Camila Candello Notaro Luxacao de Patela em Caes
Camila Candello Notaro Luxacao de Patela em Caes
Camila Candello Notaro Luxacao de Patela em Caes
São Paulo
2021
Camila Candello Notaro
São Paulo
2021
2
Camila Candello Notaro
_____________________________________
Prof. Dr. André Luis do Vale De Zoppa
____________________________________
M.V. MSc Viviane Sanchez Galeazzi
_____________________________________
M.V. PhD Ayne Murata Hayashi
São Paulo
2021
3
AGRADECIMENTOS
4
RESUMO
5
ABSTRACT
6
SUMÁRIO
1. Introdução .................................................................................................. 12
3.2.1 Diagnóstico.............................................................................................. 22
7
5. Osteotomia Corretiva Associada a Deformidades Femorais ..................... 47
8. Prognóstico ................................................................................................ 52
8
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Representação esquemática da articulação do joelho do cão (aspecto
caudolateral). Fonte: König & Liebich, 2002. .................................................... 15
Figura 2 - Estruturas de tecido mole e esqueléticas normais associadas ao
mecanismo extensor do quadríceps. Fonte: Fossum, 2006. ............................ 17
Figura 3 - Representação esquemática dos músculos e esqueleto do membro
pélvico do cão (aspecto lateral). Fonte: König & Liebich, 2002. ....................... 17
Figura 4 - Representação esquemática dos músculos e esqueleto do membro
pélvico do cão (aspecto medial). Fonte: König & Liebich, 2002. ...................... 18
Figura 5 - Anormalidades esqueléticas com luxação patelar medial congênita
grave. ............................................................................................................... 20
Figura 6 - Posição da tíbia em relação ao fêmur e formato da tróclea femoral nos
graus 1 a 4 da luxação medial da patela. A seção femoral na região do sulco
troclear é mostrada em contorno escuro e a seção tibial proximal é sombreada.
Nota-se rotação progressiva medial da tíbia e deformidade da crista troclear
medial. Fonte: Piermattei et al., 2016. .............................................................. 22
Figura 7 - Para luxar a patela medialmente, o joelho é estendido e a extremidade
do membro rotacionado medialmente enquanto se empurra a patela em direção
medial. Fonte: Piermattei et al., 2016 ............................................................... 24
Figura 8 - Para luxar a patela lateralmente, o joelho deve estar parcialmente
flexionado e a extremidade do membro deve ser rotacionada lateralmente
enquanto se puxa a patela em sentido lateral (Piermattei et al., 2016). ........... 24
Figura 9 - Determinação do aLDFA e CORA. Fonte: Tobias et al., 2017. ........ 27
Figura 10 - Valores médios dos ângulos articulares do fêmur no plano frontal
relatados na literatura. Fonte: Petazzoni, 2008. ............................................... 28
Figura 11 - Medida da torção femoral e ângulo de anteversão do colo femoral.
Fonte: Petazzoni, 2008. ................................................................................... 29
Figura 12 - Graus de torção femoral interna e externa. Fonte: Petazzoni, 2008.
......................................................................................................................... 30
Figura 13 - Torção tibial interna e externa. Fonte: Petazzoni, 2011. ................ 31
Figura 14 - Torção tibial interna e externa. Fonte: Petazzoni, 2008. ................ 31
Figura 15 - Rotação tibial externa e interna. Fonte: Petazzoni, 2011. .............. 31
Figura 16 - A. Filhote de cão Great dane com valgo genuíno. Observar os quadris
largos, joelhos estreitos e jarretes, com os dedos apontando para fora. B. Fêmur
9
e tíbia de um Dinamarquês mostrando angulação em valgo e torção dos côndilos
femorais. Fonte:Piermattei et al., 2016. ............................................................ 35
Figura 17 - Técnica cirúrgica de desmotomia medial. Fonte: Piermattei et al.,
2016. ................................................................................................................ 37
Figura 18 - Técnica cirúrgica de sobreposição do retináculo lateral. Fonte:
Piermattei et al., 2016. ..................................................................................... 38
Figura 19 - Técnica cirúrgica de sobreposição da fáscia lata. Fonte: Piermattei et
al., 2016). ......................................................................................................... 39
Figura 20 - Técnica cirúrgica de sutura anti-rotacional patelar e tibial. Fonte:
Piermattei et al., 2016. ..................................................................................... 41
Figura 21 - Técnica cirúrgica de condroplastia troclear. Fonte: Piermattei et
al.,2016. ........................................................................................................... 42
Figura 22 - Técnica cirúrgica sulcoplastia de ressecção em cunha. Fonte:
Piermattei et al., 2016. ..................................................................................... 43
Figura 23 - Técnica cirúrgica de ressecção do bloco troclear. Fonte: Piermattei
et al., 2016........................................................................................................ 44
Figura 24 - Técnica cirúrgica de sulcoplastia troclear. Fonte: Piermattei et al.,
2016. ................................................................................................................ 45
Figura 25 - Técnica cirúrgica de transposição da tuberosidade tibial. Fonte:
Piermattei et al., 2016. ..................................................................................... 46
Figura 26 - JIG. Fonte: disponível em
http://synthes.vo.llnwd.net/o16/LLNWMB8/US%20Mobile/Synthes%20North%2
0America/Product%20Support%20Materials/Technique%20Guides/SUTGMiniT
PLOJ10959B.pdf .............................................................................................. 48
Figura 27 - técnica de osteotomia parcial para luxação medial de patela. Fonte:
Petazzoni, 2015................................................................................................ 49
Figura 28 - Dispositivo TTTT. Fonte: Petazzoni, 2015. .................................... 50
Figura 29 - Colocação do dispositivo TTTT. Fonte: Petazzoni, 2015. .............. 51
Figura 30 - Colocação do pino (seta) para manutenção da crista e tuberosidade
tibial. Fonte: Petazzoni, 2015. .......................................................................... 51
Figura 31 - Radiografia pré-operatória, projeção craniocaudal do fêmur
esquerdo. Fonte: cedida por Eloy Curuci. ........................................................ 53
Figura 32 - Radiografia pré-operatória, projeção mediolateral do fêmur esquerdo.
