Pragas Da Bananeira
Pragas Da Bananeira
Pragas Da Bananeira
Marilene Fancelli
Antonio Lindemberg Martins Mesquita
1. BROCA-DO-RIZOMA
Dos insetos que ocorrem na cultura da bananeira, a broca-do-rizoma, Cosmopolites
sordidus Germar, 1824, tambm conhecida como "moleque", a principal praga, encontrando-
se praticamente em todas as reas onde se cultiva esta planta. Este inseto tem sua origem,
provavelmente, na regio sudeste da sia (Saraiva, 1964). No Brasil, sua ocorrncia foi citada
pela primeira vez em 1885 (Arleu, 1982). Apesar de provocar grandes perdas na plantao, sua
presena na cultura pode, inicialmente, no ser notada, pois seus danos somente so
visualizados quando a planta arrancada. A sua disseminao realiza-se pelo transporte e
plantio de mudas infestadas, sendo a severidade do ataque determinada pela variedade e
condicionada pelo ambiente, tratos culturais, idade e estado nutricional da planta. Com
referncia flutuao populacional dessa praga, observou-se que, em pocas de alta
precipitao, h um decrscimo em sua populao quando o levantamento feito atravs de
iscas de pseudocaule (Martinez, 1971; Zem & Alves, 1979; Arleu, 1983).
1.1.1 Adulto
O adulto um besouro de colorao preta, medindo cerca de 11 mm de comprimento por 5 mm
de largura (Fig. 1). Apresenta atividade noturna; durante o dia abriga-se em locais midos e
protegidos do sol. Quando capturados, os adultos pouco se movimentam. Apresentam hbito
gregrio, comportamento estimulado por substncias qumicas presentes na superfcie do
rizoma, as quais atraem indivduos de ambos os sexos para a planta hospedeira (Pavis, 1988),
induzindo, tambm, a oviposio. A fmea faz um orifcio com o rostro, geralmente na regio de
insero das bainhas foliares, situada prximo ao nvel do solo e insere apenas um ovo por
orifcio, a uma profundidade de 1 a 2 mm.
1.1.2 Ovo
Os ovos so elpticos, de colorao branca, com aproximadamente 2 mm de comprimento por
1 mm de largura (Fig. 2). O perodo de incubao bastante varivel (Fonseca, 1936;
Montellano, 1954; Beccari, 1967; Mesquita & Alves, 1983, Silva, 1985), sendo a durao
mnima de trs dias e a mxima de 15 dias.
1.1.3 Larva
Esta a fase na qual o inseto provoca danos planta. Logo aps a ecloso, as larvas iniciam a
destruio do rizoma, formando galerias no interior das quais se movimentam, deixando atrs
de si dejetos alimentares. Apresentam colorao branca, cabea marrom, ligeiramente mais
estreita do que o restante do corpo, so podes e medem de 11 a 12 mm de comprimento,
quando completamente desenvolvidas (Fig. 3). Mesquita & Alves (1983) observaram que os
rizomas de "Figo Vermelho" promoveram um prolongamento da fase larval do inseto, quando
em comparao com "Nanica" e "Leite". Mesquita & Caldas (1986) constataram os seguintes
valores para a durao da fase larval em insetos alimentados com "Prata Santa Maria",
"Mysore" e "Terra", respectivamente: 44 dias, 36 dias e 35 dias. No final da fase larval, o inseto
constri uma cmara pupal, geralmente na periferia do rizoma.
1.1.4 Pupa
A pupa apresenta colorao branca e mede cerca de 12 mm de comprimento e 6 mm de
largura (Fig. 4). A durao desse estdio varia de quatro a 22 dias (Beccari, 1967) ou de nove a
11 dias (Silva, 1985). Aps a emergncia, o adulto pode permanecer na cmara pupal durante
um perodo de seis a 30 dias (Saraiva, 1964).
1.2 Hospedeiros
Segundo Arleu (1982), a broca-do-rizoma ataca somente plantas do gnero Musa, banana
(Musa spp.) e abac (Musa textilis); entretanto Champion (1968) citou-a como praga de Ensete
spp., alm do gnero Musa.
