1 - Bases Epistemológicas Da Psicopedagogia
1 - Bases Epistemológicas Da Psicopedagogia
1 - Bases Epistemológicas Da Psicopedagogia
Bases Epistemológicas
da Psicopedagogia
Material Teórico
Parâmetros Epistemológicos
Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Luciene Oliveira da Costa Granadeiro
Parâmetros Epistemológicos
• Origens Epistemológicas;
• Epistemologia na Modernidade;
• A Epistemologia das Ciências Humanas.
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Introduzir os conceitos epistemológicos;
• Observar a transformação histórica da epistemologia;
• Perceber a dinâmica da epistemologia nas ciências humanas.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Parâmetros Epistemológicos
Origens Epistemológicas
A epistemologia é conhecida, de maneira mais comum, como teoria do conhe-
cimento e\ou filosofia das ciências. Essa diferença na conceituação já nos coloca
de saída com perguntas importantes sobre os estudos epistemológicos: ciência e
conhecimento são coincidentes? Filosofia e ciência são áreas comuns?
Roberto Rossellini foi um dos mais importantes diretores de cinema do século XX. Expoente
Explor
Por doxa, era entendido o conhecimento popular, mundano, algo que hoje se
assemelharia à opinião. Portanto, era uma forma de conhecer o que se multiplicava
pelas pessoas sem que fosse necessária a comprovação dos conteúdos comunica-
dos, expostos. A episteme, por sua vez, seria a manifestação de uma verdade, de
um conteúdo que, para ser exposto, precisava ser legitimado por alguns critérios
estabelecidos por um determinado grupo de pessoas.
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Importante! Importante!
Por mais que a história da epistemologia faça referência à Grécia Antiga e, consequen-
temente, às questões relacionadas à doxa e episteme, não podemos menosprezar os sa-
beres populares e enquadrá-los na esfera do “não conhecimento”. A produção de conhe-
cimento não se restringe aos espaços acadêmicos e é preciso olhar com atenção para os
acúmulos ancestrais e suas capacidades epistemológicas.
Diante dessa breve definição, algumas questões saltam: como é possível justificar
que algo é verdadeiro? É possível que algo seja justificado como verdadeiro e, no
entanto, alguém, ou um grupo de pessoas, não creia nessa validação? Aquilo que
não pode ser justificado pode ser tratado como conhecimento?
Epistemologia na Modernidade
A chamada era moderna da humanidade tem alguns eventos históricos, destacados
aqui especialmente os da parte ocidental, que transformariam radicalmente os modos
de vida e a própria percepção que a humanidade tem de si e de seu desenvolvimento.
A Revolução Francesa, que durou aproximadamente dez anos, entre 1789 e 1799,
notabilizou-se pela derrubada do regime monárquico francês que durava muitos sé-
culos. Em seu lugar, foi estabelecida a república democrática burguesa capitalista,
regime que se consolidou como paradigma político e persiste até os dias de hoje.
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UNIDADE Parâmetros Epistemológicos
A era burguesa tem o indivíduo como centro do universo, conferindo a ele toda
a potência de desenvolvimento da vida, dando a ele a responsabilidade pelo sucesso
e pelo fracasso do desenvolvimento da humanidade. Desse modo, a noção de co-
nhecimento figura-se em alinhamento com esta perspectiva: o saber, dentro dessa
linha de pensamento, concentra-se no sujeito e dele emana para outros sujeitos.
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sociedade. Essas lutas fazem o conhecimento ter uma parcela política fundamental,
onde os critérios de validação justificada da verdade não podem ser destituídos de
suas posições sociais.
A comuna de Paris durou pouco mais de três meses, no ano de 1871, e é considerada o primei-
Explor
Com a circulação cada vez mais rápida de pessoas e produtos, as cidades passam
a ter uma concentração populacional cada vez mais intensa. Mas, além disso, as infor-
mações também encurtam seu tempo e espaço para se disseminarem. Podemos assis-
tir, então, a uma transformação significativa na produção do conhecimento, posto que
os conteúdos fluem de maneira mais rápida e para um contingente maior de pessoas.
