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Teorias Semióticas

da Imagem
Material Teórico
Semióticas: Leitura de Signos

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. João Elias Nery

Revisão Textual:
Prof. Esp. Claudio Pereira do Nascimento
Semióticas: Leitura de Signos

• Semiótica, Um Campo em Desenvolvimento;


• Semiótica Peirceana: O Mundo dos Signos;
• Saussure e a Semiologia dos Textos.

OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Conhecer os principais conceitos das teorias semióticas;
• Compreender semelhanças e diferenças entre as abordagens;
• Aplicar os conceitos a objetos contemporâneos.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de
aprendizagem.
UNIDADE Semióticas: Leitura de Signos

Semiótica, Um Campo em Desenvolvimento


Com efeito, nunca houve sociedade tão saturada por signos e mensagens
como esta. Se aceitamos o argumento de Debord sobre a onipresença
e a onipotência da imagem no capitalismo de consumo hoje, então as
prioridades do real tornam-se, no mínimo, invertidas, e tudo é mediado
pela cultura, até o ponto em que mesmo os “níveis político e ideológico
devem ser previamente desemaranhados de seu modo primário de re-
presentação, que é cultural. (...) tudo são imagens, tudo vem aos nossos
olhos com a imediatez das representações culturais, quanto às quais se
pode estar bastante seguro de que dificilmente constituiriam a própria
realidade histórica. Se queremos continuar a crer em categorias como a
de classe social, então temos que escavá-las no insubstancial reino sem
fundo da imaginação cultural e coletiva”. (JAMESON, 1995, p. 22-23)

A disciplina Teorias Semióticas da Imagem tem como principal objetivo apresen-


tar os conceitos das Semióticas e sua aplicação às imagens com as quais convive-
mos e trabalhamos cotidianamente, seja circulando pelos espaços públicos, consu-
mindo cultura ou desenvolvendo atividades profissionais.
Em um mundo globalizado, profundamente conectado e interdependente, as Te-
orias Semióticas, ou Teorias dos Signos, têm apresentado diversas possibilidades de
interpretação da realidade sígnica que se constrói a partir das imbricações culturais,
econômicas e sociais do mundo contemporâneo.
Os meios de comunicação de massa, nesse contexto, apresentam representa-
ções da realidade na qual circulam símbolos comuns a cidadãos e cidadãs de muitas
partes do mundo, interferindo nas identidades culturais, na comunicação e nas re-
lações sociais, que têm nestes símbolos comuns relevantes formas de conexão entre
diferentes grupos humanos, empresas, organizações e segmentos sociais.
Cores, nomes, lugares, bem como pessoas e instituições, passam a representar
o mesmo para pessoas de diferentes lugares. Vejamos alguns exemplos: Estátua da
Liberdade, Pelé, Google, entre muitos outros signos, participam do dia a dia ou têm
significado para cidadãos e cidadãs que vivem o mundo hiper conectado do século
XXI. Ao longo do Século XX e com maior presença nas primeiras décadas do sécu-
lo XXI, as representações culturais ganharam espaço e importância como questão
estética, política, econômica, social e tecnológica, abordando cada um de nós como
participante do processo da comunicação e da cultura e exigindo que sejamos
capazes de decodificar esse universo de signos que se apresenta diante de nossos
olhos e de nossos sentidos, estabelecendo novas cognições a cada momento.
Seguindo a afirmação de Jameson no início deste texto, temos a imagem como
elemento central do processo de representação da realidade, de certa forma reu-
nindo características para a transformação da realidade em símbolos adequados
às representações individuais e coletivas, como parte da natureza humana de ler a
realidade por meio de símbolos e estes configuram a substituição dos objetos e de
tudo o que compõe o mundo vivido.

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Aqui podemos fazer referência ao conceito de “Simulacro”, que procura inves-
tigar o desenvolvimento de signos que não têm referentes, não são representação
de um objeto ou um dado de realidade, pois representam-se a si mesmos, como si-
mulação em um mundo em que o simulacro teria substituído a realidade, o que tem
relação com o conceito de “Sociedade do Espetáculo”, uma espécie de simulacro,
de simulação, em que a vida passaria a ser substituída por um grande espetáculo,
encenado por e para todos nós.

