos instrumentos. Quando a contradança parava, os pares voltavam-se
num mesmo instante como por uma combinação mágica, e todos livres se mo-
viam vagarosamente, procurando os bancos encostados às paredes das salas ou
aos cantos das janelas. Muitos saíam até ao terreiro, para se refrescar; namorados
passeavam ali no escuro, abraçados; velhos fumavam o seu cachimbo, resmun-
gando conversas preguiçosas, até que de novo a música dava o sinal e todos
voltavam à sala, em ordem, sem o menor embaraço, passando a dançar automa-
ticamente, de charuto ou cachimbo ao queixo e chapéus na cabeça.

Graça Aranha

Estudo das palavras e expressões

1) Qual é o sentido de ... ?

216
A DESCRIÇÃO

a. Compasso marcial da polaca


b. Desenhando meias-luas
c. Alas
d. Tardos
e. Pesados
f. Ferrados
g. Um barulho seco
h. Que dominava as vozes dos instrumentos
i. Contradança
j. Como por uma combinação mágica
k. Resmungando conversas preguiçosas
l. Automaticamente
m. De charuto ou cachimbo ao queixo

Estudo do plano de composição

1) Que nos descreve o autor nesta página?

2) Quais são as partes desta descrição que correspondem aos títulos ... ?
a. As figuras e evoluções da dança
b. Os passos sapateadores
c. Após a dança
d. Durante e após o intervalo das danças

3) Que pormenores descritivos se encontram em cada uma destas partes?

4) Como se faz a transição de cada parte para a seguinte?

Estudo das idéias

1) Que é que mais nos interessa nesta descrição?

2) Estude as expressões com que o autor descreveu:


a. Os movimentos dos alemães ao dançarem

217
FLOR DO LÁCIO

6. Suas ações, quando cessava a música

3) Analise, em poucas palavras, o estilo do autor.

4) Localize este trecho no romance Canaã de Graça Aranha.

Exercício J: vocabulário e gramática

1) Forme curtas orações, que precisem o sentido de:


a. Dançante dançarino bailarino
6. Marcial bélico guerreiro
c. Tardo lento lerdo
d. Barulho ruído bulha estrépito estrondo
e. Mágico sobrenatural maravilhoso

2) Cite sinônimos de:


a. Vagarosamente e. Preguiçosas i. Desvelo
6. Sair f. Ordem j. Dipsomaníaco
c. Refrescar g. Embaraço k. Bambolear
d. Escuro h. Devaneio

3) Indique verbos que exprimam movimentos de conjunto:


a. Para a frente
6. Para trás
c. Para os lados

4) Cite palavras formadas com os prefixos "extra", "contra" e "sobre".

5) Como se conjugam nos tempos simples os verbos "florir", "reluzir" e


"estrugir"?

6) Forme certo número de orações coordenadas, ligando-as duas a duas com


as conjugações "e", "nem", "ou", "mas", "porém", "contudo", "todavia", "aliás,
9 )» 9
ora ... ora , ou ... ou , nem ... nem .

7) Analise logicamente o primeiro período deste trecho.

218
A DESCRIÇÃO

8) Acrescente, aos seguintes substantivos, um adjetivo expressivo que su-


gira aspecto, forma, cor ou ruído, e que seja seguido de pequena comparação.
Exemplo: "Bosque verde como uma grande esmeralda viva".
a. Bosque d. Avenida g. Uniformes
b. Salão e. Soldado h. Sol
c. Vestuário f. Pássaro i. Lua

Exercício : elocução

Imitando Graça Aranha nos dois primeiros períodos do texto, fale:


a. Das evoluções de numerosos escolares, numa festa desportiva
b. Das evoluções de um batalhão de soldados
c. Duma dança de tangarás

Exercício iI: redação imitativa

Descreva uma dança antiga, de que participem numerosos figurantes (qua-


drilhas, lanceiros etc.).

II. A DANÇA DOS SELVAGENS

Aos rescaldos do licor ebriático, alguns selvagens começaram a dançar. Ao prin-


cípio, dispostos em linha unida, eles executavam lentos movimentos de marcha,
acompanhados, de espaço a espaço, pela pancada violenta dada no chão com a
extremidade das longas varas de taboca, que todos empunhavam. Entraram a
chocalhar depois os maracás, ao tempo em que o bate-pé se tornava mais ner-
voso e as figuras torvelinhavam ao redor do braseiro. Os corpos frenesiados e
suaremos rutilavam ao clarão das labaredas altas e, por vezes, tinha-se a impres-
são de que curupiras chamejantes rompiam do fogo vivo para tomar parte na
sarabanda louca. Uma cantilena monótona e plangitiva, arrastada aos gemidos e
suspiros, atenuava a agitação dos instrumentos rústicos, em que os sons agudos
do boré feriam longamente a calada da noite densa que nos cercava. De onde
a onde, um dos dançadores chegava até as nossas vizinhanças e, tomando entre
as mãos uma das cuiambucas de caxiri, gargalaçava às pressas num novo trago.

Gastão Cruls

219
FLOR DO LÁCIO

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. Rescaldos f.Maracás k. Cuiambucas
b. Ebriático g. Braseiro l. Caxiri
c. Linha unida h. Atenuava m. Gargalaçar
d. Taboca i. Rústicos
e. Chocalhar j. Boré

2) Que significa aqui cada uma das expressões ...?


a. Nervoso
b. Torvelinhavam
c. Os corpos frenesiados rutilavam
d. Curupiras chamejantes
e. Rompiam do fogo vivo
f. Sarabanda louca
g. Cantilena monótona e plangitiva
h. Arrastada aos gemidos e suspiros
i. Feriam longamente a calada da noite

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta descrição? Resposta em poucas palavras.

2) Em quantas partes pode esta descrição ser dividida? Indique-as, dando-


-lhes títulos expressivos.

3) De que particularidades descritivas se compõe cada parte?

4) Como se pode provar que esta descrição se acha enquadrada numa nar-
rativa?

Estudo das idéias

1) Que é que nos desperta a curiosidade, nesta dança de selvagens?

220
A DESCRIÇÃO

2) Em que se distingue esta dança de quaisquer outras danças civilizadas?

3) Com que expressões traduziu o autor ... ?


a. Suas impressões pessoais
b. Os movimentos dos selvagens

4) Localize este trecho no romance A Amazônia misteriosa, de Gastão Cruls.

Exercício I: vocabulário e gramática

1) Empregue em algumas orações curtas:


a. Selvagem silvícola indígena índio
b. Dançar bailar
c. Cerrada fechada unida
d. Vagarosos - lentos - lerdos - indolentes - negligentes ronceiros
e. Convelir convulsionar revolucionar

2) Empregue em pequenas orações:


a. Extremidade ponta
b. Taboca taquara bambu
c. Entrar principiar iniciar encetar
d. Nervoso enérgico vivo exaltado vigoroso pujante
e. Turbilhonar redemoinhar rodopiar regirar lábil

3) Cite sinônimos de:


a. Executar g. Suarentos
b. De espaço a espaço h. Rutilar
c. Chão i. Labaredas
d. Longas j. Romper
e. Ao tempo k. Plangitiva
f. Frenesi 1. Indelével

4) Cite substantivos terminados por "al" e "edo", que indiquem coleção ou


quantidade de coisas ou animais.

221
FLOR DO LÁCIO

5) Corrija as seguintes orações, explicando o motivo da correção:


a. Iremos à Santos amanhã e regressaremos à essa cidade no fim do mês.
b. Comecemos à trabalhar
c. Falo à você
d. Pouco à pouco, o tempo clareou
e. Ela ofereceu um livro à Pedro.
f. As estacas foram fixadas de espaço à espaço
g. Paulo pôs-se à rir
h. Não prestais atenção à ninguém
i. O grande autor enviou um livro à cada amigo
j. Refiro-me à ele, não à ti

6) Diga se o infinitivo não pode ser flexionado no seguinte exemplo: "Curu-


piras rompiam do fogo para tomar parte na sarabanda".

7) Cite expressões que traduzam vozearia e ruídos de bate-pé (verbos, subs-


tantivos, adjetivos, comparações etc.).

Exercício : elocução

Imitando o autor nos dois últimos períodos do texto, fale:


a. De uma cantoria cabocla em noite de luar
b. De um "desafio" de caipiras numa noite de São João

Exercício II: redação imitativa

Descreva, imitando Gastão Cruls neste trecho, um batuque ou um cateretê.

III. O ESTOURO DA BOIADA

Vai o gado na estrada mansamente, rota segura e limpa, chã e larga, batida e
tranqüila, ao som monótono doseias! dos vaqueiros. Caem as patas no chão em
bulha compassada. Na vaga doçura dos olhos dilatados transluz a inconsciente
resignação das alimárias, oscilantes as cabeças, pendente a magrém dos peri-
galhos, as aspas no ar em silva rasteira por sobre o dorso da manada. Dir-se-ia

222
A DESCRIÇÃO

a paciência em marcha, abstrata de si mesma, ao tintinar dos chocalhos, em


pachorrenta andadura, espertada automaticamente pela vara dos boiadeiros.
Eis senão quando, não se atina por que, a um acidente mínimo, um bicho
inofensivo que passa a fugir, o grito de um pássaro na capoeira, o estalido duma
rama no arvoredo, se sobressalta uma das reses, abala, desfecha a correr, e após
ela se arremessa, em doida arrancada, atropeladamente o gado todo. Nada mais
o reprime. Nem brados, nem aguilhadas o detêm, nem tropeços, voltas ou bar-
rancos por <lavante. E lá vai, incessantemente, o pânico em desfilada, como se
os demônios o tangessem, léguas e léguas até que, exausto o alento, esmorece e
cessa, afinal, a carreira, como começou, pela cessação do seu impulso.

Rui Barbosa

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. Rota h. Manada o. Aguilhadas
b. Chá i. Tintinar p. Tropeços
c. Bulha j. Espertada q. Davante
d. Alimária k. Automaticamente r. Tanger
e. Magrém 1. Atinar s. Esmorecer
f. Perigalhos m. Capoeira
g. Aspas n. Atropeladamente

2) Qual é a significação de ..?


a. Caem as patas no chão
b. Em bulha compassada
c. Na vaga doçura dos olhos dilatados
d. Transluz a inconsciente resignação das alimárias
e. Em silva rasteira
f. Em pachorrenta andadura
g. Em doida arrancada
h. O pânico em desfilada
i. Exausto o alento

223
FLOR DO LÁCIO

3) Que quer o autor dizer com as orações ... ?


a. Dir-se-ia a paciência em marcha, abstrata de si mesma
b. Como se os demônios o tangessem

Estudo do plano de composição

1) Que nos descreve Rui Barbosa nesta página?

2) Quais são as expressões narrativas que se encontram neste trecho?

3) Divida esta descrição em duas partes, a saber:


a. A boiada em marcha
b. O estouro da boiada

4) Qual é o conteúdo de cada uma destas partes?

5) Como se faz a transição da primeira parte para a segunda?

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse desta descrição?

2) Estude as expressões com que o autor descreve:


a. O aspecto da boiada, em sua pachorrenta andadura
b. O pânico dos animais

3) Que impressão nos causam os dois grandes aspectos desta boiada?

4) Analise, em poucas palavras, o estilo de Rui Barbosa.

Exercício 1: vocabulário e gramática

1) Dê sinônimos às seguintes palavras:


a. Mansamente j. Transluzir s. Espúrio
b. Rota k. Alimárias t. Epinício

224
A DESCRIÇÃO

c. Segura l. Oscilantes u. Amarfanhar


d. Chã m. Aspas v. Ressaltar
e. Tranqüila n. Rasteira w. Debandar
f. Bulha o. Pachorrenta x. Falaz
g. Compassada p. Reprimir y. Estugar
h. Vaga q.Alento
i. Doçura r. Esmorecer

2) Que ações ou resultados de ações correspondem a ... ?


a. Ir e. Fugir i. Deter
b. Cair f. Sobressaltar j. Esmorecer
c. Transluzir g. Arremessar k. Cessar
d. Passar h. Reprimir l. Tropel

3) Cite palavras que indiquem grandes quantidades de animais.

4) Cite verbos que exprimam:


a. Correria
b. Ruído

5) Dê exemplos de orações coordenadas aditivas, alternativas, adversativas


e conclusivas.

6) Corrija as seguintes orações ou trechos de oração:


a. Fazem cinco anos que não a vejo
b. Haviam já quatro semanas que eles não se encontravam
c. Ruth saiu daqui há tempo de alcançar o trem.
d. Faça cada coisa há seu tempo e hora
e. Vós dissesteis
~. Tu falastes
g. Carlos não disse-me nada
h. Aquela que ama-te
i. Quando falou-me

7) Analise logicamente o último período do texto.

225
FL O R DO LÁCIO

Exercício : elocução

Imitando Rui Barbosa na primeira parte deste trecho, fale:


a. De um rebanho de carneiros que caminha por uma estrada
6. De um bando de cabras leiteiras que passa por uma rua

Exercício II: redação imitativa

Descreva uma galopada de cavalos através dos pampas.

IV. O ESTOURO DA BOIADA

Surge a boiada vagarosamente ... De súbito, porém, ondula um frêmito sul-


cando, num estremeção repentino, aqueles centenares de dorsos luzidios. Há
uma pausa instantânea. Entrebatem-se, enredam-se, trançam-se e alteiam-se
fisgando vivamente o espaço, e inclinam-se, embaralham-se milhares de chifres.
Vibra uma trepidação no solo; e a boiada estoura ... A boiada arranca. Nada ex-
plica, às vezes, o acontecimento, aliás vulgar, que é o desespero dos campeiros.
Origina-o o incidente mais trivial o súbito vôo rasteiro duma araquã ou a
corrida dum mocó esquivo. Uma rês se espanta e o contágio, uma descarga ner-
vosa subitânea, transfunde o espanto sobre o rebanho inteiro. É um solavanco
único, assombroso, atirando, de pancada por diante, revoltos, misturando-se
embolados, em vertiginosos disparos, aqueles maciços corpos tão normalmente
tardos e morosos. E lá se vão: não há mais como contê-los ou alcançá-los. Aca-
mam-se as caatingas, árvores dobradas, partidas, estalando em lascas e gravetos;
desbordam de repente as baixadas num marulho de chifres; estrepitam, britan-
do e esfarelando as pedras, torrentes de cascos pelos tombadores; rola surda-
mente pelos tabuleiros ruído soturno e longo de trovão longínquo ... Destroem-
-se em minutos, feitos montes de leivas, antigas roças penosamente cultivadas;
extinguem-se, em lameiros revolvidos, as ipueiras rasas; abatem-se, apisoados,
os pousos; ou esvaziam-se, deixando os habitantes espavoridos, fugindo para os
lados, evitando o rumo retilíneo em que se despenha a "arribada" milhares
de corpos que são um corpo único, monstruoso, informe, indescritível, de ani-
mal fantástico, precipitado na correria doida. E sobre este tumulto, arrodean-
do-o ou arremessando-se impetuoso na esteira dos destroços, que deixa após si
aquela avalanche viva, largando numa disparada estupenda sobre barrancos, e

226
A DESCRIÇÃO

valos, e cerros, e galhadas enristado o ferrão, rédeas soltas, soltos os estribos,


estirado sobre o lombilho, preso às crinas do cavalo o vaqueiro!

Euclides da Cunha

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. Entrebatem-se h. Acamam-se o. lpueiras
b. Enredam-se i. Caatingas p. Apisoados
c. Arrancar j. Desbordam q. Despenha
d. Campeiros k. As baixadas r. Esteira
e. Araquá 1. Tombadores s. Enristado
f. Mocó m. Tabuleiros t. Lombilho
g. Embolados n. Leivas

2) Que significam aqui ... ?


a. Ondula um frêmito
b. Uma descarga nervosa
c. Transfunde o espanto sobre o rebanho
d. Um solavanco
e. Em vertiginosos disparos
f. Marulho de chifres

3) Qual é a significação de ... ?


a. Torrentes de cascos
b. Rola ruído soturno e longo de trovão longínquo
c. Um corpo único, monstruoso, informe, de animal fantástico
d. Correria doida
e. Este tumulto
f. Avalanche viva
g. Disparada estupenda

227
FLOR DO LÁCIO

Estudo do plano de composição

1) Que descreve o autor nesta página?

2) Quais são as expressões narrativas que nela se encontram?

3) Divida esta descrição em partes, de acordo com o seguinte plano:


a. Um frêmito sacode a boiada c. O estouro
b. A causa do susto d. O vaqueiro em ação

4) Que pormenores descritivos contém cada uma destas partes?

Estudo das idéias

1) Por que é a terceira parte mais longa do que as outras?

2) Como descreve o autor... ?


a. Os movimentos da boiada ao assustar-se
b. Os movimentos da boiada quando estoura
c. Os ruídos
d. A ação do vaqueiro

3) Analise, em poucas palavras, o estilo do autor.

4) Localize este trecho no livro Os sertões, de Euclides da Cunha.

Exercício J: vocabulário e gramática

1) Empregue apropriadamente em orações curtas:


a. Ondular ondear encrespar
b. Frêmito arrepio estremeção
c. Instantânea repentina subitânea
d. Enredar-se embaraçar-se emaranhar-se
e. Fisgar arpoar espetar
f. Vulgar trivial comum corriqueiro
g. Acontecimento - evento - sucesso

228
A DESCRIÇÃO

2) De sinônimos a:
a. Espanto h. Penosamente o. Cerro
b. Misturar i. Apisoar p. Vaticinar
c. Morosos j. Monstruoso q. Augurar
d. Estalar k. Precipitar r. Acuar
e. Esfarelar 1. Arrodear s. Acossar
f. Torrente m. Destroços
g. Soturno n. Estupenda

3) D homônimos a:
a. Aqueles f. Sobre k. Cerro
b. Nada g. Revolto 1. Soltas
c. Vezes h. Rola m. Preso
d. Desespero i. Pelos n. Termo
e. Contágio j. Estes

4) Forme pequenas expressões comparativas, em que entrem como segundo


termo:
a. Boiada e. Lasca i. Roça
b. Vôo f. Pedra j. Avalanche
c. Rês g. Torrente k. Cerro
d. Árvore h. Trovão 1. Cavalo

5) Cite substantivos, que indiquem quantidade de:


a. Árvores e. Casas i. Lobos
b. Álamos f. Pessoas j. Cavalos
c. Figueiras g. Cães k. Peixes
d. Pássaros h. Carneiros

6) Conjugue, em todos os tempos, os verbos "dizer" e "querer".

7) Analise logicamente a passagem que vai desde "Surge a boiada'' até "a
boiada estoura.

8) Explique o emprego do gerúndio.

229
FL OR DO LÁCIO

9) Que significam as seguintes palavras?


a. Arrimo h. Ressaber o. Encômios
b. Despautério i. Relento p. Lobrigar
c. Descomunal j. Restrugir q. Livor
d. Multifário k. Grandíloquo r. Desavir
e. Poliforme 1. Adejar s. Avir
f. Cosmopolita m. Nosocômio t. Despercebido
g. Desalento n. Manicômio u. Desapercebido

Exercício : elocução

Imitando o autor na passagem que vai desde: "E lá se vão" até "trovão lon-
gínquo", fale:
a. De um desmoronamento de pedras da lomba dum morro
6. De um assalto de tanques de guerra a uma posição inimiga

Exercício t: redação imitativa

Descreva, também, um "estouro de boiada", com elementos tirados das des-


criçóes de Rui Barbosa e Euclides da Cunha.

V. AS BORBOLETAS

Nessas claras manhãs de firmamento escampo,


De ar mais puro e de sol mais livremente aberto,
Qual mais linda, elas vêm, ora através do campo,
Ora em trêmulo enxame através do deserto,

Como ao vento esparzido um punhado de flores,


Buscar ao pé do rio as boninas singelas,
E entrecruzar-se à luz com as variadas cores,
Brancas, verdes, azuis, rajadas e amarelas.

230
A DESCRIÇÃO

Num sereno rumor indistinto, cortando


O ar de aromas que vêm das plantas saturado,
Vejo às vezes passar o fugitivo bando
Várzea ao longe, estendendo o vôo prolongado.

Umas rente vão à crômula das folhas,


Outras voam mais alto, entrefechando e abrindo
A asa, outras vão do rio acompanhando as bolhas,
A água, a pena erradia e as espumas seguindo ...

Té que em meio de um vale onde a corrente brame


E revolta borbulha e rodopia inquieta,
Em suspensa coluna, o selvático enxame
Baila e treme do sol à carícia secreta ...

Al berto de Oliveira

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras desta poesia:


a. Escampo e. Várzea i. Rodopia
b. Singelas f. Crômula j. Inquieta
c. Cortando g. Entrefechar k. Baila
d. Saturado h. Borbulhar

2) Por que escreveu o poeta "té" em vez de "até"?

3) Que significam as expressões ... ?


a. Sol mais livremente aberto
b. Trêmulo enxame
c. Sereno rumor
d. O fugitivo bando
e. A pena erradia
f. A corrente brame
g. Suspensa coluna
h. O selvático enxame

231
FLOR DO LÁCIO

4) Quais são as inversões de termos que se encontram no texto? Para que


servem?

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta poesia? Responda em poucas palavras.

2) Dê um título expressivo a cada estrofe.

3) Que pormenores descritivos contém cada estrofe?

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse desta descrição?

2) Como descreve Alberto de Oliveira ... ?


a. O aspecto das borboletas
b. Seus movimentos

3) Com que expressões nos transmite o poeta suas sensações ... ?


a. De cheiro
b. De ruído
c. De luz

4) Que impressão geral nos produz este quadro?

Estudo da metrificação

1) Quantas sílabas poéticas conta cada verso desta poesia?

2) Sobre que sílabas recaem os acentos predominantes?

3) Estude nesta poesia as cesuras, os enjambements, as rimas e sua disposição.

232
A DESCRIÇÃO

Exercício t: vocabulário e gramática

1) Cite antônimos de:


a. Claras d. Singelas g. Alto
b. Escampo e. Sereno h. Revolta
c. Linda f. Estender i. Inquieta

2) Empregue como advérbios, em curtas orações:


a. Dito c. Duro e. Forte
b. Baixo d. Claro f. Barato

3) Escolha algumas palavras na poesia; forme, com elas, cinco metáforas e


cinco comparações.

4) Explique o emprego do gerúndio, no texto.

5) Explique o emprego do infinitivo, no exemplo: "Vejo passar o fugitivo


bando".

6) Analise logicamente a terceira estrofe.

7) Cite substantivos, adjetivos, verbos e comparações que traduzam os di-


versos tons das cores verde, amarela e vermelha.

8) Forme expressões onomatopaicas que traduzam o barulho dum bando


de araras em vôo.

Exercício : elocução

Decore e recite, com expressão artística, esta poesia.

Exercício II: redação imitativa

Imitando Alberto de Oliveira, descreva, em prosa ou poesia, um bando de


araras em vôo.

233
FLOR DO LÁCIO

VI. OS PASSARÕES

De espaço em espaço, mas sempre em imensas chusmas, os passarões calavam-


-se serenamente do azul e de asas ao pairo, revoluteando em lindos vôos espira-
lados, vinham ter às nossas vizinhanças. Era tal a profusão de corpos brancos,
que se diria uma abundante e singular nevada, caindo de chofre sobre as galas
da natureza verde. E, para que maior ainda fosse a ilusão, à medida que as
aves baixavam, as árvores iam-se vestindo de uma nívea florescência, que lhes
tomava, a pouco e pouco, os troncos e os galhos e, surgindo aqui em pequenos
flocos, rompendo ali em largas manchas, alastrava-se pelos ramos acima até
assenhorear-se de toda a copagem, que se enfunava então no mais esplendente
dossel de arminho branco. E, assim, por todos os lados, uma só alcatifa de pe-
nas cândidas e frouxeladas, que afestoava a vegetação, cobria o solo, coalhava os
lagos e se estendia pelas ribanceiras além, branquejando as perspectivas.

Gastão Cruls

Estudo das palavras e expressões

1) Explique o sentido das palavras:


a. Chusmas e. De chofre i. Enfunava
6. Asas ao pairo f. Alastrava-se j. Frouxeladas
c. Revoluteando g. Assenhorear-se k. Afestoava
d. Vôos espiralados h. Copagem

2) Que significam aqui ... ?


a. Calavam-se serenamente do azul g. Largas manchas
6. Abundante e singular nevada h. Esplendente dossel
c. As galas da natureza i. Arminho branco
d. Iam-se vestindo j. Alcatifa de penas cândidas
e. Nívea florescência k. Coalhava os lagos
f. Pequenos flocos 1. Branquejando as perspectivas

3) Explique o emprego do pronome "se" neste trecho.

234
A DESCRIÇÃO

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta descrição?

2) Divida o trecho em três partes, colocando-as pela ordem, sob os títulos:


a. A descida dos passarões brancos
b. A nívea florescência das árvores
c. A alcatifa de penas cândida

3) Como se ligam estas partes?

4) Que ordem seguiu o autor nesta descrição?

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse desta descrição?

2) Quais são os movimentos de conjunto aqui descritos e que meios empre-


gou Gastão Cruls para exprimi-los?

3) Explique as mudanças de cor na paisagem.

4) Qual é a impressão geral, resultante do estudo deste trecho? Por quê?

5) Quais são as expressões que denotam vigorosas sensações visuais?

Exercício t: vocabulário e gramática

1) Cite palavras que exprimam vozes de pássaros.

2) Cite palavras que indiquem linhas e figuras geométricas.

3) Tome no trecho cinco palavras que estejam no sentido figurado e empre-


gue-as, com o sentido próprio, em algumas sentenças.

4) Forme cinco comparações, em que o segundo termo seja uma das palavras:

235
FLOR DO LÁCIO

a. Neve d. Carvão g. Púrpura


b. Arminho e. Anil
c. Sangue f. Esmeralda

5) Cite dez verbos que exprimam cor.

6) Analise logicamente o primeiro período do trecho.

7) Não se poderia dizer "até assenhorearem-se" em vez de "até assenhorear-se"?

8) Explique o emprego do gerúndio.

9) Cite três verbos que exprimam cheiro agradável e três que exprimam
cheiro desagradável.

Exercício : elocução

Imitando o autor na passagem que vai desde: "De espaço a espaço" até
"natureza verde", fale:
a. De urna nuvem de gafanhotos
b. De uma tempestade iminente
c. De manobras militares

Exercício : redação imitativa

Descreva, obedecendo ao plano do autor neste trecho, um bando de ando-


rinhas que desce para o telhado de uma velha igreja.

236
Descrição de grupos de seres em ação
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA

1) Descreva, de acordo com o seguinte plano, um incêndio e a ação dos


bombeiros:
a. O incêndio: a hora, o prédio, o fogo e seus efeitos de luz, as labaredas
crescentes, os balcões de fumo negro, os desabamentos
b. Os bombeiros: a sereia, a chegada ruidosa dos carros, os homens do fogo,
o cordão de isolamento, as escadas, as bombas, as mangueiras, os jorros de água

2) Descreva, de acordo com o seguinte plano, uma caça às borboletas no


campo:
a. Um piquenique: uma árvore frondosa, sua sombra, uma toalha estendida,
pratos, talheres, garrafas, cestos, comestíveis, uma família numerosa
b. A borboleta: as crianças avistam uma linda borboleta pousada numa flor.
Um dos meninos procura apanhá-la ... Que acontece? (Descreva as precauções
que ele toma, para evitar que a borboleta se assuste e voe)
c. A perseguição: gritos, correrias, risadas. Chapéus, lenços e bonés servem
para tentar pegar a borboleta, que esvoaça doidamente

3) Descreva, de acordo com o seguinte plano, os vendedores de jornais, a


uma hora movimentada do dia.
a. Descreva a animação duma rua central, à tarde; os transeuntes, suas atitu-
des; os automóveis, os bondes (movimento e ruído)
b. Fale a seguir dos vendedores de jornais; seus gritos ao apregoarem as últi-
mas edições, seus movimentos e suas ações

237
FL OR DO LÁCIO

c. Descreva, finalmente, os compradores, seus chamados, suas atitudes

4) Descreva uma cena de rua, em que um homem apresenta cães amestra-


dos, de acordo com as seguintes indicações:
a. O homem
6. Os cães
c. O público

5) Descreva, procurando produzir uma impressão de repouso e intimidade,


um serão em família, de acordo com as seguintes indicações:
a. A sala de jantar ou a sala de estar, à noite
6. A família reunida
c. Ações e atitudes de cada membro da família

6) Descreva o aspecto e os movimentos dum grupo de crianças nas seguintes


cenas:
a. Uma demonstração de ginástica figurada
6. Uma partida de futebol
c. Um recreio escolar animado
d. Um desfile da juventude
e. Uma sessão de patinação
f. A saída da escola no primeiro dia de férias
g. Uma festa infantil no salão nobre da escola
h. Um parque infantil nas horas de animação
i. Uma representação teatral infantil
j. Em torno da árvore de Natal

7) Descreva o aspecto e os movimentos dum grupo de homens ou duma


grande multidão nas seguintes cenas:
a. Uma casa em construção f.O fim do dia no centro da cidade
6. A colheita do café g. A procissão do enterro
c. Uma parada militar h. Um baile
d. Um motim i. Um casamento
e. Uma missa dominical j. A chegada da FEB vitoriosa (Força
Expedicionária Brasileira)
A DESCRIÇÃO

8) Descreva o aspecto e os movimentos dum grupo de animais nas seguintes


cenas:
a. Uma grande jaula de feras d. O despertar dum galinheiro
b. Uma corrida de cavalos e. Os papagaios no milharal
c. Uma briga de cães f. A passagem duma boiada

9) Descreva as seguintes cenas históricas, guiando-se por gravuras, reprodu-


çóes de quadros ou leitura:
a. O Descobrimento da América e. A Batalha dos Guararapes
b. O Descobrimento do Brasil f. A Partida das Monções
c. A Primeira Missa no Brasil
d. A Chegada de Tomé de Sousa
à Bahia

239
Descrição de ações num quadro

A descrição de ações num quadro assemelha-se, pela estrutura, à descrição


[ e quadros ldou vistas animadas, diferenciando-se unicamente pela propor-
ção entre o quadro, que serve de fundo, e as cenas.
Na descrição de vistas animadas, o local, onde elas se passam, deve, geral-
mente, constituir uma ligeira, se bem que expressiva, indicação, enquanto que,
na descrição de ações num quadro, ele será, quer pelo movimento descritivo,
quer pelo seu próprio tamanho, igual ou quase igual às ações que formam as
cenas.
Assim, por exemplo, ao descrevermos um navio em luta com os vagalhóes,
poderemos agir de duas formas, segundo o interesse que desejamos despertar
no leitor pelo conjunto do quadro ou, apenas, pelo barco em perigo: 1) em-
prestamos o mesmo desenvolvimento ao aspecto das águas turbilhonantes e às
manobras do navio (vista animada); 2) ou, então, sugerimos a grandiosidade
do cenário, em rápidas pinceladas, passando, em seguida, a mostrar as ações
do navio (ações num quadro), por meio dos recursos literários indicados: va-
riedade de pormenores descritivos, cuidadosa seleção de verbos de movimento,
inversões de termos (para realçar a ação), orações curtas ou longas, conforme a
vivacidade ou a lentidão dos movimentos etc.
Quanto ao mais, temos de atender aos conselhos indicados nas anteriores
explicações das diversas modalidades de descrição e nos "Conselhos práticos de
redação" (página 48).
Descrição de ações num quadro
TEXTO EXPLICADO

NOITE JOANINA

N o terreiro vasto vermelhejava, estalidante, a grande fogueira. A súcia das


crianças dali tirava batatas e canas assadas, rompendo em grita na parti-
lha. Espoucavam foguetes, rodinhas giravam na ponta de vassouras e bambus,
bichas detonavam dentro de latas vazias. "Viva São João! Viva!", gritava a miu-
çalha delirando. No céu límpido as estrelas iam abrigar-se sob a tenda nívea
da Via Láctea. Um balão subia, subia, ponto ígneo perseguido pelas curvas
dos rojões, rojões de lágrimas desdobrados em arco-íris de centelhas, rojões de
assovio zunindo a vaiarem o ar.

Escragnolle Dória

O assunto Escragnolle Dória descreve aqui um dos aspectos mais pin-


turescos da noite de São João numa fazenda brasileira: vemos a tradicional
fogueira, a queima dos fogos e os balões.

O plano de composição Notam-se neste trecho duas partes:


a. O terreiro iluminado pela fogueira
b. Os fogos
O conteúdo de cada uma delas é o seguinte:
Da primeira: vasto terreiro grande fogueira crianças tirando do fogo,
entre alegres gritos, batatas e canas assadas.
Da segunda: foguetes rodinhas na ponta de vassouras e bambus bi-
chas e latas vazias O entusiasmo da criançada o céu límpido e as estrelas
o balão e os rojões.
A caprichosa disposição desses elementos descritivos reconstitui um peque-
no quadro, formado pelo vasto terreiro, que uma fogueira ilumina e onde se
praticam várias ações, constituídas pelo que fazem as crianças e pela queima
dos fogos.

O interesse descritivo O autor procura fazer-nos ver e sentir o quedes-


creve, tentando representar com exatidão o aspecto das coisas, os ruídos, as
ações. Em conseqüência, ele caracteriza os pormenores descritivos com palavras
expressivas e evocativas. Assim, por exemplo:
A fogueira vermelhejava, estalidante
As crianças rompiam em grita ou gritavam, delirando
Os foguetes espoucavam
As rodinhas giravam
As bichas detonavam dentro das latas
Um baião subia, como um ponto ígneo
Atrás dele, subiam em curvas, os rojões, dos quais uns se desfaziam em
arco-íris de centelhas e outros assoviavam, zunindo
Com expressões tão bem escolhidas, e que transcrevem com precisão os
aspectos, as cores e os ruídos, tem-se, na verdade, a impressão de assistir a uma
noite de São João na fazenda.

Esquema do plano de composição


a. O terreiro: grande fogueira crianças alegres batatas
e canas assadas

b. Os fogos: foguetes rodinhas girando na ponta de vas-


Noite joanina
souras e bambus bichas detonando dentro de latas vazias
- o entusiasmo da criançada o céu límpido e as estrelas
O balão nas alturas - rojões de lágrimas multicores e de
assOv1o
Descrição de ações num quadro
TEXTOS PARA EXPLICAÇÃO

I. O TREM DE FERRO

Entre bulcóes de fumo, indómito, ofegando,


Como ao sabor de um cego desatino,
Rola ruidoso o trem, ruidoso e formidando,
Por vales, serras e rechás, vibrando
Na marcha triunfal do seu destino.

Ora num arremesso agudo de investida,


Ora coleando, a exemplo das serpentes,
Exprime sempre o ardor de uma ânsia indefinida,
Fugaz, vencendo as várzeas e vertentes,

Pontes e túneis, curvas e tangentes.


E assim, de solidão em solidão fugindo,
Sempre na mesma irreprimível ânsia

De circundar, ovante, o Globo, em giro infindo,


Vive à mercê da própria e íntima instância,
Na sedenta conquista da distância ...

Luís Carlos

243
FL OR DO LÁCIO

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. Indômito e. Rechás i. Tangentes
b. Ofegando f. Colear j. Ovante
c. Ao sabor g. Fugaz k. Instância
d. Formidando h. Vertentes

2) Que significam as expressões ... ?


a. Balcões de fumo e. O ardor de uma ânsia indefinida
b. Um cego desatino f. Em giro infindo
c. Marcha triunfal do seu destino g. A sedenta conquista da distância
d. Um arremesso agudo de investida

3) Que inversões de termos se encontram nesta poesia? Para que servem?

Estudo do plano de composição

1) Que nos descreve Luís Carlos neste trecho? Responda em poucas palavras.

2) Quais são as partes desta descrição que se referem aos seguintes títulos:
a. A marcha triunfal de um destino
b. O ardor de uma ânsia indefinida
c. A sedenta conquista da distância

3) Que pormenores descritivos contém cada parte?

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse deste trecho?

2) Quais são os quadros sucessivos por onde passa o trem?

3) Que versos imitam o ruído do trem? Como se chama essa figura?

244
A DESCRIÇÃO

4) Com que expressões transcreve o autor os movimentos do trem?

5) Que impressão nos causa esse trem? Prove-o com expressões tiradas do
texto.

Estudo da metrificação

1) Quantas sílabas poéticas conta cada verso deste trecho?

2) Sobre que sílabas recaem os acentos predominantes?

3) Estude neste trecho as cesuras, as rimas e sua disposição.

Exercício t: vocabulário e gramática

1) Forme pequenas expressões comparativas, em que entrem como primeiro


ou segundo termo as palavras:
a. Trem e. Rolar i. Serpente
b. Fumo f. Ruidoso j. Turbilhão
c. Ofegar g. Vibrar
d. Cego h. Colear

2) Cite advérbios de modo, que signifiquem:


a. Com avidez g. Sem paciência m. Em paz
b. Com bondade h. Sem obediência n. Em triunfo
c. Com generosidade i. Sem atenção o. De preferência
d. Com prudência j. Sem regularidade p. Por hábito
e. Com honra k. Sem constância q. Por instinto
f. Com medo l. Em silêncio

3) Empregue em pequenas orações a expressão "é que" como realce de um


sujeito (modelo: "Nós é que vencemos a batalha").

4) Empregue em curtas orações a palavra "que:


a. Como pronome relativo e. Como conjunção causal

2 45
FLOR DO LÁCIO

6. Como pronome interrogativo f. Como conjunção final


c. Como conjunção integrante g. Como conjunção consecutiva
d. Como conjunção temporal h. Como conjunção comparativa

5) Empregue em orações curtas, no imperativo afirmativo e negativo, os ver-


bos "dar", "fazer", "conduzir", "compor, "queixar-se", "abster-se", "manter",
"ir", "vir", "ver", "pôr-se", "ferir-se".

6) Cite expressões que traduzam:


a. Serenidade
6. Agitação crescente de ondas
c. Ruído de vento e de ondas

Exercício : elocução

Decore e recite, com expressão, este trecho de poesia.

Exercício mi: redação imitativa

Imitando o autor, descreva um navio a vapor cortando mares bonançosos ou


procelosos, fundeando em ilhas e ligando continentes.

II. CENA RURAL

Muito branca, numa eminência do terreno que se alongava para o rio, a igre-
jinha palpitava de flâmulas e bandeirolas multicores, com a larga porta central
quase oculta por um grande arco de bambus entretecido de palmas e folhagens.
Todo o caminho, descendo da casa da fazenda até a várzea, e daí subindo,
quase em espiral, a contornar o outeiro, para o adro da capela, estava coberto
de areia clara do rio e juncado de folhas e flores silvestres. Os sinos trinavam
desde o alvorecer, alvissareiros e felizes, como se tivessem a noção de que se
apossavam de uma terra nova, virgem até ali daquelas vibrações. E ainda nessa
manhã chegavam sertanejos, por água e por terra. Os primeiros desciam o rio
em canoas, a remo ou a varejão, em geral criaturas amarelentas, esgrouviadas e
magras, tiritantes de sezóes. Dos últimos uns a pé, outros a cavalo. Quando
A DESCRIÇÃO

eram famílias, o marido se repimpava no matungo desferrado, com uma crian-


ça à frente dos arreios, outra à garupa, e a mulher trotava a pé, à retaguarda,
equilibrando uma trouxa à cabeça e sustendo ao colo o filho pequeno. Sob as
árvores, à pequena distância da igreja, iam-se largando os cavalos arreados que,
ao retroarem as primeiras bombas e morteiros, se assustavam, aos pinchos e
corcovos, rebentando as rédeas, esfuziando pelos pastos em galopes desvairados,
perseguidos logo pelos matutos em aliança, a chocalhar imaginários buçais,
engo d an d o-os.. "C'o ... o '.... co, ... o '.... co,,.....
,,

- Veiga Miranda

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. Eminência f. Juncado k. Retroar
b. Entretecido g. Alvissareiros l. Morteiros
c. Várzea h. Varejão m. Buçal
d. Outeiro i. Esgrouviadas n. Engodar
e. Adro j. Se repimpava

2) Que significam aqui ... ?


a. A Igrejinha palpitava de e. Aos pinchos e corcovos
flâmulas e bandeirolas f. Esfuziando pelos pastos
b. Os sinos trinavam g. Galopes desvairados
c. Tiritantes das sezóes
d. O matungo desferrado

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta descrição?

2) Quais são as passagens desta descrição, que correspondem aos títulos ... ?
a. A igrejinha enfeitada d. Os sertanejos chegam
b. O caminho de areia clara e. Os cavalos assustados
c. Os sinos alvissareiros

247
FL OR DO LÁCIO

3) Faça um curto resumo de cada uma destas passagens.

Estudo das idéias

1) Qual é o quadro que serve de pano de fundo às ações descritas nesse tre-
cho? Como o descreve Veiga Miranda?

2) Quais são as ações que aparecem neste quadro? Como as descreve o autor?

3) Que impressão nos causam ... ?


a. O quadro de fundo
b. Os sertanejos

4) Analise, em poucas palavras, o estilo do autor.

Exercício t: vocabulário e gramática

1) Empregue em curtas orações:


a. Rural- campestre agreste
b. Eminência saliência altura
c. Outeiro cerro coxilha colina
d. Areia cascalho saibro
e. Juncar atapetar tapizar alfombrar alcatifar
f. Esguias- esgrouviadas esbeltas galgazes- esgalgadas
g. Prescrever proscrever
h. Prever antever

2) De sinônimos a:
a. Branca h. Suster o. Zimbrar
b. Alongar i. Retroar p. Vilta
c. Oculta j. Assustar-se q. Augúrio
d. Caminho k. Pinchos r. Perene
e. Últimos l. Desvairado s. Baliza
f. Repimpar-se m. Engodar t. Torvelim
g. Arreio n. Acúmen
A DESCRIÇÃO

3) Forme pequenas expressões comparativas, em que entrem como segundo


termo:
a. Rio g. Areia m. Árvore
b. Flâmula h. Sino n. Bomba
c. Bambu i. Alvorecer o. Torres cuspidatas
d. Folhagem j. Manha p. Céu caliginoso
e. Outeiro k. Água
f. Capela l. Canoa

4) Cite verbos que exprimam:


a. Zunido c. Estampido
b. Vozeria d. Corrida veloz

5) Que diferença há entre ... ?


a. Engodar e engordar d. Ratificar e retificar
b. Eminência e iminência e. Aspirar, inspirar e expirar
c. Emergir e imergir

6) Componha cinco períodos, em cada um dos quais entre:


a. Uma subordinada integrante subjetiva
b. Uma subordinada integrante objetiva direta
c. Uma subordinada integrante predicativa

Exercício : elocução

Imitando Veiga Miranda nos dois primeiros períodos, fale:


a. De um arco de triunfo, armado para a recepção de soldados vitoriosos
b. De uma rua de pequena vila, ornamentada para a passagem duma pro-
cissão religiosa

Exercício II: redação imitativa

Descreva uma quermesse numa vila distante, realizada no jardim público


fronteiro à igreja matriz. No meio da festa são queimados fogos de artifício, que
assustam os cavalos amarrados, pelos roceiros, ao redor do jardim.

249
FLOR DO LÁCIO

III. O MILAGRE DAS CHUVAS NO NORDESTE

Uma manhã lá no Cajapió (Joca lembrava-se como se fora na véspera), acordara


depois duma grande tormenta no fim do verão. A madrugada estava orvalhada,
mas serena, e ele se erguera da sua rede para ver o tempo. Um grande tapete de
verdura fresca e úmida parecia ter descido do céu e coberto como um manto
misterioso o campo ... Os olhos perdiam-se na campina alegre; o gado festejava
o rebentar da vida na terra e comia a erva tenra; um bando de marrecas passava
grasnando, pousava aqui, levantava o vôo acolá, buscava mais longe a região
dos eternos lagos ... Dias inteiros de chuvas; o pasto agora era farto, a água
porfiava em vencê-lo, e quando mais tarde o dilúvio se interrompia, viam-se
na vasta savana verde pontos claros que eram o refrigério dos olhos. Eram os
primeiros lagos. Em volta deles uma multidão de aves aquáticas brincavam
descuidosas e ostentavam as penas de cores vivas e quentes. Vinham pássaros de
toda a parte: pernaltas com o seu bico de colher, marrecas em algazarra, jaçanãs
leves e tímidas; e a tarde, quando o céu se vestia de nuvens cinzentas, notava-se
desfilar, ora o bando marcial e rubro dos guarás, ora a ala virgínia e branca das
garças ... No fundo dos lagos multidão de peixes borbulhavam por encanto. E
em tudo o mesmo milagre de ressurreição, de rejuvenescimento, de expansão e
de vida.

Graça Aranha ( Canaã)

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. Tormenta d. Algazarra g. Garças
b. Porfiar e. Jaçanã h. Borbulhavam
c. Savana f. Guarás

2) Substitua, no texto, por verbos mais expressivos:


a. Viam-se
b. Notava-se desfilar

3) Que significam aqui ... ?


a. Um grande tapete de verdura f. Os eternos lagos
b. Como um manto misterioso g. O dilúvio
A DESCRIÇÃO

c. Os olhos perdiam-se h. O refrigério dos olhos


d. Campina alegre i. O céu se vestia de nuvens
e. O gado festejava o rebentar da vida

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta descrição?

2) Divida o trecho em duas partes, a saber:


a. O aspecto matinal dos campos, após a primeira chuva
b. Os primeiros lagos

3) Que pormenores descritivos se encontram em cada parte?

4) Como se faz a transição de uma para outra destas partes?

Estudo das idéias

1) Que proporções assumem, ordinariamente, as secas no nordeste brasi-


leiro?

2) Que efeito produzem as chuvas nas terras dessa região?

3) Com que expressões descreve Graça Aranha a ressurreição da terra?

4) Estude as expressões com que ele caracteriza as aves aquáticas.

5) Que impressão geral nos causa esta paisagem?

Exercício I: vocabulário e gramática

1) Dê sinônimos a:
a. Lembrar i. Tenra q.Monda
b. Acordar j. Buscar r. Cerce
FL OR DO LÁCIO

c. Tormenta k. Farto s. Selva


d. Verão 1. Multidão t. Umbrosa
e. Orvalho m. Pressagiar u. Ubérrimo
f. Tapete n. Enrascada v. Feraz
g. Manto o. Achincalhe w. Feral
h. Alegre p. Reboto x. Redolente

2) Empregue em curtas sentenças, no sentido próprio e no figurado:


a. Tormenta e. Refrigério i. Tapete
6. Verão f. Céu j. Cerne
c. Logo g. Nuvem
d. Dilúvio h. Vida

3) Forme pequenas expressões comparativas, empregando como segundo


termo:
a. Manhã g. Campina m. Fogo
6. Verão h. Bando n. Gelo
c. Madrugada i. Vôo o. Vulcão
d. Orvalho j. Lagos p. Abismo
e. Rede k. Garças q. Energúmeno
f. Manto 1. Peixes

4) Forme curtas sentenças, empregando no sentido metonímico:


a. Trabalho c. Cruz e. Audácia
6. Garrafa d. Amor f. Champanha

5) Tendo por assunto "As chuvas e a terra, componha uma pequena descri-
ção constituída de seis orações coordenadas.

6) Como se explica a concordância do verbo com o sujeito na oração: "Uma


multidão de aves aquáticas brincavam"?

7) Cite expressões que traduzam:


a. Claridades evanescentes
6. Penumbra crescente
A DESCRIÇÃO

Exercício II: elocução

Imitando o autor no trecho que vai desde: "Eram os primeiros lagos" até
"jaçanãs leves e tímidas", fale:
a. De um grupo de crianças a brincar perto de um lago num parque
b. De animais selvagens aproximando-se dum bebedouro

Exercício III: redação imitativa

Descreva esta mesma paisagem, considerada, porém, ao anoitecer.

253
Descrição de ações num quadro
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA

1) Descreva, primeiramente num só período e depois em três, os seguintes


quadros, assinalando os efeitos de conjunto, os grupos e os indivíduos:
a. Uma linda praia à hora do banho
b. A piscina elegante dum clube, à hora dos exercícios de mergulho
c. A plataforma duma estação no momento da partida de um trem
d. O salão de festas duma escola, num dia de formatura
e. Um acampamento de ciganos, perto duma pequena cidade
f. Um casamento elegante numa bela igreja
g. O pátio arborizado duma escola à hora do recreio

2) Descreva, primeiramente num só período e depois em três, os seguintes


quadros, pintando alternadamente os cenários, as personagens e seus movimentos:
a. Um baile carnavalesco num salão ornamentado a caráter
b. Um piquenique em lindo bosque
c. Uma festa íntima
d. Uma nuvem de gafanhotos descendo sobre um cafezal
e. Uma corrida de cavalos no Jóquei-Clube

3) Descreva, tentando observar a cor local:


a. Uma missa nas catacumbas de Roma, nos pródromos do cristianismo
b. Um combate de gladiadores no Circo de Roma
c. Uma representação de Moliêre na sala do Petit-Bourbon
d. Bandeirantes abrindo caminho através duma floresta

254
A DESCRIÇÃO

e. A Proclamação da Independência do Brasil na colina do lpiranga


f. A Batalha do Riachuelo
g. A Retirada de Laguna (assinalando o estoicismo do soldado brasileiro)
h. O Combate dos 18 de Copacabana perto do mar
i. Um veleiro em dificuldade no mar agitado
j. Uma caravana de exploradores nos gelos polares

255
Descrição de sucessão
de quadros ou de fatos

N ESTA modalidade de descrição, transcrevem-se fatos ou quadros, que se


vão sucedendo uns aos outros, em estreita conexão. Analisemos rapida-
mente o que há de essencial, tanto em sua primeira, quanto em sua segunda
forma:

1) A sucessão de fatos: Nesta forma, que freqüentemente coincide ou tem


pontos comuns com a descrição de vistas animadas, de seres em ação ou de
ações num quadro, empregam-se orações curtas ou longas conforme sequei-
ram traduzir movimentos vivos ou lentos -, assim como inversões de termos,
onomatopéias e outras figuras de estilo, para pôr em realce um fato, uma ação,
uma pessoa, e para exprimir com vigor os aspectos, os sons e os ruídos. O que,
todavia, caracteriza acentuadamente esta espécie de descrição é que nela se no-
tam três momentos: antes, durante e depois, indicando o cenário ou o início,
o apogeu, e o esmorecimento ou o fim do desenrolar dos fatos, arrematado, às
vezes, por um complemento do cenário.

2) A sucessão de quadros: Esta forma apresenta uma série contínua, seja de


pequenas descrições de paisagens, como as que se pode apreciar durante uma
viagem ferroviária ou uma excursão automobilística, seja de cenas que, em de-
terminado espaço de tempo, nos mostram como se iniciaram, desenvolveram e
terminaram. É mister, aqui, evitar enumerações frias e vulgares, procurando-se
sempre o pinturesco, isto é, tudo o que nos surpreende o olhar, tudo o que
A DESCRIÇÃO

poderia constituir, pela variedade, beleza ou originalidade dos elementos des-


critivos, assunto de uma tela artística.
As cenas ou quadros, que se sucedem, exigem, pela razão mesma de seu
número, uma descrição curta, sugestiva e bela; devem guardar, também, relati-
vamente umas às outras, certa proporção harmoniosa, embora o interesse, que
cada qual desperte, lhes possa determinar, ocasionalmente, um desenvolvimen-
to algo maior do que o das outras.
Ademais, as transições entre elas merecem todo o cuidado e todo o capri-
cho, a fim de que não se rompa a continuidade da exposição, nem se esfacele a
estrutura do conjunto.

257
Descrição de sucessão de quadros ou de fatos
TEXTO EXPLICADO

OS ELEFANTES

O areal infinito é como um rubro oceano,


Que resplandece, mudo, em seu leito espraiado.
Ondula, imoto, o céu cor de cobre, do lado
Do horizonte em que habita o formigueiro humano.

Nem rumor e nem vida ... O leão, farto, descansa


No antro afastado, em meio aos matagais infindos.
Vai beber a girafa esguia à fonte mansa,
Que a pantera conhece, ao pé dos tamarindos.

Dorme tudo. Sequer um pássaro no ar quente,


No ar em que gira um sol de fogo, um sol em chama.
Às vezes, com volúpia, adormida serpente
Faz ondular, morosa, a rutilante escama.

O ar inflamado queima. O calor é mais denso.


E, bamboleando a massa intrépidos viajantes,
Rumo do ermo natal, pelo deserto imenso,
Vão-se, num bando escuro, os cardos elefantes.

Vêm eles do horizonte ensangüentado e quieto,


Vêm levantando o pó, que em nuvem grossa ondeia.
A DESCRIÇÃO

E, para não sair do caminho mais reto,


Desmoronam com a pata os cômoros de areia.

Velho chefe, talvez, é o que à frente caminha:


Rugosa como um tronco a pele do seu dorso;
É um rochedo a cabeça ... O arco imenso da espinha
Dobra-se, com violência, ao mais pequeno esforço.

Os passos não estuga e também não lerdeia,


Que os passos pelo dele o bando inteiro marca,
E, deixando após si fundos sulcos na areia,
Seguem todos, atrás do velho patriarca.

Seguem, levando a tromba apertada entre os dentes,


As orelhas em leque. O ventre bate e fuma ...
E o suor deles produz uma ligeira bruma
No ar cheio de tavões e de insetos ardentes.

Mas que importam a sede e o calor sufocante?


Que lhes importa o enxame importuno que esvoaça?
Vai o bando a pensar numa silva distante
Primeira habitação da primitiva raça.

Vai rever uma selva umbrosa o escuro bando ...


E o caudal em que nada o hipopótamo enorme,
E onde, brancos de luar, iam beber, quebrando
Os juncos marginais com a grande pata informe.

Lá vão ... E a linha escura e fantástica ondeia ...


Lá vão eles, molgando as juntas lentamente.
Mas passam ... e depois fica imóvel a areia,
Passam ... e depois fica o deserto somente.

Ricardo Gonçalves

O assunto Esta poesia é uma tradução, em versos alexandrinos dispostos


quatro a quatro, como no original francês, de Leconte de Lisle.
O poeta descreve, em algumas estrofes, um deserto tropical, pelo qual faz
passar um bando de elefantes, que ruma para a terra natal.
Vêem-se, nesta descrição, quadros sucessivos, em que se podem observar três
momentos distintos: antes, durante e depois.
259
FLOR DO LÁCIO

A composição O plano de composição comporta seis partes, que apre-


sentam, uma após outra, descrições diversas:
a. O deserto, silencioso e ardente
b. As massas escuras dos elefantes ao longe
c. O chefe do bando
d. O desfile dos elefantes cansados e suaremos
e. O estado de alma do rebanho em marcha
f. O aspecto do deserto após a passagem

O interesse Apraz-nos ver passar esses elefantes, cuja forma se precisa cada
vez mais à medida que se aproximam, permitindo-nos distinguir-lhes os porme-
nores físicos e os movimentos, assim como reconhecer os sentimentos que os ani-
mam; depois, acompanhamo-los com os olhos até desaparecerem no horizonte.

O estilo O estilo, que as freqüentes repetições de palavras enfraquecem


sensivelmente na tradução ("Bando", "ondula", "passos", "seguem", "pata", "ar"
etc.), ora é narrativo, ora descritivo, conforme quer o poeta representar o mo-
vimento do bando e seu obscuro sonho, ou pintar à parte um grupo de seres
ou o cenário.

Esquema do plano de composição


a. O deserto silencioso: o areal imenso o céu de cobre o leão
em repouso os matagais infindos a girafa a fonte mansa a
pantera os tamarindos a quietude da natureza sol de fogo -
a adormida serpente

b. Os elefantes ao longe: o ar inflamado o calor o bando escuro


dos elefantes o horizonte ensangüentado e quieto os cômoros
de areia

e. O chefe: sua posição, em relação ao bando sua pele rugosa


Os elefantes { sua cabeça seus movimentos
d. O desfile: a marcha do bando os sulcos na areia a tromba
entre os dentes as orelhas em leque seu cansaço os tavões e
os insetos ardentes

e. O estado de alma: os tormentos (a sede, o calor, os insetos) a


preocupação (a selva natal, o caudal onde bebiam)

f. Sua desaparição no horizonte: a linha escura que ondeia o de-


serto imóvel e silencioso

260
Descrição de sucessão de quadros ou de fatos
TEXTOS PARA EXPLICAÇÃO

I. A CAVALGADA

A lua banha a solitária estrada ...


Silêncio ... Mas além, confuso e brando,
O som longínquo vem-se aproximando
Do galopar de estranha cavalgada ...

São fidalgos que voltam da caçada;


Vêm alegres, vêm rindo, vêm cantando:
E as trompas a soar vão agitando
O remanso da noite embalsamada ...

E o bosque estala, move-se, estremece ...


Da cavalgada o estrépito que aumenta
Perde-se após no centro da montanha ...

E o silêncio outra vez soturno desce ...


E límpida, sem mácula, alvacenta,
A lua a estrada solitária banha.

Raimundo Correia
FLOR DO LÁCIO

Estudo das palavras e expressões

1) Explique o sentido das seguintes palavras do texto:


a. Fidalgos d. Cavalgada g. Límpida
6. Trompas e. Estrépito h. Sem mácula
c. Remanso f. Soturno i. Alvacenta

2) Que significação tem aqui ... ?


a. A lua banha a solitária estrada d. O bosque estala, move-se, estremece
6. Estranha cavalgada e. O estrépito perde-se
c. A noite embalsamada

3) Explique as inversões de termos, neste soneto.

Estudo do plano de composição

1) Que nos descreve Raimundo Correia neste soneto?

2) Quais são as passagens desta descrição que se referem ... ?


a. À estrada enluarada e silenciosa d. Ao bosque estrepitante
6. Ao tropel que se aproxima e. À volta ao silêncio
c. Aos fidalgos caçadores

3) Faça um curto resumo de cada uma destas passagens.

4) Como se ligam elas umas às outras?

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse desta descrição?

2) Que pormenores descritivos pintam a paisagem noturna que serve de


fundo ao desfile dos caçadores?

3) Como descreve o poeta ... ?


a. O ruído crescente da cavalgada
A DESCRIÇÃO

b. A atitude dos fidalgos que passam


e. O apogeu do ruído e seu desvanecimento

Estudo da metrificação

1) Que é um soneto? A que gênero pertence?

2) De quantas sílabas poéticas se compõe cada verso deste soneto?

3) Quais são as sílabas em que recaem os acentos predominantes?

4) Mostre onde se acham as cesuras, neste soneto.

Exercício !: vocabulário e gramática

1) Cite sinônimos de:


a. Solitária g. Fidalgos m. Soturno
b. Estrada h. Voltar n. Límpida
c. Brando i. Alegres o. Escuro indelével
d. Longínquo j. Remanso p. Exício
e. Aproximar k. Embalsamada q. Confinar
f. Estranha 1. Estrépito r. Enfunar

2) Que diferença há entre...?


a. Estrada rota, atalho e picada f. Involução e evolução
b. Alvacenta, alvejante e alvadio g. Factício e fictício
c. Silêncio e mutismo h. Acroático e acroamático
d. Trompa, trombeta e corneta i. Acro e agro
e. Mácula, mancha e nódoa

3) Que verbos e adjetivos correspondem a ... ?


a. Luz c. Noite e. Silêncio
b. Som d. Centro f. Mácula
FLOR DO LÁCIO

4) Forme sentenças, empregando em sentido figurado as palavras:


a. Luz d. Sol g. Jóia
b. Som e. Calor h. Víbora
c. Noite f. Flor

5) Faça a análise lógica dos dois tercetos.

6) Cite expressões que pintem:


a. O aspecto físico de seis bois
b. Nuvens de pó
c. Uma planície

Exercício : elocução

Decore este soneto e recite-o com expressão.

Exercício II: redação imitativa

Descreva uma boiada que surge ao longe, clareada pelo luar, e que se apro-
xima, afasta e desaparece no horizonte.

II. UM TREM PARTE DE SÃO PAULO

O chefe do trem trilou por duas vezes o apito e, alternando, respondeu-lhe o


mugido curto e rouco da locomotiva, num eco rápido pelas arcadas da Estação
da Luz. O comboio largou macio e resvalou ao longo da plataforma, ganhando
velocidade em crescentes impulsos. A fumarada da chaminé anuviou o recinto,
invadiu em ondas os carros e lançou nos ares novelos pardacentos que se de-
senrolaram turbilhonando, ascenderam esgarçados e se confundiram na garoa
da manhã de inverno. Nos quadros das janelinhas perpassaram, instantâneas, a
correr para trás, a ponte da Rua Couto de Magalhães, as muralhas da Soroca-
bana," cabinas, postes, máquinas, vagões. Apareceram, à direita, o Bom Retiro,
bairro feito de cortiços a formigar em redor de grandes fábricas; à esquerda, os

1o Sorocabana: estrada de ferro paulista.


A DESCRIÇÃO

Campos Elíseos, na sua pretensiosa mediania de velho arrabalde aristocrático,


que a Avenida11 e o Higienópolis" desbancaram. A imagem do Sagrado Co-
ração de Jesus, na ponta da torre salesiana, pareceu tombar para a frente, esfu-
mada e indecisa na cerração. Passaram vertiginosamente as estações de Barra
Funda, Agua Branca e Lapa,' com um ar britânico em seus tijolos vermelhos,
engradados de branco. O casario rareou, o P-3 cortou em reta várzeas planas
como lagos e transpôs, num fragor de rebôos, a ponte do Tietê." Para trás ficava
a capital paulista.

Rúbens do Amaral

Estudo das palavras e expressões

1) Explique, sem recorrer a sinônimos, as seguintes palavras do texto:


a. Trilou f. Cortiços k. Vertiginosa
b. Alternando g. Aristocrático 1. Várzeas
c. Arcadas h. Desbancaram m. Transpôs
d. Anuviou i. Esfumada
e. Turbilhonando j. Indecisa

2) Explique as seguintes expressões do texto:


a. Mugido curto e rouco i. A formigar
b. Largou macio j.Pretensiosa mediania
c. Resvalou crescentes impulsos k. Pareceu tombar
d. Em ondas 1. Um ar britânico
e. Novelos pardacentos m. Tijolos vermelhos, engradados de
f. Ascenderam esgarçados branco
g. Se confundiram n. Cortou em reta
h. A correr o. Fragor de rebôos

II Avenida Paulista: avenida toda ladeada de palacetes e edifícios suntuosos.

12 Higienópolis: um dos bairros elegantes de São Paulo.

13 Outros bairros de São Paulo.

14 Tietê: rio que banha a cidade de São Paulo.


FLOR DO LÁCIO

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta descrição?

2) Divida o trecho em duas partes, que correspondam aos títulos:


a. Na Estação da Luz
b. Aspectos de São Paulo

3) Que pormenores descritivos contém cada uma destas partes?

4) Como se faz a transição da primeira parte para a segunda?

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse desta descrição?

2) De que modo traduziu o autor ... ?


a. A movimentação do trem
b. O aspecto da fumaça
c. Os aspectos de São Paulo

3) Mostre como as expressões empregadas no sentido figurado servem para


exprimir as impressões pessoais do autor.

4) Localize, se possível, este trecho no romance Terra roxa, de Rúbens do


Amaral.

Exercício t: vocabulário e gramática

1) Empregue apropriadamente em curtas orações:


a. Responder replicar retrucar
b. Mugido rugido bramido urro
c. Rápido ágil veloz
d. Macio tenro suave
e. Resvalar escorregar deslizar
f. Propagar disseminar noctívago

266
A DESCRIÇÃO

2) Cite verbos da mesma família que:


a. Ondas e. Quadros i. Frente
b. Novelos f. Direita j. Estação
c. Manhã g. Velho k. Lagos
d. Inverno h. Imagem

3) Forme pequenas comparações, cujo segundo termo seja:


a. Trem d. Fumaça g.Torre
b. Mugido e. Muralha h. Mar
c. Locomotiva f.Lago

4) Que diferença há entre ... ?


a. Ascender e acender c. Estação e estacionamento
b. Esfumado e esfumaçado d. Mugir e mungir

5) Explique a concordância do verbo com o sujeito em:


a. Passará o céu e a terra
b. Remédios, mudanças de ares, dieta, nada lhe fez bem

6) Cite expressões que traduzam o aspecto:


a. De casas de diversos estilos;
b. De ruas, avenidas e praças
c. De pontes e rios
d. De campos, pastagens, rebanhos e bosques

Exercício : elocução

Obedecendo, tanto quanto possível, à construção fraseológica dos três pri-


meiros períodos, fale:
a. Do início de uma partida de futebol
b. Do início de uma corrida de cavalos
c. Do início de uma corrida de automóveis
FLOR DO LÁCIO

Exercício II: redação imitativa

Descreva, em sucessão de quadros, a partida dum trem de outra cidade que


não São Paulo.

III. O PRAZER DE VIAJAR

la viajar! Viajei. Trinta e quatro vezes, à pressa, bufando, com todo o sangue na
face, desfiz e refiz a mala. Onze vezes passei o dia no vagão, envolto em poeirada
e fumo, sufocado, a arquejar, a escorrer de suor, saltando em cada estação para
sorver desesperadamente limonadas mornas que me escangalhavam a entranha.
Catorze vezes subi derreadamente, atrás dum criado, a escadaria desconhecida
de um hotel; e espalhei o olhar incerto por um quarto desconhecido; e estra-
nhei uma cama desconhecida donde me erguia, estremunhado, para pedir em
línguas desconhecidas, um café com leite que sabia a fava, um banho de tina
que me cheirava a lodo. Oito vezes travei bulhas abomináveis na rua com co-
cheiros que me espoliavam. Perdi uma chapeleira, quinze lenços e duas botas,
uma branca, outra envernizada, ambas do pé direito. Em mais de trinta mesas-
-redondas esperei tristonhamente que me chegasse o boeuf à la mode, já frio,
com molho coalhado e que o copeiro me trouxesse a garrafa de Bordéus que
eu provava e repelia com desditosa carantonha. Percorri, na fresca penumbra
dos granitos e dos mármores, com pé respeitoso e abafado, vinte e nove cate-
drais. Trilhei molemente, com uma dor surda na nuca, em catorze museus,
cento e quarenta salas revestidas até aos tetos de Cristos, heróis, santos, ninfas,
princesas, batalhas, arquitetura, verduras, sombrias manchas de betume, triste-
zas das formas imóveis. E o dia mais doce foi quando em Veneza, onde chovia
desabaladamente, encontrei um velho inglês de penca flamejante que habitara
o Porto ... Gastei seis mil francos. Tinha viajado.

Eça de Queirós

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. Bufar f. Mesa-redonda k. Verduras
b. Arquejar g. Penumbra 1. Desabaladamente

268
A DESCRIÇÃO

c. Derreadamente h. Dor surda m. Banho de tina


d. Estremunhado i. Ninfas
e. Espoliar j. Arquiteturas

2) Que significam aqui as expressões ... ?


a. Com todo o sangue na face f. Com pé respeitoso e abafado
b. Espalhei o olhar incerto g. Trilhei molemente
c. Que sabia a fava h. Sombrias manchas de betume
d. Bulhas abomináveis i. Tristezas das formas imóveis
e. Desditosa carantonha j. Penca flamejante

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta página?

2) Que contém este trecho: uma descrição ou uma narrativa? Por quê?

3) Quais são, neste trecho, as passagens em que o autor fala ... ?


a. De suas viagens desagradáveis
b. De suas passagens por hotéis desconhecidos
c. De suas altercações com os cocheiros
d. De seus objetos perdidos
e. De suas melancólicas refeições
f. De suas visitas a catedrais e museus
g. De seu contentamento em Veneza

4) Qual é o conteúdo de cada uma destas passagens?

Estudo das idéias

1) Qual parece ser o estado de alma do viajante? Por quê?

2) Em que tom narra ele seus dissabores?


FLOR DO LÁCIO

3) Se ele não encontrava prazer em suas viagens, por que as fazia, entáo,
tantas vezes?

4) Prove, com exemplos tirados do texto, como o autor sabe ser pinturesco,
não só em relaçáo às coisas, como às próprias atitudes e movimentos.

5) Que impressáo nos causa a precisáo com que ele enumera os sucessivos
episódios de suas viagens?

Exercício t: vocabulário e gramática

1) É artigo ou preposição o "à' da expressão: "Sabia a fava"?

2) Empregue apropriadamente em curtas orações:


a. Bufar esbaforir arquejar ofegar
b. Sufocado abafado estrangulado
e. Sorver absorver beber
d. Escangalhar arruinar estragar
e. Lodo barro limo lama
f. Desvanecer dissipar noctâmbulo noctívolo licnóbio

3) Dê sinônimos a:
a. Estremunhado f. Tristonhamente k. Manchas
b. Pedir g. Desditosa 1. Imóveis
c. Bulhas h. Penumbra m. Doce
d. Abomináveis i. Respeitoso n. Desabaladamente
e. Espoliar j. Molemente o. Flamejante

4) Dê sinônimos a:
a. Esgueirar e. Inefável i. Argüir
b. Esquivar f. Impoluto j. Esgarçar
c. Entabular g. Estancar k. Escurejar
d. Encabular h. Inquinar

5) Diga quais são os homônimos de:

270
A DESCRIÇÃO

a. Vezes h. Deveras o. Pôde


b.Lodo i. Esse p. Sobre
c. Molho j. Este q. Pêlo
d. Porto k. Dele r. Colher (verbo)
e. Acerto 1. For s. Colheres (verbo)
f. Cor m. Nele
g. Corte n. Fosse

6) Quais são os verbos da mesma família que ... ?


a.Sangue e.Lodo i. Surda
b. Poeira f.Garrafa j. Santo
c. Morna g. Fresca k. Dia
d. Cama h. Dor

7) Cite expressões que traduzam:


a. Cansaço
b. Irritação

8) Analise logicamente o período que começa em: "E o dia mais doce".

Exercício : elocução

Imitando Eça de Queirós na passagem que vai desde o começo do trecho até
"entranha", fale de viagens em trens elétricos, modernos, dotados de conforto
e luxo.

Exercício I: redação imitativa

Descreva, em sucessão de fatos, os incidentes, desagradáveis ou cômicos, so-


brevindos a um viajante comercial novato, que vai pela primeira vez ao sertão.
Descrição de sucessão de quadros ou de fatos
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA

Descreva, como sucessão de fatos ou de quadros, as seguintes cenas:

1) A chegada dum trem à estação (as plataformas e as pessoas que esperam;


o pessoal que se prepara; o sinal da campainha; o trem à vista; a diminuição de
velocidade; a parada; viajantes que descem ou sobem; a agitação; o trem torna
a partir).

2) Uma revista militar (a avenida está livre; a espera nas tribunas ou palan-
ques; tropas estacionadas ao longe; a chegada das autoridades; música; o esta-
do-maior; a infantaria; forças do exército; da aeronáutica; da polícia militar; a
cavalaria; a artilharia; as unidades motomecanizadas).

3) Regresso de barcas a um porto de pesca (as mulheres e as crianças na


praia; velas ao longe; a chegada das barcas; desembarque dos pescadores e do
peixe; a manifestação de júbilo das famílias).

4) A chegada de uma corrida de cavalos ( os cavalos partem; emoção dos


espectadores; as peripécias da corrida; luta final; ovação ao vencedor).

5) A passagem de um trem misto (você está, casualmente, perto de uma por-


teira de estrada de ferro; ruídos distantes; fumaça; o barulho vai aumentando;
passa o trem, rugindo e estrondando; viajantes debruçados às janelas; aonde irão).

272
A DESCRIÇÃO

6) A chegada de um bando de andorinhas.

7) Uma fita cinematográfica.

8) Uma procissão.

9) Um desfile escolar no dia 7 de setembro.

10) Formigas retornando ao formigueiro.

273
II
Conversação

N A conversação, o que, principalmente, nos interessa, é a semelhança com


a nossa linguagem cotidiana, é o assunto empolgante ou atraente, é o
encanto ou a originalidade dos conceitos emitidos, é a vivacidade das interpe-
lações, interrogações, réplicas, exclamações, e, até mesmo, do tom e das modu-
lações da voz, das pausas e reticências expressivas, de todos os recursos, enfim,
com que traduzimos as sutilezas de nossas impressões, opiniões, sentimentos e
estados de alma.
Dela podem participar diversos interlocutores ou apenas dois (diálogo).
Quando uma pessoa está só e fala consigo mesma, temos um monólogo ou
solilóquio.
Encontra-se a conversação nos relatos, narrações, cartas, fábulas, anedotas,
discursos, contos, romances e peças teatrais. Seu característico literário é, como
nas cartas, a linguagem afetiva, que, conforme diz G. von der Gabelentz, não
serve apenas para o homem exprimir alguma coisa, mas também para se expri-
mir a si próprio, traduzindo seus sentimentos:
1) Por meio de uma construção fraseológica especial, na qual se deve levar
em conta a escolha das palavras e o lugar que lhes é atribuído na frase.
2) Pela entonação ou inflexão da voz, pela rapidez ou pela lentidão da fala,
pela intensidade de tom de tal ou qual palavra.
3) Pela atitude do corpo, pelo gesto, ou, mesmo, pela expressão do olhar.

Ademais, pode a conversação ser expressa de duas formas, a saber:

275
FLOR DO LÁCIO

1) Pelo discurso direto, em que são textualmente reproduzidas as palavras,


tais como foram enunciadas.
2) Pelo discurso indireto, em que são, apenas, relatadas.

