Prova Direito Tributário 31.08

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PROVA DIREITO TRIBUTÁRIO 31/08/2023

 PRINCÍPIOS TRIBUTÁRIOS
 IMUNIDADES
 SISTEMA TRIBUTÁRIO
 TRIBUTOS EM ESPÉCIE

1 - PRINCÍPIOS TRIBUTÁRIOS
“Os princípios tributários são limitações constitucionais ao poder de tributar”

I - PRINCÍPIO DA LEGALIDADE TRIBUTÁRIA – art. 150 CF

Garante que o cidadão não seja surpreendido por tributos inesperados ou por
aumentos tributários não autorizados por lei. Todas as obrigações tributárias devem
estar previstas em lei. Do mesmo modo que é necessária lei para exigir ou aumentar
tributo, também é necessária lei para extinguir ou reduzir.

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao


contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal
e aos Municípios:

I – exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça;

§ 6º Qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo,


concessão de crédito presumido, anistia ou remissão, relativos a
impostos, taxas ou contribuições, só poderá ser concedido
mediante lei específica, federal, estadual ou municipal, que
regule exclusivamente as matérias acima enumeradas ou o
correspondente tributo ou contribuição, sem prejuízo do
disposto no art. 155, § 2.º, XII, g.

Regra: criação por Lei Ordinária - aprovada por maioria simples - exigida
de modo residual, nos casos em que não houver a expressa exigência de lei
complementar.
Exceção: criação por Lei Complementar - aprovada por maioria absoluta -
exigida em matérias específicas da Constituição:

- Imposto sobre grandes fortunas (IGF) - art. 153, VII, CF

- Empréstimos compulsório - art. 148, I e II, CF

- Impostos residuais - art. 154, I, CF

- Contribuições social-previdenciárias residuais - art. 195, § 4º, CF c/c art. 154, I, CF

Obs. Onde há LC não há MP

A lei que institui um tributo deve conter, na esteira do art. 97 do CTN,


elementos obrigatórios, uma composição de uma lista taxativa (numerus clausus) de
rudimentos configuradores da estrita legalidade, a seguir expendida:

Art. 97. Somente a lei pode estabelecer:

I - a instituição de tributos, ou a sua extinção;

II - a majoração de tributos, ou sua redução, ressalvado o


disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65;

III - a definição do fato gerador da obrigação tributária principal,


ressalvado o disposto no inciso I do § 3º do artigo 52, e do seu
sujeito passivo;

IV - a fixação de alíquota do tributo e da sua base de cálculo,


ressalvado o disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65;

V - a cominação de penalidades para as ações ou omissões


contrárias a seus dispositivos, ou para outras infrações nela
definidas;

VI - as hipóteses de exclusão, suspensão e extinção de créditos


tributários, ou de dispensa ou redução de penalidades.

 ALÍQUOTA
 BASE DE CÁLCULO
 SUJEITO PASSIVO
 MULTA
 FATO GERADOR

Note que o prazo para pagamento não compõe a lista, sendo, portanto, item não
adstrito à reserva legal.

Quanto à “majoração de tributos”, há ressalvas descritas nos §§ 1º e 2º do próprio


art. 97.

A ESTIPULAÇÃO DE OBRIGAÇÕES ACESSÓRIAS - art. 113, § 2º, CTN

Art. 113. A obrigação tributária é principal ou acessória. (...)

§ 2º. A obrigação acessória decorre da legislação tributária e


tem por objeto as prestações, positivas ou negativas, nela
previstas no interesse da arrecadação ou da fiscalização dos
tributos.

Nesse passo, as obrigações tributárias acessórias, consistentes nas prestações


positivas ou negativas, de interesse da arrecadação e fiscalização dos tributos, podem
ser previstas em atos infralegais (portarias, circulares, instruções normativas, entre
outros), e não necessariamente em lei.

A ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA DO TRIBUTO - art. 97, §§ 1º e 2º, CTN

Art. 97. Somente a lei pode estabelecer:

(...)

§ 1º. Equipara-se à majoração do tributo a modificação da sua


base de cálculo, que importe em torná-lo mais oneroso.