Essa aceleração, por um lado, facilita a circulação, por outro, tende à dispersão,
como ressalta David Harvey:
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UNIDADE Parâmetros Epistemológicos
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Com a noção de progresso como base, o conhecimento passa a mirar-se como
superação sucessiva de seus movimentos anteriores e, ao mesmo tempo, como
ferramenta inequívoca do esclarecimento. Essas premissas estabelecem um enca-
deamento epistemológico que esquematiza o pensamento, tratando tudo aquilo que
não se enquadra a esses princípios como destituídos de condições para o estatuto
do conhecimento.
Com isso, a subjetividade moderna aparece como que cindida, em crise, borrada
como o impressionismo de Monet, aparentemente centrada na estabilidade do su-
jeito burguês, amparada pela promessa de um futuro promissor, pavimentado pelo
progresso que se dará, contudo, completamente imerso no caos da fragmentação e
nos processos de inadequação em relação aos parâmetros universais burgueses e na
luta diante das formas sociais de exploração e opressão de uma classe contra outra.
As fake news são uma importante arma da comunicação contemporânea. Sua transmissão
Explor
instantânea e sua capacidade de reprodução viral conferem a esses conteúdos uma ampla
veiculação. Contudo, pela maneira como são concebidos, os critérios de validação dessas
informações são dispensados. Essa estratégia comunicacional perfura de maneira contun-
dente os parâmetros epistemológicos, posto que seus conteúdos não se estabelecem em
compromisso com a justificação de suas verdades.
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UNIDADE Parâmetros Epistemológicos
Figura 5 – Max Weber (1864-1920); Émile Durkheim (1858-1917); Karl Marx (1818-1883)
Fonte: Adaptado de Wikimedia Commons
Karl Marx
Karl Marx nasceu na Prússia no começo do século XIX, mas passou grande
parte de sua vida em Londres, no Reino Unido. As contribuições de Marx para o
pensamento são inúmeras com destaque para livros como O 18 Brumário de Luís
Bonaparte, O Manifesto Comunista, A Ideologia Alemã e, para muitos, a sua obra-
-prima, O Capital.
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materialismo histórico dialético. Nessa perspectiva, Marx investiga a produção do
conhecimento a partir de seu movimento constante e de sua relação intrínseca com
a história e com as relações sociais e produtivas.
Marx destaca que as ideias que circulam pela sociedade e conseguem se estabe-
lecer nos circuitos sociais, influenciando as pessoas, conformando leis, orientando
as instituições, moldando hábitos etc. não são naturais. Essas ideias correspondem
ao desenvolvimento histórico das ideias e da sociedade, onde uma influencia a outra
de modo constante. Diante disso, Marx salienta, por exemplo, que as ideias domi-
nantes de uma época tendem a se alinhar com os preceitos das classes dominantes,
posto que essas classes detêm monopólios na distribuição dos conteúdos.
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UNIDADE Parâmetros Epistemológicos
Bertolt Brecht foi um poeta, escritor, dramaturgo e diretor de teatro alemão. Considerado um
Explor
dos mais importantes artistas do século XX, Brecht viu a ascensão do nazismo na Alemanha
e teve que se exilar em diversos países mundo afora. Seu trabalho é reconhecido pela forte
influência do marxismo, em que tentava expor as contradições e os limites do capitalismo,
incluindo a arte como instrumento dessa dominação, mas, ao mesmo tempo, alçando-a a
uma perspectiva crítica desse mesmo sistema.
Explor
Foto da peça “Mãe Coragem”, de Bertolt Brecht com Helene Weigel (1949): http://bit.ly/2TFjpbk
Émile Durkheim
Émile Durkheim é mais um dos filhos da modernidade e, assim como seus co-
legas intelectuais, deparou-se com os problemas epistemológicos que seu tempo
lhe reservara. Dentre seus trabalhos mais importantes, destacam-se os livros Da
Divisão do Trabalho Social, As Regras do Método Sociológico e O Suicídio.