É claro que a primeira destas formas apresenta muito mais ação, vigor e
movimento.
Conversação
TEXTO EXPLICADO

I. APELO DE DOM JOÃO I A AFONSO DOMINGUES

D OM João I fala a Afonso Domingues, arquiteto do Mosteiro de Santa


Maria: "Houve um dia em que nós ambos fomos pelejadores: eu tornei
célebre o meu nome, a consciência mo diz, entre os príncipes do mundo, por-
que segui avance por campos de batalha; ela vos dirá, também, que a vossa fama
será perpétua, havendo trocado a espada pela pena com que traçastes o dese-
nho do grande monumento da independência e da glória desta terra. Rei dos
homens do aceso imaginar, não desprezeis o rei dos melhores cavaleiros, os ca-
valeiros portugueses! Também vós fostes um deles; e negar-vos-eis a prosseguir
na edificação desta memória, desta tradição de mármore, que há de recordar
aos vindouros a história de nossos feitos? Mestre Afonso Domingues, escutai
os ossos de tantos valentes que vos acusam de trairdes a boa e antiga amizade.
Vem de todos os vales e montanhas de Portugal o soído desse queixume dos
mortos: porque, nas contendas da liberdade, por toda a parte se verteu sangue e
foram semeados cadáveres de cavaleiros! Eia, pois: se não perdoais a Dom João
I uma suposta afronta, perdoai-a ao Mestre de Avis, ao vosso antigo capitão,
que, em nome da gente portuguesa, vos cita para o tribunal da posteridade,
se refusais consagrar outra vez à pátria vosso maravilhoso engenho, e que vos
abraça, como antigo irmão nos combates, porque, certo, crê que não querereis
perder na vossa velhice o nome de bom e honrado português".

Al exandre Herculano

2 77
FLOR DO LÁCIO

Estudo das palavras e expresses

Mestre título dado às pessoas que se tornavam peritas ou versadas numa


arte ou ciência. Era também aplicado aos chefes de ordem militar ou religiosa.
Mosteiro residência de uma comunidade religiosa.
Perpétua que durará sempre.
Vindouros que virão mais tarde (à posteridade).
Feitos façanhas, atos heróicos.
Soído som, ruído.
Refusar recusar.
Homens de aceso imaginar homens de imaginação viva, ardente.
Memória monumento levantado para comemorar feitos históricos célebres.
Tradição de mármore o próprio monumento, considerado como trans-
missor, à posteridade, de glórias do passado.
Queixume dos mortos temos aqui uma figura, pela qual o autor como
que avoca a si a queixa e a reclamação dos mortos.
Contendas da liberdade lutas que visam a conquistar a liberdade.
Maravilhoso engenho excelso talento.
Trocar a espada pela pena no trecho, trocar a carreira militar pela arqui-
tetura (metonímia).
Foram semeados cadáveres de cavaleiros morreram tantos, que recobriam
o solo como sementes lançadas pelo semeador.

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto deste trecho?


R.: É a transcrição das palavras dirigidas por Dom João o Mestre de Avis,
1,
a Afonso Domingues, a quem apela, em veementes expressões de sentimento
e nobreza, para que se coloque de novo, olvidando amargo ressentimento pes-
soal, à frente das obras do Mosteiro da Batalha, destinado a perpetuar a memó-
ria dos heróis mortos pela glória e independência de Portugal.

2) Divida o trecho em quatro partes, dando-lhes títulos.


R.: No plano de composição deste trecho, pode-se observar quatro idéias
principais:
a. Os ilustres guerreiros (desde o princípio até "glória desta terra")
b. Os cavaleiros portugueses (desde "rei dos homens do aceso imaginar" até
"história de nossos feitos")
CON VERSAÇÃO

c. O queixume dos mortos (desde "Mestre de Avis" até "semeados de cadá-


veres " etc. )
d. O tribunal da posteridade (desde "eia, pois" até o fim)

3) Como se ligam estas partes umas às outras?


R.: A primeira parte liga-se à segunda por uma transição suave, essa "inter-
pelação ao rei dos homens do aceso imaginar", com que Dom João 1, cioso de
suas prerrogativas reais, faz questão de reconhecer a soberania do gênio.
Da segunda para a terceira, faz-se a transição com nova apóstrofe: "Mestre
Afonso Domingues, em que o rei emprega magnífica e dramática prosopopéia,
invocando os heróis tombados nos campos de batalha, onde aguardam, entre
queixumes, a edificação do monumento que lhes perpetuará a memória.
Da terceira para a quarta, ele conclui os seus argumentos com esse "eia,
pois, que exprime, ao mesmo tempo, amizade e exortação, e quase a certeza de
sua vitória sobre o coração do velho arquiteto.

Estudo das idéias

1) Quem foi Dom João 1?


R.: Dom João 1,
0 Mestre de Avis, foi filho de Pedro, o cruel, e reinou de

1385 a 1433.

2) Em que tom fala o rei para convencer o velho arquiteto?


R.: O rei emprega quase todos os recursos da eloqüência, atingindo o tom
patético.

3) Justifique a resposta anterior.


R.: Visando a despertar emoções na alma de Mestre Afonso Domingues, usa
o rei dos seguintes recursos:
a. Recorda a vida militar de ambos, passada nos campos de batalha
b. Alude, em seguida, à glória artística que aureolava o nome do maior ar-
quiteto de Portugal
c. Compara a hierarquia da inteligência com a hierarquia nobiliárquica e
política, colocando-se destarte em pé de igualdade com seu antigo irmão de
armas
d. Evoca a memória dos antigos companheiros mortos, cujos ossos se acham
espalhados por toda a extensão do território pátrio

279
FLOR DO LÁCIO

e. E, num impulso de amizade pessoal pelo velho arquiteto, apela para o tri-
bunal da posteridade, que o julgará severamente, se persistir em recusar à pátria
o serviço de sua inteligência privilegiada
Cada um desses argumentos tem singular força persuasiva; em conjunto,
eles hão de abalar as últimas resistências da alma sensível do velho artista.

é) A que suposta afronta se refere Dom João 1?


R.: Refere-se à substituição de Mestre Afonso Domingues, que enceguecera,
por outro arquiteto (Mestre Ouguet), na direção das obras do mosteiro."?

5) Que impressão nos causa este trecho?


R.: A impressão é a de um pequeno, mas completo discurso. Notamos aqui:
a. Um exórdio: o soberano fala da celebridade de que tanto ele como o ar-
quiteto souberam revestir os próprios nomes
b. Os argumentos: ele procura convencer o velho, empregando, numa ri-
queza de tons de voz que facilmente se adivinham, apóstrofes, interrogações,
exclamações, isto é, figuras sentimentais características da eloqüência
c. A peroração, com o apelo pessoal à amizade do arquiteto e uma citação
para o julgamento das gerações futuras

Neste discurso, o movimento fraseológico acompanha os movimentos da


alma, formando assim o movimento oratório; e todo ele é um primor de com-
posição e de estilo romântico, harmonioso, rico e pomposo.

15 Ler Lendas e narrativas, de Alexandre Herculano.

280
Conversação
TEXTOS PARA EXPLICAÇÃO

I. OS TRÊS TALISMÃS

"fvEé preciso para aprender?" perguntou um filho ao pai. "Para apren-


?der, para saber e para vencer" respondeu o pai "é preciso buscar
os três talismãs: a alavanca, a chave e o facho". "E onde encontrá-los?" in-
terroga o filho. "Dentro de ti mesmo" explica o pai. "Os três talismãs
estão em teu poder e serás poderoso, se quiseres fazer uso deles". "Não com-
preendo" diz o filho cada vez mais intrigado. "Que alavanca é essa?". "A
tua vontade. É preciso querer, é preciso remover obstáculos para aprender". "E
a chave?". "O teu trabalho. É preciso esforço para dar volta à chave e abrir o
palácio do saber". "E o facho?". "A tua atenção. É preciso luz, muita luz, para
iluminar o palácio. Só assim poderás ver com clareza e descobrir a verdade, que
vence a ignorância".

Teodoro de Morais

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras:


a. Talismã d. Intrigado
b.Alavanca e. Remover obstáculos
c. Facho f. O palácio do saber
FLOR DO LÁCIO

2) Explique a concordância da palavra "preciso" na expressão: "É preciso


luz, muita luz".

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto deste trecho?

2) Em quantas partes se divide esta historieta? Aponte-as no texto.

3) Faça um curto resumo deste trecho, empregando o discurso indireto.

Estudo das idéias

1) Mostre como o interesse desta historieta está na lição que o pai deu ao
filho.

2) Que qualidades são necessárias para aprender?

3) Com que símbolo designou o pai cada uma dessas qualidades?

4) Em que vence a verdade à ignorância?

5) Por que são curtas e, muitas vezes, elípticas as frases desta conversação?

Exercício I: vocabulário e gramática

1) Empregue em orações curtas:


a. Preciso indispensável imprescindível
b. Perguntar interrogar interpelar
c. Responder - replicar - retorquir retrucar
d. Uso serventia emprego
e. Multifário multiforme multífluo
f. Carícias blandícias
CONVERSAÇÃO

2) Empregue em orações curtas:


a. Intrigado enleado perplexo
b. Remover afastar desviar apartar
c. Obstáculo impedimento rêmora estorvo barreira em-
baraço óbice
d. Teosofia teogonia cosmogonia

3) Dê sinônimos a:
a. Buscar f. Trabalho k. Base
b. Facho g. Luz l. Engravitar-se
c. Encontrar h. Iluminar m. Derreado
d. Poderoso i. Clareza
e. Querer j. Ponta

4) Dê exemplos das seguintes figuras de estilo:


a. Interrogação c. Apóstrofe e. Prosopopéia
b. Exclamação d. Imprecação

5) Que adjetivos correspondem a ...? Quais são os étimos destes substantivos?


a. Filho e. Vontade i. Luz
b. Pai f. Trabalho j. Verdade
c. Irmão g. Saber k. Ignorância
d. Uso h. Atenção

6) Dê antônimos a:
a. Aprender e. Trabalho i. Luz
b. Saber f. Abrir j. Verdade
c. Poderoso g. Palácio
d. Uso h. Atenção

7) Cite palavras, de qualquer categoria gramatical, que dêem idéia de estu-


do, esforço e tenacidade.

8) Retire do texto as orações apositivas (intercaladas), analisando-lhes os


termos.
FLOR DO LÁCIO

9) Que significam as seguintes palavras ... ?


a. Esquadrinhar h. Engulho o. Estorcegar
b. Acoimar i. Perfulgente p. Esfuzilar
c. Acinesia j. Esgaivar q. Esguardar
d. Esfraldar k. Esgar r. Esmoer
e. Esfrangalhar 1. Estomagar s. Gazear
f. Esfoguear m. Esgrouviado
g. Vágado n. Esgalgar

Exercício : elocução

Imitando Teodoro de Morais no trecho que vai desde o começo do texto até
"uso deles", fale:
a. Dum menino que conversa com o pai a respeito de lealdade, patriotismo
e espírito de sacrifício
b. Duma jovem que conversa com a mãe acerca da fé, da esperança e da
caridade
c. Dum estudante que interpela o professor a respeito da liberdade, da igual-
dade e da fraternidade

Exercício 111: redação imitativa

Reproduza, imitando o autor, um diálogo entre uma aluna e uma professo-


ra, que tenta demonstrar àquela serem os estudos, o esforço e a tenacidade as
chaves mágicas do sucesso na vida.

II. OUVIR ESTRELAS

Ora (direis) ouvir estrelas! Certo


Perdeste o senso! E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto ...

E conversamos toda a noite, enquanto


A Via Láctea, como um pálio aberto,
CONVERSAÇÃO

Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,


Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: tresloucado amigo,


Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem quando estão contigo?

E eu vos direi: amai para entendê-las!


Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.

Olavo Bilac

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. A Via Láctea c. Cintila e. Tresloucado amigo
b. Um pálio d. Inda

2) Qual é o sentido de ... ?


a. Pálido de espanto
b. O céu deserto

3) Desenvolva o sentido da comparação existente neste soneto.

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto deste soneto?

2) Com quem imagina falar o poeta?

3) Divida o soneto em duas partes:


a. A conversa com as estrelas
b. O sentido da conversa

4) Que contém cada uma destas partes?


FLOR DO LÁCIO

Estudo das idéias

1) O interesse desta poesia está no próprio autor. Por quê?

2) Qual é o estado de alma do poeta?

3) Como exprimiu ele seus sentimentos?

4) De que modo conseguiu o poeta emprestar ritmo a seus versos?

5) Mostre como este soneto é, pela expressão das impressões pessoais do


poeta, profundamente romântico.

Estudo da metrificação

1) Quantas sílabas poéticas tem cada verso deste soneto?

2) Aponte no texto:
a. As cesuras
b. Os enjambements

3) Estude no texto as rimas e sua disposição.

Exercício I vocabulário e gramática

1) Empregue em curtas orações:


a. Ouvir escutar perceber auscultar
b. Senso - siso - juízo - entendimento - raciocínio - julgamento
e. Pálido lívido exangue
d. Denegrir - denegrecer - infamar - caluniar
e. Portentoso maravilhoso

2) Empregue em curtas orações:


a. Espanto pasmo estupefação perplexidade assombro
surpresa
b. Conversar falar discorrer

286
CONV ERSAÇÃO

c. Pálio manto capa sobrecéu


d. Cintilar tremeluzir faiscar- fagulhar esfuzilar reluzir

3) Substitua no texto as seguintes expressões por outras equivalentes:


a. Certo perdeste o senso
b. No entanto
c. Ao vir do sol
d. Em pranto

4) Dê antônimos a:
a. Perder e. Pálido i. Amar
b. Senso f. Deserto j. Estulto
c. Despertar g. Tresloucado k. Estólido
d. Abrir h. Amigo

5) Que substantivos correspondem a ... ?


a. Perder (ex.: perda, perdição) g. Vir
b. Ouvir h. Procurar
c. Abrir i. Dizer
d. Pálido j. Amar
e. Conversar k. Entender
f. Cintilar

6) Dê exemplos das seguintes figuras de estilo:


a. Amplificação c. Descrição e. Comparação
b. Ironia d. Imagem

7) Que verbos correspondem a ... ?


a. Estrela c. Noite e. Pranto
b. Pálido d. Sol f. Capaz

8) Quais são os étimos destas palavras?

9) Analise logicamente o primeiro quarteto deste soneto.

10) Cite substantivos, adjetivos, verbos e comparações, que traduzam:


FLOR DO LÁCIO

a. Claridade lunar
b. Amargura
c. Tristeza

Exercício : elocução

Reproduza em prosa este soneto, empregando o discurso indireto.

Exercício : redação imitativa

Reproduza, em prosa poética, o monólogo dum poeta boêmio, que fala à


lua de seu amor não correspondido e de sua doce tristeza.

III. O BOM MÉDICO

Semicúpio: Ora, senhores, capitulemos a queixa. Este fidalgo (se é que o é, que
isto não pertence à medicina) teve uma colérica procedida de paixões internas ...
Dom Lancerote: Eu não lhe entendi palavra. Dom Tibürcio: Eu morro sem saber
de quê. Semicúpio: Conhecida a queixa, votem o remédio, que eu, como mais
antigo, votarei em último lugar. Dom Gil: Eu sou de parecer que o sangrem.
Dom Fuas: E eu, que o purguem. Semicúpio: Senhores meus, a grande queixa,
grande remédio; o mais eficaz é que come umas bichas nas meninas dos olhos,
para que o humor faça retrocesso de baixo para cima. Dom Tibúrcio: Como é
isso de bichas nas meninas dos olhos? Semicúpio: É um remédio tópico; não
se assuste, que não é nada. Dom Tibúrcio: Vossa Mercê quer me cegar? Dom
Lancerote: Calai-vos, sobrinho, que ele médico é, e bem o entende. Dom Ti-
búrcio: Por vida de Dom Tibúrcio, que primeiro há de levar o diabo o médico
e a receita, do que eu tal consinta. Semicúpio: Deite-se, deite-se; o homem está
maníaco e furioso.

An tónio José da Silva

288
CONVERSAÇÃO

Estudo das palavras e expressões

1) Explique o sentido das seguintes palavras do texto:


a. Capitular e. O humor
6. Sangrar f. Um remédio tópico
c. Bichas g. Maníaco
d. As meninas dos olhos

2) Explique a concordância do verbo com o sujeito na oração: "Primeiro há


de levar o diabo o médico e a receita".

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto deste trecho?

2) Quantas personagens aparecem neste trecho?

3) Em quantas partes se divide este trecho? Quais são elas?

Estudo das idéias

1)A que gênero pertence este trecho: drama ou comédia? Por quê?

2) Mostre como o interesse deste trecho está na prescrição absurda de um


médico pernóstico e ignorante.

3) Que relação há entre a moléstia diagnosticada e o tratamento médico


indicado?

4) Qual é a reação do doente? Por que se encoleriza ele?

5) Há, ou não, vivacidade na conversação travada entre as personagens?

Exercício J: vocabulário e gramática

1) Determine, por meio de orações, o sentido de:


FLOR DO LÁCIO

a. Capitular qualificar descrever


b. Fidalgo nobre cavalheiro
c. Morrer perecer sucumbir
d. Assustar amedrontar atemorizar intimidar apavorar
e. Inovar - renovar

2) Dê sinônimos a:
a. Procedida e. Parecer i. Furioso
b. Entender f. Receita j. Empertigar-se
c. Antigo g. Consentir k. Aventar
d. Ülimo h. Maníaco l. Emanação

3) Dê antônimos a:
a. Fidalgo e. Antigo i. Calar
b. Internas f. Último j. Consentir
c. Morrer g. Eficaz k. Furioso
d. Saber h. Retrocesso

4) Forme palavras com os prefixos "a", "ab", "ad", "anti", "pre", "pro", "re"
9
e retro .

5) Cite palavras da mesma família que:


a. Queixa e. Interno i. Eficaz
b. Fidalgo f. Entender j. Cegar
c. Medicina g. Antigo
d. Paixão h. Grande

6) Forme crês orações em que seja empregada a figura metáfora.

7) Que verbos correspondem a ... ?


a. Senhor d. Remédio g. Retrocesso
b. Paixão e. Último h. Cima
c. Interno f. Olho i. Médico
CON VERSAÇÃO

8) Classifique as seguintes orações do texto:


a. Que isto não pertence à medicina e. Para que o humor faça retrocesso
b. Que eu, como mais antigo, votarei de baixo para cima
em último lugar f. Que não é nada
c. Que o sangrem g. Que ele médico é
d. Que tome umas bichas nas h. Do que eu tal consinta
meninas dos olhos

9) Analise os termos das orações do exercício 8, acima.

10) Cite expressões que traduzam sofrimento, espanto e cólera.

Exercício : elocução

Imitação dialogada desta cena por cinco alunos, cada um dos quais repre-
sentará um papel. O que faz de médico diagnostica uma cólica hepática no pa-
ciente, ao qual prescreve um regime de ovos, conservas, condimentos picantes
e vinhos.

Exercício t: redação imitativa

Descreva uma cena semelhante, em que um charlatão pernóstico receita


alcoolato de pimenta a um dispéptico.
Conversação
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA

1) Dois colegas conversam, ao se aproximarem as férias, a respeito de seus


projetos. Um prefere ir para a praia; o outro, para a montanha.

2) Dois meninos falam dos presentes que preferem receber por ocasião das
festividades de Natal. O primeiro deseja uma bicicleta; o segundo, um par de
patins.

3) Duas moças mantêm conversação acerca de divertimentos. Uma gosta de


teatro, e a outra, de cinema.

4) Dois alunos falam do interesse que os estudos lhes despertam. Um prefe-


re as ciências; o outro, as letras.

5) Dois meninos discutem suas preferências em matéria de história antiga.


Um prefere os atenienses; o outro, os espartanos.

6) Duas jovens conversam sobre literatura. Uma prefere as literaturas estran-


geiras; a outra, a literatura brasileira.

7) Dois rapazes conversam acerca de desportos. Um gosta mais de futebol;


o outro, de tênis.
CONVERSAÇÃO

8) Duas meninas falam, nas vésperas de Natal, dos brinquedos que deseja-
riam ter. Uma sonha com uma linda boneca; a outra, com um velocípede.

9) Duas moças conversam acerca das carreiras que pretendem seguir. Uma
quer ser professora; a outra, enfermeira.

10) Dois soldados da Força Expedicionária Brasileira, que luta nos campos
de batalha da Itália, conversam, num momento de repouso em sua trincheira,
fazendo planos para o após-guerra. Um pretende continuar os estudos inter-
rompidos; o outro pensa em trabalhar na lavoura.

293
III
Cartas

que caracteriza uma carta é que, falando, geralmente, em nosso próprio

º nome, expomos o que vimos, pensamos ou sentimos: ela é, pois, a redação


de nossas impressões, expressas quase sempre em prosa, e, às vezes, com maior
cunho artístico, em versos.
Uma carta pode conter descrições, cenas, narrativas, simples notícias, votos
de felicidade, cumprimentos ou expressão de pêsames, transcritas ou relatadas,
conforme o assunto, desde o mais grave dos tons, até o mais frívolo, desde o
mais terno e sentimental, até o mais frio e ríspido; mas deve sempre ser tratada
segundo as opiniões e o estado de alma de quem a redige. Uma criança não
escreve, naturalmente, como um adulto. Cada pessoa revela sua cultura e seu
caráter nas cartas, sobretudo se tem marcante personalidade.
Tanto nas cartas como nos diálogos, a frase escrita imita as construções da
linguagem falada; em ambos se empregam, parca ou copiosamente, os "eu", os
"você", os "n6s", "Senhor", "Senhora" etc., assim como os movimentos inter-
rogativos ou exclamativos. Dissemos que imita porque, na realidade, ninguém
escreve como fala. Procura-se, na verdade, dar a ilusão da conversação, mas evi-
tam-se as insignificâncias e a prolixidade, isto é, tudo o que é supérfluo e difuso;
conseqüentemente, torna-se mais firme e conciso o estilo.
Em resumo: podem as cartas ser familiares, descritivas, narrativas e cerimo-
niosas. As cartas de negócios, que não cabem neste estudo, são, por natureza,
muito simples, claras e objetivas, devendo, por seu conteúdo, despertar viva-
mente o interesse do destinatário por um oferecimento de prestação de serviços
ou por uma transação comercial.

2 95
Cartas
TEXTO EXPLICADO

O PINTASSILGO

C ONSOLAI-vos, minha senhora, consolai-vos do fim trágico do vosso pobre


pintassilgo, e se sentistes até aqui a sua perda a respeito do vosso desgosto,
alegrai-vos agora a respeito do seu descanso. O pintassilgo é ditosíssimo, e não
há coisa mais verdadeira, sendo ele o mesmo que mo assegurou. Tendo-me dei-
tado, e estando para dormir, senti voar o quer que era à roda da minha cama.
Ao princípio entendi que era imaginação, porém, ouvindo que se aumentava
o ruído ou o sussurro, temi que fosse algum daqueles espíritos, que aparecem
sempre à meia-noite. Inutilmente pretendi desembaraçar-me com o salmo para
adormecer, porque o pintassilgo era o que voava e, precipitando a vivacidade
de seu vôo e servindo-se da faculdade de falar que tinha adquirido no outro
mundo, me contou sua história nos seguintes termos: "Ainda que vós me tirastes
da prisão, me disse ele, "para me mandardes para as galês, nem por isso estou
mal convosco ... Posso dizer-vos que vos devo uma sincera obrigação; porque a
felicidade no outro mundo se mede sobre a desgraça que se tem neste. Todos os
pássaros que erraram aqui com liberdade, misturando-se indiferentemente uns
com os outros, têm limites prescritos na outra vida, de que não podem passar.
Os que viveram aqui como em conventos, fechados nas celas das suas gaiolas,
não têm no outro mundo limites, ocupando, em companhia de todos os pás-
saros que estiveram em prisão, um lugar de infinita graciosidade. São muito
respeitados, principalmente os pintassilgos. O vermelho, que temos aqui sobre
a cabeça, muda-se no outro mundo num rubi muito brilhante e muito superior
CARTAS

ao das minas terrestres. O amarelo das asas se nos doira com tanta delicadeza
que ficamos ainda mais lindos e mais ligeiros do que éramos antes. Trazemos
sobre o peito uma pequena cadeia de ouro, da qual pende um diamante ornado
de resplendores. Julgai qual será o admirável efeito que produzem todas estas
pequenas formosuras em um ar puro e sereno, onde a noite não rouba jamais a
claridade ao dia, e onde em lugar das tempestades só se sentem os continuados
e agradáveis sopros do zéfiro. Todos estes pássaros fazem concertos maravilho-
sos que sucedem uns aos outros sem cessar". Foi-se finalmente o pintassilgo,
prometendo aparecer-me segunda vez. Consolai-vos, como vos peço, sabendo
o bem de que ele logra. Chamam-me para uma conferência onde vos prometo
que não direi uma só palavra do que aqui vos digo.

Francisco Xavier de Oliveira

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta carta?


R.: É uma carta a uma senhora, na qual o autor pretende consolá-la da mor-
te de um pintassilgo; imagina, então, que o pássaro lhe apareceu para descrever
a vida que leva no outro mundo.

2) Nesta carta há uma narrativa; onde começa ela e onde termina?


R.: Começa em: "Tendo-me deitado", e termina em: "Prometendo apare-
cer-me segunda vez.

3) Como poderíamos denominar as outras partes da carta?


R.: "Introdução" seria a parte em que o autor procura, inicialmente, tran-
qüilizar o espírito da senhora, e, "final", aquela em que, reiterando o seu pedido
inicial, promete silenciar sobre o assunto.

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse desta carta?


R.: O interesse consiste na narrativa, em que o autor fala da aparição do
pintassilgo e descreve o original paraíso das aves.

2) De que modo procura o autor consolar a proprietária do pintassilgo morto?


R.: Imaginando que ele goza, nesse paraíso, da bem-aventurança eterna.

297
FLOR DO LÁCIO

3) Em que tom escreveu o autor sua carta?


R.: Escreveu-a num tom irônico e zombeteiro, parecendo ridicularizar um
tanto a dor da senhora, dor que tinha por causa um motivo tão fútil.

4) Que outra qualidade, além da ironia, demonstra possuir o autor desta


carta?
R.: A imaginação.

5) Como imagina ele o paraíso das aves e sua glória eterna?


R.: Imagina o paraíso como uma luz eterna, onde um ar puro e sereno é
doce e ligeiramente agitado por brisas agradáveis. A glória dos pintassilgos con-
siste no embelezamento eterno, porque se transformam em jóias vivas e precio-
sas: transmuda-se-lhes em valioso rubi o vermelho das cabeças, doira-se-lhes o
amarelo das asas e eles trazem sobre o peito uma pequena corrente de ouro, da
qual pende resplendoroso diamante.
Cartas
TEXTOS PARA EXPLICAÇÃO

I. CARTA A FREI FRANCISCO DE MONTE ALVERNE

A INDA me estou deliciando, meu caro e excelente amigo, com os abraços tão
I1da alma, com as expressões tão do coração, com que Vossa Reverendíssima
no nosso apartamento me carregou de saudades e gratidão por toda a vida .
Viajantes sempre têm muito que narrar, hão de poetar ainda que o não queiram.
Quanto a mim, a mais interessante, a mais poética de quantas notícias eu trouxe
do Brasil, e me ufano de espalhar aqui, é ter reconhecido a Vossa Reverendíssima,
ter apertado essa mão que tão ricamente dotou a língua e a literatura comum dos
nossos dois países, ter ouvido essa nobre e bela voz doutrinadora de povos, e para
comigo dispensadora de mimos e extremos de benevolência. Os literatos que me
escutam quando lhes eu retrato o Cícero cristão e americano invejam-me com
razão; e muito mais quando lhes dou a ler alguns destes oitenta discursos, que,
repartidos, dariam com que fundar oitenta famas de oradores. Lamentam eles
que Vossa Reverendíssima haja dado ao público a sua última despedida com o
sermão da Glória; eu não: esse monumento de Vossa Reverendíssima está com-
pleto e coroado como cumpria, ao mesmo tempo que a atividade, a fecundidade
sempre juvenil de Vossa Reverendíssima, pode junto dele erigir outros não menos
valiosos. Vossa Reverendíssima não é desses homens que, em sabendo ou presu-
mindo haverem conquistado a celebridade, adormecem à sombra dos seus louros,
verdadeiros ou imaginários ... Sou de Vossa Reverendíssima o mais sincero admi-
rador, perfeito amigo, respeitoso discípulo e obrigadíssimo servo.

-Antônio Feliciano de Castilho

2 99
FL OR DO LÁCIO

Estudo das palavras e expressões

1) Explique, sem recorrer a sinônimos, as seguintes palavras do texto:


a. Apartamento d. Literatos g. Monumento
b. Ufanar-se e. Púlpito h. Coroado
c. Dotar f. Sermão

2) Qual é a significação de ... ?


a. Abraços tão da alma f. Extremos de benevolência
b. Expressões tão do coração g. O Cícero cristão e americano
c. Essa bela e nobre voz h. Famas de oradores
d. Doutrinadora de povos i. À sombra dos seus louros
e. Dispensadora de mimos

3) Explique a colocação dos pronomes neste trecho.

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta carta? Qual o tratamento empregado?

2) Em que tom a escreveu o autor?

3) Quais são as passagens desta carta, que correspondem aos títulos ..?
a. As saudades do auto d. O sermão da Glória
b. A poética notícia do Brasil e. A atividade de Frei Monte Alverne
c. O Cícero cristão e americano

4) Que contém cada uma destas passagens?

Estudo das idéias

1) Quem foi ..?


a. Antônio Feliciano de Castilho
b. Frei Francisco de Monte Alverne

300
CARTAS

2) Mostre como o interesse desta carta consiste no retrato moral de Frei


Francisco de Monte Alverne.

3) Quais foram as virtudes sociais do retratado, que cativaram o coração do


autor?

4) Como se referiu Castilho aos dotes de inteligência e cultura de seu amigo?

5) Que impressão causou o grande orador sacro aos literatos do círculo de


Castilho?

6) Como considerou Castilho o célebre sermão da Glória?

7) Que sabe o aluno acerca desse sermão?

Exercício I: vocabulário e gramática

1) Determine, por meio de orações curtas, o sentido de:


a. Deliciar gozar encantar deleitar
b. Carregar - cumular - encher
c. Ufanar-se lisonjear-se gabar-se vangloriar-se
d. Ricamente faustosamente pomposamente suntuariamente
e. Mimos afagos carícias blandícias
f. Náusea engulho enjôo
g. Aulico fidalgo aristocrata
h. Cosmografia cosmogonia mitologia

2) Dê sinônimos às seguintes palavras:


a. Caro i. Lamentar q. Panda
b. Viajantes j. Erigir r. Parciário
c. Narrar k. Presumir s. Relutar
d. Espalhar 1. Pressagiar t. Renitir
e. Apertar m. Acariciar u. Retinir
f. Nobre n. Refulgência v. Lampejar
g. Fundar o. Latejante w. Fausto
h. Fama p. Inflar

301
FLOR DO LÁCIO

3) Que substantivos correspondem a ... ?


a. Narrar (ex.: narração, narrativa) f. Lamentar
b. Dotar g. Corar
c. Retratar h. Erigir
d. Dar i. Presumir
e. Fundar

4) Dê exemplos dos seguintes trapos:


a. Metáfora
b. Metonímia
c. Sinédoque

5) Analise logicamente os dois primeiros períodos do texto.

6) Forme expressões que traduzam:


a. Glória
b. Encantamento
c) Nobreza de sentimentos

7) Conjugue em todos os tempos os verbos "valer" e "argüir".

8) Que significam as seguintes palavras?


a. Exegese e. Palinuro i. Ateísmo
b. Palinódia f. Palingenesia j. Monoteísmo
c. Palimpsesto g. Êxedra k. Panteísmo
d. Hermenêutica h. Demopsicologia 1. Antropomorfismo

Exercício ll: elocução

Imitando o autor no primeiro período desta carta, agradeça a um amigo as


felicitações que lhe enviou por ter passado nos exames escolares.

Exercício : redação imitativa

Escreva uma carta ao romancista ou ao poeta de sua predileção, dizendo-lhe


das razões por que o admira e estima.

302
CARTAS

II. CARTA A ANTÔN IO FELI CIAN O DE CASTILH O

Não pretendo contrariar o juízo que formais de mim, não posso entrar na luta
convosco; mas tenho a convicção de que os vossos louvores devem ser consi-
derados mais por filhos da vossa amizade e da vossa benevolência para mim,
do que o resultado dum juízo severo e filosófico. Como quer que seja, sábio
ou pedante, eloqüente ou pindarista, pobre ou rico na literatura, eu vos abraço
com toda a minha cordialidade; eu vos aperto com toda a expressão da frater-
nidade. Se me admitirdes por vosso irmão de armas, aceitarei este título, não
só como uma ovação, mas tê-lo-ei ainda por uma recompensa. No caso de me
concederdes este favor, uma vez ligado convosco pelos vínculos mais indissolú-
veis, peço-vos aperteis por mim a mão destes distintos literatos, que convosco
formam essa brilhante constelação que irradia o belo céu da vossa pátria, e cujos
raios espancam as trevas do pedantismo e afugentam as sombras da ignorância
que ameaçam tudo invadir e abafar. Adeus, meu adorável amigo: este adeus
renovou toda a amargura da minha saudade. Enquanto me restar um sopro de
vida, a recordação que conservo de vós, a consciência da vossa amizade, será um
lenitivo no meio das tribulações que me cercam. Adeus, outra vez adeus.

O vosso amigo, o vosso admirador, o vosso irmão.


Frei Francisco de Monte Alverne

Estudo das palavras e expressões

1) Explique o sentido das seguintes palavras do texto:


a. Juízo e. Cordialidade i. Um lenitivo
b. Pedante f. Uma ovação j. Tribulações
c. Eloqüente g. Vínculos indissolúveis
d. Pindarista h. Abafar

2) Que significam aqui...?


a. Filhos da vossa amizade f. As trevas do pedantismo
b. Um juízo severo e filosófico g. As sombras da ignorância
c. Com toda a expressão da fraternidade h. Um sopro de vida
d. Irmão de armas i. A consciência da vossa amizade
e. Essa brilhante constelação
FLOR DO LÁCIO

3) Modifique o quarto período ("No caso de ... "), de modo que as orações
subordinadas adjetivas relativas fiquem com o mesmo antecedente.

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto deste trecho de carta? Qual o tratamento empregado?

2) Aponte no texto as partes que se enquadram dentro dos seguintes títulos:


a. Os louvores de Castilho c. Irmão de armas
b. O abraço d. A despedida

3) Que contém cada uma dessas partes?

4) Como se faz a transição entre cada parte e a seguinte?

Estudo das idéias

1) O interesse deste trecho decorre das qualidades do autor, reveladas por


assim dizer, em cada palavra e em cada frase. Por quê?

2) Onde encontramos aqui expressões que traduzem ... ?


a. Sua modéstia
b. Sua afetividade
c. Sua cortesia

3) Como encara o autor a ação dos intelectuais portugueses? De que forma


exprime ele sua opinião?

4) Analise, em poucas palavras, seu estilo nesta carta.

Exercício t: vocabulário e gramática

1) Determine, por meio de orações apropriadas, o sentido de:


a. Pretender desejar querer intentar diligenciar
b. Contrariar contradizer impugnar
c. Juízo conceito parecer opinião
d. Pedante- pretensioso afetado enfatuado

304
CARTAS

2) Dê sinônimos às seguintes palavras:


a. Luta g. Vínculos m. Tribulações
b. Considerados h. Brilhante n.Asco
c. Resultado i. Espancam o. Vagado
d. Ovação j. Abafar p. Retundir
e. Conceder k. Amargura
f. Favor 1. Lenitivo

3) Substitua, no texto, por outras expressões de igual valor:


a. Entrar em luta c. Com toda a minha cordialidade
b. Tenho a convicção d. Com toda a expressão da fraternidade

4) Forme comparações, em que entrem, como segundo termo, as seguintes


palavras:
a. Luta e. Rico i. Amigo
b. Louvor f. Armas j. Consciência
c. Filho g. Mão
d. Sábio h. Sopro

5) Quais são os étimos destas palavras?

6) Analise logicamente o primeiro período deste trecho.

7) Forme sentenças em que entrem conjunções subordinativas temporais,


causais, finais, concessivas, condicionais, comparativas e conformativas.

Exercício : elocução

Reproduza oralmente esta carta, recorrendo o menos possível às palavras do


texto.

Exercício : redação imitativa

Escreva a um amigo, com quem não tem ainda intimidade, agradecendo os


elogios que ele lhe fez por ocasião de seu aniversário natalício (tratamento: "O
Senhor").
FLOR DO LÁCIO

III . O ANIVERSÁRI O DUMA IRMÃ

Minha irmã, no dia de teus anos, que queres que eu te diga? Que os anos da
virgem são como as manhãs das flores e que na aurora da vida, flores e donzelas,
cintilantes do orvalho de Deus, têm mais pureza e perfume? Não. Dir-te-ei so-
mente uma coisa: é que lá no Rio vale talvez a pena fazer anos. Numa tarde de
primavera e de esperança, vivendo e sentindo-se viver, é doce porventura sentir
que mais um ano passou como um sonho, mais um ano de saudade e felicidade.
Aqui não acontece assim. O céu tem névoas, a terra não tem verdura, as tardes
não têm perfume. É uma miséria! É para desgostar um homem toda a sua vida,
de ver ruínas! Tudo aqui parece velho e centenário ... Até as moças! São insípidas
como a mesma velhice. O dia 12 de setembro está para chegar. Estou quase
não fazendo anos desta vez. Adeus, minha irmã! A página nova da vida que se
abriu hoje, seja tão feliz como a saudade é doce! Adeus! É a palavra que dentre
as taipas em ruínas da nossa terra te envia. Teu irmão.

Alvares de Azevedo

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras e expressões:


a. A aurora da vida f. Verdura
b. Cintilantes g. Centenário
c. O orvalho de Deus h. Insípidas
d. Tarde de esperança i. Uma página nova da vida
e. Névoas j. Taipas

2) Desenvolva o sentido das comparações existentes no texto.

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta carta?

2) De quantas partes se compõe ela? Leia-as, dando-lhes títulos.

3) Qual é o conteúdo de cada uma dessas partes?

4) Como se faz a transição entre cada uma dessas partes e a seguinte?


CARTAS

Estudo das idéias

1) Quais são as formas sentimentais e convencionais das figuras de estilo


empregadas por Álvares de Azevedo nesta carta? Que exprimem elas?

2) Quais são as formas translatas, ou tropos, que aqui se encontram? Expli-


que-as.

3) Que diferenças de ambiente nota o autor entre o Rio e São Paulo? Como
as exprime ele?

4) Em que tom escreve ele esta carta? Prove-o.

5) Que pormenores descritivos nos podem dar uma idéia de São Paulo antigo?

Exercício 1: vocabulário e gramática

1) Determine, por meio de orações apropriadas, o sentido de:


a. Manhã - aurora - alva - alvorada - dilúculo - crepúsculo
6. Cintilante - tremeluzente - esplendente - rutilante
c. Orvalho rocio aljôfar rorejo
d. Delir diluir

2) Empregue em curtas orações:


a. Perfume odor cheiro fragrância
6. Doce agradável suave deleitoso
c. Névoa neblina cerração bruma nevoeiro nevoaça
d. Delíquio vágado desmaio desfalecimento relutância

3) Dê sinônimos a:
a. Porventura f. Insípido k. Enviar
6. Acontecer g. Feliz 1. Aventar
c. Miséria h. Fechar m. Linde
d. Ruínas i. Belo
e. Velho j. Suave
FLOR DO LÁCIO

4) Que adjetivos correspondem a ... ?


a. Irmã (ex.: fraterna, fraternal) h. Céu
b.Ano i. Névoa
c. Virgem j. Terra
d. Primavera k. Homem
e. Esperança 1. Vida
f. Saudade m. Ruína
g. Felicidade

5) Que verbos correspondem a ..?


a. Irmã (ex.: irmanar) f. Pureza k. Moça
b. Dia g. Perfume 1. Suave
c. Manhã h. Tarde m. Taipa
d. Flor i. Terra
e. Orvalho j. Velho

6) Dê exemplos das seguintes figuras de estilo:


a. Metáfora c. Hipérbole
b. Antonomásia d. Antítese

7) Cite palavras que caracterizem:


a. Um profundo afeto
b. Uma grande cidade

8) Forme sentenças em que entrem orações subordinadas interrogativas, ini-


ciadas pelas palavras "quando", "como", "onde" e "se" (exemplo: "Desejo saber
quando partirás").

Exercício 11: elocução

Leia de novo esta carta, mudando o tratamento:


a. Para "você"
b. Para "vós"
CARTAS

Exercício : redação imitativa

Imitando Álvares de Azevedo nesta carta, escreva a seu irmão, que escuda
em Paris, apresentando-lhe felicitações pelo brilhantismo de seus exames (tra-
tamento: «1Voce
7,,3»
.

IV. UMA CARTA DE OLAVO BILAC

Excelentíssima Senhora, creio que esta carta não poderá absolutamente surpre-
endê-la. Deve ser esperada. Porque Vossa Excelência compreendeu com certeza
que, depois de tanta súplica desprezada sem piedade, eu não podia continuar a
sofrer o seu desprezo. Dizem que Vossa Excelência me ama. "Dizem", porque
da boca de Vossa Excelência nunca me foi dado ouvir essa declaração. Como,
porém, se compreende que, amando-me Vossa Excelência, nunca tivesse para
mim a menor palavra afetuosa, o mais insignificante carinho, o mais simples
olhar comovido? Inúmeras vezes lhe pedi humildemente uma palavra de con-
solo. Nunca a obtive, porque Vossa Excelência ou ficava calada ou me respon-
dia com uma ironia cruel. Não posso compreendê-la: perdi toda a esperança
de ser amado. Separemo-nos. Para que hei de eu, que a amo tanto, fazer a sua
desgraça? É preciso que Vossa Excelência saiba que a minha vida tem sido
um grande combate. Já sofri fome: sobre essa miséria criei a minha indepen-
dência. Chamaram-me infame: sobre essa afronta criei a minha honestidade.
Chamaram-me estúpido: sobre essa injustiça criei o meu talento. E foi sobre
esses três alicerces que eu edifiquei o meu orgulho. Amo-a tanto, que esta se-
paração há de cedo ou tarde matar-me. Acima, porém, do meu amor está o
meu orgulho. Não o quebrei aos pés de meu pai, não o quebraria aos de minha
mãe: não posso, nem quero, quebrá-lo aos pés de Vossa Excelência. Creio que
nos valemos, minha senhora: Vossa Excelência está muito acima de todas as
outras mulheres, mas não está acima de mim. Há de reconhecer que nunca
houve um noivado cercado de tanto gelo e de tanta indiferença. Por quê? Talvez
porque Vossa Excelência acredite que os homens devem viver esmagados pelas
mulheres. Concordo. Mas isso é bom quando se trata de homens vulgares: e eu
não sou um homem vulgar. Quando, pela última vez, nos falamos, eu preveni
Vossa Excelência de que tomaria esta resolução, se não se modificasse o seu
modo de proceder. Desta vez, como de todas as outras, ficou Vossa Excelência
impassível. Paciência. Peço, suplico a Vossa Excelência que me perdoe ter per-
turbado a tranqüilidade de sua existência. Mas eu amava-a muito, amava-a
FLOR DO LÁCIO

como ainda hoje a amo, e queria, depois de tanta luta e de tanto sofrimento,
ter um pouco de felicidade. Perdoe-me e fique certa de que, para seu sossego,
nunca mais me verá.

Olavo Bilac

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. Infame d. Alicerces g. Luta
b. Estúpido e. Esmagado
c. Talento f. Impassível

2) Qual é a significação de ... ?


a. Ironia cruel d. Gelo
b. Um grande combate e. Homens vulgares
c. Quebrar o orgulho

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta carta?

2) De quantas partes se compõe esta carta? Aponte-as no texto, dando-lhes


títulos expressivos.

3) Qual é o conteúdo de cada uma dessas partes?

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse desta carta?

2) De que modo, segundo sua própria confissão, formou Olavo Bilac sua
personalidade?

3) Quais as qualidades mestras dessa personalidade?

310
CARTAS

4) Que pensa Olavo Bilac de sua noiva? Prove-o com elementos tirados do
texto.

5) Analise em poucas palavras o tom em que o poeta escreveu esta carta e


seu estilo.

Exercício 1: vocabulário e gramática

1) Empregue em curtas orações:


a. Surpreender espantar assombrar
b. Certeza convicção exatidão
e. Piedade compaixão dó comiseração
d. Afetuosa meiga amorosa- terna
e. Carinho ternura
f. Ironia sarcasmo
g. Parlapatice - bazófia -vanglória vaniloqüência
h. Egoísta egotista egocêntrico ególatra
i. Visos resquícios

2) De sinônimos a:
a. Cruel f. Alicerces k. Vezo
b. Desgraça g. Suplicar 1. Reminiscência
c. Combate h. Perturbar m. Ressaiba
d. Afronta i. Felicidade
e. Estúpido j. Sossego

3) Dê antônimos a:
a. Crer e. Amar i. Desgraça
b. Certeza f. Comovido j. Saber
c. Piedade g. Humildemente k. Estúpido
d. Sofrer h. Cruel 1. Orgulho

4) Quais são os homônimos de:


a. Súplica f.Fez k. Bolo
b. Posso g. Medo 1. Boca

311
FLOR DO LÁCIO

c. Gelo h. Preto m. Lodo


d. Última i. Gota
e. Sossego j. Acerca

5) Analise logicamente o último período desta carta.

Exercício II: elocução

Imitando o autor na passagem que vai desde: "É preciso que Vossa Excelên-
cia saiba" até "eu edifiquei o meu orgulho", explique como pretende formar sua
própria personalidade.

Exercício lll: redação imitativa

Escreva, num tom delicado, mas nobre e altivo, a um amigo ou uma amiga,
que o(a) ofendeu gravemente em seu amor-próprio.

V. CARTA A RUTH

Ontem, querida, a esta hora, a tarde decadente


Trançava laivos de ouro e sangue no Ocidente;
E na larga amplidão do azul do firmamento
O bailado de luz era um deslumbramento.
- Uma poeira de fogo ardia no ar sereno
E o zéfiro agitava os ramos, brando e ameno.

Lembrava-me de ti ... Lembrava-me do dia


Em que, vibrando ao longe um som de "Ave-Maria",
Eu te olhava e dizia, em meu poema de amor,
O que me significa a tua vida em flor:

"Tu és o Encanto
Que, em música rimada, agora exalto e canto,
De uma vida de dor, de amargura e de pranto.

312
CARTAS

"Tu és o Albor
Da madrugada, após uma noite de horror".

"E tu és a Água
Que dissipa o travor de minha grande mágoa.

"Tu, amor de minha alma e alma de meu amor,


-Tu, que és minha alegria,
E tu, que és minha dor".

"Tu és o jato de luz com que um farol distante


Abre, na noite escura, o mar ao navegante!".

"Tu, para mim, querida, és tudo neste mundo:


O objeto e o resplendor de um afeto profundo,
E o fausto divinal da própria natureza,
Que é o reflexo de Deus, na glória e na beleza!".

"Seguindo o meu caminho, olhos fixos no norte,


Numa imensa tristeza, esquálido e arquejante,
Eu levo na retina a ardente e deslumbrante
Imagem deste amor, que há de vencer a morte!".
"Pois um dia, afinal, repousarei na terra ... ".

"Mas no negror da tumba eterna que me aterra,


Irromperás de meu coração,
Qual fl.ama rúbida de um vulcão,
Iluminando-me assim, querida,
O misterioso horror que há, lá no além da vida".

Olivério Lopes (e. L. o.)

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. Decadente f. Exaltar k. Arquejante
b. Amplidão g. Albor l. Retina
c. Ardia h. Travor m. Rúbida

313
FLOR DO LÁCIO

d. Deslumbramento i. Resplendor
e. Vibrando j. Esquálido

2) Qual é a significação de ..?


a. Laivos de ouro e sangue g. Jato de luz
b. Bailado de luz h. Abre o mar
c. Poeira de fogo i. Fausto divinal
d. Ar sereno j. Reflexo de Deus
e. Vida em flor k. Tumba eterna
f. Música rimada

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta poesia?

2) Divida esta poesia em três partes, a saber:


a. A tarde decadente
b. A recordação
c. O poema de amor

3) Qual é o conteúdo de cada parte?

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse desta carta poética?

2) De que modo exprime o autor... ?


a. O aspecto da tarde decadente
b O sentimento de amor

3) Quais são suas impressões pessoais e com que recursos as traduz?

4) Com que compara o poeta a eternidade de seu amor?


CARTAS

Ligeiro estudo da metrificação

1) Quantas sílabas poéticas contém cada um dos seguintes versos?


a. "Tu és o Albor da madrugada, após uma noite de horror"
b. "Irromperás de meu coração qual flama rúbida de um vulcão"

2) Aponte na poesia:
a. As cesuras
b. Os enjambements

Exercício I: vocabulário e gramática

1) De sinônimos a:
a. Ocidente e. Amargura i. Resplendor
b. Amplidão f. Dissipar j. Fausto
c. Arder g. Mágoa k. Pespegar
d. Brado h. Distante l. Assacar

2) Dê antônimos a:
a. Beleza d. Ardente g. Eterna
b. Tristeza e. Repousar h. Reminiscência
c. Esquálido f. Negror

3) Dê homônimos a:
a. Água f. Colher k. Troco
b. Deste g. Portugueses l. Enfermo
c. Desce h. Inglesa m. Fecho
d. Folha i. Rolo n. Cor
e. Molho j. Rola

4) Forme comparações em que entrem como segundo elemento:


a. Tarde g. Flor l. Amor
b. Ouro h. Madrugada m. Morte
c. Sangue i. Água n. Tumba
d. Luz j. Farol o. Vulcão
e. Fogo k. Mar p. Torres acuminadas

315
FL OR DO LÁCIO

5) Analise logicamente a última estrofe desta poesia.

6) Forme três orações em que o verbo concorde com as seguintes expressões


tomadas como sujeito:
a. Uma multidão de homens e mulheres
b. Mais de cinco mil soldados
c. A maior parte dos homens

7) Forme expressões afetuosas com os seguintes elementos:


a. Esteio de minha vida e. Refúgio suave
b. Anjo tutelar f. Estrela norteadora
c. Espírito de luz g. Luz distante
d. Bálsamo de dores

Exercício : elocução

Faça oralmente a reprodução em prosa desta poesia.

Exercício i: redação imitativa

Escreva uma carta a sua mãe, falando-lhe de seu ardente amor filial.

316
Cartas
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA

1. Cartas familiares

1) Um menino escreve ao pai, que se acha ausente, por ocasião do Ano


Novo (tratamento: "Senhor").

2) Um jovem escreve a um colega, pedindo-lhe emprestado um livro (tra-


tamento: «+Voce
y,,
..3")

3) Um rapaz escreve a um amigo, insistindo com ele para que compareça a


uma festa íntima que seus pais vão oferecer (tratamento: "Tu").

4) Uma menina, que passa as férias na fazenda dos pais, escreve a uma co-
lega, residente na cidade, convidando-a a ir fazer-lhe companhia (tratamento:
«1 y,, .39)
voce .

5) Uma jovem escreve a sua melhor amiga, dando-lhe pêsames pelo faleci-
mento de uma irmã (tratamento: "Tu").

6) Um menino escreve a seu melhor amigo, felicitando-o pelas notas que


al cançou nos exames ( tratamento: "'voce
r "') .

317
FLOR DO LÁCIO

II. Cartas descritivas ou narrativas

1) Uma excursão ao campo (tratamento: "Senhor").

2) Uma fita cinematográfica (tratamento: "V6s").

3) Um baile à fantasia (tratamento: "V6s").

4) Uma viagem (tratamento: "Vossa Senhoria").

5) Uma comédia engraçada (tratamento: "Você").

III. Cartas cerimoniosas

1) Escreva uma carta a Sua Santidade o Papa, rogando-lhe uma bênção es-
pecial (tratamento: "Vossa Santidade").

2) Escreva ao presidente da República, felicitando-o pelas fecundas realiza-


ções de seu governo (tratamento: "Vossa Excelêncià').

3) Escreva ao diretor ou à diretora do colégio religioso em que você estuda,


recordando os dias felizes que ali passou (tratamento: "Vossa Reverendíssima").

IV. Requerimentos

1) Requeira à autoridade competente, como se fosse funcionário público,


uma licença para tratamento de saúde (tratamento: "Vossa Excelência").

2) Com o mesmo tratamento de Vossa Excelência, requeira a um secretário


de Estado ou a um ministro o pagamento da gratificação a que você fez jus, por
ter substituído o diretor de sua repartição ou escola.

3) Ainda com o mesmo tratamento, requeira a um secretário ou ministro


sua remoção ou promoção para outro cargo.

4) Redija um requerimento dirigido ao diretor do Departamento de Edu-


cação do Estado, solicitando inscrição ao concurso de ingresso no magistério
oficial (tratamento: "Vossa Senhoria").

318
CARTAS

5) Requeira à autoridade competente uma certidão de seu tempo de exercí-


cio (tratamento: "Vossa Senhoria").

6) Requeira a um diretor-geral de Secretaria de Estado uma cópia de sua


ficha de exercício como funcionário público (tratamento: "Vossa Senhoria").

7) Requeira sua matrícula em uma escola normal, instituto de educação ou


ginásio.

v. Correspondência comercial

1) Escreva ao diretor de um banco, solicitando-lhe colocação.

2) Ofereça, numa carta comercial, mercadorias:


a. A um antigo freguês
b. A um provável cliente

3) Cobre uma dívida atrasada.

4) Solicite a um freguês a devolução duma letra de câmbio, com o devido


aceite.

5) Peça a um comerciante o pagamento de uma duplicata.

6) Comunique a um freguês o recebimento de seu pedido e a remessa das


mercadorias solicitadas.

7) Escreva a um negociante, comunicando que vai mandar uma letra de seu


aceite a protesto, por não ter sido paga na data do vencimento.

8) Escreva uma carta em resposta à anterior, explicando que havia deposita-


do em juízo a importância da dívida, em virtude de mandado judicial.

319
PARTE II
Explicação de textos e composição literária:
Narrativas - Fábulas - Anedotas -
Impressões pessoais - Discursos -
Idéias morais - Dissertações
I
Narrativas

A narrativa, conforme o critério didático que adotamos neste livro, é a expo-


[ ição, orall ou escrita, de um fato real ou imaginário; é, pois, uma narração
curta ou relativamente curta.
As qualidades, que a distinguem e lhe emprestam interesse, são natural-
mente, além de um assunto original ou atraente, a simplicidade, a clareza, a
brevidade, a movimentação e a verossimilhança. Verossímil é tudo aquilo que
tem aparência de realidade.
"Deve-se" diz Antenor Nascentes "tirar tudo o que não for essencial à
narrativa, tudo o que não interessa ao leitor; colocar os fatos na ordem crono-
lógica; evitar as repetições, que são fastidiosas".
Ela aparece nas cartas, narrações, contos, romances, discursos e poesias.
Muitos dos recursos desaconselhados nas descrições são permitidos nas nar-
rativas, em virtude de nelas haver uma personagem narradora, que goza de
certa liberdade de intervir no que se escreve, comunicando suas opiniões, suas
impressões e seus sentimentos, interpretando ou comentando os aspectos e os
fatos do mundo exterior ou do mundo subjetivo. Assim, se o narrador descre-
ve, pode dar expansão a seus sentimentos, por meio de adjetivos, como "belo",
"lindo", "maravilhoso", "estupendo", "esplêndido", "magnífico", "horrendo",
"ensurdecedor", "emocionante" etc., desde que tais adjetivos, correspondendo,
como geralmente correspondem, a um conceito universal daquilo que ele sente,
encontrem repercussão simpática na alma do leitor. Ele pode ainda referir-se,
visto como é possível que os observe ou tenha observado, a aspectos anteriores

323
FLOR DO LÁCIO

ou futuros da natureza exterior, tais como nestes exemplos, já citados: "Os cam-
pos, ainda há pouco tempo verdes, estavam secos"; "o céu, antes azul, está agora
recoberto de nuvens".
Existindo ou transparecendo na narrativa uma personagem observadora e
narradora, que observa, sente e julga, e que muitas vezes representa o escritor,
com ele confundindo-se freqüentemente, é natural que nela se encontre a ex-
pressão de sentimentos, opiniões, julgamentos, e que surjam formas pessoais
de pronomes, adjetivos, verbos, assim como frases de cunho narrativo, que se
refiram a momentos passados: "Caminhávamos pelas estradas", "nossos compa-
nheiros embrenharam-se na floresta. Era em 1912 ...", "tinham-se picado alguns
bois", "atrás de nós vinham os mendigos" etc. Não se confunda, entretanto, esta
exteriorização da personalidade sentimental ou intelectual do narrador com a
expressão de impressões pessoais, que, sendo uma das características do roman-
tismo, têm cabimento em todos os gêneros românticos, exprimindo-se, sobre-
tudo, por meio de imagens e adjetivos.
Brant Horta faz, a respeito das narrativas, uma recomendação, que pode pa-
recer excessiva, mas que não deixa de ser útil, reconhecidas como são por todos,
e principalmente pelos professores, certas tendências defeituosas dos alunos,
quando tentam compor um trabalho literário. Diz o ilustre e erudito educador:
"O mestre há de ter o necessário cuidado de evitar os tiques freqüentes nos alu-
nos, tais como o abuso de adjuntivos ('Aí, 'então', 'talvez', 'agora, 'depois' etc.),
o uso insistente das mesmas fórmulas etc.".
Em nosso estudo, as narrativas, como as descrições, se encaminham para um
desenvolvimento mais amplo do gênero narrativo, as narrações, cujos elemen-
tos construtivos elas preparam. As menos complexas são as narrativas simples,
que são, como o próprio nome indica, o simples relato de um fato.

324
Narrativas
TEXTO EXPLICADO

O ANHANGABAÚ"°

Entre fráguas correndo, outrora no deserto


Ele tinha o horizonte apenas por baliza ...
Vivia no sertão, beijado pela brisa,
O velho leito sempre ao grande sol aberto.

Até que, certa vez, à luz do luar incerto,


Do vale, já no fim da noite que agoniza,
De repente, ele viu entre brumas, indecisa,
Uma cidade nova erguendo-se bem perto.

Enterrado, porém, não mais a luz de prata


E nem a luz do sol enxerga ... É quase um monge ...
É um prisioneiro até dessa cidade ingrata.

Mas, mesmo assim, sem ver este clarão dos astros,


Toda a lenda, talvez, de um tempo que vai longe,
Ele canta na treva, a caminhar de rastros.

Giraldes Filho

16 O professor deve, antes de iniciar a explicação, ler este soneto na ordem direta.
FLOR DO LÁCIO

Estudo das palavras e expressões

Frágua fraga, rocha escarpada.


Baliza limite, marco.
Sertão o ponto ou sítio mais afastado dos terrenos cultos.
Beijado pela brisa tocado levemente, como numa carícia.
Leito depressão do terreno, por onde correm as águas do rio.
Grande sol o sol, em toda a pujança de seu brilho e calor.
Luar incerto luar vago, oscilante.
Agoniza - acaba.
Brumas névoa, cerração, nevoeiro.
É quase um monge está encerrado em seu cano, como um monge em
sua cela.

Estudo da composição e das idéias

1) Qual é o assunto deste soneto?


R.: O poeta conta-nos, em versos alexandrinos, a ingratidão da cidade (São
Paulo) para com o Rio Anhangabaú, que outrora corria livremente em seu solo.

2) Em quantas partes se pode dividir este soneto e qual é o conteúdo de cada


uma delas?
R.: Apresenta-nos este soneto dois aspectos do rio:
a. O rio em liberdade
b. O rio prisioneiro
Primeira parte: é uma paisagem grandiosa e rude, que se estende a perder
de vista até à linha do horizonte; corre o rio entre fráguas, com suas águas en-
crespadas ao toque leve da brisa e rebrilhantes à luz forte do sol. O quadro é
evocativo, em sua majestade primitiva. Passam-se os séculos e, certa vez, vê o
rio, surpreso, erguer-se-lhe bem perto uma cidade, cujas linhas pareciam diluir-
-se na densa cerração.
Segunda parte: as exigências do progresso fazem com que a cidade encerre
o rio num grande cano subterrâneo; ele já não pode ver a claridade argêntea do
luar, nem a luz perfulgente do sol. Parece um monge enclausurado em sua cela,
afastado para sempre do mundo; pior ainda, parece um prisioneiro fechado
em cárcere, no fundo da terra. Mas, mesmo assim, dentro das trevas espessas,
recorda-se o rio dos episódios épicos das "bandeiras" e das guerras, que ele vai,
como um aedo da Antigüidade Clássica, traduzindo em harmonias monótonas,
com o marulho suave de suas águas aprisionadas e escuras.
NARRATIVAS

3) Em que consiste o interesse deste soneto?


R.: O interesse é simultaneamente descritivo e narrativo: o primeiro, carac-
terizado pela pintura de três quadros, de amplitude decrescente:
a. O rio a correr pelo vasto sertão, em seu velho leito batido de sol
b. A cidade, que, em noite de luar, surgiu perto do vale, envolta num lençol
de neblina
c. O rio em seu leito subterrâneo e tenebroso
O segundo, em que o poeta intervém na descrição, seja para explicar, em
frases narrativas, aspectos duradouros, mudanças de aspectos ou hipóteses ("Ele
tinha o horizonte", "vivia no sertão, "até que, certa vez", "já no fim da noite",
"de repente, ele via", "enterrado, porém", "mas, mesmo assim", "talvez), seja
para interpretar estados e atitudes do rio, a que ele empresta ações humanas
("Não mais enxerga a luz de prata e nem a luz do sol é quase um monge",
"é um prisioneiro", "sem ver este clarão", "ele canta toda a lenda", "a caminhar
de rastros").

4) Faça um estudo sucinto da metrificação deste soneto.


R.: Este soneto compõe-se de versos alexandrinos, isto é, de versos que con-
tam doze sílabas poéticas:
En tre fd guas cor ren do, tro ra no de ser to
ou
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Os acentos predominantes recaem na 6e na 12' silabas; a 7 sílaba é, neste


verso, formada da última sílaba gramatical duma palavra paroxítona e da pri-
meira de outra, iniciada por vogal. Noutros versos, como no seguinte, a 6 síla-
ba confunde-se com a sílaba gramatical, por pertencer a uma palavra oxítona:
Vi v a no ser tão, bei ja do pe la bri sd
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Quanto às rimas, são todas graves e sua disposição é a seguinte:


Primeiro quarteto: 1-2-2-1 (ou: A-B-B-A)
Segundo quarteto: 1-2-2-1 (ou: A-B-B-A)
Terceiro terceto: 3 4-3 (ou: e-o-e)
Quarto terceto: 5-4-5 (ou: E-D-E)

327
FLOR DO LÁCIO

Esquema do plano de composição

a. O rio em liberdade: fráguas deserto - horizonte -


sertão - brisa - leito - sol - luar - vale - fim da noite
- brumas - cidade
O Anhangabaú
b. O rio prisioneiro: luz de prata luz do sol monge
- prisioneiro - clarão dos astros cântico trevas
modo de caminhar

328
Narrativas
TEXTOS PARA EXPLICAÇÃO

I. A BORBOLETA PRETA

N o dia seguinte, como eu estava preparado para descer, entrou no meu


quarto uma borboleta... Depois de esvoaçar muito em torno de mim,
pousou-me na testa. Sacudi-a, ela foi pousar na vidraça; e porque eu a sacudi de
novo, saiu dali e veio parar em cima de um velho retrato de meu pai. O gesto
brando com que, uma vez posta, começou a mover as asas, tinha um certo ar
escarninho, que me aborreceu muito. Dei de ombros, saí do quarto; mas tor-
nando lá, minutos depois, e achando-a ainda no mesmo lugar, senti um repelão
dos nervos, lancei mão de uma toalha, bati-lhe e ela caiu. Não caiu morta;
ainda torcia o corpo e movia as farpinhas da cabeça. Apiedei-me; tomei-a na
palma da mão e fui depô-la no peitoril da janela. Era tarde; a infeliz expirou
dentro de alguns segundos. Fiquei um pouco aborrecido. "Também por que
diabo não era ela azul?" disse comigo. E esta reflexão uma das mais
profundas que se tem feito, desde a invenção das borboletas me consolou do
malefício, e me reconciliou comigo mesmo.

Machado de Assis

Estudo das palavras e expressões

1) Explique, sem recorrer a sinônimos, o sentido das seguintes palavras do


texto:

329
FL OR DO LÁCIO

a. Esvoaçar c. Farpinhas e. A infeliz


b. Sacudi-a d. Peitoril f. Maleficio

2) Explique as seguintes expressões do texto:


a. Gesto brando d. Um repelão dos nervos
b. Ar escarninho e. Lancei mão
c. Dei de ombros f. Por que diabo

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta narrativa? Não é um pequeno drama, representa-


do por dois atores: o homem e a borboleta?

2) Mostre que, como toda peça dramática, contém esta narrativa uma expo-
sição, peripécias e um desfecho trágico, que provoca uma reflexão por parte da
personagem narradora.

3) Como se faz a passagem de cada parte para a seguinte?

4) Localize este trecho em Memórias póstumas de Brás Cubas.

Estudo das idéias

1) Analise as expressões que traduzem a irritação crescente do homem.

2) Mostre como a perseguição à borboleta e sua morte decorre de um senti-


mento supersticioso do narrador.

3) Que quer o autor dizer com sua reflexão final?

4) Qual é o tom do autor, nesta narrativa?

Exercício t: vocabulário e gramática

1) Cite verbos da mesma família que:

330
NARRATI VAS

a. Borboleta e. Novo i. Ar
b. Preta f. Velho j. Nervos
c. Dia g. Brando k.Mão
d. Vidraça h. Certo 1. Corpo

2) Quais são os substantivos abstratos que correspondem a ..?


a. Novo c. Brando e. Aborrecido
b. Velho d. Certo f. Profundas

3) Qual é o étimo de cada uma destas palavras? Empregue no sentido figu-


rado, em curtas orações:
a. Esvoaçar c. Asas e. Cabeça
b. Testa d. Mão

4) Conjugue em todos os tempos o verbo "apiedar-se".

5) Analise logicamente os três primeiros períodos do texto.

6) Forme seis orações onomatopaicas que traduzam:


a. Zumbido (três orações)
b. Estalidos (três orações)

7) Como se chama a ação de matar... ?


a. Um ser humano c. Um deus e. Uma criança
b. Um rei d. A esposa

Exercício : elocução

Imitando o autor no trecho que vai desde o começo da narrativa até "me
aborreceu muito", fale de um menino que se irrita contra uma mosca imper-
tinente.

Exercício JII: redação imitativa

Escreva uma narrativa que tenha assunto semelhante ao desta, mas substi-
tuindo a borboleta por uma vespa alegre e zumbidora. Modifique, também, os
pormenores e acrescente outras peripécias.

331
FLOR DO LÁCIO

II. UM CHÁ PRE CIO SO

O grilo trazia um presente do grão-duque uma caixa de prata, forrada de


cedro, e cheia dum chá precioso, colhido, flor a flor, nas veigas de "Kiang-Sou"
por mãos puras de virgens, e conduzido através da Ásia, em caravanas, com a
veneração duma relíquia. Então, para despertar o nosso torpor, lembrei que
tomássemos o divino chá ocupação bem harmônica com a tarde triste, a
chuva grossa alagando os vidros, e a clara chama bailando no fogão. Jacinto
acedeu e um escudeiro acercou logo a mesa de Efraim para que nós lhe es-
treássemos os serviços destros. Mas meu príncipe, depois de a altear, para meu
espanto, até os cristais do lustre não conseguiu, apesar de uma suada e desespe-
rada batalha com as molas, que a mesa regressasse a uma altura humana e ca-
seira. E o escudeiro de novo a levou, levantada como um andaime, quimérica,
unicamente aproveitável para o gigante Adamastor. Depois veio a caixa de chá
entre chaleiras, lâmpadas, coadores, filtros, todo um fausto de alfaias de prata,
que comunicavam a essa ocupação tão simples e doce em casa de minha tia,
fazer chá, a majestade dum rito. Prevenido pelo meu camarada da sublimidade
daquele chá de "Kiang-Sou, ergui a chávena aos lábios com reverência. Era
uma infusão descorada que sabia a malva e a formiga. Jacinto provou, cuspiu,
blasfemou ... Não tomamos chá.

Eça de Queirós

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. Veigas f. Um escudeiro k. Infusão
b. Caravanas g. Altear 1. Sabia
c. Veneração h. Quimérica m. Malva
d. Relíquia i. Sublimidade
e. Torpor j. Reverência

2) Qual é a significação de ... ?


a. Um chá precioso g. Os serviços destros
b. O divino chá h. Uma suada e desesperada batalha
c. Ocupação harmônica i. Uma altura humana e caseira
d. A tarde triste j. Todo um fausto de alfaias de prata

332
NARRA TI VAS

e. Alagando os vidros k. A majestade dum rito


f. Bailando no fogão

3) Diga o que sabe do gigante Adamastor.

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta narrativa?

2) Quais são as passagens deste trecho que se referem ... ?


a. Ao chá precioso d. À majestade dum rito
b. À proposta do narrador e. Ao mau gosto do chá
c. À mesa de molas

3) Que pormenores contém cada uma destas passagens?

4) Localize este trecho no romance A cidade e as serras.

Estudo das idéias

1) Em que estado de alma se achavam as duas personagens desta narrativa?


Por quê?

2) Que resolveram elas fazer para afugentar o tédio?

3) Por que chama uma das personagens "meu príncipe" à outra?

4) Que há de cômico no armar a mesa presenteada por Efraim?

5) Como se chama a figura de estilo que serve para exagerar? Foi ela empre-
gada aqui? De que forma?

6) Está o ritual da preparação do chá de acordo com sua preciosidade? Por quê?

7) Qual é sua opinião a respeito do contraste existente ... ?


a. Entre essa preparação do chá e a preparação caseira evocada no texto

333
FLOR DO LÁCIO

b. Entre os requintes quase sagrados da colheita do chá e seu desagradável


sabor

Exercício 1: vocabulário e gramática

1) Empregue em curtas orações:


a. Precioso - valioso - rico - fino - magnífico - delicado
b. Forrada revestida recoberta
c. Cheia repleta plena
d. Puras imaculadas inocentes
e. Veneração - acatamento - respeito
f. Despertar - acordar - avivar - animar - excitar - estimular
g. Torpor - adormecido - modorra - letargia
h. Paranóia loucura paroxismo
i. Cairel orla borda fímbria

2) Empregue em curtas orações:


a. Divino sublime perfeito excelente
b. Harmônica congruente apropriada conveniente
c. Alagar inundar
d. Bailar dançar
e. Acercar aproximar achegar
f. Inédia abstinência abstenção
g. Opimo opíparo lauto

3) Dê sinônimos a:
a. Colher (verbo) i. Chama q. Depois
b. Veiga j. Aceder r. Fausto
c. Conduzir k. Destros s. Simples
d. Lembrar 1. Altear t. Majestade
e. Tomar m. Espanto u. Prevenir
f. Ocupação n. Apesar de v. Camarada
g. Triste o. Regressar w. Erguer
h. Clara p. Quimérica x. Reverência

334
NARRA TI VAS

4) Quando se emprega o infinitivo pessoal? Dê exemplos.

5) Quais são os adjetivos que, à semelhança de "argênteo, se formam de ... ?


a. Ouro d. Mármore g. Leite
b. Terra e. Ferro h. Lenho
c. Pedra f. Chumbo i. Vinho

6) Em curtas sentenças, empregue as seguintes palavras no sentido figurado:


a. Praia f. Despertar k. Alagar
b. Forrar g. Torpor 1. Claro
c. Flor h. Tarde m. Chama
d. Puro i. Triste n. Bailar
e. Relíquia j. Chuva o. Vomitar

7) Classifique as orações contidas nos dois primeiros períodos deste trecho.

8) Cite expressões que traduzam o aspecto:


a. Dum cafezal e. De um campo de pastagem
b. Dum algodoal d. De um bosque e de um lago

9) Forme expressões onomatopaicas que traduzam:


a. Zumbido de abelhas c. Balido de ovelhas
b. Mugido de bois d. Nitrido de cavalos

Exercício li: elocução

Reproduza oralmente esta narrativa.

Exercício 111: redação imitativa

Como se escrevesse em seu "diário, narre um episódio passado numa fa-


zenda, onde você assistiu ao cerimonioso preparo de um café extrafino, colhido
pelas próprias filhas do fazendeiro. Termine, ao contrário do texto, por uma
exclamação de maravilhada surpresa.

