Aprendendo A Estudar

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APRENDENDO A ESTUDAR: COMO ENFRENTAR OS OBSTÁCULOS

NA VIDA INTELECTUAL DO ESTUDANTE

Estudantes: Luan Rodolfo, Maria Carolina, Guilherme Escobar


Turma: 148B
Curso: Mecânica
Semestre: 3º
Disciplina: Educação Física
Orientador: Professor Paulo Braga

INTRODUÇÃO

Não é novidade que a educação brasileira trilha um caminho incerto e percorre


estradas nefastas, de tal forma que o sistema de avaliação educacional mais importante
do mundo, o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), mostrou em
2018, que o Brasil está estagnado há uma década entre os países com o pior nível de
aprendizado na educação básica. O levantamento, feito pela Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), revela que mais da metade dos
estudantes brasileiros com 15 anos de idade não tem capacidade de compreender o que
leem nem possuem conhecimentos básicos de matemática e ciências.
Como dizia José Monir Nasser “Uma sociedade não pode ser rica antes de ser
inteligente”, portanto, essa defasagem na educação afeta a longo prazo o futuro da nação
bem como, mais diretamente e a curto prazo, os estudantes. Observando a situação do
ensino médio e fundamental brasileiro é possível apontar um fenômeno preocupante: há
milhares de alunos mas poucos estudantes. Para Pierluigi Piazzi (2015), aluno e estudante
possuem significados distintos, aluno é aquele que assiste aula, logo trata-se de um
processo coletivo e passivo, já o estudante é aquele que estuda, portanto, trata-se de um
processo solitário e ativo. A aula tem o objetivo de proporcionar o entendimento, não o
aprendizado, este é feito individualmente, quando o agente deixa de ser aluno e assume o
papel de estudante.
Assim como Mortimer J. Adler (1972, p. 34) ressaltou “o professor consegue
fazer muita coisa por seus alunos, mas quem tem de aprender são eles. O conhecimento
só frutifica na mente deles caso o aprendizado ocorra”.
Desta forma, grande parte daqueles que se encontram na escola, estão à beira da
ruína intelectual, veem aula de forma passiva, se estudam, o fazem pouco tempo antes do
exame, se conseguem a aprovação, pouco tempo depois esquecem de todo o conteúdo.
É inegável a dificuldade dos estudantes com o planejamento e execução dos
estudos. Contudo, não cabe ao estudante, e nem é a finalidade do trabalho, mudar a
educação brasileira, ao estudante cabe o ofício do papel e da caneta, mudar a si mesmo
se não pode mudar o mundo, o objetivo do trabalho é auxiliar os estudantes a alcançar a
autossuficiência no trabalho intelectual, através de pesquisas científicas e métodos de
estudo, independentemente das circunstâncias em que se encontram.
Como já abordado por Jules Payot (2018, p. 23):

A causa de quase todos nossos fracassos, de quase todos nossos males,


é uma só: a fraqueza da vontade. É nosso horror do esforço,
principalmente do esforço prolongado. Nossa passividade, nossa
leviandade, nossa dissipação, são outros tantos nomes para designar
esse fundo de universal preguiça que é para a natureza humana o que é
o peso para a matéria.

