Plantas para o Futuro Norte 519 542
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Theobroma grandiflorum
Cupuaçu
Rafael Moysés Alves1, José Edmar Urano de Carvalho1, Walnice Maria Oliveira do Nascimento1,
Saulo Fabrício da Silva Chaves2
FAMÍLIA: Malvaceae.
NOMES POPULARES: O nome do fruto, cupuaçu, vem do Tupy (kupu = que parece com
o cacau + uasu = grande). Entretanto, dependendo do local onde é produzido, possui rica
sinonímia. Por exemplo, na maioria dos estados da Amazônia também é conhecido como
cupu; no Maranhão como pupu ou pupuaçu; cacau-cupuaçu na Bahia; na região de Iquitos,
no Peru, como cupuazur; bacau na Colômbia; cacau blanco no México, Costa Rica e Panamá;
cupuassu na Inglaterra; patas no México; lupo no Suriname (Cuatrecasas, 1964; Clement;
Venturieri, 1990; Cavalcante, 1996). Com relação ao nome científico Theobroma significa
“manjar dos deuses” e grandiflorum “flores grandes”.
1
Eng. Agrônomo(a). Embrapa Amazônia Oriental
2
Graduando em Agronomia. Universidade Federal Rural da Amazônia
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Capítulo 5 - Alimentícias
6-8mm de largura, 1,5mm de espessura, unidas no terço inferior; corola com cinco pétalas,
Theobroma grandiflorum
mais raramente quatro ou seis, cada pétala com base em forma de cógula e porção terminal
laminar, subtrapezoidal ou suborbicular, ligada à cógula por uma porção estreitada em for-
ma de calha, mais comumente de cor roxo-escuro (Prance; Silva, 1975; Neves et al., 1993;
Cavalcante, 2010); também apresentam cinco estaminóides estéreis petalóides, triangular-
-lingüiformes, vermelho-escuros, independente da cor das pétalas; androceu com dois ver-
ticilios de estames localizados no interior da cógula; ovário súpero, pentalocular, cada lóculo
com cerca de 10 óvulos. Os óvulos são anátropos e o estilete filiforme (Venturieri, 2011). O
fruto é do tipo baga drupácea oblonga (Figura 3), elipsóide ou oboval, com as extremidades
obtusas ou arredondadas, que cai da árvore quando maduro, após quatro a quatro meses
e meio desde a polinização (Souza, 2007; Fraire-Filho et al., 2009). O epicarpo é lenho-
so recoberto de pelos ferrugíneos que, quando raspado, expõe uma camada clorofilada. O
mesocarpo é esponjoso e pouco resistente. O endocarpo (parte comestível) tem coloração
branco-amarelada, de sabor ácido e odor agradável, e recobre as sementes. Estas apresen-
tam-se em número variável, de 15 a 50, em média 32 por fruto, com 2,5cm de largura e
0,9cm de espessura. Apresentam-se superpostas em torno da placenta e longitudinalmente
dispostas em relação ao comprimento do fruto (Calzavara et al., 1984; Venturieri, 1993;
Souza et al., 1996; Carvalho, 2004).
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HÁBITAT: O cupuaçuzeiro ocorre em solos de terra firme e várzea alta, ocupando o estrato
de sub-dossel da floresta. Foi encontrado também em condições de baixios, associado ao
açaizeiro. O clima nas áreas de ocorrência natural do cupuaçuzeiro é quente e úmido, com
temperatura média anual variando de 21,6 a 27,5ºC; umidade relativa média anual de 77%
a 88% e pluviosidade media anual de 1.900mm a 3.100mm (Diniz et al., 1984). Entretanto,
o cultivo tem se estendido à diferentes tipos de solo e clima, o que muitas vezes contribui
para dificuldades de implantação, podendo até mesmo inviabilizá-la, com perdas de mudas
que desfalcarão os talhões. Alves et al. (1999) reportam uma metodologia para contor-
nar os problemas de implanta-
ção de cultivos em áreas com
distribuição irregular de chuvas.