§ 2º. Não constitui majoração de tributo, para os fins do


disposto no inciso II deste artigo, a atualização do valor
monetário da respectiva base de cálculo.

A atualização monetária do tributo, quando obedecer a índices oficiais de


correção de dado período, devida e publicamente revelados, será inequívoca
atualização - não há majoração do tributo, permitindo-se o tranquilo uso de atos
normativos infralegais.

EX.: “Determinado município brasileiro estabeleceu, por portaria expedida pela


secretaria municipal da fazenda, que a atualização monetária do IPTU seria feita com
base no índice oficial de correção, acrescido de 0,5% ao mês. Nessa situação, é lícita
a alteração feita por portaria, tendo em vista que não se trata de majoração de tributo”.
INCORRETO

EXCEÇÕES AO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE TRIBUTÁRIA

Conforme preceitua o art. 153, § 1.º, da CF, existem quatro impostos federais
que poderão ter suas alíquotas majoradas, ou reduzidas, por ato do Poder Executivo,
o que se dá por decreto presidencial ou portaria do Ministro da Fazenda.

1. Imposto sobre a Importação (II); (Imposto Federal)

2. Imposto sobre a Exportação (IE); (Imposto Federal)

3. Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI); (Imposto Federal)

4. Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguros (IOF). (Imposto Federal)

Exemplo: Lei do Imposto de Exportação (IE) estipula alíquota de 20% para um certo
bem exportável. Pode o Poder Executivo reduzi-la para dez (10%) e, se quiser, retorná-
la a seu patamar máximo (20%).

Enquanto não exercida a possível alteração pelo Poder Executivo, deverá


prevalecer aquela alíquota prevista na lei.

Com efeito, tais impostos, ditos “flexíveis”, abrem-se para o manejo de alíquotas
no intuito de regulação do mercado ou da economia do País. Daí se dizer que tais
exações são gravames regulatórios ou reguladores de mercado.

Exemplo: quando há necessidade de um equilíbrio no mercado, o Poder Executivo


Federal pode valer-se de um aumento de tais impostos regulatórios, a fim de que se
fomentem comportamentos, como aquisição de bens produzidos no Brasil
(aumentando-se o II), controle de inflação (aumentando-se o IOF) ou desestímulo a
processos industriais (aumentando-se o IPI).
Diante do exposto, o princípio da legalidade tributária poderá ser mitigado,
em situação excepcional de extrafiscalidade, permitindo-se ao Poder Executivo a
flexibilização no manejo de alíquotas de certos gravames regulatórios. Daí, “à luz das
disposições em vigor da Constituição Federal, não ser possível afirmar que qualquer
tributo só pode ter suas alíquotas aumentadas por lei”.

Do mesmo modo, a EC n.º 33/2001 trouxe mais dois exemplos de exceções ao


princípio da legalidade. Note:

5 - CIDE – Combustível, conforme o art. 149, § 2.º, II, c/c art. 177, § 4.º, I,b,
parte inicial, ambos da CF (Contribuição Federal): o Poder Executivo Federal poderá
reduzir e reestabelecer as alíquotas do tributo por meio de ato próprio (decreto
presidencial). Dessa forma, não pode ultrapassar este patamar originário de alíquota;

5 - ICMS – Combustível, conforme o art. 155, § 4.º, IV, c, da CF (Tributo


Estadual): tal exceção diz respeito à incidência unifásica do imposto, prevendo-se
alíquotas nacionalmente estabelecidas por Convênios dos Executivos Estaduais, na
esfera do Conselho de Política Fazendária (CONFAZ), ou seja, por ato do Poder
Executivo estadual.

A MEDIDA PROVISÓRIA E OS TRIBUTOS

A MP, na visão do STF, é hábil a criar e majorar tributos;

A MP, segundo o texto constitucional (art. 62, § 2º), é instrumento adequado a


criar e majorar impostos.

A MP poderá versar sobre tributos, ressalvados aqueles que se ligam à lei


complementar, salientando-se, ademais, que a MP estadual (distrital ou municipal) é
instrumento jurídico factível. Depende, em verdade, de previsão no texto
constitucional estadual (distrital ou na lei orgânica municipal), além da observância
simétrica do processo legislativo federal.