Assim como a hipótese do autor a do trabalho é de que os estudantes conseguem


lidar com esforços intensos, mas isolados, contudo, não com esforços moderados, mas
contínuos e regulares.
O trabalho contínuo e regular consome uma quantidade de energia muito maior,
apresenta um desgaste mesmo que pequeno, mas sempre constante, e por consequência
acaba demandando mais do que grandes desgastes separados por longos períodos de
repouso. Do mesmo modo, quase todos os estudantes ociosos, impelidos pela
aproximação das provas, podem fazer um grande esforço. O que lhes incomoda são os
esforços moderados mas repetidos dia após dia (PAYOT, 2018).
E assim como em qualquer atividade da vida, no trabalho intelectual, é a
construção diária e prolongada que dá resultados. Para entender melhor o conceito, é
necessário olhar para o cérebro humano:
No miolo há o sistema límbico, com diversas estruturas, nas quais se destaca uma
região chamada hipocampo, de extrema importância para a memória de curto prazo.
Envolvendo o sistema límbico, há o córtex, área fundamental para a memória de longo
prazo. Armazenar informações no sistema límbico é muito fácil, contudo, apagá-las é
mais fácil ainda. Já no Córtex, é muito difícil de armazenar informações, mas uma vez
armazenadas, dificilmente serão apagadas. Isso ocorre porque uma informação se torna
conhecimento, apenas se as redes neurais do córtex forem reconfiguradas. Algumas
Sinapses precisam ser desfeitas e outras ativadas, dendritos morrem ou nascem, caminhos
são refeitos. Consequentemente, a estrutura física do cérebro precisa ser alterada
(PIAZZI, 2015).
A memória de longo prazo, armazenada no córtex, é portanto, formada somente a
partir da repetição e da revisão do conteúdo de maneira contínua, porém moderada, uma
vez que, poucas informações sobrevivem a uma noite de sono, de horas de estudo pouco
conteúdo é retido. Tanto quanto a indolência, o exagero é um inimigo nos estudos e um
obstáculo na vida intelectual, passar mais de 3-4 horas estudando leva ao esgotamento
mental, e consequentemente a diminuição do rendimento, é importante lembrar: estudar
é mais sobre qualidade do que quantidade.
A hipótese, no entanto, é multifatorial, a abulia e a displicência no estudante tem
diversas causas, e podem ser divididas em intrínsecas e extrínsecas ao processo de
aprendizagem. É importante ressaltar que, tal divisão está sendo feita por conveniência,
pois os fatores são indissociáveis entre si, e entre o processo de aprendizagem.
Como ilustrado no Fluxograma 1, os fatores intrínsecos são aqueles intimamente
ligados ao estudo em si, envolvem o planejamento e a execução do trabalho intelectual,
contudo, para que haja o aprendizado ideal, o instrumento responsável pela aquisição de
conhecimento, o cérebro, precisa de condições sob as quais seja de capaz trabalhar, ou
seja, de alterar sua atividade em resposta a estímulos intrínsecos ou extrínsecos,
reorganizando sua estrutura, funções ou conexões (neuroplasticidade1) e capaz de
produzir novos neurônios (processo de neurogênese2), e aí entram os fatores extrínsecos,
que são hábitos que promovem a neuroplasticidade e a neurogênese, ou o bom
desempenho do cérebro no aprendizado.

1
Conceito utilizado na Neurociência.
2
Conceito utilizado na Neurociência.
Fluxograma 1 – Fatores intrínsecos e extrínsecos no Processo de Aprendizagem

Fonte: Elaborado pelos autores (2023).

A base de qualquer estudo está no planejamento, um dos fatores intrínsecos, nesse


sentido, Michel Coéffe (1996, p. 90) afirma:

Quando você organiza e visualiza seu dia, seu cérebro se prepara e já


funciona para as tarefas que se seguirão; em particular, nele instala-se
uma espécie de cronômetro biológico que estabelece um ritmo: os
trabalhos, assim, são realizados com maior rapidez e de maneira mais
eficaz, mas também de modo mais gratificante, pois você sabe para
onde está indo, o que reforça sua autoconfiança.

A falta de organização prévia é um grande aliado da procrastinação e enorme


obstáculo para o trabalho intelectual. Alves e Oliveira (2018, p. 9), a partir de uma leitura
de Clifford Thomas Morgan indicam uma solução simples e eficaz:

... o uso de uma agenda previamente estabelecida...Essa agenda deve


ser feita com antecedência de pelo menos um dia e nela deve conter a
data do dia ao qual ela corresponde e todos os horários desse dia, desde
a hora que o sujeito acorda até a hora de ir dormir. Nesta agenda o
indivíduo colocará suas tarefas obrigatórias como: comer, trabalhar, ir
ao mercado, lazer, banho, etc. Após colocado as coisas indispensáveis
na agenda, aquelas atividades que você não pode deixar de fazer você
contabilizará os espaços que sobrarem na agenda e colocará neles as
horas de estudo que achar necessária para aquele dia.

Portanto, com o planejamento realizado, onde será determinado o material de


estudo e a duração, bem como o método (tema a ser abordado de maneira mais completa
posteriormente no trabalho), o estudante deve realizar a execução correta, isto é, seguir à
risca as atividades da agenda. Essa etapa do processo envolve também a compreensão dos
princípios neurológicos do aprendizado abordados anteriormente, a execução deve ser
feita de maneira eficaz, visando a retenção do conteúdo e não o excesso, o estudante se
desgasta, mas não chega ao esgotamento mental. Pierluigi Piazzi( PIAZZI, 2015, p.39)
explica que:

Um neurônio, no fundo, é um fantástico dispositivo eletroquímico que


funciona como uma chave que permite, dependendo de determinadas
condições, a passagem de um pulso elétrico para outros neurônios,
abrindo ou fechando circuitos. Ele recebe informações através dos
dendritos e, de acordo com a intensidade com a qual elas chegam,
dispara um pulso elétrico, através do axônio, para ativar os dendritos de
outro neurônio por meio de ligações denominadas sinapses. No
neurônio há algumas substâncias químicas essenciais ao seu
funcionamento que, em caso de utilização intensa, podem se esgotar em
30 ou 40 minutos. Para que possa continuar desempenhando seu papel
no cérebro, é necessário que tenha tempo para se recompor, ou seja,
reabastecendo-se daquelas substâncias, cuja falta o haviam tornado
ineficiente. Essa ineficiência pode ser percebida por um fenômeno
muito frequente: você já está estudando há um bom tempinho e, de
repente, começa a ler um texto qualquer. Sem que você perceba, sua
atenção é desviada para outra linha de pensamento, mas,
paradoxalmente, você continua lendo!

Tendo isso em vista, métodos de estudo que envolvam o descanso são de extrema
valia para os estudantes. O método pomodoro3 é uma boa opção, consiste em estudar em
um período determinado, divido em blocos, onde parte do tempo de cada bloco é gasto
estudando, e uma pequena parte é dedicada ao descanso. No método original, 25 minutos
são dedicados as atividades e 5 ao descanso, contudo, esse tempo pode ser alterado de
acordo com a necessidade pessoal, podendo ser 40 ou 50 minutos de atividade, desde que
o descanso seja breve (não mais que 20 minutos, se o tempo de trabalho for muito
extenso), e que em sua execução não sejam realizadas atividades que tirem o foco do
estudante, como a utilização de aparelhos eletrônicos.
Técnicas que seguem esse princípio são de grande ajuda para aqueles que possuem
tempo escasso e horas vagas fracionadas ao longo do dia, bem como para os distraídos e
dispersos, pois permitem a flexibilidade e a concentração total durante os minutos de
estudo.
Entretanto, o que concerne os estudantes não são apenas os mecanismos do
processo de estudo em si, mas também fatores externos que influenciam no trabalho
intelectual. Mesmo após planejar-se de maneira correta, são muitos os relatos de: fadiga,
desatenção, tédio, frouxidão e fraqueza. São essas as consequências do descaso com os
fatores extrínsecos ao processo de aprendizagem, a tríade alimentação, sono e atividade
física. Ignora-las significa muitas vezes estar fadado ao fracasso, não dá para ter uma
rotina de estudos ordenada com uma vida desordenada.
Segundo o GSI Teaching & Resource Center sono adequado, boa nutrição e
exercícios regulares: esses hábitos saudáveis de bom senso promovem um ótimo
desempenho de aprendizado de duas maneiras. Primeiro, eles promovem a
neuroplasticidade e a neurogênese. Em segundo lugar, eles mantêm o cortisol e a
dopamina (hormônios do estresse e da felicidade, respectivamente) em níveis adequados.
Por outro lado, má qualidade do sono, má alimentação e falta exercícios podem realmente
reduzir a capacidade do cérebro para o desempenho acadêmico.

3
Técnica criada nos anos 1980 por Francesco Cirillo.
A alimentação é responsável por dar energia ao corpo humano, para que este
resista aos esforços diários, ela é portanto, de extrema importância para o bom rendimento
nos estudos, por outro lado, a má alimentação contribui para a defasagem no desempenho
do estudante. Nos dias de hoje, a grande parte da alimentação, principalmente dos jovens,
baseia-se em carboidratos simples4 e alimentos industrializados ricos em frutose. Uma
pesquisa realizada por Jennifer R. Pharr (2010), no Jornal de Saúde Pública de Nevada,
demonstrou que há uma relação significativa entre o consumo de carboidratos simples e
a fadiga5. Uma pesquisa da UCLA Health System (UCLA Health) mostrou que uma dieta
constantemente rica em frutose retarda o cérebro, dificultando a memória e o aprendizado.
O sono por sua vez, é um mecanismo de extrema importância para o aprendizado,
senão o mais importante, é durante o sono onde as memórias são consolidadas. Através
do sonho, a informação que foi armazenadas no sistema límbico costuma ser esquecida
(a memória de curto prazo), já as informações armazenadas no córtex, se transformam
em conhecimento e dificilmente são esquecidas (a tão importante para o estudante,
memória de longo prazo) (PIAZZI, 2015). Por isso, é importante cultivar um bom sono,
sua duração ideal varia de pessoa para pessoa, contudo, não deve ser de menos de 7 horas
por noite.
A atividade física, o terceiro fator extrínseco, produz novas células cerebrais no
hipocampo, que aumentam seu volume e auxiliam na memória de longo prazo. De
acordo com o National Center for Biotechnology Information (NCBI) as funções
cognitivas básicas relacionadas à atenção e à memória são aprimoradas pela atividade
física e maior condicionamento aeróbico. Sessões únicas e participação prolongada em
atividades físicas melhoram o desempenho cognitivo e a saúde do cérebro. Além disso,
a prática regular de exercícios aumentam a energia, o que é indispensável para o
estudante, e aliviam os estresses ocasionados pelo trabalho intelectual.
Considerando a discussão teórica apresentada e a hipótese da pesquisa, parte-se
para o estudo investigativo, com o objetivo de buscar comprovação empírica e apontar
possíveis soluções para o problemas apresentado, sendo assim um meio de auxiliar os
estudantes a alcançar a autossuficiência no trabalho intelectual.