A indicação, na ementa existente no Plano de Ensino da disciplina, do “Simu-


lacro” e do “Espetáculo”, faz referência a esses pontos de contato entre as Semió-
ticas e outras abordagens. Simulacro, como informamos no parágrafo anterior, é
um conceito desenvolvido por Jean Baudrillard, filósofo francês influenciado pelo
Estruturalismo, e, portanto, ligado à obra de Saussure. A ideia de Espetáculo deve
ser vinculada ao conceito de “Sociedade do Espetáculo”, criação do filósofo francês
Guy Debord, também influenciado pelo estruturalismo, porém com viés marxista
em sua crítica à sociedade contemporânea, na qual se sucederiam espetáculos,
substituindo a vida verdadeira.

A comunicação como área de estudos incorporou diferentes metodologias, ge-


ralmente desenvolvidas inicialmente na Europa ou nos EUA. As Semióticas fazem
parte desse conjunto e passaram a relacionar-se com outras abordagens de estudo
de objetos comunicacionais. Com a expansão das mídias audiovisuais e a onipresen-
ça da imagem nos diversos campos da vida, as Semióticas passaram a estudar esse
“mundo das imagens” como representações que se colocavam no lugar da realidade.

Falamos de Semióticas, pois há, claramente, desenvolvimentos diferentes para


esse segmento de pesquisa acadêmica. Seguindo um procedimento comum ao
Século 20, pesquisadores nos EUA e na Europa investigaram fenômenos utilizan-
do metodologias que têm semelhanças, ou que buscam compreender os objetos a
partir dos mesmos parâmetros.

A Semiótica Peirceana, desenvolvida por Charles S. Peirce, construiu-se a partir


dos estudos desse filósofo e estudioso da lógica. A Semiótica ou Semiologia Saus-
suriana, desenvolvida por F. Saussure, partiu dos estudos deste acerca da linguísti-
ca, que, como veremos mais adiante, foram fundamentais para a criação do méto-
do estruturalista. A Semiótica Peirceana aplicou-se com maior ênfase às imagens e
a de Saussure, ao texto, embora, posteriormente outros estudos tenham vinculado
tais teorias a todas as formas de representação existentes.

No Brasil, tais linhas de pesquisa foram implantadas na PUC/SP e na FFLCH/


USP. Na PUC, depois de um período de estudos, a Semiótica Peirceana foi a do-
minante, gerando, no curso de Comunicação e Semiótica, linhas de pesquisa con-
sistentes, formando gerações de pesquisadores responsáveis por estudar a obra de
Peirce e aplicá-la à realidade comunicacional brasileira. Na USP, o curso de Letras
adotou a Semiótica Saussureana como referência para os estudos linguísticos, con-
solidando no Brasil as leituras iniciais de textos e imagens.

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UNIDADE Semióticas: Leitura de Signos

As Semióticas buscam, ao analisar a sociedade, identificar o SIGNO, ou seja,


tudo o que nos cerca, em termos de imagem e de comunicação, objetivando com-
preender as relações que se estabelecem no processo de apreensão da realidade por
um sujeito. As nomenclaturas são diversas e a compreensão das relações também,
o que requer de nós esforço para, primeiramente, compreender os conceitos para,
posteriormente, aplicá-los ao mundo das imagens e das representações sociais.

Semiótica Peirceana: O Mundo dos Signos


A pesquisadora brasileira Lucia Santaella dedica-se, há décadas, a estudar a obra
de Peirce e sua aplicação ao contexto cultural brasileiro. Para esta autora, é possível
verificar um processo de expansão dos signos na sociedade contemporânea, como
resultado da urbanização e da vida moderna e, como parte desse novo modo de
vida, a oferta de tecnologias da informação e da comunicação, definidos pela autora
como “tecnologias de linguagem”. Esse processo coincide com o desenvolvimento
da Semiótica Peirceana e oferece aos pesquisadores que trabalham com esta ci-
ência analisar os signos em evolução e expansão. Ainda seguindo a interpretação
de Santaella, temos que o espaço hipermídia, as redes digitais de comunicação,
a midiatização da vida e o uso da imagem pelo marketing associado a empresas,
pessoas, instituições, lugares, política, tornam mais complexo e onipresente esse
mundo dos signos e é preciso decifrar sua existência e utilização. Daí a necessidade
de uma semiótica aplicada, o que procuraremos realizar nas próximas unidades,
nas quais os conceitos aqui apresentados serão utilizados na análise de objetos da
realidade, nas relações entre objeto, interpretante e signo. O percurso exige cui-
dado, como adverte Santaella (2018, p. XIX), ao abordar a aplicação da teoria dos
signos de Peirce:
Seus conceitos são lógicos, definidos com precisão matemática, geomé-
trica. São muito gerais e abstratos, de acordo com aquilo que prescreve
uma teoria filosófica que se quer científica. Por isso mesmo, é difícil traba-
lhar com esses conceitos. Além do mais, especialmente quando falta um
conhecimento mais profundo dos fundamentos e implicações filosóficas
desses conceitos, seu uso pode degenerar em uma mera pirotécnica ter-
minológica estéril.

