Cleófano Lopes de Oliveira - Flor Do Lácio
Cleófano Lopes de Oliveira - Flor Do Lácio
Cleófano Lopes de Oliveira - Flor Do Lácio
Apresentação de
Caio Perozzo
Posfácio de
Ana Lúcia de Oliveira Brandão
KÍRION
Flor do Lácio:
explicação de textos e guia de composição literária
Cleófano Lopes de Oliveira
1 ª edição - fevereiro de 2023- CEDET
Copyright © Herdeiros de Cleófano Lopes de Oliveira
Editor:
Felipe Denardi
Preparação de texto:
Beatriz Mancilha
Capa:
Laura Barreto
Diagramação:
Thatyane Furtado
Revisão de provas:
Juliana Coralli
José Carlos Moura
Flávia Theodoro
Conselho editorial:
Adelice Godoy
César Kyn d'Ávila
Sílvio Grimaldo de Camargo
Sumário
Apresentação 13
Caio Perozzo
Prefácio 19
Grupo de textos 23
I. A descrição 29
Descrição de coisas sem movimento 31
Descrição de quadros de conjunto sem movimento 53
Descrição com impressões pessoais 75
Descrição de vistas e quadros animados 100
I. Narrativas 3 23
As diversas espécies de narrativas 341
Narrativas descritivas 342
Narrativas demonstrativas......................................................... 362
Narrativas dramáticas 376
Narrativas humorísticas 390
Narrativas com reflexões 402
Narrativas com conversação 414
Narrativas com retrato 426
Narrativas exóticas ....................................................................436
Narrativas antigas 448
V. Discursos 503
Sermão 516
I. A narração 543
Narração em prosa 545
Narração em verso 550
Posfácio
A misteriosa e instigante trajetória profissional
do Professor Cleófano Lopes de Oliveira 601
-Ana Lúcia de Oliveira Brandão
6
Índice de textos
TEXTOS EXPLICADOS
7
FLOR DO LÁCIO
A descrição 29
Conselhos práticos de redação 48
Quadros de conjunto sem movimento 53
Descrição com impressões pessoais 75
Descrição de vistas e quadros animados 100
Retratos descritivos 121
Descrição de animais 145
Descrição de pessoas em ação 171
Descrição de animais ou de grupos de seres em ação 194
Descrição de ações num quadro 240
Descrição de sucessão de quadros ou de fatos........................ 256
Conversação 275
Cartas 295
Narrativas 323
8
ÍN DI CE DE TEXTOS
9
FLOR DO LÁCIO
IO
ÍN DI CE DE TEXTOS
I. DESCRIÇOES
I. NARRATIVAS
13
FLOR DO LÁCIO
14
APRESENTAÇÃO
Deste modo, note-se que, para o brasileiro médio, o valor do termo "educa-
ção" não se mede pela realidade educacional que deveria referenciar, senão que
pela expectativa de seus efeitos social e moral. Como "educação" é algo bom
em si mesmo, quanto mais, melhor! Quem seria louco de proclamar que não
precisamos de mais investimentos em educação?
No entanto, a grande verdade é que isto implica no financiamento desta
tragicomédia cíclica e infinda na qual todos os personagens se emaranham, na
mais profunda inconsciência de sua própria participação ativa na construção
do drama que os oprime: os professores não sabem que não educam, os alunos
não sabem que não são educados, os financiadores não sabem o que financiam,
e todos esperam, ao mesmo tempo, mais financiamento. Será realmente bom
em si mesmo nutrir tão pernicioso ciclo?
Além disso, escolas, papéis, canetas, merendas, salários, etc., são apenas
meios materiais de realização do processo educacional. Discutir os meios de
uma ação sem discutir os fins não significa absolutamente nada. É como deba-
ter a construção do melhor parque de diversão de todos, sem saber se será para
crianças ou cadáveres. Mas é justamente esta insistência teimosa na ostentação
dos meios que caracteriza nossa relação fetichista e artificial com a educação.
Todos só querem ver a escola pronta, bonitinha; pouco importa se dela saem
santos, ou monstros.
Longe de mim sugerir que burocratas discutam os fins da educação. O que
quero dizer é que, ao inverter a hierarquia entre meios e fins, no momento
mesmo em que alguém declara que o maior problema do Brasil está na "educa-
ção", ao menos dois traços se fazem patentes: 1) esse indivíduo não sabe o que
é educação, e, 2) está abstraindo a sua própria situação educacional da situação
discursiva, uma vez que a falta de educação seja sempre um problema da pátria
inteira, mas nunca dele mesmo, na dimensão pessoal.
Então, se todos falam sobre educação apenas na perspectiva de terceirização
dos meios, desconhecendo-lhe os fins, e, portanto, sem a menor consciência da
sua própria educação, temos elementos suficientes e incontestes para concluir
que, na verdade, o maior problema da educação brasileira é o fato de ninguém
querer se educar.
Em que pese caráter cultural tão deletério ao desenvolvimento das facul-
dades da alma, creio com toda benevolência que me é possível que se o leitor
optou livremente por adquirir o volume que ora tem em mãos, um antigo
manual escolar, é porque, mesmo de maneira incipiente, reconheceu o dever
de educar-se.
Mas convém adverti-lo que quem se livra do desleixo não está livre da pre-
sunção. Não se iluda achando que poderá, por si só, apreender o máximo deste
15
FL OR DO LÁCIO
CAIO PEROZzO
Professor do Instituto Borborema
16
A memória, sempre querida, de minha mãe
e a seu luminoso espírito, que vive junto de Deus.
Língua portuguesa
- Olavo Bilac
Prefácio
19
FLOR DO LÁCIO
Mas as descrições e as narrativas nada mais são, neste livro, do que compo-
siçóes fragmentárias, de que se compõe a narração propriamente dita. Assim,
pois, o último estudo deste volume é o da narração, em prosa e verso, seguida
da ligeira análise dum texto e de sumários esquematizados, como, também, de
temas livres, para os trabalhos escritos deste gênero literário. Destarte,
1)O aluno é guiado e amparado na leitura crítica, sem que se lhe violente
a personalidade.
2) Por meio de variada ginástica, grava no espírito o que aprendeu.
3) Imita os escritores, apreendendo-lhes o segredo da arte de escrever, não
havendo perigo nesta imitação, pois constitui, apenas, um passo no aprendi-
zado, de que logo se liberta, conforme se pode verificar nas escolas européias,
onde tem sido praticada há muitos anos.
4) Aprende a observar, a julgar e a exprimir-se por si, tornando-se, pouco a
pouco, independente em sua sensibilidade estética e em sua expressão artística,
à medida que se vai assenhorando dos recursos estilísticos e das formas de com-
posição, o que lhe exige, sem dúvida, salutar e benéfico esforço criador.
20
PREFÁCIO
21
Grupos de textos
23
FL OR DO LÁCIO
24) Fábulas
25) Anedotas
26) Impressões pessoais
27) Discursos
28) Idéias morais e dissertações
29) Narrações
29
FLOR DO LÁCIO
30
Descrição de coisas sem movimento
TEXTOS EXPLICADOS
I. A CELA DO RELIGIOSO
porta abriu-se sem ruído. Ele entrou, e a porta fechou-se de novo, silen-
A ciosamente. O lugar, em que o venerando religioso acabava de penetrar,
era uma triste cela, sombria e espaçosa, com uma janela gradeada e fechada, e
apenas frouxamente esclarecida por uma clarabóia do teto. As paredes, nuas de
alto a baixo, tinham uma cor sinistra de osso velho. Em uma delas havia um
grande nicho com a imagem da Virgem da Conceição, quase de tamanho na-
tural; a um dos cantos, uma negra estante, toscamente feita, pejada de grossos
alfarrábios amarelecidos pelo tempo; no centro, uma mesa de madeira escura
com um breviário em cima, ao lado de uma candeia de azeite, um pedaço de
pão duro, e um cilício de couro; junto à mesa, um banco de pau.
Al uísio de Azevedo
31
FL OR DO LÁCIO
32
A DESCRIÇÃO
33
FLOR DO LÁCIO
Luís Carlos 1
34
A DESCRIÇÃO
Estudo da composição
35
FLOR DO LÁCIO
Partes Pormenores
l
Elementos objetivos: chafariz abando-
a. O chafariz secular
nado e seu estilo a velha cidade de
Ouro Preto
b. A vegetação
da umidade j Elementos objetivos: boleto musgo
Elemento subjetivo: flor da umidade
Chafariz
l
secular Elemento objetivo: conspecto defor-
c. O triste aspecto
mado
do chafariz
Elemento subjetivo: tristeza
d. Os leões
l Elemento objetivo passado: a água
Elemento subjetivo: o cansaço atribuí-
do aos leões
l
Elemento objetivo: velho escudo
e. O escudo
Elemento subjetivo: uma hipótese
(o provável passante)
37
Descrição de coisas sem movimento
TEXTOS PARA EXPLICAÇÃO
I. A CASA DA FAZENDA
Monteiro Lobato
d. Entremostrar j. Parapeito
e. Esboroar k. Esborcinado
f. Pandarecos
2) Mostre que o autor, nesta descrição, partiu do geral, que ele apenas enun-
ciou, para o particular, que desenvolveu minuciosamente.
39
FLOR DO LÁCIO
Exercício !: vocabulário
Aurélio Pinheiro
41
FLOR DO LÁCIO
3) Diga que impressão lhe causa esse gabinete de médico. Justifique sua
opinião.
Exercício I: vocabulário
Exercício : elocução
43
FL OR DO LÁCIO
Com efeito, nada mais loução do que essa alcova em que os brocatéis de seda se
confundiam com as lindas penas de nossas aves, enlaçadas, em grinaldas e fes-
tóes pela orla do teto e pela cúpula do cortinado de um leito colocado sobre um
tapete de peles de animais selvagens. A um canto, pendia da parede um crucifixo
em alabastro, aos pés do qual havia um escabelo de madeira dourada. Pouco
distante, sobre uma cômoda, via-se uma dessas guitarras espanholas que os ci-
ganos introduziram no Brasil quando expulsos de Portugal, e uma coleção de
curiosidades minerais de cores mimosas e formas esquisitas. Junto à janela, havia
um traste que à primeira vista não se podia definir: era uma espécie de leito ou
sofá de palha matizada de várias cores e entremeada de penas negras e escarlates.
Uma garça real empalhada, prestes a desatar o vôo, segurava com o bico a corti-
na de tafetá azul que ela abria com a ponta de suas asas brancas e, caindo sobre
a porta, vendava esse ninho de inocência aos olhos profanos. Tudo isto respirava
um suave aroma de benjoim, que se tinha impregnado nos objetos como o seu
perfume natural, ou como a atmosfera do paraíso que uma fada habitava.
José de Alencar
1) Explique as palavras:
a. Loução f. Alabastro
b.Alcova g. Traste
c. Brocatéis h. Entremeada
d. Festões i. Vendar
e. A orla do teto j. Benjoim
44
A DESCRIÇÃO
4) Faz-nos esta descrição ver o quarto com sua mobília e seus ornamentos?
Que se deduz daí em relação ao estilo do autor do trecho?
45
FLOR DO LÁCIO
1) De sinônimos a:
a. Loução f. Segurar k. Onirismo
b. Orla g. Brancas l. Obstância
c. Tapete h. Vendar m. Esfumar
d. Mimosas i. Suave n. Garrido
e. Esquisita j. Aroma o. Donaire
47
Conselhos práticos de redação
J OVEM estudante,
Reflita bem, antes de redigir. Leia com a máxima atenção o tema propos-
to, a fim de lhe compreender perfeitamente o sentido; tente precisar as idéias
principais, que você deverá pôr em nítido relevo. Forme, de acordo com o que
já aprendeu na explicação de textos, um plano de composição ou, ainda, inspi-
re-se no sumário, se o houver.
Que seu estilo seja, antes de tudo, bastante claro. Evite, pois, as sentenças
demasiado longas e o abuso dos "que", "cujo", "qual", "então", "agora", "aqui",
"ali", "além" etc. Que não haja dúvidas quanto aos antecedentes dos pronomes
relativos. Um meio fácil, posto que não obrigatório, de dar realce a uma idéia
é fazer com que as orações adjetivas se refiram, dentro dum mesmo período, a
um único nome ou pronome, como no seguinte exemplo: "Deus, que é eterno,
cuja misericórdia é infinita, para quem se voltam os corações angustiados, de
quem se espera graça e perdão, é o supremo criador do céu e da terra".
Há, todavia, um caso, em que se pode caracterizar, por meio de orações ad-
jetivas, mais de um nome, sem quebra da clareza: é quando dois ou mais nomes
são confrontados ou se acham ligados por coordenação. Exemplo: "Aristófanes,
que é triste por natureza, e Ruth, que é alegre por temperamento, encontraram-
,,
-se e amaram-se .
Nunca, jovem estudante, empregue palavras cuja verdadeira significação lhe
escape. Não se esqueça, contudo, de ser elegante; tenha sempre o cuidado de
evitar lugares-comuns, termos de gíria ou muito familiares, expressões regio-
nais, locuções triviais, verbos sem valor expressivo, como "ter", "possuir", "ser",
"estar", "haver"; formas passivas como "vê-se", "via-se", "vêem-se", "avista-se",
A DESCRIÇÃO
49
Descrição de coisas sem movimento
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA
3 É imprescindível a leitura desse trabalho, que serve aos alunos de proveitosíssima orientação.
50
A DESCRIÇÃO
51
FLOR DO LÁCIO
53
Descrição de quadros de
conjunto sem movimento
TEXTOS EXPLICADOS
I. PAISAGEM GAÚCHA
Alcides Maia
4 Observem os alunos como o autor soube, neste trecho, só empregar verbos expressivos, exceção
feita da primeira oração, que, aliás, é toda narrativa.
54
A DESCRIÇÃO
R.: O autor descreve uma paisagem das cercanias de Bagé, no Rio Grande
do Sul, observada ao pôr do sol e caracterizada por meio de pormenores descri-
tivos apropriados ao aspecto do céu e da terra.
1) Por que nos causa a primeira parte uma impressão de calma, de sereni-
dade?
R.: Porque o aspecto é descrito numa hora em que tudo se suaviza: diminui
sensivelmente o calor, assim como a agitação e a claridade, esmaecendo-se as li-
nhas nítidas e rígidas das coisas; o próprio autor exterioriza essa impressão com
uma oração: "Uma grande serenidade pairava ... ", e com um adjetivo: "Calmo".
55
FLOR DO LÁCIO
Paisagem
gaúcha
l é
à
o
e
"
g
-"' il ...g
g
Canto e Melo
57
FLOR DO LÁCIO
4) Que vemos nos seis diferentes planos de que se compõe este quadro?
R.: No primeiro plano, vemos as águas da baía, as numerosas embarcações
ornadas de bandeiras, os escaleres, as moças, os músicos, a transparência da
tarde serena. No segundo, vê-se a enseada, o cruzador e o mastro com a flâmula
de guerra. No terceiro, avista-se a Urca. No quarto, por detrás da Urca, o Pão de
Açúcar e a bandeira branca. No quinto, ao longe eleva-se deslumbrantemente a
Serra dos Órgãos. No sexto, avistam-se, no horizonte remoto, nuvens rubras e,
no meio delas, o Dedo de Deus.
2) Com que expressões traduz o autor suas impressões pessoais, isto é, como
exprime ele as reações estéticas de seu espírito ante o aspecto das coisas?
R.: Ele as traduz por meio de adjetivos, mas, principalmente, por meio de
expressões figuradas e de comparações, como, por exemplo:
a. "Sonorizavam a divina transparência da tarde serena" (impressão de mú-
sica, de visibilidade e de calma)
b. "O indescritível deslumbramento da Serra dos Órgãos" (impressão de
êxtase)
c. "Nuvens ensangüentadas" (impressão de cor)
d. "Como uma blasfêmia de pedra (impressão religiosa e impressão de forma)
Gastão Cruls
59
FLOR DO LÁCIO
60
A DESCRIÇÃO
61
FLOR DO LÁCIO
O Templo
de Cuzco
1 de Cuzco
62
Descrição de quadros
de conjunto sem movimento
TEXTOS PARA EXPLICAÇÃO
I. UM POR DE SOL
Eça de Queirós
c. Maravilhosa h. Apinhadas
d. Diluir i. Mergulhava
e. Delicada
2) Com que expressões consegue o autor dar forma, luz e colorido às coisas?
Exercício 1: vocabulário
Vasto, dourado à luz do meio-dia, [ ... ] o vale de Aracoiaba era duma beleza
forte e impressionante de paisagem sertaneja. Ao fundo barravam-lhe a pers-
pectiva, altas, abruptas, as serras do Baturité e do Acarape, onde emergiam da
verdura brancos talhados de granito, faiscando ao sol. A glória luminosa do dia
enchia tudo. Sob ela cintilavam os penhascos, incendiam-se as micas, palheta-
vam-se de tons flavos as águas paradas de uma lagoa, ao longe. Aqui e ali uma
grande árvore derramava sombra numa fachada clara de casa matuta ou espar-
gia frescura sobre um quintalejo benfeitorizado. Pelo recosto do cerro descia
em ondulações de veludo novo uma capoeira densa, de fetos, de marmeleiros e
ameixeiras-bravas. Por tudo e em tudo, do alto azul do céu à calma horizontal
das águas empoçadas, do dorso corcovado dos montes às extensões lisas da pla-
nície, sorria fana, orgulhosa, a pompa régia do inverno. A terra tinha um nobre
e calmo aspecto de abundância; o céu, um claro riso de bondade e proteção.
Gustavo Barroso
66
A DESCRIÇÃO
Exercício I: vocabulário
2) Dê sinônimos a:
a. Parar f. Farta k. Enleio
b. Vasto g. Orgulhosa 1. Devaneio
c. Descansar h. Pompa m. Grei
d. Densa i. Encosta n. Griséu
e. Calma j. Enlevo
4) Cite palavras cujos sufixos sejam "al", "ário", "eiro", "eira", "ura".
68
A DESCRIÇÃO
Exercício : elocução
Raimundo Morais
Nibelungen (alemão): lendários anões que possuíam grandes riquezas subterrâneas e cujo rei era
Nibelung.
FLOR DO LÁCIO
1) Explique:
a. Anfiteatro f. Taludes k. Jade
b. Clâmide g. Ravinas l. Mesopotâmias
c. Clareira h. Gleba m. Quadrante
d. Meandro i. Zimbórios
e. Labirinto j. Velário
4) Mostre que essas partes se ligam umas às outras numa sucessão de quadros.
1) De sinônimos às palavras:
a. Vastidão e. Esconder i. Desfilar
b. Motivo f. Amplos j. Conturbar
c. Esplendor g. Esbarrar k. Conjurar
d. Força h. Destruir l. Solerte
71
FLOR DO LÁCIO
Exercício : elocução
1) Descreva uma praça pública, num dia de feira, de acordo com o seguinte
plano:
a. O aspecto geral: o de uma cidade em miniatura ou de um acampamento
de ciganos
b. As seções: as barracas - peças de lona amareladas, brancas ou cinzentas
estendidas sobre armações desmontáveis de madeira. Os balcões. As merca-
dorias. As diversas seções: de legumes, de frutas, de peixes, de salsicharia, de
lacticínios, de conservas, de utensílios domésticos. Os caminhões e as carroças.
Os vendedores e a multidão
Nota: Não se esqueça de traduzir sensações de forma, relevo, cor e odor; não
traduza, porém, os movimentos. Neste particular, descreva como se tivesse à
frente uma estampa.
73
FLOR DO LÁCIO
74
Descrição com impressões pessoais
75
FL OR DO LÁCIO
I. ANOITECER"
Raimundo Correia
77
FLOR DO LÁCIO
Expressões Impressões
Esbraseia Luz
Céus de ouro Cor luminosa
Pálpebra do dia Sombra
Aureolados de chama Luz
Mundo de vapores; como um nódoa Sombra
79
FLOR DO LÁCIO
1 ° terceto - 3-4-3
{ cruzadas
2o terceto - 4-3-4
II. OCASO
8o
A DESCRIÇÃO
Pinheiro Chagas
81
FL OR DO LÁCIO
8 ae
Ocaso J # ã
5 d)
I. RECIFE DE CORAL?
Olegário Mariano
86
A DESCRIÇÃO
Exercício : elocução
Mateus de Albuquerque
FLOR DO LÁCIO
88
A DESCRIÇÃO
2) Quais são as impressões pessoais do autor e com que expressões as traduz ele?
Exercício 1: vocabulário
Exercício : elocução
Nascia a lua. O mar clareava aos poucos. Na crista arrugada das ondas vagarosas
a luz joeirava cisalhas de prata. A praia clara recurvava-se entre duas finas e avan-
çadas pontas, arenosa, sem rochas, onde as vagas adormeciam, gemendo, num
grande espreguiçamento branco. Para o poente, vultos de coqueirais, batidos do
vento, destacavam-se negros no céu estrelado. Nas dunas desertas e tristes, apon-
toavam a brancura da areia mirradas moitas de pinhão bravo; de quando a quando
coleavam salsas rasteiras, como serpentes enormes. Ao norte, uma das pontas de
terra que longamente enfiava pelo oceano terminava em rochedos escuros, aqui
dispersos, ali quase igualmente intervalados à guisa de gigânteas alpondras: e por
sobre eles, flava, fulgurante, bocejava a intercadências a lanterna benéfica dum
farol. Todos os rumores dos matos, das águas e dos bichos notívagos diluíam-se
na noite enluarada. Um eflúvio dormente desprendia-se dos cajueiros floridos e
errava na face da terra uma canseira, um quê de sutil que impelia à modorra, ao
sono e à preguiça. Depois a lua resplandeceu alta e uma refulgência prateada, com
uns raros tons de azinhavre, derramou-se por sobre as coisas.
Gustavo Barroso
90
A DESCRIÇÃO
b. Cisalhas de prata
c. Adormeciam
d. Espreguiçamento branco
e. Bocejava a lanterna benéfica dum farol
f. Os rumores diluíam-se
g. Na noite enluarada
h. Eflúvio dormente
i. Refulgência prateada
1) Mostre que o interesse desta descrição está não somente nos elementos
descritivos, que reconstituem a paisagem, como também nas impressões pes-
soais do escritor.
91
FL OR DO LÁCIO
Exercício !: vocabulário
1) Dê sinônimos a:
a. Crista i. Mirradas q. Insuflar
b. Arrugada j. Moitas r. Desprazer
c. Ondas k. Colear s. Destrambelho
d. Joeirar 1. Escuros t. Fanar
e. Recurvar m. À guisa de u. Cairel
f. Poente n. Flava v. Bruxulear
g. Vultos o. Fulgurante
h. Destacar-se p. lnsueto
2) Dê antónimos a:
a. Clarear f. Adormecer k. Dispersos
b. Vagarosa g. Branco I. Benéfica
c. Luz h. Desertas m. Preguiça
d. Clara i. Brancura
e. Finas j. Mirradas
92
A DESCRIÇÃO
Exercício : elocução
93
Composições rápidas
94
A DESCRIÇÃO
Luar num parque: Uma claridade opalina descia em profusão das alturas,
branquejando as perspectivas e prateando as folhas das árvores, que, dentro da
quietude leitosa do luar, formavam um bosque encantado, cheio de cintilações,
como se as estrelas tivessem caído do céu.
Pôr de sol: O sol descia, como um globo de fogo, rumo à linha do horizon-
te, abrasando o céu ao derredor e fulgurando, rátilo, num clarão incandescente,
que se alongava em faixas ígneas, semelhantes a labaredas imóveis.
95
FLOR DO LÁCIO
Exercícios
97
Descrição com impressões pessoais
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA
99
Descrição de vistas e quadros animados
100
Descrição de vistas e quadros animados
TEXTOS EXPLICADOS
I. O SALTO DO GUAÍRA
Emílio de Menezes
1OI
FL OR DO LÁCIO
103
FL OR DO LÁCIO
a. "Largo oceano azul", com que o poeta designa a vastidão do rio e sua cor
b. "Marulhoso e brando", com que indica o aspecto e o ruído agradável de
suas águas
c. "O rio enorme", que repete, restringindo-a, a idéia contida na figura ini-
cial (largo oceano)
d. "Represando as águas": é um aspecto do rio pouco antes da queda, quan-
do começa a animação violenta das águas
Outras expressões, que pintam aspectos tumultuosos do rio, se encontram
nas frases: "O rio se desata em torvelins de espuma", "vertiginoso", "raivando,
"ruge, fracassa e tomba", "em arco se levanta", "caudal".
