Manual de Economia de Desenvolvimento

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Economia Do Desenvolvimento

Curso de Administração Pública

2019

ENSINO ONLINE.
ENSINO COM FUTURO
Direitos de autor (copyright)

Este manual é propriedade do Instituto Superior de Ciências e Educação à Distância (ISCED), e


contém reservado todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total
deste manual, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico,
gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Instituto
Superior de Ciências e Educação à Distância (ISCED).

A não observância do acima estipulado o infractor é passível a aplicação de processos judiciais


em vigor no País.

Instituto Superior de Ciências e Educação à Distância (ISCED)


Direcção Académica
Rua Dr. Almeida Lacerda, No 212 Ponta - Gêa
Beira - Moçambique
Telefone: +258 23 323501
Cel: +258 82 3055839

Fax: 23323501
E-mail:[email protected]
Website:www.isced.ac.mz

i
Agradecimentos

O Instituto Superior de Ciências e Educação à Distância (ISCED) agradece a colaboração dos


seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste manual:

ii
Visão geral 1

Benvindo à Disciplina/Módulo de Economia de Desenvolvimento ..................................1


Objectivos do Módulo ……...................................................................................1
Quem deveria estudar este módulo .................................................................................1
Como está estruturado este módulo.................................................................................2
Ícones de actividade…………...............................................................................................3
Habilidades de estudo ……………….………………....................................................................4
Precisa de apoio? ...............................................................................................................6
Tarefas (avaliação e auto-avaliação) ……….........................................................................7
Avaliação ............................................................................................................................7

TEMA – I: SUBDESENVOLVIMENTO, DEMOGRAFIA E MIGRAÇÕES 9

UNIDADE Temática 1.1. Introdução ..................................................................................9


UNIDADE Temática 1.2. Subdesenvolvimento ………………….............................................16
UNIDADE Temática 1.3. Demografia …….........................................................................23
UNIDADE Temática 1.4. Migrações .................................................................................29

TEMA – II: POBREZA, DESIGUALDADE E CAPITAL HUMANO 40

UNIDADETemática2.1.Pobreza ..................................................................................40
UNIDADE Temática 2.2. Desigualdade ..............................................................................54
UNIDADE Temática 2.3. Capital humano............................................................................64

TEMA – III: ECONOMIA DOS PRODUTOS PRIMÁRIOS 76

UNIDADETemática 3.1. Sectores da Economia...............................................................76


UNIDADE Temática 3.2. Economia dos países subdesenvolvidos ...................................83
UNIDADE Temática 3.3. Condições necessárias para industrialização ..............................90

TEMA – IV: TEORIAS DE DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO 97

UNIDADE Temática 4.1. Introdução ao estudo das teorias de desenvolvimento económico


iii
............................................................................................................................................97

UNIDADE Temática 4.2. Relações de casualidade nas teorias de desenvolvimento


económico .......................................................................................................................116

UNIDADE Temática 4.3. Problemas de verificação em teorias de desenvolvimento


económico .......................................................................................................................124

TEMA – V: ESTRATÉGIAS ALTERNATIVAS DE DESENVOLVIMENTO 138


UNIDADE Temática 5.1. Os paradigmas de crescimento e desenvolvimento económico.138
TEMA – VI: O COMÉRCIO INTERNACIONAL E POLÍTICA COMERCIAL 177

UNIDADE Temática 6.1. Comércio Internacional..............................................................177


UNIDADE Temática 6.2. Política Comercial......................................................................191

TEMA – VII: GLOBALIZAÇÃO, FLUXOS DE CAPITAL E INSTITUIÇÕES INTERNACIONAIS 198

UNIDADE Temática 7.1. Globalização............................................................................198


UNIDADE Temática 7.2. Fluxos de Capital e instituições financeiras internacionais ....206

TEMA – VIII: POLÍTICAS DE AJUDA AO DESENVOLVIMENTO 227

UNIDADE Temática 8.1. Políticas da ONU, EU e SADC para o Desenvolvimento...........227

iv
Visão geral

Bem-vindo à Disciplina/Módulo Economia de Desenvolvimento

Objectivos do Módulo
Ao terminar o estudo deste modulo de economia de
Desenvolvimento deverá ser capaz de: demostrar domínio sobre
questões ligadas a economia e do desenvolvimento, caracterizar,
diferenciar e conhecer os campos de aplicação nas diferentes áreas
do saber. Apresentar e formular propostas de solução científicas
dos problemas ou desafios enfrentados pela sociedade donde
estiver inserida ou do mundo em geral, proporcionando e
contribuindo de forma positiva, na construção de um ambiente sã
de produção de conhecimentos e desenvolvimento harmonioso
entre os povos.

▪ Definir os conceitos de economia, desenvolvimento e outros


relacionados;

▪ Conhecer os diferentes campos de aplicação na


solução dos problemas da sociedade;

Objectivos Específicos
▪ Interpretar os fenómenos socioeconómicos e sugerir ou aplicar
os conhecimentos para montar estratégias de superação;

▪ Tomar a liderança nos processos de desenvolvimento


socioeconómicos locais, regionais e universais;

▪ Promover espirito de convivência sã na produção de


conhecimentos e no desenvolvimento harmonioso entre os
povos;

Quem deveria estudar este módulo

Este Módulo foi concebido para estudantes do 2º ano do curso de


licenciatura em Administração Pública do ISCED. Poderá ocorrer,
contudo, que haja leitores que queiram se actualizar e consolidar
seus conhecimentos nessa disciplina, esses serão bem-vindos, não

1
sendo necessário para tal se inscrever. Mas poderá adquirir o
manual.

Como está estruturado este módulo

Este módulo de Economia de Desenvolvimento, para estudantes do


2º ano do curso de licenciatura em Administração Pública, à
semelhança dos restantes do ISCED, está estruturado como se
segue:

Páginas introdutórias

▪ Um índice completo.

▪ Uma visão geral detalhada dos conteúdos do módulo,


resumindo os aspectos-chave que você precisa conhecer para
melhor estudar. Recomendamos vivamente que leia esta
secção com atenção antes de começar o seu estudo, como
componente de habilidades de estudos.

Conteúdo desta Disciplina / módulo

Este modulo está estruturado em 08 temas. Cada tema, por sua


vez, comporta certo número de unidades temáticas ou
simplesmente unidades. Cada unidade temática se caracteriza
por conter uma introdução, objectivos e conteúdo.

No final de cadaunidade temática ou do próprio tema, são


incorporados antes o sumário, exercícios de auto-avaliação, só
depois é que aparecem os exercícios de avaliação.

Os exercícios de avaliação tem as seguintes características: puros


exercícios teóricos/práticos, problemas não resolvidos e
atividades práticas algumas incluindo estudo de caso.

Outros recursos

A equipa dos académicos e pedagogos do ISCED, pensando em si,


num cantinho, recôndito deste nosso vasto Moçambique e cheio
de dúvidas e limitações no seu processo de aprendizagem,
apresenta uma lista de recursos didácticos adicionais ao seu
módulo para você explorar. Para tal o ISCED disponibiliza na
biblioteca do seu centro de recursos mais material de estudos

2
relacionado com o seu curso como: Livros e/ou módulos, CD,
CDROOM, DVD. Para além deste material físico ou electrónico
disponível na biblioteca, pode ter acesso a plataforma digital
moodle para alargar mais ainda as possibilidades de estudos.

Auto-avaliação e Tarefas de avaliação

Tarefas de auto-avaliação para este módulo encontram-se no final


de cada unidade temática e de cada tema. As tarefas dos exercícios
de auto-avaliação apresentam duas características: primeiro
apresentam exercícios resolvidos com detalhes. Segundo,
exercícios que mostram apenas respostas.

Tarefas de avaliação devem ser semelhantes às de auto-avaliação


mas sem mostrar os passos e devem obedecer o grau crescente de
dificuldades do processo de aprendizagem, umas a seguir a outras.
Parte das tarefas de avaliação será objecto dos trabalhos de campo
a serem entregues aos tutores/docentes para efeitos de correcção
e subsequentemente nota. Também constará do exame do fim do
módulo. Pelo que, caro estudante, fazer todos os exercícios de
avaliação é uma grande vantagem. Comentários e sugestões.

Use este espaço para dar sugestões valiosas, sobre determinados


aspectos, quer de natureza científica, quer de natureza didáctico
Pedagógica, etc., sobre como deveriam ser ou estar apresentadas.
Pode ser que graças as suas observações que, em gozo de
confiança, classificamo-las de úteis, o próximo módulo venha a ser
melhorado.

Ícones de actividade

Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas


margens das folhas. Estes ícones servem para identificar diferentes
partes do processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela
específica de texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança
de actividade, etc.

Habilidades de estudo

3
O principal objectivo deste campo é o de ensinar aprender a
aprender. Aprender aprende-se.

Durante a formação e desenvolvimento de competências, para


facilitar a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará
empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons
resultados apenas se conseguem com estratégias eficientes e
eficazes. Por isso é importante saber como, onde e quando
estudar. Apresentamos algumas sugestões com as quais esperamos
que caro estudante possa rentabilizar o tempo dedicado aos
estudos, procedendo como se segue:

1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de


leitura.

2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida).

3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e


assimilação crítica dos conteúdos (ESTUDAR).

4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua


aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o padrão.

5º Fazer TC (Trabalho de Campo), algumas actividades práticas ou


as de estudo de caso se existirem.

IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo,


respectivamente como, onde e quando estudar, como foi referido
no início deste item, antes de organizar os seus momentos de
estudo reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si:
Estudo melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo
melhor à noite/de manhã/de tarde/fins de semana/ao longo da
semana? Estudo melhor com música/num sítio sossegado/num
sítio barulhento!? Preciso de intervalo em cada 30 minutos, em
cada hora, etc.

É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido


estudado durante um determinado período de tempo; Deve
estudar cada ponto da matéria em profundidade e passar só ao
seguinte quando achar que já domina bem o anterior.

Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler


e estudar, que saber tudo superficialmente! Mas a melhor opção é

4
juntar o útil ao agradável: Saber com profundidade todos
conteúdos de cada tema, no módulo.

Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por


tempo superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora
intercalado por 10 (dez) a 15 (quinze) minutos de descanso
(chamase descanso à mudança de actividades). Ou seja que
durante o intervalo não se continuar a tratar dos mesmos assuntos
das actividades obrigatórias.

Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalho intelectual


obrigatório, pode conduzir ao efeito contrário: baixar o rendimento
da aprendizagem. Por que o estudante acumula um elevado
volume de trabalho, em termos de estudos, em pouco tempo,
criando interferência entre os conhecimentos, perde sequência
lógica, por fim ao perceber que estuda tanto mas não aprende, cai
em insegurança, depressão e desespero, por se achar injustamente
incapaz!

Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma


avaliação. Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda
sistematicamente), não estudar apenas para responder a questões
de alguma avaliação, mas sim estude para a vida, sobre tudo,
estude pensando na sua utilidade como futuro profissional, na área
em que está a se formar.

Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que


matérias deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que
resta, deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo
quanto tempo será dedicado ao estudo e a outras actividades.

É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será


uma necessidade para o estudo das diversas matérias que
compõem o curso: A colocação de notas nas margens pode ajudar
a estruturar a matéria de modo que seja mais fácil identificar as
partes que está a estudar e Pode escrever conclusões, exemplos,
vantagens, definições, datas, nomes, pode também utilizar a
margem para colocar comentários seus relacionados com o que
está a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir
à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura;
Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado
não conhece ou não lhe é familiar;

5
Precisa de apoio?

Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra razão, o
material de estudos impresso, lhe pode suscitar algumas dúvidas
como falta de clareza, alguns erros de concordância, prováveis
erros ortográficos, falta de clareza, fraca visibilidade, página
trocada ou invertidas, etc.). Nestes casos, contacte os serviços de
atendimento e apoio ao estudante do seu Centro de Recursos (CR),
via telefone, sms, E-mail, se tiver tempo, escreva mesmo uma carta
participando a preocupação.

Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes


(Pedagógico e Administrativo), é a de monitorar e garantir a sua
aprendizagem com qualidade e sucesso. Daí a relevância da
comunicação no Ensino a Distância (EAD), onde o recurso as TIC se
torna incontornável: entre estudantes, estudante – Tutor,
estudante – CR, etc.
As sessões presenciais são um momento em que você caro
estudante, tem a oportunidade de interagir fisicamente com staff
do seu CR, com tutores ou com parte da equipa central do ISCED
indigitada para acompanhar as suas sessões presenciais. Neste
período pode apresentar dúvidas, tratar assuntos de natureza
pedagógica e/ou administrativa.

O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30%


do tempo de estudos a distância, é muita importância, na medida
em que permite-lhe situar, em termos do grau de aprendizagem
com relação aos outros colegas. Desta maneira ficará a saber se
precisa de apoio ou precisa de apoiar aos colegas. Desenvolver
hábito de debater assuntos relacionados com os conteúdos
programáticos, constantes nos diferentes temas e unidade
temática, no módulo.

Tarefas (avaliação e auto-avaliação)

O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e


auto avaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é
importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues
duas semanas antes das sessões presenciais seguintes.

6
Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não
cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do
estudante. Tenha sempre presente que a nota dos trabalhos de
campo conta e é decisiva para ser admitido ao exame final da
disciplina/módulo.

Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os


mesmos devem ser dirigidos ao tutor/docente.

Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa,


contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados,
respeitando os direitos do autor.

O plágio1 é uma violação do direito intelectual do(s) autor(es). Uma


transcrição à letra de mais de 8 (oito) palavras do testo de um
autor, sem o citar é considerada plágio. A honestidade, humildade
científica e o respeito pelos direitos autorais devem caracterizar a
realização dos trabalhos e seu autor (estudante do ISCED).

Avaliação

Muitos perguntam: Com é possível avaliar estudantes à distância,


estando eles fisicamente separados e muito distantes do
docente/tutor!? Nós dissemos: Sim é muito possível, talvez seja
uma avaliação mais fiável e consistente.

Você será avaliado durante os estudos à distância que contam com


um mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os
conteúdos do seu módulo. Quando o tempo de contacto presencial
conta com um máximo de 10%) do total de tempo do módulo. A
avaliação do estudante consta de forma detalhada do regulamento
de avaliação.

Os trabalhos de campo por si realizados, durante estudos e


aprendizagem no campo, pesam 25% e servem para a nota de
frequência para ir aos exames.

Os exames são realizados no final da cadeira disciplina ou modulo e


decorrem durante as sessões presenciais. Os exames pesam no

1
Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária,
propriedade intelectual de outras pessoas, sem prévia autorização.

7
mínimo 75%, o que adicionado aos 25% da média de frequência,
determinam a nota final com a qual o estudante conclui a cadeira.

A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da


cadeira.

Nesta cadeira o estudante deverá realizar pelo menos 3 (três)


avaliações e 1 (um) exame.

Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizados


como ferramentas de avaliação formativa.

Durante a realização das avalições, os estudantes devem ter em


consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de
cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as
recomendações, a identificação das referências bibliográficas
utilizadas, o respeito pelos direitos do autor, entre outros.

Os objectivos e critérios de avaliação constam do Regulamento de


Avaliação.

8
TEMA – I: SUBDESENVOLVIMENTO, DEMOGRAFIA E MIGRAÇÕES
UNIDADE Temática 1.1. Introdução
UNIDADE Temática 1.2. Subdesenvolvimento.
UNIDADE Temática 1.3. Demografia

UNIDADE Temática 1.4. Migrações

UNIDADE Temática 1.1. Introdução


Introdução

Economia do desenvolvimento é um ramo da economia que se


concentra em melhorar as economias dos países em
desenvolvimento. Esta considera como promover o
crescimento económico, melhorando factores como saúde,
educação, condições de trabalho, políticas domésticas e
internacionais e condições de mercado nos países em
desenvolvimento. Ele examina os factoresmacroeconómicos e
microeconómicos relacionados à estrutura de uma economia
em desenvolvimento e como essa economia pode criar um
crescimento efectivo nacional e internacional.

Ao estudar esta unidade temática, pretende-se de uma forma


inicial, que o aluno tenha conhecimentos básicos e gerais que
lhe permitirão de forma lógica posicionar-se na área de
economia e desenvolvimento e por isso mesmo que, ao
completar esta unidade, você deverá ser
capaz de:

▪ Definir os principais conceitos relacionados com economia e desenvolvimento;


▪ Entender os fenómenos socioeconómicos;
Objectivos ▪ Conhecer os grandes campos de aplicação.
específicos

Desenvolvimento
Na actualidade com desenvolvimento da ciência, vários são os
conceitos que podem ser encontrados quando se faz uma
pesquisa. Mas para este trabalho, assumimos a ideia de
Abramovay (2002), que diz que Economia é uma ciência que

9
estuda os processos de produção, distribuição, acumulação e
consumo de bens materiais. É a contenção ou moderação nos
gastos, é uma poupança.

No sentido figurado, economia significa o controle para evitar


desperdícios em qualquer serviço ou actividade.

Ainda de acordo com Abramovay (2002), o conceito de


economia engloba a noção de como as sociedades utilizam os
recursos para produção de bens com valor e a forma como é
feita a distribuição desses bens entre os indivíduos.

Para Baruco (2006), escassez de recursos sugere a ideia de que


os recursos materiais são limitados e que não é possível
produzir uma quantidade infinita de bens, tendo em conta que
os desejos e as necessidades humanas são ilimitados e
insaciáveis. Partindo desse princípio, a economia observa o
comportamento humano em decorrência da relação entre as
necessidades dos homens e os recursos disponíveis para
satisfazer essas necessidades. A ciência económica tenta
explicar o funcionamento dos sistemas económicos e as
relações com os agentes económicos (empresas ou pessoas
físicas), reflectindo sobre os problemas existentes e propondo
soluções.

A investigação dos principais problemas económicos e as


tomadas de decisão baseiam-se em quatro questões
fundamentais sobre a produção: “O que produzir?”, “Quando
produzir?”, “Que quantidade produzir?”, “Para quem
produzir?” (SAMUELSON e NORDHAUS, 2004). Tentando
aprofundar um pouco mais, Abramovay (2002) diz que a
Microeconomia e macroeconomia são os dois grandes ramos
da economia, e que a microeconomia estuda as várias formas
de comportamento nas escolhas individuais dos agentes
económicos, enquanto a macroeconomia analisa os processos
microeconómicos observando uma economia como um todo.

Outro conceito relevante no âmbito da economia de


desenvolvimento é o de economia do mercado. Para BM (2003)
e Samuelson&Nordhaus (2004), economia de mercado é um
sistema económico em que as organizações (bancos, empresas
10
etc.) podem actuar com pouca interferência do estado. É
portanto, o sistema próprio do capitalismo. Para Chang (2004)
existem conceitos interlançados neste campo e com
interpretações variando de escola para escola, como
adicionalmente, o conceito economia de subsistência,
consubstancia-se igualmente importante abordar, como um
sistema económico baseado na produção de bens
exclusivamente necessários para o consumo básico, imediato,
onde na produção não existe excedentes, nem relação de
caráctereconómico com outros mercados produtores.

O pensamento de Samuelson e Nordhaus (2004) está alinhado


com a ideia de Abramovay (2002) na classificação dos ramos da
economia, mas diferenciando-se na caracterização com Chang
(2004) que diz a economia é, geralmente, dividida em dois
grandes ramos: A microeconomia, que estuda os
comportamentos individuais, e a macroeconomia, que estuda o
resultado agregado dos vários comportamentos individuais.
Actualmente, a economia aplica o seu corpo de conhecimento
para análise e gestão dos mais variados tipos de organizações
humanas (entidades públicas, empresas privadas, cooperativas
etc.) e domínios (internacional, finanças, desenvolvimento dos
países, ambiente, mercado de trabalho, cultura, agricultura,
etc.).
Na opinião dos pesquisadores do BM (2003), quando se fala de
desenvolvimento, existe visão geral sobre o conceito como são os
casos de progresso (evolução, avanço, adiantamento,
prosperidade, andamento, promoção) e crescimento (aumento,
incremento, expansão, acréscimo, extensão). Neste sentido, ainda
na visão do BM (2003) desenvolvimento económico é o processo
pelo qual ocorre uma variação positiva das " variáveis
quantitativas" (crescimento económico: aumento da capacidade
produtiva de uma economia medida por variáveis tais como
Produto Interno Bruto-PIB, Produto Nacional Bruto-PNB),
acompanhado de variações positivas das "variáveis qualitativas"
(melhorias nos aspectos relacionados com a qualidade de vida,
educação, saúde, infra-estrutura e profundas mudanças da
estrutura socioeconómica de uma região e ou país, medidas por
indicadores sociais como o Índice de Desenvolvimento Humano-
IDH, o Índice de Pobreza Humana-IPH e o Coeficiente de GiniCG).

11
O "crescimento económico" difere do "desenvolvimento
económico" em alguns aspectos, pois, enquanto o crescimento
económico se preocupa apenas com questões quantitativas,
como por exemplo, o produto interno bruto e o produto
nacional bruto, o desenvolvimento económico aborda questões
de carácter social, como o bem-estar, nível de consumo, índice
de desenvolvimento humano, taxa de desemprego,
analfabetismo, qualidade de vida, entre outros (ABRAMOVAY,
2002).

Em suma, o desenvolvimento económico é um processo pelo


qual a renda nacional real de uma economia aumenta durante
um longo período de tempo. A renda nacional real para Baruco
(2006), refere-se ao produto total de bens e serviços finais do
país, expresso não em termos monetários, mas sim em termos
reais: a expressão monetária da renda nacional deve ser
corrigida por um índice apropriado de preço de bens e consumo
e bens de capital. E, se o ritmo de desenvolvimento é superior
ao da população, então a renda real per capita aumentará.
Ainda de acordo com Baruco (2006)), o processo implica a
actuação de certas forças, que operam durante um longo
período de tempo e representam modificações em
determinadas variáveis, cujo os detalhes do processo variam
sob condições diversas no espaço e no tempo, mas, não
obstante, há algumas características comuns básicas, e o
resultado geral do processo é o crescimento do produto
nacional de uma economia.

Aprofundando a ideia de Chang (2004) e trazendo o


pensamento de Abramovay (2002), pode-se afirmar que,
Economia de desenvolvimento seria um ramo da economia que
lida com os aspectos económicos do processo de
desenvolvimento dos países menos ricos. Este posicionamento
é reforçado nos dizeres de Harvey (2005) que diz que, a
economia de desenvolvimento, foca não só os métodos para
promover o crescimento económico e a mudança estrutural,
mas também em como melhorar o potencial da massa
populacional, por exemplo, através da melhoria das condições
de saúde, educação e trabalho, seja através de meios privados
ou públicos. Portanto, a economia de desenvolvimento dedica-
se à criação de teorias e métodos para ajudar na determinação
de políticas e práticas, e podem pretender ser implementadas
12
tanto ao nível doméstico como ao nível internacional (BM,
2003). Isso pode implicar a reestruturação dos incentivos de
mercado ou a utilização de métodos de optimização, para a
análise de projectos, ou ainda uma mistura de métodos
quantitativos e qualitativos (CHANG, 2004).

Em contraste com outros ramos da economia, Abramovay


(2002) diz que as abordagens da economia de desenvolvimento
podem incorporar factores políticos e sociais ao elaborar
planos específicos. Também em contraste com outros campos
da economia, não existe um consenso sobre o que deve
constar num plano curricular para este tema. As diferentes
abordagens têm em consideração os factores que contribuem
para a convergência ou divergência das economias nos
agregados familiares, regiões e países.

Sumário

Nesta UnidadeTemática 1.1 estudamos e discutimos conceitos


de economia e de desenvolvimento, bem como alguns
conceitos relacionados que nos permitirão fazer a
identificação, análise e interpretação dos fenómenos
socioeconómicos com impacto local, regional e mundial:
1. Economia;
2. Desenvolvimento;
3. Crescimento económico;
4. Economia de Desenvolvimento.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

GRUPO – 1 (com respostas detalhadas)


1. Defina economia
13
2. Defina desenvolvimento.
3. Qual é o significado figurado da economia?
4. O que é que o conceito de economia engloba?
5. Quais são os dois grandes ramos da economia?

Respostas:
1. Rever parte inicial da página 9;
2. Rever parte inicial da página 10;
3. Rever parte inicial da página 10;
4. Rever parte inicial da página 11;
5. Rever o último parágrafo da página 11;

GRUPO -2 (com resposta sem detalhes)

1. Crescimento económico preocupa-se com:


Só uma resposta está correcta.
a) Subdesenvolvimento
b) Autoestima
c) Produto Interno Bruto

2. Desenvolvimento económico preocupa-se com:


Duas respostas estão correctas.
a) Índice de desenvolvimento humano;
b)Taxa de desemprego;
c) Produto Nacional Bruto

3. A economia de desenvolvimento dedica-se à:


a) Criação de teorias;
b) Métodos;
c) Determinação de políticas;
d) Prática

4. A ciência económica tenta explicar o funcionamento dos:


a) Sistemas económicos e as relações com os agentes económicos
b) Sistemas económicos e as relações com os agentes de desenvolvimento
c) Sistemas económicos e as relações de confiança governativa

14
d) Sistemas económicos e as relações com os agentes económicos (somente
pessoas físicas)
5. Economia de desenvolvimento seria um ramo da/e:
a) Economia que lida com os aspectos económicos do processo de
desenvolvimento dos países menos ricos
b) Desenvolvimento que lida com aspectos socioeconómicos dos países ricos
e pobres
c) Ciências contábeis que lida com aspectos de crescimento social, político,
cultural e financeiro dos países.

Exercícios de AVALIAÇÃO

GRUPO -3 (Exercícios de GABARITO)


1.Quais são as principais diferenças linguísticas entre economia do
desenvolvimento e economia de desenvolvimento?

2. O que entende por PIB?

3. O que entende por PNB?


4. Qual é a relação entre PIB e PNB para o crescimento económico?
5. Qual é a diferença entre crescimento económico e desenvolvimento
económico?
6. O que é renda real per capita?

UNIDADE Temática 1.2 Subdesenvolvimento


Introdução

O Subdesenvolvimento é um termo elaborado após a Segunda


Guerra Mundial (1939-1945) para definir a situação económica
e social dos países pobres (BARAN, 1977). De acordo com o
mesmo autor, esse termo é, portanto, designado para
classificar os territórios nacionais que dispõem de níveis de
desenvolvimento económico limitado, com baixos índices de
qualidade de vida, de consumo, de produtividade e elevadas
taxas de miséria e concentração de renda.

15
Portanto, para Barquero (2001) é um termo que é usado com
frequência em economia para definir a baixa renda de um país e,
em geral, é incluído nesse significado a falta de acesso da
população de um país ou região às oportunidades de emprego,
saúde, água, alimentação, educação e moradia.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

▪ Perceber o subdesenvolvimento;
▪ Interpretar a situação económica do seu país;
Objectivos ▪ Contribuir no progresso do seu país através de medidas conciliadas para
específicos alavancar a economia.

Desenvolvimento
O subdesenvolvimento perene não é a ausência de
desenvolvimento ou "não-desenvolvimento", mas o produto de
um tipo universal de desenvolvimento mal conduzido (BARAN,
1977). Assim, é aceite existirem países subdesenvolvidos
embora a ONU e o Banco Mundial acreditem que o termo
"subdesenvolvimento" é desnecessário ao falar destes países,
pois dá a impressão de que estarão neste estado
permanentemente. Ainda de acordo com Baran (1977) e
Abramovay (2002), o termo utilizado para substituir o mesmo é
“país em desenvolvimento”, o qual significa que o país ainda
não é desenvolvido, porém, está em movimento, tentando
modificar sua situação para tornar-se um lugar melhor para sua
população.

Critica-se segundo Barquero (2001) que o longo período em


que países se mantêm subdesenvolvidos não o são por razões
naturais. As razões seriam as causas históricas, força das
circunstâncias ou ações humanas. Circunstâncias históricas
desfavoráveis, principalmente o colonialismo político e
económico que mantiveram essas regiões à margem do
processo da economia mundial em rápida evolução julgasse
como um dos fatores (ABRAMOVAY, 2002). É a concentração
abusiva de riqueza, sobretudo neste período histórico

16
dominado pelo neocolonialismo capitalista que foi o factor
determinante do subdesenvolvimento de uma grande parte do
mundo: as regiões dominadas sob a forma de colónias políticas
directas ou de colónias económicas.

Para Abramovay (2002), o subdesenvolvimento é o produto da


má utilização dos recursos naturais e humanos realizada de
forma a não conduzir à expansão económica e a impedir as
mudanças sociais indispensáveis ao processo da integração dos
grupos humanos subdesenvolvidos dentro de um sistema
económico integrado. De acordo com Amaral (1996), só
através de uma estratégia global do desenvolvimento, capaz de
mobilizar todos os factores de produção no interesse da
colectividade, poderão ser eliminados o subdesenvolvimento e
a fome da superfície da terra.

Não é correto afirmar que o subdesenvolvimento seja uma


ausência de desenvolvimento, mas sim a incompletude deste.
Dessa forma, existem alguns critérios que definem se um país é ou
não é subdesenvolvido, a saber: dependência económica e
tecnológica, problemas sociais (como desemprego, desigualdades,
fome, miséria), baixos índices de industrialização, problemas em
infra-estrutura, entre outros (ABRAMOVAY, 2002).

Dependência económica

O principal problema que envolve os países subdesenvolvidos é


de ordem económica, em que se observa uma elevada
dependência desses para com outras nações, sobretudo
aquelas consideradas desenvolvidas (CHANG, 2004).

Essa dependência nas palavras de Samuelson e Nordhaus


(2004) se expressa, primeiramente, pela elevada dívida externa
existente nos países periféricos, em geral, parte das receitas
adquiridas por esses países são destinadas ao pagamento de
dívidas para instituições financeiras – como o FMI e o Banco
Mundial –, o que atrapalha na hora do uso da verba pública
para investimentos sociais.

Ainda de acordo com Samuelson e Nordhaus (2004), Em


segundo lugar, a dependência económica encontra-se no facto
de que, historicamente, as nações mais pobres vivem da
exportação de commodities, isto é, de produtos primários que,
em regra, possuem menor valor agregado que os produtos
industrializados. Tal factor propicia uma queda de
produtividade, pois muitos investimentos são direccionados a
17
uma actividade menos rentável economicamente. Associam-se
a isso os problemas relacionados à concentração fundiária, que
direccionam os ganhos das exportações para os grandes
latifundiários, propiciando a elevação da concentração de
renda (HARVEY, 2005).

Os países emergentes, por definição, são aqueles


caracterizados por apresentarem economias subdesenvolvidas,
mas que, ao longo das últimas décadas, vêm apresentando
avanços económicos e sociais. Esses países costumam ter
economias muito industrializadas – apesar de, como já
frisamos mais acima – essa industrialização ser realizada
maioritariamente por empresas estrangeiras – e por
registrarem sucessivos aumentos em seus Produtos Internos
Brutos (SAMUELSON e NORDHAUS, 2004).

Mesmo assim, para Baruco (2006), esses países não romperam


com a condição de subdesenvolvimento que os envolve, de tal
modo que eles ainda são considerados como
subdesenvolvidos. Em outras palavras, podemos dizer os países
emergentes fazem parte do grupo dos países periféricos.
Citam-se como exemplos de países emergentes: Brasil, Rússia,
Índia, China, África do Sul (esses cinco primeiros compõem o
chamado BRICS), México, Coreia do Sul, Singapura, Taiwan e
alguns outros.
O que se pode ter certeza é que, para subverter a ordem de
subdesenvolvimento, os países pobres no mundo precisarão
buscar formas que romper com a dependência económica que
os atinge. Além do mais, será necessário rever o rítimo de
consumo do sistema capitalista actual, pois, conforme apontam
inúmeros especialistas, o planeta não conseguiria fornecer
recursos naturais suficientes para abastecer um grande número
de países com padrões de consumo iguais aos que os países
desenvolvidos possuem actualmente (BARUCO, 2006).

Para Chang (2004) afirma que o termo subdesenvolvimento se


refere também a um tipo de situação económica caracterizada
pela baixa produtividade. É uma circunstância que pode ser
observada especialmente nos países da América Latina e da
África. O subdesenvolvimento tem como consequência a
incapacidade de uma população em gerar os recursos
necessários para melhorar consideravelmente sua qualidade de
vida. Esta circunstância de atraso se torna evidente em
inúmeras situações indesejáveis: falta e problemas de moradia,
18
educação, saúde, etc. Muitos países que se encontram em
situação de subdesenvolvimento possuem um território rico
em recursos naturais, o que torna o quadro ainda mais
surpreendente. Dado este panorama, existem algumas
organizações de natureza supranacional que tentam encontrar
soluções para esta situação (ABRAMOVAY, 2002).

De acordo com Samuelson e Nordhaus (2004), os países


subdesenvolvidos são caracterizados por ter uma economia
que prima pela produção de bens primários. Isto significa que
sua principal função é explorar os bens dos recursos naturais
que possuem. Assim, por exemplo, pode-se referir à
agricultura, à pecuária, à pesca, à mineração, etc., ao
contrário, a produção de manufacturas e o desenvolvimento do
sector terciário, que se referem à indústria do conhecimento,
permanecem relegados. Como historicamente estes dois
últimos sectores se caracterizam por ter um maior valor
agregado, é de se entender a dificuldade com a carência de
desenvolvimento (BARAN, 1977).

Como já foi citado anteriormente, existem algumas


organizações que se esforçam para minimizar estas
circunstâncias. Amaral (1996) afirma que, em geral, estão
vinculadas à possibilidade de oferecer empréstimos com
condições mais favoráveis para determinados
empreendimentos estratégicos que poderiam garantir uma
melhor qualidade em seu desenvolvimento. Assim, por
exemplo, são oferecidos financiamentos para a exploração de
um determinado recurso natural, ou então, para implementar
a geração de energia eléctrica. Este tipo de crédito é negociado
em nível nacional, onde o estado é o responsável pelo trâmite.

As consequências do subdesenvolvimento são evidentes em


várias situações, especialmente nas dificuldades que a
população tem para ter acesso a bens mínimos e essenciais.
Este tipo de situação piora com a falta de recursos do estado e
a predisposição em ajudar, tornando assim um círculo vicioso.
No entanto, para Abramovay (2002), apesar desta
circunstância, é importante notar também que alguns países
subdesenvolvidos tendem a crescer mais do que alguns já
desenvolvidos.

19
Sumário

Nesta Unidade Temática 1.2 estudamos e discutimos


fundamentalmente o subdesenvolvimento e os seus contornos
em termos de origem e consequências, nomeadamente:
1. Conceito
2. Dependência económica;
3. Mecanismos de produção;
4. Consequências do subdesenvolvimento.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

GRUPO-1 (Com respostas detalhadas)

1. O que é subdesenvolvimento?
2. O que são países em desenvolvimento?
3. Qual é o principal problema que envolve os países
subdesenvolvidos?
4. O que são países emergentes?
5. O que os países pobres do mundo precisam para subverter a ordem
do subdesenvolvimento?

Respostas:
1. Rever o 1º parágrafo, página 16
2. Rever o 1º parágrafo, página 17
3. Rever o 2º parágrafo, página 17
4. Rever o 5º parágrafo, página 18
5. Rever o 3º parágrafo, página 19

GRUPO-2 (Com respostas sem detalhes)

1. Subdesenvolvimento é um termo usado para:


Só uma resposta é correcta.
a) Medir a situação social de um país
b) Excluir um país nas relações económicas
c) Definir a baixa renda de um país.

20
2. O longo período em que países se mantêm
subdesenvolvidos, Somente uma resposta está
correcta.
a) não o são por razões geográficas
b) não o são por razões ideológicas
c) não o são por razões naturais.

4. Os países subdesenvolvidos são caracterizados por ter uma economia


que prima pela: Somente uma resposta está correcta.
a) exportação de produtos acabados
b) importação de bens primários
c) Produção de bens primários

5. Em outras palavras, podemos dizer os países emergentes fazem parte


do grupo dos países: Somente uma resposta está correcta
a) periféricos
b) em desenvolvimento
c) subdesenvolvidos
d) ainda em desenvolvimento
e) não desenvolvidos

Exercícios de AVALIAÇÃO

GRUPO-3 (Exercícios de GABARITO)


1. O que é miséria?
2. O que é subdesenvolvimento perene?
3. Diferencie o subdesenvolvimento do não desenvolvimento?
4. Qual é a diferença entre países em desenvolvimento e de países
ainda não desenvolvidos?
5. Quais são as razões naturais do subdesenvolvimento?
6. Um país emergente é um país em via de desenvolvimento?

21
UNIDADE Temática 1.3. Demografia
Introdução

De acordo com Baruco (2006), a demografia é uma área da


ciência geográfica que estuda a dinámica populacional humana
e o seu objecto de estudo engloba as dimensões, estatísticas,
estrutura e distribuição das diversas populações humanas.
Estas não são estáticas, variando devido à natalidade,
mortalidade, às migrações e ao envelhecimento (BM, 2003;
HARVEY, 2005). A análise demográfica centra-se também nas
características de toda uma sociedade ou um grupo específico,
definido por critérios como a educação, nacionalidade, religião
e o grupo étnico (BM, 2003).

Ao completar esta unidade, o aluno deverá ser capaz de:

▪ Definir o que é demografia;


▪ Identificar os fenómenos demográficos;
Objectivos ▪ Interpretar as consequências dos fenómenos demográficos.
específicos

Desenvolvimento
Segundo UN (2015) a população está em explosão demográfica
desde a revolução industrial que começou na Inglaterra no
século XIX, na primeira metade desse mesmo século.
Apresenta-se de seguida a evolução da população mundial:

• 1 a 2 biliões de pessoas entre 1804 a 1927 - 123 anos se


passaram.

• 2 a 3 biliões de pessoas entre 1927 a 1960 - 33 anos se


passaram.

• 3 a 4 biliões de pessoas entre 1960 a 1975 - 15 anos se


passaram.

• 4 a 5 biliões de pessoas entre 1975 a 1987 - 12 anos se


passaram.

22
• 5 a 6 biliões de pessoas entre 1987 a 1999 - 12 anos se
passaram.

• 6 a 7 biliões de pessoas entre 1999 a 2011 - 12 anos se


passaram.

A análise da progressão da população humana indica que esta


está crescendo cada vez mais lentamente (actualmente 1.14%
ao ano), e prevê que se estabilize nos 10 biliões por volta do
ano 2100.

Fonte UN, 2015.

A projecção do tamanho populacional em 2016, é cerca de


7.432.663.000 pessoas, das quais 4,7% são do sexo masculino e
4,4% do sexo feminino.

Segundo Pimentel (2010), a estrutura etária da população é a


distribuição dos indivíduos de uma população pelas diferentes
idades ou grupos de idades (classes etárias).

Ainda de acordo com Pimentel (2010), o estudo da estrutura


etária é de grande importância pois, se existir tendência para o
aumento do número de jovens, pode ser necessário construir
mais maternidades, escolas e infantários. No caso de a
população estar a envelhecer, é provável ter de se construir
mais lares para a terceira idade e reforçar o apoio médico.
Quando se estuda a estrutura etária da população tem-se em
conta três grandes grupos etários: jovens, dos zero aos 14
anos; adultos, dos 15 aos 64 anos; idosos, com 65 ou mais anos
- O estudo é feito a partir de uns gráficos chamados pirâmides
etárias: gráficos de barras que representam a população por
grupos de idade e sexo, assim como a baixo se descrevem:

23
Pirâmide Jovem: base larga, devido à elevada natalidade e topo
estreito em consequência de uma elevada mortalidade e
esperança média de vida reduzida. As pirâmides deste tipo
representam populações muito jovens típicas dos países menos
desenvolvidos.

Fonte: Pimentel, 2010

Pirâmide adulta:a base é ainda larga mas existe um aumento


da classe dos adultos e dos idosos. A taxa de Natalidade está a
diminuir e a esperança média de vida a aumentar.

Fonte: Pimentel, 2010

Pirâmide envelhecida: base mais estreita do que a classes dos


adultos. Reflecte uma diminuição da natalidade e um
aumentoda esperança média de vida. É característica dos
países desenvolvidos.

24
Fonte: Pimentel, 2010.

No que diz respeito os principais conceitos frequentemente


utilizados, Pena (2016) elege alguns:

População absoluta: é o índice geral da população de um


determinado local, seja de um país, estado, cidade ou região.

Densidade demográfica: é a taxa que mede o número de


pessoas em determinado espaço, geralmente medida em
habitantes por quilómetro quadrado. Também é chamada de
população relativa.

Superpovoamento ou superpopulação: é quando o quantitativo


populacional é maior do que os recursos sociais e económicos
existentes para a sua manutenção.

Um local densamente povoado é um local com muitos


habitantes por metro quadrado, enquanto um local populoso é
um local com uma população muito grande em termos
absolutos e um lugar superpovoado é caracterizado por não ter
recursos suficientes para abastecer toda a sua população.

Exemplo: o Brasil é populoso, porém não é densamente


povoado. O Bangladesh não é populoso, porém superpovoado.
O Japão é um país populoso, densamente povoado e não é
superpovoado.

Taxa de natalidade: é o número de nascimentos que acontecem


em uma determinada área.

Taxa de fecundidade: é o número de nascimentos bem sucedidos


menos o número de óbitos em nascimentos.

25
Taxa de mortalidade: é o número de óbitos ocorridos em um
determinado local.

Crescimento natural ou vegetativo: é o crescimento


populacional de uma localidade medido a partir da diminuição
da taxa de natalidade pela taxa de mortalidade.
Crescimento populacional ou demográfico: é a taxa de
crescimento populacional calculada a partir da soma entre o
crescimento natural e o crescimento migratório.

Sumário

Nesta Unidade Temática 1.3 estudamos e discutimos a


demografia, sua origem e consequências ou impacto na vida
socioeconómica dos povos.
Abordamos as questões relacionadas com:
1. Conceitos
2. Pirâmides populacionais
3. Consequências ou impacto do crescimento populacional.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

GRUPO-1 (Com respostas detalhadas)

1. O que é demografia?
2. Em que se centra a análise demográfica?
3. Qual foi o tamanho da população mundial em 2011?
4. Qual é a estimativa da população mundial em 2100?
5. Qual é a taxa de crescimento da população mundial/ano?
6. O que é uma estrutura etária?

Respostas:
1. Rever o 1º parágrafo, página 23
2. Rever o 1º parágrafo, página 23
3. Rever o 3º parágrafo, página 24
4. Rever o 4º parágrafo, página 24
5. Rever o 4º parágrafo, página 24
6. Rever o 6º parágrafo, página 24

26
GRUPO-2 (Com respostas sem detalhes)

1. A análise da progressão da população humana indica que esta está


crescendo cada vez mais, Somente uma resposta está correcta.
a) Rapidamente
b) Lentamente

2. Quando se estuda a estrutura etária da população tem-se em conta


três grandes grupos etários:
Somente uma resposta está correcta.
a) Jovens, adultos e velhos
b) Crianças, Jovens e Velhos
c) Crianças, adolescentes, velhos

3. Qual é o tipo de estrutura etária para Moçambique?


Somente uma resposta está correcta.
a) Adulta
b) Jovem
c) Velha

4. Densidade demográfica é medida por: Somente uma resposta está


correcta
a) Habitantes por metro quadrado
b) Habitantes por quilómetro quadrado
c) Habitantes totais verso recursos existentes por metro quadrado.

5. Um local densamente povoado é medido por:


Somente uma resposta está correcta
a) Habitantes por metro quadrado
b) Habitantes por quilómetro quadrado
c) Habitantes totais verso recursos existentes por metro quadrado

Exercícios de AVALIAÇÃO

GRUPO-3 (Exercícios de GABARITO)


1. O que é taxa de natalidade?
2. O que é taxa de fecundidade?

27
3. O que é taxa de mortalidade?
4. O que é taxa de crescimento natural ou vegetativo?
5. Qual é a importância de estudar a população?

UNIDADE Temática 1.4. Migrações


Introdução

Migração é a movimentação de pessoas de um lugar para


outro. A migração pode ser internacional (movimentação entre
países diferentes) ou interna (movimentação dentro de um
país, muitas vezes, das áreas rurais para as áreas urbanas)
(DENNIS, 2013).

Segundo Dennis (2013), há mais pessoas migrando hoje em dia


do que em qualquer outro momento da história humana. Os
migrantes viajam de muitas formas diferentes e por muitos
motivos diferentes. As pessoas mudam-se para melhorar seu
padrão de vida, para proporcionar melhores oportunidades aos
filhos ou para escapar da pobreza, do conflito e da fome. Hoje
em dia, com os meios de transporte e comunicação modernos,
há mais pessoas motivadas a se mudarem e capazes de fazê-lo.

Ao completar esta unidade, o aluno deverá ser capaz de :

▪ Conceitos;
▪ Causas ou factores que estão na origem das migrações
Objectivos ▪ Impacto das migrações.
específicos

Desenvolvimento

Segundo Anderson (1995) e Amaral (1996), as migrações humanas


tiveram lugar em todos os tempos e numa variedade de
circunstâncias. Têm sido, tribais, nacionais, internacionais, de
classes ou individuais. As suas causas têm sido políticas,
económicas, religiosas, étnicas ou por mero amor à aventura. Nas
suas origens naturais, podem referir-se as migrações do Homo
erectus, depois seguidas das doHomo sapiens, saindo de África,

28
através da Eurásia, sem dúvida, usando algumas das rotas
disponíveis, pelas terras, para o norte do Himalaia, que se
tornaram posteriormente a Rota da Seda, e através do Estreito de
Bering(ANDERSON, 1995).
Sob a forma de conquista, a pressão das migrações humanas,
afectou as grandes épocas da história (e.g. a queda do Império
Romano no Ocidente); sob a forma de migração colonial,
transformou todo o mundo (e.g. a pré-história e a história dos
povoados da Austrália e Américas) (CHANG, 2004).

Para Chang (2004), a migração forçada, tem sido um meio de


controle social, dentro de regimes autoritários, mesmo sob
livres iniciativas, é o mais poderoso factor, no meio social de
um país (e.g. o crescimento da população urbana). Incluem-se
neste caso as migrações pendulares referidas abaixo e também
as grandes imigrações, em que os migrantes se fixaram num
país diferente, trazendo sua cultura e adoptando a do país de
acolhimento.

Os recentes estudos de migrações vieram complicar esta visão


dualista. Como exemplo, refira-se que boa parte dos migrantes,
que nos dias de hoje mudam de país, continuam a manter
práticas e redes de relações sociais que se estendem entre o
país de origem e o de destino, interligando-os na sua
experiência migratória. Trata-se segundo Harvey (2005) de um
"transnacionalíssimo”que transcende os conceitos de migração
temporária e migração permanente.

No que diz respeito a alguns conceitos comummente utilizados,


Vilarinho (2016) avança com alguns conceitos, nomeadamente:

Crescimento migratório: é a taxa de crescimento de um local


medido a partir da diminuição da taxa de imigração (pessoas
que chegam) pela taxa de emigração (pessoas que se mudam).