METODOLOGIA

O público-alvo da pesquisa serão os estudantes do ensino médio integrado do


Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS), Campus Campo Grande.
Será efetuado estudo observacional de caráter qualitativo e quantitativo, através
da aplicação de questionários, para a compreensão do quadro geral dos estudantes do
IFMS em relação a perspectiva do trabalho, um para entender os principais erros dos
estudantes durante o processo de aprendizagem, em referência aos fatores intrínsecos que
foram apontados anteriormente, e outro para investigar os hábitos dos estudantes
relacionados ao processo de aprendizagem, em referência aos fatores extrínsecos também
apresentados anteriormente. A partir disso, será comprovada ou não a hipótese da
pesquisa. Junto ao estudo observacional será realizado levantamento bibliográfico na
literatura científica.

4
Os carboidratos devem ser classificados como simples (alto índice glicêmico/alta carga glicêmica) ou
complexo (baixo índice glicêmico/baixa carga glicêmica) (PHARR, 2010).
5
Fadiga é a sensação de falta de energia física ou mental, que resulta na incapacidade do indivíduo para
completar um atividade desejada (O’Conner, 2004).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ADLER, Mortimer. J.; DOREN, Charles Van. Como ler livros: o guia clássico para leitura
inteligente. Rio de Janeiro: E Realizações. 2014.

ALVES, Diego, OLIVEIRA, Paulo de Tarso. APRENDENDO A ESTUDAR: um olhar


científico sobre as formas de estudo. CONIC – SEMESP, 18º Congresso Nacional de
Iniciação Científica, 2018.

COÉFFÉ, Michel. Guia dos métodos de estudo. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

GSI Teaching & Resource Center. Neuroscience and How Students Learn. Disponível
em: https://gsi.berkeley.edu/gsi-guide-contents/learning-theory-research/neuroscience/.
Acesso em 08/04/2023.

MEC. Ministério da Educação. Pisa 2018 revela baixo desempenho escolar em Leitura,
Matemática e Ciências no Brasil. http://portal.mec.gov.br/ultimas-noticias/211-
218175739/83191-pisa-2018-revela-baixo-desempenho-escolar-em-leitura-matematica-
e-ciencias-no-brasil. Acesso em 07/04/2023.

NCBI - National Center for Biotechnology Information. Disponível em:


https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK201501/#:~:text=Basic%20cognitive%20func
tions%20related%20to,cognitive%20performance%20and%20brain%20health. Acesso
em 08/04/2023.

O’CONNER, Patrick. Evaluation of Four Highly Cited Energy and Fatigue Mood
Measures. Journal of Psychosomatic Research, 2004.

PIAZZI, Pierluigi. Aprendendo inteligência: manual de instruções do cérebro para


estudantes em geral. São Paulo: Aleph. 2015.

PAYOT, Jules. A educação da vontade. CEDET, Título original: L'éducation de la


volonté, 1894, 1ª edição, 2018.

PHARR, Jennifer R. Carbohydrate Consumption and Fatigue. Nevada Journal of Public


Health, University of Nevada, Las Vegas, 2010.

UCLA Health System. This is your brain on sugar: UCLA study shows high-fructose diet
sabotages learning, memory. Disponível em: https://www.uclahealth.org/news/high-
fructose-diet-sabotages-learning-memory. Acesso em 08/04/2023.

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