Uma tênue mancha de claridade argêntea recorta em laca a linha ondulada das
colinas verdes. Pouco a pouco, uma poeira de ocre transparente, que se esbate
A DESCRIÇÃO
Virgílio Várzea
105
FLOR DO LÁCIO
106
A DESCRIÇÃO
III. SERTÃO
107
FLOR DO LÁCIO
Luís Carlos
108
A DESCRIÇÃO
Agra azeda.
Vingar vencer, ultrapassar.
Estorvo obstáculo, empecilho.
Marnel charco, alagadiço.
Torvo horrível.
Sarcasmo - ironia maldosa.
Feral fúnebre.
109
FLOR DO LÁCIO
IIO
Descrição de vistas e quadros animados
TEXTOS PARA EXPLICAÇÃO
I. NA FLORESTA
Gastão Cruls
III
FLOR DO LÁCIO
3) Que quer o autor dizer com a oração: "A natureza amazônica reproduz os
jardins suspensos de Semíramis"?
2) Quais são, neste trecho, as passagens narrativas? Por que são narrativas?
II2
A DESCRIÇÃO
Exercício J: vocabulário
1) Cite dez nomes de aves selvagens do Brasil, dez de feras e dez de árvores.
4) Dê sinônimos às palavras:
a. Animar e. Portentoso i. Transmutação
b. Crista f. Tecer j. Detrimento
c. Sazonar g. Vergel k. Incólume
d. Busca h. Recesso 1. Insano
Exercício : elocução
113
FLOR DO LÁCIO
Por todos os lados, onde quer que a vista repousasse, o sol resplandecia. Som-
bras raras enegreciam de manchas as campinas louras e, para o horizonte dis-
tante, fina e translúcida, uma névoa de ouro passava como um véu corrido do
céu sobre os montes dum forte azul quase negro. À sombra dos tejupás da roça,
cães arquejantes modorravam e as galinhas, de asas frouxas, bico aberto, ofe-
gando, paradas, pareciam hipnotizadas pela irradiação deslumbrante. Ao cair
da tarde, esmaecendo a luz em laivos de sangue e ouro sob a fímbria do ocaso,
as cigarras entravam a chiar, respondendo-se, em concerto, dum ponto e dou-
tro; pássaros saíam repousados, atravessando o ar tépido; borboletas tontas,
como se despertassem dum torpor de narcótico, esvoaçavam de ramo em ramo;
ruflos de asas, de beija-flores, surdinavam e rolas, com enternecida e apaixona-
da tristeza, gemiam entre os milhos, onde os sanhaçus, em chusma, gritavam
estridulamente e os periquitos verdes grazinavam.
- Coelho Neto
2) Divida o trecho em duas partes, dando a cada uma delas um título ex-
pressivo.
3) Com que expressões traduziu ele as ações dos insetos e dos pássaros, ao
cair da tarde?
Exercício I: vocabulário
115
FLOR DO LÁCIO
116
A DESCRIÇÃO
117
Descrição de vistas e quadros animados
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA
119
FL OR DO LÁCIO
120
Retratos descritivos
121
FLOR DO LÁCIO
Cardoso de Oliveira
122
Retratos descritivos
TEXTOS EXPLICADOS
I. O MARECHAL FLORIANO
Alcindo Guanabara
123
FLOR DO LÁCIO
124
A DESCRIÇÃO
2) Por que é a primeira parte deste retrato mais longa do que a segunda?
R.: Porque é na primeira que o autor nos descreve a fisionomia do marechal,
mostrando-o tal como era em determinado momento da vida.
O Marechal
Floriano
i nariz grosso e reto lábios grossos (o autor poderia ter evitado
a repetição deste adjetivo)
nhoado suíças pequenas
bigode escasso
rugas olhos
queixo esca-
cílios
Vestuário
j a. De_ aparato: farda de marechal, com conde-
coraçoes
b. Caseiro: jaleco camisa sem goma calças
II. CECÍLIA
125
FL OR DO LÁCIO
certas aves, orlava o talhe e as mangas, fazendo realçar a alvura de seus ombros
e o harmonioso contorno de seu braço. Os longos cabelos louros, enrolados
negligentemente em ricas tranças, descobriam a fronte alva e caíam em volta
do pescoço, presos por uma presilha finíssima de fios de palha cor de ouro. A
mãozinha afilada brincava com um ramo de acácia, que se curvava, carregado
de flores, e ao qual de vez em quando segurava-se para imprimir à rede uma
oscilação. Esta moça era Cecília.
José de Alencar
126
A DESCRIÇÃO
R.: É o jardim da casa, com a acácia donde caem flores miúdas e pende a
rede em que se acha a moça. Este quadro aparece rapidamente no período, que
vai desde o início até "perfumadas", e é completado pela passagem que começa
com a expressão: ''A mãozinha afiladà', e termina em: "Esta moça era Cecília".
127
FLOR DO LÁCIO
128
Retratos descritivos
TEXTOS PARA EXPLICAÇÃO
I. JACINTO
delicioso Jacinto fizera então vinte e três anos, e era um soberbo moço
E STE
em quem reaparecera a força dos velhos Jacintos rurais. Só pelo nariz, afi-
lado, com narinas quase transparentes, duma mobilidade inquieta, como se an-
dasse fariscando perfumes, pertencia às delicadezas do século XIX. O cabelo
ainda se conservava, ao modo das eras rudes, crespo e quase lanígero; e o bigode,
como o dum celta, caía em fios sedosos, que ele necessitava aparar e frisar. Todo
o seu fato, as espessas gravatas de cetim escuro que uma pérola prendia, as luvas
de anta branca, o verniz das botas, vinham de Londres em caixotes de cedro;
e usava sempre ao peito uma flor, não natural, mas composta destramente pela
sua ramalheteira com pétalas de flores dessemelhantes, cravo, azálea, orquídea
ou tulipa, fundidas na mesma haste entre uma leve folhagem de funcho.
Eça de Queirós
129
FLOR DO LÁCIO
c. Crespo g. Azálea
d. Lanígero h. Orquídea
2) Que quer Eça de Queirós dizer ao afirmar de Jacinto que ele pertencia às
"delicadezas do século xrx"?
3) Dê sinônimos a:
a. Delicadezas e. Fato i. Destramente
b. Rudes f. Espessas j. Dessemelhante
c. Crespo g. Escuro k. Incongruência
d. Frisar h. Branca 1. Incriminar
4) Dé antônimos a:
a. Delicioso h. Inquieta o. Irrequieto
b. Soberbo i. Delicadeza p. Ínclito
c. Moço j. Rude q. Invicto
d. Força k. Sedoso r. Insueto
131
FL OR DO LÁCIO
5) Cite nomes:
a. De peças de indumento masculino
b. De peças de indumento feminino
c. De traços físicos delicados e belos
O Conde dos Arcos, entre os cavaleiros, era quem dava mais na vista. O seu
trajo, cortado à moda de Luís xv, de veludo preto, fazia realçar a elegância do
corpo. Na gola da capa e no corpete, sobressaíam as finas rendas das gravatas e
dos punhos. Nos joelhos, as ligas bordadas deixavam escapar com artifício os
132
A DESCRIÇÃO
Rebelo da Silva
133
FLOR DO LÁCIO
5) C onjugue
• d os tempos os verbos
em todos b "ffazer,
" "'ver,
" "·ir,
" "d Iescobrir
b • ",
)9
rIr e vr .
• )) +
134
A DESCRIÇÃO
Nas mais diversas aplicações de sua inteligência, soube ele permanecer o mes-
mo. Por mais alto que subisse, em cada degrau da sua esplêndida vida, nunca
foi visto vacilar. Soube administrar, combater, governar, tudo em máxima esca-
la, ficando sempre simples e modesto. Distinguiu-o invariavelmente a austera
simplicidade de um Cincinato, mas a quem nunca o Estado permitiu voltar do
triunfo para a charrua, pois não têm sido dado férias a tão constante lidar. Por
mais que barafuste a inveja, a história não aceitará que o nome de outro algum
dos nossos cidadãos se superponha ao deste; e ao nosso compatriota passará
também o cognome de Duque de Ferro, com que outro general foi saudado. Já
lhe conheceis as qualidades morais e físicas. Duma sobriedade exemplar, supor-
ta as maiores fadigas, sem demonstrar cansaço. Nunca foi visto desmentir-lhe
135
FL OR DO LÁCIO
136
A DESCRIÇÃO
3) Que quer o autor dizer quando afirma que o duque "sempre achou tem-
po para Deus, para a pátria, para os amigos, para a humanidade"?
1) De sinônimos às palavras:
a. Afã h. Jactancioso o. Vigor
b. Azáfama i. Vanglória p. Placidez
c. Marulho j. Esplêndida q. Converter
d. Guardião k. Austera r. Perspicácia
e. Esfumar l. Constante s. Cancelar
f. Espavorido m. Saudar t. Gélido
g. Presunçoso n. Fadigas
« )
"pre" ante ,
)
2)F orme p al avras com os pre fi xos """d"
com , e , contra,
"anti", "pro", "ex", "extra".
137
FLOR DO LÁCIO
Exercício : elocução
138
A DESCRIÇÃO
Visconde de Taunay
139
FLOR DO LÁCIO
4) Este retrato não parece, em certos trechos, uma caricatura? Por quê?
5) Dê antônimos a:
a. Atraente g. Grossos m. Gostar
6. Baixa h. Basta n. Geral
c. Engordar i. Postiça o. Tolos
d. Curtas j. Vestir p. Silente
e. Quietude k. Apuro q. Bulha
f. Vida 1. Elegância r. Nédio
6) Retire do texto:
a. Seis substantivos concretos d. Os advérbios
6. Seis substantivos abstratos e. As preposições
c. Os pronomes
Descreva, tendo por modelo o texto estudado, uma senhora gorda, com
pretensões a elegante.
Retratos descritivos
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA
Retratosflsicos
142
A DESCRIÇÃO
143
FLOR DO LÁCIO
4) Faça o retrato duma pessoa que tenha uma qualidade ou um defeito pre-
dominante, por exemplo:
a. Um velho vaidoso f. Uma jovem bondosa
b. Um guarda-civil atencioso g. Um homem grosseiro
c. Um rapaz astuto h. Uma menina gulosa
d. Um menino mentiroso i. Um menino fanfarrão
e. Um cobrador de ônibus amável j. Um barbeiro tagarela
5) Faça o retrato duma pessoa que tenha uma forte mania, ridicularizando-
-a, por exemplo:
a. A velha escrava da moda f. A atriz de rádio
b. O colecionador de selos g. O futuro campeão de boxe
c. Um futuro cantor de ópera h. O velho-moço
d. Uma futura estrela de cinema i. O grande caçador de feras
e. O futuro locutor de rádio
6) Faça o retrato duma pessoa adulta, cuja vida se cruza ou entrelaça com a
sua e cujo caráter você pôde observar; por exemplo:
a. Sua avó e. Sua irmã i. Uma professora
b. Seu avô f. Seu irmão j. Um professor
c. Sua mãe g. Sua madrinha k. O seu vigário
d. Seu pai h. Seu padrinho l. Uma amiguinha
144
Descrição de animais
1) Retrato físico:
a. Observamos o aspecto físico, as atitudes mais comuns ou interessantes, e,
secundariamente, certos movimentos bem característicos
b. Esforçamo-nos por assinalar artisticamente o encanto das formas ou das
cores (um galgo, uma corça, um cavalo, um pavão, um faisão, uma arara, um
papagaio, uma ave-do-paraíso etc.)
c. Comparamos o animal com um homem, com outro animal ou com uma
coisa (um gorila, comparado ao homem; um gato, comparado ao tigre; uma
estrela-do-mar, comparada a uma flor; um cisne, comparado a um navio anti-
go, etc.)
3) Retrato físico-moral:
a. Descrevemos o animal, salientando-lhe um característico predominante
(um carneiro, com sua timidez; um lobo, com sua voracidade; uma raposa,
com sua astúcia; um cão, com sua fidelidade etc.)
b. Descrevemo-lo, comparando-o com um ser humano, que se caracterize
por qualquer qualidade ou habilidade (um galo-de-briga, apresentado como
um espadachim; um tamanduá-bandeira, apresentado como um lutador; um
145
FLOR DO LÁCIO
I. O CISNE"
C. L. O.
8 Traduzido de Buffon.
147
FLOR DO LÁCIO
Gustavo Barroso
149
FLOR DO LÁCIO
4) Por que é que o meio torna o cavalo sertanejo pequeno, magro e sóbrio?
R.: A causa é toda biológica, de adaptação a um meio árido e improdutivo,
que, não lhe permitindo desenvolver-se fisicamente por deficiência de alimen-
tação, cria hábitos de sobriedade.
a. Aspecto físico
j Esguio, magro, pequeno, baixo, rabo compridíssimo,
crinas grandes, feio
III . A CASCAVE L
- Júlio Ribeiro
152
A DESCRIÇÃO
153
FLOR DO LÁCIO
l
Tamanho: de grande talhe
Movimento: ondula entre plantas rasteiras
a. A cobra rasteja
Atitudes: entrepara num lugar, escuta noutro
l
Torceu-se em espiral formou um rolo,
e. Armando O bote donde emergia a horrenda cabeça olhar
fixo e gélido língua bífida, a açoitar o ar
154
Descrição de animais
TEXTOS PARA EXPLICAÇÃO
I. O CACHORRO DO SERTÃO
Gustavo Barroso
155
FLOR DO LÁCIO
157
FL OR DO LÁCIO
Exercício : elocução
Tendo por modelo o período, que começa em: "O seu olhar glauco", fale de:
a. Uma criancinha, que acompanha com olhar curioso o movimento das
pessoas
b. Um gato, prestes a desferir o bote contra descuidado passarinho
II. O TAMANDUÁ-BANDEIRA
2) Quais são as partes desta descrição, que correspondem aos títulos ... ?
a. O aspecto físico do tamanduá
b. Seu alimento
c. Seu estratagema instintivo
159
FLOR DO LÁCIO
160
A DESCRIÇÃO
Exercício : elocução
III. O URUBU-REI
parte superior do corpo e branco debaixo das asas e do peito. A cabeça coberta
somente de uma penugem ostentava sete cores; o bico robusto, os olhos largos
e expressivos sem a ferocidade de seus congêneres, o pescoço aveludado e ador-
nado dum colar de alvas penas, fazem do urubu-rei um animal soberbo e de
nenhum modo merecedor do nome vulgar tão humilhante para ele.
Padre N. Badarioti
162
A DESCRIÇÃO
Exercício : elocução
Descreva, imitando o autor neste trecho, uma arara que desce a um milha-
ral, onde há um bando de papagaios.
IV. O POLVO
O polvo, com aquele seu capelo na cabeça parece um monge; com aqueles seus
raios estendidos parece uma estrela; com aquele não ter ossos nem espinha pa-
rece a mesma brandura, a mesma mansidão. E debaixo desta aparência tão mo-
desta, ou desta hipocrisia tão santa, o polvo é o maior traidor do mar. Consiste
esta traição do polvo, primeiramente, em se vestir ou pintar das mesmas cores
de todas aquelas cores a que está pegado. As cores, que no camaleão são gala, no
polvo são malícia; as figuras que em Proteu são fábula, no polvo são verdade e
artifício. Se está nos limos faz-se verde, se está no lodo faz-se pardo, se está em
alguma pedra, como mais ordinariamente costuma estar, faz-se da cor da mes-
ma pedra. E daqui o que sucede? Sucede que o outro peixe, inocente da traição,
vai passando desacautelado, e o salteador, que está de emboscada dentro do seu
próprio engano, lança-lhe os braços de repente e fá-lo prisioneiro.
- Antônio Vieira
A DESCRIÇÃO
3) Dê antônimos a:
a. Brandura d. Santa g. Verdade
b. Mansidão e. Vestir h. Inocente
c. Modesta f. Malícia
166
A DESCRIÇÃO
Exercício : elocução
Retrato fisico
168
A DESCRIÇÃO
7) Descreva:
a. Um condor, comparando-o a um aeroplano
b. Um gorila, comparando-o ao homem
c. Um gato, comparando-o a um tigre
d. Uma baleia, comparando-a a um submarino
e. Uma estrela-do-mar, comparando-a a uma flor
f. Um abutre, comparando-o a um salteador
Retrato moral
I. MARIA-SEM-TEMPO
Domício da Gama
A DESCRIÇÃO
173
FL OR DO LÁCIO
174
A DESCRIÇÃO
II. O SACI-PERE Ré
175
FLOR DO LÁCIO
com estridor", "fá-los disparar", "assusta os pobres pretos", "entra nos casebres",
"arrebenta móveis e vasilhas", "faz desandar o sabão", "lança cinzas dentro dos
tachos de doce", "derrama a água'', "apaga o fogo", "assobia, fuma, pula e de-
saparece".
O Saci
b. Ações (orações curtas): como aparece o assalto aos cavalos
como os faz correr como assusta os pobres pretos velhos como
entra nos casebres e o que aí faz como desaparece
Descrição de pessoas em ação
TEXTOS PARA EXPLICAÇÃO
I. IRACEMA
A LÉM, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu
.1"\.J: racema. lracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais
negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da
jati não era doce como o seu sorriso, nem a baunilha recendia no bosque como
seu hálito perfumado. Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem cor-
ria o sertão pelas matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande
nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia
que vestia a terra com as primeiras águas. Um dia, ao pino do sol, ela repousava
em um claro da floresta. Banhava-lhe o corpo a sombra da oiticica, mais fresca
do que o orvalho da noite. Os ramos da acácia silvestre esparziam flores sobre
os úmidos cabelos. Escondidos na folhagem, os pássaros ameigavam o canto.
lracema saíra do banho; o aljôfar da água ainda a roreja, como à doce mangaba
que corou em manhã de chuva. Enquanto repousa, empluma das penas do
guará as flechas do seu arco e concerta com o sabiá da mata, pousado no galho
próximo, o canto agreste. A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca
junto dela.
José de Alencar
177
FLOR DO LÁCIO
3) Que pormenores contém cada uma destas partes? Como se faz a transição
da primeira parte para a segunda e desta para a terceira?
4) Que impressão nos causa lracema, tal como está descrita neste trecho?
179
FLOR DO LÁCIO
II. O MINEIRO
18o
A DESCRIÇÃO
Luís Carlos
1) Que nos descreve Luís Carlos neste soneto? Responda em poucas palavras.
181
FL OR DO LÁCIO
3) A que heróis da Grécia clássica o compara Luís Carlos? Que fizeram esses
heróis?
Estudo da metrificação
182
A DESCRIÇÃO
6) Cite dez nomes de árvores florestais; dez de pedras preciosas; dez de aves
brasileiras.
Exercício : elocução
III . O SELVAGEM
O tigre desta vez não se demorou; apenas se achou a coisa de quinze passos do
inimigo, retraiu-se com uma força de elasticidade extraordinária, e atirou-se
como um estilhaço de rocha, cortada pelo raio. Foi cair sobre o índio, apoiado
nas largas patas de trás, com o corpo direito, as garras estendidas para degolar
a sua vítima, e os dentes prontos a cortar-lhe a jugular. A velocidade deste salto
monstruoso foi tal que, no mesmo instante que se vira brilhar entre as folhas
os reflexos negros de sua pele azevichada, já a fera tocava o chão com as patas.
Mas tinha em frente um inimigo digno dela, pela força e agilidade. Como a
princípio, o índio havia dobrado um pouco os joelhos, e segurava na esquerda
a longa forquilha, sua única defesa; os olhos fixos magnetizavam o animal. No
momento em que o tigre se lançava, curvou-se ainda mais; e fugindo com o
corpo apresentou o gancho. A fera, caindo com a força do peso e a ligeireza do
pulo, sentiu o forcado cerrar-lhe o colo, e vacilou. Então, o selvagem distendeu-
-se com a flexibilidade da cascavel ao lançar o bote: fincando os pés e as costas
no tronco, arremessou-se e foi cair sobre o ventre da onça, que, subjugada,
prostrada de costas, com a cabeça presa ao chão pelo gancho, se debatia contra
o seu vencedor, procurando debalde alcançá-lo com as garras. Esta lutou du-
rante minutos: o índio, com os pés apoiados fortemente nas pernas da onça, e
o corpo inclinado sobre a forquilha, mantinha assim imóvel a fera.
José de Alencar
g. Agilidade n. Gilvaz
186
A DESCRIÇÃO
Imitando José de Alencar nos dois primeiros períodos do texto, fale de:
a. Um gato atirando-se a um rato
b. Um gavião lançando-se contra uma pomba
c. Um jogador de futebol num lance emocionante
Sem lhes dar mais tempo nem repouso, parte a esgalgada filha do terreiro no
balanço exaustivo, aos golpes ferinos do gá e ao tunque-tunque dos atabaques,
em volta dos quais revolucionam as cabaças. Reaparece a tremelga viscosa, con-
vulsiva, a tresfolegar. Daí a pouco já não é figura humana; é uma harpia, uma
górgona, perseguida por um dardo secreto. Freme e tressua, rumina e devora
com as ventas túmidas o ar saturado de catinga e bafos de álcool. Braços e
tronco, pernas e cabeça agitam-se-lhe em trepidações de calafrio. Reergue-se
e oscila, as mãos abertas, os dedos hirtos, como palpando uma sombra. As
contrações do rosto, a palidez do beiço, o esgazear dos olhos já denunciam
demasiado sofrimento. É uma angústia contagiosa, de que parece sofrer todo o
terreiro. Mas esta mesma agonia exalta ainda mais as irmãs da ronda e dá-lhes
a ânsia mórbida do paroxismo. Suas vistas coruscantes parecem invejar a ditosa
dor da companheira.
-Xavier Marques
3) Aponte no texto:
a. As comparações
b. As onomatopéias
5) Não se poderia dizer: "Suas vistas parece invejarem", em vez de: "Suas
vistas parecem invejar?
188
A DESCRIÇÃO
193
Descrição de animais ou
de grupos de seres em ação
!
Calmas ou nervosas: de 1) Localização da cena,
a. Atitudes repouso, espreita, ataque, numa descrição feita em
defesa, fúria, medo etc. rápidos traços
Naturais ou ensinados.
Rápidos: frases e orações
1. Animais 4 É. Movimentos { curtas, sucessivas
Lentos: frases e orações 2) Aspectos amplos, de
longas, arrastadas conjunto (podendo-se
empregar figuras de estilo)
!
Traduzidas por expressões
c. Ações adequadas, onomatopéias
ou comparações
a. De pessoas Expressões coleti-
b. De animais da vas e movimentos
mesma espécie de conjunto, 3) Verbos
II. Grupos 7 e. De animais de tardos ou céleres; bastante expressivos
várias espécies expressôes de
d. Mistos, de pessoas ruído
e animais
194
Descrição de animais em ação
TEXTO EXPLICADO
O TOURO DO CIRCO
Rebelo da Silva
195
FLOR DO LÁCIO
R.: O autor emprega expressões simples, que transcrevem com precisão o aspec-
to físico do animal, alternando-as com observações pessoais a respeito das qualida-
des que elas denotam ("Indicio de grande ligeireza", "sinal de força prodigiosa").
Quanto a suas ações, descreve-as o autor, primeiramente, com orações cur-
tas, sucessivas e nervosas ("Estacou como deslumbrado", "sacudiu a fronte"
etc.), e, depois, deixa-nos, apenas, imaginar os fulminantes e furiosos avanços
do touro, que afugenta capinhas e malfere cavalos.
4) Com fundamentos neste trecho, diga alguma coisa acerca do estilo do autor.
R.: O autor é simples e preciso em seu vocabulário, objetivo, quase não em-
pregando figuras. O estilo é cheio de relevo e movimento, fazendo-nos ver parte
mais importante do espetáculo, com nítida sensação de realidade.
197
Descrição de animais em ação
TEXTOS PARA EXPLICAÇÃO
I. O JARARACUÇU
1) Explique:
a. J araracuçu f. Assanhar k. Rábido
b. Esgueirar-se g. Hirto 1. Canícula
c. Soutos h. Arfante m. Modorrar
d. Colear i. Pinote
e. Taquaruçu j. Precípite
199
FLOR DO LÁCIO
Estudo da versificação
200
A DESCRIÇÃO
Exercício : elocução
201
FLOR DO LÁCIO
o tempo em que esteve detido. Quando Rubiáo estaca, ele olha para cima, à
espera; naturalmente, cuida dele; é algum projeto, saírem juntos, ou coisa assim
agradável. Não lhe lembra nunca a possibilidade dum pontapé ou dum tabefe ...