Fonte: cedida por Eloy Curuci. ......................................................................... 54
10
Figura 33 - Planejamento cirúrgico osteotomia femoral lateral distal em cunha de
fechamento. Fonte: cedida por Eloy Curuci...................................................... 55
Figura 34 - Radiografia pré-operatória, presença de torção tibial externa de 10
graus. Fonte: cedida por Eloy Curuci, comparando com estudo de Petazzoni,
2008. ................................................................................................................ 56
Figura 35 - Técnica de osteotomia parcial para luxação medial de patela. Fonte:
Petazzoni, 2015................................................................................................ 57
Figura 36 - Planejamento 4T. Fonte: cedida por Eloy Curuci. .......................... 57
Figura 37 - Tróclea rasa (seta). Fonte: cedida por Eloy Curuci. ....................... 58
Figura 38 - Trocleoplastia de ressecção em bloco (seta). Fonte: cedida por Eloy
Curuci. .............................................................................................................. 58
Figura 39 - Colocação do jig (seta) no fêmur. Fonte: cedida por Eloy Curuci. . 59
Figura 40 - Realização da osteotomia (seta) somente na cortical cis. Fonte:
cedida por Eloy Curuci. .................................................................................... 59
Figura 41 - Compressão dos fragmentos (seta) utilizando pinça de redução
ponta-ponta. Fonte: cedida por Eloy Curuci. .................................................... 60
Figura 42 - Colocação da placa (seta) no fêmur. Fonte: cedida por Eloy Curuci.
......................................................................................................................... 60
Figura 43 - Colocação de distrator ósseo (seta) na tíbia. Fonte: cedida por Eloy
Curuci. .............................................................................................................. 61
Figura 44 - Colocação de pino liso (seta) para manter a posição da tuberosidade
tibial. Fonte: cedida por Eloy Curuci. ................................................................ 62
Figura 45 - Radiografia pós operatório imediato, com aLDFA. Fonte: cedida por
Eloy Curuci. ...................................................................................................... 63
Figura 46 - Radiografia 30 dias pós-operatório, projeção mediolateral. Fonte:
cedida por Eloy Curuci. .................................................................................... 64
Figura 47 - Radiografia 30 dias pós-operatório, projeção craniocaudal. Fonte:
cedida por Eloy Curuci. .................................................................................... 64
Figura 48 - Radiografia 60 dias pós-operatório, projeção mediolateral. Fonte:
cedida por Eloy Curuci. .................................................................................... 65
Figura 49 - Radiografia 60 dias pós-operatório, projeção craniocaudal. Fonte:
cedida por Eloy Curuci. .................................................................................... 65
11
1. Introdução
A luxação de patela é um dos distúrbios ortopédicos mais comuns em cães,
podendo resultar no desenvolvimento de doenças articulares degenerativas, dor
e claudicação. Resulta de múltiplas anormalidades anatômicas dos membros
pélvicos, sendo a luxação traumática menos comum (Alam, et al., 2007).
A patogênese da doença foi amplamente revisada, porém ainda não está
clara. No entanto, sugere-se uma base hereditária da doença, devido à
predisposição racial e alta prevalência de casos bilaterais na ausência de trauma
(Alam, et al., 2007).
Os distúrbios mais comuns associados à luxação de patela incluem:
anormalidade na articulação coxofemoral, torção e angulação femoral, displasia
epifisária femoral, desvio da crista tibial, atrofia ou deslocamento medial dos
músculos do quadríceps femoral, patela alta, sulco troclear raso, instabilidade
rotacional da articulação do joelho ou deformidade da tíbia (Fossum, 2006; Alam,
et al., 2007).
A luxação de patela ocorre com maior frequência em cães de pequeno porte,
porém também é diagnosticada em cães de grande porte. A luxação de patela
lateral é incomum e tem maior frequência em cães de grande porte. Porém, a
luxação patelar medial é reconhecida em cães de todos os tamanhos (Alam, et
al., 2007).
A luxação medial é uma afecção que ocorre especialmente em cães de raças
toy e miniaturas como Poodle, Yorkshire Terrier, Chihuahua, Pomerânia,
Pequinês, Boston Terrier, Bulldog Francês, Lhasa Apso, Cavalier King Charles
Spaniel, Bichon, Pug, West Highland White Terrier, Jack Russell Terrier e Shit-
tzu (Hayes, et al., 1994; Di Dona, 2018). Já a luxação patelar lateral ocorre com
maior frequência em cães de raças grandes, como o São Bernardo, Malamute e
Setter Irlandês (Hulse, 1981; Alam, et al., 2007).
A maioria dos casos é observada em cães com menos de três anos de idade.
A incidência de luxação patelar medial é maior em comparação com luxação
patelar lateral (Alam, et al., 2007). L’Eplatennier (2002), afirmou ser de 75% ou
mais os casos relacionados à luxação patelar medial e menos de 25%, a lateral.
Segundo Roush (1993), na luxação de patela medial, as fêmeas são mais
afetadas que os machos e 50% tem envolvimento bilateral. Segundo Priester,
12
(1972) e Alam, et al. (2007), o risco de fêmeas apresentarem a luxação patelar
é uma vez e meia ou mais que em machos.
Cães castrados apresentam cerca de 3 vezes mais chances de desenvolver
luxação patelar (Di Dona, et al., 2018). Membros pélvicos direito e esquerdo
foram encontrados quase igualmente afetados com luxação de patela (Alam, et
al., 2007).
Ruptura simultânea do ligamento cruzado cranial está presente em 15% a
20% dos joelhos de cães de meia-idade e idosos com luxação patelar crônica
(Piermattei et al., 2016).
As luxações de patela grau I e II foram as mais observadas entre todos os
tamanhos de raça (Alam, et al., 2007). No estudo de Hayes, et al., (1994), as
luxações de graus II e III foram as mais comumente observadas em todas as
categorias, raças ou portes. Segundo esses autores, é possível que cães com
graus I e eventualmente II nunca tenham sido trazidos para avaliação ou mesmo
a luxação não tenha sido detectada devido às discretas manifestações clínicas.