"Aula de Semiótica”. No vídeo há apresentação de conceitos gerais da Semiótica, com


Explor

exemplos. Disponível em: https://youtu.be/HAiJdDg0d5Q

O mais relevante para tratarmos nesta unidade é a constituição de tricotomias


por Peirce, ou seja, relações triádicas em torno do signo. A relação mais relevante
é aquela que indica a existência da tríade índice, ícone e símbolo. Vamos definir
esses elementos:

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Ícone
O ícone representa o objeto por semelhança. Quando afirmamos que algo é icô-
nico, estamos afirmando que o ícone está no lugar do objeto, tem semelhança com
este, porém não o substitui, ou seja, tem semelhança, mas não todas as qualidades
do que é representado.

Ao contrário do que muitos afirmam, um ícone não é necessariamente uma ima-


gem, apesar de ser mais evidente haver relação de uma imagem com o objeto. Uma
foto de um “VESTIDO”, exemplo que utilizaremos também para tratar de índice e
símbolo, estabelece uma relação de semelhança com o objeto “VESTIDO”. Se no
nosso exemplo for um vestido vermelho, curto, decotado, vestido por uma mulher
jovem em uma festa, a interpretação será diferente daquela na qual estiver um ves-
tido longo, branco, vestido por uma mulher em uma igreja. Nossa relação com a
realidade nos levaria a interpretar de diferentes maneiras esses ícones.

Por outro lado, um som, gesto, cheiro, uma sensação tátil, podem trazer seme-
lhança com seus objetos. Aquela imagem do “VESTIDO” pode trazer recordações
e associações com tecidos, situações vividas direta ou indiretamente, dando vida a
sons ou cheiros que inserem a palavra em novos contextos. É muito comum que
marcas associem empresas e produtos a imagens, logotipos, mas há casos de mar-
cas que são lembradas por sons ou cheiros e que nos levam a relacionar estas ca-
racterísticas a determinadas marcas. Há marcas que utilizam sons e imagens, o que
potencializa o reconhecimento da empresa ou do produto. É o caso, por exemplo,
de emissora de tevê brasileira, que tem um logotipo bastante difundido, que, asso-
ciado ao som “plin plin”, gera reconhecimento e auxilia o telespectador a perceber
que o programa exibido, que estava no intervalo, volta a ser apresentado. Nesse
caso, se o telespectador está momentaneamente sem alcance visual, é atraído pelo
som para voltar a olhar para o aparelho de tevê.

Índice
Um signo indicial leva à relação do signo com o objeto por meio de marcas do
objeto existentes naquele signo. São relações de contiguidade. É uma relação de
causa e efeito, um indício de que algo que ocorreu, está ocorrendo ou vai acontecer.
Ao ter contato com o signo indicial, associamos mentalmente aquele índice a uma
outra situação, resultado ou influenciada por esta. Dessa forma, o signo indicial
depende, fundamentalmente, da capacidade de interpretação das mensagens, o
que relaciona o signo à cultura. Voltemos ao nosso exemplo do “VESTIDO”. Em
que sentido ele pode ser índice de algo? Vamos agora inserir no “VESTIDO” uma
marca, de uma grife, ou, ainda, vamos observar que o vestido está rasgado em uma
parte que cobriria os seios da mulher que o teria usado. Esta seria uma marca, um
índice de que algo ocorreu com o vestido e com quem o vestia. Poderia ser sinal de
violência? Ou apenas um acidente que teria produzido o sinal? A imagem do ves-
tido não nos garante a interpretação correta. Para isso precisaríamos do contexto,
que, na situação hipotética que criamos, não foi apresentado. Como na cena de um

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UNIDADE Semióticas: Leitura de Signos

crime, poderíamos ter o vestido rasgado como parte de uma situação investigada.
Indicialmente, utilizaríamos o vestido como pista. Além da área danificada, nele
poderia haver outras marcas, como impressão digital, sangue.