Migração pendular: aquela realizada diariamente no quotidiano


da população. Exemplo: ir ao trabalho e voltar.

Migração sazonal: aquela que ocorre durante um determinado


período, mas que também é temporária. Exemplo: viagem de
férias.

Migração definitiva: quando se trata de algum tipo de migração


ou mudança de moradia definitiva.

Êxodo rural: migração em massa da população do campo para a


cidade durante um determinado período. Lembre-se que uma
29
migração esporádica de campo para a cidade não é êxodo
rural.

Metropolização: é a migração em massa de pessoas de pequenas


e médias cidades para grandes metrópoles ou regiões
metropolitanas.

Desmetropolização: é o processo contrário, em que a população


migra em massa para cidades menores, sobretudo as cidades
médias.
Wagner (2016), diz que comummente quando falamos de
História, ouvimos dizer as palavras emigração, imigração e
migração. Esses termos possuem uma ligação entre si,
pertencem a um mesmo âmbito semântico, mas têm
significados diferentes! Assim, é migrante a pessoa ou grupo
que em determinado tempo teve a acção de se deslocar de um
país para outro. No entanto, esse deslocamento sempre parte
de uma região de origem conhecida para outra estranha a esta.

Africanos a caminho da Europa.


Fonte: Dennis, 2013.

Observe nos exemplos:


a) Durante um tempo, os europeus emigraram para o Brasil.
(saíram de onde estavam: Europa);

30
b) Os imigrantes, vindos da Europa, vieram trabalhar no
Brasil. (os que entraram no Brasil);

c) A emigração foi feita por navio. (Saída do país de origem);

d) Os imigrantes chegaram em navios. (Os que entravam em


determinado país para morar nele);

e) A corte portuguesa imigrou para o Brasil para fugir de


Napoleão. (Entrou no Brasil e fixou residência);

Para Wagner (2016), o termo migração corresponde à


mobilidade espacial da população. Migrar é trocar de país, de
Estado, Região ou até de domicílio. Esse processo ocorre desde
o início da história da humanidade. O acto de migrar faz do
indivíduo um emigrante ou imigrante. Emigrante é a pessoa
que deixa (sai) um lugar de origem com destino a outro lugar.
O imigrante é o indivíduo que chega (entra) em um
determinado lugar para nele viver.

Os fluxos migratórios podem ser desencadeados por diversos


factores, dentre os principais factores que impulsionam as
migrações podem ser citados os económicos, políticos e
culturais.

Fonte: Dennis, 2013

Principais factores, vantagens e desvantagens das migrações

Para debruçarmos sobre este título, iremos recorrer as descrições


de Dennis (2013) que a seguir expõe:

31
Factores determinantes internos: Estes são os factores que
fazem com que as pessoas migrem, tais como secas, fome, falta
de emprego, superpopulação, guerras civis, perseguição.

Factores determinantes externos: Estes são os factores que


atraem as pessoas para um determinado lugar, tais como
oportunidades de trabalho, melhor instrução, liberdade,
vínculos familiares.

A.O impacto no lugar deixado pelo migrante - Vantagens:

• A migração alivia a pressão populacional e reduz o


desemprego, o que diminui a pressão na economia local
ou nacional. Ela também reduz a demanda pelos
recursos naturais.

• As famílias que ficaram para trás beneficiam-se com o


dinheiro que os migrantes lhes mandam. A maioria das
famílias gasta o dinheiro em alimentos, outras
necessidades domésticas básicas e educação. Os
migrantes internacionais mandam para casa biliões de
dólares em transferências de dinheiro a cada ano.
• Em alguns países, este dinheiro beneficia muito a
economia nacional.

Desvantagens:

• O país perde algumas pessoas nas quais mais se investiu,


como enfermeiros e contadores. Isso é chamado, às
vezes, de “fuga de cérebros”.

• A maioria dos migrantes são homens jovens, muitos dos


quais são casados. Suas esposas permanecem em casa,
mas carregam um fardo muito maior que antes, por
terem de realizar sozinhas todas as tarefas domésticas.

• Quando a migração é comum, o tráfico humano pode


aumentar, pois os traficantes aproveitam-se da
oportunidade para ganhar dinheiro. Os pais pobres são
incentivados a vender os filhos por uma pequena
quantia.

• Uma proporção significativa dos migrantes tenta voltar


para casa depois de vários anos. Os migrantes que
voltam, muitas vezes, são mais abastados que as
pessoas à sua volta e frequentemente se comportam de

32
maneira diferente, o que pode causar atrito dentro das
comunidades.

• Pode haver um índice maior de infecção do HIV quando


os migrantes trazem o HIV consigo para casa.

B. O impacto no indivíduo - Vantagens:

• Os migrantes podem conseguir ganhar mais dinheiro se


migrarem.

• Se a pessoa estiver fugindo de conflito ou perseguição, ela


pode migrar para outro país em busca de segurança,
embora o processo de asilo possa ser longo e complicado.

• Os migrantes podem ser reunidos com os familiares que já


migraram.

• Os migrantes podem ter acesso a cuidados de saúde


melhores e outros serviços de bem-estar no lugar para
onde migraram.

• Eles podem ter acesso a uma educação melhor para seus


filhos.

Desvantagens:

• O trabalho disponível pode ser temporário, imprevisível,


perigoso ou ilegal.
• Apesar de ganhar mais dinheiro, o migrante, muitas vezes,
ganha pouco em comparação ao padrão de vida do novo
lugar, e ele pode não alcançar o alto padrão de vida
frequentemente descrito na mídia.

• Migrar significa deixar para trás o apoio de amigos e


familiares e uma cultura com a qual se está acostumado e
mudar-se para um lugar novo, diferente e, às vezes, hostil.

• Os migrantes enfrentam estigma quando a comunidade


para onde vão não os compreende ou não confia neles.

• As crianças deixadas para trás ou que vão morar longe dos


pais ficam mais vulneráveis ao abuso.

C. O impacto no lugar que recebe o migrante - Vantagens:

33
• Os migrantes frequentemente vão para lugares que não
têm pessoas locais suficientes com as habilidades para
os empregos disponíveis. As lacunas que os migrantes
preenchem concentram-se em empregos altamente
especializados, como médicos, ou empregos manuais,
como operários de obras. Isso ajuda a sustentar a
economia.

• Os migrantes frequentemente estão mais dispostos a


aceitar trabalhos que as pessoas locais não querem,
entre eles, colher frutas, cuidar de crianças e serviços
de limpeza.

• A integração dos migrantes na cultura da região ou do


país que os recebe pode resultar em diversidade
cultural no local, como na culinária e na música.

Desvantagens:

• Os migrantes frequentemente sofrem abuso e


discriminação racial, o que divide as comunidades e
pode aumentar o crime.

• Os migrantes frequentemente vivem em bairros com


outras pessoas provenientes do mesmo lugar. Uma
comunidade grande de migrantes pode causar mais
pressão nos serviços locais (tais como escolas e serviços
de saúde).

• Os países que recebem migrantes frequentemente têm


de responder à chegada repentina de um grande
número de imigrantes ilegais, muitos dos quais
arriscaram a vida viajando em camiões e barcos.

• Os migrantes podem trazer consigo doenças, como a


tuberculose e o HIV.

Sumário

Nesta Unidade Temática 1.4, consideramos os impactos da


migração sobre o indivíduo, o lugar deixado pelo migrante e o
lugar que recebe o migrante. Também consideramos os
factores determinantes internos e externos da migração, sua

34
génese e impacto socioeconómico dos países envolvidos por
este fenómeno:
1. Conceito;
2. Factores determinantes;
3. Impacto socioeconómico.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

GRUPO-1 (Com respostas detalhadas)


1. O que é migração?
2. O que é migração internacional?
3. O que é migração nacional?
4. Na história da humanidade, quando é que iniciaram as migrações?
5. Quais são as principais causas das migrações?

Respostas:
1. Rever o 1º parágrafo, página 29
2. Rever o 1º parágrafo, página 29
3. Rever o 1º parágrafo, página 29
4. Rever o 1º parágrafo, página 30
5. Rever o 1º parágrafo, página 30

GRUPO-2 (Com respostas sem detalhes)

1. Emigração significa:
a) Saída de um país para outro
b) Entrada em um outro país
c) Mobilidade da população
d) Saída de campo para cidade
e) Saída da cidade para o campo
2. Imigração significa:
a) Saída de um país para outro
b) Entrada em um outro país
c) Mobilidade da população
d) Saída de campo para cidade
e) Saída da cidade para o campo
3. Migração significa:
a) Saída de um país para outro
35
b) Entrada em um outro país
c) Mobilidade da população
d) Saída de campo para cidade
e) Saída da cidade para o campo
4. Êxodo rural significa:
a) Saída de um país para outro
b) Entrada em um outro país
c) Mobilidade da população
d) Saída de campo para cidade
e) Saída da cidade para o campo
5. Os factores das migrações são:
a) Políticos
b) Culturais
c) Religiosos
d) Naturais
e) Vontade própria

Exercícios de AVALIAÇÃO

GRUPO-3 (Exercícios de GABARITO)

1. O que são migrações pendulares?


2. O que é crescimento migratório?
3. O que é migração sazonal?
4. O que é migração definitiva?
5. O que é êxodo rural?
6. O que é metropolização?
7. O que é desmetropolização?

Exercícios finais sobre o TEMA

1. Como se explica que alguns países subdesenvolvidos tendem a


crescer mais do que alguns já desenvolvidos?

2. Quais são as vantagens do crescimento populacional?

36
3.Quais são as vantagens da diminuição do tamanho
populacional?

4. Quais são as desvantagens das migrações?

5. Como se pode diminuir o impacto das migrações?

6. Qual é a relação entre demografia e migração?

7. O que é economia do mercado?

8.Comente a seguinte afirmação: para existirem países


desenvolvidos é necessário que existam também os países
subdesenvolvidos.

9.Qual é o impacto das migrações no desenvolvimento económico


dos países em desenvolvidos?

10.Qual é a relação entre demografia, migração e


desenvolvimento económico?

Referência Bibliográfica

ABRAMOVAY, Ricardo. Desenvolvimento Rural Territorial e Capital Social. In: SABOURIN,


Eric; TEIXEIRA, Olívio (orgs). Planeamento do Desenvolvimento dos Territórios Rurais:
conceitos, controvérsias e experiências. Brasília: UFPB/CIRAD/EMBRAPA, 2002

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38
TEMA – II: POBREZA,
DESIGUALDADE E CAPITAL HUMANO
UNIDADE Temática 2.1. Pobreza
UNIDADE Temática 2.2. Desigualdade
UNIDADE Temática 2.3. Capital humano

UNIDADE Temática 2.1. Pobreza


Introdução

A pobreza é uma situação social e económica caracterizada por


uma carência marcada na satisfação das necessidades básicas,
e as circunstâncias para especificar a qualidade de vidae
determinar se um grupo em particular se cataloga como pobre
tem o costume de ser o acesso a recursos como educação,
moradia, água potável, assistência médica, etc. Mesmo assim, é
costume que se considerem como importantes para efectuar
esta classificação às circunstâncias de trabalhos e nível de
recursos (KAJSA et al., 2015).

Um passatempo favorito de sociólogos e demais intelectuais da


área social é discutir justamente um assunto menos
controverso de toda a área sociológica: as causas da pobreza.
Por que a discussão é inócua? Simples: porque a pobreza é a
condição natural do ser humano (ABRAMOVAY, 2002).

Ao terminar esta unidade, o aluno deve ser capaz de:

▪ Dominar os conceitos;
▪ Conhecer as diferentes manisfestações da pobreza;
Objectivos ▪ Identificar e interpretar as causas da pobreza.
específicos

39
Desenvolvimento

Há muito pouco de complicado ou de interessante na pobreza.


Para Abramovay (2002), a pobreza sempre foi a norma; a
pobreza sempre foi a condição natural e permanente do
homem ao longo da história do mundo, e as causas da pobreza
são bem simples e directas.

Em qualquer lugar em que não haja empreendedorismo,


respeito à propriedade privada, segurança jurídica, acumulação
de capital e investimento, a pobreza será a condição
predominante (HUTZ, 2005). Abramovay (2002) ensaia uma
situação em que, havendo um grupo de pessoas em uma ilha,
peça para que elas não tenham nenhuma livre iniciativa, proíba
a propriedade de bens escassos, e você verá que a pobreza
será a condição geral e permanente dessas pessoas.

De acordo com Baruco (2006), em termos gerais, indivíduos em


particular ou nações inteiras em geral são pobres por uma ou
mais das seguintes razões: (1) eles não podem ou não sabem
produzir muitos bens ou serviços que sejam muito apreciados
por outros; (2) eles podem e sabem produzir bens ou serviços
apreciados por outros, mas são impedidos de fazer isso; ou (3)
eles voluntariamente optam por ser pobres.

O que é realmente desafiador é discutir as causas da riqueza;


discutir o que realmente eleva as pessoas de sua condição
natural (a pobreza) para a opulência e a fartura (KAJSA et al.,
2015).

O verdadeiro mistério é entender por que realmente existe


alguma riqueza no mundo. Como é que uma pequena fatia da
população humana (em sua maioria no Ocidente), por apenas
um curto período da história humana (principalmente nos
séculos XIX, XX e XXI), conseguiu escapar do mesmo destino de
seus predecessores? A resposta segundo Kajsa et al. (2015), é
que o sistema pré-capitalista de produção era restritivo. Sua
base histórica era a conquista militar. Os reis vitoriosos cediam
a terra conquistada aos seus paladinos. Esses aristocratas eram
lordes no sentido literal da palavra, uma vez que eles não
dependiam de satisfazer consumidores; seu êxito não dependia
de consumidores consumindo ou se abstendo de consumir seus
produtos no mercado. Por outro lado, eles próprios eram os
principais clientes das indústrias de processamento, as quais,
sob o sistema de guildas, eram organizadas em um esquema
40
corporativista (as corporações de ofício). Tal esquema se
opunha fervorosamente a qualquer tipo de inovação. Ele
proibia qualquer variação e divergência dos métodos
tradicionais de produção. Era extremamente limitado o
número de pessoas para quem havia empregos até mesmo na
agricultura ou nas artes e trabalhos manuais.

Para Kajsa et al. (2015), a feição característica do capitalismo


que o distinguiu dos métodos pré-capitalistas de produção era
o seu novo princípio de distribuição e comercialização de
mercadorias. Surgiram as fábricas e começou-se a produzir
bens baratos para a multidão. Todas as fábricas primitivas
foram concebidas para servir às massas, a mesma camada
social que trabalhava nas fábricas.

Elas serviam às massas tanto de forma directa quanto indirecta:


de forma directa quando lhes supriam produtos directamente,
e de forma indirecta quando exportavam seus produtos, o que
possibilitava que bens e matérias-primas estrangeiros
pudessem ser importados. Este princípio de distribuição e
comercialização de mercadorias foi a característica
inconfundível do capitalismo primitivo, assim como é do
capitalismo moderno.

Ainda de acordo com Kajsa et al. (2015), como acabou


ocorrendo, toda a criatividade e inventividade que o
capitalismo desencadeou se reflectiu nas estatísticas de
natalidade: pessoas de classe média que não mais
necessitavam gerar famílias grandes para ter filhos que
trabalhasse e ajudassem no sustento começaram a limitar a
quantidade de filhos. Essa combinação entre famílias menores
e uma aplicação mais engenhosa da ciência à agricultura
acabou com o problema da inanição no Ocidente. A partir daí,
a pobreza deixou de ser predominante e passou a ficar restrita
a um número cada vez menor de pessoas. Riqueza e pobreza.

Para Kajsa et al. (2015), o rico dispõe de bens de capital. E para


ter esses bens de capital, ele teve de poupar e investir. Bens de
capital são factores de produção — no mundo actual,
ferramentas, maquinarias, computadores, equipamentos de
construção, tractores, escavadeiras, britadeiras, serras
eléctricas, edificações, fábricas, meios de transporte e de
comunicação, minas, fazendas agrícolas, armazéns, escritórios
etc. — que auxiliam os seres humanos em suas tarefas e,

41
consequentemente, tornam o trabalho humano mais
produtivo.

Cidade de Nova York, USA. Cidade de Nova Deli, Índia

Fonte: NU, 2015. O informe anual da organização internacional


Save the Children intitulado Estado das mães do mundo 2015.

Que diferença há entre EUA e Índia? Será que a população


indiana é mais pobre porque trabalha menos? Não. Na Índia,
trabalha-se até mais do que nos EUA. Será que um indiano —
ou um egípcio ou um mexicano ou um haitiano — possui menos
conhecimento tecnológico que um americano ou um suíço?
Não, o conhecimento está hoje disperso pelo mundo e tende a
ser o mesmo. Com efeito, os técnicos indianos são reconhecidos
como uns dos melhores do mundo. Então, por que há pessoas
desnutridas e morrendo de inanição em Calcutá mas não em
Zurique ou em San Francisco? (KAJSA et al. 2015).

- A diferença entre uma nação rica e uma nação pobre pode ser
explicada exclusivamente por um único factor, conforme
advoga Kajsa et al. (2015): a nação rica possui uma quantia
muito maior de bens de capital do que uma nação pobre.

- Ao passo que na Índia um agricultor cultiva sua terra com


duas vacas e um arado, nos EUA, um agricultor utiliza um
tractor e um computador. E, com esses bens de capital, ele é
múltiplas vezes mais produtivo do que seu congénere indiano. O
americano seria o Robinson Crusoe rico, que possui uma rede e
uma vara de pescar; o indiano seria o Robinson Crusoe pobre,
que utiliza as próprias mãos para colher alimentos.

- Quando um indivíduo tem de utilizar apenas o trabalho de


suas mãos, e o produto que ele produz é utilizado
imediatamente para seu consumo final, ele é pobre. Quando
42
este mesmo indivíduo passa a utilizar bens de capital, como
tractores, computadores e vários tipos de máquinas — os quais
só puderam ser construídos graças à poupança e ao
subsequente investimento de outras pessoas — ele pode
multiplicar acentuadamente sua produtividade e,
consequentemente, ser muito mais rico.

- Quanto maior a estrutura de produção — isto é, quanto maior


o número de etapas intermediárias utilizadas para a produção
de um bem — mais produtivo tende a ser o processo de
produção. Por exemplo, se o bem de consumo a ser produzido é
o milho, você tem de preparar e cultivar a terra. Você pode
fazer tal tarefa com um arado ou com um tractor. O tractor
moderno é um bem de capital cuja produção exige um conjunto
de etapas muito mais numeroso, complexo e prolongado do
que o número de etapas necessário para a produção de um
arado. Consequentemente, para arar a terra, um tractor
moderno é muito mais produtivo do que um arado. Portanto, o
processo de produção do milho será mais produtivo caso você
utilize um tractor (cuja produção demandou um processo de
várias etapas) em vez de um arado (cujo processo de produção
é extremamente mais simples).

- Isto explica por que um trabalhador nos EUA ganha um salário


muito maior do que um trabalhador na Índia executando a
mesma função. O primeiro possui à sua disposição bens de
capital em maior quantidade e de maior qualidade do que o
segundo. Logo, o primeiro produz muito mais do que o segundo
em um mesmo período de tempo. Quem produz mais pode
ganhar salários maiores. Essa é a característica que diferencia
um país rico de um país pobre (KAJSA et al. 2015)

As causas da riqueza
A única maneira de se favorecer as classes trabalhadoras e os
mais pobres, portanto, é dotando-lhes de bens de capital, os
quais são produzidos graças à poupança e ao investimento de
capitalistas (ABRAMOVAY, 2002; KAJSA et al., 2015).

O que é um capitalista? Capitalista é todo indivíduo que poupa


(que consome menos do que poderia) e que, ao abrir mão de
seu consumo, permite que recursos escassos sejam utilizados
para a criação de bens de capital (KAJSA et al., 2015).

43
Para Barquero (2001), Baruco (2006) e Kajsa et al. (2015)
Consequentemente, corroboram a mesma ideia de que, se um
determinado país pobre quer enriquecer, ele deve criar um
ambiente empreendedor e institucional que garanta a
segurança da poupança e dos investimentos. A primeira
medida que ele tem de tomar é criar um ambiente propício ao
empreendedorismo e à livre iniciativa.

Ainda de acordo com os mesmos autores, nomeadamente


Barquero (2001), Baruco (2006) e Kajsa et al. (2015), única
maneira de se sair da pobreza é fomentando a poupança,
permitindo o livre investimento da poupança em bens de
capital, e estabelecendo um sistema de respeito à propriedade
privada que favoreça a criatividade empresarial e a livre
iniciativa. Portanto, na opinião destes autores, o que gera
riqueza para um país é poupança, acumulação de capital,
divisão do trabalho, capacidade intelectual da população (se a
população for inapta, a mão-de-obra terá de ser importada),
respeito à propriedade privada, baixa tributação, segurança
institucional, segurança jurídica, desregulamentação
económica, moeda forte, ausência de inflação,
empreendedorismo da população, leis confiáveis e estáveis,
arcabouço jurídico sensato e independente etc.

Em suma, Abramovay (2002) avança de que é necessário haver


um ambiente que permita que os capitalistas tenham liberdade
e segurança para investir e desfrutar os frutos de seus
investimentos (o lucro).

Um país que persegue os capitalistas, que tolhe a livre iniciativa,


que não assegura a propriedade privada, que tributa os lucros
gerados pelos investimentos, e que cria burocracias e
regulamentações sobre vários sectores do mercado é um país
condenado à pobreza (KAJSA et al.,2015).

Já um país que fomenta a poupança, que respeita a


propriedade privada, que fornece segurança jurídica e
institucional, e que permite a liberdade de empreender e a
acumulação de bens de capital é um país que sairá da pobreza
e em poucas gerações poderá chegar à vanguarda do
desenvolvimento económico (BARQUERO, 2001; ABRAMOVAY,
2002; BARUCO, 2006 e KAJSA et al.,2015).

44
Fonte: NU, 2015. O informe anual da organização internacional
Save the Children intitulado Estado das mães do mundo 2015

A real solução para a pobreza não está em um sistema de


redistribuição de renda comandado pelo governo (KAJSAet al.,
2015). A solução está no aumento da produção. O padrão de
vida de um país é determinado pela abundância de bens e
serviços (ABRAMOVAY, 2002).

Quanto maior a quantidade de bens e serviços ofertados, e


quanto maior a diversidade dessa oferta, maior será o padrão
de vida da população. Quanto maior a oferta de alimentos,
quanto maior a variedade de restaurantes e de supermercados,
de serviços de saúde e de educação, de bens como vestuário,
materiais de construção, eletroeletrónicos e livros, de pontos
comerciais, de shoppings, de cinemas etc., maior tende a ser a
qualidade de vida da população.
E só é possível aumentar essa produção se houver
investimentos em bens de capital, em maquinarias e
ferramentas mais eficientes para a produção. O empreendedor
da livre iniciativa, que faz investimentos capitalistas, é o
verdadeiro herói da guerra à pobreza (KAJSA et al., 2015).

Pobreza e delinquência

Parece sensato considerar o ambiente familiar como um factor


que contribui para as diferenças de comportamentos entre
indivíduos, pois, grande parte das nossas acções derivam do
que aprendemos.

Os comportamentos delinquentes geralmente associam-se aos


estratos sociais. Estes comportamentos são associados aos
pobres, às crianças institucionalizadas ou de rua (HUTZ, 2005).

45
Fonte: NU, 2015. O informe anual da organização internacional
Save the Children intitulado Estado das mães do mundo 2015.

A delinquência juvenil tem sido considerada como uma


perturbação psicossocial do desenvolvimento, que deve ser
compreendida pela sua complexidade, já que a sua
exteriorização ocorre a partir de factores contextuais,
biológicos e sociológicos (SILVA e HUTZ, 2002).

Um ambiente familiar adverso, num meio problemático, com


venda de drogas, uma escola com colegas delinquentes, com
um ambiente físico negligente e uma cultura de desrespeito
pelas leis e impunidade podem engendrar comportamentos
anti-sociais e criminais em crianças (BELSKY, 1980;
BRONFENBRENNER, 1987).

Quando os comportamentos delinquentes são efectuados por


jovens, é quase inevitável perguntar qual a razão do
acontecimento. E, obviamente, questionar o que se pode fazer
para combater este tipo de acontecimento. Isto são questões
bastante complexas e para as quais não existem respostas
definitivas. Um dos factores base é o facto de existir uma
grande diversidade de formas de expressão que os
comportamentos delinquentes podem assumir nos jovens. A
diversidade de actos de delinquência juvenil pode ser avaliada
tendo em conta os padrões individuais de funcionamento e de
acordo com a gravidade da transgressão.

46
Um baixo envolvimento dos pais nos cuidados dos filhos,
institucionalização na infância, envolvimento com grupos de
pares violentos, fragilidade ou a ausência da figura paterna e o
uso de práticas educativas assentes na violência são factores
preditores da delinquência juvenil (ASSIS e CONSTANTINO,
2001; LOEBER e DISHION, 1983; SCARAMELLA, CONGER, SPOTH
e SIMONS, 2002).

Fonte: NU, 2015. O informe anual da organização internacional


Save the Children intitulado Estado das mães do mundo 2015.

As bases de comunicação e monitoria parental funcionam


como protectores sociais contra o envolvimento em
comportamentos de risco. Ao invés, os jovens que apresentam
um fraco sentido de eficácia de auto-regulação não são apenas
menos bem-sucedidos em suportar a pressão dos amigos
delinquentes, mas são relutantes em debater as suas ações
delitivas com os seus pais (CAPRARA et al., 1998). Desta forma,
pode-se concluir que uma fraca monitorização parental e baixo
suporte de comunicação desempenham um papel facilitador
das actividades delinquentes.

De acordo com Hoffman (1984), o surgimento de


comportamentos anti-sociais está relacionado com a
insatisfação de certas necessidades da criança:

47
• Segurança;

• Conhecimento dos limites de controlo;

• Dependência dos outros;

• Desenvolvimento de competências através de experiências


de êxito a partir da manipulação do ambiente.

Analisando os factores que levam os jovens a delinquir, estão


relacionados com a impossibilidade de levar a cabo certas
tarefas de desenvolvimento:

• Aquisição de comportamentos socialmente responsáveis;

• Preparação para um futuro.

Os jovens que apresentam um grande sentido de eficácia de auto-


regulação estão melhor providos para lidar com os elementos
stressantes de transição da adolescência, a desempenhar
actividades que constroem competências, a ouvir de forma eficaz
as suas opiniões e as aspirações com os pais e outros adultos e
para aguentar a pressão dos colegas para participar em
actividades delinquentes (BANDURA, 1997).

Pobreza e criminalidade

Segundo Coimbra e Nascimento (2005), desde o início do


Século XIX convivemos com teorias que buscam provar a
inferioridade de determinados segmentos sociais, como as
teorias racistas e o movimento eugenista. Também a
antropologia criminal de Cesare Lombroso postula ser possível
distinguir, com base em características anatómicas, os
criminosos natos e os perigosos sociais.
A partir da substituição das explicações de patologia médica
(Lombroso) pelas patologias sociais (Garófalo, Ferri e
Durkheim), a associação crime-pobreza vai contribuir para a
consolidação de uma interlocução científica, entre as “teorias
da classe perigosa”, as “teorias da marginalidade”, e as
explicações baseadas na noção de “estratégias de
sobrevivência”. O problema principal não é a pobreza, mas a
criminalização dos pobres. Estudos como de Beato e Reis
(1999) e de Sapori e Wanderley (2001) citados por Borges
(2009), contestam a relação de causalidade entre pobreza,
delinquência e violência. De modo geral, as críticas actuais

48
apontam para o aspecto do estereótipo, da correlação
estatística e ainda pela causalidade.

Fonte:NU, 2015. O informe anual da organização internacional


Save the Children intitulado Estado das mães do mundo 2015

Um estudo realizado no Brasil, provou que segundo Borges


(2009) que a geografia do crime, por sua vez, indica que a
correlação entre os bairros pobres e o risco de vitimização
ocorre na medida em que as estatísticas do crime são
distribuídas por área. Assim, a possibilidade de ser vítima de
homicídio é maior em regiões pobres do que em regiões que
apresentem IDH considerado elevado. Ao passo que os crimes
contra o património ocorrem em maior número nas regiões do
centro e em proximidades. Estudo de Pezzin (1986) confirmava
correlações positivas entre urbanização, pobreza e desemprego
com a criminalidade patrimonial, no Município de São Paulo. O
estudo também concluiu que entretanto, o principal agravante
desse quadro histórico de criminalização da pobreza é
demonstrado pelo carácter discriminatório das práticas
policiais e judiciais. As políticas de segurança criam um perfil
criminoso e levam-nos a crer que os jovens da periferia,
desempregado, com baixa escolaridade e sem perspectiva de
ascensão social são potencialmente criminosos e, por isso, são
presos e mortos pelas instituições de segurança.

49
Fonte: NU, 2015. O informe anual da organização internacional
Save the Children intitulado Estado das mães do mundo 2015

É, portanto, fundamental compreender porque um


agrupamento de indicadores indirectos da criminalidade como
risco familiar, baixo acesso ao conhecimento, ao trabalho,
carência habitacional, precárias condições de infra-estrutura e
de saúde, além da necessidade de recursos públicos
contribuem para tornar vulneráveis os espaços. Nesse sentido,
o tratamento dos factores que influenciam a criminalidade, de
forma isolada é muito difícil de apresentar respostas
favoráveis.

A necessidade de prevenir, monitorar e administrar a


criminalidade somente poderá ser efectivada na medida em
que se desenvolvam acções públicas no sentido de atenuar
todas as vulnerabilidades que assolam a vida humana.

Sumário

Nesta Unidade Temática 2.1 consideramos os impactos da


migração sobre o indivíduo, o lugar deixado pelo migrante e o
lugar que recebe o migrante. Também consideramos os
factores determinantes internos e externos da migração, sua
génese e impacto socioeconómico dos países envolvidos por
este fenómeno:
1. Conceito
2. Factores determinantes;
3. Impacto socioeconómico.
50
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

GRUPO-1 (Com respostas detalhadas)


1. O que é pobreza?
2. O que os sociólogos e demais intelectuais gostam de discutir?
3. Por que a discussão é inócua?
4. Quais são as causas da pobreza?
5. Quais são as três razões apontadas por Baruco sobre a ocorrência da
pobreza?

Respostas:
1. Rever o 1º parágrafo, página 41
2. Rever o 2º parágrafo, página 41
3. Rever o 2º parágrafo, página 41
4. Rever o 2º parágrafo, página 42
5. Rever o 3º parágrafo, página 42

GRUPO-2 (Com respostas sem detalhes)


1. A relação entre pobreza, delinquência e criminalidade é:
a) Directa: Quem é pobre automaticamente é delinquente
b) Directa: Quem é pobre é automaticamente criminoso
c) Directa: Quem é pobre é automaticamente delinquente ou criminoso
d) Directa: Quem é pobre é automaticamente delinquente e criminoso
2. São potencialmente delinquentes os jovens da:
a) Periferia
b) Cidade
c) Zona rural
3. São potencialmente criminosos os jovens da:
a) Periferia
b) Cidade
c) Zona rural
4. Comportamento anti-social é aquele em que:
a) A família aprova
b) A sociedade aprova
c) Só os amigos aprovam
5. Comportamentos delinquentes podem:

51
a) Assumir diversas formas
b) A mesma forma em função da zona ou lugar onde o jovem reside

c) Ser ocultos

Exercícios de AVALIAÇÃO

GRUPO-3 (Exercícios de GABARITO)

1. Por que existe alguma riqueza no mundo?


2. O que é capitalismo?

3. Por que a pobreza é considerada por alguns autores como condição


natural e permanente do homem?
4. Qual é a caracterização que faz sobre o princípio de distribuição e
comercialização de mercadorias no capitalismo primitivo?
5. Qual é a relação entre riqueza e pobreza?

UNIDADE Temática 2.2. Desigualdade


Introdução

É notória a disparidade social entre diferentes continentes,


países, regiões, estados e, até mesmo, cidades. Essa
desigualdade é um dos maiores problemas da sociedade e é
uma das causas de boa parte dos conflitos entre povos. A
intensificação desse processo tende a agravar ainda mais os
problemas socioeconómicos das pessoas menos favorecidas.
O conceito de desigualdade social é um guarda-chuva que
compreende diversos tipos de desigualdade, desde
desigualdade de oportunidade, resultado, etc., até
desigualdade de escolaridade, de renda, de género, etc. De
modo geral, a desigualdade económica – a mais conhecida – é
chamada imprecisamente de desigualdade social, dada pela
distribuição desigual de renda.

52
Por isso mesmo, que, ao terminar esta unidade, o aluno deve ser capaz
de:

▪ Dominar os conceitos;
▪ Caracterizar as diferentes formas de segregação social;
Objectivos ▪ Interpretar os factores e consequências da desigualdade no mundo.
específicos

Desenvolvimento

A desigualdade social é consequência da má distribuição da


riqueza, facto constatado na maioria dos países. Isso gera um
contraste económico e social entre a população, pois apenas
uma pequena parcela da sociedade detém a maioria dos
recursos económicos, enquanto a maioria se “contenta” com a
menor parcela dos bens.

De acordo com Cerqueira e Francisco (2016), apresentam dados


atribuídos pelo Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD), os rendimentos de 1% das pessoas
mais ricas do mundo são compatíveis àqueles de 57% da
população mais pobre do planeta. Esses dados confirmam a
diferença na concentração de renda entre ricos e pobres,
reflectindo directamente na alimentação, bens de consumo e
serviços elementares ao ser humano no que se refere às classes
em questão.

Este pronunciamento de Cerqueira e Francisco (2016), foi


também no passado avançado por Stiglitz (2012), ao dizer que
a desigualdade social refere-se a processos relacionais na
sociedade que têm o efeito de limitar ou prejudicar o status de
um determinado grupo, classe ou círculo social. As áreas de
desigualdade social incluem o acesso aos direitos de voto, a
liberdade de expressão e de reunião, a extensão dos direitos de
propriedade e de acesso à educação, saúde, moradia de
qualidade, viajar, ter transporte, férias e outros bens e serviços
sociais. Além de que também pode ser visto na qualidade da
vida familiar e da vizinhança, ocupação, satisfação no trabalho
e acesso ao crédito. Se estas divisões económicas endurecem,
elas podem levar a desigualdade social.

53
Ainda de acordo com o Cequeira e Francisco (2016), citando
dados do Banco Mundial, aproximadamente 22% da população
mundial vive com menos de 1,25 dólar por dia e 44% ganham
menos de 2 dólares por dia. Portanto, de acordo com a
metodologia utilizada pelo Banco Mundial, 66% da população
global se inclui na subdivisão anteriormente mencionada. Os
países nos quais esses índices se apresentam mais alarmantes
são: os da América Latina, sul da Ásia e, principalmente, da
África Subsariana. Esse quadro de desigualdades sociais gera
um processo de exclusão relacionado à moradia, educação,
emprego, saúde, entre outros aspectos de direito do cidadão.

Fonte: PNUD, citado por Cequeira e Francisco (2016)

Segundo Raygadas (2004) existem no mundo diversas formas


de desigualdade, mas as que mais se destacam são: social,
género, racial, económica, etária entre outros.

- Desigualdade de género: um dos factores centrais na


construção das desigualdades tem sido a discriminação de
géneros. A discriminação sexual é estruturada nas distinções
sociais e culturais entre homens e mulheres que convertem as
diferenças sexuais biológicas em hierarquias de poder, status e
renda. Também pode ser definido como a divisão de tarefas,
posto de trabalho e profissões com base no feminino e
masculino, essa prática, que era comum na sociedade começou
a ser questionada apenas recentemente. As consequências
dessa desigualdade são que as mulheres ganham menos que os
homens, ou homens a menos do que as mulheres (fazendo o
mesmo trabalho, com o mesmo grau de ensino e mesmos
horários). A sociedade salarial não é uma sociedade de
54
igualdade, há uma grande diferença entre o rendimento gerado
pelo homem em comparação à mulher e até mesmo o acesso
aos bens sociais, por exemplo, acesso à educação e cultura. A
ênfase na desigualdade de género nasce do aprofundamento
da divisão em papéis atribuídos a homens e mulheres,
particularmente nas esferas económica, política e educacional.
As mulheres estão sub-representadas em actividades políticas e
tomada de decisão na maioria dos estados.

- Desigualdade racial: A desigualdade racial é o resultado de


distinções sociais hierárquicas entre grupos étnicos dentro de
uma sociedade e, muitas vezes estabelecida com base em
características como a cor da pele e outras características
físicas ou origem e cultura de um indivíduo. O tratamento
desigual e de oportunidades entre os grupos raciais é
geralmente o resultado de alguns grupos étnicos, considerados
superiores a outros. Esta desigualdade pode se manifestar por
meio de práticas de contratação discriminatórias em locais de
trabalho, em alguns casos, os empregadores têm demonstrado
preferir a contratação de funcionários em potencial com base
na percepção étnica dado o nome de um candidato - mesmo
que todos tenham currículo apresentando qualificações
idênticas. Parte desses tipos de práticas discriminatórias
resultam de estereótipos,que é quando as pessoas fazem
suposições sobre as tendências e características de
determinados grupos sociais, muitas vezes incluindo grupos
étnicos, normalmente enraizadas em suposições sobre a
biologia, capacidades cognitivas, ou mesmo falhas morais
inerentes. Estas atribuições negativas são então divulgadas
através tanto da sociedade quanto dos diferentes meios,
incluindo a televisão, jornais e internet, os quais desempenham
papel na promoção de preconceitos de raça e assim
marginalizando grupos de pessoas. Isto, juntamente com a
xenofobiae outras formas de discriminação continuam a
ocorrer nas sociedades com o aumento da globalização.
- Desigualdade económica: A desigualdade económica refere-se
às diferenças de renda e riqueza numa sociedade ou entre
sociedades ou países. Há diversas maneiras de se medir
desigualdade, sendo a mais comum o coeficiente Gini. O
Coeficiente de Ginimede o grau da desigualdade de cada um
dos países. No Brasil, o coeficiente de Gini mostrou a
desigualdade social, a piorar nos últimos 50 anos[19] e as
recentes melhorias.
55
O coeficiente de Gini calcula-se como uma razão das áreas no
diagrama da curva de Lorenz. Se a área entre a linha de
perfeita igualdade e a curva de Lorenz é A, e a área abaixo da
curva de Lorenz é B, então o coeficiente de Gini é igual a
A/(A+B).

Esta razão se expressa como percentagem ou como equivalente


numérico dessa percentagem, que é sempre um número entre 0
e 1. O coeficiente de Gini pode ser calculado com a Fórmula de
Brown, que é mais prática:

Onde:

• G = coeficiente de Gini

• X = proporção acumulada da variável


"população"

• Y = proporção acumulada da variável


"renda"

Ano Coeficiente de Gini

1960 0,5367

1976 0,6227

1985 0,5976

1990 0,6138

1995 0,6005

1999 0,5939

56
2005 0,5694

2009 0,5427

Coeficiente de Gini, de 1972 a 2012.

Fonte: Leandro. «A ascensão da Classe C–classes sociais no


Brasil».12 de Outubro de 2010.

- Desigualdade etária: definida como o tratamento injusto de


pessoas no que diz respeito a promoções, recrutamento,
recursos ou privilégios por causa de sua idade. É também
conhecida como preconceito de idade, os estereótipos e a
discriminação contra indivíduos ou grupos com base em sua
idade. É ainda um conjunto de crenças, atitudes, normas e
valores utilizados para justificar preconceito baseado na idade,
discriminação e subordinação. Uma forma de preconceito de
idade é "adultismo", que é a discriminação contra crianças e
pessoas com idade legal inferior à idade adulta.

Desigualdade e discriminação

Há quem diga que a desigualdade social é imputável aos


desgraçados e desfavorecidos, pois não se esforçam, não
lutam, não “estudam” e não fazem por merecer. E o Estado
não pode ser “paternalista”, afinal de contas, pois “é sabido”

57
que é mais proveitoso ao indivíduo que lhe ensinem a pescar,
ao invés de lhe darem um peixe…

Para Bento (2016), no mundo todo, a situação das mulheres é


preocupante. Em países pobres, as situações de miséria e de
exclusão social que atingem homens e mulheres somam-se às
discriminações de género, sexual, étnica e racial presentes nos
distintos contextos socioeconómicos. Em todas as classes
sociais, as mulheres são vítimas de violência (física, psicológica,
moral e sexual), enfrentam dificuldades de acesso ao trabalho
e à geração de renda, à escolarização e à participação na vida
política.

De acordo com Bento (2016), a situação de pobreza e de


discriminação étnico-racial agrava esta realidade. Mulheres em
situação de pobreza, mulheres negras e indígenas, além de
administrarem o quotidiano doméstico e disputarem vagas no
mercado de trabalho sem qualificação adequada, devem
enfrentar o preconceito por serem pobres e por não serem
brancas. Alguns dados de pesquisas recentes ilustram a
realidade construída pelo machismo e pelo racismo presentes
em nossa sociedade. Como vimos, as desigualdades de género
combinam-se com a discriminação social e étnico-racial. Desde
crianças, as meninas podem ser preteridas pelos pais em relação
aos irmãos. Quando adultas, possuem menos oportunidades de
acesso ao mundo público, suportam a sobrecarga de trabalhos
domésticos e têm poucas chances de realizar sonhos que as
conduzam à emancipação financeira ou social. Se não tiverem
acesso a uma boa formação escolar e incentivo podem limitar-se
a reproduzir o destino de suas mães, além de ficarem expostas
ao risco da gravidez não prevista se não tiverem oportunidade
de obter meios para contracepção. Ainda hoje, as mulheres,
sobretudo as jovens e de áreas mais periféricas, têm dificuldade
de acesso aos serviços de saúde e a políticas públicas eficazes
para a superação destas dificuldades sociais.

Uma das questões também levantadas quando se discute a


desigualdade, tem a ver com a justiça social.

Justiça social

Para Rodrigues (2016), o conceito de justiça social está


fundamentado em certos preceitos morais e políticos que
58
cuidam de questões como igualdade de direitos, garantia de
direitos básicos e, ainda, solidariedade colectiva. De várias
maneiras, a noção de justiça social deriva da luta pela melhoria
das condições sociais daqueles que vivem em situação precária.
As maneiras como esse objectivo pode ser alcançado variam de
acordo com os meios propostos, o que, por sua vez, está
relacionado com o contexto ideológico daqueles que adoptam
a visão.

De forma geral, a ideia de justiça social vai de encontro com a


ideia de justiça civil. Enquanto a imagem da justiça civil é
concebida como “cega” em relação às diferenças dos
indivíduos, pois busca a imparcialidade em seu julgamento, a
justiça social está disposta a observar o contexto e a situação
dos envolvidos de forma que seja possível atribuir a resolução
mais apropriada para cada caso. Isso quer dizer que as ações de
justiça social são de caráctercorrectivo ao atribuir medidas
protectivas para certas camadas sociais que possuem
dificuldades económicas ou que sofrem com estigmas sociais
relacionados com a cor ou etnia, por exemplo (RODRIGUES,
2016).

Fonte: PNUD, citado por Cequeira e Francisco (2016)

As dificuldades, que se somam às desigualdades que a parte


mais carente da população sofre, somam-se também aos
estigmas sociais associados à cor ou à condição económica. Isso
vitimiza a população pobre em mais de uma forma: a exclusão
deixa de ser apenas económica e passa a ser social quando o
acesso dos indivíduos mais pobres é dificultado diante das
diferenças de oportunidade que existem no contexto social.

59
Diante de tal ocorrência, faz-se necessário uma distribuição de
renda mais justa com vista a proporcionar melhores condições
de vida para a população global.

Sumário

Nesta Unidade Temática 2.2 consideramos a desigualdade


como um fenómeno social e aprimoramos os impactos
emanados desses constructos. Duma forma geral, abordamos:
1. Conceitos
2. Factores relacionados ao fenómeno desigualdade

3. Consequências da desigualdade

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

GRUPO-1 (Com respostas detalhadas)

1. Como se apresenta ou descreve o conceito desigualdade social?


2. O que significa desigualdade social?
3. Apresente o conceito de desigualdade social segundo Stiglitz.
4. Comente este posicionamento?
5. Como aplica este posicionamento para a realidade moçambicana?

Respostas:
1. Rever 1º parágrafo, página 55
2. Rever 2º parágrafo, página 55
3. Rever 3º parágrafo, página 55
4. Rever 4º parágrafo, página 55
5. Rever 4º parágrafo, página 55

GRUPO-2 (Com respostas sem detalhes)

1. A desigualdade ocorre em países cuja …


a) População é menos escolarizada
b) População é mais escolarizada
c) População cultiva crenças divinas ou sobrenaturais
2. Existe desigualdade porque:
a) Alguns se consideram superiores que outros

60
b) Alguns se sentem inferiores que outros
c) Alguns não gostam nem querem trabalhar
3. Justiça social significa:
a) Tirar as sobras de ricos e distribuir aos pobres
b) Oferecer mais renda somente aos pobres
c) Igual tratamento e oportunidades entre as pessoas
4. Qual é a relação entre desigualdade e exclusão?
a) São termos sinónimos
b) São complementares
c) Não há diferença, portanto são iguais
5. Diante dos factos apresentados nesta unidade sobre desigualdade,
melhor:
a) Não fazer nada
b) Agir de acordo com a situação
c) Contribuir na definição de políticas públicas mais adequadas

Exercícios de AVALIAÇÃO

GRUPO-3 (Exercícios de GABARITO)

1. Quais são as classes sociais que existem em Moçambique?


2. Já se sentiu alguma vez discriminada/o?
2.1. Qual foi a razão?
2.2. Que atitude tomou?
2.3. Justifique porquê?
3. Qual deve ser a melhor atitude a tomar quanto as desigualdades sociais?
4. Das diversas formas de desigualdade, qual delas considera a principal, a
que cria mais impacto?
5. Qual é o coeficiente de Gini para Moçambique?

UNIDADE Temática 2.3. Capital humano

Introdução

Segundo Jamil (2004), Capital humano é o conjunto de


capacidades, conhecimentos, competências e atributos de
personalidade que favorecem a realização de trabalho de
modo a produzir valor económico. São os atributos adquiridos
61
por um trabalhador por meio da educação, perícia e
experiência. Muitas das primeiras teorias económicas referem-
se à força de trabalho, um dos três factores de produção, como
um recurso homogéneo e facilmente substituível.

O conceito de capital humano foi adoptado, nos anos 1980,


pelos organismos multilaterais mais directamente vinculados
ao pensamento neoliberal, na área educacional, no contexto
das demandas resultantes da reestruturação produtiva.