Apesar de o termo Sociologia ter sido cunhado pelo filósofo Augusto Comte,
um pouco antes, Durkheim é tido por muitos como um dos pioneiros nos estudos
sociológicos, tentando lhe atribuir métodos e parâmetros para sua validação cien-
tífica, ou seja, entendendo a Sociologia como uma ciência humana que estuda a
complexidade dos fenômenos sociais.
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Com essa maneira de encarar a relação entre sujeito e objeto, já se colocam
algumas questões epistemológicas importantes para o pensamento de Durkheim:
primeiro, é estabelecida uma dicotomia entre subjetividade e objetividade; segundo,
a necessidade da objetividade absoluta se afirma na supressão da subjetividade ana-
lítica. Ou seja, são estabelecidos parâmetros para a tentativa de uma neutralidade
científica, onde os fatos sociais podem ser depreendidos e analisados a partir de
determinados critérios metodológicos.
Os fatos sociais são, para Durkheim, tudo que é coletivo, coercitivo e produzido
fora do indivíduo. Como se vê, o estatuto de Durkheim se defronta com os pressu-
postos modernos de centralidade no indivíduo. Nessa base de pensamento, a per-
cepção do sujeito se dá por sua interação com outros sujeitos, com outras culturas,
com outras formas de percepção do mundo, coloca os indivíduos em relação cons-
tante com as regras, as normas e condutas sociais. Ou seja, o indivíduo aqui nessa
perspectiva não é um ser isolado que produz exclusivamente sua vida e conduz a
sociedade, para Durkheim, o indivíduo é fruto da sociedade.
Max Weber
O terceiro componente da tríade fundamental para o embasamento da sociolo-
gia ocidental é Max Weber, alemão que ultrapassou o século XIX chegando a viver
dois dos mais importantes momentos do século XX: a Primeira Grande Guerra
Mundial (1914-1918) e a Revolução Russa (1917).
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UNIDADE Parâmetros Epistemológicos
Por serem vinculadas aos sujeitos e suas multiplicidades, as ações sociais de Weber
eram variáveis e, portanto, suas respectivas classificações eram difíceis. Sendo assim,
formulou a noção de tipo ideal, que seria uma espécie de medida para estabelecer os
limites de determinados padrões sociais e, assim, poder enquadrá-los e classificá-los.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Vídeos
A Verdade sobre Marx
https://youtu.be/_bTt1S-SXKk
Tripé da Sociologia: Durkheim, Weber e Marx
https://youtu.be/T_tUOFvGEWg
Filmes
René Descartes, de Roberto Rossellini (1947)
Rossellini extrai trechos inteiros de algumas das obras fundamentais do pensador,
como O Discurso do Método (1637) e as Meditações Metafísicas (1641), para compor
as ações “dramáticas” do personagem. São procedimentos teóricos de Descartes, cuja
função seria fundar a autonomia do pensamento racional diante da fé. Vale dizer que,
naquela época, toda démarche racionalista tinha de ser, também, uma negociação com
a autoridade religiosa. Donde, nas Meditações, Descartes precisar, primeiro, ocupar-se
das provas da existência de Deus, para apenas depois afirmar que o Cogito (a Razão) se
sustenta por si só. “Eu sou, eu existo”, deduz, pelo simples fato de pensar. A conclusão
entrou para a história do conhecimento como a frase famosa “Penso, logo existo”.
Leitura
O Mal-estar nas Ciências Humanas
SAFATLE, V. O mal-estar das ciências humanas. Revista Cult.
http://bit.ly/2VNGRGf
Como Galileu inventou a Ciência Moderna
CAVALCANTE, P; VARGAS, M. Como Galileu inventou a Ciência Moderna.
Super Interessante.
http://bit.ly/2vbIjHw
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UNIDADE Parâmetros Epistemológicos
Referências
CASTAÑON, G. Introdução à epistemologia. São Paulo: Pedagógica e Universitá-
ria (EPU), 2007.
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