É defeso à MP tratar de matéria reservada à lei complementar, consoante o


art. 62, § 1º, III, da CF. Trata-se de restrição material (por via indireta) à edição de MP
na seara do Direito Tributário. Assim, os tributos adstritos à ação normativa da lei
complementar não poderão ser instituídos ou majorados por medida provisória.
II - PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE TRIBUTÁRIA

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao


contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal
e aos Municípios:

(...)

III - cobrar tributos:

(...)

b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada


a lei que os instituiu ou aumentou;

c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido


publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o
disposto na alínea b;

A alínea b refere-se à anterioridade anual ou anterioridade de exercício. A


alínea c, por sua vez, inserida pela EC n.º 42/2003, adstringe-se à anterioridade
nonagesimal.

Visam ratificar a segurança jurídica que deve reger o relacionamento entre o


Estado que cobra e o contribuinte que arca com o valor cobrado. Tem como finalidade
assegurar que o contribuinte não seja pego de surpresa pelo Fisco.

A alínea b, designativa da anterioridade anual, determina que os entes


tributantes não podem cobrar tributos no mesmo exercício financeiro em que tenha
sido publicada a lei majoradora ou instituidora do tributo. A expressão “exercício
financeiro” deve ser entendida como “ano fiscal”, que, no Brasil, representa o próprio
“ano civil” (período de 1.º de janeiro a 31 de dezembro).

A alínea c, referente à anterioridade nonagesimal, impõe que o tributo,


majorado ou instituído, seja exigido depois de decorridos 90 (noventa) dias da
publicação da lei que tenha perpetrada a majoração ou sua instituição.

EXCEÇÕES AO PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE ANUAL


As exceções ao princípio da anterioridade anual, contidas no art. 150, § 1.º,
parte inicial, da CF, fazem parte de uma lista de tributos que, até a EC n.º 42/2003, eram
imediatamente exigidos, quando majorados ou instituídos. Observe o rol:

Imposto de Importação – II;

Imposto de Exportação – IE;

Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI;

Imposto sobre Operações Financeiras – IOF;

Imposto Extraordinário (de Guerra) – IEG;

Empréstimo Compulsório para Calamidade Pública ou para Guerra Externa


(EC-CALA/GUE);

CIDE-Combustível e ICMS-Combustível (previstos na EC n.º 33/2001).

Faz-se necessário destacar que o princípio da anterioridade tributária foi


revigorado com a EC n.º 42/2003, que vedou a cobrança de tributos antes de
decorridos 90 dias da data em que houver sido publicada a lei que tenha instituído ou
majorado o tributo, em consonância com o art. 150, III, c, da CF. Dessa forma,
fortaleceu-se o postulado em análise, uma vez que se passou a exigir, a partir de 2004,
a obediência à anterioridade anual, além da anterioridade nonagesimal, em clara
aplicação cumulativa da norma tributária, proporcionando ao contribuinte mais uma
forma de proteção contra a tributação indevida. Curiosamente, da mesma forma que
sobreveio à espera de 90 dias, no bojo da regra da anterioridade nonagesimal,
reflexamente, despontou a lista de exceções ao postulado, conforme se verificará no
tópico seguinte.

EXCEÇÕES AO PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE NONAGESIMAL

Conforme se depreende do comando inserto no art. 150, § 1.º, in fine, da CF, a


EC n.º 42/2003 excepcionou o período de 90 dias para alguns tributos. Confira a lista
a seguir:

Imposto de Importação – II;

Imposto de Exportação – IE;


Imposto de Renda – IR;

Imposto sobre Operações Financeiras – IOF;

Imposto Extraordinário (de Guerra) – IEG;

Empréstimo Compulsório para Calamidade Pública ou para Guerra Externa –


EC-CALA/GUE;

Alterações na base de cálculo do IPTU e do IPVA.

Conclui-se, assim, que os tributos do citado rol não obedecerão ao período de


90 dias, caso venham a ser majorados ou instituídos.