De acordo com Denny & Butterworth (2000), o tratamento conservativo é
indicado nos casos em que a instabilidade não está associada a qualquer
manifestação clínica ou se a claudicação é infrequente.
Diversas técnicas cirúrgicas foram descritas para estabilização da articulação
femorotibiopatelar, dentre elas: incisão e liberação medial/lateral do retináculo e
cápsula articular, imbricação medial/lateral, modificação do sulco troclear
femoral, transposição da tuberosidade tibial e osteotomia corretiva femoral e/ou
tibial (Alam, et al., 2007). A escolha da técnica depende da gravidade da lesão,
ou mesmo da preferência do cirurgião (Hayes, et al., 1994; Read, 1999).
Geralmente são realizadas combinações de técnicas para se obter melhores
resultados (Hayes, et al., 1994; Alam, et al., 2007). Independente das técnicas,
o objetivo é conseguir que a patela se posicione adequadamente no sulco
troclear e, assim, permaneça durante toda a amplitude do movimento (Read,
1999).
2. Anatomia do Joelho
A articulação do joelho (Figura 1) é do tipo composta, incongruente e em
dobradiça. Ela compreende as articulações femorotibial (entre o fêmur e a tíbia)
e femoropatelar (entre o fêmur e a patela) (König, 2002).
13
A articulação femorotibial se forma entre os côndilos do fêmur e a
extremidade proximal da tíbia. As incongruências das superfícies articulares são
corrigidas pelos meniscos articulares, que são fibrocartilagens semilunares com
uma margem periférica espessa e convexa, e uma margem central delgada e
côncava. A mobilidade dos meniscos permite um grau limitado de movimento
rotacional à articulação (König, 2002).
Os ligamentos da articulação femorotibial são: ligamentos dos meniscos e
das articulações femorotibiais. Os ligamentos dos meniscos compreendem:
ligamentos tibiais craniais dos meniscos (se estendem desde a parte cranial de
cada menisco até a área intercondilar cranial medial e lateral da tíbia); ligamentos
tibiais caudais dos meniscos (o ligamento lateral se prolonga desde o ângulo
caudal do menisco lateral até a incisura poplítea da tíbia. O ligamento medial se
prolonga desde o ângulo caudal do menisco medial até a área intercondilar da
tíbia); ligamento meniscofemoral (passa do ângulo caudal do menisco lateral
para o interior do côndilo femoral medial); ligamento transverso do joelho
(conecta os ângulos craniais dos dois meniscos) (König, 2002).
Os ligamentos femorotibiais compreendem: ligamentos colaterais lateral
(emerge do epicôndilo lateral do fêmur e termina com um ramo no côndilo lateral
da tíbia e com um ramo mais forte na cabeça da fíbula) e medial (se prolonga
entre o epicôndilo medial do fêmur e uma área rugosa distal à margem do côndilo
medial da tíbia, ele se funde com a cápsula articular e o menisco medial);
ligamentos cruzados do joelho cranial e caudal ( se situam na fossa intercondilar
do fêmur entre as duas bolsas sinoviais das articulações femorotibiais. O
ligamento cruzado cranial emerge da área intercondilar do côndilo femoral
lateral, seguindo craniodistalmente e se insere na área intercondilar central da
tíbia. O ligamento cruzado caudal se fixa à área intercondilar do côndilo femoral
medial, se orienta caudodistalmente e termina na incisura poplítea da tíbia);
ligamento poplíteo oblíquo (são filamentos fibrosos embutidos na cápsula
articular seguindo uma orientação lateroproximal a mediodistal). As cavidades
das articulações femorotibiais também incluem os ossos sesamóides (König,
2002).
A articulação femoropatelar é formada pela face articular da patela e do
fêmur, sendo classificada como uma articulação em deslize (troclear). Os
ligamentos desta articulação são: retináculos patelares (filamentos de tecido
14
conjuntivo destacados da fáscia regional entre o tendão do músculo quadríceps,
a patela, os côndilos femorais e a tróclea da tíbia); ligamentos femoropatelares
laterais e mediais (faixas de fibras soltas parcialmente unidas aos retináculos
sobrejacentes); ligamento patelar (une a patela à tuberosidade da tíbia) (König,
2002).
15
O grupo muscular do quadríceps é formado pelos músculos reto femoral,
vasto lateral, vasto intermédio e vasto medial (Fossum, 2006) (Figuras 3 e 4). O
músculo vasto lateral origina-se craniolateralmente, na extremidade proximal do
fêmur, inserindo-se no tendão do músculo reto femoral e na superfície cranial da
patela. O músculo vasto medial começa craniomedialmente na superfície medial
do fêmur, e os seus tendões de inserção unem-se proximalmente à patela e no
tendão do músculo reto femoral (König, 2002).
Os músculos vasto medial e vasto lateral são fixados à patela pela
fibrocartilagem parapatelar medial e lateral, que por sua vez percorre as bordas
da tróclea femoral e, junto aos retináculos medial e lateral, suplementa a
estabilidade patelar. Os retináculos medial e lateral são grupos de fibras de
colágeno, que partem da fabela e se misturam às fibrocartilagens parapatelares
medial e lateral, respectivamente (Fossum, 2006).
O músculo reto femoral origina-se em duas depressões, dorsais ao
acetábulo, situando-se entre o músculo vasto lateral e medial, na superfície
cranial da coxa e insere-se como ligamento patelar intermédio na tuberosidade
da tíbia (König, 2002). O músculo quadríceps é inervado pelo nervo femoral
(Dyce, 2010). Sobre o músculo quadríceps estão localizados os músculos tensor
da fáscia lata e sartório (ambos extensores da articulação do joelho), a fáscia
lata e a fáscia medial da coxa (König, 2002).
O grupo muscular do quadríceps estende a articulação do joelho, além de
auxiliar na sua estabilização. Este músculo converge na patela, como o tendão
patelar, e então continua distalmente, como o ligamento patelar reto (Fossum,
2006).
O músculo poplíteo encontra-se no aspecto caudal da articulação do
joelho (Dyce, 2010). Origina-se na fossa poplítea do côndilo lateral do fêmur
(König, 2002). Suas fibras musculares dirigem-se para a margem medial da tíbia,
inserindo-se na linha do poplíteo (König, 2002). É um músculo flexor do joelho e
permite a pronação do membro e é inervado pelo nervo tibial (Dyce, 2010).