Ao terminar esta unidade, o aluno deve ser capaz de:

▪ Conhecer os conceitos sobre o capital humano;


▪ Identificar e aplicar as diferentes abordagens sobre o capital humano
Objectivos
▪ Dominar a análise e o processo de construção das abordagens.
específicos

Desenvolvimento

De acordo com Jamil (2004), o conceito de capital humano tem


relativamente mais importância em países com mão-de-obra
excedentária. Estes países são naturalmente dotados com mais
mão-de-obra devido à alta taxa de natalidade nestas condições.
O trabalho excedente nesses países é o recurso humano
disponível com mais abundância do que o recurso de capital
tangível. Este recurso humano pode ser transformado em
capital humano com entradas efectivas de valores educacionais,
de saúde e morais. De acordo com Paiva (2001) e Jamil(2004), a
transformação de recursos humanos primitivos em recursos
humanos altamente produtivos com estas entradas é o
processo de formação de capital humano. O problema da
escassez de capital tangível dos países superavitários de mão-
de-obra pode ser resolvido através da aceleração da taxa de
formação de capital humano com investimentos privados e
públicos em educação e saúde das suas economias nacionais. O
capital tangível financeiro é um instrumento eficaz de
promoção do crescimento económico da nação. O capital
62
humano intangível, por outro lado, é um instrumento de
promoção integral do desenvolvimento da nação porque o
capital humano está directamente relacionado com o
desenvolvimento humano, e quando há desenvolvimento
humano, o progresso qualitativo e quantitativo da nação é
inevitável. Essa importância do capital humano é explícita na
abordagem alterada das Nações Unidas para avaliação
comparativa do desenvolvimento económico das diversas
nações da economia mundial.

As Nações Unidas publicaram o Relatório de Desenvolvimento


Humano sobre o desenvolvimento humano em diferentes
países com o objectivo de avaliar a taxa de formação de capital
humano nesses países. O indicador estatístico de estimativa de
Desenvolvimento Humano de cada nação é o Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH). É a combinação do "Índice de
Esperança média de Vida", "Índice de educação" e o "Índice de
Rendimento". O índice de Esperança média de vida revela o
padrão de saúde da população no país, índice de educação
revela o padrão de ensino e a taxa de alfabetização da
população; e o índice de rendimento revela o padrão de vida
da população. Se todos estes índices têm a tendência de
crescimento durante um longo período de tempo, é reflectido
em tendência crescente no IDH.

Para Jamil (2004), o Capital Humano é desenvolvido pela


educação, saúde e qualidade de vida. Portanto, os
componentes do IDH a saber são: o Índice de Esperança média
de Vida, Índice de Educação e Índice de Rendimento estão
directamente relacionadas à formação do capital humano
dentro da nação. IDH é o índice de correlação positiva entre a
formação de capital humano e o desenvolvimento económico.
Se o IDH aumenta, existe uma maior taxa de formação de
capital humano em resposta ao aumento do nível de educação
e saúde. Da mesma forma, se o IDH aumenta, o rendimento
per capita da nação também aumenta. Implicitamente, o IDH
revela que quanto maior formação de capital humano, devido à
boa qualidade de saúde e educação, maior será o rendimento
per capita da nação. Este processo de desenvolvimento
humano é a base sólida de um processo contínuo de
desenvolvimento Economico da nação por um longo período
de tempo. Este significado do conceito de capital humano, na
geração de desenvolvimento económico a longo prazo da

63
nação não pode ser negligenciada. Espera-se que as políticas
macroeconómicas de todas as nações se centram na promoção
do desenvolvimento humano e desenvolvimento Economico
posterior. O capital humano é o pilar desenvolvimento humano
e do desenvolvimento económico em todas as nações (JAMIL,
2004).

Trazendo o debate ao nível das organizações ou empresas, o


capital humano na era do conhecimento tecnológico, esta em
que vivemos, deu destaque a avaliação do poder lucrativo e de
continuidade da empresa, sob a óptica de um verdadeiro
capital humano, um intangível, que se já era de interesse dos
estudiosos no passado, passou a ganhar um relevo especial em
nossos dias (PAIVA, 2001).
O que alguns estudiosos denominam de capital intelectual é
pois um valor de poder empresarial, imaterial, mas
determinável. Cada vez mais se estuda na ciência da
Contabilidade a influência ambiental endógena que é exercida
pelo conhecimento do pessoal no património da célula social,
este conhecimento é valorizado, pois, ele poderá gerar eficácia
ou ineficácia do meio patrimonial e o que é importante é que
haja a conscientização da necessidade de aprimoramento do
conhecimento do pessoal para vitalizar a dinâmica do meio
patrimonial. Dois factores, no campo referido, podem ser
destacados: o conhecimento individual e o colectivo.

Conhecimento individual

O conhecimento individual é aquele que se acha representado


pela educação, experiência, habilidades e atitudes das pessoas
que trabalham na empresa. Não é propriedade da companhia,
pois, tem carácter subjectivo. Para Dantas (2016), o simples
contratar pessoas que passam a exercer seu conhecimento na
célula social não outorga um valor agregado definitivo, mas,
apenas, uma acção temporária sob o risco permanente de
deixar de existir e quando alguém vai para casa leva estes
activos intelectuais consigo. Entretanto, se um conhecimento é
moldado para ser utilizado nos negócios e se em torno do
mesmo são criados sistemas de execução, transferíveis, a
cultura formada adquire, praticamente, uma força agente que
pode sob certas circunstâncias ser considerada como um
“activo imaterial”.

64
Em virtude das novas tecnologias, da internet, da concorrência
entre as células sociais e o cliente sempre mais exigente há
maior interesse no aprimoramento cultural do empregado que
faz parte da organização e na valorização do activo intelectual.
A empresa que não partir para a inovação cultural de seu
pessoal para, assim, criar novos procedimentos e ter a
capacidade de mudanças estará com sérias dificuldades num
mercado cada vez mais exigente e competitivo. O cliente mais
consciente quanto ao atendimento, qualidade do meio
patrimonial e preço buscará certamente a empresa que lhe
proporcionará o que ele precisa para satisfazer sua
necessidade. Aí vence a célula social que estiver com o pessoal
melhor preparado e que possuí a mercadoria que satisfaz o
cliente. A conquista do cliente exige criatividade e capacidade
de motivação como pontos importantes.

A capacidade intelectual do empregado, de acordo com Jamil


(2004), moldada a um sistema de trabalho específico e com
método adequado, é importante para o êxito da organização.
Esse activo imaterial fará diferença de uma empresa para sua
concorrente. A célula social pode adquirir tais forças
intelectuais ou investir na formação delas. Deverá buscar
manter tais activos intangíveis sempre actualizados e em
constante evolução isso passa a ser um objectivo estratégico
de valor. Esse agente externo, ao meio patrimonial, poderá
levá-lo à eficácia ou à ineficácia. A probabilidade de eficácia do
meio patrimonial será maior onde há conhecimento e esse
activo imaterial fará diferença na prosperidade ou não da
célula social.

Quanto maior o conhecimento maior a probabilidade de


eficácia. Quanto mais eficácias ocorrerem melhor o
desempenho patrimonial volvido à prosperidade (DANTAS,
2016). Cada trabalhador, com sua cultura, é importante na
célula social, pois cada um tem uma função a cumprir do mais
humilde ao mais graduado e cada um participando no bom
andamento do todo da organização. Somando as habilidades
intelectivas dos elementos da célula social teremos o
conhecimento colectivo.

Conhecimento colectivo

65
É o conjunto formado por parcelas de intelectualidades
individuais e moldado a uma filosofia empresarial, enriquecida
pela tecnologia. Com a tendência de transformar companhia
hierarquizada em estrutura mais plana, mais dinâmica e ágil,
onde os trabalhadores participam nas decisões da empresa e é
levado em conta o conhecimento e a experiência dos
trabalhadores, há valorização da cultura dos empregados e há
interesse em actualização do conhecimento por meios de
palestras, leituras, cursos etc. Nestas empresas há valorização
do activo intelectual e há interesse na cultura da célula social.
Segundo o Prof. Lopes de Sá (2000) citado por Dantas (2016), é
também, factível, investir-se em algo imaterial como a
educação de pessoal, selecção de elementos de maior
experiências e criatividade e obter-se um resultado muitas
vezes maior que a aplicação feita, sem que, contudo tais
valores sequer integrem as demonstrações dos balanços
patrimoniais.

A contabilidade tradicional é criticada pelos estudiosos por não


mencionar em seus demonstrativos contábeis o activo
imaterial da intelectualidade e os activos intangíveis. Segundo
Cinca e Garcia (1999) a informação que hoje interessa a
gerência da empresa e que não está suficientemente expressa
nos balanços e documentos contábeis tradicionais, se referem
a actividades de pesquisa e desenvolvimento, recursos
humanos, câmbios nos recursos e processos produtivos,
capacidade de inovação e valores que conduzem os produtos
ao consumidor. Os estudiosos estão se preocupando na
mensuração dos activos imateriais e do conhecimento gerado
pelo elemento humano que vai movimentar o capital da
organização.

Enfoque humano

Para Jamil (2004) e Dantas (2016), o elemento humano sem o


património não constitui uma célula social, assim, também, o
património sem o elemento humano não constitui uma
empresa. A empresa é o conjunto do homem e do património,
são verdades que tem evidência por si mesmas não
necessitando de demonstração. São axiomáticas. O homem é
que dá vida, é que dá movimento ao património, é o principal
elemento numa célula social. Com sua força intelectual ele
66
exerce influência ambiental endógena no património e em
virtude dessa influência há transformação do meio patrimonial
do qual deflui o fenómeno patrimonial (DANTAS, 2016). Cada
vez mais os estudiosos valorizam a intelectualidade que
movimenta o capital e que gera valor e, assim, há tendência, na
actualidade, em valorizar mais o aspecto humano na
companhia.

O aspecto humano consiste na competência, capacidade,


habilidades dos empregados e da direcção, a empresa deve ter
o compromisso de manter essas habilidades constantemente
actualizadas mesmo com ajuda de experto externo. Para
Dantas (2016), a combinação de cultura, experiências e
inovações dos empregados e as estratégias da empresa que
deverão mudar e manter essas relações. A chave está em criar
uma cultura de valorização do empregado como elemento
gerador de eficácia e riqueza e dar oportunidade de realização
de sua capacidade intelectiva e essa força intelectual vai
influenciar positivamente na dinâmica patrimonial.

Um trabalhador que não vê perspectiva em seu trabalho para


desenvolver suas capacidades e de crescimento na empresa
não terá motivação para desenvolver bem sua função na
empresa, desenvolverá sua tarefa com pouca motivação e
interesse influenciando, assim, o bom andamento da dinâmica
do meio patrimonial.

Segundo Carballal del Rio (2002), os recursos humanos que


dispõem uma empresa constituem seus recursos mais
apreciados. A administração participativa do pessoal, a redução
de níveis hierárquicos, a motivação e a liderança formam parte
dos elementos, que desde muitos anos escutamos com relação
à nova forma de administrar os recursos humanos. De acordo
com Dantas (2016), os empregados de uma organização são
sua fonte principal de criação de valores, por tanto, quando
despedimos pessoa, sem uma estratégia que a acompanhe,
com o único fim de reduzir custos, se está na presença de um
efeito “boomerang”, que se produzirá uma descapitalização
que será igual a um desinvestimento, por não poder produzir
ou gerar os valores que os clientes estão dispostos a pagar.

Também ensina o Lopes de Sá (1999), cada vez mais


aceleradamente os interesses ambientais passam a ser o
objecto de estudo da ciência da Contabilidade e neles se
67
inserem os factores humanos, como inequívocas forças
agentes, transformadoras e agregáveis.

Há preocupação dos estudiosos na força intelectual na empresa


quanto a sua influência na dinâmica patrimonial e seu reflexo
no mercado, pois, há uma forte ligação entre a força
intelectual, o fenómeno patrimonial e o entorno. Segundo
Lopes de Sá (2000) citado por Dantas (2016), o que importa,
em essência, que em dimensão, quer em relação aos entornos,
é a função que cada elemento que se agrega ao capital ou que
sobre ele influi, efectiva como utilidade, competente para
produzir a eficácia e a continuidade desta.

Sumário

Nesta Unidade Temática 2.3 consideramos o capital humano,


conceitos e as abordagens analíticas no campo das ciências e
aplicações empíricas.
1. Conceito
2. Foco das abordagens analíticas
3. Índice de Desenvolvimento Humano;

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

GRUPO-1 (Com respostas detalhadas)

1.Apresente o conceito de capital humano segundo jamil?


2.De acordo com este autor, aonde este conceito tem mais importância?
3.Qual é o fundamento dele para este posicionamento?
4.Como pode ser resolvido o problema de escassez de capital tangível
dos países superavitários?
5.Qual é o ensinamento de Lopes de Sá?

Respostas:
1. Rever 1º parágrafo, página 64
2. Rever 2º parágrafo, página 65
3. Rever 2º parágrafo, página 65
4. Rever 1º parágrafo, página 66
5. Rever 1º parágrafo, página 68
68
GRUPO-2 (Com respostas sem detalhes)

1. Os recursos humanos que dispõem uma empresa constituem:


a) Seus recursos menos apreciados
b) Seus recursos fixos intangíveis
c) Seus recursos mais apreciados
2. Um trabalhador que não vê perspectiva em seu trabalho para
desenvolver suas capacidades e de crescimento na empresa,
a) Vai continuar trabalhando mesmo assim
b) Poderá ficar débil e tornar-se incapacitado
c) Não terá motivação
3. A chave para criar competência no homem está em criar,
a) Burocracia na empresa
b) Seleccionar pessoas superanimadas
c) Uma cultura de valorização do empregado
4. Na abordagem com enfoque no homem
a) O homem é que dá vida, é que dá movimento ao património
b) O património é que dá a vida ao homem e o movimento
c) As duas afirmações anteriores
5. A conquista do cliente,
a) Exige dinheiro
b) Exige dinheiro e conhecimento
c) Exige criatividade e capacidade de motivação como pontos
importantes.

Exercícios de AVALIAÇÃO

GRUPO-3 (Exercícios de GABARITO)

1. O que é capital tangível?


2. O que é capital intangível?

3. O que são países superavitários?


4. Qual é o indicador estatístico usado para estimar o desenvolvimento
humano para cada nação?
5. Diferencie conhecimento colectivo do conhecimento individual?
69
Exercícios finais sobre o TEMA

1. Qual é a relação entre pobreza e desigualdade social?

2. O que existe em comum entre a pobreza e desigualdade?

3. Qual é a relação entre pobreza e justiça social?

4. Qual é a importância de Coeficiente de Gini?

5. Que relação existe entre pobreza e riqueza?

6. Como os povos pobres podem ultrapassar esta condição de


pobreza?

7. Diferencie os termos discriminação, exclusão e estigmatização?

8. Quais são as razões da pobreza no mundo?

9. Diferencie o conhecimento individual do conhecimento


colectivo?

10.Qual é a importância do IDH para as nações?

11.O que significa o efeito “boomerang”?

2. O que é Administração participativa dos Recursos Humanos?

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TEMA – III: ECONOMIA DOS


PRODUTOS PRIMÁRIOS
UNIDADE Temática 3.1. Sectores da economia
UNIDADE Temática 3.2. Economia nos países subdesenvolvidos
UNIDADE Temática 3.3. Condições necessárias para industrialização

UNIDADE Temática 3.1.Sectores da Economia


72
Introdução

A economia de um país pode ser dividida em sectores


(primário, secundário e terciário) de acordo com os produtos
produzidos, modos de produção e recursos utilizados. Estes
sectores económicos podem mostrar o grau de
desenvolvimento económico de um país ou região.

Ao terminar esta unidade, o aluno deve ser capaz de:

▪ Dominar os conceitos;
▪ Conhecer os três principais sectores da economia;
Objectivos ▪ Identificar os pontos fortes e fracos de cada sector.
específicos

Desenvolvimento

Conforme enunciado no parágrafo introdutório, os sectores da


economia apresentam-se como mostra a gravura de Silva
(2004) abaixo.

Fonte: Silva, (2004)

Sector Primário

De acordo com Rodolfo (2016), o sector primário da economia


vem perdendo espaço mas continua apresentando uma
relevante contribuição para as sociedades.

O sector primário está relacionado à produção através da


exploração de recursos da natureza. Podemos citar como
exemplos de actividades económicas do sector primário:
agricultura, mineração, pesca, pecuária, extrativismo vegetal e
caça. É o sector primário que fornece a matéria-prima para a
indústria de transformação.

73
Este sector da economia é muito vulnerável, pois depende muito
dos fenómenos da natureza como, por exemplo, do clima (SIVA,
2004).

A produção e exportação de matérias-primas não geram muita


riqueza para os países com economias baseadas neste sector
económico, pois estes produtos não possuem valor agregado
como ocorre, por exemplo, com os produtos industrializados.

Segundo Silva (2004), essa importante área da economia é


chamada por esse nome por ter sido a primeira a ser
desenvolvida pela humanidade, sendo a prática constitutiva
das civilizações. Foi no Período Neolítico que os seres humanos
deixaram de ser nómades para formar os primeiros povoados,
uma vez que aprenderam a cultivar os elementos da natureza
para dela tirar o seu sustento. As actividades relacionadas com
o sector primário são: agricultura, pecuária, extrativismo
vegetal e mineral, caça e pesca.

Para Silva (2004), a agricultura pode ser considerada,


actualmente, como a principal das actividades primárias. Ela
basicamente consiste no cultivo da terra e dos vegetais para a
produção organizada de alimentos e produtos primários, tais
como o milho, arroz, feijão, soja, cana-de-açúcar e incontáveis
outros exemplos. Já a pecuária consiste no cultivo de animais
para o sustento humano, sendo, historicamente, um método
substitutivo da prática da caça, ou seja, em vez de procurar os
animais para abater e alimentar-se, o ser humano cultiva-os
para o mesmo fim, mas também os utiliza para a produção de
materiais, como o couro e a lã. Juntas, essas duas actividades
formam a agropecuária.

O extrativismo consiste na retirada de elementos da natureza


também para a alimentação ou para a transformação em
mercadorias. Há, assim, dois tipos: o extrativismo vegetal,
basicamente voltado para a extracção de recursos de plantas e
árvores, e o extrativismo mineral, voltado para a exploração de
minérios e riquezas disponíveis no solo ou abaixo dele. Dentre
os exemplos de extrativismo vegetal, citam-se: os seringais,
que extraem o látex param a produção da borracha, e a
extracção do cacau e da castanha-do-pará, prática importante
para o sustento das populações que habitam a região da
amazónia brasileira (RODOLFO, 2016).

74
Extracção de látex, prática de extrativismo vegetal Fonte:

Rodolfo, 2016.

A caça pode, de certa forma, ser considerada como uma


espécie de “extrativismo animal”, pois ela basicamente
consiste na utilização de animais e seres vivos existentes na
natureza para alimentação e outros fins, como a produção de
materiais e para o transporte. Essa prática era muito comum
antes do desenvolvimento das sociedades modernas,
tornando-se menos relevante com o tempo. Actualmente, ela é
praticada para a captura comercial de animais de difícil
domesticação.

A pesca, por sua vez, pode ser considerada como uma


modalidade da caça, mas realizada com animais aquáticos.
Actualmente, ela é mais voltada para espécies marinhas, cujo
cultivo em série não é possível ou muito inviável
economicamente. Países litorâneos, como o Japão e o Perú,
possuem uma grande actuação económica nesse sector.

A pesca ainda é uma importante prática económica Fonte:

75
Rodolfo (2016).

O sector primário da economia, praticamente quase sempre no


meio rural, já foi a principal área de actividade das sociedades,
passando para um plano periférico em termos de geração de
empregos com o advento da industrialização e os tempos
sequentes de modernização. Actualmente, esse sector é
altamente mecanizado, havendo uma intensa substituição de
mão-de-obra por maquinaria (SILVA, 2004).

Em países desenvolvidos e, até mesmo, em alguns emergentes,


o sector primário é sobreposto pelo secundário e,
principalmente, pelo terciário. Em nações menos
desenvolvidas, as práticas agropecuárias e extractivistas são
consideradas ainda os principais cernes de sobrevivência e
manutenção económica.

Sector Secundário

Para Rodolfo (2016), é o sector da economia que transforma as


matérias-primas (produzidas pelo sector primário) em produtos
industrializados (roupas, máquinas, automóveis, alimentos
industrializados, electrónicos, casas, etc.). Como há
conhecimentos tecnológicos agregados aos produtos do sector
secundário, o lucro obtido na comercialização é significativo.
Países com bom grau de desenvolvimento possuem uma
significativa base económica concentrada no sector secundário.
A exportação destes produtos também gera riquezas para as
indústrias destes países.

76
Fábrica de produção de café

Fonte: Silva (2004)

Sector Terciário

Para Rodolfo (2016), é o sector económico relacionado aos


serviços. Os serviços são produtos não meteriais em que
pessoas ou empresas prestam a terceiros para satisfazer
determinadas necessidades. Como actividades económicas
deste sector económico, podemos citar: comércio, educação,
saúde, telecomunicações, serviços de informática, seguros,
transporte, serviços de limpeza, serviços de alimentação,
turismo, serviços bancários e administrativos, transportes, etc.

Este sector é marcante nos países de alto grau de


desenvolvimento económico. Quanto mais rica é uma região,
maior é a presença de actividades do sector terciário. Com o
processo de globalização, iniciado no século XX, o terciário foi o
sector da economia que mais se desenvolveu no mundo.

Sector de prestação de serviços

Fonte: Silva (2004)

Como se pode depreender, cada um destes sectores da


economia representa um determinado estágio de
desenvolvimento. Existem países que mais se destacam ou se
identificam para cada um destes sectores e existem aqueles
que, embora sejam identificados por um sector de economia,
convivem com outros sectores de forma não proeminente.

77
Sumário

Nesta Unidade Temática 3.1 aprendemos os grandes sectores


de economia existentes, bem como as suas características
básicas. Igualmente vimos:

1. Conceitos
2. Características básicas dos sectores
3. A relação entre estes sectores dentro de um espaço
geográfico ou país.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

GRUPO-1 (Com respostas detalhadas)

1. O que é sector primário?

2. O que é sector secundário?

3. O que é sector terciário?

4. Quais são as necessidades do sector terciário?

5. Quais são os produtos do sector primário?

Respostas

1. Rever o 5º parágrafo, página 77

2. Rever o 3º parágrafo, página 78

3. Rever o 2º parágrafo, página 80

4. Rever o 2º parágrafo, página 80

5. Rever o 5º parágrafo, página 77

GRUPO -2 (Com respostas sem detalhes)

1. O sector primário da economia, praticamente é quase sempre,

a) No meio rural,

b) No meio Urbano

c) Nas cidades

78
2. O sector da economia que transforma as matérias-primas em
produtos industrializados é

a) Primário

b) Secundário

c)Terciário

3. Foi no Período Neolítico que os seres humanos deixaram de


ser
a) Dependentes da caça

b) Nómadas

c) Sector primário

4. Este sector da economia é muito vulnerável,

a) Secundário

b) Primário

c) Terciário

5. A produção e exportação de matérias-primas não geram muita


riqueza para os países
a) Baseados no sector secundário

b) Baseados no sector primário

c) Baseados no sector Terciário

Exercícios de AVALIAÇÃO

GRUPO-3 (Exercícios de GABARITO)

1. O que é extrativismo?
2. O que aconteceu no periodo neolítico? Explique.
3. Qual é a relação entre o sector primário e o sector secundário?
4. Qual é a relação entre o sector primário e o sector terciário?
5. Qual é a relação entre o sector secundário e o sector terciário?

UNIDADE Temática 3.2. Economia dos países subdesenvolvidos

Introdução
79
No primeiro tema deste módulo muito se falou sobre
subdesenvolvimento. Os conhecimentos e habilidades obtidos
no primeiro tema são válidos e aplicáveis para esta realidade
que será apresentada nesta unidade temática, porém far-se-á a
ligação entre a economia dos países subdesenvolvidos e o
sector de economia em que estão baseados.

Ao terminar esta unidade, o aluno deve ser capaz de:

▪ Aplicar os conceitos de economia para a realidade dos países


subdesenvolvidos;

▪ Conhecer as diferentes características dos países


subdesenvolvidos em termos de produção;

Objectivo ▪ Identificar as vantagens comparativas dos países subdesenvolvidos dos


s outros que não se localizam nesta classificação.
específic
os

Desenvolvimento

De acordo com Freitas (2016), a economia dos países


subdesenvolvidos é baseada em produtos primários.

Produtos primários principais fontes de exportação de países


subdesenvolvidos.

80
Fonte: Freitas, 2016.

Ainda de acordo com Freitas (2016), os problemas económicos


ou mesmo dificuldades dos países subdesenvolvidos podem
ocorrer em qualquer lugar do mundo, mesmo nos países
centrais, no entanto, nos países periféricos as crises
económico-financeiras são mais frequentes devido à fragilidade
da economia entre outros factores.

Para explicar as causas dos problemas económicos em países


subdesenvolvidos, Freitas (2016) diz que é necessário realizar
uma profunda abordagem, pois são vários os factores, dentre
os principais estão:

• Dependência económica em relação às actividades


primárias: corresponde à extrema dependência em
relação às actividades como a agricultura, extrativismo
e mineração. Os países subdesenvolvidos têm grande
parcela da população envolvida no sector primário e os
produtos desse são responsáveis pelo maior volume de
exportação. O ponto negativo do processo é que
produtos primários possuem pouco ou nenhum valor
agregado, ou seja, é de baixo valor, além disso, o sector
primário está propício às variações do mercado.
Enquanto os produtos industriais possuem um valor
agregado oriundo do trabalho ou das informações
contidas na mercadoria.

• Dependência económica e tecnológica: isso é


resultado da forte influência exercida pelas empresas
multinacionais que são os principais centros
produtivos nos países subdesenvolvidos, exemplo
disso são as indústrias automobilísticas que são quase
na totalidade estrangeira, em suma as economias dos
países em questão dependem dos capitais
internacionais. Essa realidade é negativa para os
países menos desenvolvidos economicamente, pois as
empresas transnacionais sempre vão buscar atender
seus interesses e não dos países em que estão
instaladas suas filiais, além disso, o resultado de suas
actividades, o lucro, não permanece no país, pois

81
migra para a nação sede, no qual eleva cada vez mais
sua economia.

Economia exportadora, sistema fiscal e construção do Estado

De acordo com Freitas (2016), a questão da fiscalidade é um


posto de observação privilegiado para compreender a
construção e transformação do Estado, porque ela nos permite
pensar, de forma não-linear, a relação Estado, Economia e
Sociedade. O estudo da taxação revela uma dinámica que é
inerente à própria natureza do Estado, a pulsão extractiva.
Extrair parte do excedente económico da sociedade é condição
e resultado do exercício de todos os atributos “clássicos” do
Estado associando-se de maneira íntima às outras formas de
extracção (o recrutamento militar, ordenamento jurídico) que
determinam a consolidação do centro político e o exercício do
poder do Estado sobre o território.

A pulsão extractiva de recursos, representada pelo fisco, ganha


interesse quando pensada não apenas como reflexo de uma
dada ordem económica, mas também nos seus efeitos
dinámicos sobre essa ordem, reiterando-a e/ou
transformando-a. Assim, a mais fecunda contribuição das
Teorias da Construção do Estado para o conhecimento
histórico é a de propiciar uma compreensão do fenómeno
estatal que enfatiza, ao mesmo tempo, o poder do Estado
como emanação da sociedade e como expressão da tensão
entre o centro político e a ordem económico-social (FREITAS,
2016 e RODOLFO, 2016)

Para Freitas (2016), dessa tensão decorre em grande parte o


potencial transformador do Estado. O estudo do fisco ganha
importância também porque ele pode revelar aspectos
relevantes da relação entre o Estado e as forças sociais. Vistas
dessa maneira, as receitas fiscais ganham um interesse que vai
muito além de seu montante e de sua oscilação ao longo de um
período de tempo, em direcção à questão mais relevante de
sua proveniência.

O poder do Estado não se avalia apenas pelo quantum que ele


é capaz de extrair da ordem económico-social mas, sobretudo,
pela sua capacidade de se impor sobre a esfera do poder
privado e sobre os agentes económicos que o controlam. A
82
construção da fiscalidade, nas opções históricas que lhe dão
sentido é reveladora da possibilidade da construção do
carácter público do Estado e, por que não dizer, de sua
modernidade (FREITAS, 2016).

Em suma, os Países Subdesenvolvidos possuem as seguintes


caracter ísticas:

• Geralmente passaram por um grande processo de


exploração durante o período colonial. Colónia de
Exploração;

• Baixo nível de industrialização, com excepção de alguns


países como: Brasil, México, os Dragões de Exploração;

• Dependência económica, política e cultural em relação às


nações desenvolvidas;
• Deficiência tecnológica e baixo nível de conhecimento
científico;
• Rede de transporte e meios de comunicação deficientes;

• Baixa produtividade na agricultura que geralmente


emprega numerosa mão-de-obra;

População activa empregada principalmente nos sectores


primários ou no sector terciário em actividades marginais
(camelôs, trabalhadores sem carteira assinada etc.). Exemplo:
Brasil, Etiópia, Uruguai;

• Cidades com crescimento muito rápido e cercada por


bairros pobres e miseráveis;

• Baixo nível de vida da maioria da população;

• Crescimento populacional elevado;

• Elevada taxa de natalidade e mortalidade infantil;

• Expectativa de vida baixa.

Sumário

Nesta Unidade Temática 3.2 Debruçamos sobre a economia


dos países subdesenvolvidos e aprendemos os grandes
83
sectores de economia existentes bem como as suas
características básicas. Igualmente vimos:

1. Base da economia;
2. Dependência em função das características da sua economia;

3. Implicações devido a dependência.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

GRUPO-1 (Com respostas detalhadas)

1.Explique a dependência económica em relação às actividades


primárias.

2.Explique a dependência económica em relação às tecnologias.

3.Qual é o maior sector que envolve mais população nos países


subdesenvolvidos?

4.Qual é o sector responsável pelo maior volume das


exportações?

5.Qual é o ponto negativo dos produtos primários no que diz


respeito ao valor agregado?

Respostas

1.Rever o 1º parágrafo, página 85

2.Rever o 2º parágrafo, página 85

3.Rever o 6º parágrafo, página 87

4.Rever o 1º parágrafo, página 85

5.Rever o 1º parágrafo, página 85

GRUPO -2 (Com respostas sem detalhe)

1. A economia dos países subdesenvolvidos é baseada em


produtos

a) Primários

b) Secundários

c) Terciários
84
2.O poder do Estado não se avalia apenas pelo quantum que ele é
a) Capaz de extrair da ordem económico-social

b) Incapaz de extrair da ordem económico-social

c) Estabelece para o seu próprio povo

3. O estudo da taxação revela uma dinámica que é inerente à


própria
a) Natureza do Estado

b) Fragilidade do Estado

c) Autonomia do Estado

4. Moçambique é um país que

a) Pertence aos subdesenvolvidos

b) Não pertence aos subdesenvolvidos


c) Nem a) e nem b)

5. Extrair parte do excedente económico da sociedade é


condição e resultado do exercício de todos os atributos

a) do Estado

b) do subdesenvolvimento

c) do sector primário

Exercícios de AVALIAÇÃO

GRUPO-3 (Exercícios de GABARITO)

1. O que são produtos primários?

2. O que são produtos secundários?

3. O que são produtos terciários?

4. Define o quantum?

5. O que é uma actividade marginal?

85
UNIDADE Temática 3.3.

Condições necessárias para industrialização

Introdução

Até aqui estamos falando sobre os países subdesenvolvidos,


suas características, dependência económica e suas
implicações. Nesta unidade temática, queremos debruçar
sobre que condições ou mecanismos para se sair desta situação
de dependência económica e alcançar outros estágios de
desenvolvimento. Ao terminar esta
Unidade, o aluno deve ser capaz de:

▪ Interpretar os fenómenos económicos;


▪ Conhecer o impacto da industrialização nos países subdesenvolvidos;
Objectivos ▪ Identificar para cada caso, estratégias ou caminhos para industrialização.
Específicos

Desenvolvimento

De acordo com Kiely (1998), industrialização é um tipo de


processo histórico e social através do qual a indústriase torna o
sector dominante de uma economia, mediante a substituição
de instrumentos, técnicas e processos de produção, resultando
em aumento da produtividade dos factores e a geração de
riqueza.

Ainda de acordo com o mesmo autor, a economia, antes de base


agrária, artesanal e comercial, passa a ter uma base urbana e
industrial
- O que gera transformações profundas sobre os modos de vida e
o padrão de relações sociais anterior. O sistema de produção
artesanal, manual, espacialmente disperso, dá lugar à produção
serial, mecânica, espacialmente concentrada, padronizada, isto é,
capaz de gerar produtos de qualidade homogénea. Toda a
economia e toda a sociedade se reorganizam em função do
desenvolvimento da indústria.

86
A industrialização pode ser parte de um processo mais amplo
de modernização, em que a inovação tecnológica,
desenvolvimento económico e mudança social estão
estreitamente relacionados. Há um processo de crescente
racionalização, introduzindo mudanças de atitude dos
indivíduos e da sociedade também com relação à natureza,que
passa a ser vista principalmente como recurso produtivo
(HEWITT e WIELD, 1992).

Ainda de acordo com estes autores, algumas das principais


características do processo de industrialização são:

• Aprofundamento na divisão do trabalho e da


especialização;

• Concentração da renda e da riqueza;

• Intensificação da formação bruta de capital fixo;

• Aumento da produtividade industrial e agrícola;

• Aumento do consumo;

• Generalização do trabalho assalariado;

• Incremento da urbanização e desenvolvimento do sector


de serviços.

Entretanto, a industrialização não ocorre em todos os países e,


quando ocorre, pode não ser na mesma época ou da mesma
forma.

O Caso da Inglaterra, por Batista (2014)

O Reino Unido foi o pioneiro no processo de industrialização.


Mas, por que ele, e não outro como, por exemplo, os Estados
Unidos? O Reino Unido tinha as condições básicas que eram
necessárias para a industrialização. Condições em sentido
económico, político, social e natural.

O Reino Unido, em 1968, passou a se tornar a mais antiga


monarquia parlamentar do mundo. O rei perdeu o poder
político, que ficou sob os cuidados do Parlamento. A crescente
burguesia mercantil passou a controlar o Estado britânico,
usando para apoiar seus objectivos económicos. A revolução
burguesa foi fundamental para a eclosão da Revolução
Industrial quase um século depois.

87
Durante o capitalismo comercial, o Reino Unido acumulou
reservas de riquezas, que foram fundamentais para o processo
da Revolução Industrial. Mais do que em qualquer outro país, a
acumulação de capitais foi intensa. Essas reservas foram bem
utilizadas para a instalação de indústrias, ampliação de redes
de transportes, extracção de recursos minerais, etc. Todos
esses factores juntos, foram fundamentais em avanços técnicos
nas indústrias importantes da Primeira Revolução Industrial.

Mas o Reino Unido tinha ainda a vantagem de possuir grandes


reservas de carvão mineral, essenciais para o uso de máquinas
a vapor. Graças às reservas de ferro e carvão, houve a
expansão na siderurgia, e, portanto, o crescimento de outros
ramos, como o naval, ferroviário, etc.

O Reino Unido já possuía as principais condições para ocorrer a


Revolução Industrial: disponibilidade de matéria-prima e
energia, acúmulo de capital, avanços tecnológicos. E o Estado
já estava sob o comando da burguesia. Faltava apenas a força
de trabalho.

Em fins do século XVII, os camponeses foram sendo expulsos do


campo, para trabalhar nas cidades. Motivo: com a Lei do
Cercamentos, as terras foram sendo privatizadas, e a actividade
agrícola foi substituída pela criação de carneiros para fornecer
lã à indústria téxtil. Essa massa de camponeses que foi obrigada
a se deslocar aos centros urbanos se ornou o proletariado
urbano. E os capitalistas estabeleceram a ralação de produção
baseada no trabalho assalariado. Logicamente, eles
aproveitaram para a exploração dos operários, e obtiveram
altos lucros.

Localização Industrial

A localização industrial teve uma íntima relação com as jazidas


de carvão e os portos. Por isso, houve grande industrialização
nas chamadas “regiões negras”, como Yorkshire, Midlands,
Northumberland, País de Gales, e outros.
Surgiram várias indústrias téxteis, principalmente em Yorkshire,
devido a lã e o algodão que eram utilizados como matéria-
prima. Com o desenvolvimento das indústrias de base, a
siderúrgica, foi possível a produção de locomotivas e navios
movidos a vapor. Era um factor puxando outro: as indústrias de
material ferroviário e naval se localizavam perto das
88
siderúrgicas, que por sua vez, se localizavam perto das jazidas
de carvão, que também atraiu a indústria téxtil.

Outro factor importante foi a existência de portos marítimos e


fluviais. Muitas cidades, como Londres e Liverpool,
desenvolveram um importante parque industrial.

Londres sempre foi a maior aglomeração urbana e industrial do


país. Devido a disponibilidade de mão-de-obra, de mercado
consumidor e rede de transportes, foi favorável a instalação de
indústrias menos dependentes de matérias-primas. Londres já
era na Primeira Revolução Industrial, o maior porto e centro
comercial e financeiro britânico. E após a Segunda Revolução
Industrial, mais indústrias que não dependam de carvão, foram
se instalando em Londres, e ampliando cada vez mais a
metrópole. Outra cidade importante foi Birmingham, que
depois de Londres, era o principal centro industrial do Reino
Unido, e possui um parque industrial bem diversificado.
Recentemente com a realocação industrial, as cidades do
centro-sul da Inglaterra, passaram a abrigar as indústrias mais
novas e modernas.

Em jeito de conclusão, Gislaine (2003) diz que A implantação de


indústrias em uma região ou num país depende de uma série
de condições básicas. A existência de força-de-trabalho, a
disponibilidade de matérias-primas, fontes de energia, meios
de transporte, ferramentas e máquinas, a possibilidade de
construção de instalações de recursos financeiros e mercados
consumidores, são as principais dessas condições. A legislação
e a política fiscal também podem favorecer ou não o
desenvolvimento de actividades industriais.

No Brasil, tal desenvolvimento teve início no período do


Império, quando algumas condições foram-se tornando cada
vez mais favoráveis. Durante todo o século XIX, as principais
actividades económicas do país achavam-se ligadas às
chamadas culturas de exportação, como as do café, borracha,
erva-mate, cana-de-açúcar, algodão e fumo. Normalmente,
esses produtos precisam passar por um processo de
beneficiamento e de transformação industrial como no caso da
cana-de-açúcar. O café precisa ser lavado, seco e depois
descascado.

89
Sumário

Nesta Unidade Temática 3.3 debruçamos sobre as condições


necessárias para industrialização dos países subdesenvolvidos,
não como uma receita, mas como forma de:

1. Praticar o exercício lógico de raciocínio;


2. Criar bases de debate;
3. Identificar estratégias ou mecanismos sugestivos para cada caso
em estudo.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

GRUPO-1 (Com respostas detalhadas)

1. De que depende a implantação de indústria numa região?

2.A legislação e a política fiscal podem favorecer a


industrialização? De que forma?

3.Que impacto teve o capitalismo na industrialização da


Inglaterra?

4.Que país foi pioneiro na industrialização, de acordo com Batista


(2014)?

5.Quando é que a Inglaterra passou a se tornar a mais antiga


monarquia parlamentar do mundo?

Respostas

1. Rever o último parágrafo, página 92

2. Rever o quarto parágrafo, página 93

3. Rever o primeiro parágrafo, página 92

4. Rever o penúltimo parágrafo, página 91

5. Rever o último parágrafo, página 91

GRUPO – 2(Com respostas sem detalhes)

90
Exercícios de AVALIAÇÃO

GRUPO-3 (Exercícios de GABARITO)

1. O que é industrialização?

2. O que é uma monarquia?

3. O que é uma metrópole?

4. O que é parque industrial’

5. O que são portos marítimos e fluviais?

Exercícios finais sobre o TEMA

1. Explique por que a industrialização pode ser parte de um


processo mais amplo de modernização?

2. O que uma indústria téxtil faz/produz?

3. O que é matéria-prima?

4. Quais são os problemas económicos dos países


subdesenvolvidos?

5. O sector primário pode produzir produtos terciários? Explique.

6. O sector secundário pode produzir os produtos terciários?


Explique.

7. O sector terciário pode produzir produtos primários? Explique.

8. Que tipo de relação existe entre estes três sectores de


economia?

9. Qual é a contribuição dos países subdesenvolvidos para


economia global?

10. Porque é que os países subdesenvolvidos conhecendo as


condições necessárias para industrialização não aplicam para
sair do subdesenvolvimento?

Referência Bibliográfica

BATISTA, Júlio. Os pioneiros na industrialização. Livros e Cursos, 2014.

FREITAS, Eduardo de. Problemas econômicos nos países subdesenvolvidos. Em Geografia


humana.Mundo Educação, 2016.
91
GISLINE, Refundini. A ECONOMIA PRIMÁRIO EXPORTADORA E SUAS ORIGENS. ZéMoleza
22/04/2003

HEWITT, T., Johnson, H. and WIELD, D. (Eds). Industrialisation and Development, Oxford
University Press: Oxford.1992

KIELYy, R. Industrialisation and Development: A comparative analysis, UCL Press: London.


1998

RODOLFO, F. Alves Pena. O subdesenvolvimento. Em Geografia Econômica . Mundo


Economia.
2016

SILVA, José, L. Conceição. Economia do Brasil. Editora: Thesaurus. 2004

TEMA – IV: TEORIAS DE


DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO
UNIDADE Temática 4.1. Introdução ao estudo das teorias de
desenvolvimento económico
UNIDADE Temática 4.2. Relações de casualidade nas teorias de
desenvolvimento económico
UNIDADE Temática 4.3. Problemas de verificação em teorias de
desenvolvimento económico

UNIDADE Temática 4.1. Introdução ao estudo das teorias de


desenvolvimento económico

92
Introdução

O processo de desenvolvimento económico supõe


ajustes institucionais, fiscais e jurídicos, incentivos para
inovações, empreendedorismo e investimentos, assim como condições
para um sistema eficiente de produção, circulação e distribuição de bens e
serviços à população. Daí que para perceber estes fenómenos e outras
situações que ocorreram no passado, que ocorrem na actualidade e que
poderão ocorrer no futuro, é necessário basear-se em algumas ideias –
teorias.

Ao terminar esta unidade, o aluno deve ser capaz de:

▪ Dominar os conceitos;

▪ Conhecer as diferentes teorias sobre desenvolvimento económico;


Objectivos
específicos ▪ Demonstrar domínio no uso das mesmas para casos específicos.

Desenvolvimento
Uma analogia ajuda a entender o significado: quando uma
semente se torna uma planta adulta, está exercendo um
potencial genético: em outras palavras, está se desenvolvendo.
Quando qualificado pelo adjectivo económico", refere-se ao
processo de produção de riqueza material a partir do potencial
dado pela disponibilidade de recursos humanos e naturais e
uso de tecnologia. No campo da economia, a palavra
"desenvolvimento" vem, normalmente, acompanhada da
palavra "capitalista", para mostrar que o desenvolvimento
refere-se ao todo social. Esta noção está muito bem
desenvolvida em diversos capítulos do livro de COWEN, M. P. e
SHENTON, R.W. (1996), Doctrines of Development. London:
Routledge). Especificamente sobre o desenvolvimento
capitalista há um verbete no Dicionário do Pensamento
Marxista de Tom BOTTOMORE (1988).

As teorias

93
O desenvolvimento comercial e industrial na Europa provocou
o estudo clássico de Adam Smith sobre a riqueza das nações e a
partir daí esse tema esteve sempre presente na evolução do
pensamento económico. O desenvolvimento industrial no
século XIX da Grã Bretanha, Estados Unidos e Alemanha
levantou novas questões sobre as causas desse enriquecimento
mas no século XX a taxa de desenvolvimento decaiu ao mesmo
tempo em que surgia o confronto das nações liberais com o
rápido desenvolvimento da Rússia comunista.

Foram muitas as teorias voltadas para a promoção do


desenvolvimento económico. Como alternativa à crise de 1929,
o economista inglês John Maynard Keynes formulou uma
hipótese de que o Estado deveria interferir activamente na
economia: seja regulando o mercado de capitais, seja criando
empregos e promovendo obras de infra-estrutura e fabricando
bens de capital. Essas medidas caracterizaram-se por serem de
curto-prazo enquanto economistas reconheciam um
desenvolvimento económico quando taxas como a da
produção nacional mostrassem tendência ascendente a longo-
prazo

Os keynesianos foram muito populares até os anos 1980


quando - em parte devido à crise do petróleo - o sistema
monetário internacional entrou em crise. Tornou-se então
evidente a inviabilidade da conversibilidade do dólar em ouro,
ruiu o padrão dólar-ouro, com inflação e o endividamento dos
Estados por um lado, e uma grande acumulação de excedente
monetário líquido nas mãos dos países exportadores de
petróleo por outro. Em vista disso, sobreveio uma mudança de
enfoque na política económica.

Surge, então, a escola neoliberal de pensamento económico,


baseada na firme crença na Lei de Say, e cujos fundamentos já
tinham sido esboçados em 1940 pelo economista austríaco
Friedrich August von Hayek. Para corrigir os problemas
inerentes à crise, os neoliberais pregavam a redução dos gastos
públicos e a desregulamentação, de modo a permitir que as
empresas com recursos suficientes pudessem investir em
praticamente todos os sectores de todos os mercados do
planeta: tornar-se-iam empresas multinacionais ou
transnacionais.

94
Desenvolvimento económico na Visão de Joseph Schumpeter

Os determinantes do desenvolvimento económico. Esta secção


e a seguinte estão centradas em duas das principais obras de
Schumpeter: a Teoria do Desenvolvimento Económico (TDE) e
Capitalismo, Socialismo e Democracia (CSD), complementadas
com bibliografia adicional. Na primeira, Schumpeter discute as
causas da mudança económica, enquanto na segunda são
analisados o processo e os impactos decorrentes da evolução
do capitalismo (Heertje, 1977).

Schumpeter, em sua análise, estabelece, desde o início, as bases


sob as quais atua o mecanismo económico. São elas: a
propriedade privada, a divisão do trabalho e a livre concorrência.

Na TDE, para se aproximar do movimento da economia


capitalista, Schumpeter lança mão de artifício de análise,
procedimento esse já presente em outros autores: trata-se do
mecanismo do fluxo circular. A ideia de criar uma imagem
mental, um tipo de protótipo de sistema económico a partir do
qual vai se aprofundando o conhecimento, foi usada
anteriormente por Adam Smith e Karl Marx. Na Riqueza das
Nações, na parte em que procura identificar os determinantes
do valor de troca das mercadorias, Smith menciona uma
sociedade imaginária, anterior ao capitalismo, a que ele se
referiu como o estágio rude e primitivo da sociedade que
precede a acumulação de capital. Marx, por sua vez, em O
Capital, na explicação do excedente e do processo de
acumulação, parte inicialmente de uma economia mercantil
simples. Para, então, introduzir elementos próprios do modo
de produzir capitalista.