335
FLOR DO LÁCIO

III . O CO RON EL H OLA NDÊS

O encontro dá-se pela manhã. Logo ao primeiro combate o coronel holandês


reconhece que os tempos já não são os mesmos de dez anos passados, que um
novo sangue palpita nas veias dos heróicos defensores da terra brasileira. Dá
ordens e contra-ordens, mas os ataques dos pernambucanos têm tal vigor e tal
loucura que ele, velho soldado, se estonteia no meio da refrega. Manda avançar,
recua, desorienta-se e, quando menos espera, uma bala trespassa-lhe a perna.
Cai. Os soldados carregam-no. Ferido, vendo as suas tropas em destroço, man-
da cessar o combate e ordena aos seus que voltem para o Recife. Ao chegar,
em maca, ao Palácio do Conselho, arde-lhe a garganta penosamente. A ferida
provoca-lhe uma sede incontida. Tudo faz para calmar-se, mas cada minuto que
vem é uma tortura maior. "Agua! Um pouco de água!" decide-se a pedir. Um
oficial traz-lhe o púcaro. É a mesma água de dias antes, a água horrenda e salo-
bra das miseráveis cacimbas de beira do mar. Schkoppe toma o púcaro na mão,
bebe o primeiro trago, o segundo, com uma profunda tristeza nos olhos azuis.
Em roda, olham-no os oficiais silenciosamente, com uma eloqüência irônica
naquele silêncio. Ele compreende a linguagem daquela mudez lancinadora. E
levantando o púcaro diante dos olhos, fita-o como um vencido fitaria os des-
troços de sua derrota. Move duas vezes a cabeça e, com o braço apontado para
os lados do Novo Arraial de Bom-Jesus, diz com uma expressão que arrepia o
cabelo dos seus compatriotas: "Oh! Mas eles combatem como se estivessem
enfadados de viver!".

Viriato Correia

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. Refrega d. Maca g. Cacimba
b. Trespassar e. Púcaro h. Lancinadora
c. Destroço f. Salobra i. Arraial

2) Que significam aqui ... ?


a. Um novo sangue c. Uma sede incontida
b. Loucura d. Uma eloqüência irônica

336
NARRATI VAS

3) Que se deve entender por... ?


a. Cada minuto é uma tortura maior
b. Com uma profunda tristeza nos olhos azuis
c. Como um vencido fitaria os destroços de sua derrota
d. Eles combatem como se estivessem enfadados de viver

Estudo do plano de composição

O Coronel Schkoppe, que por diversas vezes vencera os brasileiros, re-


tira-se para a Holanda, donde só regressa dez anos depois. Encontra a
situação inteiramente mudada: vitoriosos os pernambucanos e os holan-
deses sitiados em Recife, passando privações, bebendo uma água salobra
e esverdinhada, tirada das cacimbas. Schkoppe promete a seus compa-
triotas, para depois do primeiro combate, a água pura e boa do passado ...

1) Qual é o assunto desta narrativa?

2) Divida o texto em duas grandes partes, que possam ser denominadas:


a. No campo de luta
b. No palácio de governo

3) Que fatos são narrados ... ?


a. Na primeira parte
b. Na segunda parte

Estudo das idéias

1) Que sentimentos se sucedem na alma do coronel holandês?

2) Que queria ele dizer com a última frase?

3) Que impressão de conjunto nos causa esta narrativa?

4) Analise o estilo do autor.

5) Localize este trecho no livro Histórias de nossa história.

337
FLOR DO LÁCIO

Exercício r: vocabulário e gramática

1) De um sinônimo a cada palavra seguinte:


a. Vigor, i. Enfadados q. Caliginoso
6. Loucura j. Indelével r. Induzir
c. Soldado k. Glauco s. Deduzir
d. Refrega l. Fulvo t. Reduzir
e. Trespassar m. Flavo u. Dríade
f. Calmar n. Exímio v. Hamadríade
g. Tortura o. Perene w. Ninfa
h. Horrenda p. Exicial

2) Cite substantivos que designem armas:


a. De infantaria 6. De cavalaria c. De artilharia

3) Classifique as orações subordinadas existentes neste trecho.

4) Cite palavras que traduzam silvos e estampidos.

5) Que significam as seguintes palavras?


a. Remerecer g. Agonia m. Fabril
6. Refolgo h. Angústia n. Filologia
c. Matroca i. Obnubilar o. Filosofia
d. Remancho j. Obumbrar p. Filantropia
e. Remanescer k. Reivindicação
f. Relvado I. Vindicta

Exercício ll: elocução

Conte resumidamente este mesmo episódio.

Exercício 111: redação imitativa

Narre, segundo um plano previamente traçado, um episódio heróico da


Retirada da Laguna.
Narrativas simples
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA

1) Narre as seguintes cenas, conforme o plano indicado, procurando obser-


var a verossimilhança e a seqüência dos fatos ou dos sentimentos:

a. Uma expulsão: um casal de pardais instala-se num ninho de andorinhas.


Pouco tempo depois, regressam os antigos donos, que o encontram cheio de
biquinhos esfaimados. Retiram-se as andorinhas, soltando gritos de furor. Logo
retornam, acompanhadas de fortes reforços e cercam o ninho. Os intrusos são
expulsos

b. O moscardo: você está comodamente deitada no quarto de uma chácara,


descansando e lendo revistas. Radiosa é a manhã; penetra o sol em jorros de luz
dourada pela janela escancarada. Entra alegremente um moscardo, esvoaçando e
zumbindo. Você se levanta e tenta afugentá-lo. Ele voa para o alto, escapando a
seus golpes. Você se irrita. A perseguição. Finalmente, você toma de uma toalha
úmida e arremessa-a com força contra o moscardo, que cai. A morte do inseto

c. O desastrado: Joãozinho voltou da escola, preocupado e inquieto. Teve


notas más e teme as perguntas de seus pais. Para evitá-las, ajuda solícitamente
a mãe, que está servindo chá a algumas amigas. Esmera-se no serviço com uma
complacência febril e começa a ter esperanças de que se esqueçam de lhe pergun-
tar as notas. Mas subitamente vem a pergunta. Perturbado, Joãozinho deixa cair
no colo de uma senhora um prato de bolos e a xícara de chá que lhe apresentava

339
FLOR DO LÁCIO

d. Uma visita ao cemitério: você vai a um cemitério no dia 2 de novembro


e acompanha os passos duma velhinha, vestida de luto, que visita os mortos
queridos. Perto do cemitério, ela entra na loja duma florista e dali sai com
uma grande braçada de flores; depois, atravessa o portão, toma por uma álea à
direita, e, a passos trôpegos, começa sua peregrinação de túmulo em túmulo.
Ajoelha-se diante de cada um, persigna-se, murmura uma prece, distribui flo-
res, arranja-as, arranca uma haste de capim. Levanta-se em seguida, olha algum
tempo sonhadoramente, conversa baixinho com o morto como para se despe-
dir e encaminha-se trêmula para outra pedra branca, sob a qual dorme outro
pedaço de seu coração. Terminada a visita, retira-se lentamente, envolvida num
silêncio de dor e de saudade

2) Faça, depois de organizar um plano, uma narrativa, que tenha por assunto:
a. A maior travessura de minha vida f.No vale
b. Meu primeiro baile g. As festas de Ano-Bom
c. Voltando das férias h. O Natal
d. Na praia i. O castigo da gulosa
e. Na montanha j. À margem de um rio

340
As diversas espécies de narrativas

C OMPREENDEM as narrativas, de acordo com as modalidades características


de cada qual, as narrativas simples, que já estudamos; as narrativas descri-
tivas, em que o narrador descreve, com certo desenvolvimento, alguma coisa;
as narrativas demonstrativas, em que o fato relatado serve para demonstrar
um truísmo ou uma verdade de experiência, como as contidas em provérbios;
as narrativas dramáticas ou emocionantes, cujos episódios podem agitar ou
perturbar a alma; as narrativas humorísticas, relatos de um fato que desperta
alegria ou faz rir; as narrativas com reflexões, em que uma historieta serve de
motivo ou base para reflexões do narrador; as narrativas com conversação, em
que o autor faz falar as suas personagens; as narrativas com retratos, em que
o narrador descreve uma pessoa ou um animal; as narrativas exóticas, em que
o narrador nos apresenta cenas, tipos e costumes estranhos aos nossos; as nar-
rativas antigas, em que o autor nos conta episódios e fatos, reais ou fictícios,
passados noutras eras.
A estas dez espécies de narrativas, adiremos, por serem do gênero narrativo,
a expressão de impressões pessoais, mais ou menos longa seqüência de sensações,
impressões, evocações e imagens, resultantes da reação estética ou sentimental
do narrador a uma excitação externa ou subjetiva; as fábulas, curtos contos,
quase sempre em verso, que ocultam uma moralidade sob o véu duma ficção; e,
enfim, as anedotas, contos sucintos, rápidos, cujo assunto consiste numa parti-
cularidade histórica ou numa aventura curiosa e divertida.

341
Narrativas descritivas
TEXTOS EXPLICADOS

I. A VILA DA PRAIA

C HEGADO ao alto do morro, Serafim estacou. Espraiou um largo olhar, que


abrangia tudo, sobre a casaria espalhada em baixo, salpicando, com os
tons claros das paredes caiadas e o amarelo esfumaçado dos tetos de sapé, a
verdura da vargem. Na praia, que o mar agitado franjava de ondas espumantes,
canoas descansavam sobre rolos, redes secavam ao sol, estiradas nos varais. Ao
longe, na fonte que descia do morro, cascateando, mulheres lavavam e, disper-
sas aqui e ali, refulgiam brancuras de roupas estendidas ao sol, sobre o capim
ondulante.

Vicente de Carvalho

Estudo das palavras e expressões

Estacar parar de repente.


Espraiar um olhar lançar um olhar que abrange todo o quadro.
Salpicar matizar com salpicos ou manchas espalhadas.
Franjava orlava com espumas semelhantes a franjas.
Descansar sobre rolos estar deitado sobre toros roliços de madeira.
Varais fio de arame ou cordel distendido de uma estaca a outra ou de
uma parede a outra.

342
NARRATI VAS

Brancuras de roupas- peças de roupa alvas (metonímia).

Estudo do plano de composição

O assunto Vicente de Carvalho descreve uma paisagem, onde se vêem


as casas rústicas duma vila, uma praia pinturesca, um morro, uma fonte e uma
vargem.

A composição Faz o autor a descrição através duma personagem: Se-


rafim, cujo olhar percorre o quadro, observando-lhe os elementos pictóricos
mais interessantes. É a presença dessa personagem que empresta à descrição um
caráter narrativo.
Distinguem-se aí três partes, além de uma introdução inicial. Na introdução
nota-se a chegada da personagem a seu ponto de observação: o cimo do morro.
Na primeira parte, avistam-se as casas rústicas salpicando a vargem recoberta de
vegetação. Na segunda, vêem-se a praia, o mar agitado, as canoas e as redes que
secam ao sol. Na terceira, enfim, observa-se a fonte que desce, cascateante, do
morro, as lavadeiras e o capim ondulante, sobre o qual alvejam peças de roupa.
A transição de cada parte para a seguinte se faz suavemente, por estreita
sucessão de pormenores descritivos, que vão aparecendo segundo o movimento
do olhar observador.

Estudo das idéias

O interesse O autor deseja fazer-nos ver a paisagem da mesma forma por


que a vê Serafim; o interesse de sua descrição reside, portanto, nos pormenores
descritivos, que nos permitem reconstituir todo o quadro. Alguns desses por-
menores estão caracterizados por expressões, que, figuradas ou não, indicam:
a. Cor: tons claros das paredes, o amarelo esfumaçado dos tetos, a verdura da
vargem, refulgiam brancuras
b. Forma: salpicando, franjava, cascateando
c. Aspecto: casaria espalhada, mar agitado, ondas espumantes, redes estiradas,
roupas dispersas e estendidas, capim ondulante
d. Ação: mulheres lavavam

Impressão geral Notamos que existe nesta paisagem a trindade pintures-


ca: desenho, relevo e cor, qualidades essenciais a quem pinta ou descreve.

343
FLOR DO LÁCIO

Esquema do plano de composição


a. A casaria: as paredes os te-
tos de sapé a vargem verde
Observador: Serafim
b. A praia: o mar as canoas
A vila da praia ] sobre rolos as redes nos varais
Ponto de observação:
o alto dum morro
e. A fonte: o morro as lava-
deiras as roupas o capim
ondulante

II. O QUADRO DO "ESTIO

No quadro do "Estio" de Durameau, acho encantadora a abóbada viridente das


matas, o braço das vergônteas dos parques, as dríades vertendo jarros de água
límpida das orvalhadas ânforas, os regatos serpeando por entre a madressilva e
o rosmaninho, as messes ondulando beijadas pelos zéfiros brincóes, o tentilhão
saltitando de frança para frança, os arvoredos rumorejando com uma soidosa"
toada, o rouxinol, cantando aos salgueiros as suas tristezas. Tudo isto vejo no
quadro, vivendo, movendo-se, falando; mas, se a tentação de ver a realidade
me" vence, vem o pó, e cega-me; vem o calor, e reduz-me a manteiga; uma
farpa da silva rasga-me o casaco; o chapéu fica-me espetado em um galho, outro
fura-me o olho; e um porco, picado pelas vespas, bufa-me às pernas, enraiveci-
do. Oh! Como é delicioso o estio!

Camilo Castelo Branco

Estudo do plano de composição

1) Que nos descreve o autor nesta narrativa?


R.: O autor descreve um quadro artístico e, em seguida, o satiriza, fazendo
comentários sarcásticos a respeito da realidade que ele representa.

17 Soidosa: saudosa.

18 O professor explicará, neste trecho, o emprego do gerúndio e do pronome pessoal "me".

344
NARRATIVAS

2) Em que é descritiva esta narrativa?


R.: É narrativa porque o autor fala na primeira pessoa, como um narrador;
e descritiva porque descreve um quadro.

3) Em quantas partes se divide este trecho?


R.: Divide-se em duas partes, das quais a primeira termina na palavra "fa-
lando"; são:
a. O quadro artístico
b. O quadro real

4) Como se ligam ambas essas partes?


R.: Ligam-se pela conjunção coordenativa adversativa "mas, que inicia uma
série de considerações opostas aos pormenores da primeira parte.

5) Qual é o conteúdo de cada uma destas partes?


R.: Na primeira parte, encanta-se o autor com os parques viridentes, onde
se encontram estátuas de dríades, regatos, trigais ondulando à brisa, pássaros
canoros, árvores rumorejantes. Na segunda, ele se aborrece com a poeira que
o cega, com o calor que o atormenta, com a natureza agressiva que o envolve,
com o animal que o ataca.

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse desta narrativa?


R.: O interesse decorre do contraste entre os dois quadros.

2) Com que expressão traduz o autor... ?


a. A beleza do quadro artístico
b. A realidade prosaica do quadro real
R.: As expressões estão de acordo com os respectivos temas: na primeira par-
te as palavras são escolhidas, nobres e tão apropriadas, que os pormenores pin-
turescos nos incidem imediatamente sob os sentidos. Eles evocam com nitidez
uma forma, uma cor ou, ainda, particularidades expressivas doutros aspectos
das coisas; como, por exemplo:
A abóbada viridente, para designar a forma e a cor de todo o conjunto
da folhagem das árvores
O braço enlaçado, para indicar o entrançamento das longas hastes fle-
xíveis

345
FLOR DO LÁCIO

O adjetivo "limpida", para mostrar a clareza pura da água


O particípio "orvalhadas", que pinta a umidade da superfície das ânforas
O verbo "serpear, que descreve o movimento dos regatos etc.
Encontram-se ainda, no quadro, outras notas de beleza estética, que agra-
dam aos olhos e ao ouvido, como a soidosa toada, os arvoredos, o tentilhão
saltitando de frança para frança e os rouxinóis cantando nos salgueirais.
Na segunda parte, Castelo Branco emprega expressões vulgares ou exage-
radas para acentuar seu desapontamento e sua cólera: o calor que o reduz a
manteiga, o pó que o cega etc. O autor acumula pormenores escolhidos, de tal
forma que o quadro se torna um ambiente desagradável.

3) Quais são os sentimentos do autor e em que tom os exprime?


R.: Os sentimentos que transparecem no trecho são de desapontamento
e cólera, sendo que o autor exalta a beleza artística do quadro como simples
pretexto para os manifestar. Exprime-se num tom de ironia e mesmo de sar-
casmo, como se depreende da seqüência dos pormenores e da frase exclamativa
final.

4) Em que é a verossimilhança a qualidade primordial duma narrativa?


R.: Toda narrativa deve ser ou verdadeira, ou verossímil, isto é, ter aparência
de verdadeira, até mesmo nos contos fantásticos ou de maravilhas: do contrário,
perde o interesse. Aqui, o interesse está, como já vimos, no contraste existente
entre o quadro artístico e a realidade; e como, quase sempre, a arte embeleza
a natureza, pois que na arte há a sensibilidade de uma alma esteta, é bastante
provável que a realidade possa, com toda a verossimilhança, apresentar-nos os
fatos desagradáveis que Camilo Castelo Branco nos relata espirituosamente.
Narrativas descritivas
TEXTOS PARA EXPLICAÇÃO

I. O ARROZ-DOCE

D EPOIS chegara a hora das luzes e do jantar. Eu encomendara pelo grilo


ao nosso magistral cozinheiro uma larga travessa de arroz-doce, com as
iniciais de Jacinto e a data ditosa em canela, à moda amável da nossa meiga
terra. E o meu príncipe à mesa, percorrendo a lâmina de marfim onde no 202
se inscreviam os pratos a lápis vermelho, louvou a idéia patriarcal: "Arroz-doce!
Está escrito com dois 'ss', mas não tem dúvida ... Excelente lembrança! Há que
tempos não como arroz-doce! Desde a morte da av6". Mas quando o arroz-
-doce apareceu triunfante, que vexame! Era um prato monumental, de grande
arte! O arroz, maciço, moldado em forma de pirâmide do Egito, emergia duma
calda de cereja, e desaparecia sob os frutos secos que o revestiam até o cimo,
onde se equilibrava uma coroa de Conde feita de chocolate e gomos de tange-
rina gelada! E as iniciais, a data, tão lindas e graves na canela ingênua, vinham
traçadas nas bordas da travessa com violetas pralinadas! Repelimos, num mudo
horror, o prato acanalhado. E Jacinto, erguendo o copo de champagne, murmu-
rou como num funeral pagão: "Ad Manes, aos nossos mortos!".

Eça de Queirós

347
FLOR DO LÁCIO

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. Magistral c. Maciço e. Emergir
b. Vexame d. Moldado f. Cimo

2) Qual é a significação de ... ?


a. Data ditosa e. A canela ingênua
b. Nossa meiga terra f. Violetas pralinadas
c. A idéia patriarcal g. Um mudo horror
d. Um prato monumental h. Um funeral pagão

3) Que significa a expressão latina: "Ad Manes"? Por que a empregou aqui
o autor?

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta narrativa?

2) Em que é descritiva esta narrativa?

3) Divida o trecho em duas partes, a saber:


a. O arroz-doce encomendado
b. O arroz-doce monumental

4) Qual é o conteúdo de cada uma destas partes?

5) Que conjunção liga a segunda parte à primeira? Com que sentido?

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse desta narrativa?

2) Como exprime o autor... ?


a. A expectativa do príncipe
b. A decepção dos comensais
NARRATIVAS

3) Por que chama "príncipe" ao seu amigo a personagem narradora deste


episódio?

4) Que impressão nos causa o arroz-doce preparado pelo cozinheiro? Por quê?

5) Por que Jacinto e seu amigo desejavam tanto o arroz-doce à portuguesa?

6) Localize este trecho no romance A cidade e as serras, de Eça de Queirós.

Exercício I: vocabulário e gramática

1) Determine, por meio de orações apropriadas o sentido de:


a. Magistral - perfeito - irrepreensível - insuperável
6. Amável gentil delicada graciosa
c. Louvar - elogiar - exaltar - gabar - vangloriar Jactar adular
d. Espertina - insônia
e. Transigir - condescender - concordar
f. Linde fronteira raia

2) Empregue em curtas orações:


a. Fervor ardor calor zelo empenho
6. Dúvida hesitação incerteza
c. Triunfalmente vitoriosamente gloriosamente
d. Vexame vergonha escândalo afronta desonra
e. Maciço compacto encorpado
f. Recesso - imo - recôndito
g. Comprazer aprazer
h. Prover provir

3) Dê sinônimos a:
a. Depois i. Aparecer q. Horror
6. Larga j. Emergir r. Acanalhado
c. Ditosa k. Revestir s. Erguer
d. Meiga 1. Cimo t. Mortos
e. Vermelho m. Lindas u. Inquinar

349
FLOR DO LÁCIO

f. Excelente n. Graves v. Contíguo


g. Lembrança o. Ingênua
h. Morte p.Mudo

4) Substitua, no texto, por expressões equivalentes:


a. Com fervor c. Excelente lembrança
b. De marfim d. Do Egito

5) Explique a concordância do verbo com o sujeito em: "A vida e o tempo


nunca pára".

6) Dê antônimos a:
a. Depois f. Ditosa k. Emergir
b. Chegar g. Amável 1. Lindas
c. Luzes h. Fervor m. Mudo
d. Magistral i. Dúvida n. Erguer
e. Doce j. Morte

7) Empregue em curtas orações, tanto no sentido próprio como no figurado:


a. Luz d. Marfim g. Coroa
b. Doce e. Morte h. Gelada
c. Meiga f. Fruto

8) Forme pequenas expressões comparativas com as palavras do item 7.

9) Retire do trecho as orações subordinadas, classificando-as.

10) Cite expressões que traduzam uma idéia ...


a. De encantamento
b. De decepção
c. De repugnância

11) Conjugue os verbos "repelir" e "emergir".

350
NARRATI VAS

Exercício II: elocução

Faça a reprodução oral deste trecho.

Exercício III: redação imitativa

Escreva, imitando o tom de Eça de Queirós, uma pequena narrativa, que


tenha por assunto a descrição dum banquete oferecido por um ricaço ignorante
e vaidoso.

II. OS FOGUETES

Era um começo de tarde amarela e quente, de ar parado. Fora dos seus hábitos,
meu pai saíra depois do almoço, deixando a sólita sesta cochilada à rede, na
varanda. Quando voltou, à hora do jantar, vinha acompanhado de um certo
Carlito, meu camarada de escola e empregado na loja de ferragens do Góis.
Carlito sobraçava um molho de foguetes, cuja vista desde logo me alvoroçou.
E, à ordem de ir à cozinha pelo tição indispensável, não esperei outros esclare-
cimentos, pois via já os rojões a subir pelos ares, o que era muito bonito. Via
também que os rojões eram nossos; o que era lindo. Voei para o fogão. Mo-
mentos depois, içados pelo Carlito, espoucavam abafadamente no ar as respos-
tas daqueles deliciosos órgãos do regozijo político paterno. No momento, não
curei desse regozijo nem das suas causas. O caso concreto dos foguetes é que
me interessava. E eles subiram, um a um, e lá em cima deitaram os estampidos
alvissareiros. Até o último da dúzia. Muito tempo fiquei ainda ali na calçada,
seguindo com a vista a sombra das últimas fumaradas a esvaírem do ar. Quando
acordei, havia em redor de mim uma chusma de pirralhos do bairro, que co-
mentavam variadamente o feito. Carlito já os informara da família que dera as
salvas. E eu gozei por alguns momentos a superioridade de ser daquela família.
Tentei mesmo prolongar o meu prestígio, declarando o preço dos fogos, mas o
Carlito corrigiu-me, reduzindo-o à terça parte, o que instantaneamente de todo·
desfez a minha glória. Os garotos acompanharam Carlito, deixando-me só, a
amargar da efemeridade das glórias da terra.

-Leo Vaz

351
FLOR DO LÁCIO

Estudo das palavras e expressões

1) Qual é o sentido de ... ?


a. S6lita e. Içados i. O feito
b. Sesta f. Curar j. As salvas
c. Sobraçar g. Chusma
d. Molho h. Pirralhos

2) Que significam aqui ... ?


a. Tarde amarela e. Órgãos do regozijo político paterno
b. Ar parado f. Estampidos alvissareiros
c. Voei para o fogão g. Amargar da efemeridade das glórias
d. Espoucavam abafadamente da terra

3) Explique a colocação dos pronomes neste trecho.

Estudo do plano de composição

1) Que nos conta Leo Vaz nesta narrativa?

2) Divida esta narrativa em três partes, dando-lhes os títulos:


a. A compra dos foguetes c. Os meninos
b. Soltando os foguetes

3) Qual é o conteúdo de cada uma destas partes?

Estudo das idéias

1) Prove que o interesse desta narrativa está principalmente nas sensações e


nos sentimentos do narrador.

2) Que impressão nos produz o pequeno herói desta narrativa? Por quê?

3) Como descreve o autor... ?


a. O estampido dos foguetes c. Sua desilusão

352
NARRATI VAS

b. A satisfação do menino

4) Prove que a verossimilhança é a primeira qualidade duma narrativa.

5) Localize este trecho no romance O Professor jeremias.

Exercício t: vocabulário e gramática

1) Cite nomes de fogos de artifício.

2) Cite adjetivos e verbos que exprimam cores fulgurantes.

3) Forme três comparações que exprimam fulgor.

4) Cite verbos e substantivos que traduzam silvos, chiados e estampidos.

5) Forme onomatopéias que exprimam:


a. Sucessão de chiados
6. Sucessão de estrondos

6) Dê exemplos de complementos circunstanciais de tempo, causa, fim,


modo, meio, instrumento, preço e matéria.

7) Explique qual a função da expressão "é que" nos seguintes exemplos:


a. O caso concreto dos foguetes é que me interessava
b. O mau tempo é que me prende em casa
Forme três orações semelhantes.

8) Explique a concordância do verbo com o sujeito na oração adjetiva: "Que


comentavam variadamente o feito".

9) Acrescente, aos seguintes substantivos, adjetivos que traduzam estampi-


dos ou silvos:
a. Bombas d. Canhões g. Busca-pé
b. Foguetes e. Fuzis h. Rodinhas ( de fogo)
c. Granadas f. Obus

Exercício : elocução

353
FLOR DO LÁCIO

Imitando o autor no trecho que vai desde: "Muito tempo fiquei" até "o
feito", fale de:
a. Um menino que adormece, deitado na grama do quintal de sua casa, e
acorda rodeado de pombas e galinhas
b. Um homem que adormece no cinema e desperta nas trevas do salão.

Exercício II: redação imitativa

Narre suas impressões durante os festejos de São João, descrevendo os fogos


de artifício que se queimam e os balões que sobem ou pairam no espaço. Em-
pregue onomatopéias.

III. A TEMPESTADE NA SELVA

Nessa tarde, quando regressávamos, uma formidável tempestade surpreendeu-


-nos na mata. O mar de frondes verdes encapelara-se de súbito, estopetado por
ventania louca, que ululava com voz rugidora e ameaçante. Os pegóes eram
contínuos e ia no ar a zanguizarra das franças atritadas e o remoinho das folhas
soltas e dos galhos partidos. Por vezes, tinha-se a impressão de que as árvores
não resistiriam às lufadas mais fortes, que lhes vergavam os troncos e torciam
as ramas, abrindo clareiras por onde se divisavam nesgas dum céu de chumbo.
E fez-se a noite na floresta, uma noite espessa e tormentosa, entremeada apenas
de onde a onde pela fosforescência lívida dos relâmpagos. As bátegas caíam
pesadas enquanto os trovões restrugiam sobre as nossas cabeças, aumentando a
atoarda do furacão em que se ouvia o alarido de mil bocas em rinchavelhadas
histéricas, uivos e assovios. Não seria maior a algazarra se uma multidão de
gigantes andasse às soltas, resfolegando uma pocema de guerra.

Gastão Cruls

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. Encapelara-se f. Remoinho k. Restrugiam
b. Estopetado g. Lufadas l. Atoarda

354
NARRA TI VAS

c. Os pegóes h. Clareiras m. Furacão


d. A zanguizarra i. Nesgas n. Resfolegando
e. Franças atritadas j. Bátegas

2) Que significam aqui ..?


a. O mar de frondes verdes f. Fez-se a noite
b. Ventania louca g. A fosforescência lívida dos relâm-
c. Ululava pagos
d. A voz rugidora e ameaçante h. O alarido de mil bocas
e. Céu de chumbo i. Rinchavelhadas histéricas

3) Substitua no texto os adjetivos em itálico por expressões que caracterizem


com mais energia os substantivos:
a. Ventania louca
b. Voz ameaçante

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta narrativa?

2) Divida o trecho em duas partes, a saber:


a. A ventania
b. A escuridão

3) Como se liga a primeira parte à segunda?

4) Que pormenores descritivos se encontram em cada uma delas?

Estudo das idéias

1) Que é que mais nos interessa nesta narrativa?

2) Como descreve Gastão Cruls ... ?


a. A ventania e seus ruídos
b. A tempestade e seus efeitos

355
FLOR DO LÁCIO

3) Prove como são bem empregadas aqui as seguintes expressões, que fica-
riam mal numa descrição pura:
a. Por vezes, tinha-se a impressão c. Fez-se a noite
b. Se divisavam nesgas d. Se ouvia o alarido

4) Quais são as impressões pessoais do autor? Como as exprime ele?

5) Mostre como o autor empregou expressões que produzem sensações vivas.

Exercício t: vocabulário e gramática

1) Empregue apropriadamente em curtas orações:


a. Tempestade temporal procela
b. Floresta mata bosque
c. Formidável - terrível - tremenda - pavorosa - temerosa - medonha
d. Frondes - copas franças folhagens
e. Encapelar-se - levantar-se - encrespar-se encristar-se arrepiar-se
- enrugar-se - eriçar-se
f. Tonitruante - ribombante - reboante - estrondeante

2) Empregue em curtas orações:


a. Estopetar despentear
b. Ventania vendaval tufão furacão
c. Louca violenta impetuosa furiosa
d. Ulular bradar bramir uivar
e. Pegóes rajadas lufadas
f. Atritadas friccionadas esfregadas
g. Remoinho redemoinho turbilhão torvelinho
h. Ressarcir indenizar

3) Cite palavras que signifiquem:


a. Regressar h. Divisar o. Rinchavelhada
b. De súbito i. Espessa p. Algazarra
c. Rugidora j. Tormentosa q. Multidão
d. Ameaçante k. Bátegas r. Resfolegando
NARRATI VAS

e. Partidos l. Restrugir s. Pocema


f. Fortes m. Atoarda
g. Vergar n. Alarido ou alarida

4) Substitua no texto as seguintes expressões por outras equivalentes:


a. O mar de frondes verdes e. De onde a onde
b. Com voz rugidora e ameaçante f. Em rinchavelhadas histéricas
e. De chumbo g. De guerra
d. Fez-se a noite na floresta

5) Explique a concordância do verbo com o sujeito em: "Uma palavra, um


gesto, um olhar bastava.

6) Forme pequenas expressões comparativas que emprestem energia à idéia de:


a. Ventania c. Refulgência
b. Escuridão d. Estrépito

7) Cite palavras que caracterizem:


a. O mar à noite c. Um vendaval
b. Um rio à noite d. Um aguaceiro

8) Cite expressões que traduzam sensações auditivas.

9) De exemplos de subordinadas relativas, interrogativas, reduzidas infiniti-


vas e reduzidas participiais.

10) Conjugue o verbo "resfolegar".

Exercício 11: elocução

Imitando o autor na passagem que começa em: "Nessa tarde" e termina em


"galhos partidos", fale:
a. De uma festiva recepção que lhe é feita em casa de seus avós, quando você
termina seu curso secundário ou normal
b. De um incêndio na mata

357
FLOR DO LÁCIO

Exercício i: redação imitativa

Você tem a oportunidade, numa viagem marítima ou fluvial, de assistir a


uma tempestade, que lhe causa forte impressão. Com este assunto, componha
uma narrativa, tendo o cuidado de fazer com que a descrição seja apresentada
como uma série de impressões.
Narrativas descritivas
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA

1) Faça as seguintes narrativas descritivas, tendo o cuidado de que as descri-


çóes sejam apresentadas como impressões do narrador:

a. Uma viagem de automóvel: "Que belo dia passei!" meu pai convi-
dou-me para uma viagem de automóvel. Como a vila aonde íamos era muito
distante, partimos em boa velocidade. Atravessamos a cidade adormecida, por
avenidas e ruas ainda mergulhadas nas brumas da madrugada. Depois des-
filamos através de campos, de vales e de bosques. Passamos por uma ponte.
Contornamos uma montanha. Meus olhos viam, embevecidos, paisagens que
pareciam aproximar-se de nós e logo desapareciam. Confiando na perícia de
meu pai, nem sequer pensava eu nos perigos da estrada. Divertiam-me todos os
incidentes. A chegada a nosso destino arrancou-me de um sonho encantador.

Observações para o desenvolvimento desta narrativa:

A composição Descreve esta narrativa um passeio de automóvel, cujo


itinerário lhe constituí a estrutura. O carro passa sucessivamente pela cidade
adormecida, por avenidas e ruas mergulhadas nas brumas da madrugada, por
campos, vales, bosques, uma ponte, etc.
Cada um desses lugares deve ser objeto duma descrição rápida, não se limi-
tando o aluno a enumerar os pormenores, mas fazendo-nos vê-los nítidamente
e assinalando, portanto, com esse fim, o que pode interessar ou comover; des-
tarte, ele partilhará com o leitor as próprias impressões.

359
FLOR DO LÁCIO

A unidade Numa semelhante narrativa, é mister evitar as repetições, as-


sim como uma enumeração fria e banal, não se devendo, também, interromper
a narrativa para desenvolver longas descrições das coisas ou quadros vistos.
Tanto num como noutro caso, ficaria rompida a proporção entre as ações e a
descrição, e não haveria mais unidade.
Obtém-se esta unidade entre ambas as espécies de desenvolvimento (descri-
tivo e narrativo), ligando uma e outra ao pensamento de quem escreve. A jovem
viajante experimenta aqui uma impressão de surpresa e encantamento; assim,
pois, deve-se escolher pormenores que possam traduzir esta impressão.

O pinturesco Tudo o que nos surpreende o olhar, tudo o que possa cons-
tituir assunto de um quadro, é o que se chama pinturesco. É, pois, à procura de
efeitos pitorescos que se deve dedicar o aluno, esforçando-se por emprestar, às
coisas, características de forma, cor e relevo, distribuindo-as, ainda, de acordo
com os princípios da perspectiva.

A narrativa descritiva Observando estes princípios de composição, isto


é, ligando, a uma série de ações, passagens descritivas cujo pinturesco corres-
ponda à preocupação de quem narra, poderá o aluno fazer uma narrativa des-
critiva, em que haverá verossimilhança, proporção, unidade e interesse.

Estes mesmos princípios, mutatis mutandis, devem ser aplicados às narrati-


vas seguintes.

b. Do farol: Fomos visitar um farol situado no cimo dum penhasco. Estava


baixo o mar; ante nossos olhos, estendiam-se as praias arenosas. As águas azuis
do oceano pareciam imóveis ao longe; toda a vida da costa como que se para-
lisara. Terminada a visita, regressamos pelo mesmo caminho. A maré subia; a
praia, o mar, o próprio céu começavam a animar-se. E este contraste nos inte-
ressou vivamente.

2) Desenvolva os seguintes temas em forma de narrativa descritiva, tendo


o cuidado de que as descrições, curtas e expressivas, sejam apresentadas como
impressões suas:
a. Uma excursão à montanha g. Num circo
b. Uma excursão fluvial h. Um piquenique de estudantes
c. Uma excursão ao campo i. Uma viagem aérea
d. Um passeio pela mata j. O presidente da República em
revista às tropas

360
NARRATIVAS

e. A hora de saída da escola k. Uma procissão de enterro


f. As cavalhadas l. Uma viagem de trem
Narrativas demonstrativas
TEXTO EXPLICADO

O CALIFA E O ANCIÃO

o Califa Harum-al-Raschid por um campo, aonde andava a folgar à caça,


I A
quando sucedeu de passar por pé dum homem já mui velho, que estava a
plantar uma nogueirinha. Então disse o califa aos do seu séquito: "Em verdade,
bem louco deve ser este homem em estar a plantar agora esta nogueira, como
se estivesse no vigor da mocidade, e contasse como certo vir a gozar dos frutos
desta planta". Indo-se então o califa em direitura ao velho, perguntou-lhe quan-
tos anos tinha. "Para cima de oitenta" - respondeu o velho "mas, Deus seja
louvado, sinto-me ainda tão robusto e saudável, como se tivesse apenas trinta".
"Sendo assim" redargüiu o califa "quanto pensas tu que ainda hás de
viver, pois que nessa idade já tão adiantada estás a plantar uma árvore que por
natureza só daqui a largos anos dará fruto?". "Senhor" disse o velho "te-
nho grandes contentamentos em a estar plantando, sem inquirir se serei eu ou
outros atrás de mim quem lhe colherá os frutos. Assim como nossos pais tra-
balharam por nos legar as árvores que nós hoje desfrutamos, assim é justo que
deixemos outras novas, com que nossos filhos e netos venham a utilizar-se e a
enriquecer-se. E, se hoje nos sustentamos dos frutos do seu trabalho e se foram
nossos pais tão cuidadosos do futuro, como havemos de retribuir em desamor
aos nossos filhos o que de nossos pais recebemos em carinho e previdência?
Assim, semeia o pai para que o filho possa vir a colher".

Latino Coelho
NARRATIVAS

O assunto Narra o autor, neste trecho, um episódio passado com o Ca-


lifa Harum-al-Raschid, quando, num passeio pelo campo, se encontrou com
um ancião que estava a plantar uma nogueira. Estabeleceu-se entre ambos,
então, um diálogo a respeito dos proveitos que o velho esperava, apesar da sua
avançada idade, retirar dos frutos da futura árvore.

O plano de composição No desenvolvimento do plano de composição,


três tópicos principais constituem as partes de que se compõe esta narrativa:
a. O encontro do califa com o velho
b. A interpelação que lhe faz
c. As reflexões do velho

O interesse narrativo O interesse desta narrativa reside nas respostas do


velho, que formam uma lição de moral e de solidariedade humana, demons-
trando-nos que o trabalho de cada um de nós não se deve deter nos limites de
nossa vida, mas projetar-se no futuro, em benefício da posteridade.

O estilo -A nobreza e a serenidade de tom em que falam os protagonistas


desta historieta, assim como o vocabulário de Latino Coelho e seu movimento
fraseológico, emprestam à narrativa pronunciado sabor clássico.
Narrativas demonstrativas
TEXTOS PARA EXPLICAÇÃO

I. O AMOR MATERNO

N o fundo da chácara, numa touceira de arbustos, um menino encontrou


um ninho, onde três avezinhas mal emplumadas dormiam. Contente do
seu achado e no desejo inconsciente de se apoderar dele, o menino meteu o
braço por entre a trama dos galhos e das folhas e aproximou a mão cobiçosa
dos pobres inocentes, que logo ergueram para ele o biquinho guloso. Nesse
momento, o menino ouviu pipilos angustiados e o sussurro duma asa que lhe
roçou pelo rosto. Depois sentiu que essa asa lhe batia nos olhos e que um bico
audaz lhe espicaçava o rosto. Tímido, receoso dessa inesperada agressão, retirou
o braço e olhou. Era um tico-tico, a mãe das avezinhas do ninho, que defendia
a prole, e continuou a atacar o menino, enquanto ele permaneceu junto à tou-
ceira de arbustos. Saindo dali, muito admirado da audácia e da coragem dessa
ave minúscula, o menino contou o caso à mãe. E a mãe disse-lhe: "Não há que
estranhar, meu filho; essa avezinha faz pelos filhos o que eu faria por ti".

Garcia Redondo

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


NARRATI VAS

a. Touceira d. Roçar g. Audácia


b. Mal emplumadas e. Espicaçar h. Ave minúscula
c. A trama dos galhos f. Prole

2) Que significam aqui ... ?


a. Desejo inconsciente c. Pobres inocentes e. Pipilos angustiados
b. A mão cobiçosa d. O biquinho guloso f. Um bico audaz

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta narrativa?

2) Divida o trecho em três partes, a saber:


a. O encontro do ninho
b. A enérgica atitude do tico-tico
c. A explicação da mãe do menino

3) Quais são os fatos narrados em cada uma destas partes?

4) Como se liga cada uma destas partes à parte seguinte?

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse desta narrativa?

2) Por que é este trecho uma narrativa e não uma simples descrição de pes-
soa em ação?

3) Como se pode provar que há, nesta narrativa, unidade, verossimilhança


e proporção?

4) Analise, em poucas palavras, o estilo do autor, neste trecho.

Exercício t: vocabulário e gramática

1) Dê sinônimos às palavras:
FLOR DO LÁCIO

a. Constante f. Audaz k. Labéu


b. Inconsciente g. Atacar 1. Sobressalto
c. Aproximar h. Feraz m. Escorraçar
d. Pobres i. Sáfaro n. Rechaçar
e. Guloso j. Ressarcir

2) Forme, com as palavras indicadas no exercício número l, curtas orações,


que terminem com uma comparação.

3) Dê exemplos de hipérbole, antítese e metáfora.

4) Cite substantivos, adjetivos e verbos que caracterizem o aspecto e a ação


de um galo enraivecido.

5) Explique a concordância do verbo com o sujeito em:


a. Nenhum vestígio de sua presença deixou o autor ou autores do crime
6. Nem um, nem outro falou a verdade

6) Classifique as orações subordinadas do trecho.

7) Empregue apropriadamente em orações as seguintes palavras:


a. Precípuo primordial primacial
6. Sucinto curto apoucado
c. Geocentrismo heliocentrismo
d. Fulgurar fulminar relampejar
e. Vestígio resquício
f. Apegar-se aferrar-se afeiçoar-se
g. Mendicidade mendacidade

Exercício : elocução

Imitando o autor na passagem que vai do começo da narrativa até "pobres


inocentes", fale:
a. De um menino que encontra, numa moita de capim, um ninho de gali-
nha cheio de ovos
6. De um mendigo que quer apanhar um charuto, caído do bolso dum
transeunte

366
NARRATI VAS

Exercício: redação imitativa

Conte, numa narrativa semelhante a esta, como você se assustou com o ata-
que de um galo, ao pretender brincar com os pintainhos, no quintal de sua casa.

II. O TESOURO DO MUJIQUE

Certo mujique miserável descobriu, no cemitério da aldeia, ao enterrar a pró-


pria mulher, um vaso repleto de ouro e, para tranqüilizar a consciência, contou
ao Pape do lugar a sua extraordinária aventura. Este, que era um velho ines-
crupuloso e rapace, imaginou, de pronto, um meio de arrancar esse tesouro ao
mujique. Chegando à casa, matou um bode, tirou-lhe a pele, com os cornos e a
barba, e, à noite, meteu-se nela, mandou que a mulher a cosesse, e dirigiu-se à
cabana do camponês, onde estacou, berrando e dando marradas: "Quem é?" -
gritou o mujique, acordando sobressaltado. "É o diabo; abre!". "Isto aqui é um
santo lugar respondeu o camponês, persignando-se. "Escuta, velho" ber-
rou o Pope "eu tive piedade de ti quando te vi sem um copeque para o enter-
ro da tua mulher; dei-te dinheiro e, no entanto, tu o pões fora, esbanjando-o.
Anda, entrega-me o meu ouro ou eu levo a tua alma!". O mujique espiou pela
fresta da porta e, vendo os cornos do bode, não se ateve em dúvidas; pegou o
vaso de ouro, pô-lo fora da cabana, reentrando nesta apressadamente, rendendo
graças a Deus e a São Nicolau, por se ter livrado com alma e com vida. Quan-
to ao Pape, apanhou o tesouro e saiu a galope, rumo de casa. Chegando aí,
chamou pela mulher, para que o despisse da pele caprina. A velha trouxe uma
faca e principiou a cortar os fios da costura. Mal, porém, cortara o primeiro, o
Pape soltou um grito de dor: "Ai! Estás me cortando! Não me cortes! Não me
cortes!". A pele do bode havia-se identificado com a do Pope, que ficou sendo
bode por todo o resto dos seus dias.

Humberto de Campos

Estudo das palavras e expressões

1) Que significam as seguintes palavras do texto?


a. Mujique e. Dar marradas i. Ater-se em dúvidas
b. Inescrupuloso f. Sobressaltado j. Pele caprina
c. Rapace g. Copeque k. Havia-se identificado
FLOR DO LÁCIO

d. Estacar h. Esbanjar

2) Explique o sentido das seguintes expressões:


a. Tranqüilizar a consciência
b. Extraordinária aventura
c. Arrancar
d. Por se ter livrado com alma e com vida

3) Que diferença há entre "chamar a mulher" e "chamar pela mulher"?

4) Que representa São Nicolau para os crentes russos?

5) Que diferença há entre "o pós fora" e "pó-lo fora"?

Estudo do plano de composição

1) Que nos conta Humberto de Campos nesta página?

2) Mostre que esta narrativa nos apresenta uma pequenina comédia dramá-
tica, com personagens, uma introdução, peripécias e um desfecho.

3) Que nos mostra o princípio desta comédia? A continuação? O fim?

Estudo das idéias

1) Que é que mais nos desperta a curiosidade nesta narrativa: as persona-


gens, a fantasia do autor, o interesse demonstrativo ou o estilo? Por quê?

2) Prove que esta narrativa demonstra que o mal, cedo ou tarde, sempre é
castigado.

3) Que podemos pensar do caráter ... ?


a. Do mujique
b. Do Pope

4) Com que expressões empresta Humberto de Campos cor local a sua nar-
rativa?

368
NARRATI VAS

5) Qual é a sua opinião acerca da capacidade narrativa do autor? Justifique-a.

Exercício I: vocabulário e gramática

1) Cite palavras da mesma família que:


a. Ciência c. Velho e. Santo
b. Saber d. Campo f. Ouro

2) Cite nomes:
a. De metais preciosos
b. De pedras preciosas

3) Cite verbos que exprimam idéias:


a. De cor luminosa
b. De refulgência

4) Forme seis sentenças curtas, em que exprima, por meio de figuras, suas
impressões pessoais a respeito de gemas e metais preciosos.

5) Explique a concordância do verbo com o sujeito em:


a. Já lhe ficava atrás mais de cinqüenta léguas
b. O rico e o pobre, o orgulhoso e o humilde, ninguém escapa à morte

6) Analise logicamente o trecho que começa em: "Chegando à casá' e ter-


mina em "é o diabo; abre!".

7) Que significam as seguintes palavras?


a. Resplendor e. Rutilação i. Coruscação
b. Resplendência f. Fulgurância j. Refulgência
c. Resplandecência g. Fulgor k. Faiscação
d. Rutilância h. Lampejo

Exercício : elocução

Reproduza oralmente esta narrativa, substituindo o discurso direto pelo in-


direto.
FLOR DO LÁCIO

Exercício : redação imitativa

Conte, demonstrando que a sorte surge, muitas vezes, nos momentos mais
inesperados, a história dum homem que, desesperado com uma vida de priva-
çóes e angústias, tenta matar-se por enforcamento, para o que prende sólida
corda a um gancho de sua velha casa. Com o peso do corpo, vem o teto abaixo
e, em meio da poeira que se levanta e dos destroços que se abatem sobre o ho-
mem atordoado, rola, tinindo, enorme quantidade de jóias e moedas de ouro.

III. A MENINA MÁ

Havia em casa uma cadelinha, cor de ganga, bonita era uma perfeição. Fiel e
boa amiga como quem era, limpa e nédia a não poder ser mais. Era a pérola de
espécie canina: só lhe faltava falar. Em mansidão não havia excedê-la. Brincava
com as duas meninas como se tivesse entendimento. Deixava-se arrastar, torcer
e beliscar pela diabólica Luísa, sem de tudo aquilo se mostrar ofendida; antes,
de cada vez lhe lambia mais e mais as mãos, fazendo-lhe festas, com ar queixo-
so, sim, mas não agastado. Cansada de ver que todos os seus maus tratos não
enraiveciam a boa cadelinha, ou talvez inspirada pelo demônio tentador das
meninas más -que eu não quero acreditar possa haver maldade bem profunda
nestas almas novinhas, ainda de pouco saídas dentre as mãos do Criador -,
quereis saber o que ela fez? Sem se importar com os bons conselhos da irmã,
que lhe pedia com as lágrimas nos olhos não fizesse tal, pegou de um cordel
muito forte, e, chamando a cadelinha com o engodo de alguns bolos arre-
piam-se-me os cabelos só de pensá-lo, ata-lho à cauda e começa a apertar-lha
sem alma, cada vez mais e mais, com muito prazer seu e muitas sentidas queixas
da pobre cadelinha, que toda se torcia e gemia com a grande dor ... A cadelinha
era muito mansa, muito dócil, mas não era de pedra. Afinal secaram-se-lhe
todas as lágrimas do seu padecer, fugiram-lhe os gemidos dolorosos. Estava já a
ponto de desmaiar de puro sofrer, quando, por um instinto de defesa, mais po-
deroso do que a vontade, por um movimento rápido, muito cego e muito cheio
de desesperação, voltou a cabeça e cravou os dentes nas mãos da cruel menina.

Mendes Leal

370
NARRATI VAS

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. Ganga c. Entendimento e. Engodo
b. Nédia d. Agastado f. Puro sofrer

2) Qual é a significação de ... ?


a. A não poder ser mais f. Não era de pedra
b. Pérola da espécie canina g. As lágrimas do seu padecer
c. Diabólica h. Fugiram-lhe os gemidos
d. Almas novinhas i. Movimento cego
e. Sem alma

3) Quais são as comparações do texto? Explique-as.

4) Explique a supressão do "que" nas orações:


a. Não quero acreditar possa haver maldade
b. Lhe pedia não fizesse tal

5) Que diferença há entre "pegar um cordel" e "pegar de um cordel"? "Puxar


a espada" e "puxar da espada"? "Beber o vinho" e "beber do vinho"?

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta narrativa?

2) Divida o trecho em três partes, a saber:


a. As qualidades da cadelinha
b. Sua tortura
c. Sua reação

3) Como se faz a transição de cada parte para a seguinte?

4) Qual é o conteúdo de cada uma destas partes?

371
FLOR DO LÁCIO

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse desta narrativa?

2) Como exprimiu o autor... ?


a. As qualidades da cadelinha
b. Seus sofrimentos
c. Seu instintivo movimento de defesa

3) Que podemos pensar do caráter da menina?

4) Diga, numa frase expressiva, o que pode esta narrativa demonstrar.

Exercício I: vocabulário e gramática

1) Forme algumas orações curtas, em que entrem as seguintes palavras:


a. Sofrer padecer agoniar
b. Tormento tortura suplício sacrifício
c. Angústia aflição agonia
d. Prazer gozo alegria
e. Opalino coralino esmeraldino

2) Quais são os adjetivos correspondentes a ... ? Qual é o étimo de cada uma


destas palavras?
a. Crueldade g. Tigre m. Esmeralda
b. Maldade h. Cabra n. Ferro
c. Tortura i. Boi o. Pedra
d. Suplício j. Cavalo p. Marfim
e. Cão k. Ouro q. Mármore
f. Gato 1. Prata r. Revivescência

3) De exemplos de metáfora, comparação, metonímia e sinédoque.

4) Cite verbos e adjetivos que dêem idéia de dor (exemplo: "Doer", "pun-
.)
gente etc ..

372
NARRATI VAS

5) Classifique as orações subordinadas do trecho.

6) Empregue apropriadamente em orações curtas:


a. Admitir c. Emitir e. Omitir
b. Demitir d. lmitir

Exercício : elocução

Imitando o autor na passagem que vai do início até "agastado", fale:


a. De um macaco domesticado
b. De um papagaio divertido
c. De um gato manso

Exercício III: redação imitativa

Narre, desenvolvendo um plano semelhante ao desta narrativa, a história


dum pequerrucho que, por inconsciência, atormenta seu gatinho predileto, até
que um dia este lhe arranha as mãos.

373
Narrativas demonstrativas
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA

N ARRE, segundo planos previamente organizados, historietas demonstra-


tivas de que:

1)Duro com duro não faz bom muro


2)De cruzeiro em cruzeiro se faz um milheiro
3)Quem não tem consciência não ofende, por mais que insulte
4)A alegria atrai simpatia
5)Dize-me com quem andas, dir-te-ei quem és
6)Para pé torto, só chinelo velho
7)Água mole em pedra dura tanto bate até que fura
8)Pedra que rola não apanha musgo
9)Quem não tem cão caça com gato
10) A instrução é a luz do espírito
11) A caridade abre as portas do Céu
12) A economia é a base da prosperidade
13) Quem tem boca vai a Roma
14) O amor a tudo vence
15) Pela boca morre o peixe
16) A verdade vem sempre à tona
17) De pequenino é que se torce o pepino
18) Tal pai, tal filho
19) Amor com amor se paga
20) Sem trabalho a vida é insípida

374
N A RRATI VAS

21) Cão que ladra não morde


22) Nem tudo o que luz é ouro
23) A palavra é de prata, o silêncio é de ouro
24) Em boca fechada não entram moscas
25) Quem corre cansa, quem anda alcança
26) Cumpre o teu dever, custe o que custar
27) Ama o teu próximo como a ti mesmo e teu será o reino do Céu
28) Ajuda-te, que o Céu te ajudará
29) A verdade fala pela boca dos pequenos
30) Quem dá aos pobres empresta a Deus
31) Quando o espírito é grande e forte, não se deve temer a morte
32) As boas ações enriquecem a alma
33) Casa de ferreiro, espeto de pau
34) Gato escaldado tem medo de água fria
35) Um tambor faz barulho, mas é oco
36) Quem canta, seus males espanta

375
Narrativas dramáticas
TEXTO EXPLICADO

A MORTE DE ROSA

N o seu leito alto e branco, Rosa morria ... Os olhos azuis, inexpressivos e
tristes, abriam-se como se projetassem em torno a derradeira expressão de
dor e saudade. O seu corpo desaparecia sob os lençóis, inerte e esguio. Uma das
mãos caíra, no último movimento que fizera, sobre o colo da Tia Amélia, que
à sua cabeceira tremia e beijava-a na fronte. Uma réstia de sol dourava-lhe os
cabelos em desordem, e, no seu rosto, cada vez mais pálido e mais frio, a morte
ia imprimindo uma serenidade gelada. A pouco e pouco a respiração diminuía:
era apenas um sopro débil, que parecia vir da garganta num estertor de asfixia,
e terminava logo nos lábios descorados. Uma névoa turvava-lhe os olhos, que
se dilatavam no terror da noite infinita que os envolvia. A boca moveu-se para
articular a última palavra, porém nenhum som perpassou pelo aposento, onde
pairava um silêncio de subterrâneo. Enfim, um suspiro doce, breve, macio,
fugiu-lhe dos lábios e o seu corpo imobilizou-se para sempre. Para sempre!
Para sempre! Tia Amélia fechava-lhe os olhos, a tremer, a tremer, como se esse
movimento lhe esgotasse, afinal, todas as forças. E depois, de joelhos à borda
do leito, agarrada loucamente à mão branca de Rosa, gemia, esmagada: ''Adeus,
minha filha! Minha filha!". Pelo claro aposento corria um frêmito que era ao
mesmo tempo de pavor, de tristeza e de desolação, como se aquele pequenino e
extremo suspiro fosse um brusco vento de tempestade que nos arrojasse no seu
ímpeto formidável, dilacerados e exangues, para a suprema tortura de uma dor
lancinante. De todos os olhos espontavam lágrimas, de todas as bocas partiam
NARRATIVAS

palavras de despedida e do quarto, do corredor, de toda a casa, subia, ulu-


lante e aflito, o mesmo pranto de desespero.

Aurélio Pinheiro

O assunto Aurélio Pinheiro faz-nos assistir à agonia e à morte duma


jovem, assim como à reação emotiva das pessoas que se achavam presentes.

A composição O trecho apresenta uma série de fatos, de gestos ou ati-


tudes que, juntamente com a construção fraseológica, lhe dão cunho narrativo.
As frases que parecem puramente descritivas aí se acham para servir de explica-
ção às frases narrativas.
Quanto ao plano de composição, distinguem-se nesta narrativa duas partes:
a. A agonia e morte de Rosa
b. A dor angustiosa dos familiares da casa
Ambas se ligam por meio da repetição dolorosa duma expressão exclamativa
("Para sempre! Para sempre!"), que denota uma explosão de desespero e com
que se finaliza a primeira parte: "Seu corpo imobilizou-se para sempre".
A transição de uma para outra torna-se, deste modo, bastante suave.

O interesse dramático A dramaticidade, que forma o interesse desta


narrativa, vai-se intensificando gradualmente, desde a descrição pormenorizada
da marcha evolutiva da morte, até a crise final de desespero dos circunstantes.
Assim, entristecemo-nos, ao notarmos:
a. A expressão de dor e saudade dos olhos azuis
b. A serenidade gelada que a morte ia imprimindo ao rosto cada vez mais
pálido e mais frio da agonizante
c. A respiração estertorosa, que ia diminuindo aos poucos
d. A névoa que lhe turvava os olhos aterrorizados
e. A boca que se movia como para articular a última palavra
f. O derradeiro suspiro e a imobilização do corpo
Interessa-nos, ainda, a dor das pessoas presentes: a velha tia a tremer, sacu-
dida de emoção, seu agoniado adeus maternal, a impressão de pavor, tristeza e
desolação que empolgava, naquele ambiente claro, todos os corações, lágrimas
que rebrilhavam nos olhos de todos, as palavras soluçantes das despedidas e o
pranto aflito e ululante que vibrava na casa toda tudo concorre para nos
despertar na alma um vivo sentimento de emoção.

377
FLOR DO LÁCIO

A personagem narradora personagem narradora transparece do pro-


nome pessoal "nos, que se encontra no final do trecho. Seus sentimentos, ao
presenciar aquela morte, traem um estado de alma: o último suspiro da jovem
pareceu-lhe desencadear formidável tempestade, que arrojou a todos para a
suprema tortura de uma dor lancinante.
Narrativas dramáticas
TEXTOS PARA EXPLICAÇÃO

I. A POBRE ESCRAVA

E RA uma pobre cativa que saía todas as madrugadas a vender pão pelos
caminhos. Andava léguas e léguas, por esse mundo afora, até se esvaziar
o balaio que tinha sempre cheio. Se não vendia depressa ou se algum era refu-
gado, havia de ajustar contas com o feitor ... Andava ferida e acabada, de tanto
açoite e tanta canseira ... Um dia, já tarde, não pudera vender todos os pães, por-
que alguns, amassados e moles, não acharam comprador, ou eram enjeitados.
Voltava para casa, à boca da noite, pensando nas lágrimas que a esperavam. No
caminho começou a ouvir, adiante, uns gemidos, à beira do mato ... A dor dos
outros distrai a nossa. Aproximou-se. Era uma pobre sertaneja, corrida pela
seca, que vinha de longe, carregando um filho e que aí caíra, exausta de fome e
de fadiga. Pediu-lhe uma esmola pelo amor de Deus ... o filho estava morrendo
à míngua. Considerou a escrava que havia ainda algum mais infeliz do que ela,
alguém que sofria por ver morrer um filho e lhe pedia uma esmola para o sal-
var. Era mulher ... arriou o balaio, abriu a baeta vermelha que os envolvia e tirou
para a mendiga os pães amassados. Depois, continuou a andar. Pareceu-lhe que
tudo mudara ... Estava mais forte ... Já não sofria tanto ... Esperava até o castigo
sem temor. Caminhou ainda. Numa volta da estrada a casa maldita, iluminada
de luzes sinistras, apareceu-lhe à vista, em frente. Parou Chegaria tarde ...
Não trazia mais pães, nem trazia o dinheiro de todos eles Roubara sem dú-
vida para comer. .. O castigo seria maior que sempre, porque, além do mais,
agora era ladra ... Morreria sob o açoite. Aquela árvore ali junto do caminho,

379
FLOR DO LÁCIO

esgalhada, com um ramo torto, ao alcance, pareceu-lhe um convite para a li-


berdade. Fez um laço com a baeta e enforcou-se.

- Afrânio Peixoto

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. Balaio d. Enjeitados g. Baeta
b. Refugado e. À míngua h. Esgalhada
c. Feitor f. Arriou

2) Que significam aqui as expressões ... ?


a. Por esse mundo afora e. Exausta de fome e de fadiga
b. Ajustar contas f. A casa maldita
c. À boca da noite g. Luzes sinistras
d. Corrida pela seca

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta narrativa?

2) Divida esta narrativa em três partes, dando-lhes títulos expressivos.

3) Qual é o conteúdo de cada uma dessas partes? Responda em orações se-


guidas, não se limitando, apenas, a enumerar os pormenores.

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse desta narrativa?

2) Quais são os fatos que tornam emocionante esta narrativa?

3) Explique o solilóquio da pobre escrava, sem esquecer o sentido das reti-


cências.
NARRATI VAS

4) De que modo exprimiu o autor... ?


a. O sofrimento da escrava
6. Sua bondade

5) Localize este trecho no romance A esfinge.

Exercício t: vocabulário e gramática

1) Empregue apropriadamente em orações curtas as seguintes palavras:


a. Pobre mísera infortunada desventurada
6. Madrugada alva aurora
c. Refugar rejeitar enjeitar recusar refusar repudiar
d. Ajustar acertar
e. Míngua penúria carência
f. Considerar ponderar meditar
g. Sinistras tétricas lúgubres ferais
h. Involução evolução revolução;
i. Intercalar entremear interferir

2) Dê sinônimos a:
a. Caminho i. Arriar q. Ínsito
6. Açoite j. Castigo r. Insídia
c. Canseira k. Temor s. Furna
d. Mole 1. Iluminar t. Renitir
e. Beira m. Roubar u. Entrosar
f. Dor n. Ladra v. Profligar
g. Aproximar o. Inquinar w. Calcorrear
h. Morrer p. Espertina

3) Forme palavras com o auxílio dos prefixos "con", "retro", "super", "sub";
com o auxílio dos sufixos "ária", "eira", "eda", "és".

4) Forme pequenas expressões comparativas, empregando-as em curtas sen-


tenças, com ...
FLOR DO LÁCIO

a. Pobre d. Mole g. Forte


b.Mundo e. Deus h. Torto
c. Pão f. Dor
Qual é o étimo de cada uma destas palavras?

5) Aponte no trecho as orações adjetivas, indicando-lhes os antecedentes e


analisando a função do relativo.

6) Cite expressões (substantivos, adjetivos, verbos, advérbios, comparações


etc.) que traduzam idéias de lassidão, fome, desespero, escuridão e misericórdia.

Exercício : elocução

Imitando o autor na passagem que começa com as palavras: "Era uma pobre
cativa e termina em "canseira", fale:
a. De um pequeno vendedor de jornais, maltratado por uma cruel madrasta
b. De uma pequena operária, que teme uma contramestra demasiado rigo-
rosa.

Exercício Ili: redação imitativa

Conte a história trágica dum ex-presidiário, a quem a polícia persegue por


infundada suspeita de novo crime, e que, fugindo dentro das trevas da noite, fa-
minto e cansado, dá, num gesto de piedade, suas últimas moedas a um mendigo.

II. A MORTE DE NUNO GONÇALVES

Quando o troço dos homens de armas que levavam preso Nuno Gonçalves,
vinha já a pouca distância da barbacã, os besteiros que coroavam as ameias
encurvaram as bestas, os homens dos engenhos preparavam-se para arrojar so-
bre os contrários os seus quadrelos e virotóes, enquanto o clamor e o choro se
alevantava no terreiro, onde o povo inerme estava apinhado. Um arauto saiu
do meio da gente da vanguarda inimiga e caminhou para a barbacã; todas as
bestas se inclinaram para o chão, e o ranger das máquinas converteu-se num
silêncio profundo. "Moço alcaide, moço alcaide!" bradou o arauto. "Teu
NARRATI VAS

pai, cativo do mui nobre Pedro Rodrigues Sarmento, adiantado de Galiza, pelo
muito excelente e temido Dom Henrique de Castela, deseja falar contigo, de
fora do teu castelo". Gonçalo Nunes, o filho do velho alcaide, atravessou então o
terreiro, e chegando à barbacã, disse ao arauto: "A Virgem proteja o meu pai; di-
zei-lhe que eu o espero". O arauto voltou ao grosso dos soldados que rodeavam
Nuno Gonçalves, e depois de breve demora o tropel aproximou-se da barbacã.
Chegados ao pé dela, o velho guerreiro saiu dentre os seus guardadores e falou
com o filho: "Sabes tu, Gonçalo Nunes, que o dever dum leal alcaide é de nunca
entregar, por nenhum caso, o seu castelo ao inimigo, embora fique enterrado
debaixo das ruínas dele?". "Sei, ó meu pai! Mas não vês que a tua morte é certa,
se os inimigos percebem que me aconselhaste a resistência?". Nuno Gonçalves
clamou então: "Pois se o sabes, cumpre o teu dever, alcaide do castelo de Faria!
Maldito por mim, sepultado sejas tu no Inferno, como Judas, o traidor, na hora
em que os que me cercam entrarem nesse castelo, sem tropeçarem no teu cadá-
ver!". "Morra!" gritou a almocadém castelhano. "Morra o que nos atrai-
çoou". E Nuno Gonçalves caiu no chão, atravessado de muitas espadas e lanças.

Al exandre Herculano

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. O troço dos homens f. Máquinas k. Castelo
de armas
b. Barbacã g. Quadrelos 1. Adiantado
c. Besteiros h. Virotóes m. O tropel
d. Bestas i. Arauto n. Almocadém castelhano
e. Engenhos j. Alcaide

2) Diga o que sabe a respeito de:


a. Dom Henrique de Castela
b. Dom Fernando de Portugal

3) Que significam as seguintes expressões ... ?


a. Que coroavam as ameias d. A vanguarda inimiga
b. O povo inerme e. O grosso dos soldados
c. Estava apinhado f. Sem tropeçarem no teu cadáver
FLOR DO LÁCIO

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta narrativa?

2) Em quantas partes se pode dividir esta narrativa? Indique-as no texto,


dizendo qual o princípio e o fim de cada uma e dando-lhes, ao mesmo tempo,
um título expressivo.

3) Qual é o conteúdo de cada uma dessas partes?

4) Localize este trecho no livro Lendas e narrativas.

Estudo das idéias

1) Tem esta narrativa caráter histórico? Em quê?

2) Mostre que o interesse desta narrativa reside na dramaticidade da ação.

3) Em que empresta o diálogo entre pai e filho maior vivacidade à ação?

4) Que impressão nos causa cada um dos protagonistas deste drama?

5) Em que época se passou a ação da narrativa? Que pormenores no-la in-


dicam?

Exercício !: vocabulário e gramática

1) Empregue em curtas orações:


a. Preso encarcerado agrilhoado
b. Arrojar arremessar atirar projetar
c. Clamor brado gritaria vozerio
d. Choro pranto lamentação
e. Inerme - desarmado - inofensivo
f. Apinhado - agrupado - reunido
g. Converter-se - transformar-se - metamorfosear-se
h. Silêncio - mutismo quietude
NARRATI VAS

i. Espinho aguilhão acúleo ferrão espeque


j. Escorraçar afugentar destroçar

2) Cite nomes de armas e engenhos de guerra ...


a. Da Idade Média
b. Dos tempos modernos

3) Dê sinônimos a:
a. Cativo f. Atraiçoar k. Conducente
b. Temido g. Atravessado 1. Condicente
c. Rodear h. Incitar m. Desbaratar
d. Enterrado i. Açular
e. Ruínas j. Condolente

4) Cite palavras que traduzam:


a. Retinido de armas brancas
b. Estampido de fuzis
c. Estrondo de peças de artilharia

S) Forme seis comparações com que se possa emprestar vigor descritivo à ex-
pressão do aspecto de línguas de fogo, ao saírem das bocas das peças de artilharia.

6) Forme três comparações que emprestem vigor descritivo ao aspecto da


fumarada que enegrece a atmosfera, durante um combate.

7) Explique a concordância do verbo com o sujeito nas orações:


a. Quando o troço dos homens de armas vinham já a pouca distância
b. Enquanto o clamor e o choro se alevantava no terreiro

Exercício II: elocução

Imitando o autor no primeiro período desta narrativa, fale:


a. De um início de ataque, pelos alemães, às nossas posições, na Segunda
Guerra Mundial
b. De um lance emocionante, numa partida de futebol
FLOR DO LÁCIO

Exercício i: redação imitativa

Escreva, recorrendo a suas leituras e a sua imaginação, duas narrativas que


tenham por assunto:
a. O episódio de Greenalgh, na Batalha do Riachuelo
b. A morte do Cavaleiro de Assás, na véspera do Combate de Clostercamp
Narrativas dramáticas
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA

1) Desenvolva as seguintes narrativas, esforçando-se por que a graduação


dos fatos sirva para provocar sentimentos gradualmente crescentes:

a. O sucuri: Em pleno sertão, passa descuidadamente um homem, seguindo


pela margem dum rio de águas remansosas. Afasta do caminho verdes ramos de
árvores, corta com um facão a trama dos cipós. De repente, tropeça em grosso
e luzidio tronco. Solta um grito de horror, pois o tronco rapidamente o enlaça.
É um sucuri, que nele se enrosca e o derruba. Alucinado, num esforço gigan-
tesco, levanta-se para lutar. Mas a brutal tensão de seus músculos é esmagada
pela implacável constrição do sucuri. O homem tomba de novo e os anéis que
o cercam estreitam-se ainda mais. Estalam-se-lhe os ossos, esguicha-lhe o san-
gue pela boca e pelo nariz. Seus gritos diminuem, tornam-se gemidos, depois
estertores. A constrição aumenta e o homem morre.

b. Acidente de automóvel: Nosso carro corria, em regular velocidade, por


uma bela estrada, sob um claro sol primaveril. Estávamos alegres e despreo-
cupados. De súbito, fomos surpreendidos pelas constantes e impacientes bu-
zinadas do chofer. Uma carroça ziguezagueava na estrada, sem direção certa;
o homem que a guiava devia estar embriagado. Ficamos inquietos. O chofer
diminuiu a velocidade e procurou, aproveitando-se de um desvio da carroça,
passar-lhe ao lado; mas o bêbedo contrariou essa manobra. Naquele momento,
ergui meu coração a Deus e fui tomado de vertigem; quis gritar, mas então me
senti arremessado ao ar, e, quando dei acordo de mim, estava deitado ao lado
FL OR DO LÁCIO

da estrada, com uma perna a sangrar. A meu lado, gemiam e choravam meus
companheiros.

c. A Batalha de Itororó: 6 de dezembro de 1868. Um dia de grande peri-


go, que se transformou em memorável triunfo para a nacionalidade. As forças
brasileiras, em luta contra a tirania, avançavam para a ponte de ltororó. Em
sucessivas ondas, tropeçam os nossos ante os obstáculos e o fogo inimigo. No
meio do fragor da peleja, o grande Caxias, num lance épico, toma a vanguarda
das tropas, bradando: "Sigam-me os que forem brasileiros!" e os brasileiros,
eletrizados, conquistam a dura vitória de ltororó.

d. O martírio dos cristãos: O circo, construído inteiramente de madeira sob


a direção dos célebres arquitetos Severus e Céler, era dotado de extraordiná-
rias dimensões. O povo, que lhe ocupava as arquibancadas, ao longo das quais
corriam canais de água gelada das montanhas a fim de manterem em todo o
edifício uma temperatura agradável, conversava em altas vozes, comentando os
lances mais emocionantes do úlcimo combate, travado entre um reciário e um
gladiador, cujo sangue um belo jovem, no recinto, recobria de areia branca.
Imenso velário de púrpura interceptava os raios solares. Por entre as fileiras dos
assentos tinham sido dispostos incensórios, em que ardiam aromas da Arábia.
Engenhoso aparelho fazia chover sobre os espectadores um contínuo orvalho
de açafrão e verbena. Nos camarins de luxo, Nero conversava com os nobres,
dirigindo-se, por vezes, às vestais. Os rugidos das feras famintas, que farejavam
exalações humanas, ressoavam furiosas, de quando em quando. De repente,
rangeram as portas de ferro e, nos corredores sombrios, retumbou o grito dos
mastigóforos: "Para a arena!" os cristãos correram para o centro e aí se ajoe-
lharam. Do meio do bando, saíram vozes que cantavam e ressoou um hino:
"Cristo reina!". Abrem-se as portas das jaulas e os leões entram, um a um, como
que fascinados pela claridade avermelhada que inundava o ambiente. Uma das
feras aproxima-se de um cristão, que traz nos braços uma criança. O menino
chora, apavorado. O leão, soltando rouco bramido, esmaga-lhe com uma pata-
da a cabecinha. Todas as feras se atiram então aos mártires; estes são despeda-
çados, arrebentados: e no meio da sangueira e das vísceras arrancadas, ouve-se
estalar os ossos, triturados pelos dentes dos animais. Alguns leões agarram as
vítimas nos flancos ou nas costas, correm pela arena em saltos vertiginosos, pro-
curando um lugar retirado para devorá-las; outros se batem e fazem estremecer
o anfiteatro com rugidos semelhantes a trovões. Nero venceu na terra? Muitos
espectadores do terrível drama julgam ver descer do Céu uma multidão de
anjos luminosos, que recolhem carinhosamente as almas dos mártires cristãos ...
NARRA TI VAS

2) Recorrendo a reminiscências de suas leituras, componha uma narrativa


dramática, que tenha por assunto:
a. O suplício de Prometeu, que, por ter roubado o fogo do Céu, foi acorren-
tado por Vulcano no alto do Cáucaso, onde um abutre lhe devorava o fígado
b. Hércules, torturado pela túnica de Néssus, faz-se consumir por uma fo-
gueira, no cume do Monte Oeta
e. O desespero de Hécuba, ao assistir à morte de seu netinho Astíanax, as-
sassinado por Ulisses
d. A morte de Sócrates
e. O assassínio de Júlio César, no Senado Romano, ao pé da estátua de
Pompeu.
f. A morte de Ugolino Della Gherardesca, com seus filhos, na torre que lhes
serviu de prisão
g. A morte de Roldão em Roncesvales
h. A execução de Maria Stuart

3) Componha uma narrativa dramática ou emocionante com um episódio de:


a. A Retirada de Laguna
b. A Batalha de Riachuelo
e. As Guerras Holandesas
d. Os bandeirantes
e. A chegada ao Brasil dos feridos da Força Expedicionária Brasileira
Narrativas humorísticas
TEXTO EXPLICADO

O SONÂMBULO

C ERTO indivíduo, conhecido como vivedor, aboletou-se, no caminho de


sua vida, no solar dum homem bonacheirão e abastado, que lhe abrira
as portas para um descanso ligeiro. Nos primeiros dias, o dono suportou ga-
lhardamente o hóspede, oferecendo-lhe o melhor trato, fornecendo-lhe a me-
lhor cama, o melhor vinho, os melhores charutos. Passada, porém, a primeira
quinzena, começou a pensar em um meio, que não fosse grosseiro, de livrar-se
do importuno, e achou-o. Tinham os dois acabado de almoçar e repousavam,
lendo jornais e fumando "havanas", à sombra das árvores. De repente, o hos-
pedeiro recosta-se pesadamente na cadeira, cerra os olhos, deixa cair a folha e
o charuto, simulando um sono profundo. E, como em sonho, principia a falar:
"Vejam só: que maçada! Esse cavalheiro vem, aloja-se em minha casa, come,
bebe, fuma, diverte-se, e nada de entender que sua presença já me está sendo
desagradável! Será possível que ele não compreenda isso?". E, soltando um sus-
piro, pulou da cadeira, esfregando os olhos: "Que diabo! É eu dormir depois
do almoço, vêm-me logo os pesadelos. E que sonho mau tive eu! Parece até
que falei alto, não?". E o outro, que de cenho cerrado, prestava atenção a tudo:
"É exato; você esteve para aí falando; e eu, como vi que se tratava de coisas de
sonho, procurei não ouvir para não ser indiscreto. As palavras dos homens só
têm valor, mesmo, quando eles as proferem acordados". E o hóspede conti-
nuou na casa por mais três anos e quatro meses, isto é, até a transferência da

390
NARRATI VAS

propriedade, comendo do melhor prato, dormindo na melhor cama, bebendo


do melhor vinho, fumando os melhores charutos.