Consiste, basicamente, no uso
de materiais de plantação se-
lecionados no próprio local e,
portanto, já adaptadas a essas
condições, e o emprego de li-
nhas de plantio dentro de capo-
eiras (sistema cabruco). Apesar
de divergências iniciais, hoje há
consenso de que o cupuaçuzei-
ro, para produzir na capacidade
máxima, necessita de sombrea-
mento parcial na fase inicial de
estabelecimento de campo. Con-
tudo, esse sombreamento deve
ir sendo paulatinamente retirado
até ser praticamente eliminado
após a estabilização da produ-
ção (em torno do 8º ano). En-
tretanto a utilização desse siste-
ma de condução oferece riscos
em plantações estabelecidas em
locais com prolongados períodos de déficit hídrico. Pois assim que as chuvas voltam, ou
Theobroma grandiflorum
quando são realizadas irrigações muito abundantes, ocorre uma rápida absorção de água,
provocando um aumento da pressão interna do fruto e, como a casca não é elástica, pro-
voca rachaduras favorecendo a penetração de fungos saprofíticos. A utilização de cobertura
morta ou irrigações suplementares durante esse período, constituem formas de minimizar o
problema (Carvalho et al., 1999).
Frutos maduros são facilmente reconhecidos em razão do aroma agradável que exalam
(Souza et al., 1996). Após caírem ao solo (normalmente à noite) os frutos devem ser imedia-
tamente recolhidos, e se mantidos a temperatura ambiente, conservam boas características
organolépticas por cinco dias. A polpa pode ser mantida congelada por sete meses, sem perda
de qualidade (Miranda, 1989). A desidratação da polpa, outra opção de conservação, consegue
manter as características fisico-químicas intactas por 90 dias (Moreira et al., 2011).
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Plantas para o Futuro - Região Norte
Além do mais, a região apresenta clima sempre úmido e temperaturas elevadas, con-
dições favoráveis a ocorrência de pragas e doenças. Esses fatores, atuando sistematicamen-
te, promovem uma oferta irregular de frutos ao longo dos anos, gerando, ao setor industrial,
incertezas quanto à aquisição da matéria prima.
PARTES USADAS: A polpa dos frutos como alimento e as sementes torradas para a produ-
ção de manteiga que é a base do cupulate.
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Capítulo 5 - Alimentícias
Theobroma grandiflorum
Fonte: Afonso Rabelo-COBIO/INPA
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Capítulo 5 - Alimentícias
visitadas por muitas espécies de insetos como abelhas e formigas, o que tem tornado difícil
Theobroma grandiflorum
distinguir entre polinizadores, predadores e pilhadores de pólen. Falcão e Lleras (1983) con-
cluíram que, para a região de Manaus, AM, não havia um polinizador específico e que várias
espécies de abelhas deveriam ser as responsáveis pela polinização. Entretanto, Venturieri
(1993) reportou que as abelhas sem ferrão (Plebeia minima, Trigonisca sp. e Ptilotrigona
lurida), seriam os prováveis polinizadores. A espécie Plebeia minima tem frequência de visi-
tas muito baixa, sendo encontrada nos pomares no período de 07h30min às 10h30min horas
e das 15h30min às 18h00min (Maués et al., 1996). Venturieri et al. (1997) concluíram ainda
que sete espécies de besouros (família Chrysomelidae: subfamília Eumolpinae) deveriam ser
consideradas os polinizadores efetivos do cupuaçuzeiro. Em razão das flores não apresenta-
rem nectários, acredita-se que a presença abundante de pólen e exalação de odor sejam os
componentes utilizados para atrair os insetos polinizadores (Neves et al., 1993; Venturieri,
1994).
Embora a antese possa ocorrer em qualquer horário, verifica-se maior freqüência en-
tre 16h00min e 18h00min horas, quando mais de 70% das flores manifestam o evento. O
estigma permanece receptível até as 10h00min horas do dia seguinte. As flores que não são
polinizadas sofrem abscisão 41h00min a 60h00min horas após a antese (Venturieri, 1994).
A viabilidade dos grãos pólen normalmente é alta, superior a 95%.
O cupuaçuzeiro é fruteira precoce, uma vez que a produção de frutos tem início no
terceiro ano (Figura 7). Entretanto, a produção é bastante irregular, com grande variação
entre plantas, sendo, também, muito afetada pelas condições ambientais. Venturieri (2011)
atribui a irregularidade da produção à dois principais fatores: a falta de polinizadores e a
instabilidade na produção de flores, pois, se em um ano ela produz mais flores, há um ten-
dência de que esta produção diminua no ano seguinte, e volte a aumentar no outro ano.
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Plantas para o Futuro - Região Norte
Vale considerar ainda que a própria altura das árvores, muitas vezes superior a 30m,
facilita a dispersão das sementes por autocoria, pois um porcentual significativo de frutos
quando caem ao solo se rompem, liberando as sementes. Entretanto, normalmente não são
observadas plântulas na circunvizinhança da planta matriz, possivelmente porque a herbo-
voria é mais intensa nessa região. Fruto rachado, por outro lado, é um dos fatores que con-
tribuem para o baixo rendimento econômico a partir do extrativismo de frutos dessa espécie
(Homma et al., 2001).