Na economia do fluxo circular, segundo Schumpeter, a vida


económica transcorre monotonamente, em que cada bem
produzido encontra o seu mercado, período após período. Isso,
contudo, não significa concluir que inexista crescimento
económico. Admitem-se incrementos na produtividade,
decorrentes de aperfeiçoamentos no processo de trabalho e de
mudanças tecnológicas contínuas na função de produção.
Entretanto, essa base tecnológica já é conhecida, incorporada
que foi com o tempo na matriz produtiva da economia. Os
agentes económicos apegam-se ao estabelecido, e as
adaptações às mudanças ocorrem em ambiente familiar e de
trajectória previsível. Nessas circunstâncias, de acordo com
Schumpeter, mudanças económicas substanciais não podem
95
ter origem no fluxo circular, pois a reprodução do sistema está
vinculada aos negócios realizados em períodos anteriores.

A questão para Schumpeter é que as inovações


transformadoras não podem ser previstas. Contudo, esses tipos
de inovações, que são originadas no próprio sistema, quando
introduzidas na actividade económica, produzem mudanças
que são qualitativamente diferentes daquelas alterações do
dia-a-dia, levando ao rompimento do equilíbrio alcançado no
fluxo circular. Assim, a evolução económica se caracteriza por
rupturas e descontinuidades com a situação presente e se
devem à introdução de novidades na maneira de o sistema
funcionar.

O facto de as mudanças económicas, que possam alterar os


rumos dos acontecimentos, levando a economia a trilhar
caminhos nunca dantes percorridos, tenham origens externas
ao fluxo circular, não implica, por sua vez, que nada se possa
dizer teoricamente sobre elas. Isso seria assim caso fizéssemos
uma análise estática e de equilíbrio dos fenómenos
económicos, pois nesse tipo de abordagem a preocupação
principal é como chegar aos preços e quantidades que igualam
oferta e demanda dos bens, uma adaptação dos agentes a
dadas alterações em alguma variável do modelo, mas sem
modificar os seus parâmetros. Mas quando a natureza das
mudanças é qualitativamente de uma ordem diferente
daquelas que são observadas na vida económica diária, então
esses instrumentos de análise são incapazes de captar a
natureza do acontecido7. Schumpeter adverte que a
contribuição de Léon Walras (1834-1910), a quem tinha em
elevada consideração, não seria capaz de dar conta dessas
situações e teria vigência apenas no estado estacionário, ou
seja, às acomodações do sistema em seu movimento rumo ao
equilíbrio.

Segundo Haberler (1950), no prefácio à edição japonesa da TDE,


Schumpeter menciona uma (e única) conversa que teve com
Walras, na qual esse autor lhe disse que a vida económica seria
apenas uma sucessão adaptativa às ocorrências de ordem natural
e social que agem sobre ela. Para Schumpeter, entretanto,
adaptações, embora possam produzir crescimento, não
caracterizam em si o desenvolvimento económico (TDE, p. 47).
Este último é, para ele, um fenómeno qualitativamente diferente.
A mesma avaliação de inadequação teórica vale para a análise de
96
equilíbrio parcial de Alfred Marshall (1842-1924)8. Por exemplo,
não haveria como saber com antecedência que o telefone se
desenvolveria em 1876, ou o chip, no início da década de 1970.
Segundo Tobin (1991) citando Schumpeter, a teoria neoclássica,
pelo instrumental analítico que emprega, seria irrelevante para
explicar o capitalismo. Apenas para lembrar, na capa do livro
publicado por Marshall em 1890, Principles of Economics, consta
ainda a seguinte expressão: Natura non facit saltum, tipos de
mudanças económicas, de ordem qualitativamente superior, que
caracterizam, portanto, o desenvolvimento económico.

As inovações, diz Stolper (1991), alteram a partir de dentro os


parâmetros do sistema o qual, sendo evolucionário, não
conhece o equilíbrio. E por ser evolucionário, ele transcorre no
tempo e, por isso, sua natureza é histórica (Heertje, 1996). Para
dar uma dimensão ao leitor do significado de alterações
revolucionárias, como fenómeno totalmente estranho ao que
vem ocorrendo no dia-a-dia, Schumpeter faz uma comparação
entre a diligência e as ferrovias: Adicione sucessivamente
quantas diligências quiser, com isso nunca terá uma estrada de
ferro. Em ambiente em que ocorre variedade e selecção, o
enfoque analítico a ser aplicado tem mais analogia com a teoria
evolucionária, própria da biologia, do que com a mecânica e o
equilíbrio, encontrados na física. Nesse caso, a análise tem de
ser dinâmica, em que se privilegia o desequilíbrio e o tempo
histórico.

O desenvolvimento dessa ideia leva Schumpeter a procurar


estabelecer de onde provêm as inovações, quem as produz e
como são inseridas na actividade económica. Do plano,
Schumpeter descarta a hipótese de que elas se originem no
âmbito dos desejos e necessidades dos consumidores, embora
esses sejam elementos importantes para a adopção e difusão
de novas combinações. Todavia, esses actores são passivos em
relação à pesquisa e ao desenvolvimento de novos produtos e
processos.

Apenas os incorporam aos seus hábitos diários. As inovações


no sistema económico não aparecem, via de regra, de tal
maneira que primeiramente as novas necessidades surgem
espontaneamente nos consumidores e então o aparato
produtivo se modifica sob sua pressão. Não negamos a
presença desse nexo. Entretanto, é o produtor que,
igualmente, inicia a mudança económica, e os consumidores
97
são educados por ele, se necessário; são, por assim dizer,
ensinados a querer coisas novas, ou coisas que diferem em um
aspecto ou outro daquelas que tinham o hábito de usar.
Portanto, apesar de ser permissível, e até mesmo necessário,
considerar as necessidades dos consumidores como uma força
independente e, de facto, fundamental na teoria do fluxo
circular, devemos tomar uma atitude diferente quando
analisamos a mudança (Schumpeter, 1911).

As mudanças se originam, portanto, no lado da produção, na


maneira distinta de combinar materiais e forças para produzir.
Isso não implica transpor linearmente o enfoque da biologia à
economia, pois as leis aplicadas aos animais não
necessariamente se estendem aos seres humanos e vice-versa,
dado que o homem pode influir em sua própria história. As
coisas a serem utilizadas na vida diária das pessoas, mas,
repita-se, não dizem respeito a aperfeiçoamentos no já
conhecido. Trata-se de modos totalmente diferentes de dispor
materiais e forças. A esses modos diferentes Schumpeter
(1911) chamou de inovações ou de novas combinações, e
referem-se a:

1) Introdução de um novo bem, ou seja, um bem com que


os consumidores ainda não estejam familiarizados, ou de uma
nova qualidade de um bem.

2) Introdução de um novo método de produção, ou seja, um


método que ainda não tenha sido testado pela experiência no
ramo próprio da indústria de transformação, que, de modo
algum, precisa ser baseado numa descoberta cientificamente
nova, e pode consistir também em nova maneira de manejar
comercialmente uma mercadoria.

3) Abertura de um novo mercado, ou seja, de um mercado


em que o ramo particular da indústria de transformação do
país em questão não tenha ainda entrado, quer esse mercado
tenha existido antes ou não.

4) Conquista de uma nova fonte de matérias-primas ou de


bens semi-manufaturados, mais uma vez independentemente
do facto de que essa fonte já existia ou teve que ser criada.

5) Estabelecimento de uma nova organização de qualquer


indústria, como a criação de uma posição de monopólio (por
exemplo, pela trustificação) ou a fragmentação de uma posição
de monopólio.
98
Schumpeter deixa explícito que os meios de produção
necessários às novas combinações não estão ociosos, à espera
para serem empregados na produção de novos bens. Os
recursos para viabilizar as novas combinações já estão
disponíveis na sociedade, estando empregados em actividades
que compõem o fluxo circular. São as novas maneiras de
combiná-los, retirando-os dos locais onde se acham
empregados e alocando-os em novas actividades, que se vão
produzir, então, o que Schumpeter chamou de
desenvolvimento económico.

No que se refere a quem vai tomar a iniciativa dessa mudança,


Schumpeter credita a um personagem particular: o empresário.
O empresário é uma figura que se distingue na sociedade por
ser portador de uma energia e capacidade de realizar coisas
novas que não estariam presentes de maneira difundida entre
a população. Ele não deve ser visto como o tradicional
capitalista que pertence à classe burguesa, embora se junte a
ela ao ser bem-sucedido em sua empreitada. Nem pode ser
tomado como aquele que assume riscos. Schumpeter comenta
não ser fácil tentar discutir a psicologia empresarial. Elenca
alguns factores possíveis de suas motivações, como a ambição
social, o esnobismo, a conquista superior e outras, mas não
avança em maiores argumentos teóricos para o aparecimento
desse personagem na paisagem económica. O leitmotiv de sua
acção empreendedora é um tipo de acto heróico, apenas quer
ver as coisas acontecerem, pela criação em si.

O dinamismo do sistema económico para Schumpeter depende,


assim, do surgimento do empresário como criador de novas
combinações. Mais do que isso: é alguém que tem a habilidade
para que o novo seja implementado. Após as novas
combinações serem adicionadas ao fluxo regular da actividade
económica, o empresário perde esta sua condição, passando,
assim, a fazer parte da classe capitalista ou da burguesia. É esse
o sentido que Schumpeter atribui ao termo empresário.
Contudo, para pôr em prática suas ideias ou insights, o
empresário precisa ter acesso ao comando de meios de
produção.
Em outras Palavras, o que o empreendedor necessita é de
crédito. Nesse campo, Schumpeter vai de encontro à sabedoria
convencional da época para a qual era necessária a existência de

99
uma poupança prévia que financiasse novos projectos de
investimento.
A interpretação de Schumpeter, ao contrário, é de que o
empresário preciso é de poder de compra para pôr em
movimento os meios de produção para efectivar as novas
combinações. E esse poder de compra, diz Schumpeter, pode
ser criado adhoc, não precisa ter existido anteriormente. Vale
aqui reproduzir as próprias palavras do autor:

Ainda que a resposta convencional à nossa questão não seja


certamente absurda, há no entanto um outro método de obter
dinheiro para esse propósito, que chama nossa atenção,
porque, diferentemente do referido, não pressupõe a existência
de resultados acumulados do desenvolvimento anterior, e por
isso pode ser considerado como o único disponível dentro de
uma lógica estrita. Esse método de obter dinheiro é a criação
de poder de compra pelos bancos (...). É sempre uma questão,
não de transformar o poder de compra que já existe em
propriedade de alguém, mas a criação de novo poder de
compra a partir do nada [grifo meu, ABC].A partir do nada
mesmo que o contrato de crédito pelo qual é criado o novo
poder de compra seja apoiado em garantias que não sejam elas
próprias meio circulante que se adiciona à circulação existente.
E essa é a fonte a partir da qual as novas combinações
frequentemente são financiadas e a partir da qual teriam que
ser financiadas sempre, se os resultados do desenvolvimento
anterior não existissem de facto em algum momento
(Schumpeter,1911).

A liquidação do financiamento tomado dessa maneira ocorrer


aex post, com os lucros provenientes das inovações
introduzidas na actividade económica. É essa, então, a natureza
dos lucros; constituem-se em um prémio que a sociedade paga
aos inovadores por lhe proporcionar acesso a novos bens e
serviços. Contudo, esses são ganhos passageiros (windfall
gains), que desaparecem assim que as inovações vão se
difundindo na sociedade por meio de novos concorrentes
(imitadores) que se juntam ao mercado, e à medida que as
novas combinações passam à condição de actividade normal.
Tendo obtido financiamento para as novas combinações, resta
analisar os efeitos que elas produzem no fluxo circular. Ao
romper com o estabelecido, as inovações causam
desequilíbrios, gerando ondas de desenvolvimento económico

100
mediante prosperidades e depressões, aumento e queda na
produção e no emprego. Além de todas as outras repercussões
provocadas no ambiente sociocultural.

Os altos e baixos na produção e no emprego, a forma assumida


pelo desenvolvimento económico no capitalismo, segundo
Schumpeter, decorrem de dois movimentos. No que se refere
aos períodos de expansão, esses se devem à própria difusão
das inovações. A introdução no mercado de um novo produto
ou processo gera lucros extraordinários, o que atrai uma leva
de imitadores que buscam aproveitar as oportunidades abertas
pela inovação. Isso se manifestará na construção de novas
plantas e na contratação de mão-de-obra e compra de
insumos. Os novos investimentos levam ao boom na actividade
em questão e em outras secundárias.

O ponto salientado por Schumpeter é que esses investimentos


ocorrem de forma descontínua, em grupos ou bandos, dando
dinamismo à expansão. Esse é um aspecto importante, pois,
para Schumpeter, se as inovações surgissem aleatoriamente,
com os investimentos distribuindo-se de maneira uniforme no
tempo, isso não se tornaria algo merecedor de maiores
atenções. Ao contrário, esses movimentos ocorrem com
determinada periodicidade, embora o seu tempo de duração
dependa de vários factores.

A interrupção na continuidade da expansão se deve à


eliminação dos lucros extraordinários pela queda nos preços,
devido ao aumento da oferta. O outro movimento deriva de
adaptações que são feitas pelos agentes, oriundas de
mudanças causadas pelas inovações.

A introdução de uma novidade de produtos ou processos vem


alterar as condições competitivas daqueles empreendimentos
já estabelecidos. As inovações, ao se colocarem como
alternativas a produtos e processos antigos, fazem com que
esses últimos percam espaço no mercado, sucateando
capacidade instalada e destruindo postos de trabalho,
espraiando-se para outros sectores relacionados e àqueles
mais distantes atingidos pelo efeito-renda negativo.
Predomina, nessa situação, um clima de incerteza nos
negócios.

Na óptica de Schumpeter, o processo de concorrência


apresenta ganhadores e perdedores, não é um jogo de ganha-
101
ganha. É uma situação em que o sistema deve-se ajustar às
inovações, gerando depressões na economia.

Kondratieff (1935) identificou ondas longas de


desenvolvimento cuja duração se manteria aproximadamente
entre 47 a 60 anos. Após identificar a forma como o
desenvolvimento económico se manifesta sob o capitalismo,
Schumpeter debruça-se sobre os rumos que tomará a
continuidade dessa evolução. Essa avaliação vai aparecer,
então, em Capitalismo, Socialismo e Democracia. Schumpeter e
Marx sobre o destino do capitalismo no estudo que faz da
evolução do capitalismo em seu livro Capitalismo, Socialismo e
Democracia, Schumpeter estabelece inicialmente um diálogo
com Marx e procura desenvolver a sua visão particular sobre a
questão. Os quatro primeiros capítulos de CSD trazem em seus
títulos referências explícitas a Marx. Schumpeter concordava
com aquele pensador alemão de que o destino do capitalismo
caminhava em direcção ao socialismo. Mas o móvel para tal
não residia, segundo Schumpeter, naqueles motivos
estabelecidos por Marx. Nesses quatro primeiros capítulos,
Schumpeter mostra suas discordâncias em relação a alguns
aspectos da análise marxista, incluindo aí a teoria do valor.
Aceita, contudo, muitos dos argumentos de Marx,
principalmente o seu método dialéctico de análise. Por
exemplo, o desenvolvimento da grande empresa e a formação
de posições de monopólio que aparecem em CSD podem
perfeitamente caber na ideia da lei de tendência à
concentração e à centralização do capital de Marx.
Schumpeter, como pensador sério, não discriminava autores
por suas ideias, estudando apenas aqueles com quem
partilhasse afinidades ideológicas. A sua aceitação ou rejeição
de análises realizadas por outros estudiosos se dava na justa
medida em que apresentassem adesão à realidade.

Marx, no famoso prefácio à Contribuição para a Crítica da


Economia Política de 1859, em que apresenta os elementos de
seu método materialista histórico, desenvolve a análise de que,
em determinada época da existência social, o desenvolvimento
das forças produtivas entra em contradição com as relações de
produção que lhes dão fundamento. No capitalismo, a
produção colectiva defronta-se com a apropriação privada dos
frutos dessa produção: a instituição da propriedade privada
entra em conflito com as forças produtivas socializadas. No

102
plano político, a luta de Schumpeter ambicionava desenvolver
uma teoria da história cuja amplitude e profundidade fosse
semelhante àquela de Marx e da mesma maneira que esse
último fez com Hegel, colocasse o marxismo de cabeça para
baixo. (Tobin, 1991). Schumpeter não se julgava marxista. Nem
por isso deixaria de nutrir admiração intelectual por Marx,
considerado por ele um economista de primeira linha, de
classes, motor da história é a manifestação da oposição entre
salários e lucros da esfera económica. O acirramento dessa
contradição emperra o avanço económico, constituindo-se
uma época de convulsões sociais, até que uma nova classe,
portadora do progresso, assuma a hegemonia na sociedade
(Marx, 1859).

Schumpeter não compartilhava dessa interpretação que Marx


faz do desenvolvimento do capitalismo. Para ele, o rumo do
sistema em direcção ao socialismo se deveria às virtudes que o
capitalismo apresenta, não às suas contradições. Não há na
estrutura económica dessa forma de organização social nada
que impeça o aumento da produção. Schumpeter não acredita
em uma desaceleração dos investimentos devido a uma
pretensa queda na taxa de lucro. Em capítulo sobre o
desempenho do sistema no CSD13, mostra que o processo
capitalista eleva o nívelde bem-estar da população, estimando
à época que a renda per capita americana poderia dobrar no
período de 1928-1978, mantido o desempenho apresentado
pela economia.

Em seu muito citado capítulo sobre a destruição criadora,


Schumpeter também refuta aquela crítica feita com base na
visão idílica da concorrência perfeita, defendida pela teoria
neoclássica, de que a grande empresa e as formas monopólicas
de mercado não favorecem o desempenho da produção.
Schumpeter questiona mesmo a própria existência de tal
estrutura de mercado, duvidando de que ela sequer tenha
existido na realidade.
Entretanto, mesmo que se considerasse que a sua existência
tenha ocorrido naquele período que antecede a formação da
grande empresa. Por volta de 1890, a situação não lhe seria
favorável diante dos avanços observados na economia em
período posterior, quando, então, a presença da escala de
grande porte na produção manufactureira tornasse dominante.
Ora, esse tipo de interpretação, critica Schumpeter, deriva de

103
emprego de análise estática, mas o capitalismo, continua ele, é
um método de mudança económica e não é, nem poder ser,
estacionário. Quando se olha a economia com uma visão
estática e se vê uma única empresa no mercado, se associam
os lucros extraordinários que possa estar obtendo ao exercício
do poder monopolístico que desfruta, à custa dos
consumidores. Se olharmos, porém, dinamicamente, essa
colocação única de mercado pode se dever à introdução de
algo novo na actividade económica e, portanto, é uma posição
passageira. Os lucros maiores que lhe são devidos provêm de
inovações, cujos ganhos desaparecem com o ingresso de novos
competidores. A questão não é como o sistema Práticas
Monopolistas, Schumpeter é mais detalhado em sua crítica à
teoria neoclássica de que mercados imperfeitos são
relativamente ineficientes quando confrontados com a
concorrência perfeita.

A teoria do monopólio simples e discriminador ensina que,


exceptuando-se um caso limite, o preço de monopólio é mais
alto e a produção de monopólio é menor do que o preço e a
produção em concorrência. Isso é verdade, desde que o método
e a organização da produção e tudo o mais, sejam exactamente
os mesmos em ambos os casos. Na realidade, entretanto,
existem métodos superiores disponíveis ao monopolista que, ou
não são, de maneira alguma, acessível a uma multidão de
concorrentes, ou não lhe são prontamente acessíveis; pois há
vantagens da empresa que, embora não estritamente
inatingíveis competitivamente, são, na verdade, asseguradas
apenas pelo monopólio. Em outras palavras, esse elemento da
defesa da concorrência pode falhar completamente porque os
preços de monopólio não são necessariamente mais altos ou as
produções de monopólio, necessariamente mais baixas do que
seriam os preços e a produção competitivos na eficiência
organizacional e produtiva ao alcance da firma compatível com
a hipótese competitiva (Schumpeter, 1942).

O que, então, levaria, para Schumpeter, ao ocaso do capitalismo?

Segundo Schumpeter, as causas não seriam encontradas na


dimensão económica do sistema. Nesse quesito, a performance
do capitalismo seria satisfatória. O seu desaparecimento
estaria associado a factores encontrados em outras esferas da
sociedade: em âmbito sociocultural. Tom Bottomore, em seu
prefácio à edição inglesa ao livro CSD de 1976, mantido na
104
tradução brasileira da obra, identifica em Schumpeter a
existência de três processos que acabam minando as bases sob
as quais se assenta o capitalismo. Uma delas actua sobre o
cerne da dinámica do sistema, representada na figura do
empresário inovador, cuja existência é solapada à me.

O conceito de destruição criadora de Schumpeter guarda


enorme semelhança com aquela passagem não menos citada
de Marx e Engels do Manifesto Comunista: A burguesia realizou
maravilhas superiores às pirâmides egípcias, aos aquedutos
romanos e às catedrais góticas. Levou a cabo expedições
maiores que as grandes invasões e as Cruzadas.

A burguesia não pode existir sem revolucionar


permanentemente os instrumentos de produção; portanto, as
relações de produção, e assim, o conjunto das relações sociais.
Todas as relações imutáveis e esclerosadas, com o seu cortejo
de representações e de concepções vetustas e veneráveis
dissolvem-se; as recém-constituídas corrompem-se antes de
tomarem consistência. Tudo o que era estável e sólido
desmancha no ar, tudo o que era sagrado é profanado, e os
homens são obrigados a encarar com olhos desiludidos seu
lugar no mundo e suas relações recíprocas, Marx e Engels
(1848), dita que a economia evolui. A grande empresa, ao
burocratizar a actividade de inovação, tornando-a uma tarefa
rotineira internalizada em seu departamento de P&D, substitui
aquele ímpeto individual do empresário na busca do novo que
rompe com o status quo pelas acções rotineiras de equipas de
especialistas alocadas especialmente a esse mister. A grande
empresa automatizada e burocratizada ao mesmo tempo que
expropria pequenos proprietários, leva a burguesia a perder
sua função na sociedade, ao facilitar a socialização da
produção. O socialismo é alcançado, assim, não pela luta de
classes, mas pela acção do empresário inovador.

Os verdadeiros construtores do socialismo não são os


intelectuais e agitadores que o defendem, mas os Vanderbilt, os
Carnegie e os Rockfeller. Esse resultado pode não agradar, em
todos os aspectos, aos socialistas marxistas, menos ainda aos
socialistas de tipo popular (mais vulgar, diria Marx). Mas, no
que diz respeito ao prognóstico, não difere do deles
(Schumpeter, 1942).

Em segundo lugar, a dinámica do processo concorrencial é


conducente à constituição de grandes unidades produtivas e à
105
eliminação de pequenas empresas. A saída do circuito
económico de pequenos proprietários, negociantes,
agricultores e outros. Muitos deles oriundos de formas
pretéritas de produção. Aniquila aquela camada social que dá
sustentação política ao sistema e que defende a propriedade
individual contra uma forma mais impessoal de propriedade
dos meios de produção.

O terceiro elemento a trabalhar contra a permanência do


capitalismo é a formação de uma camada de intelectuais hostis
a essa forma de organização social que, mediante posições que
ocupam na sociedade, difundem ideias que criam uma
atmosfera de rancor social contra o sistema. A avaliação de
Schumpeter de que o capitalismo não sobreviveria, não era
devido a algum tipo de desejo ou fé. Schumpeter fazia questão
de deixar claro que, em suas análises, raciocinava como
economista, não com valores políticos. Contudo, os
prognósticos, como qualquer prognóstico de acordo com
Schumpeter, são sujeitos a muitas determinações da vida
social, várias delas de difícil mensuração. Esse é um exercício
de futuro e, como tal, incerto. Tobin (1991) menciona que
radicais dos anos de 1970, com o passar do tempo, se tornaram
yuppies. Quando um médico prevê que seu paciente vai
morrer, isso não significa que ele o deseje. Isso, como se viu na
Introdução deste texto, não significou que Schumpeter se
eximisse de ter uma actuação pública. Mas, é antever o que
aconteceria se as tendências que hoje observamos se
mantivessem no tempo futuro.

Neoliberalismo

O neoliberalismo foi experimentado, primeiramente, por


Augusto Pinochet, no Chile na década de 1970, o qual foi
seguido pela inglesa Margaret Thatcher e pelo americano
Ronald Reagan nos anos 1980.

O Chile tornou-se, então, uma espécie de vitrina mundial do


modelo neoliberal. O crescimento do produto interno bruto
chileno, na época, oscilou de uma taxa positiva de + 8 por
cento a taxas negativas inferiores a -13 por cento. Entre 1975 e
1982, a média de crescimento foi de + 2,9 por cento ao ano. No
entanto, os custos sociais foram grandes. Mais de 200 mil
chilenos tiveram que emigrar por razões económicas. O Chile
106
viu seu desemprego subir dos 4 por cento da era Allende para
18 por cento na era Pinochet, e a taxa de pobreza subir de 20
por cento para 45 por cento. Isso acabou por minar o apoio à
ditadura e provocar a derrota de Pinochet em 1988, quando se
iniciou a transição para uma democracia.

Embora os resultados a curto prazo da transição chilena para


um modelo neoliberal de economia tenham sido ruins para a
sociedade, ainda no início da década de 1990, o país se tornou
a economia mais próspera da América Latina, crescendo a
taxas superiores a 7 por cento ao ano, o que rendeu ao país o
título de Tigre Asiático latino-americano, em clara referência
aos países asiáticos cujas economias cresciam rapidamente. O
país conseguiu reduzir a pobreza de 50% de sua população em
1987, para 18,3% em 2003, tornando-se assim o primeiro país
latino-americano a cumprir as metas do milénio para a redução
da pobreza.

De 1990 até 2004, as práticas neoliberais preconizadas pelo


Consenso de Washington, em 1990), e pelo Fundo Monetário
Internacional, durante a década seguinte, tornaram-se um
modismo quase irresistível para os governantes, que
acreditavam ter encontrado a fórmula para alcançar um maior
desenvolvimento económico. Reformas foram aplicadas em
vários países, notadamente nos mais pobres, no pressuposto
de que, com a liberalização dos mercados, fosse possível atrair
um maior volume de investimentos.

Entre algumas medidas consideradas necessárias para os


neoliberais, estão as privatizações de empresas estatais, a
abertura do mercado de capitais, a liberalização dos fluxos
internacionais de capitais (inclusive para os investimentos de
curto prazo, o hot money), o fim das reservas de mercado e a
flexibilização de leis trabalhistas.

Uma das reações às práticas neoliberais foi a busca de


alternativas de desenvolvimento económico local, como forma
de tentar suprir a incapacidade de promoção do
desenvolvimento pelos Estados dos países
subdesenvolvidos,nomeadamente em oposição às ideias e
práticas neoliberais.

Teoria da dependência

107
A teoria da dependência é uma formulação teórica
desenvolvida por intelectuais como Ruy Mauro Marini, André
Gunder Frank,Theotonio dos Santos,Vania Bambirra, Orlando
Caputo, Roberto Pizarro e outros, que consiste em uma leitura
crítica e marxista não-dogmática dos processos de reprodução
do subdesenvolvimento na periferia do capitalismo mundial,
em contraposição às posições marxistas convencionais dos
partidos comunistas e à visão estabelecida pela Comissão
Económica para a América Latina e o Caribe (CEPAL).

A explicação da “dependência” e a produção intelectual dos


autores influenciados por essa perspectiva analítica obtiveram
ampla repercussão na América Latina no final da década de
1960 começo da década de 1970, quando ficou evidente que o
desenvolvimento económico não se dava por etapas, um
caminho que bastaria ser trilhado para que os resultados
pudessem ser alcançados.

Para a teoria da dependência a caracterização dos países como


"atrasados" decorre da relação do capitalismo mundial de
dependência entre países "centrais" e países "periféricos".
Países "centrais", como centro da economia mundial será
identificado nos espaços em que ocorrem a manifestação do
meio técnico científico informacional em escala ampliada e os
fluxos igualmente fluam com mais intensidade. A periferia
mundial (países periféricos) se apresente como aqueles
espaços onde os fluxos, o desenvolvimento da ciência, da
técnica e da informação ocorram em menor escala e as
interações em relação ao centro se deem gradativamente. A
dependência expressa subordinação, a ideia de que o
desenvolvimento desses países está submetido (ou limitado)
pelo desenvolvimento de outros países e não era forjada pela
condição agrário-exportadora ou pela herança pré-capitalista
dos países subdesenvolvidos mas pelo padrão de
desenvolvimento capitalista do país e por sua inserção no
capitalismo mundial dada pelo imperialismo. Portanto, a
superação do subdesenvolvimento passaria pela ruptura com a
dependência e não pela modernização e industrialização da
economia, o que pode implicar inclusive a ruptura com o
próprio capitalismo[1].

Sumário
108
Nesta Unidade Temática 4.1 estudamos as teorias de
desenvolvimento económico. É óbvio que não se esgotam em
um único tema ou unidade temática, daí que as que são
apresentadas neste texto são algumas que foram julgadas
interessantes no sentido que vão contribuir no
aprofundamento dos temas em alusão neste módulo. O aluno
poderá ao longo dos seus estudos aprender outras nas suas
pesquisas científicas.
1. Conceito
2. Foco das abordagens analíticas
3. Interpretação prática na base das teorias de desenvolvimento
económico.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

GRUPO-1 (Com respostas detalhadas)

1. Fale da Teoria da dependência

2. Quando ficou evidente que o desenvolvimento económico não


se dava por etapas?

3. O que diz a teoria da dependência sobre a caracterização dos


países?

4. O que são países centrais?

5. O que são países periféricos?

6. O que são países atrasados?

Respostas

1. Rever o antepenúltimo parágrafo, pagina 113


2. Rever o penúltimo parágrafo, página 113
3. Rever o último parágrafo, página 113
4. Rever o último parágrafo, página 113
5. Rever o último parágrafo, página 113
6. Rever o último parágrafo, página 113

GRUPO – 2 (Com respostas sem detalhes)

109
1. A teoria da dependência é uma formulação teórica
desenvolvida por

a) Intelectuais

b) Produtores

c) Comerciantes

2. Entre algumas medidas consideradas necessárias para os


neoliberais, estão

a) Monopólio

b) Oligopólio

c) As privatizações de empresas estatais, a abertura do mercado


de capitais, a liberalização dos fluxos internacionais de capitais

3. No plano político, a luta de Schumpeter ambicionava


desenvolver uma teoria,

a) Uma teoria social

b) Antropológica

c) da história

4. Os novos investimentos levam ao boom


a) na actividade em questão e em outras secundárias

b) nas actividades secundárias

c) nas exportações

5. O dinamismo do sistema económico para Schumpeter


depende

a) Das condições do mercado

b) do surgimento do empresário como criador de novas


combinações

c) vontade política da elite

Exercícios de AVALIAÇÃO

GRUPO-3 (Exercícios de GABARITO)

1. O que é o neoliberalismo’

110
2. Como o neoliberalismo se caracteriza?

3. Quais as vantagens e desvantagens do neoliberalismo?

4. Diferencie o neoliberalismo do capitalismo

5. Por que é importante estudar as teorias?

UNIDADE Temática 4.2. Relações de casualidade nas teorias


dedesenvolvimento económico

Introdução

Como vimos na unidade temática anterior, as teorias são úteis


para o desenvolvimento de visões interpretativas dos
fenómenos passados, presentes e futuros. Como se trata de
projecções, é evidente que possa existir entre elas algumas
relações, uma delas é a de casualidade que iremos debruçar
nesta unidade temática.

Ao terminar esta unidade, o aluno deve ser capaz de:

▪ Dominar as relações de casualidade entre teorias de desenvolvimento


económico;
▪ Conhecer os modelos causais;
Objectivos
específicos ▪ Identificar impactos que podem advir na aplicação empírica.

Desenvolvimento

O problema da causalidade ainda constitui uma questão aberta


no campo da economia. Há também economistas que,
seguindo a posição de DAVID HUME a propósito da causalidade
- isto é, de que a causalidade é simples atributo mental sem
correspondência na realidade exterior à inteligência, deixam de
reconhecer a importância das proposições causais para que
suas teorias permitam prever as etapas posteriores do
processo; e dentre eles FRIEDMAN surge como o mais
importante representante (FRIEDMAN, 1953).

111
Isto, todavia, não serve para negar o fato de que a maioria dos
economistas ainda trate os problemas de forma explícita ou
não, através de proposições do tipo causal, seguindo a tradição
dos melhores economistas clássicos. Mill (1920) disse ser "o
objectivo da economia política a busca das causas que
governam a produção e a distribuição da riqueza". Desta forma
a questão fundamental das ciências sociais será "descobrir as
leis segundo as quais a situação da sociedade num
determinado momento produz o estado que lhe é posterior e o
substitui (MIL, 1900) A mesma tendência pode ser encontrada
entre outros economistas como KARL MARX, ADAM SMITH e
DAVID RICARDO, embora por razões diversas. Os teóricos
modernos como WOLD, SIMON, OCCURT, SINGER, FOURASTIÉ
e CELSO FURTADO têm dedicado grandes esforços a fim de
esclarecer o conceito de causalidade na análise económica.

As teorias de desenvolvimento económico, mais do que outros


campos científicos, são particularmente permeadas pelo
conceito de causalidade. Lewis (1955) diz claramente que há
três causas "próximas" do desenvolvimento: o esforço para
poupar; o aumento do conhecimento e sua aplicação; bem
como, o aumento de capital e outros recursos per capita (LEWIS,
1955). Porém, o ponto crucial está em explicar quais os factores
responsáveis pelo desenvolvimento de uma nação, ou mais
precisamente, quais as causas do desenvolvimento.

Higgins (1959) observa que "a tarefa fundamental da análise


económica do problema do desenvolvimento é descobrir quais
dos círculos viciosos são os causadores dos demais, e que
deverão ser prontamente rompidos, bem como, os que podem
ser convertidos em mecanismos realimentadores (feedback
mechanisms) provocando o crescimento contínuo (sustained
growth).

Parafraseando Maciver (1942) poderíamos dizer que qualquer


que seja a diferença na taxa de crescimento de um país,
existirão diferenças nos factores responsáveis por essa mesma
taxa. Resumidamente, todo evento tem uma causa e não é
possível prever acontecimentos futuros se os factores que os
produzem permanecerem desconhecidos. Estamos aqui
admitindo explicitamente que lidar com proposições do tipo
causal é condição necessária para podermos elaborar teorias
realmente explicativas da realidade.
112
Quais são as exigências fundamentais dos modelos causais, e
em que medida as teorias de desenvolvimento baseadas no
conceito de causalidade satisfazem estas exigências?

Burge (1949) aponta que o elemento essencial no conceito


científico de causa é a ideia de produção. Quando afirmamos
que X é a causa de Y, temos presente em nossa mente que uma
mudança em X produz uma mudança em Y e não que uma
mudança em X é seguida ou está associada a uma modificação
em Y. Na verdade tal concepção da causalidade tem sua origem
numa ideia de bom senso: "a causa é o que faz com que uma
coisa aconteça". Mas quando Blalock (1964) citando Singer (…)
afirma que "o aumento na taxa de poupança líquida do índice
capital-renda produz maior desenvolvimento económico,
mantida constante a taxa de crescimento da população", ele
está, pelo menos implicitamente, aceitando a ideia de
causalidade. Até que ponto a relação apontada é uma medida
válida da qualidade produtora de uma causa?

Uma análise detida do modelo de SINGER revela que está


inteiramente baseado na equação D = sp - r, ou seja, numa
relação absolutamente simétrica e irreversível que pode ser
interpretada de duas maneiras, o que acaba sendo feito pelo
próprio SINGER. Desta forma a equação que de acordo com o
autor em questão proporciona um grande esclarecimento
sobre o mecanismo do desenvolvimento não pode ser utilizada
como uma proposição explicativa de tipo causal, uma vez que a
qualidade produtora das proposições causais pode ser
encontrada apenas em relações assimétricas. O modelo de
SINGER deve ser considerado apenas como uma definição de
desenvolvimento económico e não como um sistema
explicativo do mecanismo de desenvolvimento. Sob este
aspecto, a fórmula de SINGER aparece como uma verdadeira
tautologia e não como uma semi-tautologia, como o próprio
autor parece reconhecer. Embora concordemos que as
tautologias são importantes para o processo de elaboração de
conceitos, elas tornam-se inúteis como fundamento para
proposições explicativas.

Esta crítica pode ser estendida a outros economistas que


baseiam suas formulações apenas em "conjunção constante".
Se bem que esta possa ser uma parte da causalidade, a
conjunção por si mesma, não é suficiente para que se distinga

113
uma relação causal de outros tipos de associação. Sugerimos
que o economista opte pelo abandono implícito ou explícito do
estilo causal de suas generalizações sobre o desenvolvimento
económico ou melhore a sua estratégia metodológica para
poder atingir a explicação de tipo causal.

Parte da obscuridade das teorias económicas modernas tem


sua origem na falta de precisão com que se definem as classes
de variáveis discutidas no tópico sobre o Quantificador
Universal e a Constância dos Demais Factores. Uma teoria
explicativa de tipo causal deverá conter pelo menos quatro
tipos diversos de variáveis.

• Variáveis independentes ou dependentes: são as que


interessam directamente ao economista e que são passíveis de
manipulação. Exemplificando: sendo o desenvolvimento
económico a variável dependente, serão variáveis
independentes a taxa de crescimento da população, a taxa de
poupança, a taxa de investimento em bens de capital, a taxa de
investimento em recursos humanos, o índice input-output, etc.

• Causas potenciais: são as variáveis que exercem


influência causal nos fenómenos em observação mas não
variam durante a observação da variável dependente.
Exemplificando: a taxa de inovação empresarial
(entrepreneurship), a estabilidade política da sociedade, etc.,
podem ser fontes importantes de alterações nas variáveis
dependentes e/ou independentes.

• A terceira classe de variáveis é constituída por todas


aquelas que não estão sob controlo e são responsáveis por
modificações nas variáveis dependentes durante o período de
observação, mas que são irrelevantes para as variáveis
explicativas. Exemplificando: o preço de produtos agrícolas no
mercado internacional pode ser uma variável não directamente
relacionada às variáveis explicativas tais como a taxa de
crescimento da população, que pode desempenhar papel
importante na determinação do desenvolvimento económico
de um país.
• A quarta classe de variáveis inclui aquelas cujos efeitos
estão, embora de maneira desconhecida, sistematicamente
relacionados às variáveis explicativas. As influências das
variáveis desconhecidas confundirão os efeitos produzidos
pelas variáveis explicativas. Exemplificando: o treinamento no

114
local de trabalho (in service trairúng) pede ser confundido com
o aumento na taxa de investimento em recursos humanos.

A primeira classe de variáveis pode ser controlada pela própria


estruturação que se der à análise. Todavia, o controle dos
outros tipos de variáveis exigirá:

1) Que o "sistema fechado" de variáveis escolhido com X


realmente contenha as dimensões causais fundamentais;

2) Um conhecimento geral das variáveis circundantes do sistema;

3) E finalmente um conhecimento geral da natureza e da


composição de cada variável explicativa e das possíveis variáveis
correlatas.

O trabalho com tipos diferentes de variáveis ou mesmo o seu


simples enunciado são acontecimentos raros nas teorias sobre
desenvolvimento económico. A ausência de actividade
interdisciplinar constitui sério factor que impede a satisfação da
segunda e da terceira condição que acabamos de mencionar.
Uma estrutura rigorosa, para que se procedam às especulações,
é ainda hoje negligenciada na área do desenvolvimento
económico e como consequência as teorias tendem a ser
"válidas" apenas no âmbito de realidades não empíricas. Lewis
(1955) sugere que em certas circunstâncias a inflação pode ser
utilizada para financiamento do desenvolvimento desde que ela
possa ser reabsorvida. Porém, o poder explicativo desta
proposição reduz-se drasticamente quando outras dimensões
necessárias são introduzidas em seu modelo do que parece ter-
se apercebido MYINT, quando menciona dimensões extra-
económicas dos processos inflacionários.

Nas economias inflacionárias "tão logo se cria a expectativa da


alta de preços, surge um factor inibidor da poupança", o que
equivale a afirmar que a inflação não será reabsorvida, isto
porque a incerteza psicológica, a instabilidade política e a
tensão social constituem componentes inevitáveis da síndrome
inflacionária. Na verdade, todos estes factores tendem a
compensar e/ou neutralizar os eventuais efeitos positivos da
inflação. Portanto, certas circunstâncias apontadas por Lewis
(1955) raramente serão válidas em X, e se isto é verdade
podemos concluir pela inutilidade de seu modelo. Talvez seja
válido apenas como um "tipo ideal" a ser atingido através de

115
directrizes económicas, mas tal aspecto ultrapassa os limites
deste artigo.

Convém observar, a esta altura, que não aceitamos a ideia de


que o desenvolvimento económico, enquanto objecto de
especulação científica, constitui um "composto económico",
mas sim uma constelação complexa de factores económicos e
não-económicos. Assim, a utilização de "leis gerais" não
empíricas, pode não ser adequada ao estudo dos fenómenos
que não seguem uma sequência racional e lógica.
Concordamos plenamente com Schoeffler (1955) que diz serem
os progressos das teorias sobre desenvolvimento económico
tão lentos e penosos, porque os modelos, conceitos e
instrumentos de análise empregados pelos economistas são
fundamentalmente incompatíveis com o objecto de estudo.
Isto equivale a dizer que "os economistas têm de aceitar o
facto de que uma actividade económica tem lugar numa
estrutura orgânica na qual todas as partes estão intimamente
relacionadas, Influenciam-se mutuamente e são
interdependentes.

Sumário

Nesta Unidade Temática 4.2 estudamos as relações de


casualidade em teorias de desenvolvimento económico, como
forma de aprofundarmos
1. Os conceitos;
2. Os campos de aplicação das teorias de desenvolvimento
económico;

3. O exercício de projecção de cenários económicos.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

GRUPO-1 (Com respostas detalhadas)

1. Qual é o grande problema da causalidade

2. Qual a tradição dos melhores economistas clássicos?

3. Qual é a questão fundamental das ciências sociais?

4. Qual é o objectivo central dos esforços dos teóricos modernos?

5. Quais são as três causas "próximas" do desenvolvimento?


116
Respostas

1. Rever o 2º parágrafo, página 117

2. Rever o 3º parágrafo, página 117

3. Rever o 3º parágrafo, página 117

4. Rever o 3º parágrafo, página 117

5. Rever o 1º parágrafo, página 118

GRUPO – 2 (Com respostas sem detalhes)

1. As teorias de desenvolvimento económico, mais do que


outros campos científicos, são particularmente permeadas

a) Por outras teorias sociais

b) Por outras teorias de outras áreas do conhecimento científico

c) Pelo conceito de causalidade

2. O elemento essencial no conceito científico de causa

a) Relação entre recursos e políticas


b) É a Ideia de produção

c) Fluxos internacionais de capitais

3. Variáveis independentes ou dependentes:

a) São as que interessam directamente ao economista e que são


passíveis de manipulação.

b) São as que não interessam directamente ao economista e que


são passíveis de manipulação

4. O trabalho com tipos diferentes de variáveis ou mesmo o seu


simples enunciado

a) São acontecimentos raros nas teorias sobre desenvolvimento


económico.

b) São acontecimentos frequentes nas teorias sobre


desenvolvimento económico

c) Não são acontecimentos raros nas teorias sobre


desenvolvimento Económico
5. Nas economias inflacionárias tão logo se cria
117
a) A expectativa da alta de preços, surge um factor inibidor da
poupança,

b) A expectativa da baixa de preços, surge um factor inibidor da


poupança,

c) A expectativa da alta de preços, porque não surge um factor


inibidor da poupança.

Exercícios de AVALIAÇÃO

GRUPO-3 (Exercícios de GABARITO)

1. O que é uma variável?

2. O que é uma variável explicativa?

3. O que são causas potenciais?

4. Qual é a relação de casualidade em teorias de desenvolvimento


económico?

5. Quais são as exigências fundamentais dos modelos causais?

6. Qual é a influência das variáveis desconhecidas nas análises dos


modelos causais?

UNIDADE Temática 4.3. Problemas de verificação em teorias de


desenvolvimento económico

Introdução

O problema de verificação em teorias de desenvolvimento


económico constitui um desafio para os autores que trabalham
nesta temática. Portanto, todo cientista é obrigado a satisfazer
as exigências da possibilidade da verificação, quando apresenta
proposições gerais sobre um fenómeno como um conjunto
dedutivo de afirmações.

118
Ao terminar esta unidade, o aluno deve ser capaz de:

▪ Conhecer os processos de verificação;


▪ Identificar as fraquezas e potencialidades do processo de verificação;
Objectivos ▪ Induzir espírito crítico e criativo nas abordagens sobre teorias de
específicos Desenvolvimento económico.

Desenvolvimento

O processo de verificação do conhecimento científico envolve


vários problemas. Todavia, nos restringiremos ao exame de
dois tipos fundamentais de problemas que têm lugar no
processo de elaboração de teorias sobre o desenvolvimento
económico ou seja, os que dizem respeito à adequação das
técnicas de verificação e aos problemas de mensuração.

Técnicas de Verificação - Entendemos por verificação o


procedimento ou conjunto de procedimentos elaborados para
descobrir se os dados referentes a uma situação real são
adequados ao conjunto de generalizações sobre a referida
situação ou sobre um tipo ideal de situações reais que incluam
a primeira (MACCMLUP, 1955)

Em economia, acreditamos serem possíveis três posições diversas


no que diz respeito à questão da verificação:

• Para Von Miese (1949) corroborando com Knight (1930),


Robins(1935) e Parsons (1949) diz que os "aprioristas" que
defendem a posição de que a economia é um sistema a
priori de verdades, um produto da razão, uma ciência, "não
sujeita à verificação ou à refutação com base na
experiência", "uma ciência exacta que alcança leis tão
universais como a matemática", "um sistema de deduções a
partir de uma série de postulados". Portanto, qualquer
verificação, se necessária, terá de ser realizada apenas ao
nível da lógica formal.

• A seguir, para Hutchison (1938), temos os "ultra-empíricos"


que afirmam serem "os pressupostos fundamentais da
economia imaginários, não verificáveis e irreais e que as
investigações deveriam principiar pelos factos e não por
pressupostos".

119
• Entre estas duas posições extremadas existe uma
"tendência composta" que, evidentemente, insiste numa
verificação do tipo empírico-dedutivo. Esta posição por sua
vez se subdivide em duas ramificações com economistas
como MACHLU P que enfatizam os processos "indutivo-
dedutivos" enquanto outros, dentre eles LANGE, enfatizam
o procedimento do tipo "dedutivo-indutivo".

De qualquer forma os economistas contemporâneos


concordariam ser a coerência lógica, condição necessária mas
não suficiente para a validade da verificação das teorias
elaboradas. As teorias sobre o desenvolvimento económico
parecem, contudo, ter conseguido atingir, em grande parte, as
exigências da coerência lógica, mas não as exigências da
coerência empírica. Embora exagerando, GORDON afirma que
as teorias de desenvolvimento económico são formalmente
válidas, mas inúteis? (GORDON, 1955).