Humberto de Campos

Estudo das palavras e expressões

Maçada aborrecimento.
Sonâmbulo - pessoa que anda dormindo. Por extensão, pessoa que age
dormindo (fala, pula, come etc.).
Vivedor que é solícito em tratar de sua vida, em agenciar os meios de
subsistência.
Aboletar-se alojar-se.
Bonacheirão homem cujos traços característicos são a bondade e a sim-
plicidade.
Galhardamente gentilmente, com elegância.
Havanas charutos finos, fabricados de início em Havana.
Pesadelo sonho mau.
Simular fingir.
No caminho de sua vida no decurso de sua vida.
Abrir as portas a alguém recebê-lo.

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta narrativa?


R.: É a história de um homem tímido que, para se ver livre de um explo-
rador importuno, recorre a um ardil ingênuo e cômico, sem resultado algum,
aliás.

2) De quantas partes se compõe esta historieta?


R.: Compõe-se esta historieta, de acordo com o plano de composição, de
três partes:
a. A recepção feita ao parasita: o dono da casa recebe-o e dá-lhe bom passa-
dio, julgando que a hospedagem seria de pouca duração
b. O estratagema do anfitrião: consiste em simular um sonho, no qual disse
o que pensava do importuno e indesejável hóspede
c. O cinismo do hóspede, que fingiu nada ter ouvido

391
FLOR DO LÁCIO

3) Por meio de que expressões indicou o autor o bom passadio na casa do


hospedeiro?
R.: Ele apenas empregou expressões de sentido geral e indeterminado: "Me-
lhor cama", "melhor vinho", "melhores charutos".

4) Como se faz a transição da primeira para a segunda parte e, desta, para


a terceira?
R.: Da primeira para a segunda, nota-se uma transformação nos sentimen-
tos do dono da casa: a princípio alegre ou aparentemente alegre, desfaz-se em
desvelos pelo hóspede, a quem proporciona o máximo conforto; passando-se
dias, porém, aborrece-se de sua atitude e pensa num modo de se livrar dele. Da
segunda para a terceira, a transição decorre do cinismo do homem, que não
deseja partir e que se prevalece do próprio estratagema de seu hospedeiro, para
fingir que hão atribui valor algum a palavras proferidas em sonho.

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse desta narrativa?


R.: O interesse está em seu caráter anedótico.

2) Que impressão nos causa cada um dos protagonistas desta historieta?


R.: O dono da casa produz impressão de uma criatura de bondade extrema,
sem energia, e tão tímido que chega a lançar mão de recursos ridículos. O h6s-
pede é um parasita ousado, espertalhão e cínico.

3) Que impressão geral nos causa esta narrativa?


R.: A impressão geral deve ser proveniente do choque entre os temperamen-
tos das duas personagens, o que provocou uma situação cômica, porque expôs
ao ridículo o hospedeiro.
Essa situação cômica deriva dum contraste: a gravidade dum homem de
idade madura, como era o hospedeiro, e a infantilidade de seu estratagema.

392
Narrativas humorísticas
TEXTOS PARA EXPLICAÇÃO

I. O ORADOR ATRAPALHADO

foguetes no ar, convocando o povo para o comício. Os manifes-


E SPOUCAM
tantes, ao compasso da banda municipal, conduzem o Deputado Eumolpo
Peçanha do Centro Cívico 15 de Novembro para o peristilo da prefeitura. Os
bombachudos, disseminados em grupos, não se fartam de dar vivas sem reper-
cussão. O ambiente é mais de expectativa do que de entusiasmo. Do lado de
fora do quiosque as mesas estão literalmente ocupadas de curiosos, que aguar-
dam, indiferentes, o início dos discursos. A banda cessa de tocar. Silêncio. O
promotor, na sua fatiota preta destinada às grandes cerimônias, sobe a uma
armação de madeira, improvisada em tribuna, corre os olhos sobre aquela redu-
zida multidão, prepara a garganta e mete a mão no bolso de dentro do casaco, à
procura dos papéis. Não os encontra do lado esquerdo. Simulando calma, pro-
cura-os do outro lado. Também não estão ali. Começa a impacientar-se. Suas
mãos entram em atividade nos bolsos de fora. Nada. Repete a busca, agitado.
Ouvem-se murmúrios na multidão. Nervosismo nas escadarias. O orador vai
rapidamente perdendo todo o controle de si mesmo. Agita desesperadamente
os bracinhos curtos, bate no peito com as duas mãos, apalpa-se nas ancas,
volta a bater com força no peito. Uma voz de moleque parte do meio do povo:
"Fiquem quietos que ele vai cantar!".

-VianaMoog

393
FLOR DO LÁCIO

Estudo das palavras e expressões

1) Que significam as seguintes palavras do texto?


a. Espoucam e. Ambiente i. Tribuna
b. Comício f. Expectativa j. Controle
c. Peristilo g. Quiosque
d. Os bombachudos h. Fatiota

2) Que significação têm aqui as expressões ... ?


a. Ao compasso da banda e. Corre os olhos
b. Vivas sem repercussão f. Prepara a garganta
c. Estão literalmente ocupadas g. Entram em atividade
d. As grandes cerimônias

3) Substitua, no texto, o verbo "ouvem-se" por outro mais expressivo.

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta narrativa?

2) Em quantas partes se pode dividir esta narrativa e quais são elas?

3) Qual é o conteúdo de cada parte?

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse desta narrativa?

2) Mostre como as frases e orações curtas dão mais vivacidade a esta narra-
tiva e servem para manter em suspenso a curiosidade do leitor.

3) Estude as expressões com que o autor descreve as atitudes e as ações do


orador.

4) Demonstre como esta narrativa foi, quanto ao desenvolvimento e ao des-


fecho, construída como uma anedota humorística.

394
NARRATI VAS

5) Localize este trecho no romance Um rio imita o Reno.

Exercício t: vocabulário e gramática

1) Empregue em curtas orações:


a. Espoucar explodir estalar estrugir ribombar
b. Comício assembléia reunião
c. Disseminados esparsos espalhados
d. Expectador espectador
e. Simular fingir aparentar
f. lnspissar engrossar condensar
g. Furna gruta caverna
h. Tasquinhar debicar

2) De sinônimos a:
a. Conduzir i. Agitada q. Incutir
b. Aguardar j. Murmúrios r. Percutir
c. Início k. Rapidamente s. Adunar
d. Cessar 1. Quietos t. Escorraçar
e. Fatiota m. Inquirir u. Chibatar
f. Reduzida n. Perquirir v. Fruir
g. Encontra o. Indagar w. Invicto
h. Calma p. Sugerir x. Insípido

3) Com o auxílio do sufixo "mente, transforme em advérbios os adjetivos:


a. Populoso e. Grande i. Instantâneo
b. Aéreo f. Simples j. Insidioso
c. Entusiástico g. Bom k. Sub-reptício
d. Curioso h. Cômodo

4) Cite palavras que digam respeito:


a. A coisas de teatro (palco, cenário, ribalta etc.)
b. À aflição duma pessoa (expressão do rosto, dos olhos, gestos etc.).

395
FLOR DO LÁCIO

5) Explique a concordância verbal em:


a. El-rei com a Rainha Dona Isabel,sua mulher, entraram na sala do trono
b. Deus ou o demônio torceu-lhe os desígnios

6) Analise logicamente: "Ouvem-se murmúrios na multidão".

Exercício : elocução

Imitando o autor na passagem que vai do começo do trecho até "discursos",


fale:
a. De um alegre comício de estudantes
b. De um "trote" dos estudantes

Exercício III: redação imitativa

Conte, num tom humorístico, o episódio de um ator que, no auge do dra-


ma, se esquece subitamente de seu papel.

II. TRAVESSURAS

Desde os cinco anos merecera eu a alcunha de "menino-diabo; e verdadeira-


mente não era outra coisa; fui dos mais malignos do meu tempo, arguto, in-
discreto, traquinas e voluntarioso. Por exemplo, um dia quebrei a cabeça duma
escrava, porque me negara uma colher do doce de coco que estava fazendo, e,
não contente com o malefício, deitei um punhado de cinza ao tacho, e, não sa-
tisfeito da travessura, fui dizer à minha mãe que a escrava é que estragara o doce
"por pirraça"; e eu tinha apenas seis anos. Prudêncio, um moleque de casa, era
o meu cavalo de todos os dias; punha as mãos no chão, recebia um cordel nos
queixos, à guisa de freio, eu trepava-lhe no dorso, com uma varinha na mão,
fustigava-o, dava mil voltas a um e outro lado, e ele obedecia algumas vezes
gemendo -, mas obedecia sem dizer palavra, ou, quando muito, um: "Ai,
nhonhô!", ao que eu retorquia: "Cala a boca, besta!". Esconder os chapéus das
visitas, deitar rabos de papel a pessoas graves, puxar pelo rabicho das cabelei-
ras, dar beliscões nos braços das matronas, e outras muitas façanhas deste jaez,
eram mostras de um gênio indócil, mas devo crer que eram também expressões
NARRATI VAS

de um espírito robusto, porque meu pai tinha-me em grande admiração; e se


às vezes me repreendia, à vista da gente, fazia-o por simples formalidade: em
particular dava-me beijos.

- Machado de Assis

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. Alcunha e. Voluntarioso i. Fustigar
b. Maligno f. Maleficio j. Matronas
c. Arguto g. Tacho k. Façanhas
d. Traquinas h. Pirraça 1. Jaez

2) Que significam aqui as expressões .•


a. Do meu tempo f. Pessoas graves
b. Quebrei a cabeça g. O rabicho das cabeleiras
e. Meu cavalo de todos os dias h. Gênio indócil
d. Dava mil voltas i. Espírito robusto
e. Rabos de papel j. Simples formalidade

3) Explique a colocação do pronome "me" na oração subordinada causal:


"Porque meu pai tinha-me em grande admiração.

Estudo do plano de composição

1) Que nos conta Machado de Assis nesta narrativa?

2) Divida esta narrativa em quatro partes, a saber:


a. O menino-diabo
b. O doce de coco
c. O "cavalo" de todos os dias
d. As expressões de um espírito robusto

3) Qual é o conteúdo de cada parte desta narrativa?

397
FLOR DO LÁCIO

4) Como se faz a transição de cada parte para a seguinte?

5) Procure este trecho em Memórias póstumas de Brás Cubas.

Estudo das idéias

1) Que é que mais nos interessa nesta narrativa?

2) De que modo traça o narrador seu próprio perfil moral? E em que época
de sua existência?

3) Com que expressões descreve ele ... ?


a. Suas traquinices
b. Sua maldade infantil

4) Que quer o narrador dizer com a oração: "E eu tinha apenas seis anos"?

5) Qual é a nota cômica desta narrativa?

6) Que impressão nos causa esse menino? E o pai desse menino? Por quê?

Exercício I: vocabulário e gramática

1) Empregue em curtas orações:


a. Travesso traquinas turbulento buliçoso
b. Arguto fino sutil
c. Voluntarioso caprichoso birrento
d. Fustigar açoitar verberar flagelar
e. Retorquir retrucar replicar
f. Convelir deslocar subverter

2) De sinônimos a:
a. Escrava i. Façanhas q. Eludir
b. Contente j.Jaez r. Ilidir
c. Deitar k. Indócil s. Elidir
NARRATIVAS

d. Travessura 1. Robusta t. Ditério


e. Trepar m. Repreender u. Chufa
f. Dorso n. Enxotar v. Genuflexo
g. Esconder o. Empeço w. Engodar
h. Graves p. Iludir x. Embair

3) Com o auxílio do sufixo "mente, transforme em advérbios os adjetivos:


a. Maligno d. Voluntarioso g. Robusto
b. Arguto e. Grave h. Particular
c. Indiscreto f. Indócil

4) Empregue no sentido figurado, em orações curtas:


a. Voar d. Gemer g. Gelar
b. Correr e. Morrer h. Ensangüentar
c. Murmurar f. Arder

5) Explique a concordância verbal em: "Uma grande multidão de crianças,


de velhos, de mulheres penetraram na caverna".

Exercício II: elocução

Faça a reprodução oral deste excerto, mudando a pessoa para "n6s".

Exercício II: redação imitativa

Conte em tom humorístico, inspirando-se no plano de composição desta


narrativa, um episódio de sua infância.

399
Narrativas humorísticas
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA

1) Uma briga: Caminhando displicentemente por uma calçada, vem elegan-


te cavalheiro, que estaca subitamente, para acender um enorme charuto. Atrás
dele, vem, descuidoso, um operário, que carrega comprida tábua. De repente,
a tábua bate no belo chapéu do homem, atirando-o todo amassado a uma poça
de água. Volta-se o cavalheiro, furioso, e invectiva o operário, que arremessa
ao chão a tábua e o ameaça com os punhos. Trocam-se socos, engalfinham-se
ambos. Cerca-os uma multidão curiosa. Acorrem guardas-civis. E então, os
dois homens apanham os chapéus e retiram-se, de braços dados, dizendo aos
basbaques que os rodeiam: "Evitem as brigas, tomando todos os dias dois ou
três chapes da Antártica, que acalmam os nervos e alegram o coração".

2) Uma desobediência: Estávamos na estação ferroviária, para nos despe-


dirmos de alguns parentes que iam viajar. Esperando a hora da partida, na
plataforma atapetada de gente, todos trocavam recomendações, promessas de
cartões-postais etc. Meu irmãozinho Luís, a quem aborreciam essas demonstra-
çóes, nada achou mais interessante do que entrar num vagão e brincar com os
passageiros. Papai repreendeu-o, fê-lo sair; mas, escapando a nossa vigilância,
ele tornou a entrar no vagão. Eis que retine a campainha, vão todos para seus
lugares, apita a locomotiva e põe-se o trem em movimento; brada-se um álti-
mo adeus, agitam-se mãos em despedida, quando, de repente, vemos aparecer
numa janela um rostinho convulso, que grita de desespero. Era Luizinho que
partia, sem o querer, para uma viagem inesperada.

400
NARRATI VAS

3) Um susto: Deitara-me já tarde da noite, impressionado com a leitura


emocionante duma novela policial. Tinha pendurado meu terno num cabi-
de, perto de uma janela, que eu deixara aberta por causa do calor. Meu sono,
agitado, foi de curta duração. Acordei sobressaltado, sob a pressão dum terrível
pesadelo, e qual não foi meu terror, vendo delinear-se uma silhueta ameaçadora
dentro da claridade indecisa que vinha da janela! Quis gritar, mas pavorosa an-
gústia me sufocava. Consegui, enfim, estender o braço e premer o botão elétri-
co. Jorrou a luz, profusa, e reconheci, então, ainda arquejante, meu inofensivo
terno, que minha imaginação transformara em espantalho.

4) Componha uma narrativa humorística, que tenha por assunto:


a. Um colega espirituoso
b. Um papagaio engraçado
c. Um palhaço de circo
d. Um episódio dum filme de Carlitos (ou doutro cômico qualquer)
e. Um episódio dum filme do Gordo e do Magro

401
Narrativas com reflexões
TEXTO EXPLICADO

O ESCRAVO

Do taquaral à sombra, em solitária furna,


(Para onde, com tristeza, o olhar curioso alongo)
Sonha o negro, talvez, na escuridão noturna,
Com os límpidos areais das solidões do Congo.

Ouve-lhe a noite a voz tristíssima e soturna,


Num profundo suspiro, entrecortado e longo;
É o rouco, surdo som, zumbindo na cafurna,
É o urucongo a gemer na cadência do jongo.

Bendito sejas tu, a quem, certo, devemos,


A grandeza real de tudo quanto temos!
Sonha em paz! Sê feliz! E eu que fique de joelhos:

Sob o fúlgido céu a relembrar, magoado,


Que os frutos do café são glóbulos vermelhos
Do sangue que escorreu do negro escravizado.

-Ciro Costa

402
NARRATI VAS

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto deste soneto?


R.: Neste soneto, o poeta exalta a figura humilde e enternecedora de um
negro escravo, que, dentro da noite enluarada, evoca com nostalgia sua terra
africana.

2) Divida este soneto em partes, dando-lhes títulos expressivos.


R.: De acordo com o plano de composição do autor, o assunto geral desen-
volve-se em torno de quatro idéias essenciais, que são:
a. O sonho do negro c. A bênção do poeta
b. As vozes da África d. As bagas rubras do café

3) Que contém cada uma destas partes?


R.: Na primeira parte, o olhar curioso do poeta descobre, numa solitária
furna e à sombra de um taquaral, um negro que parece sonhar com os claros
desertos do Gongo. Na segunda, enche-se a noite de seu canto triste e surdo;
suspirando saudosamente, evoca o antigo escravo os sons roucos que vibram nas
cavernas de sua terra natal e em seu espírito perpassa a visão de um quadro: seus
companheiros selvagens dançando o jongo. Na terceira, abençoa-o comovida-
mente o poeta, por ter criado a grandeza agrícola do Brasil. Na quarta, o autor,
ajoelhado à luz dos astros noturnos, recorda, magoado, o sofrimento dos escra-
vos, cujo sangue lhe parece ter-se transformado nas bagas vermelhas do café.

4) Como poderíamos englobar em duas estas quatro partes?


R.: Focalizando as personagens com suas ações e sentimentos, isto é:
a. O negro cantando, nostálgico
b. O poeta emocionado

5) Estude, em poucas palavras, a metrificação deste soneto.


R.: Versos alexandrinos; acento predominante na 6e na 12 sílaba; cesura
após a 6 sílaba; rimas graves dispostas alternadamente (exceção feita nos dois
primeiros versos do primeiro terceto); enjambements.

Estudo das idéias

1) Por que imagina Ciro da Costa que as bagas rubras do café são glóbulos
de sangue do negro escravizado?
FLOR DO LÁCIO

R.: Porque os escravos, quando punidos, eram muitas vezes açoitados até o
sangue: imagina o poeta, então, que a terra absorvia esse sangue precioso, para,
generosamente, fazê-lo irromper nos frutos maduros do café.

2) Que simboliza esse negro? Por que o abençoa o poeta, com emoção?
R.: Simboliza toda a escravidão, com suas qualidades sonhadoras e seu tra-
balho rude e incessante: o próprio poeta o eleva às alturas de um símbolo,
quando, ajoelhado reverentemente, o abençoa e estende essa bênção a todos
os negros, que fecundaram a terra com um labor insano e seu próprio sangue,
engrandecendo economicamente o Brasil.

3) Como exprime o autor os sons da África?


R.: Exprime-os por meio da onomatopéia. Assim, o terceiro verso do segun-
do quarteto imita, pela alternação ou combinação de "ss", "z" ou "rr", o silvo
rouco do vento nas grandes cavernas. No último verso do mesmo quarteto,
alternam-se sons fracos e sons fortes, imitando, numa cadência ritmada, o bater
dolente do urucongo ("É o urucongo a gemer na cadência do jongo"). - Uru-
congo: espécie de bombo grosseiro usado pelos negros. ]ongo: dança africana.

4) Explique o sentido das inversões de termos de oração que se encontram


no texto.
R.: As inversões de termos decorrem duma necessidade artística de harmo-
nia ou de realce. Neste soneto, as principais são:
a. "Do taquaral à sombra: colocando-se em primeiro lugar "taquaral", cha-
ma-se a atenção do leitor para o pormenor pinturesco mais importante. Além dis-
to, a transposição de sons, acarretada pela inversão, traz mais harmonia ao verso
b. "O olhar curioso alongo: esta inversão põe em destaque a curiosidade do
poeta, que lhe fez buscar o assunto para sua poesia
c. "Sonha o negro: o sonho é a idéia mais importante do verso e, por este
motivo, o verbo que o exprime vem em primeiro lugar
d. "Ouve-lhe a noite: a noite parece prestar atenção à cantilena plangente
do negro; o verbo em primeiro lugar mostra-nos essa atitude
e. "Bendito sejas tu: embora sejam freqüentes as inversões nas orações opta-
tivas, nota-se facilmente que a idéia principal, a bênção, está em primeiro lugar

5) Que impressão nos causa este soneto?


R.: A de um belo quadro, em que há perspectiva, luz, sombra, formas, cor
e relevo, tocados de profundas notas de emoção, tristeza e nostalgia. Os versos
são notavelmente harmoniosos, graças à riqueza de sons que se combinam e
alternam.
Narrativas com reflexões
TEXTOS PARA EXPLICAÇÃO

I. ARTAXERXES E DEMÓCRITO

A RTAXERXES, rei, sentiu com tal extremo a morte de um seu amigo que pre-
[ endeu ressuscitá-lo,
r e, ouvindo os retumbantes ecos da grande ciência de
Demócrito, o chamou a si desde Jônia. "Dificultosa coisa pedes, ó rei" disse
o filósofo afetando sisudeza, e dissimulando a impossibilidade. "Porém, se
fizeres o que eu te disser, confio, poderei obrar o que me mandas". Prometeu o
rei tudo, assinando em branco, e parecendo-lhe que já via o seu desejado amigo
saltar da sepultura. "Eia" disse Demócrito "escrevam-se no túmulo do
defunto os nomes de trinta homens que chegassem aos vinte anos de sua idade
sem padecer queixa alguma, nem no corpo, nem na alma, e logo ressuscitará".
Mandou o rei fazer logo a diligência; porém até o fim do mundo poderia con-
tinuar-se sem efeito; porque de semelhantes privilégios não há um só, quanto
mais trinta. E, se ainda antes de nascermos já todos somos miseráveis, qual
será o que no encerramento das suas contas não lhe passe a despesa do que
padece pela receita do que vive? No mundo todo não há mais que três classes
de homens: uns inocentes; outros pecadores, mas já arrependidos; e outros pe-
cadores, mas ainda obstinados. E para que todos soubessem que haviam de ter
cruz, três cruzes se arvoraram no Monte Calvário; uma para Cristo, e esta toca
aos inocentes; outra para Dimas, e toca aos arrependidos; outra para Gestas, e
toca aos obstinados.

Padre Manuel Bernardes


FLOR DO LÁCIO

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. Extremo d. Queixa g. Receita
6. Filósofo e. Diligência h. Obstinados
c. Afetando sisudez f. Privilégios i. Arvorar

2) Que significa cada uma das seguintes expressões?


a. Os retumbantes ecos c. O encerramento das suas contas
6. Assinando em branco d. Haviam de ter cruz

3) Diga o que sabe acerca das personagens citadas nesta narrativa.

4) Onde estava situada a Jônia?

5) Como se explica o emprego da preposição "desde", em vez de "de", na


expressão: "O chamou desde Jónia"?

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto deste trecho?

2) Divida esta narrativa em duas partes, dando-lhes títulos expressivos.

3) Qual é o conteúdo de cada uma dessas partes?

4) Como se faz a transição da primeira parte para a segunda?

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse desta narrativa?

2) Que havia de absurdo no pedido do rei?

3) Como respondeu o filósofo para não o magoar, nem lhe incorrer na cólera?

4) Por que já somos todos miseráveis antes de nosso nascimento?


NARRATI VAS

5) Que quer o autor dizer com as expressões comerciais de que se serve?

6) Qual é o símbolo do sofrimento para toda a humanidade?

7) Explique o sentido profundo do último período deste trecho e diga quais


são as figuras que nele se encontram.

Exercício I: vocabulário e gramática

1) Dê sinônimos a:
a. Extremo j. Padecer s. Empíreo
b. Morte k. Convelir t. Candente
c. Retumbante 1. Vilta u. Cadente
d. Dificultosa m. Zimbrar v. Comburente
e. Afetar n. Cinorréia w. Combusto
f. Sisudeza o. Delgado x. Escravo
g. Mandar p. Computo y. Imberbe
h. Sepultura q. Descanso
i. Defunto r. Empelota

2) Cite palavras da mesma família que:


a. Corpo e. Miserável i. Monte
b. Rei f. Conta j. Cruz
c. Fim g. Classe
d.Mundo h. Homem

3) Quais são os verbos que correspondem a ... ?


a. Eco c. Nome e. Efeito
b. Branco d. Alma f. Despesa

4) Forme pequenas expressões comparativas, em que entrem, como segundo


termo, as palavras:
a. Rei c. Sepultura e. Cruz
b. Morte d.Mundo f. Monte
FLOR DO LÁCIO

5) Explique a concordância verbal em:


a. Uma das coisas que mais me espantou
b. Fui também o primeiro que mostrei este engano
c. Fui eu quem escreveu esta carta
d. Nem eu, nem ninguém tem anos nem dias

6) Estude, no texto:
a. O emprego do infinitivo
b. As orações subordinadas conjuncionais

Exercício : elocução

Imitando o autor na passagem que começa em: "No mundo todo" e termina
em "toca aos obstinados", fale de três grupos de crianças dóceis, traquinas e
rebeldes para as quais se preparam três diferentes árvores de Natal.

Exercício i: redação imitativa

Conte uma historieta, que se preste a reflexões sobre o patriotismo (por


exemplo: o episódio da heroína Maria de Sousa, que, tendo perdido três filhos e
um genro na luta contra os holandeses, instigou os dois últimos filhos, crianças
ainda, a empunhar a espada para servir a Deus, a el-rei e à pátria).

II. A MORTE DE UM HERÓI

Todos os esforços que fez o intrépido barão do Cerro Largo para conter os seus
soldados foram inúteis. À carga do inimigo seguiu-se o completo destroço dos
bravos e infelizes voluntários, que, confundidos com os orientais, vieram so-
bre a segunda divisão. Esta, não podendo distinguir os contrários dos amigos,
formou quadrado e rompeu o fogo sobre a massa desordenada e confusa que
lhe vinha em cima, sendo nessa ocasião mortalmente ferido o velho barão do
Cerro Largo. Poucos momentos depois expirava o nosso bravo, com a mesma
serenidade de ânimo com que tantas vezes se arrojara aos perigos dos combates.
Assim terminou sua carreira gloriosa esse distinto veterano. A vida, que inteira
NARRATIVAS

consagrara à pátria, devia ser também sacrificada a ela, e, de feito, sua espada
só deixou de combater quando a mão que a brandia tombou desfalecida. Com
tantos serviços, com tantas glórias, com tantas virtudes, tanta abnegação e ci-
vismo, o ilustre barão do Cerro Largo teve, nos últimos dias de sua vida, como
prêmio e recompensa, a ingratidão e o esquecimento do governo do seu país!
Bem o disse Madame de Sévigné: "Há serviços tão grandes e tão importantes
que só a ingratidão os pode pagar!". Mas acima das fragilidades e misérias dos
contemporâneos, acima de seus ódios e de seus erros, eleva-se um dia o juízo da
posteridade, sempre sereno, inflexível e imparcial; e a posteridade, pode-se já
dizê-lo, há de destinar a tão exímio cidadão e a tão ilustre vítima um lugar entre
os mais gloriosos e prestantes filhos da Terra de Santa Cruz.

Barão do Rio Branco

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. Herói f. Brandia k. Inflexível
b. Intrépido g. Abnegação 1. A posteridade
c. Os orientais h. Civismo m. Prestantes
d. Se arrojara i. Contemporâneos
e. Veterano j. Severo

2) Que significam aqui as expressões ... ?


a. Completo destroço f. A mão tombou desfalecida
b. Formou quadrado g. O juízo da posteridade
e. Rompeu fogo h. Exímio cidadão
d. A massa desordenada e confusa i. Ilustre vítima
e. Serenidade de ânimo

3) Quem foi Madame de Sévigné?

Estudo do plano de composição

l) Que nos diz o autor nesta página?


FLOR DO LÁCIO

2) Divida esta narrativa em duas partes, a saber:


a. O combate
b. Reflexão do autor em torno da personalidade do barão de Cerro Largo

3) Que contém cada uma destas partes?

4) Como se liga a primeira parte à segunda?

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse desta narrativa?

2) Por que os soldados da segunda divisão atiraram contra os próprios pa-


trícios?

3) Que qualidades demonstrou possuir o barão do Cerro Largo?

4) Que reflexões faz o autor a respeito dos méritos do herói morto?

Exercício t: vocabulário e gramática

1) Dê sinônimos a:
a. Intrépido f. Serenidade k. Esquecimento
b. Destroço g. Arrojar 1. Copioso
c. Infelizes h. Combater m. Licnóbio
d. Distinguir i. Desfalecida n. Leptoprosopo
e. Expirar j. Ilustre o. Leptorrino

2) Empregue apropriadamente, em curtas orações:


a. Conter deter
b. Inimigo adversário
c. Gloriosa triunfal
d. Consagrar devotar dedicar
e. Abnegação renúncia
f. Civismo patriotismo

410
NARRATI VAS

g. Fragilidade debilidade
h. Fome apetite cinorréia
i. Derrotar desbaratar destroçar
j. Abalar abalroar atropelar
k. Derruir derrocar desmoronar solapar esbarrondar

3) Empregue em sentido figurado:


a. Soldado e. Espada i. Verdugo
b. Inimigo f. Mão j. Empíreo
c. Fogo g. Vítima k. Bulimia
d. Combate h. Hóstia 1. Obtuso

4) Conjugue os verbos "poder", "seguir" e "rir".

5) Aponte, no texto, as orações subordinadas adjetivas.

6) Explique a concordância verbal em: "A maior parte dos nossos usam de
pão amassado".

7) Cite expressões que traduzam:


a. Estampidos c. Ruído de quedas
b. Tropel d. Gemidos e gritos

Exercício 11: elocução

Imitando o autor nos três primeiros períodos desta narrativa, fale:


a. De três grupos de meninos, brincando de "guerra"
b. De uma partida de futebol

Exercício tt: redação imitativa

Durante a Segunda Conflagração Mundial, houve um dia, na Itália, em que


as tropas alemãs, contra-atacando, se confundiram com as tropas brasileiras,
num tremendo corpo-a-corpo. Componha uma pequena narrativa sobre este
assunto, fazendo reflexões sobre o heroísmo de nossos jovens soldados.

41I
Narrativas com reflexões
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA

D ESENVOLVA os seguintes assuntos, completando o relato dos fatos com


reflexões apropriadas; mas evite inserir, apenas, reflexões numa narrativa.
A composição e a seqüência das idéias devem preparar as reflexões; e é preciso
fazer de modo que essas reflexões sejam as que nós próprios faríamos, se quisés-
semos exprimir nossa opinião a respeito dos fatos que nos são expostos:

1) A cachoeira: Subíamos por um desfiladeiro, ainda úmido da tempesta-


de que caíra. Paramos, encantados, diante duma cachoeira. Suas águas esca-
choantes tombavam, rugindo, de grande altura, e mergulhavam num mundo
de brancas e fervilhantes espumas, sobre as quais se encurvava rútilo arco-íris.
Perto havia uma usina elétrica e grossos tubos rastejavam no solo. E a água
colérica, aprisionada e canalizada, fazia girar os dínamos, que roncavam sob as
telhas vermelhas. Adeus, encantamento! Ali chegara o homem, armado de sua
ciência, para escravizar a natureza.

2) As formigas: Passeando certa tarde por um bosque verde e cheiroso, em


cujo solo esverdinhado e úmido dançavam, de espaço a espaço, rendilhados de
sol, sentei-me num velho tronco de árvore, à beira de um córrego, para descan-
sar. Voejavam, no ar puro, bandos multicores de borboletas, e, pássaros, escon-
didos na folhagem, gorjeavam triunfalmente. Baixei os olhos, pensativamente.
A meus pés, vi um formigueiro trabalhando. Interessei-me vivamente pelas
ações daqueles animaizinhos industriosos; e admirei as leis daquela sociedade

412
NARRA TI VAS

animal tão bem organizada, na qual não há lugar para os ociosos e em que cada
indivíduo deve realizar pontualmente uma tarefa necessária ao bem comum.

3) As andorinhas: Assisti um dia, da janela de casa, à partida rumorosa


das andorinhas, que iam em busca dum clima quente, fugindo aos rigores do
inverno. Era de manhã. O céu, cinzento, recobria a atmosfera saturada de bru-
mas frias. Os telhados e os fios telefônicos estavam cobertos de avezinhas que
chilreavam e esvoaçavam. De repente, como se fosse dado um sinal, elas parti-
ram, em bando compacto, rumo ao norte. Acompanhei-as, em pensamento, no
vôo, e comecei, de imaginação, a ver as regiões que elas iam atravessar.

4) O cão fiel: Contaram-me um fato extraordinário. Um de meus amigos


tinha um cão, do qual desejava desembaraçar-se. Enviou-o, de presente, a um
primo, que morava noutra cidade, a cerca de trezentos quilômetros de distân-
cia. Cinco ou seis dias depois, o pobre animal, que fora despachado pela estrada
de ferro, chegava de volta à casa, esfomeado e sedento, mas cheio de alegria.
Ele encontrara o caminho de regresso e fizera-o a pé. Desde então a família
toda vê nesse cão o modelo do devotamento aos donos, cercando-o de afeto e
de carinho.

5) Os milagres de Cristo: A caminho do Calvário, Jesus Cristo cura, com


um gesto de imensa bondade, grupos angustiados de leprosos. Um nobre ro-
mano, que acompanha a marcha para o suplício, aproxima-se do Salvador e
interpela-o sobre o sentido profundo de seus milagres. Imagine a resposta e
narre a cena.
Narrativas com conversação
TEXTO EXPLICADO

DEMONSTRAÇÃO MATEMÁTICA

N AS férias, ao chegar do colégio, onde estivera interno todo o ano, o


Eduardo andava à espreita de uma oportunidade para mostrar aos pais
quanta coisa por lá aprendera. Ao jantar, chegou-lhe, enfim, o ensejo. Papai e
mamãe iam ficar deslumbrados com a sua sapiência. "Papai, aí, nesse prato a sua
frente, quantos croquetes pensa o senhor ver? Dois, não é assim?". "Nem mais
nem menos: isso mesmo respondeu o pai. "Pois eu vou provar ao senhor
que são três. Aqui está um; aqui estão dois. Dois mais um são três. Logo ... há
três croquetes no prato". "Mas onde estava eu com os olhos?! Perfeitamente, são
três croquetes. Vejo-os agora. Com que clareza você demonstra! Que grande
matemático você vai dar! Você merece uma recompensa. Vamos repartir os
croquetes. Quinoca ficará com o primeiro, porque é a mamãe; eu ficarei com o
segundo, porque sou o papai; e você, Eduardo, ficará com o terceiro inteirinho,
porque foi você quem o achou".

Teodoro de Morais

Estudo das palavras e expressões

Demonstração é um raciocínio donde se deduz a verdade de uma pro-


posição, isto é, do enunciado de um problema ou questão que se pretende
resolver.
414
NARRATIVAS

Interno aluno que vive no colégio durante o ano letivo, sujeito às regras
de disciplina que aí vigoram.
Oportunidade ocasião propícia.
Deslumbrados profundamente admirados, como se a sapiência do filho
fosse tão luminosa que deslumbrasse a inteligência dos pais.
Andava à espreita procurava, atento e vigilante.
Onde estava eu com os olhos? onde os tinha eu, que não via isso?

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta historieta?


R.: É a história de um menino que, em férias, retorna à casa e que deseja
mostrar aos pais sua sapiência, provando-lhes, por meio dum jogo de raciocí-
nio, serem três os dois croquetes servidos à mesa.

2) Como considerou o autor este assunto?


R.: Considerou-o o autor como uma lição, ministrada sob a forma duma
anedota dialogada, em que se cruzam vivamente as interpelações e as respostas.

3) De quantas partes se compõe esta narrativa?


R.:O autor apresenta esta narrativa como uma pequenina comédia, em que
se notam, segundo a divisão clássica:
a. Um prólogo: a ansiosa espera duma oportunidade
b. As peripécias: a demonstração matemática
c. O inesperado desfecho: a recompensa a Eduardo

4) Explique sucintamente o conteúdo de cada uma destas partes.


R.: No prólogo, nota-se a ansiedade do menino pelo momento em que
possa assombrar os pais, não com conhecimentos úteis adquiridos à força de
estudos, mas com um jogo fútil, aprendido no convívio dos colegas. Nas pe-
ripécias, chegada a oportunidade, ele faz a demonstração, baseada num jogo
bastante conhecido: contam-se os objetos e somam-se, no fim, os algarismos
que lhes constituem a ordem numérica. No desfecho, ridiculariza-o o pai com
exageradas exclamações admirativas, distribuindo em seguida os croquetes de
acordo com a demonstração, em virtude da qual lhe cabe o terceiro, isto é, o
inexistente; o que, sem dúvida, lhe causou grande desapontamento.
FLOR DO LÁCIO

Estudo das idéias

1) Como conseguiu o autor dar movimento e vida a esta historieta?


R.: Conseguiu-o por meio de uma rápida sucessão de idéias, expressas em
orações curtas, ordenadas como as de uma narrativa simples e movimentadas
como as de uma conversação animada. O movimento fraseológico torna-se,
destarte, vivo bastante para nos prender a atenção e despertar a curiosidade, e
vai, gradualmente, desde o tom mais familiar até a ironia.

2) Analise, em poucas palavras, a personalidade do menino.


R.: Nota-se, nesse menino, vivacidade e, também, um pouco de vaidade em
seu desejo de aparecer aos olhos paternos como um raciocinador espirituoso.

3) De que modo o puniu o pai?


R.: Puniu-o o pai com a ironia de suas exclamações e valeu-se, como vimos,
da própria demonstração matemática do filho para privá-lo do croquete, com o
fim de dar-lhe uma lição, que o corrigisse de sua falta de respeito.
Narrativas com conversação
TEXTOS PARA EXPLICAÇÃO

I. O FILHO PRÓDIGO

C ERTO homem rico tinha dois filhos, dos quais o mais moço pediu ao pai
que lhe desse, em vida, a parte da herança que lhe havia de caber por sua
morte, porque desejava lograr o seu. Concedeu-lhe o pai o que pedia, e daí a
poucos dias, ausentando-se para um país distante, desbaratou e consumiu toda
a herança em larguezas e prodigalidades, chegando a tal excesso de miséria que
foi obrigado a servir um amo e a guardar um rebanho de gado imundo. No
meio do montado desejava matar a fome que padecia, com o mesmo comer de
que o gado se sustentava, mas nem esse lhe davam, e perecia. Lembrava-se da
abundância com que até os criados de soldada viviam em casa de seu pai, e ele
estava ali morrendo à fome. Com esta consideração desenganado, tornou em
si, e, arrependido da vida passada, resolveu-se a ir buscar outra vez seu pai e
confessar a sua culpa. Pôs-se a caminho: e estando ainda longe da casa do pai,
vendo-o este e reconhecendo-o, penetrado de piedade e compaixão, apressou
os passos e o foi abraçar, e o chegou a seu rosto com muitas carícias e amplexos.
Então o filho, lançando-se a seus pés, lhe disse: "Meu pai, contra Deus e contra
vós pequei, e não mereço que me chameis mais vosso filho; peço-vos que me
admitais por um dos vossos jornaleiros". Porém o pai, mandando-o vestir do
mais precioso vestido, e metendo-lhe no dedo um estimável anel, provendo-o
também de calçado, lhe fez preparar um banquete do melhor vitelo, e com
grandes festas celebrou a vinda do filho que julgava por morto. Estando à mesa
chegou do campo o filho mais velho, e ouvindo tanta festa, informando-se
FLOR DO LÁCIO

do que se passava, não quis entrar em casa, antes se mostrou tão sentido e
queixoso, que saindo o pai fora para o buscar, lhe disse o filho: "Há tanto
tempo que vos sirvo com obediência, como vós sabeis, e nunca me destes um
cabrito para comer com os meus amigos; e agora que chegou esse vosso filho
que desperdiçou todo o seu patrimônio, logo lhe deste a comer o vitelo mais
gordo e melhor". "Filho" respondeu o pai "vós sempre estais comigo, e
tudo quanto tenho é vosso; porém como vosso irmão estava já perdido, foi justo
que me alegrasse com a sua vinda".

João Batista de Castro

Estudo das palavras e expressões

1) Que significa cada uma das seguintes palavras?


a. Pródigo f Larguezas k. Amplexos
b. Lograr g. Um amo 1. Jornaleiros
c. O seu h. Montado m. Estimável
d. Desbaratou i. Parecia n. Patrimônio
e. Consumiu j. Soldada

2) Qual é a significação de ... ?


a. Excesso de miséria c. Tornou em si e. Ouvindo tanta festa
b. Gado imundo d. Penetrado de piedade

Estudo do plano de composição

1) Que nos conta o autor nesta página?

2) Divida esta narrativa em duas partes, a saber:


a. O filho pródigo
b. Sua volta à casa paterna

3) Como se faz a transição da primeira para a segunda parte?

4) Qual é o conteúdo de cada uma das seguintes passagens desta narrativa?


NARRATIVAS

a. O erro do filho e. A alegria do pai


6. Seu arrependimento d. A justificação de sua alegria

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse desta narrativa?

2) Que verdade serve ela para demonstrar? Prove-o com elementos tirados
do texto.

3) Em que tom a escreveu o autor?

4) Donde foi extraído o episódio que ora estudamos?

5) Que simboliza o filho pródigo?

Exercício t: vocabulário e gramática

1) Empregue em curtas orações as seguintes palavras:


a. Pródigo - perdulário
6. Lograr gozar fruir desfrutar
c. Desbaratar malbaratar dissipar
d. Rebanho manada alcatéia matilha
e. Apressar estugar
f. Enlamear enxovalhar atassalhar
g. Neofobia misoneísmo

2) Cite sinônimos de:


a. Rico g. Perecer m. Redundar
6. Pedir h. Desenganar n. Advir
c. Miséria i. Carícias o. Perlustrar
d. Obrigar j. Precioso p. Perambular
e. Imundo k. Banquete q. Incidir
f. Padece 1. Responder
FLOR DO LÁCIO

3) Cite verbos que exprimam:


a. Estado
b. Incidência no estado
c. Permanência no estado

4) Forme curtas sentenças, em que entrem, no sentido figurado, as seguintes


palavras:
a. Pródigo d. Pais g. Cairel
b. Rico e. Miséria
c. Vida f. Matar

5) Analise logicamente o período: "Foi justo que me alegrasse com a sua


vinda".

6) Cite expressões que traduzam idéias de atividade, lucro, opulência e


alegria.

Exercício : elocução

Reproduza oralmente esta narrativa, substituindo o discurso direto pelo in-


direto.

Exercício II: redação imitativa

Modernize a parábola do filho pródigo, escrevendo a história dum jovem


que consegue, apesar da relutância da família, a sua "legítima" e a aplica em
grandes empreendimentos industriais, regressando milionário à casa paterna.

II. O RICO AVARENTO

Houve um homem mui opulento, que não vestia senão púrpuras e holandas, e
todos os dias se banqueteava esplendidamente. À sua porta jazia de ordinário
um pobre chamado Lázaro, coberto de chagas, que, para matar a fome, não
alcançava nem as migalhas que caíam da mesa do rico; somente os seus cães lhe
vinham às vezes lamber as feridas. Sucedeu que, morrendo ambos no mesmo

420
NARRATI VAS

dia, Lázaro foi levado pelos anjos ao seio de Abrão, e o rico foi sepultado no
Inferno. Ardendo naqueles tormentos, olhou para cima, e vendo Lázaro no seio
de Abrão, disse falando com ele: "Pai Abrão, tende compaixão de mim; mandai
a Lázaro que me venha refrigerar a língua ao menos com a parte extrema de um
dedo molhado na água; porque me abrasa e atormenta muito este fogo". Res-
pondeu-lhe Abrão: "Lembra-te, filho, que na tua vida gozaste os bens, e Lázaro
padeceu os males; agora tu padeces os tormentos, e ele logra os gostos. Daqui
não se pode passar para lá, nem de lá para cá; porque entre nós e esse lugar se
mete uma grande separação e dilatado espaço". "Ao menos, tornou o rico
avarento a fazer segunda petição, peço-vos que mandeis Lázaro a casa de
meu pai, onde tenho cinco irmãos, para que lhes diga o que por cá passo; pois
não suceda que eles, vivendo com o meu exemplo, venham também a parar
neste lugar de tormentos". Disse-lhe Abrão: "Eles lá têm Escrituras e profetas a
quem podem ouvir". Instou o avarento: "Com mais eficácia se moverão a fazer
penitência, se um morto ressuscitado os for advertir". Porém Abrão lhe tornou
a responder: "Se eles não crêem a Moisés, nem aos profetas, muito menos darão
crédito a um morto ressuscitado".

João Batista de Castro

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. Avarento e. Jazia i. Logra
b. Opulento f. Ardendo j. Petição
c. Púrpuras g. Refrigerar k. Instou
d. Holandas h. Abrasa

2) Diga o que sabe de:


a. Abrão
b. Moisés
c. As Escrituras

3) Que significam as expressões ... ?


a. Matar a fome e. Dilatado espaço
b. Coberto de chagas f. Vivendo com o meu exemplo
c. Foi sepultado no Inferno g. Este lugar de tormentos
d. Uma grande separação

421
FL O R DO LÁCIO

Estudo do plano de composição

1) Que nos conta Batista de Castro nesta narrativa? Responda de modo


expressivo, em poucas palavras.

2) Quais são as partes desta narrativa que correspondem aos títulos ... ?
a. A introdução da historieta
b. O diálogo de Pai Abrão e do rico avarento

3) Como se liga a primeira parte à segunda?

4) Que pormenores formam a estrutura de cada uma destas partes?

Estudo das idéias

1) Que é que nos vai prendendo a curiosidade, à medida que lemos esta
narrativa?

2) Como conseguiu o autor graduar o interesse crescente de sua narrativa?

3) Que verdade bíblica serve esta narrativa para demonstrar?

4) Desenvolva o sentido da frase final de Pai Abro.

5) Analise, em poucas palavras, o estilo do autor, nesta página.

Exercício t: vocabulário e gramática

1) Dê sinônimos às seguintes palavras:


a. Opulento g. Migalhas m. Abrasar
b. Esplendidamente h. Suceder n. lnspissar
c. Jazer i. Morrer o. Condensar
d. De ordinário j. Tormentos p. Adensar
e. Chagas k. Compaixão q. Fugaz
f. Padecer 1. Molhar r. Fugidio

422
NARRATI VAS

2) Empregue em curtas orações, no sentido próprio e no figurado:


a. Chaga e. Brasa i. Flor
b. Migalha f. Céu j. Úlcera
c. Morte g. Inferno k. Obtuso
d. Fogo h. Calor

3) Quais são os adjetivos correspondentes a ... ?


a. Púrpura f. Pai k. Vida
b. Dia g. Compaixão 1. Profeta
c. Fome h. Dedo m. Eficácia
d. Cão i. Água n. Penitência
e. Anjo j. Fogo

4) Substitua, no texto, as seguintes expressões por outras de igual valor:


a. Mui opulento d. De ordinário g. Tende compaixão
b. Todos os dias e. Coberto de chagas
c. Esplendidamente f. Que caíam

5) Aponte no texto as orações substantivas objetivas e subjetivas.

6) Cite expressões que traduzam auréola, apoteose, amargura e arrependi-


mento.

Exercício : elocução

Faça a reprodução oral desta narrativa, substituindo o discurso direto pelo


indireto.

Exercício II: redação imitativa

Escreva, em forma de narrativa dialogada, uma prosopopéia: Domingos


Fernandes Calabar, vendo a glória de Felipe Camarão e Henrique Dias, pede
ao Brasil que lhe perdoe a felonia.
Narrativas com conversação
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA

1) Desenvolva as seguintes narrativas, nelas introduzindo diálogos breves e


expressivos, que dêem vida e movimento à narração:

a. O indeciso: Alguns rapazes, agrupados a um canto do pátio de recreio


dum colégio, conversam animadamente acerca das profissões que pretendem
abraçar: um deseja ser militar, outro, médico, e outro, ainda, aviador, enge-
nheiro, advogado, professor etc., etc. Cada qual julga ter boas razões para de-
terminar assim o próprio destino. De todos eles, apenas um a nada se decidiu
ainda. Ele não vê senão inconvenientes em todas as carreiras de que lhe falam
os colegas. Ele quer e não quer; tem aspirações, mas teme qualquer esforço e
muda de opinião a cada instante. Seus companheiros caçoam dessa indecisão.

b. Uma aposta: Na opinião de nosso amigo Barnabé, ninguém, melhor do


que ele, se distingue nos desportos. Com os bolsos sempre atulhados de revistas
e folhas desportivas, com a lapela sempre ornada de distintivos de diversos clu-
bes, ele se gabava de seus triunfos no futebol, no lançamento de discos, no tênis,
na luta, na esgrima etc. Causava-nos admiração, sobretudo, pelos louvores que
fazia ao salto à vara, seu exercício predileto. Um dia, no campo, pedimos-lhe
uma demonstração de sua habilidade. Estando em jogo o seu amor-próprio, ele
apostou que haveria de transpor à vara um riacho próximo. Tomando impulso,
após vários preparativos, correu, saltou ... e foi cair no meio da água lamacenta,
onde deixou todo o seu prestígio.
NARRATIVAS

c. O pequeno negociante: Temos em nossa classe um colega, que é um tipo


fora do comum. Desdenhando nossos folguedos costumeiros, ele se preocupa
com algo mais elevado: comercia. Traz sempre os bolsos cheios dos mais diver-
sos objetos. Realiza compras e trocas. Quando participa duma conversa, é para
tentar algum ingênuo com algum negócio, muito vantajoso, segundo afirma.
Seu prazer consiste em permutar figurinhas de artistas cinematográficos por
selos raros, um selo comum por um bom canivete, ou em vender por elevado
preço lápis baratos e canetas ordinárias. Ele se anima calorosamente ao fazer
suas propostas, torna-se insinuante e eloqüente; e, muitas vezes, é o protagonis-
ta de cenas engraçadas.

2) Componha uma narrativa interessante, em que apareçam diálogos ex-


pressivos sobre os seguintes temas:
a. Uma jovem conversa com sua amiga a respeito de seu primeiro baile
b. Uma menina explica à irmãzinha como é sua vida no colégio
c. Um professor explica à classe o que é pátria
d. Um sacerdote explica a jovens ouvintes o que é religião
e. Um rapazinho explica a um amigo as impressões que experimentou, ao
usar pela primeira vez calças compridas
f. O Padre Anchieta procura convencer os índios a se manterem em paz
g. Esopo explica a Xantus as vantagens e desvantagens da língua
Narrativas com retrato
TEXTO EXPLICADO

O IDEAL DE NHONHÔ

u era pequeno e rechonchudo como uma bola. O nariz escondia-se-me


E entre as bochechas e não havia mostrado ainda essa tendência para disparar
pela cara, como aconteceu mais tarde. Pediam-me beijos e diziam, segurando-
-me no queixo: "Que menino bonito!". Não se riam, a gente daquele tempo
não era lá das mais exigentes. O meu ideal, sem ser republicano, era o da li-
berdade sem limites. No dia em que o grito de: "Férias!" ecoava pelos quatro
cantos do colégio, uma sensação inexprimível se apoderava de todo o meu ser.
Férias! Nesta palavra mágica não se encerrava só a ausência da palmatória e o
abandono dos livros, mas principalmente a roça com todos os seus prazeres e
encantos. Quinze dias a correr pelos campos, a perseguir como um louco as
borboletas azuis, virar cambalhotas na relva, adormecer extenuado à sombra
do arvoredo, tudo isto bulia-me por tal forma com o sistema nervoso que eu
sentia comichóes em todo o corpo e não podia estar cinco minutos sem dizer:
"Chi! Que belo! Vamos amanhã! Tomara que fosse hoje já! Trá lá lá, lá, li, li!".

França Júnior

O assunto - A personagem desta narrativa mostra-nos, através dum auto-


-retrato descritivo, o seu aspecto físico em criança, contando-nos, ao mesmo
tempo, qual era então o seu ideal.
NARRATI VAS

O plano de composição O autor emprega a forma pessoal, que é essen-


cialmente narrativa, e desenvolve sua matéria em duas partes, a saber:
a. O menino bonito
b. O seu ideal

Elementos descritivo-narrativos Na primeira parte, vemos o garoto,


pequeno e rechonchudo como uma bola, com seus traços fisionômicos de bo-
neco: bochechas rosadas, entre as quais desaparecia o narizinho (que mais tarde
cresceu enormemente). Na segunda, confessa-nos ele que, sendo seu ideal a
liberdade sem limites, embora não fosse republicano (frase que constitui uma
crítica de monarquista aos partidários desse regime político), adorava as férias
pelo que representavam de correrias através dos campos da fazenda, de caças
às borboletas, de cambalhotas na relva e de sonos à sombra dos arvoredos: só à
expectativa desses prazeres, enchia-se de entusiasmo.
Entre a primeira parte e a segunda, lembra-se a personagem daqueles que
o achavam bonito e lhe pediam beijos, acrescentando a essa lembrança um co-
mentário jocoso: é o que constitui a transição de uma parte para outra.

O interesse narrativo Este retrato, assim composto, não é uma simples


descrição, mesmo porque são exíguos os caracteres físicos apresentados; ele está
enquadrado numa narrativa, que o autor desenvolve num tom humorístico e
onde o emprego da primeira pessoa pronominal parece dar mais vida e realce
ao menino, colocando-o ante nossos olhos em plena ação: observamo-lo e ve-
mo-lo então tal como já fomos, com a mesma alegria exuberante nas vésperas
das férias e com idênticas manifestações de entusiasmo, embora se compreenda
que estes sentimentos pudessem ser mais intensos naquela época, quando a
palmatória era o terror dos pequenos escolares.
Narrativas com retrato
TEXTOS PARA EXPLICAÇÃO

I. O MESTRE DE PRIMEIRAS LETRAS

v querias tu, afinal, meu velho mestre de primeiras letras? Lição de cor
~ compostura na aula; nada menos do que quer a vida, que é das últimas
letras; com a diferença que tu, se me metias medo, nunca me meteste zanga.
Vejo-te ainda agora entrar na sala, com as tuas chinelas de couro branco, ca-
pote, lenço na mão, calva à mostra, barba rapada; vejo-te sentar, bufar, grunhir,
absorver uma pitada inicial, e chamar-nos depois à lição. E fizeste isto durante
vinte e três anos, calado, obscuro, pontual, metido numa casinha da Rua do
Piolho, sem enfadar o mundo com a tua mediocridade, até que um dia deste
o grande mergulho nas trevas, e ninguém te chorou, salvo um preto velho
ninguém, nem eu, que te devo os rudimentos da escrita.

Machado de Assis

Estudo das palavras e expressões

1) Explique o sentido das seguintes palavras do texto:


a. Primeiras letras c. Obscuro e. Rudimentos
b. Compostura d. Pontual f. Escrita
NARRATI VAS

2) Que significam as expressões ... ?


a. Que é das últimas letras d. Absorver uma pitada inicial
b. Bufar e. Sem enfadar o mundo
c. Grunhir f. Dar o grande mergulho nas trevas

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta página?

2) Por que é uma narrativa o que encerra a página precedente?

3) Divida esta narrativa em três partes, dando títulos a cada uma delas e
dizendo em seguida qual é o respectivo conteúdo.

4) Explique como se faz a transição de cada parte para a seguinte.

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse desta narrativa?

2) Que impressão nos quer dar o autor, do velho mestre que ele descreve?

3) Que considerações faz ele em torno da pessoa do velho mestre? E em que


tom?

4) Localize este trecho no livro Memórias póstumas de Brás Cubas, de Ma-


chado de Assis.

Exercício I: vocabulário e gramática

1) Empregue no sentido figurado, em curtas orações:


a. Berrar d. Roncar g. Chorar
b. Urrar e. Silvar h. Devorar
c. Uivar f. Gemer i. Fuzilar
FLOR DO LÁCIO

2) D exemplos das seguintes figuras de estilo:


a. Interrogação c. Imprecação
6. Apóstrofe d. Amplificação

3) De sinônimos a:
a. Últimas g. Falaz m. Nímio
6. Medo h. Trevas n. Castigo
c. Nunca i. Salvo o. Fanático
d. Zanga j. Chorar p. Infletir
e. Calado k. Irrisão q. Empecer
f. Enfadar 1. Exegese r. Reinadio

4) Cite adjetivos que exprimam:


a. Velhice c. Bondade e. Energia
6. Austeridade d. Altivez

5) Explique o emprego do infinitivo no texto; indique os infinitivos que


façam parte de orações subordinadas reduzidas infinitivas.

6) Cite palavras que indiquem particularidades fisionômicas:


a. De um homem
6. De uma mulher

7) Cite dez adjetivos terminados em "udo", como "narigudo".

Exercício : elocução

Imitando o autor na passagem que vai de: "Que querias tu" a "chamar-nos
depois à lição", fale:
a. De um velho avô
6. De um professor atual

Exercício lll: redação imitativa

Evoque, numa curta narrativa, a figura de seu primeiro professor (ou de sua
primeira professora) e faça algumas ligeiras reflexões a respeito dele (ou dela).

430
NARRATI VAS

II. RE M IN ISCÊNCIA S DA VID A COLEGIAL

Toda a minha vida colegial se desenha no espírito com tão vivas cores, que
parecem frescas de ontem ... Vejo o enxame dos meninos, alvoroçando na loja
que servia de saguão; assisto aos manejos da cabala para a próxima eleição do
monitor geral; ouço o tropel do bando que sobe as escadas e se dispersa no vasto
salão, onde cada um busca seu banco numerado. Mas o que sobretudo assoma
nessa tela é o vulto grave de Januário Mateus Ferreira, como eu o via passando
diante da classe, com um livro na mão e a cabeça reclinada pelo hábito da refle-
xão. Usava ele de sapatos rinchadores; nenhum dos alunos do seu colégio ouvia
de longe aquele som particular, na volta de um corredor, que não sentisse um
involuntário sobressalto. Januário era talvez ríspido e severo em demasia; porém
nenhum professor o excedeu no zelo e entusiasmo com que desempenhava o seu
árduo ministério. Identificava-se com o discípulo; transmitia-lhe suas emoções
e tinha o dom de criar no coração infantil os mais nobres estímulos, educando
o espírito com a emulação escolástica para os grandes certames da inteligência.

José de Alencar

Estudo das palavras e expressões

1) Explique o sentido das seguintes palavras do texto:


a. Alvoroçando d. Monitor geral g. Rinchadores
b. Saguão e. Tropel h. Ríspido
c. Cabala f. Assomar

2) Que significam aqui ..?


a. O enxame dos meninos e. Coração infantil
b. Essa tela f. Os mais nobres estímulos
c. Vulto grave g. Emulação escolástica
d. Árduo ministério h. Certames da inteligência

3) Que quer o autor dizer com a oração: "Identificava-se com o discípulo"?

Estudo do plano de composição

1) Que nos conta o autor nesta página?

431
FLOR DO LÁCIO

2) Divida esta narrativa em três partes, a saber:


a. A evocação da vida colegial
b. O enxame dos meninos
c. O Professor Januário

3) Que contém cada uma destas partes?

4) Explique como se faz a transição de cada parte para a seguinte.

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse desta narrativa?

2) Como considera o autor a personalidade do Professor Januário?

3) Era Januário um bom professor? Por quê?

4) Analise, em poucas palavras, o estilo do autor, neste trecho.

5) Localize este trecho em Como e por que sou romancista.

Exercício t: vocabulário e gramática

1) Cite dez substantivos coletivos, empregando-os em curtas orações.

2) Empregue apropriadamente, em orações:


a. Desenhar pintar debuxar
b. Alvoroçar tumultuar alegrar
c. Dispersar espalhar disseminar
d. Particular característico especial
e. Painel- quadro panorama
f. Estólido estulto
g. Horóscopo predição vaticínio augúrio presságio
h. Redito rédito

3) Dê exemplos das seguintes figuras de estilo:

432
N A RRATIVAS

a. Ironia e. Imagem
b. Descrição d. Comparação

4) Dê sinônimos a:
a. Sobressalto e. Severo e. Árduo
b. Ríspido d. Zelo f. Nobres

5) Explique a concordância verbal em: "Nem Lucas, nem algum outro dos
evangelistas dizem expressamente quando o diabo tornou a tentar Cristo".

6) Analise logicamente:
a. Nós é que somos os alunos
b. O livro que você quer que eu leia está na biblioteca
e. Comemos do pão e bebemos do vinho
d. O soldado puxou da espada

7) Cite palavras que indiquem aspecto, forma e cor de olhos, nariz, fronte,
cabelos e queixo duma mulher.

8) Forme curtas comparações, em que entrem as palavras "olhos", "lábios"


e "dentes".

Exercício : elocução

Imitando o autor na passagem que vai desde: "Toda a minha vida" até "ban-
co numerado", fale:
a. De seus folguedos infantis, em companhia de seus irmãos e primos
b. Da hora de recreio numa escola primária

Exercício: redação imitativa

Faça, numa pequena narrativa, um ligeiro retrato descritivo de sua mãe;


mostre como ela lhe guiava os primeiros passos na vida com inteligência, fir-
meza e ternura.

433
Narrativas com retrato
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA

C OMPONHA as seguintes narrativas, pondo em realce, no decurso das ações


narradas, o caráter das personagens:

1)O colecionador de selos: Tive um amigo, com quem gostava de passear


todos os dias. Fui forçado a renunciar-lhe à companhia, desde que se fez cole-
cionador de selos. Da última vez em que o vi, não consentiu em sair comigo
senão depois de me mostrar todos os seus álbuns. Em seguida, tive de acompa-
nhá-lo à casa de outros colecionadores, onde fez compras e permutas. Aborreci-
do por esperá-lo tanto tempo, procurei um pretexto e retirei-me, amaldiçoando
a mania que me fazia perder um amigo.

2) Os velhos marujos: Na cidadezinha praiana, onde estou passando as fé-


rias, gosto de procurar a companhia de alguns marinheiros idosos, que se reú-
nem todas as manhãs no pequeno porto. São velhos lobos-do-mar, de rostos
queimados e linguagem rude. Mas como sabem criticar as manobras dos navios
que entram ou saem! Como sabem prever o bom ou o mau tempo! Como se
tornam eloqüentes quando falam de suas viagens e nos caprichos do mar, onde
envelheceram e sofreram, e do qual não podem desviar os olhos!

3) O amigo dos cães: Meu amigo Paulo tem, na linda chácara de seus pais,
grande número de cães de todos os tamanhos e raças. Quando volta da escola ou
dum passeio, toda a matilha o cerca em algazarra, ladrando alegremente e pro-
curando lamber-lhe as mãos. E ele os acaricia um por um, entre demonstrações

434
NARRATI VAS

de alegria dos outros. Se um dos animais adoece, Paulo fica preocupado e não
sai mais a passeio, a fim de tratar do doente com carinhosa solicitude. À tarde,
antes do jantar, caminha pelos campos com uma escolta de "policiais", galgos e
perdigueiros, que não lhe dão um momento de descanso. Parece que os amigos
de Paulo o vão abandonando aos poucos; mas ele de nada se queixa, sentindo-se
completamente feliz no meio de seus cães.

4) Prazeres de viagem: Um de meus maiores prazeres, quando viajo, consiste


em procurar conhecer, por seu exterior, as pessoas que se acham ou cruzam
comigo num vagão ou num hotel. Observo-lhes as fisionomias, o vestuário, as
maneiras, ouço-lhes as conversas. E fico satisfeito quando lhes descubro o cará-
ter e a profissão. É este um passatempo que vale bem qualquer outro.

435
Narrativas exóticas
TEXTO EXPLICADO

NA CHINA DE OUTRORA

até as entradas das pontes sobre os canais, onde saltimbancos semi-


F OMOS
nus, com máscaras simulando demônios pavorosos, fazem destrezas dum
picaresco bárbaro e sutil; e muito tempo estive a admirar os astrólogos de lon-
gas túnicas, com dragões de papel colocados às costas, vendendo ruidosamente
horóscopos e consultas de astros. Oh! Cidade fabulosa e singular! De repente
ergue-se uma gritaria! Corremos: era um bando de presos, que um soldado,
de grandes óculos, ia impelindo com o guarda-sol, amarrados uns aos outros
pelo rabicho! Foi aí nessa avenida, que eu vi o estrepitoso cortejo de um funeral
de mandarim, todo ornado de auriflamas e de bandeirolas; grupos de sujeitos
fúnebres vinham queimando papéis em fogareiros portáteis; mulheres esfarra-
padas uivavam de dor, espojando-se sobre tapetes; depois erguiam-se, galho-
favam e um cule19 vestido de luto branco servia-lhes logo chá, de um longo
bule em forma de ave. Ao passar junto ao Templo do Céu, vejo apinhada num
largo uma multidão de mendigos; as mulheres, com os cabelos entremeados de
velhas flores de papel, roíam ossos tranqüilamente; e cadáveres de crianças apo-
dreciam ao lado, sob o vôo dos moscardos. Adiante topamos com uma jaula de
grades, onde um condenado estendia, através das grades, as mãos descarnadas
à esmola ... Depois Sá-Tó º mostrou-me respeitosamente uma praça estreita; aí,
2

19 Cule: trabalhador chinês.

20 Sá-Tó: companheiro chinês da personagem narradora.


N A R R ATI VAS

sobre pilares de pedra, repousavam pequenas gaiolas contendo cabeças de deca-


pitados; e, gota a gota, ia pingando delas um sangue espesso e negro ...

Eça de Queirós

Estudo do plano de composição"

1) Qual é o assunto desta narrativa?


R.: São cenas duma velha cidade chinesa, que um português, com espírito
de turista, nos descreve.

2) Em que é esta narrativa, ao mesmo tempo, descritiva e exótica?


R.: É descritiva, pelos fatos que encerra; e exótica, por apresentar cenas tí-
picas da velha China.

3) Quais são as principais passagens desta narrativa?


R.: Ei-las, de acordo com o plano de composição:
a. Saltimbancos e astrólogos: desde o início até "cidade fabulosa e singular"
b. Os presos: desde "de repente" até "rabicho"
c. Os funerais do Mandarim: desde "foi aí" até "forma de ave"
d. Os mendigos: desde "ao passar" até "moscardos"
e. Os condenados: desde "adiante" até o fim

4) Que contém cada uma destas passagens?


R.: São os seguintes, os pormenores destas passagens:
a. Saltimbancos seminus, com máscaras, fazendo destrezas, e astrólogos, de
longas túnicas, vendendo ruidosamente horóscopos e consultas de astros
b. Presos, amarrados uns aos outros pelo rabicho e que são impelidos por
um soldado de grandes óculos
c. O cortejo dum funeral de mandarim, de que participam grupos de ho-
mens fúnebres, carpideiras e um cule vestido de luto branco
d. Junto ao Templo do Céu, uma turba de mendigos; mulheres famintas e,
ao lado, cadáveres de crianças apodrecendo
e. A jaula, donde um condenado pedia esmolas e, numa estreita praça, pe-
quenas gaiolas que continham cabeças de decapitados

21 Trabalho da aluna L. Tamanishi.

437
FLOR DO LÁCIO

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse desta narrativa?


R.: O interesse decorre da grande variedade de pormenores descritivos,
agrupados em pequeninos quadros pinturescos e exóticos, cuja sucessão obser-
vamos com a mesma curiosidade da personagem narradora.

2) Quais são os pormenores descritivos que emprestam cor local à narrativa?


R.: Cor local é a representação fiel do lugar e do tempo da ação, com seus
usos, costumes, linguagem etc. Aqui, os pormenores que emprestam cor local
à narrativa são: saltimbancos com máscaras que simulam demônios; astrólogos
de longas túnicas, com dragões de papel colocados às costas; presos amarrados
pelo rabicho; o soldado de guarda-sol; o cortejo de um funeral, todo ornado
de auriflamas e bandeirolas; as carpideiras que ora choram, ora riem; o cule,
vestido de luto branco, servindo chá; o preso na jaula; as cabeças decapitadas
dentro de pequenas gaiolas.

3) Que impressão nos causa cada uma das cenas descritas?


R.: O cortejo fúnebre do Mandarim causa-nos uma impressão de pomposi-
dade, que contrasta violentamente com a triste miséria do povo, miséria que se
patenteia nas mulheres esfarrapadas e nas mendigas que roem ossos, indiferen-
tes ao horrível quadro dos pequenos cadáveres em decomposição; e tudo isto,
conjuntamente com os demais quadros surpreendentes a que assistimos, nos
produz uma impressão geral de exotismo.

438
Narrativas exóticas
TEXTOS PARA EXPLICAÇÃO

I. EXTRAVAGANTE COSTUME DOS CIPRIOTAS

A gente popular de todo este reino pela maior parte é cativa dos senhores das
[ idades, vilas le aldeias, salvo aqueles que por alguma via têm privilégio
para o não serem. E este cativeiro é coisa de muitos anos. Um costume mui
novo vi nesta cidade (Nicósia) que me põe em admiração; o qual é que, indo
eu um dia por uma rua, vi levar e enterrar à igreja um fidalgo mui principal,
e iam com ele todos seus parentes e amigos, e diante os escravos e escravas, os
quais levavam pelas rédeas quatro ou cinco cavalos e dois machos, e todos co-
bertos de dó; chegando junto ao alpendre da igreja, subitamente saíram dela os
clérigos com grandes paus nas mãos, e começaram de dar nos escravos e escra-
vas, trabalhando por prendê-los; como prenderam um ou dois, os outros com
os cavalos fugiram. Fiquei eu admirado de ver um tão súbito desatino, a meu
parecer, e depois da coisa quieta, perguntei a significação dela. Disseram-me ser
costume naquela terra, quando falecia alguma pessoa nobre e rica, irem adiante
todos os seus escravos e escravas, mulas e toda outra cavalgadura até à porta da
igreja, como eu vira aqueles, e, que, saindo os clérigos com os paus, as escravas
ou escravos ou cavalgaduras que podiam tomar eram seus, e os outros ficavam
livres e forros.

Frei Pantaleão do Aveiro

439
FLOR DO LÁCIO

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. Extravagante e. Fidalgo i. Clérigos
b. Cipriotas f. Mui principal j. Súbito desatino
c. Alguma via g. Machos k. Cavalgadura
d. Privilégio h. Alpendre 1. Forros

2) Qual é a significação de ... ?


a. A gente popular d. Cobertos de dó
b. Os senhores das cidades e. A meu parecer
c. Que me pôs em admiração

3) Onde fica a ilha de Chipre? Que sabe a respeito dela?

Estudo do plano de composição

1) Que nos narra Frei Pantaleão do Aveiro neste trecho?

2) Divida esta narrativa em três partes, dando-lhes títulos expressivos.

3) Qual é o conteúdo de cada uma dessas partes?

4) Como se faz a transição de cada parte para a seguinte?

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse desta narrativa?

2) Em que é extravagante o costume dos cipriotas?

3) Não lhe parece cômico tal costume? Por quê?

4) Analise, em poucas palavras, o estilo do autor, neste trecho.