EM RESUMO:

 Tributos exigidos imediatamente, caso aumentados ou instituídos, ou seja,


exceções concomitantes às anterioridades anual e nonagesimal: II, IE, IOF,
IEG e Empréstimo Compulsório (Calamidade Pública ou Guerra);
 Tributos exigidos 90 dias após o aumento, ou seja, exceções à anterioridade
anual, porém “regras” à anterioridade nonagesimal: IPI, CIDE-Combustível
e ICMS-Combustível;
 Tributos exigidos a partir de 1.º de janeiro do exercício financeiro seguinte,
independentemente da data do aumento ou da instituição, ou seja, exceções
à anterioridade nonagesimal, porém “regras” à anterioridade anual: IR e
alterações na base de cálculo do IPVA e IPTU;
 Tributos que são exceções concomitantes aos princípios da legalidade, da
anterioridade anual e da anterioridade nonagesimal: II, IE e IOF.
 A contribuição para a seguridade social (PIS, COFINS etc.) poderá ser
cobrada 90 dias após a publicação da lei que a instituiu ou modificou.
OS REFLEXOS DA EC N.º 32/2001 NOS PRINCÍPIOS DA LEGALIDADE E DA
ANTERIORIDADE

A EC n.º 32/2001 refere-se à utilização da medida provisória em matéria


tributária, conforme dispõe o art. 62, § 2.º, da CF.

Com a EC citada, o prazo de validade de uma MP passou a ser de 60 dias,


admitida uma única prorrogação, por mais 60 dias. Em caso de não conversão em lei
no prazo estabelecido, a MP perderá eficácia desde a origem, devendo seus efeitos ser
regulados por decreto legislativo do Congresso Nacional.

A EC n.º 32/2001 condicionou a incidência da MP a 1.º de janeiro do


exercício seguinte à sua conversão em lei.

CONFRONTO DA EC N.º 32/2001 COM O PRINCÍPIO DA LEGALIDADE


TRIBUTÁRIA
Sabe-se, hodiernamente, que a MP é meio idôneo de alteração e instituição de
imposto, conforme art. 62, § 2.º, da CF.

Todavia, a MP não pode tratar de matéria reservada à lei complementar,


conforme art. 62, § 1.º, III, da CF, ou seja, valendo-se de um recurso mnemônico, “onde
a lei complementar versar, a medida provisória não irá disciplinar”.

A propósito, são tributos federais passíveis de instituição por lei


complementar e que, consequentemente, rechaçam a via da MP: imposto sobre
grandes fortunas, imposto residual, empréstimo compulsório e a residual
contribuição social-previdenciária.

III - PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE TRIBUTÁRIA

O princípio da irretroatividade tributária impõe que a lei deve abranger fatos


geradores posteriores à sua edição. Não deve a lei, desse modo, retroceder com a
finalidade de abarcar situações pretéritas, sob pena de se verificar uma
retroatividade. Será aplicada, portanto, a lei vigente no momento do fato gerador.

O art. 144, caput, do CTN dá amparo à premissa da irretroatividade tributária,


também com respaldo constitucional (art. 150, III, A, da CF).

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao


contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios:

III - cobrar tributos:

a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da


vigência da lei que os houver instituído ou aumentado;

Art. 144. CTN O lançamento reporta-se à data da ocorrência do


fato gerador da obrigação e rege-se pela lei então vigente, ainda
que posteriormente modificada ou revogada.

O lançamento atesta a ocorrência do fato gerador, regendo-se pela lei então


vigente, o que lhe atribui uma feição declaratória, com efeitos ex tunc (art. 142 do
CTN). Todavia, a lei nova que regula formalidades ou aspectos formais da cobrança
do tributo, ou seja, sendo inábil a alterar, criar ou extinguir direitos materiais,
como definição de sujeito passivo, hipótese de incidência, valor da dívida etc.,
deverá ser aplicada retroativamente.

Em síntese, conforme disposição legal, são hipóteses de retroação da norma,


com utilização da lei vigente à época de lançamento:

a) legislação que institua novos critérios de apuração ou processos de


fiscalização;

b) legislação que amplie os poderes de investigação das autoridades


administrativas;

c) legislação que outorgue ao crédito maiores privilégios ou garantias, salvo


no caso de atribuição de responsabilidade tributária a terceiros.