Atentando para o problema das técnicas empíricas de


verificação para a elaboração de teorias do desenvolvimento, e
examinando as teorias existentes, tentaremos ver até que
ponto elas são passíveis de um rigoroso processo de verificação
empírica.

No estado actual do conhecimento, duas técnicas de verificação


empírica parecem ser usadas "intuitivamente" na área do
desenvolvimento económico: a ex-post-íacto e a da análise
comparativa. Inicialmente, poderíamos observar que estas duas
técnicas não são mutuamente exclusivas, a última podendo ser
considerada uma variação da primeira.

A técnica ex-post-íacto tenta verificar se um conjunto de


eventos, ou se o conjunto das características do
desenvolvimento económico está causalmente relacionado, e
qual a extensão deste relacionamento no sentido de provocar
modificações num dado sistema (HIRSCHMAN, 1965). Os
especialistas em metodologia parecem concordar que as
verificações ex-post-íacto satisfazem de maneira geral as
exigências para o controle da pesquisa empírica, mas
apresentam alguns problemas. Na área específica do
desenvolvimento económico os problemas principais são:

1) Os que dizem respeito: à identificação e definição das


variáveis explicativas relevantes; à selecção de dados para uma
amostragem significativa, ao encontro de dados que permitam
120
uma inferência confiável a ser extraída das comparações ou de
várias classes de dados da amostra etc. Nossa opinião é que
nenhum dos problemas foram resolvidos pelos teóricos do
desenvolvimento e nem sequer devidamente enfrentados. Um
levantamento da bibliografia utilizada não demonstrou um
único trabalho sobre desenvolvimento económico que incluísse
um capítulo sobre os problemas e a metodologia das
verificações. Assim nunca sabemos que variáveis ou
indicadores devem ser seleccionados para verificar a validade
empírica de uma teoria. Também se ignora quantos e que tipos
de sistemas deveriam ser considerados para verificação do
conhecimento teórico existente no campo do conhecimento
económico.

2) Outro problema crucial é o relativo à natureza da


evidência necessária para que se possa conceder uma
significância válida às correlações existentes entre os dados. A
sofisticação estatística dos economistas modernos são seguros
indicadores de estarem atentos ao fato de que estas
correlações não significam obrigatoriamente a existência de
causalidade. Porém, como já indicamos anteriormente, isto
não parece ocorrer quando os teóricos trabalham na área do
desenvolvimento económico. A conjunção e as ilustrações
concomitantes são frequentemente usadas como "testes
empíricos" para a validação de teorias. O problema real é que,
não se estabelecendo um critério evidente a respeito dos
dados necessários para validar uma teoria, poderá dizer-se que
as "reconstruções" existentes servem apenas como ilustrações
e não como verificações. Neste sentido a teoria de ROSTOW é
um bom exemplo. O referido autor levanta em sua obra uma
questão teórica extremamente pertinente, isto é, "como se
explica que alguns sistemas económicos tenham abandonado a
estagnação... e partido para uma situação em que o
crescimento passou a ser a condição económica
normal?"(KUTZNETS, 1954). A resposta de ROSTOW é que a
"decolagem" (take-off) é o fenómeno crucial na realização do
desenvolvimento económico a curto prazo em muitos países.
As evidências "verificáveis" desta proposição são obtidas de
estudos de casos como a Suécia, o Canadá etc. Porém, o
material estatístico apresentado não assegura evidência de que
a "decolagem" (take-off) seja um precedente ou uma causa
relativamente isolada do desenvolvimento económico. Na
verdade, poder-se-ia afirmar que a "decolagem" (take-off)
121
poderia ser utilizada perfeitamente como definição do
processo de desenvolvimento económico em si. Atribuir uma
função causal aos acontecimentos passados, exige que, entre
outras coisas, se especifique em que "quantidade" a condição
em questão esteve presente no desencadeamento do processo
(HIRSCHMAN,1965).

Kutznets (1954) compara as características dos países


avançados economicamente no estágio anterior à "decolagem"
(take-off) com os países subdesenvolvidos contemporâneos.
Embora mostre algumas diferenças interessantes,
particularmente no que se refere às tendências populacionais,
sua análise reduz-se a uma descrição, pois não são
estabelecidos vínculos de causalidade entre os fenómenos.

Resumindo, estamos tentando demonstrar que não existem


razões a priori que fazem a abordagem histórica inútil ao
entendimento do processo de desenvolvimento económico.
Mas para que a história económica contribua de maneira
positiva, ela deve conter mais do que simples descrições ou
ilustrações do que aconteceu no momento em que as nações,
hoje desenvolvidas, começaram o seu processo de
desenvolvimento. "... A descrição (do processo de
desenvolvimento económico) que nos diz o que aconteceu, da
mesma forma que se descreve o processo de crescimento dos
indivíduos, acaba por excluir a importante questão da causa da
ocorrência das mudanças."(ENKE, 1964). Os historiadores de
economia têm realizado trabalho essencialmente cronológico,
com pequeníssima análise histórica; sabendo-se que a
cronologia não pode fornecer mais do que descrições,
permanece a lacuna das explicações.

3) Outro problema importante é o da estrutura da


investigação. A que melhor se presta à validação externa é
evidentemente aquela que se faz sob forma de
experimentação controlada na qual um programa de
desenvolvimento seria construído com base em hipóteses, e
posteriormente implementada e julgada. Entretanto, tal tipo
de estruturação não é factível para os problemas do
desenvolvimento devido limitações óbvias. Por isso o recurso
mais acessível para a validação empírica consiste na introdução
de generalizações parciais de uma teoria ou conjunto de
teorias nas directrizes económicas. Aqui, novamente, surge o
problema de saber-se até que ponto as "generalizações
122
parciais" são representativas da doutrina como um todo. As
directrizes mistas parecem denotar objectivos conflitantes
e/ou mutuamente exclusivos. Furtado (1964) observa que as
directrizes introduzidas pelos colonialistas nas áreas
subdesenvolvidas são de natureza contraditória. Por um lado,
enfatizam as modificações de tipo racional para a economia, a
tributação e a administração sistemática. Em oposição exigem
lealdade política, obediência passiva e identificação completa
que são indiscutivelmente sérios obstáculos às modificações
que pretendem introduzir.

4) Uma quarta dificuldade para a validação externa surge


não ao nível dos procedimentos, mas no domínio da lógica. Há
economistas que partem do pressuposto da primazia d.C.
sistema económico na sociedade. Furtado (1964) diz que as
"inovações tecnológicas, que constituem a essência do
desenvolvimento económico, não apenas provocam mudanças
na estrutura do sistema de produção, mas as modificações na
estrutura económica tendem a introduzir mudanças na
estrutura social como um todo...". A teoria do "crescimento
desequilibrado" (unbalanced growth) de Hirschman (1965)
baseia-se no mesmo pressuposto.

O teórico que adopta a primazia do económico coloca-se diante


de um dilema. Admitamos primeiramente que esta primazia
fosse uma verdade. Seria então necessário reconhecer que a
implementação de um plano de desenvolvimento, baseado
numa teoria, provocaria atritos e irritações de outros
segmentos d.C. sistema. Se este for o caso, o teórico terá de
assumir uma posição técnica para distinguir até que ponto as
reverberações do sistema atingem o plano, introduzindo
mudanças nas condições iniciais do modelo. Inversamente, se
os pressupostos de que a primazia do económico é falsa, não
terão lugar modificações em outros segmentos do sistema e
será evidente que apesar da definição de desenvolvimento
económico que foi usada, este não ocorreu e toda e qualquer
possibilidade de validação externa é eliminada.

Ignoramos qualquer esforço sistemático que tenha sido


realizado para a solução do dilema apontado. Os economistas
têm aceitado como evidente o que permanece como matéria
obscura para as demais ciências sociais.

123
No geral, somos forçados a reconhecer que parte da
dificuldade encontrada pelos economistas tem sua origem no
facto de que as ciências sociais ainda não atingiram um
conjunto de conhecimentos, aceitáveis sem maiores
discussões, sobre o funcionamento das relações das várias
partes do próprio sistema social. Por outro lado, se insistimos
no erro dos economistas, não nos negamos a reconhecer que
os próprios economistas sentem-se incapazes de verificar a
validade externa de suas teorias pela falta de conhecimento
que deveria ser provido por sociólogos, antropólogos e demais
cientistas sociais. Talvez o desenvolvimento, de uma sociologia
da história seja uma das tarefas mais urgentes de nossos dias.

Problemas de Mensuração - O segundo grupo de problemas


importantes envolvidos no processo de verificação é o da
mensuração que na verdade constitui sempre uma fonte de
dificuldades para qualquer ciência. Porém, algumas ciências,
como é o caso das ciências físicas, conseguiram estabelecer
sistemas de controlo bastante razoáveis, o que não ocorreu
com outras ciências, entre as quais listaríamos as sociais. Os
sistemas de controlo diminuem os efeitos negativos das
distorções do processo de mensuração. Dentre as ciências
sociais a economia é, talvez, aquela em que maiores avanços
foram realizados no sentido de precisar as técnicas de medição,
porém, isto não é verdadeiro para todas as áreas da economia.
As questões referentes ao desenvolvimento económico
enfrentam graves problemas de medição, semelhantes aos
encontradiços em todas as outras ciências sociais, e suficientes
para ameaçar a validade das generalizações. Entendemos por
validade a extensão correspondente entre um indicador e uma
definição. A validade perfeita significa que o indicador tenha o
mesmo objectivo e o mesmo conteúdo da definição
(ZETERBERG, 1965).

Guttman (1950) reconhece no problema da validade dois


aspectos: a "validade interna" e a "Validade externa". A
primeira expressa uma relação de tipo lógico, enquanto a
segunda expressa uma relação de tipo lógico, enquanto a
segunda outra de tipo empírico, ou seja, com a realidade
externa ao sujeito que pensa.

1) Admitamos uma definição de "desenvolvimento


económico", representada por um círculo cheio.

124
Admitamos também que os indicadores (medidas económicas
sobre renda nacional, taxa de crescimento populacional, etc.)
sejam representados por um círculo pontilhado.

Há vários problemas envolvidos na questão do ajustamento


entre os indicadores e a definição. Talvez a mais importante, na
área do desenvolvimento económico, seja que a definição
amplie o indicador e acabe por adicionar algo que não está
contido no indicador.

Este seria o caso de utilizar-se o aumento da renda per capita


como a definição operacional de desenvolvimento económico.
A definição ultrapassa o que está contido no indicador, pois
uma distribuição mais equânime da renda está implícita na
definição nominal de desenvolvimento económico mas este
aspecto não é coberto pelo indicador, que se refere apenas ao
aumento da renda per capita em termos agregados. Por outro
lado, o indicador reflecte apenas alguns aspectos do fenómeno
como ele é definido. Evidentemente esta não identidade entre
definição e indicador afectará directamente a validade das
generalizações.

2) Com relação ao problema da "validade externa", apesar de


já discutida anteriormente, acrescentaríamos que os
economistas do desenvolvimento subestimam o problema
e suas sérias implicações, como a falta de informações, a
inadequação dos dados disponíveis, etc., para que se possa
obter a validação externa das generalizações enunciadas.
Pauuw (1961) observa que grande parte da pesquisa na
área do desenvolvimento económico enfrenta sérios
problemas com relação aos dados, porque os países
125
subdesenvolvidos oferecem poucos dados sobre sua
situação social e económica, e nem sempre exactos, o que
diminui bastante a confiança que neles pode depositar o
pesquisador ávido de encontrar fundamento para suas
generalizações.

Assistimos a uma limitação prática dos esforços dos


teorizadores e também a um uso inadequado dos dados
existentes. Seers (1964) afirma que "entre os erros mais
comuns cometidos pelos economistas que trabalham em países
que não os seus, encontra-se a tentativa de construir com um
modelo excessivamente elaborado, a partir de informação
estatística incompleta e, portanto, pouco confiável; mais
incompleta, inclusive, do que os economistas treinados em
países industrializados possam imaginar. Na verdade, muitos
dos mais elegantes modelos, que se têm elaborado para vários
países subdesenvolvidos, são pouco mais que fantasias".

Outro problema para a validação externa diz respeito às


limitações das medições precisas devidas às reverberações das
variáveis quando submetidas a "tratamento económico".
Empresários, consumidores, sindicatos e outros grupos,
quando adquirem conhecimento são capazes de modificar, e
frequentemente modificam o seu comportamento e o
resultado é a mudança dos dados iniciais a ponto de tornar-se a
teoria inaplicável. O efeito do conhecimento ou da aplicação do
conhecimento aos dados conduz o teorizador a situações em
que as generalizações não podem ser mais demonstradas, nem
contraditadas (LEVY, 1950). A melhoria das técnicas de
medição, bem como o aperfeiçoamento dos próprios
conceitos, constituem a tarefa básica para obter generalizações
dotadas de maior validade.

Sumário

Nesta Unidade Temática 4.3 estudamos Problemas de


verificação em teorias de desenvolvimento económico,
abordando fundamentalmente as questões de:
1. Os Conceitos;

126
2. Os principais problemas de verificação;

3. Implicações no campo de análise e apresentação ou formulação


das teorias

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

GRUPO-1 (Com respostas detalhadas)

1. Qual é a limitação prática dos esforços dos teorizadores?

2. Qual é o problema de validação externa?

4. Quantos problemas envolvem o processo de verificação?

5. O que são técnicas de verificação?

6. Quantas posições diversas são possíveis em economia no que


diz respeito à questão da verificação?

Respostas

1. Rever o penúltimo parágrafo, página 128

2. Rever o segundo parágrafo, página 129

3. Rever o primeiro parágrafo, página 125

4. Rever o segundo parágrafo, página 125

5. Rever o terceiro parágrafo, página 125

GRUPO – 2 (Com respostas sem detalhes)

1. Na verdade, muitos dos mais elegantes modelos, que se têm


elaborado para vários países subdesenvolvidos,

a) são pouco mais que fantasias

b) são ajustados

c) reais

2. A mensuração na verdade constitui

a) um apoio para qualquer ciência

b) sempre uma fonte de dificuldades para qualquer ciência

c) uma validação externa

127
3. O indicador reflecte

a) apenas fenómenos com ele definidos

b) apenas alguns aspectos do fenómeno como ele é definido

c) validação interna

4. O efeito do conhecimento ou da aplicação do conhecimento


aos dados

a) conduz o teorizador a situações em que as generalizações


não podem ser mais demonstradas, nem contraditadas
b) conduz o teorizador a situações contraditórias
c) conduz o teorizador a situações de confirmação das hipóteses
levantadas.
5. Entendemos por validade

a) a extensão correspondente entre um indicador e uma definição

b) a extensão não correspondente entre um indicador e uma


definição

c) a extensão correspondente entre um indicador e uma hipótese

Exercícios de AVALIAÇÃO

GRUPO-3 (Exercícios de GABARITO)

1. O que é renda per capita?

2. Quais são os problemas de verificação?

3. O que é validade externa?

4. O que é validade interna?

5. Qual é a relação entre validade interna e validade externa?

Exercícios finais sobre o TEMA

1.O que é um indicador?

2. Em que situações se verifica aumento de renda per capita?

3. Em que situações se verifica a validade das generalizações?

4. O que é uma evidência?

5. Qual é o impacto do conhecimento das evidências para


questões de verificação?
128
6. Qual é o impacto do conhecimento das evidências para
questões de verificação das relações de casualidade nas teorias
de desenvolvimento económico?

7. Qual é a relação entre casualidade e verificação nas teorias de


desenvolvimento económico?

8. Explique o problema relacionado com a identificação e


definição de variáveis explicativas relevantes?

9. Explique o problema relacionado com a natureza de evidência?

10.Qual é a relação entre a teoria da dependência da neoliberal?

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ZETTERBERG, H. L. On Theory and Verification in Sociology, Totowa: The Bedminster Press,
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TEMA – V: ESTRATÉGIAS
ALTERNATIVAS DE
DESENVOLVIMENTO
UNIDADE Temática 5.1. Os paradigmas de crescimento e
desenvolvimento económico

UNIDADE Temática 5.1. Os paradigmas de crescimento e desenvolvimento


económico

Introdução

De acordo com França (2012), os teóricos e estudiosos dos


paradigmas do crescimento e desenvolvimento económico não
conseguem entrar em consenso a respeito do melhor modelo
para este ou aquele país não desenvolvido. Isso ocorre,
principalmente, pelo facto dos modelos serem importados e
criados para os países já desenvolvidos.
Longe, portanto, da realidade das economias subdesenvolvidas,
que apresentam características de desemprego de longo prazo,
com baixo volume de capital e tecnologia por trabalhador e
com forte ocorrência de equilíbrio no subdesenvolvimento;
obrigando-o a se encaixar nos modelos exportados ou
131
impostos pelos organismos financeiros internacionais.
(MAGALHÃES, 1996).

Ao terminar esta unidade, o aluno deve ser capaz de:

▪ Conhecer os diferentes modelos de desenvolvimento;


▪ Conceber uma estratégia em função duma realidade empírica;
Objectivos ▪ Emitir opinião própria sobre os modelos de desenvolvimento dos países
específicos do mundo.

Desenvolvimento

De acordo com França (2012), vários são os modelos de


desenvolvimento adoptados pelos países, uns com sucesso e
outros menos sucedidos. Estas estratégias são, muitas vezes,
definidas pelos países a meio de uma situação volátil de
economia ou de outros factores, o que faz com que o sucesso
deles seja determinado pelos factores endógenos e exógenos.

O quadro abaixo mostra algumas dessas estratégias:

Quadro I -
Síntese dos
principais
Paradigmas do Período Principais elementos Ênfase
desenvolvimento
pós 1950
Estratégia básica
Modernização ou Década Industrialização, Substituição Sectorial,
Desenvolvimento de 50 das Importações, Fomento Económica,
das exportações e Revolução Orientada para
Tardio
verde o crescimento

Dissociação ou Desenvolvimento do
Década
Desenvolvimento Mercado Interno, self Política
de 60
Endógeno reliance

132
Equacionamento Orientação para a miséria e
das Década grupos marginalizados Regional e
necessidades de 70 específicos. Participação Social
básicas

Desregulamentação,
Década Flexibilidade,
Ajuste estrutural Equacionamento da Dívida, Económica
de 80
balanço e inflação interna.

Desenvolvimento sócio
Regional,
económico participativo e
Desenvolvimento Década Ambientale
preservação do meio
sustentável de 90 socioeconómica.
ambiente e dos recursos
Naturais

Governança Fim dos Novas formas de regulação


Global e
global anos 90 global.
Política
Conferências mundiais
Fonte: França, 2012.

O quadro disposto acima retrata as principais ideias, tidas como


revolucionárias para as suas épocas, sobre o crescimento e
desenvolvimento, e, alguns conceitos dominantes por parte de
escolas ou grupos de economistas, que deram origem as
principais estratégias e, ao mesmo tempo, a ocorrência, desde
os anos 1950, dos paradigmas voltados ao crescimento e
desenvolvimento económico nos países desenvolvidos e não
desenvolvidos.

Tais paradigmas, em um conceito micro, também podem ser


transcritos e aplicados em regiões não desenvolvidas, muitas
vezes em descompasso com tempo e sucesso da estratégia
aplicada em outras regiões ou países e, de forma, retardatária,
apresentando resultados satisfatórios, visto que os erros
praticados em situações anteriores eram eliminados ou
corrigidos a tempo do insucesso.

Segundo o economista Dieter Rugard Siedenberg, mencionado


em (BECKER & WITTMANN, 2003), cabe ressaltar que os países
ou regiões não desenvolvidas buscam, a medida da ocorrência
de insucessos económicos, políticos e sociais, alternativas para
o crescimento e desenvolvimento. Para tanto, se valem da
disponibilidade de recursos domésticos, quando existirem, ou,

133
na maioria, internacionais, para a mudança do paradigma do
desenvolvimento almejado pela sua população, observadas e
respeitadas, na maioria das vezes, as condições especificas de
cada uma dessas regiões ou países não desenvolvidos, dentro
dos contextos internacionais em que se encontram ou são tidos
pelas economias mais desenvolvidas.

Tais insucessos aumentam a medida que governantes sem


compromissos democráticos ou éticos com os seus respectivos
países, acabam provocando o malogro das suas políticas
económicas e, de forma indirecta, ocasionam o retardamento
do crescimento económico das suas nações.

1. As estratégias referentes à modernização por industrialização


ou desenvolvimento tardio

A modernização por industrialização também conhecida como


desenvolvimento tardio foi o primeiro paradigma, pós-guerra e
nos anos 1950, resultante da necessidade da obtenção do
desenvolvimento económico, principalmente para as
economias subdesenvolvidas da América Latina e, em especial
o Brasil, visando sua inserção no novo contexto da ordem
económica mundial.

O processo de industrialização tardia teve três fases distintas e


com características especificas para alguns países latino-
americanos, entre elas destacam:

a) A industrialização por substituição das importações,


decorrentes das dificuldades impostas pela II Guerra Mundial,
originando a expansão dos mercados internos dos países
subdesenvolvidos;

b) Crescimento das exportações tanto do sector primário,


que já possuía mercado externo garantido, quanto dos
produtos industrializados, que disponham de vantagens
comparativas, decorrentes da divisão internacional do
trabalho;

c) Estímulos à criação dos pólos de desenvolvimento


regional e sectorial, promovendo ondas de crescimento e as
diferenciações espaciais, distinguindo os centros desenvolvidos
das periferias subordinadas aos interesses externos e, ao
mesmo tempo, despertando críticas e controvérsias quanto aos
resultados. (BECKER & WITTMANN, 2003).
134
Os países subdesenvolvidos sofrem pressões internas e
externas para a ocorrência de mudanças do cenário económico
e, muitas vezes, mesmo fazendo todo o esforço económico e
político necessário, tais modificações não ocorrem e acabam
provocando danos à antiga ordem social, desaguando no
dualismo económico sociológico.

Essa nova situação acaba gerando um padrão internacional de


acumulação, visto que as actividades do sector primário
passam a receber grandes volumes de investimentos com o
objectivo de atender demandas do sector externo importador,
estimulando o crescimento da população sem contra partida
da mudança tecnológica correspondente na produção,
contrapondo-se com o sector industrial.

O segmento industrial, geralmente nas mãos de multinacionais,


emprega nas regiões menos desenvolvidas, tecnologias
defasadas em relação a matriz, porém superiores ao cenário
doméstico, sem condições para absorver a mão-de-obra
excedente do sector agrícola. Essa situação anacrónica acaba
promovendo um crescente desemprego, tanto nas áreas rurais
como urbanas, já que não existem condições propícias para a
especialização dessa mão-de-obra. Consequentemente, surgem
massas de trabalhadores com baixos salários, agravando ainda
mais o cenário económico inicial que era a busca do
crescimento e desenvolvimento económico do país, trazendo
de volta o ciclo vicioso criado pela tentativa de sair do
subdesenvolvimento. (FILELLINI, 1994).

No entender da CEPAL o desenvolvimento seria alcançado pela


expansão do bem-estar, decorrente da elevação da renda real
das populações dos países periféricos, caso a produtividade
média dos trabalhadores crescessem, graças à transferência
das técnicas capitalistas de produção para os países não
desenvolvidos. Neste sentido, o projecto ideológico defendido
pelos estruturalistas estava focado na substituição das
importações por produção industrial própria, que deveria
resistir os movimentos cíclicos internacionais.

Paralelamente deveria ocorrer a implementação cada vez maior


da reforma agrária como atenuante para a repartição da renda e
da minimização das forças agro-exportadoras; juntamente com
a diminuição do papel do capital estrangeiro na formação da
poupança interna e a ampliação da liderança do capitalismo

135
industrial nas relações sociais entre os diversos grupos
económicos. (FILELLINI, 1994).

No caso brasileiro, segundo (SOUZA, 1993), o Estado sempre foi


o grande responsável pela utilização da infra-estrutura
necessária para a viabilização do processo de crescimento
económico, possibilitando que a iniciativa privada pudesse
retirar vantagens competitivas do processo económico
brasileiro.
Se comparada a outros países, na visão de (SOUZA, 1993), a
economia brasileira caracterizou-se pela produção em grande
escala, graças a presença do capital estatal, dos investimentos
nacionais e estrangeiros, que promoveram uma rápida
substituição das importações, responsável directo pelo
crescimento ocorrido nos anos 1949 a 1964, haja visto que as
exportações estavam estagnadas.

Já, a partir de 1968, passaram a ser responsáveis directas pelo


ingresso de moedas estrangeiras, sustentando as nossas
importações de bens de consumo e insumo industriais,
mudando a composição das nossas exportações, com forte
ênfase aos produtos industrializados. (SOUZA, 1993).

Dessa forma, pode-se dividir o crescimento económico


brasileiro em períodos de sucessos e de fracassos. Se
comparado com outros países em desenvolvimento, se obteve
muito mais sucessos, visto que, em médias, teve-se um
crescimento do Produto Interno na ordem de 7,5% entre os
anos de 1948 a 1980, com forte queda nos anos de 1963 a
1965. Excluindo-se esses três anos ruins, chega-se a uma média
de crescimento de 8,1% ao ano, inferior apenas ao Japão e a
Coréia do Sul, podendo ser considerado um excelente
resultado para uma economia que ficou presa ao modelo agro
exportador por mais de 400 anos, retardando o processo de
crescimento económico do país com sérios comprometimentos
no desenvolvimento social e político da nação (LEITE, 1999).
Detalhando-se o período de 1948 a 1980, que apresentou uma
inflação média de 34% ao ano, em subperíodos observa-se que,
entre os anos de 1948 a 1961, o crescimento médio da
economia brasileira deu-se em 7,65% ao ano com a inflação
crescente em torno de 10% a 30% ao ano. O mesmo não ocorre
com os anos 1962 a 1964, quando a economia brasileira esteve
submetida à desordem institucional e política, com graves
consequências económicas e sociais para o país, fazendo com
136
que o produto interno bruto apresentasse quedas acentuadas
e desestruturadoras, auxiliadas pela explosão da inflação que
atingiu 90% ao ano, interrompendo o processo de crescimento
alcançado nas décadas anteriores. (LEITE, 1999).

Com a tomada do poder por parte dos membros da Revolução


de 1964, que mantiveram a base do discurso
desenvolvimentista, o Plano de Acção Económica do Governo –
PAEG propunha a retomada do crescimento e
desenvolvimento, através dos aumentos dos investimentos, da
busca da estabilidade dos preços, da diminuição dos deficits da
balança de pagamentos e da remoção dos desequilíbrios
regionais.

Sabe-se que o PAEG promoveu enormes reformas necessárias


para a sustentação do crescimento nos anos seguintes e,
principalmente, no II PND, embora tenha também promovido
contenções salariais, fazendo com que o consumo fosse reduzido,
quer via política monetária e creditícia enxuta ou política fiscal
arrochada. Durante os anos de 1965 a 1967 ocorreu uma
recuperação modesta do produto, crescendo anualmente da
ordem de 4,4% em média, devido ao forte controle contracionista
do processo inflacionário brasileiro, praticado a mãos-de-ferro
pelos militares, que conseguiram reduzí-la para o patamar de 30%
ao ano, gerando um forte desaquecimento da produção e do
emprego, principalmente nos grandes centros urbanos. (LEITE,
1999).

O grande milagre do crescimento económico brasileiro ocorreu


nos anos 1968 a 1974, com o Produto Interno Bruto - PIB
atingindo um crescimento médio de 10,7% ao ano, tendo ainda
de pano de fundo a queda da inflação para a ordem de 15,5%
no ano de 1973, quando ocorreu o primeiro choque do
petróleo, complicando as contas da balança comercial
brasileira e, muito mais, comprometendo o vector de
crescimento da economia do país, que era chamado pelos
burocratas do regime militar de ”ilha da prosperidade” ou de
“celeiro do mundo”. (LEITE, 1999).

Nessa época, o II Plano Nacional de Desenvolvimento - PND


esteve em plena execução sob a ordem do processo
desenvolvimentista dos governos Médici e Geisel, tendo como
objectivo principal a modernização da economia brasileira,
forçando uma fuga das consequências directas da recessão
mundial oriunda do choque do petróleo ocorrida em 1973.
137
Observadas as condições históricas e institucionais, Celso
Furtado, maior economista brasileiro envolvido no movimento
estruturalista Cepaliano, contrapunha-se à necessidade da
criação, na América Latina e mais especificamente no Brasil, de
um processo de industrialização nos modelos pré-capitalistas e
capitalistas ocorridos na Europa e no resto do mundo no século
XVIII, visto que essa forma dualista reafirmava a permanência
das economias não industrializadas no cenário de
subdesenvolvimento contemporâneo.

Acrescentou ainda que os modelos capitalistas exploradores


são incapazes de modificar as estruturas económicas das
regiões onde se instalam, visto que não faz com que haja
aumentos nas massas salariais para acelerar o crescimento
regional, sem contar o facto da criação de excedentes de mão-
de-obra, criando stocks de trabalhadores com facilidade de
aceitar baixos salários para sobreviverem, enfraquecendo ou se
quer criando novos mercados internos. (FILELLINI, 1994).

Os estudiosos da cátedra de economia presentes na UNICAMP,


favoráveis às ideias cepalianas, readaptaram as teorias
estruturalistas às necessidades e realidades brasileiras,
criticando os princípios básicos da tese cepaliana, fazendo
surgir o chamado capitalismo tardio10, que apontou os
principais entraves para o crescimento da economia brasileira,
levando-se em conta o processo tardio da industrialização do
país em cada uma das suas etapas.

Originário do economista João Manuel Cardoso de Melo,


juntamente com contribuições de Caio Prado Júnior e Maria da
Conceição Tavares, a análise cepaliana demonstrou as razões
que levaram a formação tardia do sector de produção de bens
de capitais no Brasil.

Ainda segundo (FILELLINI, 1994), destacou-se a fase da


substituição das importações de bens de consumo com o
emprego de tecnologia de pouco capital, promovendo a
expansão horizontal do mercado, graças ao emprego
abundante de mão-de-obra.

Na segunda etapa, a substituição ocorre para os bens de


consumo sofisticados e bens de capital, através a intensificação
das actividades industriais em razão da utilização de grandes
quantidades de capital, ocasionando a geração de mais
emprego, promovendo a expansão vertical do mercado via
138
concentração de renda. Vale frisar que o processo todo exige a
presença do Estado como agente regulador e principalmente
responsável pela implementação de infra-estrutura necessária
para a atracção do capital produtivo.

No caso brasileiro, como ficou provado, somente a partir de


1955 a economia conseguiu a presença tridimensional de
produção com o departamento de bens de produção – D1,
departamento de bens de consumo corrente – D2 e o
departamento de bens duráveis – D3, conforme receituário
disponível no modelo capitalista. (FILELLINI, 1994).

O principal enfoque cepaliano na pauta da reunião na Cidade


do México em 2000 foi dado ao binómio: educação e emprego,
visto que somente com essas duas variáveis, interdependentes,
a América Latina poderá alcançar dias melhores, considerando
a necessidade do aumento da renda per capita e, para tanto, a
necessidade maior da melhoria do nível educacional das suas
populações frente ao crescimento do processo tecnológico no
sector produtivo. (CEPAL, 2002).

Complementando o enfoque abordado pela CEPAL, deve ser


dado destaque especial os aspectos económicos e sociais
relacionados à existência de falácias sobre o crescimento e
desenvolvimento da economia latino-americana. Esses
destaques podem ser enunciados como: a negação ou
minimização da pobreza; a paciência e a aceitação por ser
pobre; a aceitação de qualquer crescimento ser suficiente, a
desigualdade ser um factor natural e não impeditivo do
desenvolvimento; o abandono das políticas sociais, a
maniqueização do Estado; a falta de ética e a aceitação comum
como não houvesse alternativas; que podem ser aplicadas ao
Brasil e, por que não afirmar, que não há distância da realidade
económica e social da Região do Vale do Ribeira. (KLIKSBERG,
2001).
Não deixa de ser inegável, segundo (FERRAZ et al, 2003), que a
CEPAL teve de revisar suas concepções teóricas, principalmente
frente ao avanço do neoliberalismo económico imposto na
América Latina por parte do Consenso de Washington, cuja
lição de casa foi prontamente atendida pelos países
subdesenvolvidos da América Latina. Esse receituário tinha
como proposta à busca da estabilidade macroeconómica no
curto ou médio prazo quer via estabilidade monetária ou pela
crescente subordinação económica e política dos países
139
membros junto aos países centrais. Por fim, a submissão se
concretizou, via a regulação dos fluxos internacionais de capital
tão necessário para o equilíbrio do balanço de pagamento dos
países pobres da América Latina.

Mesmo tratando do enfoque em curto prazo, com algumas


modificações, o modelo keynesiano serviu para que outros
economistas seguidores das propostas de Keynes pudessem
apresentar análises de longo prazo para os estudos da
ocorrência de crescimento económico equilibrado das
respectivas flutuações que o acompanhavam.

Dentre os modelos pós-keynesianos, segundo (DELFAUD,


1987), de base destacam-se o modelo de Domar e de Harrod. O
primeiro, muito mais fiel a Keynes, analisou, inicialmente, o
efeito renda e seus desdobramentos frente aos volumes de
investimentos e, em uma segunda etapa, o efeito da variação
da capacidade produtiva decorrente do montante de
investimento aplicado, visando, em longo prazo, a absorção da
produção excedente através do efeito multiplicador, que
definirá a taxa de crescimento de equilíbrio do investimento.

Já o modelo de Harrod, não tão fiel a Keynes, tem sua análise


baseada na previsão em curto prazo incidente sobre a
demanda efectiva para um determinado volume de produção e
emprego e, em longo prazo, sobre a avaliação dos rendimentos
futuros dos capitais investidos, ou melhor, sua eficiência
marginal para a tomada de decisão quanto ao investimento por
parte dos capitalistas. (DELFAUD, 1987).

Levando-se em conta a situação em que os investimentos ou a


produção podem não crescer no montante estimado ou ainda
apresentarem resultados diferentes aos propostos pelos
modelos acima mencionados, que busca garantir o equilíbrio,
exigindo maiores esforços para a expansão dos investimentos e
da produção na busca contínua do pleno emprego sem que
ocorra um processo inflacionário descontrolado.
Neste sentido, os “neocambridgeanos” desenvolveram estudos
para encontrar, no mecanismo de distribuição, alternativas
para a regulação interna do modelo Harrod-Domar. O modelo
de Harrod passa a ser questionado quando a relação fixa
imposta entre o nível de produção e o investimento,
responsável directa pelo impedimento de substituição de mão-
de-obra por capital e vice-versa.

140
O pessimismo apontando pelos modelos pós-keynesianos,
encontra resposta na análise neoclássica desenvolvida pelo
economista Robert Solow, que consegue apresentar a auto-
regulação do sistema com a substituição das variáveis contidas
nos factores de produção. Solow defende uma maior
flexibilidade entre o nível de produção e os investimentos, visto
que, o crescimento econômico próximo ao pleno emprego,
poderá sofrer menores ajustes, caso exista a possibilidade dos
capitalistas substituírem a mão-de-obra por máquinas e
equipamentos, quando o custo da mão-de-obra for
aumentado. No sentido contrário, quando a oferta de mão-de-
obra for maior que a demanda e os salários ficarem menores,
poderá ocorrer a substituição do trabalho morto por trabalho
vivo, fazendo com que o equilíbrio e o pleno emprego sejam
mantidos. (DELFAUD, 1987).

A tese da “decolagem” de Rostow12 partiu da comparação da


economia ao voo de um avião, ou seja, quanto de empuxo,
velocidade e altura ele precisa para não cair? Assim, sua teoria
passou a considerar, da mesma forma que um avião, as etapas
necessárias para a ocorrência do crescimento económico,
observado os antecedentes históricos das economias
envolvidas e concluiu que existem cinco etapas históricas
económicas para que uma nação ou região possa atingir o
ponto mais alto do crescimento e desenvolvimento, tais como:
sociedade tradicional, pré-condição para a decolagem, rumo a
maturidade e consumo de massa. (FILELLINI, 1994).

A sociedade tradicional pouco tem de crescimento económico


e está directamente ligada ao sector agrícola, fazendo uso de
pouca ou nenhuma tecnologia, apresentando um baixo índice
de produtividade e níveis baixíssimo de renda per capita, sem
qualquer possibilidade futura de melhoria social. Isso se dá em
decorrência da concentração do poder político econômico e
social nas mãos de uma pequena estrutura da sociedade,
culminando na ausência do Estado e lembrando ao período
feudal adaptado a era moderna.

Na etapa correspondente a pré-condição para a decolagem


pouco existe de diferença da situação anterior, a não ser o
fortalecimento do Estado e o surgimento de um grau maior do
nacionalismo, com o cunho de preservar a sociedade e suas
buscas pelo progresso económico.

141
Todas as barreiras impeditivas do crescimento foram
eliminadas, na terceira etapa do processo chamado de
decolagem, graças à presença do Estado como orientador do
processo modernizante e responsável directo pela
disponibilização de infra-estrutura.

Contribui também, segundo (FILELLINI, 1994), a existência de


grupos idealistas respeitados pela sociedade, responsáveis
directos pela introdução de novos métodos de produção com o
emprego de tecnologia, exigindo que a poupança e o
investimento superem a taxa de 10% ao ano da renda nacional,
mesmo que parte do capital tenha origem em economias
internacionais. Nesse sentido, faz-se com que o resultado do
crescimento económico corresponda ao acréscimo de novos
empresários atraídos pelo lucro e acumulação decorrente do
novo processo.

A busca do rumo a maturidade ocorre após um período


considerável e longo de progresso sustentado, com alguns
percalços económicos ou políticos, porém sem muito abalo
para o crescimento. Faz-se necessário que os investimentos
sejam da ordem de 10% a 20% da renda nacional, bem como
ocorra o emprego de tecnologia mais moderna nas diversas
actividades económicas.

Esses investimentos visam agregar valores a produção que tem


que ser maior que o crescimento populacional, permitindo
uma melhor relação de trocas internacionais, que produziram
modificações sociais económicas e políticas, dando sustentação
para as gerações seguintes no tocante ao bem-estar desejado.

O último estágio, embora utópico, é atingido quando o bem-


estar social ocupa maior espaço que as questões económicas.
Isso ocorre em razão do aumento da renda per capita tal ponto
que o consumo supera as necessidades biológicas, a força de
trabalho se modifica e as áreas urbanas passam a concentrar
partes consideráveis da população, que passa a integrar e
fortalecer o sector de serviços, fazendo com que o crescimento
e o desenvolvimento económico não fiquem restritos a um
único país e seja sim repassado ou copiado por outras nações
na busca de um equilíbrio internacional. (FILELLINI, 1994).

2. As estratégias referentes à dissociação ou desenvolvimento


endógeno

142
O desenvolvimento endógeno teve sua origem na década de
1970 em decorrência dos desequilíbrios gerados pelo processo
de reorganização da produção e das transformações marcadas
pela globalização, quando começaram a se destacar as
propostas de crescimento e desenvolvimento “da base para o
topo”. (CORREA, 2003).

Dessa forma, o desenvolvimento endógeno ou dissociado passa


ser a tentativa de alguns países em isolarem-se do processo
nocivo da modernização por industrialização, responsáveis por
acentuação das desigualdades sociais e económicas, buscando-
se o crescimento do mercado interno com forte subsídio para a
produção agrícola. Dentre os países que optaram pelo modelo
do desenvolvimento endógeno destacam-se a China, Cuba,
Chile, Egipto e Perú, na sua maioria com tendência fortemente
socialista.

A partir dos anos 1980, segundo (BARQUERO, 2001), o


crescimento endógeno, que está vinculado ao processo de
industrialização endógena, ganha força no cenário económico
internacional passando a ser um novo paradigma para os
governos interessados em fugir dos modelos tradicionais e
impostos pelos países mais desenvolvidos. Assim sendo,
passou-se a discutir com maior profundidade o efeito da acção
pública sobre as localidades e regiões não desenvolvidas,
contrapondo-se ao fracasso ou esgotamento do modelo de
desenvolvimento “de fora para dentro” praticado nos anos
1960 e 1970, em detrimento da nova proposição da teoria
territorial do desenvolvimento, do desenvolvimento
autocentrado e do desenvolvimento “de baixo para cima”.

Nos anos 1990 os estudiosos do modelo de desenvolvimento


endógeno conseguem identificar as causas da ocorrência de
variações no crescimento das regiões, que mesmo submetidas
às mesmas condições económicas, políticas e sociais ainda
apresentavam disparidades nos resultados finais. (CORREA,
2003).

Neste sentido, a teoria endogenista passou a fornecer


parâmetros que permitissem a administração interna das
variáveis contidas nos factores de produção, tais como capital
social, capital humano, tecnologia e recursos financeiros, de
modo que cada região pudesse extrair o máximo possível das
suas vantagens estratégicas e competitivas. Dessa forma, cada
143
região ou território de forma específica, passa a empregar
diversos mecanismos associados ao esforço permanente de
mobilização ou organização das comunidades locais, urbanas
ou rurais, voltados ao crescimento e desenvolvimento interno,
mesmo que seja em patamares menores que as médias das
outras regiões ou territórios. (CORREA, 2003).

Esse novo modelo ainda visa ampliar o atendimento das


demandas económicas, sociais e políticas das populações locais
e regionais. Isso ocorre através da iniciativa e participação das
comunidades envolvidas e interessadas na melhoria dos
processos em questão, mantidas as identidades próprias e
fazendo-se uso de estratégias específicas de acção inibidoras
de limitações impostas por organizações externas sobre as
potencialidades locais ou regionais. (BARQUERO, 2001).

O processo de crescimento dualista, resultante da existência de


excedentes oriundos dos sectores agrícola e industrial,
juntamente como o crescimento endógeno, parte do princípio
da alta disponibilidade de mão-de-obra barata. Dessa forma
fica claro que a abundância de mão-de-obra barata e
descartável pode ser redireccionada para a reforma agrária,
visando a ampliação do mercado interno e, ao mesmo tempo,
minimizando o impacto causado pela heterogeneidade das
economias periféricas. O facto das economias não
desenvolvidas serem obrigadas a actuarem em vários campos,
ao mesmo tempo, acaba não produzindo os resultados
necessários para a erradicação da pobreza, dentro de um
universo de projectos não acabados, empregando de forma
errada os parcos recursos financeiros, levando o país ou região
ao grau maior de endividamento ou de fracasso económico e
social. (SACHS, 2004).

Demonstra-se assim não existir apenas um caminho para que a


industrialização seja alcançada, quer seja via actividades
artesanais e comerciais melhoradas ou, com maior frequência,
decorrente das forças dinamizadoras do processo de
crescimento e das mudanças estruturais das economias locais
ou regionais, graças a acumulação de capital e introdução de
tecnologias. (BARQUERO, 2001).

A geração de novos empregos, dentro de um cenário com a


inflação controlada, poderá promover o crescimento
económico necessário, caso as importações sejam mínimas e a
elasticidade da oferta de bens de salários seja produzida
144
internamente pelo fortalecimento do mercado interno.
(SACHS, 2004).

Diferentemente das ideias defendidas pela teoria dos


neoclássicos, a Teoria do Crescimento Endógeno, acepção
frequentemente assumida pelo conceito de desenvolvimento,
explica o crescimento económico de longo prazo. Essa teoria se
baseia na afirmativa de que o conhecimento tecnológico é tido
como um bem público puro, já que as empresas podem
aumentar seus stocks agregados de conhecimento, obtendo
retornos marginais maiores frente ao capital empregado para
pesquisas & tecnologia.

O conceito de desenvolvimento endógeno resulta da


adequação das externalidades positivas nos sistemas
produtivos das localidades não desenvolvidas. Permite, como
complemento, o surgimento de rendimentos crescentes e da
acumulação de capital resultante da atractividade de recursos
da economia tradicional, propiciando excedentes oriundos dos
processos produtivos, decorrentes da utilização do potencial de
desenvolvimento existente no território, devido a participação
actuante dos agentes económicos das localidades ou regiões
não desenvolvidas. (BARQUERO, 2001).

Essa nova visão passou a ser utilizada no sentido positivo,


considerando-se que cada região tem suas potencialidades
específicas e, quando bem trabalhadas, podem produzir
resultados satisfatórios e voltados ao bem-estar da grande
maioria. Paralelamente, o capital social passou a ter uma maior
importância na composição das variáveis económicas, políticas
e sociais do processo de desenvolvimento endógeno, pois
traduz o interesse e o esforço das populações. Em
complemento a prática democrática, o capital social é
estabelecido por relações sociais institucionalizadas, traduzidas
em normas, regras e de redes sociais, resultantes das práticas
culturais vivenciadas historicamente por grupos, comunidades
e classes sociais com objectivos próprios e únicos. (CORREA,
2003).

Essa vontade grupal de modificação ou preservação do meio


em que se vive, visando o melhor para a maioria, pode ser
traduzida como a forma de alocação das forças para o
crescimento local ou regional, validada pelo conhecimento das
suas habilidades e potencialidades.
145
3. As estratégias para o equacionamento das necessidades
básicas

Em consequência do fracasso do modelo de modernização via


industrialização tardia, do aumento do nível de pobreza nos
países periféricos e subdesenvolvidos, bem como, em função
da reordenação do conceito de desenvolvimento na declaração
de Cocoyoc no México em 1974, “Em primeiro lugar é
necessário redefinir objectivos e metas do desenvolvimento.
Desenvolvimento só tem sentido quando as pessoas e não as
coisas se desenvolvem. Pessoas têm necessidades básicas:
alimentação, moradia, vestimenta, saúde e educação. Todo
processo de crescimento que não leva a um atendimento
destas necessidades – ou mesmo o impede – deve ser
entendido como uma deturpação da ideia de desenvolvimento.
(...) Um processo de crescimento que só beneficia uma minoria
abastada e que só aumenta as disparidades entre países e
regiões, não pode ser considerado como desenvolvimento; é,
antes disso, exploração” (FRANÇA, 2012). O mundo voltasse
para a erradicação da miséria, buscando políticas especificas e
focadas nos cenários de cada país ou região.

O modelo de Romer leva em consideração as externalidades


positivas decorrentes da relação oriunda da acumulação de
conhecimento da produtividade marginal decrescente do
capital de pesquisa.

Segundo (CLEMENTE & HIGACHI, 2000), se houver


compensação da acumulação sobre a produtividade e não
ocorrer convergência entre a taxa de crescimento e o nível de
renda, tem-se a manutenção do nível de renda per capita se o
crescimento dos outros países ocorrer na mesma taxa.

Por outro lado, se houver a convergência e considerando-se


que a taxa de crescimento da economia é função crescente do
capital, tem-se, neste caso, um maior distanciamento dos
países ricos em relação aos países pobres, devido ao maior
índice de crescimento económico que seria alcançado. Essa
afirmativa, cujo modelo econométrico acentua a existência de
maiores vantagens para os países que possuírem maior stock
de capital humano.