440
NARRATIVAS

Exercício t: vocabulário e gramática

1) Que significam as palavras ... ?


a. Extravagante g. Subitamente m. Misologia
b. Cativa h. Trabalhando n. Misofobia
c. Enterrar i. Falecer o. Misogamia
d. Fidalgo j. Arrulhar p. Filoneísmo
e. Principal k. Rezingar
f. Dó 1. Esgalgado

2) Dê sinônimos a:
a. Cativeiro j. Ab-rogar s. Coligir
b. Novo k. Afetar t. Assacar
c. Enterrar 1. Afilar u. Chufa
d. Quieta m. Adergar v. Enfarar
e. Nobre n. Adentrar-se w. Debrum
f. Rica o. Desdouro x. Esquadrinhar
g. Livres p. Arrugar y. Inquirir
h. Aquelar q. Adentrar z. Esmolambado
i. Abroquelar r. Embrenhar

3) Quais são os homônimos de ... ?


a. Aqueles h. Topo o. Termo
b. Forro i. Toldo p. Tempero
c. Vezo j. Tola q. Tapete
d. Vedes (verbo "ver") k. Toco r. Surpreso
e. Vedo trêmulo l. Testo s. Surpresa
f. Tresdobro m. Teso
g. Topete n. Terço

4) Empregue apropriadamente, em curtas orações:


a. Senhor amo dono
b. Admiração espanto estupefação
c. Desatino loucura insânia
d. Livre liberto forro

44I
FLOR DO LÁCIO

e. Advir sobrevir
f. Emagrecido emaciado
g. Destroçar - afugentar - derrotar

5) Empregue em orações, no sentido figurado:


a. Luz e. Neve i. Mar
b. Murmurar f. Calor j. Chuva
c. Flor g. Sangue k. Arder
d. Fruto h. Voar 1. Safira

6) Classifique as orações subordinadas existentes neste trecho.

7) Conjugue os verbos "ver" e "vir" na forma negativa.

8) Cite expressões que traduzam:


a. O aspecto fisionômico dos japoneses
b. O aspecto de seu vestuário tradicional
c. O aspecto de seus móveis e utensílios

Exercício : elocução

Imitando o autor na passagem que vai desde: "Um costume mui novo" até
"trabalhando por prendê-los", fale de um bando de garotos a perseguir balões,
na tarde de São João.

Exercício II: redação imitativa

Você foi visitar uma colônia japonesa, numa grande fazenda de café, e estra-
nhou-lhe os costumes. Conte o que viu, numa pequena narrativa.

II. NO CASTELO DE CHAPULTEPEQUE

O castelo se soergue numa elevação rochosa e domina, assim, toda a planura do


vale do México. Em torno dele, circundando a montanha em que jaz, o envolve

442
NARRATI VAS

o Bosque de Chapultepeque, que, com verdade, pode ser posto ao lado do Bois
de Boulogne, orgulho da elegância parisiense ... Na visita que fiz ao castelo,
serviu-me de cicerone o próprio presidente. Corremos aquelas salas do peque-
no Versalhes e ele, em cada peça, a propósito de cada objeto, contava-me um
caso interessante. Assim, referindo-se à opulência dos adornos de mesa, baixelas
e talheres, narrou-me o que se passara num banquete que ali dera o famoso
aventureiro Pancho Vila. No dia em que Vila, com sua tropa, entrou vitorioso
na cidade do México, instalou-se no castelo e mandou servir a seus generais,
ajudantes e sequazes um grande banquete com tudo o que no palácio houvesse
de mais rico e luxuoso. E o banquete foi preparado, servido, e, naturalmente,
regado pelas bebidas mais incandescentes. Ao terminar o lauto ágape, que cor-
reu na maior animação e concerto, o guardião do palácio aproximou-se de Vila
e o informou de que haviam desaparecido quase todas as peças do rico serviço
que havia sido posto na mesa. Vila ordenou ao guardião que nada dissesse e
fechasse todas as portas do salão. Feito isso, ergueu-se, e, de revólver em punho,
dirigindo-se com veemência a seus comensais, ordenou que se pusessem sobre
a mesa todas as peças que haviam sido escondidas, declarando que ninguém
dali sairia antes que se verificasse que não faltava uma só peça. O expediente foi
providencial. Cada qual foi retirando, do próprio bolso, garfos e colheres até
que a contagem, que se ia fazendo, houvesse atingido ao resultado satisfatório.

Rodrigo Otávio

Estudo das palavras e expressões

1) Que sabe você a respeito ... ?


a. Do castelo de Chapultepeque
6. Do Bois de Boulogne

2) Explique as seguintes palavras do texto:


a. Soergue f.Baixelas k. Veemência
6. Planura g. Sequazes 1. Comensais
c. Em que jaz h. O lauto ágape m. O expediente
d. Cicerone i. O guardião n. Providencial
e. Peça j. Rico serviço

3) Que significam aqui ... ?

443
FL OR DO LÁCIO

a. Uma elevação rochosa d. A opulência dos adornos de mesa


b. Orgulho da elegância parisiense e. Bebida incandescente
c. O pequeno Versalhes

4) Que quer o autor dizer com a oração: "Que correu na maior animação e
concerto"?

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta página?

2) Quais são as partes desta narrativa, que correspondem aos títulos ... ?
a. A situação do castelo
b. No interior do castelo
c. A narrativa do presidente

3) Qual é o conteúdo de cada uma destas partes?

4) Como se faz a transição de cada parte para a seguinte?

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse desta narrativa?

2) Sabe você alguma coisa a respeito de Pancho Vila? Que há de interessante


em sua personalidade: seu espírito aventureiro? O conhecimento que tinha de
seus companheiros? O modo por que os tratava? Seu inesperado gesto de ho-
nestidade?

3) Por que é mais longa do que as outras a terceira parte desta narrativa?

Exercício I: vocabulário e gramática

1) Empregue em orações apropriadas:


a. Soerguer-se solevantar-se elevar-se

444
NARRATI VAS

6. Planura planalto planície


c. Peça aposento
d. A propósito a respeito acerca
e. Opulência abundância fausto magnificência
f. Adorno ornato ornamento enfeite atavio
g. Baixela serviço
h. Banquete festim
i. Famoso - célebre famigerado reputado egrégio insigne
j. Tática - estratégia
k. Guloso - glutão - gastrônomo

2) Cite palavras do mesmo sentido que:


a. Circundar i. Sequaz q. Comensais
6. Montanha j. Rico r. Verificar
c. Delicioso k. Incandescente s. Alvanel
d. Ensombrado 1. Lauto t. Circundar
e. Quieto m. Ágape u. Opíparo
f. Luminosa n. Animação v. Faustoso
g. Beleza o. Concerto w. Profanar
h. Vitorioso p. Veemência

3) Com o auxílio dos verbos "informar", "notificar" e "lembrar", forme seis


orações em que os verbos aparecerão, alternadamente, com regências diferentes.

4) Forme três orações com o verbo "assistir", empregado em seus diferentes


sentidos.

5) Analise logicamente o primeiro período do trecho.

6) Cite palavras que exprimam:


a. O aspecto noturno de um rio ladeado de florestas
6. O aspecto de um aldeamento de selvagens

Exercício II: elocução

Reproduza oralmente esta narrativa, empregando, tanto quanto possível,


sinônimos.
445
FLOR DO LÁCIO

Exercício 11l: redação imitativa

Internando-se pelo sertão juntamente com uma expedição civilizadora, você


e seus companheiros acampam, certa noite, à margem de caudaloso rio, sob a
luz cintilante das estrelas. Um dos sertanistas conta-lhe, então, uma história:
não muito longe dali, há muitos anos, um grupo de aventureiros se encontrou
com uma tribo de selvagens, que os receberam festivamente, oferecendo-lhes ali-
mentos e bebidas, e mostrando-lhes seus tesouros. Então ... (termine a história).
Narrativas exóticas
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA

D ESENVOLVA as seguintes narrativas, procurando assinalar a cor local que


suas reminiscências de leituras, de projeções, fotografias ou gravuras lhe
permitam empregar:

1) Os cowboys: Você viu no cinema um filme em que há uma série de cenas


da vida dos cowboys nas campinas do Far West. Pareceu-lhe bastante interessante
esse espetáculo. Escreva a um amigo que estuda num internato, descrevendo-
-lhe o filme com expressões repassadas de entusiasmo e admiração.

2) As touradas: Você assistiu a uma fita cinematográfica, cujas principais


cenas são de touradas na Espanha. Você vai narrar suas impressões, descreven-
do a entrada, na pista, dos toureiros, o jogo das capas e bandarilhas, os ataques
dos picadores, os incidentes e acidentes, a morte do touro. Você terminará com
algumas reflexões a respeito desse jogo bárbaro.

3) Uma viagem de longo curso: Um moço, ao terminar os estudos superio-


res, vai em viagem de recreio à Europa. Escrevendo ao irmão mais moço, estu-
dante num colégio de São Paulo, narra-lhe suas impressões. Conta-lhe como,
depois de percorrer a França, subiu, atravessando a Bélgica e a Holanda, até a
Dinamarca, a Noruega e a Suécia, descendo depois pela Alemanha até a Suíça
e a Itália, passando dali para a Grécia, e, desta, para os Bálcãs. Pôde, assim,
observar paisagens, povos, costumes e civilizações, que lhe despertaram viva
curiosidade, fazendo ao irmão um pequeno curso de geografia vivida.

447
Narrativas antigas
TEXTOS EXPLICADOS

I. NA JUDÉIA ANTIGA

S EBES de cactos em flor bordavam a estrada; e para além eram verdes outeiros
onde os muros baixos de pedra solta, vestidos de rosas bravas, delimitavam
os hortos. Tudo ali resplandecia, festivo e pacífico. À sombra das figueiras, de-
baixo dos pilares das parreiras, as mulheres, encruzadas em tapetes, fiavam o
linho ou atavam os ramos de alfazema e manjerona que se oferecem na Páscoa;
e as crianças em redor, com o pescoço carregado de amuletos de coral, balou-
çavam-se em cordas, atiravam à seta ... Pela estrada descia uma fila de lentos
dromedários levando mercadorias para Jopé: dois homens robustos recolhiam
da caça, com altos coturnos vermelhos cobertos de pó, a aljava batendo-lhes a
coxa, uma rede atirada para as costas, e os braços carregados de perdizes e de
abutres amarrados pelas patas: e diante de nós caminhava devagar, apoiado
ao ombro duma criança que o conduzia, um velho pobre, de longas barbas,
trazendo presa ao cinto como um bardo a lira grega de cinco cordas, e sobre a
fronte uma coroa de louro ... Ao fundo dum muro, coberto de ramos de amen-
doeiras, diante duma cancela pintada de vermelho, dois servos esperavam, sen-
tados num tronco caído, com os olhos baixos e as mãos sobre os joelhos.

Eça de Queirós
NARRATI VAS

Estudo das palavras e expressões

Sebes de cactos cactos entrelaçados, formando cercas vivas.


Bordavam acompanhavam as bordas; beiravam.
Outeiro colina; pequena eminência de terra firme.
Horto pequeno bosque.
Pilares de parreiras colunas toscas que sustentam a videira, levantada em
latada e estendida sobre uma armação horizontal, de madeira.
Encruzadas nos tapetes sentadas sobre os calcanhares, em cima de tape-
tes, e com as pernas cruzadas.
Amuletos objetos a que se atribui a virtude de afastar malefícios, doen-
ças, acidentes etc.
Vestido de rosas bravas recoberto de rosas silvestres.
Tudo ali resplandecia, festivo e pacífico havia ali uma grande serenidade,
sob a luz clara e alegre do sol.
Recolhiam da caça voltavam da caça para suas casas.
Coturnos - espécie de borzeguins que chegavam até ao meio da perna e se
atavam por diante.
Aljava carcaz, bolsa ou estojo em que se metiam as setas.
Bardos poetas ocidentais, que cantavam poemas ao som da lira.
Jopé cidade da Palestina (atualmente Jafa).
Páscoa ocasião em que os judeus comemoram a saída do Egito.

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta narrativa?


R.: É uma estrada da Judéia, com seu aspecto pinturesco e o movimento que
lhe empresta animação.

2) Quantas partes se distinguem nela?


R.: Distinguem-se aí quatro partes:
a. A estrada florida (desde o início até "pacífico")
b. À sombra das figueiras (até "seta")
c. Os viandantes (até "louro")
d. Os dois servos (até o fim)

3) Que vemos em cada uma destas partes?


R.: São os seguintes os pormenores descritivos de cada parte:

449
FLOR DO LÁCIO

a. Cactos em for verdes outeiros muros de pedra solta


b. As mulheres e seu trabalho ramos de alfazema e manjerona as
crianças
c. A fila de dromedários os dois caçadores o velho pobre e a criança
d. O muro - ramos de amendoeiras a cancela os dois servos - o
tronco

4) Como se faz a transição de cada parte para a seguinte?


R.: Faz-se pela distribuição dos pormenores descritivos, na ordem em que
o foi observando o olhar do narrador. Este caminha também pela estrada, em
companhia de outrem ("Diante de nós caminhava .."), de modo que ele vai, na
verdade, vendo uma sucessão de pequenos quadros.

Estudo das idéias

1) O autor pinta uma estrada. Como é ela?


R.: Ele pinta uma estrada da Judéia antiga, ladeada de "vilas"; por ela des-
cem ou sobem dromedários e pessoas trajadas de modo característico.

2) Em que consiste a animação desta estrada?


R.: A animação nesta estrada, ligeira e tranqüila, não denota pressa ou agi-
tação; tudo aí é calmo: primeiro, um quadro familiar, em que vemos mulheres
trabalhando sossegadamente, enquanto crianças lhes brincam ao derredor; de-
pois, a fila de dromedários descendo lentamente, os dois homens que voltam
carregando perdizes e abutres, o velho pobre que caminha devagar.

3) Mostre que o autor tem qualidades de pintor.


R.: Ele sabe distribuir os bem escolhidos pormenores, de acordo com as
leis da perspectiva, e caracterizá-los, ao mesmo tempo, com expressões precisas
e sugestivas, que lhes emprestam colorido, relevo e movimento, de tal forma
que nos é possível ver a paisagem e as personagens, tais como deviam existir na
Judéia antiga.
Na paisagem resplandecente, vemos sebes de cactos em flor beirando a es-
trada; mais além, verdes outeiros cheios de hortos, a que cercam muros baixos,
de pedra solta, vestidos de rosas bravas.
Na estrada, mulheres fiam linho ou atam ramos de alfazema e manjerona,
sentadas, de pernas encruzadas, em tapetes colocados à sombra das figueiras,
debaixo dos pilares das parreiras; em redor delas, crianças balouçam-se em

450
NARRATI VAS

cordas ou atiram à seta; desce uma fila de lentos dromedários carregados de


mercadorias; recolhem da caça dois homens robustos, com altos coturnos ver-
melhos, uma aljava, uma rede, os braços carregados de perdizes e abutres; um
velho de longas barbas sobe pela estrada, levando presa ao cinto uma lira.
Ao lado da estrada, enxergamos, ao fundo dum muro, diante duma cancela
pintada de vermelho, dois servos sentados num tronco, em atitude expectante.

4) Analise o estilo do autor, neste trecho.


R.: Tentando, como acabamos de ver, procurar, pela observação, a imagem
pinturesca, Eça de Queirós é essencialmente plástico, tendendo, antes de tudo,
a satisfazer-nos os olhos pela representação precisa das formas, das cores, das
atitudes e dos cenários. Em sua preocupação de reconstituir minuciosamente o
quadro, não abandona um só pormenor pinturesco, cujo aspecto retraça com
grande vigor expressivo: os coturnos vermelhos estão cobertos de pó, a aljava
vai batendo na coxa dos caçadores, enquanto andam; a rede está atirada para as
costas, as aves estão amarradas pelas patas; o velho, coroado de louro, caminha
apoiado ao ombro duma criança e sua lira tem cinco cordas; o muro aparece
coberto de ramos de amendoeiras, os servos sentam-se num tronco caído, seus
olhos estão baixos e as mãos, sobre os joelhos.
Em conseqüência desta sábia escolha dos elementos descritivos e da fina
observação de seus menores característicos, o quadro assume notável caráter de
verdade e de vida.

II. O HOMEM-DEUS

À borda do Tiberíades, um homem vestido com a túnica do povo, sentado nas


ribas da montanha, alonga a vista pelas orlas do Mar da Galiléia, e contempla
as ondas espessas das multidões, que se lhe avizinham, bradando clamores de
vassalagem, como se a montanha fora um trono, e o homem do povo, o rei das
multidões. Este homem, saudado pelas turbas, fugira ao alarido, que reclamava
a coroa de Davi para aquela fronte real, onde a mão do Senhor escrevera os
gloriosos destinos da Judéia. Entre os que lhe apregoavam a majestade, estavam
uns que juravam a grandeza daquele homem pela formosa luz, que a sua von-
tade onipotente lhes abrira nos olhos, cerrados desde o ventre materno. Ou-
tros, há pouco levantados do estrado da agonia, juravam a presença do Messias
naquele homem que os mandara erguer, e caminhar, como se a sua voz tivesse
o império da que se ouviu entre os relâmpagos do Sinai. O filho da viúva de
Naim, invocado das regiões da morte pela voz daquele homem, jurava, em

451
FLOR DO LÁCIO

nome de Deus, a divindade do que fora sentar-se no cimo da montanha, para


dominar o universo, como rei e autor da criação. fu irmãs de Lázaro, rodeadas
de povo, contavam a ressurreição de seu irmão; e Maria de Magdala rompia,
veemente de amor, por entre as turbas, para derramar novas lágrimas aos pés
daquele homem de Nazaré.

Camilo Castelo Branco

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta narrativa?


R.: Nesta narrativa, o autor mostra-nos Cristo sentado nas ribas da mon-
tanha, em frente ao Mar da Galiléia; em seguida, diz o que dele pensam as
multidões e relata uma pequena série de seus mais impressionantes milagres.

2) De quantas partes se compõe este trecho?


R.: O plano geral da composição é bastante nítido nesta narrativa, que apre-
senta duas partes:
a. O homem que contempla as multidões
b. Os que lhe juram a divindade

3) Como se ligam entre si estas duas partes?


R.: Na primeira, fala o autor de turbas, e, nessas turbas há elementos a que
faz alusão na frase inicial da segunda parte: "Entre os que lhe apregoavam" etc.
De modo que não se interrompe a continuidade narrativa, existindo, portanto,
uma transição suave de uma para outra destas partes.

4) Que ordem seguiu o autor nesta narrativa?


R.: Ele vê primeiramente, em sua personagem, um homem do povo, depois
um soberano aclamado pelas multidões e, finalmente, um Homem-Deus, que
se manifesta por meio de milagres.

Estudo das idéias

1) Faz o autor, neste trecho, referência ao nome de Cristo?


R.: Embora se não faça referência ao nome, verifica-se logo que se trata de
Cristo, não só pela citação de seus principais milagres, como pela indicação de
sua ascendência real.

452
NARRATI VAS

2) Que pensa o autor quando diz que "a mão do Senhor escrevera os desti-
nos da Judéia sobre aquela fronte real"?
R.: Interpreta o autor um modo de sentir de grande parte do povo judaico.
Este julgava ser Jesus um predestinado, que, subindo ao trono de seus antepas-
sados, libertaria a Judéia do jugo romano e a conduziria a altos destinos. Mas
"o reino de Jesus não era deste mundo, no qual, todavia, ele lançou a semente
fecunda de um grande reino espiritual.

3) Quais foram os milagres de Cristo a que se refere a segunda parte desta


narrativa? Como os relatou Castelo Branco?
R.: Os milagres citados são:
a. A restituição da vista aos cegos
b. A cura dos paralíticos, que se puseram a andar, e de outros doentes, que
sararam
c. A ressurreição de Lázaro; a ressurreição do filho da viúva de Naim
Relatou-os o autor, como sendo apregoados pelos próprios beneficiados, em
curtas e rápidas sentenças, o que, aliás, constitui um dos característicos do estilo
descritivo de Camilo Castelo Branco.

453
Narrativas antigas
TEXTO PARA EXPLICAÇÃO

O GÓLGOTA E AS SANTAS MULHERES

D UM lado cavava-se o Vale de Hinon, abrasado e lívido, sem uma erva, sem
uma sombra, juncado de ossos, de carcaças, de cinzas. E diante de nós o
morro ascendia, com manchas leprosas de tojo negro, e a espaços furado por
uma ponta de rocha polida e branca como um osso. O córrego, onde os nos-
sos passos espantavam os lagartos, ia perder-se entre as ruínas dum casebre de
adobe: duas amendoeiras, mais tristes que plantas crescidas na fenda dum se-
pulcro, erguiam ao lado a sua rama rala e sem flor, onde cantavam asperamente
cigarras. E na sombra tênue, quatro mulheres descalças, desgrenhadas, com
rasgões de luto nas túnicas pobres, choravam como num funeral. Uma, sem se
mover, hirta contra um tronco, gemia surdamente sob a ponta do manto negro:
outra, exausta de lágrimas, jazia numa pedra, com a cabeça caída nos joelhos, e
os esplêndidos cabelos louros desmanchados, alastrados até ao chão. Mas as ou-
tras duas deliravam, arranhadas, ensangüentadas, batendo desesperadamente
no peito, cobrindo a face de terra; depois, lançando ao céu os braços nus, abala-
vam o morro com gritos: "Oh! Meu encanto! Oh! Meu tesouro! Oh! Meu sol!"
- e um cão, que farejava entre as ruínas, abria a goela e uivava sinistramente.

Eça de Queirós

454
NARRATI VAS

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. Cavava-se e. Ascender i. Hirta
b. Vale f. Adobe j. Alastrados
c. Juncado g. Desgrenhadas k. Sinistramente
d. Carcaças h. Túnicas

2) Que significam aqui as expressões ... ?


a. Abrasado d. Furado por uma ponta de rocha
b. Lívido e. Gemia surdamente
c. Manchas leprosas de tojo negro

3) Explique o sentido das comparações contidas neste trecho.

4) Que é o Gólgota?

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta narrativa?

2) Divida esta narrativa em duas partes, dando-lhes títulos expressivos.

3) Qual é o conteúdo de cada uma delas?

4) Como se faz a transição da primeira para a segunda?

Estudo das idéias

1) Qual a grande tragédia da humanidade, que transparece de cada porme-


nor desta narrativa?

2) Analise as expressões que denotam a desolação da paisagem; mostre que


a paisagem é mesmo sinistra.

3) Estude as expressões que revelam o desespero das mulheres.

455
FLOR DO LÁCIO

4) Das mulheres, qual era a mais agoniada? Por quê?

5) Analise, em poucas palavras, o estilo do autor, neste trecho, mostrando


que é objetivo e pinturesco.

Exercício I: vocabulário e gramática

1) Cite dez nomes de peças de vestuário e de armas do tempo de Cristo.

2) Indique os nomes das peças de uniforme e das armas de um legionário


romano.

3) Empregue em curtas orações, no sentido próprio e no derivado:


a. Abrasado d. Flor g. Cinza
b. Branco e. Pobre h. lmarcescível
c. Triste f. Gemer i. Inflar

4) Cite palavras derivadas de:


a. Lado e. Negro i. Rama
b. Brasa f. Osso j. Flor
c. Sombra g. Ruína
d. Cinza h. Triste

5) Forme cinco comparações que exprimam tristeza.

6) Analise logicamente o período que começa em: "O córrego" e termina


em "cigarras".

7) Conjugue o verbo "jazer".

8) Que significam as seguintes palavras?


a. Amolgar g. Aragem m. Estupefato
b. Nublar h. Atribulação n. Ênfase
c. Enuviar i. Atônito o. Díscolo
d. Obnubilaçáo j. Exultar p. Esgazear
e. Enublar k. Silente
f. Anuviar 1. Rescender
NARRATI VAS

Exercício : elocução

Imitando o autor na passagem que vai desde: "Mas as outras duas delira-
vam" até "Oh! Meu sol!", fale:
a. Do delírio de um soldado ferido, no hospital de sangue
b. Do sonho absurdo de um louco, no hospício

Exercício II: redação imitativa

Seguindo o plano do trecho estudado, descreva em tom narrativo, como se


fosse espectador ou espectadora, a crucificação de Nosso Senhor Jesus Cristo,
salientando o aspecto e o movimento da populaça e dos soldados, assim como
os gestos e as atitudes das santas mulheres.

457
Narrativas antigas
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA

1) Desenvolva as seguintes narrativas, em cenas animadas, a que você ten-


tará imprimir uma cor antiga, servindo-se das reminiscências de suas leituras:

a. Um triunfo em Roma: Após a Batalha de Zama, Cipião, vencedor de


Aníbal, recebe as honras do triunfo. Em Roma, exaltada pela alegria da vitória
e pela lembrança dos sofrimentos que provara, há, entre frenéticas aclamações
da multidão, um grande desfile do exército vitorioso, que traz ricos despojos
e numerosos cativos: os soldados vencedores entram por uma das portas da
cidade, naquele tempo vastíssima; seguem-se reproduções das montanhas esca-
ladas, dos caudalosos rios atravessados, das fortalezas capturadas. Depois vêm
as armas e as máquinas de guerra tomadas ao inimigo, numerosos carros atope-
tados de despojos e de riqueza; em seguida a multidão dos cativos, e, por fim,
numa carroça de ouro e pedraria tirada por elefantes, tigres ou leões dourados,
o famoso triunfador. O cortejo sobe ao Capitólio, onde o vencedor celebra um
sacrifício em homenagem a Júpiter, protetor da cidade.

b. Sileno e as abelhas: Enquanto a comitiva de Baco atravessava um verde e


fresco bosque, o velho Sileno, montado num jumento, afasta-se, com a idéia de
encontrar uma colméia, guiando-se pelo zumbido fino e alegre das abelhas. Des-
cobre-a no tronco oco dum velho carvalho, mas tão no alto, que, para alcançá-la
e tirar-lhe o mel, aproxima o animal da árvore e lhe sobe ao dorso. E então saem
voando as abelhas, aos enxames, atacando furiosamente nosso herói, que cai e
rola por terra, gritando de dor. A seus gritos, acorrem os sátiros e Baco, que riem
NARRATIVAS

às gargalhadas de seu rosto tumefato. Em seguida, tratam dele, tornam a montá-


-lo em sua cavalgadura e prosseguem na sua caminhada, entre motejos e canções.

c. Os dez mil e o mar: Depois de terem, sempre combatendo, atravessado


toda a Ásia Menor, os dez mil, chefiados por Xenofonte, chegam a Trebizonda,
no Mar Negro. Quando avistam o mar, tão caro aos gregos, esquecem-se de
todas as fadigas. Erguem-se no espaço vibrantes cantos de alegria. Organizam-
-se jogos para celebrar o acontecimento, pois, por assim dizer, eles haviam, de
novo, encontrado a pátria.

d. O jovem macedônio: Alexandre, certo dia, celebrava um sacrifício. À sua


frente, um jovem macedônio apresentava o incensório. Por acaso, caiu uma
brasa ardente no braço do rapaz que não fez sequer um movimento. Ele pre-
feria deixar-se queimar a perturbar a cerimônia. Comovido com tal coragem,
Alexandre recompensou-o publicamente.

e. As jóias de Cornélia: Certo dia, uma matrona romana, Cornélia, mãe dos
Gracos, recebe a visita duma amiga. Esta, demasiadamente vaidosa, depois de
falar de modas, escravos e festas, mostra-lhe, gabando-as, todas as lindas e ricas
jóias que trazia. Cornélia admira-as e tem para elas uma palavra delicada de
louvor. A amiga, numa curiosidade muito feminina, pergunta pelas de Corné-
lia. A dama romana manda, então, chamar os filhos e apresenta-lhos como suas
mais belas e preciosas jóias.

2) Desenvolva, em forma de narrativa, os seguintes temas, após organizar


um plano de composição:
a. Aristides, o justo, e o camponês e. Os trabalhos de Hércules
6. Aristeu e as abelhas f. O assassínio de César
c. A lenda de Argus g. A morte de Cícero
d. Ariadna, a filha de Minos h. A morte de Cleópatra

3) Desenvolva, em forma de narrativa com ações animadas, os seguintes


temas:
a. Henrique Dias na Batalha de Porto Calvo
b. O Anhangüera e o episódio da aguardente inflamada
c. A aclamação de Amador Bueno
d. A execução de Tiradentes
e. As refeições de Dom João VI

f. A coroação de Dom Pedro I

459
II
Fábulas

da fábula -A fábula é a narração de uma pequena cena, cujos


H ISTÓRICO
figurantes são, geralmente, animais, sendo pouco numerosas aquelas em
que as personagens são vegetais ou seres humanos. Tem ela por fim mostrar
uma verdade de experiência ou um preceito moral. Parece ter nascido na Índia,
onde, talvez por causa da crença na metempsicose, havia mais interesse pelo
estudo e observação dos costumes característicos dos animais. Ao que diz a
lenda, foi o brâmane Pilpai quem lhe deu forma escrita, em sânscrito.
Passou depois para a Grécia, onde, com Esopo, atingiu alto grau de perfei-
ção. Cultivaram-na, também, os romanos, entre os quais se distinguiu Pedro,
que se limitou a introduzir em Roma as fábulas gregas, imitindo-lhes, todavia,
o fogo de seu gênio.
Na Idade Média, surgiu ela no Ocidente, sob a forma duma coleção de his-
tória natural moralizadora, intitulada Bestiários.
Mais tarde, no século XVII, La Fontaine adotou-a na França, dando-lhe a
estrutura de um drama em miniatura, que tem por cenário a paisagem das
diversas províncias francesas, observadas segundo o curso das estações ou das
diferentes horas do dia.
Com estes três autores, atingiu o ápice da perfeição.
Outros há, porém, que, em épocas diversas, brilharam neste gênero: Babrius,
que pôs em versos as fábulas de Esopo; Florian, Aubert, Lamotte e Lachambe-
cudie, na França; Guy e Dreyden, na Inglaterra; Gellert, Lessing Borner e Ham
Sachs, na Alemanha; Juan Ruiz, Juan Manuel, lriarte e Samaniego, na Espanha.
Em português, não temos fabulistas; nossos poetas não fizeram mais que uma
FLOR DO LÁCIO

grosseira e fria cópia de La Fontaine ou de Pedro. Em compensação, o povo


anônimo das Américas é senhor de vastíssimo folclore animalista, a que falta,
apenas, uma bela forma artística. É todo um repertório de peças interessantes,
à procura de autor. ..

Características da fábula - Deve a fábula ser curta, fácil e expressiva.


Quando suas personagens são animais, convém conservar-lhes as qualidades
predominantes (por exemplo: a timidez no carneiro, a voracidade no lobo etc.),
sem lhes falsear nem forçar a natureza, de modo que a conclusão seja a conse-
qüência lógica das circunstâncias e dos caracteres postos em jogo.

Os elementos da fábula Conta a fábula, quase sempre, dois elementos:


a narrativa, ou exemplo, e a máxima, ou argumento; mas pode constar unica-
mente da primeira.
a. A narrativa: A matéria da narrativa é, às vezes, simplesmente uma des-
crição de animal, em que se transcrevem, além de particularidades físicas, suas
qualidades e defeitos, suas atitudes e seus movimentos; outras vezes, é um con-
traste ("O carvalho e o caniço"), porém, as mais das vezes, é um conflito, e a
forma dramática da narrativa se torna mais impressionante: o conflito é cômi-
co, quando um espertalhão ludibria um tolo ("A raposa e o corvo); é trágico,
quando o mais fraco se torna vítima do mais forte ("O lobo e o cordeiro").
6. A máxima: As máximas nem sempre ensinam a virtude, pois são, antes
de tudo, lições de prudência prática, de experiência, desprovidas de otimismo e
que nos mostram quais são as exigências e as cruéis realidades da vida.

O sentido simbólico das fábulas - As fábulas foram consideradas de mo-


dos assaz diferentes.
a. Viu-se nelas a pintura satírica da sociedade do tempo em que foram com-
postas; a hierarquia dos animais representaria, então, a hierarquia social: o leão
seria o rei; o tigre, o leopardo, o lobo etc. simbolizariam os nobres e poderosos
senhores da corte; o urso seria o fidalgo camponês; a raposa e o macaco, os cor-
tesãos bajuladores; o burro, a cabra, o carneiro etc., a gente do povo; e o gato
de pêlos sedosos, o magistrado.
6. Viu-se nelas, ainda, uma pintura de toda a humanidade; e, já que tal
pintura não envelheceu, é porque são os homens de todos os tempos que, mas-
carados de animais, encarnam as personagens de uma ampla comédia, cujo
cenário é o universo.
c. Viu-se nelas, enfim, uma concepção filosófica, que reconduz o homem
ao naturalismo de alguns antigos, aproximando-o da natureza, dando-lhe por
modelos os costumes simples e inocentes dos animais, ensinando-lhe que, entre
nós e os brutos, não há muito grande diferença e que com eles podemos apren-
der muita coisa.
Fábulas
TEXTO EXPLICADO

O LEÃO VELHO

Decrépito o leão, terror dos bosques,


E saudoso da antiga fortaleza,
Viu-se atacado pelos outros brutos,
Que intrépidos tornou sua fraqueza.

Eis o lobo cos" dentes o maltrata,


O cavalo cos pés, o boi cas pontas,
E o mísero leão, rugindo apenas,
Paciente digere estas afrontas.

Não se queixa dos fados; porém, vendo


Vir o burro, animal de ínfima sorte,
-Ah! Vil raça! lhe diz. Morrer não temo,
Mas sofrer-te uma injúria é mais que morte!

M anuel Maria Barbosa du Bocage

22 "Co", "ca", "cos", "cas: com o, com a, com os, com as. São formas atualmente desusadas, a não
ser, por vezes, no linguajar do povo.
FLOR DO LÁCIO

O assunto Nesta fábula, mostra-nos o autor o leão, já decrépito e fraco,


ao ser atacado pelos outros animais, ansiosos por se vingarem, impunemente,
de quem outrora lhes causava terror.

O plano de composição De acordo com o plano de composição, distin-


guem-se aqui três partes:
a. O ataque ao leão debilitado
b. Sua paciência
c. Sua revolta
Na primeira parte, o leão, velho e sem forças, saudoso dos tempos em que
reinava nas florestas, é atacado pelos outros animais: maltrata-o o lobo com
dentadas, o cavalo com coices e o boi com chifradas. Na segunda, o mísero,
impossibilitado de reagir às afrontas, ruge apenas, mas não se queixa do desti-
no. Na terceira, ele se encoleriza, porém, e se lamenta, vendo chegar o burro,
animal de raça vil, cujas ofensas são piores do que a própria morte.
Da primeira para a segunda parte, faz-se a transição por meio da conjunção
aproximativa "e"; da segunda para a terceira, por meio da conjunção adversativa
"porém".
Quanto aos versos, são decassílabos, com incidência dos acentos na 6e na
10 sílabas.

O interesse narrativo e moral O interesse consiste na narrativa, cujo de-


senvolvimento acompanhamos com curiosidade até a expressão de cólera amar-
gurada do leão, e no ensinamento que dela decorre e que nos mostra como são
geralmente tratados os grandes e poderosos, quando decaem de sua posição.
Fábulas
TEXTOS PARA EXPLICAÇÃO

I. A COBRA E O GATURAMO

O tempo era de grande esterilidade e os animais andavam esfomeados. Uma


cobra, que se arrastava, todo o dia, ao sol, pelo areal abrasado, à procura
de alguma coisa com que atendesse à fome que lhe roía as entranhas, perdida
toda esperança, enroscou-se em uma pedra e ali deixou-se ficar à espera da
morte. Iam-se-lhe fechando os olhos de fraqueza, quando um passarinho se
pôs a cantar num ramo seco, lançando tão alegres vozes, que a cobra, que era
matreira, logo percebeu que tinha de avir-se com um novato, porque passari-
nho velho não seria tão indiferente a rolar gorjeios em tempo tão infeliz. Assim,
instruída pela experiência, imaginou uma traça astuta e, espichando o pescoço,
pôs-se a gemer com altos guaiados: "Ai de mim, que vou morrer sem alguém
que me valha! Ai de mim ... ". Ouviu-a o gaturamo e, porque era curioso, voou
do galho ao chão. Pondo-se diante da cobra, interrogou-a. "Que tendes, se-
nhora cobra? Por que assim gemeis tão aflita?". ''Ai de mim! Fui ali acima à
fonte, achei água tão fresca e pus-me a beber tão sôfrega, que engoli um dia-
mante do tamanho de uma noz. Tenho-o atravessado na garganta e morrerei
se não encontrar pessoa de caridade que mo queira tirar. Vale um reino a pedra
e eu a darei por prêmio a quem me fizer o benefício de arrancar-ma da goela,
onde se encravou". Tufou-se em agrado pretensioso o enfatuado gaturamo e,
pensando no tesouro que ali tinha ao alcance do bico, redargüiu à cobra: "Não
é pelo que vale o diamante, mas pelo alto preço em que vos tenho, que me ofe-
reço para aliviar-vos. Abri a boca!". Não se fez a cobra rogar e, tanto que sentiu
FLOR DO LÁCIO

o passarinho, foi um trago. Então, saciada e rindo como riem as cobras-,


enrodilhou-se de novo e adormeceu, contente.

Coelho Neto

Estudo das palavras e expressões

1) Explique o sentido das seguintes palavras do texto:


a. Gaturamo e. Uma traça i. Se encravou
b. Enroscou-se f. Astuta j. Enfatuado
c. Matreira g. Guaiados k. Enrodilhou-se
d. Avir-se h. Sôfrega

2) Que significam aqui as expressões ... ?


a. Areal abrasado d. Instruída pela experiência
b. Alegres vozes e. Pessoa de caridade
c. Rolar gorjeios f.Foi um trago

3) Que quer o autor dizer com as expressões ... ?


a. O tempo era de grande esterilidade d. Vale um reino a pedra
b. Que lhe roía as entranhas e. Tufou-se em agrado pretensioso
c. Sem alguém que me valha f.O alto preço em que vos tenho

Estudo do plano de composição

1) Que nos conta o autor nesta fábula?

2) De quantas partes se compõe esta fábula?

3) Qual é o conteúdo de cada parte?

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse desta fábula?


FÁBULAS

2) Que qualidades demonstra possuir ... ?


a. A cobra
b. O gaturamo

3) Como exprime o autor essas qualidades?

4) Forme uma frase que possa servir de máxima a esta fábula.

5) Faça um ligeiro estudo comparativo entre esta fábula e a que La Fontaine


escreveu sob o título: "Le loup et la cigogne, acentuando as semelhanças ou
diferenças de assunto, de plano e de expressões.

Exercício !: vocabulário e gramática

1) Empregue apropriadamente em curtas orações:


a. Esterilidade aridez escassez
b. Arrastar rastejar rojar
c. Abrasado ardente incandescente
d. Enroscar enrolar enrodilhar
e. Fraqueza debilidade malacia
f. Matreira astuta manhosa ardilosa sagaz
g. Traça ardil artificio plano
h. Blaterar deblaterar

2) De sinônimos a:
a. Gorjear f. S6frega k. Contente
b. Fechar g. Tufar-se l. Empombar
c. Alegres h. Enfatuado m. Cimbrar
d. Infeliz i. Redargüir
e. Interrogar j. Saciada

3) Cite substantivos da mesma família que:


a. Seco e. Indiferente i. Aflita
b. Alegre f. Infeliz j. Sôfrega
c. Matreira g. Astuta k. Pretensioso
d. Velho h. Curioso l. Enfatuado

467
FLOR DO LÁCIO

4) Cite palavras que se refiram ao aspecto físico:


a. De um corvo
b. De uma raposa

5) Analise logicamente o período que começa em: "Iam-se-lhe fechando" e


termina em "tão feliz".

6) Que significam as seguintes palavras?


a. Lograr h. Abantesma o. Desídia
b. Fruir i. Escarcéu p. Dissídio
c. Usufruir j. Brunir q. Dirimir
d. Medrar k. Barrir r. Desgarre
e. Coligir 1. Zurrar s. Licnóbio
f. Matraquear m. Chilrear
g. Bimbalhar n. Grasnar

Exercício : elocução

Imitando o autor na passagem que vai desde: "O tempo era até "à espera
da morte", fale:
a. De um mendigo que está morrendo de fraqueza
b. De um explorador perdido nos gelos árticos

Exercício : redação imitativa

Conte a conhecida fábula do corvo que, empoleirado no galho duma árvore,


segura no bico um queijo apetitoso. Lisonjeado em sua vaidade pela raposa,
quer mostrar-lhe a bela voz e abre a boca para cantar, deixando cair a rica presa,
logo arrebatada pela astuta aduladora.
Noutra fábula, imagine que o corvo, finório e astuto, prevendo o que lhe
aconteceria um dia, dispusera logo abaixo de seu galho predileto uma rede,
disfarçada entre a folhagem; nela caiu o queijo, o que lhe permitiu zombar e rir
da raposa desapontada.
FÁBULAS

II. O LEÃO E A LEBRE

Era uma lebre engraçada,


Estimada
Na corte d'El-Rei Leão
Todos os bobos o são
Sempre na corte dos reis.
"Meu senhor, não me direis,
Se é verdade ou se é mentira,
Que dum galo o triste canto
Pode tanto,
E tanto terror inspira,
Que até chegue a ser capaz
De fazer voltar atrás
Um leão?!". "É bem verdade",
diz el-rei "fragilidade
Essa é nossa; e outras tais
Vês nos grandes animais,
Por exemplo, o elefante,
Grande, enorme,
Tão possante,
Já não dorme
Nem sossega
Se junto dele se chega,
A grunhir, o porco imundo".
''Agora percebo a fundo"
- a lebre diz - "o segredo
Por que os cães me metem medo".

V. de Santa Mônica

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. Corte c. O triste canto e. Possante
b. Bobo de corte d. Fragilidade f. A fundo
FL OR DO LÁCIO

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta fábula?

2) De quantas partes se compõe ela? Aponte-as no texto, dando-lhes títulos


expressivos.

3) Qual é o conteúdo de cada uma delas?

4) Estude sucintamente a metrificação desta fábula.

Estudo das idéias

1} Em que é esta fábula uma pequenina comédia?

2} Que há de engraçado na réplica final da lebre?

3) O desenvolvimento da fábula se encaminha para esta réplica. Prove-o

4) Por que é dialogada toda a fábula, com exceção do princípio?

5) Que impressão nos causa esta fábula?

Exercício !: vocabulário e gramática

1) Empregue em curtas orações:


a. Engraçada espirituosa graciosa jovial
b. Bobo truão chocarreiro farsista tolo estulto palhaço
c. Mentira - inverdade falsidade impostura- mendacidade
d. Terror - pavor susto medo
e. Estratagema ardil
f. Exaltação exultação
g. Feraz ferino falaz

2) Empregue apropriadamente em orações:


a. Inspirar - incutir infundir causar
b. Fragilidade fraqueza tibieza

470
FÁBULAS

c. Possante forte robusto poderoso majestoso


d. Sossegar acalmar aquietar serenar tranqüilizar apaziguar

3) Conjugue os verbos "aguar", "desaguar", "argüir" e "redargüir".

4) Cite palavras do mesmo sentido que:


a. Estimar d. Capaz g. Imundo
b. Senhor e. Grande h. Medo
c. Triste f. Junto

5) Dê antônimos a:
a. Engraçada d. Triste g. Dormir
b. Estimada e. Fragilidade h. Sossegar
c. Bobos f. Possante i. Medo

6) Quais são os adjetivos que correspondem a:


a. Leão e. Senhor i. Porco
b. Lebre f. Terror j. Cão
c. Corte g. Animal
d. Rei h. Elefante

7) Analise logicamente o trecho que vai desde: "Meu senhor, não me direis"
até "de fazer voltar atrás um leão?!".

8) Cite expressões que traduzam o aspecto físico:


a. Duma onça
b. Dum macaco

Exercício : elocução

Reproduza oralmente esta fábula.

Exercício : redação imitativa

Componha, em prosa, uma pequena fábula semelhante a esta, mas que te-
nha por figurantes a onça e o macaco.

471
Fábulas
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA

1) Desenvolva as seguintes fábulas, procurando, de um lado, observar a


verdade da observação e da descrição; e esforçando-se, de outro, por dar à sua
composição a forma de uma narrativa com diálogo:

a. Os cavalos: No pasto duma fazenda, pastavam dois cavalos: um, de pas-


seio; outro, de carroça. O primeiro falava com desprezo do trabalho rude e
vulgar do seu companheiro e louvava os encantos de sua própria vida. Um belo
dia, é ele adquirido por um homem da cidade e parte todo orgulhoso, sem mes-
mo despedir-se do outro. Anos depois, o cavalo de carroça, sempre vigoroso,
levava à cidade um carregamento de legumes. Qual não lhe foi a surpresa ao
reconhecer seu brilhante amigo de outrora a puxar um velho carro de praça,
perto duma estação de estrada de ferro! O acaso aproximou-os; puseram-se a
conversar, evocaram o passado, falaram do presente. "Sofri muitos dissabores e
muitas desgraças" - disse um. "Uma vida brilhante acarreta decepção" - re-
plicou o outro; "uma vida humilde é sempre mais segura.

b. A cigarra e a formiga: Leia a fábula "A cigarra e a formiga". Suponha que


a cigarra, prosseguindo seu caminho, encontra outra formiga, meiga e caridosa,
que, em vez de repeli-la duramente, a recebe com afetuosidade, rogando-lhe
apenas, em retribuição, que cante alguma canção para distraí-la.

c. O cão e o gato: Algumas crianças brincam numa rua com um cão e um


gato que lhes pertencem. De repente, aparecem três homens de má catadura.

472
FÁBULAS

As crianças gritam e o gato foge, mas o cão se atira contra os vagabundos,


afugentando-os. Em seguida, o cão admoesta o gato, que lhe retruca nada de
mau ter feito ao seguir a máxima: "Cada qual para si". Então o cão, indignado,
exprobra-lhe a ingratidão, exaltando a felicidade que todos podem encontrar
no devotamento.

2) Desenvolva, em forma de narrativa dialogada, as seguintes fábulas (se não


as conhecer, peça ao professor que lhas explique):
a. O lobo e o cordeiro g. A raposa e as uvas
b. O galo e a pérola h. A leiteira e o jarro de leite
c. O lobo e a cegonha i. O lobo e o cão
d. A galinha dos ovos de ouro j. O lavrador e seus filhos
e. A morte e o lenhador k. O leão e o rato
f. O homem e a cobra 1. O milhafre e o rouxinol

473
III
Anedotas
TEXTO EXPLICADO

A anedota é:
a. O relato dum pequeno fato histórico
b. Uma historieta
c. Uma narrativa curta, espirituosa ou curiosa

TIRO AO ALVO

Dois soldados faziam exercícios de tiro e não conseguiam acertar no alvo. Um


oficial que vinha passando parou e ficou a observá-los. Vendo que as balas se
perdiam, aproximou-se dos recrutas e os admoestou: "Que falta de jeito a de
vocês! Como acertar sem alvejar? Apontem primeiro ... Vocês precisam aprender
a dormir na pontaria. Sem isso, babau! É bala perdida ... Vejam, é assim". O
oficial toma um dos fuzis, visa e atira. A bala passa à direita do alvo. O instrutor
oficioso não se desconcerta. Volta-se para o soldado e diz: "Viu, seu bicho? Era
assim que você estava atirando. Aponta segunda vez, dispara a arma, e a bala
recalcitrante passa à esquerda do alvo. O oficial não se dá por achado nem perde
o entono. Volta-se para o segundo recruta e diz: "Viu você também, seu desa-
jeitado? Era assim que você estava atirando". Enfim, uma terceira bala atinge o
alvo. Diz, então, o oficial aos dois recrutas boquiabertos de admiração: "Aí está
como eu atiro. Aprendam. Não é difieil".

-Teodoro de Morais

475
FLOR DO LÁCIO

O assunto - É o seguinte, o assunto: um oficial passa perto de dois solda-


dos, que faziam improfícuos exercícios de tiro ao alvo, observa-os algum tempo
e, depois, chama-lhes a atenção, decidindo-se de repente a dar-lhes uma aula
prática de tiro.

O plano de composição O plano é o de uma anedota, isto é, o de um


episódio curto, curioso e divertido, que se compõe, aqui, de três partes:
a. O exercício de tiro ao alvo
b. A admoestação do oficial
c. A lição prática de tiro
Desenvolve-se esta última parte em três fases; o oficial demonstra:
1 º. Como atira o primeiro soldado
2º. Como atira o segundo
3º. Como atira ele próprio

A seqüência dos fatos A seqüência dos fatos, nesta anedota, é bastante


cerrada: nada há que não tenha sua explicação no que precede.
Assim,
a. O autor mostra-nos os dois soldados que atiram ao alvo, sem conseguirem
acertar
b. Ele faz passar por ali o oficial, que se detém, a observá-los
c. O oficial admoesta os soldados pela imperícia que demonstram
d. Num movimento subitâneo de decisão ("Vejam, é assim), ele toma de
um fuzil, visa, faz fogo, erra, e, sem se desconcertar, explica, como se fosse um
erro a evitar, que daquele modo atirava o primeiro soldado
e. Aponta novamente, dispara, erra pela segunda vez, e, calmamente, como se
fosse outro erro a evitar, diz ser esse o modo por que atirava o segundo soldado
f. Acertando na terceira tentativa, diz com empáfia aos recrutas: "Aí está
como eu atiro"

O interesse O interesse decorre da bonacheirona presunção do oficial,


sem a qual não se formaria a anedota. Sua presunção nos diverte, porque, sem-
pre numa atitude superior, sabe atribuir, com espírito e no tom de quem dá ca-
maradamente uma lição ("Viu, seu bicho? Viu, seu desajeitado?"), os próprios
erros aos soldados, que ficam boquiabertos de admiração quando ele, acertando
ao terceiro tiro, se erige modelo dos atiradores.
Anedotas
TEXTOS PARA EXPLICAÇÃO

I. COM AMOR DE PAI NÃO SE BRINCA

U M godo por nome Tacho se jactou, em presença do Rei Heraldo, que pon-
do-se qualquer pomo na ponta dum báculo, certamente o cravava com o
primeiro tiro. O rei bárbaro mandou logo pôr em lugar do báculo a um filho
do mesmo Tacho, e sobre a sua cabeça o pomo; para que, se errasse, ficasse
castigada a sua jactância. Ele, posto em tão estreito aperto, que havia de perder
o crédito se quisesse salvar o filho sem perigo, mandou ao moço voltar o rosto
para a parte contrária, para que não tremesse ao ver sacudir a seta; e avisou
que persistisse com a cabeça direita porque assim importava a ambos. E logo,
com despejada confiança, tirou da aljava três setas; e sem demora, para não
fazer esperar mais ao palpitante coração do filho, assentou a seta e a disparou
tão inocentemente como lhe convinha e como prometera. Admirou-se o rei, e
perguntou: "Por que aparelhaste três setas se a experiência devia fazer-se só com
uma?". Aqui, Tocha, formando da língua também arco, e da palavra seta, lhe
disparou outra mais atrevida. "Se errasse" lhe disse "com dano de meu
filho, as outras duas eram para ti, e para alguém que por ti acudisse; pois não
era bem que a inocência levasse a pena, e a violência injusta ficasse impunida".

Padre Manuel Bernardes

477
FLOR DO LÁCIO

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. Um godo e. Cravava i. Inocentemente
b. Se jactou f. Jactância j. Aparelhar
c. Pomo g. Aljava k. Dano
d. Báculo h. Assentou

2) Que significam aqui as expressões ... ?


a. Tão estreito aperto d. O palpitante coração do filho
b. Havia de perder o crédito e. A violência injusta
c. Com despejada confiança

3) Que quer o autor dizer com a frase: "Formando da língua também arco,
e da palavra seta?".

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta historieta?

2) Quantas partes aí encontramos?

3) Que plano seguiu o autor neste trecho?

Estudo das idéias

1) Que lenda nacional suíça tem assunto igual ao desta anedota?

2) Que aconteceu a Guilherme Tell?

3) Que impressão nos causa cada uma das personagens desta narrativa? Por
quê?

4) Que sentimentos nos desperta a cena descrita?


AN EDOTAS

Exercício t: vocabulário e gramática

1) Dê sinônimos a:
a. Rei f. Despejada k. Presságio
b. Pomo g. Aparelhar 1. Aziago
c. Báculo h. Pena m. Tétrico
d. Jactância i. Estrafego n. Peral
e. Aperto j. Estracinhar o. Precito

2) Quais são os antônimos de ... ?


a. Presença c. Errar
b. Ponta d. Castigar

3) Substitua as seguintes expressões do texto por outras de valor equivalente:


a. Certamente c. Sem demora
b. Com despejada confiança d. Tão inocentemente

4) Substitua, no texto, o discurso direto pelo indireto.

5) Quando se emprega "até" e "até a"?

6) Analise logicamente os dois primeiros períodos do texto.

7) Dê exemplos de orações proporcionais ("Tanto mais, "quanto mais, tan-



to maus , quanto menos » etc. ) .
«,

8) Cite palavras que exprimam angústia e temor.

9) Explique o sentido das seguintes palavras:


a. Altivez - orgulho - arrogância
b. Revolta cólera ira furor
c. Firmeza segurança convicção - certeza
d. Audaz atrevido impávido
Empregue estas palavras em curtas orações.

479
FLOR DO LÁCIO

Exercício II: elocução

Obedecendo à construção fraseológica dos três primeiros períodos, fale de


um colega que, na escola, se gaba de poder atingir, a uma distância de quinze
metros, qualquer objeto com seu estilingue.

Exercício : redação imitativa

Obedecendo ao plano do trecho estudado, conte o que aconteceu, de seme-


lhante, a Guilherme Tell.

II. O SABICHÃO

O Doutor Paulo Florêncio, apóstata de certa religião, gloriava-se de mui ver-


sado nas línguas grega, hebraica, siríaca, caldaica e outras muitas. Viera à mão
do padre da Companhia de Jesus, Jorge Scherer, uma nômina das que as velhas
costumam pendurar ao peito dos meninos por defensivo das febres ou casos
desastrados; estava escrito em caracteres desconhecidos e quis averiguar o que
continha, para o que foi valer-se da perícia do Doutor Florêncio, que a fama
celebrara. Mostrou-lhe o papel, e ele, sem mais detença, afetando conhecimen-
to antigo daquela espécie de caracteres, disse: "Estas são palavras dos sacerdotes
egípcios, que usavam no rito dos seus sacrifícios". Voltou o padre para casa, e
porque já suspeitava a mentira, fez segundo exame nesta forma. Escreveu em
outro papel três palavras da sua língua materna (que era alemã), viradas as letras
da última para a primeira. Ponhamos o exemplo em português, para melhor
vermos o extraviado da interpretação que lhe foi dada: "Andam os patos sem
sapatos". Inversa a ordem das letras, dizia: "Madna so sotap mes sotapas". E
logo tomou por companheiro o Padre Cristiano, que lia teologia, e o fez par-
ticipante do segredo. E foram buscar a interpretação do mesmo oráculo. E
ele, nada menos confiado, respondeu: "Isso é o mesmo que tenho dito a Vossa
Paternidade do outro papel: são fórmulas que usavam os egípcios quando sacri-
ficavam". Ouvindo isto, o Padre Cristiano tomou depressa a porta, porque não
podia reprimir o riso, mas o Padre Scherer, representando sisudeza, lhe rendeu
as graças pelo benefício, e saiu com o desengano que desejava.

Padre Manuel Bernardes


AN EDOTAS

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. Apóstata e. Perícia i. Oráculo
6. Gloriava-se f. Afetando j. Reprimir
c. Versado g. Rito k. Benefício
d. N6mina h. Participante l. Desengano

2) Que significam as expressões ... ?


a. Que a fama celebrara f. Vossa Paternidade
6. Sem mais detença g. Tomou depressa a porta
c. O extraviado da interpretação h. Representando sisudez
d. Que lia teologia i. Lhe rendeu as graças
e. Nada menos confiado

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto desta anedota?

2) Divida esta anedota em duas partes, dando-lhes títulos.

3) Qual é a estrutura de cada uma dessas partes?

4) Como se faz a transição da primeira para a segunda parte?

Estudo das idéias

1) Mostre que o interesse desta anedota está no estratagema de que se serviu


o padre para desmascarar um impostor.

2) Em que tom conta o Padre Manuel Bernardes esta anedota?

3) Que impressão nos causa ... ?


a. O Doutor Paulo Florêncio
6. O Padre Scherer
c. O estratagema deste último
FLOR DO LÁCIO

4) Analise, em poucas palavras, o estilo de Manuel Bernardes, nesta anedota.

Exercício t: vocabulário e gramática

l) Dê sinônimos a:
a. Apóstata f. Sem mais detença k. Pressago
b. Gloriar-se g. Afetando 1. Agoirento
c. Desastrado h. Agro m. Auspicioso
d. Averiguar i. Atro
e. Perícia j. Tenebroso

2) Quais são os homônimos de ... ?


a. Sem e. Fez e. Esse
6. Casa d. Ele

3) Substitua por uma oração conjuncional a oração reduzida infinitiva:


"Para melhor vermos o extraviado da interpretação".

4) Empregue no sentido figurado, em curtas orações:


a. Febre c. Papel
6. Língua d. Riso

5) Conjugue o verbo "averiguar" no indicativo presente, no pretérito perfei-


to, no imperativo presente e no subjuntivo presente.

6) Analise logicamente o segundo período do texto.

7) Cite expressões que tenham analogia com vanglória e satisfação.

Exercício : elocução

Reproduza oralmente esta historieta, tornando, contudo, mais vivo o diá-


logo.
AN EDOTAS

Exercício Ili: redação imitativa

Componha uma anedota a respeito de um colega, que costuma gabar-se de


seu profundo conhecimento do latim (fazendo ele, por exemplo, uma "tradu-
ção" fonética da oração: "Uvas Athenas portas").
Anedotas
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA

1) Conte, em prosa, fábulas anedóticas, tais como:


a. A morte e o lenhador e. Perrette e o jarro de leite
b. O lobo e o cordeiro f. O macaco e a lanterna mágica
c. O velho e os três moços g. O corvo e a raposa
d. A raposa e as uvas h. O galo e a pérola

2) Conte, inventando acidentes cômicos, uma anedota tomada à vida real e


que tenha por título:
a. Um preguiçoso inteligente e. Um guloso castigado
b. Um "filante" espirituoso f. O ladrão alegre
c. O estudante e o avarento g. O soldado esperto
d. Uma lição de economia h. O papagaio guarda-noturno

3) Conte uma cena da vida real, a respeito de:


a. Um belo ato de caridade d. Uma afirmação de patriotismo
b. Um rasgo de coragem e. Uma demonstração de fé religiosa
c. Uma ação de valor f. Um ato de heroísmo guerreiro
AN ED OTAS

4) Conte uma anedota, descrevendo:


a. Um papagaio engraçado d. A teimosia de um burro
b. A astúcia de um gato e. A dedicação de um cão
c. A esperteza de um macaco f. O susto de uma raposa ao ouvir a
voz de um papagaio
IV
A expressão de impressões pessoais

M geral, o mecanismo da expressão de impressões pessoais apresenta três


E fases:
1) O autor observa o que há ou o que se lhe passa em torno;
2) A coisa observada desperta-lhe, no espírito, a lembrança de outra coisa,
pela semelhança que existe entre ambas ou que seu sentimento artístico cria;
3) O autor procura transmitir, de modo vigoroso, essa impressão ao leitor,
seja por meio de comparações, em que ambas as imagens a observada e a
evocada sirvam de elementos, isto é, o elemento que se compara e o elemen-
to a que se compara; seja por meio de metáforas, ou de outras figuras, para cuja
formação essas mesmas imagens concorram; seja, ainda, de considerações ou
reflexões, que assumem quase sempre caráter narrativo.

Assim, por exemplo, um lago, que reflete, em suas tranqüilas águas, as árvo-
res marginais, o céu azul e farrapos de alvas nuvens, evoca-nos logo a imagem
de um espelho e esta impressão se traduz, quer por uma comparação ("O lago,
como um espelho, reflete" etc.), quer por uma metáfora ("O lago espelha as
arvores » etc ..
.)

Vimos, no estudo da descrição mesclada de impressões pessoais, que a impres-


são constitui um elemento coadjuvante da descrição, emprestando relevo, colo-
rido e nitidez à forma e ao aspecto das coisas objetivas, realçadas e embelezadas
pela reação estética do autor; a natureza observada, no entanto, conserva o
primeiro lugar no interesse de quem a descreve, interesse de que deve, natural-
mente, participar o leitor.
FLOR DO LÁCIO

Aqui, porém, a descrição como que se transfigura: o subjetivo transborda o


objetivo e as impressões vão empolgando o escritor, numa sucessão de imagens
que se tornam tanto mais atraentes, quanto mais aguda for sua sensibilidade,
mais profunda sua cultura, mais ampla sua capacidade expressiva e maior sua
originalidade. O que há, então, de interessante, é o próprio autor, com suas in-
terpretações e reações à natureza exterior, observada diretamente ou imaginada.
Veja-se, por exemplo, quão rico de imagens é o seguinte trecho de Coelho
Neto, em que a vida é simbolizada por uma montanha escarpada, cujo cimo
é o destino glorioso do homem e, o sopé, um atoleiro de vícios sedutores e de
crimes:

[ ... ] montanha escarpada: a glória, e pureza, estão no cimo;


no sopé, alastra-se o tremedal dos crimes, cheio de seduções,
de miragens, de enganos. Quem se inclina sente a vertigem
e sofre a atração. Se desce um passo, resvala, rola, precipita-
-se, aprofunda-se. Raros são os que conseguem agarrar-se às
raízes do arrependimento, às arestas da vontade, salvando-se
da perda fatal.
Expressão de impressões pessoais
TEXTOS EXPLICADOS

I. NOTURNO

e
grande noite serena, mãe dos lírios, dá-nos a luz da tua lâmpada suave

º para que ainda possamos ver esses caminhos por onde vamos, que dizem
ser de lindo aspecto: bueiros de mármore e todo o leito da estrada de cascalho
de gandarela. Vem ao céu, plenilúnio argentino, desabrocha e aclara o nosso
itinerário. Sobre o cimo de um monte um revérbero diáfano aparece: é o luar;
emerge uma aresta aguda e, vagaroso, o crescente rutila, recortando o azul
como a lâmina de uma foice. "Linda noite!" murmuram. Debruço-me à
janela do vagão, olhando a paisagem banhada no alvo e transparente luar ...
Abrupto, densas trevas cegam-me; de chofre range o trem, solavanca, trepida,
estronda, através da espessidão tenebrosa de um túnel... O luar de novo, com
grandes acúmulos de sombra e fagulhas que passam no ar frio da noite sosse-
gada. Ao longe, raro em raro, luzes choças; decerto cantam lá dentro modas
sertanejas. Que saudades me trazem essas cabanas pobres. Minha terra! Minha
terra! Nas campinas do teu sertão é assim que a gente mora uma cabana de
palha e o vasto campo em torno; entanto ... a felicidade parece que prefere as
choças raro é o pranto, e o sorriso é o penate rústico.

Coelho Neto
FLOR DO LÁCIO

O assunto O autor descreve, num tom comovido, as belezas do luar,


apreciadas durante uma viagem noturna.

O plano de composição Este trecho participa da natureza da narração,


porque o autor emprega formas pessoais que caracterizam este gênero literário,
e da descrição, porque descreve uma paisagem.
Notam-se nele três partes:
a. A invocação ao luar: o autor pede à lua que ilumine os caminhos; ela
parece atender a esta súplica
b. A paisagem: a claridade argêntea, os montes e suas sombras, o túnel, as
fagulhas, as choças iluminadas ao longe
c. A evocação do viajante: as saudades e a divagação do autor, ao ver as ca-
banas pobres, que lhe recordam um aspecto da terra natal.

Estudo das idéias - O que há de mais interessante neste trecho é o próprio


autor, cujos sentimentos reagem ao espetáculo exterior, expandindo-se sob a
forma de impressões pessoais.
Estas impressões são, naturalmente, de forma e luz, expressas, seja por meio
de adjetivos ("Grande", "serena", "suave", "linda", "frio"), seja por meio de
comparações e metáforas ("Mãe dos lírios", "lâmpada", "desabrocha", "revérbe-
ro", "aresta", "recortando o azul", "como a lâmina de uma foice", "banhada no
luar", "espessidão tenebrosa").
A emoção do autor, também, se transfere de sua própria alma para a alma
do leitor, que, juntamente com ele, sofre a nostalgia de regiões e moradias quase
primitivas, onde a vida decorre simples e feliz.

O estilo O estilo é pomposo, eloqüente, algo declamatório, deixando


transparecer, nas reticências e nas exclamações, os movimentos da emoção do
autor, estética no início e sentimental no fim. A paisagem noturna, que lhe
agita a alma, está transcrita de modo essencialmente plástico, com palavras e
expressões que desenham, com nitidez, o pormenor pinturesco e que nos satis-
fazem os olhos pela representação precisa das formas, do relevo, do jogo de luz
e sombra, do quadro, enfim, visto através dum chuveiro de fagulhas. E a nota
de serenidade transparente e leitosa do ambiente claro e sossegado é apenas
cortada pela fugaz escuridão do túnel e pelo ruído do trem rápido, traduzido
vigorosamente por uma onomatopéia: "De chofre range o trem, solavanca, tre-
pida, estronda, através da espessidão tenebrosa de um túnel".

490
EXPRESSÃO DE IM PRESSÕES PESSOAIS

II. O VELH O LA R

A casa resistira ao tempo: rija nos seus formidáveis esteios de cabiúna, toda
aberta ao ar e à luz, muito branca, destacava-se sobre o fundo escuro da mata
que dominava sobranceira o alto da colina. As grandes alas caiadas, os espaçosos
quartos, os corredores imensos estavam impregnados de recordações. Havia
ainda um vago aroma do passado os manes dos que ali haviam expirado pa-
reciam errar na luz e na brisa, festejando as almas que voltavam como para ani-
nhar-se no aconchego do ninho, pressentindo perto o duro inverno da velhice.

-Coelho Neto

O assunto O autor descreve um velho e sólido casarão rural, traduzindo


as emoções de quem regressa ao lar, após longa ausência.

Estudo do plano de composição O trecho apresenta três partes:


a. A velha casa e sua situação pinturesca
b. Os compartimentos impregnados de recordações
c. A presença espiritual dos antepassados
Na primeira parte, aparece a velha casa toda aberta ao ar e à luz, muito bran-
ca contra o fundo escuro da mata que recobre a colina. Na segunda, vemos os
compartimentos, que despertam emoção na alma do observador. Na terceira,
parece a esse observador que os espíritos dos antepassados pairam no ar trans-
parente e luminoso, jubilosos com o regresso dos entes queridos ao velho lar
comum.

As impressões pessoai s Nota-se nesta descrição uma série de impressões


pessoais: em primeiro lugar, uma observação de cunho artístico, expressa em
poucas palavras e em que se assinala o contraste das cores entre a casa branca
e o fundo verde-escuro da mata; depois, a casa desperta no espírito sensível do
observador recordações suaves que se exprimem através de um sentimento de
apego à tradição familiar ("Vago aroma do passado") e do culto religioso aos
mortos ("Os manes"). Deixa o autor transparecer ainda, em poucas, mas esco-
lhidas expressões, a sensação de segurança oferecida pelo velho lar aos que a ele
retornam na velhice ("Aninhar-se", "aconchego do ninho").

491
FLOR DO LÁCIO

III . AS NAUS

Sobre as asas pairando, as naus entram na lenta


Marcha das aves do mar, que chegam fatigadas,
E, enquanto aos pés, em flor, uma vaga rebenta,
Outras cantam solaus, rindo, em torno grupadas.

Parecem catedrais marmóreas, torreadas,


Fugindo a um velho mundo e fugindo à tormenta,
Que entre nichos de pedra e agulhas lanceoladas
Rolam pesadamente a mole corpulenta.

Dromedários do mar intérmino Saara-


Ó naus, vós afrontais os ciclones, o grito
Que vem do abismo fundo e uracões, cara a cara!

Sois mais do que esses troféus lendários de granito,


No seu panejamento enorme de Carrara ...
Vós, cuja base é o oceano e cúpula o infinito! ...

Luís Delfino

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto deste soneto?


R.: O poeta descreve, em versos alexandrinos, a entrada das naus num porto
e a série de impressões pessoais que elas lhe vão despertando no espírito.

2) Quantas partes se notam nesta descrição? Qual o conteúdo de cada uma?


R.: Cada estrofe, dentro do plano de composição seguido pelo poeta, apre-
senta-nos uma parte distinta:
a. A entrada das naus: Como grandes aves marinhas, entram as naus len-
tamente no porto, enquanto as vagas, em torno, se desfazem num marulho
agradável
b. As catedrais: O autor, em ousada imagem, compara os navios a catedrais
de mármore, que rolam sobre as águas sua mole cheia de nichos e eriçada de
torres esguias, fugindo a seu velho mundo e às tormentas
c. Os dromedários do mar: Outra impressão fere o espírito do poeta as
naus assemelham-se agora a dromedários, que afrontam os ciclones e os venda-
vais desse deserto imenso: o mar

492
EXPRESSÃO DE IM PRESSÕ ES PESSOAIS

d. As naus monumentos: Em vigorosa apóstrofe, diz o poeta às naus serem


elas maiores que os monumentos de granito erigidos pelos homens, porque sua
base e sua cúpula são duas vastidões eternas O oceano e o céu

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse deste soneto?


R.: O interesse consiste no vigor das impressões pessoais.

2) De que modo exprime o autor suas impressões pessoais?


R.: Por meio de comparações e imagens, originais umas, outras expressas vi-
gorosamente, mas correspondendo todas a uma visão íntima do poeta ("Sobre
as asas pairando", "aos pés", "em flor", "cantam solaus", "rindo em torno", "gru-
padas, "parecem catedrais", "dromedários do mar", "intérmino Saara etc.).
Infelizmente, o poeta descai, de sua vigorosa capacidade expressiva, ao ser-
vir-se duma expressão vulgar: "Cara a cara.

3) Que é solau?
R.: São versos acompanhados por música, num ritmo ordinariamente triste
e cuja letra o é também. No soneto, é o ruído ritmado e monótono das ondas.

4) Que aspecto marítimo mais impressionou o poeta, no quadro em que se


movimentam as naus?
R.: Foi o aspecto tempestuoso ("Fugindo à tormenta", "afrontais os ciclo-
.)
nes etc ..

5) Que caráter literário empresta a este soneto a expressão das impressões


pessoais do autor?
R.: A expressão das impressões pessoais é um dos característicos do roman-
tismo.

6) Por que acha o poeta que as naus constituem monumentos mais grandio-
sos que os monumentos de mármore de Carrara?
R.: Porque, além de sua finalidade de unir continentes, elas têm por pedestal
a vastidão do oceano, e, por cúpula, a imensidade do céu.

493
Expressão de impressões pessoais
TEXTOS PARA EXPLICAÇÃO

I. OS VAGALUMES

O s primeiros vagalumes começavam no bojo da mata a correr suas lâmpa-


das divinas. No alto, as estrelas miúdas e sucessivas principiavam também
a iluminar. Os pirilampos iam-se multiplicando dentro da floresta, insensi-
velmente brotavam silenciosos e inumeráveis nos troncos das árvores, como
se as raízes se abrissem em pontos luminosos. Serenavam aquelas primeiras
ânsias da natureza, ao penetrar no mistério da noite. O que havia de vago, de
indistinto, no desenho das coisas, transformava-se em límpida nitidez. As mon-
tanhas acalmavam-se na imobilidade perpétua; as árvores esparsas na várzea
perdiam o aspecto de fantasmas desvairados ... No ar luminoso tudo retomava
a fisionomia impassível. Os pirilampos já não voavam, e miríades e miríades
deles cobriam os troncos das árvores, que faiscavam cravados de diamantes e
topázios. Era uma iluminação deslumbrante e gloriosa dentro da mata tropi-
cal, e os fogos dos vagalumes espalhavam aí uma claridade verde, sobre a qual
passavam camadas de ondas amarelas, alaranjadas e brandamente azuis. As
figuras das árvores desenhavam-se envoltas numa fosforescência zodiacal. E
os pirilampos se incrustavam nas folhas e aqui, ali e além, mesclados com os
pontos escuros, cintilavam esmeraldas, safiras, rubis, ametistas e as mais pedras
que guardam parcelas das cores divinas e eternas. Ao poder dessa luz o mundo
era de um silêncio religioso, não se ouvia mais o agouro dos pássaros da morte;
o vento que agita e perturba, calara-se ...

Graça Aranha

494
EXPRESSÃO DE IM PRESSÕES PESSOAIS

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. Pirilampos f. Fosforescência tropical
b. Ânsias g. Se incrustavam
c. Várzea h. Mescladas
d. Miríades i. Parcelas
e. Tropical j. Agouro

2) Que significam aqui ... ?


a. O bojo da mata f. O desenho das coisas
b. Lâmpadas divinas g. Límpida nitidez
c. Iam-se multiplicando h. As montanhas acalmavam-se
d. Brotavam i. Imobilidade perpétua
e. O mistério da noite j. Fantasmas desvairados

3) Qual é a significação de ... ?


a. Ar luminoso
b. Fisionomia impassível
c. Que faiscavam cravejados de diamantes e topázios
d. Uma iluminação deslumbrante e gloriosa
e. Os fogos dos vagalumes,
f. Camadas de ondas
g. As figuras das árvores desenhavam-se
h. As cores divinas e eternas
i. Um silêncio religioso
j. Os pássaros da morte
k. O vento que agita e perturba

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto deste trecho?