16
Figura 2 - Estruturas de tecido mole e esqueléticas normais associadas ao mecanismo
extensor do quadríceps. Fonte: Fossum, 2006.
17
Figura 4 - Representação esquemática dos músculos e esqueleto do membro pélvico
do cão (aspecto medial). Fonte: König & Liebich, 2002.
3. Luxação de Patela
3.1 Definição
18
3.2 Luxação Medial de Patela
19
quadríceps, resultando em cargas anormais na fise distal do fêmur, fato que
retarda o crescimento do lado medial e provoca varos distal do fêmur e rotação
interna da tíbia (Kowaleski, 2012).
Em cães afetados, também se observaram alterações na conformação da
tíbia, porém são consideradas compensatórias. No início do desenvolvimento, a
falta de pressão direta da patela no sulco troclear leva a uma hipoplasia da
tróclea, gerando um sulco raso ou ausente, fator que contribui para a luxação
patelar (Pirmattei et al., 2016).
20
A ruptura do ligamento cruzado cranial concomitante ocorre em 15 a 20%
dos casos crônicos de luxação de patela em cães de meia idade e idosos. Nesta
situação, o mecanismo do quadríceps não é eficaz na estabilização da
articulação, além da rotação interna da tíbia proximal, aumentando o estresse
sobre o ligamento cruzado (Piermattei et al., 2016). Além disso, deformidades
angulares e rotacionais na parte distal do fêmur e proximal da tíbia também são
hipóteses para um estresse anormal nos ligamentos colaterais e cruzado cranial.
Essas tensões associadas ao processo normal de envelhecimento
(degenerativo) podem explicar a relação entre ruptura do ligamento cruzado
cranial e luxação de patela. Não se observou relação entre os graus de luxação
patelar e ruptura do ligamento cruzado cranial (Alam, et al., 2007).
A classificação do grau de luxação e deformidade corporal (Figura 6) é
utilizada para diagnóstico e decisão da técnica cirúrgica. A classificação a seguir
foi elaborada por Putnam e adaptada por Singleton (Piermattei et al., 2016).
- Grau 1: a luxação patelar é intermitente. A patela é luxada manualmente
de forma fácil na extensão total da articulação do joelho, mas retorna à tróclea
quando é solta. Não há crepitação aparente. Quando a patela é reduzida, o
desvio da tuberosidade tibial da linha média é mínimo e a extensão-flexão do
joelho é uma linha reta, sem abdução do jarrete.
- Grau 2: A luxação ocorre com mais frequência do que no grau 1. Os
sinais de claudicação são intermitentes e leves. A patela é luxada de forma fácil,
principalmente quando a extremidade distal do membro é girada (internamente
para luxação medial e externamente para luxação lateral) enquanto a patela é
empurrada. A redução é feita com manobras opostas. A tuberosidade da tíbia
proximal pode estar girada em até 30 graus com luxações mediais e menos com
luxações laterais. Com a patela luxada medialmente, o jarrete é levemente
abduzido com os dedos apontando medialmente. Com a patela luxada
lateralmente, o jarrete pode ser aduzido com os dedos apontando lateralmente.
Grande parte dos animais com esse grau de luxação vive bem por muitos anos,
porém a constante luxação da patela sobre o bordo medial da tróclea pode
causar erosão da superfície articular da patela e da área proximal do bordo
medial. Isso resulta em crepitação aparente quando a patela é luxada de forma
manual. Esse desconforto pode levar o cão, durante a deambulação, a transferir
seu peso para os membros anteriores.
21
- Grau 3: A patela está permanentemente luxada, mas pode ser
temporariamente reposicionada com manipulação digital. Há torção da tíbia e
desvio da crista tibial entre 30 e 60 graus do plano crânio/caudal. Embora a
luxação não seja intermitente, muitos animais usam o membro com o joelho
semiflexionado. A extensão-flexão da articulação causa abdução e adução do
jarrete. A tróclea é rasa ou até mesmo achatada.
- Grau 4: a tíbia é torcida medialmente, e a crista tibial pode mostrar um
desvio adicional, resultando em 60 a 90 graus no plano crânio/caudal. A patela
é permanentemente luxada (ectópica) e não pode ser reposicionada. Ela se
localiza logo acima do côndilo medial (se a luxação for medial), e um espaço
pode ser palpado entre o ligamento patelar e a extremidade distal do fêmur. O
animal pode se mover com os membros parcialmente flexionados. A tróclea é
superficial, ausente ou convexa. Geralmente é torcida, necessitando de
condroplastia em um ângulo diferente do da região troclear original, a fim de
seguir verticalmente após a transposição do tubérculo (Piermattei et al., 2016).
Figura 6 - Posição da tíbia em relação ao fêmur e formato da tróclea femoral nos graus
1 a 4 da luxação medial da patela. A seção femoral na região do sulco troclear é
mostrada em contorno escuro e a seção tibial proximal é sombreada. Nota-se rotação
progressiva medial da tíbia e deformidade da crista troclear medial. Fonte: Piermattei et
al., 2016.
3.2.1 Diagnóstico
23
Durante o exame físico analisar os seguintes aspectos: instabilidade em
ambas direções, presença de crepitação, grau de rotação da tuberosidade da
tíbia, torção ou angulação do membro, incapacidade de reduzir a patela,
localização da patela no interior da tróclea, incapacidade de estender o membro
num ângulo normal (casos de contratura severa em filhotes), presença ou
ausência do movimento de gaveta (Piermattei et al., 2016).
Figura 8 - Para luxar a patela lateralmente, o joelho deve estar parcialmente flexionado
e a extremidade do membro deve ser rotacionada lateralmente enquanto se puxa a
patela em sentido lateral (Piermattei et al., 2016).
24
(coronal ou axial a 30 graus do fêmur) e até mesmo tomografia computadorizada,
para melhor avaliação do grau de deformidade (Fossum, 2006).