Por sua vez, aumenta o stock agregado de conhecimento


disseminando-o para todos da mesma região ou países,
146
mantida a premissa da existência maciça dos volumes de
investimentos na educação, visto que as regiões com maior
grau de especialização terão sempre a dianteira do processo de
produção. Por essa razão, os governantes intervêm nas regiões
menos favorecidas no intuito de acelerar o padrão de
especialização para suas populações saírem dos baixos estágios
de desenvolvimento. (CLEMENTE & HIGACHI, 2000).

Assim, caberá aos governantes regionais utilizarem ao máximo


os recursos oriundos da tributação do consumo, das
actividades produtivas ou da renúncia fiscal, destinando-os: ao
subsídio das pesquisas e desenvolvimento tecnológico; a
ampliação das infra-estruturas de bens de capital e social que
gerem externalidades positivas.

O principal enfoque deverá ser no processo educacional


voltado à geração de mão-de-obra técnica e de pesquisas, que
possam de alguma forma contribuir para a realização do maior
desempenho da economia, sem tão pouco criar bolhas de
crescimento e sim promovendo modificações substanciais não
só na economia, mas também nas áreas sociais.

O objectivo principal refere-se à inclusão do elemento humano


nos padrões necessários para o seu bem-estar, traduzido em
crescimento económico para o país e desenvolvimento
económico para a sociedade como um todo, mantendo o
máximo possível os recursos naturais para as gerações futuras.
O comércio inter-regional ou internacional também poderá ser
um factor disseminador de transferência de conhecimento,
valendo-se do princípio que a tecnologia é um bem público
nacional ou internacional, que promoveriam ganhos
diferenciados para as regiões ou países envolvidos.

Dependendo do estágio económico que cada um se encontra e


das vantagens comparativas embutidas nos seus comércios,
poderá até ocorrer redução da taxa de crescimento nas
economias menos desenvolvidas. Maiores problemas
ocorreriam se a economia mais fraca praticasse o
proteccionismo económico, renegando a obtenção de
resultados maiores com o livre comércio, mesmo que fosse ao
longo prazo ou se ficasse restrita ao plano nacional ou regional
na produção de bens tradicionais, com baixa necessidade de
tecnologia. (CLEMENTE & HIGACHI, 2000).

147
Assim, pode-se afirmar que o modelo ideal de desenvolvimento
é aquele que maximiza no longo prazo, podendo ser retratado
na combinação do crescimento acentuado das exportações e
da redução selectiva das importações, visando à obtenção de
tecnologia, quer com criação própria ou repassada de maneira
directa ou indirecta, na forma de aprendizado, por parte das
multinacionais aqui instaladas. A presença do Estado passou a
garantir a inexistência de gargalos impeditivos do crescimento
económico, através do direccionamento dos investimentos
privados para os sectores estratégicos do país, sem esquecer,
obviamente, das necessidades sociais crescentes e gritantes
das populações instaladas nas regiões mais desfavorecidas.
(SOUZA, 1993).
Acrescente-se ainda a necessidade da presença do Estado no
tocante, às variáveis sociais, económicas, políticas e a
permanente discussão a respeito do conceito de
desenvolvimento integral. Deixa-se claro que não deve haver
sacrifícios acentuados para as populações desfavorecidas em
nome do crescimento económico, já que a resultante final
desse crescimento deve ser traduzida em bem-estar social, que
em outras palavras significa desenvolvimento económico, ao
menos para a grande maioria da população do país,
minimizando as diferenças regionais e sociais existentes.
(CEPAL, 2002).

O modelo Kaldor, segundo (DELFAUD, 1987), separa a


poupança agregada em poupança dos assalariados e dos
capitalistas, fazendo com que a propensão marginal da
poupança dos capitalistas seja superior a dos trabalhadores.
Neste sentido, num quadro de pleno emprego, havendo o
cenário de inflação descrito nas propostas keynesianas, os
trabalhadores perderão, pois seus salários serão corroídos
pelos aumentos dos preços e os capitalistas serão beneficiados,
pois terão seus lucros aumentados com reflexos directos nas
taxas de poupanças e no equilíbrio descrito por Harrod e vice-
versa, caso o cenário seja de depressão.

Para Robinson, segundo (DELFAUD, 1987), a relação entre a


taxa de lucro e a taxa de acumulação estabelece a igualdade
entre a poupança e o investimento, fazendo com que o
equilíbrio seja alcançado quando a taxa de acumulação obtida
for suficiente para assegurar o financiamento da mesma taxa
de acumulação.

148
Pasinetti chamou de repartição funcional a divisão de salários e
lucros, visando uma repartição social decorrente da divisão das
rendas dos trabalhadores e dos capitalistas. (DELFAUD, 1987).

4. As estratégias voltadas aos ajustes estruturais das economias


periféricas

Diante do forte endividamento externo e desequilíbrios


internos em razão do descontrolo fiscal, do crescimento do
processo inflacionário e da existência de corrupção nos
governos subdesenvolvidos, factos estes ocorridos em sua
maioria nos anos 1980.

Nas estratégias da modernização por industrialização tardia, o


desenvolvimento endógeno e o equacionamento das
necessidades básicas fracassaram e deram lugar para o ajuste
estrutural, que promoveu grandes sacrifícios para as
populações dos países pobres com vistas aos interesses
financeiros dos países ricos, representados pelo FMI e bancos
privados internacionais. (BECKER & WITTMANN, 2003).
Consequentemente acabou ocorrendo também um
descompasso entre a formação bruta de capital e a diminuição
das nossas condições domésticas para o financiamento. Essa
situação acabou obrigando o Brasil a tomar recursos externos
em grande monta, sem a garantia do retorno a médio ou longo
prazo dos investimentos geridos pelos credores internacionais e
com valores consideráveis para a época e com consequência
futura quanto ao comprometimento do envio de divisas
estrangeiras para os credores externos. (CARNEIRO, 2002).

O crescimento da economia brasileira, entre os anos de 1975 a


1980, ficou em torno da média de 7,05% ao ano, com altos e
baixos, principalmente em razão do segundo choque do
petróleo, e, por sua vez, a inflação explode e atinge o patamar
de 110% ao ano no final de 1980. Os novos cenários
económicos nacionais e internacionais acabaram fazendo com
que o fim do milagre económico fosse sentido, colocando em
risco todo o esforço dos militares para a suspensão do
crescimento económico brasileiro, mesmo que tenha sido às
custas dos recursos internacionais. (LEITE, 1999).

O segundo choque do petróleo e, principalmente, o choque dos


juros americanos ocorridos em 1979 fizeram com que o

149
modelo desenvolvimentista dos anos 1970 ficasse e o processo
de crescimento acelerado fosse reduzido ou postergado. O
resultado dessa situação levou o país a uma forte contracção
cambial, sem alternativas para atender as demandas das
importações e, muito pior, trazendo para Brasília várias
comitivas do Fundo Monetário Internacional – FMI. Dessa
forma, a economia brasileira foi submetida a uma situação de
arrefecimento, visto que o único objectivo era viabilizar os
pagamentos da dívida externa para os credores internacionais,
principalmente para o sistema financeiro internacional, que
temia uma quebradeira geral em razão do possível calote dos
países devedores. (CARNEIRO, 2002).

Segundo a economista Anita Kon, citada em (LIMA, 1999), a


economia brasileira, nos anos de 1980, sofreu forte impacto
das políticas de estabilização, com resultados desastrosos no
plano do desenvolvimento do país. Tais factos se deram,
principalmente, em razão das respostas económicas
promovidas por diversas regiões, principalmente sobre a
questão do nível de produção e mercado de trabalho,
tumultuadas em decorrência das ações governamentais e dos
problemas económicos internacionais, gerando dessa forma
estímulos e desestímulos para o processo de crescimento e
desenvolvimento económico brasileiro. (LIMA, 1999).

A década dos anos de 1980, segundo consenso dos principais


economistas do país, foi considerada perdida, já que o segundo
choque do petróleo acelerou o ingresso do país em um cenário
económico difícil, associado a outras variáveis externas que
não estavam sob o controlo do governo brasileiro.

No entender de (CARNEIRO, 2002), a crise em questão acabou


fazendo com que ocorressem oscilações no crescimento
económico, principalmente no início dos anos 1980 e, mais
precisamente, entre os anos 1981 e 1996 o produto interno foi
de apenas 2,2% ao ano, muito abaixo da média anual das
décadas anteriores, originando dessa forma uma massa
enorme de trabalhadores urbanos sem emprego e renda.

O resultado social do fracassado processo económico dos anos


1980 foi a criação do cenário de pobreza absoluta, já que o
sector industrial foi o mais afectado e responsável directo pelo
arrefecimento da economia do país e a hiperinflação atingiu o
patamar de 1.000% ao ano no final de 1987.
150
Tais resultados acabaram levando a economia brasileira às
crises de obtenção de créditos externos e de política fiscal e
endividamento do Estado e das dificuldades enormes no
controlo do balanço de pagamentos, juntamente com os
fracassos dos planos de estabilização económica para conter a
inflação do país.

A estagnação e o declínio ocorrido nos anos 1980 e 1990 deve


ser analisado não somente pela óptica dos custos sociais
impostos ao país, mas também pelos custos económicos, visto
que as altas taxas de crescimento alcançadas nos decénios
anteriores são enganosas, considerando que o vínculo
praticado entre o capital externo e o Brasil continuou a existir e
foi expandido para todas as áreas de interesse directo ou
indirecto do capital externo. (BENAYON, 1998).

Esse processo acabou fortalecendo ainda mais o capitalismo


dependente e, com maior peso, promovendo e reforçando
alianças entre as oligarquias representantes do capital nacional
com o sector externo, aligiando de vez os menos favorecidos
do processo de crescimento e desenvolvimento social.

Conforme discute a economista Anita Kon em artigo para o


Caderno PUC – Economia, em (LIMA, 1999), a ânsia por
crescimento levou a economia brasileira, entre os anos de
1980-1995, a tentar conter o processo inflacionário,
provocando sérias consequências quanto a velocidade e
intensidade do crescimento económico, visando diminuir as
disparidades regionais e sociais do país.

O esforço em questão deu-se sem muito sucesso, visto que


ocorreram, ao mesmo tempo, aceleração, retardamento e
diminuição das taxas de crescimento regionais, criando um
novo cenário de desigualdades, frente ao processo inicial de
aumento da produção com o uso de tecnologia visando um
maior grau de competitividade no cenário internacional. (LIMA,
1999).

O quartil inicial dos anos 1990 também não ficou atrás da


década passada em termos de dificuldades económicas, sociais
e, principalmente, políticas, com a retirada do Presidente da
República do poder do governo de então. Essa situação política
acabou fazendo com que fosse herdada uma crise decorrente
do desemprego oriundo da tentativa de combate ao processo
inflacionário no Brasil, acrescidas das consequências internas
151
das crises fiscais e do descontrolo da dívida externas brasileira
dos anos 1980.

Segundo (LIMA, 1999), vale destacar que a tentativa de


contenção da hiperinflação promoveu um forte
desaquecimento da economia brasileira, fazendo com que o
nível de desemprego fosse maior que o ocorrido nos anos de
1981-1983, associado à abertura comercial para o ingresso de
produtos importados, acentuando ainda mais o desemprego. O
mesmo acontecia no cenário internacional, que se encontrava
fora do padrão normal de geração de empregos, em razão dos
avanços tecnológicos na produção, fazendo com que os países
com menor custo de produção e maior produtividade
pudessem ganhar mercados internacionais, reduzindo as
chances de crescimento económico da economia brasileira.

De acordo com o artigo dos economistas Arienti & Campos,


citado em (LIMA, 1999), o cenário internacional favoreceu a
implantação do Plano Real, visto que havia a ocorrência de
mudança na dinâmica do sistema financeiro internacional,
gerando um excesso de liquidez com baixas taxas de juros e,
principalmente, um cenário recessivo nos países de maior
expressão económica mundial.
Neste sentido, o Plano Real tinha como ponto forte e atractivo
para o capital internacional, a liberação da conta capital, a
sobrevalorização da nossa moeda, a abertura comercial e,
sobretudo a atractividade das taxas de juro internas que foram
elevadas para garantir a estabilidade económica com forte
pressão sobre os preços internos. (LIMA, 1999).

Com a criação do Plano Real e a criação do Real como moeda


do país, a inflação ficou debelada à custa de uma forte recessão
económica, acentuada a partir das crises cambiais de 1998 e
1999, quando se sofreu enorme perda em moedas estrangeiras
e tendo que desvalorizar nossa moeda frente ao dólar
americano. Fora essas dificuldades, a economia brasileira
apresentou algum crescimento económico, porém carecia de
implementações mais acentuadas quanto à realização de
reformas constitucionais, políticas, administrativas, que foram
ao longo do governo FHC e, depois nos anos 2000, no governo
LULA, realizadas para que o Estado deixasse de ser o
empresário e passasse a ser o regulador da economia, fazendo
com que suas acções fossem direccionadas para o crescimento

152
e, por que não, para o desenvolvimento da economia
brasileira.

5. As estratégias focadas no desenvolvimento sustentável

O desenvolvimento sustentável, também originário dos


desequilíbrios regionais e da reorganização dos sectores
produtivos, promovidos pela globalização, foca suas discussões
na relação estremecia entre os homens e a natureza. (CORREA,
2003).

O princípio básico da economia que define que os recursos são


limitados e as necessidades ilimitadas não é praticado
correctamente pelas sociedades, no tocante aos recursos
escassos, quando se trata da busca do atendimento das suas
necessidades. Este facto levou as economias modernas a se
preocuparem com os resultados críticos de destruição do meio
ambiente, comprometendo todos os habitantes do planeta
terra; fazendo-se necessários maiores volumes de recursos
destinados aos investimentos voltados à educação ambiental,
como forma directa e única de manter os recursos naturais
existentes para as gerações futuras.

Segundo (MAY, 2003), desde os Fisiocratas com suas ideias


sobre o excedente agrário, aos Clássicos com a preocupação do
colapso capitalista em razão da possibilidade de escassez dos
recursos naturais, a questão da economia dos recursos naturais
sempre esteve em destaque, visto que a preocupação maior
dos homens recai sobre a melhor maneira de utilizar os tais
recursos sem que eles possam faltar para as gerações futuras.

Destaque para Thomas Malthus, que alertava sobre a


ocorrência de desequilíbrio entre o crescimento populacional e
a estagnada oferta de alimentos e para David Ricardo, que
denunciava a queda dos lucros capitalistas em razão da queda
da produtividade do trabalho agrícola por escassez de terras
férteis. (MAY, 2003).

Na área académica acentuam-se os debates sobre a economia


do meio ambiente, contrapondo-se a corrente clássica
defensora da chamada economia ambiental, que tinha uma
visão da infinitude dos recursos naturais e, mais adiante,
também conhecida como sustentabilidade fraca, tanto que
seus modelos teóricos não tinham a representação dos
recursos naturais.
153
Por outro lado, os economistas ecológicos, defendem a
economia ecológica como parte integrante de um sistema
maior, possuidor de fortes restrições a sua expansão, no qual
os recursos naturais são complementos dos demais factores de
produção, dando características conceituais de uma
sustentabilidade forte, desde que, em longo prazo, ocorra a
estabilização do consumo e, principalmente, a minimização do
desperdício dos recursos naturais tidos como escassos ou em
estágio de escassez. (MAY, 2003).

A Agenda 21 como é chamado o programa aprovado pela


Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento, durante a Rio 92 ou Eco 92, foi a forma
directa que a ONU utilizou para tentar frear a degradação do
meio ambiente no mundo. Cabe aos governos e entidades não-
governamentais a responsabilidade para a aplicação e
fiscalização das normas da Agenda 21, muito embora se faça
necessário à decodificação dessa agenda para algo mais
especifico e voltado às realidades locais de cada país ou região.
Porém deverá ser mantido o objecto principal da Agenda 21
que é a preservação do meio ambiente do planeta Terra,
considerando que o agente principal desse cenário – o homem
– é por natureza o grande destruidor, quer por protecção a si e
seu grupo ou por interesses económicos. (SORRETINO, et al.
1995).

Segundo o economista Ademar Ribeiro Romeiro, no início da


década de 1970, sustentado por Ignacy Sachs, surgiu o termo
ecodesenvolvimento ou desenvolvimento sustentável, no qual
são estabelecidos questionamentos e limites sobre o modelo e
tamanho do crescimento económico frente à necessidade de
preservação do meio ambiente.

A grande questão para humanidade reside no facto das teorias


económicas, principalmente a Teoria do Valor e a Teoria
Neoclássica, não poderem atribuir um valor devido para o meio
ambiente, visto que somente o meio ambiente construído tem
valor ou as forças do mercado estabelecidas pela demanda e
oferta podia, respectivamente, determinar o valor do meio
ambiente.

Diante dessa indefinição quanto aos valores a serem atribuídos


ao meio ambiente, outros conceitos foram estabelecidos para a
valoração económica dos recursos ambientais. Entre esses
conceitos destacam-se: a disposição para pagar e a disposição
154
para aceitar, visando à redução dos benefícios e das perdas
ambientais de forma comparável e administrável pela relação
custo-benefício e do custo-oportunidade pela escolha da
multiplicidade de uso para os recursos ambientais, visando a
princípio os retornos sociais, eliminando-se os níveis de risco e
de incerteza para que a interacção entre os sistemas natural e
social seja mantida ao longo do tempo. (CLEMENTE & HIGACHI,
2000).

Na discussão sobre a Valoração Económica Ambiental, o


economista Ramon Arigoni Ortiz, descrito em (MAY, 2003),
escreve a respeito de Harold Hotelling, economista americano,
que em 1949, apresentou propostas, sobre o estabelecimento
da relação entre os custos de viagem incorridos pelos visitantes
aos parques nacionais americanos, que poderiam ser utilizadas
no emprego de uma metodologia para a apuração da medida
de valor do meio ambiente.

Nessa hipótese, quanto mais bem preservado o meio


ambiente, maior será o número dos interessados em conhecer
tais recursos e, consequentemente, possibilitando um volume
ainda mais crescente de recursos monetários, que serão
repassados para a região detentora de tais recursos naturais,
desde que sejam mantidos e preservados, estabelecendo-se os
limites máximos de sua utilização. (MAY, 2003).

Sabe-se que os custos ambientais são irreparáveis e promovem


modificações directas ou indirectas na saúde, segurança e bem-
estar das populações presentes e futuras, bem como,
interferem nas actividades sociais e económicas, sem contar os
resultados estéticos e sanitários do próprio meio ambiente e a
qualidade dos recursos ambientais restantes, ficando dessa
forma difícil de avaliar, especificamente, os benefícios em
relação aos custos sociais.

Para os economistas André Pereira e Peter May, diante das


incertezas e descasos com relação à mudança climática e
decorrente do aquecimento global, desde a I Revolução
Industrial aos dias de hoje, procuram-se estabelecer regras
internacionais, para que os gases responsáveis pelo efeito
estufa não prejudiquem ainda mais as civilizações.

Somente a partir de 1992 com a aprovação, na ONU, do texto


sobre a mudança do clima, passou-se a ter discussões quanto
aos acertos finais e responsabilidades para os maiores
155
poluidores mundiais, que passaram a ser pressionados por
todos os demais países poluidores ou não e, durante a
Convenção de Quioto no Japão ficaram estabelecidas às
políticas e medidas impeditivas do crescimento do nível
internacional de poluição atmosférica.

O Protocolo de Quioto, como ficou conhecido


internacionalmente, dentre os vários mecanismos de
flexibilidade, passou a permitir que, parte do abatimento do
efeito danoso dos gases, possa ser realizada em outros países,
desde que transferidos recursos monetários e tecnologias para
esses países. Evidentemente esse novo processo de
investimento torna-se mais barato que o volume de recursos
aplicado em território de origem da poluição, permitindo o
ganho de receitas para os países ou regiões menos
desenvolvidas, porém com fontes de recursos naturais
preservados ou cabíveis de preservação em troca do chamado
sequestro de carbono. (MAY, 2003).

Na visão dos economistas José E. Veiga e Eduardo Ehlers,


citados em (MAY, 2003), outros aspectos relacionados aos
impactos económicos decorrentes da perda da biodiversidade
também devem ser considerados. Neste sentido, desde 1980 o
biólogo americano Edward O. Wilson passou a empregar o
termo biodiversidade com o objectivo de chamar a atenção da
humanidade sobre os riscos impostos a destruição dos
ecossistemas do planeta.

Considera-se que os impactos económicos decorrentes dessa


perda teriam custos elevadíssimos e irreparáveis, visto que os
progressos tecnológicos não estabelecem restrições aos
modelos consumista e depredatório, principalmente no
tocante a ocupação espacial dos grandes centros
populacionais, que passam a exigir cada vez maiores volumes
de alimentos de várias origens, sem as devidas reposições dos
recursos extraídos. (MAY, 2003).

Neste sentido, surge um novo padrão de consumidor, exigente


e preservador do meio ambiente, possibilitando a
disponibilidade dos chamados selos verdes de qualidade e
origem dos alimentos; criando novas formas e dimensões de
comércios, tanto domésticos quanto internacionais, integrando
o meio ambiente com o mercado, com grande possibilidade de
rendimentos para as regiões não desenvolvidas e detentoras
de recursos naturais preservados. (MAY, 2003).
156
Para a economista Marilene Ramos M. Santos, citada em (MAY,
2003), a questão da água deve ser considerada como uma das
mais graves pendências no mundo actual, visto que as
populações estão crescendo acentuadamente nos países
pobres. Por outro lado, na busca de maior produtividade, nos
países em desenvolvimento ou desenvolvidos, a água está
sendo utilizada, de forma desordenada ou irracional, para a
irrigação de grandes áreas agrícolas, ou simplesmente
desperdiçada, nos grandes centros urbanos, quer pelo mau uso
ou pela inexistência de processos anti-poluidores ou
recuperadores dos mananciais ou rios urbanos.

Dessa forma, a busca pela água se dará cada vez mais distante
e, a última saída será a elevação do preço da água em qualquer
tipo da sua utilização, permitindo que o aproveitamento seja
feito da melhor forma possível e a oferta e demanda de água
seja equilibrada, garantindo a geração de renda para as regiões
que ainda possuem e preservem seus recursos hídricos. (MAY,
2003).

O assunto meio ambiente é tão delicado, que está em


evidência no mundo todo e, neste sentido, mediante a
apresentação de projectos voltados ao meio ambiente, vários
bancos estatais e multilaterais, tais como: Banco Nacional de
Desenvolvimento Económico e Social - BNDES, Banco Mundial -
BIRD, Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID, Banco
Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento – BERD, Banco de
Desenvolvimento Asiático – BDAS, entre outros, dispõem de
recursos financeiros para serem aplicados no meio ambiente.

Esses financiamentos, segundo (GARTNER, 2001), podem ser na


forma de investimento produtivo, com vistas à preservação
indirecta do meio ambiente, tais como ampliação ou instalação
de novas fábricas com melhores tecnologias, que inibam o
processo de poluição ambiental, quer na forma directa de
empréstimos para a preservação ambiental de florestas, rios,
mangues e outras áreas do meio ambiente que sejam de
interesses nacionais ou internacionais.

A grande questão reside no volume de recursos financeiros


bem menores que a grandeza e a velocidade de destruição
ambiental, ora retardada pelos mecanismos reguladores dos
governos locais ou acelerada pela ambição especulativa dos
agentes económicos nacionais e internacionais. Esses agentes
económicos poluem em grande escala sem a preocupação
157
devida com os demais ocupantes do planeta terra, ou pela má
qualidade dos projectos apresentados, inibindo os repasses de
recursos ou, quando repassados, são utilizados de forma
inadequada ou inescrupulosa por parte dos agentes ou
governos financiados. (GARTNER, 2001).

Complementando a ideia acima, vale afirmar que a transição


desenvolvimento sustentável passa necessariamente pelo
melhor gerenciamento das crises capitalistas. Dessa forma,
deve-se deixar de lado o crescimento económico financiado
pelo capital internacional com resultados perversos sobre a
dívida externa dos países pobres e buscar saídas nas
actividades domésticas e específicas de cada região, fazendo-se
o menor uso possível das importações, visando alcançar o
crescimento não inflacionário e induzido pelo emprego,
disponibilizados pelo aumento dos bens de salários. (SACHS,
2004).

6. As recentes estratégicas ligadas à governança global defendida


pela ONU

A existência da governança global passa pela presença de um


“Estado enxuto, limpo, activo, planejador e capaz de
descortinar o futuro”. (SACHS, 2004: p.11). Em decorrência das
directrizes e pressões internacionais oriundas da estratégia do
desenvolvimento sustentável, surge um novo conceito de
desenvolvimento, capitaneado pela ONU, chamado de
paradigma da governança global.

A sustentação desse modelo de desenvolvimento se dá pelos


resultados obtidos e tratados firmados no âmbito do GATT /
OMC – Rodada do Uruguai, finalizada em 1986 e da
Conferência dos Direitos Humanos em Viena em 1993, da
Conferência sobre População e Desenvolvimento no Cairo em
1994, sobre a Conferência do Desenvolvimento Sustentável em
Copenhaga no ano de 1995, da Conferência Internacional da
Mulher em Pequim no ano de 1995, da Conferência Habitação
realizada em Istambul no ano de 1996 e da Conferência da
Alimentação realizada em Roma no ano de 1997.
No entender de José Serra, mencionado em (SACHS, 2004), a
cidadania global continua sendo utópica e para que esse facto
se torne realidade, faz-se necessário que o Estado nacional
democrático exerça as seguintes funções: a) seja um grande
158
articulador e incentivador do desenvolvimento; b) incentive a
busca de parceiros nacionais ou internacionais focados no
desenvolvimento sustentável; c) articule a ocorrência das
metas sociais, ambientais e económicas, fazendo valer o papel
de planejador e articulador para a garantia da sustentabilidade.
O desenvolvimento não poderá ser buscado de forma
precipitada, valendo-se dos modelos internacionais, que
dificilmente se encaixem nas necessidades domésticas do país
ou das regiões, esquecendo-se suas potencialidades e
possibilidades de resolver internamente suas dificuldades de
crescimento.

Dessa forma, o equilíbrio entre o social e económico deverá ser


garantido pelo Estado, que deverá ser eficiente, tanto nos
aspectos de alocação dos recursos disponíveis, quanto a
coragem de buscar e promover a inovação, dentro dos
princípios de geração de empregos e renda, sem usurpar das
gerações futuras o meio ambiente e as culturas dos povos.
(SACHS, 2004)

O maior objectivo está atrelado à mulher e à criança, grandes


vítimas do processo de exploração dos recursos naturais e
humanos e, muitas vezes objectos de trabalhos não
remunerados ou sem o mínimo respeito às condições
humanas, principalmente quando vítimas directas dos conflitos
armados promovidos pelas guerras civis, religiosas ou políticas
ocorridas na África, Ásia e Europa. Esse cenário internacional
está sendo combatido directamente pelos consumidores mais
informados, que acabam rejeitando os produtos que tiveram o
emprego da mão-de-obra infantil na sua composição,
obrigando os grandes fabricantes multinacionais a
encontrarem estratégias sociais para reversão do marketing
negativo criado sobre a marca.

Fica clara a necessidade dos Organismos Internacionais


mudarem, actualizando-se dentro de novos conceitos de
relação internacional, que estejam fora da visão pós-guerra na
qual, em sua maioria, eles foram criados. Isso implica também
na revisão das forças que compõem esses Organismos
Internacionais, pois se ficarem submetidos aos ditames dos
países mais ricos, logicamente que os interesses não serão os
pretendidos pelos países não ricos ou desenvolvidos. Terá que
ser encontrado um meio-termo, onde os interesses da maioria

159
sejam respeitados e praticados em detrimento dos interesses
menores.

A questão a ser discutida está no grau e modo de intervenção


dos países ricos e desenvolvidos sobre os países pobres ou
subdesenvolvidos, considerando-se as disparidades
económicas e sociais de cada um dos membros da ONU, que
poderá ser captada como instrumento político de grupos ou
líderes dos países pobres, resultando na perpetuação da
pobreza.

Outros cenários, que poderão ocorrer no processo de


desenvolvimento por governança global, serão resultantes da
interferência militar sob força dos países ricos sobre os países
não desenvolvidos. Tudo isso em nome a protecção dos
interesses internacionais sobre as grandes jazidas de petróleo
ou outros minerais ou pedras preciosas, grandes reservas
ambientais de florestas ou água potável, levando muitas vezes
a ocorrência de guerras internas e o desmantelamento das
forças institucionais legítimas dos países pobres, que não
professam das mesmas ideias políticas ou religiosas dos
governantes dos países ricos.

Para a ocorrência verdadeira da governança global, segundo


(SACHS, 2004), deverão existir comprometimentos dos países
desenvolvidos do Norte com os países pobres ou em
desenvolvimento do Sul.

Inicia-se pela implementação das estratégias nacionais e


específicas de cada país, porém, complementar ao máximo
com os interesses internacionais dos demais países. Amplia-se
pela propagação e sucesso dos empreendimentos voltados ao
desenvolvimento endógeno nos países do Sul, pobres ou em
fase de desenvolvimento, levando-se em conta as
características específicas de cada país ou região, visando
alcançar resultados positivos para o desenvolvimento
económico e respeitadas as condições ambientais. Viabiliza-se
pelo maior volume possível de recursos financeiros e
tecnológicos repassados pelos países do Norte para os países
do Sul, quer na forma de ajuda relacionada a minimização do
custo das dívidas externas ou na forma de repasses de
conhecimentos e investimentos na área de infra-estrutura
básica, principalmente em educação e saúde. Concretiza-se
pelo estabelecimento, em comum acordo, de tarifas ou
impostos internacionais sobre o uso de fonte de energia
160
poluidora, sobre a utilização dos espaços aéreos ou marítimos
para fins comerciais e, principalmente, com maior ênfase,
sobre as transações financeiras internacionais, quando não
cumpridas as salvaguardas e quarentena de permanências dos
recursos nos países pobres. Finalmente, com respaldo da ONU
e da maioria dos países, estabelecer regras claras para o
gerenciamento de áreas globais de uso comum por parte de
todos os países. (SACHS, 2004).

Para além desses que acabamos de ver, existe um outro modelo


de desenvolvimento chamado cascata.

O modelo em cascata é um modelo de desenvolvimento


baseado nas experiências de desenvolvimento do software
sequencial no qual o desenvolvimento é visto como um fluir
constante para frente (como uma cascata) através das fases de
análise de requisitos, projecto, implementação, testes
(validação), integração e manutenção de software. A origem do
termo cascata é frequentemente citado como sendo um artigo
publicado em 1970 por W. W. Royce; ironicamente, Royce
defendia uma abordagem iterativa para o desenvolvimento de
software e nem mesmo usou o termo cascata. Royce
originalmente descreve o que é hoje conhecido como o modelo
em cascata como um exemplo de um método que ele
argumentava ser um risco e um convite para falhas.

161
Fonte: França, 2012.

No modelo em cascata original de Royce, as seguintes fases são


seguidas em perfeita ordem:

1. Requerimento

2. Projecto

3. Construção (implementação ou codificação)

4. Integração

5. Teste e depuração

6. Instalação

7. Manutenção de software

Para seguir um modelo em cascata, o progresso de uma fase


para a próxima se dá de uma forma puramente sequencial. Por
exemplo, inicialmente completa-se a especificação de
requisitos — elaborando um conjunto rígido de requisitos do
software. O software em questão é projectado e um blueprinté
desenhado para implementadores seguirem — este projecto
deve ser um plano para implementação dos requisitos dados.
Quando e somente quando o projecto está terminado, uma
implementação para este projecto é feita pelos codificadores.
Encaminhando-se para o próximo estágio da fase de
implementação, inicia-se a integração dos componentes de
software construídos por diferentes times de projecto. Estes
componentes devem ser integrados para juntos produzirem
um sistema como um todo. Após as fases de implementação e
integração estarem completas, o produto de software é
testado e qualquer problema introduzido nas fases anteriores é
removida aqui. Com isto o produto de software é instalado, e
mais tarde mantido pela introdução de novas funcionalidades e
remoção de defeitos.

Portanto o modelo em cascata move-se para a próxima fase


somente quando a fase anterior está completa e perfeita.
Desenvolvimento de fases, no modelo em cascata, são
discretas, e não há pulo para frente, para trás ou sobreposição
entre elas.

Contudo, há vários modelos em cascata modificados (incluindo


o modelo final de Royce) que podem ser incluídos como
variações maiores ou menores deste processo.

162
Sumário

Nesta Unidade Temática 5.1 Estudamos alguns


Modelos de desenvolvimento seguido por alguns países como
estratégias para o desenvolvimento dos seus países. Nesta
abordagem destacamos:
1. As diferentes estratégias;
2. Principais características de cada estratégia; e
3. Consequências ou desafios para cada uma das estratégias em
função de factos teóricos e empíricos.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

GRUPO-1 (Com respostas detalhadas)

1. Quantas estratégias de desenvolvimento foram apresentadas


nesta unidade temática?

2. O que é que os estudiosos não conseguem alcançar?

3. Por que eles não conseguem entrar em consensos?

4. Qual é a enfase da estratégia de desenvolvimento de ajuste


estrutural?

5. Qual é a diferença entre a estratégia de desenvolvimento


sustentável da governança global?

Respostas

1.Rever o 2º parágrafo, página 139

2.Rever o 1º parágrafo, página 138

3.Rever o 1º parágrafo, página 138

4. Rever o 2º parágrafo, página 139

5. Rever o 2º parágrafo, página 139

GRUPO -2 (Com respostas sem detalhes)

1. O modelo em cascata é um modelo de desenvolvimento


baseado
163
a) nas experiências de desenvolvimento de um software

b) nas experiências dos países em desenvolvimento

c)nos países ricos

2. Outros cenários, que poderão ocorrer no processo de


desenvolvimento por governança global,

a) Serão resultantes de empenho e desempenho dos próprios


países implantadores

b) Serão resultantes da interferência militar sob força dos países


ricos sobre os países não desenvolvidos
c) Da seriedade dos líderes desses países

3. O equilíbrio entre o social e económico deverá ser garantido

a) Comércio nacional

b) Pelo Estado

c) Pelo PIB

4. O assunto meio ambiente é tão delicado que está em evidência

a) Nos países subdesenvolvidos

b) Nos países em desenvolvimento e pobres

c) No mundo todo

5. A estagnação e o declínio ocorrido nos anos 1980 e 1990 deve


ser analisado não somente pela óptica dos custos sociais
impostos ao país,

a) Mas também pelos custos económicos

b) Mas também pelo nível de confiança política

c) Paz e integração regionais

Exercícios de AVALIAÇÃO

GRUPO -3 (Exercícios de GABARITO)


164
1. Apresente a estratégia de Modernização ou desenvolvimento
tardio?

2. Apresente a estratégia de equacionamento das necessidades


básicas?

3. Quais são as diferenças entre as estratégias referentes a


Modernização ou desenvolvimento tardio das estratégias para
o equacionamento das necessidades básicas?

4. Quais são as semelhanças entre as estratégias referentes a


Modernização ou desenvolvimento tardio das estratégias para
o equacionamento das necessidades básicas?

5. Que factor mais contribui para o não alcance dos consensos


entre os estudiosos quanto ao modelo ou estratégia adequada
de desenvolvimento para cada país?

Exercícios finais sobre o TEMA

1. Moçambique é um país desenvolvido?

2. Qual é a estratégia que melhor se adequa a realidade


moçambicana?

3. Justifique por quê a estratégia de modernização ou


desenvolvimento tardio é quase evidente em outras estratégias?

4. Se a tua província de origem fosse um país, qual estratégia de


desenvolvimento aconselharia para ser implementada?

5. Qual é o papel dos governantes no que diz respeito a


implementação das estratégias de desenvolvimento?

6. Descreve a estratégia de dissociação ou desenvolvimento


endógeno

7. Comente a seguinte afirmação: …a falta de definição de


polos de desenvolvimento, complica mais o processo de
definição e implementação das estratégias de desenvolvimento

8. O que diz o modelo Keynisiano?

9. Qual é a grande diferença entre Keynesiano e pós-keynesiano?


165
10. Explique o modelo em cascata.

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167
TEMA – VI: O COMÉRCIO
INTERNACIONAL E POLÍTICA COMERCIAL
UNIDADE Temática 6.1. Comércio Internacional

UNIDADE Temática 6.2. Política Comercial

UNIDADE Temática 6.1.Comércio Internacional

Introdução

O comércio internacional é a troca de bens e serviços através


de fronteiras internacionais ou territórios. Na maioria dos
países, ele representa uma grande percentagem do PIB
(ROMÃO, 1991). O comércio internacional está presente em
grande parte da história da humanidade, mas a sua
importância económica, social e política se tornou crescente
nos últimos séculos (ROMÃO, 1991; OBSTFELD e KRUGMAN,
2006). O avanço industrial, dos transportes, a globalização, o
surgimento das corporações multinacionais, o outsourcing
tiveram grande impacto no incremento deste comércio. O
aumento do comércio internacional pode ser relacionado com
o fenómeno da globalização.
Ao terminar esta unidade, o aluno deve ser capaz de:

▪ Perceber o que é comércio internacional;


▪ Conhecer as diferentes formas que os países usam para exercer;
Objectivos ▪ Vantagens e desvantagens do comércio internacional.
específicos

168
Desenvolvimento

A comercialização de produtos entre nações está relacionada


às questões de crescimento e desenvolvimento económico no
que se refere ao conceito de economia, envolvendo a
formação, acumulação, distribuição e consumo das riquezas
produzidas. Gonçalves (2016) diz que a existência de
actividades de comercialização entre nações tem como
pressuposto a existência de especializações na produção
motivada pela divisão do trabalho em nível internacional e pela
propriedade natural que as nações possuem de trocar as
mercadorias que cada uma produz pelas que não pode
produzir com o objectivo de obter vantagens económicas.

David Ricardo escreveu a principal obra sobre a teoria dos


excedentes produtivos, sua formação, acumulação, distribuição
e consumo. O propósito de sua obra era a teoria do valor, em
razão de que admitia haver uma quantidade de trabalho
despendida na produção de mercadorias e bens, e a repartição
e distribuição entre as classes sociais dos latifundiários,
operários e capitalistas (GONÇALVES, 2016).

Adam Smith interessou-se pelas leis que regiam a formação,


acumulação, distribuição e consumo das riquezas produzidas,
fluxo adoptado pelos clássicos para definir a economia. Adam
Smith considerava que uma nação obteria vantagens no
comércio internacional, se fosse mais eficiente na produção ou
produzisse com menor trabalho uma determinada mercadoria.
Posteriormente, David Ricardo desenvolveu as suas ideias
construindo a teoria na qual envolvia os custos comparativos
na produção de mercadorias. A teoria das vantagens absolutas
de Smith deu lugar à teoria das vantagens comparativas de
Ricardo que considerava o comércio seria vantajoso para
ambas as nações mesmo se produzisse internamente uma
determinada mercadoria a custos mais altos, desde que os
termos de produtividade entre as nações envolvidas fossem
diferentes (GONÇALVES, 2016).

Em 1919, Eli Filip Heckscher formulou uma teoria do comércio


internacional, que foi, posteriormente, desenvolvida por Bertil
G. Ohlin. Esta teoria é composta pelo teorema denominado
Heckscher- Ohlin no qual, cada nação especializa-se e exporta o
produto que usa com maior intensidade, o factor de produção
169
mais abundante. (ISTAKE, 2003) O mencionado teorema explica
que uma nação é exportadora líquida de bens intensivos em
seu factor abundante e importadora líquida de bens intensivos
em seu factor escasso (GONÇALVES, 2016).

No entanto, segundo Gonçalves (2016), as teorias acima


mencionadas, no entanto, separadamente se apresentam
insuficientes para explicar a existência e a intensidade de
trocas entre nações. Tanto a vantagem absoluta de Smith bem
como a vantagem comparativa de Ricardo é necessária para
explicar a natureza do comércio internacional. Smith, Ricardo e
Heckscher-Ohlin isoladamente inserem os factores de
produção como elemento essencial às suas teorias, o que
significa considerar, de certo modo, a existência de certa
produtividade no processo de produção de bens-mercadorias.

A teoria da vantagem competitiva de Porter (1989) citado por


Gonçalves (2016), usa uma abordagem microeconómica
à competitividade para explicar o desempenho económico das
nações relativamente à busca pela inserção no comércio
internacional. Segundo sua teoria, o que motiva as trocas entre
as nações é a existência de certo ‘diamante` no qual se
encontram as razões que explicam a existência destas trocas
com vantagens económicas para as nações envolvidas. O
‘diamante’ é o estado segundo o qual se regem as condições de
competição; ele se encontra inteiramente dependente da
estrutura de mercado interno à sede das empresas ou indústrias
e a existência de indústrias correlatas ou de apoio. O êxito no
comércio internacional encontra-se em atributos
interdependentes, formando um sistema de forças que actuam
mutuamente para modelar o ambiente competitivo das
empresas nacionais, tornando-se determinantes de vantagens
competitivas.

Os determinantes da vantagem nacional, segundo Porter


(1989), se encontram presentes nos seguintes atributos que
modelam o ambiente no qual as empresas competem:

a) Condições de factores, que determinam a posição do país nos


factores de produção tais como trabalho especializado e infra-
estrutura;

170
b) Condições de demanda, que determinam a natureza da
demanda interna para os produtos e serviços das empresas e
indústrias;
C) Indústrias e empresas correlatas e de apoio, que podem
partilhar actividades da cadeia de valores – estrutura de
vendas e canais de distribuição etc. e

2. Estratégia, estrutura e rivalidade das empresas, que


governam a maneira pela qual as empresas no país são
criadas, organizadas e dirigidas, além da natureza competitiva
interna.

Para a teoria da vantagem competitiva, não apenas os factores


de produção são importantes, mas também, as condições de
mercado e sua estrutura, as estratégias e a existência de
empresas e indústrias de apoio (GONÇALVES, 2016). Dada à
importância que as trocas internacionais atingiram, e dado o
nível de comércio actualmente sendo praticado pelas nações
em razão das aberturas económicas estabelecidas decorrentes
de modelos económicos baseados na livre circulação de
produtos e serviços, as teorias de comércio internacional
objectivam explicar o que determina a existência do comércio
entre as nações bem como responder quais benefícios trazem.
As teorias de comércio internacional procuram comprovar que
a intensidade do comércio se baseia na diferença relativa
existente entre os factores de produção de cada nação
envolvida, onde cada uma, procura individualmente, produzir o
produto cujo factor de produção é mais abundante,
significando uma troca de factores domésticos abundantes e
existentes por factores escassos.

Ainda de acordo com Gonçalves (2016), diferentemente do


comércio intra-indústria, modelo de comércio discutido nos anos
80 explicado pelas implicações das economias de escala e da
concorrência monopolística da escola neoclássica, o comércio
internacional é justificado pelas diferenças existentes entre as
nações envolvidas. A teoria das vantagens absolutas de Smith
afirma ser o custo absoluto de produção; a das vantagens
comparativas de Ricardo, a diferença nos custos relativos; a de
Heckscher-Ohlin, as diferenças entre as nações relativamente à
dotação relativa dos factores de produção, e a de Porter, a
existência de um ‘diamante’ propício à competição nacional que
capacita a indústria para exercer actividade além-fronteira.
171
Vantagens e Desvantagens do Comércio Internacional

Constata-se, para Romão (1991), que a intensificação das


transacções económicas internacionais, a expansão dos graus
de interdependência das nações e, mais importante, as formas
de que se vem revestido o processo de globalização tem
produzido consequências de desdobráveis em três possíveis
grupos, que Rossetti assim classifica:

• Consequências Institucionais

• Consequências de âmbito macroeconómico -Sobre o sector


real; -Sobre o sector financeiro; -Sobre a política
económica.

• Consequências de âmbito microeconómico.

a) Perspectiva Institucional

Neste âmbito, para Romão (1991), a globalização leva às


semelhanças crescentes, em termos da configuração dos
diversos sistemas nacionais e a uma convergência dos
requisitos de regulação em diversas áreas, conduzindo à maior
homogeneidade entre os países. Ao mesmo tempo, é possível
observar que este aspecto leva à aparição, no cenário
internacional, de um novo conjunto de actores com grande
capacidade de influência, em comparação com o poder das
nações. Nesta perspectiva, convergência, homogeneidade e
perda de atributos de soberania são as implicações chave do
processo de globalização no plano institucional.

Neste, a globalização então implica:


• Semelhanças crescentes na configuração dos sistemas
nacionais;

• Convergência dos mecanismos de regulação em diversas áreas:


modalidades mais uniformes de relações jurídicas;

• Maior poder de influência em todas as nações, de agentes


económicos externos, tais como organizações multilaterais e
governos; assim como empresas transnacionais.

• Perda de atributos de soberania nacional: redução dos graus de


autonomia para o desenho de políticas públicas;
172
• Crescente presença na agenda política das nações de temas
supranacionais.

b) Ambiente macroeconómico

Observa-se segundo Romão (1991), que os desdobramentos do


processo de globalização alcançam os sectores real e financeiro
e a condução da política económica. Interferem, então, nas
condições de equilíbrio dos mercados de produtos e de
factores de produção e nas estruturas da oferta e da procura
agregada. Em síntese, as principais implicações
macroeconómicas são:

Sobre o sector real

• Aumento dos fluxos de importação e de exportação em


relação à oferta agregada, alimentando em graus crescentes as
cadeias de suprimentos;

• Tendência à homogeneidade das


Estruturas matriciais de insumo-produto;

• Tendência à crescente homogeneidade das estruturas


sectoriais de procura agregada;
• Equalização de longo prazo na estrutura dos custos dos
factores e nos níveis de preços da oferta agregada;

Sobre o sector financeiro


• Movimentação crescente de grandes fluxos de recursos
autónomos;
• Maior velocidade e volatilidade das transferências de
recursos interfronteiras.
• Ampliação dos riscos de choque desestabilizantes, pela
mobilidade dos recursos nos segmentos especulativos.