Símbolo
Os símbolos são resultado de convenções. Como seres simbólicos, convencio-
namos que determinados objetos significam algo. Isso é verdade para as diferentes
línguas existentes, por meio das quais grupos humanos compartilham significados
e que são definidas por convenções. A palavra “VESTIDO” é uma convenção que
faz sentido na língua portuguesa e, para as pessoas que a compreendem, remete a
determinados símbolos que têm como referente a moda feminina, pois, ao menos
na cultura brasileira, esse objeto é utilizado para vestir mulheres e modificações
nesse sistema cultural demandariam modificações no objeto que está na origem da
palavra. Importante ressaltar que os símbolos tendem a fixar representações para
que estas associem objetos a símbolos comuns. As modificações ocorrem, pois a
cultura e a realidade passam por mudanças, porém, quanto mais um símbolo tem
estabilidade, maior sua capacidade de representação, o que não elimina a utilização
metafórica, poética ou de outra natureza, nas quais o símbolo pode ganhar novos
significados. Temos aqui como questão principal o fato de o símbolo representar
um objeto comum, que, por convenção, leva a determinadas associações de ideias.
No nosso exemplo, o “VESTIDO” tende a criar associações de ideias baseadas em
nossas experiências. Podemos lembrar de um vestido que marcou um momento, o
casamento de alguém, por exemplo.

Concluindo essa breve apresentação da tríade ícone, índice, símbolo, apresen-


tamos uma imagem da bandeira do Brasil, na qual estão representados alguns dos
sentidos desses conceitos, associados à bandeira como ícone, índice e símbolo:

Figura 1
Fonte: Wikimedia Commons

• Ícone: É o signo identificado por semelhança com o objeto representado. Tem


qualidades do objeto. A bandeira ressalta as cores que associamos a caracterís-
ticas do Brasil, que tem nas cores verde, amarelo e azul seu ponto de referência.

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Além disso, o slogan “Ordem e Progresso” também é um ícone de um tipo de
sociedade que almejamos ser.
• Índice: Compartilha com o objeto uma característica, levando, por contiguida-
de, a uma relação de causa e efeito. Se vejo a bandeira brasileira, eu a identifico
com o país que ela representa.
• Símbolo: Por convenção, entendemos que determinado signo tem significado
específico. A bandeira do Brasil é um símbolo, identificado pelos brasileiros e
por muitos outros povos.

A Semiótica Peirceana é extremamente complexa e apresentamos, até aqui,


uma questão central para a análise de imagens. Como ciência dos signos, a Semi-
ótica se ocupa, entre outras coisas, de nos orientar na interpretação dos signos,
buscando significados aos objetos do mundo, inclusive as imagens. Como ciência
da linguagem, a Semiótica Peirceana acompanha o desenvolvimento de novas lin-
guagens, auxiliando no processo de codificação e interpretação destas e dos signos
produzidos pela sociedade.

Saussure e a Semiologia dos Textos


F. Saussure desenvolveu, no Curso de Linguística Geral, um conjunto de refle-
xões a partir do qual surge a semiologia, influenciando também o Estruturalismo
francês. Mesmo o conceito de simulacro, de Baudrillard, citado anteriormente, é
parte desse desenvolvimento.

Iniciação à Semiologia Saussuriana. No vídeo há apresentação de conceitos gerais da


Explor

Semiótica Francesa, com exemplos. Disponível em: https://youtu.be/c5D1UGk5Qm0

Figura 2 – Ferdinand de Saussure (1857-1913)


Fonte: Wikimedia Commons

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UNIDADE Semióticas: Leitura de Signos

Iniciamos a apresentação da Semiótica Saussuriana fazendo menção ao Curso


de Linguística Geral (1916), publicação póstuma feita a partir de anotações redigi-
das por alunos que frequentaram três cursos lecionados por Saussure entre 1907
e 1911. Nela há indicações dos conceitos que posteriormente dariam origem ao
modelo teórico estruturalista e à Semiótica ligada a Saussure.

Quanto ao Estruturalismo, Saussure definiu como conceitos fundamentais os


princípios de SISTEMA E ESTRUTURA, daí a denominação Estruturalismo. Para
ele, sistema é um conjunto de elementos que obedecem a certos princípios de fun-
cionamento dentro de um todo, que se apresentaria de maneira coesa e coerente.

Tais conceitos foram aplicados, inicialmente, à linguagem e, principalmente, à


língua como fenômeno social e cultural, o que levou Saussure a entender a língua
como um sistema, composto por unidades inter-relacionadas que obedecem a prin-
cípios e regras estabelecidas internamente. Tal sistema incorpora a noção de es-
trutura ao estabelecer que cada elemento ocupa uma função no sistema. Para que
isso ocorra, relações ocorrem entre este e os demais elementos que compõem o
sistema. O exemplo usado por Saussure e repetido à exaustão por seus estudiosos
é o do jogo de xadrez, no qual as posições se estabelecem na relação entre as peças
que estão no tabuleiro.