A maioria dos cirurgiões concordam que, quando coexiste com a luxação de
patela, o varos femoral excessivo deve ser corrigido. Para quantificar a
deformidade do varo femoral é necessária uma visão craniocaudal bem
posicionada do fêmur e da tíbia proximal. Frequentemente, a deformidade
femoral pode ser identificada na vista lateral pela presença do sinal duplo do
côndilo (aparência distinta dos côndilos femorais individuais que não estão
sobrepostos). Se um côndilo femoral é projetado cranial ao outro pode indicar
uma deformidade torcional femoral. Se um côndilo femoral é projetado distal ao
outro pode indicar uma deformidade angular (varo ou valgo) femoral. A
identificação da fossa extensora presente no côndilo femoral lateral permite
diferenciar o côndilo femoral lateral do medial, permitindo assim identificar o tipo
de deformidade (Tobias & Johnston, 2017).
Numa imagem bem posicionada, as fabelas aparecem bissecadas pelos
córtices femorais, as paredes verticais do entalhe intercondilar são linhas
paralelas distintas e o trocânter menor é apenas parcialmente visível. Em um
fêmur normal, a magnitude do varo femoral é determinada pela medição do
ângulo anatômico femoral distal lateral (aLDFA) na interseção do eixo anatômico
femoral e na linha de referência da articulação distal do fêmur, utilizando o
método radiográfico descrito por Tomlinson, (2007), ou método por tomografia
computadorizada descrito por Dudley et al., (2006), ou o método tomográfico
computadorizado com reconstrução volumétrica tridimensional descrita por
Kowaleski (2006), sendo este último o método mais acurado e preciso. Em um
fêmur com varo femoral patológico, a deformidade é determinada no centro de
angulação de rotação (CORA), localizado na interseção dos eixos anatômicos
do fêmur (Tobias & Johnston, 2017).
No método radiográfico, o comprimento total do fêmur é determinado e o
centro do fêmur em 33% e 50% do seu comprimento é identificado. Uma linha é
desenhada conectando esses dois pontos. Este é o eixo anatômico do fêmur. A
linha de referência da articulação distal é uma linha que liga o aspecto mais distal
dos côndilos medial e lateral do fêmur. O aLDFA é medido na interseção do eixo
anatômico e na linha de referência da articulação distal. A comparação do aLDFA
versus um intervalo de referência específico da raça indicará se está presente
25
um varo femoral significativo. Se houver uma deformidade significativa do varo
femoral, a localização e magnitude da deformidade devem ser determinadas, o
que é feito da seguinte forma: medir o comprimento total do fêmur e identificar o
centro do fêmur em 33% e 50% do seu comprimento, desenhar uma linha
conectando esses dois pontos para determinar o eixo anatômico femoral
proximal. Neste caso, a linha não é desenhada para o nível da articulação.
Desenhar a linha de referência da articulação distal, definir o aLDFA para o valor
específico da raça e desenhar o eixo anatômico distal de forma que a linha se
estenda ao longo do aspecto lateral do entalhe intercondilar. O CORA está
localizado na interseção dos eixos anatômicos proximal e distal, e sua magnitude
pode ser medida nesse local (Figura 9). Se um valor normal específico da raça
(Figura 10) não estiver disponível, o fêmur normal oposto poderá ser medido
como referência (Tobias & Johnston, 2017). Se o membro contralateral também
se encontrar afetado o recomendado é realizar a osteotomia corretiva se o
aLDFA for superior a 100° (Kowaleski, 2012). Segundo Palmer, (2012), a
osteotomia corretiva do fêmur é recomendada quando a luxação de patela é
acompanhada de um ângulo de varos femoral >12° (aLDFA >102°). Em alguns
casos, a torção femoral externa (ângulo de anteversão reduzido) é a única
deformidade femoral identificável, sendo necessária a correção da torção
(Tobias & Johnston, 2017).
26
Figura 9 - Determinação do aLDFA e CORA. Fonte: Tobias et al., 2017.
27
Figura 10 - Valores médios dos ângulos articulares do fêmur no plano frontal relatados
na literatura. Fonte: Petazzoni, 2008.
28
Figura 11 - Medida da torção femoral e ângulo de anteversão do colo femoral. Fonte:
Petazzoni, 2008.
29
Figura 12 - Graus de torção femoral interna e externa. Fonte: Petazzoni, 2008.
30
Figura 13 - Torção tibial interna e externa. Fonte: Petazzoni, 2011.
31
3.2.2 Diagnóstico Diferencial
3.2.3 Tratamento
32
Dentre as técnicas cirúrgicas indicadas para correção da luxação de
patela temos: transposição da tuberosidade da tíbia, liberação das estruturas de
contenção mediais, reforço das estruturas de contenção laterais,
aprofundamento do sulco troclear, osteotomia femoral, osteotomia tibial, suturas
antirrotacionais e transposição da origem do reto femoral. Normalmente é
necessária combinação de técnicas para se atingir a estabilidade intraoperatória
da patela. Vale ressaltar que a anormalidade primária é biomecânica, no qual a
patela não está alinhada com o sulco troclear. Portanto, cirurgias onde é
realizado somente o aprofundamento do sulco troclear, liberação da cápsula e
da fáscia e imbricação tendem ao insucesso, pois não é feito realinhamento
permanente da patela e sulco troclear (Fossum, 2006).
Em grande parte dos animais, deve-se aprofundar o sulco troclear através
da ressecção da margem troclear ou em bloco. Pode ser necessária a liberação
do retináculo medial a fim de estabilizar a patela no sulco troclear aprofundado.
A transposição da crista da tíbia deve ser feita para realinhar as forças
mecânicas do mecanismo extensor do joelho. Após a estabilização da patela, o
retináculo lateral deve ser reforçado através de suturas, e a imbricação da
cápsula articular fibrosa, pela inserção de enxerto de fáscia lata da fabela para
a fibrocartilagem parapatelar, ou pela excisão do retináculo excedente (Fossum,
2006).
Em pacientes com graves deformidades esqueléticas deve-se realizar
osteotomia do fêmur. As deformidades mais comumente observadas são
arqueamento varo do fêmur distal e torção medial da tíbia proximal. O objetivo
desta cirurgia é realinhar a articulação do joelho em plano frontal, onde o eixo
transversal dos côndilos femorais é perpendicular ao eixo longitudinal da diáfise
femoral. Outras técnicas, como aprofundamento do sulco troclear, liberação das
estruturas de contenção mediais, transposição da crista da tíbia e reforço das
estruturas de contenção laterais, são necessárias para sucesso cirúrgico
(Fossum, 2006).