Teoria do comércio internacional, segundo Gonçalves (2016)

Vários modelos diferentes foram propostos para prever os


padrões de comércio e analisar os efeitos das políticas de
comércio, como as tarifas.

a) Modelo Ricardiano
173
O modelo Ricardiano foca nas vantagens comparativas (ou
vantagens relativas) e é talvez o mais importante conceito de
teoria de comércio internacional. Neste modelo, os países se
especializam em bens ou serviços que produzem relativamente
melhor. Diferentemente de outros modelos, o ricardiano prevê
que países irão se especializar em poucos produtos em vez de
produzir um grande número de bens. O modelo não considera
directamente as características naturais de um país, como
disponibilidade relativa de mão-de-obra e de capital. E no
modelo ricardiano, temos apenas um factor de produção, que
se trata da mão-de-obra (trabalho). O diferencial de
produtividade do trabalho e o custo de oportunidade nos
países justificaria a especialização dos países, que realizariam,
desta maneira, trocas internacionais depois da especialização.

b) Modelo de Heckscher-Ohlin

O modelo de Heckscher-Ohlin foi criado como uma alternativa ao


modelo ricardiano. Apesar do seu poder de previsão maior e mais
complexo, ele também tem uma missão ideológica: a eliminação
da teoria do valor do trabalho e a incorporação do mecanismo
neoclássico do preço na teoria do comércio internacional. A teoria
defende que o padrão do comércio internacional é determinado
pela diferença na disponibilidade de alguns factores naturais. Ela
prevê que um país irá exportar aqueles bens que fazem uso
intensivo daqueles factores (insumos, por exemplo) que são
abundantes neste país e irá importar aqueles bens cuja produção
é dependente de factores escassos localmente. Ou seja, o modelo
expõe que um país abundante em capital exportará bens de
capital, ao passo que um país em posição contrária, com escassez
de capital, exportará bens ou serviços que sejam intensivos no uso
do factor de produção mão-de-obra. Ohlin, por meio de seu
modelo, foi o primeiro a tratar directamente do que hoje se
conhece por IED – Investimento externo directo - componente do
Balanço de pagamentos pesquisado por organismos
internacionais como BIS, BID, FMI, Cepal e Unctad.

c) Factores específicos

Modelo dos factores Específicos e distribuição de rendimentos


foi desenvolvido por Paul Samuelson e Ronald Jones.Tal como
o modelo ricardiano, supõe que uma economia produz dois
174
produtos, mas com a existência de vários factores de produção:
Trabalho (Factor Móvel) e Outros (Factores Específicos).

d) Modelo de gravitação

O modelo da gravitação apresenta uma análise mais empírica


dos padrões de comércio em contraposição aos modelos
teóricos discutidos acima. O modelo da gravitação,
basicamente, prevê que o comércio será baseado na distância
entre os países e na interacção derivada do tamanho das suas
economias. O modelo mimetiza a lei da gravidadede Isaac
Newton que considera a distância e o tamanho de objectos que
se atraem. O modelo tem sido comprovado como robusto na
área da econometria. Outros factores como a renda, as
relações diplomáticas entre países e as políticas de comércio
foram incluídas em versões expandidas do modelo.

Regulamentação do comércio internacional

Tradicionalmente o comércio é regulamentado através de


tratados bilaterais entre nações. Durante os séculos de crença
no mercantilismo a maioria das nações mantinha altas tarifas e
muitas restrições ao comércio internacional. No século 19,
especialmente no Reino Unido, a crença no livre comércio
tornou-se um paradigma e este pensamento tem dominado as
nações ocidentais desde então. Nos anos seguintes à segunda
guerra mundial, tratados multilaterais como o GATT e a OMC
tentaram criar estruturas regulatórias de alcance mundial
(GONÇALVES, 2016).

As nações socialistas e comunistas sempre acreditaram no


modelo da autarquia, a completa ausência do comércio
internacional. Os governos autoritários, como os fascistas,
sempre colocaram grande ênfase na ideia da auto-suficiência.
Mas na prática, nenhuma nação consegue atender sozinha a
todas as necessidades do seu povo, e sempre algum comércio é
realizado e necessário.

De acordo com Romão (2006), normalmente o comércio


internacional livre é defendido pelos países economicamente
mais poderosos. Quando eram duas das maiores economias
mundiais, a Holanda e o Reino Unido eram grandes defensores
desse pensamento. Actualmente, os Estados Unidos da
175
América, o Reino Unido e o Japão são os seus maiores
proponentes. Porém, muitos outros países - incluindo aqueles
em rápido crescimento económico como Índia, China e Rússia-
tem se tornado defensores do "livre comércio”.

Tradicionalmente, os interesses agrícolas são a favor do


comércio livre, enquanto sectores manufactureiros defendem
políticas proteccionistas. Porém, lobbies agrícolas,
particularmente nos Estados Unidos da América, Europa e
Japão são responsáveis pela inclusão de regras nos tratados de
comércio internacional, cujo objectivo é a adopção de medidas
proteccionistas para bens de origem agrícola. Por outro lado, o
Brasil, um grande e eficiente produtor agrícola, vem actuando
para eliminar parte destas barreiras (GONÇALVES, 2016).

Durante as recessões económicas, sempre surgem pressões


para o aumento de tarifas de importação, com o intuito de
proteger a produção doméstica. A grande depressão
estadunidense levou ao colapso do comércio internacional,
fazendo com que a crise se aprofundasse.

A regulamentação do comércio internacional de acordo com


Gonçalves (2016) é realizada através da OMC no nível global, e
através de vários outros arranjos regionais como o Mercosul na
América do Sul; o NAFTA, entre Estados Unidos da América,
Canadá e México; e a União Europeia, entre 27 estados
europeus independentes.

Riscos do comércio internacional, segundo Gonçalves (2016)

Os riscos existentes no comércio internacional podem ser


divididos em dois grandes grupos:

Riscos económicos, segundo Gonçalves (2016)

• Insolvência do comprador;

• Atraso no pagamento - a falha do comprador em pagar o


total em até seis meses;

• Flutuações cambiais;

• Relacionados à soberania económica.

176
Riscos políticos, segundo Gonçalves (2016)

• De cancelamento ou não renovação de licenças de


exportação ou importação;

• Relacionados a conflitos armados;

• Expropriação ou confisco por companhias importadoras;

• De imposição de um banimento de algum bem após o


embarque;

• De transferência: A imposição de controlo de transferência


de valores pelo país importador devido a crises de liquidez;

• Relacionados à soberania política.

Exportação

Exportação para Romão (1991), é a saída de produtos ou


execução de serviços para/em outro país. Esta operação pode
envolver pagamento (cobertura cambial), como venda de
produtos, ou não, como nas doações.

Importação

Importação para Romão (1991), é a entrada de produtos ou


execução de serviços provenientes de outro país.

Impactos socioeconómicos

As exportações permitem vender produtos para qualquer país


do mundo, seja perto ou distante. Para a exportação ter
sucesso, ela pouco depende do desenvolvimento mercantil no
qual seu sítio de envio está localizado. Tal facto propícia o
distanciamento económico de pontos geograficamente
próximos, elevando as possibilidades de disparidade de renda e
diferenças sociais. Além disto, às vezes os melhores produtos
de um país ou território são preferencialmente direcionados à
exportação, assim restando produtos de qualidade pior. Isso
ocorre devido ao poder de compra dos clientes no exterior. Se
o preço nacional for semelhante ao encontrado no exterior,
esse fenómeno não costuma ocorrer (OBSTFELD e KRUGMAN,
2006).
177
Estudos económicos

Para Obstfeld e Krugman (2006), favorecer as exportações,


numerosos organismos governamentais publicam na Internet
estudos de mercado por sector e por país estrangeiro. Estes
estudos são mais ou menos acessíveis e frequentemente
gratuitos.

Alguns exemplo de organismos governamentais por país

País Organismo Governamental

O USCS, dependente do US Department of


Commerce, redigiu cerca de milhares de estudos
Estados Unidos da económicos
América

O USDA (Department of Agriculture) publica


estudos sobre os sectores da Agricultura

Export Development Canada (EDC). ‘’Agriculture


Canadá
and Agri-Food Canada’’ publica estudos
internacionais sobre o seu sector

França Ubifrance (promoção das exportações)

AFII (implantação de empresas estrangeiras)

O‘’ UK Trade & Investment’’ tem em carga ao


Reino Unido mesmo tempo a promoção das exportações e a
implantação de empresas estrangeiras no Reino
Unido

Hong Kong ‘’Hong Kong Trade Development Council’’


(HKTDC).

178
Japão
JETRO

Austrália
Austrade
Fonte: Gonçalves, 2016.

Sumário

Nesta Unidade Temática 6.1 estudamos comércio internacional.


Nesta abordagem destacamos:
1. Teoria
2. Vantagens e desvantagens
3. Modelos
4. Regulamentos
5. Riscos

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

GRUPO-1 (Com respostas detalhadas)

1. O que é Comércio Internacional?

2. Quando é que se tornou importante?

3. Em que questões está relacionada a comercialização de


produtos entre nações?

4. Quem escreveu a teoria dos excedentes produtivos?

5. Qual foi o interesse de Adam Smith?

Respostas

1. Rever o 1º parágrafo, página 177

2. Rever o 1º parágrafo, página 177

3. Rever o 1º parágrafo, página 178

179
4. Rever o 2º parágrafo, página 178

5. Rever o 3º parágrafo, página 178

GRUPO -2 (Com respostas sem detalhes)

1.Tradicionalmente o comércio é regulamentado através de

a) Tratados entre nações

b) Tratados unilaterais entre nações

c) Tratados trilaterais entre nações

3. As exportações permitem vender produtos


a) Para qualquer país do mundo, seja perto ou distante.
b) Para um país na qual existe relações de amizade
c) Muitos países com ou sem relações de amizade

3. Importação é

a) Saída de excedentes de um país

b) A entrada de produtosou execução de serviços provenientes de


outro país
c) Entrada de matéria-prima para indústria

4. Exportação é

a) Saída de excedentes de um País

b) A entrada de produtos ou execução de serviços provenientes


de outro país.

c) A saída de produtos ou execução de serviços para outro país

5. Os riscos existentes no comércio internacional podem ser


divididos

a) em um poucos grupos

b) em dois grandes grupos

c) em muitos grupos

Exercícios de AVALIAÇÃO

GRUPO-3 (Exercícios de GABARITO)

1. O que é Outsourcing

180
2. Como a globalização afectou o Comércio Internacional?

3. Qual é o tributo de êxito no Comércio Internacional?

4. O que é vantagem competitiva?

5. Quais são os determinantes de vantagem nacional?

UNIDADE Temática 6.2. Política Comercial

Introdução

Segundo Gonçalves (2016), uma política comercial (também


conhecida por política de comércio ou política de comércio
internacional) é uma política governamental que rege o
comércio com países terceiros.Trata-se das tarifas, subsídios ao
comércio, quotas de importação, restrições voluntárias à
exportação, restrições à criação de empresas de capital
estrangeiro, regulamentação do comércio de serviços e outras
barreiras ao comércio internacional. Estas são por vezes
restritas a uma união aduaneira.

Ao terminar esta unidade, o aluno deve ser capaz de:

▪ Saber o que é uma política comercial


▪ Conhecer as políticas do comércio internacional;
Objectivos ▪ Identificar as vantagens e desvantagens da política comercial de um País
específicos

Desenvolvimento
181
O comércio internacional sofre interferências governamentais
por meio da Política Comercial Internacional, em que são
introduzidas acções artificiais que possibilitam o incremento
das exportações ou a redução nas importações, ou ambos.

De acordo com Gonçalves (2016), geração de recursos aos


países, por meio de taxas e impostos é muito influenciada pelo
comércio interno. O mesmo se aplica ao comércio
internacional, apenas mudando o facto gerador do imposto.
Nas transacções de comércio internacional é comum que se
eliminem os impostos internos de um país, ou seja, não se
exportam impostos, mas, em contrapartida, cria-se o imposto
alfandegário, significando que para uma mercadoria entrar no
país ela será taxada de acordo com a política económica do
país que está importando. E assim entendemos Política
Comercial Internacional como a interferência dos governos no
Livre Comércio entre os países, distorcendo seus princípios.

O Livre Comércio é uma associação que possibilita a livre


circulação de mercadorias com reduzidas taxas alfandegárias,
resultado de acordo mútuo entre os países envolvidos, que
supostamente beneficia as empresas localizadas nesses países.
Ressaltando que o acordo de Livre Comércio não inclui a livre
circulação de pessoas.

Um exemplo de zona de livre-comércio é o NAFTA (North


American Free Trade Agreement, ou "Acordo norte-americano
de livre comércio"), que reúne Canadá, Estados Unidos e
México.

Política cambial

A política cambial é constituída pela administração das taxas


(ou taxas múltiplas) de câmbio, pelo controlo das operações
cambiais, tendo como objectivo central o mercado externo, no
sentido de manter equalizado o poder de compra do país em
relação aos outros com os quais este mantenha relações de
troca (GONÇALVES, 2016).

Da mesma forma que todo bem tem um valor, as moedas


nacionais também têm seu valor, seu preço - que é a taxa de
câmbio - que expressa o preço da moeda externa em relação à
moeda nacional. Se a taxa de câmbio hoje é 2.34 R$/US$,
182
significa que o preço do dólar americano, em termos do real
brasileiro, é de R$ 2,34 para cada dólar. Como todo preço, a
taxa de câmbio é basicamente determinada pela “lei da oferta e
da procura”. Se a procura é maior que a oferta, o preço do
dólar, em reais, sobe. Se a oferta é maior que a procura,
consequentemente, o preço cai. São vários os factores que
podem influenciar a oferta/demanda por dólares, daí a
dificuldade em prever o comportamento da taxa de câmbio. O
Banco Central é quem define a política ou regime cambial.

Política Comercial

A Política Comercial é estabelecida pelo Governo de cada país,


para que ocorram negociações comerciais com outros países. A
Política Comercial baseia-se na definição de tarifas
alfandegárias, subsídios, taxas de importação e exportação e
outros mecanismos comerciais.

Segundo Gonçalves (2016), a política comercial pode ser fiscal ou


monetária:

• Política Fiscal: altera imposto e gasto Expansionista: maior


demanda agregada e reduz imposto.

Reducionista: reduz gastos do governo e aumenta imposto.

• Política Monetária: altera oferta de moeda

Expansionista: governo baixa juros, para consumidor comprar


mais.

Contracionista: governo aumenta juros.

• Política Comercial - Ganhos de Comércio

1. Livre-comércio, sem barreiras, sem quota, sem subsídios;

2. Autarquia, economia fechada, segunda teoria da CEPAL;

3. Uso de instrumentos de política comercial, que podem ser


de três tipos:

➢ Barreiras tarifárias: o governo impõe imposto sobre


importação de determinado bem, a sociedade perde com
isso;

➢ Barreiras não-tarifárias: governo impõe quotas, que


restringem quantitativamente a importação de

183
determinado bem, com a redução da quantidade, o preço
do bem sobe;

➢ Subsídios: o governo dá dinheiro para o produtor produzir


o bem.

Impacto do Comércio sobre a Distribuição de Renda

Gonçalves (2016), admite três tipos de impactos, nomeadamente:

1. Regional: entre países, os dois ganham;

2. Setorial: deslocamento setorial de produção e emprego, emprego


e renda, um país ganha e o outro perde;

3. Funcional: entre capital e trabalho, ou seja, um fator de produção


vai ganhar e um fator de produção vai perder, mas capital e
trabalho não são beneficiados ao mesmo tempo.

Fontes das Vantagens Comparativas

Para Gonçalves (20116), produzir o bem que o país produz com


vantagem comparativa em relação a outro país, geram maior
bem-estar ao seu país.

1. Vantagem Absoluta (Adam Smith): Limitada como


vantagem de comércio porque sempre tem um melhor
e outro pior, por isso não sobreviveu, pois limita o
liberalismo comercial a países que possuem pelo menos
1 bem melhor do que os outros. Ganha-Ganha;

2. Vantagem Comparativa (David Ricardo): Com base no


custo de oportunidade, ou seja, cada país possui custo
de oportunidade de produtos, deve-se então, fazer a
produção do produto que possui menor custo de
oportunidade. Também chamada de Vantagem
Relativa;

3. Dotação Relativa dos Factores (Heckerscher-Ohlin): país


exporta o bem que usa intensivamente o factor
abundante e importa o que faz uso intensivo de seu
factor escasso. Beneficia o factor abundante em
detrimento do escasso.

Sumário

184
Nesta Unidade Temática 6.2 estudamos alguns aspectos de
políticas comerciais. Nesta abordagem destacamos:
1. Conceitos sobre política comercial
2. Diferentes políticas comerciais
3. Impacto das políticas comerciais

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

GRUPO-1 (Com respostas detalhadas)

1. O que é política comercial?

2. Quais são os elementos base da política comercial de um país?


3. O que é uma vantagem absoluta?

4. O que é uma vantagem comparativa?

5. O que é Dotação relativa?

Respostas

1. Rever o 1º parágrafo, página 191

2. Rever o 1º parágrafo, página 191

3. Rever o antepenúltimo parágrafo, página 194

4. Rever o penúltimo parágrafo, página 194

5. Rever o último parágrafo, página 194

GRUPO -2 (Com resposta sem detalhes)

1. Impacto regional é

a) entre países, os dois ganham;

b )entre países, um ganha outro perde

c) entre países, todos perdem

2. Imapcto sectorial é

a) deslocamento sectorial de produção e emprego, emprego e


renda, um país ganha e o outro perde;
b) fixação de preço mínimo para garantir ganhos do país
185
c) assinatura de tratados de livre circulação de pessoas e bens

3. Impacto funcional é

a) entre a renda e o capital humano

b) entre capital e trabalho, ou seja, um factor de produção vai


ganhar e um factor de produção vai perder, mas capital e
trabalho não são beneficiados ao mesmo tempo

c ) entre o capital humano e social

4. A Política Comercial é estabelecida pelo/s

a) países que fazem parte do mesmo grupo (desenvolvidos ou


subdesenvolvidos, etc)

b) Governo de cada país

c) Convenções internacionais

5. A taxa de câmbio é basicamente determinada pela

a)“lei da oferta e da procura

b) lei de rendimentos decrescentes

c) subsídios dos governos sobre produtos básicos

Exercícios de AVALIAÇÃO

GRUPO-3 (Exercícios de GABARITO)

1. Qual é a importância da política comercial para o comércio


nacional?

2. Qual é a importância da política comercial para o comércio


internacional?

3. Qual é a relação entre a política comercial de um país com as


regras da globalização?

4. Qual é a vantagem de uma política comercial regional?

5. Qual é a desvantagem de uma política comercial regional?

Exercícios finais sobre o Tema

1. Qual é o impacto de comércio sobre a distribuição de renda?

186
2. Como é feita a geração de recursos aos países?

3. O que é imposto?

4. Explique os processos de transações de comércio internacional?

5. Qual é a relação entre política comercial e comércio


internacional?

6. Quantas barreiras ao comércio internacional conheces?

7. Quantos riscos de comércio internacional conheces?

8. O que são commodities?

9. Qual é o posicionamento ou entendimento das nações


socialistas e comunistas sobre o comércio internacional?

10. Qual é o posicionamento ou entendimento das nações


capitalistas sobre o comércio internacional?

Referência bibliográfica

GONÇALVES, Reinaldo. A TEORIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL: Do GATT à OMC, a


Regulação do Comércio Internacional. Educação. 2016

------------------------------- A TEORIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL: A Regulamentação do


Comércio Internacional pela OMC. Educação. 2016

----------------------------------------- A TEORIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL: RISCOS NO


COMÉRCIO INTERNACIONAL. Educação. 2016
---------------------------------------- OECD - Organisation for Economic Co-Operation and
Developmen. Educação. 2016

OBSTFELD, Maurice; KRUGMAN, Paul R. - Economia Internacional. Madrid: Pearson


Educación, 2006.

ROMÃO, António. Comércio Internacional. Teorias e técnicas. Lisboa: Instituto do Comércio


Externo de Portugal - ICEP, 1991.

187
TEMA – VII: GLOBALIZAÇÃO,
FLUXOS DE CAPITAL E
INSTITUIÇÕES INTERNACIONAIS
UNIDADE Temática 7.1. Globalização
UNIDADE Temática 7.2. Fluxos de Capital e instituições financeiras
internacionais.

UNIDADE Temática 7.1. Globalização


Introdução

Várias são as interpretações e conceitos sobre a globalização ou processo de globalização.


Globalização se se assumir que foi algo que começou e já terminou. Processo de
globalização se assumirmos que é algo ou acção contínua.

Ao terminar esta unidade, o aluno deve ser capaz de:

▪ Saber os conceitos;
▪ Conhecer a génese da globalização;
Objectivos ▪ Impacto da globalização sobre os países e povos.
específicos

Desenvolvimento

Nesse sentido, para Barbosa (2001), dizer que é um processo


económico e social que estabelece uma integração entre os
países e as pessoas do mundo todo. Através deste processo, as
pessoas, os governos e as empresas trocam ideias, realizam
transacções financeiras e comerciais e espalham aspectos
culturais pelos quatro cantos do planeta. O conceito de Aldeia
Global se encaixa neste contexto, pois está relacionado com a
criação de uma rede de conexões, que deixam as distâncias
cada vez mais curtas, facilitando as relações culturais e
económicas de forma rápida e eficiente.

Para Al-Rodhan (2006), o processo de globalização é um fenómeno


do modelo económico capitalista, o qual consiste na
mundialização do espaço geográfico por meio da interligação
económica, política, social e cultural em âmbito planetário.
Porém, esse processo ocorre em diferentes escalas e possui
consequências distintas entre os países, sendo as nações ricas

188
as principais beneficiadas pela globalização, pois, entre outros
factores, elas expandem seu mercado consumidor por
intermédio de suas empresas transnacionais. Globalização é um
conjunto de transformações na ordem política e económica
mundial visíveis desde o final do século XX. Trata-se de um
fenómeno que criou pontos em comum na vertente económica,
social, cultural e política, e que consequentemente tornou o
mundo interligado, uma Aldeia Global.

Para Pena (2016), a globalização é um processo de integração


social, económica e cultural entre as diferentes regiões do
planeta. O conceito de globalização é dado por diferentes
maneiras conforme os mais diversos autores em Geografia,
Ciências Sociais, Economia, Filosofia e História que se pautaram
em seu estudo. Em uma tentativa de síntese, podemos dizer
que a globalização é entendida como a integração com maior
intensidade das relações sócio-espaciais em escala mundial,
instrumentalizada pela conexão entre as diferentes partes do
globo terrestre.

Pena (2016) diz que vale lembrar, no entanto, que esse


conceito não se refere simplesmente a uma ocasião ou
acontecimento, mas a um processo. Isso significa dizer que a
principal característica da globalização é o facto de ela estar em
constante evolução e transformação, de modo que a
integração mundial por ela gerada é cada vez maior ao longo
do tempo. Há um século, por exemplo, a velocidade da
comunicação entre diferentes partes do planeta até existia,
porém ela era muito menos rápida e eficiente que a dos dias
actuais, que, por sua vez, poderá ser considerada menos
eficiente em comparação com as prováveis evoluções técnicas
que ocorrerão nas próximas décadas. Podemos dizer, então,
que o mundo encontra-se cada dia mais globalizado.

O processo de globalização é a forma como os mercados de


diferentes países interagem e aproximam pessoas e
mercadorias. A quebra de fronteiras gerou uma expansão
capitalista onde foi possível realizar transacções financeiras e
expandir os negócios - até então restritos ao mercado interno -
para mercados distantes e emergentes.

Origem da globalização
189
Para Barbosa (2001), o complexo fenómeno da globalização
teve início na Era dos Descobrimentos e se desenvolveu a partir
da Revolução Industrial. Foi resultado da consolidação do
capitalismo, dos grandes avanços tecnológicos (Revolução
Tecnológica) e da necessidade de expansão do fluxo comercial
mundial. As inovações nas áreas das Telecomunicações e da
Informática (especialmente com a Internet) foram
determinantes para a construção de um mundo globalizado.

A globalização é um dos termos mais frequentemente


empregado para descrever a actual conjuntura do sistema
capitalista e sua consolidação no mundo. Na prática, ela é vista
como a total ou parcial integração entre as diferentes
localidades do planeta e a maior instrumentalização
proporcionada pelos sistemas de comunicação e transporte.

O avanço realizado nos sistemas de comunicação e transporte,


responsável pelo avanço e consolidação da globalização actual,
propiciou uma integração que aconteceu de tal forma que
tornou comum a expressão “aldeia global”. O termo “aldeia”
faz referência a algo pequeno, onde todas as coisas estão
próximas umas das outras, o que remete à ideia de que a
integração mundial no meio técnico informacional tornou o
planeta metaforicamente menor (BARBOSA, 2001).

Segundo Pena (2016), não existe um total consenso sobre qual


é a origem do processo de globalização. O termo em si só veio
a ser elaborado a partir da década de 1980, tendo uma maior
difusão após a queda do Muro de Berlim e o fim da Guerra Fria.
No entanto, são muitos os autores que defendem que a
globalização se tenha iniciado a partir da expansão marítimo-
comercial europeia, no final do século XV e início do século XVI,
momento no qual o sistema capitalista iniciou sua expansão
pelo mundo.

De toda forma, como disse Pena (2016), ela foi gradativamente


apresentando evoluções, recebendo incrementos substanciais
com as transformações tecnológicas proporcionadas pelas três
revoluções industriais. Nesse caso, cabe um destaque especial
para a última delas, também chamada de Revolução Técnico-
Científica-Informacional, iniciada a partir de meados do século
XX e que ainda se encontra em fase de ocorrência. Nesse
190
processo, intensificaram-se os avanços técnicos no contexto
dos sistemas de informação, com destaque para a difusão dos
aparelhos electrónicos e da internet, além de uma maior
evolução nos meios de transporte.

Bolsa de valores: Tecnologia e negociações em nível mundial

Fonte: Barbosa, (2001)

Portanto, a título de síntese, podemos considerar que, se a


globalização iniciou-se há cerca de cinco séculos
aproximadamente, ela consolidou-se de forma mais elaborada
e desenvolvida ao longo dos últimos 50 anos, a partir da
segunda metade do século XX em diante (PENA, 2016).

Características da globalização / aspectos positivos e negativos

Uma das características da globalização é o facto de ela se


manifestar nos mais diversos campos que sustentam e
compõem a sociedade: cultura, espaço geográfico, educação,
política, direitos humanos, saúde e, principalmente, a
economia. Dessa forma, quando uma prática cultural chinesa é
vivenciada nos Estados Unidos ou quando uma manifestação
tradicional africana é revivida no Brasil, temos a evidência de
como as sociedades integram suas culturas, influenciando-se
mutuamente.

Existem muitos autores que apontam os problemas e os aspectos


negativos da globalização, embora existam muitas polémicas e
discordâncias no cerne desse debate, para Pena (2016),
considera-se que o principal entre os problemas da globalização é:

• Uma eventual desigualdade social por ela


proporcionada, em que o poder e a renda se encontram

191
em maior parte concentrados nas mãos de uma
minoria, o que atrela a questão às contradições do
capitalismo.

Além disso, acusa-se a globalização de:

• Proporcionar uma desigual forma de comunicação entre


os diferentes territórios, em que culturas, valores
morais, princípios educacionais e outros são
reproduzidos obedecendo a uma ideologia dominante.

Nesse sentido, forma-se, segundo essas opiniões, uma


hegemonia em que os principais centros de poder exercem um
controlo ou uma maior influência sobre as regiões
economicamente menos favorecidas, obliterando, assim, suas
matrizes tradicionais (PENA, 2016).

Entre os aspectos positivos da globalização, é comum citar os


avanços proporcionados pela evolução dos meios tecnológicos,
bem como a maior difusão de conhecimento. Assim, por
exemplo, se a cura para uma doença grave é descoberta no
Japão, ela é rapidamente difundida (a depender do contexto
social e económico) para as diferentes partes do planeta.
Outros pontos considerados vantajosos da globalização é a
maior difusão comercial e também de investimentos, entre
diversos outros factores.

É claro que o que pode ser considerado como vantagem ou


desvantagem da globalização depende da abordagem realizada
e também, de certa forma, da ideologia empregada em sua
análise. Não é objectivo, portanto, deste texto entrar no mérito
da discussão em dizer se esse processo é benéfico ou
prejudicial para a sociedade e para o planeta.

Efeitos da Globalização

Existem vários elementos que podem ser considerados como


consequências da globalização no mundo. Uma das evidências
mais emblemáticas é a configuração do espaço geográfico
internacional em redes, sejam elas de transporte, de
comunicação, de cidades, de trocas comerciais ou de capitais
especulativos. Elas formam-se por pontos fixos – sendo

192
algumas mais preponderantes que outras – e pelos fluxos
desenvolvidos entre esses diferentes pontos.
Outro aspecto que merece destaque é a expansão das
empresas multinacionais, também chamadas de transnacionais
ou empresas globais. Muitas delas abandonam seus países de
origem ou, simplesmente, expandem suas actividades em
direcção aos mais diversos locais em busca de um maior
mercado consumidor, de isenção de impostos, de evitar tarifas
alfandegárias e de angariar um menor custo com mão-de-obra
e matérias-primas. O processo de expansão dessas empresas
globais e suas indústrias reverberou no avanço da
industrialização e da urbanização em diversos países
subdesenvolvidos e emergentes, incluindo o Brasil.

Outra dinâmica propiciada pelo avanço da globalização é a


formação dos acordos regionais ou dos blocos económicos.
Embora essa ocorrência possa ser inicialmente considerada
como um entrave à globalização, pois acordos regionais
poderiam impedir uma global interação económica, ela é
fundamental no sentido de permitir uma maior troca comercial
entre os diferentes países e também propiciar acções
conjunturais em grupos.

Por fim, cabe ressaltar que o avanço da globalização culminou


também na expansão e consolidação do sistema capitalista,
além de permitir sua rápida transformação. Assim, com a maior
integração mundial, o sistema liberal – ou neoliberal – ampliou-
se consideravelmente na maior parte das políticas económicas
nacionais, difundindo-se a ideia de que o Estado deve
apresentar uma mínima intervenção na economia.

A globalização é, portanto, um tema complexo, com


incontáveis aspectos e características. Sua manifestação não
pode ser considerada linear, de forma a ser mais ou menos
intensa a depender da região onde ela se estabelece, ganhando
novos contornos e características. Podemos dizer, assim, que o
mundo vive uma ampla e caótica inter-relação entre o local e o
global.

Sumário

Nesta Unidade Temática 7.1 estudamos a globalização e


abordamos de forma profunda:
193
1. Os diferentes conceitos sobre globalização;
2. A origem da globalização;
3. As características da globalização;
4. O impacto da globalização sobre os países e povos.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

GRUPO -1 (com respostas detalhadas)

1. Quantas interpretações existem e que são usadas como base


para apresentar o conceito sobre globalização?

2. Quais interpretações existem e que são usadas como base para


apresentar o conceito sobre globalização?

3. Qual é o impacto do sistema liberal ou neoliberal com a


integração?

4. O que culmina com o avanço da globalização?

5. A cultura também, sofre com a globalização? Explique?

Respostas

1. Rever o primeiro parágrafo, página 198

2. Rever o primeiro parágrafo, página 198

3. Rever o último parágrafo, página 203

4. Rever o último parágrafo, página 203

5. Rever o primeiro parágrafo, página 199

GRUPO -2 (Com respostas sem detalhes)

1. Globalização foi resultado da consolidação do

a) Socialismo

b) Capitalismo

c) Neoliberalismo

2. Para Pena (2016), a globalização é

a) um processo de integração social,

b) um processo de integração económica


194
c) um processo de integração cultural entre as diferentes regiões
do planeta

d) um processo de integração social, económica e cultural entre as


diferentes regiões do planeta

3. Segundo Pena (2016)

a) Não existe um total consenso sobre qual é a origem do


processo de globalização
b) existe consenso entre as regiões

c) não existe aproximações sobre a origem do processo de


globalização

4. Para Barbosa (2001), o complexo fenómeno da globalização


teve início
a) na era dos Descobrimentos

b) na era da revolução industrial

c) na era da colonização

d) tecnológica

5. Para Al-Rodhan (2006), o processo de globalização é um


fenómeno

a) do modelo económico capitalista

b) mundialização do espaço geográfico

c) homogeneização da cultura e dos povos

Exercícios de AVALIAÇÃO

GRUPO -3 (Exercícios de GABARITO)

1. O que é aldeia global?


2. Qual é o papel do governo face a globalização?
3. Qual é o papel das pessoas face a globalização?
4. Qual é o papel das empresas face a globalização?
5. A globalização é o mesmo que dizer mundialização?
Justifique?
6. Qual é o autor que apresenta um conceito sobre globalização
que mais gostou? E Porque?

195
UNIDADE Temática 7.2. Fluxos de Capital e instituições financeiras
internacionais

Introdução

No mundo globalizado em que vivemos existe um grande fluxo


de capitais (transacções financeiras, como compra e venda de
acções de empresas, títulos e moedas), esse tipo de actividade
ocorre a partir de evoluções que aconteceram nos meios de
comunicação. O mundo actualmente está interligado por meio
de uma complexa rede de comunicação, como: telefonia móvel
e fixa, satélites, internet e etc. Esses permitem que biliões de
dólares sejam transferidos entre os mais variados países do
mundo em um único dia. Através de um mouse um
moçambicano pode investir milhões de meticais em outra parte
do mundo, isso é um exemplo claro de fluxo de capitais.

Ao terminar esta unidade, o aluno deve ser capaz de:

▪ Saber os conceitos
▪ Conhecer as características, possíveis efeitos e vantagens;
Objectivos ▪ Indicar as principais instituições financeiras internacionais.
Específicos

Desenvolvimento
De acordo com Freitas (2016), as transacções financeiras, como
compra e vendas de acções de empresa, títulos e moedas
operações são executadas entre distintos países quase que em
tempo real, isso é possível entre nações integradas no mercado
financeiro internacional. Em minutos vultosos negócios
sucedem e inúmeros outros são abertos, e envolvem um
volume gigantesco de capitais (dinheiro), sendo que as
negociações movimentam no planeta em um único dia
aproximadamente 1 trilião de dólares.

Para Freitas (2016), o lugar onde grande parte dessas


negociações ocorre é nas bolsas de valor espalhadas por
diferentes pontos do planeta, e essas se encontram
interligadas. Actualmente, as principais bolsas estão localizadas
em cidades de países desenvolvidos, entre as quais podemos
citar: Nova Iorque (Estados Unidos), Londres (Inglaterra), París
196
(França) e Tóquio (Japão). Além daquelas localizadas em países
em desenvolvimento, como: São Paulo (Brasil), Buenos Aires
(Argentina). Incluindo ainda nações subdesenvolvidas
industrializadas, como: Jacarta (Indonésia) e Seul (Coreia do
Sul).

Nas bolsas de valor acontece um grande fluxo de capitais.

Fonte: Freitas (2016)

Tais cidades abrigam também sedes administrativas ou filiais de


multinacionais, principais bancos e instituições financeiras,
entre outras de renomes internacionais. Isso quer dizer que
essas cidades são centros financeiros, incluídas na rota global
de capitais, geralmente as mesmas possuem o “status” de
cidades globais ou mundiais (FREITAS, 2016).

Fluxos de Capital e crescimento Económico nos Países em


Desenvolvimento
Segundo Damasceno (2016), fazendo análise Teórica e
Evidência Econométrica, constatou que existem modelos que
se evidenciam neste processo, nomeadamente:

• Modelo Neoclássico
No modelo neoclássico de crescimento (Solow-
Swan/RamseyCassKoopmans), se todos os países têm acesso à
mesma tecnologia e possuem a mesma dotação de capital
humano, a única explicação para diferenças de renda per capita
entre países seria diferenças no stock de capital per capita. Se
existirem diferenças relativas ao stock de capital per capita
entre países, a taxa de retorno do capital será menor nos países
com maior stock de capital per capita (países ricos) e maior nos

197
países com menor stock de capital per capita (países pobres).
Em um ambiente de livre mobilidade de capitais, o capital fluirá
dos países ricos para os países pobres até a equalização da taxa
de retorno do capital, do stock de capital per capita e da renda
per capita entre países (ACEMOGLU, 2010).
O modelo tem implicações para o padrão dos fluxos de capital
entre países desenvolvidos e em desenvolvimento e para a
trajectória de acumulação de capital e crescimento económico
nos países em desenvolvimento: os países desenvolvidos, onde
se supõe que o capital é relativamente abundante e a taxa de
retorno do capital é baixa, exportariam capital (superavit em
conta corrente); os países em desenvolvimento, onde se supõe
que o capital é relativamente escasso e a taxa de retorno do
capital é alta, importariam capital (déficit em conta corrente);
nos países em desenvolvimento, onde se supõe que a
acumulação de capital é restrita pelo baixo nível de poupança
doméstica, o acesso a poupança externa complementaria a
poupança doméstica, estimularia a acumulação de capital e o
crescimento económico (HENRY, 2007).

• Fluxos de Capital e Taxa Real de Câmbio


Rodrik e Subramanian (2009) distinguem entre economias onde
a acumulação de capital é restrita pela ausência de poupança
(savingconstrained) e economias onde a acumulação de capital
é restrita pela ausência de oportunidades de investimento
(investmentconstrained). Argumentam que a acumulação de
capital e o crescimento económico nos países em
desenvolvimento não são constrangidos pela ausência de
poupança, mas de oportunidades lucrativas de investimento. A
ausência de oportunidades lucrativas de investimento é
explicada por distorções relativas ao ambiente institucional
(pobre protecção ao direito de propriedade, risco de
expropriação, fraco enforcement de contratos), implicando
imperfeita apropriabilidade do retorno social do investimento.
Ademais, distorções relativas ao ambiente institucional, aliadas
a falhas de mercado (externalidades de informação e
coordenação), são especialmente relevantes no sector de bens
comercializáveis. Nas economias em desenvolvimento, a
acumulação de capital é restrita pela ausência de
oportunidades de investimento, não pela ausência de
poupança, como suposto no modelo neoclássico. A abertura
financeira e os fluxos de capital levam à substituição da
198
poupança doméstica pela poupança externa, aumento do
consumo e efeito líquido nulo sobre o investimento. Ademais,
os fluxos de capital, além de não estimularem a acumulação de
capital, levam à apreciação da taxa real de câmbio, o que
deprime ainda mais a lucratividade no sector de bens
comercializáveis, levando a possíveis efeitos adversos sobre o
crescimento económico. Em resumo, Rodrik e Subramanian
(2009) argumentam que os fluxos de capital para os países em
desenvolvimento não estimulam a acumulação de capital,
levam à apreciação da taxa real de câmbio, diminuem a
lucratividade no sector de bens comercializáveis e têm
consequências adversas para o crescimento económico de
longo prazo.
Conforme Rodrik e Subramanian (2009): “We argue that
developing economies are as or more likely to be investment-
constrained than saving-constrained and that the effect of
foreign finance is often to aggravate this investment constraint
by appreciating the real exchange rate and reducing
profitability and investment opportunities in the traded goods
sector, which have adverse long-run growth consequences”.
Ademais, argumentam que a distinção entre diferentes tipos de
fluxos de capital é menos relevante nesse contexto, dado que
todos os tipos de fluxos podem ter o mesmo efeito sobre a taxa
real de câmbio.

• Fluxos de Capital e Teoria do Second Best


Na teoria do second best, a eliminação de uma distorção
(controlo de capitais) na presença de outras distorções, pode
não levar a um resultado superior do ponto de vista do bem-
estar (LIPSEY, 2007). Portanto, na presença de distorções, a
livre mobilidade de capitais pode não resultar em alocação
eficiente da poupança global e ter efeitos adversos sobre a
acumulação de capital e o crescimento económico nos países
em desenvolvimento. A distorção no mercado financeiro
internacional é a existência de assimetria de informação, mais
severa no contexto internacional do que no contexto
doméstico por envolver diferenças geográficas, culturais, legais
e políticas (EICHENGREEN et al., 1998; STIGLITZ, 2004, 2010).
As distorções nas economias domésticas são baixo nível de
desenvolvimento institucional, de desenvolvimento financeiro,
práticas de políticas comerciais proteccionistas e instabilidade
macroeconómica (EDISON et al., 2002; OBSTFELD, 2009).
199
Eichengreen et al. (1998) e Eichengreen (2000, 2007) admitem
que a existência de assimetria de informação e distorções
domésticas enfraquecem os pressupostos teóricos subjacentes
ao modelo neoclássico, mas sugerem a possibilidade de que os
fluxos de capital poderiam estimular o crescimento económico,
apenas nos países em desenvolvimento onde existirem
condições iniciais adequadas, criadas por meio de reformas
prévias, relativas a alto nível de desenvolvimento institucional,
abertura comercial, desenvolvimento financeiro e estabilidade
macroeconómica (disciplina fiscal e monetária). Rodrik (1998),
Bhagwati (1998) e Stiglitz (2004, 2010) afirmam que, por conta
da existência de assimetria de informação, os fluxos de capital
podem levar a instabilidade e crises e terem efeitos adversos
sobre a acumulação de capital e o crescimento.

• Fluxos de Capital e Benefícios Colaterais


Prasad et al. (2003), Dell‟Ariccia et al. (2008), Kose et al. (2009)
e Kose et al. (2010) argumentam que os principais benefícios
dos fluxos de capital para os países em desenvolvimento não
seriam directos, na forma de captação de poupança externa
para financiar a acumulação de capital, como suposto no
modelo neoclássico. Os principais benefícios dos fluxos de
capital para os países em desenvolvimento seriam colaterais,
na forma de estímulo ao desenvolvimento institucional,
desenvolvimento financeiro e disciplina macroeconómica.
Esses benefícios colaterais, por sua vez, estimulariam o
crescimento da produtividade total dos factores e o
crescimento económico. No entanto, para a concretização dos
benefícios colaterais dos fluxos de capital, seria necessária a
existência de condições iniciais adequadas nos países em
desenvolvimento, relativas a alto nível de desenvolvimento
institucional, de desenvolvimento financeiro, de estabilidade
macroeconómica, de abertura comercial e de capital humano.
Ademais, diferentes categorias de fluxos de capital teriam
efeitos distintos sobre o crescimento económico. A distinção é
entre Fluxo Equity (Investimento Externo Directo mais
Investimento de Portfólio Equity) e Fluxo Debt (Outros
Investimentos + Investimento de Portfólio Debt). Os benefícios
colaterais estariam associados, especialmente a Fluxo Equity:
“Flows that have equity-like features - that is, FDI and portfolio
equity flows - are not only presumed to be more stable and less
200
prone to reversals, but are also believed to bring with them
many of the indirect benefits of financial globalization” (KOSE
et al., 2009). Entre Fluxo Equity, destaca-se Investimento
Externo Directo: “There is a strong presumption in theory that
FDI should yield more benefits than other types of financial
flows because, in addition to augmenting the domestic capital
stock, it has a positive impact on productivity through transfers
of technology and managerial expertise”(KOSE et al., 2009).
Fluxo Debt, por sua vez, seriam pró-cíclicos, voláteis e não
estariam claramente associados aos benefícios colaterais.

Excesso de Capitais e o Potencial de Crise Cambial

De acordo com Pudwell (2003), aà de uma maior integração


financeira ocorrida nas décadas de 1980 e 1990, com a
abertura financeira das economias, com o advento de novas
tecnologias na área da informática e das telecomunicações e
com a constituição dos chamados “mercados emergentes”,
pode se observar a emergência de um novo ciclo nas finanças
internacionais.

Este novo ciclo é marcado pela liberdade com que grandes


fluxos de capital, muito superiores à produção de bens e
serviços das economias, cruzam as fronteiras dos países de
forma instantânea, em busca das melhores oportunidades de
ganhos em taxas de juro e, sobretudo, com variações nas taxas
de câmbio.

Do imediato pós-guerra até a primeira metade da década de


1970, praticamente todos os países restringiam ou proibiam o
livre fluxo de capitais estrangeiros, adoptando controlos de
entrada e saída de moeda estrangeira. Somente a partir de
meados da década de 1970, é que as economias desenvolvidas
começam a adoptar maior liberdade aos fluxos estrangeiros
(Caves, et al., 2001).

Nas economias em desenvolvimento, a liberalização financeira


teve início na década de 1990. Estas economias viram, na
abertura financeira aos capitais internacionais, a possibilidade
de ampliarem sua capacidade de compra de bens e serviços
estrangeiros a partir do ingresso de capitais, modernizando,
assim, suas economias, bem como atraindo investimentos de
empresas multinacionais.
201
No entanto, a liberalização financeira ocorrida nas últimas duas
décadas, embora tenha ampliado a capacidade de
endividamento/financiamento dos países, resultou também em
inúmeras crises financeiras, principalmente nas economias em
desenvolvimento.

O ingresso de capitais internacionais em um país, sob qualquer


forma (empréstimos, financiamentos, investimentos directos,
investimentos em carteira), gera uma obrigação futura em
moeda estrangeira, aumentando o passivo externo do país. Se,
no entanto, este país não aumentar suas reservas em moeda
estrangeira, via aumento das exportações, passa a existir um
descolamento na relação passivo externo/reservas cambiais, o
que resulta frequentemente em crises cambiais e de balanço
de pagamentos.

Várias economias podem estar recebendo volumes de capital


estrangeiro muito superiores às condições de absorção deste
capital.

A Cepal (2002, p. 56) sustenta a tese de que:

“As crises financeiras internacionais são


formadas durante os períodos de entrada
excessiva de capitais, que minam aos poucos os
fundamentos macroeconómicos dos países
receptores. Assim, as crises são consequência
inevitável das entradas desmedidas de capitais
que as antecedem”

Por isso, vários países procuram adoptar requisitos de


desempenho para o ingresso de investimentos externos e/ou
controlos selectivos de entrada de capitais para evitar o
ingresso de capitais tidos como “especulativos”.

Como foi visto, o ingresso de investimento directo, pode gerar


pressão negativa e constante sobre o balanço de pagamentos,
se for direccionado a sectores com altos coeficientes de
importação e baixos níveis de exportação, além das suas
remessas normais de lucros e dividendos.

Para Pudwell (2003), a entrada excessiva de capitais


estrangeiros em um país, sobretudo em uma economia em
desenvolvimento, pode desencadear uma série de problemas,
202
conduzindo à deterioração de importantes variáveis e relações
macroeconómicas e, portanto, criando as bases para uma crise
cambial, principalmente se forem capitais de curto prazo.

Os chamados capitais “especulativos”, “voláteis” ou de curto


prazo são atraídos pela possibilidade de ganhos com compra e
venda de moeda estrangeira, acções ou através de arbitragem
com juros.
A arbitragem com juros significa que se a taxa de juros de um
país (i), for superior à taxa internacional de juros (i*), incluindo
nesta última o risco-país (Rp) e a desvalorização esperada da
taxa de câmbio (ê), vale a pena este capital aplicar neste país,
obtendo a taxa de juros nacional.

Esta arbitragem pode então ser expressa na paridade de juros:

(1) i = i* + ê + Rp

Quando há uma valorização cambial, o valor ê da equação 1


aparece com valor negativo, o que aumenta o diferencial de
remuneração a favor da taxa local de juros: i > i* + Rp + ê.

Assim, se i > i* + ê + Rp, este país receberá influxos


consideráveis de capitais. Muitas vezes, os países, a fim de
combater a inflação e/ou controlar o nível de demanda
agregada, mantêm taxas de juros que estimulam o ingresso de
capitais de curto prazo, se não houver barreira ao ingresso de
capital. Esta equação de arbitragem também pode ser
estendida para ganhos com compra e venda de moeda
estrangeira, valorização accionária, imobiliária ou com
aquisição de terras (PUDWELL, 2003).