Tem o sentimento da confiança, e muito curta a memória das pancadas. Ao
contrário, os afagos ficam-lhe impressos e fixos, por mais distraídos que sejam.
Gosta de ser amado. Contenta-se de crer que o é.
- Machado de Assis
2) Diga o que pensa da construção desta oração: "Não lhe lembra nunca a
possibilidade dum pontapé.
202
A DESCRIÇÃO
a. Os movimentos do cão
b. O que parece o cão sentir
3) Dê sinônimos a:
a. Contente g. Recuperar m. Afagar
b. Triste h. Detido n. Promanar
c. Voltar i. Estacar o. Postergar
d. Aquietar j. Projeto p. Calcorrear
e. Farejar k. Agradável
f. Galgar 1. Lembrar
203
FLOR DO LÁCIO
5) Dê antônimos a:
a. Alegria e. Perder i. Confiança
6. Entusiasmo f. Curta j. Quieto
c. Recuar g. Amar k. Recusar
d. Liberdade h. Agradável
Exercício : elocução
Imitando Machado de Assis no trecho que vai desde: "Quincas Borba vai
atrás dele" até "calcanhares do senhor", fale:
a. Dum perdigueiro acompanhando o caçador
6. Dum macaco passeando com seu dono
A DESCRIÇÃO
III. LEÃO
Luís Carlos
205
FL OR DO LÁCIO
2) Cada estrofe é uma parte desta composição poética; que contém cada
uma delas?
Estudo da metrificação
1) Prove que cada verso deste soneto conta dez sílabas poéticas.
206
A DESCRIÇÃO
207
FLOR DO LÁCIO
Leo Vaz
208
A DESCRIÇÃO
2) Com que diferentes palavras designa Leo Vaz o mesmo cão? Por quê?
209
FLOR DO LÁCIO
Exercício : elocução
Imitando Leo Vaz na passagem que vai desde o início do trecho até "metade
de tijolo", fale de um cavalo que arrasta pelo estribo um cavaleiro tombado.
2IO
Descrição de animais em ação
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA
211
FLOR DO LÁCIO
212
Descrição de grupos de seres em ação
TEXTO EXPLICADO
Coelho Neto
213
FLOR DO LÁCIO
214
A DESCRIÇÃO
!
A reunião das negras na igreja - suas
a. Os preparativos carapinhas empoadas de ouro limpeza
e ornamentação do templo
A festa de
Santa Ifigênia Os coros sagrados as mulheres
descobriam as cabeças o ouro reluzia
e. A oferenda O canto feminino a lavagem
das cabeças na pia sagrada o ouro a
depositar-se no fundo da pia
215
Descrição de grupos de seres em ação
TEXTOS PARA EXPLICAÇÃO
Graça Aranha
216
A DESCRIÇÃO
2) Quais são as partes desta descrição que correspondem aos títulos ... ?
a. As figuras e evoluções da dança
b. Os passos sapateadores
c. Após a dança
d. Durante e após o intervalo das danças
217
FLOR DO LÁCIO
218
A DESCRIÇÃO
Exercício : elocução
Gastão Cruls
219
FLOR DO LÁCIO
4) Como se pode provar que esta descrição se acha enquadrada numa nar-
rativa?
220
A DESCRIÇÃO
221
FLOR DO LÁCIO
Exercício : elocução
Vai o gado na estrada mansamente, rota segura e limpa, chã e larga, batida e
tranqüila, ao som monótono doseias! dos vaqueiros. Caem as patas no chão em
bulha compassada. Na vaga doçura dos olhos dilatados transluz a inconsciente
resignação das alimárias, oscilantes as cabeças, pendente a magrém dos peri-
galhos, as aspas no ar em silva rasteira por sobre o dorso da manada. Dir-se-ia
222
A DESCRIÇÃO
Rui Barbosa
223
FLOR DO LÁCIO
224
A DESCRIÇÃO
225
FL O R DO LÁCIO
Exercício : elocução
226
A DESCRIÇÃO
Euclides da Cunha
227
FLOR DO LÁCIO
228
A DESCRIÇÃO
2) De sinônimos a:
a. Espanto h. Penosamente o. Cerro
b. Misturar i. Apisoar p. Vaticinar
c. Morosos j. Monstruoso q. Augurar
d. Estalar k. Precipitar r. Acuar
e. Esfarelar 1. Arrodear s. Acossar
f. Torrente m. Destroços
g. Soturno n. Estupenda
3) D homônimos a:
a. Aqueles f. Sobre k. Cerro
b. Nada g. Revolto 1. Soltas
c. Vezes h. Rola m. Preso
d. Desespero i. Pelos n. Termo
e. Contágio j. Estes
7) Analise logicamente a passagem que vai desde "Surge a boiada'' até "a
boiada estoura.
229
FL OR DO LÁCIO
Exercício : elocução
Imitando o autor na passagem que vai desde: "E lá se vão" até "trovão lon-
gínquo", fale:
a. De um desmoronamento de pedras da lomba dum morro
6. De um assalto de tanques de guerra a uma posição inimiga
V. AS BORBOLETAS
230
A DESCRIÇÃO
Al berto de Oliveira
231
FLOR DO LÁCIO
Estudo da metrificação
232
A DESCRIÇÃO
Exercício : elocução
233
FLOR DO LÁCIO
VI. OS PASSARÕES
Gastão Cruls
234
A DESCRIÇÃO
4) Forme cinco comparações, em que o segundo termo seja uma das palavras:
235
FLOR DO LÁCIO
9) Cite três verbos que exprimam cheiro agradável e três que exprimam
cheiro desagradável.
Exercício : elocução
Imitando o autor na passagem que vai desde: "De espaço a espaço" até
"natureza verde", fale:
a. De urna nuvem de gafanhotos
b. De uma tempestade iminente
c. De manobras militares
236
Descrição de grupos de seres em ação
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA
237
FL OR DO LÁCIO
239
Descrição de ações num quadro
NOITE JOANINA
Escragnolle Dória
I. O TREM DE FERRO
Luís Carlos
243
FL OR DO LÁCIO
1) Que nos descreve Luís Carlos neste trecho? Responda em poucas palavras.
2) Quais são as partes desta descrição que se referem aos seguintes títulos:
a. A marcha triunfal de um destino
b. O ardor de uma ânsia indefinida
c. A sedenta conquista da distância
244
A DESCRIÇÃO
5) Que impressão nos causa esse trem? Prove-o com expressões tiradas do
texto.
Estudo da metrificação
2 45
FLOR DO LÁCIO
Exercício : elocução
Muito branca, numa eminência do terreno que se alongava para o rio, a igre-
jinha palpitava de flâmulas e bandeirolas multicores, com a larga porta central
quase oculta por um grande arco de bambus entretecido de palmas e folhagens.
Todo o caminho, descendo da casa da fazenda até a várzea, e daí subindo,
quase em espiral, a contornar o outeiro, para o adro da capela, estava coberto
de areia clara do rio e juncado de folhas e flores silvestres. Os sinos trinavam
desde o alvorecer, alvissareiros e felizes, como se tivessem a noção de que se
apossavam de uma terra nova, virgem até ali daquelas vibrações. E ainda nessa
manhã chegavam sertanejos, por água e por terra. Os primeiros desciam o rio
em canoas, a remo ou a varejão, em geral criaturas amarelentas, esgrouviadas e
magras, tiritantes de sezóes. Dos últimos uns a pé, outros a cavalo. Quando
A DESCRIÇÃO
- Veiga Miranda
2) Quais são as passagens desta descrição, que correspondem aos títulos ... ?
a. A igrejinha enfeitada d. Os sertanejos chegam
b. O caminho de areia clara e. Os cavalos assustados
c. Os sinos alvissareiros
247
FL OR DO LÁCIO
1) Qual é o quadro que serve de pano de fundo às ações descritas nesse tre-
cho? Como o descreve Veiga Miranda?
2) Quais são as ações que aparecem neste quadro? Como as descreve o autor?
2) De sinônimos a:
a. Branca h. Suster o. Zimbrar
b. Alongar i. Retroar p. Vilta
c. Oculta j. Assustar-se q. Augúrio
d. Caminho k. Pinchos r. Perene
e. Últimos l. Desvairado s. Baliza
f. Repimpar-se m. Engodar t. Torvelim
g. Arreio n. Acúmen
A DESCRIÇÃO
Exercício : elocução
249
FLOR DO LÁCIO
1) Dê sinônimos a:
a. Lembrar i. Tenra q.Monda
b. Acordar j. Buscar r. Cerce
FL OR DO LÁCIO
5) Tendo por assunto "As chuvas e a terra, componha uma pequena descri-
ção constituída de seis orações coordenadas.
Imitando o autor no trecho que vai desde: "Eram os primeiros lagos" até
"jaçanãs leves e tímidas", fale:
a. De um grupo de crianças a brincar perto de um lago num parque
b. De animais selvagens aproximando-se dum bebedouro
253
Descrição de ações num quadro
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA
254
A DESCRIÇÃO
255
Descrição de sucessão
de quadros ou de fatos
257
Descrição de sucessão de quadros ou de fatos
TEXTO EXPLICADO
OS ELEFANTES
Ricardo Gonçalves
O interesse Apraz-nos ver passar esses elefantes, cuja forma se precisa cada
vez mais à medida que se aproximam, permitindo-nos distinguir-lhes os porme-
nores físicos e os movimentos, assim como reconhecer os sentimentos que os ani-
mam; depois, acompanhamo-los com os olhos até desaparecerem no horizonte.
260
Descrição de sucessão de quadros ou de fatos
TEXTOS PARA EXPLICAÇÃO
I. A CAVALGADA
Raimundo Correia
FLOR DO LÁCIO
Estudo da metrificação
Exercício : elocução
Descreva uma boiada que surge ao longe, clareada pelo luar, e que se apro-
xima, afasta e desaparece no horizonte.
Rúbens do Amaral
266
A DESCRIÇÃO
Exercício : elocução
la viajar! Viajei. Trinta e quatro vezes, à pressa, bufando, com todo o sangue na
face, desfiz e refiz a mala. Onze vezes passei o dia no vagão, envolto em poeirada
e fumo, sufocado, a arquejar, a escorrer de suor, saltando em cada estação para
sorver desesperadamente limonadas mornas que me escangalhavam a entranha.
Catorze vezes subi derreadamente, atrás dum criado, a escadaria desconhecida
de um hotel; e espalhei o olhar incerto por um quarto desconhecido; e estra-
nhei uma cama desconhecida donde me erguia, estremunhado, para pedir em
línguas desconhecidas, um café com leite que sabia a fava, um banho de tina
que me cheirava a lodo. Oito vezes travei bulhas abomináveis na rua com co-
cheiros que me espoliavam. Perdi uma chapeleira, quinze lenços e duas botas,
uma branca, outra envernizada, ambas do pé direito. Em mais de trinta mesas-
-redondas esperei tristonhamente que me chegasse o boeuf à la mode, já frio,
com molho coalhado e que o copeiro me trouxesse a garrafa de Bordéus que
eu provava e repelia com desditosa carantonha. Percorri, na fresca penumbra
dos granitos e dos mármores, com pé respeitoso e abafado, vinte e nove cate-
drais. Trilhei molemente, com uma dor surda na nuca, em catorze museus,
cento e quarenta salas revestidas até aos tetos de Cristos, heróis, santos, ninfas,
princesas, batalhas, arquitetura, verduras, sombrias manchas de betume, triste-
zas das formas imóveis. E o dia mais doce foi quando em Veneza, onde chovia
desabaladamente, encontrei um velho inglês de penca flamejante que habitara
o Porto ... Gastei seis mil francos. Tinha viajado.
Eça de Queirós
268
A DESCRIÇÃO
2) Que contém este trecho: uma descrição ou uma narrativa? Por quê?
3) Se ele não encontrava prazer em suas viagens, por que as fazia, entáo,
tantas vezes?
4) Prove, com exemplos tirados do texto, como o autor sabe ser pinturesco,
não só em relaçáo às coisas, como às próprias atitudes e movimentos.
5) Que impressáo nos causa a precisáo com que ele enumera os sucessivos
episódios de suas viagens?
3) Dê sinônimos a:
a. Estremunhado f. Tristonhamente k. Manchas
b. Pedir g. Desditosa 1. Imóveis
c. Bulhas h. Penumbra m. Doce
d. Abomináveis i. Respeitoso n. Desabaladamente
e. Espoliar j. Molemente o. Flamejante
4) Dê sinônimos a:
a. Esgueirar e. Inefável i. Argüir
b. Esquivar f. Impoluto j. Esgarçar
c. Entabular g. Estancar k. Escurejar
d. Encabular h. Inquinar
270
A DESCRIÇÃO
8) Analise logicamente o período que começa em: "E o dia mais doce".
Exercício : elocução
Imitando Eça de Queirós na passagem que vai desde o começo do trecho até
"entranha", fale de viagens em trens elétricos, modernos, dotados de conforto
e luxo.
2) Uma revista militar (a avenida está livre; a espera nas tribunas ou palan-
ques; tropas estacionadas ao longe; a chegada das autoridades; música; o esta-
do-maior; a infantaria; forças do exército; da aeronáutica; da polícia militar; a
cavalaria; a artilharia; as unidades motomecanizadas).
272
A DESCRIÇÃO
8) Uma procissão.
273
II
Conversação
275
FLOR DO LÁCIO
É claro que a primeira destas formas apresenta muito mais ação, vigor e
movimento.
Conversação
TEXTO EXPLICADO
Al exandre Herculano
2 77
FLOR DO LÁCIO
1385 a 1433.
279
FLOR DO LÁCIO
e. E, num impulso de amizade pessoal pelo velho arquiteto, apela para o tri-
bunal da posteridade, que o julgará severamente, se persistir em recusar à pátria
o serviço de sua inteligência privilegiada
Cada um desses argumentos tem singular força persuasiva; em conjunto,
eles hão de abalar as últimas resistências da alma sensível do velho artista.
280
Conversação
TEXTOS PARA EXPLICAÇÃO
I. OS TRÊS TALISMÃS
Teodoro de Morais
1) Mostre como o interesse desta historieta está na lição que o pai deu ao
filho.
5) Por que são curtas e, muitas vezes, elípticas as frases desta conversação?
3) Dê sinônimos a:
a. Buscar f. Trabalho k. Base
b. Facho g. Luz l. Engravitar-se
c. Encontrar h. Iluminar m. Derreado
d. Poderoso i. Clareza
e. Querer j. Ponta
6) Dê antônimos a:
a. Aprender e. Trabalho i. Luz
b. Saber f. Abrir j. Verdade
c. Poderoso g. Palácio
d. Uso h. Atenção
Exercício : elocução
Imitando Teodoro de Morais no trecho que vai desde o começo do texto até
"uso deles", fale:
a. Dum menino que conversa com o pai a respeito de lealdade, patriotismo
e espírito de sacrifício
b. Duma jovem que conversa com a mãe acerca da fé, da esperança e da
caridade
c. Dum estudante que interpela o professor a respeito da liberdade, da igual-
dade e da fraternidade
Olavo Bilac
Estudo da metrificação
2) Aponte no texto:
a. As cesuras
b. Os enjambements
286
CONV ERSAÇÃO
4) Dê antônimos a:
a. Perder e. Pálido i. Amar
b. Senso f. Deserto j. Estulto
c. Despertar g. Tresloucado k. Estólido
d. Abrir h. Amigo
a. Claridade lunar
b. Amargura
c. Tristeza
Exercício : elocução
Semicúpio: Ora, senhores, capitulemos a queixa. Este fidalgo (se é que o é, que
isto não pertence à medicina) teve uma colérica procedida de paixões internas ...
Dom Lancerote: Eu não lhe entendi palavra. Dom Tibürcio: Eu morro sem saber
de quê. Semicúpio: Conhecida a queixa, votem o remédio, que eu, como mais
antigo, votarei em último lugar. Dom Gil: Eu sou de parecer que o sangrem.
Dom Fuas: E eu, que o purguem. Semicúpio: Senhores meus, a grande queixa,
grande remédio; o mais eficaz é que come umas bichas nas meninas dos olhos,
para que o humor faça retrocesso de baixo para cima. Dom Tibúrcio: Como é
isso de bichas nas meninas dos olhos? Semicúpio: É um remédio tópico; não
se assuste, que não é nada. Dom Tibúrcio: Vossa Mercê quer me cegar? Dom
Lancerote: Calai-vos, sobrinho, que ele médico é, e bem o entende. Dom Ti-
búrcio: Por vida de Dom Tibúrcio, que primeiro há de levar o diabo o médico
e a receita, do que eu tal consinta. Semicúpio: Deite-se, deite-se; o homem está
maníaco e furioso.
288
CONVERSAÇÃO
1)A que gênero pertence este trecho: drama ou comédia? Por quê?
2) Dê sinônimos a:
a. Procedida e. Parecer i. Furioso
b. Entender f. Receita j. Empertigar-se
c. Antigo g. Consentir k. Aventar
d. Ülimo h. Maníaco l. Emanação
3) Dê antônimos a:
a. Fidalgo e. Antigo i. Calar
b. Internas f. Último j. Consentir
c. Morrer g. Eficaz k. Furioso
d. Saber h. Retrocesso
4) Forme palavras com os prefixos "a", "ab", "ad", "anti", "pre", "pro", "re"
9
e retro .
Exercício : elocução
Imitação dialogada desta cena por cinco alunos, cada um dos quais repre-
sentará um papel. O que faz de médico diagnostica uma cólica hepática no pa-
ciente, ao qual prescreve um regime de ovos, conservas, condimentos picantes
e vinhos.
2) Dois meninos falam dos presentes que preferem receber por ocasião das
festividades de Natal. O primeiro deseja uma bicicleta; o segundo, um par de
patins.
8) Duas meninas falam, nas vésperas de Natal, dos brinquedos que deseja-
riam ter. Uma sonha com uma linda boneca; a outra, com um velocípede.
9) Duas moças conversam acerca das carreiras que pretendem seguir. Uma
quer ser professora; a outra, enfermeira.
10) Dois soldados da Força Expedicionária Brasileira, que luta nos campos
de batalha da Itália, conversam, num momento de repouso em sua trincheira,
fazendo planos para o após-guerra. Um pretende continuar os estudos inter-
rompidos; o outro pensa em trabalhar na lavoura.
293
III
Cartas
2 95
Cartas
TEXTO EXPLICADO
O PINTASSILGO
ao das minas terrestres. O amarelo das asas se nos doira com tanta delicadeza
que ficamos ainda mais lindos e mais ligeiros do que éramos antes. Trazemos
sobre o peito uma pequena cadeia de ouro, da qual pende um diamante ornado
de resplendores. Julgai qual será o admirável efeito que produzem todas estas
pequenas formosuras em um ar puro e sereno, onde a noite não rouba jamais a
claridade ao dia, e onde em lugar das tempestades só se sentem os continuados
e agradáveis sopros do zéfiro. Todos estes pássaros fazem concertos maravilho-
sos que sucedem uns aos outros sem cessar". Foi-se finalmente o pintassilgo,
prometendo aparecer-me segunda vez. Consolai-vos, como vos peço, sabendo
o bem de que ele logra. Chamam-me para uma conferência onde vos prometo
que não direi uma só palavra do que aqui vos digo.
297
FLOR DO LÁCIO
A INDA me estou deliciando, meu caro e excelente amigo, com os abraços tão
I1da alma, com as expressões tão do coração, com que Vossa Reverendíssima
no nosso apartamento me carregou de saudades e gratidão por toda a vida .
Viajantes sempre têm muito que narrar, hão de poetar ainda que o não queiram.
Quanto a mim, a mais interessante, a mais poética de quantas notícias eu trouxe
do Brasil, e me ufano de espalhar aqui, é ter reconhecido a Vossa Reverendíssima,
ter apertado essa mão que tão ricamente dotou a língua e a literatura comum dos
nossos dois países, ter ouvido essa nobre e bela voz doutrinadora de povos, e para
comigo dispensadora de mimos e extremos de benevolência. Os literatos que me
escutam quando lhes eu retrato o Cícero cristão e americano invejam-me com
razão; e muito mais quando lhes dou a ler alguns destes oitenta discursos, que,
repartidos, dariam com que fundar oitenta famas de oradores. Lamentam eles
que Vossa Reverendíssima haja dado ao público a sua última despedida com o
sermão da Glória; eu não: esse monumento de Vossa Reverendíssima está com-
pleto e coroado como cumpria, ao mesmo tempo que a atividade, a fecundidade
sempre juvenil de Vossa Reverendíssima, pode junto dele erigir outros não menos
valiosos. Vossa Reverendíssima não é desses homens que, em sabendo ou presu-
mindo haverem conquistado a celebridade, adormecem à sombra dos seus louros,
verdadeiros ou imaginários ... Sou de Vossa Reverendíssima o mais sincero admi-
rador, perfeito amigo, respeitoso discípulo e obrigadíssimo servo.
2 99
FL OR DO LÁCIO
3) Quais são as passagens desta carta, que correspondem aos títulos ..?
a. As saudades do auto d. O sermão da Glória
b. A poética notícia do Brasil e. A atividade de Frei Monte Alverne
c. O Cícero cristão e americano
300
CARTAS
301
FLOR DO LÁCIO
302
CARTAS
Não pretendo contrariar o juízo que formais de mim, não posso entrar na luta
convosco; mas tenho a convicção de que os vossos louvores devem ser consi-
derados mais por filhos da vossa amizade e da vossa benevolência para mim,
do que o resultado dum juízo severo e filosófico. Como quer que seja, sábio
ou pedante, eloqüente ou pindarista, pobre ou rico na literatura, eu vos abraço
com toda a minha cordialidade; eu vos aperto com toda a expressão da frater-
nidade. Se me admitirdes por vosso irmão de armas, aceitarei este título, não
só como uma ovação, mas tê-lo-ei ainda por uma recompensa. No caso de me
concederdes este favor, uma vez ligado convosco pelos vínculos mais indissolú-
veis, peço-vos aperteis por mim a mão destes distintos literatos, que convosco
formam essa brilhante constelação que irradia o belo céu da vossa pátria, e cujos
raios espancam as trevas do pedantismo e afugentam as sombras da ignorância
que ameaçam tudo invadir e abafar. Adeus, meu adorável amigo: este adeus
renovou toda a amargura da minha saudade. Enquanto me restar um sopro de
vida, a recordação que conservo de vós, a consciência da vossa amizade, será um
lenitivo no meio das tribulações que me cercam. Adeus, outra vez adeus.
3) Modifique o quarto período ("No caso de ... "), de modo que as orações
subordinadas adjetivas relativas fiquem com o mesmo antecedente.
304
CARTAS
Exercício : elocução
Minha irmã, no dia de teus anos, que queres que eu te diga? Que os anos da
virgem são como as manhãs das flores e que na aurora da vida, flores e donzelas,
cintilantes do orvalho de Deus, têm mais pureza e perfume? Não. Dir-te-ei so-
mente uma coisa: é que lá no Rio vale talvez a pena fazer anos. Numa tarde de
primavera e de esperança, vivendo e sentindo-se viver, é doce porventura sentir
que mais um ano passou como um sonho, mais um ano de saudade e felicidade.
Aqui não acontece assim. O céu tem névoas, a terra não tem verdura, as tardes
não têm perfume. É uma miséria! É para desgostar um homem toda a sua vida,
de ver ruínas! Tudo aqui parece velho e centenário ... Até as moças! São insípidas
como a mesma velhice. O dia 12 de setembro está para chegar. Estou quase
não fazendo anos desta vez. Adeus, minha irmã! A página nova da vida que se
abriu hoje, seja tão feliz como a saudade é doce! Adeus! É a palavra que dentre
as taipas em ruínas da nossa terra te envia. Teu irmão.
Alvares de Azevedo
3) Que diferenças de ambiente nota o autor entre o Rio e São Paulo? Como
as exprime ele?
5) Que pormenores descritivos nos podem dar uma idéia de São Paulo antigo?
3) Dê sinônimos a:
a. Porventura f. Insípido k. Enviar
6. Acontecer g. Feliz 1. Aventar
c. Miséria h. Fechar m. Linde
d. Ruínas i. Belo
e. Velho j. Suave
FLOR DO LÁCIO
Imitando Álvares de Azevedo nesta carta, escreva a seu irmão, que escuda
em Paris, apresentando-lhe felicitações pelo brilhantismo de seus exames (tra-
tamento: «1Voce
7,,3»
.