33
3.3 Luxação Medial de Patela Traumática
3.3.2 Tratamento
34
3.4 Luxação Lateral em Jovens de Raças Grandes e Gigantes
Figura 16 - A. Filhote de cão Great dane com valgo genuíno. Observar os quadris largos,
joelhos estreitos e jarretes, com os dedos apontando para fora. B. Fêmur e tíbia de um
Dinamarquês mostrando angulação em valgo e torção dos côndilos femorais.
Fonte:Piermattei et al., 2016.
35
“bater os joelhos”. Normalmente é possível reduzir a patela e pode haver
frouxidão do ligamento colateral medial. É frequente encontrar os tecidos
retinaculares mediais da articulação do joelho espessados, e muitas vezes a
extremidade distal do membro está rotacionada lateralmente (Piermattei et al.,
2016).
3.4.2 Tratamento
36
Figura 17 - Técnica cirúrgica de desmotomia medial. Fonte: Piermattei et al., 2016.
Esse procedimento pode ser utilizado no lado lateral para luxação medial ou
no lado medial para luxação lateral. A fáscia retinacular e a cápsula articular são
incisadas de 3 a 5 mm, paralelas à patela, se estendendo pela tíbia proximal de
1 a 2 cm acima da patela. Uma incisão na fáscia lata continua até o nível médio
37
do fêmur. Utilizando fio de sutura não absorvível 2-0 ou 3-0 e padrão U
horizontal, a borda cortada da fáscia anexada à patela é suturada sob a fáscia
mais lateral. As camadas superficiais da fáscia e da cápsula são suturadas à
fáscia que permanece ligada à patela. Realiza-se sutura contínua em todo o
comprimento da incisão da fáscia (Figura 18). Essa técnica pode ser combinada
com técnicas de sutura antirotacional da patela e da tíbia. Procedimento
semelhante é realizado no lado medial nos casos de luxação lateral. A incisão
fascial é feita entre a parte ventral caudal do músculo sartório e do músculo vasto
medial e a parte ventral cranial do músculo sartório (Piermattei et al., 2016).
38
longo. A fáscia lata proximal à patela é elevada cranialmente e sem corte do
músculo vasto lateral subjacente até a aponeurose entre os músculos vasto
lateral e reto femoral. Suturas não absorvíveis de tamanho 2-0 e 3-0 são feitas
entre a borda cranial do músculo bíceps e a aponeurose exposta. A primeira
sutura é feita no tendão patelar na extremidade proximal da patela, com mais
três ou quatro suturas posicionadas proximalmente. Se a patela ainda continuar
luxando, mais uma ou duas suturas devem ser posicionadas próximo à patela
para apertar mais o músculo bíceps. Suturas distais são posicionadas no
ligamento patelar. A fáscia lata craniana é puxada caudalmente sobre a
superfície do músculo bíceps e suturada no lugar com padrão simples e Lembert
(Figura 19) (Piermattei et al., 2016).
39
conjunto com a trocleoplastia em cães idosos com luxação grau 2 e pode ser
utilizada como tratamento primário em neonatos a partir de 5 dias (Piermattei et
al., 2016).
A fabela é o centro do arco de rotação da patela. Dessa forma, a sutura
permanece relativamente tensa durante a flexão e a extensão do joelho.
Ajustando o ponto de inserção no ligamento patelar distal ou tubérculo tibial, o
cirurgião pode ajustar a tensão da sutura no grau de flexão, em que existe maior
rotação medial. Em muitos casos, principalmente em cães, cuja luxação
apareceu em idade avançada, o tubérculo tibial não é verdadeiramente
deslocado ou girado em relação ao restante da tíbia e membro (graus 1 e 2).
Nesta situação, o cirurgião irá notar que quando a patela luxa medialmente toda
a tíbia gira internamente. Esse fenômeno é notável nas luxações laterais, quando
a tíbia gira externamente. A prevenção da rotação tibial irá reduzir a tendência
da patela luxar. Há grandes chances dessas suturas se romperem ou soltarem,
porém o tecido fibroso formado ao redor da sutura, além do realinhamento dos
tecidos moles, será capaz de manter a nova posição da tíbia ou patela
(Piermattei et al., 2016).
A fáscia lata é incisada ao longo da borda cranial do bíceps para permitir sua
retração caudal. Um fio de sutura 2-0 a 0 para raças pequenas, 0 a 2 para raças
grandes é passado numa agulha de sutura uterina de Martin. A agulha passa ao
redor da fabela na direção distal para proximal ou cranial para caudal com mais
facilidade, sendo fixada ao redor da patela numa semi bolsa através do tendão
do quadríceps de lateral para medial, na extremidade proximal da patela. A
sutura é então passada distalmente ao longo da borda medial da patela e
lateralmente ao longo da extremidade distal da patela (Figura 20) (Piermattei et
al., 2016).
A sutura anti rotacional da tíbia é colocada ao redor da fabela medial ou
lateral. A sutura pode ser fixada ao ligamento patelar distal ou através de um
orifício na tuberosidade da tíbia. O membro é posicionado em vários graus de
flexão para encontrar o ângulo de rotação tibial máxima. Então, o material de
sutura é cerrado com força suficiente para impedir a rotação da tíbia. Além disso,
pode-se combinar com técnicas de sobreposição retinacular lateral ou medial ou
sobreposição da fáscia lata (Piermattei et al., 2016).
40
Figura 20 - Técnica cirúrgica de sutura anti-rotacional patelar e tibial. Fonte: Piermattei
et al., 2016.
4.6 Trocleoplastia
41
ser necessário osteotomia angular para obter aumento da crista medial a fim de
alcançar a estabilidade patelar (Piermattei et al., 2016).
Para avaliar se a profundidade troclear é suficiente, a patela deve ser
reduzida, devendo haver um “travamento”, especialmente no nível da tróclea em
que a luxação ocorreu. Se não for esse o caso, é realizado um aprofundamento
mais agressivo (Piermattei et al., 2016).