Contudo, conforme reportado por Clement (1999) o grande agente dispersor da es-
pécie tem sido o próprio homem, que em razão de ser uma das fruteiras preferidas pelos
índios que, de hábito nômade, levavam as sementes de uma aldeia a outra, sendo assim dis-
seminada para todos os estados da região Norte. Devido ao intenso movimento das nações
indígenas o cupuaçuzeiro foi levado ao longo da calha do rio Amazonas e seus tributários,
chegando a países limítrofes do Brasil, caso do Peru e da Colombia (Smith et al., 1992).
PROPAGAÇÃO: O cupuaçuzeiro pode ser propagado por sementes ou por enxertia. A propa-
gação por sementes é o processo de uso mais corrente, porém tem como grande limitação
o fato de que as plantas, assim propagadas, apresentam grandes variações, devido ser uma
espécie de polinização cruzada. Já a enxertia é indicada quando se deseja propagar matrizes
que apresentam características desejáveis: elevado rendimento de polpa, boa produtividade
e tolerância a pragas e doenças, entre outras.
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Capítulo 5 - Alimentícias
Theobroma grandiflorum
ra etapa consiste na extração e beneficiamento das sementes. A polpa pode ser removida
por processo manual, com tesoura ou mecânico, com máquina despolpadora. No transporte
das sementes, a estratificação em substrato úmido, constituído de serragem curtida ou ver-
miculita, é o método recomendado, para que não haja comprometimento da capacidade de
germinação. A participação relativa das sementes na composição do fruto varia em função
do genótipo. Em média, representam 15,0% do peso do fruto (Tabela 1).
Resto
Peso do fruto Casca Polpa Sementes
Clone placentário
(g) (%) (%) (%)
(%)
Coari 1.491 53,0 33,5 11,9 1,6
Codajás 1.297 48,4 35,7 14,3 1,6
Manacapuru 1.420 44,5 36,2 17,3 2,0
Belém 742 48,7 32,6 16,7 2,0
Média 1.238 48,7 34,5 15,0 1,8
Para sementes recém extraídas e semeadas logo após o processo de extração, a ger-
minação é rápida e uniforme, iniciando-se a emergência das plântulas 13 dias após a seme-
adura, atingindo o patamar de germinação no 25º dia, ocasião em que a porcentagem de
sementes germinadas atinge valor próximo a 100% (Müller; Carvalho, 1997).
O grau de umidade das sementes é um fator crítico para a germinação, pois as se-
mentes de cupuaçu apresentam comportamento recalcitrante no armazenamento, ou seja,
não suportam secagem, perdendo completamente a capacidade de germinação quando a
umidade é reduzida para valores abaixo de 17%. Apresentam, também, sensibilidade às
temperaturas baixas. Normalmente quando expostas a temperaturas inferiores a 15°C há
comprometimento da capacidade de germinação. A sensibilidade ao frio é tão pronunciada
que sementes expostas durante seis horas à temperatura de 5°C perdem completamente a
viabilidade. A temperatura ótima para germinação situa-se entre 25 e 30°C (Garcia, 1994).
A semeadura pode ser efetuada em sementeiras, com posterior repicagem para sacos
plásticos. Um bom substrato pode ser obtido com a mistura de areia e pó de serragem, na
proporção volumétrica de 1:1. O substrato é colocado na sementeira, que deve ter profun-
didade em torno de 20cm. Após a distribuição das sementes no leito de semeadura estas
devem ser recobertas com uma camada de cerca de 2cm do mesmo substrato. A repicagem
das plântulas deve ser, preferencialmente, efetuada antes da abertura do primeiro par de
folhas, ou seja, no ponto popularmente denominado de “ponto palito” (Figura 8).
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Plantas para o Futuro - Região Norte
sanfonados, de cor preta, com 18cm de largura e 35cm de altura. Recipientes menores retar-
dam o crescimento das mudas (Dantas et al., 1996) e provocam enovelamento do sistema
radicular.
A) Propagação por enxertia: A enxertia pode ser feita pelos métodos de gemas ou
escudo e garfagem no topo em fenda cheia, ambas apresentam boa porcentagem de en-
xertos pegos (Addison; Tavares, 1952; Müller et al., 1986a; 1986b; Venturieri et al., 1986;
1987).