Excelentíssima Senhora, creio que esta carta não poderá absolutamente surpre-
endê-la. Deve ser esperada. Porque Vossa Excelência compreendeu com certeza
que, depois de tanta súplica desprezada sem piedade, eu não podia continuar a
sofrer o seu desprezo. Dizem que Vossa Excelência me ama. "Dizem", porque
da boca de Vossa Excelência nunca me foi dado ouvir essa declaração. Como,
porém, se compreende que, amando-me Vossa Excelência, nunca tivesse para
mim a menor palavra afetuosa, o mais insignificante carinho, o mais simples
olhar comovido? Inúmeras vezes lhe pedi humildemente uma palavra de con-
solo. Nunca a obtive, porque Vossa Excelência ou ficava calada ou me respon-
dia com uma ironia cruel. Não posso compreendê-la: perdi toda a esperança
de ser amado. Separemo-nos. Para que hei de eu, que a amo tanto, fazer a sua
desgraça? É preciso que Vossa Excelência saiba que a minha vida tem sido
um grande combate. Já sofri fome: sobre essa miséria criei a minha indepen-
dência. Chamaram-me infame: sobre essa afronta criei a minha honestidade.
Chamaram-me estúpido: sobre essa injustiça criei o meu talento. E foi sobre
esses três alicerces que eu edifiquei o meu orgulho. Amo-a tanto, que esta se-
paração há de cedo ou tarde matar-me. Acima, porém, do meu amor está o
meu orgulho. Não o quebrei aos pés de meu pai, não o quebraria aos de minha
mãe: não posso, nem quero, quebrá-lo aos pés de Vossa Excelência. Creio que
nos valemos, minha senhora: Vossa Excelência está muito acima de todas as
outras mulheres, mas não está acima de mim. Há de reconhecer que nunca
houve um noivado cercado de tanto gelo e de tanta indiferença. Por quê? Talvez
porque Vossa Excelência acredite que os homens devem viver esmagados pelas
mulheres. Concordo. Mas isso é bom quando se trata de homens vulgares: e eu
não sou um homem vulgar. Quando, pela última vez, nos falamos, eu preveni
Vossa Excelência de que tomaria esta resolução, se não se modificasse o seu
modo de proceder. Desta vez, como de todas as outras, ficou Vossa Excelência
impassível. Paciência. Peço, suplico a Vossa Excelência que me perdoe ter per-
turbado a tranqüilidade de sua existência. Mas eu amava-a muito, amava-a
FLOR DO LÁCIO
como ainda hoje a amo, e queria, depois de tanta luta e de tanto sofrimento,
ter um pouco de felicidade. Perdoe-me e fique certa de que, para seu sossego,
nunca mais me verá.
Olavo Bilac
2) De que modo, segundo sua própria confissão, formou Olavo Bilac sua
personalidade?
310
CARTAS
4) Que pensa Olavo Bilac de sua noiva? Prove-o com elementos tirados do
texto.
2) De sinônimos a:
a. Cruel f. Alicerces k. Vezo
b. Desgraça g. Suplicar 1. Reminiscência
c. Combate h. Perturbar m. Ressaiba
d. Afronta i. Felicidade
e. Estúpido j. Sossego
3) Dê antônimos a:
a. Crer e. Amar i. Desgraça
b. Certeza f. Comovido j. Saber
c. Piedade g. Humildemente k. Estúpido
d. Sofrer h. Cruel 1. Orgulho
311
FLOR DO LÁCIO
Imitando o autor na passagem que vai desde: "É preciso que Vossa Excelên-
cia saiba" até "eu edifiquei o meu orgulho", explique como pretende formar sua
própria personalidade.
Escreva, num tom delicado, mas nobre e altivo, a um amigo ou uma amiga,
que o(a) ofendeu gravemente em seu amor-próprio.
V. CARTA A RUTH
"Tu és o Encanto
Que, em música rimada, agora exalto e canto,
De uma vida de dor, de amargura e de pranto.
312
CARTAS
"Tu és o Albor
Da madrugada, após uma noite de horror".
"E tu és a Água
Que dissipa o travor de minha grande mágoa.
313
FLOR DO LÁCIO
d. Deslumbramento i. Resplendor
e. Vibrando j. Esquálido
2) Aponte na poesia:
a. As cesuras
b. Os enjambements
1) De sinônimos a:
a. Ocidente e. Amargura i. Resplendor
b. Amplidão f. Dissipar j. Fausto
c. Arder g. Mágoa k. Pespegar
d. Brado h. Distante l. Assacar
2) Dê antônimos a:
a. Beleza d. Ardente g. Eterna
b. Tristeza e. Repousar h. Reminiscência
c. Esquálido f. Negror
3) Dê homônimos a:
a. Água f. Colher k. Troco
b. Deste g. Portugueses l. Enfermo
c. Desce h. Inglesa m. Fecho
d. Folha i. Rolo n. Cor
e. Molho j. Rola
315
FL OR DO LÁCIO
Exercício : elocução
Escreva uma carta a sua mãe, falando-lhe de seu ardente amor filial.
316
Cartas
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA
1. Cartas familiares
4) Uma menina, que passa as férias na fazenda dos pais, escreve a uma co-
lega, residente na cidade, convidando-a a ir fazer-lhe companhia (tratamento:
«1 y,, .39)
voce .
5) Uma jovem escreve a sua melhor amiga, dando-lhe pêsames pelo faleci-
mento de uma irmã (tratamento: "Tu").
317
FLOR DO LÁCIO
1) Escreva uma carta a Sua Santidade o Papa, rogando-lhe uma bênção es-
pecial (tratamento: "Vossa Santidade").
IV. Requerimentos
318
CARTAS
v. Correspondência comercial
319
PARTE II
Explicação de textos e composição literária:
Narrativas - Fábulas - Anedotas -
Impressões pessoais - Discursos -
Idéias morais - Dissertações
I
Narrativas
323
FLOR DO LÁCIO
ou futuros da natureza exterior, tais como nestes exemplos, já citados: "Os cam-
pos, ainda há pouco tempo verdes, estavam secos"; "o céu, antes azul, está agora
recoberto de nuvens".
Existindo ou transparecendo na narrativa uma personagem observadora e
narradora, que observa, sente e julga, e que muitas vezes representa o escritor,
com ele confundindo-se freqüentemente, é natural que nela se encontre a ex-
pressão de sentimentos, opiniões, julgamentos, e que surjam formas pessoais
de pronomes, adjetivos, verbos, assim como frases de cunho narrativo, que se
refiram a momentos passados: "Caminhávamos pelas estradas", "nossos compa-
nheiros embrenharam-se na floresta. Era em 1912 ...", "tinham-se picado alguns
bois", "atrás de nós vinham os mendigos" etc. Não se confunda, entretanto, esta
exteriorização da personalidade sentimental ou intelectual do narrador com a
expressão de impressões pessoais, que, sendo uma das características do roman-
tismo, têm cabimento em todos os gêneros românticos, exprimindo-se, sobre-
tudo, por meio de imagens e adjetivos.
Brant Horta faz, a respeito das narrativas, uma recomendação, que pode pa-
recer excessiva, mas que não deixa de ser útil, reconhecidas como são por todos,
e principalmente pelos professores, certas tendências defeituosas dos alunos,
quando tentam compor um trabalho literário. Diz o ilustre e erudito educador:
"O mestre há de ter o necessário cuidado de evitar os tiques freqüentes nos alu-
nos, tais como o abuso de adjuntivos ('Aí, 'então', 'talvez', 'agora, 'depois' etc.),
o uso insistente das mesmas fórmulas etc.".
Em nosso estudo, as narrativas, como as descrições, se encaminham para um
desenvolvimento mais amplo do gênero narrativo, as narrações, cujos elemen-
tos construtivos elas preparam. As menos complexas são as narrativas simples,
que são, como o próprio nome indica, o simples relato de um fato.
324
Narrativas
TEXTO EXPLICADO
O ANHANGABAÚ"°
Giraldes Filho
16 O professor deve, antes de iniciar a explicação, ler este soneto na ordem direta.
FLOR DO LÁCIO
327
FLOR DO LÁCIO
328
Narrativas
TEXTOS PARA EXPLICAÇÃO
I. A BORBOLETA PRETA
Machado de Assis
329
FL OR DO LÁCIO
2) Mostre que, como toda peça dramática, contém esta narrativa uma expo-
sição, peripécias e um desfecho trágico, que provoca uma reflexão por parte da
personagem narradora.
330
NARRATI VAS
a. Borboleta e. Novo i. Ar
b. Preta f. Velho j. Nervos
c. Dia g. Brando k.Mão
d. Vidraça h. Certo 1. Corpo
Exercício : elocução
Imitando o autor no trecho que vai desde o começo da narrativa até "me
aborreceu muito", fale de um menino que se irrita contra uma mosca imper-
tinente.
Escreva uma narrativa que tenha assunto semelhante ao desta, mas substi-
tuindo a borboleta por uma vespa alegre e zumbidora. Modifique, também, os
pormenores e acrescente outras peripécias.
331
FLOR DO LÁCIO
Eça de Queirós
332
NARRA TI VAS
5) Como se chama a figura de estilo que serve para exagerar? Foi ela empre-
gada aqui? De que forma?
6) Está o ritual da preparação do chá de acordo com sua preciosidade? Por quê?
333
FLOR DO LÁCIO
3) Dê sinônimos a:
a. Colher (verbo) i. Chama q. Depois
b. Veiga j. Aceder r. Fausto
c. Conduzir k. Destros s. Simples
d. Lembrar 1. Altear t. Majestade
e. Tomar m. Espanto u. Prevenir
f. Ocupação n. Apesar de v. Camarada
g. Triste o. Regressar w. Erguer
h. Clara p. Quimérica x. Reverência
334
NARRA TI VAS
335
FLOR DO LÁCIO
Viriato Correia
336
NARRATI VAS
337
FLOR DO LÁCIO
339
FLOR DO LÁCIO
2) Faça, depois de organizar um plano, uma narrativa, que tenha por assunto:
a. A maior travessura de minha vida f.No vale
b. Meu primeiro baile g. As festas de Ano-Bom
c. Voltando das férias h. O Natal
d. Na praia i. O castigo da gulosa
e. Na montanha j. À margem de um rio
340
As diversas espécies de narrativas
341
Narrativas descritivas
TEXTOS EXPLICADOS
I. A VILA DA PRAIA
Vicente de Carvalho
342
NARRATI VAS
343
FLOR DO LÁCIO
17 Soidosa: saudosa.
344
NARRATIVAS
345
FLOR DO LÁCIO
I. O ARROZ-DOCE
Eça de Queirós
347
FLOR DO LÁCIO
3) Que significa a expressão latina: "Ad Manes"? Por que a empregou aqui
o autor?
4) Que impressão nos causa o arroz-doce preparado pelo cozinheiro? Por quê?
3) Dê sinônimos a:
a. Depois i. Aparecer q. Horror
6. Larga j. Emergir r. Acanalhado
c. Ditosa k. Revestir s. Erguer
d. Meiga 1. Cimo t. Mortos
e. Vermelho m. Lindas u. Inquinar
349
FLOR DO LÁCIO
6) Dê antônimos a:
a. Depois f. Ditosa k. Emergir
b. Chegar g. Amável 1. Lindas
c. Luzes h. Fervor m. Mudo
d. Magistral i. Dúvida n. Erguer
e. Doce j. Morte
350
NARRATI VAS
II. OS FOGUETES
Era um começo de tarde amarela e quente, de ar parado. Fora dos seus hábitos,
meu pai saíra depois do almoço, deixando a sólita sesta cochilada à rede, na
varanda. Quando voltou, à hora do jantar, vinha acompanhado de um certo
Carlito, meu camarada de escola e empregado na loja de ferragens do Góis.
Carlito sobraçava um molho de foguetes, cuja vista desde logo me alvoroçou.
E, à ordem de ir à cozinha pelo tição indispensável, não esperei outros esclare-
cimentos, pois via já os rojões a subir pelos ares, o que era muito bonito. Via
também que os rojões eram nossos; o que era lindo. Voei para o fogão. Mo-
mentos depois, içados pelo Carlito, espoucavam abafadamente no ar as respos-
tas daqueles deliciosos órgãos do regozijo político paterno. No momento, não
curei desse regozijo nem das suas causas. O caso concreto dos foguetes é que
me interessava. E eles subiram, um a um, e lá em cima deitaram os estampidos
alvissareiros. Até o último da dúzia. Muito tempo fiquei ainda ali na calçada,
seguindo com a vista a sombra das últimas fumaradas a esvaírem do ar. Quando
acordei, havia em redor de mim uma chusma de pirralhos do bairro, que co-
mentavam variadamente o feito. Carlito já os informara da família que dera as
salvas. E eu gozei por alguns momentos a superioridade de ser daquela família.
Tentei mesmo prolongar o meu prestígio, declarando o preço dos fogos, mas o
Carlito corrigiu-me, reduzindo-o à terça parte, o que instantaneamente de todo·
desfez a minha glória. Os garotos acompanharam Carlito, deixando-me só, a
amargar da efemeridade das glórias da terra.
-Leo Vaz
351
FLOR DO LÁCIO
2) Que impressão nos produz o pequeno herói desta narrativa? Por quê?
352
NARRATI VAS
b. A satisfação do menino
Exercício : elocução
353
FLOR DO LÁCIO
Imitando o autor no trecho que vai desde: "Muito tempo fiquei" até "o
feito", fale de:
a. Um menino que adormece, deitado na grama do quintal de sua casa, e
acorda rodeado de pombas e galinhas
b. Um homem que adormece no cinema e desperta nas trevas do salão.
Gastão Cruls
354
NARRA TI VAS
355
FLOR DO LÁCIO
3) Prove como são bem empregadas aqui as seguintes expressões, que fica-
riam mal numa descrição pura:
a. Por vezes, tinha-se a impressão c. Fez-se a noite
b. Se divisavam nesgas d. Se ouvia o alarido
357
FLOR DO LÁCIO
a. Uma viagem de automóvel: "Que belo dia passei!" meu pai convi-
dou-me para uma viagem de automóvel. Como a vila aonde íamos era muito
distante, partimos em boa velocidade. Atravessamos a cidade adormecida, por
avenidas e ruas ainda mergulhadas nas brumas da madrugada. Depois des-
filamos através de campos, de vales e de bosques. Passamos por uma ponte.
Contornamos uma montanha. Meus olhos viam, embevecidos, paisagens que
pareciam aproximar-se de nós e logo desapareciam. Confiando na perícia de
meu pai, nem sequer pensava eu nos perigos da estrada. Divertiam-me todos os
incidentes. A chegada a nosso destino arrancou-me de um sonho encantador.
359
FLOR DO LÁCIO
O pinturesco Tudo o que nos surpreende o olhar, tudo o que possa cons-
tituir assunto de um quadro, é o que se chama pinturesco. É, pois, à procura de
efeitos pitorescos que se deve dedicar o aluno, esforçando-se por emprestar, às
coisas, características de forma, cor e relevo, distribuindo-as, ainda, de acordo
com os princípios da perspectiva.
360
NARRATIVAS
O CALIFA E O ANCIÃO
Latino Coelho
NARRATIVAS
I. O AMOR MATERNO
Garcia Redondo
2) Por que é este trecho uma narrativa e não uma simples descrição de pes-
soa em ação?
1) Dê sinônimos às palavras:
FLOR DO LÁCIO
Exercício : elocução
366
NARRATI VAS
Conte, numa narrativa semelhante a esta, como você se assustou com o ata-
que de um galo, ao pretender brincar com os pintainhos, no quintal de sua casa.
Humberto de Campos
d. Estacar h. Esbanjar
2) Mostre que esta narrativa nos apresenta uma pequenina comédia dramá-
tica, com personagens, uma introdução, peripécias e um desfecho.
2) Prove que esta narrativa demonstra que o mal, cedo ou tarde, sempre é
castigado.
4) Com que expressões empresta Humberto de Campos cor local a sua nar-
rativa?
368
NARRATI VAS
2) Cite nomes:
a. De metais preciosos
b. De pedras preciosas
4) Forme seis sentenças curtas, em que exprima, por meio de figuras, suas
impressões pessoais a respeito de gemas e metais preciosos.
Exercício : elocução
Conte, demonstrando que a sorte surge, muitas vezes, nos momentos mais
inesperados, a história dum homem que, desesperado com uma vida de priva-
çóes e angústias, tenta matar-se por enforcamento, para o que prende sólida
corda a um gancho de sua velha casa. Com o peso do corpo, vem o teto abaixo
e, em meio da poeira que se levanta e dos destroços que se abatem sobre o ho-
mem atordoado, rola, tinindo, enorme quantidade de jóias e moedas de ouro.
III. A MENINA MÁ
Havia em casa uma cadelinha, cor de ganga, bonita era uma perfeição. Fiel e
boa amiga como quem era, limpa e nédia a não poder ser mais. Era a pérola de
espécie canina: só lhe faltava falar. Em mansidão não havia excedê-la. Brincava
com as duas meninas como se tivesse entendimento. Deixava-se arrastar, torcer
e beliscar pela diabólica Luísa, sem de tudo aquilo se mostrar ofendida; antes,
de cada vez lhe lambia mais e mais as mãos, fazendo-lhe festas, com ar queixo-
so, sim, mas não agastado. Cansada de ver que todos os seus maus tratos não
enraiveciam a boa cadelinha, ou talvez inspirada pelo demônio tentador das
meninas más -que eu não quero acreditar possa haver maldade bem profunda
nestas almas novinhas, ainda de pouco saídas dentre as mãos do Criador -,
quereis saber o que ela fez? Sem se importar com os bons conselhos da irmã,
que lhe pedia com as lágrimas nos olhos não fizesse tal, pegou de um cordel
muito forte, e, chamando a cadelinha com o engodo de alguns bolos arre-
piam-se-me os cabelos só de pensá-lo, ata-lho à cauda e começa a apertar-lha
sem alma, cada vez mais e mais, com muito prazer seu e muitas sentidas queixas
da pobre cadelinha, que toda se torcia e gemia com a grande dor ... A cadelinha
era muito mansa, muito dócil, mas não era de pedra. Afinal secaram-se-lhe
todas as lágrimas do seu padecer, fugiram-lhe os gemidos dolorosos. Estava já a
ponto de desmaiar de puro sofrer, quando, por um instinto de defesa, mais po-
deroso do que a vontade, por um movimento rápido, muito cego e muito cheio
de desesperação, voltou a cabeça e cravou os dentes nas mãos da cruel menina.
Mendes Leal
370
NARRATI VAS
371
FLOR DO LÁCIO
4) Cite verbos e adjetivos que dêem idéia de dor (exemplo: "Doer", "pun-
.)
gente etc ..
372
NARRATI VAS
Exercício : elocução
373
Narrativas demonstrativas
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA
374
N A RRATI VAS
375
Narrativas dramáticas
TEXTO EXPLICADO
A MORTE DE ROSA
N o seu leito alto e branco, Rosa morria ... Os olhos azuis, inexpressivos e
tristes, abriam-se como se projetassem em torno a derradeira expressão de
dor e saudade. O seu corpo desaparecia sob os lençóis, inerte e esguio. Uma das
mãos caíra, no último movimento que fizera, sobre o colo da Tia Amélia, que
à sua cabeceira tremia e beijava-a na fronte. Uma réstia de sol dourava-lhe os
cabelos em desordem, e, no seu rosto, cada vez mais pálido e mais frio, a morte
ia imprimindo uma serenidade gelada. A pouco e pouco a respiração diminuía:
era apenas um sopro débil, que parecia vir da garganta num estertor de asfixia,
e terminava logo nos lábios descorados. Uma névoa turvava-lhe os olhos, que
se dilatavam no terror da noite infinita que os envolvia. A boca moveu-se para
articular a última palavra, porém nenhum som perpassou pelo aposento, onde
pairava um silêncio de subterrâneo. Enfim, um suspiro doce, breve, macio,
fugiu-lhe dos lábios e o seu corpo imobilizou-se para sempre. Para sempre!
Para sempre! Tia Amélia fechava-lhe os olhos, a tremer, a tremer, como se esse
movimento lhe esgotasse, afinal, todas as forças. E depois, de joelhos à borda
do leito, agarrada loucamente à mão branca de Rosa, gemia, esmagada: ''Adeus,
minha filha! Minha filha!". Pelo claro aposento corria um frêmito que era ao
mesmo tempo de pavor, de tristeza e de desolação, como se aquele pequenino e
extremo suspiro fosse um brusco vento de tempestade que nos arrojasse no seu
ímpeto formidável, dilacerados e exangues, para a suprema tortura de uma dor
lancinante. De todos os olhos espontavam lágrimas, de todas as bocas partiam
NARRATIVAS
Aurélio Pinheiro
377
FLOR DO LÁCIO
I. A POBRE ESCRAVA
E RA uma pobre cativa que saía todas as madrugadas a vender pão pelos
caminhos. Andava léguas e léguas, por esse mundo afora, até se esvaziar
o balaio que tinha sempre cheio. Se não vendia depressa ou se algum era refu-
gado, havia de ajustar contas com o feitor ... Andava ferida e acabada, de tanto
açoite e tanta canseira ... Um dia, já tarde, não pudera vender todos os pães, por-
que alguns, amassados e moles, não acharam comprador, ou eram enjeitados.
Voltava para casa, à boca da noite, pensando nas lágrimas que a esperavam. No
caminho começou a ouvir, adiante, uns gemidos, à beira do mato ... A dor dos
outros distrai a nossa. Aproximou-se. Era uma pobre sertaneja, corrida pela
seca, que vinha de longe, carregando um filho e que aí caíra, exausta de fome e
de fadiga. Pediu-lhe uma esmola pelo amor de Deus ... o filho estava morrendo
à míngua. Considerou a escrava que havia ainda algum mais infeliz do que ela,
alguém que sofria por ver morrer um filho e lhe pedia uma esmola para o sal-
var. Era mulher ... arriou o balaio, abriu a baeta vermelha que os envolvia e tirou
para a mendiga os pães amassados. Depois, continuou a andar. Pareceu-lhe que
tudo mudara ... Estava mais forte ... Já não sofria tanto ... Esperava até o castigo
sem temor. Caminhou ainda. Numa volta da estrada a casa maldita, iluminada
de luzes sinistras, apareceu-lhe à vista, em frente. Parou Chegaria tarde ...
Não trazia mais pães, nem trazia o dinheiro de todos eles Roubara sem dú-
vida para comer. .. O castigo seria maior que sempre, porque, além do mais,
agora era ladra ... Morreria sob o açoite. Aquela árvore ali junto do caminho,
379
FLOR DO LÁCIO
- Afrânio Peixoto
2) Dê sinônimos a:
a. Caminho i. Arriar q. Ínsito
6. Açoite j. Castigo r. Insídia
c. Canseira k. Temor s. Furna
d. Mole 1. Iluminar t. Renitir
e. Beira m. Roubar u. Entrosar
f. Dor n. Ladra v. Profligar
g. Aproximar o. Inquinar w. Calcorrear
h. Morrer p. Espertina
3) Forme palavras com o auxílio dos prefixos "con", "retro", "super", "sub";
com o auxílio dos sufixos "ária", "eira", "eda", "és".
Exercício : elocução
Imitando o autor na passagem que começa com as palavras: "Era uma pobre
cativa e termina em "canseira", fale:
a. De um pequeno vendedor de jornais, maltratado por uma cruel madrasta
b. De uma pequena operária, que teme uma contramestra demasiado rigo-
rosa.
Quando o troço dos homens de armas que levavam preso Nuno Gonçalves,
vinha já a pouca distância da barbacã, os besteiros que coroavam as ameias
encurvaram as bestas, os homens dos engenhos preparavam-se para arrojar so-
bre os contrários os seus quadrelos e virotóes, enquanto o clamor e o choro se
alevantava no terreiro, onde o povo inerme estava apinhado. Um arauto saiu
do meio da gente da vanguarda inimiga e caminhou para a barbacã; todas as
bestas se inclinaram para o chão, e o ranger das máquinas converteu-se num
silêncio profundo. "Moço alcaide, moço alcaide!" bradou o arauto. "Teu
NARRATI VAS
pai, cativo do mui nobre Pedro Rodrigues Sarmento, adiantado de Galiza, pelo
muito excelente e temido Dom Henrique de Castela, deseja falar contigo, de
fora do teu castelo". Gonçalo Nunes, o filho do velho alcaide, atravessou então o
terreiro, e chegando à barbacã, disse ao arauto: "A Virgem proteja o meu pai; di-
zei-lhe que eu o espero". O arauto voltou ao grosso dos soldados que rodeavam
Nuno Gonçalves, e depois de breve demora o tropel aproximou-se da barbacã.