Além disso, ressalte-se que o disposto no art. 144, § 2.º, do CTN, da mesma
maneira que o parágrafo que o antecede, afasta a aplicação do caput do disposto em
análise, ou seja, o próprio princípio da irretroatividade tributária.

§ 2º O disposto neste artigo não se aplica aos impostos


lançados por períodos certos de tempo, desde que a respectiva
lei fixe expressamente a data em que o fato gerador se considera
ocorrido.

Refere-se a situações adstritas aos tributos lançados por período certo de tempo
ou com fatos geradores periódicos, como IPTU, IPVA e ITR.

Nesses tributos, a lei pode, valendo-se de ficção jurídica, definir um momento


específico de acontecimento do fato gerador. Dessa forma, a legislação aplicável será
aquela vigente na data predeterminada, não respeitando a premissa da “lei do
momento do fato gerador”.

Continuando o estudo da irretroatividade tributária, passemos, então, a analisar o


art. 106 do CTN, que traz “exceções” ao dispositivo.

Art. 106. A lei aplica-se a ato ou fato pretérito:

I - em qualquer caso, quando seja expressamente


interpretativa, excluída a aplicação de penalidade à infração
dos dispositivos interpretados;
II - tratando-se de ato não definitivamente julgado:

a) quando deixe de defini-lo como infração;

b) quando deixe de tratá-lo como contrário a qualquer


exigência de ação ou omissão, desde que não tenha sido
fraudulento e não tenha implicado em falta de pagamento de
tributo;

c) quando lhe comine penalidade menos severa que a prevista


na lei vigente ao tempo da sua prática.

O referido artigo sinaliza que a retroação poderá ocorrer em duas situações:

a) lei interpretativa (art. 106, I, do CTN), em qualquer caso, que é aquela que se
limita a explicar o entendimento ofertado à outra norma jurídica. É
conhecida por interpretação autêntica, legal ou legislativa;
b) Lei mais benéfica (art. 106, II, a, b, e c, do CTN), no âmbito do direito
tributário penal, desde que o ato não esteja definitivamente julgado, ou seja,
já decidido na órbita administrativa e/ou na judicial, conforme a orientação do
STJ. Trata-se da aplicação da lex melius ou retroatio in melius.

IV - PRINCÍPIO DA IGUALDADE OU ISONOMIA TRIBUTÁRIA

O princípio da isonomia tributária, constante do inciso II do art. 150 da CF,


veda o tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação de
equivalência.

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao


contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal
e aos Municípios:

II - instituir tratamento desigual entre contribuintes que se


encontrem em situação equivalente, proibida qualquer
distinção em razão de ocupação profissional ou função por
eles exercida, independentemente da denominação jurídica
dos rendimentos, títulos ou direitos;
Em resumo, o princípio da isonomia tem um papel vital em garantir a justiça e
a equidade no direito tributário, assegurando que os contribuintes sejam tratados de
maneira adequada e justa, de acordo com suas respectivas circunstâncias.

V - PRINCÍPIO DO NON OLET

O princípio tributário do non olet ou “dinheiro não tem cheiro” impõe que a
hipótese de incidência tributária seja compreendida, independentemente da licitude
ou ilicitude peculiares à atividade exercida.

o princípio do “non olet” é geralmente invocado para afirmar que o fisco pode
cobrar impostos independentemente da origem do rendimento ou da
transação, mesmo que seja de uma fonte ilícita. Isso significa que, mesmo se o dinheiro
for obtido através de atividades ilegais, ainda está sujeito à tributação. Sobre isso dispõe
a lei do Imposto de Renda (Lei n. 4.506/64), veja:

Art. 26. Os rendimentos derivados de atividades ou transações


ilícitas, ou percebidos com infração à lei, são sujeitos à
tributação, sem prejuízo das sanções que couberem.

Artigo 118 do Código Tributário Nacional (CTN) nos esclarece sobre isso.