42
4.6.2 Sulcoplastia de Ressecção em Cunha
43
bloco é removido e então o osso trabecular é removido do fêmur para formar um
recesso para o bloco, que é pressionado de volta à área rebaixada do fêmur
(Figura 23) (Piermattei et al., 2016).
44
Figura 24 - Técnica cirúrgica de sulcoplastia troclear. Fonte: Piermattei et al., 2016.
45
patela alta, o entalhe deve ser movido mais distalmente (1 a 1,5 cm) para puxar
a patela distalmente para um sulco troclear mais competente e profundo. Se a
tuberosidade é extremamente desviada, esse entalhe é colocado mais caudal e
lateral na tíbia (Piermattei et al., 2016).
Para realocar a tuberosidade, o joelho é hiperextendido para relaxar o
mecanismo extensor, e a parte superior da tuberosidade é colocada no entalhe
e mantida firmemente, enquanto perfura com fios de Kischner de 9 a 16mm,
dependendo do tamanho do animal. O fio é conduzido através da parte mais
espessa da tuberosidade em direção proximal e caudomedial. O fio deve
envolver o córtex tibial oposto para evitar migração e não deve penetrar nas
superfícies articulares. A tuberosidade agora foi transposta distalmente
(apertando assim o ligamento patelar), de modo que o lado plano da
tuberosidade fique nivelado com o lado da tíbia. O realinhamento é verificado e,
se satisfatório, o fio é cortado de 2 a 3 mm a partir da tuberosidade. Dois fios
devem ser colocados em todos os cães (um proximal e outro distal), como mostra
a Figura 25 (Piermattei et al., 2016).
A síntese se inicia suturando a fáscia externa do tibial cranial até a região do
periósteo no aspecto medial da tíbia. A articulação lateral é suturada e a patela
é verificada quanto à estabilidade. Se ainda estiver instável, o sulco precisa ser
aprofundado ou a tuberosidade mais rotacionada (Piermattei et al., 2016).
46
5. Osteotomia Corretiva Associada a Deformidades Femorais
47
comprimir a osteotomia, ou fio de cerclagem colocado em figura de oito ao redor
dos pinos do jig e apertado com uma torção para criar compressão. A placa é
colocada na parte lateral do fêmur, garantindo que não interfira com a função
articular ou patelar. Os parafusos distais podem ser angulados caudalmente no
fêmur para que não interfiram em nenhuma trocleoplastia. Em muitos casos é
preferível colocar o penúltimo parafuso como monocortical, deixando o último
orifício aberto até execução da trocleoplastia. Em seguida, é substituído por
parafuso bicortical e o parafuso restante é colocado (Tobias & Johnston, 2017).
48
A técnica de 4Ts (Tibial Tuberosity Transposition Tool) recomenda que a
osteotomia da crista tibial seja apenas parcial, portanto o osso e periósteo da
extremidade distal da crista tibial ficarão íntegros. A crista tibial sofre uma rotação
no plano frontal e depois é fixada com um pino na sua nova posição. Esta técnica
melhora significativamente a estabilidade da crista e reduz o tempo cirúrgico
(Petazzoni, 2015).
Essa técnica só é indicada nos casos em que a torção interna ou externa da
tuberosidade tibial seja de, no máximo, 20º. Nos casos em que o ângulo de
torção tibial seja superior a 20º é indicado realizar osteotomia da tíbia proximal
como técnica cirúrgica corretiva (Petazzoni, 2015).
A técnica é realizada da seguinte forma: o paciente é posicionado em
decúbito dorsal. Realiza-se incisão cutânea craniomedial, iniciando-se ao nível
da patela e terminando ao nível da porção mais distal da crista tibial. O periósteo
é incidido ao longo da face medial da tuberosidade e crista tibial. Utiliza-se serra
oscilante fina para a osteotomia da tuberosidade e crista tibiais. No caso de
transposição medial da tuberosidade tibial, a osteotomia no córtex lateral vai
estender-se por 80% do comprimento total da crista tibial, numa orientação
proximal para distal. Do lado medial, a cortical é osteotomizada apenas em cerca
de 60% do comprimento total da crista tibial. No plano sagital, a crista tibial
osteotomizada deverá manter uma largura de cerca de 30% da largura total da
tíbia, como mostra a Figura 27 (Petazzoni, 2015).
Em seguida, o dispositivo TTTT deve ser colocado. Ele é composto por uma
barra rosqueada, uma bucha deslizante, uma pá central, duas rótulas e duas
porcas, como mostra a Figura 28 (Petazzoni, 2015).
49
Figura 28 - Dispositivo TTTT. Fonte: Petazzoni, 2015.
50
Figura 29 - Colocação do dispositivo TTTT. Fonte: Petazzoni, 2015.
7. Cuidados Pós-operatórios
8. Prognóstico
9. Relato de Caso
53
Figura 32 - Radiografia pré-operatória, projeção mediolateral do fêmur esquerdo. Fonte:
cedida por Eloy Curuci.
54
Figura 33 - Planejamento cirúrgico osteotomia femoral lateral distal em cunha de
fechamento. Fonte: cedida por Eloy Curuci.
55
Figura 34 - Radiografia pré-operatória, presença de torção tibial externa de 10 graus.
Fonte: cedida por Eloy Curuci, comparando com estudo de Petazzoni, 2008.
Para correção da torção tibial a técnica escolhida foi 4Ts (Tibial Tuberosity
Transposition Tool). O planejamento foi realizado da seguinte forma, como
mostram as Figuras 35 e 36: uma marcação foi realizada em 80% do
comprimento da crista no aspecto medial e a 60% no aspecto lateral, para as
luxações mediais de patela. A osteotomia é realizada mais caudalmente em
relação à técnica tradicional, correspondendo a 30% do diâmetro da tíbia
proximal (Petazzoni, 2015).
56
Figura 35 - Técnica de osteotomia parcial para luxação medial de patela. Fonte:
Petazzoni, 2015.