Chegados ao pé dela, o velho guerreiro saiu dentre os seus guardadores e falou
com o filho: "Sabes tu, Gonçalo Nunes, que o dever dum leal alcaide é de nunca
entregar, por nenhum caso, o seu castelo ao inimigo, embora fique enterrado
debaixo das ruínas dele?". "Sei, ó meu pai! Mas não vês que a tua morte é certa,
se os inimigos percebem que me aconselhaste a resistência?". Nuno Gonçalves
clamou então: "Pois se o sabes, cumpre o teu dever, alcaide do castelo de Faria!
Maldito por mim, sepultado sejas tu no Inferno, como Judas, o traidor, na hora
em que os que me cercam entrarem nesse castelo, sem tropeçarem no teu cadá-
ver!". "Morra!" gritou a almocadém castelhano. "Morra o que nos atrai-
çoou". E Nuno Gonçalves caiu no chão, atravessado de muitas espadas e lanças.
Al exandre Herculano
3) Dê sinônimos a:
a. Cativo f. Atraiçoar k. Conducente
b. Temido g. Atravessado 1. Condicente
c. Rodear h. Incitar m. Desbaratar
d. Enterrado i. Açular
e. Ruínas j. Condolente
S) Forme seis comparações com que se possa emprestar vigor descritivo à ex-
pressão do aspecto de línguas de fogo, ao saírem das bocas das peças de artilharia.
da estrada, com uma perna a sangrar. A meu lado, gemiam e choravam meus
companheiros.
O SONÂMBULO
390
NARRATI VAS
Humberto de Campos
Maçada aborrecimento.
Sonâmbulo - pessoa que anda dormindo. Por extensão, pessoa que age
dormindo (fala, pula, come etc.).
Vivedor que é solícito em tratar de sua vida, em agenciar os meios de
subsistência.
Aboletar-se alojar-se.
Bonacheirão homem cujos traços característicos são a bondade e a sim-
plicidade.
Galhardamente gentilmente, com elegância.
Havanas charutos finos, fabricados de início em Havana.
Pesadelo sonho mau.
Simular fingir.
No caminho de sua vida no decurso de sua vida.
Abrir as portas a alguém recebê-lo.
391
FLOR DO LÁCIO
392
Narrativas humorísticas
TEXTOS PARA EXPLICAÇÃO
I. O ORADOR ATRAPALHADO
-VianaMoog
393
FLOR DO LÁCIO
2) Mostre como as frases e orações curtas dão mais vivacidade a esta narra-
tiva e servem para manter em suspenso a curiosidade do leitor.
394
NARRATI VAS
2) De sinônimos a:
a. Conduzir i. Agitada q. Incutir
b. Aguardar j. Murmúrios r. Percutir
c. Início k. Rapidamente s. Adunar
d. Cessar 1. Quietos t. Escorraçar
e. Fatiota m. Inquirir u. Chibatar
f. Reduzida n. Perquirir v. Fruir
g. Encontra o. Indagar w. Invicto
h. Calma p. Sugerir x. Insípido
395
FLOR DO LÁCIO
Exercício : elocução
II. TRAVESSURAS
- Machado de Assis
397
FLOR DO LÁCIO
2) De que modo traça o narrador seu próprio perfil moral? E em que época
de sua existência?
4) Que quer o narrador dizer com a oração: "E eu tinha apenas seis anos"?
6) Que impressão nos causa esse menino? E o pai desse menino? Por quê?
2) De sinônimos a:
a. Escrava i. Façanhas q. Eludir
b. Contente j.Jaez r. Ilidir
c. Deitar k. Indócil s. Elidir
NARRATIVAS
399
Narrativas humorísticas
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA
400
NARRATI VAS
401
Narrativas com reflexões
TEXTO EXPLICADO
O ESCRAVO
-Ciro Costa
402
NARRATI VAS
1) Por que imagina Ciro da Costa que as bagas rubras do café são glóbulos
de sangue do negro escravizado?
FLOR DO LÁCIO
R.: Porque os escravos, quando punidos, eram muitas vezes açoitados até o
sangue: imagina o poeta, então, que a terra absorvia esse sangue precioso, para,
generosamente, fazê-lo irromper nos frutos maduros do café.
2) Que simboliza esse negro? Por que o abençoa o poeta, com emoção?
R.: Simboliza toda a escravidão, com suas qualidades sonhadoras e seu tra-
balho rude e incessante: o próprio poeta o eleva às alturas de um símbolo,
quando, ajoelhado reverentemente, o abençoa e estende essa bênção a todos
os negros, que fecundaram a terra com um labor insano e seu próprio sangue,
engrandecendo economicamente o Brasil.
I. ARTAXERXES E DEMÓCRITO
A RTAXERXES, rei, sentiu com tal extremo a morte de um seu amigo que pre-
[ endeu ressuscitá-lo,
r e, ouvindo os retumbantes ecos da grande ciência de
Demócrito, o chamou a si desde Jônia. "Dificultosa coisa pedes, ó rei" disse
o filósofo afetando sisudeza, e dissimulando a impossibilidade. "Porém, se
fizeres o que eu te disser, confio, poderei obrar o que me mandas". Prometeu o
rei tudo, assinando em branco, e parecendo-lhe que já via o seu desejado amigo
saltar da sepultura. "Eia" disse Demócrito "escrevam-se no túmulo do
defunto os nomes de trinta homens que chegassem aos vinte anos de sua idade
sem padecer queixa alguma, nem no corpo, nem na alma, e logo ressuscitará".
Mandou o rei fazer logo a diligência; porém até o fim do mundo poderia con-
tinuar-se sem efeito; porque de semelhantes privilégios não há um só, quanto
mais trinta. E, se ainda antes de nascermos já todos somos miseráveis, qual
será o que no encerramento das suas contas não lhe passe a despesa do que
padece pela receita do que vive? No mundo todo não há mais que três classes
de homens: uns inocentes; outros pecadores, mas já arrependidos; e outros pe-
cadores, mas ainda obstinados. E para que todos soubessem que haviam de ter
cruz, três cruzes se arvoraram no Monte Calvário; uma para Cristo, e esta toca
aos inocentes; outra para Dimas, e toca aos arrependidos; outra para Gestas, e
toca aos obstinados.
3) Como respondeu o filósofo para não o magoar, nem lhe incorrer na cólera?
1) Dê sinônimos a:
a. Extremo j. Padecer s. Empíreo
b. Morte k. Convelir t. Candente
c. Retumbante 1. Vilta u. Cadente
d. Dificultosa m. Zimbrar v. Comburente
e. Afetar n. Cinorréia w. Combusto
f. Sisudeza o. Delgado x. Escravo
g. Mandar p. Computo y. Imberbe
h. Sepultura q. Descanso
i. Defunto r. Empelota
6) Estude, no texto:
a. O emprego do infinitivo
b. As orações subordinadas conjuncionais
Exercício : elocução
Imitando o autor na passagem que começa em: "No mundo todo" e termina
em "toca aos obstinados", fale de três grupos de crianças dóceis, traquinas e
rebeldes para as quais se preparam três diferentes árvores de Natal.
Todos os esforços que fez o intrépido barão do Cerro Largo para conter os seus
soldados foram inúteis. À carga do inimigo seguiu-se o completo destroço dos
bravos e infelizes voluntários, que, confundidos com os orientais, vieram so-
bre a segunda divisão. Esta, não podendo distinguir os contrários dos amigos,
formou quadrado e rompeu o fogo sobre a massa desordenada e confusa que
lhe vinha em cima, sendo nessa ocasião mortalmente ferido o velho barão do
Cerro Largo. Poucos momentos depois expirava o nosso bravo, com a mesma
serenidade de ânimo com que tantas vezes se arrojara aos perigos dos combates.
Assim terminou sua carreira gloriosa esse distinto veterano. A vida, que inteira
NARRATIVAS
consagrara à pátria, devia ser também sacrificada a ela, e, de feito, sua espada
só deixou de combater quando a mão que a brandia tombou desfalecida. Com
tantos serviços, com tantas glórias, com tantas virtudes, tanta abnegação e ci-
vismo, o ilustre barão do Cerro Largo teve, nos últimos dias de sua vida, como
prêmio e recompensa, a ingratidão e o esquecimento do governo do seu país!
Bem o disse Madame de Sévigné: "Há serviços tão grandes e tão importantes
que só a ingratidão os pode pagar!". Mas acima das fragilidades e misérias dos
contemporâneos, acima de seus ódios e de seus erros, eleva-se um dia o juízo da
posteridade, sempre sereno, inflexível e imparcial; e a posteridade, pode-se já
dizê-lo, há de destinar a tão exímio cidadão e a tão ilustre vítima um lugar entre
os mais gloriosos e prestantes filhos da Terra de Santa Cruz.
1) Dê sinônimos a:
a. Intrépido f. Serenidade k. Esquecimento
b. Destroço g. Arrojar 1. Copioso
c. Infelizes h. Combater m. Licnóbio
d. Distinguir i. Desfalecida n. Leptoprosopo
e. Expirar j. Ilustre o. Leptorrino
410
NARRATI VAS
g. Fragilidade debilidade
h. Fome apetite cinorréia
i. Derrotar desbaratar destroçar
j. Abalar abalroar atropelar
k. Derruir derrocar desmoronar solapar esbarrondar
6) Explique a concordância verbal em: "A maior parte dos nossos usam de
pão amassado".
41I
Narrativas com reflexões
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA
412
NARRA TI VAS
animal tão bem organizada, na qual não há lugar para os ociosos e em que cada
indivíduo deve realizar pontualmente uma tarefa necessária ao bem comum.
DEMONSTRAÇÃO MATEMÁTICA
Teodoro de Morais
Interno aluno que vive no colégio durante o ano letivo, sujeito às regras
de disciplina que aí vigoram.
Oportunidade ocasião propícia.
Deslumbrados profundamente admirados, como se a sapiência do filho
fosse tão luminosa que deslumbrasse a inteligência dos pais.
Andava à espreita procurava, atento e vigilante.
Onde estava eu com os olhos? onde os tinha eu, que não via isso?
I. O FILHO PRÓDIGO
C ERTO homem rico tinha dois filhos, dos quais o mais moço pediu ao pai
que lhe desse, em vida, a parte da herança que lhe havia de caber por sua
morte, porque desejava lograr o seu. Concedeu-lhe o pai o que pedia, e daí a
poucos dias, ausentando-se para um país distante, desbaratou e consumiu toda
a herança em larguezas e prodigalidades, chegando a tal excesso de miséria que
foi obrigado a servir um amo e a guardar um rebanho de gado imundo. No
meio do montado desejava matar a fome que padecia, com o mesmo comer de
que o gado se sustentava, mas nem esse lhe davam, e perecia. Lembrava-se da
abundância com que até os criados de soldada viviam em casa de seu pai, e ele
estava ali morrendo à fome. Com esta consideração desenganado, tornou em
si, e, arrependido da vida passada, resolveu-se a ir buscar outra vez seu pai e
confessar a sua culpa. Pôs-se a caminho: e estando ainda longe da casa do pai,
vendo-o este e reconhecendo-o, penetrado de piedade e compaixão, apressou
os passos e o foi abraçar, e o chegou a seu rosto com muitas carícias e amplexos.
Então o filho, lançando-se a seus pés, lhe disse: "Meu pai, contra Deus e contra
vós pequei, e não mereço que me chameis mais vosso filho; peço-vos que me
admitais por um dos vossos jornaleiros". Porém o pai, mandando-o vestir do
mais precioso vestido, e metendo-lhe no dedo um estimável anel, provendo-o
também de calçado, lhe fez preparar um banquete do melhor vitelo, e com
grandes festas celebrou a vinda do filho que julgava por morto. Estando à mesa
chegou do campo o filho mais velho, e ouvindo tanta festa, informando-se
FLOR DO LÁCIO
do que se passava, não quis entrar em casa, antes se mostrou tão sentido e
queixoso, que saindo o pai fora para o buscar, lhe disse o filho: "Há tanto
tempo que vos sirvo com obediência, como vós sabeis, e nunca me destes um
cabrito para comer com os meus amigos; e agora que chegou esse vosso filho
que desperdiçou todo o seu patrimônio, logo lhe deste a comer o vitelo mais
gordo e melhor". "Filho" respondeu o pai "vós sempre estais comigo, e
tudo quanto tenho é vosso; porém como vosso irmão estava já perdido, foi justo
que me alegrasse com a sua vinda".
2) Que verdade serve ela para demonstrar? Prove-o com elementos tirados
do texto.
Exercício : elocução
Houve um homem mui opulento, que não vestia senão púrpuras e holandas, e
todos os dias se banqueteava esplendidamente. À sua porta jazia de ordinário
um pobre chamado Lázaro, coberto de chagas, que, para matar a fome, não
alcançava nem as migalhas que caíam da mesa do rico; somente os seus cães lhe
vinham às vezes lamber as feridas. Sucedeu que, morrendo ambos no mesmo
420
NARRATI VAS
dia, Lázaro foi levado pelos anjos ao seio de Abrão, e o rico foi sepultado no
Inferno. Ardendo naqueles tormentos, olhou para cima, e vendo Lázaro no seio
de Abrão, disse falando com ele: "Pai Abrão, tende compaixão de mim; mandai
a Lázaro que me venha refrigerar a língua ao menos com a parte extrema de um
dedo molhado na água; porque me abrasa e atormenta muito este fogo". Res-
pondeu-lhe Abrão: "Lembra-te, filho, que na tua vida gozaste os bens, e Lázaro
padeceu os males; agora tu padeces os tormentos, e ele logra os gostos. Daqui
não se pode passar para lá, nem de lá para cá; porque entre nós e esse lugar se
mete uma grande separação e dilatado espaço". "Ao menos, tornou o rico
avarento a fazer segunda petição, peço-vos que mandeis Lázaro a casa de
meu pai, onde tenho cinco irmãos, para que lhes diga o que por cá passo; pois
não suceda que eles, vivendo com o meu exemplo, venham também a parar
neste lugar de tormentos". Disse-lhe Abrão: "Eles lá têm Escrituras e profetas a
quem podem ouvir". Instou o avarento: "Com mais eficácia se moverão a fazer
penitência, se um morto ressuscitado os for advertir". Porém Abrão lhe tornou
a responder: "Se eles não crêem a Moisés, nem aos profetas, muito menos darão
crédito a um morto ressuscitado".
421
FL O R DO LÁCIO
2) Quais são as partes desta narrativa que correspondem aos títulos ... ?
a. A introdução da historieta
b. O diálogo de Pai Abrão e do rico avarento
1) Que é que nos vai prendendo a curiosidade, à medida que lemos esta
narrativa?
422
NARRATI VAS
Exercício : elocução
O IDEAL DE NHONHÔ
França Júnior
v querias tu, afinal, meu velho mestre de primeiras letras? Lição de cor
~ compostura na aula; nada menos do que quer a vida, que é das últimas
letras; com a diferença que tu, se me metias medo, nunca me meteste zanga.
Vejo-te ainda agora entrar na sala, com as tuas chinelas de couro branco, ca-
pote, lenço na mão, calva à mostra, barba rapada; vejo-te sentar, bufar, grunhir,
absorver uma pitada inicial, e chamar-nos depois à lição. E fizeste isto durante
vinte e três anos, calado, obscuro, pontual, metido numa casinha da Rua do
Piolho, sem enfadar o mundo com a tua mediocridade, até que um dia deste
o grande mergulho nas trevas, e ninguém te chorou, salvo um preto velho
ninguém, nem eu, que te devo os rudimentos da escrita.
Machado de Assis
3) Divida esta narrativa em três partes, dando títulos a cada uma delas e
dizendo em seguida qual é o respectivo conteúdo.
2) Que impressão nos quer dar o autor, do velho mestre que ele descreve?
3) De sinônimos a:
a. Últimas g. Falaz m. Nímio
6. Medo h. Trevas n. Castigo
c. Nunca i. Salvo o. Fanático
d. Zanga j. Chorar p. Infletir
e. Calado k. Irrisão q. Empecer
f. Enfadar 1. Exegese r. Reinadio
Exercício : elocução
Imitando o autor na passagem que vai de: "Que querias tu" a "chamar-nos
depois à lição", fale:
a. De um velho avô
6. De um professor atual
Evoque, numa curta narrativa, a figura de seu primeiro professor (ou de sua
primeira professora) e faça algumas ligeiras reflexões a respeito dele (ou dela).
430
NARRATI VAS
Toda a minha vida colegial se desenha no espírito com tão vivas cores, que
parecem frescas de ontem ... Vejo o enxame dos meninos, alvoroçando na loja
que servia de saguão; assisto aos manejos da cabala para a próxima eleição do
monitor geral; ouço o tropel do bando que sobe as escadas e se dispersa no vasto
salão, onde cada um busca seu banco numerado. Mas o que sobretudo assoma
nessa tela é o vulto grave de Januário Mateus Ferreira, como eu o via passando
diante da classe, com um livro na mão e a cabeça reclinada pelo hábito da refle-
xão. Usava ele de sapatos rinchadores; nenhum dos alunos do seu colégio ouvia
de longe aquele som particular, na volta de um corredor, que não sentisse um
involuntário sobressalto. Januário era talvez ríspido e severo em demasia; porém
nenhum professor o excedeu no zelo e entusiasmo com que desempenhava o seu
árduo ministério. Identificava-se com o discípulo; transmitia-lhe suas emoções
e tinha o dom de criar no coração infantil os mais nobres estímulos, educando
o espírito com a emulação escolástica para os grandes certames da inteligência.
José de Alencar
431
FLOR DO LÁCIO
432
N A RRATIVAS
a. Ironia e. Imagem
b. Descrição d. Comparação
4) Dê sinônimos a:
a. Sobressalto e. Severo e. Árduo
b. Ríspido d. Zelo f. Nobres
5) Explique a concordância verbal em: "Nem Lucas, nem algum outro dos
evangelistas dizem expressamente quando o diabo tornou a tentar Cristo".
6) Analise logicamente:
a. Nós é que somos os alunos
b. O livro que você quer que eu leia está na biblioteca
e. Comemos do pão e bebemos do vinho
d. O soldado puxou da espada
7) Cite palavras que indiquem aspecto, forma e cor de olhos, nariz, fronte,
cabelos e queixo duma mulher.
Exercício : elocução
Imitando o autor na passagem que vai desde: "Toda a minha vida" até "ban-
co numerado", fale:
a. De seus folguedos infantis, em companhia de seus irmãos e primos
b. Da hora de recreio numa escola primária
433
Narrativas com retrato
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA
3) O amigo dos cães: Meu amigo Paulo tem, na linda chácara de seus pais,
grande número de cães de todos os tamanhos e raças. Quando volta da escola ou
dum passeio, toda a matilha o cerca em algazarra, ladrando alegremente e pro-
curando lamber-lhe as mãos. E ele os acaricia um por um, entre demonstrações
434
NARRATI VAS
de alegria dos outros. Se um dos animais adoece, Paulo fica preocupado e não
sai mais a passeio, a fim de tratar do doente com carinhosa solicitude. À tarde,
antes do jantar, caminha pelos campos com uma escolta de "policiais", galgos e
perdigueiros, que não lhe dão um momento de descanso. Parece que os amigos
de Paulo o vão abandonando aos poucos; mas ele de nada se queixa, sentindo-se
completamente feliz no meio de seus cães.
435
Narrativas exóticas
TEXTO EXPLICADO
NA CHINA DE OUTRORA
Eça de Queirós
437
FLOR DO LÁCIO
438
Narrativas exóticas
TEXTOS PARA EXPLICAÇÃO
A gente popular de todo este reino pela maior parte é cativa dos senhores das
[ idades, vilas le aldeias, salvo aqueles que por alguma via têm privilégio
para o não serem. E este cativeiro é coisa de muitos anos. Um costume mui
novo vi nesta cidade (Nicósia) que me põe em admiração; o qual é que, indo
eu um dia por uma rua, vi levar e enterrar à igreja um fidalgo mui principal,
e iam com ele todos seus parentes e amigos, e diante os escravos e escravas, os
quais levavam pelas rédeas quatro ou cinco cavalos e dois machos, e todos co-
bertos de dó; chegando junto ao alpendre da igreja, subitamente saíram dela os
clérigos com grandes paus nas mãos, e começaram de dar nos escravos e escra-
vas, trabalhando por prendê-los; como prenderam um ou dois, os outros com
os cavalos fugiram. Fiquei eu admirado de ver um tão súbito desatino, a meu
parecer, e depois da coisa quieta, perguntei a significação dela. Disseram-me ser
costume naquela terra, quando falecia alguma pessoa nobre e rica, irem adiante
todos os seus escravos e escravas, mulas e toda outra cavalgadura até à porta da
igreja, como eu vira aqueles, e, que, saindo os clérigos com os paus, as escravas
ou escravos ou cavalgaduras que podiam tomar eram seus, e os outros ficavam
livres e forros.
439
FLOR DO LÁCIO
440
NARRATIVAS
2) Dê sinônimos a:
a. Cativeiro j. Ab-rogar s. Coligir
b. Novo k. Afetar t. Assacar
c. Enterrar 1. Afilar u. Chufa
d. Quieta m. Adergar v. Enfarar
e. Nobre n. Adentrar-se w. Debrum
f. Rica o. Desdouro x. Esquadrinhar
g. Livres p. Arrugar y. Inquirir
h. Aquelar q. Adentrar z. Esmolambado
i. Abroquelar r. Embrenhar
44I
FLOR DO LÁCIO
e. Advir sobrevir
f. Emagrecido emaciado
g. Destroçar - afugentar - derrotar
Exercício : elocução
Imitando o autor na passagem que vai desde: "Um costume mui novo" até
"trabalhando por prendê-los", fale de um bando de garotos a perseguir balões,
na tarde de São João.
Você foi visitar uma colônia japonesa, numa grande fazenda de café, e estra-
nhou-lhe os costumes. Conte o que viu, numa pequena narrativa.
442
NARRATI VAS
o Bosque de Chapultepeque, que, com verdade, pode ser posto ao lado do Bois
de Boulogne, orgulho da elegância parisiense ... Na visita que fiz ao castelo,
serviu-me de cicerone o próprio presidente. Corremos aquelas salas do peque-
no Versalhes e ele, em cada peça, a propósito de cada objeto, contava-me um
caso interessante. Assim, referindo-se à opulência dos adornos de mesa, baixelas
e talheres, narrou-me o que se passara num banquete que ali dera o famoso
aventureiro Pancho Vila. No dia em que Vila, com sua tropa, entrou vitorioso
na cidade do México, instalou-se no castelo e mandou servir a seus generais,
ajudantes e sequazes um grande banquete com tudo o que no palácio houvesse
de mais rico e luxuoso. E o banquete foi preparado, servido, e, naturalmente,
regado pelas bebidas mais incandescentes. Ao terminar o lauto ágape, que cor-
reu na maior animação e concerto, o guardião do palácio aproximou-se de Vila
e o informou de que haviam desaparecido quase todas as peças do rico serviço
que havia sido posto na mesa. Vila ordenou ao guardião que nada dissesse e
fechasse todas as portas do salão. Feito isso, ergueu-se, e, de revólver em punho,
dirigindo-se com veemência a seus comensais, ordenou que se pusessem sobre
a mesa todas as peças que haviam sido escondidas, declarando que ninguém
dali sairia antes que se verificasse que não faltava uma só peça. O expediente foi
providencial. Cada qual foi retirando, do próprio bolso, garfos e colheres até
que a contagem, que se ia fazendo, houvesse atingido ao resultado satisfatório.
Rodrigo Otávio
443
FL OR DO LÁCIO
4) Que quer o autor dizer com a oração: "Que correu na maior animação e
concerto"?
2) Quais são as partes desta narrativa, que correspondem aos títulos ... ?
a. A situação do castelo
b. No interior do castelo
c. A narrativa do presidente
3) Por que é mais longa do que as outras a terceira parte desta narrativa?