Estas noções, transpostas para a língua por Saussure, têm duas questões bási-
cas: substância e forma. Para ele, o mais relevante é a forma, que define a estru-
tura e a posição dos elementos, seu funcionamento para a existência da língua.
A partir desse ponto, surge a ideia de SIGNO e dos sistemas de signos que com-
põem uma língua. As ideias de Saussure relacionaram, por muito tempo, a Semió-
tica ou Semiologia francesa, à análise dos signos verbais. Posteriormente, autores
como Roland Barthes, entre outros, utilizaram os mesmos conceitos na análise de
signos não verbais.

Como parte dos conceitos da Semiologia ou Semiótica, temos que o SIGNO é


constituído por SIGNIFICANTE e SIGNIFICADO, o primeiro seria a forma apre-
sentada por um signo, voltando ao exemplo do item anterior, “VESTIDO”, seria a
organização, a sequência que gera o SIGNIFICADO, o sentido, a imagem mental
gerada pelo SIGNIFICANTE. Nesse processo, destaca-se que há um processo de
associação que ocorre na mente humana, gerando uma imagem mental do signo.

O signo tem, também, como parte de sua constituição, os princípios da ARBI-


TRARIEDADE E DA IMUTABILIDADE, ou seja, os signos são resultado de con-
venções arbitrárias, partilhadas por um determinado grupo, que passa a entender,
por exemplo, que o signo verbal “VESTIDO” leva a significados que vinculam este
signo à moda e, especificamente, a uma peça feminina. Como construção social,
o signo tende a resistir às mudanças, que passam a depender do grupo e não da
vontade individual. O signo passa a ser uma lei, que só poderá ser modificada com
a participação coletiva.

Finalizando esta breve apresentação da Semiologia ou Semiótica Saussuriana, é


relevante destacar as relações que Saussure entende haver no plano sintagmático

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e paradigmático. O autor destaca que, ao utilizarmos a língua, duas operações são
realizadas, estruturando nossa fala em torno das unidades linguísticas a serem inse-
ridas no discurso e a combinação destas a serem apresentadas.

No plano sintagmático distribuímos as unidades linguísticas em uma estrutura


sintática que torne compreensível o que pretendemos dizer. Quanto ao plano pa-
radigmático, tais relações ocorrem por associação e por oposição entre elementos
que estão presentes e outros subentendidos no discurso. Tais distinções são feitas
pela mente humana, que estabelece, a partir do aprendizado, determinadas asso-
ciações gramaticais, semânticas etc.

Uma interpretação posterior que vincula a Semiologia de origem Saussuriana


à análise das imagens é a desenvolvida pelo pesquisador francês Roland Barthes,
que, a partir dos anos 1960, realizou estudos sobre mitos e sobre fotografia utilizan-
do o conceito de signo, que, para ele, é uma expressão em relação a um conteúdo.
Para Barthes, haveria um signo primário, caracterizado pela denotação, e um signo
secundário, que seria investido de conotação. A fotografia seria, para ele, signo
secundário, em função da possibilidade de conotação que a envolve.

Em um clássico texto, Barthes analisa a fotografia. Para ele, a fotografia de im-


prensa é uma mensagem que tem a redação como fonte emissora, o leitor como
receptor e o canal, que é o próprio jornal, este último definido como “um complexo
de mensagens concorrentes de que a foto é o centro”. Valendo-se dos conceitos
de Saussure, Barthes afirma que, como mensagem, a foto é “um objeto dotado
de autonomia estrutural”, considerando, porém, não se tratar de estrutura isolada,
formando uma totalidade com o texto. As duas estruturas são convergentes, porém
não podem se misturar. Os espaços que ocupam – foto e texto – são “contíguos, mas
não homogeneizados”. Nessa passagem Barthes aplica o conceito de contiguidade
formulado por Saussure, vinculando-o à fotografia jornalística, que, à época (anos
1960), tinha grande relevância para a disseminação da informação jornalística.