Art. 118. A definição legal do fato gerador é interpretada


abstraindo-se:

I – da validade jurídica dos atos efetivamente praticados pelos


contribuintes, responsáveis, ou terceiros, bem como da
natureza do seu objeto ou dos seus efeitos;

II – dos efeitos dos fatos efetivamente ocorridos.

VI - PRINCÍPIO DA INTERPRETAÇÃO OBJETIVA DO FATO GERADOR

O princípio da interpretação objetiva do fato gerador (ou princípio da


cláusula non olet) dispõe que se deve interpretar o fato gerador em seu aspecto
objetivo, não importando os aspectos subjetivos, que dizem respeito à pessoa
destinatária da cobrança tributo. Dessa maneira, não se analisa a
nulidade/anulabilidade do ato jurídico, a incapacidade civil do sujeito passivo ou a
ilicitude do ato que gera o fato presuntivo de riqueza tributável.

Por conta disso, para o STF, “é legítima a tributação de produtos financeiros


resultantes de atividades criminosas, nos termos do art. 118, I, CTN” (HC 77.530-RS-
1998).

VII - PRINCÍPIO DA CAPACIDADE CONTRIBUTIVA

Em sua essência, o princípio da capacidade contributiva afirma que a carga


tributária de um indivíduo ou entidade deve ser proporcional à sua capacidade
econômica. Ou seja, quem tem mais capacidade econômica deve contribuir mais e quem
tem menos capacidade econômica deve contribuir menos.

Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os


Municípios poderão instituir os seguintes tributos:

§ 1º Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e


serão graduados segundo a capacidade econômica do
contribuinte, facultado à administração tributária,
especialmente para conferir efetividade a esses objetivos,
identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da
lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do
contribuinte.

Analisando-se o teor do dispositivo, notam-se dois aspectos de relevo: I) a


menção exclusiva a impostos; e II) a fluida expressão sempre que possível.

No primeiro item, a literalidade do texto constitucional apega-se ao termo


imposto. Todavia, não há dúvida que se pode atrelar o comando a outros tributos, como
contribuições para a seguridade social ou taxas.

Quanto ao segundo item, a expressão “sempre que possível” pode ser


interpretada se avocarmos as possibilidades técnicas de cada imposto. Por exemplo, se o
IR, na busca do ideal de justiça, apresenta-se inclinado à variação de alíquotas, o ICMS,
em princípio, afasta-a, já que se trata de imposto incidente sobre o consumidor final.
Nesse cenário, exsurge a necessidade de visualizarmos os meios de
exteriorização ou possibilidades de concretização da capacidade contributiva. Os
principais são: a) progressividade; b) proporcionalidade; c) seletividade.

a) Progressividade: técnica de incidência de alíquotas variadas, cujo aumento


se dá na medida em que se majora a base de cálculo do gravame. O critério refere-se
ao aspecto quantitativo, do qual decorre a progressividade fiscal e a extrafiscal. A
primeira alinha-se ao brocardo “quanto mais se ganha, mais se paga”, de finalidade
meramente arrecadatória, que admite onerar mais gravosamente a riqueza
tributável maior. A segunda, por seu turno, atua na determinação de parâmetros de
condutas, no interesse regulatório.

Conforme previsão explícita na CF, exsurgem 3 (três) impostos progressivos:


Imposto de Renda (art. 153, § 2.º, I, da CF);

IPTU (art. 156, § 1.º, I e II, da CF c/c art. 182, § 4.º, II, da CF);

ITR (art. 153, § 4.º, I, da CF – EC n.º 42/2003).

b) Proporcionalidade: meio de exteriorização da capacidade contributiva,


que se mostra pela técnica de incidência de alíquotas fixas, em razão de bases de
cálculo variáveis. Dessa forma, qualquer que seja a base de cálculo, a alíquota sobre ela
terá o mesmo percentual.