1.3 Danos
Danos diretos e indiretos esto relacionados ao ataque da broca-do-rizoma. As larvas so
responsveis pelos danos diretos, em decorrncia das galerias por elas produzidas no
rizoma (Fig. 5), as quais debilitam a planta, alm de torn-la mais suscetvel penetrao de
organismos patognicos (danos indiretos). Os danos diretos podem ser avaliados por meio das
tcnicas propostas por Vilardebo (1973) e Mesquita (1985). Conforme Vilardebo (1973), o solo
em volta da planta que j produziu cacho deve ser retirado, objetivando-se expor a rea
mxima do rizoma, em torno do seu maior dimetro. Efetuam-se cortes tangenciais superfcie
do rizoma, eliminando-se as razes e atribuindo-se notas de acordo com a porcentagem de
galerias presentes.
O mtodo de Mesquita (1985) consiste em se cortar transversalmente o rizoma da planta
colhida, na altura do seu permetro mximo, avaliando-se nesta rea a infestao da broca.
Para possibilitar uma maior preciso na tomada do valor, recomenda-se que a rea total seja
dividida em quatro partes, sendo a porcentagem de infestao por planta dada pela soma dos
quatro valores. No caso de rizomas sem infestao, a avaliao pode prosseguir retirando-se o
solo ao redor de, aproximadamente, um quarto da periferia do rizoma. Em seguida, retiram-se
as razes, avaliando-se a porcentagem de galerias presentes atravs de cortes superficiais no
rizoma. Para ambos os mtodos, recomenda-se efetuar a avaliao em 30 rizomas por hectare
de plantas j colhidas, sendo o coeficiente de infestao mdio obtido por um quociente, no
qual o numerador representado pela soma das notas individuais e o denominador pelo
nmero de plantas avaliadas.
Os sintomas de ataque das larvas manifestam-se como amarelecimento, com posterior seca
das folhas e morte da gema apical, em plantas jovens. Verifica-se, tambm, maior
suscetibilidade ao tombamento (Mattos & Simo, 1967; Moreira, 1979). Moreira (1979)
constatou, em plantas da variedade Nanico, no Estado de So Paulo, que o peso mdio de
cachos com dez pencas variou de 25 a 30 kg, em bananais livres da broca, e de 15 a 18 kg,
sob alta infestao da broca, alm de os frutos colhidos em reas infestadas apresentarem-se
curtos e finos, ao contrrio daqueles obtidos em plantas sadias, os quais foram compridos e
grossos.
2. TRIPES-DA-FLOR
O tripes-da-flor, Frankliniella spp., tambm conhecido como tripes-da-erupo-do-fruto, embora
de ocorrncia generalizada, no deprecia a qualidade da polpa (Mesquita, 1984a). Conforme
Moreira (1987), os prejuzos ocasionados por este inseto so menores nos invernos secos,
quando seu ciclo de desenvolvimento mais longo.
2.2 Danos
Os danos podem ser observados nos frutos em desenvolvimento, constatando-se o
aparecimento de pontuaes marrons, speras ao tato, as quais desvalorizam comercialmente
o produto (Moreira, 1987) (Fig. 8).
3. TRIPES-DA-FERRUGEM-DOS-FRUTOS
Conforme Reis & Souza (1986), alm de Caliotrips bicinctus, Chaetanaphothrips orchidii
e Tryphactothrips lineatus, tambm, so responsveis pelo sintoma conhecido como ferrugem
dos frutos. Os danos manifestam-se externamente, no prejudicando a polpa, apenas
depreciam o produto para a exportao. C. bicinctus referida como uma das principais
espcies da famlia Thripidae, em funo dos prejuzos ocasionados aos frutos (Gallo et al.,
1988). T. lineatus foi constatada em 1969, em bananais de "Nanico", no Estado de So Paulo
(Martinez & Palazzo, 1971), sendo, tambm, encontrada parasitando plantas do gnero
Terminalia (Hood, 1927, citado por Martinez & Palazzo (1971).