444
NARRATI VAS
447
Narrativas antigas
TEXTOS EXPLICADOS
I. NA JUDÉIA ANTIGA
S EBES de cactos em flor bordavam a estrada; e para além eram verdes outeiros
onde os muros baixos de pedra solta, vestidos de rosas bravas, delimitavam
os hortos. Tudo ali resplandecia, festivo e pacífico. À sombra das figueiras, de-
baixo dos pilares das parreiras, as mulheres, encruzadas em tapetes, fiavam o
linho ou atavam os ramos de alfazema e manjerona que se oferecem na Páscoa;
e as crianças em redor, com o pescoço carregado de amuletos de coral, balou-
çavam-se em cordas, atiravam à seta ... Pela estrada descia uma fila de lentos
dromedários levando mercadorias para Jopé: dois homens robustos recolhiam
da caça, com altos coturnos vermelhos cobertos de pó, a aljava batendo-lhes a
coxa, uma rede atirada para as costas, e os braços carregados de perdizes e de
abutres amarrados pelas patas: e diante de nós caminhava devagar, apoiado
ao ombro duma criança que o conduzia, um velho pobre, de longas barbas,
trazendo presa ao cinto como um bardo a lira grega de cinco cordas, e sobre a
fronte uma coroa de louro ... Ao fundo dum muro, coberto de ramos de amen-
doeiras, diante duma cancela pintada de vermelho, dois servos esperavam, sen-
tados num tronco caído, com os olhos baixos e as mãos sobre os joelhos.
Eça de Queirós
NARRATI VAS
449
FLOR DO LÁCIO
450
NARRATI VAS
II. O HOMEM-DEUS
451
FLOR DO LÁCIO
452
NARRATI VAS
2) Que pensa o autor quando diz que "a mão do Senhor escrevera os desti-
nos da Judéia sobre aquela fronte real"?
R.: Interpreta o autor um modo de sentir de grande parte do povo judaico.
Este julgava ser Jesus um predestinado, que, subindo ao trono de seus antepas-
sados, libertaria a Judéia do jugo romano e a conduziria a altos destinos. Mas
"o reino de Jesus não era deste mundo, no qual, todavia, ele lançou a semente
fecunda de um grande reino espiritual.
453
Narrativas antigas
TEXTO PARA EXPLICAÇÃO
D UM lado cavava-se o Vale de Hinon, abrasado e lívido, sem uma erva, sem
uma sombra, juncado de ossos, de carcaças, de cinzas. E diante de nós o
morro ascendia, com manchas leprosas de tojo negro, e a espaços furado por
uma ponta de rocha polida e branca como um osso. O córrego, onde os nos-
sos passos espantavam os lagartos, ia perder-se entre as ruínas dum casebre de
adobe: duas amendoeiras, mais tristes que plantas crescidas na fenda dum se-
pulcro, erguiam ao lado a sua rama rala e sem flor, onde cantavam asperamente
cigarras. E na sombra tênue, quatro mulheres descalças, desgrenhadas, com
rasgões de luto nas túnicas pobres, choravam como num funeral. Uma, sem se
mover, hirta contra um tronco, gemia surdamente sob a ponta do manto negro:
outra, exausta de lágrimas, jazia numa pedra, com a cabeça caída nos joelhos, e
os esplêndidos cabelos louros desmanchados, alastrados até ao chão. Mas as ou-
tras duas deliravam, arranhadas, ensangüentadas, batendo desesperadamente
no peito, cobrindo a face de terra; depois, lançando ao céu os braços nus, abala-
vam o morro com gritos: "Oh! Meu encanto! Oh! Meu tesouro! Oh! Meu sol!"
- e um cão, que farejava entre as ruínas, abria a goela e uivava sinistramente.
Eça de Queirós
454
NARRATI VAS
4) Que é o Gólgota?
455
FLOR DO LÁCIO
Exercício : elocução
Imitando o autor na passagem que vai desde: "Mas as outras duas delira-
vam" até "Oh! Meu sol!", fale:
a. Do delírio de um soldado ferido, no hospital de sangue
b. Do sonho absurdo de um louco, no hospício
457
Narrativas antigas
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA
e. As jóias de Cornélia: Certo dia, uma matrona romana, Cornélia, mãe dos
Gracos, recebe a visita duma amiga. Esta, demasiadamente vaidosa, depois de
falar de modas, escravos e festas, mostra-lhe, gabando-as, todas as lindas e ricas
jóias que trazia. Cornélia admira-as e tem para elas uma palavra delicada de
louvor. A amiga, numa curiosidade muito feminina, pergunta pelas de Corné-
lia. A dama romana manda, então, chamar os filhos e apresenta-lhos como suas
mais belas e preciosas jóias.
459
II
Fábulas
O LEÃO VELHO
22 "Co", "ca", "cos", "cas: com o, com a, com os, com as. São formas atualmente desusadas, a não
ser, por vezes, no linguajar do povo.
FLOR DO LÁCIO
I. A COBRA E O GATURAMO
Coelho Neto
2) De sinônimos a:
a. Gorjear f. S6frega k. Contente
b. Fechar g. Tufar-se l. Empombar
c. Alegres h. Enfatuado m. Cimbrar
d. Infeliz i. Redargüir
e. Interrogar j. Saciada
467
FLOR DO LÁCIO
Exercício : elocução
Imitando o autor na passagem que vai desde: "O tempo era até "à espera
da morte", fale:
a. De um mendigo que está morrendo de fraqueza
b. De um explorador perdido nos gelos árticos
V. de Santa Mônica
470
FÁBULAS
5) Dê antônimos a:
a. Engraçada d. Triste g. Dormir
b. Estimada e. Fragilidade h. Sossegar
c. Bobos f. Possante i. Medo
7) Analise logicamente o trecho que vai desde: "Meu senhor, não me direis"
até "de fazer voltar atrás um leão?!".
Exercício : elocução
Componha, em prosa, uma pequena fábula semelhante a esta, mas que te-
nha por figurantes a onça e o macaco.
471
Fábulas
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA
472
FÁBULAS
473
III
Anedotas
TEXTO EXPLICADO
A anedota é:
a. O relato dum pequeno fato histórico
b. Uma historieta
c. Uma narrativa curta, espirituosa ou curiosa
TIRO AO ALVO
-Teodoro de Morais
475
FLOR DO LÁCIO
U M godo por nome Tacho se jactou, em presença do Rei Heraldo, que pon-
do-se qualquer pomo na ponta dum báculo, certamente o cravava com o
primeiro tiro. O rei bárbaro mandou logo pôr em lugar do báculo a um filho
do mesmo Tacho, e sobre a sua cabeça o pomo; para que, se errasse, ficasse
castigada a sua jactância. Ele, posto em tão estreito aperto, que havia de perder
o crédito se quisesse salvar o filho sem perigo, mandou ao moço voltar o rosto
para a parte contrária, para que não tremesse ao ver sacudir a seta; e avisou
que persistisse com a cabeça direita porque assim importava a ambos. E logo,
com despejada confiança, tirou da aljava três setas; e sem demora, para não
fazer esperar mais ao palpitante coração do filho, assentou a seta e a disparou
tão inocentemente como lhe convinha e como prometera. Admirou-se o rei, e
perguntou: "Por que aparelhaste três setas se a experiência devia fazer-se só com
uma?". Aqui, Tocha, formando da língua também arco, e da palavra seta, lhe
disparou outra mais atrevida. "Se errasse" lhe disse "com dano de meu
filho, as outras duas eram para ti, e para alguém que por ti acudisse; pois não
era bem que a inocência levasse a pena, e a violência injusta ficasse impunida".
477
FLOR DO LÁCIO
3) Que quer o autor dizer com a frase: "Formando da língua também arco,
e da palavra seta?".
3) Que impressão nos causa cada uma das personagens desta narrativa? Por
quê?
1) Dê sinônimos a:
a. Rei f. Despejada k. Presságio
b. Pomo g. Aparelhar 1. Aziago
c. Báculo h. Pena m. Tétrico
d. Jactância i. Estrafego n. Peral
e. Aperto j. Estracinhar o. Precito
479
FLOR DO LÁCIO
II. O SABICHÃO
l) Dê sinônimos a:
a. Apóstata f. Sem mais detença k. Pressago
b. Gloriar-se g. Afetando 1. Agoirento
c. Desastrado h. Agro m. Auspicioso
d. Averiguar i. Atro
e. Perícia j. Tenebroso
Exercício : elocução
Assim, por exemplo, um lago, que reflete, em suas tranqüilas águas, as árvo-
res marginais, o céu azul e farrapos de alvas nuvens, evoca-nos logo a imagem
de um espelho e esta impressão se traduz, quer por uma comparação ("O lago,
como um espelho, reflete" etc.), quer por uma metáfora ("O lago espelha as
arvores » etc ..
.)
I. NOTURNO
e
grande noite serena, mãe dos lírios, dá-nos a luz da tua lâmpada suave
º para que ainda possamos ver esses caminhos por onde vamos, que dizem
ser de lindo aspecto: bueiros de mármore e todo o leito da estrada de cascalho
de gandarela. Vem ao céu, plenilúnio argentino, desabrocha e aclara o nosso
itinerário. Sobre o cimo de um monte um revérbero diáfano aparece: é o luar;
emerge uma aresta aguda e, vagaroso, o crescente rutila, recortando o azul
como a lâmina de uma foice. "Linda noite!" murmuram. Debruço-me à
janela do vagão, olhando a paisagem banhada no alvo e transparente luar ...
Abrupto, densas trevas cegam-me; de chofre range o trem, solavanca, trepida,
estronda, através da espessidão tenebrosa de um túnel... O luar de novo, com
grandes acúmulos de sombra e fagulhas que passam no ar frio da noite sosse-
gada. Ao longe, raro em raro, luzes choças; decerto cantam lá dentro modas
sertanejas. Que saudades me trazem essas cabanas pobres. Minha terra! Minha
terra! Nas campinas do teu sertão é assim que a gente mora uma cabana de
palha e o vasto campo em torno; entanto ... a felicidade parece que prefere as
choças raro é o pranto, e o sorriso é o penate rústico.
Coelho Neto
FLOR DO LÁCIO
490
EXPRESSÃO DE IM PRESSÕES PESSOAIS
II. O VELH O LA R
A casa resistira ao tempo: rija nos seus formidáveis esteios de cabiúna, toda
aberta ao ar e à luz, muito branca, destacava-se sobre o fundo escuro da mata
que dominava sobranceira o alto da colina. As grandes alas caiadas, os espaçosos
quartos, os corredores imensos estavam impregnados de recordações. Havia
ainda um vago aroma do passado os manes dos que ali haviam expirado pa-
reciam errar na luz e na brisa, festejando as almas que voltavam como para ani-
nhar-se no aconchego do ninho, pressentindo perto o duro inverno da velhice.
-Coelho Neto
491
FLOR DO LÁCIO
III . AS NAUS
Luís Delfino
492
EXPRESSÃO DE IM PRESSÕ ES PESSOAIS
3) Que é solau?
R.: São versos acompanhados por música, num ritmo ordinariamente triste
e cuja letra o é também. No soneto, é o ruído ritmado e monótono das ondas.
6) Por que acha o poeta que as naus constituem monumentos mais grandio-
sos que os monumentos de mármore de Carrara?
R.: Porque, além de sua finalidade de unir continentes, elas têm por pedestal
a vastidão do oceano, e, por cúpula, a imensidade do céu.
493
Expressão de impressões pessoais
TEXTOS PARA EXPLICAÇÃO
I. OS VAGALUMES
Graça Aranha
494
EXPRESSÃO DE IM PRESSÕES PESSOAIS
495
FLOR DO LÁCIO
c. Pirilampos g.Fogo
d. Noite h. Ondas
Exercício : elocução
Imagine o aluno (ou a aluna) que, penetrando numa gruta com uma tocha
acesa, encontra deslumbrante tesouro de pedras preciosas. Descreva o aspecto
da gruta e do tesouro, desenvolvendo uma série de impressões pessoais.
II. OS VAGALHÓES
497
FLOR DO LÁCIO
Xavier Marques
1) D sinônimos a:
a. Executada f. Turbilhões k. Cavoucar
b. Indicar g. Grenhas I. Derrisáo
c. Fausto h. Estatelados m. lnspissar
d. Acometer i. Açular
e. Espraiando j. Instigar
499
FL OR DO LÁCIO
500
Expressão de impressões pessoais
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA
501
FL OR DO LÁCIO
502
V
Discursos
503
FLOR DO LÁCIO
A CATEDRAL DO ARCEBISPO
"TODA ciência" - quem o disse foi, não um padre da Igreja, mas o libér-
rimo Vítor Hugo "toda ciência acaba em adoração". Vossas letras,
Senhor Dom Silvério, são uma adoração perene; e, por isto, melhor símile não
posso para elas achar do que uma dessas catedrais em que na Idade Média co-
laboravam legiões de arquitetos, escultores e alvanéis. Primeiro, sobre a rocha
indestrutível da verdade assentastes os alicerces dos princípios; e lenta, mas
progressivamente, erigistes as paredes da majestosa fábrica. Fizestes o corpo
do templo, e nele o santuário, ante o qual acendestes a lâmpada inapagável da
nossa fé. Aí vemos colunas que do solo se alteiam, como esses esteios da crença
que nem por subirem ao céu desdenham o apoio da razão humana. Há, pelos
capitéis e cimalhas, umas grinaldas de anjos e revoadas de flores. Pelas janelas
esguias, coa-se a luz cromatizada nos vitrais. Uma penumbra de mistério reina
ao longo das naves, e lá estão os confessionários, onde ensinastes aos culpados a
conquista do perdão. Vedes ali um púlpito, e ele é também domínio vosso, por-
que dele freqüentes desceram os vossos ensinamentos. Há, sob as lajes de uma
capela, um túmulo, o de um santo (perdoai-me agora as antecipações da cano-
nização), é o túmulo de Dom Viçoso e, por vós invocada, revive essa augusta
sombra, e ainda nos dá lições. Não é tudo: a igreja tende a subir, e alça-se em
torres, onde há ogivas que são como mãos postas para o céu. Ascendemos para
o azul, vamos subindo, subindo mas ainda é pouco. Atentemos nos bronzes
sagrados, e eles nos dirão que, correndo vales e serras, mais longe do que o deles
FLOR DO LÁCIO
foi o brado das vossas missões. A torre acumina-se, atira para cima a sua flecha,
e nesse hastil, já tão próximo do infinito, desabrocha uma flor, a cruz, que ao
mesmo tempo é patíbulo e epinício, supremo abatimento e martírio triunfal!
Eis, Senhor Dom Silvério, o símbolo do que haveis feito. Podem não amá-la,
à vossa obra, os que desamam a religião: mas, sob pena de cancelo nos seus
diplomas de estetas, lícito não lhes é menosprezarem a solidez e os primores do
lavor, nem a perfeita unidade da vossa construção.
Carlos de Laet
506
DI SCURSOS
I. A IDÉIA ABOLICIONISTA
Rui Barbosa
510
DI SCURSOS
5) Retire do texto:
a. As orações subordinadas comparativas
b. As orações subordinadas adjetivas
511
FLOR DO LÁCIO
512
DI SCURSOS
3) Explique o que é:
a. OTabor
b. O Hermon
c. O Sinai
1) Após dezoito anos de silêncio, a que foi obrigado por terrível amaurose,
Frei Francisco de Monte Alverne subiu de novo ao púlpito para pregar, a pe-
dido do Imperador Dom Pedro II, na festa de São Pedro de Ncântara, a 1 º de
outubro de 1854. Esta página é um trecho do panegírico que então proferiu.
2) Não lhe parece que o orador compara sua cegueira à escravidão dos bar-
dos do Tabor e dos cantores do Hermon e do Sinai? Que há de comum entre
uma e outra?
6) Que quer o autor significar com as folhas que possam reverdecer na coroa?
513
FLOR DO LÁCIO
8) Prove, com os elementos deste próprio discurso, que há nele muita poesia
e pompa de estilo.
2) De antônimos a:
a. Pesares d. Beleza g. Tempestade
b. Escravidão e. Pranto
c. Perfume f. Frouxas
5) Por que empregou o autor o infinito pessoal na oração: "Os ecos repeti-
rem as estrofes dos seus cânticos nas quebradas de suas montanhas"?
7) Analise logicamente o período que vai desde: "Religião divina" até "toma
esta coroa" .
Exercício : elocução
Imitando o autor no período que vai de: "Religião divina" a "esta coroa,
fale, exaltando:
a. Sua própria mãe
b. Nossa Senhora
c. Sua pátria
515
Sermão
I. O SAL DA TERRA
V6s" diz Cristo Senhor Nosso, falando com os pregadores "sois o sal da
terra: e chama-lhes "sal da terra" porque quer que façam na terra o que faz o
sal. O efeito do sal é impedir a corrupção, mas quando a terra se vê tão corrupta
como está a nossa, havendo tantos que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode
ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se
não deixa salgar. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores não pregam a
verdadeira doutrina; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, sendo
verdadeira a doutrina que lhes dão, a não querem receber. Ou é porque o sal
não salga, e os pregadores dizem uma coisa e fazem outra; ou porque a terra se
não deixa salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem, que fazer
o que dizem. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores se pregam a si, e não
a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, em vez de servir a
Cristo, servem seus apetites. Não é tudo isto verdade? Ainda mal.
2) Por que compara Vieira a ação do sal com a ação dos pregadores?
517
FLOR DO LÁCIO
Exercício : elocução
Exercício: redação
a. Cada qual para si: Estávamos todos sentados em torno da mesa, na sala
de jantar, escolhendo divisas para um jogo de salão. Propus, então: "Cada qual
para si, tema que cada um de nós deveria defender com argumentos proban-
tes. Meu pai censurou-me a escolha, mostrando o egoísmo contido nesta máxi-
ma. "Olhe" disse-me ele, "esta mesa. Fazendeiros criaram o boi cuja carne
você comeu e plantaram o café que você bebe. Foram os operários tecelões que
teceram esta toalha. Outros operários trabalharam para nos dar a louça e os
talheres. Marinheiros foram buscar ao longe nosso vinho, nossas azeitonas e o
trigo para nosso pão. Todos os ofícios concorrem para seu sustento, minha fi-
lha, para sua educação e para seus divertimentos. Que seria de nós, se cada qual
vivesse apenas para si?". As palavras de meu pai, tocadas de emoção, fizeram-me
refletir e compreendi que ninguém pode prescindir do trabalho dos outros.
b. Os criados: Certa vez, tratei com desprezo uma criada que nos servia à
mesa. Para punir-me, obrigou-me meu pai a servir em lugar dela. Ao trocar os
pratos, deixei cair um, que se quebrou. Senti-me perfeitamente humilhada.
Somente então meu pai se pôs a falar, lembrando-me que todo trabalho merece
respeito; que devemos tratar com consideração aqueles que nos servem; que as
ordens devem ser dadas com delicadeza e benevolência; e que nunca devemos
exigir dos outros qualidades que nós mesmos não possuirmos.
FLOR DO LÁCIO
520
VI
A dissertação
521
FLOR DO LÁCIO
522
Expressão de idéias morais
TEXTO EXPLICADO
VELHO TEMA
Vicente de Carvalho
FLOR DO LÁCIO
525
Expressão de idéias morais
TEXTOS PARA EXPLICAÇÃO
I. A PÁTRIA
3) Faça um resumo, tão curto quanto possível, de cada uma dessas partes.
5) Que quer o autor dizer com a frase: "É um duplo receber, que é duplo dar"?
527
FLOR DO LÁCIO
1) Dê sinônimos a:
a. Célebre f. Morte k. Climério
b. Poeta g. Expirar 1. Cinéreo
c. Magníficos h. Imenso m. Cálido
d. Imaginou i. Bela n. Caliginoso
e. Aproximar j. Delicada
Exercício : elocução
Exercício t: redação
Redija uma pequena dissertação, que tenha por assunto: "A caridade".
3) Mostre como as orações curtas servem, aqui, para concentrar maior nú-
mero de fatos, dando mais movimento ao estilo e maior vigor à argumentação.
530
A DI SSERTAÇÃO
4) Analise logicamente o período que vai desde: "A ciência enche e doira"
até "onde nada finda".
Imitando o autor no trecho, que vai desde: "Mas ciência e virtude" até "de
respeito", faça o aluno algumas reflexões acerca dos bons amigos.
Componha o aluno uma pequena dissertação, que tenha por tema: "Bon-
dade e sabedoria".
531
Dissertações
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA
2) Componha uma narrativa moral, que tenha por conclusão uma das se-
guintes máximas:
a. Amor com amor se paga
b. Cumpre o teu dever, aconteça o que acontecer
c. Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje
d. Não faças aos outros o que não queres que te façam
e. Dize-me com quem andas, dir-te-ei quem és
f. De pequenino é que se torce o pepino
g. A palavra é de prata, o silêncio é de ouro
532
A DISSERTAÇÃO
Dissertações longas
533
FLOR DO LÁCIO
14) Explique esta outra máxima do mesmo filósofo: "É próprio dos homens
errar, e, dos sábios, perdoar os erros".
16) Analise a seguinte asserção de Lessing: "O fim último das ciências é a
verdade; ao invés, o das artes é o prazer".
18) Comente o seguinte conceito de Gibbon: "O homem recebe duas clas-
ses de educação: uma, que lhe dão os demais; outra a mais importante -,
que ele dá a si mesmo".
20) Terá razão La Fontaine quando diz que "não há caminhos de flores que
conduzam à glória?
534
A DI SSERTAÇÃO
21) Analise o seguinte pensamento de Sêneca: ''A boa consciência quer tes-
temunhas; a má agita-se e perturba-se mesmo na solidão".
24) Comente esta afirmativa de Ovídio: "Leve se torna a carga que se leva
com paciência.
Dissertações literárias
Preparadas por leituras prévias Literatura brasileira
535
FLOR DO LÁCIO
10) Explicar, com exemplos, por que os versos de Cláudio Manuel da Costa
são modelares quanto à técnica e à dicção.
11) Estudar a seguinte proposição: "O poema 'Marília de Dirceu' está cla-
ramente separado em dois motivos: um de alegria, quando a esperança guiava
todos os projetos de felicidade do poeta (Tomaz António Gonzaga); outro de
mágoa e desalento, escrito na prisão em que o meteram os áulicos do trono
lusitano".
12) "Pelo que resta de suas produções, Alvarenga Peixoto devia ter sido um
poeta de pouco sentimento, mas de imaginação fácil e colorida".
14) Provar a seguinte asserção: "A peça mais significativa da poesia satírica,
no fim do século XVIII, é o poema das 'Cartas chilenas"".
15) "A natureza doentia de Sousa Caldas, sua morbidez ingênita, muito
concorreram para a melancolia e o pessimismo, notáveis em suas produções;
a poesia não lhe era um brinco passageiro, mas uma necessidade, um instru-
mento por onde se escapavam os gritos e os tormentos de sua amargurada vida
interior".
536
A DI SSERTAÇÃO
19) "A poesia da dúvida, ao mesmo tempo dolorosa e irônica, elevou-a Alva-
res de Azevedo à mais alta intensidade, servindo-se para isso de um estilo cheio
de tons velados".
20) "Laurindo Rabelo foi poeta popular por excelência; sua poesia é ora
dorida e pessimista, ora travessa e brincalhona, mas há sempre nela. um sainete
fundo e comovedor".
23) "Castro Alves reunia em si as duas forças motrizes da alta poesia: a elo-
qüência, que pertence à imaginação, e a doçura, que é fruto da sensibilidade".
537
FLOR DO LÁCIO
30) "A obra de Aluísio Azevedo reproduz, com a melhor fidelidade possível,
a fisionomia do nosso mestiço físico e moral, cujas linhas fugitivas de caráter
dificilmente se deixam entrever".
31) "O Ateneu, de Raul Pompéia, não mostra somente um escritor elegante,
um colorista, mas também um pensador original e inquieto, e um poeta.
34) A crítica literária: Sílvio Romero, Araripe Júnior, José Veríssimo, Ronald
de Carvalho.
36) Explicar a seguinte asserção a respeito do poeta negro Cruz e Sousa: "O
mundo girava em torno de sua dor e de tal maneira lhe pesava sobre a alma
A DI SSERTAÇÃO
insatisfeita e sofredora, que ele não soube traduzi-lo senão com imprecações
desesperadas e alucinantes: não há quase um verso seu que não seja um grito
contra a opressão do ambiente que o cercava, grito nascido mais do instinto de
raça que da consciência da vida".
539
I
A narração
543
FLOR DO LÁCIO
544
Narração em prosa
TEXTO EXPLICADO
545
FLOR DO LÁCIO
547
FL OR DO LÁCIO
549
Narração em verso
TEXTO EXPLICADO
1) 1. Opor do sol
Entre esplêndidas nuvens purpurinas,
Mergulhava-se o sol, e os frescos vales
Abriam seus tesouros de perfumes
Aos bafejas das auras suspirosas
Que desciam dos montes do Ocidente.