2) De quantas partes se compõe esta descrição? Aponte-as no texto, dando-


-lhes títulos expressivos.

495
FLOR DO LÁCIO

3) Que pormenores se encontram em cada parte?

4) Como se faz a transição de cada parte para a seguinte?

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse desta descrição? Por quê?

2) Que impressões pessoais causa ao autor o aspecto noturno da mata?

3) Com que meios literários exprime ele essas impressões? Explique-os,


mostrando que ele emprega elegantemente termos produtores de sensações.

4) Analise, em poucas palavras, o estilo de Graça Aranha nesta página.

5) Procure este trecho no romance Canaã.

Exercício I: vocabulário e gramática

1) Dê sinônimos às seguintes palavras:


a. Bojo f. Serenavam k. Restribar
b. Brotavam g. Perpétua I. Restrugir
c. Silenciosos h. Desvairados m. Ressudar
d. Se abrissem i. Mesclados n. Autoclismo
e. Luminosos j. Ressarcir

2) Quais são os verbos da mesma família que ... ?


a. Divinas e. Raiz i. Gloriosa
b. Miúdas f. Ponto j. Fogo
c. Dentro g. Esparsas k. Verde
d. Árvore h.Ar

3) Forme comparações em que entrem, como segundo elemento, as palavras:


a. Lâmpadas e. Montanha i. Esmeraldas
b. Estrelas f. Diamantes j. Rubis
EXPRESSÃO DE IM PRESSÕES PESSOAIS

c. Pirilampos g.Fogo
d. Noite h. Ondas

4) Classifique as orações subordinadas existentes no trecho.

5) Conjugue, nos tempos simples, o verbo "ouvir".

6) Cite expressões (substantivos, adjetivos, verbos, comparações e metáfo-


ras) que traduzam o aspecto:
a. De uma gruta
b. De gemas: diamantes, esmeraldas, rubis etc.

7) Que diferença há entre "estalagmite" e "estalactite"? "Imediato" e "me-


diato"?

Exercício : elocução

Faça um resumo oral deste trecho, mas assinalando vigorosamente as cores


luminosas.

Exercício II: redação imitativa

Imagine o aluno (ou a aluna) que, penetrando numa gruta com uma tocha
acesa, encontra deslumbrante tesouro de pedras preciosas. Descreva o aspecto
da gruta e do tesouro, desenvolvendo uma série de impressões pessoais.

II. OS VAGALHÓES

Pedro, executada a manobra, demorou a vista no ponto que o pai acabara de


indicar. Correndo e cercando o baixio, as vagas acometiam volumosas, caíam
espraiando muito, e a espuma esfarelada nos ares parecia fumegar como o ca-
chão das cachoeiras. Também já vira, e muito, aquilo. Pelas noites de lua em-
baciada, nesse tempo chuvoso e ventoso, quantas vezes não deixava os olhos
esquecidos na transparência daqueles líquidos turbilhões! E a idéia que lhe acu-
diu, o que julgava entrever à luz verde e pálida do céu, nem ele sabia definir ...

497
FLOR DO LÁCIO

Era alguma coisa semelhante a uma batalha de monstros, de cavalos informes,


crinalvos, furiosos ... Surgiam do largo esses urcos marinhos e galopando inves-
tiam, sacudindo as comas brancas, que às vezes se derramavam no baixio como
uma chuva de diamantes. Apenas este empinava, saltava aquele, trepava-lhe à
garupa, fazia-o rajar ao seu peso; e atrás desse, outro, mais outro, inumeráveis,
infinitos, agredindo-se e embaraçando as grenhas antes de rolar estatelados no
banco de areia.

Xavier Marques

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. Vagalhóes e. Cachão i. Investiam
b. Baixio f. Entrever j. Comas
c. Acometiam g. Crinalvos k. Grenhas
d. Espraiando h. Urcos marinhos 1. Estatelados

2) Que significam aqui ... ?


a. Espuma esfarelada nos ares d. Chuva de diamantes
b. Lua embaciada e. Banco de areia
c. Líquidos turbilhões

3) Que quer o autor dizer com as expressões ... ?


a. Demorou a vista
b. Deixava os olhos esquecidos
c. A idéia que lhe acudiu

4) Substitua, por outra expressão, o advérbio "muito" ("Espraiando...").

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto deste trecho?

2) Divida este trecho em duas partes, dando-lhes títulos expressivos.


EXPRESSÃO DE IM PRESSÕES PESSOAIS

3) Que pormenores contém cada parte?

4) Como se faz a transição da primeira para a segunda parte?

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse desta descrição?

2) Como descreve Xavier Marques os vagalhóes agitados?

3) Que forte impressão produzem esses vagalhóes no espírito de Pedro?

4) Como descreve o autor essa impressão?

5) Analise, em poucas palavras, o estilo do autor neste trecho.

Exercício I: vocabulário e gramática

1) D sinônimos a:
a. Executada f. Turbilhões k. Cavoucar
b. Indicar g. Grenhas I. Derrisáo
c. Fausto h. Estatelados m. lnspissar
d. Acometer i. Açular
e. Espraiando j. Instigar

2) Cite palavras da mesma família que:


a. Vaga e. Farelo i. Tempo
b. Volume f. Fumo j. Chuva
c. Praia g. Noite k. Vento
d. Espuma h.Lua

3) Forme metáforas com as seguintes palavras:


a. Vagas d. Cachoeira g. Batalha
b. Espuma e. Luz
c. Chuva f. Céu

499
FL OR DO LÁCIO

4) Conjugue, nos tempos simples, os verbos "fazer", "saber", "acudir", "agre-


dir" e "definir".

5) Qual é, no texto, o sujeito do verbo "rojar"? Forme quatro períodos se-


melhantes, empregando, como verbo principal:
a. Ver c. Mandar
b. Ouvir d. Sentir

6) Analise logicamente os dois primeiros períodos do trecho.

7) Cite expressões que traduzam evocativamente:


a. Diversos e variados aspectos de nuvens (rebanhos, monstros, cidades em
ruínas, geleiras etc.)
b. Os coloridos delas, ao pôr do sol

Exercício II: elocução

Obedecendo à construção fraseológica dos três primeiros períodos, fale:


a. Do que você pode ver, em dia chuvoso, num determinado rio
b. Do aspecto de um milharal, em dia de forte ventania

Exercício II: redação

Transcreva, em seqüência cerrada, as impressões pessoais que você experi-


menta à vista de um céu recoberto de nuvens cambiantes.

500
Expressão de impressões pessoais
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA

D ESENVOLVA os seguintes assuntos, procurando exprimir impressões pes-


soais, não só falando em seu próprio nome, com verbos expressivos na
primeira ou na segunda pessoa, como, ainda, empregando comparações, me-
táforas etc.:

1) Pôr do sol: Muitas vezes, à hora do crepúsculo, tanto no mar, como na


planície ou na montanha, aconteceu-me contemplar o pôr do sol. Gosto de ver
as cores que iluminam o horizonte; encantam-me os aspectos que a natureza
toma, com colorações tão diversas. Compreendo a imaginação dos antigos, que
viram, neste fenômeno do anoitecer, a morte refulgente de um deus. A mitolo-
gia apresenta-se-me com uma nova significação.

2) As nuvens: Como é divertido sonhar, deitado de costas na grama e olhan-


do as nuvens! Ora formam jardins de árvores fantásticas; ora parecem um re-
banho de estranhos animais. Outras vezes avançam unidas, como um exército
de invasão; ou cruzam-se como bailarinos monstruosos, ou chocam-se como
gigantes em luta. Nelas vejo, também, pássaros em vôo, geleiras polares, aspec-
tos de oceanos ou de desertos, cidades em ruínas. Na verdade, as belas nuvens
falam, do mesmo modo que os belos versos, a minha imaginação.

3) O couraçado: Achando-me no Rio de Janeiro, obtive permissão de visitar


um couraçado. Admirei as torres, os canhões e as máquinas; fiquei assombra-
do com o poderio daquela fortaleza flutuante. Mas compreendi, também, a

501
FL OR DO LÁCIO

organização daquela força, mais interessante e mais digna de observar, do que


a tonelagem da belonave ou o alcance de suas peças. Ali, centenas de homens,
centenas de almas que são outras tantas fortalezas de sentimento patriótico,
concorrem, por sua atividade disciplinada, para transformar aquele conjunto
de máquinas complicadas num ser prodigioso, que não tem senão um único
pensamento e um único dever.

4) O vento: Que personagem é o vento, para nós, marinheiros! Falamos dele


como de um poderoso soberano, ora terrível, ora benévolo. Ele nos enche os
pensamentos, dia e noite. Vocês, que não são do mar, não o conhecem como
nós. Conhecemo-lo mais do que a nossos pais e sabemo-lo tremendo, capri-
choso, astuto, traiçoeiro e feroz. Amamo-lo e tememo-lo em suas carícias e suas
cóleras, que os sinais do céu e da terra nos ensinam a prever. Ele nos absorve
os pensamentos a cada momento, pois que nunca se interrompe a luta travada
entre nós. Inimigo algum nos dá, tanto quanto ele, a sensação do combate,
porque é o senhor do mar, aquele que podemos evitar ou utilizar, mas nunca
domar. E a alma do marujo é tomada de um misterioso, religioso e infinito
temor ao vento, assim como por um grande respeito a seu poder.

5) A bandeira brasileira: No dia 19 de novembro, sob um céu azul e um sol


dourado, desfilam tropas em homenagem à bandeira. Suas cores evocam nossa
paisagem e nossas riquezas; suas estrelas de prata afirmam a união indissolúvel
de todos os estados, dentro da ordem e do progresso. Mas essa bandeira, que
nos é sagrada, simboliza também algo mais grandioso. Ela é a própria alma da
pátria, por cuja grandeza trabalhamos, geração após geração, com todas as ener-
gias da inteligência e do coração. Se um dia for atacada, lutaremos de armas na
mão, sem medo da morte, nem dos mais atrozes sofrimentos. Teremos, então,
o ardor invencível dos heróis, que jamais aceitam uma derrota e só descansam
depois da vitória.

502
V

Discursos

A faculdade dominante neste gênero é a eloqüência, isto é, o talento de falar


.r-l.bem, de persuadir e comover por via da palavra, das atitudes e do gesto,
necessitando assim o orador de argumentos, para convencer, canto quanto de
atrativos e de costumes oratórios, para deleitar a sensibilidade do auditório e
captar-lhe a benevolência. Os atrativos consistem, em geral, no belo, no su-
blime, no grandioso e no patético; e os costumes oratórios, na modéstia, na
imparcialidade, na bondade, na probidade, na elevação de idéias, na virtude,
na majestade, na dignidade etc.
Necessita o orador, ainda, de paixões, ou afetos patéticos, que se podem
despertar de dois modos:
1) Diretamente, pela paixão do próprio orador
2) Indiretamente, pela exposição de fatos, que por si apaixonem os ouvintes

Há três gêneros de eloqüência:


1)A eloqüência deliberativa, que tem por escopo resolver alguma questão im-
portante, ocupando-se dos interesses públicos ou de interesses de classes sociais
2) A eloqüência judiciária, que compreende os discursos de acusação e de-
fesa, pronunciados nos tribunais ou assembléias com autoridade para proferir
sentença sobre um assunto
3) A eloqüência demonstrativa, que compreende os discursos acadêmicos,
os discursos sacros, as proclamações militares, as saudações festivas, as orações
fúnebres, os discursos de comemorações e os discursos de comícios

503
FLOR DO LÁCIO

O gênero deliberativo ocupa-se do útil; o judiciário ou forense, do que é


justo; e o demonstrativo, do que é belo e verdadeiro.

O discurso deve ser uma composição oratória, com um princípio, um meio


e um fim.
O princípio chama-se "exórdio"
O meio denomina-se "exposição" ou "argumentos"
O fim ou remate tem o nome de "peroração"

O exórdio é a primeira parte do discurso, na qual o orador procura dispor


os ouvintes em seu favor, captando-lhes a simpatia, interessando-os naquilo que
vai expor e preparando-os para que compreendam facilmente a matéria.
A exposição é a parte principal do discurso, na qual se dá a conhecer o as-
sunto ou a argumentação.
A peroração resume, de maneira rápida ou emocionante, os principais argu-
mentos do discurso, ou os encerra de modo brilhante.

Como, no discurso, é mister empregar um movimento oratório para co-


mover e persuadir, deve o aluno fazer uso, no tom de voz adequado, de inter-
rogações, de exclamações, de apóstrofes, de citações, de fórmulas enérgicas de
afirmação e de negação, de oposições, de imprecações, de prosopopéias, de am-
plificações, de ironia, da preterição, da próplese, da dúvida e da concessão, isto
é, das formas sentimentais e convencionais das figuras de estilo, escolhendo,
naturalmente, as que convenham a seu assunto e a seu estado de alma. São estas
as formas ordinárias da eloqüência e as que podem exprimir uma convicção
apaixonada.
Discursos
TEXTO EXPLICADO

A CATEDRAL DO ARCEBISPO

"TODA ciência" - quem o disse foi, não um padre da Igreja, mas o libér-
rimo Vítor Hugo "toda ciência acaba em adoração". Vossas letras,
Senhor Dom Silvério, são uma adoração perene; e, por isto, melhor símile não
posso para elas achar do que uma dessas catedrais em que na Idade Média co-
laboravam legiões de arquitetos, escultores e alvanéis. Primeiro, sobre a rocha
indestrutível da verdade assentastes os alicerces dos princípios; e lenta, mas
progressivamente, erigistes as paredes da majestosa fábrica. Fizestes o corpo
do templo, e nele o santuário, ante o qual acendestes a lâmpada inapagável da
nossa fé. Aí vemos colunas que do solo se alteiam, como esses esteios da crença
que nem por subirem ao céu desdenham o apoio da razão humana. Há, pelos
capitéis e cimalhas, umas grinaldas de anjos e revoadas de flores. Pelas janelas
esguias, coa-se a luz cromatizada nos vitrais. Uma penumbra de mistério reina
ao longo das naves, e lá estão os confessionários, onde ensinastes aos culpados a
conquista do perdão. Vedes ali um púlpito, e ele é também domínio vosso, por-
que dele freqüentes desceram os vossos ensinamentos. Há, sob as lajes de uma
capela, um túmulo, o de um santo (perdoai-me agora as antecipações da cano-
nização), é o túmulo de Dom Viçoso e, por vós invocada, revive essa augusta
sombra, e ainda nos dá lições. Não é tudo: a igreja tende a subir, e alça-se em
torres, onde há ogivas que são como mãos postas para o céu. Ascendemos para
o azul, vamos subindo, subindo mas ainda é pouco. Atentemos nos bronzes
sagrados, e eles nos dirão que, correndo vales e serras, mais longe do que o deles
FLOR DO LÁCIO

foi o brado das vossas missões. A torre acumina-se, atira para cima a sua flecha,
e nesse hastil, já tão próximo do infinito, desabrocha uma flor, a cruz, que ao
mesmo tempo é patíbulo e epinício, supremo abatimento e martírio triunfal!
Eis, Senhor Dom Silvério, o símbolo do que haveis feito. Podem não amá-la,
à vossa obra, os que desamam a religião: mas, sob pena de cancelo nos seus
diplomas de estetas, lícito não lhes é menosprezarem a solidez e os primores do
lavor, nem a perfeita unidade da vossa construção.

Carlos de Laet

O assunto Neste discurso, compara Carlos de Laet as letras do Arcebis-


po Dom Silvério Gomes Pimenta a uma catedral gótica, na qual cada minúcia
arquitetônica simbolizaria um sentimento de fé ou uma ação religiosa.

O plano de composição Embora não seja mais que a parcela de um


todo, este trecho está composto como um discurso pequeno, mas completo,
em que se notam:
a. Um exórdio: O orador, depois de citar Vítor Hugo ("Toda ciência acaba
em adoração), apresenta a idéia geral do símile, que ele vai desenvolver na
segunda parte
b. A exposição: É a construção da igreja medieval, em que colaboram legiões
de artistas e operários: Assentam-se os alicerces sobre uma rocha, faz-se o corpo
do templo e o santuário, alteiam-se colunas, abrem-se janelas esguias, colocam-
-se os vitrais, por onde coa uma luz multicor, enfileiram-se os confessionários
nas naves, levantam-se torres, cujas flechas acuminadas sustentam uma cruz
c. A peroração: Afirma o autor não ser lícito aos que desamam a religião,
mas que admiram a beleza da forma, menosprezar a solidez, o encanto e a per-
feita unidade da catedral do arcebispo: sua arte literária
A transição duma para outra parte, acompanhando a seqüência lógica da ex-
posição do assunto, é bastante suave: a palavra "primeiro, em função adverbial,
liga a primeira à segunda, indicando o início da construção da catedral a que
antes se referiu o autor; e a palavra "eis" liga a segunda à terceira, indicando a
conclusão dessa obra, que simboliza tudo o que fez Dom Silvério, como pastor
de almas e como artista.

O interesse O interesse decorre da comparação criada pelo orador e da


forma com que a desenvolve, procurando, para exaltar a obra espiritual do ar-
cebispo, um símbolo religioso em cada pormenor. Destarte,
Os alicerces são os princípios

506
DI SCURSOS

As colunas são os esteios da crença, que se apóiam na razão humana


Nos confessionários, ensinou o arcebispo aos pecadores a conquista do
perdão divino
Do púlpito, desceram seus ensinamentos
E o som dos sinos vibrou até menos longe do que o brado de suas missões
A isto, acrescenta o orador algumas notas de cunho puramente artístico
("Grinaldas de anjos, "revoadas de flores", "ascendem para o azul"), assim
como algumas impressões de caráter mais pessoal: "Acendestes a lâmpada da
nossa fé", "ogivas que são como mãos postas para o céu", "atira para cima sua
flecha", "desabrocha uma flor", "a cruz" etc.

Impressão geral É a de um discurso acadêmico, cheio de serenidade, em


que não há arroubos de eloqüência, nem movimentos de alma apaixonados,
que são geralmente traduzidos pelas formas sentimentais e convencionais das
figuras de estilo, raras neste trecho, a não ser o símile, que é a substância mesma
de todo o discurso.
O estilo é fluente, límpido e transparente, graças à disposição das orações,
assim como à rigorosa propriedade dos termos e ao vigor das expressões, que
formam imagem.
Discursos
TEXTOS PARA EXPLICAÇÃO

I. A IDÉIA ABOLICIONISTA

senhores, e organizemo-nos. Não há, no país todo, para


P ERSEVEREMOS,
congregação de um partido político, um centro de vitalidade compará-
vel à idéia abolicionista. Ela abriria estrada até o fim, independentemente das
parcialidades políticas. Mas feliz do partido, que a esposar e fizer sua. Se for o
conservador, terá prestado à liberdade o mais imensurável dos serviços, maior
do que todos os progressos liberais em cinqüenta anos. Se for o liberal, terá re-
vivido das cinzas e inaugurado uma era nova, que virá datar a verdadeira eman-
cipação da pátria. Os que não enxergam senão para o lado da noite, é porque
não querem dar um passo: ligeira acidentação oculta-lhes o levante. Da parte
do oeste o sudário desdobrado de uma praia deserta, batida pelas vagas de um
mar que o horror emudeceu, onde bóiam ainda restos de navios do tráfico, vem
orlar a plaga escalvada de uma necrópole, onde os viventes consorciam com os
finados, como na Bagdá devastada pelo conquistador asiático, e o cimento da
ordem social se amassa de vidas humanas, como nessas colossais construções
de Tamerlão, em que a pedra e a cal se misturavam com os ossamentos dos
mortos e a carne palpitante dos vivos. É a terra da escravidão, onde vegeta-
mos, à sombra da paz coroada. Mas voltai-vos da outra banda: alai um pouco
o espírito ao panorama do dia que reponta, quando as névoas da madrugada
estendem de colina em colina uma superfície de lago silencioso. Um instante
mais; e, ao primeiro feixe de raios de sol, a neblina ondeia, esgarçando-se em
flocos prateados; divide-se, coleando-se em longos canais tortuosos, e descobre
DISCURSOS

ao fundo a várzea, as devesas florescentes, a cidade cintilante de vida. Atlântida


que emerge magicamente entre a cinta branca dos rios espumosos, em um ba-
nho ambiente de luz. É o nascente, é o futuro, é São Paulo, a metrópole do
progresso nacional, que acorda, estremecendo, ao apelo de Santos, e volta a
fronte do seio de seus vales para o ponto do céu, onde lhe está a sorrir o vulto de
José Bonifácio, alumiando o horizonte como a lâmpada matutina dos cativos.

Rui Barbosa

Estudo das palavras e expressões

1) Explique as seguintes palavras do texto:


a. Abolicionista f.Orlar k. Várzea
6. Congregação g. Escalvada l. Devesas
c. Imensurável h. Necrópole m. Emerge
d. Liberais i. Alar n. Metrópole
e. Emancipação j. Esgarçando-se

2) Que significam aqui ... ?


a. Esposar i. Uma superfície de lago silencioso
6. Terá revivido das cinzas j.Ao primeiro feixe de raios de sol
c. O sudário desdobrado de uma praia k. A neblina ondeia
d. Que o horror emudeceu l. Flocos prateados
e. Navios do tráfico m. A cidade cintilante de vida
f. O cimento da ordem social n. Banho ambiente de luz
g. A carne palpitante dos vivos o. A lâmpada matutina dos cativos
h. À sombra da paz coroada

3) Diga o que sabe a respeito de:


a. Tamerlão 6. Bagdá c. Atlântida

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto deste discurso?


FLOR DO LÁCIO

2) Onde se acha nele o que corresponde ..?


a. Ao exórdio b. À exposição c. À peroração

3) Quais são as passagens que se referem aos seguintes títulos?


a. A idéia abolicionista e os partidos políticos do império
b. O levante
c. O cemitério dos vivos e dos mortos
d. O dia que reponta
e. A metrópole do progresso

4) Que diz Rui Barbosa em cada uma destas passagens?

Estudo das idéias

1) Que representa a idéia abolicionista?

2) De que modo conseguiu Rui Barbosa despertar e manter o interesse em


seu auditório?

3) Que impressão nos produz o contraste existente entre o Ocidente e o


Oriente?

4) Estude, neste trecho, o estilo de Rui Barbosa.

Exercício 1: vocabulário e gramática

1) Quais são os homônimos de ... ?


a. Esposa d. Era g. Apelo
b. Sua e. Passo
c. For f.Vagas
Qual é o étimo de cada uma destas palavras?

2) Empregue em orações curtas as seguintes palavras, como segundo ele-


mento de uma comparação:

510
DI SCURSOS

a. Cinza d. Praia g. Ilha


b. Noite e. Necrópole h. Flor
c. Sudário f. Pedra

3) Empregue no sentido figurado, em curtas sentenças:


a. Cimento d. Sombra g. Relâmpago
b. Carne e. Névoa h. Escuridão
c. Terra f. Sol i. Acúleo

4) Conjugue, nos tempos simples, o verbo "sorrir".

5) Retire do texto:
a. As orações subordinadas comparativas
b. As orações subordinadas adjetivas

6) Que diferença há entre ... ?


a. Demagogia, democracia, aristocracia, plutocracia e burocracia
b. Conjetura e conjuntura
c. Cadente, decadente e candente
d. Cérebro e cérbero
e. Fidalga! e figadal
f. Magnificência e munificência

7) Cite expressões que tenham analogia com as palavras "democracia" e


"vitalidade".

Exercício II: elocução

Fale de um nascer de lua, inspirando-se na passagem que vai desde: "Mas


voltai-vos da outra banda'' até "cintilante de vida".

Exercício II!: redação imitativa

Componha um pequeno discurso, para provar que, no momento atual, é


o ideal democrático o maior centro de vitalidade, para a congregação de um
partido político.

511
FLOR DO LÁCIO

II. OS BARD OS DO TABO R

Os bardos do Tabor, os cantores do Herman e do Sinai, batidos da tribulação,


devorados dos pesares, não ouvindo mais os ecos repetirem as estrofes dos seus
cânticos nas quebradas de suas montanhas pitorescas, e escutando a voz do
deserto que levava ao longe a melodia dos seus hinos, penduravam os seus
alaúdes nos salgueiros que bordavam o rio da escravidão; e, quando os homens
que apreciavam as suas composições, quando aqueles que se deleitavam com os
perfumes de seu estilo e a beleza de suas imagens, vinham pedir-lhes a reprodu-
ção dessas epopéias em que se perpetuavam as memórias de seus antepassados
e as maravilhas do Todo-Poderoso eles cobriam suas faces umedecidas do
pranto, e abandonavam as cordas frouxas e desafinadas de seus instrumentos
músicos ao vento das tempestades. Religião divina, misteriosa e encantadora,
tu que dirigiste meus passos na vereda escabrosa da eloqüência, tu a quem devo
todas as minhas inspirações, tu, minha estrela, minha consolação, meu único
refúgio, toma esta coroa ... Se dos espinhos que a cercam rebentar alguma flor,
se das silvas que a enlaçam reverdecerem algumas folhas, se um adorno renascer
destas vergônteas já secas: deposita-os nas mãos do imperador, para que os sus-
penda como um troféu sobre o altar do grande homem" a quem ele deve seu
nome, e o Brasil a proteção mais decidida.

Frei Francisco de Monte Alverne

Estudo das palavras e expressões

1) Explique o sentido das seguintes palavras:


a. Bardos e. Salgueiros i. Silvas
b. Quebradas f. Bordavam j. Vergônteas
c. Pitorescas g. Epopéias k. Troféu
d. Alaúdes h. Memórias

2) Que significam aqui ... ?


a. Batidos da tribulação e. Os perfumes de seu estilo
b. Devorados dos pesares f. O vento das tempestades
c. A voz do deserto g. A vereda escabrosa da eloqüência
d. O rio da escravidão

23 São Pedro de Alcântara.

512
DI SCURSOS

3) Explique o que é:
a. OTabor
b. O Hermon
c. O Sinai

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto deste trecho de discurso?

2) Divida este trecho em duas partes, indicando onde começa e termina


cada uma delas.

3) Qual é o conteúdo de cada uma dessas partes?

Estudo das idéias

1) Após dezoito anos de silêncio, a que foi obrigado por terrível amaurose,
Frei Francisco de Monte Alverne subiu de novo ao púlpito para pregar, a pe-
dido do Imperador Dom Pedro II, na festa de São Pedro de Ncântara, a 1 º de
outubro de 1854. Esta página é um trecho do panegírico que então proferiu.

2) Não lhe parece que o orador compara sua cegueira à escravidão dos bar-
dos do Tabor e dos cantores do Hermon e do Sinai? Que há de comum entre
uma e outra?

3) Qual era a nacionalidade desses bardos e cantores?

4) Que sentimentos experimentavam eles na escravidão? Por quê?

5) Que simboliza a coroa que o orador oferece à religião? Por quê?

6) Que quer o autor significar com as folhas que possam reverdecer na coroa?

7) Como considera o autor a religião que o guiou e inspirou na eloqüência?


Por quê?

513
FLOR DO LÁCIO

8) Prove, com os elementos deste próprio discurso, que há nele muita poesia
e pompa de estilo.

Exercício I: vocabulário e gramática

1) Empregue apropriadamente em curtas orações as seguintes palavras:


a. Bardo vate trovador poeta
b. Montanhas montes colinas pitoresco vetusto

2) De antônimos a:
a. Pesares d. Beleza g. Tempestade
b. Escravidão e. Pranto
c. Perfume f. Frouxas

3) Forme metáforas com as seguintes palavras:


a. Devorar d. Rio g. Tempestades
b. Voz e. Perfume h. Vereda
c. Deserto f. Pranto

4) Cite exemplos das seguintes figuras de estilo:


a. Interrogação c. Apóstrofe
b. Exclamação d. Amplificação

5) Por que empregou o autor o infinito pessoal na oração: "Os ecos repeti-
rem as estrofes dos seus cânticos nas quebradas de suas montanhas"?

6) Conjugue, nos tempos simples, os verbos "ouvir", "cobrir" e "pedir".

7) Analise logicamente o período que vai desde: "Religião divina" até "toma
esta coroa" .

8) Cite expressões que tenham analogia com "céu", "eternidade", "bem-a-


venturança" e "igreja".
DI SCURSO S

Exercício : elocução

Imitando o autor no período que vai de: "Religião divina" a "esta coroa,
fale, exaltando:
a. Sua própria mãe
b. Nossa Senhora
c. Sua pátria

Exercício III: redação

Empregando formas sentimentais e formas translatas das figuras de estilo,


componha um pequeno discurso para exaltar a Igreja de Cristo.

515
Sermão

Sermão é um discurso cristão pregado no púlpito; prédica.

I. O SAL DA TERRA

V6s" diz Cristo Senhor Nosso, falando com os pregadores "sois o sal da
terra: e chama-lhes "sal da terra" porque quer que façam na terra o que faz o
sal. O efeito do sal é impedir a corrupção, mas quando a terra se vê tão corrupta
como está a nossa, havendo tantos que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode
ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se
não deixa salgar. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores não pregam a
verdadeira doutrina; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, sendo
verdadeira a doutrina que lhes dão, a não querem receber. Ou é porque o sal
não salga, e os pregadores dizem uma coisa e fazem outra; ou porque a terra se
não deixa salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem, que fazer
o que dizem. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores se pregam a si, e não
a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, em vez de servir a
Cristo, servem seus apetites. Não é tudo isto verdade? Ainda mal.

Padre Antônio Vieira

Estudo das palavras e expressões

1) Explique o sentido das seguintes palavras:


DI SCURSO S

a. Os pregadores e. A verdadeira doutrina


b. Corrupção f. Se pregam a si
c. O sal da terra g. Servir a Cristo
d. Ofício de sal h. Servem seus apetites

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto deste trecho? Responda numa sentença curta e expressiva.

2) Divida o trecho em três partes, a saber:


a. A função dos pregadores
b. A corrupção da terra
c. As causas desta corrupção

3) Qual é o conteúdo de cada parte?

4) Como se faz a transição ... ?


a. Da primeira para a segunda parte
b. Da segunda para a terceira

Estudo das idéias

1) Por que evita o sal a corrupção de certas matérias orgânicas?

2) Por que compara Vieira a ação do sal com a ação dos pregadores?

3) Que diferentes hipóteses formulou ele a respeito da ação do sal e da ação


dos pregadores?

4) Que efeito literário produz a repetição de frases neste trecho?

5) Analise, em poucas palavras, o estilo de Vieira neste trecho.

517
FLOR DO LÁCIO

Exercício 1: vocabulário e gramática

1) Empregue apropriadamente em curtas orações:


a. Falar conversar tagarelar papaguear
b. Efeito resultado conseqüência
c. Ofício - função - dever
d. Causa motivo razão
e. Charneca caatinga matagal
f. Embair iludir
g. Prognóstico diagnóstico agnóstico

2) Cite palavras da mesma família que:


a. Sal c. Corrupção e. Ouvinte
b. Terra d. Causa f. Servir

3) De exemplos das seguintes figuras de estilo:


a. Imprecação d. Descrição g. Hipérbole
b. Prosopopéia e. Imagem
c. Ironia f. Metonímia

4) Forme três orações, empregando o verbo "chamar" com regências dife-


rentes ( exemp 1 o: "Ch ama-
' 1 a" , " c h amar- Ih e " , " ch amar por e 1 a") .

5) Analise logicamente o primeiro período do trecho.

6) Cite expressões que tenham analogia com crianças, professores, plantas


e jardineiros.

Exercício : elocução

Obedecendo à construção fraseológica dos dois primeiros períodos compare


as crianças a plantas e as professoras a jardineiras.

Exercício: redação

Desenvolva mais longamente, num pequenino discurso, o tema indicado no


exercício de elocução.
Discursos
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA

1) Desenvolva os seguintes assuntos, dando aos discursos indicados o lugar


mais importante:

a. Cada qual para si: Estávamos todos sentados em torno da mesa, na sala
de jantar, escolhendo divisas para um jogo de salão. Propus, então: "Cada qual
para si, tema que cada um de nós deveria defender com argumentos proban-
tes. Meu pai censurou-me a escolha, mostrando o egoísmo contido nesta máxi-
ma. "Olhe" disse-me ele, "esta mesa. Fazendeiros criaram o boi cuja carne
você comeu e plantaram o café que você bebe. Foram os operários tecelões que
teceram esta toalha. Outros operários trabalharam para nos dar a louça e os
talheres. Marinheiros foram buscar ao longe nosso vinho, nossas azeitonas e o
trigo para nosso pão. Todos os ofícios concorrem para seu sustento, minha fi-
lha, para sua educação e para seus divertimentos. Que seria de nós, se cada qual
vivesse apenas para si?". As palavras de meu pai, tocadas de emoção, fizeram-me
refletir e compreendi que ninguém pode prescindir do trabalho dos outros.

b. Os criados: Certa vez, tratei com desprezo uma criada que nos servia à
mesa. Para punir-me, obrigou-me meu pai a servir em lugar dela. Ao trocar os
pratos, deixei cair um, que se quebrou. Senti-me perfeitamente humilhada.
Somente então meu pai se pôs a falar, lembrando-me que todo trabalho merece
respeito; que devemos tratar com consideração aqueles que nos servem; que as
ordens devem ser dadas com delicadeza e benevolência; e que nunca devemos
exigir dos outros qualidades que nós mesmos não possuirmos.
FLOR DO LÁCIO

c. A eletricidade: Visitei durante o dia uma exposição de eletricidade. De


noite, meu sono foi perturbado por fantásticas visões de máquinas em movi-
mento, de luzes perfulgentes, de rádios cantantes. Pareceu-me que a deusa, que
eu vira num cartaz colorido da exposição, se erguia diante de mim e falava.
Dizia-me: "Admira-me; sou eu quem move essas máquinas. Graças a mim,
centuplicou o homem a própria força e foram suprimidas as distâncias. Senhora
absoluta nas usinas, sou, nos lares, atenciosa criada. Transformo-me em luz,
calor, energia, palavras e música. Renovei a face do mundo".

2) Faça, num tom de emoção e sinceridade, um pequeno discurso de:


a. Saudação ao diretor, por motivo de seu aniversário natalício
b. Despedida aos professores e colegas no dia de sua formatura
c. Saudações a uma autoridade, que visita a escola (ou ginásio, ou colégio)
d. Cumprimentos a uma colega, que escreveu um belo romance
e. Saudação aos pais, no aniversário de seu casamento
f. Boas-vindas às colegas novas, no início do ano letivo

3) Componha um pequeno discurso, com exórdio, argumentos e peroração,


sobre:
a. A comemoração de 21 de abril f.O Descobrimento da América
b. O Dia do Trabalho g. O Dia dos Mortos
c. A Independência do Brasil h. O Dia de Natal
d. A Proclamação da República i. O pan-americanismo
e. O Dia da Bandeira j. O Brasil glorioso

520
VI
A dissertação

"DISSERTAÇÃO" - diz o brilhante mestre Antenor Nascentes em seu pre-


cioso livrinho Noções de estilística e de literatura - "é o exame crítico e
minucioso de uma questão especial, expondo uma série de raciocínios. Pode
versar sobre um assunto de literatura, de estética, de filosofia etc.".
Pertencendo ao gênero didático, que tem por fim exclusivo a instrução, tan-
to pode ela tomar a forma poética e os adornos do verso, como a expressão
singela da prosa.
"Para uma boa dissertação recomenda Brant Horta "o aluno há de
preparar-se convenientemente, assenhoreando-se dos conceitos, das opiniões,
das doutrinas que pretende expor. A lógica é naturalmente fundamental e deve
merecer toda a atenção do mestre".
O conselho do ilustre professor poderia servir de tema para uma dissertação,
que indicaria aos estudantes o rumo a seguir no desenvolvimento de qualquer
trabalho deste gênero. Como pode o aluno preparar-se convenientemente? Como
assenhorear-se dos conceitos, das opiniões e das doutrinas que pretende expor?
Que é uma doutrina? Como expor o assunto dentro da lógica? Que é a lógica?
Eis aí o processo que o aluno deve seguir: formular o maior número possível
de perguntas a respeito do tema ou questão proposta para a dissertação e en-
contrar respostas claras e precisas para todas, compulsando dicionários e obras
especializadas, consultando doutos no assunto e, obtido destarte um acervo de
conhecimento e idéias, refletir, conversar, tirar conclusões próprias, coordenar
e estruturar tudo, que o desenvolvimento por escrito virá, então, por si, numa

521
FLOR DO LÁCIO

série de raciocínios vigorosos que deverão resistir à mais minuciosa análise e às


investidas destruidoras doutros raciocínios.
Neste livro, limitamos a não ser nos temas especiais de composição
a dissertação à expressão de idéias morais, que, por sua abstração, apresenta
maiores dificuldades.

522
Expressão de idéias morais
TEXTO EXPLICADO

VELHO TEMA

Só a leve esperança, em toda a vida,


Disfarça a pena de viver, mais nada;
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.

O eterno sonho da alma desterrada,


Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada,
E que não chega nunca em toda a vida.

Essa felicidade que supomos,


Árvore milagrosa que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,

Existe, sim: mas nós não a alcançamos


Porque está sempre apenas onde a pomos,
E nunca a pomos onde nós estamos.

Vicente de Carvalho
FLOR DO LÁCIO

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto deste soneto?


R.: Afirma o poeta, numa pequena dissertação poética, que a felicidade é
um bem inatingível, pois nossas aspirações visam, constantemente, a muito
além do que é possível.

2) Em que é este soneto uma pequena dissertação?


R.: É uma dissertação, porque o poeta tece considerações em torno de um
tema geral, embora procurando explicá-lo por um aspecto único: a esperança
malograda, o sonho que nunca se realiza.

3) Quantas partes apresenta esta dissertação?


R.: Distinguem-se nela três partes:
a. A esperança malograda (1 º quarteto)
6. O sonho da alma (2º quarteto)
c. A felicidade (os dois tercetos)

4) Que contém cada uma destas partes?


R.: A idéia contida em cada uma destas partes é a seguinte: na primeira, só
a esperança, que é tão doce e leve, explica a vida cheia de sofrimentos, mesmo
porque quem vive, já se acha sob o impulso animador duma grande esperança.
Na segunda, a alma, como se se recordasse de um paraíso donde foi expulsa,
agita-se dentro dum belo sonho, que a encanta e a que ela aspira, mas que
jamais se realiza. Na terceira, essa felicidade suprema, que criamos e acalenta-
mos em nossa imaginação, nunca a conseguiremos, porque não a situamos na
realidade da vida.
Eis o que encerra este soneto, todo escrito em versos decassílabos, bem apro-
priados para exprimir sentimentos vagos e delicados, sem penetrar nas profun-
dezas dos pensamentos filosóficos.

Estudo das idéias

1) Em que consiste o interesse desta poesia?


R.: O interesse está na explicação do que seja a felicidade, apresentada pelo
poeta como uma esperança que nunca se concretiza, mas que também nunca se
desfaz na alma da humanidade.
A DISSERTAÇÃO

2) Por que é a felicidade, segundo a concepção do poeta, uma grande espe-


rança malograda?
R.: Porque a realidade nunca satisfaz plenamente, nunca corresponde ao
sonho; ela traz sempre amarguras e decepções aos mais caros anseios.

3) Em que se confunde a esperança com o sonho?


R.: É que ambos são frutos da imaginação e dos anelos dos homens, que
geralmente se comprazem em criar para si situações irreais e que nutrem sempre
a ilusão de que elas se realizarão um dia.

4) A que compara Vicente de Carvalho a felicidade?


R.: Compara-a a uma árvore milagrosa, sempre carregada de dourados fru-
tos, que são nossos sonhos, nossos anelos, nossas ilusões.

5) Explique os dois últimos versos deste soneto.


R.: Diz o poeta que seria tão fácil alcançar a felicidade, se nos contentásse-
mos com o que temos ou podemos ter; mas que, infelizmente, ela consiste, para
nós, naquilo que não possuímos ou que jamais possuiremos.

525
Expressão de idéias morais
TEXTOS PARA EXPLICAÇÃO

I. A PÁTRIA

U M célebre poeta polaco, descrevendo em magníficos versos uma floresta


encantada do seu país, imaginou que as aves e os animais ali nascidos,
se por acaso longe se achavam, quando sentiam aproximar-se a hora da sua
morte, voavam ou corriam e vinham todos expirar à sombra das árvores do
bosque imenso onde tinham nascido. O amor da pátria não pode ser explicado
por mais bela e delicada imagem. Coração sem amor é um campo árido, quase
sempre, ou sempre, cheio de espinhos e sem uma única flor que nele se abra e
o amenize. Haveria somente um homem em quem palpitasse coração tão séco,
tão enregelado e sem vida de sentimentos: o homem que não amasse o lugar
de seu nascimento. Depois dos pais, que recebem o nosso primeiro grito, o
solo pátrio recebe os nossos primeiros passos: é um duplo receber, que é duplo
dar. As idéias grandes e generosas dilatam o horizonte da pátria; a religião, a
língua, os costumes, as leis, o governo, as aspirações fazem de uma nação uma
grande família, e de um país imenso a pátria de cada membro dessa família.
Mas, deixem-me dizer assim, a grande não pode fazer olvidar a pequena pátria;
dessa árvore que se chama a nação, o país, não há quem não sinta que a raiz é
a família e o berço a pátria.

Joaquim Manuel de Macedo


A DI SSERTAÇÃO

Estudo das palavras e expressões

1) Explique o sentido das seguintes palavras do texto:


a. Polaco c. Pátrio e. Olvidam
b. Imagem d. Dilatam f. Nação

2) Que significam aqui...?


a. Magníficos versos e. Coração seco e enregelado
b. Floresta encantada f. Vida de sentimentos
c. Um campo árido g. O horizonte da pátria
d. Amenizar h. Essa árvore majestosa

3) Externe sua opinião a respeito da expressão: "O amor da pátria".

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto deste trecho?

2) Divida este trecho em duas partes, dando-lhes títulos expressivos.

3) Faça um resumo, tão curto quanto possível, de cada uma dessas partes.

4) Como se faz a transição da primeira parte para a segunda?

Estudo das idéias

1) Mostre como o interesse deste trecho se funda nas considerações do autor


sobre o amor à pátria.

2) Como exemplifica o autor esse amor? Qual é a opinião do aluno a respei-


to desse exemplo?

3) Em que consiste a unidade duma nação?

4) Por que é a família a célula-mater da nação?

5) Que quer o autor dizer com a frase: "É um duplo receber, que é duplo dar"?

6) Que figuras de estilo empregou o autor neste trecho?

527
FLOR DO LÁCIO

Exercício t: vocabulário e gramática

1) Dê sinônimos a:
a. Célebre f. Morte k. Climério
b. Poeta g. Expirar 1. Cinéreo
c. Magníficos h. Imenso m. Cálido
d. Imaginou i. Bela n. Caliginoso
e. Aproximar j. Delicada

2) Substitua por um adjetivo:


a. Onde tinham nascido
b. Da pátria
c. Cheio de espinhos

3) Forme comparações, que tenham por segundo elemento as palavras:


a. Floresta d. Amor g. Flor
b. Morte e. Campo h. Religião
c. Coração f. Espinhos i. Família

4) Analise logicamente o primeiro período do trecho.

5) Qual é a função lógica dos seguintes termos de oração ... ?


a. Por mais bela e delicada imagem
b. O amor da pátria
c. Duplo dar

6) Cite expressões da mesma família que a palavra "caridade".

7) Cite palavras que tenham analogia com "caridade".

Exercício : elocução

Imitando o autor no primeiro período, fale do retorno de um bando de


andorinhas, que fugira aos rigores do inverno, mas que volta, quando surgem
os primeiros calores.
A DI SSERTAÇÃO

Exercício t: redação

Redija uma pequena dissertação, que tenha por assunto: "A caridade".

II. A VIRTUDE E A CIÊNCIA

Ciência e virtude são em epílogo a nobreza verdadeira. As fidalguias herdadas


contestam-se, perdem-se, deslustram-se. Desabam tronos. Dissipam-se opulên-
cias. As forças gastam-se. A mocidade e as graças dissipam-se. O poder aniquila-
-se. Os títulos revogam-se. As afeições transformam-se. Os amigos finam-se. As
condecorações despem-se todas as noites. Mas ciência e virtude! ... Não são dotes
externos nem postiços ou convencionais; nem outorgados por munificências
de príncipes ou por sufrágios de povo, nem comprados, nem negociados, nem
extorquidos. Granjeiam-se pelo trabalho; entesoiram-se dentro, ninguém no-los
pode roubar, acompanham-nos na solidão, consolam-nos nas desditas, elevam-
-nos sem nos ensoberbecerem; cercam-nos de amor, de gratidão, de respeito. A
ciência enche e doira a vida; a virtude alegra a morte e lá se vai continuar onde
nada finda. E a que preço nos concede o Supremo Dispensador de tudo dois tão
altos bens, e dois bens únicos da terra? A preço tão-somente de os querermos.
Quem, depois de um momento de reflexão, ousaria dizer: "Rejeito-os"?!

- Antônio Feliciano de Castilho

Estudo das palavras e expressões

1) Explique o sentido de:


a. Epílogo f.As graças k. Postiços
b. Fidalguias g. Aniquila-se 1. Convencionais
c. Contestam-se h. Títulos m. Outorgados
d. Deslustram-se i. Revogam-se n. Extorquidos
e. Opulência j. Transformam-se o. Desditas

2) Que significam aqui ..?


a. A nobreza verdadeira f. Entesoiram-se
b. Desabam tronos g. Doira a vida
FL OR DO LÁCIO

c. Dotes externos h. Alegra a morte


d. Munificências de príncipes i. Onde nada finda
e. Sufrágios de povo

3) Explique o emprego da partícula "se" neste trecho.

Estudo do plano de composição

1) Qual é o assunto deste trecho?

2) Divida-o em duas partes, dando-lhes títulos expressivos.

3) Qual é o conteúdo de cada parte?

4) Como se faz a transição da primeira parte para a segunda?

Estudo das idéias

1) Em que é este trecho uma pequena dissertação?

2) Mostre como, nesta pequena dissertação, o autor põe em nítido confronto:


a. De um lado, os bens materiais, a mocidade, as honrarias e os sentimentos,
que desaparecem ou podem desaparecer de nossa vida
b. De outro, a ciência e a virtude, formadas por nosso esforço e que nos
acompanham até a morte, e mesmo até depois dela, porque sua aquisição, di-
fícil e trabalhosa, vai aos poucos aperfeiçoando o espírito e aproximando-o de
Deus

3) Mostre como as orações curtas servem, aqui, para concentrar maior nú-
mero de fatos, dando mais movimento ao estilo e maior vigor à argumentação.

4) Explique a razão por que, em certas orações, há inversão do sujeito, e,


em outras, não.

5) Que figuras empregou o autor neste trecho? Explique-as.

530
A DI SSERTAÇÃO

Exercício I: vocabulário e gramática

1) Empregue apropriadamente, em curtas orações:


a. Fidalguia nobreza cavalheirismo
b. Desabar cair ruir desmoronar
c. Opulência riqueza abastança
d. Mocidade adolescência
e. Cronografia coreografia genealogia
f. Dádiva dom

2) Substitua por outras expressões equivalentes:


a. Verdadeira c. De príncipes e. Da terra
b. Herdadas d. De povo

3) Cite palavras da mesma família que:


a. Ciência d. Poder g. Munificência
b. Virtude e. Afeição h. Povo
c. Mocidade f. Noite

4) Analise logicamente o período que vai desde: "A ciência enche e doira"
até "onde nada finda".

5) Cite, explicando-lhes o sentido, palavras que tenham analogia com "bon-


dade" e "sabedoria".

Exercício II: elocução

Imitando o autor no trecho, que vai desde: "Mas ciência e virtude" até "de
respeito", faça o aluno algumas reflexões acerca dos bons amigos.

Exercício II: redação

Componha o aluno uma pequena dissertação, que tenha por tema: "Bon-
dade e sabedoria".

531
Dissertações
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA

Expressão de idéias morais

1) Mostre por uma série de ações familiares e analise, em seguida, o que é:


a. A caridade g.A gula
b. A teimosia h. A mentira
c. A negligência i. O espírito de sacrifício
d. A presunção j. A desobediência
e. A crueldade k. A preguiça
f. A coragem l. A bondade

2) Componha uma narrativa moral, que tenha por conclusão uma das se-
guintes máximas:
a. Amor com amor se paga
b. Cumpre o teu dever, aconteça o que acontecer
c. Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje
d. Não faças aos outros o que não queres que te façam
e. Dize-me com quem andas, dir-te-ei quem és
f. De pequenino é que se torce o pepino
g. A palavra é de prata, o silêncio é de ouro

532
A DISSERTAÇÃO

3) Desenvolva numa historieta o sentido exato dos seguintes provérbios,


mostrando em seguida a lição moral que encerram:
a. Quem com ferro fere com ferro será ferido
b. Nem tudo o que reluz é ouro
c. Cão que ladra não morde
d. Devagar se vai ao longe
e. Água mole em pedra dura tanto bate até que fura
f. Mais vale um pássaro na mão que dois voando
g. De grão em grão a galinha enche o papo
h. Em boca fechada não entram moscas
i. Quem não tem cão caça com gato
j. Em casa de ferreiro, espeto de pau

Dissertações longas

1) Desenvolva o seguinte pensamento de Carlyle: "Feliz daquele que encon-


trou sua tarefa! Que ele não peça nenhuma outra bênção! ... O trabalho é a vida".

2) Defenda ou rebata a seguinte afirmativa: ''As multidões acompanham


aqueles que as deslumbram, mas voltam as costas aos que as iluminam".

3) A máxima de Jouffroy: "Não é o êxito o que importa, mas o esforço",


poderia, na época atual, servir de regra a uma educação bem compreendida?

4) Analise a fórmula pedagógica de Spencer: ''A educação é a preparação


para a vida completa".

5) Explique estas palavras de Vítor Hugo: "Servir à pátria é uma metade do


dever; servir à humanidade é a outra metade".

6) Comente esta opinião de Bersot: "O meio de fixar a democracia consiste,


talvez, em suscitar em cada indivíduo a consciência pessoal, o sentimento do
dever, a coragem de difundir e defender os princípios da liberdade, dentro da
dignidade humana".

7) Comente a seguinte asserção de Oxenstiern: "A boa instrução da juven-


tude é o penhor mais seguro da felicidade de um Estado".

533
FLOR DO LÁCIO

8) Desenvolva a seguinte afirmativa do Padre Antônio Vieira: "Instruir é


. ,,
construir .

9) Por que, segundo Cícero, o estudo linimenta a vida?

10) Comente o seguinte pensamento de Kant: "O fim da educação é desen-


volver no indivíduo toda a perfeição de que ele é suscetível".

11) Explique as seguintes palavras de Goethe: "Na arte como na ciência, no


fazer como no agir, tudo está em apanhar claramente um assunto e tratá-lo de
conformidade com sua natureza.

12) Comente a seguinte afirmativa de Santa Catarina: "A educação é uma


segunda natureza".

13) Comente a seguinte máxima de Demonax: "Nossas virtudes se enrique-


cem com os prazeres de que voluntariamente nos privamos".

14) Explique esta outra máxima do mesmo filósofo: "É próprio dos homens
errar, e, dos sábios, perdoar os erros".

15) Comente o seguinte pensamento de Vauvenargues: "A consciência é a


mais mutável das regras".

16) Analise a seguinte asserção de Lessing: "O fim último das ciências é a
verdade; ao invés, o das artes é o prazer".

17) Explique a seguinte opinião de Montaigne: "O proveito dos estudos


consiste em nos tornarmos melhores e mais sábios".

18) Comente o seguinte conceito de Gibbon: "O homem recebe duas clas-
ses de educação: uma, que lhe dão os demais; outra a mais importante -,
que ele dá a si mesmo".

19) Desenvolva a seguinte afirmativa de Krishnamurti: "A morada da vida


é o coração do homem".

20) Terá razão La Fontaine quando diz que "não há caminhos de flores que
conduzam à glória?

534
A DI SSERTAÇÃO

21) Analise o seguinte pensamento de Sêneca: ''A boa consciência quer tes-
temunhas; a má agita-se e perturba-se mesmo na solidão".

22) Comente a seguinte afirmação de Cícero: "Não vês a Deus e, no entan-


to, o reconheces por meio de Suas obras".

23) Explique as seguintes palavras de Vauvenargues: "As vezes a paciência


logra dos homens aquilo que jamais tiveram a intenção de conceder".

24) Comente esta afirmativa de Ovídio: "Leve se torna a carga que se leva
com paciência.

Dissertações literárias
Preparadas por leituras prévias Literatura brasileira

Desenvolva em dissertações longas os seguintes temas:

1) Que é literatura? Como podemos defini-la?


(Ler, antes, entre outras obras, a História da literatura (para o curso colegial),
de Fidelino de Figueiredo; a Pequena história da literatura brasileira, de Ronald
de Carvalho; a Literatura luso-brasileira, de Silveira Bueno; a Teoria da literatu-
ra, de Soares Amora; a História das literaturas, de Manuel Bandeira; a História
da literatura portuguesa, de Aubrey Bell; e a História da literatura brasileira, de
Sílvio Romero).

2) Quais foram as primeiras manifestações literárias no Brasil e que há nelas


de interessante?

3) Discutir a seguinte afirmação de Ronald de Carvalho a respeito da Proso-


popéia de Bento Teixeira Pinto: "Nas suas noventa e quatro estrofes, em oitava
rima, não se percebe um grande sopro de imaginação, nem, ao menos, qualquer
relevo de estilo".

4) Que há, de verdade, na afirmação de que Frei Vicente do Salvador era, na


alma e no espírito, um admirável discípulo de São Francisco de Assis?

5) Justificar a seguinte asserção acerca de Gregório de Matos: "Suas estrofes


são panfletos terríveis, algumas vezes escabrosos, mas justos; suas sátiras são
libelos venenosos, são navalhas de fio e têmpera inquebrantáveis".

535
FLOR DO LÁCIO

6) Estudar a personalidade de Gregório de Matos como poeta moralista.

7) Discutir, em parágrafos com títulos, as seguintes palavras a respeito da Hs-


tória da América Portuguesa, de Sebastião da Rocha Pita: "Ela não se recomenda
pelas qualidades de análise ou de crítica, pela excelência das informações, nem
pela segurança dos comentários científicos; é antes um poema ou uma crônica,
do que um valioso subsídio para o conhecimento das nossas causas".

8) Justificar a seguinte opinião acerca da obra de Basílio da Gama: O Uru-


guai ficará em nossa literatura como um ponto de referência, aonde se vão
encontrar as ocultas raízes do nosso romantismo, que foi o dealbar da nossa
independência intelectual".

9) Analisar a seguinte asserção a respeito de Santa Rita Durão: "O poeta do


Caramuru era mestre na descritiva, sabia movimentar as multidões e ordenar
admiravelmente os impulsos da imaginação".

10) Explicar, com exemplos, por que os versos de Cláudio Manuel da Costa
são modelares quanto à técnica e à dicção.

11) Estudar a seguinte proposição: "O poema 'Marília de Dirceu' está cla-
ramente separado em dois motivos: um de alegria, quando a esperança guiava
todos os projetos de felicidade do poeta (Tomaz António Gonzaga); outro de
mágoa e desalento, escrito na prisão em que o meteram os áulicos do trono
lusitano".

12) "Pelo que resta de suas produções, Alvarenga Peixoto devia ter sido um
poeta de pouco sentimento, mas de imaginação fácil e colorida".

13) Em que é Manuel Inácio da Silva Alvarenga um precursor do nosso


romantismo?

14) Provar a seguinte asserção: "A peça mais significativa da poesia satírica,
no fim do século XVIII, é o poema das 'Cartas chilenas"".

15) "A natureza doentia de Sousa Caldas, sua morbidez ingênita, muito
concorreram para a melancolia e o pessimismo, notáveis em suas produções;
a poesia não lhe era um brinco passageiro, mas uma necessidade, um instru-
mento por onde se escapavam os gritos e os tormentos de sua amargurada vida
interior".

536
A DI SSERTAÇÃO

16) Justificar o seguinte pensamento acerca de Gonçalves de Magalhães: "Toda


a sua obra repousa neste conceito: a humanidade marcha e Deus a guia".

17) "As qualidades de descritivo de Porto Alegre (1806-1879) dão o melhor


realce aos quarenta cantos de sua epopéia Brasiliana, onde a ênfase de mau
gosto corre de par com o desenho de muitos quadros pitorescos; a eloqüência
vazia, o exagero e a superabundância de imagens e tropos prejudicam-lhe a
sobriedade e elegância da linguagem, mas não se lhe pode negar uma forte
imaginação, largamente servida por uma variada cultura".

18) "HA por toda a obra de Gonçalves Dias, acompanhando os acentos de


bucólico lirismo, ou as notas religiosas, ou ainda as puramente descritivas, um
grande sopro de panteísmo, um permanente idílio com a natureza.

19) "A poesia da dúvida, ao mesmo tempo dolorosa e irônica, elevou-a Alva-
res de Azevedo à mais alta intensidade, servindo-se para isso de um estilo cheio
de tons velados".

20) "Laurindo Rabelo foi poeta popular por excelência; sua poesia é ora
dorida e pessimista, ora travessa e brincalhona, mas há sempre nela. um sainete
fundo e comovedor".

21) "Casimiro de Abreu, cantor da saudade, produziu uma obra que é um


grito de amor pela família e pela terra donde se apartara ainda infante".

22) "Há, na obra de Fagundes Varela, inspirações de toda ordem, da alma e


da natureza, da vida rústica e da civilizada, da fantasia e da realidade, do mundo
fictício e do presente".

23) "Castro Alves reunia em si as duas forças motrizes da alta poesia: a elo-
qüência, que pertence à imaginação, e a doçura, que é fruto da sensibilidade".

24) "Joaquim Manuel de Macedo, um dos fundadores do romance nacio-


nal, foi o verdadeiro fixador dos nossos costumes, numa época ainda colonial
na maioria dos seus aspectos: ele compreendeu admiravelmente as tendências
da nossa alma popular, sentimental e piegas, e fez, com pequenas intrigas ingê-
nuas, a sua história íntima e simplória".

25) "Os romances de fundo americanista, de José de Alencar, incontesta-


velmente os melhores que ele produziu, são verdadeiros poemas descritivos e

537
FLOR DO LÁCIO

dramáticos, onde a urdidura da intriga é quase sempre um pretexto para pintar


"
a natureza.

26) O teatro romântico. "Faltaram ao teatro brasileiro, no período romàn-


tico, idealizações superiores e eternas".

27) Estudar os principais parnasianos: Teófilo Dias, Raimundo Correia, AI-


berto de Oliveira, Olavo Bilac, Luiz Murat, Emílio de Menezes, Guimarães
Passos, Paula Ney, Francisca Júlia da Silva.

28) "Da harmoniosa poesia de Amadeu Amaral ressumbra um suave e me-


lancólico pensamento filosófico".

29) "Nos romances de Machado de Assis, o documento humano não obe-


dece a um plano preconcebido, a um postulado primordial, a uma lei qualquer,
científica ou literária; reflete-se neles, apenas, um espírito indagador, que a todo
instante se observa a si mesmo, através dos outros, e vai corrigindo, com o sor-
riso e a lágrima, a imagem que a vida lhe põe diante dos olhos".

30) "A obra de Aluísio Azevedo reproduz, com a melhor fidelidade possível,
a fisionomia do nosso mestiço físico e moral, cujas linhas fugitivas de caráter
dificilmente se deixam entrever".

31) "O Ateneu, de Raul Pompéia, não mostra somente um escritor elegante,
um colorista, mas também um pensador original e inquieto, e um poeta.

32) "Em Os sertões, de Euclides da Cunha, encontram-se excelsas qualidades


descritivas e narrativas, de par com profundos conhecimentos sociológicos.

33) Estudar os representantes da segunda geração naturalista brasileira:


Coelho Neto, Medeiros e Albuquerque, Xavier Marques.

34) A crítica literária: Sílvio Romero, Araripe Júnior, José Veríssimo, Ronald
de Carvalho.

35) Historiadores, publicistas e oradores: Joaquim Nabuco, Eduardo Prado,


Rui Barbosa, José do Patrocínio, Silveira Martins.

36) Explicar a seguinte asserção a respeito do poeta negro Cruz e Sousa: "O
mundo girava em torno de sua dor e de tal maneira lhe pesava sobre a alma
A DI SSERTAÇÃO

insatisfeita e sofredora, que ele não soube traduzi-lo senão com imprecações
desesperadas e alucinantes: não há quase um verso seu que não seja um grito
contra a opressão do ambiente que o cercava, grito nascido mais do instinto de
raça que da consciência da vida".

37) "Os romances de Dona Júlia Lopes de Almeida apresentam quadros


pitorescos, ambientes e cenas familiares que, descritos num estilo leve e fluente,
impressionam pela nitidez dos retratos e pela verdade dos meios e das ações".

38) "Afonso Arinos é um sertanista admirável que, em meia dúzia de nove-


las preciosas, diz mais e melhor das coisas e dos homens do interior brasileiro
do que uma considerável porção de obras científicas e históricas, penosamente
arrancadas a arquivos esquecidos".

39) A literatura regionalista: Valdomiro Silveira, Monteiro Lobato, Alcides


Maia.

40) Estudar as tendências da literatura moderna: a poesia, o romance, o


teatro, a crítica.

539
I
A narração

que é a narração - Narração é o reconto de uma ação suficientemente

º extensa, para que possa compreender desenvolvimentos diversos e apre-


sentar diferentes peripécias. Uma narração apresenta, assim, dois característi-
cos essenciais: unidade de assunto e variedade de situações ou de pormenores.
O autor de uma narração tem, pois, de se submeter a duplo trabalho:
a. O trabalho referente aos pormenores, o qual depende da invenção
b. O trabalho relativo ao conjunto, o qual depende da composição

O interesse - A narração, porém, não deve constituir um simples e frio


relato. Seu mérito, assim como seu encanto, consiste em interessar. Ora, o leitor
só se interessa:
a. Quando a curiosidade lhe toma a atenção
b. Quando pode visualizar as coisas que lê
c. Quando fica emocionado
Devem estas três condições ser preenchidas, não só nó conjunto global da
narração, mas também em cada uma de suas partes componentes. Daí resulta
que cada parte da narração pode ser tratada como uma pequena composição
literária, que tem interesse próprio e na qual o autor deve esforçar-se por nos fa-
zer ver e sentir determinadas situações ou determinados pormenores descritivos
e narrativos. Destarte, uma narração bem-feita apresentar-nos-á uma série de
fragmentos, compostos como os que analisamos até aqui, em nosso minucioso
estudo da descrição e da narrativa.

543
FLOR DO LÁCIO

O trabalho dos pormenores Por necessidade de interesse, deverá o au-


tor procurar, num assunto, toda e qualquer matéria que, por seu conteúdo
pinturesco ou emocionante, possa prestar-se a bom desenvolvimento. E não
serão apenas os assuntos, por desenvolver, que ele precisa considerar, mas ainda
a forma, que lhes necessita dar, e o sentimento, que cada composição deverá
exprimir. Assim, por exemplo, quanto à forma, pode uma série de composições
apresentar-nos, qualquer que seja sua ordem de sucessão, narrativas simples,
descritivas, demonstrativas, dramáticas, humorísticas etc.; e, quanto ao senti-
mento, poderá cada narrativa exprimir tudo o que agita a alma humana: ale-
gria, tristeza, admiração, terror, êxtase, cólera, ódio, amor etc.

O trabalho do conjunto Como cada assunto parcial se pode prestar a


grande número de desenvolvimentos, é mister escolhê-los, selecioná-los, ligá-
-los uns aos outros e não conservar senão aqueles que se relacionem com o inte-
resse de conjunto e com a unidade do assunto geral. É indispensável, também,
reduzi-los a dimensões que não alterem a boa ordem dos fatos.

A proporção -A primeira qualidade duma narração deve, portanto, ser a


proporção. Regular-se-á o tamanho de cada composição parcial por sua impor-
tância considerada relativamente à idéia principal da narração.

A seqüência As diferentes partes da narração não podem ficar isoladas;


têm de ser ligadas umas às outras, sem brutal solução de continuidade. Uma
descrição, por exemplo, não deve ser tratada por si mesma, apenas porque tra-
duza algo belo ou grandioso; cumpre que faça corpo com a narração.

A verossimilhança E indispensável haver lógica de fatos numa narração.


É mister, a todo custo, evitar que a atenção se disperse. Eis por que devem as
partes descritivas e narrativas assumir o caráter de explicações, imprescindíveis
pela necessidade de tornar mais verossímeis as coisas, que precisam ser como
que postas, em toda a sua realidade, diante de nossos olhos.

A narração em verso -A narração em verso segue os princípios gerais de


composição da narração em prosa, mas tem, além disto, um caráter particular,
que resulca do próprio emprego do verso. Sendo uma composição poética, ela
constitui, muito mais do que uma simples narrativa pormenorizada de fatos
que nos façam ver e sentir, a expressão de uma visão íntima do poeta. É, talvez,
por este motivo que podemos observar, na narração em verso, um movimento
mais lento, um tom mais lírico, um estilo mais rico de imagens e, ainda, a pre-
ponderncia dos elementos descritivos sobre os elementos narrativos.

544
Narração em prosa
TEXTO EXPLICADO

A TORRE DOS RATOS

I. QUANDO eu era menino lembra-me com nitidez, havia, acima de meu


leito, um quadrinho, emoldurado de negro, que uma criada alemã dependurara
na parede. Representava uma velha torre arruinada, revestida de limo verde,
cercada de águas profundas e escuras, que a recobriam de vapores, e cingida
por uma cadeia de altos montes, que a envolviam perenemente em lençóis de
sombra. No céu perpassavam, como monstros, nuvens sinistras. À noite, depois
de rezar e antes de adormecer, eu sempre contemplava, fascinado, o estranho
quadro, que daí a pouco me surgiria, ameaçador, dentro de meus pesadelos.
Um dia, indaguei da criada o que representavam aquelas tristes ruínas e ela
exclamou com voz cavernosa, persignando-se: "A torre dos ratos!".
2. Em seguida, contou-me uma história: que outrora, em tempos mais re-
motos do que eu poderia imaginar, existira em Mogúncia, sua terra natal, um
barão poderoso, chamado Hatto, homem impiedoso e avarento, que jamais
abria a mão, para consolar ou dar esmolas; que ele, em certo ano de escassa
produção, comprara aos agricultores necessitados, por preço ínfimo, todo o
trigo colhido, a fim de revendê-lo, a preços exorbitantes, ao povo esfomeado,
pois Hatto desejava ficar cada vez mais rico e não se incomodava com a miséria
alheia; que houve, então, tamanha carestia, que os pobres morriam de fome nas
aldeias do Reno; que o povo, ameaçado em sua própria existência, se aglomerou
em torno do castelo de Mogúncia, chorando e pedindo pão; que o implacável
barão, porém, lho recusou.

545
FLOR DO LÁCIO

3. Neste ponto, horrorosa tornava-se a história. O povo, mordido pela fome,


não se dispersava e continuava a rondar, gemendo, a fortaleza do duro e orgu-
lhoso fidalgo. Hatto, por fim irritado, deu uma ordem terrível a seus arquei-
ros, que pronta e cruelmente a executaram. Arremessando-se contra a multidão
debilitada e inerme, espancaram homens, mulheres e crianças, empurrando-os
violentamente para dentro dum barracão de madeira, onde os encerraram e a que
lançaram fogo. Foi acrescentava a boa velha um espetáculo tremendo, que
teria feito chorar as próprias pedras: mas o barão ria a bom rir, e como os míseros,
envolvidos pelas crepitantes e ardentes labaredas, soltassem gritos pungentes, ele
se pôs a dizer, sarcástico: "Não estão vocês ouvindo o guincho dos ratos?".
4. No dia seguinte, não se viam senão cinzas no local da tragédia. Quase
toda a população de Mogúncia perecera; a cidade parecia morta e deserta. De
repente, no meio daquela desolação, começaram as cinzas a ondular e a mover-
-se: a princípio, centenas, e, logo, milhares de ratos puseram-se a deslizar, velo-
zes, como seres vivos feitos de cinza. Seus guinchos cresciam à medida que eles
iam surgindo e parecia que aquela multidão pululante e malcheirosa renascia e
se multiplicava aos golpes desatinados dos soldados, que tinham acorrido para
combatê-la. Os ratos invadiram, como uma inundação viva e feroz, as ruas, as
casas, os porões, o castelo do barão, suas adegas, seus quartos e suas alcovas. Era
como que um flagelo destruidor, como que uma chaga fétida e cheia de vermes.
5. Desvairado, Hatto abandonou Mogúncia, fugindo para a planície, com a
imensidade guinchante dos ratos em seu encalço, e correu a encerrar-se em Bin-
gen. Mandou, então, construir às pressas uma torre forte no meio do Reno e aí
se refugiou, servindo-se de uma barca, em torno da qual dez arqueiros batiam
incessantemente as águas, com longas, pontiagudas e afiadas espadas. Os ratos,
porém, iam-se atirando uns atrás dos outros ao rio ensangüentado e coalhado
de pequenos corpos mortos, atravessaram-no, apesar da heróica resistência dos
soldados, subiram à torre, roeram as portas, o teto, as janelas, os assoalhos, e,
chegando, enfim, à cela-forte onde se ocultava o miserável, devoraram-no vivo,
enquanto ele, tomado de pavor até os ossos, estrebuchava e guinchava de dor,
entre medonhos sofrimentos!
6. E agora, a maldição do Céu e o horror dos homens pesam sobre essa lú-
gubre torre, que, deserta e desolada, se vai esboroando no meio do rio. Certas
noites, por vezes, sobre ela flutua um vapor avermelhado, semelhante à fumaça
das grandes fornalhas: é, dizem, a alma de Hatto, que volta a penar no cenário
de seu suplício e que não será perdoada senão quando, no coração de pedra da
torre arruinada, brotar e desabrochar, radiosa, a flor da misericórdia, plantada
por um descendente das vítimas do feroz barão.
7. Esta história, meu filho terminou a velha criada-, nos demonstra que
precisamos agir sempre, e sobretudo quando as calamidades assolam o mundo,
A NARRAÇÃO

com espírito de solidariedade e fraternidade humana, porque todos, ricos e


pobres, somos irmãos na terra. Ai dos poderosos que, podendo e devendo fazer
o bem, desprezam a angústia e a vida dos que nada possuem, e lhes exploram
a fome, até à morte: pois a justiça de Deus pode tardar, mas não falha, nunca!

- Adaptação duma narração de Vítor Hugo

O assunto - É a adaptação de uma lenda germânica, narrada por Vítor


Hugo em Le Rhin. Um cruel barão feudal agrava a carestia reinante em seus
domínios, adquirindo a preço vil todo o trigo existente e armazenando-o, para
revendê-lo, mais tarde, a preços altos. Como o povo, esfomeado, lhe peça, um
dia, misericórdia, fá-lo encerrar, pela força, num grande celeiro, a que lança
fogo, zombando dos gritos e lamentos de suas vítimas com uma frase sarcástica:
"Os ratos estão guinchando". No dia seguinte, surge dos escombros enorme
multidão de ratos, que o persegue inexoravelmente, até devorá-lo vivo.
Esta idéia dum crime e de seu castigo é que constitui a unidade do assunto.

A composição Al ém da unidade do assunto, deve uma narração apre-


sentar variedade de pormenores. "A torre dos ratos" contém uma série de com-
posições parciais, que variam de forma e de tom, conforme se pode verificar no
seguinte quadro:

ASSUNTO FORMA SENTIMENTO


1. O quadro do quarto Narrativa demonstrativa Terror
2. O retrato de Hatto Discurso (indireto) Indignação
3. O suplício dos pobres Narrativa com reflexões Horror
4. A invasão dos ratos Narrativa descritiva Pavor
5. A morte de Hatto Narrativa dramática Angústia
6. A torre em ruínas Narrativa com reflexões Desolação
7.A justiça de Deus Discurso (direto) Fé

O interesse O quadro, com que se inicia a narração, empolga-nos ime-


diatamente o espírito, despertando e mantendo em suspenso nossa curiosidade,
que acompanha com vivo interesse o desenrolar dos fatos, desde o começo até o
desfecho horrível. Cenários e cenas caracterizam, aqui, a apresentação de uma
tragédia, que vemos e sentimos em seus mínimos pormenores e que nos agita
profundamente a alma. Sabemos que os leitores só se interessam:

547
FL OR DO LÁCIO

a. Quando a curiosidade lhes toma a atenção


b. Quando podem visualizar as coisas que lêem
c. Quando ficam emocionados
Ora, não só uma destas três condições, mas todas elas foram preenchidas, e
não apenas no conjunto da narração, mas em cada uma de suas partes.
Cada parte, com efeito, foi tratada como uma composição, que tem seu
próprio interesse e em que o autor se aplicou a nos fazer ver e sentir pormenores
e fatos especiais: o quadro do quarto, sinistro e aterrador; o retrato de Hatto,
cuja crueldade causa cólera; o assassínio de velhos, mulheres e crianças, que
nos revolta e causa horror etc. Até mesmo a reflexão final apresenta interesse,
porque constitui uma lição.