3.2 Danos
Os frutos tornam-se manchados em decorrncia das picadas que os insetos produzem para
sua alimentao (Gallo et al., 1988). Tanto adultos como larvas alimentam-se da seiva da casca
dos frutos, provocando o aparecimento de pequenas manchas enegrecidas ou vermelho-
esbranquiadas nos pontos de contato entre os frutos (Mesquita, 1984a). No entanto, Mar-tinez
& Palazzo (1971) constataram que os danos provocados por T. lineatus somente so evidentes
em frutos com mais de 30 dias, observando-se, em frutos com mais de 32 mm de dimetro,
perda do brilho e da elasticidade da epiderme no local atacado. Constata-se, em seguida, o
surgimento de manchas de colorao castanho-avermelhada (Fig. 9). Em conseqncia da
perda de elasticidade, ocorrem rachaduras na epiderme, as quais, dependendo da infestao,
ocasionam o fendilhamento da casca. Conforme Martinez & Palazzo (1971), o incio do ataque
de T. lineatus ocorre na rea externa do fruto e progride, tomando-o quase que integralmente,
ao contrrio das outras espcies de tripes, cujos danos localizam-se na rea de contato entre
os frutos.
4. TRAA-DA-BANANEIRA
A traa-da-bananeira, Opogona sacchari Bojer, 1856, considerada uma praga severa da
bananicultura nas condies do Estado de So Paulo, tendo provocado grandes perdas na
dcada de 70 (Moreira, 1987). Esta praga ocorre tambm no Estado de Santa Catarina (Bublitz
et al., 1981). Conforme Gallo et al. (1988), o surto da traa-da-bananeira registrado em 1974,
no Vale do Ribeira, provavelmente, ocorreu devido s condies de seca durante o inverno,
pois, em ambiente mido, as lagartas no apresentam alta sobrevivncia. De acordo com
Cintra (1975), O. sacchari foi introduzida clandestinamente em mudas de bananeira ou em
outros hospedeiros alternativos.
4.2 Hospedeiros
Cintra (1975) relatou como hospedeiros alternativos da traa-da-bananeira a cana-de-acar, o
gladolo, a dlia, o inhame, o bambu e tubrculos de batata.
4.3 Danos
A formao de galerias na polpa provoca o apodrecimento do fruto, conseqentemente
inutilizando-o comercialmente (Moreira, 1979). No caso de os frutos destinarem-se
exportao, os prejuzos so muito acentuados, pois os pases importadores rejeitam a
mercadoria atacada (Reis & Souza, 1986; Gallo et al., 1988).
5. OUTRAS PRAGAS
Encontram-se referncias sobre outras pragas da cultura da bananeira, as quais dificilmente
atingem nveis de dano econmico, como o caso das lagartas desfolhadoras Caligo spp. (Fig.
11), Opsiphanes spp. (Fig. 12) e Antichloris spp. (Fig. 13), pois elas encontram-se em equilbrio
no agroecossistema (Mesquita & Alves, 1984b). Havendo um rompimento na relao entre o
hospedeiro e seus inimigos naturais, essas lagartas deixariam de representar um perigo em
potencial para a bananicultura, podendo at tornarem-se pragas primrias (Tourner et al., 1966;
Tourner & Vilardebo, 1966).
Ao visitar as inflorescncias procura de substncias aucaradas, a abelha irapu, Trigona
spinipes Fabricius, 1793, pode causar ferimentos nos ngulos dos frutos jovens. As leses
aparecem nos frutos formados como manchas escuras bem definidas (Fig. 14) e, em casos de
forte infestao, elas aparecem em todas as quinas, ao longo de todo o fruto. As medidas de
controle dessa praga podem ser as mesmas recomen-dadas para o controle do tripes-da-
ferrugem-do-fruto.
Alm dessas espcies, pode-se incluir ainda o pulgo-da-bananeira, Pentalonia nigronervosa
Coquerel, 1859. As colnias desse inseto so encontradas nas bainhas mais externas, prximo
ao nvel do solo. Esta espcie constitui-se num agente disseminador da virose conhecida como
"bunchy top", inexistente no Brasil (Mesquita et al., 1982).
EMBRAPA
Tripes
No controle desses insetos, deve-se usar sacos impregnados com inseticida para
ensacamento do cacho, e remover plantas invasoras, tais como Commelina
diffusa (trapoeraba) e Brachiaria purpurescens,hospedeiras alternativas desses
tripes.