Assim, um dos principais indicativos da probabilidade de uma


crise cambial é a relação entre passivos externos/capacidade
de geração de divisas (incluindo reservas internacionais). Por
sua vez, quanto melhor forem os fundamentos
macroeconómicos do país em questão, maior será a atracção
de capitais, tendo em vista que uma queda no risco, com o país
mantendo um diferencial de juros para conter pressões
inflacionárias ou sobre a demanda agregada interna, faz com
que a desigualdade na paridade de juros apresentada na
equação (1) aumente em favor deste país. Além disso, quando
os fundamentos estão relativamente bem, tende a haver uma

203
valorização acionária2 ou de outros activos, estimulando ainda
mais o ingresso de capitais.

Logo, pode ocorrer um processo de estabilização


desestabilizadora porque, quando os fundamentos estão
relativamente bem (estabilização), o influxo de capitais
deteriora os fundamentos (desestabilização), conduzindo, no
futuro, à crise cambial.

Este processo pode ser verificado nas recentes crises cambiais


do México (1994) e dos países do sudeste asiático (1997), tidos
como países de baixo risco pelas principais agências de risco e
investidores internacionais, os quais sucumbiram diante de
elevados influxos de capital, que geraram valorização cambial,
déficit comerciais e em conta corrente crescentes e bolhas
“especulativas” em diversos activos. Note-se que o influxo de
capital nestas economias foi muito superior à necessidade de
financiamento da conta corrente.

Assim, o influxo excessivo de capitais estrangeiros possui efeitos


indesejados:

➢ O primeiro deles é a valorização excessiva da taxa de


câmbio. À medida que cresce a oferta de divisas, o
preço da moeda estrangeira cai, estimulando as
importações e desestimulando as exportações.
Consequentemente, o superavit comercial se reduz,
chegando, até mesmo, a converter-se em deficits
crescentes, que só serão revertidos a partir da inversão
de tais fluxos e da desvalorização, algumas vezes
abrupta, da taxa de câmbio.

➢ O segundo efeito deletério é o aumento da oferta


monetária nacional decorrente do ingresso de capitais
externos. Isto estimula o nível de demanda agregada,
fazendo com que aumente o nível de importações e
reduza as exportações, podendo produzir um déficit na
conta corrente, inclusive um déficit acima do nível
considerado sustentável pelo governo. Este estímulo é
resultado de uma possível queda nas taxas de juro, o
que incentiva o consumo das famílias e o investimento
privado (LE FORT e LEHAMANN, 2000).

204
➢ O terceiro efeito indesejável refere-se ao possível
impacto inflacionário do aumento da oferta monetária,
decorrente do ingresso de capitais externos.

Visando evitar o segundo e o terceiro efeitos supracitados, quais


sejam, de estímulo à demanda agregada e de pressão sobre à
taxa de inflação, o governo procede a operações de esterilização
monetária. Isso ocorre quando o governo vende títulos públicos
para reduzir a expansão da oferta monetária criada pelo influxo
de capital. Com isto, as taxas de juro não caem, há menor
estímulo à demanda agregada e menor pressão sobre à inflação

Porém, as operações de esterilização dão origem a um quarto


efeito. Todo ingresso de capital, além de elevar o passivo
externo, estará, agora, aumentando a dívida pública interna.
Assim, há endividamento externo e interno simultaneamente,
e tal endividamento é feito justamente no sentido de
neutralizar os efeitos do capital externo, ou seja, o ingresso de
capital não está tendo nenhum efeito doméstico expansionista
sobre a demanda agregada. Logo, ocorrerá, também, aumento
do déficit público, uma vez que as despesas do governo com o
pagamento de juros deverão se elevar, com o aumento da
dívida interna.

A desigualdade na paridade de juros e um cenário optimista


para a economia de um país, tende a atrair volumosos
recursos, sem a necessária capacidade de geração de divisas
em volume compatível com o ingresso e remuneração dos
capitais entrantes, cujos efeitos indesejáveis ultrapassariam os
possíveis benefícios associados a tal ingresso.

As Vantagens Possíveis de um Controlo Selectivo de Entrada de


Capitais

Segundo Pudwell (2003), com o intuito de garantir maior


liberdade às políticas macroeconómicas de cada país,
principalmente à política monetária, e uma inserção soberana
dos países nos mercados financeiros internacionais, deveria ser
modificado, permitindo que cada país tenha autonomia de
legislar sobre o ingresso de capital estrangeiro, assim como
ocorre com a União Europeia.

Esta modificação ensejaria, principalmente, a possibilidade da


imposição de controlos de entrada de capitais. Tais controlos

205
poderiam ser exercidos tanto sobre investimentos directos
estrangeiros como sobre os capitais de curto prazo.
Normalmente, no entanto, tais controlos tendem a ser
selectivos, restringindo-se aos capitais especulativos, sem fazer
maiores restrições ao ingresso de capitais para investimento.

As possíveis vantagens se tudo isso verificado, seria para


Pudwell (2003) da adopção de controlos selectivos da entrada
de capitais podem ser assim enumeradas:

I. Maior controlo sobre a taxa de câmbio: havendo menor


ingresso de capitais de curto prazo, menor será a
probabilidade de apreciações ou depreciações
cambiais exageradas ou indesejáveis na concepção do
Banco Central, no regime de câmbio flutuante, e no
regime câmbio fixo, menor será a necessidade de
intervenção do Banco Central para manter a paridade
estabelecida;

II. Maior controlo sobre a oferta monetária: toda vez que


há um ingresso ou saída de capital estrangeiro do país,
a oferta monetária nacional também varia. Logo, a
oferta monetária sofrerá fortes variações, com
impactos inflacionários nos momentos de expansão
monetária ou deflacionários, em momentos de intensa
saída de capital, conduzindo a oscilações bruscas nas
taxas de juro, prejudicando, com isso, o crescimento
económico;

III. Na tentativa de evitar uma flutuação excessiva da oferta


monetária e das taxas de juros, o governo lança mão
da esterilização. No entanto, esta atitude, ao manter o
diferencial de juros, eleva o nível de despesas com
juros do Estado, aumenta o déficit público e o
endividamento governamental. A esterilização, além
de manter o diferencial de juros, pode até ampliá-lo,
no sentido de fornecer um activo de alta liquidez
(títulos públicos) e de menor risco ao capital
estrangeiro;

IV. Existem indicações de que o aumento excessivo do


ingresso de recursos externos através da conta capital
está relacionado com certa perda de controlo do
governo sobre o nível de demanda agregada presente

206
e futura (mesmo na presença de políticas de
esterilização) e sobre o nível desejado/aceitável de
déficit na conta corrente (LE FORT e LEHAMANN,
2000);

V. A elevação do déficit em conta corrente, do passivo


externo, do aumento entre M2/reservas, do déficit
público, a ocorrência de uma sobrevalorização cambial
e de uma pior na conta comercial são todos factores
que aumentam o nível de risco do país e pioram a
captação externa de recursos de longo prazo;
VI. Maior controlo da política monetária. Com a introdução
do controlo de entrada de capitais, o país pode ter
uma taxa de juros interna superior à taxa de juros
externa, já levando em conta o risco país e a
expectativa de desvalorização cambial. Sem o
controlo, uma taxa de juros interna mais elevada
atrairia grandes fluxos de capital “indesejados” Assim,
torna-se impossível praticar uma taxa de juros mais
elevada do que a taxa externa, em uma economia com
conta capital totalmente aberta à entrada;

VII. Auxilia na adopção do sistema de metas de inflação,


uma vez que torna-se mais fácil atingir as metas de
inflação quando o Banco Central possui maior controlo
sobre a política monetária;

VIII. Melhora a composição da conta capital e financeira do


país, levando em consideração que os fluxos de curto
prazo são penalizados com custos bem mais elevados
do que os custos aplicados aos capitais de longo prazo.

Importante destacar que o controlo selectivo de entrada de


capitais é um instrumento flexível, podendo ser imposto em
momentos de excessivo ingresso de capitais e abandonado
mediante a necessidade da política macroeconómica em se
adaptar à queda ou à escassez de fontes externas de
financiamento. O momento de sua adopção, a duração e o
nível de custo imposto ao capital que ingressa são decididos
pelo Banco Central levando em conta as necessidades do país e
a conjuntura externa.

Algumas instituições financeiras internacionais

207
As organizações internacionais são órgãos multilaterais
responsáveis pela integração, inter-relação e acordos
envolvendo diversos países. De acordo com Pena (2016), as
organizações internacionais da actualidade tiveram o seu
surgimento, em sua maioria, na segunda metade do século XX.
No entanto, foi com a globalização e o fim da Guerra Fria que
elas se consolidaram como importantes atores no cenário
internacional, passando por um relativo período de
fortalecimento.

Em virtude da recente ampliação da integração geoeconómica


global, essas organizações tornaram-se actores importantes no
cenário mundial, com a missão de estabelecer um
ordenamento das relações internacionais de poder e influência
política. Actuam na elaboração e regulação de normas,
suscitam acordos entre países, buscam atender determinados
objectivos, entre outras funções.

Em termos financeiros, existem incontáveis organizações


financeiras internacionais, nomeadamente:

A. Bancos Multilaterais de Desenvolvimento (BMD´s)


1. Banco Mundial
Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD)
2. Bancos Regionais
• Banco Africano de Desenvolvimento (BAD)
• Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)
• Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento (BERD)
• Banco Europeu de Investimento (BEI)
• Banco Asiático de Desenvolvimento (BAsD)
• Council of Europe Development Bank (CEB)

B. Fundos Multilaterais de Desenvolvimento (FMD’s)


• Associação Internacional de Desenvolvimento (AID)
• Fundo de Operações Especiais (FOE)
• Fundo Africano de Desenvolvimento (FAD)
• Fundo Asiático de Desenvolvimento (FAsD)
• Fundo Europeu de Desenvolvimento (FED)

C. Fundos e Facilidades Sectoriais


208
• Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (IFAD)
• Fundo Comum de Produtos de Base (FCPB)
• Fundo do Ambiente do Globo (FAG/GEF)
• Consultative Group on International Agricultural Research
(CGIAR)

D. Fundos e Mecanismos Direccionados para o Sector Privado


• Sociedade Financeira Internacional (SFI)
• Fundo Multilateral de Investimento (MIF)
• Corporação Interamericana de Investimento (CII)
• Africa Management Services Company (AMSCO)
• Africa Project Development Facility (APDF)

E. Outras Instituições Financeiras


• Agência Multilateral de Garantia ao Investimento (MIGA)
• Foreign Investiment Advisory Services (FIAS)
• Special Program for Assistance (SPA)

Sumário

Nesta Unidade Temática 7.2 estudamos Fluxos de Capital e


instituições financeiras internacionais. Nesta abordagem
destacamos:
1. Os conceitos;
2. Impacto nos países desenvolvidos e subdesenvolvidos;
3. Os diferentes Modelos;
4. Os riscos e consequências de fluxo e influxo de capitais;

5. Algumas instituições financeiras internacionais.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

GRUPO -1 (com respostas detalhadas)

1. Em que grupo de instituição financeira pertence SPA?

2. Em que grupo de instituição financeira pertence MIF?

209
3. Em que grupo de instituição financeira pertence IFAD?

4. Como o mundo em que vivemos está conectado?

5. Quais são alguns elementos que fazem parte ou garantem essa


rede de conectividade?

Respostas

1. Rever o último parágrafo, página 220

2. Rever o penúltimo parágrafo, página 220

3. Rever o antepenúltimo parágrafo, página 220

4. Rever o primeiro parágrafo, página 206

5. Rever o primeiro parágrafo, página 206

GRUPO -2 (Com respostas sem detalhes)

1. No entanto, foi com a globalização e o fim da Guerra Fria

a) Que as instituições financeiras internacionais se consolidaram


como importantes actores no cenário internacional?
b) Que as instituições financeiras internacionais iniciaram a ser
importantes actores no cenário internacional?

c) Que as instituições financeiras internacionais se consolidaram


como importantes actores no cenário regional?

2. As instituições financeiras internacionais surgiram com a missão


de

a) Estabelecer um ordenamento das relações internacionais de


poder e influência política.

b) Definir as relações internacionais mas sem poder e


influência política.

c) Criar condições para as relações internacionais de poder e


influência económica.

3. As instituições financeiras internacionais actuam na

a) Elaboração e regulação de normas, suscitam acordos entre


países, buscam atender determinados objectivos, entre outras
funções.

210
b) Fiscalização da aplicação das normas, impõem acordos
entre países, buscam atender determinados objectivos
internacionais, entre outras funções.

c) Ajudam na elaboração de normas, estabelecem acordos


entre países, buscam atender os Objectivos de
Desenvolvimento do Milénio em países ainda problemáticos,
entre outras funções.

4. Uma das vantagens possíveis de um Controlo Selectivo de


Entrada de Capitais, Segundo Pudwell (2003),
a) é com o intuito de garantir maior liberdade às políticas
macroeconómicas de cada país

b) é com o intuito de garantir maior fluxo de capitais de cada país

c) é com o intuito de proteger os interesses económicos de cada


país

5. O ingresso de capitais internacionais em um país, sob


qualquer forma (empréstimos, financiamentos, investimentos
directos, investimentos em carteira),

a) nem sempre gera uma obrigação futura em moeda estrangeira,


aumentando o passivo externo do país.

b) Improvavelmente gera uma obrigação futura em moeda


estrangeira, aumentando o passivo externo do país.

c) Gera uma obrigação futura em moeda estrangeira,


aumentando o passivo externo do país.

d) Nunca gera uma obrigação futura em moeda estrangeira,


aumentando o passivo externo do país, portanto depende dos
acordos estabelecidos.

Exercícios de AVALIAÇÃO

GRUPO -3 (Exercícios de GABARITO)

1. Qual ou quais instituições financeiras internacionais, já ouviu


falar? Em que circunstâncias?

2. Por que é importante controlar o fluxo de capitais num país?


3. Por que surgiram as instituições financeiras internacionais?
4. Para que surgiram as instituições financeiras internacionais?
5. Como surgiram as instituições financeiras internacionais?

211
6. Quando surgiram as instituições financeiras internacionais?
7. Qual é a relação entre a taxa de câmbio e fluxo de capitais?
8. Qual é a relação entre a taxa de câmbio e oferta monetária?
9. O que é deficit público?

Exercícios finais sobre o Tema

1. Quando começou a globalização?

2. Como começou a globalização?

3. Porquê começou a globalização?

4. Qual é a relação entre mercados e globalização?

5. Qual é a relação entre globalização e revolução industrial?

6. Qual é a relação entre o capitalismo e a globalização?

7. Qual é a relação entre o socialismo e a globalização?

8. Apresente o conceito sobre bolsa de valores?

9. Qual é a relação entre a bolsa de valores e a globalização?

10.Qual é a relação entre a bolsa de valores e o fluxo de capitais?

11.Qual é a relação entre a bolsa de valores e as instituições


financeiras internacionais?

12.O que é fluxo de capital?

13.O que é influxo de capital?

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214
TEMA – VIII: POLÍTICAS DE AJUDA AO DESENVOLVIMENTO
UNIDADE Temática 8.1. Políticas da ONU, EU e SADC para o
Desenvolvimento

UNIDADE Temática 8.1. Políticas da ONU, EU e SADC para o


Desenvolvimento

Introdução

Cada organização financeira nacional ou internacional que


queira se ocupar em assuntos sobre apoio ao desenvolvimento,
possui as suas regras específicas, podendo ser de cumprimento
obrigatórias, para todas pessoas singulares ou colectivas que
queiram aceder essa ajuda, ou ainda colaborar dentro das
relações que possam existir em vários domínios de cooperação.

Ao terminar esta unidade, o aluno deve ser capaz de:

▪ Saber algumas organizações comprometidas com o desenvolvimento;


▪ Conhecer algumas políticas utilizadas por essas mesmas organizações;
Objectivos ▪ Descrever o impacto dessas mesmas políticas no desenvolvimento dos povos.
específicos

Desenvolvimento

215
Num significado mais abrangente, o termo política, pode ser
utilizado como um conjunto de regras ou normas de uma
determinada instituição. Por exemplo, uma empresa pode ter
uma política de contratação de pessoas com algum tipo de
deficiência ou de não contratação de mulheres com filhos
menores. A política de trabalho de uma empresa também é
definida pela sua visão, missão, valores e compromissos com os
clientes.

Assim, a Organização das Nações Unidas (ONU), possui algumas


linhas orientadoras sobre o desenvolvimento.

Considerando que a paz e a segurança internacionais são


elementos essenciais à realização do direito ao
desenvolvimento;

Reafirmando que existe uma relação íntima entre


desarmamento e desenvolvimento e que o progresso no
campo do desarmamento promoveria consideravelmente o
progresso no campo do desenvolvimento, e que os recursos
liberados pelas medidas de desarmamento deveriam dedicar-
se ao desenvolvimento económico, social e ao bem-estar de
todos os povos e, em particular, daqueles dos países em
desenvolvimento;

Reconhecendo que a pessoa humana é o sujeito central do


processo de desenvolvimento e que essa política de
desenvolvimento deveria assim fazer do ser humano o
principal participante e beneficiário do desenvolvimento;

Reconhecendo que a criação de condições favoráveis ao


desenvolvimento dos povos e indivíduos é a responsabilidade
primária de seus Estados;

Ciente de que os esforços em nível internacional para


promover e proteger os direitos humanos devem ser
acompanhados de esforços para estabelecer uma nova ordem
económica internacional;

Confirmando que o direito ao desenvolvimento é um direito


humano inalienável e que a igualdade de oportunidade para o
desenvolvimento é uma prerrogativa tanto das nações dos
indivíduos que compõem as nações;

Proclama a seguinte Declaração sobre o Direito ao


Desenvolvimento:
216
Artigo 1º

1. O direito ao desenvolvimento é um direito humano


inalienável, em virtude do qual toda pessoa e todos os
povos estão habilitados a participar do
desenvolvimento económico, social, cultural e político,
a ele contribuir e dele desfrutar, no qual todos os
direitos humanos e liberdades fundamentais possam
ser plenamente realizados.

2. O direito humano ao desenvolvimento também implica


a plena realização do direito dos povos de
autodeterminação que inclui, sujeito às disposições
relevantes de ambos os Pactos Internacionais sobre
Direitos Humanos, o exercício de seu direito inalienável
de soberania plena sobre todas as suas riquezas e
recursos naturais.

Artigo 2º

1. A pessoa humana é o sujeito central do


desenvolvimento e deveria ser participante activo e
beneficiário do direito ao desenvolvimento.
2. Todos os seres humanos têm responsabilidade pelo
desenvolvimento, individual e colectivamente, levando-
se em conta a necessidade de pleno respeito aos seus
direitos humanos e liberdades fundamentais, bem
como seus deveres para com a comunidade, que
sozinhos podem assegurar a realização livre e completa
do ser humano e deveriam por isso promover e
proteger uma ordem política, social e económica
apropriada para o desenvolvimento.

3. Os Estados têm o direito e o dever de formular políticas


nacionais adequadas para o desenvolvimento, que
visem ao constante aprimoramento do bem-estar de
toda a população e de todos os indivíduos, com base
em sua participação activa, livre e significativa e no
desenvolvimento e na distribuição equitativa dos
benefícios daí resultantes.

Artigo 3º

1. Os Estados têm a responsabilidade primária pela criação


das condições nacionais e internacionais favoráveis à
realização do direito ao desenvolvimento.
217
2. A realização do direito ao desenvolvimento requer pleno
respeito aos princípios do direito internacional, relativos
às relações amistosas de cooperação entre os Estados,
em conformidade com a Carta das Nações Unidas.

3. Os Estados têm o dever de cooperar uns com os outros


para assegurar o desenvolvimento e eliminar os
obstáculos ao desenvolvimento. Os Estados deveriam
realizar seus direitos e cumprir suas obrigações, de
modo tal a promover uma nova ordem económica
internacional, baseada na igualdade soberana,
interdependência, interesse mútuo e cooperação entre
todos os Estados, assim como a encorajar a observância
e a realização dos direitos humanos.

Artigo 4º

Os Estados têm o dever de, individual e colectivamente, tomar


medidas para formular as políticas internacionais de
desenvolvimento, com vistas a facilitar a plena realização do
direito ao desenvolvimento.

1. É necessária acção permanente para promover um


desenvolvimento mais rápido dos países em
desenvolvimento.
Como complemento dos esforços dos países em
desenvolvimento, uma cooperação internacional
efectiva é essencial para prover esses países de meios e
facilidades apropriados para incrementar seu amplo
desenvolvimento.

Artigo 5º

Os Estados tomarão medidas firmes para eliminar as violações


maciças e flagrantes dos direitos humanos dos povos e dos
seres humanos afectados por situações tais como as
resultantes do apartheid, de todas as formas de racismo e
discriminação racial, colonialismo, dominação estrangeira e
ocupação, agressão, interferência estrangeira e ameaças contra
a soberania nacional, unidade nacional e integridade territorial,
ameaças de guerra e recusas de reconhecimento do direito
fundamental dos povos à autodeterminação.
Artigo 6º
1. Todos os Estados devem cooperar, com vistas a
promover, encorajar e fortalecer o respeito universal
218
pela observância de todos os direito humanos e
liberdades fundamentais para todos, sem distinção de
raça, sexo, língua ou religião.

2. Todos os direito humanos e liberdades fundamentais


são indivisíveis e interdependentes; atenção igual e
consideração urgente devem ser dadas à
implementação, promoção e protecção dos direitos
civis, políticos, económicos, sociais e culturais.

3. Os Estados devem tomar providências para eliminar os


obstáculos ao desenvolvimento resultantes da falha na
observância dos direitos civis e políticos, assim como
dos direitos económicos, sociais e culturais.

Artigo 7º

Todos os Estados devem promover o estabelecimento, a


manutenção e o fortalecimento da paz e segurança
internacionais e, para este fim, deveriam fazer o máximo para
alcançar o desarmamento geral e completo do efectivo
controlo internacional, assim como assegurar que os recursos
liberados por medidas efectivas de desarmamento sejam
usados para o desenvolvimento amplo, em particular o dos
países em via de desenvolvimento.

Artigo 8º

1. Os Estados devem tomar, em nível nacional, todas as


medidas necessárias para a realização do direito ao
desenvolvimento e devem assegurar, nomeadamente,
igualdade de oportunidade para todos, no acesso aos
recursos básicos, educação, serviços de saúde,
alimentação, habitação, emprego e distribuição
equitativa da renda. Medidas efectivas devem ser
tomadas para assegurar que as mulheres tenham um
papel activo no processo de desenvolvimento.
Reformas económicas e sociais apropriadas devem ser
efectuadas com vistas à erradicação de todas as
injustiças sociais.

2. Os Estados devem encorajar a participação popular em


todas as esferas, como um factor importante no
desenvolvimento e na plena realização de todos os
direitos humanos.

Artigo 9º
219
1. Todos os aspectos dos direitos ao desenvolvimento
estabelecidos na presente Declaração são indivisíveis e
interdependentes, e cada um deles deve ser
considerado no contexto do todo.
2. Nada na presente Declaração deverá ser tido como
sendo contrário aos propósitos e princípios das Nações
Unidas, ou como implicando que qualquer Estado,
grupo ou pessoa tenha o direito de se engajar em
qualquer actividade ou de desempenhar qualquer acto
voltado à violação dos direitos consagrados na
Declaração Universal dos Direitos Humanos e nos
Pactos Internacionais sobre Direitos Humanos,

Artigo 10

Os Estados deverão tomar medidas para assegurar o pleno


exercício e fortalecimento progressivo do direito ao
desenvolvimento, incluindo a formulação, adopção e
implementação de políticas, medidas legislativas e outras, em
níveis nacional e internacional.

A União Europeia (UE) possui alguns princípios gerais da política


de desenvolvimento.

Para UE, a política de desenvolvimento reveste-se de


importância fundamental para as políticas externas da União
Europeia. Desde a sua fundação, a UE tem apoiado o
desenvolvimento das regiões parceiras. Inicialmente centrada
no grupo de Estados de África, das Caraíbas e do Pacífico (ACP),
a UE alargou gradualmente a sua rede de relações, cooperando
actualmente com cerca de 160 países no mundo inteiro.

A UE é o maior doador mundial de ajuda para o


desenvolvimento: em conjunto com os seus Estados-Membros,
a União fornece mais de metade da ajuda pública ao
desenvolvimento (APD) a nível mundial. O principal objetivo da
política de desenvolvimento da UE é a «redução e, a longo
prazo, a erradicação da pobreza». A este objetivo acrescentam-
se outros, como a defesa dos direitos humanos e da democracia,
a promoção da igualdade entre homens e mulheres
e, mais recentemente, a resolução de desafios ambientais e
climáticos.

Base jurídica

220
• Artigo 21.º, n.º 1, do Tratado da União Europeia (TUE):
mandato global e princípios orientadores no domínio da
cooperação para o desenvolvimento da UE;

• Artigo 4.º, n.º 4, e artigos 208.º a 211.º do Tratado sobre


o Funcionamento da União Europeia (TFUE);

• Artigos 312.º a 316.º do TFUE: questões orçamentais;

• Acordo de Cotonu (no que se refere aos Estados de


África, das Caraíbas e do Pacífico) e diversos acordos
bilaterais de associação (conforme o disposto no artigo
217.º do TFUE): acordos de cooperação específicos.

Quadro Político e Financeiro

a. Consenso Europeu sobre a política de desenvolvimento

Em 20 de Dezembro de 2005, a Comissão, o Conselho e o


Parlamento aprovaram conjuntamente o «Consenso Europeu
sobre a Política de Desenvolvimento da UE». Esta declaração
política define um conjunto coerente de princípios e valores
que regem a cooperação numa perspectiva de
desenvolvimento levada a cabo pelas instituições da UE e pelos
Estados-Membros. O mesmo documento identifica os
principais objectivos da política europeia de desenvolvimento,
nomeadamente a redução da pobreza — em sintonia com os
Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) das Nações
Unidas, de 2000 — e a promoção dos valores democráticos
europeus em todo o mundo. O Consenso atribui ainda
responsabilidades claras aos países em desenvolvimento na
gestão do seu próprio desenvolvimento. No capítulo «Mais e
melhor ajuda», a União e os Estados-Membros
comprometeram-se a aumentar o montante da ajuda pública
ao desenvolvimento (APD), que deverá atingir o equivalente a
0,7 % do rendimento nacional bruto (RNB) até 2015, e a
consagrar, pelo menos, metade deste aumento a África, dando
prioridade às acções em benefício dos mais pobres, embora
este prazo não tenha sido respeitado. Em 3 de abril de 2014, a
Alta Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a
Política de Segurança/Vice-Presidente da Comissão assinou o
Consenso Europeu, marcando, assim, a adopção deste
documento por todas as instituições da UE e dando um novo
impulso ao compromisso da UE relativamente aos países em
desenvolvimento.
221
b. A «Agenda para a Mudança» da UE

A Comunicação da Comissão intitulada «Agenda para a


Mudança» da UE, aprovada pelo Conselho em Maio de 2012,
inspira-se no Consenso Europeu e apresenta propostas
concretas no sentido de aumentar o impacto da política de
desenvolvimento da UE, estabelecendo a promoção dos
direitos humanos, a democracia, o Estado de Direito e a boa
governação, por um lado, e o crescimento inclusivo e
sustentável, por outro, como os dois pilares centrais da política
de desenvolvimento. Esta Comunicação prevê igualmente que
os países mais carenciados, nomeadamente os Estados frágeis
e os países menos desenvolvidos (PMD), tenham prioridade na
recepção de ajuda. Além disso, a fim de adequar o volume e os
instrumentos de ajuda às necessidades específicas de cada país
e à capacidade de realização de reformas dos respectivos
governos, foi introduzido o novo princípio da «abordagem
diferenciada».

c. A Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável

A Agenda do Desenvolvimento Sustentável é guiada pelos


propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas, incluindo o
pleno respeito pelo direito internacional. Fundamenta-se na
Declaração Universal dos Direitos Humanos, tratados
internacionais de direitos humanos, a Declaração do Milénio e
os resultados da Cúpula Mundial de 2005. Ela é informada por
outros instrumentos, tais como a Declaração sobre o Direito ao
Desenvolvimento.

Objectivos de Desenvolvimento Sustentável

Objectivo 1. Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em


todos os lugares;

Objectivo 2. Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e


melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável;

Objectivo 3. Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar


para todos, em todas as idades;

Objectivo 4. Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de


qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao
longo da vida para todos

222
Objectivo 5. Alcançar a igualdade de género e empoderar todas as
mulheres e meninas;

Objectivo 6. Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da


água e saneamento para todos;

Objectivo 7. Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e


a preço acessível à energia para todos;

Objectivo 8. Promover o crescimento económico sustentado,


inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho
decente para todos;

Objectivo 9. Construir infra-estruturas resilientes, promover a


industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação;

Objectivo 10. Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre


eles;

Objectivo 11. Tornar as cidades e os assentamentos humanos


inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis;

Objectivo 12. Assegurar padrões de produção e de consumo


sustentáveis

Objectivo 13. Tomar medidas urgentes para combater a mudança


climática e seus impactos;

Objectivo 14. Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos


mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento
sustentável;

Objectivo 15. Proteger, recuperar e promover o uso sustentável


dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as
florestas, combater a desertificação, deter e reverter a
degradação da terra e deter a perda de biodiversidade;

Objectivo 16. Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o


desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça
para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e
inclusivas em todos os níveis;

Objectivo 17. Fortalecer os meios de implementação e revitalizar


a parceria global.

d. Eficácia da ajuda e coerência entre políticas

A política europeia de desenvolvimento promove


explicitamente a harmonização de políticas e uma melhor
integração dos países parceiros nos processos de atribuição de
223
fundos e de planeamento. Neste sentido, a UE adoptou, em
2007, o «Código de Conduta da UE em matéria de divisão das
tarefas na política de desenvolvimento» e, em 2011, o «Quadro
Operacional de Promoção da Eficácia da Ajuda». Estes esforços
são consentâneos com as medidas adoptadas pela comunidade
internacional em resposta à Declaração de París da OCDE, de
2005, na qual se promove «a autonomia, a harmonização, o
alinhamento, os resultados e a prestação de contas mútua» no
quadro da ajuda ao desenvolvimento. O quadro internacional
para a eficácia da ajuda foi revisto duas vezes, a saber, no
Programa de Ação de Acra, de 2008, e na Parceria de Busan
para uma Cooperação Eficaz para o Desenvolvimento, de 2011,
tendo ambas as revisões recebido o vivo apoio da UE. A
primeira reunião de alto nível da Parceria Global para uma
Cooperação Eficaz para o Desenvolvimento, realizada no
México, em Abril de 2014, teve como objetivo fazer da eficácia
da ajuda ao desenvolvimento um dos eixos da agenda pós-
2015.

A UE adoptou também, em 2005, o programa de Coerência das


Políticas de Desenvolvimento (CPD), que abrangia 12 políticas
diferentes e foi mais tarde reorganizado em cinco domínios
essenciais:

1) Comércio e finanças,

2) Luta contra as alterações climáticas,

3) Segurança alimentar global,

4) Contribuição das migrações para o desenvolvimento, e

5) Reforço das ligações e sinergias entre segurança e


desenvolvimento, no contexto de uma agenda global de
consolidação da paz.

O desempenho da UE no domínio da coerência das políticas


para o desenvolvimento é acompanhado através de um
relatório realizado pela Comissão, de dois em dois anos, tendo
o mais recente sido publicado em agosto de 2015.

O Parlamento pronuncia-se frequentemente sobre este


assunto e nomeou, por conseguinte, um relator permanente
para a CPD.

e. Quadro legislativo e financeiro

224
Os instrumentos de financiamento da acção externa da UE
foram alvo de uma revisão e de uma racionalização profundas
nos últimos anos. No seu Quadro Financeiro Plurianual (QFP)
para 2007-2013, a UE substituiu 30 programas e 90 rubricas
orçamentais por 8 instrumentos de desenvolvimento. No QFP
para 2014-2020, esses instrumentos sofreram alterações muito
ligeiras quanto à sua estrutura — um novo Instrumento de
Parceria (IP) foi criado (cf. quadro 1, abaixo) —, embora outras
mudanças tenham sido adoptadas no sentido de tornar a
cooperação mais diferenciada e mais eficaz, simples e flexível.
Os referidos instrumentos são geridos pelo Serviço Europeu
para a Ação Externa (SEAE) e por vários serviços da Comissão. A
orientação estratégica da cooperação para o desenvolvimento
da UE é determinada pelo SEAE. A Direção-Geral da
Cooperação Internacional e do Desenvolvimento (DG DEVCO)
participa na programação e continua a ser o único organismo
responsável pela execução da maioria dos instrumentos de
desenvolvimento da UE. Os seus objectivos principais são:

• Erradicar a pobreza e a fome no mundo,

• Promover o desenvolvimento sustentável e

• Defender a democracia, a paz e a segurança.

Por sua vez, a Direção-Geral da Ajuda Humanitária e da


Protecção Civil (DG ECHO) é responsável pela ajuda
humanitária, pela protecção civil e pela gestão de crises, que
constituem um sector à parte (cf. a ficha técnica sobre a ajuda
humanitária).

Principais instrumentos de financiamento da acção externa

Quadro 1: Síntese dos instrumentos de financiamento da acção


externa da UE (QFP 2014-2020)

Instrumento Enfoque Formato Orçamento

225
América Latina, Ásia,
Instrumento de Ásia Central, região
Programa 19,7 mil
cooperação para o do Golfo, África do
geográfico milhões de
Desenvolvimento Sul + programas de
+ temático EUR
(ICD) apoio temático a
nível global

Dezaseis países da
Instrumento vizinhança da UE, 15,4 mil
Programa
Europeu de Rússia (cooperação milhões de
geográfico
Vizinhança (IEV) regional e EUR
transfronteiriça)

Instrumento de 11,7 mil


Balcãs e Turquia Programa
Assistência de milhões de
geográfico
PréAdesão (IPA) EUR

Programa 955
Instrumento de Países
milhões de
Parceria (IP) industrializados
geográfico EUR

184
Instrumento para a Programa
Gronelândia milhões de
Gronelândia geográfico
EUR

Instrumento
Europeu para a Promoção da Programa 1,3 mil
Democracia e os democracia e dos temático milhões de
Direitos Humanos direitos humanos EUR
(IEDDH)

Estabilidade política 2,3 mil


Instrumento para a Programa
e consolidação da milhões de
Estabilidade e a Paz temático
paz EUR

Instrumento para a
Cooperação no Programa 225
domínio da Segurança nuclear temático milhões de
Segurança Nuclear EUR
(ICSN)

226
Países de África,
Fundo Europeu de Caraíbas e Pacífico 29,1 mil
Programa
Desenvolvimento (ACP) e Países e milhões de
(FED) Territórios geográfico EUR
Ultramarinos (PTU)

Destes instrumentos, dois revestem-se de especial importância


para a cooperação para o desenvolvimento devido à sua
dimensão e ao seu enfoque:
O Instrumento de Cooperação para o Desenvolvimento (ICD) é
a maior fonte de financiamento do desenvolvimento dentro do
quadro orçamental da UE, abrangendo a cooperação para o
desenvolvimento com a América Latina, determinados países
do Médio Oriente, a África do Sul e a Ásia Central, Oriental e do
Sudeste. O novo ICD prevê igualmente dois programas
temáticos que abrangem todos os países em desenvolvimento:
um programa, de 5,1 mil milhões de EUR, intitulado «Bens
Públicos e Desafios Globais» e um programa, de 1,9 mil
milhões de EUR, intitulado «Organizações da Sociedade Civil e
Autoridades Locais». Uma das novidades mais importantes do
ICD para o período de 2014-2020 é a introdução do princípio da
«abordagem diferenciada». No total, 16 países de rendimento
médio (PRM) não poderão continuar a beneficiar de
financiamento bilateral da UE sob a forma de subvenções,
podendo, no entanto, continuar a ser abrangidos pela
cooperação temática e regional. Não obstante, na sequência de
negociações entre o Conselho e o Parlamento, cinco PRMs
(Cuba, Colômbia, Equador, Perú e África do Sul) foram
considerados «casos de excepção» e continuarão, portanto, a
poder beneficiar deste regime de cooperação.

O Fundo Europeu de Desenvolvimento (FED) — que não faz


parte do orçamento da UE — é o maior e mais antigo
instrumento de desenvolvimento da UE. Este instrumento
abrange a cooperação com os Estados do grupo ACP e com os
Países e Territórios Ultramarinos (PTU) da União, tendo como
áreas privilegiadas o desenvolvimento económico, social e
humano, bem como a cooperação e a integração regionais. A
dotação financeira para a cooperação com os países ACP no
período de 2014-2020, aprovada em Junho de 2013, ascende a
31,5 mil milhões de EUR. O 11.º FED terá um orçamento de
29,1 mil milhões de EUR, dos quais estão reservados 24,3 mil

227
milhões à cooperação nacional e regional, 3,6 mil milhões à
cooperação entre países ACP e 1,1 mil milhões à Facilidade de
Investimento ACP. Os fundos do FED são atribuídos segundo
um sistema de «programação flexível», no qual os países
parceiros participam na definição das prioridades e dos
projectos de cooperação.

A integração do FED (ou do seu sucessor) no orçamento da UE


contribuiria para reforçar a coerência entre políticas e
sujeitaria o FED a um processo de aprovação diferente — a
saber, a codecisão —, que implica a intervenção do
Parlamento, melhorando, assim, o controlo democrático (cf.
abaixo para mais informações sobre o papel do Parlamento).
No entanto, a inscrição do FED no orçamento acrescentaria
mais formalidades administrativas antes da libertação de
fundos, o que poderia pôr em causa mecanismos bem
estabelecidos de cogestão ACP-UE dos fundos destinados ao
desenvolvimento e conduzir a uma redução das contribuições
dos Estados-Membros para o FED.

A SADC como organização africana ao nível da África Austral,


possui também algumas linhas orientadoras, como por
exemplo, a Política-Quadro de desenvolvimento Industrial da
SADC.

A Política-Quadro de Desenvolvimento Industrial da SADC


reconhece ainda que não existe um modelo e uma abordagem
“uniformizada” para um processo de industrialização da região.
Adoptou-se o termo “quadro” para abarcar um conjunto de
componentes e intervenções de políticas que influenciam
directa e indirectamente a estrutura e o desempenho da
estrutura industrial dentro dos distintos contextos nacionais e
regionais.

Contudo, um mercado regional integrado torna-se fundamental


para a geração de economias de escala necessárias para
desencadear o potencial industrial da região e aumentar a
competitividade das firmas nacionais. Isto resultaria em
economias de escala a providenciarem infra-estruturas de
apoio e a prestarem os serviços necessários para o
desenvolvimento do sector transformador regional, bem como
a criação da competitividade industrial. Dentro deste contexto,
a promoção de cadeias de valor e de ligações entre as redes de
produção transfronteiras tem o potencial para estimular os
228
ganhos da eficiência capazes de ser gerados através de
mercados regionais integrados assentes em vantagens
comparativas e competitivas.

Portanto, a Política-Quadro Industrial da SADC facilita o


aumento da cooperação de modo a tirar-se partido das
ligações ou sinergias retrógradas e progressistas, construindo
gradualmente uma base industrial diversificada, inovadora e
internacionalmente competitiva em toda a região. Descreve as
seguintes intervenções específicas transversais e sectoriais
amplas visando a implementação a nível regional:

(i) Desenvolver e explorar oportunidades mutuamente benéficas


para a SADC;

(ii) Melhorar as normas, os regulamentos técnicos e infra-


estruturas de qualidade;

(iii)Promover a cooperação nos domínios da inovação, da


transferência de tecnologias e das actividades de investigação
e desenvolvimento;

(iv)Conceber mecanismos tendentes a melhorar o acesso ao


financiamento para os sectores transformadores e conexos;

(v) Melhorar o apoio às pequenas e médias empresas (PME);

(vi) Integrar as infra-estruturas e serviços na estratégia de


industrialização regional;

(vii) Atrair o Investimento Directo Estrangeiro (IDE), regional e


local e promover as exportações;

(viii) Formular estratégias destinadas a explorar as


oportunidades emergentes da cooperação estratégica da
região com os parceiros internacionais;

(ix) Promover o alinhamento desta política com as políticas


complementares existentes.

Sumário

Nesta Unidade Temática 8.1 estudamos algumas políticas sobre o


desenvolvimento. Nesta abordagem destacamos:
1. Política das nações Unidas;
229
2. Política da União Europeia;

3. Política da SADC.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

GRUPO -1 (Com respostas detalhadas)

1. Todas organizações tem as mesmas políticas?

2. Qual é o significado mais amplo da palavra política?

3. O que é a ONU?

4. O que é a EU?

5. O que é a SADC?

Respostas

1. Rever o primeiro parágrafo, página 227

2. Rever o segundo parágrafo, página 227

3. Rever a página 228

4. Rever o quarto parágrafo, página 232

5. Rever o peúltimo parágrafo, página 240

GRUPO -2 (Com respostas sem detalhes)

1. O Fundo Europeu de Desenvolvimento (FED)

a) faz parte do Orçamento da EU

b) não faz parte do orçamento da EU

c)é fundo que as Nações Unidas apoiam as iniciativas da EU

2. FED é
a) o maior e mais novo instrumento de desenvolvimento da EU

b) o maior e mais antigo instrumento de desenvolvimento da EU

c) o menor e mais antigo instrumento de desenvolvimento da EU

3. Uma das novidades mais importantes do Instrumento de

230
Cooperação para o Desenvolvimento (ICD) para o período de
2014-2020

a) é a inclusão do apoio aos países africanos promissores

b) é a inclusão de todos países subdesenvolvimento

c) é a introdução do princípio da abordagem diferenciada.

4. O desempenho da UE no domínio da coerência das políticas


para o desenvolvimento

a) não é acompanhado com regularidade, uma vez que existe


agenda bastante carregada entre os países decisores

b) é acompanhado através de um relatório realizado pela


Comissão, de dois em dois anos

c) é acompanhado através de relatório realizado pela comissão


sempre que for necessário

5. A nível da SADC, um mercado regional integrado torna-se


fundamental

a) para a geração de economias de escala necessárias para


desencadear o potencial industrial da região e aumentar a
competitividade das firmas nacionais

b) para a livre circulação de pessoas e bens como um todo

c) para o desenvolvimento harmonioso dos países africanos

Exercícios de AVALIAÇÃO

GRUPO -3 (Exercícios de GABARITO)

1. Porque a ONU foi criada?

2. Porque a EU foi criada?

3. Porque a SADC foi criada?

4. Qual é a importância da política-Quadro Industrial da SADC?

Exercícios finais sobre o Tema

1. Qual é a relação entre a ONU e a EU?

2. Qual é a relação entre ONU e a SADC?


231
3. Qual é a relação entreUE e a SADC?

4. Qual é a importância da ONU para os países africanos?

5. SADC: Quais são as intervenções específicas transversais e


sectoriais amplas visando a implementação a nível regional?

6. Qual é a contribuição das Pequenas e Médias Empresas (PME)


para o desenvolvimento de um país?

7. Quais são outras políticas que a SADC possui sobre o


desenvolvimento?

8. Aponte três instrumentos de financiamento da acção externa


da UE (QFP 2014-2020)?

9. O que a ONU acordou sobre Agenda 2030 para o


desenvolvimento sustentável?

10. ONU: O que o Artigo 1 diz sobre direito ao desenvolvimento?

11. Na perspectiva da declaração sobre direito ao


desenvolvimento da ONU, qual é o papel dos estados para o
alcance desse mesmo desenvolvimento?

Referência bibliográfica

Krugman, P. et al (2011). International Economics. Theory and Policy, 9th Edition. Prentice
Hall.

RAY, D. (1998). Development Economics, Princeton University Press.

Todaro, M. P. e Stephen C. S. (2011). Economic Development, 11th Edition, Prentice Hall.

PAIVA, Carlos Águedo Nagel & CUNHA, André Moreira. (2008). Noções de Economia. Editora
da Fundação Alexandre Gusmão.

LLILHO, André Franco Montoro et al VASCONCELLOS,Marco Antônio Sandoval De PINHO,


Diva Benevides. (1996). Manual de Economia 1. 2a ed. Editora Saraiva.

SILVA, Bernardo José Da. (2007). Economia do sector público: livros didácticos. Editora da
Universidade do Sul de Santa Catarina - Livro Didático.

Comissão Europeia. (2014). Compreender as políticas da UE:Lutar contra a pobreza num


mundo em mudança.

232
EU.Proposta de resolução do parlamento europeu, 17 Novembro 2014. Relatório do
Parlamento Europeu sobre a UE e o quadro de desenvolvimento global após 2015

EU. (2014). Annual report on the European Union’s development and external assistance
policies and their implementation in 2013.

SADC. Política-Quadro de Desenvolvimento Industrial da SADC.

UN. Declação sobre o Direito ao Desenvolvimento. Resolução n. 41/128 da Assembléia Geral


das Nações Unidas, de 4 de dezembro de 1986.

EXERCÍCIOS FINAIS DO MÓDULO

1. Como surgem as ONG´s?

2. Qual é o papel das ONG´s para o desenvolvimento do países


onde trabalham?

3. Todos países possuem políticas sobre o desenvolvimento?

Justifique.

4. Quando é que se faz a revisão de uma política? Porque?

5. Qual é a relação entre globalização e políticas nacionais sobre o


desenvolvimento?

6. Qual é a relação entre as apolíticas de apoio ao


desenvolvimento regionais com as políticas de controlo de
capitais para um país?

7. Poque haver controlo de capitais se um dos focos num mundo


globalizado, há tendência de livre circulação de pessoas e bens?

8. Qual é a relação entre a paz e o desenvolvimento?

9. Muitos tem se referenciado que o desenvolvimento gera


instabilidade. Comente.

10.Porque mesmo com esforços nacionais e até internacionais,


alguns países vivem numa instabilidade económica e até política?

11.O que acha que as organizações internacionais, dentro do seu


papel deveriam fazer para que o mundo todo fosse desenvolvido?

233
12.Dentro do espírito da letra, qual seria a melhor descrição
para este módulo: economia de desenvolvimento ou
desenvolvimento económico? Justifique?

13. Qual é a importância deste módulo para o desenvolvimento


das suas habilidades como académico?

14.Qual é a importância deste módulo para o desenvolvimento


das suas habilidades como profissional?

15. Qual é a importância deste módulo para a geração de


conhecimentos e espírito de crítica para o desenvolvimento da
sua comunidade onde vive?

16. Qual é a importância deste módulo para a geração de


conhecimentos e espírito de crítica para o desenvolvimento da
sua província onde vive?
17. Qual é a importância deste módulo para a geração de
conhecimentos e espírito de crítica para o desenvolvimento do
seu país?

18. Qual é a importância deste módulo para a geração de


conhecimentos e espírito de crítica para o desenvolvimento
harmonioso do seu continente?

19. O que acha que está falhar ou falhou para Moçambique


não estar desenvolvido?

20. O que acha que deveria ser feito para Moçambique ser
desenvolvido?

234

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