A proporção - Limitada em sua extensão, encerra, todavia, esta narração


uma tragédia completa. As composições parciais, de que se compõe, assumem,
assim, a importância de verdadeiros atos, que têm, relativamente uns aos ou-
tros, o mesmo, ou quase o mesmo, desenvolvimento, a mesma, ou quase a
mesma, proporção.

A seqüência Não podem ser isoladas, já o vimos, as diferentes partes de


uma narração. Aqui, não se rompe a continuidade narrativa; pelo contrário,
ela é bastante cerrada. As circunstâncias e os acontecimentos estão graduados e
dispostos de tal maneira, que cada parte se torna decorrência natural da parte
anterior. Muitas vezes, a transição de uma para outra se faz, suavemente, por
meio de expressões que assinalam, de modo claro, a seqüência: "Em seguida",
"neste ponto", "no dia seguinte", "e agora.

A verossimilhança Nas lendas e contos fantásticos, irreais, quando algo


fala à imaginação do leitor que parece, então, encontrar-se dentro da rea-
lidade maravilhosa da vida -, ao inverossímil substituem-se impressões, cuja
verossimilhança podemos apreciar. O que é verdadeiro pode não ser verossímil.
Verossímil é o que tem a aparência, a semelhança da verdade.
O Barão Hatto talvez haja, de fato, existido e cometido o crime; talvez, de
fato, tenha sido devorado por animais esfaimados: tais ocorrências estão den-
tro da realidade das coisas, isto é, são perfeitamente possíveis. A imaginação
popular apoderou-se desses acontecimentos, transformou-os, ligou-os, e, daí,
provavelmente, surgiu a lenda.

O tom O tom da composição é que determina a escolha dos desenvol-


vimentos de cada parte, assim como o estilo. Aqui, conta-se uma lenda; temos,
A NARRAÇÃO

nela, a história de um crime e de seu castigo, e esta história deve provocar-nos


forte emoção. Assim, pois, nesta narração, todos os desenvolvimentos, com
exceção do último, despertam sentimentos violentos.

549
Narração em verso
TEXTO EXPLICADO

A ASCENSÃO DE JESUS CRISTO

1) 1. Opor do sol
Entre esplêndidas nuvens purpurinas,
Mergulhava-se o sol, e os frescos vales
Abriam seus tesouros de perfumes
Aos bafejas das auras suspirosas
Que desciam dos montes do Ocidente.

2. Os apóstolos
Sobre um risonho outeiro reunidos,
Escutavam os homens do Evangelho,
As predições supremas, as sentenças,
E as derradeiras instruções do Mestre.

3.A aldeia
A sossegada aldeia de Betânia
Se estende a seus pés, pobre, singela,
Como um plácido ninho de andorinhas
No meio de um vergel.

1) 4. As instruções de Cristo
"Pobres amigos!"

550
A NARRAÇÃO

- o Redentor falou. "Em vossas almas,


Eu plantei as sementes da verdade.
Não as deixeis morrer, tenham embora,
Em vez de orvalho, lágrimas de sangue!
Deus vos dará valor. Eu parto e deixo
Em vossas mãos a sorte do universo!
Buscai os tristes, procurai os pobres,
E o bálsamo divino da esperança,
Nas feridas vertei, dos desgraçados.
Voai à zona tórrida e às planícies,
Onde perpétuos gelos se aglomeram;
Ensinai aos mortais as leis do Eterno,
A pureza celeste dos costumes,
O perdão das mais ásperas ofensas!
E em nome do Senhor pregai ao mundo
As mais belas das lúcidas virtudes:
A esperança, a fé e a caridade!".

5. A transfiguração
Falava o Salvador, seu santo rosto
Fulgurante se tornava, seus olhos
De inefáveis clarões se iluminavam,
E a túnica mesquinha e desbotada,
Da brancura da neve se cobria!

III) 6. A ascensão
Os amigos prostraram-se embebidos
Em êxtase divino; o grande Mestre
Sobre eles estendeu as mãos brilhantes,
Volveu aos céus o rosto glorioso,
E, deixando de manso a terra e os homens,
Ergueu-se, ergueu-se pelos vastos ares
Até librar-se no sidério espaço,
Como longínqua estrela rutilante!
Por fim perdeu-se além, na imensidade,
Onde não chega o pensamento humano!
Aqui termina a história do Calvário.

Fagundes Varela

551
FLOR DO LÁCIO

Notas para a explicação do texto Esta poesia nos mostra os últimos


momentos que Nosso Senhor Jesus Cristo, após sua gloriosa ressurreição, passa
na terra, antes de subir ao Céu.
Constituída de versos brancos, compõe-se ela de três grandes partes, ligadas
entre si pela lógica dos fatos:

ASSUNTO FORMA SENTIMENTO


1. Cristo e os apóstolos Narrativa descritiva Sossego
2. As instruções de Cristo Discurso Amor aos homens
3. A ascensão Narrativa descritiva Êxtase

O conteúdo de cada narrativa A narrativa inicial contém:


a. Uma curta, mas expressiva descrição de um pôr de sol
6. Uma pequenina descrição de um grupo de homens em ação ("Os após-
tolos")
c. Uma rápida descrição da aldeia de Betânia ("A aldeia")
Servem estas descrições para ilustrar a narração, mostrando-nos o local da
cena grandiosa e a atitude dos homens, reunidos para ouvir as últimas reco-
mendaçóes de Jesus Cristo.
A segunda parte encerra:
a. Um curto discurso, que contém um exórdio, uma exposição de fatos e
uma peroração; neste discurso, faz Jesus uma sucinta recapitulação de seus en-
sinamentos na terra
6. Uma descrição da transfiguração que ele, enquanto falava, ia experimen-
tando em sua pessoa e em seus trajes
A narrativa final encerra uma descrição de pessoa em ação e transcreve, em
orações curtas, a maravilhosa ascensão do Senhor.

O interesse Não só no conjunto da narração, como em cada uma de suas


partes, são preenchidas as três condições determinantes do interesse do leitor.
De fato:
a. Sua curiosidade obriga-o a procurar saber como desenvolverá o poeta
assunto tão conhecido de todos
6. Ele pode visualizar e sentir, como se estivesse presente, as coisas que lê
c. Emociona-o a beleza sublime da cena

A proporção - Como o tamanho de cada parte é determinado pela im-


portância que tem, relativamente à principal idéia da narração, esforçar-se-á o

552
A NARRAÇÃO

aluno por explicar qual a razão por que o desenvolvimento da segunda parte é
maior do que o das outras.

A verossimilhança Poderá haver lógica de fatos num ambiente em que


se sucedem os milagres? Viam-nos os antigos por toda a parte, na natureza,
achando-os perfeitamente lógicos; note-se, porém, que Cristo os realizou, por-
tentosos, em grande número, curando, num instante, males terríveis, transfor-
mando e multiplicando alimentos, aplacando a fúria das tempestades, vencen-
do a morte. Mais do que verossimilhança, há verdade nesta narração, porque
Cristo é Deus, e, como Deus, seu poder está acima das leis da natureza.

O tom Grave, repassado de nobreza e melancolia, o tom desta compo-


sição poética fixa a escolha dos desenvolvimentos de cada parte e, também, o
estilo.

553
Narração em prosa
TEXTO PARA EXPLICAÇÃO
(SEM QUESTIONÁRIO)

AS VIOLETAS DE NOSSA SENHORA

1. O Céu festivo. Ontem, dia de Nossa Senhora da Glória, reinou no Céu uma
grande e santa alegria. Pela madrugada, os anjos penduraram estrelas nas pontas
das nuvens, e, quando amanheceu, tudo ficou enfeitado de sol. O vento, nas
alturas, cantarolava baixinho, como para acalentar uma criança doente. E as
estrelas, apagadas, tinham um perfume casto e bom, de rosas murchas.
2. A felicidade dos justos. No seu trono de nuvens azuis, franjadas de ouro,
Nossa Senhora da Glória sorria contente. De todos os recantos do Céu che-
gavam anjos e almas felizes, que vinham banhar-se na luz pura dos seus olhos
misericordiosos. Uma felicidade inocente e boa embriagava as criaturas e as coi-
sas, como um vinho bebido em sonho. O ar estava impregnado de um eflúvio
meigo, de uma ternura comovida, como se pairasse naquela hora uma grande
bênção de Deus sobre o mundo.
3.A piedade da Virgem. E foi quando a Virgem, na glória alegre do seu dia,
falou desta maneira: "Meu coração, que as sete espadas trespassaram, é como
um cântaro repleto de mel. Tenho a cabeça coroada de estrelas e sinto a meus
pés a música religiosa dos anjos. Mas, na minha alegria, não posso esquecer as
criaturas que gemem, lá embaixo, na prisão escura da vida. A ventura, que me
cerca, deixaria de ser ventura, se eu não pudesse reparti-la com os infortunados.
Quero, pois, que os anjos desçam à Terra e restituam em alegria doce e cristã os
tributos de dor que eles, na sua miséria, têm pago ao Céu".

554
A NARRAÇÃO

4. A distribuição de graças. E chamando um dos anjos: "Vai, Alael! Desce à


Terra e leva, transformados em pão, os gritos de desespero dos órfãos e dos de-
samparados. Que eles tenham, também, hoje, a sua hora de felicidade!". Cha-
mou outro: "Parte, Heliel! Toma nos suspiros que subiram da Terra, partidos
dos corações solitários, e transforma-os em flores de laranjeiras. Que encontrem
o seu noivo, hoje, todas as virgens de coração puro que punham na minha
misericórdia a sua esperança". Chamou o terceiro: "E tu, Eriel, vai. Recolhe as
preces de todos os tristes e transforma-as em consolação. Que tenha, cada um,
hoje, a sua esmola de alegria!". Chamou outro: "Chegou a tua vez, Elir! Abre
as tuas asas, e vai! Procura os aflitos, que enviam aos Céus os grandes brados
de angústia e dá-lhes, de novo, a sua aflição, os seus próprios gemidos e gritos
transformados em rosas vermelhas".
5. As violetas do poeta. Chamou, finalmente, outro: "A ti, anjo sem nome,
ou de nome que é um doce mistério; a ti, cabe a mais piedosa das missões. Há,
lá embaixo, na Terra, um pobre e obscuro poeta que chora em silêncio e cujo
sofrimento é calado. Reúne os seus gemidos surdos, as suas lágrimas ignoradas,
os seus sonhos nascidos mortos. Transforma-os em violetas. Faze, com ele, três
ramalhetes. Que sejam tornados, assim, em pequeninas flores os seus grandes
tormentos escondidos. Leva a esse artista humilde a oblata da flor humilde.
Dá-lhe, enfim, a ele, uma hora de felicidade!". Foi assim que, ontem, um poeta
obscuro e triste recebeu, de mão desconhecida e gentil, em nome de Nossa
Senhora da Glória, três lindos punhados de violetas ...

-Humberto de Campos

555
Narrações
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA

D ESENVOLVA os seguintes temas, esforçando-se por que haja interesse, não


só no conjunto da narração, como em cada uma de suas partes, que de-
vem despertar nossa admiração pela forma e nossa curiosidade pelo fundo, e
nas quais deve haver proporção e seqüência; esforce-se, ainda, por que cada
parte desperte um sentimento correlacionado com o assunto geral.

1) Pescaria à noite: Narração formada de seis composições fragmentárias:


l. Narrativa descritiva: um pôr de sol numa campina, onde verdejam cultu-
ras esparsas e um bosque.
2. Narrativa com retrato: um rapazola caminha, carregando apetrechos de
pesca, por uma estrada, enquanto morre o dia (as sombras crescentes, o aspecto
das coisas).
3. Vista animada: o luar dentro do bosque efeitos de luz e de sombra.
Animação: pios, silvos, grunhidos.
4. Narrativa com conversação: o encontro do rapazola com outro menino,
num raio de luz. Diálogo entre ambos (discurso direto e indireto).
5. Sucessão de quadros: a caminhada dos rapazes através do bosque o
ruído crepitante de seus passos nas folhas secas; o desfile das coisas e animais;
árvores escuras, clareiras iluminadas, bandos de pirilampos esvoaçantes, roedo-
res e pequenos animais de olhos reluzentes, regatos, uma lagoa.
A NARRAÇÃO

6. Impressões pessoais: a pescaria silenciosa (vista como um quadro, em que


sejam protagonistas os meninos. O aspecto do céu, a lua, a paisagem, transfigu-
rada à claridade opalina; peixes cintilantes).

2) Teseu: Guiado no labirinto de Creta por um fio que Ariadna, filha de


Minas, lhe dera, Teseu combateu e matou o Minotauro, monstro meio homem
e meio touro, que se alimentava de carne humana. Libertou, então, as moças e
os rapazes condenados a servir de horrendo repasto à fera, e fugiu com aquela
princesa, que ele, por fim, abandonou na ilha de Naxos. Morrendo depois de
uma vida sempre inquieta e agitada, foi condenado por Plutão, a quem ofende-
ra, a permanecer eternamente sentado nos Infernos.

Composições parciais:
ASSUNTO FORMA SENTIMENTO
1. O labirinto subterrâneo Narrativa descritiva Espanto
2. Teseu caminhando Narrativa com retrato Prudência
3. O Minotauro Narrativa com retrato Horror
4. A luta Seres em ação Ansiedade
5. A libertação dos jovens Narrativa simples Alegria
6. Teseu e Ariadna nos mares Narrativa com reflexões Melancolia
7.0 abandono de Ariadna Narrativa dramática Emoção
8. A morte de Teseu Narrativa dramática Tristeza
9. Sua condenação Narrativa demonstrativa Cólera

3) Midas: Midas, rei da Frígia, obteve de Baco o dom de transformar em


ouro tudo aquilo em que tocasse. No primeiro momento, ao transmutar em
ouro os objetos de uso pessoal, os móveis, as paredes do palácio, as estátuas de
seus jardins, esse extraordinário poder foi causa de viva satisfação para sua ava-
reza. Quando observou, porém, que não só as coisas inanimadas se metalizavam
a seu contato, mas também as flores, os animais e até mesmo os alimentos, tor-
naram-se-lhe sombrias as perspectivas da vida, e, arrependido, mergulhou em
profunda tristeza. Vendo-o tão acabrunhado, correu a consolá-lo uma netinha
querida, que, ao abraçá-lo, estacou instantaneamente, imobilizada numa bone-
ca de ouro. Amaldiçoando, desesperado, sua funesta ambição e seu tremendo
destino, Midas foi, em prantos angustiados, suplicar a Baco que lhe retirasse o
horrível dom; e o deus, sentindo sincero o seu arrependimento, ordenou-lhe
que se banhasse no Rio Pactolo, o qual, desde então, rola em suas águas uma
quantidade inextinguível de palhetas de ouro.

557
FLOR DO LÁCIO

Composições parciais:
ASSUNTO FORMA SENTIMENTO
1. O dom de Midas Narrativa descritiva Contentamento
2. O castigo Narrativa demonstrativa Arrependimento
3.A netinha do rei Narrativa dramática Desespero
4. A súplica ao deus Narrativa dialogada Tristeza
5. A redenção de Midas Narrativa descritiva Alívio

4) Xerxes:24 Xerxes deve constituir a unidade da narração: sua figura, por-


tanto, há de dominar todo o desenvolvimento da composição, cujas partes pre-
cisarão iluminar, por assim dizer, e pôr em relevo os diversos aspectos do caráter
desse déspota da Ásia.
1. Xerxes mobiliza imenso exército, dirigindo-o contra a Grécia: todos os
povos da Ásia, com vestes e armas estranhas, marcham juntos (esse parágrafo
nos pintará seu poderio; à agitação daqueles milhões de homens que avançam
sob suas ordens, opõe-se a indolência displicente do soberano, a quem o exer-
cício do poder absoluto não exige sequer um esforço, sequer mesmo um pouco
de vigilância, pois ele vai cochilando em seu formidável carro de combate).
2. Em Abido, antes de transpor o Helesponto por meio duma ponte de bar-
cas. Xerxes passa em revista o seu exército. Vendo o mar coalhado de navios e
a planície recoberta de soldados, põe-se a chorar, porque, dentro de um século,
nenhum daqueles homens estaria vivo. Seu tio Arbatano faz-lhe ver que há,
na vida, muitas coisas mais tristes que a morte, como a desonra, a escravidão
e a extrema miséria do povo ou da alma (neste parágrafo, tentar-se-á revelar a
estranha alma do rei oriental. A idéia da morte atormentava esse homem cruel e
caprichoso, ébrio de poder e ávido de prazeres: fraco, incapaz de raciocínio e de
vontade, sujeito a todas as impressões efêmeras, tão suscetível ao pranto, quanto
orgulhoso e colérico, Xerxes é profundamente supersticioso; ele vê, no universo
e em todas as formas passageiras da vida, a luta implacável entre Ahura-Mazda,
o "espírito sábio", e Angro-Mainyus, o "destruidor").
3. Ensoberbecido, entretanto, com seu poder, ele pergunta a Demarato,
rei exilado de Esparta, se os gregos ousarão resistir-lhe. Demarato faz o elogio
da Grécia, pobre, corajosa, submissa às leis; e exalta, principalmente, os lace-
demônios, que afrontam livremente a morte, sem a isso serem constrangidos
pelo açoite de um senhor despótico. Espanto e incredulidade de Xerxes (neste
parágrafo, manifestar-se-á o orgulho e a ignorância do soberano).

24 Os alunos poderão ler, antes: "As guerras médicas", capítulo da Civilização antiga, de Seignobos;
e Legende des Siêcles, de Vítor Hugo ("Les Trois Cents").
A NARRAÇÃO

Formas das composições parciais: 1. Narrativa descritiva; 2. Narrativa com


reflexões; 3. Narrativa com conversação.

5) Bate, mas escuta:


1. A frota grega está ancorada na baía de Salamina. Os chefes, reunidos na
galera capitânea, vêem, com angústia, avançar os incontáveis navios dos persas,
enquanto, ao longe, fumegam as ruínas de Atenas incendiada.
2. O espartano Euribíades, chefe da frota confederada, propõe que se re-
nuncie a salvar a Ática, para se defender o Peloponeso. O ateniense Temístocles
insiste em que se permaneça ali mesmo, em Salamina, a fim de se proceder a
um ataque contra os persas nos estreitos, único meio de salvar a Grécia. Enco-
leriza-se Euribíades, que ameaça o ateniense com um bastão. Temístocles não
se impressiona, dizendo-lhe: "Bate, mas escuta, e continua tranqüilamente a
desenvolver o seu plano.
3. No dia seguinte, os gregos cantavam o "Peã" nas praias da baía, onde se
viam os destroços das naves persas.
Formas das composições parciais: 1. Narrativa descritiva; 2. Narrativa com
conversação; 3. Narrativa simples.

6) Hércules e as serpentes:25 O assunto desta narração é um episódio da


infância de Hércules, em que o vemos a lutar com duas enormes serpentes,
enviadas por Juno para devorá-lo. Além do interesse mitológico que tal assunto
comporta, deve-se incluir, na narração, quadros e cenas que sejam de interes-
se geral, iniciando-se pela descrição da noite maravilhosa, pondo-se em realce
uma linda cena de amor materno e acentuando-se a cena final da vitória do
menino, pois tudo isto fala à imaginação do leitor, está na realidade da vida; o
inverossímil da lenda deve ser substituído por impressões, cuja verossimilhança
se possa apreciar.
1. A noite: Cintilante de astros e estrelas, entre os quais se destacam as
constelações do Oriáo, da Ursa e do Cão, desdobra a noite véus de sombra e faz
baixar calmo silêncio sobre as cidades, os campos, os montes. No Olimpo, dor-
mem os deuses, menos Juno, que se debate em cólera e em desejos de vingança.
2. Alcmena coloca Hércules no berço: Alcmena, depois de banhar seu filhi-
nho Hércules, deita-o num escudo de bronze, de bordas altas, e, sorridente, faz
votos por que tenha um bom sono, encantado por sonhos maravilhosos, dignos
de sua alma infantil. Suavemente embalado, Hércules adormece, tendo ainda,
nos lábios, brancas gotas de leite.

25 Os alunos poderão ler, antes, L'Enfance d'Hérakles, de Leconte de Lisle.

559
FLOR DO LÁCIO

3. As serpentes: Juno, levada por seu ódio, manda duas serpentes enormes a
devorar o pequeno semideus; elas descem, rastejando, o monte sagrado, passam
pelas ruas da cidade, atravessam a soleira do palácio e seu duplo pilar, entram
nos salões, galgam escadas de mármore, e, chegando ao aposento de Hércules,
detêm-se, enrolam-se e seus olhos frios se fixam no fundo côncavo do escudo.
4. A luta: Hércules, porém, acorda, levanta-se e, num gesto rápido, agarra-as
pelo pescoço, ao qual aperta sem esforço, sacudindo-as, como a brincar. Os
olhos dos monstros saltam, como brasas, fora das órbitas. Musculosas e intu-
mescidas, as serpentes açoitam violentamente o ar, mas o menino as constringe
cada vez mais, rindo-se de vê-las, cheias de raiva e de baba, estorcerem-se e en-
rolarem-se em torno do berço. Atira-as depois, já mortas, ao chão e cruza, para
dormir, os bracinhos ensangüentados.

7) O fruto proibido:
1. Certo rei do Aragão afasta-se, um dia, da comitiva de nobres e oficiais,
que o acompanhavam numa caçada, e chega, sem ser percebido, à porta de uma
cabana. Os proprietários um casal de pobres lenhadores tomavam frugal
refeição e conversavam acerca de Adão e Eva, cuja expulsão do Paraíso Terrestre
acarretara todas as dificuldades e sofrimentos que ambos estavam padecendo.
"Ah!" dizia a mulher. "Nossa Mãe Eva devia ter-se contentado com os
copiosos e variados frutos que se achavam à sua disposição e não ter tocado na-
quele que lhe proibira Deus!". "É verdade" replicava o lenhador. "Se eu
estivesse no lugar de Adão, teria sabido conservar minha felicidade".
2. Neste ponto da conversa, o rei, que a escutava, abre a porta e entra.
Grande surpresa do casal, que acolhe, sem reconhecê-lo, o soberano, em quem
julgam ver, por seus ricos trajos, um nobre da corte. O rei cumprimenta afavel-
mente os donos da casa e pede-lhes de beber, pois faz calor e a sede o atormenta.
Corre a mulher a buscar água fresca numa fonte vizinha, enquanto o marido
convida o inesperado hóspede a sentar-se e lhe oferece um pouco de vinho. O
soberano bebe à saúde de ambos e saboreia, mesmo, algumas frutas, que acha
deliciosas. Encantado com tão gentil acolhida, resolve recompensar o casal,
pondo-lhe, todavia, a fidelidade à prova.
3. No momento de despedir-se, ele se dá a conhecer; erguem-se os lenhado-
res, em atitude respeitosa. "Quero diz-lhes bondosamente "recompensá-
-los, pois vocês são honrados e benfazejos. Vocês vão deixar esta cabana e vir em
minha companhia; terão um palácio perto do meu, roupas, alimentos e tudo
o mais que possam desejar". Impõe-lhes, contudo, uma condição: que não to-
quem, de modo algum, num vaso de cristal, cuidadosamente tampado e cheio
de frutos desconhecidos, que todos os dias será posto à mesa de suas refeições.
A NARRAÇÃO

Ambos, tomados da mais viva alegria, caem de joelhos exclamando que aceitam
a proposta real com o mais profundo reconhecimento.
4. Alojados em magnífica residência, trajados luxuosamente, o lenhador e
sua mulher julgam viver um sonho maravilhoso. Nada lhes falta; o menor de
seus desejos é satisfeito imediatamente. À hora das refeições, porém, figura sem-
pre na mesa, entre finos e variados acepipes, um vaso de cristal fosco dentro do
qual há frutos de forma imprecisa e de cor avermelhada. O casal nem sequer o
olha, tão grande é a sua felicidade.
5. Certo dia, entretanto, quando já estavam habituados àquela boa vida,
começa a empolgar a mulher o desejo de saber que espécie de frutos continha
o vaso misterioso. Quer destampá-lo, um momento que seja, mas o marido a
detém, recordando-lhe a proibição formal do rei e dizendo-lhe que a ventura
de que gozam depende de sua obediência à determinação real. A mulher não
insiste, mas sua curiosidade vai aumentando à medida que transcorre o tempo,
até que a tentação, de tão forte, não a deixa mais dormir. Então, ela diz que
não deseja comer os frutos, porém apenas saber quais são e que, por isso, vai
descobrir o vaso, tanto mais que o rei de nada saberá.
6. O homem ainda tentou dissuadir a esposa de executar o que desejava,
mas vá lá um homem discutir com uma mulher, quando esta quer alguma coi-
sa ... Ela gritou, esbravejou, chorou, teve faniquitos; o marido cedeu, por fim,
como sempre cedem os maridos. Cheia de alvoroço, ela tomou o vaso, abriu-o.
Dentro, os frutos rutilavam, como estrelas rubras. Pareciam maçãs, mas não
tinham perfume algum; apanhou uma, que se lhe desmanchou nas mãos, como
um torrão de açúcar. Perturbada, fez um gesto estouvado, derrubando o vaso,
que se estilhaçou, enquanto os pomos se desfaziam em pó, como o primeiro.
O homem, exasperado, bradava: "Ah! Desgraçada, que fizeste? Não te dizia eu
que não tocasses no vaso? Que vai ser de nós agora?". A mulher, humilhada,
chorava e gemia.
7. Nisto, entrou o rei. "Por que estão vocês brigando?" perguntou. Am-
bos, consternados e envergonhados, nada responderam. Relanceou o soberano
os olhos pela sala e percebeu o que acontecera. Voltou-se, indignado, para o
casal, exprobrando-lhe o procedimento, pelo qual perdera direito a seus ob-
séquios. Recomendou a ambos que não condenassem mais, levianamente, o
pecado de Adão e Eva: "Vocês não foram mais fiéis em respeitar minha vontade,
do que eles a de Deus". Expulsou-os, finalmente, do palácio. Mandou que lhes
trocassem os ricos vestuários por suas velhas roupas e que os reconduzissem à
pobre choupana, onde, durante o resto da vida, eles lamentaram a desobediên-
cia, que lhes custara a felicidade.
FLOR DO LÁCIO

8) Moisés: A narração, cujo sumário se segue, deve ser um apanhado geral


do poema "Moise", de Alfred de Vigny, poema que os alunos precisarão ler,
para se assenhorearem da matéria. No desenvolvimento de cada parte, em que
trabalharão com cuidado e capricho, escolhendo bem as expressões, a ordem
dos pormenores ou fatos e os meios de transição, não se devem esquecer do
sentimento de tristeza que ressumbra do próprio assunto.
1. Descrição: o cenário. Deita-se o sol no deserto, inundando-o de flamas
deslumbrantes e revestindo de ouro e púrpura todas as coisas. Moisés, galgando
o árido Monte Nebo, pára e alonga o olhar pelo vasto horizonte. Vê, primeira-
mente, Fasga, rodeada de figueiras; depois, para lá dos montes, Galaad, Efraim,
Manassés; no sul, Judá, grande e estéril, entre areias brancas, onde morre o Mar
Ocidental; mais longe, num vale, surge Neftali, coroada de oliveiras; Jericó, a
cidade das palmeiras, ergue-se numa planície florida; e, enfim, Canaã, a Terra
Prometida, na qual está condenado a não entrar. O profeta estende a mão,
abençoa os hebreus e continua a subir lentamente.
2. Grupos em ação: os hebreus. Perto do monte sagrado, no vale, agitam-se
os filhos de Israel. Logo ao amanhecer, partira Moisés a encontrar-se com o
Senhor. Todos os olhares o tinham acompanhado em sua ascensão, guiados pela
luz que lhe aureolava a cabeça. Quando chegou ao alto e penetrou na nuvem de
Deus, que coroava de relâmpagos o sombrio cume, ardeu o incenso em todos
os altares de pedra e seiscentos mil hebreus, inclinados, entoaram o cântico
sagrado. Os filhos de Levi, destacando-se na multidão e acompanhando, com
harpas, as vozes do povo, dirigiam ao Céu o hino do Rei dos reis.
3. Monólogo: Moisés pede a morte. De pé, diante do Senhor, Moisés fala-
-lhe, na nuvem obscura:
a) Num tom de profundo respeito e imensa tristeza, presta-lhe conta da
missão para que fora escolhido: conduzira o povo eleito até às portas da Terra
Prometida. Solicita, portanto, um substituto; deseja o repouso final, pois está
cansado de viver poderoso e solitário.
b) Ele evoca, em traços incisivos, a grandeza e o poder que recebera de Deus:
fizera chover fogo sobre a cabeça dos reis; afastara as águas revoltas de um mar;
por sua ordem, caíram alimentos do céu e jorrara água límpida das rochas;
apaziguara tempestades; sufocara cidades sob areias movediças. Os anjos do
Céu o admiram e invejam; no entanto, não é feliz. Que o Senhor lhe conceda
a graça da morte.
c) Assim que fora distinguido pelo Céu para tão estupendo destino, os ho-
mens disseram entre si: "Ele está tão alto acima de nós, que se nos tornou como
que um estranho". E todos os olhares se baixavam, ante seus olhos de fogo. As
moças se cobriam com o véu e temiam morrer. Envolvendo-se, então, na densa
A NARRAÇÃO

coluna de fumaça, Moisés caminhara à frente dos hebreus, triste e só em sua


glória, refletindo: "Que desejar agora? Para dormir num regaço, minha fronte
é por demais pesada. Meus gestos apavoram; há tempestades em minha voz e
minha boca despede raios. Por isso, em vez de me amarem, tremem todos e,
quando lhes abro os braços, caem-me de joelhos aos pés". E Moisés, amargura-
do, requer de novo ao Senhor a graça do sono derradeiro.
4. Narrativa descritiva: Deus atende a Moisés. O povo, no vale, esperava e
orava, sem olhar para o cimo do Monte Nebo, pois, se levantava os olhos, os
flancos escuros da nuvem divina lançavam, entre trovões rugidores, redobrados
raios; e os darões dos relâmpagos, ofuscando os olhos, mantinham inclinadas as
frontes. Logo reapareceu o cume escalvado do monte, sem Moisés. Choraram-
-no. Rumando para a Terra Prometida, Josué caminhava à frente dos hebreus,
pensativo e pálido, pois já era o eleito do Todo-Poderoso.

9) Jesus Cristo: Empregando diferentes modalidades de composições par-


ciais, tanto descritivas como narrativas, para emprestar maior variedade ao con-
junto, desenvolva o aluno, em seis curtas, mas completas narrações, a vida de
Nosso Senhor Jesus Cristo, esforçando-se por que, dos próprios fatos e aconte-
cimentos, ressalte sua divindade.
1. A natividade:
a) Nasceu Jesus num mesquinho estábulo, em Belém, pequena cidade da
Judéia; seu primeiro leito foi uma manjedoura, forrada de feno; aqueceram-no
animais com seu bafo. Um anjo levou a grande nova a pastores, iniciando a
comunicação inefável com as palavras: "Glória a Deus nas alturas e paz na
terra aos homens de boa vontade". O aspecto luminoso e cintilante do céu. A
adoração dos pastores.
b) Algum tempo após, chegaram do Oriente os Reis Magos, guiados pelo
fulgor de uma estrela miraculosa. Prosternando-se diante dele, abriram seus
tesouros e ofereceram-lhe ouro, incenso e mirra.
c) Pelo ouro, reconheceram-no rei; pelo incenso, reconheceram-lhe a divin-
dade; e, pela mirra, prestaram homenagem a sua santa humanidade, que era,
então, passível e mortal.
2. A infância, e a mocidade de Jesus:
a) Passou Jesus os primeiros anos de sua vida com a Virgem Maria, sua Mãe
Santíssima, e São José, seu paternal protetor, a quem auxiliou em seu ofício de
carpinteiro. O Evangelho resume toda a vida familiar de Jesus nestas palavras:
"Ele lhes era submisso". Aos doze anos de idade, assombrou, por sua sabedoria,
os doutores do templo.
b) Aos trinta anos, começou Jesus a pregar o Evangelho em toda a Judéia.
Ele confirmava a verdade de suas palavras por grande número de milagres:
FLOR DO LÁCIO

curava doentes, expulsava demônios, restituía a vista aos cegos, a audição aos
surdos, a palavra aos mudos; ressuscitou o filho da viúva de Naim, a filha do
príncipe da Sinagoga e seu amigo Lázaro, que morrera havia já quatro dias.
Acalmava as tempestades com uma única palavra. Várias vezes alimentou mi-
lhares de pessoas com uns poucos pães e alguns peixinhos, que ele abençoava e
que seus apóstolos distribuíam fartamente ao povo.
3. O amor de Jesus:
a) As palavras de Jesus eram repassadas de doçura, e, suas ações, cheias de
misericórdia. Acolhia benevolamente todos os que iam a ele, sobretudo os en-
fermos, os fracos e os pecadores. "Vim" dizia ele "para salvar os que se
perderam, curar os doentes e reconduzir ao bom caminho os que dele se afasta-
ram". "Não são dizia ainda- "os que gozam de boa saúde que precisam de
médico". Seu coração tinha piedade de todos os desgraçados. "Vinde a mim"
dizia Cristo "vós todos que sofreis, que estais fatigados ou esmagados sob
o peso de vossas misérias: eu vos aliviarei".
b) Ele queria, de maneira especial, às crianças, a quem acolhia e abençoava
com bondade. Tentando seus apóstolos afastá-las um dia, repreendeu-os, dizen-
do: "Deixai vir a mim os pequeninos, pois deles é o reino dos Céus e daqueles
que se assemelham a eles". Sua ternura pelas crianças levava-o a lançar os mais
terríveis anátemas contra aqueles que as escandalizem. "Desgraçado" disse
ele um dia "de quem escandalizar um só desses pequenos que crêem em
mim! Seria melhor para ele que lhe amarrassem ao pescoço a mó de um moi-
nho e o arremessassem ao mar!". "Abstende-vos" repetiu ele noutra ocasião
"de escandalizar um só destes pequenos, pois eu vos declaro que seus anjos
vêem incessantemente a face de meu Pai, que está no Céu". Afirmava Jesus
ainda: "Quem quer que receba uma criancinha como esta, é a mim que recebe,
e, tudo o que se fizer ao menor desses pequenos, é a mim mesmo que se fará".
4. O sacramento da eucaristia:
a) Não se contentou Jesus Cristo com instruir os homens na sua doutrina e
em induzi-los ao bem com seus exemplos. Quis dar excelsa prova de amor aos
homens, de quem dizia, segundo reza a Escritura: "Minha alegria é estar entre
os filhos dos homens".
b) Assim, durante a Santa Ceia, instituiu o sacramento da eucaristia, pro-
ferindo as palavras: "Este pão é minha carne e este vinho é meu sangue. Por
este sacramento de amor, fez-se ele não somente nosso alimento, mas também
companheiro de nossa peregrinação na terra. Deste modo, Jesus se acha sempre
entre nós, no augusto sacrário de nossos corações.
5. Paixão e morte de Jesus Cristo:
a) No Horto da Oliveiras, antes de ser entregue por Judas Iscariote aos sa-
cerdotes do templo, Jesus, distanciando-se de seus apóstolos, sofreu a agonia da
A NARRAÇÃO

morte. Pediu ao Pai Celeste que afastasse o cálice da Paixão, mas, por fim, disse:
"Que vossa vontade seja feita, e não a minha". Preso e julgado, fizeram-lhe os
judeus sofrer os mais atrozes tormentos e, depois, o crucificaram cruelmente,
entre dois ladrões. Quando Jesus foi, entre chufas de incréus, erguido na cruz,
com os pés e as mãos transpassados por enormes cravos, orou por seus carras-
cos, dizendo: "Perdoai-lhes, Pai, porque eles não sabem o que fazem!".
b) Cerca de três horas da tarde, expirou Jesus. O céu enfarruscou-se, escure-
ceu; raios fuzilaram, ribombaram trovões, tremeu a terra e os mortos saíram de
seus túmulos, encaminhando-se, em tétrica procissão, para a cidade envolvida
em trevas ... Desceram Jesus da cruz e colocaram-no num sepulcro escavado
na rocha, cuja entrada foi fechada com enorme pedra, que os judeus selaram.
Sentinelas foram postadas junto à sepultura.
6. A ressurreição:
a) Três dias após, ele saiu, envolto num clarão ofuscante, do sepulcro, vivo
e glorioso, vencedor da morte e do Inferno. Apareceu primeiramente às santas
mulheres, depois aos apóstolos, aos quais anunciou a vinda do Espírito Santo,
e finalmente, a vários de seus discípulos, a fim de confirmar-lhes a verdade de
sua ressurreição.
b) Depois de ter permanecido, assim, durante quarenta dias na terra, Jesus
ascendeu ao Céu, em presença dum grande número de discípulos, cuja fé ele
quis consolidar, fazendo-lhes testemunhar tão portentoso milagre.
c) Agora, ele se acha à direita do Padre Eterno; mas voltará de novo, no fim
do mundo, revestido de imensa glória e imensa majestade, para o julgamento
final de todos os homens.

10) O descobrimento da América: Suponha o aluno que fazia parte da tri-


pulação de uma das caravelas de Cristóvão Colombo. Escreva uma historieta,
empregando:
ASSUNTO FORMA SENTIMENTO

1. O navio em que você está Narrativa descritiva Curiosidade


2. A armada a navegar Ações num quadro Beleza
3. Boatos de amotinação Narrativa com conversação Recreio
4. A maruja em vias de Narrativa descritiva Cólera
amotinar-se
5. Colombo apazigua os Narrativa com retrato Energia
amotinados
6. O descobrimento da América Narrativa emocionante Alegria
FLOR DO LÁCIO

11) O descobrimento do Brasil: Desejando emprestar aparato descomunal


às cerimônias da partida da frota de Pedro Álvares Cabral, o Rei Dom Manuel,
de Portugal, mandou celebrar solenes ofícios na capela do mosteiro de Belém,
às quais assistiram os nobres da corte e grande massa popular. O Bispo Dom
Ortiz, que proferiu eloqüente sermão, benzeu o estandarte real, assim como o
chapéu de almirante, que o próprio rei colocou na cabeça do comandante-chefe
da esquadra. Em seguida, seguiram todos, em cortejo, para o cais, entre aclama-
çóes do povo. A frota, composta de doze navios, rumou para o sul, costeando, a
princípio, a África, mas, logo se voltou para o Ocidente e, depois, tomou a di-
reção de sudoeste, retardada em sua marcha pelas calmarias da zona equatorial
e pelas correntes oceânicas. Dentro de pouco tempo, apareceram os primeiros
sinais de terra próxima: aves, plantas marinhas etc. Logo se avistou um monte,
a que se deu o nome de "Monte Pascoal". Distinguiu-se, a seguir, toda a sombra
da costa, que se alongava no horizonte.

Composições parciais:
ASSUNTO FORMA SENTIMENTO
1. As cerimônias da partida Narrativa descritiva Religiosidade
2. O cortejo Grupos em ação Entusiasmo
3. A frota a navegar Ações num quadro Beleza
4. O descobrimento Narrativa emocionante Alegria

12) O Anhangüera:
1. Bartolomeu Bueno foi, certa vez, como chefe de uma bandeira, rumo
a Goiás, varando solidões e sofrendo privações. Chegando perto de enorme
árvore, fez alto. Ali acampou a bandeira. À noite, desabou terrível tormenta.
2. Na manhã seguinte, que surgiu radiosa, despertaram os homens, molha-
dos e seminus, no meio do álacre alarido dos macacos e do musical chilreio da
passarada. Ergueram-se, indagaram da altura e reencetaram a marcha, através
da espessura da mata verde.
3. De repente, silvou uma seta emplumada e rodeou-os uma feroz tribo de
selvagens. Espoucaram tiros, travou-se a luta. A chusma de indígenas formou
apertado cerco. Tombaram homens, feridos ou mortos, e Bartolomeu foi feito
prisioneiro.
4. Vendo um barril de aguardente, lançou-lhe fogo o duro bandeirante.
Logo irromperam, serpeando no ar, grandes línguas de fogo, aparecendo, atrás
das chamas azuladas, a figura do herói. Tomados de pavor, e julgando que o
herói tinha o poder de inflamar a água, gritaram os silvícolas: "Anhangüera!
Anhangüera!". Explicar o sentido desta palavra.
A NARRAÇÃO

13) O caçador de esmeraldas:


1. Fernão Dias Pais Leme sonhava com as grandes riquezas ocultas nos ser-
tóes de Minas: rios de pedras preciosas, rolando, fulgurantes; montanhas de
pedras verdes. Decidiu-se a ir procurá-las. Juntou um bando de companheiros
resolutos e empreendeu a aventura.
2. Eram mais de quinhentos homens, habituados à vida rude e às inclemên-
cias do tempo, que se alimentavam de frutas silvestres, cascas de árvores, sapos,
lagartos e cobras. Quando não encontravam água, bebiam sangue de animais.
Não temiam feras nem canibais, e falavam o idioma de várias tribos.
3. Iniciaram a marcha; enquanto caminhavam, de luta em luta, batalhando,
sob as ordens de Fernão Dias, contra as febres e contra os índios, iam semeando
cidades nos arredores do Rio São Francisco e acumulando, ano após ano, quan-
tidades fabulosas de arrobas de ouro em pó e de enormes diamantes.
4. Quanto às sonhadas pedras verdes, colhera o velho chefe algumas, que
guardava ciosamente numa sacola de couro. Mas os últimos dez anos de vida
tinham alquebrado o corpo de Fernão Dias, que, tendo enriquecido os seus
homens e fixado várias famílias nas povoações por ele fundadas, se retirou para
a florescente aldeia de Guaicuí, onde morreu serenamente.

II

Como se estivesse presente aos acontecimentos, faça o aluno, depois de or-


ganizar um plano de composição - com suas variadas formas e indicação dos
sentimentos-, uma narração que tenha por assunto:
a. A Batalha dos Guararapes
b. A Revolta de Beckman
c. A Conjuração Mineira
d. A morte de Tiradentes
e. A transmigração da família real de Bragança para o Brasil
f. A Proclamação da Independência
g. A Batalha do Riachuelo
h. A abolição da escravatura
i. A Proclamação da República
j. A chegada triunfal da Força Expedicionária Brasileira
FLOR DO LÁCIO

III

Concatene o aluno, numa narração variada, que apresente interesse, os se-


guintes contos, lendas e romances:
a. Branca de Neve e os sete anões
b. A Gata Borralheira
c. O Pequeno Polegar
d. O Patinho Feio
e. A Bela e a Fera
f. O Pássaro Azul
g. A lenda da carnaubeira
h. A lenda da mandioca
i. O negrinho do pastoreio
j. A Onça e o Gato
k. A mãe-d' água
l. A mochila de ouro
m. O sino de ouro (Júlia Lopes de Almeida)
n. O Caapora
o. A ilha do tesouro
p. Gáliver em Liliput
q. O Macaco e o Coelho (Contos populares do Brasil, de Sílvio Romero)
r. Jeca Tatu (Monteiro Lobato)
s. Narizinho Arrebitado (Idem)
t. Robinson Crusoé

IV

Faça o aluno uma narração bem composta, que resuma os seguintes romances:
a. A moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo
b. O guarani, de José de Alencar
e. Iracema, do mesmo autor
d. Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães
e. O matuto, de Franklin Távora
f Inocência, de Escragnolle Taunay
g. Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis
h. Quincas Borba, do mesmo autor
i. Dom Casmurro, do mesmo autor
j. O Sargento Pedro, de Xavier Marques
A NARRAÇÃO

k. A conquista, de Coelho Neto


1. A casa verde, de Júlia Lopes de Almeida
m. A Amazônia misteriosa, de Gastão Cruls
n. Dois metros e cinco, de Cardoso de Oliveira
o. A filha do inca, de Menotti Del Picchia
p. Marília, a noiva da Iconfidência, de Orestes Rosolia.

V
CONTOS E NOVELAS
(Exercícios de composição e de imaginação)

Utilizando-se de diferentes tipos de narrativas, a fim de emprestar variedade


e movimento ao assunto, desenvolva e complete, em forma de conto ou de no-
vela (podendo imaginar e criar, à vontade, maior número de personagens e de
episódios), os seguintes temas e sumários, sem deixar, todavia, de obedecer aos
princípios que regem a composição duma narração:

1) Rute e Booz:
1. No dia de seu casamento, Booz, deixando por alguns momentos a com-
panhia da noiva, encaminha-se devagar para a larga porta de sua rica mansão
rural, toda adornada para a festa nupcial; enquanto vai andando, dirige amáveis
palavras aos convidados, que, aos grupos, conversam alacremente, saboreando
guloseimas e bebidas servidas por escravos. Detém-se no pórtico e-alonga para
o claro panorama, que dali se descortina, um olhar lento e circular, observando
sonhadoramente sua vasta e florescente propriedade: olivais, moinhos, poma-
res, rebanhos, queijarias e os verdes trigais onde encontrara Rute, a gentil e for-
mosa jovem a quem acabara de desposar e a quem mal conhece ainda, embora
experimente a intensa impressão de que a ama desde o início dos séculos. O
sol poente parece repousar no dorso aveludado das montanhas distantes e seus
tépidos raios revestem dum halo dourado a alta figura de Booz, iluminando-lhe
os olhos com um suave brilho de ternura e encantamento.
2. Certa ocasião, afirmara Rute a Noemi, sua sogra: "Meu há de ser o Deus
de meu marido e meu, também, o seu povo". Com o decorrer do tempo, no
entanto, seu mimoso rosto, de começo prazenteiro no meio da agradável rotina
dos afazeres domésticos, ensombrava-se de vez em quando e deixava transpa-
recer profunda melancolia. Booz notou, consternado, a transformação e in-
terpelou-a carinhosamente: "Eras até há pouco tão jovial, minha bem-amada
Rute; que tens, agora, a pesar-te no coração? Não te sentes feliz nesta casa?".
FLOR DO LÁCIO

Ela, porém, lhe respondeu tristemente: "Sou imensamente feliz contigo, Booz;
entretanto, um dia há de vir em que seremos ainda mais venturosos, quan-
do formos, tu e eu, para minha maravilhosa pátria". "É isto, então? Dize-me,
querida Rute, tu, cujo doce nome significa 'amizade e beleza', tu, cujo nome
me faz vibrar sonoramente, como às cordas duma harpa, as fibras do coração;
dize-me, ó alma de minha alma, onde fica tua esplêndida pátria, pois também
será a minha e para lá seguiremos imediatamente, como é de tua vontade".
Rute, porém, replicou, passando-lhe amorosamente a mão pelo rosto: "Não te
apresses nem te amofines, Booz; para lá havemos de voltar, mas, por enquanto,
muito ainda temos que fazer aqui, nesta terra". Booz saiu, desconsolado, para o
pátio empedrado, onde Noemi, sentada num banco de ônix, se aquecia ao sol
e, após beijar-lhe reverentemente a fronte, disse-lhe: "Creio, senhora, que Rute,
a minha princesinha das flores, está sofrendo, mortalmente, de saudades de sua
pátria e de seus parentes, que não conhecemos".
3. A presença de Rute na herdade fora como que uma fecunda bênção do
Céu; desde que ali se instalara como senhora, tudo corria às mil maravilhas:
havia mais bondade e alegria entre os seres humanos; a seiva da terra irrompia
abundantemente em frutos suculentos; o gado, nédio e sadio, ia cada mês reco-
brindo crescentes extensões de pastagens; os regatos fertilizantes pareciam rolar
maior volume de águas cristalinas e puras; e os próprios servos, bem alimenta-
dos, entregavam-se, com excepcional ardor produtivo, às lides do campo. Booz
sentia, no coração e na alma, a inefável influência espiritual da esposa: de duro
e intransigente que fora, em seus tempos de solteiro, tornara-se compassivo e
compreensivo, meigo e generoso, "porquanto" dizia ele consigo "não
devo ser, neste mundo, senão um irmão afetuoso de todos os homens, peque-
ninos ou grandes". E acrescentava: "Será alucinação? Quando, pensando em
Rute, pratico uma boa ação (e julgo que as tenho praticado em quantidade,
ultimamente, visto como não me é possível deixar de pensar em Rute sequer
um instante de minha vida), parece-me vislumbrar, em volta de mim, alvas e
dançantes sombras, como se anjos tentassem comunicar-se comigo.
4. Certa feita, tendo permanecido na senzala, até a desoras, a tratar, com
solicitude e desvelo, dum escravo doente, Booz regressa a casa, extremamente
cansado, mas tranqüilo e feliz. Caminhando no escuro da noite avançada, sob a
cintilação argêntea das altas estrelas, pela antiga senda orlada de negras árvores,
ele experimenta, de súbito, a sensação quase material de que doces sussurros o
acompanham, como que procurando falar-lhe, e ondas de inebriantes perfumes
o envolvem. Ao chegar a sua residência, mergulhada em densas trevas, bate-lhe
o coração, aceleradamente, como à aproximação dum mistério sagrado. Abre
a porta e entra cuidadosamente na ponta dos pés, a fim de não despertar nem

570
A NARRAÇÃO

assustar os que dormem; tudo está envolto em quietude e silêncio. Atravessa as


salas, evitando chocar-se com os móveis, galga lentamente os degraus da esca-
daria, cruza um largo corredor e penetra, muito devagar, na câmara conjugal. E,
então, pára, assombrado, ante o quadro celestial: sua adorada esposa, transfigu-
rada, imensamente bela e nimbada por deslumbrante resplendor, está orando,
genuflexa e de mãos postas, erguidas para o alto como um lírio vivo, com a face
iluminada por uma luz interior divina e a cabeça coroada por um diadema de
gemas fulgurantes! "Rute! Rute!" exclama ele em pranto, ofuscado e atiran-
do-se de bruços ao assoalho, como que fulminado pela sublime visão. - "Tu,
um arcanjo do Senhor... ".
(Continuar e rematar).

2) O remorso de Ulisses:
1. Sentado placidamente à sombra de enorme figueira, carregada de frutos
maduros, não muito longe da hospitaleira cabana de Eumeu, seu fiel pastor e
amigo, o grande e astuto Ulisses, acompanhando com olhar distraído as evolu-
çóes duma lagarta esverdinhada, que rasteja sobre a superfície polida e averme-
lhada duma pedra, saboreia a pequenos goles uma taça de vinho adoçado com
mel. Já encanecido e um tanto gordo, começa a enfadar-se da rotina e da vida
calma que leva em Ítaca, ao lado de sua esposa Penélope e de seu filho Telêma-
co; sente necessidade de aventuras, de emoções fortes e de alegrias inesperadas,
como as que usufruíra, quando, fazendo-se passar por mercador, a fim de me-
lhor procurar o herói invulnerável, viu o jovem Aquiles, vestido de mulher, por
determinação de sua mãe Tétis, e vivendo, assim disfarçado, entre as filhas do
Rei Licômedes, trair-se involuntariamente e revelar-se, ao escolher entusiasti-
camente uma bonita espada, escondida capciosamente entre as jóias que ele,
Ulisses, oferecia às moças; depois, quando concebeu a idéia de construir o des-
comunal cavalo de madeira, em cujo bojo se ocultaram os feras guerreiros que
iriam incendiar e destruir Tróia; depois, ainda, quando se deu a conhecer, com
o nome de Ninguém, ao gigante Polifemo, a quem cegou com um tição aceso,
após tê-lo embriagado, e de cuja cólera conseguiu escapar, graças a seu ardil; em
seguida, quando viu seus infortunados companheiros serem metamorfoseados
em porcos, por artes mágicas da lindíssima e cruel feiticeira Circe, e destinados
a servirem de horrendo repasto às feras de seu palácio encantado; e, enfim,
quando, em duro e terrível combate, vencera e matara os pretendentes, que lhe
cobiçavam a esposa, o trono e as riquezas. Estremeceu, porém, de horror, ao
relembrar a morte do pequenino Astíanax, filho de Heitor, cuja cabecinha alou-
rada ele, Ulisses, esmigalhara, agarrando impiedosamente a criança por uma
perna e projetando-a com violência, apesar de seus gritos espavoridos, do alto

571
FLOR DO LÁCIO

das muralhas de Tróia em chamas. Para cometer tão inútil quão nefando crime,
era preciso que os deuses adversos o tivessem momentaneamente privado da
lucidez de espírito e da razão. Não tinha ele, naquele tempo, um filhinho, lá no
lar discante, tão distante, que lhe parecera, então, quase irreal? Ulisses evoca,
num arrepio, a trágica e dolorosa figura de Hécuba, mãe de tantos filhos sacrifi-
cados na guerra e avó da criança assassinada, que, em voz estridente e profética,
o amaldiçoara, entre jorros de lágrimas: "Tu também, ó torpe, sangüinário e
monstruoso grego de negras barbas, morrerás, mais cedo do que esperas, de
morte brutal e será uma criança quem te arrebentará o crânio, aqui, neste mes-
mo lugar!". Ulisses passa a mão pela fronte, onde poreja viscoso suor, tentando
afugentar a horripilante visão.
2. Por muitas e tristes noites, Ulisses, depois de mergulhar, agitado, num
sono povoado de espectros, acorda subitamente aos gritos, todo palpitante, ate-
nazado por espantoso pesadelo, que é sempre o mesmo e que atinge ao paroxis-
mo do horror: sua pequena vítima, ascendendo das atras profundezas do Érebo,
põe-se a ficá-lo nos olhos, amarguradamente, mostrando-lhe o crânio aberto,
donde escorrem pedaços sangrentos de cérebro, e clamando por vingança às
Erínias, que acorrem, pressurosas, e que, perseguindo implacavelmente o assas-
sino, o torturam, aos guinchos, com suas afiadas unhas, esforçando-se, depois,
por arremessá-lo do alto dum rochedo. Que fazer, para recuperar a serenidade
e a alegria de viver? Ulisses medica longamente e ergue fervorosa prece a sua
divindade protetora, rogando-lhe que o inspire e lhe aponte o caminho a seguir.
Um dia, como se fosse a manifestação duma vontade superior, sobrevém-lhe o
desejo de retornar às ruínas carbonizadas de Tróia, com o fim de apaziguar, por
meio de ricas oferendas e sacrifícios, o espírito conturbado e encolerizado do
infante morto. Confia seu projeto a Eumeu, que o aprova e lhe pede permissão
para acompanhá-lo.
3. Na manhã seguinte, comam ambos de machados, embrenham-se na fo-
resta e, sem perda de tempo, lançam-se energicamente à obra, abatendo, por
dias e dias sucessivos, as mais belas e portentosas árvores, desbastando-as dos
ramos e galhos, aplainando-as, ajustando-as e arrastando-as, com esforço, para
a praia, onde, de imediato, iniciam a construção de sólido e veloz barco. Quan-
do interrompem a longa e árdua tarefa, para breve e reparador descanso, ali-
mentam-se de favos de mel, ovos, frutas silvestres e água da fonte; à noite, perto
duma fogueira crepitante, aquecem-se e conversam amistosamente, recordando
amenos fatos do passado, antes que o sono lhes pese nas pálpebras. A consciên-
cia de Ulisses parece mais leve e clara, pois já consegue dormir tranqüilamente;
talvez Ascíanax lhe tenha perdoado.
4. Corre o tempo, os dias se encurtam e as noites são mais frias. O navio
vai, rapidamente, comando forma, graças ao auxílio dos sátiros, que, saindo do

57 2
A NARRAÇÃO

recesso da mata, se aproximam cautelosamente, impelidos pela curiosidade,


e se põem a apreciar a atividade dos dois homens. Logo, mais familiarizados,
indagam do caráter e finalidade da obra, e, reconhecendo num dos mortais o
soberano da ilha, oferecem-lhe os préstimos, começando por carregar a ma-
deira necessária, facilitando o trabalho a Ulisses, que os anima, prometendo
recompensá-los. Eles mesmos levantam os pesados mastros, batem a quilha,
ajustam as velas, armam a barra de direção e o leme; terminado, enfim, o bar-
co, empurram-no para a água e amarram-no solidamente a uma estaca. Ulis-
ses e Eumeu, após presentearem generosamente os homens caprípedes, vão a
um templo vizinho consultar um oráculo, e, porque os vaticínios se prestem,
por ambíguos, a variadas e diferentes interpretações, optam, como é natural e
humano, pela mais propícia, resolvendo embarcar imediatamente. Fazem-se
os derradeiros aprestas; acumulam-se, no bojo da embarcação, provisões, re-
des de pescar, utensílios indispensáveis e armas. Despede-se Ulisses da esposa
chorosa e do filho, fazendo-lhes sensatas recomendações, atinentes à rotina de
vida durante sua ausência, que tanto pode ser curta, como longa ou eterna;
prevalecendo-se, enfim, dos ventos favoráveis, distende as velas e faz-se ao mar,
para seguir, ao inverso, o mesmo roteiro de anos atrás, quando procurava an-
siosamente, perseguido por Vênus, o caminho marítimo para sua pátria, fugidia
como uma miragem.
5. Descamba o sol no Ocidente, descaem as sombras da noite, refresca-se o
ar, aquieta-se a natureza e cintilam no firmamento miríades de estrelas. O navio
sulca serenamente as águas escuras do mar, a cuja superfície sobem as sereias
de rosto fascinante; suas vozes cristalinas vibram em modulações estonteantes,
num conjunto de harmonias dulcíssimas, que evocam o marulhar das águas
mansas, o encantamento das profundidades oceânicas, a beleza do sol, a doçura
do luar, a magia do amor e as delícias duma vida eterna nas imensidões aquá-
ticas. Enche-se de sons fantásticos a atmosfera tenebrosa e cada maravilhosa
nota musical é um engodo, que atrai irresistivelmente os mortais, para a perda
irreparável. Ulisses, porém, está absorto em tristes cogitaçóes, pensando em
seu miserável destino, e nada ouve; Eumeu é demasiado velho e desprovido de
imaginação. Além disto, acham-se ambos a caminho de séria missão, de cuja
realização depende a paz espiritual de um deles. Vai alta a noite e foi afanoso
o dia. Ulisses boceja, tonto de sono; confia, pois, o governo do navio a seu
fiel amigo, estende-se, com um suspiro, numa fofa pele de leão, sob um toldo
de grosso tecido, e logo adormece ... Daí a pouco, em seu estranho mundo de
sonhos, surge o fantasma de Astíanax, há tanto tempo ausente; Ulisses solta ter-
rível brado de angústia e acorda, banhado de suor, todo trêmulo e fremente. A
seu lado, um menino de rara beleza, iluminando-lhe o rosto agoniado com uma

573
FLOR DO LÁCIO

lanterna, fita-o com olhos rebrilhantes, nos quais perpassa misteriosa expressão
de ironia e crueldade. "Eumeu! Eumeu!" grita Ulisses, num sobressalto.
Quem e este menmno. : ,> ...
(Continuar e rematar).

3) A cruz de fogo:
1. Ao longe, recortavam-se, contra a tênue claridade do crepúsculo, os altos
cumes da Arcádia. Estava calmo o mar e puríssimo o céu; das montanhas, des-
ciam as sombras da noite. O navio singrava as águas mansas e, no tombadilho,
conversavam animadamente, à débil luz das lanternas, passageiros oriundos
de quase todas as nações da terra. Tamos, o piloto de Alexandria, firme no seu
posto, olhos cravados na imensidade líquida, dirigia o barco rumo à Élida, e os
movimentos hábeis e seguros de seus robustos braços pareciam automatizados,
como que decorrentes de longo hábito.
2. De fato, havia mais de vinte anos que percorria os mares, velejando cons-
tantemente para todos os portos do mundo conhecido. Vira, em suas viagens,
coisas surpreendentes e assombrosas: ouvira, nas costas da Sicília, a voz encan-
tada e fascinante das sereias; avistara, flutuando nos nevoeiros, os transparentes
espectros dos marujos mortos, que em vão procuravam seus corpos, devorados
pelos peixes e monstros marinhos; encontrara, por diversas vezes, o navio negro
de Serápis, atulhado de almas, navegando no grande oceano, sem leme, sem
velas e sem remos. Jamais, entretanto, por espantoso que fosse o espetáculo, lhe
tremera o braço, nem fraquejara o coração.
3. De repente, uma voz misteriosa, que não parecia humana e provinha da
praia distante, arrebatou-o aos enlevos do passado e trouxe-o de volta à rea-
lidade, clangorando: "Tamos! Tamos!". Silenciando instantaneamente, ante a
magnitude do estranho fenômeno, os viajantes, estupefatos, afluíram de roldão
para a amurada, tomados de curiosidade e religioso pavor. Tamos, como que
paralisado, nada respondeu, pois se julgava presa dum sonho inconcebível, em
que tudo seria ilusão; mas a voz ressoou de novo, impaciente e autoritária:
"Tamos! Tamos! Tu me ouves?". Então, abandonando a barra da direção e vol-
tando-se para as bandas donde provinha o chamado, Tamos, colocando as mãos
em concha aos lados da boca, gritou estentoricamente: "Estou ouvindo. Que
queres de mim?". "Tamos, escuta! Quero que leves ao mundo a infausta notícia
de que Pá é morto; Pá, o Grande Todo, Pá, a Vida Universal!". E, por três vezes
consecutivas, dolente e soturna, repetiu a voz: "É morto o grande Pá!". Em se-
guida, no universo inteiro no céu, na terra e no mar, explodiu como que
um pungente soluço e logo se ouviu a vibração harmoniosa duma nênia, que se
prolongou, através da noite entristecida, até a madrugada.

574
A NARRAÇÃO

4. Quando cessou o canto fúnebre, horas após, desfez-se o pesado silêncio


dos mortais; um judeu, de alvas e esvoaçantes barbas, principiou, melancoli-
camente, a falar, e suas palavras, de início, lhe brotaram dos lábios murchos
como um murmúrio imperceptível, que se foi elevando gradualmente, até se
tornarem sonoras e nítidas, como a água que jorra das fontes. "Assim, pois,
morreram todos, todos: os deuses da Etrúria, da Fenícia, da Grécia, de Roma
e do Egito. Eram deuses que tinham, embora em grau mais elevado, as qua-
lidades, os defeitos, as paixões e os vícios dos homens, sem possuírem, como
estes, a faculdade do aperfeiçoamento moral e intelectual, apanágio e dignidade
dos mortais; deviam, portanto, desaparecer. Eram simples homens que, pelo
antropomorfismo, se alçaram à categoria de deuses, esquecidos de que não se
cria uma divindade; deviam, portanto, perecer. Eram forças divinizadas da na-
tureza, que a ciência pôde explicar, matando os absurdos seres que as personi-
ficavam. Todos, todos morreram; e Pá, que lhes sobrevivera inexplicavelmente,
acaba também de morrer... ". E erguendo os braços para o céu, arrematou, cla-
mando em voz dolente: "Nós, os simples mortais, ficaríamos lamentavelmente
desamparados ante o mistério do mundo, da vida e da morte, se tu, Deus
verdadeiro e único, não fosses eterno!". Muitos concordaram, acenando com a
cabeça; outros permaneceram de olhos fixos, como que meditando, absortos.
Do meio destes ergueram-se, então, vozes tímidas. "O Olimpo afirmou
de repente um grego imberbe "já não é senão uma triste, majestosa e deso-
lada necrópole. No entanto, quando era vivo, criou um mundo de estranha e
rara beleza, que ressurgirá, certamente, no coração dos poetas da posteridade".
"O Olimpo está morto, bem morto, e nunca mais ressurgirá, se houver uma
justiça imanente na essência das leis que regem o universo" disse amar-
guradamente um escravo gaulês, sentado a um canto escuro. "E isto será
um bem, pois os deuses primavam pela falta de bondade, agindo, no governo
dos mundos, apenas em benefício de suas incomensuráveis vaidades, de suas
repugnantes arbitrariedades, de seus sórdidos prazeres; e de suas tremendas vin-
ganças. "OH! S;um
s murmurou al Iguem. "Z,eus contenanto
d d P 'rometeu
a ser devorado por um abutre". "Diana matando os filhos de Níobe" disse
outro. "Apolo esfolando Marsias acrescentou um terceiro. Os homens de
todo o mundo, reunidos em improvisado tribunal, estavam ali julgando os
deuses falidos, que não tinham sabido conquistar-lhes o amor. "E, então, os
males que eles causaram à humanidade? A guerra de Tróia" ... "Desonraram-se,
por terem conspurcado a dignidade dos homens e a majestade de que nunca
deviam ter descido"."Foi bom, foi muito bom terem todos morrido" disse
um númida "mas a verdade é que ficamos muito sós e abandonados, sem
um único deus compassivo, a quem apelar nos momentos de angústia e de

575
FLOR DO LÁCIO

dor". "A humanidade" -ponderou, então, um egípcio "precisa de um deus


que seja pai de todos; que seja misericordioso, dando-nos forças para afrontar
corajosamente as misérias naturais da vida; que seja a promessa incontestável da
sobrevivência da alma; e que não se esqueça, sobretudo, dos pequeninos e dos
humildes, dos enfermos e dos desgraçados, dos escravos e dos oprimidos ... ".
"Oh! Sim, sim! confirmaram todos. "Este é o deus de que necessitamos;
teremos algum dia um deus assim?". Desceu um silêncio grave sobre aqueles
homens, representantes de todas as raças do mundo, que, naquele dramático
instante, abriam a urna de seus corações, deixando extravasar suas dores, ali-
çóes, anelos e esperanças. Tamos continuava a dirigir o navio, refletindo no
mistério daquela inolvidável noite. De súbito, um clarão sobrenatural inundou
o barco. Perscrutando em torno, no mar circundante, cuja superfície ondulante
rebrilhava como um espelho fosco, ele não pôde reprimir um grito de espanto:
5."Olhem! Olhem!" bradou, alvoroçado, estendendo o braço em dire-
ção a um ponto longínquo do horizonte. Todos se voltaram e contemplaram o
espaço, perplexos e amedrontados. Projetando-se para o sítio onde devia estar
situada a Judéia, fosforeava a jorros, no céu, um flamejante resplendor, irradia-
do por imenso cometa, que se desdobrava ante seus olhos atônitos e assumia a
forma fantástica de uma cruz de fogo ...
(Continuar e rematar).
PARTE IV
Rudimentos de arte literária
Rudimentos de arte literária

C OMPOSIÇÃO literária - Chama-se "composição literária" qualquer traba-


lho, tanto em prosa como em verso, que nos impressione pela forma ou
pelo fundo, isto é, pelo estilo ou pelas idéias.
É o produto de três fatores:
a. Da imaginação, faculdade criadora
b. Do bom-gosto, sentimento vivo e delicado do que é belo ou perfeito
c. Do gênio, que é o conjunto de todas as qualidades morais e intelectuais
suficientes para a produção de um trabalho superior
Mais modestamente, a composição literária é o trabalho clássico que se exige
nas escolas e no qual se deve considerar a correção gramatical e certo cunho
artístico.

Os princípios da composição literária De qualquer natureza que seja


a composição literária, três operações fundamentais são indispensáveis à sua
elaboração:
a. A invenção, que consiste na procura, seleção e arranjo dos fatos, senti-
mentos, idéias e impressões constitutivos de um assunto, o que conseguimos,
recorrendo seja a dotes naturais especiais, como a imaginação, a fecundidade, a
atitude e a justeza, seja ao método, que decorre da reflexão e do raciocínio, seja
ainda à memória, que não só retém e reproduz as idéias, mas também auxilia a
investigação de novos conhecimentos, fornecendo-lhes a matéria-prima.
b. A disposição, ou plano de composição: Fixada a idéia principal que há de
dar unidade à composição, agrupam-se ordenadamente os elementos descriti-
vos ou narrativos em torno das idéias secundárias a que se referem, formando-se

579
FL OR DO LÁCIO

deste modo as partes da composição; estas devem ser ligadas umas às outras
pela transição, de tal maneira que, ficando suavemente enlaçadas entre si, cons-
tituam um conjunto harmonioso.
e. A expressão ou elocução, que consiste no modo de traduzir os pensamen-
tos por via de linguagem escrita ou oral.

Técnica literária e sua aquisição Embora a arte literária exija de quem


a pratique um gosto inato, sua técnica pode ser ensinada de diversos e variados
modos, parecendo-nos, entretanto, que o método mais prático consiste na al-
ternação da explicação de textos com a composição literária.

A explicação de textos explicação de textos analisa o fundo e a forma


de excertos escolhidos, isto é, visa, antes de tudo, à exata compreensão de um
trecho literário e à apreciação estética da forma em que é apresentado, concor-
rendo, destarte, para o desenvolvimento de muitas das chamadas "faculdades
do espírito; entre outras, a observação, o raciocínio, o senso crítico, a preci-
são expressiva e o bom gosto. Revelando-nos, contudo, a arte do escritor, ela
nos indica um caminho, claro e seguro, para a composição artística, através de
exercícios que, partindo da imitação, chegam, ao cabo de certo tempo, à livre
observação, em que poderemos desenvolver temas apresentados pela vida ou
encontrados na natureza.
Segundo este método, aplicar-se-á o professor, em cada explicação de texto,
ao estudo das expressões, do plano de composição, das idéias e dos sentimentos,
não omitindo, entretanto, outras modalidades de exercícios clássicos, suma-
mente eficientes, como o de elocução, de califasia, de vocabulário, de formação
de figuras, de gramática etc., aumentando assim, gradualmente, a capacidade
expressiva do estudante. Esse estudo prepara as observações de composição, de
língua ou de estilo, que devem ser aplicados à redação literária, de modo que o
estudante não tenha de fazer descrições ou narrativas, sem adquirir previamente
os necessários recursos de expressão.

A crítica A crítica consiste em apreciar o mérito das obras, costumes e


opiniões alheias, interessando-nos aqui a que se refere à arte literária.
Outrora puramente teórica, a crítica literária limitava-se a observar a con-
cordância entre as produções artísticas e as regras tradicionais de Aristóteles,
de Horácio ou de Boileau; no século XIX, ela se torna histórica e observa a
concordância entre as obras e o meio, procurando demonstrar que a literatura é
a "expressão da sociedade". Tornando-se mais tarde psicológica, ela exige atual-
mente, de quem a pratica, uma erudição exata, a par de vasta cultura.
RUDI M EN TOS DE ARTE LI TERÁRIA

Formas de composição -A composição literária só pode ter duas formas:


a. A prosa, que é semelhante à linguagem das pessoas cultas e que, não sendo
submetida a nenhuma sujeição métrica, é um modo de dizer corrente e solto,
que depende mais da reflexão.
b. O verso, que é a dicção poética sujeita a certa medida cadenciada e musi-
cal, linguagem própria dos produtos da imaginação.

A versificação A versificação ensina a construir os versos; ela tem por


auxiliar a metrificação, que, no estudo da formação orgânica do verso, se ocupa
da parte prosódica da língua, relativamente ao número de sílabas poéticas e aos
acentos.

As sílabas poéticas A contagem do número de sílabas dum verso pode


concordar com a das sílabas gramaticais, como no seguinte verso decassílabo:
Be lo sol des pon tou no céu a azul
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

No seguinte, porém, desaparece essa concordância, porque é de regra con-


tar-se apenas até a última sílaba tônica do verso: e a última palavra é, aqui,
paroxítona, não se lhe contando, pois, a última sílaba:
Be lo sol des pon tou no céu for mo so
1 2 3 4 5 6 7 8 9 1O

Muitas vezes, efetua-se de modo diferente a contagem, pois a vogal final


duma palavra se ditonga com a sílaba inicial da palavra seguinte, desde que esta
comece por vogal ou "m":
Tu pa ra mim, que ri da, tu do nes te mun do
és
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Na 7 sílaba poética, "da" se fundiu com "és". A esta fusão dá-se o nome de
« • + )9
smerese .
Note-se, contudo, que um ditongo, sempre contado, gramaticalmente,
como uma sílaba, pode, no verso, desdobrar-se em duas, como neste verso de
dez sílabas em que "saudosos" se conta como tendo quatro sílabas:
Nos sa u do SOS cam pos do Mon de go
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
FLOR DO LÁCIO

O ditongo "au, de "saudosos", desdobra-se em duas sílabas. A este desdo-


bramento dá-se o nome de "diérese".

Espécies de versos Há versos de uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete,
oito, nove, dez, onze e doze sílabas; alguns poetas chegaram mesmo a fazê-los
maiores (vide, por exemplo, "Biografia", de Mário da Silva Brito).

Os de uma, duas e três sílabas são pouco usados.

De quatro:
Doces despojos
Tão bem guardados...

De cinco:
Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida.
Viver é lutar!

De seis:
Cruel morte que vens
Buscar esta inocente...

De sete:
Ruth, a vida nos ensina
Que se vence a própria dor
Com um sorriso encantador. ..
Sorria sempre, menina!...

De oito:
Tu, caro amor, doce instrumento...

De nove:
O guerreiro da taba sagrada!
De dez:
Largo oceano azul, ora margeando
Campina extensa, ora frondosa mata,
Léguas e léguas marulhoso e brando,
O rio enorme todo o céu retrata.
RUDI M EN TOS DE ARTE LI TERÁRIA

De onze:
Olhos encantados, olhos cor do mar.
Olhos pensativos que fazeis sonhar!

De doze:
Todo o dia, ao ardor de minha alma angustiada,
Clamei, ébrio de luz, por ti, ó Bem-Amada!