2. Os apóstolos
Sobre um risonho outeiro reunidos,
Escutavam os homens do Evangelho,
As predições supremas, as sentenças,
E as derradeiras instruções do Mestre.
3.A aldeia
A sossegada aldeia de Betânia
Se estende a seus pés, pobre, singela,
Como um plácido ninho de andorinhas
No meio de um vergel.
1) 4. As instruções de Cristo
"Pobres amigos!"
550
A NARRAÇÃO
5. A transfiguração
Falava o Salvador, seu santo rosto
Fulgurante se tornava, seus olhos
De inefáveis clarões se iluminavam,
E a túnica mesquinha e desbotada,
Da brancura da neve se cobria!
III) 6. A ascensão
Os amigos prostraram-se embebidos
Em êxtase divino; o grande Mestre
Sobre eles estendeu as mãos brilhantes,
Volveu aos céus o rosto glorioso,
E, deixando de manso a terra e os homens,
Ergueu-se, ergueu-se pelos vastos ares
Até librar-se no sidério espaço,
Como longínqua estrela rutilante!
Por fim perdeu-se além, na imensidade,
Onde não chega o pensamento humano!
Aqui termina a história do Calvário.
Fagundes Varela
551
FLOR DO LÁCIO
552
A NARRAÇÃO
aluno por explicar qual a razão por que o desenvolvimento da segunda parte é
maior do que o das outras.
553
Narração em prosa
TEXTO PARA EXPLICAÇÃO
(SEM QUESTIONÁRIO)
1. O Céu festivo. Ontem, dia de Nossa Senhora da Glória, reinou no Céu uma
grande e santa alegria. Pela madrugada, os anjos penduraram estrelas nas pontas
das nuvens, e, quando amanheceu, tudo ficou enfeitado de sol. O vento, nas
alturas, cantarolava baixinho, como para acalentar uma criança doente. E as
estrelas, apagadas, tinham um perfume casto e bom, de rosas murchas.
2. A felicidade dos justos. No seu trono de nuvens azuis, franjadas de ouro,
Nossa Senhora da Glória sorria contente. De todos os recantos do Céu che-
gavam anjos e almas felizes, que vinham banhar-se na luz pura dos seus olhos
misericordiosos. Uma felicidade inocente e boa embriagava as criaturas e as coi-
sas, como um vinho bebido em sonho. O ar estava impregnado de um eflúvio
meigo, de uma ternura comovida, como se pairasse naquela hora uma grande
bênção de Deus sobre o mundo.
3.A piedade da Virgem. E foi quando a Virgem, na glória alegre do seu dia,
falou desta maneira: "Meu coração, que as sete espadas trespassaram, é como
um cântaro repleto de mel. Tenho a cabeça coroada de estrelas e sinto a meus
pés a música religiosa dos anjos. Mas, na minha alegria, não posso esquecer as
criaturas que gemem, lá embaixo, na prisão escura da vida. A ventura, que me
cerca, deixaria de ser ventura, se eu não pudesse reparti-la com os infortunados.
Quero, pois, que os anjos desçam à Terra e restituam em alegria doce e cristã os
tributos de dor que eles, na sua miséria, têm pago ao Céu".
554
A NARRAÇÃO
-Humberto de Campos
555
Narrações
TEMAS PARA COMPOSIÇÃO LITERÁRIA
Composições parciais:
ASSUNTO FORMA SENTIMENTO
1. O labirinto subterrâneo Narrativa descritiva Espanto
2. Teseu caminhando Narrativa com retrato Prudência
3. O Minotauro Narrativa com retrato Horror
4. A luta Seres em ação Ansiedade
5. A libertação dos jovens Narrativa simples Alegria
6. Teseu e Ariadna nos mares Narrativa com reflexões Melancolia
7.0 abandono de Ariadna Narrativa dramática Emoção
8. A morte de Teseu Narrativa dramática Tristeza
9. Sua condenação Narrativa demonstrativa Cólera
557
FLOR DO LÁCIO
Composições parciais:
ASSUNTO FORMA SENTIMENTO
1. O dom de Midas Narrativa descritiva Contentamento
2. O castigo Narrativa demonstrativa Arrependimento
3.A netinha do rei Narrativa dramática Desespero
4. A súplica ao deus Narrativa dialogada Tristeza
5. A redenção de Midas Narrativa descritiva Alívio
24 Os alunos poderão ler, antes: "As guerras médicas", capítulo da Civilização antiga, de Seignobos;
e Legende des Siêcles, de Vítor Hugo ("Les Trois Cents").
A NARRAÇÃO
559
FLOR DO LÁCIO
3. As serpentes: Juno, levada por seu ódio, manda duas serpentes enormes a
devorar o pequeno semideus; elas descem, rastejando, o monte sagrado, passam
pelas ruas da cidade, atravessam a soleira do palácio e seu duplo pilar, entram
nos salões, galgam escadas de mármore, e, chegando ao aposento de Hércules,
detêm-se, enrolam-se e seus olhos frios se fixam no fundo côncavo do escudo.
4. A luta: Hércules, porém, acorda, levanta-se e, num gesto rápido, agarra-as
pelo pescoço, ao qual aperta sem esforço, sacudindo-as, como a brincar. Os
olhos dos monstros saltam, como brasas, fora das órbitas. Musculosas e intu-
mescidas, as serpentes açoitam violentamente o ar, mas o menino as constringe
cada vez mais, rindo-se de vê-las, cheias de raiva e de baba, estorcerem-se e en-
rolarem-se em torno do berço. Atira-as depois, já mortas, ao chão e cruza, para
dormir, os bracinhos ensangüentados.
7) O fruto proibido:
1. Certo rei do Aragão afasta-se, um dia, da comitiva de nobres e oficiais,
que o acompanhavam numa caçada, e chega, sem ser percebido, à porta de uma
cabana. Os proprietários um casal de pobres lenhadores tomavam frugal
refeição e conversavam acerca de Adão e Eva, cuja expulsão do Paraíso Terrestre
acarretara todas as dificuldades e sofrimentos que ambos estavam padecendo.
"Ah!" dizia a mulher. "Nossa Mãe Eva devia ter-se contentado com os
copiosos e variados frutos que se achavam à sua disposição e não ter tocado na-
quele que lhe proibira Deus!". "É verdade" replicava o lenhador. "Se eu
estivesse no lugar de Adão, teria sabido conservar minha felicidade".
2. Neste ponto da conversa, o rei, que a escutava, abre a porta e entra.
Grande surpresa do casal, que acolhe, sem reconhecê-lo, o soberano, em quem
julgam ver, por seus ricos trajos, um nobre da corte. O rei cumprimenta afavel-
mente os donos da casa e pede-lhes de beber, pois faz calor e a sede o atormenta.
Corre a mulher a buscar água fresca numa fonte vizinha, enquanto o marido
convida o inesperado hóspede a sentar-se e lhe oferece um pouco de vinho. O
soberano bebe à saúde de ambos e saboreia, mesmo, algumas frutas, que acha
deliciosas. Encantado com tão gentil acolhida, resolve recompensar o casal,
pondo-lhe, todavia, a fidelidade à prova.
3. No momento de despedir-se, ele se dá a conhecer; erguem-se os lenhado-
res, em atitude respeitosa. "Quero diz-lhes bondosamente "recompensá-
-los, pois vocês são honrados e benfazejos. Vocês vão deixar esta cabana e vir em
minha companhia; terão um palácio perto do meu, roupas, alimentos e tudo
o mais que possam desejar". Impõe-lhes, contudo, uma condição: que não to-
quem, de modo algum, num vaso de cristal, cuidadosamente tampado e cheio
de frutos desconhecidos, que todos os dias será posto à mesa de suas refeições.
A NARRAÇÃO
Ambos, tomados da mais viva alegria, caem de joelhos exclamando que aceitam
a proposta real com o mais profundo reconhecimento.
4. Alojados em magnífica residência, trajados luxuosamente, o lenhador e
sua mulher julgam viver um sonho maravilhoso. Nada lhes falta; o menor de
seus desejos é satisfeito imediatamente. À hora das refeições, porém, figura sem-
pre na mesa, entre finos e variados acepipes, um vaso de cristal fosco dentro do
qual há frutos de forma imprecisa e de cor avermelhada. O casal nem sequer o
olha, tão grande é a sua felicidade.
5. Certo dia, entretanto, quando já estavam habituados àquela boa vida,
começa a empolgar a mulher o desejo de saber que espécie de frutos continha
o vaso misterioso. Quer destampá-lo, um momento que seja, mas o marido a
detém, recordando-lhe a proibição formal do rei e dizendo-lhe que a ventura
de que gozam depende de sua obediência à determinação real. A mulher não
insiste, mas sua curiosidade vai aumentando à medida que transcorre o tempo,
até que a tentação, de tão forte, não a deixa mais dormir. Então, ela diz que
não deseja comer os frutos, porém apenas saber quais são e que, por isso, vai
descobrir o vaso, tanto mais que o rei de nada saberá.
6. O homem ainda tentou dissuadir a esposa de executar o que desejava,
mas vá lá um homem discutir com uma mulher, quando esta quer alguma coi-
sa ... Ela gritou, esbravejou, chorou, teve faniquitos; o marido cedeu, por fim,
como sempre cedem os maridos. Cheia de alvoroço, ela tomou o vaso, abriu-o.
Dentro, os frutos rutilavam, como estrelas rubras. Pareciam maçãs, mas não
tinham perfume algum; apanhou uma, que se lhe desmanchou nas mãos, como
um torrão de açúcar. Perturbada, fez um gesto estouvado, derrubando o vaso,
que se estilhaçou, enquanto os pomos se desfaziam em pó, como o primeiro.
O homem, exasperado, bradava: "Ah! Desgraçada, que fizeste? Não te dizia eu
que não tocasses no vaso? Que vai ser de nós agora?". A mulher, humilhada,
chorava e gemia.
7. Nisto, entrou o rei. "Por que estão vocês brigando?" perguntou. Am-
bos, consternados e envergonhados, nada responderam. Relanceou o soberano
os olhos pela sala e percebeu o que acontecera. Voltou-se, indignado, para o
casal, exprobrando-lhe o procedimento, pelo qual perdera direito a seus ob-
séquios. Recomendou a ambos que não condenassem mais, levianamente, o
pecado de Adão e Eva: "Vocês não foram mais fiéis em respeitar minha vontade,
do que eles a de Deus". Expulsou-os, finalmente, do palácio. Mandou que lhes
trocassem os ricos vestuários por suas velhas roupas e que os reconduzissem à
pobre choupana, onde, durante o resto da vida, eles lamentaram a desobediên-
cia, que lhes custara a felicidade.
FLOR DO LÁCIO
curava doentes, expulsava demônios, restituía a vista aos cegos, a audição aos
surdos, a palavra aos mudos; ressuscitou o filho da viúva de Naim, a filha do
príncipe da Sinagoga e seu amigo Lázaro, que morrera havia já quatro dias.
Acalmava as tempestades com uma única palavra. Várias vezes alimentou mi-
lhares de pessoas com uns poucos pães e alguns peixinhos, que ele abençoava e
que seus apóstolos distribuíam fartamente ao povo.
3. O amor de Jesus:
a) As palavras de Jesus eram repassadas de doçura, e, suas ações, cheias de
misericórdia. Acolhia benevolamente todos os que iam a ele, sobretudo os en-
fermos, os fracos e os pecadores. "Vim" dizia ele "para salvar os que se
perderam, curar os doentes e reconduzir ao bom caminho os que dele se afasta-
ram". "Não são dizia ainda- "os que gozam de boa saúde que precisam de
médico". Seu coração tinha piedade de todos os desgraçados. "Vinde a mim"
dizia Cristo "vós todos que sofreis, que estais fatigados ou esmagados sob
o peso de vossas misérias: eu vos aliviarei".
b) Ele queria, de maneira especial, às crianças, a quem acolhia e abençoava
com bondade. Tentando seus apóstolos afastá-las um dia, repreendeu-os, dizen-
do: "Deixai vir a mim os pequeninos, pois deles é o reino dos Céus e daqueles
que se assemelham a eles". Sua ternura pelas crianças levava-o a lançar os mais
terríveis anátemas contra aqueles que as escandalizem. "Desgraçado" disse
ele um dia "de quem escandalizar um só desses pequenos que crêem em
mim! Seria melhor para ele que lhe amarrassem ao pescoço a mó de um moi-
nho e o arremessassem ao mar!". "Abstende-vos" repetiu ele noutra ocasião
"de escandalizar um só destes pequenos, pois eu vos declaro que seus anjos
vêem incessantemente a face de meu Pai, que está no Céu". Afirmava Jesus
ainda: "Quem quer que receba uma criancinha como esta, é a mim que recebe,
e, tudo o que se fizer ao menor desses pequenos, é a mim mesmo que se fará".
4. O sacramento da eucaristia:
a) Não se contentou Jesus Cristo com instruir os homens na sua doutrina e
em induzi-los ao bem com seus exemplos. Quis dar excelsa prova de amor aos
homens, de quem dizia, segundo reza a Escritura: "Minha alegria é estar entre
os filhos dos homens".
b) Assim, durante a Santa Ceia, instituiu o sacramento da eucaristia, pro-
ferindo as palavras: "Este pão é minha carne e este vinho é meu sangue. Por
este sacramento de amor, fez-se ele não somente nosso alimento, mas também
companheiro de nossa peregrinação na terra. Deste modo, Jesus se acha sempre
entre nós, no augusto sacrário de nossos corações.
5. Paixão e morte de Jesus Cristo:
a) No Horto da Oliveiras, antes de ser entregue por Judas Iscariote aos sa-
cerdotes do templo, Jesus, distanciando-se de seus apóstolos, sofreu a agonia da
A NARRAÇÃO
morte. Pediu ao Pai Celeste que afastasse o cálice da Paixão, mas, por fim, disse:
"Que vossa vontade seja feita, e não a minha". Preso e julgado, fizeram-lhe os
judeus sofrer os mais atrozes tormentos e, depois, o crucificaram cruelmente,
entre dois ladrões. Quando Jesus foi, entre chufas de incréus, erguido na cruz,
com os pés e as mãos transpassados por enormes cravos, orou por seus carras-
cos, dizendo: "Perdoai-lhes, Pai, porque eles não sabem o que fazem!".
b) Cerca de três horas da tarde, expirou Jesus. O céu enfarruscou-se, escure-
ceu; raios fuzilaram, ribombaram trovões, tremeu a terra e os mortos saíram de
seus túmulos, encaminhando-se, em tétrica procissão, para a cidade envolvida
em trevas ... Desceram Jesus da cruz e colocaram-no num sepulcro escavado
na rocha, cuja entrada foi fechada com enorme pedra, que os judeus selaram.
Sentinelas foram postadas junto à sepultura.
6. A ressurreição:
a) Três dias após, ele saiu, envolto num clarão ofuscante, do sepulcro, vivo
e glorioso, vencedor da morte e do Inferno. Apareceu primeiramente às santas
mulheres, depois aos apóstolos, aos quais anunciou a vinda do Espírito Santo,
e finalmente, a vários de seus discípulos, a fim de confirmar-lhes a verdade de
sua ressurreição.
b) Depois de ter permanecido, assim, durante quarenta dias na terra, Jesus
ascendeu ao Céu, em presença dum grande número de discípulos, cuja fé ele
quis consolidar, fazendo-lhes testemunhar tão portentoso milagre.
c) Agora, ele se acha à direita do Padre Eterno; mas voltará de novo, no fim
do mundo, revestido de imensa glória e imensa majestade, para o julgamento
final de todos os homens.
Composições parciais:
ASSUNTO FORMA SENTIMENTO
1. As cerimônias da partida Narrativa descritiva Religiosidade
2. O cortejo Grupos em ação Entusiasmo
3. A frota a navegar Ações num quadro Beleza
4. O descobrimento Narrativa emocionante Alegria
12) O Anhangüera:
1. Bartolomeu Bueno foi, certa vez, como chefe de uma bandeira, rumo
a Goiás, varando solidões e sofrendo privações. Chegando perto de enorme
árvore, fez alto. Ali acampou a bandeira. À noite, desabou terrível tormenta.
2. Na manhã seguinte, que surgiu radiosa, despertaram os homens, molha-
dos e seminus, no meio do álacre alarido dos macacos e do musical chilreio da
passarada. Ergueram-se, indagaram da altura e reencetaram a marcha, através
da espessura da mata verde.
3. De repente, silvou uma seta emplumada e rodeou-os uma feroz tribo de
selvagens. Espoucaram tiros, travou-se a luta. A chusma de indígenas formou
apertado cerco. Tombaram homens, feridos ou mortos, e Bartolomeu foi feito
prisioneiro.
4. Vendo um barril de aguardente, lançou-lhe fogo o duro bandeirante.
Logo irromperam, serpeando no ar, grandes línguas de fogo, aparecendo, atrás
das chamas azuladas, a figura do herói. Tomados de pavor, e julgando que o
herói tinha o poder de inflamar a água, gritaram os silvícolas: "Anhangüera!
Anhangüera!". Explicar o sentido desta palavra.
A NARRAÇÃO
II
III
IV
Faça o aluno uma narração bem composta, que resuma os seguintes romances:
a. A moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo
b. O guarani, de José de Alencar
e. Iracema, do mesmo autor
d. Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães
e. O matuto, de Franklin Távora
f Inocência, de Escragnolle Taunay
g. Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis
h. Quincas Borba, do mesmo autor
i. Dom Casmurro, do mesmo autor
j. O Sargento Pedro, de Xavier Marques
A NARRAÇÃO
V
CONTOS E NOVELAS
(Exercícios de composição e de imaginação)
1) Rute e Booz:
1. No dia de seu casamento, Booz, deixando por alguns momentos a com-
panhia da noiva, encaminha-se devagar para a larga porta de sua rica mansão
rural, toda adornada para a festa nupcial; enquanto vai andando, dirige amáveis
palavras aos convidados, que, aos grupos, conversam alacremente, saboreando
guloseimas e bebidas servidas por escravos. Detém-se no pórtico e-alonga para
o claro panorama, que dali se descortina, um olhar lento e circular, observando
sonhadoramente sua vasta e florescente propriedade: olivais, moinhos, poma-
res, rebanhos, queijarias e os verdes trigais onde encontrara Rute, a gentil e for-
mosa jovem a quem acabara de desposar e a quem mal conhece ainda, embora
experimente a intensa impressão de que a ama desde o início dos séculos. O
sol poente parece repousar no dorso aveludado das montanhas distantes e seus
tépidos raios revestem dum halo dourado a alta figura de Booz, iluminando-lhe
os olhos com um suave brilho de ternura e encantamento.
2. Certa ocasião, afirmara Rute a Noemi, sua sogra: "Meu há de ser o Deus
de meu marido e meu, também, o seu povo". Com o decorrer do tempo, no
entanto, seu mimoso rosto, de começo prazenteiro no meio da agradável rotina
dos afazeres domésticos, ensombrava-se de vez em quando e deixava transpa-
recer profunda melancolia. Booz notou, consternado, a transformação e in-
terpelou-a carinhosamente: "Eras até há pouco tão jovial, minha bem-amada
Rute; que tens, agora, a pesar-te no coração? Não te sentes feliz nesta casa?".
FLOR DO LÁCIO
Ela, porém, lhe respondeu tristemente: "Sou imensamente feliz contigo, Booz;
entretanto, um dia há de vir em que seremos ainda mais venturosos, quan-
do formos, tu e eu, para minha maravilhosa pátria". "É isto, então? Dize-me,
querida Rute, tu, cujo doce nome significa 'amizade e beleza', tu, cujo nome
me faz vibrar sonoramente, como às cordas duma harpa, as fibras do coração;
dize-me, ó alma de minha alma, onde fica tua esplêndida pátria, pois também
será a minha e para lá seguiremos imediatamente, como é de tua vontade".
Rute, porém, replicou, passando-lhe amorosamente a mão pelo rosto: "Não te
apresses nem te amofines, Booz; para lá havemos de voltar, mas, por enquanto,
muito ainda temos que fazer aqui, nesta terra". Booz saiu, desconsolado, para o
pátio empedrado, onde Noemi, sentada num banco de ônix, se aquecia ao sol
e, após beijar-lhe reverentemente a fronte, disse-lhe: "Creio, senhora, que Rute,
a minha princesinha das flores, está sofrendo, mortalmente, de saudades de sua
pátria e de seus parentes, que não conhecemos".
3. A presença de Rute na herdade fora como que uma fecunda bênção do
Céu; desde que ali se instalara como senhora, tudo corria às mil maravilhas:
havia mais bondade e alegria entre os seres humanos; a seiva da terra irrompia
abundantemente em frutos suculentos; o gado, nédio e sadio, ia cada mês reco-
brindo crescentes extensões de pastagens; os regatos fertilizantes pareciam rolar
maior volume de águas cristalinas e puras; e os próprios servos, bem alimenta-
dos, entregavam-se, com excepcional ardor produtivo, às lides do campo. Booz
sentia, no coração e na alma, a inefável influência espiritual da esposa: de duro
e intransigente que fora, em seus tempos de solteiro, tornara-se compassivo e
compreensivo, meigo e generoso, "porquanto" dizia ele consigo "não
devo ser, neste mundo, senão um irmão afetuoso de todos os homens, peque-
ninos ou grandes". E acrescentava: "Será alucinação? Quando, pensando em
Rute, pratico uma boa ação (e julgo que as tenho praticado em quantidade,
ultimamente, visto como não me é possível deixar de pensar em Rute sequer
um instante de minha vida), parece-me vislumbrar, em volta de mim, alvas e
dançantes sombras, como se anjos tentassem comunicar-se comigo.
4. Certa feita, tendo permanecido na senzala, até a desoras, a tratar, com
solicitude e desvelo, dum escravo doente, Booz regressa a casa, extremamente
cansado, mas tranqüilo e feliz. Caminhando no escuro da noite avançada, sob a
cintilação argêntea das altas estrelas, pela antiga senda orlada de negras árvores,
ele experimenta, de súbito, a sensação quase material de que doces sussurros o
acompanham, como que procurando falar-lhe, e ondas de inebriantes perfumes
o envolvem. Ao chegar a sua residência, mergulhada em densas trevas, bate-lhe
o coração, aceleradamente, como à aproximação dum mistério sagrado. Abre
a porta e entra cuidadosamente na ponta dos pés, a fim de não despertar nem
570
A NARRAÇÃO
2) O remorso de Ulisses:
1. Sentado placidamente à sombra de enorme figueira, carregada de frutos
maduros, não muito longe da hospitaleira cabana de Eumeu, seu fiel pastor e
amigo, o grande e astuto Ulisses, acompanhando com olhar distraído as evolu-
çóes duma lagarta esverdinhada, que rasteja sobre a superfície polida e averme-
lhada duma pedra, saboreia a pequenos goles uma taça de vinho adoçado com
mel. Já encanecido e um tanto gordo, começa a enfadar-se da rotina e da vida
calma que leva em Ítaca, ao lado de sua esposa Penélope e de seu filho Telêma-
co; sente necessidade de aventuras, de emoções fortes e de alegrias inesperadas,
como as que usufruíra, quando, fazendo-se passar por mercador, a fim de me-
lhor procurar o herói invulnerável, viu o jovem Aquiles, vestido de mulher, por
determinação de sua mãe Tétis, e vivendo, assim disfarçado, entre as filhas do
Rei Licômedes, trair-se involuntariamente e revelar-se, ao escolher entusiasti-
camente uma bonita espada, escondida capciosamente entre as jóias que ele,
Ulisses, oferecia às moças; depois, quando concebeu a idéia de construir o des-
comunal cavalo de madeira, em cujo bojo se ocultaram os feras guerreiros que
iriam incendiar e destruir Tróia; depois, ainda, quando se deu a conhecer, com
o nome de Ninguém, ao gigante Polifemo, a quem cegou com um tição aceso,
após tê-lo embriagado, e de cuja cólera conseguiu escapar, graças a seu ardil; em
seguida, quando viu seus infortunados companheiros serem metamorfoseados
em porcos, por artes mágicas da lindíssima e cruel feiticeira Circe, e destinados
a servirem de horrendo repasto às feras de seu palácio encantado; e, enfim,
quando, em duro e terrível combate, vencera e matara os pretendentes, que lhe
cobiçavam a esposa, o trono e as riquezas. Estremeceu, porém, de horror, ao
relembrar a morte do pequenino Astíanax, filho de Heitor, cuja cabecinha alou-
rada ele, Ulisses, esmigalhara, agarrando impiedosamente a criança por uma
perna e projetando-a com violência, apesar de seus gritos espavoridos, do alto
571
FLOR DO LÁCIO
das muralhas de Tróia em chamas. Para cometer tão inútil quão nefando crime,
era preciso que os deuses adversos o tivessem momentaneamente privado da
lucidez de espírito e da razão. Não tinha ele, naquele tempo, um filhinho, lá no
lar discante, tão distante, que lhe parecera, então, quase irreal? Ulisses evoca,
num arrepio, a trágica e dolorosa figura de Hécuba, mãe de tantos filhos sacrifi-
cados na guerra e avó da criança assassinada, que, em voz estridente e profética,
o amaldiçoara, entre jorros de lágrimas: "Tu também, ó torpe, sangüinário e
monstruoso grego de negras barbas, morrerás, mais cedo do que esperas, de
morte brutal e será uma criança quem te arrebentará o crânio, aqui, neste mes-
mo lugar!". Ulisses passa a mão pela fronte, onde poreja viscoso suor, tentando
afugentar a horripilante visão.