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Capítulo 5 - Alimentícias
Theobroma grandiflorum
A
B D
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cavaleiro. Após a inserção, o enxerto é amarrado com fita transparente de polietileno ou po-
livinil, com cerca de 2cm de largura e 15cm a 20cm de comprimento, em espiral, iniciando-se
o amarrio de baixo para cima.
Quando enxertadas por esse método, as mudas podem permanecer em viveiro com
50% de interceptação da radiação solar, até o momento de serem levadas para o plantio no
local definitivo, sem que haja comprometimento na porcentagem de enxertos pegos e no
crescimento dos enxertos. A remoção da fita que envolve o enxerto é efetuada 30 a 35 dias
após a enxertia, tempo este suficiente para que haja a formação do calo no tecido cambial. A
decapitação do porta-enxerto, com o objetivo de favorecer o crescimento da gema, pode ser
efetuada imediatamente após a retirada da fita. No entanto, caso haja dúvida se a união do
enxerto com o porta-enxerto não está devidamente consolidada é aconselhável que se faça
a decapitação somente sete dias após a retirada da fita, quando, então, é possível identificar
com segurança se houve sucesso ou não na enxertia. Caso o enxerto esteja morto, é possível
o reaproveitamento imediato do porta-enxerto para nova enxertia. A decapitação do porta-
-enxerto é efetuada a 1cm da parte superior do escudo. Esses procedimentos possibilitam
porcentagens de enxertos pegos em torno de 80,0% (Müller et al., 1986; Venturieri et al.,
1986; 1987). Mudas enxertadas por esse método estão em condições de serem plantadas
em local definitivo três a quatro meses após a enxertia. Como a enxertia modifica comple-
tamente o padrão de crescimento tricotômico da planta, com brotações essencialmente pla-
giotrópicas, há necessidade de tutoramento para correção do tropismo.
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Capítulo 5 - Alimentícias
Theobroma grandiflorum
fagem oferece algumas vantagens em relação ao método de escudo. A garfagem, especial-
mente no topo em fenda cheia, é um método muito mais simples e fácil de ser executado,
apresentando maior rendimento de mão-de-obra e exigindo menor habilidade do enxertador.
Outra vantagem é que pode ser efetuada em porta-enxertos com seis a oito meses de idade.
As ponteiras, após serem retiradas da planta matriz, são submetidas a toalete, eliminan-
do-se todas as folhas, com exceção das duas situadas na extremidade apical do garfo, que
são cortadas transversalmente, de tal forma que permaneçam com comprimento do limbo
em torno de 5cm. Durante a operação de enxertia, a primeira etapa consiste na decapitação
do porta-enxerto, que deve ser executada em altura cujo diâmetro seja semelhante ao diâ-
metro basal da ponteira a ser enxertada. A decapitação é efetuada com um corte transver-
sal. Em seguida, efetua-se na parte inferior da ponteira corte em bisel duplo, em forma de
cunha, inserindo-a, posteriormente, em incisão vertical de, aproximadamente, 4cm no ápice
do porta-enxerto. Após a inserção, as partes unidas são firmemente amarradas com fita
plástica e o enxerto é protegido com um saco de polietileno transparente, previamente ume-
decido com água em sua parte interna, com o objetivo de evitar o ressecamento do enxerto.
B C
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Plantas para o Futuro - Região Norte
Essa câmara úmida só deve ser retirada quando a primeira brotação estiver completamente
desenvolvida, o que normalmente ocorre entre 30 e 35 dias após a enxertia. Imediatamente
após a enxertia e até o pegamento dos enxertos, há necessidade de ambiente totalmente
protegido da radiação solar direta, sob pena de comprometer totalmente o pegamento dos
enxertos. Depois da remoção da câmara úmida as mudas devem permanecer por mais dez
dias na condição de sombra densa, quando então são levadas para viveiro com 50% de inter-
ceptação de luz, até atingirem tamanho adequado para serem plantadas no local definitivo,
ou seja, dois a três meses após a brotação do enxerto. Em mudas obtidas por esse método
de enxertia não há necessidade de tutoramento, pois a correção da copa pode ser consegui-
da somente com podas de formação.
Em 2012 ocorreu o lançamento da cultivar BRS Carimbó (Figura 9), propagada por se-
mentes e estrutura genética de população melhorada de primeiro ciclo (Alves et al., 2010).