Em sua análise da fotografia, considera a relação significante/significado. Para ele,


a fotografia reproduz o real por analogia, operando reduções que não constituem
um código. A fotografia é “uma mensagem sem código” e é “contínua”. Diferente-
mente de outras artes visuais, a fotografia “seria a única a ser exclusivamente cons-
tituída e ocupada por uma mensagem denotada”. A conotação ocorreria, de acordo
com Barthes, “nos diferentes níveis de produção da fotografia: escolha, tratamento
técnico, enquadramento, paginação”. Nos procedimentos trucagem, pose, objetos,
Fotogenia, Estetismo, Sintaxe, “a conotação é produzida por uma modificação do
próprio real, isto é, da mensagem denotada”. Apresentamos a seguir os procedi-
mentos que inserem, de acordo com Barthes, conotação na mensagem fotográfica:
• Trucagem: “Ela intervém no próprio interior do plano de denotação sem avi-
sar; ela utiliza a credibilidade particular da fotografia, que não é, conforme se
viu, mais que seu poder excepcional de denotação, para fazer passar como
simplesmente denotada uma mensagem que na verdade é fortemente cono-
tada; (...) o código de conotação não é nem artificial nem natural: é histórico;

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UNIDADE Semióticas: Leitura de Signos

• Pose: O sujeito “prepara a leitura” da fotografia, fazendo com que o leitor


receba “como simples denotação o que de fato é uma estrutura dupla deno-
tada-conotada”;
• Objetos: Eles são “indutores correntes de associações de ideias ou símbolos.
O objeto possui um sentido”;
• Fotogenia: Embelezamento da imagem por meio de técnicas leva à conotação;
• Estetismo: A fotografia como objeto artístico;
• Sintaxe: Ao se ler uma sequência de fotos, novas conotações surgem na mente
do leitor.

Podemos utilizar estes conceitos ao analisar imagens de natureza diversa à da


fotografia jornalística, adaptando-os aos diferentes suportes e tecnologias. Desta-
camos a seguir alguns elementos aos quais recorreremos em outras unidades para
exemplificar a análise semiótica das imagens. De acordo com Barthes:
1. Na relação entre texto e imagem, ocorre uma inversão na medida em
que a imagem, na fotografia, é ilustrada pela palavra. O uso de manchetes
fotográficas “ilustradas” por legendas é um exemplo disso. Na publicidade
o mesmo pode ocorrer.
2. Há uma tendência à aproximação entre os códigos verbal e visual, elimi-
nando a possibilidade de um conotar o outro. O texto “só faz amplificar um
conjunto de conotações já incluídas na fotografia; mas às vezes também o
texto produz (inventa) um significado inteiramente novo e que é de algum
modo projetado retroativamente na imagem. Às vezes também a palavra
pode chegar até a contradizer a imagem de maneira a produzir uma cono-
tação compensatória”.
3. A leitura da fotografia “depende de uma língua verdadeira, inteligível so-
mente se aprendemos os seus signos”;
4. Tipos de conotações possíveis na fotografia: perceptiva, que coincide com
a conotação da linguagem; cognitiva: sua leitura depende do conheci-
mento que temos do mundo; ideológica: “introduz na leitura da imagem
razões ou valores”.

Com estas considerações sobre a relação entre semiótica e fotografia jornalística


encerramos esta apresentação das semióticas.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
Semiótica Aplicada
SANTAELLA, L. Semiótica Aplicada. São Paulo: Cengage Learning, 2018.

Vídeos
Significante e Significado: Introdução à semiótica (ou semiologia) de Saussure
https://youtu.be/mXMAU5Of4SI
Signos e Categorias
https://youtu.be/lomcJvKGy10

Leitura
A mensagem pela Imagem: Análise Semiótica das Fotografias Publicitárias da Coleção Verão 2007 da WJ Acessórios
OLIARI, D. E; ALMEIDA, M. A. C; BONA, R. J. A mensagem pela imagem: análise
semiótica das fotografias publicitárias da coleção verão 2007 da WJ Acessórios.
https://tinyurl.com/y2luy3tj

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UNIDADE Semióticas: Leitura de Signos

Referências
BARTHES, R. “A Mensagem fotográfica”. IN: LIMA, L. C. Teoria da cultura de
massa. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1978, p. 303-316.

JAMESON, Fredric. “Reificação e utopia na cultura de massa”. em:_____. As


marcas do visível. Rio de Janeiro: Graal, 1995.

LOPES, Ivã Carlos; HERNANDES, Nilton. Semiótica: objetos e práticas. São Paulo:
Contexto, 2005.

SANTAELLA, L. Semiótica Aplicada. São Paulo: Cengage Learning, 2018.

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