Os versos de cinco sílabas são também chamados de "redondilha menor".


Os de sete são também chamados de "redondilha maior".
O de doze é chamado "alexandrino, quando a 6 sílaba é acentuada e o
verso se divide em dois versos de seis sílabas, cada um dos quais constitui um
"hemistíquio".

Acentos Os versos de cinco sílabas têm acentos predominantes ordina-


riamente na 2ou 3e na 5a,
Os de seis, na 2, na 4e na 6; ou só na 6.
Os de sete, na 3e na 7, podendo tê-los na 2e na 4.
Os de oito, na 4e 8; ou na 2+, 5e 8.
Os de nove, na 33, 6°e 9+; ou na 4°e 9a.
Os de dez na 6e 10; ou na 4e 10; ou ainda na 4+, 8e 10+; ou em todas
as sílabas pares.
Os de onze, na 5e 11; ou na 2+, 5+, 8e 11a
Os de doze compõem-se de dois versos de seis sílabas, cada um dos quais
tem o nome de "hemistíquio". A pausa entre um e outro hemistíquio se deno-

mina ,, cesura'' ou '' corte '' .

Quando o primeiro hemistíquio terminar em palavra paroxítona, esta deve


finalizar por vogal, que terá de formar sinérese com a vogal inicial da palavra
seguinte: Exemplo:

Seguindo o meu caminho, olhos fixos no norte,


Numa imensa tristeza, esquálido e arquejante,
Eu levo na retina a ardente e deslumbrante,
Imagem deste amor, que é mais forte que a morte!

O verso alexandrino deve seu nome ao troveiro Alexandre Bernay, poeta


francês do século xn.

O enjambement Diz-se que há "enjambement quando o sentido dum


verso termina no verso seguinte:
FL OR DO LÁCIO

Sobre as asas pairando, as naus entram na lenta


Marcha de aves do mar, que chegam fatigadas.

A rim a Os versos podem ser:


a. Brancos, quando não estão presos pela igualdade de sons
b. Rimados, quando apresentam correspondência de sons
Os versos rimados dividem-se:
a. Em monorrimos, quando são iguais as rimas de todos os versos duma
composição
b. Em emparelhados, quando rimam dois a dois ou três a três consecutiva-
mente
c. Em cruzados, quando aparecem alternados, um a um, com outros de rima
diferente
d. Em interpolados, que são aqueles cuja prisão rímica é quebrada por dois
ou mais de rima diferente:

Vão as serenas águas


Do Mondego descendo,
E mansamente até ao mar não param,
Por onde as minhas mágoas
Pouco a pouco crescendo,
Para nunca acabar se começaram.

e. Em encadeados, quando a rima aparece no fim de um verso e no meio do


seguinte:

Era no outono quando a imagem tua


À luz da lua sedutora eu vi.
Lembras-te ainda nesta noite, Elisa,
Que doce brisa suspirava ali?

Qualidades da rima - As rimas podem ser pobres, ricas, consoantes ou


toantes.
São pobres as que repetem palavras da mesma categoria gramatical (dois
adjetivos, dois particípios, dois verbos no mesmo tempo ou pessoa etc.) ou sons
muito comuns, como "parada, estrada, amada", "vão, coração, amplidão" etc.
São ricas, quando inesperadas ou formadas de palavras de categoria gramati-
cal diferente: "Bondade, há-de"; "face, amasse"; "estrela, vê-la" etc.
São consoantes, quando se fazem com sílabas perfeitamente iguais no tim-
bre. Nelas há perfeita correspondência dos sons finais, contados desde o último
RUDI M EN TOS DE ARTE LI TERÁRIA

acento predominante para o fim: "Armada, estrada", "face, enlace", "estrela,


recebê-la".
São toantes, quando se fazem apenas com a tônica ou com a vogal átona da
última sílaba:

Quando vens, faustoso dia,


Entre nós raiar, feliz?
Vemos em Pedro II
A ventura do Brasil.

Grupos de versos Os grupos de versos têm os seguintes nomes:


De dois versos: dístico
De três: terceto
De quatro: quadra ou quarteto
De cinco: quintilha
De seis: sextilha
De oito: oitava
De dez: décima

Gêneros literários Os assuntos literários pertencem a três tipos prin-


cipais, cujo estudo é feito noutras páginas deste compêndio. São: a descrição,
a narração e a dissertação, que geralmente aparecem combinados nas obras
literárias. Cada um desses gêneros pode ser desenvolvido em prosa ou em verso.

1) Gêneros em prosa: Os gêneros da prosa são:


a. O narrativo, que compreende a história, o conto, a novela e o romance
b. O epistolar, constituído pelas cartas
c. O didático, formado pelas obras destinadas ao ensino e, literariamente, pela
descrição, pelo ensaio, pela crítica, pelo jornalismo e pelas obras dos moralistas
d. O oratório, que compreende os discursos, sermões, panegíricos, homilias, etc.
e. O teatral, que abrange as produções destinadas à cena (drama, comédia etc.)

2) Gêneros em versos: Seis são os gêneros da poesia:


a. Poesia lírica: de caráter pessoal, subjetivo, ela se distribui em odes, diti-
rambos, elegias, cantatas, coros e canções
b. Poesia épica: encontra-se nas epopéias, longos poemas em que se exaltam
os grandes feitos dum herói ( Os lusíadas)
e. Poesia dramática: destina-se a ser representada no teatro (tragédia, comédia)
d. Poesia didática: compreende os poemas didáticos, descrições em verso,
epístolas, sátiras e fábulas
FLOR DO LÁCIO

e. Poesia pastoral ou bucólica: pinta quadros da vida dos campos. Com-


preende o idílio e a égloga
f. Poesias fugitivas: são composições simples e curtas, destinadas a pôr em
relevo um pensamento elevado, um traço satírico, uma idéia grandiosa, um
aspecto pinturesco. As principais espécies de tais poesias são o soneto, o triolé,
a balada, o madrigal e o epigrama

O idílio É um pequeno poema, quase sempre amoroso, do gênero bucó-


lico ou pastoral: os ldlios de Teócrito.

A égloga É um pequeno poema pastoral.

O soneto O soneto teve como inventor o poeta italiano do século XII,


Giacomo de Lentini. Antes era apenas a letra de uma melodia, como a própria
palavra indica; depois, passou a ser considerado poesia, como é hoje. Cultiva-
ram-no Petrarca, Sá de Miranda, que o levou da Itália para Portugal, e até o
grande Camões. É formado de dois quartetos e dois tercetos. Quanto à estrutu-
ra, o soneto deve conter nos quartetos uma espécie de apresentação do assunto;
no primeiro terceto, uma síntese rigorosa dos dois quartetos, uma elevação do
pensamento. O terceto final deve ser como uma chave de ouro do soneto.
É permitido ao poeta acrescentar mais um terceto, com rimas e metros dife-
rentes, chamado "estrambote".

O triolé É uma curta poesia de oito versos, geralmente octossílabos, so-


bre duas rimas, e onde o primeiro, o quarto e o sétimo versos são os mesmos, e
onde o segundo é repetido no oitavo.

A balada É um poema composto de três oitavas ou crês décimas, com as


mesmas rimas e o mesmo verso final, seguidas de uma meia estrofe (quadrada
ou quintilha), chamada "oferta" ou "ofertório, na qual as rimas e o último
verso das oitavas ou décimas se repetem.

O madrigal E um pensamento fino, terno e galante, encerrado num


pequeno número de versos.

Epigrama É uma poesia breve e satírica.

O estilo O estilo, que é a maneira pessoal de escrever, de exprimir o


pensamento, classifica-se pelos gêneros literários, tornando-se, então, poético
(épico, lírico, dramático) ou prosaico (didático, narrativo, oratório).
RUDI M EN TOS DE ARTE LI TERÁRIA

O estilo pode, ainda, ser considerado quanto à qualidade e quanto à quan-


tidade.

1) O estilo quanto à qualidade: Quanto à qualidade, ele pode ser:


a. Simples, quando emprega palavras singelas, familiares e desafetadas; é
próprio das obras didáticas e visa unicamente à clareza
b. Temperado, quando, mais ornado do que o estilo simples, procura reves-
tir-se de elegância e usa moderadamente das figuras; é próprio dos trabalhos
históricos ou narrativos, e visa não só à clareza, mas ainda ao agrado, ao deleite
c. Sublime, quando emprega expressões vivas, veementes e pomposas; é pró-
prio dos discursos oratórios e das poesias épicas, visando, além da clareza e do
deleite, à persuasão
O estilo poderá ser ainda, de acordo com as particularidades que apresentar,
espirituoso, humorístico, cômico, epistolar, acadêmico, parlamentar, forense etc.

2) 0 estilo quanto à quantidade: Quanto à quantidade na expressão, o estilo


pode ser:
a. Preciso ou ático, quando as palavras correspondem com exatidão às idéias
b. Conciso ou lacônico, quando uma palavra, sugestiva ou vigorosa, corres-
ponde a mais de uma idéia
c. Redundante ou asiático, quando a uma idéia correspondem muitas e em-
poladas palavras
d. Médio ou ródio, quando ocupa a posição média entre o preciso e o re-
dundante
Note-se ainda que, relativamente à história, o estilo se classifica pelas cor-
rentes e escolas literárias que em diversas épocas têm dominado nossa língua
(medieval, quinhentista, gongórico, arcádico, romântico, ultra-romântico, rea-
lista, contemporâneo etc.).

Qualidades do estilo - Estas qualidades dividem-se em gerais e especiais.

1) Gerais: São qualidades gerais:


a. A correção, que consiste em escrever de acordo com os ensinamentos da
gramática. Defeito correspondente: a incorreção
b. A nobreza, que consiste na proscrição dos plebeísmos e das expressões
vulgares. Defeito correspondente: o aviltamento
c. A precisão, que consiste em exprimir as idéias por palavras apropriadas.
Defeito correspondente: a impropriedade
d. A naturalidade, que consiste em procurar escrever sem rebuscamentos de
expressões, nem construções arrevesadas. Defeito correspondente: a afetação
FLOR DO LÁCIO

e. A clareza, que torna um escrito compreendido de toda a gente. Defeito


correspondente: a obscuridade
f. A concisão, que consiste no emprego das palavras estritamente indispen-
sáveis à expressão do pensamento, sem que se prejudique a clareza do escrito.
Defeito correspondente: a prolixidade
g. A harmonia, que resulta do bom arranjo das palavras na proposição e das
proposições no período, de tal forma que produza uma cadência agradável ao
ouvido, graças ao concurso ou à seqüência de sons doces. Defeito correspon-
dente: a dureza

2) Especiais: São qualidades especiais:


a. A simplicidade, que se obtém com a dispensa de ornatos, desnecessários
ao estilo simples
b. A ingenuidade, que consiste em exprimir as idéias de maneira simples e
espontânea, com certa graça juvenil
c. A elegância, que requer palavras bem escolhidas e construções aprimoradas
d. A delicadeza, que exige um sentimentalismo adequado
e. A finura, que transparece mais nas entrelinhas do que nas palavras do texto
f. A riqueza, que consiste na escolha de palavras musicais, e de imagens
brilhantes
g. A energia, que é a maneira vigorosa de exprimir o pensamento
h. A veemência, que é a energia elevada ao mais alto grau, sendo uma das
qualidades primordiais dos grandes oradores
i. A magnificência, que aparece quando à riqueza se une a elevação
j. A sublimidade, que nos eleva acima de nossa condição e, produz em nós
um irresistível sentimento de admiração. O estilo sublime é grandioso, enérgi-
co, veemente, patético, exuberante de figuras de sintaxe e de estilo

Figuras Figura é a modificação ou a diferente forma que tomam aspa-


lavras ou as idéias, para que a expressão tenha mais brilho, força e graça. Essa
modificação é produzida, quanto às palavras, na sua fonologia, morfologia e
sintaxe; e, quanto às idéias, no modo como se apresentam na expressão, ora no
sentido próprio, ora no translato (derivado ou figurado), apurando e embele-
zando o estilo.
Daqui resulta que as figuras se classificam em figuras de palavras e figuras
de estilo.

1) Figuras de palavras: As figuras de palavras, que se referem à estilística,


distribuem-se em três grupos: as formas pleonásticas ou de excesso; as formas
elípticas ou de omissão; e as formas consoantes ou de harmonia
RUDI M EN TOS DE ARTE LI TERÁRIA

a. Formas pleonásticas Estas formas repetem a mesma palavra, quer se-


guidamente, quer no princípio de várias frases, quer no fim, quer no princípio e
no fim, quer pondo-se-lhes outra de permeio. Os seguintes exemplos mostram
as diferentes modalidades de repetição:
Epizeuxis: "Justo! Justo! Animo, ânimo!"
Anáfora: "Já não me ouves? Já não te hei de ver?"
Epístrofe: "Tudo acaba a morte e tudo se acaba com a morte, até a mesma
99
morte
Simploce: "Quem promulgou a lei? Rulo. Quem privou do direito de votar
o povo romano? Rulo. Quem presidiu aos comícios? O mesmo Rulo"
Diácope: "Tu, só tu, puro amor!"
Poliptoto: "Ondas com ondas, armas com armas"
Epanodos: "Morre-te um, foges; foge-te outro, morres"
Derivação: ''.Amará e será amado por quem sempre amou"
Epanalepse: "Em Dina matou a formosura a Sichém; em Dalila, matou a
Sansão; em Judith matou a Holofernes; em Ruth, matou-me a mim"
Anadiplose: "Cos olhos acenai no peito fogo / fogo que sempre ardeu e
ainda arde agora".
Clímax: "Na cidade nasce o luxo, do luxo nasce a avareza, da avareza rompe
a audácia, a audácia gera todos os crimes"

b. Formas elípticas Estas formas omitem expressões para maior concisão


da frase. Exemplo:
Assíndeto (suprime conjunções): "Horrendo, ingente, fero, tenebroso!"
Elipse: "Nem uma palavra a teu respeito!"
Zeugma: "Camões foi poeta e [foi] soldado"

c. Formas consoantes Estas atendem unicamente à colocação e harmonia


dos elementos da oração. Exemplo:
Paranomásia: "Cidadão de boas artes e de boas partes" (emprego de duas
palavras quase homônimas)
Homeoteleuto: "Não só para a vida lhe tirar, mas a glória menoscabar
(rima em prosa)
Homeoptoto: "Que coisa tão comum como o ar aos vivos, a terra aos mor-
tos, o mar aos navegantes?" (cadência resultante do emprego de palavras com a
mesma flexão gramatical)
Isócolo: "Leva Abrão seu filho [saque ao monte; ata-o sobre a lenha do sacri-
fício; tira a espada para lhe cortar a cabeça; manda-lhe Deus suspender o golpe"
(orações de extensão quase igual)
FLOR DO LÁCIO

Hipérbato: "Vereis um novo exemplo/ De amor dos pátrios feitos valorosos


/ Em versos divulgados numerosos" (deslocamento de palavra na frase)
Anástrofe: "De Deus não queremos ter senão a fortaleza" (anteposição de
palavra que devia vir depois)
Tmese: "Amar-te-ei sempre, na Terra e no Céu" (intercalação de pronome
no verbo)

2) Figuras de estilo: Estas figuras também se apresentam em três séries: as


formas sentimentais, as formas convencionais e as formas translatas ou trapos.
a. Formas sentimentais Estas formas são espontâneas e produzidas ime-
diatamente pela imaginação, representando um estado de alma do artista. São
muito numerosas. As principais são:
- A interrogação (não para provocar uma resposta, mas para intimar qual-
quer idéia): "Não sentes descobertos teus desígnios? Não vês que todos já co-
nhecem tua conspiração?
A exclamação (expressão espontânea de um sentimento vivo e súbito):
"Ah! Meu Deus! Que horror!"
-A apóstrofe (movimento oratório dirigido diretamente a uma pessoa ou
coisa): "Ó tu, guarda divino, tem cuidado!"
-A imprecação (pela qual se amaldiçoa alguém ou alguma coisa): "Maldita
sejas tu, cidade venal!"
-A prosopopéia (personificação de coisas e animais, evocação de deuses ou
de mortos): "As estrelas disseram-me: aqui estamos"
-A amplificação (exageração): "Horrendo", em vez de "feio". "Já o rei dos
astros inundava de luz o horizonte", em vez de "amanhecia"
A ironia (que diz o contrário do que dizem as palavras): "Que classe
sossegada, esta!"
A descrição (que reproduz num ou vários quadros a imagem dos obje-
tos): "Três vezes tenta erguer-se (Dido, ao morrer); / Três vezes desmaiada sobre
o leito, / O corpo revolvendo aos céus levanta/ Os macerados olhos ... "
A imagem (pintura rápida de um objeto confrontado com outro, sem
indicação dos pontos de contato): "Como a nuvem, passou minha mocidade ... "
A comparação (pintura de um objeto confrontado com outro, com in-
dicação dos pontos de contato; esse confronto pode ser de objetos de relação
próxima, de relação remota, podendo, também, fazer-se por meio de paralelos
e de antíteses): "Qual caminhante que pisou ignaro/ Oculta cobra em hórridos
espinhos,/ Tal foge ao ver-vos Androgeu medroso"

590
RUDI M EN TOS DE ARTE LI TERÁRIA

b. Formas convencionais Estas formas são produtos da reflexão e simples


artifícios retóricos. Eis as principais:
A preterição (pela qual o autor finge que não quer dizer certa coisa e a vai
dizendo): "Não vos direi, senhores, dos bons sentimentos que se aninham em
vosso coração, de vossa generosidade, de vosso patriotismo"
A dúvida (pela qual o orador finge não saber como principiar, nem con-
cluir): "Não sei por onde comece, e se explicará melhor a minha dor com lágri-
mas e suspiros do que com palavras"
A próplese (pela qual se previnem e se desfazem objeções): "Dir-vos-ei
que não serão justas quaisquer acusações que porventura me façam a respeito
de meu egoísmo silencioso; pois vos falo agora
A comunicação (pela qual o orador simula consultar os ouvintes ou os
adversários): "Agora vos pergunto eu: que devo fazer nestas circunstâncias?"
A concessão (pela qual o orador deixa ao juízo dos ouvintes a decisão de
alguma coisa): "Se o que estou dizendo é injusto, julgai-o vós mesmos"
A reticência (pela qual o orador deixa a frase incompleta, para exprimir
sentimentos fortes cólera, dor, receio etc., ou para ameaçar): ''Ah! Vocês não
querem ficar quietos? Pois bem, eu ... "

c. Formas translatas ou tropos Estas formas têm caracteres comuns com


as formas sentimentais, mas modificam ou transformam o sentido das palavras
ou frases. As principais são:
A metáfora: é a figura pela qual se transporta o significado próprio de
uma palavra para outro significado que não lhe convém senão em virtude de
uma comparação subentendida. Exemplo:
A luz do espírito
O sol da liberdade
A flor da mocidade
Ter boa estrela
Lágrimas de sangue
Sede ardente
O vento geme
O tempo voa
Rios de sangue
Chuva de flores
Mar de esperanças
Olhos de safira
Lábios de rubi
Pele de neve

591
FLOR DO LÁCIO

A fonte murmura
Os dias correm

Nota: Uma metáfora extensa chama-se "alegoria".

A metonímia: A metonímia consiste:


1. Em tomar a causa pelo efeito: "Vivemos todos de nosso trabalho" (do
produto de nosso trabalho)
11. O efeito pela causa: "E o Monte Pelião não tinha sombras" (não tinha
árvores)
111. O continente pelo conteúdo: "Bebemos uma ou duas garrafas neste bar"
IV. O sinal em vez daquilo que tem o sinal: "A coroa ordena" (o monarca
ordena)
v. O autor pela obra: "Possuímos um Murilo" (um quadro de Murilo)
VI. O abstrato pelo concreto: "A audácia vence" (os audaciosos vencem)
VII. O lugar do produto pelo produto: "Champagne" (vinho de Champagne)

A sinédoque: É o nome pelo qual são conhecidos alguns casos de meto-


nímia. A sinédoque se pratica:
1. Quando se emprega o gênero pela espécie ou vice-versa: "Os mortais" (os
homens); "ele é um Camões" (um grande poeta)
11. A parte pelo todo ou vice-versa: "Esta cidade conta cem mil tetos" (cem
mil casas)
III. O singular pelo plural ou vice-versa: "O inimigo cometeu atrocidades
incríveis" (os soldados inimigos)
IV. A matéria em lugar do objeto feito dessa matéria: "Ruth possui dois lin-
dos bronzes" (estatuetas de bronze)

A antonomásia: É uma espécie de sinédoque pela qual se emprega um


nome comum por próprio e vice-versa. Exemplo: "A águia de Haia" (Rui Bar-
bosa); "um Mecenas" (um protetor de artistas)

A hipérbole: É a figura que consiste em exagerar para impressionar o es-


pírito. Exemplo: "Um gigante" (um homem de elevada estatura); "um pigmeu"
(homem pequeno)

Aantítese: A antítese expõe conceitos ou pensamentos opostos, quer as-


sociando-os, quer fazendo confrontos. Exemplo: "Buscas a vida, e eu, a morte",
"procuras a luz, e eu, as trevas"

592
RUDI M ENTOS DE ARTE LI TERÁRIA

Ordem direta e ordem inversa "Em trecho algum" diz Silveira Bue-
no, em sua Gramática normativa "existe, exclusivamente, ordem direta ou
ordem inversa: ambas se misturam, sob a predominância de uma delas. A clas-
sificação de um trecho, neste sentido, é determinada por esta predominâncià'.
Ordem direta: Patenteia-se a ordem direta quando, na oração, é colocado
em primeiro lugar o sujeito, seguido de seus modificadores, se os houver; em
segundo lugar, o verbo, e, em terceiro, os complementos do verbo ou o comple-
tivo predicativo. Exemplos: "As alunas desta escola estudam com entusiasmo;
"Deus criou o céu e a terra em seis dias"; "esta cidade é grande e bela".
Ordem inversa: Para se dar realce a uma coisa, a uma idéia ou a um senti-
mento, coloca-se em primeiro lugar, ou em lugar de maior sensação, a palavra
que os exprime. Exemplos: "Com entusiasmo estudam as alunas desta escola";
"em seis dias criou Deus o céu e a terra"; "grande e bela é esta cidade".

Discurso direto e discurso indireto Numa narrativa, encontram-se fre-


qüentemente personagens que falam, interrogando ou respondendo, ou, mes-
mo, expondo, em solilóquio, suas opiniões, idéias e sentimentos. Suas palavras
podem ser apresentadas de dois modos:
1) Ou reproduzidas textualmente, tais quais foram enunciadas: é o discurso
direto.
2) Ou, simplesmente, relatadas: é o discurso indireto.

Exemplos:
1) "Hoje" disse Pedro "não choverá.
2) Pedro disse que não choverá hoje.

No discurso direto, indica-se a pessoa que fala, de duas maneiras:


a. Seja por meio de uma oração, que anuncia ou explica o discurso: "As nove
horas da noite, o paraninfo das professorandas iniciou sua oração: Aqui estou
entre vós, para uma palavra de despedida, que seja, ao mesmo tempo, uma
exortação e uma súplicà"
b. Seja por meio de uma oração intercalada: "Aqui estou entre vós" - co-
meçou o orador - "para uma palavra de despedida" etc.

Caracteres do discurso direto: O discurso direto apresenta os traços carac-


terísticos da linguagem falada. Com efeito, uma personagem, ao falar, pode
empregar:
a. As três pessoas: "Venho dizer-te que ela morreu' respondeu Carlos a
Pedro".

593
FL OR DO LÁCIO

6. Imperativos, apóstrofes e interrogações: "Queres casar-te, filha? Casa-te,


pois, e sê feliz".
c. Os tempos dos verbos, relativamente ao momento em que fala. Exemplo:
"A vida' diz então Maria José 'é boa e bela"" (presente).
"Teu ódio nunca me fará mal" (futuro).

Caracteres do discurso indireto: O discurso indireto apresenta os seguintes


característicos:
a. O discurso direto passa a ser uma oração subordinada ao verbo da oração
apositiva (intercalada) ou à oração que o anuncia. Exemplo:
Discurso direto: "A vida diz então Maria José 'é boa e bela"".
Discurso indireto: Maria José diz que a vida é doce e bela.
Nota: A conjunção, que liga a oração subordinada à subordinante, é geral-
mente uma conjunção integrante.

6. Todas as pessoas podem aparecer no discurso indireto, quando quem o


relata está na primeira pessoa. Exemplo:
Discurso direto: "Eu te disse: 'Pretendo viajar e tu irás comigo'. Tu me res-
pondeste: 'Irei contigo'. Eu te disse: 'Ele não irá conosco"".
Discurso indireto: "Eu te disse que pretendia viajar e que irias comigo. Tu
me respondeste que irias comigo. Eu te disse que ele não iria conosco".

e. Todas as pessoas se tornam terceiras pessoas, quando quem relata é um


terceiro. Exemplo:
Discurso direto: "Hei de ser sempre trabalhador' disse Carlos".
Discurso indireto: "Carlos disse que há de ser sempre trabalhador".

d. O imperativo passa a ser subjuntivo. Exemplo:


Discurso direto: "Vai-te daqui' disse Pedro ao homem".
Discurso indireto: "Pedro disse ao homem que se fosse dali".

e. O futuro do presente, geralmente, se torna futuro do pretérito; por vezes


mantém-se como futuro do presente. Exemplo:
Discurso direto: "Ruth virá um dia digo-lhe eu".
Discurso indireto: "Eu lhe disse que Ruth viria um dia".

f. O futuro do pretérito não sofre alteração. Exemplo:


Discurso direto: "Carlos diria então: 'Ninguém poderá ficar nesta sala"".
Discurso indireto: "Carlos diria então que ninguém poderia ficar naquela sala".

594
RUDI M ENTOS DE ARTE LI TERÁRIA

g. Os demonstrativos e os advérbios de lugar são substituídos pelos que in-


dicam posição mais remota no tempo ou no espaço. Exemplo:
Discurso direto: "Não permanecerei aqui, neste lugar horrível' - disse Al-
berto".
Discurso indireto: "Alberto disse que não permaneceria ali, naquele lugar
horrível".

h. Tornam-se indiretas as interrogações diretas. Exemplo:


Discurso direto: "Como passam vocês?' perguntou Paulo aos amigos".
Discurso indireto: "Paulo perguntou aos amigos como passavam.

Nota: Outras observações deste gênero poderão ser feitas pelos alunos, pas-
sando os discursos diretos, que encontrarem nos textos, para a forma indireta,
e vice-versa.

Literatura A literatura, no sentido mais comum, designa o conjunto de


manifestações verbais, que despertam o sentimento do belo, pela perfeição das
formas ou pela excelência das idéias.
Considerada pelo lado didático, ela é o estudo das regras de composição
literária e das fases do movimento intelectual de um povo, quanto à língua e à
cultura artístico-verbal.
Essas fases, em Portugal e no Brasil, quaisquer que sejam as denominações
que lhes hajam sido dadas e que podem ser estudadas mais desenvolvidamente
numa história de literatura (Escola Baiana, Escola Mineira, Arcades etc.), se
limitam, em última análise, às correntes literárias cujos caracteres gerais estuda-
remos mais adiante.

As grandes épocas da literatura Distinguem-se três grandes épocas na


história da literatura: a medieval ou anteclássica; a clássica; e a romântica.

1) A época medieval: Esta época compreende o período que vai do sécu-


lo XII ao século xv, isto é, desde o aparecimento dos primeiros documentos
escritos até o aparecimento dos grandes escritores quinhentistas. Duas escolas
caracterizam essa época: a Escola Provençal (1200-1385) e a Escola Espanhola
(1385-1520).

2) A época clássica: A época clássica compreende três grandes escolas lite-


rárias:
a. A Escola Italiana ou Quinhentista (1521-1580), cujos escritores, sob o
influxo das letras antigas, gregas e romanas, imprimiram fecundo impulso à
língua, à literatura e ao estilo.

595
FLOR DO LÁCIO

b. A Escola Gongórica ou Seiscentista (1580-1750), cujo chefe foi Gôngora


e que se caracteriza por um estilo empolado, afetado e hiperbólico, cheio de
figuras, equívocos e trocadilhos.
c. A Escola Francesa ou Arcádica (1750-1826), que, reagindo contra os
gongoristas, operou um largo movimento de reforma e preparou o advento do
romantismo.

3) A época romântica: Esta época abrange o romantismo, o realismo, o par-


nasianismo e o simbolismo, estendendo-se mesmo até nossos dias.
O romantismo foi uma poderosa corrente literária que, partindo da Alema-
nha, se estendeu pela Europa; foram seus corifeus e iniciadores, na Alemanha,
Goethe e os irmãos Schlegel; na França, Madame de Stael, Chateaubriand,
Lamartine, Alfred de Vigny, Alfred de Musset, Vítor Hugo, e muitos outros,
de grande nome; na Itália, Manzoni; na Espanha, Zorilla, Espronceda e Cam-
poamor; na Inglaterra, Walter Scott e Byron; em Portugal, Garrett, Alexandre
Herculano, Castilho; no Brasil, entre outros, Gonçalves de Magalhães com sua
poesia religiosa; Gonçalves Dias, com sua poesia da natureza; Álvares de Azeve-
do, com sua poesia da dúvida; e Castro Alves, com sua poesia social; no roman-
ce, Joaquim Manuel de Macedo, José de Alencar, Taunay etc.
O romantismo decaiu no ultra-romantismo de Soares Passos e outros, sur-
gindo então, como reação, o realismo, contra o qual reagiu, por sua vez, a
poesia dos parnasianos poesia que, por suas qualidades de brilho e encanto,
assim como por seu vigor descritivo, exerceu logo imensa fascinação sobre nos-
sos poetas.
Os autores contemporâneos continuam, em grande parte, a se inspirar no
romantismo: seu estilo caracteriza-se por períodos mais curtos, ordem menos
transposta e adjetivação mais rica e colorida.
Caracteres gerais das
grandes correntes literárias

Classicismo Os principais caracteres das obras clássicas são:


a. Imitação dos antigos, gregos ou latinos, que serviam de modelo nas aulas
ou classes
b. Espírito cristão, embora num cenário pagão
c. Estudo do homem interior (do homem em geral); análise dos sentimentos
gerais
d. A razão acima da sensibilidade
e. lmpersonalismo: o autor não fala de si, mas do homem, em geral
f. Cada gênero literário tem leis próprias e distingue-se do gênero vizinho
g. O estilo é, ao mesmo tempo, simples, polido e nobre, cheio de latinismos
e helenismos

Gongorismo ou cultismo - O gongorismo teve, noutros países, formas


análogas: na França, o preciosismo; na Inglaterra, o eufuísmo; na Itália, o ma-
rinismo ou concettismo.
Caráter fundamental: a afetação, elevada até ao ridículo e que abrangia:
a. As maneiras sociais
b. Os sentimentos
c. A linguagem
d. O espírito

A afetação de maneiras consistia no apuro exagerado da elegância, do ves-


tuário, e em excessivas demonstrações de polidez.

597
FL OR DO LÁCIO

A afetação dos sentimentos consistia em desnaturá-los, cercando-os de uma


série de pensamentos ou atos românticos.
A afetação de linguagem consistia no emprego abusivo de metáforas, de
expressões perifrásticas, de jogos de palavras e de espírito.
A afetação de espírito consistia na falta de naturalidade em todos os gêneros
literários.

Romantismo - São os seguintes os caracteres do romantismo:


a. Abandona-se a imitação dos gregos e latinos; imitam-se as literaturas es-
trangeiras.
b. Abandona-se a mitologia clássica; volve-se ao maravilhoso cristão, ou
simplesmente à religião natural, ao panteísmo; daí o desenvolvimento excessivo
do sentimento da natureza.
c. Conseqüência desse sentimento, o exotismo empolga os espíritos e pene-
tra na literatura, exprimindo-se através de um grande interesse por paisagens
grandiosas ou longínquas, assim como pelo homem primitivo posto em con-
traste com o homem civilizado.
d. Cada escritor permanece juiz de sua inspiração e de sua arte; poesia, ro-
mance, teatro, tudo é pessoal e individual. É o eu e a imaginação, com todos os
seus caprichos, a substituírem a razão.
e. O romantismo ora é subjetivo, ora objetivo: 1) é subjetivo, quando o escri-
tor é objeto de sua própria análise; 1) é objetivo, quando ele descreve a natureza
exterior, caso em que ainda procede por impressões pessoais, mesmo quando
procura transcrever a cor local.
f. Não há mais gêneros determinados; não mais poética nem retórica. A
poesia escolhe livremente seus ritmos; o drama funde estas duas disparidades; a
tragédia e a comédia. O romance torna-se histórico, social, extravagante.
g. O estilo usa das mesmas liberdades. Em muitos casos, o escritor cria
o próprio vocabulário e forma a sua própria sintaxe, fora de toda autoridade
acadêmica.
(Representantes no Brasil: Gonçalves de Magalhães, Gonçalves Dias, ÁI-
vares de Azevedo, Castro Alves, Joaquim Manuel de Macedo, José de Alencar,
Manuel Antônio de Almeida, Bernardo Guimarães, Franklin Távora, Taunay).

Realismo É uma reação contra os excessos do romantismo.


Característicos:
a. Ao subjetivismo, ao individualismo, ao eu do romantismo, substituem-se
o objetivismo e o impersonalismo do artista. Sob este aspecto, o realismo é um
retorno ao espírito clássico.
CARACTERES GERAIS DAS GRAN DES CORREN TES LI TERÁRIAS

b. Mas, enquanto o classicismo se limita à natureza psicológica, geral e es-


colhida, o realismo observa e reproduz a natureza toda, exterior ou íntima, tal
como se apresenta, sem nada lhe aumentar ou diminuir.
c. O realismo admite, todavia, a colaboração subjetiva do autor na reconsti-
tuição de cenas ou quadros históricos.
d. O realismo pretende ser documentado e integral.
e. O realismo não visa a defender tese alguma; é essencialmente amoral e
indiferente.
f. Toma o nome de naturalismo, quando estuda cientificamente (ou antes,
pseudocientificamente) a realidade, aplicando-lhe ou tentando aplicar-lhe os
métodos das ciências naturais.
g. O realismo acha-se em contradição com seus princípios. De duas, uma:
ou o escritor faz simples fotografias, que então não têm valor; ou é um artista,
que deforma o real, para reorganizá-lo. O mais célebre dos naturalistas franceses,
Émile Zola, assim definiu sua arte: "A natureza vista através dum temperamento".
(Representantes no Brasil: Machado de Assis, Aluísio de Azevedo, Júlio Ri-
beiro, Raul Pompéia etc.).

Parnasianismo O parnasianismo é, na verdade, em poesia, o que é em


prosa, o realismo. Os parnasianos adotam a teoria da arte pela arte e afetam,
em suas obras, uma espécie de indiferença moral. Procuram a beleza plástica e
pintam, muitas vezes, o mundo exterior, arcaico e exótico.
Eles protestam, enfim, contra o individualismo exagerado do romantismo.
(Parnasianos brasileiros: Machado de Assis, Luiz Guimarães, Teófilo Dias,
Alberto de Oliveira, Raimundo Correia, Olavo Bilac, Luís Delfina, Luís Mu-
rat, Francisca Júlia etc.).

Simbolismo A história da arte compõe-se duma série de reações. Após o


classicismo, o romantismo; após o romantismo, o realismo e o parnasianismo;
após o parnasianismo, o simbolismo, cujo representante máximo, no Brasil, foi
Cruz e Sousa.
Os simbolistas acusam os parnasianos de serem muito materialistas e de
atribuírem à forma um valor excessivo. Segundo eles, os parnasianos sufocam o
pensamento ou o sentimento, sob o peso e a precisão dos versos.
O simbolismo assinala um retorno ao lirismo e à libertação completa da
forma. Suas tendências inspiram-se na estética musical e sua poesia não é, mui-
tas vezes, senão um tema propício, por sua própria indeterminação, a sugerir
pensamentos confusos e agradáveis, impressões musicais e sentimentos vagos,
mal delineados e sem nenhuma profundeza.

599
FLOR DO LÁCIO

(No Brasil: Cruz e Sousa, Alphonsus de Guimaraens, Mário Pederneiras


etc.).

Futurismo O futurismo foi um movimento literário e artístico criado na


Itália por um grupo de jovens escritores e artistas, que se reuniram em torno de
Marinetti, visando a uma insurreição "paroxística contra o academismo.
Os futuristas, Marinetti e seus discípulos Buzzi, Plazzeschi, Govoni, Folgo-
re, Papini, Soffci, Carra, Boccioni, Severini, Pratella etc., pretendiam renovar
completamente a arte: era preciso renunciar às velhas fórmulas, à tradição, à
moral, à arqueologia, aos museus, às bibliotecas, a todas as coisas, enfim, que
somente são boas para os "passadistas, e cantar a força, a velocidade, a guerra,
a luxúria, as máquinas e as metralhadoras. O movimento futurista não foi inútil
na evolução da arte italiana.
Na pintura e na escultura, o futurismo renuncia a representar os seres numa
posição única e pretende dar simultaneamente as sensações passadas, presentes
e futuras, o que faz aparecer os objetos em fragmentos deslocados, agitados e
vibrantes. Na música, o futurismo faz tábua rasa das regras tradicionais de har-
monia etc., e apela para os gritos e ruídos expressivos.
No Brasil, o futurismo teve sua expressão na Semana de Arte Moderna, de
que participaram, entre outros, Mário de Andrade, Graça Aranha, Menotti Del
Picchia, Raul Bopp, Oswald de Andrade etc.

600
POSFÁCIO
A misteriosa e instigante trajetória profissional
do Professor Cleófano Lopes de Oliveira
Ana Lúcia de Oliveira Brandão26

lgumas considerações da neta

Tive uma convivência familiar com o Prof. Cleófano Lopes de Oliveira por
um quarto de século e mais dois anos de lambuja. Sou a filha caçula da sua filha
caçula, a Margarida Maria. Ele e minha avó materna, a Professora Flora Cintra
Lopes de Oliveira, tiveram quatro filhos, nove netos e quatro netas. Eu nasci
três anos depois da sua aposentadoria na Escola Estadual Caetano de Campos.
Naquele tempo, não era usual entre os homens dividir muito do universo do
trabalho com sua convivência familiar. Eram mundos distintos.
Cleófano foi um grande contador de histórias no decorrer da minha in-
fância. Um homem muito culto, irreverente por natureza e muito engraçado.
A meus olhos de menina e adolescente, uma pessoa encantadora e inesperada
em seus comentários, por vezes sardônicos, irônicos e por vezes burlescos. Cla-
ro, foi um profundo apreciador do humor de Charles Chaplin e de Moliêre,

26 Tive ocasião de pesquisar esta trajetória do Professor Cleófano Lopes de Oliveira em 2017
durante a matéria feita como ouvinte com o Prof. Dr. Mauro Castilho no Curso EHPS na
PUC-SP (Educação: História, Política, Sociedade), semestre em que também pesquisei as Atas
da Congregação do Instituto de Educação Caetano de Campos sob custódia do acervo do CRE
Mário Covas (Secretaria Estadual de Educação do Estado de São Paulo).

601
FLOR DO LÁCIO

questões das quais fui me conscientizando somente na vida adulta, conforme


realizava estudos sobre humor no meu mestrado.
O que eu sabia sobre meu avô materno é que ele tinha ministrado aulas
de Francês, Literatura e Cultura francesa, o que não era difícil de adivinhar,
porque ele estava sempre comentando trechos da história francesa, era grande
apreciador dos feitos de Napoleão Bonaparte, recitava de cor trechos de poemas
de poetas românticos franceses. Conhecia trechos de obras de Literatura france-
sa, brasileira, inglesa e americana de cor. Foi um grande leitor, amigo de Graça
Aranha, apreciador de Bilac, Guimarães Rosa e Gide. Sempre que uma situação
familiar e cotidiana lhe remetia a uma obra ou trecho de obra, lá vinha o trecho
para a nossa convivência, como se Flaubert, Guimarães Rosa e Hemingway
fossem seus vizinhos.
Foi um pai cônscio do seu papel de educador também em casa, exigente
e crítico, segundo os filhos. Enquanto avô foi divertido, cheio de grandes e
engraçados chistes. Entretanto, sempre foi exigente na correção do uso da Lín-
gua Portuguesa. Cometesse você um cacófato ou uso pronominal errado ao se
expressar, e ele dizia que não tinha ouvido o que você tinha dito a ele, e pedia
para que contasse novamente. Alegava uma "surdez momentâneà'. Eu achava
aquelas atitudes, consideradas por alguns críticas constrangedoras, como uma
atitude comum e familiar. Para mim soava como um gesto de alguém que es-
tava preocupado em me educar bem e em demonstrar, a todo momento, um
profundo respeito pelo bom uso da Língua Portuguesa.
Vovô era muito atento às netas, especificamente, talvez por sua vasta e pro-
funda convivência com o gênero feminino nas aulas do Curso Normal da Es-
cola Caetano de Campos. Sabia captar nossos sentimentos e estados de humor
somente com um olhar arguto e atento.
Era chamado de "professor" pelos genros e noras. De vez em quando, eu
chegava à sua casa e havia alguma ex-aluna fazendo uma visita. O tratamento
entre eles era elegante, formal e afetivo ao mesmo tempo. Nestes momentos eu
me sentia viajando no tempo diretamente para os anos 40 e 50.

Considerações da pesquisadora e profissional de Letras

Formada em Letras, fui estagiar no meio editorial, escolar e cultural. Aca-


bei me enveredando pelo trabalho na Biblioteca Infantil Monteiro Lobato em
1984. Em 1986a biblioteca completaria 50 anos e eu cismei de pesquisar a sua
história. Graças a isso, conheci a profissional que idealizou e executou o projeto
da biblioteca infantil pública em São Paulo, Dona Lenyra Camargo Fracarolli.

602
POSFÁCIO

Em conversa com ela sobre a falta de registros das atividades desenvolvidas pela
biblioteca em determinadas gestões, ela me contou que cursara o Curso Nor-
mal da Escola Caetano de Campos e descobrimos que meu avô tinha sido seu
professor de Literatura. Dona Lenyra ficou contentíssima com a constatação e
pediu que eu lhe enviasse suas lembranças.
Dona Lenyra me segredou que fizera o Curso Normal quando já era casa-
da e com uma filha pequena. E que meu avô permitia que ela levasse a filha
com ela para assistir às suas aulas e ainda dava material de desenho para que a
menina se distraísse enquanto a mãe assistia às suas aulas. Enfim, foi o tempo
que trouxe grandes revelações e ainda me traz, aqui e ali, sobre o trabalho do
Professor Cleófano. Um exemplo lapidar foi a constatação de que Dona Lenyra
ministrou aulas semanais de métrica e ritmo aos meninos de doze anos que
fizeram parte do jornal da biblioteca, o famoso A voz da infância nos anos 40,
fruto das aulas que recebera do meu avô. Soube disso em um depoimento dado
pelo poeta Paulo Bomfim, ao projeto de Memória Oral da Biblioteca Montei-
ro Lobato, no ano de 2007. Eu fiz questão de acompanhar a gravação e ouvir
pessoalmente o testemunho carinhoso e de grande admiração de Paulo Bomfim
por Dona Lenyra Fracarolli e pelo trabalho desenvolvido pela biblioteca nos
tempos em que ela a dirigiu.
Foi então que comecei a reverenciar a importância e forte papel da Escola
Estadual Caetano de Campos na formação de inúmeras gerações de estudan-
tes. E pude notar que essa influência benéfica se espalhou em todos os órgãos
educacionais da cidade e também se refletiu fortemente na área cultural da área
pública da cidade de São Paulo.
É só pensarmos na forte ligação entre o Movimento Modernista e a Biblio-
teca Municipal, que anos mais tarde recebeu como patrono Mário de Andrade.
E mais, o Teatro Municipal como palco de tantos espetáculos culturais ligados
a todas as áreas das Artes: o Ballet, a Música, a Literatura e o Teatro.
Se tivemos uma Dona Lenyra Fracarolli, que criou uma rede de bibliotecas
infantis na cidade de São Paulo entre 1936 e 1961, podemos também afir-
mar que ela contou com o apoio e incentivo constantes neste projeto pelo
casal Monteiro Lobato e Pureza da Natividade Gouveia Lobato (1885-1959).
A Professora Raquel Endalécio, ao pesquisar a vida de Dona "Purezinha", des-
cobriu que ela cursou a Escola Normal Caetano de Campos no final do século
XIX. Toda a documentação da família Lobato doada para a biblioteca, com
cadernos de recortes com as entrevistas, artigos de jornais sobre a obra de Lo-
bato e assemelhados, foi cuidadosamente organizada por Dona "Purezinha"
e sua filha Manha, do mesmo modo que a documentação deixada por Dona
Lenyra Fracarolli quanto a trajetória da criação, atividades e expansão da rede
FL OR DO LÁCIO

de bibliotecas infantis da cidade de São Paulo. Coincidência? Não, simples-


mente tiveram uma formação escolar semelhante.
A Profa. Marilena Chauí, quando foi Secretária de Cultura, demonstrou
conhecer a fundo o projeto das bibliotecas infantis da cidade. A razão? Sua mãe
fora amiga pessoal da Dona Lenyra Fracarolli. A Escola Estadual Caetano de
Campos criou e manteve uma rede de relações entre ex-alunos e professores
muito forte e que se refletiu nas gerações posteriores.

Desvendando mistérios

Bem, tudo isso caminhava e eu recebia avisos do acaso para conhecer a tra-
jetória misteriosa do Professor Cleófano Lopes de Oliveira. O aviso seguinte foi
o do acervo histórico de livros didáticos da Editora Saraiva. Eu tinha costume
de ir a um médico com regularidade, perto do edifício em que a Editora Saraiva
se instalou, na Rua Henrique Schaumman. Isso se deu em 2011. A então secre-
tária deste acervo histórico, Dona Ana Lúcia Brudeika, me pediu uma semana
para pesquisar as obras dele no acervo, para então me mostrar, e falou dele
com uma tal familiaridade que achei muito curiosa. Afinal ele que nascera em
Batatais em 1895, já havia falecido há vinte e três anos quando fiz esta visita.

Visita ao acervo histórico da Editora Saraiva e ao AHLE na Biblioteca Monteiro


Lobato da cidade de São Paulo

Na visita ao acervo histórico foi que descobri que o Professor Cleófano tinha
publicado não só o famoso Flor do Lácio, como também outros dezesseis livros
de ensino da Língua, Literatura e Cultura francesa.
Flor do Lácio foi inicialmente publicado em 1943, por ele mesmo sob o título
A explicação de textos e a composição literária com exercícios de língua e de estilo.
Este livro dedicado ao Curso Normal e Secundário foi editado pelo Estabeleci-
mento Gráfico Cruzeiro do Sul e entrou na Série 11, vol. 1, da Biblioteca SCHO-
LASTICA Brasileira, sob a direção do Prof. Silveira Bueno, catedrático da Univer-
sidade de São Paulo. A página de rosto deste livro alega que o Professor Cleófano
era professor catedrático de Português e Literatura do Curso de Aperfeiçoamento
para professores da Escola Caetano de Campos de São Paulo, Ex-catedrático de
Francês do Curso Ginasial da mesma escola. Ou seja, ele já estava ministrando
aulas em 1941 para o Curso da Escola Normal Caetano de Campos.
POSFÁCIO

Neste livro, de tom leve e linguagem mais informal e afetiva, encontrei uma
dedicatória feita a suas alunas, com os seguintes dizeres: "A minhas caras alunas,
com amizade e reconhecimento". E uma curiosa epígrafe que diz:

Escrever bem já é quase pensar bem, e daqui a agir bem irá lá grande dis-
tância. Toda civilização e todo aperfeiçoamento moral saíram do espírito
da literatura, que é a aluna da dignidade humana e que é idêntica ao
espírito da Política. - Thomas Mann

Este primeiro livro de 1943 se esgotou rapidamente e, provavelmente graças


a isso, a Editora Saraiva pediu uma reformulação mais ao gosto da editora, que
era voltada à produção de livros jurídicos. Cleófano Lopes de Oliveira teve um
irmão que se formou na Faculdade de Direito da São Francisco, o Dr. Aluísio
Lopes de Oliveira que atuou na área jurídica da Secretaria Estadual de Edu-
cação. Afora isso, seu colega e amigo, o Professor Silveira Bueno, também foi
autor de livros de Língua Portuguesa dedicados ao ensino ginasial na Editora
Saraiva, nessa mesma época. E mais, ele nutriu grande admiração por Joaquim
Inácio da Fonseca Saraiva, o fundador da Editora Saraiva ao longo dos anos.
Na obra O livro no Brasil, Hallewell (1985, p. 293) nos posiciona sobre o
mercado editorial brasileiro em 1938 a 1954, época da publicação de Flor do
Lácio. Diz ele:

Em 1938 Ocalles (Marcondes Ferreira) afirmava que sua empresa res-


pondia por aproximadamente um terço de toda a produção do país (na
época, em torno de dez milhões de exemplares por ano). A esse respeito,
são interessantes os títulos relacionados na bibliografia quinzenal Euclydes
de Simões dos Reis. O total para os primeiros seis meses de 1940 mostra
a Nacional (Companhia Editora Nacional) na liderança entre as editoras
comerciais, com 79 títulos novos (entre os 622 de todo o Brasil), seguida
pela Editora Melhoramentos com 36, José Olympio com 32, Globo com
31, Pongetti com 22, Briguiet e Empresa Editora Brasileira com 17 cada,
Francisco Alves e Freitas Bastos com 14, Saraiva 13 [grifo nosso], Vecchi
12, Civilização Brasileira - na época ainda subsidiária da Nacional
com 9, Martins 8, Guaíra e Jacinto com 6 cada uma, A. Coelho Branco
Filho e Zélio Valverde com 5 cada, Antunes 2, e Quaresma com apenas 1.

Hallewell continua contando que a empresa, apesar do falecimento de


Octalles Marcondes Ferreira, produziu 368 edições em 1954 com tiragem de
5.141.500 exemplares, ocupando com folga o primeiro lugar entre as editoras
FL OR DO LÁCIO

brasileiras. Neste mesmo ano a Editora Saraiva publicou 69 edições, entre as


quais encontramos nova edição de Flor do Lácio e várias dos livros de ensino de
Francês em capa dura.

O olhar da História da Educação para o livro "Flor do Lácio"

O grupo de pesquisa coordenado pela Professora Neusa Bastos Barbosa da


área de Lingüística e Língua Portuguesa da Puc-sP dedicou-se a esquadrinhar
a rede de conhecimentos pertinente à área de Educação e Cultura, especifica-
mente quanto ao ensino da Língua Portuguesa e da Gramática no Brasil, desde
os tempos do Império até a segunda metade do século xx, na forma da publi-
cação intitulada História entrelaçada.
Segundo os estudos de Bastos, por exemplo, vai ser em 1943 que o gramá-
tico chamado Napoleão Mendes de Almeida publicará sua Gramática metódica
da Língua Portuguesa, mesmo ano em que sai a primeira obra de Lopes de
Oliveira. A pesquisadora e escritora Neusa Bastos no livro História entrelaçada,
vol. 2 (pp. 121-124) nos diz sobre Mendes de Almeida que ele não incorporou
em seus escritos as inovações metodológicas, teóricas de seu tempo, em bus-
ca do conhecimento por meio das teorias mais tradicionais, negando a nova
ciência (a Lingüística), pois ela traria modificações profundas para o "estudo
da gramática na sua totalidade, como ele propunha. Continua ela a dizer
que, provavelmente, Mendes tenha assumido para si a obrigação de ensinar a
língua, que ele julgava estar em perigo, porque "é um dever cívico e a mais viva
expressão da nacionalidade". Não podemos esquecer, diz ela, de vários fatores
que mobilizam de forma indireta um indivíduo que quer lutar pela sua pátria,
por meio da defesa do idioma nacional. Sobre este período da história, Bastos
nos informa:

a) O período político ditatorial repressor, que o país atravessava na épo-


ca do Professor Napoleão Mendes de Almeida;
b) o parco acesso à escolarização;
c) a recém-saída crise da revolução constitucionalista;
d) o entreguerras que não favorecia a leitura, a escolarização, a cultura
(de acordo com estudiosos internacionais, esse foi um período difícil
para todos os povos).

Bastos ainda afirma que:

606
PO SFÁCIO

Só tinham acesso ao meio letrado os que tinham maior poder aquisitivo.


Havia poucas escolas e era muito difícil estudar em uma escola estadual,
sendo preciso prestar vestibular para ter acesso a ela, o que só era possível
a quem já tinha "de berço" uma sólida cultura e um conhecimento de
língua realmente bem próximo à variante culta. Assim sendo ele não é
um revolucionário em idéias lingüísticas, mas sim o defensor de uma lín-
gua, imbuída de espírito cívico, expressão da nacionalidade de um povo.
Podemos afirmar que Napoleão Mendes de Almeida é um indivíduo
de seu tempo, é um intelectual que reproduz a ideologia dominante do
período. [ ... ] Ele é um legítimo representante da gramaticalidade da lin-
gua de seu povo, de sua clareza, de suas normas e leis. Ele assim o quis,
ou melhor, o povo o elegeu para ser um guia da língua. Nos anos 50, o
Professor Napoleão Mendes de Almeida era solicitado para dar inúmeras
palestras e convidado por vários alunos para ser o paraninfo deles, no
término do curso ginasial.

Dando continuidade a seu raciocínio, Bastos nos conta sobre o contexto


político-educacional do Brasil. Diz ela:

A Revolução de 30 foi considerada um marco político do período en-


tre 1930 e 1940. O período de 1930 a 1945, época da publicação de
Gramática Metódica da Língua Portuguesa, foi marcado pelo governo
autoritário de Getúlio Vargas. Se por um lado representou um tempo
de avanço da economia, na política social, nas questões trabalhistas e na
industrialização, por outro lado retratou um período de retrocesso na
liberdade política, no qual havia muita censura e repressão.

Saviani (2004, pp. 19 ss.) aponta que, após a vitória da Revolução de 30,
foi criado o Ministério da Educação e Saúde Pública e a Educação passou a
ser uma questão nacional, sendo finalmente reconhecida. Desse modo, houve
várias medidas relativas à educação, de grande alcance:

1931 Reformas do Ministro Francisco Campos, que deram origem ao


processo de regulamentação do sistema de ensino nacional: escolas superiores,
secundárias e primárias. Seis fatos deste período chamam a atenção:
1. Criação do Conselho Nacional de Educação;
2. Organização do ensino superior no Brasil e adoção do regime universitário;
3. Organização da Universidade do Rio de Janeiro;
4. Organização do ensino secundário;
5. Organização do ensino comercial e regulamentação da profissão de contador;
FL OR DO LÁCIO

6. Consolidação das disposições sobre a organização do ensino secundário.


1932 Manifesto dos pioneiros da Escola Nova;
1934 Fixação das diretrizes da educação nacional e a elaboração de um
plano nacional de educação;
1942/46 Reformas promulgadas por Gustavo Capanema, Ministro da
Educação do Estado Novo, que aprofundam as "leis orgânicas do ensino; cul-
minando, anos depois, na elaboração de uma lei de diretrizes da educação;
1947 Pré-projeto da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDBD);
1961 (20/12) Promulgação da LDBD.

O Professor Lopes de Oliveira foi um dos pracinhas da Revolução Constitu-


cionalista de São Paulo de 1932, e defendeu os ditames do Manifesto dos Pio-
neiros da Educação, liderado por professores de forte expressão política, entre
eles o Professor Fernando Azevedo. O Manifesto propunha a reconstrução so-
cial pela reconstrução educacional, tendo como pressuposto o princípio de que
a educação é função pública e tem como princípios: a laicidade, a gratuidade, a
obrigatoriedade, a co-educação e a unicidade da escola. O Manifesto docu-
mento de política educacional defendia os princípios da Escola Nova, mas
sobretudo a luta pela defesa da escola pública que foi e ainda é considerada por
muitos um legado muito importante do século XX.
Em 1944, a Editora Saraiva, de longa trajetória com livros didáticos e da
área jurídica, publica a nova edição de Flor do Lácio. É uma obra de linguagem
didática formal, na qual se retirou inclusive a dedicatória de agradecimento
às suas alunas. É provável que essa nova edição tenha tido grandes tiragens
pelo Brasil afora, uma vez que a editora tinha distribuidores em outros estados
brasileiros informação que se tornou inviável de se obter porque a editora
foi vendida para um grupo financeiro chamado SOMOS. O livro de Lopes de
Oliveira passou também por adoções escolares em todo o estado de São Paulo
e outras capitais do país no período de 1944 a 1967.
As edições sucessivas de Flor do Lácio chegaram a um quarto de século de
presença no mercado editorial. Em consulta ao Acervo Histórico de Livros Di-
dáticos da Faculdade de Educação da USP, foi possível ter acesso a várias edições
do livro e todas elas apresentavam na capa o termo "edição revista pelo autor".
Muito provavelmente essa revisão se deu na ortografia, pois o conteúdo mante-
ve-se intacto, sem qualquer mudança interna da obra e nem mesmo qualquer
acréscimo dos escritores citados e estudados.
Neste mesmo segmento da Editora Saraiva eu encontrei também os livros de
textos paradidáticos de Português redigidos pelo Professor Silveira Bueno e al-
guns outros do Professor Napoleão Mendes de Almeida, que por anos manteve

608
POSFÁCIO

uma coluna no jornal O Estado de São Paulo sobre dúvidas a respeito do uso
da Língua Portuguesa. A publicação em um blog de um texto de caráter afetivo
sobre esta visita chegou a Wilma Lellis que o inseriu em seu site de lembranças
de ex-alunos da Escola Estadual Caetano de Campos, gerenciado por ela, após
ter sido publicado no blog "Comentários de Mulher" mantido pela psicóloga
junguiana Suely Laitano Nassif e eu. Esta singela divulgação do livro de Lopes
de Oliveira trouxe até mim professores que ainda fazem uso da obra em seus
cursos e aulas e editores interessados na obra. Que grata surpresa! Graças a eles,
resolvemos reeditar Flor do Lácio de Cleófano Lopes de Oliveira.

Secretaria Estadual do Estado de São Paulo: Encontro de pesquisadores de


História da Educação, exposição e reunião de ex-alunos

Em um encontro de pesquisadores da História da Educação ocorrido nas


dependências da Secretaria Estadual da Educação de São Paulo no mês de fe-
vereiro de 2011, eu tive contato com a pesquisa de Ana Regina Pinheiro, que
versa sobre a trajetória da educadora e diretora de escola Dona Carolina Ribei-
ro. Se o Professor Cleófano foi colega de Silveira Bueno no Ginásio da Escola
Caetano de Campos, em que ele ministrava aulas de Francês e Silveira Bueno
de Português,27 ele foi posteriormente colega na Escola Normal Caetano de
Campos da Profa. Carolina Ribeiro, já em 1934. Em 1939, ela foi eleita direto-
ra daquela instituição, sendo a primeira mulher a ocupar este cargo de direção.
E contou para isso com total apoio do Professor Lopes de Oliveira na sua ges-
tão. Foi ela inclusive quem fez a apresentação do livro dele, o Flor do Lácio em
primeira versão, no qual alega que o livro era fruto de um trabalho que unia
conhecimento com a experiência da sala de aula.
Quando Dona Carolina Ribeiro era chamada para algum compromisso
fora da escola, era o Professor Cleófano Lopes de Oliveira quem a substituía,
conforme me contou as atas das reuniões em que o professor foi tido como
membro honorário da Congregação de Professores da Escola Normal Caetano
de Campos que se encontram no CRE Mário Covas, a que tive acesso no ano de

27 Por volta de 1994, eu estive no CME (Centro de Memória da Educação), localizado em uma
antiga fábrica da Souza Cruz; lá, pedi para ver se havia material sobre o Professor Cle6fano
Lopes de Oliveira, e me trouxeram os livros de ponto da época em que ele ministrou aulas
no Curso Ginasial da Escola Caetano de Campos. Nesses livros de ponto pude constatar que
ele ministrava aulas de Francês, e o Professor Silveira Bueno, as aulas de Língua Portuguesa.
Portanto, trabalharam juntos de forma cotidiana, por diversos anos. Não era à toa que o
Professor Cle6fano me contava que o Professor Silveira Bueno havia sido seu companheiro de
muitos anos nas partidas de xadrez.
FLOR DO LÁCIO

2017. Lá tive a oportunidade de checar as atas das reuniões da Congregação das


quais Lopes de Oliveira teve voz ativa. Ele entrou na Congregação a convite do
Professor Fernando Azevedo, que presidiu a Congregação nos seus primeiros
anos de existência.
Pinheiro nos diz em sua pesquisa que:

Carolina Ribeiro foi herdeira desse grupo de entusiastas servidores da


causa educacional, "novos bandeirantes" dos anos iniciais da República,
para quem o Magistério estaria acima das causas pessoais e dos interesses
políticos e seria a expressão máxima do amor à Pátria e a Deus.

Tenho certeza absoluta, pelo material lido e manipulado no CRE Mário Co-
vas, que o Professor Cleófano Lopes de Oliveira pertenceu ao mesmo grupo de
educadores com este mesmo entusiasmo e dedicação.
A Professora Carolina Ribeiro foi ainda Secretária de Educação em São Pau-
lo em 1955, e concorreu ao cargo de Deputada na Câmara Federal no primeiro
período de Redemocratização (1945-1964) pela UDN. A pesquisa de Ana Re-
gina Pinheiro abriu algumas questões quanto à formação escolar do Professor
Lopes de Oliveira. A primeira delas foi notar que Dona Carolina Ribeiro nas-
ceu em 1882, sendo treze anos mais velha do que ele. Pinheiro afirma que: "Ela
terminou o 5 ano do Curso Primário e mergulhou no Curso Normal, ou seja,
aos onze ou doze anos. Estudou na Escola Normal de Itapetininga, que veio a
se chamar Escola Estadual Peixoto Gomide. Tendo nascido em Tatuí, aos doze
anos foi viver em outra cidade, e começa a lecionar em 1908, aos 16 anos. Em
1912 passa de professora substituta para efetiva no Grupo Escolar São Manuel.
Então é transferida para ministrar aulas no Grupo Escolar Maria José em 1913,
aos 21 anos de idade.
Vamos então tecer um paralelo na tentativa de levantar pistas para o misté-
rio da formação intrincada do Professor Cleófano. O Professor Cleófano Lopes
de Oliveira nasceu na cidade de Batatais no dia 17 de junho de 1895. Estudou
o Curso Primário em um colégio interno não se sabe onde, calvez na cidade de
Franca, onde viviam muitos parentes, calvez em algum colégio equivalente ao
colégio em que sua esposa fez o Curso Primário, o Colégio Nossa Senhora do
Patrocínio de ltu (das Irmãs de São José, que vieram da França). São apenas
especulações. E parece que, ao terminar o 5° ano primário, o pai o enviou para
estudar Medicina na Bélgica, na Universidade Livre de Bruxelas. Entretanto,
estoura a I Guerra Mundial e ele é aconselhado a voltar para o Brasil. Destes
tempos da Bélgica ele vem a dedicar seu livro Grammaire Française Elémentaire
a seu professor de Anatomia, Prof Georges Labouesse. Terá ele se formado na

610
PO SFÁCIO

Escola Normal antes ou depois de seu retorno ao Brasil? Muito provavelmente


depois. Sabemos pelos livros publicados que Lopes de Oliveira inicia sua car-
reira no magistério como professor de Inglês no Instituto de Educação Peixoto
Gomide de ltapetininga (criado em 1894). Talvez ele tenha feito seus estudos lá
mesmo. Hoje ela é chamada de Escola Estadual Peixoto Gomide.

Considerações sobre a obra

Nesta altura de nossas digressões vamos nos focar na interessante e abran-


gente análise que duas pesquisadoras do grupo dos professores Neusa Bastos e
José Everardo Nogueira Junior teceram sobre o Flor do Lácio (cap. 9).
Palma e Mello Franco (2014, p. 114) alegam que Flor do Lácio objetiva
a construção de conhecimento, por parte dos estudantes, processo no qual o
professor deve ter o cuidado de ensinar pelos temas mais simples e caminhar
em direção à complexidade, para assim, desenvolver uma sólida aprendizagem.
O segundo aspecto observado por elas diz respeito à importância de bons
modelos que possibilitem ao aluno constituir referências que lhe dêem suporte
no momento da produção textual com vistas à autonomia na escrita, o que está
previsto na obra, no desenvolvimento dos temas literários, momento em que
o estudante deve aplicar os conhecimentos adquiridos. Alguns conselhos práti-
cos vão surgindo, considerados necessários para a boa redação, sendo também
apresentados recursos estilísticos. Vêem-se propostos aí os passos da Retórica,
inventio e compositio.
Os textos propostos são ora mais objetivos, ora mais subjetivos. A obra
como um todo sempre busca a diversificação dos gêneros. Percebe-se que o
professor considera a descrição um gênero mais simples, mas concebe também
que seu domínio serve de base para a produção de gêneros mais complexos,
como as narrações e dissertações como expressão de idéias morais ou as disser-
taçóes literárias.
O autor não abandona a metodologia proposta, aspecto que demonstra não
só a coerência de seu trabalho como a importância atribuída a uma prática pe-
dagógica rigorosamente construída (2014, p. 116).
Flor do Lácio mostra-nos claramente a necessidade da leitura de bibliogra-
fia especializada para a produção das dissertações literárias. Ele aborda temas
importantes para o conhecimento enciclopédico e humanista, tal como pre-
cisavam as normas legais dos anos 40 e que se mantiveram ao longo dos anos
60, segundo as pesquisadoras em seu profundo estudo da obra dele e desta no
contexto de obras de seu tempo (2014, p. 117).

611
FLOR DO LÁCIO

A obra busca formar estudantes cada vez mais autônomos no uso da língua,
segundo os padrões da norma culta. Segundo as analistas Palma e Mello Fran-
co, Lopes de Oliveira em seu livro não só se preocupou em elaborar uma meto-
dologia para o ensino da língua como orientou a apresentação de todas as lições
que integram o compêndio, e tratou de outras questões lingüísticas, como as
gramaticais, as estilísticas e até as relativas ao uso da língua oral.
Quanto à elaboração teórica do livro Flor do Lácio, as pesquisadoras nos
contam que o autor fundamentou-se em nomes renomados da História da
Literatura Luso-Brasileira como Fidelino Figueiredo, Ronald de Carvalho, Sil-
veira Bueno, Soares Amora, Manuel Bandeira, Aubrey Bell e Sílvio Romero,
no que se refere às literaturas brasileira e portuguesa; G. von der Gabelentz,
ao tratar da linguagem afetiva na conversação; Brant Horta, ao apresentar as
narrativas; Coelho Neto, para exemplificar as impressões pessoais; e Antenor
Nascentes e Brant Horta, para caracterizar a dissertação, apontando para uma
linha de profundidade, não só na construção da obra, mas também na efetiva-
ção dos processos de ensino e de aprendizagem.
Palma e Mello Franco focam um trecho de suas análises ao texto acadêmico
realizado e dedicam-se então à análise feita à obra de Lopes de Oliveira pela
pesquisadora Maria Antonia Granville intitulado de O discurso pedagógico dos
livros didáticos da década de sessenta: reflexos ou reproduções das políticas públicas
de educação. Granville aponta que Flor do Lácio é uma obra moderna por ter
se integrado ao contexto de sua época, alinhada com os valores presentes na
sociedade naquele momento e veiculadora desses valores. A obra fez eco a um
modelo de ensino da língua materna calcado no modelo francês, assim como
apontou para mudanças que vieram a se efetivar alguns anos depois em relação
à prática pedagógica no que tange ao ensino da língua portuguesa.
As pesquisadoras Palma e Mello Franco concluem por meio da análise desta
obra que a Escola Normal na primeira metade do século xx foi de grande im-
portância educacional e social, por sua metodologia do ensino da língua por-
tuguesa, tendo sido Lopes de Oliveira com sua obra um representante de toda
uma época no ensino da língua materna.
A título de conclusão do estudo da obra Flor do Lácio, elas apontam Lopes
de Oliveira como um comunicador por excelência, além de um grande didata,
ao mesmo tempo em que interage com seu aluno, sem deixar de ser autor, pro-
fessor e amigo (2014, p. 125).
Com o propósito de dialogar com a conclusão das pesquisadoras, vamos
terminar este texto sobre a trajetória do educador Lopes de Oliveira com a
fala encontrada nas atas de reunião da Congregação do Instituto de Educação
Caetano de Campos (reunião do dia 9 de maio de 1958) em sessão presidida

612
POSFÁCIO

pelo Professor João Carlos Gomes Cardim para homenagear o professor que se
aposentara da Cadeira de Literatura Didática. Registra a ata:

Cleófano Lopes de Oliveira foi no exercício do magistério exemplo dig-


nificante de honestidade profissional, dedicação inexorável e honrou a
Congregação pela cultura e ardor com que sempre serviu aos interesses
da casa. Deixou a cátedra aqui, mas permanecerá pela profunda ami-
zade que o une a todos os seus companheiros da Congregação. Propôs
então a Professora Yolanda de Paiva Marcucci a designação do Professor
Cleófano Lopes de Oliveira para membro honorário da Congregação do
Instituto de Educação Caetano de Campos. Tendo as suas palavras finais
recebido a aclamação de todos os professores presentes. Visivelmente
emocionado agradeceu o Professor Cleófano Lopes de Oliveira referin-
do-se com carinho ao tempo passado entre os companheiros, lutando
pelo Bem desta casa de ensino. Leva no coração a amizade, a gratidão e
as saudades que o trarão freqüentemente ao Instituto.
BIBLIOGRAFIA

AHECC (Acervo histórico da Escola Caetano de Campos. 44 mil itens).


AIRD, Maitê Custódio Rios. O jardim da infância público anexo à Escola
Normal da praça: um estudo sobre o gênero (18961926). Mestrado em Educa-
ção: História, Política e Sociedade. 2015 PUC-SP.
AZEVEDO, Fernando. A Cultura Brasileira. 7ª. ed. São Paulo: Edusp, 201 O
(Os fundadores da USP 1), 920 pp.
BASTOS, Neusa Barbosa e Dieli Vesaro Palma (orgs.) et alli. História Entre-
laçada 6· Língua Portuguesa na década de 60: Lingüística, Gramática e Educação.
IP - PUC-SP, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014. E-book kindle.
• História Entrelaçada l'
Língua Portuguesa na segunda metade do século XX: Lingüística, Gramática e Edu-
cação. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.
Biblioteca do Livro Didático (BLD) e banco de dados livres referente aos
livros didáticos brasileiros de 181 O aos dias atuais na FEUSP ( Circe Maria Fer-
nandes Bittencourt).
CME (Centro de Memória da Educação) recebeu o acervo do educador anar-
quista João Penteado (1870-1968) constituído pelo Arquivo Permanente da
Escola Moderna, criada no Bairro do Belém por grupos anarquistas e anticle-
ricais sob inspiração de propostas do espanhol Francisco Ferres (1912-1919)e
das escolas que as sucediam, a Escola Nova (19201922) e, a Escola do Comér-
cio Saldanha Marinho (1924-2002).
GRAN VlLLE, Maria Antonia. O discurso pedagógico dos livros didáticos da
década de sessenta: reflexos ou reproduções das políticas públicas de educação. Dis-
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Oliveira, Cleófano Lopes de.


Flor do Lácio: explicação de textos e guia de
composição literária / Cle6fano Lopes de Oliveira;
apresentação de Caio Perozzo;
posfácio de Ana Lúcia de Oliveira Brandão;
Campinas, SP: Kirion, 2023.

1sBN 978-65-87404-65-3

1. Educação 2. Textos para prática da linguagem


3. Língua portuguesa
I. Título II. Auror

cDD 370 / 468-6 / 469

Índices para catálogo sistemático:


1. Educação - 370
2. Textos para prática da linguagem - 468-6
3. Língua portuguesa - 469

Este livro foi composto em Adobe Garamond Pro


e impresso pela Ferrari Daiko, São Paulo-SP, Brasil,
nos papéis Chambril Avena 80 gr/m 2 e Cartão Triplex 250 gr/m 2.
"Se promovêssemos uma pesquisa
para indagar ao vulgo sobre qual o
maior problema do Brasil, a maioria
responderia sem hesitar: educação.
Não por acaso que, a cada pleito elei-
toral, os candidatos falam tanto em
'investimento em educação'. [...] No
entanto, a grande verdade é que isto
implica no financiamento desta tragi-
comédia cíclica e infinda na qual todos
os personagens se emaranham, na
mais profunda inconsciência de sua
própria participação ativa na cons-
trução do drama que os oprime: os
professores não sabem que não edu-
cam, os alunos não sabem que não são
educados, os financiadores não sabem
o que financiam, e todos esperam, ao
mesmo tempo, mais financiamento.
[ ... ] Se todos falam sobre educação
apenas na perspectiva de terceiriza-
ção dos meios, desconhecendo-lhe os
fins. e, portanto, sem a menor consci-
ência da sua própria educação. temos
elementos suficientes e incontestes
para concluir que. na verdade. o maior
problema da educação brasileira é o
fato de ninguém querer se educar. [ ... ]
Se o leitor optou livremente por ad-
quirir o volume que ora tem em mãos,
um antigo manual escolar, é porque,
mesmo de maneira incipiente. reco-
nheceu o dever de educar-se."

Caio Perozzo, na apresentação

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