2. Por muitas e tristes noites, Ulisses, depois de mergulhar, agitado, num
sono povoado de espectros, acorda subitamente aos gritos, todo palpitante, ate-
nazado por espantoso pesadelo, que é sempre o mesmo e que atinge ao paroxis-
mo do horror: sua pequena vítima, ascendendo das atras profundezas do Érebo,
põe-se a ficá-lo nos olhos, amarguradamente, mostrando-lhe o crânio aberto,
donde escorrem pedaços sangrentos de cérebro, e clamando por vingança às
Erínias, que acorrem, pressurosas, e que, perseguindo implacavelmente o assas-
sino, o torturam, aos guinchos, com suas afiadas unhas, esforçando-se, depois,
por arremessá-lo do alto dum rochedo. Que fazer, para recuperar a serenidade
e a alegria de viver? Ulisses medica longamente e ergue fervorosa prece a sua
divindade protetora, rogando-lhe que o inspire e lhe aponte o caminho a seguir.
Um dia, como se fosse a manifestação duma vontade superior, sobrevém-lhe o
desejo de retornar às ruínas carbonizadas de Tróia, com o fim de apaziguar, por
meio de ricas oferendas e sacrifícios, o espírito conturbado e encolerizado do
infante morto. Confia seu projeto a Eumeu, que o aprova e lhe pede permissão
para acompanhá-lo.
3. Na manhã seguinte, comam ambos de machados, embrenham-se na fo-
resta e, sem perda de tempo, lançam-se energicamente à obra, abatendo, por
dias e dias sucessivos, as mais belas e portentosas árvores, desbastando-as dos
ramos e galhos, aplainando-as, ajustando-as e arrastando-as, com esforço, para
a praia, onde, de imediato, iniciam a construção de sólido e veloz barco. Quan-
do interrompem a longa e árdua tarefa, para breve e reparador descanso, ali-
mentam-se de favos de mel, ovos, frutas silvestres e água da fonte; à noite, perto
duma fogueira crepitante, aquecem-se e conversam amistosamente, recordando
amenos fatos do passado, antes que o sono lhes pese nas pálpebras. A consciên-
cia de Ulisses parece mais leve e clara, pois já consegue dormir tranqüilamente;
talvez Ascíanax lhe tenha perdoado.
4. Corre o tempo, os dias se encurtam e as noites são mais frias. O navio
vai, rapidamente, comando forma, graças ao auxílio dos sátiros, que, saindo do
57 2
A NARRAÇÃO
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FLOR DO LÁCIO
lanterna, fita-o com olhos rebrilhantes, nos quais perpassa misteriosa expressão
de ironia e crueldade. "Eumeu! Eumeu!" grita Ulisses, num sobressalto.
Quem e este menmno. : ,> ...
(Continuar e rematar).
3) A cruz de fogo:
1. Ao longe, recortavam-se, contra a tênue claridade do crepúsculo, os altos
cumes da Arcádia. Estava calmo o mar e puríssimo o céu; das montanhas, des-
ciam as sombras da noite. O navio singrava as águas mansas e, no tombadilho,
conversavam animadamente, à débil luz das lanternas, passageiros oriundos
de quase todas as nações da terra. Tamos, o piloto de Alexandria, firme no seu
posto, olhos cravados na imensidade líquida, dirigia o barco rumo à Élida, e os
movimentos hábeis e seguros de seus robustos braços pareciam automatizados,
como que decorrentes de longo hábito.
2. De fato, havia mais de vinte anos que percorria os mares, velejando cons-
tantemente para todos os portos do mundo conhecido. Vira, em suas viagens,
coisas surpreendentes e assombrosas: ouvira, nas costas da Sicília, a voz encan-
tada e fascinante das sereias; avistara, flutuando nos nevoeiros, os transparentes
espectros dos marujos mortos, que em vão procuravam seus corpos, devorados
pelos peixes e monstros marinhos; encontrara, por diversas vezes, o navio negro
de Serápis, atulhado de almas, navegando no grande oceano, sem leme, sem
velas e sem remos. Jamais, entretanto, por espantoso que fosse o espetáculo, lhe
tremera o braço, nem fraquejara o coração.
3. De repente, uma voz misteriosa, que não parecia humana e provinha da
praia distante, arrebatou-o aos enlevos do passado e trouxe-o de volta à rea-
lidade, clangorando: "Tamos! Tamos!". Silenciando instantaneamente, ante a
magnitude do estranho fenômeno, os viajantes, estupefatos, afluíram de roldão
para a amurada, tomados de curiosidade e religioso pavor. Tamos, como que
paralisado, nada respondeu, pois se julgava presa dum sonho inconcebível, em
que tudo seria ilusão; mas a voz ressoou de novo, impaciente e autoritária:
"Tamos! Tamos! Tu me ouves?". Então, abandonando a barra da direção e vol-
tando-se para as bandas donde provinha o chamado, Tamos, colocando as mãos
em concha aos lados da boca, gritou estentoricamente: "Estou ouvindo. Que
queres de mim?". "Tamos, escuta! Quero que leves ao mundo a infausta notícia
de que Pá é morto; Pá, o Grande Todo, Pá, a Vida Universal!". E, por três vezes
consecutivas, dolente e soturna, repetiu a voz: "É morto o grande Pá!". Em se-
guida, no universo inteiro no céu, na terra e no mar, explodiu como que
um pungente soluço e logo se ouviu a vibração harmoniosa duma nênia, que se
prolongou, através da noite entristecida, até a madrugada.
574
A NARRAÇÃO
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FLOR DO LÁCIO
579
FL OR DO LÁCIO
deste modo as partes da composição; estas devem ser ligadas umas às outras
pela transição, de tal maneira que, ficando suavemente enlaçadas entre si, cons-
tituam um conjunto harmonioso.
e. A expressão ou elocução, que consiste no modo de traduzir os pensamen-
tos por via de linguagem escrita ou oral.
Na 7 sílaba poética, "da" se fundiu com "és". A esta fusão dá-se o nome de
« • + )9
smerese .
Note-se, contudo, que um ditongo, sempre contado, gramaticalmente,
como uma sílaba, pode, no verso, desdobrar-se em duas, como neste verso de
dez sílabas em que "saudosos" se conta como tendo quatro sílabas:
Nos sa u do SOS cam pos do Mon de go
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
FLOR DO LÁCIO
Espécies de versos Há versos de uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete,
oito, nove, dez, onze e doze sílabas; alguns poetas chegaram mesmo a fazê-los
maiores (vide, por exemplo, "Biografia", de Mário da Silva Brito).
De quatro:
Doces despojos
Tão bem guardados...
De cinco:
Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida.
Viver é lutar!
De seis:
Cruel morte que vens
Buscar esta inocente...
De sete:
Ruth, a vida nos ensina
Que se vence a própria dor
Com um sorriso encantador. ..
Sorria sempre, menina!...
De oito:
Tu, caro amor, doce instrumento...
De nove:
O guerreiro da taba sagrada!
De dez:
Largo oceano azul, ora margeando
Campina extensa, ora frondosa mata,
Léguas e léguas marulhoso e brando,
O rio enorme todo o céu retrata.
RUDI M EN TOS DE ARTE LI TERÁRIA
De onze:
Olhos encantados, olhos cor do mar.
Olhos pensativos que fazeis sonhar!
De doze:
Todo o dia, ao ardor de minha alma angustiada,
Clamei, ébrio de luz, por ti, ó Bem-Amada!
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RUDI M EN TOS DE ARTE LI TERÁRIA
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FLOR DO LÁCIO
A fonte murmura
Os dias correm
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RUDI M ENTOS DE ARTE LI TERÁRIA
Ordem direta e ordem inversa "Em trecho algum" diz Silveira Bue-
no, em sua Gramática normativa "existe, exclusivamente, ordem direta ou
ordem inversa: ambas se misturam, sob a predominância de uma delas. A clas-
sificação de um trecho, neste sentido, é determinada por esta predominâncià'.
Ordem direta: Patenteia-se a ordem direta quando, na oração, é colocado
em primeiro lugar o sujeito, seguido de seus modificadores, se os houver; em
segundo lugar, o verbo, e, em terceiro, os complementos do verbo ou o comple-
tivo predicativo. Exemplos: "As alunas desta escola estudam com entusiasmo;
"Deus criou o céu e a terra em seis dias"; "esta cidade é grande e bela".
Ordem inversa: Para se dar realce a uma coisa, a uma idéia ou a um senti-
mento, coloca-se em primeiro lugar, ou em lugar de maior sensação, a palavra
que os exprime. Exemplos: "Com entusiasmo estudam as alunas desta escola";
"em seis dias criou Deus o céu e a terra"; "grande e bela é esta cidade".
Exemplos:
1) "Hoje" disse Pedro "não choverá.
2) Pedro disse que não choverá hoje.
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RUDI M ENTOS DE ARTE LI TERÁRIA
Nota: Outras observações deste gênero poderão ser feitas pelos alunos, pas-
sando os discursos diretos, que encontrarem nos textos, para a forma indireta,
e vice-versa.
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FLOR DO LÁCIO
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POSFÁCIO
A misteriosa e instigante trajetória profissional
do Professor Cleófano Lopes de Oliveira
Ana Lúcia de Oliveira Brandão26
Tive uma convivência familiar com o Prof. Cleófano Lopes de Oliveira por
um quarto de século e mais dois anos de lambuja. Sou a filha caçula da sua filha
caçula, a Margarida Maria. Ele e minha avó materna, a Professora Flora Cintra
Lopes de Oliveira, tiveram quatro filhos, nove netos e quatro netas. Eu nasci
três anos depois da sua aposentadoria na Escola Estadual Caetano de Campos.
Naquele tempo, não era usual entre os homens dividir muito do universo do
trabalho com sua convivência familiar. Eram mundos distintos.
Cleófano foi um grande contador de histórias no decorrer da minha in-
fância. Um homem muito culto, irreverente por natureza e muito engraçado.
A meus olhos de menina e adolescente, uma pessoa encantadora e inesperada
em seus comentários, por vezes sardônicos, irônicos e por vezes burlescos. Cla-
ro, foi um profundo apreciador do humor de Charles Chaplin e de Moliêre,
26 Tive ocasião de pesquisar esta trajetória do Professor Cleófano Lopes de Oliveira em 2017
durante a matéria feita como ouvinte com o Prof. Dr. Mauro Castilho no Curso EHPS na
PUC-SP (Educação: História, Política, Sociedade), semestre em que também pesquisei as Atas
da Congregação do Instituto de Educação Caetano de Campos sob custódia do acervo do CRE
Mário Covas (Secretaria Estadual de Educação do Estado de São Paulo).
601
FLOR DO LÁCIO
602
POSFÁCIO
Em conversa com ela sobre a falta de registros das atividades desenvolvidas pela
biblioteca em determinadas gestões, ela me contou que cursara o Curso Nor-
mal da Escola Caetano de Campos e descobrimos que meu avô tinha sido seu
professor de Literatura. Dona Lenyra ficou contentíssima com a constatação e
pediu que eu lhe enviasse suas lembranças.
Dona Lenyra me segredou que fizera o Curso Normal quando já era casa-
da e com uma filha pequena. E que meu avô permitia que ela levasse a filha
com ela para assistir às suas aulas e ainda dava material de desenho para que a
menina se distraísse enquanto a mãe assistia às suas aulas. Enfim, foi o tempo
que trouxe grandes revelações e ainda me traz, aqui e ali, sobre o trabalho do
Professor Cleófano. Um exemplo lapidar foi a constatação de que Dona Lenyra
ministrou aulas semanais de métrica e ritmo aos meninos de doze anos que
fizeram parte do jornal da biblioteca, o famoso A voz da infância nos anos 40,
fruto das aulas que recebera do meu avô. Soube disso em um depoimento dado
pelo poeta Paulo Bomfim, ao projeto de Memória Oral da Biblioteca Montei-
ro Lobato, no ano de 2007. Eu fiz questão de acompanhar a gravação e ouvir
pessoalmente o testemunho carinhoso e de grande admiração de Paulo Bomfim
por Dona Lenyra Fracarolli e pelo trabalho desenvolvido pela biblioteca nos
tempos em que ela a dirigiu.
Foi então que comecei a reverenciar a importância e forte papel da Escola
Estadual Caetano de Campos na formação de inúmeras gerações de estudan-
tes. E pude notar que essa influência benéfica se espalhou em todos os órgãos
educacionais da cidade e também se refletiu fortemente na área cultural da área
pública da cidade de São Paulo.
É só pensarmos na forte ligação entre o Movimento Modernista e a Biblio-
teca Municipal, que anos mais tarde recebeu como patrono Mário de Andrade.
E mais, o Teatro Municipal como palco de tantos espetáculos culturais ligados
a todas as áreas das Artes: o Ballet, a Música, a Literatura e o Teatro.
Se tivemos uma Dona Lenyra Fracarolli, que criou uma rede de bibliotecas
infantis na cidade de São Paulo entre 1936 e 1961, podemos também afir-
mar que ela contou com o apoio e incentivo constantes neste projeto pelo
casal Monteiro Lobato e Pureza da Natividade Gouveia Lobato (1885-1959).
A Professora Raquel Endalécio, ao pesquisar a vida de Dona "Purezinha", des-
cobriu que ela cursou a Escola Normal Caetano de Campos no final do século
XIX. Toda a documentação da família Lobato doada para a biblioteca, com
cadernos de recortes com as entrevistas, artigos de jornais sobre a obra de Lo-
bato e assemelhados, foi cuidadosamente organizada por Dona "Purezinha"
e sua filha Manha, do mesmo modo que a documentação deixada por Dona
Lenyra Fracarolli quanto a trajetória da criação, atividades e expansão da rede
FL OR DO LÁCIO
Desvendando mistérios
Bem, tudo isso caminhava e eu recebia avisos do acaso para conhecer a tra-
jetória misteriosa do Professor Cleófano Lopes de Oliveira. O aviso seguinte foi
o do acervo histórico de livros didáticos da Editora Saraiva. Eu tinha costume
de ir a um médico com regularidade, perto do edifício em que a Editora Saraiva
se instalou, na Rua Henrique Schaumman. Isso se deu em 2011. A então secre-
tária deste acervo histórico, Dona Ana Lúcia Brudeika, me pediu uma semana
para pesquisar as obras dele no acervo, para então me mostrar, e falou dele
com uma tal familiaridade que achei muito curiosa. Afinal ele que nascera em
Batatais em 1895, já havia falecido há vinte e três anos quando fiz esta visita.
Na visita ao acervo histórico foi que descobri que o Professor Cleófano tinha
publicado não só o famoso Flor do Lácio, como também outros dezesseis livros
de ensino da Língua, Literatura e Cultura francesa.
Flor do Lácio foi inicialmente publicado em 1943, por ele mesmo sob o título
A explicação de textos e a composição literária com exercícios de língua e de estilo.
Este livro dedicado ao Curso Normal e Secundário foi editado pelo Estabeleci-
mento Gráfico Cruzeiro do Sul e entrou na Série 11, vol. 1, da Biblioteca SCHO-
LASTICA Brasileira, sob a direção do Prof. Silveira Bueno, catedrático da Univer-
sidade de São Paulo. A página de rosto deste livro alega que o Professor Cleófano
era professor catedrático de Português e Literatura do Curso de Aperfeiçoamento
para professores da Escola Caetano de Campos de São Paulo, Ex-catedrático de
Francês do Curso Ginasial da mesma escola. Ou seja, ele já estava ministrando
aulas em 1941 para o Curso da Escola Normal Caetano de Campos.
POSFÁCIO
Neste livro, de tom leve e linguagem mais informal e afetiva, encontrei uma
dedicatória feita a suas alunas, com os seguintes dizeres: "A minhas caras alunas,
com amizade e reconhecimento". E uma curiosa epígrafe que diz:
Escrever bem já é quase pensar bem, e daqui a agir bem irá lá grande dis-
tância. Toda civilização e todo aperfeiçoamento moral saíram do espírito
da literatura, que é a aluna da dignidade humana e que é idêntica ao
espírito da Política. - Thomas Mann
606
PO SFÁCIO
Saviani (2004, pp. 19 ss.) aponta que, após a vitória da Revolução de 30,
foi criado o Ministério da Educação e Saúde Pública e a Educação passou a
ser uma questão nacional, sendo finalmente reconhecida. Desse modo, houve
várias medidas relativas à educação, de grande alcance:
608
POSFÁCIO
uma coluna no jornal O Estado de São Paulo sobre dúvidas a respeito do uso
da Língua Portuguesa. A publicação em um blog de um texto de caráter afetivo
sobre esta visita chegou a Wilma Lellis que o inseriu em seu site de lembranças
de ex-alunos da Escola Estadual Caetano de Campos, gerenciado por ela, após
ter sido publicado no blog "Comentários de Mulher" mantido pela psicóloga
junguiana Suely Laitano Nassif e eu. Esta singela divulgação do livro de Lopes
de Oliveira trouxe até mim professores que ainda fazem uso da obra em seus
cursos e aulas e editores interessados na obra. Que grata surpresa! Graças a eles,
resolvemos reeditar Flor do Lácio de Cleófano Lopes de Oliveira.
27 Por volta de 1994, eu estive no CME (Centro de Memória da Educação), localizado em uma
antiga fábrica da Souza Cruz; lá, pedi para ver se havia material sobre o Professor Cle6fano
Lopes de Oliveira, e me trouxeram os livros de ponto da época em que ele ministrou aulas
no Curso Ginasial da Escola Caetano de Campos. Nesses livros de ponto pude constatar que
ele ministrava aulas de Francês, e o Professor Silveira Bueno, as aulas de Língua Portuguesa.
Portanto, trabalharam juntos de forma cotidiana, por diversos anos. Não era à toa que o
Professor Cle6fano me contava que o Professor Silveira Bueno havia sido seu companheiro de
muitos anos nas partidas de xadrez.
FLOR DO LÁCIO
Tenho certeza absoluta, pelo material lido e manipulado no CRE Mário Co-
vas, que o Professor Cleófano Lopes de Oliveira pertenceu ao mesmo grupo de
educadores com este mesmo entusiasmo e dedicação.
A Professora Carolina Ribeiro foi ainda Secretária de Educação em São Pau-
lo em 1955, e concorreu ao cargo de Deputada na Câmara Federal no primeiro
período de Redemocratização (1945-1964) pela UDN. A pesquisa de Ana Re-
gina Pinheiro abriu algumas questões quanto à formação escolar do Professor
Lopes de Oliveira. A primeira delas foi notar que Dona Carolina Ribeiro nas-
ceu em 1882, sendo treze anos mais velha do que ele. Pinheiro afirma que: "Ela
terminou o 5 ano do Curso Primário e mergulhou no Curso Normal, ou seja,
aos onze ou doze anos. Estudou na Escola Normal de Itapetininga, que veio a
se chamar Escola Estadual Peixoto Gomide. Tendo nascido em Tatuí, aos doze
anos foi viver em outra cidade, e começa a lecionar em 1908, aos 16 anos. Em
1912 passa de professora substituta para efetiva no Grupo Escolar São Manuel.
Então é transferida para ministrar aulas no Grupo Escolar Maria José em 1913,
aos 21 anos de idade.
Vamos então tecer um paralelo na tentativa de levantar pistas para o misté-
rio da formação intrincada do Professor Cleófano. O Professor Cleófano Lopes
de Oliveira nasceu na cidade de Batatais no dia 17 de junho de 1895. Estudou
o Curso Primário em um colégio interno não se sabe onde, calvez na cidade de
Franca, onde viviam muitos parentes, calvez em algum colégio equivalente ao
colégio em que sua esposa fez o Curso Primário, o Colégio Nossa Senhora do
Patrocínio de ltu (das Irmãs de São José, que vieram da França). São apenas
especulações. E parece que, ao terminar o 5° ano primário, o pai o enviou para
estudar Medicina na Bélgica, na Universidade Livre de Bruxelas. Entretanto,
estoura a I Guerra Mundial e ele é aconselhado a voltar para o Brasil. Destes
tempos da Bélgica ele vem a dedicar seu livro Grammaire Française Elémentaire
a seu professor de Anatomia, Prof Georges Labouesse. Terá ele se formado na
610
PO SFÁCIO
611
FLOR DO LÁCIO
A obra busca formar estudantes cada vez mais autônomos no uso da língua,
segundo os padrões da norma culta. Segundo as analistas Palma e Mello Fran-
co, Lopes de Oliveira em seu livro não só se preocupou em elaborar uma meto-
dologia para o ensino da língua como orientou a apresentação de todas as lições
que integram o compêndio, e tratou de outras questões lingüísticas, como as
gramaticais, as estilísticas e até as relativas ao uso da língua oral.
Quanto à elaboração teórica do livro Flor do Lácio, as pesquisadoras nos
contam que o autor fundamentou-se em nomes renomados da História da
Literatura Luso-Brasileira como Fidelino Figueiredo, Ronald de Carvalho, Sil-
veira Bueno, Soares Amora, Manuel Bandeira, Aubrey Bell e Sílvio Romero,
no que se refere às literaturas brasileira e portuguesa; G. von der Gabelentz,
ao tratar da linguagem afetiva na conversação; Brant Horta, ao apresentar as
narrativas; Coelho Neto, para exemplificar as impressões pessoais; e Antenor
Nascentes e Brant Horta, para caracterizar a dissertação, apontando para uma
linha de profundidade, não só na construção da obra, mas também na efetiva-
ção dos processos de ensino e de aprendizagem.
Palma e Mello Franco focam um trecho de suas análises ao texto acadêmico
realizado e dedicam-se então à análise feita à obra de Lopes de Oliveira pela
pesquisadora Maria Antonia Granville intitulado de O discurso pedagógico dos
livros didáticos da década de sessenta: reflexos ou reproduções das políticas públicas
de educação. Granville aponta que Flor do Lácio é uma obra moderna por ter
se integrado ao contexto de sua época, alinhada com os valores presentes na
sociedade naquele momento e veiculadora desses valores. A obra fez eco a um
modelo de ensino da língua materna calcado no modelo francês, assim como
apontou para mudanças que vieram a se efetivar alguns anos depois em relação
à prática pedagógica no que tange ao ensino da língua portuguesa.
As pesquisadoras Palma e Mello Franco concluem por meio da análise desta
obra que a Escola Normal na primeira metade do século xx foi de grande im-
portância educacional e social, por sua metodologia do ensino da língua por-
tuguesa, tendo sido Lopes de Oliveira com sua obra um representante de toda
uma época no ensino da língua materna.
A título de conclusão do estudo da obra Flor do Lácio, elas apontam Lopes
de Oliveira como um comunicador por excelência, além de um grande didata,
ao mesmo tempo em que interage com seu aluno, sem deixar de ser autor, pro-
fessor e amigo (2014, p. 125).
Com o propósito de dialogar com a conclusão das pesquisadoras, vamos
terminar este texto sobre a trajetória do educador Lopes de Oliveira com a
fala encontrada nas atas de reunião da Congregação do Instituto de Educação
Caetano de Campos (reunião do dia 9 de maio de 1958) em sessão presidida
612
POSFÁCIO
pelo Professor João Carlos Gomes Cardim para homenagear o professor que se
aposentara da Cadeira de Literatura Didática. Registra a ata:
1sBN 978-65-87404-65-3