c) Seletividade: forma de exteriorização da capacidade contributiva, mostrando-


se como técnica de incidência de alíquotas que variam na razão inversa da
essencialidade do bem.
Vale dizer, em outras palavras, que a técnica permite gravar-se com uma
maior alíquota o bem mais inessencial, ou seja, na razão direta da superfluidade do
bem. Os impostos que detêm seletividade são o ICMS (art. 155, § 2º, III, CF) e o
IPI (art. 153, § 3º, I, CF). É de natureza facultativa a seletividade para o ICMS,
portanto “pode” ser ele seletivo; a seletividade para o IPI é de natureza obrigatória,
portanto “deve” ser ele seletivo. Ver STF: RE 592.145/SP.
Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir
impostos sobre:
II – operações relativas à circulação de mercadorias e sobre
prestações de serviços de transporte interestadual e
intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as
prestações se iniciem no exterior;
§ 2º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte:
II – poderá ser seletivo, em função da essencialidade das
mercadorias e dos serviços;
Já em relação ao IPI a Constituição afirma que deverá ser seletivo, dessa forma,
constituinte originário eliminou qualquer alternativa que permita ao legislador abolir o
sistema de seletividade. Dessa maneira, fica vedada a adoção de um esquema de
alíquota única.
Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:
§ 3º O imposto previsto no inciso
IV: (IV – produtos industrializados;)
I – será seletivo, em função da essencialidade do produto;

VIII - PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO AO CONFISCO

O princípio da vedação ao confisco é um conceito significativo no direito


tributário que protege os contribuintes de tributos excessivamente onerosos.
Este princípio está consagrado na Constituição Federal do Brasil de 1988, no
artigo 150, IV, e proíbe o uso do sistema tributário para efeitos confiscatórios. Em
outras palavras, o Estado não pode utilizar a tributação como meio de apropriar-se
de forma desproporcional ou excessiva da propriedade privada.

Art. 150 Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao


contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal
e aos Municípios:
IV – utilizar tributo com efeito de confisco

A ideia central por trás deste princípio é garantir que a carga tributária de um
contribuinte não seja tão alta a ponto de privá-lo do uso, gozo ou disposição de seus
bens. O princípio da vedação ao confisco busca assegurar um equilíbrio entre a
necessidade do Estado de arrecadar receitas e o direito do contribuinte à
propriedade e à capacidade econômica.
JURISPRUDÊNCIA
Súmula 70: “É inadmissível a interdição de estabelecimento como meio coercitivo
para cobrança de tributo”.
Súmula 323: “É inadmissível a apreensão de mercadorias como meio coercitivo
para pagamento de tributos”.
Súmula 547: “Não é lícito à autoridade proibir que o contribuinte em débito
adquira estampilhas, despache mercadorias nas alfândegas e exerça suas
atividades profissionais”.

CONFRONTO ENTRE O CONFISCO E A MULTA


A multa é sanção exigível perante o descumprimento de obrigação tributária, não
se confundindo com o tributo. Como penalidade, a multa se mostra como prestação
pecuniária dotada de valor preciso, podendo esse ser razoável ou não. Pode-se, dessa
forma, aplicar o postulado da não confiscabilidade à multa exacerbada? Para o STF, não
poderá subsistir multa confiscatória, sendo plenamente aplicável o princípio tributário
em análise a esse tipo de multa (STF, ADIn 551/RJ-2002).

IX - PRINCÍPIO DA NÃO LIMITAÇÃO AO TRÁFEGO DE PESSOAS E BENS


O princípio da não limitação ao tráfego de pessoas e bens, previsto no inciso V
do art. 150 da CF, determina que a intermunicipalidade e a interestadualidade não
poderão ser fatos geradores de quaisquer tributos, sejam eles federais, estaduais ou
municipais. Nessa medida, compete ao legislador, no ato de instituição do tributo,
elaborar a lei delimitadora do fato gerador, que, por sua vez, deve ser distinto da
transposição de Municípios (intermunicipalidade) e da transposição de Estados
(interestadualidade). Na verdade, o princípio em tela é mera corroboração da liberdade
de locomoção, constitucionalmente admitida no art. 5.º, LXVIII, da CF. No entanto,
cabem aqui duas atenuações, sendo uma de ordem constitucional (art. 150, V, parte
final, da CF), referente aos pedágios, e outra de ordem doutrinária, referente ao ICMS,
exigido pelas autoridades fiscais nos Postos de Fiscalização das rodovias.