Sintomas e Danos
Controle
Preventivo: As medidas preventivas so sempre mais eficientes e
econmicas que os tratamentos curativos. Incluem-se entre elas, o uso de
mudas isentas de nematides e plantio em solo no infestado. A desinfestao
de mudas por termoterapia ou com nematicidas era prtica recomendada
(ZEM ET AL., 1980, INOMOTO & MONTEIRO, 1989, INOMOTO &
MONTEIRO, 1991), mas a eficcia dos tratamentos para grandes quantidades
de mudas foi bem menor do que as observadas em condies experimentais,
em pequena escala. Atualmente, a opo mais utilizada e vivel o plantio de
mudas sadias provenientes de cultura de tecidos.
Qumico: Nematicidas podem ser aplicados visando a reduo de
nematides em bananais infestados. No entanto, oneroso e pode no ser
vivel economicamente em algumas reas infestadas, inviabilizando sua
adoo.
Resistncia varietal: O que se tem procurado em programas de
melhoramento gentico dessa cultura seria a obteno de gentipos comerciais
resistentes ou tolerantes aos principais nematides. Alguns gentipos de M.
acuminata (grupos Pisang Batuan, Pisang Lidi e Pisang Jar Buaya) so
resistentes a R. similis. Um gentipo do grupo Pisang Jar Buaya (acesso III-
116) mostrou ser uma planta muito resistente a R. similis, mas susceptvel a P.
coffeae e M. incognita (PINOCHET & ROWE, 1978). Experimentos de campo
sugerem que a bananeira cv. Prata, do grupo AAB, resistente (desfavorvel
multiplicao do parasito) e tolerante (poucas leses radiculares so
observadas) a R. similis e ao tombamento (ZEM et al., 1981). No Brasil e ndia,
algumas variedades de Musa foram testadas contra M. incognita e M. javanica,
mas no foi encontrada resistncia (ZEM & LORDELLO, 1981; PATEL et al.,
1996). Trabalho semelhante foi feito nas Filipinas, com 90 variedades
diferentes de Musa testadas contra M. incognita. Os resultados mostraram
grande variao de susceptibilidade entre as variedades testadas, sendo que
Viente Cohol (grupo AA), Dakdakan (sinnimo de Viente Cohol), Pugpogon
(grupo AA), Alaswe (grupo AAA), Inambak (grupo AAA), Pastilan (subgrupo
Cavendish, grupo AAA), Sinker (subgrupo Cavendish, grupo AAA), Maia
Maole (grupo AAB) e PaaDalaga (Saba, grupo ABB/BBB) mostraram
resistncia a M. incognita, apesar de haver galhas nas razes (ndice de galhas
de 1-2) e tambm a presena de algumas fmeas (Davide & Marasigan, 1985).
Em experimento em casa de vegetao COSTA et al. (1998) testaram 17 gentipos ( 9
diplides, 2 tetraplides e 6 cultivares) e verificaram que 11,76
% dos gentipos testados foram suscetveis e 88,23 % evidenciaram
comportamento intermedirio ou moderadamente resistente com fatores de
reproduo que variaram de 0,02 a 1,77. Mais recentemente, STOFFELEN et
al. (2000) testaram 32 variedades de Eumusa (grupo AA) e Australimusa (grupo42
Fei) da Nova Guin contra Radopholus similis, Pratylenchus coffeae e Meloidogyne
spp. Todas as variedades testadas se mostraram susceptveis a Meloidogyne
spp.
Muitas das variedades comerciais cultivadas nas reas bananicultoras
do mundo so susceptveis a Meloidogyne spp. Freqentemente, os trabalhos
encontrados na literatura so inconclusivos a respeito da real relao de
resistncia/susceptibilidade das cultivares testadas contra o nematide das
galhas, parecendo no haver uma resistncia do tipo completa, alm do que
as variedades testadas geralmente so restritas agricultura local. Portanto,
evidente a necessidade da realizao de trabalhos experimentais, que venham
a elucidar tais relaes e que utilizem diferentes gentipos, a fim de que
possamos encontrar novas armas no combate a esse importante nematide
da banana.