Em 2014 a Embrapa Amazônia Ocidental lançou as cultivares BRS 297, BRS 298, BRS 299,
532
Capítulo 5 - Alimentícias
BRS 311 e BRS 312, adaptados ao Estado do Amazonas (Souza et al., 2008). Assim, a linha
Theobroma grandiflorum
de pesquisa mais desafiadora para a cultura do cupuaçuzeiro na Amazônia continua sendo o
desenvolvimento de novos materiais genéticos que possam aliar resistência à vassoura-de-
-bruxa com alta produção de frutos, polpa e sementes, além de resistência a outros agentes
bióticos e abióticos (Alves et al., 2014).
O cupuaçuzeiro nativo tem uma ocorrência restrita, que coincide com uma das regiões
de maior pressão antrópica do país. Para a conservação in situ há necessidade, de definição
das áreas mais representativas da variabilidade genética da espécie, para serem transfor-
madas em reservas legais. Definidas as populações, deverão ser iniciados estudos mais
aprofundados sobre os mecanismos mantenedores da variabilidade genética e, responsáveis
pela perpetuação da espécie, caso do fluxo gênico, definição de polinizadores e dispersores
de sementes entre outros. Isso permitirá, além da conservação, um manejo sustentável
desses recursos, especialmente com fins de direcionamento de coletas e aproveitamento de
acessos diretamente para o programa de melhoramento genético (Alves; Figueira, 2002).
Outra vantagem da conservação in situ refere-se aos custos de manutenção, infinitamente
menores em relação à conservação ex situ. A grande dificuldade é conseguir a transformação
dessas populações nativas em reservas legais e, que seus limites sejam permanentemente,
respeitados.
533
Plantas para o Futuro - Região Norte
A formação de coleções ex situ tem sido a primeira etapa para dar suporte a um pro-
grama de melhoramento. Quase todas as instituições de pesquisa do norte do Brasil mantêm
sua coleção de cupuaçuzeiro com essa finalidade. Pesquisas desenvolvidas nessas coleções
permitiram romper o ciclo de extrativismo e cultura de fundo de quintal à que a espécie es-
tava submetida (Müller; Carvalho, 1997).
Porém, acredita-se que a variabilidade genética conservada nessas coleções ainda está
muito longe de contemplar uma amostragem significativa da existente na espécie. Coletas
em áreas de forte pressão antrópica, que oferecem risco iminente, deverão ser empreen-
didas imediatamente. No Pará, o sul e sudeste do estado, especialmente a microregião de
Marabá, enquadram-se dentro dessa categoria e, portanto, merecem ser priorizados (Alves
et al., 2013).
Para dar suporte técnico à cultura do cupuaçuzeiro foi estabelecido, pela Embrapa
Amazônia Oriental, um programa de recursos genético e melhoramento, que objetivou, basi-
camente, a formação de coleções constituídas por genótipos coletados em condições silves-
tres e em plantios comerciais (Pimentel; Alves, 1995). As expedições tiveram início no pe-
ríodo de 1984 à 1988, relatadas por Lima et al. (1986) e Lima e Costa (1991; 1997). Como
produto dessas campanhas foi constituída uma coleção formada por 46 acessos coletados
em vários estados da Amazônia brasileira.
Uma dessas coleções, constituída por 128 clones e 119 progênies maternas de poli-
nização livre, coletados no Alto Solimões (AM), Médio Amazonas (AM) e região Bragantina
(PA), está localizada na Embrapa Amazônia Ocidental, Manaus, AM (Souza et al., 1997).
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Capítulo 5 - Alimentícias
Ainda em Manaus encontra-se a coleção instalada pelo INPA, composta por 132 acessos co-
Theobroma grandiflorum
letados em Tucuruí - PA, no local inundado para formação do lago, formado pela barragem
da hidrelétrica de Tucuruí, na região da pré - Amazônia Maranhense.
PERSPECTIVAS E RECOMEN-
DAÇÕES: O aproveitamento in-
tegral do fruto, aliado ao fato do
cupuaçuzeiro ser uma espécie
preferencial para Sistemas Agro-
florestais - SAFs torna o cultivo
dessa fruteira, uma excelente
opção para agricultores amazôni-
cos, por oferecer excelente retor-
no econômico, além de benefícios
ambientais e sociais oriundos da
utilização em sistemas agroflo-
restais, a exemplo do sequestro
de caborno e da diversificação da
produção, escalonando a renda
do produtor e atribuindo melho-
res condições para o mesmo (Bol-
fe; Batistella, 2012).
535
Plantas para o Futuro - Região Norte
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