ART. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao


contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal
e aos Municípios:
V - estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por
meio de tributos interestaduais ou intermunicipais,
ressalvada a cobrança de pedágio pela utilização de vias
conservadas pelo Poder Público;

X - PRINCÍPIO DA UNIFORMIDADE GEOGRÁFICA

O princípio da uniformidade geográfica (ou tributária), previsto no inciso I do


art. 151, a par do art. 19, III, in fine, ambos da CF, prevê a instituição de tributos
federais de modo uniforme em todo o território. Trata-se, assim, de postulado
endereçado tão somente à União, versando sobre os tributos federais, e não apenas sobre
“impostos”. Nessa esteira, o tributo federal deverá conter a mesma alíquota em toda a
extensão territorial do país, indicando que o postulado em estudo visa à defesa da
identidade de alíquotas. Em termos práticos, caso haja aumento de alíquotas de um
tributo federal, deverá incidir o aumento em todo o Brasil, sob pena de se ferir o
postulado ora estudado. Dessa forma, procura-se homenagear a ideia de equivalência
entre as entidades componentes de Federação, vedando-se uma possível hierarquização.
Como é cediço, os Estados-Membros são parificados, e não hierarquizados, o que nos
faz concluir que o princípio da uniformidade tributária não anula o princípio federativo,
mas ratifica-o.

Art. 151. É vedado à União:

I - instituir tributo que não seja uniforme em todo o


território nacional ou que implique distinção ou preferência em
relação a Estado, ao Distrito Federal ou a Município, em
detrimento de outro, admitida a concessão de incentivos
fiscais destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento
sócio-econômico entre as diferentes regiões do País;

Exemplo de incentivo Fiscal: Zona Franca de Manaus

XI - PRINCÍPIO DA NÃO CUMULATIVIDADE

O princípio da não cumulatividade é um conceito fundamental no campo


tributário que visa evitar a tributação em cascata, ou seja, a cobrança repetida do
mesmo imposto sobre uma mesma mercadoria em diferentes etapas de sua
produção, comercialização ou circulação. Isso é especialmente relevante em impostos
plurifásicos, como o ICMS, o IPI e, no contexto de impostos residuais, que abrangem
outras situações não expressamente previstas, como o artigo 154 da Constituição
Federal do Brasil.

1. ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços): O ICMS é um


tributo estadual que incide sobre a circulação de mercadorias e a prestação de
serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação. Devido à
sua natureza plurifásica, ou seja, à ocorrência do fato gerador em diversas etapas
da cadeia produtiva e comercial, o risco de tributação em cascata é alto.

O princípio da não cumulatividade no ICMS é implementado por meio do


mecanismo de créditos e débitos. As empresas têm direito a "créditos" referentes ao
ICMS que foi cobrado nas etapas anteriores da cadeia de produção ou comercialização.
Esse crédito é abatido do valor que elas próprias irão cobrar como ICMS nas etapas
subsequentes. Isso evita que o imposto seja cobrado sobre o valor total da mercadoria,
considerando-se apenas o valor adicionado em cada etapa.

2. IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados): O IPI é um tributo federal que


incide sobre produtos industrializados, sejam eles nacionais ou importados.
Assim como no ICMS, a não cumulatividade no IPI também busca evitar a
tributação em cascata. No caso do IPI, as empresas também podem abater os
créditos correspondentes aos valores do imposto incidente sobre os produtos
adquiridos nas etapas anteriores da cadeia produtiva.

3. Impostos Residuais: Os impostos residuais referem-se a situações não


expressamente previstas na Constituição, mas que ainda assim podem ser
tributadas. O princípio da não cumulatividade também pode ser aplicado a esses
impostos, embora sua abrangência possa variar dependendo da regulamentação
específica.

Em resumo, o princípio da não cumulatividade busca garantir que o imposto


incida apenas sobre o valor adicionado em cada etapa da cadeia produtiva,
evitando que haja uma tributação em cascata que encareceria o produto final. Esse
mecanismo promove uma abordagem mais justa e eficiente na tributação, incentivando
a competitividade e a eficiência econômica.

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