57
O paciente foi posicionado em decúbito dorsal e realizada antissepsia do
membro. Foi realizada abordagem cirúrgica lateral para articulação do joelho e
fêmur distal. Ao analisar a tróclea (Figura 37) notou-se que a patela não era
recoberta em 40 a 50% e, por isso, optou-se por realizar trocleoplastia de
ressecção em bloco, conforme técnica já descrita anteriormente, como mostra a
Figura 38.
Figura 38 - Trocleoplastia de ressecção em bloco (seta). Fonte: cedida por Eloy Curuci.
58
Figura 39 - Colocação do jig (seta) no fêmur. Fonte: cedida por Eloy Curuci.
Figura 40 - Realização da osteotomia (seta) somente na cortical cis. Fonte: cedida por
Eloy Curuci.
59
Figura 41 - Compressão dos fragmentos (seta) utilizando pinça de redução ponta-ponta.
Fonte: cedida por Eloy Curuci.
Figura 42 - Colocação da placa (seta) no fêmur. Fonte: cedida por Eloy Curuci.
60
bucha sulcada, chapa deslizante, duas porcas e dois pinos (lisos ou
rosqueados), fixados craniocaudalmente e proximodistalmente nos aspectos
medial e lateral da tuberosidade tibial e dispostos de forma convergente. O
ângulo de inserção dos pinos corresponde ao ângulo de inclinação do platô tibial,
em relação ao plano sagital e o ângulo entre os pinos, no plano transversal é de
aproximadamente 70º, como mostra a Figura 43. A osteotomia é realizada de
acordo com as marcações previamente feitas. A porca é girada e a chapa
desloca lateralmente a tuberosidade tibial, à velocidade de uma volta por minuto
(0,7mm). É recomendado um quarto de volta a cada 15 segundos (Petazzoni,
2015).
Figura 43 - Colocação de distrator ósseo (seta) na tíbia. Fonte: cedida por Eloy Curuci.
61
Figura 44 - Colocação de pino liso (seta) para manter a posição da tuberosidade tibial.
Fonte: cedida por Eloy Curuci.
62
Figura 45 - Radiografia pós operatório imediato, com aLDFA. Fonte: cedida por Eloy
Curuci.
63
Figura 46 - Radiografia 30 dias pós-operatório, projeção mediolateral. Fonte: cedida por
Eloy Curuci.
64
Após 60 dias de pós-operatório foi realizado novo exame
radiográfico (Figuras 48 e 49). Nesse exame, pode-se observar consolidação
óssea completa do fêmur. Não houve soltura de implantes nem migração do pino
colocado na tíbia na técnica de 4Ts. Clinicamente o animal não apresentava
claudicação e ao exame ortopédico não havia luxação de patela.
65
10. Discussão
66
Quando a causa da luxação de patela é o desvio da tuberosidade tibial, sua
transposição leva ao realinhamento do mecanismo extensor do joelho.
Atualmente, dois métodos são propostos para transposição da tuberosidade
tibial: osteotomia completa da tuberosidade tibial em relação ao plano frontal,
permitindo o deslocamento lateral/medial e proximal/distal da tuberosidade tibial;
e osteotomia parcial, quando o osso e periósteo distais permanecem intactos,
melhorando a estabilidade do fragmento osteotomizado, reduzindo tempo
cirúrgico, além de não necessitar de aplicação de banda de tensão. Essa técnica
só é indicada nos casos em que a torção interna ou externa da tuberosidade
tibial seja de, no máximo, 20º. Nos casos em que o ângulo de torção tibial seja
superior a 20º é indicado realizar osteotomia da tíbia proximal como técnica
cirúrgica corretiva (Petazzoni, 2015).
No presente caso, pelo fato de a tíbia apresentar torção externa de 10º foi
possível utilizar a técnica de osteotomia da tuberosidade tibial. Optou-se pela
técnica de osteotomia parcial da tuberosidade tibial (4Ts), por conta das
vantagens desta técnica em relação a osteotomia total, citadas anteriormente
por Petazzoni (2015): maior estabilidade do fragmento osteotomizado, menor
tempo cirúrgico e menor colocação de implantes.
Em 2015, Petazzoni realizou estudo retrospectivo, avaliando as respostas
clínica e radiográfica a curto prazo da técnica TTTT® em 19 cães com luxação
patelar medial graus 1 e 2, uni ou bilateral. Não foram incluídos cães que
apresentavam torção do fêmur distal, além da torção tibial proximal. Como
resultado do estudo observou-se claudicação menos evidente após duas
semanas de pós-operatório e recuperação funcional do membro completa em
todos os pacientes após oito semanas. Não foi observada recidiva da luxação
patelar. Com oito semanas de pós-operatório foi observada consolidação
completa da região osteotomizada em todos os cães, através de avaliação
radiográfica.
Já a técnica de osteotomia total da tuberosidade tibial apresenta maiores
taxas de complicações, como mostra o estudo retrospectivo de Stanke et al.
2014, em que foi avaliado os fatores de risco para desenvolvimento de
complicações após transposição da tuberosidade tibial em 113 cães com
luxação medial de patela. As complicações observadas foram: 18.2% com
irritação de tecidos moles, 12.4% com reluxação patelar, 1.5% com infecção de
67
tecidos moles. Foi realizado raio X pós operatório em 65 joelhos, dos quais:
24.6% tinham migração do implante e 13.8% tinham falha do implante. Através
de telefone ou email, entraram em contato com os tutores de 35 pacientes, que
relataram: 91.4% não tiveram complicações pós cirúrgicas, 5.7% apresentaram
claudicação menos severa do que antes da cirurgia e 2.9% necessitaram
remover o implante em outro hospital.
Avaliando os resultados encontrados por Petazzoni, 2015 e Stanke et.al.,
(2014), podemos notar que a osteotomia parcial apresentava vantagens e menor
taxa de complicações quando comparada a osteotomia total da tuberosidade da
tíbia. No presente caso, obtivemos consolidação total com 60 dias de pós-
operatório, não houve recidiva da luxação patelar e não houve migração do
implante. Uma desvantagem da técnica de 4Ts é a curva de aprendizado maior,
pois inicialmente aprender a usar o distrator ósseo pode aumentar o tempo
cirúrgico.
11. Conclusão
68
12. Referências
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71